Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
0 MILAGRE DE OURIQUE
E A
/""W'j'i ^K.\::f:~
V'. A?
Lisboa
1985
Trabalho apresentado å Fa-
i
"Quando ananos a vida, temos de amar o
ĩarguerite Yourcenar
5
Págs.
INTR0DU5Â0
6
1. Palavras prévias
2. 1846-1857: o terapo de uma polémica 18
VISÃO E VIVÊNCIA
0. Nota prelirninar 38
II
0. Introdugão .. 199
1. A aparicão de Cristo de
nos canpos Ourique:
CONCLUSÃO 260
NOTAS 270
BIBLIOGRAFIA 331
INTRODUQÍO
1. Palavras prévias
dela fazen parte e oue surgen, pela sua nao, consa?*rados nos
conteúdos.
•=
sirx:ificativo e (nuase) absoluto. Quando nuito, breves re-
a de Herculano —
assune adequada obtiectivacao da r-arte da
tura enrlobante.
Torna-se, no
entanto, necessário superar a
tendênciapa
ra identi4,icar a polénica de Ourique com a intervencão deĩfer
dade oue nuitas vezes nais ĩiro é do que una representacão que
1876, nas palavras con oue fas anteceder a sua publicacao ros
a Maggessi Tavares.
sc contínuo å tradicão —
portarto å autoridade —
oue legi-
tina a crerga. Sace å posicão de Herculano, que recria asori
docunental .
to e o profano.
Senana.
sos.
gre ,
iria alargar-se en ternos ideologicos, inserindo-se no
rP^.utíveis a unidade, nas oue r.e tor isso conduzen a una ra-
cono este seu antaronista, ainda oue errado, defende con lu-
inrrensa ( 2) .
tao .
lagão, nio apontava nesse sentido. Mas é ura facto que ela vi
ti-clerical.
Para Herculano, sob o ponto de vista científico e con-
co -
lano, pequeno opúsculo que sai anonimo, raas que é sabido ser
goes de anti-patriota e
insinuacoes, aliás frequentemente re
provagio —
pelo riso —
parte gue tem relagio com este objecto vem demonstrar plena-
historico
que, pelo dramático desajuste conceptual e com uma
—
e tio so —
sobre o probleraa diplomático constituído pelo
"
cular para incutir as crengas a ferro e fogo ... (16).
A sua posigão é clara: o que está em jogo é a possibili
compreender —
"
ra situada [. .]. num campo a que ella nunca devia ser trazi-
culcar uma questio de Religiio, o que nio era por sua nature
da discussão historica
campo numa questio política eieligiosa.
Ainda em 1850 surgem as Cartas sobre o Estado actualda
gal .
Paralelamente, ataca Herculano, cuja posigão perante o
testante .
rlodico —
A NacÍo. ror A. Herculano . Nele renova, compoucas
aos srs. Padres Amado e Recrelo, em que mais uma vez exprime
do-o de
"[...] tio desagradavel debate litterario" (20);afir
ma que vai debrugar-se apenas sobre o problema da batalha de
Ourique, igualmente posto em causa por Herculano, que reduziu
bico -
e
que é claramente um texto que, em ternos conceptuais e ideo
A Semana —
desde n^ 9 a 1% Caetano Pereira lamenta o
"[...]
excessivo orgulho do sr. Alexandre Herculano" (21), e susten
0 Portuguez —
N° 193. Anno de 1853 (25). Sem trazerra
VISÃO E VIVÊNCIA
0. Nota prelirainar
te alvo.
gre.
de fundanentar e
explicitar um prcblema historico passívelde
discussao .
anos cinquenta e
aconpanhará Herculano, aprofundando-se en
em que me coloquei" ,
"Advertência"
Historia de Fortugal.
so
da verdade —
nacional —
na qual tradicionalmente um dos fios condutores
"
desonrou, crendo exaltá-lo! (4).
Herculano —
cono aliás no decorrer da polénica os seusadver
de
possuían outras que eran suas, e que nu.nca os progressos
c'
da, oon o intuito de dar ao seu país una historia [...] ne
tuguês —
caso de eficácia historica e simbolica, para lá da
(10).
Ê poroue o encontro da verdade historica pressupoe are
tacoes —
iria ser alvo nio o deixarian tao indiferente pelo seu nível
de cariz reaccionário —
oue o seu agudo sentido de cidadio
culos —
conteúdos e estratégias.
pos, una vez oue a densidade dos opúsculos foi bastante irre
1 -": n i ca .
A intervengão de Alexandre Herculano, de nue nos ocupa
ral .
2.1. Eu e o Clero
te resolve ouebrar com este opúsculo, oue coneca por ser una
tugueza (. .].
"
(3) s° suscltava, con raríssimas excepgoes, a
ci-ncia." (&)
Ao suscitar a esnagadora naioria das criticas, o caso
te —
s^ , nc entar.to, oue a este rrorosito r.erouiano se arressa
ronana.
os je-
do.
ser também dolorosa, uma vez que "langaria uma torpe mancha
to moral" (20) .
cício dessa liberdade que ihe era tao cara(23).A sua divulga
—
a imprensa —
o oue Ihe dava potenciainente a possibilida
de de resposta e de qual entendeu, na altura, nio usufruir.
adequado —
a inrrensa —
,
oue ele aceitara até aí . Se inter
vem —
e Herculano di-lo nuito claranente —
é roroue as in-
para ele, uma posicio de desvantagen ( una vez oue nao tenaces
ho-
pendência de historiador, rela qual necessita "julrar os
oue para ele está en causa é, pois, nuito nais profundo doque
—
elas e o seu autor —
cono herejes e ínpias: "Un sernionio
do nai s
cedc), nera poroue a questao nuclear —
Ourioue —
ti
Hereulano; nas poroue ela ~ci deslocada para un canpo oue aprc
ro.
inimigo a abater.
passado £. ."}
. . De roda de mim jaziam os fragmentos da socie-
tiga, com
efeito, e bebida na fonte da inspiragio romântica,
a
convicgio —
o
cristianismo, longe de se opor â liberdade, era antes o seu
dade singela, que tinha nostrado n'uraa das mais graves ques-
toes sociaes" (41). Mas esta razão insere-se num quadro mais
ga: "Oxalá venha em breve o dia em que o clero deste paiz pos
mo ,
sária —
ticular —
ao Redactor do Periodico —
A Nacio. surge a 25 de Julho de
A seu ver, "0 sr. Herculano, levado pelo ardor da sua justa
defesa, foi severo, diremos mais foi injusto, quando nio pa-
perpétua e eterna?
para uraa linha coraum. Todos eles são fungio de uma preocupa-
dera nio ter sido ele a procurar nem a fomentar esse antago-
no
Brandio, que, sendo horaens da Igreja, nio haviam coibido a
S. Bernardo" (65).
haviam chega-
do ao seu conhecimento por mera casualidade. Como garantiroue
culano e
para o redactor de A Nagio. Ja que a
canonizagio r£o
era dogma de fé, nem a ciência e a literatura sinonimos devlr
rio VII —
o elogio dos historiadores protestantes aos dois
pontífices —
Herculano deixa bem claro que para ele uraa coi
uma vez que podem até, como no caso presente, ser claramente
de "vastas e
energicas", eram "intelligencias corruptas, vio
lentas e
cubigosas", tomando-se aqui como critério o plano
moral, regido por normas absolutas. Porque para Herculano —
—
e como elemento-chave na sua concepgão da historia —
histo'ria é tarabém e
juízo moral
sempre um sobre e'pocas e in-
posigio de Herculano.
opúsculo.
Recreio
2.3. Carta_s [. .] . ao Padre Francisco
Carta
[Eu e o Clero ) abominavel, e indigna de circular em um
estilo. Mas nio se pense que por isso ele seja raenos eficaz,
inverso, podemos
mesmo dizer —
este texto resulta tão afirnativo das suas po
to do P- Recreio.
"as avessas".
de
texto Recreio: "Mas ha acaso ahi
[justa Desaffronta] o rae
mal com o bem. Ê assim que se manifesta nas suas obras o sa-
cerdote christão. No genero, é V. R. um verdadeiro typo" (83).
fere com pormenor (84), o que reflecte desde logo uma inten
suas posigoes —
resposta adequada —
mas antes através do sarcasmo, índice ,
As Cartas
[. . .1 por um raorlbundo (91) sio o único texto
de Herculano que faz parte desta poleraica a nio figurar nos
escritos —
,
raas tarabem como pega da sua participacio na po-
culos. Aliás, este texto foi em geral mal aceite, mesno por
polémica em
particular, no que ela contéra de sintomático, e
todo .
desaparecer.
nacional.
o que está em jogo mas o modo como está em jogo. Por isso, gr
viver mais algum dia que eu, acerca dos Redactores do jornal
lémica.
cepgio do problema —
eles representam um irreversível pro-
Ou-
rique --
nio era preciso invocar as modernas regras da críti
acusagoes que lhe sio feitas, nio vai recorrer aos modernos
outro lado —
e é este o seu objectivo essencial —
coloca
Mas a sua argúcia nio fLcapor aqii. Apcr atjiciar oual vai ser
escolha —
vitabilidade" —
ê ainda raais signif icativa uma vez que o co-
Herculano (105) —
auod ab omnibus, quod ubioue, auod æmper-,
argúcia de Herculano.
ele deixou.
ca, mas tanbém os homens que a fazem: o que Ihes faz correr a
do-os e
delimitando-os, dá-se ura primeiro e fundamental pas-
ta..." (112)
Uma outra questao, que ten a ver com a relagio cronolo
damental —
o facto de o testemunho ser coevo nio implica ne
mais —
to ao
contrario, ou seja por negligencia, ou seja por igno -
Se
[. .]. esses escriptores. ou os aue lhe succederan, no in-
me das cousas. . ." (116) 0 que está aqui em causa e, pois, mui
tes —
o recurso directo å autoridade ), Herculano como que
"
firraa que [. .]. toda a ressoa dotada de bora juízo e
religio
nio fez"(!2l).
Face ao eloquente testemunho de Fleury, Herculano colo
pela blasphenia e
pela calunia; nas nio renegueis da cruz. A
cruz está pura; a cruz será eterna. 3e esta gangrena aue cor
milagre de Ourique e
paradigma. A seu ver, a atitude do cle-
por a
sacerdotal no seu
conjunto.
Mas pode dizer-se que este opúsculo traduz, acina de tu
mo "bandeira" ideologica, a de
crenga no milagre Ouricue man
tém vitalidade, de que e prova evidente a posigio de Magges-
a sua atitude era relagao a Ourique a par de, corao ele diz,
na
tio de Ourique —
afinal o problema concreto que desencadea-
ra a polenica —
Paradoxalnente —
ou talvez não —
é sobre o problema
nos .
aparigão.
A "Carta Segunda" dos Sclennia Verba, datada de 6 deîfc
obriga. Sublinha ainda que esse era o único nodo en que lhe
notys.
não sei que mais, que por ahi me chaman os padres ignorantes
e nal procedidos, nio tiraria vantagem dessa falsificagio in
nar una polénica queo prorric assuntc nio merecia. 0 que Her
f undadas.
mo 0 agostinho concedia.
tradigio que nele teve origera; esta, por sua vez, funcionaco
Por seu turno, Herculano afirma que não era para a es-
quanio, cono e
para que a for^aram. Onde existe similhante ca
quen e para que fora forjada. NÍo vê V. S^ oue una tal regra
cia, honra, e atl anor proprio" (136) dos nossos naiores, que
árabes, una vez oue foi o islamisno a crenga oue nais profun
través da
"[_•.«) ncrigeragio, trabalho, sciencia" (149).
A historia cono prccesso de intelirencia do passaco de
ventado.
ra Herculanc.
digida a partir desta data ), una vez que pernitia fazer re-
en forma do milagre.
na Cronica de 111'--.
o
coloca, inplica una "logica de quantidade"; isto é, tor-
nais nodernos. cada un dos ouaes foi copiando o oue outro tL-
nha dicto. Todos elles junctos nao valen nals do cue o pri -
mente" (16;) .
Anulan-se, na perspectiva de Hercuiar.o, nio
rários (164) .
15T
desde o estudo que Jolo ledro Ribeiro Ihe dedica nas Disser-
Novos Testemunhos.
gao: para nio dar crédito a una anedota que circulava a pro-
seu tenpo" (l7"7). Faz, pois, una clara alusio a atitude toma
ocura individualnente .
seguro do irohlena.
cadência nacional.
ve ,
e oue elucida, ser. deixar dúvida, o verdadeiro sentidoda
era servico de Deus, nao tivereis vos hc.je en dla esta nui
"
logares £ J
. .
(186). Fundamentando-se nuna passagen obscura
lado de Sr. Jolo Xira en 1-15 nlo seria un pouco tardio para
cu-'a solidez e
experiencia denonstra de continuo aos oue se
Figueiredo diz, no
entanto, nlo saber se e o nesno
documento,
que terá eventualnente transitado para Alcobaga, ou se se tra
14 2
reproduz a
respectiva tradugão do original italia.no, ordena-
ser necessario, rois vos conhego, & confesso por Decs verda-
talvez o nai s
provável, Ko entanto, a existir no texto de
nantec
j^icj ,
e sobre tudo de falta de juizo" (192), a oue
do (195).
isto 6, a inexcquibilidade e
"
paco de actua^ao. A Carta Serunda" é de carácter diverso,
fcria, iesnontando con base r.o rigor de análise que ela impli
nos en grande ne
últino texto.
problenacon
Kerculano .
14 o
—
o milagre de Ourique e a ouestao do clero —
e faz incidir
a afirna^ão da
so retcrico e
apaixonado, nas nuna tentativa serera de fazer
do famoso sucesso.
S este texto que suscita o último opúsculo de Alexarúre
rias -ue ahi vãopela inprensa contra nln são un veu oue enco
privilegiada de que
ria" (208). Ela é, para Herculano, a arna
dLbaixo das loucas, elle deve seguir avante sen hesitar, en-
que viria a lune três ancs nais tarde. Aliás, ele proprio a-
tambem não ^ou honen eue gaste polvora con guerrilhas. Keidc
fHistoria ruído
suas ralavras: "A obra de
Portugalj fizera e
de irritada
[. J . . Frovocado injustanente, repeli essas agree
Ouricue e
a Sclc-ncia Arabicc-Acadenica e tanbén o seu fecho
da liberdade.
bra" (1).
falsa questao, que a luz da historia nio che gava ( nem podia
constituir-se tena au-
chegar ) a ter pertinência nem a como
capa
as
recuperaclo reacoionários: Ê
"
rega fundanental do avango e
contra a liberdade; que nlo é, oue nlo rode ser senlo una
"
o scertici sn.o
[. ."] . (l7).
Referino-nos nai s atrás ao problema da reacclo r^ncra-
crenga religiosa oue nlo ten pouco a ver con una certa cons-
se do iluminismo —
a noglo de que o progresso e a civiliza-
*ivel" (14), 2 assin aue tanto Lanennais ( ainda oue con re-
centissino
[T5énoires. T. IJ, o caraoter da reac-Io olerical e
absolutista a iue
inpianente e0i sacrificado o sentimento re
Mr. Guizot —
[. J
. . é a guerra declarada por una porgio con-
de se e de restituir
tcria grandes probabilidades propagar
que en
fos" (I7).
sonho
,
'
O* '
■■■ x- **
z
■
;
■
1 •
10
■
lembremos o
episôdioda
tantes. Kas elas podem ser vistas, sob outra perspectiva, nlo
1858, "3c ha una cousa nas obras hunanas oue tenha en. si nes
deve
j\««3'(27). Sla é, pois, un factor rrioritário de progres
Ihore e civilize
[...]" (28).
Kas sinultaneanente nanifesta una certa "vertigen" re-
iá r.ao cono
instrunento, nas cono arna, en que os seus do
é, na exteriorizaclo —
da liberda.de de pensanento. Com uma
"
limridez absoluta, eouaciona a questlo de nodo notavel: 0
0
manifestagio das iceias [...]. gcverno parece igr.orar que
de
facto particularnente visível nas suas interven^oes pole-
nista.
da vislo da vivencia de
parecen rarticularterte relevar.tes
e
insignif icante ,
nas que nele irserido assune as suas verdadei
ras prcporgoes.
Kao oue ele nlo veja que tanbém u-la interven indiví -
ca —
e o caso partioular de '.'.ar.r.essi Tavares. Kerculano sa-
17 £
honens ao contrario dc
perspectiva esses —
acen.tuar, na sua
Alexandre Herculano
oue a provocara
—
nas essencial nente de caracter ideologico
trário, a deuúncia —
através da historia, rassada e presen-
te —
da subversao daouilo ciue considera ser a verdadeira croi
afinal, un vecfor-cha
te. Daí oue r.ele seja senpre ratente a entrega en defesa da-
ouilo oue
acredita, de que resulta, em parte, a noglo do de-
crengas ,
condenara radicalis
na linguaíren de ressouâncias bíblicas, o
violentas exclusivas ha
gas. ["•••] Ser raixoes e nao as ener
dade do milagre.
aue ele rrecisa de crêr, ouardo [?icJ mais nlo fosse ao ne-
1
cisno e
pela incredulidade :
"£...] cada dia da vida nos des-
cício da liberdade .
to ha de negro e
abjecto no coragao hunano, nos declara-.os cue
o nio sê-lo
somos, nerr>. esperamos nur.ca. [. ..] Falanos de
mente irterdito; por isso rara ele a obra de Syron sc' pode
sua inconrreensao —
las ideias cue Ihe surgem sen transparencia. Neste caso con-
-
Sin Antithese -
Nlo Slnthese -
Sin e Nlo" (8).
No canpo reĩigioso c rroblena pode colocar-se de nodo
sobre Kerculano.
e caso
no o terror ou o ôdio —
no funco, a paixlc —
, não estáain
"
creno a v 12) .
o-;e Kerouĩano nlo aceita, e nais, nac rensa ser pcssível, po^
do honen (15 ) .
necessária —
una concilia.c!o entre Antonio Jose Saraiva, oue
ciolorica que deve ser estudada cono tal, neragao essa aue,
calismo de Herculano. E e
justanente nessa nedida nuito cla-
ta a Jose Fontana.
deran-se" (29).
nanti sno f. .
.]
"
(30). Tan.bén Silva Cordeiro faz una leituraæ
tretanto catholico-liberal —
d'esse catholicisrao romanesco
que os hunildes e
pequeuos deixam em cada ano de vida rara
cos, aue eles medem por gratas recordacoes o caminho oue an-
4 feita.
193
, a análise e a conrreensao da
concilia con o
catholicisno, enbora o sacerdocio hierarohico,
arvorado por notu-rroprio en juizo das instituiqoes sociaes,
hlo de desarparecer.
nova
f, .]. Sntao o christianisno e a II-
(79).
Un dos anseios de Herculano será justaneute reencontrar
tan
bem —
coutra a religilo, e
por seu turno o ronantisno é ori
ls.hu -
pics-chave do catolicisnc —
a inutabilidade dc dcrna —
,
en
re
tissecular.
a historia cono
0. Introdugio
Fonseca Pereira.
no —
o ataoue a que foi sujeito no púlpito —
, P^Caetano
culano.
testantisrao, raanifesto ou
solapado" (4). 0 penaamento do P£
Recreio insere-se pois, sem qualquer dúvida, na atmosfera ul
202
lano (9).
(n).
raoria colectiva e
decifragão de um destino coraum.
1. A aparigão de Cristo nos carapos de Ourique —
verdade, ve
rosimilhanga e funcionalidade
de Alexandre Herculano.
cidade do facto: "Sem que pois nada confieraos era nossos re-
continuidades cronologicas —
simultaneamente uma das obses-
veracidade.
gSo a que deu origem velcula-o "tal como aconteceu". Por is-
sua origem [•••J foi havido por grande, sem precisar da tra-
creio era dois dos seus opúsculos (11) sublinhara com ênfase a
diglo de Ourique —
corao uma possível mistificaglo 4 algo qie
(21).
desmentível historicidade .
glo divina, que Herculano nega, nao apenas neste caso concre
sos tem de ser encontrada uma causa fora do comum: "E poraue
poderá dizer. —
rias os successos
extraordinarios, de que ella fora especta-
os
achincalhasse, admittindo so en suas paginas aquillo que
unicamente coubesse na
esphera comum e ordinaria dos aconte-
cimentos; uma
Historia, digo, desta tempera, que apresentas-
se o monstruoso phenomeno de insensatamente excluir o seu
como 4 o caso da
mento-chave da nacionalidade
portuguesa.
Nlo sio, com efeito, facilmente dissociáveis as duas
ve nlo modelacao
so para a
política, como para a
explicita?So
da especial protecgSo divina ao país. Mas simultaneamente, j&
algumas consideracoes.
delicias dos que nellas crêera, suppondo quanto cada uma des-
mais os obriga a
respeitar a Deos, origem donde todas
julgara
partera. Se víra, dizemos, temera de certo tocar em tlo mimo-
religioso que, corao fica bera patente nas palavras que Magges
si Tavares dirige Herculano, tem
a uma inequívoca diraensSo so
á_t:
crenga era Ourique deve ser conservada pelo lugar único que
de quasi sobrenatural da
parigao Carapo d'Ourique, no come<jo
Monarchia, fosse para nos o livro fechado a sete sellos, de
que nos falla o Apocalypse, e nSo quizera que por forma algu
to, por ser mais logico o que nos conta do que natural o que
nos nega, nem por isso sempre convence. A tradicgio pelo con
cora que tenclo e para que fins" (^6). 0 desprezo pela tradi-
caso de Ourique —
a passagem dos séculos legitiraou e tornou
ideologicamente actuante.
2
posigSo de Herculano.
[• . .1 na
manente e carismática.
ta muito distinta.
ret, "Tous les peuples ont besoin d'un récit des origines, et
extraordinário, do excepcional —
em suraa, do diferente em
gens da nacionalidade .
seus herois,
no a curaprir.
Independencia
conserva-se serapre na naglo que uma vez o foi, e a perdeu pe
la forga estrangeira [...]; raas sera estas circunstancias, os
único e
extraordinário, podia erigir-se como a verdadeira cau
zinho tao poderoso; por isso, tem de existir uma causa sobre
natural —
nência.
da derrota de 1580.
segunda fundagSo.
va, até certo ponto, com personalidades como JoSo Pedro Ri-
humana nao é, nem pode ser apenas ura contínuo de sucessos "ncr
—
com a respectiva legitimaglo divina, a sua negaglo signi-
fica o caos, devido a destruiglo da tradiglo fundadora. Ain-
naglo.
quer facto, por mais logico o que nos conta do que natural o
a grandeza da nagSo.
de ignorar-se.
moraento era que o Papa Bento XIV, em 1753, concedeu que a sex
Ourique.
grande medida, a
polémica, que so pode entender-se devidamen
te enquadrada no moviraento ultraraontano europeu.
ja parecia seguir "Era que tempos estaraos nôs? Para onde canri
No entanto —
e ao contrário do que nos parece suceder
cora Herculano —
esta preocupaglo pela reacglo reĩigiosa nlo
chia, e o Rei dos Reis" (34), numa clara alianga que consa-
lidades.
lémica,
porque elas re
presentavam bem mais co que meras posigoes da es.fera intelec
ou
por isso mesno —
a roleni
viu envolvldo de
ao longo todo um percurso público e
cívico,
a polémica sobre o
milagre e a batalha de Ourique suscita,
pois, algumas reflexoes para ĩá da paixlo que no inediato a
262
de tur
temporaneidade" (2), a questlo Ourique parece, por seu
o dela.
teve de essencial —
como sintoma da reacglo ultramontana e
gao primitiva —
o milagre de Ourique.
posigSo de Herculano —
a noglo de que a poléraica se configu
ga se
encontrava, na época era que a poleraica se desenrolou ,
Ita voluraus per nos, et per seraen ejus poct nos" ( Cortes de
mais profundo —
a substituigio de um modelo justif icativo
da nacionalidade por outro de carácter totalmente diverso,no
qual -
e é neste aspecto que nos interessa agora incidir —
gre corao facto possível; o que ele nlo pode 4 ser erigido co
glo, repugnam a
inteligência e å razlo. A proposito dacrenga
comuraraente aceite da converslo quase iraediata dos godos ao
lagre, que 4 o
impossível, separou-se do indubitavel, e a ra
zSo forgadamente o
rejeita como advena e
peregrino. Aqucra
das fronteiras da revelacao nlo ha raiiagres: ha ignorancia
ou raentira" (6).
ciosa motivos
por conjunturais, políticos ou outros, do fac-
to insolito e em si inverosímil é
que sempre o nilagre. Re-
ta concepgSo e
explicaclo da nacionalidade nlo encontrasse un
tendimento da nacionalidade.
dar, como um santo relevo, ao symbolo que mil vezes nos tem
conduzido a victoria" (9).
de patriotismo e
fé, traduz uma concepglo particular da pá-
tria e da historia, em suraa, de um passado que, potenciando o
-
Nas citacoes das obras consultadas, omite-se a edito
-
Sendo em grande número as citagôes das obras de Her-
-
Ås obras cujo título, pela sua extenslo, se torna di
tegralmente.
271
Introdugao
1. Palavras prévias
no manejar "conceitos e
processos criticos habituais na cul-
obra circulavam.
Introdugao
p. 3.
de exemplo.
p. 3.
(17) P£ Rodrigo A. de Alraeida, Conselhos Araigaveis, Tentati-
Arabico-Acaderaica.
riodico -
0 ĩortuguez -
N9 193. Anno de 1853, Lisboa, 1857.
(3) ibidem
(4) ibidem, p. 4 .
(6) ibidera. p. 3.
(8) Sem
pretendermos alargar-nos sobre este problema, pode-
ríamos dizer que é quase como se o processo fosse o inverso;
nao 4 o f acto que dá origera a tradiglo. mas esta que "funda-
gia, 181* .
(14) Vide Antonio Lucio Maggessi Tavares, op. cit., pp. 22-23.
(22) Eu e o Clero, p. 8.
ibidera.
(24) ibídera.
(25) ibidera.
estrategia de Herculano.
(32) ibidem.
(42) ibidem, p. 3.
pp. 140-141.
(55) ibidera.
(56) 0 desagrado do jornal A Naqlo pelo título do opúsculode
A. Herculano 4 exemplo da atitude geral de reprovaclo que tan
(57) Eu e o Ciero. p. 5.
(62) ibidera.
(63) ibiden. p. 6.
citadas críticas que S. Bernardo dirige ao
(64) Acerca das
7-8.
(65) ibidera, p. 9.
(66) ibidem.
(67) ibidem
(68) ibidem.
do autor,
qualificaglo em questlo.
blinhado nosso.
redactor de A Naglo.
para esta obra, que nos parece modelar, no seu artigo "Ironie','
(85) Sobre este académico, vide Dicc. Bibl., Tomo IV, pp.168
-169.
III, p. 42.
Tomo I, p. 190.
do nosso trabalho.
(98) ibidem, p. 4.
(99) ibidera, p. 3.
(101) ibidera. p. 8.
(102) ibidera
(103) ibidera
291
te, e por todos, quem pede para crer ou deixar de crer fac-
fiéis para acceitarem uma parte das suas crengas, nlo abdi-
nhado do autor.
(107) ibidera, p. 9.
(112) ibiden. p. 9.
tiens.
(123) ibidem, p. 7.
(126) ibidem
(127) ibidem
laglo com este ob.jecto. Lisboa, 1850, pp. 14-16. Afirma Tava
res a dado passo: "Quando appareceu pois a tradicglo? Qual a
(140) ibiden
(143) Herculano diz por exemplo: "A patria deste mundo 4 nos
lagre, ousou dizer estas palavras: que nlo era ao homem que
crê firmenente que Jesus Cristo devia mostrar-se, mas que aos
herejes e apartados dessa î4 ou a ela contrários é que era
(166) Solemnia Verba, II, pp. 44-45. Sobre este assunto vide
gao; eis por que tenho ate hoje reluctado era descer a discus
sio e special dessa raentira ridicula, com que os pregadores vã>
ludibriar 0 povo na cadeira do evangelho. Estas raiserias e
caem? Sobre homens que aliás têm direito a reputaglo que ad-
(173) ibidem
(174) A este respeito vide Dicc. Bibl., Tomo I, pp. 228-229 e
raa, 1769.
duzao a
pia crenga de tlo portentoso caso, Lisboa, 1786, pp.
5-6.
apreciaclo de-
tor do opúsculo, que Herculano altera na que
ta 4.
"Carta Segunda" :
"
C. . .1 estribando-se [0. de La Marche] na
-37.
(186) Gomes Eanes de Zurara, op. cit.. cit. por Herculano, _&_-
lemnia Verba. II, p. 52. Sublinhado por Herculano.
242. Mais tarde, era 1632, Frei Antonio Brandlo, autor da *ar
te III da Monarquia Lusitana indica expressaraente Frei Ber-
talvez
que
o documento entlo encontrado era o traslado do proprio origi
nal feito pelo Rei em Coimbra, que ficou em Santa Cruz e se
^07-337,
ba, apos referir qual foi a intengSo que Ihe presidiu, anun-
p. 4.
(205) ibidem, p. 5.
(206) ibidem
(207) ibidem
(208) ibidera, p. 6.
(209) ibidem. pp. 6-7.
(210) ibidem, p. 5.
257.
3. A polemica como denuncia do ultramontanisrao. 0 exercício
da liberdade.
ros [...]. Nos perguntâmos, cora um certo susto, como nio se-
luto, uma vez que para Herculano a crenga é uma atitude viva,
dinâmica participaglo do
e de ser na sua essência, para aléra
da fidelidade dogmática. Vide "Do Christianismo II", in Com-
Sublinhado nosso.
I, pp. 260-261.
Alexandre Herculano
(1871).
(20) ibidem
Tomo I, p. 19.
cia do catholicismo —
o dogma —
mantinha-se intacta, "A Su
(45) ibidera, p. 7.
(46) ibidem, p. 6.
II
0. Introduglo
ta ao Redactor do Periodico —
A Nagao. por A, Herculano, Iis
Lisboa, 1850, foi muito atacada tanto por Souza Amado como
pe
lo P£ Francisco Recreio, por nela verem uma explícita censu-
verosimilhanga e funcionalidade.
tico, de 1853.
(2) Data cue hoje pode ser recuada até ao início do século,
mais preci samente 1416, com a descoberta do texto latino me-
Docunentada.
blinhado do autor.
336-343.
e documentada, p. 3.
(32) ibidem
(33) ibidem, p. 3.
(36) ibidera, p. 7.
e docuraentada, p. 29.
(40) ibidem. p. 7.
(41) ibidera. Sublinhado do autor.
Docunentada, p. 9.
ponto da questlo.
17-18.
cit., 20.
(14) José Diogo da Fonseca Pereira, op. p.
(20) ibidem
tor.
e docunentada. p. 7.
deste trabalho.
mensagera, p. 43.
Verba, p. 6 .
goes dos homens ou do povo" (p. 91). Ora esta e uma das ca-
245-251.
de Ourique, p. 7.
BIBLIOGRAFIA
331
tucos sobr^ o
historiador, obrigou a um critério de estrita
selecfividade, baseada sobretudo na qualidade, optando-se pe
la nao incluslo de obras que, ainda que por nos consultadas
se arresentam hoje extreman.ente datadas e
ultrapassadas.
I. FONTES
1. Corpus da polénica
nal, 1850.
CARVALHO, Tomas de ,
A questlo do Clero. Cartas de ura aldeao
CASTELO-BRANCO, Carailo ,
0 Clero e o Sr. Alexandre Herculano.
nal, 1851.
guez —
NQ 193. Anno de 1853, Lisboa, Typog. de An
de Souza, 1850.
de Souza, 1850.
trand, s/d.
José
Bastos & C§ -
Livraria Editora, 5? ed,, s/d; II ,
José.Bastos & C^ -
Livraria
Editora, 2? ed., s/d; VIII , Lisboa, Antiga Casa
Bertrand José Bastos ft C« Editores, 2* ed.,g/d;
-
-
Livraria Edi
tora, 1? ed., 1908.
3. Textos cronísticos e outros
BRANDÃO, Antonio ,
Terceira Parte da Monarohia Lusitana. Que
conten a Hiotoria de Portugal desdo Conde Don Hen-
ricue, até todo o reinado del Rey Don AfonsoHenri-
ques. Dedicada ao catholico Rey Don Felipe tercei-
1786.
GALVÃO, Duarte ,
Chronica de EI-Rel D. Affonso Henriques, Iis
lOT6.
Ihoens, 1797.
1, Obras gerais
ALBUQUERQUE, Martim de ,
A consciência nacional portuguesa.
Ensaio de historia das ideias políticas, I, Lisboa,
s/ed., 1974.
ARIÊS, Philippe ,
Le temps de lfhistoiret Paris, Ed. du Ro-
cher, 1954.
BARBÉRIS, Pierre ,
"Mal du siêcle ou d'un romantisrae de droi
litique —
1815-1851. Colloque de l'ficole Nornale
BÉNICHOU, Paul ,
Le temps des prophetes. Doctrines de 1* age
CIDADE, Hernâni ,
A literatura autononista sob os Filipes.Lis
boa, Sá da Costa, s/d.
Coimbra, 1953.
FERRAZ, M. ,
Histoire de la Philosorhie en France au XĨXîsié-
cle. Traditionallsme et ultramontani srae, Paris, Di
dier et Cie Libraires-Editeurs, 1880.
FERREIRA, Albertp ,
Estudos de Cultura Portuguesa (séculoXTX)
Lisboa, Moraes Editores, 1980.
FINLSY, Moses I. ,
"La Constitution des Ancêtres" in Mythe ,
FRANQA, Jose'-Augusto ,
0 Romantismo en Portugal, Li sboa, Li-
vros Horizonte, s/d.
FURET, ^rangois ,
"De 1» Histoire-re'cit å 1 'histoire-problê-
ne" in I'Atelier de 1' histoire. laris, Flamnarion,
1982, pp. 73-90.
e
historiografia, Lisboa, Sá da Costa, 1971.
HAL3*ACH5, Maurice , Les cadres sociaux de la nenoire (Pref.
de F. Châtelet), M.outon-Paris-La Haye, l?76f (l*ed.
1925)
ROY, Claude ,
Les soleils du ronantisne, Paris, Gallinard ,
1981.
BEAU, Albin S. ,
"A historia na concepgão de Alexandre Hercu
BEIRANTE, Cândido ,
Herculano em Vale de Lobos. Santarém, Ed.
da Junta Distrital, 1977 .
1971
CORDEIRO, J. A. da Silva ,
A crise en seus asrectos raoraes ,
-
1977. Porto, Biblioteca Pública Municipal, 1979,
pp. 69-83.
1977. Por-
fo, Biblioteca Pública Municipal, 1979, pp. 45-68,
SfiRGIO, Antonio ,
"Alexandre Herculano e o troblema moral e
SERRÃO, Joel ,
"Alexandre Herculano" in Dicicnario de Histo-
BROCHADO, Costa ,
"Tentativa de canonizagao de Sl-Rei D.Afon
so Henriques" in Anais da Academia Portuguesa de
CABREIRA, Antonio ,
"A Batalha de Ourique, Replica a um co-
s/ed., 1925.
CASTELO-BRANCO, ^ernando ,
"0 lendário de D. Afonso Henriqæá1
in sep. das Actas do Congresso ĩnternacional de
Etnografia. Santo Tirso, 10-18 Julho de 1963, vol.
III, Lisboa, Junta de Investigacoes do Ultramar,195.
LOPES, David ,
"A Batalha de Ourique e Coraentario leve a uma
-
374.
VASCONCELOS, Antonio de ,
"0 escudo nacional português (len-
da e Historia) in Lusitania. Revista de Estudosĩbr-
VEIGA, Pedro ,
As Cortes Lendarias de Alraacave, LousS, s/ed.,
1930.
c:-'ĸC:>
)
■■
'v\>
ĸ'1