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Aula 4

O povo é sempre uma unidade (populus est unum quid). Este conceito de povo distingue-se de
uma outra figura, a noção de Multitudo. Através do conceito de representação populus e
multitudo podem divergir, é um processo chave na política moderna.

No texto De Cive, se um povo é uma unidade e, portanto, não é multitudo, então quando a
multidão esta diante do príncipe, o povo é o rei. Ou seja, o povo representado é a multidão então
o rei é o povo. Neste mesmo passo, acrescenta que não há nenhuma diferença entre os regimes
políticos que conhecemos na antiguidade – república, regime popular ou aristocracia. Este
esquema de representação funciona em todos, a única diferença é que quando se trata do
regime popular o povo é a assembleia e a multidão são os cidadãos, enquanto na monarquia a
multidão designa-se por súbditos. O povo sendo sempre um “unum quid” nunca é conhecido
pela sua multiparidade. O desafio para Rosseau é pensar num mecanismo para … tem de haver
uma forma de pensar a soberania do povo sem o auxílio de um instrumento conceptual que
permitia a … pensar na soberania. Aquele passo do capítulo I do livro II do Contrato Social (“o
soberano (o povo) não pode ser representado”), poder é um poder executivo. Posso delegar o
poder no governo, mas não se pode transmitir a vontade. Transmitir o poder é delegar, transmitir
a vontade não é delegar, é dar a alguém a possibilidade de determinar através da sua vontade,
a sua própria vontade. Transmitir a vontade seria representar.

A grande questão para Rosseau é este problema como é possível pensar na soberania popular
sabendo que pensar na soberania do povo não nos autoriza a usar o processo de … para pensar
nessa mesma soberania. Quando o rei diz que “sou o povo”, no rei está a unidade política desse
povo, essa identidade é uma identidade simbólica, representativa. «Syn» (grego) significa reunir;
«Ballein» quer dizer trazer = syn ballein significa convergir. O termo que se opõe a «Syn» é «Dia»
(diaballein), separação, divide.

Esta representação é simbólica, no fundo, o rei sabe que não é o povo. Rosseau pensa na
imanência da soberania do povo, o povo é soberano e não pode ser representado por uma
autoridade simbólica, que está fora do povo. No esquema da representação o soberano é o povo,
mas a partir de fora. Para Rosseau a soberania é imanente ao povo. O grande problema é que
percebemos o enquadramento, mas como é que o povo pode exercer a sua soberania?

Podemos aferir a vontade geral (voto – mecanismo da vontade geral (vontade de todos)). A
vontade geral aferida pela vontade de todos, no entanto, os “sim” e o “não” anulam-se uns aos
outros, os restantes determinam a vontade geral. Essa vontade geral é a vontade de todos quer
dos que votaram sim, quer dos que votaram não, se alguém quiser colocar-se de parte, os outros
têm o direito de o constranger, como ele é cidadão obrigá-lo a seguir a vontade geral é obrigá-lo
a ser livre. Aqui ainda não existe o problema das maiorias e minorias. Para Rosseau só há
indivíduos, esse povo são um conjunto de indivíduos. A democracia tem que ver com a noção de
soberania do povo. Essa soberania popular seria posta em causa se houvesse partidos. Entre a
vontade geral e a vontade particular não deve haver intermediários, caso contrário a soberania
popular está em perigo.

Os oligarcas dizem que “todos” são cidadãos, mas os cidadãos têm todos o mesmo direito, exceto
os direitos políticos, implica conhecimentos, escolhas e, portanto, não pode ser toda a gente a
tomar decisões. Platão defende que todos os cidadãos, mas os sábios devem governar.

*O ódio à democracia – Jacques Ranciére


No capítulo VII do livro II surge a figura do legislador sob o modelo clássico. Esta figura aparece
convocada para resolver o problema. Se o povo é o sujeito da vontade geral, por um lado, e se
por outro é um ser coletivo então tem de haver um processo pelo qual os indivíduos que
pertencem a esse coletivo, configurem a sua vontade particular com a sua vontade geral e do
povo. No fundo tem de haver um poder de um tipo novo que vá transformar a vontade individual
de cada um, num membro, num cidadão, da vontade geral. Este poder é um poder novo porque
ele não é nem soberano nem o governo (executor), mas é no fundo um poder que se relaciona
com o povo como se fosse um deus criador, o povo enquanto conjunto de indivíduos
transformados pela natureza, conjunto coeso, reunido enquanto cidadãos numa unidade a que
se pode chamar “Res Publica”.

Que tipo de poder é este? A grande questão é que a democracia convoca este novo poder,
transformado pelos homens, o poder de intervir dentro da interioridade de cada um. Para uma
República ser possível tem de haver este legislador que vá moldar a natureza humana, criar o
cidadão, através de um conjunto de intervenções que incidam sobre a interioridade de cada um.

Como esta nova abordagem evolui? O papel dos intelectuais é muito claro, nesta figura do
legislador antecipa essa dimensão, no fundo, trata-se de criar através da educação uma nova
mentalidade.

A relação entre os intelectuais e a propaganda. O conceito de propaganda aparece interligado


ao cristianismo “propaganda fide”, neste contexto, na transição do século XVII a XVIII vai
convergir com o novo poder associado ao legislador. A propaganda cria um novo cidadão, de
certa forma a propaganda é um exercício deste mesmo poder que se articula com o poder
disciplinar do povo, tem a ver com a constituição do público. Nesta transição começamos a
assistir à constituição um espaço do público de mediação entre o Estado e o privado. Há uma
vida pública que vai ser responsável pela ideia de que há ideias novas que têm de alguma forma
ser alvo de propaganda (alargar a sua visibilidade), no sentido de educar a sociedade.

*Tese de Koselleck – Crítica e Crise

Começa a surgir a ideia de “partidos”, os designados clubes de intelectuais que tem


determinadas afinidades. São grupos de discussão, o povo é o alvo ou objeto tratado pelos
intelectuais inseridos nesses fóruns. O partido político de massas surge mais tarde. Há aqui um
certo elitismo. E, assim, se pode tentar pensar esta constituição do povo como uma unidade
política. O povo não fala por si, há no fundo esta mobilização intelectual para dar ao povo uma
vontade que tem, mas que não sabe que tem. Isto é muito importante porque podemos
surpreender duas linhas de desenvolvimento a este problema do povo como unidade política: a
primeira linha, puramente democrática, ou seja, insistir na ideia de que a soberania popular não
pode ser representada e, por isso, o povo tem uma vontade por si – populismo (a identidade
politica do povo já nasce como uma antagonização das elites); uma segunda linha, o povo se é
um conjunto de indivíduos nunca pode possuir uma vontade própria a não ser que essa vontade
seja assumida como a base de uma instituição que representa a vontade do povo – assembleia
nacional – aqui a noção é um poder constituído que representa o poder constituinte do próprio
povo, ela só exerce nele o seu poder constituinte dentro de instituições já constituídas. O povo
não é um conjunto de indivíduos, é a nação.

Aula 5
O nacionalismo pressupõe a igualdade dos nativos. A logica da segunda linha de pensamento de
Rosseau é a transformação das .. representativas, esta ideia de representação não é incompatível
com a monarquia. A assembleia nacional começa a suscitar uma dupla representação.

No século XIX podemos identificar uma linha de desenvolvimento liberal não democráticas.
Rejeita-se o conceito de soberania popular, quem assume esse estatuto é a nação, segundos os
liberais democráticas. Isto significa que quando se transita da soberania popular para a soberania
nacional, isso significa a restrição do voto.

A Democracia – Hans Kelsen

Nesse processo apesar do termo democracia ser no século XIII como um século problemático.
Com o século XIX e, sobretudo, com esta restrição do voto censitário, o que democracia acaba
por começar a significar é no fundo um princípio de legitimidade política que se vai universalizar,
a democracia começa a ser a referência política a um diálogo de rejeição ou não privilégios, um
ideal de igualdade de todos, uma ausência de privilégios, uma rejeição das monarquias
tradicionais. O termo de democracia no século XIX e XX torna-se um princípio de legitimação
política. Esse princípio deixa de ter capacidade de diferenciar ordens políticas diferentes, tudo
passa a ser um titulado democrático. Quer na ditadura quer na ordem normal pode se
autoproclamar como democrática. O nome deixa de ser diferenciador. Democracia torna-se um
nome, deixa de ser um conceito – (caso de Napoleão, legitimasse).

A democracia que até à Primeira Guerra Mundial vai atingindo um estatuto de consenso político.

O mais sentido de liberdade é o sentido negativo, o sentido de não sermos determinados por
leis que nos determina… A liberdade política pode ser entendida como uma liberdade natural?
Para haver política tem de haver determinação. E, portanto, a nossa liberdade natural confronta-
se com a política. A democracia é a negação de qualquer liberdade (?) natural, ou seja, em último
caso somos todos livres, como é possível haver ordem política?

Democracia não significa não obedecer, mas significa obedecer a mim mesma, ou seja, obedecer
a uma ordem política de cuja definição eu participo. Daqui resulta uma dicotomia que assenta
na autonomia pensada em termos políticos e não apenas em termos éticos como tinha feito
Kant. Democracia é a forma política que designa obedecer a mim mesmo. Opõe-se a uma
autocracia. O poder autocrático é o poder no qual se obedece a outrem, onde alguém por ser
alguém exerce o poder. Democracia é exatamente o seu contrário. Em Kelsen não temos uma
teoria de regimes, só existe duas formas políticas: autocracia ou democracia. Pelo termo
democracia não se define um regime, o que se define é a forma política. Esta dicotomia está
presente no prefácio da obra.

Não é nada de diferente da soberania de Rosseau. É diferente se levarmos a sério a distinção de


Rosseau entre soberano e governo. A ideia de povo soberano traduz-se no autogoverno. Ao
invocar Rosseau, Kelsen que quer levar a sério esta noção da soberania do povo como
autogoverno vai buscar um conceito que não deixa de estar presente em Rosseau como uma
espécie de espectro. Kelsen afirma que a vontade geral de Rosseau só se pode expressar como
uma vontade de maiorias, isto é, o autogoverno do povo não se pode pensar como uma
soberania popular onde não existe corpos políticos, o autogoverno funda um princípio da
maioria. A democracia, diz Kelsen, é um princípio da maioria. Falamos de maiorias e minorias,
aqui temos de pensar como é que se justifica o elemento da maioria. A legitimação da maioria
implica a legitimação do princípio da maioria.
O princípio da maioria é problemático para Kelsen. O princípio da maioria não resulta da ideia
de igualdade, como em princípio poderíamos assumir. Se assim fosse, tínhamos uma lógica de
imposição de uma força sobre outra. O princípio da maioria justifica-se em função da ideia de
liberdade. Se ser livre corresponde à ideia de ser autodeterminado, então atomiza-se a
autodeterminação. Não se trata de impor a força de uns sobre outros, trata-se de estender a
liberdade individual e estatal o mais possível. No fundo, a democracia não existe para sermos
tomados todos como iguais, tem o seu sentido na preservação do máximo de liberdade possível.

O poder que constitui as democracias, o que o caracteriza é a figura que exerce o poder – o
Estado. O Estado para Kelsen é a forma política da democracia. Se o estado não for democrático,
não é propriamente um estado. Se o Estado não for Estado de direito democrático, não é um
estado. Esse Estado significa que o poder não é identificado com ninguém, ou seja, todos estão
submetidos ao próprio estado. Os cidadãos são aqueles que se autogovernam, mas para que isso
se possa suceder numa democracia é preciso haver esta figura do Estado. O povo é na sua
unidade política, o Estado.

*Ler capítulo 2*

A dialética da Liberdade natural e política. O segundo capítulo diz respeito ao povo. O povo aqui
pode ser entendido, nesta noção de autogoverno, de duas maneiras. Como é que se pode
entender o povo como autogovernado? Se eu entender o povo como um conjunto de indivíduos,
a questão do carater unitário do povo é uma .. insolúvel, não consigo compreender como é que
…, posso fazer no máximo uma maioria, mas nunca uma unidade. Em que sentido o povo é uma
unidade? Isso acontece apenas em sentido jurídico. Quer dizer que quando falo de povo, o que
falo não é de um grupo de indivíduos, mas de atos que são regidos pela unidade da lei. Quando
eu falo do povo refiro-me aquele sistema de atos, ações que são regidas por uma mesma lei.
Cada um de nós é muito mais do que o povo. Eu sou membro do povo quando pertenço ou sou
regulado por uma determinada lei. O povo é uma categoria jurídica.

Aula 6

Numa relação de poder há sempre um polo que determina e outro que é determinado. A relação
de poder é assimétrica. A relação de poder está presente tanto na democracia como na
autocracia. Não é a eliminação desta relação, mas é uma peculiaridade da democracia que a faz
ser regida por um princípio, a liberdade.

A liberdade política não significa simplesmente não ser determinado, porque em política somos
determinados enquanto seres sociais. Somos livres politicamente quando nos
autodeterminamos. É isto que distingue a autocracia e a democracia. Na autocracia tem a sua
sustentação na ideia de representação – o monarca (pessoa ou identidade coletiva), cuja
característica é “estar fora” -, na autocracia, governante e governado não coincidem. Se por povo
nós entendemos o conjunto da comunidade podemos dizer “governo e povo são principalmente
distintos”. A democracia pressupõe o oposto, a ideia é de que há entre o governo e o governado
uma identidade. É neste sentido que Kelsen fala do “princípio do autogoverno”.

A segunda ideia de Kelsen é que esta identidade entre povo e governo na verdade é uma
identidade problemática. Isto significa que em termos quantitativos, o governo é sempre menos
do que o povo. Isto é, no conceito de autogoverno que constitui o governo democrático do povo,
aqueles que são os determinantes são sempre menos que o todo que constitui o povo. Há
sempre uma separação nesta identidade. Cada individuo situa-se diante o governo com
absolutamente determinado por esse governo. Isso é tão verdade para a autocracia como é
verdade para a democracia. Mesmo quando estamos do lado do governo (maioria), isso não
significa que a maioria seja condicionada pela vontade individual ou que eu não possa mudar de
opinião. Como nesta relação não há uma identidade material, a estrutura da condição de poder
é incondicional. Isto funda o conceito democrático de Estado.

O Estado para Kelsen é a forma política da qual governo e povo tem uma identidade formal,
nesse sentido, o Estado é sempre a personificação daquilo que posso designar “a vontade do
povo”, a lei personificada. Para Schimtt, a lei pressupõe a existência de uma ordem. A lei para
vigorar é preciso pressupor que haja ordem, mas tem como condição de possibilidade que haja
ordem. E se é assim a lei tem precedência sobre as ordens.

Para Kelsen o Estado é o nome que eu dou ao sistema normativo. Na democracia quando eu digo
que obedece a mim mesmo, eu obedeço ao Estado, neste sentido vai lhe chamar de Estado de
Direito (o democrático) que se contrapõe à autocracia. Numa autocracia não temos
propriamente um Estado, mas um estado de coisas (status). A segunda consequência é a ideia
de que se o governo são sempre menos que o povo, então temos de pensar quais são os limites
dessa pertença ao lado do governo. Ou seja, vamos chamar esta “pertença” ao governo de
direitos políticos (direito de participar na determinação do governo). A distinção de direitos
fundamentais (de todos) de direitos políticos (participar na definição das magistraturas
políticas). Nesta distinção resulta que haja distinção de limites naturais a políticos (crianças,
alienados). Pertencem ao povo, mas não ao povo ativo. Um segundo tipo de restrições são as
restrições para-naturais. Numa sociedade onde se admita que há escravos por natureza, os
escravos por definição não têm direitos políticos, isso não faz com que as democracias gregas
antigas não sejam menos democráticas, isso porque elas entendem que a … Os escravos não são
cidadãos. A questão do voto feminino igual, as mulheres não eram consideradas cidadãs. Na
modernidade as mulheres ganham o estatuto de cidadão (século XIII), mas não são cidadãs
ativas. A primeira mulher que vota em Portugal é na primeira república, mas rapidamente o
regime republicano vai restringir esse voto. O voto feminino surge novamente em ditadura
militar, porque o voto feminino numa sociedade cristã é mais restrito. A ideia de que as mulheres
tinham direitos políticos é uma ideia relativamente recente.

Não basta pensar na despropositado que há, não basta falar de costumes, o que acontece é que
mesmo que os cidadãos tenham direitos políticos, se eles forem considerados apenas como
indivíduos deixam de participar. O problema de Kelsen é, quando é que a participação individual
começa a contar?

A participação política tem de ser mediada numa relação entre os indivíduos e o Estado e essa
relação entre os indivíduos e o estado, essa relação dá-se através dos partidos políticos. Estes
são fundamentais para articular os indivíduos com o estado e, no fundo, dar consistência real à
própria democracia. Pensar numa democracia sem partidos, seria pensar num esqueleto sem
ossos. Em democracia, o Estado envolve uma variedade de partidos. Não há estado democrático
sem partidos. O descrédito do partido político não é algo recente, mas é constitutivo da própria
noção de partido político.

O que é um partido político?

Concebidos de uma forma relativamente atual, o partido político junta gente com a mesma
convicção política. Com essa convergência, essas pessoas unidas podem fazer a diferença e
determinar o próprio governo. O partido político pensado nestes termos é o resultado de uma
rejeição do princípio da representação tradicional, a ideia de soberania popular – democracia e
liberalismo – confrontam-se com o princípio de legitimidade tradicional e, portanto, nesse
sentido, democracia e liberalismo vão se contrapor à representação tradicional. O monarca em
última análise representava uma entidade que só existe se for representada, isto é, uma ideia de
unidade política do povo. Não é o povo concretamente existente, é uma entidade universal do
povo que é representada através do monarca. Quer dizer que do ponto de vista da monarquia
constitucional temos na verdade não uma, mas duas representações: representação do
universal/geral e a representação dos particulares. Um partido político que queira representar o
universal está a violar o princípio democrático. No fundo, o que Kelsen nos diz é que numa
monarquia constitucional há, por um lado, a representação do interesse geral (o bem-comum),
por outro,

A partir do século XIX surge esta dupla representação, uma representação da sociedade e uma
representação do Estado. O universal tem de ser repensado, já não é algo transcendente, que se
sobrepõe aos interesses particulares, é agora a concertação entre os interesses particulares. O
que existe é a articulação entre os particulares. Assim, surge os partidos políticos. Isto implica
uma revolução em termos metafísicos. Falar do universal como estando acima dos interesses
particulares é um pressuposto metafisico ilusório. O universal não esta na entidade
transcendente que é o Estado, mas só existe na imanência da dialética dos partidos políticos, na
influência recíproca entre estes.

Aula 7

Schmidt

Quando falamos da democracia temos a tendência de identificar a democracia como uma


espécie de “regime”, uma tendência limitada. A era democrática marca a época das revoluções
(finais do século XIII e XX), que marcam a democracia como uma espécie de … Isto é importante
porque ambos os autores têm a noção de que quando falamos de democracia falamos de uma
noção democal(?) – o princípio de legitimidade de uma época –, a democracia instala-se como
um princípio de legitimidade que cunha determinados procedimentos como sendo
fundamentais para legitimar cada forma de regime.

A ideia de que a democracia é um princípio de legitimidade global, o autogoverno, este princípio


pode ser adequado a qualquer forma política. Daí que a ditadura pode ser democrática. Com
isto, a democracia, o princípio de legitimidade democrática, como é universal, perde a
capacidade de diferenciar o que é democracia e o que não é. O povo governante é o povo
governado, a democracia é então um princípio de identidade, o princípio de que os governados
democraticamente são governados por si próprios. Coincide no povo o princípio de governante
e governado, o princípio da identidade.

O princípio da identidade é um composto do princípio da identidade e o princípio da


representação. O princípio da identidade não diz nada se não houver um tipo de representação
que operaliza essa identidade. Não há uma identidade pura. Na democracia absoluta

Schmidt converge com o Kelsen na ideia de que há uma era democrática, há que pensar na coisa
nova – o fascismo –, convergem na ideia de que a democracia funda a época. Começam a
diferenciar-se na noção que têm de parlamentarismo. Neste sentido, Kelsen numa +época por
consequência da revolução da Rússia, em que justamente há uma polémica entre aqueles que
defendem uma democracia do tipo parlamentar e aqueles que consideram que este tipo de
democracia liberal é burguesa. Kelsen defende que não há democracia sem liberalismos, a
expressão de democracia é o parlamentarismo. O que Schmidt vai desafiar é esta ligação, insiste
na ideia de que há uma relação entre democracia e liberalismo, isso não significa que democracia
e liberalismo sejam princípios políticos só distintos, mas também potencialmente divergentes.
Democracia e parlamentarismo/liberalismo têm princípios políticos diferentes. Permite a
Schmidt falar do século XIX, uma época onde vemos aparecer regimes liberais que não são
democracias – monarquia de julho (parlamentar, monárquico, não democrática porque introduz
o voto censitário) -, do outro lado temos democracias que não são liberais. Assistimos a
movimentos democráticos não liberais – comunismo -, por outro lado temos a defesa de regimes
que são liberais e não democráticos – que instauram o voto censitário. Esta noção vai permitir a
Schmidt dizer que se a democracia e o parlamentarismo são não só potencialmente diferentes e
contrapostos, mas o que justifica a legitimidade do parlamentarismo é a decisão do povo.

Parlamentarismo - é como se o povo elegesse um grupo que são uma espécie de comissários
que estão incumbidos de decidir em nome do povo.

Não é o sistema parlamentar que em si defini a democracia, pois pode existir uma democracia
antiliberal, ao contrário do que Kelsen queria.

Qual é a base para acreditar no parlamentarismo? Tem o seu fundamento num princípio
fundador – Discussão. A primeira ideia é a noção de que confrontação de argumentos
contraditórios conduz a decisões racionais;

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