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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO MULTIDISCIPINAR
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E TURISMO
CURSO DE TURISMO

JULIANA BATISTA DE OLIVEIRA

LAZER E TURISMO NO DEBATE SOBRE A RECATEGORIZAÇÃO


DA RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ (RJ)

Nova Iguaçu
2020
JULIANA BATISTA DE OLIVEIRA

LAZER E TURISMO NO DEBATE SOBRE A RECATEGORIZAÇÃO DA


RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ (RJ)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal


Rural do Rio de Janeiro – Instituto Multidisciplinar como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em Turismo, sob a
orientação da Professora Dra. Camila Gonçalves de Oliveira Rodrigues.

Nova Iguaçu
2020
JULIANA BATISTA DE OLIVEIRA

LAZER E TURISMO NO DEBATE SOBRE A RECATEGORIZAÇÃO DA


RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ (RJ)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,


Instituto Multidisciplinar – UFRRJ para obtenção do título de Bacharel em Turismo.
Aprovado em:______/______/______

Banca Examinadora

____________________________________________
Professora Dra. Camila Gonçalves Oliveira Rodrigues
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

____________________________________________
Professora Dra. Maria Angélica Maciel Costa
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

____________________________________________
Professor Dr. Cleber Marques de Castro
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Nova Iguaçu
2020
DEDICATÓRIA

Dedico à toda a população da Baixada Fluminense, que é privada de muitos direitos em seu
território, inclusive o do lazer.

À minha família, por ter me apresentado ainda criança as belezas naturais da Baixada
Fluminense. Meu pai em especial, que sempre nos levava às cachoeiras de Adrianópolis e de
Tinguá. Na nossa vida com poucos recursos financeiros, era o lazer possível que ele podia nos
proporcionar. O lazer dito de “farofeiros”, pois com pouco dinheiro levávamos lanche, nosso
“pão com mortadela e Coca-Cola” para passar o dia na cachoeira.

Ao curso de Turismo da UFRRJ, por me fazer repensar e conhecer melhor o território em que
vivo e suas potencialidades para o turismo e o lazer. Por me fazer ter um olhar mais carinhoso
para com a nossa região que é tão desvalorizada e estigmatizada em questões de violência e
abandono do Poder Público.
“Obrigada, pensei mais uma vez, e mais uma vez. Obrigada. Não
apenas pela longa caminhada, mas por tudo o que pude sentir
finalmente se juntando dentro de mim; por tudo o que a trilha me
ensinou e por tudo que eu nem sabia ainda, embora soubesse que de
alguma forma já estava dentro de mim.”(Cheryl Strayed, Livre, 2012)
AGRADECIMENTOS

Foi um grande desafio voltar para a sala de aula depois de 6 anos de formada em outra
área. Ao mesmo tempo foi a realização de um sonho, que era estudar em uma universidade
pública. Eu realmente não imaginei que fosse chegar até o fim e muito menos as oportunidades
que se abririam pra mim nesta jornada. Muitas coisas aconteceram desde então, e entre altos e
baixos e vontade de desistir muitas vezes, enfim chego a etapa final. Ao longo desses quatro
anos tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis e que agregaram muito em minha
jornada.
Agradeço ao prof Sérgio Fiori, que sempre nos incentivou a fazer pesquisas na Baixada
Fluminense.
À professora Maria Angélica, por ter me dado a oportunidade de ser sua bolsista de
Iniciação Científica, na pesquisa de saneamento básico do município de Nova Iguaçu, onde
pude entender melhor nossa realidade nas questões de infraestrutura de água e esgoto na
Baixada Fluminense.
À professora Isabela Fogaça, pelos incentivos em relação aos trabalhos de POT-I e POT-
II, onde um dos campos de nossa pesquisa foi em Tinguá.
À professora Camila Rodrigues, por ter aceitado me orientar, por sua paciência e
compreensão com minhas limitações, e por ter contribuído com a sugestão do tema quando
disse que queria pesquisar a questão do turismo em Tinguá.
Aos colegas de classe que participaram comigo nos trabalhos de campo sobre Tinguá.
À equipe do Parque Estadual da Pedra Branca, que me deu a oportunidade de atuar como
voluntária de uso público, contribuindo imensamente para minhas pesquisas na área de
unidades de conservação e turismo.
Ao Conselho Municipal de Turismo de Nova Iguaçu por ter me dado a oportunidade de
participar do projeto Trilhas e caminhadas de Nova Iguaçu.
À todos que se disponibilizaram para as entrevistas.
Obrigada à todos que sempre torceram por mim, me incentivaram e acreditaram em
mim. Esse apoio foi fundamental nos momentos em que pensei em desistir.
RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso apresenta uma análise sobre as discussões de


recategorização da Reserva Biológica de Tinguá à luz do turismo. Neste sentido o objetivo deste
trabalho é identificar e analisar de que forma que o turismo e suas dimensões econômica, social,
ambiental, são discutidas e utilizadas no debate sobre a recategorização da Reserva Biológica
do Tinguá. O tema deste trabalho apresenta como o lazer, o turismo e o desenvolvimento
econômico e sustentável são utilizados na discussão de recategorização da Rebio Tinguá. Para
melhor compreensão do tema foram realizadas pesquisas bibliografias referentes aos temas de
turismo e lazer em áreas naturais, unidades de conservação e reservas biológicas, participação
em alguns eventos que discutiram a questão da recategorização e realização de entrevistas com
alguns interlocutores que participaram diretamente do debate de recategorização. A partir dos
resultados obtidos foi possível identificar que o uso público para fins educacionais na Rebio
Tinguá é pouco explorado. Existe a possibilidade de realizar turismo com segmentos que
trabalham a educação ambiental, na Rebio Tinguá. Os discursos a favor da recategorização
seguem o viés mercadológico, apostando na recategorização para o desenvolvimento
econômico do território na região de Tinguá, com uma visão elitista e segregadora do turismo.
Para além do turismo, a comunidade de Tinguá carece de investimentos sociais e de
infraestrutura para o bem- estar da população local.

Palavras-chave: uso público; recategorização; Reserva Biológica; Tinguá.


ABSTRACT

This course conclusion work presents an analysis of the discussions about the re-categorization
of the Tinguá Biological Reserve in the light of tourism. In this sense, the objective of this work
is to identify and analyze how tourism and its economic, social and environmental dimensions
are discussed and used in the debate on the re-categorization of the Tinguá Biological Reserve.
The theme of this paper presents how leisure, tourism and economic development are used in
the discussion of the re-categorization of Rebio Tinguá. For a better understanding of the theme,
bibliographic searches were carried out regarding the themes of tourism and leisure in natural
areas and conservation units. Events that discussed the issue of recategorization were analyzed.
Interviews were conducted with some interlocutors who participated directly in the
recategorization discussion. From the results obtained it was possible to identify that public use
for educational purposes in Rebio Tinguá is little explored. There is the possibility of
conducting tourism with segments that work with environmental education. The speeches in
favor of recategorization follow the market bias, betting on the recategorization for the
economic development of the territory in the Tinguá region. The Tinguá community lacks social
investments and infrastructure for the well-being of the local population.

Keywords: public use; recategorization; biological reserve; Tinguá


LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 - Facebook da Reserva Biológica União sobre as visitações...................................28


Imagem 2 - Logo da Reserva Biológica do Tinguá..................................................................33
Imagem 3 - Mapa área de abrangência Reserva Biológica do Tinguá......................................34
Imagem 4 - Mapa da Zona de uso extensivo da Reserva Biológica do
Tinguá...........................................................................................................................35
Imagem 5 - Rio represado utilizado por bares..........................................................................42
Imagem 6 - Outdoor na entrada do Sítio Recantos de Tinguá .................................................43
Imagem 7 - Divulgação do Seminário após o avento na página da Prefeitura de
Nova Iguaçu no Facebook ...............................................................................................46
Imagem 8 - Slide da apresentação do documento de recategorização .....................................49
Imagem 9 - Reunião do Ministério Público Federal em São João de Meriti ...........................50
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - As 10 Unidades de Conservação mais visitadas em 2019.......................................19


Tabela 2 - Unidades de Conservação de Proteção Integral.......................................................21
Tabela 3 - Unidades de Conservação de Uso Sustentável........................................................22
Tabela 4 - Divisão por bairros da Unidades Regionais de Governo XII – Tinguá
.....................................................................................................................................39
Tabela 5 - Interlocutores entrevistados e suas áreas de atuação ...........................................57
Tabela 6 - Roteiro de entrevistas ......................................................................................58
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEI - Áreas Estratégicas


AEIT - Área de Especial Interesse Turístico
AGGI - Ações Gerenciais Gerais Internas
APA – Área de Proteção Ambiental
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEDAE - Companhia Estadual de Águas e Esgotos
CI – Conservação Internacional
COMTUR – Comnselho Municipal de Turismo
CONCER - Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora – Rio
CONDEMA - Conselho Municipal de Meio Ambiente
ESEC – Estação Ecológica
FENIG - Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu
ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IM-UFRRJ – Instituto Multidisciplinar - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
INEA - Instituto Estadual do Ambiente
INEPAC - Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
MPF – Ministério Público Federal
MTur – Ministério do Turismo
ONG – Organização Não Governamental
PARNA – Parque Nacional
REBIO – Reserva Biológica
RDS – Reserva do Desenvolvimento Sustentável
RESEX – Reserva Extrativista
SEMADETUR - Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura, Desenvolvimento
Econômico e Turismo
SEMED – Secretaria Municipal de Educação
SEMIF – Secretaria Municipal de Infraestrutura
SETUR – Secretaria de Estado de Turismo
SISTUR – Sistema de Turismo
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação
TRANSPETRO - Petrobras Transporte S.A.
UC – Unidade de Conservação
URG – Unidade Regional de Governo
SUMÁRIO
1 - LAZER EM ÁREAS NATURAIS .................................................................................. 18
1.1 - Uso público em Unidades de Conservação .............................................................. 21
1.2 - Uso Público em Reservas Biológicas ....................................................................... 27
1.3 - Recategorização de Unidades de Conservação ...................................................... 32
2 - CARACTERIZAÇÃO DA RESERVA BIOLÓGICA DE TINGUÁ E SEU
ENTORNO .............................................................................................................................. 35
2.1 – Reserva Biológica de Tinguá ..................................................................................... 35
2.2 – Unidade Regional de Governo de Tinguá ................................................................ 40
2.3 - Perfil dos visitantes do entorno da Reserva Biológica de Tinguá ......................... 46
3 - REBIO TINGUÁ X PARNA TINGUÁ .......................................................................... 47
3.1- Arenas de debate público ........................................................................................... 47
3.2 - A perspectiva de recategorização da Rebio Tinguá: posicionamentos e
argumentos .......................................................................................................................... 56
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 65
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 67
ANEXOS ................................................................................................................................. 71
INTRODUÇÃO

A região do Tinguá, situada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, é muito


procurada por moradores e visitantes em busca de atividades de lazer realizadas na água,
principalmente no verão. Além dos sítios com piscina (em torno de 50 empreendimentos), a
região é rica em rios que nascem na Reserva Biológica (Rebio) Tinguá e formam poços e
cachoeiras tanto na reserva, quanto em sua zona de amortecimento. Essas cachoeiras são muito
frequentadas por moradores locais e da Baixada Fluminense em geral. Além disso, os
mananciais da Rebio Tinguá são responsáveis pelo abastecimento de parte da Baixada
Fluminense, através de captações da Cedae, um sistema antigo que foi instalado no séc. XIX,
durante o Império de D. Pedro II. (ELIAS & SCARRONE, 2015)
Além da Reserva Biológica do Tinguá, que é administrada a nível federal pelo Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a região conta com mais três
Unidades de Conservação: Área de Proteção do Alto Iguaçu (administração estadual Instituto
Estadual do Ambiente - INEA), Área de Proteção Ambiental do Tinguá e Área de Proteção
Ambiental do Tinguazinho (administração municipal Semadetur) (SEMADETUR, 2017)
Há alguns anos, um grupo formado por ambientalistas e alguns representantes do poder
público, defendem a recategorização da Reserva Biológica de Tinguá para Parque Nacional do
Tinguá, utilizando como um dos principais argumentos os benefícios econômicos e o
desenvolvimento que a alteração de categoria poderia gerar para a região. Com o lançamento
do programa Baixada Verde, em 2017, pela Secretaria de Estado de Turismo (SETUR), que
teve como objetivo incentivar o turismo natural na Baixada Fluminense, sobretudo em unidades
de conservação (UC), esse discurso ganhou força. (ESPAÇOS, 2017). A região do Tinguá está
contemplada no programa, que visa impulsionar o turismo em sua região, pois foi incluída na
legislação de Área de Especial Interesse Turístico (AEIT), instituída em maio de 2011, pelo
governo municipal (NOVA IGUAÇU, 2011). Contudo, grupos contrários à recategorização
formados por pessoas físicas, representantes do poder público e do terceiro setor, também
expressam seus argumentos contrários à recategorização, deixando transparecer os diferentes
interesses e visões em disputa sobre o desenvolvimento da região.
Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo geral identificar e analisar de
que forma que o turismo e suas dimensões econômica, social, ambiental, são discutidas e
utilizadas no debate sobre a recategorização da Reserva Biológica do Tinguá. E, como
objetivos específicos: apresentar uma caracterização da dinâmica de utilização da REBIO
Tinguá e área de influência para fins de recreação e turismo; apresentar um quadro de como o
14
turismo e o lazer se dão atualmente na região de Tinguá; mapear os diferentes interlocutores e
seus respectivos posicionamentos e argumentos associados ao turismo utilizados no debate
sobre a recategorização; identificar as possíveis problemáticas de uma recategorização à luz do
turismo.
O presente trabalho de divide em quatro capítulos. O primeiro capítulo apresenta alguns
aspectos conceituais sobre lazer em áreas naturais enquanto necessidade do ser humano e sua
relação com esses ambientes. Faz uma abordagem teórica sobre o uso público em Unidades de
Conservação, apresentando suas categorias com ênfase nas diretrizes de utilização e gestão das
Reservas Biológicas.
No segundo capítulo abre-se uma discussão, a partir da análise da literatura existente a
respeito de recategorizações de UC no Brasil. Listam-se alguns estudos de caso, tendo como
pano de fundo a Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação, e atuação do poder público nesses casos.
O terceiro capítulo apresenta a caracterização da área de discussão, a Reserva Biológica
de Tinguá, tendo como recorte o bairro de Tinguá, no município de Nova Iguaçu, local onde
está situada a sede da UC, área na qual o governo municipal vinha concentrando seus esforços
para a recategorização.
Por fim, no quarto capítulo, são descritos os eventos em que foram discutidas a
recategorização da Rebio para Parque, a participação de diversos setores envolvidos e entrevista
com interlocutores considerados relevantes nessa discussão.

Procedimentos metodológicos

A presente pesquisa se baseou em uma abordagem qualitativa, de cunho


exploratório, que segundo Gil (2008):
Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral,
de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado
especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele
formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. (GIL, 2008, p. 27)

Para alcançar os objetivos propostos, foram utilizados os seguintes procedimentos


metodológicos:
- levantamento bibliográfico para melhor compreensão sobre os conceitos de turismo
em áreas naturais, uso público em Unidades de Conservação (UC) em especial em Reservas
Biológicas (Rebio) e recategorização de UCs. O levantamento considerou livros, artigos,

15
monografias, dissertações, teses, documentos do Ministério do Turismo (MTur) e do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Foram realizadas pesquisas no
Google Acadêmico e na plataforma de periódicos da CAPES. As palavras de busca utilizadas,
de maneira combinada, foram: turismo, lazer, unidades de conservação, áreas protegidas,
recategorização, Reserva Biológica, Parque Nacional, Tinguá. Algumas pesquisas importantes
encontradas foram as pesquisas na área da Rebio Tinguá de Martins (2011), Ferreira (2013) e
Oliveira (2015) que abordam turismo, lazer e educação ambiental na Rebio Tinguá e seu
entorno.
- levantamento de documentos institucionais sobre a área de estudo. Essa pesquisa se
baseou em documentos e legislações específicas do município de Nova Iguaçu, com foco na
região de Tinguá onde se localiza a sede REBIO Tinguá (Plano Diretor da Cidade, legislação
de Área de Especial Interesse Turístico), Plano de Manejo da REBIO Tinguá, documentos do
ICMBio e das prefeituras locais que registram o processo de discussão sobre a recategorização.
Cumpre salientar neste item, as informações obtidas a partir dos registros dos seguintes eventos
que a autora participou como ouvinte entre 2017 e 2019: 1ª Jornada Ambiental de Nova Iguaçu,
no dia 06 de junho como tema: “Seminário Parque Nacional do Tinguá – Uma visão de Futuro
para a Baixada Fluminense” realizado no auditório do IM-UFRRJ em Nova Iguaçu; Reunião
Ordinária do Conselho Municipal de Turismo de Nova Iguaçu, realizada no dia 25 de janeiro
de 2018 na SEMADETUR; Reunião do Ministério Público Federal, realizada no dia 12 de
setembro de 2019 no Ministério Público Federal em São João de Meriti. Os eventos foram
gravados e disponibilizados nas redes sociais. A autora também lançou mão de apontamentos
feitos na época dos eventos.
- para traçar um panorama da caracterização do bairro de Tinguá foram utilizados dados
levantados em campo para trabalhos das disciplinas Turismo e Meio Ambiente, Políticas
Públicas para o Turismo e Planejamento e Organização do Turismo I, entre 2017 e 2018.
Durantes esses campos foi possível conhecer a dinâmica de visitação na área, com destaque
para a elaboração de um vídeo1 analisando o Sistema Turístico (Sistur) da região para a
disciplina Planejamento e Organização do Turismo I. Neste sentido, ainda que não tenha sido
possível realizar a pesquisa de campo prevista no TCC em virtude do isolamento social
necessário para controlar a pandemia COVID-19, considera-se que a autora do presente

1
Sistur Tinguá – POTI. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ImdCWYxZJGw. Acesso em
01/11/2020
16
trabalho tem uma bagagem relevante em termos de conhecimento da dinâmica de uso e
ocupação da área de estudo.
- levantamento de dados secundários a partir de pesquisa nas redes sociais Facebook,
Instagram e Youtube, sites institucionais, jornais de grande circulação. Esse levantamento foi
realizado com o objetivo de identificar de que forma tem sido divulgado o tema da
recategorização, quais os termos e conteúdo utilizados, o que está em “debate” nas redes, quais
instituições envolvidas, entre outros aspectos.
- interlocução com analista ambiental da Rebio Tinguá, representante da Semadetur e
de duas ONGs atuantes na região para conhecer seus pontos de vista a respeito da
recategorização da Rebio Tinguá. As entrevistas foram realizadas em outubro de 2020, com o
apoio de um roteiro de perguntas e foram agendas por email e/ou comunicação via Whatsapp.
Três encontros foram realizados por meio de canal de comunicação remoto (plataforma Zoom).
As entrevistas foram gravadas, com a devida autorização e consentimento dos interlocutores,
expressa no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido utilizado na pesquisa (ANEXO 1).
Um dos encontros foi realizado de forma presencial na sede da ONG situada em Tinguá.

17
1 - LAZER EM ÁREAS NATURAIS

Na sociedade moderna, e sobretudo urbana, a busca por áreas naturais natureza e a


prática de atividades ao ar livre têm se intensificado. Alguns estudos apontam os resultados das
atividades em ambientes naturais sobre a saúde, por meio da cura de doenças e amenização de
transtornos mentais. Atividades ao ar livre como caminhadas na natureza, ficar próximo ao mar,
respirar ar puro, são prescritas desde sempre como forma de recuperação de doenças como
tuberculose. Nos últimos anos, alguns estudos vêm sendo realizados no sentido de comprovar
os efeitos benéficos da natureza na nossa saúde como o aumento da imunidade, redução do
estresse, melhora da saúde mental, tratamento de doenças respiratórias, dentre outras. 2
Fala-se inclusive em “Transtorno do Déficit de Natureza”, termo cunhado por Richard
Louv, autor do livro “A última criança na natureza” (2016), que aponta problemas como
obesidade infantil, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e depressão como
causados pela falta desse contato das crianças com a natureza.3
Com a pandemia de COVID-19, e a necessidade de isolamento social, a frequência de
atividades ao ar livre e em ambientes naturais também diminuiu. Parques e áreas verdes foram
fechadas para visitação durante o período mais crítico de isolamento. Com a flexibilização de
algumas regras da quarentena e a abertura de algumas UC, foi registrado o retorno de um fluxo
significativo de pessoas em ambientes naturais. Essa procura em massa levou alguns atrativos
a reverem sua abertura e forma de visitação, como foi o caso do atrativo Pedra Bonita, no Parque
Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro4.
Com relação às atividades de lazer nas sociedades industriais modernas, Martins (2011)
sugere duas vertentes que podem ser observadas na experiência das pessoas: empobrecedoras
e enriquecedoras. O lazer tinha como finalidade o controle, a moral e promoções de virtudes,
gerando assim uma tensão entre o lazer dito “racional” e um lazer apenas pelo divertimento,
sem uma “finalidade moral”. Nas tradições norte-americanas o lazer estava associado ao lúdico,
prezando pela diversão, desenvolvimento de potencialidades dos indivíduos e poder educativo.

2
Conexão com a natureza: reflexões sobre saúde e conservação
Disponível em https://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/conexao-com-a-natureza-reflexoes-sobre-
saude-e-conservacao/. Acesso em 10/11/2020.
3
'Deficit de natureza' provoca problemas físicos e mentais em crianças, alerta especialista. Disponível em
https://www.bbc.com/portuguese/geral-36592620. Acesso em 10/11/2020.
4
Disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/07/28/trilha-da-pedra-bonita-no-parque-
nacional-da-tijuca-e-fechada-no-rio-apos-registro-de-aglomeracoes.ghtml. Acesso em 10/11/20.
18
Já na Europa, o lazer era uma forma de educar, regular comportamentos e controlar os excessos
(MARTINS, 2011).
Para Cruz (2001), as cidades, independentemente do seu porte, oferecem diferentes
oportunidades de uso do tempo livre, que passa pela cultura. A cultura ocidental por exemplo
valoriza o lazer relacionado ao consumo, onde as pessoas vão aos shoppings centers no seu
tempo livro para fazer compras, refeições e consumir alguns serviços. Assim, não existe uma
fórmula para a utilização desse tempo livre, já que cada sociedade valoriza de formas diferentes
o tempo de trabalho e de não-trabalho, bem como suas atividades de lazer. Com a globalização
do mercado, há restrições de participação dos indivíduos relacionadas à concentração de renda
nas mãos de uma pequena elite e empobrecimento de uma grande parcela da população
mundial. Sendo assim, as atividades recreativas e culturais estão relacionadas à questões
econômicas, familiares e sociais.
Tulik (1990), diz que o conceito de meio ambiente não se restringe apenas ao meio físico
(água, ar, flora e fauna), mas também envolve o homem e suas produções culturais, de uma
forma ativa, interagindo com o meio ambiente em que está inserido. Ela também chama atenção
para o fato de haver dificuldade em separar as mudanças ocorridas no meio ambiente antes da
atividade turística começar ocorrer. Não se sabe se as alterações ambientais que ocorreram com
a exploração do turismo já vinham ocorrendo anteriormente. A sobrecarga da infraestrutura é
apontada como um dos impactos negativos causados pelo turismo. Mas, no entendimento da
autora, o turismo, por si só, não pode ser responsabilizado pelos danos causados ao meio
ambiente, pois mesmo sem a exploração da atividade já poderiam estar ocorrendo esses danos.
O turismo tem a capacidade de transformar lugares em relação a sua natureza e cultura.
São necessários estudos e análises para dizer se o turismo impactou de forma positiva ou
negativa o patrimônio cultural ou natural de uma localidade. E, ainda assim, quando o impacto
socioeconômico e cultural for analisado, cada autor vai analisar o impacto a sua maneira,
podendo ser benéfico para um e o mesmo impacto ser negativo para outro. Alguns impactos
decorrentes da presença humana, como produção de resíduos e a falta de capacidade técnica
dos municípios de lidar com a população sazonal em seus territórios são os mais comuns.
Podem ser vistos como exagero para algumas pessoas, porém para ambientalistas podem
representar uma catástrofe ambiental no local (CRUZ, 2001. p.30-32).
O turismo muitas das vezes pode esconder a realidade de uma localidade que o turista
não consegue ver. Sobre isso YÁZIGI (2002 apud SILVA; MELLO & SOUZA, 2011, p. 31)
aponta que:

19
[...] a atividade turística tem vendido o espaço imaginário, ou seja, espaços
reconstruídos simbolicamente pela publicidade, ocultando as reais situações do lugar,
como o vandalismo e a miséria, gerando a alienação do turista e a exclusão da
população local, uma vez que a mesma não consegue adentrar e/ou participar do
processo, pois passa a não se identificar mais com o lugar. Para o autor a paisagem,
antes de tudo, interessa aos seus próprios habitantes. Neste contexto, tanto a violência
como a pobreza de um determinado local afastam os turistas, e mesmo que tenham
sido criados espaços fechados, dificilmente conseguirão manter a visitação dos
turistas. (YÁZIGI, 2002 apud SILVA; MELLO & SOUZA, 2011, p. 31)

No Brasil, estudos registram conflitos a partir da criação de unidades de conservação,


onde territórios são apropriados e utilizados para a atividade turística, gerando contradições em
relação a vida da comunidade local e tradicional. Muitas vezes estas populações são excluídas
ou expropriadas de seus territórios.
São territórios recriados para atender as demandas do turismo internacional e
nacional, e ao mesmo tempo exclui e/ou expropria territorialmente, socialmente e
economicamente comunidades tradicionais e locais as quais dificilmente terão
condições financeiras para usufruir dos atrativos turísticos implantados. (SILVA;
MELLO & SOUZA, 2011, p.31)

Conforme Rodrigues at al, (2018, p.80) o uso público vem sendo utilizado como
estratégia para conservar a biodiversidade e ganhou um destaque na agenda política, sobretudo
internacional. Os autores também afirmam que:
Por outro lado, os esforços para a conservação dependem cada vez mais de áreas
protegidas, que funcionam como a base para a manutenção da diversidade biológica
e fonte de serviços ecossistêmicos para a sociedade. Alem disso, o aumento de
pesquisas que visam compreender os impactos do turismo em áreas protegidas
associados a saúde, bem-estar, pertencimento, economia, qualidade ambiental,
expressam a relevância da temática no contexto atual (McCool & Spenceley, 2014,
apud RODRIGUES at al, 2018, p.80)

Diegues (2000) chama atenção para o termo “turismo ecológico” que é empregado em
parques e reservas estar preso ao que chama de “mito da natureza intocada e selvagem” (p.62).
pois os primeiros parques nacionais norte-americanos foram concebidos com uma visão elitista
por não levarem em consideração as culturas e modos tradicionais de vida das populações que
habitavam aqueles territórios. O turismo ecológico atualmente segue neste viés, pois é destinado
aos que podem pagar tarifas diferenciadas.

20
1.1 - Uso público em Unidades de Conservação

A visitação em unidades de conservação federais ultrapassou 15 milhões de visitantes,


em 2019, com um incremento de 20,4% de visitantes em relação a 20185 (Tabela 1) Esse
número se deve não apenas ao aumento real de visitantes, como também na melhoria de
monitoramento de visitação dessas UC.

Tabela 1 – As 10 Unidades de Conservação mais visitadas em 2019.

Fonte: ICMBio, 2020.

Interessante destacar que as categorias de manejo de UC que recebem mais visitantes


são os Parques Nacionais (PARNA), porém Áreas de Proteção Ambiental (APA), Monumentos
Naturais (MONA) e Reservas Extrativistas (RESEX) configuram entre os 10 primeiros da lista.
Outro ponto que merece destaque é que as UC que ocupam o topo da lista abrigam os principais
cartões postais do país: Cristo Redentor e Cataratas do Iguaçu, o que pode explicar o alto índice
de visitação nessas UCs. Em relação ao impacto econômico do turismo nestas áreas, em 2018
os 12,4 milhões de visitantes das UC geraram cerca de R$ 2,4 bilhões de incremento na
economia dos municípios de acesso a estas unidades ecerca de 90 mil empregos a nível
nacional.

5
Monitoramento da Visitação em Unidades de Conservação Federais: Resultados de 2019 e Breve Panorama
Histórico. Disponível em:
https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/monitoramento_visitacao_em_ucs_fe
derais_resultados_2019_breve_panorama_historico.pdf. Acesso em: 12 de Nov. 2020.
21
Com relação a concessões de serviços nos parques nacionais, o documento é bem
tendencioso ao mencionar o incremento da visitação no Parque Nacional do Iguaçu que em
2000 recebeu 767.157 visitantes, chegando a 5.991.310 visitantes em 2019, quando mais sete
parques passaram a ser concessionados. O relatório considera que das UCs monitoradas em
2019, 61% da visitação ocorreram em UCs sem concessão, mostrando assim o potencial
econômico dessas unidades e importância de aumento de contratos e parcerias com a iniciativa
privada para que as UCs possam atender melhor os visitantes. Sobre essa questão econômica
do planejamento das UCs RODRIGUES & IRVING (2015) apontam que:
[...] dependendo da forma como a visitação for planejada e implementada nos parques
nacionais, estas áreas podem ser interpretadas como um “produto” a ser consumido
no mercado turístico, por meio de serviços prestados aos ‘visitantes-consumidores’.
Nesta linha de raciocínio, a apropriação mercadológica do parque nacional seria
reforçada pela aplicação do Código do Consumidor, utilizado como a ‘ponte’ de
comunicação entre o espaço público e o visitante. (p.13)

De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), Unidades de


Conservação (UC) é:
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com
características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração,
ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção; (BRASIL, 2011)

O SNUC divide as Unidades de Conservação em dois grupos: as Proteção Integral


(Tabela 2), que admite o uso indireto de seus recursos e as de Uso Sustentável (Tabela 3) que
admitem o uso direto de seus recursos, porém de forma sustentável.

Tabela 2 - Unidades de Conservação de Proteção Integral


Tipos de
Finalidade Visitação pública Pesquisa científica
UC
preservação da natureza Proibida, exceto quando depende de autorização
e a realização de com objetivo prévia do órgão responsável
pesquisas científicas educacional, de acordo pela administração da
com o que estiver unidade e está sujeita às
Estação disposto no Plano de condições e restrições por
Ecológica Manejo da unidade ou este estabelecidas, bem
regulamento específico como àquelas previstas em
regulamento.

22
preservação integral da Proibida, exceto aquela depende de autorização
biota e demais atributos com objetivo prévia do órgão responsável
naturais existentes em educacional, de acordo pela administração da
seus limites, sem com regulamento unidade e está sujeita às
interferência humana específico. condições e restrições por
direta ou modificações este estabelecidas, bem
ambientais, excetuando- como àquelas previstas em
se as medidas de regulamento.
Reserva
recuperação de seus
Biológica
ecossistemas alterados e
as ações de manejo
necessárias para
recuperar e preservar o
equilíbrio natural, a
diversidade biológica e
os processos ecológicos
naturais.
preservação de está sujeita às normas e depende de autorização
ecossistemas naturais de restrições estabelecidas prévia do órgão responsável
grande relevância no Plano de Manejo da pela administração da
ecológica e beleza unidade, às normas unidade e está sujeita às
cênica, possibilitando a estabelecidas pelo órgão condições e restrições por
realização de responsável por sua este estabelecidas, bem
Parque
pesquisas científicas e o administração, e àquelas como àquelas previstas em
Nacional
desenvolvimento de previstas em regulamento.
atividades de educação e regulamento.
interpretação ambiental,
de recreação em contato
com a natureza e de
turismo ecológico.
preservar sítios naturais está sujeita às condições e Não especificado pelo
raros, restrições estabelecidas SNUC
singulares ou de grande no Plano de Manejo da
beleza cênica. unidade, às normas
Monument
estabelecidas pelo órgão
o Natural
responsável por sua
administração e àquelas
previstas em
regulamento.
proteger ambientes está sujeita às normas e depende de autorização
naturais onde restrições estabelecidas prévia do órgão responsável
se asseguram condições no Plano de Manejo da pela administração da
Refúgio de para a existência ou unidade, às normas unidade e está sujeita às
Vida reprodução de espécies estabelecidas pelo órgão condições e restrições por
Silvestre ou comunidades responsável por sua este estabelecidas, bem
da flora local e da fauna administração, e àquelas como àquelas previstas em
residente ou migratória. previstas em regulamento.
regulamento.
Fonte: Adaptado de BRASIL (2000).

23
Tabela 3 - Unidades de Conservação de Uso Sustentável
Tipos de
UC Finalidade Visitação pública Pesquisa científica
proteger a diversidade serão estabelecidas pelo serão estabelecidas pelo
biológica, disciplinar órgão gestor da unidade. órgão gestor da unidade. Nas
o processo de ocupação Nas áreas sob áreas sob propriedade
e assegurar a propriedade privada, cabe privada, cabe ao proprietário
Área de
sustentabilidade do uso ao proprietário estabelecer as condições
Proteção
dos recursos naturais. estabelecer as condições para pesquisa e visitação
Ambiental
para pesquisa e visitação pelo público, observadas as
pelo público, observadas exigências e restrições
as exigências e restrições legais.
legais.
manter os ecossistemas Não especificado pelo Não específicado pelo
naturais de importância SNUC SNUC
regional ou local e
Área de
regular o uso admissível
Relevante
dessas áreas, de modo a
Interesse
compatibilizá-lo com os
Ecológico
objetivos de
conservação da
natureza.
o uso múltiplo Permitida. Condicionada Permitida e incentivada,
sustentável dos recursos às normas estabelecidas sujeitando-se à prévia
florestais e a pesquisa para o manejo da unidade autorização do órgão
Floresta científica, com ênfase pelo órgão responsável responsável pela
Nacional em métodos para por sua administração. administração da unidade, às
exploração sustentável condições e restrições por
de florestas nativas. este estabelecidas e àquelas
previstas em regulamento.
proteger os meios de Permitida. Desde que Permitida e incentivada,
vida e a cultura de compatível com os sujeitando-se à prévia
populações tradicionais, interesses locais e de autorização do órgão
e assegurar o uso acordo com o disposto no responsável pela
Reserva sustentável dos recursos Plano de Manejo da área. administração da unidade, às
Extrativista naturais da unidade. condições e restrições por
este estabelecidas e às
normas previstas em
regulamento.
estudos técnico- Permitida. Desde que _
científicos sobre o compatível com o manejo
manejo econômico da unidade e de acordo
Reserva de
sustentável de recursos com as normas
Fauna
faunísticos. Proibido o estabelecidas pelo órgão
exercício da caça responsável por sua
administração.
24
amadorística ou
profissional.

preservar a natureza e, Permitida e incentivada, Permitida e incentivada.


ao mesmo tempo, desde que compatível Voltada à conservação da
assegurar as condições e com os interesses locais e natureza, à melhor relação
os meios necessários de acordo com o disposto das populações residentes
para a reprodução e a no Plano de Manejo da com seu meio e à educação
melhoria dos modos e área; ambiental,
Reserva de da qualidade de vida e sujeitando-se à prévia
Desenvolvi exploração dos recursos autorização do órgão
mento naturais das populações responsável pela
Sustentável tradicionais, bem como administração da unidade,
valorizar, conservar e às condições e restrições por
aperfeiçoar o este estabelecidas e às
conhecimento e as normas previstas em
técnicas de manejo do regulamento;
ambiente, desenvolvido
por estas populações.
conservar a diversidade Permitida com objetivos Permitida conforme
Reserva biológica. turísticos, recreativos e regulamento.
Particular educacionais, conforme
do regulamento;
Patrimônio
Natural
Fonte: Adaptado de Brasil (2000).

A Reserva Biológica e o Parque Nacional estão inseridos no mesmo grupo de UC, o de


Proteção Integral, que admite apenas o uso indireto dos recursos naturais, tendo como finalidade
principal a preservação da natureza. Na Reserva Biológica, a visitação é permitida apenas com
fins educacionais. Já a categoria de manejo Parque Nacional, permite o “desenvolvimento de
atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de
turismo ecológico.” (BRASIL, p.10, 2011)
Com base nas diretrizes apresentadas pelo SNUC para o uso público em unidades de
conservação, considera-se relevante a análise de alguns conceitos que permeiam a visitação
nestas áreas.
Dentro do Sistema de Turismo, o SISTUR criado por Beni (2000), o meio ambiente está
inserido no componente de Relações Ambientais, dentro do subsistema Ecológico. Nesse

25
subsistema a natureza é matéria prima do turismo, e um dos fatores analisados são as
consequências do turismo sobre o meio ambiente.
De acordo com Dias (2005), o turismo pode ser conceituado nas vertentes econômicas
e social/cultural. Na primeira vertente econômica, é conceituado como indústria turística pois
gera produtos para o consumo atendendo a necessidade dos turistas. Na segunda vertente
“atende às necessidades psicossociológicas dos turistas, que geram incontáveis interações
sociais entre diversos agentes [...] provocando mudanças sociais e culturais”. (p.19)
A respeito do turismo e dos turistas Rodrigues e Irving (2010):
nem todos os visitantes dos parques nacionais são turistas, conforme a conceituação
de turismo, discutida a seguir. Existem parques nacionais que recebem mais visitantes
do que turistas, como é o caso do Parque Nacional de Brasília (DF), que é freqüentado,
principalmente, por moradores de Brasília. Já no caso do Parque Nacional do Iguaçu
(PR), a maioria dos freqüentadores é turista, proveniente de outros países.[...] Assim,
sob a perspectiva do mercado, os turistas são potenciais consumidores que dinamizam
a cadeia produtiva do turismo. (2010, p.5)

Ainda de acordo com Rodrigues e Irving (2010), independentemente da origem e


motivação da visitação, todos são considerados visitantes do ponto de vista do órgão gestor,
mas para estabelecer políticas de acesso diferenciadas, como, por exemplo, o acesso da
população do entorno e/ou o acesso de visitantes estrangeiros, são consideradas a origem e a
renda dos visitantes.
Sobre o desenvolvimento econômico a partir do turismo Conti e Irving (2010) defendem
que o modelo de turismo atual tende a atender as demandas da sociedade capitalista e
globalizada, negligenciando questões sociais, culturais e ambientais envolvidas no processo.
Esse modelo acaba excluindo a população local dos processos decisórios, uma vez que estão
em desvantagem econômica. O modelo de turismo baseado nesse pressuposto implica na
destruição no mecanismo de desenvolvimento das populações locais dos destinos turísticos.
Ainda, de acordo com Bedim (2007):
a lógica de acumulação do "capital turístico" é espacial e socialmente excludente, já
que, a princípio, as populações locais raramente detém capital de giro e mão-de-obra
qualificada, além de desconhecerem os mecanismos econômicos da "indústria
turística". Via de regra, os ganhos econômicos do turismo se concentram nas mãos de
grandes investidores intimamente articulados aos mercados de capitais. (p.84)

Com isso, assiste-se também o processo de especulação imobiliária através da


valorização de terras no entorno dos Parques Nacionais (BEDIM, 2007).

26
1.2 - Uso Público em Reservas Biológicas
As Reservas Biológicas são criadas com o objetivo básico de preservação da natureza,
sendo admitido apenas o uso indireto de seus recursos naturais, salvo em casos previstos em
legislação. Assim, juntamente com as Estações Ecológicas, compõem o conjunto de UC mais
restritivas. Ainda assim, de acordo com o SNUC, as visitações nas Rebios podem ser realizadas
para fins educacionais

Art. 10.
§ 1º A Reserva Biológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas
particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que
dispõe a lei.
§ 2º É proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de
acordo com regulamento específico.
§ 3º A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela
administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este
estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.

O Plano de Manejo da Rebio Tinguá reforça a proibição de visitação pública que não
seja para fins educacionais. Com relação à visitação com fins educacionais, registra-se que as
mesmas ocorrem de forma guiada, próximo a sede da UC, com escolas, mediante agendamento
prévio (PLANO DE MANEJO DA REBIO TINGUÁ, 2006).

Sendo assim, entende-se que qualquer tipo de visitação, desde que com finalidade
educativas, são permitidas nas Reservas Biológicas. Contudo, o SNUC não especifica o que
consiste a visitação com "fins educacionais". Na verdade, o SNUC define as diretrizes para cada
categoria de UC, mas ainda não existe um regulamento específico para a Reserva Biológica,
situação que tende a gerar diferentes interpretações sobre a abrangência do conteúdo educativo
em diferentes tipos de visitação nestas áreas para a categoria fixada pelo SNUC.

Neste contexto, considera-se fundamental a compreensão sobre a interface entre


educação ambiental e as diferentes formas de lazer e turismo em UC. A educação ambiental
pode ser formal e não formal e é utilizada como ferramenta por alguns segmentos de turismo
como, por exemplo, o turismo pedagógico e o ecoturismo. O conceito de educação ambiental,
segundo a Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei 9.995, de 27 de abril
de 1999, é:

“[...]os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade.” (BRASIL, 1999, art. 1º).

27
A Política Nacional de Educação Ambiental também estabelece conceitos para a
educação ambiental formal e não formal:

Art. 9º Entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no


âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando:
I - educação básica:
a) educação infantil;
b) ensino fundamental e
c) ensino médio;
II - educação superior;
III - educação especial;
IV - educação profissional;
V - educação de jovens e adultos.
[...]Art. 13 Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas
educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à
sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.

Ao observar os conceitos de educação e de turismo, é oportuno considerar as abordagens


multi e interdisciplinar que permeiam a sua compreensão. O turismo pedagógico ou
educacional, por exemplo, tem como objetivo possibilitar o conhecimento teórico apreendido
em sala de aula para uma realidade ou vivência externas. Neste tipo de turismo são organizadas
visitas e viagens dirigidas em campo, que levam os alunos a vivenciar questões colocadas
previamente em sala de aula. Esse tipo de turismo incentiva uma valorização dos lugares
visitados e os locais onde vivem. Pode-se mesclar educação formal e não formal nessas saídas
de campo, fortalecendo a educação ambiental como uma das ferramentas utilizadas pelo
turismo pedagógico (CEDERJ, 2016)

Como exemplo de empresas que se envolvem com o turismo pedagógico, pode-se citar
o Instituto Moleque Mateiro6, que desenvolve atividades de educação ambiental em diferentes
UC na cidade do Rio de Janeiro. Tem como público-alvo escolas, empresas e grupos familiares.
Realizam seus projetos e cursos baseados na Política Nacional de Educação Ambiental, tanto
na educação formal e não formal, em parceria com escolas, universidades, empresas e unidades
de conservação.

O documento "Diretrizes para uma Política nacional de Ecoturismo" publicado pelo


Ministério do Meio Ambiente e Ibama, em 1994, estabelece uma conceituação de ecoturismo
que vai além da simples visitação em contato com a natureza. Neste documento, o ecoturismo
é definido como segmento turístico que utiliza o patrimônio natural e cultural de forma
sustentável, incentivando sua conservação através da “formação de uma consciência

6
Instituto Moleque Mateiro. Quem Somos. Disponível em: http://www.molequemateiro.com.br/quem-
somos.php. Acesso em 20/11/2020.
28
ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das
populações envolvidas”. (grifo da autora, p.19)

O documento "Ecoturismo: Orientações Básicas", publicado pelo Ministério do


Turismo, em 2010, adota a mesma definição do Ministério do Meio Ambiente, e detalha os
termos dessa conceituação da seguinte forma: “Segmento da Atividade Turística”, “Utilização
sustentável do patrimônio natural e cultural” “Incentivo à conservação do patrimônio natural e
cultural e busca de uma consciência ambientalista pela interpretação do ambiente” e “Promoção
do bem estar das populações”, onde:

c) Incentivo à conservação do patrimônio natural e cultural e busca de uma


consciência ambientalista pela interpretação do ambiente
Esse tipo de turismo pressupõe atividades que promovam a reflexão e a integração
homem e ambiente, em uma inter-relação vivencial com o ecossistema, com os
costumes e a história local. Deve ser planejado e orientado visando o envolvimento
do turista nas questões relacionadas à conservação dos recursos que se constituem
patrimônio natural e cultural. (BRASIL, p.18, 2010)

Além disso, estabelece algumas características que devem ser consideradas para o
desenvolvimento do ecoturismo, dentre elas a educação Ambiental e a interpretação ambiental.
Destaca-se, desta forma, a que o ecoturismo:

tem papel estratégico ao privilegiar a educação ambiental na promoção do contato


com o ambiente natural, contribuindo para romper com condicionamentos sociais
inscritos nos hábitos de indivíduos acostumados com a cultura dos centros urbanos,
bem como para a busca de alternativas às relações da sociedade com a natureza e seus
indivíduos, por meio da descoberta de novos estilos de vida, gastronomia, crenças e
valores, arquitetura etc. (BRASIL, p.23, 2010)

De acordo com Neiman (2005), o ecoturismo é uma ferramenta de aproximação do ser


humano e o meio natural, especialmente em UC, onde o mesmo é levado a questionar valores,
reformular aspectos não desejáveis da vida no dia-a-dia e, portanto, uma atividade educativa.
Assim, afirma que o ecoturismo deve rever os paradigmas da sociedade contemporânea e que
as atividades educativas devem ter como base um envolvimento afetivo profundo, através de
vivências únicas por parte dos participantes para que assim possam começar seu processo de
transformação.

Um exemplo de Reserva Biológica que realiza o uso público por meio da educação
ambiental é a Rebio União, localizada no estado do Rio de JaneiroRJ) (Imagem 1). A Rebio
União foi criada em 1998, possui uma área de 2.548 hectares que protegem parte do bioma
Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro. Abrange os municípios de Rio das Ostras (53%),
Casimiro de Abreu (46%) e Macaé (1%) tendo sua sede no distrito de Rocha Leão, município

29
de Rio da Ostras, acesso pela BR-101. A visitação é realizada com grupos de no mínimo 10 e
máximo 20 pessoas e deve ser agendada por telefone ou e-mail. (ICMBio, 2020)

Imagem 1 – Facebook da Reserva Biológica União sobre as visitações

Fonte: https://www.facebook.com/reservabiologicauniao.icmbio/posts/3273839195966937/

Em sua infraestrutura para visitação a UC conta com um Centro de Vivência com


capacidade para 100 pessoas e a Trilha Interpretativa do Pilão com 3.300m. Os primeiros
1.000m da trilha, bem como o Centro de Vivência são adaptados para pessoas com deficiência
e mobilidade reduzida. A respeito da trilha, tem como objetivo a observação da biodiversidade
da Mata Atlântica, a importância da floresta e seus serviços ambientais, interpretação de
processos ecológicos que são essenciais ao meio ambiente. A entrada de visitação guiada são
gratuitas (ICMBio, 2020).

A UC organizou em fevereiro deste ano a 1ª Ecoférias7, uma colônia de férias que reuniu
moradores do entorno da Rebio durante 3 dias. Mediante agendamento prévio os visitantes

7
Rebio União promove a primeira edição do Ecoférias
30
foram divididos em 3 grupo onde aprenderam sobre a Mata Atlântica através de exposições,
dinâmicas e realização da Trilha Interpretativa do Pilão.
Em 21 outubro de 2020 o ICMBio publicou uma instrução normativa com fins de
estabelecer procedimentos para a realização de visitação com fins de educacionais nas UCs
federais. Onde estabelece que:
Art. 3º A visitação com objetivo educacional tem como finalidade possibilitar ao
visitante uma maior compreensão de conteúdos relacionados às unidades de
conservação, podendo ser realizada em todas as categorias previstas no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.
Art. 4º A visitação com objetivo educacional pode:
I - Contemplar atividades diversas, preferencialmente em grupo, incluído as lúdicas,
recreativas, desportivas, sensoriais, terapêuticas religiosas e de outros usos culturais
II - Abranger públicos diversos, não somente aquele vinculado ao ensino formal,
como os atores locais estratégicos com vistas a conservação ambiental, comunidade
em geral e outros visitantes que visam conhecer, sentir e compreender a diversidade
de paisagem, dos monumentos, cavernas, fauna, flora e outras aspectos do patrimônio
cultural material e imaterial.
III - Prever atividades lúdicas, as quais podem:
1. Fazer parte da estratégia para alcançar os objetivos propostos;
2. Ter sua contribuição avaliada para o alcance dos objetivos.
IV - Buscar viabilizar a utilização de técnicas de interpretação pessoal e/ou não
pessoal, com possibilidade de parte da execução ser autoguiada (ou autogerida) pelos
visitantes.
Art. 7º Recomenda-se a execução de protocolos de monitoramento da atividade de
visitação com objetivo educacional nas unidades de conservação, especialmente
reservas biológicas e estações ecológicas, seguindo as orientações institucionais.
Parágrafo primeiro: Dentre os aspectos a serem abrangidos no monitoramento estão o
alcance dos objetivos propostos, impactos biofísicos da visitação e a qualidade da
experiência do visitante. (ICMBio, 2020)

Interessante destacar que no artigo 4º, I, inclui dentro da visitação educacional a


possibilidade de ser trabalhar com atividades recreativas e desportivas.
O artigo 7º da Instrução Normativa ressalta a necessidade de que especialmente as
Reservas Biológicas e Estações Ecológicas sigam um protocolo de monitoramento dessa
visitação pelo fato dessas UCs só permitirem a visitação exclusivamente para fins educacionais.
Tendo a preocupação de que se acompanhem impactos dessa visitação, alcance dos objetivos
educacionais propostos e a qualidade da visitação experienciada pelo visitante.
A educação ambiental é assim, uma ferramenta valiosa que pode ser utilizada na
visitação das Rebios, sendo uma aliada para a sensibilização ambiental acerca de seus recursos
naturais, não só de estudantes e grupos de pesquisadores, como para a população do entorno. O

Disponível em: https://www.odebateon.com.br/rebio-uniao-promove-a-primeira-edicao-do-ecoferias/. Acesso


em 20/11/2020
31
conceito de educação ambiental segundo a lei Lei 9.795/99 que dispõe sobre a educação
ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental:
“[...]os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade.” (BRASIL, 1999, art. 1º).

Num levantamento realizado por Oliveira (2015) apontava que haviam 59 Reservas
Biológicas (municipais, estaduais e federais) no país. Desse total apenas 10 apontavam em
relatório que estavam abertas para fins de pesquisas científicas e educação ambiental.
Atividades de interpretação e educação ambiental eram oferecidas em apenas 6 Rebios: Reserva
Biológica de Andradina (SP), Reserva Biológica de Duas Bocas (ES), Reserva Biológica de
Poço das Antas (RJ), Reserva Biológica do Jaru (RO), Reserva Biológica Municipal da Serra
do Japi (SP) e Reserva Biológica da União (RJ).
Para Müller, Diefenthaeler e Fernandes (2001) muitas vezes as UCs deixam de realizar
atividades de Educação Ambiental por falta de estrutura ou de pessoal. Uma das alternativas
para suprir essas deficiências são parcerias com ONGs e prefeituras que podem contratar
pessoal para dar apoio operacional dessas atividades. No entorno das Rebios podem ocorrer
atividades terceirizadas que estejam atreladas a UC, como venda de souvenirs, por exemplo.
Parte da venda arrecadada pode ajudar a custear a manutenção da UC.
[...] mesmo que a maioria das UCs brasileiras não gere receitas próprias, elas geram
valor porque são responsáveis por proteger uma vasta gama de serviços
ecossistêmicos que beneficia direta ou indiretamente as sociedades humanas, em
particular as que estão mais próximas a elas. (Müller, Diefenthaeler e Fernandes,
2001, p.32)

Com base nesses conceitos podemos dizer que o uso público através da visitação e do
turismo são permitidos em uma Reserva Biológica, desde que tenham a finalidade educacional.
Ou seja, a visitação e o turismo não são proibidos nas Rebios e as mesmas podem estabelecer
planos e projetos de visitação para diversos públicos com vistas à educação ambiental.

1.3 - Recategorização de Unidades de Conservação

Para Simon (2010), a inexistência sistematizada de documentos ou registros oficiais das


solicitações de recategorização de UC de proteção integral para a de uso sustentável, dificulta
uma análise de como se dá este processo. Esses registros poderiam servir de base para a criação
de marcos legais para este processo e também para entender as mudanças do uso e apropriação

32
desses territórios com suas novas regras de uso. Os conflitos ambientais decorrentes da criação
de UC de Proteção Integral são resultado do negligenciamento das dinâmicas de uso e
apropriação desses territórios no cotidiano.
A abordagem limitada dos estudos técnicos que orientam a criação das UC é um outro
problema apontado por Simon (2010). Estes estudos deveriam ser mais embasados na dinâmica
social do território, em consultas públicas com mecanismos de participação popular. Apesar de
a lei do SNUC e seu decreto regulamentador 4.320/02, acrescentarem modificações importantes
nas políticas de criação e gestão de UCs, não deixou claro quais os procedimentos em caso de
recategorização, seja em UCs previstas pelo SNUC ou não.
Os conflitos existentes em UC de Proteção Integral não devem ser desconsiderados pelo
poder público tanto para a criação de novas UCs, quanto para as recategorizações. Se faz
necessária a participação dos moradores no processo, uma adequada leitura da dinâmica
territorial, com a necessidade de análise da realidade social e não só informações técnicas
baseadas em dados geográficos e de biodiversidade (SIMON, 2010).
O poder público é obrigado pela Constituição a criar UCs, porém o SNUC e o Decreto
Federal 4.340/2002 colocam a obrigatoriedade de consulta prévia a sociedade, principalmente
a população local a ser afetada pela criação da UC. Para Estação Ecológica e Reserva Biológica
não há essa obrigatoriedade. Além disso a participação da sociedade civil e do poder público
nas UCs é garantida através da criação de conselhos consultivos. Para a criação de novas UCs
a consulta pública é obrigatória, sendo organizada pelo órgão público que está propondo a
criação da UC onde serão apresentados estudos técnicos que justifiquem a criação da UC, bem
como sua localização e limites. (SIMON, 2010)
De todo modo, é na fase de seleção das áreas para criação de unidades de conservação
que se deve investir fortemente no processo de conhecimento da situação fundiária, da dinâmica
do território para que a categoria selecionada não entre em conflito com dinâmica social do
território e coloque em risco os objetivos de conservação que se pretende conservar (SIMON,
2010). A recategorização ou reclassificação de uma Unidade de Conservação é vedada apenas
nos casos em que a modificação diminua o grau de proteção do meio ambiente em determinado
território. Há também os casos em que o grau de proteção da UC não seja adequado a sua
categoria de manejo, quando há população tradicional residente em seu interior. (LEUZINGER,
2007)
Apesar de todo aparato legal criado com o SNUC, o mesmo não estabelece como devem
ser feitos os estudos técnicos para a criação de novas UCs ou como devem ser conduzidos os

33
casos de recategorização. O que leva a lançar mão a pesquisas acadêmicas onde foram
estudados estes casos suas mediações, conflitos e soluções entre poder público e população
local.
Fazendo umNo levantamento na literatura acadêmica no Google Acadêmico e no Scielo
não foi encontrado nenhum caso de recategorização de Reserva Biológica para Parque
Nacional. Porém, foi encontrado um estudo que analisa um projeto de lei (PL) para a
recategorização da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, no estado do Pará. O
PL sugeria a recategorização e divisão da UC em duas categorias: APA e Parna. A demanda
surgiu pela pressão exercida pelas atividades econômicas ligadas a agropecuária em seu
entorno. O projeto foi revogado pelo Ministério do Meio Ambiente, pois as alterações de
categoria comprometeriam a preservação ambiental de uma área frágil da Amazônia Legal
(ZAMADEI, HEIMAN & PIRES, 2019).
Os casos efetivos de recategorização geralmente se davam de uma UC do grupo de
Proteção Integral, como uma Rebio ou Esec, para uma UC do grupo de Uso Sustentável, como
uma Resex ou RDS. Alguns estudos de caso encontrados foram o da recategorização de parte
do território da Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul para Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Estadual do Aventureiro, na Ilha Grande - Mendonça e Fontoura (2010) onde
durante o processo pode-se observar o conflito pelas opções de categoria APA ou RDS.
O outro caso foi o da Reserva Ecológica Estadual da Juatinga onde a população caiçara
pleiteava seu direito de permanecer na terra, gerando assim uma discussão de recategorização
junto ao INEA. Nos dois casos as demandas surgiram das populações tradicionais que viviam
nos territórios dessas UCs e que tinham suas atividades econômicas limitadas, além de questões
fundiárias de ameaças com a especulação imobiliária. (MONGE, LOBÃO, DI MAIO, 2013)
No caso da Rebio Tinguá, a população local não possui atuação direta nessa discussão
conforme aponta Martins (2011). Os mesmos estão preocupados com outras demandas
referentes a infraestrutura da região que é carente em transporte, saúde e saneamento básico
(abastecimento de água e esgoto).

34
2 - CARACTERIZAÇÃO DA RESERVA BIOLÓGICA DE TINGUÁ E SEU
ENTORNO

2.1 – Reserva Biológica de Tinguá

A Reserva Biológica de Tinguá (Imagem 2) foi instituída em 1989, sendo integrante da 2ª


geração de Rebios do Brasil criadas na década de 80. Faz parte da Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica, que foi a primeira rede de Reservas de Biosferas do Brasil, criada em 1991. Está
inserida no Mosaico Central da Mata Atlântica Fluminense que é formada pelas UCs Federais
APA Guapimirim, APA Petrópolis e Parna da Serra dos Órgãos e estadual PE dos Três Picos
(PLANO DE MANEJO DA REBIO TINGUÁ, 2006).
Imagem 2 – Logo da Rebio Tinguá

Fonte: https://www.rebiotingua.eco.br/

A maior parte da área da Rebio (Imagem 3) está dentro município de Nova Iguaçu
(55,14%), os outros 3 municípios que possuem terras da UC são: Duque de Caxias (37,44%),
Miguel Pereira (3,16%) e Petrópolis (4,26%). Os municípios de Japeri e Queimados possuem
parte de seus territórios em sua zona de amortecimento. Apesar de abranger esses 4 municípios
as zonas com maior densidade populacional são Tinguá, em Nova Iguaçu e o distrito de Xerém,
em Duque de Caxias. O acesso principal e sua sede se localizam em Tinguá. (ICMBIO, 2006)

35
Imagem 3 – Mapa área de abrangência Rebio Tinguá

Fonte:http://terevictorino-ea.blogspot.com/2010/07/reserva-biologica-do-tingua-historia-
e.html, 2010

Ainda de acordo com o Plano de Manejo (2006), três empresas atuam no interior da
Rebio por estarem lá desde antes da sua criação: Furnas Centrais Elétricas S.A., Petrobrás e
Cedae. Furnas é uma empresa indireta do Governo Federal, que atua no setor de geração e
transmissão de energia, possui uma linha de transmissão cortando a Rebio de Norte a Sul, a LT-
São José-Magé. A Petrobrás possui 3 dutos de derivados de petróleo quem foram instalados
antes da criação da UC e cortam a Rebio passando pelos municípios de Duque de Caxias, Nova
Iguaçu e parte de Miguel Pereira. A Cedae possui captações que remontam aos tempos do
Império, que fazem parte do sistema de abastecimento Acari, que atende atualmente parte da
população da Baixada Fluminense.
Sobre o objetivo de criação da Rebio Tinguá, o Plano de Manejo da UC diz que:
A Rebio do Tinguá tem como objetivo principal proteger amostra representativa da
Mata Atlântica e demais recursos naturais, especialmente os recursos hídricos e proporcionar o
desenvolvimento das pesquisas científicas e educação ambiental na região. Para tal objetivo, a
estruturação do modelo em três zonas, nuclear, amortecimento e transição, garantem a UC sua
principal função (ICMBIO, 2006).
Ainda dentro de seus objetivos específicos podemos destacar:

36
[...] 4. Contribuir para o conhecimento do uso dos recursos naturais para o
desenvolvimento sustentável da região;
5. Proporcionar a implantação de manejo sustentável dos recursos naturais da área do
entorno;
[...] 13. Favorecer as condições para a promoção de atividades de educação ambiental,
interna e externamente à Rebio;
14. Valorizar o conhecimento das comunidades locais, difundindo-o em ações de
educação e sensibilização ambiental. (ICMBIO, 2006, p.4-13)

Com relação a seu zoneamento, importante destacar que na zona de uso extensivo
8
(Imagem 4) foram identificadas três localidade para o desenvolvimento de atividades de
educação ambiental. São elas: Caminho do Imperador, Estrada do Comércio e Sede. Nesta zona
o objetivo é manter o ambiente natural com baixo impacto antrópico, oferecendo ao público
facilidade de acesso com fins educativos. (ICMBIO, 2006, p.4-23)
Foram estabelecidas como normas gerais na zona de uso extensivo:
• Essa zona será voltada especialmente para a interpretação e a educação ambiental;
• As atividades permitidas serão a pesquisa, o monitoramento ambiental, a fiscalização
e a visitação com fins educacionais;
• A pesquisa e o monitoramento serão autorizados nesta zona desde que não causem
impacto visual;
• A fiscalização deverá ser intensiva e incluída na rotina sistemática;
• O acesso de pessoas é permitido desde que seja devidamente controlado;
• O trânsito de automóveis será permitido desde que circulem em baixa velocidade;
• As espécies exóticas encontradas nessa zona deverão ser eliminadas;
• Estruturas e equipamentos voltados para interpretação poderão ser instalados nessa
zona, desde que estejam em harmonia com o meio ambiente; e
• Os centros de visitantes serão instalados nessa zona. . (ICMBIO, 2006, p.4-24)
Imagem 4 - Mapa da Zona de uso extensivo da Rebio Tinguá

Fonte:(ICMBIO, 2006)

8
Zona de uso extensivo é uma área constituída em grande parte por áreas naturais, podendo apresentar algumas
intervenções antrópicas. (ICMBio, 2006)
37
Na Zona Histórico-Cultural Santana das Palmeiras estão as ruínas de uma antiga vila de
mesmo nome, situada às margens da Estrada do Comércio, e que era utilizada como ponto de
parada e descanso dos viajantes. De acordo com o Plano de Manejo, as normas gerais para esta
área são:
•A visitação terá cunho educativo e só será permitida para no máximo vinte (20)
pessoas ao dia, e em grupos de até dez (10) pessoas, agendados previamente, com um
intervalo mínimo de 15 dias;
• A pesquisa e o monitoramento serão autorizados nesta zona desde que não causem
impacto visual e não interfiram com as ruínas ou sítios históricos;
• Essa zona deverá ser incorporada às rotas eventuais de fiscalização;
• A fiscalização deverá ocorrer, sempre que possível, a pé;
• As atividades dessa zona deverão seguir as orientações técnicas subsidiadas por
estudos específicos (Iphan, Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências
Sociais da Baixada Fluminense - Ipahb, Museu Nacional do Rio de Janeiro - MNRJ,
entre outros), a serem providenciados; e
• As pesquisas deverão ser realizadas de acordo com o que dispuserem normas
específicas a serem estabelecidas em articulação com o Iphan ou outros órgãos afins.
(ICMBIO, 2006, p.4-26)

O Plano de Manejo estabelece nas Ações Gerenciais Gerais Internas (AGGIs) (Anexo
2) programas temáticos voltados para o manejo da Rebio Tinguá. Através da AGGI
OPERACIONALIZAÇÃO INTERNA estabelece a criação de um setor técnico voltado para a
Educação ambiental, Pesquisa, Monitoramento, Manejo, e Alternativas de desenvolvimento
para a Zona de Amortecimento. Esse setor deverá ser composto por uma equipe com 1
coordenador técnico, 2 técnicos de apoio à pesquisa, 2 técnicos para o Centro de Visitantes de
Tinguá, 2 Técnicos para o Centro de Visitantes de Miguel Pereira, 1 técnico de ações externas,
3 estagiários e 2 voluntários. (ICMBIO, 2006, p.4-71)
A AGGI de Educação Ambiental (Anexo 3) orienta o desenvolvimento de um plano de
Educação Ambiental a ser desenvolvido nas seguintes Áreas Estratégicas (AEI): AEI Caminho
do Imperador, AEI Sede, AEI Rio d’Ouro, AEE Miguel Pereira, AEI Santana das Palmeiras, e
AEI João Pinto. Também prevê a implantação de sinalização educativa e interpretativa e lista
as temáticas a serem trabalhadas na Educação Ambiental. (ICMBIO, 2006, p.4-86)
A respeito do uso público com fins educacionais na Rebio Tinguá Oliveira (2015)
constata que:
a visitação com o objetivo educacional na Reserva Biológica do Tinguá ainda é pouco
explorada por grupos que não sejam de instituições de ensino, sendo necessário uma
maior promoção para que estas atividades sejam desenvolvidas também para a
comunidade do entorno, assim como para as empresas e indústrias que estão
estabelecidas próximas a da unidade, principalmente aquelas que desenvolvem
atividades que podem gerar prejuízos diretos ou indiretos para a unidade de
conservação. (p.70)

38
Alguns estudos já foram realizados tendo como temática a região de Tinguá, turismo e
lazer e a Rebio, inclusive tratando da criação da UC. Os estudos elaborados pela professora Ana
Lúcia Lucas Martins e Fellipe José Silva Ferreira (2010, 2011) , da UFRRJ, abordam as
questões das práticas do lazer e dos visitantes nas UCs no entorno da Rebio Tinguá e apresentam
os conflitos em decorrência da categoria dessa UC.
Em sua dissertação de mestrado Ferreira (2013) fez uma discussão da utilização para o
lazer da área da APA Tinguá, uma UC de gestão municipal e que sobrepõe parte do território
da zona de amortecimento da Rebio Tinguá. Essa área é onde se encontram os sítios de lazer
muito utilizados pelos moradores da região do Tinguá e seu entorno.
Outro trabalho importante neste sentido foi Oliveira (2015) que teve como objetivo
analisar o uso público na Rebio Tinguá através das atividades de educação ambiental
desenvolvidas na UC. O trabalho identificou a necessidade de uma aproximação da população
local com a UC para entender melhor sua função. E que a educação ambiental é uma ferramenta
de aproximação com os locais.
Como relata Martins (2011), as discussões sobre Reserva Biológica e Parque Nacional
antecedem a criação da UC, em 1989, época em que a área era administrada pelo Instituto
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Haviam interesses conservacionistas que já
visavam o desenvolvimento do turismo na região e preservacionistas, que ressaltavam a
importância da biodiversidade local.
Santos (2014) faz um resgate histórico sobre a criação da Rebio Tinguá e seus conflitos
históricos nessa discussão Parque versus Reserva Biólogica, em sua dissertação de mestrado.
Desde o debate de criação da UC havia a polêmica entre qual categoria atenderia melhor os
interesses preservacionistas e conservacionistas da região. Inicialmente as pesquisas apontavam
que um Parque Nacional era a escolha da população local para a região. Os defensores da
categoria Reserva Biológica eram compostos majoritariamente por ambientalistas e acadêmicos
de diversas instituições. O discurso pró Rebio ganhou força através do programa do governo
federal “Programa de Proteção Ambiental Nossa Natureza”, que foi criado para a proteção da
Amazônia após denúncias internacionais de degradação ambiental na região e assassinato de
ambientalistas.
A participação popular na criação da UC foi entremeada por conflitos de interesses e
carências na região. Onde num primeiro momento defendiam a categoria parque e após boatos
de que seriam removidos do local com a criação do mesmo, os levou a optar pela categoria
Reserva Biológica. Além disso essa participação dos moradores também se deu de forma a

39
visibilizar os problemas vividos no dia-a-dia com relação ao desabastecimento de água
(SANTOS, 2014). Lembrando que de acordo com o SNUC, criado somente em 2000, tanto na
categoria parque, quanto na categoria reserva não pode permanecer população residente dentro
de seus territórios. O que pesou na escolha da população para a criação da UC na época, foi a
falta de informação sobre as duas categorias (SANTOS, 2014)..
Martins (2011) aponta que com a criação do SNUC surgiu a possibilidade de
recategorização da UC. Na época da criação da Rebio os cientistas naturais que defenderam a
criação da reserva pautaram suas pesquisas na Rebio apenas sob enfoque da biodiversidade.
Com a possibilidade de recategorização identificaram-se novas demandas no território e a
discussão passou a ter outros enfoques, pois as dinâmicas econômicas e sócio-ambientais do
território mudaram. Novas ONGs surgiram encabeçando projetos que contemplam ecoturismo,
economia verde, educação ambiental, plantio e reflorestamento, demandando projetos e
buscando financiamentos para os mesmos. A questão da ausência do Estado, no que diz respeito
ao órgão estadual que faz a captação de água no interior da Reserva e não oferece nenhuma
contrapartida. A ineficiência da gestão municipal para gerir as áreas das APAs da zona de
amortecimento e seus conflitos, já que as mesmas estão estabelecidas somente no papel. Estes
são alguns dos conflitos em que se baseiam as discussões atuais para uma recategorização.

2.2 – Unidade Regional de Governo de Tinguá

O município de Nova Iguaçu se encontra na região metropolitana do Rio de Janeiro a


cerca de 40 km da capital do estado. Durante o século XVIII, a localidade foi muito importante
para o escoamento da produção de café e cana-de-açúcar da serra fluminense, passando pela
Estrada Real, até chegar à capital. No século XX ficou conhecida como a “Cidade perfume”
devido às grandes plantações de laranja (Prefeitura de Nova Iguaçu, 2017).
Atualmente, a administração do território com mais 520.000 km² precisou ser dividida
em Unidades Regionais de Governo (URGs) (LEI COMPLEMENTAR Nº. 016, DE 05 DE
OUTUBRO DE 2006.)
Uma dessas unidades é a URG Tinguá (Tabela 4), composta por cachoeiras, riachos,
fontes de águas cristalinas e Mata Atlântica, que se caracteriza pela diversidade de sua flora e
fauna, destacando-se as bromélias e o menor anfíbio do mundo, o sapo-pulga, e a quase extinta
onça parda (Desacato, 2010). A URG de Tinguá é composta pelos bairros Tinguá, Montevidéu,
Adrianópolis, Rio D’Ouro e Jaceruba. Todos esses bairros têm seu território ou parte dele na

40
Rebio Tinguá e/ou sua zona de amortecimento. Conforme a Tabela 4, Tinguá (BC3) é o bairro
central da URG e os demais são bairros locais em torno de núcleos rurais (BL3).
Tabela 4 – Divisão por bairros da URG XII – Tinguá

Fonte: Wikisource - LEI Nº 2.952, de 17 de dezembro de 1998 9

A importância da região de Tinguá está ligada ao nascimento do município de Nova


Iguaçu. Apesar de a localidade ser utilizada desde o séc XVIII como local de parada dos
tropeiros que utilizavam o Caminho de Terra Firme ou Caminho do Tinguá (Vicente, 2009), foi
elevada a categoria de vila em 15 de janeiro de 1833, a Vila de Iguassu (Sincovani, 2017). O
rio Iguaçu era uma importante via de comunicação com a cidade do Rio de Janeiro, por onde
escoava suas produções agrícolas e o ouro vindo de Minas Gerais (Inepac, 2017).
Outra importante via era a Estrada do Comércio, construída entre 1813 e 1817, pela Real
Junta de Comércio. A estrada construída em pedras utilizando-se de mão-de-obra escrava, partia
do Porto de Iguaçu, passando por Miguel Pereira (distritos de Árcadia e Vera Cruz) até chegar
as margens do rio Paraíba do Sul, com destino a Minas Gerais (Novaes, 2008). Era utilizada
para escoamento da produção de café e cana de açúcar cultivados na região, fazendo conexão
com os portos do Rio Iguaçu. (Vicente, 2009) Grande parte dessa estrada se encontra no Maciço
do Tinguá, dentro da Rebio (História do Café no Brasil Imperial, 2007). O trecho que sai do
porto até a entrada da Rebio também possui partes intactas. Apesar do abandono, a estrada é
tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN).
Por lá também passava o ramal Tinguá, criado em 1883, pertencente a estrada de Ferro
Rio do Ouro, que foi construída para cuidar dos reservatórios que abasteciam parte da cidade
do Rio de Janeiro, tendo funcionado até 1964 (Estações Ferroviárias do Brasil, 2017). Ainda
existe a estação no centro do bairro que é tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio
Cultural (INEPAC), que se encontra fechada.

9
Disponível em https://pt.wikisource.org/wiki/Lei_Municipal_de_Nova_Igua%C3%A7u_2952_de_1998.
Acesso em 01/11/2020.
41
Outro destaque para a região foi sua importância no abastecimento de água na cidade
do Rio de Janeiro. Em 1880, D. Pedro II inaugurou a rede de captação que levava água das
nascentes de Rio D’Ouro, Xerém e Tinguá para abastecer a cidade, que sofria com a falta d’água
devido ao desmatamento da Floresta da Tijuca. No episódio que ficou conhecido como “Água
em 6 dias”, o engenheiro Paulo de Frontin foi responsável pela ideia e execução dos trabalhos
para a captação. Utilizou a estrada de ferro do Rio D’Ouro pra realizar o transporte de
ferramentas e trabalhadores. (Revista HCSM, 2015).
Também são encontrados na região bens tombados dos quais restam apenas ruínas: o
antigo cemitério dos escravos, a torre sineira da Igreja de Nossa Senhora da Piedade (IPHAN e
INEPAC) e as ruínas da Fazenda São Bernardino (IPHAN). (Cultura e Mercado, 2007)
Em atividades de campo para elaboração de trabalhos das disciplinas Turismo e Meio
Ambiente, Políticas Públicas de Turismo e Planejamento I e Organização do Turismo I, foram
levantados dados referentes a infraestrutura, problemas ambientais e sócioeconômicos na região
de Tinguá.
Em um desses campos procedeu-se uma análise do Sistema Estrutural do Turismo,
SISTUR, modelo criado por Beni (2003) para a região de Tinguá 10. Esse sistema leva em
consideração o conjunto das Relações Ambientais, da Organização Estrutural e das Ações
Operacionais. Cada um desses conjuntos estão interligados e estabelecem critérios que analisam
a super e a infraestrutura, as relações sociais, econômicas, ambientais e ecológicas, o mercado,
a oferta e a demanda.
Com base no Sistur (Beni, 2003) identificou-se que a região apesar da vocação natural
para o lazer e o turismo, sofre com diversos problemas. Com relação a superestrutura, que estão
relacionados aos órgãos públicos e privados incumbidos de planejar e desenvolver ações
voltadas para o turismo na região, temos a SEMADETUR, porém não existe nenhuma ação
concreta para fomentar o turismo na região e muito menos uma legislação específica em vigor.
O Plano Municipal de Turismo foi aprovado foi aprovado pelo Conselho Municipal de Turismo
em novembro de 2020. O Plano Diretor Participativo de Nova Iguaçu (2011) estabelece
algumas ações para a região voltadas para o turismo, meio ambiente e valorização patrimonial
que poderiam ser implementadas pelo governo municipal. Existe também a lei LEI Nº 4.084
DE 24 DE MAIO DE 2011, que cria a ÁREA DE ESPECIAL INTERESSE TURISTICO –
AEIT, que em seu artigo 1º define:

10
Sistur Tinguá – POTI. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ImdCWYxZJGw. Acesso em
01/11/2020
42
Art. 1º - Ficam criadas no Município de Nova Iguaçu, as seguintes Áreas de Especial
Interesse Turístico – AEIT:
I- As áreas de Amortecimento da Reserva Biológica do Tinguá, situadas no território
de Nova Iguaçu;
II- As áreas de Preservação Ambiental - APAS do Município de Nova Iguaçu.

Referente a infraestrutura, que analisa os componentes viários, de transporte,


saneamento básico, saúde e infraestrutura específica para atender ao turista foram detectadas
algumas deficiências. O acesso ao bairro se dá por uma única via de mão dupla, a partir do
bairro Vila de Cava, a RJ-111. A via é administrada a nível estadual pelo Departamento de
Estradas e Rodagem (DER-RJ). É uma via com alto índice de acidentes, pois não possui
sinalização, acostamento e buracos em alguns trechos. Além disso, existem duas pontes
estreitas que só permite a passagem de um veículo por vez. A SEMADETUR em parceria com
os Bombeiros e a Polícia Militar, realiza o Plano Verão, para fiscalizar os motoristas na alta
temporada, o que segundo dados colhidos em entrevista para um dos trabalhos, ajuda a diminuir
o número de acidentes.
Outra questão relacionada ao acesso é que só existem duas linhas de transporte coletivo
que atende ao local: Tinguá x Pavuna e Nova Iguaçu x Pavuna. O que dificulta o deslocamento
dos moradores, já que no verão os ônibus ficam lotados com os banhistas que procuram a região.
Um outro problema gravíssimo, já que a região é produtora de água é a ausência de
saneamento básico. Moradores sofrem com a falta de abastecimento e com o esgoto lançado in
natura nos rios da região, até mesmo naqueles que são utilizados para banho. No entorno da
Rebio existem bares que represam o rio Tinguá, chegando a colocar cadeiras e mesas dentro
dos mesmos para oferecer refeições aos clientes (Imagem 5). Estes restaurantes e bares têm
mesas e cadeiras próximas à água, na qual acaba caindo pedaços de alimentos, copos
descartáveis, pacotes de biscoitos, entre outros detritos que seguem junto com o caminho do
rio. Em conversa com a proprietária de um desses bares, ela relata que explica para os visitantes
a importância de colocar o lixo no lugar correto e que coloca lixeiras espalhadas por toda sua
propriedade, mas que mesmo assim eles não seguem a indicação jogando o lixo no rio.

43
Imagem 5 – Rio represado utilizado por bares

Fonte: autora – campo em junho/2017


Para Martins (2010) essa questão da água que gera um conflito que possui 3 dimensões:
a primeira está relacionado ao bem estar da população local; a segunda está relacionada a
inclusão social, na questão do seu uso para o lazer e a terceira tem relação com processos
políticos na visão da água como bem público e objeto das discussões e disputas sociais do
território.
A demanda em relação ao turismo de lazer é sazonal e ocorre principalmente no verão.
Os maiores beneficiados economicamente são os sítios de lazer e bares/ restaurantes localizados
ao longo das margens do rio que sai da Rebio Tinguá em direção ao centro do bairro. Quase
todos estes estabelecimentos não possuem CNPJ, ou seja, são informais. Muitos terrenos da
zona de amortecimento da UC são utilizados como estacionamento, sendo cobrado até R$10,00
dos visitantes. Como a maior parte dos visitantes chegam em carros particulares ou em ônibus
de excursão diretamente para estes locais, o comércio do centro do bairro pouco é beneficiado.
Os diversos patrimônios históricos da região possuem difícil acesso, estão abandonados pelo
poder público e não fazem parte de um circuito turístico.
Os sítios de lazer (Imagem 6) realizam eventos de grande porte onde não tem nenhum
estudo de capacidade de carga nem respeito à questão ambiental, pois o som alto interfere no
equilíbrio da fauna local. Alguns sítios comportam mais de 1500 pessoas por dia. Além disso,
a região ainda sofre com problemas de caça e tráfico de animais silvestres dentro da Rebio.

44
Imagem 6 – Outdoor na entrada do Sítio Recantos de Tinguá

Fonte: autora – campo em junho/2017

Essas pressões sociais já identificadas por Matins (2010) apontavam essa carência em
infraestrutura e baixa participação da comunidade local na participação das reivindicações e
tomadas de decisões, ocorrendo também uma lacuna em relação a sensibilização ambiental
tanto por parte do setor público, quanto privado.
Além disso, foram identificados em visitas a campo em 2017, potencialidade nos
seguintes seguimentos turísticos que já ocorrem na região de Tinguá no entorno da Rebio:
ecoturismo (trilhas e caminhadas), ciclismo e cicloturismo, turismo de aventura (motocross,
rapel), turismo de pesca (realizados em propriedades privadas), Turismo esportivo
(organizações de competições de ciclismo, corridas e caminhadas) e até um clube de
aeromodelismo. Além do potencial para o desenvolvimento do turismo gastronômico visto que
a base da agricultura da região é o aipim.
Ainda em 2017, o COMTUR montou Grupos de Trabalhos (GTs) voltados para a
estruturação do Turismo do qual a autora participou do GT1 - TRILHAS E CAMINHADAS
DE NOVA IGUAÇU tendo foco a estruturação de um circuito de caminhadas na natureza em
Tinguá. O grupo era composto por representantes do ICMBio, Monforte Turismo, Fórum de
Turismo de Tinguá, SEMIF, SEMED e FENIG e como convidados Parque Natural Municipal
de Nova Iguaçu, Comitê Trilha Carioca e da autora desta pesquisa. As trilhas planejadas já
existiam e muitas são partes de estradas que passam por propriedades privadas. Houve o
mapeamento dessas trilhas com medições de distância, estabelecimento de nível de dificuldades
e pontos de apoio. Os pontos de apoio são propriedades privadas, onde o morador oferecerá
45
algum produto para venda (bolos, café, doces). A ideia era que fosse disponibilizado um
telefone para que o visitante entre em contato previamente agendado a visita ao local. Foi
identificada a necessidade de que esses moradores recebam algum tipo de capacitação para
receber os visitantes. Estavam previstas confeccionamento de placas indicativas das trilhas nos
pontos demarcados nas visitas a campo. Todas as trilhas teriam início no centro de Tinguá, pois
a ideia era movimentar o comércio local.

2.3 - Perfil dos visitantes do entorno da Reserva Biológica de Tinguá

De acordo com Oliveira (2015) o entorno da Rebio Tinguá é utilizado como área de
lazer por moradores da região e áreas vizinhas. Essa procura se deve a vocação natural do local,
com seus córregos e rios, que muitas vezes são represados pelos comerciantes para melhor
atender a estes visitantes. A autora levantou que 58% dos visitantes do entorno da Rebio são do
sexo feminino com faixa etária entre 35-50 anos. 27% possuem Ensino Médio completo, porém
26% afirma não ter concluído o Ensino Fundamental. A pesquisa também aponta dificuldade
de encontrar empregos na região, gerando assim a necessidade de se deslocar para outras
cidades devido ao alto custo com transporte e o tempo gasto para se chegar a cidades vizinhas,
como o Rio de Janeiro. Analisando os dados levantados, percebe-se que o poder aquisitivo dos
visitantes da região é baixo, onde 31% dos entrevistados recebe até 1 salário mínimo e 29% de
1 a 2 salários e as principais ocupações são donas de casa e comerciantes.
A pesquisa aplicada no próprio bairro de Tinguá com 127 entrevistados também
identificou que 90% dos entrevistados residiam no município de Nova Iguaçu e 72% no próprio
bairro de Tinguá. Com relação ao conhecimento da Rebio Tinguá, muitos entrevistados
disseram saber da proibição de entrar na UC, porém não entendem o porque e nem o papel de
uma Reserva Biológica. A maioria acredita que a função da Reserva e a preservação da natureza
e uma pequena parte (5%) associou a área com atividades de lazer. (OLIVEIRA, 2015)
Quando questionados sobre a visitação da Rebio Tinguá 66% afirmaram ter visitado a
reserva, antes mesmo dela ter virado uma UC. A falta de delimitação da Rebio também faz com
que os visitantes fiquem em dúvida se já adentraram a UC ou não. Dos visitantes que dizem
frequentar a UC, 22% afirmam que é para realizar caminhadas, 14% para banho de cachoeira e
2% através de visita escolar com fins de educação ambiental. (OLIVEIRA, 2015)

46
3 - REBIO TINGUÁ X PARNA TINGUÁ

3.1- Arenas de debate público


Como visto no capítulo anterior, a criação da Reserva Biológica de Tinguá envolveu
vários conflitos desde sua origem. A possibilidade de recategorização da Rebio para Parna
Tinguá surgiu com a criação do ICMBio, em 2007, como resultado de antigas disputas políticas
e econômicas da região (MARTINS, 2011).
Atualmente o SNUC estabelece que não é necessária consulta pública para a criação de
Estações Ecológicas (ESEC) e Reservas Biológicas (Rebio). As demais categorias, inclusive
Parques Nacionais, necessitam de consulta pública, que são reuniões estabelecidas pelo órgão
competente. Esse processo deve se dar de modo claro e com linguagem acessível para a
população residente no entorno da futura UC, e se for o caso no interior da mesma. Esse
dispositivo assegura que haja uma participação efetiva da população afetada direta e
indiretamente pela criação da UC (LEUZINGER, 2007).
O discurso da recategorização voltou à tona com força na atual gestão do prefeito do
município de Nova Iguaçu, Rogério Lisboa (2017-2020), lideradopela Secretaria de Meio
Ambiente, Agricultura, Desenvolvimento Econômico e Turismo (SEMADETUR).
Entre 2017 e 2019 ocorreram alguns eventos e reuniões a fim de levar a público a
discussão da recategorização da Rebio Tinguá em Parna Tinguá. Os eventos a serem descritos
aqui são: 1ª Jornada Ambiental de Nova Iguaçu, que aconteceu entre os dias 4 a 10 de junho de
2017, tendo o dia 06 de junho como tema: “Seminário Parque Nacional do Tinguá – Uma visão
de Futuro para a Baixada Fluminense”, realizado no auditório do IM-UFRRJ, em Nova Iguaçu;
Reunião Ordinária do Conselho Municipal de Turismo de Nova Iguaçu, realizada no dia 25 de
janeiro de 2018, na SEMADETUR; Reunião do Ministério Público Federal, realizada no dia 12
de setembro de 2019, no Ministério Público Federal, em São João de Meriti.
O “Seminário Parque Nacional do Tinguá – Uma visão de Futuro para a Baixada
Fluminense”11, realizado dentro da semana da 1ª Jornada Ambiental de Nova Iguaçu (Imagem
7), foi organizado pela SEMADETUR-NI .

11
Disponível em https://www.facebook.com/semadetur/videos/316651182093330/. Acesso em 01/11/2020.
47
Imagem 7 – Divulgação do Seminário após o avento na página da Prefeitura de Nova Iguaçu
no Facebook

Fonte: https://www.facebook.com/prefeituradenovaiguacu/posts/1402573976500379

O evento teve como mestre de cerimônias o ex-sub secretário de meio ambiente, Hélio
Vanderlei, e contou com a participação do ex- secretário da Semadetur, Fernando Cid, a chefe
da Rebio Tinguá, Gisele Medeiros, e Sonia Martins, da Pastoral da Terra, na mesa de abertura.
Para a mesa de debate foram convidados o ex-chefe do PARNA Serra da Bocaina, Francisco
Livino, o analista ambiental do PARNA Itatiaia, Walter Behr, o consultor da ONG Conservação
Internacional (CI), Beto Mesquita, e o ex-gestor de área de proteção dos Parques Nacionais da
Argentina, Jaime Ríos. A mesa de debates foi composta basicamente por palestrantes que
trouxeram suas experiências e elencaram os benefícios e desafios da gestão de um parque
nacional.
O ex-gestor do PARNA Serra da Bocaina, Francisco Livino, afirmou a importância da
consolidação de um Parque Nacional em uma comunidade que já vive do turismo, que é o caso
da vila de Trindade em Paraty.
“[...] eu acho que a oportunidade de negócios, de desenvolvimento regional, que foi
colocado pelo secretário de forma muito importante que a gente tem que olhar não só
com o olhar ecologista, mas com um olhar economista também e social, [...] uma
sociedade que tem as suas relações regidas pela economia, nós ambientalistas e
gestores de Unidades de Conservação temos que aprender também o vocabulário da
economia. Então se a gente não mostrar pra sociedade que aquelas áreas protegidas
são além de tudo uma fonte de riquezas, a gente também não tem muito êxito na
caminhada.” (informação verbal, 2017)

48
Beto Mesquita, diretor de Estratégia Terrestre da CI, fez sua apresentação baseada no
documento “Contribuições do Turismo em Unidades de Conservação para a Economia
Brasileira”, publicado pelo ICMBio, em 2017. Reforçou a importância econômica das UCs,
sobretudo em parques com a visitação. Apresentou um mapa com as áreas de floresta contínua,
fora dos limites da Rebio Tinguá, que somam aproximadamente 8 mil hectares. Falou sobre a
importância dessas áreas e como podem ser utilizadas para o uso público. Destacou que há
pouco engajamento e desconhecimento da sociedade em relação à Rebio. Também ressaltou a
importância da participação do órgão público gestor da UC, no caso o ICMBio, nas discussões
sobre a recategorização. Ressaltou que a recategorização se faz através de uma lei, e que esta
pode ser alterada conforme a vontade e interesses de quem está votando. Logo, ao invés de virar
um parque nacional, pode virar uma APA, por exemplo.
Walter Behr, analista ambiental do PARNA Itatiaia, disse que, apesar de não conhecer
a UC Rebio Tinguá, achou importante levar algumas reflexões para o debate com base em sua
experiência. Falou dos desafios da gestão do ICMBIo com os cortes dos recursos, desde que o
órgão foi criado, e que pouco se pode contar com o governo na questão de implantação
estruturação de UC. Ressaltou a necessidade de uma estrutura básica de acesso, para uma
visitação organizada e tranquila. Com relação à cobrança de ingressos, ressaltou a importância
de que a comunidade local pague mesmo que um valor simbólico, pois assim haverá uma maior
valorização do espaço da UC por essas populações. Citou também a realização de parcerias
com escolas públicas para as atividades de Educação Ambiental no PNI e a busca de novas
formas de participação com a iniciativa privada para financiar a manutenção e eventos do
Parque. Apontou a necessidade das empresas envolvidas na Rebio Tinguá (Furnas, Petrobrás)
participarem com recursos de compensação ambiental. Realização de acordos de Cooperação
com ONGs foram realizadas no PNI, pois a UC não consegue utilizar os recursos do ICMBio.
Durante o debate da mesa foram mencionados apenas os benefícios que um Parque
Nacional pode trazer em termos de conservação e economia. Apesar de ser mencionada a Rebio
Poço das Antas e sua importância na preservação e recuperação da população ameaçada de
extinção do mico leão dourado, nada se falou dos benefícios das Rebios nesse sentido. Quando
aberto o debate para os ouvintes, algumas questões importantes foram colocadas, como por
exemplo, que o Plano de Manejo da Rebio Tinguá não foi efetivamente implantado, para que
se alegue que a Rebio não cumpre sua função de preservação.
O segundo evento que merece menção é a Reunião Ordinária do Conselho Municipal
de Turismo (COMTUR) de Nova Iguaçu, realizada no dia 25 de janeiro de 2018, na

49
SEMADETUR. No email enviado no dia 22 de janeiro de 2018, constava como ponto de pauta
da reunião a “Recategorização da Reserva Biológica do Tinguá”. Em resposta a este e-mail, a
ex-gestora da Rebio Tinguá solicitou que este item fosse tratado em uma próxima reunião, já
que a mesma como titular da Rebio no COMTUR não poderia participar e não sabia do que se
tratava e nem quem havia solicitado o ponto de pauta. Em ata ficou registrado que o ponto de
pauta foi solicitado pelo Sr. Helio Vanderlei, ex-sub-secretário de meio ambiente. De qualquer
forma procedeu-se a apresentação, porém foi acordado que não haveria debate sobre o tema
sem a presença da representante da gestão da Rebio Tinguá.
No início de sua apresentação o Sr. Helio Vanderlei disse que a intenção da apresentação
não era afirmar que um Parque Nacional era melhor que uma Reserva Biológica e sim a
discussão do melhor uso da UC em questão com debates entre poder público, academia e
sociedade civil.
Alguns pontos importantes levantados na reunião pelo Sr. Helio Vanderlei:
- um Parque Nacional possui zonas intangíveis, assim como as Reservas Biológicas;
- já ocorre um turismo predatório no entorno da Rebio Tinguá
- necessidade de sensibilização da comunidade do entorno da Rebio;
- o conselho da Rebio Tinguá é apenas consultivo e não deliberativo;
- baixa quantidade de pesquisas na Rebio Tinguá;
Com relação ao turismo predatório, o mesmo também ocorre no entorno de parques
nacionais, ou seja, independentemente da categoria de manejo de UC, o ordenamento das
atividades econômicas é necessário para garantir a qualidade ambiental nas áreas de
abrangência das UC.
Foi disponibilizada via e-mail, no dia 19 de março de 2018, a apresentação realizada no
COMTUR com o arquivo intitulado “recategorização29.pptx” (Imagem 8). Dentro dessa
apresentação há um vídeo com o depoimento de Ricardo Soavinski, ex presidente do ICMBio,
falando da importância das UCs, atratividade para o turismo e suas restrições. Foi dito ainda
que Rebios e Esecs que possuem um apelo da população para a exploração para o turismo pode
levar a uma necessidade de recategorização. Porém ressaltou que ainda é preciso estudos e uma
boa discussão no conselho da UC. A apresentação se baseou nos benefícios que um Parque
pode trazer para a população e para o turismo.

50
Imagem 8 – Slide da apresentação do documento de recategorização

Fonte: documento recebido via e-mail, 19 de março de 2018.

Para que se alcance a recategorização, conforme a apresentação no COMTUR serão


elaborados 8 cadernos temáticos construídos a partir de: 1.Pesquisa bibliográfica;
2.Levantamento e compilação de dados secundários de fontes confiáveis; 3.Geração de
informação primária (entrevistas individuais e coletivas ); 4.Cruzamento de dados e
informações utilizando Geotecnologia, coleta, registro e observação direta e fenômenos de
campo; 5.Oficinas participativas para discussão e validação social. Um dos cadernos é uma
proposta de criação de um masterplan para a estruturação dos bairros do entorno da Rebio:
Jaceruba, Rio D’Ouro e Tinguá (Nova Iguaçu); Xerém/Mantiqueira (Duque de Caxias); Poço
das Antas (Miguel Pereira); Duarte da Silveira (Petrópolis). A ideia é que as prefeituras dessas
localidades façam captação de recursos para que seja implantado. Esses projetos abordarão as
seguintes necessidades: saneamento básico; qualificação urbana; iluminação ecológica; coleta
seletiva de resíduos; arborização; praças e espaços para atividades culturais; hortas
urbanas; creches e escolas; centro de atendimento ao
turista; polos de gastronomia; feiras de produtos orgânicos e artesanais; mobilidade urbana de
integração entre bairros e comunidades.
Interessante notar que nenhum desses cadernos contemplava um estudo de usos e
conflitos sócio-econômicos e ambientais das dinâmicas do território como abordado por Simon
(2010) e descrito no capítulo 3 deste trabalho.
Além desses dois eventos, também houve uma Reunião do Ministério Público Federal,
no Ministério Público Federal em São João de Meriti (Imagem 9). A autora participou do evento

51
e lançou mão de consulta aos apontamentos realizados na ocasião e da gravação da reunião
disponibilizada no Youtube12.
Imagem 9 – Reunião do Ministério Público Federal em São João de Meriti.

Fonte: registro da autora – 2019

A reunião foi realizada no dia 12 de setembro de 2019 e conduzida pelo procurador da


República Julio José Araujo Junior e teve quase 3h de duração. Foram convidados os
representantes dos municípios da área da Rebio Tinguá, representantes das empresas que atuam
na Rebio, parlamentares envolvidos na discussão, sociedade civil e entidades que militam na
área.
Os municípios do entorno da Rebio Tinguá que enviaram representantes foram Nova
Iguaçu, Miguel Pereira e Duque de Caxias. Nova Iguaçu estava representada pelo secretário da
SEMADETUR, Fernando Cid. O secretário considerou um ganho a discussão, pois jogou luz
sobre Tinguá e seus problemas e suas potencialidades. Ressaltou que Nova Iguaçu estava divido
em 3 grupos: um grupo pequeno que defende Reserva, um grupo pequeno que defendem Parque
e um grupo gigante que não tem opinião formada, por muitos não terem ideia da diferença entre
um Parque e uma Reserva Biológica. Informou que essa discussão começou quando assumiram

12
Reunião MPF RECATEGORIZAÇÃO REBIO TINGUÁ. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=fZHFoCdAvL8. Acesso em 11/11/2020
52
a gestão da secretaria do Meio Ambiente em 2017. O tema deve ser travado sobre o olhar
ambiental, mas também sobre o social e o econômico. Importante saber se a recategorização
vai alavancar uma atividade importante como o turismo, numa região com imenso potencial
turístico como Tinguá. O secretário deixa claro que o prefeito da atual gestão, Rogério Lisboa,
ainda não tem uma opinião formada sobre o assunto recategorização e que dentro do próprio
governo há opiniões dividas entre parque e reserva. Quando questionado pelo promotor quais
são os setores do governo que defendem parque e reserva o secretário não soube responder e
citou apenas que a Fundação Educacional (FENIG) defende a recategorização. Fez uma crítica
ao modelo de turismo que ocorre em Tinguá, e que são necessários estudos para mensurar os
impactos econômicos, sociais e ambientais do Turismo na região. Criticou também a visão
apenas ambiental sobre a região e com isso perdem-se oportunidades para o turismo. Defende
que o turismo vai ser a alavanca facilitadora de atração de investimentos para infraestrutura
urbana para Tinguá, tanto recursos da União quanto da iniciativa privada. Na visão do secretário
é o turismo que vai atrair esses investimentos e não o contrário. “Se a gente for esperar que haja
primeiro os investimentos em infraestrutura para depois atrair o turismo, a gente talvez não
tenha êxito.” Citou a fala do governador afastado Wilson Witzel, que diz que o Turismo vai ser
o novo petróleo do Rio de Janeiro. Fazendo um paralelo com uma atividade altamente
degradante e destrutiva ao meio ambiente como a exploração do petróleo, que causou diversos
impactos negativos ao Rio de Janeiro, tanto ambiental quanto sociais e econômicos. Quando
questionado pelo procurador o motivo da discussão na câmara dos vereadores de Nova Iguaçu
estar sendo conduzida na comissão de turismo, o mesmo responde que porque o foco é turismo.
Em relação a fala do secretário, importante citar Rodrigues & Irving (2015):
A mercantilização das relações entre os indivíduos e o espaço público pode gerar
algumas distorções na própria relação que se estabelece com este espaço. No caso dos
parques nacionais, na medida em que a lógica de mercado associada ao turismo se
sobrepõe aos objetivos de conservação e uso da área, a relação dos visitantes com o
parque nacional passa a ser mediada, prioritariamente, pela ‘rede de consumo’, o que
pode gerar uma ruptura do sentido de coletividade e responsabilidade, frente ao espaço
público. Neste caso, as pontes entre o público e o privado são fragilizadas em função
da exagerada artificialização e mercantilização da visita. Esta dinâmica evidencia o
papel do indivíduo enquanto ‘visitante-consumidor’, membro de um grupo
privilegiado que tem o ‘direito’ de acesso (e de consumo do espaço). Neste sentido,
pode-se supor que os indivíduos, na qualidade de ‘visitantes-consumidores’, não
percebem o parque nacional como um bem coletivo, mas como um espaço que pode
ser ‘experimentado’ e ‘vivenciado’ mediante o pagamento de uma taxa e/ou a
contratação de um determinado serviço. (p.14)

Na fala de Marcelo Amorim, Diretor de Fiscalização Ambiental da Secretaria de Meio


Ambiente de Duque de Caxias, a secretaria não teria uma opinião formada a respeito da

53
recategorização da Rebio e que iriam acompanhar a evolução das discussões para formar uma
opinião.
O sub-secretário de Meio Ambiente de Miguel Pereira, Luiz Fernando Carvalheira,
quando colocado a questão da posição a respeito da recategorização, disse ser a favor da
mudança para Parque, porém não soube argumentar o porquê de seu posicionamento. Quando
questionado sobre em que estaria baseado o argumento de fomentar o turismo, disse que não
achava nada e que era uma posição da secretaria. A fala do secretário gerou argumentações da
audiência pela falta de embasamentos e argumentos, apenas colocando uma defesa de
recategorização.
Com relação as empresas que estão dentro da Rebio estavam presentes representantes
da Cedae, Transpetro, Furnas e Concer. A Cedae se posicionou a favor de preservação da área
pela importância das captações, qualidade dos mananciais e segurança hídrica, logo a favor da
manutenção da categoria Rebio. A Transpetro se posicionou de forma neutra, alegando que não
faz diferença de é uma Rebio ou um Parque, já que a empresa precisa pedir autorização de
qualquer forma para fazer as manutenções nos dutos que cortam a UC. Furnas Centrais Elétricas
também se absteve de posicionar sobre a recategorização, a empresa tem linhas de transmissão
que passam dentro da Rebio, próximas a borda da UC e essas linhas estão lá anterior a criação
da UC e que as compensações ambientais da empresa já foram realizadas. A representante da
empresa Concer também colocou que a companhia não tem um posicionamento definido e que
estão acompanhando as discussões. A BR-040 intercepta 3km da Rebio Tinguá na extremidade
da reserva próximo a Petrópolis.
O SNUC estabelece em seu artigo 36 a responsabilidade das empresas dentro de UCs à
obrigatoriedade de implantação e manutenção da UC de Proteção Integral:
Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo
impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com
fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o
empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de
conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e
no regulamento desta Lei. (Regulamento)
§ 1º O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta finalidade
não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a implantação
do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental licenciador, de
acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. (Vide ADIN
nº 3.378-6, de 2008)1
§ 2º Ao órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de conservação a
serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas no EIA/RIMA e ouvido
o empreendedor, podendo inclusive ser contemplada a criação de novas unidades de
conservação. (BRASIL, 2011)

54
Após as falas dos representantes do poder público e das empresas foi aberta a inscrição
de falas para a audiência.
Diversos questionamentos e colocações foram feitos por representantes da sociedade
civil e de ONGs atuantes na área ambiental. Foram colocadas questões sobre o turismo
desordenado que ocorre atualmente no entorno da Rebio, na região de Tinguá e que o poder
público municipal não toma medidas efetivas para seu ordenamento. Foi ressaltada a
necessidade desse ordenamento territorial e investimento em infraestrutura na região antes de
se pensar em recategorização.
Além do turismo, os representantes do poder público municipal de Nova Iguaçu
utilizaram argumentos de precarização da Rebio como motivação para sua recategorização.
Argumentaram também que o turismo é uma indústria limpa, que ajuda e fomenta não só a
economia, como auxilia no processo ambiental, mostrando assim seu desconhecimento a
respeito dos impactos negativos que o turismo pode ocasionar.
O ex-chefe da Rebio Tinguá, Leandro Travassos, alegou que existe uma série de planos
e estudos relacionados a UC que podem ser acessados para entender melhor as demandas. Falou
das carências da UC em relação a gestão que conta somente com dois analistas para atender
todas as demandas, inclusive a de uso público. Ressaltou que apesar da Rebio não ter o viés
turístico ela pode ser visitada. Com relação aos recursos, a analista ambiental Gisele Medeiros,
informou que recebem apenas R$500,00 mensais para suprimento de materiais de escritório e
o que entra para combustível. Todo o restante é recebido via Ministério do Meio Ambiente e
via compensação ambiental. A UC não tem nenhuma autonomia financeira administrativa. Ou
seja, a UC carece de investimentos financeiros para sua manutenção e melhor estruturação.
Alegou também que as empresas que atuam dentro da Rebio não revertem muitos recursos para
a preservação, elas fazem o mínimo que é estabelecido por lei.
Na fala do ex-secretário da SEMADETUR, Fernando Cid, é possível identificar o viés
econômico e elitista do gestor em relação ao turismo. Relatou a visita do Cônsul Geral da
Espanha às Ruínas da Fazenda São Bernardino, e que o mesmo ficou encantado por se tratar de
um tesouro, e disse que esse é o tipo de perfil de turismo que é necessário levar para Tinguá,
pois o que ocorre hoje na região não é turismo e sim atividade predatória. O secretário ainda
aponta que não há investimentos em Reservas Biológicas, que os maiores investimentos se dão
em Parques Nacionais. Em sua visão, isso é um indicativo de que o Ministério do Meio
Ambiente tem a intenção de estimular a criação de Parques Nacionais. Porém, o ex-secretário
em nenhum momento apresentou dados e estudos que embasassem seus argumentos.

55
Finalizando a reunião o procurador deu alguns esclarecimentos e encaminhamentos e
colocou que o debate estava partindo de um posicionamento errado, numa tentativa de apressar
processos que devem ser compreendidos a luz do meio ambiente e não ao contrário. Que
legalmente a reunião não teve caráter de audiência, apenas materialmente, porém foi importante
por levar diferentes pontos de vista e haver um aprofundamento sobre o assunto. Instaurou um
inquérito civil para acompanhamento da discussão e disse que o debate precisa levar em
consideração toda a realidade ambiental da região do Tinguá. Colocou que é perigoso e ruim
utilizar a precariedade contra a Rebio e falou das diversas ações do MPF pela fiscalização e
estruturação da UC. Destacou a necessidade de defesa das pautas da Rebio por parte da
prefeitura de Nova Iguaçu.
Interessante citar a presença do sub secretário Helio Vanderlei na reunião, porém o
mesmo não se pronunciou em nenhum momento e nem mesmo fez a apresentação de defesa de
estudos para a recategorização da Rebio Tinguá apresentada na reunião do COMTUR citada
aqui anteriormente.

3.2 - A perspectiva de recategorização da Rebio Tinguá: posicionamentos e argumentos

Como forma de compreender os argumentos e posicionamentos dos envolvidos na


discussão sobre a recategorização da Rebio Tinguá, foram realizadas entrevistas com
interlocutores locais que atuam na esfera pública e no terceiro setor.
Importante destacar que a seleção dos entrevistados se deu pelo conhecimento prévio
da autora nos eventos citados no capítulo anterior e nas arenas de debate público, bem como
frequentando reuniões do COMTUR e do CONDEMA e o GT – Câmara Técnica de
Saneamento Básico do município de Nova Iguaçu, no período de 2017 a 2019.
As informações apresentadas refletem o entendimento dos interlocutores sobre a
recategorização e demais assuntos que envolvem a Rebio Tinguá, sendo assim uma visão
particular, e que não pretende esgotar o tema, uma vez que outros setores e representantes da
comunidade local também possuem seus entendimentos sobre o tema.
Foram realizadas quatro entrevistas, com a prévia autorização e consentimento dos
interlocutores, que tiveram acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1).
Optou-se pela referência da inserção institucional dos interlocutores, em sequência numérica
(Tabela 5). Foram entrevistados dois representantes do poder público, respectivamente da
SEMADETUR (interlocutor 1) e da REBIO Tinguá/ICMBio (interlocutor 3), e dois de

56
organizações não-governamentais: Defensoria Socioambiental (interlocutor 2) e Onda Verde
(interlocutor 4).
Tabela 5 – Interlocutores entrevistados e suas áreas de atuação

Interlocutor 1 Superintendente de Meio Ambiente, Agricultura e Turismo da


Semadetur
Interlocutor 2 Presidente da ONG Defensoria Sócio Ambiental, ex membro do
conselho da Rebio Tinguá
Interlocutor 3 Analista Ambiental do ICMBio na Rebio Tinguá

Interlocutor 4 Consultor voluntário da ONG Onda Verde e ex Superintende de


Meio Ambiente da Semadetur
Fonte: elaboração da autora
As entrevistas foram registradas com gravador nos dias 01, 05, 10 e 22 de outubro de
2020, e posteriormente transcritas, considerando as principais questões identificadas na
pesquisa.
Conforme salientado anteriormente, em virtude das limitações impostas pela pandemia
Covid-19, as entrevistas foram realizadas de forma remota, com o auxílio de aplicativos e
plataforma de comunicação virtual (Zoom). Procedeu-se a realização de três entrevistas virtuais
e uma presencial. A adoção da entrevista virtual se deve às limitações impostas pela pandemia
de Covid-19 no Brasil e no mundo. A necessidade de isolamento social também limitou a saída
a campo para visitação dos pontos da Rebio Tinguá e seu entorno que são utilizados para o lazer
da população. Contudo, é importante salientar que a autora participou de campo nas disciplinas
Turismo e Meio Ambiente, Planejamento e Organização do Turismo e Políticas Públicas de
Turismo, onde visitamos três vezes a região de Tinguá, entre 2017 e 2018, para observar como
se dava o fluxo de visitantes de lazer. Além disso, analisamos o atual estado de infraestrutura
de saneamento básico, transporte e acessos, comércios e serviços. Visitamos também alguns
equipamentos históricos da região como as ruínas da Fazenda São Bernardino, da Vila do
Iguassú, o Cemitério de Escravos, a antiga estação de trem e a Estrada Real do Comércio. Com
o objetivo de observar o fluxo de lazer referente à água, visitamos a “cachoeira”, o rio que sai
da Rebio Tinguá e é represado em alguns trechos por proprietários de bares e restaurantes para
fins de utilização dos banhistas.
Buscou-se através dessas entrevistas entender o ponto de vista dos interlocutores sobre
o tema e sua relação com a área pesquisada. A entrevista foi realizada com o apoio de um roteiro
de perguntas, que incluiu algumas questões principais, conforme apresentado na Tabela 6,
abaixo:

57
Tabela 6 – Roteiro de entrevistas

1 Há quanto tempo conhece/frequenta Tinguá? Qual sua


relação com o Bairro? Com a região?

2 Quando e por que começou a discussão sobre a


recategorização da Rebio Tinguá?

3 Quais os principais argumentos/potencialidades para a


recategorização? Qual a relação do turismo com a recategorização?

4 Quais os benefícios da recategorização para o turismo e o


lazer na região? Quais as limitações para que isso ocorra?

5 Quais as estratégias utilizadas para alcançar a


recategorização?

6 Como está sendo o processo de participação pública nessa


discussão?

7 Existe algum documento resultante desse processo inicial?

Fonte: elaboração da autora

Os quatro atores entrevistados, apesar de não residirem na região de Tinguá, têm


relação com o território através de vivência pela atuação profissional, militância na área
ambiental e atuação política.
Com relação ao início das discussões de recategorização da Rebio Tinguá todos os
interlocutores foram unânimes em afirmar que a discussão é antiga, desde a época da criação
da UC, em 1989. O interlocutor 1 diz que o debate foi iniciado na SEMADETUR pelo ex-
secretário, Fernando Cid, e pelo ex-superintendente de Meio Ambiente, Helio Vanderlei. Houve
uma tentativa de sensibilizar o gabinete do então prefeito Rogério Lisboa (2017-atual) a respeito

58
dessa questão. No seu entendimento, era necessário que esse debate partisse de dentro do
próprio ICMBio.
O Interlocutor 2 entende que, normalmente, quem incentiva a discussão sobre a
recategorização são as pessoas que poderiam ser prejudicadas de alguma forma, uma vez que
no município de Nova Iguaçu pessoas que fazem e fizeram parte da gestão pública possuem
propriedade dentro da reserva. Essas propriedades estão embargadas pelo MPF e ele entende
que “Numa recategorização você pode mudar o traçado e a propriedade que está atualmente
dentro na UC embargada pode passar a estar do lado de fora. Além disso, algumas ONGs da
região têm interesse na recategorização pois querem fazer a gestão compartilhada da unidade".
Sobre essa questão, o Interlocutor 4 entende que, quando uma UC está fechada para a
visitação pública, é necessário dispor de outras fontes de recurso para custeá -la, pois a
pressão antrópica no território é muito grande, ou seja, a especulação imobiliária, a agricultura,
o adensamento urbano. Na sua opinião, é fundamental o compromisso do Estado para garantir
a adequada gestão destas áreas, pois no seu entendimento, o governo:

“Cria e não fazem nada. Você coloca um chefe da UC com 2 funcionários pra 26 mil
hectares e você não tem nada. Você começa a dizer à população que não pode entrar,
que se entrar vai ser preso e qualquer atividade dentro da UC é ilegal. Você não pode
fazer turismo, você pode fazer visita técnica de educação ambiental, mas para isso
você precisa ser o educador ambiental do IBAMA, trilha sinalizada, o plano de manejo
tem que definir aonde eu vou fazer as atividades.” (Interlocutor 4 – ONG Onda Verde)

O Plano de Manejo da Rebio Tinguá estabelece o zoneamento de uso público para fins
educacionais, conforme visto no capítulo 4.1. A respeito do turismo, conforme discutido no
capítulo 2, existe a possibilidade de realizar alguns segmentos do turismo com fins
educacionais.
O Interlocutor 4 diz que para a instituição, "tanto faz se é um parque ou se é uma
reserva", pois para eles o que importa é a missão de preservação da Mata Atlântica. Assim,
entende que é preciso uma visão mais pragmática de projetos que possam solucionar problemas.
Na sua visão o turismo na UC seria o motor de desenvolvimento da região.
Se você tem uma UC muito urbana e você fecha ela, ela vai continuar sendo invadida
sempre. Mas se você cria os espaços de visitação pública, onde você tem a portaria,
onde você tem o centro de visitação, de educação ambiental, você tem a equipe de
combate a incêndio florestal, você tem área para lazer, você tem os quiosques
[...]Constrói um conceito de sustentabilidade e possibilita o desenvolvimento
ordenado do entorno da UC. A UC será utilizada como instrumento de
desenvolvimento do turismo comunitário, da gastronomia local, da agricultura
sustentável e da retenção do crescimento urbano, porque cria um cinturão de
atividades turísticas onde o mais importante ali não é construir um condomínio do
Minha Casa, Minha Vida, é ter pousadas pra receber turistas que vem no final de
semana e que ali ele gera renda e que gera emprego [...] O turismo é um indutor do
59
desenvolvimento do território muito forte e uma indústria limpa, porque não tem
chaminé. (Interlocutor 4- ONG Onda Verde)
Sobre os principais argumentos e potencialidades para a recategorização de Tinguá com
relação ao turismo, os interlocutores têm diferentes as visões. O Interlocutor 2 entende que não
pode haver turismo dentro da Rebio Tinguá, pois outros assuntos precisam ser melhor
encaminhados como os impactos dos dutos da Petrobrás e da captação de água. Na sua opinião
a defesa do turismo tem a questão financeira envolvida “Argumentam que teriam melhorias
nas propriedades, criação de empresas no entorno. Um parque dá flexibilizações em alguns
nichos de empresas de mercado.” (Interlocutor 2)
O Interlocutor 3 salienta a questão de que os moradores da Baixada Fluminense são
privados de muitos benefícios sociais e que há uma demanda de uso público muito grande na
UC:
“Como é que a gente vai chegar e vai dizer “você não pode fazer isso” se a praia tá a
60km daquelas pessoas. Eu acho que é leviano por parte do serviço público fazer isso,
mas a gente faz por que hoje a legislação não permite esse tipo de uso. Mas a gente
tem que ter um carinho por essa discussão...a UC qual é o papel dela, se ela é para as
pessoas, para o bem coletivo, porque ela não pode ser usada com parcimônia? São os
questionamentos que eu me faço. Será a melhor estratégia dizer que esse espaço tá
fechado e as pessoas não entram, sendo que as pessoas entram?” (Interlocutor 3 -
ICMBio)

O Interlocutor 1 aponta que o turismo é apenas uma das estratégias que uma UC deve
ter. Para isso, é necessário infraestrutura, monitoramento e fiscalização. Aponta também a
possibilidade de visitação no campo da educação ambiental e que a Rebio oferece essas
possibilidades. Destaca também que a demanda para o lazer da Rebio ocorre no entorno da área.
“Então eu vou entender que o turismo dentro do contexto de uma unidade de
conservação ele é pra mim meio que quase a cereja do bolo do processo. O Turismo
é um fruto de uma articulação dos vários pacotes de programa que uma unidade de
conservação deve oferecer [...] vou fazer turismo sem que eu tenha uma boa estrutura
de pesquisa, né, pra conduzir inclusive o uso público? Conduzir o turismo sem que eu
tenha um programa de manutenção de estruturação em sua manutenção, vai ter
conflito [?]. Conduzir o turismo sem que eu tenha uma capacidade de ter um programa
de fiscalização de monitoramento de público de todos os usos, inclusive da pesquisa,
da caça, coibir a caça, essa coisa toda, vamos ter problema né?” (Interlocutor 1-
SEMADETUR)

Na visão do Interlocutor 4, um Parque Nacional seria indutor tanto turismo quanto


desenvolvimento sustentável do território. Critica o modelo de turismo de lazer que ocorre na
região, onde a maioria dos frequentadores é de baixa renda. Na visão dele isso é um problema,
o que contraria suas falas de desenvolvimento sustentável do território através do turismo.
Conforme apontado no capítulo 3.3 nos estudos de Oliveira (2015) o perfil de visitação na
região é de moradores de Nova Iguaçu e de outras regiões da Baixada Fluminense, de baixa

60
escolaridade e baixa poder aquisitivo. Investir num turismo para pessoas com alto poder
aquisitivo e que não vive nessa região é alterar o perfil e o tipo de turismo e turista na região.
Em sua fala, o Interlocutor 4 deixa bem clara suas pretensões econômicas para o turismo e o
perfil que deseja atrair em caso de recategorização e deixa claro o seu incomodo com o atual
perfil de turista da região:

“Muitos turistas que vem pras atividades de dia eles vem de carro, de ônibus, ônibus
fretados que vão direto pro sítio. E as pessoas não paravam na praça. Só parava na
praça aquele que vinha de ônibus público e aí ele descia comprava o pão com
mortadela dele na padaria e a Coca Cola e ia pro rio onde não precisava pagar. Então
você tinha um rio que ainda tinha pouco esgoto e as pessoas iam pro rio. 3 mil pessoas
iam pro rio. Significa um público de baixa renda que não vai entrar pra comprar um
artesanato de 15 ou 20 reais. Então a gente percebia que por mais divulgação que
tivesse a gente não vendia. (Interlocutor 4 – ONG Onda Verde)

O interlocutor 4 cita a criação do Centro de Turismo Ecológico da Onda Verde, em


2003, onde foi realizada uma pesquisa para identificar o perfil dos visitantes da região. O Centro
funcionou durante 5 anos e identificou que 95% dos visitantes era da Baixada Fluminense. No
Centro de Turismo também eram vendidos artesanatos de outras regiões, pois segundo o
Interlocutor 4, Tinguá não tem cultura de produção de artesanato. Apontou que os turistas que
compravam os produtos geralmente eram de fora, da cidade do Rio de Janeiro, por causa do
valor dos mesmos.
Quando questionado se a instituição onde atua levava visitantes para a Rebio Tinguá, o
Interlocutor 4 afirmou só fazê-lo quando a escola solicitava. Alegou que para realizar a visita
era necessário enviar um oficio ao chefe da UC e que as mesmas só poderiam ser realizadas de
segunda a sexta. Usou como exemplo o Parque Nacional de Itatiaia onde no mesmo tem um
Centro de Educação Ambiental com uma coordenadora do ICMBio e voluntários que ajudam e
a visitação ocorre de terça a sábado.
O Interlocutor 4 diz que para o governo federal tanto faz se é parque ou reserva, que na
verdade sendo parque, o mesmo faria uma concessão pública-privada reduzindo assim os custos
com a UC. Assim também haveria mais tempo para a fiscalização já que bilheteria, restaurante
e ecomuseu ficariam com a iniciativa privada.
A respeito das afirmações do Interlocutor 4 sobre concessões, é importante observar que
a mesma deve ser gerida, monitorada e fiscalizada, sendo assim mais uma demanda para os
analistas ambientais da UC
O Interlocutor 3 salienta que alguns estudos associam a presença de visitantes com a
diminuição das atividades ilícitas como a caça e a ocupação irregular. Com o uso público, os
61
visitantes ajudariam a fiscalizar pois levariam um feedback para os gestores por estarem mais
em contato com a UC que o órgão ambiental.
É muito difícil por exemplo uma trilha de uso público ter por exemplo poleiro ou
rancho de caça, que hoje tem muito na Rebio Tinguá, porque o cara que tá fazendo o
uso público, que é uma infração ambiental, não vai chegar e informar os gestores sobre
o ocorrido. (Interlocutor 3 - ICMBio)

Conforme já apontado anteriormente no capítulo 1.2, as atividades para fins


educacionais são uma forma de uso público e necessitam ser estruturadas. Assim, com grupos
organizados recorrentes visitando sempre as áreas que são destinadas à visitação, poderia
significar um apoio ao monitoramento, uma vez que a área seria movimentada por visitantes.
O Interlocutor 4 salienta a existência de um projeto para a elaboração de um masterplan,
o mesmo citado no capítulo 4.1, apresentado na reunião do COMTUR. Mas entende a
necessidade de contratação de uma empresa para fazer o diagnóstico do bairro antes do
masterplan. e que esse estudo aconteceria em paralelo com a recategorização da UC. Esse
diagnóstico de bairro seria realizado através de dados levantados na região realizados por uma
empresa, a partir de coleta de dados no território para a elaboração de projetos de infraestrutura
urbana. Porém o Interlocutor 4 não detalha se haverá participação com a comunidade local
nesse processo de diagnóstico. Ele apenas diz que a comunidade local receberá material sobre
o masterplan e que serão feitas reuniões com a associação de moradores.
O Interlocutor 4 diz que a ideia é estruturar bairros sustentáveis no entorno da UC e o
Parque Nacional seria o indutor do desenvolvimento sustentável do território a partir do
masterplan. Esse documento tem que ter um caderno específico de legislação para basear todo
o processo de recategorização e que seriam necessários de 3 a 4 anos de trabalho para então,
após isso, falar de recategorização.
O Interlocutor 1 entende que há a possibilidade de visitação controlada na Rebio Tinguá
e que há necessidades de investimento em pessoal e estruturação para ver as questões de
capacidade de carga. Aponta a possibilidade de visitação com grupos guiados com fins
educacionais das universidades da Baixada Fluminense e do Rio de Janeiro. Ele salienta que:

“Hoje todo mundo sabe que passa moto ali para Miguel Pereira, que o caçador e outras
pessoas entram, o uso da cachoeira da Colônia, área de captação dentro da zona
intangível, impactando conjunto de fauna e flora de uma maneira geral.” Alega que
não participou dos debates de recategorização por acreditar que se criou uma
dicotomia, uma “neurose de relacionamento histórico de oposição entre um e outro”
(Interlocutor 1 – SEMADETUR).

62
Sobre as estratégias para atingir a recategorização e a participação pública, o
Interlocutor 1 informa que houveram alguns debates e uma reunião pública na praça de Tinguá.
Coloca que não se envolveu nas discussões por acreditar que o debate está muito
“emocionado”, e acrescenta que:
“Você só faz um debate propositivo quando você se reforça efetivamente com um
conjunto de atores que acreditam naquela solução. Os defensores do debate não conseguiram
aglutinar. A turma que defendia a Rebio conseguiu ser mais ruidosa.” (Interlocutor 1)
De acordo com o Interlocutor 2, o processo de discussão sobre a recategorização tinha
a intenção de afastar o público do debate levando mesmo para fora do território da UC. E, na
sua opinião, houve a tentativa de agradar alguns grupos que possivelmente seriam beneficiados
com a recategorização. Diz que o grupo defensor do parque distribuiu umas camisetas para um
grupo de ciclistas da região com o slogan: "Reserva Parque".
O Interlocutor 3 colocou que o ICMBio não tem autonomia total nesses casos, que os
pleitos que vem da sociedade civil ou da administração pública são encaminhados pelo órgão
para as instâncias superiores. Relembra que qualquer tipo de alteração de categoria deve ser
realizada diretamente no Congresso Nacional, via projeto de lei. Aponta que no caso de
recategorização de Rebio para Parna implica diminuição de proteção já que além de pesquisa e
educação ambiental a UC passará a ter uso público também. Em caso de recategorização, o
ICMBIo faz o papel técnico apontando os prós e contras, refaz o plano de manejo e o
zoneamento para estabelecer o que pode ser utilizado e o que não pode. No entanto, entende
que isso não é um processo simples:
Estamos num momento político muito difícil em relação às questões ambientais.
Temos diversas UCs no país inteiro com problemas de regularização fundiária, que
necessitam de redefinição de limites ou de recategorização. Todos esses projetos hoje
no meu entendimento estão parados. Temos um momento tão ruim politicamente e
um Congresso tão ruim pra questão do meio ambiente que se a gente pleitear qualquer
tipo de coisa, como a gente não tem nenhum tipo de gestão, a gente fala “vamos trocar
x por y” eles vão lá e trocam x por z. A gente faz um projeto inteiro técnico vai pro
congresso e volta 2 hectares protegidos. Então melhor não mexer e gerir os conflitos
do que tentar mexer e voltar pior do que está. (Interlocutor 3 - ICMBio)

Para o interlocutor 4, o debate deve ser orientado pelo masterplan, e não pela
recategorização. Coloca ainda que os caminhos que foram utilizados para debater a
recategorização foram “equivocados”. Alega que se o atual ministro do meio ambiente amanhã
mandar um projeto de lei para a Casa Civil e o presidente aprovar e for pro congresso, o
“centrão” aprova a recategorização. “Só que eu não concordo com isso. Eu acho que esse não
é o processo.”

63
Assim, no ponto de vista do interlocutor 4, o masterplan seria o norteador para um futuro
processo de recategorização. Entende que a recategorização não pode ser feita apenas por
audiência pública por um grupo que é a favor e outro contra e que isso “é coisa do século
passado”. O poder público tem que trazer todo esse estudo (masterplan) e tem que dialogar com
a universidade, setor privado, como o setor público. Esclarece também que, quando estava na
prefeitura, ele acabou focando as ações no debate da recategorização e das audiências, deixando
de lado o masterplan. Mas, por outro lado, entende que arecategorização da Rebio Tinguá pode
servir de modelagem para o ICMBio para outras recategorizações já que não houve ainda
nenhum caso de recategorização de Rebio para Parque.
A respeito de possíveis documentos resultantes do processo de discussão sobre a
recategorização, o Interlocutor 1 diz desconhecer a geração de algum dado. Diz que não houve
uma audiência no campo ambiental e não se recorda de ter havido discussões no conselho da
Rebio e nem no Condema de Nova Iguaçu.
O Interlocutor 2 diz não haver nenhum documento ou estudo técnico e que há a
necessidade de documentação com prós e contras. Citou o inquérito cívil público federal da
reunião do dia 12 de setembro de 2019, no MPF em São João de Meriti. Informou que o
procurador já formulou a opinião do ministério público sendo contrário à recategorização e que
o ICMBio foi multado por não cumprir o plano de manejo da Rebio. Mas para ele ainda não é
o fim do debate:
“É um fantasma que assombra a unidade. Vão analisar os pontos em que eles perderam
e provavelmente lá na frente vão levantar essa questão da recategorização de novo,
talvez não usando mais a questão do turismo.” (Interlocutor 2 - ONG Defensoria Sócio
Ambiental)

O debate atualmente perdeu forças, segundo o Interlocutor 1, após um evento de


inauguração de uma praça em Tinguá no final de 2019. Neste evento o prefeito Rogério Lisboa
se comprometeu a defender o território, mas não na linha de recategorização. Recomendou a
aproximação com o órgão federal (ICMBIo). Reforçou a importância do turismo no território
na borda da Rebio Tinguá, especialmente na Baixada Fluminense.
É importante notar que as visões dos interlocutores apesar de divergirem são pautadas
no desenvolvimento do território. Identifica-se que há uma necessidade de investimento de
infraestrutura na região para a comunidade local e também para os visitantes. O turismo para
os Interlocutores 1, 2 e 3 tem papel secundário no desenvolvimento territorial, enquanto que
para o Interlocutor 4 é o argumento principal para o desenvolvimento regional e recategorização
da Rebio Tinguá. Os Interlocutores 1 e 3 apontam para as possibilidades de turismo na região
independente da categoria da UC.
64
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou analisar os principais argumentos e temas vinculados ao


turismo que permeiam o debate sobre a recategorização da REBIO Tinguá. Mas essa discussão
vai muito além da recategorização, apontando para temas mais amplos como o processo de uso
e ocupação do território do Tinguá.
O discurso de recategorização veio à tona com a criação do SNUC, que abriu a
possibilidade de recategorização. Assim, a discussão “Rebio x Parque” perpassa por muitos
conflitos de interesses no território com relação ao turismo. Um dos argumentos para a
recategorização é a possibilidade de promover o turismo e os benefícios econômicos associados
para a região. Porém, parte desses argumentos sugerem uma visão excludente do tipo de uso
público que deveria ser prático no local, já que durante os eventos e entrevistas para este
trabalho, foi observado que há uma pretensão de alteração de perfil de visitantes, tendendo para
o lado elitizado do turismo, não levando em conta as pessoas que visitam a região em busca de
lazer e contato com a natureza.
EM 2017 a prefeitura de Nova Iguaçu, através da SEMADETUR, protagonizou esta
discussão, que atualmente encontra-se secundarizada após o término da gestão do secretário
Fernando Cid e sub-secretário Helio Vanderlei. Apesar de o prefeito Rogério Lisboa, que foi
reeleito em 2020, não ter se posicionado a favor ou contra a recategorização, não se sabe se o
debate será retomado em sua gestão.
No que diz respeito à gestão da Rebio Tinguá, foi observado na pesquisa a carência de
pessoal e infraestrutura para atender com qualidade a finalidade pela qual foi criada. Existe um
plano de manejo que prevê o zoneamento destinado à visitação e ações estratégicas para a
implantação do uso público, com fins de educação ambiental. Conforme apontado no item 2.3,
na Rebio Tinguá ocorre visitação para fins de educação ambiental, ainda que de forma
incipiente, geralmente com escolas e algumas instituições. Essa visitação poderia ser
estruturada com grupos diversos de visitantes, como ocorre na Rebio União.
Os defensores da recategorização também utilizam como argumento a precariedade da
gestão da Rebio Tinguá como motivação para a alteração de categoria, apontando a UC como
ineficaz nos seu objetivos de preservação ambiental, pois o turismo predatório, a caça e outras
atividades danosas ao meio ambiente ocorrem dentro unidade.
Em reuniões públicas citadas ao longo deste trabalho mostrou-se que o plano de manejo
da Rebio não foi implantado como deveria e que por isso não se deve alegar que a Rebio não

65
tem sua efetividade no território. Independentemente de recategorização há que se pensar na
estruturação efetiva do uso público na UC, já que a atividade está prevista no plano de manejo.
Assim, faz-se necessário buscar parcerias e soluções junto ao poder público, universidades,
terceiro setor ou iniciativa privada para a implementação de um modelo de uso público, que
englobe públicos diversificados. Neste sentido, a partir da permissão de visitação com fins
educacionais, entende-se que atividades dos segmentos do turismo pedagógico e ecoturismo
podem ser desenvolvidas no local, considerando as finalidades da educação e interpretação
ambiental.
A partir da análise empreendida nesta pesquisa, cumpre destacar o entendimento de que
não há a necessidade de recategorização da Rebio Tinguá. Por outro lado, destaca-se a
importância de se promover o investimento em infraestrutura e recursos humanos na UC, para
implementação do plano de manejo e de um modelo de uso público que capaz de englobar os
diferentes segmentos de lazer e turismo com fins educacionais, fortalecendo a sensibilização e
a educação ambiental como ferramenta de conservação da sociobiodiversidade.
Além disso, o debate sobre a recategorização e fundamental deve considerar como ponto
de partida o desenvolvimento da comunidade de Tinguá em termos de infraestrutura básica para
a melhoria da qualidade de vida da população local, e para o turismo. Esse debate que deve
ocorrer de maneira comprometida e planejada, independentemente da categoria de UC
estabelecida no território. A atuação incipiente do poder público, nas suas diferentes esferas,
agrava problemas como a falta de saneamento básico, ocupação irregular, infraestrutura de
acesso e transporte público que precisam ser sanados independentemente de existir ou não uma
UC na região.
Por fim, sugere-se que diferentes estudos e pesquisas sejam realizados para a
compreensão do contexto socioeconômico da região do Tinguá, sobretudo com relação aos
benefícios associados ao lazer e aos demais aspectos para a melhoria da qualidade de vida
associada à integridade e efetividade das áreas protegidas da região.

66
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70
ANEXOS

ANEXO 1 -

71
72
73
ANEXO 2

74
ANEXO 3

75
76
77
78
79
80

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