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Prepared for delivery at the 2013 Congress of the Latin American Studies
Association, Washington, DC May 29-Jun 1, 2013
O “drama barroco” carioca nas enchentes históricas: tragédia e humor nas
páginas das Revistas (Rio de Janeiro, 1905-1928)
Abstract
Urban flooding is a crucial issue in the twenty-first century, as the recent Hurricane
Sandy shows. Rio de Janeiro, one of the world's mega-cities, suffers from periodic
disastrous floods since it was founded. Such floods became more frequent during the
20th century. They highlight the fragility of public administration and urban reforms
in Rio de Janeiro, as well as social conflicts and ecological impacts due to rapid
urbanization. In this paper we study the relationships between city, environment and
memory, by analyzing images that survived over time. The pictures are evidence of
the multiple and diverse representations of the floods as they appear in photographs
and caricatures from newspapers and magazines of carioca's ordinary life from the
early 20th century. These images tell the story of the carioca’s urban landscape
through the lens of their photographers and artists. At the same time, they suggest that
the floods were constantly recreated in the imagination of the artists who portrayed
the memories of citizens and journalists in a modern citymarked by catastrophic
events.
“O humor não é resignado, mas rebelde”, dizia Freud sobre a relação entre
tragédia e humor. O humor é um dos processos que a mente humana cria para se
desviar do sofrimento. O humor propicia prazer, é liberador e até mesmo enobrecedor.
É das funções psíquicas mais elevadas e reconhecidas pelos pensadores e intelectuais.
Freud considerava o humor uma contribuição do superego ao cômico, um superego
complacente para com o Eu, como um pai para seu filho. O que o humor transmite
significa: “Olhem! Aqui está o mundo, que parece tão perigoso! Não passa de um
jogo de crianças, digno apenas de que sobre ele se faça uma pilhéria!”. (FREUD,
1980, p. 190-191). É o humor enquanto afirmação do desejo diante da adversidade e
da morte. Humor lúcido e trágico, ao mesmo tempo triunfal, alegre, ou seja, o humor
freudiano, em sua associação íntima com a morte, é tragicômico.
Enquanto a “mente brilhante” dos engenheiros ainda não haviam criado o Bond-
submarino, o chargista Leônidas, sugeria o transporte “aéreo”, um dos únicos
meios de transporte possíveis face ao caos urbano e a dificuldade de locomoção
advinda das enchentes no Rio de Janeiro.
Figura 3 – Disponível em http://www.paris-museums.org/blog/tag/1910-great-flood-
of-paris. A grande inundação de Paris de 1910. Champs-Elisée. Paris, grande modelo
de urbanização, que o Rio de Janeiro de Pereira Passos, o prefeito do Bota-abaixo
tentava imitar, também foi vítima de uma grande enchente em 1910, trazendo um dos
paradoxos da modernidade.
Figura 15. Careta, n° 1028. Acervo da Biblioteca Nacional. 1928. Dois pontos
tradicionais de cheia na cidade: o Catete e a Praça da Bandeira, mostrando o
Palácio de Catete e o antigo coreto ilhados.
Figura 16. Careta, n° 1028. Acervo da Biblioteca Nacional. 1928. Em ambas as
fotos a população se arrisca, a pé ou de barco, a transitar pela cidade inundada. A
primeira foto é na Zona Sul e a segunda no Centro, o que demonstra ser a
enchente um problema que não se restringe a apenas uma zona da cidade.
Figura 21. Revista O Malho, n° 335. Coleção Plínio Doyle pertencente ao Acervo
da Casa de Rui Barbosa. 1909. Zé Povo, personagem que representa a população
mais humilde, clama aos céus por ajuda e critica o prefeito pois este afirmara que
obras contra as enchentes são da esfera do Governo Federal. Enquanto as esferas
políticas transferem o problema, a Constituição afunda.
Considerações Finais
As imagens presentes nestas revistas ilustradas tinham como papel a crítica,
que se dava através de sátiras a sujeitos reais e também satirizavam os problemas da
cidade e de seus habitantes criando personagens fictícios ou utilizando representações
de políticos, governantes da época.
Durante o período da monarquia, a linguagem das charges tinha características
semelhantes a do início da República como o engajamento político, a pluralidade de
quadros e grande quantidade de textos. Porém, há alguns aspectos que podem ser
percebidos mais nas revistas publicadas na Primeira República, entre 1889 e 1930,
como a auto-afirmação da elite, através da criação de personagens não civilizados,
que representariam o povo; a questão do consumo, que é notável pela grande
quantidade de anúncios nesse período. Outro aspecto é o próprio conteúdo crítico, que
não era comum a todas as revistas, principalmente naquelas destinadas ao público
feminino, mas estava presente, como pode ser visto, por exemplo, nas imagens das
enchentes cariocas.
Um Rio de Janeiro que foi escolhido para ficar em meio a outros. Um Rio de
Janeiro que nos mostra mais uma vez que todo documento é também monumento e
que toda a fotografia é também documento-monumento (Le Goff, 1986). Assim como
algo. Na maioria dos casos, algo que se encontra lá fora no espaço e no tempo. As
imagens são, portanto, resultado do esforço de se abstrair duas das quatro dimensões
BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1988.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta. Ensaios para uma futura filosofia da
fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.