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Guilherme Echeverri

TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Aula 1
Guerra do Peloponeso
Atenas vs. Esparta - Séc. V a.C - Raízes das RI
431 - 404 a.C

Existem RI desde sempre, desde que as pessoas começaram a viver em comunidades (políticas)
1) Relações Beligerantes
2) Relações de Cooperação
↳ Há quem se ocupe de narra-los + de explicar e compreender
↳ TEORIZANDO AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS (historiadores, professores,
dirigentes, militantes, etc)

OBSERVADOR PARTICIPANTE
}

DESDE A ANTIGUIDADE

descreve ⇐ NARRAR vs. ANALISAR explica

2 vertentes - Há quem faça ambos há textos que fazem ambos

Tuicídides: narrou a guerra do Peloponeso, foi testemunha e participante

PORQUÊ? é por onde se começa a análise da narrativa

Atenas - Potência marítima


Esparta - Potência terrestre

LUTA PELA HEGEMONIA

Criação de alianças (negociação política dos factos - poder) cidades-estado

DIÁLOGO DE MELOS - LIVRO V (85-113)


“CIMEIRA” para convencer a polis de Melos a ser sua ALIADA (não basta ter aliados, é
necessário impedir que o rival os tenha) Ponto estratégico do contexto

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Tuicidedes: narra e explica a guerra do Peloponeso e, neste caso, o diálogo de Melos
“POSTURAS INTERESSANTES E COMPLEXAS”

ATENAS MELOS
- Segurança/sobrevivência - Concordam
↳ de acordo com os FACTOS (aquilo que é) ↳ de acordo com ARGUMENTOS/SUPOSIÇÕES
- PRINCIPIO DO PODER: em política, onde há (aquilo que poderia ser/deve ser)
desigualdade, não há justiça - PRINCÍPIO DO BEM COMUM (interesse
- Interesses próprios mútuo): no futuro poderão ser os atenienses os
- Domínio (Império) fracos, por isso tratem bem os fracos)
- Liberdade + segurança (só é possível x se - Reciprocidade
houver y) - Liberdade + justiça
- Relações internas ≠ externas - Desejos (componente moral)
- Realidade ↳ Piedade/honra; esperança/sorte

AS DIFERENTES POSTURAS POSTURAS FAZEM COM QUE AS RELAÇÕES


INTERNACIONAIS SEJAM ENTENDIDAS DE DIFERENTES MANEIRAS

RESULTADO: Melos não se submete Atenas ocupa Melos e mata todos os homens, vende

mulheres e crianças como escravos, enviando os seus colonos

ATENAS: Justiça = mais fortes fazem o que querem e os fracos o que devem (poder)
MELOS: Justiça = baseia-se não só no poder, mas em bens maiores (liberdade e justiça, por
ex.)

CONCLUSÃO: Há duas perspectivas de análise/prática nas Relações Internacionais


PODER MORAL

➡ ➡

FACTOS DESEJOS

INTERESSE
RECIPROCIDADE
PRÓPRIO

➡ ➡

REALISMO IDEALISMO
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TRI - Aula 2
1. Os Paradigmas
Bibliografia recomendada - NYE, p. 1-13; Sebenta - p.20 Realism

Paradigma: Enquadramento teórico-concetual que permite olhar e explicar a realidade, partindo


de certos pressupostos, recorrendo a um determinado método e usando uma linguagem e
conceitos específicos. Esse enquadramento teórico e conceptual torna-se dominante e vai
selecionar, analisar, explicar e dar resposta aos desafios colocados a realidade internacional de
modo diferente de outro paradigma. Um paradigma traz consigo uma capacidade de problem-
solving ou puzzle-solving.

Para entender as RI, devemos achar um enquadramento que nos permita juntar as várias peças
de um paradigma internacional de forma a desvendar explicações para determinada narrativa.

O realismo e o idealismo liberal são os dois enquadramentos que têm sido os paradigmas
dominantes nas relações internacionais. As teorias decorrem de um determinado enquadramento,
que se trata destes dois paradigmas.

Thomas Khun, que trabalha na área da epistomologia, introduziu o conceito de paradigma. Este
filósofo diz que o conhecimento não parte nunca da tela completamente em branco, porque o
sujeito do conhecimento quando estuda o seu objetivo, nunca estuda a partir do nada: quando
tenta conhecer o objeto, o sujeito já leva consigo um enquadramento (cultura, história, geografia,
religião, ideologia, tempo, etc). De alguma maneira, não há conhecimento objetivo e neutro;
quando tentamos conhecer algo, levamos sempre connosco determinados pressupostos ou
convicções (acreditar, estar convencido que, tal como os atenienses em Melos). PARTE-SE
SEMPRE DE UM PARADIGMA.

Nas relações internacionais, quando se parte para a teorização e conhecimento da realidade para
criar ou confirmar teoria, partimos sempre de um paradigma (será idealismo ou realismo).
Ex: Os atenienses levam como pressuposto o PODER (factos). Os melienses levam outros
princípios que não se relacionam tanto com o poder.

Thomas Khun alega que todos os paradigmas são incomensuráveis: não são comparáveis,
porque são distintos (não têm a mesma medida). É o caso do realismo e o idealismo.
Em que medida é que os paradigmas estão associados ao conhecimento? São incomensuráveis
mas estão constantemente em competição (em debate) para ver qual é o que domina, obrigando
o outro a esforçar-se para se aperfeiçoar. O conhecimento vai progredindo à medida que os
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paradigmas vão alternando um com o outro - quando um paradigma já não é capaz de explicar o
que está a acontecer, entra-se num período de crise paradigmática, aparecendo uma teoria que
oferece uma melhor explicação - passa a ser esse o novo paradigma, que reúne então consenso,
até o último conseguir oferecer novas explicações sobre a realidade internacional. Deixa de ser
consensual, já não responde totalmente à agenda internacional. A realidade muda e as teorias
devem tentar responder a esses novos desafios.
Historicamente, o realismo e o idealismo têm vindo a alternar-se entre si, por serem
dominantemente usadas na área das RI. A mudança de paradigma normalmente está a
relacionada a grandes acontecimentos internacionais, embora as crises paradigmáticas possam
também desencadear grandes acontecimentos.

Hoje em dia, existem vários paradigmas, não apenas um, dependendo do contexto do país, do
governo, da comunidade epistémica, da universidade, do centro de investigação, etc. Há uma
maior complexificação e diversidade, adotando-se novos paradigmas.

As teorias e os paradigmas não são a realidade, não são um fim em si mesmos, são ferramentas
teóricas, por isso não as devemos confundir com a própria realidade. Os paradigmas são apenas
uma ferramenta de compreensão da mesma, porque o nosso estudo baseia-se não na teoria mas
na realidade das relações internacionais - uma teoria só é útil quando consegue explicar a
realidade.

AULA 3 - O Realismo
O realismo foi o paradigma que durante mais tempo foi dominante, sendo associado à Paz de
Vestfália - 1648 - que pôs fim à Guerra dos 30 anos. Esta foi das primeiras conferências
multilaterais (com a presença das grandes potências europeias - vários estados), que pôs fim, de
certa forma, ao feudalismo e à entrada na modernidade. Esta conferencia reconhece que a Santa
Sé perde o seu papel dominante nas RI, que deve ser exclusivamente da política (o papa deixa de
ser o árbitro). Trata-se da afirmação de um sistema internacional state-centric.

O sistema vestfaliano reúne um conjunto de características do novo sistema de política


internacional (que ainda hoje prevalece, em alguns aspetos), consagrado na Conferência. É
associado ao realismo. Os estados passam a ser eles mesmos os árbitros - não há ninguém sobre
nós, mas também somos todos iguais (por ex. são os próprios estados que reconhecem a
soberania dos outros).

PRINCÍPIOS (afirmação e consolidação progressiva destes princípios na política internacional):


- Soberania interna (fim do feudalismo, centralização do poder, absolutismo)

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- Soberania externa (independência do poder político face ao religioso - e. Santa Sé)

NÃO EXISTE NENHUMA ENTIDADE POR CIMA DOS ESTADOS = ATORES DOMINANTES.

↪︎ ESTADOS SOBERANOS “IGUAIS” - entre aspas porque na prática se diferenciam


pelo poder.
Não confundir PODER com SOBERANIA.

O sistema vastfaliano determinou que as relações internacionais passam a ser relações


intergovernamentais - as RI baseiam-se nos Estados (é deles que se parte) e no seu
comportamento. São eles que fornecem práticas (por ex. diplomacia ao trocar representantes -
embaixadores -, comércio, acordos, alianças, guerras, estabelecer fronteiras), costumes (as
práticas vão-se tornando costumes ao longo dos séculos), conceitos (como o da inviolabilidade do
representante diplomático) e instituições que vão constituir o enquadramento onde se
desenvolverá a Política Internacional. Na ótica dos realistas: práticas > costumes > conceitos >
instituições.

Exemplo: É como se fosse um jogo, com jogadores, que são os estados. Para ser um jogador
deve ter-se soberania, e estes tentam lutar pelos seus interesses. Quem estabelece as regras do
jogo são os próprios jogadores, que também se obrigam - ou não - a cumprir estas regras. Isto
porque os jogadores são soberanos.

Pressupostos fundacionais:
i. Anarquia Internacional - pano de fundo internacional, onde não existe um princípio ordenador
primeiro, não havendo uma ordem superior aos Estados. A ordem está sempre subordinada à
vontade dos estados. “Estado-natureza”, para os realistas - não há um estado se sociedade.
- O sistema internacional é composto por entidades soberanas “iguais”;
- Ausência de entidade reguladora que determina o “monopólio de violência legitima”;
- O poder como árbitro final e legítimo dos conflitos.
ii. Dilema da Segurança
- Constante sensação de ameaça e insegurança;
- Anarquia vista como um potencial estado de guerra;
- Principio da self-help - e por isso os estados estão sempre a tentar aumentar o seu
poder;
- Espiral armamentista (de ações e reações).

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SÍNTESE DO DILEMA DE SEGURANÇA
Núcleo do dilema da Segurança?
> dificuldade na distinção entre posturas defensivas e ofensivas.
Como conhecer a intenção de outro estado?
> permanente desconfiança e suspeita - através de espionagem por ex e tentar aumentar o seu
poder.

iii. Equilíbrio do poder - distribuição do poder para que esteja equilibrada e que esteja a ser
constantemente fiscalizada. Segundo os realistas, a guerra surge quando o poder perde o
equilíbrio. Para as potências este sistema é vantajoso uma vez que são elas que detêm o
poder.
- Paz plena utópica
- A estabilidade do sistema resultará dos esforços individuais dos Estados, quer eles
prossigam deliberadamente ou não esse objetivo. Faz-se entre os principais “jogadores” do
sistema internacional.
- Assenta na convicção de que todos os Estados procuram aumentar o seu poder à custa da
diminuição do poder dos outros nessa constante busca de equilíbrio nenhum
conseguirá dominar o sistema internacional.
- Todavia este sistema não beneficia igualmente todos os Estados, nem garante a
manutenção permanente da paz - sabem, com convicção, que os estados mais poderosos
têm um papel mais determinante, em detrimento de outros menos poderosos (diferentes
capacidades, mesmo sendo todos soberanos. As RI fazem-se desta discrepância.

Processos principais do realismo, tradicionalmente utilizados na manutenção dos sistemas


de equilíbrio de poder:
• Diplomacia (negociar)
• Guerras limitadas (conflito)
Resulta na pratica no estabelecimento de Alianças:
• Arranjos formais ou informais que os Estados estabelecem entre si, visando garantir
mutuamente a sua segurança
Regras internacionais:
• Costumeiras (ex. tratar bem os emissários, diplomatas, etc)
• Convencionais (Direito Internacional, que também é criado pelos Estados e, por isso,
apesar de ser importante e útil para os realistas, é voluntarista)

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SÍNTESE DO REALISMO:
ACTORES: Estados // Organizações internacionais (ONU, NATO)
ESTRUTURA: Anarquia Internacional
PROCESSOS: Diplomacia // conflito
REGRAS: Costumes e Hábitos // Direito Internacional
FINS: Poder // Estabilidade e segurança ⟼ Equilíbrio do poder

AULA 4/5/6 - O Idealismo da década de 20


Sebenta - Idealism; NYE - IGM
O Idealismo surge após a Primeira Guerra Mundial, que foi uma grande guerra, pelo número de
potências envolvidas (que na sua maioria eram impérios coloniais), pela extensão territorial, pela
sofisticação das armas e inovações, pelo número de vítimas… Nunca uma guerra foi tão
mortífera.
Necessidades de:
- Autonomia das Relações Internacionais como ciência (só havia ciências que estudavam em
separado, focando-se na sua própria área)
- Projeto de construção de uma nova sociedade internacional (para os realistas - anarquia)
- Opinião pública segue atentamente a política internacional (principalmente com a guerra) -
que pensava que era necessário “começar de novo”, iniciar uma nova era.
Os idealistas são apelidados assim pelos realistas e pelos críticos. Na verdade, estes apelidam-se
de liberais internacionalistas.

Idealismo liberal
A primeira organização de vocação mundial foi a Liga/Sociedade das Nações, uma vez que foi a
primeira a estar a aberta a todos os Estados.
Tem como inspiração filosófica o Iluminismo - assenta na Razão. É a aplicação do pensamento
liberal iluminista sobre as relações internacionais. Têm um olhar otimista direcionado para o que
“deve ser” - para o futuro, para as esperanças, para as suposições, aprender com os erros do
passado. Pretendem chegar ao caminho do progresso e aperfeiçoar-se. É uma visão mais
dinâmica e mais aberta às mudanças em contraste com o realismo.
Pressupostos filosóficos:
1) Visão optimista sobre a natureza humana - a convicção liberal é a de que qualquer
convicção que se faz sobre as comunidades humanas põe no centro:
- Primazia e fé na razão humana
- Confiança na abertura e na tolerância
- O homem por natureza não é belicoso - é sobretudo desejoso por aprender, progredir
- Plasticidade da natureza humana - o homem pode ir mudando.
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2) Guerra como instrumento irracional, um erro de difícil controlo - espiral que levou à
Primeira Guerra Mundial: os liberais pensam que a guerra é contra a natureza humana no sentido
de ser um erro. No entanto, todos os erros são remediáveis: é necessário ilegalizar a guerra
como instrumento politico - transformar a guerra num crime.
Os idealistas alegam que a IGM aconteceu no seguimento de uma sequência de erros derivados
de políticas realistas. Este novo consenso que se vai gerar é um consenso que diz que apesar de
a IGM ter sido uma grande catástrofe, ela também serviu para a aprendizagem, isto é, ela era
vista como a guerra para acabar com todas as guerras “a war to end all wars”.

3) Criação de uma nova Era assente na Paz, no Progresso e na Justiça.


- Dicotomia Caos/Ordem - ao contrário dos realistas, onde não há esta divisão, não há um
equilíbrio, isto é, ou há caos ou há ordem (uma ordem verdadeira é o objetivo).
- Principio da Segurança Coletiva - a segurança só é possível se todos os Estados
estiverem envolvidos nessa busca da paz (se for do interesse de todos).

4) Carácter de Missão
- “Peace-makers”
- Vocação internacionalistas
- Expansão da Democracia

5) Crença na “Doutrina da Harmonia dos Interesses”


- A humanidade é só uma e os interesses mais profundos de cada comunidade
internacional são, no seu todo, coincidentes (desejo de paz, de prosperidade, de justiça…)
- O desejo de paz - e de que a está é preferível à guerra - é o mais importante desses
interesses em comum

6) Busca da concordância entre a moral e a política


Nas suas relações mútuas os atores internacionais devem procurar observar princípios morais e
certos valores fundamentais - devem procurar a concordância.

7) Prioridade no estabelecimento de canais de comunicação e de entendimento entre os


vários Estados:
- Criação de organizações internacionais
- Diplomacia aberta (uma das críticas que os liberais fazem foi a falta de comunicação
entre as chancelarias dos Estados)
- Reforço do peso da opinião pública

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8) Política de educação das populações jovens (futuras gerações governantes) - devem ser
educados para a paz, para virem “iluminados”.

9) Papel central do direito internacional como garante da paz (Relevância das convenções,
tratados, promotores e instituições internacionais)

Correntes Principais do Idealismo-liberal:


I) Corrente económica
II) Corrente social
III) Corrente institucionalista
IV) Corrente da democratização

I) Fortemente centrada sobre o comércio e a ideia de que os Estados com economia de


mercado tendem a ser pacíficos porque a guerra é má para o negocio. O comércio
suaviza as relações entre os Estados, tornando-as mais “doces” - obriga a negociar, ao
dialogo e cria uma relação de interdependência entre os Estados. É normalmente do negócio
que partem as relações entre os Estados e quando há guerra normalmente essas terminam.
II) Destaca os contactos e o dialogo inter-pessoal e comunitário. Importância das
sociedades civis e da opinião pública internacional - que pensa do ponto de vista
internacional e tem protagonismo, tratando-se muitas das vezes da opinião geral das várias
opiniões públicas juntas. Os idealistas pretendem criar um “sentimento” de sociedade/
comunidade internacional. Ex: ONG’s, movimentos transnacionais solidários, intercâmbios
estudantis (por exemplo os Erasmus tem o objetivo de criar uma identidade europeia).
III) Enfatiza a importância das instituições intergovernamentais e do direito internacional,
capaz de reduzir as consequências da anarquia e de promover a cooperação. As
organizações internacionais são não mais do que uma evolução das conferências. Porque não
dar um estatuto constitucional e criar uma organização em vez de estar constantemente a
fazer cimeiras, conferencias etc. O próprio direito internacional é produto de tratados,
convenções, protocolos, que normalmente estão ligados às organizações internacionais. Ex:
ONU, NATO, OMC (era um acordo - o GATT), Convenções e Protocolos Internacionais.
IV) Assenta nos valores democráticos e na constatação de que as democracias liberais não
gostam da guerra e dão prioridade à cooperação. Há um regime politico que é mais
promotor da cooperação e que tem um olhar mais desconfiado sobre a própria guerra. Para
declarar guerra, é necessário consultar a assembleia da republica. Isto acontece devido à
separação de poderes e de “checks and balances”, e por serem os representantes da
comunidade politica (que representam o povo) que fazem aprovam tal decisão. Deve haver

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consenso e esse consenso parte da soberania popular. É um olhar liberal que atenta na paz -
para isso, é necessária a democracia. Ex: Tese da Paz Interdemocrática, NATO, UE

Tónica na Transformação
1) Crescente e óbvia permeabilidade entre a política interna e a política internacional. A
tradicional separação entre os dois domínios esbate-se pois cada vez questões políticas têm
impacto simultâneo a nível interno e a nível internacional. Ex: crise financeira norte-americana
2008/9 ➝ crise económica generalizada.
2) Cada vez mais se verificam questões e problemas com impacto global no sistema
internacional. Globalização ➜ Mundo sem fronteiras ➜ Aldeia Global. Ex: Movimentos
migratórios e de refugiados, deterioração do ambiente, trafego de estupefacientes, epidemias
que exigem coordenação na sua detecção.
3) Existem novos atores internacionais não-estaduais com crescente protagonismo no sistema
internacional, que conseguem muitas vezes por em causa a preponderância dos próprios
Estados. Ex: ONG’s (Aministia, Greenpeace), multinacionais, grupos terroristas, etc.
4) Existe uma sociedade internacional na medida em que os povos têm um contacto crescente e
mais intenso. Resulta numa evidente homogeneização. Surgimento de novos valores
transnacionais que estão a gerar novas lealdade não-territoriais - começam a passar as
fronteiras dos Estados.
Para os liberais, a globalização (com base no mundo ocidental) é algo bom, visto que isso quer
dizer que mostra mais tolerancia, liberdade, dialogo, abertura etc (já os realistas vêem a
globalização como a perda das especifidades nacionais)

SÍNTESE DO IDEALISMO-LIBERAL
ACTORES: Estados // Vários outros
ESTRUTURA: Complexa / Em transformação
PROCESSOS: Cooperação
REGRAS: Direito Internacional // Princípios e valores
FINS: Paz, Progresso, Prosperidade, Democracia

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OS ACTORES INTERNACIONAIS - AULA 7

Realistas Liberais
- Soberania: ius bellum; ius tractum; ius - Autonomia (agenda propria e autonomo na

legatione (isto dá soberania ao Estado) atuação da sua agenda)

- Território e população - Representação


- Reconhecimento internacional (por parte dos - Influência (levar os outros atores a mudar o

outros Estados) comportamento, a mudar a agenda

internacional etc)

Conclusão: Se partimos de um ponto de vista realista, a tendência é olhar para os


comportamentos dos Estados; no caso dos idealistas, não são apenas os Estados, mas também
outros atores.

Atributos na perspetiva liberal:


Autonomia: Qual liberdade de aço que o ator tem na prossecução dos seus objetivos
Representação: Que interesses representa esse ator?
Influência: Que impacto o ator consegue ter?

Distinguindo os atores internacionais


Como?
- Objetivos ou fins
- Intensidade de participação (tempo: há atores que ha séculos que participam na política
internacional - portugal desde o século XII; outros são muito recentes - movimento anti-
globalização; intensidade da ação: diferentes tipos de participação)
- Estrutura, Recursos e Meios (um estado tem uma certa estrutura e uma ONG tem outra)
- Níveis de participação (há vários tipos de relações internacionais, e há certos atores que agem
em todos os níveis e outros noutros)
Estes elementos explicam o nível de atuação de cada ator.

Ex: China - Objetivos: poder; propaganda; criar alianças


Amnistia - tem um - direitos humanos…

As relações internacionais vêm-se como uma rede complexa na perspetiva liberal - vários atores
em várias mesas, cada um com o seu jogo. Numa perspetiva liberal, vê-se uma rede mais linear,
como o “jogo de bilhar” - um tipo de atores na mesma mesa c/ ação reação…
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Níveis de relações internacionais

Relações intergovernamentais ou interestaduais - São aquelas que são desenvolvidas entre


os Estados, quer pelos seus líderes, quer pelos seus representantes oficiais (ministros,
embaixadores, diplomatas). Para os realistas, é um sinónimo de relações internacionais.
Ex: a nível bilateral (troca de embaixadores ou assinatura de tratados com vista à criação de uma
aliança) ou a nível multilateral (organização internacional).

Relações transnacionais - sao aquelas que envolvem participantes de verias nacionais, que
partilham de laços institucionais com objetivos específicos. Podem atingir ou atrais a atenção dos
governos, mas são independentes dos interesses dos Estados.
Ex: ONGs, opinião pública internacional, movimentos de solidariedade internacional, movimento
anti-globalização.

Relações supranacionais - são aqueles que serviam de atores com capacidade para subordinar
a vontade dos governos. Estão associadas a processo de integração.
Ex: Comissão europeia, nas suas suas relações com os governos em algumas áreas especificas

Relações transgovernamentais - resultam do estabelecimento de laços informais entre agentes


de diferentes governos, laços esses que vão influenciar as opções tomadas oficialmente pelos
Estados.
Ex: diplomacia de corredor ou encontros informais.

Relações sub-nacionais
Refletem a actividade de grupos ou organizações com objetivos meramente locais ou nacionais,
mas cuja as apões têm por vezes impacto na política internacional.
Ex: movimentos terroristas, sindicatos, lobbies, etc.

A transformação das Relações Internacionais


“O mundo no final do século XX [principio do XXI] é um estranho cocktail de continuidade
(realistas) e mudança (liberais)” (NYE, 2002: 2). - steel frame e mutações

A hierarquia internacional
“A observação da realidade internacional demonstra-nos o surpreendente contraste entre a noção
formal (juridica) da igualdade (soberana) dos Estados e a diversidade efectiva das suas
capacidades (poder)”.

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A NOÇÃO DE PODER
PODER = CAPACIDADE

Capacidade de alterar o comportamento dos outros tendo em vista a realização dos nossos
objectivos ou fins - conseguir que os outros alterem o comportamento a nosso favor. Como a
capacidade para controlar os outros está geralmente associada a posse de determinados
recursos, os politólogos em geral definem o poder dessa forma, ou seja, de poder em termos de
posses de certos recursos.
Existe um paradoxo, visto que supostamente todos os Estados são iguais, mas existem
diferenças.

OS TIPOS DE PODER
Hard power - Recursos materais e diretos para exercer o poder.
Coerção e força - coagir e forçar os outros a agir como queremos)
Ex: capacidade militar, recursos económico, matérias primas.

Soft power: Recursos imateriais e capacidade de atrair apoios sem coerção.


Legitimidade e influência.
Ex: Valores e ideias políticas, sistema educativo, poder cultural. Não são fontes de absoluto
controlo governamental.

Smart power (combina elementos dos dois) - Capacidade de fazer a síntese de combinar numa
estratégia de sucesso e hard power com soft power.
Implica uma leitura dos acontecimentos da realidade tal como eles aconteceram no momento,
usando os dois tipos de poder para desenvolver uma estratégia inteligente.
Calibrar os dois tipos tendo em vista os constrangimentos e os desafios que nos são colocados.

São os recursos que dão capacidade ou influencia aos estados. Há uma distribuição desigual
destes recursos a nível de capacidade (realistas) ou influencia (liberais). Muitas vezes as
potências têm recursos mas não têm interesse nisso, como por exemplo o militar.

HIERARQUIA INTERNACIONAL

Perspetiva realista sobre a hierarquia internacional - categorizam os atores (estados) em


vários tipos, consoante o poder que esses atores têm

- Visão estática e rígida do sistema internacional (como se fosse uma fotografia):


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POTÊNCIA
GLOBAL

POTÊNCIA
EM DOMÍNIOS
ESPECIFICOS

POTÊNCIAS REGIONAIS

ESTADOS COM INTERESSES LOCAIS

ESTADOS

Potência global - tem capacidade de determinar acontecimentos em qualquer domínio da vida


internacional e em qualquer região do mundo
Ex: EUA, China

Em domínios específicos - potência determinante num ou vários domínios específicos das


relações internacionais
Ex: Rússia - domínio nuclear, de recursos energéticos; Alemanha; Coreia do Norte - nuclear;
Japão e Coreia do Sul - tecnologia;

Potências regionais - Mais ou menos em todas as áreas de uma região têm domínio
Ex: Brasil, África do Sul, India, Irão, Israel

Estados com interesses locais - Manter a sua soberania e defender a sua integridade territorial

Estas categorias não são estanques. Por exemplo a Rússia, já esteve no topo nos tempos da
URSS, mas “desceu” de categoria.

Perspetiva liberal sobre a hierarquia de poder internacional


- Visão flexível e dinâmica da realidade internacional

Capacidade militar - EUA, China, Irão


Recursos energéticos - EUA, Rússia, BP
Influência cultural - EUA, Apple, Islamismo radical

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Rede diplomática - EUA, Alemanha
Capacidade económica - EUA, UE, Vodafone

Há várias mesas de jogo, com vários jogadores, e poder e a riqueza estão constantemente a ser
redistribuídos.

A agenda internacional
High politics - para os realistas têm sempre prioridade sobre as low politics, mesmo quando
coincidem
- Poder
- Segurança
- Economia
Low politics
- Ambiente
- Cultura
- Direitos Humanos

Por ex, um realista diria que para Portugal manter as relações comerciais com a China é mais
importante do que a luta pelos direitos humanos.

O debate metodológico (paralelo ao debate paradigmático)


A revolução behaviourista
O behaviorism veio dizer que nas ciências sociais importava limitar a análise ao comportamento
observável dos seres humanos porque só deste modo se alcançaria objetividade.

S (estímulo) R (resposta)

A revolução behaviourista teve grande influencia na ciência política na década de 50 do século


XX, atribuindo um estudo de cientificidade. Observação e análise dos comportamentos dos atores
internacionais.

Consequências principais
- Procura das regularidades nos comportamentos políticos;
- Estabelecimento de generalizações e teorias com valores explicativo
- Subordinação de todas as afirmações e de todas as teorias à verificação empírica
- Elaboração de rigorosas técnicas de pesquisa, recolha, registo, interpretação de dados
- Utilização predominante dos métodos quantitativos;
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- Sistematização dos conhecimentos adquiridos.
Críticas
- O exagero na procura dos factos levou a um acumular indiscriminado de informações sem novas
explicações - HIPERFACTUALISMO (David Easton)
- Do ponto de vista substantivo não colocou em causa os pressupostos teóricos realistas então
dominantes (e o debate paradigmático). COLORING IT MORGENTHAU! - pai do realismo (John
Vasquez)

Os níveis de análise
Kenneth Waltz era um jovem académico na altura, que publica em 1959, no contexto do impacto
da rev. behaviourista, Man, the State and War: a Theoretical Analysis.

]
As três imagens de análise
1) Human Nature Discerning the casualty of war
2) Nation-states
3) International-system

Behavourism - Textos Leitura Obrigatória


NYE: P. 38 A P.52; P.69 A P.81

Dependo da teoria qua vamos formular, estudar, temos que escolher o nível de analise mais
indicado, através de uma visão hulistica ou atomistica, embora todas possam ser usadas.
EX:
Estudar a segunda guerra mundial (3)
Estudar o III Reich (2)
Estudar a liderança de Hitler (1)

Waltz lançou esta visão dos níveis de análise, que depois foi desenvolvida por outros autores

Singer e os Níveis de Análise


- O nível sistémico (ou a Política Internacional como nível de análise)
- O nível Sub-sistémico ou Nacional (ou a Político Externa como nível de análise)
- Nível regional

Como sabemos qual usar? Usando a Regra da Utilidade Metodológica


Devemos escolher o nível de análise mais adequado ao tipo de estoque pretendemos fazer.


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Critérios a ter em conta na selecção do nível de análise adequado:
- Descrição: deve permitir a descrição mais fiel e completa possível da realidade que se quer
estudar
- Explicação: Deve ser capaz de fornecer a lógica explicativa central da realidade que se está a
analisar (tem prioridade sobre a descrição)
- Previsão: Deve ser capaz de perceber qual a tendência evolutiva da realidade que se está a
estudar (tendências, probabilidades)

Modelos de Sistema Internacional - no contexto da Rev. Behaviorista

Modelos - esquemas sintéticos e abstratos que ordenam uma construção rigorosa dos elementos
da realidade, os quais podem explicar todas as situações semelhantes aquela em concreto e
julgam assim poder contribuir para a elaboração de uma teoria geral.

Regras essenciais - comportamentos necessários para se alcançar o equilíbrio em cada sistema.


Se alguma destas regras é posta em causa todo o sistema fica em perigo, por isso elas são
condição essencial a cada sistema.

I) Sistema de “Equilibrio de Poder” (multipolar)


II) Sistema Bipolar Flexível
III) Sistema Bipolar Rígido
IV) Sistema Universal
V) Sistema hierárquico
VI) Sistema de veto ou de Dissuasão Nuclear

O sistema de Equilibrio multipolar


Contexto histórico
A base histórica deste sistema é o período que ficou conhecido como o “Concerto da
Europa” (acordo, negociação de interesses) - período associado ao Congresso de Viena, após a
derrota do Império Napoleónico.
Os atores eram as potências europeias - Império Britânico, a Prússia, Império Russo, França,
Império Austríaco (número necessário ao equilíbrio multipolar manifesto). É um equilíbrio de
poder com uma dinâmica multipolar - ao mesmo que todos tentam aumentar o seu poder, não
deixam que os outros fiquem com mais (TODAS as potências).

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Guilherme Echeverri
Regras essenciais do sistema (constituem o comportamento característico do sistema)
1) Os atores essenciais devem aumentar o poder, mas de preferência negociar a fazer
guerra - através da concertação
2) Os atores essenciais devem de preferência fazer guerra a perder a oportunidade de
aumentar o poder - não devem perder a oportunidade de aumentar o poder, mesmo que tenham
que fazer guerra (a guerra é um elemento legítimo e necessário de manutenção e fiscalização do
equilíbrio)
3) Os atores essenciais podem de preferência acabar a guerra do que eliminar um ator
essencial - as guerra que põem em causa esse equilíbrio não são válidas, ou seja, a guerra e
legitima, desde que o fim não seja a aniquilação do outro ator essencial (as guerras entre atores
são limitadas). Por ex. entre a primeira guerra e a segunda, a Alemanha foi “aniquilada” e a “paz”
durou 20 anos apenas, porque este é um ator essencial.
4) Opor-se a qualquer coligação ou ator individual que pretenda assumir uma posição
hegemónica no sistema - é função dos atores essenciais oporem-se a qualquer conjunto de
estados em aliança ou a um estado individual que queira ter mais poder do que os outros;
5) Os atores essenciais devem conter os atores que subscrevam princípios de carácter
supranacional - evitar domínios e alargamentos imperiais (no sentido de conquista), como
também construir impérios fazendo evocação de elementos da identidade nacional - como o Imp.
Austro-Húngaro e a Rússia;
6) Os atores essenciais devem permitir a reintegração no sistema enquanto parceiros
iguais dos actores essenciais que foram derrotados.

Conclusões:
- Gera-se aqui, no equilíbrio multipolar, sempre uma política muito flexível, ativa e dinâmica.
- O jogo das alianças é muito importante, mas as alianças tendem a ser de curta duração -
porque as alianças são mantidas pelo principio da vantagem concreta (interesse) e não por
valores e ideologias;
- Neste tipo de equilíbrio não há guerras totais, tendo sempre uma vocação limitada, quer na sua
extensão, quer nos seus objetivos. A guerra é a diplomacia por outros meios.
- Para este equilíbrio funcionar, as regras têm que ser observadas por todos os atores
essenciais.

Sistema Bipolar Flexível


É muito mais complexo que o multipolar visto que alem de ter mais regras, envolve muitos mais
atores.

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Guilherme Echeverri

Base histórica
Guerra Fria, século XX. Este sistema torna-se flexível, quando morre Estaline e entre Krutchtev;
coexistência pacífica; (INCOMPLETO)

Atores:
- Atores supranacionais (blocos, alianças) com o bloco militar correspondente
- Ator de vocação universal (ONU)
- Estados (atores nacionais): os Estados que são aliados a um bloco e os estados não alinhados.

Quando nós estamos a estudar a função dos blocos ou do grupo dos não alinhados, temos que ter
em conta como se organizam entre si, por isso distingue os blocos hierarquizados (aqueles que
dependem muito do seu líder/superpotência), os que não estão e aqueles que são mistos (estão
dependentes do líder, mas continuam a ter autonomia de decisão). O pacto de Varsóvia é
hierarquizado; a NATO é mista.

Regras do Sistema Bipolar Flexível


1) Cada bloco hierárquico ou misto, tem como objectivo eliminar o bloco rival - é uma
lógica adversarial.
2) Os blocos hierárquicos ou mistos devem, preferir a negociação à guerra. Fazer guerras
limitadas a guerras totais, e fazer guerras totais a não conseguir eliminar o bloco rival -
optar o máximo custando o mínimo (uma abordagem narrativa), tendo ainda em vista o facto
de se introduzirem armas nucleares, que muda logo o raciocínio sobre a política.
3) Todos os atores nacionais pertencentes a um dos blocos devem aumentar as suas
capacidades comparativamente às capacidades dos atores dos blocos rivais - a regra é
válida para todos e cada um dos estados aliados aos blocos, e não exclusivamente entre
superpotências.
4) Os atores dos blocos não-organizados hierarquicamente devem preferir a negociação à
guerra. Preferir guerras limitadas a não conseguir aumentar o seu poder, mas não
devem iniciar guerras totais - não há integridade interna, por não haver uma organização
hierárquica ou uma aliança, não tendo nenhuma garantia que os outros estariam com ela (falta
de solidariedade)
5) Todos os atores membros de um bloco devem fazer guerra principal para não permitir
que o bloco rival se fortaleça - ficam de fora os não alinhados e o ator universal; é uma
lógica adversarial, não é apenas da exclusiva responsabilidade do líder de cada bloco.
6) Em caso de conflito de interesses, cada bloco deve tentar subordinar os interesses do
ator universal aos seus. Mas deve tentar subordinar os interesses do bloco rival aos do

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Guilherme Echeverri
ator universal - esta regra é destinada aos blocos e ao ator universal, que deve adotar os
interesses de um dos blocos. Encontramos a fonte de legitimidade internacional no ator
universal. Cada bloco está em simultâneo a convencer o ator universal a seguir a sua agenda
e muitas vezes o ator universal acaba por ficar “paralisado” por não conseguir decidir entre a
competição dos dois blocos.
7) Todos os atores não alinhados devem coordenar os seus interesses com os interesses
do ator universal e tentar subordinar os interesses dos blocos aos interesses do ator
universal - tem um papel de coordenação, mas além disso devem tentar fazer que as
agendas dos blocos se subordinem à do AU. São os atores n alinhados e o universal que
criam uma flexibilidade neste sistema bipolar. São uma espécie de mediador.
8) Os blocos devem estar abertos a novos membros, mas tolerando sempre a posição de
não-alinhado se alternativa for a adesão desse ator a um dos blocos. - caso não se queira
juntar a um dos blocos, é preferível que seja não alinhado a pertencer ao bloco rival. o não
alinhamento é tolerado, embora seja preferível que se junte ao primeiro bloco.
9) Os atores não-alinhados devem agir de modo a reduzir o perigo de guerra entre os dois
blocos rivais. - mais uma vez, tomam um papel moderador entre os dois blocos rivais, para
manter o equilíbrio de forma a não se ter de recorrer à guerra.
10) Os atores não-alinhados devem recusar-se a apoiar a política desenvolvida
exclusivamente por um dos blocos; exceto se o fizerem como membros do ator
universal. - deixavam de ser não alinhados caso o fizessem; podem fazê-lo num contexto do
ator universal, o que significa que eles não são neutros totalmente, daí haver uma flexibilidade.
Há sempre uma inclinação que deve ser contextualizada.
11) O ator universal deve diminuir a incompatibilidade entre os blocos rivais. - introduz
regras e modera a bipolaridade;
12) O ator universal deve mobilizar os não alinhados contra desvios perante as regras
estabelecidas. Esta regra deve, no entanto, ser contra-balançada com as regras
anteriores, pois levada ao extremo, originaria a criação de um Sistema Universal, isto é,
um sistema de Governo Mundial. - caso o ator universal adquira demasiado protagonismo,
passaremos a um sistema universal como possibilidade.

Conclusões:
- Existem diferentes tipos de atores e cada um deles tem que observar/realizar a sua função, que
é também uma função específica (cada um deve saber os limites da sua função).
- As alianças num sistema deste tipo são de longa duração (baseiam-se em interesses
ideológicos e em razoes defensivas/militares).
- Como as alianças duram mais tempo, estas no fundo dão mais protagonismo aos seus líderes,
que ganham muito poder - superpotências - e que têm uma capacidade muito diferente dos

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Guilherme Echeverri
outros atores, acabando inclusive por existir uma inclinação para eles não respeitarem o
principio da não intervenção/ingerência nos assuntos internos dos estados, daí resultando que
se torna menos nítida a fronteira entre questões internas e questões externas. Há uma grande
influência dos líderes sobre os seus aliados.
- O ator universal e os não alinhados não são os protagonistas da realidade internacional - são
elementos de moderação e que introduzem flexibilidade. Ao adquirirem protagonismo, estão a
por em causa a bipolaridade do sistema.
- Decorre a introdução de um fator novo - o fator nuclear -, mas com a constatação paradoxal: os
protagonistas devem possuir capacidade nuclear, mas não é para usar, é apenas para dissuadir
os outros de usarem a sua capacidade nuclear contra nós, isto é para, ameaçar. Há uma
escalada armamentista, mas tem como fim apenas a dissuasão. É importante para a
manutenção do equilíbrio do poder.

2. O idealismo Entre-Guerras

“Os 14 pontos de Wilson”


Woodrow Wilson foi simultaneamente presidente dos EUA (líder de estado) e um académico
(intelectual).
EUA: só entram na guerra quando vêem em causa o comercio, aquilo que é essencial à própria
republica dos EUA. O isolacionismo americano dura até 1917, quando Wilson lança um projeto de
uma nova ordem internacional.

1. Realização de conferencias de paz pública baseadas no principio da diplomacia aberta - toda


a prática diplomática deve ser feita num contexto em que não devem nunca mais ser
assinados pactos secretos, alianças desconhecidas, etc. Uma das causas da guerra foram
estas alianças e conferências secretas. Ir ao youtube - ver conferencias de versailles
2. Principio da liberdade absoluta de navegação nas águas internacionais, tanto em tempo de
paz como de guerra, com excepção dos mares que possam ser fechados em resultado de
acordos internacionais.
3. Supressão de todas as barreiras económicas e estabelecimento do principio da igualdade
comercial para todas as nações - mercado internacional livre, sendo que o comercio é crucial
no entendimento entre as diferentes nações, potenciado abaixamento das barreiras. É
essencial para os povos se conhecerem, aumentar as relações dos estados e levá-los a
chegar à conclusão que a interdependência comercial é a melhor forma de manter a paz.
4. Redução dos armamentos nacionais ao mais baixo nível compatível com a segurança de cada
Estado - é o ponto mais paradigmático, de um ponto de vista idealista; significa que devem
parar de construir e destruir grande parte do armamento já existente num pós-guerra; no

21
Guilherme Echeverri
entanto, isto depende da interpretação de cada estado sobre este ponto (um estado pode
achar que é necessário mais armamento para si). A ideia é boa mas a sua aplicação implica
muitos problemas.
5. As reivindicações das potências colonizadoras só podem ser concretizadas na estrita
observação dos interesses das populações colonizadas - se as populações participaram na
guerra, também devem ter outros direitos, os territórios coloniais têm que ser tratadas com o
mesmo fomento que as metrópoles; proposta liberal-idealista que vem trazer a ideia de que a
fronteira entre questões nacionais e internacionais não é assim tão nítida; é escrita pelo facto
de que os EUA além de não terem colónias, foram uma colónia.
6. Observação do principio da livre autodeterminação da Rússia quanto ao seu próprio
desenvolvimento e política nacional;
7. Restauração da soberania total da Bélgica (questão a soberania e dos cantões redimidos,
retirados à Alemanha e dados à Bélgica - Eupen, Malmody e St. Viny) - estado-tampão, entre
a França, Alemanha, Holanda e Reino Unido.
8. Libertação de todos os territórios franceses ocupados e pagamento de uma reparação pela
anexação da Alsácia-Lorena em 1871 pela Alemanha;
9. Restabelecimento das fronteiras italianas com base no princípio das nacionalidades (a cada
nação corresponde o seu próprio poder político);
10. Desenvolvimento autónomo dos povos à Austria-Hungria - princípio das nacionalides;
11. Estabelecimento das fronteiras dos estados balcânicos de formas amigável e com base nos
traçados históricos nacionais. Devem depois ser asseguradas a esses estados garantias de
independência política e económica. Jugoslavos - eslavos do sul.
12. Soberania das regiões turcas do império otomano e garantia do desenvolvimento autónomo
das veria nacionalidades que até ai tinham estado sob o domínio otomano. Principio da
abertura dos estreitos (Dardanelos e Bósforo) a todas as nações;
13. Constituição de um Estado polaco independente, composto pelo territórios habitados pelas
populações polacas, com acesso direto ao mar e com garantias de indecência politico e
económica;
14. Criação de uma associação geral das nações (SDN), capaz de garantir, tanto aos pequenos
como aos grandes Estados a independência política e a integridade territorial - principio da
segurança coletiva; o principio do equilíbrio do poder está a ser posto em causa, porque este
primeiro envolve todos.

LER: CAPS. III E IV do NYE

22
Guilherme Echeverri
Bibliografia obrigatória para o teste - Dois primeiros textos da colectasse (até p.22 até morgenthau
- n sai; texto de Kaplan, dois primeiros modelos; 4 primeiros capítulos do NYE

A sociedade das nações


Pela primeira vez na história, o sistema internacional está materializada numa organização
especifica, primeira organização política internacional. Antes, os tratados ou as conferências,
agora uma organização.
Estamos a verificar que quer a própria SDN, quer o principio sobre o qual deve assentar a nova
ordem, desde o principio teve debilidade e exigia uma série de condições que não são desde logo
automáticas (o principio da segurança coletiva não se verifica logo, e é uma boa ideia que é de
difícil execução).

O edifício liberal-idealista aparece nos 14 pontos de Wilson. Mas a pergunta é: realmente vai ser
puramente aplicada? Não, eram apenas a inspiração e reuniram um grande consenso da opinião
pública que tinha uma componente nova.

1) Os acordos/tratados que puseram fim a IGM e os que estiveram na origem da SDN


continham parte dessas propostas liberais mas também tinham outros princípios que
estavam em tensão com essas propostas. Há um domínio do paradigma liberal-idealista, mas
não ha unanimidade. Muitas vezes não havia uma coerencia.
2) A sociedade das nações para ser verdadeiramente uma tem que ter em si representantes
de todas as nações, mas não o tem (por ex. os EUA - o grande proponente da base da nova
ordem não consegue convencer o senado do país a aderir a SDN - ou as potências derrotadas
também não são autorizadas a entrar de imediato). Em 1926, entram derrotados; a partir de 1931,
muitos começam a deixar a SDN; em 1934 entra a Rússia…
3) Muitos países pequenos ganharam expectativas de que iam fazer-se ouvir, mas ao longo do
tempo começaram a perceber que isso não era assim. A SDN não consegue ser transformadora.

A década de 20, dos loucos 20, é uma década otimista, mas a partir de 30, o idealismo começa a
ser vista de outra forma e a ser criticado: pensa-se cada vez mais que a guerra é um instrumento
inevitável nas RI.

A unanimidade no contexto de uma OI mostra que os membros não têm grande vontade de
cooperar - não há flexibilidade, visto que os seus interesses não estão garantidos. Esta
unanimidade não permitiu que muitas das medidas fossem aplicadas.

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Guilherme Echeverri
Três áreas especificas da SDN

a) Área da política colonial e dos mandatos internacionais:


A SDN decide passar no formato de mandatos internacionais a gestão dos territórios colónias das
potências derrotadas às potências vencedoras da IGM. As potências que vão beneficiar disto:
França, Inglaterra, Bélgica. São áreas coloniais as do Sul de África e Médio Oriente.
Os mandatos internacionais são de tipo a, b e c:
- a) mandatos correspondentes a territórios sobre os quais já se pode pensar numa eventual
independência
- b) são aqueles onde se pode pensar a médio/longo prazo uma independência
- c) não têm condições para a independência
É importante porque vai mudar a política colonial a nível da ideologia liberal-idealista. Têm
desenvolver políticas para o fomento desses territórios - dar um tratamento equitativo a esses
territórios. São estes liberais que vem introduzir aquilo que é a base que depois vem permitir a
esses povos exigir a sua independência (até pq estas colónias tb participaram na guerra).

b) Área da segurança e da estabilidade internacional


O principio da segurança coletiva deve substituir o principio do equilíbrio do poder. Este exige a
participação/concurso de todos e não apenas dos grandes atoes, deve ser uma cooperação
manifesta. Isto implica que todos os estados estejam interessados no mesmo fim: a segurança
traduzida na paz. Todos os estados têm de estar de acordo para que não haja guerra. Só é
coletiva, se todos os estados quiserem.
Na verdade, na pratica, este sistema exige 3 requisitos principais:
1) Na ilegalização e na erradicação da guerra ofensiva - fazendo uma lei que torne a guerra um
crime, através do direito internacional.
2) Exigência da união de todos os estados contra o agressor - isto é, para se realizar tem que se
estar constantemente a fazer coligações de estados não agressores para dissuadir que se
possa recorrer à agressão.
3) Se, mesmo assim, não se conseguir dissuadir, esse estado tem que ser penalizado.

c) Área das questões sociais e económicas


Existe uma relação causal entre as situações económicas, sociais, trabalho e condições de vida
que têm de ser garantidas para as sociedades viverem em paz - consenso importante para a
reconstrução pós-1919.
Põem os Estados a realizarem conferências, programas conjuntos de recuperação, que vai acabar
por dar origem às primeiras organizações internacionais, que procuram soluções cooperativas
naquelas áreas. Surgiram ainda programas que ainda hoje existem (como a OMS). As soluções

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Guilherme Echeverri
para os problemas da guerra, a impedir novas guerras devido a essas áreas passa a ser feito em
cooperação.
Constatou-se que a paz só é possível se houver condições garantidas balanço mais otimista -

no seio da SDN pôs-se em cima da mesa o nexo causal as condições da vida das populações e a
paz.

3. A escola realista e a Guerra Fria


Crítica ao Idealismo pós I Guerra por E.H Carr
Reflexão teórica e sistematizada sobre as fragilidades do consenso ideal-liberalista. Dá indícios
de que vai entrar em desequilíbrio, a abrir portas para outro consenso.
- Considera e chama ao idealismo um utopianismo.
- Critica a convicção de que os idealistas partem, de que existe uma harmonia natural de
interações entre cada um dos estados - de que a paz cada estado deve submeter o seu
interesse nacional ao bem comum. De que a paz e o interesse de todos e cada um dos Estados
e que por isso todas as nações têm o interesse em manter a paz. As que não fazem são
irracionais e imorais.
CARR DIZ QUE ISTO É APENAS UMA CRENÇA. Esta harmonia não é natural e quase nunca

existe.
Descontrói o consenso liberal - diz ainda que aquele princípio liberal é o do interesse dos
estados, do status quo dos principais estados.
Carr ataca os “utópicos” através de três pilares fundamentais:
- History is a sequence of cause and effect, whose course is to be grasped not by imagination but
by intelectual effort
- Theory does not create practice, but is created by practice
- Politics is not a function of ethics, but rather, that ethics is a function of politics and morality is
the product of power.
Carr usou estas “foundation stones” para atacar os liberais, contestando que a fé deles, num
código moral intemporal, meramente refletem os interesses específicos de um conjunto de
poderes satisfeitos após a IGM. Nesta ótica, o Idealismo, incorpora não só uma particular noção
particular de moralidade, reflectindo apenas os interesses de certas nações, mas mais
especificamente os interesses de uma classe em particular dentro dos estados em questão.
Carr comenta que “assim que a tentativa é feita para aplicar esses princípios supostamente
abstrato a uma situação política concreta, elas revelam-se como disfarces transparentes de
interesses egoístas”.


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Guilherme Echeverri
2ª PARTE
O segundo consenso Realista
por Hans Morgenthau

Hans Morgenthau (1904-1979) - “Politics among Nations”, a bíblia dos Realistas modernos -,
reintroduz o Realismo na política internacional (por exemplo, vai ser a política dos EUA).
A segunda guerra mundial veio por fim ao consenso ideal-liberalista (como criticou Carr), já que
durante a qual assistimos a uma crise paradigmática (Kuhn). Um dos grandes responsáveis pela
substituição do consenso liberal pelo realista é Morgenthau, que tem em conta a luta entre a paz e
o poder na política internacional.nj

Os 6 principios do Realismo

1) Definição do comportamento político racional (cientificade)


O realismo visa responder a esta demanda: é possível que o comportamento politico seja
racional? Sim, e o realismo trabalha com essa confirmação.
Morgenthau diz que a primeira coisa que se tem que fazer é perceber que as relações
entre os Estados na verdade estão condicionadas por regras objetivas, que o são porque
partem da natureza humana (que o homem é naturalmente mau, é egoísta e está
constantemente inclinado para o poder, conquista, fama…, o que é feito por meio do
conflito pela constante sensação de insegurança), que é permanente e imutável.
Essa natureza é um facto inquestionável porque é o que a história nos mostra.
Confrontados com os mesmos estímulos, os homens reagem tendencialmente da mesma
maneira. Se assim é, o comportamento político é previsível, portanto, há uma objetividade
das leis políticas. É com base neste pressuposto que se pode criar uma teoria política
racional. Daqui decorre o argumento por parte da escola liberal que considerava que a
natureza humana era plástica e que o homem aprendia com o passado - Morgenthau
responde que a natureza humana não é plástica, o homem não muda.

As regras inatas à natureza humana são objetivas e não modificáveis. Daqui


decorre o principio de que tanto as leis como as instituições políticas devem ser
criadas tendo em conta essa natureza humana imutável. Fazer leis bonitas como
proibir a guerra ou criar SDN’s não altera os comportamentos dos Estados ou lideres
políticos, porque a natureza humana é a mesma.
As boas leis são aquelas que partem do princípio que a natureza humana é má e
que prevendo isso conseguem criar leis que limitam ou moderam essas más
tendências. Não é possível criar um novo homem, por isso devemos controlar na
26
Guilherme Echeverri
prática a natureza dos líderes ou comunidades políticas. O bom comportamento
político é aquele que trata a realidade tal como ela é.

2) O interesse nacional define-se em termos de poder (padrão para um comportamento


político racional)
Morgenthau destaca que os líderes políticos na historia agiram sempre por um
determinado interesse, pretendendo sempre o aumento do poder do Estado. O principal
padrão do Realismo politico para os Estados é sempre o do interesse nacional definido em
termos de poder. Este critério é intemporal.
Os erros no que toca ao interesse nacional caíram ao longo da história sobre dois padrões:
o dos motivos (ou boas intenções) ou o da ideologia - não são opções realistas, são,
portanto, irracionais.
No primeiro, Morgenthau justifica com o facto da história não mostrar qualquer correlação
exata ou necessária entre a natureza dos motivos e o resultado das políticas, ou seja, não
podemos concluir através de boas intenções ou motivos que aquela política terá resultados
louváveis (Ex: Política do Apaziguamento no Reino Unido, que mostra que uma política
com bons motivos nem sempre tem bons resultados - “de boas intenções está o inferno
cheio”).
No segundo, alerta de que as ideologias (leitura simplificada da realidade que têm uma
visão para o futuro) de facto são muito atractivas, visto que trazem explicações e nos
mostram um caminho, mas são perigosas porque são uma simplificação, abstração e
utopização da própria realidade. Ora as boas decisões políticas racionais são aquelas que
se tomam pela realidade tal como ela é; as ideologias são intenções e desejos.
No fundo o que as ideologias fazem é que tiram a base histórica às decisões políticas e um
bom comportamento politico tem que estar ligado às circunstâncias concretas do tempo e
do lugar, A ideologia trabalha entre o que é desejável e possível em abstrato; o realismo
trabalhar entre o que é desejável e possível numa determinada situação. Por outras
palavras, o realismo considera que a melhor política é aquela que é racional, na medida
em que tendo em conta um contexto concreto é capaz de minimizar os riscos e maximizar
os benefícios, ou seja, é capaz de aumentar o poder do estado. Só esta é uma política de
sucesso (na qual entra a prudência, para saber a escolher a política certa na altura certa)
e ela é possível através do padrão acima.

HISTÓRIA
{ ESTADO
INTERESSE
NACIONAL
PODER

27
Guilherme Echeverri

Um realista segue este critério: “Como é que esta política afeta o poder e o interesse da
minha nação?”

3) A essência da política é o interesse nacional


O realismo não atribui um conteúdo fixo e imutável ao conceito chave de interesse
nacional, que depende do contexto geográfico, temporal e cultural. É um conceito
operativo. A história e o que ela nos ensina é fixa e imutável, mas o interesse nacional não.
O interesse nacional deve ser o padrão constante em função do qual a ação política deve
ser conduzida e ajuizada; já o conteúdo da ligação entre o interesse e cada estado
concreto deve ser produto de cada momento (ex, pode ser militar, entra numa aliança,
cortar relações diplomáticas, …). Saber aplicar esse critério a cada momento é a
prudência política.

4) Rejeição de uma moral pública universal


A moral privada é diferente da ética política. O realismo defende que os princípios morais
universais não sejam aplicados às ações dos Estados de modo abstrato e universal, mas
que sejam antes considerados em função das circunstâncias concretas, do tempo e do
lugar. A moral não se deve aplicar da mesma forma como é aplicada nas nossas vidas
particulares.

5) Negação da Doutrina da Harmonia de Interesses - o realismo desconfia dos bens


universais
O realismo parte sempre de uma posição de desconfiança - os realistas são cínicos, o que
não é uma coisa má necessariamente: isto quer dizer que o realismo politico não aceita a
realidade sem mais nem menos e sobretudo não aceita narrativas sobre a realidade que
lhe são dadas por outros (por ex. não aceita narrativas religiosas, ideológicas…). Quando
olha para a realidade, olha para a realidade tal como ela é (daí o nome realismo).
Uma das falácias principais que os realistas encontram na narrativa liberal é esta ideia de
que existe uma harmonia espontânea de interesses entre os estados. Para os realistas,
isso não só não é verdade - não existe nenhuma harmonia espontânea - como acreditar
que assim é pode levar a políticas ilimitadas. CARR DIZ QUE ISTO É APENAS UMA
CRENÇA, que isso até pode ser perigoso.
O realismo politico recusa-se a identificar as aspirações morais de uma determinada nação
concreta ou um conjunto de nações com as leis morais universais. É evidente que todas as
nações são sempre tentadas a justificar as suas aspirações e as suas ações com
propósitos morais universais. Segundo Morgenthau esta identificação é politicamente

28
Guilherme Echeverri
permissivas, na medida em que permite uma deformação de juízo capaz de justificar
políticas ilimitadas, que são capazes de destruir nações, destruir civilizações, em nome
não de um critério politico mas de um ideal, de uma religião, de uma ideologia e assim
sucessivamente. A doutrina de harmonia interesses para justificar uma política é muito
mais perigoso do que decidir uma política com base no critério do interesse nacional
definido em termos de poder, aliás para Morgenthau este é o critério que precisamente
introduz na política a moderação capaz de evitar guerras moralistas ou guerras
ideológicas, isto é políticas através das quais os Estados cometam injustiças através da
justiça.

6) A política como dominio autónomo - juízo politico sobre a politica


O realismo defende que a política é um domínio autonomo, ou seja, tal como no domínio
económico o critério que é usado para se tomar boas decisões é o da racionalidade
económica e tal como do ponto de vista religioso é teleológico, também o domínio da
política requer que o juízo que se faz de determinada situação é um critério que deve ser
necessariamente politico. Ao dizer que os políticos tem que se preocupar com isto,
Morgenthau está a reconhecer que tal como a natureza humana é plural, também as
comunidades humanas têm interesses plurais. O realismo reconhece esta natureza e isso
significa reconhecer que existe um domínio que é estritamente político; achar que as
questões políticas são apenas técnicas ou morais é não compreender essa natureza plural
humana.
Exemplo: Há uma certa inclinação para achar que, por exemplo, aquilo a que chamamos
desafios políticos podem ser sempre resolvidos por critérios económicos (como crises
económicas), através de gestores. Mas há muitas questões em que a sua moderação
obriga a critérios políticos, visto que muitos desses desafios são também eles políticos. Há
situações em que as respostas aos problemas devem ser políticas. A racionalidade política
é muito importante.

Doutrina da Contenção
George F. Kennan (1904-2005)
- Long Telegram (1946)
- “The Sources of Soviet Conduct” by X Foreign Affairs (1947)
George Kennan é o maior diplomata norte-americano do século XX, é a referencia dos
diplomatas norte-americanos do século. Um dos representantes da embaixada americana em
Moscovo.

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Guilherme Echeverri
O novo consenso realista é feito num contexto temporal (1945-1949), que se caracteriza por
um grande debate, quer nas chancelarias europeias, quer nos EUA, qual deveria ser a nova
política dos Estados Unidos durante a IIGM. Este debate esteve em aberto, sendo paralelo ao
debate paradigmático. Neste caso estamos a olhar para a versão desse debate em termos de
política externa dos EUA. “Que doutrina de política externa é que os EUA devem adotar no
pós-guerra, que começa uma nova ordem internacional?”
Essa resposta não é fácil, visto que quando há um debate há sempre muitas posições e
normalmente o debate só se fecha quando uma dessas posições consegue sobrepor-se às
outras e reunir um consenso.

Muitos continuam a defender a posição de isolacionismo - a doutrina Monroe, que vai estar em
minoria. Outra proposta doutrinal é a doutrina Kennan ou a doutrina da Contenção:
Como bom diplomata, Kennan segue com atenção os discursos e intervenções que o líder
soviético da altura, Estaline, faz em matéria de política externa, mas sobretudo para consumo
interno - aos membros do partido. É aí que encontramos verdadeiramente aquilo que são as
fontes e as reais intenções do líder da URSS relativamente ao seu estatuto a nível
internacional - aquilo que vão ser os objetivos da política externa soviética no pós-1945.
Em 1946, Kennedy envia o “long telegrama”, um relatório que é usado para um artigo “The
Sources of Soviet Conduct” escrito por Kennan. É conhecido como Relatório X, pelo facto de
assinar como X. Ele propõe os elementos que devemos ter em conta para informarem o debate
sobre qual deveria ser a nova doutrina estratégica no pós-guerra.

A proposta que Kennan faz é antes de mais o abandono da doutrina Monroe. Então qual é a
estratégia que os EUA devem ter? De alguma maneira, caracteriza-a: devem ter uma política
de longo prazo, paciente, firme e vigilante de contenção (containment) das tendências
expansionistas russas/soviéticas, não deixando alastrá-las, limitando as suas pretensões. É
uma contenção pela aplicação rigorosa e vigilante de uma série de contra-força numa série de
pontos geográficos e políticos que de alguma maneira vão estar constantemente a ser
alterados, que devem no entanto ter uma correspondência: correspondem às mudanças e às
manobras da política soviética. Esta proposta obriga ao abandono da política isolacionista, para
passar ao intervencionismo - ser uma contra-força das políticas expansionistas da união
soviética.

Ler Cap. V do NYE, até à p.158

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Guilherme Echeverri
Joseph NYE - A Guerra Fria guerra. Existem dois tipos de revisionistas (moderados e
- A guerra fria foi um período de intensa hostilidade duros - uns responsabilizam o indivíduo e outros o
sem guerra efetiva entre os EUA e a URSS; a capitalismo).
hostilidade era de tal forma intensa que muitos - Pós-revisionistas: defendem que ambos estão errados
esperavam um conflito armado entre as duas - ninguém foi culpado pela guerra. Ela era inevitável,
superpotências. ou quase, por causa da estrutura bipolar do equilíbrio
- Num mundo ideologicamente bipolar, um estado do poder no pós-guerra. A bipolaridade e a fraqueza
utiliza as suas forças militares para impor da Europa do pós-guerra, atraiu ambos os polos EUA
sociedades semelhantes às suas, como forma de e URSS, embora tivessem objetivos diferentes. Os
assegurar a sua segurança. EUA tinham tendência a expandir-se devido ao
- Ocorreram combates, mas nunca diretamente - intemporal dilema da segurança num sistema
apenas nas periferias. anárquico. Dada a estrutura bipolar, instalou-se uma
- Durou 4 décadas - de 1947 a 1989 - mas o seu espiral de hostilidade: “linhas duras num país geram
auge foi até 1963, onde não houve quaisquer linhas duras noutro país”.
negociações, sendo que até 1955 não houve Políticas de Roosevelt
mesmo nenhuma cimeira. A partir de 1970 isso - Tentou não repetir os erros da IGM.
mudou. Por fim, em 1989 a URSS perde a sua - Foi criticado pela ingenuidade de algumas das suas
influência e em 1991 cai. táticas - punha demasiada confiança na ONU,
Dissuasão e contenção subestimou a probabilidade de isolacionismo
- A guerra trouxe-nos uma perspetiva única das RI americano e também subestimou Estaline, julgando
sobre duas opões de política externa: dissuadir ou que era mais um político e não percebendo que este
conter. Ambos já existiam, mesmo que com outro era um verdadeiro totalitário.
nome. Políticas de Estaline
- Dissuasão: desencorajar através do medo - neste - Apertar o controlo interno - politica isolacionista face à
caso tínhamos a dissuasão nuclear, acompanhada perda de influência do comunismo e aos danos da II
da lógica de equilíbrio do poder. guerra.
- Contenção: conter a expansão do comunismo - Usou os EUA como alvo para incentivar o povo a ver o
soviético. Já existia antes da GF: pode ser ofensiva comunismo como algo a seguir, mas não desejava a
ou defensiva; militar (alianças) ou económica guerra fria. Preferia alias alguma cooperação, para
(sanções ou bloqueios). Os EUA hesitaram durante que fossem ajudados economicamente pelos EUA e
a guerra entre o expansionismo e a contenção. quando a crise do capitalismo irrompesse, estariam
Três abordagens da guerra: prontos em 15 anos para sair vencedora
- Tradicionalistas: defendem que quem começou a - Externamente, pretendia proteger-se internamente e
guerra fria foi Estaline e a URSS - os soviéticos eram sondar pontos fracos.
agressivos e expansionistas, enquanto os americanos As fases do conflito
tinham uma diplomacia defensiva e despertaram com - 1945-1947: início gradual
a ameaça soviética. Os seus argumentos são: a - 1947-1949: declaração da guerra fria
criação da ONU pelos EUA; a conferencia de Ialta, - 1950-1962: auge da guerra fria
onde os americanos sairam do caminho dos Nem Truman nem Estaline queriam a guerra. Aliás,
Truman via Estaline como um moderado - em 1946
soviéticos para a concretização dos seus interesses -
mas Estaline não cumpriu o acordo, visto que não Kennan tentou avisar os EUA acerca das verdadeiras
intenções dos soviéticos e Winston Churchill proferiu o
permitiu eleições livres na Europa, por ex. Por outro
lado, os soviéticos procederam a uma série de acçõesfamoso discurso em que afirmou que na Europa caía
que mostram o seu expansionismo: a situação do uma “cortina de ferro”. Clark Clifford, adido de Truman,
Irão; a guerra da Coreia; o bloqueio de Berlim ou a confirmou que o relatório de Kennan realmente estava
ocupação da Checoslováquia, que fizeram os EUA certo: a URSS ia expandir-se a cada oportunidade que
despertarem. encontrasse.
- Revisionistas: acreditam que a guerra começou com o Então, a estratégia americana mudou e são 6 as causas:
expansionismo americano e não soviético. A sua a Polónia e a Europa de Leste; programa de ajuda “lend-
prova é a de que no final da IIGM o mundo não era lease” interrompido pelos EUA; a Alemanha e a forma
verdadeiramente bipolar - os soviéticos eram muito como reconstrui-la; a Ásia Oriental; a bomba atómica;
mais poderosos, visto que ganharam com a Mediterraneo e medio oriente.

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Guilherme Echeverri
Este debate faz-se entre 1945 e 1949. De tal maneira estão a ocorrer coisas durante esse
período, que a posição dos EUA em 1945 deixa de ser a mesma em 1949.
No verão de 1945, os EUA detêm a capacidade nuclear, que mais nenhum estado possui -
monopólio da capacidade nuclear. No entanto, 1949, a URSS mostra no inicio de outubro que
também a tem - passam a haver duas superpotências. Outra coisa muito importante é que nesse
mês, quando olham para a mancha euro-asiática, de repente temos uma mancha de bandeiras
encarnadas - comunismo chinês. Agora, nesta altura, os EUA vêem a mancha da URSS, mudando
de estratégia, e as forças do exército vermelho conseguem chegar a Berlim.

Doutrina da Contenção, uma política realista clássica


Segundo Kennan os EUA deviam conter o avanço do poder soviético nos pontos concretos aonde
este se realizasse, se eles fossem considerados vitais aos interesses norte-americanos
(geoestratégicos), produzindo, assim, um efeito de contra-poder. Essa estratégia seria
desenvolvida através de apoios seletivos (o que é que é preciso - ferramentas e custos - para
concretizar determinado objetivo?) sobretudo políticos e económicos, tendo em vista a realização
dos objetivos específicos e limitados e nas capacidades concretas dos EUA - critério do interesse
nacional. Serve para o balanço do poder - contrabalançar o poder da URSS através de certos
meios tendo em conta os interesses americanos.

O Plano Marshall
George Marshall vai à Europa para propor um plano económico - o plano Marshall. Tendo como
deixa a reconstrução e recuperação económico da Europa no pós-guerra, visto que se encontrava
completamente arrasada, os americanos põem em prática a doutrina da contenção, oferecendo
ajuda a TODOS os países que quisessem a sua ajuda. Precisavam de escoar os seus produtos e
para isso precisavam que os mercados europeus voltassem a funcionar.
Mas há também uma intenção politico-ideológica: a melhor maneira de conter a ideologia marxista
era de facto por as economias europeias a crescer. Há uma associação direta entre sistemas
democráticos liberais com economias de mercados e desenvolvimento e prosperidade. É um
instrumento muito racional e interessante, visto que sabiam que os capitais emprestados à Europa
iriam retornar para os EUA quando as economias recuperassem.
É pensado na lógica da doutrina - não tem muitos custos para os EUA, exercer contrapoder face à
Europa e tem intenções também ideológicas.
Os países de leste não puderam aceitar face à pressão da URSS.

A doutrina Truman, doutrina liberal internacionalista


Enquanto a doutrina da contenção é uma doutrina que só se pode perceber numa lógica realista,
a doutrina Truman é liberal internacionalista (idealista).

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Guilherme Echeverri

“I am fullt aware go the broad implications involved if the US extends assistance to greece and
turkey. One of the primary objectives of the foreign policy of the US is the creation of
conditions in which we and other nations will be able to work out a way of life free from
coercion”.
“This is no more than a frank recognition that totalitarian regimes imposed upon free people by
direct or indirect aggression, undermine the foundations of internacional peace, and hence
the security of the US”.

A doutrina Truman é uma doutrina que pressupõe também o abandono da doutrina Monroe e que
é feita a partir do critério ideológico e não a do interesse nacional definido em termos de poder
como a da contenção. É um confronto ideológico de vocação mundial, em qualquer sitio do globo
onde um qualquer país ou nação esteja a sofrer ameaças diretas ou indiretas de agressão por
parte de um regime totalitário, é de obrigação dos EUA como líderes do mundo livre que vão
responder a essas ameaças. É uma política ilimitada, no sentido de ser global, em que todos os
instrumentos são válidos e é uma política que exige imediatez (cada vez que se nota um avanço
do comunismo, soviético ou maoista).

Alternância entre as duas doutrinas


Ao longo da guerra fria, observou-se uma tensão e alternância entre as duas doutrinas, sendo
que em traços gerais a tendência que encontramos é a seguinte: nas administrações
republicanas, a doutrina que normalmente tem mais influencia é a de contenção, olhando mais
para a política como uma disputa de poder; nas administrações de presidentes democratas, a
doutrina que tendencialmente tem mais influencia é a Truman, porque trabalham sobre uma visão
liberal, usando políticas mais ideologicamente enquadradas.

Instrumentos da política da contenção


Junho de 1947 - Plano Marshall (OECE/OCDE)
4 de abril de 1949 - NATO (Washington) - Art. 5: Clausula de assistência mútua de base regional.
14 de abril de 1950 - NSC 68 - Relatório do National Security Council Top Secret (Comprehensive
containment strategy): Defense sprendind tripled as a percentage of the gross domestic product
between 1950 and 1953 from 5 to 14.2%.

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Guilherme Echeverri
4. Interdependência, Poder e Informação

Interdependência, globalização e a era da informação

Fim da guerra fria → alguns observadores defenderam que as questões económicas se iriam
tornar mais centrais na política mundial.
A sensibilização da Globalização a acontecimentos em partes distantes do globo tem aumentado
com a diminuição do custos nos transportes e nas comunicações tem baixado, diminuindo
bastante a barreira da distancia. Os mercados tem igualmente aumentado, com as TIC, bem como
a alteração das atitudes acerca do papel dos governos e estados. As empresas multinacionais
ganham um grande destaque na cena internacional e têm um grande peso nas economias e
políticas nacionais.
Alguns teóricos prevêem uma nova competição entre estados, na qual a “geoeconomia” substitui a
“geopolitica”, com as sanções económicas e obstáculos a tornarem-se instrumentos politicos.
Estas mudanças são importantes: a segurança pode ser tomada por certa em tempos de paz, mas
todos os mercados operam no interior de um enquadramento politico, dependendo de uma
estrutura internacional de poder. As sanções económicas têm sido instrumentos populares porque
evitam o uso da força, mas nem sempre são tão eficazes.

A interdependência económica e a globalização foram interrompidas com as guerras e com a


depressão, mas rapidamente aumentou depois da segunda guerra - mas foram os choques
petrolíferos de 70 que trouxeram o conflito económico para o centro do palco mundial.
A interdependência não é sempre tão positiva, significando também que pode ocorrer em períodos
de conflito. A partir de 70 o mundo percebeu que o poder também poderia sair de um barril de
petróleo. A área militar separou-se a económica.

Porque é que os países mais fortes do mundo permitiram a transferencia de centenas de milhares
de milhões para estados fracos e não usaram a força? O que mudou? Se fosse no século XX teria
acontecido…

Interdependência
É um termo vago, utilizado numa variedade de maneiras contraditórias. Pode ser utilizada tanto
ideologicamente como analiticamente - como verbo político, conjuga-se “Eu dependo, nós
dependemos, eles mandam”; como termo analítico, refere-se a situações nas quais atores ou
acontecimentos em diferentes partes de um sistema se afetam mutuamente, ou seja, significa
dependência mutua (não é boa nem má, e pode existir em maior ou menor qntd). Ninguém é
auto-suficiente.
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Guilherme Echeverri

Origens da Interdependência
Pode ter origem em fenómenos físicos (natureza) ou sociais (económicos, políticos ou percetivos),
presentes geralmente em simultâneo.

A interdependência complexa
- Joseph Nye
- Robert Keohane
Power and Interdependence (1977)
Power and Interdependence in the Information Age (1998)

A partir de 70, apesar de ainda nos encontrarmos na guerra fria, houve uma evolução e os
desafios apesar de tudo eram agora diferentes, sobretudo as características do panorama
internacional.
A política internacional estava a esta altura num momento de maior desanuviamento (détente) da
distribuição bipolar do poder. Essa constatação da flexibilidade deve ser entendida por uma série
de acontecimentos na década de 60 e de 70: a primeira é a construção do muro de Berlim, que vai
simbolizar a divisão do mundo, agora passamos a ver a política internacional através da lente
Este-Oeste.
Tal desanuviamento deu-se especialmente com a crise dos mísseis de Cuba. Do ponto de vista do
equilíbrio do poder, representava um desequilíbrio. A crise foi somente uma crise, porque as duas
superpotências perceberam que a manutenção daquele equilíbrio dependia também do respeito
pelas suas áreas de influência. Uma vez que foi essa a atitude demonstrada na década de 60, que
o equilíbrio era para preservar, foi possível iniciar-se um período de negociações em vários
domínios que de alguma maneira culminaram naquele détente.
Por outro lado, começa-se a sentir tendencialmente a voz de outros atores internacionais que não
tinham tanto protagonismo (atores estaduais), que conseguem influenciar a agenda internacional.
A partir de 50 triplica quase o numero de novos estados, que tinham sido até aí colónias, sem um
papel na mesa da negociação internacional. Até aí, a política internacional não era muito mundial,
era mais ocidental ou eurocentrica, mesmo tendo o Japão ou a China.
A partir de 1973, com a crise petrolífera, a região do médio oriente, na sua maioria estados novos,
tradicionalmente pouco relevantes, sem influencia ou poder, mas que de repente percebem que
têm um trunfo para fazer avançar os seus interesses: o petróleo - são produtores e exportadores.
Os países da OPEP encontram-se num cartel para disparar o preço do barril de petróleo.

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Guilherme Echeverri
O choque petrolífero é para os dois autores um acontecimento que representa o inicio do diálogo
Norte Sul (paralelo ao Este-Oeste). De repente, os estados mais avançados sentem sobre as suas
economias e agendas um impacto enorme daquela que é uma decisão meramente política/
empresarial de um conjunto de pequenos estados a nível de influencia de uma zona que não é
muito relevante nas RI.
Isto acontece porque estes novos estados percebem que têm novas fontes de poder, que o poder
não pode ser entendido da maneira clássica que era entendido, sobretudo por capacidade militar
ou comercial. Há um conjunto de novas características no sistema mundial e essas
características, para os autores a mais importante é a interdependência.
Para os autores leituras simplesmente realistas ou liberais (os choques petrolíferos para os
liberais torna-se um pouco complicado de explicar) da realidade deixam de ser suficientes,
passando a ser necessária uma nova teoria: a interdependência complexa. Mas não vão
oferecer um paradigma diferente, embora seja uma nova teoria que tem grande impacto no
dialogo internacional na década de 70.
O que aparece aqui questionado é o poder dos EUA e dos seus aliados ocidentais e no pacifico.
Isto tem um impacto brutal, inclusive no contexto da ONU. A interdependência veio a ser mostrada
por este acontecimento.

Interdependência = dependência mutua.

Jogo de soma zero: Os politólogos consideram que a dependência das colónias é um jogo de
soma zero: um ganha tudo e o outro perde tudo.
Jogo de soma variável: os resultados, custos ou beneficios, são divisíveis entre os vários
jogadores, mas isso não quer dizer que seja igualitária - a soma é a variável com uma situação
assimétrica. Ambos têm custos e benefícios, mas é variável (um pode ter 90% de custos e outro
10% dos benefícios, por ex).

Nye e Keohane dizem que há uma distribuição assimétrica dos custos e dos benefícios nas
relações entre os vários atores, porque a característica fundamental nas relações entre os atores
internacionais é a interdependência.
Ao fenómeno da interdependência está ligada à globalização, à ideia de uma aldeia global.
Portanto a interdependência é o primeiro sinal do fenómeno da globalização, que o substitui na
década de 90.

Neste contexto desta interdependência, onde os resultados estão distribuídos de forma


assimétrica, conclui-se que ser menos dependente é fonte de poder. O poder continua a contar
mas as fontes de poder revestem novas formas. Aqueles que forem mais autónomos e auto-

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Guilherme Echeverri
suficientes são aqueles que têm mais poder. Ou seja, aquelas estados que maior conseguirem
manipular as relações de interdependência são aqueles que conseguem ter mais poder. Os
países da OPEP conseguiram usar bem aquilo que tinham, manipulando o preço do petróleo e
alterando o panorama internacional. Os estados árabes mostraram que têm bastante poder,
mesmo não sendo na sua concepção clássica. Percebem que poder é também essa tal
manipulação.
É das teorias Nye e Keohane que saem os conceitos de Hard Power, Soft Power e Smart Power.

A interdependência complexa obriga-nos a ter um olhar mais sofisticado da realidade


internacional. Isto quer dizer que a interdependência está associada a duas situações que entre si
são diferentes e que nós temos de as compreender para perceber qual é o impacto da
interdependência. Essas duas situações são caracterizadas da seguinte maneira:
- Sensibilidade: tem a ver com o impacto da interdependência a curto prazo, isto é, está
relacionada com a velocidade e a extensão dos custos da interdependência, isto é, com a
rapidez com que mudanças numa parte do sistema internacional tem impacto no resto do
sistema.
- Vulnerabilidade: tem a ver com os custos a médio e longo prazo da interdependência; a
vulnerabilidade está associada a uma questão de grau (ser mais vulnerável ou menos à
interdependência); e associa-se à rapidez de encontrar alternativas e substitutos dos efeitos da
sensibilidade.

A interdependência está associada a graus, mas também tem a ver com áreas. Por ex, um
determinado estado pode ser mais independente na área financeira e ser mais interdependente na
área militar.

Sensibilidade: Esta decisão dos OPEP teve muito impacto sobre os PD; ora, o que estes dois
autores têm a dizer sobre o acontecimento é que a curto prazo, este teve muitos efeitos negativos
nos mesmos. Estes estados mostraram que eram estados sensíveis.

Vulnerabilidade: a médio e longo prazo, a capacidade de resposta que esses PD mostram ter
relativamente a essa grande sensibilidade, está associada à resiliência. Os EUA mostraram que
eram pouco vulneráveis, perceberam que os OPEP tiravam poder aos EUA, começando a
desenvolver intensamente um plano de exploração dos seus recursos petrolíferos e foram buscá-
lo a outras regiões do mundo, como a América Latina ou o Mar do Norte, percebendo que não
poderiam ficar dependentes de uma determinada região do mundo, como era a OPEP, mostrando
que sendo sensíveis, não eram tão vulneráveis. Alguns estados europeus tiveram mais

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Guilherme Echeverri
dificuldade, como Portugal que talvez não tenha sido tão sensível como os EUA, mas mostrou
muito mais vulnerabilidade.

Ou seja, mostram ter mais poder os que são menos vulneráveis - aqueles que conseguem
encontrar uma resposta eficaz às causas da sensibilidade.

A gestão da interdependência significa que é na assimetria da interdependência que encontrámos


novas fontes de poder. Sobretudo, nós vimos que em termos de impacto da interdependência
podemos concluir que os estados que têm mais poder são menos vulneráveis. Um estado pode
até ser muito sensível, mas o que distingue o seu poder é como consegue gerir a vulnerabilidade.
A interdependência não veio resolver o problema da desigualdade de como o poder está
distribuído. O jogo é agora um jogo de soma variável.

A interdependência trouxe maior complexidade à política internacional - é mais complexa pelo


resultado variável da soma de jogo. Então, os estados competem para colocar o jogo a seu favor.
O jogo joga-se em vários tabuleiros ao mesmo tempo e que o resultado final do grande jogo é no
fundo o saldo do resultado dos vários tabuleiros. As grande potências são jogadores importantes
que estão nos tabuleiros “essenciais”, mas agora há tabuleiros que podemos achar que são
secundários e de repente essa área sobressai, como é o caso dos países da OPEP. Tentam
sempre que os resultados seja em seu beneficio.

A guerra fria continua, por isso continua a ser bipolar, mas agora complexifica-se e tem novas
características:

1) Os Estados já não dominam a política internacional - a política internacional na década de


70 e hoje em dia faz-se através de outros canais sem ser os canais clássicos
intergovernamentais. É nesta altura que começam, por ex, a aparecer as ONG. A política
internacional é cada vez mais feita entre outros atores além dos Estados e que marcam a
política internacional. Isso resulta em ser cada vez mais difusa e inadequada a divisão feita
tradicionalmente entre política doméstica e política externa - é nesta altura que as questões
ambientais, por ex, começam a emergir na agenda internacional e são problemas cuja
resolução vai para além das fronteiras e dos governos. Questões que não eram muito
relevantes começam a surgir agora ligados a atores novos.
2) A segurança já não é o fim dominante - as questões de segurança não deixam de ser
importantes, mas já não é dominante. De algum modo começa a ser substituída pelo tema e
pela questão do desenvolvimento e do bem-estar e portanto estes autores a falar da
interdependência também querem referir isso. Surge o debate N-S, que tem a ver com a

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Guilherme Echeverri
distribuição de riqueza entre os PD e os PED, partindo da constatação que a própria estrutura
do sistema internacional põe em desvantagem os países do Sul. Em geral, explicam-se não
tanto pela falta de riqueza ou de capacidade para serem mais ricos ou pela história da maioria
desses países, mas porque as regras do sistema económico internacional eram propicias
sobretudo aos países do norte. Este é um argumento que teve um grande impacto. Querem
chamar à atenção de que o desenvolvimento e o bem estar é mais importante que a ideologia.
Entram no debate além dos estados mais recentes anteriormente colónias, a América do Sul.
Podemos dizer que o debate ideológico é dominante e que até o dialogo N-S foi “capturado”
pelo primeiro, porque muitos destes países eram marxistas. Juntam-se então outros temas
além da ideologia e poder (zonas de influencia, questão nuclear…), como o comércio
internacional, bem estar social, desenvolvimento, etc. O facto deste novo debate aparecer com
algum impacto e mudar algumas coisas nas RI, mostra que as organizações internacionais
normalmente até então estavam condicionadas pela ação das grandes potências que estavam
na sua origem ou os estados mais influentes dentro delas. E agora vemos que essas
organizações mostram elas próprias autonomia face aos interesses dos estados e muitas
vezes conseguem a introduzir na agenda e no debate temas que são até contrários até aos
principais interesses da organização (por ex a ONU, que também cria outras organizações
dentro dela).
3) A força vai perdendo relevância - os instrumentos para fazer política são instrumentos agora
mais ligados à negociação, à cooperação, mostrando de certa maneira que a força, o poder
militar é mais ineficiente. A guerra deixa de ser a política por outros meios - é agora face aos
novos temas e dinâmicas da política internacional cada vez menos eficiente.
4) Um novo instrumento de poder é a estratégia de “Linkage” (estratégia de ligação) - há
uma interdependência mais assimétrica e outra mais equilibrada. Num mundo
interdependente, onde nem os objetivos nem a distribuição do poder são fixos, variando por
isso de domínio para domínio, é importante que cada ator face à assimetria da
interdependência consiga estabelecer estratégias de ligação ou linkage, respetivamente nas
áreas em que tem vantagens e naquelas onde são mais interdependentes, isto é, os atores
internacionais vão procurar manipular a interdependência nas várias áreas em que são mais
fortes, tentando evitar ser manipulados nas áreas em que são mais fracos.
5) Neste contexto nem sempre são as potências mais fortes que vencem o jogo da
manipulação das assimetrias. Pequenos atores internacionais, alguns que nem são estados,
conseguem em certas ocasiões e em determinados domínios utilizar melhor o seu poder/
influência para ultrapassarem a sua relativa vulnerabilidade na interdependência assimétrica.
Neste cenário as organizações internacionais vão ter mais protagonismo, estas não só
autonomizam os seus interesses, como passam a ser importantes arenas da negociação
política.

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Guilherme Echeverri
Conclusões:
- Para Keohane e Nye é evidente que a politica internacional continua a manter grandes
continuidades, mas por outro lado ela mostra também inúmeras mudanças. Compreender a
política internacional significa compreendê-la na continuidade (poder) e na mudança
(interdependência). Os realistas olhavam mais para a continuidade e os liberais para a
mudança, mas estes autores consideram que temos que olhar para os dois em simultâneo. Não
se trata de um paradigma, mas uma teoria que quer demonstrar que a realidade é complexa e
que a própria realidade sugere que ela seja compreendida nessas duas dimensões. Por outras
palavras, olhando para a interdependência complexa, à partida ela nem é positiva nem
negativa, ela é o que ela é, depende da maneira como a manipulamos, gerimos (“navegamos
nela”).
- A interdependência complexa não traz obrigatoriamente nem paz nem guerra, mas é verdade
que encoraja a cooperação, a negociação, o diálogo. Portanto, traz um incentivo a que as
coisas sejam resolvidas não pela guerra como a política como outros meios, mas sim pela
integração, pela negociação, cooperação.

A era da informação para os autores


Em 1998 (10 anos depois do fim da guerra fria), Nye e Keohane publicaram um artigo que remetia
para uma atualização do primeiro: “Power and Interdependente in the Information Age”. Vêm dizer
que aquilo que já tinham notado em 70, não só se aprofundou, como também se aceleraram com
a globalização - a entrada na era da informação, que permitiu que pudéssemos passar a falar de
aldeia global. Agora começamos a perceber que a própria política internacional também de
globalizou e deixou de ter palcos estratégicos específicos, enquanto antes era sobretudo
eurocentrica ou do atlântico norte. Já não há nem centro nem periferias e portanto todos os atoes
internacionais contam.
A era de informação é aquilo que aconteceu desde 60 até à entrada no século XXI - a revolução
tecnológica aplicada aos domingos da comunicação e da informação. Segundo esses senhores
essas revolução tecnológica traduziu-se em rapidíssimos e profundos avanços tecnológicos,
diminuindo sobretudo os custos e o tempo da transmissão da informação, com efeitos notórios na
política internacional.
Esta noção que fazemos parte da aldeia global é uma coisa francamente recente, mas isso mudou
completamente a natureza da política e a maneira de a analisarmos.

É importante lembrar que o poder não deixa de fazer parte da equação. No entanto, o que este
fazem é um modelo idealizado da realidade, não conseguem chegar a competir com o debate
paradigmático, mas que foi necessário uma vez que os paradigmas necessários deixavam de
reunir consensos em relação a determinadas situações.

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Guilherme Echeverri
A aceleração da própria globalização não está apenas unida à questão da interdependência.
Houve outros fatores que se foram desenvolvendo que também explicam a aceleração da política
internacional e, portanto, também da globalização.
A revolução tecnológica aplicada à área da comunicação e à área militar teve que ter como
consequências gerais o abaixamento dos custos da transmissão da informação no que diz
respeito a nível da comunicação mas também da capacidade militar. Além disso, o que também
veio fazer é acelerar os processos internacionais, tendo tido um impacto muito grande. Por
exemplo, com a IGM, a informação de que estava a decorrer demorou um mês e meio a chegar a
todo o mundo - o que para hoje em dia é imenso tempo - agora a informação funciona quase em
real-time.

Consequências da globalização:
1) A globalização agora intensificada pela rev. tecnológica veio enfraquecer o tradicional papel
dos estados, havendo agora novos atores não estaduais - os estados já não têm o monopólio
da política internacional. Os estados não deixam de ser dominantes, especialmente
determinados estados mais poderosos, mas não é tão forte pela existência de outros atores
que noutros domínios têm mais poder do que estados. Os estados já podem ser vistos não
como monolíticos, mas sim como arenas de competição de interesses diferentes, o que
complexifica a política internacional. O soft power ganha muito mais relevância através destes
novos atores.
2) Nota-se um efeito descentralizador da política internacional - não é que as fronteiras deixem
de ter relevância, mas agora os atores fundamentais ganham relevância pela sua influencia e
poder independentemente do sítio geográfico de onde vêm. Nunca como agora as RI foram
tão internacionais.
3) O que se verificou também foi uma certa desterritorialização da política internacional e dos
atores, sendo que muitos deles nem têm existência física, mas com um grande impacto.
Muitos dos acontecimentos e dos processos também são virtuais. Isto significa que de facto a
política internacional é cada vez mais uma rede complexa, o novo pano de fundo. A luta pelo
poder, entre os atores dessa rede, faz-se também pelo domínio desmaterializado. Muitos
desses atores são transnacionais, não tendo por vezes sequer uma sede, por exemplo.
4) Alteração da política militar: por vários meios sofisticados, como os satélites, tem-se à partida
logo, quando se vai para o campo de batalha, uma noção do terreno onde irá acontecer. Há
muito mais informação e tecnologia durante conflitos. Há uma maior precisão na capacidade
de destruição, mas também muito mais letais. Mas isso mudou a maneira de fazer guerra, não
só do ponto de vista operacional mas também do ponto de vista estratégico. A sofisticação
tecnológica permite que atores não estaduais que não estão ligados a organizações ou direito
internacional usem essas armas (e por vezes nem armas - por ex carros) para fazerem uso.

41
Guilherme Echeverri
Surgem então outros atores internacionais. As sociedades são mais abertas e cada vez mais
susceptíveis a um tipo de atuação e é por isso que o terrorismo tem tanto sucesso.
5) Em última análise, tudo isto prende-se à questão da credibilidade - é um atributo que sempre
foi muito importante para qualquer líder político ou comunidade. Fama e visibilidade também
sempre foram importantes, mas agora são muito mais importantes que nunca, porque a
reputação é muito importante. Portanto, a luta poder deixa de ser tanto pelo hard power, mas
sim pela influência, pelo soft power, adquirindo este uma preponderância por efeito desta nova
natureza da globalização. Os atores têm melhor reputação e credibilidade conforme a sua
imagem, sejam ou não Estados - portanto, a competitividade faz-se muito a este nível. Muitas
vezes pequenos atores sem capacidade material têm uma grande influencia porque são muito
reputados. A credibilidade tem também a ver com a capacidade de editar bem a informação
que se vai espalhar, de escolher o que interessa e não interessa. Para compreendermos a
realidade internacional, temos que perceber o paradoxo da abundância - a informação é tão
ilimitada, que não há ninguém que consiga absorver, trabalhar toda a informação. Assim, o
que interessa? A fonte de poder encontra-se na capacidade de se ser editor da informação e
da comunicação.

O neo-realismo
por Kenneth Waltz
“Because States exist in a self-help system, they are free do to any fool thing they care to, but they are likely
to be rewarded for behavior that is responsive to structural pressures and punished for behavior that is not.”

O patriarca do neo-realismo é Kenneth Waltz, com a sua obra Theory of Internacional Politics em
1979. Nesse ano, é evidente que a détente já não estava a funcionar, sendo que entramos
novamente num período de rigidificação do poder bipolar, com um aumento de tensão na política
internacional. Muitos autores usam a expressão de “Segunda Guerra Fria”.
Encontramo-nos agora com dois líderes diferentes: nos EUA Jimmy Carter é substituído por
Ronald Reagan; na URSS, temos três líderes Brejnev, Andropov e Chernenko, o que demonstra
que na década de 80 já se começa a notar que a URSS já estava em decadência. Em 85 que
Gorbachev sobe ao poder.
Waltz apresenta uma verdadeira teoria geral sobre a política internacional e que é realista, dando
uma explicação mais abrangente e mais complexa sobre a política internacional. Este autor diz
que Morgenthau, quando escreveu a sua obra, na verdade não estava a oferecer uma verdadeira
teoria geral das Relações Internacionais, mas sim uma teoria que trabalhava muito do nível de
análise do interesse nacional, da política externa.

42
Guilherme Echeverri
O neo-realismo, por outro lado, trabalha sobre o nível de análise da estrutura internacional - o
nível sistémico. A estrutura internacional trata-se da distribuição do poder (na guerra fria é
bipolar). A maneira da ação dos atores está condicionado por essa distribuição.
Reviver a tradição realista:
Metodologicamente sistematizando-a e tornando-a uma teoria geral, mais rigorosa e coerente:
focando o nível sistemico e a estrutra do sistema internacional.

Componentes do sistema internacional (terceira imagem):


Estrutura + Unidades interativas
Para definir a estrutura do sistema internacional temos de concentrar exclusivamente na forma
como elas estão posicionadas e se situam em relação umas às outras > Visão puramente
posicional das unidades no sistema internacional - não importam tanto as características internas
dos Estados, o seu regime, as suas motivações.

Determinismo Estruturalista
Primado da estrutura: tipo de estrutura determina o tipo de relações/processos que se
desenvolvem entre as unidades.
1. Poder como meio (capacidade relativa) e Segurança como fim
2. Causas são estruturais, isto é, bi-direccionais (e não apenas internas)

Distribuição relativa do poder:


Estrutura do Sistema (a mais profunda, mas transformável) - Anarquia (desde o tratado de
Vestfália) - no entanto, mesmo que não tenha mudado, isso não quer dizer que não haja
mudanças, mas são mudanças mais incidentes na estrutura polar.
Estrutura dentro do Sistema (Polar) - Equilíbrio do poder

Importâncias das constantes e regularidades - Explicar e Prever

Mudanças vs. Transformações

Procura-se uma maior cientifização da política internacional, sempre tendo no centro o poder. Os
neo-realistas continuam a dar importância àquilo que é num sentido material.

43
Guilherme Echeverri
O fim da História?
por Francis Fukuyama

Francis Fukuyama
1989 é um ano onde os acontecimentos possuem uma série de características que não são
explicáveis pelo neo-realismo. Há um novo líder do partido comunista soviético – Mikhail
Gorbachev – que chega ao poder em 1985. Não era muito bem conhecido internacionalmente. No
final da década de 80 a Guerra Fria está no fim e podemos afirma-lo devido aos acordos de
redução de armamento. Os acordos anteriormente estabelecidos só visavam a limitação do
armamento, estes novos implicavam a destruição de armamento. Do ponto de vista político,
A vitória incontestável do liberalismo político e económico é evidente nas seguintes duas
constatações:
- no total esgotamento de alternativas sistemáticas ao liberalismo ocidental
- na expansão mundial irresistível da cultura ocidental do consumismo e da modernidade

A noção do fim da historia não é uma noção original


Assenta na dialética do idealismo hegeliano
Marx como o grande divulgador da noção

LER ARTIGO DO FUKUYAMA DA SEBENTA

Os novos conflitos por procuração começam a ter resolução devido à nova empatia e confiança
entre os novos lideres das superpotências. Pela primeira vez desde a IIGM, a US permite eleições
semi-livres na Polónia. Sucessivamente os países da europa de leste começaram a impor-se
contra a US. Ironicamente, os países de leste auto designam-se por democracias populares.
Francis Fukuyama tenta encontrar uma explicação para o final da Guerra Fria publicando um
artigo chamado “O fim da história?”. Tenta tornar inteligível os acontecimentos que ao principio
não pareciam estar ligados, mas que na verdade radiam na mesma explicação.
Francis diz que estes acontecimentos se explicam como a história tendo atingido o seu ponto final,
estando diretamente associada à vitória incontestável da democracia liberal quer enquanto
ideologia, quer enquanto forma de governo e modo de vida. Em 1989 não há alternativas
ideológicas à democracia liberal. As duas constatações confirmam que se atingiu o ponto final na
evolução ideológica da humanidade. A democracia universalizou-se como forma final de governo
humano. o que se verifica também é que o triunfo da ideologia trás também um regime político e
uma forma de estar. A história acaba porque deixa de existir um debate ideológico. Fukuyama
refere-se ao fim da Guerra Fria e à globalização. O modelo da globalização é ocidental e

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Guilherme Echeverri
democrático. O fim da história não significa que não ocorrerão mais acontecimentos
internacionais, quer sobretudo dizer que o triunfo de uma ideologia e de uma forma de governo se
realizou em 1º lugar no plano da consciência, isto é, no domínio das ideias, todavia ainda se
encontra incompleto num mundo real ou material. Existem, porém, fortes razões para acreditar
que a médio e a longo prazo esta ideologia e forma de governo também determinará o mundo
material. A história e a humanidade evoluem primeiro no plano das ideias e da consciência. O que
diferencia a evolução da humanidade quando ela se organiza em comunidades políticas é a
razão. Sabemos que a história evolui e há progresso quando há dialogo, confronto e debate por
meio da razão. O final da guerra fria é o triunfo de uma ideologia sobre a outra.
Para Hegel a história dá-se no plano das ideias e de forma dialética, no entanto, vai sempre
avançando entre ricos e pobres. No final do século XIX e XX vai ser dominado por uma visão
marxista da história períodos de contradição/conflito. A evolução da história foi marcada por esta
contradição essencialmente material.
Fukuyama nega esta conceção, afirmando que tudo se dá no plano ideológico, pode partir da
dialética, mas dá-se essencialmente através do motor da história e ideologia. O fim do conflito
entre ideologias, ou seja, o fim do motor da história marca o fim da história. Há uma manifestação
material de uma dialética que se iniciou no plano ideológico, com o facto da maioria das pessoas a
nível global preferirem o modelo democrático liberal
O alcance da tese de Fukuyama aparece como o regresso do idealismo porque esta tese não tem
a ver com poder, mas sim com ideias. O regime político humanamente mais perfeito é a
democracia.
Os países e atores que já funcionam na lógica que é o triunfo da democracia liberal já estão num
mundo pós histórico, que é um mundo que já encontramos em várias partes do globo, traduz-se
num modo de vida que não gosta e recusa o conflito na sua manifestação material - a guerra. Este
mundo não quer a guerra. Nesse mundo a política é feita muito à semelhança da proposta da
integração europeia - a política não é uma coisa de paixões, que não se compadece com
instrumentos como a guerra, que a política não tem a ver com princípios, convicções, valores,
nada disso tem lugar nele. O que é importante é o bem estar, a busca de consensos, a
negociação ou a diplomacia, o modo de relacionamento entre atores que suscita essa
cooperação, isto é, o comércio…
Não quer dizer que de repente se deixem de dar acontecimentos internacionais, o que acontece é
que a política muda de natureza e o mundo também. O homem do mundo pós-historico é um
eurocrata, o homem que é sobretudo um funcionário administrativo que se preocupa com o calibro
das coisas e com a mecânica eficiente e que acha que tudo pode ser natural e que é possível
encontrar consensos e tudo é negociável e que com eficiência se vai afastando o conflito, as
diferenças… De alguma forma, despeja o homem e as comunidades políticas de ideais - este é
um mundo de bem estar e prosperidade.

45
Guilherme Echeverri
Num mundo histórico, a política dá-se por meio de conflitos. No mundo pós-histórico, trata-se mais
da cooperação, mas o conflito não é posto de parte, embora do ponto de vista do instrumento é
ilegítimo.

Não sabendo ele se o motor da história vai arrancar de novo ou não, sob condição de aparecer
outra ideologia de concorrer com a democracia liberal, de alguma maneira tenta dar replica a uma
série de criticas. A democracia não é capaz de dar resposta a tudo, não responde a todos os
anseios e expectativas das comunidades humanas. Há uma série de problemas, que advém dos
homens viverem em comunidade, que a proposta e a metodologia da democracia liberal não dá
uma resposta ótima.

Que contradições não foram ainda resolvidas pelo liberalismo?


1) O Fundamentalismo Religioso, que implica um estado teocrático
2) O nacionalismo

Quais as implicações do fim da história das relações internacionais?


- Nova divisão política (O Mundo Histórico vs. o Mundo Pós-Histórico)
- Novo tipo de política internacional (O Mundo Pós-Histórico como Ilhas de Paz)

O que isto revela é que a democracia liberal dá-se mal com composições totais ou radicais/
extremistas. O fundamentalismo religioso, por ex, não está disposto a negociar as suas
convicções, logo não é compatível com o democrata.

Estando a história parada, porque não há uma alternativa à democracia liberal, nada garante que
estas contradições não possam de alguma maneira reiniciar o motor da história.

O Choque das Civilizações


por Samuel Huntington
Foreign Affairs, Verão 1993, pp. 22.49

Quando Huntington publica o choque das civilizações, não apresenta o argumento do nada. Este
é um argumento que tem que ser entendida através de aquilo que é a proposta de Fukuyama.

A tese avançada por este autor é: o conflito civilizacional como última fase da evolução no
mundo moderno. Logo, não nos encontramos, como Fukuyama afirmava, no fim da história;
ainda estamos no mundo histórico, na sua fase final. É um argumento naturalmente pessimista,
como todos os que são realistas.
46
Guilherme Echeverri

Isso quer dizer que, de alguma maneira, o conflito na política internacional muda de rumo, tem
novas características, mas continua a ser o seu elemento central. Tem sido assim no mundo
moderno, desde Vestfália. Temos assistido a várias fases do conflito no mundo moderno.

Quais foram as fases das Relações Internacionais centradas no conflito?


- Até ao séc. XIX, os conflitos realizavam-se sobretudo entre casas reinantes/dinásticas, isto é,
entre príncipes. Por exemplo, a sucessão ao trono (como a guerra da sucessão espanhola) ou
os casamentos entre príncipes e princesas, que representavam uniões políticas.
- A segunda fase vai associar-se a conflitos entre Estados-nação, a partir do séc. XIX. Com as
vagas revolucionários, com elementos liberais e das nacionalidades, mostra isso.
- A partir do séc. XX, o padrão é essencialmente ideológico - razões de poder associados ao
critério ideológico.
- Com o fim da guerra, há um novo padrão para compreendermos a dinâmica do conflito - é o
padrão civilizacional, da cultura.

Civilização ⟷ Cultura

É o maior agrupamento identitário cultural.

Nós compreendemos a política internacional ainda pelo conflito, mas com um padrão
civilizacional.
As identidades são feitas por camadas. A camada mais abrangente é aquilo a que ele chama de
civilização.
É um padrão que não é centrado nos Estados, embora as suas fronteiras não percam importância,
mas as fronteiras determinantes são as fronteiras entre as civilizações.

Há aqui um agrupamento de identidades que passa a ser mais determinante e que são estes os
grandes atores das relações internacionais e para os percebermos temos que perceber os
processos e as consequências.

- Todas estas civilizações definem-se por objetos objetivos. Muitas deles têm elementos
comuns, nomeadamente a língua, a história, a religião, os costumes e até as instituições
políticas.
47
Guilherme Echeverri

- Para além disso definem-se por elementos subjetivos de auto-avaliação, isto é, a maneira
como a civilização se vê a si própria e se distingue face às outras civilizações.
- As civilizações não são categorias fechadas e duradouras, são sempre dinâmicas e estão
em evolução, que é caracterizada por ser lenta - é multi-secular. Portanto, temos que entender
que isto traz algum impacto à política internacional. As categorias agora mais importantes são
as identitárias e elas evoluem muito mais lentamente.

A cada civilização corresponde uma cultura e isso faz com que, tendo uma cultura própria,
cada civilização aja também de uma maneira própria/diferente. As relações tornam-se ainda
mais complexas tendo em conta os contrastes culturais. As razões dos conflitos podem ser muito
mais difíceis de resolver/negociar porque são estruturantes ao serem civilizacionais, por simples
fundamentos ideológicos, culturais, materiais, etc.

Tendo por base a constatação que as principais fontes de conflito e as linhas de batalha
serão as fronteiras civilizacionais, que não são as evidentes ou obvias, então quais serão as
razões, com final da guerra fria, que explicam porque é que é neste momento que há uma
substituição do padrão ideológico para o civilizacional?

1) As diferenças culturais são fundamentais e profundas: são diferenças estruturais, produto


de evoluções seculares; são muito mais fortes do que diferenças ideológicas ou políticas e,
apesar de não gerarem inevitavelmente conflitos, é evidente que os conflitos à volta dessas
diferenças culturais são muito mais duradouros e profundos. Exemplo: Israel e Palestina, em

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Guilherme Echeverri
que ambos reclamam Jerusalém - Israel porque, por questões de identidade, não faz sentido
que Jerusalem não seja a capital desse país e é, segundo as suas autoridades, indivisível.
2) Globalização levou à intensificação da consciência civilizacional: o final da guerra fria
coincidiu com a intensificação do processo a que chamamos globalização; o mundo tornou-se
um lugar mais pequeno e, desta forma, as pessoas passaram a ter maior possibilidade de
entrar em contacto com outras identidades culturais. O que provocou foi que intensificamos a
consciência de que o mundo está organizado em várias identidades culturais e que isso tem
várias implicações no quotidiano, o que também pode ser bom, obviamente. O choque das
civilizações também emerge agora porque se tomou consciência das diferenças civilizacionais.
3) Modernização afasta as pessoas das suas identidades permanentes: a globalização não
é apenas uma homogeneização cultural, ela traz também modernização, que deslocaliza as
pessoas, os mercados, as comunidades. As pessoas são retiradas do seu contexto
civilizacional, com as suas identidades permanentes, especialmente quando estão mais
interligadas. Isto leva a uma reação de confirmarmos mais a nossa identidade histórica. O
choque entre identidades pode ser fonte de conflitos. O que isto significa é que as reações
demonstram isto, que no centro do mundo e das suas relações está o fator identitário.
4) Duplo papel referencial do Ocidente - modelo e objeto de reação: é o ocidente que está
por detrás da globalização, o seu molde original é ocidental, essa é a parte do ocidente como
modelo. O segundo papel é no entanto como objeto de reacção, ou seja, as alterações fruto
deste protesto altera as identidades históricas, originado uma reacção a este molde. Constitui
um paradoxo, porque quem reage acaba por estar dependente do modelo ocidental
5) Elementos culturais são menos flexíveis e susceptíveis a compromissos: as
características culturais e as diferenças são menos mutáveis e no entanto menos
comprometidas e resolvidas que as características políticas e económicas. Em conflitos
ideológicos, podemos escolher um lado, mas no choque de civilizações não o podemos fazer,
sendo que pertencemos a uma obrigatoriamente (ex: um capitalista pode virar comunista ou
um rico pode virar pobre, mas um português não pode escolher mudar e ser americano). A
religião é ainda mais fixa, visto que talvez possamos ser cidadãos de dois países com duas
nacionalidades, mas é muito difícil ou impossível ser “meio Islâmico, meio Católico”. Isto nota-
se nas organizações internacionais, quando os atores não ocidentais querem fazer ter em
conta as suas agendas, o mundo ocidental reage (no que toca ao conselho de segurança da
ONU, por ex, muitos países não ocidentais reclamam uma reforma e um lugar nele, ou o FMI,
de liderança ocidental).
6) Regionalismo económico de base cultural: os blocos comerciais ou organizações regionais
ganham mais importância muitas vezes que as organizações internacionais, visto que estes
blocos reúnem uma identidade comum.

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Guilherme Echeverri
O que Huntington vem dar a entender é que a principal linha de batalha é “The West vs.
The Rest”. Cada vez mais outras civilizações são protagonistas das RI, mas por outro
lado, o ocidente continua a ser o protagonista dominante, o que quer dizer que as outras
civilizações, para adquirirem um estatuto mais relevante na política internacional têm que
concorrer com o ocidente e por isso é que isto se manifesta num choque de civilizações.

Diz Huntington: o ocidente encontra-se num momento culminante do seu poder, face às
outras civilizações - é ele que domina a política internacional, as suas instituições, a
economia internacional, a própria expressão de ordem liberal ou comunidade
internacional são eufemismos para se referir àquilo que é o predomínio ocidental.
No entanto, por causa da globalização, as restantes civilizações estão a adquirir um
crescente protagonismo e são cada vez mais capazes de rivalizar/competir com o
ocidente.
Isto foi em 1993, hoje em dia, passado 24 anos o ocidente sente a pressão de novos
países emergentes (ex: China, India).

Quais são as potenciais fontes de conflito entre o ocidente e o mundo?


- Diferenças militares, económicas, institucionais…
- Mas são também diferenças culturais, imateriais - valores, princípios, crenças, regras.

E se a cultura ocidental está a gerir o mundo, a verdade é que de alguma maneira, a


rivalidade entre estes dois lados faz-se dos dois domínios.

Face a este predomínio ocidental, as restantes civilizações têm três tipos de estratégias
possíveis para responder a esse predomínio do ocidente:
- A primeira estratégia é a do isolacionismo (como a Coreia do Norte e a Birmânia);
- A segunda é a de aliar-se ao ocidente, aceitando as suas instituições e a dos seus
valores (como o Japão);
- A terceira estratégia é de modernização, mas não aceitaram os seus valores (como a
China e Irão).

As civilizações
Ocidental; Confucionista; Japonesa; Islâmica; Hindu; Eslava-ortodoxa; Latino-Americana; Africana.

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Guilherme Echeverri
A política pós-Guerra Fria é a Síndrome do País Irmão - não só dentro das civilizações como
entre civilizações. Para compreendermos as dinâmicas das alianças, temos que perceber a
proximidade civilizacional. Já não é por interesse como nos realistas ou pela cooperação e valores
como nos liberais.

Os países dilacerados (thorn countries)


São países que tendo um certo nível de homogeneidade cultural se dividem no entanto de saber
se no ponto de vista da sua posição internacional, devem pertencer a uma determinada civilização
ou a outra. Esses países normalmente situam-se em fronteiras menos nítidas entre civilizações,
referindo dois casos flagrantes: Turquia e Rússia. O primeiro tem estado dividida em encostar-se
mais para ocidente ou para a civilização islâmica. O segundo, líder da civilização ortodoxa,
também tem hesitado do ponto de vista do seu posicionamento.
Estes países são essenciais para a compreensão das dinâmicas da política internacional,
nomeadamente as dinâmicas geopoliticas. Estes países dilacerados, face ao desafio da
redefinição internacional, tem de preencher requisitos para mudança muito complexos:
1) O processo de redefinição tem que ser liderado pelas elites políticas e grupos económicos;
2) Tem que ser o público em geral a reunir consenso sob esse processo de redefinição;
3) A civilização acolhedora (ex: a Europa face à Turquia) também tem que reunir consenso.

Limites da tese:
• Diferenças civilizacionais são realmente importantes
• Conflitos civilizacionais serão dominantes
• Globalização levará a um crescente protagonismo do “rest of the world”
• Reforço regional das instituições internacionais
• Conflitos civilizacionais têm maior potencial de duração e contágio
• Eixo principal das relações internacional: the west vs. the rest

Huntington oferece uma análise que põe em hipótese este eixo principal.

Poder e paraíso
Robert Kagan, Policy Review, nº13, June/July 2002
“Of Paradise and Power”

Este é o debate, a nível das Relações Internacionais, causado pelo 11 de setembro de 2001, que
tem a ver, claro, com aquilo que tem a ver com a resposta a esse acontecimento. Esse debate,

51
Guilherme Echeverri
muito intenso, vai culminar também com a intervenção dos EUA no Iraque. Que resposta? E a
de quem? Trata-se do Ocidente, do mundo livre - a civilização ocidental.

É tempo de deixar de fingir que os europeus e os americanos, ambos supostamente do Ocidente,


partilham a mesma visão do mundo ou até o mesmo mundo. O que Kagan vem dizer é que não
talvez não haja mais um só Ocidente - talvez tenhamos que falar d’OS ocidentes.
Sobretudo é preciso assumir que as suas perspetivas sobre a magna questão do poder/força -
da sua eficácia, da sua relação com a moral e do seu efeito de atração - são divergentes.

O que ele nota em 2002, é que os europeus e os americanos estão de acordo em poucas
coisas e compreendem-se cada vez menos (fazendo uma analogia, os Europeus seriam Vénus e
os Americanos seriam Marte). Diz Kagan, que estes se distinguem e distinguem-se bem no que
toca à sua visão perante o poder, seja no que toca à natureza, seja face às implicações do uso do
poder.
Para Kagan, os motivos de desentendimento transatlântico são profundos, há muito que estão
em desenvolvimento e é provável que venha a perdurar. Quando se trata de estabelecer
prioridade nacionais, de identificar ameaças, de definir desafios e de arquitetar e pôr em execução
políticas externas e de defesa, os EUA e a Europa seguem caminhos diferentes.

Isto implica que seja aberta uma nova grelha de análise. Passamos de “The West vs. The rest”
para “America and Europe and the New World order” - o subtítulo do seu livro.

Enquanto os americanos, face ao 11 de setembro, partilham uma perspetiva mais agressiva, de


intervenção militar, os europeus preferiam a diplomacia.

É importante notar que há americanos e europeus que não concordam totalmente com esta
divisão - mas realmente, intelectuais reconheciam-na, bem como os mais exagerados ou
moderados perante a visão um do outro. “Muitos americanos (…) sentem o mesmo desconforto
relativamente à dureza da política externa americana que qualquer europeu; e alguns europeus
valorizam a força da mesma maneira que qualquer americano”.
O próprio autor admite que faz uma simplificação e até ironiza a situação - quando caracteriza os
EUA fá-lo de uma perspetiva europeia e quando caracteriza a Europa fá-lo de uma perspetiva
americana. “Como é evidente, esta descrição é uma caricatura, com toda a carga de exagero
e de simplificação excessiva que ela implica.”

52
Guilherme Echeverri
A Europa nesta nova era
A Europa está a virar costas ao poder, ou melhor está a caminhar para além dele, está a caminhar
rumo a um mundo que é um mundo que se caracteriza pela auto-contenção, ditado por leis e
regulamentos, às quais os países europeus obedecem. É um mundo que deve dar destaque à
negociação, à cooperação, ou seja, um mundo que Kagan vai caracterizar, no seguimento que
tinha sido a argumentação deixada por Fukuyama, como um Paraíso pós-histórico - um lugar ,
um paraíso de paz perpétua - uma espécie de federação mundial de repúblicas, que teria como
objetivo no futuro erradicar o conflito na política internacional. Em suma, preferem à persuasão à
coação.
A Europa está convencida de que deve abordar de maneira mais sofisticada e flexível para os
problemas internacionais e que se deve ser tolerante perante o fracasso - por ex. se as
negociações falham, deve-se tentar de novo. Este mundo pós-histórico defende que não se deve
recorrer ao conflito. Tentam influenciar os outros por meios subtis e indiretos.
O internacionalismo, em que as soluções devem ser internacionais, e o multilateralismo, que
assenta em organizações internacionais que implicam o consenso e a cooperação de vários
estados, são cruciais neste contexto.
Também a integração económica e o comércio são essenciais para a Europa, daí o mercado
comum existente com a União Europeia. Por outras palavras, tentam utilizar os laços comerciais e
económicos para aproximar os povos.
Além disso, a opinião pública tem um papel muito importante, sendo que a diplomacia deve ser
aberta a esta. “Apelam com mais facilidade para o direito e para as convenções internacionais,
assim como para a opinião internacional, para a resolução de diferendos.
Além disso, falamos de importância dos meios, que têm mais valor que os fins (“os métodos
podem induzir resultados”)
Esta recusa do poder é uma recusa que parte do principio que não usar o poder é melhor que o
usar e que fazer diplomacia é melhor que fazer guerra (cooperação e negociação).

Os EUA nesta nova era


Os Estados Unidos continuam atolados na História, um pouco à barbarie. Neste mundo, a
segurança e o poder, bem como a defesa e promoção de uma ordem liberal continuam a ser
centrais, estando por isso dispostos a recorrer ao poder como instrumento da política internacional
com muito mais facilidade. Para ele, continuam a depender da força militar e da detenção. “Os
EUA recorrem mais facilmente à força e têm menos paciência para a diplomacia.”
É também uma visão de grande ceticismo internacional, de grande desconfiança face às
organizações internacionais e ao direito internacional, que limitam o poder dos grandes. Isto
porque o mundo é um mundo que se divide entre o bons e os maus, amigos e inimigos, e portanto

53
Guilherme Echeverri
ou estão connosco ou estão contra nós, tal como discursou o presidente Bush a 12 de
Setembro de 2001.
No fundo esta visão é de um mundo hobbesiano (anárquico) que olha com grande desdém para
a cenoura e prefere o bastão - quando confrontados com adversários potenciais, preferem a
coação à persuasão, dando mais valor às sanções punitivas do que aos incentivos para um
melhor comportamento. Querem ver problemas resolvidos, eliminar ameaças: por outras palavras,
se têm o poder necessário para a eficiência, o que se tem que procurar é resultados concretos.
Para realizar o seu interesse, os EUA não precisam dos outros, adotando uma política de
unilateralismo. Quem tem poder, pode dar-se ao luxo de usá-lo, sobretudo se tenho muito poder.
Lembre-se que a distribuição do poder é unipolar com o final da guerra fria e a queda da URSS.
Sentem-se menos inclinados a cooperar com a ONU e a reger-se pelo direito internacional e têm
menor propensão em cooperar com outros países na prossecução de objetivos comuns. Isto trata-
se de uma consequência

O problema surge quando as perspetivas olham uma para a outra. A Europa olha com um olhar
profundamente crítico para os EUA e os EUA olham para a Europa como se fossem uns fracos.
Por ex, face a intervenção no Iraque, a Europa ficou muito mal impressionada.

Robert Kagan chama à atenção, então, de que temos dois Ocidentes, que são caricaturados desta
maneira. Podem ser semelhantes a níveis de valores ou cultura, mas a nível estratégico é
completamente diferente.

Para exemplificar a diferença entre a Europa e os EUA face ao poder e à força, Kagan fala do
bombardeamento do Iraque, do Afeganistão e do Sudão pela administração Clinton, algo que os
governos europeus não teriam feito. Falamos dá década final do século XX, o que mostra que a
divergência vem de trás.

Qual a fonte destas diferenças?


1. Equilíbrio do poder - razões materiais (Poder): da distribuição desigual do poder, que foi
aumentando entre os EUA e a Europa, com o final da Guerra Fria (por exemplo, a Crise do
Iraque é a contestação do resto do mundo face à unipolarização americana);
2. Perspetivas dispares - razões culturais (Cultura): associado à distribuição do poder, aparece
sempre um elemento imaterial, que tem a ver com a perspetiva e a maneira como se analisa
as coisas. Tratam-se dos pontos de vista díspares entre os EUA e a Europa.

Isto só pode ser compreendido pela evolução histórica dos últimos anos 70 anos, que vai
dando sinais e mostrou que estas diferenças se foram acentuando progressivamente. Com o final

54
Guilherme Echeverri
da Guerra Fria, estas tornaram-se gritantes. Um exemplo é a crise do Suez em 1956, que deu
logo sinais de este fenómeno. A Europa, de repente, passa a precisar da ajuda dos EUA para ter
projeção.

“Two centuries later, Americans and Europeans have traded places (no poder) and perspectives
(na cultura estratégica). This is partly because in those two hundred years, and specially in recent
decades, the power equation has shifted dramatically”.

Esta transferencia de poder tem um impacto enorme na forma como americanos e europeus
olham sobre o poder. Aqueles que têm poder não fazem cerimónia em usar o poder e fazem-lhe
recurso colocando o como central na sua analise. Aqueles que não tem ou esta a perder o poder
olham para a realidade internacional tentando colocar outros elemento no centro.

Com o final da guerra fria, havia uma visão bastante otimista no mundo, de alívio face ao final da
ameaça nuclear, de um mundo livre, com um modo de vida pacífico. Por outro lado, com o 11 de
setembro, pôs-se um ponto final nesta visão otimista. O que teria acontecido? Há alguém que
ainda acha que a violência é um meio legitimo?

Divergente visão e exercício do poder


“A Psicologia do Poder e da Fraqueza”
I) Unilateralismo: quem tem poder pode (legalidade) e deve (legitimidade) usá-lo a seu
belo prazer.
II) Definição de Ameaças: a forma como ambos olham para as ameaças. No fundo o que
chama a atenção é que, por razoes históricas, a Europa tem uma visão muito mais relativa
face às ameaças, porque durante séculos este continente viveu em ameaça; já os
americanos, têm uma conceção muito mais absoluta - uma segurança perfeita - e os seus
dilemas de segurança não são os mesmos de qualquer país europeu. Os americanos
sentem que estão seguros em relação à ameaça, porque têm muito poder e podem reagir,
os europeus sentem que estão quase seguros, porque não têm tanto poder e devem ser
mais calculistas.

Novo Idealismo Europeu (transcendência do poder) vs. Xerife americano (poder)

Por exemplo, na situação da intervenção no Iraque, os europeus ficaram chocados, pensando que
só porque têm poder, não podem invadir o pais assim; os americanos, pelo contrário,
questionavam o porquê desta opinião, visto terem mais poder para fazerem o que querem e o que

55
Guilherme Echeverri
devem (legalidade e legitimidade). Para a Europa, o unilateralismo é infame, para os americanos é
natural.

- EUA, que garantiram à Europa a passagem para o paraíso, encontram-se entre o paraíso e o
poder, i.e., prisioneiros da própria história
- EUA/Europa: mesmos fins, meios diferentes, perspetivas estratégicas divergentes.

Metáfora da professora: Numa floresta existia um urso terrível e os aldeões viviam aterrorizados
pelo urso. Um dia decidem confrontá-lo e parar de viver em medo que o urso saia da orla da
floresta para os atacar. Os aldeões escolhem um rapaz viril e dão-lhe uma faca para matar o urso.
O jovem, corajoso mas atemorizado, decide qual a melhor estratégia para utilizar. Em vez de ser
surpreendido pelo urso, vou esperar que a ameaça se realize em condições controladas. Mas
simultaneamente, numa aldeia vizinha, os aldeões armam fortemente um outro homem, que tem
uma nova flexibilidade para vencer a ameaça. E como tal vai, de peito aberto, atacar o urso.
Imaginemos que a primeira aldeia é a Europa, sem armas e sem poder militar, que tenta relativizar
os problemas e só ao cúmulo é que ataca. Na outra aldeia, a América, não há medo, há domínio
de decisões e por isso eliminam da forma mais eficaz possível. Estas são as diferentes
psicologias do poder.

PARTE DO FUKUYAMA DO HEGEL – IMPORTANTE

Se se explicasse quem era Robert Kagan logo à partida, isso poderia influenciar a forma como
estamos a ver a teoria. Ele é um neoconaervador - uma visão doutrinal sobre a política americana,
mas que também pode ser aberta à política internacional.

O neoconservadorismo traz consigo uma certa narrativa sobre a política internacional, mas ele é
uma doutrina. Aquilo que vai ser a resposta americana ao 11 de setembro vai misturar elementos
realistas com elementos idealistas, liberais e ideológicas. O neoconservadorismo trabalha com
elementos tanto realistas como da escola idealista.

É por isso que Robert Kagan quer chamar à atenção, para explicar que na verdade para
compreendermos aquilo que é a politica que está a ser desenvolvida no pós 11 de setembro num
contexto de distribuição unipolar só pode ser compreendido se tivermos em conta que o poder é
importante, mas também é preciso perceber que há em simultâneo elementos culturais e
ideológicos importantes.

Isto traz consigo associado uma série de problemas, como o uso do poder de forma unilateral.
Para os EUA e a administração Bush, uma vez que o país procura fins que internacionalmente são
bons, ou seja, bons para a comunidade internacional (expansão da democracia). Se o fim é bom
faz sentido que eles usem esse poder para um fim que é bom. É isto que a visão agora europeia
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Guilherme Echeverri
que é mais idealista não consegue aceitar. Qual é o problema? (da relação entre os meios e os
fins). A Europa acha que as coisas boas surgem para lá do poder.

A Europa também procura a expansão da democracia liberal. O que o Kagan está sugerir é que os
europeus ao entrarem na pós história, deixam de reconhecer a necessidade do poder e portanto
tornaram-se muito críticos do poder e rejeitam no como instrumento da política internacional. Ora,
os EUA dizem que é fácil aos europeus criticarem o poder e estar para la do poder, porque não o
tem e também não precisam de o ter porque os EUA protegem-nos, eles não sentem essa
necessidade. Essa necessidade da europa é colmatada pelo exercício de poder que os EUA
fazem em proteção da própria europa. Há uma espécie de irritação nesta leitura americana na
atitude dos europeus, eles não devem ter esta visão tao crítica tendo em conta o estado do seu
poder.

A europa tem estado protegida dos efeitos da anarquia porque os EUA desde que se tornam
líderes do mundo ocidental, eles tem garantido à Europa a proteção dos efeitos da anarquia. Na
verdade, a Europa passou para o paraíso porque os americanos o permitiram; essa passagem foi
possibilitada por eles. Precisamente para permitir aos seus aliados que vivessem em paz e
estabilidade, os americanos não se puderam dar ao luxo de fazer essa passagem, portanto os
EUA encontram.se numa posição bem mais complexa: entre o poder e o paraíso.

Para garantirem que um mundo que ainda esta na história não ponha em causa aquilo que é o
adquirido do mundo da pós história e preciso garantir que o líder EUA não saia completamente da
história e continue a proteger esse mundo. Os EUA estão aprisionados entre a história e a pós
história.

É muito difícil saber navegar com sucesso entre estes dois mundos: aquilo que são regras,
exigências e expectativas do mundo histórico mas ao mesmo tempo continuar a ter uma voz no
mundo histórico. Portanto, no fundo tem cabido aos EUA nas ultimas décadas por um aldo
defender, promover e acatar as regras, os princípios e os valores das sociedades mais
avançadas, isto e, do mundo pós histórico, mas simultaneamente estar sempre pronto a usar o
seu poder militar atividade ou de dissuasão, contra aqueles que querem por em causa esses
valores, regras, e princípios kantianos.

Aquilo que os EUA não acham que é arrogante, os europeus vão achá-lo com mais facilidade.

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Guilherme Echeverri
A ordem mundial (jéssica)
Henry Kissinger, “World Order”, Setembro 2014

Constatação: a (des)ordem Mundial atualmente em vigor está em crise profunda

Interrogação: Regiões com culturas, histórias e teorias tradicionais tão diversas sobre a ordem
poderão convergir na legitimidade de um sistema comum?

Kissinger é um realista. A primeira coisa que ele diz é a constatação, ele olha para a realidade, e
consta que esta pretença ordem mundial (porque desde o início da década de 90 os analistas
andam a falar de ordem mundial, mas na realidade nunca se notou uma verdadeira ordem
mundial). Estamos a falar como se houvesse uma nova ordem, mas regras, mecanismos e
instituições mantiveram-se os mesmos. Essa ordem liberal depois da guerra fria era a mesma que
vigorava na política internacional depois da WWII.

O que Kissinger diz é que a partir de 2001 é que essa ordem começa verdadeiramente a vigorar.
Há também uma redistribuição do poder no sentido de um novo equilíbrio de poder, no sentido de
uma dinâmica que se está a desenvolver.

Esta ordem mundial que andamos a falar tínhamos sempre de a adjetivar como ordem liberal, no
sentido ocidental. Ou seja, essa ordem liberal e agora não e bem liberal no sentido em que cada
vez mais outras culturas e partes do mundo querem ter o meso protagonismo da definição dos
princípios, regras e definições.

As organizações internacionais sobretudo as de vocação mundial nunca funcionaram tanto como


agora nem nunca tiveram tanto protagonismo e conhecidas pela opinião pública como agora e no
entanto nunca foram tão pouco evidentes como agora, na prática e naquilo que era a proposta da
ordem liberal no sentido em que já havia uma comunidade internacional. Aquilo que na realidade e
mais eficiente, são aquelas que não tem uma sede formal e todas aquelas reuniões, as chamadas
ad oc.

Em grande aprte, a eleição este novo rpesidente dos eua itrduz a constação que os americnaos já
naoestao dispsotos a apar os custos da liderança e que esta liderança dos últimos 70 anso troxue
coisas muito más, mas agora está a ahver uma redistriução destes benéficos, tbm porque a
globalização é isso mesmo.

Para além de todas caracetricas, encotnramos mais: a volatilidade, os imonderaveis, e isso mostra
que não estamos perante uma ordem. Não há uma ordem mundial porque isso implica que as
varias regiões e identidades (civilizações) partilhassem do mesmo conceito de legitimidade: a
ordem +e a ordem que se faz de acordo com as regras, prin cipios e organizações. Essa

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Guilherme Echeverri
volatirildiade causa uma desordem mundial crescente. É cada vez menos consensual o conjunto
de regras e instituições, os próprios métodos.

A ordem Mundial não é natural, nem monopolítica. É uma criação histórica, moldada pelo caráter e
as experiencias de povos concretos. Só é pos+sivel uma ordem internacional quando ela é
criadaq e moldada. Durante muitos seuclos essa ordem ew os valores eram ocidentais, so que
agora o resto do mndo não reconhece isso. Este é o problema e a nalise teórica sobre o problema
que se vive na atualidade.

Kissinger aponta apra a coexistência de quatro conceções rivais de ordem mundial:

1. Ordem chinesa – ordem imperial assente no poder ilimitado do centro, Pequim, como
centro do mundo. A rota é a partir de Pequim para Pequim.

2. Ordem islâmica – sistema de comunidade unitária assente na verdade do Corão; criação o


califado e assente numa verdade absoluta codificada ans regras do Corão. É uma visão
teovrática sorbe a ordem internacional, transformar o mundo tipo como o Irão.

3. Ordem Americana – ordem mundial assente na justexa dos rpcinicpiso demo-liberais e no


exemplo dos EUA.

4. Ordem europeia – a paz vestefaliana traduz um compromisso prático e realista, e não uma
visão moral unívoca. Realiza-se numa multiplicidade de unidades políticas, nenhuma
suficiente poderosa para derrotar todas as outras, muitas delas perfilhando filosofias e
práticas internas contraditórias (Cujus regio, eius religio), todas buscando regras neutrais
capazes de regular as condutas e mitigar o conflito.

A mecânica agora dá-se entre regiões.

O sucesso de tal empreendimento exige uma abordagem que respeite tanto a multiplicidade
da condição humana como a sua intrínseca aspiração de liberdade.

Neste sentido, a ordem tem de ser cultivada, não pode ser imposta.

Liberdade + Ordem

E isto é especialmente verdade para uma época de comunicação instantânea e de fluxos


políticos revolucionários.

Social Media não tornam a política mundial mais justa, mas apenas mais rápida e mais
complexa

Estratégia geopolítica abrangente e faseada:

I) Ordem dentro de cada região, que tem de se respeitar

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II) Ordem entre as várias regiões, com uma mecânica própria que o permita

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