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\. Ent{e Lm e ôutro marco, alguns momentos se destacam como es-
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-transformações estruturais_que acar-
or"iuúrni": signin,cativos pelall
'Guerra
írr^ i'fiõg, íe*iino da dos Emboabas, nomeação de An-
iã*, at Àtuuqueigre Coellio de Carvalho Para o 9o131no,^da ca-
i grande investida da Coroa no sentido
,iirri" -rrã--ãuúriduae
priméira de esta-
a CAPÍTULO I:
t;ü;; " na zona mineradora, {e _quo. separação
;1;;-;. capitanias de são paulo-Minas e Rioo de Janeiro seria uma
início oficial do mo-
conseoüência direta' como o seria também O \ALSO FAUSTO
da revolta rrustrada de
;il;;i;-';rü.nirãa.1, iiirtl; 1720, ano po.t
friip" Ao, Santos, violàntamánte suÍocada.
l":lT-T.i1? *tntão'
independente de Minas,
;" iffi, o primeiro !árern"dor da- capitaniâ
^primeiros "E apesar de tudo o quo sa expõe, e que tanto conspira
i""ú*ao-o'leríodo"conturbado dos descobertos e inau- para se julgarem estas minas as mais pobres, s desgraçadas
marcado pelo das que vivem em sociedade; não é tão fácil afirmar delas
grãõ a tâse oa tuiótiOua" consondàda;Eucarístico" reflete,
17i2.-1.736-'
e pelo cste conceito, não so olhando mais que para o seu des-
ãpogeu uurii"ro qu" u-f".iu Ao "Triunfo marcado comércio de importação, e vendo ao longe por
Freire de Andrada, uma
#í;il; g.r"*.i a" óomesportuguês; das maiores cntre a cscâssa luz de narrações adulteradas o seu luxo
iigui"r-ão-imfrio ãoúniut quando a festa descomedido. Mas se atcntar qualquer para o modo por
.1748-1752, expres- que vivem e comerciam os vassalos de Sua Majestade neste
ãã;Àur"o Trbno Episcopal"'mar;a o início da decadência,
e na isenção dt- P9- país, verá que o ordinário deles pensa mal, e olha tão-ss
sa também no fim ãã iritpotto da capitação mente pal'a uma falsa reputação, e trabalha por um falso
os-senhores de iavras com mais de 30 escravos;
1788â9'
;h*" il; ante
brilhante no que pertence aos seus que de longe quer se
ouandô os colonos mineiros exprimem seu descontentamento lhe atribuam: pretendendo, à imitação dos cômicos e fi-
;;útt ."ãoôÃi"u i pottti"" itravés da Ioconfrdência guras teatrai§, fingir com palhetas douradas ouro maciço,
o com vidros lrpidados precioea pcdraria."
Composta a cronologia sempre tão impo-rlante para. qual-
-
ou", t."UãUro de História--, é preciso ir além dela' E endossar'
Representação da Câmara de Mariaoa, 1789.

;;;; ;;;7üt" ãá o"t"rutsificação'social nas Minas do século xvIII


t.riili-,-á- pt*àitn.rto teórico proposto por .R' Nardeau.e C' I
do colóquio-canadensé sobre marginalidade, Ern 1733, houve em Vila Rica uma festividade religiosa que ll ''
ianaccio na êonclusão
retirou o Santíssimo Sacramento da Igreja do Rosário e o conduziu .

;;;-;;',JoAiotot do assunto rarament€ adotam: "Parece-nos im- 1,,


a análise da marginalidade é. sempre fun' triunfalmente para a Matriz do Pilar. O acontecimento ocorÍeu no ' .lt ,

;"ii;;t" reconhecer que que não. poderia.se limitar a uma dia 24 de maio, mas foi antecedido por um longo período de pre-
;à;áã ú; rede de relações,-e
parativos, desde a proclamação oficial da festa até os "seis dias
;irpú àiú.içao neutra â" ót;"tô, empíritos reais tomados em si sucessiyos de luminárias" que precederam imediatamente a pro-
mesmos." ro
cissão. Esta se achava programada para ter lugar no dia 23, sá-
bado, que amanheceu sereno e assim continuou até o momento
. .. n T\ n .1. r cm que a crrimôÍ a devêÍia teÍ início. Poi ênlão quq rúbitâ ô
SOOIAT Àq.ur\e. & $ u, e Llt'c.{q/"}',"fbdê?
11:li:::.-{Tl.i.:::.9::"1ff-d:.::.*:^-"T:F:::,r::y-:-,:T:
- r cidos pcr uma chuva repentina, "muda voz do Céu" que provocou
à,o §^r^,€r -' cÀ. rff^'^^4^i^a r\ao ,Dt- o adiamento da festa pàra o dia seguinte.

cr^§É KÚtt t s& ê*-^iô,, tr1ô^s-0, rq{ x-, m ?fl}*-d1$d}ffi"X:;;'ffi:'m§::'#jxfrffiffg


ato da pública ven€Íação". Completavam o quadro muitas flores,
aromas e uma verdadeira explosão cromática, tudo isto segundo o
testemunho de Simão Ferreira Machado, autor do Triunfo Euca-
in G' Allar4 op' cit', P' 168' rístico, texto em que a trasladação é narrada.
16. R. Nardcau c C. Panacclo

t9
18

119A
Parece não ter tido limites a pompa então presenciada por a festa religiosa era um âcontecimento que propiciava o encontro
i!
Vila Rica: danças, alegorias, cavalhadas, figuras a. cavalo repre- e a comunicação; aliás, ests seu aspecto acabava, muitas vezes, por
qi sentando os Quàtro Veãtos, todos luxuosamente vestidos e enfeita- sobrepujar os eventuais anseios místicos, como deixa entrever o
rx
dos com pedias preciosas. 0 bairro do Ouro Preto, onde se si- último bispo mineiro do período colonial, Frei Cipriano de São
li
ruáun u üatriz, iambam foi representado, ao lacll da - Lua,- das José, ao retratar a romaria do Senhor Bom Jesus de Matosinhos:
:i Nút"t, de Maáe, de Vênus, de'Mercúrio, de Júpiter, do Sol, da ". . . tal era a confusão e tão descomposto o tumulto, que a capela
ir
,il
Bstrefá d'Alva e da Vespertina, entre muitas outras figuras' O de Matosinhos mais parecia praça de touros que Igreja de fiéis." a
Conde das Galvêas, governador das Minas, assistiu às festas junta- Atrelando-se à tradição exaltatória do mito edênico que ca-
*art" com "toda a Nobreza, e Senado da Câmara", e Simão Fer- ractenza a oônica colonial r', o Triunlo Eucarístico retrata muito
reira Machado diz não havei lembrança "que visse o Brasil, nem bem o estado de euforia da sociedade mineradora numa festa "mais
consta, que se fizesse na América ato de maior grandeza"' E, de regozijo dos sentidos do que propriamente de comprazimento
continua o autor, se dentre os povos os portugueses se destacam espiritual" 6. O que está sendo festejado é antes o êxito da empresa
p"iôr r.rr atos admiráveis, "agoia se -vêm gloriosamente excedidos aurífera do que o Santíssimo Sacramento, e nessa excitação visual
ão, re*pr" memoráveis habitadores da Paróquia do Ouro. Preto", caracteristicamente barroca, é a comunidade mineira que se celebra
qoe "majestosa pompa. e magnífico aparato" trasladaram o
a si própria, esfumaçando, na celebração do metal precioso, as
"om
S'antíssimo da igreja dà Ràsário paia a nova Matriz do Pilar 1.
diferenças sociais que separam os homens que buscam o ouro da-
Minas estava então no seu apogeu' Vila Rica era,. "por si- queles que usufruem do seu produto. A festa tem, assim, uma
tuação da natureza cabeça de todá f-América, pela opulência das enorme virtude congraçadora, orientando a sociedade para o evento
riqü"i.r a peroU precioú do Brasil." 2 Os diamantes tinham sido e a fazendo esquecer da sua faina cotidiana; é o momento do pri-
deicobertos- recentãmente, e em 1729 D. Lourenço de Almeida co- mado do eitraordlnário o sobrenatural, o mitológico, o ouro
municara oficialmente à Coroa o seu achado. O Fisco lançava sobre a rotina. No momento- de sua maior abundância, é como -se
visias gorAas sobre o ouro e preparava o terreno para estabelecer o ouro estivesse ao alcance de todos, a todos iluminando com o
a capiiaçâo, o que seria feito em 1735. Os primeiros^ resultados seu brilho na festa barroca.
da áção' do apârelho administrativo - cujas _bases Antonio de 1748 corresponde a outro grande momento de efusão barroca:
Albuquerque Côelho. de Carvalho plantara em 1711 começavam
a festa do Áureo Trono Episcopal, que celebra a criação do Bis-
a aparecer, e a inquieta sociedade mineradora dos -
primeiro§ tempos
pado de Mariana. Na verdade, a criação se dera em 1745, sendo
já 3e apresentava mais acomodada. As festas e as procissões re- designar-lo D. Frei Manuel da Cruz, então bispo do Maranhão, para
iigioras'contavam entre os grandes divertimentos da população, o ocupar o cargo pela primeira vez. O prelado deixara a sua antiga
qíe se harmohiza perfeitamente com o extremo apreço pelo as- diocese em agosto de 1747, empreendendo uma fantástica travessia
p"cto do iulto e da religião - que, entre .nós, sempre se dos sertões que só terminaria em outubro de 1748, "vencendo
manifestou s. Mais do que expres§ão de
"xt"tno uma religiosidade intensa,
doenças, perigos e privações, confortando religiosamente as almas
Iargadas no imenso vale do São Francisco, escassas populações que
L cito a publicação fac-símile fcita por Âffonso Ávila cm Resíduos seis- desconheciam a assistência regular da Igreja e que acorriam das
centtiios »itrot -i textos do século-do ouro e as proleções do mundo
barroco, "^
Bclo Horizonle, 1967, vol, l. As passagens citadas encorÚram'se partes mais remotas daqueles sertões em busca de bênçãos e sacra-
intr" págioar l3l'283, sondo cstae rcfercntes à numeração -original' mentos que o bispo ia distribuindo em sua passagem" T. Sabendo pr
"i
z:-'íPrZvir Alocutóiia' ao TrtunÍo Eucarlstico, in A. Ãvila' op' cit', que â sua chegada provocaria festividades e gastos excessivos, o
-- t, p. 25.
voi. t,

bispo procurou evitar que se ventilasse a notícia, pois, segundo um !

i. er festiüdades rcligiosas absorviam rÊcurso§ extraordináriog. Boxer i

diz que, como aB câmaras ãa Metrópolc, ag da colônia esbanjavam diúeiro


'F.

nessai festas, ficando sem fundos par& 3cU§ encargo§ Costumeiros (colserva'
I

ção de cstradas e pontes


^de etc.). À Câmara de Lisboa teria ido à bancar- 4, Apud José Ferreira Carrato, lgreia, Iluminísmo e escolas mineiras ,

i iota eom a festa Corpus Christi de 1719. The Portuguese Seaborne colonioís, S. Paulo, 1968, p. 37.
Empire, Londres, 1969, pp' 282-283. Portug-uese §o.ci9ty in- lhe TroPics - 5. A observagão é de Affonso Ávila em O lúdico e as projeções do
íhe'Mítntcipal éouncilí ôi coa, Mocao,- Bahla, and Luanda--.1510'1800' mundo barroco, §. Paulo, 1971, p. ll4.
d
Madieon, i965, p. lcl. Para as fcstividades religiosas na Búia' ver pp' 6. Affonso Ávila, op. cit., p. lt7.
E9.91. 7. A. Ávila, Resíduos seircenrtsras,,., p,27,

20 2t
$r' 'lr'' "'
I

já 8' Não se sabe alcançado mas a decadência iít era sensível e só por acaso
estava em decadência
cronista anônimo, o ouro
recebeu ordens das au- enconiraria-l2n
o o'bservador alguém capaz de arcar com o "dispêndio
;;il;rp.;;gi; ár*i- for'prudência ou sea festa não pôde ser evi- necessário paÍa a da sua p€ssoa e fábricas" 13'
;rü"d"í-r;;opotitana's. ô t"to i .qu" foi extremamente luxuosa'
"on."*"ção
;;ii|-f,-;ffi Ao riiunfo Eucarístiêo,
d Tudo leva a crer ter sido este o momento em que §e enceÍrou
Seo texto da festa de 1733 fala de pretos eTrono
pardos-enquanto o apogeu e começou, lentamente, a decadência' que-os anosser- 70

próprias.€a, o''lureo Episcopal' prerãnãi"rrm já evidente e palpável. . As duas festas barrocas


integrãtes ài- tmanáaa"s
iriri.r, assim, para periodiiar'o período áureo das Minas, consti-
*itt"ra" os pajens mulatinhós, "iguais- na estatura" e luxuosa-
integrar
procura tuindo uma e outra dois grandes-monumentos ao luxo e à osten'
mente ataviados com sedas, fitas,-ouró e diamantes, tação.
deles os acompanhantes de
esses elementos na tã"i"Jád., íazendo
;; ffi ]ú;rs principais 0.' Há ainda referência a uma dança Endossando-se a idéia de que a festa funciona como mecanismo
ra, teríamos no Áureo
i;ãig"* exãcutadá por'mulatinhos, que assim faziam as vezes do de reiorço, de inversáo e de neutralização
ro. irono a" ritualização de uma sociedade rica e opulenta reforço
gentio da terra -
que procura, ãtravés da festa, criar um largo espaço corlum de
Mais do que o ouro, é aqui a sociedade mineradora
o prin- -riquãia l- riqueza que é de poucos mas que o espetáculo luxuoso
cipat protagoniriu, u*, qu: iÍ
*oh"auai se assentara razoavelmente
procura apreséntar cómo sendo de muitos, de todos, desde os nobres
e que passauu o .+e.-PtqPIg'.i&#§!Y'-..yut " Lnhores ào Senado até o mulatinho e o gentio da terra' . . O ver-
"oniài "o*aurífero nãõ-ilais persistia, se suas casas já come-
à darate. de acampamento Aadeiro caÍáter da sociedade é, aqui, invertido: a riqueza rl

começavam u ," ,"quiií;^;; "úa"t


a'ggnharem edificaçôes' pródiga; ela era de poucos' e
çava a sumir, mas aparece como Ê

o ouro escasseava' Neste me§mo ano de 1748' terminavam as (fictícia)


õ,,"; ;il'de proporcionando a ilusão (barroca) de que-.a so-
todos. Por fim, á restá cria uma zona Ê

Vila Rica' ampliava-se o I


ãUi"t ao Palácio dos Governadores em Mariana' onde df convivência, L
na
;;;tg" pUãcio do Õãnde de seguinte, o primeiro.
Assumar cidade I
unt chafariz de é rica e^igualitária: está criado o espaço da neutralização
;;6á"i; .onr,ruiiiu,-no- parte da reformula- dts conflitos e diÍerenças. A festa seria, como o rito,- um mo-a
"i"a"a" I
repuxo, ,- ou,ro'"i"pi"",áitentã fazendo 1r' A .anto especial construído pela sociedade, situação surgida "sob A
t
"
;á;;;b;ãtica entáo t"it", pela. cidade mineira capitação
ããr-in.itrtrias renderia, entre 1735 e 1751, a;iãtt-o'úntrole do sisteàa social", e por ele programadalr''com I
dos escravo. o o"nlro ni"ntug*. social de riqueza e opulência para todos ganharia,
a

õ;;;tu " z.o-io rendimento máximo até então r


ae
"iiouut - a festá, enorme clarcia e força persuasória' Mas a mensagem I
iv.

ãl
,iriã.ã'ro que cifrada: o barrocó se utiliza da ilusão-e-do paradoxo, [.
e, assim, o iu*o era ostentação pura, o- fausto era falso, a,riqueza
h
-T "* mas foi com o desígnio oculto de não o avi§ar, scnão na vés- &,

gastos de
oera de sua chegada, paia nao dir lugar aos- excessivo§ da América 'pompa'
e
a ser pobreza e ó apogeu' decadência' "Em tal abun- Fi .,
costu- 18'
ixj,?",'"."'. q*"ãI-i,íriià"tài-oó"ii-àourado Empório
de ser tanta a de' dâncià, que- poà"ria ver, começamos a ser pobres"
"brr"çurâ i
i:
mam ostentar-se cm ."roíi,u"tÀ iunções, sem embàrgo quem po§sq' com o
';r;;";lt* í;' ^rt^i país, que Por aca§o acha nele Em 1789, a Representação da Câmara de Mariana acusava í
prr-i i"ioirrrvação da^.sua Des§oa, i Ídb'i"o""' Áureo
-se ll
disp1ndto necessário pêra edição rac-símire de A' a percepção de que oi espetáculos teatrais usam de artifícios para
i;i;;-Epi;;;;;;;. íí.-ó
à

i'iiã-e-Ã;,'--bito induzir'o espectador a uma falsa consciência, fazendo as palhetas h


l
Ávila.
8a. Triwtfo Eucarístico, P' 91 ' douradas passarem por ouro maciço e os vidros lapidados por L---
ír

g. -;'5"fuia*e
lluleo Tronco...' P' 100-101' I
às so'tieaiiu, figut"t uma. dança de carijós' ounus da
gentio
i;. mutatintros de idade iuvenjl, 12. Fonte: J. I' Teixeira Coelho, "Instrução para o governo da Ca' h
da têrra. EÍa csta "iurüã"=*+-oníe plumas cinzentas caídas até os pitania de Minas Gerais", RÁPM, vol' VIII, -p. 495' &
cintura para cima, q*r-"iú*-uerir. 13. Este documento foi citado à nota I'
h
rF
iliil, I*."nàã'."ittl;" ãait"u* as.cabeçás penachos das mesmas
papel pintado, c latas cÍê§pâs; nos braços-e.ns§.-plumas'
perna§ 1a. Cf. Roberto da Matta, Carnavais, Malandros e Heróis, Rio, 1979, &
ã ôoi"it de
na das caoítulos l.2et.
I
"inúdos
ir,ii'ii ,Àiirã-prisões'oã'iit"s, maravalhas, e guizos; variedade mu- ' r
15. Roberto da Matta, oP. cit., P, 56.
dancas usavam de uns ir.ài-'.à, quc toimurãm diversos
L'
enleios, cantando
le. Iosé Veríssimo Âlvaris da'Silva, "Memória Histórica sobre a Agri'
i..

il"H:#;'i.;;; pot ;li,b';;-1;d;; il som de tamborl' que na


rllutTt-,: píraros
grosseria . natural cultura Portuguesa", apud Fernando Novais, Portugal e Brafiíl na Crise do
e

pastoris, tocad$ mais adultos,


op' cit" pp' 108'109' Antigo Siste,/;a CaloniàI, São Paulo, 1979, p. 205. O autor citado faz estas i:
dos gestos excrtavam Ín;iü
"uito"-""tiiOt
J" dt*at iocosidade"' t
--- lt. Dados levantados em Carrato, op' cit' - consideraçõcs sobrc a realidade meÍropolitana, na época dos descobrimeatos'
t:

tI
23 í
22 L

t
Er,.
f.
Dreciosa oedraria. O que subjaz a este documento extraordinário Com os olhos voltados para o ouro' improvisando alojamentos
Íalso' idéia que pode ser numa região deserta até então, país.das "serranias impenetráveis,
ã';'ijéirl.ã priuao*o, ào fausto que-g- XVII mineiro' dos rios enonnes, das - riquezas minerais, das feras e dos monstros,
i.tit"áa" ao làng«r de todo o século
uma espécie das Hespériáas antigas guardadas por dragões'-'::.-'
0 grande paradoxo inicial é o signo da fome que. maÍcou o pode-se imaginar a fôme que assolou essas populações' 1697-98
narciÃeíio das'minas'-á. ãr-. o nõbre metal
-
cuia "figura"'
à tZOO-Ol foram os anos das maiores crises, quando, ainda na
Úánãerh aparece j't* p-ó, em pequenas lâminas'
imagem popular de Antonil, os mineiros morriam à míngua-"com
";gunã'it*ingot
#-úã. ungoiár"r, "rn .ií.t"l* quadrangúlares'
em
octógonos'
cima da
e pira-
outra; ou umi e*piga de milho na mão, sem terem outro sustento" 24' A
Áiaiir, i* Éminas-aplicadas às vezes uma
-turnúe* 1? 20 de rirdio de 1698, em carta ao rei, escrevia Artur de Sá e Me-
urguãrut ,"os nezes, governador da capitania do Rio, São Paulo e Minas:
;;;ü em pedaços' como. fuldi{o-s'l
un"r"t iõtmidável de'genie, não só. da Metópole
- ,,...'é íem dúvida que renãera muito grande quantia_, se os mineiros ?,nr,:tt('
;;";;;;;;-
fámo Oas capitanias vizinhas. Da praça de Santos fugiam soldados os da tiveram minerado est" ano, o que não lhes foi possível pela grande iru1.
úu."ã da riqueza das Minas, o mesmo acontecendo comcidade' fome, que experimentaram, que chegou a necessidade a tal extremo,
da da
;;;t"dil õ Ri" de
"tn Janeiro, Que:..eln troca defesa
18' Durante os que i" ãprovéitaram dos rnaii imundos animais, e faltando-lhes estes
iecetiam o soláo e uma raçao diária de farinha p"ra po.ierem alimentar a vida, largaram as minas e fugiram para
à0 primeiros anos do século XVIII, a corrida do ouro provocou
em
ós matOS com os seus escravos e sustentaram-se das frutas agrestes
;; ti;i;6ie a gsaída de aproxim.adameate 600.000 indivíduos, que neles achavam. ,,"2í. Com a falta de alimentos' as Minas
anual de a 10 mii indivíduos te' Em 1730' o governador
ie transformaram no cçuÍÍo- de lnflação da colônia: o alqueire de
do Rio de Janeiro dava notícia de dois navios dovoltar
"rea1. Porto "com
para o
milho era vendido por rinià oitàvas de ouro; o de farinha, por 32, i'

apartar deles, antes assim como o de feijão; a galinha alcançava 12 oitavas, e um ga-
i
muita gente, que se não deve i

."ino, íru, o seu desígnio é passai Para as Minas' o que. intentaram tinho ou cachorrinho chegavam a 32; o prato de sal custava 8 oi- a

i;;;;'ú; mit moaos?iã-. úa expiessaq .iá, tão ,conhecida An- tavas, e quem
- quisesse fumar teria de pagar 5 oitavas pela vara i',
i
;;i, [;-t"i;ir*" rol "de todá a tondição de pessoas"' para-dedeses-
de fumo. Morria-se de fome, "tapanhunos e carijós, por comerem i"

oero das autoridades,


- que tentavam, a todo iusto' refrear a onda bichos de taquara, que para-aliás os comer é necessário
estar um tacho Hr,
E

t:-
írini",Odu;i. il 1i09, .ra 30 mil o número das pessoas -ocupadas no fogo benr- quente, e vão botando os que estão v-ivos logo !n.1.
b-"!-- - --r
,

lii'ãiiriarais ãire.aAoras, agrícolas e comerciais, sem falar nos bolem com a quentura, que são os bons, e se come algum que
22'
ãráronàr vindos da África e dãs zonas açucareiras em retração esteja morto é veneno refinado" 28, i..
!,
l

I
Estes anos foram aqueles em que a fome atingiu os seus li- F, '
tl. DominSos Vandelli, "Memória III. Sobre as minas de ouro do mites extremos, e muito povoado foi deixado para trás pelos mi- F
B.

-'*'id. ÁBN, XX, 1898, P. /67.


Brasil", -lc".t" neiros. Conhecem-se, entre outros, os ca§o§ do abandono do Ri- ,
4,. ',
da rainha ao'governador. da praça -de santos" - beirão do Carmo e da Serra do Ouro Preto, a deserção desta dando
r'
L.
^27-lx-1704,
a fim
D.I.. n.o XVI. l89j, pp. iZ-l8i "Carta régia ôstabelecendo providênciaspara
F;lfij

sotáados da guarnição do Rio de laneiro âs origem a muitos outros arraiais; até os fundadores debandaram: o t
,Ê,r-,t

ã.'J"'iriüi; á;;"úã'.; de D.1., vol' xLIX, 1929, pp' 20'22' Paãre Faria foi para Guaratinguetá, Antonio Dias foi para São !
üinu*'J 28-III-l7ll -então,
I
- ---- -
iC.- Vitorino M. Godinho, Á estrutura dg aryttga sociedade portuguesa, Paulo. Passou-se, a partir de a cultivar roças conjugadas a- I

.-r,Íii:jlu 6ii, ii. $-cq. sobie o assunto, diz Caio Prado rr': ""' umé 2?. !
Lisd; rclariv-amente às condições da colônia
às lavras Procurou-se também atentar mais cuidadosamente
íroporiti., gigantescas queque fr- --
acoirtuadã*" ,üf.ntó
;irã"-;"ú-História o famoso rush californiano do sécuto
Í11çl'- ..carta Econ1mica do Brasí1, ll.a cd', S' Paulo, l97l' p' 64' 23. Diogo de Vasconcellos,
\
História Aníiga de Minas Geraís, B' Hori' ,1,, '
20. do governador do Rio de laneiro ao capitâo Francisco Men- zonte, 1904, p. 85. 1,. l
u,'ii".
Acs Catvao sobre a tentáiiva de deserção p&re as minas de muitos indivíduos 24. Antónil, Cuhura e opulência do Brasil por suos drogas e Minas, h4i:i'
l

D'I', vol' xLlx' 19.29, p' 203' introd. A, P, Canabrava, S. Paulo, 2.à ed., s.d., p.
-úuitos r.iro..." -1s'x:l6o
áo 267. í'i.,:i'
r.-ieã"1,"i"0ós - fi.ii
,i. historiadores mineiros oscilam entre o privilegiamento do 25. Apud Diogo de Vascr.rncellos, op. cit', Belo Horizonte, 1904.
(Uuiur*) e -o d9 pauüsta na formação inicial da,popu- 26. Dôcumentó do Códice Costa Matoso apud Mafalda Zemella, O i

"orí*"ni"làinoi- Vasconcellos adotavam a primeira


i;üã;ffiõ;ã. bafãmao e Sylvio _ de ressaltava dbastecimento da cdpitania de Minas Gerais, S, Paulo, 1951, p. 223. h,'
*i-iãad.- .""*nto Diogo de Vasõoncçllos na§ §ua§ Histórias o pa- 27. Diogo de Vasconcellos, op. cit., p. 120 e segs' Para o autor tlo i.
da Costa' Diátogo das Grandezas do Brasil (1618), o problema da mineração consis- í
;;i-ã;'p"úitta, seguinão a tradrção de Cláudio ManuelPaulo' tia, mais do que em encontrar metais, na dificuldade de alimentar os minei I
?2, Boxcr, ,{ ldade de ouro do Brasil, trad', S' 1969'
[;r
l, :i'
*6 ".r
?5 l!,
24 h;::ri,
r,,a':

[,iu,
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lit!,il

onde eram como 4 visão da sociedade, a que mais acertadamente refletia a


para o abastecimento da capitania, suprido oela Bahia - no caso, a visão de riqueza e de opulência'
numerosos os cuÍrars :;' ;'üaii aá tonti*çãq dqqa-Tinho Novo estrutura social
-
:'1;;i;"ào em 1725 -,'pelas capitanias do Sulzs' A fome Dentre os historiadores mineiros, talvez tenha sido Eduardo
ri-
nunca mais chegou a ter tal'alcance, pois a concentração.de
que ela vol-
Frieiro o primeiro a formular conscientemente a crítica a este equí-
quezas e a crescent. sociaí fizeram com uo.o, ,u* artigo intitulado "Vila Rica, Vila Pobre": "Uma das
tasse a atuar no seu círculo coitumeiro: o da
"tiiàtlii"ução pobreza' patranhas da nossa história, tal como usualmente se conta nas es-
ãolas, é a da pretendida riqueza e até mesmo opulência das Minas
Entretanto, apesar de superado . parcialmente o
fantasma da
rica' eufórica e' demo' Gerais na época da abundância do ouro. Em boa e pura verdade
t".", ãíttri ou i*ug"tn de uma sociédade
festas barrocas' tudo indica que nunca houvà a tão propalada riqueza, a não ser na fantasia, ampll
'inclinadoi
;;í;ü"-ã"; chegou aie-no. pelas
ficadora de escritorãs às hipérboles românticas' ( ' ' ' )
as coisas se passaram difeienternente' Por existiram
certo' na-
do iapitác-mor A realiclade foi bem diversa. Nem riqueza' nem grandezas' Ape-
üãu"íã t i.tôtiogruiiu tiàãi.úu fixou a imagem
nas o atraso econômico e a pobreza, õomo herança dum desvaira-
"
Ã1orii" Alves Pereiru pr"*"nt"undo a Viscondessa de Condeixa - mento fugaz, próprio de todas as Califórnias."
31

õ;; d;--gÀr.inuool ãu-.áfitu"iu em 1808 - com uma terrina


de Oliveira como, de resto, nas outras parJes
ã,;-"r"lf"^ ãurífera; Oo càntrâtador Dr, {9ão Fernandes Na sociedade mineradora
-
mandando construlr um lago com navio e tudo para Chica da da colônia eram privilegiados os elementos que tivessem maior
§ilü;;; não conhecia o áar
";-tú.,"* â' Mas'. em proporção aos que se número de -, escravos, Mais da metade das lavras estavam concen-
p"ir"ào. d"lu, distiibuídá por um número li- tradas nas mãos de menos <1e l/5 dos proprietários de negros; o
-era
;iúJ d" p".rou, *. l'sociedadexvIII-
"ir*' era .pobÍe' à creio poder dizer
tenham sido grandemente
próprio critério de concessão de datas assentava-se na quantidade
àe tativos possuídos, as maiores extensões indo para as .mãos dos
il;; tÃtã,por Jo século
"otoricas
uma manipulação "autoritária" da estrutura social grandes senhores. Êara estes, o luxo e a ostentação existiram de
re§ponsáveis
na medida em que ,Ã, àu. ,i.õãs possíveis da sociedade foi imposta íato não como sintomas de irracionalidade, conforme disseram
- mas como sinal distintivo do slalr,s social, como instru-
muitos,
mento de dominação necessário à consolidação e manütenção do
fazer antes de bolir nelas' mando. Acumulação, de escravos e luxo aparecem, aqui, como ca-
;. s*"t,ã. feita: " ' ' ' o primeir6 c'",::,.1"'iu
depoisdeestaremcertosqueeramdeproveitos'houveradeserplantarem-se'
elas estáo' e como os houvesse
racterísticas de uma' sociedade escravista- específica, própria ao
muitos mantimentos ao-redor do sítiobnde-minas; m⧠isto se faz pelo con- sistema colOnial, e indicam o seu caráter extremamente restritivo
32-

em abundânciu, tr.t".-,"1à";; ;';; ãus


de escravos
entenderam em tirar o ouro' e como Poucos foram, pois, nas Minas os grandes senhores e
trário, porque, sem terem mantimentos' levam de carreto o mantimen' cita ãocumento que calcula em três
as minas estão muito iàLÇiã,-ã
que
'ao c deixam a lavoura que ti'
lavras. Sílvio' de Vasconcellos
to nccessário, "o*o"t lhe acaba' to'nom-t"' a média de escravos dos senhores de Rio Acima, sendo que, dos
nham começado. " g .rtu- JrifA"ãr"'e ã vetdúeira causa de darem as ditas
96 proprietários de São João del Rei, apenas 7 possuíam mais de
minas pouco de .i." -"'b;;";;-âá'.lciond'zot
do Brasil' introd' Capistrano
p. er.. o.1uto.r não está 12 negios 38. A partir de dados como este, foram feitas inferências
do Abreu e notas d" Rãà;i;;"-cãi"iu, ni", rsro,
se rcferindo às Minas à"";;i;, pãi.--.riu* ainda
não haviam sido descobcrtas' sobre 1 maior diitribuição da riqueza na sociedade mineira, que,
28. Mafalda z.*àiiá,'ãpl tit', ãtp'
-- III' oassim' A autora arrola os
+ ."iigoriai: 1 csse'nciais à subsistência (cercais,
gêneros consumidos 31. "Vila Rica, Vila Pobre" in O Díabo na Livraria
"*
sal, açúcar, carne, tou;in;fl-i-I ao trabalho nas Minas (uten-
para vestimenta' do Cônego
Eduardo Frieiro,
Como era Gonzaga? E oulros lemas mineíros, Belo Hori'
"r*nciais.
sílios dê ferro e uço, p'ài"":rí ãrt*,.r..uros);
3
e
- - artigos
artigos árr?.ii."r, arreios para animais, cavalSaduras;
4 - znnte, 1957,- p. 164.
mobitiário Numa geiação mais recente, Sylvio cle Vasconcellos: "O ouro proclama
;i's; " ti3âl';",j;r'Êi,nl"1''J':; ro das_.Gerais e o civitização .da capitania, riquezas, mãs os mineradores continuam pobres."
-
Mineiridade. Ensaio àe
dm §antos' Memórias do Dis' Càracterização, Belo Horizonte, 1968, p, 30.
s. pãíio,'ííit, ip lg:ü.-'lãadim Fititio-pp' 161.'162' 12. {i capitalista experimentado controla o seu consumo pessoal' lát
íirc-iíi^onti'ioi
""- í0... il ed',
-Od Rio, 1952, -do
dinhciro cram evidentement€ uma o escravista asiume dívidás crescentes, tornando-se dependente do mercador-
"e no6..- ãfi.io e a usurário e se endividando. Jacob Gorender, Escravismo Colonial, S, Paulo,
minoria que 8€ .on.cniirü nás vilas ou em suas imediaçõos, nas gJandes
e os libertos, brancos, pardos 1978, p. 412, É em Genovese quo se encontra admiravelmente formulada a
ffi;rhd"il rurais, enquanto a mas§a. escrava
funçáo do luxo e dos'gastos süntuários na sociedade escravista patriarcal.
ou preto§, toOos pes'ia=pú-ài, constituíam uma imensa multidão de oprimi-
Ecõnomía Política de la esclavitud, trad., Barcelona, s.d., pp. 24-25'
O.-ioaot'ot ien.tot." Augusto de Lima -Ir"p'A^capitania
<los oelas extorsões 33. Sylvio de Vasconcellos, op. cit., p. 61.
;;ii;;;"r;criãii-2.; B.roilorizonte - s' Paulo, le78' 82' r"
"d" Ir
I'
27 i,

26 sí
{
H:

r'
c-arapinha 36;
ela foi, isso sim, a saída possível para os empreende_
I
por sua vez, seria mais democrática. Teylarci mostrar que as
dores, a maneira encontrada para conservar parte do antigo capital.
ôoisas se passaram de modo diferente.
{i
--/ Assim, as alforrias não se deveram à capacidad" upr"*"ãtuda pela
Em análise recente, Wilson C4íost contestou com brilho a escravaria em comprar a própria liberdade o qu" só podbria
associação entre a capacidade diíamizadora da economia mineira ocoÍrer -
!-om a produção de um excedente -_; não foram. portanto,
u iuu alta produtivid'acle. Diz o autor que, qrylar de ter gerado corueguidas pelos escravos, e sim concedidas pelos senhoies que,
"
efeitos orodutivos na economia do sul e deserWolvido a urbanizaçáo, com a decadência das atividades mineradoras,,. passaram a ter nos
o uprr"lho burocrático e o militar, o ouro não engendrou segmentos gastos com a reprodução da força de trabalho um encargo pesado
proàutivos in loco, pois importava-se â maior parte dos meios de demais. como decorrência desse estado de coisas, ,'su-catôava-se
iubsistência e quase'não havia produção interna ou retenção local compulsoriamente â'filáquina' !"'rz.
dá excedente produzido. Por ôutro lado, a pequena necessidade
àe maquinario'condicionou os investimenlos maciços em mão-de- . Conclui-se que a economia mineira apresentava baixos níyels
de renda distribuídos de uma maneira fttenos desigual do que no f-:
obra, originando uma economia de densidade elevada na qual o
escravo, ütilizado em larga representava grande porcentagem caso do açúcar 38. Mas se a sociedade mineira foi àas rnais àbertas §

-Asescala,
relações entre os gâstos com mãode- da colônia, essa abertura teria se dado por baixo, pera falta
p
r
de capítal imobilizado. quase
obra à o total de ouro produzido seriam do seguinte teor: ausência -
do grande capital e pelo seu baixo podàr de concentráção. f
-
Daí o número de pequenos empreendedores, daí o mercado maior
&
â

total de ouro produzido 644,1 t'/ouro constituído pelo avultado número de homens livres homens esses,
ü
t
- gastos quantificâveis com mão'de-obra 331'2 t'/ouro -
entretanto, de baixo poder aquisitivo e pequena dimensão econômica. I
- íaldo e gastos não quantificados ' ' ' ' 312,9 t'/ouro Em suma, levando-se adiante essas considêrações, a constituição de-
I
II
- I
A produção bruta de ouro foi elevada, e Minas representou á
I
70% d; produção da colônia do século xvlu (ver tabelas, pp.
36. Esta tese é endossada, entre outros, por loão Camilo de O. Tor_ L
37-43);'sobre
a tribu-
entretanto, o sistema colonial fez com -que. o fisco, res, op. cit., e Eschwege, Pluto Brasiliensis.
tação os e§cravos, o sistema monetário implantado e as im- 37. W. Cano, op. cit., p. 103.
que se faziam pelo exclusivo de comércio - con- Maurício Goulart em- Á escravidâo no Brpsil Da' origens à extinção do
portações - 'convergente'à
iumisiem -a sua maior parte. Deduzidos os gasto§ -de. compra ,e
t1áfico, 3-.â ed,, S. Paulo, 1975, apresenta interpretação de
"4 medida que perece a empresa, aumenta ó núrmero ãe libertos;
manutenção da escravariu os gastos não quantificáveis, o saldo
9uq9r
jí l!:t as porceritagens surpréendentes sobre a população, a partir
"
se tornava negativo. Dado o baixo nível da renda, poucos foram' de 1786.-"inpr.
seriam a conseqüência de problemas íntimos, 'de 'remoisos de
* nestas.condições, os que fizeram fortuna. última hora,- de pavor do.inferno como castig. da carne. tnlas, tamUe*
o_ eram da situação financeira: valeria mais alforriar os cativos que
Conforme rareava o ouro' os mineradores se viam impossibili
susten-
tá-los. A explicação sentimentar, decorrente das concubinug*rr, àuinu t.,
tados de suportar o ônus dos custos de manutenção da escravaria, para os mulatos; pode chegar sem dissonância até as negiar; 'não explica,
porém, a magnanimidade para com os retintos. Atente-sà uieÀ- oi.*,
situação quê o mínimo contingente-de mão-de-obra voltada para a
subsiitência não podia contórnar s6. Máquina dispendiosa, com
número de forros em 1739 e 1786: lá, a situação próspe.a, maf p*üru. ",
de 1,2?c sobre a esüravaria; eram agora, na vaiante, d" lS%. Não
pequena capacidadl de produzir excedente para sua reprodução' o morreriam supersticiosos àqueJe tempo, seriam menos ^ài"
Íetas as consciências,
escravo certamente não ieria capaz de engendrar o superexcedente ou menor o medo? Nada disso. Apenas, os acertos «le contas eram mais
nrt"ttàti" à compra de sua libêrdade, o que implica uma. revisão onerosos. Gerando prole farta, a concupiscência fora fonte de peiúnia;
quando resgatâr pecados ou mestiços chegava a cuslar 300 oitavas' por-u.."_"
das análises das' alforrias empreendidas normalmente: estas não pendimento, os acordos com.o céu deviam parecer menos urgentes.'; p.
teriam sido obtidas através de- recompensas pagas a alguma gema 38. "... a economia da mineração, muito embora ten'Àa apreientaao 169.
or pãpitu gigantesca que os escravos enconirassem eventualmentena um perfil dístriburivo menos desigual d-a renda, tal disrribuiçãã,-nu'riàiiorou,
nas'lairas,-riem com o ouro que, artificiosamente, escondiam tem muito mais a ver com uma distribuição de toi*c,, niveii ã",.iã" a,
que de níveis médios ou de allas rendas. Ç.mo certamente
operou a custos
elevados, provavelmente suas margens de rucro eram baixas pà.a- o, m"aio-
34. .,Economia do ouro ern Minas Gerais (século XVIII)" in Contexto name_nte bem-sucedidos, altas, para os pouco bem-afortunadol, irtà-e,"po.u
- Paulo, 1977' PP. 9l-109'
n.o 3, São aqueles de maior sorte no encontro do minério, e ínfimas, . oú
,.*À'n*go-
ls. s.er"ãá * .átôútot <te W' Cano' E07o da poupulação se dedicavam tivas, para muitos, para os mal-sucedidos." _ w. cano, óp, iii., -pi."iils_roo.
a miúaçaol os 2o% restante§ não dando conta da oferta alimentar'

z8 29
,j'

i
F'
u

riografia, onde sempre foi escamoteada e substituída pelo tema da


mocráticadasociedademineirapoderiasereduzirnumaexpressão: decadência, território vago que, na maior parte das vezes, aparece
um ,aiot número de pessoas dividiam a pobreza'
fr- como definido na década de 70. 1763 foi o ano ém que a cota
"Copiosas de ouro para.-o:. desejos da cobiça"' 1"9i::-:it-:: anual das cem arrobas pôde ser preenchida pela última vez, mâs
quezas, proporctonando'a "felicidade
-r""orr"rr", da fortuna" e "afluência do
tudo indica que a decadência vinha de antes, conforme se infere da
ãuiã;-'"'quim a etas heis como o Triunfo Eucarístico preocupação de D. Frei Manuel da Cruz em esconder a data de sua
ããt"t"rt às terras do ouro' Nelas os homens viviam "com as chegada a Mariana. Mais freqüente na medida em que avançava o
participantes'
uúonáao"i". do ouro": "os de Portugal pelo comércio século e a escassez passava a ser flagrante, o tema da opulência
do manancial possuidores; un',.:.:,ut-l1t
os da América neste Brasil surge como referido a uma época remota, Idade de Ouro idealizada e
que depois das antigas, e- sempre sucessivas glorlas ml-
persuadidos, 8s' posta a perder devido à incúria dos mineiros.
litares, começavam a contar sécúlos de riquezas"
já se flisse, o período compreendido entre 1733
Conforme e
As opulentas Minas haviam sido agraciadas com "tesouro em
de
viam' 1748 correspondeu ao apogeu da economia do ouro em Minas Gerais.
riouezas as mais finuriiii, mas os habitantes do Tijuco as
diaman- O Conde das Galvêas e Martinho de Mendonça de Pina e de Proença
i;;õ;o; ;il;t-ái;;'"nies: impedidos pela administração este, funcionário da Coroa que, de 1736 a 1737, exerceu interi-
tina de minerarem ouio,-u"t urum-se "arrúinados e perdidos"; arcados
desertar
-namente a governança receberam da Metrópole ordens expressas
para instalar nas Minas- a capitação e o censo das indústrias devido
*b ; peso de "grunàÉ prejuízos"
e ruínas", começaram a.

;;;";r';ãiianiaã vizinhai. Muitos outros acabariam seguindo este à "crescente prosperidade das minas g a generalização escandalosa
;;;;1", ãutoi"t de uma súplica .dtoigigl^:^ D;,]:,"o''
e, concluíam' át dos extravios"a2. Ao nomear, em 1735, Gomes Freire de Andrada
ricas' ficará re-
"esta comarca' que àt"-,*" a"s mais abundantes e para o governo das Minas, a Metrópole tinha em mente tânto o
al'
duzida a miserável estado" incremento da deÍesa do Sul para o que o governante escolhido
Alusões à pobreza, à ruína, ao abandono u g:t,Jicavam
rele- - * como o estabelecimento de um
apresentava qualidades de sobra
guOut-"t populàções mineradoras representam a tônica dominante sistema fiscal que favorecesse mais intensamente a Coroa, contando
ãã, A*uri.nlo, ào século XVIII minêiro, sejam eles oficiais ou
não'
em ambos os casos com a firmeza e a autoridade r1o futuro Bobadela.
osdoistextosquedescrevemasfestasbarrocasapresentam.Se'por-
geral: quase que No dizer de Affonso Ávila, assim como D. João V foi o rei da
tAnto, como extremamente destoantes no concerto euforia do ouro, foi o Conde das Galvêas "o embaixador de sua
se noderia Oizer constituírem os únicos registros que fazem
menção
pompa" {3. A demarcação do Distrito Diamantino e a criação da
à"'ü;àu'.;;p;iá;;lu. úui' um motivã,. p-ois' out:-',"^-:,:.1"ottu'
Intendência dos Diamantes ocorreram em seu governo, mas há quem
viiao que as Íestividades
i^"in*ruao-aia"à,;Siiàiperada através da já ficou dito acima, meca- já veja decadência nessa época, o período áureo sendo identificado a
.ãnlrrúro ,oci"áuà". Sendo, como
u festa servia admiravel- um momento anterior: "Veio o Sr. D. Lourenço de Almeida, que
;i.[| dt reÍorço, lr".ttao " ntut'uli'uçáo,
que _interessava tanto foi o tempo mais feliz que tiveram as Minas, porque corria o ouro
;;;1; ;-dúilção de um
'*riropoiit-o-quunto
estado de coisas
colonial: em em pó al32O, muita moeda e dobrões de ouro e muita prata e cobre;
àã]ãA"
-. à sociodade esCravista
u* ort.o, é'o mando que se legitima, igualando as diferenças e' mas, atrás da bonança veio a tormenta; porque veio o Sr. Conde
ao mesmo tempo, ã""nt.Àna"-ut; ? o poãer que se
.faz
autêntico das Galvêas . . .)) t4 José Joaquim da Rocha partilha da mesma
oor conferir um espaço às populações pobres - o mulato'
o gentlo opinião, dizendo que, tendo Galvêas sido encarregado pelo rei de
ãã'r"*, _,,^riÀ,iíi,kamJntà, màntê-ias a uma disrância respeitosa estabelecer a capitação, não o fez "por ver a decadência em que
que a PomPa ajuda a delimitar' se achava já a capitania qu,e lhe foi conferida para governar" 46.
época' é
Tendo sido um dos temas preferidos pelos h«rmens da
tão pouco na histo-
curioso-lue a pobreza mineira transparecesse 42. Diogo de Vasconcellos, História Média de Mínas Gerais, Belo Ho-
rizonte, 1917, p. 65.
3r-Cf. "Prévia alocutória" ao Triunla Eucarístico' pp' 15-20' 41. O lítdico e as projeções do mundo barroco, pp. 205-206.
44. Códice Costa Matoso, apud Waldemar de Almeida Barbosa, /íi,ç-
lO. Áureo Trono EPiscoPal, P' 184'
"huõitonit"-ão"rüu*
41. Súplica oor "M';;órío, dirigida a D' Ioáo V'- apud loa' tória de Minos, vol. 1, Belo Horizonte, 1979, p. 151.
quim' Éerãiã áã, srnroi áo Distrío Diamantíno, 3.a ed., Rio, 45. José Ioaquim da Rocha, "Memória da Capitania de Minas Gerais",
páginas 75' 76 e 78' RÁPM. vol. II, p. 486.
t956; as passag€ns .t;;# ;;h;;'tt-t"*p"tti'u*ente nas

30 3l
II
fl
Já Tcixeira Coelho louva a prudência do conde, prudência essa
Na ,,Instrução" do desembargador Teixeira Coelho a periodização
1

que deve ser creditada à sua atuação no episódio do estabelecimento


da decadência aparece ligei-ramente alterada: "Este governador
Íoi pruden- da capitação. De fato, o governante, uma vez sondadas as opiniões
iêatvêasl tinha üm grande" talento, e luzes ,superiores:avultar os seus dos homens bons, julgou desacertada a medida e inadequado o sis-
tissimo, é nunca reguiu a péssima conduta de fazer
povol' Governou tema de tributação {8, o que comunicou à Coroa. Não procurou
r"*iir. à custa de-lágrimai, e da substância dos
se enaltecer às custas da taxaçã'o extorsiva, é isto que quer dizer o
poucó tempo, mas com acerto; e os mesmo§ povos. a6' Jamentaram
a
desembargador da Relação do Porto. Sua retirada marcou "a época
iua retiradà, que lixou a época da ruíru de Minas" André de
da ruína de Minas" porque veio Gomes Freire e estabeleceu a
naãrü à crltô, ionde das Galvêas, deixou o governo das Minas odiada capitação.
em 1736 para ser vice-rei do Brasil.
Até aqui, ficou dito que, para os homens do século*XVIII' a
A decadência assume agora feição totalmente nova, não mais
referida ao decréscimo da produção, mas ao ônus crescente da tri-
p.t ãa-he"aaéntia se aprêsentava vaga e atemporal espécie
butaçõo sobre os mineiros. Conforme aumentava a produção, mais
"pçáo
ãe cónsciência difusa de contornos o que se opunha
-, lucro a Coroa procurava extrair do negócio, e mais violento se
diametralmente a uma"opulência
"ur"nte mítica e igualmente desprovida de
tornava o sistema fiscal. A Coroa enriquecia, mas o mineiro fi-
ffiirc, ;áológicos, Como contrapartida desta imprecisão, o luxo cava pobre.
das festas barrocas e a quantidade de ouro arrecadada pelos quintos
são dados concretos. Fôi no ano de 1725 que o quinto ultrapassou, Resta ver a maneira pela qual a percepção da decadência/pobreza
em Minas Gerais, os mil quilos, mas o picó absoluto foi alcançado gradativamente cedeu lugar à constatação, por parte dos homens da
no período que vai de 1737 a 1746, -quando apenas-uma v9z-; "m época, dos motivos que a engendravam.
iid+, ó" ,é3u, u, ano antes da'désignação de D'-rryi Manuel Desde cedo se firmou a imagem de que o ouro, metal nobre
à" Cru, p"rã o bispado de Mariana - a produção não alcançou a por excelência, correspondia a uma riqueza enganadora, fátua e, no
casa dos 1.900 quilos {7. limite, falsa. O problema é complexo e tem vários desdobramentos,
Feitas essas considerações, qual seria o significado,profundo da pois se tudo "conspira para se julgarem estas minas as mais pobres, e
noçao á, ã."uO6n.ia conforme aparece nos textos do século XVIII? desgraçadas das que vivem em sociedade", "não é fácil afirmar delas
este conceito" porque a aparência o luxo, a ostentação çnçsb1s
Analisando as considerações acima citadas, vê-se q-ue .no '.r a essência, a pobreza que está por - trás da "falsa reputação"
- e do
documento do códice Costa Matoso o período do Conde das Galvêas "falso brilhante" 4e.
aparece como tormentoso, adielivo gue, obviamente, não pode se
ràferir à falta de ouro, pois 1733 é o ano da grande.subida na Em I704, D. Álvaro da Silveira de Albuquerque
-
entâo go-
arrecadação do metal (vér tabelas). A tormenta poderia. ser' por vernador do Rio, São Paulo e Minas escreveu ao governador-geral
- a multidão de gente que
outro lado, a constante ameaça do estabelecimento da capitaÇão re- mostrando extrema contrariedade ante
pi"t"riãáu'p*la figura do Conde, p9r-s que com esse intento a Coroa afluía para as Minas, e desabafando: "E,çraç minas perdem todo
à designara Para o governo das Minas. Mais ainda: tormentosaa este Brasil, e fora muito útil que Deus acabara, e se fosse no nosso
."riu, ã"iu d mineraãor ou garimpeiro do Distrito Diamantino, tempo, ficaríamos este restante que nos falta com mais algum
sossego." m Antonil também ressaltaria o aspecto negativo das mi-
proibiião imposta em 1734 pela Coroa sobre a extração de ouro e
àiamunter na D"*arcação proibição essa intentada com vistas a
-
impedir, ante o excessivo afluxo de pedras, a queda dos preços no 48. O episódio é narrado, entre outros, pelo desembargador Teixeira
Coelho, op. cit., p. 472.
mercado internacional. 49. Passagens da Representação citada na epígrafe deste capítulo, RÁPM,
VI, p. 147.
50. "Carta dc D. Álvaro da Silveira de Albuquerque ao governador-
46. I. L Teixcira Coelho, "Instruçôes para o governo da capitania de geral do Estado do Brasil sobre socorros para o Rio de Janeiro e pâra â
-- - Gerais-, RáPM, vol. VIII, p. 471. 0- grifo é
Minas meu'
de 1733 colônia do §acramento c sobre o rush para as Minas" 5-V-1704 DI,
il .- V., ir.. tabeÍas (pp. 43-5Ô deste trabalhol que o .período vol. 51, 1910, p. 242. Os grifos são todos meus. - -
a 1750 representa o ápicê da prod'rçáo_ das tÍinas Gerais. No cômputo
Historiando o afluxo de .gente àrs Minas, diz o Pe, Manuet da Fonseca:
gerai, rZio:-r255 representaria o período de maior produção^ devido.ao ouro "... com a fama do ouro tinha concorido tanto povo, não só de São Paulo
õi;;"."ô.-AãUoe t t.b"l., s6o'de Virgílio Noya Pinto, 0 ouro brasileiro
e de todo o Brasil, mas passando além do mar a notícia de tão pernicioso
Z- i comércio anglo-portuguás, S' Paulo, 1979, pp' 7l'75'

33
32
depois d:-qt1"-*"11t ut
A percepção inicial de que a Metrópole se prejudicaY-a pen-
nas, prenunciando a fisiocracia: "''' e sando sé benêficiar desdobra-se no desvelamento gradativo da ver-
enriquece' à pou'ot .p!'o destruír
minas de ot)Ío, que ,"i"iá*-porra " dadeira natureza da economia mineradora e na conscientização do
a muilos, sendo as,otit'ottt''ninasdô Brasil os canaviais e as ma- estado de pobreza da capitania das Minas, que passa a ser o foco
ihud"r, em que se planta o tabaco"
61'
principal dàs atençóes. Pressionado, talvez, pelo Morgado de-Ma-
Emmeadosdoséculo,AlexandredeGusmãoapontavao ieus, êntão governador de São Paulo e ocupado em levantar dinheiro
,*".I*i*noo portugal de "correr ignorantemente e tropas para as guerras do Sul, Luís Diogo Lobo da Silva-.revela
''iqi",o
eneodo das minas,
imaginária ãas Minas de ouro' que
nos
Hêü,il;;il'ã; ao côlegá de cargo a "palheta dourada" que todos acreditavam
pareceu encontrarmos aí "ouro riaciço": "Õ conceito, que a V. Exa. deve esta capitania a
tem arruinddo e empôbrecido, quando nos estes textos a preo-
;J;;;tta fortunalin'' Notà-se em. todos respeito da opulência, que lhe considera, é igual ao que fa-
acaÍetava paÍa -dela
cupação com os *Jtt que o "pernicioso metal" zemos na Euiopa, e lhe julgam todos os habitadores dos Governos
sua colônia: "' ' as Minas da América ( . : . ). Porém logo que se conhecem a fundamento, e
a Metrópole e, secundariamente' para a
são a ruína de Portugal' e o oúro a perdição das. Minas"' obser-
-nátiii" se entra na substancial inteligência da qualidade destas, sua substância,
vava o autor anôni*"";; ai yt-o'"'nao' hierarquizando os
na des- ramos ele que dependem, e estado atual a que tem chegado, refle-
e colônia
e, ao mesmo'i"Àõ",'ãliãránáà u"tropole com o engodo tindo na prbguiça-dos seus habitantes, se vê com evidência o quanto
danos do
graça comum ó8. Uma ê outrâ se prejudicavam é diferenie a realidade, da opinião geral, que logra da rique.za, que
ouro H. não possui"66. Assim, paradoxalmente, a famosa capitania seria
na reàlidade "uma das capitanias mais pobres, que tem a América", o
'"
mcral. se abalaram também os europcus" c"Àiãiiia de lesus" ' (1752\' que se devia em grande parte à diminuição dos jornais e- ao des-
do venerável pr- n't'iiío""aí'páiúlt ao flrezo pela agriculiura, mànufaturas e criação de gado. O motivo
a
lI p"iiü, r'a., p. 204. o eriro é mel'- qrifo é meu' que leva a esse desprezo não é, entretanto, abordado.
51. Cultura , op'tín"7i-'-"' p' ?27.:,.O ip' tit" p' l5l' o griro é
52. ^rpud vitorint"itít;úã":'éãanr'ã' lJma vez detectada a pobreza e entendidas as Minas como
mêu.
53. "Rotciro do Maranháo a Goiás pela Capitania de Prauí" - RIÍIGB' o seu cenário, elabora-se a formulação de que o fausto é falso, de
t*"S"';r3à""á;,r,no, que a natureza do ouro é intrinsecamente enganadora. Porém, con-
a nobreza metropolitana de então se perdia em "facili-
o ouro e que acabara contaminan- forme se configura a franca decadência das Minas, começa a surgir
dades irresponsáveis" que lhe emprestav& prosperidades do ouro" a necessidade de explicar esse estado de coisas e justificar a pobreza.
do todo o povo a" i}iull'.;T;-"üái *-irut'"t
Godinho' oo' cit' Parte-se então para uma série de racionalizações que, a-pesar de mais
Iíx.ã-.rro,,inas de marginais' - utn ditado que Diogo de elaboradas, reívalam no problema sem dar conta da sua verda-
54, A dupla tace ão ouro transpar€"t
-M{'í'i;t "fo'
'no- iocantin§ e úos Crichás' di'
vasconcellos cita na J'"-i+ri'7":" meses'" p 153' deira natureza.
zia-se que a riqueza vinha em um ano' c a molte em seis
-
o tema do falso;-õ;;-'ài a"tt"tuoo.na história lendária de Fernõo Num primeiro nível s Ín315 elementar de todos -, surge
Dias peis, que saiu p"r'J J,I*aã'.À--uor"u
a" osmcraldas e encontrou pedras a explicaçãb de que não -há riqueza devido ao extravio e ao con-
iúrao de ter descoberto as famosas pedras
verdes gem ,ator, moãridã-'nu
tem uma pa§sasom alusiva a egtc trabándo. De faio, tudo indicã que este existiu durante todo o
;iliffi-i;rbJ ó#;;;0"ãe-Ã"araoc período minerador,.constituindo-se em preocupação central das auto-
respcito:
'E as esmeraldas, iidud.r coloniais. As medidas contra o extravio e os extraviadores
Minas' que matavam atingiram intensidade máxima no Distrito Diamantino, onde as penas
este crime eram violentíssimas e abrangiam uma gama de
:.'ff;J"§""ioJill'" "onit,
variações que ia desde a prisão até o degredo e a .qgrt: civil66'
c quando se achavam
Grupôs poderoso. chegaram a se envolver nessa atividade ilícita,
cram verde cngano?'
(- As imPurezas do branco' P' 109) t"iiu acontecidd com o Padre Rolim ea famflia Vieira
"ornt 67.
Couto
-ttítaã-"
ComentandoapobrezadacapitaniadesãoPaulo,diziaoMorgadodc
P;b;[-":" riqueza !o ou19 ge-11ltiJicou uma
Matcus ao futuro
;ô.ü'-u* .oiã* mãos estava, pois não podia 55. Carta dc 9-IV-1766, DI, vol. 14, 1895, p. 171 . O grifo é meu'
fclicidadc transitória ü;; sorte que o rendimento 56. Este assunto ssrá.tratado com mais vagar no capitulo 3'
permaneçer não havendo em que §e empregasse de 57. A sugatão é de Maxwcll, que aponta tâmbém.a possível partici.
ôutra vez pâra sar próprio dono"'" Carta
fizesse círculo, ou retrocedessc - pação dos alto-s funcionários coloniais no negócio, Conivento ou não, o
J.-ri--Vllt-t265, D'1. LXXII, 1952, p' 7l'
35
34
formismo ilustràdo vigente na Metrópole a partir da década ile
A explicação U, d...dência-
-sao pelo extravio se articulou basica- 90 so, tem-se a de Ferreira Câmara e as de Vieira Couto. Este,
mente do lado ao poOet, os bândos, são os governantes' é'
mais
na sua primeira memória a de 1799 fala da necessidade da
ã-;t;-;üt"e*,'üuiünr'o de Mello e casiro' o ministro de -
metalurgia do ferro na mineração. -
constituíam as causas principais'
D. Maria I, para qu.rn u.-;;ituuáes" para o Vis- Mas é em Eschwege, anos depois, que o problema aparece
Sobre esta cer'teza *"'-u*rtou a sua Instrução Política
conde de Barbacena datada de 1788' É necessário atentar para o claramente formulado. Segundo o mineralogista alemão, a pobreza
fato de, nesta concepiaó, iiqut'a^se identificar com rendimento das dominava inúmeros arraiaii auríferos: "Se se pergunta, nesses lu-
quotas do ouro, o qoà-"ipúêa o ângulo privilegiado: é a riqueza da gares,'usobre a causa dessa decadência, obtóm-se como resposta ter
ãiAo escassez do ouro que impeliu uma parte da população a
Metrópole que continua em questao ""'
pelos membros deixar o local e outra a cair na miséria, pelo abandono dos ser-
A partir dos estudos científicos levados a cabo viços de mineração. O observador superficial aceitará essa expli-
a; e""á.ri, ãe Ciências de Lisboa - entre os quais,
.D. Rodrigo verdâdeira, e, propagando-a, dará urna idéia falsa sobre
ãã Sorru Coutinho *, o extravio deixa de ser a explicação pre-
"ução
um dos"orro
assuntos econômicôs áe maior importância para a cap'itania
ferida e as atenções ,"'uútu- fu'u u inadequação dos método's uti
'Galga-se um segundo patamar de Minas', 61. A região continuava rica nas profundezas, prossegue
iüuàát n, e*trrção do metal. assim
Eschwege, e apenas a riqueza superficial havia sido explorada:. mas
na tentativa de iompreensão do problema' isto nãõ sabiam os mineiros, pois eram ignorantes em matéria de
Em 1791, a Junta da Fazenda opinava sobre o estado da 62'
mineração e adotavam os métôdos os "mais inoportunos"
caoitania e o decrésci*ã a" arrecadação^do ouro' traçando- o perfil
adotado: apro- Em 1813, o Conde da Palma também acusava com clareza os
ãJõ;";", pãi toaot aqueles anos,-o.procedimento motivos da decadência: "erram todos aqueles" que não apontarem
veitamento do ouro áio"ion"f e Os iacii extração: " ' ' ' foi naquele
as dificuldades dos trabalhos da mineração, advindas ou da "pro-
temp. ae abundância, e quando a extração do, -::l1^ouro era
fundidade, em que se acham as formações do ouro com os entulhos
que achava junto nos corregos
-àÉpà.ituao' pois
mais tácit e menos dispendiosa; corridos de outias lavras indiretamente trabalhadas, ou pela riqueza
aonde estava como pelo àecurso de longos anos pelas
e Obstáculos que Se encontram nas montanhas, por. onde atravessam
;;;rudu, qr" "otlaiu-í"-À"ni" a' conduzia dos morros: hoie porém os veeiros, e em que existem as matrizes, as quais não é possível
seachasomenteno""nt'odosditosmorrosdificultososdesela. pelas poucas descobrir sem grande risco das fábricas e sem muita perda de ser-
uurãá, nao só pela sua situação, e falta de águas' como viços pela falibilidade dos resultados" 63.
forças dos mineiros
Uma vez extraído o metal de aluvião' os -veeiros de
grupiara Há memórias e documentos da época onde a contestação do
pela terra extravio como categoria explicativa da decadência aparece associada
ou meia-encosta, os de galeria, enfim, os que adentravam à falta de braços: ãssim em Eschwege, assim no Conde da Palma'
paÍa a qual a técnica rudimentar
aDresentavam extração rãais difícil,
as me- Num terceirn nível explicativo, surge a idéia de que a mine-
ãã.- rnir.it"s das Gerais era bastante inadequada' Dentre
qr" á problema e se insêrem no clima de re- ração é ilusória porque, na realidade, não é trabalho. Este, por sua
*Oriat estudaiarn
vei, configura-se claramente como praga bíblic,: -pen-oso' demorado,
p.Optf- desembargador Gonzaga. teria diamante§ em
sua casa: se o magls- difícil, é lrovação necessária paÍa a obtenção final da felicidade;
ili.ito-.ããiercio, pessoas che-g-adas a ele o faziam' Ci'
trado não exercla
" trad.,
À-d"r^ro da devassa, 'meiá Rio, 1977, pp' l2l-122'
Gry su1 o rendimento baixou em Minas
5t. " ' . . durante nSq' má*ito percebido' para.35 apenas'
60. O reformismo ilustrado é estudado no livro de Fernando A' No'
O.."is-'(...1 d" f fs-arr;úas'ecirto
"^ uma só vez à administração vais, já citado; Maxwell também estuda o problema em "The generation of
exatamente 50 anos depois, não ocorreu sêquer
prâoo rr., Hístóría Econômica do th"'fiSg. and the idea of luso-braziliam empire", in Dauril Alden, Colonial
outra explicaçao qu.'"ã"'i;r;ã;.;- ó;F Prado Ir' não Roots of Modern Brazil, Betkeley, 197t, pp. 107'144.
-que p' 6i' os dados de caiototal dà cr:lônia
Bra.ril, ll.i ed.. S' Pailo;'19;9' 61. E chwege, Pluto Brasiliensis, trad., S' Paulo, 1944, pp. 241-42'
me parecem -aur "iãio o autor toma a produção
62, Â idéia da riqueza das camadas proftlndas parece não correspon-
í.j.'iiããria" úinui'-Ceiats, onde o ano de maioi- arrecadaçáo foi o
"o.r.to.; der à realidade, pois, segundo caio Prado Jr., não teríamos rochas matrizes.
dc 1738'
meios de- se res- História Ecbnômíca do Brasil, P. 60.
59. "Ponderações da lunta da Fazenda sobre os do quinto do ouro"' 63. "Correspondência do Conde da Palma - 1810'1814", RÁPM, vol'
sarcir o preiuízo da Real Fazenda çom a arrecadação
XX, 1924, p. 356.
* RAPItl, vol. VI, 1901' P' 167.
-1 I
36
feição de verdadeira riqueza 70. Na "Memória" datada de 1798,
da José Elói Ottoni comparava sua época com a "época venturosa" de
"uma rirtueza achada
- 'não nascida
de re.oente, e com facilidade' e'
t;átt;:; J" tiãÚurno",*será sempre perniciosa D. Manuel: "Donde se deve concluir que infelizmente para o nosso
06' Portugal se descobriram as Minas; pois que nos fizeram desprezar
Sendo atividade extrativa, o ouro §empre acaba, não ê eterno as verdadeiras riquezas da Agricultura para corrermos cansados após
mais imediato' e de um fantasma de riquezas imaginárias." ?1 O "Discurso sobre o estado
mas atrai os homen, àevido ao seu "caráter
oo' Ninguém precisa. encorajar os homens .para atual das Minas do Brasil", de Azeredo Coutinho, também se atrela
;;."1;; "tÉcie"
^mineradora, pãis "o natural instinto, de que nos dotou a essa linha explicativa. Cavar ouro significava então cavar a própria
a- atividade
ã n*oãi", oe -.rÉp."pelo caminho mais curto
ui"iot *"*pt" à nossa ruína, pois já não se viviam mais os tempos do bullionismo, e a
"a*int 0?. Mas há Inglaterra, onde em 1776 Adam Smith publicaÍa a Riqueza das
felicidade, fará que ;;j; muitos mineiros"
curto
que ter muito cuidado, pois- nem- sempre o caminho
mais é Nações, estava em franca fase de revolução industrial. Na obra do
verdade' o ouro é' riqueza bispo-economista, mais do que em qualquer outra, plantar surge
o que, a longo pruro, t'ui a felicidade: na como sinônimo de trabalho, enquanto minerar significa jogo e aven-
aparente, "que não indo de par com -
as reais' desaparece de
tura; o agricultor, com o trabalho contínuo e a utilização de má-
súbito" s8. Isto não *p"ai, q,i o Estado português descurasse da
quinas, aumenta a sua riqueza e a da nação: "Não é assim a
agricultura e se vottassJ t*clusiua*"nte para
a mineração' continua
pols, que §e restaure aquela que é respeito do mineiro: a maior extração do ouro não depende do seu
o mineralogista do Tijuco; urge'
a madre terra todos os braço, depende do acaso, e muitas vezes o que menos trabalha é
a verdadeir" ,iqu.ru,', ';qu"-'oi oferãce s0 o que descobre um tesouro mais rico" 72. Riqueza "casual", "va-
anos, em ,uu ,"norudu siiperfície" e que' para florescer' não riável" e "caprichosa", o ouro transferia essas virtualidades para
as entranhas que
precisa quebrar os montes nâm revolver e arrancar o mineiro e para a nação nrineradora, assim tornada "inconstante":
vem tão fatal
a geraram. Mas fica uma pergunta no ar: "Dondede gêneros que "Uma nação sensata não deve imitar os desvarios de um jogador,
inércia? Donde tanta --iiÀ'indifãrença para
"tetiiidade
a cultura deve estabelecer-se sobre bases mais sólidas e mais permanentes" 73.
cada um deles po,ieria de muita gente?" Estas são as proporcionadas pela agricultura, riqueza verdadeira,
^ enquanto o ourq não passa de mera representação da riqueza.
tamM'm por
O reformismo ilustrado português caracterizou-se das minas" pas- Muitas vezes pertinentes, estas formulaçóes não chegaram ao
riqueza.
um revivescer tiriocraiico, a "'imulinária cerne do problema, apesar de, uma vez ou outra, terem nele res-
sando a *r, ,n"uruJu u. mal e a agricultura assumindo a
valado. Conforme viilumbrara a câmara de Vila Rica em 1751,
"o*o
não havia na colônia gênero algum que saísse "para fora mais do
"lnformação da capitania de Minas que o ouro" 74, e este, uma vez em Portugal, logo passava para
o+ n""rio *Teixeira devol'savedra, 1891 , p' 674' os países mais adiantados da Europa, pagando as importaçóes do
c.."LiJ taog RAPM, -II, Mawe se pequenino reino l':so 76. "De fato", constatava amargamente Pom-
'passado, com a' população
No -começo oo secuto .escandalizava
preconceitos heredi-
mineira c formulava .ü"dt"idi',.,,f "ar.áiaà,
hábitos,
entrõgucs à perspectiva bal, "Portugal permitira que seus tesouros fossem usados contra si
tários os tornam inapü. í;;;*". vida ativa;....pt" isentôs da lei universal da na- mesmo e, por isto, as riquezas das minas eram quiméricas para
de enriquecer subitamente, imaginam oestar o suor do seu rosto"' vía'
turoza, quo obriga o il;;;;;;;h"t pão com
aos Distrítos do ouro e Dia' 70. Formulaçôes essas desenvolvidas, entre outros, por José Veríssimo
eens ao ínterior a, iiiiii"
ti":"ríi iri"" §lr., p' -'iiiiiipot'i'nt'
tll' .,:, sobre Álvares da Silva na sua "Memória histórica sobre a agricultura portuguesa",
Jü-í; pit'"ntt na "Memória -^L-^ a^ .,ririáoÁa
utilidade pública citada por Fernando Novais, op, cit., p. 205.
65.""à','
Esta idéia
em se êxtrair o ouro :Í;;"Mffi;-ãr--*otinor dos poucos interesses .que fa' 71. José Elói Ottoni, "Memória sobre o estado atual da Capitania de
q;; ;;;;;;- igualmcnte no lirasil"' de Àntonio Pires Minas Gerais" 1798, .{BN, vol. XXX, pp. 310-311.
zem os particulares, - Cunha Àzeredo Coutinho, op. cit., p. 7.
72. I. J. da
ãí"sirr"'Pont", I-eme'- nlpu, uol' I,-1896' 9p' 41747í'
-Iosé
de l\Ienezes sobre o
66. "Exposição ;;;";;;à"t ô-' r'úrieo 73. Idem, idem.
estado dc dccadência ;"" ;;;i;fi;-àe-Minas
õerais e meioe de remediá-lo" 74. Carta da câmara de Vila Rica 3-IV-1751 cit. in Waldemar
de Almeicta Barbosa, op. cit., p. 199, - -
II, 317'.
- nlPU,
vol. 1897, P'
I;útmOria sobre--as Minas da- capirania de Minas
67. J. Vicira coíü,
.
75. O'argutíssimo Antonil constâtara este estado de coisas ao falar do
Gerair. suas oesçriç#,;'*JuiãJ, ã-aãtúlií.próprio'
À mançira de itinc- desçerbrimento do ouro:
n'passa em pó e em moeda para os rçinos estra-

ia-iiã.;; líoi RAPM, vol. x, 1905, P' 84' nhosi e a mênor parte é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil..."
*
68. Idem, idem, P. 83' Antonil, op. cit. p. 304.
69. Idem, idem,
39
38
\i1!1i !r ili

o debate ter se centrado na decadência do ouro e nos meios de


ele"76. Ante a miséria das Minas, Vieira Couto *" lo"t"'n"u " remediá-la ?8.

í""u á p*ã .o*o fonte e princípio das riquezas d: uT país: para Na consciência do colono, o prohlcma se encaminhou diferen-
pouá taborioso, riqueza; para povo rico' nação igualmente rica'
côntinüava,' pirptexo, o mineralogista' como explicar temente. Mais do clue a decadência, irnpclrtava explicar a pctbreza,
fu"rr" concreta e palpável para o habitante das Minas. Não conta, neste
"uro,
"um ente que não existe na natureza, um erário rico de uma
nação
caso, que os inconÍiclentes fossem membros da plutocracia local clue
pobre?" í7 Fanfarião Minésio afastara do poder e do usufruto d'e suas benesses;
As questões colocadas por Vieira Couto haviam começado a tampouco é relevante o fato de Tiradentes ser o filho decaído de
,", ."rpon,lidas com nitidez durante o movimento da Inconfidência umá família que tivera melhores clias c que ansiava ascender so-
não parecia o mineralogista fazer- caso talvez cialmente. 0- que cle fato interessa ó a tomada de consciência do
Mineirâ, mas delas -. "viver em colônias" que então se verificou ?1).
i;;ã;; áesconfiança dà sediciosa tivesse pesado sob_re sua família.
il 'tato, foi aquele o momento em que a percepção do.. estatuto Ao Tenente-coronel Francisco de Paula Freire tle Andrada,
colonial'aflorou às cãnsciências mais ésclarecidas do Brasil, e não dissera Tiradentes que, apesar de tanta riqueza, Minas era, pobre
ioi o""rinnul o fato destas terem primeiro setodo manifestado na ca- "só porque a Europá, como uma esponja, lhe tivesse chupando toda
piili";;-;r- " ao-tuf.o fausto. Durante o século XVIII, a substância, e os Exmos. Generais de três em três anos traziam
dos domínios portugueses de
[áiu--uqu"ru a regiaó mais lucrativa
-violências uma quadrilha, a que chamavam criados, que depois- de. comerem
,fiir-J., reatro ãe fiscais e do autoritaiismo ilimitado a honia, a Íaznnda,- e os ofíçios, que deviam ser dos habitantes, se
ão. tor*trunt.t. Aos poucos , -a decadância' da capitania * que' iam rindo deles para Portugal" ao. A idéia de que a riqueza, dre-
t" viu acima, forâ alegada desde muito cedo começou a
nada para fora, engendrava pobreza. acha-se presente em tudo quan-
"ornJ não -
apen-as indefinida to de subversivo se imputou ao Alferes: teria abordado Antonio de
assumir contornos precisos nãs consciências:
;;;d;i,-.rt àiti"il de ser delineada devido ao fato de estar Afonseca Pestana para convencê-lo de que "este país das Minas era
imersa na realidade colonial, e de corporificar a dependência;.
Não fertilíssimo e riquíisimo em tudo; a não ir toda a riqueza para fora,
para a voracidade do fisco' e
seria a terra da maior utilidade. . . " sr' José Vasconcelos Parada e
;;ái;; foir, hur., orià qu"'chegasse não obrigato- Souza o ouvira afirmar que 'oeste país de Minas era riquíssimo, mas
ã *ui* quantidade de ôuro en-cont.ádo malhas do sistema co-
significava,.
riamente, iiqr"r". Quase nada escapava às tudo quanto produzia lhe levaram para fora, sem nele ficar -cousa
lonial: fisco voraz,
-tributação
sobrà escravos' sistema - monetário algumá..." ri Segundo dissera ao tenente Jos'ó Antonio de Melo,
e importaçàes feitas- -pelo exclusivo de comórcio eram tli Cavalaria Paga da capitania, Tiradentes considerava desgraçado
-ôrigem
"rp""iti"o para, a retirada do ouro' o seu lugar de "porque tirando-se dele tanto ouro e dia-
os meios de que se'tetuiu a Mltrópole
o colono' mantes, Àada lhe fiõava, e tudo saía para fora e os pobres filhos da
Esse mecanismo gerava pobreza, implicando'. Para . ttii.
numa sociedade escravista' isto América, sempre famintos, e sem nada de seu"
impossibilidade de ào*pru, escravos;
iÀpU"aua mais pobreza. O círculo se fechava' e o verdadeiro
tema o mundo de pobreza em que se movia o mineiro - €ra' 78. Utilizo, de maneira esquemática, a análise da crise do sistema co-
-
através dos tempos, reõoberto pelÔ tema da decadência' lonial empreendida por Fernando Novais no trabatho já citado' A percep-
ção clara do dilema metropolitano ante a evasão do ouro pâra os centros
A percepção da decadência do ouroprôservaçãoprovocgu' .do lado da úegemônicos apârece formulada em D' Rodrigo de Sousa Coutinho' Cf '
visando à dos seus do- Novais, op. cit., pp. 215-236.
t tetrópoie, mlàiOa*-ietõi*i.iu.
79, Às coniideraçôes sobre a plutocracia mineira e sobre a procedên-
mínios. Não era a pobreza da colônia que se achava. em questão' cia de Tiradentes foram tomadas de Maxwell, A devassa da devaçsa. A ex-
impli-
nem a percepção ú;t; d; pobreza da úetrópole, -à pois estado pressâo "viver em colônias" é de Vilhena, € serve de título ao capítulo II do
caria transformuçoes radicáis que levariam supressão sis- irabalho de Carlos Guilherme Motta, Átitudes de inovação no Brasil *
tema colonial e da-defendência portuguesa ante a Inglaterrâ; daí 1789-1801 , Usboa, 1970. Nesta obra, a tomada de consciência dos "seres
coloniais" é analisada com extrema propriedade.
80. Apud Maxwell, oP. cit., P' 153'
81. Apud Waldemar de Almeida Barbosa, op' cit., p. 420.
76. Apud Maxwell, oP' cit. P.24' 82. Idem, idem.
77. Vieira
.áimã, Couto, sobre a capitania de Minas Gerais' tcu 83. Idem, idem.
territbiio,
"'ü.mótíu'
iic.",'tligg), RIHGB, vol' xI, 1848, p' 125'
4t
40
Vinte anos após a Inconfidênci3'' " :til#,lt;:t':: SlJit;;;
i,

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i1
i1 HôTni;;;ix1llíi*::'H!ü1i+-{:9:::'l;";'ilqirán'lidaoeae
satisfeitos de ter encon-
i
Íl
l:
ouro que lhe era '"p't"uàu'}t''pu'""""tn
p"?ã-àr'"t;os acreditarem ser todo
o ouro 2, O Império Colonial, ergástulo de delinqüentes'
trado oportunidade se deveria chamar
qt13 sua terra
e'
i;
enviado à lnglaterra, ""#;;i;* Rica" A riqueza enga-
as conquistas marítimas tiveram um papel muito im-
De fato,'absorção
atualmente vita .vonrlifildffivúa
il
dos mendigos e -vagabundos . da metrópole'
apanágro # ô*t '"TÍq:ulu*:lt:i'#à'Í:H"láJ':::
portante na
nadora
-
ã""ãprrc*É t".H.1"r#:"lltfr" a"urada
llll hqi- ::::j'i-'^,,'"Ião a. lusão
.que
muitas ,rr", r""rutados à força para fazerem serviço militar nas
p"tt"-rO"t de além-mar. A juriip-rudência selvagem de Portugal
temPos, pelo tema ."formismo ilustrado pro- io nntigo Regime sentenciavá mirltidOes de pequenos larrápios e
em pepita maciça e que
iiu"'.rtirl*a prisão e exílio: todo navio que partia-para
curava ultrapassar
vs7 "á*
p'riuti"* -
:L1T:;;"
f,esvelada a sua veroa
"il*? i'ilitllSli; outros infratores com
á-Éia*if, India ou Áfriôa trazia, sobretudo a partir do século XVII'
iltãirã",'ffif a sua quota de degredados 21.
"As possessões ultramarinas foram sempre para Portugal o er-
tli'*gxs-*-frçl.ç;fuffi
iliãtü*ão au' Yl'"' um
rorças 9o-.,::'l
prov'ocou enriquecimento apa-
gástulo dó seus delinqüentes", disse o historiador. português Costa
Lobo. Formaram-se importantes correntes migratórias para as co-
Herculano, u Aá'"t'i"ndo-o num grêmio social' culas lônias, sendo a da Indiá particularmente intensa entre os anos de
'utnt'ã"marítima
rente, empou"t"noá'-ã "
8ó'
t+gi-tSZl, quando 80.000 homens deixaram a Metrópole22' Pelo
o;;dü; e o mendigo"
funções caracteristrcá-s-f;;;;;;éculos ",r5""q'"+* 19. Rui d'Abreu Torres, "Mendicidade", in loel Serrão, op' cit', vol'
IIl,
"-' p. 18.
10. Ántonio Sérgio, op' cit,, p. 29. ver também "As duas políticas na-
cionais", in Ensaios II, Lisboa, 1972, pp. 63-91,
21. Charles R. Boxer, The Portugiese Seaborne Empire - 1415'1825'
---A 1969. Sobretudo o cap, XIII, "sotdiers,
settlers and vagabonds",
'1o\ fdt ' á+
f-onOies,
iesfeito da pouca gravidáde, aos olhos__da justiça_contemporânea, dos
0 [tY t" eo,\^f"F^^^q' coin degredo, ver Emília Viotti da Costa, "Primeiros
OelÍtos eniào castigados
ÉououOot.. do Bãsil", Revista de História, 1956, XIII, n'o 27'-Segundo as
õidenações Manuelinas, em trechos citados pela autora, o degrcdo podia ser
imoutado aos "que fazem assuadas ou qUebram portas ou as fecham de
,ãit. p"t fora",'e ainda aos "que compiam colmeias para matar as abe-
''-
lhas". p.3.
- À. d.
22. Souza Silva Costa Lobo, Históriada sociedade em Portugal
no século X/, Lisboa, 1904, p. 49. Apenas 1/10 dos que embarcavam
-uoltavam a Portugal: "Dos embaicados, uma grande parte constava de cri-
,úórói. que havãriam de morrer na forca, ou de terminar uma parte pp' ou'
o i.rto'de seus dias no degredo da Áfriça ou na8 cadeias." - op' cit',
48-49.

57

op' cit'' p' r91.


11 X;ff'ü''#t"oi;r"t[t;?Godiúo'
F
E
42
r"
r
alvará de 6 de maio de 1536, D. João III determinava que os moços esperavaÍ.n julgamento. Culpados de c-rimes como ,vagabundagem
-
vadios de Lisboa que andavam "na Ribeira a furtar bolsas e a Íazet eràm sentenciãdos ao degredo para Mazagão, em .Marrocos, en-
outros delitos" fosiem desterrados para o Brasil 28' Nas Cortes de quanto os envolvidos coni ofensàs mais graves seguiam deportados
Almeirim de 1544 pediram os procuradores de Lisboa que o mo- para o Maranhão, Brasil e Cachéu 28.
narca mandasse fazêr de seis em seis meses "correição de patifes lii,
e homens vadios, sem ofício nem senhor com que viviam, e sejam A partir do momento em que existiram colônias, o estado mer- .lpr.-
.

presos e embarcados para o Brasil" 24. cantilistã europeu se encaÍregou de propulsionar seu povo-amento
com uma g.rnde parcela de elementos socialmente desclassificados.
Já em pleno desenvolvimento do Imperio Colonial português, por toda a-Europâ presenciou-se o recrutamento forçado dessa gen-
o alvará de 1570, expedido sob o reinado de D' Sebastião, estabe- te, emigração qüe, no dizer de Eric Williams, "condizia com as
lecia a diferença entre a pena administrada aos peões, que se carac- teorias meicantiiistas da época que preconizavam vigorosamente que
terizava pelo fato de poderem ser açoitados, e a destinada às pes- se pusesse o pobre no trãbalho industrioso e útil e se favorecesse
soas de mor qualidade, castigadas muito freqüentemente com o de- a emigração, voluntária ou involuntária, a fim de aliviar a proporção
gredo. Isto não quer dizer que os peões não fossem afetados pelo ae poires e achar ocupações mais proveitosas no ,e_strangeiro para
degredo, mas a recíproca não era verdadeira: ama pes§oa de mor os ôçiosos e vagabundós ãa metrópole"ã' Em 1664, a Inglaterra
quâlidade nunca seria açoitada; esta última categoria era degredada baniu para as cólônias uma enorme quantidade de vagabundos, va-
preferencialmente para a África, ao passo que os peóes eram expe- dios, d'esocupados, ladrões e ciganos; nos anos que-antecederâm o
didos para fora de Lisboa, mas continuavam no país
5'
Toleration Áct (16&9), os distúrbios políticos e religiosos engros-
As Ordenações Filipinas reforçaram, no Livro V, título 68, as ,"rurn u emigração, que arrastou, entrê outros, muitos dos prisio-
disposições que, trinta anos antes, fizera D. Sebastião: "Dos va- neiros irlandÃq a" úomwell so. A deportação de criminosos che-
dioi. Mandámos que qualquer homem que não viver como senhor, gou a proporcionar lucros, negociantes e juízes instrumentalizando
ou com amo, não tiver ófíció, nem outro mester, em que trabalhe. ou á tei pir^ âumentar o número de criminosos deportados para as suas
ganhe sua vida, ou não andar negociando algum negócio- seu, plantãções antilhanas de açúcar: "Aterrorizavam os- pequenos
õu alheio, passados 20 dias do dia que chegar a qualquer cidade, transglessores com a perspectiva de enforcamento e depois os indu-
vila ou lugàr, não tomando dentro dos ditos 20 dias amo' ou se- ziam a solicitar deportação" 31.
nhor. com quem viva, ou mester em que trabalhe e ganhe sua vida, Parte considerável da mão-de-obra recrutada para o povoa-
ou se o tomar, e depois o deixar, e não continuar, seja preso e mento das colônias norte-americanas foi abarcada pelo sistema de
açoitado publicamente. E se for pessoa, em que não caibam açoi- servidão temporária: o indivíduo assinava um contrato em que se
tes, seja degredado para África por um ano" 20. comprometia a trabalhar por tempo determinado (entre 5 e 10
Se vadios, mendigos e toda espécie de pobres pulularam em unor;, recebendo, em troca, a passagem' a manutenção de sua sub-
Portugal no período cómpreendido entre a consolidação da dinastia sistência e, no fim do contrato, um pedaço de terra ou uma-inde-
de Avis no poder e o florescer do Império Colonial, as condições nizafao em dinheiro n2, O tratamenfo dispensado a esses infelizes
internas do pequeno reino não favoreceram a sua diminuição' No
século XVIil, ao se referir às naus que partiam, dizia o- cronista
-prendendo
Luís Montez Matoso que "já se vai para a Índia" 27; 28. Boxcr, op' cit., cap. XIII: "Era comum que algumas semanas antes
da partida anual iara ás Indias, circulares.oficiais fossem enviadas a todos
em 1667, a Coroa promulgou uma serie de editos violentamente re- õr á"*igão"i.r dá Comarca lembrando-os de reunir e_ prender o-s criminosos
pressivos, ordenando o sentenciamento sumário de pessoas que ainda iietivos ãu potenciaie, a fim de quc fossem sentenciados ao dcgredo para
a Índia." p. 314'
- Williams,
29. Erii Capitalismo e Esuavídão, trad', Rio' 1975, p' 14'
21. Dr. José Vieira Fazenda, "Antiqualhas e memórias do Rio de 30. Idem, pp. 16-17'
Ianciro", RIHGB, vol. 149, 1924, p. 53. Devo esta indicação a Leila Mezan 31. Idem, p. 19.
.{lgranti. ,2. ..Os tsiorços realizados principalmente
-servidão na Inglaterra,
para l-ecrutar
24. Apud Rui d'Abreu Torres, "Vadiagem", p. 219. mao-ài-oUra no reúmc prcvalecen[e dc temporária, se intensificaram
25. Apud Vitorino Magalh6cs Godinho, op. cit., pp. 116-117' ;;; pio.periAaOc do negócio. Por todos os meios mesmo procurava'se induzir as
26, Apud Vitorino Magalhães Godinho, op. cit., pp' 172'173. Dessoas'que haviam comciido qualquer crime ou contravenção a
27. Idem, p. 156. íinAii:*r=pá.a trabalhar na Âméiica-em vez de ir para o cárcere. Contudo,

58 59
entrepostos e feitorias que marcou o comércio com a Ásia ainda
praticâmente não diferiudo que receberiam, anos depois, os escra- propiciava lucros a Portugal, no Brasil já se plantava cana e se
vos negros. Ainda para Eric Williams, a servidão branca teria sido comercializava o açúcar, permitindo, assim, que se fale, já para
o sistema sobre que se montou o tráfico de escravos: "base histó- meados do século XVI, de uma agro-indústria voltada para a expor-
rica em gue se ergueu a escravidão D€gra" 8s. tação de gêneros comerciáveis no mercado externo.
Colônia da época mercantitista, seu objetivo máximo era dar
3. Brasih estrutura econômlm c Proce§so de desclassifice$o §ocial. lucros à Metrópole e nela propulsionar a acumulação de capital
através do exclusivo de comércio e do tráfico negreiro, constituin-
Até aqui, foi rapidamente analisado o processo de pauperi- do'se em "retaguarda econômica da Metrópole" e lhe garan-
zação crescênte que xingiu em cheio a Europa sobretudo a partir tindo a autonomia 8a. A adoção do trabalho escravo se deveu, nes-
do século XIV. Mais ainda, os mecanismos de que lançava mão se contexto, à necessidade de maximizar os lucros através, por um
o Velho Continente para, uma vez descoberto o Novo Mundo, mi- lado, da superexploração de uma forma de trabalho compulsório-
norar o ônus representado pelos pobres improdutivos e' simulta- limite pois eram apropriados o trabalho e o trabalhador
neamente, povoar as colônias que se iam formando. Procurou-se
- às grandes
por outro, vantagens comerciais que advinham do -, trá-e,
também móstrar como Portugalf às vásperas de se tornar metrópole fico 8!.
colonizadora, inseria-se no movimento geral europeu. Assim, pro- Assim, a exploração colonial se apoiou, desde o início, na
cesso de pauperização e utilização dos pobres e desclassificados co' grande propriedade agrícola de cunho comercial e no escravismo.
mo povoádores das colônias adquiriram feição de dois gJandes mo- Resta saber como um e outÍo elemento atuaram no processo de for-
vimentos que marcaram a história do ocidente no período com- mação de desclassificados sociais.
preendido êntre os séculos XIV e XVil; tê-los como ponto de refe-
iência é imprescindível para se poder compreender as raízes do fenô- Partindo-se da análise da estrutura econômica da colônia, p*
meno de dêsclassificaçãb tal cómo se prócessou no Brasil colonial, de-se constatar que havia condições favoráveis à proliferação de
mas nâo é o bastante: a compÍeensão das condicionantes estrutu- desclassificados: nas suas linhas gerais, tratava-se de uma colônia
rais que propiciaram entre nós õ aparecimento de uma vasta camada de exploração voltada para a produção de gêneros tropicais cuja
de hômens iivres pobres e expropriados só poderá ser satisfat6ria comercialização favorecesse ao máximo a acumulação de ôapital nos
na medida em qué, considerando o que há de comum. e -genérico, centros hegemônicos europeus. Uma economia de bases -tão frá,
buscar a ultrapaisagem: procurar o esp@ífico e o particular'
Colônia americana de uma metrópole eurofia que o paupe- 34. Utilizo aqui a análise de Fernando Novais no trabalho já citado,
rismo atingira desile o século XIV, o Brasil fazia parte do Imperio sobrctudo o capítulo 2, "A crisc do antigo sietema colonial", onde é anali-
Colonial português, inserindo-se portanto no que ficou coúecido sada a colonização moderna como elemento acelcrador da acumulaçáo pri-
como Sistema Colonial da Época Mercantilista. Mas, antes de sur- miüvtr ". ,. a colonização do Novo Mundo na Epoca Moderna aprésenta-se
como poça dc um sistÇma, lnsírumento da acumulação primitlva da época
gir nas colônias norte-americànas, nas colônias do Mar das Antilhas do capitalismo mcrcantil. (. , . ) Complata-sç, entÍementês, a conotação do
óu nas do mundo hispânico, foi na colônia portuguesa da América ocntidô profundo da .colonizaç6o: comercial e capiralísta, isto é, ,ír^rnto
que se enraizou a esciavidão. Mais ainda: enquanto o sistema de constituivo no proc.§so de lormação do capltallsmo moderno,,, p, 70.
35. Para Fçrnando Novaie, é a partir do tráfico negreiro quc ie pode
oÍrttndcr a cecravidão colonial, e na "prefcrência pelo africano ie reveia a
o supÍimento de mão-de-obra deveria ser insuficientc; pois a prática do rapto coSrcnagem do eistoma mercantilista dc colonização, que visava promover
da adultos e crianças tendeu â transformar.ge em calamidade pública nesee a acumulação primitiva na metrópolc: ora, o trálieo ne§reiro, isto é, o abas-
paÍs." Celso Furtado, Formação Econômica d.o Brasil, 7.a ed., §ão Paulo, tecimcnto dae solônias com cscravo§, abria um novo J importante setor do
1969, p. 26, comércio_colonial, ctrqustrto o aprcsame[to dos indígenas era um negócio
33. Eric Williams, op. cit,, p. 24. intcrno da çolônia. Assim, os ganhoo comereiais rcsuitantes da preação- dos
Para esse autor, a escravidão "faz parte dessc quadro geral do trata- úorígines mantinham-se na colônia. com os colonos empenhados neise ,gê-
mento cruel das classes desprivilegiadas, das ingensíveis leis dos pobres e ryr9 dc vida'; a acumulação gerada no comércio de airicanos, entretânto,
severas leis feudais, e da indiferença com quc a classe capitalista ascendente fluÍa para a metrópole, realizavam-na os mercadores metropolitanos, enga-
estaya "começando a calcular a prosperidade em termos de libras esterlinas jados no abastccimcnto dessa 'mercadoria'. Esse talvez sejá o segrádo du
c... acostumando-se à idéia de sacrificar a vida humana ao imperativo sa- melhor 'adaptação' do ncgro à lavoura... eeçravista," p, lOj.
grado do aumento da produção," p. 9. -
-
61
60
tornando mais complexa devido ao Bumento da "camada intermé-
geis, tão precárias, centrada na gÍande propriedade gtÍ:ll^"
nu
a arrastar consrgo um dia", cuja indefiniçáo inicial foi, aos poucos, assumindo o caráter
Eipiotuçe.i cm larga escala, estaia fadada de desclassiÍicação 88.
constantemente afetados pelas flutua-
;lffiffi,i*.rã J."inairíduos, 86' Ao mesmo tempo' A camada dos desclassificados ocupou todo o "vácuo imenso"
ções e incertezas do mercado
internacional
-de
cabedal tivessem acesso às fontes que se abriu entre os extremos da escala social, categorias ."nitida-
impedia que os o".piouiããt úente definidas e cntrosadas na obra da colonização" 80. Ao con-
geradoras de riqueza.
processo um trário dos senhores e dos escravos, essa camada não possui esÍru-
o escravismo desempenhava n€sto
Por sua vez,'i*pottuot", parte das vezes tura social contigurada, caracterizando-se pela fluidez, pela insta-
p"p"i i-gu"f*"nt" btoqutunao na maior
bilidade, pelo trabalho esporádico, incerto e aleatório
ao. Ocupou
livre' limitada assim
as possibilidades de ffitâã"-à;]ãáo-a"'otta podiam ser ac fungõei que o escravo não podia desempenhar, ou por ser anti-
ú
aos interstícios que, ;; j,.",";. -
motivo ou por outro' não-
da cconômico desviar mão-de-obra da produção, ou por colocar em
ocupados peto traUatttrã t"f"ii esteio economia
risco a condição servil: funções de supervisão (o feitor), de- defesa
"inOu: g€rava uma des-
e orincípio articulaoái da sociedade, o escravismo e policiamentô (capitãodo-mato, milícias e ordenanças), e funções
;riiiil;ld"-àã- ti"u"to aos olhos do homem livre' e provocava' coinplementares à produção (desmatamento, preparo do solo para
bastante pe-
no escravo t"oer-.gr.tto-dã cativeiro, uma situação o plantio).
culiarequenãoraro-assumiaascaracterísticasdêumverdadeiro
deslocamento. Mer*o ;;.i"', o número dos homens livres e liber-
-àe"órrer
No Brasil, como no Ocidente moderno, o trabalho decente e
do período colonial. honrado é o que se relaciona à praga bíblica: "amassarás o pão
il';"meni". muitr-oo com o suor do tÊu rosto". Mas há diferenças básicas entre a con-
Essa população livre tevÊ, entÍetanto' um
papel extremamente
cepção de desclassificado na Europa pré-capitalista e no- Brasil co-
ooculiar no nosso .àri.,à áú* tíiciatmãnie' conforme viu toirilt: lá, a inadaptação a formás sistemáticas de exploraçio do
l#;d;;orí" roi derinida basica-
c"i, ii"ao Jr.,'a sociedadee§cravos' trabalho pode ser eiplicada pelo nascimento da sociedade capitalista
ê os que os por-
a"rtu^ pilo, ,eu, extremos: os senhores que deseitruturou o trabalho de caráter coletivo dos servos feu-
tugueses coúeciam l-"iptot'u"m desde o
século xV87; as funções «iais; aqui, são o escravismo e a necessidadB da superexploração os
sócio-econômi""t bim definidas' No decorrer do pro- principais responsáveis pelo aviltamento do trabalho, aviltamento
"t;;';;tão,
cesso de cotonizaçao,-'os exúemos da escala
social continuaÍam a ãsse ciue torna impossívei a compreensão e a persistência das formas
ser clarament" .oniiioi"Aot, mas a estrutura da sociedade foi se primitivas comunitárias e assistemáticas de trabalho, como foram
38. "Mag formaram-8c aos pouco8 outras catcgoÍia§, que não cram de
--ffi;o Furtado chama a atcnção,, rP obra i6 citada, PaÍa a ênormc
rcfluxos do mer' êücravos nem podiam scr dc sonhorcs. Para elas não havia lugar no_ sistema
ffffitr";'iãitti. aos fiuxog e produtivo da colônia. Apcear disto, seus conti[8ont.s foram crcscendo., cres-
croacidadc aa ino,nstriJ
caào internacional; rciere-se etrtnetrnto mrãoioa.io, aog bens dc capital' àimcnto quc também cra fatal, c reeultava do mcsmo sistema da colonização.
'^"'n"nyrãiiJ p"ut" "o mJsáo remcdiada muito sofreu
Parccc cvidente que
" Açabaram constituindo uma psrtc considcráI,el da população c tcndondo sem-
obscrva orrtrà autor: "... iá assinalei eta pÍ€ para o &umÊnto, O dcscquilíbrio cra fatal." Caio Prado Ir., op. cit.,
com aEsa instabilidade, cbnforme altcrnam' no tcmpo e no cEpaço' -
evoluçio po. ur."n.or,' por ciclos Gm p.
quo- sc-
do Brasil colônia. 360.
prosperidade ,oio..,''"""qr;ãil; J-lirto.i" i*nômica 39. Caio Prado fr., op. cit', p. 281.
As "
repercuesõcs iiíõii" foram ncfastas: Gm cada fasc
*r"il ãJ'"riJiii Gstrutura colonitl, dcsagrcga'ee- 8 parte 40. "Para cstc sctor, n6o so podc ocm ao mcnos falar Êm 'catrutura
desccndcnte, acsfaz-sc'uÀ-p.a-"ç" d. social', porque é a inrtabilidade e incoçrência quc a caractcriz-am, tcldcndo
da sociedade atingida Um númcro mais ou menos avultedo
;;í"';ti;;' tãriit-i dc
cm todôs oi caror prrs Êltar formac cxtrcmas de desagregagão gocial, táo
indiÍíduos inutiliza-sci ffiã"'ü 9"ti üai a" rubsistência' Passará
reliontes o caractorÍstiças da vida brasileira c que notei em outro capítulo:
caio prado !t" Formação ilo Bra'
a yasptar à margom à"ttã;;'i;tt-; 56o Paulo' 1973' p' 286' a vadiagçm e a caboclização." * Cuo Prado Ir., op. cit., p. 34' -
sil Coatcmporanro t\ôiii,-Tlr -"4' Em Clrculto Fcchdõ, diz Florcstan Fçrnandes: "Entrc cg§e§ dois cxhe'
ScmelhanteéaposiçlodcSérgioruarquo.dcHofanda:..ospróprios mos gituava-sc luma população llvre dc posição ambígua, prcdominantcmeute
tin'tram criado' em todo o Brasil
vlcios do sistema tto'nãoiitó ài nrúuçao mcrtiça dç brancoc é indígcnas, quc se idcntifiçava com o eegmcnto.domi'
nanti cm tcrmos dç lçaldadc e dá solidaricdadc, mas ncm scmprc ec incluÍa
i**llirl*,,t*ri,;;'3;'*triíaruJn'r""*g#,*lfft
"rt;;;;;:i:;-à" sao Éaulo, te16' PP' 7t'72'
'Il:"3 ns ordcm atamontgl. Ondo o crescimsnto da cconomia colonial {oi maig
intcnso, essc aotor ficava largamente marginalizado, protegcndo'sc sob a Ia'
I das origens à extinção do "condenando.sç
37. Ern
Goulart fornecc um paincl -
Esc?ãviaai-iltíiiàiio 4'*itgeral
dos primeiros tcmpos do àc subsistência mas a condições permsncntc§ dc anomia
socill." Circuito Fcchodo, S. Paulo, 1976, cap. "A sociedado cscravista", p.
"oura
náÍico, Maurício
cscravlrmo ., po.tuiJ't n"t iu"t
-
cot6nias' Cr' cap' l' pp' 1'28' 32.

63
62
a africana e a indígena. Nas metrópoles e nas colônias, é o mo- a autoridade or-ganizada aa: "No s€rtão houve duas assuadas, uma
mento da gestação do capitalismo; entretanto, ap€sar de comple- Tntla o_
_ju-iz de Papagaio que ia tirar uma devassa na baria do
m€ntares, conexas e até mesmo indissociáveis, são diversas as for- no das velhas, outra- nos- confins da capitania para a parte do rio
mas com que se apresenta em um e noutro ponto do mundo. É das v-elhas, digo rio verde, contra o comissário André Moreira
de
nessa unidáde contiaditória do fenômeno que se explica a especifi- Uarvalho, encarregado da cobrança da capitação, e suposto que só
cidade do processo histórico em cada uma das partes. constass€m de vadios que como diziam não queriam q,r" ," iirrrru
dcvassa aonde nunca se tirou, nem se cobrasse áii.itã- urgo-- ,"ur
A noção de trabalho vigente na colônia é importante paÍa a ronde só se devia dízimo a Deus. . . " 46. §stes vadio, ,ão, por-
peculiaridadc no§§a: a extensão qye .Êfltre
-assume de outre
compreensão tsnto, indivíduos que, ao que parece, formulam co* clareia a sua
nós a expressão vadiagem e a categoria vadio, Mais do resistência ante o Estado, insistindo na persistência do localismo.
que na Europa pié-capitalista, o vadio é aqui o indivíduo que- não
Podem, nesse contexto, ser opositores bem situados sociarmente,
si insere no§ pàdrOes- de trabatho ditados pela obtenção do lucro mas que segue na mesma carta Íaz pensar que sejam
imediato, a deiignaçao podendo abarcar uma enorme gama de indi- -uq .trecho
víduos e atividades esporádicas, o que dificulta enormemente uma mandatários de potentados: "... mandando logo prendei Antonio
Ilnoco
definição objetiva desta categoria social. _Irarcellos, que por cartas de pessoas quê reputo zelosas e
verd-adeiras, me constava fomentar os vadios que fizôram
Atentando-se para algumas das conotações que a palavra assu- 40.
as assua-
dos"
me no trabalho do jesuíta Antonil, pode-se ter uma idéia dessa
multiplicidade de acepções, aqui referentes a fins do século XVII Em carta de 24 de julho de 1736, Gomes Freire, ocupado com
e iníõios do século XVIII, já que a Cultura e opulência surgiu em negócios no Rio de Janéiro, congratulava o interiná p.tur';uãrrra-
llll: "Para vadios, tenha enxada e foices, e se se quiserem deter veis.providências que tem tomadõ para o sertão a exiinção
aá, ua-
no engenho, mande-lhes dizer pelo feitor que, trabalhando, lhes cllos"'.
_aqui claramente identificados a revoltosos az. Trabalhador
pagarão seu jornal. E, desta sorte, ou seguirão seu caminho, ou esporádico, homem desprovido de dinheiro, criminoso, ruáráó,
-*rure-
de vadios se farão jornaleiros" al. O vadio é aqui o indivíduo não vado, revoltoso e até mesmo potentado dissidente, utguáu, Ou,
inserido na estrutura de produção colonial, e que pode, de um mo- conotações assumidas pela peisonagem do vadio coloniai "i, Apesar
mento paÍa o outro, ser aproveitado por ela. Mais adiante, An- da. imprecisão, pode-se, na maior parte das vezes, identificar
vadio
tonil opõc vadio a homem de cabedal: "Conüdou a fama das e nomem pobre expropriado, mesmo que para isto seja necessário
minas tão abundantes do Brasil homens de toda a casta e de todas uma leitura cuidadosa fontes. O que ie torna flagrante a par-
as partes, uns de cabedal, e outros vadios" {2. Vadio, nesta Pas' .das
tir dessa lcitura é, entretanto, -
o destaque especiar daão ao iero,o
sâgem, é por extensão todo homem desprovido de dinheiro. E ain- como designativo da infração e da desclassificação, o q* já-fora
da em Antonil, a palavra adquire nova cor: "Os vadios que vão apontado acima quando se constatou o u* qrl á"rru'putáuru
,"
às minas para tirar ouro não dos ribeiros, mas dos canudos em j.T-,_T_r leis portuguesas. Por um motivo ou poÍ outro, por mais
quo o ajuntam e guardam os que trabalham nas catas, usaram de e fluida que tenha sido a ,,camada intermédia,' noi tempos
traições lamentáveis e de mortes mais que cruéis, ficando estes cri- I:t,111",
coloniais, não parece pequeno o papel nela desempenhado pelo
mes sem câstig6" {4. Este vadio é, portanto, criminoso e ladrão.
que
se convencionou chamàr vadio, expressão que, de^agora
ài"nt.,
Identificados genericarnente aos infratores são os vadios dc que será
.freqüentemente usada neste irabalho como siriônimo "rf,de des-
fala a.correspondência entre Gomes Freire de Andrada e o gover- classificado social.
nador interino Martinho de Mendonça de Pina e de Proença, quan-
do tratam dos motins ocorridos no sertão do rio São Françisco em 44. Diogo de vasconcelros, História Média de Mrnas Gerais, capítulo
1736 e que, segundo Diogo de Vasconcelos, constituíram-se numa "Motins no sertão".
típica rcbelião de potentados loceis contra o fisco, ou §eia, contra 45, Carta de Martinho de Mendonça a Gomes Freire
in "Motins no scrtão e outras ocorrênciàrãm-üfi;r -ô-*iir',, 2g-yr-r736,
- ãiiil,' ,ot.
I, p, 649.
1896,
41. Andró Ioão Antonil, op. cit., p. 16E. 46. Idem, idem, p. 650..-
42. Idcm, p. 303. 47, "Das cartas do exmo. sr. Gomes Freire de Ândrade. ..,,, in RÁpM,
4?. Idem, idem. vol. XVI, ll, p. 246,

64 65

--a,a,!ll1ílwm"Fl*i"
W*n r*a::ado Ircrr rlm siçtems 5ue s-muJtaneaÍDentÊ êo .F§me- ,§üE!TIIE{rJ!-!§ ..B-"t' .tr*J-ÍL' rtr'i *d ..i.-'1lJ 'ir' - .\ "t

r-adio poJerla- sr loÍÍlaÍ capacidade de desÍocamcnlu €m ÍcmFiJ reilirvamente flrrro. .{ ,*r


criava e o deixara srm àzeo de ssr'. d'
pequeno proprietário que não conseguta se mante-r :^1"1Y: exploração aurífera obedecia, no seu desenvolvimento, ao lucro mais
encontrava meio propício imediato: voltava-se inicialmente pâra o ouro depositado no fundo
senhor de engenho; o artesão que não mou- don rio* (ehnrião). dcpclis p*ra o ourr: depositado nas *a6911as (s:rr-
;;;;"; Jirr.i""io o"'sia fiàtit'ao;-o T:]1'" ouc não desejava
reiar ao lado do negÍo pors não quena sêr confundido com ele
IIUE) G, ffirtmrc, Püra cr teurs su'tnerrànec* igatenasl. §r:*
'"":;;;;áãttriãtaiçoã - ae ingressar no mundo dos brancos; @ntexto, era a fase inicial a que maiores lucros apresentava. A
com população acompanhava os trabalhos da exploração aurífera no seu
vézes a s€r o que iá viera de além-mar
""a[1ãirrii*""ru'niuir"* o 'a'gita'oo em geral' À sua Itinerário, canalizando para a mineração todos os seus esforços e
csta pecha: o
"rlrm[L,';;titi;,
volta formaru-r" uln'-"íÉúo vicioso: a eitruturu econômica engen- dcixando de lado as outras atividades. Os resultados imediatos
ter atividades constantes; o
à;;; ã;socupado, inlpioinoo--o detornava-se dcesc proccdimento erarn, por um lado, o desenraizamcnto conslsnle
oneroso ao sistema. dr,pqpula*r c, por ürúo. a fome gue. conforrne 5ç viu na çaoí-
ü*d"d" ;;;;;;rid;-d;- tiabalho, do exército industrial de re- fffol ffieÍ, .gqglrzrr .1 eEEsrEsE Rtr;§:r*Ar:f $ {< rcss.rqr
Afir,,tafu.x *r'ã-üporãrÉr artÍarrrtt§' nua *{&ú I }Er ttiql} ;nJrit'r* c ,ro:t*nt,lr.ta :-..§. i!\ú rr i-..í..'JiJ.
WtrXãoíffi *
anbrxs'a' conrcro pro-'
r5 PÍitucirt§ nlocrlçacs situaJss r'ü kln*l§ rjrrS Ífi.r§ sl{§rl§\;l"{Il .n
prb: o do s*rar:srno' ritmo do ssu trabalho à alternância dos periodos de chuva e de
seca. A Íixação do homem à terra só se estabílizava um pouco
processo de desclasslfrcrção nas
Mlnas' mais quando a exploração se fixava nos aluviões de meia encosta,
4. O
as grupiuas otl catas altas6r.
história desde os inícios^da'colo-
Personagem present€ na nossa tiveram características A itinerância e o senso do proviúrio persistiram por muito
nização, a gênese á"t"'*f it*"to do vadio tempo, a ponto de, em 1808, Mawe captar seus ecos: "... os agri-
"
gerais comun, u toiã-l *tOniu'
Tentei traçar acima as compo-
puttu'do' a cultores pareciam agir como se o arrendamento, em virtude do qual
nentes estruturals g"*i- Oã" t*-engendramtntL'
-fecutiaridãdes -partir
que envolveram a sua pre- possuíam as teÍÍas, estivesse prestes a ser anulado: tudo em torno
ffõ;'^;""*".if;"i-* deles parecia anunciar criaturas que vivem de expediente§" É. Ex-
sençã na zona mineradora' plicado nas Minas por uma série de fatores ligados ao caráter da
a mineração ^estabe-se
Como já foi visto no capítulo anterior' social' marcando-a exploração aurífera, essas peculiaridades são, no seu conjunto, cla-
contuóação
leceu sob o signo da pobreza e da que ao apelo do ouro rificadas pelo próprio sentido da exploração colonial, assentada na
sobretudo o .nor*. uiluxo de gente aferição râpida e imediata do maior lucro possivel.'3 Uma série
'"údiu heterógênea' Mais i
e cuja composição *;i"l; upt8t"ntu'à .baitante
foi grande nas Minas
t

do que em qualquetffig.;J'iio-ãu o. 50. Para cssa itincrância da cmpresa e o baixo teor de capital fixo'
imediatismo' o caráter pro-
.o"'"t,"ã'i-tií"ián"iu' "oronia'
I
vcr Cclso Furtado, op. cit., p. 82,
a instabilidao" I
i 51. Miran dc Bàrroc .Iatif, op. cit., p. 91. Entretanto, durantc todo o
visório assumido pelos empreendlmentos' pcríodo mincrador, parccc tcr sido- maior o prcstígio da mincração. aluvio'
tempos, "freguesias
os arraiais auríferos forarn; nos- primeiros o ãutor do diário I nal, Na aua "Memória' dc 1799, Vicira Couto dá um motivo possível: "O
móveis como os fiffi;^ã; iã"i'noleiertà;;"' horror de se sotcrisr um homem cm uma mina por todo um dia, dc sc
da viagem oo át Minas se espanta com o aspecto despcdir ao trartocr do col dc sua brilhantc luz, c dc s6 se guiar pclo fraco
"ona"êã;;;; plantadas vilas clai6o de uma candcia, dc ouvir cetalar a sada instante a montanha aobrc
de São João del R;, ;;;ã"'aã-t"i àãi mais'bem (uase todas as a cabeça, o cspcrEr a cada paeso pcla mortc, parecc quc c§las coigag -foram
das Minas, o" das piores' 'npor eterjuntamente pelas dçsgoctándo pouco a pouco os homens do trabalho das minas, e cnfim os
"r", "niiàtinio,
casas de palha, o*u^oi'ii *;J*.das-Lutiashoje s9 f,1ze^m' ama- dctãrminaram por uma vcz para a mincração dos rios". p.
- op. cit., 303.
lavras de ooro, "qo.'ti"t iilittto.
delas' que 52. Mawc, op. cit., pP. 154-155.
nhã as botam ittãltiã-ti"tuthut' o'qut causa toda a irregu- 51. Caio Prado Ir. considera os deslocamentos de população como en'
"rnDe fato, a empresa *inJiiu era transitória
e iti- saios caractcristic,amentc brasileiros dc procura dc mclhOres son'
e tentâtivas
laridade..."40. diçõcs: "No Braril, estc fato é particularmcntê scnsívcl pclo caráter quc to-
mara a colonização, aprovcitamcnto alcatório cm cada um dc scug mometrtos,
a':9: o,-*lo u'
D'-'Pedro como vêremos io analigar- a nossa cçonomia, de uma coniuntura passagcira-
iB: fü[il'0""n'i""r',1;lul' É"oro
lÍ!.'r", o. elm9r.§r'
desta até no ano de 1717" mcntc ftvorável. Cultiva-sc & cana como sÇ cxtrai o ouro, como mais tardc
Ianeiro até a cidade ot''Sãã "t-úinát' se plantará o algodão ou o café: rimplcsmcntc oportunidade do momento,,."
:'li;;,tr; tto SPHAN, n'o 3' P' 313' "
67
66
rmr|úm.*'ry
à desigualdade e injustiça na distribuição das datas minerais glosam
essa análise. , i.l

De início, pelo Regimento de distribuição das lavras, nota-se * ; ,,ií;r,rt


",'p,'E,';*I1trÍ;*çF"iftilElttrüffi o caráter restritivo e erninentemente escravista da mineração: as
yi , u.'i};.r',[1.'
'

datas seriam concedidas conforme o número de escravos que cada e* J'i"


#ffi ,' "
, I

;;.àfi "outravarl;çoã:;n",'l::i"',âut:ii:tli**:*'-m'*:: um possuísse, donde parece ficar descarta$-a a- possibilidade' para '1,
i'I
o homem livre pobre, de possuir lavra suar'7' Mesmo que-se tome rij

como ponto de'partida a ãfirmação corrente que diz ter sido muito 'i
:ii:lilq,ç*rtlfr il+l*lt#u,5+:ggl5-,** raro o'homem livre que, mesmo pobre, não possuísse -escravos, de-
frontamo-nos com uma situação dà injustiça e desigualdade, refletida

I
iüIlr*"Í;ffi itiirffi e
iI que'
até nos documentos oficiais. Essa situação acha-se descrita em car-
ta do Ouvidor-Geral da Comarca do rio das Mortes, datada de
1733: "Senhor. Na forma do capítulo 5.o, e 20 do Regimento .:,
I
I' ,i

1 xl;r':ll '":t1t;ir'*âr,*1'ff
i'!iaà,1"^.'"'*iat
fill"t1llct,"a'o'nu
da cha-pada'
das terras minerais, é V.M. servido ordenar se repartam estas, se-
:!

S$rirrtiryry
Ê i gundo o número de escravos, que os mineiros tiverem, repartindg-se ': t
:.,
as datas, braças e ainda palmos, sendo necessário, para que todos, ;{

[ill:l,m."'g-i'j*t{ffi #*t'+:.üx':,tffi assim ricos, como pobres, fiquem acomodados, e extraiam ouro, o
que se tem praticado tanto pelo contrário nestas Minas, que os ricos
.t:l ..:
; :i
4\ it

fiznram, e tem feito seleiros das terras minerais, em prejuízo dos


*rltl#lii#:T1lü:":#l'l;i";;:t"'.Tr§l:lll;r';ilüi
de vulto em algo táo.
ale-1:r1o-sta
o contormiimo
Reais Quintos de V.M., e da observância do capítulo 7.o do mes-
timentos atividade, mo Regimento, porque as não lavram, e de dos pobres, que não
l"'dt'::T'","?Ja'àJãúã'a"terra"'onde tendo onde trabalhar se sujeitam a meter os escravos nas lavras
lf #*i:t*.ô'rTffi seu trabalho até daqueles só pelo terço do ouro que extraem, ou lhas compram por ,ü;"i
sentido
o duplo "JJ"i""*"ãut1"'t"
oo' "'";;;;;;; exorbitantes preços, licando os pobres sem terrc$ para lavrar, ha-
a-morte iifô:
;,:"ü;,;;ía de resto em'Qualguer
atividade-primordial vendo-aç em poder d.os ricos e poderosos, de cuja desordem nascem ,l$il
r

mortes, demandas e dissenções, . . " Os grandes responsáveis por


I
Na mineração' como escrava'-ltavendo
q9f iffi;ilt
da colônia, u to'lu-ãã'-t'uúuino'"'u-tllrci*ente livre ol semili- esse estado de coisas seriam, segundo o Ouvidor, os Guardas-Mo'
os res, que "por sua própria autoridade" davam todas as lavras aos
entretanto
'''àLt[i"t' '*nu'$o'
ili,.."piri.u,".",'i"i'T",x;[ ji*;#'::*:,*"'X:kJ]J,"13: poderosos e deixavam os pobres "sem lhe repartirem uma tão-só
Poderia se mantr braça". O magistrado pedia solução para as injustiças e uma re-
iii" t'Joi"i"y15ít" iãão ti"u e
democrática'
gião que, urt'"'.t partição mais racional das terras, de maneira a que ficassem "assim
ãf -f"ttout' A j,i§.]*i:Jffi io;;il;ií{ü*n",xHffi ,'Í#i::
,"."nt",u,"..,{ix ricos, como poderosos, e pobres todos.acomodados, e extraiam ouro,
ã'"
restrito ou rique'á'"t
ãí-attutentos relativos e paguem quintos a V,M." 58.
mostÍar este asp(,.,o
57, A primeira data cabia ao descobridor do ribeiro, que tinha-o di' i
reito de escolher o local; a 2.a ia para a Fazenda Real, sendo vendida em ') i
hasta pública pelo maior preço; a terceira também era dada ao descobridor .:
,.1
para que a minerassc; as dcmais eram distribuídas aos pretendente§ conforme
ô nümero de escravog dc cada um: "Sc o pretendente tivesse 12 ou mais -, Ê
ü
itild,

escravos, ganharia uma date de 30 braças em quadra (cerca de 66,m2); §ê ilfrritlrr,

o mineiro possuísse mcnos de 12 escravos, receberia terra mineral na pro- :'!


.. i
porção de 2 braças c meia por escravo (cerca de 5,5Ín2)". Waldemar de
Almeida Barbosa, op. cit., vol, I, p' 54. - r:i
e o garimpo em'Minas 58. Carta do ouvidor-geraf da comarca do rio das Mortes, e superin-
st o" Machado Filho' o nesro 20-VII.1733, in "Terras Minerais *
i;.tt;,,t' '*"
tendente, Francisco Lritc Tavares
-
crrii.-f**';..?1"nu*, in op' cit" pp' 20'21'
"A socicdsdc ercravigta"' rii
69 ríi..,i
th:I
tu-
68 r"*'t-i

i
# ,::|

I
I
,$r
\_ -.
62. Carentes de mão-de-obra,
número no serviço insalubre àas lavras
ãs mineiros com freqüência faziam os trabalhos de maneira ina-
;;d;à;,- átuhando canais que ainda poderiam ser úteis: "Deste
,Jao ui terras de mineração em poucos anos se tornam inúteis; e1.
e
Até
ãi mineiros sucumbem aos miserávàis efeitos da indigência''
;; fíl1,of ài antigos e ricos mineiros, empenhados e falidos, caíam
na miséria, e desãsperançosos da mineração, escondiam-se no's matos

fi nu. ,.oçut *. No iniciô do século XlX, os viajantes tra-çarão o re-


"trá1ã t.agioo de homens miseráveis que -vegetavam nas fímbrias do
sisterna,
-voltados
para uma agricultuia de subsistência mesquinha e
esporádica gue, muitas vezes, mal conseguia impedir com que
morressem de fome.

*H$,s*$d*ç*l*rua**m
.n' poo.o.
"..tu,?,lr;eã-.?. ::r.-j:sr;' d^u- 5. As várias Íormss ds utilidade dos desclas§ificsdos'
não poderem !e T^-*i,.,rr.,u I;oo"no minerador*u,.
ditícit para o .p.":":,*-"'l?iiJo
somando-se aos aventureiros do ouro e aos desclassificados que
1.,,"",":'yT'i.flâ'à:"T";'ãp""*oi.l?'.',,'lt#'11'il'0n""'u'u'' fortugai despejava nas Minas, toda uma camada de gente decaída e
o minerro.
custoso,
não- tinha na miséria' sobre-
::.:u§3"'il""'"i"."rn triturida pelá engrenagem econômica da colônia ficava aparentemente
Não se^minerava sem razãõ de õr, vãgando pelos arraiais, - pedindo - esmola e co-
Não .,u, assim' *-:"1*f;'"3*".*fl1"à'"u;iil;: em srande
li,ãã iJra" ,J,i"'à""*o'i'iã'n mida, brigando peÍas eõtradas e pelas serranias, amanhecendo- morta
sem escravos'
1
"
iü';;l*
":';;r;'â"
"ortoror, ãut pont.t ou no funão dos córregos mineiros' -Muitos
"i'j?'i""''1'*tâ: Â: "*úáro
morriam de fôme e de doença, mestiços desraçados que, não bas-
Ti'H3'-b;'$i:"'i iil" ; àesclassificação social05. na
e econômica, traziam estigmatizada
ê:Ti1i.uã",""iu'JI i?.11il#'*
:::'.t"formuração.0. D_i?Il
de vas- p;ü ; Jesclassificação racial Sua presença inquietava os- admi-
sobre as Minas;
i,i.truàor", coloniaii e todos aqueles que escreveram
dentre estes, cabe destacar o âesembargador Teixeira Coelho'
à doença
62, ". . . como mortais, estão os e§cravos eujeitos à velhice' uma.cata
. a Ãorto; e esü muitas ".rá*,e acelera ou debaixo das ruínas de
-iorÀ qoi-om" im-prcvista cheia
profunda, ou no ccrco aài.iot' ou outro algum

HHff*F ilú;;i;' ariombara." - Élói Ouoni, "i4cmória sobre o estado atual


J"-ô-"oit*i" de Minas Gerais" - 1798 - ABN, vol' XXX' p' 304'
ei. José Elói Ottoni, op. cit., p. 305'
ã. Vieiraôouio,-;;6:"uetaçõct sobre as duas classes' ""' RIHGB'
providltciqt tl ,*o . r^^^Áância em que estáo as
' XXV,
v. '-e].' 1862, P. 471, da dcgclassificação racial foi, de certa forma, desen-
Àiãbiã
de Ândradc num dos mais bclos cnsaios que se escreveram
volviúa por Mário"oiiosa que sim.
no Brasil: .,Que os ,nrl"to* eram faÇanhudos, nfu tem dúvida
M* ;; poiém, pelo simples fato de,formarem a classe servil numerosa,
os homens"' ("') Os
ü*tfi fi*sfi *:ç*u'un**ry;ri*ll' *À ürr.. à tantas-vczes a'classe que desclassifica
nÍulatos não eram nem milhores nem piores que brancos portugueses ou
i"eür*"il["r;:-ô si; oles estavam era numa situação particular, desclas-
,iiI"oaos por não tercrn raça mais. Nem-eram -negros sob o _bacalhau cscra'
,o"*t", nem brancos ."ndõ.r e donos livres, dotados duma liberdade muito
d* não tinha nenhuma s"pécie de educação. nem meios para s-e ocupar
H$,'.'' ""ià, Não erâm êscravo§ mais, não chegavam a ser proletariado'
""rÀân-"ntáÁrnte,
;;-;;,6uI: "o Aleiiadinho" (1g28), in Aspectos das Ártes pltisticas no a)
i'I
i

Braoil, São Paulo, s.d,, PP. 19"20.


t;1
',,1',,*,ü,'1,'"'ffi. tl
irX
71 'trr,
,* i t:
i3.3
70
..tz:l
,-.",***'a*4*"',"

goria social aparece, assim como característica da consciência co-


:r Ietiva de um momento histórico: o do surgimento do capitalismo.
{ -ônus
í Acha-se estreitamente associada, creio podê-lo afirmar, ao qr"
I
I
ll, ^lj,-:o.i
i a rcprodução desta gente. É a esse ônus que Teixelra
coelho opõe a ulilidade dos vadios mineiros, que não eiam caracte-
{

*nx*'*hçxçí**l*,g:'dffi
Hi.i#xil+:+i*,rl"i3:t$k1t",'"**.",,i.nril**i*l
1
rístrca exclusiva da colônia portuguesa seteceniista, mas podiam ser
encarados sob um ângulo especial, que desvendava a sua peculia-
ridade. É nesta peculiaridade que reiide a questão.
it
rl ,:]

De fato, o que está por detrás da afirmação de Teixeira Coelho


:ffil,:': ,!."r§#1"í=ry;*#Jsr k,m,:r{::rü I
é a idéia de uma mão-de-obra alternativa à escrava, de uma espécie
yTx,ât;!:,:"'i,;dlf.,:;ll*r,ffi**:tf de exércíto de reserva da e.scrqvidão. Era assim que a vacliagún, ,
de.sclassificação social, se atrelava a um novo contexto, no (ual a

H*!:à"i:I:"{:mtt contingentel- J,uor,


flllt_",tl utilidade ganhava destaque mas convivia também com o ônus.
A documentação permite que se constate com segurança a exis-
flTgi curtivavam prantações
de tareras que não tência dos desclassificados sociais mineiros, mas nào responde
H::1i':1il"âí1ff#;:"";,"nà.nalo
, kt'ff#S"-:frX
*á" à incógnita da sua reprodução, ou seja, as condições concreias de
ã1"''i,'ü'i'd"i u, esc r av a.
-.nfu sua subsistência. Como comia e procriava uma ,,casta de gente',
podiam ser cuÍnprll que vivia de expedientes e de biscàtes esporádicos? euem ãrcava
com o ônus da reprodução de uma o,gente ociosa que só servia
-#-*'g}i+,;il*ri, $:-f5ffi para consumir víveres" 7o,
dos vadios" ?1?
QUelrtsuportava ,,o peso enorme da parte

A idéia da utilidade dos vadios no século XVIII mineiro se


cruza, assim, de modo quase inextricável com a idéia do ônus repre_
sentado pela vadiagem. Em 1770, escrevia o Conde de Valladares,
governador de Minas, a seu colega Luís Antonio de Souza, Mor-
gado de Mateus e então capitão-general da capitania de São paulo,
recém-recriada: "De mulatos, cabras e mestiços abunda esta ca-
pitania, fazendo-se muitos deles pela sua vadiação, e ociosidade
dignos de se lazerern sair desta capitania e de tí ua^pr"garem em
cow(N útei§" 72. A eliminação dos vadios pela sua expulsão da
capitania significava a supressão de uma gente oneÍosa e indesejável,
',,Í$:fl mas esta possibilidade aparecia imediatamente associada ao emprego
i;,'':j[,fliillü$i-i'":'run={",*-r*,ri'.**'
6e' A
dos desclassificados em algo ú/Í/, mostrando muito bem a oscilação
em que se yiam envolvidas as autoridades. O mesmo Valladares,
assumem"
que como sb verá adiante teve na tentâtiva de solucionar o pro-
i
I
j
neantz' gens sans aveu, gens abandonnez, gens sans domicile, sâns mestier et
vacation, et comme les appelle I'ordonoanée de la police de paris, gens qui
nl !ery€!!.que de nombre, sunt pondus inutilae ietae,'. Apud Gõremeôk,
1 "Criminalité, vagabondage, paupérisme...", p. 349.
70. Àristides dc Araújo Maia, ,.Memórias da província de Minas Ce-
:':iiilÍi,;:'*::#'\"i"'úuíi'i'lo'0u tais",in RAPM, VII, 1885, p. 42.
71. RÁPM, vol. VI, pp.'145-146.
rx,,Hhllr:n,hi,*ti;*;fl 72. Carta do Conde de Valladares ao Morgado _
**ti':Hi,iil#,#if - in D.1., vol, XIV, 1895, p. 272. O grifo é meu.
de Mareus l0-I[-1770

lionês dcfine vagahundo


U*1;,,u:ulllfli"H'*t[l?"il]'iuill
73 r
t
72 J

.i
A) Entradas.

o devassamento do sertão das Minas e o estâbelecimento dos


orimeiros arraiais auríferos se fizeram sob o signo ' do aproveita-
[i";ã ããs desctasbificados sociais nas bandeiras que êntravam pelo
mato. Antes mesmo de se procurar ouro no território que d-epois
ficou chamado Minas Gerais, Gabriel soares, na última década do
séúo XVI, recebeu ordens reais para "tirar. das prisões os õon-a
à"n"áo, a degredo, que fossem oficiais mecânicos e mineiros;
76' Agos-
estes seria coniado como da pena o tempo da expedição"
tinho Barbalho Bezerra, QUê em 1664 foi encarregado.pelo rei do
,.descobrimento e entabolamento das Minas de Paranaguá", no então
distrito do Rio de Janeiro, recebeu instruções semelhantes: "E por-
oue oode acontecer que pelas capitanias e sertões por onde Íizer
andem algumas pessoas
ltrnrau ao descobrimànto' das ditas minasjustiça
í.iituàur por crimes, ou casos por que a seja .parte e não
h;ju|j ouàor, hei por bem que iendo necessário aproveitar-se o dito
Àg;iirh" Barbalhô das ditas pessoas para algumas notícias ou.infor-
mãções do que se pretende neite descóbrimento, lhe pos-sa perdoar

dmmgx*6
e

o tal 70
crime, que tiver cometido ' ' ' " A
p".ào" meu nbme
Landeira"r,
não vingou devido à morte dé Agostinho Barbalho,.e. nada
mais se sabe soÉre estes possíveis informantes a serem utilizados
ntt.o.; a abertura s yvÍ"-'--
in ApM,
\ úiu "ip"aiç*. Mas a ..r*u idéia que
sociat inOefinida aparece na narrativa
de informantes de condição
José Joaquim da Rocha
z \,, _ 10-I-1?73, i
Pais, que entrou para o sertão le-
faz da bandeira de Fernão Dias
vando cem hastardos: estes, às margens do Vupubuçu' foram .expe-
didos "a fim de examinar a finalidade das terras crrcunvlzlnhas a
\ este lago, a ver se achavam alguma língua, que melhor as infor-
rnurr* ão que buscavamu 77. haitardo podia então designar tanto o
i
filho naturál como o mestiço, sendo certamente esta a acepção a
que diz respeito a passagem iitadu. De qualquer forma, tratar-se-iam
i]*#:nry**à*";t*xÂ*lf"qF""-"]:''? de elementos de mísera condição, arregimentados pâra engrossar a
empresa arriscada do sertanista.
ràírtuf
6ç;'#::*"xlll",x'n",i"iii:r^:sru;r".Iãipo,.iuo'o' +_
sentenciados a trabalhos forçados e até mesmo requisitavam ordenanças das
milícias, no que o monopóliô real das armações contâva com a colaboração

mffiruffiw*mmgm ,f-u, ,utáriAaAàs. Sob ameaça de prisão, também se recrutavam vadios, fre-
qüentadores de tavernâs, moiiro pelo qual muita gente fugia ao ^se aproximar
á temporadn da captura da baleia."
- i3. Aristides àe Araujo Maia, -
RÁPM, vol.
rais",'76.
Jacob Gorender, 9P' cit',, p.' 229'
,.Memória da província de Minas Ge-
VII, 1902, P. 26.

e excertos de alguns escritos com relação à empresa de
,.Traslados li'

Agostinho Barbalho Bezerra para descobrimento das esmeraldas. com al- ,,i
.t
gu1nu, obr..uações e anotaçõés" -- Provisão de 20-V-1664 in Rz{PM, vol. â

ll, 1897, p. 531. ,;,! f


op. cit., p.
:;fu§.ütt*uit*t'm"n+'11sô::*,"{:*'i*t 77. Iosé loaquim da Rocha, 479' 1'Ê
,ii§, "'lt r

iffi;; iãda Parte' I


^

75 r:t
r;{
ir{
14
,W
'i
l
de desclassificados. A desclassificação seria, pois, particularmente
intensa naquela região, que se constituiu assim numa amostragem
privitegiadi do fenômeno ao mesmo tempo em que aliviou as outras
iegioes dos seus elementos indesejados, funcionando como uma
"válvula inteÍna". t

n) Presídios.

os presídios foram, em grande parte, mantidos e desenvolvidos


às custai do trabalho de desclassificados. Localizavam-se em terras
- ---oo remotas, as conqui§tqs. e foram feitos para combater o extravio do
trata, do-."s"*"u; Fró^;r:t#íJÍffi"ffi[ ouro, para inspecionar e impedir o avanço dos índio.s, sobretudo
botocuàos 81. Em muitos deles viviam gentios catequizados e pa-
cíficos, e era freqüente possuírem campos de lavoura cultivados
i;ilffil'ffi:{diT*".üil"lffil'H.#:u-i'í"ffi 'iema. p"tor iti*inosot desocúpados., Os- mais citados são o de Abre

.*f${Irrl;"#ffi*fir,sffi ,,ór*u
"
brrnpo, o do Peçanha, o do Cuieté, que ao que tudo indica é
localidad-e que algumas vezes súrge designada como Casa
"da casca ou casca 82. Situada no lado sul do rio DOCe, era cor-
tada por vários córregos, ribeiros e rios menores, e em suas margens
encontrava-se ou.o; itas havia um grande problema: índio bravo'
botocudo. Esta conquista havia siclo promovida por Luís Diogo
LoUo Oa Silva, pelo'Conde de Valadáres e - por D' Antonio de
Éoronha. Este último procurou torná-la produtiva, para lá se di-
rigindo em pessoa a ti de setembro de 1779'3. O.presídio de

*,
úl
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nü***fffit*gglffi
âlT§I t"""ii;t-*t '3g
onde es
r-^^,accificador
A-bre Campô fora desenvolvido pelo Conde de Valladares, e sua
conservaçãô fora considerada de enorme utilidade pelo- mesmo
D. Antonio de Noronha: ". . ' porque além de haverem nele Minas
donde se extrai ouro, serve de embaraço ao gentio para penetrar
aquele sertão, e hostilizar as muitas fazendas, que se -achavam po-
vóadas e culiivadas nas vizinhanças do rio Casca ' ' ' "
84

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ff #lfik*'rm**r.*,**#
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ç. fl krdr$,ri *tffi#*l
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O envio de vadios para os presídios e conquistas foi medida
adotada por praticamente todos oi governantes nas décadas de 60,
70 e ató'mesmo 80 do século XVIII. As Cartas Chilenas criticam
a arhitrariedade de Fanfarrão Minésio e de seus prebostes no trato
com essa gente:

El...Descobrimento de Minas Gerais


RIHGB, vol. XXIX, t. I, PP. -
relação circunstanciada",
fi
-d-a 5-114'
T':â""',TJJ1X'. 82. Diz losé Joaquim Rocha: "Dos sertões penetrados naquele tem-
'i',H po, era o mais notáveli o da Casa da Casca nome que se deu a ,uma- aldeia

ãi-r-$ru :-'ffi àe'gentio situada no iogat hoie denominado Cuieté, ao meio dia do Rio
Doce em distância de 5 léguas."
83. Teixeira Coelho, op. cit.,
op. cit., pp. 42Ç427.
- pp. 487' 488 e 489.
E4. Carta de D. Àntonio de Noronha citada em Teixeira Coelho' op'
cit., p. 509.

77
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várias expedições às conquistas inclusive da que, no tempo de


-
Luís Diogo Lobo da Silva, se enviou ao Abre Campo os indi-
"3 ff tTj'::'i;;'H ;;;:fr"* -,
víduos que Iá viviam passavam "várias fomes e calamidades", e
"3:i;::
lmitar alt" ê"uã o'ardente"zelo: sofriam constantes investidas dos índios puris, ficando muitos mortos
pelos matos 80. Já no século XIX, um senhor pedia comutação ou
Enviam
{:'htr'JtrJ,. ,],lffii devem 8õ
alteração da pena que coubera a um seu escravo, degredado para
fflitJl? ii"'a"J;; noYas
terÍas'" o Cuieté: ". . , é um lugar no centro desta capitania, pouco po- .l .r
voado, porrco sadio e infestado pelo antropófago botocudo, para ,i J

em aProveitl' "t:1o'i o qual costumam ser remetidos em muitas ocasiões alguns réus de
D. Rodrigo José de Menezes ry:": crimes menos graves. . . " oo De fato, a documentação não indica
íi:

"u,n"íào-ôu'w"*T'ffi ,l;i;i:,*"f
veitamento .4" *'oi1'.?i,;r" o* enviassem o: +*I,ãS1*,":;"*=,3ü
transgressões graves como motivo de degredo para os presídios: liji
"i1i?*1, liXi"?Jrt, u" Manuel Lopes Pena, Dionísio Pereira Brandão e Joaquim de
Almeida Pinto, presos pelo comandante de São Gonçalo do Rio 'i:: ii
"ã.lã*uroantesdist',aàL§irã-ni.I"-r_u","ra;l"H'ri1tr3,ulÍâ.,o, Abaixo, só seriam remetidos para o Abre Campo caso ficasse fla-
it

grante a sua vadiagem, pois caso contrário "1snd6 os ditos ofícios,


'lÍ
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cumpririam sete dias-de prisão e seriam soltos
iHI..;lâ*,"*,ii*ff
rneiro, separava
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t"gundo',ur;ffi;; ,"^*^31t"u"ir,lárà" ocioso. em
e trabalhando-ss"
- José Moreira, preso por embriaguez, deveria
a seguir. O bastardo
se apresentar de três em três meses com uma certidão de bem-viver
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ãácio"a"l as receitas da coroa' alrvranu sem o que, sua sorte seria o Cuieté sl. Pode-se assim imaginar
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oúblico; terceiro'. *ã:;;;;t -t. -a quantidade de infrações ri ,l
insignificantes que jaziam detrás de muitos il,l
, . r 1_^-r âvnÍê§so o seu .

*ou"'o TTÉ#*o":'.ll "iI"l!H!'; do dos moradores daquelas paragens.


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ã' ,oor. : i.o;::;l',1ü:3i'" f;:r;;;u
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"on.ái do Cuiete:
oresídio I'T""s' C) Obràs públicas e lavoura. ,ll:l
"*,ii"'p",i,","""*lf;,]o":k:H:i,:i*,it*i:'"""':::fl iti
Para o trabalho em obras públicas sempre foi comum o €mpÍego tl í
.;;'-"i?ü:.l',1ê,àni.a" m.
lT1"i,e'#,üi*;;;1*iã,t'*i9^"-Xl#1,1*:'.T*f .;f#,* de desclassificados Devido ao terrível depoimento das Cartas
Chilenas, ficou famosa a construção da Casa da Câmara e Ca<teia
it
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li'.';$t;[.fr,*li"*;fl de Vila Rica empreendida por Luís da Cunha Menezes, o Fanfarrão ,l i
eram locais Pouc« ";*1;ffi .l1ú
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E9. "Reqrrcrimento que a S. Exa, faz sobre datas de terras minerais

4$-. *fiffi*f:'â*Iffi
i lá:-::1- ; e sesmarias o alferes loão Pereira (. . . ), alferes da ordenança do destaca-
mento dos forros" * l9-X-1770, ÀPM, S.C., cód. 186, fls.78-79V.
90. "Para a IüÍesa do Desembargo do Paço" 2l-lll-1812, in RÁPM,
-
vol. XVIII, 1913, p. 499.
91. "Para o capitão-mor Manuel Furtado Leite de Mendonça"
2l-l-1773, APM, S.C., cód. 199, fls. EV-9. -
92. Conforme decreto de 4-IX-1755, os mendigos e os vagabundos de-
ffi6d;;6*$çtffig1:3'.;,n$ü1k;
lô",1tr ::Ij:";.;;;;.
"... "r"s
continham nus veriam trabalhar nas obras de Lisboa. Rui d'Ábreu Torres, "Mendicidade",
p. 19. Na França, durante o inverno de 1516, procurou-se empregar os va-
[â{'"r]*'"'j":*'}:iÍ*:.ff '[]r;ti!!:ffir#'Jf t*n;ti;Xi
d":lit.,';'t?ã"õo"rno..."tribúiu
gabundos nos trabalhos destinados a elevar fortificações; quando este não
rorÍílraçEu .'",1H ;"iá"'ã-h. Noronha,. a podia ser oxecutado devido ao nível alto das águas do Sena, empregavam-s€
uti- vagabundos parâ rcmovcr a lama e o lixo das ruas. Geremeck, "Criminalité,
::."H|,X'J,.:; )"ôáôã; vasconcerr-os'iL TL'",àiii"'i;;;; a idéia da vagabonrJage, paupérisme...", p. 351. Na região do Vale do Paraíba, os ho-
mens livres pobres eram utilizados para "rcsolver o crônico problcma de cons-
irn"'l"§',tl:'.-m,râ,:Ii".â'"','T"sH.EIhl*rx.ffi ,,il3;i."e trução e conservação dc estradas". Maria Sylvia de Carvalho Franco, ÍIo-
EB'. "ExP^ursryav ã iapitania de Minas t
mens Livres na Ordem Escravacrata,2. ed,, S. Paulo, 1974, p, 97,
i"ilPM;;;l' ll, l8e?, PP' rtl'lt:'
artndo de dccaocnçta'-

79
78
{tili!,r' '1r'

do Coito Moreno enviou ao rei um plano para melhorar a agri-


cultura da capitania e nela empregar os vadios lm. O Conselho
Geral da Província continuaria a perseguir a idéia do aproveita-
H"'i'"J-';"ü,fo
ü;;;*; *,deeobra fH*il:*x"'ii*tü*-*ji
l,r"::ift
9 " %ii;".'
pY^-jà
-p, ol,:1"^.,",,'oIício^*I:
rJ:"lJi".," ,1"3#'.
mento dos vadios na a$ricultura, conforme consta no projeto que,
nesse sentido, foi apresentado a 15 de dezembro de 1831 1ot. Nada
ter caráter como ::, consegui saber sobre a execução prática de todos esses projetos.
.,,rt d9s :amry; cui"te "II*TA':t"'Tff
'açao
A utilidade
n'ao ,inr,u ury1T
.du.tl11l';;'liu
,"ior parte *
1
lt*r.J, ir"iu1."âX',or.,
a.-üü; sobretuclo-'i""i."
abastecida
irllài-Ã-r"td d: 3^d$b.tl"" f ,l:ifi*,:h:
tt"llHLiu r.. D) Polícia prtvada.
mas está ep*", encarado^.^o3?".o,

í::11"1i",T1"::':Hffi Iãu,ãqoéu:'.'i':";El#1lk",.J,rr?* . Tem-se lembrado exaustivamente a presença dos desclassificados


nos corpos de guarda pessoal e de polícia privada. Nos documentos
i}l[,riT' **.r.:'l"L*" üiffi"i não seriam consentidos,
acima analisados sobre os levantes ocorridos no sertão do São Fran-
cisco em 1736 fica clara a participação dos vadios como corpo
pessoal dos potentados do lugar. De fato, era freqüente ver-se um
poderoso com sua guarda pessoal, "brancos de ruim conduta, mu- ,:li
...i "t
latos e n€gros com armas de fogo, catanas e porretes" como os I rf
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mfiffm*-'m*ffi$lm*
que serviam a um certo Manuel José, apaniguado do Ouvidor do :li.:
T

Serro 1@. Como os desclassificados em geral, esses indivíduos eram,


na sua maior parte, mestiços: o Tenente-Coronel Amador de Souza
foi morto em 1738 por um Antonio Francisco e seu irmão que, 't
i'g;f *'{l,{i'ig
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escorados em carijós por eles armados, pretendiam matar ainda
iiiift;Í":ffi
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ffiI;H$}}fr
gõverno'o. Em IÜIõ' Ia uv rÀ'r -- I outras pessoas, lançando os habitantes de Congonhas na maior ilit
;iii
1
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- carta
e ^^rtc consternação 1o8.
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textuaís' caÍta 3'a' pp' 88'95' it$ Ii
ffico,'as chilenas' fontes Diogo de Vasconcellos aventa uma hipótese segundo a qual ,íli I
os desclassificados empregados como guarda pessoal ou como ,r!ii
,t
agentes da rçressão fomentariam a paranóia da classe dominante

;;i''tl{|ffi aJi-"tá,tr-t1;i:"Hç!iê:lm,mi para justificarem a sua função: "Para bem compreendermos o enredo
daqueles tempos, convém lembrar que a bruta classe numerosa de
feitores,'capangâs e capitães-do-mato viviam de explorar o medo
I
dos senhores, para se tornarem necessários. Inúmeros vadios, que

;d;*;-*q;;#*ffi*ffi*süffi eram parasitas nas' fazendas, tinham-se por guarda-costas e espias


dos proprietários. Essa grande caterva tinha todo interesse, pois,
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lt:
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:
,

;+ #üt'fr {:ii*'fu ''ry *::* i*'1":'*:*.. "- 100. Carta de l4-XI-1818, in Originais de ordens régias e ayisos
1817-1818, APM, §.C.,
l0l.
livro 171 , n.o 52.
Âpud Xavier da Veiga, Efemérides Mineiras
-
(1664-1897), Ouro
Preto, 1897, vol. IV, pp. 351.356. -
102. "A justiça na capitania de Minas Gerais" correspondência de
D. Rodrigo Iosé de Menezes com o ministro Martinho- de Mellõ e Castro e
Tffiffi com o Ouvidor do Serro Frio Joaquim Manuel de Seixas Abranches *
RAPM, vol.
103. Carta
IV, 1E99,
-
p. 14.
2&V-1738, in ÂPM, S,C., cód. 69, fls, 5V.

81
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80 :i*
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loa' o à questâo Íronteiriça da colônia do Sacramento e, por algum tempo,


Não- considera' entretanto'
de ctiar boatos e -exagerá-los" cuio alicerce da dos Sete Povos de Missões 10ã. "Prender para Montev'idéu", pu.u
ouro lado d" rno*"|"fu" t'q ti":Tl:*J*tta do que â gentc a-"Nova Colônia", para o, rio da Prata, ou genericamente para o Sul
economia eram o§ são expressões correntes na documentação por todo o peiíodo,
'*t'àt'IÃ'-toito''"1^1u*irosos As zonas novas recebiam grande afluxo de vadios. euando
;ã;;deposses,",*i*ffi fufi .iin"*H'1,1,?ilt]fr l:X[i;
o,"t nàcessátia P"tl u.:-t:t::::"il# ãu.- a algo surgiram os descobertos de Paracatu, o governador comentou com
"nt" "oit".p"ndia o ouvidor-geral do Sabarír sobre a necessidade de ter dragóes a
"#ífr ;iíE""."1"T"f :#*'-".11É"Hi"ãil'J^õd;riaseral'-
nu'"u in''"iioio-frr'eles
que' dada postos em Vila Rica para poder mandá-los de uma hora para outra
mentada petos àquela região, "porque conheço que a sua assistência ôonservará
"apaigu''-*"' ttt"* e necessários'
as condições acrma itp'it"ããi''Z.,i* em respeito a--99!eçã_o de vadios que vão a estabelecer-se naquele
descoberto. . . " loo Os primeiros moradores do arraial do Araxá
sofreram os inconvenientes de um povoado em pleno sertão, longe
Fronteiras e expansfu
rcrritorial' das autoridades, para onde afluíam vadios e aventureiros de tod'a
E) espécie toz.
Os desordeiros que se estabeleceram na região de Tamanduá,
Numacorônia;H.:,1,r?Hl'T,,"'ü?r'1b!i!.ii{*"{i:ls:; termo que durante muito tempo provocou disputas entre as ca-
a expal'ao " * ft;1"i sertão-inóspi-
de--Povoamento pitanias de Minas e Goiás, foram alvo constanie das queixas dos
;Hf .:Tàff;l"lil'ffi -'
o' u'"itJiui-t" num
eram extremu,n"nt"'Tl,ponànl'''nativos ãu ttttu era uma' eÍnpresa
camaristas junto aos governantes. Segundo diziam aqueles, os va-
-as
dios estavam interessados em confundirem os limites e
to, desconhecido e'lii"io dos
Júut a riqueza rápida que
jurisdições
para ficarem isentos dos castigos de que seriam merecedores,-fa-
arriscada; murros ; f;;i;'- tendo'
"' zendo do local um couto para criminosos. Os camaristas são extre-
nãoio''
daí poderia uo'i', ^"i#d:i'"j,§ufi á,':T:"u: mamente rigorosos no juízo que fazem dos indivíduos aventureiros,
"'"ãiãnoo- introjetando, de certa forma, a ótica oficial ante o problema:
"homens foragidos, vagabundos, insidiosos, inimigos da' paz, das
:u:#-rtu+ssfi+l*dJ***+*ffi
ioti.aua. locali'Tut.:,X 'i:#J.;a;
se arvo da disputa de
repúblicas, cheios de impetuosas malaversações populares;',,:feras
racionais e irracionais" los.
-
"ã"i'",T.l?"f
105. "Tenho notícia que entraram nestas Minas grande número de ci-
iüxtli.:;;"';"çw.rtit;x,**t"'"'xn::: ganos que o Sr. Vice-Rei fez despejar do distrito da Bahia, e ainda que já
se fazem algumas queixas deles, e aqui haja um bando do Sr. Conde das
Í5#?,1"1'lf il:[-':iõil:"fi i;itli:::l;'*:Ít.'X'll*eman' Galvêas para não viverem no distrito das Minas; contudo por ora me pa-
reÇe acertado, casügando âos que cometerem algum insulto, não intender com
tra"x tl;'*s*rl,xi
de d r,Í*'':"T,x;:": l§it â111:
os mais,' porque não suceda juntarem-se em alguma parte remota, salteando
os caminhos, o que agora seria de perniciosas conseqüências, e dificultoso
remédio, estando tão dispersos os dragões deste presídio; se porém a V.E.
sorvedouro
parecer que esta gente pode ser íttil para o rio da prata com o.l.o aviso
se passarão ordens circulare§ para os prenderem as ordenanças, e se reme-
terão a essa cidade."
-lu,6-:i:l;"v,l,Tffi }tl;i!iíi.íiÍ#,:f
carta de Martinho de Mendonça a Gornes Freire
l3-l-1737 "Das-cartas do Exmo. Sr. Gomes Freire.. .,,, RÁpM, vol.
quc hevraÍÍ
p' lãl? i--aot 'uái"t-capansa§ :1;XUlt'* -XYl, 2, p. 394.
-
f", " o escrivão o:. ;;ü-iirn ";;f
por pessoas que atrai- 106. "Para o Ouvidor-Geral do Sabará simão da Costa e Mendanha',
homer T:Xl;..,'; *;:#:::H; tülot àesta"^sorte oculto 2I-VIII-1744, APM, S.C., cód. E4, fls. 46V-47.
- 107. waldemar de_ Almeida Barbosa, Dicionária Histórico-geogrtifico
tt p'"ünát-t-""ú;;; po' t'*''LJiot
óutados Por
coadamente
de Minas Gerois, Belo Horizonte, 1971, p. 45.
lOE. carta de comarca de Tamanduá acerca dos rimites de Minas Gc-
rais com Goiás lG,VIl-1793, RÁpM, vol. II, 1897, pp. 372 e 3g2 respcc.
tivamente._ Ern -1798,
*,;u*l*$|*t:tffxfiffi,.lyffffi
de Matcus ao Co
a câmara reiterava suas'queixas:-^"Informação da 'cá-
mara de são Bcnto do Tamanduá sobre divisões entre esta e a capitania de
Coiás", in RÁPM, vol. XI, 1906, pp. 4Zg-430.
PP. 94-95'
t3
82 rif
F) Milícias e corpos militares. A l8 de novembro de 1773, era expedida uma ordem apro-
vando a organização de uma tropa de pedestres destinada a reprimir
As milícias coloniais lançaram mão com muita freqüência do os âtaques de botocudos o prender escravos fugidos; compunham-na
recrutametrto de desclassificados. segundo um historiador mineiro, vadios e facinorosos lla. Parece ter havido certa receptividacle à
"o aproveitamento mais útil desses viciosos foi 1a organização de prática de se recrutarem vadios, talvez por colaboraçãó dos inte-
verdadeiros corpos de tropâ" loe' Na mesma linha, Diogo de Vas- ressados:-a "parte sossegada e laboriosa que os vadios inquie--
concellos chega a dizer que, em meio às dificuldades apresenladas tavam" 11õ e que, uma vez afastados os infratores, respirava ali-
para o recruiamento de- vadios, dificuldades essas devidas a viada sem se 'preocupar com os motivos das infrações. Foi este o
ãisputas entre autoridades -
a declaração de que tal se fazia para caso da mesma Câmara de Tamanduá acima citada que se regozijou
li- -, lmediatamente os complicados_trâmites ante a determinação de uma empresa destinada a ,.alistar e ma-
o íerviço militar simplificava
{
que, nos outros casos, envolviam o dito recrutamento 110. Este tricular a aqueles fascinorosos habitantes fazendo entre eles um
I riruítas vezes se fazia às pressas para o desempenho de alguma corpo de milícia auxiliar e ordenanças a fim de os civilizar na
função específica, como é o caso das tropas que se. constituíam obediência às Leis Divinas de Vossa Majestade, que até enrão só
pará co-bater e arrasar quilombos. Neste sentido, o interino José conheciam as da impied3ds" 116.
iI
I Antoáio Freire de Andrade ordenou, em 1741, que o sargento-mor É numa das formas do recrutamento que se pode analisar o
João da Silva Ferreira apenasse "todos os capitães-do-mato, carijós, movimento através do qual a utilidade se torna ônus, e este se
li negros forros e mulatos que não tiverem ofício ou fazenda em que transforma novamente em utilidade: o episódio que envolve o envio
haÍalhar" para qu€ compusessem um coÍpo destinado - a enfrentar de tropas para o sul no ano de 1777. Já em 1773, o Morgado
os quilomb'os qu-e então proliferavam nos distritos de §ussuí e de Mateus escrevia ao conde de Valladares falando do movimento
lt Paraopeba, ambos na comarca do Rio das Mortes 11r' Luís Diogo das tropas espanholas no sul e pedindo que lhe mandasse "toda a
L,obo'da Silva também lançou mão de "pardos e negros livres" gente que lhe for inútil para ser empregada com aproveitamento na-
miseráveis para enfrentar "os negro§ do mato, a que vulgarmente quela fronteira" 1r?. São Paulo funcionava então como ponto de
112.
chamam calhambolas" convergência das tropas de Minas, Mato Grosso, Goiás e Rio, re-
Com o objetivo especial de prender os carijós assassinos e crutando também em suas terras os soldados que deveriam seguir
desordeiros que ãndavam pondo em alvoroço a população de Con- para o sul. Em 1775, Lavradio dizia a Martim Lopes Lobo de
gonhas, e dós quais já se falou acima, ordenou o- golernad-or que Saldanha, governador de São Paulo, que os homens disponíveis para
íe arregimentassi quántos carijós fosse possível sob "pena de pro- as tropas do sul deveriam seguir da maneira que fosse possível,
ceder õontra quem' se escusai de obedecer ao suplicante na dita sem grandes preocupações com a sua vestimenta precária, com a
diligência" rrr. fissis1, os carijós que, a mandado de terceiros, falta de armamentos ou de disciplina. A carta é extraordinária como
i{ havíam cometido assassinato, seiiam àtacados por carijós pagos pelo registro da ótica oficial ante o aproveitamento dos homens livres
ii pobres e desocupados: "... importa muito pouco que o regimento
Estado. Nas desordens e na repressão, de um e de outro lado do
Poder, atuavam os protagonistas da miséria. de voluntários vá menos bem regulado; anies pelo contrário esta
qualidade de gente, e aquela tropa tira as suas maiores vantagens da
109. Flamínio Corso, Terra do Ouro, Ouro Proto, 1932, p' 138' própria irregularidade". E mais adiante, comentando a ação- dos
À utitização dos vadios nas tÍopas não foi pcc-ulioridade mincira: o gro§so antigos paulistas desbravadores: "Nunca foram vesticlos regular-
das unidades'regulares da Bahia rccrutada êntre os vagabundos itineran' mente; eram armados à sua fantasia; alguns iam calçados; a maior
tes e mulatos da terra. Ver Boxer,"ia The Portuguese Seaborne Empire. Na
parte deles descalços: as selas de seus cavalos eram uns couros;
tiaae àe ouro do Brasil, o mesmo autor falâ da predominância de foras"da-lci
dentre a população rio'grandensc no século XVIII, muitos deles colonos que assim atravessando os pântanos, os rios; subiam e desciam as serras;
vinham dà àahiá e que cram, na maior parte, vadios convocados nas cidades atacavam os inimigos, e se faziam formidáveis. Sempre que estes
para o scrviço de diag'oês (cap, IX). FaIa também da utilização quc fizc'
i.m os senho..* de àngenho d. elementos desclassificados na Gucrra dos
Mascatcs, e que ficaram conhecidos por Tunda'Cumbés (cap. V). tl4. Xavior da Veiga, op. cit., vol. IV, p. 228.
ll0. Diogo de Vasconcellos, op. cit., p' 239, ll5. Diogo de Vasconcellos, pp. 212-213.
lll. Ordem 28-IV-1741, APM, S.C.' cód. 69, fls. 23V. 116. Carta da Cornarca de Tamanduá..., p. 377.
ll2. Bando - APM, S.C., cód. 5O fls. 90-90V. ll7. "Dando notícia do movimento dos espanhóis no sul e pedindo-lhe
- 28-V-173E, APM, S.C., cód. 69, fls' 5V. o auxílio de alguma força"
ll3. Carta
- - l8-l-1711, DI, vol. XXV, I9Ol, p. 37.
84 85

$
§
w!
homens'Íoram chamados ao Rio Grande nas Companhias Aven-
tureiras, iam quase em igual desordem; assim trabalhavam; e alguma e conseqüentemente impossibilitara subsistência das tropas. . ', rz!
coisa que por lá se fez boa, quase sempre se lhe deveu a eles. A os desclassificados onerosos à capitania de Minas haviam, ante !..

experiência deste ser o caráter de semelhantes homens, e que sempre o episódio das _guerras do sut, se tõrnado úteis em outro contexto; iil
al
toda a tropa ligeira, em toda parte do mundo, foi no seu princípio mas â sua miséria e o seu despreparo poderiam torná-los onerosos rl i
formada desta forma, faz que eu insista a V. Ex.a para que eles mar- novamente,. e prejudiciais aos soldados melhor preparados que com
chem ainda que não estejam preparados em toda regularidade" rtr. eles se veriam obrigados a repartir sua ração.' o brigadeiro teria
Difícil encontrar texto onde melhor se exprimam as vantagen§ suas apreensões confirmadas por carta de Martim Lopés: ,.... eu :

não, me posso dispensar de mandá-las (as tropasj, ainda que riri


advindas do emprego, por parte do Estado, de uma mão-de-obra
miserável que pela sua própria miserabilidade tornava-se extrema- conheço_ a po_ucq ou nenhuma utilidade deste socoiro; porque, alêm
mente útil. de;er. da mais útil gente daquela capitania, vir descaiçà, riua'e mi-
seravel, o seu arÍnamento consiste em uns paus com um ferro na
Por fim, em 1777, a manutenção de tropas no sul tornou-se ponta, a g-ue não lhe sei dar o nome" 123 Na rnedida em que
mais premente devido à intensificação das hoitilidades. O gover- as .tropas iam alcançando São paulo, Martim Lopes passava_lhes
nador de São Paulo pediu então a D. Antonio de Noronhá que rwista para retirar "os quebrados, aleijados e idosos, ^ de 60 até
enviasse forças, e este conseguiu arrebanhar 4.000 homens que 100 anos", e que, por inciível qu€ pareia, eram muito;124.
Martim Lopes deveria fazer chegar ao sul, onde serviriam sob as Com a chegada das tropas ao sul confirmaram-se os temores
ordens. do tenente-general João Henrique de Bohm, chefe das tropas do brigadeiro, consternado ante o quadro de miséria que tinha sob
lá §ediadas 1ro. os olhos: "... o Exército tem cüstado muito a sustentar neste
país, quanto mais tanÍa_-gente paisana, que não valerá o que comem
Em fins de março começaram a chegar a São Paulo os pri-
meiros corpos das Minas, e Martim Lopes se consternou ante seu Pela maior parte . . ." 12õ
estado, pois vinham ptaticamente nus í'ss6 mais que umas
ceroulas e camisas" e desarmados -
'.com
. Quando as queixas dos comandantes do sul e de Martim Lopes
chegaram a Lavradio, este deu mostras de estar, desde o iníóio,
- Pediu muito
poucas armas
particulares, e estas -desconcertadas" rtr. ao colega de Minas ciente do !ipo- de homem que Minas forneceria, e que, apesar de
que enviasse mantimentos ou auxílio pecuniário para a alimentação tudo, era útil à sua maneira, ou seja, servia para fazei núrnero ante
dos.soldados, pois achava que o dinheiro de que dispunha não co- o exército inimigo: "Este socorro das Minas nunca o considerei
briria os gastos com a aliúentação daquela tiopa 12i. corpo que formasse linha com o exército, mas sim corpo de homens
capazes para o mato, que junto com as nossas tropas irregulares
Aô receber de Lavradio o aviso de que as tropas estavam a pudesse lazer um peso ou .estrago sobre os ,tor.§o.§ inimigos, e este é
caminho, o governador do Viamão, brigadeiro Maicelino de Fi- o maior serviço dr_{g;r."u os julgo capazes. nem o geneial se servirá
gueiredo, intuiu o tipo de gente que estava para chegar: 0,. . eu deles por outro modo" .
não sei que gente será,: porém é certo que paisana, e bisonha, não
pode có servir, que de conlwão, e falta de dinheiro, e mantimentos,
122, "Carta do brigadeiro-governador do Viamão, Iosé Marcelino de
Figueircdo, a Martim Lopes Lopó de Saldanha'. _ l6_iv-1771, ot, n.õ n,
118, Carta de Lavradio 1895, p. 297.
a Martim Lopes Lobo de Saldanha
26-Xl-1775, DI, n.o 17, 1895, pp.44-45. O grifô é meu. ., . 123., "Para o brigadeiro José Marcelino de Figueiredo, enviando-rhe no-
trcras sobre as forças espanhota
ll9. Carta de D. Antonio de Noronha a Martim Lopes Lobo de Sal- e sobre a imprestabilidade das tropas de Mi-
danha 20-lll-1777, DI, n.o 17, lB9S, pp. 285-287, e .,para o capitão-ge- nas Gerais-e-pedindo a sua proteção para um afilhado." _ lçli-níi, Ot,
- vol. 42, 1903, pp. 253-254.
lo_rLl t_l"tgfs Gerais, sobrc os socorros que de lá vcm para o sul" _ 124' "Para o vice-rei do Estado, sobre algumas necessidades das tro-
2-lY-1771, Dl, vol. 42, 1903, pp. 222-22!.
l2O. "Para o mesmo vice-rei, sobrc a remessa de notícias dos inimi- pas capitania e imprestabiridade das forçãs vindas d" úi;;, õ..ui*"
-dcsta_
gos, prisão dc traidorcs e chegada de tropas vindas de Minas Gerais" _ 3-V-1777, Dl, vol. 42, tg03, p. 255.
21-lY-1777, DI, vol. 42, 1903, p.245.
- 125. "carta do brigadeiro-governador do viamão, rosé Marcetino de
Figueiredo,-a Martim Lópcs LoÍo de Saldanha" _ a-V-Úil Di,-r.; rZ,
- l?1._ "P-ara o capitão-general de Minas Gerais, dando-lhe notícia da
cJr_egada das forças de Minas e do mau eatado em gue vieram.,' _ l4_lV-1777,
1895, p. 302.
,'
DI, vol. 42, 1903, pp. 241-248.
126, Carta dc Lavradio_a Martim Lopes lobo de Saldanha _ Z-V-1777,
Dl, n.o 17, 1895, p, 248. O grifo é meri.
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A oosicão de D. Antonio de Noronha era análoga à de L-avradio: que vestiu armou em duas companhias de caçadores r3'l o
e
t* qot o rllmo' e Exúo' sr' Marquês capitão-mor regente da vila de Lages escolheu 2OO e os enviou
"ou"iií"ü'.'Éi.;-;il;;i; como socorro para Laguna r3a, e Martim Lopes sugeriu o apro-
VÉe-nei me não ordenou que eu formasse um corpo de tropa ho- re-
gular; mas somente qu. tiirJt" expedir Para o Rio Grande 4'000 veitamento de mais uns cem nos trabalhos de "uma dilatada roça"
il;;;; assim brancós, como màstiços, mulatos e negro§: estes leita com o intuito de alimentar as tropas 136.
turtrt mil homens não reputo eu como tropa que p"::u.::lltg "* Nesta complicada relação entre o ônus e a utilidade represen-
áçao, e só como recruta, para completar as praças que taltam nos tados pela existência dos desclassificados, examinei os diferentes
iJgi*.rtã. áã gxército, e para se empregar"* '9: diferentes tra- aspectos de que se reveste a utilidade, e a maneira como costeia,
baihos do campo em que os quiser ocuPar o gexeral do-mesmo com freqüência, o ônus. Por sua vez, este costuma ser, de ma-
eiérclto.', D. Antonio- àiriu tnda que' não tinha condiçõesgente,
de
pois
neira geral, associado aos custos de reprodução e subsistência da
sastar dinheiro com uniformes e armamentos para- esta população desclassificada. Se os povos dão a seu rei "a utilidade
ã]"rnir,ãiii" "qr"riàro" de homens, como náô têm estímulos de conforme o uso do seu viver", há que atentar para os vadios, "que
h;;;,-; se ôonduz"m por violência- poderão desertar em.grande de alguma forma são perniciosos ao Estado" r3B. Os homens la-
p*i-"'u.t$ que cheguem ao lugar. do seu destino", levando con-
.siso boriosos a quem se opõem os desclassificados não podiam
o. f arda'mentos iu arrebentãndo-os supoÍtar -"o peso enorme da parte dos vadios" -"gente volante,
dí viagem, o que tornava esse tipo "Pmp]:1"1:nt:.1:,..1:o*"t
de despesa absolutamente ou, como lhe chamam, de pé ligeiro" que por- incomodar a ma-
inútil1r. -,
nutenção e romper o equilíbrio dos negócios, devia ser posta para
Por fim, ante a avalancha de protestos levantados
pela tal tropa trabalhar 13?. Só assim se poderia evitar que o ócio sobrepesasse
em toda parte por onde passou'^I'avradio ordenou que se desse o trabalho 138, perturbando o funcionamento da economia, o ren-
já que dimento dos quintos, o sossego da sociedade. A gente forra e pobre,
um ;.rid no, ót"*.r,to, iriaprováitáveis pelo exército, _deles,e
utilidade, estigmatizada pelâ escravidão, poderia ter "a louca opinião" de que
no arii"ous autoridades, nãó se poderia tirar nenhuma
128'
,"t tiiãt ,igniti"rru ;rcar com despesu* inúteis lze, "Multidão de não devia trabalhar l:re, mas logo lhe caíam em cima os agentes do
sentes sem arÍnas. ,"Ã uéttiOo, , .ô, disciplina" 9u€ "só pata recrutamento, os potentados em busca de asseclas, os proprietários
õ capazas de causar mais danos do que
tem préstimo»L$o,'pelâ de fazendas em busca de jornaleiros, as autoridades administrativas
"ont*o caúehanor ''"
;r-;;pti;t
--aJr#, sua vagabundagt*, " p{o- que, para maximizar os lucros metropolitanos, superexploravam tanto
oi pobres iur.upot humano* seúram contudo -l1l
para muita o trabalho escravo como o trabalho livre. "Ruína dos Estados",
coisa. Após'tripudiar sôbre eles, as .autoridades encontÍaram poÍ "canalha indômita", "gente ociosa que só servia para consumir
fim uma'maneiía de transformar o ônus da sua subsistência em víveres", a Coroa entretanto se lembrava deles nas horas de aperto,
,iiiia"A" parâ o Brira"i ã governador de Viamão ficou com 140, tivessem sessenta ou até cem anos. E lá iam eles, nus, doentes,
_*|n,c*tadeD.AntoniodeNoronha.aMartiml,opesLobodeSal- mancos, sujos, alquebrados, argamassa necessária à consolidação
das Íronteiras, à continuidade do mando, à manutenção do sis-
aanla-* il-v-tltl, DI, xlII,rtrúírir
1895, !p' 29ç291'
Lo,p.. Iobo de saldanha * 22-V-1777,
tema colonial.
128. Carta de ríüaià-"
DI, vot. 17, 1895, PP. 251'252'
-"';i;.-ó";ü á"'i;í;'nuniiqut de Bo!ry a Martim L' L' de Saldanha
Dt, vot' t7, 1895, pp-'-124-325' 133. Carta de José Marcelino de Figueiredo a Martim L. L, de §al-
- ú*1-nt7,
130. ..para o uiíg"à.iró-ioire"Marcelioo de Figuciredo,-_ sobre _a volta danha
- el3-lll-1777, DI, vol. 17, 1895, p. 308.
135. "Para o mesmo vice-rei, sobre o retrocesso das forças de
o* io.-ç." ã" úin"., Li;;;;;;-L"s-, c prisão de traidorcs"
- 5-Vl-177?, 134.
Minas, fatura de roças no caminho do sul. 1-yl-1777, DI, vol.4?,
DI, vol. 42, 1903. P' 284'
-" a Martim L' L' pp. 275-276.
rií. iarta oo'urlg"à.ito-governador tto Viamáo de
in{ i
DI' voi. 17, 1t95, -p' 3o4' 136. Ioú Ioaquim da Rocha, op, cit., p. 507. ',il;
saHanna s-vl-l???, 137. da Câmara de Mariana, p. 145 e p. 150 respecti- i
ll:-. *Eu que n.nit*" utilktadc-h} achci tomei a resoluçáo de fazcr Representação
retroccdcr os ditos destacamÊntoü, G 6 rcmcti para a sua r€spêctiva capi- vamcnte.
quc cauraria nestâ terra tanto homem va- "Porque é muito grande o número de gente ociosa, e de grande peso
1]iiü;;*-*c livrar da fome,'miis--ao que aumentar neste çontinente um para os trabalhadores o contribuíretn estes tão-somente com o quinto de S. ir{
;;üí;;;-nenhum;r;ia; idem, pp. 150 e 151.
?ãã-irriOi-ú"nao O.'fuãiOe'., r"U.it*às..." - "Ofício sobre a
partida Mjde."
" de
- Quintos do ouro RÁPM, vol. III, 1898, p.
138. 75.
de Minas Gerais pãra-sâã'púo de um corpo 4.000'homens"
- 139. Basílio Teixeira de- Saavedra, op. cil., p. 674,
i-vttt-tttt, DI, voi. xxuu, 1898' p. 344'
89
88
)^*'i-"
Mais do que em qualquer outro. ponto da colônia, foram nu-
merosíssimos nis Minai, onde cgndiçóes específicas, tanto infra-
analisadas neste capítulo como sup€restruturals
a sua proliferação -e' \
àitruturais
quu .ttáo -tratadas a seguir -
iavoreceram
ao mesmo tempo, os de'ixaram - sem râzão de ser' O seu número ' CAPÍTULO 3:
assustador pesáuu por sobre a "parte não corrompida". da socie-
dade, que ássim se via compelidá a_ encontrar uma utilidade para N,4S R.EDES DO PODER
aquei" enorme manancial rtã mão-de-obra iivre. A estrutura da
ãJono*iu mineira, mais aberta e diversificada, propiciou condições
que limitadas para o aproveitamento desses homens'
- vadios- se metamorfoseasse em uti- "A sombra, quando o sol está no zênite, é muito peque-
fazendo coni que o ônus doi nina, e toda se vos mete debaixo dos pés; mas quando o
lidade. Essa metamorfose não era, entretanto, irreversível: de um sol está no oriente oü no ocaso, es§a mesma sombra se
momento para outro, podia-se novamente sentir o peso dos v-adios' estende lão imensamente, que mal cabe dentro dos hori-
aproveitadàs quase sempre em tarefas secundárias; a exploração co- zontes. Assim nem mais nem menos os que pretendem
tnút ."guia sãm eles, mas eles faziam parte da exploração colonial, e alcançam os governo§ ulfiamarinos, Lá onde o sol está
no zêniie, não ió se metem estas sombras debaixo dos pés
eraim po; ela gerados e colaboravam para a sua manutenção' do príncipe, senão també-m dos de seus ministros' Mas
Assim, não se pode rlizer que fossem dispensáv-eis à persistência quando chegam àquelas Índias, onde nasce o §ol, ou a
ostas, onde se põe, crescem tanto ⧠mesmas sombras, que
aa próã"ido i aa iocieaade eicravista'e: imbricados em. seu seio, excedem muito a medida dos mesmos reis de que são ima-
fieinctenAo os interstícios deixados pelo e trabalho escravo, contri-
derrocada do mundo ant'P.or.
üuíram para a construção, manuterção Antonio vieira'
colonial.' Negação do tiabalho, trabalharam. Negação da revolta,
irroft*r*-r""cóm freqüência e alimentaram quase todos os movi-
,"nto, regenciais. Negação da Ordem, embrenharam-se pelos ma- 1. Adminishação e Estado.
il-* enõalço de quilõm6olas e de índios bravos. Camada fluida,
indefinida, túgidia, imprecisa, espalhou contudo os §eus borrões no "Amigo Doroteu, se acaso vires
seio de upa sociedadê estamental, e espraiandolhe os contornos' Na Corte algum Fidalgo Pobre, e roto,
ú nela pôde existir. DizeJhe, que procure este governo:
l,onge de ser pacífica, essa existência teve gÍandes percalços' Que a não se acreditar, que há outra vida,
-maiores Com iazet quatro mimos aos rendeiros,
um dos tendo sido a inimizade constante das autoridades
coloniais, do Poder Con.stituído que, através de medidas altamente . Há, de à Pátria voltar, casquilho, e gordo'" 1

repressivâs, nunca deixou de envolver os vadios com suas redes


tentaculares. Critilo, ressentido com Luís da Cunha Menezes e ainda mar-
cado pelos gÍaves desentendimentos que entre eles houvera, apro-
veitavã para-deixar expresso o conceito que fazia da administração
portuguésa nas Minas, e que é, para certos autores, extensivo à admi- l:

nistração colonial como um todo.


Bm The Portuguese Seaborne Empire, Boxer aponta a parti- !
i
'cipação ativa que, apesaÍ das proibições metropolitanas, os admi- ir
niitradores colõniais- tinham nb comércio, e que toÍnava mais I

toleráveis os baixos salários pagos a esses funêionários, fechando i

por isso os olhos da Coroa- ante as irregularidades. Como, de


140. Cf. Éernantlo Henrique Cardoso, 'tla$cs sociais c Histórir...", p.
l. Cartas Chilenas, op, cit., carta 8 3, verso§ 360-365' 177'
p. ll3.
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