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RESUMO:
Cecília Meireles
INTRODUÇÃO
PARTE I
homens democráticos, ele classifica como sendo “pessoas livres”, cuja cidade por
estes governada estará “cheia de liberdades e do direito de falar e de se fazer o que
se quiser” (PLATÃO, 2005, 557, b).
Com estas citações de “A República” iniciamos a caminhada que nos le-
vará a desvendar a origem e o significado da palavra “Liberdade”, incrustrada que
está no centro da nossa cultura ética.
Partindo de uma concepção de vida coletiva e do conceito político de do-
mínio e pela comparação entre uma polis bem governada e a alma do Homem, Só-
crates criou o conceito de desenvolvimento interior, interno ou autodomínio e que fez
surgir no idioma grego de Atenas a nova palavra enkrateia com o sentido de domínio
de si próprio, firmeza e moderação: “A enkrateia não constitui uma virtude especial,
mas [...] a base de todas as virtudes”. (JAEGER,1994 p. 549).
E é justamente a partir deste novo conceito de domínio não externo, mas
interno do Homem, de domínio não sobre os outros, mas sobre si próprio, de domí-
nio do eu interior do Homem, que se manifesta pela supremacia da Razão sobre
seus instintos e emoções, que reside e se desenvolve o socrático conceito de Liber-
dade. Deste novo conceito de “domínio de si próprio”, com o sentido de autodomínio
da razão sobre os instintos e emoções, forma-se um conceito também inovador de
Liberdade interior. E, se até então, livre era o homem que não era escravo, agora
“livre” passa a ser o Homem que deixou de ser escravo de seus próprios apetites e
de suas paixões. Para Sócrates, a verdadeira Liberdade não consiste somente na
mera independência em relação às normas existentes fora do indivíduo, mas funda-
mentalmente esta Liberdade reside na independência ou autonomia em relação à
sua parte animal, instintiva, emocional, passional, própria de sua natureza.
Para esta época clássica grega, o conceito de Liberdade tem como refe-
rência a escravatura em seus diversos aspectos ou níveis. O cidadão liberal é o ci-
dadão livre em todas as suas atitudes, sua maneira de viver, em suas diversas for-
mas de expressão que se diferenciam das de um escravo. As Artes liberais são as
que perfazem a cultura liberal, a Paidéia do cidadão livre, oposta à ignorância e
mesquinhez do homem não livre, do escravo (JAEGER, 1994). Esta autonomia mo-
ral socrática equivale assim à emancipação da razão sobre a tirania da natureza
animal do homem e à estabilização legal do espírito sobre os instintos e emoções
humanas.
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razão, ou virtude dianoética e a outra que é exercida pela razão sobre os impulsos
sensíveis, determinante dos bons costumes ou ethos-mos e por isto se chama Ética.
Esta ação moral tem como causa a liberdade da vontade, ou por outras palavras, a
ação moral é uma ação voluntária que implica a existência da liberdade de escolha,
sem o quê a vontade não seria livre, nem a escolha seria possível se a vontade não
fosse livre. Aristóteles condicionava ainda a responsabilidade dos atos do indivíduo
ou a sua ação voluntária ao fato desta ação ser interna ou racional, ter também co-
mo causa a sua vontade própria e esta ação não ser consequência de sua ignorân-
cia. Para o filósofo, segundo Chauí (2009, p.334):
É livre aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir, isto
é, aquele que é causa interna de sua ação ou da sua decisão de não agir.
A liberdade é concebida como o poder pleno e incondicional da vontade
para se determinar a si mesma, isto é, para autodeterminar-se.
realiza através da liberdade. Sem esta, tanto o uso teorético quanto o uso prático da
razão permanecem incompreensíveis. A razão sem liberdade não poderia realizar a
obrigação da lei moral. Somente sendo livre, o homem pode resistir a seus estímulos
sensíveis tanto internos quanto externos. Somente com liberdade o ser humano rea-
liza e define sua responsabilidade de ser homem, como ser racional, o que, para
Kant, equivale a ser essencialmente livre e poder agir exclusivamente com liberdade
(PEORARI, 2010). Em sua obra “Fundamentos da Metafísica dos Costumes”, Kant
(2007, p. 93) afirma: “A Vontade é uma espécie de causalidade dos seres vivos en-
quanto racionais e liberdade seria a propriedade desta causalidade, pela qual ela
pode ser eficiente, independentemente das causas estranhas que a determinam”. O
filósofo classifica ainda a liberdade como negativa e positiva, sendo que seu sentido
negativo consiste em agir independentemente das causas externas. Seu sentido po-
sitivo refere-se a uma liberdade da vontade de constituir lei para si próprio, tornando-
a uma propriedade da vontade dos seres racionais, pois ela passa a ser sinônimo de
moralidade ao atribuir ao ser livre uma ação de acordo com a lei emanada da razão.
Por isso, Kant atribui à liberdade a causa da autonomia, isto é, a liberdade da vonta-
de não pode ser senão autonomia: Kant (2007, p.102)
tem o sentido de ser guiado livremente pela lei moral, saindo de sua sujeição de
menoridade para se tornar um ser livre e autônomo.
ra a filósofa, a liberdade reside na ação política, constitui a atividade política por ex-
celência, a capacidade humana de produzir alguma coisa inteiramente nova, a ca-
pacidade criativa do ser humano no seio do convívio com os outros (SILVA, 2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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In this research we tried to verify the meaning of the concepts of Freedom and
Equality from Classical Antiquity to contemporaneity, to understand these concepts
to know if they really have an effective participation in the political transformations
that the Man has been developing since Antiquity or if they are no more than political
slogans used in accordance with the conveniences and interests of those who com-
mand the political transformations and then leave these concepts aside and return to
domination and even the enslavement of their subordinates. The proposal of fraterni-
ty, inserted in the set of Freedom and Equality, becomes really true if one day it goes
from being a mere symbol of an ideal to be conquered by political reality, to an inter-
nal reality of the human being and is consequently inserted in the Social praxis, the
result of a new and deeper conceptualization of Freedom and Equality to be
achieved in this third millennium, where the new Man can live in a balanced and con-
scious way with his two realities, both internal and external.