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V - P7 .

;
•• • 1

.. O ÇONCÍITO DE H íSTÔttA
i:, ; Xi W : : '•
J
d) Vita memoriae, lembrança do n â o passado. Se as metá fo- V

ill
ras pticas estão relacionadas com a etimologia correta da ioropía
ó
grega , que deriva de oída, ía/ tev (“ eu sei ” , aparentado com “ video ) ,
as met á foras din á micas estao relacionadas à etimologia de Plat ão,
” A configuração do moderno
pintada em tons irónicos.265 A transição de urna forma de concep
- wm mm conceito de História
çã o para outra est á esclarecida em Besold: “ Est vita memoriae, quia ,
quae priscis novique secutis acdderunt , facile e momoria excidere solent.
Reinhart Koselleck
Proinde memoria sahtiare quase remedium snae infirmitatis et mconstantiae • .•
ex Historia haurlt: et veluti reviviscit, cum in illa tanquam in ampl í ssimo )
flpi
aliquo theatre et specula tersissimo nitidissmique, praeteritorum temporum
acta contemplatur, Unde Historiam à nò TOO ioxácdai xt ) v zfjç pvfjpt ç : \
¡)i)otv Platonem derivasse qjunt, quod memoriam labilem ac varilian tem} , S
:

1 . O percurso histórico do termo


)
ceu perennem jitmum, sistat” 266 . il I y

É nesse deter e segurar a memória queja se pode compreen


- Í¡gf|s Quando hoje se fala de “ Hist ória ” , estamos diante de uma ex-
der a intenção de Tucídides de criar, para além da utilidade e do =.3m M; :. .
: pressão cujo significado e cujo conteúdo só se consolidou no último
prazer, uma “ posse para sempre” “ Kxijpa ze èç ale ) .267 Faz parte terço do sé culo XVIII. “ A História” é um conceito moderno que
” M i¡ si
da teoria do conhecimento da Era Moderna afastar-se da teor
da reprodução e encarar aquilo que é reconhecido como urna
ía ¡ mm - apesar de resultar da evolu çã o continuada de antigos significados
da palavra na prá tica , corresponde a uma configura ção nova .
construção, como produto criado pelo espirito que reconhece . No Naquilo que tange à História do termo, o conceito se cristaliza a
conhecimento histórico, essa visão deve ser atribuída primeiro a partir de dois processos de longa duração, que no final v ão confluir
Vico , e depois sobretudo a Hegel e a Humboldt. Conseguir que
Mi
ela também $e impusesse na pesquisa histórica, esse foi o esforço
: e, assim , desbravar um campo de experiência que antes nã o podia
ser formulado. Por um lado, trata-se da criação do coletivo sin-
apaixonado de Droysen. “ Não um quadro do acontecido, mas gular, que reú ne a soma das hist órias individuais em um conceito
aquilo que do passado... ainda é n ão passado” constitui o objeto da comum. Por outro lado, trata-se da fusão de “ História” (como
pesquisa que deve ser obtido através do processo da compreensão. E
“ o fato pesquisado encontra -se numa relação com as condições em
vm i -/
Sm tmr
- conjunto de acontecimentos) e “ Historie” (como conhecimento,
narrativa e ciência hist óricos).
que ele se insere, seu contraponto, sua crítica e seu julgamento” . 266 a) O surgimento do singular coletivo. A configuraçã o fe-
sm
minina no alem ão antigo “ gisciht” e no alem ão medieval “ geschiht ”
as

(ao lado de “ sdhl” ou “ schiht” ) deriva do alem ão arcaico “ scehan*\
verbo que deu origem a “ geschehen” [acontecer] e significa “ acon-
' ::Pm tecimento, acaso, processo” ; e no alem ã o medieval, significa ainda:
M '
“ aquilo que faz parte de uma coisa , característica, modo” [Weise] ,
2W
. .
FRISK , Hjalmar, Gtiethisdies elymcloglaha IVòrtabuth (vol 1) Heidelberg , I , ,
.
2 ) 1970, p 357; PLATON. Knttylos , 437 b.
960 p 7*10; (voK mm
mm e, de forma mais geral: “ essência [Wesen] , coisa” ; e ainda , sobretu -
246
Ü ESOLD, edição de 1697, p 394. . do no alem ã o do in ício da Era Moderna : “ acontecimento , coisa”
w THUKYDIDES, t 22. . WM [Sache] , mas também “ aquilo que acontece a partir de alguém,
.
DROYSEN Histotik (c (. nota 236), p. 316, 20 c seg., 166.
m
íft
i ato, obra” , além disso: “ uma sequência de acontecimentos , acaso,
mm Um
¡i
.

118
a 119
O CCNCMO DC HsJÔítA
1
A CONnGOMÇÂO DO MOD5WO CONCHO D 2 HtfTÓSlN
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k
designio **; e, finalmente, no alemão do inicio da
í]
definindo gradativamente o â mbito humano do fazer e do padecer
Era Moderna ,
como “ historie” : “ narrativa daquilo que aconteceu **. Com isso,
foi se
;
Ü
mi m
Em 1775, Adelung registra os dois empregos paralelos:; “ À; V: -:
História , plur[al] et nominativo] singular]... Aquilo que aconte ; V:
ceu , uma coisa acontecida , tanto em sentido mais amplo, qualquer . V
^ ‘

a expressão podia substituir pragma ( a , res gestae, gesta


, fada , accidens> \Éf|Kl mudança , tanto ativa quanto passiva , que acontece a uma coisa” ; .
casus, eventus, fortuna, e outros equivalentes. Em torno do TM ftk
ano 1300, : mm te :; Em sentido “ mais restrito e mais usual **, a palavra visa a “ diversas: -
veio se juntar à forma neutra “ daz geschichte” , que foi se
e ainda constitui a forma usual em Lucero, corn
difundindo isis wm*
:“ 8v VI .: mudanças interligadas , as quais, tomadas em conjunto , perfazem
“ acontecimento, classifica ção, ordem **.269
os significados de; mm m
,

um todo... E exatamente nessa compreensão, ela se encontra , muitas


A partir da í, “ die Geschichte” [“ a História**] (ao lado de m vezes, de fornia coletiva e sem plural, para vá rios episódios acon -
isp m tecidos, de uma mesma espécie’*.274
Geschicht” , e, desde o século XV, “ die Geschkhten” [“ as Hist “ * *
die
m
foi, até pleno século XVIII, uma forma plural, que designava
de histó rias individuais. “ A Histó ria são* * - lê se em
órias ])
a soma
mm
Sik
í:
Quando Adelung se deu conta do novo coletivo singular ,
acabou definindo também sua função, qual seja , a de unificar
- Jablonski ,270 em
11: fe um série de acontecimentos em um todo inter-relacionado. A
-
1748 “ um espelho das virtudes e dos v ícios através da qual
se pode
11 18 “ Histó ria ** recebeu um significado que ultrapassava os diagnós -
aprender, a partir da experiência alheia, aquilo que se pode
se deve deixai de fazer; elas sã o um monumento tanto das
*

quanto das louváveis**. Da mesma forma, Baumgarten


fazer ou
m ás ações » «m
- SM1
ticos e os fatos individuais, como a Historie ihiminista gostava de
destacar. Assim , em 1765, Carl Friedrich Flõgel escreveu uma
define, em 1744, 0â Geschichte des menschlichen Verstandes [História da razão huma -
na velha tradiçã o271: “ A História sã o, sem d ú vida , a
parte mais educativa na], na qual examinava as causas “ que a levavam a evoluir e a se
e ú til, o mais engraçado da erudição**. E inclusive Willi
Herder utilizou , aperfeiçoar” .275 Em termos modernos, se diria que se tratava de um
eventualmente, “ a História” no seu significado aditivo, plural.272
Do ponto de vista gramatical, a velha forma plural “ a Histó * m mí ;® -
esboço antropológico e social histórico, que pretendia explicar o
ria’ surgimento do homem racional. Que tais processos e sua an á lise
podia agora ser lida também como feminino singular. Mas do WB fossem chamados de “ Histó ria** soou estranho, no in ício. Ainda
vista conceituai, é possível reconhecer um ato consciente
ponto de
na migração
m
mm em 1778, um resenhista criticava: “ A palavra ‘História *, que está
do vocábulo “ a História * * do plural para o singular. Essa
migração, na moda , constitui um abuso formal da linguagem , já que na obra
porém, começou apenas na segunda metade do século XVIII a
(de Flõgel), no m á ximo, aparecem narrativas nos exemplos* *. O
276
de um grande n ú mero de escritos histórico-teó ricos. E
é o coletivo singular que designa a soma das Histórias
, partir
desde ent ão, Hl significado narrativo ou exemplar da palavra , que fora dominante
individuais até então, e se referia a histórias individuais, foi perdendo espa ço.
como “ essência de tudo aquilo que aconteceu no mundo* * (
Grimm).275 111 £
® V; :
O novo slogan expresso pela palavra “ História” identificava um
grau de abstração mais elevado, que podia caracterizar unidades
.
'
fS % sobrepostas de movimento histórico.
.
GRIMM , vol. 4/1,2 1897, p. 38S7 c seg .; cf. BENECKE; Ü

2>i
2/ 2), 1864, p. 115 e segs . *
JABLONSKI 2. ed., vol. 1, 1748, p. 3S6. 2. Aufl.
,
M LLER; ZARNCKB ( vot .

Tradu çã o da Hislotie gerai do mundo, cm alem à o por Sicgrmmd


as a. -
•.• ; :;1
“ A Hist ó ria ” tinha uma complexidade maior que aquela das
histórias individuais com que se lidava até ent ã o. O conceito subja-
1) , Halle, 1744, p. 59 ( Vorrede); cf. GEIGER , Paul E.
.
Jacob Baumgarten (vol.
Dos Wort MGe$thUh( tn nud stint
j 11 cente à “ palavra da moda ” pretendia apreender essa complexidade
3,2
Zusammenseizung. Freiburg 1908, p. 16 (tese de doutorado).
HERDER. Ü bcr die nettere Deutsche Literatur (1767/68). í n: Sdmtlichc Woke (
vol. 1). 1S77,
llffi
•S!8 í :
p. 262.
37J
...
Cf. GEIGER , Dos Won "CíIíWWIíí" 9; GRIMM, vol 4 ,
MM M< ADELUNG , vol . 2, 1775, p. 600 e seg.
.
. /1 2, p 3863 e seg; cf. HENNIG , FL ÕGEL, Carl Friedrich. Ctschhhie des menschlichen Verstandes. Brcíhu , 1765 ( Vorrede).
Johannes. Die Geschichte des Wortos "Geschichte*1. Deutsche Vitrteljahrcsschrifl ¡ir m Resenha da 3* edi çã o (1776) da obra citada na nota 275. Allgemeltie deutsche Bibifolhek , n. 34 ,
,
Uteraturtvhsensckafi und GtiitesgeschtchU n . 16, 1938, p. 511 esegs. / 8:
1778, p. 473.

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ó isso , se explorava uma nova “ Uma série de acontecimentos é chamada uma História” ,
-
experiência de mundo exatamente a da Hist ó ria. Um
ind ício define Chaldenius, em 1752.280 Mas “ a palavra ‘sé rie' aqui nã o sig -
seguro para isso são as vá rias formas de qualificação
: “ História em l- f nifica ... apenas uma multiplicidade ou grande nú mero; mas mostra
si e para si ” [Geschichte an undfiirsich], “ Hist ó ria em
I si ” [Geschichte também as relações entre eles, e mostra que eles formam um con -
ansich) , [a] “ própria História” [Geschichte selbst] , ou Hist
“ ó ria como iÍ iÉ»S junto”. Essa visão de conjunto - que, em geral, era pragmaticamente
.
tal ” [Geschichte iiberhaupt ] At é ent ã o, fora impossí vel
interpretado como um emaranhado de causas e efeitos - colocou-se
termo sem um sujeito - “ história” se referia a Carlos
imaginar o
Magno, à life
[ num n ível mais elevado que os simples acontecimentos e episódios.
I Fran ç a , etc. Nas palavras de Chaldenius: “ Os acontecime
portanto, també m a História, são mudan ças. Eles,
ntos, e,
poré m , pressu -
V —
“ É a grande História” como disse Planck , em 1781 que, “ como
uma planta trepadeira , perpassa muitas histórias pequenas” .281
-
põem um sujeito, uma essência duradoura ou uma
Ou ent ão, uma história - como narrativa visava
subst â ncia” .277

a um objeto
\ Para a Hist ória do conceito, foi decisivo que a quest ão dos
efeitos nã o foi interpretada apenas como uma constru ção racional
que fazia parte dela . Isso mudou tão logo os
historiadores ilumi-
nistas começaram a tentar apreender a “ Hist ó ria em si . A
” “ his-
mm
d - é sobre isso que trata a próxima se çã o mas que ele tenha sido
reconhecido como um campo autónomo, que, na sua complexidade,
tória em si e para si” podia ser pensada sem
um sujeito que lhe orienta toda a experiência humana. A História sofreu uma alteração
fosse atribu ído. Comparada com a facticidade
das pessoas e dos wÊm lingu ística , que a transformou no seu pró prio objeto.
acontecimentos, a “ História em si ” constitu ía um metaconceit Em 1767, Iselin perguntou se não teria sido melhor chamar
j o.
j* E evidente que, no in ício, essa guinada se referia apenas •3- I : - •
sua Geschichte der Mcnschheit [História da humanidade] de Von
ao
â mbito dos acontecimentos, como Gundling o formulou dem Geiste der Geschichte [Sobre o espí rito da História]. Segundo
r , em 1734:
“ A Historie em si mesma , quatenus res gestas complectitur; não agu ele, esse t ítulo “ nao ficaria mal para expressar mais claramen-
diza o ju ízo” - o que incluiria a lógica hist ó rica.278 -
Ou , como o te a intenção e o conte ú do da obra” .282 Assim , Thomas Abbt
expressou Haussen, com a palavra alem ã: “ A História em
e diante íê Ií fala metaforicamente da “ majestade da História” , contra a qual
. -
de $i é uma série de acontecimentos, ela n ão possui
rais, e, por isso, nao pode ser encarada como ciência 279
princípios ge-
” . Mas não
Ǥ -
nã o se deveria pecar, aplicando lhe uma interpreta çã o Ou en
t ão ele pensa que “ a Hist ó ria se desenrola continuamente, sem
Ij
se ficou imobilizado nessa contraposi çã o racional cessar, a partir do ponto de que partiu ” , e que ela , como um
de um â mbito .
de acontecimentos, e o trabalho científico com eles. corpo da natureza , possui causas e consequências ordenadas,
reivindicação de uma realidade por parte da História cresceu t
A genu í na
ão
«I#

possuindo, por isso , sua própria “ velocidade” 285 Em analogia .
logo ela passou a abranger mais que a soma de todos com o “ teatro do mundo” , Hausen podia falar agora també m
acusação reiterada dos iluministas contra seus antecessores
os fatos uma - mil do “ teatro da Histó ria ” , que teria influ ê ncia sobre os cora ções
fora a de r
que estes se haviam restringido ã enumeraçã o dos fatos. humanos.284 E , quatro anos depois, em 1774, Herder, “ em meio
Mm
, CHLADENí US
m .
CHLADEN Í US Alfamtlae Gcsshichtsmswní haft .. p. 7. . k
i
( PLANCK , Gottlieb Jakob). Gesdiidue der Entslehung, der Verãndtntttgen und difBildung unseics
}
ni
Johann Martin. AUgemdne Gesehieluswisiettscha/t, war
í nnen der Grundzu einer
nenen Einstcht in alten A / ten der Gelahrtheit geleget ivird. Leipzig,
1752 , p. 11.
Vi . L: proKfMnthchw Lefobegrijfs (voi. 1). Leipzig, 1781, p. IV.
in
GUNDLING, Nicolaus Hieronymus. Akadmlschtt Diseouis iiber ISELIN, Isaak . Tagebuch ( Di á rio), em l 6 de mar ço dc 1767, citado por HOF, UJrich Im. Isaak
des Fnyherrn Samuel von I; .-v:
Iselin und die Deutsche Spdtaufklñrung. Bero /Mu ñ ique, 1967, p. 90.
••

Pufendorffs Blnleitung ztt der Historie der vontehmsten


ReUheund Sfaalen. Frankfurt , 1737, p. 2.
m HAUSEN, CariRenatus.
Rede von derTheorie tier Geschiehte. In. VennlsdUtSchilftert ADBT, Thomas. Brief, dieneuesteLittcratui beteífend , 12 , 1762, p. 259, 196 (carta); ABBT, Thomas.
*

1766, p. 131.
*
. Halle, I® Vom Vornagder Geschichte. In: Vennbchte IVerkc (vol. 6). Ftankfurt /Lcipzig, 1783, p. 124 c seg.
M i& 3íí .
HAUSEN, C. R. Van dem Eittfluss der Gesdiidue auf das mensdilidie Herz Halle , 1770, p S. .
122
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123
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O CCWCfeTO DÉ H STóííA mmm
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A COHFKSlAAÇto DO MOOSÜfO GON&TO 0£ HfctÓPJÀ
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*
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a uma crise estranha do espí rito humano” - na qual se estaria desemboque na perfeiçã o, sem qualquer erro, pois "a História em

í
propôs "procurar o sumo e o cerne de toda História ” .205
Uma vez descoberta a História como autónoma e autoativa , a Is todos os tempos conseguiu vencer os mais obstinados equívocos” .289
Há motivos para enxergar nessa nova conceitualiza ção - que
ela passa a classificar sua pró pria representa çã o: "A classificação é a
própria História que nos fornece” .206 Mais, ela habilita o historiador
PiP
"
remete a História , como agenst a si mesma - a velada ou modificada
provid ê ncia divina, o que - naquilo que tange aos efeitos histó ri-
:-A
a esfriar “ a â nsia por heroísmo” , pró pria dos pr í ncipes, “ em especial Sp cos - est á correto. No sentido de uma História revelada por Deus,
.i
i
quando a própria História transforma os historiadores em filósofos” .287 : v Agostinho, por exemplo, havia constatado que as representa çõ es
.j Passo a passo, essa História também vai aumentando sua pretensão :i fc : históricas tratam de instituições humanas, mas que a própria His-
à verdade, a partir de seu genu í no e complexo conte údo realista. "A tória Ç * ipsa historia * ) nã o é uma instituição humana. Pois aquilo
9

isli
í própria História , quando vista em geral, nos d á a melhor indica ção »m que aconteceu e não pode ser revertido, isso faz parte da sequê ncia
das condições de todos os seres sensatos, morais e sociais” , escreve m dos tempos ("m ordine temporum habenda sunt” )% cujo fundador e
. i
Wegelin, em 1783. O Direito Natural e o Direito Internacional
Publico se baseiam nela , liberdade e moralidade n ão são viáveis sem P&
m- administrador seria Deus.290
Não h á d ú vida de que a historicidade de Jesus como fonte
ela. "E daí que surge o conceito do mundo moral, ou da relação :&k m empí rica da revela ção contribuiu em muito para dar ao conceito de
Histó ria uma pretensão enfá tica à verdade. "Pois o sacramento ou
'
fiV. )
: mm fit.v:-
v
entre todos os seres pensantes e ativos. Esse conceito geral não é outra
am ^PJp a História , e as palavras, / quando se fala do sacramento, / sã o duas
coisa que a expressão da História como tal ” .288 A fundamentação do
íluminismo histórico em uma História n ão mais derivada, mas na
m :
coisas diferentes” (Lutero).291 Hamann já utiliza o singular coletivo,
3 *»
“ História como tal ” , tinha se definido como conceito. * ,

quando definiu "a Hist ória , a natureza e a revela ção” como as trê s
A História se eleva a algo como uma ú ltima inst â ncia . Ela se fontes de conhecimento sensato, ou ainda mais, quando confronta a
mx -m
transforma em agente do destino humano ou do progresso social. Histó ria com o acontecido: "Sem autoridade, a verdade da Hist ória
(desaparece) junto com o pró prio acontecido” . Foi, sobretudo,
292
Nesse sentido, Adam Weishaupt - abstraindo conscientemente :
ü#
de acontecimentos individuais - escrevera sua Geschichte der Ver- com Herder, e, no campo su á bio, com os pietistas teológico -
voUkonwtrwtig des menschlichen Geschlechts (História do aperfeiçoa- -federais [ fõderaltheoíogische Pietisten)* que a moderna utilização
mento do gê nero humano]. "Esta foi uma Hist ória sem ano nem
;
nome” , registrou, com orgulho; "a História do surgimento e do ri>: n9 WEISHAUPT, Adam . Geschichte der Vewoltkomnntuitg des menschlUhen Geschlechts (vol. 1).

desenvolvimento de nossas paixões e de nossos instintos” , que , de HI Prankftm / Leipaig, 1788, p. 228 ,
n :,.. AUGUSTIN, De doctrina Christiana , 2, 28 (44), In: Cotpusehnsfiatusntm (vol. 32) , p. 63 (cf. nota 22) .
agora em diante, devem ser racionalmente controlados: “ Que agora • ..*& v* í>!
LUTHER , Vom Abendmahl Christi , Bekenntnís (1528). In: IVehnater Ausgabe (vol . 26), 1909 ,
se apresentem os atores e representem eles mesmos”. Mas a " própria p. 410. “ Dtnxt das sacramail addergescfticftt und die u'otl / so man vam sacrament redet / sind zweyahy\
mU ;> SM HAMANN ,
Johann Georg. Briefccincj VatersI (emtornode 1755). In: NADLER , Josef (Ed.).
Hist ória ” [Geschichte setbsí] continuará a cuidar para que tudo
Sã rmliche Werke (vol. 4). Vicna , 1952, p. 217; Golg 3 tha und Sclieblemini (1784). SamtlUhe
, .
We he (vol . 3), 19S1, p. 304; cf. Sdmtlhhe Wake (vol . 1) 1949, p. 9, 53, 303; SdwtIUhe Wake
-
(vol. 2), 1950 , p. 64.176 , 386 (“ Polemik gegeu den xharfslnnlgen Cldadinius polêmica contra
11

m HERDER . Audi eine Philosophie der Geschichte zur Bildung der Memdiheit (1774). la: o sagaz Chhdenius); Siimtliche Werke (vol . 3) , p. 311 , 382 .
.
Sãmitiâte Wtrkè (vol . 5). 1891 p. 589.
'

Mi O Piethmo foi um movimento religioso iniciado no s éculo XVI !, <iue pretendia fazer uma
“ Reforma da Reforma' , ao cuntrapor- se 5 ortodoxia reformista c aos seus excessos institucionais,
1

Still*
*** MOSHB1 M , Johann Loren* v. Gtschichte der Ktrchenvtjbtssemng im íechzehnten Jafohwidert
Leipzig , 1773, p. 4 (editado por Johann August Christoph von Binem). recuperando a import â ncia da subjetividade e da vivê ncia pessoal da religiosidade. A “ Teologia
federal ” entendia a “ História como a concretização da graça” divina , História <jue transcorreria em
,
(VOGT, Nikolaus) . Anzclge u/ le wir die Geschichte behandtlrt , benutztn und darstillen , .
we den cinco fases, a come ç ar na cr iaçà o narrada no Velho Testamento, deforma que a “ História divinase
Mainz, 1783, p. 19. VS; : O
transformaria em um d rama com sentido unitário” . JACOB, P. Fõderaltheologie. In: Ok Religion in
WEGELIN, Jakob. Btie/c ilbtt den We ,tlx àet Geschichte. Berlin , 1783 p 24 . .
, .
a Gwhtehí e und Gegemwrt { RGGj Tübingen: J. C. B. Mohr (Paul Siebeck) , 1957, col . 1520 (N. T) .
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da palavra foi levada avante. A efetividade da Historia recebe
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con-
ügg te
“ como se nao fosse a cronologia que deve guiar se pela História , -
r
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sagraçã o própria através da encarna çã o de Cristo.293
escreve: “ Finalmente, chegou a hora em que se come a
Wizenmann
ç a tratar
;
mas, inversamente, a Historia pela cronologia” .297
Com isso, Kant definira que a Historia é mais que a soma
a História de Jesus não só como um livro
i!
com sentenças para a
dogmá tica , mas como alta Historia da humanidade. [... .
de confirmar muito mais a Filosofía a partir da Hist
] Gostaria
ó ria do que
site
l# v:
'
temporal de dados individuais, que, em última instancia, se ali-
nham num tempo natural. A revelação de um tempo genuinamente
histórico no conceito de Historia coincidiu com a experiência da
a Hist ória a partir da Filosofía ” Um ú nico fato
n
novo conseguiria
derrubar sistemas inteiros. “ História é a fonte da qual deve ema
I “ Era Moderna” . Desde ent ã o , os historiadores est ão obligados a
nar tudo” 29 < j
- verificar relações que não se orientam mais pela sucessão natural
"
v • de gerações de soberanos , pelas órbitas das estrelas ou pela mística
O que caracterizou o novo conceito de uma Histó
life: . figurai do simbolismo numérico dos cristãos. A Historia funda sua


tal ” [Ceschichte überhaupt] foi sua capacidade de abrir
curso a Deus. Paralelamente, ocorreu a revelaçã
ria como
m ão do re-
o de um tempo
« « pró pria cronologia .
Já em 1767, Gatterer falava de “ sistemas de acontecimentos” ,
que é peculiar à Hist ó ria. Ele abarca - como destaca ; :
-
em oposição ao linguajar usual todas as tr ês dimens es
Chladenius,
õ tempo-
"
^
:smm
pretendendo, com isso, descrever o resultado para o qual o novo
conceito de História ainda não se havia institucionalizado: “ E ver-
mWi
rais: “ Coisas futuras fazem parte do historiar. (... ,
que o conhecimento do futuro, em oposição ao
] Pois, mesmo
conhecimento do ns» dade que sistemas de acontecimentos possuem seu pró prio percurso
temporal , mas ele não se orienta pela divisã o civil do tempo” .298
passado, seja muito limitado e breve, mesmo assim
perspectivas de perscrutar o futuro, n ão só através da
mas també m da astronomia e dos assuntos civis” , bem
temos vá rias
revelaçã o,
como da
*»*
m
: @P
Através de reflexõ es como aquela a respeito do tempo histórico,
o conceito de História incorporou o conte údo complexo de reali-
dade que acabou garantindo à “ própria História” [Geschichte selhst ]
“ arte médica” . “ E por isso , na doutrina racional da Hist ória ,
esse conceito deve ser tornado de forma tão ampla
que inclua o
futuro” .295 E , em contraposição à expectativa cristã , essa
mm uma pretensã o de verdade especial. A desclassifica ção aristotélica da
Historie, que lhe atribu í ra uma simples adição de fatos cronológicos,
& ki foi, assim, abandonada.299 Com isso, através da constituição de um
:.;*li ftf
História :
adquire, em Chladenius, um horizonte fundament conceito, se abrira um novo espaço de experiência , que marcaria o
almente ili -
mitado, “ pois a Hist ória em si e diante de si [ Ceschichte an und
sich] n ã o tem fim ” .296
vor " MIv
mi- :
. mu
,v'W
per íodo seguinte. Para resumir, vamos citar três crité rios.
A História no coletivo singular definiu as condições para as
Kant, mais tarde, polemiza de forma aberta contra a é
: &
y\
m m possíveis Histórias individuais. Todas as Histórias individuais passa-
siâ nica na História” , a qual pretenderia interpretar
“ f mes - -
' I ; v¿

r
ram , desde então, a se localizar numa relação complexa, cujo efeito
e delimitar o km &
transcurso dos acontecimentos segundo uma ordo tempomm
, como iS - é peculiar e autónomo. “ Acima das Histó rias está a Hist ória ” - assim
o teria feito Bengel, na sua interpretação do
^ 5 S- Droysen resumiu , em 1858, o novo mundo vivido da História.300
'

apocalipse de João:
Esse mundo da experiê ncia tinha sua pretensã o imanente de
Sfi
5.1
A respeito do ent ão novo conceito de Tatsaeh ou

. .
*
theologiegeschichtlicho Himcrgrund des Bcgrtfls '' TAr
fato, çf. STAATS, Reinhart. Der
.
íadie" Zeilsehr
íftftlr Theohgle mui Kinhe,
'

«I verdade . Aquilo que interessava não era mais o antigo topos que

2.1
n 70, 1973, p. 316 e segs
.
WIZBMANN Thomas. Die GesdridiieJemnath dmMatih ànsah Stlbstbeweis finer
betfaehtet. Leipzig, 1789, p. 67, 55 (
editado porjohattn Friedrich Kleuker),
2Suvcrlá$siglitt í
ass
»
V
. - . .
KANT Der Sireit der Fakultiten (1798). In: AMonic Atugabe (vol 7 ), 1907, p. 62; KANT
.
Anchropotogie (1798). In: /66/ , p. 195.
a,i
CHLADENIUS, Ailgemeiene GexhUhtiwhitntthoJi. . p. 15 . . * v.-C i--
I
J íi
- . . .
Gatterer, Vom historischen Plan , (cf nota 223), p 81
ARISTOTELES, Poeiik , 1451 b.
y -
2:4
.
/6/d , p. 147 . •

Y& : .
w DROYSEN , Histôrik (cf. nota 236) p. 351

#3
126 • V& S 127
¿
• m
IM mm
O CONCHO te HiST&’A A C0NF ;C0?.AÇ 0 00 /.'OOÕtNO CÒNCOTÒ Oc H &tÒãA -
* - -

costumava ser passado adiante, no sentido de que Hist ó ria só poderia


escrever aquele que a tivesse visto ou participado dela . História, mm -
mm
'

:: apenas deixavam transparecer;, que o novo espa ço de vivência da


História só foi explorado porque a refleiñolobre elá correu ralela 1 :
pelo contrá rio, se transformou, agora, no espaço de vivência pro- dip ao conceito. Na história do termo, isso se evidencia:,io £it ó de,que ' ¿ ^ l
^
; : : '. '

priamente dito, e ele, por sua vez, permite fazer ju ízos históricos.
“ A respeito de História ninguém pode julgar a n ão ser aquele que
vivenciou Histó ria em si mesmo” constatou Goethe.301
:m : m
no último çoter do século XVIII o conte údo
lorie” - mediante gradativa exclusão dessa palavra:
d

totalmente absorvido por “ Geschichte” [História]:- v


ò sl ificadó
^
Finalmente, para caracterizar a autorreferenciação da His- Desde a germanizaçao da palavra latina " historia” , no
.

Ygm? TV . ” "

tória a si mesma , como última instancia , se recorrera à expressão


; s
i :
XIII ,304 “ Geschichte)” e “ Historie” tinham mantido signifièadó íSp í: ^ ^
“ Hist ória como tal ” [Geschichte überhaupt ] , e a algumas fórmulas í®# ííí ¡S ; claramente distintos, como já acontece em Conrado de Megen-
correspondentes. Adas, dentro de pouco tempo, o sentido pretendido 1
. 1 berg: aquilo que as Historien dizem , isso são os escritos das
se incorporou na simples palavra “ Historia” . Essa História como
sujeito de si mesma se transformou num agem autoativo, de forma
. -: Wi m
:;mm
geschkhten nos pa íses e nos tempos” . Em 1542 Burkart faz uma
303

r rima: “ quando tais Geschkhten tiveram lugar, / como em Historien


que Hegel, mais tarde, pôde falar do “ trabalho da Hist ória” .302 se pode observar” .306 O campo “ objetivo” dos acontecimentos e da
Nas d écadas das simplificaçõ es e das singularizações, quando, m I^:
ip;
-

ação bem como o conhecimento “ subjetivo” , a narrativa, ou mais -


mm

a partir das liberdades, surgiu “ a liberdade” , e das revolu ções surgiu tarde a ciê ncia a respeito, puderam , at é o s éculo XVIII, ser de-
-
“ a revolu ção” , a História subordinou a si as histórias individuais.
:m u
- m signados com terminologia separada . Assim, lê se no prefácio a307um -
dicioná rio geográ fico de 1705: “ Historie ou ciê ncia da História” . É
Esse é o conceito que na economia lingu ística hist órico-política
dos alemães parece ocupar aquele lugar que “ revolu ção” ocupa no
evidente que essa contraposição raramente foi observada com tanto
- :

-
francês . A “ História” já aparece como conceito antes da Revolução
rigor quanto em definições. O significado de uma influenciava o
Francesa , os contextos revolucioná rios transformar ão aquilo que era s# '

da outra , ainda que com intensidade variável.


A sobreposiçã o dos dois campos sem â nticos pode ser constata -
surpreendentemente ú nico nessa nova História numa proposição
axiomá tica de vida. i
da nos vocabulá rios do século XV: “ historia” é traduzida por “ um
b) A fusão de “ Historie” e “ Geschichte [História]” . A História ,
acontecimento, uma coisa que aconteceu, geschicht, um m discurso
'V ;W
cuja ampliação de sentido foi explicitada até aqui, não foi apenas .
: V r-íí - f
escrito que conta como aconteceu ” e “ historie ( history ” Tanto
)
um novo conceito de realidade, mas també m um novo conceito de
reflexão. Depois de 1780, Herder pôde empregar o coletivo singular m S>mi
“ coisa acontecida” quanto “ historie” constam como “ historia
é definida como “ res facta” e como “ relato de uma história sobre
” , que
para os dois n íveis, numa mesma frase: “ O fato é o fundamento de m
tudo aquilo que é divino na religião, e esta só pode ser apresentada na UV
História, a religião mesma precisa se tornar constantemente História RUPP, Htfimt; KÓHLER , Oskar . Historia - Geschichte . Saccuitm , n . 2 , 1951 , p 632
. .
viva. A História constitui, portanto, o fundamento da Bí blia” .303 Ago- .
MEGENBBRG , Konrad von . Bitch tier Nata / (cerca de 1350 ) (editado por Franz Pfeiffer, ein
. , daz sind

-= Stuttgart , 1861; reimpresso em Hildesheim, 1971), p. 358. sam die historien sagent
:: “
ra se pretende comprovar aquilo que as cita ções at é então apresentadas V.-. r ; i
die gcschtift von den geschichten in den landen und in den zeiten .

sM ? yA
WALDIS, Burkart . StreilgeMchi (1542) (editado por Friedrich Koldewey em
Halle , 1883 , p.
mí 33) , “ Wan soleh geschichte sein geschehen, / Wie in historien ist tusehen
11
.
y*
‘ GOETHE. Maxlmcn imd Reflexionen, n. 217. In: Hamburger Ausgabe (vol. 12), I9S3, p, 395. m í c'7 Citado por GEIGER , Dns Wort Ç esdiUhu“ .. .t p . 15 com phiraJ t í pico , ainda que tamb
tr ém
M HEGEL, D/V Vernunfi . . . (cf. nota 236), p. 182. V
com a noY3 forma plural Gesehichtcn
“ ’‘.
HERDER , Uriefe da$ Studium derTheologie betrcffend (1780- 85). In: Sãmllich? Wakc (vo), m:- ; YjS
DIEFENBACH , Lorenz . Chssarlum Liiino - Ccmiaukurn medio? et hifitnee oetoUs. Frankfurt
,
1-= t eyn ding dz geschen ist , geschicht , ein gescriben red der getad
10) , 1879. p. 257 e seg. A respeito, cf . STAATS , Der theologiegesehichtliche Hintergcund •
• 1857, p. 279. eyn geschehen
“ ,
des Begrifft “ Tatsachen", p. 327. •
&Ç : as es gcscach 1* e “ historie (history)” .

128 |
||
m
129
f

uma coisa acontecida ” tudo ao


O CONCHO O í HsiÔftU»

mesmo tempo. 300 Essa expansã o


m differ
A CON/ XHJ ÍACÂO PO CONCÍ HO W HlStó?

coisas acontecidas” . 315 Uma versão que tivesse em vista a rela çã o


^

da “ Historie *
para os próprios acontecimentos ou seu transcurso se il o dos objetos em si - como aparece uma vez em Leibniz - foi extre-
mantém ininterrupta , no nível dos dicion á rios.310 Em contraposição, mamente rara: que nenhum eleitor e pr í ncipe fa ça mais entre o
na bibliografia histórica, começa a se impor, por afinidade com a M.Tffijài -
k .' : - pú blico, e , portanto, participa mais da História Universal [Universal
lí ngua latina culta , a defini ção que tem sua origem em Cícero: “ A Histon] dessa época que o eleitor de Brandenburgo” .312

Historie diz Hederich , em 1711 é uma narrativa verdadeira de — :v
'
Enquanto “ Historie" se manteve relativamente imune a uma
contaminação por parte de "Geschichtc” , a transferê ncia do signi-
ficado de “ Historie” para “ Geschichte” se realizou de forma muito
V. mais rá pida e profunda . Lu tero já utiliza “ Geschicht(e)” ein ambos
w VoícbuUnum tncipiens Teutonicum ante Latinutn (N ü rnberg, M82), p AT 62 ; . .
' Mxabtitariusgenima
os sentidos de ‘"acontecimento” e “ narrativa” , em certa oportu-
gemntarnm (Strassburgo, 1508), p. 58v; DASYPQDIUS, Pctrus. Dkthnarium Latino Ge nnankttm
(latim /akm à o) (Strassburgo, 1536; reimpresso em Hildesheim , 1971), p 93'. "ein gcjchicht
. - . - - m i nidade , até numa mesma frase: “ Mas a Histó ria do rei Davi , as
erzeiung einer geschehenen saeh"
. . .
mm primeiras e as ultimas, veja que est ão escritas entre as Histórias
Latinwn , p AT : " Ceschehen ding historia , tmde Jiislotiógraphus
W
30 VotAbuhuiiis mapiens Tcufoniowt anta -

.
ein sdjreiber der geschkht" ; ibid ., p 62r; “ Historie , historia , vulgare gesehehen ding"; Vocabufariitsgemma - - m Tm
yy de Samuel ” .313 Josua Maaler registrou , em 1561, para “ Geschichte *:
gemtitaruM , p. 58*: “ Historia est res fada: ein geschehen ding odtr history. Histothgraphm esl seriptor
historia mm: ein hislcricn uhrybe / 1; DASYPODiUS, Dkllonaritttu , p. 93r; 11Historia , Bin geschteht / .
y í vv \.
“ narrativa ordenada e explicação de coisas verdadeiras, fundamen-
, tais e acontecidas” , e, ao lado: “ Hist ó rias e ações. Acta\w Nos

erzetung tinergesdiehencn sach. Historian , et Hisloriographus,elngesdii( hts( heiber t; cf. ibid., p. 3r: Ada,
Handiungen /geschkhten" ; ibid., p. 67':“ Factum, Eingeschkht oderthat"; ibid ., alcm ão Iatim , p. 332':

- títulos dos livros do sé culo XVII , s ã o utilizadas, com frequência ,
. . .
" Gcschelun Fieri ordattUch Gtschichl/daalieumbstendgemeidel iverden Historia GesdddUbudi aujfjãdiche
Uuff/ odcr rein jarbnch. Annaiti' ; cf. ibid., p. 437r:" Thaat/gesthicht Factum"; SC HOPPER , Jacob
. .
mm
m y formas duplas, como: “ Historie e /ou Geschichte de ,..” 315, com que
.
Synoninta Dortmund, 1550 (rdmprew 5o cditadaporKadSchultc Kemminghauscn , Dortmund, -
1927), p. 29; " Das ist / ManchetkygaUuwgen Deutsches war ter/ so Im Gnmd einetiey bedeutung halen";
m;:- ; se pretendia expressar a distinçã o, mas ao mesmo tempo tamb ém
já a convergê ncia de contexto de acontecimentos com narrativa .
.
" Facinus: Thatlgeschkht / handel"; MAALER, 1561 (cf nota 314); FRISIUS,Johannes. Dklionanum
.
Latinogcrtnanicum (editado em Zurique, 1574), p. 630: " Historia Ein history / Bin gesehidit / Bin mm
:mm Tm No final, nao foi a expressão “ Historie” , mas sim “ Geschichtc” que
ordenliche euelhmg undtrkVinmg waarhajfter / grut:dtlUherunngesihddimrdiugen"; HENISCH, Georg.
Teutsche Sprach und Weissheit. In: Thesaurus linguae tt saplentiae Genruwicac (vo ) 1). Augsburg,
1616, p. 1530 e seg, 1534:"Gcuhehcn / sich zu Ingerí / begcben / Ugigntn / fien , evenirc,cadete, indderc,
. mm.
mm
fundiu os dois campos semâ nticos. O famoso t í tulo do livro de

. .
. .
aaidere, contingere, venire., ewnire usu giri , cor fore De/ {lvatlvum ) GtsdiidU / es gcschhhl / event, caidit.
Gesddchl / cventus, acta, actum, gestum , historia Geschehen ding / gesta, res actat , res gestae Geschkht / .
m
mm
Johann Joachim Winckelmann Geschichte der Kunst des AUertums
[História da arte da Antiguidadè], de 1764, reduziu ambos os sig-
.
es geschkht / aaidit , contingit Skhegtsdidttn. Geschkht / ( die ) historia. Geschidit / dues thun undlassen mm mm nificados a um denominador t ão comum 316 que não se consegue
mm

. .
/ actus hujusactus Dcr ( h atium) GesdMt / that / acta , gesta historia
’ ....
GmhkhUn und Handhwgen / mais derivar da palavra se o destaque recai sobre o objeto narrado
.
acta 0; DHUEZ, Nathanael (Ed .), DUthnairefranfots a¡temand-lain Leyden , 1642, p, 149:" Geschkht
- - mm ¿ EI
.
l That / Ade , Gesta, Facta Histori / Hisicke, Historia , Histone, Ein Geschkhl / und Gtsdiuhtbueh / ou sobre a representação . Desde meados do sé culo, o tí tulo “ Ge$~
-
Historia"; Dmiomirt Froufois^ altemand iafin (1675), p. 617:" histoke, narré,tine Erzefilung / Gtschkhi
/ Historia , n atratio, enatraiio. Hktoire digetie, par suiite d'annhs , Ein Gcsehkhtbitch nach Ordnung dec MM chichte” vai expulsando, gradativamente “ Historie” das capas dos
Zeit tingerich let / Gesta rum reruns anuales, historia, desaíre , ficsAireiben / in ( her Geschkht wfasseti /
.
Describiré" ; STIELER (1691), p 1746:" Gesdiidit / die l /¡return , historia , actum , res gestae Geschkht
. . ill , .
crzehkn / historiam narrare , commemorate Cuchichíe schreiben / saihw res guias Monumentsifadonttn

- ^ . . .
compone*" ; POMEY, Le Grand Didionaire ko l (1715) (t . 1), p 485: " Histohe, hate historia, hace
.
narrado, efac Geschkht / Gesehlchts Erzahhmg"; ibid. (t 2), p 144:" Historia , histcire rapport des dioses ,
II
.• ll k f K
'
V:;‘l:
31
HEDERICH , Benjam í n. Anleitung zu ¿en Jilrnehmsten hislorischen IVissenschaften 21 ed .,
Wittenberg, 1711, p. 186,
LE Í BN Í Z. In: KXOPP, Arno (Ed.). Wake (!' sé rie, vol . 10) . Hannover, 1877, p. 33.
ver italics , eme Historie, eme ivahrfwfllge Erzaldung gesdiehentr Dinge" ; ibid. (t 3), p. 129; " Geschkht
/ Tat / ade, hftloire,gesta, fada"; STB1NBACH, Christoph Emst Vcltst àndiges Deutsches Wtoltr*
. m
mmm
3i >
LUTHER , 1. Chronlk 30; 29 (Zerbster Hand íchrift , 1523; contagem moderna: 29, 29] . ( n:
.
tí uch (vol 2). Bresbu, 1734; reimpresso em Hildesheim, 1973, p. 395:" Cuchichí e {die) factum , í es
. -
gesta , historia"; PRISCH Deutsch iateinisches WO;tabudi (vol . 2), 1741, p. 176: " Sducht , Gcschtchte,
m
Üa
m
ili
Wtimter Ausgabc, Deutsche Bibel (vol. 1), 1906, p. 281 e seg. " Die geschkht aber des koniges
Datcid beyde die enten and letzun stke die slndgeschrUbtn unter den geschkhten Samuel" ,
MAALER , 1561 , 195 b. " Ein ordenHche ErzeUung und erkkimng Witathafter, grmidllichcr und
, ...
ist veraltet, m:d Cuchichí e von geahchen geblkben ( ) factum , fusiona, siehe Historie" ; ibid , p 168: . . gddmhur dingen" ; " GtschUhlen undhmidtungén. Acta".
, . .
" Sí hehen, Geschehen feri, even¡re , acchiere" ; ¡bíd (vol. I), p 456; " Historie, ww hteinisehen historia, Wi . ^.
Cf GEIGER , Das Wort "Geschkht . ., 14.
- ..
Geiducht Bachcibimg oder Erzdhhmg dessen , uvs bel dim nolig ist . Eine Historie von divas schreiben , - ip &
• 311 WINCKELMANN , . . Geschichte der Kunst des AUertums. In: EISfiLEIN , Joseph ( Ed.)
JJ .
historiae atiquid mandare tines Dings Historie schreiben , historiam senbere, tes gestas scribe re" . S àmtUche Wetke (vol. 3). Donaueschingen , 1825.

130
M- t
:&% K
131
.
O CCMCETTO D£ H sfÓÍ SA

livros históricos357; os poucos t ítulos com " Historie” correspondem


%
afc .
V.

s
A CQtVlGWAÇlO OO NQOtftNO CONCHO Of HstÓS'A

historia” ,321 Puffendorf, provavelmente, foi o primeiro que, em


numericamente àqueles com o plural “ Gesc.hUh( en” Pls
Winckelmann explicou o conceito, que ele entendia como \
111
rnmmx
1682, chamou de ciencia o conhecimento criticamente verificado
das Histó rias a serem ensinadas. ‘A Historie (seria) a ci ê ncia mais
novo, apontando em especial para as intenções sistemá ticas que mm
mm graciosa e ú til ” .322
estariam por tras dele: “ A História da arte da Antiguidade que eu
-
mm Bsse significado aparentemente passou sem constrangimento
resolvi escrever n ào constitui urn simples relato da sequência de
tempo das transforma çõ es da mesma , pois eu adoto a palavra His-
«III .
para “ a Historia ” . Pomey, em 1715, ainda precisou traduzir “ Histo -
-
ria” por *‘Gesch¡chis Bcschreibung [descrição da História)” , ao registrar
tória em seu sentido mais amplo, sentido que ela possui na lí ngua *
os topoi ciceronianos: “ A descrição da Historia é urn testemunho do
grega, e minha intenção é apresentar uma estrutura doutrin á ria tempo, urna luz da verdade , uma mestra da vida , e urna narradora
[ Lehrgebàude]” ?* 9 de todas as coisas que aconteceram antes de nós” .323 O tradutor

mwm
m
Com isso, Winckelmann citara a segunda fonte de que se Rollins, em 1748, já pôde colocar ali o coletivo singular alemão:

-
alimentava o moderno coletivo singular , O fato de imaginar uma “ A Geschichte [Historia] é, com justiça , a testemunha do tempo” .324
“ História” que fosse alé m da narrativa de transformações represen- I vi; : mm Desde ent ão, se tornou dif ícil distinguir entre a “ verdadeira ”
tava criatividade teórica. Ela fazia com que a realidade da História História e a História ativamente refletida. Frederico, o Grande,
.-I-
desembocasse num “ Lehrgebaude” , numa “ estrutura doutrin á ria” ,
sem a qual a hist ó dos acontecimentos
ria nem poderia ser reco- ilp 3»
¡ m ainda ficou desnorteado quando o bibliotecá rio Johann Erich Biester
lhe disse que “ se dedicava preferencialmente à Geschichte [História]” .
nhecida. Somente através da reflexão sobre as histó rias individuais
é que “ a Histó ria” poderia ser desvendada. : a: ai O rei perguntou “ se isso significava a mesma coisa que Historie, pois
n ão conhecia a palavra alemã ” . Ele ter á conhecido a palavra, mas
n ão seu sentido reflexivo contido no novo coletivo singular.325 Em
Naquilo que tange à História dos vocá bulos, a “ Historie” deu -
sua contribuição, tal qual ela , desde o Humanismo, foi pensada - V-ñí -íó Vli
-
' í: 1777 já se diz de forma bem natural que Iselin pretendeu “ estudar
e definida, nos muitos manuais sobre arte e metodologia escritos # V: a História” e tornar-se “ professor de Hist ória ” .326
por historiadores A “ Historie” como doutrina ou como disciplina
H* Em 1775 Adelung, finalmente, registrou a vitória da “ Histó-

m
,

científica , desde sempre, pôde ser utilizada de forma reflexiva e ria ” . A expressã o possuiria três significados equivalentes, que n ão
sem objeto. A partir de Cícero, o conhecimento reunido sobre se perderam, desde então: “ 1. Aquilo que aconteceu, uma coisa
as hist órias individuais fora subsumido, coletivamente, no termo .
acontecida ... 2. A narrativa de tal História ou de episó dios acon-
magistra vitae .m Quero citar um comprovante M :: tecidos; a Historie... 3. O conhecimento dos episódios acontecidos,
“ historia” : “ Historia ”
historicamente importante das in ú meras variantes que destacam a
função pedagógica dessa historia: “ Porro disse Melanchton - non —
alia pars ¡iterarum plus aut voluptad* aut utilitatis adfert studiosis, quam . ÍV
a -a

:a -mm »
> ..
-
o estudo da História [ Ge$chicht$kunde] > sem plural. A Histó ria é a

,

mais confiável mestra da moral ” como dir á ao explicar o ú ltimo

:
.
-
- ;
; 5 1 . .
Melanchton , etn carta a Christoph Stalberg de 1526 In: Corpus rejonnaloium (vol. 1) 1834, p. 837.
, in PUFENDORF, Samuel. Einlcitung zu der Historie der Vomohnsí en Reuhe und Sutafcn. Frankfurt ,
31
-
Cf. HEINSlUS, Wilhelm . À llgemeines Bticktr Lexbon oder voílst ândiges A(p!u\betis<hes Verzcichniss
der von 1700 bis zuni Ende Í & 10 ètiàihnenen Blither (2 voh.). 2. ed., Leipzig, 1812, p. 82 esegs.,
1682, p. t' ( Vorrede).
V' .v:
325
.
POMEY, u Grand Dhticnaue Roya! (c. í) 1715, p. 485 .
31í
391 e seg.
. .
KAISER , Christian Gottlob Index hcupUtissimus libiontni VollstSndjge » Bucher Lexlkon, - mm 011 ROLL Í N, Charles. .
Historie dta Zeiton und VtiUktr (vol 12). Dresden / Lcipzig, 1748 p. 22 Í.
emhakend alie von 1750 bis zu Ende des jabí es 1832 in Deutschland urtd In den angrenzeuden
a# i BÕTT1CER, Hoftat. Erinnerungcn an da$ literarische Berlin im August 1796 In: EBERT,.

5í0
WINCKELMANN , Geschuhte der KunsL , p. 9 ( Vorxede)
.
L ü ndern gedrucktcn liíicher (vol. 2). Leipzig, 1834, p 355 e iegs., 36$; (vol. 3) 1835, p. 155,
..
Cf KOSELLECK, Historia jrugistra vitae {cf. nota 224), p, 196 e segs,
. mi 11^
334
Friedrich Adolph. OberUt/e rungen zwr GesthUhte, Literalttr und ¡Cunt
.
2/ 1) Dresden , 1827, p. 42 .
.
-
í der Vor und Mitwelt (vol .

.
ISELIN, isa a k (Ed .). fiphtnteridin der Menschheit (W parte). 1777 p. 122 e ¡eg., nota

132
im
- w- 133
*
u - O C4NCMO De liSIÔftA •vivir á? •:
.
A CONflGUÍAÇÍ 0 DO MODERNO CONOTO De H'C'TÓ^A
s 'í ¿
:-
• v
m §¡; :
mediante sua elabora ção por meio da narrativa histórica .329 Uma
ponto. No breve verbete sobre “ a História” , aparecem as mesmas -

coisa remete a outra, e vice-versa. Ou como, ruais tarde, Droysen


! definiçõ es, e Adelung acrescenta: "Para todos esses sentidos, pode-
se utilizar agora - ao menos numa escrita elegante - a palavra ,
i p§
| m ligou a forma de ser da História à consciência sobre ela: "O co-
; alem ã Geschichte” 327 nhecimento a seu respeito é ela mesma ” .330

i!
I! Claro, seria possí vel interpretar essa constata ção que Ade-
lung certamente també m registrou por razões lingu ístico-pol í ticas -
—-
- mi Com isso, o novo conceito de realidade e o novo conceito de
reflexão se haviam sobreposto. No campo te órico-científico, essa
“ de forma puramente onomasiológica , no sentido de que o espaço mm convergê ncia levou a in ú meras imprecisõ es e d úvidas. Niebuhr - e
muitos outros, depois dele - procuraram diferenciar novamente
* 5*
semâ ntico de uma palavra (" Historie” ) simplesmente foi assumido
por outra palavra (“ Geschichte” ). Mas a hist ória vocabular mos-
:
a utiliza çã o das palavras.331 O fracasso desses esforços indica que
f:
rt
- trou que tais convergê ncias foram possíveis e corriqueiras, desde
o final da Idade Média. Tamb é m n ã o é decisivo que “ Historie” . j-
agora podia ser usada, sem restriçõ es, no sentido de “ Geschichte” ,
.
, ' - a “ Hist ória” como conceito social e político cumpriu [uma tare-
fa] menor ou maior, em todo caso, [uma tarefa] diferente: ele se
transformou num conceito abrangente, supracientífico, que pre-
!
coisa que a Deutsche Encyclopedic [Enciclopé dia alemã] apesar
de eruditas diferencia ções - confirma.320 O que é decisivo é que,
— cisa incluir a experiência moderna de uma História autónoma na
reflexão dos seres humanos que a realizam ou são produto dela .
no ú ltimo terço do século XVIII, foi transposto um patamar. Os
:
três n í veis (situa ção objetiva , a representaçã o dela, e a ciê ncia
a respeito) foram reunidos num ú nico conceito: “ Geschichte” . & >'
mm ória* como Filosofia da História
2, "A Hist
0 . ; ?í

i Levando-se em considera ção o emprego das palavras na época ,


trata-se da fusã o do novo conceito de realidade expresso em
^ A import ância que teve o fato de a nova realidade da "História
como tal” [Geschichte ü berhaupt] ter conseguido evoluir para o

I
"Hist ória como tal ” [Geschichte tí berhaupt] , com as reflexõ es que m status de um conceito através da reflexão está indicada pelo surgi-
ensinam a entender essa realidade. Numa formula ção talvez um mento da palavra paralela "Filosofia da História” . O desvendamento
r
pouco exagerada , pode-se dizer que " Geschichte” foi um tipo de
m da "História como tal ” coincidiu com o surgimento da Filosofia

f
'
1
categoria transcendental que visava à s condições de possibilidade
de Geschichten / Históihs.
Quando Hegel escreveu: " Geschichte re ú ne , em nossa l í ngua , ñ- -
mm m
-

, .
da História . Quem utiliza a nova "expressã o: Filosofia da Histó ria”
- escreveu Kõster, em 1790, na Deutsche Encydopddie^ 2 [Enciclo -
pé dia Alemã] - só deveria “ estar atento para o fato de que ela não

mm-
tanto o lado objetivo quanto o subjetivo, e significa tanto a histo- .> ?» •
constitui nenhuma ciência propriamente dita e especial, como se
riam return geslarum quanto as próprias res gestas” , n ão considerou : r í|
l 1
poderia ser facilmente levado a acreditar, ao primeiro contato com
essa constataçã o como uma "casualidade externa” . As "a çõ es e os essa expressão. Pois, mesmo que grande parte da Historie ou toda
acontecimentos propriamente históricos” , que se localizam alé m do ;;©v Vfc
uma ciência histórica sejam tratadas assim , não é outra coisa do
espaço pré-histórico de acontecimentos naturais, só teriam surgido V. v< =/. -

que Historie em si mesma ” Ja a escrita pragmá tica da História, que


tiraria conclusõ es de experiê ncias próprias e alheias, mereceria esse
w ADELUNG (vol. 2), 1775, p. 600 e seg., 1210 e scg. nome, da mesma forma que a "cr ítica histórica ” , que ensinaria a
.
-
:V- í;T4 jV
M-í;:-
ni K ÔSTER , Heinrich
.
Martin . Verbete ‘'Geschichte". in; DcuUche E/ uyffap&Ut (vo í 12), 1787,
,
p. 67; KÕSTBR , Heinrich Martin , Verbete fPhilosophie/ Ph Í!osophic der Historie". In: í bid . vm m . . .
HEGEL, Die Vamtnfl . . (cf, nota 236), p 164
.
{vol. 15), 1799, p. 649 Alé m disso, cf. o excurso histórico vocabular de HERTZBERG ,
-
. . HM '

.
DROYSEN, Hiaorik (cf nota 236), p, 331; alem disso: ibid., p. 325, 357.
m
135
.
Custtiv Verbete "Geschichte". in: ERSCH /GRUBER (V se ção) (vol 62), 1856 p. 343, nota .

2, o qual se refere a Wilhelm Wachsmuth ( EtHwurf eiiier Theone der Ctithichte. Halle, 1820, p. M
yj -
331
Cf. nota 361.
.
2 e segs.), cujas distinçõ es reaparecem , neste texto, daqui para frente
mn 331
KÕSTER , Verbete '' Historie ' , p. 666.

mm
m M
134
mm 135
m m
O CONCtTO 05 H >STÔS <A A CONJICWÀÇTO CO MCCfiNO CÔNCErtO oç HlSTÓÍ.'A
|
v
- wmmm
distinguir verdade de plausibilidade, podendo , por isso, ser chamada a verdade nua significa narrar os eventos que aconteceram seni - T - VT
de “ lógica da Geschichte [História] ou teoria da Historie” Com o
registro lingu ístico, Koster resumiu a nova constata çã o. mñ -
qualquer maquiagem ” é como Gottsched confirma essa tarefei ;;

mm dos historiadores.335
* •

'
Foi gra ças à Filosofia iluminista que a Historie como ciência $e Contra a indiferença te órico- epistemológica contida nessas
separou da Retó rica e da Filosofia moral , e se livrou da Teologia
e da Jurisprud ê ncia , a quem estivera subordinada . m fiases, a outra posição recorria a Aristóteles. Aristóteles desvalori-
336

zara Historie frente à poesia , porque ela se orientaria exclusivamente


Nã o era óbvio que a Historie, que, até ent ão, lidara com o in-
dividual , com o peculiar e com o casual, tivesse capacidade para ser : pelo transcurso do tempo, no qual muita coisa aconteceria ao acaso.
Ela relataria “ aquilo que aconteceu ” , enquanto a poesia relataria
“ Filosofia”. Enquanto os métodos histórico-filológicos e as ciências mm m
immm “ aquilo que poderia acontecer”. A poesia visaria ao possível e ao
auxiliares já se haviam independizado desde o Humanismo, a His - mm m . geral, motivo pelo qual seria mais “ filosófica ” e mais “ importante”
-
torie só se tornou uma ciência própria , quando na “ Hist ória como
que a Historie. Lessing - o aristot élico do s éculo XVIII - expressou
. tal ” - conquistou um novo espa ço de experiência Desde ent ã o,
ela tamb é m pôde definir publicamente o “ campo de seu objeto” .
. mm :fm sua opinião da seguinte maneira: “ Verdades históricas casuais nunca
A configuração da Filosofia da História indica esse processo. Três

.vsm
vi# am
:=; vv - 337
podem transformar se em verdades racionais necessá rias” , motivo
mi: ' pelo qual “ a plausibilidade interna” da poesia teria muito mais peso
etapas levaram até ele: a reflexã o esté tica, a moralizaçã o das Histórias 338
ijiv que a verdade histórica , que, muitas vezes, é questionável. Ao

e a formulação de hipóteses, que tentava superar uma interpreta çã o
teol ógica da História através do recurso a uma Hist ória “ natural ” .
.
contrá rio do historiador, “ o poeta [é] .. senhor sobre a História;
a) A reflexã o est é tica. No contexto do surgimento da Filoso-
e ele pode aproximar os acontecimentos tanto quanto queira”
339
-
fia da História, Historik e Literatura sofreram uma nova ordenação como Lessing o expressa de forma mais moderna . Em função de
s&gi mm.
. m suas reservas aristotélicas contra o conhecimento histórico, nã o
recíproca , cuja relação constitu í a tema antigo, sempre retomado,
admira que Lessing, ali onde , em 1784, aparecia como filósofo da
desde o Humanismo. De forma esquemá tica, a relação entre His
torie e produ ção literá ria pode ser caracterizada por duas posiçõ es
- Ms
m ti História - em sua Erziehung des Mensehengeschlechts [Educação do
extremas, que permitem construir uma escalada gradativa, para
agregá-las.333
»1 gê nero humano] acabou abrindo m ão da expressão uGeschichtei
[História]. Isso mostra - da perspectiva negativa qu ão vagarosa- -
}

mente o novo termo “ Geschichte” , impregnado pela Filosofia , havia


Ou se classifica o conte ú do de verdade da Historie em n ível
mais elevado que a produ ção literá ria , pois quem se dedica às res m
mu:
¡ -
conseguido impor-se .
factae precisaria mostrar a verdade, enquanto as res r f’ •' i
Jictae levariam
'

à mentira. Historiadores que defendiam essa posição gostavam de &-


.-
V GOTTSCHED, johann Chrinoph. Vetsurh eintr Critischèn D ú fUkttns í . 3. Aufl., Leipzig,
recorrer à met á fora do espelho, que circulava desde Luciano, para 1742 , p. 354i cf. WINTBRL1NG, Fritz. Das Biid der Cesfhietue in Drama und D/amenlheo/ie
Gottschcds und Bodmers. Frankfort , 1955, p. Í 5 (tese de doutorado). A respeito de tudo isso,
definir sua tarefa de descrever a “ verdade nua ” . A Historie mostraria cf. REÍCHARDT, Rolf. Hishrik und Poellk in der deutsehen und franzõsuchen Aufklãmng.
uma “ mtdité si noble et si majesfettse” , escreveu Fé nelon, em 1714, de Heidelberg , 1966 (monografia de amo); ft respeito da met á fora da verdade nua dentro de suas
forma que n ã o necessitaria de qualquer enfeite poé tico.334 “ Dizer transformações hisióticis: BLUMBNBERG, Hans. Paradigmcn ciner Metaphorologie. Anhiu
mmm
im
.
fíir BigrifffgesehklUe n. 6 , I960, p. 47 e segs.
ARISTOTELES, Poelik , 1451 b; 1459 a.
::- m m Jy/
LESSING. Ü ber den Beweb des Geistes und der Kraft (1777). In: SdmtiUhe Sthriftoi (voj. 13),
333
HEITMANN, Klaus. Das Verh'á ltim von Dichtung mid Geschichtsschrdbmig in altere ..
. .
Theoiic AHh( ufilr KuUutgtsthiihtt , n 52, 1970, p. 244 e $eg$.
* mm m 3ii
1897, p 5
LESSING. Abhandhingen ü ber die Fabd (1757). In: Samt í iche Schriften (vo ) , 7), 1891, p. 446 .
131
.
FÉ NELON, François de. Lettre à M Dacier $ ur les occupations de EAcademle. hi: Oeuvres .
33í LESSING. Brtefe, die noueste Litcratur betref & nd , Nr. 63 In: SSmtUche Sdt / ifí en (voL $), 1892,
completes (t. 6). Paris, 1850, p. 639. p. 168.
£
136 137
mm m
mm
Kv

F^-
vsr
O CONCHO tí H4TÓSJA

O fato de a Historia da Filosofía ter-se tornado viável nao se


deveu , de forma alguma , à vitória de um ou de outro desses dois
9 .
'
.
A COvNfXSUSAÇÀO DO V ODEWJO CONCE ÜO D£ H'STÓrlA

Historia [Geschichte seíbst ) , e em que medida ela é possível ou não” .343


Com isso , a Historie havia galgado um patamar, no â mbito da hie-
) campos, aqui apresentados de maneira esquematicamente reduzida.
Nem os representantes da “ verdade nua” , isto é , os defensores da satfeii rarquização aristotélica, que a aproximava da poesia. Não se per -
“ própria História” [Geschichte selbst ] , conseguiram se impor, nem
os defensores da Poesia - considerada superior que submetiam
mm guntava pela realidade , mas , em primeiro lugar, pelas condições de
sua possibilidade . Mas a Poesia tinha a mesma obriga çã o. Uma vez
V submetida a uma exigência racional comum , també m sua utilidade
sua representa ção às regras de uma possibilidade imanente, o con
seguiram. Pelo contrá rio, ambos os campos fizeram uma fusão, na
qual a Historie se aproveitou da verdade mais geral da Poesia, de
sua plausibilidade interna , enquanto, inversamente, a Poesia tentou
-
mi podia ser definida em comum: “ Le but principal de 1’ Histoire, aussi
bien que de la poêsie, doit être d’enseigner la prudence et la verta par des
exemples, et puis de monster le vice dhme manière qtti em dome de l 3aver-
sion, el qui prote ou serve à Veviter” .344
incorporar cada vez mais as exigências da realidade histórica. O
No â mbito da produção literá ria, foi a nova categoria do
resultado acaba sendo sinalizado pela Filosofia da História . & romance burguês que agora se achava submetida ao postulado da
-
Bodin “ ao contrá rio de Bacon havia valorizado significa
- N' - ife v
fidelidade histórica aos fatos. Como em dois vasos comunicantes,
tivamente a Historie. Sem suas sagradas leis ( sacra historiae leges" ),
“ m.>W
?'

Historie t romance foram mutuamente adaptados A credibilidade e .


ningu ém se acharia na vida, e mesmo a filosofia fracassaria sein os
dicta , facta , consilia históricos: graças a ela, seria possível preparar-se
WK A-iiV a capacidade de convencimento do romance cresciam na medida em
para o futuro.340 Seria exatamente o reino da probabilidade que -
« que ele se aproximava de uma “ Historie verdadeira’ *. Representativa
desse processo, ao qual aparentemente correspondeu uma expecta-
ao contrá rio da verdade matemática ou religiosa caracterizada
- mu tiva dos leitores no sentido de apresentar uma correspond ência com
a Historie humana, e seria justamente de suas incertezas e de
trapalhadas que os philosophistorid obteriam seus conhecimentos 341
suas
.
mm a realidade, é a mudança rápida de t í tulos, na primeira metade do
É dessa mod éstia que derivava , no longo prazo , o ganho, lili
'

século XVIIL 345 Para satisfazer à presunção de realismo, o romance


líl I: francês costumava ser chamado de “ Histoire” ou “ mimoires” . A ten-
pois, no confronto seguinte com a crí tica cartesiana e pirronista
incerteza e da inconfiabilidade das afirmações históricas, se abriu
da « ftMMM
tativa de Charles Sorel em manter a antiga divisã o entre romance
e Historie nã o conseguiu impor-se: “ / / ne faut ass se persuader que
aquele campo das i verités de faits” cujo oposto em acordo com
(

Leibniz - podia ser pensado, cuja factibilidade, no entanto, só podia — :


.
MW
mm
iA
quelque roman que ce soil puísse jamais valoir une vraie histoire, ni que
Von doive appmwcr que 13histoire tienne em quelque sorte du roman* \ 346
ser científicamente investigada segundo graus de probabilidade.342
Com o entrecruzamento de Po é tica e Historik , foi liberado
“ Ainda que , na Historie, não se consiga chegar a uma
perfeita” - assim Zedler resume, em 1735, a vitória contra o pirro-
certeza m
m ftn o novo e complexo conceito de Geschichte/ Hist ôth, o qual esta-
beleceu uma religaçã o da verdade superior de filosofia e poesia
nismo ” , “ a probabilidade, que també m é um tipo de verdade, está
mm* corn a facticidade histórica. Dessa forma , Diderot recorreu às
ali ” . Quem quiser avaliar uma Historie deve perguntar pela “ própria •

m$
ftl§v!:
m , ZEDLBR Verbete “ Historie (vol. 13), 1735 , p. 283
. .
m¡i # ”

; 51
343
BODIN. Methodus ad fecilemcognitionemhisloriamm (1572). In:
MESNARD, Pierre (Ed ,). .
m LEIBNIZ. Thcodizec, § 148. In: Phllosophlsche Schrifttn (vol 6), p. 198 .
Oeuvres phtfowphfyue. Paris, 1951, 112 a .
.
Ibid , 114 e $cg. 138 b, A respeito da história conceituai da plausibilidade,
Paradigmen..,, p. 88 e segs.
cf. BLUMENDERG, 15 a
30 .
JONES P. S , A list from French prof ( fiction from 1700 to \7S0. New York: Columbia University,
.
1939, introdujo (tese de doutorado); a esse respeito: PUR.ET, François (Ed ,) Livre ti scctité
dam ¡a Fiance tin XVUI* sítele. Parii/ De» Haag, 1970.

** LEIBNIZ. Monadologic, § 33. In: GERHARDT, C. . (Bd.) V- VfTv - '

J .Philosophischc Scluiften (vol. 6).


Bedim , 1885, p. 612; LEIBNIZ. Theodizee, §§ 36 6 $cgs. In: ibid., p. 123 c segs,; SOREL , Charles . De la corniaissaixe de bons livres ou Examen de plmieim autheurs (1671).
LEIBNIZ. Citado por DULONG , Gustave. Uabbi de Saint Rfal. Etude sur les tapports de Phistoice ot
-
Discours de mè uphysique. In: Phihsophisehe Schriften (vol, 4), 1880, p. 427
c $egs. .
du toman au 17' si ècle (c . 1) Paris, 1921, p. 69.

138

ns 139
m .
O COKCüIO o¿ HtóTCs'A
Ê f?; pi?; -: I: '
A CONFttUSAÇÀO 00 MOOrtfíO COíKtrTO 05 HiSIÒ-dÀ

categor ías aristotélicas do verdadeiro do


* provável e do possível f:ÍÍu® Portanto, muito antes que historiadores migrassem do título
para realizar a comparação entre “ histoire ” e poésie” "Uartpoétique “ Historie” para “ Geschichte” , os poetas já haviam passado a utilizar
11

semit done bien avancé, si le Imité de la certitude


E sen Éloge de Richardson [Elogio a Richardson ,
historique était fait ” 347 ?¡M: o título mais atraente, que prometia um conteúdo de realidade su -
] de 1762, mostra
como, na mão de Diderot, o conceito de História é libertado
suas peias aristotélicas. A Historie, muitas vezes, estaria
repleta de
de m
rn ::
perior. Em 1741 Bodmer reivindicou que o contexto narrado fosse
vinculado a coisas conhecidas. “ Com isso, a poesia e o romance vã o
adquirindo gradativamente a dignidade da Historie* a qual consiste
mentiras, mostrando apenas recortes e episodios temporalmente
limitados - ainda se pode 1er, em sentido convencional. Algo no mais alto e no mais extremo grau de probabilidade; já que a
ferente aconteceria com o romance de Richardson, que
di- m -m louvada verdade histórica não é outra coisa que probabilidade , que é
comprovada através de testemunhos coincidentes e unificadores” .
352
trataría
da sociedade e de seus costumes, e sua verdade
abrangeria todos mm Enquanto a arte do romance foi se comprometendo com
os espaços e todos os tempos do género humano,
souvent l’histoiré est un mauuais román; et que le roman
“ j’oserai dire que
eomme tu l’as
ii a realidade histórica , a Historie, inversamente, foi submetida ao
mandamento poetológico de criar unidades de sentido. Passou-se
fait, est une bonne histoire” ***
Na Alemanha ocorreu uma valorização parecida. mi a exigir-lhe uma maior arte de representaçã o, em vez de narrar
Em 1664, : séries cronológicas , ela deveria desvendar motivos secretos, e tentar
Johann Wilhelm von Stubenberg cunhou a expressão Geschicht-
Gedicht [História-Poesia] para o romance, a fim de ¡31; ; s
descobrir uma ordem interna em meio aos acontecimentos casuais.
caracterizar sua Dessa forma , através de um tipo de osmose recíproca, ambas as
,

religaçao com a verdade. Como dizia , os irm ãos Scudéry


em sua Cléliet de “ histórias todas acreditadas como
tratariam , categorias levaram à descoberta de uma realidade histórica a que
verdadeiras em só se poderia chegar através da reflexão. Em 1714, Fénelon havia
si e para si mesmas [vor md an sich selbst], / para
as quais, poré m , |
;S ; •

formulado, diante da Academia, o seguinte programa:“ Laprincipóle


inventam e acrescentam acasos / possíveis, / prováveis, /
perfection d’ une histoire consiste dans ’t ordre e dans ¡’arrangement. Pour
/ que lhes d ão oportunidade e razão / para
razoá veis,
apresentar suas doutrinas
de moral e virtude” . Birken , em sua Poé tica , ainda
mn
li % porvenir á ce bel ordre, ¡’ historien doit embrasser et poséder toute son histoire;
expressão Poesia-História [Gedicht- Geschicht] *9 a fim de
acrescentou a il doit la voir tout entiére comme d’ une seule vue... IIfaut en montrer V unité y

a epopeia do romance. Desde então, “ os limites da


? distinguir et tire \) pour ainsi dircy d’ une seule source tons les principaux événetnns
criação poética :v. qui en dependent ” . Com isso, o leitor teria proveito e divertimento
e [da criação] provável [aparecem] ...
como os limites do mundo
historicamente imaginável ” .350 E desde mais ou menos 1700, a Jts ao mesmo tempo.353
expressão “ Geschichte” deslocou o “ romance” , e ainda mais a Im : :
Somente através do trabalho subjetivo do historiador, feito a
“ His- m

torie” , dos títulos dos romances alem ães.351



partir de um ponto de vista , desvenda-se a unidade da História,
í- v que, a partir de então, seria cada vez mais evidenciada na pró pria
realidade histórica. Quem contribuiu para concretizar essa tarefa
DIDBROT, Denis. De h poésie dramatique (1758) . In: ÀSSBZAT, , (
'
M7 '

.
(t. 7). Par í s, Í 875, p. 335 cf . p. 327 e seg. ] ed .). Oeuvres completes foi a perspectiva teológica de uma Histó ria Universal vivenciada
£
58
’ DIDBROT, Denis. Éloge de Ricardson (1761). In: Otimes{( . 5 ,
) 1875, p. 221, cf. p. 215, 218.
- .Vi' vyí pelos cristãos. Bossuet insistia que todas as Hist órias estavam inter-
SCUDÊRY, Madeleine et Georges de. Cletia: Bine rònjische
Geschichte .
(vol 1). N ü rnberg, relacionadas, de forma que se poderia apreender “ comme d’ un coup
166*1 (Zwschrlfl), ( versã o alema de
Johann Wilhelm Freiherr von :N ¡ ¡' fi
VOSSKAMP, Wilhelm . Romanlheorit in Deutschland. Von MartinStudenberger ), citado por
Opitz bis Friedrich von
Blanckcnburg, Stuttgart, 1973, p, 11 eseg., onde també m se
, encontram an á lises mais detalhadas. BODMER , Johann Jacob. Critfahe BetrathturgM ilber die Poctisdien Gentãlde der Dichttr. Mic
w VOSSKAMP, Rma uiwiie . ... tp 13. yfki Íi
iii-;
3S2

ein ô r Vorrede vonJohann Jacob Breitlnger. Zurique , 1741, p. S 48, citado por VOSSKAMP,
511 SINGER ,
Herbert. Der dcutuhe Roman zmschen Batrock und Rokoko. Colônia /
( Bibliographic), p. 182 e segs. Graz, 1963 ..
Romontliroiic.. p. 156.

140 «
:^ rvr.
••
.. .
FÉ NELON, Leure a M. Dacier. .. (cf. nota 334), p. 639.

141
O CONCOTO of HSTCWA
*¡1 §
m A CCNFiOUíAÇÀO DO MOD!(MO COMUTO Oí Híl óíJA

d’ceil, tout Voyáre des temps” * “ La vraie science de 1 kistoiré est de remar
’ -
i -
encontra justificado através de todo o conjunto interconectado da
quer dans chaqué temps ces secretes dispositions qui onl prépraré Ies grands
mm História” . A intervenção teórica prévia , o “ nexus rerum universalis” ,
chargements, et les conjonctures importantes qui les out fait aniver” .354
Leibniz já recorria à muito discutida metáfora do romance
-
m mm
k
' '
é confirmado pela própria História. “ Pois, nenhum acontecimento
no mundo é, por assim dizer, insular. Tudo interdepende, é reci-
para descrever a unidade interna da melhor História possí vel dos mm procamente motivado, produz-se mutuamente , é desencadeado, é
homens: “ Ce román de la pie humaine, que fait Vhistoire uniuersetle du
r gerado e motivado , e gera de novo” .350
genere humain, s’est troupe tout invente dans Ventendement divin avec une
infinité dJau( res” Mas Deus decidiu concretizai somente a sequência
mm m m Assim, a partir do desafio para uma representa ção pragm á ti-
* fC
% ca , que precisava levar em conta o efeito e a utilidade da Historie,
efetiva dos acontecimentos (“ ce / te suite d'eocnemens” ), pois eles $e
.. Js surgiu a necessidade de tamb é m enxergar um sistema interno no
inserem de modo perfeito em tudo o mais.355
Em que medida evidentemente a certeza teológica da provi-
dência divina recuou para garantir a unidade da História, em termos
mm
mm
'
contexto de eventos pragmá ticos . E merece menção o fato de que
à primeira Philosophie der Historie [Filosofia da Historie] escrita na
Alemanha foi atestado - supostamente pelo pr ó prio Gatterer - que
cientí ficos, isso se pode verificar no caso de Gatterer, quando, em
1767, falava do “ plano histórico” e da “ decorrente unifica ção das
p® “ ela não contém nada de novo” .357 Kõster, seu autor, entendia por
narrativas” . Gatterer se envolveu , de maneira consciente, na discus-
sã o poetológica para fundamentar a tarefa unificadora da Historie,
que se via desafiada pelo caos de fontes teimosas. A Historie , que
«
MM
I
Filosofia da Historie, isto é, da História , tanto a $ regras da representaçã o
quanto da pesquisa, e aplicou o conceito també m ao “ sistema da
Htoor/e-Universai ” , que se poderia chamar també m de “ Ontologia
até então se encontrava na sombra da arte poética, “ enxerga agora , mm
oAte
ou doutrina básica da História, e à qual não se pode negar o t í tulo
de Filosofia da História ” .358
,í .V
entre n ós, uma carreira aberta pelos poetas” . Tudo dependeria do
*

plano e das categorias através das quais a Histó ria deve ser conhecida im m :
Kõster apenas reuniu as intenções de um Chladenius, um
Iselin , um Gatterer ou de um Schlõzer em um conceito comum ,
e representada. A forma mais “ natural ” de proceder seria aquela m que eles próprios ainda n ão haviam utilizado.
na qual “ os acontecimentos são alinhados de forma sisté mica . .
Acontecimentos que não fazem parte do sistema
. Hí
O plano do autor e a unidade interna que a pró pria História
por assim registrava foram se sobrepondo, aos poucos, enquanto pareciam se
dizer, não sao acontecimentos, para o historiador ” . Somente com $
sua intervenção sistematizadora prévia, as relações pragm á ticas s ão . ví---. - ;
'

.' A:
'1
estimular reciprocamente. Nesse sentidoJustus Moser sugeriu, em
desvendadas. Se o historiador é “ filósofo ~ e isso ele precisa ser, se 1768, que se atribu ísse ao império alem ão desde 1495, “ o movimen-
V to e o poder da epopeia” . Ao seu “ plano” de “ elevar” a História à
quer manter-se pragmá tico ~ então ele estabelece m á ximas gerais, Víi
>

“ unidade” correspondeu consequentemente “ uma completa Historie


i
de como os acontecimentos costumam ocorrer” . Ele reflete sobre mk
as condições da Histó ria possível, e, com isso, o plano histó rico é mm . - do império, que pode consistir ú nica e exclusivamente na História
natural de uma unificação” do impé rio. 359
revinculado à pr ó pria História . A transição é gradativa: o historia-
»1

dor fundamenta, compara, atenta para o cará ter e as motivações, “ e


ousa derivar daí um sistema de acontecimentos, uma forç a propul - . .A J5Í
GATTERER , Vom historischcn Plan ... (cf. notâ 223), p. 21, 16, 82 e segs.
sora ” , que ele ou confirma através de fontes contemporâ neas “ ou : S57
GATTERER, Rezemion H. M. G. Kõster, Ubzr die Philosophic der Historic (Giessen , 1775).
I : Hittorisckcs Jemnal , n. 6, 1776, p, 165.
M<
BOSSUET. Dls<cms sur Phisloite unhwetU (1681). Paris, 1966, p. 40, 354 (editado por Jacques k ...
>ss KÕSTER , Ú btrdte Philosophic , p. 54 , 50, 73 e segj.
mm MOSER , Justos. Osnabcü ckische Geschichte (1768). In: Sam(¡kite Wtrkt (yol. 12 / 1), 1964,
Truche t),
LEIBNIZ. Thcodizce, § 149. In: Philosophische Schriftcn (vol . 6), p. 198.
m *®
;

p. 34; MOSER , Justus. Vorschlag zu einem neuen Plan der deutschen Reichsgesdiichte.
: Pmiotische Phautesten. In: SamtlUhe Werkt (vol . 7), 1954 , p. 132 t seg.

142 143
®v£ í ®
lili Ü m
O COMCÉfTO C Ê H«r6í tA
íllSIlfe A CONftW?AÇAO DO MCDÉ tNO COfKtHO Oí HISTÓÍ A
'
mm
;

IüSSS'
:- : v A ruptura filosófica que indicou o caminho foi feita por : :
Ü :P A profundidade com que essa virada transcendental entrela ç ara
Kant, quando vinculou a questão da rela ção da História com mmm as tarefas da representa çã o com a interconexao dos acontecimentos
I sua adequada representa çã o à tarefa moral, com que historiador :
e Histó ria estariam igualmente comprometidos. Com sua
ip|S em uma unidade da Hist ó ria fica clara numa reflexã o de Niebuhr,
“ ideia de 1829, quando justificou o anú ncio de suas preleções a respeito da
de uma História mundial [ Weltgeschichie] que possui como que
“ História da era da revolu çã o” . Ele n ão pretenderia falar “ exclusi-
um fio condutor a priori ” , ele n ã o queria dispensar o trabalho
empírico dos historiadores. Mas Kant promoveu um avan ço na
»1 : vamente da revolu çã o” , mas ela constituiria “ o centro dos ú ltimos
40 anos; é ela que confere a unidade épica ao todo” , motivo pelo
discussão sobre uma representa çã o adequada, na medida em que
qual ele a tomaria como ponto de partida. Evidentemente a pró-
vinculou a realidade histórica à s condições transcendentais de A :
seu conhecimento. Em tom de aprova çã o, cita Hume, segundo
^
pria revolução constituiria apenas “ um produto do tempo” sobre
Wf
íl o qual pretenderia falar. “ Mas falta-nos uma palavra para o tempo
o qual a primeira pá gina de Tuc ídides seria “ o ú nico in ício de
toda Hist ória verdadeira” .
mm em geral, e, diante dessa ausência, permito-me chamá-lo de erà
da revolução” .361
Por outro lado, Kant se pronunciava contra a met á fora de
A revolu ção como que criou a unidade a ser exposta, épica , da
que se pudesse construir a História teleologicamentc, como um
romance. O estabelecimento de uma unidade teleológica é muito
; História , mas por trá s dela est á o tempo em geral, o tema genu í no
¡ menos uma tarefa est é tica que moral. “ No conjunto, pode-se en - »m
• da Hist ó ria moderna , a qual , na revolu çã o, foi subsumida no seu
A '
primeiro conceito, todo ele derivado da experiência.
xergar a História da categoria humana como a concretiza ção de
í um plano não revelado da natureza ” , desde que, na prá tica , se age, ' P A A:
-i
*
Finalmente, Humboldt - em confronto com Schiller - dissol-
veu a antiga disputa entre Hi$ (orik e Literatura, ao tentar derivar os
“ através de nossa constituição racional ” , no sentido de “ apressar” AA Ê
mm par â metros de sua representação da “ Histó ria como tal ” [Geschichte
o futuro que se reivindica . Isso tem consequ ê ncias para a forma da
-
representação. Ao transportar como reivindicara Schlõzer - o
agregado n ão planificado de a ções humanas” para um “ sistema ” da
“ ÍÜ £í
mm .
iiberhaupt ] (1821) “ Com a nua separa çã o daquilo que realmente
aconteceu ainda não se chegou ao esqueleto do acontecimento. O
História , crescem as chances de concretizar esse sistema . É aí que AAQ A que $e consegue com isso é a base necessária da História, a subs-
se localiza a fundamentação hist ó rico-filos ófica de toda História . tâ ncia para a mesma , mas não a própria História” [Geschichte seí bst ).
“ Uma tentativa filosófica de abordar a Hist ória mundial [Weltges- Para chegar à pró pria História [Geschichteselbst] t haveria neces-
chulite] geral segundo um plano da natureza que tenha por objetivo
& A. sidade, por um lado , da “ investigação cr ítica do acontecimento” ,
a unificaçã o civil perfeita no gê nero humano deve ser vista como AA- m isto é, da pesquisa hist ó rico-filosófica , por outro lado, da fantasia
. A mm produtiva , que vincula o historiador ao poeta. Só entã o se poderia
possível , e mesmo digna de ser promovida a favor das intenções da
natureza ” . Assim , o projeto filos ófico de constituir a História gera
A.
wm desenvolver aquele conceito de “ realidade” que, “ independente-
mente de sua aparente casualidade, está condicionada por uma
efeitos sobre a Histó ria real , O planejamento humano exige mais
que o plano estético: ele se funde na intenção moral prática com : m
ms necessidade interna” . Graças a esse reconhecimento, a matéria do
acontecimento adquiriria aquela forma geral que a estruturava
o plano secreto da natureza 360
. como História . “ O historiador digno desse nome precisa apresentar
WM qualquer episódio como parte de um todo, ou ~ o que significa o
KANT Ideo zu «iner allgememefi Geschichte m weltburgerlicher Absicht (1784), § 8o 19 o. In:
Wm
mm *
-
Aka átmit Am$â b4 (vol. 8), 1912, p. 30, 29 (notas 27, 29), A respeito da met á fora do romance,
cf. KANT. Mutmasslicher An fang der Menschengeschichte (1786). In: AMemie Awgahe

- NIEBUHR , Barthold Georg. GeuhUhU des ZeitaUets der Revolution (vol . 1) . Hamburgo,
..
(vol. 8) p 109. :; §
?
*
II
1845, p. 41.

144 AA- A
AA % 145
mm

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O CONISTO 0£ HciÔí IA
É ifif
Jnmk ; :
as ' óU >AÇÂO DO MOOVHO CONOTO 0£ HlSIÓfiA
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í»

-mWñ$WSm ÈÊ-^fe:$
mesmo - representar em cada um a Historia como tal” [Ceschichte &
überltaupt ] . Nessa medida , Humboldt parece continuar
:;Ü l


'
século XVII Í, o ónus da prova para a moralidade foi transferido
*
I seguindo as §® p para a própria Hist ória.
regras de urna Poética que fornece os critérios formais de uma repte Os historiadores debatiam, de forma animada , se deveriam
- ffkfg
senta çao material. Mas, baseado em Kant e em Herder,
Humboldt fcÇ? permitir que seu ju ízo fluísse para dentro da narrativa , ou se deve-
f d á o passo decisivo em frente, ao atribuir a rela çã o originalmente
invisível de todos os acontecimentos a enigmáticas “ forças atuantes
'

' riam deixar que a própria História falasse. Nesse sentido, Hausen
V
. escreveu , por exemplo, que o historiador “ formado de acordo com
e criadoras” , que vã o configurando a História , dando -lhe a forma as regras de Luciano” deveria “ se esconder” . “ A História possui
364
: Hp
que ela tem. O que interessaria , portanto, n ã o seria apenas “ tra
zer à tona a forma” que ordena “ os labir Ínticamente entrelaçados
|
- ^ sua própria forma de falar” , já dizia Mosheim , em 1748, motivo
pelo qual o historiador deveria “ pintar, mas pintar sem cores” .
365

acontecimentos da História mundial ” , mas sim “ descolar essa forma


deles próprios” , isso n ã o representaria nenhuma contradiçã o, pois a - | | §¡

p

Pois - como acrescentava Mõser, em 1768 , “ na História , como
numa pintura, só [deveriam] falar os atos... Impressão, apreciação
História como uma interconexão din â mica e como conhecimento |
I teria uma base comum, “ já que tudo aquilo que age na História
\ v£| fp e ju ízo devem ser específicos de cada espectador” . Uma posiçã o
366

retó rica preferida dos historiadores - exatamente para obter um


í; mundial [Wettgeschichte] , também se movimenta dentro do interior efeito exemplar - era a de fazer com que a História falasse por si
do homem” .362

i; 1
. :@ | |
| @

mesma, uma posição que se mantivera desde Luciano.
A determinação transcendental da História como uma catego- Do outro lado, por causa do Iluminismo, foi se fortalecen-
ria da realidade e , simultaneamente, da reflexã o , aparece aqui corno f
f íSfgt ó Wx do decisivamente aquele campo que exigia do historiador um
resultado de um longo processo envolvendo Literatura e Historik , iSj posicionamento enfá tico a favor da verdade, em especial pelo
no qual, ao final, a Estética foi absorvida pela Filosofia da Histó . ensinamento moral da História . A antiga versã o de que medo ou
Agora era possí vel que Schaller, em 1838, nos Hallischc
ria Wp-g!
--
Jahr | § p - esperan ç a diante do julgamento hist órico possui efeito regulador
i
biicher, pudesse constatar, de forma lacónica: “ A História como . ~.

t
^x :• *
? ;r W•
sobre o comportamento do mundo posterior já fora aceita no
representação daquilo que aconteceu, na sua perfeição, é, necessa- Humanismo, por Bodin , por exemplo.367 A fó rmula de Viperano,
riamente tamb ém Filosofia da História” .
, 363 | v í| l f: segundo a qual o historiador deve ser um“ bonus judex et incorruptas
V

b) Da moraliza ção à processualiza çã o da História . A ta „Ufe


: - -
: '

censor’ m , foi tanto mais aceita quanto durante o sé culo XVIII o


%

refa poetológica atribu ída à Historie exigira a apresenta ção de uma fefe: mundo posterior foi guindado à condição de fórum da justiça , em
interconexão com sentido. Essa interconexão foi atribuída, como 1 «i substituiçã o ao Ju í zo Final. O historiador, “ por assim dizer, est á
responsabilidade, à “ própria Hist ória” [Geschicbte selbst] t graças a M sobre os t ú mulos e chama o $ mortos” , sem atentar para títulos ou
reflexõ es histórico-filosóficas, com que ela seria comprovável nela
mesma. A velha tarefa moral da Historie de, através de ju ízos, n ão
-
i m séquitos , ele os contempla, “ aqui com indiferença , lá com olhar

só ensinar, mas tamb ém melhorar, sofreu uma mudança parecida


Se originalmente a submissão de uma História real a normas mo- :V&
.
¿
88
Ésl JH HAUSEN, Frcye licurthcilung íiher die Wahl, ü ber die Verbindimg, und EinkLejdung

rais era coisa do historiador, como guardi ão filosófico, ao final do


5&’ Si: * der hístorischen Begcbcnheiten , und Vergleichung der neucn Geschichtsscbrcibcc mil den
. .
romischen. In: Vtnní sihfe Sahrijtin (cf. nota 279), p 10
£ mm 345 . .
MOSHEIM , J. L. v. Versuth dní f tuipattUtlitthcn und grfindUthtn K<tzagachi<hf ( 2 Aufí.,
G õ tcingcn , 1748, p. 42 e segs .
J 6)
HUMBOLDT, Ü ber die Aufgabe
y: . . .
345 MÕSER , Osnabr Ü ckische Geschichte, Vorrode In: SãiM ÍUhc Wakc (vol. 12 /1), p 33

.
Geschkhtjschrcibers (cf. nota 153), p 36, 40 e .
jeg 47. 363 .
BODIN, Method *» .. (cf. nota 340), Ü 2 b f.
5W
SCHALLERJuUus. .
HaU íuheJdhibucher, n.8Í, 1838, p 641 (Rezension von Hegels Vodesungen
a yA
VI PERA NO, Giovanni Antonio. De setibetnia historia fiber. Antwerpen , 1569; KESSLER ,
iiher die Getchichte der Philosophic),
% .. . .
Thcoretikcf . (cf nota 179), p 65.

mi

146 147
I fe.
O OONOITO Oí HSTóRIA
S
: flp .
A OOWiOUftAÇÃO DO MOMSNO CONCfflO C< H SIÓÍIA

de juiz'5.369 Assim, até os soberanos, que sempre tentam se esquivar jours de la prosperitê et du banker"?1* A sentença histórica se transfor-
da verdade, poderiam, graças à Historie* aprender a julgar-se com mou em expectativa hist órica de sua execu çã o. Não mais apenas
anteced ência. Uma força moralizante sa ía dela , a Historie constituía
- nas palavras de D'Alembert - um “ tribunal integre et terrible” Os
«a ® a Hist ória individual contava como exemplo, mas toda a História
foi processualizada , pois se passou a lhe reivindicar uma tarefa de
senhores governantes, de forma alguma , ficariam impunes , como criar Direito e de administrar Direito, Quando Herder editou
registra em tom de elogio o tradutor de Bacon; a História é seu có- m suas Ideen zar Philosophic der Geschkhte der Menschheit [Ideias sobre a
digo penal.371 E é nisso que consistia sua aplica çã o “ filosoficamente” ==

. ' : Filosofia da História da humanidade], partiu do princípio de que,
v como na natureza, tamb ém na Hist ó ria “ vigoram leis naturais que
pensada: “ A História efetivamente apõ e o carimbo da imortalidade
mm estã o na essê ncia da coisa” . Uma dessas “ regras” dizia: “ O abuso se
aos atos bonitos, e cobre os v ícios com uma marca ção em brasa,
que séculos não conseguem apagar. Se a História, portanto, é es- mi punirá a si mesmo, e a desordem, com o tempo, simplesmente se
tudada de forma adequada , ela representa uma Filosofia , que causa transformará em ordem, através da incansável dedicação de uma
uma impressão tanto maior em nós quanto mais ela falar através de
exemplos vivos” 372 A Historie que ensina pelo exemplo, já no século
XVII, foi definida como Filosofia: “ Ctmi ergo Historia nihil aliad sit ,
m
ms m *
razão crescente” .376 A moral da Histó ria foi temporalizada em
direção à História como processo. O hemistiquio de Schiller, do
ano de 1784, se espalhou rapidamente: " Die Weltgeschichte ist das

quam Philosoplna exemplis atens" como havia escrito Morhof.373 E
a versão adotada por Bolinbroke, de que a Historie seria a Filosofia
III Weltgericht ” [A História mundial é o tribunal do mundo].377 Abrir
mão de uma justiça cujas compensações só se fazem no além levou
que ensina através de exemplos, foi muito citada; ao historiador mK à sua temporaliza ção. A Histó ria hie et mine adquiria um caráter
m
moralizante se agregara , além disso, uma função judicial filosófica ,
“ Justiça histórica é a capacidade de chegar a conclusõ es vá lidas a
mm
rnm --
..
incontornável: “ Aquilo que a gente excluiu do minuto, / nenhuma
eternidade devolve” .
partir da verdade histó rica que deriva de fatos” 374 ijl
'
Em 1822 Humboldt pô de constatar que “ o Direito [garante sua
Ultrapassou -se um patamar decisivo em direção à Era Mo- existência e validade] ao longo do caminho inexorável dos aconte-
derna quando a tradicional função judiciá ria da Historie, com sua Tim I cimentos que, perpetuamente, vão se julgando e penalizando” .378
concep ção do coletivo singular, pôde ser transferida para a “ História imn %. Com isso, formulou em termos teóricos aquilo que se transformara
% em legitima ção histórico-filosófica geral da a çã o pol ítica , quando,
como tal ” [Geschkhte ilberhaupt] Uma fórmula que representou a mi ;i
>

transição foi utilizada por Robespierre, quando, em 1792, se dirigiu


mm
: Vit
ó:
'

por exemplo, se invocava o “ Direito da História mundial ” [ Well-


y .
geschkhte] , que certamente estaria de seu lado. 379 Ou quando Ernst
à posteridade: " Postérité naissantc> riest à toi de crofte et dfatnener les :ó
tPI Moritz Arndt exclamou: “ Aqueles que querem levar o Estado para
t; ;
ó -
-; trá s sã o loucos ou moleques. Esse foi o julgamento da longa História ,
.. v: .
349
A13 BT, Briefe, d í e ntueste Litteraiur betreffend , 10, 1761, p. 221, 161 (cam). ir
3:3 D’ALKBERT,
Diseoufsprêliminaite de 'f ntteyclop édie (1751). Hamburgo, 1955, p. 62 (editado por mmv
Erich Kohler).
371
Essa é a formulação do conde sueco Tessin; citado por BACON, Francis, Oberdie IViirde and
Wm v
: ¿.
373
Robespierre, em discurso no Clube jacobino sobre a quest ão da guerra , cm 11 de novembro
S
deu Porting der WlsumeUaJUn. Pest , 1783; reimpresso em Darmstadt , 1966, 1. 96 (nota) (versã o

.
de 1792 In: BOULOISBAU, .
LEFBBVRB, Georges; SOBOUL, Albert (Eds.) Oumes
alemã de Johann Hermann Pfingsten). ; .
(t . 8). Paris, 1953, p. H 5
372 HALLÉ ( vol. 1), 1779, p. 521. 37f HERDER. Ideen aur Philosophic der Geschichle der Menschheit (1784 /87 ). In: Sàmtliche

373
MORHOP, Daniel Georg. Poí yhí sfo/ ¡itmtius, philosophies ct practicas (t. 1). 2. Aufl., Lnbeck ,
M -m-ótÈ
.: yy m imi IVerkc (vol . 14), 1909, p. 244, 249.
. .
1714 , p. 218 (editado por Johann Molter) (1 Aufl.: 1688); cf BOL1 NGBROKE, Henry St.
. . lí® É
ó >y :;
rt 3 ?]
. - .
SCHILLER. Resignation In; Sdkular Ausgabé (vol. 1), s. d , p. 199.
HUMBOLDT, Ober die Aufgabe des Geschidmschreibers (cf. nota 153), p. $5.
John Viscount. Letters on the study and use of history (1735) Londres, 1870, p. 5 3

m Citado por ROTHFBLS, Hans. Theodor von Sthõn , Fried rich IViihebn Í V. und die Revolution wii
314 ( An ó nimo]. Uber hUtonschc Gerechtigkeit und Wahrhcir, fiudaemoma oder deutsches
m
Votksgí uck. 1 (1795) , p. 307.
mm
im u
1848. Halle, 1937, p. 193.

148 ms i - 149
.
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O CONOCIO w H SIó JA
• :r &? A COÍ tfiGUMÇÀO CO MOGEWÍO COÍ iCE íTO pi HíSTÓ VA
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e esse julgamento fornece uní dos poucos ensinamentos do passado p para citar um dos in ú meros exemplos -, Hitler a pôde invocar, em
v: que deveríamos aproveitar” . 380 E em 1820, Põlitz confirmou que a mm 1924 , quando se defendia contra a acusa ção de alta traição: “ Ainda
História , desde 1789, forneceu a 11frutífera5’ comprova ção para "a
.
imC£
m
w
m que nos declarem culpados mil vezes, a deusa do eterno tribunal

^iili
palavra de conteúdo denso” de Schiller 381 da História rasgar á sorridente o pedido do promotor e a senten ça
Vivenciar a História como um tribunal poderia aliviar o his - do tribunal; pois da nos absolve” .384
toriador da formulaçã o subjetiva de seu ju í zo Por isso, Hegel se . c) Da formula ção racional de hip ó teses à razão da His -
defendeu , de consciê ncia tranquila, contra a acusação da “ presura tória. O desafio poetológico frente ao plano histórico levou à
-
çao de ter se comportado como juiz do mundo ” , ao desenvolver
a História como processo. Os acontecimentos da Hist ó ria geral
rnmá mm unidade interna, ao “ sistema” da Histó ria. O postulado por uma
moral da História levou à justiça do processo hist órico. Para os
do mundo representavam para Hegel a “ dialé tica dos espí ritos m m mm
-

contemporâ neos, ambas as respostas foram resultado de reflexões


mmmm|m
,

particulares dos povos, o tribunal do mundo” 382 Na transiçã o da . i-


.
filosóficas sobre a Historie. A expressão em si (“ la philosophic de
formulação de um juízo moral, por parte dos historiadores, para o Vhistoire” ) vinha de Voltaire, que , em 1765, publicara - sob o
processo como História mundial [ ÍVeltgeschichte ] , $e firmara a vis ão
filosófica da História do íluminismo em direção à Filosofia da
História da Era Moderna. ,
mm pseudónimo de Abb é Bazin - um escrito com esse t í tulo, que logo
teve vá rias ediçõ es e reimpressõ es. Três anos depois, surgiu, em
383

Quando, mais tarde, a Escola Histórica se opôs a essa in- '¡ mm tradu ção de Johann Jacob Herder, para o alem ão, Die Philosophie
der Geschichte [A filosofia da História].386 O desafio contido no
terpretação, nao conseguiu mais anular os rastros da experi ência
desdobramento do novo conceito foi resumido pelo editor alem ão
então vivida. O topos acompanha , desde ent ão, a História Moderna
- seja de forma critica, seja de fornia ideológica pois ele indica
— f
ms na seguinte observaçã o: ele não lembraria “ de nenhum livro em
que se encontrariam tantas objeçõ es à fé hist órica na Sagrada Es-
para a unicidade e a direção das vivências modernas, que vão se
superando de forma constante. Em 1841, Wilhelm Schulz escreveu
4 :P mm critura quanto na Filosofia da História” .387 E , em notas de rodapé
no Brockhaus der Gegemvart [Brockhaus da atualidade]383: A açã o
que eram mais extensas que o pró prio texto de Voltaire, procurou
“ mM refutar os ataques à Bí blia , à História da criação e à fé histórica
unilateral seguiu imediatamente o castigo da História mundial mm % na providê ncia. A “ Filosofia da história ” , de fato, no in ício, foi
[ Weltgeschichte] como tribunal do inundo, no qual , para a Restau -
ração, o desmedido salto para o passado se transformou num salto mm um conceito polê mico - se voltava criticamente contra a fé nas
morí ale, da mesma forma que, para a Revolução, se tornara o salto Escrituras, e metafisicamente contra a provid ê ncia divina , que ,
para o futuro” . , mm v¡
segundo a interpreta ção teológica , criava a conexão interna da
Também como palavra de ordem , e destitu ído de qualquer
significado hegeliano, a met á fora do tribunal se alimenta da pressu-
posiçã o de uma justiça que se realiza através da História . Por isso - só
'
¡W . 4
-v .
•:
m

''
História . Voltaire se encontrava na esteira de Simon , Spinoza ou
de Bayle , dos pirron ístas e racionalistas, retomando os desafios
apresentados por estes contra a Teologia.
* if '
150
- .
ARNDT, Ernst Moritz . Der Baiutmlemd poUtisch betrmhut Berlim, 1810, p. U 3 . pis 334 Adolf Hiller, na pahvra final antes da leitura da sentenç a , em 24 de mar ço de 1924. In: Der
Hitkf Vnzea vordetn VolksgerUht h M útuhen (parte 2). Munique, 1924, p. 91.
-
Mi
3SI
PÕLITZ, Karl Heinrich Ludwig. Die IVeltgeschiehie fiirgebildele Ltser tout Studlerende (vol. ).
4
3‘ed ., Leipzig, 1920, p. i. 351
BAZ Í N, Abbc (- Voluke). Lú philosophie dc l*histoirc (Amsterdam, 1765). Genebra , 1963
HEGEL. Enzyktopddie derphihsophisdien WisstHxhaften im Gntndrisse (3. Aufl , 1830). Hamburgo,
. (editado por J. H . Brumfitt).
1959, p. 24, 246 ( Vorworr c § 548) (editado por Frtedhelm Nicolin e Otto Poggder) ;
. Die Philosophic der GesehUlue da vtrstcukencn Htnn Abies Bazin , Leipzig, 1768 ÇversJo alema de
ili
.
SCHULZ, W. Verbete ^ Zeitgeist" In: (Enciclopédia) Bicekhaust Convcrsations-Lexicon dcr Jph . Jacob Harder).
.
Gegemvart (vol. 4 /2), 1841, p. 462 !Iv ? ., Vorbericht.
( bid
&
.
150 IÍ I
:® 151
m :
O colero c* HSTóAíA mmm- - A CCNFJGU.UÇÂ O DO MCOftNO CONC&TO 02

No mesmo ato , a Histone se via provocada Pois, se o plano . da Hist ória, quando Iselin - um ano antes do escrito de Voltaire - *

divino deixava de existir, a Historie se via obrigada a desenvolver editou, em 1764 , suas Philosophische Mutmassungen iiberdie Gechichte
interconexões, que - caso existissem - deveriam derivar da pró pria
Historia , uLa philosophic de Fhistoire est fondé sur les modifications et mm m li .
der Menschheil [Conjectura çõ es filosóficas a respeito da Histó ria
da humanidade).391 E quando Iselin tentou explicar a História
l'ordre sucessif des fits memes” - como formulou Wegelin, quando,
nos anos de 1770 a 1776, apresentou $ ua Philosophie de /7tistoire à
-'
wmm humana , de forma progressiva, a partir de motivações internas,
admitiu , de forma sincera: “ As revolu ções que descrevemos neste
Academia de Berlim , 380 Tratava-se de conseguir interpretar de livro constituem , no entanto, muito mais hipó teses filosóficas que
forma filosoficamente consistente a multiplicidade e a sucessão . / verdades histó ricas” .392
de realidades históricas, eliminando o acaso e os milagres, através Independentemente de a providência divina ou um plano na-
de fundamenta ções racionais. Para cumprir essa tarefa, a Historie lii :
tural continuarem a agir nos bastidores , foi a coragem de formular
se serviu cada vez mais de hipóteses , que possibilitavam superar hip ó teses que permitiu a elabora ção filosófica de uma nova História .
lacunas no conhecimento dos fatos e tirar conclusões sobre o des-
Si
m Os historiadores e filósofos morais escoceses, que haviam escrito
-
conhecido a partir do conhecido. Importava como disse Wegelin , m- : as histórias universais [Universalgeschichten] sobre a surgimento do

recorrendo a uma met á fora de Bacon consertar e complementar
Uum quadro meio apagado” , ou “ uma coluna danificada, a partir
4 -
mundo moderno, numa linha histórico-social e pr á tica , também
formularam esta premissa 393: “ fit examinaiing the history of mankind ,
de algumas partes originais” . O pressuposto te órico da “ pesquisa”
histó rica consistia em “ diferenciar entre a ciência histórica possí-
-
mi as well as in examining ( he phenomena of the material world, when we
cannot trace the process by which an event has been produced > it is often of
vel e a verdadeira” .389 Com isso, tamb ém aqui - em acordo com a
hierarquia aristotélica - a Historie se aproximou da Filosofia .
li
: Ég
importance to be able to show how it may have been produced by natural
causes... To ( his species of philosophical investigation, which has no appro -
No seu Discours, de 1754, sobre a origem da desigualdade :lílS priated name in our language, I shall take the liberty of giving the title of
humana , Rousseau havia elaborado uma histoire hypotétique, cujas Wm - Theoretical or Conjectural Histoty, as employed by Mr. Hume, and with
.
conjectures se transformam em motivos racionais, Uquand elks sont
le$ plus probables qu'on puí sse titer de la nature des dioses” Constitui-
ria tarefa da Historie estabelecer relações entre os fatos, Ves à la
*
m
'¡ mm m
&
- .
what some French writers have allied Histoire Rai$onée” m
També m na Alemanha, foi esse “ eterno burilar uma teoria da
História ” - de que foi acusado Gatterer395 - que clareou os princí -
philosophie r) son défaut , de determiner Ies fits sembtables qui peuvent
Her” *90 Graças a essa liga çã o entre Filosofia e História , no sé culo
les mi pios racionais de constru ção necessá rios para o conhecimento do
mundo histórico. Friedrich Schlegel resumiu o status de reflexão
XVI Í I a doutrina do Direito natural foi historicizada . Bra preciso SI cient ífico- teórica que havia sido alcançado em torno de 1800,
se certificar da natureza da História , para conseguir entender in
terconexõ es, sem precisar recorrer a razões ou fins supra-históricos.
- 111 YA ISELIN, Isaak . Philosephischt Muthm assungen. Ueber die Geschichte der Menschheil. Frankfurt /
Nesse sentido, estamos diante de uma fundamenta ção antropológica m . . .
Leipzig, 1764, 2. Auft : Ueber Me GtschUhU étr Mensehheit (2 vol*.) Zurique, 1768.
m ISELIN, Utbcrdie Gcschichte der Mtnuhheit (vol. 1), p. 201.
MEDICK, Hans. Naturzustand tiudNtUurgeschichtcderbiirgeiVchtn Gcselí schaft.Gottingen, 1973,
.
w WEGELIN, jakob $ur la philosophic de
1770. Berlim , 1772 , p. 362.
,
Phtetoire , NoveaaxHtemõlns d? VÂ cnâé/ní eroyale oito
: MI .
(nota 55) 200 (nota 84) .
.
p, 137, 190, 203, 306 e segs.; a respeito da história da palavra "history*', cf. ibid . , p 154 e seg .
WEGELIN,Jakob, Brie fe (cf. nota 288), p. 4; a respeito, cf, BACON, Francis. The advancement
.
Ml STBWAfLT, Dugald Account of the life and writings of Adam Smith (1793). In: HAMILTON,

oflearning 2, 2 , I c segs. In: Works (vol. 1) ( reimpreso de 1963), p, 329 c segs.


; ê William (Ed .). Colhcled Walks (vol. 10). Edimburgo, 1858, p. 34.
5)5 (
Anónimo) . Schreibcn au $ D... an cinen Freund in London viber den gegenwarrigen Zustand
ROUSSEAU. Discours sur 1’origine et le $ fondemen de I’infgalité parmt les homrnes. In: dcr historischen Litteraturin Tcutschland. t>¿rTeufsehe Mcikur, vol. 2, 1773, p. 253. Agrídeço
*
Oeawcs computes ( t. 3), 1964, p. 127, 162 e seg. W. i a Jü rgen Vojs pela indicaçào.
Kl
152
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a : 5 ;: . :

da seguinte forma: “Já que se fala tanto contra hipóteses, está na -


vai mostrando aos poucos” .300 “ No conceito da História, [estaria
hora de alguém , um dia , tentar come çar a História sem hipóteses. - .
contido] o conceito de uma progressividade infinita” , que age nó : •

Não se consegue dizer que alguma coisa é, sem dizer o que ela
é. Enquanto se pensa neles, os fatos já sao referidos a conceitos, e
não é indiferente a que conceitos eles sao referidos” Quem abriria .
iii
w
sentido “ de acelerar o progresso da humanidade na construção de . :/ -
uma concepção geral do Direito” . Por isso, em 1800, Schelling sè :
deu por satisfeito com o fato de que “ o ú nico objeto verdadeiro dá - ;
'

mão da reflexão teórica ficaria entregue a uma escolha aleatória , se Historie só pode ser o surgimento gradativo da constituição civil
vangloriaria de “ possuir sólida empiria pura totalmente (¡ posteriori , universal , pois exatamente este é o ú nico motivo de uma História” ;
” m
mas estaria perseguindo, de fato e sem perceb ê-lo, “ uma visão a toda e qualquer “ outra História” seria puramente “ pragmá tica” .
399
imimm
priori, muito unilateral, muito dogmá tica e transcendental ” - foi
-&:z;
Depois que a Filosofia havia sistematizado a História , essa
História podia retroagir sobre a Filosofia e compreendê-la histo-
assim que Schlegel retomou a crí tica kantiana. 396 Na formula ção
de hipóteses, foram unificadas demandas científico-teó ricas es-
pecíficas da disciplina com reflexões transcendental filosóficas. - iil ®

ricamente. Para Fichte em 1794 , “ a Filosofia... [era] a História

sistemá tica do espí rito humano em suas formas gerais de agir” .
400

Assim , a “ primeira pergunta ” que o jovem Schelling fazia “ a uma Assim, “ por motivos racionais, mediante o pressuposto de uma
Filosofia da História” foi a seguinte: “ como uma Histó ria como tal experiê ncia como tal, antes de qualquer experiência determinada
[Geschichte iiberhaupt] seria imagin ável, já que, se tudo aquilo que é, :
'¿
0
-
: anterior, [se poderia] calcular a marcha do gênero humano” . Como
para cada um , só é posto através de sua consciência , tamb é m toda filósofo, seria possí vel mostrar quais são os degraus de cultura que
a História passada, para cada um, só pode ser posta através de sua 3®l|i uma sociedade deve percorrer, como historiador se estaria perscru-
•A
consciê ncia > .
> <107
tando a experiência para saber que degrau, em determinado tempo,
*

A partir da Filosofia da consciência, o Idealismo alem ão de- : teria sido efetivamente alcançado. Constituiria tarefa simult â nea
senvolveu Filosofias da História que incorporaram os pressupostos à S: dos filósofos e dos historiadores reconhecer os futuros meios de
até aqui descritos da época do Iluminismo, e as sintonizaram entre • *
>: -> ;
*
satisfa ção das necessidades.401
si. A unidade de sentido esté tica das representa çõ es hist ó ricas, a Para Hegel, a convergê ncia de Filosofia e História fora inte-
moral atribuída ou buscada na História e, finalmente, a construção •

gralmente alcançada. O autodesdobramento do Espí rito se reali-


racional de uma História possível - todos esses fatores foram articu - zaria tanto na Hist ória quanto na Filosofia - e isso se mostraria
lados numa Filosofia da História , que acabou estatuindo a “ própria
Hist ória” [Geschichte selber] como racional, e a reconhecia como
m &
.
tamb é m na historiografia. Tanto em sequê ncia sistem á tica quanto
em diacrônica , Hegel classificou a escrita da História em três tipos:
racional. Aquilo que Kant ainda havia formulado como postulado
:
W ‘
a original, a refletida e a filosófica.402 Nesse aspecto, ainda n ão se
ft
moral, e elaborado de forma hipotética, foi compreendido agora ií .
;v :
distinguiu de seus predecessores, quando, para ele, “ a Filosofia da
como emancipa ção do Direito ou do Espí rito ou da Razão, e de « História não [era] outra coisa que a apreciação pensada da mesma” .
:;í;í«í3 & Era decisiva “ a simples ideia da razã o de que também na História
suas ideias no processo da Histó ria . Schelling disse mais adiante: ‘
' ífiv
“ A História como um todo é uma revelação progressiva , que se
'
W7 , s SCHELLING, System..., p. 603.
tf .
- fiW-
mn í

m Ibid ., p. 591 c seg.


. - .
SCHLEGEL Friedrich , A í henaums Fragment Nr. 226 \n\ SãmdUht Warke (l1 sc çào, vol. 2), FICHTE. Ü ber den Unterschied des Geistes und des Buchsttbcns in der Phiiosophie. In:
.
1967, p 201 e seg. 7
¿: Akademie- Aufg bí (vol , 2 /3), 1974, p- 334.
ú

3
SCHELLING. System des U â nszcndcntalen Idealismu í 4,3 (1800). In : IVcrkc {vol. 2), 1965, p. ol FICHTE . Einigc Vorlesungen liber die BtuEimnuag des Gelchrten (1794). In: Akadtmie-
590; a respeito, c£ MOL1TOR, .Franz Joseph. Idean zu enter kfit ] f(igen Dyitanuk âtr Qmhhhte. Ausgflbe (vol. 1/3), 1966, p. 53.
Frankfort , 1805. • §S0: f rnim/ L ,. (cf. nota 236), p. 4.
HEGEL, Die ó
- S&v 3

154
:S - rí U
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À COvnOU ?AÇAO DO MODttNO CONC 0TO De HiST&.lA
- . - • •: • • .
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* •

^^ ^ y V. • *

Vjinmdial as coisas aconteceram de forma racional Essa convicção


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¡
da Filosofia da Histó ria . Gra ç as ao transcendentalismo, a “ História0
V- -
e esse reconhecimento constituem um pressuposto decorrente da
apreciaçã o da História como tal ” [Geschichte überhaupt] A íii Com isso, . I Éf í se transformou em conceito de uma religiã o secular da consciê ncia ,
que continuava a atribuir à História , como revelação do Espí rito,
“ a História” , como coletivo singular de todas as Histórias indivi-
duais, n ã o é apenas resultado de reflex ã o racional , mas ela própria
Vá:;.. - as estruturas de uma teodiceia , “ pois - como escreveu Novalis406 -
'

toda a História é Evangelho, tudo aquilo que é divino possui uma



• V
constitui a forma em que se manifesta o Espí rito, que se desdobra
: íg U .:. Hist ória0.407 “ Deixa que eles meçam e pesem assegurou Droysen
no trabalho da História mundial “ Esse processo de ajudar o Espí rito
a chegar a si mesmo, a seu conceito, é a História0.404 Do ponto de — , nosso negócio é a teodiceia 0.408 Essa História produziu um ex-
cedente de fundamentação para toda a experiê ncia já vivida e para
vista de seu conte údo, esse processo constitui uma continuidade
no desenvolvimento da liberdade, que se concretiza na humanida- «ISIS; aquela ainda a ser vivida. Tamb é m as reservas metodológicas da
Escola Histórica não conseguiam se opor a que toda a çã o dentro da
de, Evidentemente , para si mesmo, o Espirito, que se exterioriza

m-u
História , desde então, fosse compreendida como açã o para a História ,
nas suas formas de manifesta ção históricas, permanece igual Sua
para uma História que atribuía a todo ato de fazer um objetivo, e a
concretiza ção crescente no tempo n ã o se perde no infinito de um
todo sofrimento um sentido. A nação como portadora do Espí rito
futuro ou de um passado, mas constitui sempre tempo realizado.
do mundo; a pol ítica como realiza çã o de ideias e de tend ê ncias,
Por essa raz ão, Hegel tamb ém compreende a Hist ó ria como
forças ou poderes; o fim inerente a todo acontecimento de executar
“ uma História que ao mesmo tempo não o é, pois os pensamentos, Má* : '

• o Direito; a “ ast ú cia da raz ão” de Hegel; a concretiza ção da liber -


os princípios , as ideias que temos diante nós, são algo presente...
dade humana ou da igualdade ou da humanidade no transcurso dos
Algo histórico, isto é , o passado como tal não existe mais, est á ;M- àm á
morto. A tendência histórica abstrata de se ocupar com objetos ina
-
'

mm$Ü M:
§ acontecimentos - todos esses topoi da linguagem social e pol í tica
tentaram , pelo final do século XVIII, incorporar o conteú do “ da
nimados difundiu-se muito, nos tempos mais novos” - acrescentou
ele. “ Mas se uma determinada era trata tudo historicamente, e, &
Histó ria como tal ” [Geschichte ü berhaupt ] em seu conceito .
$ Em 1830, Karl Heinrich Hermes constatou retrospectiva-
portanto, só se preocupa com o mundo que n ão existe mais, isto mmu -
mente que só ent ã o assim como a verdadeira ci ê ncia da natureza
é, quando só se frequentam cemit é rios, então o Espí rito acaba com
sua própria vida , que consiste em pensar a si mesmo0.405 Hegel,
* ;
- também a ciê ncia da História estaria começando. O “ conceito
de História ” até agora utilizado seria imprestável e tautológico:
'
í:
ao reunir no seu pensamento a unicidade de qualquer situação
“ A História é a representação de acontecimentos curiosos , apa -
com a determina çã o de toda a História como História da raz ão,
rentemente, n ã o significa outra coisa que a Hist ória é a História...
antecipou a crítica àquele Historicismo que n ão mais podia lidar
com essa tensã o, e se recolheu para o tempo perdido do passado. §0 % Somente com os mais recentes progressos na ci ê ncia do Espírito
Por outro lado, a Filosofia da História do Idealismo alemão
- com base nas suas premissas iluministas forneceu a estrutura
duradoura da qual a Escola Histórica não conseguiu mais desven-
cilhar-se, independentemente de sua crítica ao car á ter especulativo

.

-m ám*

á
Vp :
;
conseguimos penetrar mais profundamente no significado da His-
tória ; somente através de Fichte, Schelling e Hegel descobrimos
aquilo que antigamente só era intu ído por rar íssimos espí ritos, isto
é, que História é o desenvolvimento do Espí rito na humanidade, e
iv^
v

Çt I:
4M
lbid,. , p. 25. 28. . -
M r ’.v :'
;
JCi
-
NOVAL1S , Fragmente undStudien 1799 1800, Nr. 214. In : GesammtUt V/erke (vol . 3) , 1968 ,

«
'
/
p. 586 .
104
Ibid . , p. 72; cL HEGEL. Ewkilung in dieGachMtU du Philosophic . Hamburgo , 1959 (reimpresso de I w Novati ». Die lehriinge 2 U Sais . CtsammeUe Wtrke ( vol . 1) , 1960, p. 99.
1966), p. 111 (editado poc Johannes Hoffnieister, 3. Aufl . Resumida; e por Friedhclm Nicolin). ipil!
5 ^ 3«
491
Johann Gustav Droysen, em cam a Wilhelm Arendt , de 30 de setembro de 1854 . In:
4C 5
HEGEL, Êfiife/Ííi íig..., p. 133 esegs . HOBN Ê R , Rudolf (ed.). Bríefweehsil (vol . 2). Stut í gart / Btrlim , 1929, p, 283.

15 ó
MII 157
O cotarro Oí Harte
*

cabe agora a nós - depois desse reconhecimento montar, a partir -


Jp Mm*
A CCfriflOu íACÀO oo MOOtfNO COHCfriO Oc H $íó?,'A

é, se na História sempre acontece algo mais ou algo ineifos:d àq ú ilo;M /Ev ;::

^ ^^
do material bruto que até agora nos foi oferecido com o nome de
:

vT que está contido nas preliminares , ent ão nenhuma análise/cáu Sl p:;


:

Hist ória, o edifício cient ífico da Historia ” /* 09 i :S sal consegue dar conta da singularidade de uma situação ^
-
d) Resultados da guiñada hist órico filosófica ao tempo da
« formulação de Creuzer, se l ê o seguinte: “ O Espí rito pr óchra- pórii/i ivS^
revolu ção. As Filosofias idealistas da Hist ória tentaram fundamentar mstP
ii ma: nexo ... Somente ^
a unidade da Historia em sua extensão temporal e no modo de sua
movimentação. “ Evoluções progressivas, sempre crescentes, sao a
matéria da História ” ( Novalis).410 “ Aquilo que n ã o é progressivo
mss
m : :
) ::
uma unidade que está acima do pr óprio
essa unidade pode ser chamada de histórica
uma ideia” .413
...
causal
ou de unidade de V;

Herder, Hegel e Humboldt, cada um a seu modo, descartaram


.
não é objeto da História” (Schclling) 411 Ainda que se especulasse como banal a abordagem pragmá tica , que busca causas e efeitos a -
sobre o in ício e o destino da Hist ória mundial, isso sempre acontecia
com vistas a um diagnóstico sobre o próprio tempo. Só ent ão o
conceito de “ História ” se tomou capaz de preencher, para alé m de
qualquer mé todo científico, o espa ço antes ocupado pela religião
iSSS
liberdade se perderia na necessidade. Com isso , o abandono de um
nexo causal entendido de forma mecâ nica baseado em fatores
que , por natureza , são iguais - levou à visualiza ção de um tempo
histórico que é inerente a todos os fatores e, com isso, os qualifica

eclesiástica, só então o conceito estava apropriado a trabalhar com
as experiê ncias da revolução. Vamos citar três crit é rios que foram
mê W de forma historicamente diferente. Nunca é indiferente“ qimuh algo
aconteceu , ou teria acontecido, ou irá acontecer ” , disse Herder. “ Na
decisivos para a liberação de um novo tempo, que, na reflexão
m verdade, toda coisa mutá vel tem em si a medida de seu tempo; essa
-
histórico filosó fica , levou ao novo conceito de “ História ” .
Primeiro, a Filosofia idealista da História introduziu o axioma
do cará ter ú nico [ Emmdligkcit ] , sobre o qual se baseavam tanto o
mh medida existe mesmo se nao existisse outra; n ão existem duas coisas
que tivessem a mesma medida do tempo... Portanto (pode-se dizê-
lo de maneira sincera e audaciosa), no universo existe, ao mesmo
“ progresso” quanto a Escola Histórica. A soma das histórias indi iB ^
- illS tempo, uma infinidade de tempos” . Com isso, Herder resumira,
viduais foi elevada à unidade da própria História [Geschichte selbst] y
numa fórmula , a vivê ncia básica da modernidade, na qual estão
.assi
que é ú nica, por natureza , Essa concepção, que tentava dar conta
contidos tanto o “ progresso” quanto a “ História” 414 , fórmula que
da experiência da Revolução Francesa , fez com que inicialmente a
aná lise causal pragmá tica do íluminismo fosse relativizada. Schlõzer
wmw
- }<
&* quase o assustou - a contemporaneidade do não contemporâ neo
ou a nao contemporaneidade do contemporâ neo. Por isso - como
v.
!

ainda havia destacado, de forma aditiva e mais quantificante, que o


Herder aventou contra a determinação kantiana do tempo como
conceito de História, “ no seu significado mais nobre , . [incluiria] .. :
pura forma de concepção interna o tempo seria “ um conceito
o conceito secund á rio de completude e de interconexão ininterrup- m i£
:vm ¡.
ta” Essa História se transformaria em “ Filosofia” quando “ sempre <wm de experiência ” , 415 Ou, como Novalis deduziu de forma afor ística:
-
^
$ “ O tempo é o historiador mais seguro” .416
vincula efeitos a causas” .412 Mas se a História sempre é ú nica, isto

09
HERMES, K íH Heinrich. BlUUc am dtr Zeit in die Zeit , Randbemerkungen zu der
Tagesgeschichw der temen fimfundzwaazigjahte (vol. 1). Bramuchweig. 1845, p. 11. Trata se
-
-
- m CREUZER , Geotg Friedrich. Die hhlorisehe Kanst dtr Griuhtn in Hirer Enwthitng tnid
Patlbifdung. Leipzig, 1803, p. 230 e nota 37.
de uma preleção dada em Munique» no verlo de 1830, sobre a Revolução Francesa. m Cf. o verbete Portsihritt' [progresso], no vol. 2, p. 355 e segs. (de GtrehUktíUhe Gnwdbcgriffe.
“ 1

. .
NOVAUS. Die Christenhejt oder Europa (1799). In: Gesatnmehe Werkt (vol 3), p 510. • Mn HistorJsehes Lcxikon zuc politisch -
soziakn Sprache in Deutschland , no qual est á tamb é m o
<1 SCHELL1NG. Aus derMAiigeme
[
Í nen Ü bemchtderneuestenphUosophiíchcnLiteratui ” In:
S .
presente texto (N T.J).

m SCHLÕZER, August
.
Wttke (vol. 1), 1958, p. 394 •.
’ ¡V ' ~ . m HERDER. VemandimdEifahrung. EineMetakiitikzurKritikdcrreinenVcrnunft , Uparte
Ludwig. Pottztizung rirr alhgmthicn W(UhíSíorU (vol. 31). Halle, 1771, (1799). í n: SHmtlkht Wttkt (vol. 21), 1881, p. 59
.
p. 256; SCHLÕZER , August Ludwig WeltGuchUhtt nadt than HauptThtiltn im Amzug uiui v:
NOVALIS, Das AHgemeine Brouillon (1798/99), Nr. 256. In: Gesammdte Wake (vol. 3),
Zusammtahange (vol. 1). 3. Aufl., GiJttingen, 1785, p. 8.
:vS;. -
. -
p. 286.
: «l ,

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158 m
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159
mi
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O CONCHO cz HsrófiA
A CONélGUíAC óKiW OONCCflO 0 H SIÓÍiA
m ^O OO It £ í

Herder também introduziu o conceito de “ força” [ Krqft ] na " A m


• :&,m
m wm para o próprio comportamento. Schlõzer, cujas an á lises causais ha-
reflexã o sobre a Hist ória , que, em sua orienta ção temporal, igual
mente escondia dentro de si a capacidade para a individua o ,
- m . viam “ despido” todos os acontecimentos “ de qualquer casualidade” ,
a unicidade histó rica. Dos impulsos mecanicistas de eventuais
çã para
ra-
31 coerente, ainda partia do pressuposto Mde que n ã o acontece mais
nada de novo sob o sol ” .421 Dessa concepção de que haveria fatores
zões psicológicas constantes se originaram forças din â micas.417
Essa Ui
m ví permanentes, é que derivavam o cará ter pedagógico da Histó ria e
vi£‘ -
perspectiva foi utilizada por Humboldt para criticar outro legado
a previsibilidade do comportamento pol ítico.422
'
V:
do í luminismo - as determina çõ es finais da Hist ó ria . “ A assim
chamada História filosófica” - de Schiller, por exemplo418 - ante- =;v:
Mas Kant derivou da mesma premissa da const â ncia dos -
poria à Hist ória “ um objetivo, como se fosse um adendo estranho. “ efeitos e contraefeitos” - a conclusã o oposta: “ que as coisas fi-
¿Ã jí
.
carão como sempre foram” , motivo pelo qual não se pode prever
Não se deve perscrutar as causas finais, mas as que movimentam; cf
• :
.
nada 423 Tal comportamento levaria à “ inaniçã o” , e todo o esforço
não se deve enumerar acontecimentos antecedentes dos quais sur
giram os posteriores; deve-se comprovar a $ forç as às quais ambas - histórico- filosófico de Kant visava a fundamentar uma previsão de
devem sua origem” . Ali onde caberia avançar “ até as forç as agentes il
lipi
que a “ História da humanidade” , no futuro, seria diferente - e isso
em sentido melhor. Se toda a Histó ria é ú nica , tamb ém o futuro
e criadoras” , n ão bastaria mais o recurso à aná lise causal - que, A# ¡
8
em tese , é admissível e necessá ria. Em ú ltima inst â ncia , as forças - : deve sê-lo.
vr -
!

estão enraizadas nas “ ideias” que são orientadoras e “ perpassam Assim , a Filosofia da Hist ória levou a uma reversã o do fu -
..., turo. Do progn óstico pragmá tico de um futuro possível, surgiu
como produ ção de força , a Histó ria mundial ” [ Weltgeschichte] . Mas
não seria possível “ derivá-las de circunstâ ncias concomitantes” ,419
É|
S a expectativa de longo prazo sobre um novo futuro, que deveria
Assim , de História - como conceito transcendental de refle- determinar o comportamento. Essa nova determina çã o temporal
xã o - surgiu um conceito reflexivo. Na formula çã o de Novalis: “ A teve reflexos sobre o conceito de História: tran $formou-se também
I-Iistó ria se produz a si mesma ”.420 A incomparabilidade, a unicidade :ÍSI num conceito de ação. Evidentemente, a frase muitas vezes citada
de situa ções históricas concretas - também efeito da Revoluçã o asi de Kant de que o homem pode prever os acontecimentos que ele
mesmo desencadeia , continha uma conotaçã o iró nica. Ela se vol-
Francesa - levou à História criadora, produtiva.
Com isso, em segundo lugar, se modificou o potencial prog
nosticador das velhas Historien. Sua tarefa tradicional de servir de
- »1
:m%
tava contra o anden régitnc , o qual , com sua pol í tica anti-humana ,
estaria, ele próprio, produzindo as consequ ências que tanto temia.
Kant era mais cuidadoso nas suas mediçõ es da História como es-
mestra para a vida deixou de existir tã o logo nã o foi mais possível
comprovar situações an á logas das quais se pudesse tirar conclusões
l; pa ço de ação moralmente determin ável. A sua pergunta “ como é
possível uma Histó ria a priori” , deu uma resposta apenas indireta ,
Cf. o posfteio de Hans Georg Gadamer a Herder: Au<h eint Philosophic des CtuhUhte
- zut Bildnng
HI
fifi P
pois aquilo que os homens devem fazer eles n ã o o fazem , de forma
alguma. Simultaneamente, enxergava no eco moral frente à Re-
.
dtr Mcntthhtit Frankfurt, 1967, p , M6 e segs., em especial p. 163 e segs.
4IÍ
Cf. SCHILLER . Was heisst und zu welchem Ende studierc man Un íversalgeschichte
? í tw - : volu ção Francesa um “ sinal da História” (“ signutn rememoralmm ,
- . ...
SthilUr Atts&be (vol 13), s . d ., p , 20 cseg: “ O esp í rito filosó fico produz uma causa ’ Ç3K dentomtrativum , progtiostikon” ), que indicaria para uma tendência geral
para o transcurso do mundo e um princ í pio ideol ógico para a Histó ria do mundo"
racional
- *
j
I o futuro traz dificuldades ao homem para sua concretização.
.
m HUMBOLDT Betrachtuugen Ubcr die
bewegenden Umehon in der Weltgeschichte
se esse
enfoque se confirma ou é refutado, isso ficaria em aberto, tamb é m quando a vontade de acelerar
mm ao progresso. Desde entã o, considerava certo que “ o ensinamento

.
(1818). Jn ? Aki\dét )tfz ~ Ausgabe (vol 3), 1904, p. 360; HUMBOLDT, Ü ber die Aufgabe
.
Gc3 chichtschreibet $ (cf. nota 153), p 46 e seg., 51 e seg. a
des sss # 421

, .
SCHLÕ ZER , WcitGtsthíchU (vol 1), 3. Aufi . p. 9.

10 I
4 2
4Í > KOSELLECK , Historia mag ístra vitae (cf. nota 224 ), onde hl mais cita çõ es.
NOVALIS. Fragmente und Studien 1799-1800, Nr. 541. In: Gtf âmnteUe Wakt (vol. 3), p. 648.

160
«
;
1
: i S ;
KANT, í dcc... (cf. nora 360). In: Abademk Amgobi (vol . 8), p, 25 .
-

lól
mm
««¡P
O CONOfTO C HtfTÓSlA A cortfiOvwçAo DO /¿ODWJO ccsNcçrro Dê Hisróxt
*
através da experiencia repetida” levaria os homens a promover
uma constituiçã o na qual, em consonâ ncia cotn o plano natural »
P elaboração do passado se transformou em um processo de educa ção
que progredia junto com a Hist ória, e que, por sua vez, tinha efeitos
vigorariam a liberdade e o Direito. *24 Enquanto Kant criticava
" HT .
sobre a vida. E , nesse processo, a revolu ção, em sua classifica ção
os teólogos naquilo que tange ao passado, dizendo que “ é uma histó rico-filosófica , ocupou o lugar das Hist órias que vigoravam
mrs
mg;.
}
superstição” a afirmaçã o de “ que a fé na História é um dever e até então . Nas palavras de Gõrres: “ Todo presente deve apostar
-
que leva à bem aventuran ça” , ele próprio investigou o futuro da m em si mesmo , pois ele mesmo sabe aquilo que melhor lhe agrada e
História com inten çõ es prá ticas, como sendo planificável.425 “ Vê- serve... A História consegue ensinar pouco a vocês. Mas se vocês
se: a Filosofia també m pode ter seu quiliasmo” 426 -
S: : querem aprender com ela , tomem a revolu ção como mestra , [já
Assim , o tratamento histórico-filosófico da Revolu çã o France- que] o andar preguiçoso de muitos séculos acelerou-se com ela ,
sa conduziu a um novo alinhamento entre experiê ncia e expectativa . para se transformar num ciclo de anos” .429
A diferenç a entre todas as Hist órias at é aqui e a Hist ória do futuro A acelera ção, que na época foi reiteradamente destacada , cons-
foi temporalizada num processo em que se torna dever do homem titui um ind ício seguro da exist ê ncia de forças imanentes à His-
intervir com sua a ção. Com isso, a Filosofia da História deslocou tória , as quais dão origem a um tempo histórico próprio e pelas
de forma fundamental a antiga import â ncia da Historie. Desde o quais a Era Moderna se distinguiria do passado. Para dar conta da
momento em que o tempo adquirira uma qualidade hist órico- unicidade de toda a Hist ó ria e da distin ção entre passado e futuro,
dinâ mica , n ã o foi mais possí vel - como se fosse um retorno natural importava reconhecer a História como um todo, a realidade, seu
- aplicar as mesmas regras de antigamente ao presente, regras que transcurso e sua direção, que leva do passado ao futuro. Os esforços
tinham sido elaboradas de forma exemplar até o século XVIII. “ A dos filósofos da Hist ória se concentravam na solu ção dessa tarefa .
Revolu ção Francesa foi , para o mundo, um fenômeno que pare- Na tentativa de cumprir essa tarefa , a velha Historie perdeu sua
cia zombar de toda a sabedoria histórica , e diariamente foram se utilidade, que consistia em recuperar os achados do passado para
desenvolvendo a partir dela novos fenômenos, a respeito dos quais a situa ção contemporâ nea. Hegel dizia: “ Aquilo que traz algum
ficou cada vez mais difícil buscar respostas na História” escreveu - ensinamento na Hist ó ria é algo diferente das reflexões dela deri-
Woltmann, em 1799, para tentar fazer algo em sentido inverso.427 vadas. Nenhum caso é totalmente semelhante ao outro... Aquilo
Em consequência - em terceiro lugar ~ também a importâ ncia que a experiê ncia e a História ensinam é que povos e governos
do passado na História se modificou. A História temporalizada e nunca aprenderam com a Histó ria nem agiram de acordo com o$
processual í zada como unicidade permanente n ã o podia ser mais ensinamentos que ela poderia ter fornecido” .430 Do diagnóstico
aprendida de forma exemplar - “ portanto, o objetivo did á tico é de Hegel se pode deduzir teoricamente o lugar das novas ciê ncia$
incompat ível com a Historie” . A História deveria, muito mais - como históricas. Como ciê ncia do passado , ela só poderia ser praticada
-
continuou Creuzer , “ ser encarada e explicada de forma nova por por si mesma - a n ã o ser que ela , pela via da forma çã o histórica ,
cada nova geração da humanidade que est á em progressão” .428 A interfira de forma direta na vida.
:« Humboldt deduziu desse diagnóstico exatamente a mesma
coisa . Também a Histó ria na compreensão da Era Moderna seria
aJ *

í eg., 84, 88.


-
KANT. Str« it der FakulCá ten (cf. nota 297), § 2. In : AkadtmU Ausgabz (vol. 7 ), p. 81 c 5 cg., 79 í
“ aparentada da vida ativa” , pois ela não prestaria mais seu serviço
,,s Ibid., §
U p. 65.
124 ... . . .
KANT» Idcc. 8.5au In ; Akademic- Auszabt (vol . 8), p. 27; cf KANT Stre ú dcr Fakult á ten , -P

:
p. 81. :W
: b m GÔRRES» Joseph. Teimchbnd unddie Revolution
0819). In: Gtiàmineítt Sàmfíetl (voL 13),
.
w WOLTMANN, Karl Ludwig (ed .). Geuhkhte und Polilitt Eme Zemeht ,
í ft Berlim , 1800, p. 3.
4U
.
CREUZER , Hiftorische Kunst (cf noto 413), p. 232 e seg. « I
1929, p. 81.
HEGEL, Die Vernunfí ... (cf. nota 236), p. 19.

m
4 V)

1 Ó2 163
O CONC ÜTO 0 HiStóllA
Split -
A «WflGiJUÇAO 00 MOOü NO CONC Ó fO DC H $TÓÍ. U
>

“ através de exemplos individuais para aquilo que deve ser seguido 3. A "História ' se define como conceito .
IIIM e
7

ou evitado, pois [esses exemplos], muitas vezes, induzem a erros, e 3¡J:


raramente ensinam alguma coisa . Sua verdadeira e incomensurável
utilidade está muito mais em avivar e esclarecer o sentido para lidar lili i A História narrativa , o ato de contar [ Erzahlung ] , encontra se
entre as formas mais antigas de intera ção humana , e isso ela continua
-
com a realidade a partir da forma inerente ao acontecimento do que
§m m
. , . .. & sendo at é hoje. Nesse sentido, seria possível considerar “ História”
através de si mesma” .431 Em termos modernos: existem estruturas
'
>
como um conceito fundamental permanente da sociedade, em
formais que se mantêm ao longo dos acontecimentos, condições lili especial da sociabilidade. Se, no século XVIII, “ a Hist ória” - cuja
para Hist órias possí veis, cujo conhecimento antes se refere à prá tica
do que o conhecimento das condições.
'

- fundamentação terminológica e te órica tentamos conhecer até


aqui - foi configurada como conceito fundamental da linguagem
Dessa forma , a Filosofia da História explorou um moderno
espa ço de experiê ncia através do novo alinhamento de passado e
l!üi

social e polí tica , isso aconteceu porque o conceito adquiriu o status
: :: : •

de principio regulador de toda experiê ncia e expectativa possível.


futuro, através da qualidade histórica que o tempo adquirira - e é
da í que toda a Escola Hist órica, desde então, busca inspira ção. A
unicidade das forças e das ideias, das tend ê ncias e das é pocas que
se produziam a si mesmas, mas també m dos povos e dos Estados,
- -i
Com isso, se modificou a importâ ncia da “ Historie” como ciê ncia
proped ê utica - como se pretende mostrar de forma esquemá tica ,
a seguir: “ a Historia ” foi abarcando de forma crescente todos os
vV -&::í-> v ' á mbitos de vida , enquanto simultaneamente ia sendo guindada à
-
'

n ão podia ser neutralizada através de nenhuma cr ítica de fontes. Era •

:: posi çã o de uma ciê ncia central.


-
natural que, quanto mais bem sucedido fosse o mé todo histórico-
cr í tico em derivar fatos duros do material encontrado nas fontes,
* .
:lil £
> ?:::«] í

$
;

As eruditas á rvores geneal ógicas, que desde o Humanismo


foram classificando todas as á reas do saber da histeria e ordenando-as
tanto mais forte se tornava a cr í tica à especula çã o hist órico filo-
sófica , de cujas premissas teóricas a Escola Hist órica , n ão obstante,
- num espa ço que admitia algumas variações, utilizavam invariavel-
mente os mesmos esquemas classificatórios: em primeiro lugar, a
continuava a se nutrir. Por isso, Ferdinand Christian Baur podia iü i
dizer, com razão, em 1845: “ Com essa assim chamada cr í tica das historia foi estruturada temporalmente, de acordo com os quatro
fontes, por si só, se avan çou muito pouco , enquanto n ã o se reco- ' rnshy
impérios, por exemplo, ou entã o (forma popularizada desde Celá rio)
nheceu que a Hist ória como tal [Geschichte überhaupt ] é cr ítica” . m*¡ como História antiga , medieval e moderna433; em segundo lugar,
l& lí » a historia foi classificada em á reas , quando a tripartição em historia
Na História , aconteceria uma mediação entre passado e presente,
mas somente na medida em que o sujeito teria consciê ncia cr ítica
dessa media ção. Só então o “ processo hist órico externo” se trans-

divina> civitis, naluralis se tornou a mais usual ainda que crescen-
temente questionada, desde Bacon; em terceiro lugar, a historia

forma num “ processo mental , através do qual o homem chega ao • foi determinada por crit é rios formais, como historia universalis ou
conhecimento de sua essê ncia . Pois, para saber que ele é, precisa
^
w specialise em quarto lugar, segundo formas de representação, sendo
definida , por exemplo, como arte narrativa ou descritiva. É evidente
saber “ como chegou a ser ” . A cr ítica é que permite relacionar a ;
objetividade da Histó ria e sua elabora ção subjetiva. “ Na cr que cada uma dessas redefinições nesses esquemas tivesse reflexos
História por si só se transforma na Filosofia da História” .432
ítica , a
* •

sobre os outros, na medida em que todas as afilia ções da historia se


$
: -iii I encontravam numa rela ção sistem á tica entre si .

HUMUOLDT, Di ç Aufgabe des Geschkhtschreibets, p, 40.


-m
mn i
,
4 2
BAUR , Ferdinand Christian , KritisclieB dirige a Uí Kirchen geschichte der erstenjah thunder te, m< .
m Cf o verbete" Zdl¡ ZeUnitcr" [Ao contr á rio do que previa Kosdleck nesta now , o verbete sobre
mil besonderer R íicksicht íiufd íe Werke von Neander und Gieaeler. Theohgixhtit.
.
4 * 1845, p 207 e seg. mi “ tempo” e “ é poca" nao apareceu nos GesdiUhtlUhc Gtunàbtgfffft nem foi por de publicado à
parte posteriormente (nota do revisor té cnico)) .
%

M
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164 : 165
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O CONC6TO D£ KiSIÔSIA
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V . i' 1 í
ISSSsV. A CONRGUPAÇAO OO CCNCCifO D* HFSTÓSIA

V
' A :'.:: : --
.V / . -*

mm
i: : A configuração da Historia como conceito que está na base de presente, se baseava em experiê ncias pró prias , naquilo que tange -
. tudo pode ser mostrada à mão de três processos: [ primeiro], na elimi-
naçã o da historia naturaiis do cosmos histórico, fato que, no entanto,
.
ao passado, em experiê ncias alheias Desse aspecto temporal duplo i ;
- que pressupõe a unidade do mundo da natureza e dos homens -yY Y vV:-.
-
trouxe consigo a historicizaçã o da “ Historia Natural ” ; segundo , na também derivava a velha dualidade da representação, isto é; que à - i ; . . • '

fusã o da historia sacra coin a Historia Geral; e, terceiro, na conceitu- 4ptf .


Historie tanto descreve quanto narra Justus Lipsius foi mais longe;Y ; ’
alização da Historia mundial [Weltgeschichte] como ciência-mestra, - Yi contrapondo a historia naturaiis descritiva à historia narrativa , a qual,
que transformou a antiga Historia universal [Unimsalhistorie]. por sua vez, se estenderia à historia divina e humana ***
a) Da ‘' historia natumlis” para a “ Historia da natureza ” : ;
« Foi sobretudo a historia naturaiis , o estudo da natureza, que, até
[ Naturgeschichte] . Conhecimentos históricos foram considerados, v. : Linné, descreveu situa ções derivadas de observações e de classificaçõ es
até o século XVIII, como pressuposto empí rico de todas as ciê ncias, da terra, dos reinos anima! e vegetal, e do espa ço estelar. També m
quando a expressão “ História da Natureza” [ Natur-Geschichte] des-
assim que Heckermann podia afirmar que devem existir tantas
Historien quantas são as ciências.414 Como conhecimento geral das íã#

bancou a uhistoria naturaiis” - como em Zedler, por exemplo^9 -, essa


experiências , a Historie tratava do individual, do específico, enquan-
to as ciências e a Filosofia visavam ao geral. Jônsío escreveu que se
a;-
JSS « - '• expressão continuava visando a situa ções da natureza, sem interpretá-
-las “ historicamente” A historicização da natureza que - em termos
saberia que " fundamentam omnis sáentiae esse historiam , observations, «SM modernos - se ia configurando, no longo prazo, isto é, sua classificação
exempla, experientiam, e quibus tanquam singularibus , scienlia universa - : -
temporal de forma que ela mesma ganhasse uma “ História” - n ão
les suas propositions format' ^ , ou , como escreveu , de forma inais
enfá tica , Johann Mathias Gesner, em 1774: “ ha Historia est quase
- se deu sob o tí tulo de “ historia naturaiis” , pois essa expressão estava re-
servada para a descrição daquilo que est á dado de forma permanente.
Bacon - que classificou a historia em apenas naturaiis e civilis -
civitas magna , ex qua progreâiuntur omnes aliae disciplinas
®g ainda compreendera a natureza como a-histórica. Mas ele a definiu
Dentro desse campo de experiê ncia , ainda era ó bvio que o yYM n como mutá vel, através da arte humana , motivo pelo qual colocava
conhecimento sobre a natureza fosse parte t ã o integrante da His -
torie quanto o conhecimento sobre os homens e suas a ções. Assim , a historia artium na historia naturaiis* , situação que explicava através
Johann Georg Büsch - com base nos modelos de Reimaro - ini - »a .
da expressão experimentalis 441 Mas a investiga ção sobre as causas que
ciou em 1775 sua Encyclopiidie der Wissenschaften [Enciclopédia das levavam à mutabilidade da natureza ele n ão mais inclu ía na historia
Ciê ncias] com o primeiro livro: “ Da Historie como tal [iiberhaupt ] • G:; iV 0r naturaiis, mas sim entre as ciências teóricas , a Física: “ Etenim in hisce
-
omnibus Historia Naturaiis factum ipsum perscmtaí ur et referi, at Physica
e, em especial, da História da natureza ... Historie ou Geschichte
;'
^ fê g itidem causas” 142
[História] denominamos todas as not ícias daquilo que efetivamente
é ou efetivamente foi ” .437 Essa Historie, como um saber sobre a rea -
lidade, era uma ciência de experiências que, naquilo que tange ao
mi .
Citado por Mcnke GKkkcrt , Die Gacht <hiss( hre¡bung. .i p. 34. O Sr. Galli chamou minha atenção
-
Mi — -
pauta o fato de que foram , sobretudo, eruditos católicos Beurer e Glaser que, enquanto faziam
a contraposiçã o teológica entre criador c criatura , també m fatiam a bipartição entre historia
nctlUfalU (que abarcava , simultaneamente , a Histó ria da natureza e a dos homens) e historiei divina.
51
-
MENKE GL Ü CKERT, Bmil . Die Gesdiichtsschréíbuitg d ( f Rejoitridlion utuí Gegetmfortttfltfcn ,
ZEDLER (vol. 23), 1740, p. 1063.
c» l
4ii
Osterwiek / Harz , 1912, p. 131,
. ; .
m BACON. Dedigmtatecuugmentisscientiarum , 2, 2 In: Woiks (vol. 1), 1864, p. 495; Pfmg$ ren
.
JONSIUS, Johannes De salptoilbus historic phihsophi^ e, 2 Aufí., Jem , 1916; reimpresso
4ii
DUsseldorf, 1968, p. 2 (editada por Johann Christoph Dorn ),
GESNER , Johann Matthias. Isagoge In oudílionem universale m (c. 1). Leipzig, 1774, p. 331.
i§I
• chama de
.
mas "nosentido maisamplo que apalavca ActcHistória [ KutulGesibtchie]
ou .. melhor Tecnologia possui". IViirde uitd Portgang der Whsensdtaften (cf. nota 371) p 178 i .
,
B ÜSCH , Johann Georg. Btuydopñdle der hislo/ isdien philosophlsehen mui niathcwiUischen
Whsenschaften. Hamburgo, 1775, p.|2. m
m
¡ 4 ,1

441
(com nota ).
.
BACON, Novum Organum 1, 111 Itt: Works (vol. t), p. 209.
BACON, De <ntgmenlis, 3, 4 ( p. 551).

l óó .7: I Ó7
ViíÇ i ?
'

II
O coucsrTô D é HwróííA ¡8li •

A CONFiGU ?AÇãO DO MOMSMO CWCC ÍTO OE KISTÓ MA '


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v.n :
-XX.-X .- .
M: ; \V ,
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m
"
• ; \v / * **

Com a abertura do futuro através do conhecimento progressivo . 1775: “ Numa compreensão muito inadequada , utiliza se a Í -
designar o registró áíIlv É
da natureza e com a ocupação de novas terras no alé m-mar, com
a descoberta de novos continentes e de novos povos, a expansão 11® História da natureza [ Naturgeschichte] para
descrição dos corpos pertencentes ao reino natural ” .448
®
^
temporal também atingiu o passado. Já no século XVII, ela atingiu
espa ços temporais que se localizavam além da cronologia da cria ção
da Bíblia.443 Leibniz, por exemplo, com sua Proiogaea - pensada
como introdu ção à sua história dos guelfos avan çou sobre esse
*1
lilM
»81
È verdade que Kõster ainda registra, ao Jado da narrativa - de
acontecimentos, “ também a descri ção de coisas que se mantê m ãò i 4 v -
longo do tempo” como pertencente à Historie, mas a “ simplesmê ntè C
assim chamada Historie” trataria somente de homens e de aconteci - ;
:

-

-
pré passado da natureza . Mas ele não chamou seu esboço diacrônico mentos que os envolvem .449 Em Campe, finalmente, a separa çã o se.
de historia naturalis , “ Inicio pela mais profunda antiguidade dessas íM H
sf completa: “ A descrição da natureza ..., isto é, das coisas na natureza,
terras, provavelmente muito antes que elas fossem habitadas por
-
s em especial na terra, de acordo com sua forma e suas caracter
Caso seja narrado seu surgimento, a forma como se mant m, suas é
ísticas.
seres humanos, de forma que vão muito alé m de quaisquer Histo
rien , buscando-lhes as caracter ísticas deixadas pela natureza” .444 Na
SM- - modificaçõ es enquanto durar, o tempo de sua duração , etc., entã o
estamos diante de uma História da Natureza [ Naturgeschiehte] , que
-
verdade , tratava-se de uma “ teoria da infâ ncia de nossa terra” , que
: deve ser diferenciada da simples descrição” .
possivelmente viria a fundamentar uma nova ciê ncia, a “ Geografia $ 450
MM '

da Natureza” [ Natur-Geogmphie] . Nã o se tratava de uma Historie, :: - Com a separação da antiga historia naturalis descritiva , também
se torna palpá vel o processo correspondente: o novo significado da
pois a fundamenta çã o das rela ções permanecia hipotética . ’ 45 Pela
mesma razão, ICanc, em 1755, recorreu a um t ítulo duplo - “ História
*

^® Ô{ í‘
Hist ória da Natureza que se impusera no meio século anterior. A
geral da natureza e teoria do firmamento” [ Allgemeine Naturgeschichte '

®MM própria natureza foi dinamizada e, com isso, se tornou passível de


und Theorie des Himmels] porque só através dessa expressão podia .Mí 7
uma Hist ória, no sentido moderno. Como escreveu Buffon , em
caracterizar seu esboço repleto de hipóteses, que temporalizara a : sua Histoire naturelle, de 1764: A natureza n ã o é uma coisa ou um
natureza, como um “ aperfeiçoamento sucessivo da criaçã o” .446 mm ’a
mm :
¡ ser, ela é uma forç a viva , “ iwc puissance vive... cyest en mêrne temps
A temporalizaçao da natureza , que abre seu passado finito em la cause et Veffect , le mode et la substance, le dessein et 1’ouvrage” . Ela é
direção a um futuro infinito, e preparava sua interpretação histórica , “ un ouvrage perpétuallemcnt vivant” e “ tm ouvrier sans cesse actif\ ao
realizou-se no â mbito da teoria, e n ã o da historia naturalis - e isso mesmo tempo.451 Corn esse avanço, que lhe permitiu classificar a
-x
corresponde à nossa Hist ória conceituai do século XVIII. Por isso, natureza em períodos históricos, fora encontrada uma definição que
.

- -
• ••.v.'-v v! ’sr"
n ão admira que essa tradicional pesquisa da natureza fosse sendo M Êm se aproximava bastante do conceito de História, o qual foi, entã o,
gL-adativamcnte exclu ída do cosmos das ciê ncias históricas. Natu - desenvolvido, na Alemanha, a partir de Herder: “ Toda a História
reza e Hist ória foram separadas. Voltaire falou , na Encyclopêdie, de SHI

da humanidade é uma pura História da natureza de forças, a ções


“ /7tistoire nattirelle, improprement dite histoire, ... qui est me parte esscn - e instintos humanos localizados no espa ço e no tempo” . Herder
452

tielle de Ia physique” .447 Adelung retomou esse distanciamento, em MJ *


i
concretizou a guinada . A natureza historicizada podia servir agora
í 1 A' i í-Í Kf õ r í
X ;M
iir i
^ human ;*
Aii
KLEMPT, Adalbert. Die Sdbihi¡sicrun¿ der unwtnalhisiorhthcn Aujfassung. Zum Wandel des
Geschichtsdçnkcns im 16. und 17. Jahrhundert . G ò uingen , I960, p. 81 c segs.
.
LEIBNIZ. In: PERTZ, Q H. (Ed.). GtuhUhMc Aufsaí ze ( vol. 4). Hannover, 1847, p. 240.
®®J ' X .
m ADELUNG (vol . 2) 1775, p. 601.
. .
m LEIBNIZ. Protog ua In: PEUCKERT, Will Erich (Ed.). Wake ( vol. 1).
.
Stuttgart , 1949 p. Dei*tí( he Encyd ò ptdie (vol . 15) , 1787, p. 649 e seg,
.
w CAMPE (vol 3), 1809, p. 461.
19; ibid , , p. 171 (versã o alem ã de Wolf v. f.ngelliardt).
K Á NT. Allgememe Naturgeschichte und Theoiie dcs Himmels (1755). In: Ahademie AtHgabi
.
(vol. í), 1902 p. 312.
- XSSsS p, 31.
. .
«I BUFFON . Histoite naturelle In; PIVBTEAU Jean (Ed .). Oturnspluhsoyhiquti . Paris, 195 1, -
H7
VOLTAIRE. Verbete “ Histoire . In: Emydopédie (t. 8). Genebra , 1765, p. 220 c s< g.
41
. ..
HERDER Ideen. (cf. nou 376), p 145. .
x: ] Ó9
168
mi
pM l) ftr

ppv-- '
O CONC&TO £>c H$TÓfcA
ê
: A CONfiGUZA ÇAO OO MODELO CQNCíflO tí RSTÓí IA

w; ~ Tamb ém aqui foi Kant quem , pela primeira vez, havia


dicado abertamente a mudança da historia
reivin
naturalis de velho estilo
- mm do individual com um todo” . Ela é um "processo do vir a ser no
tempo..., onde todo o reino das coisas visíveis - da pedra ao ho-

! í
para a Historia temporalizada da natureza . “ Por mais
- e com razão - a impertinencia das opiniões, deveque se odeie m: —
mem aparece como um todo inter-relacionado , desenvolvido
uma História da natureza que seja uma ciência separada,
progredir, gradativamente, de opiniões para
- se arriscar
que possa m
tMl
- em diferentes n íveis, como resultado de um processo lento de vir
a ser c vir a acontecer” .457
í conhecimento” .453
a b) Da " historia sacra” para a "Historia da salvação” [ Heil -
m i* 7
Em 1788, Kant procurou garantir "História da natureza”
¿

investiga çã o cientí fica, que derivaria a "configuraçã o [atual


para a sgeschichte] , “ Hisloriae, id estf verac narrationis tria sunt genera: huma -
i
natureza de causas localizadas em tempos mais antigos, de
] da
<
.
tumi, naturale, diuinum” A Historie humana trataria daquilo que
acordo é provável, a Historia da natureza daquilo que é necessá rio, e a
.
com leis naturais.. das forças da natureza ” . Essa ci ê ncia
deveria $e divina da verdade da religião.458 Bodin, que orientava essa sequ-
conscientizar das limita çõ es inerentes a seus princí pios

m
'

por isso, concretizar sua teoria através de hipó


racionais e , ência nas três doutrinas do Direito, enxergava nelas uma escala
i
teses - ao contr á rio de certeza crescente. Mas no seu Methodus , só abordou a historia
da descriçã o da natureza, que poderia concretizar um
i

pleto. Kant estava consciente das dificuldades


sistema com
terminológicas que
- SÉS ® humana, colocando-se, assim , na tradição da escrita temporal da
História, como ela fora desenvolvida pela alta Idade Média e pelo
apareceriam em decorrê ncia de sua historiciza
natureza ” , já que "Histó ria” e "Historie” s ã o
ção da "Histó ria da
utilizadas ao mesmo
:§# Humanismo. A Hist ória sagrada , na sequência , era tratada ou
separada da Historie política ou ent ão, cada vez mais, como uma
tempo no sentido de narrativa e de descrição. Pata
destacar o aspecto História secular, das Igrejas, ou das doutrinas religiosas, ou ainda
temporal decisivo da nova ciência , sugeriu denomina
- a íg
tivas, como "fisiogonia” [ Physiogonie] ou na
juízo (Kritik der Urteilskraft] - "arqueologia da natureza 454
a dificuldade lingu ística para distinguir não consegue ”

ções alterna
Crítica da faculdade de
. "Mas mz
mm
totalmente integrada nessa Hist ória secular. Com isso, também
459

a interpreta çã o teológica de todos os acontecimentos seculares foi


perdendo cada vez mais sua força.
eliminar a Um indicador dessa transformação está, em primeiro lugar, na
diferença das coisas” .455 Estava aberto o caminho para
da evolução do século seguinte,456 no qual a
as teorias eliminação da historia divina do cosmos do conhecimento histórico.
Hist ória se mostraria ¡ A Preigius, com sua Historiae synopsis, de 1580, parece ter sido um
como setor que orientava a pesquisa sobre a natureza . Nas
de Biedermann (1862): a História da natureza
palavras m vi
v;?pg| precursor, nesse campo. Ele só conhecia a Historia mundi majoris da
[ Naturgeschichte] , ao natureza como um todo, e a Historia mundi minoris de todas as a ções
contrário da ciência da natureza [ Naturkunde] , : '
*
come ç a "somente ali •

onde aparece uma í nterconexâo, uma permanê ncia , - í- - &


$ humanas, bem como as opiniones circa religionem aut plulosophiam ,
MM^ íVi
VV :
uma ligação em particular.460 Bacon tamb é m reduziu a Flistorie a apenas dois
:

KANT. Von den veeschiedenen Rassen der Menschen


4 JÍ
. a campos: a Historia naturalis e a Historia civilis, dividindo a ú ltima
.
1905, p. 445 Os cofundadores da Geologia na . -
(1775) In: Akadewie Ausgjbe (vol. 2),
. .Nvtfi;*.
; = em três categorias: “ primo, Sacram, sive Ecclesiasticam; deinde cant quae
.
História: EBHMANN, Johann Gottlob Vtrsttch ( ¡net
Alemanha ji utilizavam o novo conceito de
-
Gesehhhte von Piotz Gebihgen. Berlim , m <i generis nomen retinct , Civilem; postremo, Literarum et Artium” . Assim ,
461
1756; PÜCHSEL, Georg Christian.
tinem Vtrmclt, den Uisprung det SpratheEniwutJzit . -
der dUtsten Erd und Mensrfungetchichte, nebst
.
m KANT. Ober
zu findcn Frank fur t /Leip2¡g, 1773
den Gebrauch telcologischer Prinzipien in der
Ausgabt (vol , 8), p. 161 c scg., 163 (nota 1);
. .
Philosophic (1788) Akademk
KANT Kritik der Urteifskrafi (1790), 2 parte, - %S81 4
” BIEDERMANN , Friedrich Karl. Verbctc Geichichte". In: ROTTECK; WBLCKER (vol.
«

-
anexo, $ 82. in: Akadanit Auigabe (vol. 5), 1903, p 428. (nota).
’ v 6), 3. Aufl , 1862, p. 428.
,

BODIN, Methodus... (cC nota 340), 114 b.


44 J
KANT, Ü bcrden Gebrauch tcleologischer Prinzipien. ,
< 5S Cf o . ..
p . 163.
;

II
>
• 4W

verbete nBntwUktmt¿* (evolu çã o/descnvolvimento} [em


.
GeschkhtlUhe Gtundbegriffe m 4W
KLEMPT, Die S ã kulatlí knmg..., p. 42 e segs.
Historisches Lexikon zur politisch-soz íalen Sprache in
. .
presente texto (N T.)] Deutschland, no qua!est á també m o mi
: 4
” Ibid ., p. 44, .
- •11: i
441 BACON De augment is, 2, 4 (p. 502) .
m*
••

'
170 171
$4 i
O coturno o* Hsrôau
li & iv.V
A CONTOWACAO DO IUOOé &NO CON:tiro u HSIóSIA

JppIpW- ~
i v

a Histoire civil, pela primeira vez, se transformou em conceito geral elas” . 46S Experiências extrassensoriais eram eliminadas em favor de
para a História sagrada ou eclesi ástica . fatos hist óricos que podiam ser inclu ídos na perspectiva de uma
Leibniz - que adotou a bipartição - já classificou , entre a moral que avançava ou , então, eram interpretados de forma psico-
Histoire húmame, uma grande quantidade de campos científicos: A lógica. A primeira experiência temporal historicamente imanente
História universal [Universalhistoríe] e a Geografia , as antiguidades , a
:> m - a do progresso - historícizou coerentemente també m os dogmas,
Filologia e a Historie da literatura, costumes e leis, por fim também
i
Histoire des religions , et surtoat celle de ta veritable Religion revelée , avee
{

VHistoire Ealesiastique' Dessa forma , em Leibniz, correspondendo


mm m
at agora considerados imutá veis. Semler esperava convencer seus
é
leitores de “ que nunca existiu uma concep çã o estabelecida e imu
tável do conte údo da doutrina e da religião cristã ”
466
A irrupção .
-
à experiência planetá ria de uma multiplicidade de religiões e de
Igrejas cristãs , a historia sacra se transformou numa historia religiorum, mm wMi- Á
da nova “ História ” nas verdades at é agora consideradas eternas se
fundamentava e era impulsionada pela nova convicção - que tam -
dentro da História humana . bé m abrangia a religiã o ~ “ de que a evolu ção do mundo moral , de
Quando Voltaire faz, na Eticyclopédie assim como alguns — mmou / acordo com a ordem de Deus, també m possui seus per íodos e suas
contemporâ neos - uma referência tradicional à histoire sacrée, ele
acrescenta , de forma irónica: “ Je ne toucherai point d cette ntatière
respectable” 463 E, finalmente, quando Krug, em 1796, ma ís uma vez
mmi ,
etapas como o conhecimento e a descoberta do mundo f sico” .467
í
Desde que a História adquirira uma qualidade que se modificava
no decorrer do tempo, tamb é m a historia sacra podia ser interpre -
elaborou um sistema de todas as ciências, surgiu , em meio à “ História mimu tada , nesse sentido, de forma “ histórica” , como a historia naturalis .
i«® «
.
da humanidade ou do gênero humano (preferencialmente chamada E verdade que na ascensão do velho conceito de História que
História)” , em posição secund á ria, també m a religi ão de
Jesus de vinha se impondo, por mais novo que fosse, o impulso teológico
Nazaré - isso no â mbito da História da cultura [ Kulturgeschichte] ,
a .
n ã o esteve ausente Justamente a historia sacra, uma História que ia
depois de profissões, artes, costumes, erudição e literatura , e dentro
da História da cultura religiosa , depois da religião natural e da “ His
tória do fanatismo” , como uma entre v á rias religiões
reveladas.464
-
.58

-
V OTOTf * alé m da revela ção bí blica , tal como era ensinada, por exemplo, no
â mbito da Teologia federal*, trouxe alguns aspectos cristãos para
dentro do conceito moderno de História. O esquema reproduzido
A inclusã o da História sagrada [ heilige Geschichte) na História e reproduzí vel pela expectativa escatol ógica , com suas promessas
do mundo [ Weltgeschichte] vinha sendo preparada pela historiografia e realizações, desde sempre se prestara a atribuir ao transcurso
eclesi ástica protestante, na medida em que esta ~ sobretudo a Escola
de Gottingen, no século XVIII - tinha feito da Historia ecdesiastica
mi temporal uma qualidade hist órica no sentido da unicidade e at é
da mudança para um n ível ascensional. Também a conversão do
uma História das sociedades eclesi á sticas e de suas opiniões doutri-
n á rias. “ Na História da Igreja, é, sem dúvida , muito conveniente ai PLANCK , Gottlieb Jakob. EinUitung in die iheolcgJsdien IVissenschafun (vol. 2). Leipzig, 1795,
partir do pressuposto de que se deve visar, em cada um de seus . . .
p 223; cf. VÕ LKER , Karl DU Kl/ chtngeschich Issclue ibui ig der AufUldtung Tubingen , 1921, p.

períodos, ... àquilo que é peculiar e caracter jftl 22, com outras cita çõ es.

.
ístico das formas sociais
a que se ligam . . e apenas seguir as relaçõ es que estabelecem com . §§ »i;
W
4a SEMLER ,
Johann Salomo. Versiuh tines fnuhfabaren Auszugs aus der Ki /ihtagtsthkhlt (vol . 2).
Haile, 1774 { Vomde}; citado por MEINHOLD, Peter. Gtsthkhu der kiuhltchen Historiographic
(vol. 2). Pretburgo/Mu ñ ique, 1967, p. 46.
VÂÍI 147 SEMLER . S. Ltbtnsbtsdwlbutig von Him selbsi verfatst ( vol . 2). Halle, 1782, p. 157; citado por
J
.
Meinhold , Gtschithte. . (vol. 2), p. 64.
LB í BNiZ. Mcmoirc pour des personnes é clairé es et de bonne Intention (1694 ?), In: KLOPP,
Amo (Ed .). Wttkc (vol. 10). Hannover, 1877, p. 13; cf. KONZB, Werner. Leibniz altHktotiktr. SWi .
A “ Teologia federal" entend í a â “ Hist ória como a concretiza ção da graç a" divina Hist ória
. que transcorreria em cinco fases, a começar na criaçío narrada no Velho Testamento, de
,M Berlim , 195J , p 36 e segs, com outras citações.
M
-. . .. : .
.
format que a “ Histó ria divina se transformaria em um drama com sentido unit á rio” JACOB,
.
VOLTAIRE, verbete “ Historic" (cf cota 447 ) , p. 221. .• • . y .;.'
P. Fdderaltheologie. In: Die Religion in Gescindí le und Gtgcmvot í ( RGG] , T ü bingen: J. Ç. B,
Aii
.
KRUG, Bnzyeotp dtlie (vo! 1), 1796, p. 49 esegs , 79.
'

. Sl5 ?' Mohr (Paul Siebeck ), 1957, col. 1520 [N. T.).

a
172
m 173


V
O echara Dé HtfiófiM.
sS ‘1.
A CO?tfiGV?AÇÀO CO MOOtfKO CONCtrtO t* HiSlÒMA

1 1
futuro escatológico em um processo que avança com o tempo

localizada - como acontece em geral - nos primeiros séculos nem nos


foi
impulsionada peías expectativas religiosas. “ A realização nao deve ser *
mm por causa de sua concepção de uma revelação que tenha sentido e
seja progressiva. O reino de Deus se tomou, ele próprio, um processo
histórico. A convergência com um conceito “ secular” de progresso
tempos futuros » mas sim, numa divisão nao necessariamente desigual, da História se realizou via inspiração recíproca. Isso acontece, por
por toda a linha de tempo do Novo Testamento, de tal forma que exemplo, com Thomas Wizemann , que derivou o “ plano” de Deus
todo o verdadeiro sistema de toda a Historie sirva de explicação para
sill I; do “ desenvolvimento histórico” : “ O homem está em eterno movi -
judeus e gentios, cristãos e turcos”.468 Para Bengel, toda a História « ÉI mento, e cada recaída constitui um passo adiante no aperfeiçoamento
se transformou em uma História da revelação, que se desvendava
em forma crescente, com que o onus da prova para a interpretação

-- - do todo... Juntamente com sua História , seu conhecimento tamb ém
avan ça e constitui verdade política e teológica que o verdadeiro co-
m '
se deslocava do Testamento para a História pós-bí blica. Ninguém
poderia explicar a revelação, “ se não incluir as Historias eclesiá stica -mmm m nhecimento efetivo só pode se tornar mais transcendente na medida
em que a História també m se torna [mais transcendente]” .472
-
e mundial [ Kirchen und Weitgeschicluen]” .460 E nelas que se mostra
unidade sistem á tica da Historie. O intérprete apenas deve “ esgotar
a r- : -
O testemunho a favor da verdade divina , com Wizemann ,
deslocou-se, por completo, das “ doutrinas” para os “ fatos” , da Bí -
a verdadeira soma da História mundial e da História eclesiástica ,
absorvê-la dentro de si, mas, ao fazê-lo, n ão deve atentar para
e mi$ blia pata a História : “ Aquilo que, na minha opini ã o, requer uma
mz « atenção especial nas nossas sagradas escrituras é a História . E ela
partes, e sim para o todo, para as coisas básicas, os tempos básicos
os lugares básicos, como, por exemplo, Roma e
Jerusal
Jo
ém”.470
O gradual desvenda mento do Apocalipse de ão pela Hist ória
as
e
m
:
que diferencia essas escrituras de todos os demais livros de religiã o ,
e a transforma em revela ção divina ” .473 Com isso, estava aberto o
caminho para - na sequência da Filosofia idealista da Hist ória - tam-
se revelou , ent ã o, como um tipo de fenomenologí do
a espirito, a
qual vai corrigindo de forma sucessiva todos os erros das interpre
tações do passado e, com isso, revela seu sencido futuro,
-
s:|Ép
f f:
bé m dissolver processualmente a escatologia cristã . Assim , Richard
Rothe descreve o “ transcurso do processo histórico” de tal forma
o qual será id é ntico com o fim da Historia até aqui.
verdadeiro, HP que a igreja crist ã estaria se integrando e $e fundindo cada vez mais
um discípulo de Bengel - disse o seguinte: “ Cada s é
Oetinger -
culo depois
lit
« 5 >
no Estado crist ã o do futuro. O Juizo Final - a crise - é, por assim
dizer estendido para a “ sucessão do desenvolvimento histórico” ,
de Cristo possui sua própria medida de conhecimento verdadeiro,
ainda que não integral ” . Mas Deus mandaria, de tempos em
» 1 de forma “ que toda a História cristã se transforma numa grande
“ : % m crise continuada do nosso gê nero” , que, no decorrer do tempo,
tempos, instrumentos que , na medida do conhecimento crescente,
produzem, a cada século, uma abertura maior” .47*
mi moralizaria a Igreja e a tomaria supé rflua .474
Influenciado por Ranke e por Schelling, Johann Christian
Na formulaçã o de conceitos da História, na Alemanha, o grupo •
lit von Hofmann adotou , em 184 Í , a expressã o “ História da salva çã o”
de teólogos de inspiraçã o pietista (Arnold , Bengel també
mann Oetinger, Wizemann ou Hess) não pode ser subestimado,
m Ha - - m :
[Heilsgeschichte] , que antes fora pouco usada. E aqui n ão se tratava de
till
4ti
GOLTZ, Alexander Freiherr von der (Ed.). Thomas Wizemann , der Freund Ftledrich Heimidi
m BENGEL, . .
Johann Erkldrtc OJjenbarungJohatwisodcrvUlmehrJesu Chriui (2* ed., 1747) (editado 1). Gotha, 1859, p. 147. A respeito dc "plano” c "desenvolvimento” , cf
Jaeabis (vol, .
por Wilhelm Hoffmann, Suttgart , 1834), p. 75. [WIZEMANN, Thomas]. GiUtlkheBnlwlckUingdes Satans dutch das Menschengesdifedit Dessau,.
4
.
” Ibid , p. 137. . .
1792, p. 2, 18 28, 57 epassinv, WIZEMANN, Thomas. CuchichíeJcstt (cf n.ou 294), p 8 c 46 .
m Ibid ., p. 654. e segs. Cf. BENZ, Ernst. Verheissung und Erfullung. Ober die tbeologischen Grundhgen des
471
OETINGER, Friedrich Christoph. Predigíoi iiber die Som , Fest - und
..
deuuchen Geschichtsbewusstselns , Ztitsdiriftfiir KirchengetdtUhle , n. 54 , 1935 p 484 e segs.
Rcutlingen , 1852, p . II (editado por Karl Christian Eberhard
- * FcUntiglidiin Bphtelu. m WIZEMANN, Gòtiliche Entmcklutig des Safims, p. 1 e scg.
Ehmann);
Friedrich Christoph. BvartgilictipredigUn (vol. 2). ReutUngen , 1853, p. 110. OETINGER
, 474
ROTHE , Richard. Die Anfinge der Christlichen Kiiche und ihrer Verfassutig (vol. 1). Wittenberg,
1837, p. 59 .
174 175
O CCNCf íIO Di HiSTOíJA
-- íí T

A coN?;GUftACto DO MOc&NO coseno OE


0mw :
; :: :
uma tradu ção da já meio apagada “ historia sacra” , mas de um conceito ;i;Íg m
i; 7
Depois que a velha historia sacra tinha sido superada pela His-
que pretendia dar conta - como conceito cristão das exigencias
de uma História baseada em principios histórico -filosóficos que se
- m
tória da salva çã o, a compreensão do cristianismo sobre si rnésmo .\
> ?!
i ;v : entrou numa linha de historiciza ção - tamb ém da metodologia ,
difundiam cada vez mais.475
Edgar Bauer formulou , na década crí tica que antecedeu a
K
hist órico-cr ítica —
de forma que, desde ent ã o, vem pendulando .
*

entre duas respostas extremas. Por um lado, o cristianismo é sim -


-
. s i^;.; > 1

revoluçã o de 1848, de forma polêmica: “ Através da religião, a His- plesmente declarado incompatível com a História . Nesse sentido,
toria se transforma numa fá bula , através da Hist ória a religião se
if ia ? :

Overbeck registra “ o desejo moderno de submeter o cristianismo
transforma num mito, na História a verdade de hoje refuta aquela
de ontem , para novamente ser refutada pela de amanha , na religião mm à História” , deduzindo que, “ deslocado para o terreno da avaliação
histórica , o cristianismo está irremediavelmente exposto ao con-
so deve existir uma verdade”.476 As imposições alternativas forçaram
%“ . f ceito da finitude ou ... da decadência” .478 Ou a História como um
:

a historiciza çao. Diante dos desafios por elas exercido surgira o ter- todo deve permanecer referida a Deus, de forma que a diferença
mo “ Historia da salvação” . Retrospectivamente pode-se formular H entre uma História crist ã e uma História n ão cristã desaparece.
-

da seguinte forma o resultado da lenta mudança ocorrida desde o Nas palavras de Karl Barth: “ Toda História religiosa e eclesiá stica
século XVII: enquanto na “ historia sacra” a indicação para a salvação
eterna caracterizara o conceito, no conceito composto de História
da salvação a [própria] História assumiu o papel fundamental. É
m^
- se desdobra por completo dentro do mundo. A assim chamada
‘Hist ória da salva ção’, poré m » só representa a permanente crise de
toda a História, nao uma História ou ao lado da História” .479 O
d éla que derivou o caminho para a salva çã o. S’ ' componente progressista do conceito perdeu importâ ncia , mas o
De qualquer forma , o legado judaico-cristão ficou preservado, .
b
V; momento processual , que deriva da presença existencial do ju ízo
e sinalizava a contemporaneidade do nao contemporá neo no novo
eterno, se manteve, incluindo um legado da Teologia federal.*
conceito de História, mostrando que a antiga expectativa escatológica
agora també m tinha efeito sobre ele e sobretudo combinava com
ÉT * ória mundial ” [ W èltgeschi-
c) Da " historia universalis” à “ Hist
chte ] , A incorpora ção da natureza e da historia sacra no processo his-
ele. Por isso, não admira que Moses Hess - também na linha do ó passasse a constituir
tó rico geral fez com que o conceito de Hist ria
idealismo alem ã o - pôde, em 1837, escrever Die Heilige Ceschichte der um conceito-chave da experiê ncia e das expectativas humanas. O
Menschheil [A História sagrada da humanidade], na qual, de acordo conceito de “ Hist ória mundial ” [Weltgeschichte] se adequava muito
com o esquema joaquimista , o terceiro e ú ltimo per íodo, “ a ú ltima
bem a uma definição desse processo.
renovação da humanidade, cujo processo ainda nao se concluiu'1477,
Na perspectiva da Histó ria vocabular, a transiçã o da “ História
teria começado com a Revolu ção Francesa. A expectativa de salva ção
universal ” [Univemlhistorié] para a “ História mundial ” [Weltgeschichte]
permaneceu , como em camadas, inerente ao conceito de História ,
se realizou de forma gradativa e sem muita insistência . No século
e se manteve nos mais diferentes campos, desde o protestantismo,
XVIII, ambos os termos podiam ser utilizados de maneira alternativa.
com sua fidelidade ao Estado, até o socialismo.

m HOFMANN,
vi
OVERBECK , Franz. Chrittentum und Kultu/. Gedanken und Anmerkungon zur inodernen
Johann Christian Konrad von. Weissaguttg und BrJiiUung m alien und neueu Theologie. Basel, 1919; reimpresso em Darnutadr, 1963, p. 7 eseg. (editado por Cari Albrecht
. .
Testamente ( 2 vob ). Nõ rdlingen , 1841/4 4; cf. V/ BTH, Gustav. Die Heibgeuhlihte M ü nchen,
- Bernoulli).
.
1931, p 81 e segs,
BARTH, Karl. De / Rdmerbrief. 10’ edi çSo da vetsào reformulada de 1922, Zurique, 1967, p. 32.
.
^ GEÍSM AR Martin von (= Edgar Bauer) ( Bd .). Bibliotltek derDtuitehen Au/klàur (vot. 2, separat w
A “ Teologia federar * entendia a “ Hist ória como a concretiza çã o da gra ça " divina , Hist ó ria
.
5). Leipzig, 1847; reimpresso em Darmstadt, 1963, p 127.
que transcorreria em cinco fases, a come ç ar na criação narrada no VeJho Testamento, de
m HESS, Moses.
Die Heilige Geschtchte dcr Menschhelt . Von cinem JOnger Spinors. In: forma que a “ História divina se transformaria em um drama com sentido unit á rio” JACOB,.
CORNU, Auguste; MÒ NKE , Wolfgang (eds.). PhUosophische undsoziaUstiutie Schiiften 1837 - P. Foderaltheologie. In: Die Religion in Çcschfchte und Gegenwa / t [RGG ). Tü bingen:J. C. B.
.
I 8S0 Berlim , 1961, p. 33. Mohr (Paul Siebcck), 1957, col. 1520. [N. T).

176
W.
"
J 177
::
'
1
O CONCOTO DE HiStôSlA
m
: I Si -
A COWOUMçàO oo MGOSXNO CONCETO oe HQT&.IA

A expressão uuerltgeskditen já fora utilizada por Notker (fa- Chladenius pôde constatar, em 1752; “ As História gerais do mundo
lecido em 1022) - referido à providência divina mas a palavra is
V¿fe V [ getneinen Weltgeschichte ) costumam lidar com a ções de homens, mas
não conseguira se impon 480 A primeira referencia concreta a unía a revelaçã o lida com as grandes obras de Deus” .486 Foi justamente
Historia universalis so é encontrada mais tarde. Em 1304, surgiu uma s '
-
'

esse campo sem â ntico, [at é ent ão] antit éticamente exclu ído do
:
- -

tal obra, que pouco depois recebeu o certeiro t í tulo de Compen-


dium historiarum.m Historien deste mundo que tentavam unificar % : mundo humano, que deu maior força à nova expressão, frente à

urna soma de Hist órias individuais com pretensões universais só


surgiram - nas palavras de Borst - quando a imagem do mundo do
: tradicional “ Universalhistorie
Os temas referidos ao mundo todo se difundiam e exigiam um
conceito adequado. Em 1773, o Teulsche Merkiir registrava como
povo cristão de Deus se esfacelou , Na medida em que a conquista • iip i “ estranho” que “ nos ú ltimos dois ou tr ê s anos” tenham surgido
- tantas Histórias universais [UniversallustorienY * , e Sch íõzer, um de
7
de terras no alé m mar progredia , e a unidade da Igreja se rompia , :
começam a se multiplicar os títulos histórico-universais, os quais seus autores, constatou , no mesmo ano, que “ o conceito da Hist ó ria
deveriam registrar e unificar as novas e heterogé neas experiências. mSés -rn ' ’v ;
mundial [Weltgeschichte]” continuaria indefinido e vago. Deveria se
desenvolver “ um plano, uma teoria , um ideal dessa ciência” , para
• ,

Nesse contexto, també m ressurge, no século XVII, a desaparecida


.SlJSl
• -
que conquistasse a posição fundamental que lhe compete.
488
palavra “ História mundial ” [ Weltgeschichte] , que talvez tivesse sido Mi "
,

inspirada na History of the world, de Sir Walter Raleigh.482 Stieler Uma d é cada mais tarde, em 1785, já fazia uma avaliação re-
registra Weltgeschichte / historia mimdi sive universalis^ , e, desde o sé- 0m ñ trospectiva: uHistorie universal antigamente n ão foi outra coisa do
culo XVIII , preferem-se formas mistas, como “ Universalgeschkhte” mm que ‘uma misturança de alguns dados históricos’ ” , que serviam aos
teólogos e aos filólogos como “ ciência auxiliar” . Outra coisa era a
[Historia universal] ou “ Wekhistorie” [ Historie mundial].
Apesar das varia çõ es terminol ógicas, o avanço da expressão
“ Weltgeschichte ” [Historia mundial] denota urna profunda mudanç a
m >
História mundial [Weltgeschichte] que agora assumira posição de desta-
)

que no título de sua obra: WeltGcschichte [MundoHistória] - Schíõ zer


conceituai. Um sinal disso já fora dado com a tradu ção do Essai zur preferia essa forma de escrever, para caracterizar o cará ter composto
Vhistoire g énérale de Voltaire, em 1762, por Versuch einer allgemeinen WB
'
do conceito; “ estudar WeltGeschichte significa pensar como um con-
Weltgeschichte [Ensaio de uma Histó ria geral do mundo], quando Sill junto as principais transforma çõ es da terra e do gênero humano, a
in % fim de reconhecer a situa çã o atual de ambos, a partir de suas bases” .489
se tratava de desacreditar a provid ência.484
A forma plural - como as “ mais curiosas Histórias do mundo” mm Com isso, Schíõzer já citara os dois critérios que caracteriza-
[merkwü rdigsle Weltgeschichten ] - estava consolidada desde o final
do século XVII, no sentido de Histórias seculares.485 E, por isso,
mu
m
vam a nova História mundial: espacialmente , ela se referia a todo
o globo e, temporalmente, a todo 0 gênero humano, cujas inter-
. mm conexões deveriam ser reconhecidas e explicadas, com vistas ao
• '
- Mj®;
'
presente. Retomando algumas sugest õ es de Gatterer e de Herder,
.
SEHRT, Edward H.; e STARCK , Taylor (Eds.). Notkers des DeUlsdicn WoVt Hade 1952, p 33. . .
A respeito , cf. BORST, We í tgcschichten im Mine taker (cf. now 150), p. 452 e segs. vs; is # ,
e se antecipando a Kant,490 avançou no sentido de criticar a “ soma
4S *
.
RALEIGH , Sir Walter The hltlory of the world , Londres, 1614 .
4U

AU
STIELER , 1691; reimpressão de 1963, p. 1747.
.
Voltaire Essai sur l ' histoire gé né rale et sur les moeurs et Tesprit des nations depuis Charlemagne
m ~
'

. ...
CHLADENIUS Alfeemeint Cí s<hi<hí swisuns( haft ( c f , nota 277) ( Vúrredc )t sem pagina çã o
aus D... (cf. nota 395), p. 262,
.
.
4
” Schreiben
jusqu 'á nos jours (7 vols .) Genebra , 1756; e alem ão: Atlgoneine WdigtschUhle,\wtlru\en zugUidi m -
4 í i SCHLÕZER , A. L. Vorslellung seiner Universal Historié (vol. 2). G õ tcingen /Gotha , 1773,
die Siittn and das Bfytnt derer Vtilkerschaftcn von C<ul dito Gras sen bis aufdfo Ztltea Ludwigs XIV.

m GATTERER ,
.
bexkrleben wtrdttt (4 vols.) Dresden, 1760/62. mmS 4S >
( Vcrb í fiehl ) , sem pagina ção.
.
SCHL Õ ZER , A . L. mhGtMhtt (vol I) (cf nota 412) p. i e 71. .
Johann Christoph. Handbiuh dor Unive / saihisiotlenarh ihremgesomten Umfange. Vol . . .
GATTERER , Vom historiíchen Plan.. (cf nota 223), p 25, 28 e seg., passim; HERDER , A .
1: Nebst einer vorlaufigen Einleitung von dcr Historic Uberhaupt und dcr Universalhistorie
mm
mm . -
L Schlbzers Vorstellung seiner Univsersal Historie (1772). ! n: StinUlUht Werke (vol . 5), 1891 , p.
imbesondere. 2. AulL, Gottingen, 1765, p. 127 e scg.
- SS.Sv. So ^ - . .
436 e segs; KANT, Idee... (cf nota 360), T sentenç a . !n : Akademie Ausgsbe (vol. 8), p 29

MV
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i '.V. O cotx ü io « HíSíOMA &-V -
A CCtf <Q*JflAÇAO DO MOO ÍSNO CONOTO Of H SróSJA
. m
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1 '
l

[histórico-universal] de todas as Histórias especiais*' [ SpeeialGes . sis


- mm unía Historie mais detalhada” /9* Três décadas mais tarde, em 1790,
chichten) como um simples “ agregado” , e abrir espa ço para o novo Kõ ster resumiu , na Deutsche Encyclopdd¡ei o debate entrementes
“ sistema da MundoHistória” O sistema alcançou, num patamar desencadeado, e seu resultado/94 A rela ção entre as Historien geral
mais elevado de abstra çã o, uma pretens ã o de realidade superior e especial seria relativa , dependendo da definição dos objetos e,
.
Ele faz a intermediado entre causas pequenas e grandes, com que .
por consequência, “ ambivalente.. Mas existe uma outra Historie
a História mundial se transformaria em “ Filosofia ” .
Sobretudo
seria importante que a “ interconexão real ” [ RealZusammenhang

universal [Utiimsalhistorie] - simplesmente assim denominada , que -


] tamb ém se chama de História mundial geral [aílgemeine Weltgeschi-
dos acontecimentos fosse distinguida de sua “ interconexao tempo
ral ” [.ZeitZusammenhang), que urna nao é redutível à outra, ainda - stair elite ] **. Ela trataría de todo o genero humano, e da “ superficie da
terra” corno seu campo de ação. Ela mostraria , “ por que o género
que ambas se condicionassem mutuamente. Disso resultariam humano se tornou aquilo que realmente é, ou aquilo que ele foi ,
dificuldades para a representa çã o, para as quais Gatterer já apon
tara, mas cuja solução estava em reconhecer a interdependência
- mí em cada per íodo” .
No ultimo terço do século XVIII, se estabeleceu certa unani-
global das Histórias modernas. Pontos de vista “ cronológicos

t midade de que essa Historia do mundo seria urna ciencia mestra,
-
e “ sincronísticos” em termos modernos: diacronia e sincron
ía
i ISIS que, no entanto, ainda nã o teria sido escrita nas palavras de Kant:-
- devem se complementar reciprocamente, a fim de classificar a V-
História mundial de acordo com crité rios imanentes. Com isso, se i mm ela ainda nao teria encontrado seu Kepler ou seu Newton / 95
Mas , ao mesmo tempo, esses autores constatam e isso indica -
tornam dispensáveis as quatro monarquias da profecia divina , e as
novas etapas derivam da import â ncia que os “ povos principais” e aquela experiência moderna que só pôde ser explorada através da
os “ povos secund á rios” tiveram para a História mundial. Apenas “ Histó ria mundial ” [Weltgeschichte] - que a escrita de tal Hist ó ria
“ as revolu ções, nao a Histó ria especí fica dos reis e mundial somente agora seria poss í vel. E nisso que consistia a
dos sobera- verdadeira superioridade, o ganho de experiência em relação à
nos, sim , nem todos os nomes deles” , contavam , como destacara
Gatterer /91 “ Na verdade, ela [História do mundo] é a Historie dos
acontecimentos maiores , das revolu ções, refiram-se aos próprios
homens ou aos povos, ou a sua relação com a religião, o Estado, as
-tm
mm
antiga /96 As mudan ças constitucionais e a expansã o da Europa
sobre todo o globo teriam tornado os “ intercâ mbios mundiais”
cada vez mais “ entrelaçados” , de forma que n ão seria mais possível
ci ê ncias, as artes e aos ofícios; aconteçam em tempos mais remotos escrever a História de Estados individuais, já que a interconexão
real perpassaria tudo/97 Em parte, o intercâ mbio europeu suge-
ou mais recentes” / 92
Com isso, o novo campo semâ ntico estava definido. Abrindo
§
S > ?;;; i
® ria ser aquele “ em que parece se dissolver gradativamente toda
mao da transcendência, pela primeira vez, o gênero humano foi a História mundial ” [Weltgeschihte] .m Em 1783, foi possível que
; Y.- Vv. \
uma tese de doutorado apresentada em Mainz iniciasse de forma
encarado como o sujeito presuntivo de sua História , neste mun
do. Ainda em 1759, Sulzer, num ato de desespero, exclamara: “ A YjM 1
Vi
- •

Historie geral, Historia Universalis, de todos os tempos e de todos Si® í •


H >> .
(SULZER,Johann Georg). Ktirzet Begrí ff alter WUxasthafttn unci andem Theile der GtMittamkcif
os povos só pode ser muito breve a respeito de acontecimentos 2 . AufL, Frank íurt / Leip2ig, 1759, p. 35.
4Í I
KÕSTER , verbete “ Historic" (cf. nota 328), p. 651, 654 .
individuais. Ela , portanto, nã o pode apresentar toda a utilidade de ... - . .
8) p. 18.
4
”w KANT, Idee In: AkadmU Autynbt (vol .
. .1 ..
* GATTERER , Vom hiltonschen Plan , , p. 16 e segs
í57 BÜSCH, Entyclopãdie (cf nota 437), p. 123; cf. ibíd., p. 133, 165. Alé m disso, HALLE (vol.
.
*

Y -Yv
m GATTERER, Vom
.. .
historisdien Plan.. p 66 e segs. '
1), 1779, p. S37 .
4 ÍÍ

1771, p . 1 c scg.
.
GATTERER , Johann Christoph. BinUHung in die synehrònistischt Univcisalhistcrie Gottingen ,
*
«S i*
; 4
!
\
** FORSTER , Georg. Die Nordwestkiísce von Amerika und der dortige Petzhandet (1791) In:
.
Weike , (vol 2), $. d . , p. 258.
.

180 is¡ 181


km mix
O CONCEITO Oí HSíÓWA
Kft A CON Í SOW.ÇÀO DO .
CO\« íTO Ot H SIÒMA

enfá tica e assint á tica, com as seguintes palavras: “ O genero hu


- a Era Moderna , aprendeu a se ver como um novo tempo, ela se
mano chegou a um ponto em que, através de revolu ções conhe
cidas, foram derrubados os muros que separavam continente de
- mi certificou de sua totalidade espa ço- temporal , a partir da ideia de
“ História mundial ”. Por isso, a expressão, como pressuposto e de-
continente, povo de povo, e os diferentes setores humanos se m limitaçã o de experiencias possí veis , também se transformou numa
fundiram num grande todo, o qual é avivado por um espí rito - o
mesmo espírito que aviva a História - de que o mundo é um só
W; / '
característica estrutural de Hist órias possíveis: “ Todas as Histórias
só sã o compreensíveis através da História mundial e na Hist ó ria
povo, da mesma forma que a Hist ó ria geral mundial [allgemeine -
mundial ” ;502 ou como Novalis formulou de forma ainda mais
Weltgeschichte], motivo pelo qual ela deve ser tratada como tendo
.
utilidade e influê ncia para o mundo” A Hist ó ria educaria os po-
vos, aos poucos, para uma cidadania mundial geral, ampliando se
-
n

•-
-
coerente: “ Toda História deve ser História mundial , e somente
através de uma rela çã o a toda a Hist ória o tratamento histórico de
uma mat éria individual é possível ” 503 .
para uma História mundial [Weltgeschichte]. “ Essa é uma verdade ft ft
O novo conceito adquirira uma conotação coesa de totalidade ,
V ft
que tem base na própria Hist ória ” .499 o qual exclu ía modelos explicativos concorrentes. Por essa razã o,
O conceito de História moderna, que, por assim dizer, recor- Friedrich Schlegel p ôde abrir suas Vorlesungen fiber Univemlgescht -
ria a si mesmo para se definir, procurava encontrar na “ Hist ória l'IÉÍft chte [Preleções sobre Histó ria universal], de 1805, com a seguinte
mundial ” sua â ncora empírica. Aqui se localizava o campo de ação . frase: “ Como toda ciê ncia é genética , se deduz que a História
ft -ft fe
daquele sujeito hipoté tico chamado gênero humano, que só podia deve ser a mais universal , a mais geral e a mais elevada de todas
ser imaginado como unidade na sua extensã o temporalmente aberta. fefeífe as ciências” . Enquanto se falasse exclusivamente da História dos
Paralelamente às tentativas de escrever uma História mundial [Wel
:
* 504 Foi a His
“ . -
- fe homens, ela se chamaria “ simplesmente História”
tgeschichte] , surgiram , por isso, muitos mé todos antropológicos sobre pkj '
•! tória mundial ” que, no período da Revolução Francesa, atribu í ra
a História da humanidade.500 Aquilo que lhe faltava em termos de ftftfeft '

..ftlife 'i ao conceito de História sua fun çã o mestra - que, desde ent ão,
concretização contemporâ nea esperava-se, de forma compensatória , feftft fe n ã o mais perdeu. Em 1845, Marx e Engels dizem a respeito da
III
'

para o futuro. “ O verdadeiro ideal de uma tal História - que nao ideologia alemã: “ Nós conhecemos apenas uma ú nica ciência , a
é nada menos que um agregado de todas as Hist ó rias particulares ciência da História ” . E ela abarcaria a Hist ória da natureza e a dos
-
e especiais , porém , só foi elaborado em tempos mais recentes
” ftftft 1 homens. “ Mas ambos os lados nã o podem ser separados; enquanto
como Krugse referiu a Kant , quando definiu a História da huma- Jü i existirem homens, História da natureza e História dos homens se
nidade como uma “ História da cultura humana” 501 condicionam mutuamente” .505 “ História” só era imaginável como
A famosa pergunta de Schiller, na sua aula inaugural, em Hist ória natural e como Hist ó ria humana, isto é, como História
Jena wm
-
(1789) “ Que significa e com que finalidade se estuda História . ,:
* mundial, de forma que esse significado foi superado, absorvido e
universal [Universaígeschichte]?” resumiu, dc forma precisa e bri- transcendido [ aufgehoben] naquele conceito.
lhante , todos os argumentos que haviam transformado a Hist ória
mundial em ciência-mestra de todas as experiências e de todas as

expectativas. Assim corno, a partir da ideia de “ progresso” , a Neuzeit
502 LUDEN, Heinrich . Uebcr den Vortrag der UmversalgeschiclKc. In: Kteine Awfalzc (vol . 1).
W G ô ttingen, 1807, p. 281. A respeito de Schiller, cf nota 418. Cf, KESSEL, Eberhard. Rankes

M Cf.
...
VOGT, Au&ige (cf. nota 287), p. 3 e segs .
>

CARtJS, Friedrich August. Ideen zur Geschichte derMemchheit. In: Nathgefaswie Werke
mtm\ Idee dor UnivemlhUtorie. Hiuorltche Zeitahiift , n. 178, 1954 , p. 269 e segs.
M NOVALIS. Fragmente und Studien , Nr. 77. In: Cesáitwtclie We ike (vol. 3), p. 566.
so< SCHLEGEL. Vorlesungen iiber Umversalgeschichte (1805/ 06). In: Sfatitluhç Wetke (2* se çã o,
vol. 14) I 960, p. 3.
(vol . 6). Leipzig, 1809, com urna ampia bibliografia , p. 10 e segs. Wi MARX; ENGELS. Die Deutsche Ideologic. In : MBW [Marx-Engels Weike] (vol . 3), 1962 ,
301
.
KRUG, Enzydopâdie (vol 1), p. 66 e segs.
, \ VÍ :

-
>
‘•
p. 18 (nota).
*
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O CONCUTO c* list
áis *

A$ representações histórico- universais abrangentes perderam v- yr* VI


Vi
- segundo a grande concepção geral de Ranke - sua força , em
parte porque o método histórico-crí tico aumentou as pretensõ , !B
i
:8
promovendo a especialização, em parte porque a inconç
es
lusividade
ória" como conceito;;:;:fg¡jj¡§¡
"Hist f
de toda História fez com que crescessem as críticas contra projetos :wmÉ m
- r mestre moderno
universais.506 Irrefletidas [as representações hist
óricas], continuaram I :
Ví -V.- -
sendo sobretudo aquilo que Hans Freyer subsumiu em 1948, no ' : V : ?
conceito “ História mundial da Europa” 507, que só no século XX : - Reinhart Koselleck
começa a transitar para uma “ História mundial propriamente dita” .
Com isso, as expectativas que o século XVIII vinculava ao conceito "
! V-
mm
foram modificadas, mas não ultrapassadas.
A ú nica tentativa efetivamente bem-sucedida para retirar a 'Í Bí
História mundial de sua unicidade processual, em constante re í
- iSis Quando Friedrich Schlegel disse, em 1795, que “ o caminho
novação, veio de Oswald Spengler, quando derivou a decadência : e a direção da forma ção moderna são determinados por conceitos
lf S
do ocidente de uma “ morfologia da História mundial, do mundo
como História” , cíclica, natural.508 Em que medida seus cí rculos ;
culturais pluralistas, em sua analogia estrutural, influenciam a futura
História do mundo fica, por enquanto, em aberto.
s#è ií
>s
.
»g** .
dominantes” , esse reconhecimento já pressupunha o moderno
conceito de História .509 Schlegel se serviu de uma sé rie de deter-
minações atuais de movimento, todas abrangidas pelo conceito
de Histó ria. Nessa medida , valia para a “ História” , em especial
,
r^mPi :
:k ÍMi ti aquilo que Schlegel reivindicava para os conceitos dominantes “
: Sua
"

-- . influê ncia é imensamente importante, decisiva” . História somente


pôde se tornar o moderno conceito mestre, porque, no per íodo
do Iluminismo e através dos efeitos da revolu çã o, todas as ações
precursoras até então descritas tinham influenciado esse conceito.
- 1. Funçõ es sociais e políticas do conceito de História

.
A configuração do conceito moderno, reflexivo de História se
deu tanto através de discussões cient í ficas quanto através de diá logos
pol ítico-sociais do cotidiano. Quem fez a liga ção entre os dois n
íveis

-íili C' : : de di á logo foram os cí rculos do Bildungsbü rgertum , a assim


burguesia culta composta por intelectuais de formação acadê mica
seus livros e suas revistas, que foram aumentando cada
chamada

vez mais
,
,
ÍC
* Cf. TROELTSCH , Hm st. Dert í istorlsmus itttd feint Próbleme. TCibingan, 1922; reimpresso em ;
Aaten, 1961, p. 652, 706; e DILTHBY, Wilhelm, Einlekimg in die Geistessvisscuschafcçn W: no ultimo terço do século XVIII, sendo seguidos, no século XIX
,
in: CaiMimeUt Sditifien (vol. 1). Leipzig/Berlim , 1922, p. 93 e segs
(1922). .
597
FREYER, Hans. ÍVeltgetthkhte Europas ( 2 vols.). Wiesbaden, 1948.
i
SCHLEGEL. Obçr dai Siudium der griechisdiert Poesie (1797 . In RASCH
.
SFENGLER , Oswald. Der Utturgang des Abendlaruí es Umrisse ehier Morphologic der :
IW ) : , Wolfdietrich
Wettge5chidue. 52. Aufl ., Munique, 1923, p. 6. . (ed .). Krtttuhe SMfitn . Munique , 1964 , p. 156.

184
I
A- y
.
'

185
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O CONCEDO ce HST óí 'A 'HIHóMA* trovo concerto MKIRC MGOE *NO

por inú meras associações e instituições O surgimento de uma


ciência histórica autónoma pode ser atribu ído a essa classe média
. ta - Biidimgsbürgertum. A utilidade pragmá tica da escrita da Historia
deveria beneficiar todos os estratos - como Abbt já exigira e ,
intelectualizada, a qual, simultaneamente com o desenvolvimento no ano de 1765, Christian Kestner fez, em Gottingen , a seguinte
de uma consciê ncia Histórica , se apropriava de sua identidade. Nessa
: pergunta , muito sugestiva: “ Se a utilidade da nova História tam-
medida, a gé nese do moderno conceito de História coincide com
sua função social e pol ítica - sem naturalmente se limitar a ela.
Gatterer se orgulhava de ser catedrá tico de Histó ria , sem precisar .
- %
bé m se estende a pessoas privadas? ” Evidentemente “ o historiador
deve nos descrever o homem em sua totalidade, e n ão so ñ as raras
situações especiais em que ele domina povos e conquista países” .
551

- -
ser como historiógrafo da corte servo de nenhum pr í ncipe. A “ A grande destinação” que Schlõzer atribuiu à “ História ”
despeito de sua autoavaliaçao, as questões teórico científicas que ele - ymm P servia para o “ esclarecimento e a felicidade da sociedade civil ” .
512
ç
formulou continuam tendo validade duradoura . Foi justamente o Da í decorreram as ampliações na organização e na abrangéncia do
reivindicado cará ter cientí fico do conceito de Hist ória que reforçou objeto. “ Toda a escrevinha çao da História” deveria ser encarada
sua força integrativa social e política . como “ urna grande fá brica , composta por uma infinidade de coi-
A ciência histórica, que alcançou seu auge na Alemanha, no sas” , na qual colecionar, pesquisar e representar constituem tarefas
século XIX , reuniu em si duas etapas precursoras. Etn primeiro diversas,513 Do ponto de vista do conte údo, colocaram-se, no sé culo
lugar, a zelosa atividade de colecionar, e a elaboração de ciê ncias XVIII, ao lado da tradicional Historia das Igrejas e dos Estados,
auxiliares, que vinham se desenvolvendo desde o Humanismo. Em
segundo lugar, a reflexã o teórica e crí tica com que o
Iluminismo
wm
mm
¡
--
\ aquelas á reas reivindicadas por Bacon , como Historia da literatura ,
História da arte e da t écnica, do comércio, a História da ciencia e a
reagira a seus predecessores. Ambas as etapas encontraram na his
- História da cultura; enfim - nas palavras de Gatterer a Historia
toriografia alemã desde Niebuhr, sua frutífera sí ntese. dos povos , que abrangia tudo. “ Portanto, para falar a verdade, só
Com isso, a Historie conquistou seu espaço científico, à medida Mm existe uma Historie , a História dos povos” 514 .
que foi se desligando da função servil nas faculdades de Teologia
de Direito. O resultado desse ganho de autonomia se evidenciou
no ú ltimo terço do século XVIII, quando també m o novo
conceito
e
a A nova sociedade civil se projeta como povo, como na ção,
e, por isso, Krug leva esse fator em consideração, quando uniu o
cosmos de todas as ciê ncias históricas parciais - seria “ prejudicial ”
de História passou a ser definido.510 Ele indica , por um lado, a con separar a Hist ória do Estado e do povo, “ pois, em função da estreita
- yv

mm^
'

quistada autonomia da ciência histórica. Paralelamente, por outro ligaçã o” entre ambos, “ a História de um sem a Histó ria do outro
lado, “ História” alterou sua posição dentro da linguagem polí tica . nem pode ser compreendida” .515
-
Enquanto a expressão foi transformada em conceito central da in mm Depois que a “ Hist ória” se transformara num conceito sobre o
- m- mm .'.
qual se refletia e que - explicando, fundamentando e legitimando -
terpreta ção do mundo, ela também estilizava a consciência daquela
burguesia que, nesses decénios, se ampliou de uma burguesia de
eruditos, uni Gelehrtenbihgertim, para uma burguesia culta , um
m
tat
estabelece uma ligação do futuro com o passado, essa sua tarefa pôde

,
51
KESTNER , Christian. Uncersochung der Frage: Ob sichder Nutzen der neueren Geschichte
510
auch auf Pfivatpersgnen erstrecke? In: GATTERER , Ailgemclitt Historísche Bibliothik (vol. ...
Cf. SÇHIBDBR , Theodor (Ed . ). Hunden jahre H ístoriscbc Zeitjchrift ;.y.~ 4), 1767, p. 21*1 e segs.
1859- 3959. Beit rage
2 uc Geichichte der Histoflographie in den deutjç
hsprachigen Landern. Hislonsche Ztluduift W 3) 2 .
Prefá cio de Schldzer a: MABLY, Abb é. Von der Art die Getdiichtt zu sthniben Stra $ $ burg, 178 *1,
iL 189, 1959; VOSSKAMP, Wilhelm .
-
UflUrsuchtingen xur ZtU JMD Cesthkhtsiusffatitng im p. 7 (vetsã o alem ã de F. R. Salzmann).
17. Jahthwdttt bei Gtyphha und LoUcnsttin. Bonn, 1967;
HAMMERSTE1N, Notkcr. und 513
ibí d .t p. 13.
Historic . Bin Beitrag 2 ur Geschichte des historhchen Denkem an
deutschen Universitaten im ã 5,4 GATTERER, Vom h ístorischcn Plan... (ef. nota 223), p. 25.
5, 3
spSten 17. und im 18. Jahrhundert . Gdttingcn, 1972. . *-•
KRUG, EnzythpSdit (voi. 1), p. 8L

186 187
3
O CONCHO DE Kstóí 'Á
: ii¡¡111? .
.
"HISTOHA" co? » CONCOTO v.s$r« MOOUNO

ser percebida de diversas formas. Naçõ es, classes, partidos, seitas


. «í t* i '
- qual possamos encará-la com dignidade ” .520 “ História” , portanto,
ou outros grupos de interesse podiam e at é deveriam recorrer : v -V ri í:
à História, na medida em que a deriva çã o gené tica da posição que
-
m
— •
-. de forma alguma , era apenas conhecimento especial que se res-
tringia ao passado e à sua memória , ela continuava politicamente
o respectivo grupo defendia lhe dava o direito à exist ê ncia dentro : rev iví?
'
ativa e apresentava seu desafio social frente aos contemporâ neos,
do campo de a ção político ou social. A grande disputa entre Thi- \'SWfk& qualidades que adquirira ao final do período iluminista. Por isso,
baut e Savigny (1814) a respeito da possibilidade de uma legislação IIS® • I Jacob Burckhardt fundamentou em 1846 sua famosa fuga “ para o
gerál, ou o intenso confronto, de 1861, entre Sybel e Ficker sobre SUB belo e indolente sul ” com o argumento de que esse sul “ morreu
o sentido da política externa em rela çã o à It ália , no passado - e a í para a História” .521 A viagem à Itália , portanto, n ão representou
estava contida também a do presente mostram a evid ência geral mmrn & uma fuga para a História , mas, sim, para fora da Hist ória - na
que caracteriza fundamenta ções históricas, independente de se medida em que Burckhardt procurou se esquivar da aguda crise
objetivar mais uma renova çã o ou mais uma estabiliza çã o.516
: vs sp .
polí tica Inversamente, Sybel - com o mesmo argumento recor — -
No sentido da Escola Histórica do Direito, Savigny destaca-
va a superioridade da origem: "A domina ção do passado sobre o
presente tamb ém poderá se manifestar ali onde o presente tenta se
V: VB ..
- reu em 1889 às suas “ convicções prussianas e nacional-liberais” .
Ele esperava que sua Hist ória da fundaçã o do império [alem ã o],
“ como visualiza ção detalhada da doenç a e da crise, pudesse servir
opor de forma proposital ao passado” .517 Ficker insistiu muito mais para o fortalecimento da sa ú de e da concórdia adquiridas” . De
522

na fungibilidade de ju ízos históricos e, com isso, para o perigo da forma mais drástica e sem pejo, Treitschke formulou sua intenção
unilateralidade partid á ria: “ Sempre ser á muito difícil estabelecer :V ;
an á loga: “ Minha intenção foi destacar com toda ê nfase, dentro do
uma unidade [dos pesquisadores] ali onde ela seria mais importante , mSM caos dos acontecimentos, os pontos de vista mais importantes - os
}$0& : •

isto é, ali onde se trata de concep çõ es hist óricas que se encontram homens e as instituições, a $ ideias e as mudan ças de destino - que
.

numa rela çã o estreita com questõ es prá ticas do presente ” .51* Ambas
* ••• • •

>
deram origem ao nosso novo povo” [Volkstuin] 52* “ De maneira
as considera ções - provindas do campo conservador reforçam um - ainda m3Ís clara que seu predecessor, o presente volume mostra
prové rbio muito usado no século XIX, de que se pode provar tudo que a História política da Confedera ção Alemã só pode ser obser-
a partir da História .519 O que é decisivo, no caso , é que a disputa v!
vada a partir do ponto de vista prussiano, pois somente aquele que .
se desenvolveu na plataforma comum de evidências históricas,
isto é, de evidências controvertidas, para se definirnos campos ou
1:
s mm está numa posição firme consegue julgar a mudanç a das coisas”
524 .
Após a fundação do império alemão, a disputa entre Treitschke e
jurídico, ou pol í tico, ou social. Luden desejou em 1810 “ que nós • iSli Schmoller mostra em que medida pressupostos teórico-científicos
alem ã es ouvíssemos a História dos alem ã es” e assegurou isso para as? í - e metodológicos - assumem funçõ es políticas e sociais, e podem
si e para seus ouvintes, “ para nos colocar no ponto a partir do qual influenciar a forma em que sã o percebidas. Treitschke argumentava ,
devemos olhar para essa História, e nos imbuir do clima a partir do WSX-K y
mm b

:BY - ;í . .
LUDEN, Hcintidt Binigs Walt fiber das Studitm der vâtetlõndischen Ceschichle Jeua, 1810;
3 ) fi Cf. STERN, Jacques (Ed .). Thlbú tu uttd Savigny. Ein prograriimatiseher Rechtsstrcit auf
,.
reimpress ã o em Darmstadt , s . d , , p. 11,
Grund Hirer Schi Ülen (Í914), Darmstad, 1959 (reimpresao); SCHNEIDER , Friedrich (Bd .)
, .
Universafstaat oder Nafionalsfaat Machi und Ende des ç rslen dtntsdicn Retches Die Streitschriften
. W& 5JI Carta dc
Jacob Burckhardt 3 Hermann Schauenburg, de 28 de fevereiro de 1846 In:
BURCKHARDT, Max (cd .). Britft (vol. 2). Basileia, 1952, p 208. .
.

1.7
von Heinrich von Sybel und Julius Ficker zur dcutscheo Kaiserpolitik des Mittelaltcrs 2.
Auft., Innsbruck, 1943 .
STERN, Thibaut und Savigny, p 137.
SCHNEIDER , Unmna\staat. ,% p. 31.
.
.
.
*
SP
S
i 527 SYBEL, Heinrich von. Die Begrihidimg des dtutsehen Reiches dtmh Wilhelm l (voi. 1). Munique /

.
Leipzig, 1889, p XIII e scg.
TREITSCHKE , Heinrich von. Deutsche GeschUhte im IVJahrhundert (vol. 1) (1879). Leipzig,
1927, p. VIII.
.
WANDER (vol . 1), 1867, p 1593, 321 .
Ibid , vol. 3 (1885), p. VItl.
:m
5.7

188
-ms ?\
189
; ye®

O CONCCffO Oí K‘ST¿*iA "H'St ÓÁIA*' COMO CONCHO MK Ítt MOWfiNO

a partir de pressupostos aristotélicos, a favor de uma estabilidade XIX deve deixar que os mortos enterrem seus mortos, para chegar
da domina çao, em confronto com uma social-democracia , que ao seu próprio conte údo” .528 Mas ele próprio produziu acuradas
Schmoller, por sua vez, tentava conquistar, a partir de teoremas
histórico-social-evolucionistas e reformistas.
A utilização política direta da “ Historia” , que atingia um ;üP§ C;
aná lises contemporâ neas - como O Í 8 Brumário de Luís Bompartc ,
para instruir o proletariado, a partir dos fracassos de revoluções
anteriores , e trein á-lo no “ espí rito da nova linguagem” ,

, WSwy ‘ '
-

ampio p ú blico de ouvintes e leitores, só foi possível porque a His- Dependendo da posiçã o, diferentes passados serviam - e con-
toria foi entendida nao apenas como ciência do passado, mas sim tinuam servindo - para a autodefinição política e social, e para os
como espaço de experiência o meio de reflexão da unidade de prognósticos que podem fornecer. Mas esse aspecto multifraturado
a ção social e polí tica que se tem em vista. “ De modo nenhum ” a dessa uma História n ão significa , de forma alguma , subjetivismo
ciência histórica lidaria “ só com a máscara mortuá ria dos passa- : í; desenfreado ou um Historicismo, corno o caracterizou Theodor
.
dos .. Compreendendo e compreendido, sua Hist ó ria representa , m Lessing, em 1921: ele esconderia dentro de si “ a presun çã o adoi-
para eles , uma consciê ncia de si mesmos, uma compreensão de :\ dada ... de que o pensar um processo é o pró prio processo” .529
si. Assim , nossa ciê ncia vai conquistando sua posição e sua tarefa Pelo contrá rio, a relatividade de ju ízos históricos na ciê ncia e na
naquilo que está surgindo; aquilo que acontece ao nosso redor e fi i pol ítica faz parte dos reconhecimentos que ajudaram a constituir
conosco nao é outra coisa que o presente da Hist ória, a Hist ória
do presente” .525 Ou , numa formulação singela de Schopenhauer:
- i : o conceito de Histó ria . Sem preju ízo para a busca da verdade por
í: parte da História , como ciê ncia , a referencia ção às condições de
“ Somente através da História um povo vem a se tornar plenamente
consciente de si mesmo” .526 vl-f Ví
--üil produção do conhecimento a respeito de uma experiência ajudou
a descobrir o mundo da História , no século XVIII.
y &
Aquilo que é vá lido para a consciência nacional burguesa
&
Marx e Engels tentaram conquistar tamb é m para a consciê ncia ím ti 2. Relatividade histó rica e temporalidade
de classe dos trabalhadores, a ser desdobrada por meio da reflexão lili
histórica. Assim , Engels escreveu em 1850, a respeito da guerra
dos camponeses, na Alemanha: “ As classes e frações de classe, que .Vv
i m Em 1623 Comenius comparou a atividade dos historiadores
com um olhar através de um binóculo que , na forma curva de um
em 1848 e 1849 foram traidoras, por toda parte, já as encontramos, & $$$ $
trombone, tivesse voltado sua lente para trá s. Assim se tentaria
em 1525, como traidoras, mesmo que ent ã o ainda num n ível mais buscar no passado ensinamentos para o presente e o futuro. Mas
baixo de desenvolvimento”.527 Marx ironizava aquelas “ invocações
dos mortos da Hist ória mundial ” que apenas serviram para a auto
-
estiliza ção pol í tica . “ A revolu çã o social do sé culo XIX n ã o pode

'
» (!
Sil
aquilo que impressionaria seriam as perspectivas retorcidas, que
mostrariam tudo sob uma luz diferente. Por isso, de forma algu
ma seria possí vel “ confiar... que uma coisa realmente se comporta
-
..
buscar sua poesia no passado, mas apenas no futuro. As revoluções
de antigamente necessitavam da lembrança da Histó ria mundial ,
a fim de anestesiar seu próprio conteúdo. A revoluçã o do século Mm - r: I
assim como ela aparece ao observador” . Cada um confiaria nos
seus pró prios óculos, e disso decorreriam disputas e desavenças.S3°

.
MARX , Karl Der achwehnie Brumaire des Louis Boiupmo (1852).!n: MEW (vol. 8), I960,
m DROYSEN, : y$m p. 115, 117.
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Johann Gustav Ctstkkhie der pritwUdun Poliiik (vol. 1). Berlim, 1855, p 11!
. . '

ü; . .
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w? ENGELS, Friedrich , per
.
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m
•¿
i
m 1
535 COMENIUS,
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Zdonko Baudnik).
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,

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O CONCETTO oe USTÔítA .
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'H íSTÓ A" COM ) CONCOIO W « TJ? c t hOO&HQ
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A transferê ncia da teoria da perspectiva » vinda das ciencias ! ¿


Chladenius partiu do princípio de que a Hist ória e a concep-
ifS
-
ymm *
naturais, para a Historie ganhou evid ê ncia no século das guerras çã seu respeito costumam coincidir Mas para poder interpretar
o a .

religiosas e de seus libelos confessionais na medida em que os
autores estavam dispostos a reconhecer posiçõ es dogm áticas como m i
e julgar uma Hist ória , seria necessá ria uma separa ção ígida: “ A
Historia é uma coisa , mas a concep ção a seu respeito é diferente e
r
;
relativas. Mas isso n ão significava que a nova posiçã o, racional itP m ú ltipla” .534 Uma Histó ria em si [Gesehichte an sich] só seria pensável
e supraconfessional, fosse relativizável. O antigo topos de que o - :1v sem contradições, mas qualquer relato a respeito sofreria quebras de
historiador deveria ser apolist isto é apá trida , para poder servir ’ ‘

. Í \ .
perspectiva. “ Aquilo que acontece na Hist ória é visto de diferentes
: is
à verdade e apenas relatar “ aquilo que aconteceu ” 531 perpassa, .
maneiras por pessoas diferentes” .S3S Aquilo que seria decisivo seria
como postulado científico e é tico, todos os séculos. Bayle e Vol-
'
Wm ^^ se uma interconexã o de acontecimentos é avaliada por um inte -
taire estiveram t ã o comprometidos com ele quanto Wieland ou ressado ou um estranho, um amigo ou um inimigo, um erudito
Ranke; “ Tudo interdepende: estudo cr ítico das fontes aut ê nticas,
concep çõ es apartidar ías, representa ção objetiva ; o objetivo é
m ou um leigo » um nobre » um burgu ês ou um camponês, por um
revolucion á rio ou um sú dito fiel. A partir desse diagnóstico feito a
que verdade plena se fa ça presente ” , ainda que ela nao possa ser @p partir do mundo da vida , Chladenius deduz duas coisas: primeiro, a
atingida de todo.532
O autoafastamento de uma posição partid á ria historicamente
m$ incontorn ável relatividade de todos os “ ju ízos opinativos” , de toda
a experiê ncia. Podem existir dois relatos mutuamente contradit ó-
sempre se volta contra partidos concretos mas diferentes. Do ponto m
m
•••
rios que reivindicam ser verdadeiros. Pois , “ existe uma razã o para
de vista epistemológico, encontra-se, por detrás do postulado do que reconheçamos as coisas de uma forma e não de outra , este é
suprapartidarismo que visa reproduzir a realidade do passado de o ponto de vista sobre uma mesma coisa... Do conceito de ponto
uma forma próxima à verdade plena, um tipo de realismo ingé nuo. de vista decorre que pessoas que encaram uma coisa de diferentes
Nã o foi essa inflexão metodologicamente antiga e imprescindível fej r. pontos de vista também devem possuir concepções diferentes da
no procedimento da pesquisa de tentar ser suprapartid á rio que fe; coisa...; quot capita, lot sensus” 536
construiu o mundo hist órico. Pelo contrá rio, é a referenciaçã o da Em segundo lugar, Chladenius deriva de sua análise da tes-
História a seus próprios pressupostos de conhecimento que resume temunha ocular e do seu comportamento o perspectivismo da
a História moderna , tanto no campo cient í fico quanto no pré - pesquisa e da representa ção posteriores É claro que , através do .
científico, tanto no político quanto no social. questionamento adequado de testemunhos contr á rios e através
Ainda orientado no ideal realista do conhecimento, Zedler da busca por evidências, deve -se tentar reconhecer a pr ó pria
escreveu de forma resignada que “ seria dif ícil , quase impossível, ser Hist ória [ Gesehichte selbst ) - corn que tamb é m Chladenius reco -
um historiador perfeito. Quem quisesse sê-lo deveria , se necessá rio, nhece um moderado ideal realista de conhecimento mas os
nã o pertencer a uma ordem , nem a um partido, nem a uma pá tria, acontecimentos do passado jamais poderiam ser reconstitu ídos
nem a uma religião” .533 Foi mérito de Chladenius ter demonstrado em sua totalidade, através de qualquer representa ção. Sobretudo
que exatamente isso é impossível. aquele historiador que queira relatar uma “ Hist ória com senti-
do” n ão pode evitar que ela seja reproduzida através de “ imagens
451 . .
LUKIAN Wit man Gexkkht* sátdben soil Munique, 1965, p. 41, 148 (ver*2o alent ó de H.
Homeyer).
.
> J1 RANKE. Ernieitung Zu den Atwfekten der engltschen Gesehichte In ; S &mtUche We /ke (vol. 511
... < .
CHLADENIUS, BMtltuhg cf nota 262), p. 195 .
.. .
21) 3 AufL , 1879, p 114.
.
51S
.
Ibid., p. 185; t CHLADENIUS, Allómeme Cí s àiuhtswlssensdiaft (cf. nota 277) p. 151.
- < .
FaimamuStrach (1572 1649), duele» pot ZEDLER vol 13), 1735, p. 286 {verbete “ Historie") CHLADENIUS, EitiUUun# .., p. 188 e scg.

192 193
'ÍilP

O cencerro es Hsrô?.* mm
V
r
- . ‘HsrôvX cavo cabano Mcsre MOO &WO
4

rejuvenescidas” .537 Ele ter á de escolher, resumir e se servir de con-


' que n ão se deram conta de que est ã o pedindo algo impossível ” O
-
ceitos gerais mas, com isso, se expõ e de forma inevitável a novas —
historiador como o próprio participante - n ão conseguiría evitar
de trazer consigo seus pontos de vista , que dependem da origem,

ambivalê ncias, que por sua vez necessitam de explicaçõ es. Pois,
“ quando um escritor de História escreve imagens rejuvenescidas, * do status , dos interesses e da posição, de forma que uma Histó ria
ü
sempre visa a algo” - algo que o leitor precisa reconhecer, caso post euentum sempre se transforma.542 E Chladenius deu mais um
queira avaliar a História em quest ão.538 . i - ';) passo adiante ao diferenciar o perspectivismo em rela ção à Hist ória
Desde a História vivida até a História cient í ficamente elabo- wm % . da “ narrativa partid á ria ” , que , contra “ o saber e a consciê ncia” ,
..
rada , “ História” sempre $e concretiza numa perspectiva que possui : ixm- *
“ distorce e obscurece, de forma premeditada” , os acontecimentos .
sentido e que cria sentido, perspectivas nas quais uma remete à M&Sí Uma narrativa apartidar ía també m não pode significar o relato de
outra . Desde Chladenius, os historiadores estavam mais seguros uma coisa sem pomo de vista , porque isso, simplesmente, não é
do que até ent ã o para ver na plausibilidade uma verdade própria, -W. y
possí vel ; e narrar partidariamente n ã o pode significar narrar uma
-
;s :
m

exatamente uma forma hist ó rica de verdade. E como devessem coisa e uma História de acordo com seu ponto de vista , porque ,
ter seu ponto de vista [Sehepunkt ) , tamb é m tiveram a coragem de nesse caso, todas as narrativas seriam partid á rias” .
assumir aberta e conscientemente um “ posicionamento” [SUmdort] . v. Com essa constatação de que a formação de ju ízo perspecti vista
Assim , estava claro para Abbt “ que a História de qualquer povo
na Ásia soa diferente que na Europa” .539 Gatterer escreveu uma
mi j
e o partidarismo n ão são idênticos, Chladenius traçou uma mol-
dura teórica que at é hoje n ã o foi ultrapassada . Pois a exigê ncia da
Ablumdhmg vom Standort und Gesichtspunkt des Geschich( sschreibers S compreensão, o postulado de que també m os outros e o adversá rio
[Tratado sobre o posicionamento e o ponto de vista do historiador), devem ser levados em considera ção, a doutrina que, desde Herder,
um trabalho de compara çã o, no qual Lívio é avaliado à mão de um atribui a cada é poca, a cada povo e a cada indivíduo seu pró prio
possível “ Lívio alemão” , 540 Também Schiõzer, Wegelin , Semler ou v
-
direito essas coisas todas só podem ser cumpridas quando os cri -
KÕster falavam de “ ponto de vista” ou “ posicionamento” . Assim t é rios da forma çã o do ju í zo e da representa çã o n ã o sã o redut íveis
també m Hess, em 1744, escolheu um que lhe possibilitasse uma a uma simples tomada de partido.
S8§ : Num outro sentido, Chladenius ficou retido na antessala do
“ forma de conceber” , “ que considerei a mais apropriada, tanto
como retrospectiva em rela çã o às coisas do passado quanto como
prospectiva em relação às coisas do futuro” .541 Dessa forma, a visã o
w
mt
mundo histórico, cuja hermenêutica fora o primeiro a delinear:
sua crítica e suas metá foras do conhecimento se referiam sobretudo
de Chladenius se transformou num lugar-comum , ao espaço. A História transcorrida como tal representava , para ele,
“ Bngananvse muito aqueles que exigem que um historiador GG um objeto inarred ável, para o qual os homens apenas dirigem seu
se comporte como algu é m sem religião, sem pá tria , sem família é - .
olhar diferenciado Chladenius ainda n ão conseguiu imaginar que
tamb é m o transcurso temporal pode modificar ex post a qualidade
5 )7 ibid , , p . 221 ;‘' Gesdiichti" aqui ainda é plural!
|
|| de uma Hist ória.
O componente temporal do perspectivismo, poré m , vai se im-
,
ff
'

5 1 Í bid „p. 237.


999
ABBT, Thomas . Gesdiidne des niemddidien Geahkdits, soweit seibige ti i Europa bekomit wordtn , ;W , - -
pondo rapidamente, justamente motivado por Chladenius Gatterer .
vom Atifongc der IVelt bis AUFMMSERE ZeiUn . Aus dem grossen Weike der allgemdncn Welthhtorm já ficou em duvida: “ A verdade da História se mantém, no essencial,
lusgezogen . In: Alte Historie (VQ [ , 1 ) , Halle , 1766 , p. 219.
a mesma - ao menos é isso que pressuponho aqui ..., ainda que eu
..71
ÍW
GATTERER, j. C, Abhand lung vom Standort und Gtajduspunkt des Gesc hkhtschrcibers oder
< '

der teiusche Livius. In: GATTERER » Allgemehie Historisdit Bibihihek ( vol . 5), 1768, p. 219.
111 HESS . johannj2 kob . Von dim Riithe Gouts , Bin Vctsudi Uberden PUn dergdt í lichen Anstahen

und Ofíenbarungen (vol . í). Zurique , 1774, p . XXIV. CHLADENIUS , AHgcmcine Gesdmhtsivissensduift , p. 166 , 151 ,
Gm ;
. ;SW \ 3 195
194 $& &
'

:&m* S -
O CONCETO De HI5T6í!A

saiba que n âo se possa pressup ô-lo sempre” .343 B ü sch constatou ,


em 1775: “ Novos acontecimentos podem tornar importante
-.asspí se m '’ H' SrÓf 'A'1 COMO CONCSIO MOP£?Í X>

que agora - como em Lessing - permitia interpretar progressiva-


mente as transformações históricas. Nunca existe uma Historie
uma Hist ória que n ão nos interessava ou nos interessava pou
-
co” e ele se referia à Hist ória do Indust âo, o qual só . teria sido - Mim imutá vel disse Semler, em 1788. A soma transversal de dados,
-
o conte ú do e a elaboraçã o apresentam uma diferença , de tempos
inclu ído uns 20 anos antes no campo das interconexões gerais,
pelos ingleses.544
Que a própria Hist ória [Geschíchte seíbst ) só vem a ser constru ída
em virtude dos seus efeitos interconectados é a próxima dedu ção
que Schlõzer tirou - ainda que de passagem -, em 1784: “ Um
-
MM
MIM:
f :
em tempos. “ Essa diferença é simplesmente inevit ável ... Ela é
uma consequência da mais sublime economia de Deus dentro
do mundo humano ” 547
Desigualdade, mudanças e variaçõ es de todas as circunst â ncias
“ perduram indefinidamente, para uma educa çã o moral dos homens,
fato pode parecer extremamente insignificante para agora , mas, lets que vai mudando constantemente” . Antes de ler seus textos, teria
no decorrer do tempo, pode se tornar extremamente importante sido dada muito pouca aten çã o “ a essa História ... de todos os
para a pr ópria História ou ent ã o para a cr í tica” .545 No horizonte fMs i '
historiadores, que se estende para frente” . E da í que seria possí vel
da Hist ória mundial , concebida como unitá ria, os pressupostos
derivar as etapas do conhecimento crescente, o qual habilita aqueles
podiam retroativamente mudar de posição.
Finalmente, n ão só a distância temporal crescente em rela çã o
H :: I que nasceram depois a desmascarar os interesses partid á rios das
ao passado foi vista como constitutiva para sua mudança . Também
Cv - :: .
gera çõ es anteriores e de seus historiadores E exatamente isso que
MIM Semler tenta fazer com os tr ês primeiros séculos do cristianismo.
se deduziu que com a dist â ncia temporal crescente aumentavam as
possibilidades de conhecimento. Com isso, também a testemunha /
Ml|
vvVfVp?
- Quem pleiteia “ a imutabilidade do sistema eclesi á stico” , na sua
' •
- História , estaria incorrendo em preconceitos e servindo a interesses
sás ?p
V

ocular, que até entã o ocupava uma posição privilegiada - ainda que
hierá rquicos de domina ção. Estaria impedindo o desdobramento

já reiativizada por Chladenius , perdeu sua posiçã o como fonte
principal: a lembrança do passado n ão é mais mantida através da
Ms
:§VS: l moral da religiã o cristã, “ e n ão pode haver ... pecado maior contra
tradição oral ou escrita , ela é, muito antes, reconstru ída através toda a verdade histórica” .548
de um processo cr Desde que se estabeleceu a perspectiva temporal de seu desen-
ítico. "Cada grande acontecimento est á envol- 1ti volvimento, surgiu da verdade histórica-relativa uma verdade supe-
to numa né voa para os contemporâ neos sobre os quais ela age t S; , V
"

de forma direta , né voa que vai se dissipando aos poucos, muitas


::::
rior. Pressuposto dessa posição superior foi a alteridade perspectivas-
MMM
vtur f ta , e - da í decorrente, como em Semler - efetiva do passado, medida
vezes depois de algumas gera çõ es ” . Uma vez decorrido tempo
Mt I pelo presente e pelo futuro. “ Que a História do mundo precisa ser
suficiente, o passado aparece gra ç as à “ cr í tica histórica ” , que sabe
calcular as exigê ncias de verdade do espí rito de partido, “ sob uma
m reescrita de tempos em tempos, sobre isso creio que nao resta mais
forma bem diferente ” .544' d ú vida , nos dias de hoje” - escreveu Goethe, pouco depois. “ Mas
Com a temporaliza çã o da Hist ória , a perspectiva temporal MM tal necessidade n ã o decorre do fato de que tenha sido descoberta

-4c#l muita coisa nova, mas do fato de que aparecem novas concepções,
'

adquiriu status metodológico. També m aqui foi a economia salv í fica


porque o cidad ã o de um tempo que progride é levado a posições a
! partir das quais aquilo que passou é visto e avaliado sob uma nova
50 GATTBRER , Abhandlimg vom Standorl..., p. 7.
13ÜSCH , EnzydópStJU (cf. nota 437 ), p. 118,
s SCHLÕ
‘* .
ZER Vorrede ?.u Mabiy (cf nota 512) , p. 15 (nota).
.. .
PLANCK, GcsthUhtedcrEntitchung (cf nota 281) (vol. 1), p. VH; PLANCK , BinUitutig... (cf
. * ::
50
SEMLER , Johajm Salomo. Nene Vetsuche die KiráenhiUone der
aufzukltiie / u Leipzig, 1787, p. 1 e segs.
erslett .
Jr hrhtwderte mch
. .
noia 465) (vol 2), 1795, p. 243. ut Ibid., p. 101 e scg.

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19Ó : V ‘: '

197
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O COKCfiTO DE H¡$ rÓS-'A m í; COMO CONCEITO MESTFI VOOE&NO

forma” .549 Desde ent ão tamb ém a Hist ória como tal [ Geschichte » partido... Devemos tomar partido pelo bem c pelo divino, ... mas

-

überhaupt ] adquiriu uma qualidade genuinamente temporal. Goethe nunca devemos ser partido” , ou at é “ fazer partido” .552
expressara uma experiência hist órica que crescia vagarosamente e •
tf !4 Naquilo que tange à aporia que se abre entre a busca por ver-
se acumulava desde Chladenius: que a referência a uma posiçã o é dade e seu condicionamento histórico , Schlegel contornou a posição
constitutiva para a experiê ncia histórica , bem como para o conhe ^ de Hegel. Hegel queria , por um lado, levar em considera çã o “ a
cimento histórico. Corn a temporaiização dessa História rompida totalidade de todos os pontos de vista” , ao apresentar sua Histó ria
em fun ção da perspectiva , se tornou necessá rio refletir também m :j . filosófica do mundo.553 Por outro lado, exigiu a irrestrita tomada
sobre o próprio posicionamento, já que ele se modifica dentro e V de partido a favor da raz ã o, a favor do Direito. Somente ela poderia
com o movimento da História . Essa experiê ncia foi confirmada 11ft ' querer reconhecer a verdadeira Hist ória, “ ela toma partido pelo
essencial.554 [...]. Uma sabedoria antiga diz que se deve proceder
com os acontecimentos que se desenrolaram na Revolu çã o Francesa: •
: •:
• •
!r
foram eles que forçaram concretamente a se tomar partido. E por • . .V
• •' ' '• de forma histórica” . A exigência de apartidarismo só teria senti-
isso que Friedrich Schlegel exige uma reflex ã o aberta a respeito do do enquanto se tentasse proteger aquilo que se encontrou contra
próprio posicionamento. Ele pedia que o historiador apresentasse, Ü; ju ízos unilaterais. Mas ampliar o apartidarismo a tal ponto que o
“ de coração aberto” , “ suas opiniões e seus ju ízos , sem os quais não Mft \ historiador seja relegado ao simples papel de “ espectador” - que
se consegue escrever nenhuma Hist ória , ao menos uma História
expositiva” , bem como apresentasse seus princípios básicos a respeito
: —
relataria tudo, sem qualquer objetivo significaria transformar o
pr ó prio apartidarismo em algo sem sentido: “ Sem ju ízo, a Hist ória
do Direito e da fé. “ Não se deve acusá-lo de partidarismo, ainda perde seu interesse ” .

que sejamos de opiniã o diferente ” acrescentou, no mesmo sen-
tido de Chladenius.550 Enquanto os partidos do passado perduram
is? i Com a tomada de partido a favor da razã o - que, per defini
lionem, na verdade, não permite outro partido Hegel continuou
-
para dentro do presente, até um “ tratamento duplo” da Hist ória '; r .V-
aplicando o formato lingu ístico da Revolu ção Francesa à Histó-
seria “ inevitá vel e necessá rio ” . Constituiria ilusão evidente quando ria. Desde ent ã o, se mantém como dilema de toda representa ção
se tentaria encontrar “ a verdade hist órica ú nica e exclusivamente .*
histórica o dever de contornar a tomada de partido, sabendo, ao
entre os assim chamados escritores apartídanos ou neutros” 551 A . li l : mesmo tempo, que a refer ê ncia a ela constitui mandamento prévio
quest ã o que ficava em aberto era qual seria “ o partido correto” , de qualquer conhecimento histórico. Assim Gervinus - como pro-
cuja posiçã o se deveria assumir. A press ã o pol í tica por uma decisão
desembocou na busca por um ju ízo adequado. Schlegel tentou en
: pagador de uma polí tica liberai -, defendeu o postulado tradicional
de ser “ imparcial e apartidado” . “ Conciliar contradiçõ es parece ser
- )
contrar a resposta pelo caminho histórico-filosófico, procurando o destino do historiador ” . Fé, autoridade ou pá tria n ã o deveriam
se elevar “ à grande posiçã o da História ” , que indica a direçã o de confundir seus sentidos: “ e, mesmo assim, ele deve ser um parti-
longo prazo das inovações duradouras. Ou , como formulou mais
1VV1
d á rio do destino, um defensor natural do progresso” . Representar
- i» ij
. . •?
tarde em Signatur des Zeitalters [Selo da época] de forma mais a causa da liberdade é inevitá vel ,555
contida: deve-se apenas “ n ão permitir que o partido valha pelo mi
.
GOETHE. Materialicn 2 itr Ceschichte der Farbelehrc. In: Hamlurgtr Amgabi (vo! 14), 1960,
*t - 5J* SCHLEGEL, Obetdieneuere Geschtcluc, p. 129; SCHLEGEL, F. DieSignuut <ies Zeicakers
.
(1820/ 23). !o: ibld , p. 519 e seg.
p. 93.
•:

” . ...
s HEGEL Die Vcnnwft (cf. nou 236), p. 32.
...
.
w SCHLEGEL, F lí ber die ncuetc Geschichte, Volesungen 1810/ 11. In: SUmtUchc Wttke (1. ij4
.
HEGEL, Ehitcilung... (cf. nou 404) p. 283; cf. HEGEL, Enzyklcpñdie (cf. nota 382), § 549,
.
Abt , vol 7), 1966, 129.
:
*: ft p. 427 e segs.
J5
’ .
SCHLEGEL, F. Ü ber Fox und dessen historischcn NachUss (1810). In: ibid , , p 115 e seg. m
_ ü SiS GERVINUS, Georg Gottfried. Gtuiuizjigc dtrHhiorik .Leipzig , 1837, p. 92 esegs.

m
-
'
v:

Kit :
:

198
.

ft? ft - - 199
O CONOf íO Cí HJ$T<S»ÍA l«P *HISTóJUA COMO CONCCTO MOCITO

Contra essa identificaçã o do posicionamento com urna tomada depende muito mais da posiçã o, e no anterior dependia muito mais
de posição polí tica, R á nke defendeu uma posiçã o que ficava num ; do conhecimento histórico” .557

-
outro extremo, a aparente - abstraçã o temporal da ciê ncia his- Stein aceitara o condicionamento histórico da respectiva po-
tórica: “ Gervinus (diz ele no necrológio556) repete muitas vezes a siçã o como pressuposto do conhecimento histórico. Pois se os
.-í&fif
intenção de que a ciê ncia deve intervir na vida . É verdade. Mas, para pr óprios ritmos de tempo da Historiase modificam, h á necessidade
ter efeito, ela deve ser, em primeiro lugar, ciê ncia ; pois é impossível de perspectivas que lhes sejam adequadas. Por isso, Stein procurou
que se assuma uma posiçã o na vida , e transferir essa posição para a conhecer as leis do movimento da História , isto é, da Era Moder-
ciê ncia - nesse caso a vida age sobre a ciência , e n ã o a ciência sobre i na, para poder derivar delas um futuro, que ele queria , ao mesmo
a vida... Só podemos exercer um verdadeiro efeito sobre o presen- ;?ÍP * tempo, influenciar, através do esclarecimento de sua posição. O
te , se, antes disso , abstraí mos dele, e nos colocamos numa posição ; diagn óstico consegue arriscar melhor um prognóstico, quando se
V í feí fe
elevada de uma ciência livre e objetiva” Ranke buscava , em ú ltima certifica de seus condicionamentos e de seus Jimites histó ricos. En -
-
instâ ncia , desvencilhar se do condicionamento hist órico de seus v
quanto a História de antigamente estava preparada para todo tipo de
ju í zos históricos, ao refutar, categoricamente, qualquer “ inten ção
que enxerga tudo aquilo que passou sob o ponto de vista do dia de
«I j
surpresas, já que suas Histórias n ão sofriam nenhuma modifica çã o
fundamental, a Era Moderna parece despreparada para surpresas,
hoje, sobretudo, porque esse muda constantemente” . Para Ranke , III
-
porque o futuro n ão pode mais ser derivado de forma não mediada da
o condicionamento hist órico se manteve como uma restriçã o ao
conhecimento hist órico.
mt tm ii
experiência do passado. Nas palavras de Feuerbach (1830) , “ Hist ória
só possui aquilo que é o princípio de suas transformações” 553 Com
E caracter ístico nao só da tomada de posição que foi assumida isso, o perspectivisrao hist órico se transformou, por completo, de uma
nessa contrové rsia, mas també m, e talvez a í nda mais, a ambivalên- “ categoria de conhecimento” em uma determinação fundamental
cia da “ própria História” [Geschichte selber] , que ela pr ópria fornece de toda a experiência e de todas as expectativas, que tem sua origem
-
H>»
v ívi fe:; -; i
todas as restrições que podem ser levantadas contra ela. Isso faz na própria História. A diferen ça temporal entre passado e futuro
parte da conceitualidade de um conceito mestre, que, dependendo . •: i conquistou sua qualidade própria , uma qualidade histórica, que só
* ;
'

ékf -
da posiçã o e do partido, p ôde ser preenchido de forma diferente. pode ser avaliada através de abordagens que guardam a consci ê ncia ,
?
Que a perspectiva temporal se referia a um movimento que de sua relatividade, de sua “ temporalidade” . Por isso , um contem-
sofria modificaçõ es constantes e , no final , se acelerava , isso já fora
If ®|- .
porâ neo procurou “ sua salva ção .. unicamente ... na compreensã o
formulado, de forma muito clara, por Lorenz Stein, em 1843. - i e na utiliza ção de nosso próprio tempo, que é instrutivo, porque
H á 50 anos, a vida estaria se acelerando. “ Tem-se a sensa çã o de n ão mais recebe, como o tempo passado, uma História feita , para
que a historiografia n ão consegue mais acompanhar a Hist ória .
H
v:
transmiti-la , sem modificações , aos descendentes” 559 .
I :

E mesmo assim , numa aná lise mais precisa , se verifica que é jus- .

i: ; Um tempo que sempre é esperado como tempo novo nem
tamente o contrá rio que acontece. Da mesma forma como todas flp
É l-
pode ser diferente que fazer emanar de si uma História que só pode
= g f®
aquelas diferentes forma ções surgiram , de repente , elas podem ser
abarcadas numa ú nica visualização. E a mais importante diferença
desse período em rela ção ao anterior , é que nele o ju ízo correto
«lili 557 .
STEIN , Loren ? Die MunUipâ lverfassung Fmnkra’chí. Leipzig, 1843, p 68.
.
FEUERBACH, Ludwig. Todesgedanken (1830). BOL Í N, Wi í hdm; ejODL, Friedrich (Eds.).
. . .
Sü iMlkhe Werke (vol. 1). 2. Aofl , I 960, p. 48; ef BLUMENBERG Ham. Die U&itlmhM der

SJ 4
.
Niualt Frankfurt, 1966, p. 74.
557 PERTHES, Clemens Theodor. Fritdrleh Perthes* Lebai (vol. 3). 6* ed .t Gotha , 1872 , p. 360 (da
RANKE. Georg Gottfried Gecviruts: “ Ged âduniscede" {no dia 27 de setembro de 1871).
í sdie ZdUtfnlft» n. 27, 1872, p. 142 e seg. iSPí i;
Hiftor
nn carta de urn amigo a Perthes).

200 Vv -f fe 201
.
O CONCITO c* HiSTÓSW coMOCONCaroMKTí* MCGZJMO

.
ser experimentada de forma perspectivista Com cada novo futuro, significado incomensurá vel desses anos , quando se reconhecer que
surgem novos passados. “ Nao se pode nem prever o que uní d ía • • -T •
.
todo o nosso continente se encontra num per íodo de transição,
ainda será Historia . O passado talvez continue fundamentalmente no qual as contradições de um meio século em desaparecimento
n ã o descoberto! Ainda necessitamos de tantas forças retroativas!” v ©s. se chocam com outro meio sé culo que est á vindo” .562 A troca de
(Nietzsche).560 correspondência de Perthes representa uma caixa de ressonâ ncia da
opinião p ú blica da época , e, assim, vá rias passagens de suas cartas
3. A irrupção do distanciamento remetem àquela experiê ncia de acelera ção que fora apontada como
v:
entre experiência e expectativa '

W
"

- i específica para o novo tempo que iniciava. “ Quanto mais a História


compacta os fatos que se sucedem, tanto mais intensa e geral será a
A História - escreveu Novalis, em 1799 se compõ e de coisas- :mm > disputa” . Períodos anteriores conheceram mudanças de rumo que
do passado e de coisas do futuro, de esperança e de lembrança.561
Essa equa ção clara se transformou num problema . O perspectivis-
, se estenderam por séculos: “ nosso tempo, poré m, reuniu aquilo
que era totalmente irreconciliável dentro das atuais três geraçõ es,
mo temporal derivou de uma História que parecia se afastar, com convivendo simultaneamente. As enormes contradiçõ es dos anos
velocidade crescente, de seus dados prévios. A experiência de uma *
l:í ::
1750, 1789 e 1815 dispensam a transiçã o, e nao aparecem como
ruptura que estaria separando, de forma violenta , as dimensõ es do algo em linha de sucessão, mas como algo simultâ neo dentro dos
passado e do futuro, a consciência de um período de transição est á
amplamente registrado, desde a grande revolu ção. Desde ent ão, —
homens que vivem nesse momento dependendo se são avós, pais
ou netos” . Com esse diagnóstico da contemporaneidade do n ão
tamb ém vão se afastando os enfoques em dire ção a um futuro a m
m contemporâ neo, Perthes estabeleceu um parâ metro para a “ incr ível
ser criado, por um lado, e um passado que vai se perdendo cada velocidade” da mudança 56* .
vez mais, que só pode ser reconquistado historicamente, por ou - *

A experiência existencial de um passado que ia se afastando


tro lado, - ainda que inicialmente ambos ainda sejam cobertos
'
üW cada vez mais rá pido desencadeou , em sentido inverso ~ e, por
pelo conceito de História . No decorrer do século XIX , vai se
desenvolvendo certa distinção que atribui a dimensão de futuro '
'

assim dizer, de forma compensatória , em todo lugar, “ prazer e
simpatia para a História. Em todos os cantos - escreveu Perthes,
Xvi
mais ao “ progresso” , e a dimensão do passado mais à “ História” , por ocasi ão de sua divulga ção da Monumenta Gennaniae histórica

Vvx
ainda que esse par de conceitos, de forma alguma , fosse utilizado os livros de ocasião, os jornais de província , o$ programas escola-
exclusivamente de maneira antitética. Na História pensada como ;;X res surgidos fora do mercado da grande literatura voltam-se para a
“ Ettlwicklun t como “ evolução” ou como “ desenvolvimento” ,
ambas se juntaram.^ História, em geral para a História local, e d ão conta do primeiro
amor com que é encarado o tempo que se localiza antes de nós” .564
A consciê ncia de estar no limiar de uma guinada estava ampla-
Foi numa situaçã o de mercado aparentemente tão favorável
mente difundida, em torno do ano de 1800. “ Quaisquer compara-
que Perthes tentou lançar sua EtmpHischc Staatsgcschichte [Hist ória
ções de nosso tempo com as guinadas na Hist ória de determinados
dos Estados europeus]. Mas enfrentou dificuldades, que justamente
povos e de determinados séculos sã o muito mesquinhas” - escreveu
derivavam da nova experiência histórica da aceleração, Ela fez com
Perthes, depois da queda de Napoleã o; “ só se poderá aquilatar o

m PERTHES, Ltbcn (vol 2) , p. 240 e scg.


. .
NIETZSCHE, Die fcõ hltche Wissemchaft (3882/66), Nr M In: IVerkc (voí. 2), 1955, p. 62 , Ibid., p. 146 é seg.
5M
. . .
NOVAL ÍS. Heinrich voti O íterdingcn , 1, 5 in : GtsamtntUt V/ttki (vol 1), I 960, p. 258 .
** Ibid (vol 3), p. 22 ,

202 203
O cONCeno Oí Hmta*
W ÜP
"BSKW COMO CONaifO «£$TR£ MOOí RNO
f.

que os historiadores profissionais hesitassem em escrever sobre História as expectativas do futuro que iam surgindo e ganhando espa ço.
-
moderna, em especial sobre uma que como se costumava fazer rw;m %
- chegava até a “ História contemporâ nea”. :
las 2 Logo pareceu a amarga afirma ção de Dahlmann sobre “ uma Historie
muito elegante para se estender até o dia de hoje” . 566
As três dimensõ es do tempo pareciam se desagregar. O pre- 4SS!
sente seria muito veloz e provisório. “ Falta-nos um ponto fixo, a
Nas palavras da enciclopédia Brockhaus der Gegenwart [Bro -
ckhaus do Presente], a Revolu ção Francesa tra çara um “ limite
partir do qual os fen ômenos pudessem ser encarados , avaliados e sangrento entre passado e futuro” ,567 que rompeu de forma pars-
permitissem conduzir at é nós” - escreveu Rist [a Perthes]. Se estaria
vivendo “ em tempos de uma decad ê ncia , que apenas começou ” . ®!ii pectivista o conceito de História , e lhe deu um rosto de jano, de-
pendendo da direção em que era apontado. Immermann , envolvido
E Poel confirmou: “ Em todas as inst â ncias da vida - na civil, na
política , na religiosa e na financeira a situa çã o nao é provisória ?
«1 í na discuss ão atual sobre literatura hist órica , distinguiu , na é poca ,
três est á gios de um acontecimento histó rico: a primeira fase de
Mas o objetivo da História n ã o é o vir a ser, mas sim aquilo quejá
é ” Seria cada vez mais dif ícil reconhecer isso, porque o futuro se

. «Si í seu surgimento como “ m ítica ” , a segunda , do acontecimento em
si, ele chamou de “ histórica ” , e, finalmente, a terceira , de histo-
modificaria de forma cada vez mais rá pida. “ Onde est á o homem í riográ fica. “ A í a História propriamente dita acaba , e sc entra na
que consegue enxergar os enormes processos de mudan ça , ainda
^; s; pesquisa histórica ” .568
'
, sy
que apenas na penumbra ? O processo de mudança” seria muito
A descontinuidade se transforma em critério primeiro e de-
profundo, para que se pudesse escrever agora já uma História do i
cisivo da experiê ncia moderna de Histó ria , na medida em que
passado. Mesmo os legitimistas, que estariam se opondo à “ marcha
1
' esteve marcada pela grande revolu çã o, Macaulay mostrou isso
do tempo” , n ã o estariam se apoiando “ no passado” . O historiador .
numa comparação entre a França e a Inglaterra. Na Inglaterra,
distanciado estaria proibido de escrever uma História do presente , .• v.f
V ‘ a Historie continuaria envenenada pelo “ espí rito partid á rio” , pois
pois ela , no m á ximo, ajudaria a desencadear o partidarismo. O
resultado de todas essas conjectura ções foi que “ de uma História onde a “ História [é vista] como um repertório de documentos” ,
1 .
escrita agora não $e pode esperar nada de duradouro, nenhuma
verdadeira História” . A “ Hist ória” dos historiadores - ao contrá rio
da linguagem de nosso editor - foi, portanto, associada à dura
bilidade. Em outras palavras, a acelera çã o da História atrapalhava
-
*
f

®y
t -J
continuariam “ a valer os acontecimentos da Idade Mé dia” O pas-
sado continuava presente, na medida em que tinha efeito jurídico.
A situa ção seria diferente na Fran ç a , onde a Histó ria poderia ser
tratada de forma distanciada: “ O abismo de uma grande revolu çã o
separa por completo o sistema novo do antigo” .560
os historiadores na sua profissã o. Na verdade, poré m, ela alterou
a direçã o de seu trabalho - eles se atiraram a uma pesquisa que
mi “ Através da revolução, os franceses se libertaram de sua Histó-
. ? ria ” - como o expressou Rosenkranz, numa referê ncia à História
deveria reconstruir um passado que estava se perdendo. Coisa que s
do passado.570 Inversamente , Sohm pô de acusar , em 1880 , a Escola
também foi admitida por nossas testemunhas de 1822: “ que os . V» í
acontecimentos de nosso tempo despeitaram em alguns indivíduos
a necessidade de uma profunda pesquisa histórica” .565 A fundaçã o
m
S
i íí4 . .
DAHLMANN , Friedrich Christov PU Pclitik 3. Aufl., Leipzig , 184?, p. 291.
.
SCHULZ, vetbete “ Zeitgeist" (cf nota 383), p. 464.
da “ História ” como pesquisa rigidamente metodológica do passa-
do - como Hegel já a ironizara - se d á exatamente nesses anos em ;
| E8
ví® í -
Si1

.
IMMERMANN, Karl Memorabilia) (1839). In: MAYNC, Harry (Bd.). Wake (voi . 5).
.
Leipzig / Viena (1906}, p. 230 e seg.
que as experiências tradicionais tinham cada vez menos a ver com WB ,w MACAULAY, Thomas Babington. Die Geschiehte Engfands sett dan RegierungidtttfifteJacobs 11
ip I .
(voi. 1). Leipzig , 1949, p. 22 eseg. (tradu çã o pars o alemlo dc Friedrich B ü lau)

lbi( Í.t p. 24 esegs .


579
. .
ROSBNKRANZ Karl Am einem Tagcbuth , Kimigsberg Herbsc 1833 bis Pr ü hjahr 1846.
\ wm ?I .
Leipzig, 1854, p, 199 (a notí cia data de 1834)

204 205
imm .
O GONCEflO Df HstÓSÍA
mm "HlSÍÔÍtA1* <CMO CCXNCtíTO /¿ «TO MCOcFNO


Histó rica alem ã de naquilo que tange à “ Historia” atual ~ “ ter
ajudado a promover a ruptura com a História ” 571 . '

;
n ão ser através da ruptura mais incisiva com ele ” escreveu Ruge,
em 1843, a Marx, o qual, por ém, ~ mais próximo a Hegel - se

Dessa forma , o conceito de História varia correspondente- : v .
referiu ao movimento interno da Historia: “ Ficar á claro que não
mente à experiência de ruptura que o determina. Por um lado,
podia não apenas se referir à durabilidade do passado em processo
de desaparecimento, mas também requerer a preocupação per-
manente com o futuro, indicando o rumo a ser seguido. Schlegel
:
-s : -

-
v
se trata de um grande traço de uniao entre passado e futuro, mas
da concretização das ideias do passado” .577
Marx, que localizava a Alemanha “ abaixo do n ível da
Hist ória” 578, e que pretendia recuperar esse atraso, de forma acele-
- ;iÍ!p
&
'
-

anotou em 1799 que “ o desejo revolucioná rio de realizar o rei : rada, através da concretiza ção de sua Filosofia , esse próprio Marx
no de Deus constitui o ponto elástico da forma çã o progressiva e deslocou a ruptura entre passado e futuro para 0 futuro: quando se
'
O in ício da História moderna” .572 Isso caracteriza a expectativa , atingissem as condições de ausê ncia de dominação no comunismo,
ms
-

quando não a linguagem dos revolucion á rios - na Alemanha , entã o toda a História pregressa se transformaria em Pré-Hist ória .
mais tarde, os hegelianos, em especial os de esquerda entre eles. “ Com essa forma çã o social termina, portanto, a Pré- Hist ó ria da
“ A História quer desenvolvimento, nova organização, progresso e IISM sociedade humana” .579 A História efetiva é degradada à preparação
mudan ças” - como destacou Bruno Bauer 575 A orientação para o . Silii i de um futuro cuja expectativa é reproduzida, de forma permanente,
futuro - num distanciamento em relação a um Hegel entendido --^
: v v - Ví V
e se mantém reprodut ível. Marx e Engels imaginavam - na Ideo -
como quietista ~ podia ser levada a tal ponto que a Hist ória como -
logia alemã “ empiricamente fundamentado, que com a revolução
tal [Geschichte iiberhaupt ] só podia ser entendida como Hist ó ria do ...
comunista a liberta ção de cada indivíduo se imporia na mesma
futuro. Feuerbach, em um escrito a Hegel, de 1828, esperava por medida em que a História se transforma, de maneira plena , em
"uma nova História, uma segunda criação” , e pelo fim "da História •
• História mundial ” [ Weltgeschichte] .m “ O comunismo constitui o
enigma desvendado da História e se enxerga como essa solução” 581
-

at é agora” .574 "Por isso , a constatação da possibilidade de conhe
cimento do futuro constitui uma quest ão prévia necessá ria para o ñfé - a expectativa engoliu , por completo, a experiência.
-
organismo da História ” deduziu Cienszkowski, em 1838.575 O Assim, o conceito de História teve de servir para cobrir todas
atraso das experiências feitas até ent ão, medidas pelo futuro que se íssíi: as extensõ es temporais - desde a expectativa de futuro, sem base na
esperava, caracterizavam o horizonte das expectativas utópicas que s experiê ncia, at é a pesquisa sobre o passado, destitu ída de qualquer
estavam sendo exploradas. Assim , Bruno Bauer pretendeu “ preparar 1« ; —
expectativa. O terceiro componente aqui nao abordado , que
tentou mediar ambas as coisas através do conceito de “ evolu ção” 582,

de uma vez por todas o novo caminho para a História” .576 “ Nós
foi o mais utilizado na linguagem cotidiana do s éculo XIX. O
não podemos dar continuidade a nosso passado de outra forma a . ••
-
.‘irh S

SOHM, Rudolf. Pranktsches und rdmischcs Rccht . Zeitschr


4 TI
í fijiir RedusgeuhUhu (germanistische & - .
Carta de Arnold Ruge a Marx, do agosto de 1843. Dett í síh FranzõJisiheJthtbikher Paris, 1844
. .
Abt. 1), 1880 p. 80; cf B Ò CKENFÕ RDE, Ernst-Wolfgang. Die Historísche Rechtsschule
(reimpresso em Amsterdam , 1965, p. 36); Carca de Marx a Ruge de setembro de 1843 Ibid ,, .
.
und das Problem der GeAchichtllchke í t des Rectus, In; Collegium Phitosophicum Festschrift fur
.
p. 39, e In: MBW (vol. 1) 1957, p 346.
Joachim Ritter. Basileia /Stuttgart, 1965, p. 24 . m S7 J .
MARX Zur Kritik der Hcgeischcn Rechtsplnlòiopbic. In: MBW (vol. 1), p. 380 .
iW
SCHLEGEL, Athenaums-Fragment Nr. 222. In; S dmlUehe Werke (vol. 2), p. 201.
-
'

.
BAUER , Bruno. Die Judert Frage. DeutsfhcJahrbuehu, n 274 , 1842, p. 1094
. .
.
HOFFMB1STBR Johannes (cd.). Brleft von und m Hegel (vol 5) Hamburgo, 1954, p. 246 c seg.
m •’. XU
SSI
.
577 MARX ZurKridk
der politfschen Òkonomic ( Vonvort), 1859. In: MEW (vol, 13), 1961, p. 9.
MARX ; e ENGELS. Deutsche ideologic. í n: MBW (vol 3), p 37
-
.
.
. .
MARX. Òkonomisch philosophBehe Manuskripte (1844) In: MEW (volume complementar
in
. . . ..:vV .1) 1969, p. 536.
CIHSZKOWSKI, August Graf Prolegomena * ur HinorUsophie Berlim, 1838, p, 9. M
.
Cf o verbete » Btuwkkhm/ ' [evolu çã o/descnvolvimemo] [em Cadiichtliche Cfundbegtlffi.
M . .
BAUER , Bruno Die gate Saehe derFnituit und meint agent AngeUgenhcit Zurique/ Wtnterthur,
.
1842, p. 209. Sobre tudo isso, cf. STUKE, Horst Philosophic der Tat. Stuttgart, 1963 . 1IS
Historisches Lexí kon zur polimch -sozialen Sprache m Deutschland, no qual est $ també m o
. .
presente texto ( N T,)]

20Ó M 207
M
O OKEfTO D Ê HsrÔíiA
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:
'

"hHrfrJA* COMO COtKEtTO MESlfE MOMftNO

apelo a “ uma História” descoberta produziu tantos ecos quantos


mi racionais” - essa foi a definiçã o dada em 1852 pot Felix Dahn, ao *

’’
eram os “ posicionamentos” . De qualquer maneira , a diferenç a ; Vi se referir a seu professor Prantl .587
entre experiência e expectativa induziu a uma tensã o temporal MSI Somente no século XX, o significado negativo criado por
permanente da qual parecia emanar “ História ” em sua unicidade. óSl»: I Feuerbach se difundiu , querendo se referir à ru í na de um passado
Característico dessa situação também é o emprego ambiva-
lente da expressão “ Historicismo” , na época em que surgiu , A
I já mor to . Em contrapartida, Troeltsch, Meinecke ou Rothacker
destacavam a insuperável experiência da relatividade histórica e de
palavra "Historísm” - pela primeira vez documentada em Novalis, sua elabora çã o cient ífica . Assim , a História moderna trouxe à tona
e a!i associada , de forma imprecisa, com “ sistema confusional ” - cerca de 100 anos depois de seu surgimento - um conceito que
[ConfusioHsSystem] e “ misticismo ” [ Mysltzism] 3 - só ingressa na envolvia movimento e reflexão, como ela pró pria , o qual hoje está
linguagem cient ífica quando da revolu ção de 1848. novamente sob forte cr ítica ideológica * Evidentemente, faz parte
18
'

Feuerbach designa com “ Historicismo” , nos anos 1840, “ uma . do conceito moderno de História a ideia de que ele desde o inicio
consciência deformada por uma falsa rela çã o com a História ” ,584 e era passível de se tornar ideológico e, por isso, também ser questio-
pôde chamar o historiador Heinrich Leo “ a inveja personificada do m
vmM *
nado a partir de uma cr ítica da ideologia. Essa ambivalência que
estava contida nos diferentes significados apresentados - o conceito

Historicismo contra as gotas sadias de sangue do presente” .585 En-
quanto Feuerbach, em funçã o da expressão negativa “ Historicismo” ,
já separa a História de sua referência à vida e à verdade, Braniss,
.1881:
IBIS
compartilha com os demais conceitos mestres da modernidade.
:
na mesma época , ainda pôde designar, com a mesma palavra , uma 4. "Hist
ória" enfre ideologia e crítica da ideologia
Filosofia da História voltada para o futuro. Essa ciência abrangente
- ao contrá rio do “ naturismo” - fundamentaria “ o grande tempo
mmi

"A História é invocada como á rbitro, mas apenas aparen-
da História mundial ” [Wellgcschichte] , que já começou , e “ que est á ,
temente , pois, na verdade cada um só utiliza os fatos históricos
se autorrealizando” 585 . :: Vmi como meio para fundamentar e justificar , de forma sof ística , sua já
Também a terceira posiçã o, que dava destaque ao contexto do iun 8 existente opini ã o inabalá vel ” - essa observa çã o foi feita pelo conde
desenvolvimento geral, pô de ser designada de “ Historicismo” : “ o Cajus Reventlow em 1820, quando descreveu o então desencadeado
verdadeiro Historicismo” estaria fundamentado nas doutrinas de debate sobre a nobreza .588 Acontece que a utilização de argumentos
Lessing e de Kant, e entenderia “ a História do mundo [Weltgeschi- i históricos faz parte desde sempre da ret órica para reforç ar posi-
ch( e] , no sentido mais amplo, como um todo, como o desenvolvi-
mento necessá rio de um processo, unit á rio e em acordo com leis lili ídicas ou sociais, teológicas, morais ou pol í ticas. Mas tais
ções jur
argumentos adquiriram maior peso quando a História conseguiu
-
ri vLv. 8
su NOVALIS. Das â Ugemeine BtouUon , Nr. 927. In: Geiommelte Werke ( vol. 3), p. 446.
SCHOLTZ, Gunter. " HisforisvniV ah spekuhtivc Ges( h{ d¡tiph¡losophi £\. Cbristlieb Julius Braniss
: HA - DAHN, Felix. F ü r freie Forschung gegen Dogmenzwang in den Wissemchaften In: .
Philosophise Studitn. Bedim, 1883, p. 95 e segs. Citado por SCHOLTZ, " Historismus” , p.
1792-1873. Frankfurt, 1973, p. 130. AH se encontra a at é agora mais completa Hist ória do 132 e $egs.
conceito de ‘'Historicismo” que també m é utilizada naquilo que segue. * Ao falar cm "cr í tica ideol ó gica” ( Idwlogiefiritik ),Koselleck emprega um conceito coro à Escola de
5 S5
FEUERBACH, Ü ber das Wonder (1839). In: SdmtlUht Wtike ( voi . 7 ) 2. À ufl . (ef. aou 558), y.
.
Frankfurt , entlo no auge de sua influ ê ncia Pouco antes de aparecer o primeiro volume do L é xico
V-
i 960, p . 44.
i de Conceitos Hist óricos Fundamentais, viera a p ú blico o debate « ntrej ü rgert Habermas e Hans -
in
BRANISS, Christlieb Julius. D( e wbtensdiafllUhe Aufabt du Gegcnunrl aU UUtndc Jdu im .
Georg Gadamer Cf, HABERMASJ ü rgen. "A pretensã o à universalidade da hermen é utica ” .
mii
<\ MtHtlschtn Siudium* Brestau , 1848, p. 106 e segs. A respeito, cf. SCHOLZ, “ Historismus"
p. 125 e $cg $, SCHOLZ. Verbete “ Historismus” . In: Hisfoihthes ÍVStuibuth der Philoscphit ( vol.
3). 1974, p. U 4 t e segs.
. m *
In: VVAA, Htmuntuttk mid Ideotcgitkrit í k . Frankfurt am Main , 1971, p. 120 159. A RepUk <ie
-
Gadamer aparece no mesmo volume, p. 283 317 (nota de Sé rgio da Mata ] ,
-

III Citado por PERTHES, Ubm (voL 2), (cf. nota 559), p. 192 .
i
208 :i2 209
O coseno os HJ$Tó?.»A " H .SI òí IA' cot / o CONCCTO MESIP.ê

galgar a posiçã o de um tipo de ultima instâ ncia para fundamentar Mas como se poderia evitar a arbitrariedade a n ã o ser revelando
algo. Simultaneamente, esses argumentos perderam seu cará ter m
mai:- as premissas teóricas? Nao fazê-lo, invocando “ a História” - foi a
inequ ívoco, porque de imediato resvalaram para as linhas de fuga
perspectivistas, que caracteriza ram o conceito moderno de História .
m :-
$tgi
7 '7 >
-
;
-
acusa çã o cr í tico ideológica que Karl Heinrich Hermes formulou ,
em 1837, contra a Escola Hist órica. “ Existem poucas expressõ es na
Comprovações históricas incorreram em ambiguidades, desde que nossa lí ngua com que se pratica um abuso tão criminoso quanto a
“ História” se transformou num conceito reflexivo. Elas podiam ser : palavra ‘hist órico*. Hist ó ria , como se sabe, chama-se tudo aquilo
utilizadas para criticar ideologias, mas podiam , na mesma medida ,
sucumbir à ideologia .

7?1
?•

À

que acontece e vai acontecer” a dimensão do passado é cuida-
dosamente exclu ída por Hermes. Mas n ão é a í que reside o cerne
G õrres registrou com pesar esse processo irreversível. Até en- de sua posi çã o, ele destaca o mais alto grau de generalidade que
tão, a História teria sido mestra da vida, quando ainda “ se acreditava
corajosamente na existê ncia de uma grande, indestrutível verdade
- caracterizaria o conceito de Hist
.
ória, de forma que ele, a rigor, nao
permite excluir nada “ Da mesma forma que, ao final, n ão existe
objetiva... O novo tempo perdeu essa fé por completo, a regra de
toda a verdade foi implantada na razão subjetiva; e tudo aquilo que
;
Í PI :
nada que ficasse fora da Hist ória , também n ão existe nada que n ão
fosse histó rico em um ou outro sentido” .
era historicamente objetivo, um produto de preconceitos, de erros,
de parcialidade acumulados em sé culos obscuros, precisa primeiro
se justificar frente a esse guarda” .
»
:
:
Constituiria arbítrio total quando os representantes da Escola
Hist ó rica acreditam “ n ã o necessitar de mais nenhuma prova , t ã o
logo denominam de hist órico qualquer coisa que aparece na sua
Os esforços até aqui relatados do Iluminismo e da Filosofia .
frente” Da mesma forma , se poderia dizer “ a-histórico” , pois,
da História de reconhecer a “ pró pria História” [Geschichte selbcr] naquilo que tange ao uso vocabular, se trataria exclusivamente
em seu cará ter processual são reduzidos por G õrres a seu princípio de opiniõ es preconcebidas. Seria totalmente incompreensí vel
subjetivista . Depois da natureza autoconstruida , do Estado autofa- m¿¡ por que “ tudo aquilo que é hist órico” seria apenas “ aquilo que
briçado, da igreja automontada e da tanibém automontada imagem
de Deus, “ ainda se precisou fornecer uma autocriada Hist ória ,
üI tem durabilidade eterna” . Por que a evolu ção seria mais histórica
que a revolu çã o, o surgimento mais que o desaparecimento? Por
para complementar o aparelho. E se puseram rapidamente mã os à
obra - em vez da História achada, foi introduzida a História in-
ventada” . E se trataria de uma “ Hist ória que anda para trás” , que ,
mi —
que se poderia afirmar com Steflens - “ que tudo aquilo que a
Hist ória quer conosco aconteceria de forma inconsciente ” ? A í só
valeria como hist órico aquilo de que n ã o sabemos como e por
a partir de um ponto de observação atual, seria ensinada de forma
um tanto forçada.589 Hf
-- !
i - ::.:"
rV '
que acontece. 590
A cr í tica de Hermes se voltava, portanto, de forma especial ,
Gõrres, portanto, dera um passo adiante na sua cr í tica. Nao sã o .
* •

í contra a utiliza çã o unilateralmente referida ao passado e centrada


tanto as mentiras decorrentes do contexto que ele questiona - ele vê,
muito mais, no princípio transcendental de trabalhar com a História

7
# 1
:üt í
na dura ção do conceito de História ~ é nisso que ele enxergava uma
mentira interna da Escola Histó rica . Alé m disso, Hermes apontou
unicamente a partir de teorias de Hist órias possíveis uma inevit ável para aquele resultado sem â ntico que estava dispon ível a qualquer
interpreta ção errada. Tal historiografia nem poderia agir diferente do pessoa . A “ Hist ória” , a “ coisa histórica” [das Geschichtliche ) eram
que “ distorcer os fatos” , de acordo com as opiniões preconcebidas.
.;
r
:
7; í i ’
. .
HERMES. Steffens und die ges ç hrchtlkhe Schule (1837 ) in: HERMES Bticfoaus der Z çit
SSJ
. . .
G ÕRRES Die wahre und fitschc Gesch íehte. Eos , n 59, 1828 In: Gesanmette Sd\ f¡f( en (vol . .
(vol. 1), (cf. nota 409), p. 314 Hermes tivera dificuldades em obter uma livre- doc ê ncia em
15), 1958, p. 49 ti scg. Ipi - .
Breshn ; Btcekhflus , Conversations Lexicon det Gegemmt (vol 2), 1839, p. 851.

210
.

"
M l
777 k : 2) 1
: 7
O CONCITO Of HSTÓgA "HiSTÔÍ tA" COMO C0K«<70 M£$Tlt£ MOttftSO

palavras vazias, que podiam ser rapidamente substitu ídas e ficar


.
- Slip seus bestas cultos ignorantes!” .593 Quem deslocou de forma mais
destitu ídas de qualquer conte údo, em fun çã o de seu sentido uni- clara o sentido da História para um contexto revolucioná rio foi
versal e de sua aplicabilidade generalizada. É nisso que residia sua Friedrich von Sallet: “ No nosso dicioná rio, ela se chama: a çõ es, /
afetabilidade ideológica - e semâ ntica. Mas nisso tamb ém residia '
i S aquilo que vir á a ser, e nã o a velharia petrificada ... / História! Sim,
sua aplicabilidade polí tica e social. 7 -

ó elemento da vida! / ... História $e chama o assalto às bastilhas /


A contrové rsia em torno de Histó ria , em especial em torno do
V
'

tV : e as tormentas dos debates nos conventos .. ” .594


seu conceito, não era só uma controvérsia metodológica, teórico-
'
. •
'
Dependendo das intenções políticas, o significado do conceito
científica ou cient ífico-pol ítica . Eia atingiu de forma profunda a 7 - Vf geral elástico podia ser deslocado, e é a í que residia a eficiência de
dimensã o pol ítica e social do campo lingu ístico, pois o conceito sua utiliza çã o. Pois cada um estava potencialmente atingido, e n ã o
carregava dentro de si - como conceito geral de movimento - mm 7 se tratava de um conhecimento do passado, mas - nas palavras de
aquela força integradora e distanciadora que podia motivar açõ es . B Nietzsche - da “ falsifica ção da História, por princípio; para que ela
pol í ticas. Isso fica claro na política de censura e no movimento que forneça a prova para a valora ção moral ” .595 Quanto mais funcional em
a ironizava, o lirismo pol í tico. relação a interesses pol í ticos a “ História” era utilizada , tanto mais ela
Tão logo as massas estamentalmente desarticuladas desafiaram Mê se expunha a falsificações de princ ípio - nem sempre propositais a
para uma nova organização social e pol í tica, cresceu o papel do mm
m uma ideologia , à qual, por simples razões de automanutençao moral
ensino da História. Na revolução e durante a restauração, ele era daqueles que utilizavam o vocá bulo, ela parecia n ão poder fugir.
defendido por argumentações contraditórias, cláusulas de amnésia
mm vf; Em que medida se compreendia “ Hist ória” como instrumento
foram introduzidas, motivando o seguinte veredicto de Droysen: funcional para a a çã o ~ sem naturalmente se esgotar nisso fica
“ Ordens provenientes dos escalões mais elevados estabelecem aquilo claro no emprego do conceito para atingir e para integrar as classes
que deve valer como acontecido na História” 591 subalternas, em especial a classe dos trabalhadores fabris, que estava
Contra esse tipo de prá ticas manipuladoras é que se voltava o n surgindo. Em 1843, Wilhelm Schulz imaginava que “ os povos so-
lirismo político, levando para dentro do p úblico conceitos critica - mente agora est ã o começando a sentir sua importâ ncia . E por isso
mente desconstru ídos. Hoffmann von Fallersleben ridicularizou “ a . que ainda apresentam sensibilidade limitada para sua História, e
escola histórica” , que se postava perto do trono. “ Vocês se apoiam n ão a terão antes que eles próprios fa çam a Hist ó ria , até que sejam
em História , / e n ão procuram aquilo que devem procurar, / e mais que uma maté ria inanimada, da qual a História é feita por
acham aquilo que vocês querem achar. / Isso vocês chamam de algumas classes privilegiadas” .596
Hist ória! / E as coisas velhas, mesmo assim, viram pó ” .592 Glas-
sbrenner seguiu , em 1844, ao debochar “ [d]os historiastas” [die GLASSBRENNBR , Adolf. Die Cesehiehdmge (em torno de 1844). in: VOLKMANN,
Geschichtlinge] : “ Nem agora nem nunca , nos submetemos ao tribunal Ernst (Ed .). Um Einheit und Freibe ít 1815-1848. In: Deutahe Lí teratur ht BnhvUkhttigsnihen
mundial da História, / pois também odiamos seu despotismo, / - Politischc Dichtung (vol. 3). Leipzig, 1936, p. 223. »WUhdngen uns selbertiun und ate / Am
IVelígcricht der Gesddditd - / Denn wirhassen aiuh Hue Desposte , / Ihr dummengelehrten WithiiW
5W
SALLET, Friedrich von. Geschichdiche Bntwicklung. in: HENNING, Max (Ed.). AmgewdhUe

DROYSEN, Johann Gustav. Das Zeitaller der Freiheilshriege (1843/46). Berlin , (1918), p. 256
.
Gediehte. Frankfurt, 1913 p. 190 esç g. “ hi unsrem V/õrterbuche hehst sir: Talen , / Das IVerdende ,
undniditdas AUerstarrte ... / Gesdiuhlel ja , du Element des Lebensl / ... Gesehidtte keissl das Stiumen
(editado por £. E. Lehmann ). der Bastillen / Und der Debatte Stilrnun im Kanvente
S3Í
FA Í.LER.SLEBEN, Heinrich Hoffmann von. Die Histomche Schule . In; FALLERSLEBEN, s
” NIETZSCHE. Am dem Nnchhss der Admigerjahre. In : Werke (vol. 3), 1956, p. S18,
Heinrich Hoffmann von . Unpolitisehe Lieder (YOí . 2). Hamburgo, 1841, p. 51. " Ihfslittzt mh .
SCHULZ, Wilhelm. Die Bewegung der Production Einc geschichtlkh-itatistisdie Abhandlung
-
aujGeschiduet / Und sudtl nicht ¡v<u ihr sttehen soUf , / Lhid Jindel uus ihrfitiden wolU / Das ncnnet zur Grundlegung eincr neuen WHsenschaft des Staats und der Gese í lschafc Zurique / .
ihr GcsditehtA Urid das Alte gehet dock ¿utskhle" . Wintherhur, 1843, p. 155 e seg.

212 213
O coMcaio Ge H STó SA . 'V . .
"HiSTÔXlA*' CCUO CCNCí fJO ttOOSKO

E todo o engajamento liter á rio de Schulz se concentrou na Histó ria se transforma , assim, como a verdade, em uma pessoa à
tentativa de colocar em movimento esse povo, através do esclare - parte , um sujeito metafísico, cujos portadores são os efetivos indi-
cimento de seu potencial hist órico. "Que o significado histórico VKiA*
'
Íí víduos humanos” . E Marx mostra isso à m ão de uma série de frases:
mundial das máquinas” fortalece a "consciê ncia da força” , em ‘ : “ A Hist ó ria nã o permite que se zombe dela ; a História investiu
especial dos trabalhadores das fá bricas, foi um dos diagnósticos de K A /'
| ; '

seus maiores esforços em; a História tem sido ocupada com; para
Hildebrand. Em ritmo crescente, “ o trabalhador do presente que ' sati que serviria a História ?” etc.599
se criou no contato com as má quinas [sentiria] que, com as habi- . «a» ’. Os argumentos históricos e teóricos para provar a cr í tica ide-
lidades de sua cabeç a e de seu bra ço, também est á participando da i ológica de Marx só tiveram reflexos no nosso tempo, por causa
grande construção da História” .597
"Hist ória ” servia tanto para convocar para a luta quanto po-
dia servir para a integra ção social. Afinal, num mesmo contexto,
o conceito foi utilizado para amenizar e acalmar. O trabalhador
- ÉiiH
irV.
i
l

*
da publicação póstuma da Ideologia alemã. Nas passagens iniciais,
Marx e Engels fornecem uma rede formal de categorias de toda
História possível , que, desde o in ício, é pensada com vistas a um
movimento, que suscita contradições e soluções novas. O homem
da fá brica n ão teria fam í lia nem pá tria, como Riehl disse, pouco IS® í é definido como um ser social que se produz a si mesmo, a partir
depois, ele procuraria "seus companheiros nã o no passado ou no - -m i
: de suas necessidades e a partir do trabalho que satisfaz e aumenta
presente , mas na amplid ão ilimitada do futuro... Ele não possui "
AV =:
'"
Í VW ' í
'

suas necessidades. Nessa visão anti-idealista , a consciência é en-


Hist ória; toda a essê ncia da moderna industria de máquinas desvia m&m \ tendida apenas como funcional em relação ao processo ativo da
Jñm¿
;;
sua mente das coisas históricas” . Dessa forma , a mesma constata ção, vida. “ Ideologia e ... formas de consciê ncia ” , quando vistas em
a partir do mesmo conceito, gerou um diagnóstico quase diame- m íi si, n ão possuem “ História , elas não possuem desenvolvimento” .
tralmente oposto. E depois que formulara sua cr ítica ideológica a mm Pelo contr á rio, a consciê ncia , desde o in ício, “ já é um produto
partir da perspectiva do passado, Riehl formulou um programa social ” , motivo pelo qual constituiria “ ilusã o dos ideólogos” , esses
que Schulz antes havia desmascarado de um ponto de vista opos- é M:
“ fabricadores da História” , querer escrever a Histó ria a partir de
to. “ Compete, portanto” , - concluiu Riehl - “ ir gradativamente ideias mestras ou de conceitos dominantes. Conceitos dominantes
criando uma História [ para o trabalhador da fá brica], uma pá tria , ÍÍ1Ü indicam classes dominantes.
uma delimita çã o social ” , que ele deveria encontrar em primeiro Ü® I A critica de Marx - que se voltava contra “ toda a concep ção
lugar numa fam í lia. 598 -S ’
,
'

V i de Histó ria at é aqui ” - é mais profunda. Ela critica nã o apenas


Nessa situação de utiliza ção do conceito em sentidos opostos e .# : o conceito de História, mas também toda Hist ória de conceitos.
divergentes, Marx produziu uma crí tica ideológica que decifrava a ‘ ¡ m*¿ i Independentemente do fato de que essa cr
utiliza ção lingu ística dominante a partir de uma teoria própria da í mm ítica pode ser aplicada
metodologicamente a seus pró prios conceitos e isso tanto mais -
História. Marx ironizou Bruno Bauer perguntando como poderia ti i que ele imputava , de forma massiva , objetivos utó picos a seus con -
recorrer à Hist ória “ para servir de ato de consumação do banquete
teórico, de prova ” . E formulava a pergunta sugestiva sobre que
'a


ceitos , Marx leva uma vantagem decisiva . Sua cr í tica ideológica
pressupõe teoricamente um conceito processual de História, que
Histó ria seria essa “ para que a verdade atingisse a consciê ncia . A -.--•JVA vi requer invariavelmente um preenchimento emp í rico, no qual forças
. - ?
-I
V. •i' / tr !
A
HELDEBRAND, Bruno. Die Naí hnalokonomk tier Gigtmvdil undZukunft (1848). jena , 1922 ,
p. 185 e s eg. (editado por H. Gehring).
v > MARX; .ENGELS. Die heitige Pamitie oder
.
Krkik der kricischen Kritik (1843) Jn: MEW
.
551 .
R ÍE í-IL » Wilhelm Heinrich. Dtcbütgetltchc Gcsdhduift , Stuttgact / T ü bingen , 1851, p 345 e $eg , lili ‘
iv
.
372, onde ele tenta “ quebrar a vcisà o teológica" das perguntas de Bauer
.
(vol 2), 1957, p. 83 c $ eg. Cf. também MARX. ZurJudcnfr â gô (1844). In: MEW (vô l . 1), p

•; 1
214 ;i#t| 215
. .. v‘
:| > ;
O CONCfííO te HSTÓXíA Vl HíS íôí.IA" cavo CONOTO Mftue MCOTINO
: RIF
produtivas, condiçõ es sociais e consciência precisam ser colocadas I ’ justíssima, onisciente, e, finalmente, a gente se tornou responsá -
numa rela çao recíproca variável .600 Com isso, Marx tentou juntar I ". vel diante dela. Como algo semissecularizado, foram atribu ídos à
WiR •!
'

210 seu pensamento aqueles dois polos que na linguagem comum História significados religiosos, que dificilmente poderiam ter sido
sempre foram utilizados de forma unilateral e, assim, prejudicados: derivados do pró prio conceito.
a factibilidade da História , por um lado, e o superpoder que exer-
ce sobre os homens, por outro lado. Marx juntou as duas coisas:
wm
m
A utiliza ção como palavra de ordem torna confusa a distinção
entre a História narrada e a que se cria por si mesma - e, em be-
“ Os homens fazem a sua própria História , mas eles não a fazem nef ício da ideologia , certamente também precisa estabelecer certa
livremente, n ão sob condiçõ es escolhidas, mas sim sob condições mm i
. ‘• • XU***. y>i :i
-
confusã o. í$$o pode ser comprovado ali onde a expressão desemboca
encontradas, dadas e transmitidas” 60t ‘•V Ú S Zrii :
'
: numa substâ ncia . Em 1831, a ordem jesu í ta teve de admitir que
Ao contrá rio dessa premissa teórica , a linguagem cotidiana .
estava sendo “ desterrada pela História ” 605 “ Sem revolu çã o, n ã o
costuma se mover em um desses níveis , abrindo, com isso , flancos
que podem ser apontados numa crítica ideoló gica. A Hist ória é ou 1® Í
’F

inicia uma nova História” assegura Moses Hess.606 O juda ísmo
colidiria com os “ interesses da História ” - sabe Bruno Bauer.607
desclassificada como simples produto da a ção humana ou substan - "
VM Ernst Moritz Arndt evoca, em 1848, a “ honra da História alem ã ” 608,
e Treitschke alerta contra o amigo dos judeus, que “ comete pecado
cializada e adquire um cará ter supra-humano.
Depois que “ a Hist ória” havia desembocado no coletivo sin- :
... contra a glória da História alemã ” 600, interpretando de forma
gular, tornou -se possível encará-la também como sujeito de si .ütgvf :'- • .
teológica uma subst â ncia nacional “ Hist ória precisamos pintar,
.
mesma Com isso, a expressão - do ponto de vista puramente \
_
r.. V• História é a religião de nosso tempo, somente História está em
lingu ístico - pôde ser transformada em slogan . E , de fato , pouco -
acordo com nosso tempo” é o que se ouvia como m á ximas, em
depois de sua inven çã o, o conceito mestre teoricamente pretensioso -:V> •
1876.610 “ Mas a História também pode criar o novo, aquilo que se
foi transformado numa palavra de ordem que pode ser utilizada W
'
!:
i • i
apresenta pela primeira vez” , assegurava Julius Leber, em 1933, a
de forma ingénua e pat é tica. Clausewitz depositou em 1812 suas :
T fim de dissipar a d ú vida “ que o passado poderia depositar dentro
frias confissões, como homem da resist ê ncia , “ no sagrado altar da !
de nós” 611
fi.-iV-i- v -; -;. :J Mas basta de exemplos. O “ poder da Histó ria ” , de que falava
História”.602 Três anos depois, Dahlmann pôde falar da “ santidade I
da História ” ,603 e em 1845 Weerth entoou hinos de louvor ao tra - Droysen 612 para caracterizar sua força supraindividual, moral, foi
balho industrial, que libertaria o homem para si mesmo: “ Então ampliado, modificado, como conceito, porque ele aparentemente
est á consumado! E no grande livro / que, sonoro, anuncia os mi-
lagres da História” será registrada a boa-nova 604 Foi dessa forma KUNHARPT, J. H. D. Der Process der Utzlot Minister Carl' s X . L ü beck, 1831, p. 8.
*

que a “ História ” , perpassando campos diversos, foi colecionando .


HESS» Moses Philosophic der Tat (1843). In: Phibsopf úsche mid SvzbHslischc Schtlfí en (cf. nota
. ::. A . '•
477), p. 221.
epítetos que antigamente eram divinos. Ela se tomou onipotente, BAUER . Judenfrage. DeutscheJalubtí tlitr, n . 275, 1842, p. 1097.
4* J
StencgMpfusche Betkhtt der Dewchai NaHoiialvtrsammlung (vol. 2), 1846 , p, 1292.
. .
m TREITSCHKE, H voo Noth einige Bemerkungen surjudenfr â ge. In: BÕHL1NG, Walter
. .
MARX; ENGELS Die deucsehe Ideologic In; MEW (vol. 3), p. 26 e seg., 31, 49, 39.
; .
(ed .). Der Berliner Antisemitiswussireit Frankfurt , 1965, p. 86.
.
MARX. Der achtzehntc Brnmajre In: MEW (vol. 8), p. US . :K Ü 41 5
(
Zatschij‘)JurhildendeKttnsi (1876), p. 264, citado em RGG (Rriijgian in Geschiàne unJCegegenuwt ]

Schri/ten and Bttefâ. Munique, 1922 , p. 86.


.
CLAUSEWITZ, Carl von. Bekcnm much rift (1812). In: ROTH PELS, Hans (Ed .) Poiitische .
;•

’ ' '
!
. .
(vol . 4) y ed . 1960, p. 687.
lOifci ;;
611
LBB.ER , Julius. Gedanken ? um Verbot der deutschen Sozjaldemokratie (escrito em junho
051 .
DAHLMANN, F. Christian Gin Wort irfccr Verfossung (1815). Leipzig, 1919, p. 17. .
de 1933). In: Julius Leber Ein Mann geht seinen Weg. Schriften , Reden und Brtefe. Berlim /
.
m WEERTH , George . Die Industrie (1845). In: KAISER , Bruno (Ed.) DU Arfitundvierziger. Frankfurt, 1952, p. 245.
.
Weimar, I 960, p. 285 5!?
DROYSEN, Historik (ef. nota 236), p. 323 .
• i
WMJ -
2t6 -li f. 2)7
is
O CONmO D HSTÔSíA
rn H&ò?SA COMO CCNOTTO MC»£» K >

se manteve insubstitu ível. Foi exatamente a palavra de ordem que W£ elaborar uma teoria a priori, daquilo n ão se pode fazer uma História,
evocava expectativas e ordenava experiê ncias, cujas qualidades co- e, inversamente, só aquilo que n ã o possui uma teoria a priori, possui
muns supra ou inter-humanas n ão podiam ser designadas de outra História ” . Por essa razão, o homem possuiria História, “ porque ele
O V-
nã o traz sua História consigo, mas somente a produz” .*15
.
forma. “ História” se transformou num desaguadouro de todas as
'

ideologias imagin áveis. Isso fica ainda mais claro quando se mostra
o outro plano argumentativo, a factibilidade da História. y. ú
-m &rs
Para Scheidler, que transmitiu o legado do idealismo alem ã o
para a burguesia alem ã , n ã o havia d úvida a respeito. “ É por isso que
A mesma expressã o “ História ” podia designar um conjunto somente o homem possui uma História no verdadeiro sentido; pois
de objetos de a çõ es humanas seguras de si . Uma situação interme - ;
suas açõ es n ão estã o presas dentro de determinado ciclo, como o
do animal ” . Só o homem pode dar uma direção à sua vida, “ fazer”

v
diá ria est á indicada pelas palavras utilizadas por Droysen em uma
carta a Gustav Frey tag.013 A nobreza prussiana teria “ tirado a nossa a sua “ própria” História .616
Hist ó ria dos trilhos, e arruinando-a por alguns séculos” com
que a verdadeira História é apresentada como v í tima da violência ,
— História - no alemão, continuando a ser perpassada por um
sopro de providê ncia divina - nao podia ser transportada , sem
í ndicando-se uma História desejá vel como sendo a verdadeira. resistência, para o â mbito da factibilidade, Perthes, nascido em
Admitir essa multiplicidade semâ ntica dentro de um conceito 1772 , titubeia, em 1822, em utilizar o verbo [ geschehen] . Ele dizia
significa aceitar argumentos passí veis de ideologiza çã o » a não ser que queria editar suas publicaçõ es hist óricas para os pr á ticos, para
que se admita como legí timo que uma palavra de ordem foque de “ os comerciantes ” , pois “ sã o eles, e n ã o os eruditos, que intervêm
forma misturada situações de â nimo e desejos. : na realidade, e, por assim dizer, fazem a História ” .617
A “ História como ação” constitui uma versã o em franca con- Pouco tempo depois, ele se pronunciou favorável a uina classe mé-
tradição com significados verbais que també m queriam dizer “ desti- dia consciente, que, orientada para o sucesso, deveria deixar de levar em
no” . Também essa versão só se tornou viável depois que a expressão conta doutrinas do passado, como a velha historia tmgistra uitae: “ Se cada
-t
desembocara no coletivo singular. Desde então, “ Histó ria ” tamb é m • :: / partido, numa determinada sequência, viesse a governar e a presidir as
podia se tornar factível - e nã o no sentido de sua narrativa - na ü
instituiçõ es, ao menos uma vez, então, através dessa Hist ória autocria-
forma em que Eichendorf confronta o sentido novo com o antigo: da, todos os partidos se tornariam mais tolerantes e mais inteligentes.
“ Um faz a História , o outro a registra” .614
A História que “ aconteceu” antigamente, e em certo sentido
se passava com os homens, só podia ser vista como campo de ação,
Wñ :
'

*
m- - .
V-
í
:

História feita por outros por mais que seja estudada e por mais que
se escreva sobre ela - dificilmente leva à avaliação justa e à sabedoria
i ':V "
política. É isso que nos ensina a História” 616 O coletivo singular “ Histó-
'
! •••

-V .
como fact ível e como produt í vel, depois que fora elaborada pelo ' : : : A ’’: :
:
ria” , como categoria transcendental, sempre estava referido à ação. Não
idealismo alemã o como processo de autorrealiza çã o humana. Não : só a descoberta da “ História” , em especial o desvendamento de uma
h á d ú vida de que Fichte e, no inicio, o jovem Schelling tiveram História factível, faz parte do selo do mundo burguês que despontava.
influê ncia sobre o uso linguístico pol ítico de “ História ” . Assim ,
:•
Schelling se voltou em 1789 contra o projeto kantiano de uma 61 S(SCHELLING , F. W. G.]. Aligeme í ne Obersicht der neucsten plulosophischen Litemur.
Hist ória mundial [Weltgeschkhí e] a priori. “ Daquilo que se pode Phiíosophifches Journal, n. 8, 1798, p 145. .
"ST '

} . .
<!< SCHEIDLER , Hermann Verbete “ Emanzipailcm 4* In: ERSCH /GRUBER ( Use çSo, vol 34), .
: - .
1840, p. 5. Sobre a Pr é Histó ria te ó rica dessí pr ática lingu ística, cf, JL ÕWITH, Karl Vicos
.
*l í Caria de Droysen a Gustav Preytag , de 14 de dezembro de 1853. In: Bfkfwcclwl (vol 2) (cf. Grundsatz: verum et factum convex tun tur. Seine theologisehe Pc3mu$ e und deren sãkularc

Ít1
nota 408), p, 205.
.
Citado por BAUER , Gerhard.“ GischhUtltihkeit” Wege und friwege cities Begri íR Berlim*
^ ... .
-.
Konse uenzen. In: Akadmisthe AOhan èltutmen t
w PERTHES, Ubtn (voj 3) , (cf nota 559), p. 23
í tiáelbttg. Heidelberg, 1968.
.
..
1963, p 2 .
ibid , p. 271 e 5eg.

218 -sm;. 219


W Á:
O CONCflTO C£ HlSTÓÍíA i ' ftsrtoiA" co.vo cociCfTO A'íSTRT HQDí U íO

Mas, com isso, também “ a rea çã o ... se transformara numa conseguem fazer ” .623 A uma conclusão oposta chegou Engels, ,

força histórica” , que, nas palavras de Stirner (1852), se preparava quando anunciou a “ organização conscientemente planificada” do -
i® i
para “ fazer História” .619 Bismarck , naturalmente , sempre negou
.
poder fazer Hist ó ria “ Uma interven ção arbitrá ria e determinada
por motiva ções subjetivas no desenvolvimento da Histó ria sempre
teve como ú nica consequê ncia derrubar frutos verdes . Podemos ..
m
.

\ V í:CYU
'
futuro. “ As estranhas forças objetivas que at é agora dominavam ;
a Hist ória ficam submetidas ao controle dos pró prios homens. .
Somente a partir da í , os homens farão a pr ó pria Hist ória com
plena consciê ncia... Será o salto da humanidade do reino da ne-

adiantar os relógios, e nem por isso o tempo anda mais rá pido” 620 : cessidade para o reino da liberdade” .624 A maior proximidade de
: mM i
:-m m i
- foi isso que ele escreveu num decreto de 1869, e, já idoso, viu Engels das origens idealistas comuns resulta aqui num grau mais
confirmada sua posiçã o; “ De forma alguma se pode fazer História , elevado de expectativas ut ópicas. Com vistas ao futuro dom í nio
mas sempre se pode aprender como se deve dirigir a vida pol ítica M da Histó ria , sua visão se aproxima do uso vocabular dos panger-
de um grande povo em acordo com seu desenvolvimento e sua :#® í
S manistas, que , em 1898, atestaram ao “ povo senhorial ” alem ão -
.
determina ção histórica” 621 A desistência em relação à possibilidade
de planejamento de transcursos hist óricos faz com que, de ime-
mrn
0 V \;V;,V ;
-
*
• Y -;-'' .
V
de ter “ o direito e o dever ... de participar da direção da História
de todo o mundo” .625
diato, se manifeste o outro complexo de sentidos do desenvolvi-
'
; Finalmente, Hitler e seus asseclas se excediam na utilizaçã o da
mento de longo prazo que est á embutida no conceito de Hist ó ria . palavra “ Hist ória” , a qual tanto era evocada como destino quanto
vista como factível; mas a inconsistê ncia da versão propagandís-
Dessa forma , a utilização da palavra, em especial o alinhamento
das possibilidades polares de seu significado, pode representar um
teste de utopia .
..
• 1'

..- V:.
'

*
tica revela , por si mesma - quando questionada a respeito , seu
conte ú do ideológico. “ Os valores eternos de um povo somente

Constantin Frantz, adversá rio intelectual de Bismarck e ad- sob o malho da História mundial [ Weltgeschichte] se transformam
mirador de Schelling, divisou , em 1879, “ na História, um reino naquele aço e ferro com que ent ão se faz Hist ó ria” , disse Hitler,
..
especial .. que n ão provém de Deus, mas que os homens criaram
e continuam criando indefinidamente ” .622
Os campos políticos, de forma alguma , coincidem integral- :
m :
• v.v : - *

'

num livro de 1928.626 E uma expressão da campanha eleitoral em
Lippe, de 30 de janeiro de 1933, mostra que mesmo concep ções
ideológicas for çadas possuem seu sentido prognóstico: “ Em ú ltima
instâ ncia , é indiferente quantos por cento do povo alemão fazem
mente com as linhas de confronto que derivam da sem â ntica po -
l ítica. Existem estruturas conceituais que possuem afinidades pró-
'
S: \ Hist ória. O que importa é que os ú ltimos que fazem Hist ó ria na
.
prias Lorenz von Stein imaginava que com a ascensão da História
•* :
Alemanha somos nós” .627 Não havia forma melhor para formular
mundial [Weltgeschichte] o espaço de liberdade diminuiria: “ Qu ã o
Mi
\ • *
'

os autoultimatos sob cuja coerção Hitler fazia política e, com isso,


maior a História mundial, tanto menor se torna aquilo que nã o
1
imaginava fazer Hist ó ria . E ele, de fato, fez Histó ria - mas diferente
s ó o indiv íduo mas, em ú ltima instâ ncia , todos os indiv í duos do que ele imaginava .
• \

.. \.\ .
m

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220 V
: :/ ¡ 221
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O CONCOIO .
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Assim, o sentido plural do moderno conceito de Hist ória — VII


ao poder realizar um movimento pendular entre factibilidade e : "-
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superpoder - abre uma brecha para sua utiliza ção ideológica . Mas Perspectiva
no mesmo diagnóstico lingu ístico est ão contidos crité rios para - :
desmascarar o caráter ideológico dessa utiliza çã o. -. . y
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Reinhart Koselleck
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A ambiguidade fundamental do conceito de História , desde


seu surgimento , teve influ ê ncia profunda sobre a linguagem coti-
diana da pol ítica. A possibilidade de sua afetação por sentimentos
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enfá ticos, e sua utiliza çã o para fins ideológicos, tem suas ra í zes
na formula çã o da palavra no coletivo singular. Como categoria
má transcendental, ela abrange, simultaneamente , Historie e História ; o
: : conceito “ História ” passa por uma escala cambiante de experiências
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possíveis: espa ço de a ção e processo, progresso e evolu ção, criaçã o

-S. de sentido e destino, acontecimento e ação. Parece que o velho
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sentido de narrativa foi empurrado para a margem.
- :-?v.vvs::;-.. \{ Da grande quantidade de significados que podem ser utilizados
como palavras de ordem, se desenvolveram algumas posições teó-
;v ricas, que por sua vez exercem influ ê ncia sobre os campos pol íticos
-
que elas diagnosticaram. Com sua considera ção extemporâ nea Vem
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Nuteen and Nachteil der Historie fiir das Leben [ Das vantagens e das
desvantagens da Hist ória para a vida], Nietzsche produziu , em 1874,
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• uma cr í tica arrasadora da ideologia. Ao confrontar crit é rios internos
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da atividade cientí fica e seus efeitos para fora, Nietzsche constatou


lillil a existê ncia de três tipos de Historie: a antiquaria, a monumental e
v-i a cr
ítica. Vista como funcional em rela çã o à quilo que ele chamava
de vida , a Historie como um todo apareceu como sintoma de se-
«l í nilizaçã o, como empecilho para a vida . Por essa razão, Nietzsche
exige ~ e isso n ã o acontece sem consequências - da juventude a
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coragem para “ o ahistóí rco e o supra-historieo ” .628
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tn NIETZSCHE, Vom Nuteen vmd Nachteil der Historie fü rdas Leben . In: IVe / ke (vol. í), 1954 «
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222 1 223
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Desde entao, sao oferecidas posições alternativas de tipolo- O ataque mais forte contra o conceito de “ História” ocorrido
gizaçã o, provindas da natureza e da Antropologia*, sem que uma até agora talvez tenha sido formulado por Mauthner, que partia do
deshistoriza çao da consci ê ncia geral ou at é da ciê ncia tenha tido pressuposto de que o Historicismo bem como a express ão “ Histó-
um sucesso efetivo.629 ria ” somente s ã o possíveis desde Kant, mas que , ao mesmo tempo,
A tentativa multiface tad a de Dilthey de fazer uma cr ítica da já foram superados com Kant. Teriam sido frustradas as buscas por
razao hist órica cont
í nua projetando sua influê ncia profunda para .
leis históricas Mas os conceitos costumariam sobreviver como
-
dentro das ciê ncias sociais e humanas [ Sozictl und Geisteswissenschaf - fantasmas às coisas por eles designadas. “ E a í n ão é de admirar
-
( en )t aparentemente mais profunda que o enfoque teórico cient í fico que o pequeno conceito de Hist ória , mesmo bem próximo de sua
dos neokantianos de garantir para a ciê ncia histórica um genu í no morte , ainda seja considerado vivo” .633 Uma continuidade mais
campo de conhecimento, ao lado das ciê ncias da natureza. convincente dessa cr ítica semâ ntica pode ser encontrada na análise
Com a “ historicidade ” a Filosofia existencialista e a Herme- de Popper sobre o “ Historicismo” .
nê utica se apropriaram de uma categoria que permite fundamentar, Também no n ível da pesquisa empírica , oportunamente se fala do
meta-históricamente, a relatividade autossuperante de tudo aquilo “ fim da História”, interpretando com isso, de fornia secular, a Teologia
que é hist órico, para dessa forma lhe retirai os aspectos irritantes.630
* escatológica . Com isso, se pensa naquilo que Cournot prognosticou
A “ historicidade * expressa , de alguma forma , aquilo que no século
1 no século passado, uma nova situação de relativa estabilidade, que
XVIII se pretendia com a “ Hist ória como tal * * [Geschkhte iiberhaupt ] estaria se instalando depois da modernização, sem coerçã o nem per-
- como condição para Histórias possíveis. turba ções de crescimento. Com tais fórmulas , fica claro o quanto a
Outros aspectos destacados pelo enfoque transcendental de expressão “ a História” anunciava o início da Era Moderna , podendo,
antigamente foram reforçados, de forma unilateral . Assim, Theodor portanto, também desaparecer com seu fim. Mesmo assim apesar —
Lessing, com sua Geschkhte ah Simgebmg des Similosen [História de seu significado múltiplo e por causa dele em lugar nenhum , há
como atribuição de sentido à quilo que n ão tem sentido] colocou tentativas sérias de abrir mão do conceito. Versões como “ a perda”
sob rigorosa avaliação os pressupostos subjetivistas.631 Inversamente,
ou “ o deslocamento da História” , em geral, visam à sua preservaçã o.
pode-se afirmar - no campo marxista: “ A realidade é partid á ria!
Por fim, deve-se lembrar que, desde a Segunda Guerra Mun-
dial, pela primeira vez, ingressamos na etapa da História mundial
Partid á ria a favor do novo frente ao velho, partid á ria a favor daquilo
global , cujos centros de ação se espalham de forma pluralista da
que é mais elevado frente àquilo que é inferior” 632
Europa para o globo. E evidente que, com isso, se desenham novas
Histórias , que, por é m , acabam criando um novo espa ço de expe-
-
KoseHeck n ão se refere aqui à tradi ção angí o sixã da Cultural Anthopohgy, mas à Phihsopkisehe
riê ncia comum. Com isso, dentro da ciência histórica , tamb é m a
Authropôlogit , cujos principais representantes no sé culo XX foram Max ScheJer, Helmuth
Pleunerc Arnold Gehfen. Cf ARLT, Gethard , Antrepoiogte\ jiMfica , Petró polis: Vozes, 2008 velha Hist ória dos acontecimentos dever á manter, sem grande con-
[nota de S é rgio da Mau] . testaçã o, sua tarefa , ao lado da qual se estabeleceu a História social,
425
. .
Cf. HEUSSI , Karl Die Krists des Historlsmus T ü bingen , 1932; MARQUARD, Odo
como ramo próprio de pesquisa , a fim de investigar as mudanç as
Sduviettgkeitcn mt der GesehiclUsphihsophte. Frankfurt, 1973.
43
- . .
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