Você está na página 1de 311

O livro do pastor Fernando Angelim chegou em um

momento importante. Por décadas, se espalhou


erroneamente a informação de que os batistas nada tinham
com a doutrina calvinista da salvação. Depois que esse
frágil muro ruiu, com o surgimento de incontáveis livros e
documentos confessionais que provavam exatamente o
contrário, um novo muro foi erguido e uma nova afirmação
rapidamente surgiu. Agora, o calvinismo dos batistas era
reconhecido, mas negava-se que eles fizessem parte da
tradição reformada. “Os batistas não são reformados”
passou a ser ouvido em muitas partes. Essa também era
uma falácia, e mais uma vez os fatos provaram o contrário.
Os batistas são parte da grande tradição de igrejas
reformadas surgidas no século XVII, e a harmonia
doutrinária das Confissões de Fé de 1689, de Westminster e
Savoy são apenas uma parte do conjunto de evidências que
testemunha a favor disso.
Em tempos mais recentes, a teologia pactual batista foi
contestada. A negação do pactualismo batista veio,
principalmente, dos arraiais pedobatistas, e para muitos
batistas esse não era um assunto importante que
merecesse uma resposta; outros, inclusive, concordaram
com os pedobatistas e juntaram suas vozes às deles. Mas,
afinal, os batistas são pactualistas ou não? Em Teologia
Bíblica Batista Reformada, o pastor Fernando Angelim ajuda
a esclarecer esse assunto e a desfazer mais essa falácia. Os
leitores de língua portuguesa ganharam um livro valioso e
simples, que pode ajudar muito os batistas brasileiros,
especialmente os batistas reformados. Recomendo que essa
obra seja não somente lida, mas utilizada nas igrejas como
recurso para o ensino.
Marcus Paixão
Pastor da Igreja Batista Bom Samaritano – Teresina, Piauí
Fundador do Curso de História e Teologia Batista (CHTB)
Diretor acadêmico do Seminário Batista Confessional do Brasil (SBCB)

É difícil descrever brevemente o quanto o livro Teologia


Bíblica Batista Reformada, do meu amigo, pastor Fernando
Angelim, é imprescindível à igreja batista brasileira,
especialmente às igrejas batistas reformadas, cuja
identidade foi perdida. Em meio ao mar de confusão
eclesiástica e teológica em que vivemos, a
confessionalidade é o antídoto germinado desde a Reforma
Protestante. Aprendemos, nesta obra, que ser uma igreja
batista reformada vai muito além dos Cinco Solas da
Reforma ou dos Cinco Pontos do calvinismo, e que ser
pactualista não significa necessariamente ser pedobatista.
Portanto, assumir a confessionalidade consolidada pelos
batistas puritanos do século XVII fornecerá a identidade,
solidez e segurança histórico-teológica de que nossas
igrejas carecem urgentemente. Aproveite cada página e
consolide sua identidade eclesiástica!
Elivando Mesquita
Pastor da Igreja Batista Reformada em Russas – Ceará
 

Foi com grande alegria que recebi a notícia de que meu


amigo, pastor Fernando Angelim, teria sua obra sobre o
valiosíssimo tema do federalismo batista reformado
publicada pela respeitável editora O Estandarte de Cristo.
Angelim tem se mostrado um fiel ministro do Evangelho,
tanto na pregação quanto em seus livros, sempre
apontando para Cristo como meio de chegarmos a Deus e
vivermos para Sua honra. Uma de suas características é
escrever de forma simples, didática e direta sobre assuntos
essenciais e difíceis, o que os torna acessíveis a um grande
número de pessoas.
Ora, o assunto da presente obra é fundamental, ainda
mais para nossos tempos de grande confusão nessa área.
De fato, a doutrina das alianças é básica para a correta
interpretação das Escrituras, tocando em todo o corpo
teológico e áreas da vida da igreja. Estou convencido de que
a linha seguida por Angelim é bíblica, e é exatamente a
mais negligenciada, mesmo entre batistas, trazendo grande
prejuízo para as igrejas. Resgatar essas verdades é
fomentar a restauração da boa doutrina em cada aspecto. O
livro do pastor Angelim cumpre esse papel. E aqui, o talento
para a simplicidade do nobre escritor se evidencia mais uma
vez. Ele desenvolve o assunto com base nas Escrituras de
forma lógica, tornando-o claro na medida em que se lê,
mesmo para aqueles que estão lidando pela primeira vez
com o tema. Portanto, é com grande prazer que indico esta
obra, acreditando que esta publicação se tornará uma
importante introdução para os que queiram conhecer o
federalismo bíblico batista reformado. Oro que seja assim,
para a glória de nosso amado Redentor e o bem de Sua
Igreja, que resgatou com Seu sangue.
Manoel Coelho Jr.
Pastor da Congregação Batista Reformada de Belém – Pará

Como um caudaloso cometa em meio a densas trevas, este


tomo traz de volta parte importante de nossa tradição
batista reformada: o aliancismo como fundamento
hermenêutico de nossa teologia! A Confissão de Londres de
1689 (originalmente 1677) adotava este viés hermenêutico,
irmanada à Westminster e Savoy. O Rev. Fernando Angelim
nos ilumina com um estudo sério e profundo de nosso
aliancismo batista com suas similaridades e distintivos. Aos
que pouco conhecem nossa história, este trabalho será um
facho de luz. Que Cristo Jesus continue a iluminar nossos
dias com obras deste calibre!
Prof. Dr. D. B. Riker, Ph.D.
Pastor Presidente, Primeira Igreja Batista do Pará
 
 
Título Original

Teologia Bíblica Batista Reformada:

Uma Introdução Baseada na Confissão de Fé de 1689


Por Fernando Angelim

Copyright © 2020 Fernando Angelim.

Todos os direitos reservados.


Copyright © 2012 Editora O Estandarte de Cristo
Francisco Morato, SP, Brasil


1ª edição em português: 2020


Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora O Estandarte de
Cristo. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações,
com indicação da fonte.


Salvo indicação em contrário e leves modificações, as citações bíblicas usadas
nesta tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994,
1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.


Edição: William Teixeira
Revisão: Pedro Issa, Silvia Hudaba Issa, Talita do Vale
Capa: Fernando Angelim e William Teixeira

Visite: OEstandarteDeCristo.com
 
 
Fernando Angelim

Uma Introdução Baseada na

Confissão de Fé de 1689

1ª Edição

Francisco Morato, SP
O Estandarte de Cristo

2020
 
 
Agradecimentos
 
O conteúdo deste livro é baseado em uma série de aulas
que gravei para o canal da Escola Teológica Charles
Spurgeon, em um módulo de Introdução à Teologia Bíblica
Batista Reformada. Seu conteúdo foi revisado e adaptado
para o formato de livro. Portanto, agradeço à Escola,
especialmente ao pastor Cleyton Gadelha, que me convidou
para gravar sobre esse assunto tão importante. Além disso,
sou muito grato à editora O Estandarte de Cristo, que
decidiu lançar o livro ao lado da seleta e excelente lista de
obras publicadas por essa editora.
Alguns grandes amigos foram muito importantes no
processo de revisão do material. São eles: William Teixeira,
Pedro Issa, Elivando Mesquita, D.B. Riker, Janyson Ferreira,
Marcus Paixão, Talita do Vale e meu pai, Antônio Caxinauá,
entre outros que assistiram e leram o conteúdo antes da
publicação. Sou grato a todos os irmãos da Igreja Batista
Reformada de Belém, onde tenho o privilégio de servir ao
Senhor ao lado de irmãos tão queridos que sempre me
ajudam em oração.
Sou grato por minha amada esposa, Alana, minha mãe,
Cléa, e toda a família que sempre me dá suporte. Além
disso, dou graças a Deus pelos escritos de homens como
Nehemiah Coxe, John Owen, Charles Spurgeon, A.W. Pink,
Paul Washer, Jeffrey Johnson, Pascal Denault, Samuel
Renihan, James Renihan, Richard Barcellos, dentre vários
outros que muito me ajudaram na compreensão do
conteúdo aqui apresentado.
Acima de tudo, dou graças ao meu Senhor e Deus, Pai,
Filho e Espírito Santo.
Soli Deo Gloria!
 
 
 
Sumário
 
Prefácio

Introdução
1 • O que é Teologia Bíblica?
2 • Quem são os Batistas?
3 • Um Resumo do Enredo das Sagradas Escrituras
4 • O Pacto de Obras
5 • O Pacto da Graça
6 • O Pacto da Redenção
7 • A Antiga e a Nova Aliança
8 • A Lei de Deus
9 • O Dia do Senhor
10 • Teologia Credobatista x Teologia Pedobatista
Conclusão
Referências
Sites Importantes
 
 
Prefácio
As Escrituras Sagradas e a nossa Confissão revelam que “a
distância entre Deus e a criatura é tão grande, que, embora
as criaturas racionais Lhe devam obediência como seu
Criador, nunca poderiam ter alcançado a recompensa da
vida, senão por alguma condescendência voluntária da
parte de Deus, que Ele Se agradou em expressar por meio
de aliança” (CFB1689 7.1).[1] Sendo assim, uma
compreensão correta dessas alianças e de como, através
delas, Deus condescende em se relacionar com os homens,
é da mais alta importância para todos aqueles que, com um
coração pronto e sincero, desejam interpretar e aplicar
corretamente as Escrituras para a glória de Deus e para
edificação de Seu povo pactual, a igreja.
Portanto, quando falamos de aliancismo, estamos
falando de um método de interpretar a Bíblia, ou, para usar
uma linguagem mais moderna, estamos falando de um
método de fazer teologia bíblica, mas que, ao mesmo
tempo leva em conta a sistematização de todo o conselho
de Deus declarado na “palavra da verdade” (2 Timóteo
2:15).
Sobre a importância vital desse tema, bem como a
abrangência de sua influência e relação com as demais
doutrinas bíblicas, o amado pastor Jeffrey Johnson disse com
propriedade: Quando se trata de uma visão sistemática e
holística da Escritura, nada é mais vital do que uma
compreensão adequada do relacionamento entre os pactos
de Deus — principalmente o relacionamento entre a Antiga
e a Nova Alianças. A teologia pactual molda o entendimento
da soteriologia, da eclesiologia e da escatologia, e, em
particular, a visão da natureza e do futuro de Israel, do reino
de Deus, da igreja, das ordenanças e da natureza do retorno
de Cristo. Além disso, observar como a Bíblia é dividida em
dois Testamentos (o Antigo e o Novo) e compreender a
continuidade e a descontinuidade entre eles é primordial
para o teólogo sistemático.[2]
Particularmente, estou convencido da extrema
necessidade e urgência da igreja brasileira, especialmente
os batistas, recuperar um entendimento bíblico profundo e
piedoso sobre os pactos de Deus. E estou igualmente
convencido de que este excelente livro, do querido pastor
Fernando Angelim, tem muito a contribuir para esse fim.
Escrito de maneira clara e didática, e sobretudo bíblica,
este livro se mostrará útil tanto para o pai de família que
deseja conhecer melhor sua Bíblia e guiar a sua família
piedosamente quanto para aquele que foi chamado a se
“apresentar a Deus aprovado, como obreiro que não tem de
que se envergonhar, que maneja bem a palavra da
verdade” (2 Timóteo 2:15).
O autor inicia definindo o que é teologia bíblica e, mais
especificamente, o que é teologia bíblica reformada, bem
como seu método e suas características. Então, nos toma
pela mão e nos conduz a um passeio pela história da igreja,
mostrando como os batistas surgiram no contexto da
Inglaterra do século XVII, a partir do separatismo. Esses
batistas ingleses confessavam uma teologia bíblica que era
distintivamente reformada e pactual.
Em seguida, somos levados a perceber como Deus
estruturou a grande história da Bíblia através de alianças,
desde a revelação do Pacto da Graça, na promessa do
Salvador em Gênesis 3:15, até o seu cumprimento na Nova
Aliança, em Cristo Jesus. O livro, então, passa a tratar dos
três grandes pactos de Deus: em primeiro lugar, do Pacto de
Obras, que diz respeito à aliança feita por Deus com Adão
no Éden, antes da queda. Adão era o representante de toda
a humanidade, portanto, a queda de Adão em pecado
afetou todos nós. Mas Cristo é o Segundo Adão, o que
cumpre perfeitamente as exigências divinas no lugar do Seu
povo crente, que nos liberta da maldição e nos concede vida
eterna. Em segundo lugar, o Pacto da Graça, que surge do
eterno Pacto da Redenção, é revelado progressivamente na
Antiga Aliança e formalmente estabelecido na cruz do
Calvário, no derramamento do sangue do Mediador
Prometido. Em terceiro lugar, o Pacto da Redenção, que foi
feito na eternidade e consiste em um acordo entre as
pessoas da Trindade para a redenção dos eleitos no tempo.
Após um tratamento bíblico desses três grandes
pactos, surge então a oportunidade para lidar com o
assunto fundamental da natureza da Antiga e da Nova
Aliança, e da distinção entre elas. A Antiga Aliança diz
respeito, particularmente, à aliança legal feita por Deus com
Israel, mediada por Moisés, mas também pode se referir,
grosso modo, a todo o período anterior à morte e
ressureição de Cristo. E a Nova Aliança, que, segundo as
Escrituras, equivale ao Evangelho e ao Pacto da Graça, é a
maneira pela qual Deus salva pecadores da caída
posteridade de Adão através da obra redentora do Filho.
Os capítulos 8 e 9 são dedicados a mostrar o
relacionamento do cristão com a lei de Deus, especialmente
com o Quarto Mandamento do Decálogo. O entendimento
reformado, puritano e confessional da lei é explicado à luz
das Escrituras e somos exortados a obedecer à lei moral de
Deus em amor e gratidão, seguindo o exemplo do Senhor
Jesus, e evitando tanto o antinomismo quanto o legalismo.
O último capítulo traz uma comparação na qual são
traçados as semelhanças e os contrastes entre a teologia
pactual credobatista e a pedobatista. O livro é concluído
com breves reflexões sobre os temas bíblicos estudados,
nas quais o escritor expressa a esperança de que sua obra
seja útil para promover nos leitores o aumento de seu amor
a Deus e ao próximo, e de que todo o conhecimento
adquirido nestas páginas resulte em uma vida piedosa para
a glória de Deus.
William Teixeira
 
 

Introdução
 
Em nossos estudos bíblicos, perguntas importantes podem
surgir, tais quais: Como compreender o enredo das
Sagradas Escrituras? Qual é o tema principal do Antigo e do
Novo Testamento? O que é uma aliança? O que significam
as alianças mencionadas na Bíblia? Qual é a relação entre a
Antiga e a Nova Aliança? As cerimônias e leis que regiam
Israel no Antigo Testamento são válidas para nós, hoje? Por
quê? Como um cristão se relaciona com os Dez
Mandamentos?
Essas são apenas algumas perguntas que um cristão
que começa a estudar a Bíblia pode se fazer, e a teologia
bíblica deverá lidar com elas. O objetivo deste livro é ajudar
você a compreender melhor o enredo das Escrituras, a ter
uma noção adequada do plano da redenção revelado na
Bíblia e a entender onde você se encontra nessa grande
história. Faremos um breve panorama das Escrituras e
consideraremos como, ao longo dos séculos, esse
maravilhoso roteiro divino tem se desenvolvido. Além disso,
buscaremos extrair do texto bíblico, com o auxílio de
grandes teólogos antigos e contemporâneos, o
entendimento correto sobre as preciosas verdades ali
contidas. Estes estudos devem levá-lo à adoração a Deus e
ao cultivo de uma vida piedosa, em gratidão e obediência a
Ele.
Outro elemento que estudaremos é a teologia bíblica
“reformada”, em suas diversas manifestações — um
sistema teológico bíblico que tem raízes na Reforma
Protestante. Atualmente, está em curso um notável
redescobrimento da teologia reformada e um renovado
interesse, por parte de muitos, pela pregação expositiva,
pelas doutrinas da graça e pelos Solas da Reforma, e isso é
excelente. Entretanto, a teologia reformada vai além desses
pontos. Existem ainda outras áreas importantes a serem
redescobertas e recuperadas. A herança reformada,
representada pelo que chamamos, hoje, de teologia bíblica,
também tem muito a contribuir, e esse será um tema
explorado neste livro.
Além disso, o objetivo deste livro é apresentar,
especificamente, a teologia bíblica “batista” reformada,
uma vez que visamos resgatar preciosidades da herança
teológica dos batistas particulares do século XVII e
demonstrar a robustez de sua teologia. Isso é importante,
haja vista que, infelizmente, muitos batistas desconhecem,
atualmente, sua própria história e teologia. Há uma perda
de identidade doutrinária em meio à muitas igrejas que se
autodenominam “batistas”. Hoje, é possível entrar em uma
igreja local cuja placa destaca a denominação “batista” e,
tratar-se, no entanto, de uma igreja com tendências
neopentecostais ou caracterizada por outras doutrinas que
não correspondem às raízes da teologia batista. A este
respeito, Phillip D.R. Griffiths acerta ao afirmar que “os
batistas reformados precisam redescobrir a sua rica
herança, a qual lhes proporcionará uma compreensão mais
profunda da Palavra de Deus e, esperamos, os levará a
caminharem mais próximos de Deus”.[3]
Assim, com o propósito de resgatar a preciosa herança
teológica e histórica dos batistas, muitos argumentos
apresentados neste livro são baseados na Confissão de Fé
Batista de Londres, de 1689. Apresentaremos alguns
aspectos da teologia bíblica dessa Confissão, sempre à luz
das Sagradas Escrituras, que devem ser a norma que rege
qualquer documento confessional. Quando os credos e as
confissões estão de acordo com a Bíblia e expõem
corretamente seus preceitos, eles não se tornam obsoletos,
mesmo com o passar dos anos. Esse é o motivo de uma
Confissão tão antiga ainda ter tanto a nos ensinar.
Portanto, há muito a ser trabalhado neste pequeno
livro. Ele deve servir como um aperitivo, uma introdução ao
assunto, um pontapé inicial para seus estudos. Sendo
assim, tenha em mente que não seremos exaustivos.
Porém, há outros livros que serão mencionados e
referenciados para você mergulhar no assunto que será
introduzido aqui.

 
 
1

O que é Teologia Bíblica?

Quando começamos a estudar a Bíblia, é possível que


tenhamos dificuldade de compreender como se dá o
desenrolar das histórias em sua grande narrativa. Muitas
pessoas enfrentam problemas para entender qual é o ponto
unificador do enredo bíblico e quais são os principais
eventos que trazem mudanças significativas nessa história.
Surgem algumas perguntas, como: Quais são os pontos de
continuidade e descontinuidade entre o Antigo e o Novo
Testamento? Como cada aliança que Deus fez interfere no
todo da história? O que a vinda de Cristo trouxe para nós?
Qual é a mensagem central das Escrituras?
É disso que a teologia bíblica trata, daí a sua
importância. Ela é a disciplina que nos ajuda a resolvermos
esses problemas. Estudá-la nos auxiliará a compreendermos
a sequência dos acontecimentos em seu devido contexto e
a entendermos em que momento nos encontramos hoje,
diante do quadro total da Bíblia. Esse quadro pode ser
resumido em: Criação, Queda, Redenção e Consumação. A
teologia bíblica nos ajudará a obtermos uma melhor noção
de como cada peça se encaixa no registro divino, ou seja,
como cada livro da Bíblia contribui para sua história de
forma mais ampla e para o plano de Deus que nos foi
revelado, de maneira sublime, de Gênesis a Apocalipse.
Quando estudamos os acontecimentos em seu devido
contexto, percebemos como cada detalhe glorifica a Deus e
isso traz alegria aos nossos corações e um maior desejo de
conhecer o Senhor, de estar com Ele e de viver para Sua
glória.
Estudaremos a teologia bíblica reformada, a qual, como
explicaremos mais a frente, segue um modelo pactual. Sobre
a importância desse modelo, William Teixeira afirmou que “a
teologia pactual está para o corpo da teologia bíblica assim
como a coluna vertebral está para o corpo humano”.[4] Ainda
a esse respeito, o teólogo batista A.W. Pink destacou que as
alianças divinas possuem proeminência nas Sagradas
Escrituras: Os pactos ocupam um lugar de destaque nas
páginas da revelação divina, mesmo se fizermos apenas
uma leitura superficial da Escritura. A palavra aliança é
encontrada ao menos vinte e cinco vezes no primeiro livro
da Bíblia e ocorre muitas outras vezes no Pentateuco, nos
Salmos e nos Profetas. Tampouco é uma palavra incomum
no Novo Testamento. Ao instituir o grande memorial de Sua
morte, o Salvador disse: “Este cálice é o novo testamento
no meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:20).
Ao enumerar as bênçãos especiais que Deus havia dado a
Israel, Paulo disse que a eles pertenciam “as alianças”
(Romanos 9:4). Aos Gálatas, Paulo expôs duas alianças
(4:24-31). Aos santos de Éfeso, lembrou-lhes de quando
andaram em seus dias como não regenerados, “estranhos
às alianças da promessa”. Toda a epístolas aos Hebreus é
uma exposição acerca da melhor aliança da qual Cristo é o
Mediador (8:6).[5]
Nehemiah Coxe, um renomado batista do século XVII, ao
falar sobre as transações pactuais de Deus, disse: Se alguém
não entende as transações pactuais de Deus para com Adão
de maneira correta, certamente ficará desnorteado em todas
as suas buscas posteriores da verdade que procura conhecer.
[6]

Sendo assim, uma vez que a teologia pactual se


encontra no cerne da verdade das Escrituras, torna-se difícil
exagerarmos sua importância para uma compreensão
saudável das doutrinas bíblicas. O príncipe dos pregadores,
Charles Haddon Spurgeon, afirmou: A doutrina do pacto
divino está na raiz de toda a verdadeira teologia. Já foi dito
que aquele que entende bem a distinção entre o Pacto de
Obras e o Pacto da Graça é um mestre em teologia. Estou
convencido de que a maioria dos erros cometidos pelos
homens acerca da doutrina da Escritura se deriva de erros
fundamentais no que diz respeito aos Pactos da Lei e da
Graça.[7]
Portanto, trata-se de um assunto central que, se não for
entendido adequadamente, pode afetar negativamente a
compreensão de todas as outras doutrinas. Logo, o estudo
aprofundado da teologia bíblica reformada nos agrega uma
série de benefícios, pois ela: 1) Oferece-nos uma melhor
compreensão do enredo completo da Bíblia e de nosso
papel nesse grande quadro;
2) É essencial para a hermenêutica, ou seja, para a
interpretação correta da Palavra de Deus;
3) Ensina como o Antigo Testamento se relaciona com a
pessoa de Cristo;
4) Ajuda-nos a compreendermos os aspectos de
continuidade e descontinuidade entre as alianças divinas,
prevenindo-nos de muitos equívocos e suas consequências
danosas; 5) Auxilia-nos a entender como cada parte das
Escrituras contribui para o plano de Deus;
6) Ensina sobre a herança teológica encontrada em
importantes confissões de fé históricas;
7) Apresenta uma noção elevada a respeito do nosso
Senhor Jesus Cristo, o Mediador;
8) Leva-nos a glorificar a Deus na contemplação de Sua
obra redentora.
 
1. O QUE É TEOLOGIA BÍBLICA?
 
A teologia é o estudo da revelação de Deus. O
professor Heber Carlos de Campos explica que “o homem
estuda Deus mediante aquilo que Deus revela de Si mesmo.
Portanto, a teologia deve ser entendida como a ‘ciência da
revelação’ ou a ‘ciência da Escritura”.[8] Existem algumas
modalidades de estudo da teologia, tais quais: Teologia
sistemática. Ocupa-se da sistematização das doutrinas sob
determinados títulos, e também é chamada de dogmática.
Preocupa-se em arranjar, em um sistema completo de
doutrinas, o que os cristãos creem sobre vários tópicos,
como Deus, salvação, pecado, igreja, batismo, ceia etc.
Teologia histórica. Busca estudar, historicamente,
como a igreja cristã tem feito teologia ao longo dos séculos
e lida com os conflitos, os grandes debates e os concílios
ocorridos ao longo da história da igreja, bem como com os
credos firmados pelo pensamento cristão.
Teologia exegética. Estuda o processo de extração
da mensagem de um texto a partir de seu contexto original.
A teologia bíblica, por vezes, é considerada uma parte dessa
disciplina mais ampla chamada teologia exegética.

Teologia pastoral. Interessa-se pelo estudo da aplicação


prática da Palavra de Deus na vida dos cristãos. Sua ênfase
está no ministério e no cuidado pastoral da igreja local.[9]
Teologia bíblica. A teologia bíblica busca
compreender o enredo das Escrituras enquanto um só livro.
Geerhardus Vos a define como “aquele ramo da teologia
exegética que lida com o processo da autorrevelação de
Deus registrada na Bíblia”.[10] Para Vos, o nome “história da
revelação especial” seria preferível, pois essa nomenclatura
expressa, com melhor precisão e de uma maneira
totalmente aceitável, o que essa ciência se propõe a ser.
Contudo, é difícil mudar um nome que já se consagrou pelo
uso.[11] James M. Hamilton Jr., em seu livro “O que é Teologia
Bíblica?”, explica: Em suma, com a frase teologia bíblica
quero dizer a perspectiva interpretativa refletida no modo
como os autores bíblicos apresentaram sua compreensão de
Escrituras anteriores, da história redentiva e dos eventos
que eles descrevem, relatam, celebram ou tratam nas
narrativas, poemas, provérbios, cartas e apocalipses.[12]

Uma outra definição dessa área pode ser encontrada no


livro “Teologia Bíblica”, de Nick Roark e Robert Cline, que a
define da seguinte maneira: Teologia bíblica é um modo de
ler a Bíblia como uma única história de um único autor
divino, que culmina em quem Jesus Cristo é e o que Ele fez;
então, cada parte da Escritura é entendida em relação a Ele.
A teologia bíblica nos ajuda a entender a Bíblia como um
grande livro constituído de vários livros menores que
contam uma única grande história. O herói e o ponto central
dessa história, de capa a capa, é Jesus Cristo.[13]
Portanto, a teologia bíblica é a maneira de observarmos
a revelação de Deus, a sequência dos eventos na grande
narrativa bíblica. Trata-se de uma forma de ler as Escrituras
como um único grande livro composto por diversos livros
menores em uma história que culmina em Cristo. Ele é o
ponto central da história e cada parte deve ser entendida
em relação a Ele. Graeme Goldsworthy explica que: A
teologia bíblica é um meio de entender a Bíblia no seu todo,
a fim de podermos perceber o desenrolar do plano da
salvação estágio por estágio. A teologia bíblica se ocupa da
mensagem de Deus para nós na forma em que ela
realmente assume nas Escrituras.[14]
Portanto, podemos perguntar: Qual é o tema central
desse enredo bíblico? Qual é o elemento unificador
encontrado nessa grande narrativa? Como compreender a
história revelada ao longo do Antigo e Novo Testamento?
O tema central e unificador do enredo bíblico pode ser
encontrado na pessoa de Jesus Cristo. Toda a Escritura fala a
Seu respeito. A Bíblia revela como o Deus Todo-Poderoso
resgatou um povo, por meio do sacrifício do Seu filho
unigênito, pelo poder do Espírito Santo, a fim de viver para
a Sua glória. Durante o Antigo Testamento, o Messias é
anunciado e prefigurado de várias formas, e, no Novo
Testamento, Ele vem ao mundo para salvar Seu povo dos
seus pecados. Após cumprir Sua missão, Ele é apresentado
como Aquele a Quem toda autoridade foi dada e já reina à
destra de Deus, como o cabeça de Sua igreja que voltará no
tempo determinado por Deus para a consumação de todas
as coisas. O príncipe dos puritanos, John Owen,
complementa: Esse princípio sempre deve ser retido em
nossas mentes ao lermos a Escritura, a saber, que a
revelação e a doutrina da pessoa de Cristo e Seu ofício são
o fundamento sobre o qual todas as outras instruções dos
profetas e dos apóstolos, para a edificação da igreja, são
construídas, e pelo qual elas são esclarecidas… Portanto, o
próprio Senhor Jesus Cristo manifestou isso de forma geral
em Lucas 24:26-27, 45-46. Deixe de lado essa consideração
e as Escrituras deixam de ser o que pretendem, ou seja,
uma revelação da glória de Deus na salvação da igreja…[15]
Owen destaca a revelação e doutrina de Cristo,
expressa pelo próprio Senhor Jesus Cristo no caminho de
Emaús, que pode ser observada no seguinte relato:
“Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas
coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, e
por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava
em todas as Escrituras” (Lucas 24:26-27). William
Hendriksen comenta o que ocorreu ali: É razoável presumir
que nosso Senhor, ao interpretar em todas as Escrituras as
coisas referentes a Ele, mostrou como o Antigo Testamento
completo, de diversas maneiras, aponta para Ele.[16]
Goldsworthy complementa:
Uma vez que Cristo é a síntese de toda a revelação
bíblica, o que é revelado dEle rege nosso modo de
fazer teologia bíblica. Jesus de Nazaré é a mais plena
autorrevelação de Deus à humanidade. Ele traz plena
luz ao que, desde o início, foi apresentado no Antigo
Testamento como sombra.[17]
Portanto, a teologia bíblica busca compreender como
se desenvolve a grande história bíblica, a qual Roark e Cline
assim resumem: “Deus, o Pai, enviou seu Filho por meio do
Espírito para conquistar um povo para a Sua própria glória”.
[18]

 
2. QUAL É O MODELO DE TEOLOGIA BÍBLICA
REFORMADA?
Ao estudarmos teologia bíblica, notaremos a existência
de diferentes correntes de interpretação acerca da história
da Redenção. Matt Perman, ao falar sobre a teologia de John
Piper, explica que há três campos teológicos principais que
tratam dos temas da Lei, do Evangelho e da estruturação do
relacionamento redentor de Deus para com a humanidade.
São eles: • O Dispensacionalismo;
• A Teologia Pactual;
• A Teologia da Nova Aliança.[19]
Nosso objetivo, neste livro, é estudarmos a teologia
bíblica reformada, a qual segue o modelo pactual. A
doutrina pactual foi a espinha dorsal que caracterizou a
teologia reformada. Ela esteve na essência do
pensamento reformado acerca do trato de Deus com os
homens.[20] Podemos identificar as primeiras formulações
e sistematização da teologia pactual a partir do século XVI
nos teólogos-reformadores de Heidelberg: Zacharius
Ursinus (1534-1583), Caspar Olevianus (1536-1587),
Franciscus Junius (1591-1677), como também nos
puritanos ingleses Thomas Cartwright (1634-1689) e
Dudley Fenner (1558-1587).[21] Nessa mesma época, os
teólogos suíços Heinrich Bullinger (1504-75) e Ulrico
Zwínglio (1484-1531) também estudavam esse conceito
teológico pactual. Conforme afirmou Bullinger, “a relação
entre Deus e a humanidade é uma relação de pacto”.[22]
Posteriormente, a teologia pactual pode ser
expressamente observada nas principais confissões de fé
que moldaram a teologia de denominações históricas, como
a dos presbiterianos, dos congregacionais e dos batistas, a
saber, a Confissão de Fé de Westminster, a Declaração de
Fé de Savoy e a Confissão de Fé Batista de 1689,
respectivamente.
Embora as confissões de fé, diferentemente das
Escrituras, não sejam infalíveis, elas têm o objetivo de
declarar publicamente aquilo que um certo grupo de
cristãos, em uma determinada época, creem, pregam e
ensinam. As confissões buscam orientar e definir princípios
claramente delineados a partir das Escrituras a fim de
prevenir o povo de Deus contra erros e heresias. É
importante ressaltar que todas essas confissões
mencionadas seguem o modelo pactual, que era um
consenso entre elas. Todas compreendiam a estrutura
pactual na revelação e no relacionamento de Deus com Seu
povo, embora houvesse alguns distintivos que serão
mencionados mais à frente.
 
2.1. Características da Teologia Bíblica
Reformada
 
2.1.1. Segue uma Hermenêutica Clássica
A hermenêutica reformada, de acordo com Richard
Barcellos,[23] segue quatro princípios fundamentais:
2.1.1.1. O primeiro princípio pode ser resumido na
seguinte expressão: “O Espírito Santo é o único intérprete
infalível da Sagrada Escritura”, ou seja, quando a
Escritura interpreta a si mesma, ela o faz de maneira
infalível. Portanto, textos posteriores que fazem uso de
textos anteriores lançam luz interpretativa sobre eles.
Agostinho de Hipona demonstra esse importante princípio
hermenêutico ao afirmar: “O Novo está no Antigo velado;
o Antigo está no Novo revelado”[24] e Nehemiah Coxe
resume esse ponto com maestria: “…o melhor intérprete
do Antigo Testamento é o Espírito Santo falando conosco
através do Novo Testamento”.[25]
2.1.1.2. O segundo princípio é a “Analogia da Escritura
(Analogia Scripturae)”. Trata-se do entendimento de que
passagens mais obscuras devem ser interpretadas à luz de
passagens mais claras sobre o mesmo assunto. Esse
princípio foi claramente adotado pela a Confissão de Fé
Batista de 1689: A regra infalível de interpretação da
Escritura é a própria Escritura; e, portanto, quando houver
uma questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de
qualquer Escritura (que não é múltiplo, mas único), esse
pode ser investigado por meio de outros textos que o
expressem mais claramente.[26]
Essa citação da Confissão de Londres também
apresenta o terceiro princípio:
2.1.1.3. “a Analogia da Fé (Analogia Fidei)”. Barcellos
explica, sobre esse ponto, que “a regra de fé inspirada e
infalível é toda a Escritura, cujas partes textuais devem ser
entendidas à luz de seu todo textual-teológico”. Ele
exemplifica: Um exemplo de entendimento apropriado do
uso da analogia da fé seria a identificação da serpente de
Gênesis 3. Podemos dizer com absoluta certeza que a
serpente é o diabo, e Satanás. Sabemos isso porque Deus
nos diz através da Escritura subsequente em Apocalipse
12:9.[27]
2.1.1.4. Por fim, “o Escopo das Escrituras (Scopus
Scripturae)” diz respeito a uma interpretação das Escrituras
à luz de seu escopo geral, o alvo que toda a Escritura tem.
Neste particular, Barcellos explica: Para os teólogos
federalistas ou pactuais do século XVII, o escopo da
Escritura foi a glória de Deus na obra redentora do Filho de
Deus encarnado. Sua visão do escopo da Escritura foi, em si
mesma, uma conclusão feita a partir da Escritura, não uma
pressuposição trazida de fora, e isso condicionou toda a
interpretação subsequente.[28]
A Segunda Confissão de Londres menciona, no que
tange às Escrituras, a “harmonia de todas as partes, o
propósito do todo (que é dar toda glória a Deus)”.[29] Sendo
assim, a hermenêutica reformada se preocupa com a
interpretação de cada parte das Escrituras à luz do seu
enredo completo e considera cada texto à luz do grande
escopo das Escrituras.
 
2.1.2. Ela é Pactual
Esse modelo chama-se “pactual” pois entende que o
desdobramento dos acontecimentos bíblicos se dá
através das alianças que Deus fez. A Confissão de Fé
Batista de Londres atesta: A distância entre Deus e a
criatura é tão grande que, embora as criaturas racionais
Lhe devam obediência como seu criador, nunca poderiam
ter alcançado a recompensa da vida, senão por alguma
condescendência voluntária da parte de Deus, que Ele Se
agradou em expressar por meio de aliança.[30]
É por meio de alianças que Deus revela Seu plano
progressivamente na história. John Owen, define aliança
como um pacto ou um acordo em certos termos,
mutuamente estipulados por duas ou mais partes.
Entretanto, ele faz ressalva que a Nova Aliança é uma
aliança incondicional por não haver menção de qualquer
condição da parte do homem, consistindo apenas na
gratuidade da promessa divina: Uma aliança, propriamente
dita, é um pacto ou um acordo, em certos termos
mutuamente estipulados por duas ou mais partes. Como as
promessas são o fundamento e a origem dê-la, como o é
entre Deus e o homem, assim compreende também
preceitos, ou leis de obediência, as quais são prescritas ao
homem para que as observe. Mas na descrição da aliança
aqui mencionada [a Nova Aliança], não há menção de
qualquer condição da parte do homem, de nenhum termo
de obediência prescrito, mas o todo consiste na livre e
gratuita promessa, como se verá em sua explicação.[31]
Uma outra definição possível de pacto, expressa por
Meredith G. Kline, seria, “um compromisso com sanções
divinas entre um senhor e um servo”.[32]
 
2.1.3. Ela Crê na Existência de Dois
Representantes Pactuais

Deus trata com os homens por meio de dois representantes


(cabeças federais):[33] Adão e Cristo. Charles Spurgeon
afirmou: A justiça de Adão seria nossa desde que ele a
mantivesse, e o pecado dele tornou-se nosso no momento
que ele pecou. Da mesma forma, tudo o que o Segundo
Adão é, ou tudo o que Ele faz, nos pertence, visto que Ele é
nosso representante.[34]
A Confissão de Fé Batista de 1689 corrobora essa ideia:
Ademais, tendo o homem trazido sobre si mesmo a
maldição da lei, por sua queda, aprouve ao Senhor
fazer um Pacto de Graça, no qual Ele oferece
livremente aos pecadores a vida e a salvação por
meio de Jesus Cristo, exigindo deles a fé nEle, para
que eles sejam salvos; e prometendo dar a todos os
que são ordenados para a vida eterna, o Seu Espírito
Santo, para torná-los dispostos e capazes de crer.[35]
Portanto, nessa perspectiva, ou alguém está em Adão,
tentando salvar-se inutilmente pelas suas obras, ou está em
Cristo, sendo salvo por um Pacto de Graça. “Porque, como,
pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram
pecadores, assim também, por meio da obediência de um
só, muitos se tornarão justos” (Romanos 5:19).
 
2.1.4. Culmina em Cristo
O clímax dessas alianças acontece na Nova Aliança,
quando Deus, em Cristo, realiza a promessa que tinha feito
aos pais de enviar o Salvador. Jesus Cristo é o Messias
prometido que cumpriu toda a justiça divina em lugar do
Seu povo, morreu sacrificialmente na cruz do Calvário, foi
sepultado e ao terceiro dia ressuscitou. A Confissão de
Londres prossegue: Essa Aliança é revelada no Evangelho;
primeiramente a Adão na promessa de salvação pela
descendência da mulher, e depois por etapas sucessivas,
até que a sua plena revelação foi completada no Novo
Testamento; e é fundada naquela transação pactual eterna
que houve entre o Pai e o Filho para a redenção dos eleitos;
e é somente pela graça dessa Aliança que todos da
posteridade do caído Adão, que já foram salvos, obtiveram a
vida e a bem-aventurada imortalidade. O homem é agora
totalmente incapaz de ser aceito por Deus naqueles termos
em que Adão permanecia, em seu estado de inocência.[36]
A Confissão demonstra que a promessa revelada em
Gênesis 3:15 está fundada no eterno Pacto de Redenção e
foi revelada em etapas sucessivas até sua completude no
Novo Testamento. Essa afirmativa corrobora a afirmação do
próprio Senhor Jesus, no Evangelho de Lucas, de que todo o
Antigo Testamento falava a Seu respeito: E disselhes: São
estas as palavras que vos disse estando ainda convosco:
Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava
escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos. Então
abriu-lhes o entendimento para compreenderem as
Escrituras. E disselhes: Assim está escrito, e assim convinha
que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse
dentre os mortos, e em seu nome se pregasse o
arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as
nações, começando por Jerusalém (Lucas 24:44-47).
Charles Spurgeon afirma que, “se somássemos todas
as bênçãos espirituais, deveríamos dizer: ‘Cristo é tudo’. Ele
é o Tema, Ele é a Substância da mesma. E, apesar de que
muito pode ser dito sobre as glórias do Pacto, ainda assim,
nada poderia ser dito que não fosse encontrado em uma
palavra: ‘Cristo’”.[37]
 
2.1.5. A Salvação é Concedida com Base na Nova
Aliança
Todos os que foram salvos em todas as épocas foram
salvos por Cristo e Seu sangue derramado. Os crentes do
Antigo Testamento criam na promessa de um Messias que
viria, os crentes do Novo Testamento creem no Cristo que
veio, estabeleceu a Nova Aliança e que voltará. Como
afirmou John Owen: Tomarei como certo o fato de que
nenhum homem nunca foi salvo senão em virtude da Nova
Aliança, e da mediação de Cristo para tanto… Todo o
conhecimento de Deus em Cristo é claramente revelado e
salvificamente comunicado em virtude da Nova Aliança para
aqueles que creem.[38]
A Confissão Batista explica:
Aprouve a Deus, em Seu eterno propósito, e de
acordo com o Pacto estabelecido entre ambos,
escolher e ordenar o Senhor Jesus, Seu Filho
unigênito, para ser o mediador entre Deus e os
homens, o profeta, sacerdote e rei; o cabeça e
salvador da Igreja, o herdeiro de todas as coisas, e
juiz do mundo; a quem, desde toda a eternidade, deu
um povo para ser Sua posteridade e para ser por Ele,
no tempo, remido, chamado, justificado, santificado e
glorificado.[39]
Sobre o assunto, o apóstolo Paulo resumiu: Porquanto
há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens,
Cristo Jesus, homem (1 Timóteo 2:5).
 
CONCLUSÃO
Nesta introdução, alguns pontos importantes foram
trabalhados, a saber:
1) O estudo da teologia bíblica influencia nossa
compreensão de toda a Escritura e das demais doutrinas
bíblicas.
2) A teologia bíblica tem como objetivo estudar a
história da revelação especial de Deus, a história da
redenção, a maneira de observarmos toda a Bíblia como um
livro só.
3) A doutrina pactual foi a espinha dorsal que
caracterizou a teologia reformada.
4) A teologia bíblica reformada segue uma
hermenêutica clássica, é pactual, crê na existência de dois
representantes federais (Adão e Cristo), culmina em Cristo e
entende que a salvação é concedida com base na Nova
Aliança.
Nos próximos capítulos, daremos maior atenção à
teologia bíblica batista pactual que encontramos na
Confissão de Fé Batista de Londres, de 1689.
Consideraremos, ademais, os distintivos batistas da teologia
pactual, a qual, por ser uma posição robusta e
profundamente bíblica, deve ser considerada com atenção.
 
 
2

Quem são os Batistas?

Para adentramos no tema mais específico da teologia bíblica


batista reformada devemos responder algumas perguntas
importantes, dentre elas: quem são os batistas? Como
surgiu esse grupo? Quais são suas raízes teológicas? O que
podemos aprender com sua história? Qual era a teologia
bíblica que defendiam?
Depois de obtermos essas respostas, teremos
condições de examinar sua teologia à luz das Escrituras,
como os bereanos em Atos 17:11, para verificarmos sua
veracidade, uma vez que nosso objetivo não deve ser o de
defender correntes teológicas como torcedores de times de
futebol, mas conhecermos, de fato, a verdade bíblica.
 
1. A ORIGEM DOS BATISTAS[40]
A denominação batista tem suas origens na Reforma,
especialmente nos separatistas da Inglaterra. O livro The
Baptist Story afirma: […] a melhor explicação para o
desenvolvimento das convicções e ideias batistas se
encontra no movimento dos separatistas ingleses, que
saíram do movimento puritano do final do século XVI […]
Como o historiador batista inglês Barrie R. White afirmou,
visto que a explicação para o surgimento das convicções
batistas é nítida no contexto do movimento puritano-
separatista inglês, o ônus da prova recai sobre aqueles que
defendem que o anabatismo continental teve um papel
decisivo no surgimento dos batistas. Os batistas são filhos
dos puritanos, um movimento com raízes que remontam à
Reforma Europeia no século XVI.[41]
Portanto, para compreendermos a origem dos batistas,
precisamos conhecer um pouco sobre seu contexto mais
amplo, a saber, a Reforma Inglesa.
 
1.1. A Reforma na Inglaterra
Embora homens piedosos, como William Tyndale,
possam ter preparado algum terreno para a Reforma
Inglesa,[42] a ruptura com a Igreja Católica Romana ocorreu
principalmente por meio de uma reconfiguração política
introduzida pelo rei Henrique VIII (1509-1547) e confirmada
por sua filha Elizabete I (1558-1603). G.R. Elton em seu
clássico capítulo sobre a Reforma Inglesa, em The New
Cambridge Modern History, afirma: A Inglaterra, como é
notório, consumou sua Reforma com uma diferença.
Enquanto em outros lugares uma revolta religiosa conduziu,
em seu despertar, a uma reconstrução política e
constitucional, a marcha da Inglaterra para longe de Roma
foi dirigida pelo governo por razões que pouco tinham a ver
com religião ou fé. Mas há fatores — circunstâncias,
sentimentos e paixões, bem como indiferenças — que
explicam a Reforma Inglesa.[43]
G.R. Elton explica que a verdadeira fonte dessa reforma
foi política e que todas as objeções em relação à
interferência de um papa estrangeiro na Inglaterra não
teriam levado à uma ruptura com a igreja de Roma se a
Coroa não tivesse achado necessário lidar com o controle
papal da igreja.[44]
Portanto, apesar dos grandes problemas envolvendo

a Igreja Católica Romana de seu tempo, o ponto que

motivou o rei Henrique VIII à ruptura com Roma era bem

peculiar. A Inglaterra havia saído de uma longa e

devastadora guerra civil, a Guerra das Duas Rosas (1455-

85), e estava em uma situação financeira muito complicada.

A ruptura com Roma significaria deixar de repassar os

dízimos para a Igreja Católica, bem como o confisco de

inúmeras riquezas e terras que a Igreja possuía na

Inglaterra. Henrique VIII faz parte do processo de

constituição das monarquias absolutistas na Europa, um

processo que começou, na Inglaterra, com seu pai. A

ruptura com Roma foi, a rigor, a proclamação da supremacia

real (daí o nome Ato de Supremacia) sobre a igreja da

Inglaterra. Mais do que uma cisão com Roma, foi uma


afirmação do poder de Henrique VIII sobre a igreja. Henrique

VIII pediu anulação de seu casamento com Catarina de

Aragão casamento, alegando que ela havia consumado

sexualmente seu casamento anterior com o irmão de

Henrique VIII e, por isso, aquele casamento era ilegítimo aos

olhos de Deus — e por isso, também, Deus não lhes

concedia um filho homem. O papa negou a anulação por ter

uma enorme proximidade com os pais de Catarina,

Fernando e Isabel da Espanha, os chamados “Reis

[45]
Católicos”.
Sendo assim, Henrique VIII rompeu com o papado e
fundou a Igreja Anglicana. Inicialmente tratava-se de uma
igreja nacional inglesa de orientação claramente
semelhante à Romana.[46] Elton explica que “Henrique VIII
parece ter pensado que a ruptura com Roma poderia ser
realizada sem uma alteração da doutrina e do culto da
Igreja Inglesa”.[47]
O rei, então, teve o apoio do arcebispo da Cantuária,
Thomas Cranmer, que o auxiliou no processo do
distanciamento teológico de Roma. Entretanto, Elton explica
ainda que a reforma política estava começando a provocar
certa turbulência religiosa. O pequeno, porém, notável,
grupo de teólogos que adotou as doutrinas de Lutero e
Tyndale achava que havia chegado a hora deles, e Cranmer
sentiu-se inclinado a apoiá-los. A sequência dos
acontecimentos mostraria que, posto que a Inglaterra havia
rompido com Roma, o início puramente político da Reforma
rapidamente ganharia a companhia de uma força
verdadeiramente religiosa e até espiritual.[48]
Após a morte de Henrique VIII, seu filho Eduardo VI o
sucedeu. Nessa época, os partidários de uma reforma mais
profunda da Igreja Inglesa tiveram maior influência sobre o
rei e isso possibilitou que a Igreja Anglicana se tornasse
protestante. G.R. Elton explica que “Cranmer logo produziu
uma revisão do Livro de Oração (1552), que descartou o que
havia restado da doutrina católica em sua versão anterior e
assumiu uma posição completamente alinhada ao
protestantismo”.[49]
Entretanto, esse período foi breve, uma vez que
Eduardo VI governou apenas por seis anos (1547-1553) e foi
sucedido por sua irmã, Maria Tudor (1553-1558), filha de
Catarina de Aragão. A rainha ficou conhecida como “Maria,
a sanguinária” devido à sua crueldade na perseguição aos
protestantes. Elton esclarece: Ao longo do ano de 1553 ficou
claro que Eduardo VI tinha pouco tempo de vida. A menos
que algo fosse feito, ele seria sucedido por sua irmã Maria,
filha de Catarina de Aragão e uma seguidora inabalável da
Igreja de Roma. Para os contemporâneos, essa sucessão
significou uma reversão completa da política religiosa
[adotada por Eduardo VI] [...].[50]
Em seus dias de reinado, Maria tentou restaurar a
Igreja Católica Romana na Inglaterra e perseguiu
ferozmente os líderes protestantes, a ponto de executar
mais de 270 mártires, dentre eles Thomas Cranmer (†1556).
Outros fugiram para o continente (Genebra, Zurique,
Frankfurt), dentre eles John Knox e William Whittingham (o
principal responsável pela Bíblia de Genebra). Nesse
período, surgiram em Londres as primeiras congregações
autônomas.[51] O relato do martírio de muitos cristãos
protestantes desse período foi registrado no Livro dos
Mártires, escrito por John Foxe.
Após o — também breve — reinado de Maria I, um
longo reinado ocorreu sob o governo de Elizabete I (1558-
1603). A princípio, os puritanos se animaram com sua
ascensão, mas logo se decepcionaram, pois a rainha
possuía preocupações primordialmente políticas. Com vistas
a manter o controle sobre as igrejas e assegurar certa
estabilidade política, procurou garantir um sistema de
governo episcopal, ou seja, a rainha insistiu em controlar a
igreja, reservou para si a nomeação dos bispos.
Então, os protestantes que reivindicavam uma reforma
mais profunda da Igreja Anglicana ficaram conhecidos como
“puritanos”, tratava-se de um nome pejorativo, atribuído
pelo alto clero anglicano. O nome se consagrou
especialmente no contexto da “Controvérsia das
Vestimentas” (1563-1567), um protesto que foi feito contra
o uso de vestimentas clericais. Os puritanos afirmavam que
a igreja não era plenamente reformada, pois preservava
muitos resquícios do Catolicismo Romano, por isso ela
precisava ser purificada. Essa luta se tornou mais intensa ao
longo dos reinados de Jaime I (1603-1625) e Carlos I (1625-
1649). O puritanismo é uma mentalidade ou atitude
religiosa que começou cedo na história da Reforma Inglesa.
A princípio, era identificado com a Igreja Anglicana,
contudo, muitos puritanos separaram-se dela
posteriormente, dando origem a diversos grupos como:
batistas, congregacionais e presbiterianos.
Em seu livro Os Puritanos: Suas Origens e Seus
Sucessores, D.M. Loyd-Jones explica que “a mentalidade
puritana busca colocar a verdade antes das questões de
tradição e autoridade, e é caracterizada por uma insistência
na liberdade de servir a Deus de maneira como cada qual
julga certa”.[52]
 
1.2. Os Separatistas Ingleses
Dentre os puritanos que não se conformavam com a
situação da igreja, uma parte deles ficou conhecida como os
“Separatistas Ingleses”. Esses foram os que deixaram a
Igreja Anglicana e fundaram congregações autônomas. B.R.
White, em seu livro The English Separatist Tradition, afirma
que: Sob o reinado de Maria, os anglicanos eduardianos se
tornaram separatistas porque consideravam a Igreja
Romana e seus caminhos como falsos e sua adoração como
idólatra. Posteriormente, o separatismo na Inglaterra
desenvolveria o mesmo repúdio pela igreja estabelecida
considerando-a como anticristã, isso porque seus caminhos
eram contrários às Escrituras e porque eles se organizaram
como um grupo de congregações cujas práticas estavam
mais alinhadas com os ensinamentos das Escrituras.[53]
B.R. White afirma que o fator culminante para os
separatistas deixarem a Igreja Anglicana e passarem a se
reunir fora da igreja estatal foi sua busca por um
alinhamento às Sagradas Escrituras. White atestou que o
entendimento sobre a natureza da Igreja de Cristo dado
pelo separatismo inglês não era uma novidade da Reforma,
mas um ensino extraído diretamente da Bíblia,
principalmente, do Novo Testamento.[54] Sobre os
Separatistas Ingleses, Chris Traffanstedt afirma: Essa
demanda das forças políticas e religiosas da Inglaterra por
conformidade originou um grupo conhecido como
“Separatistas”. Os princípios por detrás desse movimento
eram a separação entre Igreja e Estado; doutrina pura, livre
de interesses políticos; e reforma geral da Igreja. Os
Separatistas levavam a Bíblia a sério e estavam
determinados a entregarem suas vidas por causa dos seus
ensinos. Eles afirmavam que a Igreja era formada pelos
redimidos, e não por pessoas politizadas.
[...] Além disso, eles prezavam por uma liturgia
simples que enfatizasse o Deus Santo. Eles achavam
que as formas de culto impostas pelo Estado e os
escritos auxiliares da Igreja da Inglaterra levavam o
povo a enfatizar a forma e não a Soberania de Deus
[substância]; assim, esse tipo de “auxílio” foi
desprezado.
Foi a partir desse chamado à pureza na igreja, tanto no
culto quanto na prática diária, que se originaram os
“batistas”.
 
1.3. Os Batistas Gerais
Os batistas surgiram em dois grupos distintos: os
primeiros ficaram conhecidos como “batistas gerais”, e
receberam esse título por acreditarem na expiação geral,
em oposição aos “batistas particulares”, que surgiram três
décadas depois e se posicionavam firmemente a favor da
expiação limitada (definida), sendo influenciados pela
teologia de homens como João Calvino.[55]
Sobre os batistas gerais, o livro A History of the
Bapstists, de Robert B. Torbet, afirma que foi na Holanda
que ocorreu o início da história dos batistas ingleses. Afirma
que o refugiado religioso John Smyth ficou conhecido por
alguns como “fundador das igrejas batistas modernas” por
ter adotado o credobatismo e composto um princípio batista
em sua Confissão histórica.[56]
Devido à perseguição aos não conformistas por parte
do governo, muitos refugiados religiosos encontraram
resguardo na Holanda. Esse país, desde 1595, acolheu os
separatistas ingleses que haviam ficado desamparados após
a execução de seus líderes em 1594. O primeiro grupo a sair
da Inglaterra, aproximadamente no final de 1607, foi o de
Gainsborough que tinha como líderes Thomas Helwys e
Smyth.[57] Entretanto, entre o final de 1608 e início de 1609,
Torbet explica, Smyth tornou-se anabatista e batizou a si
mesmo e a sua congregação: Smyth, sem dúvida sob a
influência dos menonitas de Waterlander, tornou-se um
anabatista. Ele havia chegado à decisão “de que crianças
não deveriam ser batizadas, porque (1) não há preceito e
nem exemplo no Novo Testamento de crianças que foram
batizadas pelos discípulos de João e de Cristo, e (2) Cristo
ordenou que fizessem discípulos ensinando-os e depois
batizando-os. No entanto, ainda que teologicamente
preparado para se voltar para os menonitas, ele se batizou
por efusão, depois batizou também Helwys e aqueles que o
desejaram dentre o restante de sua congregação, um total
de quarenta pessoas.[58]
Ainda sobre os batistas gerais, Torbet afirma que o
testemunho desses foi preservado por apenas um pequeno
número de pessoas: [...] a organização das igrejas batistas
gerais (isto é, aquelas que mantêm a visão arminiana de
uma expiação geral ou ilimitada) em solo inglês data de
1611 ou início de 1612, quando Thomas Helwys e seu
punhado de seguidores retornaram a Londres. Eles haviam
retornado ao país de onde haviam fugido da perseguição
alguns anos antes, com um objetivo em mente — propagar
sua fé. Assim, o testemunho batista foi preservado e
perpetuado por não mais do que dez pessoas corajosas.[59]
Torbet atesta que a congregação parece ter se
encontrado clandestinamente em Spitalfield, nos arredores
dos muros de Londres. Essa foi a primeira igreja batista em
solo inglês cuja origem possui provas históricas.[60]
 
1.4. Os Batistas Particulares
O outro grupo que provém dos puritanos separatistas
ingleses são os “batistas particulares”. Entretanto, eles são
distintos dos batistas gerais. Torbet explica que: [...] os
batistas particulares não tinham conexão com os
anabatistas continentais. Em vez disso, representaram um
passo adicional ao movimento do independentismo inglês
(congregacionalismo) em direção à sua conclusão lógica no
batismo de crentes professos. A origem das igrejas batistas
particulares na Inglaterra pode ser datada de cerca de
1638.[61]
Sobre o surgimento dos batistas particulares, A.C.
Underwood, em seu livro A History of the English Baptists,
comenta: Eles surgiram a partir de uma igreja independente
e mantiveram uma teologia calvinista. E, pelo fato de eles
acreditarem em uma expiação restrita e, portanto,
particular, confinada apenas aos eleitos, foram chamados
de “particulares”.[62]
Essa igreja, da qual posteriormente surgiriam os
batistas particulares, é conhecida como JLJ e foi iniciada em
1616, por Henry Jacob, em seu retorno à Inglaterra. É
importante notarmos que os batistas particulares
compuseram duas Confissões de Fé seguindo uma linha
teológica reformada. Sobre a primeira confissão batista de
Londres de 1644, Torbet explica: Naquele ano, para
esclarecer sua posição sobre o modo adequado de batismo,
quinze ministros batistas particulares, incluindo Spilsbery,
Kiffin e Knollys, incorporaram uma definição de batismo por
imersão em uma Confissão de cinquenta artigos de fé, aos
quais afixaram suas assinaturas. Sete igrejas batistas
particulares adotaram essa Confissão de Londres, como era
chamada, que expressava a teologia calvinista, estipulava o
batismo por imersão e defendia a liberdade religiosa. Com o
consequente reavivamento da imersão, os batistas deram
outro passo para longe de seus antepassados anabatistas.
[63]

Na mesma linha, acerca das duas confissões


produzidas pelos batistas particulares, Chris Traffanstedt
complementa:
Em 1644, os batistas particulares publicaram a
Primeira Confissão de Fé Batista. Essa Confissão era
calvinista e rejeitava todas as insinuações de que eles
eram “anabatistas”. Embora essa Confissão não fosse
muito clara, foi um importante documento que ajudou
a reunir todos os batistas particulares. Então em
1677, uma Segunda Confissão foi elaborada,
refletindo a Confissão de Westminster (1647) e a
Declaração de Savoy (1658). Em sua maior parte,
esse novo documento seguia a Confissão de
Westminster, mas em sua posição quanto ao governo
da Igreja, a Confissão Batista seguia a Declaração de
Savoy. A Confissão de Fé Batista estabelecia as
questões sobre qual tipo de poder os representantes
das associações das igrejas tinham sobre as igrejas
locais. Além disso, lidava com o batismo afirmando
sua posição a favor do batismo de crentes ao invés do
batismo infantil. Devemos ter em mente que as
discussões sobre esse assunto não se seguiram
devido aos “anabatistas”, mas surgiram de um desejo
intenso de refletir a Escritura tal como ele foi
entregue a nós.[64]
A Segunda Confissão de Fé Batista de Londres foi
emitida de forma anônima em 1677, devido à perseguição
que os batistas particulares estavam sofrendo. Ela foi,
então, republicada abertamente em 1688, mas só ganhou
maior circulação e reconhecimento geral em 1689. Em seu
livro Quem Foram os Puritanos?, Erroll Hulse afirma o
seguinte: Quando as condições melhoraram, em 1688, foi
possível publicar a Confissão que havia sido formulada
anteriormente [i.e., em 1677], mas a perseguição sofrida
impediu-a de ter uma grande circulação. A Confissão de
1677 tornou-se conhecida como A Confissão de Fé de 1689
somente pela maior divulgação que recebeu naquela época.
[65]

Sobre a doutrina e distintivos importantes desses


batistas, o professor de teologia histórica, Tom Nettles,
destacou:
Vimos que esses porta-vozes influentes da vida dos
batistas abraçaram a Bíblia como uma revelação
divina infalível. Eles se submeteram à sua autoridade
à luz do entendimento puritano do princípio regulador.
As doutrinas históricas, mesmo as expressões de
fórmula, do trinitarianismo ortodoxo e da cristologia,
estabeleceram os batistas em um fundamento sólido.
As perdas dessas doutrinas foram consideradas
trágicas e destrutivas para a fé cristã e para a
unidade batista. Além da autoridade bíblica e da
ortodoxia histórica, os batistas afirmaram o
entendimento protestante do Evangelho. Eles se
afastaram do sacramentalismo Católico Romano mais
do que qualquer outro grupo Protestante, tanto em
doutrina quanto em eclesiologia. Fortes visões da
iluminação, convicção e regeneração do Espírito
Santo deram forma forte e definitiva ao perfil batista.
Justificação pela fé, com um compromisso claro e
fortemente declarado com a imputação da justiça de
Cristo, concretizou seu testemunho evangélico. Essa
teologia prevaleceu em toda a comunidade batista.
Essas doutrinas dão testemunho inatacável da
posição histórica evangélica desses batistas ingleses
dos séculos XVII e XVIII.[66]
Sobre esse assunto, é importante ressaltarmos que
muitos desconhecem as raízes reformadas da teologia
batista e chegam a pensar equivocadamente que não
existem batistas reformados, como podemos ver no sincero
relato do presbiteriano Solano Portela sobre o assunto, em
seu prefácio do livro As Implicações Práticas do Calvinismo:
Alguns meses após, viajei duas horas com mais alguns
colegas até uma igreja onde o Pastor Martin pregaria. Na
cidade de Ocean City, New Jersey, conheci sua poderosa
oratória e impressionei-me com a sua doutrina e com a
profundidade e sinceridade de suas palavras. Conhecendo
um pouco mais de sua pessoa, algumas surpresas: “Mas
batista?”; “E os batistas não são contra a teologia
reformada?”. E assim, minha falta de conhecimento ia
sendo esclarecida; ia aprendendo que os batistas históricos
eram todos reformados; que o abandono das Doutrinas da
Graça era algo recente em sua história — ocorria há menos
de cem anos; que um dos maiores pregadores reformados
da história — Charles Spurgeon, era batista; que a confissão
de fé dos batistas antigos — a Confissão de Fé de Londres
(1689), era praticamente idêntica à Confissão de Fé de
Westminster; e assim por diante.[67]
Portanto, é inegável que, em suas raízes confessionais,
os batistas são reformados. E, como já vimos no capítulo
anterior, as principais confissões de fé reformadas eram
todas pactuais em sua estrutura de teologia bíblica, com
muitas semelhanças em diversos aspectos, mas havia um
distintivo pontual que culminou em uma diferença em
relação ao batismo, como explica Pascal Denault: Os
puritanos do século XVII podiam ser separados em três
grupos: presbiterianos, congregacionais e batistas. Os dois
primeiros grupos eram pedobatistas, ao passo que o
terceiro era credobatista. A divisão quanto à teologia do
pacto foi causada pela questão do batismo. Os pedobatistas
defendiam um entendimento da teologia do pacto e os
batistas defendiam outro.[68]
Veremos, mais à frente, que os batistas reformados
acreditavam que apenas os eleitos regenerados estavam no
Pacto da Graça, no qual se pode entrar unicamente pela fé.
Os batistas consideraram que nenhuma outra aliança, além
da Nova Aliança, foi o Pacto da Graça. Eles reconheceram
que o Pacto da Graça foi revelado sob todas as alianças
desde a queda, mas fizeram distinção entre a verdadeira
substância dessas alianças e o Pacto da Graça em si.[69]
Esses distintivos serão examinados detalhadamente em
capítulos posteriores.
O ponto que precisamos saber até aqui é que os
batistas particulares eram reformados e, em sua confissão,
seguiam uma teologia bíblica pactual que possuía alguns
distintivos em relação à teologia pedobatista, as quais
estudaremos pormenorizadamente mais à frente.
 
2. BATISTAS PACTUAIS NOTÁVEIS[70]
Alguns nomes importantes do passado defenderam
uma teologia pactual idêntica ou muito semelhante àquela
encontrada na Confissão de Fé Batista de 1689. Nessa lista
encontramos nomes como: John Spilsbery (1598-1668).
Pertenceu à primeira geração de batistas calvinistas, foi um
dos primeiros pastores dentre os batistas particulares e
pastoreou uma igreja batista calvinista, fundada em 1638.
Ele é um dos signatários da Primeira Confissão de Fé
Londrina de 1644 e de sua versão revisada, dois anos
depois. Um ano antes da emissão desse documento,
publicou um tratado sobre o batismo intitulado “A Treatise
Concerning the Lawful Subject of Baptisme” [Um Tratado
Acerca dos Candidatos Legítimos ao Batismo]. Ele apresenta
um entendimento da doutrina da aliança que é diferente
daquele dos seus contemporâneos pedobatistas. É de suma
importância que um dos mais antigos tratados dos Batistas
Particulares em defesa do credobatismo, o faça com base
na teologia da aliança. Isso mostra que a identidade batista
manteve, desde o princípio, um federalismo diferente
daquele pedobatista e que o batismo de crentes é resultado
de um entendimento diferente das alianças bíblicas.
Henry Lawrence (1600-1664). Foi um puritano
estadista associado à Oliver Cromwell, publicou um tratado
chamado “On Baptism” [Sobre o Batismo], defendeu um
federalismo de acordo com o credobatismo e criticou o
pedobatismo.
Thomas Patient ( † 1666). Um dos signatários da
Primeira Confissão de Fé Londrina, foi enviado como
missionário à Irlanda pelo governo de Cromwell e
estabeleceu a primeira comunidade de convicção batista ali,
a Waterford Baptist Church [Igreja Batista de Waterford].
Escreveu o tratado “The Doctrine of Baptism, And the
Distinction of the Covenants” [A Doutrina do Batismo, e a
Distinção das Alianças] (1654).
John Bunyan (1628-1688). É certamente um dos,
senão o mais conhecido dos puritanos, autor do livro “O
Peregrino”. Bunyan também escreveu um tratado sobre a
teologia da aliança que se encontra na coleção de suas
obras publicada em três volumes pela The Banner Of Truth,
intitulada “The Doctrine of the Law and Grace Unfolded” [A
Doutrina da Lei e da Graça Revelada].
Nehemiah Coxe ( † 1688). Possivelmente, o teólogo
batista mais significante no que diz respeito à teologia
pactual. Era de filho Benjamin Coxe, um dos signatários da
Primeira Confissão de Fé Londrina. Seu tratado “A Discourse
of the Covenants that God made with men before the Law”
[Um Discurso sobre as Alianças que Deus fez com os
Homens antes da Lei] (1681) traça as diferenças
fundamentais entre presbiterianos e batistas, baseado em
seus respectivos entendimentos da aliança abraâmica.
Benjamin Keach (1640-1704). Foi o principal teólogo
batista da segunda metade do século XVII. Os distintivos
fundamentais dos batistas estão presentes em seus
tratados.
Charles Haddon Spurgeon (1834-1892). O príncipe
dos pregadores foi um herdeiro da herança dos Batistas
Particulares, chegou a republicar a Confissão de Fé Batista
de 1689 e, na ocasião, afirmou: Pensei ser correto
reimprimir em uma forma econômica esta excelente lista de
doutrinas, que foram subscritas por ministros batistas no
ano de 1689. Nós precisamos de um estandarte pela causa
da verdade; pode ser que este pequeno volume ajude a
causa do glorioso Evangelho, testemunhando claramente
quais são as suas principais doutrinas […]”.[71]
Sobre a teologia pactual, Spurgeon fez a seguinte citação:
A doutrina do pacto divino está na raiz de toda a
verdadeira teologia. Já foi dito que aquele que
entende bem a distinção entre o Pacto de Obras e o
Pacto da Graça é um mestre em teologia. Estou
convencido de que a maioria dos erros que os homens
cometem sobre as doutrinas da Escritura se derivam
de erros fundamentais no que diz respeito aos Pactos
da Lei e da Graça.[72]
É notável que, para Spurgeon, a teologia pactual
estava na raiz de toda a verdadeira teologia, e que ele
tenha destacado a importância da Confissão de Fé de 1689,
a ponto de prefaciar sua reimpressão.
Atualmente, nomes como Pascal Denault, Richard
Barcellos, Samuel Renihan, James Renihan, Samuel Waldron,
Brandom Adams, Thomas Nettles e Jeffrey Johnson são
alguns dos diversos nomes que têm feito parte do legado
dos batistas pactuais e publicado vários livros sobre o
assunto. Até mesmo o renomado pregador Paul Washer
apresenta uma posição bem semelhante em seus livros.
Finalizamos este breve resumo sobre a identidade
histórica dos batistas com as palavras de Torbet sobre o
legado deixado por aqueles primeiros batistas: Tais foram os
primórdios dos batistas ingleses. Apesar da perseguição,
eles fizeram contribuições significativas para seus dias e
para as gerações futuras. Eles estavam entre os cristãos
que descobriram o indivíduo na religião. Eles levaram a
igreja a sério, construíram comunidades de fé reunidas
mediante compromisso pessoal simbolizado pelo batismo
dos crentes. Eles, como seus antepassados puritanos
separatistas, procuraram realizar o ideal de uma igreja pura
sem abandonar seu envolvimento na ordem social. Eles se
mantiveram pacientes, mas valentes, com uma convicção
fundamental de que a verdadeira religião deve ser
voluntária para ser válida.[73]
 
CONCLUSÃO
Vimos brevemente a origem dos batistas e sua
identidade pactual histórica. Mencionamos verdades
importantes, tais como: 1) Os batistas têm suas origens na
Reforma, especialmente nos Separatistas da Inglaterra.
2) Os batistas surgiram inicialmente como dois grupos
distintos, os “batistas gerais”, que criam na expiação geral,
e os “batistas particulares”, que tinham forte posição a
favor da expiação particular e foram influenciados pela
teologia de homens como João Calvino.
3) Os batistas particulares compuseram as suas
confissões de fé em uma linha teológica reformada.
4) As principais confissões de fé reformadas eram
todas pactuais em sua estrutura de teologia bíblica, com
muitas semelhanças em diversos aspectos, mas havia um
distintivo pontual que culminou em uma diferença em
relação ao batismo.
5) Nomes notáveis como John Spilsbery, Henry
Lawrence, Thomas Patient, John Bunyan, Nehemiah Coxe,
Benjamin Keach, Charles Haddon Spurgeon fazem parte
dessa história dos batistas.
A seguir, trabalharemos um breve panorama do enredo
das Sagradas Escrituras, antes de examinarmos alguns dos
principais termos teológicos usados para expressar
conceitos importantes da teologia pactual batista.
 
 
3

Um Resumo do

Enredo Das Sagradas Escrituras


 
Neste capítulo, faremos um sobrevoo panorâmico na Bíblia
para obtermos uma noção geral do seu enredo e
observaremos como a Confissão de Fé Batista de 1689
apresenta e compreende esse grande enredo.
Examinaremos, à luz das Sagradas Escrituras, um trecho
crucial da Confissão de 1689, no qual encontramos de
maneira sintetizada uma parte importante de sua teologia
bíblica. Em seu capítulo Sobre a Aliança de Deus, a
Confissão de Fé Batista de Londres explica: Essa Aliança é
revelada no Evangelho; primeiramente a Adão, na promessa
de salvação pela descendência da mulher, e depois, por
etapas sucessivas, até que a sua plena revelação foi
completada no Novo Testamento; e é fundada naquela
transação pactual eterna que houve entre o Pai e o Filho
para a redenção dos eleitos; e é somente pela graça dessa
Aliança que todos da posteridade do caído Adão, que já
foram salvos, obtiveram a vida e a bem-aventurada
imortalidade. O homem é agora totalmente incapaz de ser
aceito por Deus naqueles termos em que Adão permanecia
em seu estado de inocência.[74]
A Confissão Londrina fala a respeito de uma aliança
que foi revelada no protoevangelho, primeiramente a Adão,
por meio de uma promessa de salvação através de um
descendente da mulher, e essa promessa desenvolve-se ao
longo de todo o Antigo Testamento. Além disso, foi revelada
por meio de etapas sucessivas, alcançando sua consumação
somente no Novo Testamento. A confissão também afirma
que essa aliança é fundada em uma transação feita entre as
pessoas da Trindade, especificamente entre o Pai e o Filho,
na eternidade, para a salvação de um povo escolhido e que
somente através da graça dessa aliança é que os pecadores
da caída posteridade de Adão podem ser salvos, uma vez
que encontram-se em um estado de incapacidade de serem
aceitos nos mesmos termos de Adão enquanto ainda estava
em seu estado de inocência.
Ao longo desse livro, vamos examinar as Escrituras
para verificarmos se encontramos tais afirmações no relato
bíblico. Começaremos agora com um breve panorama das
Sagradas Escrituras.
1. ANTIGO TESTAMENTO
Deus criou todas as coisas (Gênesis 1:1). Fez o ser
humano à Sua imagem e semelhança (Gênesis 1:26). O
Senhor fez uma aliança condicional com Adão no Éden,
segundo a qual, se ele obedecesse, poderia comer da
árvore da vida e viver eternamente, porém, se
desobedecesse, morreria (Gênesis 3:22, 3:3), com todas as
implicações dessa morte (física, espiritual e eterna). Adão e
Eva, seduzidos pela serpente (o Diabo, Apocalipse 12:9),
pecaram contra Deus e quebraram essa aliança, sofrendo as
consequências da queda (Gênesis 3:17; Oséias 6:7). Por ser
Adão o cabeça federal (um indivíduo que representa um
grupo) da humanidade, toda a sua descendência foi afetada
por seu pecado (Romanos 5:12). Porém, o Senhor prometeu
que um descendente da mulher esmagaria a cabeça da
serpente e que ela lhe feriria o calcanhar (Gênesis 3:15).
Nota-se que a promessa divina a respeito de um
descendente da mulher que daria o golpe fatal na cabeça
da serpente é a primeira promessa do Evangelho nas
Escrituras (protoevangelho), apontando para o Messias,
aquele que viria para desfazer as obras do Diabo (1 João
3:8). Ao longo de todo o Antigo Testamento, a promessa a
respeito do descendente da mulher se desenvolveu através
de sombras, sinais e tipos que apontavam para Cristo
(Lucas 24:27; Colossenses 2:16-17; 2 Timóteo 3:14-15).
Após a queda, toda a criação foi afetada (Romanos
8:18). Os descendentes do primeiro casal protagonizam
uma história trágica: Caim mata Abel. Em seguida,
Lameque, filho de Caim, também se torna assassino e a
imoralidade se multiplica grandemente na terra (Gênesis 6).
Diante da perversidade do coração humano, o Senhor emite
um juízo, envia um dilúvio, porém preserva um
remanescente, Noé e sua família são salvos da morte em
uma arca. Após o dilúvio, o Senhor faz uma aliança com
Noé, cujo sinal seria um arco no céu (Gênesis 9:12) e cuja
promessa divina era de preservação da humanidade, pela
qual o Senhor garante que não destruiria mais a terra por
meio de um dilúvio. Essa garantia traz uma estabilidade
física para o desenvolvimento da promessa. Entretanto,
após o dilúvio, a corrupção humana permanece. Notamos,
na sequência, que os homens em direta rebelião contra
Deus, em vez de honrá-lO e obedecê-lO, buscam unir-se
para engrandecerem a si mesmos, erigindo uma torre que
chegasse até o céu para tornarem, a si mesmos, célebres. O
Senhor intervém mais uma vez, o que culmina na dispersão
deles pela terra após o Senhor confundir a língua que
falavam, a ponto de não entenderem uns aos outros
(Gênesis 11:4-9).
No desenrolar da história, o Senhor chama Abrão de Ur
dos Caldeus (Gênesis 12), a quem faz promessas a respeito
de uma terra, uma descendência e de que, por meio de seu
descendente, todas as nações da terra seriam abençoadas.
Essas promessas tinham aspectos físicos e espirituais,
aspectos terrenos e aspectos celestiais, aspectos
condicionais e aspectos incondicionais (Gênesis 12 e 17). Os
aspectos físicos da aliança abraâmica se cumpririam na
nação de Israel, o sinal desta aliança era a circuncisão
física, a terra prometida era Canaã e o desenvolvimento
dessa aliança se daria com sua descendência física na
nação de Israel sob a Antiga Aliança (Gálatas 4:24-31).
Entretanto, os aspectos espirituais da aliança abraâmica
referiam-se a Cristo, o descendente de Abraão (Gálatas
3:16), e se cumpririam na Nova Aliança. A circuncisão, na
Nova Aliança, é do coração, os herdeiros dessas promessas
são aqueles que creem em Cristo, os que têm a fé de
Abraão (Gálatas 3:29).
Notamos, mais uma vez, a condução do Senhor na
história. Lembrando da aliança que fez com Abraão, Deus
resgata o povo do Egito de maneira milagrosa sob a
liderança de Moisés. O Senhor endurece o coração de Faraó,
envia dez pragas, e após a última delas, o Senhor os tira
com mão forte do Egito, abrindo o mar vermelho para que o
povo hebreu passe e fechando o mar em juízo ao Faraó e
seu exército.
Com Moisés, Deus também faz uma aliança no Sinai
(Êxodo 20). A Antiga Aliança (aliança feita no Sinai) tem
aspectos condicionais, como o pacto feito com Adão no
Éden (obedeça e viva, desobedeça e morra). É uma aliança
nacional, condicional e temporal. A nação de Israel é
constituída nas leis cerimoniais, civis e morais da aliança
sinaítica. Ela serve para preservar a linhagem do Messias,
aponta para Ele através de suas sombras, sacrifícios e
cerimônias, mostra a necessidade de obediência perfeita à
Lei, de expiação de pecados, da necessidade de um
mediador e serve como aio para conduzir a Cristo (Gálatas
3:24-25).
Depois da morte de Moisés, o Senhor levanta Josué
para possuir a terra que prometera, Canaã, e de maneira
sobrenatural as muralhas de Jericó são derrubadas e a terra
é conquistada. Após a morte de Josué, o Senhor suscita
juízes para guiar a nação de Israel, que faz o que é mau
perante o Senhor, seguindo o costume de nações pagãs.
Em seguida, o povo de Israel, embora sabendo que o
Senhor era o seu Deus, deseja um rei, como os das outras
nações, e escolhe Saul. Esse rei, porém, torna-se um
transgressor. Então, um rei segundo coração de Deus, da
linhagem de Judá, foi escolhido conforme a profecia de Jacó
(Gênesis 49:9-12). Deus faz uma aliança com Davi e lhe
promete que um descendente seu herdaria o trono para
sempre. Essa promessa também se referia a Jesus Cristo
(Atos 2:25-35). Após a morte de Davi, seu Filho Salomão
assume o reinado e Israel tem um período de grande
prosperidade. Salomão, porém, não era ainda, em última
instância, o descendente prometido. Após sua morte, seu
filho Roboão age de maneira insensata e o reino acaba
divido em dois. Diante de tantas transgressões e
imoralidades os dois reinos que agora existem acabam
sendo levados para o cativeiro. O reino do Norte, para o
cativeiro na Assíria, e o reino do sul, para o cativeiro
babilônico.
No período do cativeiro babilônico, o rei Nabucodonosor
tem um sonho que revela eventos futuros, nesse sonho ele
vê uma grande estátua possuindo uma cabeça de ouro,
peito e braços de prata, ventre e quadris de bronze e as
pernas e os pés em parte de ferro e em parte de barro. No
sonho, uma pedra foi cortada, sem auxílio de mão, a qual
feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou
(Daniel 2:31-34). Daniel, por meio de uma revelação divina
interpreta o sonho do rei afirmando que a cabeça
representava o rei da Babilônia, Nabucodonosor, e as outras
partes, dinastias subsequentes, até que, nos dias desses
reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais
destruído, e esse reino não passará a outro povo, esmiuçará
e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá
para sempre (Daniel 2:44).
Muitos intérpretes entendem que os reinos
mencionados por Daniel correspondem à seguinte ordem: a
cabeça de ouro representa o rei da Babilônia
Nabucodonosor; o peito e braços de prata, o império Medo-
Persa; o ventre e os quadris de bronze, o império grego sob
o domínio de Alexandre, o Grande; as pernas e os pés, o
império Romano; e a pedra que derruba a estátua
representa Cristo e o avanço do Reino de Deus.[75]
Além disso, os profetas anunciam a vinda do Messias,
explicam que Ele seria a salvação divina até à extremidade
da terra (Isaías 49:6), declaram sua obra sacrificial e
vitoriosa em resgate do seu povo (Isaías 53), falam de uma
aliança superior que está por vir, mas não conforme a
aliança que foi feita no Egito, uma vez que o povo a
quebrou. Por meio dessa Nova Aliança, o Senhor imprime
Suas leis no coração do Seu povo particular e todos os que
fazem parte dela conhecem o Senhor que promete perdoar
Seus pecados e não lembrar de Suas iniquidades (Jeremias
31:31-34).
2. O NOVO TESTAMENTO
Por meio de Sua providência, o Senhor conduziu a
história, levantou e derrubou reinos, fez promessas e
alianças, mas um propósito central não pode ser perdido de
vista: John Owen compreendeu bem que “Cristo é […] o fim
principal de toda a Escritura”.[76] William Ames acerta ao
constatar que “o Antigo e o Novo Testamento podem ser
resumidos a estas duas coisas: ‘o Antigo promete o Cristo que
viria e o Novo testifica que Ele veio’”.[77]
Portanto, na plenitude dos tempos, Cristo Jesus vem,
nascido sob a Lei (Gálatas 4:4), da linhagem de Abraão e
Davi, o Filho de Deus, o Verbo que se fez carne (João 1:14),
como cumprimento de todas as profecias, para resgatar a
Sua igreja, aqueles que foram eleitos antes da fundação do
mundo (Efésios 1:4), consumar a obra que o Pai Lhe deu
para cumprir (João 17:4), pagar o preço por todos os
pecados do Seu povo (Mateus 1:21), de todos aqueles que
nEle creem (João 3:16). Cristo Jesus é a substância para
Quem todas as sombras apontavam, Ele é a revelação
superior (Hebreus 1:1-2). O sinal de Jonas apontava para a
Sua ressurreição (Mateus 12:39-40), a serpente no deserto,
para o Seu sacrifício (João 3:15), o maná apontava para o
pão da vida (João 6), Melquisedeque, para o Seu sacerdócio
real (Hebreus 7). Ele é o sumo sacerdote superior, o Rei
superior, o Profeta superior (Hebreus 1:1-4). Ele é o
descendente da mulher, o Segundo Adão (Romanos 5:19).
Os acontecimentos dos dias de Noé demonstram como será
Sua segunda vinda (Mateus 24.37-39), Ele é o descendente
de Abraão, por meio de Quem todas as nações seriam
abençoadas (Gálatas 3:16), Ele é o cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo (João 1:29), Ele é o descendente de
Davi que assenta no trono (Atos 2:25-36). A Nova Aliança
em Cristo Jesus é superior à Antiga. A Lei foi dada por
Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo (João
1:17).
A Nova Aliança é incondicional, todos os que fazem
parte dela conhecem o Senhor e tem seus pecados
perdoados, ou seja, essa aliança é um Pacto de Graça e é
feita com os salvos (Hebreus 8; Gálatas 4; Lucas 22:20). O
sangue de bodes e ovelhas não tinha poder para pagar
pecados (Hebreus 9:12), somente o precioso sangue de
Cristo Jesus é que nos redime de todo pecado (1 Pedro 1:18-
19). A Nova Aliança é estabelecida com todos aqueles que
foram regenerados, todos os que estão em Cristo, pois nEle
não há judeu nem grego, Ele é tudo em todos (Gálatas
3:28). Os gentios convertidos são enxertados na oliveira
(Romanos 11), fazem parte da aliança, como o apóstolo
Paulo afirma em Efésios 2:14-16: Porque ele é a nossa paz,
o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede
de separação que estava no meio, na sua carne desfez a
inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em
ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo
homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com
Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.
Portanto, a Nova Aliança é firmada com os crentes, os
eleitos, quer judeus, quer gregos, com todos que se rendem
a Cristo. A igreja de Deus é composta de judeus e gentios
convertidos a Cristo.
Entendemos que o reino de Deus já está entre nós
(Lucas 17:21; Mateus 3:2). Toda autoridade foi dada a
Cristo (Mateus 28:18), Ele assentou-se à destra da
majestade nas alturas (Hebreus 1:3), mas ainda não na
sua plenitude, que se dará em Sua segunda vinda e na
consumação de todas as coisas (Apocalipse 21:1). É o
período da proclamação do Evangelho por toda a terra
(Mateus 28:18-19), no qual chamamos os rebeldes para
renderem-se, enquanto há tempo, ao grande Rei que virá.
O Senhor Jesus Cristo voltará, descerá do céu com alarido
e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que
morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois,
aqueles que ficarem vivos, serão arrebatados juntamente
com eles nas nuvens, para encontrar o Senhor nos ares, e
assim estaremos sempre com o Senhor (1 Tessalonicenses
4:16-17). E então, virá o fim, quando Ele entregar o reino ao
Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem
como toda potestade e poder (1 Coríntios 15:24). Na
consumação de todas as coisas, Satanás e seus demônios
serão lançados no lago de fogo junto com todos os ímpios,
para sofrerem eternamente em justa condenação
(Apocalipse 20:10), e os justos viverão eternamente com
Deus e serão o Seu povo, e viverão em novos céus e nova
terra, onde habita a justiça (Apocalipse 21:1). Por fim, o
Deus triuno reinará absoluto em majestade e glória.
Assim, pudemos observar o enredo das Escrituras de
modo bem resumido, seguindo a linha: Criação, Queda,
Redenção e Consumação. No final das contas, ou alguém
está em Adão, tentando se salvar por suas próprias obras,
ou está em Cristo, sendo salvo por meio dEle. Cristo é o
cabeça federal da igreja. Na consumação dos tempos, o
Senhor reinará plenamente junto ao Seu povo, que resgatou
por Sua maravilhosa graça. Diante disso podemos dizer
junto com Paulo: Ó profundidade da riqueza da sabedoria e
do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus
juízos, e inescrutáveis os Seus caminhos! “Quem conheceu
a mente do Senhor? Ou quem foi Seu conselheiro?”. “Quem
primeiro lhe deu, para que Ele o recompense?”. Pois dEle,
por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a glória
para sempre! Amém.[78]
 
3. ALIANÇAS NAS ESCRITURAS
Nesse breve resumo também pudemos observar
algumas alianças mencionadas nas Escrituras, as quais
iremos trabalhar com maior profundidade posteriormente.
Entretanto, já podemos identificá-las:
Aliança de Deus
Passagens Bíblicas:
com:
Gênesis 2:15-17; 3:22; 3:3;
Adão 3:17 Oséias 6:7 Romanos
5:12
Noé Gênesis 6:18, 9-17; 9:12
Abraão Gênesis 12:1-3; 15:12-21;
17:1-14
Êxodo 19:6-8; 15:12-21;
Moisés
17:1-14
2 Samuel 7:8-16; 23:5 Salmo
Davi
89:3; 132:12 2 Crônicas 13:5
Hebreus 8:6-12; 9:15; 13:20
Jesus Cristo 1 Coríntios 11:25 Gálatas
4:24-26 / 2 Coríntios 3:6
 
CONCLUSÃO
Neste capítulo, tivemos a oportunidade de passear
pelas Escrituras e notar várias passagens importantes para
compreendermos o desenvolvimento de seu enredo. Alguns
desses eventos marcantes foram destacados pela Confissão
de Fé de 1689, como por exemplo: 1) A queda de Adão
afetou toda a sua descendência, pois ele era o
representante federal da humanidade.
A Confissão de Fé Batista de 1689 concorda: “Nossos
primeiros pais, por esse pecado, decaíram de sua retidão
original e da comunhão com Deus, e nós neles, e por isso a
morte veio sobre todos: todos nos tornamos mortos em
pecado e totalmente corrompidos em todas as faculdades e
partes da alma e do corpo”.[79]
2) Um Salvador foi prometido desde Gênesis
3:15.
A Confissão de Fé Batista de 1689 afirma: “Essa Aliança
é revelada no Evangelho; primeiramente a Adão na
promessa de salvação pela descendência da mulher”.[80]
3) Essa promessa se desenvolveu ao longo de
todo o Antigo Testamento, por etapas sucessivas.
Micah e Samuel Renihan afirmam que a promessa de
redenção informa e une toda a história redentora.[81] A
Confissão de Fé Batista de 1689 cita: “e depois por etapas
sucessivas”.[82] Notamos diversas sombras, tipos e figuras
que apontavam para Cristo e várias alianças que Deus fez
que prepararam o caminho para a vinda do Messias na
plenitude dos tempos.
4) O cumprimento dessa promessa se deu
somente na Nova Aliança em Cristo.
A Confissão de Fé Batista de 1689 concorda: “Até que a
sua plena revelação foi completada no Novo Testamento”.
[83]

5) A Nova Aliança é a realização completa, na


história, da eterna aliança da Redenção.
A Nova Aliança, o Pacto da Graça, ocorreu com base na
eterna aliança entre as pessoas da Trindade, antes da
fundação do mundo. A Confissão de Fé Batista de 1689
explica: “e é fundada naquela transação pactual eterna que
houve entre o Pai e o Filho para a redenção dos eleitos”.[84]
6) Existem apenas duas posições em que os seres
humanos podem se encontrar, ou estão condenados
em Adão ou salvos em Cristo.
A Confissão de Fé Batista de 1689 afirma: “e é somente
pela graça dessa Aliança que todos da posteridade do caído
Adão, que já foram salvos, obtiveram a vida e a bem-
aventurada imortalidade. O homem é agora totalmente
incapaz de ser aceito por Deus naqueles termos em que
Adão permanecia em seu estado de inocência”.[85]
Observamos que o ensino da Confissão de Fé Batista
de 1689 foi fielmente extraído das Sagradas Escrituras e
expõe de maneira condensada o seu grande enredo.
No próximo capítulo, examinaremos os assuntos de
maneira mais específica e teológica. Trabalharemos o
significado de alguns termos, como “tipo” e “antítipo”,
“cabeça federal”, “Pacto de Obras”, “Pacto da Graça”,
“Pacto da Redenção” etc., e descobriremos como eles
correspondem às verdades encontradas na Escritura.
 
 
4

O Pacto de Obras

Pacto de Obras, Pacto da Graça, Pacto da Redenção. O que


significam esses termos? Qual é a necessidade de
utilizarmos termos que não são encontrados nas Sagradas
Escrituras? Isso é correto? Neste capítulo começaremos a
lidar com essas questões e conheceremos melhor a teologia
bíblica batista pactual em seus termos teológicos e
confessionais, a começar do pelo Pacto de Obras. Mas antes
disso, vamos descobrir o significado de alguns termos
importantes.
 
1. DEFINIÇÃO DE TERMOS
Existem alguns termos que utilizamos para obtermos
uma melhor compreensão da teologia bíblica e resumir
pontos importantes. Esses termos, quando empregados,
servem para exprimir realidades bíblicas. Embora alguns
deles não estejam expressos literalmente nas Escrituras, eles
expõem conceitos extraídos delas, como, por exemplo, o
termo “Trindade”, que não é encontrado literalmente na
Escritura, mas expressa algo que é claramente encontrado
na Bíblia, ou seja, o Deus que é, ao mesmo tempo, único e
tri-pessoal (Pai, Filho e Espírito Santo). John Owen defende a
utilização de tais termos ao afirmar: […] deverá ser feito o
uso de algumas palavras e expressões que, talvez, não
estejam literal e formalmente contidas na Escritura; mas
essas palavras e expressões, para nossas concepções e
apreensões, servirão apenas para expor o que está contido
nas Escrituras. E negar a liberdade para isso, e até mesmo a
necessidade disso, é negar toda a interpretação da
Escritura, todos os esforços para expressar o sentido das
palavras para o entendimento uns dos outros, o que é, em
uma palavra, tornar a própria Escrituras completamente
inútil. Pois se for ilegítimo falar ou escrever o que eu
concebo ser o sentido das palavras da Escritura, e a
natureza do que é significado e expressado por elas,
também é ilegítimo para mim pensar ou conceber em minha
mente o sentido das palavras ou da natureza das coisas, e
isso implica em nos embrutecermos a nós mesmos, em
frustrar todo o desígnio de Deus ao nos dar o grande
privilégio de Sua Palavra.[86]
Portanto, é importante definirmos alguns desses
termos antes de avançarmos, para evitarmos equívocos.
 
1.1. Pacto/Aliança
Sobre os pactos feitos por Deus para com os homens,
Kline define uma aliança como “um compromisso com
sanções divinas entre um Senhor e um servo”.[87]
Entretanto, a Nova Aliança (Pacto da Graça), trate-se mais
de uma concessão unilateral do que um pacto bilateral, uma
vez para os homens é incondicional uma vez que Deus é
quem toma a iniciativa e Cristo é cumpre as condições no
lugar de seu povo.[88]
 
1.2. Promessa
Além disso, é importante fazermos a distinção entre
promessa e aliança. John Spilsbery ressalta a diferença
entre elas, mostrando que uma promessa sem resposta não
é uma aliança, esse entendimento será útil para evitarmos
certos equívocos no desenrolar do estudo. Segue a definição
de Spilsbery do que queremos dizer com “promessa”:
Sabemos que toda promessa não é uma aliança: há uma
grande diferença entre uma promessa e uma aliança. Que
seja bem considerado o que aqui se quer dizer por
promessa, que é o Messias enviado por Deus, ou a
descendência em quem as nações devem ser abençoadas;
e, portanto, a promessa consiste no envio de um Salvador
ou Redentor para Israel.[89]
 
1.3. Federalismo de 1689
A palavra “federal” vem da palavra latina “foedus” e
significa pacto ou aliança. Por exemplo, “República
Federativa do Brasil” significa uma república de estados
confederados, ou seja, estados que têm uma aliança entre
si, que estão aliançados. O número 1689 vem do ano de
1689 e diz respeito a um tipo de aliancismo que é
encontrado nessa confissão. Mais especificamente, esse
termo foi cunhado em distinção ao Federalismo de
Westminster e o Federalismo Batista do Século XX, o qual
era um federalismo parecido com o encontrado na
Confissão de Westminster. O principal distintivo do
Federalismo Batista é que ele compreende que há uma
diferença substancial entre a Antiga e a Nova Aliança, ou
seja, que a Antiga e a Nova Aliança não são apenas
administrações do Pacto da Graça, mas são alianças
substancialmente distintas. Essa é a distinção fundamental
do Federalismo de 1689 em relação ao modelo do
Federalismo de Westminster e de Savoy, que entendem o
federalismo sob uma aliança com duas administrações. O
Federalismo do Século XX via também o federalismo dessa
maneira, mas seus propositores aderiam ao credobatismo
não por conta do modelo pactual em si, e sim por causa do
princípio regulador do culto, ou seja, porque na Escritura
não havia mandamento para batizar crianças. Portanto, a
diferença do Federalismo de 1689 para os outros tipos de
federalismos credobatistas é que o credobatismo, no
Federalismo de 1689, ocorre por causa do seu entendimento
pactual, já o federalismo nos outros modelos acontece não
por conta de seu modelo pactual, mas por conta do
princípio regulador do culto.
 
1.4. Cabeça Federal
Samuel Renihan define cabeça federal como “um
indivíduo que representa um grupo” e fundamenta:
Uma parte essencial de um pacto é o cabeça federal.
Um cabeça federal é um indivíduo que representa um
grupo. O pai é o chefe da família. Fala e age pela
família. Da mesma forma que a cabeça fala pelo
corpo, o pai fala pela família etc. E estamos usando a
palavra “cabeça”, aqui, da mesma maneira. Deus
sempre faz ou lida, em Seus pactos, com um cabeça
federal. Esse indivíduo representa um grupo e Deus
decide e determina a quem o indivíduo representa. É
assim com Adão, Noé, Abraão, Davi e Cristo. Todos
eram representantes de um grupo. Isso é importante
porque, quando estamos analisando ou investigando
a associação de um pacto, a única coisa que temos
que fazer é perguntar quem o cabeça federal
representa. Ou de outra perspectiva, quem são
aqueles que pertencem ao cabeça federal? A adesão
de um pacto depende do cabeça federal.[90]
 
1.5. Tipo/Antítipo
Richard Barcellos define tipo como “uma pessoa, um
lugar, uma instituição ou um evento histórico designado por
Deus para apontar para alguma pessoa, lugar, instituição ou
evento históricos futuro”. E exemplifica: Primeiro, um tipo é
uma pessoa, um lugar, uma instituição ou um evento
histórico designado por Deus para apontar para alguma
pessoa, lugar, instituição ou evento históricos futuro. Um
exemplo disso seria o sistema sacrificial revelado a nós no
Antigo Testamento. Essa instituição foi designada por Deus
para apontar para o sacrifício definitivo de Cristo. Segundo,
aquilo para o quê os tipos apontam são sempre maiores que
os tipos em si. Por exemplo: “o sangue de touros e bodes”
poderiam apontar para Cristo, mas não poderiam e nem
fizeram o que o sacrifício de Cristo fez — tirar os pecados
(Hebreus 10:4, 11-14). Terceiro, tipos são ao mesmo tempo
semelhantes e diferentes de seus antítipos. O sangue de
animais foi derramado; o sangue de Cristo foi derramado. O
sangue de animais não tirava o pecado; o sangue de Cristo
tira o pecado. Quarto, os antítipos nos dizem mais acerca de
como seus tipos antecedentes funcionavam como tipos. O
sangue de Cristo tira o pecado; o sangue de animais
apontava para isso.[91]
O antítipo é a substância daquilo que foi prefigurado
pelo tipo, é a realidade para a qual o tipo apontava. Por
exemplo, o sangue e sacrifício de animais no Antigo
Testamento era o tipo que apontava para o antítipo, o
sacrifício de Cristo.
 
2. A TEOLOGIA PACTUAL NA CONFISSÃO DE FÉ DE
LONDRES DE 1689
Agora que já sabemos a definição de alguns termos
importantes, vamos avançar em nossos estudos sobre a
teologia pactual encontrada na Segunda Confissão de Fé
Batista de Londres de 1689. Jeffrey Johnson resume o ensino
sobre o federalismo batista na Confissão: Historicamente, os
batistas reformados são pactuais. Embora eles difiram de
seus irmãos presbiterianos em algumas questões-chave, de
acordo com a Confissão de Fé Batista de Londres de 1689, os
batistas estavam igualmente comprometidos com uma
robusta estrutura pactual da história da redenção. De fato,
cada capítulo da Confissão é construído sobre uma matriz
pactual. Embora o capítulo 7 seja inteiramente dedicado às
alianças, os capítulos sobre criação, providência, queda do
homem, Cristo, justificação, arrependimento, Evangelho, boas
obras e perseverança são explicados a partir de uma
perspectiva pactual.
Para nossos antepassados batistas, uma alteração da
doutrina dos pactos é uma alteração do Evangelho de
Jesus Cristo. O Evangelho, em seu contexto mais
amplo, inclui o cumprimento do Pacto de Obras pelo
Segundo Adão, Jesus o Cristo, que foi quebrado pelo
primeiro Adão; o Segundo Adão suportou suas
maldições e assegurou suas bênçãos para todos
aqueles que são escolhidos por Deus para serem
representados pelo Segundo Adão no Pacto da Graça.
Com isso em mente, o capítulo 7 da Confissão
enfatiza três verdades essenciais relacionadas ao seu
arcabouço pactual. O parágrafo 1 confessa um Pacto
de Obras pré-lapsariano. O parágrafo 2 confessa um
Pacto de Graça pós-lapsariano.[92] O parágrafo 3
confessa um Pacto de Redenção eterno.[93]

Observamos, então, que ao estudarmos a teologia pactual


batista constatamos a existência de três grandes pactos: O
Pacto de Obras, o Pacto da Graça e o Pacto de Redenção.
Passaremos a considerar o Pacto de Obras.
 
2.1. Pacto de Obras
O Pacto de Obras diz respeito à aliança feita por Deus
com Adão no Éden antes da queda. Embora o termo “pacto”
ou “aliança” não esteja literalmente expresso, um
compromisso com sanções divinas entre um Senhor e um
servo é claramente notado.
Percebemos que o pacto com Adão exigia que ele não
comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal. Se
violasse esse preceito, morreria (Gênesis 2:16-17). A quebra
desses termos traria consequências, tais como não poder
comer da árvore da vida e obter vida eterna, ou seja, não
teria as bênçãos que receberia por sua obediência (Gênesis
3:22). O pecado de Adão afetou a todos os seres humanos,
pois ele era o cabeça pactual da raça (Romanos 5:12). O
texto de Romanos 5:13 fala que a morte reinou de Adão até
Moisés, e que Adão era a figura de um outro que viria.
Romanos 5:19 fala que pela desobediência de Adão muitos
tornaram-se pecadores. Romanos 5:18 fala que a ofensa de
Adão trouxe juízo sobre todos os homens para a
condenação. Isaías 24:5-6 afirma que a maldição que se
estende à toda a terra surgiu devido à transgressão das leis,
mudança/violação dos estatutos; e Oséias compara a
quebra da aliança do povo com a transgressão de Adão
(Oséias 6:7). Portanto, notamos que esse conceito é bíblico
e que foi extraído das Escrituras. A Confissão de Londres
relata: Deus deu a Adão uma lei de obediência universal,
escrita em seu coração, e um preceito particular de não
comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal,
à qual Ele o obrigou, e à toda sua posteridade, para pessoal,
inteira, exata e perpétua obediência; prometeu vida com
base em seu cumprimento, e ameaçou com a morte a
violação dela; e o dotou com o poder e a capacidade para
guardá-la.[94]
Nehemiah Coxe, explica:
Essa era uma lei eterna e uma regra invariável de
justiça pela qual todas as coisas que concordam com
a santidade e retidão da natureza divina eram
requeridas, e tudo que lhe era contrário era proibido.
Essa lei era interna e subjetiva a Adão, sendo
comunicada a ele pela sua natureza racional, e escrita
em seu coração, de maneira que ele não precisasse
de nenhuma revelação externa para aperfeiçoar seu
conhecimento dela. E, portanto, na história de sua
criação não há nenhum outro relato disso, senão o
que foi dito (e repetido duas vezes) que ele foi feito
imagem de Deus. O apóstolo nos ensina que [a
imagem de Deus] consiste na retidão e na verdadeira
santidade (Efésios 4:24). O resumo dessa lei foi
posteriormente dado em Dez Palavras no Monte Sinai
e ainda mais brevemente por Cristo, que as reduziu a
dois grandes mandamentos acerca do nosso dever
tanto para com Deus como para com nosso próximo
(Mateus 22:37-40). E isso, como lei e regra de justiça,
é imutável e invariável em sua natureza, bem como o
é a natureza e vontade do próprio Deus, cuja
santidade nela está estampada e por ela é
representada.
Agradou à soberana Majestade Celestial acrescentar a
essa lei eterna um preceito cerimonial no qual Ele
ordenou que o homem não comesse do fruto de uma
árvore no meio do Jardim do Éden. Essa árvore é
chamada de árvore do conhecimento do bem e do mal
(Gênesis 2:16-17, 3:3). O comer desse fruto não era
algo mau em si mesmo, mas assim se fez por causa da
proibição divina. Então era necessário que a vontade
de Deus no que diz respeito a isso fosse revelada e
declarada explicitamente ao homem.[95]
Os puritanos consideraram que a presença de uma
promessa e de uma ameaça coexistindo com um
mandamento, era uma indicação de que esse mandamento
não era uma simples lei, mas um pacto.[96] Como vemos em
Gênesis 2:15, 17: “Mas da árvore do conhecimento do bem
e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela
comeres, certamente morrerás”. Samuel Renihan destaca: A
árvore do conhecimento do bem e do mal era um
testemunho visual para Adão de que a desobediência leva à
morte. O salário do pecado é a morte. É por isso que
entendemos que o oposto é visto na outra árvore, que leva
o nome “a árvore da vida”. A árvore da vida era um
testemunho visual para Adão de que, se ele obedecesse,
receberia a vida eterna.[97]
Nehemiah Coxe corrobora a partir da alusão que Cristo
faz a ela no Novo Testamento em Apocalipse 2:7:
[...] ali, Ele promete uma recompensa eterna àquele
que vencer: “dar-lhe-ei a comer da árvore da vida,
que está no meio do paraíso de Deus”. Isso é assim
em razão de Deus haver designado essa árvore para
ser uma garantia de vida eterna para Adão nos
termos e condições de um Pacto de Obras, e pela
analogia da recompensa que Cristo dá a seus fiéis nos
termos de outro pacto.[98]
Notamos esse ponto em Gênesis 3:22-23: “Então disse
o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós,
sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua
mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva
eternamente, o Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim
do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado”. Além
disso, textos em livros posteriores parecem tratar desse
acontecimento como uma quebra de aliança, como é
possível notarmos em Isaías 24:5-6 e Oséias 6:7. Meredith
G. Kline explica: De fato, é possível que a própria Bíblia, em
referências posteriores a Gênesis 1–3, aplique o termo
berith [i.e., aliança] à essa situação, assim como 2 Samuel
23:5 e Salmos 89:3 se referem à revelação pactual de Deus
a Davi como uma berith, mesmo o termo não tendo sido
empregado no relato de 2 Samuel 7. Isaías 24:5 e Oséias
6:7 têm sido sugeridos como exemplos desse fato. Apesar
de o significado de ambas as passagens ser contestado, a
aliança eterna de Isaías 24:5 definitivamente parece referir-
se aos acontecimentos da criação e Oséias 6:7
provavelmente se refere a Adão como o quebrador da
aliança.[99]
Portanto, notemos o texto de Isaías 24:5-6 que explica
que a maldição que se estendia à toda a terra surgiu devido
à transgressão das leis, à violação dos estatutos e quebra
da aliança: Na verdade, a terra está contaminada por causa
dos seus moradores, porquanto transgridem as leis, violam
os estatutos e quebram a aliança eterna. Por isso, a
maldição consome a terra, e os que habitam nela se tornam
culpados; por isso, serão queimados os moradores da terra,
e poucos homens restarão.
John N. Oswalt explica, acerca desse texto, que sua
referência mais ampla é à aliança implícita entre o Criador e
a criatura, na qual o Criador promete vida abundante em
troca da criatura viver em consonância com as normas
estabelecidas na criação.[100] O texto de Oséias compara a
quebra da aliança do povo com a transgressão de Adão.
Barcellos explica que “embora alguns intérpretes disputem
o significado dessa passagem, a tradução “como Adão” têm
vasto amparo histórico, datando de, pelo menos, Jerônimo”.
[101] Benjamin Warfield comenta:

Nenhuma objeção exegética como tal [previamente


discutida por Warfield] se sustenta contra “como Adão”.
Quaisquer dificuldades que possam aparecer contra essa
tradução, de fato, são trazidas de fora da própria frase. A
tradução é completamente natural. A transgressão de Adão,
como grande ato normativo da quebra do pacto, tornou-se
naturalmente o padrão contra o qual o atrevimento de Israel
ao violar a aliança pudesse ser comparado. E Oséias, que
particularmente ama alusões à história antiga de Israel (cf.
2:3, 9:10, 11:8, 12:4) foi o profeta a considerar aqui o
pecado de nosso primeiro pai.[102]
O texto de Oséias 6:7 afirma: “Mas eles transgrediram
a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente
contra mim”. Barcellos afirma que “isso prova que os
teólogos pactuais do século XVII não inventaram o conceito
de um pacto com Adão, e que o uso de Oséias 6:7 como
fundamento bíblico para tal conceito não era algo novo”.
[103] Foi dessa maneira que os teólogos reformados
entenderam o Pacto de Obras feito com o homem no Éden,
como Pascal Denault afirma: Para compreender bem a
queda do homem, é necessário explicar o quadro teológico
no qual ela aconteceu, ou seja, o Pacto das Obras. Essa
aliança, mesmo não sendo denominada, é claramente
subentendida no primeiro parágrafo do capítulo 6 e em
vários outros lugares da Confissão de Fé [1689]: (Parágrafo
1). Deus criou o homem justo e perfeito, e lhe deu uma lei
justa, que seria para a vida se ele a tivesse guardado, ou
para morte, se a desobedecesse. Porém o homem não
manteve por muito tempo a sua honra.[104]
Portanto, notamos que Deus estabeleceu um pacto (um
compromisso com sanções) com a humanidade, e ele era
um Pacto de Obras, ou seja, dependia da perfeita
obediência de Adão. A vida eterna seria dada a Adão e,
nele, à sua posteridade, sob a condição de uma perfeita
obediência pessoal. Logo, se obedecesse aos termos dessa
aliança, viveria eternamente, comeria da árvore da vida e
estaria perpetuamente em um estado de benção e glória
com Deus (Gênesis 3:22). Entretanto, se desobedecesse,
comendo da árvore do conhecimento do bem e do mal
(Gênesis 2:17), seria amaldiçoado, morreria e sofreria todas
as implicações dessa morte, pois o salário do pecado é a
morte. Richard Barcellos define Pacto de Obras como: O
comprometimento divinamente sancionado ou o
relacionamento imposto por Deus a Adão, que era um
representante sem pecado da raça humana (ou pessoa
pública), um filho de Deus feito à Sua imagem e
semelhança, condicionado à obediência sob pena pela
desobediência, tudo isso para o aperfeiçoamento do estado
do homem.[105]
Outro fator importante é que uma parte essencial de
um pacto é o cabeça federal (um indivíduo que representa
pactualmente um grupo). Neste caso, Adão representava
toda a humanidade. Sabemos, através das Escrituras, que
Adão quebrou a aliança feita com Deus ao comer da árvore
do conhecimento do bem e do mal (Oséias 6:7; Romanos
5:14; Gênesis 3:17) e, por ser o representante pactual da
humanidade, toda sua descendência foi afetada por seu
pecado. John Owen resumiu o conceito puritano do Pacto de
Obras, após a queda, da seguinte maneira: “O homem
continuou sob a obrigação de dependência de Deus e
sujeição à Sua vontade em todas as coisas. […] Mas o
relacionamento especial de mútuo interesse em virtude do
primeiro pacto cessou entre eles”.[106] A Confissão Londrina
explica: Sendo eles os ancestrais e, pelo desígnio de Deus,
os representantes de toda humanidade, a culpa do pecado
foi imputada à toda a sua descendência, e a corrupção
natural passou a todos os seus descendentes que deles
procedem por geração ordinária. Eles são agora concebidos
em pecado e, por natureza, filhos da ira, escravos do
pecado, sujeitos à morte e a todas as outras misérias
espirituais, temporais e eternas, a menos que o Senhor
Jesus os liberte.[107]
Sendo assim, o pecado de Adão afetou a todos os seres
humanos, pois ele era o cabeça pactual da raça.
 
2.1.1. O Pacto de Obras e o Evangelho
Após a queda, o pecado original afetou todos os
homens. Por ter Adão como o seu representante, toda a
humanidade foi maculada por seu pecado. O texto de
Romanos 5:12 testifica: “Portanto, como por um homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim
também a morte passou a todos os homens porque todos
pecaram”.
Além disso, o texto de Romanos 5:14 fala que: “No
entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre
aqueles que não tinham pecado à semelhança da
transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia
de vir”, Adão era um “tipo” de Cristo. Mais adiante, o texto
de Romanos 5:18 afirma que a ofensa de um só homem
(Adão) trouxe juízo sobre todos os homens para a
condenação, mas pela justiça de um só (Cristo) veio a graça
para justificação de vida dos homens: “Pois assim como por
uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para
condenação, assim também por um só ato de justiça veio a
graça sobre todos os homens para justificação de vida”.
Em seguida, Romanos 5:19 atesta que pela
desobediência de Adão muitos tornaram-se pecadores, e
pela obediência de Cristo muitos serão feitos justos:
“Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos
foram feitos pecadores, assim pela obediência de um
muitos serão feitos justos”. Barcellos destaca o Pacto de
Obras nesse texto: É chamado “Pacto de Obras” devido ao
fato de que era condicionado à obediência de Adão, ou suas
obras. O termo “Obras”, na expressão “Pacto de Obras”, é
um sinônimo de obediência. É um termo que reflete uma
interpretação bíblica subsequente e, portanto, infalível, da
vocação edênica de Adão (veja Romanos 5:12-21). Romanos
5:19 justifica o termo quando diz: Logo, assim como por
meio da desobediência de um só homem muitos foram
feitos pecadores, assim também, por meio da obediência de
um único homem muitos serão feitos justos (ênfase
adicionada).[108]
Nehemiah Coxe explica:
O pacto de Deus com Adão não deve ser considerado
como se dissesse respeito somente a esse indivíduo.
Pelo contrário, Deus o tratou como raiz e
representante de toda a humanidade que nasceria
dele, de acordo com o curso ordinário da natureza, e
seria contada como que estando nele, sua raiz natural
e federal. Desse modo, se Adão permanecesse no
pacto, toda a humanidade permaneceria, mas, em
sua queda, todos pecaram e caíram nele. “Porque,
como pela desobediência de um só homem, muitos
foram feitos pecadores” (Romanos 5:19). E em
relação a isso é dito que ele é o tipo (e Cristo é o
antítipo) ou figura daquele que estava por vir. Pois,
como o pecado de Adão foi imputado a todos quantos
estavam em Adão, assim também a obediência de
Cristo é imputada a todos que estão em Cristo.[109]
Portanto, entender corretamente o “Pacto de Obras”
nos traz uma compreensão bíblica da queda e seus efeitos
para a humanidade, nos apresenta o quadro legal no qual
compreendemos o que é o pecado e suas implicações para
toda a criação. Esse entendimento será essencial para
nossa compreensão sobre o Evangelho. Jeffrey Johnson
complementa: A teologia da aliança batista, por outro lado,
entende que a salvação e a justificação sempre
pertenceram à Aliança da Graça. No entanto, também
entende que o julgamento e a condenação sempre vieram
como resultado da Aliança das Obras. A Aliança de Obras
não cessou depois que foi quebrada pela queda de Adão; ao
contrário, ela permaneceu em operação e continua
mantendo o homem caído em cativeiro até que ele seja
espiritualmente transferido, somente pela fé, para dentre o
número dos membros da Aliança da Graça. A lei de Deus
deve prevalecer sobre o homem até que ela seja satisfeita,
tanto em suas penalidades quanto em suas exigências.[110]
Sendo assim, notamos a necessidade de obediência
perfeita, sem nenhuma transgressão à Lei de Deus, a qual
nenhum de nós, da caída posteridade de Adão, conseguiria
cumprir. Eis o grande dilema: como o Deus todo poderoso,
soberano e justo poderia salvar pecadores como nós sem
deixar de ser um justo juiz e condenar aqueles que
transgrediram suas leis santas, justas e boas? Um preço
precisava ser pago por nós e as exigências divinas
precisavam ser atendidas. Esse é o motivo pelo qual o
último Adão, Jesus Cristo, se tornou “obediente até à morte,
e morte de cruz” (Filipenses 2:8).[111]
Cristo Jesus, o Filho de Deus, obedeceu perfeitamente a
todas as exigências divinas no lugar do Seu povo. É
explícito, então, o contraste claro entre a desobediência de
Adão e a obediência de Cristo. A obediência de Adão foi
provada em seu encontro com a serpente (o Diabo) no
jardim e, por seu ato de desobediência, a condenação e a
maldição veio sobre todos os homens e afetou todo o seu
ser. Agora, os seres humanos, caídos, encontram-se mortos
em seus delitos e pecados (Efésios 2:1), sem condição
alguma de se justificarem, embora as exigências de
obediência perfeita continuem em vigor. Portanto, todos
necessitam escapar da ira vindoura e da condenação que os
espera, todos precisam de um salvador.
A boa notícia é que o prometido “descendente da
mulher que esmagaria a cabeça da serpente”, aquele que
viria desfazer as obras do Diabo e resolver o problema do
pecado, Jesus Cristo, veio ao mundo, cumpriu toda a justiça,
foi tentado pelo Diabo no deserto, sem incorrer em pecado,
entregou-Se como um sacrifício a Deus, tomando sobre Si,
no madeiro, o cálice da ira de Deus no lugar de pecadores.
Sendo o Deus-homem, Jesus Cristo foi capaz de aplacar
a ira divina e salvar uma grande multidão de pessoas “de
toda a tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse 5:9) e de
colocar-Se como perfeito Mediador entre Deus e os homens.
Por meio do sacrifício de Cristo há reconciliação entre Deus
e todos aqueles que são conduzidos ao arrependimento e fé
para a salvação.
Jesus Cristo foi morto, sepultado, mas ao terceiro dia
ressuscitou para a justificação dos crentes (1 Coríntios 15:1-
5). Cristo é o Segundo Adão que representa e resgata Seu
povo, é o cabeça federal da igreja. Barcellos explica que “a
vida eterna foi obtida por Cristo, o antítipo de Adão, por nós
e nos dada pelo próprio Cristo. A qualidade de vida obtida
por Cristo para nós e que nos é dada não é a que Adão teve
e perdeu, mas aquela que Adão falhou em obter”.[112] O
texto de Romanos 5:6-11, afirma: Porque Cristo, estando
nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque
apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que
pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor
para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós
ainda pecadores. Logo, muito mais agora, tendo sido
justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com
Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já
reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E não somente
isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor
Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação.
Logo, existem duas posições possíveis onde todo e
cada um dos seres humanos pode estar. Ou você encontra-
se em Adão, tentando inutilmente salvar-se por suas
próprias obras, ou em Cristo, em um Pacto de Graça, salvo
por Sua obra redentora. Você está em Adão ou em Cristo?
Charles Spurgeon afirma que: Jesus é o cabeça de Seus
eleitos. Em Adão, cada herdeiro de carne e sangue tem um
interesse pessoal, porque Ele é o cabeça da aliança e o
representante da raça considerada sob a lei das obras. Sob
a lei da graça, toda alma redimida está em união com o
Senhor, visto que Ele é o Segundo Adão, o Fiador e
Substituto de todos os eleitos na Nova Aliança de amor.[113]
Concordamos com a conclusão de Richard Barcellos:
Um pacto foi imposto a Adão no Jardim, e assim o foi
para o seu bem, objetivando um melhor estado de
existência para o próprio Adão e para todos aqueles a
quem ele representava. Adão foi criado moralmente
justo, mas mutável. Ele não foi criado em um estado
que pudesse ser chamado de “glória”, como indicado
acima. Porque Adão pecou, não entrou em glória. Mas
há esperança! Nosso Senhor é o último Adão, que
sofreu e entrou na glória por nós e para nossa
salvação. Entender o Pacto de Obras nos ajuda a
entender melhor a vocação de nosso Senhor e o
Evangelho com mais claridade e profundidade
teológica.[114]
 
CONCLUSÃO
Observamos o significado de vários termos importantes
para o estudo da teologia bíblica e salientamos
especificamente ao “Pacto de Obras” e buscamos
compreender suas implicações na história da salvação.
Observamos que: 1) O Pacto de Obras diz respeito à aliança
feita por Deus com Adão no Éden, antes da queda.
2) Adão foi criado moralmente justo, mas mutável.
3) Adão deveria obedecer perfeitamente à lei de Deus
e não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal;
se obedecesse, viveria e poderia comer da árvore da vida,
se desobedecesse, morreria, com todas as implicações
dessa morte.
4) Adão era o representante de toda a humanidade, por
isso a queda de Adão afetou toda a sua descendência.
6) Os descendentes de Adão continuam obrigados a
obedecer perfeitamente à lei de Deus, mesmo que agora
estejam incapacitados para tanto.
7) Cristo é o Segundo Adão que cumpre perfeitamente
as exigências divinas no lugar do Seu povo.
8) O pecado de Adão foi imputado a todos quantos
estavam em Adão, e assim também a obediência de Cristo é
imputada a todos que estão em Cristo.
9) Os seres humanos só podem ser salvos pela graça,
mediante a fé em Cristo Jesus.
10) Entender o Pacto de Obras nos ajuda a entender
melhor a vocação de nosso Senhor e o Evangelho com mais
claridade e profundidade teológica.
A seguir daremos sequência aos nossos estudos
falando sobre um tema importantíssimo, o Pacto da Graça.
 
 
5

O Pacto da Graça

Em nosso estudo da teologia batista reformada, destacamos


três grandes pactos, a saber:
1) Pacto de Obras: diz respeito à aliança condicional
feita por Deus com Adão no Éden, antes da queda.
2) Pacto da Graça: diz respeito ao desenvolvimento
do plano redentor na história. É um pacto revelado
progressivamente na história redentiva e formalmente
concluído na Nova Aliança.
3) Pacto da Redenção: diz respeito ao eterno acordo
feito entre as pessoas da Trindade, antes da criação do
mundo, para salvação do povo eleito.
Neste capítulo, observaremos no que consiste o Pacto
da Graça.
 
1. PACTO DA GRAÇA
O Pacto da Graça diz respeito à maneira pactual pela
qual Deus escolheu salvar pecadores da caída posteridade
de Adão, a saber, pela graça, mediante a fé em Cristo Jesus.
Pascal Denault resume: O Pacto de Graça é simplesmente a
salvação em Jesus Cristo; a vida eterna gratuita pelo
Evangelho. Nós o chamamos de “Pacto da Graça” porque a
salvação é dada sob a forma de uma aliança que procede
exclusivamente da graça incondicional de Deus. Todos os
homens estão debaixo do Pacto de Obras em Adão, mas
apenas os eleitos se tornam participantes do Pacto de Graça.
[115]

Há muitos textos das Escrituras que falam sobre esse


precioso Evangelho da salvação em Cristo que foi dado em
forma de aliança divina. Após a queda do primeiro Adão, o
Senhor promete, em Gênesis 3:15, que o descendente da
mulher esmagaria a cabeça da serpente. É notável que, em
1 João 3:8, o apóstolo afirme que o Filho de Deus Se
manifestou para desfazer as obras do Diabo. Observamos,
em Lucas 24:27, 44 e João 5:39, que Jesus era o messias
prometido ao longo de todas as Escrituras, as quais dão
testemunho dEle. Em Colossenses 2:16, Paulo demonstra que
todo o sistema cerimonial era como sombra das coisas que
haveriam de vir e apontava para Cristo. Em João 17, notamos
que o Filho veio cumprir a missão que Lhe fora dada pelo Pai
antes da fundação do mundo (João 17:4-6). Em 1 Coríntios
15:45 e ao longo do capítulo 5 de Romanos, entendemos
que Jesus Cristo é o último Adão, que cumpre Sua missão e
justifica Seu povo. Ele é o cabeça da igreja (Efésios 4:15).
Jesus morreu na cruz do Calvário suportando a ira divina no
lugar de pecadores, tomou sobre Si a pena de muitos e por
eles intercedeu (Isaías 53). Ele venceu a morte e ressuscitou
ao terceiro dia (1 Coríntios 15:4, 55-56) para a justificação
de todo aquele que nEle crê (João 3:16). 1 Timóteo 2:5
afirma que há um só Deus e um só Mediador entre Deus e
os homens, Jesus Cristo, homem. Hebreus 12:24 afirma que
Jesus Cristo é o mediador de uma Nova Aliança. Em Hebreus
8, vemos que a Nova Aliança em Cristo é substancialmente
superior à Antiga e baseada em superiores promessas, e 1
Coríntios 11:25 nos informa que, durante a Sua última ceia, o
Senhor Jesus explicou que o cálice representa a Nova Aliança
no Seu sangue. Em Efésios 2:1-10 Paulo afirma que, em
Cristo, os crentes são salvos pela graça mediante a fé. Em 2
Coríntios 3:6, Paulo afirma que os cristãos são ministros de
uma Nova Aliança.
Esses são apenas alguns textos sobre o assunto.
Notamos, portanto, que as boas novas de salvação em Cristo
podem ser claramente encontradas nas Escrituras como um
plano eterno de Deus revelado ao longo da Bíblia,
primeiramente como uma promessa no Antigo Testamento,
mas que tem seu estabelecimento na Nova Aliança. Jesus
Cristo é o Segundo Adão, o Mediador da Nova Aliança que foi
confirmada em Seu próprio sangue, Cristo é o representante
de Seu povo. Portanto, aqueles que estão nesse pacto são
salvos não por seus próprios méritos, mas pela graça,
mediante a fé em Cristo, seu cabeça federal. Essa Nova
Aliança, pela qual Deus salva o Seu povo por meio de um
Mediador, e que é claramente mencionada nas Escrituras, é o
que chamamos de Pacto da Graça. Passemos, então, a
observar algumas características desse pacto.
 
1.1. O Pacto da Graça surge do Pacto da
Redenção
É importante mencionarmos que o Pacto da Graça
irrompe a partir do Pacto da Redenção, ou seja, do eterno
acordo feito entre as pessoas da Trindade antes da
fundação do mundo para salvar o Seu povo eleito na
história. A Confissão Batista de 1689 fala do Pacto da Graça
como uma aliança que “é fundada naquela transação
pactual [Pacto da Redenção] eterna que houve entre o Pai e
o Filho para a redenção dos eleitos”.[116] Essas verdades
extraídas das Escrituras são claramente notadas em textos
que falam da salvação em Cristo antes dos tempos eternos,
ou antes da fundação do mundo. Por exemplo, 2 Timóteo
1:9 diz que Deus “nos salvou e nos chamou com santa
vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua
própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo
Jesus, antes dos tempos eternos”, e Tito 1:2 fala sobre a
“esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir
prometeu antes dos tempos eternos”. Citamos esses dois
textos, dentre diversos outros textos que poderiam ser
mencionados, para observarmos vislumbres do acordo
divino que ocorreu na eternidade passada para a salvação
de Seu povo. Iremos nos ater mais nesse ponto quando
estudarmos especificamente o Pacto da Redenção. O que
precisamos saber aqui é que o Pacto da Graça é a
manifestação, no tempo e espaço, do eterno Pacto da
Redenção que foi feito antes da fundação do mundo. Sendo
assim, entendemos que o Pacto da Graça tem sua base no
Pacto da Redenção, que foi firmado na eternidade entre as
pessoas da Santíssima Trindade.
Mike Renihan complementa essa ideia, afirmando que a
expressão “Pacto da Graça” é “usada para explicar como o
decreto eterno de Deus no Pacto da Redenção foi
estabelecido entre os homens no espaço e no tempo. O
Pacto da Graça deve, portanto, ser distinguido do Pacto da
Redenção”.[117]
 

1.2. O Pacto da Graça foi Revelado


Progressivamente na Antiga Aliança e Formalmente
Estabelecido na Nova Aliança O Pacto da Graça foi
revelado no Antigo Testamento como uma promessa a
respeito de um descendente da mulher que esmagaria a
cabeça da serpente. Essa promessa se desenvolveu ao
longo de todo o Antigo Testamento e se cumpriu na Nova
Aliança em Cristo, ao consumar o plano divino de redenção
que fora estabelecido antes da fundação do mundo. Esse
ensino encontra-se expresso na Confissão de Fé Batista de
Londres de 1689, da seguinte maneira: Essa Aliança [o
Pacto da Graça] é revelada no Evangelho; primeiramente a
Adão, na promessa de salvação pela descendência da
mulher, e depois por etapas sucessivas, até que a sua plena
revelação foi completada no Novo Testamento.
Portanto, o Pacto da Graça diz respeito ao
desenvolvimento do plano redentor de Deus na história
através de um Pacto que foi revelado progressivamente no
Antigo Testamento e formalmente concluído no Novo
Testamento. Como notamos, o Pacto da Graça foi revelado
em Gênesis 3:15, como uma promessa que se desenvolveu
por meio de etapas sucessivas e de diversas alianças que
Deus fez no Antigo Testamento, as quais serviram como
sombras que apontavam para Cristo e prefiguravam,
tipologicamente, Sua vinda. Nenhuma delas, contudo, era
ainda substancialmente o Pacto da Graça concluído, pois a
consumação desse Pacto na história ocorre somente na
Nova Aliança em Cristo (inclusive, John Bunyan intercala o
termo Nova Aliança e Pacto da Graça em um de seus
tratados).[118]
Pascal Denault explica que os batistas “entendiam,
portanto, o Pacto da Graça da seguinte maneira: anunciado
no AT realizado no NT; parcialmente revelado no tempo da
Lei plenamente revelado no tempo do Evangelho; uma
promessa futura / uma aliança consumada pelo sangue.[119]
Jeffrey Johnson corrobora: O Pacto da Graça prometido em
todo o Antigo Testamento não poderia ter se concretizado
na Nova Aliança até que o Pacto de Obras fosse cumprido
pela vida e morte de Cristo Jesus. Simplesmente, a aliança
abraâmica prometeu o Evangelho, a aliança mosaica
explicou o custo do Evangelho e a Nova Aliança estabeleceu
o Evangelho. Para entender a teologia pactual batista, é
importante ver que o Evangelho é revelado por todo o
Antigo Testamento.[120]
Na mesma linha de raciocínio, John Owen explica
acerca do Pacto da Graça:

Faltava sua confirmação e estabelecimento solenes


pelo sangue do único sacrifício que era adequado
para tal. Antes que isso fosse feito na morte de Cristo,
a aliança não tinha a natureza formal de um pacto ou
testamento, como nosso apóstolo prova (Hebreus
9:15-23). Pois, como ele mostra naquela passagem, a
lei dada no Sinai não teria sido uma aliança, se não
tivesse sido confirmada com o sangue dos sacrifícios.
Para esse fim, a promessa não existia antes de uma
aliança formal e solene. Portanto, o Pacto da Graça
existia apenas como uma promessa antes de tornar-
se uma aliança formal e solene.[121]
Spurgeon, de modo muito poético e bíblico, falou do
Pacto da Graça como se fosse uma carta que, embora já
existisse, recebeu seu selo ou ratificação somente através
do derramamento do sangue do Filho amado na cruz do
Calvário: Muito da validade de uma carta depende da
assinatura e do selo, e, meu amado, quão firme é a Carta do
Pacto da Graça! A assinatura é a caligrafia do próprio Deus,
e o selo é o sangue do Unigênito! O Pacto está ratificado
com sangue, o sangue do Seu próprio Filho amado.[122]
Entretanto, se o Pacto da Graça ainda não havia sido
estabelecido como uma aliança formalmente instituída, mas
foi revelado apenas como uma promessa em Gênesis 3:15,
uma pergunta pertinente pode surgir: de que maneira os
crentes do Antigo Testamento foram salvos? A resposta é:
pela graça, mediante a fé na promessa do Cristo que viria.
Pois, que diz a Escritura? Abraão creu em Deus e isso lhe foi
imputado por justiça (Romanos 4:3). A justiça lhes foi
imputada, embora o pagamento pelos pecados de todos os
crentes tenha sido consumado somente na cruz do Calvário,
como podemos observar a partir do texto de Romanos 3:24-
26: Sendo justificados gratuitamente, por sua graça,
mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus
propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé,
para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua
tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente
cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no
tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador
daquele que tem fé em Jesus.
O reformador João Calvino explica corretamente que:
Paulo ensina simplesmente que, até a morte de
Cristo, não fora pago nenhum preço para satisfazer a
Deus, e que isso não fora realizado nem consumado
pelos tipos legais — por isso a verdade fora adiada
até que chegasse a plenitude dos tempos. Podemos
dizer mais, que aquelas coisas que nos envolvem em
culpa têm de ser consideradas pelo mesmo prisma,
porquanto só há uma única propiciação para todos.
[123]

Os crentes do Antigo Testamento criam na promessa de


um Cristo que viria, os crentes do Novo Testamento creem
na obra expiatória do Cristo que já veio e voltará. Ambos
são salvos da mesma maneira, pela graça, mediante a fé
em Cristo Jesus e, portanto, há apenas uma propiciação
para todos. Cristo morreu por Sua igreja, que é composta
por todos os crentes de todos os tempos. O sangue de
bodes e ovelhas não tiravam pecados, apenas apontavam
para o sacrifício perfeito de Cristo. Somente o precioso
sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo, pode salvar o pecador. Portanto, a Nova Aliança
possui um efeito retroativo que alcança até mesmo os
crentes do Antigo Testamento, como Micah Renihan e
Samuel Renihan explicam: O fato de que vemos essa
redenção prometida e tipificada a partir da queda em diante
tem levado teólogos reformados a entender que a graça de
Deus se estende através da história para antes da
encarnação e morte de Cristo. Onde a graça de Deus se
estendia para o passado, e isso por meio por meio de pacto,
em que o sangue da Nova Aliança de Cristo foi aplicado
retroativamente para aqueles que acreditavam na
promessa, e essa retroatividade da Nova Aliança foi e
continua sendo distinta da Antiga Aliança. Assim, o povo de
Cristo sempre foi constituído por aquelas pessoas que foram
prometidas a Ele pelo Pai, isto é, daquelas pessoas por
quem Ele derramou Seu sangue.[124]

Geerhardus Vos afirma que “a Nova Aliança, em seu pré-


existente estado celestial, retroage e estende suas asas
sobre a Antiga”.[125] Herman Bavinck explica: Embora Cristo
tenha completado Sua obra na terra no decorrer da história,
e embora o Espírito Santo não tenha sido derramado até o
dia da Pentecostes, Deus, no entanto, foi capaz, já nos dias
do Antigo Testamento, de distribuir integralmente os
benefícios a serem adquiridos e aplicados por meio do Filho
e do Espírito. Os crentes do Antigo Testamento não foram
salvos de nenhuma outra forma do que nós. Há uma só fé,
um só mediador, um caminho de salvação e um pacto de
graça.[126]
Além disso, o renomado teólogo batista John Gill
também explicou como os que viveram antes da morte de
Jesus se beneficiaram de seu legado: Todas as promessas da
aliança estavam na condição de Cristo fazer sua alma como
oferta pelo pecado e de derramar sua alma até a morte [...]
todas as bênçãos da graça concedidas aos santos do Antigo
Testamento, como legados neste testamento, foram dadas
em virtude do sangue da aliança, que tinha uma virtude que
se estendia para trás.[127]
A Confissão Batista de Londres expressa essa mesma
verdade nos seguintes termos:
Embora o preço da redenção não tenha sido
realmente pago por Cristo senão depois da Sua
encarnação, a virtude, a eficácia e os benefícios dela
foram comunicados aos eleitos, em todas as épocas,
sucessivamente, desde o princípio do mundo nas e
através das promessas, tipos e sacrifícios em que
Cristo foi revelado, e que O apontavam como a
descendência da mulher que esmagaria a cabeça da
serpente, e como o Cordeiro que foi morto desde a
fundação do mundo, sendo o mesmo ontem, hoje e
para sempre.[128]
Sendo assim, entendemos que os crentes do Antigo
Testamento foram salvos pela graça, mediante a fé na
promessa do Messias que viria. Os seus pecados foram
pagos por Ele na cruz do Calvário, assim como o de todos os
outros crentes de todas as épocas. Em seu livro Covenant
Theology: A Reformed Baptist Perspective, Phillip D.R.
Griffiths explica: Outrossim, eu não podia aceitar a ideia de
que a Nova Aliança era simplesmente mais uma
administração do Pacto da Graça. Segundo o meu
entendimento de Jeremias, a Nova Aliança parecia muito
radical para ser apenas uma manifestação mais ampla e
completa do que já existia. E nem faz sentido sustentar a
visão tão amplamente aceira de que os santos do Antigo
Testamento foram de alguma foram de algum modo
excluídos dessas bênçãos. Eu entendo que, por um lado, a
Nova Aliança consumada ou ratificada na morte de Cristo, as
bênçãos garantidas por Sua obra redentiva, foram
comunicadas aos crentes desde o princípio. Em outras
palavras, todo o povo de Deus, desde a primeira promessa
(Gênesis 3:3) foi participante da Nova Aliança em Cristo e
recebeu as bênçãos dela.[129]
Nesse ponto, o federalismo batista concorda
plenamente com a afirmação de John Owen: “Tomarei como
certo o fato de que nenhum homem jamais foi salvo senão
em virtude da Nova Aliança, e da mediação de Cristo para
tanto”.[130]
Prosseguiremos, agora, falando sobre as etapas
sucessivas em que esse Pacto da Graça foi revelado,
notando principalmente as demais alianças que Deus fez
com o homem no Antigo Testamento, antes da vinda de
Cristo. A esse respeito, A.W. Pink afirmou: Esses pactos
subordinados eram o modo em que o Senhor manifestava,
de forma pública e especial, o grande Pacto [da Graça]:
fazendo conhecidas algumas coisas de seu glorioso
conteúdo, confirmando sua própria participação pessoal nela
e assegurando que Cristo, o grande Cabeça pactual da
aliança eterna, deveria dar-Se a eles próprios e vir a partir de
sua linhagem.[131]
É notável que o apóstolo Paulo, quando menciona as
várias alianças encontradas no Antigo Testamento, as chame
de “alianças da promessa” (Efésios 2:12).
 
2. O PACTO DA GRAÇA REVELADO NAS ALIANÇAS
QUE DEUS FEZ COM OS HOMENS
A aliança que Deus fez com Adão já foi estudada de
maneira detalhada no último capítulo, portanto, partiremos
das alianças subsequentes que desenvolvem a promessa a
respeito do descendente da mulher que esmagaria a cabeça
da serpente.
 

2.1. A Aliança de Deus com Noé


Quando estudamos o enredo das Escrituras, nos
capítulos anteriores, notamos que o pecado afetou a
humanidade a tal ponto que, diante de tanta imoralidade, o
Senhor enviou um dilúvio sobre a terra. Entretanto, Deus
preservou um remanescente para que a promessa a
respeito de um descendente da mulher pudesse se cumprir.
Preservou Noé e sua família, oito pessoas (1 Pedro 3:20) em
uma arca, e o mundo foi inundado pelo Dilúvio.
Após o Dilúvio, Deus fez uma aliança com Noé (Gênesis
9:8-13), essa aliança resulta em uma preservação física
para o desenvolvimento da promessa: o Senhor não
destruiria a terra novamente com um dilúvio, e o sinal dessa
aliança foi o arco no céu. Além disso, essa também foi a
maneira de preservar um remanescente fiel que faria parte
da genealogia que culminaria em Cristo. Douglas Van Dorn
em seu livro Covenant Theology: a Reformed Baptist Primer,
comenta sobre a aliança que Deus fez com Noé: Deus está
restabelecendo com a humanidade que Ele ainda espera
que o homem cumpra as obrigações da aliança feita com
Adão no Éden, mesmo que o teste de uma árvore não esteja
mais presente. Embora, sob essa luz, seja extremamente
curioso que Noé plante uma árvore de vinhedo, encontra-se
nu e cai em pecado imediatamente após sair da arca. Houve
muitos que viram mais de uma conexão entre essa história
e a queda de Adão. Noé não é Jesus Cristo. Ele é falho como
seu pai, Adão.[132]
Notamos, no Novo Testamento que esse acontecimento
também apontava, tipologicamente, para Cristo e o
Evangelho. Nehemiah Coxe explica: Isso também foi útil ao
servir como um tipo para instruí-los acerca da redenção do
homem do dilúvio da vingança divina que seria derramado
posteriormente em ira eterna sobre o mundo dos incrédulos,
pois, devemos observar o seguinte quanto ao estado da
igreja antes da vinda de Cristo em carne: o Evangelho era
pregado por meio de tipos e sombras, e instruções dessa
natureza lhes eram concedidas não apenas por
determinadas ordenanças do culto cerimonial, mas também
por muitas obras extraordinárias da providência de Deus.
Essas obras foram assim ordenadas pela sabedoria divina
de modo que eles pudessem nutrir um relacionamento
tipológico com as coisas espirituais, e ser uma
representação adequada delas.[133]
O texto de 1 Pedro 3:20-21 apresenta o episódio do
Dilúvio como uma figura e relaciona-o ao batismo. Coxe
comenta:
Quanto a isso, o apóstolo Pedro faz do batismo o
antítipo da arca (1 Pedro 3:20-21). A arca foi um
sacramento extraordinário, ou prefiguração, da
redenção da igreja e da salvação pela morte e
ressurreição de Cristo, e da união e comunhão dela
com Ele, que morreu, mas ressuscitou, para desfrutar
de todos os benefícios de Sua morte e ressureição.
[134]

O Senhor Jesus Cristo também relacionou os dias do


Dilúvio com os dias de Sua segunda vinda em Mateus
24:37-39:
Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a
vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos
dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam
e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé
entrou na arca, e não o perceberam, senão quando
veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também
a vinda do Filho do Homem.
 
2.2. A Aliança de Deus com Abraão
Posteriormente, a partir de Ur dos Caldeus, Deus
chamou Abrão, com quem também fez aliança. Deus
prometeu uma terra, uma descendência abençoada e, por
meio da aliança com Abraão, Deus criou a nação de Israel e
lhe deu a terra de Canaã, o sinal dessa aliança era a
circuncisão. O Senhor também prometeu que todos os
povos da terra seriam abençoados por meio de sua
descendência. Pascal Denault explica que a aliança feita
com Abraão envolveu “uma posteridade física, bem como
uma posteridade espiritual (Romanos 9:6-8; Gálatas 4:22-
31); há uma circuncisão externa, da carne, e uma interna,
do coração (Romanos 2:28-29); há uma terra prometida
aqui neste mundo e há um reino celestial (Hebreus 11:8-
10)”.[135] Nehemiah Coxe chama atenção para esse ponto:
Abraão deve ser considerado de duas maneiras: ele é o pai
de todos os verdadeiros crentes; e o pai e a origem da nação
dos israelitas. Deus fez com Abraão um pacto que envolvia
ambas as descendências, e visto que elas são formalmente
distintas uma da outra, sua participação no pacto deve ser,
necessariamente, diferente, e entendida de maneira distinta.
As bênçãos apropriadas a cada uma das descendências
devem ser transmitidas conforme sua participação
respectiva e peculiar no pacto. Essas coisas não podem ser
confundidas sem que sejam colocadas em perigo as mais
importantes verdades da religião cristã.[136]
Esse ponto sobre a dualidade na aliança abraâmica
pode ser notado em Gálatas 4, quando o apóstolo Paulo
utiliza a alegoria de Sara e Agar, duas mulheres ligadas a
Abraão, e mostra, alegoricamente, que elas representavam
duas alianças. Nehemiah Coxe explica o significado do
texto: Agar era um tipo do Monte Sinai e da aliança da lei
estabelecida ali. Ismael era um tipo da descendência carnal
de Abraão sob aquela aliança. Sara era um tipo da nova
Jerusalém, a igreja dos tempos do Evangelho fundada no
Pacto da Graça. Isaque era um tipo dos verdadeiros
membros daquela igreja que é nascida do Espírito,
convertida pelo poder do Espírito Santo para o cumprimento
da promessa do Pai a Jesus Cristo, o Mediador. A expulsão
de Agar e Ismael prefigurou a ab-rogação da aliança
sinaítica e a dissolução da igreja-estado judaica, de modo
que a herança de bênçãos espirituais pudesse ser dada
claramente aos filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo.[137]
Sobre as duas descendências de Abraão, Paul Washer
comenta:
Sob a Antiga Aliança, Deus fez com que Israel fosse
Seu povo. No entanto, não devemos pensar que todos
que descendiam de Israel fossem verdadeiramente
Israel (Romanos 9:6). O Israel que saiu do Egito era
composto dos descendentes físicos de Abraão, mas
nem por isso eram todos crentes. Na verdade, o relato
bíblico prova o oposto. Embora houvesse um
remanescente piedoso na nação, uma pequena
minoria que era verdadeiramente regenerada e
justificada pela fé, a maioria não era regenerada;
antes, era incrédula e idólatra. O autor de Hebreus
nos diz que a vasta maioria dos que saíram do Egito
conduzidos por Moisés morreu no deserto devido à
sua incredulidade (Hebreus 3:16-19). Mesmo no
tempo dos reis, o remanescente de verdadeiros
crentes em Israel era tão pequeno que Elias clamou:
“Mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e
procuram tirar-me a vida” (Romanos 11:3; cf. 1 Reis
19:10, 14). A resposta de Deus ao profeta desanimado
não apenas provou que havia permanecido um
remanescente, como também que era bastante
pequeno em comparação com o número dos filhos de
Israel. Declarou: “Conservei em Israel sete mil, todos
os joelhos que não se dobraram a Baal”.[138]
Por fim, as promessas da aliança com Abraão
culminariam no descendente de Abraão por meio de quem
todas as nações da terra seriam abençoadas, a saber, Jesus
Cristo. E aqueles que creem em Cristo são herdeiros das
promessas espirituais feitas a Abraão: “Ora, as promessas
foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às
descendências, como falando de muitas, mas como de uma
só: E à tua descendência, que é Cristo” (Gálatas 3:16).
 
2.3. A Aliança de Deus com Moisés
Posteriormente, por meio dos descendentes físicos de
Abraão, foi criada a nação de Israel. O povo hebreu foi
tirado por Deus com mão forte do Egito, sob a liderança de
Moisés, com quem Deus também fez aliança no Sinai e lhes
deu leis morais, cerimonias e civis, e todo o sistema levítico
foi desenvolvido. A Antiga Aliança era nacional, firmada com
o Israel teocrático, debaixo do qual encontravam-se crentes
e descrentes; passava-se a fazer parte dessa nação por
meio da circuncisão física logo após o nascimento, e essa
aliança, por sua vez, era condicional, ou seja, se alguém
obedecesse, seria abençoado, e se desobedecesse, seria
amaldiçoado. Charles Spurgeon afirma, na mesma linha de
raciocínio, que “a primeira aliança dependia da condição da
obediência dos homens. Se guardassem a lei, Deus os
abençoaria; mas fracassaram pela desobediência, e
herdaram a maldição”.[139]
Todo o sistema cerimonial e sacrificial apontava para
Cristo, o cordeiro de Deus, que nasceu sob a Lei, a cumpriu
perfeitamente e entregou-Se como sacrifício para pagar o
preço pelo pecado do Seu povo de uma vez por todas, e
também para ser o seu perfeito sumo sacerdote. A aliança
mosaica serviu para preservar a linhagem do Messias,
apontou para Ele através de suas sombras, sacrifícios e
cerimônias, mostrou a necessidade de obediência perfeita à
lei, de expiação de pecados, da necessidade de um
mediador, e serviu como um aio para conduzir a Cristo
(Gálatas 3:24-25). Trabalharemos com maior profundidade
essa aliança posteriormente, quando tratarmos
especificamente da diferença entre a Antiga e a Nova
Aliança.
 
2.4. A Aliança de Deus com Davi
Notamos que Deus também fez uma aliança com Davi,
e prometeu a ele que um descendente seu herdaria o trono
para sempre. Essa promessa também se referia a Jesus
Cristo (Atos 2:25-35). O apóstolo Pedro afirmou: Homens
irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do
patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós
está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta, e
sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que
do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o
Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta previsão,
disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi
deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção.
C.H. Spurgeon, citado por A.W. Pink, afirmou que “Davi
foi o eleito do Senhor, e com ele foi feito um pacto, que
correu na linha de sua descendência até que recebeu um
cumprimento final e sem fim em ‘o Filho de Davi’”, Jesus
Cristo.[140]
 
2.5. A Nova Aliança
A Nova Aliança é o cumprimento da promessa, o
estabelecimento do Pacto da Graça que foi prometido desde
Gênesis e cumprido em Cristo Jesus. Todas as promessas e
profecias messiânicas que se desenvolveram ao longo do
Antigo Testamento apontavam para Ele. Cristo Jesus é o
Mediador da Nova Aliança. A Nova Aliança para os crentes é
incondicional, pois Cristo agiu como um Mediador e Fiador e
cumpriu todas as exigências em nosso lugar, como
Benjamin Keach afirma: Cristo, como o Fiador desse Pacto,
comprometeu-Se em renovar os nossos corações, regenerar
as nossas almas, ou criar a imagem de Deus em nós
novamente. E a partir de Sua plenitude, todos nós devemos
receber graça por graça, visto que nEle habita toda a
plenitude (João 1:16; Colossense 1:19)... assim como Cristo
adquiriu toda a graça para nós, assim também, como um
ato de favor de Deus e de compra e méritos de Cristo, Ele
nos dá o Espírito e a fé, com o propósito de que sejamos
verdadeiramente participantes em todas as bênçãos da
Aliança. Assim, tudo isso é obtido por meio da justiça, no
que diz respeito a Cristo, mas, em relação a nós, tudo isso é
obtido segundo a misericórdia e a livre graça.[141]
Portanto, nos tornamos participantes da Nova Aliança
pelo Espírito Santo que nos concede a fé em Cristo. Micah
Renihan e Samuel Renihan afirmam que: [...] a Escritura
ensina que Cristo atrai os que Lhe pertencem para Si
mesmo através da obra do Espírito, e que Ele habita nos
Seus próprios pelo Espírito. Portanto, sem o Espírito,
ninguém pertence a Cristo. Se você pertence a Cristo, você
está no Pacto da Graça. Se você não pertence a Cristo, você
está no Pacto de Obras. Você não pode estar em ambos (Cf.
Romanos 7:4-6).[142]
Na Nova Aliança, a entrada se dá pela circuncisão do
coração, o novo nascimento. Todos os que fazem parte
dessa aliança conhecem o Senhor e tem seus pecados
perdoados, e o Senhor lhes promete vida eterna e um reino
celestial, essa não é uma aliança nacional apenas, mas com
todos os verdadeiros crentes de todas as nações. Charles
Spurgeon destacou a distinção entre a Antiga e a Nova
Aliança: Mas, nos dias presentes, o Senhor, em Cristo Jesus,
tem feito com a verdadeira descendência de Abraão, com
todos os crentes verdadeiros, uma nova aliança; não
segundo o teor da Antiga, nem passível de ser quebrada,
como aquela. Irmãos, tomem o cuidado de distinguirem
entre a Velha Aliança e a Nova Aliança, porque nunca
deverá haver confusão entre elas.[143]
Paul Washer explica que na Antiga Aliança havia uma
nação física chamada por Deus da descendência de Abraão
na qual apenas um remanescente era regenerado, ao passo
que, na Nova Aliança, a verdadeira igreja é o remanescente,
todos conhecem o Senhor: [...] todo o ponto da Nova
Aliança é que ela não seria igual à Antiga. Na Velha Aliança,
Deus chamou uma nação física, descendente de Abraão,
para ser Seu povo, mas dentro daquela grande multidão de
indivíduos, apenas alguns eram verdadeiramente
regenerados e crentes. O restante era não regenerado e
carnal, e hoje sofre eterna perdição. Na Nova Aliança, Deus
chama uma nação espiritual, composta de judeus e gentios,
e são todos crentes regenerados. Não existe um
remanescente piedoso na igreja verdadeira: essa igreja
verdadeira é o remanescente piedoso.[144]
Portanto, o Pacto da Graça é estabelecido na história
na Nova Aliança em Cristo Jesus.
 

Gráfico 1. In DENAULT, Pascal. Os Distintivos da Teologia Pactual Batista:

Uma Comparação entre o Federalismo dos Batistas Particulares e dos

Pedobatistas do Século XVII. 1ª ed. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2018.

p. 114.

Pascal Denault explica que a distinção de um pacto


revelado e depois concluído, no entendimento dos
batistas do Pacto da Graça, demonstra tanto uma
continuidade, porque o Pacto da Graça foi revelado a
partir de Gênesis 3:15 até sua completa revelação no
Novo Testamento, quanto uma descontinuidade, porque o
Pacto da Graça não foi concluído antes da morte e
ressurreição de Cristo; as alianças formais que
precederam esse evento tiveram uma substância
diferente e foram, portanto, abolidas e substituídas pela
Nova Aliança.[145] Este gráfico, elaborado por Denault,[146]
explica bem o que já foi visto até aqui: Deus fez um Pacto
de Obras com Adão, que pecou e trouxe maldição sobre
toda a sua descendência. Porém, em Gênesis 3:15 Deus fez
uma promessa, o Pacto da Graça foi revelado e, ao longo de
todo o Antigo Testamento, essa promessa foi tornando-se
cada vez mais clara através das alianças que Deus fez, por
meio de sombras, tipos e sinais que apontavam para Cristo.
Entretanto, a Antiga Aliança em si ainda não era o Pacto da
Graça estabelecido, era uma aliança condicional, nacional e
distinta. Na plenitude dos tempos, Cristo veio em
cumprimento da promessa e, em Sua obra redentora,
estabeleceu o Pacto da Graça em Seu sangue. A Nova
Aliança é o Pacto da Graça concluído, que traz salvação
para o povo de Deus de todas as épocas, para Sua igreja
que Ele comprou por Seu sangue em consumação da obra
que foi planejada antes da fundação do mundo.
Portanto, Cristo é maior do que podemos imaginar,
Ele é o Verbo que estava no princípio com Deus, e era
Deus (João 1:1). Por meio dEle, o universo foi criado
(Hebreus 1:2) Ele é o resplendor da glória de Deus e a
expressão exata do Seu ser, sustentando todas as coisas
por Sua palavra poderosa (Hebreus 1:3). Ele é o
descendente da mulher que esmagaria a cabeça da
serpente (Gênesis 3:15). Todas as Escrituras testificam
dEle (Lucas 24:27, 24:44; João 5:39). Ele é o Segundo
Adão que cumpre a missão e justifica Seu povo (Romanos
5). Assim como aconteceu nos dias de Noé, será na Sua
segunda vinda (Mateus 24:37). Ele é o descendente
prometido de Abraão (Gálatas 3:16). Ele cumpre
perfeitamente a lei (Mateus 5:17). Ele é o nosso cordeiro
pascal (1 Coríntios 5:17). As cerimônias, sombras e sinais
da Antiga Aliança apontavam para Ele (Colossenses 2:16-
17). O sinal de Jonas apontava para Cristo (Mateus 12:39-
40). A serpente no deserto apontava para Cristo (João
3:14-15). O maná apontava para Cristo (João 6:41). Ele é o
nosso sumo sacerdote (Hebreus 2:17) Ele é o cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29). Ele é o
descendente de Davi que assentaria no trono (Atos 2:30-
31). Ele morreu no lugar de pecadores em cumprimento a
profecias específicas (Isaías 53). Ele é o enviado de Deus,
que cumpriu a missão dada pelo Pai antes da fundação do
mundo, morreu na cruz do Calvário para a justificação de
todo aquele que nEle crê (João 3:16). Ele venceu a morte
(1 Coríntios 15:55-56, 15:4). Os profetas, apóstolos e
inúmeros mártires cristãos ao longo da história testificam
dEle (Efésios 2:20).
Essas são apenas algumas das grandes verdades
sobre Jesus Cristo, faltaria tempo e espaço para falar de
Seus milagres, atributos, caráter e ações. Como disse
João: “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus
fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem
ainda o mundo todo poderia conter os livros que se
escrevessem” (João 21:25). Portanto: “Ao que está
assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas
ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o
sempre” (Apocalipse 5:13).
Encerramos com o texto da Confissão Londrina:[147]
Ademais, tendo o homem trazido sobre si mesmo a
maldição da lei, por sua queda, aprouve ao Senhor
fazer um Pacto de Graça, no qual Ele oferece
livremente aos pecadores a vida e a salvação por
meio de Jesus Cristo, exigindo deles a fé nEle para
que sejam salvos; e prometendo dar a todos os que
são ordenados para a vida eterna, o Seu Espírito
Santo, para torná-los dispostos e capazes de crer.
 
CONCLUSÃO
Aprendemos, neste capítulo, a respeito do Pacto da
Graça, que na visão batista equivale à Nova Aliança em
Cristo Jesus. Sobre esse Pacto da Graça aprendemos
importantes verdades: 1) O Pacto da Graça deriva do Pacto
da Redenção.
2) O Pacto da Graça foi revelado progressivamente na
Antiga Aliança e formalmente estabelecido na Nova Aliança
em Cristo Jesus.
3) A Nova Aliança possui efeito retroativo que alcança
até mesmo os crentes do Antigo Testamento.
4) Os crentes do Antigo Testamento foram salvos pela
graça, mediante a fé na promessa do Messias que viria.
5) Os crentes do Novo Testamento são salvos pela
graça, mediante a fé no Cristo que já veio, estabeleceu a
Nova Aliança e voltará.
6) Para os crentes, a Nova Aliança é incondicional, pois
Cristo cumpriu todas as exigências em nosso lugar.
Portanto, participamos desse Pacto pela Graça, mediante a
fé em Cristo.
Diante de tudo o que foi exposto, convido você a
refletir nas palavras de C.H. Spurgeon: “A pergunta a ser
feita para você, e para mim, e para cada um, é: ‘Eu sou
participante de Cristo? Será que Cristo Jesus é meu
Representante?’”.[148]
 
 
6

O Pacto da Redenção
 

Já estudamos o Pacto de Obras e o Pacto da Graça, e agora


concluiremos essa etapa falando sobre o Pacto da
Redenção. No que consiste esse pacto? R.C. Sproul, explica
que: O Pacto da Redenção é um corolário da doutrina da
Trindade. Assim como o termo Trindade, a Bíblia não o
menciona explicitamente em nenhum lugar. O termo
trindade não aparece na Bíblia, mas o conceito da Trindade é
afirmado por toda Escritura. Da mesma forma, a expressão
Pacto da Redenção não ocorre explicitamente na Escritura,
mas o conceito é anunciado em toda parte.[149]
Muitos se opõem à teologia pactual, e especialmente
ao Pacto da Redenção, por não o encontrarem de maneira
expressa e literal nas Sagradas Escrituras. Entretanto, a
esses, o teólogo batista A.W. Pink responde
categoricamente: [...] permita-nos pontuar que, assim como
não há nenhum versículo na Bíblia que afirme
expressamente que há três pessoas divinas na Deidade, as
quais são co-eternas, co-iguais, co-gloriosas, e, entretanto,
quando comparamos cuidadosamente Escritura com
Escritura, nós entendemos que esse é o caso; assim
também, não há um versículo na Bíblia que declare
categoricamente que o Pai entrou em um acordo formal
com o Filho; que, ao executar uma certa obra, Ele deveria
receber uma certa recompensa; porém, um estudo
cuidadoso de diferentes passagens nos obriga a chegarmos
a essa conclusão. As Sagradas Escrituras não entregam
seus tesouros aos indolentes [...].[150]
Como Pink afirmou, embora o termo “Pacto da
Redenção” não esteja literalmente expresso na Bíblia, ao
examinarmos as suas páginas e compararmos seus textos,
notamos claramente que houve um acordo entre as pessoas
da Trindade, antes da fundação do mundo, para a salvação
de um povo eleito. A seguir, consideraremos alguns textos
que podem esclarecer nosso entendimento sobre o assunto.
Em João 17:4-6, Jesus Cristo fala que consumou a obra
que o Pai Lhe deu a fazer e pede para ser glorificado com a
glória que tinha antes que houvesse mundo. Tito 1:2 fala da
esperança da vida eterna que Deus prometeu antes dos
tempos e dos séculos. O texto de 1 Pedro 1:18-20 fala que
fomos resgatados pelo precioso sangue de Cristo, como
cordeiro imaculado que foi conhecido antes da fundação do
mundo e manifestado nos últimos tempos. Em Apocalipse
13:8, lemos a respeito do livro da vida do cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo. Hebreus 13:20 manifesta
a existência de uma eterna aliança. Efésios 3:11 menciona
que há um eterno propósito. Isaías 46:10 afirma que Deus
anuncia o fim desde o começo. Em Efésios 1:4, o apóstolo
Paulo fala que Deus nos escolheu em Cristo antes da
fundação do mundo. Efésios 1:11 revela a predestinação dos
crentes conforme o plano de Deus. Atos 4:28 fala sobre o
sacrifício de Cristo como algo que o poder e a vontade de
Deus já haviam decidido de antemão que acontecesse. Lucas
22:22 registra que o Filho do homem vai “segundo o que
está determinado”. Em João 6:37, Jesus fala que aqueles que
“o Pai lhe deu” irão a Ele. E, em 2 Timóteo 1:9, está escrito
que Deus “nos salvou, e chamou com uma santa vocação;
não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio
propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes
dos tempos dos séculos”. Muitos outros textos poderiam ser
utilizados para trabalharmos aspectos desse plano redentor.
Portanto, o Pacto da Redenção é descrito no texto da
Confissão Batista de 1689 como aquela transação pactual
que houve entre o Pai e o Filho para a redenção dos eleitos:
Essa Aliança é revelada no Evangelho; primeiramente a
Adão, na promessa de salvação pela descendência da
mulher, e depois por etapas sucessivas, até que a sua plena
revelação foi completada no Novo Testamento; e é fundada
naquela transação pactual eterna que houve entre o Pai e o
Filho para a redenção dos eleitos; e é somente pela graça
dessa Aliança que todos da posteridade do caído Adão, que
já foram salvos, obtiveram a vida e a bem-aventurada
imortalidade. O homem é, agora, totalmente incapaz de ser
aceito por Deus naqueles termos em que Adão permanecia
em seu estado de inocência.
Esse eterno acordo é chamado por muitos teólogos de
“Pacto da Redenção” ou “Aliança de Redenção”. A Confissão
afirma que é com base na graça dessa aliança que os
pecadores da caída posteridade de Adão podem ser salvos.
A.W. Pink afirma que “tudo que, na Escritura, é dito ser
nosso por meio de Cristo, significa que o é em virtude da
aliança que Deus fez com Cristo como cabeça de seu corpo
místico”.[151] R.C. Sproul salienta a importância desse pacto:
Atualmente, ouvimos muito pouco na igreja sobre o Pacto
da Redenção, mas eu o considero um dos aspectos mais
importantes da teologia sistemática. Deus não fez uma
aliança de redenção com seres humanos; em vez disso, Ele
a fez consigo mesmo; ela é um acordo pactual que foi feito
na eternidade passada entre as três pessoas da Divindade.
[152]

Carl Trueman define o Pacto da Redenção e os papéis


de cada membro da Deidade nesse pacto da seguinte
maneira:
Em uma breve definição, a Aliança da Redenção
estabelece Cristo como Mediador; define a natureza
de sua mediação e assinala papéis específicos a cada
membro da Deidade. O Pai designa o Filho como
Mediador para os eleitos e põe os termos de Sua
mediação. O Filho voluntariamente aceita a função de
Mediador e a execução da tarefa na história. O
Espírito concorda em ser o agente da concepção na
encarnação e sustentar Cristo na bem-sucedida
execução de Sua função de Mediador.[153]
Observemos, então, algumas características do Pacto
da Redenção:
 
1. O PACTO DA REDENÇÃO SERVE DE
FUNDAMENTO PARA O PACTO DA GRAÇA
O Pacto da Redenção serviu de base para o Pacto da
Graça, uma vez que o Pacto da Graça é a manifestação no
tempo e espaço do eterno Pacto da Redenção.[154] Gary
Marble informa que “o Pacto da Redenção vem logicamente
antes do Pacto da Graça, pois é o acordo prévio, mas
ambos, juntos, realizam a redenção dos eleitos”.[155] Shedd
explica que “o Pacto da Graça e da Redenção são dois
modos ou fases de um Pacto evangélico da misericórdia”.
[156]

Samuel Waldron afirma que essa aliança entre Deus Pai


e Cristo, o Redentor, é totalmente revelada na Nova Aliança
(Hebreus 7:18-22, 10:12-18).[157] Podemos observar esse
ponto no texto de 2 Timóteo 1:9-10 onde o apóstolo Paulo
fala sobre a: graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes
dos tempos eternos e manifestada agora pelo aparecimento
do nosso Salvador, que nos salvou, e chamou com uma
santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo
o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo
Jesus antes dos tempos dos séculos; e que é manifesta
agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual
aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo
evangelho.
Charles Spurgeon comenta:
“A graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes do
mundo começar”. O amor de Deus ao seu povo não é
coisa de ontem. Ele os amou antes que o mundo fosse
feito e os amará quando o mundo deixar de existir.
“Nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos
séculos”.[158]
William Hendriksen comenta, sobre esses versículos,
que a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos
tempos eternos significa literalmente “antes dos tempos
das eras”. O tempo, “como um fluxo de corrente contínua”,
que corre sem interrupção. Antes mesmo de começar, já
estávamos incluídos no propósito da graça divina.[159]
Herman Bavinck explica que “o pacto de graça não foi
estabelecido pela primeira vez no tempo, antes tem o seu
fundamento na eternidade, é fundamentado no pacto de
salvação, e é em primeiro lugar um pacto entre as três
pessoas do próprio ser Divino”.[160]
Portanto, o Pacto da Redenção é a base a partir da qual
o Pacto da Graça ocorreria na história.
 
2. O PACTO DA REDENÇÃO FOI FEITO NA
ETERNIDADE
Assim, notamos que desde a eternidade passada houve
um acordo entre as pessoas da Trindade para a realização
do Pacto da Graça que garantiria salvação e vida eterna
para um povo eleito. Esse pacto é revelado nas Escrituras
pela doutrina da eleição e pela eterna missão que Cristo
recebeu do Pai.[161]
Observemos alguns textos bíblicos que abrem uma
fresta para a eternidade passada e revelam um pouco sobre
esse eterno acordo redentor. O texto de Efésios 1:3-5 afirma
que o Deus e Pai nos elegeu em Cristo antes da fundação do
mundo e nos predestinou para adoção por meio de Jesus,
segundo o beneplácito de Sua vontade: Paulo, apóstolo de
Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão
em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus: A vós graça, e paz da
parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo! Bendito o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos
abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares
celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes
da fundação do mundo, para que fôssemos santos e
irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para
filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito de sua vontade (Efésios 1:1-5).
O termo grego “proorisas” (predestinados) significa
“marcados de antemão”. É apenas uma outra palavra que
expressa o fato de que o plano de Deus para Seu povo vem
desde a eternidade.[162] O teólogo batista John L. Dagg fala
sobre a eternidade do pacto redentor: Que esse pacto seja
eterno é algo que se pode sustentar pela eternidade,
imutabilidade e onisciência das partes, bem como pelas
declarações da Bíblia que, direta ou indiretamente, estão
relacionadas com ele: “pelo sangue da eterna aliança”
(Hebreus 13:20); “segundo o eterno propósito que
estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Efésios 3:11);
“na esperança da vida eterna que o Deus que não pode
mentir prometeu, antes dos tempos eternos” (Tito 1:2);
“conforme a sua própria determinação e graça que nos foi
dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos” (2 Timóteo
1:9).[163]
Além disso, em 1 Pedro 1:18-20, o apóstolo afirma que
não fomos resgatados mediante coisas corruptíveis, mas
pelo sangue de Cristo conhecido antes da fundação do
mundo: Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como
prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira
de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas
com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro
imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro
tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo,
mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós.
Acertadamente, Simon Kistemaker comenta sobre esse
versículo:
Pedro faz referência ao tempo em termos
compreensíveis para nós. Escreve: “[Cristo] escolhido
antes da criação do mundo”. A criação está
relacionada ao começo da história, mas Cristo foi
escolhido antes desse tempo. Deus não criou o mundo
e então decidiu escolher Cristo para assumir o papel
de redentor. Deus o apontou na eternidade, “antes da
criação do mundo”.[164]
Concordamos com a afirmação de Simon Kistemaker de
que “devemos observar que Deus escolheu Cristo para a
tarefa de redimir Seu povo antes que o mundo fosse criado
(1 Pedro 1:20). E essa tarefa implica que Ele finalmente
seria morto no tempo designado por Deus para Ele”.[165]
Além disso, o texto de Apocalipse 13:8 apresenta o
Senhor Jesus Cristo como cordeiro que foi morto desde a
fundação do mundo: “E adoraram-na todos os que habitam
sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro
da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do
mundo”. Pascal Denault comenta que o apóstolo João nos
permite compreender que a redenção dos crentes pela
morte de Jesus já era eternamente intencionada por Deus. É
o que nós chamamos de Pacto Eterno da Redenção.[166] E,
sobre essa passagem, A.W. Pink afirma: Isso deixa claro que,
antes da queda, Deus já havia provido a redenção de Seu
povo que se apostatou em Adão, e o meio pelo qual levaria
a cabo a redenção, que seria consistente com Sua santidade
e justiça. Todos os detalhes e resultados desse plano de
misericórdia foram acordados e estipulados desde o
princípio, pela sabedoria divina. Aquela provisão da graça
que Deus fez para Seu povo desde a fundação do mundo
compreendia a eleição de seu Filho como Mediador e a obra
que devia realizar como tal. Ele, por sua vez, tomaria a
natureza humana e ofereceria a Si mesmo em expiação pelo
pecado, e seria exaltado dessa condição até a destra de
Deus nos céus, obteria a supremacia em Sua igreja e,
sobretudo, em favor dela, dispensaria as bênçãos, tornando
efetiva Sua obra redentora para a salvação das almas. Tudo
foi parte de um assunto acordado e definido entre o Pai e o
Filho nos termos do Pacto Eterno.[167]
Sendo assim, notamos que esse eterno acordo redentor
ocorreu na eternidade passada, ou seja, antes da fundação
do mundo.
 
3. O PACTO DA REDENÇÃO É UM ACORDO ENTRE
AS PESSOAS DA TRINDADE
O terceiro aspecto a tratarmos sobre o Pacto da
Redenção é que ele é feito entre as pessoas da Trindade. O
Pai determinou a salvação de um povo eleito em Cristo
antes da fundação do mundo, o Filho executou o plano
redentor e o Espírito Santo aplicou e aplica a salvação ao
coração daqueles que são salvos.
Nessa mesma linha de raciocínio, John L. Dagg afirma
que as três pessoas da Trindade cooperam na salvação do
homem, de acordo com uma aliança eterna (Salmo 2:8,
40:6-8, 89:3; Isaías 49:3-12; João 17:6; Hebreus 13:20; Tito
1:2), e explica: A salvação do homem é uma obra em que
todas as pessoas divinas participam. É realizada de acordo
com um propósito eterno e, nesse propósito, bem como na
realização da obra, as pessoas divinas cooperam entre si,
sendo essa cooperação a sua eterna aliança.[168]
Berkhof define a transação desse pacto como “o acordo
entre o Pai, dando o Filho como Cabeça e Redentor dos
eleitos, e o Filho, voluntariamente tomando o lugar daqueles
a quem o Pai lhe tinha dado”.[169] Sobre os termos dessa
transação, Pascal Denault explica: O Filho deveria tomar
uma natureza humana e vir ao mundo como um verdadeiro
homem nascido debaixo da Lei (Filipenses 2:7; Gálatas 4:4).
Ele deveria levar uma vida sem pecado, observando a
vontade de Deus expressa na lei moral e igualmente em
tudo mais o que o Pai exigisse dEle (Mateus 5:17, 26:42;
João 8:29). Ele devia se tornar o representante sacrificial de
todos os crentes e sofrer a maldição da lei (a morte) no
lugar deles, morrendo na cruz (Gálatas 3:13; Filipenses 2:8;
Hebreus 2:14-17). Em troca, o Pai deveria Lhe dar a vida,
ressuscitando-O dentre os mortos, elevá-lO à Sua destra e
submeter a Ele todas as coisas e Lhe dar um povo a Seu
serviço, herdeiro com Ele da vida eterna (Atos 2:24;
Filipenses 2:9-11; Tito 2:14). Esse é o Pacto de Redenção
entre o Pai e o Filho.[170]
Portanto, notemos o seguinte resumo das atribuições
de cada pessoa da Trindade na estrutura do Pacto da
Redenção:
3.1. Da parte do Pai (planeja e elege):[171]
• Elaborar o plano de redenção e sua execução
(Gênesis 3:15; Efésios 1:3-14; João 17:4, 7-8, 25-26);
• Enviar o Filho como Seu representante (João 3:16;
Romanos 5:18-19);
• Aceitar apenas o Filho como representante de Seu
povo (Hebreus 9:24);
• Dar ao Filho toda autoridade (Mateus 28:18;
Filipenses 2:9-11; Tito 2:14; Efésios 1:20-23), incluindo a
autoridade de derramar Seu Espírito com todo o poder para
aplicar redenção ao Seu (Deus) povo (Atos 1:4, 2:33); •
Preparar um corpo para o Filho habitar como homem
(Colossenses 2:9; Hebreus 10:5);
• Dar ao Filho um povo que Ele redimiria para ser Sua
propriedade (João 17:2, 6);
• Ressuscitar e glorificar o Filho ao cumprir Sua obra
(Atos 2:24, 32; 3.15; João 17.5, 24);
 

3.2. Da parte do Filho (executa e redime):


Esse Pacto da Redenção incluiu um acordo de que o
Filho:
• Viria ao mundo como um homem e viveria como
homem sob a lei mosaica (Gálatas 4:4; Filipenses 2:7;
Hebreus 2:14-18);
• Entregaria sua vida como sacrifício (João 10:18;
Mateus 26:53-26; Tito 2:14);
• Seria perfeitamente obediente a todos os
mandamentos do Pai. Obediente até a morte, e morte de
cruz (Hebreus 10:7-9; Filipenses 2:8; Mateus 5:17; 26.42;
João 8:29; Gálatas 3:13; Hebreus 2:14-17); • Concordaria
em reunir um povo para representar e guardar, de modo
que nenhum que o Pai Lhe deu viesse a se perder (João
17:12);
3.3. Da parte do Espírito Santo (guarda, santifica
e aplica):
Nesse Pacto da Redenção, o papel do Espírito Santo,
embora muitas vezes subestimado nesse acordo, foi ímpar e
essencial: • O Espírito Santo concordou e executou a
vontade do Pai em conceder ao Filho, o Cristo, Sua (Espírito
Santo) plenitude, dando ao Filho poder para executar a Sua
parte do Pacto na terra (Mateus 3:16; Lucas 4:1, 14, 18; João
3:34); • O Espírito Santo concordou em aplicar os benefícios
da obra redentora do Filho ao Seu povo, após Ele ir ao céu
(João 14:16-17, 26; Atos 1:8; 2:17-18, 33).
R.C. Sproul resume:
O Pai iniciou o plano de redenção; isso significa que o
Pai está por trás dos decretos eternos de eleição, e
Ele enviou o Filho ao mundo para realizar a nossa
redenção. O Filho realizou a redenção por nós.
Finalmente, a redenção é aplicada à nossa vida
pessoal por meio do Espírito Santo. [172]

A.W. Pink ressalta três coisas que devemos considerar:


“1. Cristo havia recebido uma missão e tarefa específica do
Pai; 2. Ele se comprometeu de modo solene a executar Sua
tarefa; 3. A finalidade contemplada nesse acordo não era
meramente o anúncio de bênçãos espirituais, mas o real
derramamento delas sobre todos aqueles que o Pai lhe
deu”.[173]
Sendo assim, o eterno Pacto de Redenção diz respeito a
um acordo feito entre as pessoas da Trindade em que o Pai,
o Filho e o Espírito Santo estavam em completa
concordância quanto à salvação do homem.[174]
 
4. O PACTO DA REDENÇÃO FOI FEITO PARA A
SALVAÇÃO DOS ELEITOS
Por fim, esse pacto foi feito para a redenção dos
eleitos. Samuel Waldron afirma que essa obra de Cristo é a
única fonte, em todas as épocas, da salvação, e está
enraizada em um relacionamento de aliança entre Cristo e
Deus, o Pai. Existe uma aliança feita por Deus, o Pai, com
Cristo, o Redentor.[175] Deus planejou resgatar um
“remanescente” da humanidade decaída e levá-lo a um
reino e glória.[176] Samuel Renihan explica que “ninguém
poderia escapar da maldição do Pacto de Obras, a menos
que Deus os colocasse em uma Nova Aliança, e ninguém
poderia reivindicar uma participação na obra mediadora de
Cristo, exceto aqueles que haviam sido prometidos ao Filho
no Pacto de Redenção e que tinham crido na promessa de
salvação contida no Pacto de Graça”.[177] Tom Hicks conclui
que “os benefícios salvíficos do Pacto da Redenção chegam
aos eleitos em união com Cristo no Pacto da Graça”[178].
É notável que o Evangelho de João apresenta Jesus
Cristo como o Verbo encarnado, o Verbo que estava com
Deus no princípio, que era Deus (João 1:1) e veio ao mundo
para realizar a missão redentora dada pelo Pai. Observemos
o texto de João 6.38-39: “Porque eu desci do céu, não para
fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que
me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que
nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário,
eu o ressuscitarei no último dia”. O reformador João Calvino
comenta, sobre esse texto, que “Cristo declara haver Se
manifestado ao mundo a fim de poder realmente ratificar o
que o Pai decretou concernente à nossa salvação”.[179] Além
disso, podemos observar esse ponto na oração sacerdotal
do nosso Senhor Jesus Cristo: Jesus falou assim e,
levantando seus olhos ao céu, e disse: Pai, é chegada a
hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te
glorifique a ti; Assim como lhe deste poder sobre toda a
carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste.
E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único
Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu
glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me
deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti
mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o
mundo existisse. Manifestei o teu nome aos homens que do
mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a
tua palavra (João 17:1-6).
O Senhor Jesus Cristo ora ao Pai em favor daqueles
pelos quais resgataria com Seu sangue. Ele afirma que
consumou a missão que o Pai Lhe dera para cumprir a fim
de que Ele conceda a vida eterna a todos os que Lhe deu, e
pede para que seja glorificado com a glória que tinha antes
que houvesse mundo. O plano eterno de redenção que o Pai
decretou, o filho executou e o Espírito aplica, tem em vista a
salvação de um povo eleito e redimido para a glória de
Deus. O Filho executou a obra que o Pai lhe concedera em
resgate de muitos, morreu na cruz do Calvário no lugar de
um povo que foi eleito antes da fundação do mundo. Tom
Hicks explica os aspectos temporais e lógicos a respeito do
Pacto da Redenção: Falando de modo temporal, o Pacto da
Redenção foi feito na eternidade passada, mas Cristo
realmente obedeceu aos seus termos em Sua vida
encarnada (2 Timóteo 1:9-10). Mas, falando de modo lógico,
o Pacto da Redenção vem depois do Pacto das Obras porque
Cristo desfaz o que Adão fez na Queda. É por isso que Paulo
fala sobre Adão como o cabeça federal da raça humana e,
depois, de Cristo como cabeça federal de Seu povo.
“Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos
foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um,
muitos serão feitos justos” (Romanos 5:19). Cristo responde
ao problema que Adão criou no Pacto das Obras. É por isso
que Paulo chama a Cristo de “o último Adão” (1 Coríntios
15:45), referindo-se à Sua obra no Pacto da Redenção.[180]
Samuel Renihan conclui demonstrando que podemos
ver a realização do Pacto da Redenção dos eleitos na
história na Nova Aliança: Onde vemos a realização da
redenção dos eleitos na história através da encarnação e
morte de Cristo? Na Nova Aliança, feita no sangue de Cristo.
O que Cristo afirma que Ele veio fazer? Ele afirma que veio
para resgatar aqueles que o Pai Lhe deu. Seu propósito é
consumar o Pactum Salutis no tempo e na história. A Nova
Aliança não vai mais longe do que o Pactum Salutis, não só
porque Cristo disse especificamente que Sua missão era
redimir os eleitos, mas também porque a Nova Aliança é
feita no sangue de Cristo, o sangue da remissão cujos
benefícios salvíficos nunca foram e nunca serão aplicados a
qualquer outros senão somente aos eleitos. Isso significa
que os participantes da Nova Aliança não são outros senão
Deus e Cristo, e os eleitos nEle.[181]
Portanto, o Pacto da Redenção serviu de base para o
Pacto da Graça, foi feito na eternidade passada, em um
acordo feito de maneira perfeitamente agradável entre as
pessoas da Trindade, pelo qual o Pai elegeu um povo, o Filho
executou a obra redentora e o Espírito Santo aplica a
salvação aos eleitos. John Owen destacou: “Todos os eleitos
de Deus estavam, em Seu eterno propósito e desígnio, na
aliança eterna entre o Pai e o Filho, confiada a Ele, para
serem libertos do pecado, da lei e da morte, e serem trazido
para o gozo de Deus”.[182] Charles Spurgeon conclui: Deixe-
me agora assegurar-lhe solenemente de que não há tal
coisa no céu como misericórdia à parte do Pacto! Não existe
tal coisa debaixo do céu, ou acima dele, como graças para
os homens à parte do Pacto! Tudo o que você pode receber
e tudo o que você deve esperar, necessariamente deve vir
através do Pacto da Livre Graça, do Pacto Eterno, e dele
somente!.[183]
 
Uma Breve Recapitulação
Este gráfico, produzido pelo pastor Elivando Mesquita,
resume bem o que já vimos até aqui.

Gráfico 2: Gráfico elaborado por Elivando Mesquita para aulas de EBD na Igreja

Batista Reformada em Russas-CE: O Estandarte de Cristo, 2020. Disponível em:

https://oestandartedecristo.com/2020/01/01/um-grafico-sobre-teologia-biblica-

batista

Sendo assim, percebemos na teologia bíblica batista


pactual a existência de três grandes pactos. O Pacto da
Redenção diz respeito a esse eterno acordo entre as
pessoas da Trindade para a salvação de um povo eleito na
história. O Pacto de Obras é a aliança condicional feita com
Adão no Éden, pela qual, se obedecesse, comeria da árvore
da vida e viveria eternamente, se transgredisse, morreria,
com todas as implicações dessa morte. Vimos que Adão e
Eva foram enganados pela serpente (o Diabo) e pecaram;
mas, sendo Adão o cabeça federal da humanidade, toda sua
descendência foi afetada por sua queda. Entretanto, o
Senhor promete em Gênesis 3:15 que um descendente da
mulher esmagaria a cabeça da serpente. O Pacto da Graça
é, então, revelado como uma promessa, e essa promessa se
desenvolve ao longo de todo o Antigo Testamento através
de alianças que Deus fez com Noé, Abraão, Moisés e Davi, e
de diversos tipos, sinais e sombras que apontavam para
Cristo. Essas alianças ainda não eram a consumação do
Pacto da Graça, embora apontassem, tipologicamente, para
ele. O Pacto da Graça foi consumado somente na Nova
Aliança em Jesus Cristo. Portanto, a Nova Aliança em Cristo
é superior à Antiga (Hebreus 8).
Cristo já reina à destra do Pai, mas ainda não na Sua
plenitude, que ocorrerá na consumação de todas as coisas.
Neste momento, anunciamos aos rebeldes as boas novas do
Salvador, o chamado é feito para se renderem, enquanto há
tempo, ao grande Rei que virá. Você já é um cristão? Renda-
se a Cristo. A única maneira de ter paz com Deus, perdão de
pecados e salvação é através do sacrifício de Cristo e de Sua
mediação. Suplique ao Senhor por salvação, pois somente
Ele tem as Palavras de vida eterna.
A Escritura afirma que virá o fim, quando Cristo
entregar o reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo
domínio, potestade e poder. Porque é necessário que Ele
reine até que absolutamente todos os Seus inimigos sejam
prostrados debaixo de Seus pés (1 Coríntios 15:24-25).
 
CONCLUSÃO
Neste capítulo, estudamos o “Pacto da Redenção”, e
sobre ele destacamos as seguintes verdades:
1) O Pacto da Redenção serve de fundamento para o
Pacto da Graça;
2) O Pacto da Redenção foi feito na eternidade;
3) O Pacto da Redenção é um acordo entre as pessoas
da Trindade;
4) O Pacto da Redenção foi feito para a salvação dos
eleitos.
Concluímos, assim, a definição dos três grandes pactos.
Nos próximos capítulos, trabalharemos o tema da Lei de
Deus e Seus mandamentos, em uma perspectiva bíblica,
batista e pactual, e alguns aspectos de continuidade e
descontinuidade entre a Antiga e a Nova Aliança.
 
 
7

A Antiga e a Nova Aliança

No que consistem a Antiga Aliança e a Nova Aliança? Quais


são suas características? Quais são suas diferenças? O que
as Sagradas Escrituras falam sobre o assunto? Esses
termos, que ouvimos frequentemente, mas que, por vezes,
não compreendemos com clareza seu significado, é o que
vamos trabalhar neste capítulo.
A Antiga Aliança diz respeito, especificamente, à
aliança feita por Deus com Israel mediada por Moisés.
Entretanto, a Antiga Aliança também abrange todo o
período posterior à queda no Antigo Testamento, até o
estabelecimento da Nova Aliança. A Nova Aliança equivale
ao Pacto da Graça, ao Evangelho, sendo a maneira pela qual
Deus salva pecadores da caída posteridade de Adão através
da obra redentora de Cristo. Vimos que esse Pacto da Graça
foi planejado na eternidade passada, prometido ao longo do
Antigo Testamento e concluído somente na plenitude dos
tempos, em Jesus Cristo. Portanto, na perspectiva bíblica e
batista reformada, o Pacto da Graça é a Nova Aliança. Vamos
agora aprofundar alguns desses aspectos.
 
1. A ANTIGA ALIANÇA
 
1.1. O que é a Antiga Aliança?
No livro Os Distintivos da Teologia Pactual Batista,
Pascal Denault explica que as Escrituras usam a expressão
“Antiga Aliança para designar a aliança concluída entre
Deus e Israel no êxodo do Egito, a aliança da qual Moisés foi
o mediador”. Entretanto, afirma que também se refere a
algo mais do que isso, pois, de acordo com a maioria dos
aliancistas do século XVII a Antiga Aliança também incluía
todo o período do Antigo Testamento, ou seja, desde a
queda até o estabelecimento da Nova Aliança em Cristo.
Sendo assim, atesta que “a teologia pactual viu a Antiga
Aliança como sendo cumulativa”.[184] Denault fundamenta
esse ponto nas Escrituras ao afirmar que: Jesus e Paulo
uniram a circuncisão dada a Abraão à lei dada a Moisés de
forma indissociável (João 7:22-23; Gálatas 5:3). Estevão
começou seu relato da Antiga Aliança com Abraão e
também nele incluiu os pactos mosaico e davídico (Atos 7).
Os apóstolos associaram a circuncisão com o fardo da Lei de
Moisés (Atos 15:5, 10-11). A epístola aos Hebreus afirma
que Cristo pagou pelos pecados cometidos sob a primeira
Aliança (Hebreus 9:15), a saber, todos os pecados
cometidos antes da morte de Cristo desde a queda. A
primeira Aliança, portanto, cobria todo o período indo desde
a Queda até ao estabelecimento da Nova Aliança.[185]
Portanto, o escritor elucida o motivo dos teólogos
reformados entenderem que as “alianças da promessa”
mencionadas em Efésios 2:12 estabelecidas ao longo do
Antigo Testamento, estavam interligadas, como alianças
cumulativas, se estendendo a todo o período desde a queda
de Adão e Eva até o estabelecimento da Nova Aliança em
Cristo. Geerhardus Vos em seu livro, Teologia Bíblica Antigo
e Novo Testamentos, explica que embora a Antiga Aliança
trate-se do período de Moisés até Cristo, o período que a
antecede, ou seja, desde a queda de Adão até Moisés
também pode ser incorporado sob o título de Antiga
Aliança:
[...] por “antiga” aliança se entende não o período
inteiro que vai da queda do homem a Cristo, mas o
período desde Moisés até Cristo. Entretanto, o que
precede o período mosaico na descrição de Gênesis
pode ser apropriadamente incorporado sob a “Antiga
Aliança”. No pentateuco, ela tem a função do prefácio
à narrativa das instituições mosaicas e o prefácio
pertence à capa do livro.[186]
Para compreendermos melhor a Antiga Aliança, vamos
observar a dualidade que há no pacto que Deus fez com
Abraão.
 

1.2. As duas alianças feitas com Abraão (Cf.


Gálatas 4:24)
No Antigo Testamento, o Pacto da Graça foi revelado
como uma promessa em Gênesis 3:15 e, depois, por etapas
sucessivas, até sua revelação completa no Novo
Testamento. Deus fez uma aliança com Noé, pela qual
trouxe estabilidade física para o desenvolvimento da
promessa e, posteriormente, fez outra aliança com Abraão.
A aliança abraâmica possuía uma natureza dicotômica,
contendo aspectos físicos e espirituais, aspectos terrenos e
aspectos celestiais, aspectos condicionais e aspectos
incondicionais (Gênesis 12 e Gênesis 17). Os aspectos
físicos da aliança abraâmica se cumpririam na nação de
Israel, o sinal dessa aliança era a circuncisão física, a terra
prometida era Canaã e o seu desenvolvimento se deu com
sua descendência física na nação de Israel sob a Antiga
Aliança (Gálatas 4:24-31). Esta, por sua vez, serviu também
para preservar a genealogia do Messias, prefigurar
tipologicamente Sua vinda e funcionar como aio para
conduzir a Cristo, ao demonstrar a pecaminosidade humana
e a necessidade de um salvador.
A Antiga Aliança desempenhava uma função tipológica,
sobre a qual Jonathan Edwards escreveu:
Essa nação [Israel] era uma nação típica. Havia
literalmente uma terra, que era um tipo de céu, a
verdadeira morada de Deus; e uma cidade externa,
que era um tipo da cidade espiritual de Deus; um
templo externo de Deus, que era um tipo de Seu
templo espiritual. Portanto, havia um povo externo e
uma família de Deus, por geração carnal, que era um
tipo de Sua descendência espiritual. E a Aliança pela
qual eles foram feitos povo de Deus, era um tipo de
Aliança da Graça; e, portanto, às vezes é
representado como uma aliança de casamento.[187]
A Antiga Aliança era um tipo que apontava para o
antítipo em Cristo, como Renihan elucida:
Cada elemento da economia mosaica tipologicamente
revelou e colocou diante dos olhos dos judeus o Pacto
da Graça, em que a verdadeira justiça, o verdadeiro
perdão dos pecados e a verdadeira santidade podem
ser encontradas. Entretanto, as promessas espirituais
da aliança abraâmica referiam-se a Cristo, o
descendente de Abraão (Gálatas 3:16), e se
cumpriram na Nova Aliança. A circuncisão na Nova
Aliança acontece no coração dos salvos, os herdeiros
dessas promessas são aqueles que creem em Cristo,
são aqueles que têm a fé de Abraão (Gálatas 3:29).
[188]

John Spilsbery afirmou: “Havia em Abraão, ao mesmo


tempo, uma descendência espiritual e uma descendência
carnal, entre as quais Deus sempre fez distinção através de
suas gerações”.[189] Nessa mesma linha de raciocínio,
Pascal Denault explica que: Abraão possuiu uma
posteridade física, bem como uma posteridade espiritual
(Romanos 9:6-8; Gálatas 4:22-31); há uma circuncisão
externa da carne e uma circuncisão interna do coração
(Romanos 2:28-29); há uma terra prometida aqui no mundo
e um reino celestial (Hebreus 11:8-10).[190]
Para considerarmos melhor esse ponto, observemos o
diagrama encontrado no livro de Jeffrey Johnson:

Gráfico 3. In JOHNSON, Jeffrey. A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo


Infantil e o Dicotomismo Pactual: Continuidade e Descontinuidade dos Pactos de
Deus. 1ª ed. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2018. p. 344.

Johnson demonstra que a Nova Aliança foi estabelecida


com a descendência espiritual de Abraão, ao passo que a
Antiga Aliança foi estabelecida com a descendência natural
de Abraão. O Pacto da Graça é revelado a Abraão como uma
promessa, enquanto a aliança estabelecida com seus
descendentes físicos no Sinai era um pacto de obras, possuía
condições e prometia bênçãos e maldições conforme a
obediência ou desobediência do povo. Paulo afirma que “a
circuncisão tem valor se praticares a lei; se és, porém,
transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou
incircuncisão” (Romanos 2:25). Paul Washer explica que:
Essa é a grande diferença entre a nação física de Israel sob a
Antiga Aliança e a verdadeira igreja de Jesus Cristo debaixo
da Nova. A nação de Israel era composta de indivíduos que
compartilhavam uma genealogia física comum, como
descendentes de Abraão. No entanto, a maioria era de
“meros homens”, ou homens “naturais”, desprovidos do
Espírito (1 Coríntios 2:14, 3:3). Permaneciam na imagem
caída de seu pai Adão. Eram escravizados pela depravação
dos corações, e impelidos pela cobiça de sua carne (Gênesis
5:3; João 8:33-34, Efésios 2:3). Em sua maioria, não tinham a
fé de seu pai Abraão, mas eram não regenerados,
descrentes e desobedientes. O fundamento do ensino do
apóstolo Paulo para a igreja de Roma era que a maioria dos
descendentes de Israel não eram, de maneira nenhuma,
israelitas (Lucas 3:7-8; Romanos 9:6-8). Em contraste, a
verdadeira igreja, sob a Nova Aliança, é composta de
homens e mulheres de todas as tribos, línguas povos e
nações, e não há mais distinção entre grego e judeu,
circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo e liberto
(Colossenses 3:11; Apocalipse 5:9). Sua união não está em
ter o mesmo sangue de Abraão, mas em possuir a mesma
fé. Eles creem no testemunho de Deus a respeito de Seu
Filho, e isso foi imputado a eles como justiça (Gênesis 15:6;
Romanos 4.3, 16; Gálatas 3:6; Tiago 2.23)”.[191]
É importante lembrarmos que o Pacto da Graça ainda
não havia sido formalmente estabelecido com Abraão, mas
prometido a ele. O texto de Gálatas 4:22-31 expressa muito
bem os pontos que já mencionamos até aqui: Porque está
escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro
da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a
carne, mas, o que era da livre, por promessa. O que se
entende por alegoria; porque estas são as duas alianças;
uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é
Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que
corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava
com seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a
qual é mãe de todos nós. Porque está escrito: Alegra-te,
estéril, que não dás à luz; esforça-te e clama, tu que não
estás de parto; porque os filhos da solitária são mais do que
os da que tem marido. Mas nós, irmãos, somos filhos da
promessa, como Isaque. Mas, como então aquele que era
gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o
Espírito, assim é também agora. Mas que diz a Escritura?
Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o
filho da escrava herdará com o filho da livre. De maneira
que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.
O apóstolo Paulo apresenta as duas mulheres ligadas a
Abraão, a saber, Agar e Sara, como representando duas
alianças. Agar era escrava, mãe de Ismael, e gerou filhos para
a escravidão, correspondendo ao Monte Sinai, na Arábia e à
Jerusalém atual. A outra, Sara, é livre, mãe de Isaque, o filho
da promessa, e representa a Jerusalém que é do alto. A
escrava é mandada embora com seu filho e a livre permanece.
Os teólogos batistas pactuais do século XVII entendiam que
esse texto demonstrava a dicotomia da aliança abraâmica e a
relação entre a Antiga e a Nova Aliança. Agar representa a
Antiga Aliança, Sara, a Nova Aliança, os filhos delas
representam aqueles que estão debaixo dessas alianças, e o
fato da escrava ser lançada fora diz respeito à abolição da
Antiga Aliança e o estabelecimento da Nova. Na seguinte
tabela notamos o contraste apresentado por Paulo,
conforme o entendimento de muitos batistas reformados:
Gálatas Agar Sara
4:22 Escrava (Agar) Livre (Sara)
4:24 Antiga Aliança Nova Aliança
Corresponde ao Monte Corresponde a Jerusalém
4:25-27 Sinai e a Jerusalém atual. celestial.
4:22, Filho da escrava Filho da livre

28 (Ismael). (Isaque).
Nasceu segundo o Espírito,
Nasceu segundo a carne
mediante a promessa
4:23 (Posteridade física de
(Posteridade espiritual de
Abraão).
Abraão).
4:29 Persegue. É perseguido.
É mandada embora com Permanece e herda as
4:30 seu filho. promessas com seu filho.
4:31 Escravidão Liberdade em Cristo

Pascal Denault explica:


À luz de Gálatas 4:22-31, os teólogos de 1689
consideraram que as duas alianças que vieram de
Abraão (Agar e Sara) eram a Antiga e a Nova Aliança.
A aliança da circuncisão, Agar, correspondia à Antiga
Aliança, um pacto de obras estabelecido com a
posteridade física de Abraão. A aliança da promessa,
Sara, correspondia à Nova Aliança, o Pacto da Graça
revelado a Abraão e concluído com Cristo e a
posteridade espiritual de Abraão (Gálatas 3:29).[192]
Esse entendimento pactual deles a respeito da
posteridade física e espiritual de Abraão também se baseou
em textos como: Romanos 9:6-8: Não que a palavra de
Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel
são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são
todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua
descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são
filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados
como descendência.
Romanos 2:28-29: Porque não é judeu o que o é
exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente
na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a
que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não
provém dos homens, mas de Deus.
Mateus 3:9: E não presumais, de vós mesmos,
dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que,
mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.
Gálatas 3:29: E, se sois de Cristo, então sois
descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.
Sendo assim, vemos que os batistas pactuais
compreenderam uma dicotomia no pacto que Deus fez com
Abraão, e que seus aspectos físicos e condicionais se
desenvolveram na Antiga Aliança (aliança sinaítica).
Portanto, a aliança no Sinai é uma progressão da aliança
abraâmica e surge por meio dessa aliança, enquanto as
promessas espirituais e incondicionais feitas a Abraão se
cumprem apenas na Nova Aliança.
 

1.3. Qual é o Propósito da Antiga Aliança?


A Antiga Aliança, apesar de abranger todo o período do
Antigo Testamento, corresponde, mais especificamente, ao
pacto fei-to com Moisés no Sinai. Notamos que essa aliança
foi feita com os descendentes físicos de Abraão que
herdariam a terra prometida e, trata-se de uma aliança
nacional, tipológica, temporária e que não concedia vida
eterna.
Deus tirou o povo hebreu do Egito com mão forte,
conduziu-o pelo deserto, entrou em aliança com esse povo,
formou a nação de Israel, liderada por Moisés, e a organizou
sob uma teocracia, dando-lhes leis civis, cerimoniais e
morais. Deus também ordenou a construção do tabernáculo
e todo o sistema levítico foi instituído, com diversas
cerimônias e rituais e profecias, e assim conduziu o povo de
Israel. Essa aliança possuía bênçãos, caso fos-se obedecida,
e maldições, em caso de desobediência do povo. Para fazer
parte da nação e da aliança, era necessária a circuncisão
física de todos os homens dessa nação, os quais, por sua
vez, eram obrigados a circuncidar seus filhos do sexo
masculino ao oitavo dia. Sob essa aliança nacional havia
crentes e descrentes, mas os descrentes demonstraram ser
maioria. Sobre o propósito da Antiga Aliança, Pascal Denault
pontua: O propósito da aliança com a posteridade física de
Abraão (i.e., a Antiga Aliança ou a Lei) não era fútil, visto
que ela levava a Cristo. Esse objetivo foi alcançado pelo
menos de três maneiras: (1.) Ao preservar tanto a linhagem
messiânica como o Pacto da Graça;
(2.) Ao apontar tipologicamente para Cristo;
(3.) Ao aprisionar todas as coisas sob o pecado para
que o único meio de se obter a herança prometida
fosse através da fé em Cristo.[193]
 
1.3.1. Preservar a Linhagem Messiânica e o Pacto
da Graça
Notamos que o Pacto da Graça é revelado a Abraão e
concluído na Nova Aliança em Cristo. Deus prometeu a
Abraão e seus descendentes que seu herdeiro seria o
Messias prometido. O privilégio da nação de Israel foi trazer
esse Messias prometido. As leis dadas a Israel, além de
servirem para a organização daquele povo, também
ajudaram a distinguir essa nação de outros grupos étnicos e
a preservar a descendência messiânica prometida a Abraão,
bem como conservar sua genealogia. Muitos povos, ao se
misturarem com outras nações, perderam totalmente sua
identidade e dificilmente preservaram a genealogia de seu
povo. Jeffrey Johnson elucida que “sem documentação
cuidadosa dos registros familiares, seria impossível provar
que o Senhor Jesus era da família de Davi. De modo
providencial, Deus fez uma provisão para isso no pacto
mosaico”.[194] John Owen explica que essa aliança tinha um
objetivo temporal e que cessaria após seu cumprimento:
Que essa separação e privilégio [a saber, a separação de
Israel e sua preservação por meio da aliança] deveriam
cessar quando seu objetivo fosse cumprido e o Messias
fosse revelado, a própria natureza da coisa o declara; pois,
para qual propósito deveriam continuar, uma vez que foi
totalmente eficaz para o que foram designados?[195]
Portanto, um dos motivos da existência da Antiga
Aliança era a preservação da linhagem messiânica, do
descendente de Abraão por meio de quem todas as nações
da terra seriam abençoadas, Jesus Cristo (Gálatas 3:16). É
notável que o Evangelho de Mateus começa com a
genealogia de Jesus e o apresenta como filho de Davi e Filho
de Abraão (Mateus 1:1). Além disso, a Antiga Aliança
preservou a promessa a respeito desse Pacto da Graça que
seria estabelecido na história como a Nova Aliança; como
Paulo afirma, em Romanos 3:2, a respeito dos benefícios dos
judeus em relação aos demais povos, “as Palavras de Deus
lhes foram confiadas”.
 
1.3.2. A Antiga Aliança Aponta Tipologicamente
para Cristo
O segundo propósito destacado é que a Antiga Aliança
aponta tipologicamente para Cristo. Jeffrey Johnson explica
que: “o pacto mosaico apontou uma luz brilhante em Cristo:
Primeiro, mostrando a necessidade universal do homem de
um salvador. Segundo, como já explicamos em detalhes,
figurando Cristo por meio de várias sombras e tipos”.[196]
Todo o sistema sacrificial, o ofício do sumo sacerdote e
o tabernáculo demonstravam que o Senhor é Santo, que
Sua presença era restrita, que a transgressão da lei
demandava derramamento de sangue. Os diversos tipos,
sinais e figuras prefiguravam aquele que é maior do que
eles mesmos, a saber, Jesus Cristo, nosso cordeiro pascal (1
Coríntios 5:7). Você pode examinar as Escrituras e encontrar
inúmeros tipos, no Antigo Testamento, que apontavam para
Jesus. Cristo é o Segundo Adão (Romanos 5:12-21), o
cordeiro de Deus (João 1:29), o pão da vida (João 6:31-35) e
assim por diante.
 
1.3.3. A Antiga Aliança Manifesta o Pecado dos
Homens e os Conduz a Cristo
O terceiro propósito da Antiga Aliança é que ela
manifesta a culpa e aprisiona todas as coisas sob o pecado.
Romanos 3:19-20 afirma: “Ora, sabemos que tudo o que a
lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda
boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que
ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em
razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do
pecado”.
A Lei explicita aquela norma que já existia na
consciência, que já havia sido colocada dentro do homem
desde o princípio, ela simplesmente expõe e manifesta
claramente o pecado do homem. Por exemplo, antes mesmo
de Moisés ter recebido as tábuas da Lei no Sinai, os homens
já matavam, adulteravam e transgrediam a consciência que
Deus havia colocado dentro deles. A norma da lei gravada
dentro dos homens sempre existiu, mas no Sinai ela é
expressa claramente e expõe seu pecado, como explica
John Bunyan: A própria substância dos Dez Mandamentos foi
dada no Jardim antes de serem recebidos no Sinai; porém,
eles estavam tão obscurecidos no coração do homem que
os seus pecados não foram mostrados de modo tão claro
quanto posteriormente. “A lei foi acrescentada (ou mais
claramente dada no Sinai, em tábuas de pedra) para que a
ofensa abundasse”, ou seja, pudesse ser manifestada e
aparecer mais claramente.
A aliança mosaica manifestou a condenação do
homem. Ela serve como um raio x que mostra o problema,
mas não o resolve, apenas manifesta a condição em que a
pessoa se encontra e conduz o paciente ao médico, que é
quem pode realmente tratar o problema identificado. Neste
caso, o médico é Jesus Cristo. Pascal Denault elucida que:
[...] os sacrifícios da Antiga Aliança não podiam cumprir a
justiça da lei efetivamente; é por isso que eles tiveram um
valor tipológico e temporário. Enquanto fossem oferecidos,
esses sacrifícios lembravam que os requerimentos da lei
não eram satisfeitos, uma vez que o pecado ainda subsistia
e que essa lei pesava sobre os membros da Antiga Aliança
como uma maldição (cf. Hebreus 10:1-14). Assim, Cristo
nasceu (Gálatas 4:4) sob a lei para cumpri-la em sua
perfeita obediência (Mateus 5:17; Romanos 5:19-20; Gálatas
3:13). Cristo, portanto, cumpriu a lei perfeitamente como
ela foi revelada na Antiga Aliança; os termos que Ele
cumpriu foram aqueles do Seu Pacto de Obras, que é o
Pacto de Redenção entre o Pai e o Filho para a redenção dos
eleitos.[197]
Dessa maneira, a Antiga Aliança era condicional,
possuía bênçãos e maldições e dependida da obediência do
povo. Por exemplo, em Êxodo 19:5 observamos uma das
condições: Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha
voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha
propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a
terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação
santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.
Neste caso, a condição seria guardar a aliança.
Sabemos, pela história, que a nação desobedeceu
continuamente a Deus e quebrou a aliança diversas vezes
(Hebreus 8:9). Além disso, como vimos, era uma aliança
nacional, feita com Israel sob uma teocracia, a entrada na
aliança se dava pela circuncisão física, ela prometia
recompensas terrenas e, nesse pacto, encontravam-se tanto
crentes como descrentes. Portanto, apesar de estar
relacionada ao Pacto da Graça e apontar tipologicamente
para ele, a Antiga Aliança permanece distinta
substancialmente dele, como veremos no próximo tópico.
Portanto, segundo o entendimento de muitos batistas
reformados, a Antiga Aliança, embora revelasse
tipologicamente a obra redentora de Cristo, ela, em si
mesma, ainda era um Pacto de Obras, apesar de preservar
alguma distinção em relação ao primeiro que havia sido
feito com Adão, como Benjamin Keach explica: É verdade,
houve outra edição ou administração dele [o Pacto de
Obras] dada a Israel, o qual, embora fosse um pacto de
obras, isto é, faça isto e viva, ainda assim não foi dado pelo
Senhor para o mesmo fim e objetivo do Pacto dado aos
nossos primeiros pais, a saber: Não foi dado para justificá-
los, ou para dar-lhes vida eterna.[198]
Pascal Denault elucida que: “essa especificação
constituiu-se uma característica essencial do federalismo
batista, especialmente que o Pacto de Obras, depois da
queda, nunca mais foi usado, para os descendentes de
Adão, como ‘uma lei que pudesse vivificar’ (Gálatas 3:21)”.
[199] Além disso, Denault conclui que “a Antiga Aliança foi,
para o povo de Israel, uma aliança figurativa, terrena e
condicional, que tinha de levá-los a Cristo relembrando-os
do Pacto de Obras”. Portanto, a Antiga Aliança era
substancialmente diferente da Nova, ela nunca concedeu
vida a seus participantes, como John Owen expõe: Essa
aliança assim feita [a Antiga Aliança], com tais objetivos e
promessas, nunca salvou ou condenou qualquer homem
eternamente. Todos os que viveram sob sua administração
alcançaram a vida eterna, ou pereceram para sempre, mas
não em virtude dessa aliança formalmente como tal. De
fato, ela reviveu a autoridade e a sanção do primeiro Pacto
de Obras; e nesse sentido, como o apóstolo Paulo fala, foi “o
ministério da condenação” (2 Coríntios 3:9); pois “ninguém
será justificado por obras da lei” [Romanos 3:20; Gálatas
2:16]. E, por outro lado, ela também direcionava para a
promessa, que era o instrumento de vida e salvação para
todos os que creram.[200]
Nesse ponto, a teologia de John Owen se assemelha
muito à teologia dos batistas pactuais de 1689, como
Samuel Renihan observa: Owen argumentou que a Antiga
Aliança não era da mesma substância que a Nova Aliança;
as duas alianças diferiam em substância. A Antiga Aliança
era uma aliança de obras para a vida na terra de Canaã,
revivendo a aliança original de obras e direcionando os
pecadores para a Aliança da Graça”.[201]
 
2. A NOVA ALIANÇA
Já notamos que na perspectiva batista reformada, o
termo Pacto da Graça é equivalente à Nova Aliança e diz
respeito à manifestação do eterno plano redentor na
história, à promessa salvadora revelada no Antigo
Testamento e estabelecida na plenitude dos tempos em
Cristo Jesus. Este é um dos pontos em que a teologia bíblica
batista pactual se distingue da teologia pactual pedobatista.
O Pacto da Graça foi revelado como uma promessa em
Gênesis 3:15 e estabelecido na história somente na Nova
Aliança em Cristo, portanto, a Nova Aliança equivale ao
Pacto da Graça estabelecido e ratificado no sangue de
Cristo. Na Antiga Aliança, apesar de o Pacto da Graça ser
prometido, ele ainda não fora estabelecido. Assim, os
batistas entendem que existe uma diferença substancial
entre a Antiga e a Nova Aliança, ao passo que os
pedobatistas entendem de maneira diferente.
Para os pedobatistas, o Pacto da Graça foi estabelecido
já em Gênesis 3:15 e administrado de diversas formas ao
longo do Antigo Testamento. Ou seja, todas as alianças
feitas no Antigo Testamento são administrações do Pacto da
Graça, e a Nova Aliança seria somente mais uma
administração desse pacto. Logo, eles não creem que a
Nova Aliança é substancialmente diferente da Antiga.
Trabalharemos esse ponto adiante.
Os batistas, por sua vez, compreenderam que o texto
de Hebreus 8:6-13 apresenta claramente a distinção entre a
Antiga e a Nova Aliança: Mas agora alcançou ele ministério
tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor
aliança que está confirmada em melhores promessas.
Porque, se aquela primeira fora irrepreensível, nunca se
teria buscado lugar para a segunda. Porque, repreendendo-
os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a
casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei uma nova
aliança, não segundo a aliança que fiz com seus pais no dia
em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito;
como não permaneceram naquela minha aliança, eu para
eles não atentei, diz o Senhor. Porque esta é a aliança que
depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o
Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu
coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me
serão por povo; e não ensinará cada um a seu próximo, nem
cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque
todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.
Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, e de
seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei
mais. Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o
que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar.
O texto apresenta Jesus Cristo como Mediador de uma
melhor aliança, baseada em melhores promessas. Explica
também que, se a aliança anterior (a Antiga Aliança) fosse
sem defeito, não se procuraria lugar para outra. Mas o autor
aos Hebreus prossegue citando o texto de Jeremias 31,
mostrando que, desde o Antigo Testamento, havia a
promessa de uma superior e Nova Aliança.
A função da Antiga Aliança foi demonstrar que todos
estavam debaixo do pecado e os conduzir, através de tipos,
sombras e promessas, a Cristo. Em sua exegese de Hebreus
8, John Owen destaca a superioridade da Nova Aliança em
relação à Antiga: Aquilo que antes estava oculto em
promessas e em muitas coisas obscuras — e quando os
principais mistérios eram um segredo escondido no próprio
Deus — foi agora trazido à luz; e aquela aliança que,
invisivelmente, em forma de promessa, mostrou sua
eficácia sob tipos e sombras, foi agora solenemente selada,
ratificada e confirmada na morte e ressurreição de Cristo.
Antes, ela [a Aliança da Graça ou Nova Aliança] havia sido
confirmada em forma de uma promessa, que é um
juramento; agora, foi confirmada como uma aliança, que é o
sangue. Aquilo que antes não tinha adoração visível,
exterior, própria e peculiar a ela, agora é feita a única regra
e instrumento de adoração para toda a igreja, nada passa a
ser admitido, senão o que lhe pertence e é designado por
ela. É isso que o apóstolo intenciona ao usar o termo
νενομοθέτηται, a saber, o “estabelecimento legal” da Nova
Aliança, com todas as ordenanças de sua adoração. E, nisso,
a outra aliança é anulada e abolida; e não apenas a aliança
em si, mas todo aquele sistema de culto sagrado segundo o
qual ela foi administrada. […] Quando a Nova Aliança foi
dada apenas em forma de uma promessa, ela não
introduziu adoração e nem privilégios pertencentes a ela.
Por isso, ela foi consistente com uma forma de adoração,
ritos e cerimônias e todas aquelas outras instituições da
Antiga Aliança que, juntas, constituíam um jugo de
escravidão, pois tudo isso não pertencia à Nova Aliança. E
assim também essas, se forem adicionadas após o
estabelecimento da Nova Aliança, embora não anulem sua
natureza como uma promessa, contudo são inconsistentes
com ela, enquanto já concluída como uma aliança; pois,
então, todo a adoração da igreja deveria proceder e ser
conformada a ela. Então ela estava estabelecida.[202]
Portanto, Owen compreendia que na Antiga Aliança o
Pacto da Graça havia sido revelado, e na Nova Aliança ele
foi estabelecido legalmente com suas ordenanças de culto e
selado com sangue. Portanto, as cerimônias e sombras da
Antiga Aliança seriam abolidas uma vez que encontrassem
sua consumação em Cristo. Por exemplo, digamos que você
tenha um ticket de um grande prêmio. Uma vez que você já
recebeu o prêmio, você não precisa mais do ticket, ele já
cumpriu a sua função. Uma vez que Cristo estabeleceu a
Nova Aliança, não precisamos mais nos apegar às
cerimônias que O anunciavam, elas cumpriram a sua
função. Uma vez que temos o Sumo Sacerdote superior da
ordem de Melquisedeque, o sacerdócio levítico já cumpriu a
sua função, não há mais necessidade de sacrifícios de
animais, tampouco de um outro sacerdote, pois Cristo é o
Mediador de uma aliança superior.
Além disso, a Nova Aliança não seria como a aliança
mosaica, a qual era condicional e cujos participantes não
cumpriram suas condições — pelo contrário, quebraram a
aliança. Diferente da Antiga Aliança, na qual encontramos
condições do tipo “se” vocês fizerem isso, “então eu” farei
aquilo, a Nova Aliança é incondicional para todos os seus
participantes, aqueles que são verdadeiramente salvos pela
fé em Cristo. Stuart Ollyot comenta: Na Antiga Aliança, Deus
disse, com efeito: “Se vocês… então eu…”. As bênçãos
pactuais estavam condicionadas à obediência humana. Na
Nova Aliança, Deus fala: “Eu quero fazer…”. É interessante
observar quantas vezes isso ocorre nos versículos de
Hebreus 8:7-12. Embora não esteja claro, mas apenas
implícito, a partir desses versículos, o fato é que tais
bênçãos são condicionadas à obediência de Cristo. Ele é o
Mediador da Nova Aliança.[203]
Charles Spurgeon afirma que a promessa da Nova
Aliança, anunciada em Jeremias 31:31, destaca a distinção
substancial entre a Antiga e a Nova Aliança, salientando que
esta possui caráter incondicional, inquebrantável e que sua
membresia é composta somente de verdadeiros
descendentes de Abraão, ou seja, de crentes verdadeiros.
Ele diz: No capítulo 31 de Jeremias, versículo 31, essa
aliança é chamada “nova aliança”. Isso contrasta com a
aliança anterior que o Senhor fez com Israel quando o
trouxe para fora do Egito. É nova no que diz respeito ao
princípio em que se baseia. O Senhor havia dito aos Seus
que, se guardassem as Suas leis e andassem nos Seus
estatutos, Ele os abençoaria. Ele colocou diante deles uma
longa lista de bênçãos, ricas e plenas; todas elas seriam a
sua porção se escutassem o Senhor e obedecessem à Sua
lei. Mas nos dias presentes, o Senhor, em Cristo Jesus, tem
feito com a verdadeira descendência de Abraão, com todos
os crentes verdadeiros, uma Nova Aliança; não segundo o
teor da Antiga, nem passível de ser quebrada, como aquela.
Irmãos, tomem o cuidado de distinguirem entre a Velha
Aliança e a Nova Aliança, porque nunca deverá haver
confusão entre elas. Muitos nunca percebem a verdadeira
natureza da Aliança da Graça; eles não entendem um pacto
de pura promessa. Falam a respeito da graça, mas
consideram que ela depende do mérito. Falam da
misericórdia de Deus, porém a misturam com condições que
fazem com que seja mais justiça do que graça. Irmãos,
façam distinção entre coisas diferentes. Se a salvação é por
graça, não é por obras, senão, a graça já não seria graça; e
se é por obras, não é por graça, senão as obras já não
seriam obras (conforme Romanos 11:6). A Nova Aliança é
toda pela graça, desde a primeira letra até à sua palavra
final.[204]
A Nova Aliança é incondicional para os seus
participantes. Uma vez que Cristo cumpriu todas as
condições em nosso lugar, todos os participantes dessa
aliança são salvos, todos conhecem o Senhor. Aqueles que
estão na Nova Aliança são aqueles que estão em Cristo, são
os herdeiros das promessas espirituais feitas a Abraão
(Gálatas 3:29). Paul Washer afirma corretamente que: Ela [a
Nova Aliança] assegura a nós crentes que, apesar de nossa
incapacidade, fomos levados a uma aliança eterna e
incondicional com Deus. Tudo é obra dEle, e, portanto,
temos uma palavra segura sobre a qual nos firmar, não
somente nesta vida como também em todas as eras por vir.
É por essa razão que reconhecemos livremente, de comum
acordo, que é pela graça que somos salvos, não por nós,
não por obras para que ninguém se glorie (Efésios 2:8-9). As
promessas do Antigo Testamento quanto à natureza eterna
e incondicional da Nova Aliança não se limitam ao profeta
Jeremias, mas são igualmente reveladas nas palavras do
profeta Isaías. Por ele, Deus declara a Seu povo: “Inclinai os
ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque
convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis
misericórdias prometidas a Davi (55:3)”.[205]
Outro fator a ser considerado é que na Antiga Aliança a
lei foi gravada em tábuas de pedra, já na Nova Aliança, a lei
é gravada na mente e no coração do povo de Deus
(Hebreus 8:10). A Antiga Aliança mostra o pecado, a Nova
aliança resolve o problema do pecado através da obra do
Mediador, Jesus Cristo, que derramou o Seu sangue que nos
lava de todo pecado. Em Hebreus 8:12 o Senhor diz:
“Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, e
de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei
mais”. Jeffrey Johnson explica muito bem esses pontos: A
principal diferença entre as duas alianças foi que, enquanto
a Antiga Aliança foi quebrada, a Nova Aliança seria
inquebrantável. Por exemplo, a Antiga Aliança apresentava
a lei escrita em pedra, mas não podia mudar um coração de
pedra. Em contraste, a Nova Aliança escreve a lei sobre o
coração (Jeremias 31:33). A Antiga Aliança exigia um
coração circuncidado, mas a Nova Aliança fornece um
coração circuncidado. Alguns membros da Antiga Aliança
foram afastados de Deus, mas todos os membros da Nova
Aliança são preservados em um relacionamento amoroso e
pessoal com Deus (Jeremias 31:34). A lei condenou os
membros da Antiga Aliança, enquanto os membros da Nova
Aliança são justificados em Cristo.[206]
Portanto, vimos que a entrada na Antiga Aliança se
dava pela circuncisão, logo após o nascimento, mas a
entrada na Nova Aliança é pela circuncisão do coração, pelo
novo nascimento. A Antiga Aliança era como uma sombra, a
Nova Aliança, a substância; com o estabelecimento da
Nova, a Antiga torna-se antiquada. Micah e Samuel Renihan
acertam ao afirmar que: No Antigo Testamento, a Antiga
Aliança era um tipo e sombra da plenitude que estava por
vir. Essa plenitude foi envolta em mistério e tipos que
esperavam por serem revelados em Cristo. Com a vinda de
Cristo, agora temos essa plenitude. Os elementos externos,
tipológicos da Antiga Aliança são abolidos. O mistério e as
sombras se foram.[207]
Paul Washer afirma corretamente que:
É impossível que o sangue de touros e bodes tire os
pecados ou aperfeiçoe a consciência do adorador
(Hebreus 9:9, 10:4). É impossível à lei, devido à
fraqueza da carne humana, mudar os afetos da
pessoa, transformando-a em pensamento e ação
(Romanos 8:3). Por essa razão Deus declara, por
intermédio de Jeremias, a feliz notícia de uma nova e
superior aliança, estabelecida sobre promessas
melhores (Hebreus 8:6). Ela possuiria e demonstraria
uma plenitude da qual a Antiga Aliança era apenas
tipo ou sombra. Faria demandas sobre o povo de Deus
que excederiam em muito o que Moisés lhes
entregara, contudo, proveria uma transformação e um
poder que os capacitaria a obedecer.[208]
Micah e Samuel Renihan complementam que:
Com a Nova Aliança, vem o irromper do tempo
escatológico em sua forma “já-ainda não”. O povo da
Antiga Aliança foi gerado naturalmente e marcado
pela circuncisão da carne. O povo da Nova Aliança é
gerado espiritualmente e, do mesmo modo,
circuncidados no coração — é o antítipo da
circuncisão. Portanto, o batismo deve ser
administrado apenas para aqueles que nasceram
espiritualmente na aliança, que entraram na Nova
Aliança através da fé em Cristo ao nascerem de novo.
A única forma prescrita nas Escrituras para avaliar se
alguém está na aliança é uma profissão de fé. Após a
profissão de fé, o batismo é administrado. Este é
precisamente o padrão que vemos no Novo
Testamento: o batismo acontece após uma profissão
de fé.[209]
Nesse trecho, os irmãos Renihan demonstram o motivo
dos batistas, conforme esse entendimento da Nova Aliança,
batizarem somente aqueles que fazem profissão de fé em
Cristo. Uma vez que na Nova Aliança todos conhecem o
Senhor e tem seus pecados perdoados, e a entrada nesse
concerto não se dá por nascimento físico, mas pelo novo
nascimento. A única maneira prescrita na Escritura para
avaliar esse ponto é a profissão de fé. Portanto, os batistas
entendem que somente devem batizar aqueles que
demonstram arrependimento e fé em Cristo, pois esse é o
sinal de que fazem parte do Pacto da Graça. Fred Malone,
complementa: Quem é a “descendência” de Cristo, a quem
pertencem as promessas da Aliança com Abraão? São
aqueles que pertencem a Cristo (Gálatas 3:29) e estes
somente são revelados por sua fé. Os únicos que têm uma
reivindicação à herança de Deus são os filhos de Deus pela
regeneração do Espírito (Romanos 8:9, 14-17; João 1:12-14).
Portanto, ninguém é considerado um herdeiro das
promessas abraâmicas até que, pela fé, ele dê evidência de
ser um “descendente” de Abraão por meio de Cristo, que é
o cumprimento literal da descendência de Abraão. E nós
“pertencemos a Cristo” somente através da fé que
evidencia a regeneração (Gálatas 3:22, 29).[210]
 

Antiga Aliança Nova Aliança


Entrada por nascimento físico Entrada pelo novo nascimento
Circuncisão era física e um ato
Circuncisão do Espírito no coração
exterior na carne
Lei foi escrita sobre a pedra Lei escrita sobre o coração
Adoração cerimonial exterior Adoração em espírito e em verdade
Um reino físico Um reino espiritual
Herança terrena Cidade celestial (Hebreus 11.10)
Temporal Eterna

Jeffrey Johnson também destaca as diferenças


substanciais entre a Antiga e a Nova Aliança na seguinte
tabela:[211]
Portanto, aquilo que foi prometido no Antigo
Testamento é cumprido em Cristo, na Nova Aliança. Cristo
foi assunto aos céus e está à destra do Pai, o Seu reino já
está entre nós, mas aguardamos a Sua segunda vinda e a
consumação de todas as coisas, quando o Senhor fará
novos céus e nova terra, onde habita a justiça, e
desfrutaremos plenamente, tanto espiritualmente como
fisicamente, das bençãos prometidas por Deus. Johnson
conclui: Então, depois que Cristo voltar, céu e terra serão
unidos nos novos céus e da nova terra vindouros, onde só
habita a justiça. Naquele tempo, o povo de Deus receberá
corpos novos e glorificados, e encontrará o descanso
escatológico onde se cumprirá a plenitude dos aspectos
naturais e espirituais da aliança de Deus com Abraão, na
consumação do reino de Deus na eternidade porvir. O reino
prometido a Abraão era tanto espiritual quanto físico por
natureza, mas consiste apenas naqueles que foram unidos a
Cristo pela fé.[212]
Sendo assim, a plenitude das promessas divinas será
herdada tanto fisicamente quanto espiritualmente na
consumação de todas as coisas por todos aqueles que
foram unidos a Cristo pela fé. Como afirmou o apóstolo
Paulo: “E, se sois de Cristo, então sois descendência de
Abraão, e herdeiros conforme a promessa” (Gálatas 3:29).
 
CONCLUSÃO
Aprendemos aqui algumas verdades importantes sobre
a definição da Antiga e a Nova Aliança, e da relação entre
elas: 1) Há uma dicotomia na aliança abraâmica: seus
aspectos físicos e condicionais desenvolvem-se na Antiga
Aliança e suas promessas espirituais e incondicionais se
cumprem na Nova Aliança.
2) A Antiga Aliança é uma aliança temporal, condicional
e nacional, cuja entrada é por meio da circuncisão física,
sob a qual estão crentes e descrentes.
3) A Antiga Aliança aponta tipologicamente para Cristo,
preserva a linhagem do messias, mostra que todos estão
debaixo do pecado e aponta para um salvador.
4) Embora esteja relacionada, dessa maneira, com a
Nova Aliança, a Antiga Aliança é distinta, substancialmente,
da Nova.
5) A Nova Aliança é o Pacto da Graça que foi prometido
no Antigo Testamento e estabelecido na plenitude dos
tempos em Cristo.
6) A Nova Aliança para os crentes é incondicional, pois
Cristo, o Mediador, cumpriu todas as condições exigidas por
ela em nosso lugar.
7) A Nova Aliança é eterna e inquebrantável, todos que
estão sob essa aliança são salvos e conhecem o Senhor. Ela
promete bençãos espirituais e sua entrada é por meio do
novo nascimento.
Reflita sobre essas boas novas e tão preciosas
promessas. Jamais confunda o significado da Antiga e da
Nova Aliança, esse é um assunto de supremo valor.
Esperamos que este capítulo o tenha ajudado a entender
melhor esse tema.
No próximo capítulo, trabalharemos o tema da lei de
Deus. Você sabe como os cristãos na Nova Aliança se
relacionam com a lei de Deus?

 
 
8

A Lei de Deus
 

No presente capítulo trataremos especificamente da lei de


Deus: no que ela consiste, como é apresentada ao longo da
história bíblica, quais os seus usos e como os cristãos na
Nova Aliança relacionam-se com ela. Esse é um tema muito
importante em nossos dias, em que há uma grande
confusão no que diz respeito aos assuntos relacionados à
moral, ao que é certo e errado. Por exemplo: qual é a
relação dos cristãos com os Dez Mandamentos? O cristão
ainda deve observá-los? As respostas a essas e outras
perguntas serão tratadas a seguir.
1. A LEI DE DEUS
Como, neste livro, o objetivo é apresentar a teologia
bíblica batista reformada e demonstrar seus distintivos,
também é importante mencionarmos que os pontos de
unidade entre as confissões reformadas são muito maiores
do que suas diferenças. E, nesse caso, no que concerne à lei
de Deus, as confissões reformadas são muito semelhantes.
Samuel Waldron destaca: A unidade evidente entre a
Confissão de Westminster, a Declaração de Savoy e a
Confissão de 1689 nesse capítulo [sobre a Lei de Deus]
manifestam claramente que não havia diferença consciente
entre os presbiterianos, os congregacionais e os batistas
particulares sobre essa questão. Todos eles sustentaram,
com a mesma firmeza, a doutrina puritana da lei de Deus.
[213]

Portanto, entendemos que tanto batistas reformados


como presbiterianos e congregacionais sustentaram em
suas confissões a doutrina puritana da Lei de Deus, ou seja,
o sistema de regras que reflete o caráter de Deus, que se
fundamenta na ordem criada e que se revela nas Escrituras.
[214]Os reformados normalmente compreendem que a lei
mosaica se divide em três dimensões: • Lei moral:
Corresponde às regras que refletem o caráter de Deus e são
expressas mais claramente no Decálogo (Dez
Mandamentos).
• Leis cerimoniais: Dizem respeito às cerimônias e
sacrifícios instituídos no sistema levítico e apontavam para
Cristo.
• Leis civis/judiciais: Trata-se das leis que regiam
Israel sob uma teocracia.
Alguns teólogos objetam a tripartição da lei por não a
encontrarem explicitamente expressa nas Escrituras.
Entretanto, verificamos que a Bíblia não é um livro de
Teologia Sistemática em que as doutrinas já estão
separadas por tópicos, a dogmática é que tem essa tarefa.
A Escritura Sagrada é como uma mina de ouro a ser
escavada. Como Herman Bavinck acerta ao afirmar: “A
Escritura não é dogmática. Ela contém todo o conhecimento
de Deus de que precisamos, mas não na forma de
formulações dogmáticas [...] A Escritura é uma mina de
ouro: é a igreja que extrai o ouro, põe sua estampa sobre
ele e o converte em dinheiro circulante”[215].
Essa compreensão bíblica a respeito dos mandamentos
de Deus em seus diferentes aspectos remonta ao Antigo
Testamento, assim como também estava presente a noção
da superioridade do aspecto interior e moral em relação ao
aspecto exterior e cerimonial. Observe o texto de Jeremias
7:22-23, em que o Senhor afirma: Porque nunca falei a
vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem
lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou
sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à
minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu
povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para
que vos vá bem.
É notável que a questão não estava simplesmente em
praticar sacrifícios, mas em servirem a Deus de coração,
obedecerem à voz dEle. O ponto não era simplesmente
oferecer holocaustos ou praticar algo mecânico e religioso,
mas amar a Deus sobre todas as coisas e demonstrar esse
amor a Deus amando ao próximo. Em diversos outros textos
do Antigo Testamento, tal distinção também pode ser
notada, como, por exemplo, em Isaías 15:11-15, que
demonstra que o Senhor estava farto de sacrifícios,
holocaustos e cerimônias, uma vez que o povo continuava a
quebrar os preceitos morais. Na mesma linha, o texto de
Oséias 6.6 afirma que o Senhor quer a misericórdia, e não o
sacrifício, e o conhecimento de Deus mais do que os
holocaustos. E o texto de Miquéias 6:6-8 o complementa,
mostrando a superioridade dos preceitos morais e internos
em relação aos cerimoniais. O Senhor exigia não apenas
presentes externos, mas o coração do povo.
Contudo, a lei moral, que foi colocada no interior de
todo ser humano (Romanos 2:15) e codificada,
posteriormente, em tábuas de pedra pelo próprio dedo de
Deus em dez mandamentos (Êxodo 31.18) — as quais,
depois de serem quebradas, foram reescrita e depositada
na arca da aliança (Deuteronômio 10.1-4) — é claramente
apresentada nas Escrituras como tendo proeminência em
relação aos demais aspectos (cerimoniais e civis/judiciais)
do conjunto de códigos legais que regiam Israel e serviam
como leis positivas ao longo da Antiga Aliança. A.W. Pink
afirma que nenhum dos preceitos cerimoniais ou civis
recebeu tal proeminência e distinção.[216] Uma das
principais promessas da Nova Aliança é que a lei moral seria
gravada na mente e escrita no coração dos seus
praticantes, aqueles que têm fé em Cristo (Hebreus 8:10).
Em Marcos 12:28-34, encontramos registrada uma
conversa de Cristo com um escriba sobre a lei que pode
lançar luz sobre o assunto que estamos tratando:
Aproximou-se dele um dos escribas que os tinha ouvido
disputar, e sabendo que lhes tinha respondido bem,
perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os
mandamentos? E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos
os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o
único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o
teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro
mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o
teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento
maior do que estes. E o escriba lhe disse: Muito bem,
Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que
não há outro além dele; E que amá-lo de todo o coração, e
de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as
forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que
todos os holocaustos e sacrifícios. E Jesus, vendo que havia
respondido sabiamente, disselhe: Não estás longe do reino
de Deus. E já ninguém ousava perguntar-lhe mais nada.
A resposta do escriba demonstra que as preocupações
morais tinham proeminência em relação aos aspectos
cerimoniais, e Cristo aprovou essa resposta. Os dois
mandamentos que resumem a lei foram mencionados por
Cristo e enaltecidos pelo escriba acima das cerimônias e
holocaustos.
Além disso, Jeffrey Johnson também explica que a lei de
Moisés pode e deve ser dividida entre mandamentos
morais, cerimoniais e judiciais. Ele menciona que Samuel
dividiu a lei cerimonial da lei moral quando disse a Saul:
“Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e
sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor?
Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar” (1 Samuel
15:22). Algo muito importante a ser levado em conta é que
o próprio Senhor Jesus Cristo também fez distinção entre os
aspectos da lei quando disse: “Como acima diz: Sacrifício e
oferta, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste,
nem te agradaste (os quais se oferecem segundo a lei).
Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua
vontade” (Hebreus 10:8-10).
Johnson entende que, nessas declarações, a lei moral é
exaltada acima da lei cerimonial, o que significa, portanto,
significa que a lei moral não foi revogada só porque os
aspectos cerimoniais e judiciais da lei foram revogados.[217]
Samuel Waldron afirma que, quando o Novo Testamento
contempla a lei da Antiga Aliança como uma revelação
permanente do princípio moral, certamente são os Dez
Mandamentos que se tornam proeminentes (Romanos 2:14-
23; 3:19-20, 31; 7:12; 13:8-10; Efésios 6:1-3; 1 Timóteo 1:8-
10). Essa observação justifica a insistência, nas confissões
reformadas, de uma tripartição da lei da Antiga Aliança em
suas dimensões morais, civis e cerimoniais.[218] Richard
Barcellos, na mesma linha de raciocínio, explica a tripla
divisão da lei: A tripla divisão da lei compreende a lei moral
enquanto baseada na criação e, portanto, inexorável a
todos os homens (mesmo que em formas diferentes); e as
cerimônias e leis jurídicas do Antigo Pacto como
suplementares ao Decálogo sob o pacto mosaico (cf. CFB
19.1-4 e o esboço de 19.1-7 supracitado). As leis
cerimoniais e judiciais do pacto mosaico são leis positivas,
leis adicionadas à lei moral para propósitos histórico-
redentivos.[219]
Assim, Barcellos também compreende a tripla divisão
da lei mosaica e distingue a lei moral das leis cerimoniais e
judiciais. Ele explica que a lei moral é perene, baseada na
criação, ao passo que as leis civis e cerimoniais são leis
positivas, ou seja, não são necessariamente universais ou
perpétuas, mas são condicionadas a um propósito divino e
foram suplementares à aliança mosaica — portanto, podiam
e deveriam cessar quando atingissem seus propósitos
histórico-redentivos.
A Confissão de Fé Batista de 1689 resume de forma
magistral o pensamento reformado clássico sobre a lei que
temos discutido até aqui. Observemos o texto do capítulo
19, Sobre a Lei de Deus, e notemos como esses três
aspectos da lei são apresentados e quais são os usos da lei
nas Escrituras, tanto para crentes como para ímpios.
 
1.1. A Lei de Deus em Adão
Deus deu a Adão uma lei de obediência universal,
escrita em seu coração, e um preceito particular de
não comer do fruto da árvore do conhecimento do
bem e do mal, a qual Ele obrigou-o e a toda sua
posteridade, para pessoal, inteira, exata e perpétua
obediência; prometeu vida com base em seu
cumprimento, e ameaçou com a morte a violação
dela; e o dotou com o poder e a capacidade para
guardá-la (CFB 19.1).
O Senhor Deus, desde a criação do homem,
demonstrou que ele é o regulador da vida e o instruiu para
dominar sobre a criação (Gênesis 1:26-27). Embora nem
todos os mandamentos ainda fossem expressamente
manifestos, o Senhor dotou os seres humanos com
consciência de “uma lei de obediência universal escrita em
seu coração”, também chamada de “lei natural”. João
Calvino explica: Ora, tudo quanto se deve aprender das
duas Tábuas, de certo modo no-los dita e ensina aquela lei
interior que anteriormente se disse estar inscrita e como
que gravada no coração de todos. Pois nossa consciência
não nos deixa dormir um sono perpétuo, destituído de
sensibilidade, sem que nos seja testemunha e monitora
interior daquilo que devemos a Deus, sem que nos
anteponha a diferença do bem e do mal, e assim nos acuse
quando nos afastamos de nosso dever.[220]
Calvino afirma que tudo o que as duas tábuas da lei
ensinam já encontra-se de alguma maneira na lei interior
colocada em todos os homens. O texto de Romanos 2:14-15
clarifica esse ponto, demonstrando que até mesmo aqueles
que não tiveram acesso à lei escrita, têm uma lei dentro de
si demonstrada pela consciência que foi dada por Deus a
todos: Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem
naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei,
para si mesmos são lei; os quais mostram a obra da lei
escrita em seus corações, testificando juntamente a sua
consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os,
quer defendendo-os.
Além disso, o Senhor também deu a Adão
expressamente um mandamento de não comer da árvore
do conhecimento do bem e do mal e prometeu bênçãos e
maldições, a depender da obediência ou desobediência de
Adão. Já aprendemos que a aliança condicional feita com
Adão como cabeça federal da humanidade é chamada de
Pacto de Obras. É importante notarmos que Adão, antes da
queda, foi dotado com poder e capacidade para guardá-la,
ou seja, Adão poderia não pecar, mas já sabemos qual foi a
sua escolha.
 
1.2. A Lei moral
A mesma lei que primeiramente foi escrita no coração
do homem, continuou a ser uma regra perfeita de
justiça após a queda, e foi entregue por Deus no
monte Sinai em Dez Mandamentos, e escrita em duas
tábuas; os quatro primeiros Mandamentos contêm o
nosso dever para com Deus, e os outros seis, nosso
dever para com o homem (CFB 19:2).
A Confissão Batista explica que essa lei gravada no
coração do homem continua em vigor, mesmo após a
queda. O ser humano caído encontra-se em uma situação
diferente: ele agora “não pode não pecar”, mas as
exigências da lei continuam a ser para ele uma regra
perfeita. Assim como prescrições de saúde não são
anuladas pela doença, a norma de Deus para o bom
comportamento não foi anulada pelo pecado.[221]
Os descendentes de Adão também possuíam os
preceitos gravados dentro de si. Caim, por exemplo, sabia
que não deveria matar Abel e cometeu pecado mesmo sem
possuir os mandamentos explicitamente expressos em
tábuas de pedra. Ao assassinarem, mentirem, adorarem
ídolos, os homens já estavam pecando contra Deus, pois
violavam a lei interior, a consciência colocada pelo Senhor
dentro deles. Entretanto, no Sinai essa lei foi expressa mais
claramente: “Então escreveu nas tábuas, conforme à
primeira escritura, os dez mandamentos, que o Senhor vos
falara no dia da assembleia, no monte, do meio do fogo; e o
Senhor mas deu a mim” (Deuteronômio 10:4).
O Senhor codificou e expressou claramente Sua lei em
duas tábuas de pedra, onde gravou os Dez Mandamentos.
Os quatro primeiros Mandamentos contêm o nosso dever
para com Deus, e os outros seis, nosso dever para com os
homens. Sobre os deveres para com Deus e para com os
homens, fica clara sua semelhança, na resposta do nosso
Senhor Jesus Cristo, a um intérprete da lei que o interpelou
sobre qual é o grande mandamento da lei: Mestre, qual é o
grande mandamento na lei? E Jesus disselhe: Amarás o
Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua
alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e
grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois
mandamentos dependem toda a lei e os profetas (Mateus
22:36-40).
A totalidade dos mandamentos de Deus é resumida,
por Cristo, nesses dois mandamentos. Seguindo a mesma
linha, o Catecismo Puritano, compilado por Charles
Spurgeon, apresenta a seguinte questão: Pergunta 41: Qual
é a soma dos Dez Mandamentos?
Resposta: A soma dos Dez Mandamentos é amar ao
Senhor nosso Deus com todo nosso coração, com toda
a alma, com todas as nossas forças e com toda a
nossa mente; e ao nosso próximo como a nós
mesmos.[222]
Se alguém ama o Senhor Deus dessa maneira, não
adorará, consequentemente, outros deuses além dEle, não
falará Seu nome em vão, e assim por diante, pois se alguém
O ama, obedecerá aos Seus mandamentos. Igualmente, se
alguém ama o próximo como a si mesmo, por consequência
não o matará, não roubará seus bens, não cobiçará a sua
mulher etc. Charles Spurgeon comenta sobre a relação dos
dois grandes mandamentos com os dez: Os Dez
Mandamentos significam tudo que os Dois Grandes
Mandamentos exprimem. Porém, se ignorarmos esse fato e
só prestarmos atenção nas palavras usadas, então é mais
difícil para o homem amar a Deus com todo o seu coração,
com toda a sua alma, com toda a sua mente e com toda a
sua força e seu próximo como a si mesmo do que
simplesmente não matar, roubar e dar falso testemunho.
Cristo, portanto, não anulou nem facilitou a lei para
satisfazer nossa impotência. Deixou nela toda a esplêndida
perfeição, como sempre deve ser; e realçou o quão
profundos são seus fundamentos, quão elevados são seus
cumes, quão incomensuráveis são seus comprimentos e
larguras![223]
O apóstolo Paulo também demonstra esse ponto em
Romanos 13:8-10:
A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor
com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama
aos outros cumpriu a lei. Com efeito: Não adulterarás,
não matarás, não furtarás, não darás falso
testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro
mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás
ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal
ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o
amor.
Portanto, os Dez Mandamentos também são chamados
de “lei moral”, e a essência da lei moral se cumpre no amor
a Deus e ao próximo.
 
1.3. A Lei Cerimonial
Além dessa lei, comumente chamada de moral, Deus
Se agradou em dar ao povo de Israel leis cerimoniais,
contendo diversas ordenanças típicas, em parte, de
adoração, prefigurando Cristo, Suas graças, ações,
sofrimentos e benefícios; e, em parte, mantendo
várias instruções de deveres morais. Todas as leis
cerimoniais, sendo impostas apenas até o tempo da
reformação, são por Jesus Cristo, o verdadeiro Messias
e único legislador, que foi dotado com o poder da
parte do Pai para esse fim, cumpridas e revogadas
(CFB 19.3).
Observamos aqui outro aspecto da lei declarado na
Confissão. Além da lei moral, as leis cerimoniais também
foram dadas com o intuito de prefigurar a Cristo, como já
consideramos anteriormente. Todo o sistema levítico, seus
sacrifícios e cerimônias eram como sombras que apontavam
para Cristo. Entretanto, foram impostas somente até o
“tempo da reformação” (Cf. Hebreus 9:10), ou seja, a Nova
Aliança. As leis cerimoniais foram cumpridas em Cristo e
seu uso foi revogado. Como o Apóstolo Paulo explica, em
Colossenses 2:17, “tudo isso tem sido sombra das coisas
que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo”. E o autor de
Hebreus complementa: Porque sendo a lei a sombra dos
bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca,
pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem
cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam
(Hebreus 10:1).
Sendo assim, notamos claramente que os aspectos
cerimoniais da lei cumpriram seu papel e seu uso não está
mais em vigor na Nova Aliança.
 
1.4. Leis Civis / Judiciais
Para eles, Ele também deu várias leis civis que
expiraram com a nação daquele povo, não obrigando
a ninguém em virtude daquela instituição, somente
sua equidade geral possui um valor moral (CFB 19.4).
Além das leis cerimoniais, Deus também deu a Israel
leis civis/judiciais para reger a nação de Israel. Embora toda
a Escritura seja útil e sempre tenha algo a nos ensinar hoje
(Romanos 15:4), e tanto as leis cerimoniais quanto as leis
civis ensinem diversos princípios fundamentais, contendo
um valor histórico inestimável, é importante notarmos o
desenvolvimento do enredo bíblico e o papel de cada uma
delas nesse grande quadro.
Nesse ponto a Confissão afirma que as leis civis
“expiraram com a nação daquele povo”. Van Dixhoorn
explica que, assim como as leis cerimoniais, essas leis civis
já não estão em vigor para o povo de Deus hoje, nem para
ninguém do povo de Deus desde o tempo de Cristo e da
destruição da antiga nação judaica nos dias dos apóstolos.
[224]

Portanto, podemos aprender princípios morais


importantes com as leis civis, mas elas também não estão
mais normativamente em vigor na Nova Aliança, pois
expiraram com a nação dos israelitas.
 
1.5. A Perpetuidade da Lei Moral
A lei moral obriga para sempre a todos, tanto pessoas
justificadas como as demais, à obediência a ela; e isso
não apenas no que concerne à matéria nela contida,
mas também no que diz respeito à autoridade de
Deus, o Criador, que a deu. Nem Cristo, no Evangelho,
de forma alguma a ab-roga, mas antes reforça muito
essa obrigação (CFB 19.5).
Já vimos até aqui que tanto as leis civis quanto as
cerimoniais cumpriram seu papel como leis positivas. As leis
cerimoniais, como sombras, apontavam para Cristo e seu
uso cessou com a chegada da substância para quem
apontavam, o Mediador da Nova Aliança, Jesus Cristo. E as
leis civis que regiam Israel como uma nação sob a Antiga
Aliança também expiraram com aquela nação. Entretanto, a
lei moral permanece, pois é perene. A lei natural, gravada
na consciência dos homens e expressa mais claramente no
Decálogo, não é cancelada. Benjamin Keach comenta,
acerca da perpetuidade da lei moral: Não devemos ter uma
preocupação em guardar toda a lei, pois para esse fim
Cristo a observou; ou seja, não somos justificados por ela,
pois nesse sentido ela está abolida; mas, quanto à lei moral,
como uma regra perfeita de justiça, ela ainda nos obriga
obediência perpétua, sendo, portanto, uma lei imutável.[225]
A Confissão afirma que Cristo não ab-roga a lei, mas a
confirma. O Senhor Jesus afirma em Mateus 5:17-19:
Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não
vim abrogar, mas cumprir. Porque em verdade vos
digo que, até que o céu e a terra passem, nem um
jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja
cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes
mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar
aos homens, será chamado o menor no reino dos
céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será
chamado grande no reino dos céus (Mateus 5:17-19).
William Hendriksen comenta sobre esses versículos:
“Não obstante, ele insiste em que todo mandamento do que
é verdadeiramente a lei moral de Deus — a mesma lei que
Ele discutirá com maior detalhe em 5:21ss — deve ser
guardado. Nada deve ser anulado ou cancelado”.[226]
Charles Spurgeon comenta, sobre a perpetuidade da lei de
Deus: Primeiro, a lei de Deus deve ser eterna. Não existe
nem anulação nem emenda. Não deve ser abrandada ou
ajustada à nossa condição decaída, mas cada um dos justos
juízos do Senhor permanece para sempre. Ressaltarei três
razões que irão alicerçar esse ensino. Em primeiro lugar,
nosso Senhor Jesus declara que não veio para abolir a lei.
Suas palavras são totalmente pontuais — “Não cuideis que
vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas
cumprir”. E Paulo nos afirma a respeito do Evangelho:
“Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes
estabelecemos a lei” (Romanos 3:31). O Evangelho é o meio
para o firme estabelecimento e vindicação da lei de Deus.
Jesus não veio para mudar a lei, mas para explicá-la, e esse
mero fato mostra que ela permanece, porque não é
necessário explicar algo que está anulado.[227]
Os crentes, incapazes de cumprir as exigências da lei,
não estão mais sob a sua maldição, uma vez que Cristo a
cumpriu em seu lugar e tomou a pena deles sobre Si, mas
isso não significa que, para os salvos, a lei não tenha mais
valor. Longe disso. Na Nova Aliança a lei moral não é
anulada, mas escrita no coração dos crentes, conforme a
profecia de Jeremias destacada em Hebreus 8:10: “Porque
esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa
de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu
entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes
serei por Deus, e eles me serão por povo”. Charles
Spurgeon explica o que significa essa promessa
comentando Jeremias 31:33: A próxima bênção é: “e a
escreverei no seu coração”. Isso é mais do que conhecer a
lei, infinitamente mais. “Porei a minha lei no seu interior, e a
escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles
serão o meu povo”. Irmãos e irmãs, o Espírito Santo faz com
que os homens amem a vontade de Deus, leva-os a
deleitarem-se em tudo que Deus Se deleita e a abominarem
o que o Senhor abomina! É bem-dito no texto que Deus fará
isso, pois, certamente, ninguém pode fazer isso por si
mesmo.[228]
Sobre essa mesma profecia encontrada em Jeremias
31, Samuel Waldron afirma:
Em Jeremias 31:33, diz-se que a lei escrita em pedra
foi reescrita no coração do povo de Deus da Nova
Aliança. É preciso observar claramente que não é uma
lei nova que está em vista, mas a mesma lei escrita
em um lugar diferente. Por essa alusão a Jeremias
31:33, Paulo sugere uma conexão entre a lei escrita
no coração dos homens pela criação, a lei escrita em
pedra na Antiga Aliança, e a lei reescrita no coração
dos homens pela graça e poder da Nova Aliança.[229]
Paul Washer complementa:
A lei não seria mais escrita em tábuas de pedra,
imposta sobre corações de pedra, resultando na
condenação e morte. Na Nova Aliança, Deus tiraria a
iniquidade de Seu povo por meio de alguém maior
que Moisés; transformaria seus corações em carne
viva, capaz de responder; e escreveria neles a Sua lei
(Hebreus 3:1-3).
[…] Todo verdadeiro membro do corpo de Cristo é
uma recriação sobrenatural feita pelo Espírito de
Deus. Cada um sofreu uma transformação radical no
cerne de seu ser, e tem a lei de Deus escrita em seu
coração. Aos que são novos na aliança, a lei não é
mais um código externo e contrário às suas
naturezas, opostos por eles. Em vez disso, essa lei se
tornou parte deles. Não é mais um fardo, mas um
deleite. Não é mais um catalisador de condenação e
morte, mas um guia efetivo para maior piedade.[230]
Portanto, a diferença é que, na Antiga Aliança, as leis
foram escritas pelo dedo de Deus em tábuas de pedra e
foram colocadas na arca da aliança. Elas mostravam o
pecado do povo, os condenava e apresentava a
necessidade de um salvador. Cristo é o Salvador, o
Mediador da Nova Aliança, que cumpre a lei no lugar dos
Seus e, assim, os salva, libertando-os da maldição da lei.
Portanto, na Nova Aliança as leis são gravadas na mente e
no coração dos crentes, daqueles que têm fé em Cristo e
que foram regenerados. Eles não estão mais debaixo do
jugo da lei para sua condenação, mas pela graça observam
a lei para a sua santificação. Observaremos mais de perto
essas verdades no próximo tópico, que apresenta os usos
da lei tanto para crentes como para ímpios.
 
1.6. Os Usos da Lei
Embora os verdadeiros crentes não estejam sob a lei
como um pacto de obras, para serem por ela
justificados ou condenados; contudo esta é de grande
utilidade para eles, assim como para os outros; em
que, como uma regra de vida, informando-os sobre a
vontade de Deus e de seu dever, ela dirige e os
obriga a andar em conformidade; descobrindo
também as contaminações pecaminosas de sua
natureza, corações e vidas; assim como, examinando-
se desta maneira, eles podem chegar a mais
convicção, humilhação por e ódio contra o pecado;
juntamente com uma visão mais clara da necessidade
que têm de Cristo e da perfeição da Sua obediência.
Ela é, semelhantemente útil para os regenerados,
para conter as suas corrupções, pois proíbe o pecado,
e as suas ameaças servem para mostrar até mesmo o
que os seus pecados merecem, e que aflições nesta
vida podem esperar por eles, embora libertados da
maldição e do rigor intransigente da lei. Igualmente,
as promessas da lei demonstram a aprovação de
Deus à obediência e quais bênçãos os homens podem
esperar receber se cumprirem a lei; embora não lhes
sejam devidas pela lei como um pacto de obras.
Assim como um homem faz o bem e evita o mal,
porque a lei anima a um, e desencoraja o outro, não é
evidência de que ele esteja debaixo da Lei, e não
debaixo da Graça (CFB 19.6).
Neste ponto, a Confissão demonstra que os crentes não
estão mais sob a lei como um Pacto de Obras, ou seja, sob
uma aliança condicional para tentarem inutilmente alcançar
a salvação por sua própria obediência, ou seja, alcançar
salvação com base em nossa própria obediência à lei, pois
isso é impossível. As Escrituras deixam claro que todos os
homens pecaram, transgrediram a lei e que só podemos ser
salvos por meio do sacrifício de Cristo, aquele que cumpre
todas as exigências divinas de maneira perfeita e que nos
resgatou da maldição da lei (Gálatas 3:13). A.W. Pink afirma
que “é verdade, o cristão não está debaixo da Lei como uma
Aliança de Obras, nem como uma ministração de
condenação, mas ele está debaixo dela como uma regra de
vida e um meio de santificação”.[231]
Portanto, a lei continua possuindo grande valor para os
salvos. Benjamin Keach explicou corretamente que, embora
a lei, como um Pacto de Obras (“faça isso e viva”) tenha
sido removida; contudo como uma lei ou regra de
obediência perfeita, permanece para sempre”.[232]
Alguém afirmou corretamente que a lei nos leva a
Cristo para a justificação e Cristo nos leva à lei para a
santificação. A lei expõe nosso pecado e, assim, notamos a
necessidade de um salvador e vamos até Cristo, sendo
justificados. Agora, nenhuma condenação há para aqueles
que estão em Cristo. Entretanto, não vamos continuar
vivendo no pecado — pelo contrário, o Senhor nos salvou
com sangue para vivermos para Sua glória, e agora vamos
buscar seguir Seus mandamentos tais como os vimos no
resumo de Cristo sobre a lei: amar a Deus sobre todas as
coisas e o próximo como a nós mesmos.
O crente agora está em uma condição diferente, ele é
regenerado e “pode não pecar”, e, mesmo que ainda não
alcance a perfeição nesta vida, ele agora luta contra o
pecado e cresce em um processo de santificação. Charles
Spurgeon afirmou: A lei deve ser cumprida em nós,
pessoalmente, através de uma percepção espiritual e
evangélica. “Bem”, você pode dizer: “Porquanto o que era
impossível à lei, visto como estava enferma pela carne”,
Cristo fez e está fazendo através do Espírito Santo “para
que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos
segundo a carne, mas segundo o Espírito” [Romanos 8:3-4].
A regeneração é uma obra através da qual a lei é cumprida,
pois quando um homem nasce de novo, é colocado nele
uma nova natureza que ama a lei de Deus e está
completamente conformada a ela.[233]
Os cristãos, agora, em gratidão a Deus por tão grande
salvação, buscam seguir os preceitos do Senhor por amor.
Nós amamos aquele que nos amou primeiro, e a maneira
pela qual demonstramos nossa gratidão e amor é
obedecendo Seus mandamentos. Cristo afirmou em João
14:21: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda,
esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de
meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele”.
Por fim, Richard Barcellos explica que nesse parágrafo
da confissão há seis usos da lei, três comuns a crentes e
descrentes, e três somente para crentes:
Usos Comuns aos Crentes e Descrentes

À medida que, como uma regra de vida, “os


informa sobre a vontade de Deus e de seu dever,
dirige e os obriga a andar em conformidade com ela
(Romanos 3:20, 7:7 etc.)”.
Descobre o pecado interior: “descobrindo também
as contaminações pecaminosas de sua natureza,
corações e vidas; assim como, examinando-se dessa
maneira, eles podem chegar a mais convicção,
humilhação pelo — e ódio contra — o pecado”.
Aponta para um remédio exterior: “juntamente
com uma visão mais clara da necessidade que têm de
Cristo e da perfeição da Sua obediência”.
 
Usos Comuns aos Crentes
Restringe a corrupção nos crentes por proibir o
pecado: “Ela é semelhantemente útil para os
regenerados, para conter as suas corrupções, pois
proíbe o pecado”.
Mostra o que o pecado dos crentes merece e
quais aflições devem ser esperados nesta vida
pelas suas ameaças: “as suas ameaças servem
para mostrar até mesmo o que os seus pecados
merecem, e que aflições nesta vida podem esperar
por eles, embora libertados da maldição e do rigor
intransigente da lei”.
Mostra aos crentes a aprovação de Deus e as
bênçãos que podemos esperar mediante a
obediência das suas promessas: “as promessas
da lei demonstram a aprovação de Deus à obediência
e quais bênçãos os homens podem esperar receber se
cumprirem a lei; embora não lhes sejam devidas pela
lei como um pacto de obras (Romanos 6:12-14;
1Pedro 3:8-13)”.[234]
 
1.7. A Lei e o Evangelho
Os supracitados usos da lei não são contrários à graça
do Evangelho, mas harmoniosamente condizem com
ele. O Espírito de Cristo submete e habilita a vontade
do homem a fazer voluntária e alegremente o que a
vontade de Deus, revelada na lei, requer que seja
feito (CFB 19.7).
Nesta parte, a Confissão demonstra que os usos da lei
supracitados não contradizem o Evangelho, mas que, pelo
contrário, o Espírito Santo habilita o crente a obedecer à lei
alegremente. Vimos que, na Nova Aliança, a lei é gravada
na mente e no coração do povo de Deus, e que a
observância da lei, nos termos descritos no ponto anterior,
não são contrários a graça.
Existem pessoas que acreditam que os cristãos não
deveriam mais pensar acerca da lei ou obedecer a Deus
motivados por bênçãos, em razão de obediência, e punição,
em razão de desobediência. Pensam dessa maneira pois
entendem que isso seria contrário à graça e ao Evangelho.
Entretanto, é importante notarmos, sobre tais usos da lei
para crentes, que elas não dizem respeito à condição de um
criminoso no banco dos réus contra um juiz implacável a
cada vez que peca. Pelo contrário, o cristão que foi unido
com Cristo, regenerado e justificado, está debaixo do
cuidado paternal de Deus. Está diante de um Pai que
disciplina e corrige o filho que ama. O filho busca por amor
obedecer ao seu Pai, pois o ama e não deseja desapontá-lO,
sabe que seguir Suas instruções é caminhar em segurança
e que desfrutará das bênçãos do Pai, e sabe também que
não será agradável ser disciplinado por conta da
desobediência. Tais usos são bíblicos e plenamente de
acordo com o ensino das Escrituras.
A respeito desses temas, existem dois extremos
perigosos e igualmente equivocados. Por um lado, o
antinomianismo, que entende que a lei moral não tem mais
valor algum atualmente. Aos esses, Charles Spurgeon
responde: Grandes erros têm sido cometidos com respeito à
lei. Não muito tempo atrás, houve aqueles perto de nós
afirmando que a lei está totalmente anulada e abolida.
Ensinaram abertamente que os crentes não tinham o
compromisso de tomar a lei moral como regra de suas
vidas. O que teria sido pecado em outros homens, não foi
considerado pecado neles. Que Deus nos livre de tal
antinomianismo! Não estamos sob a lei como o meio de
salvação, mas nos deleitamos em vê-la na mão de Cristo e
desejamos obedecer ao Senhor em todas as coisas.[235]
Por outro lado, igualmente equivocados estão os
legalistas, que são aqueles que pensam que se tornarão
aceitáveis a Deus por sua própria observância da lei, como
em um pacto de obras. Geralmente, acrescentam leis e
mandamentos humanos como se fossem divinos e procuram
sua própria salvação nesses termos. A esses, Spurgeon
exorta: “Sem o Evangelho de Jesus Cristo, a lei não é outra
coisa senão a voz condenatória de Deus, que trovoa contra
a humanidade”.[236] E o apóstolo Paulo conclui: “Mas a
Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a
promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes”
(Gálatas 3:21-22).
Para ilustrar esse ponto, vou adaptar uma história que
li certa vez, e que é mais ou menos assim: havia um
professor de uma matéria bem difícil, na qual ninguém
conseguia ser aprovado. Um dia, ele decidiu que iria aprovar
seus alunos. Diante disso, alguns alunos rejeitaram tal
presente. Pensaram: “Não quero isso, não vou aceitar; eu
quero conquistar minha própria nota, vou conseguir vencer
por meus méritos”. Esses são os legalistas, os que procuram
aprovação, inutilmente, por seus próprios esforços.
Outros alunos pensaram: “Já que ele vai dar a nota dez,
não voltemos mais para a sala de aula, então; já estamos
aprovados, vamos fazer outra coisa”. Esses seriam os
antinomistas, que não atentariam para o que o professor
tinha a ensinar, uma vez que já estariam “aprovados”.
Ambos não entenderam ou não valorizaram o presente do
professor.
Por fim, outros alunos disseram: “Que maravilha! Muito
obrigado, professor. Agora vamos poder desfrutar de sua
aula e da disciplina sem o peso da nota”. Esses
compreenderam a lição do professor. Nessa ilustração,
esses últimos seriam os cristãos que compreenderam como
se relacionar corretamente com a lei do Senhor: não como
uma tentativa de se salvar por meio dela, nem como algo a
ser descartado, mas como um deleite, um guia para uma
vida em gratidão àquele que lhes salvou da grande
reprovação. Turretini resume com clareza esse ponto: Uma
coisa é estar sob a lei como um pacto para a aquisição da
vida por meio dela (como Adão estava), como um pedagogo
e uma prisão a guardar os homens até o advento de Cristo;
outra é estar sob a lei como uma regra de vida para regular
nossa vida moral piedosa e santamente. Uma coisa é estar
sob a lei porque ela se opõe ao evangelho quanto à exação
rígida e perfeita da obediência e à terrível maldição com
que ela ameaça os pecadores; outra é estar sob a lei porque
ela está subordinada ao evangelho quanto à sua suave
direção. No primeiro sentido, Paulo diz “Não estamos
debaixo da lei, e sim da graça” (Romanos 6:14) quanto à
relação federal e quanto à maldição e rigor, porque Cristo,
por seu mérito, nos livrou daquela e por seu Espírito nos
afastou desta. No segundo sentido, porém, permanecemos
sempre sujeitos a ela, embora para um fim diferente. No
primeiro pacto, o homem era obrigado a fazê-lo para que
pudesse viver (merecer a vida); neste, porém, ele é
igualmente obrigado a faze-lo (não para viver, mas porque
vive) para a posse da vida adquirida por Cristo e o
testemunho de uma mente agradecida (como o apóstolo, no
mesmo lugar, exorta os crentes à obediência).[237]
No Novo Testamento a lei sempre é apresentada de
modo subserviente ao Evangelho. Se você anula a lei, então
você anula a condenação, pois, como vimos, a lei
permanece válida até para os incrédulos. Qual é a razão de
um incrédulo ir para o inferno? A razão é que ele quebrou a
lei de Deus. Se não houvesse lei, não haveria pecado, uma
vez que o pecado é a transgressão a lei (Cf. 1 João 3:4-9).
Portanto, esvaziar a lei é esvaziar a pregação do Evangelho.
A lei mostra que somos pecadores, mas que Cristo veio e
suportou a maldição da lei em nosso lugar, e, crendo nEle,
temos salvação. Se confiarmos na lei para a salvação, e não
em Cristo, então estamos perdidos.
Por outro lado, a lei também é de suma importância
para o crente. Se Deus salvasse o crente para ele viver sem
lei, ele viveria na ilegalidade. Como o apóstolo Paulo afirma:
“Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes
estabelecemos a lei” (Romanos 3:31).
Cristo nos salva, não para vivermos sem lei; Ele nos
salva da maldição da lei, para que em gratidão obedeçamos
à Sua vontade, que é expressa na lei, que é boa, justa e
perfeita. Em Cristo você está completamente liberto da
maldição da lei e do poder do pecado, então você pode
agora obedecer aos Seus mandamentos. Você não obedece
para tentar ser salvo por seus méritos, mas em amor ao
Senhor, como disse o Senhor Jesus: “Se me amais, guardai
os meus mandamentos” (João 14:15).
 
2. A LEI DE MOISÉS E A LEI DE CRISTO
Algumas vertentes de pensamento atuais entendem
que a lei de Cristo mencionada por Paulo em Gálatas 6:2 é
algo totalmente distinto da lei moral. Dentre esses grupos,
encontramos aqueles que sustentam a TNA (Teologia da
Nova Aliança), a qual, nesse ponto, se distancia da teologia
bíblica batista pactual. Jeffrey Johnson explica qual é, então,
a correta relação entre a “Lei de Moisés” e a “Lei de Cristo”:
A diferença é que Moisés quebrou a lei, enquanto Cristo a
cumpriu (Mateus 5:17-18). A razão pela qual Paulo se refere
à lei como a “lei de Cristo” é porque a lei está incorporada
na pessoa e na vida de Cristo. Cristo viveu perfeitamente
todas as exigências da lei. Portanto, não somente somos
obrigados por Deus a seguir a lei moral em sua forma
proposicional ou escrita, mas também somos obrigados a
seguir o exemplo de Cristo. Sua vida exemplar é uma lei
para nós. Sua vida nos instrui, repreende e nos encoraja a
viver em retidão. A diferença é que a lei de Moisés pode ser
lida, enquanto a lei de Cristo pode ser vista. “Um novo
mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros”.
Como isso é um novo mandamento, quando Moisés ordenou
a mesma coisa (Levítico 19:18, 34)? Cristo explica: “Como
eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos
ameis” (João 13:34-35). A diferença é que os membros da
Nova Aliança têm o exemplo de Cristo a seguir. Algo que
Moisés foi incapaz de demonstrar. Novamente, Ele diz: “O
meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros,
assim como eu vos amei” (João 15:12-13). “Ora, se eu,
Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar
os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para
que, como eu vos fiz, façais vós também” (João 13:14-15). O
apóstolo João explica isso com mais detalhes quando ele
diz: “Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas o
mandamento antigo, que desde o princípio tivestes”. Isto é,
nada há de novo exigido de nós do que aquilo que foi
expresso por Moisés, pois João prossegue dizendo: “Este
mandamento antigo é a palavra que desde o princípio
ouvistes”. No entanto, no versículo seguinte ele escreve:
“Outra vez vos escrevo um mandamento novo”. João está
confuso? Não, pois ele prossegue explicando que a
novidade não está naquilo que é ordenado, mas na
realidade desses mandamentos sendo exemplificados ou
cumpridos em Cristo. É por isso que João diz: “Outra vez vos
escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro nele” (1
João 2:7-8). Em resumo, a lei de Cristo é nada menos do que
a lei de Moisés cumprida na vida de Cristo. Vamos, portanto,
obedecer à lei moral de Moisés, seguindo o exemplo de
Cristo.[238]
Na mesma linha, A.W. Pink atenta para o fato de que “o
próprio Cristo prestou à lei uma obediência perfeita,
deixando-nos, desse modo, um exemplo, cujos passos
devemos seguir”.[239] Charles Spurgeon afirma que: […]
com vistas a mostrar que nunca quis revogar a lei, nosso
Senhor Jesus personificou todos esses Mandamentos em
Sua própria vida. Existia, em Sua própria pessoa, uma
natureza que se conformava às leis de modo perfeito e se
igualava à Sua vida. Ele pode perguntar: “Quem, dentre vós,
me convence de pecado?”. E novamente: “Eu tenho
guardado os mandamentos de meu Pai e no Seu amor
permaneço”.[240]
O discipulado da Sociedade Missionária HeartCry, em
uma de suas lições, afirma que em Mateus 5:17 Jesus
declarou que veio para cumprir a lei e, através desse texto,
podemos notar que, como homem, Jesus vivia conforme a
lei. Por meio do estudo da lei podemos ver algo do caráter
de Jesus que devemos imitar: 1) Jesus adorava e servia a
um só Deus. Nenhuma coisa ou pessoa usurpou lugar de
Deus em sua vida.
2) Jesus não tinha imagens ou ídolos, mas adorava a
Deus em espírito e verdade.
3) Jesus tinha o mais alto respeito por Deus e seu
Nome, prestando reverência a Ele e nunca tomando o seu
Nome em vão.
4) Jesus separou tempo para descansar e honrar a
Deus.
5) Jesus obedecia a seus pais terrenos, dando-lhes
respeito e honra.
6) Jesus nunca matou ninguém ou guardou raiva, em
seu coração, de outra pessoa.
7) Jesus nunca cometeu adultério ou olhou para uma
pessoa do sexo oposto com cobiça.
8) Jesus nunca furtou a propriedade de ninguém.
9) Jesus nunca mentiu por nenhuma razão.
10) Jesus nunca cobiçou a propriedade de outro ou teve
inveja.[241]
 
CONCLUSÃO
No presente capítulo, estudamos sobre a lei de Deus
em diversos aspectos e como ela é apresentada na Segunda
Confissão Londrina. Alguns pontos foram destacados: 1) As
confissões reformadas são muito semelhantes em relação à
lei de Deus.
2) Na Antiga Aliança, as leis foram gravadas em tábuas
de pedra, na Nova Aliança as leis são gravadas na mente e
no coração do povo de Deus.
3) Os teólogos reformados entendiam a tripartição da
lei como: moral, cerimonial e civil.
4) As leis civis foram dadas para a nação de Israel e
cessaram e expiraram com a nação daquele povo.
5) As leis cerimoniais apontavam para Cristo e seu uso
também foi consumado em Cristo.
6) Desde Adão, o Senhor criou o ser humano com a
norma da lei gravada dentro de si.
7) Esses mandamentos tornaram-se expressos
claramente nas duas tábuas da lei dadas a Moisés no Sinai.
8) A lei expõe o caráter ético de Deus, demonstra Sua
vontade, expõe o pecado do homem e mostra a
necessidade de um salvador.
9) Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se,
Ele próprio, maldição em nosso lugar (Gálatas 3:13).
10) Existem dois extremos errados aos quais devemos
evitar: antinomianismo e legalismo.
11) O cristão, em gratidão a Deus, observará a lei de
Deus em amor por Aquele que o amou primeiro.
12) A lei de Cristo é nada menos do que a lei de Moisés
cumprida na vida de Cristo. Vamos, portanto, obedecer à lei
moral seguindo o exemplo de Cristo.
No próximo capítulo estudaremos o Quarto
Mandamento conforme ele é apresentado na Confissão de
Fé Batista de 1689.
 
 
9

O Dia do Senhor
 

Consideraremos agora, especificamente, o Quarto


Mandamento do Decálogo, ou seja, o dia de sabbath, o dia
de descanso para adoração a Deus. Notaremos quais as
implicações desse mandamento apresentadas nas
Escrituras e como os batistas reformados, em consonância
com seus irmãos presbiterianos e congregacionais, eram
unânimes sobre esse assunto, o que se prova pelas suas
confissões de fé. Antes de prosseguirmos, no entanto,
vejamos quais são os Dez Mandamentos, expressos em
Êxodo 20:
Não terás outros deuses diante de
1
mim.
2 Não farás para ti imagem de
escultura, nem alguma semelhança do
que há em cima nos céus, nem em
baixo na terra, nem nas águas debaixo
da terra. Não te encurvarás a elas
nem as servirás; porque eu, o Senhor
teu Deus, sou Deus zeloso, que visito
a iniquidade dos pais nos filhos, até a
terceira e quarta geração daqueles
que me odeiam. E faço misericórdia a
milhares dos que me amam e aos que
guardam os meus mandamentos.
Não tomarás o nome do Senhor teu
Deus em vão; porque o Senhor não
3
terá por inocente o que tomar o seu
nome em vão.
Lembra-te do dia do sábado, para o
santificar. Seis dias trabalharás, e
farás toda a tua obra. Mas o sétimo
dia é o sábado do Senhor teu Deus;
não farás nenhuma obra, nem tu, nem
teu filho, nem tua filha, nem o teu
servo, nem a tua serva, nem o teu
4
animal, nem o teu estrangeiro, que
está dentro das tuas portas. Porque
em seis dias fez o Senhor os céus e a
terra, o mar e tudo que neles há, e ao
sétimo dia descansou; portanto
abençoou o Senhor o dia do sábado, e
o santificou.
Honra a teu pai e a tua mãe, para que
5 se prolonguem os teus dias na terra
que o Senhor teu Deus te dá.
6 Não matarás.
7 Não adulterarás.
8 Não furtarás.
Não dirás falso testemunho contra o
9
teu próximo.
10 Não cobiçarás a casa do teu próximo,
não cobiçarás a mulher do teu
próximo, nem o seu servo, nem a sua
serva, nem o seu boi, nem o seu
jumento, nem coisa alguma do teu
próximo.
 

Entendemos que Cristo não veio revogar a lei e que o


cristão não está debaixo da lei como um pacto de obras, ele
não se encontra mais debaixo da condenação ou maldição
da lei. Portanto, Cristo não aboliu a lei moral, antes a
cumpriu e a confirmou. Mas não somente isso, Ele também
corrigiu a interpretação errônea dos fariseus acerca dela,
sua hipocrisia e seu legalismo, e mostrou o real significado
da lei. O problema não são os mandamentos em si, mas a
deturpação deles, como os legalistas fizeram ao acrescentar
regras e colocar um peso maior do que era exigido do povo
nas Escrituras.
Outrossim, Cristo também explicou, no sermão do
monte, que a raiz dos mandamentos é mais profunda do
que se imaginava, Cristo expõe o verdadeiro significado da
lei. Por exemplo, Ele demonstra que o “não matarás” não
trata somente de não assassinar literalmente, mas que,
desde o ódio no coração e o insulto com os lábios, o
mandamento já está sendo quebrado e o transgressor se
torna réu do juízo divino. Da mesma maneira, o
mandamento “não adulterarás” não se limita à consumação
do adultério, mas o mandamento já está sendo quebrado
desde a cobiça com os olhos e o desejo do coração, e assim
por diante. Cristo expõe a correta interpretação da lei.
Além disso, o cristão deve compreender que os
mandamentos de Deus são para o seu próprio bem, e
protegem aquilo que é mais valioso: a vida, o casamento, a
glória de Deus entre outras coisas. Por exemplo, o
mandamento “não matarás” protege a vida. Se alguém
mata uma pessoa, está destruindo outro ser humano criado
à imagem e semelhança de Deus e trará consequências
para ruins para sua própria vida. O mandamento “não
adulterarás” protege o casamento, pois se alguém adultera,
poderá destruir a própria família e não demonstrará
corretamente o relacionamento de Cristo com a igreja, o
qual o matrimônio deve expressar. Além disso, se alguém
trabalhar de domingo a domingo, sem tirar um dia para
descansar, para adorar e ter maior e mais profunda
comunhão com Deus, trará, como consequência, malefícios
para sua própria vida, tanto fisicamente quanto
espiritualmente, e assim, é prejudicado em seu fim
principal, viver para a glória de Deus. Obedecer aos
mandamentos, no final das contas, produzirá benefícios
para os próprios crentes e os privará de muito sofrimento.
Consequentemente, a lei não exige nada além do que é
bom para nós. Charles Spurgeon destacou esse ponto: Não
existe nenhum Mandamento da Lei de Deus que não
signifique um sinal de perigo, como aquele colocado sobre o
gelo fino. Cada um, por assim dizer, afirma com segurança:
“Perigo!”. Fazer o que Deus proíbe nunca resulta em bem
para o homem! Deixar uma ordem de Deus incompleta
nunca resulta na sua felicidade última e verdadeira. As
orientações mais sábias para a saúde espiritual e para se
evitar o mal são aquelas providas pela Lei de Deus sobre o
certo e o errado![242]
1. FUNDAMENTOS SOBRE O DIA DO
SENHOR
Sendo assim, observemos o Quarto Mandamento, que
diz respeito ao sabbath. O termo traduzido por “sábado”, no
decálogo, é “sabbath”, e significa o dia de descanso para
adorar a Deus, ou seja, o homem deveria trabalhar seis dias
na semana e santificar um dia, assim como o Senhor fez
após a criação dos céus e da terra (Gênesis 2.2).
Entretanto, o sabbath vai além do benefício religioso da
observação do dia, ele possui um aspecto escatológico que
aponta para Cristo e para o descanso eterno prometido aos
crentes conquistado por Ele, como Geerhardus Vos explica:
A Lei universal do Sabbath recebeu uma importância
modificada sob o pacto da graça. A obra que leva ao
descanso não pode mais ser o trabalho do próprio homem.
Ela se torna a obra de Cristo. Isso o Antigo e o Novo
Testamentos têm em comum. Mas eles diferem quanto à
perspectiva na qual cada um vê o emergir do trabalho e do
descanso. Visto que o antigo pacto ainda estava olhando
para a frente para a realização da obra messiânica,
naturalmente os dias de trabalho vêm primeiro, o dia de
descanso fica no final da semana. Nós, sob o novo pacto,
olhamos para trás, para a obra realizada de Cristo. Nós,
portanto, celebramos primeiro o descanso em princípio
obtido por Cristo, apesar de que o Sabbath também ainda
permanece como um sinal que aponta para o descanso
escatológico final.[243]
Vos enfatiza que os cristãos já celebram o descanso
obtido por Cristo embora o sabbath ainda possua um
aspecto que aponta para o descanso escatológico final,
sobre o qual, o autor aos Hebreus atentou: “Portanto, resta
ainda um repouso para o povo de Deus” (Hebreus 4:9).
Observemos o texto da Confissão de Fé Batista de Londres
de 1689 sobre o Quarto Mandamento: Pelo desígnio de
Deus, há uma lei da natureza que, em geral, uma proporção
do tempo seja destinada ao culto a Deus; dessa forma, em
Sua Palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo,
válido a todos os homens em todas as eras, Deus
particularmente nomeou um dia em sete para um descanso,
para ser-Lhe santificado, que desde o início do mundo até a
ressurreição de Cristo, foi o último dia da semana; e a partir
da ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da
semana, o que é chamado de dia do Senhor, e deve
continuar até o fim do mundo como o sabbath cristão;
sendo abolida a observação do último dia da semana (22.7).
A Segunda Confissão Londrina apresenta o dia de
descanso para adorar a Deus (sabbath) não apenas como
uma instituição judaica, mas como algo instituído por Deus
na criação (Gênesis 2:1-3). Trata-se de um dom de Deus
para a humanidade (Marcos 2:27). Portanto, destaca que
devemos separar uma parte do nosso tempo para adorá-lo.
O dia de descanso para adorar a Deus se encontra na
ética da criação, na lei moral, que é perpétua e transcende
as culturas, por isso é válido para todos os homens em
todas as eras. A Confissão explica que Deus nomeou um dia
em sete para ser um dia de descanso, para ser santificado a
Ele, e que, desde o início do mundo até a ressurreição de
Cristo, esse foi o último dia da semana, mas, a partir da
ressurreição de Cristo, o dia foi mudado para o primeiro dia
da semana. Assim, os cristãos entenderam que, a partir do
estabelecimento da Nova Aliança, o mandamento moral
continua, embora trazendo uma mudança no dia. C.H.
Spurgeon afirmou, sobre isso: Congregamo-nos no primeiro
dia da semana em lugar do sétimo dia, porque a redenção é
até mesmo uma obra maior que a criação, e mais digna de
comemoração, e porque o descanso que seguiu à criação é
superado pelo repouso que segue à consumação da
redenção. Reunimo-nos no primeiro dia da semana, como os
apóstolos, esperando que Jesus esteja em nosso meio, e
diga: ― Paz seja convosco! (Lucas 24:36). Nosso Senhor
arrebatou o dia de descanso de suas velhas e enferrujadas
dobradiças em que fora anteriormente colocado pela lei,
desde os tempos antigos, e o colocou sobre as novas
dobradiças de ouro que seu amor tinha arquitetado. Ele
colocou nosso dia de descanso, não ao fim de uma semana
de trabalho, mas sim no começo do repouso que resta para
o povo de Deus. Em cada primeiro dia da semana devemos
meditar sobre a ressurreição de nosso Senhor, e devemos
buscar entrar em comunhão com Ele em Sua vida
ressurreta.[244]
Spurgeon relata que a partir da ressurreição de Cristo
houve uma mudança do dia de descanso para adorar a
Deus, do sétimo dia para o primeiro dia da semana, o dia
em que Jesus Cristo, o Senhor do sábado, ressuscitou dentre
os mortos (Marcos 2:23-28). Geerhardus Vos complementa:
Nós não percebemos, suficientemente, o senso profundo
que a igreja primitiva teve da importância extraordinária da
aparição e, especialmente, da ressurreição do Messias. A
última era para eles nada menos do que o trazer de outra, a
segunda, criação. E eles sentiram que isso deveria ter
expressão na colocação do Sabbath com referência aos
outros dias da semana. Os crentes se viam em certa medida
como participantes do cumprimento do Sabbath. Se a
criação de um requeria uma sequência, então a criação do
outro requeria outra sucessão.[245]
Vos, explica que a obra redentora de Cristo que fora
tipificada no Antigo Testamento e realizada no Novo,
especialmente Sua ressurreição, foi compreendida pela
igreja primitiva de maneira marcante, como uma nova
criação, um evento histórico a celebrar, a saber, a entrada
de Cristo e seu povo em um estado de descanso sem fim.
Essa compreensão os levou a celebrar o sabbath no
primeiro dia da semana, o dia da ressurreição do Messias.
François Turretini afirma que “o dia do Senhor (kyriakē
hēmera), no uso cristão, aplica-se ao primeiro dia da
semana, designado para o culto público de Deus em
memória da ressurreição de Cristo”[246]. Chad Van Dixhoorn
explica que os puritanos entendiam que havia, no Quarto
Mandamento, um aspecto cerimonial que, como uma lei
positiva, estaria sujeita à mudança, e um aspecto moral que
permaneceria até o fim do mundo: Os puritanos distinguiam
o que era cerimonial daquilo que era moral no Quarto
Mandamento. O dia a ser guardado era considerado aspecto
“cerimonial” e, assim, sujeito à mudança. O ritmo de
descanso (um dia em sete) era uma ordenança moral, que
deveria ser cumprida por todos até o fim do mundo. Em
outras palavras, o mandamento não contém a observância
do sétimo dia (em ordem), mas de um sétimo dia (em
frequência).[247]
Além disso, Dixhoorn também comenta que:
[...] os cristãos há muito perceberam que não foi por
acaso que Aquele que “habitou entre nós” (João 1:14),
Aquele que era as primícias de uma grande colheita
(1 Coríntios 15:23), Aquele que chamou a Si mesmo
de o pão da vida (João 6:35), Aquele que irá retornar
ao mundo ao som de trombeta do céu, Aquele que foi
o cumprimento de toda celebração e todos os
sábados do Antigo Testamento, foi ressuscitado dentre
os mortos no primeiro dia da semana. Esse é o motivo
pelo qual os cristãos começaram a cultuar
especialmente no primeiro dia da semana.[248]
Passaremos, então, a observar alguns fatos
importantes para compreendermos como o primeiro dia da
semana passou a ser observado como “o dia do Senhor”. O
Senhor Jesus Cristo afirmou que era Senhor sobre o
sábado/sabbath (Marcos 2:27-28), Cristo ressuscitou no
primeiro dia da semana (Mateus 28:1; Marcos 16:2; João
20:1), O Senhor ressurreto encontrou com Seus discípulos
no primeiro dia da semana (João 20:19), Jesus reaparece no
domingo seguinte (João 20:26), Pentecostes ocorreu no
primeiro dia da semana (Levítico 23:15-16; Atos 2:14), os
primeiros cristãos cultuavam a Deus no primeiro dia da
semana (Atos 20:7), Paulo pede para que a coleta seja feita
no “primeiro dia da semana” (1 Coríntios 16:2), o apóstolo
João, no livro de Apocalipse, fala sobre o “dia do Senhor”
(Apocalipse 1:10). Documentos históricos demonstram que
essa foi a prática dos primeiros cristãos. Observemos mais
de perto cada um desses pontos.
 
1.1. O Senhor Jesus Cristo afirmou que era
Senhor sobre o Sábado
Em Marcos 2:27-28, o Senhor Jesus afirmou que o
sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o
homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do
Homem é senhor também do sábado (Marcos 2:27-28).
Augustus Nicodemus, em sua exposição dessa passagem,
afirmou: Aqui você tem uma das justificativas que foram
usadas pelos primeiros cristãos para não guardarem mais o
sábado (sétimo dia). Já no primeiro século os cristãos
passaram a considerar o primeiro dia da semana, o
domingo, como sendo cumprimento do Quarto
Mandamento. Por quê? Primeiro, porque Jesus disse que Ele
é maior do que o sábado e que Ele está acima do sábado, e
segundo porque Ele ressuscitou no primeiro dia. Ora, qual é
o dia do Senhor? É o dia da Sua ressurreição. Logo, o
domingo substitui o sábado na nova dispensação, porque
Cristo é Senhor do sábado e o dia de Cristo é o dia da Sua
ressurreição. Já no primeiro século, os cristãos observavam
o dia de domingo como sendo a observância correta do
sábado [sabbath]. Nós não entendemos que estamos
quebrando o Quarto Mandamento quando descansamos e
observamos o domingo, entendemos que estamos dando o
real cumprimento do sábado. O sábado apontava para a
ressurreição de Jesus. É no descanso do Senhor Jesus que
nós encontramos descanso eterno também.[249]
Sendo assim, Nicodemus destaca que Cristo é maior
que o sábado e que o sábado apontava para a ressurreição
de Cristo. Portanto, após o cumprimento desse evento na
Nova Aliança, o dia da ressurreição de Cristo torna-se o dia
de descanso e adoração do Seu povo. Nicodemus também
destaca que, desde o primeiro século, os cristãos
observaram o domingo como a correta observância do
sabbath.
 
1.2. Cristo Ressuscitou no Primeiro dia da
Semana
Os textos de Mateus 28:1, Marcos 16:2 e João 20:1
relatam que, no primeiro dia da semana (domingo), Maria
Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda
escuro, e viu que a pedra estava revolvida. Marcos 16:9
registra que, havendo Ele ressuscitado de manhã cedo, no
primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria
Madalena, da qual expelira sete demônios. Portanto, não há
dúvida de que a ressurreição de Cristo ocorreu no primeiro
dia da semana. William Hendriksen comenta que “não há
dúvida em relação a qual dia o Senhor Jesus ressuscitou —
foi definitivamente o primeiro dia da semana”. E
fundamenta:[250]
Faz pouca diferença se alguém concebe o plural grego
de sabbath como se referindo ao dia ou a uma
semana inteira (o tempo de um repouso a outro). Se o
primeiro for tencionado, então a ideia é que esse era
o primeiro dia contando a partir do sábado; daí, o
primeiro dia depois do sábado. Se o segundo for
tencionado, o resultado continua sendo o mesmo; o
dia indicado é, então, não o último da semana, mas o
primeiro. Em ambos os casos, a intenção é o domingo.
[251]

 
1.3. O Senhor Ressurreto Encontra com Seus
Discípulos no Primeiro Dia da Semana
O texto de João 20:19 afirma que, ao cair da tarde
daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da
casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio
Jesus, pôs-se no meio e disselhes: Paz seja convosco!
Hendriksen observa a ênfase que o apóstolo dá ao “primeiro
dia da semana” destacando claramente esse dia: Note a
ênfase que é dada ao dia específico em que Jesus apareceu
aos discípulos, com a exceção de Tomé. João podia ter
escrito: “Ao cair da noite do primeiro dia”. Mas ele é muito
mais específico. Está claro que ele quer enfatizar que esse
não era outro dia senão o primeiro da semana. Então, ele
começa dizendo: “Quando estava anoitecendo, naquele
dia”. Isso já marca o dia como sendo o primeiro dia, à luz do
contexto (20:1). Mas ele não está satisfeito com isso. Então,
prossegue: “naquele dia, o primeiro da semana”. O Novo
Testamento, em toda parte, ressalta o dia da ressurreição de
Cristo como sendo o principal entre os dias da semana (Veja
Mateus 28:1; Marcos 16:2; Lucas 24:1; João 20:1, 19, 26;
Atos 20:7; 1 Coríntios 16:2; Apocalipse 1:10).[252]
 
1.4. Jesus Reaparece no Domingo Seguinte
Em João 20:26, lemos: “Passados oito dias, estavam
outra vez ali reunidos os seus discípulos, e Tomé, com eles.
Estando as portas trancadas, veio Jesus, pôs-se no meio e
disselhes: Paz seja convosco!”. Hendriksen comenta: Para a
expressão “oito dias mais tarde”, veja também sobre 12:1.
Empregando o método inclusivo de computação de tempo
— o método segundo o qual, por exemplo, a terça-feira seria
três dias após domingo — João afirma que passados oito
dias, o acontecimento da noite do domingo anterior se
repetiu. O tempo e o lugar eram, com toda a probabilidade,
os mesmos. Teria o Senhor esperado até a noite de domingo
a fim de encorajar seus discípulos a observarem esse dia —
e não outro — como o dia de descanso e adoração? Isso
parece ser provável.[253]
John Bunyan estava convencido que a frase “após oito
dias” (João 20:26) confirma que esse dia é o novo sabbath
escolhido e estabelecido pelo Espírito Santo.[254]
 
1.5. O Pentecostes Ocorreu no Primeiro Dia da
Semana
Solano Portela, em seu livro “A Lei de Deus Hoje”,
também chama atenção para o dia do Pentecostes, que foi
quando o Espírito Santo desceu, explica que esse dia
também era um domingo (Levítico 23:15-16 — o dia
imediato ao sábado), e, nesse mesmo domingo, o primeiro
sermão sobre a morte e ressurreição de Cristo foi pregado
por Pedro (Atos 2:14), com 3.000 novos convertidos.[255]
 
1.6. Os Primeiros Cristãos Cultuaram no Primeiro
Dia da Semana
O texto de Atos 20:7 afirma que “no primeiro dia da
semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão,
Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os
e prolongou o discurso até à meia-noite”. Simon Kistemaker
comenta: “No primeiro dia da semana” (ou seja, no
domingo; essa é a primeira referência ao culto de domingo
no Novo Testamento), os cristãos se reuniram para
celebração da Santa Ceia, que foi seguida pela refeição
comunitária, “festa do amor” ou “ágape”. Em Atos, a
expressão partir o pão significa celebrar a comunhão (2:42;
e veja 2:46). O culto começou com a pregação da Palavra e
Lucas relata que Paulo pregou até à meia-noite.[256]
Na mesma linha de raciocínio Wern de Boor afirma:
Ele é realizado “no primeiro dia da semana”, ou seja,
no domingo. Ao lado da observação de 1 Coríntios
16:2 encontramos aqui, pela primeira vez, um indício
de que, nas igrejas gentias cristãs, o primeiro dia da
semana era celebrado de modo especial, por ser o dia
da ressurreição do Senhor Jesus.[257]
François Turretini conclui:
Por que nos é dito que os apóstolos se reuniam para a
proclamação da Palavra e a administração da
eucaristia, nesse dia mais que nos outros (ou no
conhecido sábado dos judeus), a menos que naquele
tempo o costume de manter reuniões restituídas já
prevalecera, desvanecendo-se gradativamente a
cerimônia do sábado judaico? Tampouco se deve dizer
que mian sabbaton aqui não designa o primeiro dia
dos sete, mas apenas um (i.e., algum dos sete),
porque a expressão não é usada em nenhum outro
sentido (Lucas 24:1; Marcos 16:2). O que se deduz de
Lucas 5:17 (cf. 8:22) não se aplica aqui, porque uma
coisa é dizer en mia ton hēmerōn que denota um
tempo indeterminado); outra é dizer en te mia, com o
artigo que determina o dia.[258]
 

1.7. Paulo Pede para que a Coleta Seja Feita no


“Primeiro Dia da Semana”
Em 1 Coríntios 16:2, Paulo conclama: “No primeiro dia
da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa,
conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se
não façam coletas quando eu for”. François Turretini expõe o
contexto do versículo demonstrando que os cristãos
passaram a fazer no primeiro dia da semana suas
assembleias públicas e contribuições, os quais, os judeus
tinham costume de fazer no sábado: O apóstolo deseja que
as coletas sejam feitas pelos crentes em cada primeiro dia
da semana (ou seja, no dia em que deviam ter suas
assembleias públicas), o que ele extrai do costume dos
judeus que, segundo Filo (cf. The Special Laws I. 14.76–78
[Loeb, 7:145]) e Josefo (AJ 18.312 [Loeb, 9:180-181]), em
cada sábado em que costumavam reunir-se tinham o hábito
de fazer coletas nas sinagogas, dos dízimos e de outras
ofertas voluntárias, e em seguida os enviavam a Jerusalém
para uso do templo e dos levitas. Em virtude da perseguição
dos judeus, o advento de muitos estrangeiros e seu zelo
contínuo em propagar o Evangelho, a igreja de Jerusalém se
viu grandemente premida por carência, e o apóstolo deseja
que os crentes promovam coletas em benefício deles.
Como, pois, ele ordena coletas em cada primeiro dia da
semana, assim também se considera, por paridade de
razão, ter ordenado assembleias nas quais se costumava
fazer tais coletas (ou as haver aprovado por seu voto como
já ordenado).[259]
John Gill comenta essa mesma passagem, enfatizando
a adequação da coleta ter sido fixada, pois esse era o dia
em que os cristãos se reuniam para outros atos de
adoração, como ouvir a palavra e observar as ordenanças
de Cristo. Ele diz: A razão de sua fixação no primeiro dia da
semana foi porque, nesse dia, os discípulos de Cristo e as
igrejas primitivas se reuniram para adoração divina, para
ouvir a palavra e observar as ordenanças de Cristo (João
20:19, 26; Atos 20:7).[260]
Kistemaker corrobora:
“No primeiro dia da semana”. Este é o fraseado
judaico costumeiro para o que nós hoje chamamos de
domingo (Mateus 28:1 e paralelos; Atos 20:7; ver
também Apocalipse 1:10). Na noite do primeiro dia da
semana, os cristãos se reuniam para o partir do pão,
isto é, a Ceia do Senhor (Atos 20:7). Os cristãos
primitivos comemoravam o primeiro dia da semana
como o dia da ressurreição de Jesus. E tinham
escolhido esse dia para culto e comunhão.[261]
 

1.8. O Apocalipse Fala sobre o “Dia do Senhor”


Em Apocalipse 1:10 o apóstolo João afirma: “Achei-me
em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim,
grande voz, como de trombeta”. Vários teólogos, de
diferentes vertentes doutrinárias em outros aspectos,
concordam que, neste texto, “dia do Senhor” diz respeito ao
primeiro dia da semana, o dia em que Cristo ressuscitou. Por
exemplo, Simon Kistemaker afirma que: João escreve que
estava no Espírito no dia do Senhor. Essa é a única
passagem no Novo Testamento em que esse dia é descrito
dessa maneira, pois em outros lugares ele é chamado de
primeiro dia da semana. É o dia da ressurreição do Senhor,
e no fim do século I os cristãos haviam começado a se
referir a ele não como primeiro dia da semana, mas como
dia do Senhor (compare com a expressão a ceia do Senhor,
em 1 Coríntios 11:20). É o dia dedicado ao Senhor. A
passagem não se refere à futura vinda do Senhor e ao dia
do juízo, mas ao fato de Jesus ter aparecido a João no
primeiro dia da semana — um dia consagrado a Cristo.[262]
Este é o comentário que John Gill faz a respeito da
expressão “dia do Senhor”, que aparece no texto de
Apocalipse 1.10:
[A expressão “dia do Senhor”], aqui, não se refere ao
sábado judaico, pois que estava agora abolido; além
disso, ele nun-ca foi chamado o dia do Senhor, e se
João quisesse dizer isso, ele teria dito no dia do
sábado… [mas] o primeiro dia da semana é que é
designado… e é chamado [pelo nome do Senhor],
assim como a ordenança da ceia é chamada de ceia
do Senhor, sendo instituída pelo Senhor e pela mesa
do Senhor (1 Coríntios 10:21, 11:20); e isso porque foi
o dia em que nosso Senhor ressuscitou dos mortos
(Marcos 16:9) e no qual Ele apareceu em momentos
diferentes para Seus discípulos (João 20:19, 26).[263]
Turretini, também corrobora:
[...] por certo não no sábado judaico, porque
indubitavelmente o teria mencionado; não em algum
outro dia dentre os sete, porque nesse caso o título
seria ambíguo, prestando-se mais para confundir do
que para esclarecer; mas naquele dia em que Cristo
havia ressuscitado, no qual os apóstolos
costumavam reunir-se para a realização do culto
sacro e em que Paulo tinha ordenado se fizessem
coletas, como era costume na igreja primitiva. Uma
vez que ele fala daquele dia como conhecido e
observado na igreja, não há dúvida de que ele foi
distinguido por esse nome com base no uso aceito
na igreja. De outro modo, quem entre os cristãos
teria entendido o que João tinha em mente com esta
designação, se porventura pretendesse designar
algum outro dia?[264]
John MacArthur compreende da mesma maneira:
Essa expressão aparece em muitos escritos cristãos
primitivos e se refere ao domingo, o dia da
ressurreição do Senhor. Alguns têm sugerido que essa
expressão se refere ao “Dia do SENHOR”, mas o
contexto não apoia essa interpretação, e a forma
gramatical da expressão “dia do Senhor” é adjetiva,
portanto “o dia do Senhor”.[265]
George Eldon Ladd interpreta da mesma forma:
É muito mais provável que tenhamos aqui a maneira
com que os cristãos começaram a distinguir o dia do
Senhor como dia separado para o culto e a devoção.
De outras referências, sabemos que o primeiro dia da
semana era muito importante para os cristãos. Eles se
reuniam para partir o pão no primeiro dia da semana
(Atos 20:7) e preparavam dádivas de amor no
primeiro dia (1 Coríntios 16:2). Essas são as primeiras
evidências de que esse dia era tido como
especialmente consagrado ao Senhor, porque era o
dia da Sua ressurreição. A preferência pela
observância do domingo em lugar do sábado judeu foi
o resultado de um processo histórico gradual, e aqui
nós temos o início desse processo.[266]
Richard Barcellos comenta:
Em ambos os seus usos no Novo Testamento,
κυριακός (kyriakos [“Senhor”]) refere-se a algo
pertencente ao Senhor Jesus. Aqui em Apocalipse
1:10, portanto, João está se referindo a um dia que
pertence ao Senhor como ressuscitado e ascendido. O
dia do Senhor é um dia que pertence particularmente
a Cristo como o Senhor ressuscitado que agora está
no céu (isto é, o Filho do Homem, que também é o
Senhor do sábado). Esse uso da frase e seu
significado pretendido não parecem novos para João,
como foi observado em Paulo e na frase “Ceia do
Senhor”, no capítulo 12. Em outras palavras, João não
cunhou a frase enquanto escrevia. Se não fosse esse
o caso, seus leitores talvez não soubessem o que ele
queria dizer. Em vez disso, parece ser usado porque
era conhecido e estava em uso antes de ser escrito
por João.[267]
Sendo assim, notamos que, embora assuntos
relacionados ao Quarto Mandamento e ao dia do Senhor
sejam temas que têm envolvido debates e polêmicas, em
certos pontos, as evidências bíblicas são tão patentes que
não passam despercebidas nem mesmo por teólogos de
diferentes linhas, como vimos em relação ao entendimento
de muitos estudiosos acerca do significado do “dia do
Senhor”, mencionado em Apocalipse 1:10.
Outro fator é que dentre aqueles que compreendem o
sabbath da maneira que é exposta nas confissões
reformadas, ou seja, que o Quarto Mandamento passou a
ser observado, na Nova Aliança, no primeiro dia da semana,
o domingo, existem alguns eruditos que compreendem que
essa mudança ocorreu por instituição direta do próprio
Senhor Jesus Cristo, ao passo que outros chegam à
conclusão de que o dia do Senhor foi uma instituição
apostólica. Por exemplo, Jonathan Edwards chegou à
seguinte conclusão: É evidente que Cristo, de propósito,
honrou peculiarmente o primeiro dia da semana, o dia em
que ressuscitou dos mortos, ao aparecer nele, de tempos
em tempos, aos apóstolos. E escolheu esse dia para
derramar o Espírito Santo sobre eles, como lemos no
segundo capítulo de Atos. Pois isso ocorreu no Pentecostes,
que se dava no primeiro dia da semana, como vemos em
Levítico 23:15-16. E honrou esse dia ao derramar Seu
Espírito sobre o apóstolo João, ao lhe conceder visões, como
lemos em Apocalipse 1:10: “Achei-me em espírito, no dia do
Senhor” etc. Ora, sem dúvidas, com isso, Cristo queria
distintamente honrar esse dia.[268]
Por outro lado, François Turretini vê o dia do Senhor
como uma instituição apostólica:
Ainda que se possa dizer que o dia do Senhor é de
instituição apostólica, não obstante a autoridade
sobre a qual ele repousa é divina, porque [os
apóstolos] foram influenciados pelo Espírito Santo não
menos nas instituições sagradas do que no
estabelecimento das doutrinas do Evangelho, quer
oralmente quer por escrito. Portanto, a ordenação
divina é corretamente reivindicada aqui; não deveras
formal e imediatamente pela instituição de Cristo,
mas mediatamente pela sanção e prática dos
apóstolos inspirados (theopneustōn).[269]
É possível que as duas visões não sejam mutuamente
excludentes, mas complementares, uma vez que aquilo que
foi instituído pelos apóstolos foi direcionado pelo Senhor,
como Turretini admite. De modo que uma ordenança
apostólica possui autoridade divina, como Paulo afirma: “Se
alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as
coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1
Coríntios 14:37). Como Gallasius, colega de Calvino e de
Beza, afirmou: “Recebemos isto como estabelecido: que o
dia do Senhor teria substituído o sábado, não pelos homens,
mas direto dos apóstolos, isto é, do Espírito de Deus, que os
dirigia”.[270]
 
1.9. Documentos Históricos Demonstram que
Essa Foi a Prática dos Primeiros Cristãos
Por fim, alguns documentos históricos demonstram que
essa foi a prática dos primeiros cristãos. Kistemaker explica
que os primeiros cristãos, nos fins do século I, chamaram o
primeiro dia da semana de “dia do Senhor” para comemorar
o dia em que Jesus se levantou do túmulo (Apocalipse 1:10;
o documento do século I Didache 14.1). Kistemaker atenta
para o fato de que, atualmente, o calendário grego enumera
os dias da semana como: Dia do Senhor, segundo, terceiro,
quarto, quinto, dia da preparação e sábado.[271] O Didaquê,
citado por Kistemaker é um documento histórico do primeiro
século da era cristã, no qual também notamos a referência
ao domingo no capítulo 14.1: “Reunindo-se todos os
domingos do Senhor, quebre o pão e dê graças,
confessando suas falhas de antemão, para que seu sacrifício
seja puro”.
Em seu comentário ao Didaquê, Niederwimmer explica
que “o dia do Senhor” já era um termo familiar, com o qual
os cristãos já estavam habituados: cf. Inácio Magn. 9.1:
μηκέτι σαββατίζοντες, ἀλλὰ κατὰ κυριακὴν ζῶντες (“Não
celebre mais o sábado, mas viva o dia do Senhor”) Κυριακή
aqui, como nessa passagem do Didaquê, já é um termo
familiar para o dia da semana que é consagrado pela
ressurreição do Senhor. A comunidade está acostumada a
se reunir naquele dia.[272]
Solano Portela também esclarece que:
os escritos da igreja primitiva, desde a Epístola de
Barnabé (ano 100 d.C.) até as obras do historiador
Eusébio (ano 324 d.C.), confirmam que a igreja cristã,
inicialmente formada por judeus e gentios,
guardavam conjuntamente o sábado e o domingo.
Essa prática foi gradativamente mudando para a
guarda específica do domingo, na medida em que se
entendia que o domingo era propriamente o dia de
descanso, em substituição ao sábado. De forma
semelhante, a circuncisão e o batismo foram
conjuntamente observados, a princípio, existindo,
depois, a preservação somente do batismo na igreja
cristã. Portanto, o domingo não foi estabelecido pelo
imperador Constantino no século IV, como afirmam os
adventistas. Constantino apenas formalizou aquilo
que já era a prática da igreja.[273]
O Dicionário da Bíblia de Almeida segue a mesma linha
sobre o “dia do Senhor”:
Primeiro dia da semana, em que se comemora a
ressurreição de Jesus (João 20:1-25). Após a ascensão
de Jesus, os cristãos se reuniam tanto no sétimo dia
da semana (sábado) como no primeiro (domingo),
mas aos poucos o domingo se tornou o dia de guarda
(Atos 20:7; 1 Coríntios 16:2; Apocalipse 1:10).[274]
Com o mesmo entendimento, Vos assevera:
Indubitavelmente, cristãos judeus começaram por
observar ambos os dias, e somente, gradualmente, a
percepção instintiva da sacralidade do dia da
ressurreição do Senhor começou a se fazer sentir.[275]
Turretini também apresenta o testemunho dos
primeiros pais da igreja sobre o assunto, demonstrando que
o dia do Senhor:

[...] é favorecido pela autoridade dos pais que estavam mais


próximos da época e dos tempos dos apóstolos. Entre os
quais está Inácio (Pseudo-Ignatius, “Ad Magnesianos”, 9.4
em Patres Apostolici [org. F.X. Funk, 1913], 2:125; “Ad
Trallianos”, 9.5, ibid., 2:104–107); Justino Mártir, (First
Apology 67 [ANF 1:185,186]); Dionísio de Corinto, Segundo
Eusébio (Ecclesiastical History 4.23 [FC 19:259]); Melito,
segundo o mesmo (Eusébio, ibid., 4.26, p. 262); Irineu
(Against Heresies 5.23 [ANF 1:551,552]); Tertuliano (Chaplet
[FC 40:237]); Orígenes (cf. In Exodum Homilia 7.5–6 [PG
12.345–347]) e não poucos outros.[276]
A guarda do dia do Senhor tornou-se, de fato, uma das
marcas do discipulado cristão no tempo dos mártires, como
Stuart Olyott destaca: Durante toda a história da igreja, o
domingo tem sido observado como o “sabbath” dos
cristãos. A evidência documental é unânime e retrocede a
74 d.C. Durante as piores perseguições, perguntava-se aos
suspeitos de serem cristãos: “Dominicum Servasti?” (Você
guarda o dia do Senhor?). Os verdadeiros crentes
respondiam: “Eu sou um cristão, não posso deixar de fazer
isso!”.[277]
 

2. COMO OBSERVAR O DIA DO SENHOR?


Devemos observar o exemplo do Senhor Jesus Cristo
sobre o dia do sabbath. O Senhor reprovou o legalismo dos
fariseus, demonstrando que é lícito fazer o bem no sabbath
(Mateus 12:12). Cristo explicou que o sabbath foi feito para
o homem e não o homem para o sabbath, ou seja, nossa
observância não deve ser legalista, mas um regozijo, um
deleite. Stuart Olyott explica: O dia de descanso tem sua
origem na Criação. Por um tempo, usou as vestes do Antigo
Testamento. No entanto, agora está com uma roupagem do
Novo Testamento. Isso significa que não podemos impor ao
dia de descanso as regras mosaicas que já passaram, tais
como as que encontramos em Êxodo 35:2-3 ou Números
15:32-36. Não devemos ter em mente uma lista de faça e
não faça, tal como se lê em Mateus 12:1-2. À legislação de
Moisés, os fariseus acrescentaram todo tipo de regras
próprias. Para os fariseus, esfregar o grão na mão era o
mesmo que debulhá-lo. Eles também tinham regras a
respeito de quanto peso se devia carregar e quão distante
se podia caminhar no dia de descanso. Por trás de todas as
regras dos fariseus, havia uma mentalidade que não tem
qualquer lugar na vida de um crente do Novo Testamento.
Na mesma linha, Charles Spurgeon complementa:
A respeito de uma particularidade sobre a qual havia
um pouco de cerimonialismo envolvido — em outras
palavras, guardar o sabbath — nosso Senhor a
ampliou e mostrou que o pensamento judeu não era
verdadeiro. Os fariseus proibiam até mesmo as obras
de necessidade e misericórdia, como debulhar
espigas de milho para matar a fome e curar os
enfermos. Nosso Senhor Jesus mostrou que proibir
essas atitudes não estava, de modo algum, em
conformidade com a mente de Deus. Ao distorcer a
Palavra e levar uma observância externa ao extremo,
perderam o sentido da lei sabática, a qual sugeria
obras de misericórdia como o verdadeiro santificar do
dia. Mostrou que o descanso sabático não era mera
inatividade: “Meu Pai trabalha até agora, e eu
trabalho também”.[278]
Portanto, é importante notarmos que existem obras de
necessidade que precisam ser realizadas nesse dia, existem
certos ofícios que vão precisar ocorrer, necessariamente, e
isso não é uma quebra ao mandamento — pelo contrário.
Por exemplo, no Antigo Testamento, os sacerdotes
“quebravam o sábado” e ficavam sem culpa pois
trabalhavam no serviço de adoração. É necessário bom
senso para evitarmos o legalismo quanto à nossa
observância do dia do Senhor e para não cairmos no mesmo
erro dos fariseus, sendo meticulosos por demasia e criando
regras minuciosas e impondo-as aos outros. Mais do que
“não faça isso”, o importante é o que se deve fazer: dedicar-
se a atividades de adoração, necessidade e misericórdia.
Por outro lado, também devemos evitar o antinomismo que
despreza o mandamento. Turretini evita cair em um desses
extremos quando atesta: Concernente à observância do dia
do Senhor também não há pouca controvérsia. Alguns (com
excesso) se inclinam a extremo rigor e severidade e assim
se aproximam do judaísmo. Outros, ao contrário (com
insuficiência), usam relaxamento excessivo, ao que abre a
porta para a profanidade e para a licença. Não obstante, o
meio-termo nos parece mais seguro.[279]
Sobre o tema, Albert Mohler afirma que:
A melhor abordagem a ser adotada pelos crentes em
relação ao Quarto Mandamento é conhecida como
observância do Dia do Senhor […]. Essa posição
enfatiza que a questão central da igreja é reunir e
adorar no Dia do Senhor […] essa posição se
concentra no conteúdo positivo da observância do Dia
do Senhor, em vez de atividades proibidas.[280]
Cremos que a maneira correta de lidarmos com o
assunto é observarmos as orientações e o exemplo do
Senhor do sabbath, Jesus Cristo e dos apóstolos sobre o
assunto. Para eles, o dia de descanso não é um descanso de
total inatividade, é um descanso em Deus, um descanso
espiritual, um descansar no Senhor, e, portanto, servi-lo
sendo ativos na adoração, na piedade e na misericórdia.
Quando olhamos para o exemplo de como o Senhor
guardava o sabbath, o vemos muito ativo, curando,
ensinando Seus discípulos realizando atos de misericórdia e
adoração a Deus, ao passo que, quem ficava
meticulosamente proibindo diversas coisas eram os fariseus
e as leis rabínicas.
Sendo assim, trata-se mais do que deve ser feito nesse
dia do que criar uma lista de proibições. A adoração
religiosa no dia do Senhor deve ser para o cristão um
deleite, e não um peso, uma antessala do descanso eterno
que se dará na consumação de todas as coisas (Hebreus
4:9). A Confissão de Fé Batista de 1689 nos mostra como
aproveitar esse dia: O sabbath é, assim, santificado ao
Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado
os seus corações e ordenado os seus assuntos comuns de
antemão, não apenas observam um santo descanso durante
todo o dia, a partir de suas próprias obras, palavras e
pensamentos sobre suas ocupações e recreações
mundanas, mas também dedicam todo o tempo em
exercícios públicos e privados de Seu culto e nos deveres de
necessidade e misericórdia.[281]
Os puritanos entendiam que, no dia do Senhor,
deveríamos nos dedicar em atividades de:
• Adoração: Devoção e culto a Deus, • Necessidade:
Atividades que são indispensáveis de serem realizadas.
• Misericórdia: Ações deliberadas de piedade para
com o próximo e socorro aos necessitados.
A.W. Pink resume as três classes de trabalho que se
encaixam no “santo sabbath”:
Trabalhos de necessidade, que são aqueles que não
poderiam ter sido feitos no dia anterior e que não
podem ser relegados para o dia seguinte — como
cuidar do gado. Trabalhos de misericórdia, que são
aqueles que a compaixão requer que
desempenhemos para com outras criaturas — como
ministrar aos doentes. Trabalhos de piedade, que são
o culto a Deus em público e em privado.[282]
Trata-se um dia inteiro de adoração a Deus de uma
maneira singular, a qual não temos como realizar da mesma
maneira nos outros dias em que estamos trabalhando. [283]
A Confissão nos conclama a preparar nossos corações
para a adoração a Deus nesse dia, organizando outros
assuntos e tomando cuidado para que assuntos comuns não
venham a minar a utilidade espiritual desse dia. O dia do
Senhor é um santo descanso que deve ser aproveitado para
fazermos o bem, seguindo o exemplo do nosso Senhor,
tanto nas atividades públicas quanto privadas de culto,
deveres de necessidade e misericórdia.
John Owen dá conselhos muito úteis para nos ajudar a
prepararmos os nossos corações para aproveitarmos bem
esse dia: Medite na majestade, santidade e grandeza de
Deus. Lembre-se dEle como o Autor do nosso descanso
sabático. Lembre-se de Sua obra que nos leva a celebrar as
Suas ordenanças, especialmente a redenção por meio do
nosso Senhor Jesus Cristo. Pondere a importância, razões e
propósitos do Dia do Senhor que está chegando. Reflita
sobre seus santos privilégios, benefícios e deveres. Uma
compreensão completa dessas coisas nos ajuda a valorizá-
las mais do que aqueles que simplesmente sabem que o
domingo é um tempo sagrado. Uma meditação voluntária
sobre Deus e Seu amor, como essa, nos liberta para
adorarmos em nosso melhor e sem distração.[284]
Sobre esportes e recreações, John Owen corretamente
apela ao bom senso:
Tenha cuidado com esportes e recreações: O bom
senso sobre isso no domingo é encontrado na
legislação antiga dos imperadores e nações. Podemos
resumir os melhores sentimentos ao lembrá-lo de que
o dia do Senhor deve ser cheio de alegria nEle para
que Ele possa ser louvado e glorificado.[285]
Van Dixhoorn conclui:
“Se nos lembrarmos do dia do Senhor, adorando a Ele
e buscando fazer o bem, se esse é o anseio de nossos
corações, com a ajuda de Deus, não podemos estar
muito errados. Mas, se ainda errarmos, podemos nos
voltar para o Senhor do sábado, que ressuscitou na
manhã de um domingo para que os pecadores
achassem vida e olhassem em direção a um descanso
eterno com Ele e com todo o Seu povo”.[286]
 
3. OBJEÇÕES COMUNS AO DIA DO SENHOR
Alguns teólogos objetam a observância ao dia do
Senhor fazendo uso de textos como Colossenses 2:16-17 e
Romanos 14:5-6, afirmando que não há mais dia algum a
ser observado na Nova Aliança, portanto, não devem
observar o “dia do Senhor”. Entretanto, precisamos
considerar mais de perto esses textos e ver do que tratam
em seus devidos contextos. Em Colossenses 2.16-17, o
apóstolo afirma: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer,
ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua
nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras,
mas o corpo é de Cristo”.
Paulo atesta que, assim como as demais cerimônias, os
sábados judaicos também eram como uma sombra que
apontavam para Cristo. O teólogo batista reformado James
M. Renihan, citando o comentário de Lightfoot sobre esse
capítulo, explica o significado de “dias de festa, ou de lua
nova, ou dos sábados” nesse contexto: Sete vezes na Bíblia,
esses mesmos três termos são usados juntos e, em todos os
casos, referem-se ao número total dos dias religiosos de
obrigação para Israel. Os textos são 1 Crônicas 23:31 (27-
31), Neemias 10:33, 2 Crônicas 2:4 e 31:3, Isaías 1:13-14,
Ezequiel 45:17 e Oséias 2:11. Em todos esses casos, as
palavras se referem à plenitude das observâncias
relacionadas ao tempo, comandadas a Israel. À luz de
Levítico 23, sabemos que havia outros sábados além do
sétimo dia — os dias associados às festas eram designados
como sábados, independentemente de em qual dia da
semana eles caíam. É por isso que a palavra “sábados”
[sabbaths], refere-se a todos os dias, ao sétimo dia e a todo
o resto dos sábados, que deveriam ser observados por
Israel.[287]
Diante disso, James M. Renihan esclarece que ao ler
Colossenses 2:16-17, e ver essas palavras juntas, lembra-se
que o apóstolo Paulo foi completamente treinado por
estudiosos de primeira linha na teologia do Antigo
Testamento, e, portanto, estava familiarizado com todos os
seus meandros e detalhes técnicos. Assim, quando esses
termos exatos são encontrados nesse lugar, devemos
entender que Paulo os emprega exatamente da mesma
maneira que são usados em qualquer outro lugar nas
Escrituras inspiradas. Como esses termos aparecem juntos
em todos esses lugares, todas as regras de exegese apoiam
a visão de que eles também formam um conjunto aqui.
Sendo assim, James M. Renihan conclui: E assim podemos
dizer com Paulo, nos termos mais fortes: “Todo dia
associado à Antiga Aliança se foi. Não devemos celebrar
festivais, luas novas ou sábados — o sétimo dia, a páscoa,
os tabernáculos etc. Eles se foram. A substância corporal é
Cristo. Ele veio e entramos na plenitude de Sua vinda.
Quando olhamos para Colossenses 2:16-17 à luz da
analogia das Escrituras, e vemos que a linguagem técnica
exata é usada em outro lugar para descrever um conjunto
dos dias do Antigo Testamento, nosso problema está
resolvido. O apóstolo não está falando sobre o fim absoluto
de guardar qualquer dia; ao contrário, ele fala da revogação
de todos os dias judaicos. Os gentios e até cristãos judeus
não tinham absolutamente nenhuma obrigação de observar
esses dias da Antiga Aliança.[288]
Joseph Pipa resume: “Em outras palavras, Paulo anula a
observância do sétimo dia, mas não o princípio envolvido na
lei do sábado”.[289] Portanto, o que Paulo objeta aqui não é o
descanso semanal de um dia por semana; o que ele procura
resolver é o problema da imposição de rituais e cultos
judaicos sobre outros crentes, especialmente os gentios. De
maneira semelhante deve ser interpretado o texto de
Romanos 14:5-6, que afirma: Um faz diferença entre dia e
dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja
inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz
caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia
para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come,
porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor
não come, e dá graças a Deus.
John Murray elucida que nesse contexto Paulo refere-
se aos regulamentos cerimoniais judaicos uma vez que
ainda havia escrúpulo de alguns convertidos dentre os
judeus em relação a certos costumes: Os dias de festas
cerimoniais se enquadram na categoria a respeito da qual o
apóstolo disse: “Um faz diferença entre dia e dia; outro julga
iguais todos os dias”. Muitos judeus ainda não haviam
compreendido todas as implicações do Evangelho e ainda
possuíam escrúpulos no tocante a essas ordenanças
mosaicas. Sabemos que Paulo se mostrou completamente
tolerante para com tais escrúpulos; e esses se adaptam aos
termos exatos do texto em questão.[290]
Sobre esses assuntos, Vos clarifica:
Não se deve esquecer de que o Sabbath era, sob o
Antigo Testamento, uma parte integral de um ciclo
de festas que não mais estão em vigor. O tipo
expresso nele era aprofundado pelo Ano Sabático e
o Ano do Jubileu. No Sabbath, homem e animal
descansam; no Ano Sabático, o próprio solo
descansa; no Ano do Jubileu, a ideia de descanso é
exibida na sua significação positiva plena por meio
da restauração de tudo que estava conturbado e
perdido por meio do pecado. Fomos liberados de
tudo isso por meio da obra de Cristo, mas não fomos
liberados do Sabbath como instituído na criação. É
sob essa luz que devemos interpretar certas
declarações do Novo Testamento tais como Romanos
14.5,6; Gálatas 4:10,11; Colossenses 2:16-17.[291]
Examinando a citação de Vos, Richard Barcellos
comenta a maneira pela qual devemos interpretar tais
textos:
Vos reconhece enfaticamente que fomos libertados de
quaisquer elementos típicos ligados ao sábado no
Antigo Testamento, “mas não do sábado como
instituído na Criação. E é à luz disso, devemos
interpretar certas declarações do Novo Testamento,
como Romanos 14:5-6; Gálatas 4:10-11; Colossenses
2:16-17”.[292]
Sendo assim, concordamos com a conclusão de James M.
Renihan:
Podemos dizer, à luz da analogia das Escrituras, que
temos um dia diferente, um dia que expressa a
plenitude de nossa redenção em Cristo. Temos o
primeiro dia da semana, um dia que traz à memória a
Nova Criação em Cristo através de Sua ressurreição
dentre os mortos. Vamos observá-lo para a glória de
Deus.[293]
 
CONCLUSÃO
Estudamos sobre o Quarto Mandamento da lei e sua
relação com o “dia do Senhor” mencionado em Apocalipse
1:10. Alguns pontos merecem ser destacados: 1)
Observamos a lei moral na Nova Aliança, não como uma
tentativa de salvarmos a nós mesmos, mas por amor a Deus
que nos amou primeiro.
2) O dia de descanso para adorar a Deus (sabbath) foi
algo instituído por Deus na criação (Gênesis 2:1-3), e o
sabbath não foi feito apenas para o judeu, mas para o
homem (Marcos 2:27).
3) O Quarto Mandamento também possuía um aspecto
cerimonial que foi cumprido. Entretanto, o aspecto moral da
lei, que é guardar um dia em sete, permanece.
4) A guarda do primeiro dia da semana (domingo)
como dia do Senhor reside em dois assuntos principais: O
Senhor é maior do que o sábado (Marcos 2:28), e o Senhor
ressuscitou nesse dia, como as Escrituras afirmam (Lucas
24:1-6).
5) Os apóstolos reuniram-se nesse dia. Em Apocalipse,
o termo “dia do Senhor” é mencionado, os documentos dos
primeiros cristãos mencionam esse dia, os mártires cristãos
observaram esse dia e as grandes confissões de fé
reformadas mencionam “o dia do Senhor” como o primeiro
dia da semana (domingo).
6) O descanso do dia do Senhor não é total inatividade,
mas é descansar em Deus enquanto você O serve
adorando, ajudando ao próximo e fazendo o que Jesus fez.
Temos no Senhor Jesus, e não nos fariseus, o modelo de
como guardar o Quarto Mandamento.
7) Assim como há uma prescrição de que se descanse
um dia, há uma diretriz implícita de que se trabalhe seis.
8) O dia do Senhor deve ser para o crente um deleite,
um antegozo do descanso eterno, e não um peso.
Cabe ressaltar que, nesse ponto, os batistas
confessionais possuem uma concordância substancial com
outros reformados, tais como presbiterianos e
congregacionais confessionais — grupos estes que surgiram
a partir do movimento reformado puritano inglês do século
XVII.
No próximo capítulo, estudaremos quais são os
distintivos da teologia pactual batista em relação aos
pedobatistas e quais os pontos de unidade e diversidade
entre duas importantes confissões de fé, a saber, a
Confissão Batista de Londres de 1689 e a de Westminster.
 

 
10

Teologia Credobatista

Teologia Pedobatista
 

Já estamos caminhando para o fim deste livro, e já


aprendemos muitas coisas até aqui sobre a teologia bíblica
batista pactual. No capítulo anterior, falamos sobre o dia do
Senhor, um assunto unânime entre as confissões
reformadas. Agora, iremos trabalhar tanto as semelhanças
quanto as diferenças entre a teologia bíblica batista e a
pedobatista.
Muitos pensam que a teologia pactual batista é idêntica
à pedobatista e, portanto, os batistas seguem
inconsistentemente o credobatismo. Até mesmo pastores
batistas, frequentemente, só tiveram contato com a teologia
pactual pedobatista e acabam seguindo exatamente a
mesma estrutura dela, modificando apenas a parte do
batismo — o que, de fato, poderia ser considerado uma
inconsistência. Entretanto, já temos notado os distintivos da
teologia batista pactual e como sua estrutura redunda,
lógica e inescapavelmente, no credobatismo.
Passaremos, então, a considerar como as diferenças
entre batistas pactuais e seus irmãos pedobatistas, no que
diz respeito ao batismo, surgiram devido ao seu
entendimento pactual. Para os batistas reformados, antes
de perguntar “Quem pode ser batizado”, há uma questão
mais fundamental: “Quem está no pacto?”,[294] ou seja,
quem compõe o povo de Deus.
Notaremos a diferença nas duas confissões de fé, a
Confissão de Fé Batista de Londres de 1689 e a de
Westminster, e quais são os pontos de semelhança e
diferença entre elas, no que tange às alianças divinas. Logo,
percebemos que o debate acerca do batismo, no século XVII,
envolvia mais do que a ordenança em si — envolvia,
principalmente, o modo como cada grupo entendia o
relacionamento de Deus com Seu povo pactual.
Como já temos notado ao longo do livro, as
semelhanças entre as duas confissões são enormes e bem
maiores do que suas diferenças. Na realidade, os batistas se
esforçaram muito para manter uma unidade e harmonia
com seus irmãos na fé, inclusive ao estruturar sua confissão
tomando como base outras confissões reformadas,
principalmente a de Westminster. A maioria dos batistas
reformados era irênica e buscava manter uma forte
comunhão com seus irmãos pedobatistas.
Portanto, ao estudarmos os distintivos da teologia
pactual credobatista, nosso objetivo não é, de modo algum,
nos separarmos de nossos irmãos na fé que têm um
pensamento diferente nesse aspecto, mas apenas
esclarecer um ponto que pode ser obscuro para muitos e
demonstrar qual é a razão dos batistas pactuais
entenderem que a maneira bíblica correta da observação da
ordenança é o credobatismo. Eles chegaram a essa
conclusão através da sua compreensão dos aspectos de
continuidade e descontinuidade entre as alianças bíblicas.
Além disso, atualmente, muitos batistas têm
redescoberto a teologia reformada e, consequentemente,
sua estrutura pactual, e pensam que necessariamente terão
que se tornar pedobatistas ou sair de suas igrejas,
chegando a essas conclusões por desconhecerem a
confessionalidade histórica dos batistas e sua preciosa
herança pactual. Logo, faz-se necessário apresentá-la.
Por outro lado, existem aqueles que são contra o
pedobatismo e afastam-se da teologia batista pactual por
pensarem que “teologia pactual ou aliancismo é sinônimo
de batismo infantil”, e então, por vezes, criticam os batistas
confessionais por entendimentos que, na realidade, dizem
respeito à teologia pedobatista. Eles também fazem isso por
desconhecerem os distintivos da teologia pactual dos
batistas confessionais.
Portanto, para elucidarmos essas questões,
examinaremos o assunto um pouco mais de perto,
comparando as confissões de fé e destacando as
semelhanças e diferenças entre elas. Começaremos
observando os pontos em comum entre elas.
 

1. SEMELHANÇAS ENTRE A TEOLOGIA PACTUAL


DOS BATISTAS E DOS PEDOBATISTAS[295]
Existem várias semelhanças entre ambas as confissões
nesse aspecto. Por exemplo, as duas concordam com a
existência de um Pacto de Obras feito com Adão antes da
queda. Micah Renihan afirma que “não há nenhuma
discussão sobre o Pacto de Obras, plenamente afirmado
pelas confissões Batista de Londres e Westminster, e não há
nenhuma discussão sobre a definição de um pacto, que de
acordo com a definição básica formulada por Meredith G.
Kline é “um compromisso com sanções divinas entre um
senhor e um servo”.[296] Além disso, ambas vislumbram um
único povo eleito nos dois testamentos, como Pascal
Denault afirma: Assim, não existe dualidade entre Israel e a
Igreja, como há no dispensacionalismo, nem há uma
substituição de Israel pela Igreja. A Igreja existiu desde o
começo do Pacto da Graça; a diferença entre o Antigo
Testamento e as igrejas do Novo Testamento consistia na
extensão das nações às quais o Pacto da Graça foi
anunciado, e não na identidade da Igreja sendo diferente de
um Testamento para outro.[297]
Pascal explica que os reformados entendiam que Deus
possui um único povo e que não há dualidade entre Israel e a
Igreja, tampouco uma substituição de um pelo outro, mas
uma substituição de uma aliança pela outra. Ou seja, na Nova
Aliança os gentios são enxertados na oliveira, o Senhor
derruba as paredes de separação que havia entre judeus e
gentios, e o Evangelho é propagado para todas as nações.
Observemos seu comentário: Os dispensacionalistas
acusaram os reformados de criarem uma teologia da
substituição ao dar à Igreja o lugar que deveria pertencer a
Israel permanentemente. De fato, historicamente, os
reformados não ensinaram que a Igreja substituiu Israel, mas
que os pagãos se juntaram a Israel no Pacto da Graça no
momento em que a Nova Aliança substituiu a Antiga Aliança.
Assim, as promessas de uma aliança perpétua entre Israel e
Deus não apenas se mantiveram, mas foram cumpridas e
estendidas aos pagãos. Portanto, não se trata de um povo
substituindo outro povo, mas sim de uma aliança
substituindo outra aliança, uma vez que as promessas
reveladas pelo Pacto da Graça em Gênesis 3:15 foram
cumpridas quando a Antiga Aliança se findou e um grande
grupo de judeus e não judeus entraram na Nova Aliança.
Deve-se rejeitar a oposição entre Israel e a Igreja e enfatizar
o escopo do Pacto da Graça no Antigo Testamento (Israel) e o
escopo do Pacto da Graça no Novo Testamento (todas as
nações). Os gentios não substituem Israel, mas são
acrescentados como herdeiros das bênçãos de Israel. A
oposição encontrada no Novo Testamento é entre a Antiga e
a Nova Alianças, não entre Israel e a Igreja, que é, na
verdade, uma oposição artificial originada do
dispensacionalismo.[298]
A relação de Israel no Antigo Testamento com a Igreja
no Novo pode ser ilustrada com a metáfora de um andaime
que é utilizado na construção de um prédio. O andaime é
utilizado para a construção e tem seu valor e utilidade, mas,
a partir do momento que o prédio é construído, o andaime é
desmontado e guardado. Samuel Renihan explica: O reino
de Israel e o reino de Cristo (a igreja), embora distinguidos
por seus pactos, estão tão relacionados quanto um andaime
está com um prédio. Os descendentes naturais de Abraão
eram trabalhadores arrendatários, construtores, receberam
uma promessa do nascimento do Messias e foram
encarregados de preparar o caminho para o Seu advento
(Mateus 20:1-16, 21:33-46). No entanto, embora o Messias
pertencesse à Israel, Israel não pertencia automaticamente
ao Messias. O reino de Israel terminou no reino de Cristo e
foi desfeito, como um andaime. Jesus não era a principal
pedra angular do reino de Israel, nem os apóstolos eram sua
fundação (Salmo 118:22; Isaías 28:16; Mateus 21:42; Atos
4:11; Efésios 2:20; 1 Pedro 2:6-7). Jesus estabeleceu o reino
de Deus com base na regeneração, no arrependimento e na
fé. Ele pregou para Seu próprio povo, Israel, mas Seu povo
verdadeiro e permanente era de um reino que não é deste
mundo. Jesus acolhe como Seu todo aquele que nEle crê, e
os demais são condenados por sua incredulidade
pecaminosa. A fé em Cristo, dada somente por Deus, define
o povo de Cristo.[299]
Outra similaridade entre ambas as confissões é o
entendimento da revelação progressiva do Pacto da Graça a
partir de Gênesis 3:15, pois ambas compreendem e
unificam a salvação através da promessa do Evangelho em
toda a história. Além disso, as duas compreendem que na
Antiga Aliança havia tanto regenerados quanto não
regenerados. Os regenerados estavam tanto sob o Pacto da
Graça quanto sob a Antiga Aliança, e os não regenerados
estava somente sob a Antiga Aliança (Romanos 9:6-8). Em
resumo:
Crenças em Comum entre as
Confissões Credobatistas e
Pedobatistas
As duas concordam com o Pacto de Obras
antes da Queda.
As duas concordam com a definição de
aliança.
As duas entendem que há um único povo de
Deus em ambos os Testamentos.
As duas compreendem uma revelação
progressiva do Pacto da Graça.
As duas unem a salvação através da
promessa do Evangelho em toda a história.
As duas entendem que na Antiga Aliança
havia tanto regenerados quanto não
regenerados.
 
2. AS DIFERENÇAS ENTRE A TEOLOGIA PACTUAL
DOS BATISTAS E DOS PEDOBATISTAS
2.1. Observemos o Quadro Pedobatista:

Gráfico 4. In DENAULT, Pascal: Os Distintivos da Teologia Pactual Batista: uma


comparação entre o federalismo dos batistas particulares e dos pedobatistas do
século XVII. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2018, p. 114.

Em relação às diferenças entre os dois modelos, elas


estão primeiramente relacionadas ao Pacto da Graça. Para os
pedobatistas, o Pacto da Graça diz respeito a tudo o que veio
após a queda. Eles entendem que o Pacto foi estabelecido em
Gênesis 3:15 e que as duas alianças, a Antiga e a Nova, são
como duas administrações do mesmo Pacto da Graça, e não
duas alianças substancialmente diferentes. Ou seja, não
entendem que há uma diferença substancial entre a Antiga e
a Nova Alianças, apenas duas administrações diferentes do
mesmo Pacto. Logo, nessa perspectiva, há uma estreita
continuidade entre essas administrações.
Portanto, os pedobatistas adotam uma teologia pactual
cujo modelo pode ser descrito na seguinte maneira: uma
única aliança, o Pacto da Graça, administrado através de
outras alianças, especialmente a Antiga e a Nova. Seguindo
essa linha, John Murray, em seu livro “O Pacto da Graça”,
expressa seu entendimento de que as características da
Antiga e da Nova Aliança são substancialmente as mesmas:
A evidência mais conclusiva, entretanto, deriva de um
estudo do Novo Testamento com respeito à natureza da
Nova Aliança. Veremos que as características dessa aliança
são as mesmas que estão ligadas à Aliança no Velho
Testamento.[300]
Turretini também explica a visão pedobatista de seu tempo,
acerca do Pacto da Graça, de maneira clara:
Os ortodoxos mantêm que a diferença entre o Antigo
e o Novo Testamento (amplamente considerada) é
apenas acidental, não essencial (como a
circunstância, e maneira, e grau da coisa); não como
sendo a coisa em si, a qual era a mesma em ambas.
[301]

Notemos, então, o texto da Confissão de Fé de Westminster


sobre o assunto:
Esse pacto no tempo da Lei não foi administrado
como no tempo do Evangelho. Sob a Lei, foi
administrado por promessas, profecias, sacrifícios,
pela circuncisão, pelo cordeiro pascoal e outros tipos e
ordenanças dadas ao povo judeu, prefigurando, tudo,
Cristo que havia de vir; por aquele tempo essas
coisas, pela operação do Espírito Santo, foram
suficientes e eficazes para instruir e edificar os eleitos
na fé do Messias prometido, por quem tinham plena
remissão dos pecados e a vida eterna: essa
dispensação chama-se o Velho Testamento.
Sob o Evangelho, quando foi manifestado Cristo, a
substância, […] é chamado o Novo Testamento. Não
há, pois, dois pactos de graça diferentes em
substância, mas um e o mesmo sob várias
dispensações.
 

2.2. Observemos o quadro Credobatista:

Gráfico 5. In DENAULT, Pascal: Os Distintivos da Teologia Pactual Batista: uma


comparação entre o federalismo dos batistas particulares e dos pedobatistas do
século XVII. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2018, p. 114.

Em relação ao modelo credobatista, os batistas


reformados entenderam que a Antiga Aliança não era o
Pacto da Graça, tampouco uma administração desse pacto.
Embora o Pacto da Graça tenha sido revelado em Gênesis
3:15, como uma promessa, somente na Nova Aliança o
Pacto da Graça foi completamente estabelecido e selado
com o sangue de Cristo. No entanto, é importante observar
que, embora a Antiga Aliança não seja, ela mesma, uma
administração do Pacto da Graça, o Pacto da Graça foi
eficazmente administrado sob ela aos eleitos, embora não
por meio dela. É o que chamamos de efeito retroativo do
Pacto da Graça, consumado e estabelecido apenas na morte
e ressureição de Cristo; ou seja, embora a Nova Aliança, ou
Pacto da Graça, tenha sido estabelecida apenas no Calvário
e na tumba vazia, seus efeitos foram administrados
retroativa e soberanamente aos crentes de épocas
passados, os quais olhavam para o Messias que viria e o
contemplavam pela fé. Sobre isso, a Confissão de 1689
afirma: Embora o preço da redenção não tenha sido
realmente pago por Cristo senão depois da Sua encarnação,
contudo a virtude, a eficácia e os benefícios dela foram
comunicados aos eleitos, em todas as épocas
sucessivamente desde o princípio do mundo nas e através
das promessas, tipos e sacrifícios em que Cristo foi
revelado, e que O apontavam como a descendência da
mulher que esmagaria a cabeça da serpente (1Coríntios
10:4; Hebreus 4:2; 1Pedro 1:10-11), e como o Cordeiro que
foi morto desde a fundação do mundo (Apocalipse 13:8),
sendo o mesmo ontem, hoje e para sempre (Hebreus 13:8).
Este é um ponto fundamental do entendimento pactual
dos batistas: para eles, o Pacto da Graça corresponde à
Nova Aliança, e somente a ela. Logo, os batistas
compreenderam que há uma diferença substancial entre a
Antiga e a Nova Aliança. Os batistas possuíam um
entendimento bem semelhante ao que John Owen esboçou
em sua exegese de Hebreus 8 sobre esse ponto. É notável o
fato de que um dos mais influentes batistas do século XVII,
Nehemiah Coxe, deixou de publicar um tratado sobre a
aliança sinaítica devido ao lançamento do comentário de
Hebreus de John Owen, o qual indicou seus leitores —
especialmente o capítulo 8: A noção (que muitas vezes é
alegada neste discurso) de que a Antiga e a Nova Alianças
diferem em substância e não apenas no modo de sua
administração, certamente requer uma abordagem maior e
mais particular para livrá-la daqueles preconceitos e
objeções lançados contra ela por muitas pessoas dignas,
mas que pensam de maneira diferente. Assim, planejei dar
um relato adicional sobre esse assunto no tratado sobre o
pacto feito com Israel no deserto e sobre o estado da igreja
sob a lei. Mas quando eu terminei este tratado e
providenciei alguns materiais para o que também escreveria
a seguir, percebi que meu trabalho que deveria tratar desse
tema foi felizmente evitado pela publicação do terceiro
volume do comentário do Dr. Owen sobre a epístola aos
Hebreus. Ali, o assunto é discutido longamente e as
objeções que parecem militar contra ele são totalmente
respondidas, especialmente na exposição capítulo 8. Eu
agora encaminho o meu leitor para essa obra onde poderá
aprender satisfatoriamente sobre a diferença substancial
entre a Antiga e Nova Alianças, tal obra atende
completamente as expectativas que se poderia ter acerca
de uma pessoa tão eminente e erudita.[302]
Em seu comentário, Owen destacou claramente que a
Nova Aliança era substancialmente distinta da Antiga:
Se a reconciliação e a salvação por Cristo fossem
obtidas, não apenas sob a Antiga Aliança, mas em
virtude dela, então ela deveria ser a mesma que a
Nova, no que diz respeito à sua substância. Mas isso
não é assim; pois nenhuma reconciliação com Deus
nem salvação poderia ser obtida em virtude da Antiga
Aliança, ou da administração dela, segundo o que
nosso apóstolo contesta de forma geral […] Assim,
mostrei em que sentido o Pacto da Graça é chamado
de “a nova aliança”, nessa distinção e oposição com a
antiga ou primeira aliança. Então eu proporei várias
coisas que se relacionam com a natureza da primeira
aliança, as quais manifestam que ela é uma aliança
distinta, e não uma mera administração do Pacto da
Graça.[303]
Portanto, Owen ensinou a diferença essencial entre a
Nova Aliança e todas as outras alianças feitas no Antigo
Testamento. Uma vez que a Nova Aliança é selada no
sangue de Cristo e produz salvação e reconciliação para
com Deus. Assim como Owen, os batistas entenderam que
essa aliança é diferente e superior a todas as alianças do
Antigo Testamento, pois trata-se do Pacto da Graça
concluído, e não apenas de mais uma administração dele.
Pascal Denault demonstra como esse entendimento foi
extraído das Escrituras: Já vimos que a leitura batista do
Pacto da Graça (um pacto revelado progressivamente e
formalmente concluído sob a Nova Aliança) foi explicada
pela exegese de Hebreus 8:6: antes da Nova Aliança, o
Pacto da Graça foi somente revelado; quando a Nova
Aliança foi introduzida, o pacto foi νενομοθετηται. Esse
verbo é usado apenas duas vezes nas Sagradas Escrituras;
uma para falar da promulgação da Antiga Aliança (Hebreus
7:11) e outra para relatar a promulgação da Nova Aliança
(Hebreus 8:6). Essas duas alianças foram estabelecidas
(νενομοθετηται) sobre dois fundamentos completamente
diferentes. A primeira foi estabelecida (νενομοθετηται) no
sacerdócio Levítico com o sangue de bezerros e bodes
(Hebreus 8:18-19), ao passo que a segunda foi estabelecida
(νενομοθετηται) no sacerdócio eterno, de acordo com a
ordem de Melquisedeque e com o próprio sangue de Cristo
(Hebreus 9:12). Como poderiam duas alianças com tão
diferentes fundamentos ter a mesma essência? Não é
objetivo do autor da Epístola aos Hebreus demonstrar que a
Antiga Aliança não era nada além de uma sombra do que
viria, uma aliança tipológica, temporária e terrena,
enquanto que a realidade deve ser encontrada na Nova
Aliança em Jesus Cristo?[304]
Vejamos o texto da Confissão de Fé Batista de Londres
de 1689:
Essa Aliança é revelada no Evangelho; primeiramente
a Adão na promessa de salvação pela descendência
da mulher, e depois por etapas sucessivas, até que a
sua plena revelação foi completada no Novo
Testamento; e é fundada naquela transação pactual
eterna que houve entre o Pai e o Filho para a
redenção dos eleitos; e é somente pela graça dessa
Aliança que todos da posteridade do caído Adão, que
já foram salvos, obtiveram a vida e a bem-aventurada
imortalidade. O homem é agora totalmente incapaz
de ser aceito por Deus naqueles termos em que Adão
permanecia em seu estado de inocência.
 
3. A COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS MODELOS
Este gráfico, elaborado por Brandon Adams, demonstra
uma comparação entre a teologia pactual batista
(Federalismo de 1689) e a de Westminster (Federalismo
CFW). No centro, encontramos os pontos em que ambas
concordam:

Gráfico 6. Elaborado por Brandon Adams e postado no site 1689Federalism.com.

Traduzido por: RupertTeixeira.com. Estandarte de Cristo, 2016.

3.1. Ambas concordam com o Pacto de Obras e


que os santos do Antigo Testamento e do Novo
Testamento são salvos através do Pacto da Graça.
Tanto batistas quanto pedobatistas concordam que
houve um Pacto de Obras feito com Adão antes da queda
(pré-lapsariano). Além disso, ambos concordam que os
crentes do Antigo e do Novo Testamento são salvos através
do Pacto da Graça. Não há outra maneira de salvação para
o pecador a não ser pela graça mediante a fé em Cristo. Os
crentes do Antigo Testamento criam na promessa a respeito
do Messias que viria, os crentes do Novo Testamento creem
no Cristo que já veio e vai voltar, e ambos são salvos pela fé
em Cristo pelos benefícios do Pacto da Graça.
 

3.2. Para os credobatistas o Pacto da Graça foi


revelado em Gênesis 3:15 e concluído na Nova
Aliança, para os pedobatistas o Pacto da Graça foi
estabelecido em Gênesis 3:15 e administrado nas
alianças subsequentes.
Entretanto, notamos que há uma diferença em relação
ao entendimento do Pacto da Graça. Os batistas afirmaram
a unidade da substância do Pacto da Graça de Gênesis a
Apocalipse. Porém, eles notaram a descontinuidade da
substância entre a Antiga e a Nova Aliança. Eles
entenderam que o Pacto da Graça foi revelado em Gênesis
3:15 como uma promessa e concluído somente na Nova
Aliança em Cristo, e uma vez que a entrada na Nova Aliança
se dá pelo novo nascimento, então somente os eleitos estão
no Pacto da Graça. Já os pedobatistas entenderam que o
Pacto fora estabelecido em Gênesis 3:15 e que as demais
alianças feitas foram administrações desse mesmo pacto;
portanto, para eles, não há diferença substancial entre
Antiga e Nova Aliança, apenas diferentes administrações.
 

3.3. Os credobatistas entendem que os membros


do Pacto da Graça são apenas os regenerados, os
pedobatista entendem que a membresia do Pacto da
Graça é mista, composta por regenerados e não
regenerados.
Portanto, nesse ponto, a membresia do Pacto da Graça
é diferente nas duas confissões. Westminster fala de Cristo,
os crentes e seus filhos.[305] Os pedobatistas separaram a
substância interna da administração externa desse pacto,
ou seja, a administração interna diz respeito àqueles que
estão espiritualmente no pacto, e a administração externa
consistia em todos que, externamente participaram do
sacramento, mas não necessariamente eram regenerados,
uma vez que isso incluiu seus bebês. Eles viam uma
natureza mista no povo do pacto.
Por outro lado, na Confissão Batista de 1689 o Pacto da
Redenção se torna o padrão para o Pacto da Graça, o que
quer dizer que os membros do Pacto da Graça são aqueles a
quem Cristo traz a Si mesmo, são aqueles que o Pai Lhe
prometeu e comissionou para ir e conquistar através de Sua
vida e morte, e atrair para Si através do Espírito Santo — ou
seja, os eleitos. E a manifestação prescrita nas Escrituras
para identificarmos quem está na aliança é a resposta que
esses dão ao Evangelho. Cristo ordenou Seus discípulos a
fazerem discípulos de todas as nações e batizá-los em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e os candidatos ao
batismo são aqueles que respondem ao Evangelho com
arrependimento e fé. Esse ponto está de acordo com a
natureza da Nova Aliança e o exemplo dos apóstolos por
todo o Novo Testamento (Mateus 28:18-10; Atos 2:41).[306]
Paul Washer afirma corretamente que “a verdadeira igreja é
composta somente daqueles que foram regenerados, se
arrependem e creem, que estão sendo conformados à
imagem de Cristo. Essa é a principal diferença entre a
Antiga e a Nova Aliança, e devemos manter e proclamá-la”.
[307]

Portanto, os batistas entenderam que somente aqueles


que demonstram arrependimento e fé em Cristo devem ser
batizados conforme as instruções do Novo Testamento. Como
já vimos, os batistas entenderam que a entrada na Antiga
Aliança também se dava por meio de geração natural e da
circuncisão da carne ao oitavo dia, ao passo que a entrada
na Nova Aliança ocorre pelo novo nascimento e por meio de
geração espiritual, ou seja, a circuncisão do coração, a
regeneração. Sendo assim, o batismo deve ser aplicado
somente àquele que fizer uma profissão de fé crível no
Evangelho. Renihan conclui: A única forma prescrita nas
Escrituras para avaliar se alguém está na aliança é uma
profissão de fé. Após a profissão de fé, o batismo é
administrado. Esse é precisamente o padrão que vemos no
Novo Testamento: o batismo acontece após uma profissão
de fé.[308]
A Confissão de 1689 entende que os membros do Pacto
da Graça são os eleitos, ou seja, os regenerados. Logo esses
são o povo do reino, os que têm direito de participar das
ordenanças do reino, a saber, o batismo e a ceia. A Nova
Aliança é feita entre Cristo e os eleitos, então apenas
aqueles que demonstram arrependimento e fé, os frutos da
regeneração que todos os eleitos terão, são as pessoas que
devem ser batizadas. Alguém poderia questionar sobre as
falsas conversões, os falsos crentes que acabam entrando
na membresia das igrejas. Samuel Renihan responde: Não,
eu não estou dizendo que os batistas reformados podem
saber quem são os eleitos, porque nós devemos lidar com
os homens através de profissões, através dos frutos que
eles produzem e de nossas perspectivas falíveis. Faremos o
possível para batizar aqueles que professam a fé e o
arrependimento. E se alguém o faz falsamente, com um
coração descrente e sem arrependimento, o castigo recairá
sobre sua cabeça por ter feito uma profissão falsa. Por
exemplo, se eu vou para um país e obtenho ilegalmente a
cidadania daquele país, quando for descoberto que eu sou
um cidadão ilegal, eu serei tratado como um cidadão ilegal.
Alguém me dirá: “Você nunca foi cidadão do nosso país” e
então eu serei considerado culpado disso. Eles não vão
apenas me mandar embora. Eu serei punido naquele país
por ter violado suas leis. Da mesma forma quando alguém
vem à igreja, professa falsamente uma fé e um
arrependimento que não possui e é batizado, um
julgamento recai sobre ele. Existe um real julgamento para
isso. Entretanto, nós, como ministros, como detentores das
chaves do reino, devemos lidar com os homens através das
confissões que eles fazem.[309]
Portanto, não é porque há cidadãos ilegais nos países
que se deve incentivar tal prática, pelo contrário, ela deve
ser evitada.
 

3.4. O modelo pedobatistas utiliza o Antigo


Testamento para compreender o Novo. O modelo
credobatista utiliza o Novo Testamento para
compreender o Antigo.
Outro ponto de divergência é que o modelo pedobatista
acaba, de certo modo, usando o Antigo Testamento para
interpretar o Novo em relação à questão do batismo.
Notemos o que o renomado pedobatista B.B. Warfield
argumentou em favor do batismo infantil: É verdade que
não existe nenhum comando expresso para batizar bebês
no Novo Testamento, não há registro expresso do batismo
de bebês, e não há quaisquer passagens que impliquem
rigorosamente que devemos inferir a partir delas que bebês
foram batizados. Se tal fundamento for necessário para
justificar a prática, nós deveríamos deixá-la completamente
injustificada. Mas a falta desse comando expresso está
muito longe que proibir o rito; e se a continuidade da igreja
através de todas as eras passadas for considerada e
consultada, será visto que o mandamento para o batismo
infantil não deve ser procurado no Novo Testamento, mas
no Antigo Testamento, quando a igreja foi instituída, e nada
menos do que uma real proibição dele no Novo Testamento
implicaria em um comando para abandonarmos o batismo
de bebês agora.[310]
Warfield admite que não há prescrição para o batismo
infantil no Novo Testamento e defende que é necessário
encontrá-la no Antigo Testamento.[311] Os batistas
discordariam da conclusão de Warfield, pois entenderiam
que precisamos olhar para o Novo Testamento para
entender a prática correta dessa ordenança. O batista do
século XVII, Nehemiah Coxe, explicou que “o melhor
intérprete do Antigo Testamento é o Espírito Santo falando
por meio do Novo Testamento”,[312] e os batistas
reformados defenderam o princípio interpretativo da
prioridade do Novo Testamento, como Tom Hicks explica: O
princípio interpretativo da prioridade do Novo Testamento é
derivado de um exame das próprias Escrituras. Ao lermos a
Bíblia, percebemos que textos anteriores nunca interpretam
explicitamente textos posteriores. Os textos anteriores
fornecem o contexto interpretativo para textos posteriores,
mas textos anteriores nunca citam textos posteriores e os
explicam diretamente. Em vez disso, o que encontramos é
que textos posteriores fazem referência explícita a textos
anteriores e fornecem explicações sobre eles. Além disso, a
parte posterior de qualquer livro sempre deixa clara a parte
anterior. Quando você começa a ler um romance, por
exemplo, você ainda está conhecendo as personagens, a
configuração, o contexto etc., mas, mais tarde, à medida
que a história avança, as coisas que aconteceram no início
do livro fazem mais sentido e tomam um novo significado.
Mistérios são resolvidos. As conversas anteriores entre
personagens ganham novo significado à medida que o
romance se desenrola. Partes posteriores da estória têm o
principal poder explicativo sobre as partes anteriores.[313]
Micah Renihan e Samuel Renihan explicam que: “se
seguirmos Warfield e olharmos para o Antigo Testamento
como a base para o modo como devemos administrar o
batismo, nós violaremos este princípio fundamental da
hermenêutica”.[314] Tom Hicks comenta que, com essa
compreensão, os pedobatistas entendem que o texto de
Gênesis 17:7 diz respeito ao Pacto da Graça feito com
Abraão e todos aqueles que são seus filhos físicos. Essa
percepção os leva ao batismo de infantes no Novo
Testamento e a igrejas com uma membresia
intencionalmente mista composta por crentes e incrédulos.
[315] Hicks prossegue: Se, no entanto, permitirmos que o
Novo Testamento interprete Gênesis 17:7, então evitaremos
o erro cometido pelo dispensacionalismo e pelo
pedobatismo. Gálatas 3:16 diz: “Ora, as promessas foram
feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às
descendências, como falando de muitas, mas como de uma
só: E à tua descendência, que é Cristo”. Note que Gálatas
3:16 nega explicitamente uma descendência plural. A
promessa é apenas para um filho e não para muitos. “Não
diz: E às descendências” (Gálatas 3:16). Portanto, à luz do
ensinamento claro do Novo Testamento, devemos concluir
que tanto dispensacionalistas como pedobatistas
interpretam mal o Antigo Testamento porque não
conseguem permitir que o Novo Testamento tenha
prioridade de interpretação. Ambos os sistemas concluem
que a promessa à semente de Abraão é uma promessa aos
descendentes físicos, e não a Cristo. Esse erro leva os
pedobatistas a enfatizarem excessivamente uma igreja
visível propagada por uma geração natural com sua leitura
das Escrituras e leva os dispensacionalistas a enfatizarem
excessivamente Israel, quando o Novo Testamento
claramente nos ensina a enfatizarmos Cristo. A promessa da
“descendência” é uma promessa a Cristo, não aos homens.
Essa não é uma negação de qualquer aspecto coletivo em
relação à descendência; em vez disso, reconhece que a
descendência é Cristo e que, pela união salvífica com Ele, os
eleitos também são descendência nEle (Gálatas 3:7, 14,
29). Assim, todas as promessas feitas a Abraão em Gênesis
17:7 foram feitas a Cristo e a todos os que estão unidos
salvificamente a Ele, judeus e gentios. A promessa é,
portanto, centrada em Cristo, não centrada no homem,
como os batistas históricos sempre ensinaram.[316]
Hicks explica que, se observarmos o que o texto do
Novo Testamento explica sobre a profecia do Antigo, e não
vice-versa, encontramos a maneira adequada de entender o
texto — neste caso, que o descendente de Abraão por meio
de quem todas as nações da terra seriam abençoadas é
Cristo, e aqueles que estão em Cristo são os que herdam as
promessas feitas a Abraão (Gálatas 3:29).
Uma vez que os pedobatistas não viam diferença
substancial entre a Antiga e a Nova Aliança, apenas
diferentes administrações, eles entenderam que os seus
descendentes naturais estavam incluídos no pacto da
mesma maneira que ocorria na Antiga Aliança. Sendo assim,
Denault reitera que eles compreenderam que “a igreja
normal inclui, como parte da instituição, professos que
podem ser regenerados e não regenerados, bem como os
descendentes naturais dessas pessoas”.[317]
Samuel Renihan explica que os batistas entenderam
que existe uma dificuldade ao incluir os filhos dos crentes
nessa aliança. Eles levantaram questões como: Qual é a
natureza dessa união pactual, entre os não regenerados e
Jesus Cristo? Qual é a natureza da união federal deles com
Jesus Cristo? Uma vez que ou alguém está ligado a Cristo ou
a Adão como cabeça federal, não há como misturar as
membresias. Os batistas entenderam que não há
possibilidade de se estar em ambos os cabeças federais ao
mesmo tempo, ou seja, alguém que não é regenerado e faz
parte da “administração do Pacto da Graça” está sobre a
representatividade de Adão, porque ele está carregando a
maldição do pecado. Como, porém, ele pode estar nessa
condição e, ao mesmo tempo, sob o Pacto da Graça, sob a
representatividade de Cristo? Os batistas entenderam que,
nesse ponto, há uma inconsistência na teologia pactual
pedobatista e que não há uma clareza obre à união pactual
com Jesus Cristo de alguém que não tenha sido regenerado,
uma vez que a Bíblia diz, em Romanos 9:8b: “E, se alguém
não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”.[318]
 

3.5. Os pedobatistas sustentaram o modelo de


um pacto da graça sob duas administrações, os
credobatistas entenderam a diferença substancial
entre Antiga e Nova Aliança.
Fundamentados em passagens bíblicas como Gálatas
4:24-31, Hebreus 8, Jeremias 31 etc., os batistas
discordaram do entendimento pedobatista de um pacto sob
duas administrações, por entenderem que ela contradiz a
terminologia bíblica que fala claramente de duas alianças.
Como notamos na alegoria mencionada por Paulo sobre as
duas mulheres relacionadas a Abraão e as alianças que elas
representavam, a primeira aliança representada por Agar, e
a outra, representada por Sara. A aliança representada por
Agar diz respeito à aliança do Sinai, da qual Moisés é o
mediador, e a aliança representada por Sara, que gera os
filhos da promessa como Isaque, diz respeito à Nova
Aliança, estabelecida no sangue de Cristo Jesus, o supremo
Mediador.
Portanto, os batistas entendem que a Escritura as trata
como duas alianças diferentes, não simplesmente como
administrações da mesma aliança, e por isso tiveram
problemas com a terminologia pedobatista. Os pedobatistas
tentam conciliar as alianças históricas da Bíblia e as
entendem como co-substanciais, administrações do mesmo
Pacto da Graça, enquanto os batistas reconheceram que
existem diferenças significativas e substanciais entre essas
alianças e que existe uma progressão histórica de uma à
outra. Pascal Denault resume: Ter Deus de acordo com os
termos definidos pela Antiga Aliança era condicionado à
obediência de Israel. Sob a Nova Aliança, Deus também
prometeu ser o Deus de seu povo, e que esse será: “[...]
geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa” (1 Pedro
2:9), mas, ao contrário da Antiga Aliança, sob a Nova
Aliança essa promessa é incondicional: “eu serei o seu Deus
e eles serão o meu povo. [...] porque lhes perdoarei a sua
maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados”
(Jeremias 31:33-34). Ser povo de Deus, sob a Nova Aliança,
é ter garantido o perdão de pecados obtido pelo mediador
dessa aliança; é por isso que Cristo é apresentado como o
único fiador (Hebreus 7:22). Ser o povo de Deus, sob a
Antiga Aliança, estava condicionado à obediência desse
povo. Além disso, ter o Senhor como Deus na Antiga Aliança
não garantia as mesmas bênçãos da Nova Aliança: a
primeira garantia bênçãos terrenas, a segunda, bênçãos
celestiais: a vida eterna.[319]
Os batistas, como já consideramos, abordam a teologia
pactual compreendendo que o Pacto da Graça foi prometido
no Antigo Testamento, mas não formalmente consumado
até a Nova Aliança em Cristo, logo eles igualaram o Pacto
da Graça com a Nova Aliança. A Nova Aliança é o Pacto que
foi progressivamente revelado através de etapas sucessivas
desde Gênesis 3:15 até sua consumação na Nova Aliança
em Cristo. O Pacto da Graça não foi concluído antes da
morte e ressurreição de Cristo; as alianças formais que
precederam esse evento tiveram uma essência diferente e
foram, portanto, abolidas e substituídas pela Nova Aliança.
Johnson afirma: A teologia pactual pedobatista conduz ao
batismo infantil porque falha em manter a Antiga e a Nova
Aliança separadas. Por causa disso, eles [pedobatistas]
combinam os aspectos físicos e exteriores da nação de
Israel com o reino espiritual de Deus — a igreja. Ao mesclar
essas duas alianças, eles misturam a circuncisão infantil —
o sinal de ter nascido em uma nação física, com o batismo
nas águas: o sinal de ter nascido em uma nação espiritual.
Considerar o pacto mosaico como uma manifestação do
Pacto da Graça é uma peça importante do quebra-cabeças
da teologia pactual pedobatista, mas é também a sua falha
fatal.[320]
Pascal Denault afirma que no modelo batista, há tanto
continuidade quanto descontinuidade na distinção
revelado/concluído do Pacto da Graça: Existe uma
continuidade, porque o Pacto da Graça foi revelado a partir
de Gênesis 3: 15 até sua completa revelação no Novo
Testamento, mas há também descontinuidade, porque o
Pacto da Graça não foi concluído antes da morte e
ressurreição de Cristo; as alianças formais que precederam
esse evento tiveram uma substância diferente e foram,
portanto, abolidas e substituídas pela Nova Aliança.[321]
Concordamos com a conclusão de Samuel Renihan:
Concluindo, tudo começa e termina com Jesus Cristo.
Devemos ser fiéis ao Seu Pacto e às Suas ordenanças.
Os batistas creem que as Escrituras ensinam que o
Pacto de Cristo perdoa os pecados de todos os seus
membros, que as falsas ovelhas são simplesmente
falsas ovelhas e que o batismo é um símbolo das
realidades objetivas da Nova Aliança e da participação
dos crentes nela. Sabendo que todos aqueles que
invocam o nome do Senhor serão salvos, esforcemo-
nos juntamente com nossos irmãos pedobatistas,
quaisquer que sejam nossas diferenças nesse ponto,
para proclamar esse precioso nome ao mundo.[322]
Sendo assim, notamos as semelhanças e diferenças
entre credobatistas e pedobatistas em relação à teologia
pactual. Vimos que seu entendimento difere principalmente
em relação ao Pacto da Graça e a compreensão da diferença
substancial entre a Antiga e a Nova Aliança. Isso redundou
em um entendimento diferente sobre a membresia no Pacto
da Graça e consequentemente, a quem o batismo deve ser
administrado. Para os pedobatistas, os crentes e seus bebês
devem ser batizados, e para os credobatistas somente
aqueles que professam fé em Cristo devem participar dessa
ordenança. Entretanto, apesar de suas diferenças, ambos
são irmãos e devem cooperar em prol da propagação do
Evangelho de Jesus Cristo.
 
CONCLUSÃO
Após essa breve comparação entre o modelo
credobatista e pedobatista de teologia pactual, destacamos
os seguintes pontos: 1) Existem muito mais semelhanças do
que diferenças entre Westminster e Londres, e isso deve ser
levado em conta para a promoção de nossa unidade como
irmãos em Cristo.
2) Os pedobatistas entendem que o Pacto da Graça
existe sob várias administrações e que a Nova Aliança é
mais uma administração do Pacto da Graça; logo, eles
entendem que não há diferença substancial entre a Antiga e
a Nova Aliança.
3) Os credobatista entendem que o Pacto da Graça foi
revelado em Gênesis 3:15 como uma promessa, mas
estabelecido somente na Nova Aliança.
4) Os batistas compreendem a diferença substancial
entre a Antiga e a Nova Aliança.
5) Os pedobatistas assemelham a entrada no Pacto da
Graça à circuncisão física no nascimento e, portanto,
entendem que seus filhos recém-nascidos devem ser
batizados e que fazem parte do Pacto da Graça.
6) Os batistas entendem que a entrada na Nova
Aliança se dá pela circuncisão do coração. A regeneração é
o correto antítipo da circuncisão, portanto, somente os
regenerados estão no Pacto da Graça e somente eles
podem participar das ordenanças desse pacto.
7) A diferença entre credobatismo e pedobatismo
emerge de uma compreensão diferente dos pactos divinos.
8) Independente de nossas diferenças, credobatistas e
pedobatistas são irmãos em Cristo e devem trabalhar juntos
pela propagação do Evangelho de Cristo.
 
Conclusão
 

Chegamos ao final deste livro. Tivemos aqui um pontapé


inicial para os seus estudos sobre o assunto da teologia
pactual batista. Se algo não ficou tão claro ou se ainda
restam muitas dúvidas a esse respeito, incentivamos você a
ler os outros materiais indicados e procurar se aprofundar
no assunto. Busque sempre examinar tudo o que foi
apresentado à luz das Escrituras, e sempre retenha o que
for bom e bíblico. Destacamos aqui algumas reflexões sobre
nossos estudos: 1) Estudar a teologia bíblica batista pactual
nos ajuda a compreender melhor o enredo das Sagradas
Escrituras. Notamos que a Bíblia não é um emaranhado de
histórias desconexas, mas que os sessenta e seis livros da
Bíblia apresentam o plano redentor de Deus para resgatar
um povo para a Sua glória. O Antigo Testamento promete a
vinda do Messias, o Novo Testamento testifica que Ele veio.
2) Conhecer melhor a teologia bíblica nos ajuda a
compreender a relação entre os testamentos e os aspectos
de continuidade e descontinuidade. Entendemos o motivo
pelo qual não observamos mais as cerimônias e os rituais
que serviam de sombras e apontavam para Cristo, e
podemos compreender corretamente a relação entre os
tipos e os antítipos.
3) Aprendemos um pouco sobre a história dos batistas,
que surgem durante o período da pós-Reforma, mais
especificamente dos puritanos separatistas ingleses, e que
os batistas particulares defendiam uma teologia pactual em
suas confissões de fé.
4) O estudo da teologia bíblica nos apresenta uma
visão exaltada a respeito de Cristo como o cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo, que foi prometido desde
Gênesis, prefigurado por toda a história, vindo na plenitude
dos tempos em resgate do Seu povo, que cumpriu as
exigências divinas, sacrificou-Se por Sua igreja, ressuscitou,
foi exaltado e reina até que todos os Seus inimigos sejam
colocados debaixo de Seus pés. Ele voltará para a
consumação de todas as coisas.
5) Aprendemos que não estamos mais debaixo da
maldição da lei, mas, por amor a Deus buscamos obedecer
a Sua lei. Na Nova Aliança, as leis são gravadas na mente e
no coração do povo de Deus, e nós amamos aquele que nos
amou primeiro. O Senhor remove nosso coração de pedra e
nos dá um de carne, sensível a Ele. O Espírito Santo nos
regenera, mudando nossas disposições e nos capacitando a
servir a Deus. Portanto, o cristão tem prazer na lei do
Senhor. A lei nos leva até Cristo para a justificação e Cristo
nos leva até a lei para a santificação.
6) Entendemos que o Quarto Mandamento, que versa
sobre os seis dias de trabalho e a santificação de um dia em
sete, para descansar de nossos labores e adorar a Deus,
passou, na Nova Aliança, a ocorrer no primeiro dia da
semana, o dia em que Cristo ressuscitou. Guardar o dia do
Senhor não deve ser um peso para o crente, mas um santo
repouso, não um dia de total inatividade, mas de dedicação
em obras de adoração, necessidade e misericórdia.
Aproveite para deleitar-se no Senhor, tanto individualmente
quanto junto à igreja do Senhor no culto público, como uma
antessala do descanso eterno (Hebreus 4:9).
7) Compreendemos que ninguém, em toda a história,
foi salvo se não pela graça mediante a fé em Cristo. Reflita
sobre a sua condição e, se perceber que ainda não é um
cristão, arrependa-se e creia em Cristo hoje, ore ao Senhor e
clame por salvação. E se você já é um cristão, encontre
encorajamento nessas preciosas verdades e compartilhe
esse precioso Evangelho com os outros.
8) Vimos que os batistas reformados compreenderam a
diferença substancial entre a Antiga e a Nova Aliança, por
isso entendem que, na Nova Aliança, a entrada se dá pelo
novo nascimento. Logo, são os participantes dessa aliança
que devem desfrutar de suas ordenanças, o que significa
que somente crentes devem ser batizados.
9) Por fim, aprendemos que existem muito mais
semelhanças do que diferenças entre as confissões
reformadas e, que acima das diferenças, devemos focar em
nossa unidade e lutar juntos pela causa do Evangelho.
Assim como Paulo, ao escrever os 11 primeiros
capítulos de Romanos, com muito conteúdo doutrinário,
finalizou exaltando a Deus por suas grandes maravilhas,[323]
assim também espero que toda essa exposição doutrinária
que tivemos ao longo deste livro nos leve a adorarmos a
Deus diante de Seus maravilhosos feitos. E assim como
Paulo prosseguiu no restante da carta falando sobre as
aplicações práticas à luz dessa preciosa doutrina, do
capítulo 12 em diante, também espero que essas preciosas
verdades aprendidas aqui nos levem a uma vida cada vez
mais dedicada ao Senhor. Portanto, espero que esse livro,
de alguma forma, aumente seu amor pelo Senhor e pelo
próximo, e que todo o conhecimento venha resultar em
piedade. Deus o abençoe grandemente. Meu desejo para
você é o mesmo pelo qual orou o apóstolo Paulo, em favor
dos Filipenses: E peço isto: que o vosso amor cresça mais e
mais em ciência e em todo o conhecimento, para que
aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e
sem escândalo algum até ao dia de Cristo; Cheios dos frutos
de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de
Deus (Filipenses 1:9-11).
 
Graça e Paz,

Fernando Angelim
 
Referências
 
A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado por
C.H. Spurgeon. 9ª ed. Francisco Morato: O Estandarte de Cristo, 2019.
BARCELLOS, Richard C. Response to Schreiner on the Sabbath: #3. Covenant
Baptist Theological Seminary, Disponível em:
https://cbtseminary.org/response-to-schreiner-on-the-sabbath-3/. Acesso
em: 19 dez. 2020.

__________. The Translation of the Phrase “the Lord’s Day”. RBAP, 2016.
Disponível em: <https://www.rbap.net/the-translation-of-the-phrase-the-
lords-day/>. Acesso em: 05 de nov. de 2019.
__________. Como Os ‘usos da lei… harmoniosamente condizem com… a graça
do Evangelho’ (CFB1689 19.7). Disponível em:
<https://oestandartedecristo.com201903/21/como-os-usos-da-lei-
harmoniosamente-condizem-com-a-graca-do-evangelho-cfb1689-19-7-por-
richard-barcellos/>. Acesso em 16 de jan. de 2020.

__________. O Pacto de Obras: Suas Bases Confessionais e Bíblicas. 1ª ed. São


Paulo: O Estandarte de Cristo, 2019. Edição Kindle.
__________. Quatro Princípios da Hermenêutica Clássica. O Estandarte de Cristo,
2019. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com 201903/22/quatro-
principios-da-hermeneutica-classica-richard-barcellos/> Acesso em: 26 set.
2019.

BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Prolegômenos. Vol. 1. São Paulo: 1ª


ed. Cultura Cristã, 2012.
BÍBLIA, Bíblia de Estudo Macarthur, Almeida Revista e Atualizada. Barueri: SBB,
2010. p. 1780.

BOOR, Werner de. Comentário Esperança. Atos dos Apóstolos. Curitiba: Editora
Evangélica Esperança, 2002.

BUNYAN, John. The Works of John Bunyan, 2 ed. Edinburg: Banner of Truth, 1991.
p. 374. Apud MCNAUGHTON, Ian. Shabbath: O Dia do Senhor Disponível
em: <http://www.monergismo.com/ textos/dez_mandamentos/shabbath-
dia-Senhor_McNaughton.pdf >. Acesso em 29 de fev. de 2020.
CALVINO, João. As Institutas. Edição Clássica, vol., 2. 2ª ed. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2006.

__________. Evangelho Segundo João. Vol. 1. São José dos Campos: Editora Fiel,
2015.
__________. Romanos. São José dos Campos: Editora Fiel, 2013.

CAMPOS, Heber C. A Teologia é uma ciência? Voltemos ao Evangelho. São José


dos Campos, 2019. Disponível em:
<https://voltemosaoevangelho.com/blog201904/a-teologia-e-uma-
ciencia/>. Acesso em: 24 de set. de 2019.
CHUTE; Anthony.L.; FINN, Nathan A.; HAYKIN, Michael A.G. The Baptist Story:
From English Sect to Global Movement. Nashville: B&H Academic, 2015.

CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 25.2 e 28.4. Monergismo. Disponível em:


<http://www.monergismo.com/textos/credos/ cfw.htm>. Acesso em: 02 de
mar. de 2020.
COLLINS, B. Lei de Deus. In: ELLIS, B.; WARD, M. & PARKS, J. (Orgs.). Sumário de
Teologia Lexham. Bellingham: Lexham Press, 2018.

Comentário Bíblico: Vida Nova / D.A.Carson… [et al.] – São Paulo: Vida Nova
2009.

COXE, Nehemiah; OWEN, John. Covenant Theology: from Adam to Christª ed.
Ronald D. Miller, James M. Renihan, and Francisco Orozco. Palmdale:
Reformed Baptist Academic Press, 2005.
DAGG, John L. Manual de Teologia. 3ª ed. São José dos Campos: Editora Fiel. São
José dos Campos, 2003.
DENAULT, Pascal. Os Distintivos da Teologia Pactual Batista: Uma Comparação
entre o Federalismo dos Batistas Particulares e dos Pedobatistas do Século
XVII. 1ª ed. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2018.
__________. Os Três Pactos de Deus: Pacto de Obras, Pacto da Graça e Pacto da
Redenção. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2017. p. 6. Disponível em:
<https://oestandartedecristo.comhttps:oestandartedecristo lojaos-tres-
pactos-de-deus-pacto-de-obras-pacto-da-graca-e-pacto-da-redencao-por-
pascal-denault/>. Acesso em: 13 de out. de 2019.
DISCIPULADO HEARTY CRY. A Vida Cristã. Lição 14, s.d.
DIXHOORN, Chad Van. Guia de Estudos da Confissão de Fé de Westminster. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2017. p. 253.
DORN, Douglas Van. Covenant Theology a Reformed Baptist Primer. Colorado:
Waters of Creation Publishing, 2014.
EDWARDS, Jonathan. A Mudança a Perpetuidade do Sabath. O Estandarte de
Cristo, 2015. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com
https:oestandartedecristolojaa-mudanca-a-perpetuidade-do-sabath-por-
jonathan-edwards/>. Acesso em: 14 de nov. de 2019.
ELTON, G.R. The New Cambridge Modern History. Vol. II. 1520-1559. Cambridge
At The University Press, 1958.
FOULKES, Francis. Efésios – Introdução e comentário. Série Cultura Bíblica. São
Paulo: Vida Nova, 2011.
GEERHARDUS, Vos. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. 1ª ed. São
Paulo: Editora Cultura Cristã. 2010.

GIBSON, David.; GIBSON, Jonathan. Do Céu Cristo Veio Buscá-la. A Expiação


Definida na Perspectiva Histórica, Bíblica, Teológica e Pastoral. São José dos
Campos: Editora Fiel, 2018.
GILL, John. Exposição da Bíblia. Disponível em:
<https://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-
bible/1-corinthians-16-2.html>. Acesso em 30 de jan. de 2020.

GOLDSWORTHY, Graeme. Introdução à Teologia Bíblica. O Desenvolvimento do


Evangelho em Toda a Escritura. São Paulo: Vida Nova, 2018.
GONZÁLEZ, Justo. Breve Dicionário de Teologia. São Paulo: Hagnos, 2009.
GRIFFITHS, Phillip D.R. Covenant Theology: A Reformed Baptist Perspective.
Eugene, Oregon: Wipf and Stock, 2016. Edição Kindle.
HAMILTON JR., James M. O que é Teologia Bíblica?: Um guia para a história, o
simbolismo e os modelos da Bíblia. São José dos Campos: Editora Fiel.
2016. Edição Kindle.
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Lucas. 2ª ed. v. 2. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2014.
__________. Comentário do Novo Testamento – 1 e 2 Timóteo e Tito. C.A.B. Marra
(Org.). 2ª ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011.
__________. Comentário do Novo Testamento – João. 2ª ed. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2014.
__________. Comentário do Novo Testamento – Mateus. 2ª ed. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2010.
HICKS, Tom. Hermenêutica: A Prioridade do Novo Testamento. O Estandarte de
Cristo, 2017. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com/2017
0708/hermeneutica-a-prioridade-do-novo-testamento-por-tom-hicks/>.
Acesso em: 24 de set. de 2019.
__________. Teologia Pactual: A Lei, a Justificação e a Santificação. Disponível em:
< https://oestandartedecristo.com/2020/01/04/teologia-pactual-a-lei-a-
justificacao-e-a-santificacao-%E2%94%82-por-tom-hicks/>. Acesso em 07
de jan. de 2020.
HULSE, Erroll. Como os Batistas se Relacionam com os Puritanos? (Anexo II). In
Quem Foram os Puritanos?… e o que eles ensinaram? 1ª ed. São Paulo:
Editora PES, 2004.

JOHNSON, Jeffrey D. A Confissão de 1689 e a Teologia Pactual. O Estandarte de


Cristo, 2019. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com/2019
0322/a-confissao-de-1689-e-a-teologia-pactual-jeff-johnson/>. Acesso em:
02 de jan. de 2020.
__________. A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil e o
Dicotomismo Pactual: Continuidade e Descontinuidade dos Pactos de Deus.
São Paulo: 1ª ed. O Estandarte de Cristo, 2018.

__________. The Kingdom of God: A Baptist Expression of Covenant Theology.


Conway: Free Grace Press, 2016. Edição Kindle.
KASCHEL, W.; ZIMMER, R. In: Dicionário da Bíblia de Almeida. 2 ed. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

KEACH, Benjamin. Cristo: O Nosso Fiador no Pacto da Graça. Disponível em:


<https://oestandartedecristo.com/2020/01/15/cristo-o-nosso-fiador-no-
pacto-da-graca-poor-benjamin-keach/>. Acesso em 07 de fev. de 2020.

KISTEMAKER, S. J. Comentário do Novo Testamento – Epístolas de Pedro e Judas.


São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006.
__________. Comentário do Novo Testamento – Apocalipse. 2ª ed. São Paulo:
Editora Cultura Cristã, 2014.

__________. Comentário do Novo Testamento – Atos. 2ª ed. São Paulo: Editora


Cultura Cristã, 2016. p.
LADD, George. Apocalipse. Série Cultura Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2006.

LLOYD-JONES, David Martyn. Os Puritanos: Suas Origens e Seus Sucessores. São


Paulo: PES, 1993.
MALONE, Fred. Um Cordão de Pérolas Soltas. Uma Jornada Teológica no Batismo
de Crentes. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com 20150806um-
cordao-de-perolas-soltas-uma-jornada-teologica-no-batismo-de-crentes-por-
fred-a-malone/>. Acesso em 07 de jan. de 2020.
MARBLE, Gary. Um Comentário da Confissão de Fé Batista de 1689 – Capítulo 7,
A Aliança de Deus. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2015. Disponível em:
https://oestandartedecristo.com201903/21 um-comentario-da-confissao-de-
fe-batista-de-1689-por-gary-marble-capitulo-7-sobre-a-alianca-de-deus>.
Acesso em: 02 mar. 2020.
MARTIN, Albert N. As Implicações Práticas do Calvinismo. Recife: Os Puritanos,
2001.

MATOS, Alderi. Confissão de Fé de Westminster. Centro Presbiteriano de Pós-


Graduação Andrew Jumper, São Paulo-SP, 2019. (Anotações pessoais.)
MURRAY, J. Romanos: Comentário Bíblico. São José dos Campos, SP: 1ª ed.
Editora Fiel, 2016
NETTLES, Thomas J. The Baptists: key people involved in forming a baptist
identity. Fearn: Christian Focus Publications, 2005.

NICODEMUS, Augustus. O Senhor do Sábado, 2017. Vídeo (37 min). Publicado


pelo canal: Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=HVho123arr0&fbclid=IwAR0JJJ
xiCrdRW8vpJ4BKLtY2v2DFWxbUAO_n_SvgwjZGwLDbfdip7-piPC0>. Acesso
em: 06 de nov. de 2019.
NIEDERWIMMER, K; ATTRIDGE, H.W. (ed.). The Didache. A Commentary.
Minneapolis: Fortress Press, 1998.
OLYOTT, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2012.

__________. O Uso Correto do Dia do Senhor. Ministério Fiel, 2006. Disponível em:
<https://ministeriofiel.com.br/artigos/o-uso-correto-do-dia-do-senhor/>.
Acesso em: 05 de nov. de 2019.
OSWALT, John. Isaías. Vol. 1. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011.

OWEN, John. A Doutrina da Trindade Provada pela Bíblia. São Paulo: O


Estandarte de Cristo, 2019.
__________. Como Observar o Dia do Senhor. O Estandarte de Cristo, 2016.
Disponível em: <https://oestandartedecristo.comhttps:
oestandartedecristolojacomo-observar-o-dia-do-senhor-por-john -owen/>.
Acesso em: 05 de nov. de 2019.

PERMAN, Matt. What Does John Piper Believe About Dispensationalism,


Covenant Theology, and New Covenant Theology? Desiring God, 2006.
Disponível em: <https://www.desiringgod.org/articles/what-does-john-piper-
believe-about-dispensationalism-covenant-theology-and-new-covenant-
theology?lang=pt>. Acesso em: 24 de set. de 2019.
PINK, A.W. As Alianças Divinas: De Redenção e de Obras. Edição Kindle.

__________. Divine Covenants, Reformed Church Publications, 2009. Edição do


Kindle.
__________. O Pacto com Davi: Uma resposta à literalidade dos milenaristas.
Edição do Kindle.

__________. Os Dez Mandamentos. Edições Calcedônia, 2015. Edição do Kindle


PIPA, Joseph A. O Dia Mudado; A Obrigação Não Mudada (Colossenses 2:16,17).
Monergismo, Disponível em: http://www.monergismo.com/tex-
tos/dez_mandamentos/dia_mudado.htm. Acesso em: 05 nov. 2019.

PORTELA, Solano. A Lei de Deus hoje. Recife: Os Puritanos, 2004.


RENIHAN, James M. Resolving Problems in Colossians 2:16-17. IBRS Theological
Seminary, Disponível em: https://irbsseminary.org/resolving-problems-
colossians-216-17-2/. Acesso em: 19 dez. 2020.
RENIHAN, James; RENIHAN, Samuel; BARCELLOS, Richard. Federalismo Batista –
Federalismo Batista x Federalismo Westminster (Parte 3). Vídeo (13 min).
Publicado pelo canal: Batista 1689. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=fkzUXsvo3GM>. Acesso em: 22. de
nov. de 2019.

RENIHAN, Micah; RENIHAN, Samuel. Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.


São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2016. Disponível em:
<https://oestandartedecristo.comhttps:oestandartedecristolojateologia-
biblica-batista-reformada-pactual-por-micah-renihan-e-samuel-renihan/>.
Acesso em: 03. de jan. de 2020.
RENIHAN, Mike. O Pacto da Graça. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2014.
Disponível em: <https://oestandartedecristo.com/data/OPactodaGraC
_aMikeRenihanCartaCircularARBCA2001.pdf>. Acesso em: 15 de out. de
2019.
RENIHAN, Samuel. From Shadow to Substance: The Federal Theology of the
English Particular Baptists (1642-1704). Macon: Centre for Baptist History
and Heritage, 2018.

__________. O Argumento em Favor do Credobatismo. O Estandarte de Cristo,


2019. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com/ 20190321/o-
argumento-em-favor-do-credobatismo-%E2%94% 82-por-samuel-renihan/>.
Acesso em: 22 de nov. de 2019.
__________. Reformed Baptist Covenant Theology. Disponível em:
<https://founders.org/2017/04/13/particular-baptist-covenant-theology/>.
Acesso em: 07 de jan. de 2020.
__________. Reinos y Pactos. Curso de la teología del pacto. Seminario William
Carey: Córdoba, Argentina, 2014.
ROACH, David; ROBINSON, Jeff. The Lord’s Day must be devoted to worship,
Mohler says in Ten Commandments series. Disponível em:
<https://news.sbts.edu/2006/10/05/the-lords-day-must-be-devoted-to-
worship-mohler-says-in-ten-commandments-series/>. Acesso em 07 de fev.
de 2020.
ROARK, Nick. Teologia Bíblica: como a igreja ensina o evangelho com fidelidade.
São Paulo: Vida Nova, 2018
SHEDD, William G.T. Dogmatic Theology II. Nova York: Windham Press, 2013. p.
360 apud BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 4ª ed. São Paulo: Cultura
Cristã, 2012.

SPROUL, R.C. Somos todos teólogos: Uma introdução à Teologia Sistemática.


São José dos Campos: Editora Fiel, 2017.

SPROUL, R.C. What Is the Covenant of Redemption? Ligonier Ministries, 2018.


Disponível em: <https://www.ligonier.org/blog/what-covenant-
redemption/>. Acesso em: 05 de mar. de 2019.
SPURGEON, C.H. Aliança. Disponível em: <http://www.monergismo.
com/textos/chspurgeon/alianca_spurgeon.htm>. Acesso em 07 de jan. de
2020.

__________. Cristo no Pacto Eterno, por C. H. Spurgeon. O Estandarte de Cristo.


Edição Kindle.
__________. Devocional Diário de 26 de dezembro. Voltemos ao Evangelho, 2016.
Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog 201612/26-de-
dezembro-devocional-diario-charles-spurgeon/>. Acesso em: 09 de out. de
2019.
__________. Spurgeon's Verse Expositions of the Bible – 2 Timothy 1. Study Light,
2011. Disponível em: <https://www.studylight.org/ commentaries/spe/2-
timothy-1.html>. Acesso em: 14 de jan. de 2020.
__________. O Maravilhoso Pacto, O Estandarte de Cristo. Disponível em:
<https://oestandartedecristo.com201903/21/o-maravilhoso-pacto-por-c-h-
spurgeon/>. Acesso em: 15 de jan. de 2020.

__________. Seguindo ao Cristo Ressurreto. Escola Charles Spurgeon. Disponível


em:
<http://www.escolacharlesspurgeon.com.br/files/pdf/Seguindo_Ao_Cristo_R
essurreto-Sermao_de_Spurgeon.pdf>. Acesso em: 05 de nov. de 2019.
__________. Sermão Nº 1024, O Trono da Graça. Disponível em
<https://oestandartedecristo.comhttps:oestandartedecristolojasermao-no-
1024-o-trono-da-graca-por-c-h-spurgeon/>. Acesso em 07 de jan. de 2020.

__________. A Perpetuidade da Lei de Deus. Projeto Spurgeon (Sermão pregado


no Domingo, 21 de maio de 1882 - Nº 1660), [s. d.]. Disponível em:
<http://www.projetospurgeon.com.br/wp-content uploads2013
06ebook_perpetuidade_lei_deus_spurgeon.pdf>. Acesso em 07 de fev. de
2020.
__________. Aliança. Disponível em: http://www.monergismo. com/
textos/chspurgeon/alianca_spurgeon.htm>. Acesso em 16 de jan. de 2020.
__________. Devocional – 1 Coríntios 15:45. 1ª Igreja Batista da Lapa, 2017.
Disponível em: <https://1ibl.org.br/palavra-do-dia/devocional-1-corintios-
1545/>. Acesso em: 06 de jan. de 2020.

TORBET. Robert B. A History of the Baptists. Chicago, Los Angeles: Valley Forge
the Judson Press. 1982.
TRAFFANSTEDT, Chris. Uma Introdução à História dos Batistas. O Estandarte de
Cristo, 2019. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com
201903/21/uma-introducao-a-historia-dos-batistas-por-chris-traffanstedt/>.
Acesso em: 02 de jan. de 2020.

TURRETINI, F. Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2. São Paulo: 1ª ed.


Editora Cultura Cristã, 2010.
UNDERWOOD, A.C. A History of The English Baptists. London: The Baptist Union
Publication Dept. (Kingsgate Press), 1947.
VOS, G. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: 1ª ed. Editora
Cultura Cristã, 2010.

WALDRON, Samuel. A modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of


Faith. 5 ed. Darlington: EP Books, 2016.
WALLACE, D. D., Jr. Federal Theology. In: Encyclopedia of the Reformed faith.
Louisville, KY; Edinburgh: Westminster/John Knox Press; Saint Andrew Press,
1992.
WASHER, Paul. O Chamado ao Evangelho e a Verdadeira Conversão. 1ª ed. São
José dos Campos: Editora Fiel, 2014.
WHITE, Barrington R. The English Separatist Tradition: From the Marian Martyrs
to the Pilgrim Fathers. Oxford University Press. 1971.

Sites Importantes
https://www.oestandartedecristo.com
https://www.rastrodeagua.com
https://www.chtb.com.br
http://www.1689federalism.com
https://www.rbap.net
https://www.founders.org
https://www.thecalvinist.net/1689
https://www.cbtseminary.org

 
 
 

A editora O Estandarte de Cristo é fruto de um


trabalho que começou a ser idealizado por volta
do início de 2013, por William e Camila Rebeca,
com o propósito principal de publicar traduções
de autores bíblicos fiéis. Fizemos as primeiras
publicações no dia 2 de dezembro de 2013
(publicação de 4 eBooks). De lá para cá já são
mais de 7 anos e centenas de traduções de
autores bíblicos fiéis, sobre diversos temas da fé
cristã.
 

Somos uma editora de fé cristã batista


reformada e confessional. Estamos firmemente
comprometidos com as verdades bíblicas
fielmente expostas na Confissão de Fé Batista
de 1689.

OEstandarteDeCristo.com

 
 
 

[1] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado


por C.H. Spurgeon. 9ª ed. Francisco Morato: O Estandarte de Cristo, 2019. p. 46-
47.
[2] JOHNSON, Jeffrey D. A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil e o
Dicotomismo Pactual: Continuidade e Descontinuidade dos Pactos de Deus. São
Paulo: 1ª ed. O Estandarte de Cristo, 2018. p. 303.
[3] GRIFFITHS, Phillip D.R. Covenant Theology: A Reformed Baptist Perspective.
Eugene, Oregon: Wipf and Stock, 2016. Edição Kindle. (Tradução própria.)
[4] TEIXEIRA, William. Prefácio. In: DENAULT, Pascal. Os Distintivos da Teologia
Pactual Batista: Uma Comparação entre o Federalismo dos Batistas Particulares
e dos Pedobatistas do Século XVII. 1ª ed. São Paulo: O Estandarte de Cristo,
2018. p. 29.
[5] PINK, A.W. Divine Covenants, Reformed Church Publications, 2009. Edição do
Kindle.
[6] COXE, Nehemiah; OWEN, John. Covenant Theology: from Adam to Christ. ed.
Ronald D. Miller, James M. Renihan, and Francisco Orozco. Palmdale: Reformed
Baptist Academic Press, 2005. p. 42. (Tradução própria.)
[7] SPURGEON, C.H. O Maravilhoso Pacto. O Estandarte de Cristo. Disponível em:
<https://oestandartedecristo.com201903/21/o-maravilhoso-pacto-por-c-h-
spurgeon/>. Acesso em: 15 de jan. de 2020.
[8] CAMPOS, Heber C. A Teologia é uma ciência? Voltemos ao Evangelho. São
José dos Campos, 2019. Disponível em:
<https://voltemosaoevangelho.com/blog201904/a-teologia-e-uma-ciencia/>.
Acesso em: 24 de set. de 2019.
[9] Essa seção foi baseada em: GOLDSWORTHY, Graeme. Introdução à Teologia
Bíblica. O Desenvolvimento do Evangelho em Toda a Escritura. São Paulo: Vida
Nova, 2018. p. 32-35.
[10] VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. 1ª ed. São
Paulo: Editora Cultura Cristã. 2010. p. 16.
[11] Ibidem, p. 27.
[12] HAMILTON JR., James M. O que é Teologia Bíblica?: Um guia para a história,
o simbolismo e os modelos da Bíblia. São José dos Campos: Editora Fiel. 2016.
Edição Kindle.
[13] ROARK, Nick. Teologia Bíblica: como a igreja ensina o evangelho com
fidelidade. São Paulo: Vida Nova, 2018. p. 30.
[14] GOLDSWORTHY, Introdução à Teologia Bíblica. O Desenvolvimento do
Evangelho em Toda a Escritura, p. 33.
[15] OWEN, John. The Works of John Owen. ed. William H. Goold. v. 23.
Edinburgh: The Banner of Truth, 1987. p. 314-315. Apud BARCELLOS, Richard. O
Pacto de Obras: Suas Bases Confessionais e Bíblicas. 1ª ed. São Paulo: O
Estandarte de Cristo, 2019. Edição Kindle.
[16] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Lucas. 2. ed., v. 2.
São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2014. p. 653.
[17] GOLDSWORTHY, Introdução à Teologia Bíblica. O Desenvolvimento do
Evangelho em Toda a Escritura., p. 78.
[18] ROARK, Teologia Bíblica: como a igreja ensina o evangelho com fidelidade,
p. 33.
[19] PERMAN, Matt. What Does John Piper Believe About Dispensationalism,
Covenant Theology, and New Covenant Theology? Desiring God, 2006.
Disponível em: <https://www.desiringgod.org/articles/what-does-john-piper-
believe-about-dispensationalism-covenant-theology-and-new-covenant-
theology?lang=pt>. Acesso em: 24 de set. de 2019. (Tradução própria.)
[20] Há divergências entre batistas e pedobatistas no que concerne ao
desenvolvimento dessa doutrina. As diferenças não dizem respeito à essência
da teologia pactual, mas à forma como ela está configurada nas Sagradas
Escrituras. Tais divergências serão abordadas mais adiante neste estudo.
[21] WALLACE, D.D., Jr. Federal Theology. In: Encyclopedia of the Reformed faith.
Louisville, KY; Edinburgh: Westminster/John Knox Press; Saint Andrew Press,
1992. p. 136.
[22] GONZÁLEZ, Justo. Breve Dicionário de Teologia. São Paulo: Hagnos, 2009. p.
137.
[23] Esta seção é baseada em: BARCELLOS, Richard. Quatro Princípios da
Hermenêutica Clássica. O Estandarte de Cristo, 2019. Disponível em: <https:

//oestandartedecristo.com201903/22/quatro-principios-da-hermeneutica-
classica-richard-barcellos/>. Acesso em: 26 de set. de 2019.
[24] HICKS, Tom. Hermenêutica: A Prioridade do Novo Testamento. O Estandarte
de Cristo, 2017. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com/2017
0708/hermeneutica-a-prioridade-do-novo-testamento-por-tom-hicks/>. Acesso
em: 24 de set. de 2019.
[25] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 33. (Tradução
própria.)
[26] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado
por C.H. Spurgeon, p. 32.
[27] BARCELLOS, Richard. Quatro Princípios da Hermenêutica Clássica.
[28] Ibidem.
[29] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado
por C.H. Spurgeon, p. 30.
[30] Ibidem, p. 46.
[31] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 259. (Tradução
própria.)
[32] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual. São Paulo:
O Estandarte de Cristo, 2016. Disponível em:
<https://oestandartedecristo.comhttps:oestandartedecristolojateologia-biblica-
batista-reformada-pactual-por-micah-renihan-e-samuel-renihan/>. Acesso em:
03. de jan. de 2020.
[33] Um indivíduo que representa um grupo. Veja o tópico 1.4. Cabeça Federal,
no cap. 4.
[34] SPURGEON, C.H. Devocional – 1 Coríntios 15:45. 1ª Igreja Batista da Lapa,
2017. Disponível em: <https://1ibl.org.br/palavra-do-dia/devocional-1-corintios-
1545/>. Acesso em: 06 de jan. de 2020.
[35] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado
por C.H. Spurgeon, p. 47.
[36] Ibidem, p. 47-48.
[37] SPURGEON, C.H. Cristo no Pacto Eterno, por C. H. Spurgeon. O Estandarte
de Cristo. Edição Kindle.
[38] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 180, 297.
(Tradução própria.)
[39] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado
por C.H. Spurgeon, p. 48.
[40] Sou grato ao presbítero Pedro Issa pela contribuição na revisão deste
capítulo e pelas preciosas sugestões e indicações de fontes de pesquisa.
[41] CHUTE; Anthony.L.; FINN, Nathan A.; HAYKIN, Michael A.G. The Baptist Story:
From English Sect to Global Movement. Nashville: B&H Academic, 2015, p. 13-
14. (Tradução própria.)
[42] Em 1524 Tyndale fugiu do país para publicar uma tradução da Bíblia em
inglês e liderar as atividades do protestantismo inglês do exterior, em 1536 ele
foi pego e queimado pelas autoridades imperiais. (ELTON, G.R. The New
Cambridge Modern History. Vol. II. 1520-1559. Cambridge At The University
Press, 1958. p. 227. [Tradução própria.]).
[43] ELTON, G.R. The New Cambridge Modern History. Vol. II. 1520-1559.
Cambridge At The University Press, 1958. p. 226. (Tradução própria.)
[44] Ibidem, p. 228.
[45] Devo partes desta seção ao diálogo e revisão de Pedro Issa. Para
informações complementares sobre história e teologia batista do século XVII,
visite seu site: www.rastrodeagua.com.
[46] Em 1539, Henrique VIII impôs os Seis Artigos, com severas punições para
os transgressores (“o açoite sangrento de seis cordas”). Os artigos incluíam a
transubstanciação, a comunhão em uma só espécie, o celibato clerical, votos de
castidade para leigos, missas particulares, confissão auricular etc.
[47] ELTON, G.R. The New Cambridge Modern History, p. 238. (Tradução própria.)
[48] Ibidem, p. 241.
[49] Ibidem, p. 245.
[50] Ibidem, p. 246.
[51] MATOS, Alderi. Confissão de Fé de Westminster. Centro Presbiteriano de
Pós-Graduação Andrew Jumper, São Paulo-SP, 2019. (Anotações pessoais.)
[52] LLOYD-JONES, David Martyn. 1ª ed. Os Puritanos: Suas Origens e Seus
Sucessores. São Paulo: PES, 1993. p. 250.
[53] WHITE, Barrington R. The English Separatist Tradition: From the Marian
Martyrs to the Pilgrim Fathers. Oxford University Press. 1971. p. 6. (Tradução
própria.)
[54] Ibidem, p. 2.
[55] TRAFFANSTEDT, Chris. Uma Introdução à História dos Batistas. O Estandarte
de Cristo, 2019. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com
201903/21/uma-introducao-a-historia-dos-batistas-por-chris-traffanstedt/>.
Acesso em: 02 de jan. de 2020.
[56] TORBET, Robert B. A History of the Baptists. Chicago, Los Angeles: Valley
Forge the Judson Press. 1982. p. 33. (Tradução própria.)
[57] Ibidem, p. 34.
[58] Ibidem, p. 35.
[59] Ibidem, p. 37.
[60] Ibidem.
[61] TORBET, Robert B. A History of the Baptists, p. 40. (Tradução própria.)
[62] UNDERWOOD, A.C. A History of The English Baptists. London: The Baptist
Union Publication Dept. (Kingsgate Press), 1947. (Tradução própria.)
[63] TORBET, A History of the Baptists, p. 43. (Tradução própria.)
[64] Ibidem.
[65] HULSE, Erroll. Como os Batistas se Relacionam com os Puritanos? (Anexo II).
In Quem Foram os Puritanos?… e o que eles ensinaram? 1ª ed. São Paulo:
Editora PES, 2004. p. 233.
[66] NETTLES, Thomas J. The Baptists: Key People Involved In Forming A Baptist
Identity. Fearn: Christian Focus Publications, 2005. p. 317. (Tradução própria.)
[67] MARTIN, Albert N. As Implicações Práticas do Calvinismo. Recife: Os
Puritanos, 2001.
[68] DENAULT, Pascal. Os Distintivos da Teologia Pactual Batista: Uma
Comparação entre o Federalismo dos Batistas Particulares e dos Pedobatistas do
Século XVII. 1ª ed. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2018. p. 17.
[69] Ibidem.
[70] Esta seção foi baseada em: DENAULT, Pascal. Os Distintivos da Teologia
Pactual Batista: Uma Comparação entre o Federalismo dos Batistas Particulares
e dos Pedobatistas do Século XVII. 1ª ed. São Paulo: O Estandarte de Cristo,
2018.
[71] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado
por C.H. Spurgeon, p. 15.
[72] SPURGEON, C.H. O Maravilhoso Pacto.
[73] TORBET, A History of the Baptists, p. 57. (Tradução própria.)
[74] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado
por C.H. Spurgeon, p. 47-48.
[75] Cf. Comentário Bíblico: Vida Nova / D.A.Carson… [et al.] – São Paulo: Vida
Nova 2009. p. 1129.
[76] OWEN, John. The Works of John Owen. v. 23. Edinburgh: The Banner of
Truth, 1987. p. 74. Apud BARCELLOS, Richard. O Pacto de Obras: Suas Bases
Confessionais e Bíblicas.
[77] AMES, William. The Marrow of Theology. Durham: The Labyrinth Press, 1983.
p. 202. Apud BARCELLOS, Richard. O Pacto de Obras: Suas Bases Confessionais
e Bíblicas.
[78] Romanos 11:33-36.
[79] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado
por C.H. Spurgeon, p. 45.
[80] Ibidem, p. 47.
[81] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[82] Ibidem.
[83] Ibidem.
[84] Ibidem.
[85] Ibidem.
[86] OWEN, John. A Doutrina da Trindade: Provada pela Bíblia. São Paulo: O
Estandarte de Cristo, 2019. p. 9.
[87]
[88] Conferir definição de pacto/alianças nas páginas 32 e 33.
[89] SPILSBERY, John. A Treatise Concerning the Lawful Subsect of Baptism. 2ª
ed. Londres: Henry Hills, 2015. p. 26 apud DENAULT, Os Distintivos da Teologia
Pactual Batista, p. 170.
[90] RENIHAN, Samuel. Reinos y Pactos. Curso de la teología del pacto.
Seminario William Carey: Córdoba, Argentina, 2014. p. 7. (Tradução própria.)
[91] BARCELLOS, Richard. O Pacto de Obras: Suas Bases Confessionais e
Bíblicas.
[92] Do latim lapsus: queda, refere-se à queda do homem em pecado. Pré-
lapsariano = antes da queda, pós-lapsariano = após a queda.
[93] JOHNSON, Jeffrey D. A Confissão de 1689 e a Teologia Pactual. O Estandarte
de Cristo, 2019. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com/2019 0322/a-
confissao-de-1689-e-a-teologia-pactual-jeff-johnson/>. Acesso em: 02 de jan. de
2020.
[94] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano Compilado
por C.H. Spurgeon, p. 75.
[95] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 43-44.
(Tradução própria.)
[96] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 62.
[97] RENIHAN, Samuel. Reinos y Pactos, p. 16. (Tradução própria.)
[98] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 45. (Tradução
própria.)
[99] KLINE, Meredith, G. Kingdom Prologue: Genesis Foundations for a
Covenantal Worldview. Overland Park: Two Age Press, 2000, p. 14. Apud
RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[100] OSWALT, John. Isaías. Vol. 1. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011. p.
541.
[101] BARCELLOS, Richard. O Pacto de Obras: Suas Bases Confessionais e
Bíblicas.
[102] WARFIELD, B.B. Hosea VI.7: Adam or Man. In: MACHEN, J. G. Selected
Shorter Writings: Benjamin B. Warfield. Editor: John E. Meeter. Phillipsburg: P&R
Publishing, 2001. p. 128. Apud RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada
Batista Pactual.
[103] BARCELLOS, Richard. O Pacto de Obras: Suas Bases Confessionais e
Bíblicas.
[104] DENAULT, Os Três Pactos de Deus, São Paulo: O Estandarte de Cristo,
2017. p. 6. Disponível em:
<https://oestandartedecristo.comhttps:oestandartedecristo lojaos-tres-pactos-
de-deus-pacto-de-obras-pacto-da-graca-e-pacto-da-redencao-por-pascal-
denault/>. Acesso em: 13 de out. de 2019.
[105] BARCELLOS, Richard. O Pacto de Obras: Suas Bases Confessionais e
Bíblicas.
[106] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 281. (Tradução
própria.)
[107] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano
Compilado por C.H. Spurgeon, p. 45.
[108] BARCELLOS, Richard. O Pacto de Obras: Suas Bases Confessionais e
Bíblicas.
[109] COXE & OWEN. Covenant Theology: from Adam to Christ, from Adam to
Christ, p. 47-48. (Tradução própria.)
[110] JOHNSON, Jeffrey D. The Kingdom of God: A Baptist Expression of
Covenant Theology. Conway: Free Grace Press, 2016. Edição Kindle.
[111] DENAULT, Os Três Pactos de Deus, p. 6.
[112] BARCELLOS, Richard. O Pacto de Obras: Suas Bases Confessionais e
Bíblicas.
[113] SPURGEON, C.H. Devocional Diário de 26 de dezembro. Voltemos ao
Evangelho, 2016. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog
201612/26-de-dezembro-devocional-diario-charles-spurgeon/>. Acesso em: 09
de out. de 2019.
[114] BARCELLOS, Richard. O Pacto de Obras: Suas Bases Confessionais e
Bíblicas.
[115] DENAULT, Os Três Pactos de Deus, p. 8.
[116] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano
Compilado por C.H. Spurgeon, p. 47.
[117] RENIHAN, Mike. O Pacto da Graça. São Paulo: O Estandarte de Cristo,
2014. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com/data/OPactodaGraC
_aMikeRenihanCartaCircularARBCA2001.pdf>. Acesso em: 15 de out. de 2019.
[118] The Doctrine of the Law and Grace Unfolded, The Works of John Bunyan,
Carlisle, Banner of Truth Trust, 1991, Vol. 1. p. 540s. In DENAULT, Os Distintivos
da Teologia Pactual Batista, p. 102. (Nota de rodapé.)
[119] DENAULT, Os Três Pactos de Deus, p. 62.
[120] JOHNSON, Jeffrey D. The Kingdom of God: A Baptist Expression of
Covenant Theology. (Tradução própria.)
[121] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 185. (Tradução
própria.)
[122] SPURGEON, C.H. O Trono da Graça. Disponível em:
<https://oestandartedecristo.comhttps:oestandartedecristolojasermao-no-1024-
o-trono-da-graca-por-c-h-spurgeon/>. Acesso em 07 de jan. de 2020.
[123] CALVINO, João. Romanos. São José dos Campos: Editora Fiel, 2013. p. 155.
[124] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[125] VOS, Geerhardus. Redemptive History and Biblical Interpretation.
Phillipsburg, NJ: P&R, 2001. p. 199. Apud RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica
Reformada Batista Pactual.
[126] BAVINCK, Herman, Reformed Dogmatics. Vol. III (Grand Rapids: Baker,
2006). p. 215-16. Apud RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista
Pactual.
[127] GILL, John. Body of Divinity, 1769. p. 348. Apud GRIFFITHS, Phillip D.R.
Covenant Theology: A Reformed Baptist Perspective. (Tradução própria.)
[128] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano
Compilado por C.H. Spurgeon, p. 51.
[129] GRIFFITHS, Covenant Theology: A Reformed Baptist Perspective. (Tradução
própria.)
[130] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 180. (Tradução
própria.)
[131] PINK, A.W. As Alianças Divinas: De Redenção e de Obras. Edição Kindle.
[132] DORN, Douglas Van. Covenant Theology a Reformed Baptist Primer.
Colorado: Waters of Creation Publishing, 2014. p. 48. (Tradução própria.)
[133] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 182-183.
(Tradução própria.)
[134] Ibidem.
[135] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 164.
[136] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 72-73.
(Tradução própria.)
[137] Ibidem.
[138] WASHER, Paul. O Chamado ao Evangelho e a Verdadeira Conversão. São
José dos Campos: Editora Fiel, 2014. p. 142.
[139] SPURGEON, C.H. Aliança. Disponível em: <http://www.monergismo.
com/textos/chspurgeon/alianca_spurgeon.htm>. Acesso em 07 de jan. de 2020.
[140] PINK, A.W. O Pacto com Davi: Uma resposta à literalidade dos milenaristas.
Edição do Kindle.
[141] KEACH, Benjamin. Cristo: O Nosso Fiador no Pacto da Graça. Disponível
em: <https://oestandartedecristo.com/2020/01/15/cristo-o-nosso-fiador-no-
pacto-da-graca-poor-benjamin-keach/>. Acesso em 07 de fev. de 2020.
[142] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[143] SPURGEON, C.H. Aliança.
[144] WASHER, O Chamado ao Evangelho e a Verdadeira Conversão, p. 142.
[145] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 123.
[146] Ibidem.
[147] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano
Compilado por C.H. Spurgeon, p. 47.
[148] SPURGEON, C.H. O Maravilhoso Pacto.
[149] SPROUL, R.C. What Is the Covenant of Redemption? Ligonier Ministries,
2018. Disponível em: <https://www.ligonier.org/blog/what-covenant-
redemption/>. Acesso em: 05 de mar. de 2019. (Tradução própria.)
[150] PINK, A.W. Divine Covenants, Reformed Church Publications.
[151] PINK, A.W. As Alianças Divinas: De Redenção e de Obras.
[152] SPROUL, R.C. Somos Todos Teólogos: Uma Introdução à Teologia
Sistemática. São José dos Campos: Editora Fiel, 2017. p. 183.
[153] GIBSON, David.; GIBSON, Jonathan. Do Céu Cristo Veio Buscá-la. A
Expiação Definida na Perspectiva Histórica, Bíblica, Teológica e Pastoral. São
José dos Campos: Editora Fiel, 2018. p. 256.
[154] DENAULT, Os Três Pactos de Deus, p. 13.
[155] MARBLE, Gary. Um Comentário da Confissão de Fé Batista de 1689 –
Capítulo 7, A Aliança de Deus. São Paulo: O Estandarte de Cristo, 2015.
Disponível em: https://oestandartedecristo.com201903/21um-comentario-da-
confissao-de-fe-batista-de-1689-por-gary-marble-capitulo-7-sobre-a-alianca-de-
deus>. Acesso em: 02 mar. 2020.
[156] SHEDD, William G.T. Dogmatic Theology II. Nova York: Windham Press,
2013. p. 360 apud BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 4ª ed. São Paulo:
Cultura Cristã, 2012. p. 265.
[157] WALDRON, Samuel. A Modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of
Faith. 5 ed. Darlington: EP Books, 2016. p. 131.
[158] SPURGEON, C.H. Spurgeon’s Verse Expositions of the Bible – 2 Timothy 1.
Study Light, 2011. Disponível em:
<https://www.studylight.org/commentaries/spe/2-timothy-1.html>. Acesso em:
14 de jan. de 2020.
[159] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – 1 e 2 Timóteo e
Tito. C. A. B. Marra (Org.). 2ª ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011. p. 287.
[160] BAVINCK, Herman. Reformed Dogmatics. v. 3. Grand Rapids: Baker, 2006.
p. 405. Apud RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[161] DENAULT, Os Três Pactos de Deus, p. 14.
[162] FOULKES, Francis. Efésios – Introdução e comentário. Série Cultura Bíblica.
São Paulo: Vida Nova, 2011. p. 41.
[163] Dagg utiliza uma nomenclatura diferente para referir-se ao mesmo
assunto. Ele chama de “Pacto da Graça” o que chamamos de “Pacto da
Redenção” e o que chamamos de “Pacto da Graça”, Dagg chama de "Nova
Aliança". Portanto, diz a mesma coisa com outros termos. Conforme: DAGG, John
L. Manual de Teologia. 3ª ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2003. p. 214.
[164] KISTEMAKER, S. J. Comentário do Novo Testamento – Epístolas de Pedro e
Judas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006. p. 93.
[165] KISTEMAKER, S.J. Comentário do Novo Testamento – Apocalipse. 2ª ed. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2014. p. 499.
[166] DENAULT, Os Três Pactos de Deus, p. 14.
[167] PINK, A.W. As Alianças Divinas: De Redenção e de Obras.
[168] DAGG, John L. Manual de Teologia. 3ª ed. São José dos Campos: Editora
Fiel. São José dos Campos, 2003. p. 204.
[169] Louis Berkhof complementa, afirmando que “a Escritura indica claramente
o fato de que o plano da redenção estava incluído no decreto ou conselho
eterno de Deus, Efésios 1:4ss, 3.11; 2 Tessalonicenses 2:13; 2 Timóteo 1:9;
Tiago 2:5; 1 Pedro 1:2 etc. Pois bem, vemos que, na economia da redenção, em
certo sentido, há uma divisão de trabalho: o Pai é originador; o Filho, o executor,
e o Espírito Santo, o aplicador. Isto só pode ser resultado de um acordo
voluntário entre as pessoas da Trindade, de sorte que as suas relações internas
assumem a forma de uma vida pactual”: In BERKHOF, Louis. Teologia
Sistemática. 4ª ed. (Revisada). São Paulo: Cultura Cristã, 2012. p. 247-248.
[170] DENAULT, Os Três Pactos de Deus, p. 14.
[171] Esta seção, destacando a obra de cada pessoa da Trindade na estrutura
do Pacto da Redenção, foi baseada na Teologia Sistemática de Wayne Grudem
(GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 248.) e
no artigo Os Três Pactos de Deus, por Pascal Denault (DENAULT, Os Três Pactos
de Deus)
[172] SPROUL, Somos Todos Teólogos, p. 184.
[173] PINK, A.W. As Alianças Divinas: De Redenção e de Obras.
[174] SPROUL, Somos Todos Teólogos, p. 184-185.
[175] WALDRON, A Modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of Faith, p.
131.
[176] RENIHAN, Samuel. From Shadow to Substance: The Federal Theology of
the English Particular Baptists (1642-1704). Macon: Centre for Baptist History
and Heritage, 2018. p. 236.
[177] Ibidem, p. 238.
[178] HICKS, Tom. Teologia Pactual: A Lei, a Justificação e a Santificação.
Disponível em: < https://oestandartedecristo.com/2020/01/04/teologia-pactual-
a-lei-a-justificacao-e-a-santificacao-%E2%94%82-por-tom-hicks/>. Acesso em 07
de jan. de 2020.
[179] CALVINO, João. Evangelho Segundo João. Vol. 1. São José dos Campos:
Editora Fiel, 2015. p. 273.
[180] HICKS, Tom. Teologia Pactual: A Lei, a Justificação e a Santificação.
[181] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[182] GRIFFITHS, Phillip D.R. Covenant Theology: A Reformed Baptist
Perspective. (Tradução própria.)
[183] SPURGEON, C.H. Cristo no Pacto Eterno. São Paulo: O Estandarte de Cristo,
2016. Edição Kindle.
[184] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 143.
[185] Ibidem, p. 144.
[186] VOS, Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos, p. 41-42.
[187] EDWARDS, Jonathan. Works of President Edwards. University of Michigan
Library, 1965. Apud GRIFFITHS, Phillip D.R. Covenant Theology: A Reformed
Baptist Perspective (Tradução própria.)
[188] RENIHAN, Samuel. Reformed Baptist Covenant Theology. Disponível em:
<https://founders.org/2017/04/13/particular-baptist-covenant-theology />.
Acesso em: 07 de jan. de 2020.
[189] SPILSBERY, John. A Treatise Concerning the Lawful Subsect of Baptism. 2ª
ed. Londres: Henry Hills, 2015. p. 6. Apud DENAULT, Os Distintivos da Teologia
Pactual Batista, p. 168.
[190] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 164.
[191] WASHER, Paul. O Chamado ao Evangelho e a Verdadeira Conversão, p.
152-153.
[192] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 171.
[193] Ibidem, p. 180.
[194] JOHNSON, A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil e o
Dicotomismo Pactual, p. 219.
[195] OWEN, John. An Exposition of the Epistle to the Hebrews, v. 1. Sydney:
Wentworth Press, 2019. p. 122. Apud DENAULT, Os Distintivos da Teologia
Pactual Batista, p. 181.
[196] JOHNSON, A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil e o
Dicotomismo Pactual, p. 215.
[197] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 189-190.

 
[198] Benjamin Keach, The Display of Glorious Grace. p. 15. Apud DENAULT, Os
Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 187.
[199] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 188.
[200] John Owen, An Exposition of Hebrews 8:6-13, p. 197-8. Apud DENAULT, Os
Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 190.
[201] RENIHAN, From Shadow to Substance: The Federal Theology of the English
Particular Baptists (1642-1704). p. 195-196. (Tradução própria.)
[202] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 173-174.
(Tradução própria.)
[203] OLYOTT, Stuart. A Carta aos Hebreus Bem Explicadinha. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2012. p. 74.
[204]SPURGEON, C.H. Aliança.
[205] WASHER, O Chamado ao Evangelho e a Verdadeira Conversão, p. 198-199.
[206] JOHNSON, The Kingdom of God: A Baptist Expression of Covenant
Theology. (Tradução própria.)
[207] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[208] WASHER, O Chamado ao Evangelho e a Verdadeira Conversão, p. 145.
[209] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[210] MALONE, Fred. Um Cordão de Pérolas Soltas. Uma Jornada Teológica no
Batismo de Crentes. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com
20150806um-cordao-de-perolas-soltas-uma-jornada-teologica-no-batis-mo-de-
crentes-por-fred-a-malone/>. Acesso em 07 de jan. de 2020.
[211] JOHNSON, Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil e o
Dicotomismo Pactual, p. 235.
[212] JOHNSON, The Kingdom of God: A Baptist Expression of Covenant
Theology. (Tradução própria.)
[213] WALDRON, A Modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of Faith, p.
279. (Tradução própria.)
[214] COLLINS, B. Lei de Deus. In: ELLIS, B.; WARD, M. & PARKS, J. (Orgs.).
Sumário de Teologia Lexham. Bellingham: Lexham Press, 2018. (Tradução
própria.)
[215] BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Prolegômenos. Vol. 1. São
Paulo: 1ª ed. Cultura Cristã, 2012. p. 116.
[216] PINK, A.W. Os Dez Mandamentos. Edições Calcedônia, 2015. Edição do
Kindle
[217] JOHNSON, A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil e o
Dicotomismo Pactual, p. 362.
[218] WALDRON, Samuel. The Lord’s Day: Its Presuppositions, Proofs,
Precedents, and Practice. Chapel Library. Edição Kindle. (Tradução própria.)
[219] BARCELLOS, Richard. Como Os ‘usos da lei… harmoniosamente condizem
com… a graça do Evangelho’ (CFB1689 19.7). Disponível em:
<https://oestandartedecristo.com201903/21/como-os-usos-da-lei-
harmoniosamente-condizem-com-a-graca-do-evangelho-cfb1689-19-7-por-
richard-barcellos/>. Acesso em 16 de jan. de 2020.
[220] CALVINO, João. As Institutas. Edição Clássica. Vol. 2. 2ª ed. São Paulo:
Editora Cultura Cristã, 2006. p. 129.
[221] Baseado em DIXHOORN, Chad Van. Guia de Estudos da Confissão de Fé de
Westminster. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2017. p. 253.
[222] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano
Compilado por C.H. Spurgeon, p. 154-155.
[223] SPURGEON, C.H. A Perpetuidade da Lei de Deus. Projeto Spurgeon
(Sermão pregado no Domingo, 21 de maio de 1882 - Nº 1660), [s. d.]. Disponível
em: <http://www.projetospurgeon.com.br/wp-contentuploads201306
ebook_perpetuidade_lei_deus_spurgeon.pdf>. Acesso em 07 de fev. de 2020.
[224] DIXHOORN, Guia de Estudos da Confissão de Fé de Westminster, p. 256.
[225] KEACH, Benjamin. Cristo: O Nosso Fiador no Pacto da Graça.
[226] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Mateus. 2ª ed.
Vol. 1. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010. p. 361.
[227] SPURGEON, C.H. A Perpetuidade da Lei de Deus.
[228] SPURGEON, C.H. O Maravilhoso Pacto.
[229] WALDRON, The Lord’s Day: Its Presuppositions, Proofs, Precedents, and
Practice. (Tradução própria.)
[230] WASHER, O Chamado ao Evangelho e a Verdadeira Conversão, p. 146.
[231] PINK, A.W. Os Dez Mandamentos.
[232] KEACH, Benjamin. Cristo: O Nosso Fiador no Pacto da Graça.
[233] SPURGEON, C.H. A Perpetuidade da Lei de Deus.
[234] BARCELLOS, Richard. Como Os ‘usos da lei… harmoniosamente condizem
com… a graça do Evangelho’ (CFB1689 19.7).
[235] SPURGEON, C.H. A Perpetuidade da Lei de Deus.
[236] Ibidem.
[237] TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2. São Paulo: 1ª ed.
Editora Cultura Cristã, 2010. p. 185.
[238] JOHNSON, A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil e o
Dicotomismo Pactual, p. 363-364.
[239] PINK, A.W. Os Dez Mandamentos.
[240] SPURGEON, C.H. A Perpetuidade da Lei de Deus.
[241] DISCIPULADO HEARTY CRY. A Vida Cristã. Lição 14, s.d.
[242] SPURGEON, C.H. A Perpetuidade da Lei de Deus.
[243] VOS, Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos, p. 176.
[244] SPURGEON, C.H. Seguindo ao Cristo Ressurreto. Escola Charles Spurgeon.
Disponível em: <http://www.escolacharlesspurgeon.com.br/files/pdf/
Seguindo_Ao_Cristo_Ressurreto-Sermao_de_Spurgeon.pdf>. Acesso em: 05 de
nov. de 2019.
[245] VOS, G. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos, p. 176-177.
[246] TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2, p. 124.
[247] DIXHOORN, Guia de Estudos da Confissão de Fé de Westminster, p. 301.
[248] Ibidem, p. 301.
[249] NICODEMUS, Augustus. O Senhor do Sábado, 2017. Vídeo (37 min).
Publicado pelo canal: Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=HVho123arr0&fbclid=IwAR0JJJ
xiCrdRW8vpJ4BKLtY2v2DFWxbUAO_n_SvgwjZGwLDbfdip7-piPC0>. Acesso em:
06 de nov. de 2019.
[250] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Mateus, p. 585.
[251] Ibidem.
[252] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – João. 2ª ed. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2014. p. 788.
[253] Ibidem, p. 796.
[254] BUNYAN, John. The Works of John Bunyan, 2 ed. Edinburg: Banner of Truth,
1991. p. 374. Apud MCNAUGHTON, Ian. Shabbath: O Dia do Senhor Disponível
em: <http://www.monergismo.com/textos/dez_mandamentos /shabbath-dia-
Senhor_McNaughton.pdf> Acesso em 29 de fev. de 2020.
[255] PORTELA, Solano. A Lei de Deus hoje. Recife: Os Puritanos, 2004. p. 88.
[256] KISTEMAKER, S.J. Comentário do Novo Testamento – Atos. 2ª ed. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2016. p. 285.
[257] BOOR, Werner de. Comentário Esperança. Atos dos Apóstolos. Curitiba:
Editora Evangélica Esperança, 2002. p. 291.
[258] TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2, p. 125.
[259] TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2, p. 126.
[260] GILL, John. Exposição da Bíblia. Disponível em:
<https://www.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/1-
corinthians-16-2.html>. Acesso em 30 de jan. de 2020.
[261] KISTEMAKER, S.J. Comentário do Novo Testamento – Atos, p. 729.
[262] KISTEMAKER, S.J. Comentário do Novo Testamento – Apocalipse, p. 128.
[263] GILL, John. Exposição da Bíblia.
[264] TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2, p. 126.
[265] BÍBLIA, Bíblia de Estudo Macarthur, Almeida Revista e Atualizada. Barueri:
SBB, 2010. p. 1780.
[266] LADD, George. Apocalipse. Série Cultura Bíblica. São Paulo: Vida Nova,
2006. p. 26.
[267] BARCELLOS, Richard C. The Translation of the Phrase “the Lord’s Day”.
RBAP, 2016. Disponível em: <https://www.rbap.net/the-translation-of-the-
phrase-the-lords-day/>. Acesso em: 05 de nov. de 2019. (Tradução própria.)
[268] EDWARDS, Jonathan. A Mudança a Perpetuidade do Sabath. O Estandarte
de Cristo, 2015. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com
https:oestandartedecristolojaa-mudanca-a-perpetuidade-do-sabath-por-
jonathan-edwards/>. Acesso em: 14 de nov. de 2019.
[269] TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2., p. 128.
[270] GALLASIUS. In Exodum Commentaria [1560]. p. 195 sobre Êxodo 31).
Apud TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2., p. 127.
[271] KISTEMAKER, Comentário do Novo Testamento – Atos, p. 288.
[272] NIEDERWIMMER, K; ATTRIDGE, H.W. (ed.). The Didache. A Commentary.
Minneapolis: Fortress Press, 1998. p. 195.
[273] PORTELA, A Lei de Deus Hoje, p. 88.
[274] KASCHEL, W.; ZIMMER, R. In: Dicionário da Bíblia de Almeida. 2 ed.
Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
[275] VOS, Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos, p. 177.
[276] TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2., p. 127.
[277] OLYOTT, Stuart. O Uso Correto do Dia do Senhor. Ministério Fiel, 2006.
Disponível em: <https://ministeriofiel.com.br/artigos/o-uso-correto-do-dia-do-
senhor/>. Acesso em: 05 de nov. de 2019.
[278] SPURGEON, C.H. A Perpetuidade da Lei de Deus.
[279] TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2., p. 129.
[280] ROACH, David; ROBINSON, Jeff. The Lord’s Day must be devoted to
worship, Mohler says in Ten Commandments series. Disponível em:
<https://news.sbts.edu/2006/10/05/the-lords-day-must-be-devoted-to-worship-
mohler-says-in-ten-commandments-series/>. Acesso em 07 de fev. de 2020.
(Tradução própria.)
[281] A CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1689 & Um Catecismo Puritano
Compilado por C.H. Spurgeon, p. 86-87.
[282] PINK, A.W. Os Dez Mandamentos.
[283] Embora o trabalho também deva ser realizado de maneira que glorifique a
Deus (1 Coríntios 10:31).
[284] OWEN, John. Como Observar o Dia do Senhor. O Estandarte de Cristo,
2016. Disponível em:
<https://oestandartedecristo.comhttps:oestandartedecristolojacomo-observar-o-
dia-do-senhor-por-john-owen/>. Acesso em: 05 de nov. de 2019.
[285] Ibidem.
[286] DIXHOORN, Guia de Estudos da Confissão de Fé de Westminster, p. 304.
[287] RENIHAN, James M. Resolving Problems in Colossians 2:16-17. IBRS
Theological Seminary, Disponível em: https://irbsseminary.org/resolving-
problems-colossians-216-17-2/. Acesso em: 19 dez. 2020. (Tradução própria.)
[288] Ibidem.
[289] PIPA, Joseph A. O Dia Mudado; A Obrigação Não Mudada (Colossenses
2:16,17). Monergismo, Disponível em: http://www.monergismo.com/tex-
tos/dez_mandamentos/dia_mudado.htm. Acesso em: 05 nov. 2019.
[290] MURRAY, J. Romanos: Comentário Bíblico. São José dos Campos, SP: 1ª ed.
Editora Fiel, 2016. p. 749-752.
[291] VOS, Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos, p. 177-178.
[292] BARCELLOS, Richard C. Response to Schreiner on the Sabbath: #3.
Covenant Baptist Theological Seminary, Disponível em:
https://cbtseminary.org/response-to-schreiner-on-the-sabbath-3/. Acesso em: 19
dez. 2020. (Tradução própria)
[293] RENIHAN, James M. Resolving Problems in Colossians 2:16-17. (Tradução
própria)
[294] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 34.
[295] Não teremos como esgotar o assunto, nem seremos exaustivos em
relação a esse debate. Entretanto, indicaremos alguns livros que podem ajudar
o leitor a se aprofundar nessa questão. São eles: “Os Distintivos da Teologia
Batista Pactual”, escrito por Pascal Denault, para um entendimento mais
aprofundado do assunto, recomendo enfaticamente a leitura desse livro. Outro
livro chama-se “A Falha Fatal”, por Jeffrey Johnson, que também traz uma
importante contribuição sobre o assunto. Finalmente, o livro “Teologia Pactual:
De Adão a Cristo”, por Nehemiah Coxe e John Owen. Esses materiais terão muito
a contribuir para um bom entendimento sobre o debate do ponto de vista da
teologia batista pactual. A exposição desse capítulo foi baseada em alguns
argumentos desses livros e em alguns artigos e publicações do Dr. Samuel
Renihan, entre outros conteúdos que serão mencionados.
[296] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[297] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 114-115.
[298] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 115.
[299] RENIHAN, Samuel. O Argumento em Favor do Credobatismo. O Estandarte
de Cristo, 2019. Disponível em: <https://oestandartedecristo.com 201903/21/o-
argumento-em-favor-do-credobatismo-%E2%94%82-por-samuel-renihan/>.
Acesso em: 22 de nov. de 2019.
[300] RENIHAN, Mike. O Pacto da Graça.
[301] TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2., p. 293.
[302] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 30. (Tradução
própria.)
[303] Ibidem, p. 187-188.
[304] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista, p. 56.
[305] CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 25.2 e 28.4. Monergismo. Disponível
em: <http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm>. Acesso em: 02 de
mar. de 2020.
[306] RENIHAN, Samuel. O Argumento em Favor do Credobatismo.
[307] WASHER, O Chamado ao Evangelho e a Verdadeira Conversão, p. 143.
[308] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[309] Baseado em: RENIHAN, James; RENIHAN, Samuel; BARCELLOS, Richard.
Federalismo Batista – Federalismo Batista x Federalismo Westminster (Parte 3).
Vídeo (13 min). Publicado pelo canal: Batista 1689. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=fkzUXsvo3GM>. Acesso em: 22. de nov. de
2019.
[310] WARFIELD, Benjamim B. Studies in Theology. Grand Rapids: Baker, 2003.
p. 399-400. Apud RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista
Pactual.
[311] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[312] COXE & OWEN, Covenant Theology: from Adam to Christ, p. 36. (Tradução
própria.)
[313] HICKS, Tom. Hermenêutica: A Prioridade do Novo Testamento.
[314] RENIHAN & RENIHAN, Teologia Bíblica Reformada Batista Pactual.
[315] HICKS, Tom. Hermenêutica: A Prioridade do Novo Testamento.
[316] Ibidem.
[317] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista: Uma Comparação
entre o Federalismo dos Batistas Particulares e dos Pedobatistas do Século XVII.
p. 78.
[318] Baseado em: RENIHAN, James; RENIHAN, Samuel; BARCELLOS, Richard.
Federalismo Batista – Federalismo Batista x Federalismo Westminster (Parte 3).
Vídeo (13 min). Publicado pelo canal: Batista 1689.
[319] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista: Uma Comparação
entre o Federalismo dos Batistas Particulares e dos Pedobatistas do Século XVII.
p. 154.
[320] Ibidem.
[321] DENAULT, Os Distintivos da Teologia Pactual Batista: Uma Comparação
entre o Federalismo dos Batistas Particulares e dos Pedobatistas do Século XVII.
p. 123.
[322] RENIHAN, Samuel. O Argumento em Favor do Credobatismo.
[323] “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de
Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus
caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu
conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?
Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele
eternamente. Amém” (Romanos 11:33-36).

Você também pode gostar