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is IL —Kenioo

Primeira República: economia cafeeira, |


urbanização e industrialização
José Miguel Arias Neto
Professor adjunto do Departamento de História
da Universidade Estadual de Londrina.
INTRODUÇÃO

Parece ter se consolidado no imaginário brasileiro contemporâneo a imagem,


veiculada em inúmeras publicações e meios de comunicação como rádios,
que a
jornais, televisão, de expans ãoda economia cafeeira teria promovido
“a urbanização e a industrialização do país. | Esse fenômeno encontra, sem dú-
vida, bases em determinada realidade espaço-temporal tratada pela
historiografia, pela literatura e pelo jornalismo como “modelo clássico”, a
paulista)É graças à ideia de que o sentido da históriaé dado por
saber, o caso paulista)
um movimento progressivo de mudanças etransformações cumulativas que
isso acontece. Dito de outro modo, na|medida em que a articulação da eco-
- Aomia cafeeira ao desenvolvimento urbano-industrial se processou,em fins
do século XIX e ao longo os três primeiros cênios do, século XXemSão
Paulo, e que também ocorreu um “novo e significativo” ajuste do Brasil à
dinâmica econômica internacional, pareceu a jornalistas, cronistas, roman-

A ano e caseiros meire o pas a ===


Brasil per. si, À noção de história tornou-se, assim, sinônimo de progresso,
moderniza ação, enriquecimento capit lista e o processo que se passou em São
Paulo, umbrodelo a ser seguido! A i imagem de São Paulo como locomotiva do
asil, arrastando uma série de vagões vazios, é inequívoca nesse sentido. Essa
eia é também a fonte da legitimidade do poder do fazendeiro e do indus-
ressista e promotor da modernidade do p país, é justo que tenha 0

:)
ade:
rnidade: olfazendeiro
sendeiro paulista]
ista!
|
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act rica asa
mo ma iris Atas AN Da A AS EANUUSIKRIALIZAÇÃO

O)
poa Consequentemente, aqueles que se opuseram e resistiram
ist a e sse «modelo
modelo mundo. Isto sem falar em problemas globais como o desemprego
np estrutu-
Aa | que, não se tenha nenhuma ilusão, fol imposto, ou mesmo outras regiões do ral, a cultura da violência, o esgotamento dos recursos naturais
, Os graves
A p E país cuja inserção no capitalismo se processou de outro modo, inclusive em problemas ambientais, as novas formas de autoritarismo e de genocíd
ios,
política e econômica paulista, foram classificados as guerras € o terrorismo. Em suma, no início do novo milênio fica clato
lh decorrência da hegemonia
COrliy
VaCy como tradicionais, atrasados e bárbaros. Movimentos sociais urbanos e ru- que desenvolvimento econômico, desenvolvimento humano e democr
acia
0, rais como, por exemplo, a Revolta da Vacina, ndo eniinsiada, E; Re- política não são absolutamente sinônimos e, nesse sentido, volta-se
para a
volta dos Marinheiros, foram interpretados como desvios indesejáveis da história, para tentar compreender o que se passou, como se um
erro, um
história, símbolos do atraso e da barbárie, e seus agRntes como Ratronanhas equívoco, houvesse ocorrido nesse processo.
inferiores racialmente, que não compreendiam e, por isso mesmo, não nt O sentido deste texto é, contudo, outro. Procurar-se-á demonstrar
que
o direito de questionar o processo em curso e de Ro seus próprios e a) este processo, cujo início mais visível parece ser a chamada República Velha,
nos enquanto seres humanos e brasileiros! Aee EO E pi Ainua DAS, isto é, cronologicamente o período que vai de 1889 a 1930, tem O bj
raízes mais ASP
Essa não é, contudo, a história de ontem, é também a-história de hoje: os antigas; b) que não há uma necessária associação linear e inequívoca entre Ss Taf !
na) entos e resistências
questionam istênci i
ao atual modelo neoliberal que, ii ais uma abolição — República — economia cafeeira — industrialização e urbaniza-

iisiasdcaId dá
vez não se tenha nenhuma ilusão, é imposto) continuam sendo vistos como são, isto é, que as relações históricas entre esses fenôme
tavés dos vários espaços
; midiáticos
são comple
nos xas e —
contraditórias; e, finalmente, que c) o momento presente está profun
signos do átraso! nas imagens veiculada damente
a resistência ao programa de privatizações, o MST, os movimentos urbanos articuladoa esses processos do passado. Para isso, o texto está dividido em
são representados como estando na contramão da história. Assim como O três momentos: a) uma apreciação das transformações ocorrid
as no Brasil
modelo paulista, o neoliberalismo é visto e representado cuido processo na passagem do Império para a República; b) as relações entre desenvo
lvi-
não passível de
irreversível e, portanto, questionamentos. ix disputas e o mento da economia cafeeira, da industrialização e da urbani
zação
na Repú-

TE TESF TENIS
malé Gpissiá redemocratização evidenciam esse dilema crítico na RPE E blica Velha « e c) algumas observações finais à guisa de conclusão,
Brasil: o próprio bem-estar da população deve ser tutelado pelas elites e e o
Estado para que se efetive dentro da Ordem e do Progresso, num momen
ivilegi do nãoão é maismai apenas o fazendeiro, iro, mas tambémo
em que o agente privilegia O IMPÉRIO À REPÚBLICA

Contudo, na medida em que o progresso tecnológico, econômico € O binômio café-indústria, como já dito, é tido por muitos
como a expressão
nanceiro não cumpriu)o que prometeu, isto é, não resolveu problemas ; de sintetiza um momento da história do Brasil: o da
chamada ública
“sicos como educação, saúde, bem-estar para a maioria da população: | lha ou imeira República. Esta é uma associação da qual é possível extra-
f Es
medida em que o caos urbano se instaurou em megalópolis catia São Pá alguns Problemas 4 ue demandam explicação, a saber: caracterizar a eco-
:
lo e Rio de Janeiro, cidades dominadas pela fome, pela violência, pelo tiã
em
la cafeeira, o desenvolvimento industri
. E a a EE
al e as relações
pesar, existentes
o,
A e ner enmaea o re

cias E ; as
que os programas oficiais de educação, saúde, saneamento básico, seg
it
“Em um rápido retrospecto pode-se dizer que desde o século XVI se de-
n
constituem um arremedo e uma farsa, a maioria Lori da populaçãoão éé tom
ora Volveram atividades industriais nó Brasil. A fabricaç
ão do açúcar nos en-
; que vai pra frente”,» que O OS, à construção naval e algumas manufaturas constituíram-se como as
pela certeza de que “este não é um país
2000” jo
não é grande potência, embora seja a 11º economia induátid
a TIP econom
ncia, embora seja importantes atividades fabris) do Brasil colônia, Essas atividades esta-

194 195
coloniail, momento específi-
temaa cotoniá tado da Europa e, até mesmo, os operários, Assim, o conhecida
vam subordinadas às determinações do sistem
Prado Júnior, prefiguron, como já se fez notar na historiografia, o sistema fabril dos é
co do desenvolvimento do capitalismo. Como observou Caio
los XVIII e XIX. Há que ressaltar, contudo, que essa não era a tônica geral
o Brasil foi constituído como
havia uma grande quantidade de plantadores de cana que se subordiRanaa
n H
, os tropicais em graus variados (plantadores obrigados ou livres) aos “senhores de engo-
colônia destinada a fornecer ao comércio europeu alguns gêner
-se-á por isso nho”, isto é, aos proprietários de fábricas nas quais deveriam processar O
de grande expressão econômica. [...] Nossa economia subordinar
inteiramente a tal fim, isto é, se organizará e funcionará para
produzir e ex- produto colhido.
portar aqueles gêneros. Tudo mais que nela existe, e
que, aliás, será de pe- Outro empreendimento fabril de relevância no período colonial foi a
tare tornar possí- construção naval, Nos estaleiros e arsenais, especialmente o da Ribeira das
quena monta, é subsidiário e destinado unicamente a ampa
Jr., 1990, p. 41).
vela realização daquele objetivo essencial (Prado Naus, na Bahia, e o do Rio de Janeiro, desenvolveu-se intensa atividade de
corintruçÃo naval, que mobilizava grandes quantidades de capitais graças à
monocultura
Deriva desta finalidade o caráter da colonização fundada na importação de equipamentos para as fundições e carpintarias e de materiais
Impóem-se;;
escravista subordinada ao monopólio comercial da metrópole. ão por exemplo, a cordoaria e cabos para o velame dos navios. Gral
Por um lado,é
no entanto, um acréscimo e um reparo à tese de Caio Prado. “tivamente passou-se a produzir alguns produtos no Brasil, como óleos e ca-
inada às determ bos. Articulada a estes dois principais empreendimentos, desenvolveu-se uma
importante destacar que mesmo a escravidão esteve subord
compreender: E anutatura têxtil que produzia velas de navios, roupas para escravos, saca-
nações da dinâmica internacional; por outro, é necessário
ole e colôn fla para o acondicionamento de produtos como o fumo, o cacau, o algodão
globalidade do sistema, isto é, que as relações entre metróp
Es café. Além disso, pode-se considerar ainda a produção “de charques e de
compõem um todo. integrado. Nas palavras de Alfredo Bosi:
géneros alimentícios, a preparação de fumo de corda, a fabricação do anil, a
e senzala, mo FAftaçÃo do sal, a produção de azeite de baleia usado na iluminação pública
Na formação do sistema exigiram-se reciprocamente tráfico
o fluxo e ré E orsfosÃo de móveis, construção civil [...] como manifestações de ata
pólio e monocultura. No plano internacional determinou-se
o e sob 0 des industriais e manufatureiras no Brasil colônia” (Foot & Leonardi, 1982
xo da mercancia colonizada na linha das flutuações do mercad
pério da concorrência entre os Estados metropolitanos. Em
suma, a rep 25). lá a
centrais cunhará pipas
ção do sistema no Brasil é O seu nexo com as economias a dinâmica do capitalismo internacional
26).
frente e o verso da mesma moeda (Bosi, 1992, p. E . Esse processo desembocou no chamado
É colonialismo ou imperialismo moderno e teve como marcos cronológi-
descrições,
Mais conhecida, a indústria do açúcar foi alvo de preciosas = Brandes acontecimentos: a Revolução Industrial na Inglaterra, a
em seu livro Cult
a de Antonil, por exemplo. Este autor demonstrou ças Americana, isto é, a Independência dos Estados Unidos, e a Re-
ão de fun
opulência do Brasil que no engenho havia uma complexa divi
ção Francesa,
nto, a purg impacto desses evento
baseada na especialização do trabalho: a moagem, o cozime no mundo
s não foi linear nem único e, portan-
por escr Sumiu u múltip
múlti
o branqueamento, o encaixotamento do açúcar era realizado as no tempo e no espaço. Alguns países e povos
ho comam os e ga: ce er e err remontam
homens livres especializados, divididos em equipes de trabal ã pps de antiga colonização portuguesa e espanhola, passa-
exigia avultaé ou.italiana, processo que
por capatazes. O engenho “em si”, a fábrica do açúcar, ad alemã
mg E E dominaçãoTea in glesa, francesa, ra
caldeiras) era ! ado como Ca partilha da Africa”. Outros, anteriormente inde-
vestimento de capitais: todo o maquinário (moendas,

197
.
se. rea us PMIARICANÇAU
É)

=
desses privilégios, que foram suspensos somen
pendentes, como a Índia e a China, foram conquistados e, no caso da últi- te em 1844, E momento de re e
ma, dividida em áreas de influência de vários países centrais.
; ca O Japão,Ko após visão
. dos acordos que redundou no estabeleci
elecime d i :
a SS do E ;
a revolução Meiji, inseriu-se na nova ordem internacional, já em posição de nistas, entre as quais a tarifa Alves Branco. E =" * medidas protecio-
”comércio britânico, de TD m razão do crescimentoze dor,
grande potência econômica e militar, e passou a expandir sua área de K$in- IA pressi
oa Inglaterra Écine à és
pelo fim do tráfico | sm alt
de escravos, que arraigara enormes teses
é a FIPS
Pacífico. As antigas colônias portuguesas e espanholas na Améri-
oa sã
fluência no
grande influência política antes e depoi E emInde Portugalênci e no Brasil, e exercia
ca Latina — conceito cunhado dentro da geopolítica francesa pora ocasião da s e depois da t e Do Eida évê funda-
5 E dar dt Grs mental destacar que a historiografia brasileira
;
instauração do regime monárquico de Maximiliano [ no México — torna- em, desde meados da década
ram-se independentes do ponto de vista político, e portanto, saindo da órbi- de 1970, » d demonstrado com sucesso como a influência
política dos trafican-
tes de escravos foi determinante no Parlamento i | eai
ta das antigas metrópoles, foram gradativamente submetidas às esferas de ÉS a que Seterintna nte Eto imperial na primeira metade
no tariamen a
= pra
permitiu atizar a tese mui
influência inglesa e, posteriormente, norte-americana. do século XIX, o : . min
monárquico brasileiro expressava priorita m uito difundida de que o Esta-
o
1
nista foi I seguido
to expansioioni
x
de um processo de revoluções doce
Esse movimen
i
interesses dos
atmente osos Interesses
ro expressava prioritariamente dos gran-
. des
e guerras no continente europeu e fora dele, das quais é importante destacar ro Pp LC p riet arios
Í turais - 3 dO mente em 1 850 o tr. atico
fi de escravos foi abolido 3
as revoluções de 1820, 1830, 1848, as guerras da Crimeia, franco-prussiana
apos
. q uase e 5 0 anos de conflit O co
com a Inglat e Ira,
conflit o este st qu e ai dq uiriu
Ir
e as unificações da Alemanha e da Itália. As independências na América fo- feições bast ante 8! aves
. : -
na dé cada anterior. i 3 tendo al q uele aís ameaçado. 3 1m-

ram seguidas de conflitos com Portugal, Espanha, Inglaterra e França. O pro-


Sur
clusive vad P
rio IO 1 s O do O infam e comêr-T
. 2 E 1m Ir O territóri nacional caso não fo Se ab li
cesso de formação e expansão dos Estados Unidos levou à Guerra de Secessão, Cio, E im portante, nesse
sent: IO
d > destacar que, da ab o.li Ç ao
do tráfic
Tr. fi o a ao fi tim

e dos Estados Platinos com o Paraguai. Também a China só foi submetida ao do regime escravista, quase 5 0 anos se passar am, durante os quais
no Pa: Eteordenar am não
se
Ocidente após várias guerras, ao conflito e o expansionismo japonês ã apenas as estruturas econômicas, como tam
bém o pensa
Rússia é “mento liberal que as legitimava.
cífico conduziu aquele país a guerras sucessivas com a China, com a
E A
com os EUA. dl expan São O da
i d te
econ
ec omi
mia e afee
e a Ira inici
inici ou-se
E u ca Pp po F volt a de m eados do Ss C-É
| No Brasil, as guerras de independência conduziram a uma ruptura “nês nat 1840.0 café já era o principal produto-da-pauta
- de exporta-
| gociada” com Portugal, sob os auspícios da Inglaterra, país que possuía p rasileiras. Era também um dos.símbo
tao do los
antigo regime: o brasão do
ério —
— « duplamente reenquadrado
| vilégios comerciais e políticos arraigados no antigo reino e, posteriorment Pério pelo verde Bragança e pelo amarelo
"ma ex-colônia. De fato, a fuga da família real portuguesa para o Brasil, bsburgo
8
— ra circundado
e
:
pelos ramos s de
de fumo
fumo e edede café,
café o que demons-
va sua immportânc
ânci ômi a, Essa expansão se processou com
ia econômic
base no
com a abertura dos portos em 1808, isto é, o fim do monopólio comerci , ema agro
Broeexpo rte r,
xportado ou 1 se]
seja, nos moldes de uma e
ia colonial e
| aelevação do Brasil, primeiro, à sede da monarquia portuguesa e, em 18
avista » reforçada selo imperial
pelo Estado impe ri , sob a batuta do Partido Conser-
à condição de Reino Unido. Os ingleses procuraram, nesse contexto, ga
dor. Alfredo B Osi i dem O nstra
| |
a
i o cará
ater
[ j
uncional
aa” metem, e CE tó p TC:
/ o do i peralisÍ )
tire ampliar os privilégios que possuíam, forçando a assinatura dos tra
li li
|
de Aliança e Amizade, Comércio e Navegação de 1810, através dos
foram concedidas taxas preferenciais ao comércio de seus produtos. Mantendo o so
pad b controle terras, café e escravos, bastaya-lhes o registro seco
as iniciativas joaninas no sentido de dinamizar a vida econômica brasi Ico, às ve
Gesso ?
i as : É
zes duro, da linguagem administrativa. É o estilo da eficiência:
.

estimulando as manufaturas e fundando bancos, foram bloqueadas na


sa Abi E E .
quarema de Eusébio, Itaboraí, Uruguai, Paraná. Comércio livre 3

ca. Após 1822, a Inglaterra procurou, com sucesso, garantir a manut


e L Primeira e princi
inci pal i
bandeira dos colonos patriotas, nao significa via. necessa =
3

7 9:8
99
de trabalho livre. O liberalismo É importante, contudo, destacar um elemento fun damental para
riamente, é não foi, efetivamente sinônimo
dade s sociale política (Bosi, 1992, ensão da dinâmica do período no que diz respeito à questão do fim do escravit
econômico não produz, sponte sua, a liber
pera se para determinado grupo de abolicionistas — intelectuais liberais radicais
—p. 198)
postáRIStas que eram notadamente urbanos — tratava-se de libertar o negro,
o mesmo autor, defendiam o inserindo-o em uma nova estrutura econômica e social fundadano trabalho li=
No novo contexto liberal, as elites, enfatiza avidão, as pe-
e comércio e da escr vre, para 08 fazendeiros paulistas tratava-se de substituir o trabalho escravo. Seu
laissez-faire advogando, na defesa do livr
l brasileira, posição que não dest
ormação socia
oava dos. “ republicanismo visava, entre outras coisas, à autonomia provincial para a reso».
culiaridades d
dão sdo Sul dos Estados Unidose da oligarquia açucareira,
algore
plantadedo
lução do “problema da mão de obra”, daí seu imigrantismo, é, como observou
Alfredo Bosi, ingressaram no abolicionismo de 1887 porque “oproblema da
cubana.
Os liberais brasileiros descartay ualquer espécie de rotecionismo às de trabalho já fora equacionad
“força o de imigração europeia masiça,
em termos
que.os novos capitais desviados do subvencionada pelos governos imperial e provincial” (Bosi, 1992, p. 242). — —
manufaturas €“às indústrias e defendiam
a licados na € ã ura. Em A pauta de exportações do Brasil, no período, permite entrever como
tráfico de escravos deveriam ser
to quase fisiocrata que, contrárioà eram enormes os interesses a serem preservados:
outras palavras, reforçava-se o pensamen
enç ão esta tal na eco nom ia €, con sequentemente, ao protecionismo à
int erv
manufatura e à indústria, defen ideia da “vocação agrária do Brasi? — PRINCIPAIS PRODUTOS DE EXPORTAÇÃO 1821-1890
o Alencat
de pensadores e de políticos com
| Mesmo sob a condenação formal (9% na receita das exportações)
para atividades comerciais, mantê
o,
e Itaboraí, esse capital afluiu, contud ir
PERÍODO | CAFÉ | AÇÚCAR| ALGODÃO | BORRACHA | COUROS| OUTROS
mo, para. cula o fin E PELES
fatureiras, transportes e, até mes
vendo Soum primeiro surtO nização e de alargamento do empreg
o de urbas EEE 18,4 30,1 20,6 0,1 13,6 17,2
| SEO s
PO MB
ae 43,8 24,0 10,8 0,3 7,9 13,2
trabalho livre. sil ocorreu, contudo, somente a P TELA 41,4 26,7 7,5 0,4 ES T3S
Alinha de corte da história do Bra 14,
, i passu às transformações econ
par -1860 | 48,8; 21,2; 6,25 23; 72
dos fins da década de 1860, quando ESTO 45,5 12,3 18,3 Bd 6,0 a :
vo ralismo,
nobe
cas, emergiu umli que propugnava a inserção do Bras 1871-1880 | 56,6; 11,8; 9,5; 5, $5 5,6 11
, primeirami
o idental. Esse novo liberalismo surgiu
moderna civilizaçã oc [1881-1890 | 61,5 9,9 4,2 8,0 32 o
co” promovido por D. Pedro II, que
comolreação ao “estelionato políti nte:e: Silva,
Si -
1953 & Vilela g , 1973 apud Singer, 1989, p. 355.
& Suzigan
|
ediu o gabinete de Zacarias de Gé
a pressão da espada de Caxias, desp s intos li
política aos conservadore ret
Vasconcelos e passou o cetro da| , assé possível verificar que, a partir da década de 1840, o café lidera incontes-
observou Joaquim Nabuco em
dos por Itaboraí. Iniciou-se aí, como e crescentemente as exportações brasileiras. Destaca-se alida a baixa
ca brasileira, O “plano inclinado de
reafirmada pela historiografia políti Ra nos exportações do açúcar, embora o percentual deste artigo seja ain-
ral democrática do fim de século, nã
pério”, pois redundou na maré libe Bnificativo no conjunto da economia nacional. Percebe-se, também, a mes-
s ntes sociais e políticos, as Prop
foram acalentadas, por diferente age ustaria liz? a descendente nas exportações de algodão, que, apesar de apresentar
icanas, democ áticas e ind
abolicionistas, imigrantistas, republ mca enirmar
ia rh na diária, de 1860 — decorrente da abertura de mercados
u inclusive os positivistas, mas elas
O vigor das ideias mais radicais atrai |
Exército e da Armada.. : rasileiro devido à Guerra de Secessão nos Estados Unidos —, vol»
ram brilhante carreira nas escolas do
201
200

BIBLIOTECA UNIU:
UFTM
Ripem
e =pr
caetano, cab panda 3 ac NP Aa E AA AS

tou a cair rapidamente nas duas décadas seguintes. A borracha é, ao lado do É fundamental abordar aqui a questão da subst
ituição do trabalho escra-
café, o único produto cujo índice de exportação cresceu no período, em decor- vo pelo trabalho livre, bem como das relações
deste primeiro desenvolvimento
rência da descoberta do processo de vulcanização (1842) e de seu emprego na cafeeiro com a economia internacional e com
a indústria. Problema dos mais
indústria, na fabricação de instrumentos cirúrgicos e de laboratório. A partir de complexos diz respeito às relações entre traba
lho escravo e trabalho livre no
1850 ela passou também a ser utilizada no revestimento dos aros das Feras dos Brasil. Em termos globais, pode-se dizer que,
desde o século XVI, trabalho
veículos e, 40 anos mais tarde, com a invenção do pneumático e a difusão do escravo e trabalho livre faziam parte de
um todo integrado. Vários autores,
automóvel, tornou-se importante matéria-prima industrial (Prado Jr., 1990, como Prado Jr. (1990), Mello e Souza (1982
), Dias (1984), Franco (1983),
p. 236). Cabe destacar que, se na década de 1860 registra-se um leve declínio investigaram o problema da inserção do home
das exportações de café, este pode ser atribuído a vários fatores, como a Guerra m livre pobre na sociedade
colonial. O que importa neste texto, entre
do Paraguai i e a expansão tanto, é compreender a dinâmica
â das exportações
Õ de algodãoã e de borracha, qu e au-
:
das transformações no fim do século que leva
mentaram sua participação no conjunto da economia. A produção e exportação ram à implantação do colonato
nas fazendas de café, baseado na imigração,
de café em termos quantitativos apresentaram, apesar da crise internacional dos e não no trabalhador livre na-
cional e no liberto.
anos de 1870 e seguintes, uma curva ascensional ininterrupta:
Conforme demonstraram vários estud
iosos do sistema colonial, desde
cedo no Brasil formou-se uma camada de home
ns livres pobres cuja existên-
EXPORTAÇÕES DE CAFÉ 1821-1890 cia estava atada descontinuamente à econ
omia mercantil. Ocupavam lugares
socioeconômicos distintos do escravo,
Período Quantidade em milhares isto é, da produção agroexportadora,
de sacas de 60kg sendo algumas vezes subsidiária daque
la, como na produção de alimentos,
1821-1830 LAO indústrias domésticas, oficinas, serviço
militar etc. Pode-se falar, grosso modo,
1831-1840 10.430 que era o agregado da grande propriedade,
o lavrador que comercializava
1841-1850 18.367 Pequenos excedentes alimentares nas cidad
es, bem como profissões varia-
1851-1860 27.339 das, como artesãos urbanos, marinheiros
etc. De acordo com Maria Sylvia
1861-1870 29.103 de Carvalho Franco (1978, p. 184), em
fins do século XIX esse contingente
1871-1880 32.509 abrangia três quartos da população do país.
1881-1890 51.631
Nesse momento, em que a escra-
dão já estava condenada, isto é, que a
Fonte: Prado Jr., 1990, p. 160,
expansão dos mercados mundiais
Ssupunha a generalização do trabalho
livre,
Uma outra questão diz respeito ao fato de que, apesar das experiências estava consolidada, nas populações pobr
es brasileiras, toda uma cultura que
lizadas com a introdução do trabalho livre, a mão de obra empregada na e dific
ultaria a formação de uma camada de assalariad
mia cafeeira bra majoritariamente escrava.|É importante observar E os. Mesmo em nível ideo-
lógico estes obstáculos aparecem elab
orados: nas representações desses gru-
de quea grande produção, a partir da década de 1870, estava vinculada a Pos há um vivo sentimento de desprezo pela condição de homem aluga
locamento do centro dinâmico da cafeicultura para asférteis terras roxas do do.
Em Fésumo, [...] quando abolida a escravidão, embora houvesse um poten
padliia, isto é, à abertura de novas áreas de plantio, em decorrência do es Brande de mão de obra livre, este cial
não fora totalmente expropriado e não
* / mento do solo, predatoriamente explorado, no vale do Paraíba. Pressões econômicas suficientes sofria
para transformar-se em força de traba
lho as-

202
203
salariado. O fazendeiro voltou-se, pois, para o exterior, em busca dos braços invertidos na Compra do escravo no tráfico interprovincial e na &
de que ele necessitava (Franco, 1984, p. 187-190). imigrante com transporte, alimentação ctc.) para o setor da produção, isto E.
para a ampliação da cafeicultura, Por outro lado, os novos imigrantes foram
É pertinente enfatizar esse aspecto, isto é, que após a abolição do tráfico ficou inseridos no sistema que ficou conhecido como colonato, no qual parte do salá-
claro que a escravidão estava condenada. À partir desse momento houve cons- rio era paga por tarefa (carpa/colheita etc.) e parte através da possibilidade do
tante preocupação, por parte dos fazendeiros e do governo, em encontrar uma trabalhador desenvolver uma agricultura de gêneros alimentícios visando à sua
“solução” para o “problema da mão de obra”. Para as elites brasileiras isso im- subsistência. Esse sistema foi altamente lucrativo pois, de um lado, liberava capi-
plicaria substituir o negro nas fazendas, pois consideravam-no racialmente infe- tais anteriormente empregados na manutenção do escravo e, de outro, aumen-
rior e acreditavam que manchava o trabalho manual com o estigma da escravidão, tava a produtividade da fazenda na medida em que, sendo o salário pago por
ou seja, para a manutenção e o desenvolvimento da produção seria necessário tarefa, implantava-se definitivamente uma moderna disciplina de trabalho nas
um trabalhador imbuído da ideologia do trabalho livre que se formava na Euro- fazendas, baseada na coação econômica do trabalhador. Posteriormente implan-
pa. Em outras palavras, deveria ser um agente que acreditasse que o trabalho tou-se um sistema misto de remuneração por tarefa e por medida colhida, o que
liberta e propicia o acesso à propriedade e à acumulação de bens. significava, na prática, uma pressão maior no sentido do aumento da produtivi-
A introdução de trabalhadores livres em um país cujas terras eram doadas dade. Há que destacar, ainda, que, embora os contratos fossem individuais, os
segundo o velho princípio colonial, ou simplesmente ocupadas, se afigurariaum fazendeiros contavam com a força do trabalho de toda a família do colono, daí
problema na medida em que se desejava que aqueles trabalhadores se dirigissem a preferência dos fazendeiros pela imigração familiar. A partir de 1870 a provín-
às fazendas de café. Assim, no mesmo ano de 1850 foi votada a chamada Lei de cia de São Paulo passou a subvencionar a imigração, e o governo imperial a par-
Terras, que estabeleceu o princípio da propriedade privada. A mesma lei fez com tir do fim da década seguinte. O trabalhador foi submetido a esse sistema pela
que as terras devolutas, ou seja, sem proprietários, tornassem-se disponíveis à impossibilidade de adquirir terras ou pela concorrência por emprego com a cria-
exploração capitalista. Consequentemente, os homens sem recursos para tetias São de um grande mercado de mão de obra livre pela grande imigração:
deveriam, necessariamente, dirigir-se às fazendas (Silva, 1985, p. 70 e segs
Trazer imigrantes europeus acenando-lhes com a possibilidade de det
mularem certo capital e adquirirem terras constituiu o núcleo central da DADOS DE IMIGRAÇÃO
paganda imigrantista é é certo que muitos imigrantes adquiriam pequ (Entradas por década)
propriedades. Contudo, a historiografia brasileira já demonstrou e e 1850 177.000
1860 108.187
mais recentes confirmaram (Petrone, 19843 Stolcke, 1986) que isso o€
1870 453.781
em uma escala muito menor do que normalmente se imagina e crê. Se 1880 527.000
Maria Thereza Schorer Petrone, nesse período, “o acesso à terra dep 1890 1.200.000
um estágio na fazenda fazia dos projetos dé criação de pequena propri 1900 649.000
uma “isca” para atrair imigrantes” (Petrone, 1984, p. 48). E 1910 766.000
1920 846.000
— parceria e contrato de locação de serviços feitos através de iniciativa Fontes: Petrone, 1984, p. 11-12; Luz, 1961, p.57.

lar —, ficou claro para os fazendeiros que somente um processo migratô


vencionado pelo Estado representaria uma allternativa viável para a sub E eciso observar que o regime do colonato promoveu, em muitas áreas
S a miserabilidade do trabalhador e grandes conflitos. Uma das for-

204 205
AA a CR |

mas de manifestação destes eram as greves, através das quais os trabalhado- balho, uma vez que a expansão da economia
cafeeira foi, ao mesmo tempo,
res rurais reivindicavam melhoria de salários e de condições de vida nas fa- produtora e produto dessa modernização.
zendas. Por outro lado, graças à eficiência do regime — obviamente da Com a liberação de capitais resultantes da abolição
do tráfico negreiro
perspectiva do fazendeiro —, sua duração prolongou-se até a década de 1960, os investimentos dirigiram-se a outros setores,
especialmente à Eesfinda
quando, através do Estatuto do Trabalhador Rural, os direitos trabalhistas cafeeira. Na medida em que esta se expandia, promo
via uma ocupação de
(salários individuais, férias remuneradas, 13º salário etc), conquistados pe- terras cada vez mais interiores, em especial São Paulo e
Minas Gerais. O trans-
los movimentos sociais urbanos do início do século XX, foram estendidos porte do café para os portos, feito inicialmente em lombo
de burro, tornou-
ao trabalhador rural. A grande força política dos proprietários rurais, entre- se cada vez mais oneroso e insuficiente para atender às necessidades
tanto, permitiu que estes inserissem no próprio Estatuto cláusulas que possi- produtivas. Alguns autores relatam inclusive perdas
de produção, isto é, a
bilitavam a contratação de trabalhadores por empreitada, dando assim origem existência de café colhido sem possibilidade de escoa
mento por causa da
ao trabalhador volante, denominado popularmente de “boia-fria”. Em resu- precariedade dos transportes. Por outro lado, a expan
são das exportações
mo, os direitos conquistados através de um século de lutas sociais rurais fo- gerou uma elevação da renda que, por sua vez,
aumentou a capacidade de
ram consagrados e burlados em uma única lei. importação e de endividamento do país, Assim
, essa renda, adicionada aos
A dinamização da economia cafeeira a partir do século XIX provocou crescentes empréstimos, foi empregada na melhoria
do sistema de transpor-
um movimento mais ou menos geral de modernização do país. Parte desse teatravés da introdução e implantação de um
sistema ferroviário e da melhoria
progresso estava articulado à exportação de capitais dos países industrializa- é alia Do RE a Janeiro eatiaie tarde si Essa moder
ni-
dos envolvidos na forte concorrência imperialista em fins do século XIX e
outras regiões. Os relatórios do Ministério
inícios do XX, para regiões menos desenvolvidas. À predominância dos cas Ba Marinha, desde meados do século XIX, demonstr
am a grande preocupa-
pitais britânicos na América Latina, especialmente no Brasil, é um fato regis são das elites dirigentes com o mapeamento
e com a implantação de um sis-
trado por todos os analistas do período. Alguns dados podem dar a dimensá tema de faróis na costa do Brasil, bem como
com a sinalização e com a
desse processo. Os investimentos ingleses de 1880 a 1913 elevaram-se; drenagem das entradas dos portos de todo o litoral
brasileiro visando a per-
pouco mais de 20 milhões para quase 360 milhões de libras na Argenti mitir E entrada de navios mercantes de grande
calado. Havia também a preo-
de 40 milhões para quase 225 milhões de libras no Brasil (Singer, 1989 cApação com a ampliação dos diques existentes e coma
construção de novos.
364). No período que vai de 1860 a 1902, 77,6% do total de investimer especialmente no Arsenal de Marinha do Rio de Janei
ro, que serviriam à
estrangeiros no Brasil eram oriundos da Inglaterra. Em seguida vinha a Ff Manutenção € reparos dos navios. Do lado
dos países cuja industrialização
ça com 5,9%, a Alemanha com 4,3%, a Bélgica com 4,0%, o Canadá Pr OSseguia acelerada, as ferrovias constitufam-se
em grandes empreendimen-
2,3%, os Estados Unidos com 2,2%, a Áustria com 1,5% e Portugal com tos econ= ômj ;
ômicos poisi absorvia ;
m maciçamente ferro e aço, carvão, maquina-
(Castro apud Foot & Leonardi, 1982, p. 71). "Pesada, mão de obra e investimentos de capita
l. Não é por acaso, pois
Esses investimentos entraram no Brasil sob variadas formas: emp Va par das décadas de 1820 e 1830, ocorreu
uma febre feel at
mos aos governos imperial e republicano, implantação de ferrovias, m! “o internacional: em 1830 existiam algum
as dezenas de quilômetros
nização de portos, melhoramentos urbanos, e na forma de capital cons Dec poe ndo: dez anos mais Pnnçãã esse número havia subid
o para
isto é, de equipamentos para empreendimentos industriais que surgia a A ototal era de ao quilômetros. Em 1880 havia em todo
fim do século XIX, agregados à economia agroexportadora. Essa ques »4 milhares de quilômetros em ferrovias. Deste total
323,68
de suma importância na caracterização da problemática abordada ne: *vam-se na América do Norte e na Europa (Hobsbaw
m, 1979, p.73).

206
207
O caso mais significativo foi, sem dúvida, o dos Estados Unidos, onde, em Embora persista de certo modo, na memória nacional, a assmel E
o. com
1862, 3 iniciou-se a ligação ferroviária da costa atlântica a do . Pacífico.
, tre a República e o desenvolvimento da indústria nacional, é necessário dei
as devidas proporções, a expansão ferroviária no Brasil também
Guardadas tacar que a expansão cafeeira não propiciou apenas a melhoria dos portos é
foi significativa: a implantação de ferrovias. De modo geral, ela estimulou e foi estimulada
pelos melhoramentos urbanos e pelo desenvolvimento de determinados ti-
pos de indústria ainda no período imperial. De fato, do início do século XIX
EXPANSÃO FERROVIÁRIA 1854-1929 até 1889, ano da proclamação da República, foram criados vários estabeleci-
(em quilômetros)
mentos fabris, principalmente têxteis, de dimensões e capital diversos, que
ANO REGIÃO BRASIL empregavam força manual, hidráulica e a vapor. Não existem dados mais
CAFEEIRA
sistemáticos para o período todo, mas é possível constituir uma amostragem.
1854 14,5 14,5
*— De acordo com os dados do relatório da Comissão de Inquérito Industrial
1859 77,9 109,4
1864 163,2 411,3 de 1882, havia no Brasil aproximadamente 45 fábricas de tecidos assim dis-
1869 450,4 713,1 tribuídas: 12 na Bahia, 11 no Rio de Janeiro, 9 em São Paulo, 8 em Minas
1874 1.053,1 1.357,3 erais e 1 no Rio Grande do Sul, Alagoas, Pernambuco e Maranhão, respec-
1879 2.395,9 2.895,7
ivamente (Foot & Leonardi, 1982, p. 34 e segs.). Havia ainda no Brasil
1884 3.830,1 6.324,6
1889 5.590,3 9.076,1 perial fábricas de chapéus, velas, papel, calçados e fundições, como as do
1894 7.676,6 12.474,3 Estaleiro Ponta da Areia, propriedade do barão de Mauá e do Arsenal de
1899 8.713,9 13.980,6 irinha do Rio de Janeiro. É importante assinalar o incremento da indús-
1904 10.212,0 16.023,9
à da construção naval no Brasil: entre 1848 e 1870 foram construídos 32
1906 11.281,3 17.340,4
1929 18.326,1 32.000,3 Os para a Marinha de Guerra, 24 em arsenais do Estado (7 na Corte, 4
Bahia, $ em Pernambuco e 4 no Mato Grosso) e 8 em estaleiros privados
Fonte: Adaptado de Silva, 1985, p. 58.
Ponta da Areia e 1 na Saúde). Já entre 1871 e 1889 foram construídos

A
ávios de guerra, dos quais 14 no Arsenal da Corte, entre eles a canhoneira
Esses dados impõem algumas observações. Em primeiro lugar, va Ora, O primeiro navio inteiramente construído de ferro no Brasil (Arias
se que até 1884 a expansão ferroviária estava maciçamente concentt 2001, p. 159).
região cafeeira, isto é, Minas Gerais, o vale do Paraíba e São farto. conomia cafeeira estimulou ainda os setores comercial e bancário, bem
daquele ano, essa concentração, apesar de persistir até O fim do promoveu gradativamente a integração do mercado interno nacional.
abordado neste texto, cai para 61,5% e 57,3% em 1889 e 1929, res esenvolvimento foi particularmente acelerado após 1888 graças
a três
mente. Dito de outro modo, as ferrovias foram sendo construídas € Principais: com a abolição da escravidão o governo imperial liberou
regiões do país, apesar do ritmo mais lento daquele do Ms din Para a lavoura e adotou uma política emissionista mais flexível que,
Em segundo lugar, verifica-se que a expansão ferroviária coincide, fla enorme safra cafeeira e da entrada de capitais estrange
iros, pro»
de vista cronológico, com a ampliação das exportações de café, 9 q! na euforia nos negócios. Somente no Rio de Janeiro havia, em 1889,
prova que a economia cafeeira dinamizou e simultaneamente foi s, » 26 empresas industriais, 4'de estradas de ferro, 3 de navegação,
da pela melhoria do sistema de transporte. € 10 diversas, que mobilizavam um capital de aproximadamente

208 209
318 mil contos. No relatório do Ministério da Fazenda de 1891, ny Pao forma contemplava a plena liberdade às sociedades
anônimas. Os inves-
sa informava que o capital das companhias constituídas entre 13 eme
1888 e 15 de novembro de 1889 perfazia um total de quase 402 mi o
ê timentos multiplicaram-se, dando lugar a uma espec
que ficou conhecida como “Encilhamento”:
ulação desenfreada
|
contra, aproximadamente, 410 mil contos de todas Es empresas a “s
nos 64 anos anteriores. Contudo, as reformas econômicas e po a Sob a ação deste jorro emissor não tardará que
da [...] ativação dos negó-
eim a o E pa cios se passe rapidamente para a especulação pura,
postas pela Monarquia, especialmente pelo sina Começam a surgir em
aa grande número novas empresas de toda a ordem e finali
do regime imperial, descontentaram os monarquistas ê não prá dade. Eram ban-
cos, firmas comerciais, companhias industriais,
as reivindicações dos cafeicultores paulistas, dos negociantes É E a e ia de estradas de ferro, toda
sorte de negócios possíveis e impossíveis. Entre
e, consequentemente, não tiveram o poder de deter a instauração do reg a [...] proclamação da
República e o fim da aventura (1891) incorporar-s
republicano (Janotti, 1986 e 1998). e-ão no Rio de Janeiro
sociedades com o capital global de 3.000.000 de
contos; ao iniciar-se a
especulação, isto é, novembro de 1889, o capital de todas as sociedades
existentes no país apenas ultrapassava 800.000 contos
. Quintuplicara-se
ECONOMIA CAFEEIRA, URBANIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO NA quase este capital em pouco mais de dois anos! [...]
a quase totalidade das
PRIMEIRA REPÚBLICA novas empresas era fantástica e não tinha existência
senão no papel. Or-
ganizavam-se apenas com o fito de emitir ações e despej
a á-las no mercado
Para a realização do golpe de 15 de novembro de 1889 de títulos, onde passavam rapidamente de mão em
o o l mão em valorizações
versas forças sociais: militares do Exército e Ha Aiisida, sucessivas [...] Em fins de 1891 estoura a crise e rui
O castelo de cartas
da cafeicultura paulista, das elites gaúchas e positivistas. Essas É E: levantado pela especulação. [...] A débâcle arrastará
muitas instituições de
maram o ministério do governo provisório: Campos Sale ns : a bases mais sólidas, mas que não resistirão à crise;
e as falências se multi-
métrio Ribeiro (Agricultura, Comércio e Obras Públicas), Rat a Plicam. O ano de 1892 será de liquidação; conseg
uir-se-á amainar a tem-
(Fazenda), Aristides Lobo (Interior), Quintino Bocaiuva pe pestade, mas ficará a herança desastrosa legada
por dois anos de jogatina
riores), Benjamim Constant (Guerra) e Eidmilia Waindento as e loucura: a massa imensa de papel inconversível
em circulação. Esta su-
Um período de instabilidade política e financeira abriu-se na E bira, entre 1889 e 1892, de 206.000 contos
para 561.000. E como não
- será possível estancar de súbito este jorro
Brasil. Não obstante, foi um período de progresso e de desenvo emissor, a inflação ainda conti-
uará nos anos seguintes (Prado Jr., 1990,
O governo provisório iniciou reformas nas Dê p. 220).
Código Penal, deu início à liquidação das pendências e ad
ap dead tam, sem dúvida, os efeitos mais evidentes da
os países vizinhos e promoveu uma grande pi política emissionista
Esta última representou, como todos os analistas Ei o o ad O regime registrados, pela literatura e pela histo
riografia, como a
aro Para um padrão cultural mais arrivista
ram, a continuidade da política emissionista iniciada e (Sevcenko, 1985). Con-
É. a historiadores e economistas do período
Ouro Preto e tinha por objetivo atender às aenparitias verificaram também que,
re E idos os abusos da especulação, a política
empresários. Através dessa reforma o governo emissionista de inícios
papeod blica parece ter caracterizado um
cos regionais autorizados a emitir dia vezes ira momento essencial no desen-
O industrial do país. Isso porque a refor
relação ao existente na época. Diteriiiiiavas também, rita a ma financeira criou con-
Ale 7 lado da grande exportação cafeeira,
garantida por Obrigações do Tesouro, e não em ouro. para um aumento no

240 a
CREMES DES OM ASbitaSS crimero dildves dd. IMpOLaAçÃo de capital diminuiu e os pagamentos das impo
constante (máquinas e equipamentos) rtações já realizadas Heara
que sé acrescentou à acumulação metidos. Um outro fator veio agravar
prévia, realizada no período imperial. essa crise, À principal fonte de ar
recadação do Estado brasileiro prov
inha das rendas alfandegárias, isto
dos impostos cobrados sobre as impo é,
rtações. Com a queda destas, ficas
PRINCIPAIS PRODUTOS vam impossibilitados os pagamentos
DE EXPORTAÇÃO 1891-1928 | da dívida externa, e os credores jh-
(Yo na receita das exportações) ternacionais passaram a recusar
novos empréstimos ao país, Boris
Fausto
PERÍODO | CAFÉ | AÇÚCAR | ALGODÃO | BORRACHA | COUROS resumiu bem o quadro: “o desequilíbri
OUTROS o entre a expansão das exporta-
E PELES ções e as pressões por importar, o peso
representado pela dívida externa
1891-1900 | 64,5 6,0 2a 15;0 e a retração do capital estrangeiro
2,4 9,4 foram elementos essenciais da cris
1901-1910) 52,7 LO 2,1 25,7 (1989, p. 205). e”
42 13,4
1911-1913 | 61,7 0,3 2,1 20,0 42 11,7 Além da crise internacional, o país
1914-1918 | 47,4 3,9 1,4 12,0 o 27,8 passava por um período de grande
1919-1923 | 58,8 Ad 3,4
inst
abilidade política. Em novembro de 1891, o presidente Deo
3,0 5,3... 24,8 doro da
1924-1928 | 72,5 0,4 1,9 2,8 4,5 Fonseca, eleito após a elaboração e
tao aprovação da Constituição em feve-
Fonte: Silva, 1953 & Vilela & Suzigan, 1973 apud Singer, 1989, p. 355. reiro daqu ele ano, renunciou em meio às
pressões políticas contrao seu
Boverno: a burguesia estava desconte
nte com a política financeira do
Verifica-se, através do quadro, que houve um aprofundamento da de- ministério, que havia agravado a infl
ação gerada pelo encilhamento, e os
pendência financeira e econômica em relação às exportações de café ao lon monarquistas, apesar de não repr
esentarem uma ameaça real ao novo
go de todo o período. De fato, os lucros provenientes dessas exportaçõe regime, eram críticos imbatíveis da
República. Em outubro de 1891
ciou-se ini-
financiaram a industrialização, os melhoramentos urbanos e a saúde da ba a Revolução Federalista no Rio Gra
nde do Sul, que só terminou
lança de pagamentos no exterior. O contínuo aumento da produção e d sa 1895. Em novembro o presidente
fechou o Congresso Nacional eas
exportação pressionava as importações de capital (máquinas para as indús elites civis e militares Passaram a
conspirar para depô-lo. Vinte dias
trias) e de alimentos, uma vez que a cultura cafeeira tornava-se cada vez mai Eis a Marinha revoltou-se na de-
baía de Guanabara, deixando o
governo
especializada. Esta especialização gerava conflitos no campo, pois os fazen isolado. O presidente renunciou sem esbo
çar nenhuma resistência. Assu-
deiros, tendo em vista os altos lucros, começavam a proibir o cultivo de sub: miu, em seu lugar, o vice-presidente, marechal
Floriano Peixoto, que havia
sistência dos colonos, exceto quando intercalavam cultivos alimentares nas Participado da conspiração. Instalou
-se uma ditadura militar. Neste
ruas dos novos cafezais durante seu crescimento. A consequência disso fo do de perfo-
conflitos, o presidente violou a Cons
tituição e os direitos civis e
carestia e o aumento do custo de vida nas cidades. Políticos de seus opositores, repr
imiu duramente todas as contesta
A despeito de seu valor econômico, o café é um “produto de sobr ao fegime € ao governo, perseguiu ções
monarquistas, que serviram como
mesa”? e seu consumo tende a estabilizar-se. Por outro lado, os altos | bodes
“Xpiatórios de todas as mazelas do país,
enfrentou os federalistas do Sul
cros provocaram a expansão contínua do cultivo e terminaram por ger e long o dos quatro anos de seu mandaro
e derrotou várias revo ltas de
o fenômeno da superprodução. Em 1893, uma recessão que se iniciou ni DE descontentes, especialmente a
segunda Revolta da Armada, ocor
Europa e atingiu os Estados Unidos, o principal consumidor brasileir a -
da ps EEe como consequência
Provocou uma queda nos preços do café. A capacidade de importaçã
ções diplomáticas com Portugal, 0
Pro dq MESTIErao dede PASSA PRA

esfriamento das relações com a Inglaterra e uma aproximação maior com um desafogo no balanço de pagamentos e uma reduç
ão nas importações.
os Estados Unidos. Pareceu, aos observadores do período, que a unidade As exportações de café, contudo, elevaram-se
e, em 1900, a taxa de câm-
nacional iria ser rompida. bio voltou aos níveis de 1895. Isso demanda
uma certa explicação. Na
Ao assumir o governo em novembro de 1894, o paulista Prudente de medida em que o governo desvaloriza o câmbi
o, ergue-se como uma bar-
Morais encontrou o país envolto em uma crise, até então, sem precedentes, reira às importações, pois tornam-se necessário
s mais recursos internos
A inflação era galopante e os conflitos internos, envolvendo militares, para aquisição de bens e de capital. A elevação
dos impostos internos,
jacobinos partidários do marechal Floriano Peixoto e monarquistas, acentua- por outro lado, impede a pressão sobre as taxas alfan
degárias externas —
vam-se. Além disso, até o fim de seu governo, em 1897, o presidente Pru- isto é, esse mecanismo visa a impedir uma queda
acentuada das importa-
dente de Morais enfrentou conflitos internacionais bastante sérios com a ções — uma vez que são a fonte principal da receit
a do Estado. A médio
França, que promoveu incursões militares no Amapá por questões fronteiriças, e longo prazos, a política deflacionária visa a uma
diminuição dos preços
e com a Inglaterra, que ocupou a ilha da Trindade, ambos em 1895. Entre internos, e a ampliação das exportações e o saneamento do tesouro
dezembro de 1895 e janeiro de 1896, enfrentou ainda o ruidoso caso dos objetivam a elevação do câmbio, permitindo a recup
eração da capacida-
protocolos italianos e, a partir de maio, até o fim de seu mandato, a revolta de de importação de bens e de capital. É claro
que há uma carestia geral
de Canudos. para a massa da população, pois a tendência é de
congelamento e queda
Em 1897 a insolvência do país era iminente e negociou-se uma mota- no valor monetário dos salários urbanos e rurais
. Dados sobre os salários
tória, ou funding loan, com credores europeus (assinada em 1898) nos rurais indicam que, entre 1898 e 1904, o
pagamento pela carpa do café
seguintes termos: um empréstimo de 10 milhões de libras esterlinas, sob caiu de 90 mil-réis para 60 mil-réis e pela colhei
ta, de 680 mil-réis para
garantia das rendas da alfândega do Rio de Janeiro, e subsidiariamente 450 mil-réis (Mello, 1982, p. 136). Os salários urbanos eram
mais bai-
das estaduais, das receitas da Estrada de Ferro Central do Brasil e do se Xos: em 1900 uma lavadeira recebia por volta
de mil-réis diários e os
viço de abastecimento de água da Capital Federal, pagamentos dos juro subalternos da Diretoria Geral de Saúde Públic
a, aproximadamente 75
do empréstimo em três anos, amortização da dívida em dez. O govern mil-réis mensais (Silva, 1988, p. 132-3).
A situação dos marinheiros era
ainda se comprometia a retirar de circulação uma soma de papel corte: extremamente crítica: em 1910 uma prime
ira classe (a mais alta hierar-
pondente às emissões do funding, que seria queimada ou guardada e! quia da categoria), com todas as gratificaçõe
s, recebia aproximadamente
depósitos para posterior compra de cambiais, e a não contrair novô 15 mil-réis mensais (Relatório do Ministério
da Marinha, 1909, p. 177).
empréstimos durante a moratória (Bello, 1964, p. 196-197). Esse acorda, Por outro lado, tomando-se, para o custo
de determinados gêneros ali-
foi negociado pelos dois presidentes paulistas, Prudente de Morais, q! MEO o ano de 1889 como índice 100, verifica-se
que em 1912 0
deixava o governo, e Campos Sales, que assumia. Durante todo o man Teço do arroz nacional era 200, do i
to de Campos Sales (1898-1902) foi levada a cabo uma política deflaci do feijão nacional 163, do iodo
2 j dE, z a eita O » do açúcar
E
nária, tendo havido uma elevação geral dos impostos federais, estadu 00, da banha importada 200 e da farinha de trigo
170 (apud Luz, 1961,
e municipais, um aumento do custo de vida, carestia e falências de e P. 137), ou se Ja, pode-se supor que no período houve uma
elevação mé-
preendimentos industriais e agrícolas. dia de 2
21% de aumento no custo de vida, isto sem contar,
0,
” +
por exemplo, E

Essa política impediu, ao contrário do que se possa pensar, maio “Que


à nas maiomai res cidad
i es, como Rioi de Janeiroi e São Paulo, a crise
prejuízos à agricultura e à indústria. De fato, ao longo do período houk itaci se
tacional era crônica E .
e os aluguéis exorbitantes.

214
Dutos
e constatar que tados por Wilson Cano (1983, p.142) comprovam que o parque rite “H
Analisando-se alguns dados industriais de 1907, pode-s
ao fim do período era diversificado: do total de 326 unidades existentes naquele estado em 1907
houve, entretanto, um grande crescimento em relação
havia apenas 31 estabelecimentos têxteis, os outros 295 estabelecimentos eram
imperial:
compostos de indústrias de chapéus, calçados, bebidas, alimentos, sacaria etc,
O capital investido nas poucas unidades têxteis (55.084 contos), contudo,
DADOS INDUSTRIAIS 1907
representava 45% do total dos investimentos industriais realizados no perí-
Número de Capital Força Número de odo (121.702 contos). Verifica-se, portanto, que as unidades industriais têx-
(contos) Motriz operários
Empresas teis eram de grande porte e concentravam a maior parte dos capitais investidos
(CV)
durante a primeira década republicana. Durante esse período ocorreu uma
3.258 653.555 109.284 149.018
Brasil grande entrada de capital constante, isto é, de máquinas e equipamentos, o
662 167.120 22.279 34.850
Distrito Federal que significa, em última instância, uma grande acumulação em capacidade
127.702 18.301 24.186
São Paulo 326
instalada no parque industrial brasileiro. De acordo com os dados levanta-
Fonte: Adaptado de Silva, 1985, p. 78-79. dos por Suzigan (1986, p. 354-360), a importação de maquinaria industrial
para o Brasil na segunda metade do século XIX (1855-1889) foi de quase 8
ão da indústria no
Um outro aspecto que chama a atenção é a concentraç milhões de libras esterlinas, enquanto nos primeiros 14 anos da República
juntos, São Paulo
Rio de Janeiro (Distrito Federal). Verifica-se também que, (1890-1907) este valor quase dobrou, aproximando-se de 15 milhões de li-
dos capitais FRsinpiniao e
(20%) e Rio de Janeiro (26%) concentravam 46% bras. As séries documentais levantadas por aquele autor demonstram que a
destacar que o núme-
39% do operariado brasileiro. Nesse sentido importa maior parte das importações era composta por máquinas para geração de
spondia a Toa eo to-
ro de estabelecimentos industriais em São Paulo corre energia, para a indústria têxtil e para indústrias de cimento, cal e cerâmica,
estavam distribuídos
tal do país e o do Rio de Janeiro a 20%. Os demais 70% alimentos, bebidas, cigarros e charutos etc, Naturalmente, o valor anual das
te o encilhamento foram
por outros estados. Segundo Wilson Suzigan, duran importações variou nesse período, e se manteve alto entre os anos de 1890
e 1895 (média de 900 mil libras) e, a partir de 1896 até 1903, houve uma
Nordeste (particulas;
estabelecidas grandes fábricas de tecidos de algodão no queda (média de 500 mil libras), voltando a elevar-se a partir de 1904, al-
Paulo e na própriariá
mente na Bahia, em Pernambuco e no Maranhão), em São cançando em 1906 o patamar de mais de um milhão de libras de importação
ciais investimente
área do Rio de Janeiro. Foram também realizados substan de máquinas anualmente, padrão que foi mantido até o início da Primeira
lá, moinhos de a
em outras indústrias tais como sacaria de juta, tecidos de Guerra Mundial, em 1914.
metal-mecânica. Ro !
go, cervejarias, fábricas de fósforo e indústria
(Minas Ge Houve, portanto, entre 1889 e 1896, um boom no desenvolvimento e
desse período a construção do alto-forno de Miguel Beenii
a produzir ferro-gusa é Ta acumulação industrial, tendo o ritmo de crescimento diminuído entre 1897
operado pela Usina Esperança, única companhia
escala industrial antes da década de 1920 (Suzigan,
1986, p. 48). € 1904, para voltar a crescer a patir de 1905 até 1914. A crise pós-enci-
amento, que coincidiu com a crise internacional e a política de caráter
licana a indústria ergencial adotada para enfrentá-la, demonstrou duas faces do problema
É possível constatar que já na prime. ira década: repub É '
. ) compunise”
plantada na região cafeeira (excluindo-se Minas Gerais telação entre café e industrialização. Em primeiro lugar, a manutenção
parte do capita odelo agroexportador dependeria de uma intervenção nos mercados
grandes unidades fabris que : concentravam aj maior a e td
Além disso, os dados da indus trial izaçã o pauli sta! do a forçar a alta dos preços e uma redução na expansão do café para
operariado nacional.

216 217
trema EI NUUDIRIALIZAÇÃO

evitar a superprodução. Em segundo, evidenciou que o crescimento Ai estrangeiros; c) O serviço desses empréstimos
seria coberto com um novo
trial se processava em situação de dependência em relação à dinêrmica da imposto cobrado em ouro sobre cada saca de café export
ada; d) a fim de so-
dinâmica cafeeira — fator de fragilidade e instabilidade — que seria sngera lucionar o problema mais a longo prazo, os governos
dos Estados produtores
da somente com o investimento nas indústrias de base, isto é, na produção deveriam desencorajar a expansão das plantações (1980,
p. 179),
de bens de capital. o
Em um primeiro momento, essa política provocou reaçõe
Em uma visão ampliada, pode-se dizer que uma política estatal definida s adversas de vários
grupos sociais e políticos, contudo os governos dos estado
para este setor foi, contudo, estabelecida apenas a partir de fins da década s produtores termi-
naram por forçar o governo central a tomar para si a
de 1940 e que, durante a Primeira República, nem sequer o probletiia da su- direção da política de
valorização. Também os tradicionais credores do Brasil, como
perprodução foi resolvido. As políticas de valorização do pare na asse- a casa inglesa
, Rothschild, que, graças aos empréstimos concedidos em função
guraram, em conjuntura internacional favorável, a alta apa dos preços da moratória
de 1898, se havia oposto à valorização do café, passar
do produto mas foram insuficientes para evitar a superprodução. E certo que am, em razão da concor-
rência com outros banqueiros europeus, a realizar emprés
entre 1904 e 1930 se estabeleceram certas indústrias de base, contudo a di- timos para os cafei-
cultores. De fato, abriu-se então o período de “apogeu”
nâmica industrial permaneceu articulada à economia cafeeira, pelo nona da cafeicultura e do
poder dos fazendeiros na República Velha. Os primeiros result
até o fim da década de 1930. É necessário, ainda que brevemente, analis ados da política
fizeram-se a partir de 1910 e, descontado o interregno
da Primeira Guerra
essas questões. Mundial (1914-1918), ocasião em que o Brasil
teve de negociar um novo
Mesmo nos anos de crise a produção de café cresceu. Entre 1897 e 190 - funding loan em consequência da crise internacional,
a expansão da cafeicul-
foram produzidos 16,7 milhões de sacas e no quinquênio seguinte, isto é, 190] tura foi contínua até 1930 e mesmo depois. Entre
1921 e 1930, o número de
1905, o total chegou a 64,9 milhões de sacas (Silva, 1985, p. els Cano, 19 és de café aumentou extraordinariamente nos estados
produtores:
p. 46). Esse incremento, mesmo passada a crise, forçava a baixa nos pre
internacionais. Embora a política deflacionária e saneadora dos anos ante
. A
res tenha promovido a recuperação da taxa de câmbio, os preços do aco FEEIRO S ADO
CAFEEIROS EM DIVERSOS ESTADOS
nuavam em acentuada queda. Em 1895, dez quilos de café eram comercializa ESTADO 1921 1930
a 13.475 réis. Cinco anos mais tarde, em 1900, quando o câmbio se havi dão Paulo 843,592.000
, de 8.817 réis e, em 1905, quani 1iSo-058.000
cuperado ao nível de 1895, o preço era seo
inas Gerais 511.252,100 650.691.700
câmbio se havia elevado quase sete pontos acima do de 1895, Espírito Santo | 112.50
.50 0,000 271.40 0.000
400.
o preç Rio de Janeiro
caído a 4.865 réis (Fausto, 1989, p. 207). Celso Furtado observa que, Bahia
160.239.000 213.818.000
possibilidade de depreciar o câmbio, os dirigentes dos estados cafeeiros
49.799.000 94.440.200
Pernambuco 27.886.000 82.073.000
durecem a ideia de retirar do mercado parte dos estoques do produto Paraná 15.138.000 30.229.000
Fonte: Fausto, 1989, p. 242.

No convênio, celebrado em Taubaté em fevereiro de 1906, defimeete


do que se chamaria política de “valorização” do produto. Em o : lado dessa expansão na
área do plantio, a produção atingiu nívei
s
política consistia no seguinte: a) com o fim de restabelecer o equilibr Ssimos. No quinquênio 1911-1915 foram produzidos
68 milhões de sa-
a oferta e a procura de café, o governo interviria no mercado para € Ecafé. Entre 1916 e 1920 houve uma redução para
66 milhões de sacas Ês
os excedentes; b) o financiamento
E 1
dessas
Jacas
compras se faria1: com em
emp Fi CO anos seguintes, a produção voltou a aume
ntar elevando-se a 72 mi-

218
2] o
ceAçau E tnHaus
lhões de sacas, tendo, no período de
1926 a 1930, atingido o total de 99
de milhões restrição, Os dados
sacas, À produção paulista representava de importação de
uma média de 66% desse total (Cano, maquinaria da Grá-
1983, p. 46). As exportações, contudo, perm tados Unidos, da Al Bretanha, di
aneceram estabilizadas e esse cres- emanha e da França
cimento acelerado provocou o que Cels a 1913 o total das demonstram que no
o Furtado chamou de “desequilíbrio compras junto àque período É 1908
estrutural entre a oferta e a procura”, aproximadamente, les Países foi de 9,5
Por ocasião do crash de 1929, a produção perfazendo uma mé milhões de libras
atingiu quase 29 milhões de sacas e à Nos anos da Buer dia de 1,9 milhão
exportação 14,5 milhões. Com os enor ra, isto é, de 1914 de libras ao ano,
estoques acumulados nos armazéns criad mes à 19 18, o total das im
os para isso, os cafeeiros carregados com po
novas floradas e grãos tornaram-se inve
ndáveis. Os clássicos mecanismos de defes
foram impotentes diante da crise que a
assumiu proporções catastróficas:
de câmbio literalmente despencou, a taxa
as reservas metálicas acumuladas
pelos em-
préstimos internacionais esvaíram-se
no ar com O pagamento da dívida
e coma fuga de capitais do país. Em 193 externa
0,a revolução pôs fim à República Velha
Houve uma ruptura do modelo de dese .
nvolvimento industrial baseado no capi- (Suzigan, 1986, p.
36 1-363). As Séries
tal cafeeiro. A partir de fins da década confirmam que as im documentais leva
de 1930 e nos anos seguintes a acumula- portações de máqu ntadas
ção industrial passou, gradativamente, indústria têxtil e inas para geração
a ser fundamentada na reprodução e para indústrias de de en
ampliação de seu próprio capital. das, cigarros e cimento, cal e ce
charutos predomin râmica
Resta saber como se processou o aram em todo o
desenvolvimento industrial a parti período abo
início do século XX. Em primeiro r do:
lugar, foi beneficiado com a expa Co mM éssas variÍan
economia cafeeira: o crescimento nsão tes em mente, po
da área de plantio geralmente era prec de-se supor, port
edido anto, que durant
ou, em algumas regiões — como Por e a
exemplo o norte do Paraná —, seguid dustrial, o que pe
rmite, ao menos,
pela construção da ferrovia, que propiciava
o escoamento da prod
ução par
Os portos, principalmente Santos e Rio
de Janeiro. Ao mesmo tempo funda;
Yam-se novos núcleos urbanos, ampl
iavam-se as necessidades de consumo
crescia a demanda do abastecimento.
Parte dessas necessidades era satisfei NÚMERO DE
com importações. O caso dos gêne EMPRESAS
ros alimentícios é bastante exemplif
entre 1905 e 1930 cles representara icado:
m uma média aproximada de 24%
importações brasileiras (Cano, 1983, d
p. 274). Cada vez mais, contudo, a
dústria nacional passou a abastecer esse mercad
É consagrada na historiografia brasilei
o em expansão.
ra a visão de que nos anos da g
CTCEI
F Onte: y
Adaptado de
ta, 1914 a 1918, graças ao fecham Silva, 1985,
ento do mercado internacional, p. 78-79,
consolidado uma indústria voltada para ter-se:
a substituição das importações. Est
afirmação é, contudo, duvidosa, pois, se o
mercado estava fechado às imp
tações de produtos manufaturado
s, as importações de bens de capi
poderiam permitir a instalação de tal,
novas unidades, também sofriam a sra » São Paulo e o Di
strito Federal, ju
mes É
abelecim k ntos, detinham 42
entos in dustriaiEdos, 53% dos %
capitais e 50% do
220 operariado
e pç A U

brasileiro. Contudo, desmembrando-se os dados, verifica-se que São Paulo Por outro lado, a inserção do Brasil na divisão inter
nacional do trabalho
concentrava 31% das unidades industriais, 29% dos capitais e 30% do ope- como país agroexportador condicionou a expansão
da cafeicultura ao capi-
rariado, enquanto o Distrito Federal possuía 12% dos estabelecimentos, tal estrangeiro e, consequentemente, a industrial
ização se processou sob u :
24% dos capitais e 20% do operariado. Verifica-se, portanto, que a diná- dupla subordinação: do capital internacional e do cafeei
ro. Dessa situa à
mica industrial foi mais acelerada em São Paulo e manteve-se assim até o decorrem duas características da indústria brasileira:
ter surgido, como bi
fim do período. mostrou Sérgio Silva, como “grande indústria de
bens de ensine voltada
Por outro lado, se os valores de importação de maquinaria indicam uma para um mercado interno em acelerado cresciment
o. Este mesmo autor de-
redução no ritmo de crescimento durante a guerra, os dados de produção tropas que a base para a primeira acumulação industrial
foi o grande co-
corroboram essa suposição. Verificando-se os índices da maior atividade in- Hiro importador e exportador, no qual se desta
cavam as grandes casas
dustrial do período, a têxtil de algodão, levantados por Stanley Stein, cons- comissárias ag café, já na década de 1880. Essa
burguesia comercial, à qual
tata-se que o número de unidades no país cresceu de 48 em 1885 para 359 se entao imigrantes como os Matarazzo, Cresp
i e outros, pstililccas la-
em 1929. Contudo, tomando-se os dados por período, verifica-se um boom ços familiares com a grande burguesia cafeeira, o
que facilitou uma fusão d
entre os anos de 1905 e 1915, quando o número de estabelecimentos, de capitais. E dessa fusão que surgiu uma burgu
esia industrial no Brasil :
operários e de produção em metros de tecidos cresceu mais do que 100%, o Essa fusão de capitais não determinou uma linea
ridade de irado
valor da produção 550% e o capital empregado 153%. Entre 1915 e 1921, um alinhamento político automático. Um exemp
lo disso foram os constam.
o número de estabelecimentos cresceu 0,8%, o de operários 32%, o valor da tes embates entre cafeicultores, comerciantes
e industriais em torno das tari-
produção 17% e o capital investido foi negativo em 49%, Esse ritmo mais fasalfandegárias. A elevação das tarifas seria,
teoricamente, do interesse dos
lento de crescimento permaneceu até 1929 (Stein apud Dean, 1989, p. 265) industriais, que veriam suas atividades protegidas
por barreiras alfandegá-
Os dados de 1920 demonstram também que indústrias de minerais não Has, Isso, contudo, não corresponde à reali
dade, uma vez que, como foi de.
metálicos, metalurgia, mecânica, material de transporte, química e farmácia; dera deste texto, os industriais dependiam das impor
tações
borracha e papel e papelão representavam 14,6% da renda industrial do Brasi E e de manufaturados, como o aço, para a expans
ão d
Isso significa que, embora mais de 85% da renda industrial se concentras atividades. Muitas vezes, como bem
à : de monstrou | Nícia
Nícia ViVilela
risLuz (1961
OT)
no setor de bens de consumo (têxtil, roupas, calçados, bebidas etc), pode tutaram Por tarifas alfandegárias diferencia
das, isto é, mais bai
supor que após a guerra acelerou-se um processo de investimento no sé Itens que necessitavam im portar
ortar.
. N Nesse aspecto, enfrentavaEssam nt constantem
o enteri
de bens de produção, o que é bastante significativo e não pode ser despré -& Opos
ição
ção dos comerciai ntes, e àsà vezes dos cafeicul
tores, que temiam reta-
do quando se aborda a temática da industrialização brasileira. re ind internacionais do café caso fosse estabeleci
da uma
De fato, como observaram os teóricos da Comissão Econômica P era Eq protebipista, Por outro lado, como as renda
s do Esta-
América Latina (Cepal), os dependentistas e os teóricos do desenvolvim our pa camente dinda das rendas das alfândegas
, isto é, dos
desigual e combinado do capitalismo, a industrialização brasileira se pr que a Ea tarifas por demais elevadas poderiam fazer
sou em conjunto com a expansão da cafeicultura, isto é, nos momento rs Agio + comprometendo os pagamentos da dívi-
que ocorria um “vazamento de capital” para o setor. Por isso mesmo & E , o omentos públicos etc. Parece correto, contudo, como
concentrou nas regiões onde se processava a referida expansão. Isso ná emo a autora, que o Estado procurou estabelecer certo
pro-
nifica que não tenha ocorrido um processo de industrialização em oi conceder alguns incentivos às atividades
industriais. No con-
regiões, em um ritmo mais lento, do erf
ríod
Pp o, entretanto, a
nao hou vi é uma ítica
política 1
industrialista contínua

bo)
223
, havia
e sistemática. Finalmente, é preciso destacar que, desde fins do Império

CPDOC-FGV
a Primeira
um “pensamento industrializante no Brasil”. Ao longo de toda
l sobre
República ocorreram inúmeros debates e polêmicas em nível naciona
nível ideo-
a questão do protecionismo industrial, identificado às vezes, em
Cavalcanti,
lógico, à segurança e à soberania nacionais. Felisbelo Freire, Amaro
Roberto
Serzedelo Correa, Nilo Peçanha e muitos outros, como Jorge Street e
damente
Simonsen, foram homens de Estado e líderes industriais profun
tram
preocupados com a industrialização do Brasil. Suas reflexões demons
isto, como
como possuíam uma visão de conjunto do país e, mais do que
mais tarde, quan-
muitas vezes enunciaram ideias que se concretizaram anos
ialização.
do o Estado brasileiro desenvolvia uma política sistemática de industr

ALGUMAS OBSERVAÇÕES À GUISA DE CONCLUSÃO


Flores da Cunha discursando durante o encontro de destacamentos republicanos
es postas à
Estas observações finais se iniciarão retomando algumas questõ em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, por ocasião da Revolta de 1923.
movimenh
longo do texto. É fundamental destacar que a história não é um
o eleméis
linear e progressivo de transformações. Na vida humana há sempre
não impossí
to da imprevisibilidade e da surpresa, que torna difícil, se
imprevis
afirmar que tal evento determinou outro acontecimento. Essa
a, plus
lidade faz com que a história seja sempre indeterminável, múltipl
com suas [
dialética, com suas mudanças e transformações, mas também
cimento, é
manências. Evidentemente, ao se narrar determinado aconte
indivíduo, |
ciso levar em conta que há uma memória do vencedor (um
a partir de uma 7
família, um partido, uma classe social), que se reproduz
acerca de,
rativa triunfante, normalmente construída por ele próprio,
uma ré
atos. Essa versão muitas vezes é aceita como verdade até que
passaram €
historiográfica da questão demonstre que as coisas não se
mente como contadas.
a e da industi
Este é o caso do desenvolvimento da economia cafeeir
par
zação no Brasil. Na medida em que São Paulo concentrou grande
ância
indústrias do país, durante algum tempo minimizou-se a import
e E
nomia cafeeira e da industrialização em outras regiões ou supôs-s
ticamente ul Farmácia São João, na rua
que, onde se desenvolvesse a cafeicultura, haveria automa Marechal Floriano, Rio de
Janeiro, atingida por um petardo
durante a Revolta da Chibata,
224
em dezembro de 1910.
Fotografia tirada após a
derrota mostra uma casa
comum em Canudos.

de Barros
Flávio de Barros

Soldados do Batalhão vindo


da Capital

do
Federal em Canudos após

Acervo de Dyonisia Brand


a vitória.

Prisioneiros, a maioria mulheres


crianças, famintos e sedentos, s&.
entregam às forças do Exército;

do
Acervo de Dyonisia Brand.
Betavio Brandão Rêgo
Organizae- vos 'nos Syndicatos!
Fotografia de um conselheirista, ou ' Sósia dom O E:p
"jagunço” no jargão da época,
Cartaz de propaganda eleitoral do BOC.
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Leuenroth
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1
5-
Edgar

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Rm

5
Arquivo

e
5
[ra

Sindicalistas a caminho da celebração do 1º de maio


de 1913 na Vilá Proletária |
Marechal Hermes, Rio de Janeiro.

Fábrica de calçados, São Paulo, 1920.

Fon-Fon, 7(19), 10/05/1913


Leuenroth
Edgar
Arquivo

Em uia
a = E barque de operáriosHermes,
Marechal na Central
Rio de do Janeiro,
Brasil com destino raà Vila Proletária
na cmi
Cortejo fúnebre do sapateiro José Ineguez Martinez, morto pela polícia | o
em 11 de julho de 1917, São Paulo. =. do 1º de Maio de 1913.
Arquivo Edgar Leuenroth
mr
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õ-
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Tecelãs.

Concentração operária na Praça Mauá durante a greve dos marítimos,


Rio de Janeiro, 1920.

27/11/1904
E e PE RICA EIS
Leuenroth

Da RL Ae RR jo

Rio de Janeiro,
Edgar
Arquivo

da Semana,
Revista
Fábrica de vassouras, Bonde tombado por populares durante a Revolta da Vacina.
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A índia, que simboliza a cidade do Rio de Janeiro, entrega ao imigrante recém-chegado o


fruto proibido, "miasmas”, fornecido pela serpente (febre amarela). Os demais frutos da
árvore representam outros agentes morbígenos: o canal do Mangue, a sujeira da cidade, a
Faculdacie de Medicina, a Câmara Municipal etc. Em torno desenrola-se o drama da família Preparação das casas para a destruição dos mosquitos por vapores de enxofre,
imigrante, desde a partida da Europa até a morte dos adultos e a orfandade dos filhos. rotina do Serviço de Profilaxia da Febre Amarela do Departamento Geral de
Saúde Pública durante os anos de 1903 a 1906, na cidade do Rio de Janeiro.
COCFiocruz

Revista Ilustrada, 18/3/1876, ano 1, nº 12


Serviço de Profilaxia da Febre Amarela, situa«io na rua do Lavradio, em cujo
pátio concentram-se as turmas encarregadas: do expurgo e desinfecção das
casas notificadas. Rio de Janeiroy, entre 1903 e 1906.
a
a

1903
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Museu da Repútilim o
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11 de julho de
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O Malho,
ORNE E paca Pça
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Bra ci diam ago 4; in
N
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O Teatro Municipal, no Rio de Janeiro, no final de sua construção. Do lado


esquerdo, o Convento da Ajuda e o Conselho Municipal; do lado direito, a Legenda da imagem: “Bem
avenida Central, depois avenida Rio Branco. À direita da avenida, o atual verdadeiro é o annexim que diz: o
bocado não é para quem o faz, mas
Museu Nacional de Belas Artes em construção.
Reprodução do cartão de felicitações para quem o come,”
enviado pela redação d'O Malho ao Quintino Bocaiúva declarou retirar-se
Acervo de Jaime Benchimol eminente Chefe da Nação, no dia do da política. Desenho de Ângelo
seu aniversário. Desenho de Calixto Agostini.
e Raul Pederneiras.

Juca Pato e Artur Bernardes. Caricatura


de Belmonte.

de 1927
12 de janei
D. Quixote,
esquerda: Centro do Rio de Janeiro
M 1910. Detalhe de um mapa
de
arlos Aenishânslin representando as
Novações urbanas materializadas à
a de Pereira Passos: avenida
a RR ral já rebatizada com o nome de
* SYenida Rio Branco.O mapa exibe
Uitos dos “palácios” edificados
nas
Ovas avenidas.
Rebeco, o conspirador.

Careta. 5 de julho de 1947


Caricatura de Théo.

Epis do 938, crssquinta mota ex acósplicos, que


demonio pança,

Cena de deportados políticos e presos comuns na Colônia de Clevelândia, Amapá.

CPDOCFGV
Rae UR , ao denestmis utsepitmações ai 1 mas, ne
e dtô asunrapupar isa puofundesas do Averpe,
CPDOC-EGV

evol tosos do Forte de Copacabana marcham


pela avenida Atlântica de
encontro às tropas legalistas.
Alto comando da Coluna Miguel Costa-Prestes em Porto Nacional,
Goiás. em outubro de 1925.
| provltaento do

Nacional
de
15 de agosto

Arquivo
D. Quixote,

tigre

Caricatura de Storni “Aproveitamento do suco intelectual”.

os DOT DA TER &


D. Quixote, 27 de setembro de 1922

Nacional
Arquivo
beto
intao, como d (sto, seu Protocelio, mis, os verdadeiros filhas da terra, Nav entramos no festa P
-— De uecordo com a d. Pragmatica, vocis serão expostos coma typos.. sexolicos.

ria is. As la cbrasdo souio gulmito 1 seat

Caricatura de Raul Pederneiras “Os donos da terra”. Manifestação de apoio à Revolução de 1930.
Cavalaria gaúcha no Obelisco na avenid
a Rio Branco, Rio de
em 1º de novembro Janeiro,
de 1930,
CPDOC-FGv

Dide
r Ser pazes del O Co
rrea, escriti
da e, Pre as em 1903, pa
O resultado do ra introduz
tr ir a questão;
SeguBu, ab al ho humano e “A indrs-
e dar a todos é Pelo trabal
Os objej tos a Ut li ho que o ho
ilidade, isto é
— a qualida
de abstrata |

Cartão-postal com des


enho alegáric
homenagem à Revolução de 1930.
vn CEINA,
3)
URBANIZAÇÃO
E INDUSTRIALIZAÇ
ÃO

esmo provisório de 1889) de que o povo assistira ao 15 de novembro


mica ou seja, houve
bestializado. No lugar do bestializado emerge — na linguagem simpática e um crescimento de 41
do Rio de Janeiro passa 2%
quase sedutora do cientista político — a imagem charmosa do bilontra, o de 274 mil para 1,2 mil
Paulo, de 31 mil pata 580 hã
espertalhão, o velhaco, o gozador, o tribofeiro, imagem que se refez poste- mil (Silva, 1985
riormente sob o conceito de “malandragem”. A leitura do texto de Carva-
lho, no entanto, logo perde o encanto, pois é carregada de negatividade: a
República, na versão de José Murilo, não foi e o cidadão brasileiro é um » à modernização signific
mento geral dos espaços ou também
É um re
da política, -
tribofeiro a quem falta fundamentalmente um “espírito burguês cosmopoli- desta, como no Império,
e a reorgani E
ta”, Carvalho destaca o fato de que a última reforma eleitoral feita no Império
reduziu o eleitorado de 10% para 1% da população do Brasil e na República
permaneceu esse quadro de exclusão, variando o eleitorado de 2% a 3%,
Acrescenta Carvalho que a essa exclusão acrescia-se o peso de uma certa tra-
dição senhorial e escravista, da qual, à moda de Gilberto Freyre, destaca o.
paternalismo e a benevolência das relações. Dessa herança surge o bilontra;. da casa.
cuja relação com o Estado é de apatia, oposição e de composição — o favor, Tudo isso foi justific
a corrupção, o fisiologismo — que Murilo denomina estadania. Contrapo ado através da raci onalid
qua l
Ep Pereir a ade técnica e bigienista,
os foi i o piioonneeii ro com o avassa da
to ao tipo ideal de “burguês” individualista e associativo, o bilontra é o cid: la dor “bota-abaixo” movi
regenerador da capita
dão que não foi. Está fora da política, assim como suas associações religio l f ederal, 5 Estudos re ce
MoviP
ce meanto espr ntes demo. ;
Praiou--se pelo país:ís: SãSa
e de auxílio mútuo, as festas, o samba, o carnaval e o futebol. O bilon o Paulo, Belo Horizont
pi ; e re, Curitiitiba e, Salv
lvadadosor, Ro
Re
“perde o humor” quando os poderes instituídos resolvem implantar na t , Floriaianónópo
poli
lis, entre ou
tárias intervenções re tras cidades, foram alvo
guladoras e discipli dess
lidade o mundo formal das leis republicanas. A Revolta da Vacina, em 1904 di Pa Ta as elii tes brasililei nadoras
eiras, os RRexcluídos, os
teria sido, nesse sentido, uma crise de mau humor. O Império havia sido cintadores rebeldes > OS Imigrantes,
a que porresistiam: ou punham er am classifific
os tra-
“tolerante” com as manifestações populares, tendo o cuidado de mant ni ado s co mo Inc
i apazes
; abiam reconhecer os “benef
contudo, fora da política. O exemplo típico seria a Festa da Glória, q PI ícios da civilização”. Era
nteme
nte, bár
á baros e, quando m
caracterizava por ser a “ocasião de rendez-vous dos príncipes com a ar! se manife
Í stavam, Perigosos
é uma questão de polí . “A sã
miúda”, Assim, a partir da leitura de José Murilo, fica-se sabendo o q políc”ia.” Esta frase fic
cia. i ou famosa e expressa
OS mecanis mos em bem
pregados p ara conter a “plebe
cidadão brasileiro não foi. Há pouca positividade na figura do simpé err
em ) que plebe ” eae
Prisões, » tor tortura e des Es
9, den s eofora do território na
bjtro
bilontra tal como delineado por Carvalho. Apesar de não generaliza cional, Em outras palavr
is as, na medida i
tência ao projeto é que
modelo para o Brasil, não deixa de reforçar a ideia do jeitinho brasileiro € Sm as “cl ass es per igo sas ”
em saber que determin de mo ns tra-
característica central da ausência de uma cultura política burguesa entr ados n benefício ss se
s da civilização” não era
àÉ todos, a polí m
tica foi a violência.
É preciso relembrar alguns índices para dimensionar essas questõe POr outro |
ado, » vi Vistos de uma Per
tre 1872 e 1920, a população brasileira aumenta de 9.930.500 0 Período, as
spectiva
iva hishist
tóróriica, os movimentos
revoltas — como a da sociais
30.635.600, isto é, 203%. O número de cidades com mais de 30 mil Vacina de 1904, a dos
nudos e d o Contes Mar inh eir os de
tantes passa de 67 para 265, e a população destas, de 3,1 milhões pará tado =>» 4S associações
operárias, as lutas

RiQIO

dade Paderal do Triângulo iáineiro


Reg. Patrimoniai Nº
OESTE
a

empregaram largamente o habeas corpus, direito novo e instituto jurídico Dias, Maria Odila Leite. 1984.
Quotidiano e poder em São Pau
original criado pelos constitucionais de 1891 (Miranda, 1999; Ferraz Jr, Paulo: Brasiliense. lo no século XIX. São
1989), verifica-se que houve uma apropriação e reelaboração da promessa Fausto, Boris. 1989. “Expansão
do café e política cafeeira.” In Faus
sil Republicano, vol. 1: Estrutur to, Boris (dir.) O Bra-
republicana de democracia, liberdade e direitos de cidadania. Se, com seu a de poder e economia (188
9-1930). São Paulo:
Bertrand Brasil. (Coleção História
riso irônico, o bilontra desafiava a autoridade dos poderes instituídos, os Geral da Civilização Brasileira
Ferraz Jr., Tercio Sampaio. ser./: nov. tomo III)
; de 1989 A “A Constituiçã o repu
movimentos sociais expressaram positiva e afirmativamente o desejo de Revista USP São Paulo: nº 3, bli
li d >»
Foot, Francisco & Leonardi, Victo é Prtt eema de 169.
ampliação do espaço público e da efetivação da República (Arendt, 1990 e r. 1982. História da indústria
(das origens aos anos 20). São e do trabalho no Brasil
1994). Aliás, é bom sempre relembrar que através das lutas travadas na Pri- Paulo: Global.
Franco, Maria S. C, 1983. Hom
meira República foram ampliadas certas liberdades civis e políticas e foram ens livres na ordem escravoc
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Ê
/ i
e historiadores no início da República.
somente acrescento que, a partir da compreensão desses significados, podê Freitas, Marcos C. (org). Historiografia In
brasileira em perspectiva, São
texto, Paulo: Con-
mos encontrar caminhos e alternativas para a consolidação de uma Repú
Luz, Nícia V. 1961. A luta pela
industrialização do Brasil. São
ca democrática, aqui e agora. a João Manuel. 1982. O capitalismo Paulo: Difel. f
tardio. São Paulo: Brasiliense.
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