Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
mentos cliohistoria@uol.com.br
O cinema e o conhecimento
o da His
História então, passou a ser encarado
arado eenquanto testemunho da
sociedade que o produziu,
ziu, com
como um reflexo — não dire-
O filme, imagem ou não da realidade,
idade, do
documento ou to e mecânico — das ideologias
eologias, dos costumes e das
venção, é História. (M.
ficção, intriga autêntica ou pura invenção, mentalidades coletivas.. Como n não enxergar, por exem-
Ferro) plo, tratando-se do Brasil,
sil, elem
elementos da ideologia da
esquerda brasileira — influenciada
influenci pelo modelo de re-
O cinema se converteu, por méritoss próprios,
própri em arquivo flexão da arte e da sociedade
iedade aadotado pelos Partidos
vivo das formas do passado ou, por sua ffunção social, Comunistas em todo o mundo — nas primeiras produ-
em um agudo testemunho de seu tempo ee, como tal, em ções do movimento cinemanov
emanovista, em início dos anos
um material imprescindível para o historia
historiador que assim 60? Ou, em outro exemplo,plo, como
com não perceber a atmos-
o queira olhá-lo e utilizá-lo. (J. E. Monterde)
Mo fera da ideologia macarthista
rthista n nos filmes produzidos nos
Estados Unidos durantee as déca
décadas de 1950 e 1960?
Por Cristiane Nova Poderíamos listar inúmeross títulos
títu que comprovam essa
afirmação, tais como: A cortina de ferro (1948, Willian
As relações existentes entre a história
ória e o cinema não Wellman), Sob controle (1951, Willian Cameron Menzi-
são recentes pois datam do surgimentoento de
deste, há um es), O grande Jim Mclaim
im (1952,
(1952 John Wayne), Homem
século. No entanto, o seu estudo mais apr aprofundado no arame (1960, André de Toth)
Toth ou Sob o domínio do
remonta há apenas três décadas e ainda sse encontra mal (1962, John Franenheimer)
heimer).
longe de alcançar uma situação dee relativo conforto no
que concerne à formulação de um arcabou
arcabouço teórico Nessa produção global,, existe u um tipo de filme que
sólido. Todavia, avanços foram realizados,
alizados, fixando al- possui uma importânciaa suplem
suplementar para o historiador
guns conceitos fundamentais acerca ca dessa relação, que e sobretudo para o professor
fessor dde História: aquele que
não podem ser ignorados pelo historiador
toriador ou por qual- possui como temática um fato histórico. A este chama-
quer cientista social que deseje pensarar a história
h eo remos, por motivos meramente
ramente esquemáticos, de "filme
cinema dentro de uma perspectivaa históric
histórico-dialética. histórico", mesmo que a denomdenominação seja em si insufi-
Alguns desses conceitos dizem respeito
peito ao enquadra- ciente e até redundante. e. Eles p
podem ser estudados pelo
mento do filme enquanto documento nto hist
historiográfico e historiador de duas formas:
mas: prim
primeiro, como testemu-
como discurso sobre a história. E é exatam
exatamente sobre nhos da época na qual foram pr produzidos e segundo,
esses dois enfoques que trata estee ensaio, estabelecen- como representações do o passado.
pass Essa separação nos
do as fases de um aprofundamento to progre
progressivo. Mas, leva a classificar o caráter
ter docu
documental dos filmes em
evidentemente, esse corte não exclui
clui a necessidade
ne de primário e secundário. O filme pode ser utilizado como
se abordar outras questões relativasas à rela
relação cinema- documento primário quando uando nenele forem analisados os
história — a exemplo do cinema visto
isto com
como agente do aspectos concernentes à época em que foi produzido. E,
processo histórico —, visto que tais
is divisõe
divisões são recur- como documento secundário,ndário, qquando o enfoque é dado
sos da abstração, puramente esquemático
emáticos e não são, à sua representação do passado
passado. Esse modelo segue, em
de forma alguma, estanques, sendo o suas ffronteiras es- linhas gerais, a classificação
ação dad
dada à documentação escri-
treitas. Em determinadas situações, s, as pro
problemáticas se ta pela historiografia tradiciona
adicional. Dessa forma, pode-se
interpenetram de forma tal que é impossí
impossível estabelecer afirmar que os "filmes histórico
históricos" são duplamente do-
claramente as linhas que as separam. cumentos e podem ser utilizado
utilizados como tais a depender
do enfoque dado pelo sujeito q que o investiga. No entan-
Qualquer reflexão sobre a relação cinema
cinema-história toma to, pelo seu caráter secundário
undário e de representação, e,
como verdadeira a premissa de quee todo ffilme é um portanto, de discurso sobre
obre um passado remoto, os
documento, desde que corresponde de a um vestígio de "filmes históricos" desempenha
mpenham uma função docu-
um acontecimento que teve existência
ência no passado, seja mental limitada sobre o períod
período que retratam, princi-
ele imediato ou remoto. No entanto, to, isso não seria sufi- palmente para a pesquisa, isa, assim como também o fazem
ciente para que uma película se tornasse
rnasse uum documento os documentos escritoss secund
secundários (como os textos
válido para a investigação historiográfica.
gráfica. Na verdade, o que remontam ao passado). ado). Na verdade, esses filmes
conceito historiográfico de documento
ento se relaciona acabam por falar mais sobre o sseu presente, não obs-
fundamentalmente com dois pontos: tos: a co
concepção de tante seu discurso esteja ja apare
aparentemente apenas cen-
História do pesquisador e o valor intrínsec
intrínseco do docu- trado no passado. Mesmo mo assim
assim, eles desempenham um
mento. papel significativo na divulgaçã
ivulgação e na polemização do
conhecimento histórico.. Tomem
Tomemos, como exemplo, a
Foi somente a partir da década de 1970 qu que o filme reação provocada pela estréia d do filme Terra e liberdade
começou a ser visto como um possívelsível doc
documento para (1995, Ken Loach) na Espanha
spanha e no restante do mundo:
a investigação histórica. Isso se deu
u em coconseqüência de acirrar novas chamas sobreobre o ddebate historiográfico da
um processo de reformulação do conceito e dos méto- Guerra de Espanha, trazendo
zendo à tona temas que pareci-
dos da História, iniciado com o desenvolvi
senvolvimento da am estar esquecidos pela la Histó
História, além de ampliar os
Escola dos Anais, na França. O filme,e, seja q
qual for, desde limites desse debate atéé o gran
grande público. E esse poten-
CLIO História - Textos e Documentos
mentos cliohistoria@uol.com.br
teatrais do passado. Alguns exemplosplos são Germinal pre atento à presença dos anacronismos.
anac Depois, deve-
(1995, Claude Berri) , Luciola: o anjo
jo pecad
pecador (1975, se buscar apreender a concepção
concepç histórica do filme e as
Alfredo Sternheim), Os miseráveis (1978, Gleal
G Joadan), interpretações que ele apresenta
apresen sobre o acontecimen-
Hamlet (1990, F. Zeffirelli), Henrique
ue V (19
(1945, Laurence to retratado. Uma outraa etapa importante é a da com-
Olivier), 1984 de Orwell (1984, Michael
ichael Readford).
Re paração dos elementos retirado
retirados do filme com os co-
nhecimentos oriundos da histo
historiografia escrita ou oral,
Como se pode ver, são inúmeros oss tipos d de "filmes na tentativa de captar o que ele apresenta de novo. E,
históricos" e essa classificação poderia
deria ser muito mais com a síntese de todos esses elelementos, formular-se-á o
extensa caso este fosse o nosso objetivo.
bjetivo. EEssa classifica- sentido histórico do filme.
ção, aqui, tem apenas o objetivo dee exemp
exemplificar um
pouco as possíveis diferenças dos "filmes h históricos" que A prática da análise histórica
tórica de um filme (seja como
exigem, por sua vez, tratamentos diferenciados.
diferenc documento ou como discurso
iscurso ssobre o passado), sobre-
tudo para o professor dee Histór
História, muitas vezes é dificul-
É importante ressaltar ainda a discussão
cussão aacerca dos tada pela sua falta de preparaç
reparação, tanto a nível teórico
referentes históricos nos quais se baseara
basearam os produto- quanto técnico. Conhecimentos
cimentos básicos acerca da rela-
res do filme no momento da sua realizaçã
ealização. Os referen- ção cinema-história, dass novas teorias da comunicação e
tes históricos de um "filme histórico"
co" pode
podem ter várias da educação — que consideram
nsideram, de mais a mais, a ima-
origens: a historiografia escrita, a mitologi
mitologia, o conheci- gem como um elemento o fundamental
fundam do processo de
mento histórico popular, uma pesquisaquisa própria
pr do cine- aprendizagem contemporâneo
porâneo —, da linguagem cine-
asta e, o que é muito importante, sobretu
sobretudo para o matográfica e das técnicas
icas de ccinema e vídeo são muito
cinema dito comercial, a concepção ão da his
história (simbóli- importantes. Mas o não o domíni
domínio destas áreas não deve
ca audiovisual e de conteúdo) do espectad
espectador — que tem inibir aqueles que desejem
jem utili
utilizar cientificamente o
sido modulada, ao longo da sua existência
xistência, pelos ele- potencial do cinema no ensino da História. Esses conhe-
mentos referenciais enunciados acima,cima, ma
mas também cimentos básico (veja-see que nãnão se trata de uma espe-
pelo próprio cinema que acaba, pelo elo proce
processo de repeti- cialização nessas áreas)) podem ser adquiridos aos pou-
ção, criando modelos históricos específico
specíficos. cos, em paralelo à dinâmica
mica da prática.