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RM: 2019.1.39.002
Vianna através do seu texto apresenta a tese de que o Governo Dutra, ao contrário do que os
outros historiadores afirma, não foi um governo totalmente liberal, ortodoxo e estabilizador da
economia, apresentando seu argumento através das políticas adotadas e mudanças ocorridas
em 1949 no ministério da Fazenda.
O Governo Dutra procura estabelecer as suas bases ideológicas através do liberalismo, seguindo
os princípios acordados em Bretton Woods. Acreditava-se que o acordo resultaria em uma
rápida organização da economia mundial seguindo seus princípios liberais, resultando em um
cenário de recuperação mundial, e que os preços do café seriam valorizados devido à eliminação
do preço-teto dos EUA em julho de 1946, tendo assim o governo uma perspectiva bastante
favorável economicamente.
Além disso, como a situação das reservas internacionais do país era favorável e confortável,
existia a expectativa de que, devido ao auxílio brasileiro oferecido na Segunda Guerra Mundial
em favor dos Estados Unidos, o país seria recompensado com fontes de financiamento para seus
investimentos e, por fim, a adoção de uma política liberal de câmbio, retirando todos os entraves
para a saída de capital estrangeiro do país, sendo assim capaz de fornecer maior confiança e
segurança para investidores externos atraindo fluxos de capital e assim solucionando o potencial
desequilíbrio no balanço de pagamentos, foram algumas bases para o planejamento de Dutra,
o que Vianna denominou de “ilusão de divisas” porque nenhuma dessas expectativas se mostrou
real.
Em relação às políticas econômicas uma das primeiras medidas tomadas foi a manutenção de
um câmbio com paridade com o dólar de 18,5 cruzeiros para 1 dólar, cotação que
sobrevalorizava o real devido à alta diferença inflacionária de 1937 até 1945 entre as moedas.
Os principais objetivos da nova cotação era atender a demanda contida de matérias-primas e
bens de capital para fortalecimento da indústria, o aumento da concorrência de produtos no
mercado interno resultando em uma redução de preços e, consequentemente, um maior
controle da inflação pelo aumento da oferta de produtos (favorecida pelo câmbio valorizado).
Porém uma série de eventos ocorrem e obriga ao governo tomar novas medidas de comércio
exterior. Em primeiro lugar, a economia mundial passa a se recuperar e o Brasil perde uma fatia
de seu mercado consumidor internacional devido à volta de antigos fornecedores concorrentes
do Brasil, resultando em uma queda de metade das exportações brasileiras de matérias-primas
e de manufaturas no período. Em segundo lugar, com a sobrevalorização do câmbio, além de
um movimento natural de saída de divisas para fornecedores estrangeiros, os preços dos bens
de capital (justamente um dos objetivos da política cambial) sobem em 75% no mercado
internacional em 1947. Com os enfraquecimentos nas exportações e grande importação o
resultado é um grave problema em sua balança comercial e saída de divisas.
Já relação ao fluxo de capitais, onde era esperado um grande fluxo para problemas com a conta
Capital do Balanço de Pagamentos, a situação não era favorável. Devido a taxa de câmbio
sobrevalorizada, reduzindo assim as vantagens de investimentos externos, somado com a
expectativa de futura desvalorização do câmbio para lidar com o problema no balanço de
pagamentos e a proximidade das eleições (e consequentemente, aumento da incerteza política
e econômica) gerou uma grande saída de divisas. Investimentos estrangeiros realizados em
períodos anteriores também resultaram em um aumento nas remessas de rendas aos seus
investidores, colaborando para essa saída. Dessa maneira, os níveis de investimento se
mantinham muito baixos até meados da década de 50 quando, através da “Doutrina Truman”
de combate à influência comunista mundial, mudou a sua posição em relação ao financiamento
de países subdesenvolvidos e assim o Brasil consegue ajuda financeira do Banco Mundial e do
Eximbank para projetos de infraestrutura, resultando na formação da Comissão Mista Brasil-
Estados Unidos em dezembro de 1950.
Devido, porém, concentração de liquidez pelo Banco do Brasil, exercendo papéis do Banco
Central na época, ocorreu uma expansão do crédito por parte do banco, financiando
principalmente as indústrias, que ocorre devido ao ambiente favorável criado para a produção
interna, aumentando a demanda por crédito. Ainda assim, a inflação é mantida sobre controle
em 5,9% em 1948 e o PIB cresce 9,7%, puxado principalmente pelo crescimento industrial.
Em 1949 uma série de fatores levou a mudança completa na política econômica, passando de
ortodoxa e austera para expansionista tanto monetariamente quanto fiscal. Acontece a
substituição de Correa e Castro (ambos ortodoxos) do ministério da Fazenda por Guilherme da
Silveira (expansionista), resultando em uma política monetária expansionista, déficit da União,
crescimento do crédito do Banco do Brasil em termos reais de 7% e aumento da inflação de
8,1%.
Em 1950 o cenário criado pela política inicial se reverte quase que totalmente. Devido a
proximidade das eleições, existe forte apelo para os gastos do Estado, o déficit da União piora,
o crédito continua seu crescimento real na taxa de 5% e a inflação passa a 9,2%. Outro fator
importante que gerou essas mudanças foi a compreensão de que o livre fluxo de capitais seria
alcançado de maneira mais devagar, e não rapidamente como previa o governo Dutra.
Sendo assim, é confirmada a tese inicial de Vianna de que o governo Dutra não foi totalmente
liberal e foi contrário a linha desenvolvimentista que o País vinha seguindo, conforme outros
historiadores afirmam. Na realidade, a política de câmbio e controle de importações resultou
em um duplo fortalecimento para as indústrias nacionais, gerando um ambiente propício para
seu crescimento através do modelo de industrialização por substituição de importações, sendo
assim tanto fortemente intervencionista quanto desenvolvimentista.