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Capítulo 2

Das múltiplas utilidades das revoltas: rnovímentos


sediciosos do último quartel do século xvlll e sua
apropriaçáo no processo de
construçáo da rraçáo

João Pinto Furtado

(^\ uando invesdgamos o processo hisrórico de ernancipação e consruçâo da iden-


\lidade nacional brasileira, uma das primeiras quesróes que nos vern à mente é
aquela relatÍva aos possíveis vínculos cxistentes entre três conjuntos
de aconrecirnen-
tos sucessiyos que à pdmcira vista pareccm, notável e coerêntemena.,
,up"r"r-r. .*
esçala crescente deradicalismo e abrangência. Colocados ern relaÉo, os evcntos arti-
culados em torno das diversas inconfidências setecentisras
mineira, de 17gg/g9;
do Rio de Janeiro, de 17g4t e baiana, de 1798 -
parecem mesmo sugerir a muitos
-
autores uma relativa complementaridade cnue si. Âos participantes
da primeira, abas-
'tàâos
membros de uma elice urbana, faltariam o radicalismo inteleçrual tomado de
emprésdmo pelos sediciosos fluminenses aos franceses, bem
como a'toloração" po-
pular finalmenh obdda pelos baianos a pardr da
difusáo do apelo sedicioso entrc
negros e mestiços da Bahia. Ernbora tenradora
e apresenrando dgum nível de emba-

i.i:;i', .fem;nto empÍrico, essa articulação não chega a ser a melhor expressão da verdade,
;f,,:i,conlorme rentarei demonstar a pardr do exame da história e da historiografia
.j,r.'., concernentes aos eventos em te[a, com especial destague para a Inconfidência Minei-
râ, 9uê, entxe eles, seria objero
da mais expressiva apropriação simbólica e política
pelas elites imperiais jd a
partir do inÍcio do século xIX no processo de constru$o da
identidade nacional. Nesse senddo,
sugiro, já de início, gue a relação esrabelecida
entrc as diversas inconfidências
do final do séculoxviil e o proÇesso de independên-
cia deu-se antes
por stra apropriaçáo e releirura pelos agentes da emancipação do que
Das múltiplâs utilidades das revolras
A independência brasíleira

formâçáo de um pensamento comum comPal- século xvIII, de uma expressiva csfera pública eflquento loc* privileg,ado da açáo
pelo acúmulo de experiêncies e
-ou
política, conforme demonstrou Jancsó
(1997)'
tilhado pelos rrês processos em Paute'
- à lncon-
preciso Por outro lado, ainda que admitindo seus eYenços cor$Perativamente
Em primeiro lugar, e pardr de uma breve análise comPerativa,l seiia no modo de se àzer
fidência Mineira, particularmente os relativos às reformulaçóes
os eventos em desta-
tentar,re§túelecer em bases Íeeli§tas as possíveis Çonexóes entre a difundida tese de que o que:contrapõe
hisroriografia, pelo " política, náo se pode aceirar impunemenre
quej Para além,do que .su§tenrou táo fortemente o.discurso'da elitista e reformista da In'
a comunháo e a circulaso das : os dois movimentos seria, firndamentalmente, o caráter
menos aré os anos 1980, o gue se percebe de fato é que
,i.l' Mineira ais-à-yis o caráter popular da baiana, freqüentemenre vista como
idéias enue os evento§ foram muito resrritas, para não falar da Prâticâmente
tr& "onnrên"ta
orevolucionária". Ora, no século XWII, mesmo tardio, o conüaPonto elite-povo não
â8enÍes envolvidos,
inexisrente circulaçáo dos personagens e da heterogeneidade dos se processâvâ do mesmo modo que nas democracias
modernas' Pelo contrário' na
o que Seriam variáVeis bastante e:cpressivas se qUiséssemos
demOnstrar que sua Suces-
documenução e
,, oi"* seteÇe11tista, o poYo era ainda uma "substância" urn pouco disforme, hetero-
,ao no tempo não seria obra do acaso' Floje sabemos' a PaÍtir de . eventualmente caminhavam de mãos dadas contra o Esta-
gênea, onde ricos e pobres
mlneiros e baianos,
também de análises hisroriográficas mais estruturais, que entre ,, ão e a nobreza, oU §UA fraçáo dominan!Ê, Nesse§ casos, náo era
incomum gue os
mesmo aprofundar
pobres conussem com a liderançe e a protcçáo simbólica muiro
Sem fieqüentemenEe
por exemplo, sáo rnaiores as diferenças que as semelhanças. ,,.
distinta nos dois casOS,
o exâme da conjunrura econômica regional, profundamente
diria gue, enquânEo a maioria dos conjurados mineiros era positivamente
dcfensora .,' rirrriam a soçiedade contemporânea a pardr da segunda merade do sécu-
"rr.rt
, , lo xix, não seria, portântor e marca inequívoca dessas sediçóes do perÍodo, sáo
das insrituiçóes do Ántigo Regime porruguês, desde que escoimadas de alguns exces-
sosdo absolutismo, os baiano§ cermrnente se inspiravam na§ reçentes
transformaçõee .j exemplares, nesr. sentido, os casos da Inconfidência Mineira, que, além das elites,
,-.', çsn1ou corn algum nível de envolvimento de pessoas de baixa o<uação socíal e' em
gue ainda se pÍocessavam no ambienre francês. & entre os
primeiros náo foram
ji:'il
enrre os não-monarquisras baianos o §enti-
.r.. menor gf*o, d;Io"onfidência Baiana, que contour a princípío, com fofie adesão de
iou"o, os monarquistas, p.r ouuo lado,
:l:Í
:i:Ir
sugeriria ,:,r', muiros membrOs da elire soteropolitana e baiana, os quais foram progressivamente
io d." do rermo "República" era radicalmente diferente do que 'l:1
::ri
"propriaçao r..', eximidos de participaçáo no correr da devassa. Tanto em um caso guânto no ou[ro'
o moümento republicano a pardr dos anos 1870'
lilr
:,r,.. a versão dominrnte na historiografizfez "tábula rasa', eliminando, na prádca, os ri::

os baianos, por seu turno, mais referenciados aos acontecimentos franceses lii
em qu€ o século xIX :..,, . ,.tor., populares de uma e as elites de outra. Nesse processo, foi decisiva a ação dos +i
çoevos ainda náo ctregavam a ser "republicanos" no sentido i:l
.t.i
dgvassantes em cada caso. ii:i
fortemente marcado iin
consagraria, mesmo porque seu repertório político seria ainda ii'. ',,
A questáo da inrerflerência dos derentores do poder local no curso das devassas iri
política por :i;1

p.l* Ãltu." política que condicionara padrões de ação e rePte§entaçáo .. que inVestigeram os três eventos nos remete diretamenle ao PIoblema, ainda em 11,

que se afirma' iii


,g"rlor. É o caso da táo &eqüentemente alardeada conotação popular ,' aberto e q,ie p.rsiste como um tema provocante pare a historiografia, da relaçáo :ii
de "baixa" extração
ria basicamenrc a panir de uma expressiva adesáo de elementos .. cntre a tniondd§nau do Rio de
Janeiro, a "dos letradoso, e a§ demais
irxurreiçóes do
,i!;
caso, é preciso lem-
social, artesâos e oficiais em p?Íticulâr, negros e mestiços, Nesse ,,.
período. A questão que se levanta é, fundamentalmerrte, sobre o que, afinal' define l.lir
'..:
inicialmente a um crime de inconfidência nesse contexro: â posse e a leirura de livros e texcos inter-
brar que o próprio fato de que o movimento tenha se materializado
i:1

ili:
de rextos escritos supóe níveis de educação formal e inserçáo , . ditos? Ou, simplesmenf,e, o fato de se ter, de algum modo, caído em desgraça
junro iI'
parti;da divulgação .il
massa escrava do a membros do eswblishrnezr luso-brasileiro e, portanto, ser objeto de devassa? A per-
social certamenre muito diferenciados em relaso ao conjunro da ' i'i
:l
e vinham, cÔmo centenas
conrinenre. Em termos propriamente políticos, nãO deixa de ser surpreendente gunta se aplica fundamentairnente ao câso dos cariocas que
baiano do final do .' .o1r milhares de outros mernbros dq mundo ibero-americano, se deliciando com de-
avançada, no entânto, * progr"rri.', constituiçáo, no contexto
r' bates teóricos acerca de Bm noyo rnundo ou de uma nova ordem, mas que, na práti-
11".,,'ia, não cheg'aram e gerâr uma única ação concrela no sentido de sua tranSfOrmaçáo'
I Villaha. 2000. i'-....t, , Posivelmenre, seria a hornens como eles que um conhecido autor do século XiX se
102 A independôncia brasileira Das mÚltiplas utilidades das revoltas 103

referiu, quando escreveu que "até egora, os filósofos era mercantilista


teriaÍn se encerregâdo apenas de politico-econômico de longa duração, o anrigo sistema colonial da
interpretar o mundo e não de transformá-1o". o passa-
Ássirn corno ôs .rrio.L de 1792-94, foi, .f*tiu",o"nte, o verdadeiro fundador de uma escr:la interpretativa sobre
muitos dos personagens do mundo intelecual coevo aualiza em nários trabalhos' Se, por um lado,
reunia*-.. grupos para do colonial brasileiro que subsiste e se
Ieirura,pública c disctrssão detextos, o que se "* necessária
explica, senr uma t i.orq,ri* pode-se afirmar gue seu arcabouço teórico-conceitual foi produdvo e eftciente na
en[re esses fatores, tanm pelo al_to custo do objeio também se
Iiyro, quanto pelo jes"jo de com- erploraçao de inúmeras facetas da história colonial brasileira, Por ouüo»
pardlhar_idéias e experiências. por qu. ró ,.rs que, por definição, sua aplicabílidade à interpretaçáo de fenômenos de
pôucos foi.m irrài"iodos? É notável, pod.
"Íir.nn,
nô câso do Rio de Jarreiro, o reduzido arcance
da,disseminaçáo interectual e a nuridade duraçáo, .o*o é o caso das inconfidências, é no mÍnimo problernática' Con-
das açoeb práticas parâ se pôr em marcha o "revanre", "urta de Novais
se já se definiu a inconfidência forme procurarei demonstlar, são questionáveis algumas das observaçóes
Baiana corno epenas um "ensaio de sedição",2
o que dizer daquela ,dos letrados,,? .
(1986ino que se refere à interpretação das inconfidências, em especial a mineira. Sua
.
Não sendo de segundo plano, no caso) a anárise
dos discursos e faras presenres concepção à" qo. as idéias que em Porrugal possuÍam uma face reformista, quando
na documentação de época, seria necessário
levantar arguns problemas e questiona- trairspostas a uma situaçáo coloniall gAnhavam uma face revolucionária
mê Parece
menros q*anto às abordagens mais generalistas, hoje irradequada e mesmo insustentável. O que a pesquisa empírica e a
crítica dos
sistêrnicas ou esuuturais sobre o
tema da independência brasireira.* ,,r, reração ,.*,"*urrho* sugerem é que no Brasil e em Portugal, como
as idéias iluministas,
com os evenros ciados. Tiabarhos
como o§ de Mota (19g4 e lggg) e Novais (lgso alhures, podiam- ser mnto reformistas quanto revolucionâias, dependendo de por
m€ pâfecem, nesse caso, mais
datados e interessantes como documentos do
marxismo dos anos g7A e I9g0 do qr.*, equando fossern enunciadas, na medida rnesma em que circulavam por
"o*o
que como análises sobre os móveis poríticos
do processo em ceusa, o probrerna que ,ári.. p*,o d. ,rm *.r*o império, seja através de textos, seja através de valores e
se coloça explicitamente reside no fato
de que, na--prrra-qou=r-#* de temas práticas compartilhados.
conjunturais, cxpressos em falas e práticas, esses eutores que
se apegâraÍn exclusivamente Apenas por meio de urn mabalho de crírica documental e historiográfica
aos instrumentos intcrpretativos da Ionga yalorize, ,""rprr. questione, sirnultaneamen[e, (estemunhos e procedimentos judi-
duração econômi."i o que parece insufi-
"
ciente, não obsrante os grandes mCribs, sobretud.o
do trabalho d. Nou.ir, no que ciais pode-sc-revelare iluminar a§Pecros aré então obscurecidos por grandes cortes
respeita à abordagem das grandes ransformações
pelas quais passava a economia t.mpor"is e/ou conceiruais, Tomando como exernPlo a Inconfidência Mineira de
mundial no perÍodo. Em úldrrra instância, o qu"
r" esd sugerindo é que a pessâgem 1788/g9, é posslvel afirmar gue não era nacionalista, tamPouco revolucionária, como
da análise estrutural ao exarne do processo de emarrcipação,
nesse fi"ou aquérn nrgerem Maxwell (1985 e 1993). Náo obstante o recoúeci-
passagens de
do potencial do terna exâremenre porqrrs não conseguiuperceber "rrà, "lju*", do historiador inglês, que tem sido uma
*.r,.o dor!."rrd", . indiscutíveis méritos
*s fiúgr*rrrs
das nesra última dirnensão, conjuntural, em
que â autopercepçáo dos agenres "onri- não é grande refer-ência para meu próprio uabalho no que tang€ a uma abordagem mais
questão menoÍ ou desprezível,{ geral e sistêmica das relaçóes enrre Brasil, Portugai e Inglaterra no período da Incon-
Isso nos leya a
um segundo ponto, concernente à natureza e ao
estâtuto teórico ádencia Mineira, seu rexro não foi suficientemente eÊcaz na interpretaSo das falas,
e explicativo do assim chamado antigo
sisrema colonial, tema que ,.* gruao inr"n- proposres e práticas dos inconfidentes mineiros de 1788/89. Nesse caso, arSuo que a
so debate. na historiograÊa brasireira desde o fim
da década de r970i. fucabouço Inconfidência Mineira seria rnais propriamente um "motim de acornodaçád' no inte-
conceitual criado para servir como ferrarnenta
explicativa de um certo ordenamento rior do Andgo Regirne português do que até me§mo um ensaio de sedit'o' çonforme
se sugeriu.* ,alrçao aos baia.ros. Dessa forrna, argumentos como a permanência de
2Jancsó,1995, vários inconâdentes nos quadros da burocracia do Êstado português, mesmo após
3 os ensaios de
Jorge Miguel Pedreira-e o dc Jurandir Malerba que úriu o workthop condenados, bem como a percepçao da recorrência e impunidade desse dpo de ie-
Nr* Ápproaches to
Brqailian Indzpcddenu, rcarizado cm oxford ;",
;; i. ,ü,";;;"r;;r#;r#;enro yarrre no conrexro do período desçrito são poderosos indícics em favor dessa hipóte-
inadcquação.de uma abordagcm es:ritarnentc sobrc a

cimenÍos po.líticos. ver introduçáo, clc


esrruru.ar, econàmica, p.ro. à, *;;;;;;.r, € aconte- se, À semântica e sintaxe "revolucionária§", de ruPturâ mesmo com o§ padróes do
Jurandir Malerba, . o i, "nárir.
de ]orgc úigrá-p.àr.i.., Àntigo Regime, evenruaimente poderiam estar mais presentes na Bahia de 1798.
incluÍdos na presente obra. "rpr,"i. "_bos
a
Furtado. 2002.
Mas em Minas de 1789, seguramente, a questão náo seria incontroversa'
Das múltiptas utilidades
das revolras 105
'104 A independêncla brasileira

Por todo o exposto, convém arentiu para alguns aspectos muirc irnportantes a r:.ltta'
, No plano dos cargos eletivos' f:i.dePu:d: *:i:]::"""t::tffi':*,11i1:
n

í+it,, deregaso de representante de Minas Gerais nas


nrJllt"-#;;t"n.io,ad, de passagem *
serern considerados no exame daqueles três eventos em conjunto, Conforme já ana- corflo toda a
lisei,5 não se pode elidir o fato de gue, na ordem setecentista, não represenradva no em 1821. Neste úldmo caso, diga-se
de Lisboa
iiití;.çprt., os BruPo§ politicos
C.*t, no conrexro da crise [,re "orrtrrpôs
senddo moderno,. os motins, bem corno as devassas, são poderosos instrumentos de $ ,ban"nd, de Minas
manifestação.de vontade; .nurn caso; e de gestáo: polÍúce; .em oulro. .lbrnem-se, para. ffiiadi"*aosnaEuropaenaAmérica-'náochegouaseHansPortaraLisboaea
junto às corãs' Foi ainda deputad:^:i'3::t:;
promover essa invesdgação, alguns exemplos concretos, oriundos sobretudo da In- f,il.iui e.xercer
confidência Mineira de 1788/89. ffi[:rT;;:,.d;+ "Íedrr^*".rtJ" "f'"'"'oçao
úi;,: é"i:*,^I::::H:: de menor
:T::,#,"s
j:,::::',-:;;:r::::
No q"J;; ;.r"'"
i;!ir. :ênversadura.
de
*i"t"nu:'-::::lT.::"T""
cristo, ao quar ,. ngr"grri*, dois anos mais tarde, o
Três rebeldes em perspectiva: Resende Çosta, Rodrigues da Costa e do Poder Moderadoç de
José de Sá e Bittencourt e Accioli
',-.:ilfi::"Jiiril*i--ordem
iii:, título de conselheiro Jo i*pe'io'
cargo de
""o*"lh^'*t"to em 1 840'
t ã*idã c"pa"idad" deliberaúva' Finalmente'
ii*,i',*rir" Po*p" '"t"iull"nit recém-
quadros do
já ietirado" da vida iiUtn*, ainda foi convidado a integrar os
Depurado eleito por Minas Gerais Lisboa de 1821, José de Resende
às cortes de ,r,.;i oitocentista criada sob
Costa Filho possuía larga ecperiência político-administrativa e notável capacidade :,i1 . criado lnstiruto
Hh-í';; iltg'ááco Brasileiro' 111y-
de circulaSo no rnundo luso-brasileiro. Nasceu em Minas Gerais em 1765 e rcs27
jttl ; ,*or"i"t a" *oo"'quit " ' "li fo'te*ente vinculada'7 verciginosa e
mineiro era versátil e Percorreu
it.,;,.' Como se p..oUJ no"o ilustre.,"::''l':'
anos foi p"r* Áfri"r, onde üveu entre 7792 e 1803. A partir
"
para Lisboa, onde esteve radicado até 1809, quando
desse último ano, foi
finalmente se deslocou para o l,t', i.,.,"'Ji-I
;iri,i*]. J;rd
;ff Ã;;;; "
;J.
i.tuo e *looria aripica no quadro
^^^ oo oltarnrm
::l:T"i"
da
'" ::?:li::X,;-,:;
adminisuação
Brasil, de onde náo mais súia, vindo a falecer no Rio deJaneiro em 1841,6 Foi r r l:-^- *-nra
---l- dizer representâr umâ
dela se pode 1

protagonisu de uma representativâ trajerória polÍtlco-administradva, tendo iniçiado iat',il* ;*;;ril ; oitocentista e' §eguramente' !
I
elirc polltica lus+'brasileira ou
*,r..rro, à qurl q,râtqTr membro da
I

i.:.,,traietória d.
:

certa çstranheza ? a qual aqui


sua carreira burocrática ainda na África aomo ajudante do secretário de governo em se I

,, ''r
que causâ
Posteriormente imperi"lLpimria'-O
l
Sáo Tiago de Cabo Verde, cargo que exeÍceu entre 1793 e 1795. Neste úldmo ano,
,,il: converte em problema deinvestigação
* é o fato de' em 1797' nosso exemplar l
i
assumiu a titularidade do cargo do qual até então era ajudante. Entre 1796 e 1797 prirneira
por crime de lesa-majestade de
I

I
:: per§onâgem rer sido condenado à morte
I

exÊrceu outra função em Cabo Verde, a de escriúo da Provedoria da Real Fazenda, à 1788/89' Mesmo
Mineira de
.,1.l,, cabeça no pro".r,o q* investigou
a Inconfidência .

gual se sucedeu o cargo de capitáo-mor do Forte de Santo Á,ntônio, ocupado entre continuaria
em degredo p"ra África' sua Pena
1798 e 1803 e que, na práricâ, lhe conferia o comando militar da praça da Vila da 1,;r,l: :tendo sido posteriorri.*." -*'i'ada " a rainha e
Praia, antiga capital daguela colônia. remetendo I preri"" i" um crime d" "lt''g'"nid'de'.cometido,contrâ
pois o nomeou
Após chegar a Lisboa, entre 1803 e 1804, José de Resende Costa Filho püeceu '" ' também contre ;fb;t;, que' afinal' p"t"t 'o tudo esquecido
sucessivas vezes e
"para diversos cergos'
bem acomodado depois de ser novamente empregâdo pelo Estado português, Foi
çonstituinte mineira
escriturário do Eúrio fugio enne 1804 e 1809, cargo que se sucedeu à experiência Seu caso náo é único' Ú* toi"g' da bancada
ocu11l1fl:::'::'.ffi lllii:l
padre Manoel Rodrigues da Costa' embora-náo.tenha
[:ffii;'ffi: ffi i J*;',"'*" Jil: cm i 26 " I
adquirida naÁfrica no mesrÍro campo. Convocado e nomeedo pelo príncipe regenter
em 1809 teve que voltar ao Brasil, de onde não mais sairia, Na principal região do
8
I*
.1T :.]:* ; :::1n
lmpério à época, convertida em sede da Corte Cosra Filho foi administrador da ;:il,1"1T':"f'"-J":*.";;;;'""*'o"rigio'o:*i^d:":Ti:,:".":'i,:
Fábrica de Lapidaçáo de Diamantes do fuo de Janeiro, contador-geral do Erário e, il:* ;;iffiil;ã.;u""r" )fl,,*, reveta grande vimlidade.ecoiu:i"1
r, . - J^-.:-:-i^* nô(I 1]I
nrl-
até 1827, escriváo da Mesa do Tesouro. ffi'*":#;J;l* p.o**inencia que sertscoricei@o
âsentes P:ti:i-
"oo*:t]fl,::lj;
do lbitipoca, aual município
ffii::If[.*""i;"ü; ni*Jt-*
5 Furtado,2002.
7
6 jardim, i989. Guimarães, 1988, I
IOd Aindependênciabrasileira Dâs múltiplas utilidades das revoltas 107

,,

de Conselhçiro Lafaiete, em 1754, Manoel Rodrigues da Cosra era descendente de .r, Não é improvável que o religioso, nas lides da Tipografia do Arco do Cego,
abastada famÍlia de fazendeiros e cultivava boas relaçóes com o contratador João tenha conhecido o irrequieto José de Sá e Bitencourt e Accioli, nosso terceiro e
Rodrigues de Macedo, norório sonegador ê inconfidente nunce indiciado,8 Prova- último personagem em destaque. Descendente de tradicional família baiana,
i. e abastada
velrnente'teria sido, no Seminário de Mariana, aluno do cônego Vieira, veemenre :ii o naturalista formado ern Coimbra ÍIasceu em Caetd, no ano de 1755, Âlém de
dêênsor da atualiza$o da doutrina seiscentista do Quinto lrnpério, de seu homôni- i
irir "coimbrão", teria sido freqüentador do cficulo ilustrado da Academia de Ciências de
mo padre Vieira, além de leitor atento de Raynal, Voltaire e Montesquieu. Tâmbém í.:liiü, Lirbon e tradutor de algumas obras sob coordenaçáo e a pedido do frei Veloso. Final-
condenado à reclusão, embora em Lisboa, dada sua condição de religioso, o padre Íi..,t't"'t*rr*., seria correspondente de José Bonifácio deAndrada e Silva, o "Patriarca da
Manoel Rodrigues da Cosm uáo deixou de exerçer atividades que o disdnguiriam, i.i Independência" e rambém cientista, com quem compartilhariq além do fascínio
sobretudo no campo intelecrual, sendo ainda possuidor de vasta biblioteca. Já em .1i;,. pelos segredos da química, a "repulsa ao despotismo" em todos os seus graus.lo
1796, apenas quatro anos depois de proferida â pene, sua prisão foi rela<ada e ele Êoi j.,i Ácusado de ser o inconfidente ciado em vários depoim€ntos como o "baúarel
rransferido para o Convento de São Francisco da Cidade, pena náo muito cruel para iiu pequeno da comarca do Sabará", José de Sá e Bittencourt e Accioli morâya com uma
um clérigo. 1..,' tia, com quem dnha esreitos laços afedvos dCIde a infância, na vila de Caeté. Thndo,
Em 1801 já se tornara amigo e conviva de personagens importantes como ,i',r: em 1789, resolvido passar na Búia pare rever parentes, tornou o caminho do Serro
Hipólito da Costa, gue posteriornente cria-ria o Correio Brds;lient€, do padrc Viegas i-:;.ri Frio, usual para os que faziam aquela jornadâ, até que foi informado por um viajance
de Menezes, inuodutor da imprensa em Minas Gerais, e do frei José Mariano da ,.. de que soldados procedentes de Vila Rica estavam na estrada à procura de "um ho-
Conceição Veloso, diretor daTipografia do fuco do Cego, em Lisboa, e responsável l.r.r'r: mem que se âusentara de Minas",ll Temeroso de que aqueles "lhe praticasem algu-
pela tradução e edição de inúmeras obras iluministas e protoliberais.e Ainda que boa 1i1,,, m.vioiencia",l2 embrenhou-se na mata e seguiu seu curso aré tes com os pârentes na
parte dessas affrmações seja baseada ern conjecturás, o Éro conÇrero é gue o padre i,lll: Búia. Tão logo as autoridades das Minas entrarem cm conteto com as da Bahia, o
Manoel Rodrigues da Costa mabdhou na tipografia, tendo raduzido e publicado i;ri;,,, eng"nho ern que se encôntÍava teria sido cercado "por mais de 300 homens" e o
pelo menos uma obra, e rcria sido o primeiro inconfidente de 1789 a receb€r autori- 5r.1ot.t foi preso. Chegando ao Rio de Janeiro, foi metido em urn dos segredos da
',,i'r'
zaçlo para retornaÍ ao Brasil, o que fez já em I 802, apenâs I 0 anos após ser condena- cadeia da Relafo até que, após interrogado durante apenas tr& dias consecutivos (há
';r'i
do, retornando à sua fazenda na comarca do Rio das Momes. De volta a Minas i,,i,,i' casos de meses entre um interrogatório e ouuo), foi libertado sem formalizaçáo de
Gerais, esteve envolvido corn projeros tôxteis, alimentÍcios e de rnelhoramentos pú- i::il" çulPa. Â questáo que surge diz respeito aotaÍnente à suposta incoerência eflffe rnô-
blicos em geral. Tornou-se ume referência de ciúlidade e cortesia em sua regiáo, r:ii,i'.ibilizar tamanho efetivo milirar para a sua caprura e depois libertá-lo em poucos dias.
recebendo as visitas de personagens tão dísparês quanto Augusrc de Saint-Hilaire e o
,,,,r,,,,, Um detalhe sobre sua libertaçáo não passou despetcebido a Silva (1948), que
imperador Pedro L Ainda em 1842, em provectâ idade, associou-se às escaramuças i,.'1, efirmaria ter ocorrido, entre a priúo e o interrogatório, o que passaria a se chamar o
.milagre
liberais da região de Barbacena, dando guarida a diversos e exaltados jovens que l li, ' de Bonsucesso": sue tia, após tom", .orrh.ai*"nto de sua prisão,
pareciam evocar nele sua própria juventude. Thmbém sócio do lnsticuto Hisrórico e
"b"rod,
,;,,,,, teria se esvaído em lágrimas e oraçóes até desfalecer. Num delírio, apareceu-lhe a
Geográfico Brasileiro, é dele um dos poucos regisuos, na prirneira pessoa, remanes' t,,il imog"* da Virgem de Bonsucesso prostrada sobre uma de suas lavras, supostamente
centes da inconfidência Mineira de 1788i89, uma vez que Resende Costa, tarnbém indi.o"ao o atendimento de suas preces. A pobre senhora teria cavado no lugar
,',rli.
convidado a prestar depoimento, limirou-se â reproduzir parte da narrativa de Robert :. , ; epontado "durante quinze dias com suas próprias máos* até conseguir alguns gülos
Southey, 0
padre Manoel Rodrigues da Costa morreu em 7844, aos 89 anos, sendo .,,,,, de ouror os quais cercamente teriam conrribuido para o bom andamento e agilidade
o úlúmo dos inconfidentes de 1788/89 a falecer.
to;ardim,
t9g9.
" Ânarrativa da epopéia é tomada de emprésrimo a §ouzs Silva. O "homem gue se âus€ntêm dc Minas'
I Jardim, 1989.
;1r3 gtovavelmentc o padre Rolim. Ver Silva, t 948, r 1, p. 89-)2 e 167-168.
e Ibid. " Palavras proferidas em resposta à inquirifo, Yer Á*os dr furassa...,1975, v, 1, p,555-573.
Das múltiplas urtilldades das revoltx 109

108 A independência brasileira

Costa e o padre Manoel Rodrigues da Costa, ambos firmemente


,-' ;orC de Rçsende *
dos trâmites judiciais. A respeito dessa irônica fanmsia/denúnci&r3 o que chame a a qual
,, .st.bel."ido§ e corn múltipías atividades nâ_comâÍca do Rio das Mortes
.atenção,
nurn certo sentido, é e notável (e antecipada) analogia com a "reabilitaSo" independência e
," ;;;i, a ser um dos principais esteios da consolidaçáo do processo de
operada nos ourros dois casos citados e Çom o não-indiciamento de boa parte da elite ,, J* *on*rquia - tendiam a defender posiçôes mais radicais no camPo econômico,
envolvida,nos episodios baianos de 1798. i,' ond".r" mais visivelrnente ecentuada a idéia de rrPtura com os padrões tipicamente
É precisamente a partir dos elementos ceutrais contidos nessas três pequenas ,'-,.oloni"i, da economia mineira. Por outo lado, homens como Tomás Àntô.io
nârrâtivâs de uajetórias de vida que se pode enunciar algumas hipóteses sobre as Freire de Andrada e cláudio Manoel da cosra, radicados
na comarca de
[*!ii,,.ã;";;,
'Vil,
articulaçôes entre 1788/89 elBZllZZ. O que se afirma, ne§§e sentido, é que, mediante mais prol da flexibilizaçáo de algumas nor-
ili1i. Ri"ca, pareciam rrabalhar muito em
a reavaliaçáo operada pela historiografia uos últimos ano§, a Inconfidência Mineira i.,,'i *^, d".omércio e ributação, bem como de sua própria reinserçáo polfdca' Nesse
pârece se revelar a muitos de seus contemporâneos antes como um conflito de jiririi,.,':l sentido, os contratadore§ e os bacharéis e advogados' mais diretamente vinculados às

interesses no interior do mundo luso-brasileiro do Antigo Regime do que como ltfi, *iiria.aes urbanas típicas da sociedade e da burocracia portuguesa§, Perticularmente
urn ineguÍvoco movimento de ruptura, com uma clara agenda de construção de -'
iiii ,qu.l., situados no nú"l.o de Vila zu1 e s1 entorno, P."tt"*,,.
tl
alguns mornen-
nova nacionalidade, a qual se afirmaria, sobretudo, Por sua distinção em relaçáo à H;1, *, ' -ir*be* exúemamente céticos quânto ao fim último do projero
sediçioso'
portuguesa.ld liLn,t quentiarive e qualitativa dos bens següesrradosaos inconfi'
a análise
ir:,., a*to ae 17gg contribui para a melhor definição desse perfil dividido e hererogêneo
As devassas do fim do século XVlll como instrumento de gestáo Iti., . *rr possíveis implicaçó". p"ra o estudo da sediçáo PY.:idi. ot, dil?- :PT"dot:
política e como fonte sobrê a estruturâ luso-brasileira de Poder analisados corroboram o argumenro da cre§cenre Çomplexidade
e dualidade do cená-

rio econômico em que se gestou a sediçáo e inüabilizam a definiçáo das classificaçóes


Sendo as devassas um instrumento típico áe resolução de conflitos e gestão relarivamenre unilateraistmo as que' com insisténcia, falam de um "complô de
polÍtica no r{ntigo Regime português, não se pode, impunemente, tornar como real maBnata§ endividados",ls ou outras que aPontarn para
a ocistência de uma crise
orpressão da verdade algumas de suas conclusóes e atribuir aos inconfidenres de 1788/ .*iô*i". generalizada, agravada pela questão fiscal como principal, senão única,
89, ou mesmo aos de 1794 ou de 1798, um projeto maior e mais radical do que de motivadora da a$o.t6
fato se pode comprovar historicamente, por meio de evidências documentais e crÍti- Em última insrâricia, é possível afirmar gue os gruPos de vila Ricae
do Rio das
e suas sucessivas reelaboraçóes simbólicas mais urba-
cas. Àinda que o trabalho da memória
- Mortes, em 1788/89, contrapunham-se basicamente a Pertir de um perfii
possa amplificar as dimensões e o alcurce do tema em ei(eme, em certo sentido "classista"' no
no, aonra*"dor e estâmenEal no primeiro ca§o, e agrícola, radiçal e
-dir-se-ia
segundo. No primeiro caso, erâln homess firmemenre inseridos no Ântigo
que é precisament€ a relativa impunidade da maior parte dos sediciosos e Regime
sua plena reínserÉo na política do ternpo, víxas postfacn%, quc nos dão, a um só ii:.::; ii.: pJrtug,rer; no ,"grndo, indivÍduos mais competitivos' mas ainda em Processo de
tempo, a medida dos limites estruturais das sediçóes pretendidas, bem como lançam ,in.orp'or"çao à burocracia e demais inscrumentos de poder do Estado, incorporafo
1
'..::r.it
.ii.1r:.'.:

as bases de compreensão de como se deu sua reapropriação a parrir de l82ll22- que oó se tonsolidaria nas prirneiras décadas do seculo XIX, na medida me§ma
ern
Nesse senrido, tome-se como exemplo a perceppo de que havia, enue os incon- que se definiam sua§ sólidas bases socioeconôrnicas, as mesma§ que §ustentariam a

fidentes de i788/89, pelo menos dois projeuos de sediçao disdnros. Â parrir da leiru- possível estabclecer um produti-
irimeira geraçáo das elitcs do império. Talvez fosse
ra dos autos de perguntas e acareaçóes constantes do qünto volume dos AWos de vo quadro polÍtico compüa[ivo *n"t *"t' úldmos t aqueles que foram eximidos
de
deuassa da Incorufidêrzçia Mineira (Ádiw), percebe-se claramente que alguns dos in- culpa na Inconfidência Baiana, embora com substancial vantagem de dados empÍricos
confidentes das regióes de maior prosperidede e vitalidade econômicas, cotÍro o eram

l5 Maxwell,
t985.
16
I3 Ver §i!ra, l94B, t, z, p, 89-92, Jardim, 1989,
l{ ;á discuti o temâ cm outros trabalhos. Ver Furado, 2000.
ll0 A independêncía brxileira
Das múltiplas utilidades das revoltas 111

para o ç$udo do caso rnineiro, haja visra o não-indiciamenro


de muiros parrícipes do isso acabou caracterizando também os discursos e práticas concernenres aos morado-
evento baiano.
res das cornarcas do Rio das Mortes e de Sabará, os quais tiveram ativa pardcipação
o que poderia p.recer um conÊonro irreconciliável de opini6es e
de
..posises
no processo de emancipação política,
antagônic#' na Inconfidência Mineira, analisada a partir da avaliação crítiça
dos É precisamente nesse senddo que se pode compreender melhor como se deu a
,4dim, { na verdade, um fato concrero e reÍadvamente interigÍvel
pn.tir do same reromada do tcma, na década de 1820, pelas elites políricas que se envolveram no
do contorto de ransição enrre, de urn lado, uma sociedade Ã*"*a. "
pelo conreúdo processo de independência, Freqüentando o imaginário nacional, bem como os de-
estamental, rnas já inrroduzindo incipientemente alguns valores típiàs
de uma so- bates políticos e acadêmicos brasileiros pelo menos desde o início do século XfX, a
cisdade de classes e, de oulro, uma região que experimentava acenluâd.o
processo de InconÊdência Mineira de 1789 parece Êeqüenremenre desrinada a servir de insçru,
diferenciação regional. É rresse sentido que se deveria melhor compreend.er
todo o mento privileg.iado de reflexáo sobre alguns dos temas políticos mais candenres dE
processo de diversificafo produtiva, com o deslocarnento
do eixo econômico que se diferentes conjunrurasr o que se vcrificou já nos primeiros anos da construção da
verificou em Minas Gerais a parcir do segundo quartel do scculo xwII, como
um nacionalidade
dos componentes explicadvos centrais do sentido e dos objerivos do levanre
que se
projerava, bem como das raz6es de sua fragiridade e disscns6es internas, Tomaado-se
O processo de independência e a âpropriaçáo do tema
o conjunro dos inconfidentes, d visÍvel a acentuada concentração de recursos
cconô- das inconfidências
micos na comarcâ do fuo das Morres: mais de 90% dos recursos seqiiestrados
pro-
vêm de moradores dessa comarca e, desres, âpenas Álvarenga peixoro rem maior Evento crescenternente conhecido nas mais diversas esferas e segmentos socia§
destaque na atividade mineradora, ainda que esta não .ejn s,r" única área
de atua- supostamente convertido €m momenro inaugural da naçáo e criador de idenddade,
s,o.r7 No gue respeira a uma análise mais quarimriy4 itens'de composis.o da riqueza a Inconfidência Mineira e toda a conjunrura de fins do século )flruH conver-
mais claramente associáveis a um modo de vida urbano, *o-o uoroiriolroucador, teu-se,
-
já nos primeiros rempos, -
em instrumento persuasivo e retórico por orcetên-
livros, casas, créditos a terceiros, ouror prata e pedras preciosas, não chegam a toralizar cia, Mais do que um simples âro histórico, poftarlro1 o evenro em questão e as
l2o/o do total do seqüesrro, o que sugere a necessidade de sc reavaliar-.lg.ro, demais inconÊdências rornadas em conjunto transformaram-se em imporrantes fer-
ponros
quase consensuais sobre a InconÊdência Mineira de 17g9, noudr*.nr.io rementas simbólicas pâra pensar, já a, partir da primeira merade do século XfX,
que rân- o
ge à caracterização de seu per§.l eminentemente urbano e, por via desre
a*bierrt , tema da "libertaçáo nacional", como se as inconfidências tivessem se constitúdo em
no avelmente intelectualizado. prévias do "Griro do lpiranga", engasgadas e súocadas desde os idos de 1ZAS/89,
Áurores como Maxwell (1985), Jardim (1g99) e Novais (19g6) insisrem nesse mes que teriam ecoado ainda cm 1822, e supostamen[e servido de inspiraSo
a
ponto, gue, embora correro e pertinente quânro a alguns dos inconfidenres d' Pedro I, nero da rainha conrra a qual
de Mi- conyertido cle próprio em
se conspirara,
nas, não pode ser generalizado para todo o grupo, flern mesmo para rodo proagonisra do processo a partir do legado daqueles úlrimos.
o grupo
envolvido no ceso baiano. o evenro que talvez melhor se encaixe *es.. d.finiçã'o j., O tipo de argumento que talvez explique esse modo de pensar pode ser bem
inconfidências como produto de um cenário urbano e intçlecttralizado seria precisa- ilustrado por um pensador católico mineiro do início do século XX que, em
obra
rnente o caso do fuo de Janeiro, entre todos o rnais inexpressivo no que respeita às publicada por ocasião do centenário da Independência do Brasii, em lg}T,ainda
faz
açóes práticas ou desdobramenros concreros. Na verdade, o qua
orou sugerindo c Iargo uso da simbologia ligada ao rema de emancipação e cenualiza as atenSes
sóre
que a leitura dos textos iluministas a partir dos maiores expoentes inrelecruais da os elementos "ideais" do processo. Em Lúcio José dos santos tem-se uma emociona-
comârca de Vila Rica tende a ser um pouco mais moderada e conservadora no gue da e reveladora homenagem aos inconfidentes:
tange à redefini$o da ordem política-econômica. Ao Iongo dos 30 anos seguinres,
Generosos paladinos! Em vão vos condenaram os Juízes da Alçada. A justiça não
l7 Para dados quantiutivos
é esta Eumênide infernal, a serviço do desporismo. Ela é wrna.Vestal, taja-sc de
e tabela.s, ver Ftrrtado, 2002,
branco, jarou eterna castidadc t paira muito acima d.as contingências materiah dt
Das múltiplàs utilidades das revolras 113
112 À independência brasileira

ju$iça inviolável vos absolveu. Ela náo vos absolveu Nem sempre o§ econ[ecimenrcs filosóficos ne§re Pals heviam de ser crirninosos;
amt época- Pois bem, estâ
em §eu seio sentimentOs
Dem sempre ôs emanres da razâo e da verdade sufocariam
.. somente, mas vos engrandeceu e glorificou Pare todo o sempre! Hoje, quand.o
devastou e destruiu
vo[.uemosot olhos a0 pdstado, á a wssa figtra qil.e se ergil.e diante de nós. Ela cresceu úteis e liberais. () tirano despodsmo que, neste país, oprimiu,
temPo o seu exer-
tanro que enche todo esse horizonte longÍnquo e ensângüentado, onde luziram os os primeiros alunos desn útil faculdade embaraçou por rnuiro
ploglesso e
prlmeiros albores da.aurora,da'liberdad+ 4 gcd-ricia'r a doêe cício aos que e§capafarn de. suas.fiirias; fez o retardamenro de seu
Íydnd,o quelêftrot com que mágoa,
§ufocou no b*rço planos de melhorarnentos bem premeditados.
chamar sobrc ele codas as bên-
f.gara da Pdtria, é aosso no?ne quÊ Pronuncidmos, a Déspom Barbacena, e com
e todas as glorias.rs Ex,@ senhor, náo me recordo do infemal govetno do
çãos
quesatisfuçáonáoveioagoraaVEx'.,oprimeirofilósofodoNovoMundoàtesta
perdido'
Álém de compatibilizar suposros interesses públicos e açóes privadas, o texto ia direção dos negócios |úblicos ("') É 'go'a senhor que siato o tempo
de um grande desejo de
remete mmbém ao problema da inrervenção humana no cur§o da história. Aqueies V. Ex.i sabe gue, qrr"ndo deixei a universidade abrasado
vasos dc vidro próprios para o
que ousarâm contra o despotismo e Por isso sucumbirarn foram, afinal, absoluidos ser úril a minha Párria, comprei livros e todos os
e máquinas que me eram
pek histiriae o devir há de gloriffcar ainda mais esses homens "resolutos e de grande esrabelecimento de um laboratório, todos os reagentes
pôÍ em exercÍcio o meu gênio. (...) e quando lançava os primeiros
necessários para
espírito público". É também digna de noÉ e âssociâção da idéia da intemporalidade
alicerçes de meu edifício, a ambiSo de um Joaquim Silvério ("'), esse rnalvado'
da concepção de jusriça associada, ao rnesmo temPo ê paradoxalrnente, à virtude
(...) Êz denunciar ao visconde
"reveladora" do ternpo, da história como triunfo da "verdade". E se é precisamente tendo ouvido a alguns patrícios idéias mais liberais
tramavâ pelos mais dignos pauícios
no domínio do mito que ss oPera essa susPensâo do tempo, elernento que permite de Barbacena u*a pró*i*a sublevação que se
do despota
sua contínua reapresentação, é também no domÍnio do mito gue com freqüência a de Minas Gerais. (...) E saindo a salvo, temendo no\as Perseguições
meu denunciante, voltei para a Bahia onde residi muitos anos não dando exercí-
historiografia envereda quando procura restabeleces em bases históricas e empíricas,
cio alguro à minha faculdade ("')'t'
os discursos e pr&icas de seus personegens'
Panindo desses aspectos simbólicos e retóricos sllte, com freqüência, se associa-
Anote-se o faco de que nosso naruralista, irmão mais velho
do conhecido
ram Inconfidência Mineira e demais inconfidências do perÍodo' e seguramente
à
intendente câmara, pioreiro na siderurgia nacional no século xfx,
correlaciona
íoram intervenien[es nas diversas interpretações que se erigiram sobre o tema' gosta-
conhecimento' o qual teria sido coloca-
ria de sugerir, româado as trajetórias e falas de nossos três diferentes protegonistâs, direrarnenre adisponitilidade pública de seu
corno a erticula-
novas indagaçóes acercâ das relaçíes enue os fatos correlativos a 1788189 e 1 808-22, do a serviço da coroa caso forri* ouüas es direrriees de gestão, bem
ainda que o atrtor' ao se utilizal do
bem como estabelecer alguns limires Para âs articulaçóes Possíveis. Em primeiro lu- çáo .nu" iur"s, libçralismo e ciência' Observe-se
estaria,
gax, citemos brevemente o nosso naturalista.
termo "páuid,, não parece disdnguir claramente Brasil e Ponugll, :o,qr"
ainda por aquele tempo, .* de muitos dos próceres da independência.
Em 1821, inspirado pelas cransformaçóes que já ocorriam na estrutura do Esa- "o*lrohia mais políricos
do no Brasíl, José de Sá c Bittencourt encaminha a Jose Bonif;ício uma" Metnória Não é caso isolado no conrexro quc .xamin.i. Tomernos aSora Eemâs
inacesslvel durante déçadas, naverdade
O texto, para discutir a qucstão.
mincra[ógica da coruarcd do Sabará, enue dife-
significa â reromeda de uma rrocação intelectual interrompida dcsde que fora cirado e Premidos a um conrexto de transiçáo em área de reladva indefinição
sociedade setecentisEe e início
rentes
valores econômicos e sociais, aqueles homens da
indiciado peto crime de lesa-majestade, Embora Pouco se conheça sobre §uâs relaçóes â certeze de
do oitocentos náo tinham, como o§ histori*dores podem ter d PottetiTri,
com o Esrado luso-brasileiro no pe{odo enrre 1792 e I 821 , é elucidativa umâ Pâssa-
um Çerto curso da história. Esse tempo ÇoÍl§tituíâ-se em outro universo de significa-
gem em que o naruraJisra expressa as bas* de sua renúncia intelectual, o que muito nos
ção e, pormnro, eÍticuiave ootro, .onC.itos de
revolta, ieYoiuçáo' nat'o ou repúbli'
diz do processo em erflme. Na carta de oferecimenro de sua lvÍetnória, ele esçreve;

re
18 Santos, 19?2:15, grifos meus. Jardirn, 19§:241-244,
A independência brasileira Das mÚltiplas utilidades das revoltas 115

sintOnia çOm o Pen§amento §etecentista, a turba nes


ca. É o caso, sobretudo, do conceito dc "povos" ou "gentes", com freqiiência rnencio-
farão MinésiO". Nesse autoI, eIn
nados no plural, poderoso indício dc que ainda náo haviem se constituído, pâra iuus nao apareÇe ainda como um fenômeno político conseqüente ou relevante; o
europeus e luso-brasileiros, os modernos conceiros de cidadania e o mais homoge- ,,nétci\ aulgo", a"louca gen e" se reúne nas ruas "c\tno As moscas que corrern Ao lu7ar
neizador e universalista (supostamente democrático) conceiro de sociedade civil, no dondr sentcm o derrArnado rruet' Ou" se ajtmtam, n05 eflnos, onde fedt ã carn€ !1dr€" ,xl
n'Estado"
l'naÉo" são entidades e conceiros estreitarnente associados, e
qual i'povol, e Observc-se como o autot Percce recear, pela inconseqüência, inconstância e falta de
a noção de interesse público é formalmente de$nida. Montesquieu, em O cspírito dat previsibilidade, qualquer forma de ação popular, o que conlele um tom eminente-
/eis, livro que o cônego Vieira possuía, ainda usava com freqüência o rermo no plural.
''ment" reacionário e aristocrático â seu texto.
Michelet, por ôutro [ado, escrevendo sobre a Revoiução de 1789 em O poao, seria
um dos primeiros a singularizar o conceito. Marx, não por acaso, discute o terna flite, povo ê política no âtvorêcer de uma nova era:
quando analisa a quesrão judaica na "sagrada FamÍlii'. Note-se que há, cntre os limites à;possibílidades
autores citados, uma certâ sucessão cronológica, correladva âo processo de constirui-
So e amadurecimento da própria sociedade burguesa. No Brasil, ainda sob uma O processo gue prenunciou em 1788/89 estava in§crito nurna radit'o sedi-
se
monarquia, o processo seria pa.rticularmenre úsível a partir dâ mansmigração da ciosa fiagmentária que envolveu no Brasil, e às vezes também em Ponugal, fidalgos,
famÍlia real, quando a ritualÍstica da corte começa, eos poucos, a expressar o fenôrne- *gentes",
potentados, homens do povo e €§creYosr entre ouüos 'povos" e e Puecia
no, conforme pode ser discutido a partir de aspectos rrabalhados em Souza (1999), referenciar tento o projeto de uma nova alternativa de governo quânto a recuperaçáo
Maierba (2000) e Schwarcz (?;002). Mas, à época das inconfidências, do Ândgo
de um passado, senão relativamente autônom6, pelO menos potencialmente rnais
Rcgime, os privilégios ainda se sobrepóem aos direitos. É extremamente sugestivo,
propÍcio, posro que mais flexível, à defesa dos interesses e cabedais de alguns dos
nessa perspectiva, o relato do padre Manoel Rodrigtres da Cosra sobre a destruifo,
protagonisras. Nesse senddo, estão Presentes na sedifo não só alguns élementos da
em I 821 , do padrâo de infâmia erigido no local onde havia morado Tiradentes ern
redrica ilustrada conüa os excessos da o<ploraçáo colonial como rambém a eventual
Vila Ricu
preservação da monarquia portugU€sâ, desde que houYesse a restaura$o de uma
po[ítica ulramarina anterior à orientaçâo imprimida por Martinho de Melo e Cas-
Em conseqüência da senrença proferida pela relação do Rio deJaneiro, foi demo-
tro desde 1777.
lida a casa em que residiu o Alferes Joaquim José e em lugar dela se levanrou uma
As insruçóes de jeneiro de 1788 ao novo governador das Minas, o visconde de
memória em que esravam escritos o seu nome e o seu delito. Logo que se anun- oneomercantilistas"
Barbàcena, peÍeceriln aos mineiros ainda mais "draconianas" e
ciou o Governo Constitucional e, naquela Capital se organizou um Governo Pro-
que as anteriores, implementadas aos Poucos sob a gesúo de Luís da Cunha Meneses,
visório, o povo, sem autoridacle pública, demoliu aquele espantalho sem oposição
e [elvez renham agravado sensivelmente o quadro de ansiedade e insatisfa$o política
alguma da parte do mesmo Governo e em seu lugar se levantou ourro ediÊcio.z0
na região mineradora, o que afastou ainda mais a elite política da capitania dos
encarregados da política ultramarina. É curioso o faro de que, na§ ê§tÍatégias de
Ánote-se que o elrror distingue claramelte os termos "povo" e 'ãuroridade pú-
convencimento usadas pelos "arregimentadores" * corflo O padre Toledo, Tiradentes
blicd', exciuindo do primeiro a última, A autoridade estaria, na acepçío do padre e
consoante à visão do tempo, certárnente melhor represencada no governo provisório.
e Luís Vaz de Toledo Piz.a *, instruÉes sejam sempre citadas, às vezes com notó-
as
rios exageros, comô é o casô do teto de 10 mil cruzados (quatro contos de réis), a ser
Nesse caso, parecem persistir nas palavras doinconfidente) mesmo em 182 1, ecos de
estabelecido por Lisboa corno "limite de rigueza" na§ Minâs. Apesar de draconianas
alguns dos adjetivos usados pelo poeta e desembargador Tomás Antônio Gonzaga,
e reveladoras de certa insensibilidade da parte de ManL'Iho de lr4elo t Castro, as
na pena de Criúlo, para se referir ao povo quando crÍdca as ações políticas do "fan-

2rGonraga,
20 Carta a José de Resende Çosa, em Adim, v, 9, p. 442. l995Íil-lA.
L independência brasileira Das múltiplas wÍlidades das revoltas 717

instru@es não sustentam, minimamente, a suposição de que, a parrir dc um limite Voltando às Minas, diria que os versos de Gonzaga tas Cartas chilena1 quase
de I0 mil cruzados, os bens dos mineiros seriam 'tonfiscados" em favor da coroa.z2 sempre lembrados pe[a historiografia aPen,§ Por seu elevado teor de çrítica ao despo-
Era grande o desejo dos potentados locais de recuperar o acesso à gestão e ao tismo portuguôs, parecem ganhar um cÊrto conteúdo premonitório. Â lírica de
usufruto.das benesçes do Estado, o gue se percebe notadamente na proposição da Gonzaga nem.sempre sugere gue os
"parciais do levantd' náo estivessem abertos a
retomada do,curso de,algumas'antigas reformasiniciadas,p.gr;P.ombal;:de reorienações toda sorte de negociaçóes com os prepostos da coroa. fuferindo-se'ao desponismo de
adrninismarivas e de defesa da continuidade e recuperaçáo de alguns privilegios con- Luís da Cunha Meneses, etn suâs relaçóes com o eskmenro administrativo da capita-
'nia,
cedidos, pela administração metropolitana ou local, a rnoradores da capitania. Nesse o
escreve Poe[a:
senrido, é digno de nota o fato de que o programa econômico dos inconÊdentes esrá
quase todo contido em Çorrcspondência oficial de d. Rodrigo José de Meneses, en- Tu já viste o casquilho, quando sobe
viada à coroâ poEtuguesa em 1780, o quc não perece ter sido interpretado como À crsa e* gue se canta, e em que se joga,
uaição. O governador das Minas propusera ao governo da metrópole uma série de Que deixa à pona as bestas, e os lacaios,
medidas de diversificação econômica para reverter o quadro de decadência ern quc se Sem querer se lembrar que venra, e çhove?
encontrava â capitania, Destacam-se entre as medidas sugerida.s; l'a)libetdade perâ.a§ Pois assim rros tratou o nosso chde;
indústrias; b) organiza$o dc um serüço de correios; c) concessão de empréstirnos Mal à poru chepu do chde andgo
aos mineiros a 9% eo eno; d) suprcssão das casas de fundiçáo; e) insala-
juros de 8 a Com ele se reçolhe, e até ao rnesme
çáo de uma casa da moeda em Minas, para absorver todo o ouro em pó e transíormá- Luziáo, nobre corpo do senado
Io em papel-moeda; 0 cria$o de uma siderúrgica".z} Exceto a criação de urna uni- Não fala, não correja, nem despede,25
versidade, ere esse basicamente o projeto dos incctrfidentes mineiros de 1788/89.
. Náo se pode esguecer que vários inconfidentes foram constantes pafiíçipes des Eloqüentes, os versos indicam a possibilidade de que, corn alguns afagos aos
esffuturas de poder luso-brasileiras e agraciados com inúmeras regalias nas gestões homens bons das câmaras municipais ("luzido, nobre corpo do senado", que Gonzaga
imediatamente anteriores. Gonzaga, Çomo se sâbe, era filho de um homem que peÍ- procurava preencher com seus "parciais") e o convite a que adentrassem "à casa em
tencera, nas palavras de Maxwell (198r), ao "círculo Íntimo dos conselheiros dç Pom- que se centa e que se joga", boa parte das rensões poderia ser aliviada e, mais que
bal", Ciáudio não dispuúa mais de posiçáo considerável na capitania, tendo que tudo, poderiam set retomados e reafirmados os interesses cornplementares enüe a
sobreviver da "usura". AJvarenga perdera boa parte dos privilégios de gue dispuúa metrópole e a colônia. Ârrote-se ![ue, em senrido geral, e obra de Critilo se dirige ao
ao tempo de Pombai. Todos eles poderiam ser aqui entendidos não como já quase despotismo e ao desapego às normas uisrocráticas por par[e de Cunha Meneses ou,
"brasileiros", como insixe parte expressiva da historiografia de reterência, mas como no máximo, ao desporismo strhto sewu, A' monarquia, no entanto, parece resultar
vassalos da rainha de Portugal estabelecidos em colônias, anteriorrnente bern inseri- preservada ern pilares e esteios Êundamentais, etrüe os quais se inclui a nobreza, pos-
dos e agora privados de antigas regalias. Os mineiros, nesses casosl a meu ver, ainda teriormente convertida em "elite política", conceito mais próximo a uma sociedade
estão desdtuldos daquela consciência do "viver em colônias" que relataria com de classes.
ineditismo um obserrador do contexto baiano em 1802:2{ o que certemente tam- Por outro lado, também é possível identificar evidências de que alguns dos in-
bém já se colocava em alguns dos discursos de 1821172, dadas todas as transforma- confidentes de faro nuuiam maior simpatia pelo modelo republicano de exercício da
çóes que se sucederam a 1808. política, embora náo alirnentassem, âIé as últirnas conseqüências, o projeto de insti-
tuição do sistema represennrivo stricto scnsu, Esta parece ser a tônica dominante em
relação ao envolvimento de Álvares Maciel, possuidor de volume que continha as leis
zz Ádi*, v. 8, p, 4l-105; v. l, p.9l-126,157.
?lJardim, 195939.
24 Vilhena, apud Novais, i997, 25
Cf. Gon .g*, 1995:62.
A independêncÍa brasileira Das múltiplas utilidades das revoltas Xtg

de algumas das repúblicas norre-emericanas, e do padre Toledo, o qual,


no enrento, outros terrnos a mesma hipótese, é interessante destacar que, cada um a §eu tempo e
'rnais nrde reafirmaria
preferência por uma forma de organizaçáo po1íri"" que pn,ece a seu modo, puderam nesse processo se rcconciliar com â monarquia, com os Bragança
inspirada nas mesmâs câmaras municipais luso-brasireiras.2. Naà s" pod* e, por qu€ náo dizer, com sua história imediata. É só a partir daí que se pode compre-
.ri,r..o
rainda que o concciro de "República", tal como enrendido no ender o Fato de que Resende CoscÀ um réu condenado por lesa-maiescade de prirnei-
mineiro, tal-
"o.rr.oo
vcz também no baiano, supunha sérias resrriçôes eo voro uniüersal podido assumir o comando. milimr de uma Preça fordficada, dorní-
e reduzidas di- ra cabeça, tenha
mensões territoriais. Este seria um tema de debate mais caracteríscico
da segunda nio da mesma autoridade que pretendeu ameaçâr' É a partir daÍ que se pode
metade do siculo xlx, e ainda uma conquista generarizada no mundo ocidentaj icornpreender a renúncia intelectual operada por José de Sá e Bittencourt e Âccioli,
apenas no século )Õ( bem como sua retomada, É a partir daí que melhor se compreend€ as apârentemente
No entanto, romado no sentido gue nos é contemporâneo, o caráter republica_ ambÍguas açóes do vettrsto padre Manoel Rodrigues da Cosa, anfitrião de Pedro I,
no do rnovirncnto mineiro e, às vezes, seus propósitos profund.amente dernocráticos outros,liberais radicai§- Seja por via da corrup$o, em menor grau
Saint-Hilaire e de
são sobejamenre referidos por aurores como Jardim (lgg9) e sanros (lg1z).Kenneth e apenes no câso de Bittencourr, seia por via de laços de clientela que se restabelecern
Maxwell (1993), por seu turno, ainda no início dos anos 1990, insistia com yeemfu-
€ se reconstroem no interior do mundo luso-brasileiro na ürada do século XVIII
cia no sentido "republicano" e "nacionalista" como carecterização polícica
mais geral para o )GX, todos úo personagêns de um redesenho do Esado que viria a ser decisi-
do levante, o que não nos paxece adequado.
vo nas décadas subseqüentes.
Para ourros inconfidentes, alternadvamente, a movimentação sediciosa
teria por Tiês personagens vistos em diferentes ternpos, três trajetórias que §e enmntrarn
objedvo a defesa da coroa e de sua legitimidade conrrâ os desmandos evenruais de
e se afastam. Por outro lado, três diferentes sedições ou inçonfidências, três curtas
álguns de seus represenranres, desde que suprimida a polírica econômica
dura@es que ráo decisivamente marcariam o imaginrírio nacional. Nosos âgenres,
neomercantilisra e, por conseguinre, despótica. G"irrap e cláudio, emborapartícipes
seja os eferivamenre condenados, seja os anisdados ou reabiiitados, forarn cúmplices
e conhecedores do motim, náo parecem compardlhar da tese republicana,
o que se] de algumas das principais conspirações do tardio século )C\ãfi, que, como já procu-
depreende de várias de suas intervençóes. Tiradentes, por seu rurno, conrraditoria-
rei indicar, sâo expressão de um quadro elítremamente hererogêneo €, com freqüên-
menre às suas concepções anticoloniais, alude, como já mencionado, a um arnbíguo
cia, foram limimdas em suâs bases polídco-sociais e projetos. Se nossos diferentes
e provocativo propósiro "resrauredor" da sediçáo. Âcompanhando villalu (199g),
agentes não cornpardlhavam da mesme sedi6o, são pelo rnenos oriundos de uma
podem-se evocar ecos da resrauração porruguese nas premissas de alguns
de seus mesrna gerafo e de um contexto sociorconômico comum, o que talvez explique por
agertes. Nas próprias e apaixonadas pa.lavras do alferes Tiradentes, reletidas
várias que as tênues ligações existentes en[re as três inçonfidências aqui abordadas forafil
vezes em respostâ a uma intervenção do bacharel Lucas Antônio Monteiro de Bar-
táo freqüenremente associadas ao procegso de ernancipaçáo polítice que a elas se
ros, que afirmara a natureza criminosa do "leyante", náo se tratava de ato de mera
rupr*ra com a ordern insrituída. Dizia sucederia nas primeiras décadas do século XIX' Desse proces§o elas se tornariam,
e1e, colérico e cheio de paixão; ',Nío diga
sobretudo, matéria-prima simbólica, inspirafo e objeto de sucessivas reelaboraçôes
Ievantar, C restaurâr",
no plano da mernória.

o que udo isso parece inclicar é que alguns aspe«os das falas de lTgg/g9,
nptadamente no que Çonc€rne à defesa de uma monarquia náo-despótica, seriarn Referências bibliográficas
notavelmente retornados pelos mesmos protagonisras em lg2}-zz,num movimento
de forg abrasadora ao qual o prdprio príncipe herdeiro rentaria forçosarnenre se ÁUTOS dt deuasa da Inconfdência Mineira (Ad.im). BrasÍlia: Câmara dos Depurados; !ç16
adaptar. No gue se refere aos nossos rrês personagens destacados, raduzinclo por Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1978, 12v'

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