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170732
Sede: Escola Secundária de Cascais
Problemática
Reflexão sobre a Dimensão política/social/legal no humano - natural ou construída? A
constituição do Estado.
Aristóteles: (em grego antigo: Ἀριστοτέλης, transl. Aristotélēs; Estagira, 384 a.C. — Atenas,
322 a.C.) foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus
com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como um dos fundadores da
filosofia ocidental. Em 343 a.C. torna-se tutor de Alexandre da Macedónia, na época com 13
anos de idade, que será o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C. Alexandre
assume o trono e Aristóteles volta para Atenas, onde funda o Liceu (lyceum) em 335 a.C.).
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« Observamos que toda a cidade é uma certa forma de comunidade e que toda a comunidade é
constituída em vista de algum bem. É que, em todas as suas acções, todos os homens visam o
que pensam ser o bem. É , então manifesto que, na medida em que todas as comunidades
visam algum bem, a comunidade mais elevada de todas e que engloba todas as outras visará o
maior de todos os bens. Esta comunidade é chamada “ cidade “, aquela que toma a forma de
“A cidade, enfim, é uma comunidade completa, formada a partir de várias aldeias e que, por
assim dizer, atinge o máximo de auto-suficiência. Formada a princípio para preservar a vida, a
cidade subsiste para assegurar a vida boa. É por isso que toda a cidade existe por natureza, se
as comunidades primeiras assim o foram. A cidade é o fim destas, e a natureza de uma coisa é
o seu fim, já que, sempre que o processo de génese de uma coisa se encontre completo, é a
isso que chamamos a sua natureza, seja de um homem, de um cavalo, ou de um casa. Além
disso, a causa final, o fim de uma coisa, é o seu melhor bem, e a auto-suficiência é,
sobre o que deve ser a política, mas corresponde essencialmente à reflexão sobre
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como causa final dos indivíduos, quer dizer, a cidade (Cidade Estado) existe antes
dos indivíduos, o fim existe antes dos indivíduos (antes no sentido ontológico, não
sua finalidade, ora a finalidade intrínseca aos indivíduos é a sua junção social, é da
união que vise a satisfação de necessidades. A família, por sua vez, no dizer de
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defesa das pessoas e bens, nos tipos de actividade laboral, económica etc. Os
entre os elementos dos diversos grupos que compõem a cidade não são, todavia,
próprio, indica neste contexto a capacidade para atingir pelos próprios meios uma
económica (ao nível dos recursos) - que garante a sua subsistência ao nível da
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bem que acção política orienta não apenas a aspiração individual para a felicidade
comunidade política. O não político é por natureza um deus ou outro tipo de animal
solitário. Também, não se passa com os humanos o mesmo que noutros animais
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Ter palavra não é o mesmo que ter voz. A palavra pode manifestar o justo e o
injusto, está para além das sensações, permite a discussão, o cálculo e a decisão.
comunitária. A experiência humana gregária começa por ser familiar e étnica, mas
constitui cidadão.
Thomas Hobbes: (Malmesbury, 5 de abril de 1588 — Hardwick Hall, 4 de dezembro de 1679) foi
um matemático, teórico político, e filósofo inglês, autor do Leviathan (1651) e Do cidadão (1651).
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paz. A inclinação dos humanos para a paz coincide com a inclinação dos humanos
aponta o medo da morte como causa primeira do que irá ser a construção do
edifício político (frisamos desde já, construção do edifício político, o que por si só,
naturalmente não político). Assim, o autor acende a chama do que nos é próprio,
remete-nos para o que de intrínseco mais poder tem, o medo que cada indivíduo
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horizonte temporal irá ser a chave mestra do que procuramos fundamentar e assim
Leviathan – Soberano.
Porque é que Thomas Hobbes refere uma paixão na base que serve de motor de
seres humanos como iguais por natureza, esta igualdade tem, no entanto, em
tendência para a paz «As paixões que fazem os homens tender para a paz são o
medo da morte (...). E a razão sugere adequadas normas de paz, em torno dos
quais os homens podem chegar a esse acordo.» (Leviathan, cap. XIII, p.188).
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estado natureza, onde não havendo Direito, tudo se pode fazer. Ou seja, não
vida dos outros. É neste estado natureza onde todos têm direito a tudo que o
possibilidade de cada vez presente. Quer para fazer face ao medo da morte ou dos
pensador Thomas Hobbes aponta essa função como uma das fundamentais do
soberano.
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vezes possa custar aos súbditos, no entanto para bem de todos a instituição deve
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que seria o comportamento dos homens sem as instituições, sem as leis, que
autor não vê na natureza dos homens o animal político, o animal social, nem
desejo natural político, desejo natural de Estado. O que é natural são as paixões,
política não é gerada pela natureza, i.e., não é natural. A criação do Estado político
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génese mais remota o medo que o humano tem de perder a vida. De outra forma,
não é por a política ser uma criação que não tem em conta o estado natureza, pelo
Commonwealth é criada.
que o pressuposto estado natureza não tem como efeito directo e natural o, por
assim dizer, cosmos mas o caos. É a visão do caos e o querer contrariá-lo que
todos os homens têm direito a tudo. Enquanto todos tiverem direito a tudo, vigora
natureza, se todos usarem o que a sua natureza lhes dita. O cálculo das
mesma forma que é uma lei natural salvar a própria vida é também a procura de
concordo em não fazer uso do meu direito natural. A renúncia ao direito natural e a
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Ou seja, o soberano não faz um contrato com os súbditos de forma a lhes garantir
a segurança, é o contrato dos súbditos entre súbditos que faz nascer o soberano.
Aqui jaz a força do soberano, força proveniente dos súbditos porque todos e cada
dos homens, de todos e de cada um, pelo que podemos inferir que o Estado é o
garante da segurança particular e também por isso contribui para uma vida mais
agradável,
natureza, a sobrevivência.
ordem, organização. Poder, por definição remete para o absoluto e não para
Estado). O filósofo pensa a política como algo não inscrito na natureza dos
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adquirido). Mas é a partir da natureza dos indivíduos que Thomas Hobbes pensa o
Estado, ou seja, é por a natureza dos indivíduos ser como é que a visão da
os humanos como animais políticos, mas naturezas que desejam, desejos que
ordem lógica de, por assim dizer, circunscrições (família, aglomerado, aldeia,
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ser o bem, (adequado), visam o que vai ao encontro dos seus objectivos, visam a
Todos nós, temos necessariamente um pai e uma mãe, Thomas Hobbes nunca
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familiares ou outros, o filósofo remete-nos para algo que diremos mais íntimo, nós
somos nós que estamos em causa no mais profundo do nosso ser. Somos
remetidos para um bem central, a necessidade de estar vivo. Não é só o corpo que
está em causa, é a unidade vida, um bem que queremos preservar e temos medo
de que nos seja roubado. Assumimos de cada vez diferentes posturas na vida,
pacificador.
alteridade, remete para nós mesmos, nós que estamos em causa, que colocamos
estado natureza e conclui que procuramos paz, segurança, e estas por sua vez
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paixões/afecções que inclinam os homens para a paz são medo da morte...». Esta
definição ao constituir-se uma paixão inere no humano aquém dos laços familiares,
ou seja, as primeiras paixões são despertas pelos outros, pela família, mas estas
assumem a singularidade em nós, i.e., somos para nós próprios porque os outros
passam por nós, a consciência que por definição é sempre consciente de algo, é
para si por causa do algo, mas esta alteridade radica sempre precisamente na
consciência que está em jogo. Cremos que Hobbes se refere por isso aos
sentido comum, exactamente o cariz natural do humano que o faz igual por
uma apetência natural pela comunidade política. Esta surge criada pelos homens e
filósofo começa por determinar a sua tese reenviando-nos para o que se apresenta
de mais radical nos humanos. Nesta essência humana, o conceito de mãe e pai
iguais por natureza na busca da vida muito para além do processo espiral mãe,
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pai, família, vizinhos, localidade, cidade, Estado. Parece-nos que este pensador de
filosofia radical, como que quer partir dum terreno virgem, varrer os pressupostos,
não pretende senão mais do que compreender a política no pêndulo entre as duas
Concebendo o Estado da forma que Hobbes o faz, concluímos que o acesso que
Esta verificação que nos surge vedada, não traduz nem acarreta um cariz faccioso
que por si só, não resulta no contrato. Mas é da análise que se exerce sobre os
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direito natural, que se infere a sua igualdade e o consequente temor. Repartido por
todos, este medo faz negar a guerra de todos contra todos. Evidentemente como
reconhece Hobbes o Estado não termina com o medo mas funciona como um
Concluímos que o problema que se pode dar e não ser superado pelo Estado,
natural, refreia as paixões, por outro, os homens não deixam de ser homens, não
deixam de procurar o que entendem ser o melhor para si, e como tal, seres de
passadas tirada de outras coisas , não futuras» (Lev., cap. III, p. 98.)
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quê chama-se terror, pânico. (Nome que lhe vem das fábulas qe faziam de Pan o
seu autor). Na verdade, existe sempre em quem primeiro sente esse medo uma
supondo que o seu companheiro sabe porquê. Portanto esta paixão só ocorre
seja o que for, procuramos todos os possíveis efeitos, que podem ser por essa
coisa produzidos, ou por outras palavras, imaginamos o que podemos fazer com
para outra. (Pois não pode haver certeza da última conclusão sem a certeza de
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todas aquelas afirmações e negações nas quais se baseou e das quais foi
que presentemente dispõe para obter qualquer visível bem futuro. Pode ser original
ao poder comum, pois com tais desejos se abandona a protecção que poderia
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« A função do soberano (...) consiste no fim para o qual lhe foi confiado o soberano
376).
daqueles que não são súbditos nem soberanos, é anarquia e condição de guerra;
que os preceitos pelos quais os homens são levados a evitar tal condição, são as
leis da natureza; que um estado sem poder soberano não passa de uma palavra
« Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão de homens concordam
a pessoa de todos eles (ou seja de ser seu representante), todos sem excepção,
tanto os que votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão
como se fossem os seus próprios actos e decisões, a fim de viverem em paz uns
com os outros e serem protegidos dos restantes homens. (…) Ora, o poder é
para proteger os súbditos. E isto sem levar em conta que a condição do homem
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nunca pode deixar de ter uma ou outra incomodidade, e que a maior que é
soberano, sem sujeição às leis e a um poder coercivo capaz de atar as suas mãos,
impedindo a rapina e a vingança. (…) Porque todos os homens são dotados por
através das quais todo o pequeno pagamento aparece como um imenso fardo;
mas são destituídos daquelas lentes prospectivas, (a saber, a ciência moral e civil)
que permitem ver de longe as misérias que os ameaçam, e que sem tais
pagamentos não podem ser evitadas » ».( Lev., cap. XVIII, p. 228.).
«(…) uma pessoa de cujos os actos uma grande multidão, mediante pactos
recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a
conveniente, para assegurar a paz e defesa comum. (…) Este poder soberano
pode ser adquirido de duas maneiras. Uma delas é a força natural, (…) . A outra é
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Estado por instituição, ao primeiro por Estado por aquisição.» (Lev., cap. XVII, p.
228).
invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim
uma segurança suficiente para que, mediante o seu próprio labor (…) é conferir
homens como representantes das suas pessoas. » (Lev., cap. XVII, p. 227.).
« E dado que a condição do homem (...) é uma condição de guerra de todos contra
todos, sendo neste caso cada um governado pela sua própria razão, e não
havendo nada de que possa lançar mão que não lhe possa servir de ajuda para a
preservação da sua vida contra os seus inimigos , segue-se daqui que numa tal
condição todo o homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos uns dos
coisas, não poderá haver para nenhum homem, por mais forte e sábio que seja, a
segurança de viver todo o tempo que geralmente a natureza permite aos homens
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conseguir, e caso não a consiga pode procurar e usar todas as ajudas e vantagens
«O fim último, causa final e desígnio dos homens (que naturalmente amam a
mesmos, sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com a sua própria
«E ao homem é impossível viver quando os seus desejos chegam ao fim, tal como
outra coisa senão o caminho para conseguir o segundo. Sendo a causa disto que o
objecto do desejo do homem não é gozar apenas uma vez, e só por um momento,
mas garantir para sempre os caminhos do seu desejo futuro. Portanto, as acções
voluntárias e as inclinações dos homens não tendem apenas para conseguir, mas
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também para garantir uma vida satisfeita, e diferem apenas quanto ao modo como
das diferenças no conhecimento e opinião que cada um tem das causas que
«Poderá parecer estranho a alguém que não tenha considerado bem estas coisas
atacarem e destruírem uns aos outros, e poderá , portanto, talvez desejar , não
confiando nesta inferência feita a partir das paixões, que a mesma seja confirmada
chamam felicidade; refiro-me à felicidade nesta vida. Pois não existe uma completa
vida não passa de movimento, e jamais pode deixar de haver desejo, ou medo, tal
como não pode deixar de haver sensação». (Lev., cap. VI, 129.)
Bibliografia:
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Hegel, Philosophy of Right, trad. ing., T. M. Knox, Oxford University Press, New York, 1998.
Henry Gleitman, Alan J. Fridlund, Daniel Reisberg, Psychology, W.W. Norton&Company, New
York, 1991.
N.B.: No caso de ter interesse em aprofundar a leitura destes pensadores, deixo a informação
que existem traduções em português do Leviathan, de Thomas Hobbes nas edições da Imprensa
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