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Fascículo Nova Cartografia Social do Nordeste A coleção Nova Cartografia Social do Nordeste
Águas do Território Mendonça
Número 5 | Ano 2022
compreende um conjunto de trabalhos que registram
mobilizações de Povos e Comunidades Tradicionais
do Nordeste em torno da construção de conhecimen-
tos que possibilitem dar visibilidade aos seus modos
APRESENTAÇÃO
Expediente
de vida, com destaque para conflitos que enfrentam
Periodicidade: Irregular | Idioma: Português
e suas demandas aos poderes públicos. Refletem não
somente a diversidade social e a gama de pontos de
Editorial
vista e suas respectivas práticas, mas, sobretudo, si-
O fascículo “Águas do Terri- Assentamento Santa Terezinha, Ca-
Etnologia, Tradição, Ambiente e Pesca Artesa-
nal - ETAPA tuações de conflito e conhecimentos intrínsecos aos tório Mendonça” é o segundo volu- choeira e Serrote São Bento, locali-
processos reais e às realidades localizadas.
Coordenação Geral me produzido a partir de oficinas, zadas nos municípios de João Câma-
Franklin Plessmann de Carvalho, Juracy Mar- Participantes Atividades Campo Oficinas
ques e Vânia Fialho
das de e das de
encontros, reuniões e caminhadas ra e Jardim de Angicos, na região de
Mapas
Coordenação PNCS/RN
realizadas entre os meses de feve- Mato Grande no Agreste Potiguar
Açucena: Ednete Pedro da Silva.
Rita Neves
Amarelão: Beatriz dos Santos Nascimento, Francisca reiro e agosto do ano de 2021, du- do Estado do Rio Grande do Norte e
Organização da Edição Evania Barbosa do Nascimento, Hugo do Nascimento rante a pandemia da Covid-19, no como as demais áreas indígenas do
Taisa Lewitzki, Ana Maria do Nascimento Mou- Silva, Humeara da Silva Oliveira, Jaciara Soares, Kalia-
ra, Neide Campos, Laura Carolina Borges, Rita ne Raimundo de Souza, Lidiane dos Santos, Liziane Território Mendonça. Nosso territó- estado do Rio Grande do Norte não
Neves, Poliana de Souza Nascimento e Tiane de Campos, Marcelo Oliveira, Maria Ivoneide Campos da
Paiva e Souza Silva (D. Neide), Maria Raissa de Lima Rocha, Milena rio é formado por 900 famílias que é um território demarcado: “São ter-
Equipe do Projeto Nova Cartografia Social (Núcleo
Soares de Souza e Tayse Michelle Campos da Silva. vivem nas comunidades indígenas ras, comunidades, enfim, com proces-
Assentamento Marajó: Aline Felipe de Paula, Amanda
Rio Grande do Norte) Micaelly Felipe da Silva, Ana Carla Bezerra Pinto Fe- “Mendonça Potiguara” de Açucena, sos de construção diferentes.” (Tayse
Taisa Lewitzki, Ana Maria do Nascimento Moura, lipe, Carla Cristina Menezes da Silva, Cristiane Feli-
Laura Carolina Borges, Rita Neves, José Glebson pe, Dainara Góis de Lima, Deize Góes de Lima, Erica
Amarelão, Assentamento Marajó, Campo, Amarelão).
Vieira, Rozeli Porto, Francisco Cândido Firmia- Gabriele Barbosa, Francisco Joseilson da Silva Góis,
no Jr, Adinei Crisóstomo, Lázaro Souza, Manuel Francisco Victor, Jenilson Thyago Elias, José Carlos
Moura e Roberto Carlos M.C. Mendonça de Góis Tavares, José Eduardo Góis da Costa, Kali-
ne Bezerra Felipe, Manoel Henrique Felipe de Paula,
Croquis: Comunidades Indígena Mendonça Po-
tiguara: Amarelão, Assentamento Santa Terezi-
Maria Danielly Góis de Lima, Maria Eduarda Felipe 1 2
nha, Assentamento Marajó e Serrote São Bento da Costa, Maria Eloise Felipe da Silva, Maria Erlanea
Lima do Sitio, Raissa Vitória Silva de Góis e Williane
Elaboração dos Mapas: Poliana de Souza Nasci- Varela do Nascimento.
mento e Tiane de Paiva e Souza Assentamento Santa Terezinha: Anderson Barbosa San-
tos, Brigida de Lima Leotério, Claudiane Pedro do
Fotografias: Taisa Lewitzki Nascimento, Dioclécio Bezerra da Costa, José Ailton
Dias da Silva e Lidiane Rodrigues da Silva.
Digramação e Projeto Gráfico: Ana Paula Arruda
Cachoeira: Claudio Soares, Damiana Soares, Francis-
co Félix, Izabelle Oliveira e Maria Betânia Soares.
CONTATO Serrote São Bento: Dialison Mello, Edna Raquel To-
Divulgação: Etnologia, Tradição, Ambiente e maz, Dona Chiquinha, Genilda Batista da Silva Jus-
Pesca Artesanal - ETAPA tino, Jamily Gabrielly da Costa Silva, Kaline Cassiano
Endereço: CCHLA/UFRN | Departamento de An- da Silva, Maria da Conceição Batista, Rejane Batista
tropologia - ETAPA (Av. Senador Salgado Filho, da Costa Feitoza e Rogério Batista.
3000 – Lagoa Nova, Natal/RN - 59078-970)
Contatos: pncs.nucleo.rn@gmail.com
(84) 3342-2240 Organização do Povo Indígena Mendonça - OPIM
opim22.rn@gmail.com
ivoneideaca@hotmail.com
ISSN: 2763-7174
Aqui Açucena é rica em água, tem um lençol freático aqui, não sei se é
assim que chama e passa por aqui por baixo. Há muitos e muitos anos atrás
vinha gente do Amarelão pegar água de uma fonte aqui soterrada no açude,
pegar água aqui. [...] Na verdade a fonte não está seca, tá soterrada, devi-
do o antigo dono dessa terra criava muito animal e eles foram soterrando,
soterrando, soterrando e os abalos também, tá soterrada. Há muita pedra
em cima da fonte, só que tem muitos verdes, tá sempre verde, se passar dez
anos de seca, que já passaram sete, tá sempre verde. (Ednete Pedro da
Silva, Açucena)
Acho que facilitou muito esse ne- o baldo d’água porque não tinha su-
18 19 gócio da água, imagine só você daqui, ficiente para todo mundo, e a veia
quem tinha uma carroça, mas quem era poca, as veia da cacimba era pou-
não tinha e ia de carro de mão e quem ca, além de vir da água da chuva de
não tinha carro de mão e ia de galão, Deus, barrenta, sapo dentro, chegava
lembro que pai ia buscar água lá na os guaxinim rasgado de sapo e a gen-
cacimba de galão, a gente morando te tinha que beber, porque não tinha
aqui. Você sabe o que é um galão? É um de onde tirar, a gente abanava e dava
pau, bota duas cordas assim e amarra graças a Deus quando as veia soltava
dois baldes e traz assim, pai ia buscar que a gente chegava e tinha pra encher
água naquilo. Era um sofrimento mui- nosso pote ou nossa lata d’água. Cada
to grande, depois passou a ter água na um que podia pegava um, pegava dois,
cozinha, a cisterna ali bem pertinho da pegava três e era muito difícil, muito
porta da cozinha, você abre, você tira. mais difícil. Agora ainda tem o Exército
Aqui é os Tanque das Carretia, nóis botava o cumê no fogo, termina- Acho que foi a melhor coisa que veio que bota, tem as cisternas agora, que
porque é uma carreira de tanquezi- va de lavar roupa, aí nóis ia almoçar, para o Amarelão foi as cisternas. [...] nós tendo as cisterna agora quando
nho, daí o pessoal botou os Tanque quando nóis terminava de almoçar, as (Liziane Campos, Amarelão) Deus manda a chuva, a gente ainda
das Carretia. Tem o Tanque Grande, roupa tava enxuta, nóis colocava no Antigamente era mais difícil, apara uma aguinha doce pra beber e
tem o açude. Aqui é tão bom, relembro saco, na cabeça e vinha pra casa. Faz muito mais difícil porque era cacimba quando não tem inverno, dependo do
tanta coisa, quando nóis vinha, saía de bastante tempo que não venho aqui, é e aqui só tinha três cacimba que for- Exército, quando vem essa pipa d’água
casa pra lavar roupa, ruma de mulé tão gostoso, é tão bom. Aqui é outro necia a gente, uma ali perto dos Tinga, pra todo mundo. Mas antigamente
com os saco de roupa, trazia feijão, tanque, ali é o Tanque da Parede de Ci- uma na baixa, outra aqui em cima, a era muito [mais] difícil que agora, mas
trazia caldeirão, de tudo nóis trazia, mento, lá é o açude. (Maria Betânia gente levantava de três horas da ma- agora também é difícil, é muito difícil.
quando chegava ali no Tanque do Pau Soares, Cachoeira) drugada com os baldo, espera enche (Mãe Selma, Amarelão)
O dono dessa barragem aqui já mãos, bebe água, nos bebe água quan-
faleceu, é Seu João Rodrigues, é o dono do tá cheia. E também quando o peixe
dessa terra, ele mandou fazer essa tá grande a gente pesca e come [...]. A
barragem aqui pro gado dele, para os barragem é essa aqui para o gado be-
animais. Tem muita história sobre essa ber água e todo o povo caça aqui nesse
barragem. Enche de água pros gado mato, bebe muita juriti, aqui bebe juri-
beber, nós quando passa aqui que vai ti, ribaçã, os pato de água quando tem
caçar mel também serve para as abe- água eles vem, marreca vem pra cá, os
lhas tirar água e fazer o mel, quando caçador mata pra comer, aqui não tem
a gente passa aqui acha abelha tira outra vida, só tem essa mesma de água.
o mel, passa de novo e volta lavar as (Francisnete, Serrote São Bento)
LISTA DE FIGURAS