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A PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO

FORMAS, PROCESSOS, DESÍGNIOS

FACULDADE DE ARQUITECTURA DA UNIVERSIDADE DO PORTO


Porto, 18 e 19 de julho de 2018
ORGANIZAÇÃO

APOIOS

EDIÇÃO
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Via Panorâmica S/N | 4150-564 Porto, Portugal.

EDIÇÃO DIGITAL
ISBN: 978-989-8527-21-9

Janeiro de 2020
v03_rev13
CONGRESSO

COMISSÃO CIENTÍFICA

Vítor Oliveira, Universidade do Porto, Portugal


Stael de Alvarenga Pereira Costa, U. F. de Minas Gerais, Brasil
David Viana, Nottingham Trent University, Reino Unido
Eneida Mendonça, Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
Frederico de Holanda, Universidade de Brasília, Brasil
Jorge Correia, Universidade do Minho, Portugal
Karin Schwabe, Universidade Estadual de Maringá, Brasil
Teresa Marat-Mendes, Instituto Universitário de Lisboa, Portugal

Álvaro Domingues, Universidade do Porto, Portugal


Ana Silva Fernandes, Universidade do Porto, Portugal
Daniel Casas Valle, Universidade do Porto, Portugal
Elisabete Cidre, University College London, Reino Unido
Ivo Oliveira, Universidade do Minho, Portugal
Javier Monclús, Universidad de Zaragoza, Espanha
João Castro Ferreira, Universidade Fernando Pessoa, Portugal
Luís Pedro Silva, Universidade do Porto, Portugal
Madalena Pinto da Silva, Universidade do Porto, Portugal
Manuel Fernandes de Sá, Universidade do Porto, Portugal
Marta Labastida, Universidade do Minho, Portugal
Mariana Abrunhosa Pereira, Universidade do Porto, Portugal
Nuno Portas, Universidade do Porto, Portugal
Rodrigo Coelho, Universidade do Porto, Portugal
Rui Mealha, Universidade do Porto, Portugal
Sara Sucena, Universidade Fernando Pessoa, Portugal
Teresa Calix, Universidade do Porto, Portugal

COMISSÃO ORGANIZADORA

Ana Silva Fernandes


Bruno Moreira
Daniel Casas Valle
Mariana Abrunhosa Pereira
Nuno Travasso
Sara Sucena
Teresa Calix (coordenação)
LIVRO DE ACTAS

AUTORIA
MDT - Morfologias e Dinâmicas do Ter ritório
Gr upo de Investig ação do CEAU – Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Por to

EQUIPA EDITORIAL
Teresa Calix (coordenação)
Ana Silva Fer nandes
Sara Sucena
Nuno Travasso
Br uno Moreira

IMAGEM DA CAPA
Padrões Urbanos ©MDT

PRODUÇÃO E DESIGN
Br uno Moreira

WEBSITE
https://pnum.arq.up.pt

AUTORIA
MDT - Morfologias e Dinâmicas do Ter ritório
Gr upo de Investig ação do CEAU – Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Por to

PRODUÇÃO E DESIGN
Br uno Moreira

Esta publicação não pode


ser reproduzida, em todo ou em
par te, s e m a p e r m i s s ã o escrita
do editor.

Todos os conteúdos escritos e


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responsabilidade exclusiva dos
respectivos autores.
ÍNDICE

I. FORMAS

Da expansão à dispersão: as diferentes escalas da morfologia urbana:


as particularidades da formação da cidade industrial brasileira. 21
Luiz de Pinedo Quinto Junior, Luiza Naomi Iwakami

Mutações Urbanas em Campinas: suas tipologias e padrões de


implantação. 33
Daniel Teixeira Turczyn, Evandro Ziggiatti Monteiro

Mutações Urbanas na Região Metropolitana de Campinas:


seus padrões de paisagem. 51
Daniel Teixeira Turczyn, Evandro Ziggiatti Monteiro

Formas da expansão urbana na cidade de Campinas no período 2009-


2016. 68
Barbutti, Márcio Rodrigo, Benfatti, Dênio Munia

MORPHO Amazônia? Uma morfologia de áreas rurais. 86


Giselle Fernandes de Pinho, Evandro Ziggiatti Monteiro, Silvia Mikami Pina

Revitalizar o território do Alto Douro Vinhateiro - de Pocinho a Barca


D’Alva. 100
Inês Morgado Areia, Clara Pimenta do Vale, Mariana Abrunhosa Pereira

A paisagem do Alto Côa. 118


Maria Isabel Lopes de Mendonça

O Território dos Arquitetos: o interesse dos arquitetos e urbanistas


para com o rural e as pequenas cidades. 129
Guilherme Silva Graciano, Beatriz Ribeiro Soares

O Sistema Carbonífero do Douro. Para um recurso operativo. 140


Daniela Alves Ribeiro

Da forma do lugar ao desígnio do ‘arruamento’, da ‘porta’, da ‘praça’.


Princípio de inscrição na paisagem das colónias agrícolas da Junta de
Colonização Interna. 158
Filipa de Castro Guerreiro

Formas urbanas contemporâneas. O caso das hortas urbanas nos


municípios de Cascais e Lisboa. 176
Ana Mélice, Teresa Marat-Mendes
Morfologia da Agricultura Urbana em Lisboa: Caso de Estudo de
Chelas. 192
Raquel Sousa

Formas e usos de dois espaços públicos do centro de Poços de


Caldas, MG: um resgate histórico a partir da Sintaxe Espacial. 227
Leandro Letti da Silva Araújo, Evandro Ziggiatti Monteiro, Rodrigo Argenton Freire

A Modelagem da Informação como Ferramenta de Análise da


Qualidade do Espaço Público. 243
Sílvia Filipe, José Almir Farias Filho, Daniel Cardoso, José N. Beirão

Configuração espacial, Copa do Mundo 2014, e valorização


imobiliária no bairro de Lagoa Nova (Natal/Brasil). 257
Rodrigo Costa do Nascimento, George Alexandre Ferreira Dantas, Edja Bezerra Faria
Trigueiro

Uma leitura socioespacial da favela. Padrões urbanos orgânicos e


configuração urbana. 275
Vânia R. Teles Loureiro, Valério A. S. Medeiros, Maria Rosália Guerreiro

(IN)Dignidade Urbana. Conflitos e rupturas no contexto dos


fragmentos introspectivos da cidade contemporânea. 288
Nayra Carolina Segal da Rocha, Ana Paula Rabello Lyra, Raquel Corrêa Mesquita

Análise ambiental, social e urbana de um sistema complexo:


Comunidade da Rocinha, Rio de Janeiro. 305
ROSSI, Angela Maria Gabriella, BARBOSA, Gisele Silva, CORRÊA Roberto Machado,
ESSER Bárbara Canuto, MACHADO Gabriela Wolguemuth, MORAIS, Bertrand Ulácia

Condomínios fechados e segregação urbana: efeitos da configuração


e morfologia na qualidade da habitação social. 323
LIMA, Márcia Azevedo de, LAY, Maria Cristina Dias

Nova forma, outros padrões de uso? Alteração da forma espacial e


possíveis reflexos sobre modos de uso no caso do reassentamento da
Favela do Maruim em Natal/RN/Brasil. 337
Lucy Donegan, Flávia Monaliza Lopes, Rubenilson Brazão Teixeira, Edja Trigueiro

Um Olhar Sobre a Região Portuária e a Operação Urbana Porto


Maravilha na Cidade do Rio de Janeiro: preexistências,
transformações e desdobramentos. 356
Júlio Cláudio da Gama Bentes

Diversidade de usos, forma construída e a apropriação do espaço.


Uma análise local na cidade de Florianópolis-SC. 375
Geruza Kretzer, Renato T. Saboya
Entre caminhos e barreiras em Itararé: estudo do território e da
forma urbana. 392
José Mário Daminello, Adriana Nascimento

A criação do quarteirão. Do registro arqueológico à simulação


morfogenética. 407
Vinicius M. Netto, João Meirelles, Fabiano Ribeiro, Caio Cacholas

SIMFOR2040: Simulação de Cenários Urbanos 423


Daniel Cardoso, José Nuno Beirão, Stefano Fiorito

Análise do adensamento urbano e da verticalização através de


ferramentas SIG: o caso de Caxias do Sul-Brasil. 439

Débora Gregoletto, Fábio Lúcio Zampieri

Modelagem da informação e métodos quantitativos a serviço da


preservação da ambiência do patrimônio cultural edificado. 450
Eugênio Moreira, Daniel Cardoso, José Nuno Beirão

Verticalização e Segregação Socioespacial. 465


Kananda Fernandes de Sousa Lima

Inserção Urbana dos Empreendimentos do Programa Minha Casa
Minha Vida. Condomínio Serra do Mar, São José dos Pinhais/PR. 483
Ariadne Stradiotto Frenzel, Edson Maia Villela Filho

Espaços livres de uso público para práticas sociais e potenciais. Um
estudo sobre a Regional Grande Ibes, Vila Velha – ES. 498
LYRA, Ana Paula Rabello, MOREIRA, Mariana Menini, RAMOS, Larissa Letícia Andara,
RAMOS, Suzany Rangel

Nas trilhas do Cangaço: Ensaio sobre o território no Reino de


Lampião. 512
Maria Clara Costa, Maria Rita de Lima Assunção

(IN)Dignidade Urbana. Conflito e Omissão na materialização do
lugar democrático. 525
Raquel Corrêa Mesquita, Ana Paula Rabello Lyra, Camila Coelho Binotti, Larissa Letícia
Andara Ramos, Nayra Carolina Segal da Rocha

Plano de Acção de Metologia de Diagnóstico de Resiliência Urbana:


O caso de estudo do Bairro de Vallcarca. 540
Rafael de Balanzo Joue, Ligia Nunes

Avaliação da Forma Urbana resultante do Plano Diretor em Limeira/SP 550
Alessandra Argenton Sciota, Bruna Barreto Homsi, Mayara Rosseti Chagas, Thiago da Silva Felizardo

Evolução Urbana de Petrolina por meio da Sintaxe Espacial. 568


Nathálya Louise Macêdo Leal, André Leal dos Santos, Valério Augusto Soares de Medeiros

Organizaçao hidráulica de aldeias no vale do Tamuxe, um pequeno
río e suas águas afluentes. 585
Angeles Santos, Henrique Seoane, Carlos Martínez-González

Urbanidade Amazônica: A água em projetos urbanos na conformação
da paisagem de Manaus – Amazonas, Brasil. 601
HEIMBECKER, Vládia Pinheiro Cantanhede, PONTES, Taís Furtado


A paisagem como plataforma investigativa-propositiva para
territórios em transformação. Uma investigação multiescalar da
cidade de Manaus, Amazonas, Brasil. 617
PONTES, Taís Furtado, HEIMBECKER, Vládia Pinheiro Cantanhede

Forma Urbana e Inundação: Estudo dos comportamentos dos
padrões morfológicos. 631
Renata Cavion

A influência do rio Cuiabá na formação e desenvolvimento urbano
das cidades históricas mato-grossenses. 644
Gisele Carignani, Alexia Gabrielle Pinheiro Oliveira, Daniela Cássia Cardoso de Sousa ,
Nátali de Paula, Thais Lara Pinto de Arruda, Thais Rodrigues de Souza

Paradigmas que regem as relações entre cidades e rios urbanos. O
caso do Canal da Passagem – Vitória/ES/Brasil. 659
Milton Esteves Junior, Evelyn Machado dos Santos, Roberto Cabral Junior

‘Vida entre edifícios’. Os impactos da arquitetura no Rio de Janeiro,
Florianópolis e Porto Alegre. 671
Vinicius M. Netto, Julio Celso B. Vargas, Renato T. de Saboya


A apropriação da coletividade pelo espaço privado e suas
consequências no espaço público. Uma análise da Avenida Antonino
Freire em Teresina – PI. 687
Cláudio Valentim Rocha Leal, Ísis Meireles Rodrigues, Lara Citó Lopes, Aracelly Moreira
Magalhães

As ruas de lazer na cidade de São Paulo: políticas públicas e
apropriação. 702
Helena Napoleon Degreas, Ana Cecília Mattei de Arruda Campos
Museu do Amanhã: um elo para a “ocupação democratizada” da
região da Praça Mauá na área central da cidade do Rio de Janeiro –
RJ. 715
TEIXEIRA, Rafael Motta, PILARES, Alvaro Mauricio, ALBUQUERQUE, Rafael
Tavares de

Impacto da verticalização e da transformação das interfaces térreas


das edificações no uso e na percepção de segurança em cidade
litorânea. 733
Fabiana Bugs Antocheviz, Caroline Arsego, Antônio Tarcísio Reis

Condicionantes naturais e legais na constituição da forma urbana e


dos espaços privados e coletivos de Natal. 747
Ruth Maria da Costa Ataíde, Amíria Bezerra Brasil, Francisco da Rocha Bezerra Junior,
José Clewton do Nascimento

Santo André, SP: o traçado em retícula do Bairro Jardim. 763


Adilson Costa Macedo, Amanda Chyoshi

Mapeamento e quantificação das áreas verdes livres em Pau dos


Ferros/RN/Brasil: Um estudo de caso. 783
Trícia Caroline da Silva Santana

Percepção, Representação e Imaginación na Paisagem. 793


Jesús Conde-García

Espaços Livres e a formação de Unidades de Paisagem na


Universidade Federal do Paiuí – UFPI. 811
Denise Rodrigues Santiago, Camila Soares de Figueirêdo, Karenina Cardoso Matos, Wilza
Gomes Reis Lopes

Espaços verdes de equilíbrio ambiental. Estudo da Regional Grande


Ibes, Vila Velha-ES, Brasil. 828
Raquel Corrêa Mesquita, Natália Brisa do Nascimento Santos, Larissa Letícia Andara
Ramos, Luciana Aparecida de Jesus

Influências do Turismo e da Legislação Urbana e Ambiental no


Planejamento da Paisagem Litorânea. 844
Mariana Barreto Mees, Andréa Queiróz Rego

Conforto ambiental urbano e análise microclimática a partir de


diferentes configurações morfológicas urbanas. 856
Barbosa, Gisele Silva, Drach, Patricia R., Rossi, Angela M. Gabriella, Machado, Eduardo,
Zamith, Victor, Geraldino, Guilherme

Desafios à Sustentabilidade Ambiental: Uma análise sobre a


transformação territorial na produção do espaço urbano de
Maricá/RJ. 872
Nogueira, Amanda da C. R. De M., Barbosa, Gisele Silva
A constituição dos atuais padrões morfológicos do bairro Enseada do
Suá, em Vitória, ES, Brasil. 890
Lorenzo Gonçalves Valfré, Eneida Maria Souza Mendonça

Habitat | Habitação: a reconstituição de um paradigma (Lisboa,


1950-1970). 906
Maria Amélia Cabrita, Teresa Marat-Mendes

Tempo e espaço no Bairro Fonsecas e Calçada: a experiência urbana


de Raúl Hestnes Ferreira. 919
Alexandra Saraiva

Elementos Morfológicos do Espaço Urbano. O bairro central de


Macapá/AP. 931
Ana Maia Palheta, Ana Souza Freitas, Francisco Serdoura

A construção do Bairro do Cirne (1882-1937). Clientelas, modelos e


formas para habitar na cidade do Porto. 951
Manuel Joaquim Moreira da Rocha, Nuno Ferreira

Elementos e Padrões, Espaços Privados e Coletivos. 970


Wellington Jorge Cutrim Sousa, Andrea Cristina Soares Cordeiro Duailibe, Andreá
Fonceca Silva, Lucia Oliveira Lindôso, Thayná Cantanhede Gusmão dos Santos

Processo de desenvolvimento urbano de uma cidade de porte médio


a partir da leitura do seu plano urbano. 981
Anicoli Romanini, Adriana Marques Rossetto, Karine dos Santos Luiz

Registros escritos no estudo da morfologia urbana: estudo de caso


em Campinas, Brasil – 1815-1859. 999
Rodolpho H. Corrêa, Silvia A. Mikami G. Pina, Evandro Z. Monteiro, Juliana Ramme

A planta “De Guimarães”: Uma representação da vila quinhentista.


1015
Inês Lourenço Graça, Maria Manuel Oliveira

Topologia e Tipologia. A Parcela Gótica.


1025
Jesús Conde-García

Corredor e subárea, elementos do tecido urbano.


1040
Adilson Costa Macedo, Adriana Inigo de Lima, Maria Isabel Imbronito

A forma do limite na Bahia da Corunha.


1056
Xose Lois Martínez Suárez, Roberto Iglesias Rey
Compacidade na dispersão. A flexibilidade da forma urbana na
Região Metropolitana de Campinas, Brasil. 1075
Rodrigo Argenton Freire, Evandro Ziggiatti Monteiro, Leandro Letti da Silva Araújo

Morfologias e Atividades Urbanas Dispersas na Microrregião do


Médio Vale do Paraíba Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil. 1089
Júlio Cláudio da Gama Bentes

Novo Arrabalde aos pedaços. O quebra-cabeça das plantas de


loteamento de Saturnino de Brito. 1110
Flavia Ribeiro Botechia, Heraldo Ferreira Borges

Modelo de expansão urbana e repercussão de novas centralidades.


1126
Gislaine Elizete Beloto, Mayara Henriques Coimbra

Ideias de núcleos comerciais e a forma urbana.


1143
Samara Soares Braga, Renato Leão Rego

Habitar na Porosidade. O caso de estudo da Ericeira.


1155
Francesca Dal Cin, João Henriques

Cidade e caminhos-de-ferro. Análise da evolução urbana em


Albergaria-a-Velha.
1168
Bruno Dias Nunes Sousa, Rita Ochoa, Mafalda Teixeira de Sampayo

Lisboa e a sua Área Metropolitana. Infraestruturas de Conexão.


1179
Tiago Teixeira, Mafalda Sampayo

Mobilidade Ativa e a Satisfação com o bairro. Um estudo


exploratório com moradores da Vila Planalto – Distrito Federal –
Brasil.
1191
Caroline Machado da Silva, Hartmut Günther, Ingrid Luiza Neto, Gabrielle Rocha Flores,
Fernanda Machado da Silva

Projeto, planejamento e paisagem. Análise da urbanização pela


paisagem noturna.
1202
Andrea Queiroz Rego, Mariana Lima

Caminhos Paralelos. A Via Férrea como Suporte para o


Planejamento.
1214
Karla Cerqueira, Giovanna Scalfone, Izadora Oliveira, Virgínia Vasconcellos

II. PROCESSOS

A rua como resistência: Desenho e agentes na construção do espaço


público no bairro do Bexiga em São Paulo-SP.
1227
Silvia A. Mikami G. Pina, Lucas Ariel Gomes, Camilla M. Sumi, Viviana Gonçalves
Lugares da colectividade. Apropriação do espaço urbano público.
1242
Ana Lúcia Krodel Rech

Igreja Nossa Senhora de Fátima. Acessibilidade em Área do


Patrimônio Arquitetônico de Brasília. 1257
Adriano de Lima Silva, Maria Gabriela Jamal Prata Vasconcelos da Silva, João da Costa
Pantoja, Viridiana Gabriel Gomes

Estudo da dinâmica da paisagem do Largo da Conceição à Praça


Costa Pereira.
1275
Michela Sagrillo Pegoretti, Eneida Maria Souza Mendonça

Arborização e conforto higrotérmico em praças.


1291
Inés Gaggero Topolanski, Joyce Pereira Dominguez, Virginia M. N. de Vasconcelos

Espaço de todos ou de ninguém: Analisando reconfigurações


espaciais do espaço coletivo de conjuntos habitacionais à luz de
interpretações morfológicas.
1302
Fabrício Lira, Flávia Monaliza Lopes

O impacto da estrutura social da produção na morfologia urbana das


intervenções nas Favelas no Rio de Janeiro.
1314
Nuno André Patrício

Influências no processo de formação do tecido urbano dos bairros


pericentrais de Maputo. O caso de Chamanculo C, Maxaquene A e
Polana Caniço A.
1332
Jéssica Lage

Ocupação da Ilha dos Valadares: dos escravos aos meandros urbanos


espontâneos.
1349
Edson Maia Villela Filho

Ocupação planejada no oeste do Paraná: Continuidades e rupturas.


1364
Mariana Pizzo Diniz, Sirlei Maria Oldoni, Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima

Verticalizar e ver o mar. Identificando atores na construção do


Altiplano ‘Nobre’.
1380
Lucy Donegan, Thuany Guedes Medeiros, Marcele Trigueiro de Araújo Morais

Paisagem Urbana da Cidade de Macapá e os reflexos das alterações


na Lei do Uso e Ocupação do Solo. 1398
Ana Maria de Souza Freitas, Ana Corina Maia Palheta

Apropriação da herança francesa nos espaços islâmicos públicos:


Estudo de caso da cidade de Ifrane, Marrocos.
1414
Bianca Scaramal Madrona, Renata Cavion
As esplanadas ferroviárias das cidades da Alta Sorocabana como
potencialidade para a constituição de espaços livres públicos e
preservação da paisagem urbana.
1424
Arlete Maria Francisco

Crono-desenvolvimento do quadrante noroeste da cidade de Évora


(Portugal): a implantação de duas casas religiosas como fator
potenciador de novo tecido urbano.
1440
Maria Filomena Monteiro, Maria do Céu Tereno

Revitalização do Largo de Nossa Senhora da Luz: Um caminho para


promover a vitalidade urbana e cultural na sede de Paço do Lumiar,
Maranhão.
1451
Duailibe, MSc Andrea C. S. C.; Santos, Lorena G.; Silva, Melissa A.; Santos, Rianny S. Dos;
Goiabeira Filho, Walter G.; Sousa, Wellington J. C.

Reinterpretação da Renovação na Herança Cultural Urbana: O Caso


de Setúbal. 1474
Manuela Maria Justino Tomé

Prainha – Permanências , apagamentos e transformações da


paisagem.
1488
Cláudia Inez Resende Melo, Eneida Maria Souza Mendonça

Sistemas urbanos e transformação da cidade Porto. Sistema


conventual, desamortização e renovação do espaço urbano.
1506
Maria José Casanova

Períodos Morfológicos do Urbanismo Novo-Hispano.


1507
Norma E. Rodrigo Cervantes

A Conservação da Paisagem e seus Parâmetros Urbanísticos.


1521
Vanessa Maschio dos Reis, Roberto Montezuma Carneiro da Cunha e Talys Napoleão
Medeiros

Recife: Limites e Possibilidades para a Implantação de Novos


Parques Urbanos.
1539
Vanessa Maschio dos Reis, Talys Napoleão Medeiros, Ana Raquel Santos de Meneses

Processo de Gestão de Parques Urbanos: Estudo de Caso em Porto


Alegre, Brasil.
1557
Luciana Inês Gomes Miron, Nathália Danezi, Cristiane Cassol Schvarstzhaupt

Do território planejado ao espaço do mercado. Os Corredores de


Centralidade de Porto Alegre
1571
William Mog, Lívia Salomão Piccinini
O papel da forma urbana na disputa do novo ordenamento territorial
da cidade São Paulo.
1586
Joyce Reis Ferreira da Silva

Do Plano da Região aos Planos das Cidades: Os Conceitos


Urbanísticos Utilizados nos Planos das Cidades Relocadas no Rio
São Francisco.
1600
Antonio Willamys Fernandes da Silva

A forma urbana nos territórios habitacionais em cidades de fronteira


– o caso de Foz de Iguaçu, Paraná-Brasil.
1618
Juliana Rammé, Silvia Mikami G. Pina

A cidadania na construção coletiva do território. Casos de Estudo:


Portimão e Loulé.
1634
Lucinda Oliveira Caetano, José Luís Crespo, Ana Rita Queirós, Luís Manata e Silva

Programa ponte. Uma abordagem sustentada à reabilitação das ilhas


do Porto.
1648
Aitor Varea Oro, Paulo Alexandre Monteiro Vieira

O que é uma interface? A perspetiva dos agentes locais, no desenho


do Observatório BIP/ZIP.
1666
Ana C. C. Farias, Alexandra Paio, Roberto Falanga

O papel funcional do arquiteto e urbanista pela recuperação sócio


espacial de comunidades favelizadas no Brasil.
1680
Mário Márcio Santos Queiroz, Flávia Batista da Mota, Mellyssa Ribeiro Ramos

Práticas Militantes em Urbanização de Favelas. Uma pesquisa a


partir da ação de sujeitos – a Peabiru TCA.
1695
Lara Isa Costa Ferreira, Karina Oliveira Leitão

Arquitetura Vernacular: Teixoso como caso de estudo.


1714
Matos, Rúben


Cartas Municipais de Património. Do Inventário ao Instrumento de

Gestão. 1726
Tarrafa Silva, A., Cunha Ferreira, T

Intervir com Valor(es). 1740


Vanessa Pires de Almeida, Adelino Gonçalves, Margarida Relvão Calmeiro
O Plano Diretor Municipal como instrumentos de planejamento e
preservação do Patrimônio Histórico. O caso da Cidade de Cáceres –
MT.
1755
Gisele Carignani, Thais Lara Pinto de Arruda

Investigando códigos urbanos e urbanidade: Aspectos morfológicos


das leis urbanísticas de Parnamirim e seus rebatimentos sobre
padrões de urbanidade.
1768
Fabrício Lira

Desenvolvimento e modernização das cidades do século XX. O


contributo dos Cine-Teatros.
1785
Ana Cláudia Cardoso Brás

Da análise morfológica urbana e da percepção sintética. Uma


Metodologia do “Pensamento Lógico ao Nível do Sensível” -
Metodologia de suporte para a elaboração de planos em áreas
históricas.
1803
António Ricardo da Costa

Património: um percurso pelas memórias do Teixoso.


1823
Rúben Matos

As Secções do Vale em Caldas do Moledo. A metamorfose do Lugar e


do Tempo nas paisagens arquitectónicas do Douro.
1833
Ana Filipa Dias, Carla Garrido de Oliveira, Teresa Calix

‘No meio do caminho...um casarão’


1851
Thiago Oliveira Gonçalves Lima

Metamorfoses urbanas e segregação de comunidades pesqueiras, em


conjuntos urbanos tombados no litoral brasileiro.
1868
Ramon Fortunato Gomes, Ricardo Batista Bitencourt, Rômulo José da Costa Ribeiro

Casa Modernista em São Luís – Maranhão. A análise formal de duas


residências no eixo de expansão urbana entre 1940 e 1970.
1883
Bianca Tereza Lins Rabelo Barbosa, Grete Soares Pflueger

Ressignificar lugares: regeneração urbana como processo de


memória colectiva. O caso do Hub Criativo do Beato.
1893
Ana Nevado
Fisionomia Urbana. Do ideal para o real, croquis urbanos e o
reconhecimento dos jardins internos do Setor Sul, Goiânia-GO.
1903
Priscila Pires Corrêa Neves, Luiz Carlos de Laurentiz

Valorização da Paisagem em Tijucas, SC: Lugar, História e Cultura.


Trabalho Final de Graduação (TFG) como visão de Conjunto.
1921
Andrea Luiza Kleis Pereira, Giselle Carvalho Leal, Bruna L. F. Rodrigues Fachin

Requalificação do Adro do Conjunto Franciscano de Olinda –


Pernambuco – Brasil.
1936
Vania Cristina Silva Cavalcanti, Terezinha Monteiro

III. DESÍGNIOS

A geometria da cidade ideal, de Filarete a Villalpando.


1954
Eduardo Fernandes, João Cabeleira

Formas da cidade: Utopias e realidades.


1969
Luiz Fernando da Silva Mello

Da Cidade-Presépio à cidade-ilha ficcional. A imagem simbólica


(in)visível de Vitória (Espírito Santo-Brasil).
1987
Milton Esteves Junior, Linda Kogure

A evolução e persistência de um desígnio. O ‘Plano Parcial do


Campo Alegre’, 1952-66.
2000
Sílvia Cristina Teixeira Ramos

PP4 e Vila Expo’98. 20 anos de uma ideia de desenho urbano.


2012
Pedro Luz Pinto

Arquitectura, infra-estrutura, paisagem: construir a urbanidade na


‘cidade sem forma’.
2028
Rodrigo Coelho

Modernização de ontem, vitória de hoje. Uso comercial na Avenida


Jerônimo Monteiro em Vitoria/ES – Brasil.
2042
Viviane Lima Pimentel, Brenda Aurora Pires Moura, Flavia Santos Sanz, Samira Medeiros
Littig

Escala territorial e forma urbana. A participação das estruturas


naturais.
2060
Gislaine Elizete Beloto, Rafael Rossetto Ribeiro

Forma urbana e Mobilidade: Transporte Ativo na Cidade Formal e


Informal.
2071
Sabrina da Rosa Machry, Júlio Celso Borello Vargas, Bibiana Valiente Umann Borda ,
Lourenço Marques Valentini
Interação social e morfologia urbana: caminhabilidade no Centro de
Vitória (ES).
2089
Carvalho, Rodrigo de, Campos, Martha Machado

O estudo do ‘Território’ e da ‘Morfologia Urbana’ no Laboratório


Nacional de Engenharia Civil (1962-1974).
2105
Patrícia Bento d’Almeida, Teresa Marat-Mendes

Apr(e)ender (com) a cidade colonial brasileira: experiências de


atividades de ensino no Curso de Arquitectura e Urbanismo da
UFRN.
2117
José Clewton do Nascimento

Território em conflito: ruralidades urbanas na cidade.


2137
Carolina Ferreira da Fonseca, Pedro Dultra Britto

O desenho enquanto desígnio. Pensamento gráfico: configurações


reais e imaginárias.
2147
José Manuel Barbosa

Transformando mosaicos urbanos através do Território Educativo.


Uma prática pedagógica no ensino da arquitectura e urbanismo.
2165
Flávia Lima, Alain Flandes, Giselle Arteiro

Diálogos formados e em formação acadêmica na visão de Inserção


Projetual para a Habitação de Interesse Social.
2183
Mário Mário Santos Queiroz, Mariana Gomes Guedes, Silvio Parodi de Souza

Ações de formação e reflexão sobre favelas. A atuação do coletivo


LabLaje no contexto brasileiro.
2199
Lara Isa Costa Ferreira; Paula Custódio de Oliveira; Felipe Moreira; Victor Iacovini; Vitor
Coelho Nisida; Rodrigo Faria; Henrique Frota

Território do Bem. Resposta comunitarista e alternativa urbanística à


segregação socioespacial. 2214
Enrico Corvi, Milton Esteves Junior, Michelangelo Russo

Territórios colaborativos: cocriação da cidade e a mudança de


paradigma na academia.
2226
Ligia Nunes, Carla Portal, Alexandra Paio

Carlos Nelson Ferreira dos Santos: métodos e procedimentos de


trabalho na contemporaneidade de sua obra
2239
Maria de Lourdes Pinto Machado Costa, Maria Lais Pereira da Silva
A assistência técnica e a institucionalização da autoconstrução no
Brasil.
2249
Nathálya Louise Macêdo Leal, Liza Maria Souza de Andrade

Urbanizar a Teoria, Teorizar o Urbano. A investigação probabilística


do Centro de Estudos de Urbanismo e Habitação Engenheiro Duarte
Pacheco.
2263
Bruno Gil

As observações filo-morfológicas de Fernando Távora.


2278
François Dufaux

Bases Conceituais da Morfologia Urbana.


2291
Camila de Queiroz Pimentel Lopes

O paradigma da preservação cultural brasileira e sua interface com as


escolas inglesa e italiana de Morfologia Urbana.
2304
Staël de Alvarenga Pereira Costa, Maria Manoela Gimmler Netto, Priscila Schiavo Gomes
da Costa; Débora Blanda Ferreira Aires Salomão

Liminaridade. Uma Mediação sobre Percursos Intersticiais Urbanos.


2316
Saraa Al Shrbaji, João Rosmaninho

A negação das cidades moderna e pós-moderna. Uma análise da


visão distópica do videojogo Horizon Zero Dawn.
2335
Cláudio Valentim Rocha Leal
A Produção do Território: Formas, Processos, Desígnios

A geometria da cidade ideal, de Filarete a Villalpando.

Eduardo Fernandes1 *, João Cabeleira2 *

1 eduardo@arquitectura.uminho.pt, 2 joaocoelho@arquitectura.uminho.pt
* Escola de Arquitectura da Universidade do Minho, LAB2PT.

Este texto procura relacionar a inscrição do corpo humano ao círculo e ao quadrado, presente no terceiro
livro do tratado de Vitrúvio (De architectura libri decem), com as matrizes geométricas que regem a visão da
cidade ideal na tratadística renascentista, uma visão que não poderemos desligar da conceção cosmológica
medieval assente num mundo finito e regulado, da escala terrestre à divina, por um mesmo esquema
autocentrado.
António Averlino (também conhecido como “Filarete”), no seu Trattato d’Architettura (1457-64), é o primeiro
a dar forma a este ideal, no esquema que apresenta para Sforzinda; embora a sua conceção tenha evidentes
influências do discurso sobre a cidade presente no tratado de Vitrúvio, Averlino tem o mérito de traduzir
graficamente os seus enunciados compositivos.
Ao longo dos séculos XV e XVI, foram vários os tratadistas que abordaram esta temática da cidade ideal,
com propostas que, de uma forma ou de outra, trabalham as mesmas ideias de centralidade e composição
geométrica já presentes no esquema de Sforzinda.
No final do século XVI, após toda esta especulação teórica (desenhada, mas não materializada), este ideal de
cidade centralizada concretiza-se no traçado de Palma Nova, com um esquema que consideramos ser ainda
herdeiro da matriz geométrica de Sforzinda.
Mas se Palma Nova chega até nós como um exemplo raro da materialização dos princípios da tratadística
quinhentista numa cidade nova, a sua construção coincide com a emergência de um novo paradigma no plano
teórico, apresentado por Juan Bautista Villalpando e Jerónimo del Prado em Ezechielem Explanationes (1596-
1604), cuja visão do templo de Salomão exibe um esquema de 9 quadrados, num projeto de inspiração divina
(de acordo com a narrativa bíblica do profeta Ezequiel) que aponta uma nova matriz geométrica para o ideal
de cidade ocidental.

1954
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A geometria da cidade ideal, de Filarete a Villalpando. Eduardo Fernandes e João Cabeleira.

O círculo e o quadrado na cosmografia medieva

Se o ideal moderno assentará na comensurabilidade do corpo humano tendo como base matricial a
relação entre o quadrado e círculo, as mesmas figuras regem o ideário cosmológico medieval. Aí, no
encalce de uma Jerusalém celeste, a Jerusalém terrestre é definida como centro do círculo terrestres
emergindo como o lugar de onde e para onde irradia a presença de Deus. Uma relação que alinha
diferentes escalas na representação do mundo e respetiva conformação conceptual.
Na cartografia pré-moderna o mundo apresenta-se como tabuleiro circular detendo Jerusalém ao
centro, lugar simbólico por excelência, definidor da orientação espiritual da Europa, e, durante os
séculos XI a XIII, desígnio das movimentações militares, religiosas e comerciais do continente.
Uma conformação que não é alheia à Sagrada escritura onde, de acordo com Ezequiel (5:5),
o Senhor Deus disse “Isto é Jerusalém! Coloquei-a entre os povos; e as nações estrangeiras ficaram à sua volta.”

Fig. 1 – Matriz medieval da planta de Jerusalém, Mapa-múndi e Carta cosmológica (J. C., a partir de Situs Hierusalem_Séc.
XIII; Mapa Ebstorfer_c. 1300; e Schema huius praemissae divisionis sphaerarum_1524).

É-nos assim apresentado um mundo finito, circunscrito ao círculo, do qual Jerusalém é o centro de
onde erradia a presença de Deus e em redor do qual se organiza o cosmos. Simultaneamente a esta
visão macro cósmica materializada em cartas circulares (cuja estrutura em T corresponde aos mares
que separam a Ásia de África e da Europa), também na delineação do microcosmos Jerusalém é
reduzida a círculo onde os principais referentes da cristandade se organizam em T, apresentando-se
ao centro a esplanada do templo. Verificamos assim uma sucessão de círculos concêntricos,
também identificada por Ramirez (1990, 134-135), na organização das escalas do espaço físico,
simbólico e cósmico, centrados no templo de Salomão.
Contudo, e apesar desta matriz, a interpretação de Jerusalém, e por consequência o templo de
Salomão, divide-se em dois modelos, uma circular e outra ortogonal, conforme as fontes invocadas.
Ora, ainda que as fontes bíblicas como os livros históricos do 1ºs Reis, o 2º das Crónicas e o livro
profético de Ezequiel, apontem para uma estrutura ortogonal, parece vingar no imaginário
ocidental a ideia da conformação centralizante. Contudo, sendo esta ideia, no essencial, uma
conceção de raiz medieval, Fernández (2001, 1013-1014) explica-a segundo uma concorrência de
vários fatores: 1 – A centralidade imposta a Moisés na construção da capela de Anástasis; 2 – Os
organismos bizantinos difundidos por via das cruzadas, nomeadamente o Templo da Cúpula da
Rocha que chegou a ser tomado como réplica do templo erguido por Salomão; 3 – a ideia de
irradiação divina do centro à periferia. Contudo, não podemos deixar aqui de apontar que esta
imagem mental, a qual prevalece ao longo dos tempos sob as fontes escritas, deverá a sua força à

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eficácia da iconografia, medieval e moderna, da qual destacamos a vista de Erhard Reuwich gravada
em Peregrinatio in terram sanctam (1486).
Porém, o templo presente nesta iconografia nada tem a ver com o original senão que se ergue no
mesmo lugar, passando o templo da Cúpula da Rocha ao longo da idade média pelo templo de
Salomão reconstruído, o Templum Domini referente espiritual do mundo cristão. Uma confusão que
não é alheia a fatores simbólicos, fundindo-se a imagem do templo centralizante com uma
hipotética imagem do templo de Salomão.

Homo ad circulum, homo ad quadratum

Em 1416, Poggio Bracciolini encontra na Abadia de St. Gall uma cópia do tratado de Vitrúvio, De
architectura libri decem (no Códice Harleianus). Esta (re)descoberta permite que este texto se torne
uma peça central no desenvolvimento das teorias renascentistas, mas a sua interpretação constituiu
uma tarefa difícil para vários tradutores e ilustradores, ao longo dos séculos XV e XVI.
Há razões objetivas para isso. O texto original, redigido por um Engenheiro Militar romano entre
44 e 20 a. C. (no tempo de Júlio César e de Octávio César Augusto), perdeu-se (Maciel, 2006, 9). As
cópias existentes1 no início do século XV, em Latim mas com palavras Gregas misturadas, são
confusas, mal ilustradas e de difícil interpretação. 2 São realizadas por eruditos medievais,
'scriptores', que não são versados nos temas da arquitetura (Thoenes, 2003, 10). Assim (e até aos
nossos dias), cada nova tradução realizada diretamente a partir destes manuscritos pode constituir
uma interpretação diferente das anteriores.
Estas dificuldades são bem evidentes nas sucessivas ilustrações da famosa passagem do livro III do
tratado, que implica a inscrição do corpo humano ad circulum e ad quadratum3 e é a base de um
discurso sobre as respetivas proporções anatómicas que justifica algumas das relação modulares das
ordens arquitetónicas.

Fig. 2 – Esquemas compositivos do Homo ad circulum de Fra Giovanni Giocondo da Verona (E. F., com base em Jobst,
2003a, 63).

1 O manuscrito mais antigo que chegou até nós é do Sec. IX ('Harleianus'), mas até ao séc. XV foram realizadas cerca de 30 cópias
diferentes (Maciel 2006, 20.
2 Alberti, no seu próprio tratado De Re Aedificatoria (1442-52), considera Vitrúvio um “autor sem dúvida competentíssimo”, mas refere

que o seu texto foi “de tal modo danificado e mutilado pelo tempo (…) que os latinos palpitam que ele pretende fazer crer que falava
grego, e os gregos que falava latim” (Santo, Krüger, 2011, 374).
3 “(…) o umbigo é, naturalmente, o centro do corpo; (…) se um homem se puser deitado de costas com as mãos e os pés estendidos e

colocarmos um centro de compasso no seu umbigo, descrevendo uma circunferência, serão tocados pela linha curva os dedos de
qualquer uma das mãos ou dos pés. Igualmente, (…) se medirmos da base dos pés ao cocuruto da cabeça e transferirmos esta medida
para a dos braços abertos, encontrar-se-á uma largura igual à altura.” (Maciel 2006, 109).

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A primeira edição ilustrada de De architectura libri decem,4 com 136 gravuras, surge em Veneza em
1511, da autoria de Fra Giovanni Giocondo da Verona. A sua tentativa de ilustrar a descrição de
Vitrúvio da relação do corpo humano com o círculo e o quadrado concretiza-se em duas gravuras
distintas (Jobst, 2003, 60-63). No caso do seu homo ad circulum, é bastante evidente a imprecisão da
figura, que está inscrita num quadrado que não tem qualquer relação com as dimensões do corpo
humano: se o personagem desenhado levantasse os braços, ultrapassaria claramente o círculo
desenhado.
Esta dificuldade de interpretação de Vitrúvio é também evidente nos desenhos de Cesare
Cesariano, publicados na sua edição de Di Lucio Vitruvio Pollione de Architectura (Como, 1521), a
primeira tradução do texto para italiano. As suas duas ilustrações homo ad quadratum e homo ad
circulum são falaciosas, o que se torna evidente no segundo caso, onde a figura masculina5 é
desenhada com os braços e as pernas esticados (com os pés claramente desproporcionados), de
modo a tocar os quatro vértices de um quadrado que surge inscrito num círculo, que por sua vez
está inscrito num quadrado que abrange toda a composição e se divide numa malha de 30x30
unidades modulares.

Fig. 3 – Esquemas compositivos do Homo ad quadratum e do homo ad circulum de Cesare Cesariano (E. F., com base em
Jobst, 2003b, 70).

No caso da segunda ilustração, homo ad quadratum, a relação geométrica da figura humana com o
quadrado base corresponde ao descrito no texto de Vitrúvio, mas a clareza desta proporção perde-
se face a um conjunto de outras construções geométricas acrescentadas ao desenho: para além da
malha de 30x30 já presente no homo ad circulum, Cesariano desenha as diagonais do quadrado, que
cruzam no umbigo, inscreve um quadrado rodado (45º) no interior do quadrado maior (unindo os
pontos médios das suas arestas) e constrói ainda uma complicada teia de linhas entre o topo da
cabeça e os braços que procuram estabelecer um conjunto de proporções para os membros
superiores mas resultam num esquema pouco claro e dificilmente relacionável com o texto original.
Vitrúvio, no 1º capítulo do livro III, fala da relação proporcional 10:1 entre o rosto (“desde o
queixo até ao alto da testa e à raiz dos cabelos”) e a altura total do corpo humano, salientando a
correspondência desta medida com o tamanho da mão (“desde o pulso à extremidade do dedo
médio”); refere depois a possibilidade de dividir esta medida em três componentes do rosto: “da
base do queixo à base das narinas vai a terça parte”, daí até “ao meio das sobrancelhas, vai outro

4 A primeira edição impressa do tratado surge em Roma no final do século XV, dirigida por Giovanni Sulpicio; é escrita em latim e não
apresenta ilustrações.
5 Entre as ilustrações do texto de Vitrúvio publicadas nas várias traduções realizadas nos últimos 500 anos esta é a única que conhecemos

em que a virilidade da figura é claramente acentuada no desenho.

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tanto” e “daqui até à raiz dos cabelos” a mesma medida. Se esta divisão do rosto configura uma
relação modular de 1:30 com a altura do homem, ela não se aplica nas outras partes do corpo: nem
na proporção do pé do homem6 (1:6), nem no tamanho da cabeça (1:8), nem na dimensão do
antebraço (1:4), etc (Maciel, 2006, 109).

Fig. 4 – Esquema compositivo das proporções do corpo humano segundo Vitrúvio (E. F., com base em Zollner, 2000, 37
e Maciel, 2006, 110-11).

Mais do que estabelecer uma regra modular de proporcionalidade aplicável a todo o corpo, Vitrúvio
pretendia demonstrar a comensurabilidade do corpo humano, salientando as suas proporções
expressas em números perfeitos - o 10, o 6 e a soma dos anteriores, o “perfeitíssimo” 16 (Maciel, 2006,
110-11).
O esquema modular de Cesariano tem uma correspondência limitada com esta ideia de
comensurabilidade; no entanto, é esta interpretação que é retomada na primeira edição francesa do
texto de Vitrúvio, publicada em Paris em 1547 com tradução de Jean Martin, gravuras de Jean
Goujon e possível participação de Sebastiano Serlio7 (Kremeier, 2003, 202).

Fig. 5 – Esquemas compositivos do Homo ad quadratum de Jean Martin / Jean Goujon (E. F., com base em Kremeier,
2003, 206).

Neste caso, o esquema é aperfeiçoado, do ponto de vista modular: o quadrado base definido pela
altura do corpo humano8 é dividido numa malha de 10 x 10; por sua vez, esse módulo é dividido

6 No corpo da mulher a relação é diferente (1:8). Isto justifica, para Vitrúvio, a diferente proporção entre a largura e altura das colunas da
ordem dórica (1:6), que procura mostrar a “proporção, a solidez e a elegância de um corpo viril”, e da ordem jónica (1:8) que exprime a
“delicadeza da mulher” (Maciel, 2006, 143).
7 Jean Martin conhecia Serlio, que viveu em França nesta época; parece provável que a tradução e ilustração de Vitrúvio tenha sido

realizada com o apoio deste tratadista Italiano (Kremeier, 2003, 202).


8 Não é evidente no desenho a relação de proporcionalidade do quadrado com a largura dos membros superiores estendidos, porque a

figura desenhada tem os braços em repouso, mas ela está subentendida.

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em três partes, mas apenas nos dois módulos superiores do lado esquerdo, sugerindo as relações de
proporcionalidade da cabeça e da parte superior do tronco. Surge também aqui o mesmo jogo de
diagonais que se encontra no desenho de Cesariano, embora as linhas que ligam os quatro vértices
do quadrado se cruzem nas virilhas (uma vez que o homem está representado numa posição mais
natural, com as pernas na vertical).
Em 1548, um ano após esta primeira edição em francês, publica-se a primeira tradução para alemão
dos dez livros de Vitrúvio, realizada a partir do texto de Cesariano: Vitruvius Teutsch, editado em
Nuremberga por Walther Rivius (Zimmer 2003, 482-93). A sua interpretação do homem vitruviano é
quase idêntica à do autor italiano (as diferenças resumem-se a pequenas correções anatómicas da
figura).
Em todas estas variações do tema homo ad circulum / homo ad quadratum encontramos, em maior ou
menor grau, a mesma dificuldade em entender os pressupostos do texto original; no entanto, em
1490, Leonardo da Vinci tinha já compreendido as relações geométricas implícitas na descrição de
Vitrúvio melhor do que qualquer um dos futuros ilustradores do texto, como demonstra o seu
famoso desenho Homem de Vitrúvio.9

Fig. 6 –Esquema compositivo do Homem de Vitrúvio, Leonardo da Vinci, 1490 (E. F., com base em Zollner, 2000, 37).

Neste desenho torna-se claro que a relação entre o quadrado e o círculo não é direta nem evidente;
nenhuma das figuras se inscreve na outra. O centro do círculo resultante do movimento das pernas
e dos braços está localizado no umbigo; as diagonais do quadrado resultante da altura e da
amplitude dos membros superiores (quando esticados paralelamente ao chão), se fossem traçadas,
cruzariam nas virilhas. O círculo é tangente ao quadrado num único ponto, o centro da sua aresta
inferior (entre os pés da figura), e o seu traçado não coincide com a posição dos vértices superiores,
embora estes estejam próximos.
Da Vinci não representa nenhuma quadrícula na figura, mas assinala subtilmente uma regra
modular na linha que surge imediatamente abaixo do seu desenho: as marcas desenhadas sugerem
uma divisão do quadrado em (aproximadamente) 24 módulos (um múltiplo de 6) que se relacionam
claramente com as medidas da mão (dois módulos) e do antebraço (quatro módulos) da figura
desenhada; dois destes módulos (no final de ambos os lados da linha traçada) apresentam uma
subdivisão em 4 submódulos, que se relacionam com as medidas dos dedos.

9Este desenho, realizado a partir da leitura de Vitrúvio, faz parte de um conjunto de estudos sobre as proporções do corpo humano que
Leonardo realizoa partir de 1489 com o objetivo de escrever um livro intitulado Da Figura Humana, que não chegou a completar (Zollner,
2000, 36-7).

1959
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A cidade ideal, de Sforzinda a Palma Nova

Esta procura de relação entre o quadrado e o círculo, presente no Homem de Vitrúvio, é aplicada ao
desenho da cidade, de forma muito evidente, no Livro architettonico que Antonio Averlino (dito
‘Filarete’ ou ‘Filareto’, que significa “amigo da virtude”) elaborou entre 1461 e 1464, durante a sua
estadia em Milão, ao serviço do duque Francesco Sforza.10
Neste tratado, a questão da relação entre o quadrado e o círculo coloca-se em várias ilustrações,
mas a mais relevante para o tema deste texto é a planta de Averliano/Sforzinda,11 a cidade ideal
descrita por Filarete.

Fig. 7 – Filarete, construção geométrica de Sforzinda (E. F., a partir de Filarete, 1972, tav. 7, f. 13 v.) e esquema geral da
organização da cidade (E. F., a partir de Filarete, 1972, tav. 23, f. 43 r.).

Este desenho, elaborado de forma mais ou menos diagramática,12 “inaugurou o processo histórico
da Cidade Ideal” e, simultaneamente, “a ideia de planificação em abstrato como um caminho
possível na criação urbanística” (Tavares 2014, 79); mas, simultaneamente, transporta para a escala
do desenho urbano a especulação geométrica presente no Homem de Vitrúvio.
O esquema tem como base a sobreposição de dois quadrados iguais, sendo que um está rodado 45
º em relação ao outro. Da sua intersecção resulta uma estrela de oito pontas que define o traçado da
muralha: esta por sua vez está inscrita num círculo que une todos os vértices (Pedraza, P., 1990,
69).13
Se esta construção geométrica implica a inscrição dos dois quadrados num círculo, a sua
sobreposição com uma rotação de 45º sugere um movimento que gera o traçado circular. O traçado
radial das 16 ruas propostas por Filarete reforça esta ideia; partindo da praça central, as vias
dirigem-se, alternadamente, às 8 pontas da estrela (onde se situariam as 8 torres, de planta circular)
e aos 8 pontos de cruzamento dos dois quadrados que lhe deram origem (onde se situariam as 8
portas da cidade). Sensivelmente a meio do seu traçado, entre a praça e a muralha, estas vias são

10 O manuscrito original perdeu-se e foi através de cópias (nomeadamente as elaboradas para Sforza e para Piero de Medici) que a sua
publicação parcial foi realizada no século XIX; mas foi preciso esperar por 1972 para ver editada uma publicação integral do texto
(Biermann, 2003, 28-37).
11 O desenho de “Averliano, cidade ideal que se chamará Sforzinda depois de realizada” (Biermann 2003, 30).
12 Quer neste desenho, quer nas outras ilustrações do seu tratado, “parece claro que Filarete não dominava corretamente o desenho

arquitectónico”; mas, apesar desta evidente limitação, conseguia comunicar eficazmente o essencial das suas “soluções fantasiosas”
(Tavares 2014, 96).
13 O diâmetro deste círculo seriam vinte e oito estádios, sendo o estádio uma medida que corresponde a trezentos e setenta e cinco

braços. Domingos Tavares refere que este círculo pode representar “a ideia de instalar um fosso, um pouco provável segundo muro de
proteção” ou apenas “uma linha auxiliar para a definição da geometria da forma” (Tavares 2014, 84). Dado o caráter esquemático do
desenho e a indefinição do texto de Filarete em relação a este elemento, podemos considerar esta última hipótese como mais plausível.

1960
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cruzadas por uma rua de traçado circular, concêntrica em relação ao círculo exterior (Pedraza, P.,
1990, 120).
As dificuldades que este esquema implica, ao nível do desenho urbano, são muito claras nos
diversos elementos desenhados presentes no tratado de Filarete. A relação da praça central,
desenhada de forma retangular (com uma proporção de 1:2), com a forma radial das vias que dela
partem não é percetível, nem no plano geral de Sforzinda nem na planta da referida praça; do
mesmo modo, dificilmente se imagina a compatibilidade do esquema radial das ruas com a “malha
em quadrícula”, que é sugerida no texto mas não desenhada (Tavares 2014, 84).
Apesar das inúmeras contradições presentes nas várias ilustrações presentes no tratado, o esquema
compositivo de Sforzinda parece ter tido um grande impacto nos tratadistas dos séculos XV e XVI,
como matriz geométrica que concretiza em desenho o discurso de Vitrúvio sobre a cidade.14
Vitrúvio apresentava como ideia geradora do traçado a relação com os oito ventos,15 de modo que
“o ordenamento das praças e das vielas” possa ser “alinhado pelos ângulos entre duas direções de
ventos”; este principio liga o traçado das cidades a uma matriz derivada da rosa-dos-ventos, num
desenho radial que articula oito direções. Refere ainda que o contorno das cidades é desenhado
pelos seus muros defensivos, e que estes “não deverão ser estabelecidos em forma quadrada nem
com ângulos salientes, mas em circuitos, de modo a que o inimigo possa ser observado a partir de
vários lados”; pela mesma razão, as torres da muralha “deverão ficar salientes para o lado exterior”
e ser “arredondadas ou poligonais”, para oferecerem mais resistência ao impacto de projéteis e
aríetes (Maciel 2006, 46-51).

Fig. 8 – Francesco di Giorgio Martini, esquema de cidade com muralha em forma de estrela de oito pontas (E. F., a partir
de Martini 1967, f. 60v, tav. 258).

Francesco di Giorgio Martini apresenta no seu tratado Trattati di Architettura Ingegneria e Arte Militare
(1478-89)16 vários esquemas de organização defensiva urbana, com diferentes formas; 17 dois deles
(Martini 1967, f. 7, tav. 9) apresentam uma relação muito direta com a rosa-dos-ventos de Vitrúvio,

14 O texto de Vitrúvio sobre o traçado de cidade (presente no capítulo V do livro I de De architectura libri decem) era certamente do
conhecimento de Averlino, que cita o autor romano por diversas vezes no seu tratado.
15 Estes oito ventos são: o “solano”, o “euro”, o “austro”, o “áfrico”, o “favónio”, o “cauro”, o “setentrião” e o “aquilão” (Maciel 2006,

49-50).
16 Francesco di Giorgio terá iniciado em 1477 uma tradução dos dez livros de Vitrúvio (“uma empresa que iria acompanhá-lo durante

toda a vida”) para uma edição não publicada; o seu próprio tratado foi realizado em duas versões, uma primeira entre 1478 e 1481
(Codex Ashburnham 361, Biblioteca Lourenciana de Florença) e uma segunda entre 1487 e 1489 (Codex Magliabechianus II.I.141,
Biblioteca Nacional de Florença). Mas foi apenas em 1967 que o texto conheceu a sua primeira edição impressa (Biermann 2010b, 40).
17 Este tratado surge numa época em que se iniciava a transição dos sistemas defensivos medievais (muros “sólidos e altos” com um

“fosso com água ao seu redor”) para os sistemas de defesa contra o tiro de canhão (com “um progressivo aumento da distância
horizontal que devia deixar-se entre o perímetro da cidade e o limite exterior da sua fortificação”). Esta pesquiza de um novo sistema
defensivo torna-se uma evidente necessidade após a conquista turca de Constantinopla, em 1453, “que abriu uma nova era na história das
fortificações militares” (Morris 1979, 184-5).

1961
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com planta octogonal e um sistema de oito vias radiais que partem de uma praça central. A relação
geométrica destes dois desenhos com o esquema de Sforzinda é evidente no traçado das vias,
embora Martini reduza a complexidade do esquema de Averlino, diminuindo o número de ruas
radiais para metade. Mas a semelhança com o traçado de Sforzinda é ainda mais evidente numa
terceira proposta (Martini 1967, f. 60v, tav. 258) onde se reconhece uma muralha em forma de
estrela de oito pontas, que protege uma cidade de planta quadrada.
A tradução em imagens do discurso de Vitrúvio sobre o traçado das cidades também constituiu um
difícil desafio para os seus diversos tradutores e ilustradores. Fra Giocondo, na sua já referida
edição de 1511, apresenta uma cidade de planta quadrada, composta por uma malha ortogonal de 4
por 4 quarteirões, num esquema cuja relação com o texto do autor romano é praticamente
inexistente, à exceção da sobreposição do desenho octogonal de uma rosa-dos-ventos ao esquema
proposto (Tavares 2014, 123).

Fig. 9 – Fra Giocondo, esquema de cidade segundo Vitrúvio (E. F., a partir de Tavares 2014, 123).

A ilustração presente na tradução de Daniele Barbaro aplica mais fielmente o discurso de Vitrúvio,
apresentando um desenho que remete para a matriz geométrica de Sforzinda no desenho octogonal
das muralhas (que apresenta uma relação clara com a rosa-dos-ventos), vigiadas por 8 torres de
planta semicircular e no desenho do fosso, que assume a forma de uma estrela de 8 pontas (embora
com os seus vértices menos pronunciados que no caso de Sforzinda). No entanto, ao contrário do
traçado radial de Filarete, Barbaro propõe uma malha ortogonal para as ruas interiores (desenhadas
em volta de uma praça central retangular com proporção 1:2, como em Sforzinda), sendo notória a
dificuldade de relacionar esta lógica ortogonal com o octógono da muralha e com as vias de saída
que, estranhamente, não se relacionam com nenhuma das direções propostas (Barbaro 1556, 52).

Fig. 10 – Esquema de cidade de Vitrúvio, Barbaro / Palladio (E. F., a partir de Barbaro 1556, 52).

1962
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Esta dificuldade tinha sido enfrentada de forma mais eficaz por Pietro Cataneo dois anos antes, no
seu tratado I quattro primi libri di Architettura (Veneza, 1554); nos vários esquemas de cidade que este
autor propõe, a malha interior é sempre perfeitamente ortogonal mas adapta-se com naturalidade a
vários formatos de muralha, com base num quadrado, num pentágono, num hexágono, num
heptágono e num decágono (para além de outros casos de geometria irregular). O desenho dos
baluartes, proporcionais ao número de lados, transformam o traçado de cada uma destas muralhas
numa estrela de geometria complexa que recorda a matriz de Sforzinda (Cataneo, 1554, 217-37).
Após toda esta especulação teórica em torno da ideia de cidade ideal, surge no final do século XVI
um exemplo onde podemos reconhecer a sua concretização prática: a cidade de Palmanova,
começada a construir em 1593. A autoria do seu plano é muitas vezes atribuída a Scamozzi, embora
alguns autores coloquem em causa a sua participação neste projeto (Morris 1984, 191-2).

Fig. 11 – Esquema de cidade muralhada de Scamozzi (1982, 166-7) e planta de Palmanova (Morris 1984, 192).

Comparando o traçado efetivamente construído no norte de Itália com os desenhos de uma cidade
ideal muralhada publicados no seu tratado L’Idea della Architettura Universale (1615), encontram-se
mais diferenças que semelhanças: o polígono base tem 12 lados e a organização interior é
desenhada à maneira de Cataneo, com um traçado ortogonal que se desenvolve em torno de uma
praça central retangular. Pelo contrário, a planta de Palmanova inscreve-se num eneágono e a sua
estrutura viária ainda hoje conserva a sua matriz radial: da praça central, hexágonal, saem 6 ruas
principais, das quais 3 levam às portas da cidade (situadas no ponto médio de 3 lados do polígono)
e as outras levam a 3 vértices, onde se situam baluartes. Estas ruas são cruzadas por quatro vias
concêntricas; do primeiro destes anéis nascem doze ruas secundárias que se dirigem à muralha (seis
destas rematam nos seis vértices restantes do eneágono, as outras seis no ponto médio dos seis
lados restantes); no cruzamento de seis destas vias com o segundo anel surgem seis praças
secundárias.
No desenho em estrela da muralha (com baluartes duplos), tal como no esquema radiocentrico das
ruas, podemos encontrar alguma semelhança com o traçado de Sforzinza.
Esta cidade apresenta-se ainda hoje como um raro exemplo da materialização dos princípios da
tratadística quinhentista numa cidade nova; no entanto, a sua construção não fez escola, até porque
coincidiu com a emergência de um novo paradigma no plano teórico, apresentado por Juan
Bautista Villalpando e Jerónimo del Prado em Ezechielem Explanationes (1596-1604), que aponta uma
nova matriz geométrica para o ideal de cidade ocidental.

1963
PNUM2018: A Produção do Território: Formas, Processos, Desígnios.
A geometria da cidade ideal, de Filarete a Villalpando. Eduardo Fernandes e João Cabeleira.

Da visão de Ezequiel à reconstrução de Villalpando

Se à semelhança da matriz geométrica da cidade ideal moderna a construção imaginária e simbólica


do templo de Salomão se vincula a uma conceção centralizante, esta é contestada já no século XVII
pela reconstrução científica do templo por Juan Bautista Villalpando e Jerónimo del Prado em
Ezechielem Explanationes (Roma, 1596-Vol I; 1604-Vol II e III). Fortemente alicerçada na visão
bíblica de Ezequiel, a conformação do Templo e, por consequência, a da nova Jerusalém ideal é
reordenada segundo matriz ortogonal, a qual se refletirá num novo paradigma de cidade. Uma
imagem que não é alheia a interpretações anteriores, como a de Nicolau de Lira (1483), ilustrando
na sua versão da bíblia o templo com a planta e elevações, posteriormente tomadas por Hartmann
Schedel (1493) no seu Liber Cronicarum, e que influenciam as de François Vatable (1566) e as de B.
Arias Montano (1572) no seu Exemplar, sive de sacris fabricis liber.18 Assim, sendo que a visão não é
uma novidade em absoluto, esta decorre da cultura coeva, seja pela (re)conformação do cosmos
consequente às descobertas marítimas e astronómicas, seja pelo ensaio de formas e matrizes
coincidentes como as do Escorial ou do esquema para o hospital de Milão, pelo próprio Filarete, ou
pelo espirito contra-reformista mais orientado à especulação a partir da sagrada escritura em
detrimento da pura abstracção geométrico-matemática.
Porém, se as ilustrações apontadas visam dar a ver conteúdos da Bíblia, a visão de Villalpando
propõe uma reconstrução científica do templo de Salomão adoptando o modelo da tratadística
moderna, e no qual inclui âmbitos da arquitetura (especulação construtiva e espacial) da
matemática e geometria (valor numérico e relações proporcionais) a par de significância teológica
(na exacerbação de valores simbólicos extraídos da sagrada escritura).
Nesta ordem, a obra é, dentro do contexto da sua produção e mecenato, contaminada pela
autoridade de Herrera (evidente na coincidência com o projeto do Escorial, símbolo da cosmogonia
coeva) que valida a expressão arquitetónica proposta pelo sábio jesuíta (Ramirez 1990, 143) , ao
mesmo tempo que aí se aplicam os instrumentos modernos do projeto, e exploração de valores
abstratos de composição, assentes na relação numérica e proporcional, materializados no valor
plástico do desornamento conforme o panorama espanhol de seiscentos. Do mesmo modo, no
campo teórico não sonega a mensagem de Vitrúvio,19 onde contudo transfere a emanação de
referentes da natureza para Deus. Este facto é evidente na exploração da visão de Ezequiel, cujas
dimensões e relações espaciais são ditados diretamente por Deus, que se sobrepõe ao ideal
platónico de regulação cósmica pela matemática e geometria: “… a mão do Senhor esteve sobre mim e
levou-me em visões divinas ao país de Israel. Conduziu-me a uma montanha muito elevada. Nessa montanha,
parecia elevarem-se, do lado sul, as construções de uma cidade. Conduzido a este lugar, vi um homem com o aspecto
de bronze: tinha na mão um cordel de linho e uma cana de agrimensor. E estava de pé, à porta. Disse-me aquele
homem: «Filho de homem, contempla com os teus olhos e escuta com os teus ouvidos! Presta atenção a tudo o que eu te
mostrar, porque foi para isso que foste conduzido até aqui. Dá a conhecer à casa de Israel tudo o que eu te
mostrar.»” (Ezequiel, 40:1-4)
Há assim, e como aponta Ostwald (2009), uma invocação constante entre o domínio do homem e o
domínio divino, entre o ambiente construído terreno e o ideal celeste. A visão do templo contamina

18 Posteriormente as mesmas serão alvo de atenção por Jacob Juda Léon, Coccejus, Caramuel, Claude Perrault, Goldmann, Sturm,
Bernard Lamy, Lund, Issac Newton e John Wood, entre outros.
19 Sendo Vitrúvio a autoridade máxima no âmbito da tratadística arquitectónica, Villalpando refere-se a partir da versão comentada

publicada por Daniel Barbaro (1556).

1964
PNUM2018: A Produção do Território: Formas, Processos, Desígnios.
A geometria da cidade ideal, de Filarete a Villalpando. Eduardo Fernandes e João Cabeleira.

a visão da forma urbana, sendo esta reconstrução, e como aponta Morrison (2008), uma metáfora
do Deus criador que delineia a matriz espacial do seu templo, logo da cidade e do cosmos habitado,
que aliás condiciona a estruturação da urbe medieval20 ou mesmo as operações de transformação
moderna.21 “«Tu, filho de homem, mostra o plano deste templo à casa de Israel, para que eles se envergonhem das
suas iniquidades. Que eles meçam o plano, e se eles tiverem vergonha da sua conduta, ensina-lhes a forma do templo e
o seu plano, as suas saídas e entradas, a sua forma e todas as suas disposições, toda a sua forma e todas as suas leis.
Põe tudo isto por escrito diante dos seus olhos, para que eles observem a sua forma e todas as suas disposições e se
conformem com elas.»” (Ezequiel, livro 43:10-12)
Passando da especulação teórica a partir da Visão bíblica (na qual se descortina e comenta o
discurso da sagrada escritura a partir do vocabulário próprio da arquitetura), ao desenho (por via
dos instrumentos modernos do projeto), a primeira parte do Tomo II materializa a interpretação
gerada segundo diferentes níveis de planta, alçados e secções, a par da questão do ornamento.
No encalce dessa reconstrução gráfica a partir da bíblia, Villapando fixa a matriz geométrica do
espaço em torno do templo em função de malha de 16 pontos. Um esquema que permite organizar
directamente em redor do tabernáculo 4 pontos correspondentes às divisões entre os levitas
(Gérsom, Coate, Merari e Moisés, posicionados por Levi em redor do templo a Oeste, Sul, Norte e
Este respectivamente), rodeados por sua vez pelas 12 tribos de Israel (Rúben, Simeão, Judá,
Zebulom, Issacar, Dã, Gade, Aser, Naftali, Benjamim, Manassés e Efraim), às quais correspondem
12 gemas simbolicamente colocadas nas fundações da cidade (Jaspe; Safira; Calcedónia; esmeralda;
Sardónica; Sárdio; Crisólito; Berilo; Topázio; crisópraso; Jacinto; Ametista), ou ainda, os signos do
zodíaco relacionando indelevelmente a construção terrestre com o mundo celestial e sobrecelestial.

Fig. 22 – Diagrama da proposta de Villalpando para o templo de Salomão. (J. C., a partir de Castra Tribuum Israel circa
tabernaculum foederis , e de eorundem castrorum dispositivo mundum referens, & templum,Villalpando 1602, Vol 2, 467 e 470).

Esta distribuição de tribos, gemas e signos zodiacais determinaria a perfeição do plano, que aliás
assenta no perfeitíssimo 16, sendo que dos 16 pontos se geram 9 quadrados, cuja regularidade e
estabilidade lhe conferem um carácter perene e universal, forte o suficiente para servir de matriz a
outros ensaios e construções tanto da escala do edifício como da cidade. Aqui, e ao contrário dos
esquemas radio-cêntricos fortemente vinculados à circunferência que os inscreve, a malha liberta-se,
por um lado, do constrangimento consequente ao confronto entre os limites da malha ortogonal e a

20 Corboz (1995) detecta esse paralelismo (em Berna, Paderborn, Utrecht, Hildesheim ou Verona, que inclusivamente toma durante a
idade média o nome de Minor Hierusalem) evidenciando que a disposição dos templos na cidade ou na sua envolvente encarnam os santos
lugares (monte das oliveiras, Cálvário, Santo sepulcro, Nazaré e Belém)
21 Uma ideia, por exemplo, perseguida em Roma que na tentativa de se refundar como nova Jerusalém (Matteo Selvaggio, duodecim porte

hierusalem_1542) despoleta a transformações moderna da sua estrutura de distribuição e serve de mote à construção da nova basílica de S.
Pedro como reconstrução do templo de Salomão.

1965
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A geometria da cidade ideal, de Filarete a Villalpando. Eduardo Fernandes e João Cabeleira.

circunferência ou polígono envolvente, ao mesmo tempo que, face à negação do encerramento do


espaço urbano, sugere já a tendência barroca de conquista do infinito, numa amplitude de relações
visuais que se libertam do organismo urbano delimitado. Contudo, tenhamos em atenção, que o
contexto europeu não detém necessariamente condições para a implementação de um esquema
aberto que apenas parece encontrar terreno propicio à sua aplicação no Novo Mundo.
Deste modo, a matriz desta Jerusalém transparece das ordenações para a urbanização do Novo
Mundo,22 que aliás, é fortemente alicerçado pelas políticas de doutrinação e proselitismo contra-
reformista. Encontrou-se aí a oportunidade para edificar Jerusalém e o templo de Salomão.23
Se daqui advém o novo paradigma de idealização do espaço urbano, também no que se reporta à
definição antropomórfica do espaço arquitetónico se transforma o referente. Assim, ao homem
vitruviano que determinou padrões da cultura moderna, integrando a figura humana no círculo e no
quadrado, Villapando altera a relação para um retângulo, de proporção 1:2 (ou duplo quadrado),
mas mantém uma relação da cabeça em 1/8 da altura. Conforme o esquema em Singularum porticuum
et humanae staturae similis distributivo, o paradigma proporcional redefine-se sendo aqui aplicado tanto
à proporção de espaços como da elevação do templo. Uma proporção que serve à delineação do
tabernáculo, ao centro da malha de 16 pontos, e que, de certo modo nos remete à praça retangular
no centro de Sforzinda.

Fig. 33 – Princípios proporcionais para a Figura humana, Pórticos do templo e regulação cúbica da Malha conforme
Proposição IV do Livro II de Euclides. a partir de figura de Singularum porticuum et humanae staturae similis distributivo.
(Villalpando 1602, Vol 2, 467).

Na mesma lógica, e na persecução de valores proporcionais, a reconstrução de Villalpando não


deixa de lado a transformação do referente cúbico, tido como elemento chave da matemática
pitagórica e, porquanto, de toda a espacialidade renascentista. Aqui este não corresponde já a
unidade física/geométrica mas de relação entre medidas, reforçando o valor simbólico do número.
Um fator que toma no âmbito da conceção arquitetónica a Aritmética, geométrica e harmónica
enquanto 3 disciplinas intercambiáveis, e que se reflete em tabelas de dimensões e de medidas das
partes, a par do dimensionamento de elementos construtivos associando-os consonâncias musicais
e consequentemente à escala pitagórica na proporção dos factos, o tomo III assume-se como
tratado de medida explorando a proporção, natureza dos corpos, materiais e modos de medição.
Assim, se atentarmos à relação entre os polígonos que estruturam o templo e a delineação da

22 Morfologicamente as cidades fundadas no novo mundo evidencia a definição de traçados ortogonais sendo que das ordenações dos
povoadores (1573) transparece a estruturação da cidade em retícula a partir de grande praça central em redor da qual se fixam os
principais edifícios (BONET CORREA 1991)
23 Exemplos fundados sob a ideia do templo de Salomão identificados por Corboz (1995): New Haven (1614); Genébra (1730), Jacques-

Barthelemy Micheli du Crest; Servigliano, (1772-1796), Virginio Bracci.

1966
PNUM2018: A Produção do Território: Formas, Processos, Desígnios.
A geometria da cidade ideal, de Filarete a Villalpando. Eduardo Fernandes e João Cabeleira.

Jerusalém terrestre verificamos a aplicação da proposição IV do Livro II de Euclides que, apesar de


no seio da comunidade jesuíta servir mais as pretensões de exercício lógico e retórico do que
matemático ou geométrico, na regulação das partes.24

Conclusão.

Cruzando a especulação teórica com a respetiva conversão gráfica, o percurso aqui enunciado
explora modelos de cidade ideal moderna cujos esquemas de composição revelam opções
autocentradas e finitas, por via da matriz derivada do irresolúvel problema da quadratura do círculo
(lugar de encontro a esquemas ad quadratum e ad circulum, e fonte de uma infinita possibilidade de
variações poligonais) e a sua subsequente substituição por uma estrutura absoluta, universalizante e
potencialmente infinita vinculada pelas malhas modernas que regulam imagem, forma e espaço.
A transição entre estes dois paradigmas implica uma diferente relação da cidade com o território, só
possível num novo contexto geopolítico: a passagem de uma cidade contida e claramente definida
na forma por uma necessária estrutura defensiva para uma malha urbana extensível, ilimitada,
adequada aos territórios virgens das colónias espanholas na América do Sul.
Contudo, do ponto de vista da história da tratadística ocidental, esta mudança de paradigma implica
também um questionamento precoce das leituras dogmáticas de Vitrúvio que depois, ao longo dos
séculos XVII e XVIII, serão intensamente debatidas e progressivamente substituídas por
abordagens mais cartesianas da teoria da arquitetura.

Agradecimentos

Este trabalho tem o apoio financeiro do Projeto Lab2PT- Laboratório de Paisagens, Património e
Território - AUR/04509 e da FCT através de fundos nacionais e quando aplicável do
cofinanciamento do FEDER, no âmbito dos novos acordos de parceria PT2020 e COMPETE
2020 – POCI-01-0145-FEDER-007528.

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rectângulo das mesmas partes, tomado duas vezes”

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