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Eo11ORA

S intersaberes

Sociologia
SOCIAs

CIÊNCIAS da juventude
Analisa Zorai eFrancsco dos Santos eling "Nilson Welsheimer oRochele Felini Fachinetto
DAS
DENTRO

POR
SERIE
(9)

Movimentos juvenis
Analisa Zorzt
Rochee elln Iachinetto

Oobjetivo deste capítulo éapresentar apar


opação dos movimentos juvenis na históriado Brasil. Nesse
Sentido, deSCTeveremos aparticipação dos jovens em alguns
ovimentos sociais eabordaremos alguns fatos que foram de
arema importância para odesenvolvimento social e político
do Brasil. Os momentos históricos destacados no texto são: a
Abol
cio
ição da Escravatura, aProclamação da República, oiní-
do século União Nacional dos Estudantes
XX,a criação da
(UNE), aresisténcia à ditadura, a abertura democrática, o
movVimento dos"caras pintadas" eomovimnento hip hop.
So0ologj0 da ltWentuide

A
tanto pação.
peculiar ção Como ristica detude,mentar mobiliza tão mente
eprocesso dos que, tância temjuvenil entreou"desvio",
que juvenil, Dentrede
movimentos
Sociais
nos
de
defende
autor O
relativamente genero, Quando fatos, (9.1)
pois, saber, aceleração
é historicamente, Conforme de seja, ele
emEles uma mais invocada do
mobilização os participaçojovemdo
pel o pela esses social movimento
e por não da como uma
nome estão
categoria de de segundo tornando-se
fato transitória,especiicidade se problemas umameio visto é"fase infinidade
demais etnia), todosindivíduos. fala da brasileiro,
em aponta a
de curta questão
interesses
apresentarem história.
em nossa de
relaçãosomente de
abertos que de os o a e
movimentos uma sua juvenil de transição,
mobilização e ligada aquele é autor,
movimento Márcio sociais:
os com Com história eatuação transformação da
à jovens que que
importante "associações"
próprios quem que como
delinquência,
mobilização data àque base
idade, carrega a Nuno a entre
maior juventude
como ultrapassou deve
têm para apresenta (em social, capacidade um
quanto é nisso, está
passageira, ou ser Rabat outras,
propenso umaacabar.
seja, favor envolvido a fator força politica aspecto
o feitas
social ressaltada(2002),comportamento
decaracteristica
categoria ele primeira a
foi
da
auma de passa simbólica
de a há
interesse e juventude questões mudança dimens£o e
que"negativo", rebeldia. ao
polithcd. a constante social. uma universo
de caracte
juven a o e impor- a o
part dura é jovem
arg que ques
no a em
de do
maisgerais. Da mesma torma, também estão numa situação
peculiarem decorrência do momento de transição na vida
pessoale assim, mais abertos a várias possibilidades. Epor
ae existe uma tendencia histórica da participação dos 163
Movitentos
juvenis
Jovensem movimentos que contestem as normas estabele-
cidas. Nas palavras de Rabat (2002, p. 4): "Talvez por isso a
observação da história indique que os movimentos de rup-
às estruturas sociais que começam a mos-
tura em relação
condições de vida e de
trar-se incompativeis com novas
convivência atraem particularmente a participação juvenil".
muitos casos, é o fato de
Oque também ocorre, em
e lutaram por algu
jovens que militaram em movimentos
acabarem, posteriormente, sendo absorvidos
mas causas
passam a ocupar posi
pelas hierarquias sociais, nas quais tanto no
renovada. Isso ocorre
Ções de relevo na sociedade
atingirem os objetivosdo movimento no qual luta
casode movimento não teve
casos em que o
vam ou mesm0 em
maneira passam a fazer parte
Sucesso, isto é, de qualquer consequência da
uma importante
desses postos. Isso mostra movimentos, pois onde
juvenis nos
atuação de segmentos
participação ocorre também momentos privilegia
hà maior vidafutura da
sociedade,
a
dos na formação de quadros para. mas tambempro-
limitam apenas à ação,
Ou seja, eles não se sociedade.
maneira na
Curam intervir de alguma
(9.2)
Aparticipação juvenil
104
Soiologia
da
juoentude na história brasileira
Nesta seçào, apresentaremos algumas das
mobilizações sociais e politicas que marcaramprincipais
momen
tos históricos importantes do Brasil. Aideia é
mostrar a
participação juvenil nesses acontecimentos para destacar s
importância que os jovens tiveram (e ainda tênm) na conc
trução da história do nosso país.

Os jovens ea Abolição da Escravatura


Na tentativa de resgatar as primeiras mobilizações na hËs
tória brasileira, nas quais os jovens tiveram papel prepon
derante, cabe destacar a luta abolicionista que culminou
com aimplantação da República no Brasil. Segundo aponta
Rabat (2002), uma série de processos sociais que ocorreram
nessa época deram início a uma aceleração na história bra
sileira, um momento em que rupturas politicas, sociais
e econômicas se tornaram recorrentes. Ainda que com
atraso, era esse o momernto em que o pais começava a se
tornar uma sociedade capitalista moderna.
De acordo com autor, o movimento abolicionista que teve
considerável influência nas decisões políticas da época tinha,
entre seus membros, alguns dos jovens que ingressaram nas
primeiras universidades brasileiras, como as faculdades de
Direito de Olinda e de São Paulo, Os mais conhecidos abol1
cionistas foram Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, que, por sud
vez, eram colegas de Castro Alves, o grande poeta do movi-
mento, que morreu aos 24 anos, em 1871.
de estudantes das primeiras universi-
Essa geração
dades brasileiras, filhos da elite do pais, teve papel tun-
damental nesse periodo e, da mesma forma, ressalta-se a
importância das universidades que possibilitavam o con- 165

tato dos jovens de diferentes regiões do Brasil, de modo


queta articulação entre eles fosse mais proficua.
Essa questão da ligação entre vários jovens do pais toi
importante.Segundo o mesmo autor, os movimentos sociais
tendem a ganhar força e importáncia se conseguem articu
Jar grande número de pessoas em um território expressivo.
Decorre especialmente disso a influência decisiva do movi
mento abolicionista naquele momento historico.
Ressalta-se ainda aimportância do apoio institucional
concedido aos jovens, no sentido de colaborar com as con
dições objetivas que possibilitassem a articulação entre os
diversos segmentos juvenis nas diferentes regiöes do pais.
Esse apoio veio de forma recorrente das universidades e
da inserção no meio militar. Aliás, contorme Rabat (2002),
nessa época os jovens universitários e militares atuavam,
com frequência, de maneira integrada. Essa é umacaracte
ristica dos movimentos juvenis da época: o apoio de insti
tuiçöes de ensinoe de organizaçöesmilitares, que voltará
d Ser preponderante em outros momentos da história bra
Sileira, como se verámais adiante.

Os jovensea Proclamação da Republica


e acordo com Arthur José Poerner (1995), os momentos que
antecederam a Abolição da Escravatura e aProclamaço da
República foram marcados pela transtormação dos estudan-
tes em militantes politicos por meio de suas poesias sociais.
Nesse periodo, é marcante a atuação de Castro Alves e
Tobias Barreto na Faculdade de Direito pernambucana.
EmSão Paulo, a oposiçào estudantil a Dom
que se juntavam aos
Pedro l
crescia à medida acadêmicos locais
Osacadémicos de outras partes do Brasil. Nesse estado, o
movimento estudantil contava com a participação de
166
tude
futuros presidentes da República: A Afonso Penae dois
|uvcn
Alves; aeles se juntaram Rui Barbosa e Castro Rodrigues
Alves, trans-
Soologa feridos do Recife, com Joaquim Nabuco. As armnas desses
da

eelrlacao0
de1ope estudantes eram seus escritos, as conferências e os
debates
produzidos com o objetivo de levantar bandeira em favor
da abolição da escravatura e da proclamação da
República.
Conforme Poerner (1995), apÓS a morte de Castro Alves
em 1871, ajuventude militar aderiu àcampanha pela abo
liço após a fundaço, pelos cadetes da Escola Militar, de
uma sociedade denominada Libertadora.
Nesse sentido, além de os jovens universitários con
tarem com o apoio dos jovens militares, a bandeira da
abolição se desenvolveu juntamente com a campanha
republicana. Inclusive, muitos estudantes enfatizavam
mais a questão da República considerando que a abolição
seria uma consequência lógica daquela.
Após isso, salienta o autor, surgiram vários clubes
republicanos acadêmicos reunindo várias personalidades
que ficaram marcadas na história, comoJúlio de Castilhos,
Borges de Medeiros, entre outros.
Como curiosidade, oautor aponta a afirmaçao que
relaciona diretamente a atuação das juventudes militares
e universitárias com a decisão de Marechal
Deodoro da
Fonseca de proclamar a República aos gritos de "Viva a
Republica" pondo fim à Monarquia.
Antes disso, 0s jovens militares que faziam propaganda a
favor da República eram vistos como rebeldes. Há uma situa-
çao emblemática envolvendo Euclides da Cunha nesse pro-
cesso, relatado por Andrade, citado por Poerner (1995, p. 664):
muito conhre udo depots do d1scurso de Afrano
foocpisódio
Prixoto, do SUCeder na Academia Brasilera de ietras aquele
rebelde. Dando uns passos a frente daSua companha, em con
Iménca, n0 momento, do ministro de Guerra, atirou o sabr
00ch£o, proferindo palaoras que reforçavam ogesto de desa
alo sensacional, deixando estupefatos os próproscompanher
de armas que,. àhora, nûo tiveran coragem para cumprir o
combinado, em beneficio da propaganda republcana
Nota-se, então, aimportäncia que os jovens tiveram,
hnto nos meios academicos quanto nos meios militares,
participando decisivamente do0s movimentos abolicionista
erepublicanoe na própria efetivaçãodesses processos.

Os jovens n0 século XX
Outro contexto fundamental para analisar a atuaçào dos
jovens ligados a movimentos sOciais foi o inicio do seculo
XX, mais precisamente a década de 1920. )De acordo com
Rabat (2002), nesse momento havia um sentimento de insa
tistação por parte de umaclasse média urbana, prisioneira
da estrutura social na qual os postos de comando esta
vam nas mãos das elites agrárias e de seus representan
tes politicos. Diante disso, alguns jovens como Eduardo
Gomes, Luiz Carlos Prestes, Antônio de Siqueira Campos,
entre outros (todos com menos de 20 anos), colegas na
Escola Militar do Realengo, viam-se diante da necessidade
de transformar aquela situação. Eles estavam dispostos a
criar um "mundo novo".
Várias ações do Movimento Tenentista foram funda
mentais na história brasileira, como o levante contra os
BOvernos oligárquicos da Primeira República, em 1922. Em
1924, houye outro expressivolevante em São Paulo e outro
ainda no Rio Grande do Sul, de onde partiria, de acordo
com o autor, a marcha que reuniria
maiores
tes do Tenentismo, que culminou na
Coluna rPrestes
epresentlide.an-
rada, principalmente, por jovens oficiais.) Esse foi,
168
}ltCnttile
loloÇa
da
o autor, um momento decisivo da segundo
história brasileira, até
porque, após essa marcha, surgiram
lideranças,
próprio Luiz Carlos Prestes, que marcaram o séculocomo
XY
o

Existem outros momentos historicos que também são


importantes para considerar a atuação e ainfluência dos
movimentos juvenis, como mostra Poerner (1995), a0
reto-
mar fatos como a resistência dos estudantes dos
conventos
edos colégios religiosos àinvaso do Rio de Janeiro pelos
franceses, a presença estudantil na Inconfidência Mineira
e a fundação da sociedade Dois de Julho com o objetivo
de alforriar os escravos, realizada pelos estudantes de
Medicina da Bahia, em 1825. Entretanto, segundo o autor,
o momento decisivo estaria por vir.
Esse momento marca um importante acontecimento
no avanço do movimento estudantil, a criação da Uniào
Nacional dos Estudantes (UNE). Para esse mesmo autor,
esse éo divisor de águas na história política dos estudan
tes brasileiros.

Os jovens ea União Nacional dos Estudantes (UNE)

A importância da criação da UNE para o movimento


estudantil e juvenil no Brasil, como bem destaca Poerner
(1995), classificando-a comoum divisor de águas, signihca
passa
que pela primeira vez na história do país os jovens
ram a Contar com uma organização nacional
e unificada.
anteriores à UNE,
Claro que existiram outras organizações
cadetes e os "Clubes
COmo a própria "Libertadora" dos
Republicanos Académicos". No entanto, esses eram mov
mentos transitórios que visavam a problemas
especificos
skerminados, como o foia Abolição da Escravaturaea
da
luta pela Proclamação República.
Nesse sentido, segundo oautor, esses movimentos aca-
bavamtendo um caráter regional, com pouca articulação 169
Movmmentos
UCHIs
em nível nacional, o que gerava certoisolamento entre os

estados, já que essas organizações não tinham uma uni


dade nacional. Essas organizaçöes atuavam basicamente
nointerior das faculdades, por meio de grémios e centros

acadêmicos, ou ainda em associações e agrupamentos de


caráter especifico, comoos literários e artísticos, os políti
cos, os boêmios, entre outros.
Essa desarticulação em nível nacional explica a pouca
ou quase nenhuma atuação dos movimentos juvenis logo
após a Proclamação da República, em 1889, e a década
de 1920, jáno século XX. Conforme Poerner (1995, p. 67):
"Como em todas as ocasiões em que se vêsatisfeitas suas
exigencias e reivindicações mais instantâneas de pro
gresso e de justiça no país, a juventude universitária brasi
leira se aquietou no alvorecer da Primeira República".
Portanto, conforme esse autor, antes da criação da UNE
os estudantes participavam politicamente de outras enti
dades como a Liga Nacionalista de Bilac, a Liga do Voto
Secreto de Monteiro Lobato, a Aliança Liberal, a Milicia
Patriótica Civile a MMDCconstitucionalista de São Paulo
e a Aliança Nacional Libertadora.
A realização do I Congresso da Juventude Operária,
alguns anos antes, foi de extrema importância para a fun
daço da UNE, pois foi naquele momento que se tornou
clara a necessidade de criação de um instrumento que
possibilitasse aos estudantes colaborarem com a luta pela
transformação da realidade nacional.
Nesse contexto, então, surgiu a UNE, fundada no dia
ode agosto de 1937, na Casa do Estudante do Brasil, no Rio
de laneiro, apos afundação do ICConselho
Estudantes Nas palavras de Poerner (1995, p. 123):
Nacional
dos
de uma tomada de consciencia, quanto a "Fruto
organizaç£o em carater permanente e naciona! da
necessidade
da

pação poltica estudantil. a UNE representa, sem


partici-
du ida o mais importante mareo divSoT daquela partici. qualquer
pação ao longo da historia"
A partir de entào, a UNE esteve presente nos gran.
des movimentos da historia do Brasil, como aluta contrs
onazitascismo, a luta contra o Fstado Novo de Getulio
Vargas, a campanha nacionalista "O Petróleo e Nosso" a
regime militar, entre outros.

OnonLto tucenid: da reIstència


adtadura à abertura democratica
A resistência do movimento estudantil, representado
nacionalmente pela Uniào Brasileira dos Estudantes
Secundaristas (Ubes) e pela UNE, está diretamente asso
Ciada à resisténcia àrepresso, às liberdades e à luta contra
a intervenção estrangeira. Nesse processo, os jovens estu
periculosi
dantes eram encarados como elementos de alta
classificados como
dade para asegurança nacional, sendo
instau
subversivos pelas autoridades estabelecidas apos a
ração do regime militar em 1964.
movimento estudan
Segundo Poerner (1995), a relaço do
extremamente tensa e conflituosa.
til como regime militar foi
militar, realizada no
Lma das primeiras medidas do governo
seguinte ao golpe militar, foi a invasão da sede dessa enti
dia
militares.
dade que foi saqueadae queimada pelos bons olhos nem
via com
I5so porque a ditadura nào
autoridades mil1-
05 estudantes nem à universidade, e as
"tratamento de choque
tares acreditavam que so com umn
iriamacabar com asubversão de alunos e professores que

se
colocavam contrários ao regime politico e àintervenção
externaao pais no sistema de ensino brasileiro. Nas pala-
204-206):
vrasde Poerner (1995,p. 171
Movimentos
juvenis

Tratava-se, como num ritual da lnquisição, de expulsar o


demonio da rebelião patrióticadaqueles corpos jovens, subs
ituindo-os pelo anjo da subordinação aos interesses antina
cioyais L..J. As autoridades não encontravam outro recurso
senão calar os estudantes, para evitar que protestassem con
tra oque se passavaem suapatria e para impedir que promo
zeSsem novas campanhas de alfabetização de adultos, cujos
organizadores e participantes, eram, então, submetidos aos
atrabiliários Inquéritos Policiais Militares (IPM).
Essa perseguição aos estudantes, que o autor deno
minou de inquisição, teve seu marco na destruição da
Universidade de Brasília, considerada na época uma das
mais modernas do país, comparada a universidades dos
EUAe da Europa. Nesse ato protagonizado pelo governo
militar, entre outras ações, alunos foram expulsos e presos,
professores demitidos (a maior parte do corpo docente) e
bibliotecas destruídas.
De acordocom nosso autor de referência, além do que
OCorreu com a Universidade de Brasilia, com o objetivo
de entraquecer o movimento estudantil, instaurou-se no
pais a Lei n° 4.464/1964, conhecida como Lei Suplicy de
Lacerda, de autoria do Ministro da Educação, o proprio
Hlavio Suplicy de Lacerda, a qual determinava a extinção
dO movirmento estudantil no Brasil. Com isso, as entida
dessexistentes passaram aser tuteladas pelo Ministério da
Ltucação (MEC). Nesse sentido, aUNE toisubstituida pelo
Diretório Nacional dos Estudantes, perdendo sua autono-
mia na representação legal dos estudantes.
No nwada represàv poealr militar e da
la norteamencana na oltica ucacional do C interterèn
(astelo irat imei presidente do regime nmilitar
inento estud.ntillestava desmantelado
pelo tato de
INieres enontraet se presos, eilados
No entant apesar da situaçào advers. quando toi
suge
rido pelo ministro d0 entio presidente Castelo Branco, 0
hxhameuto das entidades estudantis \ igentes e a criacào
dos Diretorios Acadenicos (DA) do Diretorio Central dos
Estudantes ()edos Diretorios Estaduais de Fstudantes
DEF) -todos ontrolados pelas autoridades 0s jovens
estudantes mesmo nào contando conm seus lideres, nào se
calaram e tentaram pelo dialogo, solicitar av presidente
que nào acatasse o pedidodo ministro, impedindo que tal
ato se institucionalizasse.
Apartir de entào, travou-se um duro embate entre os
movimentos estudantis, vistos como ilegais, e o governo,
ao longo da ditadura militar. Durante esse periodo, os
estudantes se mobilizaram e marcaram sua resistência
ao regine com encontros, passeatas, congressOS e greves.
Obviamente o governo reagiu com prisoes, expulsöes, tor
turas e ate assassinatos de estudantes.
Oepisodio da morte do estudante Edson Luis na oca
sião da invasäo dos militares ao Restaurante Universitário

no Aterro do Flamengo no Rio de janeiro, em março de


solidárias
1968, fez com que outras camadas da sociedade,
ao estudante e àsua familia, apoiassem o movimento estu
dantil, fortalecendo-o. Conforme Poerner (1995, p. 289);:

Mesmo encarada com absoluta isenção politica, a morte do


hustória brasi-
jovem Edson LuÍs constituiu wm marco na
aCOntecinento des-
leira contemporánea, pois oimpacto
pareciam
periou forçs de oposiço eprotestos que ate entäo
adormecdas. Pessoas esetores que se mant1nham apáticos de
subilo se mob1l1zaram num esforço coletivo que, em ltima
nstância, VIsava - enmbora de maneira as vezes 1ncons-

ciente -a deter um processo de violência que se chocava cont 173

ohumanSMO Inerente ao povo brasileiro

Após isso,Construlu-se um elo entre os jovensea socie


dade na luta contra o regime militare na busca pela aber
tura democrática no Brasil, na qual os estudantes foram
protagonistas importantes. Acrescente mobilizaço estu
dantil, como a Passeata dos Cem Mil, realizada em maio de
1968, no Riode Janeiro, e a prisãoem massa dos estudantes
que participavam do clandestino Congresso da UNE em
Ibiúna, foram usados como argumento para o recrudesci
mento da repressão da sessão arbitrária dos direitos civis e
politicos, com a promulgação do Ato Institucionaln5 em
dezembro daquele ano - marco da fase mais sombria da
ditadura militar no Brasil.

Sem possibilidade de expressão politica, jogados na


clandestinidade, sistematicamente perseguidos, presos e
torturados, centenas de jovens optaram pala resistëncia
armada àditadura militar. Desse movimento juvenil de
resistência armada, a Guerrilha do Araguaia", realizada no
periodo de 1970 a 1974 no sul do Pará, aparece como exem
plo paradigmático.
Nesse mesmo periodo, os setores da lgreja Católica
passara a organizar os jovens em uma pastoral própria,
com propósitos de evangelização. APastoral da Juventude
) surgiu em 1973, objetivando organizar eunir os jovens
Para a evangelização por meio de suas próprias ações:

a 'ara saber mas


dse lnk httpsobreaGuerrilha
do Araguatd,
/ww wternuma
com.briarayu
aprofundando e vivendo afé, atuando na
descobrindo como transtormar a realidade.
comunidade e
Com isS0,
lgreja buscava uma maior aproximaçao com a juventude
174
ude
Sendo assim, a Pastoral da Juventude (2005) defini-so
juocnt como missão, afirmando: "Somos jovens, cristãos, católicos
da organizados como ação da lgreja evangelizando outros
Sociologin Jovens, para que, capacitados, atuemos na própria lgreja e
nos movimentos sociais visando à transformação da socie.
dade em todo o Brasil".

Os jovens ea aberturadeniocrática
Os anos de 1980 a 1985 marcaram o processo de abertura
democrática do regime militar, quando se instituiu a Lei
n° 6.683/1979, conhecida como Lei da Anistia, e outras
medidas que conduziriam à redemocratização do pais.
Nesse período de maior liberdade, surgiram os novos
movimentos sociais. Entre estes, ressurgiram os movimen
tos da juventude. Um marco nesse processo, e na história
do movimento juvenil brasileiro, foi a fundação da União
da Juventude Socialista (UJS) em setembro de 1984.
Essa organização foi criada com a participação de jovens
lideranças do movimento estudantil, como é ocaso do 1° coor
denador-geral nacionalda UJS, Aldo Rebelo, entãoegresso da
presidência da UNE. AUJSse apresentaria àjuventude como
uma alternativa de militância com base em uma plataforma
de mobilização tipicamente juvenil, em cujo foco encontra
vam-se os direitos da juventude, a independência do pais e
osocialismo. Em pouco tempo se tornou uma organizaçao

b Paraver essa lei na integra, acesse o lnk <https://


www.planalto gov.br/ccivil _03/eis/16683.htm,
c. Para saber mais sobre a Uni£o da Juventude Socia
lista, acesse o hnk: <http://www.ujs.org. br,
Lases em todos os estados do pais e com ramificações
principais cidades, destacando-se nas mobilizações pelas
nas
constituinte democrática.
diretas e na
Na Assembleia Nacional Constituinte, a UJS mobilizou 175
Movnentos
H2ents
juventude por meio de abaixo-assinados e da atuação em
a
conjunto com deputados constituintes, apresentando suas
propostas, das quais foram aprovados a LEI DO GRÊMIo LIVRE
eoVoTO AOS 16 ANOS. Assim, a UJS saiu desse processo de
mobilização como amaior juventude política organizada
do Brasil, passando aatuar como a principal força dentro
do movimento estudantil brasileiro, elegendo seus mem
bros como presidentes da Ubes e da UNE de maneira inin
terrupta desde entâo.
Sob sua direção, essas organizações estudantis realiza
ram as jornadas de mobilização e passeatas estudantis do
"Fora Collor!", queresultaram no ipeachment do então presi
dente da República Fernando Collor de Mello. Pode-se dizer
que a UJS se caracteriza na atualidade como um amplo movi
mento de jovens pelo socialismo e que tem em sua pauta a
construço de politicas públicas de juventude e busca politi
zação do diversificado movimento juvenil brasileiro.

Os "caras-pintadas"
Após as manifestações realizadas ao longo da década de
I980, como as Diretas Jáe aConstituinte de 1988, entre
outras, os jovens voltaram às ruas, em 1992, exigindo o
mpeachnent do então prresidente da República Fernando
Collor de Mello. Conforme Poerner (1995, p. SI9):
Ante a gravidade das denúncias e revelações que se sucediam,
eles {os jovens| foram os primeiros a"sacar" que os níveis
cOrrupção, enquadrillhamento e banditismo n0 alto esca
ldo governamental haviam gerado um daqueles momentos
decisivos da nação, emn que não há justificativas
ou omisso de qualquer brasileiro.
para apatia

Como em todos os momentos decisivos da


176
Socologn
da
juvcnhude história do
pais, nesse não poderia ser diferente: os jovens se
ram novamente na luta para a engaja-
transformação do "'estado
coisas" existente no Brasil. Surgiram várias das
por todoo pais. Foram
mobilizacões
manitestaçoes e passeatas que nova
mente reuniram os jovens em torno de
objetivos comuns
principalmente de conquistarem um Brasil melhor para
todos. As atenções voltaram-se, na época, para a
maneira
como os jovens se manifestavam: os rostos
pintados de
verde e amarelo e, por vezes, de preto,
intencionados justa
mente a marcar aquele momento histórico com a "campanha
dos caras-pintadas".O que esse movimento demonstrou foji
que os jovens queriam exercer um papel de protagonistas
napolitica brasileira e não serem meros espectadores.

Os jovens eo movimento hip-hop


Omovimento hip-hop constitui-se num processo de recons
trução de identidades no qual se instaura uma nova cultura
politica urbana, mesmo que não reconhecida pelas elites do
pais. Comoaponta Christian Carlos Rodrigues Ribeiro (2007,
p. 2), esse movimento, no Brasil, afirmou-se como a etapa
mais recente de um processo de resistência da população
afrodescendente, e complementa:
Agénese daquilo que viria a ser chamado movimento "hip
hop" no Brasil surge nofinal dos anos 1970, inicio(sic] dos
anos 198o, no exato momento da eclosão dos denominados
"novos movinentos sociais" (01), gue passan a imcop
rar questöes como ade gênero e raça no processO de tns
titusção de um 0V0 odelode sociedade. mais pl1uralisth
Lrrática, participatwa e cdadã |.J, criando novas for
práticas de exercício politico reivindicatório.
mas, novns

Ainda segundo Ribeiro, ohip-hop surgiu com passos de 177


músicas, Como dança de rua, e começou, no final da década MovmCntos
ttVenis

ser eexecutado em vários espaços públicos. Em seu


de1980, a
inicio, era encarado
como moda passageira enão era tomado
Comosério, No entarnto, atraiu ajuventude da periferia, prin-
cipalmente os jovens negros da cidade de São Paulo, os quais
passaram a se identificar com o ritmo da música, que no Seu
inicio era mais descontraído e semconteúdo críticoou de pro-
testo, mas que mudou com o tempo, transformando-se em
um instrumento de mobilização politica desses jovens.
Esse autor aponta que, entre osanos 1988 e 1989, ocorreu
oapogeu do hip-hop por meio de sua produção musical e o
lançamento de discos, o que favoreceu a conquista de espaço
tanto cultural quanto político e social noBrasil.
Conforme Ribeiro (2007, p. 4):
Este segmento social de jovens urbanos periféricos passa
aconstituir o movimnento "hip hop" como o seu meio de
expressar suas agruras, suas reivindicações, suas denúncias,
geradas em seu universo social cotidiano onde a qualidade
de vida, onde os aparelhos de serviços básicos do Estado não
existem ousão extremamente precários. [..!
Estes jovens passam a se fazerem ouvir, a se fazerem notar
quando passam a divulgar através do "hip hop" estapreca
eudde soCiala que estavann relegados e ao denunciarem os
processos de discrininação racial e violência policial a que
cotidianamente eram submetidos.
Mais uma vez na história, a exemplo de outros movi
citos, Como o abolicionista, ohip-hop conta com aarti
culação entre manifestaçöes culturais, como a música ea
dança, com o posicionamento
politico, tendo
e a como obie-
tivo maior a denúncia do
descaso social
178
Soologia
da
juVCntude
de direitos. E novamente os
nesse processo saão os jovens.
indivíduos
reisvoibrndiescaçãoaem
que se
Nesse movimento, destaca-sse a
Nação Hip Hop
Conforme informações dessa
organização (NaçãoBrasil. H
Hop Brasil, 2008), temos: Hip
Fundada em 22 de janeiro de
2005, A
BRASIL é uma entidade fornada por diversasNAÇÃO HIr Hor
"Hip Hop" Nacional, visando lideranças
contribuir como forma de fer.
do
ramenta para a organização e representação
seus militantes, para que através de
institucional de
planejamentos de acões
gerais, pOSsamos avançar elsic] prol do fortalecimento e
Crescimento de um dos maiores movimentos sócios culturais
(sic] na ultima (sic] década dentre (sic] a juventude perifé.
rica brasileira, o movimento "hip hop".
ANação Hip Hop Brasil hoje está presente em 17 estados da
federação e no Estado de São Paulo está organizada em 43
municípios. A Entidade tem em sua composição Nacional
nomes de grande representatividade no cenário nacional
como: Aliado G (Face da Morte/SP), TOTA (Graffiti/SP),
Renegado (NUC/MG), Ninna Rodrigues (Recife/PE), BOB
(Potegi/Ceará), Mano OXI(TVHip Hop Sul/ Porto Alegre)
alem (sic] de grandes colaboradores como Rappin Hood -
SP, Viela 17 - DE, MVBill- RI entre outros.
(.)
Pontofinal
179
Movinentos
juvCHis
oós essa breve reconstituição histórica da participação
dos jovens em movimentos sociais, é interessante refle-
ir comoesses grupos acabam adquirindo um importante
papel de mobilização e, ainda, um forte impacto na trans-
formação social do país. Foram muitos momentos históri-
cOs em que aparticipação dos jovens se tornou decisiva. E,
nesse sentido, éextremamente importante considerarmos
que essas açöes não estão somente no passado do pais, mas
renovam-se constantemente, adquirindo novas fornmas de
expressão, sob diversos signos de mobilização.
Dessa forma, é pertinente a afirmaço de alguns auto
res, como Rabat (2002), que apontam a importância do
movimento estudantil como força de aceleração da his
tória, capaz de "sacudir" e de questionar" as estruturas
consolidadas e, ainda, como esses movimentos acabam
sendo reconhecidos como fator de mudança e de mobili
zação social. Nesse sentido, se a especificidade da catego
na juventude nos movimentos sociais éjustamente a sua
"transitoriedade", isto é, sua situação passageira, cabe des
tacarmos que se trata de uma "transitoriedade" que se
Tenova, que ressurge sob novas configurações e que está
COnstantemente atenta às situações que afligem tanto os
JoVens quantoa sociedade de uma forma geral.

indicações culturais
ESTUDANIENET. Portal oficial UNE e Ubes. Disponivel
http://www.une.org.br Acessoem: 26 jan. 2012.
NAÇÁO HIP HOP BRASIL. Disponivel em:
nacaohiphopbrasil.com.br. Acesso em: 3out. 2008
POERNER, Arthur José. Opoder jovem:
htplwww.
180
IHDentude pação politica dos estudantes
brasileiros. hiSãostória da partici-
de Memória da Juventude, 1995. Paulo: Centro
SoiolQia
da
UNIÄO DA JUVENTUDE SOCIALISTA.
<http:/www.ujs.org br,Acesso em: 26 jan. 2012 Disponivel em:

Atividades
1 Nocontexto da Abolição da Escravatura e da Proclamacàn
da Republica, as mobilizações juvenis tinham como prin
cipal caracteristica:
a a ligaç£ocom a literatura e as artes, especialmente a poe
sia social, na qual os jovens poetas manifestavam suas
discordâncias em relação à situação daquele momento.
b amaneira violenta com que expressavam sua indigna
ção, por meio da depredação de espaços públicos.
c aclandestinidade, já que o controle
sobre essas manifes
tações era intenso.
que pudessem taci
d a criação de organizações próprias
diversas partes do
litar a articulação entre os jovens de
país.

relevância atribuidaà
2 De acordo com o texto, a expressiva
criação da UNE deve-se ao seguinte aspecto:
motivadas pelos jovens
J Apos à sua criação, as açöes
efeitosde transtor-
começaram etetivamente a produzir
mação na realidade do pais.
Significou.oingresso de recursos estatais que passaram
financiar as mobilizações juvenis.
Atendeu apenas aos interesses dos jovens, sanando os
problemas que atingiam essa faixa da populaço. 18:
Movinentos
juVENiS
Representou uma articulação nacional unificada do
d
movimento estudantil, que vinha sanar as dificuldades
adyindas da fragmentação das suas ações.

. As mobilizações juvenis durante a ditadura militar tinham


como principais reivindicações:
, alutacontra os problemas sociais, odescaso do governo
ea faltade recursos específicos para os jovens.
h aresistência àrepressão, a liberdade e a luta contra a
intervenço estrangeira.
caconstituição de politicas públicas ligadas às questòes
de saúde, educação e cultura.
doaumento das exportações, a diminuição das importa
ções e o pagamento da dívida externa do pais.

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