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Identidades de 2015
Coletivas e Conflitos Territoriais no Sul do Brasil
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Boletim
Informativo Identidades Coletivas e Conflitos Territoriais no Sul do Brasil
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Associação dos Moradores
do Bairro Jardim Jacarandá 2, Paranaguá.
Na luta pelo direito à moradia e à cidade.
“Na frente dos olhos das autoridade nós não somo dono de nada aqui. Mas só na frente deles. Mas enquanto
eu estiver vivo aqui eu provo que eu comprei e paguei com meu suor isso aqui. Não tem nada aqui grilado. Tudo
o que tem aqui me custou o meu suor. Eu digo que o sofrimento nosso é muito grande. Mas a gente se uniu pra
trazer as melhoria pra comunidade. Hoje muito gente tem investido por que viu que a Associação tá fazendo. O
que nós queremo é nosso direito, porque nós somo cidadão brasileiro.” (Sr. Sebastião Feliciano Otes, 53 anos)
Casa Sr. Antonio, 66 anos Placa indicativa do Bairro Oficina Cartografia 22 de outubro de 2013.
Identidades Coletivas e Conflitos Territoriais no Sul do Brasil
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Em agosto de 2013, a coordenação da Associação dos Moradores do Bairro Jacarandá II solicitou através de carta a
representante do Projeto Cartografia Social a realização de uma edição do Boletim com foco nos conflitos urbanos
presentes naquele bairro da cidade de Paranaguá. Os problemas eram diversos dentre os quais a falta de regular-
ização fundiária, a inexistência de serviços de água, esgoto e luz, e a sobreposição de uma Zona Restrita de Ocu-
pação – ZRO conforme mapas do Plano Diretor do Município de Paranaguá.
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO BAIRRO JARDIM JACARANDÁ II
Presidente: Adriane Magali Cachoeira 2 Secretária: Elisangela do Nascimento
Vice-Presidente: Joacir Soares Mendes 1 Tesoureiro: Gonçalo Silva Filho
1 Secretária: Daniela Daitschamn 2 Tesoureiro: Laudiney de Paula Cordeiro
Expediente
Coordenação da Cartografia: Associação dos Moradores do Bairro Jacarandá II
Coordenação Técnica do Projeto: Roberto Martins de Souza - IFPR, Letícia Ayumi Duarte - PPGGeo - UFPR e Marcelo Cunha Varella - UFPR
Colaboração Técnica: Profa Gislaine Garcia de Faria - IFPR
Apoio em Pesquisa: Alice Domingues da Silva, Nei da Silva, Celso Poleti Moreira, Cleiton da Cruz, Evanilde Carta
Francisco (Chico das Verduras), Gonçalo da Silva, Joacir Soares Mendes, João dos Santos Filho, Juscemar Dotino Pereira,
Laudiney de Paula Cordeiro, Luiz Olegário, Pedro Manoel Oliveira, Sebastião do Nascimento Hotes, Tatiane Mendes, Zaida
Letícia, Vilmar Brasil; Moacir dos Santos; Juarez Osmar dos Santos; Marcos Augusto Vendana; Daniela Daitaschaman;
Osmar Fernandes Filho; Antonio do Rocio Pereira; Edison Pereira; Josil Silva; José João Luis; Geraldo Otis Filho; Cosmo
Alves de Moura; Adriane Magali Cachoeira; Vitor Mendes; Elisangela do Nascimento; Luis Alves de Lima; André Xavier, Oniz,
Aosmar da Silva Alvares, Azuil Pereira, Benjamin Lima Pereira, Rosi Mari de Oliveira, Birajara José Salgueiro dos Santos,
Everton da Rosa de Moraes, Luzia do Rocio do Nascimento, Ana Francisca, Lourdes Gamarra, Cleusa de Oliveira, Clayton
de Oliveira, Emerson de Andrade, Ismail Rosina, Jeová Henrique Costa, Claudiana Schurmam, Keila Mari Cruz de Cristo e
Sebastião Feliciano Otes.
Fotografia: Roberto Martins de Souza, Jusciomar Dotino Ferreira (Gil) e Alice Domingues da Silva; Nei da Silva, Daniela
Daitaschaman, Marcelo Varella, Letícia Ayumi Duarte e André Xavier..
Cartografia: Leticia Ayumi Duarte e Marcelo Varella
Diagramação: Murilo Canário
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Pela Democratização da Questões que já contavam mais de 20 anos de conflitos com os
órgãos públicos travados pelos moradores que principiaram a
ocupação do local. Ao longo de mais de 12 oficinas realizadas no
Cidade de Paranaguá: período da noite nas casas de moradores da comunidade, soma-
dos ao curso destinado a aprendizagem de tecnologias básicas
no uso de GPS, Máquina Fotográfica digital, uso de softwares de
O direito à cidade se apresenta desde o período colonial como visualização e elaboração de imagens e mapas, apoiamos a orga-
uma luta dos grupos sociais do litoral do Paraná, ainda que essa nização do mapa situacional do bairro, contendo inclusive seus
não seja uma demanda visível, a evidência dos conflitos socioam- limites para fins de reconhecimento, luta que mobilizou os mora-
bientais constituem antigo assunto na pauta dos moradores des- dores,tendoemvistaarevisãodoPlanoDiretor.
sa região, sobretudo, os empurrados nas últimas décadas, pela No decorrer das ações, revelaram-se interesses que evidenciam
especulação imobiliária, em direção as fronteiras da cidade. Para- obstáculos a justiça social e a democratização da cidade, ao di-
naguá,comoreferênciaportuária,éumdascidades queaolongo vergir da legislação específica que pressupõe a função social da
de mais de 50 anos, mais cresceu no litoral paranaense devido cidade como centro da norma, a participação da população nos
aos investimentos no Porto. Costumamos ouvir essa associação espaços de planejamento e decisão. Em oposição ao Estatuto
–desenvolvimento/Porto/cidade–contudo,nuncanospergunta- das Cidades e o próprio Plano Diretor da Cidade, na prática, que
mossobreocustosocialeculturaldessaempreitada.Comoregra, controla o planejamento da cidade são grupos historicamente
em nosso país, as decisões sobre quê modelo de desenvolvimen- vinculados a herança do poder dominante em Paranaguá, e por
to implantar e a análise dos impactos à população supostamente extensão, pode-se supor que do mesmo modo esse processo
beneficiadasãosempreumapreocupaçãomenor. ocorre em todo litoral do Paraná. Por outro lado, um grande con-
Ainda que seja historicamente “normal” aos parnanguaras convive- tingentedetrabalhadoresemigrantesjávítimasdeprocessosan-
rem com atividades portuárias, teriores de exclusão – na escola,
devido ao lugar estratégico na moradia, no trabalho encon-
para essa finalidade – baia – a “Nesse cenário o processo de trans- tramemParanaguáumacidade
expansão estimulada do Porto formação da cidade pelo capital, vem que se desenvolve de modo
no último quinquênio aliado a produzindo uma urbanização pre- desigual, criando a periferia en-
posição geográfica – limitada quanto sua característica mais
pelaságuas-,aodescontrolepú- datória, e socialmente desigual.” visível. Na região onde produ-
blico sobre o domínio das terras zimos essa cartografia, ela tem
públicas e a frágil condição ecológica, trouxe evidências claras ao um modus operandi, que envolve em etapas distintas, diferentes
desordenamento urbano como uma construção social a serviço agentes especulativos: imobiliárias, cartórios, grileiros e o próprio
do capital especulativo. Não é preciso ser especialista no assun- poder público municipal que opta pela reforma urbana de mer-
to para perceber as mazelas urbanas – expansão desordenada, cado, ou seja, planeja e classifica o crescimento da cidade a par-
regularizaçãofundiária,necessidadedesaneamentobásico,con- tir dos interesses das imobiliárias e especuladores. A população
flitos com áreas protegidas, moradias precárias, falta de moradia, desabrigada e desorganizada, motivada pela incapacidade de
dentre outras... Nesse cenário o processo de transformação da pagar aluguéis, superlotar casas de parentes ou morar nas ruas,
cidadepelocapital,vemproduzindoumaurbanizaçãopredatória, resta aguardar lotes em áreas abertas por grileiros, que a vista de
e socialmente desigual. O ritmo dessas mudanças vem se ex- todos acrescenta ao mercado de terras novas áreas de “moradia”,
pandindo para o litoral do Paraná formando núcleos com exten- local onde vão construir na clandestinidade seus barracos, a rua,
sas periferias ocupadas por população pobre expulsa das áreas o gato de luz e da água, a partir de uma “modelo” que apropria e
consideradas estratégicas para expansão portuária, bem como produz socialmente a periferia, cuja marca principal é a ausência
pescadores e agricultores das ilhas e comunidades afetadas por doEstado.
unidades de conservação. Tais moradores situados nas periferias A luta pelo direito à cidade significa para essas pessoas, restaurar
continuam desprovidos de infraestrutura básica, a cada dia mais osentidodecidade,quepodeserconstruídacombasenaideiade
distantes do centro da cidade e ainda têm que enfrentar, em seus cidadecomoprodutocultural,coletivoe,porconsequência,políti-
obrigatórios deslocamentos para as áreas centrais, o insuficiente co. Entender a cidade como um espaço político, onde é possível
ecarosistemadetransporteeaausênciadeequipamentospúbli- a expressão de vontades coletivas amparadas por direitos funda-
cosessenciais. mentais, manifestadas nesta cartografia, expõe inevitavelmente
No contexto da produção deste Boletim pela comunidade do Jar- sua face conflitiva. Porém, esse é o caminho e a possibilidade de
dim Jacarandá 2, fomos acionados através de uma carta da Asso- construir uma cidade na qual se possa viver dignamente, reco-
ciação de Moradores da comunidade para auxiliar na demanda nhecer-se como parte dela e onde se possibilite a distribuição
pela regularização dos terrenos, tendo em vista essa condição equitativa de diferentes tipos de recursos: trabalho, saúde, edu-
para serem providos pelos serviços públicos básicos: água e luz. cação,moradia,etc.
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A História de
por causa da natureza, ainda tem um ar, um ar
que você pode respirar que se senti bem. Um lu-
gar que é simples, o pessoal é humilde, mas é
ocupação do Bairro um lugar bom de se morar. Nos somos um bairro
porque temos igreja, nós temos moradores, te-
mos criança que estudam e frequentam colégio,
“A comunidade é que construiu esse bairro, o várias famílias que moram aqui e vão pra esco-
apoio foi da comunidade, a comunidade se uniu e la, temos animais, tem gente que tem sua plan-
a gente foi fazendo as melhorias. A prefeitura até tação, tem sua horta familiar. As pessoas vivem
agora não colaborou com nós em nada. Muito pelo daqui, o seu subsídio é daqui. E tem animais, tem
contrário, nós que colaboramos com a Prefeitura, galinha, tem cavalo. Tem uma vida aqui.” (Joacir
nós que cuidamo do bairro, cuidamo do meio am- Soares Mendes, Pelé, 58 anos)
biente, nós fazemo os serviços que a Prefeitura “Aqui é uma comunidade porque cresceu, abriu
devia fazer, limpamo a rua, nós que zelamo pelo as ruas e essas laterais tá abrindo, e porque o
bairro. Nós tamo cuidando [meio ambiente], a povo tá unido e tá conseguindo. O povo que vem
partir da hora que a gente fez as nossas casas, mora aqui, a maioria não tem condições de com-
não existia mais mato, já era urbanizado, de que prar pra lá, por que pra lá é caro. Já tem uma
forma que foi a gente não sabe. Porque a gente família, vai mora na casa dos pais, os pais tem
conhece os lugares que muitos irmãos, ai não
há muito tempo já mo- tem como morar tudo no
rou gente. O pessoal
só ocupou essas áreas. “Eu vim pra cá em 1997. Quando eu cá, compra de outro que
mesmo terreno. Vem pra
Mas as matas, ninguém cheguei aqui já estava dividido entre vai vender mais barato,
tá mexendo. Onde o Es- vários sítios. Eu tinha um dinheirin- compra o terreno passa
tado junto com a Prefei- pro outro. Pra não ficar
tura fizeram os conjunto ho que eu tinha juntado e comprei um na rua. Pra lá não tem
deles [casas populares] sítio pra mim e comecei a zelar dele.” mais como compra ter-
eles desmataram tudo e, reno, 100 mil, o mais
desmataram uma área barato é 30 ou 40 mil,
que esqueceram de faz- daí não tem condições de comprar. Daí tem que
er uma praça, uma área de lazer pras crianças.” vir nessa área aqui. Povoa aqui, por necessidade,
(Joacir Soares Mendes, Pelé, 58 anos) também que cria família, não pagar aluguel.”
“Eu vim pra cá em 1997. Quando eu cheguei aqui (Luis Olegário, 48 anos)
já estava dividido entre vários sítios. Eu tinha um “O nascimento do bairro quando eu cheguei aqui,
dinheirinho que eu tinha juntado e comprei um tinha poucos moradores, foi mais ou menos uns
sítio pra mim e comecei a zelar dele. Tanto é que dez anos [2003]. Aqui no começo já tava feito. O
até hoje o lugar em que eu moro é o lugar onde pessoal veio vindo eu vim como era minha neces-
tem natureza. Do jeito que eu comprei eu só fiz sidade. Eu nasci e me criei aqui em Paranaguá.
plantação, comecei a produzir queijo, criação de E vi uma coisa que não tem residência. Que o
galinha,...” (Pastor Silvano, 50 anos) governo faça algo, em prol do povo, o povo tem
“Eu lembro que quando eu cheguei aqui em 2004 que se virá sozinho. Eu cheguei aqui também
era muito precário, a rua era muito complicado, necessitando, falei moro aqui em Paranaguá.
cheio de buraco, era difícil passar automóvel A Prefeitura não faz benefício nenhum, parou
aqui. Depois em vim pra cá em 2011 pra morar, de fazer loteamento para colocar o pessoal que
ai fiz minha casa, a gente foi arrumando com di- moram aqui, que se criam aqui e se desenvolvem,
ficuldade a rua, também a parte elétrica e outros as famílias crescem. Ai vim pra cá e vi que vou
moradores da região que também vieram pra ter ter que morar no sítio precariamente no mato, e
uma moradia, fugi do aluguel, e ter sua moradia vamo desenvolver, desbravar, fazer alguma coisa.
mesmo simples, mas lutando. Eu gosto daqui Eu vim pra cá porque necessitei. Peguei uma área
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fomo atrás de ter a energia elétrica. E da água
também, só que a água não tinha condição de co-
locar a água até aqui, o último morador que era
muito longe, essa estrada tem mais de 12 km ou
mais. E foi sobre luta que nós temo conseguido
até agora, pois não tem favorecimento de órgãos
do governo, de político, de nada.” (Celso Poleti
Moreira, 49 anos).
“Quando começou, chegou um, o Celso. Começou
a me incentivar eu já morava no mato, eu co-
mecei a roça, aquele incentivo de trazer material.
Eu tenho esse incentivo pro sítio, minha esposa
também. E nós sair daqui pra trabalha até a ci-
dade. Nos vamos porque nós gostemo daqui. Ai
vendemos lá o que nós tinha. E só eu ela, 36 anos
quase casado. Tudo o que nós temos é fruto do
nosso trabalho, do o interesse de trazer as coi-
sa pra morar aqui. Aqui não tinha essa rua não,
Sr. João dos Santos Filho, Luiza e Juraci, 1998 - Caso do Sr.
pra gente passa tinha que puxá essas terra pra
Juscemar Dotino Pereira.
gente pode passa. E quando acabava essa luz a
noite, geladeira, chuveiro, esquenta, na bacia e
lá e fiz um barraco de madeira. Ai fui começando.
toma banho, tem lenha. E se quiser o ônibus você
Outras pessoas foram vindo. Começamo a con-
pega aqui, dá uns 10 a 15 minutos de a pé, de-
versar, dialogar, como é que nós podemo fazer.
pois vai até o centro. E pra mim isso aqui, tem
Não tinha estrada naquela época, era só um car-
pessoas que fala que isso aqui é ruim, mas tem
reirinho de 2 metros, ai fomo aumentando a rua,
pessoas que moram melhor que a gente, mas
fazendo benfeitorias. E depois começaram vir
não tem a felicidade que eu tenho aqui. A felici-
mais pessoas, também morar ali, fazendo casa.
dade de acordar todo dia em paz, respiro ar puro,
Nós começamo, no quinto dia ajudar as pessoas
tenho a convivência com vizinhos. Nós aqui no
que eram mais necessitadas, por exemplo, tinha
momento não existe aquele ganho sabe, de um
pessoas que vinham morar aqui com uma barraca
furta a casa dos outro, aqui um cuida dos outros.
de lona preta de plásti-
Ai começaram a dizer
co, então nos ajudava
que vai vir a turma da
e levar uma tábua, uma
telha. Tinha casal de “Isso aqui não foi adquirido com in-
Becker, que vão vim pra
cá, isso aqui vai virá uma
idosos que moravam vasão. Nós adquirimo da Imobiliária
boca de lixo. Mas quem
aqui e tinham problema (Roma). Se invadiu outras pessoas,
conveve aqui, sabe que
de diabetes, que pre-
cisava de insulina. Não foi a 53 anos atrás. Eu provo por A
um corresponde ao
outro, um dedica ao
tinha água, não tinha luz mais B que eu não sou invasor.”
outro.” (Juscemar Doti-
também, tudo precário.
no Pereira, 50 anos)
Depois que começou a
vir mais moradores que “Isso aqui não foi ad-
nós assumimos e nos fomo falar com o diretor da quirido com invasão. Nós adquirimo da Imo-
Copel. Naquela época tinha já aqui o posteamen- biliária (Roma). Se invadiu outras pessoas, foi a
to de rede, Copel colocou. Ai teve um problema 53 anos atrás. Eu provo por A mais B que eu não
de politica, não sei como é que foi que aconte- sou invasor. Que são pessoas que não tem ver-
ceu e tiraram todo posteamento. E como a gen- gonha na cara de falar que nós somo invasor sem
te não entendia muito de política nós fiquemo primeiro chegar e conversar com nós. Sabe da re-
quase meio perdido, daí nos se organizemos e alidade, como é que aconteceu, como é que nos
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comprei esse terreno lá, ficava muito difícil pra
puxar a luz, daí eu negociei aquele terreno, daí
eu comprei aqui (...) Eu pensei, tá mais perto da
BR, tá perto pra puxar a luz, não vai sair tão caro.
Ai ficava bem mais fácil de puxar. Ai já tinha um
morador ali na frente. Ai eu peguei e construí.
Mas quando foi pra construí, fui no IAP pra pedir
licença pra construí, pois tudo era mato. Daí eu
conversei com o Darci que era um dos fiscal do
IAP da época. Ele não me deu licença pra des-
matar. Ele falô: isso demora. Mas se você tem
pressa pra construí, você limpa o canteiro que
você vai construí tua casa, coloca a caxaria que
o pessoal vai passar lá, não vai te multar. Dai eu
fiz de acordo como ele ordenou. Eu fiz o alicerce
de minha casa. Dai eu fiz minha meia água, que
onde eu entrei morá, que é de madeira ali atrás.
Daí nós começamo a mexe com rua, aí entrou
mais morador, e fizemos a solicitação de rede da
Rua das Chácaras, 2013. Copel de novo. Mas já tinha mudado os esquema
da Copel de novo, 3 anos depois mudou tudo, era
entramo nessa área? O próprio IAP sabe como é diferente do que eu tinha solicitado antes. Aí a
que nós tamo aqui. Ele sabe que nós não tamo burocracia já tinha crescido. Aí já tinha que ir lá
aqui por que nós invadimo. Ele sabe quem foi os no IAP e, o IAP tinha que autorizar. Eu sei que
requerente dessa área. Os primeiro que requereu acabamo não conseguindo trazer a luz pra cá de
essa área não requereu a toa. Porque ele (IAP) novo. Eu passei 8 anos usando liquinho. Era vela
ajudou a requerer pra cuidar da área dele que tem e liquinho a gás, durante 8 anos.” (Sebastião Fe-
aqui atrás. Isso é só um esclarecimento, por que liciano Otes, 53 anos)
eles jogam isso pro lado. Na frente dos olho das
autoridade nós não somo dono de nada aqui. Mas
só na frente deles. Mas enquanto eu estiver vivo
aqui eu provo que eu comprei e paguei com meu
suor isso aqui. Não tem nada aqui grilado. Tudo o
que tem aqui me custou o meu suor. Eu digo que
o sofrimento nosso é muito grande. Mas a gente
se uniu pra trazer as melhoria pra comunidade.
Hoje muito gente tem investido por que viu que a
Associação tá fazendo. O que nós queremo é nos-
so direito, porque nós somo cidadão brasileiro.”
(Sebastião Feliciano Otes, 53 anos)
“Naquele tempo (até 2012), eu tinha meu liqui-
nho a gás. O Bastião, a filha do Sebastião, a pre-
ta. Ela estudava na vela, não era todo mundo que
podia ter liquinho. Na época era lampião e vela.
Hoje, a gente olha e vê que são conquista que
gente teve.” (Franscisco das Verduras, 54 anos)
“Eu conheci essa área a 25 anos atrás (1989). Foi
quando eu negociei o primeiro pedaço de terra
lá onde é a chácara do Jeová. Na época que eu Rua Cachoeira, 2013
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Os Conflitos Sociais e a Resistência
dos Moradores
“Depois que apareceu a cartografia aqui todo mundo mos que nós existimos, que somos brasileiros, so-
tá se sentindo com a auto-estima, porque nós tava mos trabalhadores, nós queremos melhorar nosso
morrendo. Igual a uma luz, dá uma esperança, todo país.” (Celso Poleti Moreira, 49 anos)
mundo tá com uma esperança.” (Pastor Silvano, 50 “A importância do mapeamento é pra nós é pra gen-
anos) te fica mais ciente. Como aqui a gente tá no fim do
“O urbanismo reconhecer que nessa área tem gen- mundo, sem recurso, querem dize tudo vagabundo,
te, tem criança, famílias, tem idosos. Acho que eles pessoas indigente.” (Juscemar Dotino Pereira, 50
têm que reconhecer. É importante que a Prefeitura anos)
reconheça. Porque nós aqui hoje tamo em mais de
70 famílias, 70 casa não tenha reconhecimento nen-
hum. Não é possível que não tenha reconhecimento
nenhum. Falta a Prefeitura colocar no mapa deles
que não termina ali, continua pra frente.” (Joacir
Soares Mendes, Pelé, 58 anos)
“A cartografia é pra ser reconhecido na Prefeitura, no
município. Pra reconhecer nós e trazer as benfeitoria
pra nós. Nós existimos né.” (Luis Olegário, 48 anos)
“O mapeamento é importante porque dá reconhec-
imento pra cidade inteira, pro estado, nós mostrar-
“Evidenciar coletivos invisibilizados que demandam por direitos básicos é um dos papéis fundamentais da car-
tografia social. Por isso, constitui-se em instrumento fundamental de construção de cidadania participativa, por-
tanto, de ampliação da democracia e da justiça social em uma sociedade desigual, onde a terra é mercadoria e
não direito de quem trabalha. Nas cidades verifica-se a existência de uma massa de trabalhadores explorados sem
“direito à cidade”, dado que os lugares que ocupam não são reconhecidos pelo poder público municipal, o que os
interdita do acesso a um conjunto de direitos e serviços. Oxalá que este Boletim seja instrumento de luta, coesão
e organização comunitária e de reivindicação de direitos junto ao poder público municipal.”
Profa. Dra. Ângela Massumi Katuta - Universidade Federal do Paraná/Setor Litoral.
“O litoral paranaense apresenta um dos mais indesejados índices no que se refere à moradia digna e de qualidade:
a ausência de diálogos acerca da regularização fundiária. Essa lacuna promove à carência de serviços públicos e
equipamentos urbanos necessários a qualidade de vida e essenciais para o cumprimento do direito a cidade. As
discussões e o trabalho realizado com as famílias moradoras do Bairro Jacarandá II, que culminou com a orga-
nização desse Boletim, revelam não apenas uma possibilidade fortalecida para o diálogo com poder público no
sentido da reversão dos problemas socioambientais e urbanos históricos, mas, sobretudo, reafirma a importância
do universo vivido na prática metodológica como indispensável para participação comunitária e social na luta
pelos seus direitos.”
Profª Dra. Gislaine Garcia de Faria – IFPR – Campus Paranaguá
Realização: Apoio:
Associação de Moradores do
Bairro Jardim Jacarandá 2