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A FAMÍLIA
TELLES DE MENEZES
GUILHERME PERES
OS TELLES DE MENEZES
A história de seus antepassados começa ainda no século XVIII,
quando três de seus membros portugueses desembarcaram na Bahia,
posteriormente se dividindo para o Sul, Nordeste e Sudeste, com a vinda
para o Rio de Janeiro de Diogo Lobo Telles de Menezes. Foram os seus
descendentes que edificaram nesta cidade o famoso Arco dos Telles, antiga
construção do período colonial, erguido em torno dos prédios pertencentes a
mesma família, situados na outrora Praia do Peixe, atual Praça 15 de
Novembro.
Em Jacarepaguá, também um de seus membros, Francisco Telles
Barreto e seu filho Luiz Telles Barreto de Menezes, ambos juizes de órfãos do
Rio de Janeiro adquiriram a fazenda da Taquara, já existente em data anterior
a 1768, com uma capela dedicada a N. Srª. dos Remédios e da Exaltação da
Santa Cruz. No século XIX por sucessões seguidas essa fazenda pertenceu a
D. Ana Maria Telles de Menezes casada com o Comendador Francisco Pinto
da Fonseca e a seu filho o Barão da Taquara, propriedade que se estendia
com os engenhos d‟Água, de Fora, Pau da Fome e União.
Filho primogênito do Capitão Luiz Telles Barreto de Menezes, que em
18 de janeiro de 1821 adquiriu “uma data de terra no Barbosa”, Pedro
Antônio Telles Barreto de Menezes assumiu, com a morte do pai, a direção
do engenho. Agraciado com a Ordem de Cristo no grau de Cavaleiro, foi
condecorado com a Imperial Ordem da Rosa no grau de Comendador,
ostentando ainda o título honorífico de Delegado da Capitania, com direito ao
uso do Brasão D‟Armas concedido em 27 de abril de 1868, sendo também
Juiz de Paz e Subdelegado na freguesia de Meriti.
Em 11 de dezembro de 1864, durante o lançamento da pedra
fundamental para construção da capela de N. Sra. da Conceição na sede de
sua fazenda, o comendador registrou para a posteridade a mudança de nome
do engenho do Barbosa, para engenho do Telles, cujo documento original
encontra-se nos arquivos do IPAHB: “Eu o notário abaixo assinado, declaro
que é da vontade do proprietário que a sua fazenda seja desta data em diante
denominada Fazenda do Telles, e não do Barbosa; declaro mais, que o
projeto da referida capela de N. Sra. da Conceição é do Sr. Numa Haring”.
Nesse documento vamos encontrar os dados que comprovam sua
grande dimensão, medindo cerca de 450 alqueires: “A fazenda denominada
do Barbosa, sita no Império do Brasil, município de Iguassú, diocese do Rio
de Janeiro, Freguesia de São João Baptista de Merety, confinando ao norte
com a fazenda da Covanca, pertencente a diversos; ao sul com a do
Comendador A. F. Guerra; a leste com a do engenho do Porto e a C. M. dos
Santos Vianna e a oeste com a do engenho do Brejo, de Carvalho e Rocha,
possuída pelo senhor Pedro Antonio Telles Barreto de Menezes,
subdelegado, proprietário e juiz de paz da dita Freguesia”.
Família Telles de Menezes tendo como seu chefe a figura mais idosa,
Pedro Antônio Telles Barreto de Menezes ao lado de sua esposa,
D. Francisca Justiniana de Freitas, rodeados de filhos e netos.
DECADÊNCIA
A partir da década de 40, já no século XX, a antiga fazenda dos Telles
foi retalhada e vendida para loteamentos à Cia Várzea do Carmo, quando
algumas de suas palmeiras imperiais ainda balançavam ao sabor do vento,
presenciando os últimos vestígios de sua sede, nas paredes desmoronadas
de um dos mais belos exemplares arquitetônicos de nossa região.
O restante dos imóveis situados no bairro Venda Velha, em ruínas ou
descaracterizados, têm como exemplo o Sítio Carioca. Fartamente arborizado
e detentor de uma fonte de água cristalina, atendia aos moradores da região
e aqueles que o visitavam atraídos por sua fama.
Esse sítio teve como proprietário, “Pedro Telles Barreto de Menezes,
casado com D. Angélica, dos quais tiveram os seguintes filhos: Ana Clara,
João, Noca, Tuta e Dinho, que transformavam aquela casa, depois do solar
da Covanca, num lugar alegre e festivo”. Modificado em clube de festas e
eventos pelo Dr. Gilberto da Silveira Menezes, que se cotizou junto com 20
amigos para comprá-lo, encontra-se hoje abandonado.
Outra moradia serve de residência a seus descendentes, chamada
casa da Grota, construída por seu proprietário Antônio Telles Barreto de
Menezes, no final do século XIX, mantém ainda suas características
arquitetônicas originais: assoalho, forro, portas e janelas com vitrais, móveis
etc.
Recebida como herança por sua neta D. Dulce da Silveira Menezes,
que passou a residir no local com seu marido Dr. Alberto Jeremias da
Silveira Menezes transformando-a em pequena granja para criações diversas,
fruteiras e exploração de uma pedreira próxima pertencente à família. Com a
morte do Dr. Alberto Jeremias, sua esposa, D. Dulce, mudou-se, deixando ao
abandono o velho solar, hoje recuperado pela família.
Nascido em São João de Meriti em 1907, nas terras da fazenda de seu avô
paterno, Dr. Pedro Telles Barreto de Menezes, Alberto Jeremias da Silveira
Menezes herdaria deste, através de seu testamento, o anel de grau de doutor
em Direito e toda sua biblioteca jurídica, indicando-lhe o caminho para um
futuro brioso.
Filho de Alberto Jeremias de Menezes, correto e eficiente servidor
público, deixou ao filho um legado imaterial de grande valor: o amor e o
respeito à dignidade humana. Sua genitora: D. Francisca Jeremias da Silveira
Menezes, mãe amantíssima e dedicada esposa, ainda encontrava tempo para
o exercício do magistério, atuando durante muitos anos de sua preciosa
existência, no aperfeiçoamento das crianças pobres. Como reconhecimento
pelo que fez em prol de tantos, por via do ensino, ostenta uma das escolas
deste Município o seu respeitável nome.
Encimando essa árvore, encontramos o nome do Dr. Pedro Antônio
Telles Barreto de Menezes. Nascido em terra que hoje constitui este próspero
Município, foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo, recebendo o
título de Comendador por relevantes serviços à comunidade, onde
desempenhou as funções de Juiz de Paz e delegado distrital. Adquiriu a
antiga Fazenda do Barbosa, com 453 alqueires. Operada a aquisição, passou
a ser denominada Fazenda dos Telles. Nas terras da fazenda, erigiu uma
capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição.
Há do Comendador Pedro Antônio Telles Barreto de Menezes, ou
melhor, de sua atuação, marca indelével no centro dessa cidade: a Igreja
Matriz, em 1875, nomeado pelo Presidente da Província do Estado do Rio de
Janeiro integrou a comissão encarregada de edificá-la. Como elemento de
valor histórico, endereçado especialmente aos que no momento se dedicou,
aponto documentos públicos, concernentes a março de 1875, lavrada a fls.
56 do livro 4 do Cartório do Registro Civil do 1º Distrito deste Município.
Tinha sangue nobre. Indica o respectivo brasão de seus antepassados:
Andradas, Moniz, Lobo e Telles. Deixou aos filhos Pedro, Francisco, Manoel e
Antônio Telles Barreto de Menezes um legado, na formação dos cursos de
Direito.
Sob diferentes aspectos, tiveram os Telles, como tratados eram os
parentes do Dr. Jeremias, desde o tempo em que integrava, como Distrito, o
Município de Nova Iguaçu. Ao tempo em que o Executivo Municipal competia
ao Presidente da Câmara, chegou o Dr. Telles à chefia daquele poder. Um
parente afim, Dr. Rocha faria, eminente médico que aqui exerceu a profissão,
e se transferiu para o Rio de Janeiro, dá hoje nome a um dos hospitais da
Capital do Estado.
Não obstante a expressiva vinculação com esta terra mantinham os
Telles casa residencial na então Capital Federal. Assim, por necessidade,
notadamente no que se refere a estudo, dado que, à época, precária ou quase
nula era a situação, por estas bandas, relativamente no ensino a partir do 2º
grau.
Faz parte da História do Rio de Janeiro o famoso Arco do Telles, objeto
de crônicas e de alusões em obras de historiadores. Foi edificado por um
dos ancestrais do Dr. Jeremias.
Com o curso secundário realizado em 1927 no Colégio Pedro II, onde
teve como colega alguns que se projetaram no cenário nacional, como Stélio
Galvão Bueno e Artur Bernardes Filho, Alberto Jeremias bacharelou-se em
Direito em 1932 pela antiga faculdade do Catete, única, por sinal, àquela
época, existente na então Capital da República. Foram seus colegas de
turma; Celestino Sá Freire, Luiz Antônio de Andrade e Evandro Lins e Silva,
que mais tarde se tornaram renomados advogados. Também, Antônio
Balbino e Vieira de Melo, destacados políticos do nosso tempo.
Certamente inspirado pela saudosa genitora, D. Francisca da Silveira
Menezes, dedicou-se ao magistério. Com registro no Departamento Nacional
de Ensino, hoje incorporado ao Ministério da Educação, lecionou português
e francês. Isto de 1932 à 1935. Nos anos de 1927 e 1928, credenciado pelo
aludido Departamento, operou no Sul do Estado de Minas Gerais como
examinador de inglês, alemão, português, francês e latim. Ocupou
eventualmente diversos cargos públicos. Foi curador de Menores da Política
do Estado da Guanabara. Ainda, Juiz Substituto nas Comarcas de Nova
Iguaçu e Duque de Caxias. Na Prefeitura Municipal de Duque de Caxias,
exerceu o cargo de Procurador. Em 1970, integrou o Conselho Municipal da
Cultura do Município de São João de Meriti. À Ordem dos Advogados do
Brasil, prestou serviço. Foi, nesta Comarca, representante da 1º Sub-seção.
Quando se cogitou da criação da Faculdade de Direito de Duque de Caxias
teve o seu nome indicado para a cadeira de Direito Civil.
HOMEM SIMPLES
Descendente de nobres tinha a marcá-lo fisicamente a cor dos olhos.
Na tez, o negro que havia em seu sangue. Sem embargo de ser o Dr. Alberto
Jeremias, intelectual por excelência, mas desprovido de vaidades, na década
de 1950, dedicava-se ao trabalho braçal nos fins de semana. Bem cedo em
seu Sítio Carioca, localizado em Venda Velha, bairro de São João de Meriti,
deslocava-se com alguns empregados tocando um carro de bois em direção
às feiras de Duque de Caxias e de São João de Meriti, para vender os
produtos agrícolas de sua propriedade rural. Em sua mocidade, foi exímio
amansador de cavalos.
O POETA
Nos seus tempos de Colégio Pedro II, produziu trabalhos indicativos
de rara sensibilidade. De sua lavra são, dentre muitos, “Diálogo”, “In fiuis”,
“Meu presente” e “O mar de amor”, “Primeiro Amor” e “Cyrano”, todos sob o
pseudônimo de “Beralto”. Sem que a ninguém confidenciasse, em 1972
participou de um concurso de trovas promovido pela União Brasileira de
Trovadores.
No dia 31 de março de 1979 tomou posse na ALAM, Academia de
Letras e Artes de São João de Meriti, cujo patrono foi Castro Alves, tendo à
saúda-lo um dos mais antigos e honrados advogados de Nova Iguaçu e
conselheiro da OAB, o Dr. Paulo Fróes Machado, em cujo texto fomos
encontrar subsídios para completarmos esses dados biográficos. O discurso
do Dr. Alberto Jeremias foi marcado pelo gosto da riqueza literária,
evidenciando um homem de apuradas qualidades intelectuais.
A morte foi encontrá-lo em plena atividade. Em agosto de 1980,
desaparecia aos 73 anos de idade, o Dr. Alberto Jeremias da Silveira
Menezes, deixando para sua família, seus amigos e essa Cidade, um legado
de exemplos dignificantes de um homem cuja intelectualidade, humildade e
ensinamentos, marcaram de maneira indelével sua geração.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Teixeira de Aguiar, Abílio – “Gente Nossa e Outros Temas”
Ed. Itambé – 1976 – RJ
Oliveira Campos, Moacir – Antologia da Academia de Letras e Artes de São João de Meriti
- Ed. IPAHB-2004 RJ
“O Limite” – Edição Ordinária – 27 de maio de 1930
Ano IV N.º 16 – São João de Meriti – RJ
“O Limite” - Edição Extraordinária – 30 de maio de 1930
Ano IV N.º 16 – São João de Meriti – RJ
Nascimento Souza, Sinvaldo do - “O Último dos Coronéis”
“Municípios em Destaque” – 06/98
Medeiros, Arlindo de - “Memória Histórica de São João de Meriti”
Ed. do autor – 1958 - RJ
Medeiros, Arlindo de – “Reportagens Fluminenses” - 1959 – RJ
Alvarenga Freire, Elyseu Adail de e Rogerio Torres:
“Coronel Elyseu d„Alvarenga Freire e o seu Tempo” – 2010 - RJ
Gonçalves de Barros, Ney Alberto – “Memórias da Câmara Municipal
de Nova Iguaçu” – RJ, 2000
“Sede da Fazenda dos Telles” – Reprodução em óleo sobre tela
do professor: Clênio Ferrreira da Silva