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DA FÍSICA MODERNA
II volume
SOBRE A CONSTITIJIÇÃO
DE ATOMOS E MOLÉCULAS
NIELS BOHR
Prefácio de
J. L. RODRIGUES MARTINS
Tradução de
EGfDIO NAMORADO
2. 4 edição
[7]
História da Ciência com o processo histórico da humanização
da Natureza, com a própria História da Consciência, procuram
integrar o pensamento científico no espaço-tempo global da
Cultura humana em que o mesmo se insere e se desenvolve e
afirmam, portanto,. que um autêntico cientista não pode, em
verdade, reinvindicar para si um perfeito e completo domínio
da Ciência que cultiva se não possuir, ao mesmo tempo, um
conhecimento igualmente completo e perfeito da evolução his-
tórica dessa mesma Ciência, até ao seu estado actual, como há
mais de meio século vem ensinando o grande historiador
George Sarton, na sua luta esforçada mas inglória contra a
fatalidade dessa miopia epistemológica de que adoece a maio-
ria dos investigadores e especialistas contemporâneos. E os que,
pelo contrário, asseguram que tais especialistas e investigadores
não podem, de certo, ultrapassar o condicionalismo que lhes é
imposto na impiedosa luta da emulação e de competição em
que estão empenhados no campo da actividade científica, e,
por isso, para assegurarem a viabilidade da conquista de direi-
tos de prioridade e de descoberta, são forçados a uma prepa-
ração intensiva, orientada exclusivamente para as exigências
imediatas dos problemas propostos, na investigação tecnológica -
ou na investigação fundamental, o que lhes não deixa qualquer
disponibilidade de tempo livre para, «mesmo de modo passa-
geiro, se poderem afastar das fecundas actividades em que
trabalham, para se dedicarem à consulta de velhas memórias
Científicas», como, melancolicamente, reconheceu o eminente
b'iologista francês Jean Rostand, no magistral discurso de
abertura ao último Congresso Internacional de História da
Ciência.
Ora, dada a diversidade, o significado e o alcance das
opções em jogo, e que para maior realce foram aqui incisiva-
mente vincadas, todos estes debates assumem tlma importância
fundamental para a caracterização e a diagnose da fenomeno-
[ 8]
logia cultural do mundo de hoje e para a dilucidação da com-
plexa problemática das crises que dilaceram a consciência do
homem contemporâneo: crise de Cultura, crise de Religião,
crise de Ciência e crise de Instituições.
Mas, não cabe, de certo, nos limites de espaço que nos
impusemos, mas talvez se enquadrasse nas intenções pedagó-
gicas deste Prefácio, aquela meditação tranquila, longa e inte-
ressada, dinamizada pelas lições de uma autêntica História da
Ciência, e que permitiria com toda a segurança, fundamentar
a conclusão optimista de que tod~s estas crises representam
apenas mais uma, e talvez a última, gestação dolorosa, demo-
rada mas fecunda, que prepara a conquista pela Ciência e pela
Consciência de uma etapa decisiva, na arrancada final para a
humanização definitiva do mundo físico e social, onde o
Homem terá de situar, no presente e no futuro, a sua vida e a
sua morte.
No entanto, neste sentido, talvez não seja de todo des-.
propositado colocar no pórtico de uma colecção de «Tex-
tos Clássicos» que a Fundação Calouste Gulbenkian tão
criteriosamente inseriu no seu Plano de Edições e que se
inicia no sector da História Física, com a publicação de
um dos seus mais admiráveis e representativos documentos,
talvez não seja, realmente, despropositado colocar aí umas
desambiciosas reflexões epistemológicas sobre a situação valo-
rativa e sobre o significado das «crises» da Física, sem
dúvida, a mais perfeita e exemplar de todas as Ciências
Exactas.
[91
Com efeito, os edifícios teóricos das diferentes Ciências
apresentam-se sempre para os epistemologistas e para os his-
toriadores do conhecimento, como realizações concretas e
exemplares do próprio pensamento, como produtos da Razão
humana, como se objectos fossem no sentido material do
termo (pensamento objectivado), e a eles se podem aplicar,
portanto, os princípios gerais da metodoloçia científica.
Deste modo, os quadros teoréticas da Ciência, para além
do seu valor instrumental e pragmático constituem, outrossim,
extraordinários documentos humanos cuja análise permite ava-
liar o verdadeiro alcance e o significado de todas as vicissitudes
da Razão e da Experiência Científica (Experiência Intelectual
e Experiência Instrumental), para a construção de um «mundo
representativo» que progressivamente vai vencendo as limita-
ções e «perturbações» do cmundo sensorial», se nos conti-
nuarmos a servir da expressiva discriminação metodológica
entre os três «Universos» de Planck, para atingir no cerne
do «mundo real», zonas da realidade- o plano quântico e
subquântico, o plano cósmico-, cada vez mais distantes da
região às dimensões do próprio homem.
Daqui, o natural interesse que as Ciências Exactas, e mais
particularmente a Física e a Matemática, as duas formas mais
elaboradas e paradigmáticas do pensamento científico, oferecem
aos estudiosos da problemática da História e da Epistemologia,
motivos de atracção e centros de interesse comuns aos grandes
mestres do pensamento contemporâneo, desde um Max Planck,
um Einstein, um Niels Bohr, um Luís de Broglie, um Max
Bom, um Heisenberg, um Schrõdinger, todos prémios Nobel
da Física, até um Bachelard, um Hartmann, um Whitehead,
um Meyerson, um W eizsãcker, um Brunschwicg, um Cassirer,
um Gonseth, um Sarton, um Ullmo, um Gusdorf, um Kouz-
netsov, etc.
[ 10]
Ocupa, na verdade, a Física no plano dos valores humanos
uma posição excepcional que transcende em muito o valor
utilitário e instrumental que todos lhes reconhecem, através
das mil e uma descobertas e realizações que tornam mais
cómodo e agradável o nosso viver quotidiano, no plano indivi-
dual e no plano social.
E para o demonstrar talvez valesse a pena demorarmos
um pouco a descrever o papel que a Física tem desempenhado
na história do pensamento humano, até mesmo como expoente
e como motor das grandes transformações e «mutações» sociais
do mundo moderno e contemporâneo, a ponto de se tomarem
algumas das suas grandes descobertas como decisivos marcos
de referência e de balizagem na cronologia da História da
Civilização, como a descoberta da máquina a vapor, que
marca o surto da primeira revolução industrial, a descoberta
dos geradores e motores.eléctricos, com que se inicia a segunda
revolução industrial, a descoberta do aproveitamento e do
contrôle da energia nuclear de onde arranca a terceira revolu-
ção industrial ainda a decorrer e, por último, a descoberta da
«automação» e da «cibernética» que está em vias de prOfJocar
a «mutação» para a mais científica das fases da nossa Civiliza-
ção Tecnocrática, essa tão promissora Civilização Prospectiva,
cujos delineamentos se desenham já nos horizontes do mo-
mento presente.
Mas para não nos alongarmos, limitemo-nos apenas, neste
sentido, a recordar ainda a grande revolução espiritual provo-
cad~ no Renascimento pelo surto da Ciência Moderna, revo-
lução autêntica porque se traduziu de facto numa viragem
radical do pensamento e da Cultura humana. E é, sem dúvida,
através do contraste flagrante e profundo entre as concepções
da Física de Aristóteles e de Galileu que melhor se documenta
esse momento único da história da nossa civilização.
[ 11 ]
Com efeito, à concepção estática e organicista da Física
Escolástica, que pressupunha uma ordem natural e pré-estabe-
lecida no mundo físico, vai opôr-se então a concepção dinâmica
e mecanicista de Galileu e de Newton; ao absolutismo do rea-
lismo sensista de Escolástica, todo impregnado de motivos
biológicos e animistas, inspirados nas nossas mais imediatas
vivências individuais e colectivas, vai contrapôr-se a distinção
fundamental entre os elementos objectivos (qualidades primei-
ras dos dados sensoriais) independentes da consciência humana,
e os elementos subjectivos (qualidades segundas), distinção já
introduzida pelos atomistas gregos e de tanta relevância na
teoria do conhecimento; contra as explicações teleológicas e
cosmogónicas da Física Escolástica, nasce e radica-se com a
Física N ewtoneana a ideia de lei natural, de estrutura fun-
cional e de causalidade; contra a esterilidade do racionalismo
estático, qualitativo, classificador da Escolástica, defende-se a
fecundidade do raciocínio matemático, geométrico, quantita-
tivo e determinista; à concepção fechada e dogmática de um
saber livresco contrapõe-se, confiadamente, a força vivificadora
da dúvida metódica e o ímpeto fecundante da experimentação
científica, a «mãe de toda a certeza» no dizer tão significativo
de Da Vinci. Por último e finalmente, a uma cosmovisão teo-
lógica, mística, pessimista de um universo físico e social,
comandado por uma ordenação definitiva e por um fatalismo
finalista, em que o homem viverá eternamente amarrado à sua
«posição natural», vai suceder-se sob o impulso da Física
Newtoneana, a claridade luminosa de um humanismo indi-
vidualista, dominado pelo signo da Razão e do Progresso, vai
suceder-se a concepção de um universo físico e social coman-
dado por uma legalidade imanente, acessível à razão humana,
e a partir de cujo conhecimento, a Ciência, o homem se pode
tornar «.dono e senhor da Natureza», no dizer altivo e orgu-
lhoso, mas tão admiràvelmente expressivo de Descartes.
[ 12 ]
Todos sabemos que, no decurso das três primeiras décadas
deste século, se deu uma profunda transformação nos quadros
teoréticas da Física Clássica, atingindo-se de tal forma os seus
fundamentos e a sua estrutura lógica e conceitua!, que pode,
sem exagero, afirmar-se que a Física de hoje é, radicalmente,
distinta daquela e não apenas o seu prolongamento a novos
domínios de experiência.
Com efeito, todas as noções fundamentais da Física Clás-
sica foram mais ou menos atingidas: a noção de determinismo
pelas relações de incerteza de Heisenberg; a noção de conti-
nuidade pela finitude dos «quanta» de energia e de acção; a
noção de objectividade e de observação, pelo princípio de
complementaridade de Bohr; as noções de onda e de corpús-
culo pela Mecânica Ondulatória; as noções independentes de
espaço, tempo e matéria pela síntese físico-geométrica de um
espaço-tempp com a teoria da Relatividade Geral de Einstein;
a noção de «campo» e de «partícula» com a Electrodinâmica
Quântica; as noções de energia, massa e tempo com a teoria
da Relatividade Restrita; as noções de «sistema», de «estado»
e de «legalidade» com a Mecânica Quântica; a noção de «indi-
vidualidade» com o postulado da indiscernibilidade de Lan-
gevin; a noção de «interacção» com a Mecânica Ondulatória
dos Sistemas; as próprias regras formais de raciocínio lógico,
com a introdução de lógicas polivalentes para a descrição coe-
rente do comportamento dos micro-objectos quânticos, etc.
Longa e delicada teria de ser a análise exigida para a
discussão completa da problemática criada por e~ta extraordi-
nári'a revolução da Física Teórica, da Física Experimental e
dos próprios fundamentos da Ciência; por isso, aqui deixamos
apenas algumas observações epistemológicas que se nos afi-
guram de maior interesse:
a) Bem ao invés de uma falência de conhecimento cien-
tífico esta «crise da Física» documenta de facto, um dos mais
[ 13 ]
válidos momentos da história do pensamen_to humano: o da
conquiSta pela Razão e pela Experiência de um nm•o plano da
Realidade, o plano do Microcosmos, aí onde teriam de se
revelar naturalmente inadequados conceitos e esquemas teóricos
como os da Física Clássica, forjados ao nível da nossa expe-
riência sensorial e percepcionai, condicionados por uma técnica
laboratorial que apenas atingia fenómenos à escala macros-
cópica, humana e astronómica, e dinamizados e estruttirados
por uma Razão Científica, mal depurada ainda da herança
dos -racionalismos românticos ou especulativos das diversas
«Filosofias da Natureza», e que, por isso mesmo, projecttlfJa,
indevida e metafisicamente, sobre a totalidade do cmundo
real», pressupostos de continuidade, 'de objectividade e de
causalidade, sem qualquer «confirmação externa. dentro da
terminologia de Einstein, para além do restrito campo de expe-
rimentação da Física Clássica,
b) À heterogeneidade do Universo, progressivamente evi-
denciada por uma tecnologia experimental e laboratorial (téc-
nicas de produção, aceleração e detecção de partículas; técnicas
de espectrometria óptica e quase óptica de rádioespectrometria
micro-hertzeana, de ressonância magnética e paramagnética,
etc.) cada vez mais afinada e penetrante, e cada vez mais bem
compreendida e melhor interpretada por uma Razão Experi-
mental (construtora de experiências, condicionada pela Expe-
riência) também cada vez mais penetrante e afinada, a essa
heterogeneidade teria de corresponder, necessàriamente, uma
correlativa pluralidade e diversidade de conceitos novos, nO"Dos
esquemas e nO"Das teorias, como tão bem o documenta a
História da Física contemp~Y~·ânea da primeira metade deste
século, com os conceitos de «qu,-.ntum» de energia (Planck,
~900) na teorização do radiamento do corpo negro e o de
«quantum» de luz (fotão) na ceoria do efeito fotoeléctrico
(Einstein 1905 ); com as noções de quantificação espacial
[ 14]
(quantificação da «.acção» ou do momento cinético) e de
cestacionaridade» ou de «.não emissividade» (estados esta-
cionários), introduzidas no modelo atómico de Bohr em 1913,
pedras fundamentais que permitiram erguer a cAntiga Teoria
dos Quanta» ( 1913-1925); com as noções relativistas de
espaço, tempo, massa, energia e de cronótopo quadrimensional
na teoria da Relatividade Restrita (Einstein 1905); com a sín-
tese físico-geométrica do campo de gravitação e do contínuo
quadrimensional espaço-tempo na Teoria da Gravitação Geral
(Einstein, 1913-1917, 1928); com a noção de «onda material»
e o postulado da «.dualidade onda-corpúsculo» para todos os
micro-objectos, que permitiram estruturar a «.Nova Mecânica
Quântica» (De Broglie -1925, Schrõdinger -1926, Heisen-
berg -1927, Max Born -1927 ); com a noção de «spin»
(Uhlenbeck e Goudsmith -1925) e a sua teorização (Pauli-
1927, Dirac - 1928); com as noções de «bosão» (Bose-
1924, Einstein -1925) e de «fermião» (Fermi -1925, Di-
rac -1925), nas Estatísticas Quânticas; com as noções de
«função de repartição» e de «número de ocupação», as no-
ções de «operadores de criação» e de «.destruição» na Teoria
da Superquantificação (Dirac, Fock -1927, Wigner e 7or-
dan -1928) de onde arranca a Electrodinâmica Quântica e
a moderna Teoria Quântica dos Campos (T omonaga -1946,
Schwinger-1948, Dyson-1949, Feynman-1950), etc.,
para apenas citarmos alguns dos momentos mais altos da
criação teorética no campo da Microfísica e da Teoria da
Relatividade.
c) No entanto, apesar dos iniludíveis progressos na ocupa-
ção e prospecção, pela Ciência e pela Epistemologia, de zonas
cada vez mais amplas e diferenciadas do «.mundo real» e do
«mundo representativo», subsistem ainda graves problemas,
principalmente no campo da «linguagem da Ciência» e, em
particular, 1zo campo da linguagem da Microfísica que con-
[ 15 ]
tinua a rttili::ar conceitos e esquemas teóric_os da Física Clássica
(corpúsculo, onda, espaço, tempo, energia, massa, etc.), dema-
siadamente sobrecarregados pelo conteúdo imagético que lhes
ficou das experiências macroscópicas em que foi forjada a sua
construção.
Daí, de certo, a evidente «irracionalidade», no sentido de
Meyerson, de uma transposição pura e simples desses mesmos
co1lceitos e esquemas teóricos para o campo da Microfísica, e
que só tem sido evitada por «escapatórias epistemológicas»,
mais ou menos engenhosas e subtis, mas sempre precárias,
como por exemplo o recurso ao Princípio da Complementari-
dade de Bohr, que racionaliza a utilização de conceitos
. clássicos conjugados, dentro do âmbito das relações de Incer-
teza, ao prescrever tão-somente a viabilidade da sua existên-
cia complementar e nunca simultânea, e, ao mesmo tempo, a
dogmática suspensão de qualquer juízo de existência, mesmo
referido apenas à simples presença potencial de tais conceitos,
fora dos instantes exactos das medições-observações, que os
especificam e determinam; ou, ainda, essa outra da identifi-
cação pura e simples da noção de corpúsculo com a de número
de ocupação, simples número aritmético, desprovido, portanto,
de todo e qualquer conteúdo cinético, dinâmico ou electro-
dinâmico, mantendo-se apenas o conceito de onda, integrado
no «universo quadridimensional» da Teoria da Superquantifi-
cação, como tão inteligentemente defende Costa de Beau-
regard.
Mas todos estes e outros «obstáculos epistemológicos»,
segundo a terminologia do racionalismo «polémico» de Bache-
lard, estão em vias de serem ultrapassados por força da activa
e fecunda cooperação internacional que se tem estado a assi-
nalar principalmente a partir dos anos sessenta, e através da
qual se abriu uma fase sadia, de profunda e frutuosa recons-
trução teorética, vencido que foi, finalmente, aquele período
[ 16]
que com tanta felicidade Einstein designava como o do «enge-
nheirar da Física>>, longo período (1925-1960) de simples e
afanosa procura de resultados, ajustados, a correr, apenas a
um domínio restrito de factos ( çà colle ... ), ao sabor de hipó-
teses inventadas ad-ho~, e que «morriam rà,flidamente, tais as
flores da primavera», como !iricalilente comenta lnfeld.
Por isso, se 11ão erramos l.'tuito, podemos confiadamente
assegurar que tudo se encaminha para uma próxima e profunda
revolução conceptual e teorética do «mundo representativo da
Microfísica, muito mais radical que a revolução dos anos vinte
e cinco, tão radical pelo menos e «tão louca» no típico dizer
de Bohr, como o foi a revolução prO'Oocada na Física Clássica
pela Teoria da Relatividade de Einstein, mas orientada tam-
bém pelas linhas de rumo de racionalidade e plenitude, abertas
e iluminadas pela genialidade dessa extraordinária figura de
Cientista e de Homem.
d) Nes(JJ.s condições, talvez nos seja legítimo concluir que
a «crise da Física>> apenas veio revelar o carácter histórico e
evolutivo dos próprios quadros racionais de pensamento cien-
tífico e comprO'Oar, no mesmo lance, a historicidade da Razão
e da Consciência, as quais deixam de ser, como postulava o
racionalismo clássico, um dom intemporal, absoluto, transcen-
dente ao condicionalismo físico, social e humano, deixam de
constituir uma dádiva que se recebe passivamente, para se
tornarem, afinal, o produto de uma atormentada e acidentada
conquista, mas em que a vitória é certa: a humanização do
Universo, no sentido da bela mensagem cartesiana.
E' assim, a História da Física e de uma maneira geral a
História da Ciência se vai confwzdindo admiràvelmente com
a história do próprio homem e das sociedades humanas.
[ 17 1
2
aspecto que em geral passa despercebido, _mas de grande inte-
resse e flagrante actualidade: o da criação de uma nO'Da cate-
goria profissional, autónoma e bem individualizada, a pro-
fissão de Físico que ocupa hoje uma posição cada vez mais
importante nos grandes centros de investigação fundamental
ou tecnológica das Universidades ou das grandes empresas
industriais.
Mas, dada a situação de pré-'Dalência da Física no campo
das Ciências e da Tecnologia, dada a sua importância decisiva
JtO campo do progresso técnico que tem sido a fo7tte 'Vitaliza-
[ 18]
estas trágicas legendas: «Ninguém vos pede que pensem; para
o fazer há pessoas que são expressamente pagas pela Direcção~.
[ 19 1
gue a um Físico. Portugal acompanha aqui e noutras realiza-
ções mais recentes, o movimento internac'ional de val01·ização
da Física e dos Físicas, tão bem expressos nestes dois teste-
munhos realmente significativos:
«Só agora ( 1957) principiamos a ter consciência nítida dos
enormes be11e{ícios que podem resultar do desenvolvimento
tecnológico das novas decobertas físicas. Pode até prever-se
que os Físicos figurarão entre as pessoas vitalmente mais im-
portantes das gerações mais próximas», escre1.:e o Físico bri-
tânico Norman Clark nesse curiosíssimo livro «Physics as a
Caret!r», onde se descrevem cm pormenOT as extraordinárias
possibilidades da carreit·a de Físico.
Por outro lado, o cientista norte-americano, Royal W eller,
nessa pequena mas lúcida enciclopédia da Física Moderna
que tem o expressivo título «Modern Plzysics for E11gineers»,
já antes (1954) escrevera no mesmo sentido:
«Em muitas organizações e instituições, quer govertzamen-
tais quer industriais, a relevância alcançada pela Física foi de
tal ímpeto que lançou para as posições cimeiras dessas orga-
nizações muitos Físicos como Directores dos programas téc-
nicos. E, de tal modo, que ainda hoje todos os licenciados em
Física continuam a ter as melhores perspectivas de empregos
ltlcrativos e imediatos, logo após a sua formatura, em mtlitas
organizações estaduais e industriais».
*
* *
Dois nomes dominam toda a história da Física Contempo-
rânea: Albert Einstein e Niels Bohr, dois símbolos admiráveis
da vocação racionalista e personalista do Homem, dois ex-
poentes magníficos da força criadora e da vitalidade do Pen-
samento, dois grandes cidadãos do Universo, tão iguais pela
[ 20 1
sua ânsia de Verdade e de Justiça e pela sua fé indomável na
defesa dos sagrados direitos da Consciência, mas tão profun-
damente diferenciados nas perspectivas epistemológicas enl que
desenvolveram a sua actividade científica: o génio espiritualista
e racionalista de Einstein pairou sempre no espaço luminoso
do ideal clássico dos grandes princípios e das grandes ideias
gerais, na ânsia insofrida de uma Cosmovisão racional s #nitá-
ria de toda a vária fenomenalidade do Universo; muito ao
invés, o génio realista, se não positivista, de Bohr, apontou
sempre mais, ou sobretudo, para essa fronteira estreita ·e fugi-
dia do desconhecido, ao nível do microcosmos, aí onde ai1lda
se acoitam insuspeitadas revelações e descobertas.
Por isso, aproveitando a lição de Sérgio a propósito dos
«dois Anteros», o luminoso e o nocturno, poderíamos também,
talvez com acerto, contrapôr o desapego do Bohr nocturno
pelas ideias claras e distintas, pela alacridade do optimismo
racionalista que levou já De Broglie a aproximá-lo de Rem-
brandt, o maravilhoso artista do claro-escuro, o mago dos
contrastes de luz e sombra, poderíamos talvez contrapôr a esta
faceta romântica, dionisíaca e nocturna de Bohr, a permidade
do espírito racionalista, apolíneo e luminoso de Einstein~ tanto
mais quanto é certo que muitos dos escritos de Bohr, os de
maiores pretensões filosóficas ou especulativas, nos deixam
sempre o ressaibo amargo de um desolador cepticismo, como
se, lembra Guida Beck, pudesse Bohr admitir uma incommsu-
rabilidade absoluta entre o espírito humano e o conhecimento
científico da Microfísica, como se, acrescentamos nós, a «per-
feição e plenitude do ideal clássico de Einstein» e «a apreen-
são teorética da Microfísica» fossem, de facto, categorias
sujeitas ao Princípio de Incerteza de Heisenberg e ao de
Complementaridade de Bohr.
Como era de esperar, esta oposição tão contrastada de
mentalidades e perspectivas culturais destes dois «grandes» do
[ 21 ]
pensamento cientifico universal, teria de provocar como real-
mente prOfJocou, alguns encontros (ou melhor desencontros),
que, em Congressos e Reuniões Internacionais, deram origem
a TJivas e emocionantes discussões científicas, que se repercuti-
ram muito para além das sessões de trabalho, em publicações
nas mais categorizadas revistas, a cPhysical Revew», a cNa-
tur~, etc., mas que terminaram sempre pela retirada de
Einstein, TJencido pelos espectaculares êxitos da Mecânica
Quântica no campo da experimentação, fJencido pela sua
admirável perfeição como precioso instrumento de prospecção
do real microfísica, mas não convencido, quanto às pretensões
da Mecânica Quântica a uma teoria completa e definitiva da
realidade atómica e subatómica. Porque, importa acentuar,
se a Mecânica Quântica fornece um enquadramento extraordi-
nàriamente completo dos fenómenos observados ou observá-
veis, é incapaz de uma descrição satisfatória dos cinterfenó-
menos:., na expressiva designação de Reichenbach, que são
pura e simplesmente postos de lado, tantas vezes dogmàtica-
mente, como se, no intervalo das observações, a Realidade
ObjectifJa suspendesse a sua existência, no mais acabado sen-
tido do idealismo imaterialista de Berkeley, ou, como se os
~interfenómenoS» fossem então colocados centre parêntesis»
para nos servirmos da linguagem de Husserl (ou não será real-
mente fundamentada a sugestão de W eizsãcker quanto às incli-
nações de Bohr pelo existencialismo, à Kierkgaard?).
Mas seja como for e qual venha a ser o juízo final da
História quanto à autenticidade das derrotas de Einstein ou
das fJitórias de Bohr e da Escola de Copenhague, aqui deixa-
mos para já, o testemunho vivo e comovido do próprio Bohr
ao recordar o papel decisivo dessas mesmas discussões:
cEm cada passo em frente, dado pela Física, que parecia
derivar sem ambiguidades do precedente, ia Einstein descobrir
contradições que serviam de estimulantes a ulteriores progres-
[ 22 1
sos. A cada passo, Einstein desafi(l'()a a Ciência e, sem esses
desafios, a eoolução da Física Quântica teria sido muito mais
lenta.-.
[ 23]
válidas a explorar. E de tal modo que se torna quase impossível
demarcar com justiça, qual tenha sido a mais importante con-
tribuição de Bohr para a Física Moderna; daí, talvez o mais
acertado seja indicar tão-somente os trabalhos que foram rea-
lizados efectivamente sem a participação de Bohr, e que tão
poucos são, apenas uns sete, na numerosa bibliografia científica
da Microfísica Contemporânea: os quatro originais de Einstein
- a descoberta do fotão, em 1905, a teoria quântica dos
calores específicos, em 1907, a teoria dos processos luminosos
de absorpção e de emissão induzida, em 1917, e a teoria da
Estatística Quântica dos bosões, em 1924; o trabalho funda-
mental de Luís de Broglie sobre «as ondas materiais» em 1924;
a descoberta por Schriidinger do formalismo da Mecânica
Ondulatória e da equação que tem o seu nome, em 1926;
e, por último, a descoberta por Dirac da equação relativista
do electrão e do positrão em 1926. Tudo o resto, ou é obra
original de Bohr ou dos seus colaboradores directos ou indi-
rectos, que tantos deles vieram a ter uma presença tão impor-
tante no campo da Física que foram galardoados com o prémio
Nobel: um Heisenberg, um Pauli, um Landau, um Max Born.
No entanto, se apesar de tudo nos fosse legítimo distinguir
alguns trabalhos de entre a tão vasta e valiosa bibliografia
de Bohr, poderíamos, talvez, apontar: os estudos sobre os fenó-
menos de penetração e de passagem de partículas atómicas
através da matéria, esboçados numa publicação datada de
1915 e retomados com o maior fôlego em 1948, numa mono-
grafia ainda hoje fundamental sobre esse assunto; algumas
contribuições que abriram rumos novos na Física Nuclear
(e não devemos esquecer que foi Bohr quem, de Roma, lançou
em 1931 a ordem de ataque ao reduto nuclear): a criação do
tão original conceito de «núcleo composto.», em 1936, que per-
mitiu uma interpretação imediata das reacções de ressonância
nuclear, a teoria das reacções de cisão, dentro do modelo da
[ 24]
gota líquida, em 1939, e, 110 apús-guerra, os estudos decisivos
para a estruturação do conceito de excitação colectiva e
do modelo unificado do núcleo; os notabilíssimos trabalhos
publicados de 1927 a 1930 que permitiram a cristalização
da linguagem actual da Mecânica Quântica, sem o que teria
sido quase impossível qualquer aplicação e interpretação dos
resultados, devido ao carácter demasiado abstracto e inovador
do formalismo quântico; e os trabalhos que, no mesmo sen-
tido, foram publicados a partir de 1947, para a dilucidação
do conteúdo físico da teoria Quântica dos Campos, construída
por Dirac e pelos colaboradores de Bohr, Heisenberg e Pauli;
e, por último, mas em primeiro lugar, dentro da perspectifJa
epistemológica em que nos situamos, destacaríamos, sem reser-
vas, o conjunto dos primeiros três trabalhos de Bohr, publi-
cados em 1ulho, Setembro e Novembro de 1913 com o título
genérico «On the Constitution of Atoms and Molecules» e
cuja tradução é agora apresentada em português.
Trata-se, na verdade, de um trabalho fundamental cuja
publicação marca uma data histórica na evolução das ideias
em Física, que nele hão-de mergulhar sempre as raízes mais
puras que fecundarão o desenvolvimento ulterior da Micro-
física; e é também o trabalho de Bohr de maior ressonância
universal, no bom e no mau sentido (pois não é verdade que
para o homem da rua, e para a generalidade dos que se
julgam ou são julgados cultos, o nome de Bohr está sempre
ligado, apenas, à imagem do modelo planetário do átomo,
essa pobre caricatura mecanicista do autêntico modelo de
Bohr, tão divulgada até na simbólica convencional e figura-
tiva da propaganda jornalística, livreira e outras que tais,
e até nas grandes exposições-feiras-internacionais, mais ou
menos científicas ... ).
Trata-se, na verdade, repetimos, do primeiro trabalho de
Bohr, o primeiro que me-teceu o privilégio de ser publicado
[ 25]
numa das mais categorizadas reoistas científicas da época, tra-
balho datado de 1913, é certo, mas também é certo que nele
aparecem já graoados a fogo os traços fulgurantes da geniali-
dade do seu autor: o ímpeto criador, a coragem e a indepen-
dência mental, a clara, profunda e maraoilhosa intuição da
fenomenologia da Microfísica, o cuidado e apuro na selecção e
ordenação das ideias, o equilíbrio formal e a contenção da
linguagem, e até o acabado e harmonioso da arquitectura
global que fazem desta monografia uma pequena cobra-
-primta, um precioso «hors-séri~ da literatura científica
unifJersal, e, acima de tudo, um nobre padrão da dignidade
e grandeza de pensamento humano.
Mas deixemos para a belíssima INTRODUÇÃO que fJai
seguir-se, escrita com fJerdadeiro amor intelectual pelo Pro-
fessor Rosenfeld, cientista de altos méritos, amigo íntimo
e colaborador de Bohr, a análise circunstanciada do alcance
científico deste trabalho, atraoés de comentários fundamen-
tados, sempre lúcidos e esclarecedores, pontuados por notas
tão sugestifJas e oportunas, que no conjunto oferecem também
uma mfJa e ampla panorâmica dos condicionalismos fJários
que presidiram à elaboração desta obra monumental de Bohr,
cuja tradução para a língua portuguesa representa, indis-
cutifJelmente, mais um altíssimo sermço prestado à Cultura
Nacional pela Fundação Calouste Gulbenkian.
FefJereiro de 1969.
]. L. RODRIGUES MARTINS
Professor Extraordinário de Física da Faculdad1
de Ciências da Universidade de Luanda
[ 26]
PREFACIO
[ 271
Bohr deixei, principalmente, que estes . documentos falassem
eloquentemente por si. Em particular, senti que não seria
deslocado reproduzir um esquema manuscrito devotado à dis-
cussão das propriedades magnéticas dos átomos, que Bohr
tencionava primitivamente tratar como um quarto capítulo do
seu trabalho; fragmentário e imperfeito como está, este es-
quema oferece um interessante complemento às memórias
publicadas e constitui a cúpula do edifício conceptual de ver-
dadeira imponência que Bohr conseguiu erigir no seu primeiro
exame ao reino inexplorado dos átomos.
Estou profundamente grato a Mrs. Margrethe Bohr pela
gentileza de me facultar o acesso a alguns papéis particulares.
Na escolha e exame da correspondência científica fui grande-
mente auxiliado pelo penoso trabalho realizado por Mr. Erik
Rüdinger na ordenação e resumo dos documentos.
[ 28]
INTRODUÇÃO
1. «SISTEMAS SATURNIANOS:.
[ 31 ]
compensação como uniformemente dist~ibuída dentro de uma
esfera de dimensões atómicas.
O fim de Nagaoka era dar simultâneamente conta dos
espectros ópticos e da emissão radioactiva de partículas {3
pelos elementos pesados (que ele supunha que deviam ter
também muitos electrões). Tentou atribuir a origem das linhas
espectrais (incluindo mesmo os espectros de bandas) a osci-
lações de configurações de anéis estáveis, ao passo que ima-
ginava que o decaimento {3 era devido à quebra do anel exte-
rior de electrões do átomo pesado. Desconhecia que tinha sido
antecipado em tais especulações por J. Perrin 6), o qual, numa
lição em 1901, sugeriu que uma «estrutura núcleo-planetária»
do átomo daria lugar à instabilidade radioactliva (ainda dos
corpúsculos exteriores, menos ligados) como às configurações
estáveis de diferentes valências químicas; além disso, fez notar
que, se um electrão se movesse numa órbita de dimensões
atómicas com uma velocidade comparável às velocidades dos
raios catódicos prodllZiidos por foto-efeito sobre aluminio, o
seu periodo de revolução seria da ordem dos períodos ópticos.
A tentativa de Nagaoka de interpretar as niscas espectrais
na base do seu modelo «Saturniano» foi retomada e grande-
mente elaborada por J. W. Nicholson numa série de memó-
rias 7) publicadas nas Monthly Notices entre Novembro de
1911 e Setembro de 1912. O astrofísico de Oxford estava
interessado nas riscas não identiflicadas que apareciam nos
espectros nebulares e no espectro da coroa solar; não se pode
descortinar qualquer relação entre o seu trabalho e a des-
coberta de Rutherford. Sob o ponto de vista matemático, a
discussão de Nicholson das condições de estabilidade relativas
às configurações anelares e dos seus modos de oscilação é um
hábil e esmerado trabalho; mas a maneira pela qual tenta
aplicar o modelo à análise das situações físlicas choca pela sua
precipitação e diletantismo, de modo que não podem deixar
[ 32]
de considerar-se como acidentes desafortunados os casos em
que realmente obteve concordância entre algumas das suas fre-
quências calculadas e as frequências das riscas espectrais
observadas.
P~ra uma dada c~rga central de v unidades, rodeada por
um anel de n electrões em movimento circular estacionário de
velocidade angular w, há n- I modos de oscilação perpendi-
culares ao plano do anel, cujas frequências têm razões defi-
nidas em relação a w: o modelo oferece deste modo uma larga
gama de razões de frequências para comparar com as frequên-
cias das riscas espectrais de interesse. Assim, acontece que,
para o sistema de anéis com v = n = 4, a razão das frequên-
cias dos dois primeiros modos coincide com a razão de du11s
riscas dos espectros nebulares: isto é suficiente para Nicholson
ver neste sistema um modelo do átomo neutro de «nebulium»;
e, por sorte, a frequência do terceiro modo, que ele pôde então
calcular, também coincidiu com a de outra risca nebular, a
qual - para tornar as coisas mais dramáticas - não era conhe-
cida quando fez a predição na sua primeira memória, mas foi
realmente encontrada um pouco mais tarde. Da mesma ma-
neira, atnibuiu riscas do espectro da coroa solar aos sistemas
de anéis completos ou incompletos correspondentes a v = 5,
que ele considerou como átomos neutros ou carregados do ele-
mento «protofluor>>. Fez mesmo uma tentativa para calcular as
massas destes átomos a partir da correcção de massa para o
movünento da partícula central: ajustou a razão entre a massa
desta partícula e a massa do electrão de modo a estabelecer
concordância entre os comprimentos de onda calculados e
observados com aproximação até à décima de A; isto deu-lhe
«pesos atómicos» de 1,3 e 2,1 para o nebulium e para o
protofluor.
Num tratamento puramente mecânico do sistema de anéis
como este, nada há que permita fixar o raio a do anel, ou a
[ 33 ]
velocidade de rotação w; nas suas prim~iras notas, Nicholson
contentou-se, por isso, em calcular estas quantidades a partir
das frequências identificadas empiricamente; deste modo en-
controu raios de alguns A nos dois casos acabados de mencio-
nar. Contudo, na terceira memória, publicada em Junho de
1912, aparece a primeira menção da constante de Planck em
conexão com o momento angular dos electrões girantes: de novo,
não há aqui lugar para qualquer raciocínio físico, mas tão-só
mais um desenvolvimento de numerologia. Deve salientar-se,
em particular, que não é considerada a essencial instabilidade
dos sistemas de anéis devida à radiação dos electrões girantes,
a qual foi o argumento decisivo de Bohr para introduzir o
quantum de acção como uma característica estabilizadora não-
-mecânica. Tudo o que Nicholson fez foi apontar que, segundo
as suas identificações, o momento angular total dos anéis elec-
trónicos com 5, 4 e 3 electrões nos sistemas de cprotofluor>
eram numericamente iguais*) a 25, 22 e 18 vezes hj21r, o que
corresponde a 5, 5% e 6 destas unidades por electrão, respec-
tivamente: uma série, acentua ele, que cnão pertence aos tipos
de Balmer, Kayser e Runge, ou de Rydberg». O único comen-
tário geral que ele faz é o seguinte: «Portanto, se a constante h
de Planck tiver, como foi sugerido por Sommerfeld, uma
significação atómica, pode significar que o momento angular
de um átomo só pode aumentar ou diminuir em quantidades
discretas quando os electrões saem ou regressam. Vê-se fàcil-
mente que este ponto de vtista apresenta menos dificuldades ao
espírito do que a interpretação mais usual, que se acredita
implicar a constituição atómica da própria energia».
Bohr não teve conhecimento das pesquisas de Nicholson,
como veremos, antes do final de 1912, quando já tinha dado
[ 34]
às suas próprias ideias sobre a estrutura atómica a forma ple-
namente desenvolvida. Se descrevemos com tal pormenor o
trabalho de Nicholson e lembrámos as primeiras sugestões de
Perrin e de Nagaoka, não quisemos de Renhwn modo apre-
sentá-los como precursores das ideias de Bohr, mas antes
evidenciar como físicos hábeis, seguindo a tendência geral do
pensamento da época, podiam especular nestas linhas. Por
contraste, a eficácia da maneira original de Bohr atacar o pro-
blema e a profundidade das suas concepções parecerão ainda
mais impressionantes.
[ 35 ]
2. BOHR EM MANCHESTER
[ 371
que Bohr escreveu a McLaren em 17 de Dezembro de 1911,
na qual discutia vários pontos da teoria do electrão, destacamos
a frase significativa: csabemos pouquíssimo sobre os movi-
merttos dos electrões nos metais». De facto, é claro que o pro-
fundo estudo crítico destas questões a que Bohr tinha proce-
dido para a sua tese de doutoramento já o tinha convencido de
que era necessário um radical afastamento das concepções
clássicas para dar conta dos fenómenos atómicos.
Com a sua dialéctica tendência de espírito, saudou o
modelo nuclear do átomo de Rutherford justamente porque a
sua instabilidade radiativa, inevitàvelmente decorrente da
electrodinâmica clássica, criava uma aguda contradição em
relação à evidência química e física sobre a estabilidade das
estruturas atómicas e moleculares. De facto, a compreensão
de que a estabilidade do átomo de Rutherford estava para
além do escopo das teorias clássicas significava uma conside-
rável simplificação, na medida em que ele podia, por assim
dizer, tomá-la como garantJida sem mais análises e proceder
ao desenvolvimento das outras consequências do modelo. As
suas primeiras reflexões foram dominadas pelo claro reconhe-
cimento de que o modelo oferecia a possibilidade de uma
nítida distinção entre os fenómenos químicos ordinários r; os
fenómenos intra-nucleares. A maneira como foi condmiào,
pouco depois da sua chegada a Manchester, aos conceitos de
isótopo e de número atómico e à formulação das leis do deslo-
camento radioactivo foi-nos contada por ele próprio, com a
habitual modéstia, na sua lição comemorativa de Ruther-
ford 9), de modo que não entraremos aqui neste aspecto do
seu trabalho. Que um tal raciocínüo aparentemente simples e
convincente estava muíto afastado dos modos de pensar habi-
tuais da época, foi testemunhado por um dos protagonistas,
[ 38]
A. A. Russell 10); vimos que nem Perrin nem Nagaoka pude-
ram imaginar electrões saindo do núcleo, e tanto Fajans como
Soddy foram igualmente incapazes de chegar a esta conclusão
mesmo depois de terem inferido correctamente as leis do deslo-
mento a partir dos dados experimentais acumulados. Quanto a
Van den Broek, que é creditado com excessiva generosidade
com a introdução do conceito de número atómico, a maneira
como colocou os elementos radioactivos numa sucessão linear de
carga nuclear crescente mostra que ele falhou completamente
o ponto aparentemente simples do qual Bohr concluiu pela
existência de elementos «electrõnicarnente idênticos~, como ele
na altura designou os isótopos nas suas discussões com
Hevesy *).
Não faz parte da tradição científica britânica a valorização
da força das inferências lógicas .. O malogro de Rutherford em
reconhecer a validade das consequências que Bohr tinha tirado
da sua própria descoberta não é apenas uma ilustração desta
peculiaridade geral; revela também quão limitada eta a fina-
lidade que Rutherford estava então propenso a atribuir ao seu
modelo da estrutura atómica- só adequado para explicar
as leis da dispersão dos raios a e f3 **). Estava Bohr desti-
nado a encontrar em Manchester, como em Cambridge, a
mesma decepcionante falta de compreensão? Ainda em 28 de
Maio de 1912, queixa-se ao seu irmão Harald:
[ 39 1
Todavia, na carta seguinte, datada 4e 12 de Junho, o tom
é completamente Ctiferente:
[ 40]
Torna-se claro que Bohr tinha por fim .encontrado a
atmosfera adequada à sua natureza sensível, e recuperado a
paz de espírito que lhe permitia concentrar-se .de novo numa
investigação fundamental num campo pràticamente virgem.
As cartas à noiva dão vívidos relances de esforço constante
e de antecipação penetrante à medida que o trabalho progride,
com os seus altos e bru!xos; a 5 de Julho escreve:
[ 41 ]
A quantidade de trabalho que Bohr produziu nesses quatro
meses em .Manchester é incrível. Passou grande parte de cada
dia de trabalho no laboratório, frequentando consáenciosa-
mente um curso de medições em radioactividade e mais tarde
montando uma experiência sugerida por Rutherford. Todavia,
é lícito suspeitar-se de que, enquanto os seus dedos estavam
ocupados com o aparelho, o seu espírito estaria algumas vezes
seguindo pistas muito diferentes; de facto, foi neste período
que todas as grandes ~deias incorporadas nas duas últimas
partes da trilogia de 1913 tomaram forma e foram elaboradas
em considerável pormenor. O trabalho sobre a absorção dos
raios a 11), que exigiu - além da concepção da ideia física e
da sua expressão matemática geral- o difícil cálculo de um
certo integral*) e extensos cálculos numéricos, foi virtualmente
concluído, como vimos, durante o último mês do seu estágio;
não devia portanto estar a exagerar quando dizia à noiva (em
10 de Junho) que trabalhava nele «dia e noite».
O cálculo da perda de energia das partículas a à passagem
pela matéria era o complemento natural da determinação da
dispersão delas, e da descoberta de Rutherford, indicando, em
contraste com o que se esperava, que estas partículas, precisa-
mente como os electrões, penetravam nos átomos e entravam
em interacção principalmente com os electrões constituintes
isolados, e exigindo um novo tratamento do problema baseado
no novo modelo. A troca de energia entre uma partícula
incidente rápida e um electrão atómico podia ser calculada
como se o electrão estivesse livre, esperando Darwin que a
perda total da energia da partícula pudesse também ser obtida
sem entrar nos pormenores da ligação do electrão: contudo, ao
[ 42 1
parâmetro que ele introduziu para este fim e que identificou
com o raio atómico tinham que ser atribuídos valores que não
se coadunavam com esta interpretação do seu significado. Bohr
compreendeu que uma análise racional do processo implicava
uma comparação mais rigorosa do tempo durante o qual as
duas partículas em colisão estão efectivamente em interacção
com o período do movimento do electrão sob a influência das
forças de ligação. Assim, a gama de distâncias entre a trajec-
tória da partícula e o electrão, para a qual há uma troca de
energia apreciável durante a colisão, não é limitada, como
Darwin supunha, por uma distância fixa da ordem do raio
atómico, mas por uma distância crítica relacionada com o
período do movimento do electrão e que, por isso, é diferente
para cada electrão. A expressão resultante para a perda de
energia, discutida por Bohr com atenção característica para
todos os pormenores significativos, provou estar em excelente
concordância com todo o material experimental.
O ponto mais importante desta pesquisa foi, todavia, o
estabelecimento, por intermédio de um conjunto de parâmetros
característicos da estrutura atómica, de uma relação quanti-
tativa entre dois tipos de fenómenos profundamente diferen-
tes: na verdade, as frequências próprias, que se revelaram ser
essenciais para compreender a grandeza e a dependência da
velocidade da perda d~ energia das partículas a rápidas, eram,
conforme as ideias clássicas, as mesmas que apareciam como
a marca mais característica da dispersão óptica. Um dos mais
frutuosos aspectos do trabalho de Bohr sobre a absorção das
partíCulas a foi precisamente habilitá-lo a determinar com
grande pormenor esta relação para alguns elementos leves,
e extrair a partir da evidência experimental informações sobre
os números de electrões nos átomos destes elementos e as for-
ças relativas das suas ligações. Assim, encontramos em papel
proeminente, desde o princípio dos trabalhos atómicos de
[ 43]
Bohr, o fenómeno da dispersão óptica, a qual, nos desenvolvi-
mentos seguintes, reapareceu em cada fase e, em última análise,
forneceu a chave decisiva à formulação racional da mecânica
quântica.
No problema da absorção dos raios a, os estados de ligação
dos electrões entram somente por intermédio dos períodos dos
seus movimentos, que Bohr então idrntificou com as ressonân-
cias características que aparecem na dispersão óptica. Não
havia neste tratamento qualquer intervenção explícita do
quantum de acção: não obstante, Bohr já tinha claramente
reconhecido que era de facto indispensável um apelo ao
quantum para dar conta da própria existência de estados de
ligação estáveis dos electrões em torno do núcleo atómico.
Adquire-se uma ideia notàvelmente exacta de quão longe
tinham ido nesta época as suas concepções sobre a estrutura
atómica e molecular por um memorandum que ele prepa-
rou pouco antes de ter deixado Manchester, e que felizmente
se conserva. Este memorandum consiste em seis folhas manus-
critas cuidadosamente escritas e numeradas, coladas em tiras
de diferentes comprimentos, formando um conjunto coerente
(embora pela numeração se conclua que falta uma folha) ;
estão metidas num envelope com a seguinte indicação manus-
crita por Bohr:
[ 44]
qualquer paráfrase, permitir-nos-á compreender a espantosa
extensão das primeiras realizações de Bohr. Daremos o texto
exactamente como aparece, com os seus erros de ortografia
e cdinamarquesismos:., que seria mais pedantesco corrigir do
que deixar como estão. É interessante notar que Bohr tentou
empregar a palavra c:Kern» para denominar o núcleo*);
pode imaginar-se que o próprio Rutherford deve então ter-lhe
sugerido o último nome como designação equivalente e mais
aceitável.
[ Al] De acordo com o modelo do átomo proposto pelo
Prof. Rutherford, com o fim de explicar a «grande dispersão»
das partículas a, os átomos são formados por uma carga posi-
tiva concentrada num ponto (numa extensão muito pequena
comparada com as dimensões dos átomos) rodeada por um
sistema de electrões, cuja carga total é igual à do c:Kern»
positivo; supõe-se também que· o Kern é a sede da massa do
átomo.
Num tal átomo não poderá haver qualquer configuração
de equilíbrio sem movimento dos electrões. (Não há nenhum
dado que permita determinar uma quantidade de dimensão,
um «comprimento»). Consideraremos, portanto, em primeiro
lugar as condições de estabilidade de um anel de n electrões
girando em torno de uma carga pontual positiva de grandeza
n X e.
[ 45]
Por uma análise análoga à utilizada por Sir J. J. Thomson
na sua teoria sobre a constituição do átomo, é possível dc:DlODIIo-
trar com grande simplicidade que um anel como o que está
em questão não possui estabilidade no sentido mecânico ordi-
nário (na verdade a estabilidade no modelo atómico de J. J.
Thomson baseia-se materialmente na circunstância de que a
força atractiva aumenta quando cresce a distância ao centro;
portanto, a estabilidade toma-se maior se colocarmos os elec-
trões dentro do anel (no seu modelo), porque estes tomam a
razão de aumento da força ainda maior; como se vê imedia-
tamente, qualquer coisa deste tipo não alterará a estabilidade
no modelo atómico do Prof. Rutherford (se os electrões não
estiverem exactamente no centro do anel mas, por exemplo,
dispostos em anéis à sua volta, a sua presença, pelo contrário,
diminuirá ligeiramente a estabilidade) ) , devendo portanto a
questão de estabilidade ser tratada de um ponto de vista
completamente diferente.
Contudo, vê-se imediatamente que há uma diferença essen-
cial entre a estabilidade dos anéis contendo um diferente
número de electrões, sendo possível demonstrar que a energia
de um electrão no anel (a soma das energias cinética e poten-
cial relativa ao Kern e aos outros electrões) é negativa se
n < 7, mas positiva se n > 7, e que portanto um electrão de
um anel contendo mais que sete electrões pode abandonar o
átomo. A hipótese segundo a qual um átomo constituído por um
só anel não pode conter mais do que sete electrões é, por isso,
muito plausível. Isto, acrescido do facto de que os anéis e
electrões interiores no modelo atómico do Prof. Rutherford
terão só pequeníssima influência (e sempre no pior caso) sobre
a estabilidade dos anéis exteriores *), parece abonar claramente
[ 46]
em favor de uma possível explicação da lei periódica das pro-
priedades químicas dos elementos (supõe-se que as proprieda-
des químicas dependem da estabilidade do anel exterior, dos
celectrões de valência») com o auxílio do modelo atómico em
questão.
[A2] Na investigação da configuração dos electrões nos
átomos encontramos imediatamente a dificuldade (conexa com
a mencionada instabilidade), de um anel, se só forem dados a
carga central e o número de electrões nos anéis, poder girar
com um número infinitamente grande de tempos de rotação
difQ"entes, de acordo com o suposto raio diferente do anel; e
parece não haver nada (devido à instabilidade) que permita
a discriminação entre os diferentes raios e tempos de vibração
a partir de considerações mecâni<;as. Portanto, na investigação
que vamos fazer apresentaremos e faremos uso de uma hipó-
tese, a partir da qual poderemos calcular as quantidades em
questão. A hipótese é a seguinte: para qualquer anel estável
(qualquer anel que apareça nos átomos naturais) haverá uma
razão definida entre a energia cinética de um electrão do anel
e o tempo de rotação. Esta hipótese, para a qual não será dada
qualquer tentativa de justificação mecânica (pois que parece
destinada a fracassar*), é escolhida como a única que parece
poder explicar todo o conjunto de resultados experimentais,
[ 471
que abrange e parece confirmar concc;pções do mecanismo da
radiação como as propostas por Planck e Einstein.
A hipótese mencionada parece ser fortemente sustentada
pelos factos experimentais; é possível demonstrar que dá a
explicação
1) da lei periódica dos volumes atómicos dos elementos;
2) da lei de Wbiddington da relação entre a velocidade
necessária para excitar os raios de Rõntgen caracterís-
ticos de um elemento e o peso atómico desse ele-
mento*);
3) (aproximadamente) da lei de Bragg da absorção dos
raios a por diferentes elementos **);
4) parece explicar a estabilidade e o calor de combinação
de alguns compostos binários.
(A3a?] falta.
[A3b] (energia do electrão num anel) não incluída.
[A4] Figuração dos átomos nas moléculas.
[ 48]
A figuração proposta parece capaz de explicar os rl!sul-
tados experimentais respeitantes à acção química da descarga
el~ctrica nos tubos de vácuo (Kirkby: Proc. Roy. Soe., A.85,
págs. 151-174, 1910. Kirkby conclui : «Estas considerações
demonstram claramente que os átomos de oxigénio, embora
se dissociem antes de se combinarem com o hidrogénio, não
têm carga durante o seu estado de dissociação. Daqui se con-
clui que a sua união com o hidrogénio não pode ser atribuída
a forças electrostáúcas.:. (loc. cit. pág. 163)) . O resultado de
Kirkby, de que o efeito mais frequente do impacto de corpús-
culos sobre uma molécula de oxigénio é de longe a divisão
da molécula em átomos sem carga (e não em iões), é exacta-
mente o que seria de esperar da molécula de oxigéruo acima
proposta. Primeiramente, a distribuição simétrica dos quatro
electrões em relação aos dois átomos parece tomar inviável
a divísão não-simétrica dos electrões entre os átomos causada
pelo impacto; e, além disso, se tal divisão assimétrica úvesse
lugar, seria consequentemente muito mais difícil separar os
átomos, em virtude das grandes forças atractivas entre os
átomos resultantes da divisão em questão.
[Em relação com a grande diferença de estabilidade entre
os iões negaúvos e posiúvos (facto que decorre imediatamente
de qualquer espécie de teoria electrónica, e parece estar na
mais ínúma relação com as grandes diferenças de mobilidade
dos iões posiúvos e negativos em gases perfeitamente secos),
pode notar-se que um anel de 4 electrões girando em tomo de
um núcleo de carga + 2e é instável no mesmo sentido em que
o é um anel de 8 electrões girando em tomo de núcleo + 8e] .
A circunstância que talvez mais fortemente sustente a
concepção de uma molécula do género proposto é a ausência
de bandas de absorção no infravermelho em gases elementares
como o hidrogénio e o oxigénio. Na verdade, se a acção quí-
mica entre dois átomos depende da transferência de corpús-
[ 49]
4
culos de um para o outro (ver J. J. Thomson: Teoria corpus-
cular da matéria, págs. 120-141), e se as ligações químicas
entre eles fossem atribuídas a forças electrostáticas devidas às
suas cargas diferentes, então deveriam existir bandas de absor-
ção no oxigénio e no hidrogénio semelhantes às observadas na
água (ver Houstoun, Proc. Roy. Soe. 1911; segundo um
mecanismo da molécula de água como o adoptado por Hous-
toun, parece necessário prever uma banda de absorção no
hidrogénio muito perto de uma das duas bandas observadas na
água). A ausência de bandas de absorção na zona infraverme-
lha para o H2 e 0 2 decorre imediatamente, segundo os mode-
los acima representados, da condição simétrica dos dois núcleos
(a mesma razão da carga para a massa).
O modelo proposto para o H 2 parece ser a única configu-
ração de equilíbrio possível de 2 núcleos e 2 electrões (não
considerando dois átomos separados), na qual os núcleos estão
em repouso. Uma molécula cujo equilíbrio dependa da velo-
verá ser uma coisa muito instável (que, de facto, terá uma
grande probabilidade de ser dividida pelas colisões entre as
moléculas) e dependerá em larga medida da temperatura.
Contudo, a molécula adoptada será muito pouco dependente
da temperatura; é possível fazer a estimatJiva da tempe-
ratura a que se tomará instável. Em primeiro lugar tor-
nar-se-á instável se a força centrífuga devida à rotação dos
núcleos for da mesma ordem de grandeza que a atracção entre
2
os electrões e os núcleos. Daqui resulta que E c:c :..._ sendo E
r
a energia cinética devida à rotação dos núcleos e r uma quan-
tidade com a ordem de grandeza do craio:. da molécula;
temos agora que a energia média de rotação de uma molécula
[50]
diatómica à temperatura T é igual a 1,3 · T · I0- 10 ; fazendo
e = 4,7 X I0- 10 e r = 10-s, obteremos para a temperatura
a que a molécula será instável aproximadamente T = 10".
Além disso, a molécula será instável se a temperatura for tão
elevada que a luz ultravioleta da radiação natural interferirá
essencialmente com a estabilidade do anel de electrões. Se-
gundo a teoria de Planck será este o caso se *)
h ·n n
- - = 0,5 ·I0- 12 · -
kT T
for da ordem de grandeza da unidade; a partir da dispersão
temos que n é cerca de 0,3 · 10+ 16 ; isto dá de novo 10~ para
ordem de grandeza de T. (Os limites aqui calculados são
excessivamente elevados; o cálculo mostra que para tais tem-
peraturas a molécula não pode existir).
[A5]
[ 51 1
O problema da estabilidade do 1:1 2 e da instabilidade do
(He2] parece ser abordável sem a intervenção de novas hipó-
teses especiais da seguinte maneira.
[52 1
tamente que o processo não pode voltar ao estado anterior a
não ser que o sistema receba energia por radiação ou choque
mecânico.
Utilizando a hipótese especial E= K ·v deduz-se que a
energia de um sistema contendo um anel de n electrões actua-
e2
dos por uma força central - X é igual a ...;- n · X 2 · A, sendo A
r2
aproximadamente igual a 1,3 · I0- 11 erg e N ·A = 1,9 · 10' cal
(N, número de moléculas em 1 cm 3 *) do gás).
Para o calor desenvolvido pela formação de uma molécula-
-grama de H2 ([H] + [H] ~ H2) obteremos pois
[53 ]
3. O ESPECTRO DO HIDROGÉNIO
[55]
um electrão do anel e a sua velocidade ~guiar de rotação *).
Não há dúvida de que Bohr (como nos diz na sua lição
Rutherford) tinha plenamente compreendido que o elemento
estabilizador das estruturas atómicas do modelo de Rutherford
devia ser procurado no quantum de acção, e que a razão em
causa estava portanto intimamente relacionada com a cons-
tante de Planck; esta relação estaria provàvelmente indicada
na página perdida, sendo lamentável que esta preciosa prova
se tenha perdido. No fim do memorandum, onde a hipótese
é expressa pela fórmula E= IC ·v, que liga a energia ciné-
tica E com a frequência de rot?ção v, a razão das duas quan-
tidades é representada pela le,ra K, distinta do símbolo lz
utilizado um pouco antes para designar a constante de Planck,
mas sente-se a falta da descrição da forma exacta da relação
entre as duas constantes. O raciocínio conducente à considera-
ção da energia cinética neste contexto não é descrito na parte
existente do memorandum, mas não pode ser outro senão o
empregado sistemàticamente nas memórias publicadas: o es-
tudo da formação do átomo por ligação sucessiva dos electrões
inicialmente em repouso a distância infinitamente grande do
núcleo; vê-se fàcilmente que a energia de ligação de um elec-
trão sobre uma órbita é igual em grandeza à sua energia ciné-
tica média considerada ao longo de um período de revolução.
Por conseguinte, a teoria quântica de Planck sugeria forte-
mente uma relação de proporcionalidade entre esta energia
cinética e a frequência de revolução, mas não fornecia qualquer
indicação imediata do valor preciso do coeficiente de propor-
cionalidade. Todas as extensões da teoria de Planck a sistemas
materiais até aí realizadas com êxito se confinavam a casos em
que os movimentos podiam assimilar-se directamente a oscila-
[56 1
ções harmónicas para as quais a regra de quantificação era
conhecida: mesmo a tentativa de Haas *) de quantificar o
modelo atómico de J. J. Thomson não tinha ido além deste
dominio restrito, visto que neste modelo as forças de ligação
dos electrões dentro da esfera de electricidade positiva são de
natureza elástica. É verdade que Sommerfeld tentava*) por
essa altura introduzir o quantum de acção no tratamento de
fenómenos aperiódicos tais como a Bremsstrahlung e o foto-
-efeito; mas não tinha qualquer método definido e os seus
resultados não foram além de estimativas de ordens de gran-
deza.
A quantificação do oscilador harmónico dá para o estado
mais baixo deste sistema, em vista da igualdade das energias
cinética c potencial médias, a relação E = 1h h.,, isto é, o valor
1h h para a constante K . Este é exactamente o valor que Bohr
finalmente adoptou, justificando.:O por um raciocínio de signi-
ficado muito geral. Contudo, existem provas convincentes de
que, quando escreveu o memorandum, ainda não entrevia o
caminho para fixar o valor de K, e de que não tinha feito
qualquer progresso neste ponto até ter atacado o problema do
espectro do hidrogénio. De facto, nota-se que o valor numé-
rico 1.3 · 10-u erg atribuído no fim do memorandum à quan-
tidade representada por A é apreciàvelmente diferente do que
corresponderia à escolha K = 1h h. Com efeito, a quanti-
dade A pode ser identificada com Wo (h/2K) 2 , em que Wo
[57]
(como na segunda e terceira memórias,_ cf. segunda memória,
pág. 149) representa a unidade atómica de energia 21r 2 e4 mjh 2 ,
numericamente igual (com os valores das constantes conhe-
cidos por Bohr) a 2.0 · 10-u erg, indicando, deste modo, o
valor atribuído a A que ele tinha calculado o valor de K como
sendo aproximadamente igual a 0,6 h. Sou tentado a conjectu-
rar que a estimativa foi deduzida da relação (Kfh) 3 =
= (Wo/ h v) (% X) 2 obtida por eliminação de r das equações.
ez
-X=Kv e
2r
[ 58 ]
elementos radioactivos; corroboraram a dedução teórica prévia
de Bohr das leis do deslocamento obtidas a partir do modelo
de Rutherford à qual ele tinha sido conduzido pelas suas con-
versas com Hevesy no período de Manchester. Ver-se-á que
a carta enumera os mesmos pontos principais que figuram no
memorandum, com excepção de três tópicos: dispersão óptica,
magnetismo e radioactividade, que não são especificados no
memorandum, mas que, como sabemos, não eram novos para
Bohr. Não só não há uma palavra sobre espectros de riscas,
mas também a descrição do método pelo qual ele caracteriza
os estados estacionários não mostra qualquer variação em rela-
ção ao memorandum: depois de explicar que estuda a
formação dos átomos por sucessiva ligação de electrões, dá
mesmo no texto da carta escrito à máquina a relação entre a
eneq~ia E da radiação emitida no processo de ligação e a
frequência de revolução v na forma E = hv, e s6 se arrepende
numa nota de fim de página escrita à mão, mencionando que
esta relação deve ser corrigida por um factor numérico cde
acordo com o que era de esperar por considerações teóricas:..
[59 1
Tenho esperança de que em breve poderei-publicar uma memó-
ria sobre ela.
Em resposta às suas perguntas tentarei caracterizar resumi-
damente as ideias que utilizei como fundamento dos meus
cálculos.
Como diz na sua carta. a principal dificuldade é a questão
da estabilidade: ou. como também pode dizer-se sob um ponto
de vista um pouco diferente, os problemas das dimensões do
sistema de electrões que rodeia o núcleo. Contràriamente aos
modelos atómicos como o de J. J. Thomson, nada existe nas
quantidades que determinam um modelo atómico como o de
Rutherford de onde se possa determinar um comprimento com a
mesma ordem de gnmdeza das dimensões dos citomos, com o
auxilio da mecânica usual.
A partir da discussão teórica dos fenómenos de radiação
sabemos. no entanto, que o problema em questão não pode ser
plenamente discutido com base na mecânica ordinária. Pode
agora provar-se que. tomando em conta a teoria da radiação
de Planck, é possível encontrar. de maneira simples uma res-
posta às nossas questões.
Se supusermos que oe sistemas considerados são formados
por ligação sucessiva de electrões ao núcleo até que o sistema
total sela neutro (considere-se a formação de um citomo de
hélio a partir de uma partfcula a). e se admitirmos além disso
que a ene19ia emitida como radiação por esta ligação é igual
à constante de Planck*) multiplicada pela frequência de rota-
ção do electrão considerado na sua órbita final, obtemos resul-
tados que parecem estar em conformidade com as experi&n_cias.
Com o auxilio de tais consideraçõea é possível explicar
não s6 a ordem de grandeza das dimensões dos citomos, mas
também a maneira como os volumes atómicos variam com a
valência do elemento considerado (iato é, com o número de elec-
tões do anel exterior). Obtive, além disso, uma concordância
muito Intima com experiências sobre raios de Rontgen caracte-
rfsticos, os quais, segundo a teoria, constituem a radiação emi-
[ 60]
tida durante o anemio do sistema se um electrão de um doa
anéis maia pr6ximos do núcleo for removido, por exemplo, pelo
choque de partlculas cat6dicaa.
Além de uma indicação muito sugestiva para a compreensão
do sistema peri6dico doa elementos, as considerações em ques-
tão levam-nos a uma teoria das combinações quimicas. teoria
que permite seguir o processo de combinação doa átomos em
pormenor, e, aplicada aos sistemas maia simples, dá imediata-
mente como resultado que 2 átomos de hidrogénio se combinam
formando uma molécula. o que não acontecerá com doia átomos
de hélio.
Estes últimos resultados e o acordo entre a teoria e a expe-
ri6ncia em vários fen6menos muito diferentes (dispersão, mape.
tiamo, radioactividade), firmaram-me no ponto de vista que já
sustentava em Manchester; que, realmente, por simples apli-
cação de considerações como as acima indicadas, podemos
esperar obter um conhecimento da estrutura dos sistemas de
electrões que rodeiam os núcleos nos átomos e moléculas
e. portanto, a comprensão pomienorizada do que podemos cha-
mar as propriedades «quimicaa e fisicaa• da matéria. Pela
deno~ação «quimicaa e fisicaa• excluo a gravitação e a
radioactividade, que são independentes do estado quimico e
fisico e que. de acordo com o ponto de vista adoptado, s6
dependem da estrutura intema dos núcleos, enquanto as outras
propriedades são apenas dependentes do sistema de elec-
trões, o qual, segundo a teoria em questão, é completamente
determinado pela carga total do núcleo.
Por intermédio dos fen6menos de radioactividade observamos
a explosão dos núcleos; e. de acordo com o que se diz anterior-
mente, as propriedades fisicaa e quimicaa dos novos elementos
formados dependerão somente da carga doa novos núcleos. a
qual dependerei .. por sua vez, da carga doa raios emitidos. Esta
'última relação é precisamente aquela que encontrou nas suas
experi6nciaa; os seus resultados foram. portanto, os que eu
esperava.
Estou certo de que compreenderá que lhe escrevo na mesma
disposição em que lhe falava em Manchester, isto é, que não
falo do resultado que julgo poder encontrar com os meus pobres
meios, mas a6 do ponto de vista- em que espero e creio, de
[ 61]
um futuro (talYez muito próximo) de&envolv~ento enorme e ines-
perado da nossa compreensão - à qual fui leYado pelas consi-
derações acima referidas. Espero que nos encontremos em breve
e desejaria discutir novamente consigo todos estes assuntos.
Com os melhores Yotos para o novo ano, sou sinceramente
Niels Bohr
[ 62]
limitado, mas tinha o segredo de aproveitar cada minuto
desse tempo. Com o constante auxíLio da jovem esposa (muitos
manuscritos e minutas de cartas deste período estão escritos
com a letra de sua mulher) continuou ininterruptamente a
escrever as suas ideias e resultados sob a forma de um grande
tratado em vários capítulos, segundo as linhas do memoran-
dum. Havia ainda muitos pormenores que precisavam de ser
revistos; assim, .em 4 de Novembro de 1912, escreve a
Rutherford: c:Fãz alguns [pequenos] *) progressos em rela-
ção à questão da dispersão. O número de electrões nos átomos
de hidrogénio e de hélio calculado a partir da dispersão parece
deste modo aproximar-se mais, respectivamente, de 1 e 2 se se
admitir que as forças que actuam sobre os electrões variam
inversamente com o quadrado da distância do que se, como
na teoria de Drude, supusermos que são do tipo elástico.
Todavia, encontrei precisamente neste cálculo algumas sérias
dificuldades resultantes da instabilidade dos sistemas em ques-
tão que não permitiram a execução do cálculo na extensão
desejável. Espero poder acabar o trabalho dentro de algumas
semanas ... ». Rutherford responde em 11 de Novembro: c:Não
se precipite, pois não me parece que alguém esteja trabalhando
nesse assunto». A medida que o tempo passa e começam a
aparecer trabalhos relacionados - alguns bem-vindos, como o
já citado de Hevesy, outros menos bem recebidos, como o de
van den Broek sobre o sistema periódico, ambos do princípio
de Fevereiro de 1913- Bohr denuncia uma certa impaciência:
*) Riscado no rascunho.
[ 63]
31 St. ]acobsgade
CÕpenbague
31 de ]aneUo de 1913
[ 64]
escreve ele a Oseen (cana de 5 de Fevereiro de 1913) ; e de
novo em 17 de Fevereiro a sua mulher:
[ 65]
são estados que se passaram durante a formação dos átomos, nos
quais é irradiada a energia correspondente às riscas do espectro
características do elemento em questão. A partir deste ponto de vista,
os sistemas num estado como o considerado por Nicholson só estão
presentes em quantidades sensíveis em lugares onde os átomos são
continuamente decompostos e reconstituídos; isto é, em locais como
os tubos de vácuo excitados e as nebulosas estelares.
Não obstante, devo notar que as considerações aqui esboçadas
não representam qualquer papel essencial na investigação empreendida
no meu trabalho. Não trato, de modo nenhum, da questão do cálculo
das frequências correspondentes às riscas do espectro visível. Tentei
apenas, com base na hipótese simples que utilizei desde o princípio,
discutir a constituição dos átomos e das moléculas no seu estado
«permanente»; quer dizer, tentei deduzir algumas propriedades gerais
dos sistemas em questão, sem entrar- de acordo com o seu conse-
lho - em cálculos pormeriorizados de qualquer sistema especial
afastado do caso mais simples.
De entre os resultados que obtive desde que saí de Manchester,
mencionarei apenas que parece possível, com o fundamento consi-
derado, desenvolver uma teoria do processo de combinação dos
átomos com formação de moléculas, teoria que permite seguir esse
processo passo a passo.
Estou ansioso por saber o que pensará de tudo isto, e espero
enviar-lhe a memória tão depressa quanto me for possível. Com os
melhores votos para o Novo Ano para si e para Mrs. Rutherford,
de minha mulher e da minha parte,
sinceramente
Niels Bohr.
[ 66]
- o primeiro da famosa série - contendo a solução do pro-
blema:
Copenhague, 6 de Março de 1913.
2'1T'me'
--
h'
-= 3 290 . 10"
,
[ 67]
Infelizmente, a oonstante de Planck não ~ conhecida com grande
rigor).
O segundo capítulo trata dos átomos, o terceiro das moléculas
e os últimos capítulos tratam do magnetismo e de algumas oonsid~a
ções gerais.
Espero que concorde em que adoptei um ponto de vista razoável
em relação à questão delicada da utilização simultinea da antiga
mecinica e dos novos pressupostos introduzidos pela teoria da radia-
ção de Planck. Estou ansioso por saber o que pensa de tudo isto.
Como verá, fui conduzido pelas considerações do primeiro capí-
tulo a um interpretação, difennte da geralmente seguida, acerca da
origem de algumas séries de riscas observadas nas estrelas, e também
recentemente por Fowler num tubo de vácuo cheio de uma mistura
de hidrogénio e de hBio. Em vez de as atribuir ao hidrogénio, tentei
aduzir razões para as atribuir ao hBio. Este último ponto poderia,
no entanto, ser verificado experimentalmente. Numa conferência em
que propus o meu ponto de vista e tentei explicar (como fiz no meu
artigo) que a presença de hidrogénio nas experiências de Fowler
poderia ser a causa indirecta do aparecimento das riscas conside-
radas, o químico Dr. Bjerrum sugeriu-me que, se a minha maneira
de ver fosse exacta, as riscas deveriam também aparecer num tubo
contendo uma mistura de hBio e cloro (oxigénio, ou outras substân-
cias electronegativas); de facto, foi sugerido que as riscas poderiam
ser ainda mais fortes neste caso. Todavia, não temos, em Copenhague,
oportunidade de realizar satisfatoriamente uma tal experiência; per-
gunto-lhe, por isso, se seria possível realizá-la no seu laboratório,
ou sugeri-la a Mr. Fowler, que talvez ainda tenha montado o dispo-
sitivo que utilizou.
Quando tiver acabado o meu artigo, espero poder fazer uma
pequena visita a Manchester e tratar desta eventualidade com o
maior prazer.
Com os melhores cumprimentos para si e para Mrs. Rutherford,
meus e de minha mulher, e agradecendo uma vez mais a sua amável
carta
Niels Bohr.
[ 68]
Sabendo quão longe ele estava ainda de todo o assunto
dos espectros de riscas algumas semanas antes, não podemos
deixar de ficar impressionados, ao lermos esta cana, pela maes-
tria que adquiriu tão ràpidamente na matéria. Para precipitar
este desenvolvimento dramático bastara apenas Bohr ter tido
conhecimento do trabalho de Rydberg sobre a classificação
das séries espectrais: cLogo que vi a fórmula de Balmer», dis-
se-me mais do que uma vez, ctudo se tomou inteiramente claro
para mim». Naqueles tempos, o físico de Copenhague com o
qual Bohr tinha mais afinidades era H. M. Hansen, mais novo
um ano do que ele e assistente no laboratório de física da
Escola Politécníca. Durante os dois anos anteriores, de Abril
de 1911 a Agosto de 1912, tinha trabalhado em Gõttingen sob
a orientação de Voigt, de quem foi assistente nos dois últimos
semestres do seu estágio. Realizara medidas rigorosas do efeito
de Zeeman inverso no lítio e tomara-se um espectroscopista
hábil. Desde o seu regresso a Copenhague estava a escrever
uma tese de doutoramento sobre o tema do seu trabalho aceita
pela Faculdade em 30 de Junho de 1913. Pode bem imagi-
nar-se o cunho que tomaram as conversações entre os dois
jovens no principio de 1913, quando Bohr, como vimos, con-
centrou cada vez mais a atenção em problemas ópticos. Hansen
perguntou a Bohr *) como explicaria, à luz da sua teoria, a
existência das regularidades dos espectros. Bohr não se inte-
ressara até então por este aspecto da questão, porque julgava
esses espectros demasiado complicados para darem qualquer
chave para o conhecimento da estrutura dos sistemas atómicos.
Nesta altura Hansen objectou-lhe chamando a sua atenção
para a grande simplicidade com que Rydberg conseguira repre-
sentar as séries espectrais; Rydberg estava mais interessado em
[ 691
encontrar fórmulas susceptíveis de exprimir leis gerais do que
em conseguir o maior rigor possível em relação a séries iso-
ladas*).
A partir deste ponto, é bastante fácil reconstruir a poste-
riori os passos ~ucessivos da análise que culminou na dedução
da expressão da constante de Rydberg em função das cons-
tantes universais e da massa do electrão. A variação com T- 2
dos termos que ocorrem na fórmula de Balmer, comparada
com a variação com K- 2 da fórmula que exprime as energias
de ligação dos estados estacionários, é sugestiva de uma iden-
tificação das duas quantidades, implicando que a constante K
para o estado de ordem T é proporcional a Th, implicando
então a estrutura da fórmula de Balmer a concepção do meca-
nismo da emissão radioactiva como uma transição entre dois
estados estacionários, cujas característJicas quantitativas são
fixadas da maneira indicada pelo postulado quântico. O valor
numérico da constante de Rydberg é assim obtido se se adoptar
para a constante K a determinação mais simples sugerida pela
quantificação do oscilador de Planck, ou seja, K = % Th.
É um pouco simplista, evidentemente (tenho plena cons-
ciência disso), apresentar a tremenda criação mental de Bohr
desta maneira um pouco primária; no entanto, conhecendo
bem a força lógica que marcou o funcionar habitual do seu
espírito, estou bastante certo de que o curso real dos seus pen-
samentos deve ter seguido estas linhas. Posso imaginar distin-
tamente o que aconteceu a seguir: no seu espírito teria pacien-
temente virado e revirado a fórmula de Balmer como, por
assim dizer, um geólogo vira e revira uma pedra nos dedos,
olhando-a de vários ângulos, perscrutando todos os pormeno-
[ 701
res da sua estrutura, tentando abordá-la de várias maneiras,
pondo à prova a necessidade lógica de cada passo que tivesse
dado; exploraria num rápido relance as suas consequências
e sujeitá-las-ia ininu.ciosamente à prova da experiência. Assim,
como seria de esperar, não se poupa a esforços para encontrar
um fundamento firme para a propriedade, expressa pela fór-
mula K = % -rh, que caracteriza os estados estacionários.
Uma se~ção completa (§ 3) da primeira memória é dedicada
a este problema crucial. É aqui que aparece o primeiro exem-
plo do método baseado no caso limite dos números quânticos
muito grandes, no qual é de esperar que o comportamento
quântico se funda com o comportamento clássico, - método
cedo transformado num poderoso instrumento heurístico, a que
Bohr costumava chamar o «argumento de correspondência».
Aqui, na admirável discussão da absorção de rad~ação ( § 4 ) ,
designa-o por «analogia», e na carta a Rutherford de 21 de
Março de 1913, citada mais adiante, fala com boas razões da
«mais bela analogia entre a velha electrodinâmica e as consi-
derações utilizadas no meu artigo».
O carácter arrojado (para não dizer escandaloso) do pos-
tulado quântico de Bohr nunca poderá ser acentuado com
ênfase excessiva: que a frequência de uma raruação emitida
ou absorvida por um átomo não coincidisse com qualquer
frequência do seu mov·imento interno deve ter parecido à maior
parte dos fí~cos contemporâneos como quase impensável.
Bohr estava plenamente consciente desta característica · emi-
nentemente herética das suas con~derações: refere-a com
ênfase apropriada no seu artigo (pág. 117). Numa carta diri-
gida um pouco mais tarde a McLaren (de 1 de Setembro
de 1913) escreve: «Penso que estamos de acordo quanto à
necessidade de novas hipóteses; mas pensa que serão necessá-
rios pressupostos tão desconcertantes como os que utilizei?
De momento estou inclinado para ideias mais radicais e con-
[ 71]
sidero a aplicação da mecânica como tendo apenas validade
formab. Na verdade, McLaren tinha àfirmado numa carta
anterior (de 15 de Fevereiro): c:Pela minha parte estou a
inclinar-me para acreditar que as noções da antiga mecânica
são irremediáveis». Contudo, havia pouca gente de espírito
tão livre como McLaren.
Uma ilustração flagrante da impressão produzida pelas
ideias de Bohr sobre os homens de pensamento Ç dada pela
reacção de Einstein às notícias de que as experiências de Evans
tinham confirmado a opinião de Bohr atribuindo as séries de
Pickering e de Fowler ao hélio (ver a carta a Rutherford de
6 de Março de 1913, já transcrita, e a primeira memória,
pág. 108). Recebeu a notícia por intermédio de Hevesy quando
se encontraram em Viena em Setembro de 1913; Hevesy
descreveu a entrevista por duas vezes, numa carta a Bohr de
23 de Setembro e noutra carta a Rutherford de 14 de Outu-
bro*). A Bohr escreve: «... depois perguntei-lhe a opinião
sobre a sua teoria. Ele disse-me que a achava muito interes-
sante, que se estivesse certa seria muito importante, etc., e que
já há muitos anos lhe tinham ocorrido ideias semelhantes mas
que não tivera ânimo para as desenvolver; eu disse-lhe então
que já está estabelecido com certeza que o espectro de
Pickering-Fowler pertence ao He. Quando ouviu isto ficou
extremamente surpreendido e disse-me: c:Então a frequência
da luz não depende nada da frequência do electrão~ (eu com-
preendi-o assim??). Isto é um êxito enorme. A teoria de Bohr
deve portanto estar certa. Não tenho palavras que exprimam
como fiquei contente e, em boa verdade, dificilmente haveria
outra coisa que me desse mais prazer do que este juizo espon-
tâneo de Einstein~. Na carta a Rutherford há um toque pito-
[ 72]
resco: «Quando lhe falei do espectro de Fowler os grandes
olhos de Einstein tornaram-se ainda maiores e disse-me:
«Então é uma das mais grandiosas descobertas». Senti-me
muito feliz ao ouvir Einstein falar desta maneira».
A fonte da segurança de Bohr ao propor o seu postulado
quântico deve procurar-se nas meditações epistemológicas da
sua primeira juventude, as quais lhe tinham permitido recon-
quistar esse sentido da natureza dialéctica dos nossos proces-
sos mentais que se tinha tão completamente obliterado na tra-
dição científica. Esta atitude tinha-o ajudado a compreender
que o conflito entre a representação clássica dos fenómenos e
as suas características quânticas era irredutível, e que problema
real não era eliminá-lo da nossa visão do mundo, mas sim
integrar os dois aspectos em conflito numa síntese racional.
No modelo atómico de Rutherford, encontrara um caso em
que a inevitabilidade do dilema era particularmente mani-
festa e, na transparente simplicidade da fórmula de Balmer,
o único processo de incorporar o quantum de acção na des-
crição dos sistemas atómicos. Para ele, o enunciado do pos-
tulado quântico não era uma adivinhação, mas sim o resul-
tado de um esforço consciente de síntese harmoniosa. Daí a
cautela, sempre visível, com que introduz na anáLise elementos
não clássicos e a sua constante preocupação em determinar
tão claramente quanto possível os limites de validade da des-
crição clássica; daí também a sua firme convicção de que
seguia o rumo certo.
[ 73 ]
4. A GRANDE TRILOGIA
3. St. Jacobsgade
Copenhague
21 de Março de 1913
[ 75 1
tinha formado optruao clara do signifi~do desta teoria e estava
numa atitude bastante céptica.
Agora cheguei à conclusão de que as diferenças entre as leis
que governam os hpectros de riscas normais e as que governam
os espectros discutidos por Nicholson podem ser devidas à circuns-
tância de que nos primeiros espectros observamos uma verdadeira
emissão de luz, enquanto nos últimos só há dispersão de radiação.
Na pág. 42 da cópia revista tentei dar as razões desta hipótese.
Se for correcta, a teoria de Nicholson ajustar-se-ia extremamente
bem às considerações do meu artigo. Outro aditamento é a intro-
dução (págs. 25-34) de algumas considerações sobre a absorção
de radiação. Tentei apresentar a teoria numa forma geral, que
pensei pudesse ter algum interesse. Em alguns raciocínios utilizei
sugestões propostas nas suas memórias sobre a origem dos raios fJ e y.
As minhas considerações não fazem muito mais do que exprimir
os resultados de experiências em novas palavras. Sugerem, todavia,
um possível e muito simples caminho para abarcar uma quantidade
de factos e, além disso, para mostrar uma excelente analogia entre
a velha electrodinâmica e as coosiderações aplicadas no meu artigo.
Nos últimos dias, vi que a teoria da emissão e da absorção esboçada
é susceptível de permitir uma interpretação muito simples da fór-
mula da radiação de Planck [estando sem livros, porque a biblioteca
está fechada, não pude, por isso, completar este ponto; se se mostrar
correcto pensarei em incluir uma nota sobre ele nas provas] . Estou
agora ocupado na elaboração dos capítulos seguintes. Espero poder
ir muito em breve a Manchester, e com imenso prazer aproveitaria
a oportunidade para ouvir a sua opinião sobre diferentes questões.
Com os melhores cumprimentos,
[ 76]
terior. Claramente, ele tinha-a primeiro repudiado na sua
totalidade, como incompatível com a sua recém-adquirida
concepção sobre a origem dos espectros de riscas; mais tarde,
ocorreu-lhe que talvez ainda pudesse ser salva se se supusesse
que as riscas do espectro da coroa que pareciam ser interpre-
tadas pelo mecanismo de Nicholson não eram devidas a uma
autêntica emissão, mas sim à dispersão de radiação. Esta
sugestão não podia, evidentemente, conferir aos trabalhos de
Nicholson mais substância do que eles continham; é mais
interessante como indicação da extensão com que, então, pare-
cia possível, a Bohr, tratar clàssicamente a dispersão óptica.
Antes de ir para impressão, o primeiro artigo tinha ainda
um dificílimo obstáculo a vencer. Logo que os aditamentos
que acabámos de mencionar foram enviados, chegou a carta
ansiosamente esperada (datada de 20 de Março de 1913 )*) na
qual Rutherford acusava a recepção do manuscrito na sua pri-
meira forma. Embora exprimisse toda a aprovação do ponto
de vista de Bohr que se poderia razoàvelmente esperar, Ruther- .
ford provocou grande alarme pela sua crítica à extensão do
artigo e pela proposta bem intencionada, como ele disse, de
cconar toda a matéria que eu considerasse desnecessária:..
Depois de receber a nova versão, ainda mais longa, Rutherford
insistiu no assunto com acrescida acuidade:
[77]
artigo é já bastante denso e longo para_ uma s6 publicação. Julgo
que é realmeote desejável que abrevie algumas das discussões para
o reduzir a um tamanho mais razoável. Como sabe, é costume em
Inglaterra apresentar os assuntos muito resumidos e sõbriamente, em
contraste com o método germânico, onde se considera como virtude
ser tão verboso quanto possivel.
Gostaria portanto que me dissesse quais as partes que pensa
poderiam ser deixadas de lado ou cortadas. Julgo que não seria
düícil reduzir o artigo de um terço sem sacrificar quaisquer pontos
essenciais. Como disse na minha última carta, é conveniente não
publicar memórias demasiado longas, porque isso amedronta pràti-
camente todos os leitores.
Muito sinceramente seu
E. Rutherford
[ 78]
«enfadonhos cálculos numéricos» relativos à estabilidade dos
sistemas de órbitas electrónicas. Abrangendo várias páginas,
conservou-se uma quantidade considerável de tais cálculos, que
testemunham do trabalho e cuidado postos por Bohr neste
trabalho. Contudo, em 10 de Junho, foi enviado o manuscrito
da segunda memória, e, com poucas alterações, foi em 22 de
Julho mandado imprimir por Rutherford sem mais comentá-
rios. Já cm 1 de Julho pôde ser enviada a Rutherford pelo
menos uma parte substancial da terceira memória; sabemos
(carta de Bohr a Rutherford de 29 de Julho de 1913) que
Bohr trabalhava para finalizar a terceira parte em fins de
Julho e que a última versão estava pronta à volta de 27 de
Agosto. As três memórias apareceram sucessivamente nos
números de Julho, Setembro e Novembro do Pbilosophical
Magazine. Desde o fim de Julho, Bohr estava activamente
empenhado na investigação das propriedades magnéticas dos
sistemas atómicos, de acordo com o seu ponto de vista; estava
a princípio convencido de que poderia incluir um apanhado
das suas ideias nas provas da segunda parte, que estava a
rever nos primeiros dias de Agosto (cartas a Harald Bohr de
30 de Julho e de 3 de Agosto de 1913), pensou depois em as
incluir na terceira parte (carta a Hevesy de 30 de Julho de
1913 ), mas finalmente desistiu. Pensou-se que seria interes-
sante publicar, como complemento aos três grandes artigos,
o rascunho do texto*) existente que Bohr tencionava acrescen-
tar às provas da parte II, para se ver até onde ele tinha pro-
gredido neste problema nesta fase precoce ;embora ainda num
estádio grosseiro de composição, apresenta claramente os pon-
tos essenciais.
[ 79 1
Embora inevitàvelmente ofuscad9s pela primeira parte, os
outros ainda compensam um estudo cuidadoso. Ganham uma
grande beleza pelo rigor da argumentação, a qual, em virtude
da situação lógica absolutamente nova decorrente da «mistura
das ideias de Planck com a velha mecânica:. (para empregar
a frase irreverente de Rutherford), é um 'verdadeiro tour de
force na arte de navegar entre Cila e Caribdes. É ainda uma
grande lição observar com que perícia Bohr opera com o
argumento a que mais tarde chamou o «princípio da transfor-
mabilidade mecânica'>, em certa medida coincidente com o
principio de Ehrenfest da invariância adiabãtica. A invariância
aqui considerada é a do momento angular dos electrões ao
longo do eixo de simetria das suas trajectórias (circulares).
Tinha feito notar na parte I (fim do § 3) que a condição que
fixa os estados estacionários, para as órbitas circulares que
estava a considerar, corresponde a atribuir o valor hj27r ao
momento angular de cada electrão ao longo do eixo da ór-
bita*). Para os sistemas de anéis que discute, supõe portanto,
em conformidade com o princípio acima mencionado, aquilo
a que chama a «Constância universal do momento angular
dos electrões~ quando os sistemas sofrem deformações lentas
contínuas. Por uma engenhosa escolha de tais deformações
é-lhe possível tirar conclusões surpreendentemente precisas e
variadas sobre as estruturas orbitais dos ãtomos pesados (nas
quais jã detecta uma tendência para a periodicidade no sentido
do quadro de Mendeleev) e acerca da possibilidade ou da
impossibilidade das combinações químicas.
[ 80]
Particularmente intrigante é a sua concepção da ligação
química como um anel de electrões compartilhados pelos áto-
mos combinados: concepção que tão curiosamente prefigura
o conceito moderno de ligação homopolar. A maneira rigorosa
como podiam funcionar modelos meloculares aparentemente
tão imperfeitos é ilustrada por um incidente relacionado com a
energia de dissociação da molécula de hidrogénio. O valor cal-
culado de acordo com o modelo revelou-se inferior a metade
do que fora recentemente calculado por Langmuir (ver terceira
memória, pág. 180). Todavia, pouco depois do aparecimento
da parte III, Langmuir deu a saber que medições aperfei-
çoadas tinham entretanto fornecido um valor muito mais baixo,
de facto mUJito próximo da predição original de Bohr.
«A grande diferença entre os meus cálculos e as suas belas
experiências», escreveu Bohr em 17 de Dezembro de 1913
a Langmuir, que _lhe tinha mandado os seus novos resultados,
«foi causa de muitas dúvidas que tive quanto à correcção das
minhas hipóteses sobre a constituição da molécula do hidro-
génio. Compreenderá por isso qual foi o meu interesse quando
soube que as novas experiências indicam que o desacordo em
questão é consideràvelmente menor».
Quanto às propriedades magnéticas da matéria, era natural
que Bohr pusesse à prova em relação a elas o poder dos seus
métodos, pois demonstrara na sua tese, por um argumento
notàvelmente simples, que um tratamento clássico era total-
mente incapaz de as explicar. De novo, encontrou uma saída
na extensão ao caso dos sistemas colocados num campo magné-
tico da constância universal do momento angular, a qual asse-
gura a estabilidade dos estados estacionários e impede, assim,
a compensação dos momentos paramagnéticos e diamagnéticos
que era uma consequência inevitável da teoria clássica.
Por fecundos que fossem em resultados todos estes desen-
volvimentos, e mais ricos ainda em perspectivas, foram inegà-
[ 81 ]
6
velmente a interpretação da fórmula .de Balmer e a dedução
da constante de Rydberg que, pela sua transparente simpli-
cidade e fundamental significação, causaram a mais profunda
impressão no mundo da física. Esta impressão foi fortalecida,
em não pequena extensão, pela rápida conclusão da contro-
vérsia que, no decorrer do Verão e Outono deste ano cheio
de acontecimentos, opôs o ainda desconhecido jovem intruso
aos mais experimentados espectroscopistas e terminou pelo
triunfo do intruso*).
Foi uma sorte para Bohr que, graças ao sexto sentido de
Rutherford para apreender o ponto essencial de qualquer
questão e à eficiência sem par do seu laboratório, a iconoclasta
atribuição da série de Pickering e Fowler ao hélio, apresentada
na primeira memória, tivesse sido testada por Evans com tanta
rapidez e êxito. Foi também uma felicíssima circunstância
que a última objecção de Fowler, deduzida da pequena discre-
pância aparente entre os comprimentos de onda medidos e
calculados, pudesse ter sido tão fàcilmente rebatida pelo
recurso à correcção de massa da constante de Rydberg e assim
tenha resultado em decisiva confirmação dos últimos refina-
mentos da teoria. Já vimos o efeito que o desenlace das expe-
riências de Evans teve em Einstein, cuja reacção deve ser para-
digma para o teórico; mas talvez o mais importante nesta
fase crítica fosse a repercussão da controvérsia em experimen-
tadores como Fowler e o próprio Rutherford, pois forçou a
sua adesão, demonstrando que a teoria era adequada.
[ 82 1
5. PRIMEIRAS REACÇõES
[ 83 1
A reacção dos «leões:. foi, contudo., mais reticente. Lord
Rayleigh evitou comprometer-se com uma observação inteli-
gente e espirituosa sobre a inconveniência de pessoas de mais
de sessenta anos proferirem juízos sobre ideias modernas.
A maneira concisa como pôs a questão diveniu a assistência
e em panicular .Bohr, ·que mais tarde não perdia nenhuma
oponunidade de contar a anedota*). Quando Bohr inter-
veio **) na discussão para dar «uma pequena explicação
sobre o seu átomo» teve que enfrentar a pergunta céptica de
Lorentz de ccomo era mecâncamente explicado o átomo de
Bohr» e que admitir «que esta pane da sua teoria não era
completa mas que, admitindo a teoria quântica, tomava-se
necessário qualquer esquema da espécie sugerida».
Com J. J. Thompson houve uma troca de palavras menos
agradável, como se sabe pela cana de Hevesy a Ruther-
ford***), já citada. Fazendo um comentário sobre os contro-
vertidos raios positivos representados por «Xa», Thomson
argumentou que deviam ser identificados como moléculas tria-
tómácas de hidrogénio. Bohr levantou-se para sugerir «à sua
maneira modesta habitual» a possibilidade de que devessem
antes atribuir-se a átomos de hidrogénio «tendo um núcleo três
vezes mais pesado do que o hidrogénio». Hevesy continua
como segue:
[ 84]
Bohr não foi bem compreendido e Thomson deu uma res-
posta seca, dizendo - depois de uma breve consulta com
Ramsay- que a sugestão de Bohr era sem valor, pois só os
átomos e não as moléculas de H se difundem através do palá-
dio. - Certamente, mas essa era justamente a questão para
Bohr. . . A impressão global era que ele dissera algo de muito
inteligente e Bohr algo de muito estúpido. Ora o caso era
precisamente o contrário. Por isso senti-me obrigado a apoiar
Bohr e expliquei o sentido da sugestão em termos mais con-
cretos, dizendo que a ideia de Bohr significa que, possivel-
mente, X 3 é um elemento quimicamente inseparável do hidro-
génio ... Evidentemente não é muito provável, mas é em todo
o caso uma hipótese interessante, que não deveria ser precipi-
tadamente afastada ... :..
[ 85]
estudar um trabalho teórico ao mesmo tempo que realizo trabalho
experimental.
A única possibilidade que tenho para o fazer é ir para um
lugar sossegado e, depois de descansar, sentar-me na praia ou num
bonito jardim e começar a ler e a pensar.
Foi o que fiz agora, e devo dizer-lhe que os seus trabalhos foram
para mim uma grande fonte de prazer.
Ernest Mach, embora errado na sua oposição à física cinética,
ainda um dos melhores cconnoisseuru da cteoria de fazer ciência»
apontou dois motivos caracteristicos principais que nos induzem a
fazer ciência: 1.") economia de pensamento, e o que ele chama:
2.") Beseitung intellectuelen Unbehageos *). Um espírito inteligente
não se sente feliz senão quando consegue ligar os factos isolados que
observa.
Tem interesse salientar que embora sejamos muitas vezes com-
pelidos a explicar matérias cientificas a espíritos completaJmnte não-
-científicos, o uso e natureza da ciência como uma espécie de eco-
nomia de pensamento, é muito mais esta cansiedade intelectuab que
nos induz a pensar, a fazer ciêricia.
Compreenderá agora por que razão a leitura dos seus trabalhos
foi para mim uma fonte de prazer.
Espero interessadíssimo o resultado dos ~us cálculos mais
elaborados. Até aqui tudo é tão claro, o comportamento do hidro-
génio e do hélio descrito pela teoria tão coerente que ninguém pode
deixar de ficar impressionado.
A única sugestão que tenho a fazer é a seguinte: seria de grande
ajuda para outras pessoas, e mesmo para si, possuir alguns modelos
que representassem as díferentes estruturas de átomos e moléculas.
Seria uma tarefa fácil para um bom mecânico.
Como explica a díferença entre valências primárias e secundá-
rias? (Haupt und Nebenvalenzen). Estarão as primeiras ligadas com
o anel exterior e as segundas, embora indirectamente, com os outros
an~s?
Ficarei aqui por alguns dias e depois voltarei outra vez para
Manchester.
[ 86 1
Fiquei contente por saber que gostou do seu estágio em Cam-
bridge; é indubitAvelmente um grande lugar e os átomos dificilmente
encontrarão noutro sítio melhor acolhimento.
Foi para mim um grande prazer ter coohecido Mrs. Bohr e
espero tornar a vê-la em breve, deste ou do outro lado do Canal.
A si vê-lo-ei com certeza em Binningham.
Com os melhores cumprimentos para si e Mrs. Bohr
Sou
Muito sinceramente seu
G. Hevesy
4. IX. 13
Sehr geehrter Herr College!
[ 87]
Prezado Colega
Seu dedicado
A. Sommerfeld
[ 88 ]
Nenhum teórico pode chegar mais alto, por isso felicito-o de
todo o meu coração.
Como muito bem sabe, a sua teoria levanta várias questões
de diferentes espécies. Uma é, evidentemente, a questão dos
espectros. Outra é a de saber como deverá ser modificada a
teoria de Maxwell-Lorentz para que um átomo do tipo que
propõe possa existir. É principalmente com esta última questão
que tenho estado ocupado. Até aqui só posso dizer que cada
vez vejo melhor quão profunda deverá ser essa modificação!
Mas creio que é necessária.
Seu
Nagaoka
[ 89]
Quando li isto, lembrei-me de uma tarde de Março de 1931
em que, num brilhante improviso, Bohr, lançado no assunto
por Delbrück, redescobriu no quadro preto a explicação da
estabilidade dos anéis de Saturno que Maxwell tinha dado no
seu trabalho clássico. Emocionado pela simplicidade da solu-
ção, exprimiu a sua admiração pelo funcionar da natureza
à escala cósmica. Depois acrescentou, com uma cintilação no
olhar: cA estabilidade dos átomos é também maravilhosa~.
[ 90]
REFE~NCIAS
[ 91 ]
TRADUÇÃO DAS TMS M.E.MóRIAS
PUBLICADAS NO PHILOSOPHICAL
MAGAZINE
DE JULHO, SETEMBRO E NOVEMBRO DE 1913,
E
DO ESBOÇO DE UMA SECÇÃO IN:eDITA
SOBRE MAGNETIS.\10
PHILOSOPMCAL MAGAZim, S. 6. Vol. 26. N• 151. JULHO DE 1913
INTRODUÇÃO
[ 95]
com dificuldades de natureza muito ~ria derivadas da apa-
rente instabilidade do sistema de electrões: dificuldade delibe-
radamente evitada nos modelos atómicos previamente consi-
derados como, por exemplo no proposto por Sir J. J. Thom-
son *. Segundo a teoria de Thomson, o átomo é formado
por uma esfera de electrização positiva uniforme, dentro da
qual os electrões se movem em órbitas circulares.
A principal diferença entre os modelos atómicos propostos
por Thomson e Rutherford consiste na circunstância de que
as forças que actuam sobre os electrões no modelo de Thom-
son permitem certas configurações e movimentos dos electrões
para os quais o sistema está em equilíbrio estável; todavia,
para o segundo modelo não existem aparentemente tais con-
figurações. A natureza da diferença em questão ver-se-á tal-
vez mais claramente notando que entre as quantidades que
caracterizam o primeiro átomo aparece uma quantidade - o
raio da esfera positiva- com as dimensões de um compri-
mento e com a mesma ordem de grandeza da extensão
linear do átomo, enquanto esse comprimento não aparece entre
as quantidades que caracterizam o segundo átomo, ou sejam,
as cargas e massas dos electrões e o núcleo positivo, nem pode
ser determinado por intermédio destas últimas quantidades.
Contudo, a maneira de considerar um problema desta
espécie sofreu alterações essenciais em anos recentes devido
ao desenvolvimento da teoria da radiação de energia e à
confirmação directa dos novos pressupostos introduzidos nesta
teoria, encontrada em experiências relacionadas com fenó-
menos muito · diferentes tais como calores especüicos, efeito
fotoeléctrico, raios de Rõntgen, etc. O resultado da discussão
destas questões parece ser um reconhecimento geral de que
[ 961
a electrodinâmica clássica não consegue descrever o compor-
tamento de sistemas de dimensões atómicas *. Qualquer que
seja a alteração das leis do movimento dos electrões, parece
necessário introduzir nas leis em questão uma quantidade
alheia à electrodinâmica clássica, a constante de Planck,
ou, como muitas vezes é designada, o quantum elementar de
acção. Pela introdução' desta grandeza, a questão da configura-
ção estável dos electrões nos átomos é essencialmente modifi-
cada, visto que esta constante tem dimensões e grandeza tais
que, juntamente com a massa e a carga das particulas, permite
determinar um comprimento da ·ordem de grandeza reque-
rida.
Esta memória é uma tentativa para mostrar que a aplica-
ção das ideias acima mencionadas ao modelo atómico de
Rutherford constitui uma base para uma teoria da constitui-
ção dos átomos. Mostrar-se-á, além disso, que a partir desta
teoria somos conduzidos a uma teoria da constituição das
moléculas.
Nesta primeira parte do trabalho é discutido o mecanàsmo
da ligação dos electrões a um núcleo positivo em relação com
a teoria de Planck. Demonstrar-se-á que é possível, sob o
ponto de vista adoptado, explicar de maneira simples a lei do
espectro de riscas do hidrogénio. Além disso, são dadas as
. razões para uma hipótese fundamental em que se baseiam as
considerações contidas nas partes seguintes.
Desejo exprimir aqui ao Prof. Rutherford os meus agra-
decimentos pelo seu amável e encorajante interesse por este
trabalho.
[ 97]
7
PARTE I - LIGAÇÃO DE ELECTRÕES PQR NúCLEOS POSITIVOS
§ 1. Considerações Gerais
v'T W 3/2 eE
w=-- 2a= W . (1)
eEy;; '
[ 981
mente, e o electrão aproximar-se-á do núcleo descrevendo
órbitas de dimensões cada vez mais pequenas e com frequên-
cia cada vez maior; em média, o electrão ganha energia ciné-
tica ao mesmo tempo que todo o sistema perde energia.
O processo continuará até que as dimensões da órbita sejam
da mesma ordem de grandeza que as dimensões do electrão
ou do núcleo. Um cálculo simples mostra que a energia irra-
diada durante o processo considerado será extremamente
grande em comparação com a que é irradiada nos processos
moleculares ordinários.
É óbvio que o comportamento de um tal sistema será
muito diferente do funcionamento de um sistema atómico
natural. Em primeiro lugar, os átomos reais no seu estado
permanente parecem ter dimensões e frequências absoluta-
mente fixas. Além disso, se considerarmos qualquer processo
molecular, o resultado parece 'ser sempre que, após ter sido
irradiada uma certa quantidade de energú;t característica dos
sistemas em causa, estes atingem um novo estado de equi-
líbrio, no qual as distâncias têm a mesma ordem de grandeza
que antes do processo.
Ora o ponto essencial na teoria da radiação de Planck é
que a !irradiação de energia por um sistema atómico não tem
lugar da maneira contínua admitida na electrodinâmica usual,
mas que, pelo contrário, se dá por emissões distintamente
separadas, sendo a quantidade de energia irradiada numa só
emissão por um vibrador atómico de frequência v igual a Thv,
em que T é um número inteiro e h uma constante unàversal *.
Voltando ao caso simples de um electrão e de um núcleo
positivo, considerado acima, suponhamos que o electrão, no
[ 99]
início da interacção com o núcleo, estava muito afastado e não
tinha velocidade apreciável em relação a ele. Suponhamos,
além disso, que o electrão, depois de se ter dado a interacção
entrou numa órbita estacionária em tomo do núcleo. Admitire-
mos, por motivos que serão referidos mais tarde, que a órbita
em questão é circular; esta hipótese não alterará, no entanto,
os cálculos para sistemas que contenham um só electrão.
Suponhamos agora que, durante a ligação do electrão, é
emitida uma radiação homogénea de frequência v, igual a
metade da frequência de revolução do electrão na sua órbita
final; então, de acordo com a teoria de Planck, seria de espe-
rar que a quantidade de energia emitida pelo processo consi-
derado fosse igual a Thv, sendo h a constante de Planck e T
um número inteiro. Admitindo que a radiação emitida é homo-
génea, a segunda hipótese respeitante à frequência da radiação
decorre imediatamente, visto que a frequência de revolução
do electrão no início da emissão é O. Contudo, a questão
da validade rigorosa de ambas as hipóteses, assim como a da
aplicação da teoria de Planck, será mais minuciosamente dis-
cutida no § 3.
Tomando
(!)
W = Th-, . . (2)
2
(3)
[ 100]
rações corresponderão a estados do sistema nos quais não há
radiação de energia; estados que consequentemente serão esta-
cionários enquanto o sistema não for perturbado do exterior.
Vemos que W tem o valor máximo quando T tem o seu valor
mínimo 1. Este caso corresponderá portanto ao estado mais
estável do sistema, isto é, corresponderá à ligação do elec-
trão que exigirá maior quantidade de energia para ser desfeita.
Fazendo nas expressões anteriores T = 1 e E = e, e substi-
tuindo os valores experimentais
e
e= 4,7 X lo-10 , - = 5,31 X 1011 , h= 6,5 X 1o-ar,
m
obtemos
1 w
2a = 1,1 X 1()-8 cm, w = 6,2 X 10 1 ~ - , - = 13 volt
s e
[ 101]
por Haas *, numa tentativa para explicar o significado c o
valor da constante de Planck baseada no modelo atómico de
J. J. Thomson, por intermédio das dimensões lineares e da
frequência de um átomo de hidrogénio.
Sistemas da espécie considerada neste trabalho, nos quais
as forças entre as panículas variam na razão inversa do
quadrado da distância, são discutidos, em relação com a teoria
de Planck, por J. W. Nicholson+. Numa série de memórias,
este autor mostrou que parece possível explicar o apareci-
mento de riscas de origem até aqui desconhecida nos espectros
das nebulosas estelares e no da coroa solar, supondo presen-
tes nestes corpos certos elementos hipotéticos de constituição
exactamente ándicada. Admite-se que os átomos destes elemen-
tos são formados simplesmente por um anel com alguns elec-
trões em tomo de um núcleo positivo de dimensões desprezá-
veis. As razões entre as frequências correspondentes às riscas
em questão são comparadas com as razões entre as frequências
correspondentes a diferentes modos de vibração do anel de
electrões. Nicholson obteve uma relação com a teoria de
Planck mostrando que as razões entre os comprimentos de
onda dos diferentes conjuntos de riscos do espectro coronal
podem ser explicadas com grande rigor supondo que a razão
entre a energia do sistema e a frequência de rotação do anel
é igual a um múltiplo da constante de Planck. A quan-
tidade a que Nicholson se refere como sendo a energia é
[ 102]
igual a duas vezes a quantidade que acima representámos
por W. Na última memória citada Nicholson achou necessário
dar à troria uma forma mais complicada representando, con-
tudo, a razão entre a energia e a frequência ainda por uma
função 1imples de números inteiros.
A e:::celente concordância entre os valores calculados e os
valores observados das razões entre os comprimentos de onda
em ques:ão parece ser um argumento forte a favor da validade
do fundamento dos cálculos de Nicholson. No entanto, podem
levantar-se objecções sérias contra a teoria. Estas objecções
estão irtimamente relacionadas com o problema da homoge-
neidade da radiação emitida. Nos cálculos de Nicholson a
frequência das riscas num espectro é identificada com a fre-
quência de vibração de um sistema mecânico num estado de
equilíbrio bem definido. Como é utilizada uma relação obtida
a partir da teoria de Planck, a radiação deveria ser emitida
sob a forma de quanta, mas sistemas como os considerados,
nos quais a frequência é uma função da energia, não podem
emitir uma quantidade finita de uma radiação homogénea;
a razio deste facto está em que, logo que começa a emissão
de radiação, a energia e portanto a frequência do sistema são
alteradas. Além disso, segundo o cálculo de Nicholson, os sis-
temas são instáveis para alguns modos de vibração. Pondo de
parte estas objecções- que podem ser apenas formais (ver
pág. 127) - deve notar-se que a teoria na forma dada não
parece ser capaz de explicar as bem conhecidas leis de Balmer
e Rydberg que relacionam as frequências das linhas nos espec-
tros de riscas dos elementos ordinários.
Tentar-se-á agora mostrar que as dificuldades em ques-
tão desaparecem se considerarmos os problemas sob o ponto
de vista adoptado nesta memória. Antes de continuarmos é
útil enunciar de novo, resumidamente, as ideias que caracteri-
zam os cálculos da pág. 101.
[ 103]
Os principais pressupostos utilizados são:
[ 104 1
postos espeCiais e mostraremos primeiro, pelo emprego das
hipóteses principais acima referidas e das expressões (3) para
os estados estacionários, como pode explicar-se o espectro de
riscas do hidrogénio.
[ 105]
Se supusermos agora que a radiação-em questão é homogénea,
e que a quantidade de energia eminida é igual a hv, sendo v
a frequência da radiação, obtemos
e daqui
(4)
e
e= 4,7 X 1ü-10, - = 5,31 X 1017, e h= 6,5 X 1ü-27 ,
m
obtemos
3,290 X 10".
[ 106)
A coincidência entre os valores teóricos e observados
está dentro da incerteza devida aos erros experimentais das
constantes que entram na expressão para o valor teórico.
Voltaremos no § 3 a considerar a importância possível da
concordância em questão.
Deve notar-se que a facto de não ter sido possível observar
mais do que 12 riscas da série de Balmer nas experiências com
tubos de vácuo, ao passo que se observam 33 riscas nos espec-
tros de alguns corpos celestes, é exactamente a conclusão da
teoria acima exposta. Segundo a equação ( 3), o diâmetro da
órbita do electrão nos diferentes estados estacionários é pro-
porcional a T 2 • Para T = 12 o diâmetro é igual a 1,6 X 1o-s cm,
ou igual à distância média entre as moléculas de um gás à
pressão de cerca de 7 mm de mercúrio; para T = 33 o dââ-
metro é igual a 1,2 X 10-~ . cm, correspondente à distância
média das moléculas à pressão de cerca de 0,02 mm de mer-
cúrio. Segundo a teoria, a condição necessária para o apareci-
mento de um grande número de riscas é, portanto, uma den-
sidade muito pequena do gás; para se obter simultâneamente
uma intensidade suficiente para a observação, o espaço preen-
chido pelo gás deve ser muito grande. Se a teorúa estiver
certa, nunca poderão observar-se, em experiências com tu-
bos de vácuo, as riscas correspondentes a números elevados
da série de Balmer do espectro de emissão do hidrogénio;
contudo, seria possível observar essas riscas investigando o
espectro de absorção deste gás (ver § 4).
Observar-se-á que da maneira acima descrita não obte-
mos outras séries de riscas, geralmente atribuídas ao hidro-
génio; por exemplo, a série primeiro observada por Picke-
ring * no espectro da estrela C Puppis, e o conjunto de séries
[ 107]
recentemente encontradas por Fowler+ em experiências com
tubos de vácuo contendo uma mistura de hidrogénio e hélio.
Todavia, veremos que a teoria acima exposta engloba natural-
mente estas séries de riscas se as atribuirmos ao hélio.
Um átomo neutro deste último elemento é formado,
segundo a teoria de Rutherford, por um núcleo positivo de
carga 2e e por dois electrões. Considerando a ligação de um
sú electrão a um núcleo de hélio, obtemos, fazendo E = 2e
nas expressões ( 3) da pág. 100, procedendo de maneira
exactamente análoga à anterior
[ 108]
Se o espectro considerado não se observa nos tubos de
hélio usuais, é talvez porque, nesses tubos, a ionização do
hélio não é tão completa como na estrela referida ou nas
experiências de Fowler, nas quais se dá uma descarga forte
através de uma mistura de hidrogénio e hélio. A condição para
o aparecimento do espectro será, de acordo com a teoria acima
proposta, que os átomos de hélio estejam presentes num estado
em que perderam ambos os seus electrões. Depois, é necessá-
rio supor que a quantidade de energia gasta para remover o
segundo elctrão do átomo de hélio deverá ser muito maior
do que a que foi utilizada na remoção do primeiro. Além
disso, sabe-se, como resultado de experiências feitas com raios
positivos, que os átomos de hidrogénio podem adquirir carga
negativa; por conseguinte, a presença de hidrogénio nas expe-
riências de Fowler pode criar condições para que saiam mais
electrões de alguns átomos de hélio do que sairiam se só o hélio
estivesse presente.
Espectros de outras substâncias. Em casos de sistemas que
contenham mais electrões deverão prever-se - em confortni-
dade com o resultado das experiências - , leis dos espectros
de riscas mais compLicadas do que as consideradas. Tentarei
demonstrar que o ponto de vista adoptado pertnite, em qual-
quer caso, uma certa compreensão das leis observadas.
Segundo a teoria de Rydberg- com a generalização dada
por Ritz * - a frequência correspondente às riscas do espectro
de um elemento pode exprimir-se por
[ 109]
K K
de r aproximadamente iguais a
(r + a1) ' (r + a2) 2 ' · · · ·
2
K é uma constante universal, igual ao factor que está fora do
parêntesis na fórmula ( 4) para o espectro do hidrogénio. As
diferentes séries aparecem se fizermos r 1 e r 2 iguais a um
número e deixarmos variar os outros.
A circunstância de a frequência poder ser representada
pela diferença entre duas funções de números inteiros sugere
para as riscas dos espectros em causa uma origem seme-
lhante à que postulámos para o hidrogénio; isto é, as riscas
corresponderão a uma radiação emitida durante a passagem
do sistema entre dois estados estacionários diferentes. Para
sistemas que contenham mais do que um electrão, a discus-
são pormenorizada pode ser muito complicada, visto que
haverá muitas configurações diferentes dos electrões a serem
consideradas como estados estacionários. Isto pode explicar
os diferentes conjuntos de séries existentes nos espectros de
riscas emitidos pelas substâncias em questão. Aqui tentarei
apenas mostrar como, utilizando a teoria, poderá explicar-se,
de maneira simples, que a constante K que entra na fórmula
de Rydberg é a mesma para todas as substâncias.
Suponhamos que o espectro em causa corresponde à radia-
ção emitida durante a ligação de um electrão; e suponhamos,
além disso, que é neutro o sistema que inclui o electrão con-
siderado. A força exercida sobre o electrão, quando colocado
a grande distância do núcleo e dos electrões previamente liga-
dos, será muito aproximadamente igual à que se exerce no
caso antes considerado d::. ligaça·J de um electrão por um
núcleo de hidrogénio. A energia correspondente a um dos
estados estacionários, parll r gr~.nde, será muito próxima da
energia dada pela expressão (3) da pág. 100, se fizermos E=e.
[ 110]
Para T grande obteremos, consequentemente
[ 111 ]
rentes estados estacionários é dada pela equação W = f (r),
em vez de ser pela equação ( 2). Procedendo como antes,
obtemos, neste caso, em lugar de ( 3)
v=
2N -1
v = - -- -
[ 112]
razão entre a frequência de radiação e a frequência de revolu-
ção fosse também muito próxima de 1. Esta condição só será
T
satisfeita se c = %. Contudo, fazendo /( T) = - , chegamos
2
novamente à equação (2) e consequentemente à expressão (3)
para estados estacionários.
Se considerarmos a transição do sistema entre dois estados
correspondentes a T = N e T = N - n, onde n é pequeno
em comparação com N, obtemos com aproximação igual à
T
anterior, fazendo /( T) = -
2
v= 1lw.
[ 113 1
8
do hidrogénio. Consequentemente, poderemos encarar as nossas
considerações preliminares. da pág. 100 apenas como uma
forma simples de representar os resultados da teoria.
Antes de deixarmos a discussão desta questão, voltaremos
por momentos ao problema da significação do acordo entre os
valores observados e calculados da constante que entra nas
expressões ( 4) referentes à série de Balmer do espectro do
hidrogénio. Partindo das considerações acima invocadas seguir-
-se-á que, começando pela forma da lei do espectro do hidro-
génio e supondo que as diferentes riscas correspondem a uma
radiação homogénia emitida na transição entre diferentes esta-
dos estacionários, chegaremos exactamente à mesma expressão
da constante em causa, dada por ( 4), bastando supor: ( 1 ) que
a radiação é libertada em quanta hv, e (2) que a frequência
da radiação emitida durante a passagem entre estados estacio-
nários sucessi~os coincidirá com a frequência de revolução do
electrão na região de vibrações lentas.
Como todos os pressupostos utilizados nesta última maneira
de representar a teoria têm o que podemos chamar um carác-
ter qualitativo, justifica-se que esperemos - se todo o modo
de raciocinar for bem fundamentado- uma concordância
absoluta entre os valores calculados e observados da constante
em causa, e não apenas uma C<'ncordância aproximada. A fór-
mula ( 4) pode portanto ter valor na discussão dos resultados
das determinações experimentais das constantes e, m e h.
Conquanto não esteja obviamente em questão a funda-
mentação mecânica dos cálculos apresentados nesta memória,
é, todavia, possível dar uma interpretação muito simples do
resultado do cálculo da pág. 101 empregando simbolo3 tirados
da mecânica usual. Representando por M o momento angular
do electrão em tomo do núcleo, temos imediatamente para
T
uma órbita circular '~~"M = - , sendo w a frequência de revo-
w
[ 1141
lução c T a cncrgüa cmeuca do electrão; para uma órbita
circular temos, além disso, T = W (ver pág. 98) e de ( 2) ,,
pág. 100, obtemos consequentemente
onde
h
Mo =- = 1,04 X 10-27 •
271"
[ 115 1
§ 4. Absorção de Radiação
[ 116]
dente às linhas dos espectros de riscas das substâncias, pode-
mos, por outro lado, conduir que as riscas em causa são emi-
tidas durante a transição do sistema de um estado para outro,
um dos quais é o estado permanente.
A maneira mais clara de mostrar a medida em que
as considerações acima feitas diferem da interpretação ba-
seada na electrodinâmica usual, talvez resida no facto de
termos sido forçados a supor que um sistema de electrões
absorverá uma radiação de frequência diferente da frequência
de vibração dos electrões calculada ao modo habitual. Pode
ter interesse mencionar neste contexto uma generalização das
considerações a que somos conduzidos por experiências sobre
o efeito fotoeléctrico, as quais permitem talvez lançar alguma
luz sobre o problema em causa. Consideremos um estado do
sistema no qual o electrão é livre, quer dizer, no qual o elec-
trão possui energia cinética suficiente para se afastar para dis-
tância infinita do núdeo. Se admitirmos que o movimento do
electrão é governado pela mecânica habitual e que não há
radiação (sensível) de energia, a energia total do sistema será
constante - como nos estados estacionários que temos conside-
rado. Além disso, haverá perfeita continuidade entre as duas
espécies de estados, visto que a diferença entre a frequência e
as dimensões dos sistemas em sucessivos estados estacionários
diminuirá sem limite se T aumentar. Para abreviar, daqui por
diante às duas espécies de estados em questão daremos o
nome de estados «mecânicos»; com esta designação queremos
apenas sublinhar a hipótese de que o movimento do electrão
em ambos os casos pode ser compreendido pela mecânica
usual.
Marcando a analogia entre as duas espécies de estados
mecânicos, poderiamos agora esperar a possibilidade de uma
absorção de radiação, não somente correspondente à tr8nsição
do sistema entre dois estados estacionários diferentes, mas
[ 117]
também correspondendo à passagem- de um dos estados esta-
cionários para outro estado em que o electrão é livre; e, como
acima, é de esperar que a frequência desta radiação seja deter-
minada pela relação E = hv, onde E é igual à diferença entre
as energias totais do sistema nos dois estados. Como se verá,
essa absorção de radiação é precisamente a que se observa nas
experiências de ionização pela luz ultravioleta e pelos raios
de Rõntgen. Desta maneira, obtemos evidentemente para a
energia cinética de um electrão ejectado de um átomo por
efeito fotoeléctrico uma expressão igual à deduzida por Eins-
tein*, ou seja, T = hv - W, sendo T a energia cinética do
electrão ejectado, e W a quantidade total de energia emitida
durante a ligação primitiva do electrão.
As considerações anteriores permitem, além disso, com-
preender o resultado de algumas experiências de R. W. W ood +
sobre a absorção de luz pelo vapor de sódio. Nestas experiên-
cias, observa-se uma absorção correspondente a um número
muito grande de riscas da série principal do espectro do sódio,
e, por acréscimo, uma absorção contínua que começa à cabeça
da série e se estende até ao ultravioleta extremo. Isto é exacta-
mente o que seria de esperar de acordo com a analogia em
questão, e, como veremos, um exame mais de perto das
experiências mencionadas permitir-nos-á levar a analogia ainda
mais longe. Como se disse na pág. 107, os raios das órbitas dos
electrões para estados estacionários correspondentes a valo-
res de -r elevados serão muito grandes em comparação com as
dimensões atómicas usuais. Esta circunstância foi utilizada
como explicação do não aparecimento das riscas correspon-
dentes aos números mais altos da série de Balmer do espectro
[ 1181
do hidrogénio nas experiências com tubos de vácuo. O que fica
dito está também em conformidade com experiências realizadas
sobre o espectro de emissão do sódio; na série principal do es-
pectro de emissão desta substância observam-se bastante pou-
cas riscas. Ora, nas experiências de W ood a pressão não era
muito baixa, e, por conseguinte, os estados correspondentes a
valores elevados de r não podiam aparecer; no entanto, no es-
pectro de absorção foram detectadas cerca de 50 riscas. Conse-
quentemente, nas experiências referidas observamos uma absor-
ção de radiação que não é acompanhada por uma transição
completa entre dois estados estacionários diferentes. Segundo a
presente teoria deverá admitir-se que esta absorção é seguida
por uma emissão de energia durante a qual os sistemas voltarão
ao estado estacionário original. Se não houver colisões entre
os diferentes sistemas esta energia será emitida sob a forma
de radiação com frequência igual à que foi absorvida, não
havendo verdadeira absorção mas só dispersão da radiação
primitiva; só haverá verdadeira absorção se a energia em ques-
tão for transformada por choques em energia cinética de par-
tículas livres. Por analogia, poderemos agora concluir a partir
das experiências citadas que um electrão ligado - também
em casos em que não há ionização - terá influência absorvente
(dispersão) sobre uma radiação homogénea, logo que a fre-
quência da radiação seja maior do que W /h, onde W é a
quantidade total de energia libertada durante a ligação do
electrão. Este facto seria fortemente a favor de uma teoria
da absorção como a esboçada acima, visto que em tal caso
não poderá dar-se a coincidência da frequência da radiação e
de uma frequência de vibração característica do electrão.
Ver-se-á, além disso, que a hipótese de que haverá absorção
(dispersão) de qualquer radiação correspondente a uma tran-
sição entre dois estados mecânicos diferentes está em perfeita
analogia com a hipótese geralmente utilizada de que um elec-
[ 1191
trão livre terá influência absorvente ( dispersante) sobre luz de
qualquer frequência. Considerações semelhantes serão também
verdadeiras para a emissão de radiação.
Anàlogamente à hipótese utilizada nesta memória de que
a emissão dos espectros de riscas é devida à reconstituição de
átomos após terem sido removidos um ou mais dos electrões
fracamente ligados, podemos supor que a radiação de Rõntgen
homogénea é emitida durante o restabelecimento dos sistemas
depois de se ter escapado um dos electrões fortemente ligados,
por exemplo, pelo impacto de partículas catódicas*. Na parte
seguinte deste trabalho, ao tratarmos da constituição dos
átomos, consideraremos a questão mais pormenorizadamente
e tentaremos mostrar que o cálculo baseado nesta hipótese é
quantitativamente compatível com os resultados das experiên-
cias; aqui, faremos apenas rápida menção de um problema
com o qual deparamos naquele cálculo.
As experiências sobre os fenómenos que se passam com os
raios X sugerem que não são apenas a emissão e a absorção de
radiação que não podem ser tratadas pela electrodinâmica
usual, mas que também é impossível explicar o que se passa
no choque entre dois electrões, um dos quais esteja ligado a um
átomo. Este facto é talvez explicado da maneira mais clara
por alguns cálculos muito elucidativos sobre a energia das
partículas {3 emitidas por substâncias radioactivas recentemente
publicados por Rutherford **. Estes.cálculos sugerem com forte
grau de evidência que um electrão de grande velocidade ao pas-
sar através de um átomo e ao colidir com os electrões ligados
perderá energia sob a forma de quanta finitos distintos. Como
[ 120]
se vê IÍi'nediatamcntc, isto é muito diferente do que seria de es-
perar se o resultado dos choques fosse governado pelas leis da
mecânica usual. A falência da mecânica clássica num problema
deste género seria também antecipadamente previsível a partir
de algo como a ausência da equipartição da energia cinética
entre electrões livres e electrões ligados no interior dos áto-
mos. Sob o ponto de vüsta dos estados «mecânicos:. vemos,
todavia, que a seguinte hipótese - a qual está de acordo com
a analogia referida - poderia explicar o resultado do cálculo
de Rutherford c a ausência de equipartição da energia cinética:
dois electrões que se chocam, quer estejam livres ou ligados,
estarão em estados mecânicos, tanto depois como antes do
choque. Evidentemente, a introdução desta hipótese não faria
qualquer alteração necessária ao tratamento clássico de uma
colisão entre duas parúculas livres. Mas considerando o choque
entre um electrão livre e um electrão ligado, concluir-se-ia que
o electrão ligado não poderia adquirir pela colisão uma quan-
tidade de energia menor do que a diferença de energia corres-
pondente a estados estacionários sucessivos e, consequente-
mente, que o electrão livre que colide com ele não poderia
perder uma quantidade menor do que essa.
O carácter preliminar e hipotético das considerações ante-
riores não precisa de ser sublinhado. No entanto, a nossa inten-
ção foi mostrar que a generalização da teoria dos estados esta-
cionários esboçada fornecerá possivelmente uma base simples
de representação de bastantes factos experimentais que não po-
dem ser explicados por meio da electrodinâmica ordinária, e
que as hipóteses utilizadas não parecem ser inconsistentes com
as experiências de fenómenos para os quais não foi dada expli-
cação satisfatória pela dinâmica clássica e pela teoria ondula-
tória da luz.
[ 121 ]
§ 5. O Estado Permanente de um Sistema Atómico
Voltaremos agora ao objecto principal desta memória-
a discussão do estado «permanente» de um sistema constituído
por núcleos e electrões ligados. Para um sistema formado por
um núcleo e por um electrão girando à sua volta, este estado
é determinado, segundo o que se tem dito, pela condição de
h
ser igual a - o momento angular do electrão em tomo do
2;r
núcleo.
A luz da teoria exposta nesta memorua, o único átomo
neutro que contém um só electrão é o átomo de hidrogénio.
O estado permanente deste átomo corresponderia aos valores
de a e w calculados na pág. 101. Contudo, infelizmente
sabemos muito pouco acerca do comportamento dos átomos
de hidrogénio devido à fraca dissociação das moléculas de
hidrogénio às temperaturas ordinárias. Para se conseguir uma
comparação mais próxima com as experiências é necessário
considerar sistemas mais complicados.
Considerando sistemas nos quais estão ligados a um núcleo
positivo electrões em maior número, a configuração destes elec-
trões . que se apresenta como um estado permanente será a
configuração em que os electrões estão dispostos sobre um
anel em tomo do núcleo. Na discussão deste problema baseada
na electrodinâmica usual, deparam-se - mesmo pondo de parte
a radiação de energlia - novas dificuldades devidas à questão
da estabilidade do anel. Abstraindo por um momento desta
última dificuldade, considerare:mos cm primeiro lugar as
dimensões e a frequência dos sistemas em relação com a teo-
ria de Planck da radiação.
Consideremos um anel formado por n electrões rodando
em tomo de um núcleo de carga E, estando os electrões dis-
[ 122]
postos em intçivalos angulares iguais ao longo da arcun-
ferência de raio a.
A energia potencial total do sistema formado pelos elec-
trões e pelo núcleo é
ne
P =- - (E - es,.),
a
onde
1 s=n-1 S7T
s,. =- ~ cosec - .
4 s=l n
Para a força radial exercida sobre um electrão pelo núcleo
e pelos outros electrões obtém-se a expressão
1 dP e
F =- - - =- - (E - esn) •
n da a2
2T e
- = - 2 (E - esn),
a a
ou
e
T = - (E - esn) .
2a
[ 123 1
A quantidade total de encr~ia, W, que é necessário fornecer
ao sistema para afastar os electrões para distâncias infinitas do
núcleo e uns dos outros é
ne
W =- P -nT = - ( E - esn) = nT,
2a
[ 1241
urna circunferência em cujo centro está o núcleo, somos leva-'
dos por analogia com as considerações da pág. 100, a admitir
a existência de urna série de configurações estacionárias · nas
(I)
[ 125 ]
Além disso, pode haver configurações estacionárias de um
sistema de 1z electrões c de um núcleo de carga E nas quais os
electrões não estejam distribuídos ao longo de um só anel. No
entanto, a questão da elist~ ncia dessas configurações estacio-
nárias não é essencial para a nossa determinação do estado
permanente, desde que admitamos que os electrões neste
estado do sistema estão dispostos num só anel. Na pág. 128
serão discutidos sistemas correspondentes a configurações mais
complicadas.
w
Utilizando a relação T = h- e por intermédio das expres-
2
sões de T e w acima dadas, obtemos para a e w os valores
correspondentes ao estado permanente do sistema que só dife-
rem dos dados pelas equações (3) da pág. 100 por substitui-
ção de E por E - esu.
A questão da estabilidade de um anel de electrões girando
em torno de uma carga positiva é discutida com grande por-
menor por Sir J. J. Thomson*. Nicholson + fez uma adapta-
ção da análise de Thomson para o caso aqui considerado de
um anel em rotação em torno de um núcleo de dimensões
Lineares desprezàvelmente pequenas. A investigação do pro-
blema em questão divide-se naturalmente em duas partes:
uma respeitante à estabilidade para deslocamentos dos elec-
trões no plano do anel; a outra relativa a deslocamentos per-
pendiculares a este plano. Como mostram os cálculos de
Nicholson, a resposta à questão da estabilidade difere muitís-
simo nos dois casos em questão. Enquanto para os últimos
deslocamentos é em geral estável se o número de electrões não
* Loc. cit.
+ Loc. cit.
[ 126]
for grande, o anel não é estável cm nenhum caso conside-
rado por Nicholson para deslocamentos da primeira espécie.
No entanto, sob o ponto de vista adoptado neste trabalho,
a qucstio da e~tabilidade dos deslocamentos dos electrões no
pbno do anel está intimamente relacionada com a questão do
mecanismo da ligação dos electrões, e, como esta última, não
pode ser tratada com fundamento na dinâmica usual. A hipó-
tese que utilizamos no que segue consiste em admitir que a
estabilidade de um anel de electrões girando em torno do
núcleo é assegurada pela condição antes postulada da cons-
tância universal do momento angular, acrescida da condição
segundo a qual a configuração tomada pelas partículas é
aquela cm cuja formação é libertada a quantidade de energia
máxima. Como se demonstrará, no que respeita ao problema
da estabilidade para um deslocamento dos electrões perpen-
dicularmente ao plano do aneí, esta hipótese é equivalente à
utilizada nos cálculos da mecânica habitual.
Voltando à teoria de Ncicholson sobre a origem dar; riscas
observadas no espectro da coroa solar, veremos agora que as
dificuldades mencionadas na pág. 103 só podem ser formais.
Em primeiro lugar, sob o ponto de vista acima considerado,
a objecção quanto à instabilidade para deslocamentos dos
electrões no plano do anel pode não ser válida. Além disso, a
objecção quanto à emissão da radiação em quanta não fará
referência aos cálculos em causa, se admií:innos que no
espectro da coroa não se trata de uma verdadeira emissão mas
tão-só de uma dispersão de radiação. Esta hipótese parece pro-
vável se considerarmos as condições que reinam no corpo
celeste em causa; com efeito, devüdo à enorme rarefacção da
matéria os choques são poucos para poderem perturbar os esta-
dos estacionários e para provocarem uma autêntica emissão de
luz correspondente à transição entre diferentes estados estado-
nários; por outro lado, haverá na coroa solar intensa iluminação
[ 127]
por luz de todas as frequências que podem excitar as vibra-
ções naturais dos sistemas nos diferentes estados estacionários.
Se a hipótese anterior for exacta, compreendemos imediata-
mente a forma inteiramente diferente das leis que relacionam
as riscas discutlidas por Nicholson e das que relacionam os
espectros de riscas ordinárias considerados nesta memória.
Continuando a considerar sistemas de constituição mais
complicada, utilizaremos o seguinte teorema simplicissima-
mente demonstrável: -
cEm qualquer sistema formado por electrões e núcleos
positivos, no qual os núcleos estão em repouso e os electrões
se movem em órbitas circulares com velocidade pequena em
comparação com a velocidade da luz, a energia cinética será
numericamente igual a metade da energia potenciaL»
Por intermédio deste teorema - como nos casos previa-
mente estudados de um só electrão ou de um anel girando em
tomo de um núcleo - concluímos que a quantidade total de
energia emitida na formação dos sistemas a partir de uma con-
fdguração em que as distâncias entre as particulas são infinita-
mente grandes e na qual as partículas têm velocidades nulas
umas em relação às outras é igual à energia cinética dos elec-
trões na configuração final.
Anàlogamente ao caso de um só anel, somos aqui levados
a admitir que, correspondendo a qualquer configuração de
equilíbrio, existirá uma série de configurações estacionárias do
sistema, geometricamente semelhantes, nas quais a energia
cinética de cada electrão é igual à frequência de revolução
T
multiplicada por - h, sendo T um número inteiro e h a cons-
2
tante de Planck. Em qualquer dessas séries de configurações
estáveis, a que corresponde à quantidade máxima de energia
emitida Será aquela em que T, para quaquer electrão, é igual
a 1. Considerando que a razão entre a energia cinética e a
[ 128 J
frequência para uma panícula que gira numa órbita circular
é igual a 71" vezes o momento angular em tomo do centro
da órbita, somos portanto levados à seguinte generalização
simples das hipóteses mencionadas nas págs. 115 e 125.
«Em qualquer sistema molecular formado por núcleos posi-
tivos e electrões no qual os núcleos estão em repouso uns rela-
tivameute aos outros, e no qual os electrões se movem em
órbitas circulares, o momento angular de cada electrão em
torno do centro da sua órbita será, no estado permanente do
h
sistema, igual a - , sendo h a constante de Planck*».
27.
Por analogia com as consideraçôes feitas na pág. 127,
suporemos que uma configuração que satisfaz a esta condição
será estável se a energia total do sistema for menor do que
em qualquer configuração vizii:lha que satisfaça a mesma
condição do momento angular dos electrões.
Como se disse na introdução, esta hipótese será utilizada,
numa comunicação que se há-de seguir, como base de uma
teoria da constituição de átomos e moléculas. Mostrar-se-á
que essa teoria conduz a resultados que parecem estar em
conformidade com os resultados experimentais de vários fenó-
menos diferentes.
O fundamento da hipótese foi procurado inteiramente na
sua relação com a teoria de Planck da radiação; com o auxí-
lio de outras considerações tentar-se-á lançar mais alguma luz
acerca do fundamento dela sob outro ponto de vista.
5 de Abril de 1913 .
[ 129]
Do PHILOSOPHICAL MAGAZINE de S etembro de 1913
§ 1. Pressupostos Gerais
[ 133]
nuvem de electrões e, consequentemente, não terá qualquer
efeito sobre as propriedades físicas e químicas ordinárias do
átomo. Estas últimas propriedades, segundo a teoria, depen-
derão inteiramente da carga total e da massa do núcleo; a
estrutura interna do núcleo só terá influência nos fenómenos
de radioactividade.
A partir do resultado das experiências sobre os grandes
ângulos de dispersão dos raios a, Rutherford* determinou,
para carga eléctrica do núcleo, um valor correspondente por
átomo a um número de electrões aproximadamente igual a
metade do peso atómico. Este resultado parece concordar com
o número de electrões por átomo, calculado pelas experiências
de dispersão realizadas com raios de Rõntgen **. Todos os
dados experimentais são favoráveis à hipótese*** de que o
número real de electrões. existentes num átomo neutro, com
algumas excepções, é igual ao número que indica a posição
do elemento correspondente na série dos elementos dispostos
em ordem crescente dos pesos atómicos. Como exemplo desta
maneira de ver, temos o átomo de oxigénio que, senão o
oitavo elemento da série, tem oito electrões e um núcleo con-
tendo oito cargas unitárias.
Postularemos que os electrões estão dispostos em inter-
valos angulares iguais, rodando sobre anéis coaxiais em tomo
do núcleo. Com o fim de determinar a frequência e dimen-
sões dos anéis empregaremos a hipótese principal do primeiro
artigo, ou seja: que, no estado permanente de um átomo, o
momento angular de cada electrão em tomo do centro da sua
r 134 1
h
órbita é igual ao valor universal - , sendo h a constante de
271" .
Planck. Tomaremos como condição de estabilidade que a
energia total do sistema, na configuração em questão, seja
menor do que cm qualquer configuração vizinha que satisfaça
a mesma condição do momento angular dos electrões.
Se a carga do núcleo e o número de electrões existentes
nos diferentes anéis for conhecida, a condição relativa ao
momento angular dos electrões determinará completamente
a configuração .do sistema como se mostrará no § 2, isto é>
a frequência de revolução e as dimensões lineares dos anéis.
No entanto, em geral, correspondendo a diferentes distribui-
ções dos electrões nos anéis, haverá mais do que uma configu-
ração que satisfará a condição do momento angular jüntamente
com a condição de estabilidade.
Nos parágrafos 3 e 4 demonstrar-se-á que, sobre a con-
cepção geral da formação dos átomos, somos levados a indica-
ções da disposição dos electrões nos anéis coerentes com as
sugeridas pelas propriedades químicas do elemento corres-
pondente.
No § 5 demonstrar-se-á que é possível, a partJir da teoria>
calcular a velocidade mínima dos raios catódicos necessária
para .produzir a radiação de Rõntgen característica do ele-
mento, e que esta concorda aproximadamente com os valores
experimentais.
No § 6 serão considerados sumàriamente os fenómenos
de radioactividade em relação com a teoria.
[ 135]
ez
força radial que actua sobre os electrões por - 2 F, sendo F,
. a
em geral, dependente de a. A condição de equilíbrio dinâ-
mico dá
h
mva = - - .
27T
A partir destas duas condições obteremos agora
(2)
1 s=n-1 S7T
F = N - s,., em que s,. = - ~
cosec - - .
4 s=I n
Os valores de s,., de n= 1 a n = 16, serão dados na tabela
da pág. 141.
Para sistemas formados por núcleos e electrões em que os
primeiros estão em repouso e os últimos se movem em órbi-
[ 1361
tas circulares com velocidade pequena em comparação com
a velocidade da luz, demonstrámos (ver Parte I, pág. 128)
que a energia cinética total dos electrões é igual à quantidade
total de energia emitida durante a formação do sistema a par-
tir de uma configuração primitiva na qual as partículas estão
todas em repouso e a distâncias infinitas umas das outras.
Representando esta quantidade de energia por W, obteremos
consequentemente
(3).
e
Fazendo em (1), (2) e (3), e=4,7Xlo-10, - =5,31XlQ1 7
m
e h=6,5Xlo-27, obtemos
e
a=0,55Xlo-8 F-1, v=2,1Xl08 F, .~6,2XIO"F' I (4)
[ 1371
Parte I. Todavia, forneceremos mais .tàrde argwnentos que su-
gerem que a cons~cia do momento angular é a condição prin-
cipal. Aplicando esta condição ao caso de velocidades não
pequenas relativamente à velocidade da luz, obtemos para "
uma expressão igual à dada por ( 1), enquanto a quantidade
m
m das expressões de a e é substituída por
(I) , e na
V 1 - v 2 fc 2
expressão de W por
[ 138 ]
1
temos P = - P o, e, devido à uniformidade do momento
a
1 1
angular, v =- v0 e T = -- T 0• Empregando a relação
a a2
P o = - 2To, obteremos
2
1 Po +-To
P + T =- 1 = Po + To + To ( 1 - - 1 ) .
2
a a a
[ 139]
8z,. de expoente superior a dois, o aúmento da energia poten-
cial do sistema será dado por
1 e2
-N~(8z) 2 - --~~
1 e
2
Icosec 1 1r(r - s) I(8z - 8z ) 2
2 a' 32 a' n ,. ' '
. [140]
do centro da sua órbita será obviamente igual ao seu valor
primitivo; o aumento da energia potencial do sistema será
igual ao trabalho realizado pelas forças exteriores durante os
deslocamentos. Como consequência destas considerações somos
levados a supor que a mecânica usual pode ser utilizada no
cálculo das vibrações dos electrões perpendiculares ao plano
do anel- contràriamente ao caso de vúbrações no plano do
anel. Esta hipótese é confirmada pela concordância com as
observações obtida por Nicholson na sua teoria sobre a origem
das riscas dos espectros da coroa solar e das nebulosas este-
lares (ver Parte I, págs. 102 e 127). Além disso, demonstrar-
-se-á mais tarde que a hipótese parece estar de acordo com
as experiências de dispersão.
A tabela seguinte fornece os valores de s,. e de p,., 0 - p,.,,.
desde n = 1 a n = 16.
n, s,., p,., o-p,., m n, s,., p,., o-p,., ,.
1 . .... .. . ... o o 9 .... ... ... 3,328 13,14
2 . . ....... .. 0,25 0,25 10 .... ····· · 3,863 18,13
3 . ...... .. .. 0,511 0,58 11 .. ........ 4,416 23,60
4 . .. ..... .. . 0,957 1,41 12 .. ... ... .. 4,984 30,80
5 ..... ..... . 1,377 2,43 13 .... . .. ... 5,565 38,57
6 ... ..... .. . 1,828 4,25 14 ......... ., 6,159 48,38
7 . .... .... .. 2,305 6,35 .
15 . . . . . . . . . 6,764 58,83
8 ...... .... . 2,805 9,56 16 .. ........ 7,379 11,65
[ 141]
órbitas ·são exactamente circulares. Ã primeira condição nio
será satisfeita se considerarmos um sistema contendo vários
anéis de electrões que girem com diferentes frequências.
No entanto, se a distância entre os anéis nio for pequena em
comparação com os seus raios, e se a razão entre as suas fre-
quências nio for próxima da unidade, as órbitas serão muito
pouco difqentes de órbitas circulares e o movimento dos elec-
trões pode com boa aproximação ser considerado idêntico ao
obtido pressupondo que a carga dos electrões está uniforme-
mente distribuída ao longo da circunferência dos anéis. Se a
razão entre os raios dos anéis não for próxima da unidade,
as condições de estabilidade obtidas nesta hipótese devem
também ser consideradas como suficientes.
·Admitimos no § 1 que os electrões giram nos átomos em
anéis coaxiais. O cálculo indica que só no caso de sistemas
contendo um grande número de electrões, os planos dos anéis
se separam; no caso de sistemas contendo um número mode-
rado de electrões, os anéis estarão todos situados num só plano
que passa pelo núcleo. Para não nos alongarmos, considerare-
mos apenas o último caso.
Suponhamos uma carga eléctrica E uniformemente distri-
buída ao longo de uma circunferência de raio a.
Num ponto à distância z do plano do anel, e à distância r
do seu eixo, o potencial electrostático é dado por
[ 142]
obteremos para a força radial exercida sobre um electrão num
ponto do plano do anel
au
e·--
Ee
= -Q(a),
ar 2
r
onde
2
Q(a) = -sin•a (K(2a)- cotaK'(2a)).
71'
Na pág. 145 dá-se uma breve tábua das funções Q(a) e R(a).
Consideremos a seguir um sistema constituído por uma
quantidade de anéis concêntricos de electrões que giram no
mesmo plano em tomo de um núcleo de carga Ne. Sejam al)
~, .... , os raios dos anéis e n1, n2 . . . • os números de elec-
trões nesses diferentes anéis.
~ ~
Fazendo- = tg2 (am), obteremos o valor- Fr para
a, art
a força radial que actua sobre um dos electrões do anel de
ordem r, sendo
Fr = N- s,. -l;n,Q(am);
a soma deve estender-se a todos os anéis excepto o que está
a ser considerado.
Se soubermos qual a distribuição dos electrões nos dife-
rentes anéis, poderemos determinar au a 2, • • • • , a partir des-
tes conhecimentos e da relação (1), da pág. 136. É possível
efectuar o cálculo por aproximações sucessivas, partindo de
[ 143]
um conjunto de valores para os aa; e destes calcular os F, e
em seguida tomar a determinar os aa pela relação ( 1) que dá
Fa a,
- = - = tg2 (a,.), e assim sucessivamente.
F, a.
Como no caso de um anel isolado, supõe-se que os siste-
mas são estáveis para deslocamentos dos electrões no plano
das suas órbitas. Num cálculo como o da pág. 139, a interacção
dos anéis deveria rigorosamente ser tomada em conta. Esta
interacção imp!kará que as quantidades F não são constantes,
como para um anel isolado rodando em volta de um núcleo,
devendo variar com os raios dos anéis; todavia, a variação
em F, se a razão entre os raios dos anéis não for muito pró-
xima da unidade, será demasiadamente pequena para influen-
ciar o resultado do cálculo.
Considerando a estabilidade dos sistemas para desloca-
mentos dos electrões perpendiculares ao plano dos anéis, é
necessário distinguir entre os deslocamentos para os quais os
centros de gravidade dos electrões nos anéis isolados não se
alteram, e os deslocamentos nos quais todos os electrões per-
tencentes ao mesmo anel são deslocados na mesma direcção.
A condição de estabilâdade para a primeira espécie de deslo-
camentos é dada pela condição ( 5) da pág. 140, se para cada
anel substituirmos N por uma quantidade G, determinada pela
é .
condição de que- G, 8z seja igual à componente, perpen-
a,s
dicular ao plano do anel, da força - devida ao núcleo e aos
electrões dos outros anéis - que actua sobre um dos electrões
se ele tiver recebido um pequeno deslocamento 8z. Empre-
gando a notação anterior, obtemos
G, = N- l:n.R(a,.).
Se os electrões de um dos anéis se deslocarem todos na
mesma direcção por acção de forças exteriores, o desloca-
[ 144]
mento produzirá deslocamentos correspondentes dos electrões
nos outros anéis; esta interacção terá influência sobre a esta-
bilidade. Como exemplo, consideremos um sistema de m anéis
concêntricos girando num plano em tomo de um núcleo de
carga N e e suponhamos que os electrões existentes nos diferen-
tes anéis se deslocam perpendicularmente ao plano de 8z1 ,
8z2, .... , Bz,., respectivamente. Com a notação anterior o
aumento da energia potencial do sistema é dado por
1 e2 1 e2
- N~n.- (8z,) 2 - :-:~~n,.n, -R(am)(Bz,- 8z,) 2 •
2 a,.8 4 a,3
A condição de estabilidade é que esta expressão seja positiva
para valores arbitrários de 8z 1, • • •• , Bz,.. Esta condição pode
ser tratada simplesmente da maneira habitual. Não tem in-
fluência sensível em comparação com a condição de estabili-
dade para os deslocamentos acima considerados, excepto em
casos em que o sistema contém vários anéis com poucos elec-
trões.
O quadro seguinte, contendo os valores de Q(a) e R(a)
de 5 em 5 graus desde a= 200 a a= 700, dá uma estima-
tiva da ordem de grandeza destas funções: -
[ 145]
tO
tg2a indica a razão entre os raios dos ~éis ( tg2( am) .= :: ) ·
Os valores de Q (a) m~stram que, a não ser que a razão dos
raios dos anéis seja aproximadamente igual à unidade, o efeito
dos anéis exteriores sobre as dimensões dos anéis interiores é
muito pequeno, e que o efeito correspondente dos anéis inte-
riores sobre os exteriores é neutralizar aproximadamente o
efeito de uma parte da carga do núcleo .correspondente ao
número de electrões do anel. Os valores de R(a) mostram
que o efeito dos anéis exteriores sobre a estabilidade dos inte-
riores- embora maior do que o efeito sobre as dimensões- é
pequeno, mas que, a não ser que a razão entre os raios seja
· muito grande, o efeito dos anéis interiores sobre a estabilidade
dos exteriores é consideràvelinente maior do que a simples .
neutralização de uma parte correspondente da carga do núcleo.
{) número máximo de electrões que o anel mais interior
pode conter sem ser instável é aproximadamente igual ao cal-
culado na pág. 141 para um só anel rodando em volta de um
núcleo. Contudo, p~ os anéis exterior~ obteremos números
consideràvelmente menores do que os determinados pela con-
dição (5) se substituirmos Ne pela carga total do núcleo
e dos eleCtrões dos anéis interiores.
Se um sistema de anéis girando em tomo do núcleo num
só plano for estável para pequenos deslocamentos dos electrões
penpendicularmente a este plano, não haverá em geral confi-
gurações estáveis dos anéis, satisfazendo a condição da cons-
tância do momento angular dos electrões, para as quais os
anéis não estejam todos situados no plano. Verifica-se uma
excepção no caso especial de dois anéis que contenham iguais
números de electrões; neste caso deve haver uma configuração
estável na q\lal os dois anéis terão raios iguais e giram em
planos paralelos a distâncias iguais do núcleo, estando os elec-
trões de um dos anéis situados precisamente em frente dos
[ 146]
intervalos compreendidos entre os electrões do outro anel.
Todavia, esta última configuração será instável se for estável
a configuração na qual os electrões dos dois anéis se dispõem
todos num só anel.
[ 147]
por au ~ •. . . c w 1 , w"' ... A quantidade total de energia, W,
emitida pela formação do sistema será simplesmente reptesen'-
tada por W[N(nt, nz, ... )].
N=l. Hidrogénio
[ 148 ]
Partindo das fórmulas (1) e (2) do§ 2, e fazendo F = 1,
obteremos para o estado permanente de um átomo de hidro-
génio neutro
h2 4re~m
1(1). a = - - = 0,55 X 1<r&, e~~=--= 6,2 X 10u
4rrm h' '
41r2e•m
W= = 2,0 X 1o-11 •
h'
Estes valores têm a ordem de grandeza que seria de esperar.
w
Para -achamos 0,043, correspondente a 13 volts; o valor
e
para o potencial de ionização de um átomo de hidrogénio,
calculado por Sir J. J. Thomson em resultado de experiências
realizadas com raios positivos, é de 11 volts*. Não existem,
todavia, quaisquer outros dados defmidos para os átomos de
hidrogénio. Para não nos alongarmos, representaremos daqui
em diante os valores de a, e~~ e W correspondentes à configura-
ção 1(1) por ao, (l)o e Wo.
Para distâncias do núcleo, grandes em comparação com a0,
o sistema 1 ( 1) não exercerá forças sensíveis sobre os electrões
livres. No entanto, como a configuração:
[ 149]
N=2 Hélio.
··=
1
2(1) a= 2ao, W=4Wo.
[ 150]
na qual ambos os electrões tenham o mesmo momento angular
em tomo do núcleo e se movam em órbitas düerentes, uma
fora da outra. Nessa configuração os electrões estariam tão
próximos que as órbitas se tomariam acentuadamente não
circulares. Portanto, adoptaremos para o estado permanente
de um átomo neutro de hélio a seguinte configuração
Como
Wo Wo 1
2,13. - = 27 volts e 2,13 - - = 6,6 X 1015 --
e h seg.
estes valores têm a ordem de grandeza do valor observado para
o potencial de ionização do hélio, 20,5 volt*, ·e o valor da
frequência de absorção do ultravioleta no hélio, 5,9 X 10u
1
+, determinado por experiências de dispersão.
seg.
[ 151]
A frequência em causa pode · ser ·encarada como' corres,.
pondente a vibração no plano do anel (ver pág. 139). A fre-
quência da vibração da totalidade do anel perpendicularmente
ao plano, calculada da maneira habitual (ver pág. 141), é
dada por v = 3,27 w0 • O facto de esta última frequência ser
grande em confronto com a frequência observada poderia
explicar que o número de electrões num átomo de hélio, cal-
culado por intermédio da teoria de Drude a partir de experiên-
cias de dispersão, seja apenas cerca de dois terços do número
m
previsto. (Utilizando-= 5,31 X 1017, o valor calculado é
e
1,2.)
Para uma configuração constituída por um núcleo de hélio
e três electrões, temos
2(3) a= 0,703 a0 , (I)= 2,02 w0 , W = 6,07 W 0 •
N=3 Lítio.
[ 152 1
núcleo de carga 3e, é emitido um espectro dado por
v=
v= +- (m~%) 2 ),
K(
onde K é uma constante igual à que aparece no espectro de
Balmer do hidrogénio. Por analogia com os espectros de
Balmer e de Pickering, Nicholson sugeriu que as riscas em
causa são devidas ao hidrogénio.
Vê-se que as riscas discutidas por Nicholson são dadas
pela fórmula anterior se fizermos T2 = 6. As riscas em ques-
tão correspondem a Tt = 10, 13 e 14; se fizermos T1 = 9,12
e 15, para T 2 = 6, obtemos riscas . coincidentes com as do
espectro de Balmer do hidrogénio. Se na fórmula anterior
fizermos T 1 = 1, 2 e 3, obteremos séries de riscas situadas na
região ultravioleta. Para T 2 = 4 obtemos apenas uma risca
isolada no espectro visível, correspondendo a T1 = 5, a qual
dá v=6,662X1014, ou um comprimento de onda 4503Xl(r3
[ 153 1
an, aproximadamente coincidente com o comprimento de
onda 4504 X 10--s ande uma das riscas de origem desconhe-
cida da tabela citada por Nicholson. Contudo, nesta tábua não
aparecem riscas correspondentes a T2 = 5.
Para o estado permanente de um átomo de lítio com duas
cargas positivas obtém-se a configuração
1
3(1) a =3ao, 111 = 9 <~~o, W = 9 Wo.
[ 154]
será muito pequeno, em parte devido aos grandes valores· da
razão entre os raios, e da razão entre as frequências das órbi-
tas dos electrões interiores e exteriores, e em parte também
devido ao arranjo simétrico dos electrões interiores. Por con-
sequência, parece provável que os três electrões não se dis-
porão num só anel e formam o sistema:
[ 155 1
Deve notar-se que não se tem conhecimento pormenorizado
das propriedades no estado atómico quer no litio, quer do
hidrogéruo, quer da maior parte dos elementos abaixo consi-
derados.
N=4 Berílio.
[ 156]
os electrões exteriores na configuração adoptada para um
átomo neutro de berílio estão mais fracamente ligados do que
os electrões do átomo de hélio, e em parte porque a quan-
tidade G, cujo valor é igual a 2 para o hélio, é apenas igual
a 1,12 para o anel exterior da configuração 4(2,2).
Visto que W[4(2,3)]- W[4(2,2)] = 0,05W0, o átomo
de berílio terá, além disso, uma afinidade definida, embora
pequena, para os electrões livres.
[ 1571
Durante este processo, devido à repulsão do anel interior,
o anel exterior mover-se-á para o lado oposto do plano primi-
tivo dos anéis. Durante os deslocamentos dos anéis o momento
angular dos electrões em tomo do eixo do sistema permanecerá
constante e o diâmetro do anel interior aumentará, enquanto
o do exterior sofrerá uma . diminuição. No começo do deslo-
camento, a grandeza das forças exteriores a aplicar ao anel
interior primitivo aumentará, mas depois deverá decrescer e,
para uma certa distância entre o plano dos anéis, o sistema
ficará numa ccnfiguração de equiHbrio. No entanto, este equi-
ltõrio não será estável. Se permitirmos que os anéis regressem
lentamente, eles ou atingirão a sua posição primitiva ou che-
garão a uma posição na qual o anel ori~àriamente situado no
exterior está agora em posição interior e vice-versa.
Se a carga dos electrões estivesse uniformemente distri-
buída ao longo dos anéis, poderiamos, pelo processo conside-
rado, quando muito obter um intercâmbio dos anéis, mas
obviamente seria impossível a sua junção. Contudo, tomando
em conta a distribuição .discreta dos electrões, é possível de-
monstrar que, no caso especial em que os números de elec-
trões dos dois anéis são iguais, e em que ambos giram no
mesmo sentido, os anéis unir-se-ão desde que a configuração
fmal seja estável. Neste caso, os raios e as frequências dos
anéis serão iguais na configuração de equilibrio instável aaima
mencionada. Ao atingirem esta configuração, os electrões de
um dos anéis ficarão, além disso, situados mesmo em frente dos
intervalos entre os electrões do outro, visto que a um tal
arranjo corresponderá a energia total minima. Se permitirmos
depois que os anéis regressem ao seu plano primitivo, os elec-
trões de um dos anéis introduzir-se-ão nos intervalos entre
os electrões do outro, formando um só anel. obviamente, o
anel assim formado satisfará a condição do momento angular
dos electrões do mesmo modo que os anéis primitivos.
[ 158]
Se os dois anéis contiverem números desiguais de elec-
trões, o sistema comportar-se-á de maneira muito diferente
durante um processo tal como o que temos· considerado, e, con-
tràriamente. ao primeiro caso, não será de esperar que os anéis
se desloquem em conjunto, se, por acção de forças exteriores
actuando paralelamente ao eixo do .sistema, forem lentamente
deslocados do seu plano primitivo. Neste contexto deve no-
tar-se que o que é característico em relação aos deslocamentos
considerados não é a hipótese especial acerca das forças exte-
riores, mas tão-somente a invariância do momento angular dos
electrões móveis em torno do centro dos anéis; os desloca-
mentos desta espécie desempenham na teoria presente um
papel semelhante ao dos deslocamentos arbitrários na .mecâ-
nica usual.
As considerações anteriores d.evcm ser tomadas com~ indi-
cação de que há maior tendência para a confluência dos dois
anéis quando cada um deles contém o mesmo número de elec-
trões. Considerando a captação sucessiva de electrões por um
núcleo positivo, concluímos daqui que, a não ser que a carga
do núcleo seja muito grande, os anéis de electrões só se jun-
tarão se contiverem iguais números de electrões; e que, conse-
quentemente, os números de electrões nos anéis interiores serão
só 2, 4, 8, . . . . Se a carga do núcleo for muito grande, os
anéis de electrões ligados em primeiro lugar, se pouco nume-
rosos, ficarão muito próximos, sendo de esperar que a confi-
guração seja muito instável e que o intercâmbio gradual de
electrões entre os anéis seja grandemente facilitado.
Esta hipótese em relação ao número de electrões existentes
nos anéis é fortemente apoiada pelo .facto de as propriedades
químicas dos elementos de baixo peso atómico variarem com
um período de 8. Além disso, resulta que o número de electrões
do anel exterior será sémpre ímpar ou par, conforme o número
total de electrões do átomo for ímpar ou par. Isto tem uma
[ 159]
relação sugestiva com o facto de a valência de um elemento
de baixo peso atómico ser sempre ímpar ou par conforme o
número de ordem do elemento na série periódica for ímpar
ou par.
Para os átomos dos elementos considerados na secção ante-
rior supusemos que os dois electrões captados em primeiro
lugar se dispõem num só anel, e, além disso, que os dois
electrões seguintes se dispõem num outro anel. Se N > 4 a
configuração N ( 4) corresponderá a um valor mais pequeno
da energia total do que para a configuração N ( 2,2). Quanto
maior for o valor de N, mais próxima da unidade será a razão
entre os raios dos anéis da configuração N(2,2), e maior será
a energia emitida por uma eventual confluência dos anéis.
O membro particular da série dos elementos para o qual os
quatro electrões interiores se disporão pela primeira vez num
só anel não pode ser determinado a panir da teoria. Conside-
rando as propriedades químicas não será de esperar que possa
ter lugar antes do boro (N = 5) ou do carbono (N = 6),
visto que estes elementos são, respectivamente, trivalente e
tetravalente; por outro lado, o sistema periódico dos elementos
sugere com fone evidência que já no néon (N = 10) apare-
cerá um anel interior de oito electrões. A não ser para N > 14,
a configuração N ( 4,4) corresponde a um valor mais pequeno
da energia total do que a configuração N(8); contudo, já
para N > 10 a última configuração será estável para desloca-
mentos dos electrões perpendicularmente aos planos das suas
órbitas. Um anel de 16 electrões não será estável senão para N
muito grande; mas em tal caso não se aplicam as considerações
simples acima mencionadas.
Seria de esperar que a confluência de dois anéis de igual
número de electrões móveis em torno de um núcleo de carga
Ne, por fora de outro anel com n electrões já ligados, tivesse
lugnr mais fàcilmcnte do que a confluência de does anéis seme-
[ 160]
lhantes girando em torno de um núcleo de carga (N - n )e,
porque a estabilidade dos anéis para um deslocamento perpen-
dicular ao seu plano será menor (ver § 2) no primeiro do
que no último caso. Esta tendência para o decréscimo da esta-
bilidade em relação a deslocamentos perpendiculares ao plano
do anel será especialmente marcada para os anéis exteriores de
electrões de um átomo neutro. No último caso seria de esperar
que a confluência dos anéis fosse grandemente facilitada,
podendo mesmo acontecer em certos casos que o número de
electrões do anel exterior seja maior do que no contíguo e que
o anel exterior possa desviar-se da hipótese de existência de
1, 2, 4, 8 electrões nos anéis, quer dizer, que se verifiquem as
configurações 5( 2,3) e 6 ( 2,4) em vez das configurações
5(2,2,1) e 6(2,2,2). Não levaremos aqui mais adiante a dis-
cussão do intrincado problema do ·arranjo dos electrões no anel
exterior. No esquema apresentado mais adiante, o número de
electrões existente neste anel é arbitràriamente igualado à va-
lência normal do electrão correspondente; isto é, aquele nú-
mero, para elementos electronegativos e electropositivos, é
respectivamente igual ao número de átomos de hidrogénio e ao
dobro do número de átomos de oxigénio que se combinam
com um átomo do elemento considerado.
Esse arranjo dos electrões exteriores é sugerido pela consi-
deração dos volumes atómicos. Como é bem sabido, o volume
atómico dos elementos é função periódica dos pesos atómicos.
Os elementos pertencentes à mesma coluna, quando dispostos
da maneira habitual conforme o sistema periódico, têm apro-
ximadamente o mesmo volume atómico, ao passo que este
volume varia consideràvelmente de coluna para coluna, sendo
máximo para as colunas correspondentes à menor valência, 1, e
mínimo para a valência máxima, 4. É possível obter um cálculo
aproximado do raio do anel exterior de um átomo neutro
supondo que a força total devida ao núcleo e aos electrões
[ 161 1
11
interiores é igual à exercida p<)r um núcleo de carga ne,
sendo n o número de electrões do anel. Fazendo F = n- s,.
na equação ( 1) da pág. 136 e representando o valor de a
para n =I por a0 , obtemos para n = 2, a= 0,57 a0 ; para
n = 3, a= 0,41 a0 ; e para n = 4, a = 0,33 ao. Daqui resulta
que a disposição escolhida para os electrões implicará uma
variação das dimensões do anel exterior semelhante à variação
dos volumes atómicos dos elementos correspondentes. No en-
tanto, deve ter-se presente que as determinações experimentais
dos volumes atómicos são deduzidas, na maior pane dos casos,
considerando moléculas e não átomos.
Do que se disse antes somos conduzidos ao seguinte es-
quema possível de arranjo dos electrões nos átomos leves:-
[ 162]
grupo do sistema periódico. Verifica-se a correspondente con-
cordância em relação à variação dos volumes atómicos.
No caso de átomos de peso atómico mais elevado não se
aplicam as hipóteses simples utilizadas. No entanto, a consi-
deração das variações das propriedades químicas dos elementos
sugere algumas indicações. No fim do 3.0 período de oito
elementos encontramos o grupo do ferro. Este grupo ocupa
uma posição especial no sistema dos elementos, visto que é a
primeira vez que elementos de pesos atómicos vizinhos apresen-
tam propriedades quimicas similares. Esta circunstância indica
que as configurações dos electrões nos elementos deste grupo
diferem apenas na disposição dos electrões interiores. O facto
de o período das propriedades químicas dos elementos, depois
do grupo do ferro, já não ser 8, mas 18, sugere que os elemen-
tos de peso atómico mais elevado contêm uma configuração
recorrente de 18 electrões nos anéis interiores. O desvio em
relação à distribuição 2, 4, 8, 16 pode ser devido a um gradual
intercâmbio de electrões entre os anéis, como se indica na
pág. 159. Como um anel com 18 electrões não será estável,
os electrões devem dispor-se em dois anéis paralelos ~ver
pág. 146). Uma tal configuração dos anéis internos actuar-á
sobre os .electrões exteriores de uma maneira muito aproxima-
damente semelhante à que seria atribuível a um núcleo de
carga (N- 18)e. Por conseguinte, seria possível que, com o
aumento de N, se formasse por fora da primeira outra confi-
guração do mesmo tipo, como é sugerido pela presença de um
segundo período de 18 elementos.
Nas mesmas linhas, a presença do grupo das terras raras
indica que, para valores ainda maiores de N, terá lugar outra
alteração gradual dos anéis interiores. Todavia, como para
elementos de peso atómico mais elevado do que os deste
grupo, as leis que relacionam a variação das propriedades quí-
micas com o peso atómico são análogas às existentes entre os
[ 163)
elementos de baixo peso atomtco, podemos concluir que a
configuração dos electrões interiores de novo se repetirá. Con-
tudo, a teoria não é suficientemente completa para dar uma
resposta definida a tais problemas.
[ 164]
confronto com a atracção do núcleo. Consideremos um sistema
limples formado por um electrão ligado girando em órbita
circular em volta de um núcleo positivo de carga Ne. A partir
das expressões ( 1) da pág. 13 6, fazendo F = N, obtemos
para a velocidade do electrão
21re 2
·~~ = - h - N = 2,1 . 10SN.
[ 165 1
Este facto é fortemente apoiado pelas observações do poder
penetrante dos raãos y+.
É digno de nota que a teoria não indique apenas o valor
quase exacto da energia necessária para remover um electrão
do anel exterior, mas também a energia requerida para des-
locar um electrão do anel mais interior. A concordância apro-
ximada entre os valores calculados e os experimentais toma-se
mais notável quando se lembra que as energias exigidas nos
dois casos estão entre si numa razão igual a 1000, para um
elemento de peso atómico 70.
Em relação com este assunto deve salientar-se que a
notável homogeneidade da radiação de Rõntgen característica
- indicada por experiências sobre a absorção dos raios assim
como pela interferência observada em experiências recentes
sobre a difracção dos raios de Rõntgen nos cristais - está de
acordo com a hipótese principal utilizada na Parte I (ver
pág. 104) ao considerar-se a emissão dos espectros de riscas,
ou seja, que a radiação emitida durante a transição dos
sistemas entre diferentes estados estacionários é homogénea.
Fazendo em (4) F = N, obtemos pára o diâmetro do anel
1
interior aproximadamente 2a = - . 1()-8 cm. Para N = 100,
N
vem 2a = 1Q-10 cm, valor muito pequeno em comparação com
as dimensões atómicas ordinárias, mas ainda muito grmde
comparado com as dimensões previsíveis para o núcleo.
Segundo o cálculo de Rutherford, as dimensões do núcleo são
da ordem de grandeza de 1Q-12 cm.
§ 6. Fenómenos Radioactivos
De acordo com a teoria aqui apresentada, o enxame de
electrões que rodeiam o núcleo forma-se com emissão de
[ 1661
energia, sendo a configuração determinada pela cón,#Ção de
que seja máxima a energia eminida. A estabilidade ·implicada
por estas hipóteses parece estar de acordo com as propriedades
gerais da matéria. No entanto, está cm flagrante oposição com
os fenómenos da radioactividade c portanto, scgwtdo a teoria,
a origem destes fenómenos deve ser procurada em razões
diferentes da distribuição electrónica em torno do núcleo.
Uma consequência necessária da teoria de Rutherford da
estrutura dos átomos é que as partículas a têm origem no
núcleo. Segundo a presente jtcoria, parece também necessá-
rio que o núcleo seja a sede da expulsão das partículas fJ de
velocidade elevada. Em primeiro lugar, a expulsão espontânea
de uma partícula fJ da camada de electrões que envolve o
núcleo seria algo estranho às propriedades admitidas para o
sistema. Além disso, da expulsão de uma partícula a dificil-
mente se pode esperar que resulte um efeito duradouro sobre
a estabilidade do enxame de electrões. O efeito da expulsão terá
duas características diferentes. Por um lado, a partícula pode
colidir com os electrões ligados durante a sua passagem atra-
vés do átomo. Este efeito será análogo ao produzido pelo bom-
bardeamento de átomos de outras substâncias por meio de
raios a, não sendo de esperar que dê lugar à subsequente
expulsão de raios p. Por outro lado, a expulsão da partícula
implicará alteração da configuração dos electrões ligados,
visto que a carga remanescente do núcleo é diferente da pri-
mitiva. Para compreendermos este último efeito consideremos
um dos anéis de electrões que giram em volta de um núcleo
de carga Ne e suponhamos que do núcleo é expelida uma par-
tícula a em direcção perpendicular ao plano do anel.
obviamente, a expulsão da partícula não produzirá qualquer
alteração do mome~to angular dos electrões; além disso, se a
[ 167]
velocidade da partícula a for pequena-cm comparação com a
velocidade dos electrões - como se verifica no caso dos anéis
interiores de um átomo de peso atómico elevado ....,.<i anel
expandir-se-á continuamente durante a expulsão e, depois
desta, tomará a posição atribuída pela teoria a um anel estável
girando em tomo de um núcleo de carga (N- 2)e. A consi-
deração deste caso simples indica claramente que ·a expulsão
de uma partícula a não terá efeito duradouro sobre a estabili-
dade dos anéis internos de electrões no átomo residual.
A questão da origem das partículas fJ deve também ser
encarada sob outro ponto de vista, baseado na consideração
das propriedades físicas e químícas das substâncias radioacti-
vas. Como bem se sabe, várias destas substâncias têm proprie-
dades químicas muíto semelhantes e têm resistido até aquí a
todas as tentativas de separação por meios químicos.
Há também indícios de que as substâncias em causa
apresentam espectros de riscas iguais*. Foi sugerido por vários
.autores que as substâncias são diferentes apenas nas proprie-
dades radioactivas e no peso atómico, mas idênticas em todos
()S outros aspectos físicos . e químicos. Segundo a teoria, isto
[ 1681
emitirem panículas p de diferentes velocidades mostra que
tanto os raios p como os raios a têm origem no núcleo.
Esta concepção da origem das partículas a e f1 explica
muito simplesmente a maneira como a mudança das proprie-
dades químicas das substâncias radioactivas está relacionada
com a natureza das partículas emitidas. Os resultados das
experiências são expressos por duas regras*: -
1. Sempre que uma partícula a é expelida, o grupo do
sistema periódico a que pertence o produto resultante é infe-
rior em duas unidades àquele a que pertence o corpo do qual
descende.
2. Sempre que é expelida uma partícula {1, o grupo
do corpo resultante é superior em uma unidade ao do ascen-
dente imediato.
Como se verá, isto é exactamente o que seria de prever
de acordo com as considerações do § 4.
Ao abandonarem o núcleo, os raios f1 podem colidir com os
electrões ligados pertencentes aos anéis interiores. Quando isto
se der terá lugar a emissão de uma radiação característica do
mesmo tipo que a radiação característica de Rõntgen emitida
por elementos de peso atómico mais baixo por choque de raios
catódicos. A hipótese de que a emissão de raios y é devida a
colisões de raios f1 com electrões ligados é proposta por Ru-
therford + com o fim de explicar os numerosos grupos de
raios f1 homogéneos expelidos por certas substâncias radio-
activas.
[ 169]
Na presente memória tentou-se demonstrar que a aplica-
ção da teoria da radiação de Planck ao modelo atómico de
Rutherford, introduzindo a hipótese da constância universal
do momento angular dos electrões ligados, conduz a resultados
que parecem estar de acordo com as experiências.
Num estudo a publicar mais tarde, a teoria será aplicada
a sistemas que contêm mais do que um núcleo.
[ 170]
Do PIIILOSOPHICAL MAGAZINE de Novembro de 1913.
§ 1. Introdução
[ 171 1
electrões, o mesmo não acontece quando se trata de dois
núcleos de carga elevada, pois não podem, evidentemente,
manter-se juntos com o auxílio de poucos electrões. Portanto,
é necessário admitir que as configurações que contêm vários
núcleos são formadas pela interacção de sistemas - cada um
deles contendo um só núcleo- que já tenham ligados vários
electrões.
O § 2 trata da configuração e estabilidade de um sistema
já formado. Consideraremos só o caso simples de um sistema
constituído por dois núcleos e por um anel de electrões girando
em tomo da linha que os une; contudo, o resultado do cál-
culo fornece elementos sobre as configurações mais prová-
veis em casos mais complicados. Como nas memórias anterio-
res, admitiremos que as condições de equilíbrio podem ser
deduzidas por intermédio da mecânica usual. Todavia, ao
determinarmos as dimensões absolutas e a estabilidade dos
sistemas empregaremos a hipótese principal da Parte I. Esta
diz-nos que o momento angular de qualquer electrão móvel
em tomo do centro da sua órbita é igual a um valor univer-
h
sal-, sendo h a constante de Planck; além disso, a estabili-
21T
dade é determinada pela condição de que a energia total do
sistema seja menor do que em qualquer configuração próxima
que satisfaça a mesma condição do momento angular dos
electrões.
No § 3 é discutida com algum pormenor a configuração
previsível da molécula de hidrogénio.
O § 4 trata do modo de formação dos sistemas. É indicado
um método simples de procedimento, por meio do qual é
possível seguir, passo a passo, a combinação de dois átomos
para formarem uma molécula. Demonstrar-se-á que a confi-
guração obtida satisf;u; as condições utilizadas no § 2. O papel
[ 172]
desempenhado pelo momento angular dos electrões nos racio-
cínios apoia fortemente a validade da hipótese principal.
O § 5 contém algumas indicações das configurações pre-
visíveis para sistemas que contêm maior número de electrões.
b=a ((N
4n )f )-i
-1 , (1)
a= F-1 e w = .. .. (2)
[ 173]
à energia cinética total dos electrões e é dada por
W=---~P . . (3)
Jl2
r 1741
de a a a + Sa, desprezando potências de Sa de grau superior
ao segundo, é dado por
S(P + T) = T
(
1 a -c)F ) ( ' ·--
+ -~ Sa )2
F da , a .
G_ -N-
1((- )2/3 -1 )3/2(1 - 3
4n ( -)2/3) . N (6)
2n N , 4n
[ 175]
Com a ajuda desta expressão e utilizando a tabela dos
valores de Pn,o- Pn,m dados na pág. 141 na Parte II, é pos-
sível demonstrar fàcilmcnte que o sistema em causa só será
estável para N = 1 e n igual a 2 ou a 3.
Ao estudarmos a estabilidade dos sistemas para um deslo-
camento dos núcleos um em relação ao outro, admitiremos que
os movimentos dos núcleos são tão lentos que o estado de
movimento dos electrões em qualquer momento não diferirá
sensivelmente do calculado na hipótese de os núcleos estarem
em repouso. Esta hipótese é admissível devido à grande massa
dos núcleos em comparação com a dos electrões, o que im-
plica que as vibrações resultantes de um deslocamento dos
núcleos serão muito lentas em confronto com as devidas a um
deslocamento dos electrões. Para um sistema constituído por
um anel de electrões e por qois núcleos de cargas iguais, admi-
tiremos portanto que os electrões, em qualquer momento
durante o deslocamento dos núcleos, se movem em órbitas
circulares no plano de simetria destes últimos.
Imaginemos agora que variamos lentamente a distância
entre os núcleos por meio de forças exteriores actuando sobre
eles. Durante o deslocamento, o raio do anel de electrões
variará em consequência da alteração da força radial devida à
atracção dos núcleos. Durante esta variação o momento angu-
lar de cada um dos electrões em tomo da linha que une os
núcleos permanecerá constante. Se a distância entre os núcleos
aumentar, é evidente que também aumentará o raio do anel;
no entanto, o raio aumentará a um ritmo mais lento do que
a distância entre os núcleos. Imaginemos, por exemplo, um
deslocamento em que a distância, assim como o raio, aumen-
tem ambos de a vezes o seu valor primitivo. Na nova configu-
ração, a força radial exercida pelos núcleos e pelos outros elec-
1
trões sobre um dos electrões será - vezes a da configuração
a2
[ 176]
original. Em virtude da constância do momento angular dos
electrões durante o deslocamento, conclui-se além disso que
1
a velocidade dos electrões na nova configuração é - vezes a
a
1
velocidade primitiva, e a força centrífuga -vezes a força
al
centrífuga inicial. Consequentemente, a força radial é maior do
que a força centrífuga.
Atendendo ao facto de a distância entre os núcleos aumen-
o
tar mais ràpidamente do que raio do anel, a atracção sobre
um dos núcleos devida ao anel será maior do que a repulsão
do outro núcleo. O trabalho realizado durante o deslocamento
pelas forças exteriores que actuam sobre os núcleos será por-
tanto positivo, e o sistema será estável para esse deslocamento.
Verificar-se-á evidentemente o· mesmo resultado para o caso
de diminuir a distância entre os núcleos. Note-se que, nas
considerações acima feitas, não empregámos qualquer nova
hipótese sobre a dinâmica dos electrões, tendo utilizado imãca-
mente o princípio da invariância do momento angular, o qual
é comum à mecânica ordinária e à hipótese principal do § 1.
Para um sistema formado por um anel de electrões e por
dois núcleos de cargas desiguais, a investigação da estabilidade
é mais complicada. Como antes, chegamos à conclusão de que
os sistemas são sempre estáveis para deslocamentos dos elec-
trões no plano do anel; concluímos também que, para deslo-
camentos perpendiculares ao plano do anel, ainda se verifica
uma expressão correspondente a ( 5). Todavia, esta condição
não será suficiente para assegurar a estabilidade do sistema.
Para um deslocamento dos electrões perpendiculares ao plano
do anel, a variação da força radial devida aos núcleos será da
mesma ordem de grandeza que o deslocamento; portanto, na
nova configuração, a força radial não estará em equílíbrio com
a força centrífuga, e, se se fizer variar o raio das órbitas até
[ 177]
que seja restaurado o equilíbrio radial, a energia do sistema
diminuirá. Esta circunstância deverá ser tomada em conta ao
ser apLicada a condição de estabilidade do § 1. No cálculo da
estabilidade para deslocamentos dos núcleos levantam-se com-
plicações semelhantes. Para uma variação da distância entre
os núcleos não só variará o raio do anel mas também a razão
na qual o plano do anel divide a linha que liga os núcleos.
Daqui resulta que a discussão completa do caso geral é bas-
tante longa; no entanto, o cálculo numérico aproximado mos-
tra que os sistemas serão instáveis, como no caso anterior, a
não ser que as cargas dos núcleos sejam pequenas e o anel con-
tenha muito poucos electrões.
As considerações acima feitas sugerem configurações de
sistemas, constituídos por dois núcleos positivos e por uma
quantidade de electrões, coerentes com a disposição dos elec-
trões previsível em moléculas de combinações químicas. Assim,
se considerarmos um sistema neutro contendo dois núcleos
com cargas elevadas, segue-se que numa configuração estável
a maior parte dos electrões deve estar distribuída em torno
de cada núcleo aproximadamente como se o outro núcleo
estivesse ausente; e, além disso, que só alguns electrões exterio-
res se distribuirão de maneira diferente gürando numa órbita
em tomo da linha que une os núcleos. Este último anel, que
mantém o sistema ligado, representa a «ligação» química.
Pode conseguir-se uma primeira aproximação grosseira da
configuração possível desse anel considerando sistemas simples
constituídos por um só anel girando cm torno da linha que
une dois núcleos de dimensões diminutas. Contudo, a discus-
são pormenorizada da configuração de sistemas que contêm
um número mais elevado de electrões, tendo em conta o efeito
dos anéis interiores, implica cálculos numéricos elaborados.
[ 178 J
Além de algumas indicações apresentadas no§ 5, confinar-nos-
-emos nesta memória a sistemas contendo muito poucos elec-
trões.
1
b =--a·
v' 3 '
partindo de ( 4), obteremos, além disso,
3y'3- 1
F = ---- = 1,049.
4
Representando, como na Parte II, os valores de a,w e W para
um sistema formado por um só electrão girando em tomo de
um núcleo de carga e (átomo de hidrogénio) por a0 , wo e W o,
obteremos, a partir de (2) e (3)
[ 179 1
formação de um molécula-grama de hidrogénio a partir de
átomos de hidrogénio: (W- 2W0 )N = 2,5 X 1012, corres-
pondente a 6,0 X 104 calorias. Este valor tem a precisa ordem
de grandeza; é, todavia, consideràvelmente menor do que o
valor 13 X I o• calorias encontrado por Langmuir * medindo
a condução do calor por um fio incandescente mergulhado no
hidrogénio. Em virtude do método indirecto empregado parece
difícil estimar o rigor atribuível ao último valor. Para se levar
o valor teórico a coincidir com o valor de Langmuir, a gran-
deza do momento angular dos electrões deveria ser sõmente
igual a 2/3 do valor adoptado; no entanto, este facto parece
difícil de reconciliar com a concordância obtida em outros
pontos.
3v'3
De (6) obtemos G =- - = 0,325. A
Para a frequencta
•
16 .
de vibração do anel na sua totalidade na direcção paralela ao
eixo do sistema, obtemos
v
.;----;;; =
= wo V G ; 0,61 w0 = 3,8 X 1015 1/seg.
[ 180]
tomo da linha que os une, é necessário supor que a remoção
de um dos electrões terá como consequência a separação da
molécula em duas partes: um núcleo isolado e um átomo de
hidrogénio. Se considerarmos este último estado como um dos
estados estacionários em questão, obtemos
Wo
E= W- W 0 = 1,20 W 0 , e v= 1,2-= 3,7 X 10 1 ~ 1/seg.
h
O valor calculado para a frequência da risca de absorção ultra-
violeta no hidrogénio, por experiências de dispersão é v =
= 3,5 X 1015 1/seg. *· Além disso, o cálculo baseado na
teoria de Drude, feito a partir dessas experiências, dá um valor
próximo de dois para o número de electrões de uma molécula
de hidrogénio. Este último res_ultado poderia estar relacionado
·com o facto de serem quase iguais as frequências acima cal-
culadas para a radiação absorvida correspondente a vibrações
paralelas e a vibrações perpendiculares ao plano do anel. Como
se disse na Parte II, o número de electrões de um átomo de
hélio calculado com base em experiências de dispersão é igual
apenas a cerca de 2/3 do número de electrões previsível no
átomo. Estes electrões deverão ser dois. Para o átomo de
hélio, como para a molécula de hidrogénio, a frequência deter-
minada pela relação vh = E concorda intimamente com a
frequência observada na dispersão; todavia, no sístema hélio,
a frequência correspondente a vibrações perpendiculares ao
plano do anel é mais do que três vezes maior do que a fre-
quência em causa e, consequentemente, de influência despre-
zável sobre a dispersão.
Para se determinar a frequência de vibração do sistema
correspondente a deslocamentos dos núcleos um em relação ao
[ 181 ]
-
outro, consideremos uma configuração na qual o raio do anel
é igual a y c a distância entre os núcleos igual a 2x. A força
radial que actua sobre um dos electrões, devida à atracção
dos núcleos e à repulsão dos outros electrões é
2éy e~
R=- - -- -- - - ---
(y ~ + x~ ) % 4y~
2e 2x e2
Q=----
(x2 + y2)'1• 4x2
[ 182 1
H =27
-(v3 - - dy) = 1,515.
16 dx
Representando a massa de um dos núcleos por M, obtemos
para a frequência de vibração correspondente ao deslocamento
em causa.
. m aos ! m
v = wo V-
M
H-
as
= 1,32 wo \ / -
M
•
M
Fazendo-- = 1835 e w0 = 6,2 X 10 1 ~, resulta
m
v = 1,91 X 10H.
Esta frequência .é da mesma ordem de grandeza que a cal-
culada pela teoria de Einstein a partir da variação do calor
específico do hidrogénio gasoso com a temperatura*· Por
outro lado, não se observa qualquer absorção de radiação no
hidrogénio gasoso correspondente a esta frequência. No en-
tanto, essa absorção seria de esperar em virtude da estrutura
simétrica do sistema e do grande valor da razão entre as fre-
quências correspondentes a deslocamentos dos electrões e dos
núcleos. A completa ausência de absorção do infravermelho
pelo hidrogénio gasoso poderia ser considerada como um forte
argumento a favor de uma constituição da molécula de hidro-
génio como a adoptada neste trabalho, em confronto ~om
modelos moleculares nos quais se supõe que a ligação química
tem origem nas cargas de sinais contrários dos átomos com-
ponentes.
Como se demonstrará no§ 5, a frequência calculada acima
pode ser empregada na estimativa da frequência de vibração
[ 183 1
de sistemas mais complicados para os -quais se observa absorção
na região do infravermelho.
Como se disse no § 2, a configuração constituída por dois
núcleos de carga e c por um anel de três electrões girando
entre eles será também estável para deslocamentos dos elec-
trões perpendicularmente ao plano do aneL O cálculo dá
b
- = 0,486, G = 0,623 e F = 0,879;
a
e, além disso,
[ 184]
cleos isolados (ver a próxima secção), mas sim,com um atraso
na separação de uma configuração provocada pela súbita remo-
ção de um dos electrões pelo choque de uma só partícula.
Outra configuração estável que contém poucos electrões
é a constituída por um anel de três electrões e por dois núcleos
de cargas e c 2e. O cálculo numérico dá
b, b.,
- = 1,446, - - = 0,137 e F = 1,552,
a a
[ 185 ]
§ 4. Formação dÔs sistemas
[ 186 1
separa os núcleos aumentará e o sistema passará a uma confi-
guração na qual estará em equilíbrio sem actuação de forças
exteriores sobre os núcleos.
Por meio de um cálculo semelhante ao indicado no § 2,
é possível demonstrar com facilidade que cm qualquer mo-
mento durante este processo a configuração dos electrões é
estável para um deslocamento perpendicular ao plano das órbi-
tas. Além disso, em todo o decorrer da operação, permanecerá
constante o momento angular de cada um dos electrões no
seu movimento em tomo da linha que une os núcleos e, por-
tanto, a configuração de equilíbrio obtida será idêntica à adop-
tada no § 3 para a molécula de hidrogénio. Como então se
demonstrou, a configuração corresponderá a um valor da ener-
gia total menor do que o correspondente a dois átomos iso-
lados. Por conseguinte, durante o processo, as forças entre as
partículas do sistema terão realizado trabalho contra as forças
exteriores que actuam sobre os núcleos; este facto pode expri-
mir-se dizendo que os átomos se «atraíram» um ao outro
durante a combinação. Um cálculo mais rigoroso mostra que
para qualquer distância entre os núcleos maior do que a
correspondente à configuração de equilíbrio, as forças exerci-
das sobre os núcleos, devidas às partículas do sistema, terão um
sentido que tenderá a diminuir a distância entre eles, enquanto,
para qualquer distância menor do que essa, as forças terão
o sentido contrário.
Por meio destas considerações é indácado um processo de
combinação possível de dois átomos de hidrogénio para for-
marem uma molécula. Esta operação pode ser seguida passo a
passo sem a introdução de qualquer nova hipótese sobre a
dinâmica dos electrões c conduz a wna configuração idêntica
à adoptada no § 3 para a molécula de hidrogénio. Devemos
lembrar que esta última configuração foi dcdll7Jida directa-
mente por intermédio da hipótese principal da constância lmi-
[ 187]
versai do momento angular dos electrões. Estas considerações
oferecem também a explicação da «afinidade» de dois átomos.
É preciso salientar que o pressuposto sobre a lentidão do mo-
vimento dos núcleos relativo aos dos electrões é satisfeito com
elevado grau de aproximação na colisão entre dois átomos de
um gás a temperaturas usuais. Todavia, por este método, ao
admitir-se um arranjo especial dos electrões no início do pro-
cesso, obtém-se escassa informação sobre a probabilidade da
combinação devida a uma colisão arbitrária entre dois átomos.
Outra maneira de se poder formar uma molécula neutra
de hidrogénio é a combinação de dois átomos, um carregado
positivamente e o outro negativamente. Segundo a teoria, um .
átomo de hidrogénio carregado positivamente é apenas um
núcleo de dimensões · diminutas e de carga e, ao passo que
um átomo carregado negativamente é um sistema constituído
por um núcleo rodeado por um anel de dois electrões. Como
se demonstrou na Parte II, este último sistema pode ser con-
siderado como possível, visto que a energia emitida quando se
formasse seria maior do que a energia correspondente para um
átomo de hidrogénio neutro. Imaginemos agora que, como
anteriormente, por um deslocamento lento dos núcleos, se
combinam dois átomos com cargas de sinais contrários. Deve-
mos admitir que, quando os núcleos estão a uma distância
igual à que têm na configuração adoptada para a molécula
de hidrogénio, os electrões ficarão dispostos da mesma ma-
neira, pois que esta é a única configuração estável para esta
distância, na qual o momento angular dos electrões tem o
valor exigido pela teoria. No entanto, o estado de movimento
dos electrões não variará de modo contínuo com o desloca-
mento dos núcleos como na combinação de dois átomos neu-
tros. Para uma certa distância entre os núcleos, a configuração
dos electrões será instável e variará bruscamente de uma quan-
tidade finita; isto deduz-se imediatamente a partir do facto
[ 188]
de passar por uma série ininterrupta de configurações estáveis
o movimento dos electrões na combinação de dois átomos
neutros de hidrogénio acima considerada. O trabalho realizado
pelo sistema contra as forças exteriores, no caso da combinação
de dois átomos com cargas de sinais contrários, não será, por-
tanto, igual à diferença das energias das configurações inicial
e final; mas, à passagem pelas configurações instáveis, deverá
ser emitida uma radiação de energia correspondente à energia
libertada durante a ligação de electrões por um só núcleo
considerada nas Partes I e II.
Deste ponto de vista resulta que a divisão de uma molécula
de hidrogénio por aumento vagaroso da distância entre os
núcleos dará origem a dois átomos neutros de hidrogénio e não
a dois átomos com cargas de sinais contrários. Esta conclusão
está de acordo com o que se pode deduzir de experiências
realizadas com raios positivos *.
Imaginemos depois que, em vez de dois átomos de hidro-
génio, consideramos dois átomos de hélio, isto é, sistemas
formados por um núcleo de carga 2e rodeado por um anel de
dois electrões, e que seguimos um processo semelhante ao
considerado na pág. 186. Suponhamos que os átomos de hélio,
no início da operação, estão orientados um em relação ao
outro como os átomos de hidrogénio, mas sendo a diferença
de fase dos electrões nos átomos de hélio igual a um quarto de
revolução, enquanto, no caso dos átomos de hidrogénio, era
igual a meia revolução. Como no caso anterior, quando se der
o deslocamento dos núcleos, os planos dos anéis de electrões
aproximar-se-ão um do outro mais ràpidamcnte do que os
núcleos, acabando por coincidir para uma certa posição destes
últimos. Durante a ulterior aproximação dos núcleos, os elec-
trões vão distribuir-se num só anel cm intervalos angulares
[ 189]
iguais. Do mesmo modo que no caso anterior, é possível de-
monstrar que, em qualquer momento desta operação, o sistema
será estável para um deslocamento dos electrões penpendicular
ao plano dos anéis. No entanto, contràriamente ao que se
passa no caso do hidrogénio, as forças exteriores a aplicar aos
núcleos para que o sistema se mantenha em equilíbrio terão
sempre um sentido tendente a diminuir a distância entre os
núcleos e, por isso, o sistema nunca passará por uma configu-
ração de equilíbrio; durante o processo, os átomos de hélio
«repelem-se» um ao outro. Esta análise explica por que razão
os átomos de hélâo não se combinam formando moléculas
quando os átomos se aproximam muito.
Em vez de dois átomos de hidrogénio ou de dois átomos
de hélio, consideremos a seguir um átomo de hidrogénio e um
átomo de hélio e, de maneira análoga, obriguemos os núcleos
a aproximarem-se um do outro. Agora, ao contrário dos casos
anteriores, os electrões não terão qualquer tendência a jun-
tar-se num só anel. Devido à grande diferença dos rlllios das
órbitas dos electrões no hidrogénio e no hélio, é de esperar
que o electrão do átomo de hidrogénio gire sempre por fora
do anel do hélio e que, se os núcleos forem obrigados a apro-
ximar-se muito, a configuração dos electrões seja coincidente
com a adoptada na Parte II para um átomo de hélio. Além
disso, as forças exteriores que será necessário aplicar aos
núcleos durante o processo terão um sentido tendente a dimi-
nuir a distância entre eles. Por conseguinte, não poderemos
obter, desta maneira, uma combinação dos átomos.
Não é de espera·r que a configuração estável considerada
no § 3, constituída por um anel de três electrões e por dois
núcleos de cargas e e 2e, se forme por um tal processo, a não
ser que o anel de electrões fosse captado inicialmente por um
dos núcleos. Todavia, nem o núcleo do hidrogénio nem o do
hélio são capazes de fixar um anel de três electrões, pois que
[ 190]
a essa configuração corresponderia uma energia total maior
do que a que teria um núcleo que captou dois electrões ( cf.
Parte II, págs. 149 c 151). Como se disse no§ 3, essa confi-
guração não pode portanto considerar-se como representando
uma combinação possível de hidrogénio c hélio, a despeito do
facto de o valor de W ser maior do que a soma dos valores de
W para um átomo de hidrogénão e um átomo de hélio. Toda-
via, como veremos na secção seguinte, a configuração pode dar
indicações sobre a estrutura possível das moléculas de certa
classe de combinações químicas.
[ 191]
· Desta maneira somos levados a uma configuração possível
da molécula constituída por duas substâncias monovalentcs
- como por exemplo o ClH - na qual o anel de electrões que
representa a ligação química tem uma disposição semelhante
à atribuída à molécula de hidrogénio. No entanto, visto que,
como no caso do hidrogénio, a energia emitida por uma com-
binação dos átomos é apenas uma pequena parte da energia
cinética dos electrões exteriores, é previsível que, cm virtude
da presença dos anéis de electrões interiores nos átomos,
pequenas diferenças na configuração do anel terão grande
influência sobre o calor de combinação e, consequentemente,
sobre a afinidade das substâncias. Como se disse em § 2, a
discussão pormenorizada destas questões impLica complicados
cálculos numéricos. Todavia, é possível fazer uma comparação
aproximada da teoria com a experiência, considerando a fre-
quência de vibração dos dois átomos que formam a molécula,
um em relação ao outro. No§ 3, pág. 183, calculámos esta fre-
quência para uma molécula de hidrogénúo. Como agora se
admitiu que a ligação dos átomos é semelhante à do hidro-
génio, a. frequência de outra molécula pode ser fàcilmente cal-
culada se soubermos que a relação entre as massas dos núcleos
é a de um núcleo de hidrogénio. Representando por 1· 0 a fre-
quência de uma molécula de hidrogénio e, respectivamente,
por A1 e A2 os pesos atómicos das substâncias que entram no
composto em questão, obtemos
V = Vo v'
Se os dois átomos forem idênticos, a molécula será exactamente
simétrica, não sendo de esperar que se dê absorção da radiação
correspondente à frequência em causa ( cf. pág. 183) .
[ 192]
Para o gás ClH observa-se uma banda de absorção na
região infravermclha correspondente a uma frequência de
cerca de 8,5 X 1013 *. Fazendo na fórmula anterior A1 = 1,
A2 = 35 e utilizando o valor· i,t~. .vo da pág. 183, vem
,. = 13,7 X 10u. Em virtude d~ ..aproximação introduzida
o acordo pode ser considera® como satisfatório.
As moléculas em causa podem :. também ser formadas
pela combinação de um átomo carregado positivamente com
outro carregado negativamente. Não obstante, como no caso
do hidrogénio, deveremos obter dois átomos neutros por divi-
são da molécula. Pode haver outro tipo de moléculas, para as
quais isto não se verificará, corno por exemplo, as moléculas
que se formam de maneira análoga ao sistema constituído por
um anel de três electrões e por dois núcleos de cargas e e 2e,
mencionado na secção anterior. Corno vimos, a condição neces-
sária para a formação de uma configuração desta espécie é
que um dos átomos da molécula possa ligar três electrões no
anel exterior. Segundo a teoria, esta condição não é satisfeita
pelo~ átomos de hidrogénio e hélio, mas é-o pelo átomo de
oxigénio. Com os símbolos utilizados na Parte II, a configu-
ração sugerida para o átomo de oxigénio era dada por
8 ( 4,2,2). Por meio de um cálculo corno o indicado na
Parte II, obteremos para essa configuração W = 228,07 W0,
enquanto para a configuração 8(4,2,3) vem W = 228,18 W0 •
Como o último valor de W é maior do que o primeiro, a
configuração · 8 ( 4,2,3) pode ser considerada como possível e
corno representando um átomo de oxigénio com urna só carga
negativa. Se obrigarmos agora um átomo de hidrogénio a
aproximar-se do sistema 8 ( 4,2,3) será de esperar que se forme
urna configuração estável na qual os electrões exteriores se
distribuirão aproximadamente corno no sistema mencionado.
[ 193]
13
Quando esta configuração se dissociar, o anel de três electrões
ficará a pertencer ao átomo de oxigénio.
Estas considerações sugerem uma configuração possível da
molécula de água, constituída por um núcleo de oxigénio
rodeado por um pequeno anel de quatro electrões e por dois
núcleos de hidrogénio situados no eixo do anel a distâncias
iguais do primeiro núcleo e mantidos em equilíbrio por meio
de dois anéis de raio maior, contendo cada um três electrões;
estes giram em planos paralelos em torno do eixo do sistema,
estando colocados um em relação ao outro de modo que os
electrões de um dos anéis estejam situados precisamente em
frente dos intervalos entre os electrões do outro. Se imaginar-
mos que este sistema se divide por remoção lenta dos núcleos
de hidrogénio, deverão obter-se dois átomos de hidrogénio
carregados positivamente e um átomo de oxigénio com carga
negativa dupla, no qual os electrões exteriores estarão distri-
buídos por dois anéis com três electrões cada um, girando em
plan<':- paralelos. A hipótese de uma tal configuração· para a
molécula de água explica possivelmente a grande absorção
dos raios infravermelhos pela água e o valor elevado da sua
capacidade indutora específica.
No que precede considerámos apenas sistemas que pos-
suem um eixo de simetria cm torno do qual se supõe que os
electrões se movem em órbitas circulares. No entanto, em
sistemas como a molécula CH1> não é possível admitir a
existência de um eixo de simetria e, consequentemente, em
tais casos é necessário omitir a hipótese das órbitas exacta-
mente circulares. A configuração sugerida pela teoria para a
molécula CH 4 é do tipo usual do tetraedro; o núcleo de car-
bono rodeado por um anel muito pequeno de dois electrões
estará situado no centro e cm cada vértice haverá um núcleo
de hidrogénio. As ligações químicas são representadas por
4 anéis com 2 electrões cada um, girando em torno das linhas
[ 194]
que unem o centro e os vértices. A discussão pormenorizada
destas questões está, no entanto, muito fora do alcance da
presente teoria.
No tas finais
[ 195]
3. Que é homogénea a radiação emitida durante a transição
de um sistema de um estado estacionário para outro, e
que a relação entre a frequência v' e a quantidade total de
energia emitida é dada por E = hv, sendo h a constante de
Planck.
4. Que os diferentes estados estacionários de um sistema sim-
ples constituído por um electrão que roda em volta de um
núcleo positivo são determinados pela condição de ser
lz
igual a um múltiplo inteiro de - a razão entre a energia
2
total emitida durante a formação da configuração e a fre-
quência de revolução do electrão. Admitindo que a órbita
do electrão é circular, esta hipótese equivale a supor que
o momento angular do electrão em tomo do núcleo é
h
igual a um múltiplo inteiro de - - .
271"
5. Que o estado «permanente» de um sistema atómico- isto
é, o estado no qual a energia emitida é máxima - é deter-
h
minado pela condição de ser igual a - o momento angu-
27r
lar de cada electrão em tomo do centro da sua órbita.
Mostrou-se que, aplicando estes postulados ao modelo ató-
mico de Rutherford, é possível compreender as leis de Balmer
e de Rydberg que relacionam as frequências das diferentes
riscas do espectro de riscas de um elemento. Além disso, esbo-
çou-se uma teoria da constituição dos átomos dos elementos
c da formação de moléculas de compostos químicos, a qual
se verificou estar, em vários pontos, em concordância aproxi-
mada com as experiências.
É evidente a conexão íntima entre a presente teoria e as
modernas teorias da radiação do corpo negro e do calor espe-
cífico; como, à luz da electrodinâmica clássica, o momento
[ 196 J
magnético devido a um electrão girando em órbita circular é
proporcional ao momento angular, será de esperar, ainda, uma
relação íntima com a teoria dos magnetões proposta por
W eiss. O desenvolvimento de uma teoria pormenorizada da
radiação do calor e do magnetismo baseada na nossa teoria
exige, no entanto, a introdução de novos postulados sobre o
comportamento de electrões ligados num campo electromagné-
tico. O autor espera voltar mais tarde a estas questões.
[197 1
ESBOÇO DE UMA SECÇÃO ADICIONAL A PARTE II,
SOBRE O MAGNETISMO
[ 198]
e
e de - dados na nota da pág. ( ), virá M = 0,561 X
h
X 104 • O valor do «magnetão-grama» calculado por Weiss é
1
1123,5 = 5 · 5618 . Este valor, dentro da incerteza devida
[ 199]
mecânica clássica na compreensão do· comportamento dos elec-
trões ligados nos átomos.
Sendo necessário abandonar a mecânica usual, a maneira
mais simples para discriminar entre diferentes hipóteses rela-
tivas ao comportamento dos electrões ligados num campo
magnético deve ser considerar o efeito do campo sobre a
energia dos sistemas. A maior parte das hipóteses, tais como
a utilizada por Langevin na sua teoria do magnetismo, condu-
ziria a uma variação da energia dos sistemas proporcional à
força magnética. Contudo, isto levaria à conclusão - incom-
patível com as experiências - de que todas as substâncias
apresentariam propriedades paramagnéticas. No entanto, há
uma hipótese simples que não levantaria esta dificuldade:
admitir que a condição da constância universal do momento
angular dos electrões - suposta como válida na ausência de
campo magnético - se verificaria também na presença de um
campo magnético. O cálc~lo mostra que, admitindo esta hipó-
tese, a alteração da energia dos sistemas devida ao can1po será
proporcional ao quadrado da força magnética e, além disso,
que esta alteração será sempre no sentido de aumentar a ener-
gia dos sistemas. Sob este ponto de vista, só o diamagnetismo
seria uma propriedade geral dos electrões ligados. Esta con-
cepção concorda com a evidência experimental que indica que
o diamagnetismo é uma propriedade geral dos átomos, en-
quanto o aparecimento do paramagnetismo está intimamente
relacionado com a formação de complicados sistemas espe-
ciais.
Postulando a validade geral da constância do momento
angular dos electrões, mesmo num campo magnético, devería-
mos renunciar à explicação habitual do efeito de Zeeman. Isto
seria no entanto de· esperar, visto que já na Parte I, pela intro-
dução da hipótese relativa ao momento angular, nos afastámos
da concepção geral de que a frequência da radiação é igual à
[ 2001
frequência de vibração dos electrões calculada da maneira
usual.
A tentativa de explicar o efeito de Zeeman por meio da
relação E= hv, utilizada na determinação da frequência emi-
tida na ausência de um campo, não teria êxito porque daria
uma variação de frequência proporcional ao quadrado do
campo magnético.
Para compreender o efeito de Zeeman, com base na pre-
sente teoria, somos levados a admitir, partindo das considera-
ções acima feitas, que, num campo magnético, a frequência da
radiação emitida durante a ligação de um electrão é determi-
nada pela relação E =h (v - v1) se o electrão ligado girar
no mesmo sentido que o electrão livre móvel no campo, e por
E =h (v + v 1 ) se o electrão ligado tiver movimento de reno-
lução no sentido oposto, sendo v1 igual a metade da frequência
de rotação de um electrão livre.
O autor espera voltar brevemente a estas questões.
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íNDICE