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Movimento parresiástico: parástema, paraskeue e parresia

Géssica Aline da Silva Gomes1


Maria Vera Lúcia Pessoa Porto2

RESUMO:

Foucault, tratou de dois momentos teóricos, o arqueológico e o genealógico. Entre


muitos temas por ele abordados, a saber: a loucura, a sexualidade, a prisão e a ética nos
últimos anos de sua vida, momento em que se mostra trilhando novos caminhos para o
exercício e resistência do indivíduo, visando o constante melhoramento de si e buscando
o cultivo do ethos. A dimensão ética aparece aliada a estética da existência também
conhecida como cuidado de si ou subjetivação do sujeito. O resgate do cuidado de si,
em que o francês busca e traz a tona costumes dos gregos antigos, ao analisar como este
movimento acontece no indivíduo em processos de subjetivação, ou seja, que está
buscando a transformação de sua vida. Não se constitui como essência, mas sim, como
prática constante fazendo brotar um misto de resistências às normas fechadas e
conservadoras. Dessa forma, as ações do sujeito devem estar pautadas no parástema,
paraskeue e parresia, pois, somente assim, é possível agir criativamente, enfrentado
todos os riscos. É justamente através do risco que se corre ao questionar algo que o jogo
parresiástico vai criando forma, esse embate se mostra de total importância para que o
indivíduo seja impulsionado através de suas ações. É o poder de subjetivação que
contribui para a própria autonomia do sujeito como uma forma de resistência ao poder
que o governo exerce no próprio sujeito. Nos embasaremos nessa pesquisa nas obras a
Coragem da verdade e Hermenêutica do sujeito.
PALAVRAS-CHAVE: Foucault. Cuidado de Si. Subjetividade.

1 Introdução

1Licenciando do curso de Filosofia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –


UERN Mossoró/RN, membro do Grupo de Pesquisa: Parástema, Paraskeue e Parresia como
ethos na filosofia de Michel Foucault – E-mail: gessicaalinedasilva@gmail.com
2
Professora Adjunta IV, do Departamento de Filosofia – DFI, Faculdade de Filosofia e Ciências
Sociais – FAFIC, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Graduada em
filosofia e com mestrado em filosofia prática pela Universidade Estadual do Ceará. Doutorado
sanduíche na Universidade Federal da Paraíba – UFPB e Universidade Católica de Louvain-la-
Neuve, Bélgica. E-mail: veraluciapessoaporto@gmail.com

2
Em esclarecimento do cuidado de si em Michel Foucault investigaremos a
problematização que o filósofo francês levanta a cerca da subjetividade do sujeito
perante a sociedade e as diversas manifestações de poder, ou seja, analisaremos de que
forma o sujeito contribui para que o poder possa ser interiorizado e funcionar na vida
individual, tal análise nos conduzirá a pensar sobre a história da subjetividade perante a
historicidade humana, pensando acerca do sujeito, e suas práticas e ações diante do
convívio social.
Discorreremos sobre as técnicas de subjetivação executadas pelo indivíduo e o
quanto isso afeta sua vida interior e em sociedade, como o sujeito e os conceitos de
subjetivação se transformaram no decorrer da historicidade humana. Dessa forma,
investigaremos como a dimensão ética aparece aliada a estética da existência,
abordando o jogo parresiástico e o poder de subjetivação, bem como, esclarecendo a
respeito do movimento parresiástico: parástema, parakeué e parresia.

2 A dimensão ética aliada a estética da existência

Para os gregos antigos, diferentemente da modernidade o sujeito só poderia


chegar a verdade de si, a verdade de sua alma que é como os mesmos pensavam na
subjetividade, se praticassem exercícios espirituais, tais práticas eram parte do cuidado
de si, ou seja, o sujeito teria que operar mudanças em si mesmos para só assim poderem
ter acesso a verdade de si, Foucault diz em Hermenêutica do sujeito: “A espiritualidade
[é] a busca, prática, e experiência pelas quais o sujeito opera as transformações
necessárias sobre si de modo a ter acesso a verdade.” (FOUCAULT, 2004, p. 24).
Então, pode-se observar que na prática do cuidado de si dos gregos e romanos
antigos é justamente através de exercícios variados, a saber: provocações, autoexames,
escritas de si, meditações, dietas e exercícios físicos. Muito embora, tais práticas
variassem de acordo com a época e filósofo, a alma era o objeto principal de
preocupação e para cuidar da mesma era necessário também cuidar do corpo, pois para
os filósofos antigos, corpo e alma, estão interligados e para o sujeito cuidar da sua alma
era necessário que passasse por transformações que o tornaria outro de si:

Conhecimento de si e conhecimento da natureza não estão, portanto,


em posição de alternativa, mas absolutamente ligados. E vemos - é um
outro aspecto desta questão das relações - que o conhecimento de si de
modo algum é conhecimento de algo como uma interioridade. Nada
tem a ver com o que poderia ser a análise de si, de seus segredos
(daquilo que os cristãos chamarão depois arcana conscientiae
(FOUCAULT, 2004, pp. 339-340)

Esse caminho para o aperfeiçoamento da alma modifica o sujeito no processo.


Foucault diz que passamos dessa cultura em que havia o cuidado de si como uma
prática de si que referia a ocupar-se consigo mesmo para ter uma alma cada vez mais
aperfeiçoada, para uma outra cultura. Segundo Foucault, desacreditar do cuidado de si
como uma série de práticas muito diferentes, de modo que o sujeito vai buscar não
modificar-se, não transformar-se, mas buscar apenas e tão somente conhecer-se, com
essa passagem de mudança cultural o conhecimento, seja ele filosófico, científico e até
religioso, será o suficiente para o sujeito, pois o conhecimento dirá a verdade do sujeito
sem que ele tenha que modificar-se pois a sua verdade é uma só com o conhecimento.
Foucault diz:

Creio que a idade moderna da história da verdade começa no


momento em que o que permite aceder ao verdadeiro é o próprio
conhecimento e somente ele. Isto é, no momento em que o filósofo
(ou sábio, ou cientista, ou simplesmente aquele que busca a verdade),
sem que mais nada lhe seja solicitado, sem que seu ser de sujeito tenha
que ser modificado ou alterado, é capaz, em si mesmo e unicamente
por seus atos de conhecimento, de reconhecer a verdade e a ela ter
acesso (FOUCAULT, 2004, p. 22 ).

Uma certa democratização da verdade, do acesso a verdade acontece na cultura,


é possível observarmos ainda hoje os modelos institucionais de legitimação ou
deslegitimação de verdades, observamos os discursos dominantes sobre verdade e os
sujeitos que são tidos como mais ou menos capazes dos discursos de verdade, porém o
acesso a verdade agora não mais exige uma espiritualidade, não mais exige um trabalho
do sujeito sobre si, agora, tudo o que o sujeito precisa fazer para ter acesso a verdade é
conhecer, ter acesso ao conhecimento e se esse sujeito não tem o conhecimento tudo o
que ele precisa fazer é busca-lo, ou seja, o sujeito foi colocado na mesma ordem da
história como um trabalho em progresso cuja essência 3 é demonstrada no seu progresso
do conhecimento, mas nesse momento o conhecimento não pode mais salvar o sujeito,
diz Foucault, como o sujeito na filosofia antiga, o sujeito não será mais aquele que terá

3 Aqui temos que considerar que no pensamento de Michel Foucault não existe uma essência pura em
que o indivíduo vai desenvolvê-la, cultivá-la ou algo desse tipo, o que o francês prioriza é como o sujeito
se constitui enquanto indivíduo, mesmo assim ele não constitui um essência, mas constitui a si próprio e
essa constituição pode mudar constantemente de acordo com sua experiências e vivências, lutas e
resistência, estratégias e criações contínuas.
uma espiritualidade que se modifica, ele será aquele que se reconhece na verdade que já
está sempre no mesmo lugar:

[...] a única instância de realidade que existe para o sujeito é o próprio


instante: o instante infinitamente pequeno que constitui o presente,
antes do qual nada mais existe e após o qual tudo ainda é incerto.
Portanto, os três parastémata: definição do bem para o sujeito;
definição da liberdade para o sujeito; definição do real para o sujeito
(FOUCAULT, 2004, p. 354)

Assim, têm-se que o sujeito moderno é um sujeito da verdade que não deixa a
interioridade do ser. Foucault de certa forma nos leva a pensar sobre a nossa subjetividade
novamente como uma espiritualidade, em que, tornar-se outro do que se é hoje, possa ser
possível e factível.

a. O jogo parresiástico e o poder de subjetivação

Quando Foucault faz o resgate ao pensamento grego para trazer a exemplificação


do cuidado de si como forma filosófica de vida é com o objetivo de mostrar algo novo,
trazendo as práticas gregas como uma demonstração de uma nova forma de existência.
Nos processos de subjetivação em Foucault as condições estão nas relações de
força e poder, nas formas, nos saberes e veridicção, técnicas de governamentabilidades,
atitude-limite, e os modos do sujeito se constituir no movimento do ethos:

Os supracitados parastémata são três. [...] Um concerne àquilo que


devemos considerar como bem: o que é o bem para o sujeito? O
segundo dos parastémata concerne à nossa liberdade e ao fato de que
tudo para nós depende, na realidade, de nossa própria faculdade de
opinar. Nada pode reduzir nem dominar esta faculdade de opinar.
Somos sempre livres para opinar como quisermos. Terceiro (terceiro
dos parastémata), é o fato de que não há, no fundo, para o sujeito,
senão uma instância de realidade, e a única instância de realidade que
existe para o sujeito é o próprio instante: o instante infinitamente
pequeno que constitui o presente, antes do qual nada mais existe e
após o qual tudo ainda é incerto [...] (FOUCAULT, 2004, pp. 353-
354).

As práticas de si são a preparação do indivíduo para o embate do acontecimento


presente. Não se trata de amar a si contra tudo e contra todos, mas agir como mestre da
consciência, mestre de si mesmo, as estratégias e as técnicas de resistência como meio
de enfrentamento.
O saber espiritual4 é o que vai permitir ao indivíduo ser mais forte do que as
eventuais adversidades ao longo da sua existência. Para Foucault a Parresia funciona
como o que vai proporcionar a desmistificação da verdade; é na forma de aplicação do
discurso enquanto verdade que a Parresia se apresenta:

Por mais importante que seja essa noção de parresía no domínio da


direção de consciência, da condução espiritual, do conselho de alma,
por mais importante que seja, sobretudo na literatura helenística e
romana, não se pode deixar de reconhecer que sua origem está em
outro lugar e que não é, essencialmente, fundamentalmente.
primeiramente, nessa prática da condução espiritual que [a] vemos
aparecer (FOUCAULT, 2011, p. 9).

No cuidado de si Foucault nos trás uma outra forma de poder, a de um poder


como positividade, essa positividade no sentido de fazer acontecer, de ação e não no
sentido de bem ou mal, certo ou errado. O poder pode definir nossos gostos, produz
nosso desejo e, inclusive, nossa relação com nós mesmos, o poder não age só na
consciência, o mesmo também se apresenta sobre o corpo, o poder se abate sobre nós e
nos impede de ser:

Temos antes que admitir que o poder produz saber (e não


simplesmente favorecendo-o porque o serve ou aplicando-o porque é
útil); que poder e saber estão diretamente implicados; que não há
relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber,
nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações
de poder. Essas relações de ‘poder-saber’ não devem então ser
analisada a partir de um sujeito do conhecimento que seria ou não
livre em relação ao sistema de poder; mas é preciso considerar ao
contrário que o sujeito que conhece, os objetos a conhecer e as
modalidades de conhecimentos são outros tantos efeitos dessas
implicações históricas. Resumindo, não é a atividade do sujeito de
conhecimento que produziria o saber (FOUCAULT, 1999, p.31)

No jogo parresiático, considerando o poder da subjetivação, têm-se que o


cuidado de si, a partir de práticas de liberdade são uma forma de se contrapor a esse
poder político, lutar contra essa ideia neoliberal do empresário de si mesmo e ser
contrário à ideia do indivíduo competitivo é um modo de resistir a essa forma de
produção de subjetividade pelo capitalismo neoliberal.
Para Foucault o pensamento dos filósofos gregos antigos sobre os cuidados de si
é a subjetivação do sujeito, isto é, um indivíduo livre, a estética da existência é ter a

4 Para Foucault o saber espiritual é a busca prática. É a experiência pelas quais o sujeito opera as
transformações necessárias. Não se trata de uma espiritualidade metafísica, mas presente na própria vida.
apathéia, ou seja, ter o controle das paixões, ser temperante e ético, fazer de si uma obra
de arte, sendo assim coerente consigo mesmo além de praticar aquilo que se fala.

b. O movimento parresiástico: parástema, parakeué e parresia

Para Foucault não existe uma natureza humana que é uma só ao longo da
história, portanto, há processos de construção da subjetividade do sujeito, o filósofo
francês analisa como a interioridade, considerada como essência do sujeito moderno, é
apenas uma representação, uma ideia criada em relações de poder que individualizam a
interioridade como espaço da subjetividade, Foucault mostra que é uma construção
cultural relacionada a discursos, práticas sociais e relações de poder que criam essa ideia
da subjetividade e da verdade como interiores ao sujeito:

[...] na medida em que se trata de analisar as relações entre modos de


veridicção, técnicas de governamentalidade e formas de prática de si,
a apresentação de pesquisas assim como uma tentativa para reduzir o
saber ao poder, para fazer do saber a máscara do poder, em estruturas
onde o sujeito não tem lugar, não pode ser mais que pura e simples
caricatura. Trata-se, ao contrário, da análise das relações complexas
entre três elementos distintos, que não se reduzem uns aos outros, que
não se absorvem uns aos outros, mas cujas relações são constitutivas
umas das outras. Esses três elementos são: os saberes, estudados na
especificidade da sua veridicção; as relações de poder, estudadas não
como uma emanação de um poder substancial e invasivo, mas nos
procedimentos pelos quais a conduta dos homens é governada; e
enfim os modos de constituição do sujeito através das práticas de si
(FOUCAULT, 2011, p. 10).

Foucault busca mostrar os modos pelos quais fomos criados como sujeitos da
interioridade, isto é, o sujeito que possui uma verdade interior. A subjetividade como
interioridade é uma invenção de uma cultura particular impulsionada pelo cristianismo,
por discursos e práticas do estado e da cultura atual que na prática é uma cultura
metafísica que acredita que todo sujeito carrega uma verdade dentro de si e essa verdade
se exterioriza. No pensamento dominante no ocidente a história caminha apenas em
linha reta, do passado, do presente ao futuro sendo assim uma teleologia do mundo. A
história, então, poderia ser contada de forma progressiva chegando a unidade definida
do ser, essa teleologia, de certo modo, tanto interpreta o pensamento dominante quanto
concede um discurso de autolegitimação e de autoperpetuação:

Trata-se de uma espécie de "heautoscopia". O sujeito deve perceber-


se na verdade de seu ser. [...] o efeito deste saber sobre o sujeito está
assegurado pelo fato de que nele o sujeito não apenas descobre sua
liberdade, mas encontra em sua liberdade um modo de ser que é o da
felicidade e de toda a perfeição de que ele é capaz (FOUCAULT,
2004, p. 373).

Foucault retoma termos gregos que estão em desuso para explanar uma possível
proposta para a ética da existência, tais termos são: parástema que consiste no sujeito
exercer a prática da liberdade onde o mesmo dedica-se a interação nas relações de poder
com o ambiente no qual o indivíduo está inserido e sendo assim podendo alterar a
realidade presente.
Outro termo é o Paraskeué onde o sujeito encontra as práticas e exercícios de si
através da subjetividade, individuação, de modo que o conceito de universalidade não se
aplica, pois o ideal nesse ponto seria a liberdade do sujeito que busca a vida feliz por si
mesmo, através de suas próprias ações, e por fim a Parresia que trata da liberdade de
expressão do sujeito onde o indivíduo vive de acordo com sua verdade e se dispõe a
arcar com as consequências desse ato.
Para Foucault o cuidado de si é uma prática na qual o sujeito tem como
obrigação que deve durar a vida toda, o filósofo francês traz esse conceito do cuidado de
si ao modo socrático em que o sujeito está em constante busca de si mesmo, do
conhecimento, de uma vida filosófica e por meio de práticas diárias o sujeito pratica o
autocuidado por meio de ações, atividades individuais, vivenciando e apreciando sua
própria companhia:

[...] parresía não é uma profissão, é algo mais difícil de apreender. É


uma atitude, uma maneira de ser que se aparenta à virtude, uma
maneira de fazer. São procedimentos, meios reunidos tendo em vista
um fim e, com isso, claro, se aproxima da técnica, mas também é um
papel, um papel útil, precioso, indispensável para a cidade e para os
indivíduos. A parresía, em vez de [uma] técnica [à maneira da]
retórica, deve ser caracterizada como uma modalidade do dizer-a-
verdade (FOUCAULT, 2011, p. 15).

O cuidado de si, isto é, a ideia de cuidar de si, de se colocar no mundo de uma


maneira cuidadosa, de prestar atenção em si mesmo, de olhar para si de maneira
subjetiva, de construir uma forma de existir no mundo onde há uma preocupação ética
consigo e com os outros, portanto, uma ética e uma estética da existência será um dos
pontos principais para entender a investigação de Foucault, pois o cuidado de si traz à
tona uma série de práticas que na sociedade contemporânea se configura de uma outra
maneira, como por exemplo ser confundido apenas com um cuidado da estética externa
do corpo e nada além disso.
Contudo, o que Foucault retoma é a forma grega e romana antiga do cuidado de
si em que tal prática tratava-se de cuidar-se bem para assim poder cuidar bem da cidade,
da coletividade, isto é, uma intensificação das relações sociais que não se destinaria a
separar o indivíduo da sociedade:

[...] E esta aprendizagem de alguns movimentos elementares,


necessários e suficientes para qualquer circunstância possível, que
constitui o bom treinamento, a boa ascese. E a paraskeué não será
mais do que o conjunto de movimentos necessários e suficientes, o
conjunto de práticas necessárias e suficientes [para] permitir-nos ser
mais fortes do que tudo que possa acontecer ao longo de nossa
existência. É esta a formação atlética do sábio (FOUCAULT, 2004, p.
388).

Nas questões do cuidado de si Foucault investiga como as pessoas ao longo do


tempo constituíam a si mesmas enquanto indivíduos, ao longo desse período a
humanidade em si não cansou de deslocar continuamente a ideia de subjetividade, não
cessou de se constituir de uma forma múltipla, de diferentes formas e de múltiplas
possibilidades de existência e, é a essa multiplicidade, a qual Foucault busca dar voz, o
filósofo francês não busca uma voz uníssona sobre o que é a subjetividade, sobre o que
é a constituição do sujeito moderno, Foucault investiga como durante esse processo
houve múltiplos caminhos além do que se consolidou como sendo o único.

3 Considerações finais

Concluímos por conseguinte que para Foucault a filosofia antiga era um


conjunto de técnicas de si e de subjetivação, logo, o problema da filosofia era a ética a
partir da modernidade, a filosofia passa a se dedicar a epistemologia, a verdade era um
problema ético no mundo antigo, porém na modernidade a verdade passou a ser um
problema epistemológico, ou seja, no mundo antigo era fundamental que o sujeito
acreditasse naquilo que o mesmo estava dizendo, a partir da modernidade, para
Foucault, quando o sujeito anuncia algo é imprescindível que aquilo que o sujeito diga
corresponda aquilo que ocorre no mundo empírico.
No processo de subjetivação a parresia tem se tornado essencial na composição
das práticas e nas formas do sujeito se constituir e tornar-se indivíduo onde o mesmo
exerce ações no momento presente de sua história, momento em que a fala franca é a
parte de maior importância nesse movimento em que o indivíduo se expõe de maneira
que o conjunto de práticas e exercícios de si lhe permite ousar e correr os riscos, tornar-
se forte e assim constituir resistência e não sucumbir as relações de poder existentes no
âmbito social.

4. Referências:

FOUCAULT, Michel. A Coragem da Verdade: O Governo de Si e dos Outros (1983-


1984), São Paulo: WMF Martins Fontes, 2004.
FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito: Curso dado no College de France
(1981-1982), São Paulo: Martins Fontes, 2004.
FOUCAULT, Michel.Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Rio de Janeiro: Editora
Vozes, 1999.

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