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anais

EIXO TEMÁTICO 4
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS

ORG.
Dilton Lopes de Almeida Júnior
Fabio Macedo Velame
José Carlos Huapaya Espinoza
ORGANIZAÇÃO

Dilton Lopes de Almeida Júnior


Fabio Macedo Velame
José Carlos Huapaya Espinoza

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Alyssa Volpini Lustosa


Igor Gonçalves Queiroz
Júlia Dominguez da Silva
Leonardo Vieira de Souza

www.xvishcu.arq.ufba.br

Salvador - Bahia
2021

S471a Seminário de História da Cidade e do Urbanismo (16.: 2021 : Salvador, BA)


Anais [do] XVI Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, 15-18 Junho 2021. -
Salvador: UFBA, 2021 / Organização Dilton Lopes de Almeida Júnior, Fábio Macedo
Velame, José Carlos Huapaya Espinoza.

Tema: 30 anos: atualização crítica.


ISSN: 2178-7158

1. Planejamento urbano - Congtressos. 2. Cidades e vilas – Congressos. 3. Urbanização


– História - Congressos. I. Almeida Júnior, Dilton Lopes. II. Velame, Fábio Macedo. III. Espinoza,
José Carlos Huapaya.

CDU: 711.4(091)

Sistema Universitário de Bibliotecas – UFBA


Elaborada por Geovana Soares Lira CRB-5: BA-001975/O
ARTIGOS CASAS MODERNAS EM SÃO CARLOS-SP: REGISTROS
DE UMA MEMÓRIA EDIFICADA
MONTEIRO, Flávia C.; ALMEIDA, Adriana L. de.
EIXO TEMÁTICO 4 3838

CIDADES, MEMÓRIAS CAVALCANTI E ROSADO: DISCUSSÃO SOBRE O


E ARQUIVOS DESENVOLVIMENTO URBANO DOS MUNICÍPIOS DO
OESTE POTIGUAR (1912-1940)
SOARES, Luiz Antônio Ferreira; DUTRA, Milena Dantas
Martins; MEDEIROS, Gabriel Leopoldino Paulo de.

3854

CIDADE E MEMÓRIA: HISTÓRIAS NARRADAS EM


RETRATOS DE FAMÍLIA
GUMA, Juliana Lamana; ALCANTARA, Marina; COIMBRA,
Gabriela Petersen.

3874

CINEMAS DE RUA NO VALE DO ITAJAÍ (SANTA


CATARINA): MEMÓRIA REVISITADA
MULLER, Yasmin; POZZO, Renata Rogowski.

3892

CONTRIBUIÇÕES PARA HISTÓRIA URBANA: O MERCADO


DE TERRAS DE PASSO FUNDO NA PRIMEIRA METADE
DO SÉCULO XX
DINIZ, Pedro Henrique Carretta; ALMEIDA, Caliane
Christie Oliveira de.

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CORA CORALINA E A HISTÓRIA EM VERSOS


SANTOS, Jana Cândida Castro dos.

3932

DICOTOMIA NA PRESERVAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE


O MODERNO NA CIDADE DE GOIÁS – GO
FONSECA, Thalita Pereira da; OLIVEIRA, Karine Camila.

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ENCONTRO REVELADO: MARCEL GAUTHEROT E PIERRE


VERGER NA REVISTA DO PATRIMÔNIO
COTRIM, Márcio; BRANDÃO, Natália.

3968
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
ENTRE PERMANÊNCIAS E RUPTURAS: O CASO DA NARRATIVAS HISTÓRICAS SOBRE A PRECARIEDADE
CIDADE VERANEIO HABITACIONAL EM BELÉM
GIASSON, Bruno Cesar Eder; BELLO, Helton Estivalet. MAUÉS, Rogério Santana; MIRANDA, Cláudia Aires de Sá;
LEITÃO, Karina Oliveira.
3984
4130

ESCOLAS E EDUCAÇÃO NAS CIDADES NOVAS DE


JOAQUIM GUEDES NOS TRILHOS DA PRESERVAÇÃO: PLANO DE
CONSERVAÇÃO DA ESPLANADA FERROVIÁRIA DE BELO
QUINTANILHA, Rogério.
JARDIM – PE
4002
ALVES, Cleylton.

4150
ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE EM
SALVADOR NO SÉCULO XX: OS PRIMEIROS HOSPITAIS
PÚBLICOS DE ATENDIMENTO EMERGENCIAL O CARNAVAL E A CIDADE: SALVADOR ATRAVÉS DAS
IMAGENS DA FUNDAÇÃO GREGÓRIO DE MATTOS E
BATISTA, Lucianne F.
FUNDAÇÃO PIERRE VERGER (1951-1962)
4024
BELITARDO, Adele.

4174
ESTUDO E DOCUMENTAÇÃO DE CASAS DE MADEIRA NA
CIDADE DE MARINGÁ-PR POR MEIO DA MODELAGEM
DIGITAL O CEMITÉRIO COMO ESPAÇO TERRITORIAL URBANO:
HISTORIOGRAFIA DO CASO DE VITÓRIA (ES)
NAGAHAMA, Amanda K.; PTASZEK, Andryelle C.; SILVA,
Ricardo D. TEIXEIRA, Paloma Barcelos.
4040 4192

HABITAR NA VILA: PROJETO DE INTERVENÇÃO DAS O FAROL DE SANTA MARTA E SUA POTENCIALIDADE
VILAS MANOEL DIAS E MANOEL FREIRE CAMPINAS/SP COMO MUSEU DE SÍTIO
LOBATO, Renata; GUAZZELLI, Barbara; OLIVEIRA, Raissa. MORAES, Adriane C. S.; BARRETTO, Margarita.
4054 4208

IDEIAS E REPRESENTAÇÕES DE NATUREZA O NOVO JÁ NASCE VELHO? REFLEXÕES SOBRE O


NO SPHAN (1937) TECIDO URBANO DOS PLANOS DAS AVENIDAS EM
VIDAL, Rafael T. LISBOA DE RESSANO GARCIA
4072 SILVA, Lídia Pereira.

4228
IMAGENS EM CRUZAMENTO DE SÃO PAULO: FENDAS,
RESISTÊNCIAS E MEMÓRIAS O REGISTRO DE TERRAS DO CURRAL DEL REI
GREGORI, Márcia Sandoval. NOS ANOS 1855 - 1856
4088 LIMA, Daniela Batista.

4244
MEMÓRIA E MODERNIZAÇÃO DOS LICEUS
INDUSTRIAIS: A ARQUITETURA DO ENSINO TÉCNICO
O USO DA ORALIDADE NO (RE) CONHECIMENTO DA
NA ERA VARGAS
PAISAGEM DO CENTRO HISTÓRICO DE BELÉM (PA)
ARAUJO, Adriana Castelo Branco Ponte de Araújo; PAIVA,
TUTYIA, Dinah Reiko; MIRANDA, Cybelle Salvador.
Ricardo Alexandre.
4256
4106
EIXO TEMÁTICO 4 RESUMO
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
Este artigo tem por objetivo analisar o tecido
urbano dos planos da Avenidas em Lisboa de
vídeo-pôster Ressano Garcia, a partir do confronto das ideias
pertinentes à composição da cidade clássica-
-barroca e a produção urbana oitocentista em
O NOVO JÁ NASCE VELHO? Lisboa. Partindo do questionamento “o novo já
nasce velho?”, foram considerados para este es-
REFLEXÕES SOBRE O TECIDO tudo, o plano da Avenida da Liberdade – primeira
parte do eixo de comunicação entre o centro e
URBANO DOS PLANOS DAS as áreas de expansão ao norte – e a aplicação
de técnicas de decomposição do tecido, a par-
AVENIDAS EM LISBOA DE tir da teoria de Coelho (2018), como método de
análise da forma urbana. Para tanto, adotou-se
RESSANO GARCIA como ferramenta de suporte, o software Auto-
CAD® para o redesenho dos traçados e malhas
urbanas apresentadas nos mapas da Lisboa
IS THE NEW OLD? REFLECTIONS ON THE URBAN
oitocentista, disponibilizados pela Biblioteca
TISSUE OF AVENIDAS PLANS IN LISBON BY RESSANO
Nacional de Portugal (BNP). O uso desse recur-
GARCIA
so permitiu a representação bidimensional de
cada um dos sistemas analisados. Após a apli-
¿ES EL NUEVO ANTIGUO? REFLEXIONES SOBRE EL
cação do método, foi possível observar que, as
TEJIDO URBANO DE LOS PLANES DE AVENIDAS EN
regras tradicionais de composição do espaço
LISBOA POR RESSANO GARCIA
e de relacionamento entre as suas partes da
cidade clássica-barroca foram mantidas na in-
SILVA, Lídia Pereira tervenção proposta por Ressano Garcia, sendo
o tecido do centro “antigo” ampliado e as linhas
Doutoranda em Arquitetura; Universidade de Lisboa
Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e
retas e a quadrícula retangular da baixa pomba-
Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – campus Caruaru lina transportadas para o desenho da Avenida
lidia.silva@caruaru.ifpe.edu.br Liberdade. Embora o traçado proposto apre-
sentasse ares de “modernidade”, em contrapo-
sição ao desenho irregular da cidade medieval,

com a manutenção de um conjunto de preexis-


tências relacionadas à preservação de determi-
nado grupo de edifícios e de antigos percursos.

PLANO DAS AVENIDAS FORMA URBANA


DECOMPOSIÇÃO SISTÊMICA TECIDO URBANO
AVENIDA DA LIBERDADE

16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica

4228
ABSTRACT RESUMEN

This article aims to analyze the urban fabric of the Este artículo tiene como objetivo analizar el te-
Avenues in Lisbon plans by Ressano Garcia, from jido urbano de los planes de Avenidas en Lisboa
the confrontation of the ideas pertinent to the por Ressano García, a partir de la confrontación
composition of the classic-baroque city and the de las ideas pertinentes a la composición de la
19th century urban production in Lisbon. Based ciudad barroca clásica y la producción urbana
on the question “is the new old?”, the plan for Ave- del siglo XIX en Lisboa. Con base en la pregunta
nida da Liberdade - the rst part of the communi- “¿es lo nuevo viejo?”, se consideró el plan para la
cation axis between the center and the expansion Avenida da Liberdade, la primera parte del eje
areas to the north - and the application of decom- de comunicación entre el centro y las áreas de
position techniques for the north were conside- expansión hacia el norte, y la aplicación de téc-
red for this study. fabric, based on Coelho’s the- nicas de descomposición para el norte. estudiar.
ory (2018), as a method of analyzing urban form. tela, basada en la teoría de Coelho (2018), como
To this end, the AutoCAD® software was adopted método de análisis de la forma urbana. Con este
as a support tool for the redrawing of the outlines n, el software AutoCAD® se adoptó como una
and urban grids presented on 19th century Lisbon herramienta de apoyo para el rediseño de los
maps, made available by the National Library of contornos y las redes urbanas presentados en los
Portugal (BNP). The use of this resource allowed mapas de Lisboa del siglo XIX, puestos a disposi-
the two-dimensional representation of each of ción por la Biblioteca Nacional de Portugal (BNP).
the analyzed systems. After applying the method, El uso de este recurso permitió la representación
it was possible to observe that the traditional bidimensional de cada uno de los sistemas anali-
rules of space composition and the relationship zados. Después de aplicar el método, fue posible
between its parts of the classical-baroque city observar que las reglas tradicionales de compo-
were maintained in the intervention proposed by sición espacial y la relación entre sus partes de
Ressano Garcia, with the fabric of the “old” cen- la ciudad barroca clásica se mantuvieron en la in-
ter being expanded and the straight lines and the tervención propuesta por Ressano García, con la
rectangular grid of the lower pombaline transpor- expansión del tejido del “viejo” centro y las líneas
ted to the design of Avenida Liberdade. Although rectas y la cuadrícula rectangular de la pombali-
the proposed layout had an air of “modernity”, as na inferior transportada al diseño de la Avenida
opposed to the irregular design of the medieval Liberdade. Aunque el diseño propuesto tenía un
city, the memory of the previous con guration aire de “modernidad”, a diferencia del diseño ir-
persisted with the maintenance of a set of pre- regular de la ciudad medieval, el recuerdo de la
-existences related to the preservation of a cer- con guración anterior persistió con el manteni-
tain group of buildings and old routes. miento de un conjunto de preexistencias relacio-
nadas con la preservación de un cierto grupo de
edi cios y viejas rutas.
AVENUE PLANS URBAN FORM
SYSTEMIC DECOMPOSITION URBAN FABRIC
PLANES DE LA AVENIDA FORMA URBANA
AVENIDA DA LIBERDADE
DESCOMPOSICIÓN SISTÉMICA TEJIDO URBANO
AVENIDA DA LIBERDADE
EIXO TEMÁTICO 4 INTRODUÇÃO
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
O século XIX é marcado por uma progressiva
industrialização que provocou um novo tipo de
cidade. Segundo Pereira (2006), os desdobra-
vídeo-pôster
mentos ideológicos, políticos, econômicos e os
avanços técnicos acarretaram simultaneamente

O NOVO JÁ NASCE VELHO? as quais promoveram mudanças profundas na


REFLEXÕES SOBRE O TECIDO distribuição territorial da cidade industrial oito-

URBANO DOS PLANOS DAS pela intensa migração do campo para a cidade, e
a concentração das novas economias nos núcleos
AVENIDAS EM LISBOA DE urbanos exigiram profundas transformações e a
adaptações às novas necessidades de habitação,
RESSANO GARCIA infraestrutura, equipamentos e serviços urba-
nos, para fazer o conjunto da cidade funcionar.

IS THE NEW OLD? REFLECTIONS ON THE URBAN O aumento gradual da densidade urbana forçou
TISSUE OF AVENIDAS PLANS IN LISBON BY RESSANO um crescimento físico da cidade, a partir de ex-
GARCIA pansões interiores – com a ocupação dos vazios
urbanos e o aumento das alturas das edifica-
¿ES EL NUEVO ANTIGUO? REFLEXIONES SOBRE EL ções – ou de expansões exteriores, para além
TEJIDO URBANO DE LOS PLANES DE AVENIDAS EN dos seus limites. Essas ampliações externas,
LISBOA POR RESSANO GARCIA por vezes de forma espontânea, outras de modo
planejado, alteraram a organização e a ocupação
do território das cidades europeias ao longo dos
anos. De acordo com Lamas (2007), as cidades
invadiram o campo e alastraram-se indiscrimi-
nadamente para além das suas muralhas e for-
tificações, diluindo a separação entre o ‘espaço
construído’ e o ‘não construído’ (espaço rural).

O adensamento das cidades sem planejamento do


espaço urbano e a situação da população menos
favorecida motivaram o pensamento higienista
que passou a nortear as intervenções neces-
sárias à adaptação do ambiente urbano a nova
estrutura social. As intervenções propostas para
a cidade de Lisboa, como alargamento das ruas,
para torná-las adequadas a rede de instalações e
a arborização das vias, e a abertura de grandes ei-
xos que interligavam as novas zonas de expansão
externa ao centro, remetiam ao interesse de uma
nova ordem urbana, onde as reformas poderiam
acarretar rupturas drásticas no tecido urbano,
como ocorreu na maioria das grandes cidades
europeias do século XIX. Porém, para Silva (2006,
p. 133) diferentemente das demais, Lisboa “[...] não
16º SHCU pôs em causa a cidade velha, desenvolvendo-se
30 anos . Atualização Crítica
por ampliação e não por conversão”. Frente à essa
4230
Para responder esse questionamento, este artigo ta à uma estrutura urbana estática, impedindo
tem por objetivo analisar o tecido urbano do plano seu crescimento e comprimindo-a. Embora, os
das Avenidas, a partir do confronto das ideias per- discursos, tratados e esquemas propusessem
tinentes à composição da cidade clássica-barroca qualidades revolucionárias, nesse período, a es-
e à produção urbana oitocentista em Lisboa. Esse trutura geral das cidades foi pouco alterada.
embate parte do entendimento de que, no século
XIX, é nítida a continuidade da cidade clássica-bar- As atividades urbanísticas renascentistas foram
roca, com a manutenção das regras tradicionais rechaçadas, em grande, parte a reforma internas,
de composição do espaço e de relacionamento como: arruamentos retilíneos; construção de
das suas partes (LAMAS, 2017). Para tanto, a in- novos bairros, com o uso de quadrícula geomé-
vestigação proposta é construída com base em trica; criação de espaços públicos e de praças;
uma revisão de literatura e na aplicação de técni- integração e subordinação dos edifícios ao con-
cas de decomposição do tecido como método de junto urbanístico; e o embelezamento urbano a
análise da forma urbana, a partir das informações partir da utilização de monumentos.
apresentadas nos mapas da Lisboa oitocentista.
No renascimento, “A rua deixa de ser apenas um
O artigo é estruturado em três seções distintas. percurso funcional – como na idade média –, para
Na primeira seção, é apresentada, brevemente, se tornar também um percurso, visual, decora-
uma revisão de literatura sobre os elementos tivo, de aparato [...]” (LAMAS, 2017, p. 172). A rua
de composição da cidade clássica-barroca e da renascentista assume um traçado retilíneo, que
cidade do século XIX. Na segunda, são descritos além das razões de perspectiva e estéticas, bus-
os procedimentos metodológicos adotados para cava resolver os problemas de tráfego causados
à análise do tecido urbano e os motivos os quais pela generalização do uso de carroças e coches
levaram à sua escolha. Na terceira seção, são fei- e da falta de preparo das ruas medievais para a
tas breves consideração sobre o plano da avenida circulação destes.
da Liberdade de Ressano Garcia e os resultados
Segundo Morris (1984), para enfatizar os efeitos
– obtidos após aplicação do método – são expos-
da perspectiva e compensar a falta de roman-
tos e confrontados com os vetores da morfologia
tismo, que anteriormente fazia-se presente nas
ruas serpenteantes, ao final de longas retas
eram colocados elementos escultóricos, como
urbano do plano das Avenidas em Lisboa.
estatuas, fontes e obeliscos.

Os espaços originados entre os cruzamentos or-


togonais dos percursos retilíneos renascentistas
Da cidade clássica-barroca foram preenchidos com a utilização de quadrículas
à cidade industrial geométricas, onde “A quadrícula continua a servir
as necessidades distributivas, de organização ha-
Desde o princípio do século XV até o século bitacional e divisão cadastral; adapta-se na perfei-
XVII, o renascimento estruturou a realidade ção ao ideal renascentista [...]” (LAMAS, 2017, p. 174).
urbana e territorial europeia, estabelecendo
um novo quadro de mudanças arquitetônicas e De acordo como Morris (1984), para romper a
urbanísticas em oposição ao medieval. Segundo monotonia do sistema reticulado eram adicio-
Lamas (20017), a urbanística renascentista tinha nados diferentes tipos de espaço ao desenho
como desejo a ordem e a disciplina geométrica,
em contraste com a irregularidade das cidades diferentes de recintos espaciais – destinados
medievais, e a forma radioconcêntrica era per- ao tráfego, residenciais e de pedestres – onde,
filada como o traçado da cidade ideal. o primeiro espaço formava uma parte da rede
principal de vias urbanas e era usado tanto por
Ainda de acordo com Lamas (2017), a evolução pedestres como por veículos; o segundo tipo foi
das estratégias de defesa, com a construção de pensado só para o acesso pelo tráfego local e
sistemas complexos de fossos, rampas, baluartes com predomínio de propósitos recreativos; e o
e muralhas, condicionaram a cidade renascentis- último tipo excluía o tráfego rodado.
EIXO TEMÁTICO 4 Os recintos espaciais podiam ser delimitados
-
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
por mercados e edifícios comerciais. A inclusão
desses espaços, junto ao traçado retilíneo e a
quadrícula geométrica, delineava a composição
urbana clássica.

Além desse aspecto, segundo Lamas (2017), a


composição urbana clássica também assimilava
a integração do desenho dos edifícios como ele-
mento de sua própria composição. Nesse período,
as fachadas dos edifícios autonomizam-se e pas-

integrando-se à disciplina estética da cidade.

A combinação de traçados retilíneos, quadriculas


geométricas e recintos espaciais, delimitados pelas
fachadas dos edifícios, constituiu e deu forma a
cidade clássica renascentista, que foi continuada
-
fologia do período anterior, com algumas inovações.

A partir do Barroco, “A evolução e o requinte no


modo de viver introduzirão a árvore na cidade,
proporcionando a invenção de novo tipos espa-
ciais: o recinto arborizado, o parque, o jardim, o
passeio e a alameda [...] ” (LAMAS, 2017, p. 194).
Os espaços verdes tornaram-se elementos de
composição e apoiando-se em elementos cons-
truídos – muros, balaustradas, esculturas – e de
acordo com Lamas (2017), possibilitaram inter-
venções de qualidade nunca mais alcançadas.

No século XIX, o desenho da cidade continuou a


utilizar as regras de composição do espaço do
período clássico. Entretanto, com a evolução
das estratégias militares, as construções no
interior dos perímetros fortificados tornaram-
-se desnecessárias, o que permitiu alterar a
compreensão de cidade. Segundo Lamas (2017),
a inutilização e posterior destruição das mura-
lhas possibilitou o surgimento de ocupações
dispersas e a indefinição dos limites urbanos,
modificando a estrutura geral das cidades.

A mudança na estrutura geral foi consequência


de uma série de revoluções ocorridas simul-
taneamente no século XIX – revolução demo-
gráfica, revolução econômica e revolução das
16º SHCU infraestruturas –, e do estabelecimento de um
30 anos . Atualização Crítica
novo modelo de cidade, o qual refletia o inte-
4232 resse de diferentes agentes urbanos.
O aumento da população ao longo de todo o século lizou-se como procedimento a decomposição
XIX obrigou a expansão física da cidade, com a sistêmica do tecido urbano, a partir da teoria de
ocupação da periferia e com a reforma de suas Coelho (2018). A escolha desse procedimento foi
áreas centrais, utilizando espaços anteriormen-
dos principais sistemas que compõem o tecido
Nas palavras de Lamas (2017, p. 208), “Na cidade urbano, ou da desagregação dos elementos que
industrial, o desequilíbrio entre oferta e procura fazem parte deste, permite a compreensão de
de alojamento abriu caminho para a sobreposição suas características formais mais facilmente.
dos interesses econômicos sobre o desenho urba-
no”. Entretanto, a administração pública e a pro- Por expressar “ [...] a realidade da cidade construí-
priedade imobiliária compactuaram um acordo: da, matéria com existência real e temporal, que

A administração gere um espaço que é no [...] isto é toda a cidade física” (COELHO, 2018, p.
mínimo necessário para fazer funcionar o 14), para a compreensão do tecido urbano, faz-
conjunto da cidade: o necessário para a -se necessário retirar uma de suas dimensões,
rede de percursos (ruas, praças, estradas a dimensão vertical. Essa redução possibilita a
de ferros, etc) e para a rede de instalações
(aqueduto, esgotos, depois gás, eletricida- que compõem o tecido – traçado, parcelário e
de, telefone, etc). A propriedade administra malha – e a interpretação de sua forma, a partir
o restante, isto é, os terrenos servidos por da discussão dos conceitos abstratos e bidimen-
esta rede de percursos e de instalações sionais desses sistemas.
(tornando construíveis, isto é, urbanizados).
(BENEVOLO, 2001, p. 573) O conceito de traçado “Remete a representação
do espaço público e da estrutura parcelar, indi-
Coube apenas à administração pública prover ferenciado os vários elementos que os materia-
essa urbanização e regulamentar as dimensões lizam” (COELHO, 2018, p. 31). Além disso, ainda
dos edifícios e sua as relações de contiguidade. segundo Coelho (2018), o traçado também revela
Diante disso, segundo Lamas (2017), os urbanis-
tas tiveram que ‘bater de frente’ para implemen- urbana, em particular, quando o relevo assume

os interesses públicos e privados e conciliar os rompendo ou deformando suas linhas.


interesses econômicos com a arte urbana.
O parcelário representa a agregação da menor
Entre as diferentes propostas de organização para unidade elementar do espaço privado, ou seja, é o
compensar a densidade excessiva nos centros e somatório de propriedades particulares sequen-
a ausência de moradias com preços acessíveis,
de acordo com Benevolo (2001), estavam a oferta
e é considerada um dos pilares da produção do
parques públicos – e as “casas populares”, cons- tecido urbano, por não ser apenas “[...] um ter-
truídas pelo poder público. Esse enriquecimento reno a ser ocupado de qualquer maneira, mas
da estrutura urbana com jardins e parques, ala- uma unidade de solo urbano organizada a partir
medas e passeios públicos, avenidas e boulevards da rua” (PANERAI, 2014, p. 87). Ainda de acordo
reforçou a continuidade da estética barroca e com Panerai (2014), denotando a submissão do
- construído ao espaço público, essa situação tem
longou por toda segunda metade do século XIX. duas consequências:

ela permite que haja uma solidariedade


entre os edifícios, mesmo quando estes
A decomposição do tecido como método pertençam a épocas ou tipos diferentes;

de análise da forma urbana ela cria características diferenciadas no


interior da parcela, que ocorrem em todos
Para alcançar o objetivo proposto no artigo, uti-
EIXO TEMÁTICO 4 Já o conceito de malha relaciona-se a um “[...]
sistema prévio, desenhado, escrito, ou consuetu-
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS dinário que organiza de base a ordenação formal
do traçado [...] ” (COELHO, 2018, p. 32). Assim
-
ciada pelo relevo, sendo esse considerado um
fator condicionante ao impedir ou deformar a
implantação de um modelo tido como ideal.

A representação de cada um desses conceitos


(tecido urbano, traçado urbano, parcelário e ma-

Embora, entenda-se que para uma compreensão


mais precisa do tecido urbano, deve-se observar
os três sistemas distintos que compõem o tecido,
nesse estudo foram analisados apenas o traçado
e a malha. A escolha por esses dois patamares foi
direcionada em virtude das informações apre-
sentadas nos mapas da Lisboa oitocentista de

acervo da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP),


-
rio nos arquivos obtidos, sendo possível apenas
observar os diferentes modos de agrupamento
das parcelas – os quarteirões.

16º SHCU A expansão de Lisboa em meados do século XIX


30 anos . Atualização Crítica
foi ordenada a partir da articulação de vários pla-
4234 nos. Para esse estudo, foi escolhido o trecho de
expansão referente à avenida da Liberdade, que centro alternativo ao velho coração que conti-
representava a primeira parte do eixo de comu- nuava a bater, para todos os lisboetas, entre o
nicação entre o centro e as áreas de expansão Terreiro do Paço, o Rossio e o Chiado” e dotava
ao norte, e constituía, segundo Silva (19941 apud Lisboa de uma “[...] imagem renovada, ortogonal,
Mesquita 2008, p. 203) em uma “[...] espécie de higienizada e arborizada [...]”.

1. R. H. da Silva, “Urbanismo; Caminhos e Planos”, Lisboa


em movimento 1860-1920, Lisboa, 1994, p. 51.
EIXO TEMÁTICO 4
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS

Como ferramenta de suporte para análise da forma


urbana, adotou-se o software da Autodesk – Au-
toCAD® – para o redesenho dos traçados e malhas
urbanas apresentadas nos mapas da Lisboa oitocen-
tista. O uso desse recurso permitiu a representação
bidimensional de cada um dos sistemas analisados.
Esse estudo de mapas permite compreender a ci-
-

torno dos quais se efetuam as transformações [...]


reunindo elementos que permitam sua análise”.
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica

4236
O tecido urbano do plano da avenida cionalidade de um eixo ortogonal em direção aos
da Liberdade de Ressano Garcia limites da cidade e introduziram o novo desígnio
higienista da administração de Pombal, que bus-
- cava construção de uma nova cidade, “pautada
ário que assolava todo o território europeu e para por dois princípios-chave – traçado regular e
a criação de uma imagem de cidade moderna, edifícios com gabarito homogêneo e altura pro-
em meados do século XIX, a Câmara Municipal porcional à largura das ruas” (BUENO, 2005, p.10).
de Lisboa sensibiliza-se para a necessidade de
Segundo Mesquita (2008), a remodelação do Pas-
planos que concretizassem o crescimento e a
seio Público, em meados do século XIX, tinha
modernização da cidade. Os diferentes melhora-
como objetivo criar um espaço aberto e melhor
-
articulado com o tecido urbano, ajustando a sua
geometria para imprimir uma relação de proximi-
de crescimento, a avenida e o quarteirão regular.
dade com os experimentos paisagísticos que vi-
A Avenida da Liberdade surge a partir do desejo de nham ocorrendo nas principais capitais europeias.
dotar a cidade de um boulevard que representasse
O Passeio Público aberto a cidade posteriormente foi
modernidade e tornasse a imagem de Lisboa mais
substituído pela avenida da Liberdade, e seu derrube
cosmopolita. A perspectiva em torno da criação
fez ecoar posicionamentos que legitimavam sua
dessa artéria monumental foi registrada em ata
eliminação e opiniões que defendiam veemente-
da Câmara Municipal de Lisboa, em meados do
mente sua manutenção face à importância histórica
ano de 1859:
daquele espaço público para a sociedade lisboeta.
[...] “uma larga estrada, alameda ou boule-
As reacções da opinião pública face ao der-
vard, que partindo do estremo do Passeio
Público”, atravessasse o Salitre e “pela
de uma forma explícita, quer nos grupos
quebrada do Vale do Pereiro”, fosse colo-
que legitimavam sua eliminação em favor
car a baixa “em comunicação direta com
de uma nova ordem urbana, quer pela voz
dos defensores da sua manutenção como
(MESQUITA 2008, p. 200)
espaço público de importância histórica
Quase duas décadas depois, no ano de 1877, o e vivencial. [...] As duas posições sobre a
projeto do primeiro lanço da Avenida foi aprova- persistência ou eliminação da alameda ro-
do. Sob responsabilidade da Câmara Municipal mântica da capital não são passíveis de uma
de Lisboa e coordenação do engenheiro civil leitura imediata. Com efeito, não se trata
Frederico Ressano Garcia, as obras do grande de uma polémica entre a cidade tradicio-
boulevard deram prosseguimento ao movimento nal versus cidade moderna. Esta questão
de transformação da cidade no século XIX, que radica numa problemática mais complexa
teve início com a remodelação do antigo Passeio visto alguns dos interlocutores não se ins-
Público, no final da década 1840. creverem em nenhuma destas categorias.
(MESQUITA, 2008, p. 205)
Em seu desenho original, o Passeio Público con-
- O projeto desse novo boulevard propunha que:
rada, localizada ente as colinas que separavam as
(...) a avenida da Liberdade com 90m de lar-
zonas ocidental e oriental de Lisboa.
gura terminará em uma grande praça circular
No século XVIII, este projecto era uma ideia ope- denominada de Marquês de Pombal com 200
rativa que não implicava necessariamente uma m de diâmetro. Desta praça partirá para a
direita e formando com o prolongamento
empenho material talvez estratégico, pela ques- do eixo da avenida da Liberdade um ângu-
tão de comunicação de um centro urbano com lo de 60º uma rua que se prolongará até às
o seu arrabalde produtivo. (SILVA, 2006, p. 209) Picôas tendo aproximadamente 873 m de
comprimento. No prolongamento desta rua
Assim, os arquitetos pombalinos intuíram a fun- haverá outra em um só alinhamento recto.
EIXO TEMÁTICO 4 No prolongamento desta rua haverá outra
em um só alinhamento recto com 425,5 m
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS (...) cruzando-se com estas ruas forman-
do iguais ângulos com o prolongamento do
eixo da avenida haverá outras duas ruas a da
esquerda com 70 m de comprimento e a da
direita com 170 m. (...) Partindo destas ruas
paralelas entre si e distantes uma da outra
entre os seus eixos aproximadamente 575 m,
terminando na antiga estrada da circunva-
lação. A direita com 822 m, e a da esquerda
que se prolonga pelo sul até à antiga Calçada
do Salitre com 822 m. De um e outro lado
destas ruas se projectam paralelas ou per-
pendiculares à sua direcção. (RODRIGUES,
1979 2 apud MESQUITA, 2008, p. 203)

Inaugurada oficialmente em 1886, a avenida da


Liberdade reflete o gosto Haussmanniano, como
efeito da irradiação cultural da “cidade das lu-
zes”, e da formação de Ressano Garcia, diploma-
do em Ponts et Chaussés pela Ecole Polytechni-
que de Paris. Entretanto, “[...] o perfil da avenida
introduz modificações sensíveis em relação ao
boulevard parisiense, a arborização passa para
as faixas centrais, criando passeios pedonais,
melhor adaptados às condições locais e às es-
truturas habitacionais” (LAMAS, 2017, p. 224).

De acordo com Mesquita (2008), a ausência de uma


estrutura administrativa que regulamentasse os
processos de expropriação do solo, o precário siste-

por parte da opinião pública, em razão da demoli-


ção do Passeio Público, contribuíram para que a
racionalidade e o rigor presentes no projeto não
correspondessem a sua materialização, sendo ne-
cessário abrandamentos e desvios programáticos.

Embora com desvios, o plano da Avenida alte-


rou drasticamente o tecido urbano da área de
intervenção, como resultado do processo de
modernização e embelezamento que Lisboa es-
tava passando. As mudanças ocorridas na forma
urbana dessa área de intervenção são discuti-
das a seguir, onde o tempo assume um papel de
protagonista na evolução do desenho da cidade.

2. Memória descriptiva do projecto das ruas adjacentes ao


16º SHCU
futuro Parque da Liberdade. Transcrito por M. J. M. Rodri-
30 anos . Atualização Crítica
gues, Lisboa – Tradição, transição e mudança – a produção
4238 do espaço urbano na Lisboa oitocentista, Lisboa 1979, p. 75.
A partir da leitura dos tecidos urbanos nos dois de Lisboa. Áreas antes não urbanizadas, onde pre-
dominavam cultivos agrícolas, foram inseridas no
que o plano da Avenida da Liberdade levou um traçado básico da cidade. Entretanto, a memória
desenho que até então não existia na zona oeste
EIXO TEMÁTICO 4 existência de duas realidades urbanas diferentes,
fruto de um processo de sobreposição parcial, que
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS dependeu das características do sítio que acolheu o

do século XIX, observa-se que o projeto da Avenida


Liberdade alterou as formas medievais, porém
salvaguardou a ordem pré-existente, não sendo
está extinta pelo novo traçado urbano proposto.

3. Segundo a informações do Museu de Lisboa: “A planta


representa o projeto escolhido para a reconstrução de
Lisboa após o Terramoto de 1755, da autoria dos arquitetos
Eugénio dos Santos Carvalho e Carlos Mardel e datado de 12
de Junho de 1758. Apresenta a particularidade de mostrar,
a rosa, a malha urbana pré-terramoto, à qual se sobrepõe
-
teriores, principalmente na zona do antigo convento de S.
Francisco. As propostas de urbanização, baseadas nas
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
claras preocupações ao nível da ligação entre as várias
4240 áreas da capital (cidade baixa e cidade alta).”
A persistência do traçado demostra a integração em parte, a memória do traçado pré-existente
de um conjunto de preexistências relacionadas da área, que se tornou, ao longo dos anos, um
à preservação de determinado grupo de edifí- lugar em si, um espaço para a ritualização do
cios e de antigos percursos. A manutenção des- passeio público, mas sem muros e acessos.

condicionada pela questão da ausência de instru- -


mentos regulatórios do sistema de expropriação tua-se que a decomposição sistêmica permitiu
do solo, o que leva a uma percepção de que não apenas a compreensão do tecido urbano em um
momento preciso de sua existência, desarticulado
os cuidados atribuídos aos espaços privados. o objeto urbano do seu processo evolutivo, sendo
necessário assim utilizar uma outra técnica – so-
Outro aspecto observado, na proposta de Ressano breposições de imagens –, para complementar
- a leitura das entrelinhas do tecido urbano e as
tava as linhas retas e a quadrícula retangular da bai- observações até então elencadas.

setecentista do centro. Nesse sentido, entende-se


também que as transformações urbanas corridas
levaram em conta o suporte infraestrutural, como
a acessibilidade, reordenando em sua máxima
extensão o eixo que ligava as cotas mais baixas,
próximo ao plano de água, ao interior da cidade.

Conclusões

A leitura da forma urbana a partir das construções


bidimensionais – tecido urbano, traçado urbano

pertinentes à composição da cidade clássica-


-barroca, como as ruas retilíneas e o quarteirão
regular. A partir da interpretação dos tecidos
urbanos referentes aos anos de 1812 e 1888, foi
possível responder ao questionamento que sus-
citou a investigação apresentada neste artigo.

Assim, chegou-se à conclusão de que, no caso

entendimento deve-se ao fato de que a interven-


ção realizada anteriormente na baixa pombalina,
em meados do século XVIII, já apresentava ares
de “modernidade”, em contraposição ao desenho
irregular da cidade medieval. Entretanto, apenas
com os planos de expansão essa modernização
pode alcançar outro nível e diferentes espaços.

A intervenção proposta com a abertura da aveni-


da da Liberdade ampliou o tecido do centro “an-
tigo” – a baixa pombalina –, onde mesmo sendo
necessário abrandamentos e desvios programá-
ticos, o plano não converteu em outra configu-
ração distinta o desenho reticular e conservou,
EIXO TEMÁTICO 4 REFERÊNCIAS
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
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Paulo: Editora Perspectiva, 2001.

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MORRIS, A. Historia de la forma urbana: desde


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na”. Revista do IHA, n. 2, 2006, p. 127-141.

16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica

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