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4 6 RAMATCA (o AMBITO DA PRAGMATICA| 47

lacuna substancial que falta ts


lingiüistica. A (Numa sala de aula)
ns
geral da comprecnsão c o m uma oria sintk.
tcoria sintáica (28) soletra Ann?
semantica
(juntamente Professor: Johnnie, como se
teoria
por cntre u m a
da comunicação lingüística será Johnnie: A, N, N
uma teoria completa
c fonológica) e
este livro.
Onde podem ser busea. (material interpolado))
de todo
demonstrada ao longo intenções, suposições. ne Professor: OK, Isabel. Você está vendo algum nome conhecido na

insinuações, segundas postu-


página?
explicaçõcs para
as
comunicadas pelo uso da li
eticazmente a, Ann
sociais, etc.. que são Isabel:
ras a metáfora.. iro-
do discurso (por exemplo, Professor: Foi o que Johnnie falou [implícito: Esse não vale]l
mencionar as figuras tëm preocupado
sem
atenuaçoes), que
os
teó- (Iniciando uma conversa por telefone)
retóricas, as (29)
nia, as questöes inferëncias comunicadas podo m Autor da chamada: ((toca)
da literatura? Essas
ricos da retórica e
os seguintes ev Receptor: Aló
Considere, por exemplo,
bastante diverso. Autor da chamada: Olá [implicito: Sei quem é vocé, e vocé. pela
ser de tipo a uma
nos quais as respostas enun-
conversações gravadas, minha voz, pode dizer quem eu sou
certos de
da enunciação, ela Receptor: Ah, olá limplícito: Sim, eu sei quem é voci
os participantes egava
ciacão indicam que, para a eles) indicados nos colchetec.
semelhante
(ou algo
os implícitos

Cada destes exemplos, ou outros similares, serão tratados nas


um
bolo inteiro. [implicito: Parabéns pelo
(25) A: Eu podia comer esse

páginas abaixo, juntamente


com
exemplos mais familiares de implici-
bolo tos pragmáticos.
A idéia central aqui, porém, é que a existéncia de um
B: Obrigada
café para viagem?2 limplícito:
Venda-me café nar grande número desses implicitos, alguns dos quais possuem apenas a
A: Vocé tem
(26) viagem se puder mais tênue relação com o conteúdo semántico do que é dito, realça a
o café)) necessidade de uma teoria ou de teorias que complementem a semân-
B: Creme açúcar? ((começa a despejar
e

B: Olá, John ica e ofereçam uma descrição relativamente completa de como usa-
(27) nos comunicarmos.
A: Como está? mos a língua para
vão tazer: \implicito: lenho uma sugestão Finalmente, outra motivação geral muito importante para o re
B: Diz ai: o que vocês
que poderíamos
ao
fazer juntos] cente interesse pela pragmática é a possibilidade de que venham a ser
quanto
A: Bem, nós
sair. Por
vamos quê? propostas explicaçóes funcionais significativas para os fatos lingüísti-
B: Eu ia mesmo dizer para sair . . .

cos. As explicações lingüísticas mais recentes tendem a ser internas à


teoria lingüistica: isto é, certo traço lingüistico é explicado por referèn-
localização de uma troca verbal num
Também há casos em que a
cia a outros traços lingiüísticos ou a aspectos da própria teoria. Contudo,
atividade parece autorizar inferëncias específicas:
ipo especítico de há outro tipo possível de explicação, muitas vezes mais eficaz, no qual
certo traço lingüístico é motivado por princípios externos ao âmbito
da teoria lingüística: por exemplo, parece possivel que os processos
com simplificações ortrográficas,
das seguintes fontes: (25), transcrição
23. Extraídos,
de Gum- sintáticos conhecidos como restrições de ilha (Ross, 1967) venham a ser
do autor(26) de Merritt, 1976; (27) de Atkinson e Drew, 1979, 143; (28)
perz e Herasimchuk, 1975, 109 ss; (29)
de Schegloff, 1979a. Os parénteses du- explicados com base em princípios psicológicos gerais (ver, por exem-
encerram descriçóes que não fazem parte
da gravação de fala; outras convenções
plos
são desenvolvidas no capítulo 6.
plo, Grosu, 1972). Este modo de explicação, por referência a fatores
não para bebido
externos (especialmente causas e funções), muitas vezes é chamado fun-
24. Expressáo idiomática norte-americana para "caté para viagem, ser

no estabelecimento.
cionalismo (ver, por exemplo, Grossman, San e Vance, 1975). Ora,
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o AMBITO DA PRAGMÁTICA | 49

estrutura linguistica não seja indene livro, para evocar certos implícitos
possibilidade de que a neste
existe a termos preferidos
de Chomsky) dos usos: (ou, nos
conhecidas idéias que
dente (ao contrário das
talvez seja possivel propor explicac es
pragmáticos).

a pesquisa pragmática pode ser, en-


em
é submetida. Isso quer dizer que Uma das motivaçoes para
ingüisticos fazendo referd da língua. Tal
funcionalistas poderosas
dos fenômenos estabelecer os eteitos dos usos da líingua na e s t r u t u r a
muitos pensadores. tão,
Na verdade, para tais u m e s c l a r e c i m e n t o fundamental do explicans,
Cla a princípios pragmáticos. c e r t o (cf. Searle, pesquisa, porém, requer da e s t r u t u r a
e v i d e n t e m e n t e do tipo 74 matriz funcional que deve produzir explicações
explicações parecem
ser
isto é, da
Por exemplo, podemos observar o fato de que Infelizmente, muitos exemplos recentes de tal trabalho uti-
Givon, 1979a, 1979b). lingüística.
os t r e s tipos basicos de senten
do mundo tem que ficavam bastante imprecisos (ver
quase todas
as línguas lizaram princípios explicativos
declarativas (Sadock e Zwicky, no princípios
e prelo). M. Atkinson, 1982).
E importante, pois, que haja e estru-

sa: imperativas, interrogativas paradigmaticamente para bem detinidos tais


ser usadas suficientemente para tornar ex-
Visto que estas sentenças parecem curas pragmáticas
afirmar, respectivamente, podemos argumentar que funcionais precisas e passíveis de comprovação.
ordenar, perguntar e plicações
linguisticas internas para esses três ti. devemos nos usos da língua de uma maneira
não faz sentido
buscar motivações Como, então, pensar
eles são recorrentes nas linguas do mundo porque o s s e descrições
fornecer funcionais da estrutura lingüística? Po-
pos de sentença: que possa
concernidos por três funcQes tradicionais das "funções do dis-
res humanos
talvez sejam especificamente demos nos voltar para as abordagens
das açoes de outras pessoas, a ob- em Lyons, 1977a, 50-6). Talvez a mais conscien-
da língua em particular- organizaçao
a curso" (ver o resumo

e a comunicação
de intormações. (E claro que ciosa delas seja a reformulação que Jakobson (1960) fez de esquemas
tenção de informações
hoc: precisaríamos de indi anteriores (ver, especialmente, Bühler, 1934). Ele sugere que as funções
desconfiamos de que essa explicação seja post
de essas três atividades são realmente predomi- do discurso podem consistir em realçar qualquer dos seis componen-
cios independentes que
vida social.) Ou poderíamos observar que maioria das lin-
a tes básicos do acontecimento comunicacional: assim, a função refe-
nantes na

maneiras, muitíssimo elaboradas em muitas línguas, de co- rencial concentra-se no conteúdo referencial da mensagem, a função
guas possui emotiva no estado do falante, a função conativa nos desejos do falante
dificar o status social relativo entre os participantes: mais uma vez, parece

de princípios universais de que o destinatário faça ou pense tal e tal coisa, a função metalin-
necessária uma explicação funcional em t e r m o s

(ou quase universais) de organização social (ver, por exemplo, Brown e güsstica no código usado, a função fática no canal (estabelecimento e
Levinson, 1978). Na verdade, poderíamos esperar ainda mais da expli manutenção do contato) e a função poética na maneira como a mensa-
cação funcional: boa parte do maquinário sintático de uma língua pare- gem é codificada. Qualquer esquema desse tipo, porém, é de utilidade
ce estar voltado para a reorganização linear do material em sentenças dúbia para o pragmaticista que busca princípios funcionais: as catego-
(como nas construções passivas ou topicalizadas), uma reorganização rias são de aplicação imprecisa, não possuem motivação empírica di-
reta e há muitos outros esquemas rivais construídos em bases ligeira-
que não parece afetar substancialmente o conteúdo semântico (verifun-
cional). Qual é, então, o propóito desse maquinário derivacional tão
mente diferentes. Talvez a única utilidade clara seja lembrar-nos que,

ao contrário das preocupações de muitos filósofos e semanticistas, a


elaborado? Pode ser que ele exista essencialmente para o fim de entrosar
língua é usada para comunicar mais do que o conteúdo proposicional
a construção de
sentenças e os princípios pragmáticos: por exemplo, para do que é dito. Certamente, pouquíssimos lingüistas produziram aná-
colocar conteúdo intormacional
o em
primeiro e em
segundo planO lises dos fatos lingüísticos que façam uso de categorias funcionais brutas
desse tipo (cf., porém, Halliday, 1973). Um tipo muito semelhante de
25. Ver Givon, 1979a; Foley e Van Valin, empreendimento foi abraçado por filósofos interessados na noção de
no
prelo.
5 0 PRAGMATICA
o AMBITro DA
PRAGMÁTICA | 51

ato de fala (tratado no capítulo 5): seja pelo


exame de um
conit into metade ou seçao (dvisão de parentesco) do
coditicam a
especial de verbos chamados verbos pertormativos, seja pela análise.con- Dronomes
os
paren tesco de (por
e n t r e os reterentes exemplo,
fins a relação
chegam a classificaçöes dos básicos referente ou "você dual da m e s -
ceitual mais abstrata, eles para u m a das quais significa
há duas palavras,
usada (ver. por exemplo, Searle, 1976)
No às vezes metades diferentes e n t r e si'): Di-
os quais a língua pode ser
excessivamente
amplos para metade" c a
voces dual e m
outra
ser se e- ma
1982); para descrever os
demonstrativos
vamente, tais esquemas parecem 2-3; Heath et al.,
detalhados da e s t r u t u r a lingüística. vOn, 1980, visíveis e não
lacionarem c o m aspectos fazer u m a distinção entre objetos
precisamos
poderiamos proceder? Uma possihil: do quileute" e Keenan, n o prelo),
De que outro modo, então,
etc.
falante (Anderson
uma grande amostragem visíveis para o
seria de material específico de cada língua,
tomar
dade, foi explorada,
que não Com base nesta profusão
quais diStingoes pragmáticas básicas são exatamente
alguma idéia de quais
linguas do mundo e perguntar e s t r u t u r a s gramaticais. (O procedima. poderíamos ser capazes de
construir

necessárias para descrever suas


da enunciação têm probabilidade, em geral, de
do contexto

naturalmente, a aceitaçao
do pressuposto de que nem
os
tod aspectos
funcionais na lingua. Além disso, ao considerar traços
to requer,
semánticos simplesmente exercer pressões mui-
codificados do signiticado são por codificados numa língua, podemos
os traços direta e simplesmente
muitas linguas tém, além dos três que estão coditicados de ma-
definição.) Observaríamos que pos bem ser capazes
de e n c o n t r a r os m e s m o s traços
to
mencionados acima, outros que parecem ter uso VIsiveis na estrutura ou no uso de outras lín-
básicos de sentenças neiras mais sutis e
menos

exclamativas, que sao usadas paradigna- ingls a gramaticalização


similarmente circunscrito: as apesar de não
termos em

usadas para prague guas. Por exemplo, meios de expressar


ticamente surpresa, as imprecativas,
para expressar dos níveis de respeito que
existe e m javanes, temos

um desejo, etc. (novamente, parte, por escolhas no u s o de expressões:


jar, as optativas, usadas para expressar ver
graus de respeito, grande em
motivariam distinções solicitação mais polida do que (30):
Sadock e Zwicky, no prelo)26, Algumas línguas assim, (3 1), geralmente,
seria uma

das européias, são bastante exóticas. Por


que, do ponto
de vista línguas
want to see you for a moment
e a sintaxe do
exemplo, para descrever o léxico, morfologia
a javanês (30)
Quero vê-lo por um momento
trës níveis de respeito para c o m os destinatá-
precisaríamos distinguir I wondered if I could possibly see you for a moment
com reterentes (Geertz, 1960; Comn- (31)
rios dois níveis de respeito para
e
Estivepensando se seria possível v-lo por um momento

rie, 1976b); para descrever as partículas de algumas línguas indígenas


sul-americanas precisaríamos distinguir entre sentenças que são cen Portanto, considerando inicialmente apenas os traços gramaticali-
trais em contraposiçao a sentenças periféricas narração de uma his- zados ou codificados do contexto nas línguas do mundo, teríanmos algo
tória (Longacre, 1976a);: para descrever os pronomes de terceira pes-
como um "processo de descoberta para as funções relevantes da lín-
soa no tunica precisaríamos distinguir não apenas O sexo do referente,
gua e um teorização relativamente vazia que muitas vezes acom-
limite à
mas também o sexo do destinatário (portanto, haveria duas palavras
panha a especulação a respeito das "funções do discurso. Podemos,
dependendo de estarmos falando com um homem ou com
para "ela", então, prosseguir e perguntar como são (ou, na verdade, se são) reali-
uma mulher; Haas, 1964), enquanto em algumas línguas australianas zadas as mesmas funções em outras linguas que não dispõem desses
meios gramaticais. Tal maneira de proceder tem muito que a recomende,
mas pouco progresso foi obtido nesta direção.
26. Lontudo, necessário ter cautela aqui - por exemplo, o que tradicionalmente de-

Sgnamos como optativos no sånscrito e no


grego não expressam necessariamente
desejos,talvez nem
e mesmo
primariamente.
lunica: naão indigena do estado da Louisiana. (N. do T.) Quileute: nação indigena do estado de Washington. (N. do T)
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do discurso pode-se fazer uma exigidas para as tarefas? (Pode ser útil pensar
abordagens dos capacidades específicas
usos
A todas essas
de procurar por uma série específica, como a producão
seguinte sentido:
em vez de alguma tareta cooperativa
forte objeção no em termos
contextuais
estaticos, d e v e m o s atentar dito edificio o u de u m a máquina.)
Primeiro, está claro que eles pre-
de funções ou parâmetros de um
importante do lingüísti. o r i e n tados; cada u m precisaria ter ciência do
uso
mais mutuamente
contexto
dinâmico cisariam ser
tamente o
para
fizesse e m qualquer tempo,. Segundo, precisariam
tace. A centralidade dests ter co-
interação tace
a
ou o outro
isto é, a conversação que
n o precisa s e r defendida: a in o alcance de seus
co,
uso lingüístico nhecimento do domínio de interação (por exemplo,
matriz funcional para o e o atualizarem
a aquisição da língua, m a c dos objetos ao redor)
contexto para e as propriedades
é não só o movimentos
teração face a face e m muitas das comunidade ações. Terceiro,
de uso lingüistico constantemente,
à medida que fosse afetado por suas

o único tuipo significativo


relativamente recente, em to ter u m raciocínio de fins
até um período precisariam, em certo sentido, ser
racionais
do mundo e, na verdade,
em explicações
funcionais dos fenômenos lin-
meios eficaz, que Ihes
dissesse como implementar cada objetivo de-
das elas. Os interessados e
condi-
consideravel interesse pela sistemática Quarto, cada u m precisaria ser
capaz de produzir atos

güísticos devem, então, ter um sejado.


questão A é como abordar da melhor maneir
cionados ao fato de produzirem
os outros assegurando, assim, as
atos,
da interação face a face. da interação. Isto pareceria exi-
Talvez haja duas linhas de ação básicas: a aná-
cadeias de atos interdependentes tipicos
o estudo dessa interação.
do comportamento de outro,
análise por síntese.
gir a capacidade de reconstruir, partir
a
lise empírica direta e a

O primeiro tipo de abordagem éo que tem resultado e m mais des-


o objetivo provável que esse comportamento pretendia alcançar (do
cobertas até agora, mas vale a pena considerar
a possibilidade da aná- contrário, não seria provável que as ações interdependentes culminas
lise da interação por síntese. A interação,
no sentido abstrato pretendi-
sem na realização conjunta). Quinto, precisaria haver alguma
da tarefa
c o m o a produção seguida de cadeias objetivos gerais (se a interação é agonísti-
do aqui, pode ser compreendida relação específica entre seus

dois ou mais agentes, ca ou, na terminologia da


teoria dos jogos, s o m a zero, seus objetivos de-
de atos mutuamente dependentes, construídos por
as ações de outros (nes- a interação é cooperativa, deve
cada um monitorando e tomando como base vem estar inversamente relacionados; se

te sentido, a teoria matemática dos jogos estuda um tipo de interação; haver alguns objetivos específicos compartilhados). Sexto, cada robô te-
ver Luce Raiffa, 1957). Tal abordagem poderia começar adotando a
e ria de saber queo outro possui essas propriedades e saber que cada

de Goffman (1976) entre exigências de sistema e exigên um sabe disso; do contrário, um não poderia planejar racionalmente
distinção
cias rituais, onde a primeira categoria rotula os ingredientes essenciais ações dependentes dos planos do outro. E possível que essas proprie-

para a sustentação de qualquer tipo de entrosamento sistemático de dades fossem suficientes, juntamente com as capacidades requeridas
ações por mais de uma parte, e a segunda os ingredientes que, apesar por tarcfas específicas, para engendrar uma interpretação coordenada
de não essenciais para a manutenção da interação, são, não obstante, de ações que lembraria (remotamente) a interação humana. O propó
sito desse experimento é chamar a atenção para o fato de que alguns
típicos dela são, se quisermos, as dimensões sociais da interação. Con-
-

centrando-nos nas exigências de sistema, podem perguntar quais fenômenos pragmáticos podem ser explicados por referência justamente
condiçóes necessárias e conjuntamente suficientes devem ser cumpri a estes tipos de traços: por exemplo, como veremos, pode-se pensar na
das para que aconteça deixis como baseada numa suposição de orientação múrua, a pressu-
tipo altamente coordenado de comporta-
esse
posição como baseada na suposição de conhecimento compartilhado
mento interdependente que chamamos interação. Suponha, por exem- de um domínio e de sua atualização, os atos de fala numa explicitação,
plo, gue tivéssemos como tarefa a programação de dois robós, de tal
maneira
que eles pudessem auxiliar sistematicamente um ao outro num para os outros participantes, dos nossos objetivos interacionais, a im-
leque aberto de tarefas: que propriedades eles precisariam ter, além das plicatura conversacional numa suposição da cooperação interacional,
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PRAGMÁTICA | 55

tal abordagem fosse


desenvolvida, poderíamos cultura. Finalmen-
etc. Portanto, se espe- da interação específicos de uma

rar que todos os conceitos essenciais para


a analise dos
nômenos prag-
fenômenos com
estes aspectos
divisões tipos entre de cultura
e sociedade,

ntais
elementos fundamenta da int sonde há importantes as línguas
maticos poderiam ser referidos aos
bem esperar diferenças
sistemáticas entre
eretiva da
conversacão ao nodemos muito
é provável que o letramento tenha efeitos
ão (para uma simulação computadorizada asociadas- por exemplo,
1979). Sintatica e semântica das línguas, mes-
longo destas linhas, ver Power, que tal abordagem seis sistemáticos
estrutura lexica,
na

porém, ainda provável


é
Na verdade, nunca tenham sido explicitados (ver Goody, 1977). Aqui, é
descriçoes
funcionais
sistemáticas das mo que
masiado abstrata para fornecer um i n t e r e s s e pelo uso lingüistico motivado por aborda-
ela precisaria evidente que
minúcias das lingüísticas. P'ara começa,
estruturas
ser
com-
funcionalistas da l1ngüistica
iria nos levar muito além dos limites
as exigências gens
das exigências rituais, oCiais domínio da
estudo (como esboçada nas definições acima), para
e
plementada pelo da pragmática
o

Entre estas, encontram-se


as exigèncias
trano tais
na medida em traços sociais são
culturais à interação. e além. Ora, que
decoro soclal adequado, enquanto há o u t r .
sociolingüística
situacionais, que prescrevem do significado das enunciações, também devem ser tratados na
interacionais especíticos ou a tinos parte
momentos es-
assim, na pragmática, estas limitações
sociais ao
adequadas apenas a pragmática; ainda
culturais. Pode-Se pensar que seria prová
pecificos de acontecimentos uso lingüfstico e seus eteitos sistemáticos na estrutura lingüística fo-
simplesmente por serem sociais, fossem resultado do viés filosófico
vel que tais exigências sociais, ram pouquíssimo estudados, talvez como
culturalmente variáveis e, portanto, sem nenhum grande interesse para
livro) Bühler
lingüístico (sem dúvida, retletido
o
e
para que
neste

teoria pragmática geral (ou universal). Contudo, não parece ser Jakobson (1960), funço re-
uma
(1934) chamou função representacionale
necessariamente este o caso. Por exemplo, há claros princípios pancul
ferencial da linguagem.
turais que governam a produção interação polida" ou socialmente
da
A outra linha de investigação mais promissora consiste em expli-
demonstrar que eles tëm efeitos sistemáticos na es-
adequada e pode-se car diretamente natureza da interação conversacional. Os conceitos
a
Levinson, 1978; Leech.
lingüística de muitas línguas (Brown
e
trutura
básicos da análise conversação, tais como são empregados num ramo
da
há l1mitações rituais altamente especí-
1980). Também está claro que da etnometodologia, são o tema do capítulo 6. Aqui, bastará obser-
ficas de natureza universal ou quase universal: por exemplo, quase to-
var que esse tipo de investigação, que emprega técnicas inteiramente
das as culturas parecem possuir rotinas de saudação e despedida (ver
estranhas à tradição dominante da lingüística, revelou que a interação
Ferguson, 1976). Mais especulativamente, também é provável que em conversacional tem uma estrutura elaborada e detalhada, da qual temos
todas as culturas existam acontecimentos soCiais marcados como acon-
pouquíssima consciência. Nessa área, pelo menos, oferece-se ao pre-
tecimentos fornmais (Irvine, 1979% J. M. Atkinson, 1982) e que alguns
tenso funcionalista um tipo de estrutura rica e intricada que pode ser
aspectos de formalidade possuam concretizações lingüísticas univer- mapeada na organização detalhada da estrutura lingüística e que, por-
sais. Aqui, novamente, houve pouquíssima pesquisa sistemáica, em-
tanto, pode plausivelmente ser colocada numa relação causal com ela.
bora tais traços universais da organização da interaço sejam bons
Por exemplo, a provável existência universal de tag-questions (sob uma
candidatos para pressões funcionais potencialmente importantes so- definição funcional) talvez possa estar relacionada com o fato de que
bre a estrutura lingüística. Quaisquer que sejam os atrativos dos tra-
operam universalmente regras de alternância de turnos, que permitem
ços universais de interação para a explicação dos fenômenos pragmá como opção o encerramento do turno do falante presente com uma
ticos universais, também há claros fenômenos
pragmáticos específicos seleção do falante seguinte. Contudo, até agora, poucos lingüistas apli-
de uma língua, como na dêixis social e em outras
partes, onde as des- caram as descobertas da análise da conversação aos estudos funciona-
crições funcionais da estrutura lingüística precisariam relacionar-se listas da estrutura lingüística.
PRACMAIICA | 57
56 | PRAGMATICA o AMBITO DA

respeito dos
contextos cm que
Finalmente, existe um outro tipo de abordagem empirica do est implícitos as
sentenças carregam
a

é construído,
do da interação e dos seus efeitos na estrutura lingüistica que, pode. que
Previne-se o leitor de que o exemplo
estão sendo usadas. boas razóes para dar preferéncia a
estudo d
Irata-se do serão oterccidas
riamos afirmar, apresenta uma nítida vantagem. Dorque,
no capítulo 6, natural. Eisa troca verbal:
Durante as primeiras etapas da agui. tenham ocorréncia
aquisição da língua pelas crianças. dados
conversacionais que
uma matriz
interacional parao aprendi
sição, as crianças estabelecem you please
So
come over again right here now

a utilizar mcios i) A: can

língua e, depois, lentamente, aprendem Somos


lin. (32) sir
zado da have to go t o Edinburgh today
Portanto, capacitados i) B: Well, I
interaçao. Thursday?
güísticos para promover a (iii)A: Hmm. How about this
(a estrutura interacional) do pre-
distinguir mais facilmente o explicans Uma segunda an- favor?
seu explicandum (a lingua).
vir aqui o u t r a vez agora, por
tenso funcionalista e o A: Então, vocé pode
(i)
crianças revelam-noso
das tenho de ir a Edimburgo, senhor
"erros" ou incompetènCias (i) B: Bem, cu hoje
tagem é que os

adultas na interação verbal devem envolver. A ter- (ii)A: Hmm. Que tal na quinta?
que as competéncias
ceira vantagem é que, assim como as comparações translingüísticas po-

contraste entreo Não é difícil perceber que, ao compreender tal troca, fazemos u n
dem revelar funções gerais da linguagem por que é da
número de inferências (pragmáticas) detalhadas a respeito
codificado numa língua e não em outra, também as comparações entre grande ocorrendo"
reveladoras (Ochs, 1979a). do contexto em que se pode supor que ela está
ctapas da aquisição podem ser igualmente natureza

de psicólogos e lin- inferimos os fatos apontados em (33):


Há uma grande quantidade de trabalhos recentes, Por cxemplo,
a respeito dessas primeiras etapas
da aquisiço, que possuem
güistas, (33)
1. Não éo fim da conversa (nem o começo)
releváncia direta para a pragmática, mas que não são cxaminados nes- B que vá encontrar-se c o m A n o m o m e n t o em
2. A cstá pedindo a

te livro (ver, por exemplo, Ervin-Tripp e Mitchell-Kernan, 1977; Snow B sugere que não pode (ou que pre
que falam (ou logo depois);
c Ferguson, 1977; Ochs e Schieffelin, 1979; e a revisão crítica de todo feriria não) aquiescer; A repete a solicitaão para outro
momento

esse trabalho em M. Atkinson, 1982). 3. Ao pedir, A deve (a) querer que B venha agora, (b) pensar que
é possível que B possa vir, (c) pensar que B já não está lá, (d)
pensar que,de qualquer mancira, B não cstava prestes a vir (c)
se
1.4 COMPUTANDO O cONTEXTO: UM EXEMPLO B responda com uma aceitaçao Ou uma recusa, c,
csperar quc
B accitar, entáo, A também esperará quc B venha, (f) pensar que
Discussóes abstratas a respeito do ámbito da pragmática, como as o pedido seu (de A) pode ser um motivo para que B venha, (g)

que examinamos acima, talvez déem ao leitor uma idéia muito pouco cla-
ra da natureza dos fenômenos
pragmáticos. Aqui, um cxemplo cxtenso
pode ajudar a esclarecer o tipo de fatos em que as tcorias pragmáticas es- 28. Talvez possa existir alguma confusão aqui entre inferências que os participantes,
ou lcitores
isto é, A c B, possan fazer, c inferências quc observadorcs o u analistas
tão interessadas", Consideremos uma
simples
troca verbal de trs senten- de (32)- possam faer. Por excmplo, dado que A c B podem presumir os fatos
em

ças entre dois participantes e perguntemos que informaçocs cla nos for- 4, 5c 6, podemos qucrer dizer que eles não os inferiram; contudo, do fato de que

nece em acréscimo às que poderiam ser dadas seus crros e m tais pressuposiçócs, po
pelo conteúdo semântico Csperariamos que os participantes corrigissem
das sentenças demos concluir que eles, não obstante, devem fazcr as inferências para quc veriicar
componentes. Mais especificamente, podemos perguntar Suas pressuposiçóes são válidas. Mesmo a inferência de que a conversação
não está
considcra-
prestes a terminar, como veremos no capítulo 5, é potencialmente uma

pelo maioria destas inferëncias


çao para os participantes. Portanto,
constante menos a
27. O modo de
cxplicação algumas das
e
idéias são derivadas de Fillmore, 1973. são inferências que Ac B devem calcular.
OAMBITO DA
PRAGMATICA
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58|PRAGMATICA

seguir ocupar-se-ão,
questão. Os capitulos
a
não estar, fingir que não está,
em posiçao de ordenar a Baque inferências em
n d u e m as mas, aqui, permi-
ou
deste tipo,
prod principiOs especiticos
venha. deles, com
cada
onde A está; A c B nao estão no mesmo .. cada um
aspectos
das enunciaçoes que
acionam uma

que B sabe
4. A os
supõc identificar
gar; nem A nem B estão em Edimburgo; A pensa que B este e
ram-me

das inferéncias.
a
nao o tim da conversa porque
na casa de A antes sabemos ((33) 1) que
ocorrendo nao c quinta nem quart- Primeiro, admitida: pri-
enunciaçao de
encerramento

5. O dia a troca está


em
que no é uma

acredita A) enunciação (i1) sinal de


B; segundo, ela não é
uma
o que é
(ou, pelo resposta de
menos,
uma

6. A é homem (ou B acredita que seja);


B reconhece que A tem
meiro, ela exige as pessoas usam na conver-

esta de encerramento regulares que


status social mais
elevado do que B (ou que desempenhan- das formas assim por dian
later "Está bem, te vejo depois", e

do o papel de um superior) sação (Okay, see you conversa vem em pares, de modo que
uma
turnos na
te). Isto é, alguns as conver-

ponto evidentes,
tor- a de se a segunda parte
em
respos ta, enquanto
Por mais que essas inferências sejam parte do par requer
com inicios e encerramentos bem de-
são, em nenhuma delimitação razoável do
estruturas gerais
narem tediosas", elas não sações possuem a respeito da
estrutu-
t e m o s tortes expectativas
conteudo semântico das três sen-
âmbito da teoria semântica, parte do limitados. Em r e s u m o , diferentes de inferência
a u t o r i z a m muitos tipos
capacidade de extrair de enunciacões que
tenças. Antes, elas
refletem nossa
ra da conversação não é o início (se
contextuais que elas sugerem: os fatos a
Também sabemos, a propósito, que
em seqüÁncia as suposições (ver capítulo 6). participantes,
sendo conhecido antecipadamente pelos
e soCiais entre os participantes, bem que isto,
respeito das relações espaciais, temporais
é comunicado) porque não há
nenhuma expres-
necessarias para procederem a certas não faz parte do que
bem como as crenças e intenções
conversacional (como hello "olá"); além disso,
a parti-
trocas verbais. Mas se as inferências não são (ou nao são todas) parte são de abertura
com a qual se iniCia a enunciação (1)
tem
do significado "literal ou conteúdo convencional do que é dito, de culasoportanto, então a enunciações anteriores.
é
que fontes elas se originam? Unma possibilidade que
as sentenças sim- função de vincular a enunciação presente
conhecimento dos fatos de (32) 2 de u m a maneira
plesmente evoquem associações mentais, da mesma maneira que, por Chegamos ao
Embora afirmar que a forma in-
exemplo, ouvir a palavra prognóstico faz pensar em hospitais. Aqui, po um tanto mais complicada. possamos
codifica u m a pergunta, isto não éé
rém, não parece ser esse o caso. As inferênCias são sistemáticas, são de- terrogativa da primeira enunciação
de cooperação se B dis-
codificadas por diferentes intérpretes da mesma maneira e, sem a maio- tudo o que se pretende: seria u m a notável falta
sesse sim (com o significado apenas
de "sim, eu posso ir") e depois não
ria delas, a troca não pode ser compreendida; a maioria delas, portanto,
também pode co-
deve ser parte do que é comunicado, no sentido estrito de Grice, de sig- fosse até A. De certa maneira, a forma interrogativa
fortemente reforçada
nificado nn. Acima de tudo, porém, podemos recuperar para cada uma municar u m a solicitação, e esta interpretação é

dessas inferências os fatos que as acionam, a saber, aspectos da forma e pela presença de please "por favor (ver capítulo 5). Muito mais dificil
da é perceber como a resposta de B em (ii) pode ser compreendida c o m o
justaposição das próprias enunciações, e podemos prosseguir e espe-
não há nenhuma relação ostensiva entre o
cificar os
principios regulares que, dados tais aspectos das enunciações, recusa a um pedido, pois
essa função. Esse implícito vale-se de
certa
seu conteúdo semântico e

expectativa muito geral de cooperação interacional, que nos permite su


29. Na verdade, todas inferéncias precisam de qualificação adicional de um e m ()
por que se uma enunciação pede u m a resposta (e a solicitação
essas
upo
um tanto tedioso: por exemplo, a inferência 6 em
(33) de que A é homem ou, pelo
pede), então, podemos entender (sendo as outras coisas iguais) que
a
menos, de que B acredita
que A é homem, deve ter a qualificação adicional "ou,
cabível (ver capítulos 3 e 6). Tal
pelo menos, B está
agindo como se ele ou ela pensasse
que é homem, etc.
enunciaçao seguinte é uma resposta
60 PRAGMATICA O AMBITO DA PRAGMATICA | 61

entendimento é forte o bastante para que, a0 esbarrar numa resposta


n o sentio
capítulos 3 e 6). Final-
contrário (novamente, ver
tensivas

aparentemente irrelevante (como (11) ostensivamente parece ser), seia


a partícula
hmm não pode
h» simplesmente descartada como
ser
mente,
acionada uma inferência que preservaria a suposlçao de releväncia. Aqui, ou pausa preenchida; ela tem funções
intera-
m'erro de execução
em (i), enunciação fornece a pista:
a
B tem de ir a Edimburgo; por.
ionais específicas,
Cion
explicadas da melhor forma em função do sistema
tanto, se Ae B estão longe de Edimburgo
(e ambos sabem disso). d gOverna a alternância dos
turnos de fala na conversação, onde pode
que
modo que levará o resto do dia para viajar
e fazer coisas lá, então B está
vista como (entre
outras cOIsas) um dispositivo para não ceder o
Ser

está, indiretamente, apresentando turno (capítulo 6).


imposibilitado hoje; B, portanto,
ir A facil. interências descritas (33) 3. Quais são suas
Chegamos agora às
encontrar-se com em
uma razão pela qual ele ou ela não pode
pode-se compreender que
está respondendo n e indiretamente, a pergunta na enunciação (i) deve
mente, e, ao fazer isto, fontes? Já vimos que,
de A. Na verdade, há apenas um gatilho o s
compreendida como uma solicitação. Ora, simplesmente decorre
gativamente à solicitação ser
well
"bem em ingls serve para A está solicitando B que venha, e A está comportando-se ra-
tensivo para essa inferência: a partícula
a
que, se

prevenir o receptor que alguma


de inferência deve ser feita para pre.
cional e podemos supor todos os fatos descritos em (a)-(g).
sinceramente,
de relevância. P'ode-se afirmar plausivelmente que. se explicarmos o conceito de solicitar, vere-
servaras suposições Por que? Em parte porque
well não possui nenhum conteúdo das crenças e desejos do falante enumerados
como so e muitas outras palavras, mos que é constituído
semántico, apenas especiticações pragmáticas
de uso (ver capítulo 3:
parcialmente em (a)-(g) (ver capítulo 5). Naturalmente, seria possível
dessa inferência e da hunço de well pode do solicitar sem ter nenhuma das
uma outra descrição passar pelos passos comportamentais
ser

construída usando-se a noção de resposta despreferida exposta no ca- Portanto, temos justificativa para inferir,
crenças e intenções exigidas.
a partir do comportamento, as crenças e intenções do falante, apenas
pítulo 6).
Em (33) 2 também temos a inferência de que a enunciação (ii) uma suposição geral de sinceridade ou de disposição de
por meio de
vale como um pedido reiterado. Para explicar isto, precisaríamos, an- Se A sabe antecipadamente que B não pode vir,
cooperar (ver capítulo 3).
tes de mais nada, explicar como a forma how about VERBing "que tal então, ele está sendo enganador; mas se ele sabe que B sabe que
ele
verbo no infinitivo" tem seu uso mais ou menos restrito a sugestões sabe que B não pode vit, então, nao se pode interpretar que ele está fa-
(novamente, esta parece uma forma lingüística que possui um signifi- zendo uma solicitação (a enunciação (1) pode, então, ser uma piada
cado mais pragmático que semântico, um problema discutido no ca- ou, se B estiver num estado que o torna incapacitado (digamos, ébrio),
pítulo 5). Então, A está sugerindo que alguém faça alguma coisa na talvez uma zombaria).
quinta-feira. Novamente, para preservar a suposiço de relevância, deve As inferências em (33) 4 são mais fáceis de explicar. A palavra here
ser feita uma inferência a respeito de quem deve fazer o quê: como a "aqu" denota o lugar (pragmaticamente delimitado) em que o falante
última menção de alguém fazer algo envolvia B ir até A, presume-se (A) se encontra no momento em que está falando; se B não sabe (ou não
que isso é o que A pretende e, portanto, é isso que se pode considerar consegue descobrir) onde A está, aqui não é interpretável, no sentido
pode cumprir solicitação de ir até lá. Portanto, A não
se-
que ele quis dizer. Aqui, valendo de que B não
parece que estamos nos
implicita- ria plenamente cooperador ou racional se não pensasse que B sabe (ou
mente de uma suposição extra, isto é, uma suposição de coerência tó
B não estão
pica: se uma segunda enunciação pode ser interpretada como seqüên- pode descobrir) onde ele está. Também sabemos que A e
se encontram a certa distância
Cia de uma primeira
enunciação, no sentido de que se pode "ouvi-las no mesmo
lugar (ou, pelo menos, que
se traduz ora
do outro). Sabemos disso porque a palavra come, que
como
preocupadas com o mesmo
tópico, então, tal interpretação da um
por 'vir, ora por "ir" e "chegar" (pelo menos com o tempo e o aspec
segunda enunciação éautorizada, a menos que existam indicações os
62 PRAGMATICA
o AMBITO DA PRAGMATICA | 63

o que tem em
(). denota movimento na direço do talante na c tazem, por exemplo, /'a day is Thursday "O dia
que não
o
sião em que se fala (com em Come to breakfast, Johnny "Venha toma rrOs usos
do modificador this
quinta-feira ira"). No caso exemplo, o
caté da manhä, Johnny") movimento na diregao do local do de pagamento
ou desti. quinta-feir. específica em relação à localização do falante
natario na ocasião em que se fala (como em /m coming, mother 1á vo destaca
uma

u, na semana: this Thursday esta nta-feira" significa a quinta-feira da


mae"). Observe que. como no caso de here, o significado de come só falando". Mas, estando na quinta-feira,
em que o falant está
pode ser explicado por referencia aos parametros pragmáticos ou cCon- mana
nos reterirà quinta-feira desta
convençao pragmatica,
podemos, por
textuais (falantes, destinatários, tempos lugares do falar). Na enun- não
this Thursday, em vez disso, devemos dizer today. "hoje".
como
Ciação (i), não pode denotar
come
movimento nadireção do destin - sema

maneira, podemos dizer this


não Thursday na quarta-feira
tano porque o sujeito de come é yo, e o destinatário não pode mover.-se Da mesma "amanh " Portanto, o intercâmbio
devemos dizer tomorrow,
porque
para onde já estä. Portanto,
deve denotar movimento na
direção do f. (32) não OCorre nem na quarta-teira nem na quinta-feira.
lante: mas, novamente, o destinatário não pode mover-se na dirosr
eção
descrito em
diversas
diterentes de uso nas va-
(Aqui, pode haver algumas restriçoes
do falante se não há nenhuma distância significativa entre eles; portanto e também há algumas ambigüidades interessantes;
riedades de inglês,
Ae B não estão no mesmo lugar. Aqui, podemos observar que tam abaixo e Fillmore, 1975.)
ver capítulo 2
sabemos disso por B porque ele diz que temos as interencias em (33) 6, de que A é homem e
pouco estão em Edimburgo: Finalmente,
tem de ir para Edimburgo e "ir, nesse caso, significa movimento de
aparentemente,
tem pos1ção social superior a B. Essas inferèncias ba-
afastamento do lugar do falante no momento da fala; sabemos disso razoavelmente no vocativo sir, poiséo que a palavra pa-
seiam-se muito
também no caso de A. porque se A está em Edimburgo, ento, o fato de semântica vericondicional, esses signi-
Novamente, numa
rece significar.
B ter de ir para Edimburgo não pode ser uma desculpa para B não ir não podem ser captados
-

não desejariamos dizer que a asserção


ficados
até A hoje. Fazemos todas essas inferências com base nas palavras dei- é falsa B simplesmente houvesse identificado A erronea-
de B em (i) se

ticas come, go e here (para não mencionar now 'agora), juntamente


mente e suposto erroneamente que
A é um homem de posição social su-
com os raciocínios a respeito da natureza de nosso mundo físico (ver
perior (isto faria variar hunção do destinatário)31, Além
as verdades em

de sir, aqui, não são parte do


capírulo 2). Uma interpretação natural (para o observador ou analista) disso, de maneira intuitiva, os sign1hcados
desta estrurura dêitica é que AeBestão falando ao telefone. Finalmen- do é afirmado; são suposições de fundo a respeito do con
conteúdo que
te, sabemos que (A acredita que) B esteve antes na presente localizaçãco o upo de pessoa a que B está se dirigindo. Pode
texto, especificamente

de A por causa da palavra again "novamente: pode-se afirmar que esta mos, portanto, dizer que
str implicita convencionalmente que o desti-

é uma interpretação mais pragmåtuica que semantica apenas porque, ao natário é homem e de posição social superior ao falante (ver capítulo 3).
Não há dúvida de que muitas outras inferências pragmáticas po-
contrário das implicações semânticas, as implicações associadas com
again normalmente não são negadas pela negação do verbo principal. dem ser tiradas de um intercâmbio tão breve e insignificante como

Inclinamo-nos, portanto, a dizer que again antes pressupoe que acar-


reta semanticamente que algum acontecimento referido também acon-
30. Ou a quinta-teira em uma semana, de outra maneira, pragmaticamente identifica
teceu antes (ver capírulo 4). calendário.
da, por exemplo, por um gesto na direção de um
A implicação (33) 5, de que o dia em que ocorre a fala é outro que de um predicado,
31. Contudo, algumas afirmações, aquelas com you como argumento
exatamente tal relatividade. A idéia aqui
se baseia no fato
não quarta ou quinta-feira, também se deve à déixis (explicada no Ca- por exemplo, possuem
de que o item vocativo sir não é um
argumento desse tipo (por exemplo, sujeito ou
pítulo 2), pois a palavra Thursday "quinta-feira", na enunciação (), e
objeto de um verbo); assim, o significado de sir parece não ser parte proposiço
da
usada de uma maneira déiüca que invoca das condições de verdade.
parâmetros pragmáticos (há expressa por (1) e, portanto, parece não ser parte
64 PRAGMATICA

esse. Mas servirão para indicar a natureza geral dos


estas
fenômeno
que se ocupa a pragmática. A idéia é que partindo de seqüências de en
ciações, consideradas conjunto com algumas suposições de fund.
em

a respeito do uso lingüístico, podem comportar inferências altamen.


detalhadas a respeito da natureza das suposições que os participantnte
s
estão fazendo e dos fins para os quais as enunciaçöes estão sendo
usadas
Para participar do
lingüístico
uso comum, devemos ser capazes de fa
zer esse de
tipo cálculo, na produção interpretação. Essa capaci.
e na

dade independe de crenças, sentimentos e usos idiossincráticos (apesar


de poder referir-se aos
compartilhados pelos participantes) baseia-se.
e

na maior parte, em princípios bastante regulares e relativamente abs


tratos. A pragmática pode ser considerada a descrição desta capacidade,
já que opera para línguas específicas e para a língua em geral. Tal des-
crição deve certamente desempenhar um papel em qualquer teoria geral
da lingüística.

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