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As relações de Weber com o


historicismo, sua dívida intelec-

A FASCINAÇÃO
tual para com Rickert, Jellinek,
]

A FASCINAÇÃO WEBERIANA

WEBERIANA
Carlyle, Meitzen e Wellhausen, O político deve e necessita fazer concessões. Se há duas décadas Wolf-
a teologia política subjacente
ao estudo sobre A ética pro-
Mas eu sou por profissão e vocação: erudito. gang Schluchter viu na A éti-
ca protestante e o espírito do
testante, tudo isso é explorado O erudito não deve fazer quaisquer concessões. capitalismo uma “história das
aqui numa perspectiva situada mentalidades”, hoje estaríamos
a meio termo entre a história in- tentados a evocar a opinião de
telectual e a história das ideias. Max Weber Meinecke, para quem este estu-
O retrato de Weber que emer- do é uma “investigação em his-
ge destas investigações não che- tória das ideias”. Seria possível
ga a ser inteiramente novo, mas ir ainda mais longe, e conside-
é sem dúvida mais complexo. A rá-lo um predecessor distante
reconstrução histórica de seus – dado que contém uma sofis-
anos de aprendizagem, assim ticada história do conceito de
como da variedade de campos vocação/profissão (Beruf) em
disciplinares pelos quais transi- Lutero – da moderna Begriffs-
tou, permitem compreender me- geschichte.
lhor as razões que o levaram, Os estudos reunidos neste li-
mais tarde, a definir a história vro, entretanto, têm outra pre-
e a sociologia como “ciências ocupação. Ancorados num ex-
da realidade”. Um projeto que tenso trabalho de pesquisa em
se diria inacabado, e, por esta arquivos e bibliotecas alemãs,
razão mesma, ainda digno de eles buscam lançar luz sobre
atenção do leitor contemporâ- as origens da obra de Max
neo. Pois como diz Weber em Weber, e, sobretudo, mostrar
sua Wissenschaftslehre, “em como a ciência histórica tor-
parte alguma o interesse da ci- nou-se para ele uma autêntica
ência é, com o passar do tem- Grundwissenschaft. Através do

SÉRGIO DA MATA
po, mais intensamente posto de estudo das constelações intelec-
lado do que naquelas circuns- tuais que marcaram a primeira
tâncias em que não se quer ver fase de sua trajetória acadêmi-
os fatos incômodos e as realida- ca (do início dos seus estudos
des da vida em sua dureza”. universitários em 1882 ao seu
sociological turn, em 1909), o

]
Sérgio da Mata é doutor em As origens da obra leitor será chamado a ir além
das disputas metodológicas da
História pela Universität zu Köln
e professor do Departamento
de História da Universidade Fe-
de Max Weber economia política alemã de fins
do século XIX, e a se familia-
rizar também com os intensos
deral de Ouro Preto. Publicou ISBN 978 - 85 - 8054 -116 - 8
debates historiográficos, teoló-
os livros Chão de Deus (Wis- gicos, filosóficos e jurídicos que
senschaftlicher Verlag Berlin, marcaram as ciências humanas
2002) e História & religião (Au-
têntica, 2010). 9 788580 541168
SÉRGIO DA MATA de seu tempo.
A fascinação weberiana
As origens da obra de Max Weber

Sérgio da Mata
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© Sérgio da Mata

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M375f
Mata, Sérgio da
A fascinação weberiana : as origens da obra de Max Weber / Sérgio
da Mata. - 1. ed. - Belo Horizonte : Fino Traço, 2013.
248 p. : il. (História ; 34)
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8054-124-6
1. Weber, Max, 1864-1920. 2. Sociologia - Alemanha - História. 3.
Sociologia - História. 4. Sociologia - Filosofia. I. Título. II. Série.
13-02114 CDD: 301
CDU: 316
14/06/2013 14/06/2013

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Wer kann was Dummes, wer kann was Kluges denken,
Das nicht die Vorwelt schon degacht!
Goethe
Para Giulle, Lis e Maísa
Sumário

A fascinação weberiana 11

Capítulo i
Anos de aprendizagem de um jurista formado “numa perspectiva histórica”:
Weber e o historicismo 23

Capítulo ii
Da história do direito à economia: em busca da clavis weberiana 37

Excurso
Depois do puritanismo: Thomas Carlyle e as raízes da filosofia weberiana da
história 55

Capítulo iii
Rickert e os fundamentos teóricos do pensamento histórico de Weber 67

Capítulo iv
Variações histórico-conceituais sobre a gênese do tipo ideal weberiano 87

Capítulo v
“O dever-ser é coisa do diabo”? Sobre o problema da neutralidade axiológica
em Max Weber 101

Capítulo vi
Max Weber e a ciência histórica 115

Excurso
Max Weber e o destino do “despotismo oriental” 129

Capítulo vii
A crítica da teologia como alternativa ao “embuste romântico”: a religião de
Max Weber 135

Capítulo viii
Há uma teologia política por trás d’A ética protestante? 153

Capítulo ix
O mito de A ética protestante e o espírito do capitalismo como obra de
sociologia 171
Capítulo x
Weberianismo tropical: caminhos e fronteiras da recepção da obra de Max
Weber no brasil 189

Realidade como vocação 209

Fontes e bibliografia 215


A fascinação weberiana

Em março de 1913, chegava a Heidelberg um correspondente do diário francês


Le Figaro. Seu objetivo: realizar uma entrevista com Max Weber. Protestante,
tido na França como um expert em assuntos germânicos, Gaston Riou não deve
ter tido maior dificuldade para entabular um animado diálogo com o “mito de
Heidelberg”. Interessado em conhecer melhor as novas correntes religiosas na
Alemanha, Riou chegara a ele por indicação de Ernst Troeltsch. Numa carta a
Lukács escrita pouco depois, Weber disse ter tido ótima impressão do jovem
jornalista estrangeiro.
Esta entrevista jamais veio a público. Em obra aparecida durante a primeira
guerra mundial, Riou deixou-nos uma única frase sobre seu ilustre entrevistado,
certamente expressão daquele encontro ocorrido três anos antes, às margens do
Neckar: L’esprit le plus vivant que j’aie vu (Riou, 1916:4).1
Com esta pequena história, uma história de sedução, já estamos a falar do
nosso tema: a fascinação weberiana. Tal expressão, ao que parece, foi cunhada na
década de 1950 por Nelson Werneck Sodré (1985). A fascinação denota um tipo
de encantamento intelectual, uma sedução, uma paixão sem a qual é impossível
explicar porque tantas pessoas ainda se interessam por Weber e sua obra, da
América ao Japão. Ao mesmo tempo, e é o que demonstra o caráter ambivalente
do fenômeno, a fascinação frequentemente leva a uma obliteração daquilo que
deveria ser o bem mais caro do intelectual: sua autonomia. Da fascinação ao
sacrifício do intelecto, a distância muitas vezes é curta.
Ninguém ignora, porém, que de nada vale a excelência de uma obra sem
a existência de mediadores dispostos a mobilizar recursos capazes de garantir a
construção e a manutenção do estatuto de clássico de um determinado autor. Ideias
sem “ancoragem” institucional – de grupos de devotos a instituições de ensino ou
editoras – estão condenadas a desmancharem no ar. No que diz respeito a Weber,
a primeira pessoa a ter clareza disso, por motivos um tanto óbvios, foi sua esposa
Marianne. “A mesa de trabalho de Max Weber é agora o meu altar”, escreveu ela em
suas memórias. Com efeito, não é despropositada a caracterização que dela fez Golo
Mann, ao chamá-la “vicária de Max Weber sobre a terra” (apud Hanke, 2006:30-31).
Muitos dos jovens que acompanharam a última fase da vida acadêmica de Weber
caíram vítimas do mesmo encantamento. Carl Schmitt, Karl Löwith, Helmuth

1 Um dos críticos de Riou afirmou que seus escritos vinham tendo “uma grande repercussão,
principalmente na Alemanha” (Le Figaro, 15/09/1910). Weber se referiu duas vezes ao episódio
desta entrevista (MWG II/8:107, 115). Troeltsch (1977:634) também mencionou sua própria con-
versa com Riou.

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