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uma introdução
Copyright © Associação Filosófica Scientiae Studia
© H. O. Mounce 1981. Basil Blackwell Publisher
Projeto editorial: Associação Filosófica Scientiae Studia
Direção editorial: Pablo Rubén Mariconda
Design editorial e capa: Leticia Freire
Ilustração da capa: Guilherme Romero
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21--78942 C:DD---192
Introdução • 9
Capítulo 6 Generalidade • 91
Capítulo 8 Crença u3
lndice de termos
Í.ndice de nomes •
O único propósito deste pequeno livro é ser útil aos estudan -
tes que encontram dificuldades ao tentarem se orientar em
uma das obras filosóficas mais difíceis que existem. Parece-
-me que há uma demanda por um livro como este. Existem
vários excelentes comentários no mercado, mas todos eles
são feitos, a meu ver, mais para os especialistas do que para
os estudantes de graduação, para quem eles são muitas vezes
mais difíceis de acompanhar do que o próprio Tractatus.
Como meu objetivo com este livro é simplesmente ser
útil, e não produzir um comentário original, não hesitei
em fazer uso dos escritos dos outros. Por exemplo, em uma
parte de minha Introdução, segui de perto um capítulo do
livro de A. Kenny (1973) sobre Wittgenstein. Isso porque
me pareceu vão eu me preocupar com um trabalho no qual
Kenny já havia alcançado êxito. Na maior parte das vezes,
não agradeci por esses empréstimos; na verdade, em muitos
casos, eu provavelmente seria incapaz de fazê-lo. Após ter
estudado o Trac.tatus por cerca de vinte anos, eu não saberia
determinar, acerca de muitas contribuições, de quem são os
créditos, se meus ou de outra pessoa. Espero que qualquer um
que reconheça algo como seu se lembre do propósito deste
1 ivro e se sinta contente por saber que tem minha gratidão.
Há, no entanto, uma dívida que exige um agradecimento:
a que tenho com Rush Rhees,' que me iniciou no estudo do
'fractatus e cuja interpretação, em seus traços essenciais,
ainda me parece a melhor disponível.
7
ÁGBADECIMENTOS DA EDIÇÃO ORIGINAL
ÁGBADECIMENTOS DA TBAD1JZIDA
9
H . O. M ounce
Essa é uma inferência válida, mas que não pode ser analisada
pelos métodos de Aristóteles. Isso ocorre porque a análise
de Aristóteles dependia da decomposição das proposições
contidas na inferência em sujeitos e predicados:
10
pessoas expressaram isso dizendo que "se p, então q; e p; logo,
q" expressa uma verdade lógica que garante a validade da in-
ferência "se chover esta tarde etc." e de qualquer inferência
que tenha a mesma forma. Em outras palavras, "se chover esta
tarde etc." é válida por.que ela é uma expressão da verdade
lógica "se p, então q; e p; logo, q", e qualquer outra inferência
que seja uma expressão dessa verdade, e que possa seres-
crita nessa forma simbólica, também será necessariamente
válida. Ora, Frege desenvolve o seu cálculo concentrando-se
nessas assim chamadas verdades lógicas e dispondo-as numa
forma semelhante à de um sistema geométrico. Ele toma um
pequeno número dessas verdades como axiomas e, adotando
a regra de inferência" dados A e 'se A, então B', infere-se B",
mostra como se pode derivar delas um número ilimitado de
outras verdades lógicas. Russell e Whitehead, alguns anos
depois, desenvolveram um sistema semelhante baseado em
um conjunto diferente de axiomas. Ora, alguém que tenha
refletido sobre o que está ocorrendo no desenvolvimento
desses sistemas terá se sentido intrigado a respeito de algu-
mas coisas. Ter-Ihe-á causado especial estranhamento, por
xemplo, a questão de saber qual é a natureza das verdades
lógicas. Estas parecem ter uma espécie de necessidade que
as distingue, por exemplo, da verdade dos enunciados, das
ciências da natureza. Mas como essa necessidade pode ser
elucidada? Ou, então, consideremos as relações entre as ver-
dades lógicas e os axiomas sobre os quais elas repousam. Elas
dependem, para sua verdade, desses axiomas? Se dependem,
e ntão de que dependem os axiomas para a sua verdade? Se
i'
11
IL O. M ourice
1~
INTHODUqAo
17
H. O . Mourice
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lN T R O JJU í;:X o
'11
H.O .
~3
H. O. Mounce
5 Teria sido melhor- embora, neste estágio, talvez mais confuso - dizer que
a lógica é a possibilidade da representação.
lNTRODuç:Ao
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H. O. Mounce
~9
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3o
FNro e corsx
33
IL O. M ourice
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lor falsa, não haverá nada para o que se possa apontar como
nquilo a que a proposição como um todo corresponda. Uma
proposição, entretanto, tem o mesmo sentido quer seja
lalsa ou não. Como já vimos, uma proposição deve ter um
sentido antes que se possa colocar a questão de saber se ela é
verdadeira ou falsa. Segue-se daí que aquilo que a proposição
como um todo significa não é algo a que ela corresponda,
como os significados dos nomes que a compõem são coisas
11 que eles, enquanto seus representantes, correspondem.
Uma proposição, em suma, não é um nome complexo. Não
se pode apontar para aquilo que ela significa como algo
externo à própria proposição. É precisamente essa ideia
que Wittgenstein busca elucidar com a comparação com
uma figuração. O significado ou sentido de uma proposição
! interno à proposição, está na proposição como a cena
retratada por uma pintura está na pintura. Se a cena retratada
pela pintura é imaginária, alguém pode ser capaz de apontar
para objetos no mundo que correspondem às diversas
partes da pintura, mas não será possível apontar para nada
no mundo que corresponda à pintura como um todo. Ainda
ussim, há uma cena retratada pela pintura, um estado de
coisas possível. Essa cena, no entanto, não consiste em algo
l'ora da pintura, e sim na justaposição dos elementos na
própria figuração.
Essa ideia poderá ficar mais clara se examinarmos duas
proposições que ocorrem mais adiante no Tractatus. Em
:l.1431, Wittgenstein diz que "fica muito clara a essência de
11m sinal proposicional quando o concebemos composto
em 3.143~ ele diz: "Em vez de 'O sinal complexo "aRb" diz
que a mantém a relação R com b' deveríamos dizer 'O fato
de que "a" mantém uma certa relação com "b" diz que aRb' ".
O sentido da segunda dessas proposições é, sem dúvida,
obscuro em uma primeira leitura. Examinemo-la por meio da
primeira. É evidente que poderíamos deixar uma mensagem
para um amigo sem escrevê- la, mas dispondo os livros sobre
sua mesa de acordo com um padrão pré- estabelecido. Os li -
vros, assim dispostos, formariam uma espécie de proposição..
Além disso, ficará evidente que o sentido dessa proposição
será expresso pela disposição física dos livros. O fato de que
este livro esteja sobre a mesa nesta exata relação física com
aqueles outros livros diz uma coisa; mude-se a relação física
e outra coisa será dita, ou até mesmo nada. Ora, de um modo
similar, a asserção "ahb" diz o que quer que ela diga porque
o sinal "a" está em uma certa relação com o sinal "b". M u -
dem-se os sinais para "bRa" e outra coisa é dita.
Por que, no entanto, Wittgenstein insiste em pôr a questão
nesses termos, dizendo "o fato de que 'a' mantém uma certa
relação com 'b' diz que aRb", e não dizendo '"aRb' diz que a
mantém com b uma certa relação"? O que ele quer dizer ficará
claro se traduzirmos os símbolos por palavras. Suponha que
eu diga: "'o livro está sobre a mesa' diz que o livro mantém
com a mesa uma certa relação". Uma breve reflexão deixará
claro que não acrescentei nada ao enunciado "o livro está
sobre a mesa". Ou seja, meu enunciado é vazio. Do mesmo
modo, é inteiramente vazio dizer '"aRb' diz que etc." porque
qualquer pessoa que apreenda a relação que o símbolo a man -
tém com o símbolo b entenderá tudo que estou tentando dizer
simplesmente através de "aRb". Quem quer que apreenda a
disposição de palavras" o livro está sobre a mesa" não precisa
A PROPOSIÇ'ÀO COMO FIGURM;,Jo
que lhe seja dito o que ela diz. Ele o sabe quando lhe é dito "o
1 i vro está sobre a mesa".
Em outras palavras, a relação entre uma proposição e o seu
HC ntido é uma relação interna. Deve-se encontrar o sentido de
41
I-LO. Mounce
44
A PRffPOSIÇtlü COMO FIGUR"-Ç:ÀO
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H . O. M ourice
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H . O. M ourice
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As LÓGICA
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O. Mounce
1~ [N.T.] Aqui convém chamar atenção para uma pequena diferença entre
11 língua inglesa e a língua portuguesa. No inglês, a negação ocorre após a
cópula - "the book is/not on the table" (" o livro está/não sobre a mesa").
Assim, existe no inglês mais semelhança entre a estrutura da proposição
11 firmativa e a estrutura da proposição negativa na medida em que ambas
parecem, mais do que no português, asserir a existência de um fato positivo.
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H . O. M ourice
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p q
V V
F V
V F
F F
Entretanto, a maneira como as possibilidades de verdade
apresentadas nessa tabela afeta a verdade ou a falsidade da
proposição como um todo não será a mesma para toda propo-
sição constituída por "p" e "q". Isso dependerá de como "p" e
"q" estiverem combinadas para formar a proposição como um
todo. Assim, para algumas combinações, se "p" for verdadeira e
"q" for falsa, a proposição como um todo será falsa; para outras
combinações, será verdadeira. Aqui estão dois exemplos - a
terceira coluna em cada caso representa a maneira como a ver-
dade ou a falsidade da proposição como um todo é afetada pelas
possibilidades de verdade de suas proposições constituintes:
(A) (B)
p q p q
vv V V V V
FV V FV F
V F V V F F
F F F F F F
60
A s PROl'OSIÇÕES DA LÓGICA
6~
PllOPOS!ÇÔES DA LÓGICA
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H. O. Mounce
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..
As PROPOSIÇÜES DA LÓGICA
68
As .:Pllü'POSI9ÔES DA LÓGICA
13 Por razões que ficarão claras logo adiante, seria mais preciso dizer que o
que Wittgenstein desejava ver desenvolvido não era um sistema lógico, como
os de Russell e Frege, mas um simbolismo lógico mais adequado.
H. O. M ounce
74
A. FOllMA GERAL llF l,ROPOSlÇ.4.0
75
H . O. M ourice
E
3.33 Na sintaxe lógica, o significado de um sinal
nunca deveria desempenhar papel algum; ela
deve poder estabelecer-se sem que se fale do
significado de um sinal: ela pode pressupor so-
mente a descrição das expressões.
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H . O. M ourice
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, 80
A FORMA GJ,BAL DE UMA }'ROPOSIÇAO
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CAPÍTULO 5
As equações matemática
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H. O. Mounce
como
(4) !2ºx, go+ix, go+1+1x, Q 0+1+1+1x ••• ,
(5) Portanto, em vez de [x, ç, Qç]
(6) Wºx, QNx, QN+'x]
E podemos dar as seguintes definições:
(7) 0+1=1
0+1+1=~
0+1+1+1=3
86
As EQDAÇÔES DA MATEM.ÁTICA
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As EQUAÇÔES DA :\,L\TEM,\TICA
"~ + ~ 4" diz que "~ + ~" significa o mesmo que "4". Devemos
=
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H. O. Mounce
A B C D
E] êJ ~
Aqui posso ler, pela posição do círculo na figura, sua posi -
ção no quadrado real. A questão; entretanto, é que @] não
pertence à sérieABCD ... de modo algum; trata-se de um uso
diferente de uma figura. EmABCD ... , é necessário levar em
consideração a distância entre o círculo e os lados do quadra -
do. Em@] a distância entre o círculo e os lados do quadrado
não tem nenhum significado, não mais do que as distâncias
entre as letras em "aRb". Poder-se-ia dizer que se@] está
correta, então alguma coisa na série ABCD ... também deve es-
tar correta. Certamente, mas qual está correta é uma questão
inteiramente contingente. Aquilo para o que se quer chamar
a atenção com @] é que podemos usá - la corretamente ainda
que não saibamos qual figura da série ABCD ... está correta.
Fiz referência a ideias que Wittgenstein defendeu em·
seus anos posteriores. E quanto às ideias que ele defendeu
na época do Tractatus? Penso que podemos estar certos, pelas
observações do próprio Wittgenstein sobre o tema, de que ele
não tinha clareza sobre esse assunto à época do Tractatus. O
que, entretanto, não é de modo algum fácil de determinar é
onde precisamente a faltahllareza se encontra.
À primeira vista, suas ideias parecem inteiramente con -
sistentes com as que ele adotou mais tarde. Em 5.5~1 ele diz:
H. O. M ourice
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G EN ERALID ADE
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H. O. M ourice
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H. O. Mourice
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CAPÍTULO 7
.,,._ .
d a ciencia
Será útil se agora considerarmos a generalidade sob um aspecto
diferente, considerando a generalidade envolvida na ciência.
Como vimos, há, para Wittgenstein, uma distinção absoluta
entre a generalidade da lógica e o que ele chama de generali -
dade acidental. Ele retorna a essa ideia na proposição 6.3. "A
pesquisa da lógica significa a pesquisa de toda legalidade. E fora
da lógica tudo é acidental". Isso, no entanto, poderia parecer
apresentar um problema para Wittgenstein, pois como ele dará
conta das leis científicas, tais como aparecem, digamos, na
física? À primeira vista, essas podem parecer não se encaixar
nem na categoria do logicamente necessário nem na catego-
ria do acidental. Para compreender a ideia de Wittgenstein,
precisamos começar considerando as seguintes proposições:
6.31 A assim chamada lei da indução não pode,
de modo algum, ser uma lei lógica, pois é ob-
viamente uma proposição com sentido. - E por
isso não pode também ser uma lei a priori.
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10~
As LEIS DA CIÊNCIA
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H. O. Mounce
106
As LEIS DA clÊNCIA
108
As LEIS DA CIÊNCIA
Isso porque a lógica nada tem a ver com os fatos, com o que
ocorrerá ou não ocorrerá. Consequentemente, se estamos
inclinados a acreditar que uma determinada coisa acontecerá
em vez de outra, essa é uma questão de psicologia. Em outras
palavras, é uma questão do que estamos inclinados a acreditar,
como resultado, por exemplo, de experiências passadas, do
que vimos acontecer.
Na medida em que é uma questão de lógica, a probabilida-
de diz respeito simplesmente à inter-relação de fundamentos
deverdade. "Em si mesma", dizWittgensteinem5.153, "uma
proposição não é nem provável nem improvável. Um evento
ocorre ou não ocorre, não há meio-termo". Isso significa
dizer que a probabilidade não representa nada no mundo.
"Não há um objeto particular que seja próprio das proposi-
ções probabilísticas" (5.1511). Assim, se não é uma questão
de como nossas atitudes estão guiadas, ela só pode ser uma
questão de como os fundamentos de verdade de proposições
relacionam-se entre si. Wittgenstein explica a relação entre
probabilidade e fundamentos de verdade em 5.15.
llO
As LEIS DA
lll
CAPÍTULO 8
113
H. O. Mounce
116
ocorrer, nem os meros sinais, mas uma terceira entidade, a
saber, a proposição que é expressa pelos sinais. A "proposi-
ção", aqui, parece figurar como um objeto distinto que está
empiricamente relacionado à crença do homem. A ideia de
Wittgenstein é que isso é um engano. Acreditar que aRb é
apenas ter em mente (ou proferir) os sinais "aRb" em seu
arranjo lógico.
Para compreender a ideia de Wittgenstein em maior
detalhe, consideremos "A diz que p" em vez de "A acredita
que p". O problema é o mesmo em ambos os casos, mas o
primeiro pode ser abordado mais facilmente. Para que seja
verdadeiro que A diz que p, é evidente que algo tem de ser
verdadeiro de A. Essa é a parte da análise que Wittgenstein
omite inteiramente. Talvez ele a julgasse muito óbvia para ser
mencionada. Se é verdade que A diz que p, tem de ser ver-
dadeiro deA que ele diz: "p". Mais estritamente: tem de ser
verdadeiro de A que ele diz "p", ou algum outro conjunto de
sons cuja estrutura tenha a mesma significação lógica. E "p"
diz que p. Portanto, podemos dizer que, para Wittgenstein,
A diz que p = A diz "p" e "p" diz que p.
No entanto, é de vital importância compreender agora que
o" diz" na frase acima marca dois tipos bastante diferentes de
relação. No primeiro, A diz "p", a relação é externa ou empí-
rica, ela indica o proferimento de certos sons que estão em
um certo arranjo lógico; no segundo, "p" diz que p, a relação é
interna. Isso é algo que a professoraAnscombe, por exemplo,
parece perder de vista em sua introdução ao Tractatus. Ela
pensa que a relação entre "p" e o que isso diz, como a relação
entre A e os sons que ele profere, é inteiramente empírica,
pois, ela diz, "p" poderia não dizer que p. Poderíamos, por
exemplo, ter atribuído a esses sinais um uso muito diferente,
H. O. M ourice
u8
CRENÇA
o que B diz que ele teve). Além disso, onde o relato não fun-
ciona empregando diretamente a linguagem verifuncional,
ele funciona apresentando o que se mostra em tal emprego, de
modo que se pode explicar um relato desse tipo sem que seja
preciso ir além daquilo com o que o Tractatus se compromete.
CAPÍTULO 9
Solipsismo
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dirí_amos "Ah! Então, tudo bem!". No entanto, se disséssemos
a outra pessoa "você deveria tratar melhor os seus pais", e
ela respondesse "eu não quero tratá- los melhor", respon-
deríamos "então você deveria querer tratá- los melhor". A
importância de tratarmos bem os nossos pais não depende de
algo ser o caso, tal como o fato, contingente, de você querer
tratá-los bem. Em sua conferência, Wittgenstein falou des-
se valor como absoluto, enfatizando novamente que valores
desse tipo não poderiam ser expressos em uma proposição.
É claro, entretanto, que as pessoas dão, de alguma maneira,
expressão ao que elas valorizam ou admiram. Na "Conferên-
cia sobre ética", Wittgenstein diz que essas expressões são
tentativas de dizer o que não pode realmente ser dito. Está
claro, contudo, tanto na conferência quanto no Tractatus,
que essa tendência a expressar o que não pode ser dito não
é - como o solipsismo, por exemplo - produto de um mau
entendimento da lógica. Por exemplo, não é algo a ser elimi-
nado por uma análise lógica adequada. Em sua conferência,
Wittgenstein diz que essa é uma tendência que ele admira e
defenderá. Algo de importante se mostra, mesmo que não
seja dito, quando uma pessoa tenta, dessa maneira, expressar
o que não pode ser dito.
A esse respeito, existe uma analogia com as proposições
da lógica, e, nos Cadernos (1979, p. 77), Wittgensteinfaz essa
comparação explicitamente. "A ética não trata do mundo. A
ética deve ser uma condição do mundo, como a lógica". A
ética, assim como a lógica, pertence ao que se mostra, não ao
que é dito. Isso não quer dizer que ela se mostre da mesma
maneira. Não há nada no caso da ética, por exemplo, que
possa ser comparado ao método de mostrar a necessidade
de um princípio lógico por meio da notação V. F. Ainda as-
ILO.
sim, a ética, como a lógica, faz parte daquilo que "se mostra"
(proposição 6.5~~).
Isso também pode ser visto pela consideração da relação
que existe, para Wittgenstein, entre a ética e a vontade.
17 Isso não significa, aliás, que os fatos sejam irrelevantes para que se con -
fira sentido às coisas. Imagine-se, por exemplo, que certas peças estejam
faltando para que se complete a figura de um quebra-cabeça. Sem elas, pode
ser impossível conferir sentido à figura. O ponto, entretanto, é que o sentido
não repousa nas peças extras, mas na figura como um todo - as peças extras
são necessárias porque sem elas o todo não pode ser adequadamente visto.
136
v'.'-.LO.R
144
As PROPOSIÇÕES DA .F ILOSOflA
145
H. O. Mounce
18 Talvez fosse melhor dizer que ele veio a acreditar que havia uma confusão
em sua ideia anterior acerca do que constitui uma distinção clara ou radical.
As .PHOPOSJÇÔES DA FILOSOFIA
1 47
H . O. M ounce
49
1
CAPÍTULO 12
Aco cão posterior
54
1
A GONCEPÇKO POSTERIOR
significado de" (X) fx" determina que "[a" se segue, mas que
qualquer um que não perceber que deve inferir "f a" de "(X)
[x" não terá apreendido o significado de "(X) fx". Em outras
palavras, deveríamos dizer que alguém entende "tudo o que
está sobre a mesa é vermelho" se e somente se, ao asseri - lo,
essa pessoa estiver disposta a asserir de qualquer coisa so-
bre a mesa (esta maçã, por exemplo) que ela é vermelha. A
última asserção é uma condição da primeira asserção. Ou,
para colocá-lo de outro modo, "(X) fx implicafa" pode ser
tratada como uma regra para o uso de "(X) fx". Dessa maneira,
o enunciado de que o significado de "(X) fx" determina que
fa se segue é verdadeiro apenas no sentido em que o fato de
inferirmos "[a" de "(X) [x" determina o significado de "(X)
fx". A mesma ideia se aplica ao caso das constantes lógicas.
Assim, de "p v q e -q" segue -se que "p". Em que sentido isso
se segue? Ora, não está claro que alguém que assere "p ou q"
já deve estar disposto, se pretende ser entendido, a asserir
que se uma dessas proposições é falsa, "q", por exemplo, a
outra é verdadeira? Em outras palavras, a última se segue da
primeira somente no sentido em que é uma condição para
asseri-la.
Wittgenstein, de fato, chega perto de dizer isso no
Tractatus. Entretanto, no Tractatus, uma proposição, como "p
ou q", é gerada por meio da aplicação de uma operação sobre
proposições elementares. Ela deriva o seu sentido de sua po-
sição no interior do sistema de proposições, de enunciados
inteligíveis.Na obra posterior, essa ideia é deixada de lado. A
linguagem não forma um sistema, no sentido de um cálculo.
Se quisermos saber como obtemos uma proposição como "p
ou q", deveremos procurar em um lugar bastante diferente;
deveremos examinar o propósito a que ela serve, o lugar que
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H . O. M ourice
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168
A CONCEPÇAO POSTEI\IOI\
temas do Tracuuus
Fatos 1- 1.~1
"O mundo é tudo que é o caso". As proposições que se seguem a
essa são suas elucidações. Assim, "tudo que é o caso" é a totalidade
dos fatos, não das coisas. A diferença entre "fatos" e "coisas" é
elucidada pelo enunciado de que são os fatos no espaço lógico que
são o mundo.
Pensamento 3 - 3. 13
"Uma figuração lógica dos fatos é um pensamento". Isso pode ser
lido na outra direção: um pensamento é uma figuração lógica dos
A Pt:N llJCE: os TEMAS DO Troctatus
Filosofia 4-4.0031
"Um pensamento é uma proposição com um sentido". O que não
tem sentido não é uma proposição e não pode ser pensado. No
entanto, como vimos, o sentido de uma proposição pode estar
disfarçado; a gramática, a convenção, pode ocultar a forma ló-
gica. Assim enganados, podemos proferir palavras que somente
parecem constituir uma proposição. Ou seja, palavras podem ser
proferidas sem que tenham uma aplicação clara, uma lógica clara.
Boa parte da filosofia consiste em proferimentos desse tipo, que
surgem por não se compreender a lógica de nossa linguagem. A
filosofia, propriamente entendida, é, portanto, em um sentido
especial, "uma crítica da linguagem"; ela reconduz as palavras ao
seu sentido próprio.
174
A PÊN D ICE: os TEMAS DO Tractatus
1 75
H . O. M orrncr
Tautologia 4.46-5.101
"Entre os grupos possíveis de condições de verdade, há dois casos
extremos". Podemos construir proposições que são falsas quais-
quer que sejam as possibilidades de verdade de suas proposições
constituintes e outras que são verdadeiras quaisquer que sejam es-
sas possibilidades. Podemos construir contradições e tautologias.
Tautologias não dizem nada: nada sabemos sobre o tempo quando
sabemos que chove ou não chove. Entretanto, tautologias não são
contrassensos. Elas são parte do simbolismo. Diferentemente de
algaravias, elas mostram algo sobre a forma lógica. As proposições
da lógica são tautologias.
Inferência 5.11-5.156
"Se todos os fundamentos de verdade comuns a um certo número
de proposições forem, ao mesmo tempo, fundamentos de verdade
de uma determinada proposição, diremos que a verdade desta se
segue da verdade daquelas". A inferência lógica repousa inteira -
mente sobre as relações internas entre proposições. Se "p" se segue
de "q" na lógica, elas mesmas são a única justificação possível para
a inferência. As "leis de inferência", que se supõe que justifiquem
as inferências, são supérfluas. Não existe hierarquia entre as
proposições da lógica. Todas estão no mesmo nível e todas dizem
a mesma coisa, a saber, nada. Ao desenvolver um sistema lógico,
estamos meramente explicitando relações internas entre propo-
sições, mostrando como seus sentidos estão inter-relacionados.
A PÊN D ICE: os TEMAS DO Tracrotus
177
H. O. Morrxct
Valor 6.373-6.5~~
Uma expressão de valor não é um enunciado de um fato. Todas
as proposições têm o mesmo valor porque todas as proposições
meramente dizein o que é o caso.No entanto, o que é o caso, o que
acontece no mundo, não é o mesmo que o que deve ser, aquilo que
possui valor. Para aprofundar a discussão, ver o capítulo 10.
A M
Axioma da infinidade, 18, 80 Matemática, 83-90, 178
Mecãnica newtoniana, 107-8
B
Místico, 136-8
Barra de Sheffer, 72,, 76
N
e
Negação, 54-8, 152,-3
Causalidade, 104
Conceito formal, 83-90, 175 o
Constante lógica, 10, 2,4 , 71-5 Objeto, 33-5, 171-2,
Contradição, 62,-3, 168 Operação,73-6,85-9
Crença, n3-9, 177
p
E Paradoxo lógico, 15-8, 165-9
Espaço lógico (ou forma lógica) 3o- Probabilidade, 109-n
3, 44-8, 89, 171-2, Produto e soma lógica, 91-100
Equação, 89-90 Proposições filosóficas, 139-49, 174
Ética, 83, 130-6 Psicológico, 49-51
Eu, 12,1-8
s
F Solipsismo, 12,1-8, 140-6, 178
Fato Soma lógica (ver Produto e soma
e coisa, 2,9-36, 171 lógica)
negativo, 54-5
T
Forma geral da proposição, 71-Si
Tabela de verdade, 59-61
Forma lógica (ver Espaço lógico)
Tautologia, 62,-70
Função, 12,, 31
Teoria dos tipos, 17, 79- 80
G
V
Generalidade, 91-100
Valor, 12,4 -38, 178
I Verdade
Identidade, 78-9 função de, 59-70, n3
Indução, 101 -2, fundamentos de, 64-70
Inferência lógica, 64-70, 176-7 lógica, 10-2,, 2,1-4
Verdadeiro e falso, 53-8
L
Vontade, 132,-4
Lei científica, 101-12,
H. O. Mouxcs
ÍNDICE DE NOMES
A
Anscombe, G. E. M., 87, 117, 125, 138
Aristóteles, 9-10, 12
B
Brahms, J., 159
F
Frege, G., 9-15, 21-2, 27, 31, 52,
64-5, 67,69,71,73,85,89-9o,
94,98-9
K
Kenny,A.,7
M
Marx, K., 163
McGuinness, B. F., 8, 19
o
Occam, W., 47, 77
Ogden, C. K., 19
p
Paganini, N., 159-61
Pears, D. F., 8, 19
R
Rhees, R., 7, 135
Russell, B., 8-11, 15-9, 22-4, 27, 52,
64-5,67,69,71,73,78-81,90,
94, 96-9, 116, 165, 169, 174
s
Spinoza, B., 29
w
Whitehead,A. N., 9, 11
Tírm.os DA COLEÇÃO DE EPISTEMOLOGIA E FILosoFIAA~ALÍTICA:
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