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Apontamentos de História

O IMPÉRIO UNIVERSAL ROMANO – CRISTÃO


O triunfo do Cristianismo
Foi precisamente na Palestina que, em pleno reinado de Augusto, nasceu
Jesus. Aos 30 anos, Jesus começa a sua vida pública, dizendo ser o
messias, o salvador há muito esperado pelo povo hebreu. Por isso aceita
que lhe chamem Cristo (messias, em grego). Jesus percorre cidades e
aldeias, transmitindo uma mensagem revolucionária: aos olhos de Deus,
não há diferenças entre os homens, todos podem alcançar a vida
eterna.
Após a morte de Jesus, a mensagem cristã difunde-se pelo Império,
A nova religião, com a mesma rapidez com que ganha adeptos, cria
inimigos. Os cristãos são malvistos por muitos: não respeitam os deuses
tradicionais, recusam-se a prestar culto ao imperador, condenam os
espetáculos que os Romanos apreciam e defendem a igualdade entre o
senhor e o escravo.
Os cristão serão objeto de sucessivas e sangrentas perseguições. Mas o
seu número não para de aumentar
O cristianismo registou um crescimento sem precedentes e angariou
crentes no círculo ligado ao imperador. O imperador Constantino
proclama Édito de Milão, em que garante inteira liberdade de culto ao
cristãos e ordena que lhes sejam devolvidos os bens confiscados na
última perseguição. Constantino coloca cristãos nos mais altos cargos
do Império, acumula-os de generosas ofertas e ergue ao seu Deus
tempos imponentes.
Depois de Constantino, todos os imperadores reconheceram o
cristianismo, sobrepondo-o aos antigos deuses romanos. O imperador
Teodósio oferece o triunfo cristão ao proclamar Édito de Tessalónica, que
reconhece o cristianismo como a religião oficial do Estado Romano.
Entre o Estado romano e o cristianismo, estabeleceu-se uma forte
aliança. O império universal romano tornou-se, um império cristão.
Nesta nova ordem, o imperador já não é olhado como um deus vivo e o
seu culto extingue-se. Mas o cristianismo confere também ao imperador
um enorme poder: ele é o mandatário que Deus escolheu para governar,
na Terra, em seu nome.
É como aliada do poder imperial que a Igreja Romano-Cristã se
consolida e organiza: às cidades fará corresponder a diocese, dirigida
por um bispo. Por sua vez, as dioceses agrupam-se em províncias,
coordenadas pelo bispo da capital da província.
Nesta estrutura, Roma ocupará o lugar cimeiro. O seu bispo receberá o
título de papa (pai) e exigirá a suprema autoridade sobre todos os fiéis.
Deste modo, Roma continuará a reinar sobre o Ocidente: a cidade que foi
sede do Império tornou-se sede do cristianismo.
A Igreja e a transmissão do legado político-cultural clássico
O cristianismo assimilou muita da sua cultura que transmitiu às
gerações vindouras:
• a retórica serviu aos bispos, ministros da palavra de Deus, nas suas
pregações;

• os métodos e conceitos da Filosofia antiga foram utilizados pelos


teólogos para fundamentar a nova fé;

• o Direito Romano esteve na base do Direito Canónico que regula, no


interior da Igreja, as questões administrativas e disciplinares;

•a organização administrativa da Igreja foi copiada da administração


romana, cuja estrutura essencial se mantém até aos nossos dias;

•a liturgia foi enriquecida pela incorporação de aspetos do cerimonial


imperial;

•a arquitetura religiosa tomou como modelo as construções romanas: as


basílicas cristãs reúnem elementos inspirados nos palácios imperiais,
nas termas, nas basílicas romanas e em outros edifícios religiosos
anteriores;

•os frescos, mosaicos, estátuas e relevos cristãos inspiraram-se nos


modelos romanos, atribuindo um novo significado a imagens antigas

A Igreja preservou também o legado político da Antiguidade. A ideia de


um poder forte, centrado numa só pessoa (como o do imperador),
manteve-se viva. Mais tarde quando os reis iniciam o processo de
centralização do poder, é nos escritos religiosos que fundamentam as
suas pretensões. Tal como os últimos imperadores romanos, os
monarcas afirmar-se-ão mandatados por Deus para, na Terra,
governarem em seu lugar. Na verdade, o próprio papa servia de modelo
a esse ideal político, exercendo sobre os crentes uma autoridade
suprema.

PRENÚNCIOS DE UMA NOVA GEOGRAFIA POLÍTICA


0 Império em crise
No século III, o Império mergulhou numa profunda crise político-militar.
Ao assassinato do imperador Severo Alexandre, pelo seu próprio
exército, seguiu-se meio século de caos político. Os historiadores
designam este período de grande agitação política por “anarquia militar”.
Para além do descalabro político, os Romanos enfrentavam outra grave
questão: ameaça bárbara. Os Germanos, conjunto de povos bárbaros que
habitavam a Norte, há muito que cobiçavam as riquezas do Império e
forçavam as suas fronteiras. No século III, o exército romano não
conseguiu contê-los: invadido em vários pontos, o Império conheceu os
horrores da guerra e da pilhagem. A pax romana que Augusto tanto se
orgulhava de ter instituído chegara ao fim.
O Império conseguiu, no entanto, sobreviver a esta época turbulenta. Os
Bárbaros foram vencidos e a autoridade política recuperou o seu vigor.
Sob a mão forte do imperador Diocleciano efetuaram-se reformas
profundas na administração e no exército. Diocleciano dividiu o império
por quatro coimperadores para melhor cumprirem a sua missão. Este
sistema ficou conhecido por Tetrarquia Imperial. Embora alguns
imperadores tenham reinado sozinhos, o governo partilhado tornou-se
norma. Excessivamente grande para se manter unido, o mundo romano
estava à beira de se desagregar.

A divisão definitiva do Império


O mundo romano gozou, ainda, de algumas décadas de relativa paz e
prosperidade. Todavia, no fim do século IV, a ameaça bárbara agravou-
se.
A gravidade da situação militar ditou a divisão definitiva do Império.
Teodósio, o último imperador a reinar sobre um território unificado,
dividiu-o, à sua morte, pelos seus dois filhos: a Honório coube o
Ocidente; a Arcádio, o Oriente.
O Oriente estabeleceu a capital em Constantinopla, cidade fundada por
Constantino.
Constantinopla tornou-se uma cidade populosa e imponente que,
durante os séculos futuros, se verá a si própria como legítima
continuadora da grandeza romana.
Entre períodos de dificuldades e períodos de glória, o Império Romano
do Oriente (também chamado Império Bizantino) resistirá mais de um
milénio, até 1453, ano em que cai nas mãos dos Turcos.
Em contrapartida, o Império do Ocidente teve uma vida breve,
inclinando-se às grandes invasões bárbaras.

As grandes invasões
No século IV, a presença de grupos bárbaros no Império era, há muito,
uma realidade. Os Romanos aceitaram-nos, servindo-se deles nas
funções domésticas e em várias atividades económicas, para além de os
incorporarem no Exército. Porém, a chegada dos Hunos rompe esta
convivência e mergulha o Império no caos. Especialmente violentos, os
Hunos semeiam o terror entre os povos germânicos que habitam para lá
das fronteiras: Godos, Francos, Alamanos, Vândalos, Suevos e outras
nações bárbaras percorrem o território romano, saqueiam-no e
ocupam-no. Todo o Ocidente está em guerra.
Os Visigodos entram em Roma e roubam-na durante três dias. O roubo
de Roma, a cidade que se supunha “eterna”, agravou a consciência do fim
próximo do poder romano.
Alguns anos depois, uma nova invasão dos Hunos põe a Gália a ferro e
fogo. Átila, chefe dos Hunos, acaba vencido por uma aliança de romanos
e visigodos, mas, nessa altura, praticamente nada resta do poder
romano no Ocidente. O general hérulo Odoacro põe-lhe oficialmente fim,
ao depor o último imperador que, singular ironia, se chamava Rómulo
como o fundador da cidade.

O fim do Mundo Antigo


Depois da queda de Roma, uma multiplicidade de novos reinos substitui
a antiga unidade imperial. Praticamente, só o reino dos Visigodos, na
Península Ibérica, e, sobretudo, o dos Francos, na Gália, estabelecem um
poder sólido e organizado.
A Europa viveu um longo tempo de instabilidade e violência. A crise do
Império e as invasões bárbaras tiveram, sobre o mundo ocidental,
efeitos devastadores:
• O caos político favoreceu a anarquia e a injustiça. As leis e o Direito
deixaram de ser respeitados.

•A insegurança de um longo período de guerras desestruturou a vida


económica: os campos foram deixados ao abandono e o comércio
paralisou. Fomes e epidemias alastraram-se. A população diminuiu de
forma acentuada.

• As cidades tornaram-se numa pálida imagem de si próprias. Muitos


habitantes morreram. O número e a importância das cidades reduziram-
se drasticamente.

• A vida cultural esmoreceu. As letras, as artes, os requintes da vida


quotidiana extinguiram-se pouco a pouco. Na verdade, a Europa
barbarizou-se e assistiu-se também a um evidente regresso cultural.

Foi nesta Europa que a Igreja assumiu um papel de destaque. Ela foi a
única instituição que permaneceu sólida quando, à sua volta, tudo se
desagregava. Iniciou-se a evangelização dos reinos bárbaros que
acabaram por cristianizar.

Do embate violento entre o mundo romano e o mundo bárbaro resultou


um tempo novo: a Idade Média. Foi um tempo profundamente diferente
da Idade Clássica, cujo legado soube preservar e transmitir. É esse
legado greco-latino que confere à Europa a sua impressão civilizacional
própria e nos une a nós, Europeus, numa mesma identidade cultural.

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