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TEORIAS DO MÉTODO CIENTFICO DE PIJITÃO A MACH

RESENHA BTBLIOGR.ÁFTCA I

IAURENS LAT'DAN
UnþasíiMe de Pfltæüllr¡lh

læ p¡o8¡èr, d¡ns le ¡narche de I'esprit humain, !


6té définitivemcnt as¡u¡ó prr I'obsorvalion dcs
règler do l¡ nethods.

E. Clrsweul

InÛoduçdo

Inrlmeros e veementes tributos verbais têm sido prestados à idéia de que a história
da ciência e a filosofia da ciência dependem totalmente uma da outra. Apesar disso, o
casamento entre as duæ disciplinæ, sancionado e perpetuado pela existência de deze-
nas de departamentos acadêmicos consagrados à questão, pafec€, muitas vezes, mais
imaginário do que real e mais forgado do que natural. É evidente que a presença de de-
partamentos e cadeiræ universitáriæ com nornes hlbridos não é sufïciente, por si mes-
m4 para demonstrar urna afìnidade real entre os dois tópicos. Além diso, na prática
efetiva, os dois são, coln freqüência, intei¡amente irrelevantes um para o outro. É ¿iff-
cil imaginar, por exemplo, como e por que o historiador que escreve sobre a evolução
da teoria da valência ou sobre a ciência na França revolucionária, extrairia mais bene-
ffcios do estudo da fìlqsofia da ciência do que, por exemplo, do estudo da história po-
lftica ou da sociologia. De maneira aniloga, é pouco provável que o filósofo da ciência
interessado nos paradoxos da confirmação ou no estatuto existencial das entidades
teóricas obtenha grandes esclarecimentos de um exame demorado da história da alqui-
mia ou da botânica sistemática.
Mas, se os argumentos destinados a estabelecer a.interdepend6ncia geral entre a his-
tória e a fìlosofìa da ciência são menos convincentes do que querem admitír alguns dos

C,ode¡not de Hìsiórta e Filosop dø Cíêncla, Suplemento I (1980), pp.5-77.


6 LaurensLaudan

para apoiar uma tese de in'


æus defensores, existe entretanto, um excelente argumento
fraca'
terpendéncia ligeiramente mais
histó'
pæa
ricås em gçral úo de grande valia
deve'

rfamos sublinhar que tanto a história qua



- '
a história das
preocupação comum e um interesse especffico numa questão particular:
quer a história quer a
ieo¡æ dõ método cientffico. Com efeito, é diffcillcompreender
rnétodo' Assim, o historiador
filosofia da ciência, sem trata¡ da evolução dæ teoriæ do
que não
da ciência deverá ter constantemente ese problema em vista, pois é evidente
sobre questões de método quan-
podemos ignorar as opiniões dos cientistæ individuais
Contrariamente à afìrmação de
ão explicamos suæ teorias e procedimentos cientfficos.
méthodologi.
KoyrJ, segundo a qual "la nout
le áévelofpement p.ntét
concret de la s fre'
qüentementeiexefceram uma influência ma
ciên'
Newton,
cìa. Seria diflcil concebef uma apresentação adequada da mecânica celeste de
da termodinrîmica de Duhem, da
da ótica de Descartcs, dæ teorias elétricas de Ampère,
sociologia de Comte ou do behaviorismo de Skinner, que deixasse de examinar minu'
Como mostrou
cïosamõnte as idéias metacientfficæ e metodológicas desses cientistæ'
Kuhn, mesmo quando são pouco pronunciadas æ idéias metodológicæ de um determi-
exemplo, os critérios para
nado cientista, ôs padrões metodológicos da sua época þor
as explicações aceiiáveis e os cânones de uma experimentação) afetam, muitas vezes' a

prátiõa da ciência, jamais podendo ær a priori Postos de lado como irrelevantes' Do

-"r*o modo, o fìlbsofo da ciência deveni necessariamente interessar'se pelas teorias


do método. cientffico veiculadas no pasgdo' pois elas constituem parte esæncial da
história do seu próprio objeto de estudo. Embora alguns profisionais contemporâneos
aparentemente ieluiem em admitfJo, a fìlosofia da ciência (será mesmo necesMrio
di-
é uma disciplina que possui uma história longa e ca¡acterlstica, tão rica e suggs-
"ãtt¡
tiva para os leitores atuais quantoa história de qualquer outfo farno da filosofia' Só o
mais obstinado espfrito obtuso cons€gue dexar de ver o quanto as atuais fìlosofìas de'
vem às suas ancestrais antediluvianæ (isto é, pré+ienenæs) e o quanto foram condicio-
nadæ por elas.
Assim, a história do método cientlfìco é uma das áreas em que inegavelmente con'
vergem os interesses do historiador da ciência e do filósofo da ciência. Por essa nzão,à
prtia o seu interesse intrfnseco, ela merece cuidadosa atenção e cultivo, na medida em
ciência e a sua filosofia.
iue constitui a ponte mais importan te, talvez, entre a história da
Neste artigo, gostaria de examinar rapidamente aqueles que me pafecem selatæfl
de
dos principais ptobl".rt com que se defronta o historiador do método cientffìco,
chamar a atençäo para alguns textos e problemas esquecidos e, finalmente, tle apresentar
uma resenha pànorâmica, ainda que esquemática e inadequada, de parte do trabalho

r A. Koyré na sua resenha da obra de Crombie, Robert Grosseteste,em Diogène, n'o 16 (Outubro
1956), p. 19.
Teorìts do Método Cientlfico de Pbtño a Mach 7

;hiótórico recente efetuado nesæ domlnio. No que se refere a textos primdrios, escolhu.
.arbitrariamente Mach como ponto final de minha análise. Em conæqüência, não exa-
minarei diretapente nenh¡ma teoria do método especffica ao séctfo vinte.
É neceisário começar óncarando um fato signifiìativo mas desagradável: a total au-
sência de algo que se aproxime de um tratamento geral adequado da história da filoso-
fìa da ciência. Pelo que sei, esse é o único ramo importante da filosofìa ou da ciência
cuja história ainda está por ser escrita de manei¡a coerente e uniforme. É bem verdade,
é cla¡o, que já foram feitæ algumæ ra¡æ tentativas de escrever acerca do desenvolvi-
mento geral da história do método. Tais tentativas, entretanto, constitulram, quase
sem exceção, exemplos desastrosos da curiosa combinação de md erudição e de inge-
nuidade filosófica que caracteriza o historiador amador. Estranhamente, os pecados do
século vinte foram os mais escandalosos a esse respeito. Consideremos, por exemplo,
um trabalho de lVilliani Fowler publicado recentemente com o tftulo promissor de
Ihe development of scientífic metlnd (1962). Mesmo à mais caridosa leitura, o livro
se revela superficial e incompleto, o autor se contentando simplesnente em repetir
alguns dos velhos trufsmos que obstrufram, durante décadas, um conhecimento sólido.
Lemos, æsim, que o método de Descartes foi, ægundo o autor, puramente a priori e
nãecientífìco. A metodologia de Newton é examinada nos limites de dois parágafos
e nifo há nenhum indfcio de que Fowler tenha æ benefìciado dos estudos especializa-
dos acerca de fìguræ individuais, os quais teriam conferido substância e sigrifìcação
a um tratamento geral do tipo por ele empreendido. Se essa apreciação parece exces-
sivamente severa, sugiro a leitura do æguinte exemplo tfpico, extrafdo da primeira
págna do livro:

O período que vai de Roger Bacon a Isaac Newton marca a ¡uptura dos grilhões da
autoridade e o fim do ¡einado da teologia como rainha dæ ciências: esse ponto as-
sinala o início da era da experimentação. A influência, nessa época, da filosofia
sob¡e o método pode ser observada nos empiricistas ingleses, Locke, Berkeley e Hu-
me, quando fora¡n claramente expostos os problemas da.induçâo e da causalidade.

O "ponto" a qúe Fowler se refere dificilmente poderia ser considerado um ponto,


pois se trata, na realidade, de um perfodo de quæe 500 anos. Por outro lado, é igual-
mente errônea a aparente sugesüio de que Hume se situa no perfodo que vai de Bacon
p Newton.
Numa categoria qualitativamente diferente, mas que também, a seu próprio modo,
induz em erro, encontramos a obta Histoire et avenir de la mëthode expérimentale
(1960) de René Iæclercq. A principal dewantagem de Leclercq está em que o domfnio
que pretende cobrir é muito ambicioso; ele se propõe a examinar, em menos de 130
páginæ, o desenvolvimento do s€u tema desde Tales até Norbert lViener. Além disso,
sua pretensão é enciclopédica, pelo menos no sentido de registrar os nomes da maioria
dos principais metodólogos. Platão, nesse esquema, recebe um parágrafo, enquanto
Mill conægte três frases. \Uhewell é abordado numa r¡nica fraæ, enquanto Peirce e
8 Laurenslaud¿n

Pearson não merecem sequer uma


mesmo a gfaça redentora de uma
mente de uma caricatura a outfa, c
exane foram personagens históricos que eventualmente trocaram idéias entre si, e não
homens trabdhando em virtual isolamento'
Lbriginelet te dévetoppement de ta méthode expéñmentule (1931)' de C. K. Lin,
parece sofrer de inúmeras limitações desse gênero, embora o autor tenha pelo menos
consciência do alcance restrito da sua exposição.

3.
{Êssos
Essas quatro obræ, além disso, , apresentam todas o defeito de não distinguirem en-
tre método cientffico e teorias do méùodo cientffico. Por'método cientffìco'entendo
simplesmente æ técnica.s e procedimentos que um cientista utiliza ao rcalizu experi'
mentos ou construir teorias. Por 'teoriæ do rnétodo cientlfico'entendo as opiniões
metacientlficas explfcitæ que um cientista adota ao examinar a lógica da inferência
cientlfica. A história do método cientffico é, na realidade, a história de uma arte ou
técnica largamente intuitiva, que tem mtúto pouco a ver, Pfovavelrnonte, com o discer'
nimento metacientffìco. Há inúmeros exernplos de cientistas que, embora tenham rara-
mente dado um passo em falso no laboratório, sabiam relativamente pouco acerca de
conceitos como induçâ'o, hipótese ou explicitação cientffica. Por outro lado, contudo,
a história das teorias do método cieritffìco é necessariamente uma história dæ idéias e
dos conceitos. Algumas vezes, é claro, ocorre que o método de um cientista fornece
uma ilustração viva da sua própria tporia do método, e é também verdade que podemos
muitas vezes examinar o método a fim de ilumina¡ e clarificar a teoria do método e
vice-vena. Seria inoperante, entretanto, supof que exista necessariafnente um isomor'
fismo cla¡o entre o que um cientista tliz sobre o método e o modo como ele de fato o

2 oa Parte do
and çítìcol
tive and de-
ductlv e though t (1 890).
3
D. ise¡avelmente tatado por Whewell, que conside¡a esta¡ o métorlo car'
tes ao método de observaçíio e experimèrrto" (Phìlosophy of the ìttducti-
ve
Tærìos do Métdo Cientlfiæ de Pletdo a Mach 9

pratica '.De resto, não há nada de espccialmente supreendente no fato de que a diver.
gência entre prática e prédica seja tão ampla na ciência como em outas áreæ. Embora
blernentar, esæ ponto parece ter sido freqüentemente ignorado. Asim, é inegdvel a
edstência, næ obræ mencionadæ de Fowler, Iæclercq, Un e lVhewell, de uma contf-
nua confusão entre o desenvolvimento da arte de experimentar e o deænvolvimento da
fìlosofia da ciência.
A ausência de uma sólida história geral das teorias do método cientffìco nffo sigrifìca,
porém, que sejam escåssos os estudos importantes e eruditos sobre aspectos especfficos
da história desse tema; um rápido olhar sobre a bibliografia que acompanha este artigo
poderá disipar rapidamente qualquer suspeita a esse respeito 5. No entanto, dada a
inexistência de uma história geral adequada da questÍo, os segmentos cronológicos re-
lativamente isolados que mereceram anáIise cuidadosa (aproximadamente, 400-3(X)
a.C., I I00-l3 80,1620-1720, I820.50) pareoem desconexos e fragmentários.
À primeira vista, não há nenhum fìo unifìcador que atravesse todos os momentos da
história do método cientffico. Os problemæ metodológicos de Newton parecem bem
diferentes dos de lVhewell ou de Mill, e mais diferentes ainda das questões tratadas na fì-
losofia contemporânea da ciência. É quase impossfvel perceber como os problemas que
interessavam a Comte ou a Descartes poderiam ter levado diretamente aos problemas
que preocupam os seus atuais sucessores. (Os seus problemas emm, sem dúvida, dife-
rentes dos nossos e seria um contra-senso histórico sugerir o contrário. Ao mesmo tem-
po, porém, s€mpre esperamos compreender como os seus problemas levaram aos nossos,
è a sugestão de que o que fazemos hoje é completamente independente do que eles fa-
zian é tão anti-histórica quanto a sugestão de que estamos fazendo exatamente o que
eles estavam fazendo). Se não um fato evidente, é certamente uma boahipóteæ de tra-
balho pensar que a atual filosofia da ciência æ inspira no seu préprio passado e que
os fÌlósofos da ciência contemporâneos não são autodidatas que trabalham em total
igtorância e separados dos pontos de vista dos seus predecessores imediatos e remotos.
Talvez o mais sério obstácr¡lo ao surgimento da história das teorias do método cien-
tlfìco como área legftima de estudo resida na tendência a confundí-la com a história
geral da epistemologia, o que leva a zupor que as categorias narrativæ e as divisões clas-

t Drsrarta, e Ne\4rton sâo,certamente, exemplos típicos.


5
Alérn ditto, vários textos clássicos da história do método torna¡a¡n-se acessr'veis nos últimos anos.
l0 Laurens Lødan

que a teoria car anti-empfr que se pensa-


va, por razões e scartes era supunha que
os racionalistas ado o fato ciência eram
ætudados, antes de tudo, enquanto epistemólogos e metaflsicos e só secunda¡ìamente
e de fonna quase incidental enquanto metodólcgos, nada mais tentador do que tratar
a sua metaciência como um ap,êndice menor de suæ teoriäs do conhecimento'
Mas há um erro ainda mais fundamental em permitir que a história tla epistemolo-

direta entre os dais tipos de problemas. Voltando ao meu exemplo do século dezessete'
é evidente que três das principais questões entre os fìlósofos da ciência da época se re-
tiriam a: (1) os objetivos e metas da ciência; (2) a ceúeza do conhecimento científico;
e (3) a existência d.e uma lógica da descoberta ou de um us inveniendl. Cada um desses
pontos constituía um polo de controvérsias e de extensos debates. Apesar disso, nem o
racionalismo nem o empiricismo tinham, per se,muita coisa z dizet sobre esses proble-

vol. 2, pp. 366-7).


7
Gewi¡tz 1941.
8
Sabra 1955 e 7967 . Ver tanrbérn Buchdahl 1959 e 1963a e Ciombie 1958.
Teoriss do Método Ctentífico de Platõo o Mach ll
mæ. E mais, o debate sobre essæ questões atravessava exatamente as linhæ divisórias
entre empiricistas e racionalistas. Sobre a questão da certeza na ciência, por exemplo,
Descartes e Bacon se encontravam muito mais próximos um do out¡o do que Bacon do
seu colega empiricista l¡cke.
É evidente, então, que, æ o historiador da metodologia for obrigado a empregar eti.
quetæ, precisará de rótulos mais relevantes e informativos do que aqueles que podem
ser tirados da história da epistemologia. Além disso, necessitard de etiquetas que refli-
tam Pontos controvertidos que æjam importantes na história do seu objeto. No atual
estágio de estudo, não é posslvel ser taxativo quanto aos rótulos a serem empregados.
De resto, nâ'o devemos sequer sugerir que exista um único conjunto de etiquetas apro-
priado para todos os casos. E possfvel, entretanto, indicar certas classifi.uçõer ou.ãtr-
gorias que seriam mais apropriadas do gue aquelæ empregadas no presente. um dos
pontos básicos de controvérsia entre os metodólogos, desde os gregos até os nossos
diæ, æ refere ao objetivo da teoria flsica. De maneira aproximativa, podemos dizer
que o conflito se fìxou entre aqueles gue sustentam que o cientista tenta explicar e
compreender o mundo reduzindoo ao comportamento de certas entidades ontologica-
mente fundamentais e aqueles que insistem em ser impossfvel conhecer a verdadeira
natureza dos objetos ffsicos, afirmando ær a descrição, a correlação e a predição o
único objetivo da ciência. Popper chamou essæ duas posigões de 'essencialismo'e de
lnstrumentalismo' e tais rótulos (ou outros similares, como 'convencionalismo' e
'realismo) são bem mais aptos do que os mais tradicionais a por em relevo irnportan-
tes questões metodológicæ e. É óbvio, no entanto, que a terminologia essencialista.
instrumentalista não é nada esclarecedora em determinados casos. Consideremos, por
exemplo, a disputa entre aqueles que acreditavam na possibilidade de saber com certe-
za que as proposições cientfficas sã'o verdadeiras e aqueles que sustentavam que todas
as proposições univenais (nã'o triviais) acerca do mundo ffsico são invariavelmente hi-
potéticas e tentativæ. Nelson r0 denominou essas posições de 'probabilismo'e de 'anti-
probabilismo', mæ também podemos caractenzÅ,-las mediante a linguagem de peirce
como 'falibilismo'e de etiquetas de grande utilidade para o
metod
historiador da 'e 'contingentista'.
é
É bem verdade, ótulos sugãridos é propriedade exclusiva
da história da rnetodologia, podendo provavelmente, ao contrário, ser aplicado util-
mente em outros domfnios, inclusive na história da epistemologia. Na verdade, a epis-
temologia, no s€u melhor sentido, 4 como lVhewell mostrou, filosofìa da ciéncia; é
de se esperar, portanto, $¡e as categorias nanativas empregadæ nas duæ disciplinas

m Netrcn 1965.
12 Lørens Lsudan

sejam praticamente coextensivæ. O fato de que, hoje em dia, terrnos como empiricista
e racionalista não se apreæntem assim, é mais provavelmente um sigrro de que eles não
são realmente úteis em epistemologia do que um indfcio de que a epistemologia e a fi'
losofìa da ciência são muito diferentes. Podemos ir ainda mais longe e afìrmar que,
na medida em que a história da epistemologia nÍIo é a história da filosofìa da ciên'
cia, ela simplesrnente não tem direito de ser chamada de epistemologia. Tanto do pon'
to de vista histórico quanto etimológico, a epistemologia ou a teoria do conhecimento
denotava a investigação dos problemas conceituais e dos fundamentos da ciência. Na
realidade, a expressão 'filosofia da ciência'só veio a alcançar grande difusão porque os
epistemólogos esqueceram que deveriam estudar a fìlosoflta da ciência em lugar de pro-
biemas esotéricos que niÍo eram instruldos pela própria ciência nem relevantes para ela,
Idealmente, portanto, æ histórias da filosofìa da ciência e da epistemologia deveriam
coincidir em grande medida. Que hoje não æja æsim é resultado de sucessivas geragões
de fîlósofos persuadidos de que poderiam compreender melhor a natureza do conheci-
mento permanecendo completamente ignorantes do seu melhor exemplo.
Ao lado da ausência de categorias narrativæ relevantes, a historiografìa do método
se ressente da atençÍio insuficiente dada à evolução histórica dos conceitos fundamen-
tais da matéria. Compreenderlamos com muito mais clarcza a história do método se
soubéssernos sob que circunstâncias precisæ se deænvolveram noções como lei, indu-
1l
çã'o, hipótese, refutação e experimento . Além disso, há, sem dúvida, inúmeros aspec-
tos da evolução dessas noções que exigem especial atenção. Tomando corno exemplo
o caso da experimentaglo, é necessário saber quando os experimentos começaram a
desempenhar um papel decisivo no método dos filósofos naturais. É Obvio que nlÍo po-
dercos ofeiecer uma resposta satisfatória a essa questão limitando-nos a apontar os
numerosos experimentos realizados pelos gregos ou pelos escolásticos. Ernbora muitos
experimentos tenham sido executados na Antiguidade e na ldade Média, é duvidoso
que se atribuísse uma importância cntci¿l a ess€s testes empfricos ocæionais. Na reali-
dade, os experimentos (e as experiências em pensamento) que fìguram nas obras de
I

Aristóteies, Galeno, Ptolomeu, Buridan e outros, são, de hábito, mencionados somente ;


en Wsvnt. Mesmo quando descritos em minuciosos detalhes, tais experimentos têm, I

em geral, apenas o caráter de ilustrações ou aplicações e näo de demonstrações ou refu'


tações. O momento exato em que a experirrrentação começou a assumir um papel do- i
minante na investigação cientffica constitui, evidentemente, uma questÍio urgente para
o historiador do método, questäo para a qual ainda não existem respostas muito satis-
fatórias. E outros conceitos metacientffìcos estÍio a exigir igualmente uma cuidadosa
investigaçlo histó rica.
Se tivéssemos tais conhecimentos, talvez pudéssemos compreender melhor a aversão
por hipóteses que Newton, Comte e Mill manifestavam. (A esse respeito, é certamente
ll Puta encontrar algumas interessantes tentativas de esfudo desses conceitos, ver Bucþd4hl 1967;
Bout¡oux 1895; trombie 1953a, 1959a, 1959b, 1963b; Grant 1962; Sch¡amm 1963; Sima¡d
1965 e Zilsel1942.
Tærìøs do Método Ctentffiæ de Platio a Mach t3

irônico constatar que alguns autores que escrevera¡n sobre a teoria newtoniana do mé.
todo cientffico consagraram, por vezes, mais atenção ao que ele poderia ter querido di-
zer por 'fingo'do que ao que ele entendia por hypotheæs'.) Do mesmo modo. quando
Whewell e Mill discutiam sobie a natureza da indução, é evidente que ambos utilizavam
o termo de maneira radicalmente diferente. É obviamente impossfvel, contudo, situar
esse debateno seu contexto histórico apropriado antes de adquirir uma rroção mais cla-
ra do que signifìcava em geral a indução no fim do sécrfo dezoito e no infcio do século
dezenove.
Outro provável ponto fraco na historiografìa do ¡nétodo cientffìco foi a sua preo-
cupação com um número reduzido de textæ cldssicos, à exclusão de vários indivfduos,
questões e argumentos de grande interesse. Qualquer estudioso da matéria sahe muitas
coisas sobre Newton, Bacon, Comte, \{hewell, Bernard, Mill e Peirce, rnas saberd algu-
ma coisa dos outros metodólogos que, aparentemente, desempcnharam papel de desta-
que na fìlosofìa da ciência da sua época? Saberá algr¡ma coisa, por exernplo, de Galeno,
Mariotte, Hooþ, Boyle, Diderot, Senebier, Reid e Apelt? Esses indivfduos figuram ra-
famgnte em histórias do método, embora uma compreensão de suas filosofias æja in-
dubitavelmente essencial para uma conc€pção clara do desenvolvimento do tema.
Mesmo essa falha, entretanto, nlfo æria tifo gande se estivéssemos em condições de
afìrmar que pelo menos os textos clássicos foram estudados com o devido cuidado,
sendo agora razoavelmente bem compreendidos. Infelizmente, isso está longe de ser
verdade. Embora alguns aspectos dessas obræ tenham sido analisados ern detalhe, ain-
da nã'o dispomos de nenhuma análise aprofundada tlo þara citar apenas alguns exem-
plos) Coars de philosophie positìve de Comte, do System of logic de Mill, daPhiloso-
phy of the inductive sciences de Whewell'ou dos hinciples of science de Jevons. É bem
provável que esses trabalhos, a scu próprio modo, sejar:n tâ'o importantes para a história
do método quanto o são, para a história da epistemologia, o Inquiry de Hume, a
Kritik der reinem Verrunft de Kant ou o Tractutus de Wittgenstein. E, no entanto,
possivelmente porque os epistemólogos levam a sua própria história lnais a sério do que
os filósofos da ciência, æ já podemos conta¡ com exegeses razoavelmente aprofunda-
das do Inquir7,, da Kritik e do Trøctafiis, as obras de Comte, Mill, Whewell e de Je-
vons, ao contrário, repousam tristemente nas estantes das bibliotecas. Na realidade, se
descontarmos æ exceções extraordinárias representadas pelos Segmdos analíticos de
Aristóteles e pelas Replae de Descartes, nenhum tratado substancial sobre o ¡nétodo
cientlfico foi examinado, em publicações, tão exaustivamente quanto mereceria.
Embora eu tenha sublinhado a necessidade de reconhecer a história da metodologia
como um tema autônomo e não apenas como um apêndice menor da história da episte-
mologia ou da história da ciência, seria manifestamente absurdo sugerir que é possfvel
compreender oseu desenvolvimento fora do contexto de certas suposições epistemoló-
gicas de caráter geral e de problemas cientlficos especfficos. Importa, em particular, es-
quivar o erro que consiste em s€parar seletivamente æ controvérsias metodológicas das
questões cientlfìcas que lhes conferiam substância e signifìcação. O debate renascen-
14 Lørens Ludan

tista sobre æ hipóteses, por exemplo, só pode ser apreciado em função das doutrinas
astronômicæ discutidas na época. Do mesrno modo, o debate que se desenrolou no fì-
nal do século dezenove acerca dos méritos metodológicos dos modelos, estava estreita-
mente ligado à polêmica científica entre os atomistas e os energeticistasr2. Outro pon-
to evidente de confluência se encontra na conexÍio entre a filosofia corpuscular e as
questões metodológicas no século dezesæte 13. Visto que os cientistas muitas vezes
acharn conveniente usar armas metodológicas quando nlio conseguem derrotar seus ad-
venários com arrnas experimentais, o historiador do método sempre deve proc¡rar a
motivação cientffìca tática que se esconde sob a adoção de uma determinada regra ou
teoria metacientlfica. Sern pretender sugerir que as discussões metodológicæ sempre
tornam a forma de uma apologia pro wa scientiß, é filrçoso reconhecer que os cientis-
tas muitæ vezes se vcrltam para a metodologia na esperança de racionalizarem as suas
próprias convicções téoricas e procedimentos experimentais la.
NÍo podemos encerrar esse tópico sem dizer que cabe aos positivistas lógicos uma
boa parte da responsabilidade pelo abandono da história do método nos nossos diæ.
Tanto na sua concepção da natureza da fìlosofìa da ciência como na atitude desdenho-
sa e condoscendente em relação aos seus predecessores, os fìlósofos do Cfrculo de Vie-
na fìzeram muito para desencorajar um estudo sério da história da metodologia. Feiø ã
acusação, talvee seja necessário explicá-la mais detalhadamente.

e detalhada da estrutura lógioa e dos problemas eonceituais tla ciência contempotûnea


Uma conseqüência da generalização dessa afìrmação está em que as filosofiæ da ciência
anteriores se ocupavam
das. Assim, na medida
,
tais diferenças devem n
se essa iese é cor¡eta, não há nenhuma tazão p¿u;a que uma investigaçfio de filosofiæ da
ciência cafdas em desuso possa ter algo de interessante a d,izer aos fìlósof'os da ciência

contemporânea da ciência.
Ora. se todos os problemas da filosofia da ciência estivessem, como esses, tão estrei-
ta¡nente ligados à flsica contemporânea ou à teoria da informaçÍo, a história do mé-
todo teria, de fato, pouco mais do que um interesse tle antìquário. A afìrmação ern
t2 \¡erFtribben
1903. t3 Ve¡Ha¡ré 1964.
tt Sab¡a observoul regrry metodológicas g-eralmente "se¡vem como machit¿es rle guerre
-t9rno .as.
que sempre podemos dirigir contra os partidãrios ãe teorias ¡ivais" (Sabra -
ßel , p. 27g,;.t:
Teoríøs do Método Cientffìco de PI¿tEo a Mach 15

exame esquece' porém, o fato de que muitos dos principais problemas da filosofia da,
ciência são problemæ que ressurgem permanentemente, problemas que não são engen-,
drados por nenhuma teoria em particular, mas por virtualmente qualquer teoria. Pro.
blemas como os da formaçäo de conceitos na ciência, da natureza da lei, da indução,
dos métodos experimentais, das hipóteses, da discriminação entre os elementos a priori.
e os empfricos nas teorias; eses problemæ e outros semelha¡rtes não foram inventados'
pela recente filosofia da ciência, nem as soluções conternporâneas que a eles se ofere.
cem são totalmente originais e sem antecedentes. Além disso, como Beth convincente-
mente mosttou, os debates recentes da fìlosofìa da ciência "não se originam apenas
nos reultados da pesquisa cientffìca contemporânea considerados em si mesmos, mas,
ao contrário, na incompatibilidade desses resultados com certas doutrinæ fìlosóficas
pré'concebidas" que foram herdadas do passado. Beth conclui que "as discussões re.
centes sobre os fundamentos da matemática e da ciência ffsica não podem ser plena-
mente compreendidas sem referência ao seu backgrourd histórico e filosófico" ls.
Embora sem endossar a opinião extremada de Del Negro, segundo a qual "a única no-
vidade [dos positivistas lógicos] em relação a Mach se encontra no domlnio formalis-
ta" ró, parece plausfvel afìrmar que o positivismo lógico, assim como øs filosofws da
ciência msis recentes por ele inspùados, estão solidamente enraizados no desenvolvi-
mento histórico do método cientffico.
Apesar disso, os positivistas, bem como as escolas analftica e formalista que lhes su-
cederam, parecem extraordinariamente relutantes em investigar com cuidado a sua pró.
pria genealogia. ou adotam, de um lado (l), a tese de que a recente filosofia da ciéncia
representa uma ruPtura radical com todas as tradições anteriores, ou ent¿io, de outra
parte (2), sugerem que praticamente todæ as figuras céticas da história da ciência e da
fìlosofìa foram seus patronos intelectuais. A primeira tendência encontra, talvez, a sua
ilustração mais sugestiva na hesitação de Carnap em desigrar a fìlosofia do Cr'rculo de
viena pelo nome de 'positivismo lógico', pois tal etiqueta, segundo ele, poderia "suge-

;åï';Tå?#f,i
starem incluldos
na lista dos precursores do positivismo lógico: os sofìstas e os epicuristas, os nomina-
listas medievais, Bacdn, Hobbes, lncke, Hume, Bentham, Mill, spencer, Descartes,
Bayle, D'Alembert, Saint-Sim olzano, os philosophes,
Mach, Avenarius, Helmholtz, Einstein, Þeano, Frege,
Schröder, Russel, rrVhitehead, ch e Marx2o. Em certo
16 Lu¡ens Laudan

sentido, a postufa de Joergenæn e de Neurath reflete, em relação à questão das vèrda-


deiras origens históricas da fìiosofìa contemporânea da ciência, uma atitude ainda mais
desdenhosa do que a hesitaçõo carnapiana em empregar qualquer rótulo histórico. Com
efeito, uma pseudo-história volúvel e pretenciosa é potencialmente mais perigosa e en'
ganadora do que a ausência de qualquer história. Por outro lado, não melhora muito a
situação a obsewaçlfo condescendente de Schlick sobre a atitude dos positivistas frente
à história da filosofìa:

Vis-à-vis de ces systèmes du passé nous manifesterons une compréhension histo-


rique, leurs dogrnes ne nous irritent plus; nous pouvons admi¡er en toute bonne
conscience les magnifiques époques d'une humanité qui, tout en cherchant, tout
en commettant des erreurs, fait preuve d'une profonde volonté d'a¡¡iver à la
vé¡ité.2r

Está claramente implicado nesse texto que os atuais fìlósofos da ciência não deveriam
perder muito tempo zombando dos seus velhos predecessores fìlosóficos e que, na ver-
dade, æria bem melhor simplesmente deixar de lado essas lamentáveis coisas.
Até aqui, limiteime a examinar a história do método da maneira mais vaga e mais
geral posslvel. Næ seções seguintes, gostaria de considerar mais especificamente algu-
mas dæ questões e problemas com que se defrontam o historiador do método bem
como a literatura edstente sobre o assunto. Nâ'o tenho a menor pretensäo de apresen-
tar o que segue como um panorâma sinóptico do campo em questão. Ao contrário, tra-
ta-se apenas de oferecer algumas observações esquemáticas que poderão facilitar o uso
da bibliografia a que elas introduzem.

As Teorias do Método na Antiguidade e ru ldsde Médùø


Se é legftimo dizer que a ciência e a fìlosofia modernas encontram suas ralzes na
Antiguidade, não é de durpreender que a Grécia também tenha produzido æ primeiras
teorias coerentes sobre o método cientffìco. Pode-se afìrmar, com reduzida margem de
drlvida, que a principal contribuição da Antiguidade a esse tema foram os Squndos
Analíticos de A¡istóteles. Como sugerem Foley 22 e Vogel 23 , a noção de explicação
cientffica que Aristóteles formula nessa obra se aproxima sensivelmente de muitas dis-
cussões bem mais recentes da questão, incluindo as de Hempel e Popper il. Também
são de grande importância a teoria aristotélica das quatro car¡sas, o seu tratamento da
axiomática 2s e a interessante análise, embora obscura, da indução e da formaç.lfo de
do positivism'o lógico, _oferece os ieguintes nomes como 'precursores' do Cfrculo de Viena:
Kant, comter Leibniz, c_ournot, Germain, Mill, spencer, Mabh, Avena¡ius, Hertz, poppe¡-Lyn-
kus, ,Boole,.DeMorgan, Peirce, .S_ghr!{er, Peañb, Fìege e Russel'(Weinberg,'1960, irp. 2jtOl. ir",
tamöém a lista æmelhante de 'Vorfafuen' que Hae6erli apresenta no seú üwo fiã eegrii¡ aer
fl-n.
l'lissenschoft ím logischen Positìvismus, pp.
2l s"ili"k1938,p.394. 2 Foley 1953. æ Vogel1952.
" As_melho¡-es exposições resumidas da teo¡ia a¡istotélica do método são provavelmente as de
McKeon 1947 e Beth 1950.
2s
Sobr" as idéias de Aristóteles acerca dos sistemas formais, ver Apostle 1958 e H. Lee 1935.
TeorÍas do Método Científico de PI¿tEo a Mach l7

conceitos que se encontra no último capftulo do Livro Il dos Segunrlos stalíticos.


Muito se escreveu, no século pæsado, sobre a filosofia aristotélica da ciência; na verda-
de, essa literatura é tilo abundante que nâ'o posso-fazer mais do que remeter o leitor à
bibliografia relevante 26. O resultado talvez mais importante desses nurnerosos estudos
foi o surgimento de argumentos plausfveis que levam a considerar Aristóteles como ú¡
figura principal na história da metodologia cientffìca. como observa E. w. Beth, "foi
Aristóteles . . . quem apresentou uma teoria da ciência que, nos séculos posteriores,
veio a orientar e até dominar o pensamento filosófìco e cientffico" 21 .E é certo que os
filósofos da ciéncia na Idade Média e no século dezessete, e mesmo, até certo ponto,
no século dezenove, ainda trabalhavam, em grande medida, dentro dos limites dos pro-
blemæ metodológicos debatidos pelo Estagirita e pelos seus comentadores 28.
É evidente, porém, que fuistóteles nfÍo foi ern absoluto o único personagem da An-
tiguidade a apresentar interesse metodológico. A discussão que faz platão 2e de proble-
mas como os da linha dividida e da dialética, bem como o probabilismo da Tinøt,slo
obviamente importantes para a história do método, como também o é o pir:ovável vln-
culo de Platão com a tradição grega posterior de 'salvar os fenômenos' Ð, tradiça'o essa
que certamente merece um exame mais atento do que o que tem recebido 31 . A
¡ulgar
pelo comentário de Simplício sobre a F{sica, os metodólogos gregos distinguiam entre
a ætronomia e a flsica (ou filosofia natural) atribuindo um objetivo instrumental à
primeira e um objetivo essencialista à segunda. Simplfcio cita Geminus (século primei
ro depois de Cristo), que teria escrito:

Além
1958;
1965;
t939;
1960.
18 L¿urewLøudm

O¡a,oasEônomoeoffsicoterão'ernmuitoscasos'oobjetivodedemonstrsrames- fa'
pelo mesmo caminho' O físico demonst¡a¡d cada
ma coisa . . . mas não procederão
to mediante *ns¿u,ãiooã'ì'bn"i" ou substância
" ïfiifrLffl;Jfi;
cæos, alcan'
em muitos
o. ' 'nãoestáqualiffca-

Duhem33éconvincenteaomostrafqueaquestãomodema:Quaissãoasfelações
discutitta pelos gregos em resposta à
entre a teoria ffsica.-a *etoffrio,?" i¡fora
p€rgunta:"QuaisseoærelaçOesentreoconhecimentoastronômicoeoconhecimento
cientlfico?".
Jáædissemuitasvezesgueoprincipaldefensordopontodevistainstrumentalfoi
como um clásico do instru'
Ftolomeu, culo Almagesto ¿ habiiualmente conúderado
mentalismo.EmboraessainterprctaçãoPaleçaumtantoduvidosaàluzdecertasobser-
enasHypothesespb-
vações fortemente essencialistÅ quõ se ãncontramnoAhtugesto
de Ftolomeu frente a essa questão capital
ainda
netantm deve-se
"¿.itir õ.-" "ii,ud.
pem¡rnece bastante ous"ui"; de resto, um artigo
sucinto de Kattsoff sobre o método
tentativa séria de esclarecer a sua Po-
cientffìco de Ftolomeu pafece constituif a rlnica
,iie" ;,I1í pouca ¿rnvi¿a de que vários ptolomistas medievais
eraÍi
e renascentistas
Duhem publicado há sesenta anos
ïistrumentali-stas'. Ora, desde o ensaio pioneiro
de
não voltaram a ser estuda-
atr!ís, as origens e o deænvolvirnento do instrumentalismo
luz desde aquela época'
dos com cuidado , ,r. gr*ar número de fatos
novos veio à
foi Cláudio Galeno' cuja uti'
outro metodorogo ñrgo áe extraordinária importância
experimentais constiûriu'
lizagão expllcita Or. i¿r:túca, de refutação e cãnfirmação
critérios formais de prova e
proi"urmånte, uma tlas primeiræ lentaliva¡ de introduzir
embora aparentemente tenha sido Aris'
de argumentação num teito cientlfìco. Assim,
atençÍio a estrutura lógica da teoria' Gale-
tóteles o primeiro metodólogo a estudar com
principais-trlbalhos de Galeno sobre
no foi o primeirológico dJteste de teoriæ. os
suficiente para sugerir que as
Àrfoaotogi" se perderam, mas deles restou um nrlmero 3s Kiefer e
de fato muito profundas '
suæ idéias, bem com.o a sua influência, foram
minuciosamente algumas dæ teoriæ lógicæ e metodológicas
Kalbfleisch examirra.À
æ Citodo oor Sambursky 1962, p. 135. A passagem completa pode ser encontada em Simpligt¡¡'
i;'iji¡ti;;¿ñî,¡ñ;;i;;;rum tibtos quøtuot paorei c"nimâitàrø @¿' de H. Diels. Berlim 1882,
pp.29l-292).
3 Duhem 1908.
e
36 Ver Kattsoff tg47.Cf . também Duhem 1908, pp' 129-134'

î:"i"* i,2:åil:"?Jwlü:"
äï'ä:)*f if:î*iffiå".i
).
Teorias do Método Aeníftco de Platõo a Mach 19

.de Galeno 3ó.


Entre outros autores gregos que escreveram sobre o método e cujæ teorias foram
analisadas recentemente, poderlamos mencionar Anaxágoras
37, Philodemus 38 e
Proclus. Existem, além disso, vários estudos sobre a metodologia grega que se detém
mais na evolução dos problemas do q¡ue em indivfduos. Dentre eles, podemos destacar
o estudo feito por Altenburg 3e da noção de hipótese entre os gregos, o artigo de
Scholz { sobre a axiomática gre1a, a análise efetuada por Balme al da concepção
grega do mecanismo e da explicação mecânica, os artigos de Blüh a2, de Bumet a3
e de Iæjeune a sobre a experimentaçâ'o na ciéncia grega, a análise da metodologia
estóica realizada por Sambunþ as, a abordagem apresentada por Stannard a6 das
teorias pré-socráticæ da explicação e, finalmente, os estudos mais gerais sobre a me-
todologia grega de autores como Gomperz47 ,W. Jones aE e Mittelstrass ae.
Há pouco mais de um século, Whewell ainda podia expurgar a Idade Média quæe
completamente da história da metodologia como um perfodo retrógrado, salvo da
escuridão total apenas pela presença de um punhado de revolucionários clarividen-
tes como Roger Bacon e Guilherme de Oc*fiam s0. Talvez se possa þerdoar a Whewell
por tomar.tal atitude, já que vários tratados metodológicos medievais de grande im-
portância eram praticamente desconhecidos na sua época. Bem menos descrfpável,
porém, é o fato de que George Sarton sl , há apenas quinze anos atrás, possa ter ido
ainda mais longe do que o próprio Whewell ao afìrmar que houve uma :única figura an-
terior ao século dezessete, Roger Bacon, a compreender o método experiurental. Gra-
ças ao trabalho de vários especialistas, a nossa apreciação das teoriæ medievais do
método sofreu sigrifìcativæ alterações nas duas últimas décadas, E ainda que seja um
tanto exagerada a tese primitiva de Crombie s2 (segundo a qual as análises medievais
do método foram a condição sine qua non pîra a revolução cientlfÌca), é bem verdade,
entretanto, que inúmeros progressos e esclarecimentos de extrema importância resul-
taram da proliferação de comentários medievais e renascentistas sob¡e os Segtndos
aralíticos. É inegável, por exemplo, que as discussões medievais acerca da 'resolutio'
e da 'compositio' inauguraram as tradiçõÞs que levaram ao surgimento, no século
dezessete, tanto do método indutivo quanto do método hipotético-dedutivo. Embora
tenham trabalhado essencialmente no interior do esquema conceitual aristotélico, os
escolásticos dedicaram muito mais atenção do que os gregos ao exame de certas ques-
s Kirf.tl961;KalbfleischlSg?.VertambémJ.vonMüllerl8g4.Odesenvolvimentoriraisger¡.]
das idéias mêtodológi"as entre os autores gregos biólogos e médicos foi t¡atado porSenn 1923
e 1933.
37
Ge¡shenson e Greenberg 1964. s Delacy 1941. 3e
Altenburg 1905.
s s.hol" 1930. at BuL" 1941. a2 nüh
1949.
ß Burnet 1929. 4 Lejeune 195?. a5 Sambursky 1958.
6 Stannard 1965r a7
GompenI9sl. 4 ril. Jones 1946.
4e
Mitt"lrtrur* 1962e1965.Ver também Burke¡t 1962;Chisholm 1941 e Delacy 1945.
s Whewell 1860. 51 Srrton 1952,p.33.
I Ver Crombie 1953a e. Dara os seus oróprios comentá¡ios sobre as suas posições anteriores, ver
o seu prefácio à segunáâ impressâo (f 902) ¿essa mesma obra. Cf. tambéni Crómbie 1963b.
2O LaureræLaudan

tões referentes à relação entre observação e teoria, além de terem claramenþ reconhe-
cido que a insisteìcia aristotélica em primeiros princfpios íttdubi&Íveis impunha restri-
ções pouco razoáveis ao desenvolvi¡nento téorico da ciência natural.
Ainda nÍo temos uma história geral da metodologia durante a ldade Média, embora
o livro Robqt Grossetcste (1953) de Crombie apresente um tratamento bastante am-
plo dos sécr¡los treze e quatorze s3.
Os melhores estudos sobre os riltimos perfodos da Idade Média e sobre a Renæcen-
ça são, provavelmente, o School of Paduø (1961) de Randail e o Retaisvnce concepts
of rtetlød (1960) de Gilbert. O mais antigo metodólogo latino da Idade Média a rece.
ber séria atenção da parte dos eruditos foi Alberto Magro, cuja obra foi analisada por
Dezani sa, Fernandez-Alonso ss, Grabmann s6, Mansion s? e Tinivella s8. Tomás de
Aquino, aluno de Alberto, foi estudado, do ponto de vista metodológico, por Ardley 5e ,
Collingwood æ, Meyer ót , Régis 62, Rimaud 63 e Simard fl. A mais clara apresentaç['o
de prosseteste, cujas obras receberam, provavelmente, análise mais completa do que as
de qualquer outro metodólogo medieval, se encontra nos estudos de Crombie 65,eil-
bora os trabalhos de Baur ft, Dales ó7 e Michand-Quantin óE acrescentem esclarecimen-
tos suplementa¡es sobre essa figura extremamente importante. A teoria geral da ciência
defendida por Roger Bacon, bem como as suas opiniões especlfìcas a respeito do méto.
do cientlfico, foram tratadas por Alessia 6e, Carton æ, Easton 7l , Hochberg ?2, Thorn-
dike æ , Tinivella 7a, Vasoli ?s e Wdrschmidt ?6. Stokes ?? estudou Guilherme de
'Oclfiam numa interessante dissertaçã'o. Mlliam tffallacæ, com a ambigõò de seguir o
exemplo de Crombie em seus trabalhos sobre Grosseteste, consagrou um livro à ótica
e ã,metodologia de Teodorico de Freiburg, que está longe, porém, de ser urna obra mui-
to legfvel ou muito ínstrutiva 7E. Uma monografìa recente escrita por Weinburg D exa-

50

gia de Alhazen.
I 1944.
Dezani 5s Fernandez-Alonso 1936. s Grabmann 1944.
57 Mansion1956. s Tinivella 1944. I l¡dley 1950.
@ collingwood 19ó4. 61 62
Meyer 1934. négir 1948.
6 Rimaud 1925. 6 si*utd 1965.
s C¡ombie 1953a, 1953b, 1955b. Ver Dales 1961, pa¡a uma discussalo crltica de algumas con-
clusões de Crombie,
6 Bau¡ 1914. 67 1963.
Dales
I MichandQuantin 1953.
@ Alessia 19.5?. D Cafion 1924. Í Easton 1952.
2 Hochberg 1953. æ Tho¡ndike 1914. fl
Tinivella 1944.
Ë Vasoli 1956. æ W¿tuschmidt,lgl4.VertambémAdamson 18?6'
3 Siok", lg6O.CÍ. tambémBoehner 1945;Moody 1935;Mose¡ 1932eThomburn 1918.
É Wallace 1959. t J. Weinburg 1965.
Teorlas do Método Cient{flco de Platilo a Møch 2t

mina algumas teorias da indução propostas na Idade Média.


Os especialistas dedicaram considerável atenção aos metodólogos renascentistas, es-
pecialmente aos italianos, o gue fez com que tenhamos hoje uma visão um tanto mais
clara acerca do clima de opinião metodológica que predominava na época em que Gali-
leu ainda era estudante. Além dos estudos de Randall e de Gilbert já mencionados, de-
vernos chamar a atençlfo para o importante estudo sobre Zabarella produzido por
Edwards 80, pâra a análise da metodologia de Nicolau de Cusa publicada por Patronnier
de Gondillac Er , pârâ os escritos de Duhem E2 e de Solmi 63 sobre as idéias metodológi-
cas de Leonarddo da Vinci e, finalmente, para o exame da metodologia de Petrus Ra-
mus realizado por Duhamel s, Hooykaas Es e Ong 8ó.

Os Aspectos Metodológicos da Revoluçõo Copernicøru

Como vimos, os gregos distinguiam entre a ffsica e a astronomia com respeito aos
objetivos correspondentes das duas disciplinas, sustentando que as teorias astronômi-
cas eram instrumentais, ao passo que eram realistæ æ teoriæ flsicas. Ao fìnal da Idade
Média e duiante a Renascença, essa distinçifo passou a receber investigações cuidado-
sas, resultando em inúmeras discussões de grande importância metodológica. Duhem 8?
mostrou que os filósofos árabes, em especial Averroës e al-Bitruji, defendiam a idéia de
que a astronomia devia fazer mais do que simplesmente salvar as aparências, devendo
também se ocupar das verdadeiras causas dos movimentos celestes EE. Em suma, esses
pensadores pretendiam que a astronomia e a ffsica eram, ambas, de natureza essencia.
lista. A dificuldade dessa doutrina estava em que a astronomia ptolomáica e a ffsica
aristotélica, se interpretadas de maneira realista, eram totalmente incornpatlveis. Dese-
jando presewar uma e outra, Tomás de Aquino Ee e Maimônides afirmavam que as hi-
póteses astronômicas deveriam ser interpretadas apenas como instrumentos de predi-
Ð, essa opiniâ'o parece ter amplamente predominado até a
ção. Com raras excegões
época de Copérnico.
s Edwa¡ds lg6}.t1Í. também Randall 1941 e o artigo de C, Schmitt, a ser publicado proxima-
mente, sobre a teo¡ia da experimentaçÍio de Zabarella.
Er Patronnier de Gandillac lg37.æ Duhem 1906b. t' Sol*i 1905
s Duhamel 1948. 85 Hooykaas 1958.
* Ottg 1958a, 1958b. Ver também Rossi 1954, sobre Fracastorius; Yates 1954,sobre Raimundo
Lrrllio; Rashdall l9QT, sob¡e Nicolau de Autrecourt; Duhem 1913 e Ingarden 1954, sobre Buri-
dan, e rileil 1932, sob¡e Pomponazzi.
e Oslrincipais estu-dos de Duhem sob¡e o instrumentalismo na ldade Méclia sâo o seu artigp de
1908 e o volume 6 do seu ,L¿ syúème du morde 1954. (I98).
s "L", A¡abes semblent donc avoir unanimement admis cet axiome: Les hypothèses astronomi-
." (Duhem I 908, p. 2S6).
ques doivent être conformes à la nature des choses célestes . .
P
rDVer lldtey 19i0.
'rîïlï
e Blake
22 laurens Lcudøn

Por volta do século dezesæis, entretanto, tentou'se æriamente adotar uma atitude

à interPre
, realistas em relação
vicção de que CoPérnico havia,
tivamente verdadeiros dos céus'

certamente não tenha terminado af) no célebre conflito entre Galileu e o Cardeal Ro'
berto Bellarmino. Mais ainda do to a interpreta¡ o sis'
terna heliocêntrico como uma de stxÍvel, de um estado
x e, menos
de coisas real. Recusava-se até a hipótese
ainda, de uma hipótese falsa, tendo essa defesa obstinada da realidade do sistema co'
pernicano Esse confronto famoso foi objeto, juntamente
com as su diversas exposições, os historiadores encont¡an-
do muita tomar partido na questão' Assim é que Duhem'
por exemplo, embora admitindo que Galileu possufa sólidas razões cientfficæ, insiste

9r p-u um <1e
exÍrme das opiniões (aluno de Çop_érnico)-acerca
dessa ouestão ver
e out¡aö afins, ;,Çr-ant 1962; Giacon 1943 e
ié46;i;;;ãoã-if¿+; ini"'¿. 1962; Ravetz 1965 e Rosen
1940 e 1959.
e Bluk" t960,p.37.
93 vestigadas Por Bla-
I 954; Prantl I 875,
"a primeira defini-

e4 Dois '
åitå :

sição heliocêntrica.

I
Teorias do Método Cient{fiæ de Platão s Møch 23

om que Bellarmino tinha uma noção do método cientlfico e das pretensões da ciência à
verdade mais cla¡a do que Galileu tt. Or4 a objetividade de Duhem é um tanto suspei-
ta ness€ caso, pois, além de católico fervoroso, era, ao mesmo tempo, instrumentalista
declarado; não surpreende muito, portanto, que simpatizasse nais com a posiçÍo de
Bellarmino do que com a de Galileu s. Os artigos recentes de Clavelin e7 e de Duba¡l
s, ambos fomecendo uma grande quantidade de evidência documentária, são duas
melhores análises dessa questão.
Existem, é claro, várias outræ questões importantes relativas à teoria galileana do
método cientlfico que foram amplamente discutidas na literatura. Koyré s sublinhou
com insistência os elementos platônicos preæntes no pensamento de Galileu, embora a
identificação excessivamente simplifìcada que esse autor estabelece entre 'platonismo'
e 'matematicismo'escamoteie muitos problemas. O recente trabalho de Geyrnonat,
Gølileo Gølilei: ø biogrøphy and inryiry ínto his philosophy of science (1965) oferece
um contrapeso efìciente ao tatamento de Koyré læ. Deve-se mencionar, finalmente,
que as origens históricas das idéias metodológicas de Galileu também foram objeto de
muitos estudos lo¡.

As Teorias do Método de Bacon a Newton

O debate acerca das pretensões da astfonoÍiia à verdade, embora extremamente ìm-


portante por si mesmo, nada mais foi do que um prelúdio a uma discussão de bæes
muito mais amplas que rapidamente viria a surgir, sobre problemas metacientfficos ge-
rais. Em parte em virtude da emergência dæ novæ ciências, em parte por força da maior
abertura filosófìca que se seguiu ao eclipæ da filosofia peripatética, os autores do sé-
culo dezessete se voltæam para os problemas do método e da explicação cientfficos
com uma intensidade e um vigor sem precedentes.
A primeira grande fìgura desse perfodo foi Francis Bacon, caridosamente chamado
por Rostand de 'l¡n éloquent théoricien de I'expérience mais [un] expérimentateur
s Dohrrn esc¡eve: ", . . lb Logique était du parti d'Osiander, de Bellarmin et d'U¡bain MII, et
non du parti de Képler et de Galilée" (Duhem 1908, p. 588).
s VerAgassi 1957.
n Clavelin 1964. e0
Duba¡le 1965.
e Koyré lg3g. Cl t¿mbém Koyré 1943a, 1943b, 1955a e 1960b.
lo Sob¡" a filosofia geral da ciência de Galileu, ve¡ também Campo 1942:Casirer 1911, 1937c,
1943a,1943b e 1947;C¡ombie 1955a, 1956, 1959a; Dileo 1942; Domincio 1874; Gibson

r01 A respeito do bôckgmunt da merodologia de Galileu, além das obras !á mencionadas na s€-
ção anterior, ver o cont¡overtido t¡abalho de Strong: hocdures and nietuphysics (1936) e
Wiener 1936-
2A L&rensL&dsn

médiocre" t@. As fantasiæ que cercafn a reputação de Bacon são tão curiosas quanto
o próprio p€ñonagem. Por mais de duzentos anos, foi considerado o fundador da ciên-
cia experirnental moderna, o pd da filosofìa moderna e o iniciador do método induti-
vo. Seu nome foi constantemente æsociado ao de Newton, dizendose que havia revo-
lucionado a filosofìa da ciência da mesma maneira corno Newton, mais tarde, transfor-
maria a ffsica. Tendo sido tão estreitamente ligado à filosofìa indutiva, era inevitável
gue a reputação de Bacon esmaecesæ quando o indr¡tivismo deu lugar ao hipotético.
dedutivismo. Visto que a história das idéiæ æ altera fatalmente pelas rnodas e preferên-
cias de cada época, Bacon raramente recebeuum tratamento simpático no Dosso século,
exceto por parte daqueles que, como M.B. Hesse, encontrarn na sua obra tendênciæ hi-
potéticodedutivas. Via de regra, porém, os atuais historiadores do método tendem a
r03,
trata¡ Bacon como um indutivista æm interesæ e um tanto ingênuo aceitando, æ-
sirn, a opinião de Koyré, ægundo a qual nfo pasa de 'bno plaisante¡"tt lü peßar que
Bacon tenha alguma coisa a ver com a ciência ou a fìlosofìa rnodernæ. Nfo obstante a
baixa cotaçifo atual de Bacon nos esquemí¡s correntes entre os especialistas fìlosófìcos,
seria um erro dar a impressão de que in¡lmeros æpectos da sua teoria do método foram
imerecidamente descuidados; bem ao contrtlrio, há provavelmente mais estudos consa-
16.
grados a Bacon do que a qualquer outra figura na história da fìlosofìa da ciência
Mesmo assim, ainda permaneoe um enigma o modo exato como ele abordou vdrios pro-
blernas. As fornus, por exemplo, que ele esperava descobrir por indução, eram leis ou
definições? As relações çantitativas poderiam ser tratadæ mediante æ Tabelas de
Apreæntação de Bacon? Bacon entendia pelos æus instantiae crucß o mesmo qu€ en'
tendemos por experimentos cruciais? Finalmente , e é lalvez a pergunta mais importan-
l@
RostandemLeclercq 1960, p. 11. Fundamentahnente, Rpstand parece putilhar da opiniâg de
Voltaire (expressa næ suæ Lettes philosophiques" 1734), para o qual Bacon foi "le père de la
philosophie expérimentale".

lß Koyré 'Afirmo ve-


emènte não há, na
minha que circula
scbre a 46)"

chol 1889; Frimack 1963 e 1957,


1960,1967e1968;Rymanl 1878;
Viano 1954; Sahra 1967; Wal 1-8-6-4:
Church 1908;C¡oss 1918;lÞ 223).
Teorias do Método Cientílìco de Platio a Mach 25

te, em que medida Bacon era capaz de admitir que æ hipóteses e conjeturas ocupam
um lugar importante na investigação cientffica?
Ainda mais desconcertantes do que essas questões textuais são os problemas histó-
ricos referentes ao papel de Bacon na história da metodologia, tanto em termos daqui-
lo que deveu a seus predecessores quanto no sentido da influência que exerceu sobre os
que o sucederam. No,lVoyum organum, Bacon afìrma que a sua teoria da ciência é nova
e revolucionária e alguns historiadores parecem ter simplesmente endosado as suas pa-
lavras. No entanto, boa parte da obra parece derivar de fuistóteles
lffi e de precursores
medievais e renæcentistas de Bacon 107.
O problema da sua influência é ainda mais complicado, O indutivismo e o anti-hipo-
teticismo de Newton foram derivados de Bacon ou, ao contrário, De Morgan læ está
certo ao afirmar que é imposlvel que os escritos de Bacon sobre o método possam ter
influenciado Newton? As naturezas simples das Regulae de Descartes baseavam-se nas
naturezas simples do Novum orgatam læ ? Os phitosophes levam Bacon realmente a
rro?
sério ou era mero tributo verbal a deferência que manifestavam em relação a ele
E por que, para evocar uma questão mais importante,o Novum orgømtm atraiu tanta-
atenção por parte dos cientistas e hldsofos, e quando isso começou a ocorrer? Fulton
rlr Jones rl2, Penrose 113 e Presley tla. investigaram, todos eles, o surgimento do baco-
,
nismo na Ingfatena; apesar disso, porém, ainda não está claro por que ele se tornou o fdo-
lls.
lo ta Royal Society e dos seus primeiros membros, como Boyle, Glanvill e Hooke
Felizmente, a situação dos estudos especializados com respeito a Descartes é um
pouco mais promisora. Nos últimos quinze anos, surgiram vários estudos fundamén-
tais sobre a sua teoria do método que alteraram radicalmente a nossa concepçlio da me.
todologia cartesiana 116. Fm especial, revelou-se que Descartes conferia à experiência
um papel na determinaçã'o dos conteúdos das teoriæ muito maior do que poderiam

16
Consulta¡ Kosmari 1964 e Larson 1962, pata uma análise interessante das tendências a¡istotéli-
cas presentes no Novum organum.
rØVer Allbut 1913; Dynoff 1916: Hanschmann 1903; Hooykaas 1958; P. Janet 1889 e P' Rossi
1968. As semelhanças ent¡e Bacon e o seu homônimo medieval foram exuninadas por Hochberg
1953 e Vasoli 1956.
16
v"r D. Morgan 1915.
¡@
Sobt. as possíveis relações ent¡e a metodologia baconiana e a ca¡tesiana, ver Hube¡t 1937;Lr-
lande l9Ll e 1929;Levi 1925;Milhaud l917 e Roth 1937.
rl0Cf. Dieckmann 1943;Luxembourg 1965;Va¡tanian 1953 eWhite 1963.
ul Fulton 1931. 112 R. Jones 1961, 1r3
Pen¡ose 1934.
lla Presley 1953'
115
P*u uma curiosa e estimulante discussão da influência de Bacon no pensamento americano ci-
entífico e filosófico posterior, ve¡ Daniels 1963 e 1965.
26 LaurensLaudan

sugerir algumas passagens do seu Discurso e das suas Meditações rr7. Além disso, hoje
está estabelecido que Descartes tinha uma sólida compreensâ'o tle algo como o método
hipotéticodedutivo e que ele se dispunha a recomendar o seu emprego na ciência natu-
t¿ 118. A velha imagem de Descartes, o a priorista,vem sendo substitufda pela imagem
mais correta de um fìlósofo dotado de aguda sensibilidade a várias limitações da razão
solit¿iria.
Os problemæ contextuais, por outro lado, também são bem mais claros no que se
refere a Descartes. Gilson lle e Markus læ investigaram a dfvida de Desca¡tes para com
os seus primeiros precuñiores, enquanto Lalande ¡21 e llowell
r22
, entre outros, exami-
123
naram a influência que Bacon exerceu sobre ele.Mouy escreveu sobre o desenvolvi-
mento da metodologia entre os primeiros cartesianos (especialmente Rouhault e Régis
lä), Laudan ¡2s examinou a influência de Descartes sobre a metodologia inglesa e
Vartanian 126 e Pelikán 12? abordaram as contribuições gure os metodólogos d<¡ llumi-
nismo francês deviam a Descartes. O que esses estudos revelam, fundamentalmente, é
um relato de corno uma metodologia hipotético-dedutiva já sofisticada foi gradativa-
mente abandonada frente ao entusiasmo provocado pelo indutivismo baconiano e new-
toniano.
É claro que muitos metoclólogos continentais desse perlodo não eram cartesianos
ortodoxos. Pensamos, em particular, no brilhante Ess¡i delogique (1678) de Ma¡iotte
t2E
- um fascinante tratado sobre o método cientffìco, injustarnente esquecido - bem
como em determinadas pætes da Ingica de Port-Royal (1664)r2e e nos esciitos meio-
dológicos de Huygensls, Malebrancher3l , Pascallil , Perraultr33, van Helmontlil e do.

1937; Lewis 1950; Markus 1949; McRae 1957 e 1961; Meier 1926; Milhaud 1921 ; Mit¡ovich
1932' ; Ruvo 1937; Segond 1932; Sirven 1937; Smith 1902 e 1963;
Stock min 1960;Weber 1958 e 1964, e von Wright 1950. Ver ainda
Augus 9,184).
117
Sob.e o papel da experiência na metodologia cartesiana, ver Blacke 1929; Gewi¡tz l94l; Howell
1926 e Liatd 1879.
llE
Vrr, em particular, Buchdahl 1963a; Sabra 1955 e 1967 e C¡ombie 1958.
rre r21
Gilson 1951. Ma¡kus 1949.

Lalnnde lgIL e L929.
rz A. Howell L926.Ye¡ também Milhauil 1921 e a nota 109 acima.

Mouy 1934.
ta Parauma rápida análise da metodologia de Régis, ver Watson 1964.

Laudan 1966b. lãVartanian 1953. r27
P"likârn!g37.
1æO únioo
estudo sólido sobre o Ess¿i de Mariotte foi ¡ealizado por P. Brunet L94'l .Panuma
comparação entre as opiniões metodológicas e lógicas de Roberval e Mariolte, ver Rochot 1953.
lD Ver Arnauld e Nicole 1664.
læ Os pontos de vista de Huygens são examinados po¡ Sabra 196? e Mouy 1934.
r31
A *elho¡ análise da teoria do método de Malebranche e, provavelmente,adeBuchenau 1910.
Consultar ainda Bridet 1929; Dreyfus 1957; Labbas 1931 e Rome 1963.
132
Sobr" Pascal, ver öaillat L923, e Ott L967 .
rs Sobr" o rnétodo de Per¡ault, ver Delorme 1947.
1r Ver Mepham 1965.
Teorìas do Método Cientilico de Platão a Mach 27

13s.
primeiro Spinoza
Outra área que passou recentemente a receber cuidadosa investigação é a do desen-
volvimento do pensamento metodológico inglês no perlodo compreendido entre Bacon
e Newton l#, intewalo esse que é decisivo, tanto para compreender a herança de
Bacon quanto para avaliar a originalidade de Newton. Dos autores dessa época, foi pro-
vavelmonte Robert Boyle quem recebeu a maior atenção, embora restem ainda muitos
æpectos da zua metodologia que não foram estudados como provavelmente mere-
ceriam 137.
Graçæ em grande parte a M.B. Hesse, um contemporâneo de Boyle, mais jovem do
que ele, Hooke, começa a ser reconhecido como importante pensador metodológico

. O General scheme de Hooke, esquecido durante muito tempo e que constitufa
uma tent¿tiva de codificar e ampliar as técnicas indutivas de Bacon, parece especial-
mente digno de nota l3e. A obra de Joseph Glanvill, chamado às vezes de o 'Hume do
século dezessete', também apreænta algum interesse l{. Embora existam certas seme-
lhanças entre o tratamento da causalidade que encontramos em Glanvill e Hume, Pe-
trescu rar parece tet ¡azlo ao sublifihar as diferenças, bem mais marcantes do que as
semelhanças, das duas abordagens. Outros metodólogos ingleses desse perfodo cuja
obra foi estudada recentemente são Charleton 142 , Gilbert ¡43, Harvey l{, Hobbes 14s,
Locke 146, Ba¡row la7 e Sydenham rß.
Passemos, finalmente, ao mais enigmático de todos os metodólogos, Isaac Newton,
que se proclamava a personificação do esprit dbbserver. Nâ'o é certo que as obræ de
Newton contenham mais de quinhentas palawas sobre a natureza do método cientf-
fìco; apesar disso, cada uma das suæ vá¡iæ declarações a respeito, embora muitas vezes
concebidas de maneira apenas casual e às vezes expressÍrs de forma até grosseira, foram
l3sVer especia-lmente Hall 1964 e Pastore L921 . Cf. tanrbémC. Adam 1885; Bertauld L891;
McKeon 1.930;Richter 1898;Hayes 195? eThilo 1893.
lsPara um geral dos desenvolvimentos que ocorreram nesse período,ve¡Leeuwen 1963 e
-ex-ame
Presley 1953.
137P.u anrílisg¡
da metodologia e oyle, ver Boas 1952, 1956 e 1965;
Fulton 1932; Hall 1964; Laud 4; Meier 1907; Mendelssohn 19021
Rogen 19ó6; Sambursky 1958; e Wiene¡ 1932.
ls Ve¡ Hesse f 96?.(164).
l9 Felizmente, essa obra ext¡e vias de ser reimp¡essa,,.de sorte que
a.sua leitu_ra, junto com as encontram nas wasMicrographla e
Phllosophlcal.lexperùnentt; ce.
lo V"r.. especial Popkin t9S3 e f960, Laudan 1966b e Leeuwen 1963.
lal Petrescu 1911. r€ Ver Zilsel 1941.
Ver Kargon 1966.
la2
lfl y^e1 Çhauvois 1957; C¡ombie 1959b; Ghiselm 196ó; Jevons 1962; passmore 1958 e Walmsley
t964. (t12r.
r4s
Ver Brandt 1928; Ktihter 1902; Madden 1960b; Pacchi 1965; Tönnies lB80 e Walkins 1965.
tsy^e1
4r¡O-ersoq^l!,21;ll.qt-r!t 1952; Laudan 1966c;Mandelbaum 1964;Odegard 1965;Rogers
1966 e Yost 7951. (167, 229).
ra7
ver Kargon 1965. l€ Ver Yost 1950.
28 Lurens Løtdøn

carinhosamente tratadas por cientistas e filósofos como jóiæ de insuperável sabedo-


rae. hiffibole dizer que æ regulae phibsophotdí,
ria Na realidade, não seria excesso de
o Escólio Geral aos.Þøcipiø e a Questão 3l da0pticks tomaramse praticamente clás-
sicos da lfngua inglesa. E isso ocorreu a despeito do fato de que o vocabulário metodo-
lógico de Newton, como I. B. Cohen tantæ vezes mostrou, era vago e utilizado de
maneira inconsistente. Creio que haveria, provavelmente, cons€nso geral na afìrmação
de que as duæ principais questões acerca do método de Newton ainda nã'o foram satis-
fatoriamente resolvidæ: (1) Quando escreveutrIypothesesnonfingo, Newtonpretendia
realmente lrroscrever todas æ hipóteses? e (2)O que pretendia ele dizer quando falava
em 'deduzir' (ou, às vezes, em Tnduzir') as leis a partir dos fenômenos? Blake vê New-
ton como o fundador do método hipotético-dedutivo, ao passo que Whewell acredita
que o grande eno de Newton foi denuncia¡ prematuramente todæ æ hipóteses. Koyré,
visivelmente convencido de que Newton seria incapaz de cometer um erro metodoló-
gico, tende a interpretar as suas obærvações indutivas mais radicais atribuindo-lhes
uma sigrrificação inócua ou restrita. As mais recentes tentativæ de exame dæ suas ¡e
gulae são bem mais promissoras do que essas especulações sobre a atitude de Newton
com respeito às hipóteses, pois há nas regulae um sólido arcabougo filosófìco e, ao
mesmo tempo, material sufìciente para preenchê-lo com certo grau de segurança. A ter-
ceira regra, de partic'llar interesæ, foi investipda com grande proveito por Cohen 150,
Mandelbaum ¡sl e McGuire ls. Igualmente fascinantes são as relações entre a metodo-
logia de Newton e a sua ótica, de um lado, e o seu atomismo, de outro, explorados
com detalhes por Sabra ls3 e Mandelbaum lr, respectivamente.

As Teorias do Método no Sëanlo Dezoito

Comparado com os dois séculos entre os quais está situado, o século dezoito p€rma-
neoe como uma linha divisória na história da metodologia. Embora enriquecido de um
bom número de fìlósofos de primeira ordem, o Iluminismo não conseguiu produzir
uma só obra reconhecida como um clássico do método cientlfìco. Apesar disso, seria
um erro grave concluir que o século dezoito não oferece nenhum interesse do ponto
de vista medotológico. Na verdade, pretendo defender a idéia de que algumas obras
desse perfodo são extrema¡nente importantes, não tendo sido reconhecidas como os

lsCohen 1966. lsr


Mandelbaum 1964.
It M"Guir" 1967. Ver também Whewell 1860 e Butts 1969b.
¡s Sab¡a 196?. ls Mandelbaum 1964.

I
I
Teorias do Método Científico de Platõo a Mach 29

clássicos que efetivamente säo em grande parte porque os historiadores do método


raramente estudaram com cuidado o século dezoito.
É praticamente indubitável que um dos candidatos ao estatuto de clássico potencial
é o Futdcmentals of certitude (1720) de Bernard Nieuwentijt, uma promissora explo-
ração das questões referentes às pretensões da ciência à verdade e à aplicabilidade da
matemática aos fenômenos naturais. Pelo que sei, o único estudo da obra de Nieuwen-
tijt se encontra na rápida exposição biográfica escrita em holandês por vandevelde rss.
Outro candidato, ainda mais evidente, é L'art d'obsertter (1772) de Jean Senebier. Es-
crito originalmente em resposta a um concurso patrocinado em 1768 pela Société
Hollandaise des Sciences de Haarlem que tinha por objeto a pergunta: "O que se exige
na arte da observação [da natureza]?", a obra em dois volumes de senebier abrange um
væto campo de questões metodológicas: a natureza da experimentação, as relações
entre teoria e observação, a indução, as hipóteses, a explicação, e assim por diante.
Uma edição em três volumes, com várias revisões, foi publicada em 1802sob otltulo
de ãssøi vr I'art d'observer e de faire des expériences. Embora impressionado pelos
argumentoq dos seus contemporâneos de tendéncias indutivistas, Senebier insiste na
idéia de que as hipóteses têm um papel importante a desempenhar no processo de
construção e de testagem das teoriæ. Os livros de Senebier foram raramente assinala-
dos pelos historiadores do método e menos ainda examinados em profundidade rsó
Um terceiro metodólogo do século dezoito extremamente interessante (mas tratado
com igual descaso) foi Johann Lambert; suæ principais an¿ílises da fìlosofia da ciência
se encontram nas suÍls obras intituladas Nanes organon (1764), Anlage zur Architek-
tonik (1771) e Logische und phibsophische Abla ndlungen (1782).
Sob vários aspectos, o seculo dezoito foi uma época de consolidação e de unifica-
ção. Durante todo o perlodo, o ponto de vista baconiano-newtoniano foi debatido, de-
fendido e, flrnalmente, admitido praticamente sem restrições, tanto pelos cientistas
como pelos filósofos. As regulae e o Escólio Geral de Newton, juntamente com os
ldolos e aforismas de Bacon, tornaram-se os textos básicos para os rnetoclólogos do
Iluminismo que tentavam explicar e elaborar a filosofìa indutiva e antihipotética que
se associava aos nomes de Bacon e Newton 1s7. É muito diferente encontrar essæ dis-
cussões nos prefácios de orientação metodológica que aparecem em tantos textos cien-
tlfìcos da época. Na euforia que se æguiu à exitosa sfntese da mecânica e da astrono-
mia realizada por Newton, os fìlósofos naturais concluiam prontamente que a verdadei-
ra chave para os ægredos da natureza, assim como instrumento para distinguir a verda-
de do eno, residia no indutivismo tão vigorosamente expresso nas quatro regtlae de
Newton. É possfvel documentar, praticamente desde o primeiro surgimento dessas re-
ls Vandevelde L926.Ye¡ também Beth 1950, pp. 35-37.
rs Ver Pilet 1962.,
ts'l
mportantes que existem entre a indução baconiana e
as opiniões dos dois autores tenham sião confundidas
Pemberton ,1728, foi talvez o primeiro autor de in-
3O LøurensLaudan

gras, a pressa dos flsicos e outros cientistas naturais em tomarem o primeiro vagâ'o in-
ãutivista. Quase todos os principais trabalhos ingleses e a maioria dos de outros pafses
sobre a fìlosolta natural que zurgiram no perfodo que vai mais ou menosde 1715 em
diante, se referem às regulae, acentuando que uma ciência purifÌcada de todas as hipó'
teses é o ideal a que todos devem aspirar. As quest@s metodológicas passaram a ær mi'
nuciosamente examinadas nas obras de 's Gravesande, Voltaire, Musschenbroek, Pem-
¡sE. Essas análises resultam,
berton, Martin, Maclaurin, Desagulien e muitos outros
com rarfssimæ exceções, no elogio da ciência experimental e indutiva e em copiosos
insultos aos 'construtores de sistemæ'e fazedores de hipóteses'
Em geral, essas discussões, que muitas vezes nada mais são do que simples paráfrases
do Novum organum ou dasregulae, contêm pouqulssimo material que surpreenda pela
originalidade ou pela perspicácia. Consideradas em conjunto, entretanto, constituem
um sigrificativo sintoma de quão radicalmente mudará, desde a época de Descartes,
Boyle e Hooke, a concepção do cientista acerca da sua disciplina -
tanto em relação
aos seus objetivos como em relação aos seus métodos. Uma observaçãÕ de Benjamin
Martin cancleÅza vivamente a atitude dominante :

os Filósofos da Época ptesente as têm las hipótesesl em vil Estima, difìcilmente


admitindo o Nome em seus Escritos; conside¡am indþo do nome de Filosofia tudo
o que repousa em mera Hipótese ou Conjetura;.construfram,então, métodos novos
tÐt
e mais eficientes püa as Investigpções filosóficas.

Independentemente dessas rápidas digressões metodológicas, algumas obras do sé'


culo dezoito foram consagradas precipuamente às questões do método cientffico. Uma
das primeiras fai a De compøando certo in physicis (1715), de Hermann Boerhaave,
cuja tese principal era oJre os primeiros princfpios da ciência não podem ser descober'
ræ. No
tos a prioìi, devendo, ão conlrário, ser derivados da evidência experimental
momento em que Boerhaave apresentava as doutrinas metodológicas inglesas aos seus
colegas franceses, alemÍies e holandeses, Berkeley procurava solapar o indutivismo ca-
racterístico de Newton, sugerindo que as moções fundamentais da flsica newtoniana
estavam longe de set as vetae c(usae que Newton pretendia serem. Na verdade, a insis'
tência de Berkeley em que muitos conceitos cientfficos nada mais são do que fìcções
heurfsticas, representa, provavelmente, a única opinião instrumentaü.sta sigrrifìcativa
no século dezoito 161 . Iæibniz também, embora seu interesæ primordial não fosse a
fìlosofia da ciência, dedicou algumas páginas à lógica da descoberta e ao método da

ls P.u um exarne de urn grande número desses prefácios, ver I. B. Cohen 1956.
ls B. M"ttin, P¿ ílosophical grømmør ('l.a ed., Londres 1769) p' f 9'
1@
Urn t"*u semelhante figura no Troité des premiè¡es vérités (L724) de Buffie¡.
lut
Pur" análises de diversos aspectos da filosofia da ciência de Berkeley, ver Hin¡ich 1950; Hunger-
mann 1960; Jessop 1953; lllyhill 1957; Popper 1953; Ritchie 1967 e \,lVhit¡ow 1953a e 1953b.
(ls2, 1.83, 208).
Teori¿s do Método Científíco de Plstõo a Mach 3l

hipótese 162.
David Hume, cujos Treatíse (1739) e Inquirl (1748) impuseram uma forma com-
pletamente nova às concepções de lei, causalidade e indução, foi talvez o pensador me-
- -
todológico mais original e certamente o mais influente a surgir na primeira metade
do século dezoito. Além das exposÍções sobre o seu p€nsamento que podem ser encon.
tradas em qualquer história da filosofìa, eu chamaria a atenção para o fato de que a
teoria de Hume sobre as leis foi examinada por Ruddick ¡63, enquanto Petrescu ¡fl e
l6s investigaram as relações
.Popkin entre Hume e Glanvill, tendo Papillon r6s a apresen-
tado um interessante argumento para considerar Hume como o fundador do positivismo.
Nã'o há dúvidas, porém, de que o exame mais intenso e demorado das questões me.
todológicas realizado durante a fuminismo está ligado aosphilosopheseàEncycbpé-
die (1751-1780). Entusiastas na aceitação da ffsica de Newton, mas relutando, a prin-
cfpio, em endossar a teoria do método que lhe estava assoçiada tuu, autores franceses
como Condillac, Condorcet, Diderot e D'Alembert escreveram longamente sobre a in-
dução, as hipóteses e as regras de experimenttgão 167 . Dente as principais obras a
esse respeito, encontramos o Traité des systèmes (1749\ de Condillac t6, os Pensées
sur l'interpfttation de Ia ruture (1754) de Diderot r6e, trabalho que revela forte incl!
nagão baconiana, os Éléments de philosoph¡'¿ de D'Alembert r?0 e apópnafincyclo-
pédie, que contém inúmeros artigos consagrados a questões de interesse metodológico
(como, por exemplo, 'hypothèse", "système" e o "discours préliminaire")I7l . A esse
respeito, há um longo ensaio sobre as hipóteses particularmente interessante, de auto-
ria de George læSage, escrito com a manifesta intenção de ser inclufdonaEncyclo-
pédie. Bmbora não tenha sido, fìnalmente, incluído nessa obra, foi publicado postuma-
mente por Prévost em l8M.

r@Sob.e
a metodologia cle Leibniz, ver Adam 1885;Cassirer 1902 e 1911;Coutu¡at 1901 ;Ehren-
berg 1845 e McRae 1957 e 1961.
16
Ruddi.k 1949. Ver tamþé¡n Lenz 1958; Ducasse 195lc;Greenberg 1955;Masaryk 1884;Richter
1893; Robinson 1968a e 1968b; Richa¡ds 1968 e Stove 1968. (7,104,L52,t95,202,217)
ra Pet¡escu 1911. 16
Popkin 1953.
l65a Papillon 1s68. (i46).
16 ce a sef
volume
destino

lû Puu um exame ext¡emamente interessante do desenvolvimento geral da metodologia francesa


na primeira metade do século dezoito, ve¡ Vartainian 1953. Ve¡ t-amtém Ma¡sak 1957 e 1959 e
Erhard 1963.
16
Ver especialmente o capítulo XII, intitulado: "Des hypothèæs", da obra de Condillac. A teoria
do método de Condillac é examinada por Pelikán 1937.
l@
Ver Dieckmann 1943; Luxembourg 1965; Va¡tanian 1953 e White 1963.
¡ÐSobr" a filosofia da ciéncia de D'Alembe¡t, ver Briggs. 1964;
Grimsley 1963 e Kunz 1907.Ve¡
também o Díscoun prëliminolre no Tla¡tê de dyumiqus l2.L ed,.,I796) de D'Alembert.
lã Ve¡ também Gitlispie 1959.
32 Lø¡ens Latútn

Na Inglaterra , a fìlosofia da natureza constituía, como na França, um centro de


lu, o filósofo escocês Thomas Reid foi
ativo interesse. Como mostrei em outro artigir
na
responsável, em grande parte, pela introdução das idéias metodológicas newtonianas
principal correnõ do pensamento fìlosófìco ingtês. Reid estava convencido da posibili'
ãade áe desenvolver a ciência (e a filosofìa) de maneira indutiva, sem reconer a nada
que fosse incerto ou hipotético. O trabalho de Reid consistiu, basicamente, em tom¿[
vi-
dlosofìcamente respeitáveis as teses metodológicæ que os cientistas newtonianos
nharn preconizandohâdécadas. A polêmica contra as hipóteses alcançou tanto sucesso

qrrr, pã, volta da segunda metade do século dezoito, poucos metodólogos ingleæs se
d'ispunham sequef a admitir a possibilidade de que as hþteæs pu¡lessem ter algum
valãr positivo na investigação científica. Ao que sei, Joseph Priestleylæ e David Har'
tley fóram os únicos opósilores ingleses de envergadura às posições estritamente indu-
tivistas. Os argumentojde Hartley em favor -d-e uma utilização cautelosa dos métodos
l?''
hipotéticos sãó particularmente interessantes
Autores médicos e biólogos também aderiram prontamente aos debates metodoló'
gicos da época l?s. Dentre esses, devemos
1?6,
Ànneìknst (1764) de Zimmermann as
sæuting inquiries into philosophy (1770) d
r?7 e o Inquíry into the state of medìcine, on
science de lihomme (l'l,78) de Barthez
the true princþtes of the indrtctive phitosophy (1781) de Jones. Embora se ocuPem
menos diretamente das questões de método na biologia, são igualmente interessantes
t70.
os escritos de Lineu sobre nomenclatura e classificação
No.último quartel do século dezoito, ocorreram dois acontecimentos de fundamen'
tal importância para a história subseqüente do método. O primeiro foi a formrfação
da filolofia crltica de Kant. Embora tratem do método cientffìco apenas incidental'
mente, a Oftíca da,razão pura de Kant, os se]gs holegOmerw e os Fundamentos meta'
da ciência' Verificou-æ
físicos da c.íêncía tem implicações mriltiplas para.a fìlosofia
rapidamente que a insistência de Iiant na presença de elementos ideiais no conheci
mãnto cientffico solapava apenpectiva indutivo-empfrica que dominara a metodologia

desde o inlcio do séct¡lo lD.


Teorias do Método Cientffico de Plotdo a Mach 33

Em parte ligado ao primeiro, o segundo episódio decisivo do fìnal do século dezoito


foi o debate sobre a questão de se a mecânica era uma ciência empírica ou a priori.
Com surpreendente unanimidade, a escola da mecánica racional (D'Alembert, Euler,
Laplace e outros) afirmava que as leis da estática e da dinâmica poderiam ser derivadas
de princlpios cuja verdade era evidente por si mesma. A disputa sobre essa questã'o
atingiu tal intensidade que a Academia Berlinense de Ciências patrocinou um concurso
para o qual se pediam ensaios sobre a questâ'o de saber se as leis da ¡necânica eram em-
píricas ou a priori. Inflamada pelos argumentos de Kant, essa controvérsia especffica
se prolongou pelo século dezenove adentro.

A Metodologia no Século Dezenove

Se o início do século dezenove assitiu à passagem da ciência das mãos dos amadores
para os profissionais, uma transformação de tipo semelhante também ocorria, embora
com ligeiro atraso, na filosofìa da ciência. Graçæ principalmente à obra de Comte e de
Whewell, assim como ao ca¡áter czda vez mais técnico da própria matéria, a filosofia
da ciência passou a ser uma disciplina autônoma no início do século dezenove. Prati-
camente pela primeira vez, livros inteiros, e não somente prefácios ou capftulos isola-
dos, foram consagrados exclusivamente ao tema. Ampère e Whewell chegaram até à
audácia de inclufrem a expressão 'fìlosofia da ciência'nos tftulos dos seus trabalhos.
Pela primeira vez, forarn criadas cadeiræ de história e de fìlosofìa da ciência nas univer-
sidades. Na realidade, de um ponto de vista quantitativo, e talvez qualitativo também,
somos obrigados a falar da ocorrência de uma virtual revolução na disciplina entre
1800 e 1900.
A realização isolada talvez mais importante do século passado foi a formulação,
por Auguste Comte, dos princlpios básicos do 'positivismo', doutrina que se revelou
responsável, de um modo ou de outro, por vários dos mais importantes desenvolvimen-
tos ulteriores na teoria do método cientlfico. Especialmente no segundo volume do seu
Cours de philosophie positive, Comte adotou uma fìlosofia da ciência que, não obstan-
te todos os s€us defeitos e limitações, fornecia uma exposição convincente dos objeti-
vos, métodos, estrutura e limitações da ciência. Inspirando-se nos analistas franceses
(Fourier t* e- particular) e nas obras de Newton e de Ampère, Comte afirmava que a
ciência deveria ocupar-se exclusivamente com a descoberta de leis descritivæ dos fenô-
menos, devendo, ao mesmo tempo, renunciar prudentemente a qualquer tentativa de
descrever causas eficientes ou "modos de produçâ'o". Ii bem verdade, é claro, que o
Cours ofercce pouco mais do que um esboço de como seria essa ciência fenomenalfsti-
ca; no entanto, embora Sejam por vezes vagos, é inegável que os seus argumentos exer-
ceram um produndo efeito tanto nos positivistas ortodoxos que seguiram Comte como

Ver especialtnglt^"^9 Discou¡s préliminøire que introduz ao liv¡o de Fou¡ie¡ Théorie analytique
de lo ch¿leu¡ (1822).
34 Laurens Løudan

em autores como Whewell e Apelt que consagrüam muito do seu tempo a uma refuta'
l8t . Curiosamente, o Ctturs de Comte
ção quæe sistemática dæ doutrinas de Comte
jarnais foi traduzido para o inglês e a versÍio resumida da obra que Martineau realizou
é insatisfatória, ao mesmo tempo porque distorce às vezes o que Comte pretendia di-
zer e, o que talvez seja ainda mais grave, porque simplifìca em exc€sso os argumentos
lEz,
do autor. As teses gerais de Comte sobre o método foram exanúnadas por Cha¡lton
Ducassé le , Dupuy
tu, Gräber 18s,
Uvy-Bruhl le e outros
187.
Os desenvolvimentos
lE8, Chatlton l8e,
posteriores do fositivismo francês foram estudados por cleBrogtie
buboul rm, Fouillée rer
, Frankel
1e2
e Simon
1t3. Alek'Kowalski lq escrev€u um inte-
ressante'estudo sobre o desenvolvirnento do positivismo na Polônia durante o séctrlo
dezenove. Existem também vários estudos tendo por objeto aspectos especfficos da
les e as relações
tradição comteana, tais como a sua influência em Claude Bernard
1e6.
entre Kant, Hume e Comte Mesmo assim, é relativamente reduzido o número de
ætudos sobre as origens pré-comteanas do positivismo, a despeito do fato de que æ
opiniões de cientistas como D'Alernbert, l,azare Carnot e Biot exibem notáveis seme'
re7
lhançæ com algumas teses expressas no Cours .

Compatriota de Comte, André-Marie Ampère preocupava-se também com proble'


mæ relativos ao método e à classihcaçã'o cientlhcos, aos quais dedicou algumas páginas
do seu Essøi sur ta philosophie des sciences (1834). A argumentaçio e úé, o tftulo da
sua contribuição clássica à eletrodinâmica: Théorie mathémotique des phénomènes
électrodirumiques uniquement déduite de I'expérience (1824), exemplificaram clara-
mente o comprometimento de Ampère com a filosofìa indutivista.
Enquanto se assentavam as fundações do positivisrno na França, o inrJutivocmpiri-
cismo inglês começava a emergir da letargia em que cafra desde a época de Reid. Na
verdade, nÍio seria grande exagero dizer que os anos quevão de7829,maisoumenos,
até 1M3 foram os mais produtivos na história do pensamento inglês sobre o método.
Em 1829, John Herschel publicou o seu famoso helimirwry discourse on the study
r'r
: é"Jl'î ?J"ï
im-
; Í;J:
le Cha¡lton 1959. lB Ducassé 1937, 1939 e 1939b. ls Dupuy 1911.
ls Gtäb"r 1889 e 1893. leLévy-Bruhl 1900.
lsTPara outros estudos das teses de Comte, ve¡ Boutroux 1902; Bratuscheck l8?5; Campanale
1960; Deherme 1909; Devolvé 1932; e 1938; Huet 1866; Lewes
1853; Lins I957;Littté 1845 e 1866 tambóm Aliotta 1954; Biro
1968; Costa 1957; Ha¡ris 1923;Labb 4,43,65,72,13,100,124).

de Broglie 1881.
ls charlton 1959. ls Duboul 1867.
lel Fouillée 1896. le Frankel 1950. te3
simon 1963.
19
Alek-Kowalski 1966. les
Ve¡ Cha¡lton 1959 e Hilliman<i 1914.
rsVe¡Kaminski 1965;Papillon 1868 eR. Zimmermann 18?4.
l9Podr-r" encontra¡ em Misch 1901, uma investigaçâo muito interessa¡rte sobre ospredecessores
de Comte (em particular D'Alembert eTwgot)'
Teorins do Método Científtco de Platão a Msch 35

of natural philosophy le8, obra à qual, segundo eles próprios, Whewell e Mill cleviarn
muito. No Discourse, Henchel formulou o que viria a cer conheciclo mais tarde como
os 'canônes da indução de Mill' (na verdade, ele os fornrulou bem mais claramente do
que Mill o faria posteriormente), examinando longamente, também, certas questões
sobre a causalidade, a indução e æ hipóteses. Embora Minto se deixasse provavelntente
levar pelo entusiæmo quanclo afìrmava quie o Discourse de Herschell foi "a prirneira
tentativa feita por um eminente homem de ciência de torna¡ expllcitos os métodos da
ciência" lee, é incontestável que Herschel deu uma das noláveis contribuições à tradi-
çã'o indutiva, que conta Bacon, Newton, Hume e Mill entre os seus representantes
ilus-
2m e os
tres. O Discourse de Herschel foi detalhadamente examinado por Ducasse
2o1 e de Cannon 202 acrescentam úteis esclarecimentos äs con-
escritos de læuckfeld
clusões de Ducasse.
Dez anos antes da publicaçÍio do Discourse, surgiu o volume póstumo de Brown, as
Lectures on the philosophy of the human m¿nd. Nessa obra, que representa, sob vários
aspectos, uma elaboração de temas que se encontram no seu livro anterior,Iruquiry
into the relation of cause and effect (1818), llrown rompe cçm a tradição inglesa do-
minante de recus¿r todas as hipóteses, sustentando que os mótodos hipotéticos e o
racioclnio analégico constituem técnicas importantes à disposição do cientista, que
deve utilizá-las sem hesitação '03. Também foram importantes os Elements of the
philasophy of the human mind de Dugald Stewart, cujo segurrdo volume é em grande
parte consagrado a questões metodológicæ.
Embora adotada por razões bem divenas, a doutrina de Brown constituiu t¡m dos
pilares da fìlosofìa da ciência de William Whewell, que, dtuante mais de três décadas,
publicou abundantemente sobre a lógica da ciência. O seu brilhante trabalho Philoso-
phy oÍ the inductive sciences (cuja primeira edição data de 1840) foi apenas a primei-
ra investida de um constíurte ataque à perspectiva indutiva estreita que dominava, até
a época de lVhewell, grande parte da filosgha da ciência. Nas suæ obræ O/ inducfion
(1S49) e On the philosophy of discovery (1860), Whewell continuou a criticar incisi-
vamente a doutrina segundo a qual a ciência consiste na observaçâ'cr passiva cla nature-
za. Inspirando-se largamente em Kant, Iilhewell percebeu claramente a extensã'o em
que a análise k¡ntiana da percepçäo e da cogriçâ'o tornava insustentiíveis as teorias
antefiores da indução e do método cientlfìco. Blanché
2fi e Marcucci 2os escreveram
os principais estudos sobre a obra de Whewell. Nos últiuros atros, verificou-se urn re-
nascimento dos estudos especializados sobre esse autor e um grande uúmero de im-

r% foi
O Discoun¿ de Herschel ¡simp¡ss.5s ¡ecentemente (1966), acompanltaclo de uma inte¡es-
sante introdução feita por Parûidge.

W. Mitrto,ogic, induc tiv e and deduc tìv e (N. Y. 1 904, p' 257 ).
¿
Ð tÞca$se 1942.
æl Leuckfeld 189?. u Cannon 1961.
æ
203
sobré Brown, ver Réthoré 1893. (187). Blanché 1935.
ru
Ma¡cucci 1963.
I

36 Laurenslaudan

portantes estudos exegéticos e críticos foram consagrados a vários aspectos da sua filo-
sofia da ciência 2ffi.
É, impossfvel mencionar Whewell sem pensar imediatamente em Mill, pois a sua con-
trovérsia sobre ¿ indução e as verdades necessárias constitui um dos debates mais fæ-
cinantes na história do método cientlfico. Mill era, de maneira geral, urn indutivista
um tanto ortodoxo, que via a ciência como a generalização da observação, sustentando
que todas as idéias científicas (inclusive æ da matemática) provêm diretamente da ex-
periência. Mill nã'o podia concordar com Whewell (e Kant) em que as teorias cientlfìcas
possuem, ao mesmo tempo, uma universalidade e uma necessidade que a experiência.
jamais poderia justificar por si só, O que Whewell dizia acerca da explicaçâ'o dos fatos e
da união d<¡s conceitos era, na opinião de Mill, mal concebido e, ao mesmo ternpo,
errôneo quando aplicado da maneira como o fazia Whervell. Os artigos de Strong 20? e
Walsh 208 ronstituem talvez as melhores exposições dessa controvérsia especffìca.
O System of logic (1843) de Mill pretendia ser, é claro, muito mais do que uma crf-
tica das inclinações kantianas de Whewell. Nessa obra, Mill pretenclia formular os pa-
drões formais a que deveriam obedecer tanto o raciocfnio indutivo quanto o dedutivo.
A julgar pelas reccpções que mereceu na época, a obra tomou-se imediatamente um
clássico, passando a ser utilizada como texto nas universidades inglesas até quase o
final do #culo. Aliás, mesmo no nosso século Mill foi algumas vezes chamado de "o
pai da indução" e o seu System of logic considerado como um liwo que "rnarcou épo-
c^" 2Ú . O System de Mill foi examinado por Crawford 210, Jacfrson 2tt ,Kubitz2t2 e
Munson 213,
Embora o pensamento metodológico inglês 2ra nos meados do século estivesse indu-
bitavelmente domin¿do por Whewell e Mill, viírias fìguras menores escreviam na época
sobre questões de metodologia. Entre esses podemos citar H. L. Mansel (Prolegomena.
logica, 1851), Baden Powell 2rs (EssaTs on the spät of the inductive philosophy,
1855), Bailey (Essays on the persuit of truth, 1959), Stuart (A chapter of science: or,
what ìs a law of nnflre?,1868), Finch (On the inductive philosophy, 1872). e J.
Macquorn Rankine ("Outlines of the science of energetics", 1855). O ensaio de Ranki-
õVerButts1965a,1965b,1967,l969ae1969b;Ducasse195lb;Heathcote1953e1954;Leuck-
feld 1897; Pearl 1966; Seward 1938; Stoll 1929 e Walsh 1962a e 1962b. A ediçiio crítica das
obras de Whewell, atualmente em curso sob a direção de Buchdahl e de Laudan, apresenta certo
inte¡esse a ese respeito. (125, L37).
M Strong 1955. ru Wulrh 7962a.Yer também Hutton 1850. (34).
æWestarvay 1919,p.176. 2loCrawford 1913. 21t
Jackson 1941.

2t3
'12 Kubit" 1931.

¿î'iÎä"1i*f,!îïH
2r4 as de meaclos do século
215
P"¡u um rápido exame das teses de Powell, ver Knight 1968,
Teorias do Mëtodo Cientiftco de Platõo ø Mach 37

ne, extremamente interessante e que parece ter influenciado a formaçâ'o da teoria da


ciência de Duhem, constitui um dos raros trabalhos instrumentalistas da filosofìa ingle-
sa da ciência. Rankine distinguia entre, de um lado, o "método hipotético", que con-
siste em postular a existência do que hoje chamarfamos de constructos hipotéticos, e,
de outro lado, o "método abstrativo", que trata exclusivamente com entidades "dadas
pela observaçrott 2t6. Outras importantes manifestações inglesas durante esse perlodo
foram o exÍrme do papel dos modelos e analogias na ffsica matemática realizado por
Clerk Maxwell 2r1 e a an¿ilise de certas questões da filosofia da ciência efetuada por
218.
Fara<lay
Como na Inglaterra e na França, a investigação metodológica também floresceu na
Alemanha e na .Áustria durante todo o século dezenove. Embora o último quartel do
século (que viu o surgimento da obra de Avenarius, Boltzmann, Lotze, Mach e Wundt)
seja provavelmente mais bem conhecido, muitos trabalhos importantes foram publica-
dos antes desse período. Os principais foram aTheorie der Incluktion (1854) de Ernst
Apelt, a Wissenschaftstehre (1837) de Bolzano e o polêmico livro de Liebig, Über Ffan-
cis Bøcon von Verulam und seine Methode der Naturforschung (1863)' O livro de
Apelt apresentava uma perspectiva basicamente kantiana, sofrendo forte influência de
Whewell 2le. O trabalho de Liebig, por outro lado, oferecia uma crftica incisiva do
indutivismo baconiano, sustentando convincentemente que nenhum cientista jamais
havia seguido ou jamais poderia seguir os métodos desc¡itos no Novum organwn. O
ataque de Liebig, que foi o primeiro empreendido por um cientista eminente a repu'
diar tiÍo radicalmente o indutivismo, ajudou a liquidar uma versão da teoria inclutiva
que prosperara por bem mais de dois séculos. Até o surgimento da obra de Whewell
e Liebig, o método indutivo era concebido fundamentalmente colno um má-todo de
descobertø e não como um método de prova ou confìrmação. Nos escritos de Bacon,
Newton, Herschel e Mill (para citar apenas alguns nomes), a indução é tratada como
22o
uma técnica para produzir leis e teo¡ias ou corno uma máquina para descobrir causas .

Argumentando que a descoberta não se submetia a absolutamente nenhuma regra e


menos ainda as do método indutivo, Liebig tornou explfcito algo de que muitos cientis-
tas já suspeitavam há muito ternpo: a saber, a impossibilidade de criar uma lógica da
descoberta à prova de erros. Depois de Liebig, os indutivistas passa¡am a adotar uma
postura mais modesta, que ainda é geralmente aceita pelos teóricos indutivistas con-
temporâneos. Admitindo a inexistência de regræ mecânicas para a construçâ'o de teo-
2'6
Pu^ uma discussão penetrante da metodologia de Rankine, vet Aim and structure af physícøl
2t1 theory" pp.52 segs., de Duhem, e Die Energetik, pp. 110 segs., de Helm.

iåï::"¡":f*it"^lÍîiîïi',åî1|T,':,'å,î'J,ii1î'ril:','"iir"î"iåf;#
6).
218
Ve¡ Buek l9l2 e wi[iams 1968. 2le
Ver Gresky 1936.
Ø Miil nte, uma lógica da descoberta com uma lógica da confirmaçdo. Assim,
ele "on
obse é "a operação que consiste em deseobrir e em ptovat proposições ge-
rais" (M .liwo 3, capítulo 2).
38 Lø¡ensLaud¿n

riæ, passaram a conceber a indução como um tipo de inferência e como uma teoria da
tógicø dt confirmação22r .

As contribuições de Lotze à filosofìa da ciência foram analisadæ por Self222.


Se a tendência na lnglaterra e na Alemanha distanciava-se do indutivismo, aproxi-
mando-se de uma variante do idealismo kantiano, a filosolïa francesa da ciéncia, ao
contrário, foi dominada, durante todo o século dezenove, pela obra de Comte e pelo
tipo peculiar de indutivismo que o positivismo representava. É incontestável que a
mais célebre obra ¡netodológica francesa desse perfodo foialnfivductionàI'éudede
la médicine expérimentale (1865) de Claude Bernard. Bemard acreditava que a sua
grande descoberta metodológica fora o papel indispen$vel que as idéias preconcebidas
desempenham na direção da pesquisa cientlfìca. Embora Bemard não tenha descober-
to a noção, a sua análise da questão apresenta o encanto e a utilizagäo eficiente de
exemplos cientffìcos que dela fiznrum um clássico na história da metodologi^'"t .
Não obstante a sua importância, a Introduction dificilmente merece a qualificação de
Iæclercq como "la bibie de la méthode expérimentale" 2u ,
No caso de inúmeros outros metodólogos do século dezenove, a influência de Com-
te era ainda maior e mais expllcita do que em Bernard. Na verdade, o positivismo pa-
fece ter provocado um grande número de debates acerca da natureza do método cien-
tffico e dos fundamentos das classifìcações cientfficas. Dentre os trabalhos desse pe-
rlodo que apresentam algum interesse, é necess:írio menciona¡ pelo menos os seguin-
tes: Traité de logique, ou essai wr la théorie des sciences (lU4) de Duval-Jouve,
Esvi wr la méthode de vérificatíon seientifique (l8y'.6) de Golfin, Essui sur les fon-
dements de nos conruissances (l 851) de Cournot 22s . Esvi sur Ia mëthode de Bacon
(1855) de Biéch1', Trøité de I'enchtînement des idëes fondamentales (1861) de
Cournot, Lettres adressées à M. Ville¡ruin, sur Id méthode en général et sur défìnition
du mot "fait" (1856) de Chevreul, Des mëthodes dans les sciences de ruisonnement
(1865) de Duhamel, Utimum organum (1865) de Strada, Introduction à lhistoire
des con¡uissnces chimiques (1866) de Chevreul, Le positivisme, v mëthode (1867)
z¿t

2 s.lf 19s1.
za^Para um 1945;
- Halpern 1944;
Cha¡lton d, ver
Pilet 196 1914.
(98, 118)
xA ao afirma¡ qrie a Introduction de
i:Tiï;';"lr:;iïlì,i"y";r¿
ert.
* q9Þr. Coumot, ver ÌIarpe 1936 e 1938; Fedi 1934; Ruddick 1940; Bottinelli 1913; Milhaud
1927 e o estudo clássico þublicado por Mèntré em I 908. (9, 57, I33, 149, f 5 3).
Teor'øs do Método Cientlfîco de Plattío ø Mach 39

de Duboul, Lrnduction (1869) de Biéchy, De la mêthode a posteriort expérimentøle


(1870) de cheweul, De Ia contingence des lois de la noture (1874) de Boutroux,De /ø
métlode scientiftque (1875) de Doublet, Classificøtion des sciences (1876) de Dela-
vaud, La logique de lhypothèse (l 880) de Naville, de sur dtvers points de Iz phito-
^Ertz
sophie des sciences (1880) de Boussinesq, Le positivisme et b science expërimentøle
(1881) de deBroglie, 882) de Bordeau, LIdée
(1894) de Boiroc, De (1895) de Boutroux, Za
(1896) de Fenière e tíon des sciences (1898)
Dentre esses, os trabalhos de chevreul, Navilie, Boutroux e cournot merecem
alguns comentários. O estudo de Naville sobre a lógica das hipóteses é um exame extre-
mamente arguto do método hipotéticodedutivo, abrangendo uma interessante expo-
slção do que hoje chamarfamos de a pragmática do teste de teorias. A sua obra enve-
lheceu muito pouco e seria uma leitura instrutiva para muitos hipotético"dedutivistas
contemporâneos.
Os escritos de Chevreul possuem, sem dúvida, um alcance mais amplo, mas, na mi-
nha opiniíio, foram as suas cartas a villemain que lhe permitiram explorar com o má-
ximo proveito a sua formação cientffica. Por outro lado, os estudos de Boutroux ofe-
reoem uma elucidaçilo do conceito de lei que é, ao mesmo tempo, fìlosoficamente es-
timúante e esclarecida do ponto de vista histórico.
Nos trabalhos de Cournot, são particularmente interessantes as tentativas de aplicar
certas idéias a respeito do acæo e da espontaneidade que ele havia formulado nos seus
célebres estudos sobre econometria.
uma leitura mesmo superfìcial dessas obras, que é o máximo que fui capaz de fazer
até o momento, indica que os fìlésofos franceses da ciência do inlcio do século vinte
@uhem, Poincaré, Rey e Meyenon) näo estavam em absoluto desbravando terras to-
talmente novas. Há indlcios particularmente claros de que o 'convencionalismo' de
Duhem e de Poincaré foi fortemente influenciado pelo positivismo fraricês do final do
século dezenove.
Uma das maiores inovações na metodologia do século dezenove foi a introduçâ'o da
teoria da probabilidade na lógica da indução. Urna vez reconhecido que os problemas
mais interessantes da indução se referiam â confirmação dæ teoriæ e não à sua desco-
berta, os metodólogos se deram conta de que os progressos na teoria da probabilidade
poderiam ser explorados para objetivos metodológicos. os primeiros a propor esse
caminho f'oram, sem dúvida, Yewr (The logic of chance,l&íí;prìnciples of empiricøl
or inducttve logic, 1889) e Jevons (hínciples of science,l Sz4). Jevons, em particular,
parece ter produzido uma significativa modificação na concepçã'o de muitos problemas
da fìlosofìa da ciência. Embora a obra de Venn jamais tenha sido estudada com cui-
dado (o que significa, portanto, que necessariamente não passam de tentativas todas
ø Ver tambérn Caro 1866; Janet 1866 e- 187_3; Lia¡d 1873 e Litt¡é 1873. Sobre a teoria da hipó-
teF de Navfle, ver Varano 1931, Sob¡e Boutroux, ve¡ Crawfo¡d L924;La Fontaine 192ö e
Schyns 1924.
40 Laurens Ludan

as afìrmações de prioridade entre Jevons e Venn), seria provavelmente verdade dizer


que Írs pesquisas contemporâneas em teoria da confirmação têm o seu maior credor
em Jevons, que afirmava copsistir a essência da inferência indutiva na aplicação inversa
da teoria clíssica da probabilidade. Jevons foi também o primeiro a sugerir que o grau
de probabilidade é uma função da crença raciorwl e não da crença efetvaz27 -
Um americano contemporâneo de Jevons, Ctrarles Sanders Peirce, embora parti'
lhando alguns dos interesses do primeiro, propôs uma reforma ainda mais radical da
filosofìa da ciência 228. Embora Peirce tenha, aparentemente, exercido pouca influên-
cia sobre os seus contemporâneos, a publicação recente dos seus Collected papels mos'
tra claramente que ele foi um dos pensadores metodológicos mais originais do século
passado. É bem verdade que grande parte da obra de Peirce é fragmentária e æsistemá-
tica, mas os seus escritos sobre a indução, a abdução, a hipótese e a probabilidade sâ'o,
22e.
quase sempre, penetrantes e instrutivos
Corno sugeri na introdução a este artigo, o historiador do método não pode esque-
cer as ligaçiies existentes entre os desenvolvimentos cientlficos e as controvénias meta'
cientlficæ. Isso se manifesta com especial clarezano final do Sculo dezenove, quando

os próprios cientistas se mostravarn invulgarmente sensfveis a questões de método
A teoria da evoluçíÍo de Darwin, po te eo'
lógicas, como também debates meto e arn
os métodos do próprio Darwin, ao p es giu
entre os metodólogos profissionais frente às teorias darwi¡rianæ.
Mesmo obras de aparência francamente cientlfìca como os hinciples of chemistry
(1397) de Mendeleev 2il e os hinciples of scientific botønic (1849) de Schleiden
235

não deixam de ter interesse para o historiador do método.


A preocupacão com tx¡ conceitos fundamentais da ciência física e com as suas impli-
27 cxame
Puu urn Madden
l960c.Podemos eaindu-
ção (inclusive a d
Ø V", .- especial o t¡abaiho de Peirce "A theory of probable inference", incluído em Sudíes
in logic'(1883), påra uma abordagem semelhante à de Jevons.

NP^tuuma interessante análise cle certas relações entre a física e a metodologia do século deze-
nove, ver L B. Cohen 1959.
ær
Crombie 1959c. Ð Feibleman 1959. Æ Ellegard 1956 e 1957.

s Ver Kultgen 1958 e Vucinich 1962.


Æ N.,rn longo prefácio a essa obra, Schleiden tenta reconciliar, de maneira lrm tanto eclética, as
teorias metodológicas de Bacon, Galileu e Kant.
Teorirc do Método CientiÍico de Platão a Mach 4l

cações filosóficas foi, talvez, o traço mais fieqüente na fìlosofìa da ciência do final do
século dezenove. Chauncey Wright sustentava que a ciência é metafìsicamente neutra,
no sentido de que os resultados cientfficos não podem nem confìrmar nem ¡efutar ne-
. No seu Der pft ilosophische Kritizismus (l 876), Riehl
23ó
nhum enunciado 'metaffsico'
examinou "do ponto de vista da filosofia crftica" a lleltbíld cientlfica do final do se-
culo dezenove. Concentrando.se mais especifìcamente nos problemas da física, Stallo
apresentou, no seu Concepß ønd theories of nødøn physìcs (1882) 23?, uma interpre'
tação instrumentalista brilhante, embora controvertida, dos conceitos cientffìcos. A
obìa popular de Clifford, Common sense of the exøct sciences (1385)'s' alcançou,
no entanto, influência muito maior, tendo sido recentemente examinada em detalhes
por Smokler 23e . Nessa época, Friedrich Engels já havia concluíd o o seu Anti'Dùhring
já existia pelo menos em forma de esboço
.(l S78) e a sva Dfulétiu da tuturezø também
40. Gore publicara a sua Art of scientific díscovery (1878) e discutia-se amplamente
a Classification of the sciences (1864) de Spencer. E era ainda mais larga a influência
da Logik der exakten füissenschaften (1883) de Wundt. Entre as obras menores publi'
t
cadas nesse perlodo, poderfamos mencionar Über díe Grp.nzen des Naturerkennens
(18'72) de DuBois-Reymond, a Zur Lehre von der Hypothesenbildung (1896) de Hille'
brand, a Philosophie der Naturwissenschaft (1882) de Schultze e a Erlcenntnistheore'
tische Logik (l 878) de Schuppe.
Passemos, finalmente, a um rápido exÍrme da obra de Mach, com quem a filosofia
contemporânea acusa uma daS suas maiores dívidas. Independentemente da sua doutri-
na sensacionalista, Mach é lembrado por um grande número de noções metodológicas
de extraordinária importância. A sua crltica do espaço e do movimento absolutos, a
sua ônf,æe na 'economia de pensamento'como a força que impulsiona o teórico e o
na investigação cientffìca, re-
encontrar em Thiele 241 uma
a de Weinber1*' u melhor

&Puru apreciacões acerca das Philosophical discussions (187?) de Wright e da teoria dométodo
que es-saobrá contém, ver Madden l-953, 1956 e 1963 e Wienet 1945'
æ?
Ver também o habalho anterior e esquecido de Stallo, General principles of the philosophy of
rutute (1848\. Para um rápido exame da vida e obra de Stallo, ver Easton 1966. Ver também
Kleinpeter l90l e Drake 1959.
B Ver também as Lectures and æsøys (1901) de Ctifford. (88). 2æ
Smokler 1958.
mVer Hook 1955 e \ilalter 1948. Pa¡a um exame de aþns debates iomunistas sob¡e ométodo,
que tiveram lugar pouco depois, ver Emery 1935.
ãl J. Thi"lr 1963.
42 LaurensLøudan

Conchtsio
2s5 do nosso panorarna da
Chegamos æsim ao infcio do nosso séct¡lo e ao término
sinóptica a uma
história das teorias do método cientffìco. Acrescentæ uma conclusão
alterar a natureza mesma do trabalho. Aliás, um dos
resenha deste tipo equivaleria a
justamente, a riqueza e a eomplexidade do desenvolvimento
temas deste ætigo fo1,
histórico do pensamenå metotlológico, riqueza e complexidade esæ
que desafiam
O defeito de um estudo deste gênero está em que' em'
resumos fáceis ou superfìciais.
bora constitua uma sólida argumentação em favor de um estudo crftico e sofìsticado
próprio se encontra muito longe da crltica ou da sofìstica-
rla história do método, ele
A vætidão ãa iarefa que impus a mim mesmo exclui a profrrndidade
ção desejáveis.
e tenho plena consciência de que é diffcil encontrar uma só sentença no Panorama
apresentaão que não exija sériis qualifìcações ou esclarecimentos'
Ainda assim, seu
æ inúmeros erros e as desmesuradæ simplificações que
objetivo tení sido alcançãdo os
cr¡idado'
o trabalho contém intluzirem algum leitor a estudar a questão com maior

* 1955. H Ve¡ Wasær 1951 e 1956.


Riddl" 1958. Ver rambém Nalletamby
tr Ver Broda 1955 e Dugæ 1959.
ãs Ver Ewald 1904 e N. Smith 1902.
,? Ver Moese 1965 . Æ Ver Bergnrann 1945 ãe Ve¡ Wilkie 1956
' '
F Ver Cassi¡er 1920.
ã1 Ver Lenzen 1947, Kahn 1951, Königsberger 1856 e Schwertschlager 1883.
æ Ver Eisen 1964.
E Ve¡ Mittasch 1940, Riehl 1900 e Schimank 1965'
H (r).

que esrhaëcem raPidamente.

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