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HISTÓRIAS FLUMINENSES

A FAMÍLIA
TELLES DE MENEZES
GUILHERME PERES

SEDE DA FAZENDA DOS TELLES

Segundo o Professor Ruy Afrânio Peixoto, o solar dos Telles, antigo


casarão pertencente a essa família, era “o mais imponente solar da Baixada
Fluminense”. O palacete construído à margem da atual Av. Comendador
Telles, no bairro que leva o seu nome em São João de Meriti, pelo
comendador Pedro Antônio Telles Barreto de Menezes, “nascido em terras
de Meriti em 1816”, era filho do capitão Luiz Telles Barreto de Menezes e D.
Maria Rita Felicidade da Gama e Freitas, pioneiros da família na ocupação de
terras nessa região, com a compra em 1821 de uma “data de sesmas”, com
453 alqueires no engenho do Barbosa, pertencente ao Cap. Mor Domingos
Viana.
Registrado nas “Memórias Públicas da Cidade de São Sebastião do
Rio de Janeiro para uso do Vice-Rei Luiz de Vasconcellos”, de 1779 a 1789, a
produção média desse engenho era de onze caixas de açúcar e várias pipas
de aguardente, contando com o trabalho de 30 escravos.
Em um mapa do arquivo do Instituto Histórico, doado pelo Imperador
D. Pedro II, para serem estudadas a possibilidades de construção de “um
canal de navegação do rio Guandú ao Merity”, estão assinalados vários
engenhos nessa região ainda na primeira metade do século XIX, a saber:
Engenhos do Vahia, Vassouras, Covanca, Barbosa, Pavuna, São Matheus,
Carrapato, Brejo, da margem esquerda do rio Pavuna e todos pertencentes à
freguesia de São João de Merity; e os de Nazaré, Botafogo, Máximo e de José
Luiz Motta, situados aquém da margem direita do rio Pavuna e fazendo parte
da freguesia de Irajá.
Lugar de passagem obrigatória dos tropeiros que se dirigiam para o
interior, graças ao baixo nível do rio Meriti, e motivo de comentários do
primeiro viajante inglês que ali passou em 1808, John Luccock, registrando
que a palavra “mirití”, quer dizer: rio de “água pequena”. Em suas margens
formou-se um porto que com a abertura de um canal, autorizado em 7 de
janeiro de 1829 denominando-se canal da Pavuna. À sua margem esquerda,
foram construídos trapiches pertencentes a “abastada família Tavares
Guerra” e que segundo Noronha Santos: “no tempo que as tropas
procedentes da Baixada, carregavam para as embarcações todos os gêneros
destinados ao grande mercado do Rio de Janeiro”, naturalmente já
beneficiadas pela estrada da Polícia. Um dos membros dessa ilustre família,
possuía à margem direita do canal, a fazenda da Conceição, que tinha como
linha de demarcação, a fazenda de Botafogo
Denominando-se Arraial de N. Sra. do Desterro da Pavuna, limitava-
se com a Freguesia de Irajá, que segundo Teodoro Sampaio é “corrupção de
“Ira-yá”, lugar onde brota o mel”. Pelo seu rio “navegavam barcos
carregados de produtos da lavoura, das terras férteis dessas paragens”, que
partiam do porto da Pavuna e tinha o Comendador Antônio Tavares Guerra o
grande beneficiado pelo seu movimento, dedicando-se a consertar caminhos
e pontes, que se arruinavam em épocas de chuva, conforme afirma José
Vieira Fazenda em “Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro”. Ao escrever
o relatório apresentado à Assembléia Provincial em março de 1849, o então
presidente da Província do Rio de Janeiro, Dr. Luiz Pedreira do Couto Ferraz
(visconde do Bom Retiro), demonstra a ação desse comendador:
“Tendo abatido esta ponte na direção da estrada da corte para Iguassú
e havendo a presidência recorrido ao Governo Geral para mandar repará-la,
teve dele autorização para fazê-la reconstruir concorrendo os cofres
provinciais com a metade da despesa. Em virtude dessa autorização foi o
chefe do distrito incumbido desse trabalho, que teve começo em maio do ano
passado, achando-se a ponte com dois arcos sustentados por paredões
solidamente construídos e com a largura de 30 palmos quase pronta,
faltando apenas o aterro e o calçamento. Toda a despesa que se tem feito,
tem sido paga pelo comendador Antonio Tavares Guerra, que gratuitamente
administrou essa obra”.
Esse canal, que por algum tempo pertenceu ao território da Corte e era
o prolongamento do rio Meriti, passou-se para o município com a criação em
1833 da Vila de Iguassú e suas freguesias de Inhomirim, Pilar, Jacutinga,
Meriti e Marapicú. “Tem a extensão de 13.500 m. e 25 m. de largura em sua
embocadura”. Sua abertura foi dirigida pelo marechal Francisco Cordeiro da
Silva Torres, Visconde de Jurumirim, assessorado pelo major João Rangel de
Vasconcelos, terminando sua carreira no posto de marechal “tendo prestado
ao país magníficos serviços de soldado e de cidadão”, era filho da freguesia
de Irajá, cujo nome hoje só é lembrado por ter uma rua com seu nome no
subúrbio de Madureira.
A abertura do canal foi autorizada pelo “Aviso” de 7 de janeiro de
1829, na gestão do ministro do Império José Clemente Pereira. Vieira
Fazenda, transcreve uma carta do ilustre major João Rangel, datada de 1 de
julho de 1833, “sobre o dissecamento dos pântanos da freguesia de Merity e
Iguassú com o fim de acabar com as mortíferas epidemias de febres
paludosas que assolavam essas localidades”. O “Almanach Serigué” do ano
de 1836 refere-se ao início de sua abertura em 1831: “A primeira escavação
ou vala que se estendia até a estrada de Minas” (hoje Getulio de Moura),
“podia ser alimentada pelas águas da maré, foi feita pelo major Rangel, até
abril de 1831...essa obra e a parte construída compreendia uma légua do
trapiche de Antônio Tavares Guerra até a foz”.
Segundo Noronha Santos, esse trabalho “teve enorme importância
entre a Baixada e o porto de Irajá”. Seus trapiches recebiam parte da
produção de várias fazendas que ali eram descarregadas, por tropas de
burros vindos do interior da Província, entre as quais, a fazenda São
Matheus, hoje Nilópolis, como registra o historiador Marcus Antonio
Nogueira, que diz serem das “das poucas fazendas que não utilizava portos
fluviais próprios como escoamento de sua produção, preferindo o lombo de
burro através de uma estrada chamada São Matheus, e que se iniciava onde
hoje se encontra a Praça Paulo de Frontin, no centro de Nilópolis, passava
pela cancela de Inácio Serra, Thomazinho, estação de São Matheus
(posteriores) em direção ao porto da Pavuna. Sendo esta propriedade
pertencente ao alferes Ambrózio de Souza, produzia trinta caixas de açúcar,
quatorze pipas de aguardente, contando com o trabalho de 50 escravos”.
Toda essa produção e a dos demais engenhos da região que não
possuíam portos, seguiam para a comercialização por via fluvial através
desse rio, trafegando pela estrada da Polícia ou o caminho de Terra Firme,
que contornando a Serra de Gericinó, atingiam o embarque caminhando à
margem do rio do Pau, que é o nome que recebe o rio Pavuna em sua
passagem inicial.

Sede da fazenda dos Telles


vendo-se à esquerda: a casa de farinha e ao fundo: as senzalas.
O engenho do Telles beneficiou-se dos serviços de embarque
desembarque e armazenagem nos trapiches desse porto, remetendo para a
Capital do Império caixas de açúcar e tonéis de aguardente para seu
consumo e exportação, contribuindo de maneira significativa para o
crescimento econômico no porto do Rio de Janeiro.
A influência exercida pelos caminhos que atravessavam a freguesia
de Meriti contribuía para o progresso do povoado que se aglomerava em
torno do porto da Pavuna. Segundo o Almanaque Laemert, em 1855 duas
hospedarias ofereciam seus serviços, administradas por Antonio Telles
Bitencourt e Amália Jacinta de Caro. Um ano depois, mais três casas do
mesmo ramo competiam com ofertas de vagas para hospedagem, na busca
de atender o intenso movimento dos tropeiros e comerciantes que ali
chegavam, culminando com a inauguração de mais um hotel em 1879,
propriedade de Isidoro Gonçalves de Araújo.

OS TELLES DE MENEZES
A história de seus antepassados começa ainda no século XVIII,
quando três de seus membros portugueses desembarcaram na Bahia,
posteriormente se dividindo para o Sul, Nordeste e Sudeste, com a vinda
para o Rio de Janeiro de Diogo Lobo Telles de Menezes. Foram os seus
descendentes que edificaram nesta cidade o famoso Arco dos Telles, antiga
construção do período colonial, erguido em torno dos prédios pertencentes a
mesma família, situados na outrora Praia do Peixe, atual Praça 15 de
Novembro.
Em Jacarepaguá, também um de seus membros, Francisco Telles
Barreto e seu filho Luiz Telles Barreto de Menezes, ambos juizes de órfãos do
Rio de Janeiro adquiriram a fazenda da Taquara, já existente em data anterior
a 1768, com uma capela dedicada a N. Srª. dos Remédios e da Exaltação da
Santa Cruz. No século XIX por sucessões seguidas essa fazenda pertenceu a
D. Ana Maria Telles de Menezes casada com o Comendador Francisco Pinto
da Fonseca e a seu filho o Barão da Taquara, propriedade que se estendia
com os engenhos d‟Água, de Fora, Pau da Fome e União.
Filho primogênito do Capitão Luiz Telles Barreto de Menezes, que em
18 de janeiro de 1821 adquiriu “uma data de terra no Barbosa”, Pedro
Antônio Telles Barreto de Menezes assumiu, com a morte do pai, a direção
do engenho. Agraciado com a Ordem de Cristo no grau de Cavaleiro, foi
condecorado com a Imperial Ordem da Rosa no grau de Comendador,
ostentando ainda o título honorífico de Delegado da Capitania, com direito ao
uso do Brasão D‟Armas concedido em 27 de abril de 1868, sendo também
Juiz de Paz e Subdelegado na freguesia de Meriti.
Em 11 de dezembro de 1864, durante o lançamento da pedra
fundamental para construção da capela de N. Sra. da Conceição na sede de
sua fazenda, o comendador registrou para a posteridade a mudança de nome
do engenho do Barbosa, para engenho do Telles, cujo documento original
encontra-se nos arquivos do IPAHB: “Eu o notário abaixo assinado, declaro
que é da vontade do proprietário que a sua fazenda seja desta data em diante
denominada Fazenda do Telles, e não do Barbosa; declaro mais, que o
projeto da referida capela de N. Sra. da Conceição é do Sr. Numa Haring”.
Nesse documento vamos encontrar os dados que comprovam sua
grande dimensão, medindo cerca de 450 alqueires: “A fazenda denominada
do Barbosa, sita no Império do Brasil, município de Iguassú, diocese do Rio
de Janeiro, Freguesia de São João Baptista de Merety, confinando ao norte
com a fazenda da Covanca, pertencente a diversos; ao sul com a do
Comendador A. F. Guerra; a leste com a do engenho do Porto e a C. M. dos
Santos Vianna e a oeste com a do engenho do Brejo, de Carvalho e Rocha,
possuída pelo senhor Pedro Antonio Telles Barreto de Menezes,
subdelegado, proprietário e juiz de paz da dita Freguesia”.

Família Telles de Menezes tendo como seu chefe a figura mais idosa,
Pedro Antônio Telles Barreto de Menezes ao lado de sua esposa,
D. Francisca Justiniana de Freitas, rodeados de filhos e netos.

Casado com D. Francisca Justiniana de Freitas, de tradicional família


gaúcha, tiveram os seguintes filhos: Pedro, Francisco, Manoel, Antônio, Luiz,
Joaquina, Francisca, Ana e Maria Luiza. D. Joaquina foi casada com o
catedrático da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, professor Rocha
Faria.
Seu filho, Pedro Telles Barreto de Menezes, foi presidente da Câmara
da Vila de Iguassú no período de 1892 a 1894, tendo executado várias obras e
atuação destacada na regulamentação do imposto predial transferida ao
Município. Mandou substituir os canos d‟agua de chumbo que atravessavam
a Vila por canos de ferro. Abriu concorrência para as construções de pontes
no morro das Moendas, estrada da Posse e rio Moquetá. Implantou a
iluminação pública gerada a querosene. Aterrou o brejo do Largo, próximo a
Igreja Matriz de São João de Meriti. Providenciou uma parada de trem em
Heliópolis atravessada pela Estrada de Ferro Rio d‟Ouro. Construiu escolas
no Capim Melado (São Bento), no Riachão (Morro Agudo) e Passa Vinte em
(Queimados).
Com a morte do comendador em 1882, fez-se a divisão do espólio,
cabendo às três mulheres os prédios do Rio de Janeiro, e aos homens,
partes da fazenda com terras e benfeitorias. Quanto ao solar, divergiram os
irmãos em relação ao seu destino. Abandonado e esquecido foi vítima de
saques e depredações até que, com a queda do assoalho do primeiro andar,
diz Ruy Afrânio Peixoto: “amontoaram-se diversos móveis repletos de
porcelanas e cristais espatifados, quadros a óleo de pintores europeus,
pratarias, etc, esmagados por um grande piano. Continuaram os irmãos sem
tomar quaisquer providencia, sendo aquelas riquezas levadas pelos
transeuntes que invadiam a casa rapinando o que dentro dela ficara”.

DECADÊNCIA
A partir da década de 40, já no século XX, a antiga fazenda dos Telles
foi retalhada e vendida para loteamentos à Cia Várzea do Carmo, quando
algumas de suas palmeiras imperiais ainda balançavam ao sabor do vento,
presenciando os últimos vestígios de sua sede, nas paredes desmoronadas
de um dos mais belos exemplares arquitetônicos de nossa região.
O restante dos imóveis situados no bairro Venda Velha, em ruínas ou
descaracterizados, têm como exemplo o Sítio Carioca. Fartamente arborizado
e detentor de uma fonte de água cristalina, atendia aos moradores da região
e aqueles que o visitavam atraídos por sua fama.
Esse sítio teve como proprietário, “Pedro Telles Barreto de Menezes,
casado com D. Angélica, dos quais tiveram os seguintes filhos: Ana Clara,
João, Noca, Tuta e Dinho, que transformavam aquela casa, depois do solar
da Covanca, num lugar alegre e festivo”. Modificado em clube de festas e
eventos pelo Dr. Gilberto da Silveira Menezes, que se cotizou junto com 20
amigos para comprá-lo, encontra-se hoje abandonado.
Outra moradia serve de residência a seus descendentes, chamada
casa da Grota, construída por seu proprietário Antônio Telles Barreto de
Menezes, no final do século XIX, mantém ainda suas características
arquitetônicas originais: assoalho, forro, portas e janelas com vitrais, móveis
etc.
Recebida como herança por sua neta D. Dulce da Silveira Menezes,
que passou a residir no local com seu marido Dr. Alberto Jeremias da
Silveira Menezes transformando-a em pequena granja para criações diversas,
fruteiras e exploração de uma pedreira próxima pertencente à família. Com a
morte do Dr. Alberto Jeremias, sua esposa, D. Dulce, mudou-se, deixando ao
abandono o velho solar, hoje recuperado pela família.

FRANCISCA JEREMIAS DA SILVEIRA MENEZES

Mãe do Dr. Alberto Jeremias, tratada carinhosamente de “tia Chica”,


dedicou-se no final de sua vida ao ensino de crianças oriundas das senzalas.
Junto com filhos de escravos que permaneceram na fazenda e seus
inúmeros netos, criou uma escola onde eram ensinadas as primeiras letras,
em um prédio no interior da fazenda, eliminando a distância que separava os
meninos em idade escolar, da escola mais próxima. Em sua homenagem,
após a criação do município de São João de Meriti, seu nome foi perpetuado
na denominação de uma de suas escolas.

ALBERTO JEREMIAS DA SILVEIRA MENEZES

Nascido em São João de Meriti em 1907, nas terras da fazenda de seu avô
paterno, Dr. Pedro Telles Barreto de Menezes, Alberto Jeremias da Silveira
Menezes herdaria deste, através de seu testamento, o anel de grau de doutor
em Direito e toda sua biblioteca jurídica, indicando-lhe o caminho para um
futuro brioso.
Filho de Alberto Jeremias de Menezes, correto e eficiente servidor
público, deixou ao filho um legado imaterial de grande valor: o amor e o
respeito à dignidade humana. Sua genitora: D. Francisca Jeremias da Silveira
Menezes, mãe amantíssima e dedicada esposa, ainda encontrava tempo para
o exercício do magistério, atuando durante muitos anos de sua preciosa
existência, no aperfeiçoamento das crianças pobres. Como reconhecimento
pelo que fez em prol de tantos, por via do ensino, ostenta uma das escolas
deste Município o seu respeitável nome.
Encimando essa árvore, encontramos o nome do Dr. Pedro Antônio
Telles Barreto de Menezes. Nascido em terra que hoje constitui este próspero
Município, foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo, recebendo o
título de Comendador por relevantes serviços à comunidade, onde
desempenhou as funções de Juiz de Paz e delegado distrital. Adquiriu a
antiga Fazenda do Barbosa, com 453 alqueires. Operada a aquisição, passou
a ser denominada Fazenda dos Telles. Nas terras da fazenda, erigiu uma
capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição.
Há do Comendador Pedro Antônio Telles Barreto de Menezes, ou
melhor, de sua atuação, marca indelével no centro dessa cidade: a Igreja
Matriz, em 1875, nomeado pelo Presidente da Província do Estado do Rio de
Janeiro integrou a comissão encarregada de edificá-la. Como elemento de
valor histórico, endereçado especialmente aos que no momento se dedicou,
aponto documentos públicos, concernentes a março de 1875, lavrada a fls.
56 do livro 4 do Cartório do Registro Civil do 1º Distrito deste Município.
Tinha sangue nobre. Indica o respectivo brasão de seus antepassados:
Andradas, Moniz, Lobo e Telles. Deixou aos filhos Pedro, Francisco, Manoel e
Antônio Telles Barreto de Menezes um legado, na formação dos cursos de
Direito.
Sob diferentes aspectos, tiveram os Telles, como tratados eram os
parentes do Dr. Jeremias, desde o tempo em que integrava, como Distrito, o
Município de Nova Iguaçu. Ao tempo em que o Executivo Municipal competia
ao Presidente da Câmara, chegou o Dr. Telles à chefia daquele poder. Um
parente afim, Dr. Rocha faria, eminente médico que aqui exerceu a profissão,
e se transferiu para o Rio de Janeiro, dá hoje nome a um dos hospitais da
Capital do Estado.
Não obstante a expressiva vinculação com esta terra mantinham os
Telles casa residencial na então Capital Federal. Assim, por necessidade,
notadamente no que se refere a estudo, dado que, à época, precária ou quase
nula era a situação, por estas bandas, relativamente no ensino a partir do 2º
grau.
Faz parte da História do Rio de Janeiro o famoso Arco do Telles, objeto
de crônicas e de alusões em obras de historiadores. Foi edificado por um
dos ancestrais do Dr. Jeremias.
Com o curso secundário realizado em 1927 no Colégio Pedro II, onde
teve como colega alguns que se projetaram no cenário nacional, como Stélio
Galvão Bueno e Artur Bernardes Filho, Alberto Jeremias bacharelou-se em
Direito em 1932 pela antiga faculdade do Catete, única, por sinal, àquela
época, existente na então Capital da República. Foram seus colegas de
turma; Celestino Sá Freire, Luiz Antônio de Andrade e Evandro Lins e Silva,
que mais tarde se tornaram renomados advogados. Também, Antônio
Balbino e Vieira de Melo, destacados políticos do nosso tempo.
Certamente inspirado pela saudosa genitora, D. Francisca da Silveira
Menezes, dedicou-se ao magistério. Com registro no Departamento Nacional
de Ensino, hoje incorporado ao Ministério da Educação, lecionou português
e francês. Isto de 1932 à 1935. Nos anos de 1927 e 1928, credenciado pelo
aludido Departamento, operou no Sul do Estado de Minas Gerais como
examinador de inglês, alemão, português, francês e latim. Ocupou
eventualmente diversos cargos públicos. Foi curador de Menores da Política
do Estado da Guanabara. Ainda, Juiz Substituto nas Comarcas de Nova
Iguaçu e Duque de Caxias. Na Prefeitura Municipal de Duque de Caxias,
exerceu o cargo de Procurador. Em 1970, integrou o Conselho Municipal da
Cultura do Município de São João de Meriti. À Ordem dos Advogados do
Brasil, prestou serviço. Foi, nesta Comarca, representante da 1º Sub-seção.
Quando se cogitou da criação da Faculdade de Direito de Duque de Caxias
teve o seu nome indicado para a cadeira de Direito Civil.

HOMEM SIMPLES
Descendente de nobres tinha a marcá-lo fisicamente a cor dos olhos.
Na tez, o negro que havia em seu sangue. Sem embargo de ser o Dr. Alberto
Jeremias, intelectual por excelência, mas desprovido de vaidades, na década
de 1950, dedicava-se ao trabalho braçal nos fins de semana. Bem cedo em
seu Sítio Carioca, localizado em Venda Velha, bairro de São João de Meriti,
deslocava-se com alguns empregados tocando um carro de bois em direção
às feiras de Duque de Caxias e de São João de Meriti, para vender os
produtos agrícolas de sua propriedade rural. Em sua mocidade, foi exímio
amansador de cavalos.

O POETA
Nos seus tempos de Colégio Pedro II, produziu trabalhos indicativos
de rara sensibilidade. De sua lavra são, dentre muitos, “Diálogo”, “In fiuis”,
“Meu presente” e “O mar de amor”, “Primeiro Amor” e “Cyrano”, todos sob o
pseudônimo de “Beralto”. Sem que a ninguém confidenciasse, em 1972
participou de um concurso de trovas promovido pela União Brasileira de
Trovadores.
No dia 31 de março de 1979 tomou posse na ALAM, Academia de
Letras e Artes de São João de Meriti, cujo patrono foi Castro Alves, tendo à
saúda-lo um dos mais antigos e honrados advogados de Nova Iguaçu e
conselheiro da OAB, o Dr. Paulo Fróes Machado, em cujo texto fomos
encontrar subsídios para completarmos esses dados biográficos. O discurso
do Dr. Alberto Jeremias foi marcado pelo gosto da riqueza literária,
evidenciando um homem de apuradas qualidades intelectuais.
A morte foi encontrá-lo em plena atividade. Em agosto de 1980,
desaparecia aos 73 anos de idade, o Dr. Alberto Jeremias da Silveira
Menezes, deixando para sua família, seus amigos e essa Cidade, um legado
de exemplos dignificantes de um homem cuja intelectualidade, humildade e
ensinamentos, marcaram de maneira indelével sua geração.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Teixeira de Aguiar, Abílio – “Gente Nossa e Outros Temas”
Ed. Itambé – 1976 – RJ
Oliveira Campos, Moacir – Antologia da Academia de Letras e Artes de São João de Meriti
- Ed. IPAHB-2004 RJ
“O Limite” – Edição Ordinária – 27 de maio de 1930
Ano IV N.º 16 – São João de Meriti – RJ
“O Limite” - Edição Extraordinária – 30 de maio de 1930
Ano IV N.º 16 – São João de Meriti – RJ
Nascimento Souza, Sinvaldo do - “O Último dos Coronéis”
“Municípios em Destaque” – 06/98
Medeiros, Arlindo de - “Memória Histórica de São João de Meriti”
Ed. do autor – 1958 - RJ
Medeiros, Arlindo de – “Reportagens Fluminenses” - 1959 – RJ
Alvarenga Freire, Elyseu Adail de e Rogerio Torres:
“Coronel Elyseu d„Alvarenga Freire e o seu Tempo” – 2010 - RJ
Gonçalves de Barros, Ney Alberto – “Memórias da Câmara Municipal
de Nova Iguaçu” – RJ, 2000
“Sede da Fazenda dos Telles” – Reprodução em óleo sobre tela
do professor: Clênio Ferrreira da Silva

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