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EIXO TEMÁTICO 4
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
ORG.
Dilton Lopes de Almeida Júnior
Fabio Macedo Velame
José Carlos Huapaya Espinoza
ORGANIZAÇÃO
www.xvishcu.arq.ufba.br
Salvador - Bahia
2021
CDU: 711.4(091)
3854
3874
3892
3912
3932
3950
3968
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
ENTRE PERMANÊNCIAS E RUPTURAS: O CASO DA NARRATIVAS HISTÓRICAS SOBRE A PRECARIEDADE
CIDADE VERANEIO HABITACIONAL EM BELÉM
GIASSON, Bruno Cesar Eder; BELLO, Helton Estivalet. MAUÉS, Rogério Santana; MIRANDA, Cláudia Aires de Sá;
LEITÃO, Karina Oliveira.
3984
4130
4150
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SALVADOR NO SÉCULO XX: OS PRIMEIROS HOSPITAIS
PÚBLICOS DE ATENDIMENTO EMERGENCIAL O CARNAVAL E A CIDADE: SALVADOR ATRAVÉS DAS
IMAGENS DA FUNDAÇÃO GREGÓRIO DE MATTOS E
BATISTA, Lucianne F.
FUNDAÇÃO PIERRE VERGER (1951-1962)
4024
BELITARDO, Adele.
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CIDADE DE MARINGÁ-PR POR MEIO DA MODELAGEM
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HISTORIOGRAFIA DO CASO DE VITÓRIA (ES)
NAGAHAMA, Amanda K.; PTASZEK, Andryelle C.; SILVA,
Ricardo D. TEIXEIRA, Paloma Barcelos.
4040 4192
HABITAR NA VILA: PROJETO DE INTERVENÇÃO DAS O FAROL DE SANTA MARTA E SUA POTENCIALIDADE
VILAS MANOEL DIAS E MANOEL FREIRE CAMPINAS/SP COMO MUSEU DE SÍTIO
LOBATO, Renata; GUAZZELLI, Barbara; OLIVEIRA, Raissa. MORAES, Adriane C. S.; BARRETTO, Margarita.
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4228
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RESISTÊNCIAS E MEMÓRIAS O REGISTRO DE TERRAS DO CURRAL DEL REI
GREGORI, Márcia Sandoval. NOS ANOS 1855 - 1856
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4244
MEMÓRIA E MODERNIZAÇÃO DOS LICEUS
INDUSTRIAIS: A ARQUITETURA DO ENSINO TÉCNICO
O USO DA ORALIDADE NO (RE) CONHECIMENTO DA
NA ERA VARGAS
PAISAGEM DO CENTRO HISTÓRICO DE BELÉM (PA)
ARAUJO, Adriana Castelo Branco Ponte de Araújo; PAIVA,
TUTYIA, Dinah Reiko; MIRANDA, Cybelle Salvador.
Ricardo Alexandre.
4256
4106
EIXO TEMÁTICO 4 RESUMO
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
Este artigo tem por objetivo analisar o tecido
urbano dos planos da Avenidas em Lisboa de
vídeo-pôster Ressano Garcia, a partir do confronto das ideias
pertinentes à composição da cidade clássica-
-barroca e a produção urbana oitocentista em
O NOVO JÁ NASCE VELHO? Lisboa. Partindo do questionamento “o novo já
nasce velho?”, foram considerados para este es-
REFLEXÕES SOBRE O TECIDO tudo, o plano da Avenida da Liberdade – primeira
parte do eixo de comunicação entre o centro e
URBANO DOS PLANOS DAS as áreas de expansão ao norte – e a aplicação
de técnicas de decomposição do tecido, a par-
AVENIDAS EM LISBOA DE tir da teoria de Coelho (2018), como método de
análise da forma urbana. Para tanto, adotou-se
RESSANO GARCIA como ferramenta de suporte, o software Auto-
CAD® para o redesenho dos traçados e malhas
urbanas apresentadas nos mapas da Lisboa
IS THE NEW OLD? REFLECTIONS ON THE URBAN
oitocentista, disponibilizados pela Biblioteca
TISSUE OF AVENIDAS PLANS IN LISBON BY RESSANO
Nacional de Portugal (BNP). O uso desse recur-
GARCIA
so permitiu a representação bidimensional de
cada um dos sistemas analisados. Após a apli-
¿ES EL NUEVO ANTIGUO? REFLEXIONES SOBRE EL
cação do método, foi possível observar que, as
TEJIDO URBANO DE LOS PLANES DE AVENIDAS EN
regras tradicionais de composição do espaço
LISBOA POR RESSANO GARCIA
e de relacionamento entre as suas partes da
cidade clássica-barroca foram mantidas na in-
SILVA, Lídia Pereira tervenção proposta por Ressano Garcia, sendo
o tecido do centro “antigo” ampliado e as linhas
Doutoranda em Arquitetura; Universidade de Lisboa
Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e
retas e a quadrícula retangular da baixa pomba-
Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – campus Caruaru lina transportadas para o desenho da Avenida
lidia.silva@caruaru.ifpe.edu.br Liberdade. Embora o traçado proposto apre-
sentasse ares de “modernidade”, em contrapo-
sição ao desenho irregular da cidade medieval,
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
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ABSTRACT RESUMEN
This article aims to analyze the urban fabric of the Este artículo tiene como objetivo analizar el te-
Avenues in Lisbon plans by Ressano Garcia, from jido urbano de los planes de Avenidas en Lisboa
the confrontation of the ideas pertinent to the por Ressano García, a partir de la confrontación
composition of the classic-baroque city and the de las ideas pertinentes a la composición de la
19th century urban production in Lisbon. Based ciudad barroca clásica y la producción urbana
on the question “is the new old?”, the plan for Ave- del siglo XIX en Lisboa. Con base en la pregunta
nida da Liberdade - the rst part of the communi- “¿es lo nuevo viejo?”, se consideró el plan para la
cation axis between the center and the expansion Avenida da Liberdade, la primera parte del eje
areas to the north - and the application of decom- de comunicación entre el centro y las áreas de
position techniques for the north were conside- expansión hacia el norte, y la aplicación de téc-
red for this study. fabric, based on Coelho’s the- nicas de descomposición para el norte. estudiar.
ory (2018), as a method of analyzing urban form. tela, basada en la teoría de Coelho (2018), como
To this end, the AutoCAD® software was adopted método de análisis de la forma urbana. Con este
as a support tool for the redrawing of the outlines n, el software AutoCAD® se adoptó como una
and urban grids presented on 19th century Lisbon herramienta de apoyo para el rediseño de los
maps, made available by the National Library of contornos y las redes urbanas presentados en los
Portugal (BNP). The use of this resource allowed mapas de Lisboa del siglo XIX, puestos a disposi-
the two-dimensional representation of each of ción por la Biblioteca Nacional de Portugal (BNP).
the analyzed systems. After applying the method, El uso de este recurso permitió la representación
it was possible to observe that the traditional bidimensional de cada uno de los sistemas anali-
rules of space composition and the relationship zados. Después de aplicar el método, fue posible
between its parts of the classical-baroque city observar que las reglas tradicionales de compo-
were maintained in the intervention proposed by sición espacial y la relación entre sus partes de
Ressano Garcia, with the fabric of the “old” cen- la ciudad barroca clásica se mantuvieron en la in-
ter being expanded and the straight lines and the tervención propuesta por Ressano García, con la
rectangular grid of the lower pombaline transpor- expansión del tejido del “viejo” centro y las líneas
ted to the design of Avenida Liberdade. Although rectas y la cuadrícula rectangular de la pombali-
the proposed layout had an air of “modernity”, as na inferior transportada al diseño de la Avenida
opposed to the irregular design of the medieval Liberdade. Aunque el diseño propuesto tenía un
city, the memory of the previous con guration aire de “modernidad”, a diferencia del diseño ir-
persisted with the maintenance of a set of pre- regular de la ciudad medieval, el recuerdo de la
-existences related to the preservation of a cer- con guración anterior persistió con el manteni-
tain group of buildings and old routes. miento de un conjunto de preexistencias relacio-
nadas con la preservación de un cierto grupo de
edi cios y viejas rutas.
AVENUE PLANS URBAN FORM
SYSTEMIC DECOMPOSITION URBAN FABRIC
PLANES DE LA AVENIDA FORMA URBANA
AVENIDA DA LIBERDADE
DESCOMPOSICIÓN SISTÉMICA TEJIDO URBANO
AVENIDA DA LIBERDADE
EIXO TEMÁTICO 4 INTRODUÇÃO
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS
O século XIX é marcado por uma progressiva
industrialização que provocou um novo tipo de
cidade. Segundo Pereira (2006), os desdobra-
vídeo-pôster
mentos ideológicos, políticos, econômicos e os
avanços técnicos acarretaram simultaneamente
URBANO DOS PLANOS DAS pela intensa migração do campo para a cidade, e
a concentração das novas economias nos núcleos
AVENIDAS EM LISBOA DE urbanos exigiram profundas transformações e a
adaptações às novas necessidades de habitação,
RESSANO GARCIA infraestrutura, equipamentos e serviços urba-
nos, para fazer o conjunto da cidade funcionar.
IS THE NEW OLD? REFLECTIONS ON THE URBAN O aumento gradual da densidade urbana forçou
TISSUE OF AVENIDAS PLANS IN LISBON BY RESSANO um crescimento físico da cidade, a partir de ex-
GARCIA pansões interiores – com a ocupação dos vazios
urbanos e o aumento das alturas das edifica-
¿ES EL NUEVO ANTIGUO? REFLEXIONES SOBRE EL ções – ou de expansões exteriores, para além
TEJIDO URBANO DE LOS PLANES DE AVENIDAS EN dos seus limites. Essas ampliações externas,
LISBOA POR RESSANO GARCIA por vezes de forma espontânea, outras de modo
planejado, alteraram a organização e a ocupação
do território das cidades europeias ao longo dos
anos. De acordo com Lamas (2007), as cidades
invadiram o campo e alastraram-se indiscrimi-
nadamente para além das suas muralhas e for-
tificações, diluindo a separação entre o ‘espaço
construído’ e o ‘não construído’ (espaço rural).
A administração gere um espaço que é no [...] isto é toda a cidade física” (COELHO, 2018, p.
mínimo necessário para fazer funcionar o 14), para a compreensão do tecido urbano, faz-
conjunto da cidade: o necessário para a -se necessário retirar uma de suas dimensões,
rede de percursos (ruas, praças, estradas a dimensão vertical. Essa redução possibilita a
de ferros, etc) e para a rede de instalações
(aqueduto, esgotos, depois gás, eletricida- que compõem o tecido – traçado, parcelário e
de, telefone, etc). A propriedade administra malha – e a interpretação de sua forma, a partir
o restante, isto é, os terrenos servidos por da discussão dos conceitos abstratos e bidimen-
esta rede de percursos e de instalações sionais desses sistemas.
(tornando construíveis, isto é, urbanizados).
(BENEVOLO, 2001, p. 573) O conceito de traçado “Remete a representação
do espaço público e da estrutura parcelar, indi-
Coube apenas à administração pública prover ferenciado os vários elementos que os materia-
essa urbanização e regulamentar as dimensões lizam” (COELHO, 2018, p. 31). Além disso, ainda
dos edifícios e sua as relações de contiguidade. segundo Coelho (2018), o traçado também revela
Diante disso, segundo Lamas (2017), os urbanis-
tas tiveram que ‘bater de frente’ para implemen- urbana, em particular, quando o relevo assume
4236
O tecido urbano do plano da avenida cionalidade de um eixo ortogonal em direção aos
da Liberdade de Ressano Garcia limites da cidade e introduziram o novo desígnio
higienista da administração de Pombal, que bus-
- cava construção de uma nova cidade, “pautada
ário que assolava todo o território europeu e para por dois princípios-chave – traçado regular e
a criação de uma imagem de cidade moderna, edifícios com gabarito homogêneo e altura pro-
em meados do século XIX, a Câmara Municipal porcional à largura das ruas” (BUENO, 2005, p.10).
de Lisboa sensibiliza-se para a necessidade de
Segundo Mesquita (2008), a remodelação do Pas-
planos que concretizassem o crescimento e a
seio Público, em meados do século XIX, tinha
modernização da cidade. Os diferentes melhora-
como objetivo criar um espaço aberto e melhor
-
articulado com o tecido urbano, ajustando a sua
geometria para imprimir uma relação de proximi-
de crescimento, a avenida e o quarteirão regular.
dade com os experimentos paisagísticos que vi-
A Avenida da Liberdade surge a partir do desejo de nham ocorrendo nas principais capitais europeias.
dotar a cidade de um boulevard que representasse
O Passeio Público aberto a cidade posteriormente foi
modernidade e tornasse a imagem de Lisboa mais
substituído pela avenida da Liberdade, e seu derrube
cosmopolita. A perspectiva em torno da criação
fez ecoar posicionamentos que legitimavam sua
dessa artéria monumental foi registrada em ata
eliminação e opiniões que defendiam veemente-
da Câmara Municipal de Lisboa, em meados do
mente sua manutenção face à importância histórica
ano de 1859:
daquele espaço público para a sociedade lisboeta.
[...] “uma larga estrada, alameda ou boule-
As reacções da opinião pública face ao der-
vard, que partindo do estremo do Passeio
Público”, atravessasse o Salitre e “pela
de uma forma explícita, quer nos grupos
quebrada do Vale do Pereiro”, fosse colo-
que legitimavam sua eliminação em favor
car a baixa “em comunicação direta com
de uma nova ordem urbana, quer pela voz
dos defensores da sua manutenção como
(MESQUITA 2008, p. 200)
espaço público de importância histórica
Quase duas décadas depois, no ano de 1877, o e vivencial. [...] As duas posições sobre a
projeto do primeiro lanço da Avenida foi aprova- persistência ou eliminação da alameda ro-
do. Sob responsabilidade da Câmara Municipal mântica da capital não são passíveis de uma
de Lisboa e coordenação do engenheiro civil leitura imediata. Com efeito, não se trata
Frederico Ressano Garcia, as obras do grande de uma polémica entre a cidade tradicio-
boulevard deram prosseguimento ao movimento nal versus cidade moderna. Esta questão
de transformação da cidade no século XIX, que radica numa problemática mais complexa
teve início com a remodelação do antigo Passeio visto alguns dos interlocutores não se ins-
Público, no final da década 1840. creverem em nenhuma destas categorias.
(MESQUITA, 2008, p. 205)
Em seu desenho original, o Passeio Público con-
- O projeto desse novo boulevard propunha que:
rada, localizada ente as colinas que separavam as
(...) a avenida da Liberdade com 90m de lar-
zonas ocidental e oriental de Lisboa.
gura terminará em uma grande praça circular
No século XVIII, este projecto era uma ideia ope- denominada de Marquês de Pombal com 200
rativa que não implicava necessariamente uma m de diâmetro. Desta praça partirá para a
direita e formando com o prolongamento
empenho material talvez estratégico, pela ques- do eixo da avenida da Liberdade um ângu-
tão de comunicação de um centro urbano com lo de 60º uma rua que se prolongará até às
o seu arrabalde produtivo. (SILVA, 2006, p. 209) Picôas tendo aproximadamente 873 m de
comprimento. No prolongamento desta rua
Assim, os arquitetos pombalinos intuíram a fun- haverá outra em um só alinhamento recto.
EIXO TEMÁTICO 4 No prolongamento desta rua haverá outra
em um só alinhamento recto com 425,5 m
CIDADES, MEMÓRIAS E ARQUIVOS (...) cruzando-se com estas ruas forman-
do iguais ângulos com o prolongamento do
eixo da avenida haverá outras duas ruas a da
esquerda com 70 m de comprimento e a da
direita com 170 m. (...) Partindo destas ruas
paralelas entre si e distantes uma da outra
entre os seus eixos aproximadamente 575 m,
terminando na antiga estrada da circunva-
lação. A direita com 822 m, e a da esquerda
que se prolonga pelo sul até à antiga Calçada
do Salitre com 822 m. De um e outro lado
destas ruas se projectam paralelas ou per-
pendiculares à sua direcção. (RODRIGUES,
1979 2 apud MESQUITA, 2008, p. 203)
Conclusões
16º SHCU
30 anos . Atualização Crítica
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