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Ética da
Crença
W. K. Clifford * William James • Aivin Piantinga
Tradução
Vítor Guerreiro
Universidade do Porto
E ditorial Bizâncio
Lisboa , 2010
Capítulo 2
A ética da crença
W. K. Clifford
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1. O dever de investigar
?!
Um armador preparava-se para enviar para o mar um
navio com emigrantes. Sabia que o navio estava velho e
tinha defeitos de construção; que conhecera já muitos
mares e climas e teve de ser reparado muito mais de uma
vez. Alguém sugeriu ao armador que o navio talvez não
estivesse em condições de navegar. Estas dúvidas pesa
vam-lhe na consciência e deixavam-no infeliz; pensou
que talvez devesse mandar inspeccionar e renovar com
pletamente o navio, embora isto ficasse provavelmente
bastante caro. Antes de o navio zarpar, contudo, o ar
mador conseguiu deixar para trás estes pensamentos me
lancólicos. Disse para consigo que o navio enfrentara
com êxito tantas viagens e resistira a tantas tempestades
que não havia razão para supor que não regressaria ileso
também desta viagem. O armador confiaria na provi-
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1 Areopagitica.
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1Aids to Reflection.
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legítima a partir das suas experiências, mas nesse caso |
seu juízo está em falta. Uma reflexão muito sim plesf|f||
acerca do carácter das experiências mostrar-lhe-ia q u é § ||l
estas nunca podem conduzir a resultados desse tipo; 9ueil|®g
sendo elas mesmas meramente aproximadas e limitadas,
não nos podem dar conhecimento exacto e universal*!
N enhum a eminência de carácter e gênio pode dar a um
hom em a autoridade suficiente para justificar que acre
ditemos nele quando faz afirmações que implicam co
nhecim ento exacto ou universal.
Uma vez mais, um explorador do árctico pode rela-
tar-nos que, numa dada latitude e longitude, teve expe
riência de um certo grau de frio, que o mar tinha uma
certa profundidade e que o gelo tinha um certo carácter.
Teríamos toda a razão em acreditar nele, na ausência de
algo que comprometa a sua veracidade. E concebível po
dermos, sem deixarmos de ser homens, ir ao local e ve
rificar a sua afirmação; pode ser testada pelo testemu
nho dos seus companheiros e há uma base adequada
para supor que conhece a verdade daquilo que afirma.
Mas se um velho baleeiro nos diz que o gelo tem 90 me
tros de espessura até ao pólo, não teremos justificação
para acreditar nele. Pois embora a afirmação seja sus
ceptível de ser verificada pelo homem, seguramente que
não era susceptível de ser verificada por com quais
quer meios e instrumentos de que dispusesse; e deve ter-
-se persuadido da verdade daquilo que afirma por meios
que não dão crédito algum ao seu testemunho. Ainda
que, portanto, o conteúdo do que se afirma esteja ao
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apropriado daquilo que foi acumulado e que nos foil
transmitido é quem age da mesma maneira que os criálf
dores agiram, quando o acumularam; os que o usam para
fazer mais perguntas, para examinar, para investigar; que
procuram com honestidade e seriedade descobrir qual a
m aneira correcta de ver as coisas e de lidar com elas.
Uma pergunta apropriadamente colocada é já me
tade da resposta, afirmou Jacobi; podemos acrescentar
que o método de a solucionar é a outra metade da res
posta, e que o resultado efectivo para nada conta ao lado
destas duas. Tomemos como exemplo o telégrafo, onde
a teoria e a prática, ambas desenvolvidas discretamente
ao longo dos anos, se unem para servir vantajosamente
o homem. Ohm descobriu que a intensidade de uma cor
rente eléctrica é directamente proporcional à potência
da bateria que a produz, e inversamente proporcional à
extensão do fio condutor que tem de percorrer. A isto se
cham a «lei de Ohm»; mas o resultado, encarado como
uma afirmação na qual se deve acreditar, não é a parte
valiosa do mesmo. A primeira metade é a pergunta «Que
relação se verifica entre estas quantidades?» Assim for
mulada, a pergunta envolve já a concepção de intensi
dade da corrente e da potência da bateria, como quan
tidades a medir e comparar; sugere claramente que são
estas as coisas com que se tem de lidar no estudo das cor
rentes eléctricas. A segunda metade é o método de in
vestigação: como medir estas quantidades, de que ins-,
trumentos se precisa para a experiência e como devem
ser usados? Não se pede ao estudante, que começa a sua
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