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VIII.

"Progresso" e "declínio":
um adendo à história de dois conceitos

Na década de 1880, na pequena aldeia de Frenke, nas proximidades do


rio Weser, ocorreu a seguinte história: o antepenúltimo filho de uma fa­
mília de artesãos passou pelo rito da confirmação. Quando voltou para
casa, recebeu pela última vez uma estrondosa bofetada e então pôde
sentar­se à mesa. Antes disso, como todas as crianças, ele comia de pé.
Era esse o costume. E então aconteceu a história, vivenciada por aquele
que ma contou. Ele era o filho caçula. Embora ainda não tivesse passado
1

pela confirmação, nem tivesse recebido uma bofetada, foi convidado a


sentar­se à mesa dos grandes, juntamente com o irmão recém­crismado.
Quando a mãe, surpresa, perguntou o que aquilo significava, o pai res­
pondeu: "Isso vem do progresso:'
Em vão, andou o garoto às voltas pela aldeia a tentar saber o que seria
isto, o progresso. Na época, a aldeia consistia de cinco fazendas maiores,
duas fazendas menores, sete oficinas de manufatura e sete cabanas. Mas
ninguém sabia lhe dar uma resposta. Mesmo assim, essa palavra percor­
ria a aldeia ­ talvez se tratasse de um chavão lido em algum lugar ou
ouvido na cidade ­ e expressava acertadamente o novo estado de coisas.
Um antigo costume fora rompido. Não sabemos com que palavras a mãe
descreveu o processo. Se, o que não era o caso, ela dominasse a nostálgica
língua culta [Bildungssprache), talvez tivesse usado conceitos como declí­
nio, ou ruína, para descrever, de outra forma, o mesmo estado de coisas.
Deixemos de lado o fato de que essa história é só um sintoma de um
processo de longo prazo muito mais geral que transformou, e continua a
transformar, a velha Europa no mundo das modernas sociedades indus­
triais. Queremos, em primeiro lugar, perguntar pelos usos da palavra, por
aquilo que aqui se produz mediante o emprego do termo.
_ Evidentemente, a expressão "isso vem do progresso" situa numa pers­
pectiva temporal a nossa intrusão repentina na rede herdada de relações
I
Prof. dr. Heinrich Grupe (1878­1976).

169
REINHART KOSELLECK
HISTÓRIAS OE CONCE
rros

família de artesãos. Antes, a confirmação era um . .. para perceber como, em apenas ,


sociais de uma . . , . nto de av1ao a ,·ato um seculo e m .
. . . d tureza não só relig10sa, mas tam b em social. Hoje as . reconfigurou as predeterminações esp . . ero, a acele-
imciaçao e· na e . . ' coisas raça•0 . . . aciais da natureza C
. à mesa dos ad ul tos 101 d esvmculada do
mudaram. A m clusão . . , . costume novas
formas de movimentação humana se transf
ormam também O ·
· om as
. . A t'gamente era assun, mas hoje e diferente: essa é a ela .
diano, 0 mundo do trabalho e as expectativas. con-
rehg10so. n 1 ssi6 ca,
. , . que nossa testemunha-chave expressou com o uso do t Mas por trás da designação de "progresso" _ a li d
çao min1ma . • ermo . . . p ca a a um processo
também está contida a conotaçao de que a nova cond uta é
progress O . AI técnico e social.. com um cencísmo .
cada vez maio _
r em razao de conse-
,
deste - reside um problema da li
melhor do que a anterior. q uências negativas nguagem de que nos
Mas introduziu-se ainda outra ênfase: o ato do pai, de trazer O filho Se rvimos para tratar das mudanças e dos processos po líti ..
I ICOS, SOC1a1s e
caçula à mesa, não foi apresentado como algo próprio. Ao falar "isso vem históricos.
do progresso'; o artesão sugere que apenas executava o que era adequado "Progresso" e "declínio" são palavras que pretendem conceitualizar
à época. O agente empírico do ato é desresponsabilizado; executa uma processos que decorrem no tempo histórico. No entanto, a tentativa de
ação cuja origem e cujo sentido são atribuídos ao progresso. O ato indi- circunscrever o próprio tempo representa um enorme esforço de abstra-
vidual revela-se como um acontecimento que ultrapassa o agente. ção linguística, pois o tempo sempre escapa à percepção visual [Anschau­
Temos então dois critérios que caracterizam o nosso ato linguístico, ungJ. Certamente, podemos representar o passado de modo visual: as
extraído do mundo cotidiano de mais ou menos 1890: trata-se, em pri- rugas no rosto remetem à idade e à intensidade com que foi atingida.
meiro lugar, de um conceito capaz de colocar experiências em perspecti- A altura das árvores, o estilo dos prédios ou os tipos de carro revelam de
va temporal; em segundo, de um conceito que indica um sujeito trans- modo imediato o tempo decorrido, o início, o crescimento, a persistência
pessoal de ação: "isso vem do progresso" ou a ruína. O passado põe-se à mostra. Já o entrelaçamento entre futuro,
Com isso, já estamos lançados ao centro da nossa temática. Pois am- passado e presente, preestabelecido no ser humano, não pode ser visua-
bas as det ermmaçoes,
· · a perspectiva temporal e o uso do progresso como lizado; tampouco o pode o futuro, tomado isoladamente.
órgão suprapessoal de execução do acontecimento, podem ser encontra- Essa característica antropológica tem impacto sobre o uso de expres-
das não só no níiveld a 1·mguagem . sões históricas que pretendam articular o tempo. Para que possam ser
coloquial, mas também no das 1·ingua-
gens política e científica. entendidas, quase todas essas expressões recorrem a significados espa-
Pretendo retraçar em três etapas a evolução e o modo de emprego ciais e naturais. "Movimento" contém o caminho a ser percorrido; "pro·
d o conceito de gresso'; o avanço espacial daqui até lá; "ruína" e "declínio" representam O
prog
fase o conceito de d ressoe, ao mesmo tempo investigar como em ca da
· ' · e· trecho percorrido de cima para baixo e os processos de deterioração de
, . ec líJ.IUO se lhe era oposto. Antecipando a minha tes ·
ao contrario do declí · 0 · os um organismo vivo. Também o termo "revolução" possuía inicialmente
co t id mo, progresso é uma categoria moderna, cuJ
n eu o de experiê · , . - · tiI am um significado espacial, ligado à órbita circular das estrelas, antes de ser
antes do , ul ncia e superavn de expectativa ainda nao eJ{JS
sec o XVUI D . . , .jno- aplicado a proc essos SOCJalS . . e po 1 I't.ICOS .
dernos d d líni · e maneira correspondente, os conceitos pre
e ec 10 e de r , rn sua . Assim, os modos de falar da história, e particularmente do tempo
.
alocação top o .ogica, uma sofrem, na modernidade, mudanças e h1stór' . . . d natureza do ser
Podemos entao
1
- pressu h uman O d
ico, extraem a sua termínologia pnmanamente ª .
tambem con-
once•·· e o ambiente em que este vive. Juntam-seª 1550'
-
to de "progre .. • . por de maneira não problemática que O e corrend0 , . umerosos empres·
,
sso •01 especifi . , . as mo·
d ernas; ou · camente talhado para gerir expenenci tiimos . para .
a descrição de fenômenos histoncos, n
• . • predominantes
.
se1a, as eXperiê . . . ssadaS fi
por experiên . ncias tradicionais passam a ser ultrapa em d eito � Junto aos domínios da experiene1a que sao . ai a Igreja e
brar a eras novas co ta JeJ!l· eterm1nada época: o mito , a vida política e const1tuc10n .· .
at
mudanç ª d a carrua m uma velocidade surpreendente. Bas ' vel e O . , ío inexistem con
gem para o trem e deste para o autorno ª· ª
eoJog·1 técnica e as ciências naturais. Em pnncip '

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REINHART KOSELLECK HISTÓRIAS DE CONCEITOS

ceitos genuinamente históricos, que digam respeito ao tempo histórico. sentam dois conceitos que se sucedem rnut
repre . _ uamente. No ãmb·
o que há são, sempre, metáforas. Portanto, no que se segue, devemos uma
mesma comunidade de açao política trat . d
. ' ª .
se e conceitos de sue
rto de
. E quando se comparam diferentes comunid d d _ es-
prestar atenção no conteúdo metafórico dos nossos conceitos quando sao.
Grécia e Roma, o
. .
declínio de uma
ªes e açao política
. '
avaliarmos a sua expressividade histórica. pode ser rei
com O . acionado ou contras-
No início, pressupomos simplesmente que o progresso é um conceito com a ascensao da outra. Trata-se, então de cont .
ta do . ' raconce1tos de igual
_ os quais, aparentemente, foram menos usuais na A t" id d
característico da modernidade. Mas agora, a minha tese quanto à história v alor . . . . n igui a e do
viriam a ser depois. As Constituiçoes políticas semp
do conceito será a de que, mais especificamente, o progresso se transfor- q ue . . . . re permanecem
mou num conceito moderno quando o seu significado natural básico de e m um âmbito de possibilidades finitas e predeterminadas pe Ia natureza
avanço espacial foi abandonado ou esquecido. Essa referência visual des- humana, que nunca podem ser ultrapassadas. O único esforço que pare-
vaneceu. A partir de mais ou menos 1800, progresso se transforma num cia capaz de romper esse ciclo era a mistura politicamente correta de
conceito genuinamente histórico, ao passo que "declínio" e "ruína" não elementos extraídos de diferentes formas constitucionais, com O objetivo
conseguiram se livrar, na mesma medida, do seu significado natural e de propiciar maior estabilidade. Mas isso, apesar de impedir a ruína ha-
biológico. bitual, de modo algum inicia um processo progressivo em direção a um
Para demonstrar isso, permitam-me lançar, em primeiro lugar, um futuro melhor. É preciso manter isso em mente quando falarmos, adian-
olhar retrospectivo sobre a Antiguidade e a Idade Média. te, do conceito moderno de progresso.
Uma segunda observação referente aos usos linguísticos vigentes na
Antiguidade: quando se registra um movimento adiante, isso sempre
acontece em retrospectiva; nunca se trata da exploração de novos hori-
É trivial observar que, em todos os lugares onde as pessoas estão envolvi- zontes. Em sua famosa introdução à História da Guerra do Peloponeso,
das em histórias, as experiências de mudança e transformação são regís- Tucídides demonstra como os gregos se distinguem dos bárbaros por sua
tradas, para o melhor ou o pior, da perspectiva das pessoas afetadas. ordem jurídica e sua superioridade técnica e militar. Ele afirma que, an-
Nesse sentido, entre gregos e romanos há vários registros que permitem tigamente, os gregos também teriam vivido como os bárbaros; teriam
designar um avanço relativo nos domínios das coisas e das experiências: usado armas em tempos de paz, raptado mulheres e praticado outros
"prokope", "epidosis", "progressus", "profectus" ­ assim como também as costumes bárbaros desse tipo. Agora, no século V, os gregos haviam su-
designações opostas de uma "metabole" com tendência para o declínio, perado essa condição. No entanto, justamente pelo estabelecimento da
da "ta rache kai kinesis" no sentido de confusão e destruição, ou as metá · polis, pelo incremento do comércio e pelos ganhos de poder daí decor-
foras de doença aplicadas à descrição da degradação política. 2 rentes, eles se tornaram capazes de travar uns contra os outros uma guer-
Basta lembrar a metáfora do ciclo constitucional que permite descre- ra civi. ·1 marcada u de desperdício de
por uma brutalidade e por um gra
ver os altos e baixos da auto-organização humana. Políbio, por exemplo,
instrumentos de poder ainda sem paralelos.
resumindo as argument açoes · h e 1 ernsticas,
, . · . na encontramos um
descreve a evolução das tres Portanto, para usar uma terminologia mo d er • ..
formas puras de dominação e a respectiva ruína de cada urna delas, num rn O d I b h · stória pretenta e na
ciclo que decorre ao Iongo de tres
· geraçoes.
. · e o de progresso relativo que, com ase na i
Aqui, ascensão e dec1.1010 e
omparação com os bárbaros contemporaneos, P . . . .
. ermite reconhecer a
. .d
si I · 1 da civihzaçao atingi O
' Cf. a aniologia Niedergang St d" · ngu aridade e o caráter extraordinário d o ruve
leck e p 1 \V"d · " "" zu emem geschicl,tlichen Thema, org. Reinhart Kose ·
J
I O resultado, a guerra
' rner, S tungart 1980 pe os helenos. Mas o caminho não leva ao futuro.
au . . . . li .
H . . •
erzog, e f· tambem Christian M · �F
• com con1nbu1ções de Walbank. Franz Georg Maier e
. d d categonas me.d.icas iga
(org.), Geschichtliche Grundb . erer,
· , . ai
ortschrín m der Antike" em Orto Brunner et .
civ·t1
das . d
' agora só pode ser descrito com a aJU ª e a
o futuro, par O
egriffe, v. 2. Stut1gart, 1975, p. 353-363.
ª oença, que ficam muito longe de apon para
tar

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t73
HISTÓRIAS DE CONCEITOS
REINHART KOSELLECK

também a Tucídides um sob- nsformado pelo retorno de Cristo que, junto com o Juízo Final, colo-
. . . de outro progresso. Falta • portanto, e- tra . · · • · t erre na. AI·em diisso, segundo a doutrina cristã
fim na ex1stenc1a
,n!CIO , ai [allgemeiner Oberbegrif!J' que resuma a história cana u 01 . _
conceito de carater ger . o delimitado entre a cnaçao e o fim do mundo desde O surgi
, . um processo progressivo. do mp te . ' -
como de Cristo a humanidade se encontrava basicamente na última era,
g rega pretenta . dicional quanto a isso: nos casos em que a Antigui. ento
Uma observaçao a . . J11
"aetas'n ou seja,
.
na daa " senecrus,nd urante a qual nada de essen-
.t estes eram sempre parciais - na ciência, por na última
d a d e reg1s ra progressos ' novo poderia ocorrer. A metáfora biológica da "senectus" po-
da região mediterrânea pela Pax Romana cialmente
exemp I 0 ou na Pacificação
1 .
dia então ser interpretada tanto de modo pagão, como expectativa de
Nunca tinham a ver com um processo que abrangesse a sociedade como
uma nova juventude que reiniciaria o círculo, quanto como presságio do
um todo, de modo semelhante ao que fazemos hoje quando falamos em
fim do mundo e da ressurreição dos mortos.
avanço da técnica ou em industrialização. O que prometia o domínio do Nos casos em que os teólogos falavam de "profectus" ou (em menor
mundo pela Roma Eterna eram duração e segurança, mas não um pro- o progresso remetia à salvação da alma.' Assim, ser-
gresso em direção a um futuro melhor. Na era dos Césares, era comum grau) "progressus",
vindo-se de uma metáfora biológica, Agostinho comparou o povo de
que os conceitos de interpretação histórica remetessem a comparações
com o modelo da República que passara. A longa duração do Império e Deus com um ser humano educado por Deus. De faixa etária para faixa
a sua decadência se complementavam reciprocamente na tentativa de etária, o povo de Deus avançaria no tempo para - e isso era a essên-
abarcar séculos de experiência. A noção de que o mundo estava numa cia dessa metáfora - elevar-se do mundo temporal para a experiência
idade avançada é uma autointerpretação da Antiguidade tardia, que foi do eterno, do visível para o invisível.' A partir de então, esse modo de
expressa repetidamente no conceito da "senectus"? Por isso, o conceito de avanço é repetidamente descrito pelos Pais da Igreja e pelos escolásticos
"declínio" era mais adequado para descrever um decurso social, de di- como "profectus hominis donum Dei est";6 ou, como Bernardo de Claraval
mensão até mesmo cosmológica, do que as variantes que enfatizavam certa vez pregou: "in via vitae non progredi, retrogredi est." Quem não
avanços parciais. avança, regride; ou: "ninguém é perfeito se não almejar urna perfeição
hso_vale não só para os pagãos, mas igualmente para os cristãos. Para ainda maior."
os cnstaos que creem, abriu-se o horizonte de um novo futuro, ou seja, a Encontramos já aqui aquela relação assimétrica existente entre o pro-
exp�ctatJva da Jerusalém celestial, mas esta representava um reino que se gresso e o retrocesso que contrapõe à eterna mudança da existência ter-
realizaria apenas após O fim d hi , .
. ª istona. Neste mundo, os cristãos podiam rena um movimento com direção e orientação fixas e que, em outro con-
se agarrar a duração de Roma O u d o I mpeno, . Romano - texto, pode até suscitar uma impressão moderna. Mas esse progresso - o
d epors. que este fez do .. . .
especialmente
cristianism O li profectus em direção à perfectio ­ refere-se ao reino de Deus, o que não
ficar certo pro are giao ímperial - e podiam ídenti-
gresso em relação ao t deve ser confundido com o reino temporal neste mundo. O caminho
isso não valia diant d , . empo em que eram perseguidos. Mas
e ª propna expect a ti .va d e que o mundo inteiro seria
--
• O termo Obu"­'iff, , .
runidaJ es ao ""!"' do' qu, traduzido como "sob reconceito,

. ..
para a perfeição não pode ser medido em anos, apenas na alma: "Perjec­
tio non in annis, sed in animis:·•
. longo livro e não eh comparece em algumas opor-
pnamentr analitl
1 co. D ega a constituir . com um papel pro- � S�bre o que se segue, cf. meu artigo .. Fortschritt" em Geschid1tli�·he Grundb(grijf( (ano-
- esemptoha _ uma categoria
tn d.rcar tanto u di • antes
��. uma fun çao . d ..
term os ma.is . ma con ição de superioridad (OL- mais escnnva, O prefixo Ober­ pode :açao 2), p. 363·423.
. conere I os., uma situa -
d e cima; Obaba _ d
çao e sobreposi -
ª"
e vcrkomm do::: al to-comando) quanto em
' , De C,v. Dei 10.14.
u ­ suptrestrutura, constr _
para desi gnar conceit çao ou de sobrelevação ( Oberlicht :: luz , Isidoro d e s ev,'lh a, S ent. 2.5.3, Migne,
. Patr. Lat., t. 82 (1862), 604.
. uçao supen ) K . S
ção de suoe . . ,L
05 gerais e abrangentes or · oselleck emprega Oberbegriff " � rmones de Sanctis. ln puríficatione B. Mariae 2. 3. Migne, Patr. Lat., t. 183, 369 C, e
r,nonuade e e • O que em ai
'C( a comribui . ' m outros, apenas indica ' guns casos, descreve uma condi- r.pistolae
,p ad d ragone monachum, § 1, Migne, . Patr. Lat., t. 182, 100.
çao de Franz G<org Maier no v o caráter englobante da noção. jN.R.) 1 .
M·au ino de Aquileia. Liber exliorationis, vulgo de salutdril,us doc:umf!,itis, e. 43 (e. 795),
olume mencionado.
•gne, Patr. Lat., t. 99, 246A.

175
HISTORIAS OE CONCEITOS

R[INHAR1 KOS[LL[CK

terminológico, o "projectus" espiritual é recai cad o ou su b stí-.


to de vista ,,
medieval, tratava-se muitas vezes de conceitos de um "progres.sus mundano. .Esse processo este n d e-se por todo
No uso lingui�tico 'do
tut por
ser inferido da doutrina dos dois mundos. Idade Moderna. O Renascimento gerou a con sciencia ., . de um
correlação, cujo sentido Pode o I·ni'cio da
A doutrina dos dois reinos - o de Deus e o deste mundo - sofreu muitas mas não a consciência de um avançar em direção a um fu-
novo temro.
metamorfoses no decurso da Idade Média. mas raramente essas meta- turo melhor, pois
a Idade Média ainda se apresentava como um período
morfoses bastaram para que o progresso fosse abordado como uma lei intermediário sombrio, que tinha de ser posto de parte para que a An-
imanente ao mundo. Ao contrário: em Otto von Freising, por exemplo,
0
tiguidade pudesse ser vista como modelo. Só com o crescente conheci-
mundo com uma idade cada vez mais avançada se encontra em uma mi- n,ento da natureza, com o qual a autoridade dos antigos foi recalcada
séria cada vez maior - "defecl'us" ­, na mesma medida em que cresce a autônomo da razão, é que se abriu - inicialmente de maneira
pelo uso
certeza dos fiéis em relação à aproximação do reino vindouro da paz
setorial - uma interpretação progressiva do futuro. Segundo esta, a natu-
eterna - "perfectio". Em relação a este mundo, a ascensão rumo à perfei-
reza perm.1necia sendo sempre a mesma, mas a sua descoberta passava a
ção e o declínio são, para Otto voo Freising, conceitos de correia ão, na ser impulsionada metodicamente, e o mesmo acontecia com a crescente
maioria das vezes verbalmente circunscritos: quanto mais miserável este
capacidade humana de a dominar. Daí decorriam mais abrangentes defi-
mundo, mais próxima estará a salvação dos eleitos. Mas o futuro não é a
ruções do objetivo da natureza secular, remetidas ao melhoramento do
dimensão do progresso, e sim a do fim do mundo, cujos presságios são
ser. as quais permitiam que a doutrina das últimas coisas fosse suplantada
repetidamente investigados e repetidamente encontrad .11
pela aventura de um futuro em aberto. Desde então, existe uma diferença
Naturalmente, existiram também na Idade Média ou na Antiguidade
qualitativa entre o passado e o futuro. Assim se desvela um tempo genui-
avanços singulares ou ocasionais dentro deste mundo: nas citncias e no
namente lustónco, o qual. por fim. encontra no progresso a sua primeira
movimento de leste a oeste carácter 1 suco .· d a doutrina
. dos tmpénos:
. . na
. conceirualizaçâo. Agora que passarei a retraçar esse desenvolvimento do
arquitetura e no campo das inovações técnicas: no direito eclesiástico; cm
conceito moderno de progresso, preciso resistir à tentação de falar tam-
termos sociais • temporaria 1 mente tam b érn em tempos de paz.. Mas esse
. bém sobre o plano das coisas que ele abrange, sobre o conteúdo experien-
tipo de progresso seto n· ai nao · tm . h a nenhum peso cm comparação com a
. . . cial do conceito. A invenção da imprensa, a difusão da leitura. a invenção
· °
experiência fundamental se gun d a qu al o mundo envelhecia e se apro-
da bússola, do telescópio e do microscópio, o desenvolvimento das ciê�-
ximava do fi m. o avanço no espinto . . e o declínio, do mundo eram, nesse
. cias experimentais, a descoberta do globo terrestre e as conquistas tern-
sentido, conceitos de correi . . .
açao que impediam urna interpretação pro-
gressivista d º fu turo terrestre. tori ais· no ultramar, a comparaçao • 1
com os se vagens,
0 conflito da arte
.
• · desenvolvimento
mod erna com a arte antiga, a ascensao d a b urguesta, 0 .
· - d oderes naturais na
do capitalismo e da indústria a concentraçao os P
li · ' .. . dos fatos tantas vezes
téc ruca - tudo isso faz parte das expenencias ou di
Esses saltos tão longos por cerca de d . . ul , invo cados em conexão com o conceito de progres so • O progresso em -
veis, pois O que se quena. ois rm·1 ênios talvez sejam desc pa- · ª algo melhor
re çao
era apen . . . . s lín uísticas do conce1-·
progresso por meio d e um contrastas introduzir o conceito moderno do p retendo
Uma novidade d . e com formas conceituais antenores.. retraçar apenas os desenvolvimento
.
g
s fenôrnenos acllila
. men-
to, daquele conceito d
. _ o conceito mode . que, por fim, reune to osº. d tra forma, que
s1gn1ficados religioso . . . mo de progresso cm relação aos seus Ctonados numa única expressão. Ou. para O dizer e ou
mun d o, outrora consts ongmais correspon de a, transformação -
do fim d o única palavra.
antemente aguardado, num futuro aberto. Do pon- resUrne a tada a desnatu·
--- experiência do tempo novo em. uma · ramente ates
l · N uso - d·e um mun-
' Cf. Melvillc, na antologi 0 da nossa expressão, fica pnme• do A noçao
a lllCnclo!IMh acima. taJi •
Zllçao das metáforas ligadas à idade do mun ·

176
177
'- - · 1,.. l, 1 V.:,

sentido biológico e moral de decad. deve ser pensada a�enas como algo que se encontra além da atividade
ls idoso perd e seu . . en,
do cada vez mar d
. . oro O e 1m cli .0 desvanece, abnndo assim o Carninh O ""ª"ª· Em vez disso,
hu,.. . o ser humano
.
individual p assa a apren d er cada
. A assoc1açao e _ ...
c1a.
irwmto. vez mais (e, de maneira
. .
sucessiva, todos os seres human os apren d em em
para um progresso d ue se foi aos poucos tomando consciênci a, conjunto); dia apos dia, ele avança na ciência, de forma que a humanida-
b tura do futuro, e q
A a er d as nas metáforas de crescimento. Tomad a juventude, passa a estar num progresso contín uo - na mesma
medida em rou anç . as d e, desde
pode ser . d metáforas de cresnmento natural remetem medida em que o próprio mundo envelhece. "Tous les hommes ensemble
em sentido literal, to as as . .
à finitude e à
. . bTd de da decadenc1a. Quem, portanto, leva a sério
ineVJta i J a . . .. y Jont un continuei progrez à mesure que l'univers vieillit" [Todos os ho-
. deve _ como na Antiguidade - permrtrr que O mens juntos fazem um progresso contínuo na medida em que O Universo
a categoria de natureza . . .
. id O por um declm10. Nesse sentido, o decurso da ju- envelhece].11 A antiga educação divina do povo fiel transforma-se na
progresso se1a segui
autoformação de todos os seres humanos dotados de razão. o progresso
• . _
l hice exclui uma progressao em direção a um futuro
ventude para a ve
infinito conquistou para si um futuro que se esquiva da metáfora natural
sempre aberto. . .
No máximo, poder-se-ia vincular uma doutrina do renasnmento à da velhice. O mundo, como natureza, pode até envelhecer no decurso do
metáfora da juventude e da velhice. Por isso podiam se servir de compa- tempo, mas para a humanidade como um todo isso já não significa mais
rações de idade, ainda que de formas diferentes, tanto as teorias cíclicas um declínio.
da Antiguidade quanto a doutrina cristã do mundo envelhecido, que Em J 688, Fontenelle rejeitou abertamente a metáfora da velhice, pois,

permanecia integrada ao horizonte de expectativa escatológico. Existem segundo ele, a mesma já não se prestava à descrição do progresso. Tudo
numerosos testemunhos dos séculos XVI e XVII que demonstram que, no mundo indicava que a razão se aperfeiçoa continuamente. Por isso, a
no mundo erudito, tentava-se encontrar uma determinação temporal razão pode compartilhar das vantagens da juventude e das vantagens do
dissociada do vínculo com significados naturais. Bacon, por exemplo, ser humano maduro e sábio: "Cest­à­dire, pour quitter /'allégorie, que les
retirou da autoridade dos antigos a sua perene pretensão à verdade, ao hommes ne dégéneront jamais" [Ou seja, para deixar a alegoria, os ho-
afirmar que a verdade seria filha do tempo. Veritas filia temporis. 'º Em mens nunca vão degenerar J. 12
termos mais simples: a verdade só era conhecida e aceita na medida em Leibniz deu um passo além e excluiu também do âmbito cósmico a
que se sintonizava com a execução temporalmente condicionada do co­ metáfora da velhice. Para ele, o avanço contínuo não era apenas produto
nhecimento humano - ou seja, na medida em que também ela podia do espírito humano; também dizia respeito ao Universo. A felicidade,
ser superada. afirmou, exige um avanço contínuo para desejos e perfeições sempre
A passagem - comum já na Baixa Idade Média - do anseio cristão novos. Por isso, também o Universo jamais podia alcançar um grau úl-
pelo
. reino da verdade e t erna para um processo intrarnundano de conhe- timo de maturidade. O Universo como um todo não regride nem en-
cimento progressivo se maníf t d velhece, "nunquam etiam regreditur aut senescit". IJ Portanto, não é só
ires a e maneira particularmente clara em
Pase ai , no seu tratad 0 b o homem, mas O mundo inteiro que progride. Mesmo que houvesse um
. . so re O espaço vazio, o Traité du vide. Lê-se aqui
que • ao contrario do animal . regresso, isso aconteceria apenas para que o avanço subsequente ocor-
humano e t, . . que e sempre perfeito em si mesmo, o ser
s a investido na infinitud [ U . . .
linitude mas . . . e nendbchke,tJ. É criado para a in- " 81 aise
· · · du v1'de, CE uvr. compl
Pascal, Fragment de preface sur le traite ' ·• ed, Léon Brunschvicg
' ja aqui num sentido ambíguo. Pois a infinitude não mais
----
te Fr .
et Pierre Boutroux, t. 2, Paris, J 908, p. 138ss.
1 d G B
u Bernard de Fontenelle, Digression sur les anciens et les modanes, CEuvr. comp ·• e · · ·
Or aanas Bacon, Novurn Organu,n ), 84· Depping, t. 2, Paris 1818 · reimpressão. Genebra. 1968. P· 3 . 64
g "der Wrssenschaften trad. p. 'Work.s, 1864, v. 1 p 190ss· ed em alemão Neues . . . .
pressão O ' e org. Anto Th b ' · ' · ' · u e· - ' '
itação do seu espólio manuscrito por Ernst Cassirer, e
· l ibniz' Sustem
r
m semen wissen­
• armstadt, 1962. n eo ald Brück. Leipzig, 1830, p. 62ss; retrn-
schaft/ichen Grundlagen, Marburg, 1902. p. 444.

178 179
HISTÓRIAS DE CONCEITOS
REINHART KOSELLECK

e se percorresse o dobro da distância. Resu- Do ponto de vista da história da palavra pode-se, então, demonstrar
resse em ve 1 ociid a de dupla
. só é O melhor dos mundos porque melhora continua- como, aos poucos, "perfection" é recalcada e substituída por "perjection­
mindo: •0 mun do . ,,
nement", inicialmente em 1725, por St. Pierre. Da "perjection" para O
mente"" ("progressus est in infinitum perfectoms ). .
fazer caber toda a mult1phc1dade de Leibniz apenas "perfectionnement": a determinação de meta transforma-se em categoria
Sem que se queira
processual de movimento. A perfeição singular a ser almejada torna-se
nesse seu pensamento central, pode-se dizer que ele antecipou todas as
no século XVIII para interpretar o recém-descoberto iterativa. Turgot, por exemplo, falava inicialmente da massa de toda hu-
posições assumidas
manidade que, sem cessar, avança em direção à sua própria "perfeição".
mundo histórico, e sobre elas refletiu. No século XVIII, e desde então,
Mais tarde, corrigiu-se e disse que a raça humana, na felicidade e na mi-
existe uma acepção ampla de que o avanço é geral e contínuo, enquanto
séria, na tranquilidade ou na inquietação, estaria a caminho de uma per-
toda recaída, todo declínio ou ruína, sempre são apenas parciais e tempo-
feição cada vez maior. Por fim, Condorcet, antecipando-se a Hegel, foi
15
rários. Em outras palavras, o declínio, ou o retrocesso, não é mais um
conceito opositivo puro, contraposto ao avanço ou ao progresso. Encon- capaz de incluir no conceito também as contradições lógicas: o "perjec­
tramos provas disso em inúmeros autores. Basta mencionar aqui Turgot, tionnement" da raça humana é o fim, "terme", embora seja ao mesmo
Condorcet, lselin, Wieland ou Kant, ou, no século XIX, Engels, Haeckel tempo ilimitado, "indéfini", A determinação de meta é incluída no pró-
ou Eduard von Hartmann. Diferentemente do que ainda era comum na prio processo de aprimoramento constante. Condorcet também disse:
"Os limites dos diversos progressos são apenas os próprios progressos."
16
Idade Média cristã, esses autores já não remetem a assimetria entre pro-
Teríamos assim descrito aquela temporalização que, no século XVIII,
gresso e declínio à dicotomia este mundo e outro mundo. Em vez disso,
transformam o progresso numa categoria da história mundial cujo senti- passou a abarcar cada vez mais âmbitos da experiência e da expectativa
humanas. O sistema da natureza transforma-se em história da natureza;
do consiste em interpretar todos os retrocessos como passageiros, e até
as leis da ordem política, em leis do aprimoramento constante desta. Nas
mesmo como estímulos para novos progressos.
2. Para se caracterizar ainda melhor o surgimento do novo conceito, é palavras de Lessing: "Creio que o Criador teve que habilitar todas as coi-
sas que criou a se tornarem mais perfeitas para que pudessem ser preser-
preciso introduzir um segundo ponto de vista: a temporalização. num
sentido que devo explicar a seguir. vadas na perfeição na qual ele as criou?" Lembremo-nos da sentença
.Até O século XVlll, fala-se menos dos "progressos" ou dos "avanços" e cristã medieval: ninguém é perfeito se não almeja urna perfeição ainda
mais da "perjectio"., da p erteiçao
e · ­ como um modo de determinar a meta maior. Essa afirmação, aplicada primeiramente à alma individual, é agora
que deve ser alcançada nas artes e nas ciencias .• . e . transformada. Visa ao futuro terrestre e confere uma direção à história, ª
por fim em toda a soC1e- forma�
dade. Descobrir as eterna 1 . . . . ' ' qual, por sua vez, se liga de volta à consciência humana. De certa
. s eis naturais significava procurar alcançar uma
fi
meta nua, a partir da qual 0 é o progresso do progresso que supera qualquer retrocesso. O "progresso
. ser h umano seria capaz de dominar a natu-
reza. Alternativamente ente d . transforma-se num conceito reflexivo de caráter processual [prozessualer
matemátic o, por ' n er as leis da moral, com a ajuda do método
exemplo sign 1· fi Rejlexionsbegriff J. .
base na qual . ' cava também alcançar uma meta com 0
a SOC!e dade humana d . Poderíamos dizer que ao ser descoberto como processo, tempo hís-
século XVIIJ . po ena se organizar de forma justa. No . , ' afi mou Kant: "A criação
' essas determma õ d - - tó nco e, de certa forma, dinamizado. Ou, como r
integradas na exe _ d . ç es e meta sao temporalizadas, isto é, sao
cuçao a história h . , ·
de Leibniz conti umana. Evidentemente, a metafisica :: Cf. meu artigo "Fortscbrlrt" (anotação 4), P· 377.
nuou a exercer infl . . de l'es rit lu,main (1794), org.
uencía em muitos canais. Condorcet, Esquisse d'un tableaux historlque des progres P
388
" Leibniz, K/eine Se} ift �•lhelm Alff, Frankfurt am Main, 1963, P· 364. 382· · .. tliche Schriften, v. 17, 1904,
F rankfurt arn Mai 1rr e" zu r Metaphysik, or W,0 1
n, 1965, p. 368ss, "De g. f von Engelhardt e Hans Heinz Holz, Lessmg, carta a Mendelssohn de 21 de janeiro de 1756•
5
ª"'
progressu in infinitum� p. 53.

180 181
HISTÓRIAS DE CONCEITOS
REINHART KOSELLECK

em determinado momento, mas nu �,lares coletivos que, .


no fim do.•
século
.
XVIII ' med raram rapidamente,
.
d Começou . is-
nunca está encerra a. , . .
era capaz de unpedir
nca abranger em. st uma experiencia cada vez mais comp I exa, elevando-
, ,, h uma experiência pretenta para
terminara. .
.
is Nen . . .
se levantassem. A expenenc1a do passado
que
4 a u!11 �ªª��
nível mais avançado de abstração. Do ponto de · t d hi , .
expectativas ain d a m aiores . . ea trata-se de um processo ao qual correspondem_ de uma
. d � ruro afastaram-se uma da outra, dissociando-se progre da linguagem,
expectativa o I u . s- ainda pre�is� ser in_vestigada - a Revolução Francesa, no plano
forma que
. E ssa diferença encontra no progresso o seu conceito comu-- - ••. e, no eco1.1om1Co, o incremento do comércio internacional e a
s1vamente. político,
ue até agora descrevemos como temporalização e desenvoIV:i-
3. 0 q f d ' .
aberto de ururo correspon e a génese do novo Revolução Industrial.
mento de um horizonte 'É possível descrever de modo formalizado como "o progresso" surgiu
se surpreendam ao ouvir que, na língua alemã, a
conceito. Alguns talvez como singular coletivo e como se transformou em um conceito-chave
[FortschrittJ só foi criada no fim do século XVIII. Até
palavra "progresso" histórico. Esse processo deu-se em três fases sobrepostas: num primeiro
momento, pelo menos no que diz respeito ao uso linguístico aJemão,
o do progresso é universalizado. Isso quer dizer que já não
passo, sujeito
O
tratamos apenas da pré-história do nosso conceito. Já vimos que expres- a áreas delimitadas, como a ciência, a técnica, a arte etc., que, até
se refere
sões latinas como "profectus� "progressio", "progressus" e variantes se­ o substrato concreto dos respectivos avanços. Ago-
agora, representavam
melhantes estavam à disposição havia muito tempo. Na língua francesa, do progresso é ampliado e passa a ser um agens que ou tem
ra, 0 sujeito
"le progres" raramente foi usado no singular; normalmente falavam de
uma máxima generalidade, ou tem uma obrigatória pretensão degenera-
"les progrês" no plural, dos progressos que remetiam a áreas individuais.
lidade: trata-se do progresso da humanidade. No início, a "humanidade"
Até mesmo Condorcet fala apenas da soma de progressos individuais, e
[Menschheit] não era compreendida como um sujeito ativo, mas antes
não do "progrês" como tal; daquele que é próprio sujeito de si mesmo.
como um sujeito referencial, no sentido, por exemplo, daquele "povo hi-
Também em inglês "progress" foi usado principalmente no plural, ao lado
potético" que, para Condorcet, é o sujeito mentalmente construído de
de "improvement" ou "advancement". O uso linguístico alemão era igual-
todos os progressos individuais. O povo eleito de origem judaico-cristã
mente diversificado. Falava-se, por analogia com o significado espacial,
transforma-se em hipóstase do progresso. Logo em seguida, torna-se
de avanço [Fortgang], do avançar [Fortschreiten] ou de prosseguimento do tempo" e, muito mais tarde, do
possível falar também do "progresso
[Forschreitung]·• ou • recorrendo-se a metaroras
,, bi10 I ógicas,
. .
de crescimento
"progresso da história"
f Wachstum]. aumento [AnwachsJ e acréscimo [Zuwachs]; ou ainda, num
Assim, das histórias dos progressos individuais resulta o progresso da
sentido mais moral • de apnmoramento
·
rr:
[ Verbesserung] e aperfeiçoamento história. Essa é a segunda fase. Pois, em decorrência da universalização
f Vervollkommnung] · A t o d os esses casos, porém, faltava uma expressão su­
do nosso conceito, o sujeito e o objeto trocam de papel. O
central capaz de reunir n um uruco , . conceito . todas as nuancas de signifi-
biectivus transforma-se em genitivus obiectivus: nas expressoes progre�-
ca d. o e de uso · "O progress o., [" D er Portschritt'ú ­ termo encontrado pela O
. so do tempo" e "progresso da história", o progresso assume papel domi-
pnme1ra vez em Kant _ e . . L b mo-nos do nosso exemplo
reunia em . t d . ra uma palavra que, de forma sucinta e prática, nante e passa a ser o agens histórico. em re .
si o as as mterpret - d O · . . .• A podemos dizer: a modali-
científico • técníico, m. . açoes progresso originadas nos âmbito tnícíal, a frase "isso vem do progresso. gora
d ustnal e ti , ,
mesmo no da histé . ' por m, também moral e social, e ate dade temporal assume a função do portador da ação.
ena geral.
- fi utonomiza: o progresso
.. Numa terceira fase ' a expressao, por m, se a
,, schlechthin]; torna-se,
O progresso como tal" [R .
ortschritt selber] é um singular coletivo. Reú- [F, t h ·N
transforma-se em "progresso como tal . or. se ri
ne numerosas .
experíéenc1as em uma , .
uruca expressão; é um daqueles sin-
. h 51 d 0 possível falar apenas em
assim, sujeito de si próprio. Antes, avia . d
bé em progresso o tempo
progresso da arte e da técnica, e depois tam mcomum e usua 1 evocar o
=:
'" K ant, Allgernei11e
Hans Bium en b Narnrgesch I'eh te und Th · d es Himmels, AA, v. i, 1902, p. 256, 314. Cf.
erg, Die Legilimitãt der N ou da história. Mas, no século XIX, torna-se
euzeu, Frankfurt arn Main, 1966, p. J szss, 427ss.

183
182
REINHART KOSELLECK HISTÓRIAS OE CONCEITOS

. 1 a damente · Assim • a expressão se transforma numa palavra -


progresso 1so século XVIII, o próprio progresso ainda não era o único sobreconceito
. , . .
-chave da política; num lugar comum que, no m1C10, ajudou a criar par- [ Qberbegriff] a partir do qual a história era compreendida.
tidos e a alicerçar a consciência deles, mas que, aos poucos e cada vez Diderot publicou a Enciclopédia para acelerar o Iluminismo. Porém,
mais, passou a ser reivindicado por todos os partidos. Pois, a partir do ao mesmo tempo e por influência das teorias cíclicas da Antiguidade,
século XIX, torna-se difícil legitimar-se a si próprio politicamente sem reconheceu no horizonte a ameaça de uma catástrofe. Nesse sentido,
que se seja ao mesmo tempo progressista.. queria que a a Enciclopédia ­ que compilara todo os saberes _ fosse ao
Lemos, por exemplo, num panfleto católico de 1877, publicado em menos uma espécie de "arca de Noé" da razão, capaz de salvar para a
Paderborn: "A Igreja Católica é o poder social e conservador par excellen­ época vindoura todos os conhecimentos até então adquiridos. Voltaire,
ce; por isso é também a criadora da liberdade e do progresso."19 Mas
que repetidas vezes tentou estimular progressos individuais por meio de
quero me poupar o trabalho de retraçar a história desse lugar comum no uma crítica aguçada a ordens de coisas abusivas, também tinha grandes
século XIX, o qual, já no final desse mesmo século, começou a perder restrições em relação ao otimismo. O panorama da história apresentava-
força e passou a ser visto com suspeita em muitos campos políticos. Pre- -se-lhe como um contínuo vaivém. Ele só admitia na historiografia qua-
tendo voltar minha atenção para aquilo que ocorreu no campo conceituai tro momentos de esplendor cultural - em Atenas, na Roma de Augusto,
ligado a noções como declínio, decadência, ruína ou retrocesso. no Renascimento e na era de Luís XIV. A todos esses se seguiu a deterio-
4. Como vimos, na Antiguidade, o progresso e o declínio eram concei­ ração. O Candide anula completamente toda e qualquer progressividade,
tos de sucessão. Na Idade Média, eram conceitos de correlação, que, po· como a que havia sido introduzida na metafísica de Leibniz. Nem Dide-
rém, dada sua referência ao reino de Deus e a este mundo, se relacio-
rot, nem Voltaire eram dogmáticos quanto a um progresso linear; tam-
navam um com o outro de modo desigual. No início da Idade Moderna,
bém não o eram com relação a um progresso descontinuado. Contra i�so
o retrocesso ou declínio parecem ter sido colocados numa posição se-
agia o excesso de experiências contraditórias e, provavelmente, tambem
cundária, na medida em que cada retrocesso era posto na conta do pro·
a formação clássica de ambos.
gresso. O progresso e o declínio entraram numa tensa relação assimé- . d o uma nova fórmula comp 1 e-
Coube a Rousseau o mérito de ter ena
trica, 0 que permitia aos ilumínistas interpretar cada retrocesso e cada , . , t a abarcar muitos fe-
desvio como um pass o que somente ace 1 erana · os mentar para o progresso e o declínio, que esta ap ª .
progressos fu ruros. Esse nômenos da nossa modernidade. Em seus dois discursos, ele tematJzou
esq��ma de pensamento é aplicado ainda
hoje sempre que as ideologias as contradições que aos seus olhos, pareciam P
. redominar entre, de um
pohticas subscreve .
. ª
m um progresso linear, o qual, embora marcado por 1 d ' ·
a o, o desdobramento progressivo d a arte e
da ciência e, do outro, ª e-
. .
d
interrupções extrai 1 iti id d ,
egr 1m1 a e pohtica da sua própria inexorabili d a d e. b .
' . . - bém perm1t1am esta e 1 e
No entanto, as coisas - e · sintegração dos costumes; tais contrad1çoes tam . . . . d
nao pararam por aqui. Perguntemos então: on d e 101 esses c1vil1zatónos e, o
parar esse conceito de d lí . d , ? cer uma correlação entre, de um lado, os progr tensões,
(Para ter urna ec mio, e decadência ou até mesmo de ruma. . A fim de expli car essas
noção da . outro, a crescente desigualdade po lí uca. . .. ,
d resposta, basta pensar em A decadência do OCi- R0 · que poderíamos
d
ente, e Owald Spengler.)
t d . . . d
ª
usseau cunhou uma nova expressao, per'ectib1ltte. 1' . a
o "capac1da d e par O aperfei-
O declínio sempre ress . . o ra uzir de forma um tanto desa1e1ta a com . . " Como disse
reprodução d d clí . urge, seja como aporia do progresso, seja coro " erfecubihid a d e ·
Çoarnento" ou então simplesmente como P da natureza por uma
brar que em: e mio pelo próprio progresso. Primeiro, devemos íern- Nov a 1·is: «J\s pessoas dos outros seres
' ora ffill.ltos pro · do distinguem-se
---- gressos fizessem parte da experiência
(rápida) progressividade, ou perfectibilidade:•zo
" Franz Hitze D.
. • re socia/e Pra e .
182 7
: p. · ,g u,id die Bestrebu"ge" zu ihrer Lõsung, Paderborn, 187 ' ;;:;­­­
ammelte Werke. v. 3. i 968, P· 668.
ovahs, Fragmente und Studien 1799­1800, Ges

184 185
HISTORIAS DE CONCEITOS
REINHART KOSELLECK

queda, não pode ser comprovada - do contrário, já te-


se
A capaciid a d e d e aperfeiçoar,.
a perfectibilidade, era para Rousse
. . . au em uma acelerada
. , . di s ti
m gue dos animais tanto o ser humano md1V1dua) qu
. . an. ríamos encontrado o fim há muito tempo. Por outro lado, não existem, em
O mter10 que
como um todo. Essa perfectiblidade não era u princípio, )imites para a perspectiva do futuro. Contudo - e Kant nunca
to O genus I1umanu m , . . rna
. -0 his. tórica e empinca, mas antes uma categoria antropolog' · ocultou isso -, abre-se ao mesmo tempo a perspectiva "para uma sequên-
d etermmaça 1- "22 N esse sentiid o, K ant se manteve fiel a Rousseau.
aoumea- t hjstori·' ca · Definia o objetivo básico do ser humano como s � eia infinita de ma 1 es .
.
histórico, como condição de toda história possível. O ser humano está foi, portanto, o modo contrafactual de visão usado por Rousseau que
a ser o primeiro a reconhecer a aporia do progresso. E justa-
condenado a avançar, a concentrar todos os seus esforços na tentativa de O capacitou
dominar as forças da natureza, a erguer no seu dia a dia andaimes civílj. mente porque não pode ter fim que o progresso eleva a probabilidade da
zatórios, a organizar-se politicamente para poder viver e desenvolver sua deterioração [ Verfal/J ­ expressão que já não deve mais ser lida como
indústria com o crescente uso da razão. Mas essa soma de progressos é metáfora natural, mas no sentido de catástrofes que o ser humano agora
apenas um dos lados do balanço. O outro revela a perda da inocência é capaz de provocar por conta própria, com a ajuda do seus poderes de
natural, a desintegração dos costumes e a instrumentalização da lingua- domínio técnico.
gem com prejuízo para a unidade entre o sentimento e a razão. o pro- No entanto, foi outro outsider, Nietzsche, quem escrutinou a estrutu-
gresso, portanto, gera decadência. ra aporética do progresso de novo e de maneira ainda mais provocadora
Não se quer aqui investigar o componente crítico-cultural ou neuróti- do que a de Rousseau. Nietzsche valeu-se do "progresso" e do "retroces-
co ddean-)a�ques Rousseau. Apenas uma coisa deve ser aclarada: a per- so" como categorias de diagnóstico, ao mesmo tempo em que as desmas-
fectibilidade e um conceito temporal de compensação. Ao mesmo tempo carava como ilusões históricas e perspectívicas, mesmo que apenas para n23

em que dispõe do seu potencial de aperfeiçoamento, o ser é capaz de (na "infundir o desejo do fim naquilo que se degenerou e preten d e morrer.
verdade,
. está condenado a) sempre pro d uzf. r a dissolução,. a corrupção e Mas interrompamos aqui o raciocínio" e voltemos o olhar para trás.
. .
o cnrne. Mais amda • já que O progresso é irreversível, . O conceito de progresso desempenhou um papel histórico singular.
. algo que Rousseau
a d rmte, abre-se, com o decorr d O Pois nele está contida a ideia segundo a qual, desde a industrialização e a
ser hum , . er tempo, uma tesoura. Quanto mais o
ano e o b ngado a se a f . d O ponto de vista civilizatório, tecníficação, as condições de nossas experiências passadas nunca bastam
maior tarnbé , per eiçoar des_de
. ª
m sera a probabilid d d
e e que ele perca a sua integridade." para prever as surpresas e as inovações vindouras. verdade que, É

Assim Ro
o século XV III, o progresso gera uma coerção para o planejamento, �
CUJ S
• usseau instaurou um d 1 -
hipotético, que é ad d mo e O de reflexão, conscientemente
equa o para comp d metas, no entanto, sempre precisam ser redefinidas por causa do conti-
riência na modern·d d . reen er muitas dimensões da expe-
o progresso que reprod
ª 1 e, ou seja em , .
' . nosso propno tempo. É justamente
nuo surgimento de fatores novos. O conceito de progresso captura exata-
, uz as manifesta · d di mente aquela experiência típica do nosso próprio tempo moderno, que
atnib uidas especifi camente a ele ró . çoes e issolução que devem ser · · · iveis e que diricilmente podem
gresso - basta lemb p pno. E quanto mais poderoso o pro- repetiid amente revelou noviid a d es LTílprevlSI
· ·sibilidade em conta
de gas · .
-, maior també
ª
rar b omba atômic , . •
a, as armas quumcas e as camaras
ser comparadas com o passado. Levar t ai ímprevi
· de progresso, de forma
d
K
ant também levou isso
ª
m capacidade h
umana de produzir catástrofes.
tornou-se algo central para o conceito mo ern O
. . d
_ .
t bilizador e em relação a
era uma Ob . em conta quand 0 . que esse conceito já adquiriu um s1gni6 ca o es a •
ngação moral di considerou que o progresso . fi ça no progresso que nos
para algO e isso dedu · própna modernidade, conservador. A con an
melhor . zru que a humanidade avançaria
t ese do de I' . porque era o b ngada
e 11110 constante ª avançar, De acordo com Kant, a
' segu n d o a qual o " Kant, Das Ende a/ler Di11ge ( 1794), AA 8. P· 334ss.
,., N· · · 1 1885 35 (82), Kriti» ,,e
' 1 Stud,··na11sgabe
1,
� mundo se aproximaria do fun ietzsche, Nachgelassene Frag,ne,itt, n1a1.�1u · '
• ' '

. tarob1nsk.i na antol . 547


org, G. Colli e M. Montinari, 2• ed .. Munique, 1988, v. II, P· ·
og1a acima men .
c1onada (anotação 2). " e,·, Bernhard Lypp na antologia menc,ona · d a acrírna (anotaçao 2).

186 187
REINHART KOSELLECK
HISTORIAS OE CONCEITOS

ficado, de certa forma, fora de mod


re adiante tem a, ernb Abstraindo-se o desnível espacialment e esc al onado ent
1 eva semp completamente injustificada. ora
não se tenha tornado tão divergentes, permanece vailíd , res os progres-
sos doravante I o o cálcul 0 ·
distinguia-o a capa�idade de tematizar a pró ri vez por Rousseau . A s oportunidades .
A princípio, porém, lizado pela primeira e imanente
, . rea-
A transformaçao do mundo estam ental Pd ia
singularidade da mudança. . destruição em massa aumentaram paralel amente as , as
conqui t . ·1·
técnicas de
com suas recorrentes carestias, numa . o.
minado pela agricultura, . soc1edad -
rias e já 'ª
se transformaram em realidade I go que pode vir s as cívilizató-
·
industrial moderna e tecrucamente reconfigurada, foi algo sin e
cada vez mais na medida em que cada ª
vez mais maos tem ace se repetir
. . .
transcorrida até então. Com a aceler açao 8:"ar,
crese
comparada a toda história . . , e
armas atômicas, biológicas químicas.
sso a novas
cente. novos espaços foram conquistados, nao so pela explora .
çao extra. s- Resta-nos a chance de voltar o nosso olh ar para as experiências de
. . .
, .
planetana, mas, sobretudo, por meio de melhoras na mobild i ade e
tempos passados
.
para relativizar historicament e o progresso a partir da
ascensão social das massas, no incremento do consumo e n o conforto na que conhecemos. Permanece insupe rave, 1 a ,formulação . an-
. . perspecuva .
.
para quase todos. Por fim. a expectativa de vida foi prolong d ª ª
a quase 0 tiga daquele conhecimento
.
segundo o qual • para id d d
um a es e açao idên- . .
triplo da que era o caso na Idade Média. ticas, cada ascensao costuma ser seguida pelo declíni10,. ou, para umid ades
Mas tudo isso vale de modos diferentes em termos d e um escalona de ação diferentes, a ascensão de uma costuma implicar O declínio da
.
mento espacial e temporal. Os mencionados fenómenos d . · outra. (Além disso, também não se deixa refutar a interpretação cristã do
, 1 e avanço irre
fu tave ístn uern-se desigualmente entre os diferent es estratos sociais .
d. ib "profectus" para a atitude e disposição em contraposição a todas as con-
permanecem limitados ao espaço atlântico ' à E uropa e a, Amenca
, . de fusões deste mundo - pelo menos no que tange às pessoas que sabem que
N orte, com exceções do Japão e de outras áreas existentes dentro d o são afetadas por elas.)
_as
outros continentes. A maior parte do planeta é ouco af os Impõe-se, por isso, a conclusão de que o progresso da modernidade
progresso, ou apenas o é de maneira negativa. p erada por esse - a despeito da sua pretensão universal - repercute apenas wna experiên-
cia parcial que permanece consistente em si mesma, embora, por razões
. Em termos de uma política do poder, é fácil fazer u
no. As relações entre as unidades d • , . m cálculo contra-
p�lit1ca no nosso planeta já não compreensíveis, se sobreponha a ou obscureça outros modos de expe-
e açao riência. Evidentemente, na história humana há estruturas de longo prazo
podem mais ser compree n did i as d e modo linear e
que uma .
única progre ssao. A retração . m uma escala que mar- que persistem sem que sejam minimamente afetadas pelo progresso téc-
do pod .
te tão central gerou eno europeu, anteriorrnen- nico-industrial.
• gran d es desproporçõ
e poder político Cri . es entre progresso civilizatório Isso poderia ser demonstrado nas discussões travadas entre os pro-
. iou-se aqui u di
Valéry diagnosticou co ma íscrepâncía que, em 1919, Paul gressistas já desde o século XVII. Pois, na medida em que nossa categoria
m uma clareza surp reen ente. z Antigamente mo-
d 5
d e I O e precursora de t
d era carregada com sentido, descobria-se também a discrepância existente
. o o avanço a Eu .
d etenorar-se. ' ropa Viu o seu papel de liderança entre o progresso técnico-civilizatório e a postura moral do ser humano.
Surge então a er
grandes potências euro . p _gunta se a autodestruição imperialista das Observava-se repetidamente que a moral está sempre atrasada em rela-
bal • d e modo
que també . ª
peras nao estaria se reencenar em extensão glo-
ção à técnica e ao desenvolvimento progressivo desta.
revelari arn ao mesmo m aqui as condíç oes
tem
· d e um possível
, avanço se Esse foi O ponto de partida de Hobbes quando centrou todos os seus
po como os grand Ob o Estado, regras tão certas quan-
,..-:--P--
a --- .
es stáculos ao avançar. esforços na tentativa de encontrar. para
u Valery, La crise de /' to as da geometria. Kant partiu do pressuposto de que a civilização já
,

t. 1, p. 988-1040 Cf tam �prit, <Iuvr. ed Jean H . seres humanos como seres


·
bem
Heidelberg, 19 'P-11 lss "Dí Hanno
Kes� ytíer, Bibliotheque de la Pléiade, 1968,
.
h avia progredido em excesso, enquan o os
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Gr u,i ·· 59
dzuge seine.s ' ie Krí ng, Geschichtsph I·1osophie
•sedes . und Weltbürgerkrieg, . , ogresso mediante grandes
ph I"/osophischen De L. Fons e hri ttsglaubens". e Karl Lõ tth n 1 ., lérv. morais, so seriam capazes de alcançar esse pr .
schichte und d er n...,ns, Gõrtín • wi , rau va /' de forma acelerada caso quisessem aJustar
Geschich - e teriam de o fazer
tsschreibung•• p · 89 -113. gen, 1971, capítulo IV:' "Kritik der Ge- esforços

189
188
REINHART KOSELLECK

IX.
a moral ao nível atingido pelos conhecimentos técnicos. E també
'
século XIX ' era comum a alegação
. .
de que a técnica e a indústria c m no
orria111
oeslocando os limites
. da eman c1pacao·
· -
enquanto a moral ficava para trá um esboço h1stórico-conceitual· ·
apressadas em progressão geometnca,
com sua marcha em progressão aritmética. Essa . discrepância
, . _ q ue per.
as,
tence manifestamente ao progresso
.
desde os pnmord.ios
. - perfaz a�
de não conseguir se colocar à altura daquilo que ele mesrn
aporia: a nun� não ameaça e não domina os seus servos , nenh um d e l es la-
elevou. Ou, em outras palavras, a de que a planificação do progresso "Se O senhor .
e trabalha com honestidade e diligência. Vê·· Zeu s proviid entemente
ca é capaz de seguir naquela direção em que o "progresso em si" sere a1·1· b u ta"
cada homem metade da sua aretê ' quando O e mara nh a na ser-
zaria independentemente das cabeças das pessoas envolvidas. rou ba de
vidão:' A servidão [Knechtschaft], portanto, reduziria à metade a diligên-
de um homem. Essas palavras do fiel pastor Eumaio diri-
cia ou virtude
gidas
a Ulisses (P, 320ss) descrevem um estado de coisas que, desde
então, marcou a história do mundo de múltiplas formas. Um servo é
meio ser humano, um ser dependente do senhorio [Herrschaft).
apenas
ou melhor: o servo subjugado a um senhor transforma-se em meio ser
humano. As afirmações quantificadoras podem apresentar variações e
não devem ser interpretadas apenas metaforicamente.
No início da Idade Média, o Werge/d• podia baixar a apenas 1/3 ou
à metade daquilo que podia ser reivindicado para um senhor livre em
função do sexo ou do grau de liberdade da vítima. O juramento de um
só nobre pesava o mesmo que o de vários camponeses somados. Em
1787, quando falhou a tentativa de incluir a libertação dos escravos na
Constituição americana, a contabilidade eleitoral passou a adicionar a
cada proprietário um número correspondente a 3/5 dos seus escravos
(art. I. 2). E quando, na Prússia, a servidão e o trabalho forçado foram
abolidos, a escola liberal assumiu que a produção dos libertos aumentaria
de um fator de 2/3 para l. Também a teoria da mais-valia, apropriada
pelo capitalista explorador, pode ser integrada a essa sequência de afir-
mações quantificadoras. metade 2/3, ou
lifi do Como
I n d ependentemente de o servo ser qua ca '
3/5 de ser humano, ou de a humanidade lhe ser negada por completo, ou
. · derado um obJeto, o
ainda, como no caso do escravo, de e 1 e ser cons: .
, ( ar de muitas e protun-
.
d iagnostico estrutural permanece o mesmo apes

• . ômica exigida de algutm que co-


. _
Na tradição do direito germânico, a compensaçao econ,
meteu um delito grave, normalmente um assassinato. [N. I.]

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