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Resenha 1 de Economia Brasileira

Nome: Eike Ioshuah Domen Pena

RM: 2019.1.39.002

Texto: “Capítulo 4: Política Econômica Externa e Industrialização: 1946-1951”, por Sérgio


Besserman Vianna

Vianna através do seu texto apresenta a tese de que o Governo Dutra, ao contrário do que os
outros historiadores afirma, não foi um governo totalmente liberal, ortodoxo e estabilizador da
economia, apresentando seu argumento através das políticas adotadas e mudanças ocorridas
em 1949 no ministério da Fazenda.

O Governo Dutra procura estabelecer as suas bases ideológicas através do liberalismo, seguindo
os princípios acordados em Bretton Woods. Acreditava-se que o acordo resultaria em uma
rápida organização da economia mundial seguindo seus princípios liberais, resultando em um
cenário de recuperação mundial, e que os preços do café seriam valorizados devido à eliminação
do preço-teto dos EUA em julho de 1946, tendo assim o governo uma perspectiva bastante
favorável economicamente.

Além disso, como a situação das reservas internacionais do país era favorável e confortável,
existia a expectativa de que, devido ao auxílio brasileiro oferecido na Segunda Guerra Mundial
em favor dos Estados Unidos, o país seria recompensado com fontes de financiamento para seus
investimentos e, por fim, a adoção de uma política liberal de câmbio, retirando todos os entraves
para a saída de capital estrangeiro do país, sendo assim capaz de fornecer maior confiança e
segurança para investidores externos atraindo fluxos de capital e assim solucionando o potencial
desequilíbrio no balanço de pagamentos, foram algumas bases para o planejamento de Dutra,
o que Vianna denominou de “ilusão de divisas” porque nenhuma dessas expectativas se mostrou
real.

Em relação às reservas internacionais, em 1946 o país dispunha de 730 milhões em reservas, o


que era uma quantia significante para a época, porém o que Dutra não levou em conta foi que
desse total de reservas apenas 100 milhões eram líquidas e disponíveis para a área conversível.
O restante era constituído em libras esterlinas, inconversíveis e ilíquidas no momento, outras
moedas inconversíveis e ouro depositado nos EUA (365 milhões, 50% do total), mas somente
para ser utilizados em situações estratégicas e emergenciais futuras. Esse problema de liquidez
resultava de superávits comerciais com área de moeda inconversível, mas de déficits crescentes
com os EUA e outros países de moeda forte, resultando em um aumento progressivo de iliquidez
no país. Além disso, os financiamentos dos EUA apenas chegaram em 1950 com a chegada da
“doutrina Truman” através de ajuda financeira do Banco Mundial e do Eximbank para projetos
de infraestrutura econômica. Por último, o país teve que lidar com níveis de investimento
estrangeiro abaixo do esperado, gerando assim devido a todos os fatores acima listados
problemas no balanço de pagamentos e um grande movimento de saída de divisas conversíveis.

Em relação às políticas econômicas uma das primeiras medidas tomadas foi a manutenção de
um câmbio com paridade com o dólar de 18,5 cruzeiros para 1 dólar, cotação que
sobrevalorizava o real devido à alta diferença inflacionária de 1937 até 1945 entre as moedas.
Os principais objetivos da nova cotação era atender a demanda contida de matérias-primas e
bens de capital para fortalecimento da indústria, o aumento da concorrência de produtos no
mercado interno resultando em uma redução de preços e, consequentemente, um maior
controle da inflação pelo aumento da oferta de produtos (favorecida pelo câmbio valorizado).
Porém uma série de eventos ocorrem e obriga ao governo tomar novas medidas de comércio
exterior. Em primeiro lugar, a economia mundial passa a se recuperar e o Brasil perde uma fatia
de seu mercado consumidor internacional devido à volta de antigos fornecedores concorrentes
do Brasil, resultando em uma queda de metade das exportações brasileiras de matérias-primas
e de manufaturas no período. Em segundo lugar, com a sobrevalorização do câmbio, além de
um movimento natural de saída de divisas para fornecedores estrangeiros, os preços dos bens
de capital (justamente um dos objetivos da política cambial) sobem em 75% no mercado
internacional em 1947. Com os enfraquecimentos nas exportações e grande importação o
resultado é um grave problema em sua balança comercial e saída de divisas.

Em 1947 as reservas em moedas conversíveis chegaram a 33 milhões (redução de mais de 70%)


e no final do ano o país passou a acumular atrasados comerciais de 82 milhões, sendo necessária
a intervenção estatal para reparação do problema. Em 1948 é então criada uma política de
contingenciamento a importações, onde eram concedidas licenças prévias para importação de
acordo com o grau de prioridade, dado pelo governo de maneira discricionária, do produto.
Assim, apenas os bens considerados necessários e estratégicos, como para alimentação e bens
de capital, conseguiam liberação para importar enquanto bens mais supérfluos tinham suas
compras barradas. Isso fez com que o país saísse de uma situação grave de déficit com a área
conversível de 313 milhões em 1947, para 108 milhões em 1948 e um superávit de 18 milhões
em 1949, mostrando o sucesso da política internacional. Além disso, fatores externos também
contribuíram para a reversão do problema de reservas: a queda dos preços de importação de
23% em 1949 e 9,7% em 1950 e a recuperação dos preços do café, juntamente com as restrições
às importações, resultaram no fluxo positivo de divisas internacionais conversíveis para as
reservas brasileiras.

Em contrapartida, a taxa de câmbio sobrevalorizada, somada com a volta dos antigos


fornecedores e maior competição no mercado interno, resultou em uma perda da
competitividade internacional dos produtos brasileiros. Para a solução do problema, o governo
permitiu aos exportadores de produtos gravosos (que não conseguiam ser vendidos à nova taxa
de câmbio no mercado internacional) vender seus produtos a câmbios mais favoráveis,
ocasionando assim uma desvalorização implícita, favorecendo assim a exportação do país.

Essa soma de políticas econômicas culminou em uma proteção e fortalecimento da indústria


interna através da promoção do desenvolvimento industrial por substituição de importações.
Com a taxa de câmbio sobrevalorizada as empresas tiveram acesso a bens de capital e matérias-
primas mais baratas, reduzindo seus custos de produção e aumentando a sua produtividade. O
programa de contingenciamento de importações reservou o mercado interno para os produtos
nacionais, garantindo assim demanda. Ocasionando um efeito subsídio e protecionista na
indústria brasileira. Além desses fatores, o crédito real à indústria cresceu de 1947 a 1950 no
país devido à política creditícia do Banco do Brasil, permitindo financiamento dos investimentos
industriais nesse período.

Já relação ao fluxo de capitais, onde era esperado um grande fluxo para problemas com a conta
Capital do Balanço de Pagamentos, a situação não era favorável. Devido a taxa de câmbio
sobrevalorizada, reduzindo assim as vantagens de investimentos externos, somado com a
expectativa de futura desvalorização do câmbio para lidar com o problema no balanço de
pagamentos e a proximidade das eleições (e consequentemente, aumento da incerteza política
e econômica) gerou uma grande saída de divisas. Investimentos estrangeiros realizados em
períodos anteriores também resultaram em um aumento nas remessas de rendas aos seus
investidores, colaborando para essa saída. Dessa maneira, os níveis de investimento se
mantinham muito baixos até meados da década de 50 quando, através da “Doutrina Truman”
de combate à influência comunista mundial, mudou a sua posição em relação ao financiamento
de países subdesenvolvidos e assim o Brasil consegue ajuda financeira do Banco Mundial e do
Eximbank para projetos de infraestrutura, resultando na formação da Comissão Mista Brasil-
Estados Unidos em dezembro de 1950.

Em relações às políticas econômicas internas, principalmente monetárias e fiscais, o governo


Dutra adota em seu início uma política contracionista e austera, interpretando que os problemas
inflacionários de 1944 (20% a.a.) e 1945 (15% a.a.) vinham de movimentos expansionistas
passados. Em 1947 a emissão monetária é praticamente zerada e a política de crédito passa a
ter concentração real de 2%, se alcança um pequeno superávit no Orçamento da União, redução
do déficit dos Estados e Distritos Federais e um recuo da inflação para 9% a.a., ao custo de um
crescimento do PIB de apenas 2,4%.

Devido, porém, concentração de liquidez pelo Banco do Brasil, exercendo papéis do Banco
Central na época, ocorreu uma expansão do crédito por parte do banco, financiando
principalmente as indústrias, que ocorre devido ao ambiente favorável criado para a produção
interna, aumentando a demanda por crédito. Ainda assim, a inflação é mantida sobre controle
em 5,9% em 1948 e o PIB cresce 9,7%, puxado principalmente pelo crescimento industrial.

Em 1949 uma série de fatores levou a mudança completa na política econômica, passando de
ortodoxa e austera para expansionista tanto monetariamente quanto fiscal. Acontece a
substituição de Correa e Castro (ambos ortodoxos) do ministério da Fazenda por Guilherme da
Silveira (expansionista), resultando em uma política monetária expansionista, déficit da União,
crescimento do crédito do Banco do Brasil em termos reais de 7% e aumento da inflação de
8,1%.

Em 1950 o cenário criado pela política inicial se reverte quase que totalmente. Devido a
proximidade das eleições, existe forte apelo para os gastos do Estado, o déficit da União piora,
o crédito continua seu crescimento real na taxa de 5% e a inflação passa a 9,2%. Outro fator
importante que gerou essas mudanças foi a compreensão de que o livre fluxo de capitais seria
alcançado de maneira mais devagar, e não rapidamente como previa o governo Dutra.

Sendo assim, é confirmada a tese inicial de Vianna de que o governo Dutra não foi totalmente
liberal e foi contrário a linha desenvolvimentista que o País vinha seguindo, conforme outros
historiadores afirmam. Na realidade, a política de câmbio e controle de importações resultou
em um duplo fortalecimento para as indústrias nacionais, gerando um ambiente propício para
seu crescimento através do modelo de industrialização por substituição de importações, sendo
assim tanto fortemente intervencionista quanto desenvolvimentista.

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