Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DISSERTACÃO
Palavras-Chave
IBGE - História
Sistema de Infonnação - IBGE
Memória
1 Introdução
Nos últimos anos, no Brasil, há um interesse incomum pelas questões ligadas à preservação da memória
nacional. Estas, no entanto, se dispersam em iniciativas isoladas ou mesmo diluídas nos descaminhos das políticas
de infonnação, de educação e de cuhura, nas quais estariam inseridas as ações de organização da memória
institucional. Tais políticas são primordiais para o desenvolvimento de uma nação. Mas vêm sendo caracterizadas
por descontinuidades fundamentais geradas: 1) por sucessivas mudanças que ocorrem nos órgãos públicos em
geral, contribuindo para a perda de acervos históricos - os materiais da memória e, 2) por visões defonnadas da
tecnocracia que decide sobre os investimentos científicos e tecnológicos que são feitos no país.
Acreditamos ser fundamental, para o desenvolvimento da memória institucional, a definição de
caminhos(métodos, políticas, meios adequados, etc.) a serem percorridos tendo por objetivo a sua organização.
Tais caminhos deveriam ser fundados numa política de memória voltada para ação. Tal política visa alcançar dois
objetivos fundamentais: 1) Organizar o acervo histórico (bibliográfico, arquivístico e museológico, etc.) de modo
a preservar as infonnaçães que as instituições e seus agentes produzem; 2) Divulgar (transmitir, disseminar) a
memória institucional através de ações específicas (programas, projetos) não apenas no interior da(s) prápria(s)
instituição(ões), mas também no âmbito das sociedades nas quais se inserem. E esta divulgação precisa ser feita
através de programas comprometidos com a memória histórica e não nos estreitos limites da história oficial
discriminatória.
Nesse sentido, o enfraquecimento do Positivismo e seu rigor metodológico, que induz à crença na neutralidade
da ciência, tem possibilitado a convivência de enfoques diferenciados na metodologia das Ciências Sociais e
\
Memória Institucional: Um conceito em definição 47
nalmente para Memória do IBGE, instituição será discutido a seguir,
cinquentenária
. que busca desenvolver_ regras
,flexíveis
. O conce o de naçao
Jt' . uIado ao pnnClplO
- està' VIDC ., '
para um SIStema de Recuperaçao de Memona que da 'd t'dad
~;c. . . da 1 en 1 e,
possa dar conta de WJ.erentes acervos - os matenalS
Memória - com base em pressupostos epistemológicos (. ,.) "cuja representação concreta se expressa na
possíveis de serem definidos em quadro teórico em capacidade que têm os homens de identificar-se,
construção. a si e a seu povo, com o patrimônio comum que,
em última análise, outra coisa não é senão a
A referida pesquisa utilizou literatura das áreas comum participa ção e fruição das conquistas
de História, Antropologia, Filosofia, Sociologia, Psico- culturaisdeumpovo"(ORTIZ,R 1985.p.25-26).
logia, Educação e Ciência da Informação na busca do A questão da identidade é algo muito complexo.
conhecimento acumulado ao longo do tempo, partindo Segundo MATIA, importa saber que somos, como
do pressuposto de que o terna da Memória Institucional somos e por que somos.
vem sendo tratado através de subtemas e subconceitos
diluidos em esferas próprias. Memória Institucional é "Sobretudo quando nos damos conta de que o
homemse distingüedos animaispor ter acapaci-
um conceito em construção e deve permanecer aberto
dade de seidentificar,justificare singularizar: de
para que seja capaz de crescer juntamente com a
saberquemeleé." (MArrA, R da. 1984. p.16).
dinâmica do conhecimento.
E o que seria uma cultura nacional? ORTIZ
entende que C,.) "falar em cultura brasileira é falar de
relações de poder". Para ele
2 Memória lilstitucional
(...) "toda a identidade é uma construção sim
bólica, o que elimina portanto as dúvidas sobre
Apesar de ser um conceito que se forma numa a veracidade ou a falsidade do que é produzido.
sociedade em constante mudança, Memória Instituci- Dito de outra forma, não existe uma identidade
onal em geral e não apenas a do ffiGE toca em outros autêntica, mas uma pluralidade de identidade,
conceitos que não devem ser esquecidos por aqueles construída por diferentes grupos sociais em
que diret:a ou indiretamente lidam com o tema. O diferentesmomentoshistóricos"(ORTIZ,RI985.
esquema abaixo resume os principais conceitos que p.8).
tangenciam o tema: BOURDIEU afirma que o poder é um tipo de
círculo
(...) "cujo centro está em toda parte e em parte
alguma - é necessário saber descobri-lo onde ele
sedeixavermenos,ondeeleémaiscompletamen-
te ignorado, portanto, reconhecido: o poder
simbólico é, com efeito, esse poder invisível o
qual só pode ser exercido com a cumplicidade
daqueles que não querem saber que lhe estão
sujeitosoumesmoqueoexercem", (BOURDlEU,
P.1989.p.7-8).
SALCEDO considera a noção de patrimônio
urna noção politica, Patrimônio seria
(.. ,) "uma relação constante entreamaneira que o
povo tem de resolver sua existência e os instru-
mentosquefoi capazdecriarparaisso. Patrimônio
é a capacidade de transformar o mundo que se
guarda na consciência através da herança
cultural. "(. ..)"ÉacapacidadehistóricaqueheIda-
mos paravencer as dificuldades que enfrentamos
O conceito de Memória Institucional, represen-
e continuamos a enfrentar, e que nosso povo
tado pelo circulo central, relaciona-se com os demais supera criativanIente apartir de sualuta, a partir
conceitos representados pelos circulos menores que se de sua experiência, a partir dessa coisa que DÓs
tangenciam, indicando as relações entre si, confonne
I
Memória Institucional: Um conceito em definição 51
Abstract
Amethodological-explanatorystudy oninstitutional historical records is developed, taking as areference point
the ffiGE InstitutionalHistorical Record. Itsgeneral aim istheresults derived fromthe survey, in orderto widen
the existinginfonnationonthe subject. Thoseparametersconstituteapreliminarygroundforthe planningofthe
Retrieval SystemfortheffiGEInstitutionalHistoricalRecord, forpurposesofpreserving it. The studyisdesigned
more specifica1lyto contributetotheimprovement ofdatacollectionand analysistechniques, byreporting right
and wrong directionstaken onthe way.
4 Bibliografia
BERGSON, H. Matéria e memória; ensaios sobre a relação do corpo com o espírito. São Paulo: Martins
Fontes, 1990. 204 p.
BERGSON, H., PROUST, M. apud DELEUZE, G. Proust e os signos. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1987. 183p.
COSTA, I. T. M. Memória institucional do IBGE: um estudo exploratório-metodológico.Orient.: Heloísa
Tardin Christovão. Rio de Janeiro, 1992. 166p. Diss. (Ci. Inf. ) - ECOIUFRJ - IBICT/CNPq.
BOSI, I. Memória e sociedade; lembranças de velhos. São Paulo: T.A. Queiroz, 1983. 402 p.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.313 p.
BRECHT, B. Brecht; poemas 1913-1956. 4. 00. São Paulo: Brasiliense, 1990. 328 p.
FEBVRE, L. apud LE GOFF, 1. A História Nova. ln: LE GOFF, Jacques, CHARTIER, R, HALBWACHS, M.,
apud DUVIGNAUD, 1. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1990. p. 13-
14.
LE GOFF, J (Coord.). Memória e história. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1984. 457 p.
(Enciclopédia Einaudi, 1).
MATTA, R da. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Salamandra, 1984. 117 p.
ORTIZ, R Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985. 148 p.
REVEL, J (Org.). A nova história. Coimbra: Almedina, 1979. 591 p. Enciclopédia.
SALCEDO, L. G. L. Museus Nacionais. ln: SEMINÁRIO MUSEUS NACIONAIS: PERFIL E
PERSPECTIVAS. Trabalho apresentado. Rio de Janeiro: FundaçãoNacionalPromemória, 1988. p. 25-38 (não
publicado).
INFORMARE -Cad Prog. Pós-Grad. Cio Inf., Rio de Janeiro, v.l, n.2, p.45-51,jul.ldez. 1995