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ABREU, Marcelo de Paiva.

A Ordem do Progresso

Capítulo 2 – Apogeu e crise na Primeira República: 1900-1930

Winston Fritsch

1 – Introdução

 Fim de uma Era


o Apogeu, tensões crescentes e a derradeira ruptura do modo de inserção da economia
brasileira na economia mundial pela Pax Britannica
o Apogeu, tensões crescentes e a derradeira ruptura do sistema de controle político
consolidado a ferro e libras pelos grupos hegemônicos da república durante o biênio
Campos Salles-Rodrigo Alves
 Redesenho das políticas econômicas e das formas de estrutura do Estado ao longo dos anos
1930
 A instabilidade econômica gerada pelos sucessivos choques externos que se iniciam em 1914 e
se estendem até meados de 1920, mina as bases das alianças políticas tradicionais entre os
grandes estados e debilita a crença nas vantagens do liberalismo econômico
 Em 1930, soma-se a Grande Depressão com a superprodução do café = se desintegra o sistema
político e o modo liberal de gestão dos fluxos comerciais/financeiros entre o Brasil e o mundo
mantido desde o Império
o Imposição de regras cambiais e controles de importação
 Fim da Primeira República marca o início de uma dupla transição
o De uma economia primário-exportadora baseada no café liberal para uma economia
voltada “para dentro” com controles sobre as transações externas
o De um controle da plutocracia paulista para algo mais difuso em termos de distribuição
regional e social do Estado
 Historiografia define a política econômica da Primeira República como movida pelos interesses
corporativos da cafeicultura
o 2 posturas diferentes à essa:
 1 – a condução da política econômica tem sido predominante e
sistematicamente influenciada pela aplicação de princípios ortodoxos de política
monetária/fiscal/cambial
 2 – questiona a força efetiva da hegemonia paulista
o Ambas ignoram as importantes restrições impostas aos gestores de política
macroeconômica pelo potencial de instabilidade de uma economia com enorme grau de
vulnerabilidade da posição externa
 Influência dos banqueiros internacionais e seus governos na conformação das
opções políticas domésticas

2 – Política Econômica na Primeira República


A tendência ao Desequilíbrio Externo e o Quadro Institucional

 O grande/recorrente problema de política econômica durante a Primeira República era isolar a


economia dos desequilíbrios macroeconômicos provocados por alterações bruscas na posição
externa a que o Brasil estava sujeito por razões estruturais
 Vulnerável a dois tipos de choques exógenos:
o Flutuações abruptas da oferta de café (variações climáticas)
 Peso do produto no valor das exportações brasileiras
o Flutuações experimentadas pela demanda nos países centrais e as bruscas
descontinuidades de fluxo de capital entre o centro e a periferia
 Jogo político
o Sistema peculiar de relações entre o governo central e um grande e heterogêneo
conjunto de interesses estaduais
o O governo federal estaria pronto a apoiar as oligarquias que controlassem o poder nos
estados menores de modo a facilitar a consolidação e estabilidade do pode local, em
troca da maioria no Congresso federal
 “Pacto Oligárquico”
 Instabilidades:
o Possíveis divergências entre as elites políticas dos estados
dominantes (SP e MG) sobre a política econômica federal
o Contentar estados “intermediários” com substancial poder de
representação política (RJ, RS, BA, PE)
o Protesto de uma minoria de políticos dissidentes, intelectuais,
imprensa independente contra a natureza antidemocrática e
centralizadora do regime

Crises e ciclos da Primeira República

 Períodos demarcados por alterações no comportamento da economia internacional


o O longo ciclo de crescimento com endividamento da década anterior a 1914
o O funcionamento anômalo da economia mundial durante a 1GM
o O choque, reconstrução e colapso dos anos 20

A Era de Ouro, 1900-1913

 Anos entre o fim do período de ajuste recessivo da virada do século e a desaceleração que
precede a 1GM marcam um clico de crescimento sem precedentes
 Já se sente isso no governo de Rodrigues Alves (1902-1906)
o Rápido crescimento das exportações de borracha e boom dos investimentos europeus
na periferia
 Em 1906, criou-se a Caixa de Conversão, investida do poder emissão de notas plenamente
conversíveis em ouro, e vice-versa, a uma taxa fixa de câmbio em resposta ao aumento da
receita líquida de divisas que provocou apreciação cambial
 Outro problema: aumento da oferta brasileira de café (quase que monopólio brasileiro) 
queda do preço do café no mercado internacional  mas por ser monopolistas, o Brasil podia
controlar o preço do café pelo controle da oferta do mesmo (compra de estoques) por meio de
empréstimos
 A adoção do padrão ouro pelo Brasil em 1906 vinculou a estabilidade monetária doméstica ao
comportamento do balanço de pagamentos, acentuando, portanto, o caráter pró-cíclico dos
déficits e superávits externos da economia primária exportadora
o Por conta disso, até o início da guerra em 1914, os acontecimentos exógenos que
afetariam os mercados internacionais do café e da borracha, e o fluxo de capital
europeu de longo prazo, seriam decisivos para a determinação do nível de atividade
interna da economia
 Déficits orçamentários  empréstimos externos (até 1912)  O crescimento da despesa
governamental preocupava os credores, surgindo dificuldades de levantar novos empréstimos
 tendência declinante do balanço comercial teria que ser revertido  necessidade de
aumentar exportações  queda do preço da borracha + ação antitruste dos EUA contra
estoques de café da supersafra de 1906 (queda do preço do café)  recessão

O impacto da Grande Guerra, 1914-18

 Guerra  redução dos fluxos de comércio e financeiros


 Assinatura de um novo founding loan para voltar a pagar os juros só em 1917 (1914)  aliviar
balanço de pagamentos
 Estagnação das importações brasileiras que já estavam baixas entre 1913-1914
 Restrição aos suprimentos externos por conta da guerra  Com as largas margens de
ociosidade existentes no início da guerra, as restrições a importação causaram notável
recuperação da produção industrial doméstica a partir de 1915
 Diversificação da produção brasileira
 A balança comercial voltou a deteriorar (1916)
o Restrições a importação de café pelos aliados em função da guerra (economizar)
 Alemanha instrui seus submarinos a afundar todo navio mercante engajado no comércio com o
inimigo  proibição da importação de café pela ING
 Brasil declara guerra à Alemanha  afundou 2 navios brasileiros (1917)
o Pega os navios alemães que estavam nos portos brasileiros
 Geada nos cafezais (queda dos preços) + fim da guerra = bom cenário para o Brasil

O Boom e Recessão do Pós-Guerra, 1919-22

 O boom internacional, iniciado em 1919, traduziu-se em um generalizado aumento dos preços


das commodities
o + alto preço do café
o Aumento explosivo das exportações brasileiras
 Recuperação das importações - aceleração tardia do volume de importações pela dificuldade
de suprimentos ainda pelas economias centrais

 Fim do boom
o A adoção de políticas monetárias restritivas nos EUA e GB em resposta as fortes
pressões inflacionárias levou à recessão e queda dos preços internacionais em 1920
o Queda das exportações mais importações tardias = reversão da balança comercial 
recessão e depreciação cambial
 Intervenção federal no mercado do café

Recuperação, Desequilíbrio Externo e Ajuste Recessivo: 1922-1926

 Em fins de 1922, voltava a crescer o preço internacional do café (reversão na queda das
exportações e do déficit comercial) e retomada do crescimento da produção industrial
 Os programas de obras públicas e o crédito + folgado sustentavam altos níveis de atividade na
construção civil
 Isso resulta dos efeitos anticíclicos da política de valorização e da depreciação cambial de 1920-
21 através de mecanismos estabilizadores inerentes à economia-primário exportadora
brasileira
 Intervenção do governo no preço do café + desvalorização cambial (queda das importações)

...

Conclusões

 A política econômica federal não buscou nem fundamentalmente beneficiar os interesses da


cafeicultura (as medidas atingiam um conjunto mais amplo de interesses) nem seguir o viés
ortodoxo nas políticas efetivamente implementadas (tais medidas foram adotadas em meio a
profundas crises econômicas que ameaçavam a coesão do Estado)
 A adoção do padrão ouro se colocava como opção preferencial sempre que a participação do
Brasil em um boom de investimentos internacionais, coincidindo com a recuperação dos preços
das exportações, gerava superávits externos e pressões para a apreciação do mil-réis
 O equilíbrio do balanço de pagamentos tornava-se dependente da manutenção dos preços
favoráveis do principal produto de exportação e da propensão dos investidores estrangeiros a
emprestar ao Brasil
o Posição externa brasileira cada vez mais vulnerável
 Conclui-se que é nas profundas mudanças nas regras do jogo ocorridas nas relações econômicas
internacionais durante a Grande Depressão, e não na recomposição da base política do Estado
que se seguiu à revolução de 1930, que devem buscar-se as explicações da racionalidade e da
viabilidade das políticas econômicas e reformas estruturais ocorridas após o colapso da
Primeira República

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