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INSTITUTO MULTIDISCIPINAR
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E TURISMO
CURSO DE TURISMO
Nova Iguaçu
2020
JULIANA BATISTA DE OLIVEIRA
Nova Iguaçu
2020
JULIANA BATISTA DE OLIVEIRA
Banca Examinadora
____________________________________________
Professora Dra. Camila Gonçalves Oliveira Rodrigues
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
____________________________________________
Professora Dra. Maria Angélica Maciel Costa
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
____________________________________________
Professor Dr. Cleber Marques de Castro
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Nova Iguaçu
2020
DEDICATÓRIA
Dedico à toda a população da Baixada Fluminense, que é privada de muitos direitos em seu
território, inclusive o do lazer.
À minha família, por ter me apresentado ainda criança as belezas naturais da Baixada
Fluminense. Meu pai em especial, que sempre nos levava às cachoeiras de Adrianópolis e de
Tinguá. Na nossa vida com poucos recursos financeiros, era o lazer possível que ele podia nos
proporcionar. O lazer dito de “farofeiros”, pois com pouco dinheiro levávamos lanche, nosso
“pão com mortadela e Coca-Cola” para passar o dia na cachoeira.
Ao curso de Turismo da UFRRJ, por me fazer repensar e conhecer melhor o território em que
vivo e suas potencialidades para o turismo e o lazer. Por me fazer ter um olhar mais carinhoso
para com a nossa região que é tão desvalorizada e estigmatizada em questões de violência e
abandono do Poder Público.
“Obrigada, pensei mais uma vez, e mais uma vez. Obrigada. Não
apenas pela longa caminhada, mas por tudo o que pude sentir
finalmente se juntando dentro de mim; por tudo o que a trilha me
ensinou e por tudo que eu nem sabia ainda, embora soubesse que de
alguma forma já estava dentro de mim.”(Cheryl Strayed, Livre, 2012)
AGRADECIMENTOS
Foi um grande desafio voltar para a sala de aula depois de 6 anos de formada em outra
área. Ao mesmo tempo foi a realização de um sonho, que era estudar em uma universidade
pública. Eu realmente não imaginei que fosse chegar até o fim e muito menos as oportunidades
que se abririam pra mim nesta jornada. Muitas coisas aconteceram desde então, e entre altos e
baixos e vontade de desistir muitas vezes, enfim chego a etapa final. Ao longo desses quatro
anos tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis e que agregaram muito em minha
jornada.
Agradeço ao prof Sérgio Fiori, que sempre nos incentivou a fazer pesquisas na Baixada
Fluminense.
À professora Maria Angélica, por ter me dado a oportunidade de ser sua bolsista de
Iniciação Científica, na pesquisa de saneamento básico do município de Nova Iguaçu, onde
pude entender melhor nossa realidade nas questões de infraestrutura de água e esgoto na
Baixada Fluminense.
À professora Isabela Fogaça, pelos incentivos em relação aos trabalhos de POT-I e POT-
II, onde um dos campos de nossa pesquisa foi em Tinguá.
À professora Camila Rodrigues, por ter aceitado me orientar, por sua paciência e
compreensão com minhas limitações, e por ter contribuído com a sugestão do tema quando
disse que queria pesquisar a questão do turismo em Tinguá.
Aos colegas de classe que participaram comigo nos trabalhos de campo sobre Tinguá.
À equipe do Parque Estadual da Pedra Branca, que me deu a oportunidade de atuar como
voluntária de uso público, contribuindo imensamente para minhas pesquisas na área de
unidades de conservação e turismo.
Ao Conselho Municipal de Turismo de Nova Iguaçu por ter me dado a oportunidade de
participar do projeto Trilhas e caminhadas de Nova Iguaçu.
À todos que se disponibilizaram para as entrevistas.
Obrigada à todos que sempre torceram por mim, me incentivaram e acreditaram em
mim. Esse apoio foi fundamental nos momentos em que pensei em desistir.
RESUMO
This course conclusion work presents an analysis of the discussions about the re-categorization
of the Tinguá Biological Reserve in the light of tourism. In this sense, the objective of this work
is to identify and analyze how tourism and its economic, social and environmental dimensions
are discussed and used in the debate on the re-categorization of the Tinguá Biological Reserve.
The theme of this paper presents how leisure, tourism and economic development are used in
the discussion of the re-categorization of Rebio Tinguá. For a better understanding of the theme,
bibliographic searches were carried out regarding the themes of tourism and leisure in natural
areas and conservation units. Events that discussed the issue of recategorization were analyzed.
Interviews were conducted with some interlocutors who participated directly in the
recategorization discussion. From the results obtained it was possible to identify that public use
for educational purposes in Rebio Tinguá is little explored. There is the possibility of
conducting tourism with segments that work with environmental education. The speeches in
favor of recategorization follow the market bias, betting on the recategorization for the
economic development of the territory in the Tinguá region. The Tinguá community lacks social
investments and infrastructure for the well-being of the local population.
Procedimentos metodológicos
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monografias, dissertações, teses, documentos do Ministério do Turismo (MTur) e do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Foram realizadas pesquisas no
Google Acadêmico e na plataforma de periódicos da CAPES. As palavras de busca utilizadas,
de maneira combinada, foram: turismo, lazer, unidades de conservação, áreas protegidas,
recategorização, Reserva Biológica, Parque Nacional, Tinguá. Algumas pesquisas importantes
encontradas foram as pesquisas na área da Rebio Tinguá de Martins (2011), Ferreira (2013) e
Oliveira (2015) que abordam turismo, lazer e educação ambiental na Rebio Tinguá e seu
entorno.
- levantamento de documentos institucionais sobre a área de estudo. Essa pesquisa se
baseou em documentos e legislações específicas do município de Nova Iguaçu, com foco na
região de Tinguá onde se localiza a sede REBIO Tinguá (Plano Diretor da Cidade, legislação
de Área de Especial Interesse Turístico), Plano de Manejo da REBIO Tinguá, documentos do
ICMBio e das prefeituras locais que registram o processo de discussão sobre a recategorização.
Cumpre salientar neste item, as informações obtidas a partir dos registros dos seguintes eventos
que a autora participou como ouvinte entre 2017 e 2019: 1ª Jornada Ambiental de Nova Iguaçu,
no dia 06 de junho como tema: “Seminário Parque Nacional do Tinguá – Uma visão de Futuro
para a Baixada Fluminense” realizado no auditório do IM-UFRRJ em Nova Iguaçu; Reunião
Ordinária do Conselho Municipal de Turismo de Nova Iguaçu, realizada no dia 25 de janeiro
de 2018 na SEMADETUR; Reunião do Ministério Público Federal, realizada no dia 12 de
setembro de 2019 no Ministério Público Federal em São João de Meriti. Os eventos foram
gravados e disponibilizados nas redes sociais. A autora também lançou mão de apontamentos
feitos na época dos eventos.
- para traçar um panorama da caracterização do bairro de Tinguá foram utilizados dados
levantados em campo para trabalhos das disciplinas Turismo e Meio Ambiente, Políticas
Públicas para o Turismo e Planejamento e Organização do Turismo I, entre 2017 e 2018.
Durantes esses campos foi possível conhecer a dinâmica de visitação na área, com destaque
para a elaboração de um vídeo1 analisando o Sistema Turístico (Sistur) da região para a
disciplina Planejamento e Organização do Turismo I. Neste sentido, ainda que não tenha sido
possível realizar a pesquisa de campo prevista no TCC em virtude do isolamento social
necessário para controlar a pandemia COVID-19, considera-se que a autora do presente
1
Sistur Tinguá – POTI. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ImdCWYxZJGw. Acesso em
01/11/2020
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trabalho tem uma bagagem relevante em termos de conhecimento da dinâmica de uso e
ocupação da área de estudo.
- levantamento de dados secundários a partir de pesquisa nas redes sociais Facebook,
Instagram e Youtube, sites institucionais, jornais de grande circulação. Esse levantamento foi
realizado com o objetivo de identificar de que forma tem sido divulgado o tema da
recategorização, quais os termos e conteúdo utilizados, o que está em “debate” nas redes, quais
instituições envolvidas, entre outros aspectos.
- interlocução com analista ambiental da Rebio Tinguá, representante da Semadetur e
de duas ONGs atuantes na região para conhecer seus pontos de vista a respeito da
recategorização da Rebio Tinguá. As entrevistas foram realizadas em outubro de 2020, com o
apoio de um roteiro de perguntas e foram agendas por email e/ou comunicação via Whatsapp.
Três encontros foram realizados por meio de canal de comunicação remoto (plataforma Zoom).
As entrevistas foram gravadas, com a devida autorização e consentimento dos interlocutores,
expressa no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido utilizado na pesquisa (ANEXO 1).
Um dos encontros foi realizado de forma presencial na sede da ONG situada em Tinguá.
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1 - LAZER EM ÁREAS NATURAIS
2
Conexão com a natureza: reflexões sobre saúde e conservação
Disponível em https://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/conexao-com-a-natureza-reflexoes-sobre-
saude-e-conservacao/. Acesso em 10/11/2020.
3
'Deficit de natureza' provoca problemas físicos e mentais em crianças, alerta especialista. Disponível em
https://www.bbc.com/portuguese/geral-36592620. Acesso em 10/11/2020.
4
Disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/07/28/trilha-da-pedra-bonita-no-parque-
nacional-da-tijuca-e-fechada-no-rio-apos-registro-de-aglomeracoes.ghtml. Acesso em 10/11/20.
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Já na Europa, o lazer era uma forma de educar, regular comportamentos e controlar os excessos
(MARTINS, 2011).
Para Cruz (2001), as cidades, independentemente do seu porte, oferecem diferentes
oportunidades de uso do tempo livre, que passa pela cultura. A cultura ocidental por exemplo
valoriza o lazer relacionado ao consumo, onde as pessoas vão aos shoppings centers no seu
tempo livro para fazer compras, refeições e consumir alguns serviços. Assim, não existe uma
fórmula para a utilização desse tempo livre, já que cada sociedade valoriza de formas diferentes
o tempo de trabalho e de não-trabalho, bem como suas atividades de lazer. Com a globalização
do mercado, há restrições de participação dos indivíduos relacionadas à concentração de renda
nas mãos de uma pequena elite e empobrecimento de uma grande parcela da população
mundial. Sendo assim, as atividades recreativas e culturais estão relacionadas à questões
econômicas, familiares e sociais.
Tulik (1990), diz que o conceito de meio ambiente não se restringe apenas ao meio físico
(água, ar, flora e fauna), mas também envolve o homem e suas produções culturais, de uma
forma ativa, interagindo com o meio ambiente em que está inserido. Ela também chama atenção
para o fato de haver dificuldade em separar as mudanças ocorridas no meio ambiente antes da
atividade turística começar ocorrer. Não se sabe se as alterações ambientais que ocorreram com
a exploração do turismo já vinham ocorrendo anteriormente. A sobrecarga da infraestrutura é
apontada como um dos impactos negativos causados pelo turismo. Mas, no entendimento da
autora, o turismo, por si só, não pode ser responsabilizado pelos danos causados ao meio
ambiente, pois mesmo sem a exploração da atividade já poderiam estar ocorrendo esses danos.
O turismo tem a capacidade de transformar lugares em relação a sua natureza e cultura.
São necessários estudos e análises para dizer se o turismo impactou de forma positiva ou
negativa o patrimônio cultural ou natural de uma localidade. E, ainda assim, quando o impacto
socioeconômico e cultural for analisado, cada autor vai analisar o impacto a sua maneira,
podendo ser benéfico para um e o mesmo impacto ser negativo para outro. Alguns impactos
decorrentes da presença humana, como produção de resíduos e a falta de capacidade técnica
dos municípios de lidar com a população sazonal em seus territórios são os mais comuns.
Podem ser vistos como exagero para algumas pessoas, porém para ambientalistas podem
representar uma catástrofe ambiental no local (CRUZ, 2001. p.30-32).
O turismo muitas das vezes pode esconder a realidade de uma localidade que o turista
não consegue ver. Sobre isso YÁZIGI (2002 apud SILVA; MELLO & SOUZA, 2011, p. 31)
aponta que:
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[...] a atividade turística tem vendido o espaço imaginário, ou seja, espaços
reconstruídos simbolicamente pela publicidade, ocultando as reais situações do lugar,
como o vandalismo e a miséria, gerando a alienação do turista e a exclusão da
população local, uma vez que a mesma não consegue adentrar e/ou participar do
processo, pois passa a não se identificar mais com o lugar. Para o autor a paisagem,
antes de tudo, interessa aos seus próprios habitantes. Neste contexto, tanto a violência
como a pobreza de um determinado local afastam os turistas, e mesmo que tenham
sido criados espaços fechados, dificilmente conseguirão manter a visitação dos
turistas. (YÁZIGI, 2002 apud SILVA; MELLO & SOUZA, 2011, p. 31)
Conforme Rodrigues at al, (2018, p.80) o uso público vem sendo utilizado como
estratégia para conservar a biodiversidade e ganhou um destaque na agenda política, sobretudo
internacional. Os autores também afirmam que:
Por outro lado, os esforços para a conservação dependem cada vez mais de áreas
protegidas, que funcionam como a base para a manutenção da diversidade biológica
e fonte de serviços ecossistêmicos para a sociedade. Alem disso, o aumento de
pesquisas que visam compreender os impactos do turismo em áreas protegidas
associados a saúde, bem-estar, pertencimento, economia, qualidade ambiental,
expressam a relevância da temática no contexto atual (McCool & Spenceley, 2014,
apud RODRIGUES at al, 2018, p.80)
Diegues (2000) chama atenção para o termo “turismo ecológico” que é empregado em
parques e reservas estar preso ao que chama de “mito da natureza intocada e selvagem” (p.62).
pois os primeiros parques nacionais norte-americanos foram concebidos com uma visão elitista
por não levarem em consideração as culturas e modos tradicionais de vida das populações que
habitavam aqueles territórios. O turismo ecológico atualmente segue neste viés, pois é destinado
aos que podem pagar tarifas diferenciadas.
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1.1 - Uso público em Unidades de Conservação
5
Monitoramento da Visitação em Unidades de Conservação Federais: Resultados de 2019 e Breve Panorama
Histórico. Disponível em:
https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/monitoramento_visitacao_em_ucs_fe
derais_resultados_2019_breve_panorama_historico.pdf. Acesso em: 12 de Nov. 2020.
21
Com relação a concessões de serviços nos parques nacionais, o documento é bem
tendencioso ao mencionar o incremento da visitação no Parque Nacional do Iguaçu que em
2000 recebeu 767.157 visitantes, chegando a 5.991.310 visitantes em 2019, quando mais sete
parques passaram a ser concessionados. O relatório considera que das UCs monitoradas em
2019, 61% da visitação ocorreram em UCs sem concessão, mostrando assim o potencial
econômico dessas unidades e importância de aumento de contratos e parcerias com a iniciativa
privada para que as UCs possam atender melhor os visitantes. Sobre essa questão econômica
do planejamento das UCs RODRIGUES & IRVING (2015) apontam que:
[...] dependendo da forma como a visitação for planejada e implementada nos parques
nacionais, estas áreas podem ser interpretadas como um “produto” a ser consumido
no mercado turístico, por meio de serviços prestados aos ‘visitantes-consumidores’.
Nesta linha de raciocínio, a apropriação mercadológica do parque nacional seria
reforçada pela aplicação do Código do Consumidor, utilizado como a ‘ponte’ de
comunicação entre o espaço público e o visitante. (p.13)
22
preservação integral da Proibida, exceto aquela depende de autorização
biota e demais atributos com objetivo prévia do órgão responsável
naturais existentes em educacional, de acordo pela administração da
seus limites, sem com regulamento unidade e está sujeita às
interferência humana específico. condições e restrições por
direta ou modificações este estabelecidas, bem
ambientais, excetuando- como àquelas previstas em
se as medidas de regulamento.
Reserva
recuperação de seus
Biológica
ecossistemas alterados e
as ações de manejo
necessárias para
recuperar e preservar o
equilíbrio natural, a
diversidade biológica e
os processos ecológicos
naturais.
preservação de está sujeita às normas e depende de autorização
ecossistemas naturais de restrições estabelecidas prévia do órgão responsável
grande relevância no Plano de Manejo da pela administração da
ecológica e beleza unidade, às normas unidade e está sujeita às
cênica, possibilitando a estabelecidas pelo órgão condições e restrições por
realização de responsável por sua este estabelecidas, bem
Parque
pesquisas científicas e o administração, e àquelas como àquelas previstas em
Nacional
desenvolvimento de previstas em regulamento.
atividades de educação e regulamento.
interpretação ambiental,
de recreação em contato
com a natureza e de
turismo ecológico.
preservar sítios naturais está sujeita às condições e Não especificado pelo
raros, restrições estabelecidas SNUC
singulares ou de grande no Plano de Manejo da
beleza cênica. unidade, às normas
Monument
estabelecidas pelo órgão
o Natural
responsável por sua
administração e àquelas
previstas em
regulamento.
proteger ambientes está sujeita às normas e depende de autorização
naturais onde restrições estabelecidas prévia do órgão responsável
se asseguram condições no Plano de Manejo da pela administração da
Refúgio de para a existência ou unidade, às normas unidade e está sujeita às
Vida reprodução de espécies estabelecidas pelo órgão condições e restrições por
Silvestre ou comunidades responsável por sua este estabelecidas, bem
da flora local e da fauna administração, e àquelas como àquelas previstas em
residente ou migratória. previstas em regulamento.
regulamento.
Fonte: Adaptado de BRASIL (2000).
23
Tabela 3 - Unidades de Conservação de Uso Sustentável
Tipos de
UC Finalidade Visitação pública Pesquisa científica
proteger a diversidade serão estabelecidas pelo serão estabelecidas pelo
biológica, disciplinar órgão gestor da unidade. órgão gestor da unidade. Nas
o processo de ocupação Nas áreas sob áreas sob propriedade
e assegurar a propriedade privada, cabe privada, cabe ao proprietário
Área de
sustentabilidade do uso ao proprietário estabelecer as condições
Proteção
dos recursos naturais. estabelecer as condições para pesquisa e visitação
Ambiental
para pesquisa e visitação pelo público, observadas as
pelo público, observadas exigências e restrições
as exigências e restrições legais.
legais.
manter os ecossistemas Não especificado pelo Não específicado pelo
naturais de importância SNUC SNUC
regional ou local e
Área de
regular o uso admissível
Relevante
dessas áreas, de modo a
Interesse
compatibilizá-lo com os
Ecológico
objetivos de
conservação da
natureza.
o uso múltiplo Permitida. Condicionada Permitida e incentivada,
sustentável dos recursos às normas estabelecidas sujeitando-se à prévia
florestais e a pesquisa para o manejo da unidade autorização do órgão
Floresta científica, com ênfase pelo órgão responsável responsável pela
Nacional em métodos para por sua administração. administração da unidade, às
exploração sustentável condições e restrições por
de florestas nativas. este estabelecidas e àquelas
previstas em regulamento.
proteger os meios de Permitida. Desde que Permitida e incentivada,
vida e a cultura de compatível com os sujeitando-se à prévia
populações tradicionais, interesses locais e de autorização do órgão
e assegurar o uso acordo com o disposto no responsável pela
Reserva sustentável dos recursos Plano de Manejo da área. administração da unidade, às
Extrativista naturais da unidade. condições e restrições por
este estabelecidas e às
normas previstas em
regulamento.
estudos técnico- Permitida. Desde que _
científicos sobre o compatível com o manejo
manejo econômico da unidade e de acordo
Reserva de
sustentável de recursos com as normas
Fauna
faunísticos. Proibido o estabelecidas pelo órgão
exercício da caça responsável por sua
administração.
24
amadorística ou
profissional.
25
subsistema a natureza é matéria prima do turismo, e um dos fatores analisados são as
consequências do turismo sobre o meio ambiente.
De acordo com Dias (2005), o turismo pode ser conceituado nas vertentes econômicas
e social/cultural. Na primeira vertente econômica, é conceituado como indústria turística pois
gera produtos para o consumo atendendo a necessidade dos turistas. Na segunda vertente
“atende às necessidades psicossociológicas dos turistas, que geram incontáveis interações
sociais entre diversos agentes [...] provocando mudanças sociais e culturais”. (p.19)
A respeito do turismo e dos turistas Rodrigues e Irving (2010):
nem todos os visitantes dos parques nacionais são turistas, conforme a conceituação
de turismo, discutida a seguir. Existem parques nacionais que recebem mais visitantes
do que turistas, como é o caso do Parque Nacional de Brasília (DF), que é freqüentado,
principalmente, por moradores de Brasília. Já no caso do Parque Nacional do Iguaçu
(PR), a maioria dos freqüentadores é turista, proveniente de outros países.[...] Assim,
sob a perspectiva do mercado, os turistas são potenciais consumidores que dinamizam
a cadeia produtiva do turismo. (2010, p.5)
26
1.2 - Uso Público em Reservas Biológicas
As Reservas Biológicas são criadas com o objetivo básico de preservação da natureza,
sendo admitido apenas o uso indireto de seus recursos naturais, salvo em casos previstos em
legislação. Assim, juntamente com as Estações Ecológicas, compõem o conjunto de UC mais
restritivas. Ainda assim, de acordo com o SNUC, as visitações nas Rebios podem ser realizadas
para fins educacionais
Art. 10.
§ 1º A Reserva Biológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas
particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que
dispõe a lei.
§ 2º É proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de
acordo com regulamento específico.
§ 3º A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela
administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este
estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.
O Plano de Manejo da Rebio Tinguá reforça a proibição de visitação pública que não
seja para fins educacionais. Com relação à visitação com fins educacionais, registra-se que as
mesmas ocorrem de forma guiada, próximo a sede da UC, com escolas, mediante agendamento
prévio (PLANO DE MANEJO DA REBIO TINGUÁ, 2006).
Sendo assim, entende-se que qualquer tipo de visitação, desde que com finalidade
educativas, são permitidas nas Reservas Biológicas. Contudo, o SNUC não especifica o que
consiste a visitação com "fins educacionais". Na verdade, o SNUC define as diretrizes para cada
categoria de UC, mas ainda não existe um regulamento específico para a Reserva Biológica,
situação que tende a gerar diferentes interpretações sobre a abrangência do conteúdo educativo
em diferentes tipos de visitação nestas áreas para a categoria fixada pelo SNUC.
“[...]os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade.” (BRASIL, 1999, art. 1º).
27
A Política Nacional de Educação Ambiental também estabelece conceitos para a
educação ambiental formal e não formal:
Como exemplo de empresas que se envolvem com o turismo pedagógico, pode-se citar
o Instituto Moleque Mateiro6, que desenvolve atividades de educação ambiental em diferentes
UC na cidade do Rio de Janeiro. Tem como público-alvo escolas, empresas e grupos familiares.
Realizam seus projetos e cursos baseados na Política Nacional de Educação Ambiental, tanto
na educação formal e não formal, em parceria com escolas, universidades, empresas e unidades
de conservação.
6
Instituto Moleque Mateiro. Quem Somos. Disponível em: http://www.molequemateiro.com.br/quem-
somos.php. Acesso em 20/11/2020.
28
ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das
populações envolvidas”. (grifo da autora, p.19)
Além disso, estabelece algumas características que devem ser consideradas para o
desenvolvimento do ecoturismo, dentre elas a educação Ambiental e a interpretação ambiental.
Destaca-se, desta forma, a que o ecoturismo:
Um exemplo de Reserva Biológica que realiza o uso público por meio da educação
ambiental é a Rebio União, localizada no estado do Rio de JaneiroRJ) (Imagem 1). A Rebio
União foi criada em 1998, possui uma área de 2.548 hectares que protegem parte do bioma
Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro. Abrange os municípios de Rio das Ostras (53%),
Casimiro de Abreu (46%) e Macaé (1%) tendo sua sede no distrito de Rocha Leão, município
29
de Rio da Ostras, acesso pela BR-101. A visitação é realizada com grupos de no mínimo 10 e
máximo 20 pessoas e deve ser agendada por telefone ou e-mail. (ICMBio, 2020)
Fonte: https://www.facebook.com/reservabiologicauniao.icmbio/posts/3273839195966937/
A UC organizou em fevereiro deste ano a 1ª Ecoférias7, uma colônia de férias que reuniu
moradores do entorno da Rebio durante 3 dias. Mediante agendamento prévio os visitantes
7
Rebio União promove a primeira edição do Ecoférias
30
foram divididos em 3 grupo onde aprenderam sobre a Mata Atlântica através de exposições,
dinâmicas e realização da Trilha Interpretativa do Pilão.
Em 21 outubro de 2020 o ICMBio publicou uma instrução normativa com fins de
estabelecer procedimentos para a realização de visitação com fins de educacionais nas UCs
federais. Onde estabelece que:
Art. 3º A visitação com objetivo educacional tem como finalidade possibilitar ao
visitante uma maior compreensão de conteúdos relacionados às unidades de
conservação, podendo ser realizada em todas as categorias previstas no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.
Art. 4º A visitação com objetivo educacional pode:
I - Contemplar atividades diversas, preferencialmente em grupo, incluído as lúdicas,
recreativas, desportivas, sensoriais, terapêuticas religiosas e de outros usos culturais
II - Abranger públicos diversos, não somente aquele vinculado ao ensino formal,
como os atores locais estratégicos com vistas a conservação ambiental, comunidade
em geral e outros visitantes que visam conhecer, sentir e compreender a diversidade
de paisagem, dos monumentos, cavernas, fauna, flora e outras aspectos do patrimônio
cultural material e imaterial.
III - Prever atividades lúdicas, as quais podem:
1. Fazer parte da estratégia para alcançar os objetivos propostos;
2. Ter sua contribuição avaliada para o alcance dos objetivos.
IV - Buscar viabilizar a utilização de técnicas de interpretação pessoal e/ou não
pessoal, com possibilidade de parte da execução ser autoguiada (ou autogerida) pelos
visitantes.
Art. 7º Recomenda-se a execução de protocolos de monitoramento da atividade de
visitação com objetivo educacional nas unidades de conservação, especialmente
reservas biológicas e estações ecológicas, seguindo as orientações institucionais.
Parágrafo primeiro: Dentre os aspectos a serem abrangidos no monitoramento estão o
alcance dos objetivos propostos, impactos biofísicos da visitação e a qualidade da
experiência do visitante. (ICMBio, 2020)
Num levantamento realizado por Oliveira (2015) apontava que haviam 59 Reservas
Biológicas (municipais, estaduais e federais) no país. Desse total apenas 10 apontavam em
relatório que estavam abertas para fins de pesquisas científicas e educação ambiental.
Atividades de interpretação e educação ambiental eram oferecidas em apenas 6 Rebios: Reserva
Biológica de Andradina (SP), Reserva Biológica de Duas Bocas (ES), Reserva Biológica de
Poço das Antas (RJ), Reserva Biológica do Jaru (RO), Reserva Biológica Municipal da Serra
do Japi (SP) e Reserva Biológica da União (RJ).
Para Müller, Diefenthaeler e Fernandes (2001) muitas vezes as UCs deixam de realizar
atividades de Educação Ambiental por falta de estrutura ou de pessoal. Uma das alternativas
para suprir essas deficiências são parcerias com ONGs e prefeituras que podem contratar
pessoal para dar apoio operacional dessas atividades. No entorno das Rebios podem ocorrer
atividades terceirizadas que estejam atreladas a UC, como venda de souvenirs, por exemplo.
Parte da venda arrecadada pode ajudar a custear a manutenção da UC.
[...] mesmo que a maioria das UCs brasileiras não gere receitas próprias, elas geram
valor porque são responsáveis por proteger uma vasta gama de serviços
ecossistêmicos que beneficia direta ou indiretamente as sociedades humanas, em
particular as que estão mais próximas a elas. (Müller, Diefenthaeler e Fernandes,
2001, p.32)
Com base nesses conceitos podemos dizer que o uso público através da visitação e do
turismo são permitidos em uma Reserva Biológica, desde que tenham a finalidade educacional.
Ou seja, a visitação e o turismo não são proibidos nas Rebios e as mesmas podem estabelecer
planos e projetos de visitação para diversos públicos com vistas à educação ambiental.
32
desses territórios com suas novas regras de uso. Os conflitos ambientais decorrentes da criação
de UC de Proteção Integral são resultado do negligenciamento das dinâmicas de uso e
apropriação desses territórios no cotidiano.
A abordagem limitada dos estudos técnicos que orientam a criação das UC é um outro
problema apontado por Simon (2010). Estes estudos deveriam ser mais embasados na dinâmica
social do território, em consultas públicas com mecanismos de participação popular. Apesar de
a lei do SNUC e seu decreto regulamentador 4.320/02, acrescentarem modificações importantes
nas políticas de criação e gestão de UCs, não deixou claro quais os procedimentos em caso de
recategorização, seja em UCs previstas pelo SNUC ou não.
Os conflitos existentes em UC de Proteção Integral não devem ser desconsiderados pelo
poder público tanto para a criação de novas UCs, quanto para as recategorizações. Se faz
necessária a participação dos moradores no processo, uma adequada leitura da dinâmica
territorial, com a necessidade de análise da realidade social e não só informações técnicas
baseadas em dados geográficos e de biodiversidade (SIMON, 2010).
O poder público é obrigado pela Constituição a criar UCs, porém o SNUC e o Decreto
Federal 4.340/2002 colocam a obrigatoriedade de consulta prévia a sociedade, principalmente
a população local a ser afetada pela criação da UC. Para Estação Ecológica e Reserva Biológica
não há essa obrigatoriedade. Além disso a participação da sociedade civil e do poder público
nas UCs é garantida através da criação de conselhos consultivos. Para a criação de novas UCs
a consulta pública é obrigatória, sendo organizada pelo órgão público que está propondo a
criação da UC onde serão apresentados estudos técnicos que justifiquem a criação da UC, bem
como sua localização e limites. (SIMON, 2010)
De todo modo, é na fase de seleção das áreas para criação de unidades de conservação
que se deve investir fortemente no processo de conhecimento da situação fundiária, da dinâmica
do território para que a categoria selecionada não entre em conflito com dinâmica social do
território e coloque em risco os objetivos de conservação que se pretende conservar (SIMON,
2010). A recategorização ou reclassificação de uma Unidade de Conservação é vedada apenas
nos casos em que a modificação diminua o grau de proteção do meio ambiente em determinado
território. Há também os casos em que o grau de proteção da UC não seja adequado a sua
categoria de manejo, quando há população tradicional residente em seu interior. (LEUZINGER,
2007)
Apesar de todo aparato legal criado com o SNUC, o mesmo não estabelece como devem
ser feitos os estudos técnicos para a criação de novas UCs ou como devem ser conduzidos os
33
casos de recategorização. O que leva a lançar mão a pesquisas acadêmicas onde foram
estudados estes casos suas mediações, conflitos e soluções entre poder público e população
local.
Fazendo umNo levantamento na literatura acadêmica no Google Acadêmico e no Scielo
não foi encontrado nenhum caso de recategorização de Reserva Biológica para Parque
Nacional. Porém, foi encontrado um estudo que analisa um projeto de lei (PL) para a
recategorização da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, no estado do Pará. O
PL sugeria a recategorização e divisão da UC em duas categorias: APA e Parna. A demanda
surgiu pela pressão exercida pelas atividades econômicas ligadas a agropecuária em seu
entorno. O projeto foi revogado pelo Ministério do Meio Ambiente, pois as alterações de
categoria comprometeriam a preservação ambiental de uma área frágil da Amazônia Legal
(ZAMADEI, HEIMAN & PIRES, 2019).
Os casos efetivos de recategorização geralmente se davam de uma UC do grupo de
Proteção Integral, como uma Rebio ou Esec, para uma UC do grupo de Uso Sustentável, como
uma Resex ou RDS. Alguns estudos de caso encontrados foram o da recategorização de parte
do território da Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul para Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Estadual do Aventureiro, na Ilha Grande - Mendonça e Fontoura (2010) onde
durante o processo pode-se observar o conflito pelas opções de categoria APA ou RDS.
O outro caso foi o da Reserva Ecológica Estadual da Juatinga onde a população caiçara
pleiteava seu direito de permanecer na terra, gerando assim uma discussão de recategorização
junto ao INEA. Nos dois casos as demandas surgiram das populações tradicionais que viviam
nos territórios dessas UCs e que tinham suas atividades econômicas limitadas, além de questões
fundiárias de ameaças com a especulação imobiliária. (MONGE, LOBÃO, DI MAIO, 2013)
No caso da Rebio Tinguá, a população local não possui atuação direta nessa discussão
conforme aponta Martins (2011). Os mesmos estão preocupados com outras demandas
referentes a infraestrutura da região que é carente em transporte, saúde e saneamento básico
(abastecimento de água e esgoto).
34
2 - CARACTERIZAÇÃO DA RESERVA BIOLÓGICA DE TINGUÁ E SEU
ENTORNO
Fonte: https://www.rebiotingua.eco.br/
A maior parte da área da Rebio (Imagem 3) está dentro município de Nova Iguaçu
(55,14%), os outros 3 municípios que possuem terras da UC são: Duque de Caxias (37,44%),
Miguel Pereira (3,16%) e Petrópolis (4,26%). Os municípios de Japeri e Queimados possuem
parte de seus territórios em sua zona de amortecimento. Apesar de abranger esses 4 municípios
as zonas com maior densidade populacional são Tinguá, em Nova Iguaçu e o distrito de Xerém,
em Duque de Caxias. O acesso principal e sua sede se localizam em Tinguá. (ICMBIO, 2006)
35
Imagem 3 – Mapa área de abrangência Rebio Tinguá
Fonte:http://terevictorino-ea.blogspot.com/2010/07/reserva-biologica-do-tingua-historia-
e.html, 2010
Ainda de acordo com o Plano de Manejo (2006), três empresas atuam no interior da
Rebio por estarem lá desde antes da sua criação: Furnas Centrais Elétricas S.A., Petrobrás e
Cedae. Furnas é uma empresa indireta do Governo Federal, que atua no setor de geração e
transmissão de energia, possui uma linha de transmissão cortando a Rebio de Norte a Sul, a LT-
São José-Magé. A Petrobrás possui 3 dutos de derivados de petróleo quem foram instalados
antes da criação da UC e cortam a Rebio passando pelos municípios de Duque de Caxias, Nova
Iguaçu e parte de Miguel Pereira. A Cedae possui captações que remontam aos tempos do
Império, que fazem parte do sistema de abastecimento Acari, que atende atualmente parte da
população da Baixada Fluminense.
Sobre o objetivo de criação da Rebio Tinguá, o Plano de Manejo da UC diz que:
A Rebio do Tinguá tem como objetivo principal proteger amostra representativa da
Mata Atlântica e demais recursos naturais, especialmente os recursos hídricos e proporcionar o
desenvolvimento das pesquisas científicas e educação ambiental na região. Para tal objetivo, a
estruturação do modelo em três zonas, nuclear, amortecimento e transição, garantem a UC sua
principal função (ICMBIO, 2006).
Ainda dentro de seus objetivos específicos podemos destacar:
36
[...] 4. Contribuir para o conhecimento do uso dos recursos naturais para o
desenvolvimento sustentável da região;
5. Proporcionar a implantação de manejo sustentável dos recursos naturais da área do
entorno;
[...] 13. Favorecer as condições para a promoção de atividades de educação ambiental,
interna e externamente à Rebio;
14. Valorizar o conhecimento das comunidades locais, difundindo-o em ações de
educação e sensibilização ambiental. (ICMBIO, 2006, p.4-13)
Com relação a seu zoneamento, importante destacar que na zona de uso extensivo
8
(Imagem 4) foram identificadas três localidade para o desenvolvimento de atividades de
educação ambiental. São elas: Caminho do Imperador, Estrada do Comércio e Sede. Nesta zona
o objetivo é manter o ambiente natural com baixo impacto antrópico, oferecendo ao público
facilidade de acesso com fins educativos. (ICMBIO, 2006, p.4-23)
Foram estabelecidas como normas gerais na zona de uso extensivo:
• Essa zona será voltada especialmente para a interpretação e a educação ambiental;
• As atividades permitidas serão a pesquisa, o monitoramento ambiental, a fiscalização
e a visitação com fins educacionais;
• A pesquisa e o monitoramento serão autorizados nesta zona desde que não causem
impacto visual;
• A fiscalização deverá ser intensiva e incluída na rotina sistemática;
• O acesso de pessoas é permitido desde que seja devidamente controlado;
• O trânsito de automóveis será permitido desde que circulem em baixa velocidade;
• As espécies exóticas encontradas nessa zona deverão ser eliminadas;
• Estruturas e equipamentos voltados para interpretação poderão ser instalados nessa
zona, desde que estejam em harmonia com o meio ambiente; e
• Os centros de visitantes serão instalados nessa zona. . (ICMBIO, 2006, p.4-24)
Imagem 4 - Mapa da Zona de uso extensivo da Rebio Tinguá
Fonte:(ICMBIO, 2006)
8
Zona de uso extensivo é uma área constituída em grande parte por áreas naturais, podendo apresentar algumas
intervenções antrópicas. (ICMBio, 2006)
37
Na Zona Histórico-Cultural Santana das Palmeiras estão as ruínas de uma antiga vila de
mesmo nome, situada às margens da Estrada do Comércio, e que era utilizada como ponto de
parada e descanso dos viajantes. De acordo com o Plano de Manejo, as normas gerais para esta
área são:
•A visitação terá cunho educativo e só será permitida para no máximo vinte (20)
pessoas ao dia, e em grupos de até dez (10) pessoas, agendados previamente, com um
intervalo mínimo de 15 dias;
• A pesquisa e o monitoramento serão autorizados nesta zona desde que não causem
impacto visual e não interfiram com as ruínas ou sítios históricos;
• Essa zona deverá ser incorporada às rotas eventuais de fiscalização;
• A fiscalização deverá ocorrer, sempre que possível, a pé;
• As atividades dessa zona deverão seguir as orientações técnicas subsidiadas por
estudos específicos (Iphan, Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências
Sociais da Baixada Fluminense - Ipahb, Museu Nacional do Rio de Janeiro - MNRJ,
entre outros), a serem providenciados; e
• As pesquisas deverão ser realizadas de acordo com o que dispuserem normas
específicas a serem estabelecidas em articulação com o Iphan ou outros órgãos afins.
(ICMBIO, 2006, p.4-26)
O Plano de Manejo estabelece nas Ações Gerenciais Gerais Internas (AGGIs) (Anexo
2) programas temáticos voltados para o manejo da Rebio Tinguá. Através da AGGI
OPERACIONALIZAÇÃO INTERNA estabelece a criação de um setor técnico voltado para a
Educação ambiental, Pesquisa, Monitoramento, Manejo, e Alternativas de desenvolvimento
para a Zona de Amortecimento. Esse setor deverá ser composto por uma equipe com 1
coordenador técnico, 2 técnicos de apoio à pesquisa, 2 técnicos para o Centro de Visitantes de
Tinguá, 2 Técnicos para o Centro de Visitantes de Miguel Pereira, 1 técnico de ações externas,
3 estagiários e 2 voluntários. (ICMBIO, 2006, p.4-71)
A AGGI de Educação Ambiental (Anexo 3) orienta o desenvolvimento de um plano de
Educação Ambiental a ser desenvolvido nas seguintes Áreas Estratégicas (AEI): AEI Caminho
do Imperador, AEI Sede, AEI Rio d’Ouro, AEE Miguel Pereira, AEI Santana das Palmeiras, e
AEI João Pinto. Também prevê a implantação de sinalização educativa e interpretativa e lista
as temáticas a serem trabalhadas na Educação Ambiental. (ICMBIO, 2006, p.4-86)
A respeito do uso público com fins educacionais na Rebio Tinguá Oliveira (2015)
constata que:
a visitação com o objetivo educacional na Reserva Biológica do Tinguá ainda é pouco
explorada por grupos que não sejam de instituições de ensino, sendo necessário uma
maior promoção para que estas atividades sejam desenvolvidas também para a
comunidade do entorno, assim como para as empresas e indústrias que estão
estabelecidas próximas a da unidade, principalmente aquelas que desenvolvem
atividades que podem gerar prejuízos diretos ou indiretos para a unidade de
conservação. (p.70)
38
Alguns estudos já foram realizados tendo como temática a região de Tinguá, turismo e
lazer e a Rebio, inclusive tratando da criação da UC. Os estudos elaborados pela professora Ana
Lúcia Lucas Martins e Fellipe José Silva Ferreira (2010, 2011) , da UFRRJ, abordam as
questões das práticas do lazer e dos visitantes nas UCs no entorno da Rebio Tinguá e apresentam
os conflitos em decorrência da categoria dessa UC.
Em sua dissertação de mestrado Ferreira (2013) fez uma discussão da utilização para o
lazer da área da APA Tinguá, uma UC de gestão municipal e que sobrepõe parte do território
da zona de amortecimento da Rebio Tinguá. Essa área é onde se encontram os sítios de lazer
muito utilizados pelos moradores da região do Tinguá e seu entorno.
Outro trabalho importante neste sentido foi Oliveira (2015) que teve como objetivo
analisar o uso público na Rebio Tinguá através das atividades de educação ambiental
desenvolvidas na UC. O trabalho identificou a necessidade de uma aproximação da população
local com a UC para entender melhor sua função. E que a educação ambiental é uma ferramenta
de aproximação com os locais.
Como relata Martins (2011), as discussões sobre Reserva Biológica e Parque Nacional
antecedem a criação da UC, em 1989, época em que a área era administrada pelo Instituto
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Haviam interesses conservacionistas que já
visavam o desenvolvimento do turismo na região e preservacionistas, que ressaltavam a
importância da biodiversidade local.
Santos (2014) faz um resgate histórico sobre a criação da Rebio Tinguá e seus conflitos
históricos nessa discussão Parque versus Reserva Biólogica, em sua dissertação de mestrado.
Desde o debate de criação da UC havia a polêmica entre qual categoria atenderia melhor os
interesses preservacionistas e conservacionistas da região. Inicialmente as pesquisas apontavam
que um Parque Nacional era a escolha da população local para a região. Os defensores da
categoria Reserva Biológica eram compostos majoritariamente por ambientalistas e acadêmicos
de diversas instituições. O discurso pró Rebio ganhou força através do programa do governo
federal “Programa de Proteção Ambiental Nossa Natureza”, que foi criado para a proteção da
Amazônia após denúncias internacionais de degradação ambiental na região e assassinato de
ambientalistas.
A participação popular na criação da UC foi entremeada por conflitos de interesses e
carências na região. Onde num primeiro momento defendiam a categoria parque e após boatos
de que seriam removidos do local com a criação do mesmo, os levou a optar pela categoria
Reserva Biológica. Além disso essa participação dos moradores também se deu de forma a
39
visibilizar os problemas vividos no dia-a-dia com relação ao desabastecimento de água
(SANTOS, 2014). Lembrando que de acordo com o SNUC, criado somente em 2000, tanto na
categoria parque, quanto na categoria reserva não pode permanecer população residente dentro
de seus territórios. O que pesou na escolha da população para a criação da UC na época, foi a
falta de informação sobre as duas categorias (SANTOS, 2014)..
Martins (2011) aponta que com a criação do SNUC surgiu a possibilidade de
recategorização da UC. Na época da criação da Rebio os cientistas naturais que defenderam a
criação da reserva pautaram suas pesquisas na Rebio apenas sob enfoque da biodiversidade.
Com a possibilidade de recategorização identificaram-se novas demandas no território e a
discussão passou a ter outros enfoques, pois as dinâmicas econômicas e sócio-ambientais do
território mudaram. Novas ONGs surgiram encabeçando projetos que contemplam ecoturismo,
economia verde, educação ambiental, plantio e reflorestamento, demandando projetos e
buscando financiamentos para os mesmos. A questão da ausência do Estado, no que diz respeito
ao órgão estadual que faz a captação de água no interior da Reserva e não oferece nenhuma
contrapartida. A ineficiência da gestão municipal para gerir as áreas das APAs da zona de
amortecimento e seus conflitos, já que as mesmas estão estabelecidas somente no papel. Estes
são alguns dos conflitos em que se baseiam as discussões atuais para uma recategorização.
40
Rebio Tinguá e/ou sua zona de amortecimento. Conforme a Tabela 4, Tinguá (BC3) é o bairro
central da URG e os demais são bairros locais em torno de núcleos rurais (BL3).
Tabela 4 – Divisão por bairros da URG XII – Tinguá
9
Disponível em https://pt.wikisource.org/wiki/Lei_Municipal_de_Nova_Igua%C3%A7u_2952_de_1998.
Acesso em 01/11/2020.
41
Outro destaque para a região foi sua importância no abastecimento de água na cidade
do Rio de Janeiro. Em 1880, D. Pedro II inaugurou a rede de captação que levava água das
nascentes de Rio D’Ouro, Xerém e Tinguá para abastecer a cidade, que sofria com a falta d’água
devido ao desmatamento da Floresta da Tijuca. No episódio que ficou conhecido como “Água
em 6 dias”, o engenheiro Paulo de Frontin foi responsável pela ideia e execução dos trabalhos
para a captação. Utilizou a estrada de ferro do Rio D’Ouro pra realizar o transporte de
ferramentas e trabalhadores. (Revista HCSM, 2015).
Também são encontrados na região bens tombados dos quais restam apenas ruínas: o
antigo cemitério dos escravos, a torre sineira da Igreja de Nossa Senhora da Piedade (IPHAN e
INEPAC) e as ruínas da Fazenda São Bernardino (IPHAN). (Cultura e Mercado, 2007)
Em atividades de campo para elaboração de trabalhos das disciplinas Turismo e Meio
Ambiente, Políticas Públicas de Turismo e Planejamento I e Organização do Turismo I, foram
levantados dados referentes a infraestrutura, problemas ambientais e sócioeconômicos na região
de Tinguá.
Em um desses campos procedeu-se uma análise do Sistema Estrutural do Turismo,
SISTUR, modelo criado por Beni (2003) para a região de Tinguá 10. Esse sistema leva em
consideração o conjunto das Relações Ambientais, da Organização Estrutural e das Ações
Operacionais. Cada um desses conjuntos estão interligados e estabelecem critérios que analisam
a super e a infraestrutura, as relações sociais, econômicas, ambientais e ecológicas, o mercado,
a oferta e a demanda.
Com base no Sistur (Beni, 2003) identificou-se que a região apesar da vocação natural
para o lazer e o turismo, sofre com diversos problemas. Com relação a superestrutura, que estão
relacionados aos órgãos públicos e privados incumbidos de planejar e desenvolver ações
voltadas para o turismo na região, temos a SEMADETUR, porém não existe nenhuma ação
concreta para fomentar o turismo na região e muito menos uma legislação específica em vigor.
O Plano Municipal de Turismo foi aprovado foi aprovado pelo Conselho Municipal de Turismo
em novembro de 2020. O Plano Diretor Participativo de Nova Iguaçu (2011) estabelece
algumas ações para a região voltadas para o turismo, meio ambiente e valorização patrimonial
que poderiam ser implementadas pelo governo municipal. Existe também a lei LEI Nº 4.084
DE 24 DE MAIO DE 2011, que cria a ÁREA DE ESPECIAL INTERESSE TURISTICO –
AEIT, que em seu artigo 1º define:
10
Sistur Tinguá – POTI. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ImdCWYxZJGw. Acesso em
01/11/2020
42
Art. 1º - Ficam criadas no Município de Nova Iguaçu, as seguintes Áreas de Especial
Interesse Turístico – AEIT:
I- As áreas de Amortecimento da Reserva Biológica do Tinguá, situadas no território
de Nova Iguaçu;
II- As áreas de Preservação Ambiental - APAS do Município de Nova Iguaçu.
43
Imagem 5 – Rio represado utilizado por bares
44
Imagem 6 – Outdoor na entrada do Sítio Recantos de Tinguá
Essas pressões sociais já identificadas por Matins (2010) apontavam essa carência em
infraestrutura e baixa participação da comunidade local na participação das reivindicações e
tomadas de decisões, ocorrendo também uma lacuna em relação a sensibilização ambiental
tanto por parte do setor público, quanto privado.
Além disso, foram identificados em visitas a campo em 2017, potencialidade nos
seguintes seguimentos turísticos que já ocorrem na região de Tinguá no entorno da Rebio:
ecoturismo (trilhas e caminhadas), ciclismo e cicloturismo, turismo de aventura (motocross,
rapel), turismo de pesca (realizados em propriedades privadas), Turismo esportivo
(organizações de competições de ciclismo, corridas e caminhadas) e até um clube de
aeromodelismo. Além do potencial para o desenvolvimento do turismo gastronômico visto que
a base da agricultura da região é o aipim.
Ainda em 2017, o COMTUR montou Grupos de Trabalhos (GTs) voltados para a
estruturação do Turismo do qual a autora participou do GT1 - TRILHAS E CAMINHADAS
DE NOVA IGUAÇU tendo foco a estruturação de um circuito de caminhadas na natureza em
Tinguá. O grupo era composto por representantes do ICMBio, Monforte Turismo, Fórum de
Turismo de Tinguá, SEMIF, SEMED e FENIG e como convidados Parque Natural Municipal
de Nova Iguaçu, Comitê Trilha Carioca e da autora desta pesquisa. As trilhas planejadas já
existiam e muitas são partes de estradas que passam por propriedades privadas. Houve o
mapeamento dessas trilhas com medições de distância, estabelecimento de nível de dificuldades
e pontos de apoio. Os pontos de apoio são propriedades privadas, onde o morador oferecerá
45
algum produto para venda (bolos, café, doces). A ideia era que fosse disponibilizado um
telefone para que o visitante entre em contato previamente agendado a visita ao local. Foi
identificada a necessidade de que esses moradores recebam algum tipo de capacitação para
receber os visitantes. Estavam previstas confeccionamento de placas indicativas das trilhas nos
pontos demarcados nas visitas a campo. Todas as trilhas teriam início no centro de Tinguá, pois
a ideia era movimentar o comércio local.
De acordo com Oliveira (2015) o entorno da Rebio Tinguá é utilizado como área de
lazer por moradores da região e áreas vizinhas. Essa procura se deve a vocação natural do local,
com seus córregos e rios, que muitas vezes são represados pelos comerciantes para melhor
atender a estes visitantes. A autora levantou que 58% dos visitantes do entorno da Rebio são do
sexo feminino com faixa etária entre 35-50 anos. 27% possuem Ensino Médio completo, porém
26% afirma não ter concluído o Ensino Fundamental. A pesquisa também aponta dificuldade
de encontrar empregos na região, gerando assim a necessidade de se deslocar para outras
cidades devido ao alto custo com transporte e o tempo gasto para se chegar a cidades vizinhas,
como o Rio de Janeiro. Analisando os dados levantados, percebe-se que o poder aquisitivo dos
visitantes da região é baixo, onde 31% dos entrevistados recebe até 1 salário mínimo e 29% de
1 a 2 salários e as principais ocupações são donas de casa e comerciantes.
A pesquisa aplicada no próprio bairro de Tinguá com 127 entrevistados também
identificou que 90% dos entrevistados residiam no município de Nova Iguaçu e 72% no próprio
bairro de Tinguá. Com relação ao conhecimento da Rebio Tinguá, muitos entrevistados
disseram saber da proibição de entrar na UC, porém não entendem o porque e nem o papel de
uma Reserva Biológica. A maioria acredita que a função da Reserva e a preservação da natureza
e uma pequena parte (5%) associou a área com atividades de lazer. (OLIVEIRA, 2015)
Quando questionados sobre a visitação da Rebio Tinguá 66% afirmaram ter visitado a
reserva, antes mesmo dela ter virado uma UC. A falta de delimitação da Rebio também faz com
que os visitantes fiquem em dúvida se já adentraram a UC ou não. Dos visitantes que dizem
frequentar a UC, 22% afirmam que é para realizar caminhadas, 14% para banho de cachoeira e
2% através de visita escolar com fins de educação ambiental. (OLIVEIRA, 2015)
46
3 - REBIO TINGUÁ X PARNA TINGUÁ
11
Disponível em https://www.facebook.com/semadetur/videos/316651182093330/. Acesso em 01/11/2020.
47
Imagem 7 – Divulgação do Seminário após o avento na página da Prefeitura de Nova Iguaçu
no Facebook
Fonte: https://www.facebook.com/prefeituradenovaiguacu/posts/1402573976500379
O evento teve como mestre de cerimônias o ex-sub secretário de meio ambiente, Hélio
Vanderlei, e contou com a participação do ex- secretário da Semadetur, Fernando Cid, a chefe
da Rebio Tinguá, Gisele Medeiros, e Sonia Martins, da Pastoral da Terra, na mesa de abertura.
Para a mesa de debate foram convidados o ex-chefe do PARNA Serra da Bocaina, Francisco
Livino, o analista ambiental do PARNA Itatiaia, Walter Behr, o consultor da ONG Conservação
Internacional (CI), Beto Mesquita, e o ex-gestor de área de proteção dos Parques Nacionais da
Argentina, Jaime Ríos. A mesa de debates foi composta basicamente por palestrantes que
trouxeram suas experiências e elencaram os benefícios e desafios da gestão de um parque
nacional.
O ex-gestor do PARNA Serra da Bocaina, Francisco Livino, afirmou a importância da
consolidação de um Parque Nacional em uma comunidade que já vive do turismo, que é o caso
da vila de Trindade em Paraty.
“[...] eu acho que a oportunidade de negócios, de desenvolvimento regional, que foi
colocado pelo secretário de forma muito importante que a gente tem que olhar não só
com o olhar ecologista, mas com um olhar economista também e social, [...] uma
sociedade que tem as suas relações regidas pela economia, nós ambientalistas e
gestores de Unidades de Conservação temos que aprender também o vocabulário da
economia. Então se a gente não mostrar pra sociedade que aquelas áreas protegidas
são além de tudo uma fonte de riquezas, a gente também não tem muito êxito na
caminhada.” (informação verbal, 2017)
48
Beto Mesquita, diretor de Estratégia Terrestre da CI, fez sua apresentação baseada no
documento “Contribuições do Turismo em Unidades de Conservação para a Economia
Brasileira”, publicado pelo ICMBio, em 2017. Reforçou a importância econômica das UCs,
sobretudo em parques com a visitação. Apresentou um mapa com as áreas de floresta contínua,
fora dos limites da Rebio Tinguá, que somam aproximadamente 8 mil hectares. Falou sobre a
importância dessas áreas e como podem ser utilizadas para o uso público. Destacou que há
pouco engajamento e desconhecimento da sociedade em relação à Rebio. Também ressaltou a
importância da participação do órgão público gestor da UC, no caso o ICMBio, nas discussões
sobre a recategorização. Ressaltou que a recategorização se faz através de uma lei, e que esta
pode ser alterada conforme a vontade e interesses de quem está votando. Logo, ao invés de virar
um parque nacional, pode virar uma APA, por exemplo.
Walter Behr, analista ambiental do PARNA Itatiaia, disse que, apesar de não conhecer
a UC Rebio Tinguá, achou importante levar algumas reflexões para o debate com base em sua
experiência. Falou dos desafios da gestão do ICMBIo com os cortes dos recursos, desde que o
órgão foi criado, e que pouco se pode contar com o governo na questão de implantação
estruturação de UC. Ressaltou a necessidade de uma estrutura básica de acesso, para uma
visitação organizada e tranquila. Com relação à cobrança de ingressos, ressaltou a importância
de que a comunidade local pague mesmo que um valor simbólico, pois assim haverá uma maior
valorização do espaço da UC por essas populações. Citou também a realização de parcerias
com escolas públicas para as atividades de Educação Ambiental no PNI e a busca de novas
formas de participação com a iniciativa privada para financiar a manutenção e eventos do
Parque. Apontou a necessidade das empresas envolvidas na Rebio Tinguá (Furnas, Petrobrás)
participarem com recursos de compensação ambiental. Realização de acordos de Cooperação
com ONGs foram realizadas no PNI, pois a UC não consegue utilizar os recursos do ICMBio.
Durante o debate da mesa foram mencionados apenas os benefícios que um Parque
Nacional pode trazer em termos de conservação e economia. Apesar de ser mencionada a Rebio
Poço das Antas e sua importância na preservação e recuperação da população ameaçada de
extinção do mico leão dourado, nada se falou dos benefícios das Rebios nesse sentido. Quando
aberto o debate para os ouvintes, algumas questões importantes foram colocadas, como por
exemplo, que o Plano de Manejo da Rebio Tinguá não foi efetivamente implantado, para que
se alegue que a Rebio não cumpre sua função de preservação.
O segundo evento que merece menção é a Reunião Ordinária do Conselho Municipal
de Turismo (COMTUR) de Nova Iguaçu, realizada no dia 25 de janeiro de 2018, na
49
SEMADETUR. No email enviado no dia 22 de janeiro de 2018, constava como ponto de pauta
da reunião a “Recategorização da Reserva Biológica do Tinguá”. Em resposta a este e-mail, a
ex-gestora da Rebio Tinguá solicitou que este item fosse tratado em uma próxima reunião, já
que a mesma como titular da Rebio no COMTUR não poderia participar e não sabia do que se
tratava e nem quem havia solicitado o ponto de pauta. Em ata ficou registrado que o ponto de
pauta foi solicitado pelo Sr. Helio Vanderlei, ex-sub-secretário de meio ambiente. De qualquer
forma procedeu-se a apresentação, porém foi acordado que não haveria debate sobre o tema
sem a presença da representante da gestão da Rebio Tinguá.
No início de sua apresentação o Sr. Helio Vanderlei disse que a intenção da apresentação
não era afirmar que um Parque Nacional era melhor que uma Reserva Biológica e sim a
discussão do melhor uso da UC em questão com debates entre poder público, academia e
sociedade civil.
Alguns pontos importantes levantados na reunião pelo Sr. Helio Vanderlei:
- um Parque Nacional possui zonas intangíveis, assim como as Reservas Biológicas;
- já ocorre um turismo predatório no entorno da Rebio Tinguá
- necessidade de sensibilização da comunidade do entorno da Rebio;
- o conselho da Rebio Tinguá é apenas consultivo e não deliberativo;
- baixa quantidade de pesquisas na Rebio Tinguá;
Com relação ao turismo predatório, o mesmo também ocorre no entorno de parques
nacionais, ou seja, independentemente da categoria de manejo de UC, o ordenamento das
atividades econômicas é necessário para garantir a qualidade ambiental nas áreas de
abrangência das UC.
Foi disponibilizada via e-mail, no dia 19 de março de 2018, a apresentação realizada no
COMTUR com o arquivo intitulado “recategorização29.pptx” (Imagem 8). Dentro dessa
apresentação há um vídeo com o depoimento de Ricardo Soavinski, ex presidente do ICMBio,
falando da importância das UCs, atratividade para o turismo e suas restrições. Foi dito ainda
que Rebios e Esecs que possuem um apelo da população para a exploração para o turismo pode
levar a uma necessidade de recategorização. Porém ressaltou que ainda é preciso estudos e uma
boa discussão no conselho da UC. A apresentação se baseou nos benefícios que um Parque
pode trazer para a população e para o turismo.
50
Imagem 8 – Slide da apresentação do documento de recategorização
51
e lançou mão de consulta aos apontamentos realizados na ocasião e da gravação da reunião
disponibilizada no Youtube12.
Imagem 9 – Reunião do Ministério Público Federal em São João de Meriti.
12
Reunião MPF RECATEGORIZAÇÃO REBIO TINGUÁ. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=fZHFoCdAvL8. Acesso em 11/11/2020
52
a gestão da secretaria do Meio Ambiente em 2017. O tema deve ser travado sobre o olhar
ambiental, mas também sobre o social e o econômico. Importante saber se a recategorização
vai alavancar uma atividade importante como o turismo, numa região com imenso potencial
turístico como Tinguá. O secretário deixa claro que o prefeito da atual gestão, Rogério Lisboa,
ainda não tem uma opinião formada sobre o assunto recategorização e que dentro do próprio
governo há opiniões dividas entre parque e reserva. Quando questionado pelo promotor quais
são os setores do governo que defendem parque e reserva o secretário não soube responder e
citou apenas que a Fundação Educacional (FENIG) defende a recategorização. Fez uma crítica
ao modelo de turismo que ocorre em Tinguá, e que são necessários estudos para mensurar os
impactos econômicos, sociais e ambientais do Turismo na região. Criticou também a visão
apenas ambiental sobre a região e com isso perdem-se oportunidades para o turismo. Defende
que o turismo vai ser a alavanca facilitadora de atração de investimentos para infraestrutura
urbana para Tinguá, tanto recursos da União quanto da iniciativa privada. Na visão do secretário
é o turismo que vai atrair esses investimentos e não o contrário. “Se a gente for esperar que haja
primeiro os investimentos em infraestrutura para depois atrair o turismo, a gente talvez não
tenha êxito.” Citou a fala do governador afastado Wilson Witzel, que diz que o Turismo vai ser
o novo petróleo do Rio de Janeiro. Fazendo um paralelo com uma atividade altamente
degradante e destrutiva ao meio ambiente como a exploração do petróleo, que causou diversos
impactos negativos ao Rio de Janeiro, tanto ambiental quanto sociais e econômicos. Quando
questionado pelo procurador o motivo da discussão na câmara dos vereadores de Nova Iguaçu
estar sendo conduzida na comissão de turismo, o mesmo responde que porque o foco é turismo.
Em relação a fala do secretário, importante citar Rodrigues & Irving (2015):
A mercantilização das relações entre os indivíduos e o espaço público pode gerar
algumas distorções na própria relação que se estabelece com este espaço. No caso dos
parques nacionais, na medida em que a lógica de mercado associada ao turismo se
sobrepõe aos objetivos de conservação e uso da área, a relação dos visitantes com o
parque nacional passa a ser mediada, prioritariamente, pela ‘rede de consumo’, o que
pode gerar uma ruptura do sentido de coletividade e responsabilidade, frente ao espaço
público. Neste caso, as pontes entre o público e o privado são fragilizadas em função
da exagerada artificialização e mercantilização da visita. Esta dinâmica evidencia o
papel do indivíduo enquanto ‘visitante-consumidor’, membro de um grupo
privilegiado que tem o ‘direito’ de acesso (e de consumo do espaço). Neste sentido,
pode-se supor que os indivíduos, na qualidade de ‘visitantes-consumidores’, não
percebem o parque nacional como um bem coletivo, mas como um espaço que pode
ser ‘experimentado’ e ‘vivenciado’ mediante o pagamento de uma taxa e/ou a
contratação de um determinado serviço. (p.14)
53
recategorização da Rebio e que iriam acompanhar a evolução das discussões para formar uma
opinião.
O sub-secretário de Meio Ambiente de Miguel Pereira, Luiz Fernando Carvalheira,
quando colocado a questão da posição a respeito da recategorização, disse ser a favor da
mudança para Parque, porém não soube argumentar o porquê de seu posicionamento. Quando
questionado sobre em que estaria baseado o argumento de fomentar o turismo, disse que não
achava nada e que era uma posição da secretaria. A fala do secretário gerou argumentações da
audiência pela falta de embasamentos e argumentos, apenas colocando uma defesa de
recategorização.
Com relação as empresas que estão dentro da Rebio estavam presentes representantes
da Cedae, Transpetro, Furnas e Concer. A Cedae se posicionou a favor de preservação da área
pela importância das captações, qualidade dos mananciais e segurança hídrica, logo a favor da
manutenção da categoria Rebio. A Transpetro se posicionou de forma neutra, alegando que não
faz diferença de é uma Rebio ou um Parque, já que a empresa precisa pedir autorização de
qualquer forma para fazer as manutenções nos dutos que cortam a UC. Furnas Centrais Elétricas
também se absteve de posicionar sobre a recategorização, a empresa tem linhas de transmissão
que passam dentro da Rebio, próximas a borda da UC e essas linhas estão lá anterior a criação
da UC e que as compensações ambientais da empresa já foram realizadas. A representante da
empresa Concer também colocou que a companhia não tem um posicionamento definido e que
estão acompanhando as discussões. A BR-040 intercepta 3km da Rebio Tinguá na extremidade
da reserva próximo a Petrópolis.
O SNUC estabelece em seu artigo 36 a responsabilidade das empresas dentro de UCs à
obrigatoriedade de implantação e manutenção da UC de Proteção Integral:
Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo
impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com
fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o
empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de
conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e
no regulamento desta Lei. (Regulamento)
§ 1º O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta finalidade
não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a implantação
do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental licenciador, de
acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. (Vide ADIN
nº 3.378-6, de 2008)1
§ 2º Ao órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de conservação a
serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas no EIA/RIMA e ouvido
o empreendedor, podendo inclusive ser contemplada a criação de novas unidades de
conservação. (BRASIL, 2011)
54
Após as falas dos representantes do poder público e das empresas foi aberta a inscrição
de falas para a audiência.
Diversos questionamentos e colocações foram feitos por representantes da sociedade
civil e de ONGs atuantes na área ambiental. Foram colocadas questões sobre o turismo
desordenado que ocorre atualmente no entorno da Rebio, na região de Tinguá e que o poder
público municipal não toma medidas efetivas para seu ordenamento. Foi ressaltada a
necessidade desse ordenamento territorial e investimento em infraestrutura na região antes de
se pensar em recategorização.
Além do turismo, os representantes do poder público municipal de Nova Iguaçu
utilizaram argumentos de precarização da Rebio como motivação para sua recategorização.
Argumentaram também que o turismo é uma indústria limpa, que ajuda e fomenta não só a
economia, como auxilia no processo ambiental, mostrando assim seu desconhecimento a
respeito dos impactos negativos que o turismo pode ocasionar.
O ex-chefe da Rebio Tinguá, Leandro Travassos, alegou que existe uma série de planos
e estudos relacionados a UC que podem ser acessados para entender melhor as demandas. Falou
das carências da UC em relação a gestão que conta somente com dois analistas para atender
todas as demandas, inclusive a de uso público. Ressaltou que apesar da Rebio não ter o viés
turístico ela pode ser visitada. Com relação aos recursos, a analista ambiental Gisele Medeiros,
informou que recebem apenas R$500,00 mensais para suprimento de materiais de escritório e
o que entra para combustível. Todo o restante é recebido via Ministério do Meio Ambiente e
via compensação ambiental. A UC não tem nenhuma autonomia financeira administrativa. Ou
seja, a UC carece de investimentos financeiros para sua manutenção e melhor estruturação.
Alegou também que as empresas que atuam dentro da Rebio não revertem muitos recursos para
a preservação, elas fazem o mínimo que é estabelecido por lei.
Na fala do ex-secretário da SEMADETUR, Fernando Cid, é possível identificar o viés
econômico e elitista do gestor em relação ao turismo. Relatou a visita do Cônsul Geral da
Espanha às Ruínas da Fazenda São Bernardino, e que o mesmo ficou encantado por se tratar de
um tesouro, e disse que esse é o tipo de perfil de turismo que é necessário levar para Tinguá,
pois o que ocorre hoje na região não é turismo e sim atividade predatória. O secretário ainda
aponta que não há investimentos em Reservas Biológicas, que os maiores investimentos se dão
em Parques Nacionais. Em sua visão, isso é um indicativo de que o Ministério do Meio
Ambiente tem a intenção de estimular a criação de Parques Nacionais. Porém, o ex-secretário
em nenhum momento apresentou dados e estudos que embasassem seus argumentos.
55
Finalizando a reunião o procurador deu alguns esclarecimentos e encaminhamentos e
colocou que o debate estava partindo de um posicionamento errado, numa tentativa de apressar
processos que devem ser compreendidos a luz do meio ambiente e não ao contrário. Que
legalmente a reunião não teve caráter de audiência, apenas materialmente, porém foi importante
por levar diferentes pontos de vista e haver um aprofundamento sobre o assunto. Instaurou um
inquérito civil para acompanhamento da discussão e disse que o debate precisa levar em
consideração toda a realidade ambiental da região do Tinguá. Colocou que é perigoso e ruim
utilizar a precariedade contra a Rebio e falou das diversas ações do MPF pela fiscalização e
estruturação da UC. Destacou a necessidade de defesa das pautas da Rebio por parte da
prefeitura de Nova Iguaçu.
Interessante citar a presença do sub secretário Helio Vanderlei na reunião, porém o
mesmo não se pronunciou em nenhum momento e nem mesmo fez a apresentação de defesa de
estudos para a recategorização da Rebio Tinguá apresentada na reunião do COMTUR citada
aqui anteriormente.
56
organizações não-governamentais: Defensoria Socioambiental (interlocutor 2) e Onda Verde
(interlocutor 4).
Tabela 5 – Interlocutores entrevistados e suas áreas de atuação
57
Tabela 6 – Roteiro de entrevistas
58
dessa questão. No seu entendimento, era necessário que esse debate partisse de dentro do
próprio ICMBio.
O Interlocutor 2 entende que, normalmente, quem incentiva a discussão sobre a
recategorização são as pessoas que poderiam ser prejudicadas de alguma forma, uma vez que
no município de Nova Iguaçu pessoas que fazem e fizeram parte da gestão pública possuem
propriedade dentro da reserva. Essas propriedades estão embargadas pelo MPF e ele entende
que “Numa recategorização você pode mudar o traçado e a propriedade que está atualmente
dentro na UC embargada pode passar a estar do lado de fora. Além disso, algumas ONGs da
região têm interesse na recategorização pois querem fazer a gestão compartilhada da unidade".
Sobre essa questão, o Interlocutor 4 entende que, quando uma UC está fechada para a
visitação pública, é necessário dispor de outras fontes de recurso para custeá -la, pois a
pressão antrópica no território é muito grande, ou seja, a especulação imobiliária, a agricultura,
o adensamento urbano. Na sua opinião, é fundamental o compromisso do Estado para garantir
a adequada gestão destas áreas, pois no seu entendimento, o governo:
“Cria e não fazem nada. Você coloca um chefe da UC com 2 funcionários pra 26 mil
hectares e você não tem nada. Você começa a dizer à população que não pode entrar,
que se entrar vai ser preso e qualquer atividade dentro da UC é ilegal. Você não pode
fazer turismo, você pode fazer visita técnica de educação ambiental, mas para isso
você precisa ser o educador ambiental do IBAMA, trilha sinalizada, o plano de manejo
tem que definir aonde eu vou fazer as atividades.” (Interlocutor 4 – ONG Onda Verde)
O Plano de Manejo da Rebio Tinguá estabelece o zoneamento de uso público para fins
educacionais, conforme visto no capítulo 4.1. A respeito do turismo, conforme discutido no
capítulo 2, existe a possibilidade de realizar alguns segmentos do turismo com fins
educacionais.
O Interlocutor 4 diz que para a instituição, "tanto faz se é um parque ou se é uma
reserva", pois para eles o que importa é a missão de preservação da Mata Atlântica. Assim,
entende que é preciso uma visão mais pragmática de projetos que possam solucionar problemas.
Na sua visão o turismo na UC seria o motor de desenvolvimento da região.
Se você tem uma UC muito urbana e você fecha ela, ela vai continuar sendo invadida
sempre. Mas se você cria os espaços de visitação pública, onde você tem a portaria,
onde você tem o centro de visitação, de educação ambiental, você tem a equipe de
combate a incêndio florestal, você tem área para lazer, você tem os quiosques
[...]Constrói um conceito de sustentabilidade e possibilita o desenvolvimento
ordenado do entorno da UC. A UC será utilizada como instrumento de
desenvolvimento do turismo comunitário, da gastronomia local, da agricultura
sustentável e da retenção do crescimento urbano, porque cria um cinturão de
atividades turísticas onde o mais importante ali não é construir um condomínio do
Minha Casa, Minha Vida, é ter pousadas pra receber turistas que vem no final de
semana e que ali ele gera renda e que gera emprego [...] O turismo é um indutor do
59
desenvolvimento do território muito forte e uma indústria limpa, porque não tem
chaminé. (Interlocutor 4- ONG Onda Verde)
Sobre os principais argumentos e potencialidades para a recategorização de Tinguá com
relação ao turismo, os interlocutores têm diferentes as visões. O Interlocutor 2 entende que não
pode haver turismo dentro da Rebio Tinguá, pois outros assuntos precisam ser melhor
encaminhados como os impactos dos dutos da Petrobrás e da captação de água. Na sua opinião
a defesa do turismo tem a questão financeira envolvida “Argumentam que teriam melhorias
nas propriedades, criação de empresas no entorno. Um parque dá flexibilizações em alguns
nichos de empresas de mercado.” (Interlocutor 2)
O Interlocutor 3 salienta a questão de que os moradores da Baixada Fluminense são
privados de muitos benefícios sociais e que há uma demanda de uso público muito grande na
UC:
“Como é que a gente vai chegar e vai dizer “você não pode fazer isso” se a praia tá a
60km daquelas pessoas. Eu acho que é leviano por parte do serviço público fazer isso,
mas a gente faz por que hoje a legislação não permite esse tipo de uso. Mas a gente
tem que ter um carinho por essa discussão...a UC qual é o papel dela, se ela é para as
pessoas, para o bem coletivo, porque ela não pode ser usada com parcimônia? São os
questionamentos que eu me faço. Será a melhor estratégia dizer que esse espaço tá
fechado e as pessoas não entram, sendo que as pessoas entram?” (Interlocutor 3 -
ICMBio)
O Interlocutor 1 aponta que o turismo é apenas uma das estratégias que uma UC deve
ter. Para isso, é necessário infraestrutura, monitoramento e fiscalização. Aponta também a
possibilidade de visitação no campo da educação ambiental e que a Rebio oferece essas
possibilidades. Destaca também que a demanda para o lazer da Rebio ocorre no entorno da área.
“Então eu vou entender que o turismo dentro do contexto de uma unidade de
conservação ele é pra mim meio que quase a cereja do bolo do processo. O Turismo
é um fruto de uma articulação dos vários pacotes de programa que uma unidade de
conservação deve oferecer [...] vou fazer turismo sem que eu tenha uma boa estrutura
de pesquisa, né, pra conduzir inclusive o uso público? Conduzir o turismo sem que eu
tenha um programa de manutenção de estruturação em sua manutenção, vai ter
conflito [?]. Conduzir o turismo sem que eu tenha uma capacidade de ter um programa
de fiscalização de monitoramento de público de todos os usos, inclusive da pesquisa,
da caça, coibir a caça, essa coisa toda, vamos ter problema né?” (Interlocutor 1-
SEMADETUR)
60
escolaridade e baixa poder aquisitivo. Investir num turismo para pessoas com alto poder
aquisitivo e que não vive nessa região é alterar o perfil e o tipo de turismo e turista na região.
Em sua fala, o Interlocutor 4 deixa bem clara suas pretensões econômicas para o turismo e o
perfil que deseja atrair em caso de recategorização e deixa claro o seu incomodo com o atual
perfil de turista da região:
“Muitos turistas que vem pras atividades de dia eles vem de carro, de ônibus, ônibus
fretados que vão direto pro sítio. E as pessoas não paravam na praça. Só parava na
praça aquele que vinha de ônibus público e aí ele descia comprava o pão com
mortadela dele na padaria e a Coca Cola e ia pro rio onde não precisava pagar. Então
você tinha um rio que ainda tinha pouco esgoto e as pessoas iam pro rio. 3 mil pessoas
iam pro rio. Significa um público de baixa renda que não vai entrar pra comprar um
artesanato de 15 ou 20 reais. Então a gente percebia que por mais divulgação que
tivesse a gente não vendia. (Interlocutor 4 – ONG Onda Verde)
“Hoje todo mundo sabe que passa moto ali para Miguel Pereira, que o caçador e outras
pessoas entram, o uso da cachoeira da Colônia, área de captação dentro da zona
intangível, impactando conjunto de fauna e flora de uma maneira geral.” Alega que
não participou dos debates de recategorização por acreditar que se criou uma
dicotomia, uma “neurose de relacionamento histórico de oposição entre um e outro”
(Interlocutor 1 – SEMADETUR).
62
Sobre as estratégias para atingir a recategorização e a participação pública, o
Interlocutor 1 informa que houveram alguns debates e uma reunião pública na praça de Tinguá.
Coloca que não se envolveu nas discussões por acreditar que o debate está muito
“emocionado”, e acrescenta que:
“Você só faz um debate propositivo quando você se reforça efetivamente com um
conjunto de atores que acreditam naquela solução. Os defensores do debate não conseguiram
aglutinar. A turma que defendia a Rebio conseguiu ser mais ruidosa.” (Interlocutor 1)
De acordo com o Interlocutor 2, o processo de discussão sobre a recategorização tinha
a intenção de afastar o público do debate levando mesmo para fora do território da UC. E, na
sua opinião, houve a tentativa de agradar alguns grupos que possivelmente seriam beneficiados
com a recategorização. Diz que o grupo defensor do parque distribuiu umas camisetas para um
grupo de ciclistas da região com o slogan: "Reserva Parque".
O Interlocutor 3 colocou que o ICMBio não tem autonomia total nesses casos, que os
pleitos que vem da sociedade civil ou da administração pública são encaminhados pelo órgão
para as instâncias superiores. Relembra que qualquer tipo de alteração de categoria deve ser
realizada diretamente no Congresso Nacional, via projeto de lei. Aponta que no caso de
recategorização de Rebio para Parna implica diminuição de proteção já que além de pesquisa e
educação ambiental a UC passará a ter uso público também. Em caso de recategorização, o
ICMBIo faz o papel técnico apontando os prós e contras, refaz o plano de manejo e o
zoneamento para estabelecer o que pode ser utilizado e o que não pode. No entanto, entende
que isso não é um processo simples:
Estamos num momento político muito difícil em relação às questões ambientais.
Temos diversas UCs no país inteiro com problemas de regularização fundiária, que
necessitam de redefinição de limites ou de recategorização. Todos esses projetos hoje
no meu entendimento estão parados. Temos um momento tão ruim politicamente e
um Congresso tão ruim pra questão do meio ambiente que se a gente pleitear qualquer
tipo de coisa, como a gente não tem nenhum tipo de gestão, a gente fala “vamos trocar
x por y” eles vão lá e trocam x por z. A gente faz um projeto inteiro técnico vai pro
congresso e volta 2 hectares protegidos. Então melhor não mexer e gerir os conflitos
do que tentar mexer e voltar pior do que está. (Interlocutor 3 - ICMBio)
Para o interlocutor 4, o debate deve ser orientado pelo masterplan, e não pela
recategorização. Coloca ainda que os caminhos que foram utilizados para debater a
recategorização foram “equivocados”. Alega que se o atual ministro do meio ambiente amanhã
mandar um projeto de lei para a Casa Civil e o presidente aprovar e for pro congresso, o
“centrão” aprova a recategorização. “Só que eu não concordo com isso. Eu acho que esse não
é o processo.”
63
Assim, no ponto de vista do interlocutor 4, o masterplan seria o norteador para um futuro
processo de recategorização. Entende que a recategorização não pode ser feita apenas por
audiência pública por um grupo que é a favor e outro contra e que isso “é coisa do século
passado”. O poder público tem que trazer todo esse estudo (masterplan) e tem que dialogar com
a universidade, setor privado, como o setor público. Esclarece também que, quando estava na
prefeitura, ele acabou focando as ações no debate da recategorização e das audiências, deixando
de lado o masterplan. Mas, por outro lado, entende que arecategorização da Rebio Tinguá pode
servir de modelagem para o ICMBio para outras recategorizações já que não houve ainda
nenhum caso de recategorização de Rebio para Parque.
A respeito de possíveis documentos resultantes do processo de discussão sobre a
recategorização, o Interlocutor 1 diz desconhecer a geração de algum dado. Diz que não houve
uma audiência no campo ambiental e não se recorda de ter havido discussões no conselho da
Rebio e nem no Condema de Nova Iguaçu.
O Interlocutor 2 diz não haver nenhum documento ou estudo técnico e que há a
necessidade de documentação com prós e contras. Citou o inquérito cívil público federal da
reunião do dia 12 de setembro de 2019, no MPF em São João de Meriti. Informou que o
procurador já formulou a opinião do ministério público sendo contrário à recategorização e que
o ICMBio foi multado por não cumprir o plano de manejo da Rebio. Mas para ele ainda não é
o fim do debate:
“É um fantasma que assombra a unidade. Vão analisar os pontos em que eles perderam
e provavelmente lá na frente vão levantar essa questão da recategorização de novo,
talvez não usando mais a questão do turismo.” (Interlocutor 2 - ONG Defensoria Sócio
Ambiental)
65
tem sua efetividade no território. Independentemente de recategorização há que se pensar na
estruturação efetiva do uso público na UC, já que a atividade está prevista no plano de manejo.
Assim, faz-se necessário buscar parcerias e soluções junto ao poder público, universidades,
terceiro setor ou iniciativa privada para a implementação de um modelo de uso público, que
englobe públicos diversificados. Neste sentido, a partir da permissão de visitação com fins
educacionais, entende-se que atividades dos segmentos do turismo pedagógico e ecoturismo
podem ser desenvolvidas no local, considerando as finalidades da educação e interpretação
ambiental.
A partir da análise empreendida nesta pesquisa, cumpre destacar o entendimento de que
não há a necessidade de recategorização da Rebio Tinguá. Por outro lado, destaca-se a
importância de se promover o investimento em infraestrutura e recursos humanos na UC, para
implementação do plano de manejo e de um modelo de uso público que capaz de englobar os
diferentes segmentos de lazer e turismo com fins educacionais, fortalecendo a sensibilização e
a educação ambiental como ferramenta de conservação da sociobiodiversidade.
Além disso, o debate sobre a recategorização e fundamental deve considerar como ponto
de partida o desenvolvimento da comunidade de Tinguá em termos de infraestrutura básica para
a melhoria da qualidade de vida da população local, e para o turismo. Esse debate que deve
ocorrer de maneira comprometida e planejada, independentemente da categoria de UC
estabelecida no território. A atuação incipiente do poder público, nas suas diferentes esferas,
agrava problemas como a falta de saneamento básico, ocupação irregular, infraestrutura de
acesso e transporte público que precisam ser sanados independentemente de existir ou não uma
UC na região.
Por fim, sugere-se que diferentes estudos e pesquisas sejam realizados para a
compreensão do contexto socioeconômico da região do Tinguá, sobretudo com relação aos
benefícios associados ao lazer e aos demais aspectos para a melhoria da qualidade de vida
associada à integridade e efetividade das áreas protegidas da região.
66
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67
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turísticos: exploração ou conservação ambiental?. Revista Nordestina de Ecoturismo. v.4 ‐
n.2. Outubro de 2011.
70
ANEXOS
ANEXO 1 -
71
72
73
ANEXO 2
74
ANEXO 3
75
76
77
78
79
80