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I
I

CAPÍTULO 2

Historia Magistra Vitae


Sobre a dissolução do topos
na história moderna em movimento

There is a history in ali men's lives,


Figuring the nature of the times deceased;
The which observed, a man may prophesy,
With a near aim, of the main chance of things
As yet not come to life, which in their seeds
And weak beginnings lie intreasured. *
Shakespeare

Friedrich von Raumer, conhecido como o historiógrafo dos Hohenstau-


fen, relata-nos o seguinte episódio do ano de 1811, quando ainda era se-
cretário de Hardenberg:
Durante uma reunião em Charlottenburg, Oelssen [chefe de departamento
no Ministério das Finanças] defendia vivamente a impressão de grande
quantidade de papel-moeda para pagar dívidas. Uma vez esgotados os ar-
gumentos contrários, eu (conhecendo meu homem) disse com demasiada
ousadia: "Mas senhor Conselheiro Privado, o senhor certamente se lembra
que já Tucídides falava do mal que sucedeu quando, em Atenas, decidiu-se
imprimir papel-moeda em grande quantidade." "Essa é uma experiência de
grande importância", ele retrucou em tom conciliador, deixando-se assim
convencer, para manter a aparência de erudição. 1

No calor dos debates sobre o saneamento das dívidas da Prússia, Rau-


mer arrisca uma mentira: sabia que os antigos jamais conheceram pa-
pel-moeda. Usou a mentira- recorrendo de maneira retórica à erudi-
ção de seu oponente - porque podia calcular o efeito dela. Esse efeito
nada mais é do que a afirmação do velho topos de que a história é a mes-
tra da vida. O conselheiro apega-se a essa fórmula, e não a um argumen-
to objetivo: Historia magistra vitae.

• "Na vida dos mortais há sempre um fato 1 que é símbolo dos tempos decorridos. I Obser-
v~ndo-o, podemos ser profetas, 1 quase sem erro, do volver das coisas I não nascidas que,
a~nda entesouradas, I acham-se nos fracos germes e começos. I Tais coisas o ovo e o fruto
sao do tempo." William Shakespeare, Henrique IV, Parte II (Ato III, cena 1) (Tradução de
Carlos Alberto Nunes, Teatro completo de Shakespeare- Dramas históricos, Rio de Janeiro:
Ediouro, s.d.).
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HISTORIA MAGISTRA VITAE 43

"No que se refere àquilo que nós mesmos não podemos vivenciar, de-
, portanto ' formal; como mais tarde irá afirmar a máxima "tudo
n.. ·.. USO e,
'i~!~~~(
vemos recorrer à experiência de outros': encontramos na Grande enci-
. ~e ser comprovado a partir da história". 5 . , , ,
clopédia universal de Zedler, em 1735. 2 Assim, a história seria um cadi-
· Qualquer que seja o ensinamento que subJaZ a nossa formula, ha algo
nho contendo múltiplas experiências alheias, das quais nos apropriamos
· sua utilização indica de modo inegável. Seu uso remete a uma pos-
com um objetivo pedagógico; ou, nas palavras de um dos antigos, a his-
tória deixa-nos livres para repetir sucessos do passado, em vez de incor-
.~~lidade ininterrupta de compreensão prévia das possibilidades hu-
···. :anas em um continuum histórico de validade geral. A história pode
rer, no presente, nos erros antigos. 3 Assim, ao longo de cerca de 2 mil
· ~duzir ao relativo aperfeiçoamento moral ou intelectual de seus con-
anos, a história teve o papel de uma escola, na qual se podia aprender a
temporâneos e de seus pósteros, mas somente se e enquanto os pressu-
ser sábio e prudente sem incorrer em grandes erros.
Que ~nsinamentos podemos retirar do episódio de Charlottenburg,
?
postos para tal forem basicamente os mesmos: At~ s~culo X~III: o em-
prego de nossa expressão permanece como md1c10 mquestwnavel da
para aplicarmos o topos ao nosso exemplo? Graças à sua arte de argu-
constância da natureza humana, cujas histórias são instrumentos recor-
mentação, Raumer adverte o colega, em um espaço de experiência su-
rentes apropriados para comprovar doutrinas morais, teológicas, jurí-
postamente contínuo, sobre o qual ele mesmo já se posicionara de forma
dicas ou políticas. Mas, da mesma forma, a perpetuação de nosso topos
irónica. A cena reafirma o papel da história como mestra da vida, com-
aludia a uma constância efetiva das premissas e pressupostos, fato que
provando ao mesmo tempo o quanto esse papel se tornara questionável.
tornava possível uma semelhança potencial entre os eventos terrenos.
Antes de abordarmos a questão sobre o quanto esse velho topos já se
E, quando uma transformação social ocorria, era de modo tão lento e
teria diluído na história em movimento que caracteriza a época moder-
em prazo tão longo, que os exemplos do passado continuavam a ser pro-
na, é preciso lançar um olhar sobre a questão de sua duração. Esta per-
veitosos. A estrutura temporal da história passada delimitava um espaço
dura quase ilesa até o século XVIII. Falta-nos, ainda hoje, uma descrição
contínuo no qual acontecia toda a experimentação possível.
de todas as transformações filológicas e semânticas por meio das quais a
expressão "história" [Historie] foi conceitualizada. Da mesma forma, fal-
ta-nos também uma história da expressão historia magistra vitae. Ela ori- I.
entou, ao longo dos séculos, a maneira como os historiadores compre-
Cícero, referindo-se a modelos helenísticos, 6 cunhou o emprego da ex-
enderam o seu objeto, ou até mesmo a sua produção. Embora tenha
pressão historia magistra vitae. A expressão pertence ao contexto da ora-
conservado sua forma verbal, o valor semântico de nossa fórmula variou
tória; a diferença é que, nesse caso, o orador é capaz de emprestar um
consideravelmente ao longo do tempo. Não raro, a própria historiogra-
sentido de imortalidade à história como instrução para a vida, de modo
fia desabonou o topos como fórmula cega, cujo alcance limitava-se aos
a tornar perene o seu valioso conteúdo de experiência. Além disso, o uso
prefácios das obras. Dessa maneira, torna-se ainda mais difícil esclarecer
da expressão está associado a outras metáforas, que reescrevem as tare-
a diferença que sempre existiu entre o mero emprego do lugar comum e
fas da história. Historia vero testis temporum, lux veritatis, vita memoriae,
seu efeito prático. A despeito desses problemas, a longevidade de nosso
nuntia vetustatis, qua voce alia nisi oratoris immortalitati commendatur
topos já é bastante esclarecedora. Ela alude em primeiro lugar à flexibili-
[A história é a testemunha dos tempos, a luz da verdade, a vida da me-
dade da formulação, a qual permite, por sua vez, as mais diferentes con-
mória, a mensageira da velhice, por cuja voz nada é recomendado senão
clusões sobre seu significado. Vejamos o caso em que dois contemporâ-
a imortalidade do orador ).7 A tarefa principal que Cícero atribui aqui à
neos tomaram as histórias [die Historien] como exempla: o objetivo de
historiografia é especialmente dirigida à prática, sobre a qual o orador
Montaigne era mais ou menos o oposto daquilo que Bodin pretendia
exerce sua influência. Ele se serve da história como coleção de exemplos
demonstrar. A um, as histórias mostravam-se capazes de romper qual-
-plena exemplorum est historia [a história é cheia de exemplos] 8 -
quer generalização; a outro, elas ajudavam a encontrar regras gerais.4
a fim de que seja possível instruir por meio dela. Faz isso, sem dúvida,
Para ambos, entretanto, as histórias eram fonte de exemplos para a vida.
de forma ainda mais vigorosa do que o fez Tucídides, ao chamar a aten-
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ção para o proveito que emanava de sua obra, quando legou para sem-
fonte de proveito, ao reunir em uma nova u~ida~e o pensa~~nto exem-
pre sua história como patrimônio, como um bem inextingüível, para que
, · No Methodus adfiacilem htstonarum
plar e o empmco. . cogmtwnem [Umd
se pudessem reconhecer os futuros casos semelhantes.
't do para conhecer facilmente a história], Bodm reserva ao topos. e
O círculo de influência de Cícero perdura até a experiência histórica
cristã. O corpus de sua obra filosófica não raro foi catalogado, nas biblio-
~~e~o um lugar privilegiado. Cícero faz referência às leis sagradas hls- ~a
tecas dos mosteiros, como coletânea de exemplos, sendo amplamente tó . or força das quais os homens conhecem o seu presente e s~o ca-
na, P ·1 m "nar 0 futuro e isso não de forma teo 1og1ca,• · mas s1m de
9 pazes de1u 1 ' . .
disseminado. Como se vê, a possibilidade de se interpretar a expressão
t de vista político prático.Is Seria cansat1vo enumerar a contl-
ao pé da letra sempre esteve presente, mesmo que a autoridade da Bíblia umpono . . · t' ·1
a repetiçãoi6 ou a ornamentação barrocai 7 desse pnnop10 a e os 1 u-
e dos Pais da Igreja suscitasse no início uma certa resistência contra a
:nistas tardios, como Mably.Is Versões variadas de nosso topos, desde
historia magistra pagã. Em seu difundido compêndio etimológico, Isido-
formas patéticas como futurorum magistra temporum [me~tr~ d~s tem-
ro de Sevilha fez uso constante do tratado De oratore, de Cícero, mas a
ros)I9 até algumas descuidadas instruções sobre 1m1taçao, po-
expressão historia magistra vitae, especificamente, foi suprimida de suas pos fut u h" · d
dem ser encontradas facilmente em meio a histórias e 1stona ores .
definições de história. Ele criou não pouca dificuldade aos apologetas do
É assim que Lengnich, um historiador de Da~zig, escreve que a histo-
cristianismo, ao transmitir como exemplares os eventos da história pro-
riografia nos apresenta "tudo aquilo que podena ser usado de novo em
fana, ou mesmo da história pagã. 10 Declarar uma história desse tipo,
uma oportunidade semelhante". 20 Ou então, par~ tomarmos 0 exemplo
cheia de maus exemplos, como mestra da vida vai além dos poderes de
de um homem ainda um pouco menos conheodo, o tenente-general
transmutação da historiografia da Igreja. Ao mesmo tempo Isidoro con-
Freiherrn von Hardenberg: ele adverte ao preceptor de seu filho famoso*
cede- se bem que algo disfarçadamente- uma influência educativa à
história pagã. 11 A história profana foi considerada legítima também por que não se deixe prender, pura e simplesmente, aos fatos:
Beda, uma vez que, para ele, também ela era capaz de fornecer exemplos, Todas as ações, passadas e presentes, assemelham-se entre si e sua ciên~ia
fossem repulsivos ou dignos de serem imitados. 12 Muito influentes, am- é em grande parte dispensável, mas podem tornar-se de grande proveito
bos os clérigos contribuíram para que também o motivo das máximas quando esse esqueleto for recoberto da carnação correspondente, de modo
que se possa então mostrar a' JUVentu
· d e qua I 'oi
t' o impulso para uma• tal
profanas conservasse um lugar, ainda que subalterno, ao lado da história
· como os meios
transformação, assim · pe1os qu a1's este ou aquele fim fm ai-
que era legitimada por seu conteúdo religioso. . · e1e nao- t en·a sido alcançado;
cançado, ou então, os motivos pelos quais , . . des-
, .
Também Melanchton fez uso dessa dupla via, uma vez que tanto os .
sa maneira prega-se antes ao enten d 1men to d o que à memona·' a h1stona
exemplos oriundos das histórias bíblicas quanto das histórias pagãs são ' . agradavel
torna-se mars , e mais · mteressan
· t e para 0 discípulo , de forma que
fontes para as transformações seculares, pois ambos, ainda que de ma- se pode instruí-lo de maneira quase imperceptível tanto na inteligê.ncia do.s
neiras diferentes, remetem aos preceitos divinos. 13 A concepção herdada · · pnvados
negocws · quanto na d o Est ad o, ass1·m como nas artes belll ac paczs
[artes da guerra e da paz]. 21
da Antigüidade a respeito da utilidade da historiografia permaneceu as-
sociada à experiência histórica cristã que se recortava sobre o horizonte Esse último testemunho, prestado por um pai preocupado con:
a edu-
das profecias de salvação eterna. Da mesma forma, o esquema linear cação correta de seu filho, é significativo porque nele as expectativa~ ~e­
das conjeturas bíblicas e de suas concretizações não ultrapassou - até dagógicas de uma época esclarecida conjugam-se com a tarefa tradiciO-
Bossuet- os limites dentro dos quais é possível deixar-se instruir para nal da história.
o futuro a partir do passado. .
Malgrado a autopropaganda h1stonogra · ·fiICa, nao
- se pode subestimar
. , .
Com o desaparecimento das profecias apocalípticas, a velha história o caráter instrutivo prático da literatura histórica e política do_m1c1? ~a
como mestra impõe-se mais uma vez com grande vigor. Maquiavel, por época moderna.22 Os negócios jurídicos dependiam de deduçoes h1sto-
meio de sua exortação segundo a qual se deve não apenas admirar os
antigos, mas também imitá-los, 14 fortalece o princípio da história como • Freiherrn von Hardenberg era pai do poeta Novalis. [N.R.]
I
. 'Í

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ricas; ao caráter relativamente perene então atribuído ao Direito corres-


pondia um certo tipo de história associada a uma natureza que não se meio de exemp los · As tolices dos pais , estão
· "2sperdidas para os filhos; cada
. - ue cometer as suas propnas. . .
modificava, assim como à sua própria repetição. O progressivo refina- geraçao tem q . . ba'si'co do qual se nutriam tais pontos de VIS-
N t nto cetrcismo
0 , .
mento da política da época espelhava-se no caráter reflexivo da literatu-
~:i :ufi~iente
-o para destruir o conteúdo de verdade r:opno a no;-
ra memorialística e nos relatos das embaixadas. A par disso, a política ta~~o ula pois esta tinha suas raízes plantadas no mesmo campo -a
permaneceu atada à administração estatal e às estatísticas, isto é, a uma sa r.~ . ' do ual se originaram esses pontos de vista. Mesmo que nao
história do espaço. Frederico o Grande, em suas memórias [Denkwürdig- expenencia dq nada a partir da história, resta no fim uma certeza ad-
keiten], refere-se a uma expressão legada pela tradição quando afirma ~~~:aaa~:;~r ~a
se experiência, um ensinamento histórico, que pode tor-
repetidas vezes que a história é a escola dos governantes, desde Tucídi- .q:;r~ais inteligentes e mais espertos aqueles que o conhecem, ou, para
des até Commynes, Cardeal Retz ou Colbert. Ele acredita ter aprimora- n1 Buckhardt 29 mais sábios. .
do sua capacidade combinatória graças à contínua comparação entre ca- fa armas com ,
Os eventos inauditos, por sua vez, sao
- tão pouco eficazes no sentido
m re
sos anteriores. Por fim, com o intuito de esclarecer, mas não de desculpar, de apagar da face da Terra os eventos que se repetem de fo~~a se ~o
sua "política amoral': ele se vale dos inúmeros exemplos por força dos
~guald,I'tqouse"6sqt::~:st:p~rece q~afil,
. or isso não podem ser compreen I os co
quais as regras das razões de Estado o teriam guiado em direção a seus é o determinado, ou a diferença, a seja
atos políticos. 23 mau · . · · mo mais
como for e qualquer que seja sua ongem, consAtitm-s~ co b, noe
Ixa
Sem dúvida, estão mescladas auto-ironia e resignação, quando ove- menos imutável."3o A vertente cética que se pode ~rt~~ular tamrneamnão
lho Frederico afirma que as cenas da história universal se repetem, sen- . Iluminismo [Aujkliirung], sob os pressupostos da Similitude ete t' do do
do necessário apenas mudar os nomes. 24 É possível entrever nesse pro- . d f topos. Entretanto, o sen I
foi capaz de questiOnar e ato o .nosso velha história [Historie] foi
vérbio até mesmo a secularização do pensamento imagético; é certo que topos foi, ao mesmo tempo, esvaziado. Se _a l ·r ministas a
a tese da capacidade de repetição e, com isso, do caráter instrutivo da ex- arrancada de sua cate, d ra, e, cer t amen te ' nao apenas. pe os I u ' _
periência histórica permanece um momento dessa experiência. O prog- .
quem tanto aprazia servir-se d e seus ensma . mentos ' Isso aconteceu- na es
teira de um movimento que org~,mz~u, .
nóstico de Frederico sobre a Revolução Francesa é um testemunho dis- . de maneira nova a relaçao entre
si" die Geschichte selbst]
so.25 No espaço delimitado pelos principados europeus, com seus corpos passado e futuro. Foi finalmente a histona em . A[ . h' , .
estatais e ordens estamentais, o papel magistral da história era ao mes- que começou a abnr . um novo espaço d e expenencia. , . A .nova
c Istona
t _
mo tempo garantia e sintoma da continuidade que encerrava em si, ao [Geschichte] adquiriu uma qua l'd I ade temp oral propna · Dllerentes em
mesmo tempo, passado e futuro. . A . passiveis
pos e períodos de expenencia, , . d e alternância, tomaram o 1ugar
É certo que havia também oposição à máxima segundo a qual era outrora reservado ao passa do en ten dido como exemplo. . 't'
possível aprender a partir da história. Seja para Guicciardini, o qual - . .
É preciso agora mvestigar esses proce d'Ime ntos ' em pontos smtoma I-
assim como Aristóteles - considerava o futuro sempre como incerto, cos da transformação de nosso topos.
destituindo assim o conteúdo antecipatório da história. 26 Seja para Gra-
cián, que, a partir de uma concepção baseada na circularidade do pensa- II.
mento, defendia a capacidade de previsão dos acontecimentos, a qual, no
Tomemos uma frase de Tocqueville . para carac t enz . ar o advento de ,um
entanto, considerava supérflua e sem sentido, por conta da fugacidade
27 novo tempo que se inicia. Tocquevi'll e, que em toda a sua obra mantem-
que lhe é inerente. Seja para o próprio Frederico II, já em idade avan-
·
se atento à experiência do surgimento d a m odernidade como duma d rup-
.
çada, que termina suas memórias sobre a Guerra dos Sete Anos questio-
.
tura com a temporalidade antenor, Isse: d' "D es de que o passa o eixou
, AD _
nando todos os exemplos do caráter instrutivo da história: "Pois é ca-
racterístico do espírito humano que ninguém possa ser melhorado por de lançar luz sobre o futuro, o espmto . A . d31 t or
, · h uma no erra nas trevas. d'
mutação de Tocqueville refere-se a uma censura da expenencia a ra I-
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ção. Atrás dela oculta-se um processo bastante .


trajetória ora de maneira in . , I I complexo, que segma sua capaz de instruir da mesma forma que uma história [Historie] com-
VISIVe ' enta e sorratei .
abruptamente, e que por fim fi . I d . ra, ora repentma e preendida como relato exemplar. As fronteiras eruditas entre retórica,
A h. , . OI ace era o conscientemente
Istona dos conceitos [Begrijfsgeschichte] da .. história e moral foram desconsideradas, e o uso alemão do termo "Ge-
sendo praticada aqui se , maneira como vem - schichte" extraiu, dessa maneira, novas qualidades de experiência a partir
, rve como porta de aces
processos. Ao fazê-lo e 'd . . so para capturar esses da velha fórmula. Para Luden, por exemplo, a arte consistia em transferir
, VI enCia-se a maneira como ap d .
d ades, nosso topos se desfaz . d'fi , esar as contmui- o ônus da prova dos ensinamentos a partir da história aos próprios acon-
em mew a I erentes sentid d
cam uns aos outros Sobretud . d os que se eslo- tecimentos históricos. Para ele, segundo escreveu em 18n, "é a própria
. o a partir e então 0 top d ·
pria história, uma história qu bt . ' os a qmre sua pró- história [Geschichte] que fala ( ... ). Cabe a cada um aproveitar ou des-
. . e su rai sua verdade.
Em pnmeiro lugar, realiza-se no es a o d I' prezar seus ensinamentos." 35 A história [Geschichte] adquire então uma
meçarmos com ele) um desl ~ ç. a mgua alemã (para co- nova dimensão que escapa à narratividade dos relatos, ao mesmo tempo
velho topos ou que, ao ocamelnto exiCal que esvazia o sentido do que se torna impossível capturá-la nas afirmações que se fazem sobre ela.
I ' ' menos, ace era o esvaziament d .
t A palavra estrangeira que 0 lé . . o e seu sentido. Se a história [Geschichte] só pode expressar a si mesma, prepara-se então
., XICo nacwna1 tomou de e , . " .
tone' que significava predo . mprestimo, Hzs- o próximo passo, que banalizou totalmente essa fórmula, transforman-
mmantemente o relato . d
a.contecido, designando especialmente as ciê . . , ~ ~arrati:a e al~o do-a em invólucro tautológico. "A partir da história [ Geschichte] só se
Sivelmente preteri'da em c d I nCias histoncas, fOI sendo VI- pode aprender a própria história", formulou sarcasticamente Radowitz,
lavor a pa avra "G h. h ,
termo "Historie" e o subs ..
equente emprego de "G h· h ,
esc zc te. O abandono do empregando a expressão de Hegel contra ele próprio. 36 Essa conseqüên-
por volta de 1 esc zc te completou-se cia de caráter verbal não foi o único desdobramento que se originou -
75° com uma veemência que p d . .
comprovada 32 "Geschi ht , . 'fi o e ser estatisticamente não por acaso - a partir da linguagem. Um adversário político de nossa
· c e sigm ICou originalment ·
em si ou, respectivamente uma , . d - e o aconteCimento testemunha atribui à velha fórmula um significado novo e imediato, uti-
A expressão alude antes a~ t se:Ie e açoes cometidas ou sofridas. lizando o sentido duplo do termo alemão: "A verdadeira mestra é a his-
seu relato. No entanto J'a' h, aco~ ecimento [Geschehen] em si do que a tória em si [ die Geschichte selbst], e não a história escrita [die geschrie-
, a mmto tempo "G h· h ,
também o relato, assim como "Historie" d . esc zc t~ vem designando bene]."37 A história [Geschichte] só é capaz de instruir à medida que se
to.33 Um empresta seu col 'd esigna tambem o acontecimen- renuncia à história [Historie] escrita. Todas as três variantes contribuí-
- on o ao outro. Porém p · d . .
taçao recíproca _ que N' b h ' or mew essa dehmi- ram para delimitar um novo espaço de experiência, à medida que a ve-
Ie u r, sem sucesso q ·
truiu-se, no espaço da lí I , ms recuperar - cons- lha "Historie" teve que renunciar à sua pretensão de ser magistra vitae.
"Geschichte" fiortaleceu sengua a emã, um problema peculiar. O termo Sobrevivendo a si mesma, ela perdeu essa pretensão para a Geschichte.
- , ao passo q "H' ·, ·
geral. Enquanto o sentido d .ue zstone foi excluído do uso Isso nos leva a um segundo ponto de vista. Até agora, vimos falando sem
_ o aconteCimento [Ereignis] d
çao confluíam no termo "G h. h , e a representa- distinção da história, de uma "história em si" [ Geschichte selbst] no sin-
esc zc te preparava se n , b. I'
co, a revolução transcendental , d . , - , o am Ito mgüísti- gular puro e simples, sem um sujeito ou um objeto complementar. Esse
pria do Idealismo. A compreen~i~edc~nG uzhi~ha ~!osofia da história pró- emprego peculiar, hoje bastante corrente entre nós, também surgiu na
- . a esc zc te como u . d
açoes comcidentes remete a I - m conJunto e segunda metade do século XVIII. À medida que a expressão "Geschichte"
essa revo uçao A fórmula d D
gundo a qual a história [Geschichte] d . . , - e roysen, se- tomou o lugar de "Historie", também o termo Geschichte adquiriu um
de si própria é o resultado d d na la ~ais e senao o conhecimento outro caráter. A fim de enfatizar o novo significado, falou-se em primei-
' esse esenvo VImento 34 A , .
se duplo significado alterou . . convergenCia des- ro lugar, preferencialmente, da história [Geschichte] em si e para si, da
por sua vez o significad 0 d h. , .
como vitae magistra. e uma Istona história pura e simplesmente - ou seja, da história. "Acima das histórias
A história [Geschichte] como acontecimento [Begebenheit] único ou está a história", resumiu posteriormente Droysen esse processo. 38
como complexo de acontecimentos [Ereigniszusammenhang] não seria Essa concentração lingüística em um único conceito desde cerca de
1770 não pode ser menosprezada. No período que se seguiu aos aconte-
50
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cimentos da Revolução Francesa, a história tornou-se ela própria um su-


. o que se pode entender como uma conseqüência da querela sobre
Cia d o
jeito, ao qual foram designados atributos divinos como "todo-poderosa':
*
''justa': "equânime" e "sacra'~ O "trabalho da história': para usarmos as
· ' · 44 Como disse Chladenius: a história só pode ser repro u-
p1rron1sm 0 · · · d h· '
. por me10
zida 45
· de "1·magens reJ· uvenescidas". Passou -se a ex1g1r a Isto-
palavras de Hegel, é uma espécie de agente que domina os homens e
· ma maior capacidade de representação, de modo que se mostras~e
fragmenta sua identidade natural. Também aqui a língua alemã fez o seu nau . , · t
de tra zer à luz- em lugar de seqüênCias crono1og1cas- os mo I-
trabalho. A significação plena e o antigo ineditismo da palavra Geschichte capaz 1 ' ·
diziam respeito exatamente ao fato de se tratar de um coletivo singular. que Pe rmaneciam ocultos, criando assim um comp exo pragmat1co,
vos · A h' , ·
a fim de extrair do acontecimento casual uma ordem 1n~erna. 1st~na
Até a metade do século XVIII a expressão "di e Geschichte" regia, na maior
parte das vezes, plural. Para tomarmos um exemplo típico do ano 1748, b ete -se dessa forma, às mesmas exigências às qua1s se submetia a
su m , , · · d
retirado da Enciclopédia universal das artes e das ciências,39 de Jablonski: poética. A história chegou à exigência de um conteudo mais. 1~te~so e
"História é um espelho do vício e da virtude, no qual é possível apren- realidade muito antes de poder satisfazer a essa mesma ex1genCia. Ela
der, pela experiência alheia, o que se deve ou não se deve fazer. História continuou a ser um exemplo de moral, mas, no momento em qu.e es~e
é um monumento aos maus atas, assim como aos atas louváveis." Ou- papel foi desvalorizado, deslocou-se a ênfase nos res factae e:n d1reçao
vimos aqui a definição tradicional, e é exatamente isso que lhe é carac- aos res fictiae. Um critério bastante preciso ~ara o ~ec~~hec;mento da
terístico: ela está ligada a uma diversidade de histórias particulares tra- disseminação dessa nova consciência da realidade h1stonca e o fato de
dicionais, da mesma forma como Bodin escrevera seu methodus para que também contos, novelas e romances pass~ram a ser e~itados com 0
reconhecer melhor as historiarum, as histórias [Geschichten] no plural. subtítulo "h isto ire véritable" [história verdadeira]. 46 Com Isso eles com-
No âmbito da língua alemã, portanto, "die Geschichte" e "die Geschich- partilham, com a história real, de uma elevada ~xig~nci~ de verdade, ~e
ten" - derivadas das formas singulares "das Geschichte" e "di e Ge- um conteúdo de verdade do qual a história [Htstone] v1nha sendo P:I-
schicht"40- eram formas plurais, capazes de aludir a um número cor- vada desde Aristóteles até Lessing. 47 Dessa forma, as demandas peculia-
respondente de exemplos individuais. É interessante acompanh:::r o res à história e à poética delimitaram-se uma a outra, atuando d.e m:-
processo pelo qual a forma plural "di e Geschichte", de maneira imper- . reCiproca
ne1ra , a fim de trazer a' 1uz o sen t'do
1 1'manente de "Geschtchte.
. ,.
ceptível e inconsciente, e por fim com a ajuda de diferentes reflexões Leibniz, que ainda compreendia a historiografia e a po~s1~ ~orno ge-
teóricas, condensou-se no coletivo singular. O primeiro registro lexical neros didáticos e moralizantes, foi capaz de entender a h1stona da hu-
dessa forma data de 1775, feito por Adelung, 41 antecipando o desenvol- manidade como um romance escrito por, Deus, cujo início estava con-
(( ))
vimento que se seguiria. Três anos depois, um resenhista da Biblioteca tido na Criação.4s Kant retomou essa idéia ao enten.der romanc~ em
42 um sentido metafórico, a fim de permitir que se manifestasse a unidade
universal alemã queixava-se do quanto a nova "Geschichte" já tinha se
disseminado como conceito-chave, destituída de qualquer significado natural da história geral [allgemei'ne Geschichte]. Em u~a época em que
narrativo ou exemplar: ''A palavra da moda, 'Geschichte', é um mau uso a história universal [ Universalhistorie], que compreendia uma soma de
formal da linguagem, uma vez que na obra [de Flogel, objeto da rese- histórias particulares, transformava-se na h 1stona . ' · d o mu ndo [ Weltge-
nha] as narrativas [Erzahlungen] aparecem, no melhor dos casos, apenas schichte], Kant procurou o fio condutor que pudess~, t~ansfo:,mar. ague~:
nos exemplos." "agregado" desordenado de ações humanas em um ~1st~~a rac1o~al.
A ocorrência dessa história [Geschichte], ao mesmo tempo criticada e Está claro que apenas o aspecto coletivo singular da h1stona [ G.esc,ht.chte]
ressaltada, que se distanciava de qualquer caráter exemplar digno de ser seria' capaz de expressar tais concepções, quer s~ tratando de h1stona ~o
repetido, foi também um resultado da transposição das fronteiras entre mundo [ Weltgeschichte] ou de uma história particular. Dessa forma, Nie-
história e poética. Passou-se progressivamente a exigir unidade épica
também da narrativa histórica. 43 Os fatos do passado puderam ser tra- *Nome dado a partir de Pirro de Ehs . (c. 375-270 a. C · ) para d eno minar uma
d escola
d (.' cética
d'd
duzidos para a realidade histórica apenas por seu trânsito pela consciên- ··
que ataca as estratégias cogmtlvas, argumentan d o qu e nenhuma delas po e ser e1en 1 a.
[N.R.)
I

52 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO HISTORIA MAGISTRA VITAE 53

buhr anuncia sua História da época da Revolução Francesa sob esse título deve fazer em uma situação determinada (as circunstâncias modifi-
porque apenas a Revolução teria sido capaz de atribuir "unidade épica tudo de maneira dramática), mas sim as conseqüências e resultados
ao. toAdo':so Somente a história compreendida como sistema possibilita a das épocas e das nações." Tudo no mundo tem seu tempo e seu
existenoa de uma unidade épica, capaz de trazer à luz e ao mesmo tem- e seria preciso cumprir adequadamente as tarefas delegadas pelo
po de consolidar suas relações internas. flestino."s2 Um tal deslocamento de sentido, capaz de submeter a um
Humboldt vai finalmente resolver a disputa centenária entre história ,gmceito único de história [ Geschichte] um conjunto de efeitos univer-
e P?ética ao deduzir a singularidade da "história acima de tudo" [Ge- sais em seu caráter singular e inédito foi também uma das preocupações
s~ht~hte überhaupt] a partir de sua própria estrutura formal. Dando con- do jovem Ranke. Em 1824 ele escreve sua História dos povos românicos e
tmmdade ao p~ns~mento de Herder, Humboldt introduziu as categorias Jermânicos, declarando que ali ele "tratava apenas de histór~as [ Gesch.ic~­
dAa f~rça e do direcwnamento, que necessariamente escapam das circuns- ,.,], e não da história [ Geschichte] ". Entretanto, o caráter smgular e me-
tancia.s ~u: lh~ são anteriores. Com isso, Humboldt nega qualquer pres- da história permanece, para Ranke, indiscutível. Uma vez que o
supo~Içao mgen~a quanto ao caráter modelar dos exemplos do passado, ·. $Cüntecimento [Geschehen] se mostra como conseqüência e produto do
extramdo a segumte conclusão geral: "O historiógrafo digno desse nome .etnbate entre forças singulares e genuínas, extingue-se a possibilidade de
d~ve representar cada singularidade como parte de um Todo, 0 que sig- : -~licação imediata de modelos históricos. Como prosseguiu então Ran-
mfica que ele deve também representar em cada uma dessas partes sin- : ke: ''Atribuiu-se à história a tarefa de apontar para o passado, de instruir
gulares a própri~ ~o~ma da história." 51 Com isso, Humboldt acaba por 'O mundo contemporâneo para proveito da posteridade: o presente tra-
reela~o~~r um cnte.no ~a representação épica em categoria histórica. ~ho não aspira a uma tarefa tão elevada, pretendendo apenas mostrar
A ~de~a d~ c~le~I~o smgular possibilitou outro avanço. Permitiu que cOmo as coisas realmente aconteceram." 53 Ranke resignava-se cada vez
se atnbmsse a histona aquela força que reside no interior de cada acon- · mais ao âmbito do passado, tendo abandonado temporariamente essa re-
tecimento que afeta a humanidade, aquele poder que a tudo reúne e im- signação ao assumir o cargo de redator do Historische-politische Zeit-
pulsiona por meio de um plano, oculto ou manifesto, um poder frente •. ·. schrift [Jornal histórico e político], quando recorreu ao velho topos da
ao quAal o hom~m pôde acreditar-se responsável ou mesmo em cujo no- Historia magistra vitae.s4 Entretanto, o seu visível fracasso parece ter de-
me ~ode acreditar estar agindo. O advento da idéia do coletivo singular, sabonado o recurso ao velho topos.
mamfestação que reúne em si, ao mesmo tempo, caráter histórico e lin- O fato de a perspectiva histórica ter renunciado à aplicação imediata
güístico, deu-se em uma circunstância temporal que pode ser entendida de seus ensinamentos não se deve à natureza dessa perspectiva em si, a
como a gr~nde ép?~a das singularizações, das simplificações, que se vol- despeito da tradição desse uso, sobretudo nas historiografias fundadas
tavam social e politicamente contra a sociedade estamental: das liberda- no direito naturatss Mais do que isso, por trás da relativização de todos
des fez-se a Li~erdade, das justiças fez-se a Justiça, dos progressos 0 Pro- os acontecimentos que destruíram a Historia magistrae ocultou-se uma
gresso, das mmtas revoluções "La Révolution': No que se refere à França, experiência de caráter geral, que dividiu também o campo de oposição
pode-se acrescentar que o lugar central que o pensamento ocidental atri- dos progressistas. Isso nos leva a um terceiro ponto de vista. Não é por
b~i.u à Gr~nd: Revolução, em sua singularidade, transferiu-se para a his- acaso que, nas mesmas décadas nas quais o conceito coletivo singular de
tona, no ambito da língua alemã. história [ Geschichte] começou a se impor, emergiu também o conceito
Foi a Revolução Francesa que colocou em evidência o conceito de his- de filosofia da história.s6 É esse o momento em que proliferaram as his-
tória [ Geschichte] da escola alemã. Tanto uma quanto o outro foram res- tórias conjeturais, hipotéticas ou presuntivas. Iselin, em 1764, Herder, em
pons~veis pela erosão dos modelos do passado, embora aparentemente 1774, e Koster, em 1775, lançaram as bases de uma "filosofia da história
os _e~tivessem a.colhendo. Johannes von Müller, seguindo o caráter prag- para eruditos"Y Ao fazê-lo, imitaram de certa maneira os procedimen-
~atlco dos ensmamentos de seus mestres em Gottingen, escreve em 179 6: tos dos autores ocidentais, retomando literalmente ou reformulando, a
O que se pode encontrar na história não é tanto instruções sobre 0 que partir da perspectiva da filologia histórica, os questionamentos propos-
1
54 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO
HISTORIA MAGISTRA VITAE 55

~os pe~o~ prim~i~~s. Tiveram, entretanto, como perspectiva comum a pela história foi obra da filosofia da história de então, muito antes que o
estrmçao d~ Ideia do caráter modelar dos acontecimentos passad~s historicismo fizesse uso desse conhecimento. O substrato natural desa-
para ~eb~sl~dgmr em lugar disso a singularidade dos processos históricos ~ pareceu, e o progresso foi a primeira categoria na qual se deixa mani-
a possi I I ade de sua - A . .
. . progressao. constitmção da história [ Geschichte], festar uma certa determinação do tempo, transcendente à natureza e
no sentido que hoJe nos é corrente, teve origem em um mesmo , . imanente à história. A filosofia, ao transpor para o progresso a história
e t t d . e umco
ven o, anta o ponto de VIsta histórico quanto lingüístico. O ·_ compreendida singularmente como um todo unitário, fez com que o
menta da filosofia da história está associado exatamente a surgi nosso topos perdesse obrigatoriamente o sentido. Se a história se torna
A 1 .. esse processo.
que e que utihza a expressão filosofia da história disse Koste t um evento único e singular da educação do gênero humano, então cada
que s~ lem~rar de que "~ão ~e trata de uma ciência ~articular, co~oe: exemplo particular, advindo do passado, perderá força, necessariamente.
podena facilmente acreditar a primeira vista Pois ond Cada ensinamento particular conflui então no evento pedagógico geral.
t d . · e quer que se tra-
e e umda parte da .história, ou mesmo de toda uma ciência histórica A perfídia da razão impede que o homem aprenda diretamente a partir
t rata-se e nada mais nad d , da história, impelindo-o ao seu destino de forma indireta. Trata-se aqui
A h. t , . fil a menos o que da própria história em si."ss
Is ona e .a I osofia da história são conceitos complementares da conseqüência progressiva que nos leva de Lessing a Hegel. "O que a
por s~: ve.z, Impossibilitam que o ato de filosofar sobre a história ~e~~: experiência e a história nos ensinam é que os povos e os governos jamais
prece e~Cia. ~ssa perspectiva foi totalmente a pique no século XIX 59 aprenderam algo a partir da história, assim como jamais agiram segun-
tór~sul~If:mi,dade potencial e a capacidade de repetição peculiar ;s his- do ensinamentos que delas fossem extraídos." 62 Ou então, nas palavras
c . Iga as a natureza foram relegadas ao passado, a própria história de um experiente contemporâneo de Hegel, o abade Rupert Kornmann:
rOI reestruturada em fo d "É destino dos Estados, assim como do homem, tornar-se sábio apenas
- , . rma e uma grandeza não natural, a respeito da
qual nao e mais possív~l filosofar como até então se fazia a res eito da quando já passou a oportunidade de sê-lo." 63
:a~ureza. Natureza e história puderam desde então separar-sepconcei- Por trás de ambas as afirmações está não apenas uma reflexão filosó-
a mente,. e a. prova disso é que exatamente nessas décadas o anti o fica sobre a singularidade do tempo histórico, mas também, de forma di-
ramo da hzstona natura/is foi excluído do complexo das ciências histó;i- reta, a veemente experiência da Revolução Francesa, que parecia ultra-
cas, como se pode ler na Enciclopédia de Voltaire e na AI h passar e reorganizar toda a experiência anterior. O quanto esse novo
Adelung.6o , eman a, em tempo histórico fundamentava-se sobre a base constituída por tais expe-
Por trás dessa separa - d , riências, mostra-o o ressurgimento da Revolução de 1820 na Espanha.
. çao e carater aparentemente científico e histó
nco, pre~arada por Vico, oculta-se com certeza a descoberta d t - Logo após a eclosão dos tumultos, Goethe inspirou o Conde Reichhard a
po especificamente histórico. Se quisermos dizer d . e um em- uma reflexão que punha em evidência as perspectivas temporais: "O se-
d . _ essa maneira, trata-se nhor tem toda razão, prezado amigo, naquilo que diz sobre a experiên-
e uma temporahzaçao da história, que, a partir de então se d' t .
da era 1 · , , IS anCia cia. Para os indivíduos ela chega muito tarde, para os governos e povos
1
no agia natura . Ate o século XVIII, duas categorias do tempo -
t~ral asseguraram a seqüência e o cálculo dos eventos históricos: o ::~­ ela não chega a existir. Isso se dá porque a experiência já vivida manifes-
ta-se concentrada em um único foco, ao passo que aquela ainda por se
vimento das estrelas e a seqüência natural de governantes e dinastias
concretizar estende-se ao longo de minutos, horas, dias, anos e séculos.
Kant, entr~ta~to, ao recusar qualquer marcação histórica a partir de da~
Em conseqüência disso, aquilo que é semelhante nunca par)ce sê-lo,
tas astrono~I~as fixas e censurar o princípio hereditário como irracio- pois, no primeiro caso, vê-se apenas o todo, e no segundo, apenas partes
na:, ren_uncia ~ c.ron~logia tradicional como fio condutor analítico de isoladas." 64 Passado e futuro jamais coincidem, não apenas porque acon-
co. oraçao tleolo.gi~a.. Como se não fosse a cronologia que tem que se tecimentos decorridos não podem se repetir. Mesmo se o fizessem, exa-
onentar pe a histona m . , .
gia "61 O b 1 . , as Sim, ao contrano, a história pela cronolo- tamente como no recrudescimento da Revolução de 1820 na Espanha, a
. esta e ecimento de um tempo determinado exclusivamente história que vem ao nosso encontro escaparia à nossa capacidade de
r
REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO
HISTORIA MAGISTRA VITAE 57

apreensão da experiência. Uma experiência acabada é tanto completa temer abandonar a busca de algo na história que nos fosse adequado. 70
quanto passada, ao passo que aquela que se realizará no futuro desfaz-se E logo os revolucionários forneceram, em um Dictionaire, as instruções
em uma infinidade de diferentes extensões temporais. segundo as quais não se deveria escrever mais nenhuma história, antes
É o futuro do tempo histórico, e não seu passado, que torna desse- que a Constituição fosse terminada.7 1 A capacidade de realização da Ge-
melhante o que é semelhante. Com isso, Reinhardt indicou, em sua tem- schichte destronou a velha Historie, "pois, em um Estado como o nosso,
poralidade peculiar, o caráter processual da história moderna, cujo fim é fundado na vitória, não existe passado. [Tal Estado] é uma criação na
imprevisível.
qual, assim como na criação do mundo, tudo o que existe provém das
Isso nos leva a uma outra variante do topos, que se modificou nessa mãos do criador e a partir daí, atingindo sua perfeição, passa a fazer par-
mesma direção. Integra a conjuntura da Historia magistra o fato de que te da existência". 72 São palavras triunfantes de um sátrapa de Napoleão.
o historiador não apenas instrua, mas também profira sentenças e juízos, Com isso, realiza-se a previsão de Kant, que provocativamente pergun-
sendo também obrigado a julgar. A história [Historie] iluminista entre- tara: "Como é possível uma história a priori? Resposta: quando o orácu-
gou-se a essa tarefa com demasiada ênfase, tornando-se, segundo a Enci- lo faz e molda, ele mesmo, as circunstâncias que previamente anuncia." 73
clopédia, um "tribunal integre et terrible". 65 Quase clandestinamente, a A supremacia da história como Geschichte, que coincide, paradoxal-
historiografia, que- já desde a Antigüidade- proferia juízos, tornou- mente, com sua capacidade de realização, oferece à nossa compreensão
se uma história [Historie] que executava ela mesma os veredictos. A obra dois aspectos do mesmo fenômeno. Se o futuro da história moderna
de Raynal, pagando seu tributo a Diderot, dá testemunhos disso. "A his- abre-se para o desconhecido e, ao mesmo tempo, torna-se planejável,
tória do mundo como julgamento do mundo." A fórmula de Schiller, então ele tem de ser planejado. A cada novo plano, introduz-se um novo
criada em 1784 e que rapidamente se expandiu, é despojada de qualquer elemento que não pode ser objeto da experiência. O aspecto arbitrário
nuança historiográfica. Tal fórmula almejava uma justiça imanente à his- da história cresce paralelamente à sua capacidade de realização. Um sus-
tória, justiça essa da qual fossem banidos todos os atos e fatos humanos. tenta a outra e vice-versa. Ambos compartilham da destruição do espa-
"Aquilo que se exclui no minuto imediato não pode ser recuperado nem ço tradicional da experiência, o qual, até então, parecia ser determinado
em uma eternidade."66
a partir do passado.
A expressão, que veiculava a idéia de um tempo punitivo,67 de um Um dos resultados colaterais dessa revolução histórica foi o fato de
Zeitgeist ao qual era necessário submeter-se, rapidamente se expandiu na que, a partir de então, também a escrita da história tornou-se menos
literatura jornalística. Seu uso fazia continuamente lembrar a inexorabi- falsificável do que manipulável. Quando a Restauração se instalou, proi-
lidade da escolha frente a qual a Revolução e a história põem o homem. biu, por decreto de 1818, aulas de história sobre o período entre 1789
Entretanto, a determinação resultante da filosofia da história, que com- e 1815.74 Exatamente ao negar a Revolução e suas conseqüências, a Res-
partilha seu sentido com a singularidade temporal da história, é apenas tauração parecia admitir tacitamente a impossibilidade de repetir os
um lado do processo que fez cessar as condições de existência da "historia eventos passados. Mas a tentativa de superar a anistia [Amnestie] por
magistra vitae". De um lado aparentemente oposto veio um ataque não meio de uma amnésia [Amnesie] foi em vão.
menos virulento. Sob tudo o que se disse até então, sob a singularização da história
Em quarto lugar, o iluminista conseqüente não tolerava qualquer in- [Geschichte], sob seu processo de temporalização, sob sua inevitável su-
clinação para o passado. O objetivo declarado da Enciclopédia era reela- premacia e sob sua capacidade de produção anuncia-se uma t~ans~orm~­
borar o passado o mais rapidamente possível, de forma que um novo fu- ção da experiência que domina a época moderna. A Histone fm desti-
turo fosse inaugurado. 68 Antes conhecíamos exemplos, hoje conhecemos tuída de seu objetivo de atuar imediatamente sobre a realidade. Desde
apenas regras, disse Diderot. "Julgar o que acontece agora", completava então, a experiência parece ensinar justamente o contrário. Para um bre-
Sieyes, "segundo os critérios daquilo que já aconteceu, parece-me o mes- ve e despretensioso testemunho, chamemos o modesto e bem-avisado
mo que julgar o conhecido a partir do desconhecido!'69 Não deveríamos Perthes, que escreveu em 1823:
ss REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO HISTORIA MAGISTRA VITAE 59

Se cada partido governasse em seguida ao outro, tendo por tarefa organizar entre as velhas e as novas revoluções, a fim de promover, de maneira tra-
as instituições, então todos os partidos, por meio de uma história por eles dicional, a transição do passado para o futuro. Mas foi logo obrigado a
mesmos fabricada, tornar-se-iam mais justos e mais sábios. A história pro-
reconhecer que aquilo que escrevia durante o dia era ultrapassado pelos
duzida por outros raramente proporciona justeza e sabedoria políticas, uma
vez que ela também tem que ser escrita e estudada. É isso que a experiência acontecimentos da noite. A Revolução Francesa, desprovida de exemplos
nos ensinaJS anteriores, parecia-lhe conduzir a um futuro incerto. Colocando-se a si
mesmo em perspectiva histórica, Chateaubriand editou seu ultrapassa-
Com essa constatação, temos uma guinada dramática e completa no
do ensaio trinta anos depois, sem qualquer modificação, mas guarneci-
que se refere à capacidade de expressão de nosso topos- historia magis-
do de notas nas quais fazia prognósticos progressistas sobre a Constitui-
tra vitae. Não se pode mais esperar conselho a partir do passado, mas
ção.79 Desde 1789 constituiu-se um espaço de expectativa provido de
sim apenas de um futuro que está por se constituir. A frase de Perthes
pontos de fuga em perspectiva, o qual remete, ao mesmo tempo, às dife-
era moderna porque se despedia da velha Historie, sendo que o próprio
rentes etapas da Revolução. Kant foi o primeiro a prever esse sistema
Perthes, como editor, contribuiu bastante para isso. Os historiadores, que
moderno da experiência histórica, ao dotar as repetições das tentativas
se ocupavam então de reconstruir o passado sob um ponto de vista crí-
revolucionárias de um objetivo final temporalmente indefinido, mas
tico, assim como os progressistas, que estabeleciam conscientemente no-
com certeza finito. Segundo ele, a "instrução adquirida pela repetida ex-
vos modelos no auge do movimento, estavam de acordo quanto ao fato
perimentação" de princípios falhos aperfeiçoa os caminhos da revolu-
de que não se poderia tirar mais nenhum proveito de uma Historie que
ção.so Desde então, os ensinamentos históricos entram novamente na
instruía por meio de exemplos.
vida política - se bem que pela porta dos fundos dos programas de ação
Isso nos leva a nosso último ponto, que contém uma interrogação. De legitimados pela filosofia da história. Citem-se aqui os primeiros mes-
que consiste o caráter comum da nova experiência, que até aqui foi de- tres da aplicação revolucionária: Mazzini, Marx ou Proudhon. As cate-
terminada pelo processo de temporalização da história em sua singu- gorias da aceleração e do retardamento, evidentes desde a Revolução
laridade? Quando Niebuhr anuncia, em 1829, suas conferências sobre Francesa, modificam, em ritmo variável, as relações entre passado e fu-
os últimos quarenta anos, ele reluta chamá-las de "História da Revolu- turo, conforme o partido ou ponto de vista político. Aqui reside o cará-
ção Francesa", pois, segundo ele, "a revolução é ela própria um produto ter comum entre o progresso e o historicismo.
da época( ... ). Não possuímos uma palavra para designar a época em ge- Sobre o pano de fundo da aceleração pode-se compreender mais fa-
ral e, por essa falta, tendemos chamá-la de a época da Revolução."76 Sob cilmente também por que a escrita da história contemporânea, a "cróni-
essa insuficiência oculta-se o reconhecimento de que um tempo genuí- ca do tempo presente" foi para segundo plano, 81 assim como por que a
no da história manifestava-se, acima de tudo, como algo diferenciado e Historie renunciou sistematicamente a uma atualidade que se deixasse
passível de diferenciação. No entanto, a experiência necessária para que progressivamente modificar. 82 Em um mundo social no qual as altera-
se possa diferenciar o tempo em si é a experiência da aceleração e do ções se dão com veemência, as dimensões temporais, nas quais até então
retardamento. a experiência se desenvolvera e se acumulara, deslocam uma a outra; o
A aceleração, primeiramente compreendida como uma previsão apo- historicismo reagiu a isso - assim como a filosofia histórica do progres-
calíptica do encurtamento da distância temporal que antecede a chega- so- ao colocar-se em uma relação indireta com a história [ Geschichte].
da do Juízo Final, 77 transformou-se, a partir da segunda metade do sé- A escola histórica alemã, compreendendo-se como uma ciência que tem
culo XVIII, em um conceito histórico relacionado à esperança.7 8 Mas, por objeto o passado, logrou elevar a história [Geschichte] à categoria de
com os processos de disseminação da técnica e a Revolução Francesa, uma ciência da reflexão, fazendo uso pleno do duplo sentido da palavra
essa antecipação subjetiva de um futuro desejado- e que, por isso, deve "Geschichte". O caso isolado deixa de ter caráter político-didático. 83 Mas
ser acelerado- adquiriu, inesperadamente, um rígido teor de realida- a história [ Geschichte], como totalidade, coloca aquele que a apreende de
de. Em 1797, Chateaubriand, então como emigrante, esboça um paralelo maneira compreensiva em um "estado propício à formação" [Zustand
6o REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO

CAPÍTULO 3
der Bildung] que deve influir no futuro. Como sublinha Savigny, a histó-
ria "não é mais uma mera coleção de exemplos, mas sim o único cami- Critérios históricos do
nho para o verdadeiro conhecimento de nossa própria situação". 84 Ou conceito moderno de revolução
ainda, nas palavras de Mommsen, que procurou vencer o abismo entre
passado e futuro: a história não é mais mestra que nos forneça uma arte
política terapêutica, ela é "instrutiva" apenas na medida em que "pode Poucas palavras foram tão largamente disseminadas e pertencem de ma-
conduzir e entusiasmar os ânimos em direção a uma recriação autôno- neira tão evidente ao vocabulário político moderno quanto o termo "re-
ma e independente". 85 Cada exemplo do passado, ainda que seja ensina- volução". Trata-se de uma dessas expressões empregadas de maneira en-
do, chega sempre muito tarde. O historicismo é capaz de se relacionar fática, cujo campo semântico é tão amplo e cuja imprecisão conceituai é
com a Geschichte apenas de maneira indireta. 86 Em outras palavras: o tão grande que poderia ser definida como um clichê. No entanto, claro
historicismo dissocia-se de uma história que põe continuamente em xe- está que o conteúdo semântico de "revolução" não se reduz a seu empre-
que as condições de suas (dele) possibilidades como ciência histórica go potencial como lugar-comum. Revolução alude muito mais a desor-
prática. A crise do historicismo coincide sempre com ele próprio, o que dem, golpe ou guerra civil, assim como a uma transformação de longo
não o impede de sobreviver enquanto houver uma história [ Geschichte]. prazo, ou seja, a eventos e estruturas que atingem profundamente o nos-
Henry Adams foi o primeiro a tentar delimitar esse dilema de um so quotidiano. É evidente também que a ubiqüidade do termo "revolu-
ponto de vista metodológico, ao desenvolver uma teoria do movimento ção", como lugar-comum, está estreitamente ligada a seu sentido pontual
na qual progresso e história eram tematizados ao mesmo tempo, definin- bastante concreto. Uma alude ao outro e vice-versa. Nos estudos de ca-
do um e outra por meio de investigações sobre as estruturas temporais ráter semântico que se seguem, proponho-me a elucidar essa relação. 1
históricas. Adams estabeleceu uma "lei da aceleração", como ele a chama- Primeiramente é preciso reiterar que o uso e a extensão do termo são
va, por força da qual os critérios se alteravam continuamente, uma vez variáveis, do ponto de vista lingüístico. Quase todo jornal fala da Segun-
que a aproximação acelerada do futuro faria diminuir a distância em re- da Revolução Industrial, ao passo que a historiografia ainda não chegou
lação ao passado. A população aumentaria incessantemente, produzindo a um acordo quanto à determinação dos inícios assim como das carac-
gerações sempre mais jovens, as velocidades geradas pela técnica aumen- terísticas específicas da Primeira. A Segunda Revolução Industrial não
tariam em progressão geométrica, se comparadas aos critérios anteriores, apenas livrou o trabalho humano do esforço físico, mas também trans-
assim como o nível de produção da economia indicaria índices seme- feriu processos intelectuais a máquinas capazes de trabalhar de forma
lhantes, da mesma forma que a eficácia da ciência. Também a expectativa autônoma. O conceito de Segunda Revolução Industrial compreende a
de vida da população elevar-se-ia, estendendo assim o intervalo existente cibernética, a física atômica e a bioquímica. Tal revolução ultrapassou a
entre mais e diferentes gerações. A partir desses exemplos e de outros se- Primeira por uma extensa margem, uma vez que ali se tratava ainda de
melhantes, que poderiam suceder-se infinitamente, Adams concluiu que aumentar a produtividade humana para além do limite das necessidades
nenhum ensinamento seria correto, com exceção daquele segundo o qual tradicionais, graças ao capital, à técnica e à divisão de trabalho. Nesse
a única coisa que um professor de história poderia esperar, em lugar de caso, critérios gerais de distinção não são suficientes.
instruções sobre como agir, seria, no máximo, instruções sobre como Da mesma forma, é possível ler notícias sobre os programas marxis-
reagir: "All the teacher could hope was to teach (the mind) reaction." 87 tas para uma revolução universal, formulados por Marx e Lenin, e de-
pois impressos por Mao Ze Dong na bandeira do Partido Comunista
Chinês. Na década de 1960, fez parte da situação política interna da Chi-
Tradução de Wilma Patrícia Maas na o conceito de Revolução Cultural, conceito que tem por tarefa incutir
Revisão de Marcos Valéria Murad na mentalidade chinesa o movimento revolucionário, imprimindo, por
assim dizer, a revolução no próprio corpo das massas. Em todos os lu-

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