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A manipulação da opinião Pública

Docente: Prof. Dr. Heitor Rocha


Discente: Gaby Alves
(CHARAUDEAU, 2016; 2006).
Sumário
 Patrick Charaudeau – p. 3
 A manipulação da opinião pública – p. 4
 A manipulação no mundo político – p. 5
 Legitimidade, credibilidade e carisma p. 6
 A encenação do drama político - p. 8
Patrick Charaudeau
● Professor emérito da Universidade de Paris-Nord (Paris XIII) e fundador do Centre
d'Analyse du Discours (CAD).
● Criador da teoria de análise do discurso Semiolinguística
 Indica que a construção do sentido e sua configuração se
fazem por meio de uma relação forma-sentido, na forma
de ação pretendida pelo sujeito-comunicante.
 Aponta para a impossibilidade de se pensar a experiência
da linguagem distante dos sujeitos históricos.
(UFF, 2023)

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A manipulação da Opinião Pública
● Manipulação ➝ múltiplos sentidos ➝ instrui-se tanto para a defesa de uma causa nobre quanto para enganar o
outro
 Pejorativo ➝ a retórica era uma arte da manipulação a ser condenada (Platão); Positiva ➝ técnica para dizer o
bem/ justo/verdadeiro (Aristóteles); Pragmático ➝ Todo enunciado é portador de um sentido implícito que o
interlocutor deve descobrir por inferência – efeito que pode resultar em manipulação (Winttigenstein); Semiologia
➝ “Todo discurso de persuasão seria manipulador” (Greimas)
➤ Deve ser vista como sentido amplo (tudo é manipulação) ou particular (variante do processo de persuasão)?
 A manipulação como ‘visada discursiva' de incitação a agir
 Todo discurso de influência é manipulador, procura criar uma opinião ou mudá-la ➝ O manipulador disfarça seu
discurso no oposto ou no favorecimento ao manipulado ➝ impressiona o manipulado, tira partido de uma posição
de legitimidade ➝ dramatiza e aterroriza ➝impede a reflexão.
 Opinião Pública➝ participação popular na criação, controle, execução e crítica das diretrizes de uma sociedade –
alimenta-se do discurso político e midiático ➤ com estratégias persuasivas
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A manipulação no mundo político
 Política ➝ relação entre entidades (estatutos e papéis sociais)
 Relações de interesses entre as instâncias (e suas motivações):
 Política (sociedade ideal); cidadã (opiniões/interesses); adversária (rivalidade/poder/promessas); mediação
(manutenção do poder - justificativa)
➣ Manipulação pelo discurso de sedução
 A fala é parte do indivíduo/o representa ➝ percepção e construção da própria imagem ➝ credibilidade –
não necessariamente o que a pessoa é, mas o que os outros acreditam ser
➣ A credibilidade , uma aposta da razão
Como você faz para ser credível?
 Que implica confiança - É uma imagem que pode ser fabricada por meio de:
o Sinceridade (aplica o que pensa ao que diz); Saber (usa a razão); Desempenho (cumpre promessas)
o O oposto o torna mentiroso

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Legitimidade, credibilidade e carisma
 Legitimidade – cumpre a lei, tem autoridade, poder de fala – diretamente ligada à credibilidade na Política
Legitimidade ➝ é transitória (época, cultura); depende da credibilidade; pode ser por filiação, especialidade, histórica,
experiência.
➣ O carisma, uma voz do além
 É visto como DOM/Graça divina ➝ na política, é autoridade irresistível, de fonte invisível, une legitimidade e
transcendental em um só ser, é energia, atrai pelo sentimento de ideal (principalmente na desgraça) ➝ faz parte da
personalidade, não pode ser adquirido.
 Carisma Religiosos (porta-voz de Deus/salvação humana) x Artístico (expressão do mundo, dualidade humana,
ídolos) x Político (poder – força de dominação- e povo – lugar de contrapoder)
 O poder legitima e busca captar o povo pelo discurso simbólico de sociedade ideal, passando firmeza
➣ Diferentes figuras (políticas) do carisma
 Messiânica ➝ caráter salvados – conservadores de tradição e valores (apela para a raiz do povo para gerar revolta)
 Cesarista ➝ caráter de força, potência, energia acima do comum, viril, onipresente, militar/esportista, contra tudo e todos,
não teme críticas – pode ser totalitarista/governo do terror ou revolucionário ‘do bem’ (Fidel Castro, Che Guevara, Hitler
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etc.)
Legitimidade, credibilidade e carisma
➣ Diferentes figuras (políticas) do carisma
 Enigmático➝ misterioso/sedutor, opõe a cesariana, não revela suas intenções abertamente, mistura de luz e sombra,
separação da vida pública e privada
 Sábio➝ Acima das contradições humanas, essência boa e sem 2ªintenção (Gandhi)
➣ A manipulação pelo discurso dramático
 Política ≠ verdade ➝é o movimento de opiniões, relaciona-se com o público pela reciprocidade (opinião/valor)
 O discurso precisa captar a audiência sutilmente – fazer o público pensar da mesma forma pela dramatização e apelo ao
sentimento do interlocutor
➣ O apelo aos sentimentos
 A força do discurso depende da carga emocional ➝ espaços público e privado, sexo, religião, poder
➤ Fatores que influenciam o emocional do discurso
 Natureza do tema – Modo de condução do discursos (palavras) – Contexto

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A encenação do drama político
 3 fases: Desordem social; Fonte do mal; e Solução salvadora e 3 tempos da dramatização:
 Descrever a desordem ➝ destaca desigualdade/ visa efeito de compaixão, indignação e angústia = questão moral (sem
exagero para não ser invalidado)/ pode provocar terror e medo (repetição e exaustão da notícia)
 Descrever a causa da desordem ➝ estigmatiza indivíduos/ designa um responsável (Política ➝ denúncia de adversários)/
desqualifica o oponente (cria a ideia de combate – inimigo – discurso acusatório)
 Reparação do mal ➝ valorização do traço comunitário – nós contra eles/ apresenta-se como herói reparador do mal/
vínculo emocional acima do ideológico/ sentimento de resolução rápida/ simbiose entre ator político e povo
➣ A manipulação pela exaltação dos valores
 Posicionamentos Esquerda e Direita ➝ variam de época, país, cultura ➝ determinam posturas ideológicas diferentes
 Várias esquerdas e direitas ➝ conceitos associados à ampla variedade de pensamentos políticos ➝ ideologias criadas na
França (séc. XVIII) ➝ busca burguesa, com apoio do povo, em reduzir os poderes da nobreza e do clero ➝ Assembleia
Nacional Constituinte para criação da nova Constituição, as classes ricas não gostaram da participação das pobres, para
não se misturar, sentaram separadas, do lado direito. O lado esquerdo foi associado à luta pelos direitos dos trabalhadores.
Assim: Esquerda ➝ promoção da justiça social; Direita ➝ liberdade individual.
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As interferências do discurso dos atores políticos: o
chão do populismo
Docente: Prof. Dr. Heitor Rocha
Discente: Gaby Alves
(CHARAUDEAU, 2016; 2006).
Sumário
 O discurso de esquerda: fim da utopia – p. 11
 O discurso de direita: fim do autoritarismo – p. 12
 Conclusão: da dessacralização do discurso político à pesquisa de uma nova ética p. 13
 A prática política ocultando o conceito político - p. 14
 Em direção a uma recomposição identitária – p. 15
 Sobre a dessacralização – p. 16
 Uma nova relação entre as instâncias política e cidadã – p. 17
 Sobre o dever dizer e o direito de olhar – p. 18
 Referências – p. 19
 Agradecimentos – p. 20
O discurso de esquerda: fim da utopia
● Ausência de referências históricas ➝ discurso sobre igualdade, luta do povo vs exploradores ➤
mudança de narrativa ➝ teor de descontentamento/ levantamento de temas de direita ➝ Economia de
Mercado em detrimento à igualdade/ nova aliança povo+elite
● Posição de Impotência contra as forças do lucro e da globalização ➝ ideias sobre restrições econômicas
a serem geridas ➤ submissão a gestores abstratos (potências estatais) ➝ perda dos objetivos
transformadores ➝ divergência dos pensamentos-base de esquerda
● Modernismo ➝ limita o poder do Estado – não defende os interesses do povo ➝ o Estado deveria
acabar – ideias liberais
● Crítica ao governo pelos próprios seguimentos ➝ questiona a soberania, aponta insegurança, censura a
globalização e critica a situação social ➝ discurso antiglobalização ou humanista

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O discurso de direita: fim do autoritarismo
● Ausência de referências históricas ➝ discurso sobre soberania, autoridade e individualismo (apropriado
pela extrema direita) ➝ autoridade sentido desfavorável ➤ 1968 ➝ De Gaulle ➝ marcado pelo desemprego
➝ revolução social/estudantil-trabalhista ➝ cunho socialista
● Fraqueza do Estado ➝ impotência em prevalecer “o que lhe é específico” ➝
Descontentamento social generalizado ➝ temas novos ➤ "redução das
desigualdades sociais“, "fratura social“, "a França de baixo" ➝ não mobiliza
o povo, apenas refugio individual/apolítico ➝ impressão de proximidade ➝
tranquilizar e seduzir
➣ Fusão do imaginário de verdade
 Esquerda e Direita ➝ Impotentes quanto às ➝ forças econômicas; defesa de interesses da classe média;
preservação da especificidade cultural; e lutas contra a precariedade
 Encontro de discurso em comum➝ centrista ➤ “Ativismo gerencial” (tentativa de unir exigências
econômicas + igualdade ➝ atributos de Direita e Esquerda, respectivamente)
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Conclusão: da dessacralização do discurso
político à pesquisa de uma nova ética
➣ Um dispositivo sem adversário
● Partidos clássicos (adversários ausentes) vs extremistas (adversários evidentes)
 A radicalização aponta culpa (mais do que propõe) e denuncia os adversários ➤ os partidos clássicos no
mesmo patamar – fontes dos males sociais ➝ auxilia o discurso ➝ supõe culpa
 Ausência de adversários ➝ ausência de culpado ➝ perda de identidade ➝ perda de elo social
● 1990➤ ideais políticos ➝ Liberalismo e igualitarismo ➝ transformação da Opinião Política em Pública ➝
reconstrução da consciência sobre outros imaginários menos antagonistas
➣Conclusão: da dessacralização do discurso político à pesquisa de uma nova ética
● Surge o Modelo de governança social democracia ➝ extremista Direita (discriminação social) e Esquerda
(uniformização social) ➝ aceita o capitalismo, mas mitiga seus efeitos adversos por meio de intervenções
econômicas e sociais ➝ promove reformas parciais ao invés de substitui-lo por inteiro.
● Regulação de conflitos de classes ➝ alternância de poder ➝ideias (identidade comunitária/valores sociais) x
peso (relação de força nos grupos sociais)
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A prática política ocultando o conceito político
● A prática política sobrepõe a política ➝ lugar de exercício do poder/influência para compartilhar as ideias e
a governança ➝ de valores simbólicos do ideal social ➤ passa a ser de fabricação de ideias ou ocultação ➝
gera insegurança ➝ ameaça o ‘bem-estar’ através do discurso (midiático e político) encenado de
dramatização ➝ aguça o imaginário ‘preservação individual’
 O discurso político segue o publicitário ‘reclame’ ➝ sugestão do benefício do produto ➤ destaque deste do
da concorrência➤ foco apenas no próprio produto como único ➝ não é mais o conteúdo das ideias que é
dado a entender, mas sua encenação ➤ é consumida por ela própria, com os diferentes sentidos de que pode
ser portadora, de acordo com os tipos de público, sem questionamentos sobre a ideologia
➣ Uma predominância do afeto
 Sistemas democráticos opera com imagem e afeto sobre razão e valores ➝ Educação cívica e política
dissolve partidos ➝ amplia a visão histórica, consciência de contexto, espaço de debate (não cego), troca de
opiniões sem insultos ➝ queda do discurso extremista ➝ voto com base na ideia não na ideologia ➝ busca
imediatismo e afeto
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Em direção a uma recomposição identitária
● Surgem índices de reconstrução de 2 discursos opostos:
1. Defesa da soberania/valores global➝ ‘viver juntos’ ➝ reagrupa entidades sociais de mesma tendência ≠
correntes➝ controlar as dissidências e enfrentar a pressão dos outros ➝ garantir segurança e liberdade da
população (UME x Dólar) ➝ não se atinge sem uma extensão hegemônica
2. Defesa de valores particularizantes/territoriais ➝ ‘fazer junto’ ➝ Subdivide partidos em correntes ligados a
um partido dominante➝ como podem resistir às investidas hegemônicas de grandes instituições
internacionais? Não seria preciso fazer o jogo dos grupos nacionais que teriam mais chances de resistir? O
"fazer junto" não deveria se incluir no "viver junto"?
➤ Esse duplo movimento acarreta um dilema: A defesa dos pequenos grupos reduz a força para lutar contra os
grandes; A defesa dos grandes grupos reduz a esperança de viver em uma dimensão humana.
 Coexistência dos 2 discursos ➝ identidade plural (múltiplas relações); essencializada (base na afinidade de
ideias); fragmentada (aceita); do "tudo é possível" ➝ recusa o autoritarismo, reivindica sua autonomia e é
humanitária
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Sobre a dessacralização
● O ideal é marcado por tensões conforme a época ➝ percepção social da natureza humana (paixões, pecado,
poder) e concepção de organização social (monarquia, império, -ismos) ➝ discurso relacionado ao sagrado
➝ elo social desinteressado/provedor do bem comum ➝ mudança de cenário ➤ dessacralização (aquisição
de saberes e possibilidade de trocas) ➝ enfraquecimento de instâncias estatais pela cidadã ➝ percepção de
um Estado ➤ sacrifica o povo pelas elites; impotente frente às potências e mercado mundiais; incapaz de
garantir os valores do povo.
 Propagação da informação ➝ atuação das mídias ➝ criação do mundo da comunicação ➝ privado se torna
público – construção do pensamento crítico ➝ não há mais distinção do saber
 Recomposição identitária e dessacralização ≠ declínio
➣ Além do discurso populista, uma nova ética
 Discurso Populista ➝ imaginário social emotivo ➤verdade racional × Sociedade midiatizada ➝ relação
entre instância pública e cidadã ➤confusão entre opinião Política × Pública ➝ A atenção do povo muda o
foco (sintoma)➤ a mídia borda a ameaça (roubo do ambulante) sem considerar a causa
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Uma nova relação entre as instâncias política e
cidadã
● Ética Política ➝ relação entre conceito político (base dos ideais) e política (prática de ajustamento a esses
ideais) ➝ pode fundar nova relação entre as instâncias política e pública ➤ moral/confiança/ a mídia como
mediadora da manutenção de promessas ➝ garantir o papel e exercício de ambas (retenção de informações
em estratégia)
➣ As condições para uma democracia popular não populista
 Instância Política ➝ Figura tutelar➤ ‘sociedade capaz de fazer sonhar’ ➝ condições à democracia popular
(≠ populista) ➝ fuga do discurso radical
 Instância Cidadã (auxiliada pela Midiática) ➝exige transparência (ofuscada pelo exercício do Poder) ➝ se
descontente ➤ abstém/reivindica em nome da consciência coletiva
➤As instâncias ➝ ligadas pela consciência política ➝ têm sua parcela de responsabilidade no regime político.
Às vezes, a Cidadã é a que paga o preço alto, bem maior que o dos dirigentes, mas é aí que está sua glória.

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Sobre o dever dizer e o direito de olhar
● Sem o imaginário de confiança não há elo social
● Diferença entre demagogia e retenção de informações ➝ acabar com a ideologia (mantida pela mídia) de
‘máscara que esconde’ ➝ O discurso é um jogo de máscaras ➝ liga as Instâncias por um contrato de
solidariedade recíproca ➝ consciência política

➤ Utopia democrática ➝ um discurso e estruturas políticas que promovesse a ética da participação ➝ dever de
dizer; saber; agir; vigiar

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Referências
▸ CHARAUDEAU, Patrick. As interferências do discurso dos atores políticos: o chão do populismo. In: . A conquista da opinião pública: como o discurso
manipula as escolhas políticas. São Paulo: Contexto, 2016. p. 67-97.
▸ CHARAUDEAU, Patrick. A manipulação da opinião Pública. In: . Discurso Político. São Paulo: Contexto, 2006. p. 298-320.
▸ THIOLLENT, M. Maio de 1968 em Paris: testemunho de um estudante. Tempo soc., São Paulo, v. 10, n. 2, 1998. DOI: https://
doi.org/10.1590/S0103-20701998000200006
▸ UFF. Semiolinguística: Sobre a teoria. Rio de Janeiro: GPS-LEIFEN, 2023. Disponível em: https://semiolinguistica.uff.br/sobre-a-teoria/. Acesso em: 20 nov. 2023.

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Obrigada!
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