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INFORME HISTÓRICO

SECRETARIA DE ESTADO DA
EDUCAÇÃO

Praça da Liberdade
Belo Horizonte/MG
Outubro/2008
3.1 - ANÁLISE HISTÓRICO-DOCUMENTAL

3.1.1 - A Evolução Histórica de Belo Horizonte


Em 1701 e 1702, nos tempos chamados de “febre do ouro”, quando, em
poucas décadas, foram encontradas grandes reservas do precioso metal no
país, os bandeirantes paulistas infiltraram-se pelas terras brasileiras na
sanha de encontrar, de forma farta e imediata, essas cobiçadas riquezas.
Nesse momento histórico, a bandeira de João Leite da Silva Ortiz chegou
às terras que, pouco tempo depois - em 1707 - recebeu a denominação de
Curral Del Rey.

No final do século XIX, a área do antigo arraial do Curral Del Rey é


escolhida para sediar a nova capital de Minas Gerais, já que Ouro Preto não
comportava mais o desenvolvimento do Estado. Sua indicação se deu pelo
fato de sua situação panorâmica, climática e econômica ser favorável à
construção de uma nova cidade e de a povoação não possuir
excepcionalidade arquitetônica dentre as demais povoações coloniais. O
projeto construtivo da nova capital tinha o intuito de desapropriar todo o
terreno do arraial e construir, rapidamente, em seu lugar uma cidade de
características modernas. Nesse processo, quase tudo deveria desaparecer
para dar lugar aos palácios, parques e avenidas, ou seja, construções
avançadas que estivessem em sintonia com tempos novos e republicanos.

Para acompanhar o conceito de mudança que a nova capital queria


representar, o projeto buscou planejar uma cidade a partir de uma idéia de
unidade entre os edifícios a serem construídos. Nesse sentido, almejava-se
a construção com um centro unificador das diversas regiões do Estado,
impondo, assim, condutas e posturas à sua população. Com isso, o que se
buscava era fazer frente às tentativas separatistas que marcavam o período
em todo o país – tentativas surgidas ante o fenômeno da idéia desconhecida
de República1, que trazia, em seu bojo, preceitos novos e inquietantemente

1
A proclamação da República brasileira se deu no dia 15 de novembro de 1889, na cidade do Rio de
Janeiro, acompanhando uma tendência mundial de viés capitalista - da qual o país estava atrasado - de
formação de um governo que deveria preconizar os direitos e deveres de grupos, indivíduos e instituições
sociais. Para esse fim, então, o país não poderia ter marcas coloniais, como a escravidão, por exemplo.
Mas, no Brasil, o movimento republicano foi de tomada de poder pelos militares – poder que lhes
escapava desde o início da Regência. Daí em diante, julgaram-se donos e salvadores da República. (ver
“Os Bestializados”, de José Murilo de Carvalho).
transformadores para um país ainda desacostumado a grandes mudanças
sociais.
Assim, aprovada a emenda que escolheu Belo Horizonte para a nova
capital de Minas, “o povo que vinha acompanhando em crescente
ansiedade os debates no Congresso [...] deliberou no mais intenso
entusiasmo, nadando em júbilo”. 2 Nesse contexto de expectativas e de
mudanças sociais, aconteceram os primeiros estudos técnicos no local
escolhido para a implantação da nova capital de Minas Gerais, com as
construções calcadas, como já dissemos, sob a égide desse espírito de
unificação.

3.1.2 - A Construção da Cidade de Minas e sua Inauguração


No ano de 1891, a Constituição Estadual criou a Comissão Construtora
para coordenar os trabalhos técnicos de planejamento da Nova Capital de
Minas Gerais. Essa comissão ficaria sob a coordenação e liderança de
Aarão Reis3, que foi o responsável pelos estudos preliminares para a
escolha da localidade onde seria construída a nova cidade. Em suas
primeiras ações, Aarão Reis reuniu técnicos especializados, num total de
194 funcionários, para a missão construtora. Em fevereiro de 1894, ele se
instalou no arraial para conduzir diretamente os trabalhos. Sua estrutura se
basearia no modelo de construções amplas, monumentais e hierarquizadas,
numa espécie de transplantação dos modelos da arquitetura européia,
segundo a concepção neoclássica4 de espaço urbano. Nesse critério, as
edificações da cidade deveriam se pautar na lógica dos espaços abertos e
ordenados com a paisagem idealizada.

Logo no início das suas atividades, a Comissão Construtora fez uma


averiguação mais detalhada das propriedades mais estruturadas do arraial,
2
BARRETO, p. 431.
3
Aarão Leal de Carvalho Reis foi engenheiro e urbanista paraense, nomeado para fazer o levantamento
do local apropriado para a construção da nova capital do estado de Minas Gerais. Após o levantamento
permaneceu como chefe da comissão que construiu a capital. Anos antes, planejou a cidade de Soure, na
Ilha do Marajó. Além disso, dirigiu o Banco do Brasil e o Lloyd Brasileiro, e foi eleito deputado federal
em 1911 e 1927. Faleceu em 1936.
4
O neoclássico se fundamenta no ecletismo através dos seus recursos plásticos e construtivos mais
complexos, todos, muitas vezes, compartilhados numa mesma edificação. A sua tolerante arquitetura,
feita segundo as linhas dos mais variados estilos históricos, encerra soluções díspares de estilos diversos.
Para o ecletismo, os edifícios públicos são os emblemas da classe governante emergente. Sua essência se
notabiliza por uma tendência desvinculada, tanto na composição quanto nas proporções, de qualquer
unidade de valor que pudesse defini-la como estilo.
para servir, depois de reformadas, às novas construções em execução. Isso
gerou um primeiro revés do projeto - o êxodo - já que os donos de casas e
de terras evadiram-se para os arredores do arraial, diante da desapropriação
de mais de 400 propriedades na cidade. Em suma, gerou instabilidade
social, com dificuldades e atritos entre os aflitos moradores com os poderes
locais. Isso, inclusive, provocou certa apreensão social, conforme consta o
conteúdo do ofício abaixo, com uma admoestação de Aarão Reis ao chefe
das divisões.

No intuito de manter, por nossa parte, quanto possível a ordem e


a tranqüilidade pública, dou por muito especialmente
recomendado a V.Sª que procure evitar, usando de seu prestígio,
que apareçam e se desenvolvam rivalidades descabidas entre o
pessoal desta comissão e a população da localidade. Tanto como
eu, V.Sª bem compreenderá quanto nós devemos esforçar para
não dar pretexto e desordens e rixas, que podem comprometer o
regular prosseguimento dos árduos trabalhos em que estamos
encarregados.5

Nesse panorama, as casas desocupadas passaram a abrigar os funcionários


da Comissão Construtora, trazendo, num processo paralelo, a afluência de
gente nova à cidade.

Foi nesse novo cenário que a planta geral da futura cidade6 foi elaborada,
conforme abaixo. Sua orientação foi generosa, já que se supunha que a
Nova Capital abrigaria 200.000 habitantes no séc. XXI. A planta foi
também moderna, já que o engenheiro Aarão Reis, com sua retórica
positivista nacional-progressiva, estava em sintonia com o espírito da

5
BARRETO, p.71/72
6
Conforme documental da Comissão Construtora da Nova Capital, APC-BH: A planta geral da futura
cidade foi organizada dispondo-se na parte central, no local do atual arraial, a área urbana de
8.815.382m., dividida em quarteirões de 120m x 120m pelas ruas, largas e bem orientadas, que se
cruzam se ângulos rectos, e por algumas avenidas que as cortam em ângulos de 45º. Às ruas fiz dar a
largura de 35m, sufficiente para dar-lhes a belleza e o conforto que deverão, de futuro, proporcionar à
população. Apenas a uma das avenidas – que corta a zona urbana de norte a sul, e é destinada à ligação
dos bairros opostos – dei uma largura de 50m, para construí-la em centro obrigando a cidade a, assim,
forçar a população, quanto possível, a ir-se desenvolvendo do centro para a peripheria, como convém à
economia municipal, à manutenção da hygiene sanitária, e ao prosseguimento regular dos trabalhos
téchnicos.
Essa zona urbana é delimitada e separada da suburbana por uma avenida de contornos, que facilitará a
conveniente distribuição dos impostos locaes, e que, de futuro, será uma das mais apreciadas bellezas da
cidade.
época. Nesse sentido, seu ideário construtivo era a cidade como metáfora
do país - e o país deveria se orientar pelos ideários aplicados em outros
lugares, notadamente em Paris.

Planta geral de Belo Horizonte. Fonte: Álbum de Belo Horizonte. Organização Raymundo Alves Pinto e
Tito Lívio Pontes, 1911.

Aarão Reis era, assim, um servidor do Estado investido de uma moral


cidadã e de uma ideologia do bem público, oriundas de uma cultura
humanista, jurídica e racionalista. Portanto, a construção deveria, para ser
moderna, fazer desaparecer os traços originais do antigo núcleo urbano.
Nesse sentido,

Reis levanta a bandeira das ciências positivas evidenciando,


muitas vezes, um pensamento próximo daquele dos engenheiros
franceses do séc. XVIII, no qual a ordem física e racional do meio
é prioritária às reformas e utopias sociais, que dominaram a
reflexão urbana no curso do século XIX. 7

Dentro desse critério, Aarão Reis, em 1894, busca a utilização educativa do


espaço pelo poder público. Para isso, ele aplicará os postulados de
sociedade hierarquizada de Saint-Simon8 e a idéia da previsão científica de

7
SALGUEIRO, p.33.
8
Claude-Henri de Rourroy, o Conde de Saint-Simom (17/10/1760 - 19/05/1825), filósofo e economista
francês, foi um dos fundadores do Socialismo Moderno e teórico do Socialismo Utópico. Ele pregava uma
nova sociedade, onde os cientistas deveriam os grandes condutores. Na nova sociedade, tudo deveria se
parecer com uma fábrica: um local onde haveria a substituição da exploração do homem pelo homem pela
administração coletiva.
Auguste Comte9 em suas atividades de planejador da Nova Capital, através
da criação de um corpo orgânico de sábios especialistas, cada um em sua
função, sob uma organização sistemática de divisões e subdivisões. Os seus
preceitos buscam se orientar das mesmas medidas e propósitos do que foi
feito pelo prefeito Haussmann10, em Paris, com suas seções e subseções dos
serviços de obras públicas, ocupadas quase todas pelos engenheiros da
Ecole Polytechnique.

Mas o trabalho de Aarão Reis recebeu muitas críticas dos poderes


constituídos no Brasil que, ainda presos a um sistema patriarcal, não
aceitaram tão profundas mudanças11. Assim, aconteceram intervenções
diretas do Estado na administração da Comissão Construtora. Dessa forma,
a missão de Reis tornara-se árdua, o que gerou uma distância
intransponível entre o seu ideário e as condições de fazê-lo funcionar.
Além disso, gerou a impossibilidade de coabitação entre a vontade de
racionalizar uma sociedade, apesar dela, e a impossibilidade de transformar
suas estruturas radicalmente, com sói acontecer com a metáfora
modernizante do positivismo de Aarão Reis. O progresso, a ciência e as
técnicas, ao contrário do que almejava o engenheiro, não foram, aqui,
suficientes para libertar a humanidade da ignorância e do atraso a qual
estava submetida.

9
Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (19/01/1798– 05/09/1857) foi filósofo francês, o pai da
Sociologia e o fundador do Positivismo. A filosofia positiva de Comte nega que a explicação dos
fenômenos naturais, assim como sociais, provenha de um só princípio. Tendo por método dois critérios, o
histórico e o sistemático, outras ciências abstratas antes da Sociologia, segundo Comte, haviam atingido a
positividade: a Matemática, Astronomia, a Física, a Química e a Biologia. Assim como nestas ciências,
em sua nova ciência chamada de física social e posteriormente Sociologia, Comte usaria da observação,
da experimentação, da comparação, da classificação e da filiação histórica como método para a obtenção
dos dados reais.
10
Barão Georges-Eugène Haussmann (1809-1891), nasceu e morreu em Paris, advogado, funcionário
público, político, administrador francês, foi nomeado prefeito por Napoleão III. Foi o grande remodelador
de Paris, cuidando do planejamento da cidade durante 17 anos, com a colaboração dos melhores
arquitetos e engenheiros. Haussmann demoliu ruas sujas e apinhadas da cidade medieval e criou uma
capital ordenada sobre a geometria de avenidas e bulevares. Criou parques e melhorou outros existentes,
construindo vários edifícios públicos. Aperfeiçoou o sistema de distribuição de água e criou a grande rede
de esgotos entre La Villette e Les Halles. Paris se transformou radicalmente, tornando-se a cidade mais
imponente da Europa. O plano criado para o centro da cidade, previa a reformulação da área em um dos
extremos dos Champs-Elysées (Campos Elíseos). Haussmann criou uma estrela de 12 avenidas amplas
em volta do Arco do Triunfo, onde grandes mansões foram erguidas entre 1860 e 1868.
11
Nesse sentido, vale a análise da República no Brasil como um movimento da elite brasileira que
buscava a garantia da continuidade dos poderes e, portando, desprovido da participação direta do povo no
país, que participava como espectador, ou figurante. O povo não poderia participar diretamente já que
“não se enquadrava nos padrões europeus, nem pelo comportamento político, nem pela cultura, nem pela
maneira de morar, nem pela cara”. CARVALHO, p. 162.
Portanto, esse cenário conturbado recebe outro revés no trabalho de
construção da nova capital: em 1895, Aarão Reis, por divergências com o
secretário de Agricultura e Obras Públicas, Dr. Francisco Sá, fez o pedido
de sua exoneração da coordenação da Comissão Construtora da Nova
Capital, embora com a alegação de “pertinaz enfermidade que exigia
repouso e tranqüilidade absoluta por alguns meses” 12. O tempo de trabalho
de Reis foi de pouco mais de 14 meses (14/02/1894 a 22/05/1895), mas
suficientes para deixar as obras adiantadas, principalmente àquelas
relacionadas à infra-estrutura da cidade. Ao seu substituto, Dr. Francisco de
Paula Bicalho, caberiam os trabalhos de execução. Nesse mesmo ano,
1895, aconteceu a inauguração do Ramal Férreo, ligando a cidade à Rede
Viária Provincial e Federal. 13

Mas, ainda que com percalços, novos tempos se vislumbraram no processo


de construção da cidade. A dinâmica dos trabalhos foi intensificada com o
lançamento, nesse mesmo ano de 1895, da pedra fundamental da cidade e
dos principais edifícios públicos, com as diretrizes talhadas em acordo às
grandes construções da Europa, notadamente as francesas, tão sonhadas por
Aarão Reis.

12
BARRETO, p. 266.
13
Francisco de Paula Bicalho, nascido em 18.07.1847 em São João del Rey-MG e falecido em
Petrópolis- RJ no dia 18.11.1919, formou-se Bacharel em Ciências Matemáticas e Físicas e Engenheiro,
pela Escola Central. Começou sua carreira como Engenheiro das Obras Hidráulicas do Rio de Janeiro, e
trabalhou como engenheiro ferroviário durante longos anos. Assim, foi Chefe e Diretor de obras de
Abastecimento de Água da Cidade do Rio de Janeiro, e Chefe da Seção de Prolongamento da Estrada de
Ferro D. Pedro II. Encarregado pelo Governo de Minas, o engenheiro chefiou a Construção da Alfândega
de Juiz de Fora, de 1893 a 1895. Na Comissão Construtora, Bicalho permaneceu no cargo até o fim da
obra, ou seja, até sua inauguração, em 12 de Dezembro de 1897.
Projetos das Secretarias de Agricultura, Interior e Finanças em substituição ao Palácio da Administração
não aprovado. Fonte: livro Belo Horizonte: Memória Histórica e Descritiva – História Média, de Abílio
Barreto, Edição Atualizada, 1995.

Para dar conta desses empreendimentos, a Comissão Construtora da Nova


Capital estimula a iniciativa privada para se envolver no processo de
construção e acabamento dos prédios públicos, principalmente nos setores
de abastecimento de materiais de construção. Além disso, a comissão não
poupa esforços (e nem dinheiro) para a concretização de seus projetos,
comprando da Bélgica todo tipo de material de ferro, como vigamentos,
coberturas e escadas, e todo maquinário necessário à construção.

Nesse contexto, em setembro de 1895 é inaugurada a Estação de


Entroncamento (foto abaixo) e as construções ganham impulso com a
entrada também dos materiais importados dos EUA que, em plena e
vigorosa expansão industrial, buscavam mercados para a absorção dos seus
produtos fabricados em série pelas suas emergentes indústrias. Assim, a
cidade de Belo Horizonte se torna um imenso canteiro de obras, com a
percepção visível dos contrastes de velharias e de novidades expostas em
suas ruas e praças públicas.
Estação Ferroviária no inicio do século XX. Fonte: livro: Bello Horizonte: bilhete postal. Coleção Otávio
Dias Filho, 1997.

Nos anos entre 1895 e 1897 houve a construção dos edifícios mais
importantes, num ritmo febril que impulsionou, inclusive, o crescimento
populacional da Nova Capital. Foi, inclusive, nesse período, em 1896, que
pela primeira vez o Dr. Francisco Antônio Salles, Secretário das Finanças,
visitou a cidade em construção.

Construção das Secretarias do Interior (Educação) e Finanças. A fonte: livro Belo Horizonte – Um espaço
para a República, de Beatriz de Almeida Magalhães e Rodrigo Ferreira Andrade, UFMG, 1989.

Em 12 de dezembro de 1897, na celebração da sua inauguração com o


nome de Cidade de Minas, a cidade, ainda inacabada, já contava com
aproximadamente 10.000 pessoas. Nesse período, “transpôs com incrível
rapidez os limites da Avenida do Contorno e galgou as encostas da Serra do
Curral d’El Rei, numa profusão caótica de loteamentos”.14 Além disso, essa
inesperada aglomeração fez com que muitos prédios construídos para
determinados órgãos ou instituições passassem a abrigar outros
completamente diferentes, descaracterizando-os.

Palácio da Liberdade no inicio do século XX. Fonte: livro: Bello Horizonte: bilhete postal. Coleção
Otávio Dias Filho, 1997.

Secretaria do Interior, depois da Educação, no início do século XX. Fonte: livro: Bello Horizonte: bilhete
postal. Coleção Otávio Dias Filho, 1997.

14
MARX, p. 26.
Antiga Secretaria da Agricultura, atual Secretaria de Obras, no início do século XX. Fonte: livro: Bello
Horizonte: bilhete postal. Coleção Otávio Dias Filho, 1997.

Secretaria das Finanças, no início do século XX. Fonte: livro: Bello Horizonte: bilhete postal. Coleção
Otávio Dias Filho, 1997.

Quanto à inauguração, deve-se dizer que ela foi oficializada por assinatura
do Presidente Bias Fortes, sob o decreto n.º1085, e contou com a presença
das autoridades provinciais, com os membros da Comissão Construtora,
operários e populares. O evento foi celebrado pelo jornal A Capital como
solene, de grandiosa e irradiadora importância. Em sua matéria, o jornal
não poupou adjetivos à festa de inauguração, denominando-o com termos
superlativos, como “exuberante”, “essencial” e “soberbo”. Na visão do
diário, a Nova Capital passará a ser, fora de dúvida, fundamental para a
vida e para o progresso do Estado.

Festa de inauguração da cidade, na Praça da Liberdade.. Fonte: Álbum de Belo Horizonte. Organização
Raymundo Alves Pinto e Tito Lívio Pontes, 1911.

Mas no mês de janeiro de 1898, já em pleno estágio avançado da


construção da cidade, a Comissão Construtora foi extinta nos termos da
seguinte Legislação Estadual:

- Decreto n. 680, de 14 de fevereiro de 1894. Regula o disposto


no art. 2º da Lei n. 3, de 17 de dezembro de 1893.
- Decreto n. 827, de 07 de junho de 1895. Estabelece
modificações no regulamento que baixou o Decreto n. 680, de 14
de fevereiro de 1894, para a execução das obras de construção
da Nova Capital.
- Decreto n. 1.093, de 03 de janeiro de 1898. Declara extinta a
Comissão Construtora da Nova Capital, e dá outras providências
para a continuação das obras em andamento. 15

Com isso, os componentes da Comissão foram dispensados e a


continuidade dos serviços passou diretamente para a responsabilidade
pública, através dos auspícios da Secretaria de Agricultura, Comércio e
Obras Públicas.
15
Site: www.pbh.gov.br, Evolução de Estrutura Administrativa da Prefeitura de Belo Horizonte
1894/2000.
Em 1901, com a burocracia estatal já totalmente instalada, e já nomeada
como Belo Horizonte - já que o nome Cidade de Minas não obteve muita
aceitação pública - houve um crescimento significativo da cidade, segundo
o arquiteto Sylvio de Vasconcelos, de acordo com a ordenação geográfica
abaixo:
Por esse tempo, até 1910 houve um povoamento mais ou menos
difuso, com dois ramos: um menor à Leste, devido ao quartel de
polícia localizado em Santa Efigênia, e outro enorme à Oeste,
indo até a Gameleira, onde se instalou uma Fazenda. De 1910 a
1920, o povoamento se faz com o preenchimento de claros,
estendendo-se por igual em todas as direções. O crescimento
mais intenso é a Leste, em torno de Santa Efigênia e Santa
Tereza. Aconteceu também um rabicho em Carlos Prates e outro
que levava ao Posto de Agronomia e Veterinária, onde hoje nasce
a Cidade Jardim. 16

Portanto, houve um expressivo progresso social e crescimento


populacional. Junto com isso houve, de forma mais intensa e permanente, a
atuação do poder público nas constantes crises financeiras da cidade,
fortemente endividada pelos altos custos da sua construção. Nesse cenário,
Belo Horizonte parecia ser a capital artificial de um Estado
economicamente esfacelado.

A Primeira Guerra Mundial favorece o início do crescimento industrial da


cidade, através do processo de substituição de importações17 que o conflito
gerou. No período entre guerras, houve um esforço do poder público para
uma intensa industrialização da região. Nesse intuito, renasce a Zona da
Metalurgia, antiga atividade mineradora da região. Mas, foi apenas no final
dos anos de 1920 que a cidade passou por uma fase de desenvolvimento
econômico mais acentuado, através da formação de um centro regional
importante, do surgimento de profissões liberais e do crescimento
industrial.

16
VASCONCELOS, p. 235
17
Fenômeno histórico que inaugurou realmente o século XX, a primeira Guerra Mundial de 1914-1918,
provocou profundas transformações. Foram resultados da guerra, direta ou indiretamente, o
enfraquecimento europeu, o despontar dos Estados Unidos como potência mundial, o surgimento da
União Soviética, a crise de 1929, o aparecimento de novos valores culturais, e outros. Nesse cenário
catastrófico, as indústrias mundiais (e da América Latina) começar a crescer para dar conta de substituir
as importações européias para o mundo. Esse fenômeno é intensificado no período pós-guerra. (ler mais
em: “A Primeira Guerra Mundial”, de Augustin Wernet).
A partir de 1924 é iniciado o processo de construção das rodovias mineiras.
Em 1930, é inaugurada a Estrada de Ferro Vitória-Minas, facilitando o
transporte de produtos siderúrgicos. Em 1941, a Cidade Industrial é criada,
numa forma de intervenção do Estado que expressava a preocupação de se
aprofundar a vocação industrial da região.

Mas o citado crescimento populacional era irregular e sem planejamento.


Nas localidades situadas fora do contorno da cidade (Avenida do Contorno,
onde se planejava delimitar a cidade), entre os anos de 1940 e 1950, o
crescimento é intenso e, na mesma medida, desordenado, sem
planejamento algum. A população da cidade, de 33.245 almas em 1910, foi
para 40.635 em 1912, e chegou aos surpreendentes números de 683.908
habitantes, em 1960 – uma população muito maior do que a planejada para
o séc. XXI, que ainda faltava 40 anos para alvorecer.

Essa transformação social e, principalmente, demográfica correspondeu a


uma mudança total na estrutura das construções de Belo Horizonte, fazendo
desaparecer, com isso, suas edificações primitivas. Assim, o aumento
populacional gerou o crescimento vertical da cidade. Em síntese, o que
houve foi uma renovação arquitetônica, através da construção de edifícios
mais altos e de volumes diferenciados. Nesse panorama, o tráfego de
carros, que tomava o lugar de muitas casas, acabou por gerar outro
aumento: o da poluição ambiental. Nesse cenário, aconteceu também um
aumento horizontal da cidade, através do surgimento desordenado dos
bairros periféricos e suburbanos.
Além disso, nos seus arredores, outras cidades, também sem domínio pelas
autoridades governamentais, iam surgindo continuada e
incontrolavelmente. Só no ano de 1972, é que foi criada a Região
Metropolitana de Belo Horizonte, composta por 14 municípios. O objetivo
era controlar o crescimento, que parecia indômito, dos arrabaldes da
cidade.

Assim, o que se nota é que não houve planejamento na cidade e sim um


projeto para atingir metas - no caso, a criação de uma nova cidade. Pois
planejamento requer dinâmica constante que supõe recomposição e
acompanhamento dos problemas, através da administração continuada dos
mesmos. Nesse sentido, o que aconteceu foi um refazer constante de seus
lugares e diretrizes, na ânsia de buscar atender os problemas urbanos
vividos pela população. Nesse sentido, as constantes reformas do prédio da
Secretaria da Educação, com as construções dos seus anexos e as mudanças
de atribuições dos prédios, são correspondências disso, conforme será
analisado nos próximos itens referentes à história do citado edifício. Mas,
independente disso, com ou sem planejamento, a dinâmica das cidades é o
crescimento constante e o contínuo reocupar dos seus espaços públicos pela
sua também dinâmica população.

3.1.3 - A história construtiva do Edifício da Secretaria da Educação

 Do final do século XX às primeiras décadas do século XX


A história do prédio da Secretaria da Educação faz parte e é interligada ao
contexto da formação e posterior crescimento da cidade de Belo Horizonte.
A sua construção remete-nos ao desejo racional dos planejadores da cidade
de construir os imóveis aos moldes arquitetônicos de algo
“civilizadamente” europeu. Para isso, segundo os propósitos dos
construtores da cidade, deveria haver coerência com a destinação dos
edifícios, tanto os de caráter oficial e utilitário, quanto o de caracteres
particulares. Além disso, os locais referenciais da cidade deveriam carregar
na simetria do traçado toda uma lógica simbólica de uma nova estrutura
urbana. Nesse sentido, o edifício da Secretaria da Educação se adequaria ao
ideário de racionalidade predominante da época, onde cada construção
deveria ter um lugar e uma destinação, numa ruptura definitiva com a
tradição colonial que almeja alcançar a modernidade, como foi narrado
acima.

Em 1895, o então chefe da Comissão Construtora da Nova Capital, Aarão


Reis, propôs ao Secretário da Agricultura Josaphat Belo a construção do
Palácio da Administração. Mas o secretário achou inviável tal projeto e
propôs, em seu lugar, a planificação de três Secretarias de Estado,
juntamente com os respectivos anexos administrativos necessários. Assim,
dá-se o início da elaboração construtiva do prédio.

Num primeiro momento, o edifício receberia as instalações da Repartição


de Terras, órgão da Secretaria da Agricultura. Depois, receberia o Tribunal
de Relação, da Secretaria do Interior. Algumas décadas depois (em 1930),
quando o prédio já acolhia a Secretaria de Saúde e do Interior, teve
mudança de funcionalidade para a Secretaria de Educação e Saúde (em
1948). Mais adiante, em 1960, passou a ser apenas Secretaria de Educação,
quando aconteceu a desvinculação das duas secretarias. No ano de 1994, o
edifício serviu para abrigar o Centro de Referência do Professor (CERP).
Todas essas mudanças funcionais serão abaixo focalizadas.

Um dado interessante a anotar é que a Comissão Construtora da Nova


Capital, na sua função de responsável também pelo acompanhamento da
construção do citado imóvel, não conseguiu realizar essa edificação por
meio de uma empreitada completa - mesmo com a concorrência pública
sendo aberta duas vezes - pois não houve o comparecimento de licitantes.
Assim, se deu o fracasso de concorrências públicas para a contratação dos
serviços, mas essa dificuldade, ao invés de atravancar a construção, acabou
se tornando um sistema mais vantajoso, pois gerou mais liberdade para a
Comissão intervir quando necessário nos trabalhos, acompanhando de
forma mais esmiuçada o processo de construção do edifício. Além disso,
representou, para os cofres públicos, uma significativa economia.

Assim, no dia 07 de setembro de 1895, aconteceu o lançamento da pedra


fundamental do edifício e as obras tiveram início em 22 de outubro do
mesmo ano, como primeira fase, que foi até 1914 (a outra fase foi até 1928,
quando se construiu um anexo ao prédio), com os trabalhos executados em
três etapas: de estrutura, de vedações e de revestimentos com acabamentos.
O edifício recebeu ajustes parciais de mão-de-obra, com os trabalhos dos
Srs. Joseph Lynch e Casemiro Garcia, dentro da forma de empreitada
adotada.

Durante os trabalhos de construção, houve o intercâmbio dos elementos


importados com materiais locais, como apregoavam as novas formas de
construção arquitetônica. As colunas avermelhadas da fachada principal,
executadas com pedras de calcário corado semelhante ao mármore foram,
por exemplo, trazidas diretamente da antiga pedreira do “Acaba Mundo” 18.
Por outro lado, as telhas da cobertura seriam todas importadas da França,
mas já foram, em grande parte, substituídas. Um detalhe acerca da
construção da cobertura do prédio deve ser mencionado: apesar das

18
Pedreira então existente na cidade, onde hoje se localiza o bairro da Serra em Belo Horizonte.
pesquisas citarem que a estrutura metálica foi toda importada da Bélgica, as
linhas apresentam carimbos com a indicação “Rio de Janeiro”.

A autoria do projeto coube ao engenheiro-geógrafo José de Magalhães. 19


As semelhanças na modulação do edifício, principalmente no corpo central,
com as do teatro de São Carlos, em Lisboa, deveriam se fazer notórias. A
localização originalmente prevista era a Praça do Progresso, na esquina das
avenidas Brasil e Carandaí, onde seria instalado o Núcleo Administrativo
do Governo Estadual. A Comissão Construtora, no entanto, por meio da
ação do engenheiro-chefe Francisco Bicalho, o substituto de Aarão Reis,
decidiu transferi-lo (juntamente com as outras secretarias) para a Praça da
Liberdade. Segundo seus relatos, inicialmente, os edifícios das secretarias
seriam construídos no centro da cidade, mas já durante as obras de
construção da cidade, em abril de 1896, ficou definido que seriam
colocados na Praça, junto ao Palácio Presidencial, atual Palácio da
Liberdade:

Pareceu-me acertado transferir os edifícios das Secretarias de


Estado para a mesma grande praça em que fora projetado o
Palácio Presidencial e, merecendo este alvitre a aprovação de V.
Exª., assim, foram eles definitivamente locados, bem como aquele
palácio20.

Na construção do edifício, o estilo “segundo Império Francês” (1852/1870)


de Napoleão II era mesmo o que predominaria. As características mais
marcantes desse estilo – e que os construtores do prédio buscavam
referenciar – eram certo excesso decorativo e a reunião, num mesmo
prédio, de elementos classicizantes de variadas procedências. É interessante
notar que na Europa, em 1860, esse estilo começara a se degenerar, mas no
Brasil essa corrente se prolongou ainda por um bom tempo, a ponto de, em
1900, ainda se encontrar vestígios neoclassicizantes no país. O estilo,
inclusive, foi referência para as construções que abrigariam os poderes
oficiais e se propagou, também, em casas particulares. A sua adoção tinha o

19
Nascido em Pernambuco, no ano de 1851, José de Magalhães formou-se em engenharia na Escola
Central do Rio de Janeiro e estudou arquitetura na Ècole des Beaux-Arts de Paris, transferindo-se para
Belo Horizonte para fazer parte da Comissão Construtora da Nova Capital como chefe da Seção de
Arquitetura.
20
BICALHO, Francisco. Relatório Minas Gerais. Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras. Ouro
Preto: Imprensa Oficial, v. 2, 1896.
intuito de atender a expectativa de renovação progressista do movimento
republicano.

Nesse cenário, em 1896, um ano depois do início das obras, os trabalhos de


construção do edifício já transcorriam num processo bastante avançado. O
que ainda faltava era o vigamento de ferro e a cobertura metálica. Além
disso, ainda não se tinha elevado o centro da fachada principal sobre a
entrada do edifício.

Em março de 1897, a escadaria metálica em estilo art nouveau, originária


da Bélgica, já estava assentada. Nesse tempo, o revestimento das paredes
externas, os trabalhos de carpintaria - com assentamentos das guarnições e
forros - já estavam bastante acelerados. Em junho, foi feito o rejuntamento
da cobertura definitiva do terceiro pavimento e a retirada dos andaimes foi
executada um mês depois. Com isso, os trabalhos de pintura e de decoração
do prédio já puderam ser iniciados, serviços executados sob a
responsabilidade do artista alemão Frederico Antônio Steckel21. Na parte
externa do edifício realizou-se, em agosto do mesmo ano, o assentamento
da cúpula, onde foram colocados o escudo do Estado de Minas Gerais e o
busto da República do Brasil.

Hall e escadaria do edifício


Disponível em: http://www.fae.ufmg.br/pensareducacao/downloads/artigos/centrorefprof.pps. Foto: Norma Lelis.

21
Alemão nascido em 1834, radicou-se no Rio de Janeiro por mais de 30 anos. Steckel foi pintor e
estucador formado pela Escola de Belas Artes de Berlim.
Os trabalhos ficaram foram conduzidos por Manoel Couto e Pedro Sigaud,
engenheiros encarregados da obra que iria iniciar a liberação de áreas do
prédio para ocupação. No dia 05 de setembro de 1897, o primeiro
pavimento pôde ser ocupado, provisoriamente, pela Repartição de Terras,
órgão da Secretaria da Agricultura. Cinco dias depois, o Tribunal de
Relação, da Secretaria do Interior, já estava em condições de começar a
funcionar. Nesse mesmo ano, artigo publicado pelo jornal A Capital,
descreve a situação em que se encontra o prédio, com informações que se
coadunam com este histórico ora em elaboração, conforme texto abaixo.
Isso serve para demonstrar a importância na utilização do edifício para as
futuras instalações de outros setores públicos.
Dividi-se este pavimento em uma sala central de 6 metros multiplicados
por 10, que dá portas para o terraço da frente, duas grandes salas
lateraes com 8m x 9m, um corredor central com 3m x 10m, que dá
accesso aos dois pavimentos elevados. Os tectos do 3º pavimento,
excepto o do vão da escada, são de frisos de madeira, bem como as
cimalhas e molduras; estão pintados a óleo a 4 meios tons; sendo os da
lateraes divididos em 6 paineis por caixotões; são singelos, mas de
aspecto agradável estes tectos. Os soalhos são de pinho de Riga
espinhadas nas duas salas lateraes e divididos em painéis corridos e
guarnições são de cedro e estão pintadas a óleo; as paredes são pintadas
a colla. No vão da escada, há muito tempo, está concluída a decoração
do tecto, que é primorosa e muito abona a competência artística do sr.
Frederico Antônio Steckel e de seu auxiliar, o sr. Bertholino Machado.
Este tecto é dividido por caixões em três grandes painéis ao centro e
quatorze menores em redor daquelles, todos armados com bellas
decorações de estuque – cartão, cimelhas, tabellas e florões e pinturas
decorativas de fino valor. As paredes do vão da escada estão sendo
pintadas a óleo com figuras decorativas. No 2º pavimento, diversos
tectos já estão pintados e decorados a estuque-cartão, devendo-se
destacar de entre elles, pelo realce da pintura, a decoração do gabinete
de despachos. Está sendo também assentado o “plafond” especial que
veio da Bélgica para a sala que se destina às conferências e despachos
do Governo do Estado. Neste pavimento já estão 8 entarugamento nos
outros commodos, estando também adeantado o revestimento das
paredes e faltando apenas assentar as esquadrias que, por serem
envernizadas, só serão collocadas depois de concluída a pintura das
paredes e tectos.
No 1º pavimento, que, naturalmente, é o mais atrazado, já está também
assentados os forros de madeira e alguns soalhos de pinho de riga.
O revestimento exterior do edifício está adeantado, já tendo dado
começo a pintura externa cor de rosa. Infelizmente, ainda não chegou da
Europa a cupola da parte central, que fica detraz do grande arco do
frontão, que dará ao edifício aspecto monumental22.

Depois de três anos, em 1900, o telhado de origem francesa recebeu


consertos, embora um almanaque local tenha feito, nessa época, uma
apreciação favorável sobre a situação de conservação do prédio, conforme
texto abaixo:
Este edifício está também situado na Praça da Liberdade. O seu
conjunto é simples e bello. O perystillo levantado em colunas corynthias
de mármore sanguíneo, tirado da pedreira do “Acaba Mundo” e aqui
trabalhado, é coberto por um terraço, formado no 2º pavimento, coberto
por abobadilha e aberto no 3º pavimento. Este terraço é, por sua vez,
encimado por um cúpula de ferro, revestida de estuque, de 1/4 de
esphera, bellamente decorada a óleo azul celeste tendo ao centro,
vestindo o vão, um busto de esphinge da República, o que dá ao edifício
um singularidade especial. A sua decoração interna é simples, porém
elegante, salientando-se a do salão nobre que é explendida.
O tecto deste salão é uma obra artística e valiosíssima, assim também o
soalho que é de mosaico de madeira imbustida (...).
O vão da escada é explendido destacando-se à entrada, as bellas
colunnas nas quaes é perfeitamente reproduzido o mármore.
Tem este edifício 3 pavimentos, medindo 42 ms. de frente, 26 de fundo e
23
22 ms. 50 de altura e occupa uma superfície de 1092 ms.

Dois anos depois, foi realizada a pintura de noventa caixilhos e de duas


portas externas e, em 1903, feito acabamento de pinturas internas. Essas
obras foram efetuadas pelo artista alemão Frederico Antônio Steckel, que
convidado pela Comissão Construtora, trouxe consigo, do Rio de Janeiro,
uma equipe especializada em estuque e papier machê. Para auxiliar nos
trabalhos, trouxe o pintor e decorador Bertolino Machado.

Em 1906, o prédio teve seu ecletismo valorizado, com a colocação de


grades de ferro. Dois anos mais tarde, o primeiro pavimento recebeu outra
pintura. Essas duas últimas obras são de autoria do pintor Manuel da Costa
Azevedo.

22
BARRETO, p. 499 (o artigo do jornal A Capital foi transcrito por Abílio Barreto em sua obra.)
23
LIMA, P. 19/20.
Vista geral da Praça da Liberdade e edifício da Secretaria ao fundo ainda sem o acréscimo posterior
Reprodução. Disponível em: http://portal2.pbh.gov.br/pbh/index.html?id_conteudo=13496&id_nivel1=-1

Anos depois, em 1912, acontecem novamente pinturas externas e internas,


além de consertos em pinturas dos forros, serviços também de autoria de
Manuel da Costa Azevedo. Essas restaurações e o esmero nas escolhas dos
responsáveis para fazê-las são demonstrativos do valor do edifício como
um lugar que deveria se construir e se fazer enquanto paisagem urbana,
referência simbólica no viver dos habitantes da ainda nova capital do
Estado de Minas Gerais.

Hall e escadaria do edifício


Disponível em: http://www.fae.ufmg.br/pensareducacao/downloads/artigos/centrorefprof.pps. Foto: Norma Lelis.
No período compreendido entre os anos de 1912 e 1927, não foi localizada
qualquer informação sobre a execução de obras de reforma ou acréscimo.

 Do final dos anos 1920 aos anos 1950: da instalação da Secretaria de


Educação e Saúde ao tombamento do edifício como patrimônio
cultural do Estado
No ano de 1928 são feitas obras no edifício na sua parte de fundo. O
objetivo de tal obra era a ampliação, através da construção de um anexo, de
suas instalações para receber a Secretaria de Educação e Saúde que iria se
abrigar no prédio, em substituição à Secretaria do Interior. Em 1929, são
colocadas telhas francesas no terraço do prédio.

Nesse projeto, foi observada a unidade de volumetria do conjunto existente.


O anexo desenvolveu-se em um bloco em forma de U, dando continuidade
às paredes laterais do bloco anterior. Além disso, foi criado um pátio
interno e todo o porão, com seu grande salão e seus vários cômodos, foi
agenciado. Com a construção do anexo, duas salas do bloco original
tiveram suas funções originais alteradas, passando a funcionar com hall de
distribuição e circulação.

Em 1930, o prédio passou a abrigar a Secretaria de Educação e Saúde do


Estado de Minas Gerais24 transferindo a pasta do Interior para um edifício
recém concluído na Praça da Liberdade, onde fica hoje o Edifício
Niemeyer. 25 Essa mudança foi auferida pela lei nº 1.147 em 06/09/1930.

Entre os anos de 1932 a 1959 aconteceram eventuais iniciativas de


reformas e conservação do prédio. Mas, como não existem informações
detalhadas a respeito, não se pode ter esclarecimento suficiente acerca

24
A criação da nova pasta de Secretaria de Educação e Saúde Pública estava ancorada em um contexto
inovador acerca da educação, a partir do surgimento do movimento Escola Nova em Minas Gerais, com
perceptíveis contribuições para a transformação da concepção do papel social da escola, como uma
espécie de agente de reconstrução social e canal de inserção do indivíduo em seu meio social.
25
Dotações orçamentárias para obras através da Lei 1.180 de 11/10/1930 e Decreto 9.945 de 29/05/1931
comprovam o fato. Existe, inclusive, através da fonte relacionada às Leis Mineiras (1930), referência ao
pagamento das últimas obras no edifício da agora Secretaria de Educação e Saúde, além de outras
citações que mostram menções a compras (ou pedidos) de peças complementares da escada, e de outros
materiais.
desses reparos que, talvez, não tenham sido muito significativos.
Entretanto, prospecções feitas pelo Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA-MG no início dos anos
1980 revelaram intervenções que retiraram as características originais nos
elementos artísticos do monumento, presumivelmente ocorridas nesse
período.

Mas, é importante salientar que, em 1948, ocorrem modificações na


ocupação do edifício, com a desvinculação da Secretaria da Saúde e da
Secretaria da Educação. A primeira foi transferida para o prédio da antiga
Escola de Aperfeiçoamento (onde hoje funciona o Minascentro), enquanto
a segunda permaneceu no mesmo local. Esse desmembramento se deu para
atender o as demandas geradas pelos problemas urbanos surgidos a partir
da década de 1940 e intensificados de 1950 em diante. Ou seja, o
desmembramento deveria ser feito, com urgência, para o acolhimento mais
proveitoso às necessidades essenciais (Educação e Cultura) de uma
população mais diversa. Além disso, o avançado estágio de crescimento
pelo qual passava a cidade, com seus populosos bairros periféricos e
suburbanos, gerou a constatação de que a demanda tendia a crescer cada
vez mais.
Nessa perspectiva, acontece a formulação do projeto de construção de um
anexo externo ao antigo prédio, visando à ampliação do estabelecimento,
mas sem intervir na construção original de fins do séc. XIX. O arquiteto
Galileu Reis assume a autoria do mesmo e projeta um edifício de quatro
pavimentos que, inclusive, recebe seu nome. O cálculo estrutural da coube
a Haroldo Campos e a obra se desenvolveu durante todo o ano de 1961,
sendo inaugurada no ano seguinte.

Aqui caber anotar que esse prédio foi um dos primeiros construídos em
Belo Horizonte com andares livres, sem paredes divisórias, permitindo
flexibilidade para divisões posteriores. Esse anexo abrigou atividades da
Secretaria de Educação até 1993, quando, ali, passou a funcionar a Reitoria
da UEMG – Universidade Estadual de Minas Gerais.

Em 1977, o edifício da Secretaria de Educação, marco da Praça da


Liberdade, foi tombado pelo IEPHA-MG como monumento integrante e
destacado do conjunto arquitetônico e paisagístico da citada praça, por
meio do Decreto 18.531 de 02 de junho. O Edital de Notificação constante
do processo esclarece que a proteção legal compreende, entre outros
elementos,
... os prédios das Secretarias da Fazenda; Viação (antiga
Agricultura); Educação (antiga Interior) (grifo nosso),
Segurança Pública e Interior, pelo seu aspecto externo
incluindo as fachadas de frente, laterais e posteriores bem
como o interior dos mesmos com decorações, escadarias
monumentais, pinturas de tetos; painéis e vitraux ...26

A despeito de sua nova categoria de bem cultural protegido pelo Estado de


Minas Gerais, no início dos anos 1980 o edifício estava em precário estado
de conservação e, inclusive, ameaçado por problemas de desequilíbrio
estrutural. Em sua estrutura, eram notórias e perceptíveis, trincas e
rachaduras generalizadas.

Esse precário estado de conservação do prédio - e em paralelo com sua


nova condição de edifício tombado - gerou o desencadeamento de uma
nova fase de projetos e obras de modificações de funções do edifício, num
processo contínuo de restaurações e obras com acompanhamentos técnicos
que ocuparam as décadas finais do século XX, indo até os dias atuais.

 As duas últimas décadas do século XX e início do século XXI: projetos


e obras de restauração
Entre os anos de 1982 e 1984, o prédio estava em obras de restauração.
Essas obras, realizadas pela Companhia do Desenvolvimento Urbano do
Estado de Minas Gerais - CODEURB-MG -revelaram a existência de
pinturas parietais subjacentes. Os serviços executados foram os seguintes:

 Recuperação emergencial do prédio, de março a setembro de 1982,


alcançando principalmente a estrutura bastante danificada.
 Execução de trabalhos de restauração dos elementos arquitetônicos e
ornamentais do edifício, necessários, especialmente, por causa dos
problemas estruturais causados por abatimento do terreno e pela
infiltração de águas pluviais. Além disso, já havia transcorrido longo
período em desuso de partes significativas do edifício.

26
IEPHA-MG – Edital de notificação de tombamento: Estado de Minas, Belo Horizonte – 25 de março de
1977.
 Ressalta-se nessa etapa a introdução de importantes alterações no
prédio, como resultado de obras e adaptações indevidas feitas no
decurso do tempo: aberturas e vedação de vãos de porta e guarda-
corpo de janelas e modificação de característica tipológica dos
forros, com rebaixamentos em gesso.

Em 1984, foi elaborado projeto de restauração arquitetônica com o objetivo


de valorizar os elementos originais da edificação, de forma a possibilitar a
reversibilidade nas adaptações para o ideal funcionamento do edifício. O
objetivo era fazer a substituição da cobertura existente sobre o pátio por
outra, para liberar a fachada posterior do bloco original datada de 1897.
Além disso, pretendia-se fazer um tratamento do entorno imediato, com a
eliminação de elementos arquitetônicos que agrediam a linguagem do
monumento. 27

As vistorias realizadas na época apontaram, com relação ao estado geral do


edifício, que deveria ser reformada a instalação hidráulica, com o
aproveitamento das peças existentes. Sobre a instalação elétrica, os pontos
deveriam ser aproveitados ao máximo, assim como a tubulação, de forma a
evitar rasgos na alvenaria. A fiação deveria ser trocada, pois se encontrava
em péssimo estado de conservação.

Ainda segundo essa vistoria, havia infiltrações no porão e numa sala do


pavimento térreo, causadas por vazamento nos dutos de escoamento da
água pluvial. Havia também um ponto de infiltração na laje de forro do
salão central do porão, causado por falha na impermeabilização do piso do
pátio interno, no térreo. Foi notado também que a expansão da rede elétrica
de telefonia e de lógica foi, aparentemente, executada sem projeto
específico. Para isso, as obras seriam as seguintes: revisão da colocação das
telhas; revisão dos dutos de descida de água pluvial; revisão do
revestimento das platibandas; recomposição do revestimento externo e
pintura externa.

A execução desse projeto de restauração foi totalmente concluída


apenas em 1988, com a re-inauguração do antigo prédio da Secretaria de

27
IEPHA-MG. GERÊNCIA: Pasta referente ao Curso de Especialização em Restauração e Conservação
de Monumentos e Conjuntos Históricos.
Educação, depois de uma intervenção que teve o objetivo de paralisar o
processo de degradação pelo qual passava o edifício. À CODEURB-MG
novamente coube a responsabilidade de execução do projeto
restaurador. A arquiteta responsável pela obra foi Silvana Resende
Xavier. O trabalho de restauro de bens artísticos foi feito por equipe
coordenada por Antônio Fernando Batista dos Santos. A direção da obra
ficou a cargo da Construtora Walter Coscarelli Ltda, com os trabalhos
de engenharia sob a responsabilidade de Márcia Regina Coelho Fraga
Vilela e de arquitetura sobre a responsabilidade de Mauro Marques. Os
serviços realizados compreenderam:

 Recuperação do forro do salão principal e do segundo pavimento;


 recuperação das esquadrias;
 implantação da cobertura em estrutura acrílica no pátio interno;
 execução de nova instalação elétrica;
 substituição das redes hidráulicas e sanitária e de telefonia;
 restauração de elementos de arte aplicada das paredes;
 consertos de partes danificadas no forro do salão principal do
segundo pavimento;
 substituição da placa existente com o novo nome do Secretário de
Educação.
Fachada Principal da Secretaria
Disponível em: http://www.fae.ufmg.br/pensareducacao/downloads/artigos/centrorefprof.pps. Foto: Norma Lelis.

Mas todo esse trabalho gerou discordância por parte da equipe do IEPHA-
MG responsável pelo acompanhamento técnico do projeto de restauração.
No entender desse Instituto, havia pontos polêmicos no trabalho executado,
já que essas intervenções estavam sendo feito em ritmo muito acelerado e
sem o devido cuidado acerca das características arquitetônicas originais do
edifício, como indica uma Comunicação Interna (CI) de 10/03/1988, da
responsável do Setor de arquitetura na época, Maria Carmen Perilo.

No ano de 1994, acontece outro marco significativo no edifício, ou seja,


novas obras para adaptações necessárias às futuras implantações do Centro
de Referência do Professor (CERP), instituição de preparo e de formação
continuada dos professores para o exercício pedagógico28. Nesse sentido,
através da Lei 11.406/94, no seu artigo 77:

28
As dimensões das atividades do CERP visam a execução de trabalhos ligados à memória da educação
no Estado de Minas Gerais, norteando uma visão de futuro na escola pública. A proposta é que essas
dimensões sejam dinamizadas e consolidadas por meio dos seguintes componentes: Museu da escola de
Minas Gerais, Centro de Documentação, Exploratório – Ciências Contemporâneas, Tecnologia e
inovação curricular, Centro de Referência Virtual do Professor.
Fica criado, na estrutura orgânica da Secretaria de Estado de
Educação, na Subsecretaria de Desenvolvimento Educacional, de
que trata a Lei nº 10.933, de 24 de novembro de 1992, o Centro
de Referência do Professor, com a finalidade de propiciar a
realização de estudos e investigações científicas, a utilização da
tecnologia no processo pedagógico e a reconstrução da história
do ensino em Minas Gerais, com vistas ao aperfeiçoamento
técnico-pedagógico dos profissionais da educação.

Quanto à Secretaria de Educação, é necessário relatar que, nesse mesmo


ano de 1994, depois de cumprir uma etapa de sua vocação história de ser
referência planejadora do processo de elaboração curricular das diversas
regiões e demandas do Estado de Minas Gerais, deixou o prédio-sede que
ocupou na Praça da Liberdade desde 1930 e se transferiu para a Avenida
Amazonas, 5855, Gameleira, nas instalações da Escola
Estadual Professor Leon Ranault, em frente ao Parque da
Gameleira.

Mas com respeito às obras de restauração, elas ainda não haviam sido
terminadas (e o prazo previsto para a conclusão já estava mais que
extrapolado), mesmo que seu objetivo fosse o de fazer pequenas
modificações, já que uma mudança muito drástica aumentaria o risco de
infiltrações. Essa etapa de trabalho no edifício foi executada pela ACE
Empreendimentos Ltda.

As obras de adaptação do prédio, de acordo com relatório técnico dos


serviços executados datado de 23 de outubro de 1994, foram, em síntese, as
seguintes: pinturas externas e internas, com mapeamento das pinturas
decorativas; execução das instalações elétricas e de multimídia, com
mapeamento de cobertura demolida; execução do terraço; trabalhos na
cobertura, com conservação e adaptação de obras nos condutores e nas
calhas; restauração de uma das colunas do hall principal.

Entre os serviços, foram realizadas prospecções nas paredes, revelando


pinturas decorativas originais, em alguns casos até com duas camadas
decoradas sob repinturas monocromáticas. Ou seja, as pinturas originais
estavam encobertas por várias camadas superpostas realizadas
inadequadamente em intervenções anteriores. A restauração resgatou a
decoração pictórica original, tendo os trabalhos sido executados pelo
“Atelier de Restauro”, coordenado pelos restauradores Carla de Castro e
Silva e Zilma Fontes Paiva.
Nos anos 1990, outros trabalhos são realizados, como a criação de dois
grandes terraços laterais ao corpo central do edifício, resultantes da retirada
das telhas francesas originais originalmente existentes no prédio e que
estavam em processo de desmanche. No segundo pavimento das alas
laterais do edifício foram eliminados os telhados originalmente existentes,
criando, assim, dois terraços simétricos para onde se abriram as salas
laterais simetricamente situadas em relação ao eixo central do edifício.

A área do porão foi ampliada devido ao trabalho de desaterro de alguns


cômodos e construiu-se uma escada para fazer a interligação com o
pavimento térreo do prédio e, também, outra escada interna para fazer a
ligação com a biblioteca. Nessa intervenção são modificadas também as
instalações sanitárias, concentrando-se em núcleos por pavimento, e
executada cobertura sobre o pátio central, em grelha metálica com vedação
em domus de policarbonato apoiado sobre treliçado metálico.
Posteriormente foram instaladas algumas chaminés de exaustão eólica
visando a melhoria do clima do prédio.

Vista da cobertura do prédio da Secretaria de Educação, com os novos terraços e telhados das alas
posteriores. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Belo_Horizonte_Panor%C3%A2mica.jpg

Conforme publicado no jornal Estado de Minas, do dia 22/05/94, no


caderno Cidades com o título “Restaurações repetidas e gastos
multiplicados”, a obra iria durar mais do que o previsto, apesar de serem
pequenas as modificações. Segundo o arquiteto do IEPHA-MG, Rubem
Fortes, entrevistado pelo jornal, caberia ao Departamento Estadual de
Obras Públicas – DEOP fiscalizar a construção do terraço e garantir a
eficiência de impermeabilização da laje com revestimento de pedra. Ainda
segundo ele, com as obras em curso “o visual da Secretaria da Educação
não será afetado”.

Alguns anos depois, no ano de 2000, foi concluída a restauração das


colunas que apresentam hoje uma pintura em imitação de mármore.

Quanto à modificações funcionais, é necessário mencionar que no dia 20 de


novembro de 1994, foi inaugurado no prédio o Museu da Escola, unidade
pertencente ao Centro de Referência do Professor - CERP que tem como
objetivo principal musealizar a história da escola em Minas Gerais, através
da preservação dos diversos documentos que expressem o passado
educacional mineiro29.

Sala e acervo do Museu da Escola


Disponível em: http://www.fae.ufmg.br/pensareducacao/downloads/artigos/centrorefprof.pps. Foto: Norma Lelis.

Na concepção planejadora dos trabalhos do Circuito Cultural da Praça da


Liberdade30, o prédio manteria sua atual destinação, que é o

29
Esse museu, que passa a ocupar nove salas no andar térreo do prédio, é um projeto extensivo de
valorização da escola e do professor que busca, conjuntamente à preservação da história do ensino, a
realização de estudos e de pesquisas no campo da História da Educação. Assim, através do Museu da
Escola, as práticas educativas passam a ser analisadas como manifestações eminentemente culturais. Seu
acervo foi totalmente doado por várias escolas de Belo Horizonte e do interior do estado de Minas Gerais
e chegou a se constituir de 5 mil objetos. O Museu da Escola recebe anualmente de 10 a 12 mil visitantes.
A composição mais comum do acervo é de manuais, diplomas, cartilhas, cadernos, medalhas, etc. Ou
seja, fragmentos históricos das escolas de Minas Gerais em seus diferentes aspectos. Em suas atividades,
destacam-se exposições temporais e itinerárias; práticas de Educação Patrimonial e de História Oral.

30
O projeto Circuito Cultural Praça da Liberdade visa ser o maior pólo de cultura do Estado e um dos
maiores do Brasil. O que se busca é alcançar um conjunto amplo e variado de centros e atividades
culturais, artísticas, educacionais, de lazer e de turismo cultural, através da construção de museus, centros
de memória, salas de espetáculos e exibições, áreas de exposições, espaços para oficinas, cursos e ateliês
abertos, áreas de serviços, alimentação e comercialização de produtos culturais: tudo junto, em uma das
regiões mais representativas da cidade, pelo expressivo valor histórico e arquitetônico: a Praça da
Liberdade.
desenvolvimento de atividades e temas ligados à educação. Ou seja, o
CERP não iria sofrer alterações mais drásticas em suas diretrizes, apenas
passaria a se integrar a uma concepção mais abrangente, ligada a um
conceito em formulação em seu entorno.

Mas essa concepção, durante um momento, foi alterada, pois no dia 13 de


janeiro de 2006, o jornal Diário da Tarde lança uma matéria intitulada
Praça da Liberdade – Contrários à Mudança. Segundo o conteúdo da
matéria, o Centro de Referência do Professor será transferido da Praça da
Liberdade (não informa para onde), o que causou grande revolta dos
professores, contrários à idéia, pois em suas concepções a educação,
embora não pertença diretamente à Secretária de Cultura (coordenadora dos
projetos do Circuito Cultural da Praça da Liberdade) é uma atividade
obviamente cultural. Nesse sentido, o CERP deveria continuar suas
atividades na referida praça.

Outra matéria, divulgada através do jornal O Tempo, do 20/01/2006


(manchete: Educação pede um lugar na Cultura) apresenta uma
mobilização que professores fazem pelo futuro do prédio “Casa Rosa”, já
que esse futuro é incerto no novo cenário de transformação da Praça da
Liberdade. O que predomina entre os docentes é a incerteza geral. O jornal
se pergunta: será que o CERP fará parte do novo circuito cultural?

Para isso, o circuito quer ser um exemplo da retomada do espaço público pela população. Suas diretrizes
estão em consonância com uma série de movimentos iniciados, nas últimas décadas, em cidades
européias como Barcelona, Berlim e Paris, na proposição de um cenário natural próprio que contempla a
diversidade cultural e a troca cultural com maior liberdade e fluidez.

Nesse sentido, o circuito planeja ser um complexo de lazer e convivência, que seja capaz de refletir a
riqueza cultural do Estado de Minas Gerais, dinamizando, assim, a produção, o consumo e a fruição
culturais, além de atuar como um fator de inclusão social, geração de empregos e de renda. Esse será um
espaço de divulgação e apreciação do trabalho dos artistas e produtores culturais de Minas e do Brasil,
que oferecerá ao povo de Belo Horizonte e seus visitantes a oportunidade de conhecer e participar
ativamente e, ao mesmo tempo, ter acesso a diferentes aspectos e eventos da cultura produzida em nosso
país e no exterior.

Essa é uma iniciativa do Governo Aécio Neves, por meio da Secretaria de Estado de Cultura de Minas
Gerais, – viabilizada pela parceria com a iniciativa privada – que, junto à Linha Verde e à transferência
das secretarias do Estado para um novo Centro Administrativo, na zona norte da capital, compõe um dos
projetos estruturadores do Plano Plurianual de Ação Governamental 2004-2008.
Outra destacada matéria do Jornal O Tempo, no Caderno Cidades, do dia
19/02/06 destaca como manchete “Cultura quer Casa Rosa desocupada”.
Segundo o texto, a Secretaria de Cultura aguarda que o Centro de
Referência do Professor deixe o prédio no segundo semestre de 2006, pois
o local deverá ser transformado num centro de arte, cultura e indústria para
integrar o novo Circuito Cultural. O CERP deverá ser transferido para um
novo espaço ainda não definido.

Mas em virtude de mudanças dos propósitos do Circuito Cultural da Praça


da Liberdade, a pergunta do jornal O Tempo - constante dois parágrafos
acima - já pode ser respondida: o CERP fará parte do novo circuito
cultural. O Centro de Referência ao Professor executará serviço de
atendimento virtual no prédio e o seu antigo acervo ficará (como já está) no
Instituto de Educação de Minas Gerais, localizado próximo da Praça da
Liberdade.

Além disso, o prédio receberá todo o acervo do Museu de Mineralogia


Professor Djalma Guimarães31, para compor o Museu das Minas e do
Metal, o mais novo espaço de cultura e entretenimento a integrar o Circuito
Cultural Praça da Liberdade. De acordo com seu projeto de implantação, os
amplos espaços interativos e os modernos ambientes virtuais, o Museu
abrigará importante acervo sobre mineração e metalurgia do Estado de
Minas Gerais, documentando duas das principais atividades econômicas de
Minas e dotará Belo Horizonte de um local público de conhecimento e
convivência. O projeto será apoiado pelo Grupo EBX32, parceiro do Estado
neste novo empreendimento.

31
O Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães, é um museu brasileiro que trata da mineralogia
mineira e mundial. Localiza-se na Praça da Liberdade em Belo Horizonte, e está instalado em um dos
prédios com mais características pós-modernas da cidade. Apelidado de "Rainha da Sucata", o prédio foi
projetado pelos arquitetos Sylvio de Podestá e Éolo Maia. A primeira vista destoa totalmente das
construções que se encontram no complexo cultural da Praça da Liberdade. Aliando diversos materiais
tipicamente mineiros como cerâmica, cimento e aço, a construção choca quem a vê por ser extremamente
esfuziante e aliar formas geométricas que aparentemente não se comunicam entre si. O museu, foi criado
pelo prefeito Oswaldo Pieruccetti em 1974 e implantado com a colaboração da administração do Estado
de Minas Gerais, que cedeu o acervo da antiga Feira Permanente de Amostras. O seu acervo conta com
cerca de mil amostras expostas, de um conjunto total de três mil, sendo 70 a 80% dele procedentes de
Minas Gerais, cerca de 10 a 15% de outros estados, e o restante de outros países

32
A EBX é um holding que desenvolve e administra negócios nos setores de mineração, logística,
petróleo e gás, energia, fontes renováveis e entretenimento, há 23 anos. A EBX implanta, nos locais em
que atua , vários projetos de sustentabilidade social garantindo benefícios à população que se estendem
As obras do museu serão realizadas pela iniciativa privada, sem qualquer
incentivo fiscal, em parceria com o Governo de Minas e supervisão do
IEPHA-MG. O projeto arquitetônico é de Paulo Mendes da Rocha e a
concepção museográfica é de Marcello Dantas.

De acordo com o projeto, no prédio da antiga Secretaria de Educação, de


três pavimentos, diversos ambientes serão dispostos de forma a garantir aos
visitantes uma verdadeira viagem virtual ao universo das minas e dos
metais. O primeiro andar/térreo terá uma sala de exposições temporárias,
Centro de Referência Virtual do Professor (conforme já dito), espaço de
convivência, cafeteria e administração. Os dois outros andares serão
totalmente ocupados pelas atividades do Museu das Minas e do Metal33.

Quanto ao edifício anexo construído no início dos anos 1960, de acordo


com o projeto atual do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, será
transformado no Espaço TIM/UFMG do Conhecimento que buscará

até depois do término do projeto de negócios. Por isso, investe em programas de geração de renda, em
capacitação profissional, educação infantil, além de programas ambientais e incentivos culturais.
33
Na sua concepção, o Museu das Minas será instalado no segundo andar, onde os visitantes poderão
conhecer as minas, os minérios, os minerais industriais e ainda recursos minerais energéticos como
petróleo e seus derivados. Além disso, o Museu terá uma Sala de Minas, onde será contada a história de
dez importantes minas do Estado, com seus aspectos econômicos e culturais. As salas terão tratamento
cenográfico, com expositores construídos em madeira e/ou alumínio, que receberão acabamento com
textura dos minérios em destaque. No centro do espaço estarão expostas pepitas, minérios brutos e
processados.
Ainda de acordo com o projeto, o Museu das Minas terá uma Sala de Miragens, onde haverá uma
exposição virtual que mostrará os minérios e seus derivados flutuando no ar. Haverá também a Sala Chão
de Estrelas, onde o visitante poderá observar minérios e pedras preciosas que estarão dispostos sob um
piso elevado de vidro.
O segundo andar será o local onde será abrigado o acervo do Museu de Mineralogia Professor Djalma
Guimarães. Nesse andar, haverá a Sala de Acervo, local onde ficará a coleção de gemas com cerca de
1.000 amostras.
Além disso, o Museu do Metal ocupará todo o terceiro pavimento do prédio, onde será instalada a Sala
de Tabela Periódica, onde as pessoas encontrarão um conjunto de tubos metálicos, representando os seus
respectivos metais, que projetam os símbolos no chão e emitem sons ao se tocarem. Na Sala da Língua
Afiada, a história dos metais será contada com texto e vídeo projetados em uma gigantesca escultura
dourada de metal. Na Sala das Janelas para o Mundo, o visitante poderá observar inúmeras cenas da
vidad real onde o metal aparece com grande protagonista da vida atual.
Além disso, haverá o Mapa das Minas, onde será apresentada a localização das jazidas minerais e da
atividade metalúrgica em Minas Gerais, do período colonial aos dias atuais e nas Estações Interativas,
onde diversas experiências interativas estarão disponíveis, com vivências sobre a propriedade dos metais,
seus processos de produção e manipulação.
aproximar o saber e a ciência do cotidiano das pessoas. O projeto foi
elaborado pela arquiteta Maria Josefina Vasconcellos Maia e as obras estão
em andamento. O programa arquitetônico foi dimensionado para receber
mais de 300 mil visitantes por ano, e idealizado para se tornar um
importante instrumento na promoção, divulgação e popularização do
conhecimento científico e tecnológico de Minas Gerais, colocando à
disposição da população, principalmente de estudantes, um observatório
astronômico e o primeiro planetário do Estado, com recursos tecnológicos
de última geração, que o colocaram como um dos mais modernos do Brasil.

Essas informações finais têm o objetivo de realçar a importância do


referido prédio para Belo Horizonte, já que sua história, como já relatado,
tem relação direta com a história da cidade. Nesse sentido, as constantes
transformações arquitetônicas do prédio, com as suas adaptações, estão
relacionadas ao caráter permanentemente transformador da cidade, com as
sua dinâmica social necessariamente em transformação, pois as adequações
tiveram o cunho de atender as recorrentes mudanças das funções do prédio
ao longo do tempo. Portanto, reafirmar a importância do edifício
pesquisado é reafirmar a importância de Belo Horizonte. Assim, a história
ora apresentada é, mais do que tudo, a história da cidade e de sua
população. Uma história em conexão com sua arquitetura. Mais até: com as
demandas dos homens que a habitam – os verdadeiros construtores da
cidade e, nunca é demais repetir, de sua história.
Fontes Bibliográficas

BARRETO, Abílio. Belo Horizonte: Memória Histórica e Descritiva –


História Antiga. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro e Centro de
Estudos Históricos e Culturais, 1995 (Coleção: Mineiriana – Série
Clássicos).
-------------------------. Belo Horizonte: Memória Histórica e Descritiva –
História Média. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro e Centro de
Estudos Históricos e Culturais, 1995 (Coleção: Mineiriana – Série
Clássicos).
CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados – o Rio de Janeiro e a
República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
FILHO, Otávio Dias (Coleção). Bello Horizonte: bilhete postal.
LIMA, J. R. de. Almanack da Cidade de Minas. Bello Horizonte, Imprensa
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MAGALHÃES, Beatriz de Almeida, ANDRADE, Rodrigo Ferreira. Belo
Horizonte – Um espaço para a República. Belo Horizonte: Editora
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PINTO, Raymundo Alves, PONTES, Tito Lívio (Org.). Álbum de Belo
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SALGUEIRO, Heliana Angotti. Engenheiro Aarão Reis: o progresso como
missão. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro e Centro de Estudos
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Horizonte – 1834-1930. In: Ecletismo na Arquitetura Brasileira. Org.
Anna Tereza Fabris. São Paulo: Nobel Editora – Universidade de São
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Fontes consultadas no ARQUIVO DO IEPHA-MG – Diretoria de
Promoção/Gerência de Documentação e Informação

Caderno: “Circuito Cultural – Praça da Liberdade” – 2005.


Folheto: “Arte e Arquitetura no Palácio da Educação – Espaços da
Memória”.
Pasta: Conjunto Urbanístico da Praça da Liberdade e Av. João Pinheiro:
uma proposta de preservação e Pesquisa História e Iconográfica. Belo
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Pasta: Processo de Tombamento do Acervo do Museu da Escola de Minas
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Superintendência de Proteção – IEPHA-MG – Julho/Agosto 2005.
Pasta: Projeto de Restauração Arquitetônica - Secretaria de Estado da
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Histórico – Análise Arquitetônica – Diagnóstico – Documentação
Fotografia – Inventário de Bens Integrados – Inventário de Bens Móveis –
Levantamento Cadastral.
Pasta: Projeto de Restauração de Elementos Artísticos - Secretaria de
Estado da Educação – Centro de Referência do Professor. – Belo
Horizonte, 2001.
Pasta: Secretaria de Estado da Educação – Belo Horizonte/MG
V Curso de Especialização em Restauração e Conservação de Monumentos
– Conjuntos Históricos – IV Volume
Pasta: Projeto de Restauração Arquitetônica - apresentado no V Curso de
Especialização em Restauração e Conservação de Monumentos - Secretaria
de Estado da Educação. Projeto – Belo Horizonte – Sede. Responsável:
Maria Cristina Cairo Silva 06/84
Pasta: Informe Histórico
Pasta: Levantamento Bibliográfico
Pasta: Levantamento Bibliográfico – Jornais.
Pasta: Projeto Arquitetônico – Instituto Hidráulico Sanitário.
FICHA TÉCNICA

Pesquisa Histórica

Luiz Divino Maia


Historiador
Selma Melo Miranda
Colaboração – Arquiteta

Responsabilidade de Execução
Século 30 - Arquitetura e Restauro Ltda

Belo Horizonte, outubro de 2008

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