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ORIENTADOR
CARLOS SILVA RIBEIRO
PROFESSOR DOUTOR NO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA
METALÚRGICA E DE MATERIAIS
CO-ORIENTADOR
VITOR EMANUEL AZEVEDO DOS ANJOS
PROFESSOR DOUTOR NO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA
METALÚRGICA E DE MATERIAIS
CANDIDATO João Pedro da Silva Ribeiro CÓDIGO 201504603
Palavras-Chaves
Ferro fundido nodular; simulação de solidificação; análise térmica; rechupe
I
Abstract
This dissertation project aims to improve the performance of solidification simulations
(QuikCast software), applied to parts made of nodular cast iron, using thermal analysis
techniques as an auxiliary tool on the production of nodular cast irons. Due to the
complexity of this type of material, it is essential to properly control all process
parameters that influence the final result of the parts quality. In this way, this work was
elaborated in order to understand the solidification characteristics of the alloy that most
influence the final result, allowing to mimic them, posteriorly, in the simulation software.
First, a study was carried out on the regular production of the company Cruz Martins
& Whal and were identified the characteristics of the produced alloy and the efficiency
of the bath treatments. For this phase, thermal analysis techniques were used to obtain
the characteristic curves of the metal solidification. In a second phase, it was studied,
taking into account the recording of the cooling curves obtained, the sensitivity to the
formation of shrinkage defects by identifying the time until dendritic coherency. The
interpretation of the cooling curves made it possible to fine-tune and adjust the pre-
processing parameter “graphitic exapnsion” of the QuikCast software. In the third and last
phase, simulations were carried out with the pre-processing parameters defined in order
to validate the results verified in the produced parts.
At the end of the work it was possible to identify which outputs, from the analysis of
the pre-processing parameters and from the data collected through the interpretation of
the cooling curves, allow to improve the final result of the solidification simulations.
With the implementation of these, there was an improvement in the performance of the
simulations in the prediction of shrinkage defects, according to the entire study.
II
Agradecimentos
Primeiramente gostaria de agradecer ao Professor Carlos A. Silva Ribeiro pela
orientação ao longo de toda a dissertação de mestrado, pelo saber e conhecimento
transmitido, assim como, pelo apoio e disponibilidade fornecida.
Um agradecimento à empresa Cruz Martins & Wahl, Lda por me proporcionarem a
possibilidade de realizar esta dissertação dando-me acesso a todos os recursos
necessários. Um individual agradecimento à Eng. Rita Claro e ao Eng. Carlos Dias pela
orientação prestada durante a realização da parte prática na empresa e pela ampla
disponibilidade com que sempre me receberam. A elaboração da parte prática não seria
possível sem o apoio do CITNM, com um agradecimento especial ao Eng. João Teixeira e
ao Professor Vitor Anjos que, de forma incansável, me instruíram em todas as etapas da
dissertação.
À minha família pela paciência de terem convivido comigo numa altura tão peculiar
para todos nós, COVID-19, e pelos conselhos dados sempre de forma sábia e ponderada.
À Ana, minha namorada, pela ajuda e apoio dado em todas as alturas menos positivas
vividas nestes meses, para além de todo o incentivo e motivação dada na finalização do
meu percurso académico.
III
Índice
Resumo .................................................................................................. I
Palavras-Chaves ........................................................................................ I
Abstract ................................................................................................ II
2. Revisão de literatura............................................................................ 3
2.1. Ferros fundidos nodulares ................................................................ 3
2.1.1. Principais elementos químicos ..................................................... 3
2.1.2. Microestrutura e tipo de grafite.................................................... 5
2.2. Produção de ferro fundido nodular ..................................................... 5
2.2.1. Elaboração do metal de base ....................................................... 6
2.2.2. Tratamento de nodularização ...................................................... 7
2.2.3. Técnica de inoculação ............................................................... 8
2.2.4. Controlo do processo de produção ................................................. 9
2.3. Morfologia de solidificação ............................................................... 9
2.3.1. Fenómeno de coerência dendrítica ............................................... 10
2.3.2. Fenómeno de expansão da grafite ................................................ 11
2.4. Análise térmica ............................................................................ 12
2.4.1. Descrição da técnica ................................................................ 12
2.4.2. Nomenclatura ........................................................................ 14
2.4.3. Interpretação das curvas de arrefecimento ..................................... 15
2.5. Software de simulação QuikCast ....................................................... 22
2.5.1. Descrição de software de simulação de solidificação ......................... 22
2.5.2. Parâmetros de pré-processamento ............................................... 23
2.5.3. Parâmetros de pós-processamento ............................................... 24
IV
3. Materiais e procedimentos .................................................................... 25
3.1. Corpo de prova ............................................................................ 25
3.2. Equipamentos e software de análise térmica ........................................ 26
3.3. Software de simulação QuikCast ....................................................... 28
3.3.1. Parâmetros de pré-processamento ............................................... 29
3.3.2. Parâmetros de pós-processamento ............................................... 29
3.3.3. Manipulação do valor de coeficiente de expansão grafítica .................. 30
3.4. Avaliação de rechupes no corpo de prova ............................................ 30
5. Conclusão ........................................................................................ 53
5.1. Sugestões para trabalhos futuros ....................................................... 53
V
Lista de Figuras
Figura 1: Classificação do tipo de grafite segundo a norma ISO 945-1:2019. Adaptado de
[7]. ................................................................................................. 5
Figura 2: Condução do processo de fusão. Adaptado de [9]. .................................. 6
Figura 3: Esquematização das técnicas de tundish-cover e sandwich. Adaptado de [13]. 8
Figura 4: Diagrama de equilíbrio ferro-carbono. Adaptado de [8]. .......................... 10
Figura 5: Interseção dos braços de austenite – coerência dendrítica. Adaptado de [8]. . 11
Figura 6: Variação do volume conforme as transformações físicas, adaptado de [20]. .. 11
Figura 7: Hardware de suporte para cartuchos de análise térmica. Adaptado de [22]. .. 12
Figura 8: Cartuchos abertos com adição de telúrio - standard Heraeus Electro-Nite.
Adaptado de [26]. .............................................................................. 13
Figura 9: Cartuchos fechados Therm-O-Stack. .................................................. 13
Figura 10: Cartuchos Therm-O-Stack fechados com duas cavidades. Adaptado de [29]. . 14
Figura 11: Curva de arrefecimento e respetiva derivada da secção da curva de
solidificação. Adaptado de [10]. ............................................................. 14
Figura 12: Curva de arrefecimento típica de um ferro fundido. Adaptado de [18]. ...... 15
Figura 13: Curva de arrefecimento típica de um ferro fundido hipoeutéctico. Adaptado de
[30]. .............................................................................................. 17
Figura 14: Curvas de arrefecimento com morfologia de solidificação hipoeutécticas,
eutécticas e hipereutécticas. Adaptado de [26]. ......................................... 18
Figura 15: Momento ideal para a ocorrência do DCP no colo do alimentador em função o
momento de expansão grafítica na peça. Adaptado de [34]. ........................... 19
Figura 16: Identificação do ponto de coerência dendrítica numa curva com morfologia
hipoeutéctica. Adaptado de [8]. ............................................................. 19
Figura 17: Identificação do ponto de coerência dendrítica utilizando o valor inverso da 1ª
e 2ª derivada. Adaptado de [8]. ............................................................. 20
Figura 18: Identificação do ponto de coerência dendrítica na curva de morfologia
eutéctica. Adaptado de [8]. .................................................................. 20
Figura 19: Identificação do ponto de coerência dendrítica na curva de morfologia
hipereutéctica. Adaptado de [8]. ............................................................ 21
Figura 20: Relação do fim da reação eutéctica e a formação de rechupes. Adaptado de
[35]. .............................................................................................. 21
Figura 21: Geometria da malha do software QuikCast. Adaptado de [38].................. 23
VI
Figura 22: Modelo do corpo de prova estudado. ................................................ 25
Figura 23: Layout da distribuição das estações de análise térmica, utilizada no controlo
do processo. ..................................................................................... 26
Figura 24: Cartucho aberto Quik-Cup com adição de telúrio, adaptado de [26]. ......... 27
Figura 25: Cartucho fechado Quik-Cup, adaptado de [26]. ................................... 27
Figura 26: Cartucho fechado dupla cavidade Therm-O-Stack................................. 27
Figura 27: Linha de corte nas secções do corpo de prova na vista de cima. ............... 30
Figura 28: Serra de corte semiautomático. ...................................................... 30
Figura 29: a) Curva de arrefecimento cartucho do Quik-Cup fechado, sem adição de
telúrio, ensaio 1, com um só patamar; b) Curva de arrefecimento do inverso da
primeira derivada cartucho do Quik-Cup fechado, sem adição de telúrio, ensaio 1. 32
Figura 30: a) Curva de arrefecimento do cartucho Quik-Cup fechado, sem adição de
telúrio, ensaio 2, com indícios ligeiros de aparecimento de um segundo patamar; b)
Curva de arrefecimento do inverso da primeira derivada do cartucho Quik-Cup, sem
adição de telúrio, ensaio 2. .................................................................. 32
Figura 31: a) Curva de arrefecimento do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1, com dois
patamares; b) Curva de arrefecimento do inverso da primeira derivada do cartucho
Therm-O-Stack, ensaio 1. ..................................................................... 34
Figura 32: a) Curva de arrefecimento do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2, com dois
patamares; b) Curva de arrefecimento do inverso da primeira derivada do cartucho
Therm-O-Stack, ensaio 2. ..................................................................... 34
Figura 33: a) Curva de arrefecimento do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1; b) Curva de
arrefecimento do inverso da primeira derivada do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1.
.................................................................................................... 37
Figura 34: a) Curva de arrefecimento do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2; b) Curva de
arrefecimento do inverso da primeira derivada do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2.
.................................................................................................... 38
Figura 35: a) Curva de arrefecimento cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1; b) Curva de
arrefecimento do inverso da primeira derivada do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1
. ................................................................................................... 39
Figura 36: a) Curva de arrefecimento do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2; b) Curva de
arrefecimento do inverso da primeira derivada do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2.
.................................................................................................... 39
VII
Figura 37: Parâmetros de pré-processamento standard. ...................................... 41
Figura 38: Estrutura da malha do corpo de prova. ............................................. 42
Figura 39: Diagrama térmico do corpo de prova. ............................................... 42
Figura 40: Diagrama térmico do corpo de prova, ou, mapa dos módulos de arrefecimento,
com as gamas de variação em cada secção. ............................................... 43
Figura 41: Valor da função "time to end mass feeding" para um coeficiente de expansão
grafítica de 0,25. ............................................................................... 44
Figura 42: Valor da função "time to end mass feeding" para um coeficiente de expansão
grafítica de 0,5. ................................................................................ 44
Figura 43:Valor da função "time to end mass feeding" para coeficiente de expansão
grafítica de 0,75. ............................................................................... 45
Figura 44: Valor da função "time to end mass feeding" para coeficiente de expansão
grafítica de 1. ................................................................................... 45
Figura 45: Distribuição da percentagem de rechupes no corpo de prova, previsto pela
função "total shrinkage porosity" da simulação do QuikCast, utilizando parâmetros
standard. ........................................................................................ 47
Figura 46: Distribuição da percentagem de rechupes no corpo de prova, previsto pela
função “total shrinkage porosity” da simulação do QuikCast, utilizando o coeficiente
da expansão grafítica de 0,5. ................................................................ 47
Figura 47: Distribuição de rechupes no plano XZ, utilizando um coeficiente de expansão
grafítica de 0,5. ................................................................................ 48
Figura 48: Regiões secionadas para estudo de rechupe no corpo de prova. ................ 49
Figura 49: Imagem fotográfica de poros na secção 3 do corpo de prova, sem alimentador.
.................................................................................................... 50
Figura 50: Poros da seção 3 do corpo de prova sem alimentador. ........................... 50
Figura 51: Secção 3 do corpo de prova com alimentador. .................................... 51
Figura 52: a) Imagem fotográfica de rechupes da secção 1 sem alimentador; b) Imagem de
lupa da dimensão de rechupes da secção 1 sem alimentador. .......................... 51
Figura 53: a) Imagem fotográfica de rechupe na secção 1 com alimentador; b) Imagem de
lupa da dimensão do rechupe. ............................................................... 52
VIII
Lista de Tabelas
Tabela 1: Classificação dos elementos presentes na composição química ferro fundido
nodular. ........................................................................................... 3
Tabela 2: Valores de módulo térmico teóricos para as diferentes secções da peça,
estimados pela aplicação de critérios heurísticos. ........................................ 26
Tabela 3: Parâmetros de pré-processamento. .................................................. 29
Tabela 4: Composição química de vazamento ensaio 1........................................ 35
Tabela 5: Composição química de vazamento do ensaio 2. ................................... 36
Tabela 6: Valor médio do tempo Mir para os ensaios realizados............................. 40
Tabela 7: Valores da função "time to end mass feeding" para a secção 2. ................. 46
IX
Abreviaturas e Símbolos
CE - Carbono Equivalente
Fe – Ferro
C - Carbono
Si - Silício
Mg - Magnésio
Mn - Manganês
Cu - Cobre
P - Fósforo
S – Enxofre
Cr – Crómio
Sn – Estanho
Sr- Estrôncio
Ba- Bário
Mo – Molibdénio
Ca- Cálcio
Ni - Níquel
Nb – Nióbio
Ti - Titanio
Ce – Cério
B - Boro
DCP - Dendrite Coherency Point, ou, em português, ponto de coerência dendrítica
X
1. Introdução Teórica
1.1. Enquadramento
O presente trabalho foi desenvolvido no âmbito da dissertação de mestrado em
Engenharia Metalúrgica e de Materiais e foi elaborado em parceria com a empresa CMW –
Cruz Martins & Wahl, Lda, e com o auxílio do CITNM – Centro de Inovação e Tecnologia
N.Mahalingam. Esta dissertação desenvolveu-se no contexto excecional de confinamento
originado pela pandemia COVID-19, o que obrigou a uma adaptação do plano inicial.
A alta produtividade na indústria de fundição é influenciada por todas as etapas de
produção tendo como objetivo final obter uma elevada qualidade das peças produzidas e
a sua reprodutibilidade. Para se obter peças sãs, e com a melhor qualidade possível, é
essencial controlar meticulosamente todo o processo de produção com a padronização de
todo o procedimento. Assim sendo, é imprescindível identificar quais os parâmetros das
diversas etapas do processo que influenciam o resultado final do produto.
Atualmente, utilizam-se diversas técnicas e softwares específicos que possibilitam
eliminar os métodos menos precisos como, por exemplo, o método “tentativa-erro”, para
retificação dos produtos finais sem perda de recursos. Para tal, têm vindo a ser utilizados
cada vez mais os softwares de simulação de solidificação, visto serem uma ferramenta
eficaz na previsão do resultado final das peças, uma vez que permitem reproduzir os
fenómenos de solidificação do processo de fundição. A reprodução destes fenómenos
consegue-se pela configuração de diversos parâmetros de pré-processamento como
densidade e tipo de material, temperatura de vazamento, coeficiente de expansão
grafítica e coeficiente de transferência de calor, entre outros mais. No entanto, o
resultado obtido na simulação da solidificação das peças, embora tenha por base os
parâmetros do processo, apresenta sempre um erro associado, quando comparado com os
resultados encontrados na prática industrial. Para colmatar esta falha, utilizam-se
técnicas de análise térmica que permitem obter, em tempo real, mais informações sobre
o processo de solidificação de uma determinada liga e que contribuem com inúmeras
informações que são utilizadas para melhorar o controlo e conhecimento sobre o processo
de produção e solidificação da liga. Os outputs da interpretação das curvas de
arrefecimento permitem retificar marcadores do processo de produção, como composição
química e tratamentos ao banho, e correlacionar os valores obtidos na prática com os da
simulação de solidificação teórica tendo como finalidade a coincidência dos resultados.
Neste seguimento, foi desenvolvida esta dissertação com o propósito de alcançar uma
melhor concordância entre as previsões da simulação e os resultados obtidos nas peças,
apoiado em técnicas de análise térmica.
Este trabalho iniciou-se com o estudo da produção regular da empresa CMW,
englobando as técnicas e processos utilizados na elaboração e processamento dos banhos.
Com o apoio do CITNM, foi feito um registo e interpretação das curvas de análise térmica
do banho no forno, antes dos tratamentos ao banho (1ª etapa) e após os tratamentos de
nodularização e inoculação (2ª e 3ª etapas). Na primeira etapa foi determinado o teor de
CE, C e Si e estabelecida a curva “característica do banho” para caracterizar a morfologia
1
de solidificação do ferro fundido nodular. Já na segunda e terceira etapa foi feita uma
análise das curvas de arrefecimento na linha de moldação (primeira e última moldação),
com o objetivo de caracterizar as alterações induzidas no banho metálico, com o decorrer
do tempo após nodularização (desvanecimento). Os dados provenientes da análise térmica
foram usados posteriormente como inputs para o software QuikCast.
Sucintamente, utilizaram-se técnicas de análise térmica da etapa 2 e 3, para
acompanhar os fenómenos de solidificação no banho e identificar o ponto de coerência
dendrítica, Mir, do cartucho HEN Therm-O-Stack cujo módulo de solidificação de ambas
as câmaras é de 0,5 cm, módulo idêntico ao módulo de solidificação duma das secções do
corpo de prova vazado. Depois, variando um parâmetro de pré-processamento do QuikCast
denominado “expansão grafítica”, associado com o potencial de grafitização existente no
banho no momento da solidificação, realizaram-se simulações que permitiram validar o
parâmetro “time to end mass feeding” com o valor do ponto Mir dos cartuchos de análise
térmica. Finalmente, estabelecido o grau de expansão grafítica apropriado na simulação,
realizaram-se simulações que permitiram validar a formação de rechupe, detetado com o
parâmetro “total shrinkage porosity”, nas secções críticas do corpo de prova vazado nos
ensaios realizados em condições de produção da CMW.
2
2. Revisão de literatura
2.1. Ferros fundidos nodulares
Os ferros fundidos são ligas metálicas constituídos por múltiplos elementos tendo por
base o ferro (Fe), o carbono (C) e o silício (Si). O carbono presente na composição dos
ferros fundidos pode precipitar sob duas formas distintas, dependendo do processamento
da liga com ênfase na sua composição química, velocidade de arrefecimento e
tratamentos ao banho. O carbono pode precipitar seguindo uma reação de solidificação
do sistema estável e originar grafite, ou seguindo uma reação de solidificação do sistema
metastável e originar cementite. De acordo com a fase precipitada na reação eutéctica,
os ferros fundidos podem ser classificados como ferros cinzentos (grafite) ou ferros
brancos (cementite) [1, 2].
Os ferros fundidos nodulares solidificam segundo uma reação eutéctica estável o que
conduz à precipitação de grafite, sobre a forma esferoidal, resultante da adição duma
ferro-liga com magnésio, durante o tratamento de nodularização [1].
Classificação Elementos
Carbono, Silício, Manganês,
Elementos fundamentais
Magnésio, Enxofre
Elementos secundários Cobre, Estanho, Níquel
Titânio, Boro, Crómio,
Elementos residuais
Molibdénio
3
Sugere-se que o teor de silício final na peça deve estar compreendido entre 2,0 % e 2,8 %
[2-5]. O cálculo do carbono equivalente (CE) tem em consideração o teor de ambos os
elementos referidos assim como o teor de fósforo (P). O carbono equivalente é calculado
segundo a seguinte fórmula:
'(%)*%
𝐶𝐸 = 𝐶% + ( ) (Eq.1)
+
4
2.1.2. Microestrutura e tipo de grafite
De acordo com a norma ISO 945-1:2019, a morfologia da grafite presente na
microestrutura dos ferros fundidos é classificada em seis tipos conforme apresentado na
figura 1 [7].
Figura 1: Classificação do tipo de grafite segundo a norma ISO 945-1:2019. Adaptado de [7].
5
Figura 2: Condução do processo de fusão. Adaptado de [9].
6
2.2.2. Tratamento de nodularização
A nodularização consiste na adição ao banho de ferro-ligas, normalmente Fe-Si, com
elementos esferoidizantes, como o magnésio ou o cério, com o objetivo de promover a
precipitação de grafite segundo uma morfologia esferoidal. No processo de nodularização,
uma parte do magnésio adicionado reage com o enxofre e com o oxigénio, formando
sulfuretos de magnésio e óxidos de magnésio que originam pequenas inclusões dispersas
no banho. Nos banhos de ferro nodular o magnésio dissolvido vaporiza-se continuamente,
dado que a pressão parcial do magnésio nos banhos de nodular pode atingir valores
próximos das 11 atmosferas. Se o teor de magnésio residual for superior a um dado valor
crítico, industrialmente estabelecido nos 0,03%, origina a precipitação de grafite
esferoidal.
Como referido, para a produção de ferros nodulares é requerido um teor de magnésio,
após tratamento, entre os 0,04 % e os 0,06 %. O teor de magnésio e a sua recuperação é
influenciado pela técnica de nodularização e tipo de nodularizante utilizado. A taxa de
recuperação de magnésio é obtida pelo rácio entre a quantidade de magnésio adicionado
e o teor de magnésio final no vazamento, equação 2 [8].
7
Figura 3: Esquematização das técnicas de tundish-cover e sandwich. Adaptado de [13].
9
Figura 4: Diagrama de equilíbrio ferro-carbono. Adaptado de [8].
10
Figura 5: Interseção dos braços de austenite – coerência dendrítica. Adaptado de [8].
11
ser balanceada pela nucleação e crescimento da grafite. A grafite apresenta um volume
específico 3 vezes superior ao volume das outras fases. Devido a esta diferença de volumes
a grafite ao crescer expande, contrariando a contração no banho. Este fenómeno é
fundamental para evitar a formação de rechupes [8].
12
característicos dos ensaios realizados. O software procede ao registo da temperatura em
função do tempo, processando posteriormente a informação para obter uma curva, com
variações positivas e negativas da temperatura e identificação dos pontos críticos das
curvas de arrefecimento [23-25].
A dimensão e a geometria dos cartuchos de análise térmica condicionam a morfologia
da curva de arrefecimento. Os cartuchos utilizados podem ser diferenciados de acordo
com a sua geometria em abertos ou fechados.
Os cartuchos abertos são mais suscetíveis à variação do volume da amostra o que
provoca variações do calor sensível registado e, consequentemente, uma menor
reprodutibilidade e precisão da análise. Estes cartuchos podem ainda ser utilizados com a
adição de telúrio, para promover uma reação de solidificação metaestável (figura 8) e
possibilitar a estima do teor de carbono e silício do banho, através da correlação da
temperatura de liquidus da austenite com a temperatura eutéctica metastável [23-25].
Figura 8: Cartuchos abertos com adição de telúrio - standard Heraeus Electro-Nite. Adaptado de [26].
13
Figura 10: Cartuchos Therm-O-Stack fechados com duas cavidades. Adaptado de [29].
2.4.2. Nomenclatura
Os patamares e pontos de inflexão presentes nas curvas de arrefecimento são
identificados por um software específico. Os dados identificados irão apresentar
diferentes nomenclaturas de acordo com o software utilizado.
O software PhaseLab, desenvolvido pela empresa OCC, mais tarde adquirida pela
Heraeus Electro-Nite, permite associar os pontos de inflexão identificados com
determinadas transformações de fase. A figura 11 é um exemplo de curvas de
arrefecimento, onde estão identificados alguns pontos críticos correspondentes às
transformações ocorridas no processo de solidificação [8].
Figura 11: Curva de arrefecimento e respetiva derivada da secção da curva de solidificação. Adaptado de [10].
15
diminuindo até ser alcançado o início do processo de solidificação com a formação de
austenite ou grafite (região 1). O declive da curva na região 1 do gráfico é determinada,
fundamentalmente, pela extração de calor e pelo calor emitido segundo a equação 7 [10,
18, 21].
Ay AW
= 𝑣J 𝜌|}P<= 𝑐 |}P<= (Eq.7)[10]
AP AP ~
Ay
Onde corresponde ao calor emitido pela amostra por unidade de tempo, 𝑣J ao
AP
AW
volume da amostra, 𝜌|}P<= à densidade do ferro metal, à velocidade de arrefecimento
AP
e 𝑐~|}P<= à calor específico, a pressão constante, do ferro.
A região 2 corresponde ao início do processo de solidificação, entre a temperatura de
início de precipitação da austenite ou grafite e a temperatura de eutéctico mínimo. Nesta
região, a equação que rege o processo é a seguinte:
Ay AW A‚ƒ
= 𝑣> 𝜌|}P<= 𝑐~|}P<= + −∆𝐻 (Eq.8)[10]
AP AP AW
16
Figura 13: Curva de arrefecimento típica de um ferro fundido hipoeutéctico. Adaptado de [30].
17
Figura 14: Curvas de arrefecimento com morfologia de solidificação hipoeutécticas, eutécticas e hipereutécticas.
Adaptado de [26].
18
Figura 15: Momento ideal para a ocorrência do DCP no colo do alimentador em função o momento de expansão
grafítica na peça. Adaptado de [34].
Figura 16: Identificação do ponto de coerência dendrítica numa curva com morfologia hipoeutéctica. Adaptado de [8].
19
Este ponto pode também ser identificado a partir das curvas da primeira e segunda
derivada. No caso do software PhaseLab, o Mir corresponde ao primeiro máximo do
inverso da primeira derivada ou ao momento em que a segunda derivada se aproxima de
zero, figura 17.
Figura 17: Identificação do ponto de coerência dendrítica utilizando o valor inverso da 1ª e 2ª derivada. Adaptado de
[8].
Para uma curva de morfologia de solidificação eutéctica, este ponto observa-se após
ser atingida a temperatura do eutéctico mínimo (figura 18). O ponto Mir pode, também,
ser identificado na curva da primeira derivada, correspondendo ao seu primeiro mínimo
[8].
Figura 18: Identificação do ponto de coerência dendrítica na curva de morfologia eutéctica. Adaptado de [8].
20
Figura 19: Identificação do ponto de coerência dendrítica na curva de morfologia hipereutéctica. Adaptado de [8].
Figura 20: Relação do fim da reação eutéctica e a formação de rechupes. Adaptado de [35].
21
2.5. Software de simulação QuikCast
O avanço tecnológico das últimas décadas permitiu o desenvolvimento de softwares
de simulação cada vez mais robustos. Com a utilização destes softwares pela indústria de
fundição é possível proceder a simulações de solidificação com condições semelhantes à
prática industrial. Os resultados finais permitem antever possíveis defeitos nas peças
fundidas e, assim, otimizar o sistema de alimentação e gitagem. Para tal é necessário
compreender todos os parâmetros integrantes de pré e pós processamento [36].
22
Figura 21: Geometria da malha do software QuikCast. Adaptado de [38].
Uma malha com elementos unitários de dimensão mais reduzida permite uma melhoria
dos resultados obtidos e da própria resolução pós-simulação, porém, requer um aumento
da capacidade de processamento do computador [37-39].
24
3. Materiais e procedimentos
A metodologia experimental adotada teve como objetivo final validar as simulações de
solidificação por comparação com os resultados obtidos na prática industrial,
nomeadamente, informações obtidas com as curvas de análise térmica e a análise da
sensibilidade ao rechupe do corpo de prova produzido.
O procedimento experimental iniciou-se com a utilização das técnicas de análise
térmica como ferramenta de controlo do processo de produção. A recolha das curvas de
arrefecimento foi realizada em 3 etapas com o propósito de identificar determinadas
características do metal líquido. Na primeira etapa desejava caracterizar-se o teor de C,
Si e CE presente no banho. Já as curvas de arrefecimento da segunda e terceira etapas
forneceram informações referentes à morfologia de solidificação do metal líquido e ao
fenómeno de coerência dendrítica.
As simulações de solidificação foram realizadas de acordo com os parâmetros e
condições utilizadas na produção do corpo de prova. A eficiência da simulação na previsão
de formação de rechupes no corpo de prova foi avaliada, inicialmente, com os parâmetros
de pós-processamento standard e posteriormente com os parâmetros ajustados com base
nas informações da análise térmica. O planeamento das simulações foi dividido em 3
diferentes fases, nas quais foram analisados parâmetros de pós-processamento diferentes.
No final foram comparados com os resultados da melhoria da simulação ajustada com os
resultados reais obtidos no corpo de prova produzido.
25
valores apresentados na tabela 2. Estes valores foram calculados segundo o método
heurístico tendo em consideração as dimensões e a geometria de cada secção.
Tabela 2: Valores de módulo térmico teóricos para as diferentes secções da peça, estimados pela aplicação de
critérios heurísticos.
a– Módulo
b - altura x – largura Volume Aarref teórico
Secção comprimento
(mm) (mm) (cm3) (cm2)
(mm) (V/Aarref,cm)
1 100 55 30 165 173 0,95
2 80 55 15 66 112 0,60
3 65 55 55 197 148 1,30
Figura 23: Layout da distribuição das estações de análise térmica, utilizada no controlo do processo.
26
vazamento, permitiram caracterizar a existência do efeito de desvanecimento, a
morfologia de solidificação e identificar o ponto de coerência dendrítica. Com o seu
posicionamento foi possível controlar a qualidade do banho e o desvanecimento dos
tratamentos de nodularização e inoculação, ao longo da linha de produção, para garantir
que a última moldação apresentaria a qualidade desejada para o fabrico de peças em
ferro nodular.
Para a etapa 1 foram utilizados cartuchos abertos Quik-Cup com adição de telúrio,
figura 24, que promove uma solidificação metaestável do eutéctico, o que permite estimar
os valores de composição de C, Si e CE.
Figura 24: Cartucho aberto Quik-Cup com adição de telúrio, adaptado de [26].
Nestas etapas formam utilizados dois cartuchos com custos diferentes, tendo o
cartucho Quik-Cup um preço inferior ao cartucho Therm-O-Stack, para aferir se o nível de
detalhe das curvas de arrefecimento dos cartuchos fechados Quik-Cup era equivalente á
dos cartuchos Therm-O-Stack. Os cartuchos fechados Quik-Cup e os cartuchos Therm-O-
Stack de dupla cavidade permitiram identificar, através da interpretação dos pontos
críticos e patamares das curvas de arrefecimento, a morfologia de solidificação do banho.
Os cartuchos fechados Therm-O-Stack possibilitaram, ainda, identificar com maior
27
precisão o ponto Mir no processo de solidificação. O valor do ponto Mir identificado no
cartucho Therm-O-Stack é válido para as secções do corpo de prova com um módulo
térmico de, aproximadamente, 0,5 cm (figura 26).
O software utilizado para interpretar as informações da análise térmica foi o PhaseLab.
Este software identifica os pontos de inflexão das curvas de arrefecimento pelo
reconhecimento dos valores críticos da primeira e segunda derivada. De acordo com os
valores reconhecidos e com os tempos a que estes ocorrem, o software define os pontos
críticos específicos da curva de arrefecimento.
28
3.3.1. Parâmetros de pré-processamento
Os parâmetros de pré-processamento foram selecionados de acordo com as
informações provenientes da produção, apresentadas na tabela 3.
Tabela 3: Parâmetros de pré-processamento.
Parâmetros de pré-processamento
Corpo de Prova 5 mm
Dimensão da Sistema de gitagem e alimentação 5 mm
Malha Moldação 5 mm
Corpo de Prova GGG60
Material Sistema de gitagem e alimentação GGG60
29
3.3.3. Manipulação do valor de coeficiente de expansão grafítica
A segunda etapa de simulação foi estruturada tendo em consideração a manipulação
do valor do coeficiente de expansão grafítica. Para tal foram realizadas quatro abordagens
diferentes nas simulações, onde se utilizaram os valores de coeficiente de expansão
grafítica de 0,25, 0,5, 0,75 e 1.
A variação deste parâmetro influenciou os resultados das diferentes simulações,
nomeadamente da função “time to end mass feeding”. Os dados desta função permitiram
identificar qual o coeficiente de expansão grafítica que apresentou maior concordância
com os resultados obtidos para o ponto Mir retirados das curvas da análise térmica.
Figura 27: Linha de corte nas secções do corpo de prova na vista de cima.
30
4. Apresentação e discussão dos resultados
O presente capítulo expõe um conjunto de resultados, práticos e de simulação, que
expressam de que forma é que as técnicas de análise térmica possibilitam a melhoria da
previsão de formação de rechupes, nas simulações de solidificação.
Inicialmente, serão apresentados os resultados obtidos do controlo do processo de
produção pela utilização das técnicas de análise térmica e da análise espetrométrica das
etapas 1, 2 e 3. Posteriormente, será exposto de que forma é que esses dados foram
utilizados para conduzir a realização das simulações de modo a obter resultados mais
fidedignos e próximos da realidade. Por fim, serão apresentados os resultados relativos ao
seccionamento dos corpos de prova que possibilitaram a validação das simulações
realizadas e, consequentemente, todo o procedimento efetuado.
31
Figura 29: a) Curva de arrefecimento cartucho do Quik-Cup fechado, sem adição de telúrio, ensaio 1, com um só
patamar; b) Curva de arrefecimento do inverso da primeira derivada cartucho do Quik-Cup fechado, sem adição de
telúrio, ensaio 1.
Figura 30: a) Curva de arrefecimento do cartucho Quik-Cup fechado, sem adição de telúrio, ensaio 2, com indícios
ligeiros de aparecimento de um segundo patamar; b) Curva de arrefecimento do inverso da primeira derivada do
cartucho Quik-Cup, sem adição de telúrio, ensaio 2.
32
Pela análise das curvas de arrefecimento é possível identificar os pontos de inflexão
que permitem determinar a morfologia de solidificação.
Em ambas as curvas das imagens a) das figuras 29 e 30 foi identificado o ponto de
inflexão Liq que corresponde ao fenómeno do início de solidificação do banho. Na curva
de arrefecimento da figura 29, a temperatura de Liq apresenta um valor de 1148ºC, sendo
alcançada 21 segundos após o vazamento da amostra. Já na curva de arrefecimento da
figura 30 verifica-se que o fenómeno de solidificação se inicia mais cedo, sendo a
temperatura de Liq alcançada a 1149ºC, após 13,5 segundos.
O ponto Eut, identificado apenas na figura 30, corresponde a uma temperatura no
patamar eutéctico identificado pelo software. Este fenómeno ocorre, no ensaio 2, a uma
temperatura de 1145ºC, após 29 segundos do início do vazamento. Embora o ponto de
reação eutéctica não esteja identificado na figura 29, pode constatar-se que, devido ao
comportamento da curva, este fenómeno ocorre de igual modo. Em ambas as curvas é
possível identificar o patamar plano, típico duma morfologia de solidificação eutéctica.
Com o propósito de comparar o nível de detalhe da informação dos dois cartuchos
utilizados foram, também, analisadas as curvas de arrefecimento dos cartuchos Therm-O-
Stack para o mesmo conjunto de ensaios. O gráfico representativo da solidificação do
banho metálico vazado para o cartucho Therm-O-Stack apresenta duas curvas, que exibem
o processo de solidificação existente nas duas cavidades. As duas cavidades do cartucho
Therm-O-Stack servem para avaliar e comparar o efeito da adição eventual, a uma das
cavidades, dum determinado inoculante (como pós inoculante). A curva verde
corresponde, normalmente, à solidificação do metal líquido na cavidade com adição de
inoculante e a curva vermelha corresponde à solidificação do metal líquido na cavidade
sem adição de inoculante. As curvas de arrefecimento obtidas destes cartuchos
encontram-se nas figuras 31 e 32.
33
Figura 31: a) Curva de arrefecimento do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1, com dois patamares; b) Curva de
arrefecimento do inverso da primeira derivada do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1.
Figura 32: a) Curva de arrefecimento do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2, com dois patamares; b) Curva de
arrefecimento do inverso da primeira derivada do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2.
34
Nas curvas de arrefecimento dos cartuchos Therm-O-Stack das figuras 31 e 32,
identificou-se o ponto Liq, correspondente ao início da solidificação. Na curva de
arrefecimento da figura 31 este ponto ocorre a uma temperatura e tempo equivalente à
curva de arrefecimento do cartucho Quik-Cup fechado da figura 29. Já na curva da figura
32 o ponto Liq, ocorre cerca de 16 segundos após vazamento e a uma temperatura próxima
dos 1150ºC, valores similares aos valores identificados nas curvas do cartucho Quik-Cup
fechado da figura 30.
O comportamento das curvas de arrefecimento das figuras 31 e 32 dos cartuchos
Therm-O-Stack são muito similares, distinguindo-se das curvas de arrefecimento das
figuras 29 e 30 dos cartuchos Quik-Cup, por apresentarem dois patamares. O primeiro
patamar visível nas figuras 31 e 32 exibe um fenómeno de recalescência correspondente
ao inicio da reação de solidificação da grafite primária. Neste patamar é observável um
aumento da velocidade de arrefecimento entre o ponto Liq e o ponto Eut, apresentando
valores máximos no ponto MIR. Nas curvas de arrefecimento dos cartuchos Therm-O-Stack
a separação entre o ponto Liq e Eut é mais evidente, apresentando um fenómeno de
recalescência mais pronunciado comparativamente com as curvas dos cartuchos Quik-Cup
das figuras 29 e 30. O segundo patamar, visível nas curvas de arrefecimento dos cartuchos
Therm-O-Stack das figuras 31 e 32, corresponde à reação eutéctica. Neste patamar
evidencia-se um comportamento decrescente devido à continua diminuição da velocidade
de arrefecimento. O comportamento verificado em ambas as curvas dos cartuchos Therm-
O-Stack é típico de uma morfologia de solidificação hipereutéctica, uma vez que a sua
morfologia apresenta dois patamares, sendo o primeiro recalescente e o segundo
decrescente.
Comparando as curvas de arrefecimento de ambos os cartuchos, é visível uma
diferença do primeiro patamar no comportamento de solidificação do metal. Posto isto,
é necessário determinar qual dos cartuchos é capaz de fornecer uma informação mais
precisa recorrendo-se, para isso, à análise da composição química, nomeadamente, ao
teor de carbono equivalente. O teor dos diferentes elementos presentes na composição
química de vazamento do ensaio 1 e 2 encontram-se, respetivamente, nas tabelas 4 e 5.
35
Tabela 5: Composição química de vazamento do ensaio 2.
36
identificado pela análise das curvas a vermelho uma vez que não existiu inoculação in-
mold. Nestes ensaios não se experimentam quaisquer pós inoculantes.
Nas figuras 33 e 34 estão apresentadas as curvas de arrefecimento dos cartuchos
Therm-O-Stack para a etapa 2 – início da linha de moldação.
Figura 33: a) Curva de arrefecimento do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1; b) Curva de arrefecimento do inverso da
primeira derivada do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1.
37
Figura 34: a) Curva de arrefecimento do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2; b) Curva de arrefecimento do inverso da
primeira derivada do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2.
Na curva de arrefecimento da figura 33, imagem b), é possível verificar que o ponto
Mir é identificado 33 segundos após o vazamento do banho metálico para o cartucho. Já
na imagem b) da figura 34, este fenómeno ocorre aos 36 segundos. Em ambas as curvas a
temperatura a que se verifica este fenómeno ocorre, aproximadamente, aos 1150ºC.
As figuras 35 e 36 apresentam as curvas de arrefecimento representativas do
comportamento do metal vazado no fim da linha da moldação (etapa 3).
38
Figura 35: a) Curva de arrefecimento cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1; b) Curva de arrefecimento do inverso da
primeira derivada do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 1 .
Figura 36: a) Curva de arrefecimento do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2; b) Curva de arrefecimento do inverso da
primeira derivada do cartucho Therm-O-Stack, ensaio 2.
39
Em ambas as curvas se verifica um decréscimo no tempo até ser atingido o ponto Mir.
O ponto Mir manifesta-se, para a curva de arrefecimento da figura 35, imagem b), aos 27
segundos, enquanto que na curva de arrefecimento da imagem b) da figura 36, este mesmo
ponto, verifica-se aos 30 segundos. Esta diferença entre as curvas de arrefecimento do
início e fim de vazamento justifica-se pela diminuição da temperatura do metal na colher
de vazamento e pelo desvanecimento contínuo dos tratamentos de inoculação e
nodularização.
Com os tempos obtidos para ambos os ensaios nas duas etapas foi calculada a média,
tabela 6.
Tabela 6: Valor médio do tempo Mir para os ensaios realizados.
36
31,5
27
30
Com os resultados obtidos é possível estabelecer o valor médio do ponto Mir para a
morfologia de solidificação do ferro fundido nodular da CMW, servindo este como
referência para posteriormente estabelecer o valor de coeficiente de expansão grafítica
que conduz ao valor da função pós-processamento “time to end mass feeding” idêntico
ao valor do ponto Mir.
40
Na terceira etapa de simulação, utilizando o resultado mais promissor da expansão
grafítica obtido na segunda etapa, foi estudada a função pós-processamento “total
shrinkage porosity” que permitiu localizar, no software QuikCast, os rechupes na peça.
Esta função foi estudada para a abordagem de simulação validada na segunda etapa. Uma
vez identificada a distribuição de rechupes na simulação de solidificação foi realizado o
corte das secções dos corpos de prova produzidos e comparado os dois resultados, o da
simulação com a do resultado experimental no corpo de prova.
41
Figura 38: Estrutura da malha do corpo de prova.
Nesta etapa foi estudada a distribuição do valor do módulo térmico nas diferentes
secções do corpo de prova, tal como se apresenta nas figuras 39 e 40.
42
Figura 40: Diagrama térmico do corpo de prova, ou, mapa dos módulos de arrefecimento, com as gamas de variação
em cada secção.
Os resultados obtidos para os valores de módulo térmico para cada secção apresentam-
se concordantes com os cálculos heurísticos realizados, da tabela 2 na página 26. Desta
forma, a distribuição de valores do diagrama térmico do corpo de prova foi validada com
o método heurístico apresentado na tabela 2. Conforme se poderia esperar, os resultados
obtidos pós-processamento verifica-se uma variação de valores do módulo térmico entre
as três secções do corpo de prova. A secção 1 apresenta uma gama de valores
compreendidos entre 1,0 e 1,2 cm, a secção 2 entre 0,4 e 0,6 cm e a secção 3 entre 1,1
a 1,2 cm. Com os valores obtidos é possível identificar a secção 2 do corpo de prova como
sendo a região que apresenta uma maior semelhança com o valor do módulo térmico do
cartucho Therm-O-Stack (~0,5 cm). Esta região serviu de referência para análise das
funções de pós-processamento das outras etapas de simulação de solidificação.
43
com o objetivo de identificar a abordagem de simulação que mais se aproxima da
realidade.
Nas figuras 41, 42, 43 e 44 apresentam-se os resultados das simulações da função “time
to end mass feeding” para valores de coeficiente de expansão grafítica de,
respetivamente, 0,25, 0,5, 0,75 e 1.
Figura 41: Valor da função "time to end mass feeding" para um coeficiente de expansão grafítica de 0,25.
Figura 42: Valor da função "time to end mass feeding" para um coeficiente de expansão grafítica de 0,5.
44
Figura 43:Valor da função "time to end mass feeding" para coeficiente de expansão grafítica de 0,75.
Figura 44: Valor da função "time to end mass feeding" para coeficiente de expansão grafítica de 1.
Os resultados para a função “time to end mass feeding” apresentam uma variação de
tempo de acordo com as diferentes secções do corpo de prova. Pelos resultados é
percetível que as secções 1 e 3 apresentam tempos da função “time to end mass feeding”
superiores à secção 2. Este resultado é espectável uma vez que a secção 2 apresenta um
módulo térmico inferior às restantes regiões, sendo, desta forma, a primeira a solidificar.
Na primeira simulação, para a seção 2, utilizando um valor de coeficiente de expansão
grafítica de 0,25, obteve-se um tempo de 38,1 segundos da função “time to end mass
feeding”. Na segunda simulação, com um coeficiente de expansão grafítica de 0,5,
verifica-se um tempo de 31,6 segundos. Já a terceira e a quarta simulação, realizadas
com valores de coeficiente de expansão grafítica de 0,75 e 1, respetivamente,
apresentaram valores da função de pós-processamento “time to end mass feeding” de
26,8 segundos e 21,0 segundos.
45
Comparando os resultados recolhidos das 4 simulações constata-se que a variação do
parâmetro de pré-processamento do coeficiente de expansão grafítica promove alterações
na função analisada. Com a análise relativa dos resultados da função “time to end mass
feeding” é possível identificar qual o valor de coeficiente de expansão grafítica que
reproduz melhor um comportamento de solidificação semelhante ao da produção.
Na tabela 7 estão apresentados os valores da função do software que representa o
fenómeno de coerência dendrítica, para as 4 simulações.
Tabela 7: Valores da função "time to end mass feeding" para a secção 2.
Pela análise da tabela 7, pode verificar-se que a simulação que apresenta uma maior
concordância de valores entre a função “time to end mass feeding” e o valor médio do
ponto Mir (31,5 segundos) foi a simulação 2, pelo que se passou a utilizar, nas etapas
seguinte, o valor de coeficiente de expansão grafítica de 0,5.
46
Figura 45: Distribuição da percentagem de rechupes no corpo de prova, previsto pela função "total shrinkage porosity"
da simulação do QuikCast, utilizando parâmetros standard.
Figura 46: Distribuição da percentagem de rechupes no corpo de prova, previsto pela função “total shrinkage
porosity” da simulação do QuikCast, utilizando o coeficiente da expansão grafítica de 0,5.
47
de rechupes, dado serem as últimas secções a solidificar. A solidificação precoce da secção
2, que apresenta um menor módulo térmico, impede a passagem livre do metal líquido da
secção 1 para a secção 3, isolando-as e promovendo a formação de rechupes dado não
existir metal para compensar a contração do líquido. Com o propósito de contrariar a
formação de rechupes, foi implementado um alimentador na secção 3 para analisar a
influência deste na ocorrência destes defeitos.
Pela análise da função pós-processamento “total shrinkage porosity” nas figuras 45 e
46 é percetível a existência de alterações na formação e dimensão dos rechupes. Com o
ajuste do parâmetro de pré-processamento do coeficiente de expansão grafítica verifica-
se uma redução do tamanho e da distribuição dos rechupes nas secções 1 e 3 promovendo
um maior rigor na deteção de possíveis rechupes indicados na simulação.
Na figura 47 está apresentada a distribuição de rechupes ao longo do plano XZ para as
diferentes secções e corpos de prova, utilizando um coeficiente de expansão grafítica de
0,5.
Figura 47: Distribuição de rechupes no plano XZ, utilizando um coeficiente de expansão grafítica de 0,5.
48
visto que, como já referenciado, a secção 2 solidifica em primeiro lugar o que não permite
a alimentação de metal da secção 3 para a 1.
Pela análise dos resultados obtidos em todas as etapas de simulação obtiveram-se as
regiões a seccionar no corpo de prova produzido para validação do procedimento de
simulação.
49
Figura 49: Imagem fotográfica de poros na secção 3 do corpo de prova, sem alimentador.
Para o corpo de prova sem alimentador, a função “total shrinkage porosity” obtida
pela simulação previu a formação de rechupes na superfície da secção 3. O seccionamento
da peça nesta secção não evidencia a presença de rechupes mas sim porosidades, por
aprisionamento de gás, distribuídas ao longo do plano superficial. Este acontecimento
pode ser explicado pelos softwares de simulação funcionarem com um erro associado por
excesso, salvaguardando a produção com o pior cenário.
50
Figura 51: Secção 3 do corpo de prova com alimentador.
Por sua vez, o seccionamento do corpo de prova com alimentador permitiu evidenciar
a ausência total de rechupes em toda a área de corte, tal como previsto pela simulação
realizada. A utilização de alimentador poderá ter ajudado o gás a vazar, não ficando
aprisionado na secção da peça.
Nas figuras 52 e 53 estão apresentados os resultados referentes ao corte da secção 1,
para ambos os corpos de prova.
Figura 52: a) Imagem fotográfica de rechupes da secção 1 sem alimentador; b) Imagem de lupa da dimensão de
rechupes da secção 1 sem alimentador.
Na figura 52, imagem a), observa-se uma distribuição de rechupes na região central da
secção 1. Estes localizam-se no centro geométrico da secção, conforme o previsto pela
função “total shrinkage porosity”. A imagem b) da figura 52 permite, por sua vez, avaliar
a dimensão dos rechupes. Os rechupes observados apresentam uma dimensão que varia
entre 2 a 5 mm, sugerindo-se que se trate de macrorrechupes.
51
Figura 53: a) Imagem fotográfica de rechupe na secção 1 com alimentador; b) Imagem de lupa da dimensão do
rechupe.
A figura 53, imagem a), exibe a presença de rechupes no centro geométrico da secção
em análise, à semelhança do que se verificou no corpo de prova sem alimentador. Esta
concordância de resultados permitiu compreender a importância do alimentador e como
este promove a diminuição da formação de rechupes. No entanto, visto que o alimentador
está posicionado junto à secção 3 e ocorre, como já salientado, a solidificação prematura
da secção 2, a deslocação do banho entre a secção 3 e a secção 1 não ocorre, não
permitindo a eliminação dos rechupes. Na imagem b) pode verificar-se que o
macrorrechupe apresenta uma dimensão de cerca de 7,5 mm.
Este conjunto de resultados permite validar a simulação de solidificação da terceira
etapa e, consequentemente, os parâmetros de pré-processamento utilizados. Com o
ajuste dos parâmetros de pré-processamento foi possível melhorar as simulações de
solidificação standard, aproximando os resultados dos parâmeros de pós-processamento
aos resultados obtidos na prática industrial. É possível afirmar, também, que a localização
dos rechupes da secção 1 é relativamente concordante com o previsto na simulação e que,
embora não haja evidencia da presença de rechupes da secção 3, os valores ajustados dos
parâmetros de pré-processamento melhoraram as previsões de simulação de solidificação
do software, pela redução da indicção da formação de rechupes nesta secção.
52
5. Conclusão
Considerando a elaboração industrial e experimental desta dissertação que teve como
objetivo melhorar o desempenho das simulações de solidificação recorrendo às técnicas
de análise térmica, é possível retirar as seguintes ilações:
1. A utilização das técnicas de análise térmica permitiu acompanhar a produção
de ferro fundido nodular da CMW, com a identificação das curvas de
arrefecimento características. A comparação das curvas de arrefecimento dos
cartuchos fechados Quik-Cup e Therm-O-Stack permitiu identificar este último
como sendo um cartucho com maior precisão na identificação da morfologia de
solidificação dos banhos. Com o conjunto de dados fornecidos pela análise
espetrométrica e pelas curvas de arrefecimento dos cartuchos Therm-O-Stack
identificou-se a morfologia de solidificação como sendo hipereutéctica;
2. A interpretação das curvas de arrefecimento dos cartuchos fechados de dupla
cavidade Therm-O-Stack permitiu identificar qual o valor médio do ponto Mir.
A comparação deste valor com o parâmetro de pós-processamento “time to end
mass feeding” conduziu à identificação do coeficiente de expansão grafítica
capaz de reproduzir de forma mais eficaz os fenómenos de solidificação
ocorridos. O ajuste dos parâmetros de pré-processamento proporcionou uma
melhoria dos resultados de pós-processamento da simulação standard,
aproximando os dos resultados obtidos no corpo de prova;
3. O ajuste dos parâmetros de pré-processamento proporcionou uma melhoria da
previsão dos resultados de simulação em ambas as secções do corpo de prova.
O seccionamento dos corpos de prova produzidos permitiu validar a
metodologia adotada com a confirmação da existência da formação de
rechupes na secção 1 e com a redução da indicação da formação de rechupes
na secção 3 comparativamente com os resultados de pós-processamento
obtidos na simulação standard.
No final desta dissertação foi possível concluir que a utilização de técnicas de análise
térmica, segundo a metodologia adotada, permite melhorar as simulações de
solidificação.
53
Desta forma, e para alcançar resultados mais fiáveis das simulações de solidificação
no software, é útil utilizar os dados de análise térmica, Mir, e o consequente ajuste do
coeficiente de expansão grafítica no software, para melhorar o desempenho das
simulações de solidificação, considerando-se que seria pertinente um estudo em que se
promovam variações graduais da composição química do banho para valores à volta do CE
eutéctico.
Para a elaboração deste estudo é necessário caracterizar o estado de germinação do
banho para uma produção padrão com CE pretendido e as alterações manifestadas na
microestrutura dos fundidos. Estas características irão influenciar o coeficiente de
expansão grafítica e, consequentemente, diminuir a possibilidade de formação de
rechupes. Para tal, a metodologia utilizada pelas técnicas de análise térmica deve manter-
se constante a fim de se obter valores de outputs concordantes entre os banhos.
54
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