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Escrituras
Um comentário brasileiro da CFB1689 – 1.1
Marcus Paixão
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As Sagradas Escrituras
Um comentário brasileiro da CFB1689 – 1.1
Por Marcus Paixão
Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,
desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo
nem o utilize para quaisquer fins comerciais.
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Prefácio
Portanto, regozijo-me profundamente pela presente publicação desta que, pela graça
de Deus, será uma série de comentários da nossa amada Confissão. Esta publicação inicial
traz um comentário do fiel primeiro parágrafo de nossa Confissão, cuja frase de abertura é:
“As Sagradas Escrituras são a única, suficiente, correta e infalível regra de todo
conhecimento, fé e obediência salvíficos”. Esta frase é o grande prefácio e fundamento de
toda a Confissão Batista. É talvez a frase mais importante de toda a Confissão. Uma
compressão correta desta gloriosa afirmação determinará a piedade e veracidade da nossa
fé e vida, é justamente essa compressão correta que o autor buscar trazer no presente
comentário.
O autor do comentário é alguém a quem sou muito grato. Grato por ele permanecer
fiel e ser corajoso o suficiente para estudar e falar sobre as antigas doutrinas Batistas
mesmo quando elas eram praticamente desconhecidas ou abertamente negadas. Grato por
ter cuidado de si mesmo e da doutrina, e por assim se fazer um instrumento de Deus para
abençoar Seu amado povo com uma exposição fiel das Sagradas Escrituras. Sou grato
pelo seu trabalho, todavia, sei que isso não vem dele mesmo, é fruto da “graça de Deus,
que está com ele” (1 Coríntios 15:10).
Por fim desejo fazer um apelo aos Batistas brasileiros para que se dediquem a estudar
e conhecer as antigas doutrinas e teologia dos primeiros Batistas Particulares encontradas
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Apeguem-se fortemente à Palavra de Deus que está aqui mapeada e comentada para
vocês!
William Teixeira,
23 de junho de 2018.
1
Estas Confissões não são aquilo em que nossa fé se baseia, mas são somente instrumentos pelos
quais declaramos, isto é, confessamos, em que nossa santíssima fé realmente se fundamenta, que
é em Cristo Jesus, segundo todas as Escrituras testificam.
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Parágrafo 1
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Parte dessa sentença está exatamente igual ao texto da primeira Confissão Londrina
ou Confissão de Fé Batistas de 1644, que registra que as Sagradas Escrituras são a “única
regra de todo conhecimento, fé e obediência salvíficos”. Esse texto foi retirado da
primeira confissão e alocado na segunda confissão dos Batistas. Não consta nem em
Westminster e nem em Savoy. 2
A compreensão que os Batistas têm da Bíblia é que ela é um texto sagrado, por isso
descrevem-na como “Sagradas Escrituras”. O significado não é difícil de entender: para
os Batistas, bem como para o Protestantismo Reformado e Puritano dos seus dias, a Bíblia
estava acima de qualquer obra humana. É um texto divino, soprado (inspirado), separado
e autorizado por Deus aos homens. É, sobretudo para os Batistas, a única regra a ser crida
e obedecida:
Não há lugar para outro texto sagrado no pensamento batista, visto que a Sagrada
Escritura é tida como a “única regra suficiente, certa e infalível”. De fato, o grande
princípio da Reforma do Sola Scriptura (somente pela Escritura) pode ser
argumentado como tendo sua expressão mais completa com os Batistas do que com
qualquer outro grupo protestante (SMITH, p. 6).
O termo “única regra” não diz respeito apenas a outros textos, em comparação com
as Sagradas Escrituras. Vai muito além, sendo uma comparação completa e abrangente
com qualquer outro tipo de regra que se possa imaginar. Samuel Waldron, numa breve
introdução ao primeiro capítulo, lembra que a Confissão Batista foi desenvolvida tendo em
2
Uma Comparação Tabular entre a Confissão de Fé de Westminster de 1646, A Declaração de Fé
e Ordem de Savoy e a Confissão de Fé Batista de 1677/1689. Sem número.
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vista o fogo das controvérsias que o Protestantismo Reformado travava com o Catolicismo
Romano e seitas radicais, como os Anabatistas:
3
Nesta nota inicial da Confissão Batista de 1644 lemos uma declaração que desqualifica qualquer
pessoa a insinuar uma ligação dos Batistas com os Anabatistas. Era exatamente assim que os
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Outro ponto merece destaque quanto ao uso do termo “única regra” pela Confissão
de 1689. Gary Marble acertadamente lembra que “pelo uso da palavra ‘única’ nós somos
lembrados da doutrina do Sola Scriptura (em latim, ou ‘Somente a Escritura’, em
Português), essa doutrina que, na verdade, foi um princípio da Reforma, é o foco de todo
este capítulo”.4 De fato, a ênfase do capítulo 1 é assegurar o leitor que, para os Batistas,
as Escrituras estão em posição elevada, e nada menos do que aquilo que o “Sola Scriptura”
representa está assinalado aqui.
As Sagradas Escrituras são a única regra “suficiente, correta e infalível”. Essas são
qualidades que são exclusivas da Bíblia no que se refere ao conhecimento de Cristo, que
conduz à vida eterna, à fé e à obediência. A confissão da suficiência da Escritura Sagrada
descarta qualquer fraqueza que se possa pensar existir nela, até mesmo a ideia de
“incompletude” está afastada, rejeitando qualquer coisa que possa ser usada para
complementá-la. Aqui, mais uma vez, porém usando uma só palavra, a Confissão descarta
qualquer outro tipo revelação ou texto sagrado que possa ajudar alguma pessoa quanto à
salvação.
Aqui é importante frisar que se tem em vista o texto original autógrafo da Escritura,
que saiu da pena do autor movido pelo Espírito Santo. Essa afirmação não pode ser dita
acerca das diversas traduções nos variados países e em variadas versões, e nem mesmo
se refere aos milhares de manuscritos do Novo Testamento e do Antigo Testamento
preservados em museus espalhados pelo mundo.5 Somente a Escritura autógrafa pode ser
considerada infalível, visto que até os textos que foram copiados das Escrituras originais
apresentam variação entre si, como pode ser observado no exercício da crítica textual, não
ingleses, em sua maioria, entendiam. Eles fizeram questão de esclarecer com essa nota sua total
desarmonia com esse grupo. A ideia de que a origem dos Batistas remonta aos Anabatistas ainda
é defendida por um grupo reduzido de historiadores.
4
Um Comentário da Confissão de Fé Batista de 1689: Introdução e Capítulo 1.
5
Isso não implica dizer que as nossas versões e traduções bíblicas não são confiáveis. A Crítica
Textual já provou que o texto da Escritura que temos em mãos é totalmente confiável, e as variantes
textuais, além de representarem um cenário minúsculo diante de todo o texto bíblico, não estão
relacionadas a problemas teológicos que poderiam comprometer nossa compreensão.
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podendo se estabelecer com total precisão qual é o texto original. A problemática aqui não
é o texto fonte, mas os pequenos erros de escribas e copistas que se perpetuaram ao longo
da transmissão do texto bíblico.
A palavra que vem em seguida ajuda a definir que a fé mencionada pela Confissão é
a doutrina cristã revelada na Escritura, pois “fé” vem acompanhada de “obediência”.
Obediência às afirmações, ordenanças, e a todo o conjunto de ensinamentos da Escritura.
6
A Modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of Faith, p. 30.
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assim, não são suficientes para oferecer aquele conhecimento de Deus e de Sua
vontade, que é necessário para a salvação”.
• A luz da natureza
• As obras da criação
• A providência divina
Note que a afirmação da Confissão de que Deus pode ser conhecido a partir desses
modos de revelação está em perfeita concordância com o ensino do apóstolo Paulo em
Romanos 1:19-21, 2:14-15. Essa afirmação dos Batistas também pode ser corroborada
com passagens do Antigo Testamento que afirmam que Deus está revelado nas obras da
criação do mundo físico (Salmo 19:1-3). Ainda que a Escritura afirme a revelação de Deus
nesses modos, esse tipo de revelação é insuficiente e não pode ajudar o homem quanto ao
conhecimento salvífico de Deus, e, o máximo que ela pode revelar é que a existência de
Deus é inegável. Hodge diz que “em certa medida” tanto a natureza quanto o caráter de
Deus podem ser reconhecidos a partir desse modo dEle revelar-se.7
Mas o que significa esses três modos de revelação divina? A luz da natureza e as
obras da criação são a mesma coisa ou são modos de revelação distintos? O que os
Batistas pretenderam dizer com “luz da natureza” como uma forma de Deus revelar-se?
Não penso que aqui haja uma referência ao conhecimento externo que emana das coisas
criadas (a natureza de um modo geral), porque esse conhecimento, que de fato está
presente da criação, pode ser subtendido na sequência do texto, quando se fala das “obras
criadas”, o que me parece ser um segundo modo descrito de Deus revelar-se.
Não concordo com a ideia de que nesse ponto temos um uso sinônimo de “luz da
natureza” e “obras da criação”. Portanto, “a luz da natureza” deve estar se referindo a
outro tipo de fonte de conhecimento sobre Deus, distinto do conhecimento externo que a
criação em si mesma transmite.
7
Confissão de Fé de Westminster Comentada por A.A. Hodge, p. 49.
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Os textos que a Confissão utiliza como referência para sustentar suas afirmações
quanto às maneiras que Deus Se revela são os seguintes: Romanos 1:19-21, 2:14-15;
Salmo 19:1-3. Em Romanos 1:19-21, Paulo vai alegar que Deus revela a sua “própria
divindade” e os seus atributos “por meio das coisas que foram criadas”. E acrescenta que
os homens “tendo conhecimento de Deus” são indesculpáveis. Aqui temos o que a
Confissão Batista entende por Deus Se revelar através das “obras da criação”. A
providência divina também é visível na linguagem paulina. Assim, “os atributos invisíveis de
Deus” bem como “seu eterno poder”, podem ser vistos não apenas pelo ato de Deus ter
criado, mas pela atuação de sua providência em preservar a criação. A criação está em
pleno “funcionamento”, ela é mantida ativa por um poder “invisível”. O sol gera calor, os
dias se sucedem perfeitamente, bem como as estações do ano, que proporcionam frio,
calor, chuva, neve e gelo. Tudo funciona numa ordem perfeitíssima e sapientíssima. Aí está
a providência de Deus em ação, ou os “atributos invisíveis de Deus e seu eterno poder” em
operação. Dessa forma fica evidente que a Confissão utiliza o texto de Romanos 1:19-21
para demonstrar dois modos de Deus se revelar: a criação e a providência.
No texto de Romanos 2:14-15 Paulo fala que os gentios, que nunca ouviram falar da
Escritura (lei), “mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a
sua consciência”. O ponto de Paulo é provar que Deus criou o homem com a lei impressa
em sua consciência. A consciência, ou os pensamentos, o coração, acusam o homem em
certa medida. Portanto, “luz da natureza” pode ser perfeitamente entendido como a
consciência humana. Ou, em outras palavras, um conhecimento imputado à consciência
humana sobre a existência de Deus e da moralidade.
8
A 5ª edição do Catecismo Batista foi publicada em 1695, apenas seis anos depois que a própria
Confissão de 1689 foi impressa. Outras edições foram publicadas anteriormente, visto que essa é
a quinta edição. Conforme observou o Dr. James Reniham, na introdução à nova edição americana
da exposição de Beddome, o Catecismo Batista segue o mesmo modelo do Breve Catecismo de
Westminster. Ele também é conhecido como Catecismo de Keach.
9
Catecismo Batista, 1695.
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Essa pergunta tem como base o trecho da Confissão que trata da insuficiência da
revelação geral, especialmente a luz interior que existe em cada ser humano. Observe que
a resposta do Catecismo Batista quanto ao significado de “luz da natureza” é o mesmo
que propomos, pois o Catecismo chama de “a luz da natureza no homem”, uma referência
à consciência humana da divindade. Comentando essa resposta do Catecismo, Benjamin
Beddome escreveu em 1776:
Existe uma luz no homem? Sim. O espírito do homem é a luz (lâmpada) do Senhor
(Provérbios 20:7). Essa luz está obscurecida pela queda? Sim (Efésios 4:18). Ela é
suficiente para nos ensinar algumas coisas? Sim (1Co 11:14). Ela nos ensina algo
sobre o ser de Deus? Sim (Romanos 1:19). Mas esse conhecimento que ela oferece
tem muitas dúvidas e incertezas? Sim (Atos 17:27). E há muitas coisas sobre Deus
que ela nem pode revelar? Sim (1Co 2:14) (BEDDOME, p. 4).
Os Batistas confirmam esse ensino da luz interior no homem com a Confissão de 1689
e com o seu Catecismo. O comentário de Beddome é decisivo, pois ele, interpretando a
Confissão, afirma que há uma luz interior no homem.
O que me deixou ainda mais convencido desse ponto foi a associação muito similar
de escritos da mesma época da confissão de 1689 (escrita, na verdade, em 1677 e
publicada em 1688,10 e popularizada em 1689). Gary Marble cita, por exemplo, um texto do
Credo Ortodoxo, de 1679:
“Artigo trinta e sete do Credo Ortodoxo (não confunda com os antigos credos
ortodoxos) afirma: ‘Nem ainda acreditamos que as obras de criação, nem a lei escrita
no coração, a saber, religião natural, como alguns chamam, ou a luz interior do
homem, como tais, são suficientes para informar o homem sobre Cristo, o Mediador,
ou sobre o caminho para a salvação, ou a vida eterna por meio dEle’; Isto foi escrito
10
A Segunda Confissão de Fé Batista de Londres foi emitida de forma anônima em 1677 por causa
da perseguição que os Batistas Particulares estavam sofrendo, foi republicada abertamente em
1688 e popularizada em 1689. Em seu livro Quem Foram os Puritanos?... e o que eles
ensinaram?, Erroll Hulse, afirma o seguinte: “Quando as condições melhoraram em 1688 foi
possível publicar a Confissão que havia sido formulada anteriormente [i.e., em 1677], mas a
perseguição sofrida impediu-a de ter uma grande circulação. A Confissão de 1677 tornou-se
conhecida como A Confissão de Fé de 1689 somente pela maior divulgação que recebeu naquela
época”. HULSE, Erroll. Como os Batistas se relacionam com os Puritanos? (Anexo II). In Quem
Foram os Puritanos?... e o que eles ensinaram? 1ª ed. São Paulo: Editora PES, 2004, p. 233. –
N.doE.
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em 1679, apenas dois anos após a estruturação da Confissão Batista de 1677. Esta
declaração certamente parece corresponder ao conceito de luz da natureza”.11
Dessa forma, compreendo que a confissão trata de três modos distintos, mas
insuficientes para a salvação, de Deus se revelar:
• Deus Se revela por meio da criação, que declara visivelmente “que Deus existe”;
• Deus Se revela por meio da Sua providência em sustentar e governar Sua criação
com o Seu grande poder.
Smith argumenta bem quando lembra que a revelação geral é tanto suficiente, como
insuficiente: “enquanto a “revelação geral” de Deus (como é chamada) é suficiente para
deixar pecadores “inexcusáveis” quanto ao fato de que Deus existe; entretanto, ainda
assim, ela não é suficiente para levar pecadores ao conhecimento da redenção” (SMITH,
p. 8).
11
Um Comentário da Confissão de Fé Batista de 1689: Introdução e Capítulo 1, p. 17.
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Destaco três pontos importantes: primeiro, houve um tempo em que essa revelação
redentiva não estava escrita. A revelação foi dada aos homens, mas não foi escrita
imediatamente em forma de Escritura Sagrada. Segundo, essa revelação redentiva em sua
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forma pré-escrita estava apenas parcialmente revelada, pois é preciso levar em conta a
progressividade da revelação, que só foi concluída no Novo Testamento, quando o último
livro da Escritura foi escrito, no último quarto do primeiro século d.C. Terceiro, essa
revelação redentiva também estava revelada na forma de tipos e sombras, e não da forma
mais clara possível. Essas observações apontam para a superioridade da Escritura
Sagrada em comparação com a revelação redentiva pré-escrita.
A Confissão também destaca que Deus Se revelou “de muitas maneiras”. Modo ou
maneira diz respeito à forma como a revelação foi apresentada. A citação da Confissão é
o texto de Hebreus 1:1, “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas
maneiras, aos pais, pelos profetas”, o que atesta a variedade de modos como Deus se
revelou no passado às gerações de crentes. As expressões “outrora” e “muitas vezes” no
texto de Hebreus reportam ao que a Confissão diz com “diversas ocasiões”. A NVI traduz:
“Há muito tempo Deus falou muitas vezes...”. Gary Marble diz que a Confissão usou
literalmente uma tradução bíblica, provavelmente a tradução da King James. Penso que
apenas a essência da ideia foi posta na Confissão Batista.
12
Alguns consideram que Jó é o livro mais antigo da Bíblia, remontando à época abraâmica.
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“ouçam as minhas palavras: quando entre vocês há um profeta do Senhor, a ele me revelo
em visões...” (Números 12:6); (4) Através do Urim e do Tumim (1 Samuel 30:7-8). Todos
esses modos de Deus Se revelar compreendem um modo à parte da revelação escrita.
Ainda assim, são modos de revelação redentiva porque apresentam claramente Deus e
Sua vontade. E mais: revelam Jesus Cristo. Foi com esses antigos modos de se revelar
que Deus falou com os profetas.
A Confissão também acrescenta que Ele Se revelou dessa forma “para a Sua igreja”.
Mas como Deus Se revelou no período passado, na antiga dispensação, para a igreja? Na
antiga dispensação nós temos Israel, o povo de Deus. Israel é uma entidade política, uma
nação, e não pode ser concebido como sendo a igreja, que surge apenas no Novo
Testamento. Para Gary Marble, as palavras “à sua igreja” devem ser entendidas como “aos
eleitos”: “A referência à Igreja aqui é a todos os eleitos de Deus, em todas as eras, incluindo
o período do Antigo Testamento” (MARBLE, p. 19).
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nesse sistema”, ele acrescenta, “o federalismo de 1689 rejeita essa crença. Um dos mais
importantes princípios é que Israel segundo a carne é um tipo de Israel segundo o Espírito
(a Igreja)”.13 Portanto, para os Batistas de 1689, Israel e a Igreja são distintos, sendo o
Israel do Antigo Testamento um tipo da Igreja de Cristo, assim como o cordeiro era apenas
um tipo de Cristo, e não o próprio Cristo. Não há continuidade. O texto da Confissão pode
muito bem ser interpretado dessa forma, considerando Israel a igreja, mas de forma
tipológica e não literal.
13
O Federalismo de 1689 é uma Forma de Dispensacionalismo?, p. 4.
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A própria escrita hebraica apresenta sinais de que a tradição oral estava presente,
pois diversas histórias são contadas e recontadas logo em seguida, provocando uma
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repetição que pode ser vista hoje como desnecessária. Não se trata apenas de um estilo
hebraico, ou hebraísmo presente no texto. A repetição denuncia a própria presença milenar
da tradição oral:
Já se recorreu ao contexto oral milenar da narrativa bíblica como explicação geral para
seu modo de exposição repetitivo. Não é sequer necessário presumir, como tantos
estudiosos, que as narrativas bíblicas procedem de tradições orais milenares, pois, de
qualquer modo, é muito provável que tenham sido escritas, sobretudo, com vistas à
récita. Como várias indicações na própria Bíblia sugerem, as narrativas costumavam
ser lidas em voz alta a partir de rolos de papiro para algum tipo de plateia (parcialmente
analfabeta)... o único modo de fixar e destacar uma ação ou frase consistia em repeti-
la (ALTER, Robert. A Arte da Narrativa Bíblica, p. 140).
Essa tradição oral era frágil e não resistiria ao tempo. Além disso, o risco de ser
corrompida por outros povos era muito grande, e isso realmente chegou a acontecer. 14 O
processo de preservação da tradição oral da revelação redentiva não foi apenas humano.
Sem dúvida, a ação do Espírito Santo em preservar as Escrituras se estende e deve ser
compreendida na preservação da tradição oral da revelação divina anterior à Escritura.
Essa tradição oral depois foi auxiliada e transformada em “escritos”, que também foram
preservados ao longo do tempo, antes de se tornarem “Escritura” propriamente dita. 15
Esses escritos primitivos oriundos da tradição oral da revelação redentiva, e que serviram
de base para Moisés e outros autores bíblicos, não eram inspirados e não podem ser
considerados Escritura Sagrada. São, no máximo, apenas fontes que os autores usaram
para compor o relato inspirado, as Sagradas Escrituras.
14
Falando de uma perspectiva ortodoxa, que entendo ser a correta, a narrativa do dilúvio, por
exemplo, foi divinamente preservada na Escritura Sagrada, mas é fato que existem dezenas de
outras narrativas diluvianas que tem uma origem comum, mas que foram sendo repassadas às
gerações posteriores, e junto com sua transmissão, a tradição foi sendo alterada e adaptada a cada
povo. Porém, todas revelam elementos comuns: um dilúvio universal, a ira de um deus ou dos
deuses, um barco e um herói que sobrevive ao dilúvio, e outros pontos de semelhança com o relato
de Gênesis. Narrativas cosmogônicas também existem, apresentando semelhanças que indicam
uma fonte comum, mas que apresentam enormes alterações ou distorções. O relato da criação do
homem; relatos sobre Eva, sobre o pecado, sobre a serpente, indicam que havia uma história
primeva que descrevia todos esses acontecimentos, mas que houve corrupção na tradição oral
dessas histórias.
15
Não confundir com a Hipótese Documentária, do alemão Julius Welhausen, e todas as suas
hipóteses auxiliares, que, ao contrário, terminam por negar as Sagradas Escrituras.
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O fato de a Escritura Sagrada existir na forma escrita foi vital para que povos do mundo
todo pudessem conhecer a revelação divina. Por que a revelação redentiva está na forma
escrita, traduções são constantemente produzidas para variados dialetos.
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de ter a revelação escrita e poder consultá-la; a certeza que a revelação escrita proporciona
preserva das falhas e erros a que a memória pode nos conduzir. E mais: a certeza da
revelação inspirada é um auxílio à igreja, confortando-a contra a falsa revelação. Aqui,
novamente, é importante frisar que tanto a Igreja Católica Romana como alguns grupos
radicais da Reforma professavam algum tipo de revelação continuada, o que contradizia
muito da revelação redentiva.
As três colocações negativas devem ser lidas tendo em vista o termo “contra” no início
de cada uma delas. O termo surge no início da sentença, mas está implícito nos outros dois
casos. Por isso, a Escritura é indispensável contra a corrupção e a malícia que atacam a
igreja. Primeiro, “contra a corrupção da carne”, em seguida, a Confissão assegura que a
revelação foi escrita contra “a malícia de Satanás”, e, por último, contra a malícia “do
mundo”.
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Hoje ainda há diversas igrejas que alegam receber comunicação divina por meio dos
“antigos modos” em que Deus Se revelou no passado. “Profetas” e “profetizas” modernos
falam em nome de Deus e ousadamente dizem, a semelhança dos profetas bíblicos, “assim
diz o Senhor”. Sonhos e visões, que modernamente são chamados apenas de “revelações”,
ainda são anunciados em muitos contextos eclesiológicos, e até mesmo em muitas igrejas
Batistas não confessionais. Todavia, para os Batistas que produziram a Confissão de Fé
de 1689, esses variados modos de Deus comunicar-Se com a igreja ficaram no passado,
tendo Deus cessado esse tipo de autorrevelação.
Não existe nenhum tipo de conhecimento redentivo fora das Sagradas Escrituras.
Tudo o que é necessário para a salvação do homem foi encerrado na Escritura, esse é o
ponto afirmado pelos Batistas aqui. A colocação de Kurt Smith é precisa.
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FONTES BIBLIOGRAFICAS
ALTER, Robert. A Arte da Narrativa Bíblica. Companhia das Letras, São Paulo, 2007.
Sola Scriptura!
Sola Gratia!
Sola Fide!
Solus Christus!
Soli Deo Gloria!
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OUTRAS LEITURAS QUE RECOMENDAMOS
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2 Coríntios 4
1
Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2
Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
3
na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se ainda o nosso evangelho está
4
encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
5
de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
6
Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
7
para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
8
Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 10
Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
11
se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
12 13
nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
14
por isso também falamos. Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
15
também por Jesus, e nos apresentará convosco. Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
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Deus. Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
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interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação
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produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não OEstandarteDeCristo.com
veem; porque as que se veem são temporais, e as que se 25
não veem são eternas. Issuu.com/oEstandarteDeCristo