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Ex BibliotheíT

najori Coll. Rom


Societ. Jesu
/

,
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,

'COMEDIAS
FAMOSAS
PORTVGVESAS.
2)os DoUores Francifco de Saa desFHíraia]
(<r Antonio Ferreira •

Dedicadas a Gafpar Seuerimde Faria;

E VI -LISBOA.
fym tõJâs áslicençds/r áfprt uéçSisneetjfâriét,^

Por Antonio Aluarczlir preíTor^ mercador


dc liuros

Efeytas a fuacuíh. Annoió 2 2 . •

f
•Digitized by Google
Às Comedias deíle liuro fará às&gmnjtesT

Vo Dôuãor Francifco dsSa Vo Douftcr ^irítonit Fer «


de Miranda. rcyra.

Comedia dos Vilbalpandos, Come di a de $ riff o. ^


Comedia dos Bprángeiros. ComdU io (itjê&r- '-%X
m t' .
,
'VA ,.c!

*r*t
*\

LICENC,AS.

V
cotifa
I cfUs Comedias do Dou&or FranciToo de Sà dê
Miranda , & Antonio Fcrrcyra nam ba nellas
contra noííaSan&a Fee, & bons coftamesj pello
cjualfepode dar licença, para fc imprimirem. EmSãa
Francifco dc Lisbóa io.de lutho de i 621... ,
. •

Fr.yintonio da Gonuyçao.

V
feridas
I S T A
Comedias,
com
a informação poderafe imprimir eftas
& depois dc Imprdías
feu original para fe lhe dar licença para
tortfem con-

correrem , & fem cilas pam correram Lisboa aos


*5l
de íullio dc ió 2 i«
»

yi ntonio dias C * rdof t. M. Teixeira Eleito do BrafL


»

O D E M S E imprimir cilas Comedias doDoutot!


P Francifco de Saa, & Antonio Ferreira. Lisbo* 6*
ídç Agofto de lózi. y

^
XJltÇdS*
:'/ ?* Pgde2


;

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O £> E MS E imprimir eftas CoirècTús as fj,
P cciiçis JoS in<5loOffido,& do
correram ícm tornarem a meia pci a fc
O
viíl^rs

& d u(n
iiinario J

taxarem, Em
Lisboa a 17. de Agoílo de 1621.

Cânu. Jrtonizs

T Axãm.eílc liuro cm cento, Sc trinta reis cm papel


a25.dcFcuerreiro.de 1622.
0. de Melle. )• Ferreira.

13 Eui efle liuro depois de impreflb, & cíia confor#


^^•mccom o Original pcllo que pode correr. Enj
5 F f ancifco de Lisboa 0^25. de Fcucréiro de
.
1 6i2|
Fr, A ndre da XtfurreiçaÕ.

iW
Jcm efle liuro quarenta folhas, & mç^
)

i
C^> t^í^^M-Yj ^ t^l O C$í

A GASPAR
'
SEVERIM
AR A
DE
F I &c.
,

OMO SEMPRE DESEíeV


tirara luz asobrasilíuftrcs dos Auiho-
resPortugaczcs,fíz por vezes rouytas
diligencias pera auer as Comedias dos
Doutores , Fr aiiciíco dc Sàdc Miran*
da ,Antonio Ferreira, porque ncllas mais, que cru
Sc
nenhua outra cícritura vulgar, fc moftra aExcdlencia
da língua PortugucTa , vendoíe em brcucs palauras
grande grauidadeoas fentenças , cxccllentcs diícur fos,
ditosagudos, fümma graça, & galantaria no oaodo de
dizer guardandofe fobre tudo o decoro a cada pcífoa
,

& as regras da Arte, com tanta perfeição, que não fo-


mente igualam as melhores dosGrcgos , Sc Romanos,
mas as podem auentajar# Pelo que fam dignifsimasdc
ferem trazidas nas mãos de todos, Sc celebradas naai
menos qucasdcPlauto, Sc Tcrencio. Porem cftando
ja dcítonfiadodc as poder achar, mc lembrou,que nam
podiam falcar na iiuraria dcífa cafa, na qual por zcio
da pauiu fc tem pinto com cxquifíta diligencia híía bi-
*
.f $ btio-

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DEDICATÓRIA.
bliothccaPortugueza dc todos os Aiíthores dcílc Rèy i-j.>

no,afsi imprcíTos, eomo manu fcriptos. Portanto pe-*


di a V. M. mc fizcOc mcrce delias ,
pera as poder pu-
blicar ,
como cilas mereciam. Epoís V. M. me fez
cila mercc , & Foy inftrumento dc poderem fair a luz,

razamhc, que cuasoíícrcçaa V.M. como a princi-


palcaufa que as tirou dastrcuasdocfquccimcnto, on-
dt cftauatn fepultadas trazendoas dc nouo aos olhos
, .

dc todos pera as poderem lograr. V. M.as receba, õc


com ellas a vontade, que tenho deoferuir, que hem uy
grande, có cujo fauor fpero publicar outras obras dç
aara menos cftimaçam,& honra dcftcReyno. Deos.

^nttnit yAluárcZf
A FAMA FAS O
PROLOGO.
VNAM VENHO A VOS V Ci-
ando, aue noua bem empenada, tantos olhos
quantas penas , tantas Jingoas , ouuidosj &
que joguem huns por debaixo dos outros
como artcihaiia , aíli como me pintarão eí-
tei chocarreires dos Poetas.que (emprc que-
lem gracejar. Mas afsi como todos me chamam Famarafli Te-
nho neftej hábitos de molher. Aqui no cabo do mundo he
agora o meu afíento,& nam nomeo onde‘os meínvps bons dos
Poetas me apoíentaráo,em hfia caía toda aberta, &
dcfcubei ta
(por certo mal ao menos para o imaerno. Daqui carrego pera
todas as partes de graciofas vi&orias , todas contra o$ infiéis.
De torna viagem as vezes n<da acho feiião patranhas j como
agora, que quereis que faç»? quereis que torne com as mãos
vazias. Ao menos farey nillo verdadeiros aquclles mefraos .

Poetas,nr»eus amigos ,que de mim difleram que iílim conto


oquehe, comooqucnam hc. E ellcs lula
(
como diz o •

noffo rifam antigo )


quereis que efic fempre eíperando pollo
c oxo:o qual quando vem não acha fenam arrependimentos.
Quantos exércitos tenho eu fo poi mim desbaratados, quantas
fortalezasrendidascom mdus medos? Quantas defendidas co f
asminhas efperanças? Sabeis de que manha vfeyeftesdias
paífados naquell? grande afrontade Diofquando vosnão pu-
de cfpantarcos Turcos: eípantey os Turcos com vofeo. Em
tempo que vos tudo falecia faluo o coração. E agora em Tol-
lão,comeme meti entie as gales dos mefmos Turcos , tantas
que cobriam ho mar. E hi ccmecey dc mormurarda geme
nobre qne íe juntaua em Ccica ao parecer da primeira Ando-
rinha. E ellas defapareccram todas, quç tiam fabiam jahodia
nem a hora. Deixo o que fiz em Tuiicz,onde eu logo defeu- '

. /
^4 * »
br»

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.*
PROLOGO,
-quem era o verdadeiro capitam da gente
bri aos contratios ,
aquella baiba ic xa. Quantas
Pomicucs,que logo fez tiemer
deltas ob igjçõcs tc.ho
cu cfpalhada* poio mundo , que mas
reconhecem m«*l. E ddxmdo a
gueira a de parteren. quantos
efcreucm?os Chio/nltas a cada paf
petiços focoí to eu aos que
fo nam í-bem por
onde vam íem mim. Os Poec-s andaò fem-
pre poloj.atcs né té outro
valhacouto , íenam a mim. e eftes T
que goucrnáo o mundo com feus cartapacios (eu digo osquo
oje lobre tudo
chamam Doutores ) como rematam elles fuaj
sczõcs>íeiiam co meu nomc,& autorid ádç,diztndo por derra
dtito. E dcfto he pubiida vos , &
fama. E depois com que
grauidade acodem nas íuas praticas encadarroadositama malú
&C re Hora todos eftes poítos a de parte, falemos ca entre nos.
E dizeime, das couías paíTadas que tendes fenam afama ? das
preícntes quanto vedes? E inda das que vedesMe quanto dais
fec,tudo h*v*nais a q\iem ho deueis íenam a mim. Do por vir
nam falemos, que o referuou Deos pera fí. De todo em todo
H
náo vos fieis em fonhos. o como aqueiío» bons antigos mor-
riam por mim com tam bom roíto.E eu também que aflim lho
pagaua: vos outros pondefme alma diante ( Sc aífi hc ra?am)
rodauia bom qtiinham me dais do v.os. Baila: que eu fom com
tente.nam leruis a pefiba defaguaidccida. Finalhiente quereis
faberem quanta obrigação me todo o mundo he:oihai bem,
que de quantas coufas em todo elle ha nenhíia reíponde igual
mente a fua fama : nem Paris efla cidade , nem eíTa Roma la
Sandia. Muyto me vo.* gabo oje,diruos ey fom (como vos ja
dilTc] vefinha,& moradora, obiigada frm a guardar voílo5 cuí
tumes? Hota venhamos as patranhas. Noseíbmosem Roma
naquelLs duas cafas viuem dous velhos cidadãos. Cujosno-
mes vedes, cada hum íobre a íua porta. Ho Pomponiotem
hum filho a que chamão Cefatião , o qual filho ho pay Sc a ,

mãy andão por de captiueiro de húa deftas fuas cortefans


tirar

(queafli lhe ctaimm.J Ho pay por razam, autoridade , a &


máy por dcua ções. A cortefaá fc m razáo , íem autoridade, &
& fé deuaçSes faz delle tudo o q quer. Sobre efle negocio
:

íahiram a vos logo eftes velhos, &


íua pratica vos hiraabrin-

do caminho. Pera o mais otmiiepoufadamcnte.


. . .

Foi. r.
COMEDIA
DOS PANDOS.
VILHALi
Feyta pello Doutor Francifco de Sá
de Miromda.

FIGVRAS DA COMEDIA.
^Afama. Çnifcdrdd ütiha * &
^Pomponio Ytího. Daurelia.
Mario )>clho Vilhalfãndo i.fcldadtl
Faufla Matrona Romana Vilhaípando 2 .joldadc.
com hu4 companhia d<~* jêfoUmo birmuao.
leguinas. . Fabutno mactlf* tflrdtigeirei
M iluoalcMU iteiro Trtfo meço.
lAntonnto criado. Jor^ucmado moço.
(tjari&o mdnctbo Rmao. Ruhitt fdgc Franca.

JiCTO . /.

SCENA. • • •
I.
^

Pompcnio. Mario Yelhoft


Tom» O A fcja a vinda Mario,que cm tui
bufcahia. Mar. Hopomponio,
& cunatna, cjue frediflcram cm .

chegando , que jazias cm cam#.


A *
P om.

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COMEDIA DOS
fym Nam cnganannynas foubc como eras vindo
tc

& iflo me Mar. Fezeftc mal, que bo cor*


lcuantou.
po enfermo, qucrfc na cama, & nam poLs ruas. %m.
Si,mastambcmho fpritocanfadoquerfccom qurm
dcfcance. M*r. Eu viera a ti.que cra mais razam. Mas
como tc (entes? %m. Fraco: principalmcnte deílas
pernas que me nam podem trazer. Mar. Nam te
,

cfpantes,quc ha ja muyto que te trazem, que doença


c
foy a tua? Pom> Nunca o pude bem faber. Mar. Que
,te deziáo os fiíicos. fcm. Muytas, & muy notaueis ra-
zoes. Mar. E tu quiferas antes poucas,& certas,

Foram, & vicrão alg fias vezes antes que fc confcrtaíTé.


Finalmcnte capitularão a docnça:E tendo eu grandif*
fimofuftio , mandarãome que nam comcíTc. Mar,
Pcrigoforemedio-.E mais cm tal idade. fom.Dc ma-
neira que fe a natureza mc nam tolhia algfia coufa,

BÍsi por dcíejos:Tolhiáoma clles. Mar. Matartchião.


Pouco menos: entam contauam as vezes das no-
uascorrentcs ,
&.dos milagres que ja tinham feytos
cm outros, a qual mais. Mar. E pera tinam deixaram
foum fò. Por». Nam porque a falar verdade, te do c C-

tam.igo veio hüa velha, que me aproueitou mais: Dif^


fc,quc era atauolcta. Mar. Soube rãono cllcs? Pa/r.
poder da fforifmos tudo tribuyam aos
dSíaro, antesa
P*w.Sabc Dcosa
feus remédios. JKrfr.Sangrarante.
Porem eu não
fua vontadr.cada dia afiauão as lancetas
quis» como quem fabia o conto dos meus annos, Sc
que

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VILHALPANDOS. '

2
«que o meu langue pcccaua mais dc queimado, que de
fobejo. Mar. Ah, que a nos jà nefta idade deuiãonos
de tornar a curar como meninos, & naó com bebera*
gens das boticas. Que da fua vifla fc arrepia o corpo
todo. fô m. Mexidas por cifras que elles fificos fôs cn*
tendem, &osbuticariosfcusfecrctarios. Mar. Afsí
fao maiseílimados, & os das outras íciencias também
c
quando os entendem menos. fom. Finalmente afsi os
foFrihum tempo. Depois cobrey fifo, &defpedios.
^ir.Hocomofizeftcbem. P om. Como dizem mi-»
lhor foy tarde que nunca, entam deixeime ir mais de-
uagarefprcirando fempre a natureza ,
& ajudandôa
com bom regimento. Mar. Nam foube tanto Hyp-
pocras. fam. Aprendi a minha cufía,& como foube da
bordam , que me
tua boa vinda leuanteimc fobre efte -

ajuda mais, & me cuílou menos.


Mar. Por a morde
mim que repoufes. Pm. Qu,efarcyfe mo nam ley*
Xaro. Mar. Prefa fobre tudo tua faude, nam tc mates
por ninguém. Que ao dò negro, & ao choro dos her-
deiros chamão os antigos rifo, & prazer conhecido,
em trajo dc lagrimas. PaOT.Ouueroe& depois me con
íclharas. Mar.Dizç o que quiferes. P m. Bem te de*

uc da lem braro que ja falamos antes da tua ida, fobre


noíTosfilhos. Mar. *Namfaó os cacs ncgocios pera
efqticccr, Pow. Depois tu abfcntaftete i & cu adocei, tu-
do ajuda o que ade fcr. Mar.Pavz que hc maiVdacou-
fenosCefariam q béo fcy. Pm. Nüõ auiaó de falecer
... Az meíTa* *

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COMEDIA DOS
rhcíTigcifos. Mtr. Queres que nam vejam os hemés,
nem ouçam. P*«.Porcm nam correm cllcs afsi ao bé.
«^ídr.Nitn lhe acham canto fal. P om Vcyo logo aqui
ter, a cftanoflTa rua hüa velha Bolonhefa com hüa filha

fermofa. Mar. Perigofa vizinhança. P*?».Sc ainda bé


íbubeíTescomquanca treiçam & arte.Mor.Eellcstã-
bem fc deixam enganar leuemente. Prw.Logo ha pri-
meira parecia aquclla cafaerma. Mar^Vc pobres nam
trazem que afoclliar. P om, Mashe tamanha a fermo-
fura da virtude ,que querem primeiro enganar cõ elía
que com a fua própria. Mar, Q
wuanto agora não ha
puffo em Roma mais a guardado. Ao menos dos nof-
fosmancebos r omãos: os Bi utos,& os Decios morréfc
pola repubrica. P*«.Hora cu em quanto me Qcos da
tempo oam o queria pcrder & cuidado nam acho mi-
f

lhor remedio a meu filho que o cafaméto, o qual, te os


Gentios chamaram prifam feg ura da mocidade. Mar.
guantos ex«m pios vez tu oje ncfte dia por aqui ao có-
trario? O amor,& as graças dos filhos: os bons
cofiiímcs das noflas molhcrcs próprias, chamam mui»
to homem pera fuas. Mar. Ao eílomago danado n5o
fabe bem ncnhúa couía boa. P am. E mais cm Lugar de
hum pay teria elle dous. M ar, Antes a racuparecer em
lugar de hü fazenda, atai cempq, ructeilhchias duas
»

nasmãos que defiruyíle. Pom. Nam que a ififo vrnho


darte conta da boa dcípofição emque agora tinlwmos
o negocio por hüa grande offcnfa que eftas ruolhcf cs
~~
fezfr

'
Digitízed by C
!

VILH AL PANDOS. ? •

fezerâfh ãCcfariam deque cfta indinado eílremada-


mente. Mar Quanto
. har* Pam. A noite paffada. Máf.
Tam pouco? P*m. Porque? M<*r. Porque aqucllc co-
ce lho %<5to, o qual nos tam malcomprimos,que fc
nam ponha o foi fobre a noflfa ira Eítes o cumpren* :

muito bem. P om. Nam he o fentimento tam peque-


no. May. Nam te fies diíTo que quebram as mais das
Vezcscmmayoramor.do que procede. Poloqualan-
; tesquifera que eftiucra rindo. Para.Porquefc dizlo-
* go que efquiuança parte amor. M<*r. Parte, mas nattf
affi as primeiras razões : principalmcnte com cilas *

que os homens tomam com todas luas tachas. Pm.


Nam era de perder tal occafiáo. May. Creme, que
ja agora teu filho lança todas as culpas fobre a mà da. ,

velha. P om. Sijleamoçafc dcfculpaífe. M*r. Pe-


ra que cllemefmo a defculpara ,
entamao fazerdas
pazes mal pollos terceiros. Pum. guancos imi-
,

gos , que tem eftasnoíTas fazendas. Mar. Por ifiTo


dizem que andao ouro tam defeorado como temi*,
do dfc tantos. Pom. Tê os cachorros faltam por a- .

*
jnor dei Rcy de Mar. Efcandalizado fi-^
França.
caftedos fiíícos corporais. *Pom. O quem nam ti-
uera filho pera fe partir rindo dc tam mào mundo;
Mas do noií à negocio que concelho medas. Márl
,

Dirtey o que me parece ocafamcntohca mayor cou-


fa que o homem faz cm toda a vida peçote que h®
nam fiemos de payxóes de mancebos, Tom. Como
A 3 fare-

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COMEDIA DOS
ftrcnxos? ^«r.SobrcíIcmosafsi alguns dias entre tatí
co trabalha tu que rcu filuo fe emende poríí fô, & ra-
• zam,nam por agrauos da Bolonhefa, que comigo nam
fao necefTarias outras mais negociações. Nam
fora mào corrermos daqui màs molheres. Már.
eftas

Pera que jagora: pois onde quer que forem ham de le-
uar o coraçam de teu filho a pos fi Pm. Bom hc fem-
pre afaílar os azos. Wl<tr. As coufas da vontade nam

querem força, que entam as defejamos mais. P««. Fi- \


lhos de Adam Sc d‘Eiia. Mík. Finalmcntc tem-fobre •
' tudocuydado da faude. E coma te ja difíc a tudo vay
pccantepce. Entre tanto vernosemosmuytas vezes,
& huns lanços hiram difeobrindo os outros, que nam
.façamos cegueira em coufa que canto releua. Deixou
te aDeos que me chama outro negocio, tu tomate a
cafa. Pm. Ellc va contigo, ho deícanfo com que
me
cíle manda ir deuagar, comofc eu tiuefle os dias
de
contado ho canto darca, pera as necefsidadcs. Trago;
como dizem a alma no papc,& vejo cada dia partir os
outros mais faós, Sc mais moços: Sc efte diz que cfpc-
*
em pondo o mundo doje pera de
remos. Afsi nos vay
inenhãa, que vem aquella derradeira hora em que
te
,

tanto ha que fazer. Q^uifera cm tamanha tormenta


ter meu filho a mais amarras: cila preíía me fc.z leuani
tar da cama ante tempo Mario cila tam defeanfado
:
*

bocejando. O cuidados vãos dos homens ,


pera ião a«
juntey çu Sc guardey cõ tantos trabalhos Sc perigos,
t
per*,

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9

VILHALPANDOS, 4
pera deuaflbs, & dcuaíTas ?Nam confintira Dcoscat.
Cefariam fc quifer auer fifo, & refpondcr ao fmgufc
donde vetxr.Seja meu filho: quando nam, a dor nam fe
efeufa: mas em fim coda a perda a de fer fua v Minha

molhei fc nam fizer outro tanto, deixara càbõs henlei


ros: tres dados,& efhsboas donas, Cuidaisquc ve elhi
os erros deftc filho? & fe lho digo logo hifaò as defcul
pas. *E quando ja al nam pode fer, antes cu eyde ficafc

culpado, ouporafpcro, ou porcftreito,a foraaqueííc


dito geral dc todas, que outro tanto faria cu èm ratis

tempo. Sobrifio nam fe efeufam contendascadal horà


quando nos mais necefifario era o defeanfo nos vcyo ;

falecer de todo
.
£ucm fae dc minha cafa ? oh Faufôfc
he minha molher grande companhia Ihfc vejõ toda dfc
Beguinas, noue faó,quam certo he,quc nam auiam dfc

fer pares. Negocio hc deuaçóes fobreftc filho, J^ucrò


as efeutar vereis que razoes tam concertadas.

SCENA IL
^
-

Fdufía. fwpmg;

. .... .. *

Fdufld. CE algúa orã amigas dcDcos,& min hás to-


^ maftes cargo de IhtcjiComcndardcs algúa
pefiba necefficada:fcja defía vez,queàffi mcfercisvos
encomendadas , íempre nas voflasncceffidades. P om,
Muito fe lhes ofFercce,tudofcraasminhascu{tas.Frffr.
Ora cada húa tome ícu ramal dç nosrcentó & cincoéta
A4 por

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COMEDIA DOS.
por cada ramal. 2W Boa foma fazem. /U.Tarttàs
vezesha cada húa de dizer
acjuclUoraçáo.quc vosdcy
clcrica erapergaminho virgem que hc nuiyco
, efpri-
mentada.' %m. Como mezinha
de velhas. F att. E afsi
tereys acelas as noue candeas
que vos dei tambcmde
cera virgem. %m. As
beguinas quer o fc jaó quer não.
tau.E a ca da nô beijar a cerra, fem
Falar palaura neftc
fncyo tempo. Vem. Forte
ponto pcramolhercs.'F^.
dc tudo aucis dc dizer: afsi como
j j afsi
r°. ifto hc ver*
^ade de c ° r
?
&
có vontade, faya nomcayo
liurc,&
lao delta infirmidadc, quer íeja malícia quer maldade
«dema homçm,ou ma molher quer outra fortuna
qual
quer. % m. Que pode logo Deos
ahi al fazerfe vai por
coníoantcs. Vau. Entre tanto eu Falarei
com a conuer-
tida,& afsi efpero cm Deos,
&
nas pahuras dc muyta
virtude, &: na ajuda das peíToas dcuotasquc
meu filho
torne agrada dcPomponio,o qual có
paixão hc pofto
cm cuidados nouos,& não de pay. ?*m.
E poLsha cm
©bra.lc teu filho fe nam emenda. Ia
lã vaó tarde fc me
ordena oje o jantar. Qu,e>ocntic tanto
dar vifta ao,
banqueiros, naó cuidem os dcucdorcs
faó ja morto.
q

SCENA. ar.
\ .

^nttnioxt, \
mais palaaras pide pori>oca ã efc
colher cogao cm lauor dc aro igos.
A»t, Tam

Digitizee
'

VILHALPANDOS.
boãnouidade õuue cftc anno. M/7. Que na o ha onde
,>

a recolher, & fobre tudo boa mercadoria boa. A/íf.Hi


vai ho feito todo. Mil. No meu amigo, no preço^mc
engane a mercadoria fejadefenganada. Mil Eftaseni
teu fifo. Que o rico pera que quero qtemío pobre vi
pedir por amor de Deos, & não ande de amores. A»r*
Dizes verdade. Mil. Hora cíTe teu enfermo de quais
hc? A nt. Auiate em Roma de andar pedindo piedades,
& com que cfperan<Ja?/tóFraca por certo q cm terra *

cftas onde não farão pobres nenhüs,com quantos hof-


picais nclla ves. Ant.Equé faraflem,ao menos tu nam
crasho hofpitalciro. Jiíi/.No cabo cflas,hora mediztf
que tal a queres. A»r. Moça aprazeradafem ponta de
.miolo. Md. Encerrada nem cafadaí* A nt. Sao muyto
trabalhofas. M/7. E auiatc de cfíar vendédo a dinheiro
perigos, & trabalhos : a minha gente toda hc manfa:
mas tenho de rnuycas fortes afsi, como aqui ha muitas
fortes dapetitos. A nr. Ah efqueciame que eílauamos
cm Roma. M//.Donzella tenãoofFcrcço porque cs tu
qucahum nouel eífcforao primeiro ofFcrccimcnto.
Anr. Aq prcpofko,pois me ja Icmbrafíe onclc cftamos.
M//. qheoutra boa mercadoria punhadas, & lagrimas
Ant. Emaisondeadefeobrinamos? M//.Por aqui fc

fazem. Ao/.Nam entremos neíías emburuihadas,que


Mil. Q^uc dizes? A nr.
ria couíã certa, de defocupada.
Q^uc oam ciueífe muytosncgocios. M//.Orana 6 ma-
is das cngcyudas queres, Ant. Nam afsi mas das
A5 que
COMEDIA DOS
qüc riaô faô ainda.tam conhecidas.M il. Çuc barl iria»

vam pollo mundo andaófe mortos com fcus ciúmes,


aqticlle olhou, aqudle rio,aqucllc acenou, &ainda ifto

nam bafta,masacco que fonham cuidam que he ver-


dade, & de tudo tem paixam: .Sapos cuidam que lhe %
dc falecer a terra : os noflbs cortcfaós todos cortcfes,
todos galantes, todos poftosem rastom ajuntaófe finco
& íeis a hua amiga, & dc aprazimento de partes par-

. tem antre fim ocufto,& prazeres; Ella todos grangeã


& agafalha, cuja acerca dc fer a noyte efie fica ,
os ou-
tros uaò íc yão por iíío com peor roftro, outro dia lhe
vira a fua vez,aji nao ha ciumcs,ncm inuejas, que mais
paraifo queres ncftc mundo. A nr. Efiàbcm mas os fi-
lhos como os repartem. M/7. Não hc gente muyto a*
fruítada. ^inr. E porem quando acontece/ Mi/. Em
tudo a dc íer o que ella diíTcr. ^ tnt. £?uer o faiba quer
o não faiba. M/A Que cuidas que vai niíTb em fim qutt
remlhebem como a filhos. Aor.O diabo fe enforquei
Mas efie noflb ainda que heRomãoci medo que nifio
queira fer barbaro. M/7.^ Vaa fc rir o foi nam ves cu a
pompa deftas noífas corte faãs/Qjjcm baftarà íb por s

fi a feu cufio?donde cuydas cu que fc ellas ham dc man


ter?quc afora dc eftes certos que digo, ainda lheficaô
defora outros aucnturciros,& nam baftara. Knt< Dc*
moslbe algúa nouiça. M/A Demos, mas feja porem Ita
liana que tudo o mais he vento. Franccfas,& Alcmãas
com quanto vinho bebem fam maisfriasquç hírapou
VILHALPANDOS. 6
ca de agoa,Eípanhoes codas vem j a coradas deCaiez,1
& dc Valcnça Darcgáo: Efcmpre óbruquel dorifí-
am ha de reduzir cm algum canto da caía como por
poíTe.’ Ora que rofto he o dc hfu Romia ,
que gra-
ça das BoIonhcfas,Franccfas,Mautnanas. A»f. NiíTo
Ôc cm tudo he cfta vofía Italia hum jardim do mundo.
M E afsi acertou a natureza dc húa parte dc montes
altos, & dc todas as outras dc mar. A»r. Com tudo de-
fendcmolamal dos eft range iros. Mil. ^uc canto no
ladefejão. A«r. Também as coufas todas vanvarcuc-
fes,muyco tempo mandou, & agora hc mandada.Mi/.
E Roubada, faqueada, ôc esfolada , mas deixate dcífas

Philoíophias meouucres roifterbufcamc,& feja co-


fe

mo deuc que nam percamos tempo comoaguora*


jínt. De que mancyra.Mi7.Com aquelle Ramo dou-
ro com que paííou outro todos os perigos do inferno*
A nt. Entendo mas onde cc acharcy que certo fejas. * «
M/i. Em toda a parte que cftiueres meya hora quedo,
que cu tudo rcuoluo,nam guardo Domingo, nem fcf-
ta,ardofempre de dia,&dcnoycc como hum forno
de vidro dias ha que naó perdi outro canto tempo,co-
moagora*DeixoteaDcos.

SCENA. ML
’ ' - '
'
.
. .
. r

"'/inttnitttfta.

1 ‘
. *,**/ í

Do

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COMEDIA DOS
O
que
Doudinho dc Antonioto, como auiás miíler cl?
rado dcíh tua cabeça. Cuydauas polaventurf
cm Portugal, onde dc toJo o negocio he foíV
cilas

pirar,&dizcr faudades? Torna cm ri,& lembrete on-


de cftas Antonioto, bufea dinheiro, & nam bufques^
Miluo, nem outrem ninguém. Quefarey? Quinto
podemos ajuntar com tanto trabalho tampouco ba,
tudoGuifeardaenguliode hum bocado fem deixar
pera hua corda com que fc homem enforcafc. O mà
velha pior que hum cam faminto cm engulir, &logo
os olhos por mais certo , quc.nam tem aKmoria nc--
nhín, como dizem os galos, que por iíTo cantam tan-
to ameudo. Q^uem vir as fuas feffos ao receber do
dinheiro cuidara que jaali tem pera hum anno, dando
bíia volta nam a conheceis com quanto auedes fem na-
rizes, como dantes. Eftamos bem auiados a velha fem
• *
vergonha, Cefariam fem corregimento, ao velho cA
caffilfimo, & que anda ja fobre auifb: quem comete-
ra nenhum dellcsi O que inueja cy tamanha aqtielles
1

dauos ,
& lírios das comedias que tam bons lhe ferani
,

de enganar os feus velhos babofos . Com tudo tenho


ja cometido cftc noílb com a alquimia : dia que
*
* quem fnbe fazer ouro , & prata, que nam hamifter
prata, nem ouro, aosveadores dos thefouros, diz
que lhe nam quer moftrar ofeu. A quantas deftas
inuenções ha pollo mundo, refpondem defeanfada-
metúe, que nam compra efpc ranças por dinhcyro,
'

& fobre
VILHALPANDOS, 7
& fobre cu 3o Dam quis morrer comocuitoamos ,a-
gora fam cm com nofla ama por via de dcua*
pratica

çóes tendolhe muytogadada hüa conucrcida grega


grande minha oradora, & fepor aqui não fazemos al-
güa entrada nocofcorrinhodo velho, çleufato kni
mais praticas de Miluo.

jiC7 0.ll- SCE>ÍA.Í.

CtfdtiÃofoe.

em que praticas
ESTE meu coração concclhciro
começa entrar comigo,naó me queria cllc pouco
àfdltar do peito fora que onam podia eu fofrer?Dei-
xoumc cllc mais doim ir, nem aííoííegar, agora que a-
çonteceo de nouo,mandoufclhe porventura defeulpar
alguém, ou chora, &
fufpira alguém de todos nos,fe

aão eu? comoj tamanha injuria & taô rezente podelhe


lembrar outra nenhúaçoufa, ainda naoquer, ainda
naõ canfa,em quanto ouue que dar durou o amor vo-
ou a fazenda voou cllc, & juntamente, a ifto hc o que
pintam ao amor cõ azas, voou, fogio, defapareceo fcrn
nenhúa lembrança de mim Te fain viuo fc morto, co-
mo ?& cam pouco dura oamor?cuytadodc mim, que
fazia fundamento dclle pera toda minha vida , aísif»

poem tudo atras abrindo as maoS;& carrando?bem fc


ria fem nenhum fenti mento eíle corpo tamanho, fe em

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Comedia dos
fal ocaíiam faleceííe afsi mcfmo, Ôc nam fc puícfTcèiS
faliio a pefar cio coração ,
chcgliey a noytc paflada a*»

quella porta que todas as horas me fohia cftar aberta,


de par, em par aquclh porta que cambem parecia que
ja mc conhecia, Ôc que íe mc abria de feu. Apalpeya,fiz

meus finais acufiumados,que aproueitauão, bati, bra-


dey,tam poucp-que maisquercis?cntrey em duuida,fc

errara a porta peloefeuro que fazia, torney para atras
reconheci tudo de nouo,aquc 11a era aporca,aquellas as
o tempo nao craja aquelieque fo-
caías, 6c janelas, mas

bia. Ah como me tomou eftemal tam defcuydado,


Doudode mim quccuydauaque cinhaaquellas von-
tades por minhas de juro ,
Ôc de herdade, &nam ha
cojfitno mundo que taó azinha pific. Q^ucfefczde
tantos íofpiros, de cantas lagrimas
,
que íe fez dc tan-
tas paljuras ,
que fc fez dc cantas maspalauras que
a mim mc enganauam mais? Como/ 3
fingidas podem
fer tantas coufas? em fim que fingidas foram, aquel-
h foo hora foy defenganada , aquclla, feu entendi-
mento ciucííc deuia ca de cfiimar muyc o. Que tan-
toíipcrfieyate que a dcfnarigada ouue , finalmente
de chegar a húa janela donde mc falou cftcs amores
que vos direi. Quem he o Vaganao importuno difeor-
teçquc atais horas afsi bate as portas alheas ,
ouuin- ,

doeu tal ,
o fangue me fogio de todoocorpo , &
me deixou como hua pedra fria, o que ellafcntindo
feguio adiante ,
va dormir onde ceou quem quer qua
hc
ViLHALPANDOS. 8
hè ,
ou ícandaera bufca dcalgííamaa ventura po'de
fcr que a achara aqui, & aísim a tornou acemr com
tamanho golpe que cam bem a mcfma janclla parecia
que amcaçaua, aqui que dcfculpa pode alter? não mc
conheceriam indemal muyras vezes que aoutrem
?

poderey enganar ,
com cila rezam, mas nam a miai
cracardc? Eílariam pelejadas? cmbcbedarfehia a ve-
lha? ah quantas dcfculpas que nam baílam , &opeor
he que mas nam daninguem fenam eu que nam do
,

uia. Bem empregado feja em mi que ja cíle naò foy

o primeiro finaljc cu ver, & enteder quilera. Ora fus


fera logo bo derradeiro, a ofadas que bem mc curarão
gycm ^ a y dc fua ca dí auc lha he
das minhas cataratas. ^*

porque mc nam enuioaclla: mas queio primeiro vçr


como feme difculpa.

SCENA. IL

Çujfctrda. Ctftriam.

Eguraimc bem
&C- ç ninguém
^ ate
cft.i porca, que
que eu torne. guem algúacon-
fc nao sbrã d

fa quifer falle de fora. Cf/'. Ia me vio cila aleyuofa,


a mintira. Çuif. Çucm fufpirar fufpirc ,
quem
fc queixar queixe ,
a minha porta como digo cilc

a bom recado que mc cuílon muyto ,


&bom di-

nheiro.
~ Cff, O maiuada, cilas an dc fer as difculpas.
"
Ç"'f-

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-•

COMEDIA DOS
‘Çuif. Gentis fenridorcs , todo fcu feito hc rodcaruolâ
& os que
cafa,efprcitaras jaoe1as,cfpiar os que entram,

faero. Cif Que falece a lira , fe naò nomearme polo


meu nome. Cuif. E todauia as vezes tc daram hfia boa
muficade noite. [tf.E oucros amigos dentro cm quair
to osencerrados andam por fora. Çuif E porteamo
mayo a portacom mais verfos que mcílre Pafquino,
'
correram a argola diante das jandlas, & faram aquel-
"Icdiahúamuytoboa inuençaò de mafeara. [tf. Eíla
defnarigada tudo queria que lhe metedemn* bolfa.

Çuif. Noitrcu b*m tempo talcortcfaáouuc aqui que


a pedraria dos feus chapins cra de mais preço que a da
garganta dc grandes, & ricas donas. Aquelles chama-
ria cu feruidores, cflesdagora nam fedeucm chamar

fc não importunadoies. £ ef, O Velha falfa ainda tc


Dcos chegue tempo que ninguém tc importune.
a

Cuif Aqui eftauas Ceíadam,& cu nam te via?CV/.Po-


isGuífcarda dia claro he,quc nam hède noite. Çuif. E
que quer iíTo dizer, [ef Porque as vezes fc nam conhc-
cim os amigos pelloefcuro. Çuif Eu nam digo que tc
nam conheço, mas que te nam via. Cef. E eu que^ic
nam conhece? Çuif Dcfdc quando. Cef. Dtfque mc
.

rotíbafíedaalma do corpo, & da fazenda. Cuif Fazes


mal Je mc aísi injuriares quecunanvroubo ninguem.
Cef Mas roubas, injurias,&fobrc tudo ameaças. Çuif.
A quem. Cef. A mim* Cuif. Ah, que iííò vem as mais
‘d^s vezes os muytosn íq:.os. O/. Min*,cê dizes rou-
bado,

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:

VILHALPANDOS. p
bado,injuriado,& lançado fora. Çuif. Pois afsi queres
Yenhamos a todas cíTas tuas contas, ôc fcj) por a tua or
denança.Prim cif amente ao roubado, de que? [tf De
quanto tinha.C‘»i/. Se por não teres inais, queresque fe
jamuyco: vasarguindo mais efpiritualmcntc do que
deubs,cu nam conto fenam , por cres , & dous fazetrt
cinco. Cef Pois porque nam concas afsi quantas boas
obras de mircccbefte.C7&//.Àisi feja mas as que tu rccc
bcfte defta cafa, porque tambem te nam lembram, ôc
as nao contas.Ce/, Em quanto me fentiftes que dar não
me fallaueisafsi. Que foy daqucllc tempo? Cuif. Paf-
fou como ves que faz diffo te queixas? fef. Quem vos
tanto dç^ Corr,u ín>dia durar^Cfl/f.Quem tanto denos
T :

queria que fundamento era o feu? Ctf. Deiuos quanto


tinha. Cuifü de nos ouueftc tudo quanto qucrias.O/.
Ate as Alimarhs brutas, fica algum fentimento das
boas obras que recebem, efie he o amor das molheres.
Çutfôc o dos homens ? ah que certo emprego foisco- :

mo as andorinhas, vindes com bom tempo, & com cl-


lc vos partis. Cef. Que fe fez de quanto vos dciY Çuif.
He gaftado,tu querias que ainda duraíTe? até quando?
Qtf. Ate que me cu pudera remediar.^ uif. Fazes a cuá

conta foo, 5cnos entre tanto de que viuiremos? Cef.


Nunca te lembra fe não o teu intercíTe.Cw/.Pccadora
de mim,5e a ti que te lembra fenão o teu:* [e[. O meu
intcreíTc vem damor , 5c o teu de defamor. Cuif
to do
Renego de çal amor que nos quer deitar a perder, [ff
B Iulgayo
COMEDIA DOS
lulgáyo polas obras. £#//Duremnosellas,<5<:duràrtebc
mos nos. Cef. Oo maa velha como cc nam mato-
Çutf Farias hum fcyto Romam. C ef. Dcfapreçaria
a terra de cam maa coufa. Cuif. Bem o podes fazer fc
quifercs,quç iíTo fc ganha orftas praticas efeufadas.
Cr/. Foyfc fem me dar nenhfia outra efpcrança. Olhay '

as fuas defeulpas? olhay fc ao menos fc lhe fez alguma


toruaçam,ou final de vergonha do erro tamanho, que
1

tinha cometido contramim! Ella hc ainda a que quer


quefclhcdeículpem: Çual hc o coração que tal fo-
freí*quefarcy?em fim cambem o paflearhe maorc-
medio. Quero bufear Anconioto , que hc ido a bufc.

car outros amores nouos. Mas triílede piim ,


onde
nos achara ? molheres nam falecem, mas amor, & coa*
tentamento fam os que falecem ,
pera que hc perder
tempo andando? vejamos o qucporojcfc pode aui-

ar tanto que não hi efta cííc 1 ibre que cem mortas óu


trasmuytas fedes ncítc mundo » afsim faraa a cfta
jninha*

•V. SCENA III.

.
*
- * -.
.
* * ' ...
FtbUno. Cefdrido.
'^TAm me fujas Cefariam que tenho gràhde
neccfsidade de ti. Cefár. De peflba tam
hccefsitada? fab. £uequcr dizer que cíhstara dc«

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VILHALPANDOS» ro

ffrtudatlo. vendomc lançado i+


Cf/. DiflTo tcefpantas
os Leões. Fáb. que tc fazem. Ctf Pedfrmc mais di*.
nheiro Fabiaao amigo. Fdb. O Cuycado de mim ja'
o outro hc gaftado. C ef. E. cfquecidotambcm que
he pior. Fab. Ha, & não ha mais rezam. Ccf. Arw
ces tem trezentas mil, Fab. Nem mais vergonhas
Cf/. Lcuaráolha com os Nirizes, F*b. Grande fcy-
to. C-f. Nam tc benzas que tc defendera fuarezant
contra toda tua Pbilofophia. Fdb. A ifto me chamas tii
molhcrcs. C -*/• Nam ícy, mas muycofe parecem hu«*
mas com as outras. í.>b. Ah que te nam acontece jíV 1

to fenam por grande culpa tua. Ce/. Qjic poífo fa«


zer. Fdb. Nam te aucrcs contigo , como mãy com
filhomimofoque o deixa fazer tudo o que quer.Ce/.
E que remedio. Fab. Fazello querer o que cumpre
comcníino, fenam com caftigo. C ef Renego dcf<
tes ditos curtos tam bons de dizer ,
&tammaosdç
por por obra. Fab. As mezinhas todas amargam.
O/. £Jue farey ao Coraram. Fab. Hum Ceraçaõ que
a tal tempo te defampara pera que o queres. C tf E
tu nos teus amores tam valerofamcntc. Fab»
afsi te as
Mal fazes de coccjartacs amores , que nam tem ou- 1

tracoufa huns dos outros, fenam o nome foo que


lhe vos outros pofcftcsforçadamcnre. Ctf Dcyxate
deflas tuas fofifhrias, que nam pcfTocm hiim meímo
dia pcleijar com tantos. Vab. £?uaes tantos. Ce[.'fttfír
dey ategoraem brados com aquclla ferpe de Guií-
v . B2 carda,
,

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COMEDIA DOS
eãrda,3c tufacfmc agora de rcfrefco com tuas razões* j

Fáb. Que nam podes nem fomentcouuir. Outra fef,


hora (Pc tomaras mais folgado encam combateremos
que por agora nam mc falecem razões, mas forcas, Õc
tempo, deixote a Deos. Fabiano ainda não fabe da
preflfa em que meu pay anda, pera me cafar cons Ipo-

lica.quc aos olhos deite hc a mais fermofa coufa que


ha no mundo,a mim hc elU boa filha, alua, grande, &
loura; fermofa hefooAurelia. Oo danças, Oo jogos
deftc içundojcomo cydc ver eu, Ôc nao polios meus o*
Jbos.
SCENA. HIL

i
Fúbidnoftê.

Q V E grande poder hc hodo cuítumê,que fez nc-


^ fta terra ao amor fofrer praçaria, como em
qualquer outro trato, 3c dcfamarrouhoafsi daquclles
Icusponcosjtaò perigofosdos ciúmes, porque cada dia
cm outraspjrtcsfercm,& mataõ. guem poderia ifto

crerem outra parte? que vem iras Tuas amigas com


outros a feus prazeres, & pifíam adiantecom bom ro-
íto,& graça, & que efies cambem fuípiram, tambem
choram,tambem rangem , & cantamos feusverfos
piadofos. E oqucdemaiscfpanto hc, que acontece
iftara grandes engenhos que não poflb entender, co*

r*ni mo empregam, afsi tambem baixam «mte coufas de


- - — ~~ -
-

caflt#

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VILHALPANDOS. u
tahtopreço. Vedes eftc Ofarião mancebo dcfpoffo,’
manholo hum íoo filho a feu pay um rico
,
que mao
pefar hc feico delle em
pouco tcmpoEncabcíbou-
tão
Ihoafsi aquella dcfnarig3da,com húa filha q cem bu«
nitarquche húa piedade velo.andalhe femprea darre-
dor da cafa,com a boca aberca como cncantado:infim
outro Cefarião de todo em todo,& não hc o que foia,
eu faó aqui cftrangeiro, & feu amigo ; quiferame oje
achar cm fua companhia auerHypolita que hc fora de
cafa erahúa deuação,podcra afsi ver mclhor.Mas eilo
que torna em grandes debates, vem com Antonioco,
todos feus caminhos faó pera efia parte, andaó cm buí
ca de dinhcirojdura negoceação traze,não os polí o eí*
perar.
*
SCENA. V.

/yéntoniõti. Cefáriám, Mário. ^


'^/4nr* A Iftoauiam de vir aquellas tuas brauuras,Ss
•/"V aquellc teu lançar de fogos. CefACsi fc en
gana homem coníigo muytas vezes. jint. Çuc ver-
gonha tamanha. Çuc cfpcra pelejar com hum Leam,
Qtf. O meu Antonioto,quc eu nam fam ja o Cefarião
quctuconhcccftc. Sc eftas molheres me mandarem
dobar,& fiar fiarcy,& dobarey.Inda oje tinha algum
fentimento do homem, cuydci que tinha coraçam ,
Sc
mãosquando vcyo ao tempo do mcílcr,uem lingoa
Bj úttg

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<- COMEDIA DOS
tliiei [e[. Achey Guifcarda, viemos ãr<fa
A»f. Corno.* 1

por arca, que queres mais quere diga infim venceo-


me. yint. N.im me digas cal, [tf. Hc como tc con-
te. ydiYn Errey em me moftrar ram frio ao requeri-

mento de Pomponioquc anda doente^ apaixonado.


Tornocmfmbufca. ÍAnt. Ondcacbafte? [tf Ante »
fua porca. Mas vejo Ccfar/ão ,
& o feu Anto-
tiioto. Jnr. líToíiuj aeftetal chamaria eu homem
^uefoYbufcarho inimigo a íua cafa. Cef Apayxam
tnc leuou la , & ho defejo da vingança. A ne. E pois
que fczcftc? Gtf Eftiucpera me cnui.ir aclLi. »r.
Milhor íoy afsi que cracafo dc prrpofico. Mar. Ef-
tas fam as fuas dcUúenças. Cef. Tolhcramfcmc hós
pees, & as maos. Ant. O Ce lar ião pior hc ja a vergo»*
nhaque o danno, Cef. Temoumc cita tlefauencura
muytodefcuydado, ajudamedeíta vez a taluar,& pe-
ra a outra ãjudame a matar^Mar. Entre tantai®[
pola fazenda.- A»r.£uegofto podes ja ter naqüclla
caía. Cf/. Mas 'cm qual outra poífo eu jaàchâr ne-
nhum. Mar-. A rempo vim, Knt. cm Ro-
IíFo falece

, fna, moças fcrmotas,&chacorreir as, que masdaua


Mduoa cf colher. Çtf. E queres que andemos afsidc
Miluo pera Guifcarda & dc Guifcarda pera Miluo.*
,

Ant. Nãolabcsoquc dizem quem fc muda Dcosa- ?

juda. [tf. Quem pudeífe. Ant. Daqui a dous dias que


jrçras morrer outra vez, antes morre agora: pera que
te comprar, tam caro,cam pouco tcmDO.de mais dc tal
.u vida
VILH ALPANDOS. i z
noífas goofas dcfU
vida> (tf As fcgurcraosmilhor
vez. A nr. guc fegurança a
de Guifearda? Cef, Eeu

tainbem da minha ccrcy roais comcditr encoí* A»f.E


dafuaque nam aja nenhum.' Cf/.Tam bem que Forãoí
5

yeslhc tu outras rendas.' hnt» Ah,


,.h, ah, vens afiado

fc tomara contigo, Cef.


dias mãos de Guifearda ; quem
Kam tcbufquty pera dcíputarmos: roas pera bufear-
nios remédio. A»*. Nam conheces teu pay coroo he
duio? ôí mais anda ja febre auiio.Sabes quanto? diíic
ja a tua mãy que nao auia
Guiícardadc fer fua herdei»

ra. M«r. Nem roinha a poder que cúpofla, Cef. E cu


Antonioto,quc < y mifter pera depois de roinha vida?
hnt. Hum orande E picaphio de morte taõ honrrada.
M.ír.Tcrn^razaro. Ce f. E tuzorobas, & x is; roal por
quero nam pode.^»r.Coro quanto roe frgurauasojc
que nunca mais, bero me parecia tudo vento ,por iflo

deixa me ir dar vifta a .alguns la^osque tenho arma-


dos. E roais nao queria que a tal tempo nos accrtafíe
teu pay de ver juntos, roandaroe as roas horas caça*

rcy. Qtf vay,& nam tardes. .


*
v
"

/
'•
*
SCENA ,*
VI;
-
.

'bAiriõfeút

Q Vc fufpcitofos juizes fomos todos nos hcfíos inte


redes parece agora muita razão a Põpc nio q
B4 roeu

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COMEDIA OOS
itíêtíÉ 5 eSi-fal fogo a filha juntamente, & a- fazenda ai;’
'
inda fc osnoflus cafamcntos foflfem como os antigo
menos malrquc fc fazião, & desfazião tão breuemécc,
imas agora que foo
morte os pode apartar : digouos
a

que mc requere dura coufa. E mais não me deixando


a fortuna al,cm que poíía faluar efta cafa,fe aquclla fi-

lha nam . Hum filho me lcuou na íua mcnenicc,& pol


los acontecimentos em que fc perdeo,huns annos tiuc
algüa efperança:mas jagora a filha me conucm daga-

falharo milhor que poder, & polo filho deixar de fufc


pirar mais , & que feja o cfteo fraco pera o tal pezo,
que fara quem nam tem outro* Antonioto torna com
fua ama afraz tenho fabido do negocio não querofa-
bermais.
~\'

SCENA. VIL

'jlnttniitol Fdup4l

íAnt A ^OlhcrSandiísimã.Frf». May to mais ain-


IVJ dadoquedezias. nr .Euvoufcmpre
aEi atento,& queria que fc achaíTc antes ro ais que me-
nos. Frf«. Menos dizes, como fc tiueras dito de cem
parteshüa. Em que fidaftc tanto? fau. Tan-
to? E a mim parecem e que foy hum fonho. Sa-
bes que fonhofque fe foram as beguinas, & difleram-
Bic que cilas teriam cuy dado. F40 . Eftauacomofora
ás
.

VILHALPANDOS. i ?

«Jcmitti. Ant. Grandes fcgrcdos faberias que nos'

outros ,
ca nam alcançamos? Vau, Nunca tal cuy-
deydeouuirncfte corpo peccador? ^Anten. Em que
falaftcs , fehe pera dizer? Fau. Em muytascoufas

San&as pregunteylhe fe as comadres conheciam


:

húasas outras no üutro mundo? yint. Qjjetc


la

diíTc? Fau. Queeracouía muyto certa. nt E a ^ .

mãy ao filho nam nem o filho a n ãy/ Vau, guc


,
>

mediras a iflb? yint Sam fegredos grandes. Vau .

Porem prometeomede me enfinar humadeuaçam


pera confederem também os parentes, /nt. Bcma-
uenturada tu, & polia ventura íabera outra pera os a-
migos? Vau. Pois que cuydas; A nt. Ficarieis gran-
des amigas : F*», Mais que irmans: A nt. Hc ver-
dade que vam as almas cm Romaria a San&iago:
Vau. Huy muyto certo as que la nam foram em vi-
:

da. A nt. dizem aqui eftes Iudcosqucham dc


Afsi
ir a terra da promiíTam cm morte por debayxo da ter

ra foçando como toupeiras. Vau. Por iílb quem laa


pode yr na vida; A nt.
Antes a meu parecer fera mi-
lhor depois. Vau. Porque cuytada de mim ? A nr.
Porque , aquclla tftradaque vemos dc noytc,nam
tem cantas encruzilhadas, nem tantos ladrõcs.Fav.Bó
he pagarcaas diuidas. Ant. Efarfehacom muyto me
nos eufta, & trabalhos: fem pafiar pollo mao gafalha-
do de Portugal, nem polas çugidades de Galiza. Vau.
Tudo ifto íam trabalhos do corpo. Ant.
q te dific da
* B 5 cal^

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COMEDIA; DOS '

calcfcirã dc Pero botclho?Ew. Deosnos guarde que.


eftão nhi fempre tantos inimigos conganhados. yint. |

Comotripeirasna praça, & frades na cnuolra? F *«.


Guardeos Dcos.de mal. A»f. Afsi os pintao com fuas
& loam defpcra em Deos? F*#. Viho, & faiou
coroas,
lhe pareceme que em Grécia, & nunca mais ria. ^tnr,
He verdade do pcfadcio,quc cem a mam furada? Fau»
E pois que cuydas? rouyto mâl le faria logo,fc.cal não
foííe: typnbcm mc enfinou cfladcuâçam. A»r. degra-
darmia pera o mar colhido? Fatt. Ay Antonioto emvi
da, &cm morcc. A nt. Em vida também ;
fizmci fio
cuydar cm ecu filho que não parece aquell?, dias ha.
F au. Muyco falamos fobre iflo. Diz que pode muy-
to bem fer
:
quanto a viftá, andar aqui ,
8c efhjr la de-
gradado, delles metidos acc a cinta, deliesatc o pcf-
coço. Anr. Ey medo
fegundo teu filho anda. F *u.
Promcteomc de fazer fua oraçam por clk\A#r. Por
te dizer a verdade-, Iffo nam me fa tisfaz muyco. F au.
Porque Antonioto? A nt. Porque hccuílunie dtílcs
priuados podendo quanto querem, dizerem fempre
eufalarey. Fju. Élla mo cíiíTc com tal graça que cu fi«
quey contente. A»r.Dao logo por fcyco.Somos cm ca
fa. F Au. Depois falaremos mais dcuagarnam des con-

ta difto aninguem, Ant. Dcfcançi, Oo graças deftc


mundo, nám fey como me pude ter ao rizo por vezes
fuy abalado dc maneira que dcy a nrgoceaçam toda
por pcrdida,mas cila nam atcntaua,ncm via, nem ou-
uia
k’"*-
• -

Digjti^ed by CjOQgle
VILHALPANDOS. 14
uia qtíe tam occupada vinha do cfpirito. Eftás vos di-
go cu quefafn, graças que nara as dos cruães frios, que

cftameodaa noycc cftudando cm fuas fcmfaborias.


Ho que lcuccouíahc enganares* quem defeja de te
crer.Guardemc Deos daquelle cabeçudo de nofíb a-»
mo que por mais que lhe digaes,& jureis fempre cila

dandoacab.ça. Eíh fique nam duuida. Ho que dias


agora ha de lcuar nos feus ajuntamentos com aquellas
fmscomadres que ha de conhecer no oucío mundo.
Deos nos valha que as outras nam ham tam pouco de
querer trazer ali fuas lingoas ocioEs. Ho fcnhor,que
ajuntar de cabeças, que reuolucr dolhos
,
que bulir de
beiços, que a fiar de lingoas, que hfu rtam da lugar ha
outra* Cuidaes que fc efcurcam ? a propofito. Efiam
fempre cfperando tempo pera tomarem ? mam, de-
pois não a querem perder tam afiuha , & aquclla vem
ali mais rica,qnc eras mais fortes cafos pera cotar: que
coufas dira agora noíTa ama? & que enueja lhe hande
auer asoutrasíentam efies feus maridos que nosgo-
uernam mais barbudos que os hirmitães dos montes
hermos/am nfim goucrnados por cllas.j^uantas cou*
i

fas tcaho oje pera fazer.

SCENAI.
Mil vo. Vilhalp anelo c Apitam*

Mil:
4

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COMEDIA DOS
Mil. V E onam digo por mccíhr gabando^
ML mas quem as manda todas^c as goucrna
íenam Mi^uo? Vilh. Afsi me dizem que ,
ja venho a ti
por fama. Mil. Que te diíTcram de minha fee,& deli-»

gencia .Vilh. Milagres. ^ríi/.Nam poderás topar em


toda auiaíle, & defen-
Roma com homem que te afsi
ganaííe. Vilh. Nem tu com quem te afsi pagaíTc: que
eíles ca todos famauarentos. Mil. Nam pera cilas o-

brasde mifericordia corporaes. Vilh. Em fim nam te


hasdequeixar de minha companhia. Mil. Sabes em
que as fcnhorco ? ferlhes todos feus fcgredos. Vilh. A
la fè que hi vay ho ponto:fus ponhamoslhe as nuos,&
remetamonos as obras. Mil guenam ay taisteílcmu
nhas. Vilh. Aquellasfam as cafas, mas vejo tudo fe-»
chado. Mil Oh cm Aurelia Bolonhefa me falas,
Vilh . Que olhos t que chamcfam mais de dia que as
enreliasde noycc. M/7. Tam boasfam asmáòs, Vilh.

Diuinas ,
aluas como a ncuc; compridas as vnhas
longas ,
Õc coradas. Mil. Alsi caçam. Vilh. gue-
*
riaíTcmc ontem lançar da janella abayxo : oje vejo
tudo fechado. Mil. Tem fuas occupaçõcs, nas cou-
ias das molheres nam has de fer muyto eípeculatiuo.
Vilh. O que boca, o que rifo ,
o que graça. Mil. Era
fupcrlatiuograo ,
mas a liogoa? Vilh. Como? Mil.
A da mãy digo, que dana cudo,he húa ferpente. Vilh.
Encantemola. Mil. Afsi hc occeflario.Mas com que?
Vilh. Com palauras branda», & a uifadas. M/7. Ccr-
" ialhe


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VILHALPANDQS. 15
rilhe os ouuidos. com algúa fcy tiçatii. i}.
Vilh. Seja M
Traz dcfenfiuos. Vilb. Ou com muy to dc comer, & be
ber. Mil. Faz todos feus par tidos cm jejum. Vilb, Có^
dadiuas? Mil. EíTc pomo mc lec^coda acafahc nofc
fa. Vilh. SobriíTofarcy indahúa gentileza com cilas.

Mil. Que tal? Vilh. Mandarlhccy hüa c/parca dc per*


las. AfiV.Scggndo a velha hc toda gentil. Vtlh. UTavof
fa Roma toda fc rcuolue cm dinheiro. Mil Somos afsi
paruos. Vilh. guebrarey dez lanças darmas no canto
daquella fuacafa. Mil. Hum Roldam. Vilh. Lançar*
mecy em terra, & erguerme : armado dc ponta era
branco. Mil. Qjuemfcz nunca tal. Vilh. Saltarey era
hum caualo fem por pec nacftribcira. ^//.Ligeireza
Vilh.Brfor darey por cima daquella Torre. >t/J.Galan
UtmIVilh. CorrcrcyaCauallocm pec na fcll i.Mil.
Efe clle embicar. Vilh. Lançarmey fora como húa
Aue voando.jWi/ Graças que Deos da as pcíToas,Ví/^
Mas pois nam querem íenam dinheiro que lho de-
,

mos. Mil. Creme que cfleheo mais certo caminho.


Vilh. Parecctccíta boa moeda? Mil Muytos deftes
m e podiaô fazer grande fenhor.V//k No cfpiritual,&
temporal,mas efpera pedir ey aqui papel, &tinta,& ira
tambem a cfparça dc Companhia. Mil. Aqui te cfpc-
10 quç as mataras de amores.

SCENA. II
‘ ‘
JiiMttitti. Miljên Vilbátyànâil >

4
*/**'

Díqiti;
t > COMED.I A DOS
tempo que fohtanrde dormiragora choram. Çmf. E
dc que fcruc? vigia, & negoeca. SrtiL E mais pera que
medranças. fef. Sempre cydc negocear ítequandoí
Çuif. Sempre as dç querer mais dc nos? tc q.iando?
Sc te não aprazemos ja,amigoscomo dantes. Çef.Qv&
pouco mais ou menos coda hc htía mcfma amizade.
Cuif. Em fira es cjfado vaycc para tua molhcr. Cef,
Cafado ? ôc quem me quererá a mim defta maneira?
Mancebo, gentil homem, humfílho íoo dum pay
Gut[.
muyco rico & muito velho :cs pera engeicar. (jf. E
,

porem afsi iam cnge/tado,& Iãçadofora dc cafa.Cw/'.


A qual caía faze conca que fc naó pode manter dc fufc
piros. Cef Os meus ape ticos vos poferamnefTceftado
CuiJ.Quc paíTam abrindoa mão, & çarrando. JHtl.
Pratica coíTaira; Ctf Depois que me ouueftcsas mãos.
a trifte da minha alma, & ocriftc de meu coração en-
gcicaifmcocorpo, & quercifmc
afsi deixar morrer.

Cuif.TuCa ratãs. jwii. Como fala


oufada,porqucnam
tem narizes. Cef. Afsi que me não das remedio nenhíi.
Guif. Pedefmeoque nam tenho para mim. C</.Nem
efpcrança. Cuif. Imfim dirtey húa verdade, a nos com
prenos viucr como noíías vezinhasque todas
cem
m igos cer tos,himos ja çarrando nofTa conta no lugar ,

que ainda fica namengeicaremosa ti, tantopor tanto,


polo amor que te tcmo$,&ojcajatuarepoftaquenão
queremos mais eftar por eftc partido de bem tc farei.
Cef, Emuyto menos por de bemtc fiz>fegundome
ora

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VILHALPANDOS. 17
òra parece. Çuif. Sabes aquclla ncccfsidadc que tenho
menam daavagarriemopoíTodara ninguem. SrtiL

A tempovem logoos cfcudosdo Sol. Çuif. Efta-


mosafsia venturanão ves tu cantas fer mofas polias
jancllas ,
‘6c E a to-
tantos ociofos polias ruas? Gr/.
dos eíles tu qudres meterem caía? Cuif. ívLs a to-
dos cíTes tu queres que çarrciros a port* por amor
de ti. Mí/. Naquilio tera razam a falhr verdade.
Çtf/. Ora dizcpois minha mofioa afsi o quis, que qul-

nham ferà o meu confcrtandenos. Çuif. Texas tua


noyce na fomana. Mr/. .E naquiüo cambem comeò
.

«Duyco quclo meterem dieta. Cuif. Sefores nefíc


conhecimento. Cef. Do que me queres vender co-
jno a mouro , ou a judeu ou de que. Cuif. Ainda tp ’•'<

estam aprendisque naro entendas as aucntagcísdos


feruidores nouos: Çuc fam tamapraxiueis , a toda
jpaía quer em contentar ate os cães, & os. gatos. 0/1
Eu finho vencido por força,* he que yiua polias kys
de vencedor, p©is afsi hc que-auemos dt entrar ao cl-
.cote carniceira alça ho cutelo, & reparte. Cuif Olha
nam me chames depois carniceyra de verdade. Cef
Fayfer
>
voume enforcar cftes foram os perdóts. //. M
Como Ccftriam he moço.-quero dizer como Cefari-
am hcparuoqucaindanaófabequcelle erao que a-
uiade pedir os perdões, que prefla a velha lcua ,
vou-
me d epos dia. '
v*
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COMEDIA DOS
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; . SCENA IIIL; .
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Cul(cirlt. Uilut. juntai


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j „ .
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Ç*f A INDAa porta nam crà bem cerrada ji


\ batem que maoofficio ícrà o de portty**-'

rodosfrades. Mil. Ta, ta, ta* Cuif. Ouhc alguos


doiKlo ,ou a^gnm priuado. Ah bem adcuiohaua eir.

Mil*Que ençarramento hc cite, Çuif. Kam fabe


homem quem lhe quer tnaJ. Mil. Qjuem hadeque*-
fer mal a quem nam faz mal a ninguém. Cuif. Afsi hc
.elie fc nos valcíTe, mas que mandas? Mil. Com qué
prefTate ma colhe fíe, ainda tu tens boas pernas» Cufir
,Trazcramc como dizem as raparigas de cantaro, mas
cumpre te de nos alguma coufa ? que jafabes como-
tudo íaeteu, iL Renego deite tudo que nunqu* M
fegura nada 5 mas háy*por ventura occupa^am , oa
como te me atraueflas afsi diante. QurJ. E merca*--

dciia te parece deita eafa para eítar as inofeas* M iK


Vou logo auuntc ,
que nam ha hy peor negoecaçam,
que a fera tempo/' Cuif. Nam me tensaquiíM^/. En
bufcaua Aurcliâ y Ç»if Qjjelhc querias?: iL Na-» M
da , nam ícy q-ue trazia aefta manga quiferaa co»~
jaidar. CufEs íeruidor de cape lio* M ti EíTc ma o -

tírte íàque nam hc pera ti* Cuif Ah ladram que.,


bons— eíçuio^onde* ©s
A»*»
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* *"-«•* “*• •* ' f’** •
***•*.
fuittíte
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cafa d*
• ** f

»oc* '
x
m-


,
.

VIL H A LP A ND OS. 18
fiioedà, Çuifo Nouos dagulhas queres que a chame,
Mi/. Nam,fc efta occírpado. Cjutfi Huy que occupa*
çim pode aucr pera ei. Md. Ferida vay eftes fam os
tiros do ouro, que dizem os poetas do feu Deos do
Amor. Aur. Quem hc cílc meu fcruiuor,quc nas
\i boasorasfeja. Tucras, olhay' os amores que ha mil
v
)
annos que me nam vio,nam ce quero fallar. Md. Ea-
a tamde que viuirey eu. Aur, Si, tolhes me a viíU
ft tantos dias ha, razam feria que te tolheflccu
tguori
3! afalla. Md. Ora por paíTar cftcs agrauos lancemos
ic* bumasforces. Çutf. Quetaes? ./ftd. Tenho neftc piK
hc nho humn peça, ncílc outra. Aur. Nam aja burla.,
pç Mil. Afee que nam, quem acertar a milhor a fua
tf,
\encura lhe valha, Gmf. Eíla feja a minha, iA.ur*
tas Ea minha Md. Primeiro vejamos a que
eftoutra-
só tomaram primcyro; Ffparía fcyta cm louuor da
ü* Sçnhora. Àurelia , por hum grande feu feruidor.
Cut[. Seja logo fua , vejamos eíToucra. Aur Ifto

a* ficílahca minha. Md. Efpcra, que ainda fobre iíTo,


[;/,
ha nuiyto que fazer.' Aur. Faze conta que os vifc

Vf
tst Md. Eftas logo bem que cens por onde pagar,
•s Aur. Nam fam mais de dtz efeudos ,
quanta era
portim pouco vejamosa cfparça. Cuif. Q^ueigua-*
t. riapera cnfaíljados. Mil. Lafularcn os dentro. A»»*,
o Entra minhas baibinhas douro , minhas per bs que
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vem gente, Tr ”
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. SCENA.
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COMEDIA DOS
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scena. v. •

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^Apilonio hirmitat* À ntoni«t$.>


> ."*•
> ... . j í.:: - • ' -j .

JpdXyOt aqui hade fcr fegundo a informaram ey*


IT dc efperar Pdoto que mc nauege?
Torno tam
a guardar aquelle Irmicam,o que azemel
pezadodaredeade quam preftes he a grega, yfftl»
Pominam, O&minum, Ueminum. A nr, E porera as
vezes afsi carrancudos, & de ma graça enganam mais.
*4p' f, Paminum. Dominum treum, Dsminum mtuw m
^Ant. E os agudos que querem dar rezam a tudo as
vezes fc perdem. ^ptl. Conturlétm c»*turbát*/j
Aot. Eftc bom vem como dizem em abito ,
õc ton- :

fnra. fel. ^AbrenuntiVi^íbrenHntio, ^írtnuntir,


Ant. Apolonio dcyxadc rezar , cfcuyta.y/ty#/. &
>íão pode homem em Roma acabar bua oraçao cm
paz, por iflo he milbor cftar foo na minha lapa. A»r.
Ah, ah, ab,quctambcm me quer enganar a mim.
Oo Tu eras, nam tc conhecia, como eftâ a ca-

fá? *Ant. NoíToamò repoufa, noffa ama tc efpc-*

ra. Bvincft.1 . Aí»r. O que logo poderes re**

cadar nam o deixes pera depois, yí^l, Masdcy-


xdohia pera dia dc fam ferejo. A»r. Efpanta, a-
panha, & defpachate. Bem te ouço. yt»'.
Se te enquerertm muyto fazeteagaftadiço ,
& dc

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, , O
'VILHALP ANDOS. 19

poucas palauras.A/M/.Tqdo mc lembrara. A»r. Aquel


lahcacafavaymuytocm horamaa. Ap»L Maafeja
pera ti. Jlnt. Q^uem anda ncftc mundo cm feuabi-

cm feu proprio rofto?dos Regedores faem as


to, nem
defordenanças, dos letrados as cautellas.afsi como das
boticas as peçonhas, & conto diíTcm^os bcliguinsfani
•osque roubam a cidade. De que fazem cm Roma os
officiaes tais quincas?quem fae de noíTa cafa ,
o velho
heem outro pofto efpcrareyoirmitãoa tornada que
ja fabc onde ha de acudir.
4 ' *

• ‘c, ,
• —

SCENA. VI.
.
... '
*

.
* *?*mj>oniõ fti. - -
,
K

ESTA tro cm
minha cafa toda anda trouada a molher deri
puridades, fora cm deuaçócs , não fcy que
ncgoccão todos, que aísi fc vcláodemim cm parecen-
do logomudãoapratica & todosfcaccnão. Quando
s

auiamos mifter mil olhos, & mil ouuidos pera nos va-
lermos de tanta gente então perdemoso Ycr,&ouuir.
Quando nos crao mais ncccíTarios os pès & as maos
entam nem os pes vos podem trazer, nem defender as
mãos:fobrc tudocrcccm osncgocios,& trabalhos, fale
cem os paíTaccm pos. Sohia a fer que ao erguer da ca-
ma pediade veftir,& pera ver,e coueríar,& agora tre
mo,& pareccmc que peço armas para fàyr a pelejar.
grande natureza como foftc up) bandeira ^por páitc
*p*r*aei

COMEDIA DOS
cfoscomeços das coufaSjCom os mininos todo munsíp
folga,te'.asfu3sfcmfaboTÍãs ) fclhescornão em graças.
Ao contrario com os velhos todos fe enfadam , to»
dos fc carregam,-aütcs,quc paflemos deita vidaja co»
meçamos dafombrar. Ás nnenhãas de fcu natural fant
graciofas^s tãrdçs trííles, & como difíe aquellc noffo
Romam as mais das gentes fazem íua oração para on*
de o Sol nace. O porque as vezes me falece paciência
afsi he ver bs mimnos em tão pouco tempo duas vezes
dcntcs,Sc a nosquenosdefemparem afsi pcrafcmpie
cm tempo de tanta neccísidadc ,
valnos aígfia experi-
com os dias por onde afsi paífo,
ência, que alcançamos
como andamos trilhamos lonje: Por ventura ferey cu
talojecom eíte meu bordam , que por iflo dizem,
qucíabco diabo muyio.

SCENA VIL
hAilvfifô6*.
J

f~À Verdade, & mais no teuofficiotè encomendo fo->

£\ bre todas as coufas ,ostafucs roubaram cm ou-


tra parte por pagarem íklmentc o que fizeram bom
fobre fu» pula ura ,& logo a ti torno,ja çarrou a porta,
não vejo nrnguetr yqfarci,c©m quem falarcicftc fegn
dotamãnbo,qaemcnáodcfcubraí Onde aebarey ei
agora hnm m ndo,& que ouuiífc, pera que pudefle dt
: fkbafiir com clle.Ó velho paruo dc Mikio,q
te nacçrã
IV*
osdea-
*-•

$- .*

Digitized-by Gopgle
VILHALPANDOS.
òsHentcs cm Florença, & agora tecaem cadadiãciif
Ron) a, tornares afsi de uouo aengatinhar.Guidci,qué
âo menos neftc mefier das molhcrcs pola longa expe
TÍencia,quc ja tinha dcfcubctto tudo.Vclho tolò outra
Vez, 6c rnoytas que hoje neftc dia cornas a cntsuolar o
tetí jogo de noiro.Cuidcr.htim cémpoque valia ed ci-
las mocidade, auifo,nobrefa 4 boas manhas,bóparcccE
l^ão tardou muito que mudei a opinião, 8c cri outros
dias,quc tudo efíjua eimdiligcncra azos, conucrfaçaõ,
terceiras as orelhas. Fui mais auantp affirmeimc,que o
fegredo eílaua cm dadiuas, & que tudo o mais
ho era
Vento, & nifto afícntcy.Entam tinha grande paíTu tem
po com cftcs requebrados, mortos de amores, aqui cai
rei, ali cairei fem hú fo real na bolfa, agora ja no cabo

da vida venho fora de mi co a noflfa Aurjclia, moçafer


mofa taòéftimadancfla corte, olhai quccfcolhco cm
toda cllaPdefquc rimos, & chocarrcatnos deilh» todas
minhas contas fem me temer de nad3,fcnao quando fu
pitamente finto na moçamudança de cores, & de pa-
lauras,pofio qucdifsimulaua atodofeu poder; Nifio
a velha deixonos !òs,clla cõtra mi toda demudada dif-
fe.Miluo a efireiteza do çempo não fofre mais, mas fc
algúaora ouucficdalgúa çoufa piedade, feja agora
de
mim.Moça coitada morta damores, cm poder de tao
cruel rr.ãy como fabes fem oufar de defeubrir nunca a
ninguém fenão agora a ti. E dizendo ífto as lagrimas
quccorrião em fio dos Fcusoíhos, como dehüa fonte,
C4 final*
t
* T -
COMEDIA DOS:
finaldlctitc morre damores por ham rafianas Efpsnof,
negro, cr efpo,narigam q k hum dcfles dias andou as
cutiladas diante da fua porca com outros tais, cm que
ferio,& foy ferido. Diz que nunca vio couíà um fer^
mofj,como andaua chcyo do feu íangue, âc doalheo.
O Se nhor Deos a mi que o conheço, mas aprouue lhe.
hi la & pon Jcms em rezam com os appetite* , era a-
,

quelia a fua hora encam concluyo afsi. £ pois agora a -

boa dita trouxe tal occafião, não (c jas tu foo o que me


faleças. Minha mãy não conhece eíle teu Vilhalpando

nem cíloutro tam pouco,ambos fam Efpanhoes,lcuc-


mente pode paflar hum p.lo outro. Vay a eftc meu,&
da m inha parte dalhe todas cif us contas.diíTelhe,que f«
ça muy to por fer eda noite o primeiro ao cntrar,do
mais deixe o cuydado a my.E fc alguns paflos tc forão
nc fte mundo bem pagos, cftes feram como rcfgatc de*
minha vida, que te ponho nas mãos: Masfe fores tam
cruel que te não venção meus rogos, & lagrimas, lem \

brctc aqucdcfatinosàsvczcsobrigãoas umanhasm*


goas. A ede ponto a mãy que tornaua j cila toda rifo*
«ha alim pou o roílo como dc fuor,entam meteome o
lenço no fcyo como gracejando cu tambem difsimu*
)cy. Eftc he olençoindacomos finais das lagrimas,,
mas que vem nclle atado? o que galante andmilhor
mnytoquc aslagrimasjOmaluadapera me mais obri
gar.Parcceuos fc o diabo cm cujo íeruiço ando me ar
|&a boas armgdilhas.Sç cumpro com o meu capitão, lo
"7 ’

V s®

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VILHALPANDOS, n
> o aeuciíadiço he com igo,íc coft? cllc qUe farei a et-
>ucroque hey afsi de fazer, fe nam guardar mui bem
anel, a ellcs enuialos la cfta noite ambos fua ventura

cs valha dosnegoceostam empefíadosnam fc pode


)mcm defenuolucf limpamente, íc bons caldos me**
?m,que tais os bebam. Às molheres tudo íc lhcíofre

nos nada, ca vejo viro meu Vilhalpaidogargantcati


todo requebrado, prcftcsalcm.

SCENA. VIII.

Vilhálpànclt.
i
M ilat]

lh. AElhos compadre a clho$,que tlhosxabonè*


XXros fone. Xlil.U cuida que oslcua todos de
cncida. TJilb. ^ue nunca vi xaboneros vender tambe
i rabonc. Mil Querolhe falar, & maisaindafobre
.

ido tal melodia degarganta.l^i/kO Miluoondccí*


ma cu, que te não via.-W.Em outra parte.fí/^.Dizcs
erdade. Pois ainda cftc ençarramento dura? Mil• f u
uebrarcy todos eftes encantamentos, masque xabo*
eros eram aquclles. Vilb. Abjah/ouuilWvay homem*
si as vezes cuydando cm al Mil Eu te olho com tais
.

lhos,que não fazes, nem dizcscoüfa fem fundamento


!b. Bem me com aftc o pulfo hia cuidando neftes vof*
ispcrfuraados, q ricas aljubas vcfíião. Mil* Que tacs
;ndas comem .Vi/kNos outros com arca bufes as cof.
>s,aqui ficamos des pul^lli os vinte mil, de Roma íe-

Ps P«
.COMED/A DOS
pfc cm feus prazeres. Deixa que íeu diá lhe vífàcodiò
a Teus vezinhos. M */, He hum couto do mundo. Vtlh•
/Nos o dcuaíTarcmos cedo.-fcm tanto cfcrcue ca efere-
uela,curforcsvão,curfores vem com fuas varinhas na
mam demais virtudc,queasqucchan>ãodc condão.
Mil. He bÚ3 cidade de paz.JhlLTanco milhor achalac
mos cheu como colmea,& creflalaemos. Mtl. Milhor
ofaràDcos? Vtlh. E viíitarcmos Roma a noua,& Ro-

ma a velha, outra boa géce,ondc náo vedes mais de ro-


mãos,que o nome, de a foberba da barba alçada, deyxa
que nos lha abaixaremos. Mi/.nãocurcmosora do por
vir, falemos do prefent e-Vilh. AcraueíFoufe afsi cftou-
t(n pratica, que mc leuantou a eolera, mas
q tens feito.
Mil Tudo çlta por ti. V/7/;. Não podia menos fe r,fcg fi-
-

do o cj nclla ontem vi-Mil. Como lhe dei os finais não


onwe mais que faz zr.Viih. Parece que lhe nãoclquecc-
ráo? %'íil.li e do penacho, era branco. Vüh. Logo vo-
q
fos olhos dizem o que tendes nasmolheres.^/7 Drzq
nunca vio homem aque cambem cftiiieflca cfpada.na
c\nu.Viil).Quç diria fe ma viíTc na mão, ôc que diíTcrã

da eíp^rçaívW/i.Eíía acabou de fazer ocampo franco.


Vtlh. Que certo atalho he o bom auifo cm todas a&cou

fas.M//. Mais ce r to foy o dascutiladas do ou tro .Utlh.


Que dizião? Mil. Gabauão aquella entrada tam alto-
Hercules,quc Ia fcrpienta,&c. Vtlh. Não hacouía que
mais obrigue que os exemplos : que apontou mais.
Mil.MW primores.r//^.Eporcm nomeada mentc.M/7.
Aquclle

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VILH ALPANDOS. 22
qucllc paíío diuino Amor transforníolo cm oro,co-
0 agora a mim por vos ,Vilb Logo te y
ficou na cabc-

. Mil. Pera cy eu de negara verdade, fcy a de


que tc

r. Vilk.QJue Xaque tcparcccocíTe em defcubcrtoao

imede Aurclia. MiU Com que gaohafte a dama.


h. Ah, ah, ah, pois que lhe guardamos mais nam fa-
sque as molhcres íam viandas de fartam , íopar, &
mer. Mil. Façamos primeiro noíías couíasareca-
',tuesapctitofo,& liberal.avclha falfi^& cobiçoía.
h. Eucurarey tudo como for em cafa. M Deixa-
//.

c por agora capitanear. Vilh. Q^uc entendes fazer,


il. Hum contrato defaforado porque viuamos, eu
rey*qucÍU velha verasefirellasnomcyo dia. Vilh .
>go afst no começo. M/7. DcyxacíTas culpas a my,
mcdeclafcy com cita. Que minino Miluo , ao
mpo, ao dar do dinheyro hc nofio, ajudemonos
He. Vilh. Parece outra mercadoria > Mil. EíU
a maisduuidoía cm Roma , poriíío faze , que
m entendes, quccuvigmrey, vou fazer meu con-
ito.Vilh. Vay , 5c torna com tempo. Mil. Logo fao
migo. Agora mc cumpre, ainda mais eftc contra*
,
que nunquapor me íaluar dc foípeitas ; voume
\ bufcadodascutibdas ,
que nam he pera brincar
mo infiamento , & determinaram daquclla dotw

Afsi comcçarcy dç andar dc Vilhalpando cjq
ibãlpando» }
• í

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COMEDIA DOS*

# (TO. IIIL SCENA. I.

Fâhidmfot.
\ 7*1 Hypoly tã, que hcaquillo, que eu vejo nos
tilas
1
V fcusolhos,ccrcoiíToquecllche não o ve outrem
íenão ciij6c afsi eu fò fam o que viuiria dc fua vifta feni

outro mantimento nenhum. Todos fabemos, q as ef-


meraldasfaS dc grande preço, roas poucos alcançam
fuasdcíercnças. Eftas eftatuasantiguas, quanto que as
prezãoaqui ,& cm toda As outras gentes nam
Italia.

querem fomente olhar podemos jul-


pera cllas,dondc
gar que outra vifta ha mais cerca cm no? qados olhos.
Çucm acaba dc ver aqticlla diuindade quchc Hypoli-
ta? quem o feu fpiritu cm quanto cila diz, 6c faz?qucm
manfídam dc muyto mayor força que todas as
a fua
armasdo mundo.^quem o feu calar, tão chco dc enten
dimcnt®?Finalmcncc aquillo,q cu não fey dizer, quem
he o que vè?5c mais cm terra dc viftas tam occupadas:
certo quanto a íny mais me faz crer Hypolicaque fe-
nhorcou efta fua terra o mundo todo, que não o
q lo ,

mo s delia, nem o que vemos deíTesfeus theatros,Ther


mas, arcos Triunfais. O que tambem me faz ma-is cf-
pantar dcíles manccbosRorr.ãos lançados afsi todos os
amores, das cortefaãs que cm fim fam molheres pubÜ
cas deixando as fuas naturaes Cam fermofas, 6c oricftas
comojkfprczadas.O torpeza^ defeaimento daquel-
t . lc

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.
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T •

VILHALPANDOS. 2$
fanguc Romam,que cam caras comprou as fuas Sa*
ias, MdSVcjo Antonioco afadigado anda, como não
:

dara/c btifca couía cão fogida,como hc 0 dinheiro.


,;
;'V ... :
-SC£NA. I
’ '
t » * . ir • •
- _ -• V. ’
. *

Jntomett. Fabián»,
nr. 1 A las qúe os homens nam podem ir ã-
ha hi,

uance com coufasque comecem. F*b. Ef-


s fam os mais neftc tempo. A nt. Ifk> chamam nadar

nadar, & morrer a beira. Fab. Que cm cais bancos


: frandcsnaucgas.Awr. TeCcfarião,que bufeo pera
ie dar noiias,nãoo poíTo achar. Fab. Iazera naquelfa
ifa. Awr.OFabiano fabermeas dizer deOfariãorFa^.
>jcovi,& deuede eítar,onde ce diíTc*. A»r. Ia hede Jà
egradado,& não fei ainda fe pera todo fempre. Fab,
ifsi 0 fizefle Dcos.quc he hua grande quebra, & ver-

onhafba, andar como anda. Ant.\ Com Cantador de


:upay,& dc fua way.Fab. E dos feus amigos. ^Àm
Tendo 0 feu pay caiado também por tantas vias. Fab. >

imque parte knt. Elle to dirà feto ainda nam diíTe.


''ab Segredo hc que todo mundo fa bera cedo fcafsi
,

le.Aw.Namhe ainda coufa muito certa. Fab y Ah\ dti-


lidofa ma lias de dizer. Aflf.Leyxame que vou deprefc

a.M.Nam leixarci con farra, & iras mais leuc. A nr.


ílphc força chamarei aqui dei Rey. Fab. EÍB longe
]ãoccoui»ra.A»r. Afèque mc não dcfcubrasf Como
fc

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COMEDIA DOS
fe fizeres hua coua na terra a que o diíTefes, Awr.Nem*
eífas não mantem fcgrcdo,olha qu e me fio d« ú,Féb% \

DiíTc feguramente. A»f.Com híía fi lha dcfíc noflTo vi.

zinho. Fal.Qui\ vizinho. A»r.Mario,q dcues de conhg


çcr.F.iLpom Hipojita. Aar.Não tem mais de hua, <Sc
afsi cui<$>,quc fc chama. Deixame pafíar. Encoíloufc

Fubiano, & fica como pafmado.F.*^. Antonioco nam


parece? cairaome as mãos,foiíime a vifta dos olhos, cu
tre canto elle partio,&deixoume morto, coroo dizem
dos boa,& San&a airifade, tam mà dei
parcos. Ah, fcc
fcebar nsfie mundo, todo fallo, todo chco de enganos,
& maldades. Os fègredos da minha alma Ccfarião os
fabia todos.os feús íabcoscoJo mundo, fenao cu ellc, i

que moscncobrio naófoy icm caula.PodcrácaKofrcr


os trifies dos meus olhos 6c ainda daqui fuja poderá ‘

,
q
o trifte do meu coração fofrer tal.Ondc quer que cllc
va eflà fo,he a dor que o pode matar, & cila mc maca»
rà.Ahtrifte de mi, que nem aqucllcsmcusamortscaro
limpos poderão fer fero ftl,& fem lagrimas onde as :

yrey cobrir que mcafsi defeobrem.

SCENA. III.

*Pmp6niâ [o o]
farei, onde me acoutarei? aos amigos? donde
V^jis acharei eu?as caías doraçáo?& abi,quc a rouy
Fa hypourcfia?a íuinha^ & ell«t hc tod? poíU cm poder
dc

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VILHALPANDOS; 54
fhcusinimígos.Eftcscráo osc 6 celhos,& puridades
auiao dc vir parar as deuaçoes de minha trolhcr
os irmitãesdo ermo me íaqucáo a cafaífc forão foi
Josaqucltc heofeu offició,mas irmítácsídc híidcf-
çobarbudo,todocubercodefcu capc|o,qué fcauiâ
tcmeríDefpoisculpaoosvelhos dc fofpcitofos
q ,

emos a caca maldade como cada dia Vemo?,3Ccrtcy


veroje aque lie encapotado ao fahirde minha c.ifa,

>0 diííe entre tni.Ná abaftaua a cfte dk noue beguí


irmitão.Náo merepoufou o cora*
Sífcnão ainda cal
Dmaí$:voumeaposclle,q táo pouco não era tnnyto
fcnuohodos pès,a paixão mc deu também boa aju-*
.Finaímentc entrou cm hík tenda de hum Ouriues
comcçauaa tratar do preço de híí firmai de minha
aiber^que eu conheci de hík legoa. Nam tiue mais
zienckjançorne cambe dentro, & empolguei fogo
irmal, bradando por juftiça, magoado faõ,porq mc
gio 0 kdrã,q a prefa nas vnhas me ficoUjCaimos tm
s na cerra não pude mais Fazer* O ouriues diz q nun
tal irmitão vio/aluo aquella ora. Eu cambem feme
ra mais deuagar crcfmalharamc ofirmahantão ciui
demandai, antes não quero faber tanto do negocio*.
>rcm Fe eu não erroem minhaSconcas.Anconiocohe
o trugimão:mas por agora quero difsimuÍar }
& co
ir folcgo,que venho morto* •

SCENA, tllL
Trtfi mece. AntoniectS

1
.COMEDIA DOS.
ZVf.ü Alando vay o velho configo,Cefariaoníi6pã,.
•1- rccc.noíía ama reza, querome lograr do dia,
A nt. Pera qua me diíTcraõ y
que vinha hum perdido
quem o acharajveyo Tri fo que
fae de caía.TW. Hircy

ver a juíliça que pompofamente, dizem que


íc oje Faz
vay cm hõa carreta rodeada de fuas vidtorias pintadas
Vcyo Antonioto,o diabo o agora tras. A«/.Trcfo, ha
Trcfo,nãoouucs?7V/.A palauras loucas, orcjhas mou-
cas. A nr. Faz que não ouue/aber meas dar nouas.* Tn,
De quem filho de dousróins, sint* Deumas masforã
de meu pay,& de minha mãy. Torna ca.7Ví. Teu auò
marmelo corto.Tenhoal que Ezer. ^énr. E de meus
anos earií. em ainda fe efia rindo. 7rf.‘Nam rio,mas ar
rcganhomc.Aflr. Como hum cão,quecs.7Ve. Masca-
mo a cam que es. A»r.r?uc dizesroimí/Vr. ^uc falo co
outro. Awf.Por cfla de hum rapas^lhnjque a bcjo.7»v#
Naò por muito bem, que lhe ora quciras.A*r.Porcf.
Ca que me aqui Deos pos.7Yf. Por eíía em que vos ou-
tros o pufeíles. A nt, ÀH de hum porco 7're.Pat iffo a*,
borreço tanto A*r.Mà carne, 7Vr. Portanto hora me
chamasT rcfo,ora porco. A nr :Vi fie Ccfariáo.TVr.Mui
tas vezes. Aor.Subes onde o acharei, Tre. Por efie direi
to. A nr. Eftàamoftrando cornos. Por onde vay cam
perro, /«.Cam inho da praça Iudca:vcmfe chegando.
Awr.Efpera maa coufa.7Vr.Nam he tanpo.A«r.Vtj*»
mos, quera corre mais, 7rr. gueni mor medo ouuçr.

.
- Sccna,

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VLLH ALPAKDOS. 25
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SCENA. V.
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Vilhálpdnâe. h\i!ua.

^i/k/^vRa v cjan}°scí!e contrato em que tanto tc co


V-/ fía?. Mtl. Temos negocio com o ir cioso dh-
bojmasdcixame^uceu te afegurarci daquclla velha.
Vtlb. Creme que náo ha de brincar comigo. Mi/. Hora

prouaõ forças, ora manhas:às forcas acudiras turas ma-


nhas cu.P1/0.NciU vofla Roma tudo he papel, ôc tinta.
Mi/.Encm aísi pode homem fair deduuidas.L/'j//;. Afc
fi acontece onde ha pouca verdade. M //. Efcuyca, Sc
Ieo fomente as forcas, tal dia dc tal mes, C. tal anno.
Vtlb. Entendo . M O capitaõ vilhalpando.
*/. Vtlb. O Sc»
nhortt ficou notinteiro.^íi/.Ofenhor capita òvilhal
pando dc húa parte ;
& Guifcarda da outra,fizeraÕ,có»
certaraójCOntrataraõ defaforadamente. P;/^.Efpcra,q
menaó parece coufa conucnicntc contratar eu com
Guifcarda.Mi/.Diremos logo afsi,& doutra parte Mil
uo,polo fenhor Capitaó.&/i//?.Naó ves quanto milhor .

cita afsi.Mi/.Como de branco a prcto.Digo mais,quc


cllcdito fenhor capitaójdeflc a dita Guilcarda trinta
efeudos dc ouro do fol.fiúb. Dos q nefle anno lhe rede
raò os Franccfcs.v&í//. Porei ou nao.ff/.Efiou gracejaa
do contigOjVai adiante Jií;/.Dosquccstrinta efeudos
afsiroa declarados, a dita Guifcarda logo hi confiíTou,
que tinha recebidos dez por maõ do dito Miluo feitor
D \ de llç

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COMEDIA DOS’
nome de feicor frd
dcllc dito fcnhor Capitão.f//^, Efle
muyco mercantil. Jfáif. Par mão dodicoMiluo feu pro
curador. Vilb. Pedirechao logo conta da procuraçam. .

Jtti/.Por mão do dito Miluo, doqualclfe dito fcnhor


Capitão fe quis feruir neftecafo.À ver fe acabaremos
'
Vilh. Afsi cftà mais corcefim. Mi/, os outros vinte lhe
darà, entregará, pagarà.Vi/lrEmenda lhe mandara dar
pagar ,& entregar. M; .Ia cnmendcy. Vilk, Adiante.
M//. A cada quinze dias feguintes outros dez efeudos^
Viih. Dize hi mais por lhe fazer graça, & mercê. M iL
For lhe o Capitam fazer graça, & mercê.
dito fenhor
Frofigue.Mrl.Iíto durante o tempo do feu coflCratò,.
como fe declarará. l/Wfc.Efiàben^dizé mais.Mr/.E Io
goaíii mcfmo da outra parte a dita Guiícarda cm for
Romc v<3cde Aurclia fua filha JUilbJNlo guardas o de-
coro. M:L Co mo? Vüb~Kzm ves tu que he ella minha
Setthora.Md.Sio no caborem feu nome, &da íenhora,,
a fenhora Aurclia Bolhoncfi ftw fílha.L^.EÍlàcomo»
dcuc,dtzc mai$.M*/.Promereo,cõcertou,& declarou*
quedos primeirosdous mefes feguintes contando tritr
ta dias por cada fnes,todasas terças feiras, & asquintas
4c cada fomana,elIas lhe dcfpejem a cafa.Vi/ka minha;
ou a íua?M//.Bcm apontas, que Ião auesde rapina, tnif
tcrhadcelaradojque cilas lhe defpcjcm ascafas em quc^
era viuem dc coda viua pcíToa,fi/kNão digas tão po«
çoaísi, que cu nãohefmiftcras paredes. M/fOndedc»
mdc toda viiia peífoa. ponho dc toda pcíToa dc fora#
„ .
^ , Vdh,s

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,

VILHALPANDOS. 26
Vilh.Wh ves* quanto releua büa fo palaura.M//. As ve
Zcs,maisc|pquc arazao quer, por iílo naó lhe ajamos
dò dellas.fjfií.Dizc mais.M//.De forte, modo, forma,
ic maneira.F//.. lure, via, & caufa.M/Y.Aque prcpofíco
Fi//?.Tudo acham que aproueita.M^muyco embora,
jure,via,& caufa,que fendo o dia feguinte tcrçafeyra,'
:omo ferà dc menhãa , logo a noite doje faça por elle
iitofenhor capitam cò leu dia,& outro canto asquin-
:as feiras dc cada fomana? durante 0 termo dos dous

nefes, como dito he. Vilh. Como o cuydaílc agudas


n ente, cm obrigaresprimeiroas noites? dormiremos
is mcnhãas.M;/. Eíles fam os meus pontos, que fc fo*

a pera caúar,& roçar primeiro mc rcra os dias. Vilh .

Ui, ah, ah, como es fdgado,vay adiante. M/7 E aca*«


>adas as ditas noy tes 0 fobredico Senhor Capitaõ lhes
ornaia a dcfpc j^r fua ca Ca. Vilh. Declara por fua cor-
Jia. M ii- Por fua própria, Sc liurc vontade, & pura
ortefij» Vilh. homem poem nocami-
Dcpoisquc.ee
ho muyto bem aílentas tu Jo. M/7. Nos primores dc
onra non fom tam vfado,no mais dcfcança.V;/^. V^y
or teu contrato adiante. M/Y. Nos quais dias afsi o-
rigados das portas anam auerà nenhum nc-
dentro
ocio: Vilh. Praticamente. M/7. Puridade, nem ace-
os, nem outro rriíbrio algum. Vilh. Muyto bem.
1/7, Remoques.;, ntm palaiíras com dons enten-
:res. Vilh . Nem dinuações. M Bem lembras
uc aprazem amd$ sjuyto a certa gente ,
ram
d* '
m
M D
*•
j

COMEDIA DOS.
* >
aja ciume$,nem jchaqucs.iV. Os ciumcs to Ja vía nHm
fcefcufaó nos amores. JMj/.Refaluando fcm^rc os ciu-
mesa que femm pode porjey. Vilb. Galan temente
proílgue.M /.N ra cera a dita íenhora Aurelia aqudl
l;s dias amigo,aiflda que fc ja de boa amizade, nem p*

rentc,ainda que ícji Irmaó.Ví/kBem te feguraíle dos


primos. Mil. Seraóafsi mcftfco os fobreditos dias for-
j os, li urcs,& izentos de todo jejum, voto, romaria, &
dc todadeuaçió.F//. Muito bem, prometam do feu fc
quiferem. JMtl. Por iíTo não v:s que dias te cfcolhi,quc
cm hum dellcs caia fempreo entrudo ,
& no outro a
quinta feira das comadres. Vil, Fcílascorporacsque,
fefazem guardar por íim.M</.Não fufpirc,nem ande
cuidadofa,nam lhe venha dor de coração. Vilb. Nera *

deolhadô,quehemuytodcfcrmo(as. M ih Nem lhe


viram cartas de fua terra. Vilb. Como dizes bem, que
trefándam toda huma pefToa,& nunqua a deixam co-
mo a tomarão dantes. Mil. Hcmuy to grande verda-
de, não faibam ditos, nera motes. Vilb . Tem hi ponto,
ucm contos dc feus monfeores.Mi/. Ah, ah, ah, Vilb.Dc
que cc ris. í/. eixam c primeiro matar de rifo , hora
ves aqui porque me rU.ÍV.Hc verdade que afsi tinhas
afTcntado. J&f*/.Polasmcfmas palauras. W.Hora dize
mais. M//.Não lauc aquclla noite a cabeça né ande de ,

ro Jilhado.L///. As moças fermoías faó afsi m ais frefeas


tua cfcolha hcjcu queria ar^dar inconucnicn
tcs.
'
Vilb. Em fira.dizcs Ycrdade.feja tudo obra cháa*
lAil.

.
-
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VILHALPAKDOS, 27
M» Adiara tangerà^nem cantara taro alco,quc poftafcii
íiaal aos de fora.Fí/tf.Çuantas vezes me ja iflb aconcc-
eco com as amigas afheas?Mih Aquellcs dias tudo fc js
moíica de Qamct&.VtlIa Delicado ponto. ^t/ANão aja?
.

mininò em caiã,queclla tome nos brados, & beije a j#


oella de bejosclmpados, Vub Qjic as vezes fcouucn*
.

no cabo de toda a rua..>£/l.0s conuidados, & amigos


eleile dico fenhorCapitão tratados ha a dita Senhora
igualmencc.F;/^Si,qijf faro muyto de bandos a mais q
afsi feja a mefa larga,& ajafemprQ
os Catcllães.Mi/.E
muytascandeas, não fiquemos todos as efeuras. VilK
Bem ce acautelviftc dos pès ao claro, & das mãos ao ef-
curo. M/A Por fc homem acautclUe nam perde nada,
digo mais.Não cnítnepjór aquellcs dias 0 feu piípaga*.
yo a dizer meus oJboSj minha alma, minha vida, beijais
meXi/^Maufrae daroorcs..^/ANam cpníjnta que Co ;

lheeiftgue ninguém, a. ver as idas joyas gabe nlhas dc


longe, 0 qacqyifsrqm. comprar buíqucmno nasten-t
dasJji^.FaUs.eomo huSetieca. M/A. Afsi mais durante
0 tempo nãormudaià nonje nemeafa. Vtlb. Dizcrome
que muito o cuílumão. cilas voflas cor tefãs. M/APor le
uaré muitas nouidad,es:ora faó Aurclias, ora Fauílinas
ora.Dianas,falkcc algúa coufaíAyi/^.Tudo eílà de mão
de mcjlre. MtL E por aqui ouuerão feu contrato por
acabado prom.etenjdo.de auer todo por rato graro^fir-
roe,áí valioTo renunciando Iuiz, Ôcíuizes dc feu foro.
M.Nãocuideiquc ecas úo pratico. MiLE rogarão,
Ds '

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' : COMEDIA DOS
mi fobreditoMiluo.L^/.Iflb hc muito deftcs notários
que dizem fcmprc no fim, rogado, ôcrequcrido-
JkliL Eafsi mandarão ao dito cubftto de Mi!uo,qo efi*
crcucíTc.yi/.Parece q te anojjfte*^»/. Enteste digo cj
topafic com huro liomé muito pontofo.t/'*/. Nã pode
citar milhar, vai, &âf$ina..&íi7.
q enfadonho poncofo,
o acutihdiço não ha tambem de querer perder ponto
dc dt ligencia La fcaiienbáo,a noite hc como dize capa
dorfáos,cubrãoíç cô clU.-Ah com quanta fadiga ganha
,*
pios eíta inferno., . ,•


scena yjr.

CefdrUml isintonur»,
'^ff.Afsi mc cocasíAwr. Aísi dcitouàpçrdrraquelIcbf
lhar dão tantos trabalhos, & cfpcrãças, Cf/.E a minha vi
da tambem deu volta. A^r.^ue faremos afortuna,quã
doelia nãquer?por oje cfcufadohc roais ncgoci6,virà
amctfhãa,cntãopera todos amanhece. velho
cepoeomo hc meu pai, olha nã nos engane cíTc irmitã
tãbcmanos Awr.Náoquercs^meficdos meus olhos
Cef.Com hú vilão robufio.Awr.afii feadefereçafobrç
© íc capelo, ou lho huarà.ou nao.C ef, Que viítada ba
ii

talha 7 Afl/.Dc hüa parte ir fegindo o irmitã defgrena


do,abarba no ar,obhtcr dos tabulciros,c apupada apos
todo çtijo da teda, bradando
clÍc,da outra par te,teu pai
por juftiÇa.G'/ Quantos hi ririã do meu mal tamanho
Aflr.Te Antonioco fg pã podia cçr.O^. O q fomosdcf

cuber»
W* »*H>«

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f
VILHALPANDOS; 28
1

:ubertos,q faremos. Aní.Sc o proprio ladraô efeapou,


5ãoefcjp3remosnos,&: rruisdãdo fiador,nào nos vale
•àem cafa,o qual vai polas audiências. f. E de Guifc* O
:arda qué me liurara. A nt. Por eíla noite ercomédatc
iquellederrade iro remedio da paciência. Ct Onde
ttffarei tamanha noite. A nt. Em tua cafa.a mi q a nam
:enho,dcixamc paíTear por elhs ruas.C /,Paflea,q ami
ífciííamentc mc pode ji trazer as pernas. A*r.Todauia
'çco!hece,nao faça al,eu vigiarei ,
Ôc apanharei nouasi
y aife, quero cípiar o que faz.
SChNA. V/í.
. ít . . ,
-

0 ftgunlo VillulpjnJo [
E mc cila ventura fac como cfpero,quc heojc mais
S béiuenturado q eu? De hui parte cílão cm Roma,
onde homénãofube de quefe fie.Tenho imigos o ne-
gocio he de noice,c eide ir lò. Doutra parte, Miluo por
ü)
me enganar iVq lhe fu^dame linais certos, do diadas

cutiladas, em q me oiiucrãoali dc matar, Muito bémc


lembra q a vi a jjncllai&agora entendo que a fuaviíla
mc faluou.Oo hai cegueiras dcflc müdo,ondc os meus
imigoscuiduráodc mc
mc derâ avidu.In Em
matar, hi
baralhados fao os dados,cayão como quifererr » ngofa
hc muito maistépode lhe aprazer o meu esforço, ppr
tí?o ames quis perder por cedo,q por tarde. Andaiey
por aqui aguardando o eícuroj viíla deu a janclla,nâo
fey que ciUFc, j agora muyto ha de laber qué n,e tomar
i porta. *
D4 Sccna
COMEDIA DOS.
SCENA. VIII.
Anrtnietojotti Vtlkdlp4ndot*TortjuemdclA pajt.ÇtíifcdrJ.

Ant./ ^ Vi dei, que fcmc fofleCefariãohflçar no rio


V^«3c clle pera là fez húa ponta, mas finalmcote

tomou meu concelho, & acolheofc a cafa,cu por agora


não quero entrar có o velho cm campo çarrado, antes
qro ca andar por fora as minhas aueturas.Fi^.ij.Dctri-
.naino de acometer aporta afoutamente, que fempre va
leo muito afegurança docoração,& daspalatrras.Ta,
ta,ta,ja ve, cuidado auia cm cafa. A»r.Entrada he a for-
talezafem muita bataria, mais bateo Cefariaoa noite
paírada.tyi/kjVScmprc o diabo a taistépos tras emba-
raços, de q me não pude defenuoluer mais ccdo, mas o
contrato ma fegura.A»r. Outro vem,& lcuaa mrfma
viajcm:mas antes parou, queroo cfprcitar. Vilb.j. Pajc
bate aeífa porra. Parccc me,
q taidc
/'rf.Ta, ta, ta, A»/’.

piache.tó-J Bate bem às dòda porta? A».Não ey fenã


da minha mão.^iikj. Toma húa pedra, q à miaha por-
ta bates. fti.Tras, tras, tras Ant. Ao capitão mintirálhe
quanto ve jo. Vi/kj.Efpera que ouço fallar
as cípias,à
dentro. ^.E rir tambem, mande Deos não feja de nos
tyj!kj.£fcuitarapasquc tanto EWciwí/.Quem que-
bra eíTa portaíFrí^. j. £ucm ja tem quebrado os olhos
olhando fe aparecia alguém. Cuif. ^uemhc ogallante
dos olhos qutbrados.L^i/k j. O maior feruidor. Cjvif.

gjiiem. Vjib )
Q q dc vencido ycRceo, Té,. Como hc
paruq
VILHALPANOOS. 29
ípifooeftcractumo. Ç«f/.Cada*ioire aucmosdc «r
qucbradores de porcas Vdh). Aberta me ouuera cila
de cíUr por obrigaç-ió,mas pareccmc q nefta terra, ne
contratos deiaforados valem. Atfí-Bem começa anoi-
-teCuifiO Roma que patranhas faó as tuas. ^«.Eíla hc
bua das b0as.fi/l7. j. que contrataíle oje cõ Miluo,:C#i/I
O que com Mil uo contratei cuocompri.V;7 j.Nam J?

certo ainda tegora. Çuif A be vira eíle negocio Vilkj.


Kãofct roascllc malcomeça.C»i/.Porcujaculpa.f//.j
Da porta q ainda eflà fechada. £0//. Abrioíe,a quem fc

auia de abrir. Vilh j. Ora que eide fallar da rua


pois ja

naó fcauia cila dc abrir ao Capitaõ Vilhaipando por*


feu contratotyai/.He muita verdade. J V.j.Poiscom©
o tendes afsidc fora cm tantas praticas G»;|.Ai minha
may,que quer diífer iífo,& tu quem csrfy/.j.O mcfmo
quefe núca negou,ncm negara. G«z/ O graça dasgra-
ças.Fiiha Aurelia temos a porta outro Capitam Vdhai
pando, ‘fti.Eítc fò baftaua pera enfadar o.mundo,quin
to mais dous.fz/.ij.quc zombarias faó cilas, ou q borra
chirhtfUiLy As zóbarins,& bor racharias faóas dcíía
cafa,quc de fora naófc fala lenaómuyta verdade. fV.ij
que tu cs o Capicaò Vilhaipando. Vtlk. j. E tu ncgalo.
Vtlk ij. Suluo fc tu es cu. Vilh. j. Tu^è quem cs , que
tufou o capitaõ Vilhaipando , conhecidonaguerra
dos grandes, & dos pequenos Vil.ij. Na guerra bé nos
auiremosípor igora quem cc fez hi ver. UiL j. Miluo
por cujo pacq contratei, yi/.ij. que graça tamanha fc-
COMEDIA DOS
lia fc Iti ubcm ouucííc dous Miluos.Vi/.j.Eu dígoo q
lciiou â efparfa. V/Z.ij.E cu o da cfpaifa digo. Vi/*j.O q
leuou os cfcudos V//.ij.E eu o dos cfcudos digo fcaaò

q crã todos do foi. V//. j.O do cócrato dcfaforado. V//.y


Por virtude do qual cfta cafa he dc agora minha cõ fu-
T
as 2 4 oras.TUj.Miluo fíorsntim muito maocabraó.
,

W.y. Eífc mefrno.^rf. Sc quererá eílc tabem fermeti


atno.W.j.qucgécc Capicaneaílcjq defafios fizefleíeni
que feitos darnus tachafb. ViLtj. Não faó contas pera
aqui,pidamasé outra parte. V7/.j. Como diz cffa tua cf
paria? Vz/.y.HerculcSjq la ícrpieota,&c.Vi/.y.E fuafi-

2 eíle?V// y. Não toda, por te dizer averdade, o começo


jYhc vclho,o cabo lhe coxeri cu como a gauiã. Vil.j.os
t feudos qúatos foraó.V//.y.Nomais de dez en começai . \

,dc pâga.^qro dizer ameu am.o,q acudamos á cafa an


resq lá vâ eftoucro apanhar ru lo V;/./ A Romarà Mil
uo:á molheres: W.j/.Masporq não f.1 »s tu na cniprcla

qafenhora Aordia mãdoua cífcopitão Vdhalpando


feu icruidor.Ví/.y.Por que Vil.ij. Polo mefrro Miluò.
Vr/./
q cmprefa.V//.y.
Hü lençocom qprimeiro alim
pou o feu fermoío rollo. 'V*. Calou nollo amOjOarecc-
róeqcom outro auemos ele viuer todos, W./. Mas feja
afsijparcamoslogoeíla dif irençaa cfpada,pcru qhade
aucr tantos Vilhalpnndos?Vi/.y. Como, ás medo q nos
fuja o tempo, deixa vir q dh.V//./.Naó,mas ei medo
q
me fujas tã.V/l.y.Entaòq queres mais, q ficares por hú _

fo Vilüíilpando.V/4/.Agorame rtlçuaua.W.y.Pora-
“ '

.
gora*

. _
.

VILHALPANDOS. jò
gorã queromc afsicfiar em minha poíTe, depois que
me algííacoufaquifcr, rcqucipme hú por híi,& como
dcuc.V/7./. Ah Romamfcofalfo,& licigiofo.ViAy.Vay
pafFcar, q afenhora Aurelia me té prelo, & naó me dei
x \ la fair.V/i./.Oracapitã Vilhalpando nouamencedef
cuberto,eíLs bé agafalhado por efta noite, e eu mal, de
meDhãa eu paffarei por S. Agoítinho ce as dez oras cõ
bum penacho bráco,qucro cu ver que hç ovilhalpado
cjpor hi parece có outro ul final, pera q uos conhece-
mos. Vr/.^.Logo qrcs.q tenha eu penacho brãco •V/íj.
T escne o creu nome,télmc a amiga, tés a minha cfparfa
& o meucócrato, & fo penacho brãco Ce Falece? Vtl ij,

ora vai
q oá falecera. ?«*. Fechou a janclarquiferame pri
meiro declarar có cllc,& tótigo.vr/./'. E de q. *?a.Com
quale.idc ficar. V;/.;. ,qucres
q te esbarre àqlla parede,
onde acharei Miluo, & entre cãto òdc acharei paciécia
T^.quádo ce não abre a tua porta, corr o te abrira as a-
lhcas.V;7.j.Nã te queres çaljr?rccolbamonos.?a. Reco
lharoos,^ enfim lepre ouui dizer, qmilhor era o meu
qo noíío. V;7. j jdeu, cabra, fala as portas fechadas, eu
I
q
o acollc rc i. .Da o o de m o,g rá des fin a is da ua \il.
j q íi .

naisjosq lhe diíTe Miluo. fa. E Aurelia


q era perdida
por ti, dizia?ouuia,e cahua.vi/.j.demcnhãfairemos cf
q
tOslaseft isduuidas/Prf.mas fépre ouui dizer,
q é Ronia
né de fi mcfmo fe à Home de fiar,e agora o vi cíaramc
te.vii j.Porq me fiei de Miluo. Tj. Na digo
fenãode
ti naçiino ao pcc da letra que quando fofic, ja te la a-
,

*'
,
chaftc

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COMEDIA DOS
chaftc.W/.j Tu queres pagar por todos*y/#r.O gr
o fabrofo acontecimento, o Cefarião q afsi empregai
bem teus fufpiros;;& as tuas lagrimas. Qué te me aqui
dera, tu queres morrer damores por Aurelia, & os Ví
lbalpados apares. Ia me he ncccflariocfpcrar a menhá.
andando por cftas rius.

^CTO, V: SCENA. L

Miíuofte.

N Aõ pude cfperar o dia na camarerte coraçá como


te
te deixa
toma em algúa culpa não te deixa eomer, não
dormir.E que durmas os fonhos não te deixã.
Toda eftanoyce andey as coitas com os meus Vilhalpl
dos,eIIes me deitaram da canuj& de cafa a tais horas,
queainda bem nam amanhece. Se bom anel cenho ca-
to me curta, Ôc cuydam os que cauaro, & roçiro que
clles fo comem o pam com íuor de fe.u rorto,& Mduo

tamberaríenam quanto aqticllcs defeanfam anoyce,&


os di^s íantos, outros ha hi,quc nam. Afsique venho co
mo digo a defeubrir terra,& defejo muito faberyqual
dos aucnturcirosouue efta noycc milhor vcntura;mas
a taisJioras de quem o podercy íàber? quem vejo cu ;

ca vir?tambcm madruga aquellc como cu.

SCENA. II..

-
Antonuu*

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VILHALPANDOS. 31

A»/./^\Vantas coufas vfcfia noytcpotRoma^cjúc»


V durtta.Toda-
q iiifcrfabcr fcgredoshâo
nta,nJ mhc elUcoufa
muyto fcgura, nem da regra de
pelo ar da noite, que
viucr«m paz.qiR não foflefcnáo
faz efta “beça. E todauu
nie tamanha,* ram pefada
1IT0 foy rcyta. Po.
milhor he dormir a noytc.quc pera
la ventura cfta foy a
caufa , porque a natureza deu ta-

manhos teucados as curujas, &


as outras aues da noy.

Mas vejo eu Miluo,aquclle he , logo mc


parcceo,
te.
cu lhas darey. Ve-
que haoia dc acudir a faber nouas:
muyto nas boas horas. Mi/. A fsi faça a meti
nha Miluo
amigo Antonioto.quc por aqui encontro tantas vez^s
Ant. Madrugas afsi os outrfí - d t jiM//.Como fe accr
ta:efta noicç,nio pude dormir Nem eu tão pou-
co, ha hi delias aísi feitas. Aíi/.E mais quando as peflo-

astem que fazer. 'A»r. E muyto mais


quando o ja tem
fcyco.jWí/.Nam entendo o quçdwcs?^!ir. Nem
cu o

que|izcs} quc renego dc tacs croburilhadas. Mi/.


$ue
farte vão por Roma. A m, E dizem que quem
muycas
cftacas mete algúa prcrtde.Mi/. A que prepoíico.A»r.
Deos me entende. M
tl. Eu nanir
tu cambem;

VilhaJpandos de dentro, Vilhaipandos dc fora.Mi/.Ah


ah, A nt. Ê todos allegam coro Miluo, feus contra- &
tos. M il. Morto fam. A»r.E com húa cfparía. Ia,

m ja
eu tenho aculpa por te dar parte de meus fegredos.
A *»r. E do contrato quem roo difife.
Mi/* Falas afsi ade

“ — —
uiahar.Aw.E adcuiaho de hum lenço que o dc dentro
-
'

COMEDIA DOS
tinha dauèntajcm.M/ADofl lio demo tantos íínais pa-f*
"W*'-

T
rccemcque o moço dcfporas»andou de pcs. Anr.Ohja*
cííoutra hc pior,dondc ouucfte o aoel.Mi/? Qjjc tens
com meu anel oüueo de minhas aucnwras.
tu dc ver ,

Asr.Olhn naõfe cornem cm dcfauchturas, Mi/. muy?


pontofo vens contra mitneíh rticnhaa : fiftcalgunt
defprazen knt. 1
A mim nam,masfalohiasa outrem
que mais rcleua.M/V.Nam hei medo a ninguém. A»r.
Sem pre tc afsi conheci por esforçado, ià ca vem. MtL
Foyfe,çfte anel ha de fer dc Cefatiáo. Fiz mal dc me
lhenatn defeubrir mais, & foubera tanibe das outras
cnúokas que dizia. Aposcllc vou.

StPI^N A. UI.

jkurtlidl Cuifcdvclé.

pedra dura, que .os corações foflTcm ,#por


força feliauiam de afeiçoar mais a húa pcf-
|*° a
- »queaoucra. Cjuif.
,
-J-- V
Eíhsfam as voíTas d índices, ca-
PQCinhas de vento. Tempo vira cm que digas quanta
Verdade me Fallaua a uelba de minha máy. A«r.Dou-
tra parte nam moftro
cambem bradas íe lhe affcor.
^ 41f Q^uancas vezes te cenho dito, qucsiroftresa"
a todos,
3a
& que o nao tenhas a nenhum.’ A#r. Afsi
fer huma molher igual a todos, como huma alli.«
®aria? Qui(\ k\\ douda., douda> Tu virasafhorrer dc


• '
foffic

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\

VILHALPANDOS. 32
fome, que eu tambcm jafuy ferroofa, ajudatc do tetfi-.
po,que paíía muytoaímha.A«r.Sclhcscu nam tomar
ocoraçan* com m iabãs branduras, que poder teras tu
fobre fua fazenda. Cuif. O teu coraçam queria cu que
te ellcs nam tomaflem.A hum foldado Efpanhol, qud
nam deixam coufa que nam roubem :auias de moítrar
tanto amor? A nr. Tinha mos neccfsidade deíla li-
cença T afsi vifteqoam íeuemcnte no la deu? Cuif, Ek
k fc tornara a enrreguar fc os eu mal nam conheço.
Sabe Dcos que a prdFa me fez a mim accytar o parti*
do, não vide kgoascnuoltas? Aur. Pafmospora*
migos,& queres queos trate como iftimrgos, Çuif.
Ho que te cu mando, ho que cc cu digo, oquetc cu a»
concelho a (sim he, queostraces a elies, como clles
tratam a ti. Qjjtrcm lograr cíTe eua mocidade nanj
©s poupes. A«r. Afsi vez,queo faço. Cuí/Anóa mal
tiHjytas vezes
,
porque nem eu pofíb tornar a cíí* .

tua idade nern tu nella eonhcçcres os meus bons


concelhos.

• SCENAIIIL

*
M
’ ‘
iluff*
v
t/íurelf*.
/ . I*

MiL Grandes coufas me contou Antonioco, qtie pãfc.


furam cila; noy te, nam fey que faça,*irà Ccf iriam
, #
aueremos todos concelho que nouas lhe kiia. .•
,

gjscsai

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#.
COMEDIA DOS
0
*

gucrr, he a rebuçada que me acena, cotno-cuhora ef-

tou graçioío pera rebuçadas.Mas cu moura fe aquclla


não he Aureliaja mãy cita cm pratica com os dos cha-

malotcs. Onde te vasgarrida,mal guardas as capitul-


taçóes do meu contrato. A ur. Oo Miluo quam obri-
gada tefam,mas nam temos tcmpo:mandoumecomii
dar Monfcor para o jantar, logo ouuc licença do meu
Vdhalpando, o outro puííca cm Sanfto tfgoílinho
com penacho branco. M/7. Aurclia,Aurclia,torneytc
cm rifo as tuas lagrimas medoey que me tornes cm
,

lagrimas os meus rifos. A ur. Afee que nam, que ma


paga feria eíía de tamanho feruiço. Mtl. Lembrete
quanto me aLcncurey por ti. Awr.Nunqua mccfquc-
ccrâ:outra hora te farcy morrer de rifo, de como enga
namos tarnbcm minha máy. Mii Se primcyro nam
morrer dc ferro. A ur. Eu te feguro que tais peíToas ,

fcruiíta que citas tc fduaram de todo mundo, minha


,

mãy fc cfpcde, faze que nos nam conheces.

SCENA. V.

Qtfártém .

^ nt .
que te benzes tanta§ vezes, do diabo, ou
dc Aurciia? C tf i^uc monta mais de hum
diabo,que doutro. Aor.Pois não te conto q tjçrço do
que pafíbu. Cf/. Eftariasfora dc ti? Jtlik Lavem Çç-.

iarum

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Vt L.H AliPA-N ÜQf. n
fariao com Antonioto» Am. Ai vozesctiydaõaique cri
íonho.fif. E mai* fendo danokc.A»^Míisfcn>prc af-
ícntey,que efam cmbutilhidas <íè Miluo. CV/jEcILi
eram todas de Aurelia. Affirmafle, que era aquelkp
meu anel. A»r.VcloiScom otccusolhosyqueeudiíTe a
Mflbo,que nosefperaífeporaqüi. ;£*/. Q
meu anel,
quemccllj tomou do dedo, tm trocado feu coraçarn
• como cila dizia, que lhe eu um bem tomara. «A»f. A-
mor cfperauas cu dc achar em cafa dc Gmifcarda, nun-
quaouuiftcs dizcr,quecm caíadoalbcrgudro. Q f.O
mtuanc^que lhe eu tancas vezes achcy entre os peitos:
• dizendo elia,que aquclle cra o feu lugar ,
& não os de-
dos, por o trazer mais perco do coração:* Mil. No anel
falão, halemcdir,cuftumehcdomal ganhado. O/.

Outras horas lho achaua na boca dizia, que pera abran


dar minha fede. A^r. maluada^uc afsi dizem oslapf-
da rios, que mata a fede aquclla pedra do ancl.Q/.Mas
hc cfle Miluo. Awr.Eftc hc.Cff.Miluo/òubc cadeteti
amigo Antonioto grandescontos que nam hc ncccf-
,

fario tornar a elles, & mais tu cs tam auifado ,


que me
e/|jsmoílrandooanel,quc me tornam ojeomeu co-
raçam.quecftauacm maocatiuciro. Am.Sc nosmofc
traífes acodòs tamanho prazer. Mil. O
anel tc poífo
eu tornar, o coraçjm nam fey, que engana muy tas ve-
zes feu dono.C /.Sabe que n e dcfíc a vida,& hberda»
dc.Dizc choraua Aurelia quando tc dcicubrioaquellc
fegredo? ^/i.pizcm-as niolhcrçs como vide talhída,
E nunca

.Digitized by Google
ç? Comedia dos
nõficá tal preftcza vi tMag«ma*,&dc palauras,quc tí?
direi r>ac|uelUertreitcz.i dc tempo, raie rogou, me cho*
rou,nje ameaçou CtJ.Com qual te vcncco mais. jft/A,
Pera que te hcy Je enganar ,com asameaças. C Srn»
<f.
elo cam moça,que ferpede ali cria?Aor. Acolhe te Cela
xiaocom tem po.O/. Frade de miro, que fam em plrto
fcguro,aj.imosconccího do Aqui todoseftã
bcm/akio cu,& V lihalpaodo dc fora.O/.Gram parte *

diffohe remediado; porque o outro não ha de vir ah»


defaíiOr Aíir.Pofi ventura vira roasnáo có o penaeh»
branco, Q/lÉftes Toldados bem fabescomo fjõfcitosy
por aqui Ce auerà por reftieuido na honra .Quanto aos .

efeudos cu os quero pagar. Mtl. Nunca tal feja, ante*


me deixa có a negoccaçãoCrf Que cuidasfitzer l MiL
:

Depois o faberas, fomente me he ncccííario outf a^ex.


o sneLO/lPcra quc.M/Í.Porq inda oje hade fazer 4iii ;

Jagres. Gr/.£s muytoaucncurciroanccs quero pagar


os efcudos.Mí/ Con fia era mi que não t ftou cm cera***

po pera ganhar mais imigos.Cf.Por tã ponco queres*


que aurn tuxe mos tanto Mil Não he poucoa vingãç»
.

& mais cm tul lugar. Ajudame Aotonioto. »t. Orá^


que cuo<fiò,mas diganos pr imeiroo queordcna.Md!*
Òiiuobwd Aíurèlia he idaajnntar com o Embaixador
de Erança, tenho hú i filha a que não fallccc nada ,par»
© que cuide que he mandala a caía dc Guiícarda com
oanefdap^rcedc AijrelwjComo pajem Eranccs,a pe»-
giir tedüuheiropara ^ugarrCef Cojn que acfpcras>dc
~ “
«fc?

Digitized by Google
r *
VILH ALPÀNDOS. Y4
^nglfiar.Mi/.Com a cobiça. A»r. VcjaàidS cíU Fcíla.

M//. Nam vos aparteis daqui. .* bíO íí -.i ! .

SGENA. Ví. . - r

í. . .. .» í i ;!,.»} 1. .?
j
J iri f

r .Ânttnioiil -

Ctfáriám' *
yilbülpánJt» *> iiv
/71 • * / .

*
•*
TdJ(, ,

A«,tr Iate Filar tao confiada» ente na pagà dos ef


V cudos [tf* Como cobrei coração. Pera tudo
foi,ja aao ei mifter teus irtsitãcs. A nr. Agora te acabo
de crerquc bem fei quito nos a culpa encolhe a todos.
Ce/.Defejo de vero do pe«acho brsíco como paíTea.
ir

A»r. Efpcra,quc cu o vejo vir falando com o feu pa jc.


q^/.Efcurcmcs.cnj.q, praticas vemiV^. jfELnfitn cada
hum por quem hc. fti.Q^uanta eu ja-não fabia de
fica

quefreguefia cra.Vi/.j. As dez fam daduS ainda depois


dei dous palcos. ^Ganbàflcimtií grande honra, que
ficas agora por hum fo Capitão Vilhalpando.íUj. E q
duuida tinhas diíTo? ?i<.Não fcrmuicos finaisdaüajtãto

q tu cambem parecia, q jaduuidauas, V//.j. Deq auia


de duuiJar^.Sems 0 de dentro Fco de fora, de cu 4
uia medo.Vi/.j.Dc q auia medo indo.com igo. P^.Quç
fabia cu qual de vos era. Awr.gue te pareceram malua
do rapas. V/i. Guitk.ua*, que ínc perderas pelo íctir
j
<

sõ. /^.Cirid.m^quç efEjuajonos cm Ko ma v onde tudo


fre pofsiucl,r^..j, E agora poiq ná apartcc.efíoutr© ca

£4 pitaõ

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COMEDIA.. iDOS
;

yctícupa al*çtò¥fih«l[^tidbs Je diâ, Sc


Vilhalpandosdc noite eiwa de buiu rapáscotn
cííatua iingoa.ft*. Digo verdade, polia ventura lhe ba
íla a ellc fer Viltulpàndo deaauke .ft/.j.S ja logo mor-
cego,oucuruj.i.?4.E mais ainda clle tinha tempopera
vir ao defafiovVi/.Y, N*m facn já dez horas: “?/. Nam
de fie Rclogío,que indaas oam deu. Vil j. Deuaslogo
o de cam po dc flor.^.E cu queres pafíear em Sanóto
Agoílinhp poUi horas de campo dc frol V//.j. Venha
«lie agorà^f^a também fua diligencia, como o dc-

iâfio dosRcystm B-Qfdcos. Baila que ja fica o campa


por meu. ?á. Nativo denoite que mais releua. Vi/. j.

/gue dizes ainda da noycc^TV-Que todas


,
as. fuasí cou*
fas fam cícuras.Ví4ij.Eü as farcy ciaras. j^.Goufjsha
hi,qurfe nJhi .querem muycobolidas.Cyj/.j.Eíle sapas
pdrronio^qac nunca capaaquelU boca* / k

V » C«
"

*S1
,S'GJE-N A. Vw- i

1
V i J.»
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. c i.ir. . *r yí
Trefi»• •
QefátUm. ^/fníonitul
" "
• .* ’
x» . Sj . J
l f - 1 •

^ noyte de Dcos fe nos ordena eíla, ja fio


fumeiro anda a faco , m at polas ca püey»
ras ,onde num ha coufa viua , ou aíínha á nana auera*
O/l Trefofae dc caía dc roiro a roim,, náo ha aqui me
lhoria.A»r.O mundoquer acabar rum vcs,quantocf*
tesrapazesfabemí TVr.Tu^o oje hade andara iod«i
• íeíljj

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. .

VILHALPANDOS. $7
cjucfcmpreajLHTCam pera outrem. Rub. Pois quanto
efteouro,& crta prata uam fey pera que he,nam fc co-

roe nem bebe ca fica tudo. / nr Ah- ah, filha de Mil


.

uo, Guif. He verdade meufefudo. Diífcrtc mais \Rub.


O que me ouuera de efqucccrjchcgoiife amima ore»
Iha y5cdiíTeme quéella faria quantas buíras pudeíTca*
qucllcs Monfcahorcs,& que afsi todiííeíTe. Guif. Aja
cll4aroinhabençaro,a$medcdcyxaroancl. Rub. Os
menf*geiros nam podem fazer mais do que lhes man-
dam,elU nam mo deu fenao por final, fyuif. Quero yr
a ver efla feita. Rub. Muytocmbora, eíTa reporta lhe

fUrcyque me detenho muyto, A nr. O


filha dc Mil*

uo. Çuif. Ia fevay cantando» &


maisiedodo qneve-*
yo. Dizem do auarento por hum perde cento. Tor-
na ca meus amoresmam quero U yr ertrouar feus paf-
fatempos, aqui nerte lenço vam «dez efeudos do fof;
Rub. Mas que fejam ainda daluaio que hi for ,hi fc a-
chara. Guif. Hora vay nas boas horas. Nam Ikc per-
guntei peito nome Pajem, Pajem fermofo tRul Qyio
mandas.'’ G»»/. O teu nomequeme efqueceode pre-*
guntar. Rub Daqui todirey^ Não cances que tardo ,

muyto. A mim chamam Aubertc de Rubefortc,& dá


Ay meu filho» que
outra parte dos Rapinatdos. CuiJ.
nome he Rub Os Francefes cuftumao
efle af d fey to.
afsicrtcsnomcs tam àrreucffados. Cuif que maá O
eoufa heomaonome,R»£. Eos voífos dc ca,qttt ta is
íamBVÍÍos^LeõwSjPorquctrL^oSjCabcçasde ferro»& ou
tras

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•I» r

COMEDIA. -DOS
^DÍta mí ftf.Paia .ytflcarahakf fr* Vdhalpítidõs de dií, &
Vilhalpandosde noite rimad' hum ripas com
cíTitua lingoa.^.Digo vcrdade^olla ventura lhe ba
fia a cllc fer Viliialpàndo deáiokc^/.j.S jalogo mor-
cegOjOucuruja.ftí.E mais ainda cllc tinha tempopera
vir ao dcbfidlV&Y, N*m f<m jâdez horas: TV*. Nam
defte Rclogío,que indaas j.Dcuaslogo nam deu, V;/
o de campo de flor.^.E tu queres paflear era Sanóto
Agoftmho polas horas de campo de frol Vr/.j. Venha
clíc agora^ faqa taraBem fua diligencia, como o de»

4àfí.o liosRcysfcm Bordeos. Baila que ja fica o campa

por meu. Er. Nam,odenoitequcnuisrclcua. V*/. j.

gue dizes ainda da hoyce^í^* Que todas as. fuas' cou*


ias fam cícuras.V^.j.Eü as fafejr claras. fü.Goufasdus
jhi,que fe nün.qiícrcm muytoboIidas.C^i/.j.Efic tapas
palrronio,qac nunca tapaaquelU boca* jv ; >
-

J
>..*
/; r
•K! : SCENA. V. fítJV V idi í

1
cli.i; !
•'
í;

7'ref»» Ofátum* ^ntonittil V


S

I
V E noyte de Deos fe nos ordena eüa, ja h© t

i
fumeiro amlaa faco y mal polas opüey*
ras , onde nam ha coufa viui . ou afinha a nana aucra.
Of Trefo fae de cafa de roiro a roim v não ha aqui me
lhoria.A&f.O nauudo quer acabar nam vcs,quaniocí*
ces rapazesfabem^ 7Ví»Tu^o o jp ha de andar a iode*
'
. ?<•«*,

Digitízed by GQ.Qgle
VILH A LP AND OS. $7
que Icmpre ajuntam peTa outrem. Rub. Pois quanto
cfteouro,& efh prata uam fey pera que he,nam ic co-
me nem bebe ca fica tudo. / nr Ah-, qh, filha dc Mil
.

110, Hc verdade meufcfudo. Diíícfte mais?£«£.


Cuif.
O que mc ouuera de efqucccr,chegíuife a mim a ore-
Iha,& difleme què et!a faria quantas buíras pudeíTc a*
qucllcs Monfenbores > & que afsi todiíTertc. Cuif. Aja
clhaminhabençanvsmcdedcyxaroancl. Rub. Os
menfrgeiros nam podem fazer mais do que lhes man-
dam,clh nana mo deu fenao por final, fyuif Quero yr
a verefia fefta. Rub. Muytoembora, efla reporta lhe
«larcy que me detenho muyto, A nr. O filha de Mi!»
uo. Çuif. Ia fe Vay cantando, &
mais ledo do q«c ve*
yo. Dizem do auarento por hum perde cento. Tor-
na ca meus amor esrnam quero Uyr efirouarfeuspaf-
fatempos, aqui nerte lenço vam áícz efeudos do foi;
Rub. Mas que fejara ainda da luaio que hi for,hi fe a»
chara. Cuif Hora vay nas boas horas. Nam lhe per»
guntei peito nome Pajem, Pajem fermofof Rub guo
mandas/ Guif O
teu nom e que me eíqueceo dc pre*
guntar.Rub . Daqui to direyf Nãocances ,quc tardo
muyto. A mim chamam Aubertc de Rubefortc,& dá
©utrapartedos Rapinaldos. CutJ. Ay tneu que
nome hc efle afrfcyto. Rub . Os Franccfcs cuftumao
aísiertesnomes tam àrreueflados.. CuifO que maá
eoufa heomaonome, R»^. Eos voífos dc ca, qtte tais
íamíVííos^LcõvSjPorquciri^oSjCabcçasdc ferro,& oa
iras

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'
•V

COMEDIA -DOS
p ít a m l $4 Boh yeh cu raSaJtf tó*V d b alpao d bs de dií, Sc
. .

Viihalpandosde noite JjHfylI ritna dc hum rapas com


c (íá tua lingoa. fa . D igo v c r d id e, polia ven tur a lhe ba
fla a ellc fer Viltulpànda die-noke^(/.j.S ja logo mor-
cego,oiiciiruji.?*.E mais ainda ellc rinha teropopera
vir ao dcfofiovVi/.V, N*m fam já dez horas: ÍV., Narn •

dc fie Rclogío,que indaasaam deu. Vil j.Deuaslogo


o de catn po dc flor.ft.E tu queres paíTear em Sanáo
Ago (linho poWhoraScfc çatrpodc frol V;/.j.'Vcnhi
clk tarabem fua diligencia, como o dc-
iãfio dosRcyskm Bordéos. Bàfla que ja fica o campa
por meu. ?á . Nam»odcneitc que mais rekua. Ví/, j.
gue dizes aioda da noyte^íV* uc touãs as fuás' cou- Q
fais fam cícuras.Vílj.Eü as fwcjr claras. fü.Goufas ha
jhi,quefe nJHi.qiíeremmuycobolidas.€/i/;j.E(le rapas
palrronio,q*c Qimca capa aquelL boca* • ;i > -


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SOE NA. V. v
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I
V E noyte de Dcos le nos ordena eíla, ja ho
fumeiro andáá faco, , mal pòtas capüey*
i

y onde nam ha coufa viua * ou afinha à nam aucra.


ras
OjÇ Trcfofae dc caía de roiro a roim, naoha aqui me
ihom.A*f.O mundoquer acabar nam vcs^qiiAnioeí*
tcsrapazcsíàbçmí 2>f,Tu^ô ojje ha dg andara »<*d«i
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~ fcítaj .

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cjucfcmpreajumam pera outrem. Rub. Pois quanto
cfteouro,& efta prata nam fey pera que hc,nam fc co-

rne nem bebe ca fica tudo. / nt Ah*, qh, filha dc Mil


.

110, Cuif. He verdade meufcfudo. DiíFcftc mais \Rub.

O que mc ouuera de crquece.r,chegoufea mim a ore-


lha,& dilTcme que el!a faria quantas buíras pudeíTc a-
<}uellcs Monfeahores & que afsi todiíTeíTe. Cuif. Aja
>

clfaaminha bençam,asmededeyxaroaneI. Rub. Os


meníàgciros nam podem fazer mais do que lhes man-
dam, cila nana mo deu fenao por final, fyuif Qutro yr
a verefiafcfta. Rub. Muycoembora, eflarepoftalhe
darcyquc me detenho muyto, A nr. O
filha de Mil-

uo. Çutf Ia fe Vaycantando,& mais ledo do qne vc-


yo. Dizem do auarento por hum perde cento. Tor-
na ca meus amoresmam quero lt yr eílrouar feus paf.
fatempos, aqui neftc lenço vam
«flez eícudos do foi;

Rub. Mas que fejaro ainda da luaio que hi for,hi fe a-


chara. Cuif Hora vay nas boas horas. Nam lhe per-
guntei pello nome Pajem, Pajem fermofo iRub £u©
mandas.'
1

Guif O teu nom e que roc efqucceo de pre-


Naocances que tardo
guntar. R.u b. Daqui to direyj' ,

muyto. A mim chamam Aubertc de Rubefortc,& dá


outra parte dos Rapinaldos. CutJ. Ay meu filho, que
nomche efle afdfcyto. Rub . OsFrancefcs cuftumaô
afskfícsnomcs tam àrrcucfíados. Cuif. que mei O
coufa heomaonome, Rub. Eos vo(fosdcca,qtte tais
íamíVííos^Lcõ^PorqucirL^os,cabeças de ferro, & ott
tras

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r • r
i

COMEDIA* -DOS
pitam? fri.Poia yen tu raSalt ç V H halpao dos Je di#, &
VilhalpanJosdç noirc.^i/^Tnoiadr hum rapáscom
eííâ tua lingoa.^.Digo verdade, poíl,* ventura lhe ba
ílaa ellc fer Vilíialpanda de-nokeJV.j.S jj logo mor*
cego.oucuruju^a.E mais ainda clic tinha teropopera
vir ao dcfafioÚft&y, N*m f*m jà dez horas: Tá. Nam •

defte Rclogío,que indaas aatn deu. Vil j. Deuaslogo


o de campodc flordPa.E cu queres paflear em Sanòto
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Agtíflmhp poWborasdtí campo dc frol V//.j.Vcnhi
*lk agora^faqa tarabem fua diligencia, como o dc*
íafio dos Rcysern Rardéos. Baila que ja fica o campa
por meu. Vá . Narriiodenoite que mais rckua. Vi/, j.
guedjzes ainda,da noyce^#* Que todas as fuás: cou*
ias fam cícuras.Waj.Eu as farcy claras. fa.Goufasdi*
hi,quefe nUn.qiíercm muyco bolidas.L^/.j.Efte tapas
palrronio^cüuncacapaaquclla boca. /' -
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V B noyte de Dcos fe nos ordena cHa y ja ho
j fumeiro anda a faco , mal polas cjpüey*
ras onde nam ha coufa viui * ou afinha a nam auera.
y

GjC Trcfofac de caía dc roim a roim, não ha aqui me


ihoria.Attt.O mundo quer acabar nam vcsrquaniocf*
tcsrapazcsíàbçmí 7><,Tu4ô oje ha dg andara rodei
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cjuclcmprcajumam pera outrem. Rui. Pois quanto
efíeouro,& eíta prata uam fey pera que hc,nam fc co-

rae nem bebe ca fica tudo. / nr Ah* ah, filha de Mil


.

uo, Cuif. Hc verdade meufcfudo. Diíícfte mais \Rulm


O que mc ouuera de efqucccrjchcgoufe a mim a ore*

lha,&diíTemc que el!a faria quantas buíras pudeíTc a»,


qucllcs Monfenhorcs,&: que afsi todiflfeflc. Cuif. Aj*
clhaniinha bençam,asmededeyxaroand. Rui. s o
meníàgeiros nam podem fazer mais do que lhes man-
damjclU nam mo deu fenao por final. íjuif. Çucro yr
a verefíafeíh. Rui. Muycoembora, efTarepoftalhe
darcy que me detenho muyto, A nr. O filha dc Mi!»
üo. Çutf.li fe Vay cantando, &mais ledo do que ve-
yo. Dizem do auarento por hum pcrdccento. Tor-
na ca meus amoresmam quero Uyr eftrouarfeuspaf-
fatcmpos> aqui ncfte lenço vam *lcz efeudos do foi;
Rui. Masque fejam ainda da luato que hi for,hi (ca-
chara. Cuif. Hora vay nas boas horas. Nam lhe per-
guntei pellonome Pajem, Pajem fermofof Rui £>ue
G
mandas:’ uif. O
teu nom e que mc efqueceo de pre-
guntar.Rui . Daqui to drreyf Nãocances ,quc tardo
muyto. A mim chamam Aubertc de Rubefortc,& dá
outra parte dos Rapinaidos. CutJ. Ay tneu filho» que
nomche eífe afúfcyto. Rui. Os Francefes cuftumaô
afsi cíícs nomes tam arreucffados.. Cuif. O que mai

eoufa hcomaonofne, R»^. Eos voífos dc ca, que tais


famíVífos^Lco.^ForqucirL^oSjCabc^sdc ferro>& ott
Ü? Gomhdia dos
hãnci talprdftcza vitie!.igríoia«,&cit pílauras.qüc c§
direi naquclla ertrcicc2.t dc teijipo,rac rogou,ir,e cho*
roi^nje ameaçou CtJ.Com qual cc veneco mah.MiL
Pera que te hcyJe enganar >cooi as ameaças. C rf. S^n-
do tam moça^que ferpe^c ali cria?A*r. Acolhe te Ccf*
xiaocom cempo.O/.Fradedémiro,quc fam cm f#rro
fcguro v ajamos concelho do mais Jtfj/. Aqui codoscftá
bem/ako eu,& V ilhalpaado dc fora.Cr/.Gram parte *

diffo he remediado; por que o outro não ha dc vir abo


dcfalio. Aur.Poli ventura vira mas não có o penaeh#
branco^Q/lÉftes Toldados betn fabescomo TaõfeicoSy
por aqui fc aucrà por reflituido na honra. Quanto aos .

«feudos eu os quero pagar. MiL Nunca tal íeja, antes


>
me deixa cõ a negoccação.Cí/.Quc cuidasTtzcTí Jií&
Depois o faberas/oraente me be ncccíT ario oucra^ez.
o anel.G/.Pcra quc.M/J.Porq inda oje hade fazer aui
lagres. G/.£smuytoauenturciro antes quero paga*
©s efeudos.M*/ Cdn fia era mi que nãõ cílou cm cem**-
po pera ganhar mais imiges.Gf. Por cí pouco queres^
que aurneuremos canto- Mil. Não hc poucoa vingãç»
& mais cm t il lugar. Ajudam c Anton ioco. ^ nt. Orar

que cu o>fio,nus oiganos primeiro o queordcna.M^


Diíuotoei Aurèlia he Ldaa pintar com o Embaixador
de£rairça,teiiho hú i filha a' que não fallccc nada ,par*

© que cuide que he mandaía a caía de Gmí carda com


©anelidapuroc dc A-urelwjCorao pujem Eranccs,a pc*
glir lho dmhçiro para j,ugarXIfJ.Ggpa que adpcras dc
"
; d

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VILH ALPÀKDOS. Y4
£ng5iiar.M;7.Com a cobiça. AnuVcjaxntíi cila fcfià.

hitL Nam vos aparteis daqui. .


*
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! > ( 'J /

SGEKA. VI.
L » <
,ír: .1 V.C 3
''
í! yinitniõíêl Cefáridm yiJhkbânJ^ > li/

D
.

t pdjí.

À»r/T T Iate F-llar tao cotifiadaroente óâ pagã dos ef


V cudos [tpComo cobrei coração. Pera tudo
foi, ja nüo ei nriflcr teus irmitães. A nr. Agora te acabo
de crerquc bem íci quito nos a culpa encolhe a todos.
Ce/.Defejo de irvcrodopciacho brãcocomopaOea.
hnt. Efpet a, que cu o vejo vir falándácom o feu pa je.
^e/.Efeutemos cm cj praticas vem^ Vd. j •Enfim cada

hum fica por quem he. 7 áQjuanta eu ja não fabia de

que fregue fia cr a.t^/.j. As dez fam dadas ainda depois


dei dous palfcos.^a.GanháflclilHiilgrandc honra, que
ficas agora por hum fo Capitão Vilhalpando.Fi/.j. E q
duuida tinhas diflb? A<.Não fcrmuicos fmaisdaua,táto
q tu cambem parecia, q jiduuidauas, V;/.j. Deqauia
de duuidarv^.Se eras odeden^ofeo de fora, & cu a
uia medo.Vi/.j.De q auia medo indo comigo. ^.Quç
fabia eu qual de vos era.A»f.Çue-te parececam malua
do rapas. Wd, j. Cuidat)AS,que me perderas pelo deu-
ro. f*.Ctrid,uva,quç c íbjuacp os em Ko ma , onde tudo
{re pofsiucl,K#i.j, E agora porq ná aparccc cíloutre» ea

£* piw 6

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cjiicfcmprcajiNrtam pera outrem. Rub. Pois quanto
efíeouro,& efta prata nam fey pera que fardam fc co-
me nem bebe ca fica tudo. / nr Ah* ah, filha de Mil
.

110, Cuif. He verdade meufcfudo. Diíícflc mais \Rub.

O que me ouuera de efqucccrjchcgoiife.a mim a ore*


lha,& diíTcmc que eüa faria quantas buíras pudeíle a»
«jucllcsMonfcohores,& que aísi todiííeííe. Cuif. Aj*
cIhaminhabençam,asmededcyxaroaneI. Rub. Os
menfugciros nam podem fazer mais do que lhes man-
dam, cila nam modeufenao por final. (juif. Qutro yt
a vereflafeíh. Rub. Muytoembora, efiarepoííalhe
dareyque me detenho muyto, A nt. O filha de
Mil*
uo. Çuif. Ia fe vaycantando,& maislcdodo qtievc-
yo. Dizem do auarento por hum perde cento* Tor-
na ca meus amoresmam quero U yr efirouar feus paf-
fatempos> aqui neftc lenço vam *lez efeudos do foL
JZub. Masque fejam ainda daluaioquc hi for y hi (ea-
chara. Cuif.Hou vay nas boas horas. Nam lhe per-
guntei peito nome Pajem, Pajem ícxmoíotRub £uo
mandas.'’ Guif. O teu nom e que me efqaeceo de pre-
guntar. Rub. Daqui todfrey í Naocances, que tardo
muyto* A mim chamam Aubertc de Rubefortc,& dá
outra parte dos Rapinaldos. CuiJ. Ay fneu filjbo, que
nome he Rub. Os Francefes cuôumao
cíTe afúfeyco*
afskftcsnomcs tam arrcucffados. Cuif. que mai O
coufa heomaonome,R«^. Eos voííos dc ca, que tais
famí Vííos^Lcó. s, Porque ir I^oSjCabc^as de ferro, & oa
iras

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COMEDIA DOS
trás dc cabeça. #r.Vi rcc vezes tr ais que filha <3c Mil
uo.Cwi/.Infim dizes verdade, cm tudo cem graça vaife,
queroofeguir.Mal fiz, porem que pode fer? O anel a-
|uclle bc digo que o tomaflem a Aurclia, & mandaf-
?emeapor rir* Zombar ias fam, que das tais cafas, Sc
piflbas fempre íaccm proucito.£«£. Embaraçada dei
xo a velha com aqucllc meu nome cam comprido, que
rome trafm aliar, poi;cftas traucflas,cornarcy ao brial,
Ce ao trançado, quem lhe dara finais de mim , Sc mais
ué fia enuolca de Roma. Sc Guifeardafora como eftes
tolciroés, que fempre efião cm íeus treze, nunca a en-
ganara. Bem mo dizia meu pay,quc detie ja de efiaç
com os olhos longos. .

^internet» ftf.

ESTEfariam
negocio eflà

uo vem moftrandome o and.


bem acabado, de hna parte Ce*
me acena todo cheo de prazer, doutra MiU
Ia terrosos efeudos
pera o vilhalpando de fora, Sc polia ventura íerarn os
mefmos do Sol.OsEfpofouro? hanfe de fazer la d tg*
tronam tendes mais que efpcrar aqui.

i\

f
I-
Tim dá [omedU dot Uilhátyándésl

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-•
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$9

COMEDIA
INTITVLAD Ai OS ESTRANGEIROS.

Feyt a peito Doutor Fra» cifca de S* de


Miranda.,

;
AO, INFANTE CARDEAL,
j j, •
,
Dora Hcarriquç.
, " * -
Yj/ - > ] t \ i

O CLVE V. A. manda;
que pode dizer tnaisíA comedia
íc

,
«qual Ue.talvay,Aldeãa,& wal aC *".
uiada. Eftaíop lembrança

àpartida, que fc não defeulpafle dc


às vezes arremedar Planto,
querer
gran-
Çc Terencio porque cre outras partes lhe fora
,

de louuor,&fe mais também lhe acoymaflem apeb-


foa de hum Doutor, como tomada de Ludouico Atw
ofto,que lhes pofeíTc diante os cres auogados dc
Tcrc-
terceiro du -
cio, dos quacs hum nega, outro affirma,o
ilida, como ainda cada dia acontece, afsi que dcsaquel*
não fe enganem co nome de
r vem
ic tempo
' "
ia o furto,
" "
r~ '
F Doutor

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HA
COMEDIA DOS.
Doutor nouo,barbaro,& prcfuntuoftyromo faõ mbí
tos titulos afsi dos cfcricorcs, como das obras dos nof-
fos tempos, cun diffcrentcs do comedimento dos
p«tf-
fadoscomofoyo de Philofbpho dado por Pychago-
ras. Tulliocom queamcaçaua jafeu amigo Yrc
ba-
cio tamanho Iurilconfulco/c não com as graças de Li
berio & Horacio com quantas de fuas graças pafTa
,

hum fermao comefmoTrcbacio. A comedia táoefti


inada nos tempos antigos, al difleram aquelles gran-
q
des engenhos que era feoam hüa pintura da vida com-
nuim á dos Príncipes fc repartio a Tragcdia.Todos cf
tcs,& outros muitos mconucniercescu paflaua lenq-
irente,omais que arreceaua, eram màí interpretações
a cada paílb,às quaes quem pode fogir , fe*tc os Heré*
jes quantos í\m ,tair bem trazem |a Sagrada Eferitura
cm fua ajudsjintcrprctando mal,c o diabo tambtm.
•iftotudo houucra algum remédio, que era ©do fogo*
mas ao mandado de V. A. que farey, faluo obedecer,
pcdirlhe,queemparecftescfírãgci^oscomo fazem os
grandisPrincipcSjde cujo amparo fomente confi.m
©sqtic vam por terras alheas Eu nam vou pedindo,
uo perdão, tftc pello Prouerbio Grego he dcuidono
começo dascoufa$.Nofío Senhor fua vida, & Real çf*
tado,&c.
ESTRANGEIROS. 40
• f *> * .*

OS ESTRANGEIROS.
feffoás da Comedi*.

semente mancebo. .
CafsUno kye.
Uá moça de feruir. ^AmbnoÇja Vtlhé.

D trio cofameneeiro. Briobisfoldado. .

Deuorante Truham. Callidto manceba de feruict»


‘Perremo Deutor. Sarjanta mulher de [crmço
jÇuido mercador. Calbano Velho. . ,

tdidal feruidor. .
Reyttaitj Velho.

A PESSOA, DA COMEDIA :

fazoPrologo. - - *
* r
4 " . r
. r
\

$ T R AN H A I S M E, que beto g vejo,


que ferà, que nam ferà, que entremez
hc eík,foy grão dica,que natn a podais
j.i, mts nam ha dc falecer quem
me ar-
remede. Os Portuguefcsfois.afsifey-
tosjlogo pela pr imeira ,
dcfpoisdaítis ofaoguc dos
braços. A gora parece, que mc cftranhão ainda mais,
parcccuos,quc nam diz a falia cos trajos, cfpemic is dcl
>ks alguns triques, croques,ora mc ouui, diruoscy que
'fop,dond(í vcnliOjdc ao que venho.
*%V £uan :

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COMEDIA DOS
Quanto ao primeiro fou hü.i pobre velha cflrangei
ra,o meu nome lic CGmedia m3s b-atn ctiitícís cjue mc
>

aucisporifíodccomer,porc|uccunaciem Grécia, &


la mc foy poftoonome por outras razoes, quenão
per
tenccm a efta vofía linguajali viui muytos aonos a gra
de meu fabor , paflarãomc depois a Roma pera Onde
então por mandado da fortuna corria tudo. Hyche-
guci a t^nto,quc me oãofalecco hum nada de fcrDco
ía, depois I grandeza daqucllc império, que parecia pe
ra nunca acabar, toda via acabou. Eafsi, domo a fui
queda foy grande, afsi Ieuou tudo coníigo,aIi mc per-
di cu com muycasdas boas artes, 6c ahi jouucmos lon-
go tempo, corno enterradas, que ja quafi nam auia me
morra de nòs.tè que os vifinhos,em que debus nos ou-
tros ficara alguma rèmbrançn,cauaram ctato, que nos
tornaram a vida, maltratadas porem, & pouco pera
ver. Agora que ja biamos,como dizem, ganhando pès^
fcmionoslogo aquetla noíTa imiga pO(krõfa,qucnOs
da outntvezdeílruira,foifelá,pozoutra vez tudo! por
terra. Bem entendeis, que digo polaguerra imiga de
de íodobem.Vcnhofogmdo,aqiii neftc cabodomun
doachopazjnara fcy fe acharei afToflcgojja fois no ca*
bo,& dizeis hora, nam mais r fio hc auto, 6c desfazeis
i

as carrancas mas cu o que nam


fiz ate gora, nam que-

no cabo de mcusdias,que hc mudar o nome,


ria fazer

Eftc me deixai por amor da minha natureza, & eu dos


voííbs verfos cambem vos faço graça que iam força-
,
t dos

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ESTRA KGEÍROS. 41
dos daquellcs fcus confoances Eu trato coufas corren-
tesjfou muyco clara, folgo dc aprazer a rodos. Direis
vòs,que não he muito boa manha de dona honra*da, di
reis que Portugucfes fois.Finalmcntca mi nunca mc a

prouucram efcuridòcs,ncm fallo fenam pera que me


entendam, quem alquízer,nam fallc , & tirara do tra-
balho a.fi,& aoutrem. Mtiytascoufas vos dou de mi
logo dc boa entrada, cuidaucis, que nam auiade trazer
dc molher,fenam o trajo?Ora viílcs,quc també trou-
xe Agora fabei , que ainda auemos dc fazer
a lingua*

hum caminho longo. Iaouuircis falar de Pálermo ei-


dade nobre cm Sicilia , hivos hcidc daramoftrad&
minha tenda , porque là fejais tambem cílrangciros.
Cuidaesque graccjo?omcu poder he mordoquepor
mc tenhas em pouco por mc ver
ventura cuidaes,natn
dcsafsi tam conucrfaucl^nam fc moua ninguém, aíle-
guraiuos. Vcdefnoscm Palermo,todos afalüamcnto.
Ora daqucllascafas defronte fairà hum mance bo Va-
lenciano por nome Amcntc^a cílc feguchum íeu Ayo
que o vigia quatnopodc,& deílc$ r & doutros labereis'
0 mais, que eu lhes mandei a todosque falaííem Pòrtu
gucs,& porque ouçaescos coraçoes repoufados, cu vos
tornarri,donde vos trouxe, ja fabeis,quc 0 poiTo fazer
ouui,&fauoreccime.

Fj ACTO

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COMEDIA DOS
f
’ * *
\ .

AC T O. I.


. r

mancch* Qâfiiâno ^yel t

. .
'
* •
*•»

hntnte. T A ves apos m i Cafsiano?quc me queres? por


-^vidafe pode aucr hum tãopcfadqcatiueiro.
4
C</u4»0.Catiuciro chamas cu ao céu remédio? fsi fa«*

zcis vos outros a tudo,mudaesos nomes, como quere-


is, & ficacs contentes, cu Amente, cu fouocatiuo,quc
me trazes fempre a pos por onde queres. A monte.
ti

Ainda os eferauos cem horas liures, tem fuas fefías eu ,

fempre hei de jazer debaixo defte jugo? que me que-


rcsíqucrcfmc acabar de matar, Cafu*no. Mas tu que 1

queres, quercftc acabar dc perder? OAmencc, qiutn-


malcecníinou a minha maníidam? ^Amcntt. Como,
fempre hei de fer mininoí C*[sUni. Agora te he a ti

mâisncceflário o teu Ayo,que nunca. ^/»jr»rf.Natn


ipc dirás que me queres. C tfsUno. Guardarte, que
cíle hco meu cargo, como mo encomendou teu p.iy.
Emente- De que me hás de guardar, Ctfiuno. Da
tua doudicc, pois queres que to diga. Awnu. Cuydas
que teh' y dc fogir.Cí/íMwr.Niío andas tu ncíícs tra-
tos dc P Jermo na m fugiras tu mas dc mi ,
Cu Ora ja.

que tu fazes o que naó deues,deixamc a mi fazer oque


deuo.Awffrr.gtie dcíaucncuçt tamanha foy a minha.
C éfiitnâ, Àiba corhpanhia, Cc bons concelhos dc feu
» * ê

ESTRANGEIROS. 42
Ayo,chamâ cite ora* catiuciro , ®ra dcfaucntura ,
nam
fofpires,creme,queteheidcfcguir, como a tua fom-
bra.^í mente.Eüa nao mc feguc pelo cfcuro, & tu fy.
Mas citemos ja ncftcs debates, antes me tornarei a cala
hi que mal polTo fazer, cu guarda a porta fc quifertSt J

* »
* i
' »
« • • *

CafiUno foi.

H tomar cuidado de filhos alhéos j onde hà iíto


l lâ

ir ter, que fe fez doacatamcnto que cítcs mo-


^
de
ços fohiam de ter a feus Ayos?quenão fomente lhe ou
fauam de leuantar os olhos. Agora vedes em que mun
do fomos, que às vezes vos cumpre fazer, que nam vc-
des, & outras que não ouuis. A doudice nam fabeter
nreyo.Atantofam clvegados,quegraccjão, & dizem,
que ja íc nam coitumão Ayos , como fc foííem trajos
curtos, ou longos,& dos velhos dizem, que cantaõ por
búa corda, & porfabordão. O pois que mufica a fua
dcllcs,& que contraponro, muitos efearneos , muytas
mentiras, pouca verdade, menos vergonha. Bejaòuos
as mãosccm tr.il contos dc vezes, cedo ham de beijar

também os pèscomo aoPapa,feclIenam acode poc


feu efiado.Entrcgàofcuosporcfcrauoscos ferros nos
pes ,
& cos ferretes nas tefias ,
entam quando os re-
quereis ,
foya mor mofina do mundo porque a- ,

quillo foo nam podem. Óra da outra parte cotc-


pyocantocham dcnoíTos velhos ofeu fy pcllo j ,

fy, pollo nam nam, ofeu rego vay rego vem , o fiu ,

. . F 4 dizei;

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COMEDIA DOS 1

dizer, & Fazer, c]uãlaucisíp3f:Rrcliiaf muficaíDigouos


cm boa verdade, que o dagora tudo parece efearneo
quanto vedes, porem nam fc lancem os pays de culpa,

que os criam canto na vontade. Todos íomosenfei*


tiçadoscom eftes filhos, depois que os danam, enco-
Wndam nolos. Q^uanto ha, que partimos de Va-
lcnça,hiamos pera Rhodes, noíTo amo quifera cncofi-
tarcfte filho àquelia Religiam, eftando aqui cfpcran-
do paííagcm , vieram nouas do cerco Agora ja di- .

zem mais da tomada,temosgaftado muyto do tempo


& o dinheiro todo. Eftc moço, namoroufe aqui , &
perdeo o fizo,eu ando em vefporas de perder também
o meu co clle, tendo eferito a feu pay,quc acuda, efpc-
ro fuarepofta, entre canto ando afsi tendome ao mar.
Efta doudice dos amores nafee de ociofidade, & nclla
ícmantem, efta ao menos lhe queria tirar, & por iíTo o
petfigocoma minha prefença , ao menos nam falia*
rà tanto com aquclle feu grande priuado Callidio. <

lAttà moçd de feruir. ^mbroftá Velha.

A
hrofíd.
S Slhi
demos
Bem
como dizes minha tia AmbroíÍ3,mas
mais, que faço ja grande detença,
dizes Alda filha, fe eu puíTefle, mas vou
ân*

muyto carregada. ^/Ida. De que tia. yivtbnfia.


De oitenta annos ,
que tragp às cofias , & piflam
' ’
- • mui-

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ESTRANGEIROS. 4$
ivmyto. C tfsidtn. Atningoa daqutlla cfifrt?g;a,.anda
meu criado Amcntc cão lcue. Aldd. MalhctíTc,quc

todos dezejamcs. ^yímente. G©m muytos outros dc


companhia,quc tunam dizes. A Idd. Que taes? A m-
Mu. Eftes homens filha principalmcnV. Aid*. Gra-
cejas tU? mbrofij * Gracejar dizes f antes.tc efeom-
-

juro mil vezes, que cc não ponha ninguém medo com


outras almas peccadoras. A lâa. Nám feram todos
tam maosi.XZafádnt. haquclla jaz.’ Medo hcy ,quc a

velha acuda ja tarde ao arruido. ^mbrofu. -Todas


queremos fazer e fía expcriencia dc nouo ,
entam fi-

lha quantos queixumes!* Aldá. Ditofa he logo cílâ


tua Lucrecia,que tantos aqui andam bebendo os ven-

tos por ella; ^/ímbnftd.Ahi queira Deos, que naro fe

foltetudoem ventos. QtfsUno. Como velha pratica,


• &fefuda. Aldd. He o Doutor Petroniotam rico,
yimbnftd. Bem o fei,mas tu dizes tam rico,& naõ di-
zes cam caluo. yíldá.D ízquca tomara em camifa.
C iJsUne. £ fe vierem aos lanços, meu criado Amcn-
tomara nua . Aldd. E a i(To cuido, que es agora cha
te a

mada,porqtic o Doutor aperta muyto. Cafíunc. Que


!

me macem fe efta nam he a paixam , cm que agora an-


da o doudo.de meu criado Amente. yimbrofiA. A-
quellc dom Abbade tio dc Lucrecia Rc ligiofo, como
fohiam de ter , tanto lhe deixou do feu que Be-
clles ,

trando qpode cafar fem lhe cuíW nada , & mais com
tal ajuda de Dcos,cqjeo hc parecer feu, fie o fifo. A Ué.

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*

comedia; dos.
Làfaberastudo,nam façamoè mais detença.
*

#
^ %

'
CffiUniftõ. ,

*

• *
••
. ; .

<7E cila fho£a verdade conta,emprefto cu a floíTo S-


O
mige^huns poucos de maos dias com fuasnoytes,
que o negocio do Doutor he,dc Íjfo,naõ pera clle,roas
pera Petrando & pera a moça também feclla he íe-
,

fuda, como diz á velha ; fallo, comofccoflumade


fallar ,
.qwc. todos nos lançamos a cfte proueitodo
Doutor, credo, que fc acolhe asmâos ,
que elle tetà

cuydacio de fechsr fuas portas, Ôcrjanellas a tempo, cn-


Cam deixai vos ao doudo íodear acala, &íufpirar to-
**
da a noire,vòs tod iiiia nam duuidcis.que entre catto o
fono nam prcílc mal ao coitado do velho, & defeonfi-
ado.Ah que querem os fprçar tudo, 6c a natureza tsm- *

bem. Velho namorado com moça fermofa , & empo-


lada, nam ha hi peradous dias, depois nam lhe ha de fa-
lecei outro melhor empenado, com quem logre o que
lhe o velho deixar por fua alma tanto às íuas cuftas.

Mas deixemos a cada hum fazer fuas contas Sc coydar


,

que as accrta,prouud]c aDeosque viffc jà o cafamerç-


to fcyto,o Doutor entraria cm fadiga, eu pclla ventii*

ffi fttir ia delia.

»
* . m J • • •
* { * ’ .

Djrio Cdfmmíirt] C afano Aye.

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ESTRANGEIROS. 44
A TE quando traremos nòs ao pefcoço eftc juo-o
^ doscfpanhoesí Atèqnando jazeremos neftc fono
Sc ncfte eíquecimento da nofla liberdade? C Jtfúàno^
Também cile vem bracejando
, & fàllando confioo!
Dorio. Quando lhe cantaremos nos outros vefporas
Cezilianas, como fizemos aos Fr.incefes? Venha, co-
mo dizem o dia bom f efeolha , toda via o Francez
roubarc,& conuidatr,o Efpaahol fempre quer
fcuho-
rcar,como fc pode iofrer tanto fenhor capitam?
C*/-
fun\ Coitados, quencfle murmuramos mantemes.
~ jDorio, Sca terra deftes he,comocl!csdizem, que
buf-
camnanoíTu? Ollhatam abafhda, & tam rica por
teu mal? Mas vejo quem bufcaua. C «fsUno. A mi
feveni,nam o conheço qnc me quererá? Derio. }
$ c -l
nhormeu quando oafsi por bemouucííe, Telctkmc
muyto,cuuircfmc duaspalauras. C afsune. Nam di-
go eu duas, mas doas mil, fe tantas mandares, üorm.
Pda tua humanidade, & cortefia. Ora a mi rrc cha-'
mam Dorio,nam ícy fc me conheces, mas founumo
conhecido nc fia cidade, por tratar meu officio
muitos
annoshà com grande limpeza Ôc fuldadr.
,
frfsunt.
E que officio he o tcu ;
Grande de muyca con-
fiança. C<í/í/ 4»9. Q^uc tal? Ocrie. Caiamcnteiro
Deos, Sc dos bons. fafiúno* Pera
íèruiço de
tra-*
camtnaaha, Sc tam fantacoufa,como beocaíãmcn-
to,nam fepodiacl colher, fisluo pcífoa das qualida-
des que .dçuo.dc haqcr cm ti. -Peii^ Nam pdo J
!

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COMEDIA DOS
nam dcfmérccriv
cu merecer :mas faço todauia pcllo
E.vindoao mcucafpdigo, que viuendocuaquient-
paz,& amor de todos, feruindo meu cfíkio, como tór
doo mundo fabe vagpr3 ja no derradeiro quartel da

vida, hum mancebo, de que me dizem, que tens carre-


go, anda de todo pofto em mc matar.Cá/j.wwí.Mitar,
ou como? D»m.E mais fobre mcuofficio. C tfsiáno.
Qi\cm ce diílc tal.'
5
D orio. Muytos, &antrc os outros,
clle mcfmo.^/jtiánc.Cócamo.Dír/í. Paífandopor mi
amcaçoimic, mordendo hum dedo da maó,& dizendo
nãofei que pahuras. Sam brauarias de Pa-
[o/sionr,

lermo. Dorio. Hy vê homem cada dia matar muy-


tos. Çafjiano. Indacflcquc dizes tem por matar o
primeiro. Dorio. Nam queria que comcçaflc em-
mi. Cáfiiano. lurtiça ha na terra. Uorio. Depois
de cu morto quer a haja ,
quernamí CdfjÍA»c. Não
5

que atua pellc te guardara a tua. Peno, A muy-


tos a nam guardou que fey cu de quaes fercy? CaJ-
,

ftAfifi. Nam cuydes fomente ncíTc cachoparram.


Dorio , Ertes fe nhor meu ,
famosqueeq arrcccyo,
que nam os velhos feludos , lançadoras de con-
tas.. Ando aisicomo vès metido ncftc mancam, hu-
ma mam fobre a outra ,
que mais he maca/mc a-
içi ,
que ahuma ouclha? C aÇíujío. E porque bade^
matar ninguern efía ouclha.? Qmo* Huns pclla-
lam , & outros pela pçlle. fafsunt. Conhcccjo*
tu- bím? Dorio, Afsi o nam. vira ^nunqua , nem-
clle

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.

ESTR ANGEIUOS, 45
^áfjiámà^ar te por eííc medo te áibeaçou? A
rflc a mi.
gorafeati foffc^ndariacu mais íeguro. 0 me. Amigo
& fenhor mcu,mais gente mata o defeuido, que os cut
dados. Hems necelFanq dar mil voltas a cidade de dia
& denoite,digcteqüc hei medo aos acontecimentos,
quanto maisaospropoíjtos.Cj/jMw^.TensIhe Feito al-

gum agrauoíDím.NaòquccuíYiba.Ca/jMBe.^uc tc
diz o coração? Do>i NaómeFeiaFfirmar , mas pode
ferj que por ir a caía de Bertrando, onde ja nam vou,
no quexecebi a perda, que Dcosfabc.///jiw»i.Dc cu-
jo mandado hias la? Ootio. líío naó poíío dizer,que fao
fcgrcdosdooffíciojquc tenhoj CtfsUne. Ea cíTc teu
matador , que lhe vayniíío? Que hàs, porque coípes?
Derio. \ longe và o maoagoyro.C*/}/*»*. Porque Ihc
chamey teu matador? callate,quc naótc ha por iíTo dc
matar. Dono. As vezes fc dizem as palaurascm ca! coiv
junçam. CdfsUne. Grandes arrcceyos trazes a eíla tua

vida.Dflntf.Tcnhoneccfsidade delia paranai,& todaa


iminha gcnte?Ca/íM»<j.quc lhe vaia eííc mancebo nif*
iV 0 ^w.Na 6 fei elleofaberà?C<i/}M»tf Ora Doríoa-
migo meu, quanto ao medo nam fei que tc faça que na
hecm mi tirarto, no mais farci,quanco cm mi for, não
dte poíío prometer mais. Oorio. Nem cu pedirte mais,
& porem iCotepeçomuitasvezes.Crf/jw»í,E cu mui
,
tas to prometo, defeança que nam ferà mòâ.L/erio. Afl
*íi queira Dcos.C<i[íÍ4»ff.Eíle doudo, cm que anda,cüi-
da q pelas íiias ameaças hà clle de ficar por caiar. Hõa
hora

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COMEDIA •
DOS'
orá c3c dirq fc mefartajogo dc ixa raflo por ode vifi
que faria, fc lhe eu Canto nam defle cm que entender*
Houue dò do pcccaclor que fe dà por morco,& tremi-
amlhe os beiçes que badelejaua. Oramcdcyxaico
,

doudo, que por iífo o hey de períeguir mais , ifto g*i


phara co ns as íuas am caças, que ro y r ver o que faz. >

+ m »
*

AC TO. If.

B riolis SoIcUHq. '


DeuorAntèTruae',

A SS
I
que me tendes aqui caciuo em Palcrmo em
tempos dc paz,& terra deChriftãos^Dítfffrawrí.
Sam obras do amor? que jajfez a Hercules conquifta-
dor do mundo fiar, & doba*. Brubu. Ecu,que achan*
dome na dc Ruuena,Chirinola, Vicença,Milião, que
vicíTc afsi a cair nasmáos dc hõa moça, que te pareccf
D.ur.fante. Afsi contão,quc fe toma oAlicornc animal
-tam Çcto.Uriêbis.E afsi acontcceo a Roldão, & Reinai
ào.Dtuoráffre.E hontem a cl Rcy Carlos o da cabeça
grande cm Piamonte.B'/e£/.f. Nam fou acoftumado a
fofrer dcfejcs.Dí««r(í»fí.AboRumate por amor de mi
que os amores de feu natural faõ brandos, [& qucrcmfc
por bem. Unobis. Arrenego deíhs voíTas branduras tç
nhome co a guerra, onde fe tudo faz por^força. Dr»#r.
Fala maisfem paixão, que te demudas, & fazcímc aucr
medOjBWí^ij.Eííc mal cenho, fou tcmcçofo.Drtforrfw..
O que

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ESTRANGEIROS, 46
Oque doutra parte es maisgraciof©,cj a tncfmã gradar
Bm^/.Porem quando me vem efh paixão, perdony.
Sc me viras no campoíDf««r4»ff.Ahi dão oshomés te
ftemunho verdadeiro de quem faó,B< w£i/.Digo, q lc
me là viras, andaua mais acompanhado, q o capitão. El
lc morria deenueja,5c cu não morria dc bafas.Concei
te ja dos toques que lhe dei? D*#0r4»fe.OdaTcmuda.
hrtúbii.E cÃe não foi mao.mas primeiro tc hei dc con
tar doutros Anjos cogidos. D tuonmte. Que arama la
fuPcuidci dc atalhar, & rodcci,apost(les virã os fritos
depois os aíTados.Bri^i/.Eftccapitão tocaua nol rib.ti

dc Iudà,à como diííe,tinhamc gri le inuep,pc lo qual


maíligaua,& grofaua ditos mrus.qu: todos trazião na
boca,ptlo qual eu a hum propoíuo, não Elando mu is
com cllc,q cês outros diíTe hum dia, Não fc hà aos fu-
pitos dc bufear a efeama detraz da orelha. D ruerantr.
H ’,ha,ha.2?r*^/í.Que ouueftcíDfMtfrrfB/r.Não hà pe-
ra ninguém brincar contigo, como dizem do ferro. E
cs outro$.$n#Z>fj.Torciáofc todos. Mas que te diíTe o
da Te muda. Dcuorante Mil pefToas,quc o fabem , & o
»

contão entre outras graças tuas. E clle mcfmofoy o


q
mocontou,masquc cyjadcfazcr.^rií^/j.Eftc mcfmo
capitão trazia amores cm parte, que mc ya niíío algfu
coufa.A ChmachamauaíTcTcmuda; masque hauiao
diabo de fazer. Viemonos hüa foo noytc a cncontrat
cm hum lugar efcufojcllcrebuçoufc, mas cu ao paíl ar
difíc. Pera que hc andar tan$ temudo. Pcuoranu.
Dcí**

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COMEDIA DOS
Dwftruifteo.Elíc homcm,ccmorfc na© foi logoTançatf'
num poçoí iftoern éizen do fazendo.
.Sam graças naturacs, qué Deos reparte por que
quer bcm.5rip£«.Naõ o digo por.me gabar, mas quá
tas vezes me acontedeo natn me darem fomentevagar

com requerimentos de caftas de amores, huns a hum


propofito,outrosaoutro. Deuordntt. guaesauias por
maistrabalhofas.^ri^n.As primeiras. Ut*cr4nte. Co-
mo rceftrc.^rií^j.E afsi duas de húas,como de outras
os começos, quedefpoishúa palaura lcuaaoutra por
hüa maneira noua, que ora dclcobrimos,quc tudo fe
vai apurando cada vez m3is. Oe»<»ra»rí.KcarcçhUm os
trcslados,quc leremos íobre meia. Bw^j.Nunqua as
guardo.Mas lembrame hum começo, &diziaafsi.Na9
ondas deftas hgrimas.quc me leuão afsi ôa fua .correu
te, nãocem cftes meus olhos outro Norte porque fere
jam fenamos icas.Detttrántt.Ay^y quefartyjKTo ú
íefofre. 'Briol>is.O[}tn>Dcttar*ntt* Darâ cento como
relogio mal concértado.^ria^ii.Os enganos fenhor cs
da vontade, fazem o que querem dem i,& eu naó que-
ro acabar dc entender o que çticcdo,& fico afsi, como
cm mares encruzilhados onde a força naó esforça^nem
goucrna o gouernalhe. Peucrànte. Bufca quem te a?
guarde cacs pancadas, que eu nam pofio. ‘Brubis. Pois
fequileíTes,quctc cfmiuçaífeifio pelo.mendo. Üt»t+
rdntt. Fogirei quanto poder, tio^endiabrado cs por be*

como por mal. Briobu» Afsi haraide fer os homens, 6c


nam

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ESTRANGEIROS. 47 .

fiam como eftes frcirões.quc não fam peixe, r,c carne.


Outra.No mcyo dos dcíejos não acho cabo no qabo ,

não acho mcyos,tal auiam cnto acho pera o meu defa*


uiamcnto,& cal cfperança pera o cabo da dcícfpcra^í*
JDMwrjwe.Finalmentcpefa eíla tua nauegação tudoo
mais temos, a moça fò nos falece, efta bufquemos. #rii
hii. Nam fe po^c errar, que nam ha outra cm Palcr*
ino, comocm Palcrmo ? como cm Palcrmo não ?

ha outra no mundo. Aqui a achei, aqui a perdi, aqui me


perdi. Deuortntt. A bom fanto tç eacomcndaftc, eu tc

tornarei a achar.tÍMflí#** Os cabcllos coroo fio douro,


os olhos verdes, que efchamejauão. Deucrdntr. Tacs q
te fartarão os tcus?'âri*bji. Mas tacs, que roos deixaram
famintos perafempre. Pcvcránte. Oracorramc eftc

pcfc©ço,& acaba. Que mais pudera dizer hü Maneias,


Brubti. Pois ando pera roe enforcar, como vès. Qcuctd-
te.Naro faças por amor dc mi, que he coufa de que tc
arrependeras. Bw^ij.Nnnca fizeoufa dc que me arre-
pcndeíTc.Dí^r^Tíff.E cu cada dia,& cada hora.V^mo
nos a jantar,ficarnosha tempo péra os negocios. Uno»
^j.Náo o báo ioda de ter preíÍes,eu vou a dar preíía,-

& terei cuidado do teu mantimento ,


tu tem cuidado,
do meu. 0 i#«r 4Wí.Eshua fonte perenal dceloquécia*
tiuncatcacabarao decfgotar.Sn^fi. Pois creme que

Dtutrtnufcd.
G Aquc

Digitízed by Google
s
COMEDIA DOS'
-A ÇoetcmpomcDf:osapparoucfieíoJdac|o? que
nam achaua ja aqui húa vczdc agoa. Ncfle num
do tudo fam comemos, foimc bem huns dias, agora an«
dam ja às mofcas.Cada.tafde me aflentaua fobre hum
penedo a diuifar dali o mundo,& dando ao papo co? ,

mofrancclho manço , olhando pera onde tomaria o


Voo.Trabalholoofficioeftefooífyquc tem feirpre o
mantimento em mãosalheas* Muito bem roc dizem
dos Galleg©s,& tem jazam, que nunquacm al falláo fc
gundo me dizem, fc não em comer ,& beber. Nunca
fe vio táo ruim munJo.o dizer bem das pcíToas hc cou
fa fria, <3c ainda dtfpraziuel,o dizer mal , he perigofo,
quem quercis,quc tome hum porto taõeftreito > & por
jndafer noíf a mofina maior 9 os mancebos feruidores
das damas, com quem cra todoonoffo ganho,víeráo-
fenos a fazer mais grauc s,que feus paysjO joyasjjoyas,
quem tiueííe bem decomeqpcra rir dc vos, como ht
i)aõouueamorcs,náoouuehomcs,com ellcsfc foram
as canas, os touros, asjuftas, & finalmcnte a Iiberalida-»

dr, nos outros ficamos,eomo finos em caflello defpo-


uoado tangendo asgralhas,& afsi jacu cra, como digo
na cfpinba,knibroiife Deosdc mi,&acodimc com ci-
te foi Ja do a ppv fcitofo,çonuida dor, ro a is vã o
q a m c fm *
vaidadc,nas armas hum Roldão, mais fcrmofo,& mais
namorado de fi mcfm.Ojtjue Narcifo, mas^a nii>quc fc

me da, vem da guerra, &dcftesfcusaqchanjãofacos,


ondejoubáoa Deos,& aos fantos.Vos porçm vede ca
mo

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ESTRANGEIROS.' 48
fno fallaes,& nao lhe chameis roubos, fcnao olhac por
Vos,facos fi, quantas vezes quifcrdcs.Querr. mc mete i
mi com feus pontos dehonraíVcnba donde vier, ganha
fco como quifcfle,fou pola vétur a fêu confe ííor, com c
bebe, joga, & he dc molhcrcs^qucllcstacsfáoos meus
homéf.O mal ganhado malic ha de dcfpcnder. Viua«*
mos todos, he dc louuaminhas,fartoo delias. Çucr côci
tarluas mentiras, aparelho os ouuidos,cnchoo devaida
dc, 5ccIle amiqucnáo fou táoefpiricua!,cnchcme dif
J fo,quc fe vende na praça, feja nas boas oras, trato he,c ro-
0 que elle poem dinheiro, &
cupahuras, dure o que du-
rar.He enfadonhoíNáo ha logo de fer tudo, como ho
)t mcmqacr, & de q me podem melhor feruir os meus
CJ oui\idos,& a minha lingoa, quede me gatiharé de co-

0' mer? A moçamao vos hà de ler outra fe nao cfta Lucre


cia, pera quetn agora coda a cidade fe embica Guarda

de efcaudaiizar ninguém que as obrigações efqucccm
logo, as magoas nunca, là fc auenhão, que cu nam mc
li*
manteobo.de olhos verdes, quando n*.CiVcrcdc$,3 mor
fcicnciaquc no mundo ha afsi hc íabcrconueríâr com
os homens.bom rofto,bom barrete, boas paliuras,não
cuftao nada,& valem muico.E afsi quem fabc de tudo

nJ
iftojfaz bom barato, os paruos daruoshão antes dínhei

aif
ro,& eu antes o queria, Iílo náo fc aprende cm Pariz,
íc
voumcacomer. .
. •

Qáfiianu lAmtnte, .

t « .
* *

t
'

V Gl Meu

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COMEDIA DOS
M E V criado,como mc
& parcio.
ícntío
Vcrdadciaamrntromaisceitoprcça
be quem guarda o preço* Achei eíh carta parece me
em cafa diísimulotj

q
lhccabiocomaprcíla.lcrradc molhcr hcdcuc defer
da moça, quero ver oquediz*(Não fei porque folga*
fazer tanto mata ti,& a mi.)Bcm me poderá e*íla mo-
ça também áqtd meter no começo defta carta (que te
pejrdes,& não olluscom quanta perda minha qtterco-
dome obrigar com (To.) Milagre sfam, que as fermo-
i

fas fazem,a que fc nam pode dar razao (e m pago de ,

me pefar do ceu ma), queres fer caufa do meu.) Mais


pefa a feu Ayo,& mais pefaràa íeu pay, quando o fou-
ber,(olha que ainda fc pode remedear tudo,naóa boi
£a,quc trouxe mos,que arqueja , Sc tiraquanto podepe
lofolego,(diíTcfãorneda tua parte, que não querias
mais, que eftc meu dcfengano,nhi o tcns.)Qjje faràa-
gora Amentc, fe nam irle deitar naqucllc mar afsi de»
jrngaDado,quanto melhor reroedio fbr»,natn lhe dar
nunca olhos,nem ouuidos,mas rfto por boas filhas, que
cilas I ejão^jam lho mandeis, que lhe m anda o feu na-
tural outra coufa. Oamficio com que fe ja tudo diz,
& faz, & digo ecn mayorcsafos.Masbcellc o que tè

vjrmíEffc hc.Bem fabn eu,quc cfia carta mo hauia de


tprnar a maro,queroIha ir por onde ha ache , nam aca-
ba de fair de feu Gzo (fc ifto fc pode dizer), por quens
* ja nagi çcm nenhum.

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ESTRANGEIROS.’
I •>
" 4? *
f *'
„ .

, . I •

Am entefot*

K TA M paíTa o pefar. £uao pouco hà que fahi


afsi

IN daquclU cafa com tanto prazer, vendome liurr, •

por mi mefmoàpri-
de CifsivVBO.eifmc agora torno
fam de que fugia A
o prazei de todo perdidoA a car-
ta pouco menosA mais. a
que tempo, quando me jaiu
outro bem, outro deícanço, outra nenhüa
confo
ficaua
'
Lacao/aluo a aqucllas poucas regras*
Cuidey que a Ic-
a nunca ciraua,elle
uaua nofeofobre o coração, donde
queriame faltar fora do pei-
foy 0 que a achou menos,
cornarem fuabufca.M 3 S.heaqoelltCallidio
to, feraic
ácabeçã
euctooefperar,nam fcyquc nouastrarà,com
cabem jade
baixa vem, naó hc aqudle o feucufti}mc,a
pie matar os am ígos A os im*g®s.
CMii. ^ mentí
QVE
Chat falda, hrnenu. que ahi náo ha, como fe pode a-
O
char. CMdii. Eftes namorados
náo viuefn feoam de
mui faborofas.
efp=;ança,^ WÍ »«.Quc aüifana ellas
honrado, & rico OS
Ca/Wi». Olhai que pcffoas. Doutor
dedos cheos de ancis. fi.mnti. Pera mal
vau (te conto.
Ber-
CM>. Callidio.Callidio. E 0 negocio eílaemtrando
G$

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' '
COMEDIA DOS
mndotamfcfudo^íâo pcfado. Awwtt.CallldiVou
ucfaie? Vem quà ioubcfte m ais aloúi noua? C «llidio,
Fallci com Aldii mentt. Com Alda, & que te cliíTc?
CíIIíJio.Qüc o Doutor apertaua muito o negocio. A-
j»í»«.EdeLucrecià? fallidio^Qüc nam trazia roftode
contente. kmcnte.O que farei a eftes roftos,quc tam a-
5
finha fc mudam.' £?ue difle de Bertrando? Çallidic.Quà
calla,& paíTea.A^fw/f.E amolher?£a//í^V.A ambas as *

mãospello cafamento.^w>?»fí.Nam hc fuafilha.C*/


liâio Nem hc ella a que ha de cafar,& da tantas razó*
.

tãofcfudas.Ia fabes quccoufafaõmolhercs. ji mente,


E tu ja fabes, que íc tum fazem cafa fenam o que cilas

Mal pcccado .^4 mente Diífecc mais


fliandam .falltdió
5
plgfucoufaí Caltidio» ^uchiacm bufeadç Ambrofia
a velha, que criou Lucrecia.A>»£»rr.Pcra que triflede
mi. C4//iãta.Pcrgunteilho,nias deu aoshombros. ^4-
mente, guefofpeitaua. Qallidto. Mal. jímtitte.M mal
fera, que afsi acontece as mais das vezes. C nllidit. £Hie
preíTa hc cila tua,& mais pera caú, donde fempre fo-
* gcs.'* A«£»r£.Pcra que queresfaber mais das minhas de
fauenturas^furtcim e de cafa com tamanho acodame n-
to que perdi aquella minha carta, que fabes.Eu hiadiá
te achcya menos, ioime, como achar mcaos o coração
torrjo em fua bufea deixame ir fò,

.
*
Dtwdmei
-» -«•
Callidií*
W- •- - .
*

. .

Eft'

Digitized by Goosle
ESTRANGEIROS.,
' *
'50
1
'
*

Ncão deixai vos frades bradar do púlpito, & bra-


E cejar, que não ha hi dias aziagos. Calliilio.Muo rof-

to traZjfcrà conforme. Pcuorantc.DhoCos homés,quc


íc lhe crc quanto dizem, fallulu. Andomagoadode
lhe ja ninguém crer coufa ncnhüa.DíflírdWfr.Quc ho*
ras eftas, pera ahdar ainda em jejum,aindaqueora dia
dc jejum. C alluliâ. Bem me parecia, que dali vinha si
tefi e ao gato. DeMtYânte.Toàos far tos,& cheos,cncnra
querem gracejar ,
que me anda odiabo atcentamlo
pera fazer hüa doudice,enta rç\ vereis como logo codos
medãoo corro, corro dizem do couro. C alhdtc. Pois
quanto mingoa da boa cornadura nam fique. Dr«<f-
a

rawrí.Cuideidc achar ja o meu Soldado à mefa , & hia


lambendo os beiços dance mem , fenam quandoeu
vejo, que me cílaua aguardando àfua poi ca hum ta-
ücrnciro a qucfoucm diuidade alguns marauedis,
olhay mais, & vejolhe hum bcliguinaz ao lado. Hia-
Ihc a cair nas mãos. Quanto vai hum homem acorda-
do, defeebrios de hüa legoa ,
dcfuicimc então per ou-
tra rua, cu là,ü Icuantauafc arniido, como barbori
hum
nhoem tardes deverãojança^pedras, cfpadas, não fcy
como fayviuo.C<<//ií/'(í. Vafo mao nuca quebra, Dtuor.
Hum gentarqúe cc Dcos miniftra quantas coufas tccf
toruáo.Crf//^^.Poisaindaomeuquinham teefiaqua
guardado. Deutrdnte. Dc que aprõueica ícr fcfudo .

entre tantos doudos. Iudcu houucrns de dizer, que


namfefudo. C aííiJio. O meu grandifsimo amigo
G4 De-

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COMEDIA DOS€

Deiíorante quanto ora folgo contigo.


mc direis vos a mi, que nam he dia aziago? Calltdió.
guc he ifío,quc afsi.vens de ma graçaj nam cra eíTc o
teu cuftume.D^tfráwrr. Dcixame paífar que nam hey
contigo nada. Ca/Ww.Qjuc cc fiz,algua agulha ferru-
genta fe meteo entre nos. D atarante. Requeirotedá
parte de Deos,quc me deixes ir em paz. Nam fejasa*
<pi hoje o meu peccado. CAUdie. Eípcra que logo tc
au iarci. D; W4»r (?ue<?. mc queres? C alltdio. Dous to-
ques detrouas dc improuifojquctcftsniflo graciagra
tis data.D. »^r4»r«.Nam hya eu hora cuydando em al.

Çrf/hdw.Tanto mais de imprcuifo.

C meço. D euorante.
Se es quebrado ou fe es inteire. Eras p:ra ji Ifdoeiro
Que afsi \ds aos folies dando, QueVai caftaucis tocado
D<b d cabiçdejcornande Btm/eiqfcfle apalpado
Se es touroyou Velho ftnddre. mas na ts be checarreirs

Callidio.On o fiftejComo quem cs , & mais pelos con-


foantes^ucra hora te cõnuidarei,j4 podes píflar»

Br to bis. D uerante.
T^ASS Â M as horas dc comerão gentar danaíe,grão
-I- força dc negocio detern a Deuorantc. D^or*nt<,
^andomcauercy eu dentro naquclL caía quçrnç
,

. pjç

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ESTRANGEIROS. çt
ojctâtítàscoufas defendem ,
tinas Vejootiíeufoldado.
'Rritbis. Qge detenha foi cita? ouuc quem te fizefle al-

gum dcfprazcr?0*«0r4»fr.Ia me conhecem pov teu, di


gotr,quc nam querem prouar,cotno pòes as nváos,&o
ferro. Briais* E o fogo indadeueras de dizer. Dtum
rântt E o fogo também. "Bticbis £?uc nam ha miiyto,
.

que eu chamufquei huns poiutos dc villãos por hutn


dcfprazer que me fizeram. Nem faberàs,como cu ju-
gato de arcabuz. D
tutrtnte. Saibãono teus imigos.

$rM. E dos Soldados deita voíla guarda de Paler-


iro. Üeumntc. Sy, dc como os desbarataíta. 'Bricbis,
Com húafoo palaura queres tu paífar por tamanho
feito? Dcutrànte. IíTo feria, fe asm uy tas abaítaííem.
Bridis.Bcm diííeftc,como esauifado.Dwo^Mff.Vou
aprendendo dc tí B rtebu. E do víío tamanho^ tam
mcdonhojque mc dizes, pois o viftc/ Peucrànte.Sàbcs,
que então difleram todos?£rií^Q^uc,por tua vida*
Ueuorant'. Qucic apalpara o víío com o liam. JSritbis,
Ah,ah,ah,ora nunca vi melhor dito do pooo , Deuoran
te.Afíidizopouo,que nunca vio melhor feito dc hu
homem foo?B"i*^.Nem dc dez. Dr»or4o/í,Ncm de
5

vinte, ô fenhor Dcos,que nam farà dizer a fome/ Naó


fei pera que forão mais poles, nem mais dados na tclta,

aqucilche hum víío manfo, que ainda por eíTas ruas


brincando. Benzer tchias, quando mc vififes fal-

tar a traucz tam ligeiro. Dtucranre.E, tam airofo. Mas


tu nam mc perguntas por nada O meu amigo
grapv

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COMEDIA DOS.
grandc,coftioqucrn dcfcarçafobrefí.Pí0írd»/^Não
,bc pera asruascoufas de tal fcgredo,& preço. 'Brubis.
Entremos em cafa,làfabcràs marauilhas,e eu tarrbem
contarei das minhas.Df00rrf«ír.Odcmo3izacfte,quç

Jião dc Ter mentiras por mentiras,

AG TO. III.

fttromo Dcmor.
'
V *
V
E nos outros paTaft os taôafinhajC^podemos fazer
Sque dure muÍtorTfro/>#,j eâtx rertm ; tuque o mui dia

faVítift*!. OmnU ccnfu-nitis. Aqilclla tam antiga, «Sc


tao nobre cidade dcPif),cm
q uacijhejComo pofh por
tcrra^poispcrdeo a fua liberdade ,
& os feuscidadoeS
efpalhadospelo inundo, antes que le verem íeruir aos
Florcncins feus imigos.Fizemos todoso que pudemos
.& a que dcuiamos^gora^uc temos de Pifa,fe nã par-
ditiros,& campos, Tnyafuir > como diz aquellc di-
uino PoctáíA mi coubcmc cm forte cfte Palcr mo. on-
de me magoao eílas lembranças muitos annos hà,mas
que farcy,femprc afsi bei de andar
gcmcndoíOraquc
vílier,verà cambem a Florença a fua pancada,q quanro
Vay mais crefccndo, tanto fera mais cobiçada. Nam fe*
começarão em nòs, nem acabarão em nos cftcs jogos
da forcuna.Com illo mc vouconfolando,os homésda
> *iinha calidadc per fy fc hão dc cura^Sc fc não embai-
v,
'
de

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*

‘ESTRANGEIROS. 5*
de embranqueci fobre os liuro s.Tttriá efí vii cumejue

ieneefi.O bom juga^or emenda olançomao quanto


pode com o fab:r,porque nam farei cu 0 nicfmoífrez-
me o mao lanço eftrangciro 3 eftes, cu mc Ihc Farei na
tural com as boas obras, com a manfiJaro, & conrofa-
ber,& mais fc acabamos cílc càfarnc nco,como cuydo,
cada dia cfpero por meu ir m áo^dizem mc,quc hc arri-
bada híhnaodc Poente, aíTcntarnoshemos aqui am-
bos.Cerco os homens nam dcuião dc Fallar nascoufus
do mundo/enam depois dc muita infinda experiência
que fcgundooPhilofopho. Ejl tnAttr reram, Çuantas
concas cenho ntfta vida feitas, que me agora cumpre
dc rifcar?0 cafamento^ que cantas vezes chamcy caci

uciro acoftumado, corno agora aucr,quc hc coula ían-


tifsin)a,Ôc ncceíTaria. Os filhos, de que tantas vezes ri

cos mefmos pays,decomo nãofabem fallar; faluo nas


fuas graças, dei de nouo volca,& acho, que fam todo o
gofto da vida, & da fazenda, & bem fouberam as leis o
quedizião em clamarem feusproprios herdeiros pon
to alto,£r cie apicibuj rWi/.Quanto acafar por amores,
& mais nefiia idade ,
digo nclla riiç hc mais neccííario
algum contentamento, quando me os outros todos vá
d efem parando, que differenças dc cofiumes? Aqui me
deram dote honrado com Lucrecia & logo defronte ,

cm África compráoasmolhcresquemusquer, parece


que nam hc ma razam.Mas vejo eu a minha ci iadaf Si
ycyo,uouas teremos-
Sar*
*•"
a •

\
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E

COMEDIA DOS
3
Sárgintá', fetrtnic'

D V A S fortes de homens ha no mundo que fc pof


fam feruir,ou muyto paruos, ou muyto namora
dos,& inda os namorados tem grande ventage. Quaa
to tempo hà que firuo^neu amo ícm medrar hum vef
tido, nem hüa boa palaura que
,
cuíla menos. Tttrtnio,
Que dar de lingoa gram cafo cfte de molheres. Sar-
,

ara. Vem o velho, & namorare^ogofuy vcftida, 6c


priuada.^ífríflítf.Naõa poíTo bem entender. SáYgtntà
Nunca viflcs tam boa gente, nem que afsi fc vos deixe
enganar cam lcucmentc.^írr*»íí.Enganar, ou como.
Nam hei aquella por boa palaura. Sdrgtnta.E mais Dò
rio foraja do trato. Vetr co Nc tratos taó pouco. Sárg.

A verdade hc apanhar. íta Peorqpcor. Strg Muitas


imcrces a fermofura de Lucrecia. htrõni\ToÁo eftrc-
Iflcci ouuindo aquelle nome,dc la deuc de vir, afsi com
clle na boca a quero chamar, Sargenta,Sargcnta. Jt**-

^»ra.Huy,aqiu llc he noITo Amo,femc ouuiria , mas


clle nam houue ja muyto bcva/fttrmo. Vem quàSar-

genca chcgate mais a mi, que tc quero perguntar don-


de vens. S argenta. logo te o coraram diíTc dondc.P*
tronio.Quc marauilha,fcellc fempre por la anda. Sutm
gtnu, A mi me parece que o vi. ‘Petronia. Folgo com
ifío muyco.E que anda amiaha alma fazendo por
pois

la. SargentA. Espalhando treuoadas,como fino de vir-


tude
ESTRANGEIROS. 5$
tude.ftrr*#«.E parececc,quefkao ceodcfpejado de
todo? Sérgtntd. Limpo como hum cfpelho. ‘íttror.io.

Nem Ià contra o Poente narai enxergas nada. 5 * .

Húa pouca de ncuoa,& vcnCO.^/rwj^Dahi fe h uan«


tão as vezcsgrandes treuoadas,tr as quecntentlc ílc dei
l 3 >Í 4 r^»M.MuitosfifoSj& muytas virtudes, ‘fttronio**
De quem Sargcnta? Strgenta. De Lucrecia, fetranit*
Afsi faze,nomeama muycas vezes Sarjrtnt^. Nunca fe
talgraeia vio,nem tal íifo. P etraoio. Tal aíTcnto,ncm
tal fermofura. Sàrgtnt *. O que todo o mundo vè pera
que hc dizerte mais. P aromo. Ora vem qua Sargcnta,
que tequeroagora perguntar per hum ponto, couíà
cm quetenunca fallei. Ouuiftealgúahora falbr num
mancebo Efpanhol, que fegundo dizem anda aqui per
dido de amores porella? argenr 4. ÇualrHum capa cm

colo, que à primeira parecia algúa coufa,ja agora nam


terà que defpcndcr,&: parece que cahio da ferca.Ptrr*
Ȓ#.Ha,ha,ha,como o pintaftc cambem Sar^H/v.Cou*
fahe ifto peratc fomente lembrar? Pr/™»;*. A mi naõ*
masaLucrecia. S 4 rgí»/v,Querifc, n ãohe iíTo,fc nam
'
pera a nomeares muytas vezes PrtronioAo . homem fc
fudo tudo hade Icrr brar, & mais iílo das idades rcleua
muyto. S.m^f»f/r.Ebem que difpofiçáo, hc afsi a tua?
Pctronio. Dadilpofiçáo. Dcos feja louuado, nam hey
inueja aninguem r a idade pela ventura parecerá mais
«loque he, cos nojos, & cos trabalhos, com que fc as cãs
atíúnum^Sa^rflf/.Qucm nam Lbc^quc as cans nam
* . fazem

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COMEDIA DOS.
fuzcm vtXmcç.Tttronit.XL maisfegundo o Philofopíio^
no cafarr.cnto o homem hà de ter boa auentage de an-
nosà molher.iar^wa.Miiito relcuaoquc qucroPht
loFopho pera o que ellas querem. Tet ro nio. Ao homem
henecefTariomaisíiPo,& mais experiência, como quê
ha de goucrnar. Mas aqui temos Deuorance acolhcte*
Sargcnca,qucc(lc fempre aodaetr eFpreita pera lcuar
cotias de huns pera os outros Saneara. Que dita cama
nha vir quem noscfpartiíTV.Nãofci porque dizem ta
tos males da mentira, digam o que quiferem. Como?
E bom fifo Fora contar cu a noílo amo rouy verdadei
ramentCj-londc vinha, & tudo o que fizera* Oo que
1

pra*zcr para clle,& pera mi que proucitoí E afsi com.


eftoutra mcíiüha eilc fica doudo de prazer ,
& cu vou.
cm paz.
'
* >

D euordntt» Tetrtnio. : . i

"
'
* *

*

NM
*
• • • »
A haja hi mais tal paruoice, nem Fe enforque
ninguem por paixão que lhe vença. Tetronio. De
boa tempora parcccquc vcrr..Deuorjmt*Como eu oje
andaua ]oya?com todos queria aticr brigas. B.m dize
que Fomc,& Frio, mas o frio hc vento, típera rei quãto
fi io ha é Alemanha co cila capa çafada^á rr.e folie nm
guem em fome//Vfr0»i*.Fom'c ou querNao )
he pera O-
cfperar,que Fe inuUria aos dentes. Dtuoranrt.Em fim
quiFnie Deos dar Fofrimçnto, quando chcgucy, schcy.
tudo
ESTRANGEIROS. 54
tuJo preftcs. O fpldado bebera ja ha minha rcuclÍ 3
}
cntam começou a contar dasíuas façanhas, m atou ven-
ceo,catiuou ,
cu também entre tanto por nam eftar o-
ciofo,dci faco a mefa.TVrrajíif.Bem efU,fat to de ue da
vir. Saybamos nouas. Onde fe vay o grande meu a-
fnigo Deuorante? Deuerdnt<* Qnde maiscupiprír a*
osíenhorcs, & amigos Taronio, Que nouas correm**
Dtuorantt . Muyeas,& pouco certas, como cm Paler-
mo acontece cada dia, faluance fe he verdade humas
que me deram pouco hà Pwviw.Que taes Dcuoran-
te. Dtuorántc. Q^ucesjadosnoííos. Petrenio.P iffo
has por coufa noua. Deuarante. Sy, que dantes tinha-
mos cfte como cm preíhdo. Pètrvnn. E agora como:
Pruorante. Por mais que noífo. P ttronic, Afsi quis
afortuna. Dtuorantt. E o amor também, P tronio.
Ab,ja te entendo, & niflbhauerà mil fentenças. Deuo-
ouço fallar por huma boca deixe-
tAnic. Antes 3 todos
mos alguns dedos queimados fora. Perrow/í.Hàjhajha
& eílesfarãoa mi inda mais velho, & a elU inda mais
moça. Diu ránte. Comoquenam viíícmos por c-
qui moças ftfudas , & velhas doudas que farte , & fe
muyto tecumprirem de minha cafa podes fer fer*
uido. Pi trtnit. Eu to agradeço rnuyto,mas por
agora na praça e ff um as moças. Deuoranre. Tomay.
li. Afsi fazem, p3gam hÜ4 graça com outra. Pitu*
pto> gue dizes? D uarante, Que tudo fe acha cm
ij
fizos, graças, & galapurias. Petrtnii. De ti rr.c vem
* quç

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COMEDIA DOS
que me nleuanwsasefpiritoSjmasfaJIandodc flfograri
tiespriujl giostem as m olhe res <3 os doutores fcos cU

las entcndeffem. Df»*r4»ff. Que negra confolaçã pria


cipalmcntc pera asbellas malmandadas, &afsi os ou-
tros homens cm voffo refpeito , certo que fe podem
chamar corpos fem alfnas. Pffr# 0 /f.Donde fingular*
mente vam inferindo os noflbs doutores , que fe nam
pode doutorar hum homem morto.DiJwra 0 ff.Iflb he
Ccrto?Pirrf0;#.Ccrnfsimo4 Oeuertnte. Qucmaisquc-
resícis o que fe diz da cabra tiiorta nam diz mee.Pf/r#-
wif.Elpancaflcípois nota mais, que cabendo nas molhe
res tam altos títulos, 'como he Condeffas, Duquefas,
Raybhas,Emperacrizts,Síc. Mas Doutoras, iffo nam
por mnis letras que tenham. Utu$rante, E cffas nam tc
cfpiriio^Pttrjnie.Subdlirer Dcuorante,masrcfpondea
do ^rf«íffr,dcclaromequeodo cfpiriro,quediffe,pr#
cede neg4tiue,nân affirmAtiue. Dtuoréntt.Toúim&a mo»
lher do caualkiro tato pouco íc chama cau-llcira nem
do deudeiro Pif^ii.Porque nam íam A»
efeudeira a
mazonísque tragam armas,& efcudo,& poriffo logo
dastioffasdiífc^por mais letras que faibas que te pire*
cc.Diiwr 40 rf.Nao ley,là vos entendeis, grande* vida le
uais. Petranie. Afsi podemos dizer com aqudlc noffo
grande IgffnÍJno>7\ Ã#r;í dúcmvs mftmnesfêc.
7 '

rante. Pois bfcffe voffo luftmuno, nam fey que eu ja


ouuidizcr. Pirriow.E que. D?*w™«f<vQt?ena’m fofa
clle dosmaiscatholtcos.^frríMtfO língua dcfcjp&és*
çfere-

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*

estrangeiros. K
tícreuencloeljç tão altamente.
Defumntà Trinitate, (7

fiJe
Dw«r<tnte.Tàm enfadonho hc trte,& tão
cMic*
conuida cambe. £ue
vão como o meu íoldado,& não
façoaqui.mandas de mi algúa coufa mais?P ctronMto
al fe não que fou teu, eu,& quanto
tenho. D epcrdnte.
Eifmc rico,&: beroauenturado. Afsi viua clle , &
afsi

medre, & dcfpoisfabcisquc vos refpoadem por fuas


Icitf,quc pahuras de cortcfía
oam obrigaó.Nunca taes
direitos viftes. Achãoquchüa foopalaura obriga, 6c
cu
muitas não,nioajaes vos medo, que coro
edes cacs

faça muita farinha-

..j
'

¥etrfoi»Do»hrfõe.
r

D E fque homem nafee ate que morre fnaotrati


coufa de mor pcfo,quc a docafamcnto,quc cada
dia rematamos tão leuemente. Grande feito
que fe te

vendem hum rociro manfo,ouhua mulla maliciofa, lo


go hi fam mil leis ate a judar,& tem procuradores tan-
to que dizer, & allegar,&natua molher,porquem dei
xamosos pais,& asmais,ali nos defem para tudo, &fo
a morte pode fer boa. Pelo qual ediue
tanto tv^rx; po foi

teirOjVim aqui cnm fosas letras, dc que a fortuna me


que a eftes
nao pode roybar, com cilas me rcmcdcci,
fenhorio dc
noífos direitos oão fc lhes pode negar o
íQdisasoutras fciencias.Os Theologos jazem por to-
dosífíçs modeiros m«idicautes,coma fc cllcs chama,
T^r-. *
'
H PU;—

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COMEDIA DOS '

Phüofophos ja pa (farão malauindos huns com os chi*


tros com fuas barbas,& grauidade. Poetas tudo põem*
em florcSjpelofruiconaõ efpereis. Os oradores nos ds
tiramos das fuas vczc9.0$ Aftrolugos fcmprc tratã do-
por vir,dc que cllcs nem ninguém fabc pouco , nen*
muyco. Fificos ganham bem dc comer, p»rcm hc corA
outioho na mão.Arciftas debatem fcmprc fobre a lá*
da porc»,& antre todos cftes nam ha hum hon em dc
negocio, fomente o Iurisconfulto hc o que pode trarar
& rematar duuklas dc fubftancia,toda via frades entre-
meter fc que rião t mas não cem azas com qvoem ,que-
a vontade não lhes falece. Sò o Iurifta pode andar có o
peito alto,& fatisfeito dò feu fab*er,quer feja pera con-
certar as coufasdcílavida,quer da outra. Ifto hc oqte
»d eua,& cfouie q,cenão bufea oinguem/enão que tç
ha rniflcr^
§uiJo y & Waronitirmãot*
CniJo. A Inda me não parece que ponho os pcs eifr
coufa fiimc.Pf/rtfwíí?. Hücífrangeirovco
quero ver fc traz nonas. Cjuido. Elle mal tamanho, tanr
brcue,.tam m uda ueftão c fpj n to foque m oufou primei
ramcnte dcacomcter? Tttronw. Não ferfe me engana*
©'dezrjo,masefte me parece Guido meu irmani perq;
cfprrraua.C^Jff.E mais ncfte tempo-, cm que homcro y
qnoroar entr^o menos cj te mc*hc ©mefmo mar,P</v
l

^mdiiuida eílc me parece ^«idí.Quem lempre and*

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ESTRANGEIROS* 56
*
cuberto de noífos irrigns,& da fec. ^rwV.Seduükia'
5
algua cík hc,ô meu irroãoGuido boa feja a tua vinda.
Çuida.Wlzo irmão & p&y es tu cílclPmonic. Pois tu es
3 vindo a faluaroento çfte lou,& tudo hc fuluo. ÇhidoSa
3 inda o bem foubcíTes íegundo lc 0$ cen pos tornarão
s aos naue»antes.Ah pecador dc mi, que bem deqcram
i dc abaílar os feus males proprios de m.tr. Tctronia .

- Qui éfctnJtínr m*re innduihu.^viicrunt opera eitts , 6c


t por ifTo as nofías leis feis mefes do anuo defende a na*
í negação. Çuiât. Todosdozca dcucrão de defender.
: P<rfr*#/*.Inda agora ves, como cfíiueresem terra dous
) dias, tornarás outra vez bradar pelo mar. Cuido. Bem
< * fcyque alsi fomos feitos. ‘Petrcnio. E toda via cu bent
i folgo de vires afsi aborrefeido deftes caminhos, fenão
! hc com grande perda da fazenda. Çuiào. Tudo pafibui
tor menta, & porem fomos cm Palcrn!o,&achote viuo
& fam. Pi treme. E daquclla noíTa minina dcfcobriílc
noua alguaPÇfWf.Dirtehci o que pude íaber. Em Sir
j
denha achei hum noílo Payfano,& conhccetc,< fic me
,
contou, que a vira depois em Florença,' & depois cm
, Roma.PíírtfWtf.Em Roma, ora a dà por perdida dc to
do Çuid*. Ná fabes que as duas partes dc Florença fjo
paliadas co cílefeu Papa aRoma. /Wnw.Náo me fales
naqucllcs clérigos tão ricos, & tão ociofos,q-cu ná cui
do,q D^oscó coda fua padecia ospoíla fofrer muitoté
po.6*/.índa entã pela idade cracoufaimpofsiucl. Prf.
Tapco mais feito
"* ~r'
Romão. Guid?. Contapamais que
**
1 • 1
t t %

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COMEDIA DOS
dcrã cm Roma a peílc cm mercador ÍIõ
caia daque-lle

rentino/mdea mininacíílaU3 > & que hum dom Abade


feu irmaó delie, homem Rciigiòfo,& bom, a trouxera
pera cíla cerra onde clle tinha renda agora conjcílcs
,

finacs não tcpodeerrar.p /rc».Daqui por diante buf-


t

qucaqucmquifer.C»ú£>.Porquc? Pír™»;<7.Porquc as
moiheres nãbhão de andar muitos caminhos, que iam
bua perigofa mercadoria, quebrão como vidro. Cuide»
Em tem pos de cantos trabalhos,& tamanhas m udãças,
que menos fe podia acontecer. fetrènio.Eu to direi per
deríe de todo,que nunca delia maisfoubcramos.ÇW.
Tu moencomendâfte.Píírtffl.Defcjauade ter nouascj
*
efcrcuer a feu pa^,& eíías quem lhas efcreuerà.Cifiíta

Iremos por cílcs finais mais auante pola ventura nam


fera o mal tanto.Tenho necefsidade de repoufar, que
inua mc a cabeça da volcas.‘?rrr#.Vamos,& ia te darey
muitas outras contas.
v f.l

ACTO. II».
* I
fc

Céfsiano*

D E me não poder ter mais as ligrrmãsme


pera fora,náo
tinadamécc
fei
q Faça a cílc
em cafaem bufea dc fua carta, cu difswrü'*
fayo cà
moço entrou defa-

lei fazendo^ue entendia em outras coufas,cilc como


aachoüyCornou cm fita cor, & aror do,Ellou, rio, final-
Kcwtegentatposerapaz^asdipoisqucp^ílcou , 6c
ESTRANGEIROS. $r
cuidou, récolhe a camara, ali fez fuasfemcntaçôes, cu
que o efpreitaua,& que o criei não o pude fofier,mais
Venho fogindo a minha fraqueza, chore a Tua vontade,
& defabafaràquea fimgria dcftesmalcs,fam lagrimas
depoisque chorar muito, tornará a rir. Masque dou-
do he o que vem correndotaam lhe erraua cu ora niuy
to o nome>que cfte he Callidio,quc cabeça.
i
- v i . 'J Cr.<
• • . * - *

< . C<tt; • ‘
• Çfiàêm. • •

Y- *
•. . ..i. : . zeu:-^ ;•

*

A Parta, aparta, que pfônocftes ró cuspes perãqua-


to fam, quero ver o que tenho nellc?, nas preífas
íe conhecem os amigos, guarda de diante* guarda queí
vay lobre apofta.C^w»*. íftopaffa ja de doudice, 5c
deue de fer vinho. CW/iWi<\Não fc rcie ponha n jogue at
diante, feoato quer faber como o encontro. Cdfsunt*
Hora nunca vi bebado tao de fcnuoltó dos pes,qucfoo
chamar, CallidioiGallídio.CW/i^.AqueIlc hc Cafsia-
:

no,afsi fomos ncfte mumfo,& eti bufeafüa Amcnite. Caf

ftano. Oh doudoque te mingoa pera tirares pedras â


gente-C illiÁu.h diífoque mcmmgoa me pefa..C«»/jr.
Porqo£?Gj //ó/if.Naffi fabes tu aquclle dito tão Vcrdt
deiro,quc o bome,ooauia defer Rey, ou doudo. Çàp
Pois quanta dc doudo cu te a(Tcguro.TS4<is, porque cor
rias afsi?Ca//iiw.Dos doudos, todos rim,& nam fc efi.

panta ningucm.C^^» 0 *M,il fe podefh rir os a que cl

les fazem
~~
mal. C *ÜhHj» E cu que mal te fiz? C álliJie.

- ;
r;

H3 £uan"

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E .

COMEDIA DOS»
Quintos paíTamcs cm Palernio quría.m muyto?, CnU
o dizes a todo p mundo C*/ui*»s.E áinda ef«*
íidtt.E afsi

fa mà vingança nao queres que tome. CdlliJio.fL afsi o


has de dizer a ntíflb amo. Qafnano. guando fera iffo?
Oi//ídío,Cedo.Çrf/i)4^(í.OndcíCf//^«. Neííc nncírno
Palcrmo.C^/júw.DoudOjfie nunca homem fabe qua-
do falh dc verdade. Agora.' Opi*»*. Qucoi
to dirTc.C<t//w/ií?.Efíes meus olhos bcllos. (í/ímm. m
que lugar? Qállidu.Nã Ribeira. Porque o
uã acõpanhauas. ///.Vim diante a dar rccado.C^/jía»#
Torna apos mnVay.CWi/Wi*. Por agora foo. Fotgucy
,

de me dcfpcjar defte por bufear A mente pera lhedar


fílas boas nouafccom que haja íeuconfelho» que cu a4
lâido tenho o m eu de «panhar os pcs. Àndaua o cr iíle
pera perder o íiíoco negro cafamento. Agora que ía*>

ia com tal ajuda? Ay mimoíoscriadosem vofJosap-


pctites> que cm fim vem a Ter o.qiw na rD quereis crer

nem;oiwirv cncamermpreccr. Maspay^dtlho hm-


A my íoo cumpre bufcartneuremedjo, Si maiscon»
Cal valcdor^como cenho no Ayo.Mascucíla conta fa«*
çp vque. tampouco Ecnhjoaqu^como cmVaknça.Bons
pestenho r &arrezoada l(ngon vdomáis ( como di*
zem )íobi e a terra anda
.
o iuuç%. i2dd clxi fee dc aof*r
fa cafjv *
^

'
l

i «sÁttitftfC* OJidiâr \
• a

ESTRANGEIROS; 58
^Afsiahonãoapparcce,ncmCallidiOjOncte fugirfey
C>de hum,& ondeacharcy OQUtro*CW/*^ Ȓwpe-t 4

or nao falias, que be teu pay., yimtnte. Hoje com a


preflfa da carta nam tiuemos tcmpo.C#//í</«.Cadavca
fc cllevay cncurtãdo.mai&.><»ewfr.Çucm f»c chamai
Oh meu C«Hidio,quc a ti bofcaua. O4ilUJio&W a ti*

^wr»/f.Dcíuieroonos*& vamos bufear algum lugar


c/n quefallcmosà noffa vohcadc.O///^. Oh Amen-*.
te ànoffavoDtadenão podemos nos faliar.^wcwiy,

Porque Callidio. C tlltdu, Dcfpoisquc mc dei xaile*


dei comigo na Ribeira,que:mc temia muyto do mar,-
& velauamc dclle. Em fim tantas vezes fui la até que
arrecadei. AwJíflff-E que Callidio.C 4 Í/iJ. Achei nouas
dc teu pay.^íOTfwrí.Triftcde nii,hecllc morto, que af
fite demudafte. Ca/Mi*.Tu, &cu Arccnce*ibnnos os
mortos, que clle viuohc,& fáo. ^/tmerite. IíTo he bem.
Cálhdu1, E dentro cm Palermo. A mctttr. Iílohc mal.
Çéjiid^.^ío vesquao pcrtoVíboa o mal do bé. ^Aml
Contaíme tu verdade Callidio. íallrdte. Muito contra
minha vontade. A £>ue tc parece defia tua vinda
a tal tcmpo.Calltdie. A meu parecer o Ayo 0 mandou
chamar>&aísi quando lhe agora dey a noua, nam du-
uidou dcilamuyto.>ií«>í»rc.Fall,ificlhc.^///i)tí-Fall>ir.
dizesr Valcome que o vi«primciro,quc ellc a mi. Deu**
tra maneira (como dizem do lobo) eolherame afaj.
la dc todo. A ment/.guc confelho amigo meu Cal-.
lidi o, rfalluiiQ. Amcntc o cípaço bc poticç. , as
H 4 pa-
'

* «*
COMEDIA DOS
pdauras fiãfa podem fer muyttw. Teupajr bnttocrw
nhcccs hà dc trazer foascpnus repartidas cm duas-paf
ces ntm iguacs,conttcm a fabcr>a cireprehendmc^&a
mícafíigarmr.Bcm fab«s,quc fc criou cmGalez,aqucf
kamor depay que oqua traz vtciha<ic valer, não te ca
çomendes a ©utreJ facto, a mi hc neccfíarío cncotncn-
darme aos meus pès.QuIàqucm hc aquclIcBTodoo ho
mem meagora parece Valcnciano* ^4menit. Àfsi me
doirarias cm tBldefcn*pacoi >
Çttíidfo. Taraeífoio me
deu ias de aconfe lhar que fug i íle fc te krubraíFe o pe r I
go cm que me ves pois hc can tç m or que o teu. A *»r
Lembra mas namvesemque tempo mecíle mal to~
ixnfCdiliJii.Sc vifíeetn que te pudcíTc fer bom > tudo
©rnaismç; cfqueccria.r -

1
t \ » * > , • 7 , • ’ , . !
, *

Dittordntt. Amtntt- / C tlliJii*

« X » . • l I * tt* » v* »..<#•.' • * • - *

EM Doutor fee faltais cil! tempo de paz.^Bc


me parecia a rai,que aula ooegcdodedar
á tf aucs» n r/» A ue 11c hcDcuorantc que ja ta*m~
q
bé foi dos meus cm mais bon aça, todos me vos hishü,o
kim.Dwarrfnfr^gmndoelkaqui veo ter-dc Piía,uar»f
fltebb aqueíb barriga; porque oaqiw lí a fba terra acoft
tuTR^uaie então o £crro,& aqui agora eoílumaft: mais
a pena +si tnentetQuc dizèC aiiiJu. M il fent idos que ti-í

ttctàèy todos traria occupadoscm tcupnj^ £>iu*r»meQ


Em íim que quucde Ic uar a moça B Agora enforcar fee
uido^

Digitized by Googl
ESTKANGEtRm; ' 59
uUorcs. ^ww^Enecudcftç* OtMWAnttMinctbos
barbipocBtes.bcm dcípoílos. Vertí hum doutor velho
com ícus habi tos longos, & derruba lhes a lebre diante p
^4 vente. Parece que falia no Doutor. l)eu*rántjt. Eo
me-u foi dado muy pofto em Cair para Dominga eom
húa iatençao de Uberinthps,por Lucrccta. A«w/j/r.Oh
mcucoração?Dí#flr4»íí*Efta noite teremos ícftas, êc
cea. yímtnu.Qiietc parece? que
Calacciro,
nunçaíonha em al/aluo em coouites. D/a^arí.For-
temeose atalharam a minha »egociaçam,quc cu anda*
• vapor alongar»& eacurtaraoma. Agora quero bufear
a dos Laberinthos>& tirallocy daqucllc trabalho , cm
que anda.

Emente. falliJic.
»«• • '

T V vees aque termo eu íbu chegado?


npuas*quetudc hõa parte,&Dcuorance de outra
me daisteuider que tinha deti algüa neccfskladc, Mas
fegundo às

*poisa$coufa$afsi vam^tèa vida me fobeja, procura pe


la tm.Gí/iiJtí.Vos outros mimofcs; logo que reis mor
«r^w/wtt.Namfea Juntaram em balde tantos raa-
fcsa hum tempo. Céihdi*. Taro pouca confiança tens
cm Lucreçia^A»»e»«»Ah Cailidio?€4/h^r#»^ueah Caí
I+dio? A»?»rf»^ue cfpcrança tam h&c&?GéUídic. £ur-
fcsdÍ4cr,confo dcfbam lAnxMW. E de foa m v& d e foã.
Qàliidtt. Naqqillo tem razan^fic mais nefta terra* cm
COMEDIA DOS."
^uc ò porão rauy afinha cm cantar Ccciliaho coiSiijr ,

dizem. Vem quà Ameme', feras homem pera me ajo-!


^dardesa hum feito ^ ^4 menti , Em taidcfcfpcraçãoquc'
polTo eu arrecear. C «lliMo. Ora bem ves que efta vin-*
dadcccupaycrribara^atiido, prllo qual aqui cumpre
de acudir fe queres remédio. C 4Íh&\ A maneira hei* 1

que não vcjo.C tllidio. Dirtohei,façimos,qüc nam co-


nhecem os teu pay por mais Vjllenciano que falle,
,

^yímente. E em tamanha agonia podes cftar gracejan-


do. CalhJio* Nam grace jo, mas antes cc dou hum ca-
uallo na batalha, fe tu fores, pera o tomar. ^ mente .

E.â meu Ayo que lhe faremos. C *lliMo. Como que?


Diremos que efíe he o que faz todas cftas calabrca-
das, & que craz bftc velho falfo aqui com nome de
teu pay* & afsi nam recolheremos cm cafa hum m m ,

outro, yimtnte. NiíTobem vejo cu o erro, o remé-


dio o'am o veja, CaUtâie. Eu to dircy Podemos a- :

cudir ao negocio d<ycafam.er.to, como dantes , & íè


çufnprir, diremos duas.palaurasao Doudtor , que
aamfcjamdc libellosdar , »cm lides comcíUr. A*?
mime* Chamarfcham à juffiqa. GtlliJic. fraca
rcrncdip luins, &o$oturos. E quanto ao Doutor;
dcyxalo reuolucr feus Barthólos. ^dmtnrc. Al si,,
que tambem queres , que erre a Lucrecia. ' C allidtcl-
PprarhOrda mcfma Lucrecia ytmtnte» Alquifc-%
ra eu fazer por ciia.,1 , Cáliuiu, Nam potie por agora
s iétji .'
Ffi
*
„-i (
d ò -
.1 .. ..


f

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ESTRANGEIROS.' 6o
esmolo. Enímatc a acudir fépre-ao mor perigo. A»
mntt. Nam tenho rofloconcra a vcrdade.Ca///^.A-
ctaras logo muytos que o tenham, & ficar te hao com
grande auenugem, tn agibihbuSy como dizem efies
práticos. A«*e»rc,Logoa mentira fc cif rema da ver-*
diàc.Cjlltdiá. Anysfc yieram aparecer tanto, que ca-
da dia fc paíTahumapor outra. Awafr.Triftc de ml
quefarey? Ctlhdi*. Se queres eonfelho, nega, &fe
»am entregatc. Amentt. Como bey de negar coufa
tam ícm duuida? Callili». Negando ( dizem cllcs)

fc faz tudo duuidofo. Amente. Kíasnam fc faz por


iflfo corto do direito ,
nem direito do torro. Cal»
lUte « Ancesquç ifío fc declare , hum Iuiz hc fofpci-
to ,
outro occupado, outro vagarofo. Ifío nam hc
tempo de mimos, teupay nam pode tardar. Amer,»
te. D| quente valercy em tamanho aperto? CW-
hdiâ. Do defauergonhamento fobre todahs coufas,
brada^virajcsbrauça^ueixate^hama por juífiça, olha
pcraocco. yimentr. Morreome o coração de todo.
Calhdt*. A mao tempo te deitou , mal o fiz contigo.
Amentf. Nao me ficou outra coufa , fenáo n aos pera ,

me mátar.C*M#.E a mi pes pera fugir & ve Ho que ,

apparcce. Amtnte Aquellc he nam o pofTo efpe-


,

rar. Q.alliito. Q^uc fazes ? onde te vaz l torna,


que cu era o que hauia dc fugir. A menu, Pcrdoa-
ü c Caljiüio *> & Icmbrate dç mi , que íç uant pode
1

O . V .
*
*»o i
• *. íofrer>

Digitízed by Google
r* COMEDIA DOS
Philofophos ja paliarão mal auindos huns com os oii*
tros com fuasbarbas,& grauidade. Poetas tudo pocm
cm flores, pelo fruito naó efpercis. Os oradores nos ds
tiramos das fuas vczes.Os Aílrologos fempre tratã do
por vir, de que clles nem ninguém fabc pouco , nent

muyto. Fificos ganham bem de comer, p#rcm hc cont


our inho na rolo. Arei ftas debatem íeropre fobre a lá*
da porca, & antre todos eftesnam ha hum homem de
negocio, fomente olurisconfuttohc oque pode tratar
& rematar duuklas de fubftancia,coda via frades entrtf-
meter fc que riáo t mas não cem azas com qvoem ,quc-
a vontade não lhes falece. Sò o lurifta pode andar có o
peito ako,& fatisfeito dô feu fab*er,quer fc ja pera con-
certar as coufasdcíla vida, quer da outra. Ifto hc o qte
|ekua,& dlcore qte não bufea uingucmjfenão que te
ha miíler..

,
*

Çítido y & Waronio irmãos» +. .

Cuido» A Inda me não parece que ponho os pcs cjfr


coufa Hú cífrangeirovco*
quero ver fe craznouas» ÇutJo. Eífe m afea m anho, ta rrr
brcue,tam m udauel, tão efpanío foquem oufou primei
ramente de acometer? ferroni ». Não ferfe me engana*
©• de zi jo, ma
me parece Guido meu irmam perq;
s- e fie

« fp? ra ua. C aido.lL ma is ncfte tempo^ cm que homem,,


qnonra-t encruo menos cfccmedic ornefmo mar,P<f,
diiuida tfts mc parece ÇviJi . Quem fempre i and*
"
* •' • - T_ '
ai*-

Djgitizêd by-Google
I

. t

ESTRANGEIRO Sr 56
C ubcrfo de noííos imigos,& da fcc. Tr/rwV.Sçduui da'
algüa cílc hc,ô meu irmãoGuido boa feja a tua vinda.
Çuid*. Meu irmão & pay es tueftc CPttrcnic, Pois cu cs
vindo a falmmcnto cftc lou,& tudo hc fuliio. Çuido, Sc
inda o bem ioubcíTcs íegundo fc os tempos tornarão
aos naue»antes.Ah pecador de mi, que bem deqcrani
deabaílaros feus males proprios de m.iT. Tctror.io .

Qui éfctndunr mire in nauihu.^viderunt opera eius , tic


por iflb as noffas leis íeis mefes do anuo defende a na-
uegsção. Çuiâ». Todosdozea deucrão de defender,
Pífrfi»;?.Inda agora vés,comocfiiueresem cerra dous
d ias, cornaras outra vez bradar pelo mar. Cuido. Be m
fcy que alsi lomos feitos. Pttromo. E toda via cu benr
folgo de vires afsi aborrefeido dcft« caminhos, fenão
hc com grande perda da fazenda. Çuiào. Tudopafíòu
tor menta, & porem fomos cm P.ilcrn!0,&achote viuo
& fam. Pr trame. Edaquclla noíTarrinina defcobriíic
noua algüa?y&id*,Dirtehei o que pude íaber. Em Sar
denha achei hum noíío Payfano,& conhccetc,efic me
contou, que a vira depoisem Florença, & depoisem
Roma.^r^n/tf.Rm Ron^ora a dà por perdida de to
do Çuido. Ná fabes que as duas partes de Florença ião
pudadascõeílefcuPapa aRonva.Prrr^.Não me fales
naquillcs clérigos cáo ricos, & tão ociofos,q^u ná c ui
do,q Dwoscó todafuapaciéciaospoíía íofrer muiroté
po.Ca/.índa cota pela idade era coufa impoísiuclPrr.
Tanto mais feito Romão. Cjuid*'. Conuuamais que
"
'‘'V Hl '
dera

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COMEDIA DOS •

dcricní ftornaa peftccm caía daquc-lle mercador Fld


rcntino/andca mininacfbua,& que hum dom Abade
feu irmaó dcllc, homem Rcligiófo,& bom, a trouxera
pera efta terra onde elk tinha renda ,
agora conjeftes
finacsnão tepodeerrar.Prtrcn.Daqui por diante buf-
queaquemquifer.£»ii*.Porque? Pitronio. Porque as
molheres nãbhao de andar muitos caminhos, que fatn
húa perigofa mercadoria, quebrão como vidro. Cuide»
Em tem pos de tantos trabalhos, & tamanhas mudãças,
que menos fe podia acontecer.5W#»ií.Eu to direi per
deríe de todo,que nunca delia maisfouberamos.Çíw/.
Tu mo encomendafíe.Pír^w.Defcjaua de ter nouasq *
efcrcucra fcupay,& eíTas quem lhas efcreucrà.CWf*
Iremos por cftes finais mais auante pola ventura nart
fera o mal tanto.Tenho necefsidadc de repoufar,. que
inda mc a cabeça da volcas.'?Wí.Vamos,& k tc darey
muitas outras concas.
-

, - -r. :

AC TO. IIIK

Céfiiano*

D E me não poder ter mais as kgnmàsme


pcrafora,nãofeiq Façaaeftc
tinadaméce em cafaem
fayocà
moço entrou de ía-
bufea dc fua carta, cu difsimU'*
Fazcndo^ue entendia cm outras coufas, ellc coma
lei

aachoi^toraouem fua cor, & acordo,fjllou, rio, final-


mente gentamos cm paz,mas depois que paficou. , ôa
ESTRANGETROSí $7
cuidou, recolhe a camara,ali fez fuashmcntaçôcs, evi
que o cfpréitaua,& que o criei não o pude fofier,mais
Venho fugindo a minha fr3qoe2S>chore ^ Tua vontade,
& defabAfsràquc a fangria deftes males, fatn lagrimas
depoisque chorar muito, tornará a rir. Masque dou-
do h* o que vem correndo?nam lhe erraua eu ora niuy
to 0 nome>quc eílc hc Callidio,quc cabeça.
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•i . Cátljdí^ •: C*[iÜ»9.
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— V..'. lúM'-*-:' j
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A Partáíãparcajqtie pfôaocftes rneuspes perêquí-


to fam, quero ver
lc conhecem osamigo$,guáirda
o que tenho nellcs, nas preffas
de dance* guarda qa<í
vay iobreapofta.C^/ÍM»r. ífto psíTa p de doudice, dfi

deus de fer vinho. CulliJitffiio fc rttepòfthanmguent


diante, fenato quer faber como o encontro.
Hora nunca vi bcbido tao defcóuolto dos pcs,queroo
chamar rCallidK)^Galli^d!O.C#//iiw. Aquellc he Cafáia-
no,afsifomos ncfte mundo, & eü bnfcafüa Arnentc. Càf
(tane. Oh doudo que ce nringoapef a tirares pedras â

gencc-Ga//#d/iz.E diífoque mcmmgoa me pefa.,C<#/>.


Porquê?G4//;díV.Nam fabes tu aquclle dito tao Verda
deiro,que o homé,ouauia defer Rcy, ou doudo. fíàjp-
Pois quanta de doudo eu tc affcguro.1Sd.is, porque cor
rias afsi? C4 //íWw.Dos doudos, todos rim,& nam fc cf-

panta ningucnf.C<^»4 »í.Maí fe podefh rir os a que cl


les fazem
~ mal. Ctllidiu E cu que mal te fiz? C êllidi*.

m Hj Quw

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y

COMEDIA DO Sr
^tjintos paíTamos em Palcrmo qurfam muycos, C'nk
Mn E - afsi o dizes a todo o mondo. Ca/k»/.E áinda ek
fa mà vingança não queres que tome.
CMio.E afsi o
has de dizer a ròíFo anao. QafjMTio. guando fera
iíTo>
Oi//;difl,Cedo.Ç#/sÍ4v,i.Qf\dç'iQaUi4H* Ncflc mcímo
Palcrmo.C4//Í4»*.Doudo,& nunca homem fabe qua-
do falia de verdade. C4///di<?.Agora. QafsUno. Quem
to dj(Tc.Cá//wííí).ERes meus olhos be lios* sUnc.íinn
que lugar? Porque o
ÇZdltidxf* Na Ribeira. Cafs^ftí.
nã acõpanhauas./^f/.Vim diante a dar recado.C a/jw»#
Torna apos roivjV
,
Por agora íbo> Fotgucy .
a
ile me dcfpcjar deftepor bufear Amencc pera lhedar
f Ras boas nouafccom que haja íeu confelho^que eu ad
^ido tenhoonje^deapaiíhwvos pc.s> Àndauaotrifte
pera perder o fiíoco negro eafamento. Agora que fa-
ia com tal ajuda? Ay raimofoscrkdosem voflfosap»
pctiteS) que cm fim vem a fcro quc naro quereis crer (

nem;OLtuirr cncam:ermoreccr.Maspay,&ftlho fam*


A my íoocumprc bufcarmeuremedjo, & maiscont
tál valcdor^omo tenho no Ayo.Mascucfta conta fa-

çp,que. tara pouco tcnho^quhcomo cm Vaicnça.Bons


pettenho &arrezoada lingoa,domais ( como di-
zem ). fobi e a certa anda o iuue%, ^ucm fac dc ao£?
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ESTRANGEIROS* 58
^Alsiancrnão apparccc^cmCallidiOjOnde fugú fey
C >dc hum,de onde acharcy o outro, Crf//i^í.No:pc-‘
or náo falias, que he teu pay. yimtnu, Hoje com a

prcflTa da carta nam tiuemos tcmpo.C*//r^«.CadaVc 4

fc clle vay cncurtãdo.mais^uyíwenfr.Çuem mc chama*


Oh meu Callidio,que a ti bofcaua. CtiUdipS cu a ti*
fc/
rf«íe»íf.Deíuieroonos,& vamos buícar algum lugac .

cmquefallcmosànoflavoncade.O/M/0. Oh Amen*
te ànoífa vontade não podemos nos fallar ..jtanntt*
Porque Callídio. C tllidu, Defpoisque mc deixaftrv
dei cotnigo na Ribeira,que:mc temia muyto do mar,*
&; ve lauaroc delle. Em Jini cantas vezes fui la atè que l

Vrceadci.AwMflfr.E que CúliàioXZaUfJ. Achei nouas


dc teu pay. símtnre.Tn&cdc mi, he clle morto, que af
fi te demudafte. C
éllidto. Tu, 6c cu Arcennffomos os

mortos, que clle viuo hc,& 60 *A mtntt.


. Hío bc bem.
Cállidu , E dentro cm Palexmo. A mente. IíTo hc mal.‘

£*AW/*.Ná 0 ves quão pertofcfíaua o mal do bé. ^4 ml


Çontaicue tu verdade C^Jlidio. Ctllrdi* Muito contra
minha voncadc*A>«f»fí. £?ue ce parece deíla tua vinda
atú tcmpp^Callídio.A meu parecer o Ayo o mandou
chamar, & aísi quando lhe agoradeya.noua, nam du*
uidou deíla m u y to. ^ T* d hc. (4lliÀu Fj
c 1 1 a ft 11 ar,

dizesrValcomequco vi«pnmdrc,que elíe a nii.Dou-»


tra maneira (como dizem do lobo) tolherame afal*
la de todo. hmenft» £ut conftlho amigomeu Cal*
lidio. rfylbdiQ, Arncntc o cíp^oihc pouco. , a#
-o j
H4 pa-
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COMEDIA DOS
jpaUuras fiáfa podetn fer muyaw. Tctipay bem oco*
nhcccshà de trazer fim conus repartidas cm duaspr
ccsnam iguaes,ccmitcm afabcr»a tirepreberidme,&ji
noicafíigarmr.Bem fabes,quc fe criou cmGalcz,aqucI
kamor depay que oqua cra2 ,tehadc valer, não teca
comcfvdcs aoucrd finto, a mi he n cceíí a rio encora cn-
darme aos meus pès.Oulàqucia heaquclIcíTodooho
mem meagora parece Vaknciano* ydmtntt, Afsi me
deixarias em tal deferoparof ÇaUiJto. Tumefmo me
deubsdc aconíclharque íugiííè jete lembraííeoperi
gocmquemevcs poisbc tantQ mor que o teu. A *»tn.
Lembra maarum vescm-qiit tempo mecfte raai to»
fM?Cálhdi».Se viiíe cm que te pudcíTc fer bom > tudo
ornais me cfqucccrúu vi. * yuy . -

Diiêerdnu* Ikmtntt . /• Cilluüt*


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CM Doutor
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fec faltais efe tempo de paz^Tté
mc parccíáa mi, que auia omgceiodedar
atfaues» ^ awwer, Aquellc hc Deuorantc que ja cam-

be foi dos rocusem mais bon aça, todos mc vòs hishõ,e


buro .O#» * rdntijQa* n d o el te a quiveo ter dc Pifa,uant
tr*2ia aquclb barriga, pojrqure naqueiu fira terra acofr
lumiíuafe entloo ferro, & aq»i ;<g©r*eoílumaft' mais
%pç\n-stinentttQuc dizíCaiií/w.Mil fent idos- que ti»
BcíCe, todos traria oecupadoscra tcupny* Oiuwame^
Em fim que ouucde Lcuar a moça 2 Agora enforcar fed
uidu-

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estrangeiros; ; 59
tende fte* tbwdnteMwccbos .

»r bipocBtcSjbem dcfpoílos. Venf hara doutor velho


m feus hábitos J#ngos,& dcrrubalhesa lebre diante 0
i ntnu> Parece que falia no Doutor, üemrânts. Eo
eu fol dado nnuy pofto era fiirpara Domingo cora
fia iatençao dc úbcrinthos,por Lucrecia. A/»tf«/r.Ob

icucotíção?Dí«flr4»rf.Eíla noite teremos fèftas, &


is. jímntt,Q \\e tc parece? Gtllijis. Calacciro, que
uncafonha cm aljaluo em conuitcs» Dxutrántt. For-
:meete atalharam a minha negociaram, que euanda-
por alongar»& CBCurtarãoma. Agora quero bufear
> dos Laberiathos xdc tirallocy daquellc trabalho, cm
juc anda.

mtntt* falüJic*

Vvecsaque ter moeu (bu chegado? íégundo as


T nouas,quetui<íehõa parte,&Deuorante de outra
me daisftuidcr que tinha deti algua nccefsidadc, Mas
poisascoufas aisi vam,tè« vida me fobeja, procura pe
latua.O/hJw.Vos outros mimeíbslog© quereis mor
rcr^w/ww.Namfe a juntaram em balde tantos ra-a-
Usa hum tempo G#/M«. Taro pouca confiança tens
.

cm Lucpeçia^À<»f»«rAh Callidio?C4/W«»^oeah Caü


Iklioi Awjíi^^ijc efpcrança tam fiacaüC éUiJtt* £ur-
fes dizer, confo çlc fbam? A iwairr.E de foa ro & d e foãv
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o COMEDIA DOS.
que ò porão muy afinha em cantar Oeiíiaho com& i

dizem. Vem quà Amerne', fcràshowcró pera me aju*


%
dardcsa hum feito lamente. Em taldcfcfpcração que
poflo eu arrecear. C* Ilidi*. Ora bem ves que efta vin*
da dc teu pay embaraça tudo ,
prllo qual aqukumprc
de acudir fe queres remedio. C <ilhíi- A maneira hea
t

que não vcjo.CW//V/^Dirtohei,façamos,qúc nam co-


nhecemos teu pay por mais Vullcncianoqucfalle. ,

^/i mente, Ecm tamanha agonia podes cftar gracejan-


do. CalhJio, Nam graccjo,mas antes te dou hum ca-
uailo na batalha, fc tu fores, pera o tomar. ^4 mtntt.
Eâ meu Ay© que lhe faremos. C Como que?
âlltdic.

Diremos que cfte he o que faz codas eíhs calabrea-


das, & que traz bfte velho falfo aqui com nome dc
teu pay* &afsinam recolheremos cm cafa hum, nem
oucro. yámtnte. NiíTobcm vejocuocrro, oreme-
dionamo >c jo* Cdlljdtt. huio dircy: Podemos a-
cudir ao negocio docaíam.ento, como dantes , & íc
cumprir, diremos duaspalaurasao Doudtor , que
namfcjamdclibcllosdar ,
»cm lides conccílar. Am
menti, Chamarícham à juftiça. CtlliJu. £>uc fraco
remédio huns, & os outros. £ quanto a® Doutor,
dcyxalo reuoluer feus Barthólos. ^Amtntt. Àfsir
que cambem queres , que erre a Lucrccia. C diliâiei '

Por atUOr da mcfma Lucrcciâé a ^4 mtntt, Al quife-



ra eu fazer por elhkl . Cdlluíie. Nam potíc por agora
..Ti
'
«‘i < ? **»< ' * *'! 1
1. j , . * > t • t .»

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*
ESTRANGEIROS.* 6o
-«moço. Eníinatc a acudir fépretio mor perigo, A»
Mtnte Nam tenho roftocontra a vcrdade-Cü/Z/^.A'*
duras logo muy tos que o Ecnham, & ficar tc hão com
grande aucnugcm, tn agibihbttSy como dizem cftes

práticos. Aw»e»rr.Logoa memira fc eftrcma daver*


dadc.C alhdio. An^&íc yieram aparecer tanto, que ca*
dadiafe pafia humapor outra. Awf»ff.Triftc dc mi
que farey? C allidio. Se queres confclbo, nega, & fe
nam entregate, A mentt. Como hey dc negar couía
tatnícm duuida? Callim. Negando ( dizem ellcs)

fc fiz tudo duuidoío. A mente. por Kflasnam fc faz


do direito
ifio corto nem direito do torfo. õ/*
,

tiiúy Ancesquç iíTo fc declare , hum Iuiz hc fofpei-


to , outro occupado, outro vagarofo. Ifíonam hc
tempo dc mimos, ecupay nam pode tardar. Amer*~
tf. D* que me valercy em tamanho aperto/ CW-
Udie. Do defaucrgODhamento fobre todahs cotifas,
brada >yira.,csbrauea >queixace >chama por juftiça, olha
perao ceo. yimtntf. Morreome o coração de todo.
CalliJto. A mao tempo te deixou ^malofiz contigo.
Arnfnv. Não rac ficou outra coufa » fenão rr ãos pera- .

me matar^CrfWi.E a mi pes pera fugir & \t Ho que ,

apparcce. A mtntty Aquellc he nam o poflTo efpe*


#
ar. C alluho. Q^uc fazes ? onde te Vaz : torna,
que cu cra o que hauia de fugir. Agente. Perdoa-
is e Caliidio y & lembrate de mi >
queíc um pode
. ,3 ttuiiJJ : V .* íoíífif)

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'
^ - .
-^1
COMEDIA DOS .

fofrcr o roflo do pay a que cem errado*


& deixame a mi cos combates. Que farey?que hey afsi

de fazer, fenam terlhe companhia com mo fugir? Eíles


ços íouueiros fam muyto molles dos cafcos.O homem
ha de fer calejado pera correr o molle,& duraQuaa-
to folgara de nos vermos co velho %os Itens. £?ue nos
oiiuera afsi de fazerípor juíliça ? teria procarador? õc
nos procurador, diria o feu, 5c nos o noíFo. Poisai nda
hey de efpreitar maisdcftc negocio, que naro cfêamos
agora em Valençapara hauermoscamanho medo aef
te velho,que vira anojado.

CdbánoViIkt. Viiálftu criádo. '


Qáürdit*
* . i . y. 'j ^ •*;

CM qwc idade cílaua euagora pera tornara fc-


ja
-L' frer o mar,& os roarmbeiros?VftAfACerto*egcf-
tete nifTo polo amor do pay,& nam por razam. CaU

homem de bem criado (cu anti-


Udio. Aquelle Ite vidàl

go, os outros nam conheço, ruim genteme parece-, Ima


por hiía nam vem com cite Carfsiano,deque muito foi
go.Gá/^Wfl.líTo afsi he,mas qucrcmcdtoft/hfaADti-
x»lq lutarhum pouco co a fome , & frio que eíles to
,
oaíiigaraó.Çrf/^Bc.Houuc medo algum mao recado,
que nc (la tem apofentaram os Poetas a fuas fereas.
Uidalhhc alguma maneira de dife u pa. (jílhéne . Na-
1
quclla idade cam cegà,& fobre tudo tícs confelheiros
Galbano aqui fomos. Vidd. O uacs confelhciros?
%
; Céiy.
t
%

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ESTRANGEIROS., 61

C*ibAn°* Os que aqui


leuam as cri inhas cuf-
taes vidas
Seruidores, que ainda bam de
tiS.Vida I.Coirados dos
fazer maisqucfeuiir.Oto.Ohquc homcinfreírpre
afsi foy defcnganado. Ca/W. A mi eram obrigados
nom a clle> K/^/.Teu filho he ja homem*
a fcruir,que
& afora Cafsiano feti Ayo, o officio dosoutros cra fer

uirquenaoaconfclbar.Ci//j^.Oh bom procurador,


& mais fcmdinheiro.He hum milagre. Aqucllcsou*
troscarraiKudos.Nam ajacsvòs medo que ajudem,né
com húá foo palaura,nunca os o judeDcos. o
Calbano.A

doente nam fc lhe hà dc fazer a vontade ,


&queclíe
conhecerà,& agra
por entam o nam conheça,depois o
deccrà.C 4 //id/fl.Aquclie he forte ponto ,vej.
mosque
ali refponde o noflo procurador. ViduL Ncííc cafo
&
que dizcs,o que jaz doente, jaz fraco, naó pode Íjzc r
maisque ameaçar, ncftoutro pocmte logo as mãos, 6c
viogãofe.CWWIfto ftáo he ja procurador,mas hum
pay.Ça/W.Ia te diíTe, que a mioimeram clics dc ter
rcfpeito^Ví^/Xftauaslõge, acudir ias tard<y.ntretãto
o efpãcado andara efpãcado, o roto roto, q agmtado
3grauadq.C4/M.E mais que peça he andar agrauado?
Qjic fogem de tyhúalcgoa Tcomo
decãodocntc.Ç*/.

Masfoybvm ftyro deitar afsi a perder hum moçojao


aflanha,afsi fa -
bem pnncipiadoíCiMí.h fc a velho
zcm quando os atalham per razam.yid^/.EflamQS cm
• tempo, em que ninguém quer ouuir conÉclho.Gá/ta».
Afsi queira Deos.C J/id^Digouos
que cílc Vidaln e

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&
*
COMEDIA *
DOS.
curou dc todo do meu medo. A razam o velho iconhc .

cc j.i do mais que me pode fazer, fei, que nam cftamos


cm Valençide Aragam. Uidal Por aqui me diílerani
.

que poufaua, nam vejo a quem perguntar. QallUiom


Quero acometer o velho que pode íer mais. Galbano.
vem hum,& hc ora cfte o bom de CalíidiQ.C*#/-
<guà
dic. Que hc ifto milagre, ou fonho. Gélbáno. Deque
te cfpantas. C4lhi1c.Dc nam faberfecílouem Valcn"
ça,fc* cm Palermo.^Mi*?. Quero difsimular com efte‘

ruim. Eíhis qua todos de faude. CalMia.Todos por


agora. Ç âlbino Guia pera a poufada,
. que venho can-
çado, queria rcpaufar.CdM<>,Aqui hc,ou lá, abri. Ef-
ti gente nam houue, abri digo. Célb*n». Em quanto
cftc fallacosdecnfa,fjlloeucom vos outros, trazei—
• meeíle rapofo diante de vos : &fcrcleuar entre ,

por força. Viidl. Ahícnhor. Cdllano^ Calate , boa


parece a c.ifa, & em bom lugar. Cj tlidit. Dizem me,
que nam fam qua Amante, nem Cafsiano voume em
ftiabufca. Galbans. Agafalhaos hofpcdcs primeiro.
C allidio. Nam tenho com que. Çdlbanô. Com a boa
vontade. C alhdic. Oulà que quer iíFo dizer. g.ucrcis
prouar forças comigo. Olhay quechamarcy por ju*.
Eiçaí* Oh, oh, Caíbdnc. Tapalhe cila boca Gr fam, i

tu Feramonte dcfapcgalhe cíía mam da porca & fe- ,

cha fobre ti.


\ *
J
h . ;v, v. ..

••
'
.

ACTQ

* •'
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ESTRANGEIROS.
* * %

< ’ /

. V; ACTO V.
* ' V . *

KtynAÜ) foo.

TO cabo dcíla minha longa, & trabalhofa jorríadi


IN quando os outros defcanção, começa o mor C3 r~
faço meu, com a dtiuida ejue tenho, fc adiarei aqui hui
filha cn cuja biifca venho.Tegora na minha eíperança
hya paflundo meus males, fem ella, como pafíarey ifi.

.foque fica da vida? O mor bem que nefte mundo


tiue,que foy a may dcíla moça, a morte mo lcuou,dias.
hà,odafilha que mc em íeu lugar fícaua , fc nio tam-
bem, tem leuado, feio cruel mente comigo ,
que me
nam deixou ncíla vida aquepoíTa akuantar fomen-*
tc os olhos, aquclle foy o meu primeiro amor, aquel-
tcferào derradeiro ,
a grande dordefua morte me
lançou então de toda Italu. O defejo da filha mc
torna aguora quà. Deyxcya encomenda ha hum
Doutor grande amigo meu em Pifa, Onda entam efitt
áaua,entrc canto que aqudla nobre cidade efteueem
pèjfempre tinha nouas* Des quedlicahio fiquey as
*cegas,tee agora que venho a Palermo, ondcmeuif»
feràm que acharia o amigo em cuja bulca Ivando
hà dias* Afsivenho com natn pouca eerceza,&. quan*
to niais mc you chegando a cila minha cfperança,
cm-

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• CO MEDIA DOS •

tánto fc mc faz cl Ia mais pequcna.Ojc he o dia da feri-

tença,cu apercebido venho para tudo. Toda via ao a-

baixar do golpe a carne he fraca, & eftrcroece toda. A


chafcja o amigo,vclohia,& faberia da filha ,
cin que
parte raacome a tcrrj,fc ja ü hc,& entam decermina-
rey de mi,& do meu o que me parecer. Que forces bra
dos vem aquelle homem dando, os pes pera quà o era**
zem,os olhos parece que lbç ficam acraz naquelU cafa
pera onde olha»

CâllidiK Xtymlât,

R Hgcdores, cidadãos, homens de bem, os grandes,


k os pequenos todos me acudi, todos
qtica todos releua,fe aqui haalgúa lembrançidc liber
me valcy,

dade,& juftiça. Rtyn. 7 amanhas duas coufas cuidauas


No mcyododia,
tu de achar afsipelus ruas. Ca/ZüiV.
no mcyo de Palermo,nam me ouue ninguem, naõ me
acode ninguém. £ey*.Calíte ora com teu mal.CW/ii.
Q^uc fazem aqui cantas varas de juftiça? R(yn. Que ri-
fo.'
,
C*//iitf.Todoomundo dorme. Dor mes?cti
Ah cidadães que todos
fonhas^tu tresualias? Cillidi».
fomos cfcrauos.X y*. Ia vay entrando em feu acorde.
*
CaáW/o.Afsi hà ifio de paííaríEsfoloume^çoucoume,
tnatoume. Se mea jaüiqa natn acode, acabarei deeti-
teoder,que fazeada hum nefta terra o que lhe vem ha
vontade, & farcy cambem o que me a minha mais der
W ~

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ESTRANGEIROS. 6$
que hçáJrReynaldo.Olhtí nam vaz,como dizem, de xr.fi
em peor.CU//^».Velho, falíb,xlifsimulado como me ,

acolheo,bem empregado foy em my. Mas vejo vir


.

Dcüorancc comfeu foldado a que tempo? Quando ,

cu bufcaua,quemouucfiTcdcmi doo, &me aconfc*

JhaíTe, outra gente me cumpre de buícar. ...

SrM Jtllado, l Dfuordntc. frynáUtí •


y
V. r"-> 1 J '
L-j)

NM
eticias.
A
eíla
acharemos hoje cite Dou&or,
curta que a das fuas aúdt-
demanda mais
Utuorante. Nunqua homem acha o que buf«
Sc faremos

ta. teynàídi. Mande Deos nam fej acu aísi. Briobis.

Nam acabaremos com cftc Doudtorí’ com cfte Pc*

troniV fayntldo. Afsi fc chamaua aqucllc amigo;


que aqui bufco.B^bla rcuolui toda a cidade.. Df-«
fazer in*
Uerant', Aprenderia quando cra cfcolar a fe
fempre ma-
«eníhld. B rubis. Cumprelhe logo andar
<
ha, ha. Briobh,
rido nafua ferpente. üeuorantc. Bd,
Turifte? Ueuordntt. goem feterà hastuasgraçasímar
dartchya hum concelho dc amigo. ‘Briiètu
Q_ue
tal?Dtuountt . Pois nam podes alcançar o que deze-
jauas.quedezejesoqucpodcs. Bnobu. Comomcer^
fadam eíles íifos, que todos trazem na boca, &
nin-

guém por obtz,.fay*Mh E Lucreciahauian ioha


fi-

cingiria cf-
lha nome. 'Briobis. E fe nam nunqua mais
D.uorante
pada. Onde Cem efte Dou&or a poufada?
•" Iunto
• 1 j

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COMEDIA DOS
Junto daquclla Igreja alta. $rUbit. Bem cftà, perfrò
tem logo outra poufada ? pera mais dus,.Oeuoranrei
Nam no has agora de achar cm cafa. ‘Briobis. Efpera-
fcy ate noytCjtiarn tem onde fe me acolha ,
fetc bra-
das entrarey depos clle pclla cerra dentro, como pe-
dra de corifco. Deuorjote. San ftaBarbora Virgem,
cuydey que era morto , Pater nofter pella alma do
Dou&or.2ry»<^.£ftoucra Palcrmo ouço fallar cm
Pctronio Dou<5tor,ouço fallar cm Lucrccia, que cuy-
darey/quero falar ao que fica foo no terrcyro. Ami-
go Dcos te (alue, D «utrante. Sejas vindo nas rouy*

boas horas. TLtynMo. Por cortefia , que Petro-*


*

tas das

nio hc hum cm que falaucis. Dtuorânte Porque o pcf


.

guntas? RtynalÀt. Por bem. Deutránte» Nam henatu*


ral deíla tenra. Donde veyo aqui ter? Veut-
rtntr. De Pifa nobre cidade da Toícan*.Xej/»dlJ0 Dc .

que idade pouco mais ou menos, Deuorante.Dmedot


desfetenta.Xrjw.CafadOjOu foltciro? Vcu. Antrchu*
coufa,& outra. teyn Pois a idade nao he ja muito pera
.

efpofado.Tambcm falaucis emhúa Lucrccia. Deuerán.


M uitas coufas quer eftc íaber de mi.quc fey cu honde

jfto irà zcrtReynalíh.Nzo me rcfpondcs.Drí/í.Ooutro


fityque fallouem Lucrccia? RtynMo. Sy, masfallaua
cm fom,como que a conhecias. Dénor. Nãofcymais
que onuila por ahi gabar de fermofa. Xeynaldt. Natu-
ral ou cftrangçiraf Dca.Muyto anda cfte apos as natu-

rezas Amigo, & ícnhqr raeu tudo fab^remos, fc niffo

ês

V
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ESTRANGEIROS. 64.

íè vai algin coufa.foy 0M0.E aquellc teu amigo, porcj


amcaçauatamooDautor.D^o^.Atr.igooucotDo?
nunca outro tanto com ellc fallci como agora. XeynaL.
Parecia que tinha dellealgíía paixão. Ddteránu.Là fc
auenham com as paixões, dos prazeres queria parte,
das paixões feaucnham. XeynáÜ», Ecftc teu amigo

betam meneneprio, como parece? Deuêréntc. Q^ac


forte perguntador ,
cuida que metem alugado por,
pouco que me peites, cu to aflVgurarci defia vez. %tj«
»M*. Efte me parece de huns truhãcs , que fempre hà
nos lugarçs grandes , voutneem bufeade Petronio.
Deuerdnte. Viftes o grande perguntador, donde mea-,
gora fahia de çraucz?£?ue fcy cuquem cftc hc, nc que
por aqui andara cfprc itando?húa por lula, m ui tas cou-
fas queria faber de mi.Outro vejo dos racfroos trajos;

Vejamos fe hc outro tal,mas cu vos dircy, o meu cabe;


dal, tudo hc paIauras,iíío auenturo.

•“ - * : . . r' . . -

{

^ • Câlbant. , . Díuountel * .
v

GAlI?AH6,f~\ Bom Calidio pàrtio não pela fria(comó


dizem)mas pela quccc, como cuido que
tile vai, va, & lcuenouasaosoutros.D?#.Vçlhos & ma )

is de mais graça, não efta aqui nujycocci to o ganho. ;

ÇWí.De quanto boro tempo tem aqui lcuadCjUefcom*


tero.DfWf.E fobre tudo contas, & defeontas não me a-
praz. ÇWTcruidorcs todos fe téhús cos outros,
"
não mo
U '
açoi-
v

Digitized by Google
CO MEDIA . DOS.:
bem, mas ja hc cometo de paga. I
ifcoicãfítm

u. D.vyo ao de mo, cm pagas anda, & nam mçdciftr


fc lhe deucrey eu , Sc andará afrecadan^
nada, que fcy
dohnas hc tudo , he prouar. Deos te falue íenhor meu,^
parecefmceftrangeyro, &cufcyque coufahe andar
por terras alheas offereçotro teu fcruiço^Gíi/^*»*.'
,

Muyct> to3gradc<jo. D&orjnn. Tens negocio na ter-


ia. Célbdno. Num de mercadorias,como pclla ventu-

ra cuydaiâs , mas bufeo hum filho mancebo que fc me,


perdeo por aqui. Qévorénte, Terra hc pera iíTo, mas

©s finais? £<í/&4»9. Hum


mancebo ValencianOjque
ja lhe começara devirá barba/ohia de fergen«il ho-

mem* DtU9P4ntuO noroe^ Calino. Àmente, TcIk*.;


clle qua nam mudo^como feza outra&còufas* De#e-/
ftntr. Como? Sc tnesGalbano feupa^cni quetan-*
tas vezes ouut fallar; Çilbane. Eu por hieus pcceado#
Dtuordnre* Aqui poufo, & por final que Ctm hum-
Ayo vque fc chama Cafsiano, Sc hum feruidor por ac-
me CullrdiQ. Galbáni* Conheces bcmtodtfeífa gen-
te. Dí»o^»re..Como minhas mãos, mas como nam

efhm aqui contigo. Çalluno* Eftamos defaui tidos*


fynuoranre* Alinha ififofoy. GtlWno. Nam por minha
eulpa que em chegando logo comiidey CalUdio de"’
,

boa encradk- O
euo^dntt ^
rar Júsfruytas d£ Valertça,:*
que cflàhoracmpafmudodè canta gentileza, A: per-.?
feiçam. CAlano, Tempo fcy p,ttfdó itío hc pafía-:
doa Portugal. Pftterwtt - 1 «m conóidador* vinhas?|
**
- Çd?

- H

m Digitizedby Goqgle |
ESTRANGEIROS.- 65
CalbaM.huh muito qucnosnam viramos. Deuoranteí
Afsi hlo dc fcr os homens de tua qualidade. Ora dize-
me que iguarias tacis là entre vos por mais faborofas?
Caibam. A vingança. Octtovantc. Eufallocm iguarias
mm cm aleg onãS.Calbdno. Queres que te diga 0 claro
vingucime em chegandodefle ladrão que mandcy.a*
çoutar, nunqua mecoufaafsi foube , cncendcftemcí,
Diuorante. Agora fy,i(To chamo cu fallar ao pe da le-
tra.Gilbano.On ja aquelle pagou, os outros pagarao,
Demranie. Outros ou como. Caiba»». Truhães mal-
uados que tanto do meu aqui tem com ido, & bebido*
Deuorante. Comigo 0 hà. Caiba»». Mas eu volo farcy
amargar. D iuorante. h me a mi çoraeçao mao fabor
da boa.Galbano. Comei beber, jugar, franquear. Dá-
itorantc. Que mais claro quereis, que hum homem fal-
k.^com que negros conuidadorcs vou copar hoje, que
rotiíc acolher com minha honra fc puder. (jalbam.Hz
aquelle CalsÍ3no.D-'tt«r4»rf. Aquelle hehum bom ho
mem,ora me contay cos conuidados íc mais aqui ef-
,

pero. Quantas couías tereis ambos de faílar, pois vos


ainda nam viftes. £?ucro dcfpcjar.Ça/iMao.Efpera cea-
remos todos.D^marf.Náo curo dcconuitcs. Calb**
no. Que hc iflb, porque corres, dcue dc fcr algum defa-

fifado,& deulhe o vento na corda.Voumc cfpcrar Caf


Eanocrncaíp^aíTentarrachey, que aind% nanitiue
vagar.
COMEDIA DOS
C afilantfo,

V ENHO doem
pifmadodcsacontecrmcntos,. ãftdam*
bufca dc noflfo amo,fuy dar
paMonoíTo natural,quc agora cambem chegou.
com Rey-
A
hum trouxe quàhuro filho perdino,ao outro húa filha
que perdera nuiyto hà* Oh filhos dcfcjados> Õc effcs
fam os vofTov dvícanços» Doutra parte ccndoa Dou-
tor concertadafcucafamento, chega Reynaldo y Sc
acha ncfte proprfodia,ncfta hora, Befle pomo ,
que
Lucre eia a que lia que a todos nos, tem dado, tanto tra-
b4ho,heafua proprji filba,qucandaua bufcaodopcr
mar,& por terra^ fobre tudo que he afilhada do mef
Rio Doutor,afsi lhe pederà fer a-iuda m ais.E naofcfir-
ber a carpo Ocoicadoque não via ja odia,ncm aor»
& cy.iec ftaua com a boca aberta para papar a moça,fw
taraafsicoeltaasroofcas.Epellocontrario mcucria-
doAmcntejquelheera japofto o cutellona garganta
cípcrando ío peloprcgáo vem a fortuna melhor eafa-
m ente ira m uito que Dorio, Õc m* gocialho tudoa pe-
dir de boca.guedircmosascQidasdeífle Murado, hfias
parece que íe alcança o a poder dc racgociação,& \dua
diligencia,outrospor fòdica>&bom accrto.LiachareE
noílo Amo cm cafa,vaumc là dar lhe eíLs.nouas,& paf
farão as paixões, & tormentas, que tam armadas efía-*
uam-
Dç-

Digitized by t . .
ESTRANGEIROS. 66
f * * .... . .

4 .

Deuirante foe.
i

* * • i

T 7"£nhoefpreitandoo Ayo por ver feoconuidar£


V t3mbem o. velho f em chegandojComo fez a Cal-
lidio,& quiferafàzcr a nüi.roas Dcuorantc náodornje
como me quiíèra acolher aquclle velho falfo, nunqua
fe outro tal vio; Cuida que he fenhor dc Palcrmo^ísí
ameaça,& aísiaçopra. Cuftadomc houueíTc do meti
muicOj& pcgaíTcoutraspoacasao Ayo com toda fua
grauidade. Ou quem vem Ia, cuidcy que me atalha-
uam por cftoutra parte. Eftesfam Amcnte, & Calfí-
dlo, & ainda namfcy o que fera queeftc roaltiado
,

tem jaofcuquinham f 6i andara ajuntando mais con-


uidados. Mas que me nam vingo cu do truham que
mcafsi hoje queimouo fãngue , vejamos que tronas
agora fazdcimprouifo.. . xV
r
* » r * • •’ ' • ,
í

jímtntc. C illilio, Dtuõrdnre.


*
3 • .,•! '
. ".V.

’A E S Horns me trazes tu Caílidro coró tal roíío?


nam te pude fer bom noteumal^pcrdoame, &
»judame a fofrer tanto bem , que nam renhooutrenr
com quem o parta. C tllidto. Do maipartiíle comigo
bcro T do bem partiras maí. yí mente. Nam me doeo
nadamenesque aty. Ci///J/<>.Nam fcy,mas bem te
punhas cmíaluo* jimntt* La m e coube o me aqui-
I
4 nharn.

- j

Digitízed by Google
V
COMEDIA DOS '

hhàm. C ãidU. Mofiramc ora em ty algum final dos


meus açoutes por cítj? corpo. ^«rarc-j.Nam teriam
menos os meus fe os pudcíTc ver. CalUdie.Pols eu nam
recebo pagas iouiíiucis. Oeucrante . Quanto queía-
bc maluado,com elle. me tenho, ^mente, Afsi
cftc

sic concas de Rcynaldo õc que hc Lucrecia fuai


,*

filha,& filha tambem cfpirlcual do Doudo r.Calliii*.


Afsi pafiTa- Dtuprántt.Wum deftes anda fora de fy com,
dor, outro com ícu flies, não lhes crco nada. jimente..
Oh Callidio amigo da minha alma, que te direy? que
te dartyíque te farey?põrcaesnouas, & a cal tempof
CiUidio.Outtas taes aluiçaras.como as de teu pay, que
cm fim efbs fam os voíTos galardoes. D uorante. Oh
fâlfo,como os conheces bem. Jí mente. Hei medo que
me de o miolo volca com prazer. i//i</»*.E a mi com C
pcíaç. ^w»r»fí.Prometotc, que eu te agdardoe como
tal obr igaçao merece. C A vos outros mais vos léhra;
í/.

hem feruiço por fazer, que cenio Feitos. Ueu.D yo ao.\

diabo, que ainda falia a prepofito. yimente. Como íc


pode dcfempççnr tal meada cm tam pouco tempo.
Cd/ííW.A verdade logo vai por diante, & foy grande
ajuda a velha, que oje achei com Alda. Amenú.Õ Dou-
tor eíhria finado Qididh.Toààuiã elle fjihua.A^eJí-
tr .
E qucíC<<//<i/c.Huns poucos dos feus latins, A mtnre.
£>uc tacsíCi/ZiJiV. Aleuanto j dous dedos nos quaes rs-
partio ícus direitos nacurats,& efpirituacs, concluindo
todauia que naqu:llc cafo cabia dilpcpfaçara. ^mente
"V •

'
Como

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. :

estrangeiros:’'
• •* <j 7
Como difpcnkção; Gaiiidíe.£i'mih crdigo,.qiic fofj
tOtthujiia ma palaura..^wí«r/í. Qac odjCr.rlltf dMni^
GaIIvJíu. DiíTcque pordinheir* natrdÊcaífc^ & bateo
na bolça.*4 mente A cíTariam chamas, cu mais que
màpaláura? cham olhexyjr oí tal fàttUiÀü Mas fabcsi ,

quem defatou todos aqucllcscmpiços, & ratões dou*


toracs? ^émente. Quem Callidio? GtlliJie % Lucrccia.
«^w.’»rc_j..Como? C alhJio. Diflc 4 que nam queria,
que toda fu a vida fora orfam» & eftrangcira t
agora
que lhcdcyxiíTem ira ferurr a aquelta pay * a quc>
tanto detiia y 6c logralo algum tempo. jAmen-.
te. O Eytodc LuercáV D euoranu. Efhm reco-
lhendo nouas pera o meu Toldado ,
agora hcylas todas
entornadas, que deixara logo o Doutor, & hade que-,
rer por toda Valcnça a cfpada. yímente . Como pude-
fte faber tanta coula cm tam pouco tempo. Callidio,

Tiue cuyv^jk.^ mente £ cu tcrcy lembrança- Calli-


.

dio. Pera cjuamio. jimente. Bem ves tu, que cungora

tiam poíTo. Callidio . H depois nam quererás. D,#a-


rante, Euangelho mas, por que, me nam vingo cu def- 14

tc ruim de Callidio, & que lhe tardo mais.* . Deos vos


íalae,& a ti Callidio prol íraça-.Ci llrJu. Palio, que fi-n
Íamos fegrcdo. í/ifA|íM«rf Nam hijsxuojsdc tam ma,
graçá, quando troruaius dei br.prouifo. -C jMú/íí- Nem,
t(tde taifc boa.«Seram cn ilagres do vinho. Deuoramt, .

Itfo fc pudera dizei roais por ty; pois te conuídarafUí


cm chepnndo* Callidio. Ecu cm conuites. 4
Dmcranrt-

u Du-

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;
.

COMEDIA DOS.
Durate ainda aqudla vea de tronar, romperemos ÍJ
qui hum par de lanças porfefta diantp de AmenceJ
yimtnte. Deixaopcraoiicra horaDeuorantc que te*
mos a! cm que «acender, Deuerantc.la hey dc yfcrpe»
ra quanto hcque nam mevaleo hojccom cile crára,'
nemíopec* . .
• .
;

> DtuifáMe. I . Cêlüdicl


• •+ ’
.
'
* t* V
CtlliJuj, eu outro homem Dtuoranee jue fe tinjâ
MjÍí fétn ddf colias <juc ty% •
Que fe ednte em péruifâ
Torjue te torces éfsti "NÃo heaqlla AtuAgronjá
*Pulgái (ty^ut te ruo comtú foisfeUfaUetepfo ,*i

Vergões yoâsfer que


fy, .
> E oaÕ he terrdde mdnjéi
*
* t
• - *
. , \ *
U ' • ..A .

. . .
' «

Dí«írrf»rí.KT A M valfea que nani foy pelloscoilfo


. >^ antes. ^Amentf. l^fcais, atn-
bos o fizeftcsbc ra. D nearante. Tudo íVfêíçT bpjc a tua
vomade> & tudo íeja fcíta. Cdllidie* Donde inuentouef z
te coruo ca/niçal a carniça iDeteoránte, Ferrei oje a tua ,

que foy arrczaada.^wfWí-Nam lhe refpondas Calli


dio,& tu Deuonnte nata falles mais, fopena dc tc fer
aquella porta cerrada, em quanto aqui cfliucrmòs.Dtf« I

»«rii»rí.Naro me veras mais boquejar. ^ràtnu Or*


nos vamos cear com meu pay. Dtuormte. Elle mef*
'
niotnc conuid&ua pouco hà. CáUidie. Eu nam vou
por agora a cffa cafa, perdoay tQchàs»^? mtmt. Como? >
" -
- *
Etu

*

.

Digitized by Google .
ESTRANGEIROS. 67 1

l tu fb me hasde falecer cm que cu tinha toda minha


ifpcrança. Oeuoránte. Vem quà Calüdio, dame effa
tiam, fejamos amigos, & direi como façamos, que ca
lambera nam me fiooraftiuyto de ninguem. Acom-
panhemos Amente ate a porta, dahiefpreitaremos,&
afsi como viremos, afsihaueremosnoflo acordo. Iafa-
besoque fediz*,não tefies, &nao te enganarão. «y/*
Ditos de gente baixa,& deícon fiada. Hicomi*
go feguramence. •
*

O Rtçrtjtuiédor»

N A M foraõ ncceííarios Rogadores, nem arengas


o filho lançoufe por terra aos pes do pay,
olhos cubcrtos dagoa aleuantouho de huma
cllc

parte,
cos

& da outra as lagrimas fupriram porpalauras. A cea


faíTe preftes. Ao Doutor, & ao Toldado nam falecerão

outros amores, as outras feftas háofç de fazer ern Va«


lença de Aragam.

JFijn (L C mtdU dos Eftrdrtgeyroj'.


PROLOGO
M SEY que entre tantos juízos
namfalcaraóaqucllas differenças
que a natureza caó variamente rc
partio com tódos, nos roftos, nas
proporções, nas falas,<5c nas letras.
Porque poucas vezes fc vio era
tres cabeças hum íí, ou hum não, ouhumduuido. Por
iílonão eflranharei o rir dcfte, o murmurar òaquclle^
o praguejar daqucloutro. Com cftcs ainda fe podia
pafíar,mas ha hihuns coléricos tatn arrebatados, que
como acham hfiacoufafora de feu gofto, naõ querem
fofrer, as outras lhes nam lem-
cam cegos na razão, que
bra, que fam os goftos diuerfos,& o que a elks nam a-
pr az, pode a prazer a outros. Coto elks taesme nam
ponho em juízo, foomente fam aqui vindo pera ou-
tros a que a natureza deu as condições manças,os juy-
2 osliures, as tenções bem inclinadas. Eftes julguem
fc he vicio querer cada hum feguir com fuas forças
as coufas que bem parecera, principalmente cfta, que
aníígamente, foy tida em tanta conca. E polia qual
,
PR O LOGO.
SquelleXiuio Andronico Romam antiquifsimo ahr
cançoufaraofo nome pera fempre ,
nam falo nos
que o feguiram dcfdc entam ate agora em Italia pois
vemos nefle Reyno,a honra, & o lou-
cm noíTos dias
uor de quem nouamence a crouuc a clle com canta dif
ferençade todolos Antigos ,
quanta he a dos mcfmos
tempos. Porque quem negara que ,
na pureza de fua
lingoa ,
na arte da compcfiçaô^naquclle cílylo cam
comico,no decoro daspeííbas ,
na inuençamjnagra-
uidadc s na graça, no artificip, não poíía triumphar dc
todos.'* Hora fendo a coufa em fitam boafeguidade
barões prudentes, anchorizada pella antiguidade dos
tempos , & agora finalmente vifh , & approuada
com igual confcntimcnto^dc efpantoneíía terra, não
fey quem com boa razam terà a mal quem a quifer fe-.
guir,& mais com tam boa guia. Verdade he,quc rc-«
& experiencia (o que por ventu-
quere idade, juyzo,
nanrachaiâem todos ) mas nem por iííb fe dciic
ra fe
fepiehcodcr querer cada hum com o trabalho anti-
cipar o tempo. Contentar a todos ningtiem o alcan-
çou, muytos fe contentaram com aprazer a muytos.O
Ãuthor tomara por grande honra fatisfazer a pou-
cos.
v '
•! "^ '
. .
.
t
- *
4

A Comedia he mixta àmor parte dcllaitiotoria füft


dada nos acontecimentos do ir.undoqucctímummen
te correnu Primcyramcnte virà aqui ,t<;r hum
"
•• .. . .
- kz man*
BRISTO. (? 9

COMEDIA
*

BRISTO.
<
DE «#

<

Feyta pello T) o uBor Amorno Ferreira .

AO PRÍNCIPE DOM IOAM.


» i

ACER ESTA COMEDIA


para fcruiço dc V. A. foyperami
tamanho milagre, quedepoisde
vifto, ainda onam acabo dc crer.

Porque fendo a primeira califa dc


-homem tam mancebo feyta por
fo feu defenfadamento cm certos dias dc ferias, & ain-
da cííes furtados ao e iludo, quem crerá, que como coii
fapera iífodediasordenada,&de Authorgrauc com
poíla,fofTc por feu fcruiço neíla vniueríidadc recebi-
da, & publicada onde pouco antes fe virão outras, que
lcuam,ou nam dam ventagé.
a todas as dos antigos,ou
Saluome na força,que me foy feita nos bons juizosde
homens de muitas letras que confcntiram ncllaa que
o meu foy nectííario obedecer, que cambem efeufam
cftoutra oufadia.de a oíFereccr? V. A. a que peço que
a receba por fua, pois por cíla Vniueríidadc com igual
confentimentode todos lhç foy cffcrecida , & porfer
em feu fenèiço Enerçcço fer bem julgada.
K PRO
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• BRISTO. 69

COMEDIA DE
BRISTO.

AO PRÍNCIPE DOM IOAM.


-
^

ACER ESTA COMEDIA


pára feruiço clc V. A. foypcrami
tamanho milagre ,
que depois de
vifto, ainda onam acabo dc crer.

Porque fendo a primeira cajiía de


-homem tam mancebo fcyta por
fo feu defeafadamento cm certos dias dc ferias, & ain«
da cífes furtados ao c iludo, quem crerá, que como
cou

fa pera iffo de dias ordenada, de Author grauc com


&
poíla,foíTe por feu feruiço ndk vniuerfidadc recebi-
publicada onde pouco antes íe virão outras, que
da, &
a todas as dos antigos, ou lcuam,ou nam dam ventagé.

Saluome naforda,quc me foy feita nos bons juizosde


home ns de muitas letras que confcntiram nella a qüc
q meu foy neceflario obedecer, que cambem efeufam
cftoutra oufadia.de a cffercccrí V. A. a que peço que
â receba por fu 3 ,pois por cíla Vniuerfidade com igual
confentimentode todos lhe foy qffçrecjda , & porfer
cm feu fertíicQ merjeço ler bem julgada.
K PRO-

Digitized by Google
. BRISTO.

COMED IA
«

BRISTO.
À i
D E

-Fytá pc//o cDou(hr Jntcnio Ferreira.

AO PRÍNCIPE DOM IOAM.

ACER ESTA COMEDIA


para feruiçodc V. A. foy pera mi
tamanho milagre, que depois de
vifto, ainda onam acabo dc crer.

Porque fendo a primeira cajifa de


-homem tam mancebo fcyta por
fo feu defenfadamento cm certos dias de ferias, & ain-
da eíles furtados ao quem crcrà,quc como coti
e iludo,

fapera iífo dediasordenada,& de Authorgraue com

poíla,foflc por feu feruiço neftá vniueríidade recebi-


da, 5c publicada onde pouco antes fe virão outras, que
a todas as dos antigos,ou Icuam,ou nam dam ventagé.
Saluome na força,que me foy feita nos bons juizosde
home ns de muitas letras que confcntiram ncllaa qiie
.

o meu foy necefTario obedecer, que cambem efeufam


cftoutra oufadia.de a oíferc ccrí V. A. a que peço que
a receba por fua,pois por cila Vniueríidade cens igual
confentimentode todos lhe foy qfFcrecida , & por fer-
em feu ferrêiço mersceo fer bem julgada.
K P RO-
COMEDIA DOS
htnrn. C Mie.
Mofiramc ora cm ty algum ílnal dos
meus açoutes por cftjj corpo, c_j.Nam teriam
menos os meus fc os pudcfFc ver. CaluMâ.Pols eu nam
recebo pagas inuifiue is. Deuorante. Quanto que la-
be cftc malimlo, com elle. me tenho, emente. Aísi
sic concas de Rcyaaldo , & que hc Lucrecia fua
filha, & fillu também efpiritual do Douftor.C*//ii;>.

Afsi palTa.PcMjí^dwíí.Humdeftes anda fora de fycotií


dor, outro com feu me$,nâo lhes Crcp nada. yímente*.
Oh Callidio amigo da rainha alma, que te direy? que
te darcyíquc te farey?por taes nonas ,
& a tal tcnapoi*
i

Ci//ia j<?.Outrastaesaluiçaras,comoas de teu-pay, que


cm fim. efEsfam os vofFos galardoes. D uordnte. Ofi
falío,como os conheces bem. Jí mente. Hei medo que
rac de o miolo volca com prazer. Cillidtp.?. a mi com:
pefac. ^w>?»rr.PromçtQte, que eu tc agalardoe como:
obripacao
tal merece. Cf/. Avos outros mais vos léhra;
O i V *
•'

hum feruiço por fazer, que cento feitos. Ueu.D.\ yo ao


diabo, que ainda falia a prepofico. yimente. Como íc
pode dcfempççnr tal meada cm tam pouco tempo.
Qtlhàic.h verdade logo vai par diante, & foy grande
ajuda a velha, que oje achei com Alda. A menic.O Dou-
tor eftaria finado CjAiij.Todauia elle fallaua.Awcíj-
te .
E qucíCi//ii/tf.Hitns poucos dos feus latins, A mtme.
£hjc tacs?C.i//íJiV. Alcuanto u dous dedos nos quaes r«-
partio feus direitos nacurac.$,& efpirituacs, concluindo
todauia que naqurjjç cafo cabia dilpenfaçanj. Emente
'
Como

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estrangeiros:' 6?
Domo difpcníacâo. Galüdic.fcimih crdigov qtic fof-i
Sm hura mapalaura.^^arrr.Qujc oáí,tcrítadtitfU£
a

C4///^»4DiíTc*quepordinfeire Dôi!nÊcáííc; & bateo


na bolça* yí mente. A cfTa nam chamas, ca tmis que
naà pala ura ) cham alhexu JT ortal .G<tilidu.M« s fu bc s*
«quem defatou codosaquclícscmpiços, & ratões dou**;
toracs? yí mente. Quem Callidio? C JliJic. Lucrccia.
w.’»r c-*. Como? C alliJio. Difle , quenarn queria,
que coda fua vida fora orfam, & eftrangcira agora ,

que lhcdcyxaíTem iraferurr a aqucllc pay t a quc>


tanto deuia , & logralo algum tempo, yímen
te. O
ftytodc Lucrccia/ D euorjntt, Efhua reco-
lhendonouâsperao mcufoldado , agora hcylas todas
e« torna das,que deixara logo o Doutor, & hade que-;
rer por toda Valcnça a efpada. yímente . Como pude-
fie faber tanta coufa cm tam pouco tem pó. CaUdi^i
Tiuecuy^Éfc^i mentut eu tcrcy lembrança- 0<tUi-
dio. Pera cjüalfio. yímente. Bem ves tu, que! eu agora
nampoíTo. Calhdiò. Edepoisrum quererás Dt**-;
r*me» Euangdho mas, porque, me nam vingo cu def— *«í

teruitn de Callidio, &. que lhe cardo- mais** . Deos vos


fdae,& atiCallidio prol faça. ,C«^cJw.Pa (Iorque fa-o
Lmosfcgrcdoi.' toqor.dmti^SUm hidsautjgttíkicain ira :

graça, quando trouauas dcj impr o u i Co..G j tfoctn- Ne nr :

titie utte boa.«Seram m ilagres do vinho. Dtuerantr. .

lio fc pudera dizei mais por tyr',' pois tc conuídaram


cõichegnndpw- Ca Ihdi». Ecu cmxon ui tes* DcHeranu-
uh • -
Du.**

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COMEDIA - DOS.
Duraté ainda aquella vca-de tronar, romperemos 13
quihirm par de lanças por fefta diante de AmcnteJ

^ mente. Deixao pcra«oucra hora Dcoorantc que te*


cm queenccnder. Deuorante Ia hcy de yerpe^
lijos al .

ra quanto hc que nam mc Yaico hoje com çile crcica,


Remfopee, - ,
.,'
w 1 :»

• tj j .. K , íi I

* Dtuorame. i . Câlüdiol

C allidíoji eu V; *«rr* homem Dsuerdtiee que fe tinjd


Mait fsmdaf cofias que tyy Que fe cante em pér aifo
forque te torces afsti "Nãoheacjlla atuagranjé
IPulgat fty,que te ruo cemetA ¥ois fe la fala de ftfe
Vergões yoàtfer que
fy.
.> E naõ be terra de manjd*
* ’
«
* * ' *
• * •*
*
. * .

M *•..*. j
. /

D^t-rrfwrí.KT A valha que nam foy prüosconfo M


^ ^
antes. ^wf^r^lkdmrif^Éfeais, am-
bos o fizcftcs b c m. Dewrante. Tudo 1c reçanpje a tua
vontade, & tudo fcjafcfta.C4//i.ij»nDon<Jc inurptouef
te coruo ca/niçal a carniçaPDiwrdnrr. Ferrei oje a tua
que foy arrezoada.^4 we/we-Nam lhe refpandas Calli
di o ,& tu Deuorantc nam falles mais, fopena de tc fer
aquclla porta cerrada, em quanto aqui eíliuemiòs.De*
»írd»re.Nam mc veras mais boquejar, Ora
nos vamos cear com meu pay. Dtucramte. Elle mef*»:
nio mcconuidaua pouco hà. Callidie. Eu nam vou
por agora a cffa c da,pcrdo^gichàs.^wf»rr. l Como? >

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ESTRANGEIROS. 67
E tu ío me has Je falecer cno que cu tinha toda minha
efperança. D tuorânte. Vem quà Callidio, dame eíTa
mam/tjamos amigos, & direi como façamos, que ca
também nam mc fio ora muyco de ninguem. Acom-
panhemos Amentc acc a porta, dahi efpreitaremos, &
afsi como viremos, afsi baueremos noflo acordo. Ia íà~

bes o que fe dir,não tc fies, & não cc enganarão.


jwfwre.Ditos de gente baixa,& defeonfiada. Hicomi*
go feguramente. #

O Ktpnjeuiddor*

N A M foraó ncceííarios Rogadores, ocm arengas


o filho Iançouíe por cerra aos pes

olhos cubcrtos dagoa aleuantouho dc


do pay,
huma
ellc

parte,
cos

& da outra as lagrimas fupriram porpalauras. A cea


faííe preíks.Ao Doutor, & ao foldado nam falecerão

outros amores, as outras feftas hãofe de fazer cm Va*


lcnça dc Aragam.
#

Tm dá Çimcdiá des Eflrángeyrcs',


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BR ISTO. 69

COMEDIA DE B R I S T O.

Feyt* pello Douchr AnUnío Ferreira.

AO PRÍNCIPE dom ioam.


, . .
,* ’ * ‘
'1

ACER ESTA COMEDJA


para feruiço de V. A. foyperami
tamanho milagre que depois de
,

vifto, ainda onam acabo dc crer.

Porque fendo a primeira cajifa de


^ homem tam mancebo fcyta por
fo feu dcfcBfadamcnto em certos dias de ferias, & ain-
da cííes furtados ao eftudo,qucm crera, que como cou
fa pera iíío de diasordenada,& de Author grauc com
rtccbi-
pofta,foíTc por feu feruiço nefU vniuerfidadc
, da, publicada onde pouco antes fe virão outras, que
&
a todas as dos antigos, ou lcuam,ou nam dam ventagé.
Saluome naford3,quc me foy feita nos bons juizosde
homens de muitas letras que confcntiram ncllaa que
o meu foy neçcífario obedecer, que também efeufam
cftoutra oufadia.de a cfFerccer í V. A. a que pc ço que
a receba por fua, pois por cfta Vniueríidade com igual
confentimentode todos lhe foy cftcrecida & porfer ,

cm feu feruiço merscçoíçr.bçm julgada.


V .
'
'
K PRO
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t^i tjp ~*%>*X* tf* tf tf* tf* itftftftftfÀ

PROLOGO
EM SEY que entre tantos juizos
namfakaraoaqucllas differcnças
que a natureza taõ variamente re
partiocom tódos, nos roftos, nas
proporções, nas falas, & nas letras.
Porque poucas vezes fc vio cm
cres cabeças hum fí,ou hum não, ou hum duuido. Por
ifto não eftranharei o rir dcftc, o murmurar uaqucllej
o praguejar daqucloutro. Com cftcs ainda fc podia
pafíar,mas ha hthuns coléricos tam arrebatados, que
como acham húacoufafora de feu gofto, naõ querem
fofrer,as outras cam cegos na razão, que lhes nam lem-
bra,quc fam os goftos diuerfos,& o que a cllcs nam a-
praz,podc aprazer a outros. Comedes taesme nam
ponho cm juízo, foomente fam aqui vindo pera ou-
iros a que a natureza deu as condições manças,o$ juy-
zosliures, as tenções bem inclinadas. Eftes julguem
íche vicio querer cada hum feguir com fuas forças
ascoufasquebem parecem, principalmcnte efla, que
antigamente, foy tida cm tanta conca. E polia qual
aqucl-

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.
P R O LOGO.
iquellf Liuio Andronico Romam antiquifsimo al^r

cançoufareofo nome pera fempre ,


nam falo nos
que o feguiram dcfdc entam ate agora em Italia pois
em noíTos dias
vemos nefic Reyno,a honra, & o iou-
tiordcquemnouamenceacrouucaclle com canta dif
ferença de todoJos Antigos ,
quanta he a dos mcfmos
tempos. Porque quem negara que ,
na pureza dc fua
lingoa naartedacompGfiçaõnaquelle cftylotam
,

comicojno decoro das peíToas , nainutnçmjnagra-


uidadcjoa grasno artifieijo, não poíía triumphar de
todos!* Horafcndoa coufaem fitam boa feguidade
barões prudentes, auchorizada pella antiguidade dos
tempos , & agora finalmcnte vifia , & apprpuada
Com igual confcntimcntOjôc efpantoneíh terra, não
fcy quem com boa razam terà a mal quem a quifer fe-
guir,& maiscom tam boa guia. Verdade he,quc rc-
quere idade, juyzo, & cxpericncia (o que por ventu-
ra fcnanrachaiácm todos ) mas nem por iífo fe dciic
repvehcndcr quercrcada hum com o trabalho anti-
ciparo tempo. Contentar a todos ningticm oalcan-
çou,tm»ytosfe contentaram com aprazer a muytos.O
Auchor tomara por graude honra fatisfazer a pou-
cos.
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A Cowedia he mixta à mor parte delia rnotoria Füh’


dada nos accntecicn entes do ir.undo que ctímummen
te correnn Primtyramcnte vira aqui .tçr hum
... .. .
.
-kz man*

Digitized
. .

. COMEDIA DE
fhancebo chamado Lionardo, que leguindo fccretã-
mcnte huns amores perdidos, que o trazem perdido,
vindo faber como o feu pay quer cafar,vcm metidó
tm agonia. Outro feu amigo o aconíclhaque vença co
razão feu appetite, Mas como ja tenha nellc criado rai
zcsnâo aprOueica razam nemconcelho. E porque dei
Ics, & dos outros comprchendcrcis ruais o argumento
fauorcccy coro fílencio pera que melhor julgueis.

PESSOAS DA COMEDIA. '

jjtnardo. Mánctbil
^yiliXandre. Mtnctbo*
_ «j

.

1
Roberto. Velho. :

Gdlidonie. Velho
t^Alcouiteiro'.

Tinerfe. Moco.
*

^Annibãl C àUâlltitt de Rod. «t

Monulum Scldado .

!TiUrtt
QornrlU- ><:*> *
,

Cdmlu* Filho.

Licifcty Melher folttirdl


\ findiTQ .
jtrnolft. Seu filho.

« » • .

>A C TO

Digitized by'Go’ogIé
<

BRISTO. 7i

r ^£ro. /. •: SCENA. r,

Licnárdo. hkxdnirc.

ST O VEIO AMIGO
mçu Alexandre, que a agoa, & ha
fogo podem os homens efeufar, a
amizade não.Porq fc te nam tiue-
ra para comunicação de meus ma-
les, como poderá com elles. A lex.
Verdadeiramente eu o finto como meus, & muytosin
conuenientes grandes que dahinafccm,namfcy, por-
#
quenão queres olhar por ty. 4w».Não pofío que ef*
tou a mil nòs atado. A/íx. Todos o* quebraras com ha
razão quehe maisforte, fc a quiferes conhecer. LienJ
Que faretfque me aconfelhasíA/íX.Qjje te hei eu de
aconfelharpoistunamefiãs pera cenfclho. Lion. Ia
que minha ventura foyefla , ncccflario hcfeguih. O
amor nam confcntc força. yjlex.Dz hi bem fabesquão
honrado ficas, & teu pai tão contente, pefam e pf lo pe-
rigo, em que pòsa ty,& a ellc.Lw#.Nam fiy fc rrevà
daqui, mas como o podcrcy cu acabarcomigo. Áhx.
Pode fer fe o fizeíTes,quc o tempo, & o cfquccimento
tecuraficm:porque,em quanto cftiucresapar tic fogo
fempre tc queimaras. Lion. Enganaíle,quc efíe fo^o
nam fe apaga com agoa, nem com aufencia ,
antes Jla
k3 hç

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COMEDIA DE
he o qjus mais acende. .Alex.B :be logo algum va (To,
toma algum remcdiode cfqueCimento. ZT*Jí.Ncm a
a iíTo me Jà o amor licença, jíltx. Pois cu nam foto
que te mais diga, choro tua psoa,doeme tua perdição,
Deos te defeòaracc o juizo pera te remediares. Lwn.
Quedirey a rncupiy ? quccrcufallaedarcy com que
tne não fintar* ^Alex. Q^j.ié cs ainda moço, que te não
queres fogeitar tam cedo. Lun. Bem mc aconcclhas.
^4lex. Eu cambem (fe mefallarcm niflb) coma mef-

jna cfctifa dilacarcy o negocio, pode Ter que entretan-


to algum deíaftre te mude a vontade. Ltcn. Quanto a
mi(pera tc dizer verdade)nam me parece ora o pcccaí
do canrfco. A 1<‘X. Porque trazes os olhos cegos. Lio».
Eli a moçahe fermofa,^. boa filhajhoneíia/ezuda^rc-. *
colhida. A mãy tem fama cíe virruofa, & de víuerem
honeftatncnte.A/fX.Bom hciíTo tudo quando nam ve
faã. Zb*». EmcndcfTiT.ua cofa por outra, Sche pobre,
tem outro melhor dote, que hcfermpíura, & virtudci
Alex.Vái hora dizer iffoa teu pay.^ie». Também eí-

le deufuacabcçada , nam henuiyto dar cu aminha.


Os erros alheos hafe de olhar para ie fpgiré,& nã
pera fe imitarem. Lion.li mais tudo vem dç Deos.Não
polí ocufogir doque me cflà ordena do. yíhx, EfJa
razam hedeL.)thcro,naiíj fey fece valerà.Licw.Se meí
naõvalcr,não fçt que lhe faça. Meu pai fe fe agaftar,dc
íagaílarfelu,! e mor rer ahi mc fica tudo. A/ex. E não te*.

Bjagoara; muito feses cucaufi de fua m«h tc l


Tc

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,

BRISTO . 71 .

£c Deosqiiis que foííe o cafamcto liurr,porq me eflrâ

nharàcllevfar cu de minha liberdade. ^/fX.Poiquc


não he fundada cm virtude,mas cm apetite, que o cda
mento podcfci liurc,virtuofo,& muito hôrado. Lun
Ta m bem De os quer que fe faça húaobra de Miíeri-
cordia. Aúx.E tu por dfa razão ofazes^pois nffirmo-
te,quc nunca tecfía leucao paraifo.Are». Se quifcíTVs
bem não me dirias ifíb. A/fX.gpcroto logo a ti,
& por
iflo to digo,andas cego, não ves, nem entendes, guarte .

dc arrependimentos fem cura'quc doem muyco* L ic.


Ora meu Alcxmdrc pelote , que me encubrascomo
(cmpre.Atèquifízefte.^/fX.E eu pela amiíade , que
entre nos ha, te rogo,quc nam faças dc ty nada íem pri
meirome dares conta. /.íon.Nã ohe neccfíario pedi-
rcfmc tu iíTo, pois cu te bufquty iVmpre pera meusfe
gredos. A/cx. Onde te vas agora. LjVn.lift a he arninha

ora não a queria perder. A Ux. gnanto peor he perde-r


icfícaty. *

jC ro h SCENAII.

v . A hxandrefoâ.

Q Vcm
^
deu tamanha força ao amor? corro alcan-
çou tamanho poder nos corações dos hotpcns
que os cega, que os aleija, que os ata tic pes & mãos, &c
os traz apos íy, como encantados, porque(dcixando os
antigos deque lemos grandcscoulas)pello que ago-
ra vemos nes prcíentes ? quem fe nam dpantarà
K4 de

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COMEDIA DE
devir andar, homens perdidos apos feus apetites tàm
metidos acilcs, caocíquecidos de fy mcfmos,que hc
<5c ,

vergonha, & piedade? È o pior bc que alem dc os a-


,

mor cegar pera nam verem feus erros fazlhc parecer


,

o mundo cego. E daqui vem cairem em tamanhas ce-


gueiras, como cada dia veraos.Eu me ponho a cuydar
às vezes, dc que vem fogeicarfe hum homem tanto, &

acho, que nam he amor taõ poderofo,que poíTa entrar


com quem lhe fechar a porca.Mas ha hi hús delicados
huns doces, derretidos, ociofos,cfcufados, com quem
cliepode muico.Quanto cu viuo tam contente de inc
verliure,quc me rio de todolos contentamentos def-
tes.Os meus amores fam dc tres dias fe me não focedc
bem,mudomc a outros. Como, bebo, & rio, durmo x.
meu fono em cheo,‘conuetfo com mens amigos, jogo r
tanjo,paílco,com ifto me defenfado. Entregar a líber
dade,he rija coufir. Que vedes aqui Lionardo meu a*
n>igo,que*fcndofilhode Roberto, homem muyto tk
co>& muyto honrado cidadam drfta cidade , & dos
principacs^nam tendo mais que efte,& híh filha, orde-

nando de o caiar com minha irmãa,& a mi com àfua:


húa rapariga chamada Cjmilia,aquem fcfoy aflfciço~
ar, pobre, orfãa, filha áe hüa viuua que nam tem mais

que quinto ganham pela agulha, o tem da maneira, q


ve Je-s que nem lhe lembra quem he, o muico que per-
de, o perigo cm que poem feu pay,que he velho capça
do, * V-rgoni# do mando, o defgofto de feus parente
tUÜO

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.

BR IS TO. *
7?
tudo cfqucce,tud0 dcíprcza,nam ha ja confdho nem ,

remédio que com clie poífa. Eu querolhe bem, como


irmãos,porquc defdc mininos nos criamos ambos, am
bos aprendemos, &
ambos fêmpre conuerfamos, hey
dò delíe,reprehendoo confelhoo, parece que entam o
,

atiço mais, o melhor remédio hc dcixalo â natureza.


Como fentio oje cm cafa que fc falau 3 no caíãmcnro,
vcyofe logo a mi, todo desfigurado, fiio,& morto,
q
polo amor de Deos o aconfelhaífc cm tamanha afron
ta, trabalhei com boas razoes de o trazer a razam, cftà
tam fora delia, que a nam conhece, hey medo quefea-
Cabe de perder de todo.Moça fcrmofa,cllc afeiçoado,
& fauorccidojàconuerfaçam eftreita, o conhecimento
antigo, feguro cílào negocio, a primeira viíii,& o cc-
trato acabado, ajuda anda em mãos de
& pera mais
Briílojhum alcouituro que reuolue toda cfta terra,
,

dayo por feito de todo. Cojjado do velho dcfquc ho


foubcr.Tcnhoeu pera mi que 020 he pera reprchcn-
der muito hum manct bo fer jugador,reuolcolb,dado
a molheres, porque fam peccados de mocidade perq
,

os maispaíLm. Cafarfeíem licença de fcup:.y ire pa-


recc xijacoufa.E eu tudo a meus filhos fefreria fc nam
ifto^porque ali prlncipalmcnte parece, que fc nega a.
quelUobrigaçam da obediencia noturai. Lionardo
he fora de todos eftes vicios , & de rr tiítos outros, que
f agora coftumão,tcm boas manhas, boa condiçam,
dilcrttojfc^udojconuerfauehamigo de feus amigos, fc
«am

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COMEDÍ A DE - '
.JW-.
nãm quinto algum tanto Ee determinado ,
masiílcr
não hc tacha que lhe o tempo, & a idade nam mudem,
Tc ihcafsi mudaflem atençum que tão 6rmc tem cm
feu dano.Eíles amores o tem feito doudo, trifte,folita-
'

rio, dcfconuerfauel, fora de toda a concluíam. Traba-


lhei por vezes de lhe ver bem a dama, nunca pude , a-
gora vou efprcicar ieus paífos. Mashceílc Roberto
ítu pay.
JCTO l SCENAIH.
RcbcrtoUclbff. AlcXdtiJre, i

CnilliJcnio Velhe.

i ;
,

V Oume em bufea cie Calidonio pedirlhe


do que praticamos, queira Deos fazemos nella
tam conformes, como fempreate qui fomcs.Oh Ale-
a repoflá

xandre acluny teu pay t^ncaía? Â/<x. Haja pedaço


que fay delia mascrcoque dcuagar ficaua. i£<T.Sooii
acorr.panhaào.A/íX.Sooo deixei qu.TícL .Ora Deosvà
contigo que là me vou. A/í.v.Q^ucm pode/Tc dizer o
.que /abc, mas o vejho he rcíío, mataria o filho logo, ôc
depois a fy. Em quanto o mal nam hem ais, Deos opo
de curar.Entrc tãtobom hc cfpcrar be m. Minha jnãy
me contara a que paíTarçm ambos. vl^.Folgodc ver
aquclle moço a quem hcy dedaro meu , & quanto ho
mais vejo, melhor me parece. Bom filho, fcfudo man-.
fojtmigodcfeu pdy,da honra, & da viítudc, ohquam
bem

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BRISTO, \ *74
bem parecem os bons filhos, 5c quãm fralosqucho
nam fam, que vejo por aqui andar huns perdidos, v.i-
que deshonram a fy, 5c aos pays.Por-
dios,csfqJacaras,
que nam haucra entre os Chriftãos o qoehauia anti-
guamente entre os (Gentios? Dous homens, qnccllcs
chamauamCenforeSigraucSjaotigos^rudcnteSjqiie ti-

nham cargo dcenmcndar os mao*coífumes, caíligar


os mancebos vicíofos , reprehcndelos ,
5c cnfinalos.'

Ohquccoftumc emas da-


aquciíc tanto perafeguir
noufeo mundo de maneira que o nam pode ja rece-
ber, todolos bons cofiumes fe perdem toda a vir- ,

tude fe dcfacoíhima.Os vícios. 5c a$ maldades viucro*


5ccrccem. Sinal heifto f que veirrnoíia fim perto»
jguem honuc dizer daquellcs Lacedcmonios a dili-
gencia que tinham , cm criar feus filhos cm virtude,,
que dirà de noíía negligencia? Entre as boas doutri-
nas que lhe dauamjprincipalmentc cra, que acataflenr
muytoaos vclhos,que oshonrafícm, 5c lhes deílcnr
lugar onde quer que cftiueflem. Doutrina por certa
Sinta, 5c boa. Agora os noíTbs mancebos viam táo mal!
delia, que ncnhymacoufa defeitimão tanto. Eftcs t.\cs.

nunqua os Vos vereis chegar a efia idade. Os pays que


taes filhos tern,5c os não afegão, mercciao padecer lu
pena dcíêus erros. E aísi fe fazia antigamente, porque

cm vez de criarem homens para a Republica , criam


bcíías feras pera fua deftruiçam Calidonio fac de cafa.
querome ir a ellc- CW/íb»rSc aqui vier ter Robertoi

J e
t- .

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±'r
4’. 'j? «fe Ji
r
ífeífco * ±£ Jt ífe&jfe
Cj£> vfil Tp c]fj cft t^> <^cj£

EM SEY que entre tantos juizos


namfalcar 3 Óaqucllas differenças
falcareoaqucllas
que a natureza caô variamente re
partiocom tòdos, nos roftos, nas
proporções, nas falas, & nas letras.
Porque poucas vezes fc vio em
tres cabeças hum hum não, ouhumduuido. Por
(1,011

ifto não eftranharei o rir dcftc, o murmurar dacpellej


o praguejar daqucloutro. Com cftes ainda fc podia
paflar,ma 5 ha bihuns coléricos tam arrebatados, que
tomo acham hm coufa fora de feu gofto, naó querem
fofrer, as outras tam cegos na razão, que lhes nam lem-
bra, que fam os goftos diuerfos,& o que a clks nam a-
praz.podc aprazer Coroeíks taesme nam
a outros.
ponho em juízo, foomente fam aqui vindo pera ou-
tros a que a natureza deu as condições manças,os juy-
zosliures, as tenções bem inclinadas. Eftesjulguem
íe he vicio querer cada hum feguir com fuas 'forças
ascoufasquebcm parecem jprincipalmentecfta, que
antígamente, foy tida cm tanta conca. E polia qual
aqucl-
P R O LOGO.
âqucllcLiuio Andronico Romam antiquifsimo al<r

cançoufaroofo nome pera feropre ,


nam falo nos
que o feguiram dcfde entam ate agora em Italia pois
cm noíTos dias vemos nefíe Reyno,a honra, &olpu-
tior dequem nouatr.cnce atrouue aelle com canta dif
ferençade todolos Antigos ,
quanta he a dos mcfmos
Ccmpos. Porque quem negara que ,
na pureza dc fua
lingoa ,
na arte da compcfiçaõ naquclle cftylo cara
comico,no decoro daspeíToas ,
na inuençamjnagra-
uidadc s na grasno arcificijo, não poíía triurophar dc
todos:* Horafendoa coufacm fitam boafeguidade
barões prudentes ,
auchorizada ptlla antiguidade dos
tempos , & agora finalmcnce vifta , & approuada
com igual confcmimcntoi & efpantoneíía terra, não
fey quem com boa razam terà a mal quem a quifer fe-
guir,& maiscom tam boa guia. Verdade he,que rc-
quere idade, juyzo, & cxpcricncia (o que por ventu-
ra fenanrachaiàcm todos ) mas nem por iífo fe dciic
repíehendcr querer cadahum com o trabalho anti-
ciparo tempo. Contentar a todos ningücm oalcan-
çotijmuycos fe contentaram com aprazer a muycos.O
Ãiithor tomara por grande honra fatisfazer a pou-
cos. 7

A Comedia he mixta amor parte dcllaifcotor ia Fuít


dada nos acontecimentos do mundo que ctímumrrcn
te correnn Primtyramcnte vira aqui ^r hum

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A
*

BRISTO. 7i

JC T0 - t- •: SCENA. I,

Licndrio. A lextndre.

ST O VEIO AMIGO
meu Alexandre, que a agoa, & ha
fogo podem os homens efeufar, a
amizade não.Porq fc te nam tiuc-
meus ma-
ra para comunicação de
como poderá com elles. A Itx,
les,

Verdadeiramente eu o finto como meus, & muytosin


conuenientes grandes que dahinafccm,namfey, por-
9 4«».Kãopofibquecfir
que não queres olhar por ty.

tou a mil nòs atado. lex. Todos orqucbrarascom ha


razão quohe mais forte, fc aquiferes conhecer. L ien*
Que farctfque me aconfelhasíA/rx.Qjje te hei eu de
aconfelharpoistunameflàs pera confclho. Lion. Ia
que minha ventura foy eífa , ncccflario hc feguila. O
amor nam confcnte força, yílex Dahi bem fabesquão
.

honrado ficas, & teu pai tão contente, pefame pelo pe-
rigo^m que pòsaty>& a elle.LwR.Nam fiy fc rrcvà
como o podcrcy cu acabar comigo. Ahx.
daqui, mas
Pode fer fc o fize{Tes,que o tempo, &
o cfquccimcnto
tecuraíTcm:porque,em quanto cftiueres a par tic fogo
lcmprc te queimaras. L nn. Enganalfe,quc efíc fogo
nam fc apaga com agoa, nem com aufencia , antes ellu
Kj he

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COMEDIA DE
he 6 cju3 mais acende. .Alexfèiht logo algum vaíTb,
toma algum remccliode cfqueCimcnto. LienVNcm a
a iíTo me dà o amor licença, Jiltx, Pois cu nam fthco
que te mais diga, choro tua peca,docme tua perdição,
Deos te ddebaracc o juízo pera te remediarei Lu».
Que direy a meupiy ? queefcufalhedarcy com que
ime não Qjae es ainda moço, que te não
fintai’ ^4. Isx .

queres fogeicar tam ccdo. Lun Bem nac aconcclhas. .

Eu cambem (fc mcfallarcm nifio) com a mef-


ma clcufa dilatarey d negocio, pode fer que entreçan-
to algum deíaftre te mude a vontade. Lun. Quanto a
mi(pera tc dizer verdade)nam me parece ora o pcccá
do camfeo. A Ux. Porque trazes os olhos cegos. Lio
Eíta moçahe fcrmofa > & boa filha, hone fia/e zudaf rc-. ^
eolhid,i. fama tfe virtuofa, & de viucrem
A máy tem
honeftamcnte.A/tx.Bom he iíTo tudo quando nam Ve
faã./biffw.EmcndcíTc htn cofa por outra. Sc hc pobrç^
tem outro melhor dote, que hc. fermpiiira, & virtude-.
A lex Vai hora dizer
. iffoa teu pay .Cion, Também el-

le deu fua cabeçada , nam he nuiyco dar cu a minha.

JÜ* .Os erros alheos hãfc de olhar para fc fogiré,& nã


perafe imitarem. Lion.t mais tudo vem dç Deos. Não

pofio eu fogir do que me efià ordenado, yí/<;x. EíTa


razam hedeLnthcro,natia feyfece valerà.Lítf#Se mtí
na6va!cr,não fei que lhe faça. Meu pai fc fe agaftar,dc
rigaífarfehidcmorrerahi mcfica tudo.A/rx.E não te*

Bjagoarà muito fcics tucaufa dc fua moi teí Ltoa



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fe Deosqiiis qucfoííeccafsirctoíiurr,porq
me cfírá
níharà clle vlar cu de minha liberdade. Ux. Por que ^
nao he fundada cm virtude, mas cm apetite, que o cala
mento podefet liure,virtuoío,& muito hõrado. Lxon
TambemDeos querque fefaça hiiaobra deMileri-
cordia. AíVx-.E tu por cífa razão ofazes^pois nffírmo-
te,que nunca te cfta kuc ao paraifo.Z.;cn. Sc quiftíTcs
bem nao me dirias iflo. A/í x.Çpe roto logo a ti, & por
iffocodigo,andascego,nãovrs,nem entendes, guarte .

dc arrependimentos fem curaquc doem muyco. Lio.


Oranieu Alcxandrcpeçotc , que me encubras como
Icmprc.Atèquifízefte.^/fX.Leupcla amiíade , que
entre nos ha, te rogo, que nam faças dc ty nada fem pri
meiro me dares conta. Z.w».Náoheneccffariopcdi-
rcfmc tu iíTo, pois cu tc bufqiuy íttrprc pera rncusíe
gredos. A Ux. Onde te vas agora. Lpn.Efta heaminha
ora nâo a qqeria perder. A icx. Quanto peor he perde-,
icftcaty. *

JC T0 A SCENAII.

Alexandre fo.

Q Vem deu tamanha força ao amor


çou tamanho poder nos corações dos horpens
que os cega, que os aleija, que os ata tíc pes & mãos, ôc
? como alcan-

os traz após íy,como encantados, porque(dcixando os


antigosde que lemes grandcscoulas)pcllo que ago-
ra vemos rcs prcíentes ,
quem fe nam cfpantarà
K4 de

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,

COMEDIA DE
tlc vir andar homens perdidos apos feus apetites tàm
metidos ôcllcs,5c cãoclquecidos de fy mcfmos^ue hc .

vergonha,& piedade? E o pior hc , que alem de os a-


mor cegar pera nam verem feus erros fazlhc parecer
o mundo cego. E daqui vem cairem em tamanhas ce-
gueiras, como cada dia veraos.Eume ponho a cuydar
que vem fogeitarfe hum homem tanto, õc
às vezes, de

acho, que nam he amor taõ podcrofo,que pofla entrar


com quem lhe fechar a porca.Mas ha hi hús delicados
huns doces, derretidos, ociofos,cfcufados, com quem
clle pode muito.Quanto cu viuo tam contente de inc

ver liure,quc me rio de todolos contentamentos def-


tes.Os meus amores fam de tres dias fe me não focedc
bcm,mudome a outros. Como, bebo, & rio, durmo i
nrcu fono em cheo,*conue*fo com meas amigos, jo go r
unjo, pafico, com iííome defenfado. Entregar aliber
dadc,he rija coufir. Que vedes aqui Lionardo meu a-
ir>igo,quo*ícndo filho de Roberto, homem muyto ri-**

co,& muyto honrado cidadam de fta cidade , & dos


principacs,nam tendo mais que efte,& hüa filha, orde-

nando de o caiar com minha irmãa,& a mi comãfua.*


hÚA rapariga chamada Camilia, aquém fcfoy affeiço-
ar, pobre, orfãa, filha de hüa viuua que nam tem mais

que quinto ganham pela agulha, o tem da maneira, q


vedes que nem lhe Kmbra quem he, o muito que p r-
de,»' em que poem feu pay,que he velho capça
perigo
do,* v.rgonl^ do mando, o defgofto de íeus parentes
tudo

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.

BRISTO. *
7?
tudo cfquece,tudc> dcíprcza,nam ha ja coníèlho nem ,

remedioqueeqm cllepoíTa. Euquerolhe bem, como


irmãoSjporque defdc mininos nos criamos ambos, am
bos aprendemos, &
ambos ftmprc conuerfamos, hey
dò dellc,reprehendoo, confelhoo, parece que entam o
atiço mais, omelhor remédio he deixa lo â natureza.
Como fentio oje cm caía que fc falam no caíamcnro,
vcyofe logo a mi, todo desfigurado, fno,& morto, q
polo amor de Deos o aconfelhuffc cm tamanha afron
ta, trabalhei com boas razoes de o trazer a razam, eflà
tam fora delia, que a nam conhece, hey medo que fc a»
Cabe de perder de todo.Moça fcrmof3,clle afeiçoado,
& fauorccido,àconuerfaçam efireita, o conhecimento
antigo, feguro efiào negocio, a primeira o cc-*

tratoacabado, &pcramais ajuda anda em mãos de


Briftojhum alcouitdro ,
que rcuolue toda cfh terra,
dayo por feito de todo. Cojfado do velho dcfquc ho
fouber.Tcnhocu pera miquccáohe pera repichcn-
der muito hum mancebo fer jugador,reuoltolb,dado
a molheres, porque fam peccados de mocidade perq
,

os mais paliam. Cafarfe fem liccnqa de feu p:.y ire pa-


rece rija coufa.E eu tudo a meus filhos fefrerja fc nam
ifto, porque ali prlncipalmcnte parece, que fc nega a*
queliaobrigaçam da obediencia natural. Lionardo *

lie fora de todos cíles vicios , & de nr uitos outros, que


f agora coíhimão,tcm boas manhas, boa conuiçam,
dikrttOjtezudo^onuerfauehamigo de ícus amigos, fc

nam

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. . — .
'COMEDIA DE *
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nãm quanto algum tantoEe detertpinado ,


ifcasifto
rio hc tacha que lbc o tempo, 5e a idade nam mudem,
Tc ihcafsi mudaflem a tençar» que uo firme tem em

feu dano.Eftes amores o tem feito doudo, trifie/olita-


rio, dcfconuerfauel, fora dc coda a concluíam. Traba-
lhei por vezes dc lhe ver bem a dama, nunca pude , a-
gora vou efprcicar ícus paflos. Masiicefie Roberto
fajpay. ...
JCTO L SCENAIII.

RtbcrtoVclbv. AleX4uJre, i

OullíJmio Vclbc .
. . >.

Y Oume cm bufea dc Calidonio pedirlhe


do que praticamos, queira Deosfazcrnos nclla
tam con brmes, corno fempre ate qui fomcs.Oh Alc-
a repoíla

xafldrcachany teupay ^mcaíà? kltx. Haja pedaço


que fay delia mas crco que dcuagar ficaua. kob.S o ou
acompanhado.A/rx.Soo o deixei eu. td .Ora Deos và
contigo que là me vou. A/fX.Q^uem ppdeflc dizer o
.que fabc,mas o vejho hc tefio, mataria o filho logo, 5c
depois a fy. Em
quanto o rnal nam hc mais, Deos opo
dc curar. Entre tãtoboro hc cfperar bem. Minha jnay
* nic contara o que paflarem ambos. ^/\Foigodc ver
moço a quem hcy de dar o meu & quanto ho
aquclle
,

me parece. Bom,, filho, fcfudo man-.


mais ve jo, melhor
*

formigo dc feu pay,da honra, 5c da virtude, ohquam


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"
.
.
bem

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BRISTO, 1 *?4
3crh parecem &
os bons filhos, quam mai os que ho
iam fam, que vejo por aqui andar huns perdidoSçVa-
deshonram a fy, &aospays.Por-
;lios,csfqJacaras, que
qiie namhaucra entre os Chriílãos oquehauia anu-
guamente entre os .Gentios? Dous homens, quecllcs
chamauamCcnforeSigraiics^ntigoSjprudcntes^iíe ti-

nham cargo dcenmcndar os mao* coííumes, caíligaç


os mancebos vicíofos reprehcndclos ,& cnfinalos.' ,

Oh que coftume aqueile tanto ; masperafeguir


da*
noufe o mundo de maneira que onam pode ja rece*
ber, todolos bons coílumcs fe perdem , toda a vir-
tu defe dcfacoíduma.Os vicios.& as maldades viucm*

ôccrcccm. Sinal heiffo , que vetirnoíía fim perto.


£Hiem houuc dizer daquellcs Laceclcmonios a dili-
gencia que tinham ,
cm criar feus filhos cm virtuder
que dirà de noíía negligencia? Entre as boas doutri-
nas que lhcdauam,principalmcnteera, que acntaíTcnr
muycoaos vclhos^ue oshonraflem, lhes dtílcrrr
lugar onde quer que cíliucfíem. Doutrina por certo'
Sinta,& boa. Agora os noíTbs mancebos viam táo nirj
delia, que ncnhyma coufa dcfcllimão tanto. Eílcs r.\cs *

nunqua os vòs vereis chegar a cila idade. Os pays que-


çacs filhos tem,& os não afogão, inerccião padecer h*

pena ele íctis erros. E sísi fc fazia antigamente, porque 1

etn vez de criarem homens para a Republica criam


,

beítas feras pera fua d c Uru içam Calidonio fac de caía.


.

querome ir a elle r Gj/rdífl-Sc aqui vier ter Robertoí:

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* COMEDTA DE
Rtb. Aqui o tens.Cd/.Oh Roberto, Òeos venha conti-
a tua câÇi.Reb.E eu venho em tua buíca.
go, agora hia
Cal Queres que fubamos. Rob. Mas paíTeemos hu pou
.

co fe mandarcs.Crf/.Bom hc pera a faude. Rob. Eu Ca-


lidonio tornei a cuidar no que tenho tocado, & quam»
to mais cuydo, melhor me parece, Cal. Também eu
cuidei afiaz niíTo, & ainda efla noite o pratiquei cora
minha roelher na cama. Rei* Como? E eftes fegredos
confias tu fe não de ty mcímo. Ca/.Eftranhasdar par-

te dclles a minha molher? Rob. Antes me efpanto muy

to, porque às molheres não fe ha de defeobrir mais,


q
o que tem neccfsidadc de feu confentimento. Cal. E
namquercsauendoeudccafar meus filhos, que tam-
bém íáo feusqueofaibaclh?i?c£/Não,antesdacou/a
feita, pois não «fia cm fua mão faze lo, nem dcsfazelo,
queres apoffarqueo fabero ja teus fi lhos? Crf/.Ifib não

oufaria cila que eu tambem fom ngaftado.X^.Fu grã


de bem quero a minha molher, mascoulasfcmclban-
tes nunca lírôsdcfcubro, fenãoem feu terrpo, &fey q
me pode confeibar.Ctf/.Sc cu errey perdoume. Quan-
tas fam as tenções dos homés. Rob. Afeique digo por
muitas razõesachoque vem ifio igual a ambas aspar
teSjComo coufa ordenada por Deos, primeiramente ú
conhecimento antigo, & boa amizade que fempre en-
tra nosouuc.CJ.Q^ue eu tenho bem exprimenuda.
Rob.Dcpois diíTo a conueríação dcíles moços de tamá

ninos,o amor que fe te m ambos como Ir mãos, que foi

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B R I S T O '

75
go mirytas vezes de os ver cão am igos ,
& tara b ons
compaohciros.C</.Se fc lhes a cllcs apegafTem as ou-
tras noflãs condições como cornaram elíu. #e£-Quan
teu nam vejo em algú dellcs manhas dcshoncílas dou-
tros mancebos, porque j
a ceu filho femprede tuo^o te
ue couías dehomem, hum fifo,& hum repoufo de que
muitos velhos podem terenueja. C dl. Eu não te que*»
ro gabar o teu quecufabes bem o que tcnsnellc.
#fl£.Bafhque nefta parte não temos de que nos quei-
xar. Ora a honeftidade, Sc recolhimento dc noíTas fi-

mundo o labe. Ca/. Qj.ic hc a principal


lhas, todo o
parte no bom dote. Rok Antes efle íoo ordenou, & re*
'
ccbco aquelle grádc legislador na Tua Republica.Crf /,
Vemos nos logo muitos, que andam bufeando dobro
cs,& não cem conta com mais. Rekhffcs taescafaõco
o dinheiro, & dahia dousdias ficam fem clle , Sc fem
honra, quem bufea virtude, Dcos o ajuda. £*/. Bofè
'Roberto,cífa vai ja tam pouco, que aindaque fc ache,
não hà quem a queira. Rok Porque nam ferue fenam
das portas a dentro/e a moílras fora, rrnte de ty. CáL
Mais feguro eflà quem acha tudo junto. Rik A iffo te
hia, porque Iouuado Dcos tu bem fabes oque cu tenho

Sc oqueefperode hferdar por parte de minha molhee


daquella velha fua tia. Cd/d.Nunqu3 tc tenhasacíTas
cfperanças que fam muito duuidofas.£*íi.Efta hey eu-

porcerta,& por feg ura, porque e 11a fez feu teftamento


dc entregoumo na rainha mam. £4 /, Afsi pode fazer
oucro

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CO MEDIA DE
o utrOj&rcuògar cflc,& mais nom faltada à hu malfím
quetcíayadc tráucs,que ou a fabornafte oulhofizcf-
te fazer por força, ou eftando fora de fcu juizo, & mil
achaques outros coflumados. Rek E parececeat^ , q
nom íabcria cu fazer com fifo coufa,que mc tanto re-
lcua?G/.Eu nom digo que tu o non farias, mas o que
te podem fazer, que cu fique taóefcaldado do meufo
ro,quc depois dc gaftar na demanda mais doque valia
•vendio logo, ío pelo aborrecimento, que ire deyxou.
£ek Hc verdade que fe fazem muitas buíras» mas cana
bem afsi me podem vir demandar quanta fazenda te-
nho.Ca/.E tu duuidas diíTo.'’ Rcb. Pois digote euque
antes largaua tudo, que andar por audiências. Ca/. So-
liia fcr,quc fc auia por injuria andar homem em dcirâ
cia. Rck Agora tèosReys, & os fenhores andam meti-
dos ncllvis.Cú/.Poi iíío os letrados fam tantos RokVim
ucm,& Rcynam.O/.As noírascuftas.í^.Pode fcr,íç

Gataõforancfte noíTo tempo que tanibetn os não re-


cebera, como aos Phificos. Mas fe os homens quifc/Té
viuer conformes à razam,& àimureza , afsi feefcuf*-
riao as leis dos Gregos, &dos Rorr ãos como as purgas
<& inucnçôcs per igofiis da medicina. Rokh que noíía
maíicia non quer ifTo,bem mecílà^aucr leis, & auer lc
tradosfclc todos lomcreíTcm asleis CV.PqriíTofe co
param cilas a ccas daranha.Sí^.Eo que mc mais cfpan
ta que mais leis tem cíles feito dc fuas opfnioes dez ve
Zcs das que acharam feitas. £al, E ainda eflas mudãça.s
dc camas maneiras que as nom conheceria agora que

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BRISTo; ; 76
fez R»£. Quintas mais leis, mais buíras, mais roubos
ais malicias.Crf/.Afsidizo Rifam Icaliano.R*£.Mas
rnando a pratica.creo que quanto ao doce, com cfta
os dififerentes. Ora nos eííados tu bem me conheces
bé conhecefíe meu pay,& meus paíTados. [al.Etu os
eus. R^.guc feropre fe ajudarão huns dos outros.
*7 .Dahi nos ficou a nos nofia aro izade.R fl £. Pois bern
itendcsqiiantofaz a igualdade no cafamcnto.C«.Di
i foi a hum grande fabio.Cafa com igua/. R*£. Alem
iam tam fermofas quefaçaòciu
iíTonoífas filhas não
ics,Dcm tão feasque nam contentem. Antes té aqucl
parecer meão, a que hum Romum chamou muy bc
mtnofura decafada. Cal. Bem vejo que cm iflo tudo
ílamos conformes.RflkEm que achas tu logo adiífc
cnça.Cá/. Nas idades.R«£.Como?C.*/.£>uedles mo-
osfam ainda muito moços. R^.Pcra cftc Mayo que
em^faz o meu 22.annos.C4Z.Etu nam fabesque man
auam os Antigos, que o homem foíTc de 35.6c a mo
aerde 1 8. pera que os filhos naíceficro mais robu fios
c coto menos debilitaçam dos pays. RoL Iffo era np
;ropo que os homens viuiam cem annos,quem agora
hega aos óo.ji nam prcfta.Oi/.Todauia fogeicar afsi

uns moços tameedo a tamanha carga,não roc parece


em feito,porquc aiada tambem otemponão acabou
c defcubrirncllesoque pode eiWcncubcrto.
)izélà,qdepcqoinino verás, clles íepreatequi for tá
6 s,daq ii por ijrãte o fiíb,& a idade os farà melhores:.
ihhmo.Q matrimonio requere idade perfeita, pru.
COMEDIA DE
dencia,& concelho pera faber tratar a molher gran-
,

gear a fazenda eníinar os filhos, mandar a cafa. Roh. &


Natr. me parecia a mi grande inconucnicnrc dfc,mas
fc afsi queres nã fe perde dada, fazermos entre tãto nof
fos cõcerços.G.EÍTc era o meu cõcelho,& afsi o deter
minei com minha molhcr.Por tantoajuncepioinosqua
do tu quifcres,& concertarem os tudo. jfrfcFálas a mi-
nhas à minha vontade , &eucfpcrocm Deos amigo
meuCalidonio,quceftesmo^osnos hão de fazer mui
contentes. C*/. Afsi queira Deos. Rcl> Oraeumcvou,
Deos fique contigo. Ca/.
do que Não te yàs, jantaras
ouuer , & da boa vontade que he a
melhor iguaria.
XoL Eu to agradeço. Efte contentamento mc farta,
& mc mantcmíCa/.Vay as boas horas;
f - .
- , iM * .. *
f %
r -

JCTO. K SCENA. Illfc

C *liitm>fti.
/^\Quánto deuem os filhos aos pays, nem fem caufa
dauam os Antigos poder deos matarem,
lhes
pois os pays fe matam por llics dar. a vida, por os por

fcm honra com tantas fadigas, com cantos trabalhos, 6c


fuores.Mas qual hc o filho que conheça que cra
balhe de dar hum contentamento ao pay cm pago de
amor dclle/Por que deixan
tantos dísgoífos,pafTa!por
do o trabalho da cria^ão/eus choros fuas nJniniccs,
,

:
:

;
• - < ’• Lque

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BR I S TO 77
que às vezes enfada.m > & canção rasCí4ueíTuras da mo*
cidade, os íobreídcos que com cilcs tendes cada hora,
com que fe podem pagar^ora desque fam homens, as
brigadas doudices,os jogos, as molhcrcs. Verdadeira-»
fnente muyco deue a Dcos,a quem clics deu filhos má
ços, & obedientes, porque tftes iam os que dcfcaoção
os trabalhos da vida, & os qucconfoláo a trifteza da
morte.Contentc morre hum homem quando cuyda,
que deixi quàno mundo hum bom filho em confèrua
^am dc fua memória, que lhe reze prlla aTOa,que viíi*

tc lua fepultura,com que aqucllcs oíTo^dc aquclla ter»*

ra parece que fe confolam.Eu entre as muytas merces


que D:osfcz,cfta heipor principal.Deume humfilho
6chu ma filha conformes a mcús dezejos. moçahc A
boa filha, honeíh,ícfuda,deuota,& que toma toda boa
doutrina minha, & defuamãy.Omoçomanço,& re-
poufado, como diz Roberto/ora das condições, & cra
tos dos outros mancebos, cm quem fempre conheci
híi avergonha, hüa manfidão,hfia obediência, q maleja
feu acatamento, feus olhos no chão, de tamanino, que
non tinha idade, nem fàberpera entender aquillo. Tu
do vay na boa inclinação. Por iflo recco muito dc os
empregar mal que ettescafamentos fão multo perigo
fos,& acertar hum bó acerto, hc coufaq poucas vezes a
contecc.Des que me Roberto falou nifio,uom como,
Bom durmo, nem ícccgc. Mas deitadas bem todalus
cõtas,achoq fc lembrou Dcosde máohasbraçõcs.Eftc
- •• L hc--

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COMEDIA DE
* 1

he bom homem, afazendado dos principais datcrrajos


filhos também faem a elle. Determinado tenho dc nos
concertaremos, fenam quanto me parece grande inco
ueniente, cfperar pola herança da outra que efíà mais
fam,& mais rija,& mais moça que ellas.Perigoía cou*
fa be por a efperançi na morte alhea, por iífo quis di-
lataro cafamento, porque o tempo em diante me en-
fineo que heydc fazer. Bom he ter homem na tor-
menta humjtaboa a que fcpegar,& mais agora que o
mar anda tam reuolco. Lavem meu filho quero man-
'

dar por ameia.

JCTO. I. SCENA. V.

lAltxànârc foo.

D
ir.iliaq
fgouos q nao culpo Lionardo em feus efírernos
mecfpantod^ver coro tanto fifo.Ves Ca
antes
me parceeo a maisfermofacoufaq meusolhos
viraó, hc vcntooqfe diz ja agora naò culparei quem
fizer qualquer de f mancho por eíla.Naõ parece íc nao*
que a ferraofura,afsi como reprefenta mais aquella fc
melhãça de Dcos,aísi tem htía força natural com q af-
feiçoa ©solhos, & as vontades.E por iííb lhe chamou o*
Grego, reinofem vaííalo*, todaura o mais feguro he
gu.udarfc homem deftes encontros. Pqjq j a cu come-;

to fencir em mi húasdifFercneas,q não cntendo.Deos


me guarde do Laço de Lionardo. Vo ume jantar^nata
cfperc ;
meu paí por mr. A £7’0

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q

, B R I S T O. 78
JÍCTO . ir. * SCE N A. L

P inerfo n*oç\ %ri[lo hlctuiteirc.

/^\Lha uc tc na cfq ucça.Vrif Mano quer cfme


p;‘rt . .

V^/tu mais que iíío.P/n.Bcm fabesq nãoeinprc^


c
gas mal eu trabalho. B nf. Antes tc eu ora digo, que
Eô as m c rccs muitas. P/«. Pelo tempo cm diante as a-
claras maiores.Brí/.Pera quem deixa dc fazer, o cj lhe
rcleua,ede ganhar fua vida, onde pode ter maispro-
ucito. ftt/.E tu tens outro officio, ou beneficio? firif.
Bomcrtioratoquc narntem mais que hum buraco.
Eílc he o dc que cu faço menos conta. Pi». £uacs fam •

os outros por vida de Brifto? B rif. Afsi queres que te


defeubra meus fcgredos,& mais na praça.^P/n.Por tão
palrciro me tens que to và logo aprcgoar.Br//*. Vai cn
ganar o Diabo.Bern d ifle o outro, náo te fies dc rapa-
zes.pjrt.Pcra fer tam liure, folgara dc ícr como tu cs.

55ri|. Pois de q te vem a ti quereres faber o


q te naõ rc«
lcuaP^i/í.Masdequc tc vem a ti cncubrircftc afsi táto*
Br^Qac ^ucategora não tés qtc queixar
dizes? ftn.

de Annibil.B'í/!Sy bofè, atodoo mundo cu façoen-


ucjacom asfuasdadiuas. Não vedes como ríbu r ico,
& honra lo.Pn/.Boas duas coufas querias. Andas logo
gordOj&farto.^n^.Tcnhome eu com outros que me
vediãoj&cal^uão como húa dama. Ealcm diflb os
banquetes, & os jantares que me enfjftiauáó.pois não
tinha çu então tanto trabalho ,
nem eiles canc^ renda.
. Lx Pi/h
s *

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COMEDIA DE
^ífl.Hiirn dia deites lhe hão de vir bíLspaucasdc do-
c
bras.Ali ccnsenrão bom laico. Brif. Quan cos a nncs hà
que tu>& c 11c mc anpcaçiis com iíTa? 1?,». O que tarda
não fc perde, Brif Tanto qur pode cardar fique pera’
q
meus herdeiros. Ttn. Forte diabo he cite que nunca fc
farca.$r;/.EíTe ceu fenhor cuida que eu íbm Camalião
que nrc hey dc manter com vento? ?/». Queres trocar
cíTcs t.-us ventos polo meu pão?Br;/.Não vou nunç^a
cafa dc nenhum hornctn honrado, que por hua cantiga
íô que lhe cante ao rr eu adufe,nãovcnha com bum na
papo, outro no fjco.P//>.Pcra que he fer maisRcy.2?//.,
- Pois que cuidas^pareccrcehà ora qzòbo? TVw.Ecomo
tc creo,quc vós outros fois os cítoruais as obras piasj
q
Mas pera ta boa réda, nao trazes grande aparato?Br;/Í
Huy como es moço?fou eu por ventura como cftcs ,

paruos vencofoF,que querem cubriro ceo com húa jo*


ciraíNom mc deu minha mãycíTeconfclhó? ‘Pw.Pois
qualr Por vida tua queme eníincs. Br;/. Emhcfourar,e
guaidar,& depois quebrar o mealheiro. P/o. Então!*
2?r*/.Prouucra a Deos,que o ciuera cu ja cheo,tu me vi
r-as m udado em l

dousdias. ?/»*£JueauidS dc faz ctfBrú


EíTus contas guardo cu pera m i lòo, cs tu por ventura
ineu padre elpiricualíP/w.Nlohas vergonha de ganha
tam rorpemenceíBr//. Mor torpeza, c mor
res tua vida

Vergonha he furtar, queres que te diga^eu nó o roubo


* D Jos,nem ao pobre. P/».Dcos o fabe. #r*/.Outros a-
l

uerâ,que o gaQhcra»pcpr,q eu.Pip.Có cífes te cófola*


- . , Brif.

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BR I s T o; \ 79
que
dnf Nom ofnrto à dizima, nem à fifa, D.os heo
.

mo da,& meu trabalho. ?/w.Mas o diabo. Noni


laps medo que me venha nunca ocorr egedor acafa,q
i queixe o pobre, que o esfolei, que lhe roubei fua juf-
;iça que dei fua fazenda aoutrem,
a poder de pcycas.

h». Bifas concas enganam muytos que querem defeul


aar feus erros com os alheos.^n/.Nonté entendo.?/»,
Digo q com tudo iflTo, eu nom te queria jazer na pelt.
Sr tf. Bcm,& quantas vezes me viftc cu neftc mundo
3rcnder,ou açoucar/T/w.Poucas a falar verdade. Zrifi
Huy pelo cnxoua!,que afsi me honra, prometo de o di
amo.?/». Và húa por outra, & fiquemos ami-
zer a te li
gos.Br//.Encomcndote cu aos imigos. P/».Ora. B ri.
Tirtelà,quc nãohcio|c dir.?/».Nom faras. BrifSt

não fp for por teu mal.?/».E quando vas tu lã por nof


fobem. Todauia ficas nifto? nom me quer fallar. Sa-

bes mais que todomundo. Vedes aqui comofegaftaò


muytas vezes os bens da igreja, as comendas da caual-
com Alcouuitciros.com chocarreiros,com cães,
leria

com dados.Digouos que quero antes feruir, & mor-


rer de fome, que tomar tamanhas obrigações as coíLs
porque por derradeiro tam farto hey de ir a coua, co-
mo cUes,& no outro mundo tenho a poufada mais ccr
ta.

jiCTO ll. SCENA. II.

• "• L$' Dizcifí


j

. % ,

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0- ,

«
COMEDIA DEi

\Izcm que melhor hc hua arte, que hum Rcyno


la

E -'porque o Rcyno podeto tirar a fortuna, a arte fc


pre a«da contigo qualquer terra a cria, & a fuftcnr a;
Coitado de mi íená tomara cftcofficio,maoscacs me
comerão, clle mc vcíie,& mc mantem, onde quer que
for,fegura tenho a poufada.O mundo anda agora tal,
que fc não pode viuer doutra maneira. Tenho proua-
do quantos officios deu Deos,com nenhum mc achey
tambcm,comocó efb.Ando de terra em terra, como
cigano fazédo meus pouíos, onde mc não conhece, em
dous dias faó conhecido dc todos. A primeira couía q
faço como chego, hc faber otraro todo da terrâ, quicas
pucariastê,qúantoscouis, quantas alcouiceirâs ,
quaes
íaó as moças ferrnofas,os mancebos doudos,qual joga
qual gafta, qual he dc molhcres,metomc c5clles,&c6
me véa boca, todos
cilas, digolhe trinta cbocarrices,q

itic conhece logo,todosfc mc afciçoaó.Não hà nenhíí


que não folgue mais dc me conuidar com o jantar q ,

dar húacfmoiaahuni pobre. Ao primeirodia feitoda


acidade,nãofic3rua,traucflabecc,ncm recanto,& po
nho minhas balifas-porque nam erre. A primeira viíi-
taçao he a cafa das làurandciras,mdomccom aqueiUç
moças, com o moça v gaboas de fermofas, daluas* Dc
bons olhos, cnfinolhes mcíinhas pera os cabc lios, agoas
pera o£4rão,mqítrôlbts meus lauares meus lenços, mi
nhascad-sncCaSjdc híia yifítaçá fò fico por cõpanheira»
as velhas chamo moças, as moç »s mininas, asfermofas
Ànjo^fodas Cfabal}^), Jc contentar porq fc dem comi
?

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.

BR IS TO. -
So
go,ò$mancebos todos fáo meus fermofcs^cusnarnò.
rados,meus manos, minhas rofinhas.Húmedàograui
outro a camifa, outro ofaio,& o dinheiro. AÍsi ganha

minha vida o melhor q poíTocm quanto onuido cria*


paruos,nãoajaesdode mi.Eítc he o mais cci to ganho
&mais fem trabalho.Todauia andar có o olho fobre o;
ombro, q eftes meus tratos ns vezes tracãmc mal. Fiqy
tão efcaldado de hu ljtcgo,qtic ainda me doe as cofias
por iíTo apalpo primeiro o vao,q me rnctanclle.Kom
me vereis nunca por caía de honies velhos cafados, ar-
reigados na cerra, q me pode por no pelourinho per
qualqner ioípeita. Todos meus pafosfáofcguros,gacc>
efcaldado dagoa fria à medo, não me colhe a mi mais
no bretc,corao finco a bolfa chea dou húvoo para a ou
tra parte. Então fora taó matreiro, q quantas terras, an
do cantos nomes tomo. Aqui me chamo Briflo, acolá
Ilario^porque me nãofigã,qcu poronde quer qando
Téprc deixo rafio.E ellescbamãmc fanchono, mafincl
Io, mas cu engordo as fuas cufias,&per derradeiro dou
lhe tres figas. Ncfta cidade mc foi a mi melhor q nun-
ca por caufádefia Camilia quealuoroça coda a terra.
Mais de vinte mancebos andão aposelía, & todos pe-
gam comigo, porque mc vem !a ter entrada que eu ,

conheçoade ininina, &amãy, &opayquccra hum


homem muito honrado, Deos lhe aja parte na alma, q
jame liurou do poder da juftiça. ChamauaííePinda-
xo dezejofo cafar
" ~
cila filha honradameDtc a qup
c v . .

,
L4 eilç

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.

COMEDIA DE
cllcqueria mais, que aos fens olhos, foifeáefía índia,’
que he pc©r,que as couas dc Salamanca, por hum ficão -
fcte;coitado ytendofeurooucl feito, & vindofe cóclle,,
& com outro filho q lcuouconfigo, deu a corméta nel
les, não parecerão mais,dous annosbaqostcpor mor
tos. A coucadinha da moça q hc hua fantinha,fermofa .

como hú An jojcolo de garça, toda bé cftrcada ficou af


fi orfaãj& defcm parada em poder dc íua máy,hc pie-

dade ver a pobreza com q viucm todo dia, & toda a


noitc,laurar,& cofcr,q me efpanto como tem ja maos
& olhos,«mal aja a fortuna que tanto defem paro caufa.
MasDcosnuncadcfcmparaqucm fcaellc cncoméda.
Anda aqui hum cauallciro dc Rhodcs chamado Anni-
bal, velho, ve lhancam, que parece deftes Reys antigos
das tapeçarias velhas doudarrão,gaftador,mal afíobra
do,barbadcmouro,qasquismãteromelhor q pode.
A obra boa hc íefora pelo amor dc Dcos,masftia teça
be dodnbo.Mctcfelhe em cabaça que a ade aucr por
roáceba.Tragoo enganado amil dias*,cu Faço meu pro
ueico,& guardo ahonra da moça.Deíía renda que lhes
DcosdàfazclletrcsquinhòcSjhüm pera mi,outroquç
cllecuida,quc hc peraellas,quetambcm nic fica, o ter
Cciro,& mais pequeno pera Fua cafa. Nunca al viftes,
íenão o dos pobres dalo o diabo.E com quanto repar
tetambém comigo, fempre mc mofirodefeontente,
que eftasfaõ minhas arces,a quantos ene Lião nclla, ou
cm outras, a todos faço bõroílo todos g range o, todos
roubo

Djgitized*by Google
BRISTO. Si

roubo fem hum fabsr parte do outro, & cada hum dei
les, cuida que a tem nas vnhas. Hum mancebo ío anda
*

aqui chamado Lionardo com quero trato toda averda


de porque hc bom filho, & conheço nclle boa rençam
pera a moça, que eu queria ver m uito bem cafada pol •

las boasobras que ja recebi defcupar,ella também he


perdida por cllc mandoumeem fua bufea^yo de che-
gar a concrução/e feria tão ditofo que o achaíTc,la ve
jovir Annibal,querome efconderdelle. . >

jICTO. II. S C E N A. HF.

lAanibil Ciu*llnrtie Zbtitt. Piiwft.


1 /
*

^«./^VVEtediíTeeírcFanchonoíPm.Não fernan»
o cntendo.T c m iopofto em m ui m ao foro
^«.Dequc maneirarP;».Parccemcque quer que Hio
encham de cada vez a bo!fa,& a barriga» yi»»Nora jo
guete cllc comigo. P/V.Mas porque poés tu tua hon-
ra na roam dc fie, que nom tem ley com Dcos,ncm ver
dadccom os homens» Ainda ate qur onam colhr
cm nenhuma,a primeira pagara por todos» Pi»» Nom
hei por bom concelho fazer cfíaexpcricncu ,
que o
velhaco hc ram trincado que Fará feu Fardem fem o
ninguem fentir. Nom
oufaràcüc iffocomrgoy
quceuaomíom horoero de Palha. Pw. Hc cam maa
que hcy medo que nos engane.

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a

COMEDIA DE
Jn .Nunca mc ninguém enganou cm mancebo, me-
nos mc enganara cm velho. “h». Hei por mui roim íi- J

nalandarfclcmptc efeondendo. An.Eflcs Lm di«bos


queremte dar a entender que tem outros negocios pe
ra te encarecerem mais o tcú.Mas onde o deixaftc cu?
pera onde te diíTc que hia? Pw. Nunca tro quis dizer.
A».£?uc razão te dcurcom que fc cfcLifon. P/ 0 .CÓ na-
da. Tudo forão queixumes de feus trabalhos, 5c tua et
caccza.A». Afsi lhcvay?Ora nò mais, eu mc lhe darcy a
conheccr.P/fl.^nem nom hà medo ao diabo, queres q
o aja de ty\A».Ecunom fom peor cj rodeios diabos,
gora n e conheces P/a Digo íenher que hc m uyta
tu.*' .

verdade, cuidei, que era arrebatado, A«». Nom íabes


que nunca me ninguém anojou hum tamanino, que o
menor caíligo não foíTc perder a vida? P/».Pois,porq
fofres a cílc tanto? An, Porque o home prudçte primei
ro hadeandsr asboasqueàs n'âs,quecflche hum dos
bons preceitos da caualleria. ftn. Efle guarda tu com
os cauaIleiros>& não com os fanchonos. A». Em toda
aparte parece bem o filo, & a
prudência, mas nom fc
engane elíc comigo, guardefe de minha ira, que a nin-
guem perdoa, & com ningnem labe vfar de cõprimé-
1

tos. A ;». O Deos q íofres cEe,& fuas doudices^Aw.Por


outro tal fiz eu ja cruezas
q foarão vaite perhiem fua
bufca,dizelhc que o fico aqui cfpcrando,entani venha
me ellc com efcuLs,P//?.Hi la cm bufea do vento, on-
de hey de achar hum bargante, queqorn tem hunx

couil

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' B R IS T o: > 82 -

couil certo, 5e fe te furta diante dos olhos? A»». He


pouco conhecido nefta cerra. Pr». Se o nom achar
íogodcyxalobcy? yínn. Faze coda a diligencia com
que me va ho)e a cafa. .P/». Prometo fe o acho de fa-
zer com que la nam torne. Jnn, Nom fcy como vi-
uo,5c como nam arrebento. Paciência. Mas quem po-
derá com tanco? Nom tenho vida de homem com cf-
tameei. Percomc por cila a olhos viílos, 5c hei medo
que me achem hum dia morto, 5c matarmcham amo
rc$, nom me podendo nunqua matar cfpadas , nem
bombardas. He por de mais aquelle rapaz Vay ,

demaamente, nem o ha de bufear , nem o lmdc


achar, entam viuey là. Hà de c fiar minha vida pen-

dendo das mãos de Brifto?quamanha$ mudanças faz


ho tempo deidade. Quam fora cu quando eítaua
,

em Rhodesdefofreroque agora fofro. Muytas ve-


zes me cfpanto de me veraísi taro mudado ,
que
eu mcfmo me defeonheço. Por qualquer coufa rna-
taua ,
qucymaua, dcftruya , fazia coufas de todo-
los diabos. Nom auia cem homens ,
que na for-
ça de minha cólera ,‘inc tiueíTem roílo rotya ho-
ra. Todos aífombraua , todos tremiam honde ,

quer quemeu nome foaua fazia efpanto Õc afsi


, ,

era chamado o fegundo AnnibaJ. E fendo fempre


dado a eíícs appetites da carne , nunqua nenhum
me enfiou tanto como èífe. Nunqua me vi tam
perdido ^ discam namorado da vontade , a mor,
.

. parte
COMEDIA DE
m
parte de nieu filo perdi cotn cftarooça,doulhc quinto
tenho, & ainda quc.ate quiaproueitou pouco ,
folgo
de fecllj lograr do meu. Ia pode fer fenão tiucra eftc
impedimento da ordem, que me cafaracom elta,& fi*
zcrahüa boa obra por faluação deminhaalma. Mas
pois não pode fer, também Dcosfe contentara deftou
tra.Caíalahei honradamcncc,poisteohobcm poróde,
fe cila nãoquiíer fer paruoa,& fc entregar cm minhas
mão$,quando não, toda a perda fera fua.

*
^C7 0. II.

SCENA.^
{li!.

MwtAuám foÜalo. yjnnihdl,


A nunca pude ccrhum bom acerto com eftc parece
I coufa feita a cinte. Aw.Qua vem Moncaluáomeu
foldado. Cuidei que lhe efeapafle homem, & fur
tafife efta tarde pera meus negocios. Au.fftc he todo»
los diabos, folgo cõ elle porque o vejo de bõs cfpricos.
M a».Hade cftar mencocorco,com feros o amanfarey
A». Ainda menam vio.j&í*».Ha dias ando dezejofo
q
de achar com quem peleje, he grãdc enfadamento fer
hum homem tão pacifico. A >7. Nom he menos daquil*
lo,tomaiuos là cõ elle. Mõ.Por
ifiTo folgaua ê Rhodcs>

cada dia auia mortes, &dcfafios.Eftagécc hc toda mor


ta. A». Aquillo fáo cfpiricos roeus.Olhai faz a conucr
q
fação. ^tcn.Des quanto ha q aqui ando, nã vihfiarroi-
do. Antçs dc hum par de dias eu mç moftraíci a cftcs.
v
: Aih
- 4
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c

BRISTO. *
S; .

^j».2jipfò®chíi»ar*MQ8taluãa. mc
ch vryiavOh fenhor no ni te vi fur-dc cafi. ^4 ,). Dc que
te vinhas queixando agora? /tf#». Dirtohei, Vinha ef-

tranhando comigo quão poucas rcuolcas vejo ueíU


terra.^#.E pezate ui flTo<’.£f «n.Bf 0) fabes que me cri
eicom fángue de homens, onde não ouço arma$,&goI
per,cobrcfcme o coração. ^
«.«Bomvmhas cu agora
pera qualquer coufi. Me». Qucrcfme dar licença que
efpanquc hum par deftes efeudeiros por meu defenfa-
damento..A«* rLfla licença picle tu a jufliça. Me». D ti *

fò hei medo. A juftiça pouco me pode empecer, ytn.


E donde te vcyo agora iíToàcabcçi.^ff.Mas donde
te vem pe :guntareímetn iífo.Parece que me não co-
nheces. *Nãote lembfa,qiuntas vezes me liuraílc cm
Rhodes do baraço^ docutcllo. Ahi podia eu mui
to, aqui nona poflo nada.^íow.Porque tu qucrcs,é tua

mão cílà,igpan tare ítc com aterra. A». guando iííbfof


Penom me faria credor por tam pouca coufa.M r.Do
pouco fc vem áo muico.Começ tu hõa vcz,q nosdef-
i

pouoarcmos o Rcyno. a ».Ora eu v$u caindo no que „

dizes nomfe enxergão aqui homens. M.w. Pera procu


diíTohcidc andar com quantos achar as bofetadas. A#.

ParcCcm azados pera íe calarem com clhs,& deman-


dáTtc a injuria. Mw.Entam te digo eu que fe ellcs fal-

uauão.Nao me efeaparião na Índia. A>v.Porquc.M<u»<


Porque oam poífo fofrer homem couardc.Tu me po-
fçftençftecoíhjme. w^ff.Todosq uerksqaefoíícni co
)
-
x

; mo

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COMEDIA DE
ino cu.Enes6 pera q preílaua. Mon.Pcra o c] clles pref
cariao iefoíVcm como ti. A/^guc dizes, ;K 0 #.Çuevcjo
pa^íar cerros mancebos por aquclla rua, defejo de me
ddcnfadarcom ellcs.A», Naó cures de efcandalizara
gente, ido fique pera a guerra. M-j»» Matame logo, &
morrerei honrado. Porquc.Mow.Porquehcy me-
do, quem e mat^i pa3p.A^.Ht J ha,hc,^íí».Deilhe,no
goco.Bcm fabes que a natureza do homem he viuercò
aquillo fo com que fe criou. A». Es diabólico. Mas q
honra podes ganhar com cila gente tão mifera. M«».
Eu não o hei pola hóra.Bcm me baílaoquc tenho em
íer tcu,& te feruir,mas por fartar a vontade. A*;». Oh
Rhoíies.KhodcSjMíw.Abjal^ja me hàenueja, ellc co-
meçara com as (uas. Aa.Lembrate aqucllc

do diluuio do fangue.^Afl.Ia nunca' perdera cííe nome


M sw. Queres que iecfqueçáocoufas ruas? Ao.Ná me
parece q podia fazer mais hum homem coi^ra tantos.'
Ms».Eu q o vi o nãcreo.A».Tomarémc defarmado,e
ellcs carregados de ferro M^w.E creo ainda
q te falta-
uaaelpada.Ar,.Sy.Maseu dchúa punhada lancei hum
no chão,& leueilhe a fua.M*».Então te deu o outro o
golpe no hóbro. A/í.Eíía lò ferida creo que leuci dahi
M*».E fui tafq ca curei eu com húa eílopada. Choro
cada vez que me lébra. Aw.Ora o outro Valcnciano ,
cj
jiigaua de todalas armas fe lhe valerão comigo.
Kão parecia lenão que. andauas encãtado.A*.Húa coi
rinha dãcafotrazia.hWNunca defle ferid^qcurafle
fiíico,& de quantas apanhade (fe te léLuajíeprc^çaílc

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BR I S T O.' 84
viuo. A», Qóe dirás a ifToíMíff.Çue tuas carnes nõ cori

fencé ferro. £uc perda foi,não cc achares naqilc cerco.


A».Tinha Deosordenado ele íe pcrdcr.M^.Opriroci
ro final foi faltares eu encaó. /^í.ía pode kr,q ou fe na.
perdera,otifefuftcntara mais tem pospor q hum homé
defiro nos ardisda gucrra,bem fabeis que vai mais q
todo o exercito, jtóíW.Nunca me cfqucccrà aquellc di
to ccu,q maisera pera temer hum exercito de ouelhas
quando tinhão por capitão hum Lcão,q dcLcoes fe os
capicaucauaouclha.Aá.Masbéfepodia dizer de mi,q
liurci de hü grande trabalho o pouoTurquifco^como

o primeiro Annibal uíffc polo Romao quãdo morria.


Maw.Ora nunca vi couía trazida a taó bom propofico
Ao.Ia pode fcr,q fe diria la i(To.Não duurdes cu muito
M j».Èu me cfpantojcomotcdcfacofiumafie tãto das
armas.AH.He hu modo de pcnicécb,q agora faço, em
pago de minhas traucíTuras. Mc».Nà fel como podes
acabar iíToectigo._^».Porq vejo que canto fe ganha
cm fofrer,eomocm vingar. Emaisgrão fortaleza hc
vencerfehfi.homca fi mefroo.^/í.E mais que todos
\écia,q tu náodizes.Ao.Mas húa minina véceme.^íã.
EíTasforças fiiõ da camc,qhe o mais force rtnigoq ce-
mos.Náo tc efpantesdiíTo. A n. Não fei que remedro
tcnha.Jfó í».Quercs que ca traga cu oje a caía. A», Ia
cc djfie que. minha determinação cra viucrem paz,
qiicm ma quebrar cera guerra. M 0». Pois ha dc ha-
dç Rhodes,
Co

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COMEDIA DE
conhecido, & noir.eado entre Chriflãos, Sc Turcos
andar afsifogcyto a miferias dos outros homens.
An Sdô mudanças dafortuna, que no meu tempo bem
fabcsru,quc quer fofle enfada, quer foice ira,ou dózela
ou enterrada, não era neceflario mais que faberfe,quc
entendia eu nifíb,pcra o pai,oa o marido ma trazeré a
cafa acamada. M^.Q^uando me lembra iíTo ficopaf
mado, olho para ti,& paíeceme,quc não eseíTe. A»,ía
me aconttcco fobre ceima(olha que couínsfaz a moei
dade)f«dcar com hüs dcz,qtie fc tinha por lubis hoir.és
& comarlheshúa Turca, q ate li fe podia dizer ferir o-

fa,& rendendoos a todos fem eu re& bcr ferida, og fiz

vir por efeudeiros diante delia ate ma de’xareemcafa.


guc te parece ? M ». Agora queres que me efpantc de
couías cuas,_y», üftas erão as minhas traueííuras. De-
pois caneci, abrandei, lom ja cáo
manlarraó,como ves,
que me deixo fogeitaí de hum marinello, & não o ea
forco, & cumpro meu appetice a pefar clonrüdo todo.
M 0.'Corro,nom tem clle ja negociado tudo. A»».
te

Antes me parece que quer brincar comígo.Mandeio


hoje chamar, nam quis vir. Agora he làPincrfoem fua
bufca.Mtf ^.Podc fer quedcfcarregarci eu ncíle mari
nelloo rppetite da furiacom qando. An.Nom faças,
vejamosprimeirocom que vem,JVí(í».Cumprclhe ha
clle trazerta a caía, ou hum lobo viuo. Aa.Náo poderá

mais por ventura,qucamoçahc virtuofa, cuida que o


que lhe cu dou, he porcfmolla, Sc dfccjxunc qUetem
v
-^rnn-
: BR IS TO. 85
gfàride cfperança nos acertos dc Dcos. Míí». E q me* „

lhor acerto pode ter cila que eftc?nam vai roais ícr tua
manceba que molher dc nenhum homem? An. Iííb
,

nam entende clla,ncm à quem lho diga. Mon Ora me .

deixa com Bnffo,quecu lhe pregarei hum pouco. A»?.


Pois afsi hc, fica por aqui cfperando,quc ou cllc,ou Pi
nerfo nam dcuan tardar muito. Mo». Vay cíi,bora,q|
cu terei cuydado. yíw.HaCc por bem com ellç, nam o
çicandaiizes.yW*» Defeança.

,
jiCTO, II. SCENA. V.

fttontAludm [00.

y Edesalihum homem, que nunca vi, nefiü conheci


fenam defquc entrei nefia terra. Tiue tam boa
manha com clle,quc lhe meti em cabeça, que oleruira
tm Rhodes hús dias, Dc maneira que ainda que lhe a-
gora jure o contrario, ja me notr. crcrà.Terra foy on-
de nunqui pus os pès.Toda minha vida foy belinguinv
cm Roma, mafeylà hum Clérigo, acolhimc ha cfte
couto.Aalmanam fcyquc tal anda, avida queria
ftgurar , mor medo hey a forca, que ao diabo. £?uifc

me Dcos bem que vim com efie doudo meti-


copar ,

lhe mil mentiras em cabeça com pouco trabalho deS ,

que me informey de íuaatte, dou com clle hum dia


cm fua _caiju. efl ando jogando com outros ( que foy
M graa-

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COMEDIA DE
grãnde ácerto)lançomc a fcus pes , começoo de abrá-
çar,como fc o íempre conhecera, cllc na verdade à pri
meira ficou confufo , roas desque meouuio falarem
Rhodes nos cauallciros, nos Turcos, & dizer mil faça-»
nhas que que cu foubc q fc clle gabaua muy-
fizera, de

to,abraçoume conheccomejagafalhoumejtême como


hum Rey.Eu fom o que mando a elle, & a cafa coda,
he homem de boa renda, vam, gaftador, de nodado ca 3

com quanto non hei medo ao dia-


beça de ferro, que
bo, aífombrome com cllc. O feruiço que lhe faço hc
,

fallarlhe ha vontade, gabarlhc quanto faz, rirmequatt


do rijcrcrlhe quanto diz,mentirlbe iíTo que poíTo , fe

chora, choro, fc canta, baylo,fe brada, grito, & foo com


iftoo contento.Contolhe coufas,quc clle nunqua ou-
uio nem
fez, defafios, que teife, batalhas, que vcncco*

mil perigos dc que me liurou,& tudo cuida que he fy.


Se nao de quando cm quando me dizque lhe nom lem
bra.Entam me vejo em aperto. Mas corocçome a rir
dclle,& dizer, que hua moça tem poder dc lhe trouar
o juÍzo,&a memoria.^uandoifio nao bafta, jurolho
por quantos juramentos me enfina o diabo. Afsi q por
hüa via, ou por outra, tudo lhe faço crer. Ajudouroe a
mi muito a conuerfaçãoque tiue huns dias com hufol
dadoquefdaachou, queme dcualgua inforroaçam
da terra, & me contou coufasdcftc que fazia doudame
te,mas íayamlhe também que efpantaua a todos. Eu
coro hua verdade encubro dez mencira^g^enho

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BRISTO. Só
ãrte que ponho em lembrança as mais afsinadas cou-
fas,quc mc conta.Tornolhasa contar dahi a huns dias
tam naturalmcnte como fe lhas cu vira fazer pelos mc
usolhos.Masa graça he,que aindaalgumas dcífasme
di2,que lhe nam lembram. Eftc hey cu por mayor a*
peito, porque eflou eftalando com rifo , quando mc
nam poífo ter.digolhc que mc lembrou huma graçà
fua. Q^ue quereis mais? Aconteceome ja hilo cfprci-
tarhúa noite afuacamara,& velo andar paíTeando fo
ascfcurascontandofle afyracfmo mil mentiras im**
pofsiucis. Como entrou, como vcyo, quantos npatot?;
que golpes deu, que de todo cm todo euidey que era
doudo. È com ifto arrencgaua,defcrhi,bradaua,como
fc andaua metido em todo o furor das armas, quando

vc yo polia manham , nam fc lembraua denada. Eu


tam bem porque lhe fey a condiçam,façome com elle
hum Hcrculc s,onde quer que o vejo, tudo fam feros,
& cruezas, fc homem nam vfar deftes ardis, como que-
xcisqueviua. Bem paruohc aqucllequeíe fiaagora
cm ,nam achaes por cilas quem vos fie hum
virtudes
púcaro dc agoa.Todo íifo hc dizer bem domai, fofrer
difumular,lifbngear,mcntir ondche nectíTario,quc
às vezes hc gram prudência. Eu defb maneyra tcoho

vidadeRcypormuy pouco prcçOjOutrosaucràquc a


compram mais caro,& nam lhe rende tanto. Mas que
faço eu aqui. (guerome ir a negociar meus negocios.
Os dc Aanibaj durmam por agora , cftc Alcouitciio
-
~ Mí ;
creo,

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COMEDIA DE
crco,q o traz enganado téno roubado de quãto tc,tnàs
ido famartes do diabo, faz edes taes feus defpenfciros
porque nem com feus bes façam bem, nem os empre-
guem fenam cm feus minidros.E afsi fodenca ha mor
parte do mundò em fe u fcriaço,que cambem eu lhe dc
uo meuqumham. Nam íeiquem vejo là vir em quan-
to Brido nam vem, quero dar hum paííeo pela praça,
íe o perder, perco bem pouco niíEo-

^4 (TO. IÍ. SCENA. \l


LhnárAo foo.

C Ada vez, que vejo Caro ilia me parece que


qua a vy. Afsi a c

dcfconhecem,cada vez vem nell.i


,

ftranham os meus olhos,


fiuti-

afsi

coufas npuas,que os
o

efpantam,& mc matam, quem haucràquea nam edra


nhc de codalas outras. Que negara que fc quis a naturc
zaefmerar nclla mais, q cm todas? Ali não j cores, nam
àagoas,nam à ionçiinhas,tudo he fcu,tudo natural, nc
nhüa coufa empredada. Nam fey, como poíío acabar
comigo par tirme de fua vida , quanto maisme dete-
nho cm a olhar, tanto mais acho nella que ver. Aquel-
Ietooefpaçoqueavejo, me parece, que todo o outro
tempo não viuo. Trago atrauedados na alma aquellcs
©lhos faudofos,que mc lançou em me vendo.Paruo-de
fní,qucm me cngana?guem mc colhe tamanho conte
tamcncoíSc Alexandre ícnciíTc a força, dc a delicadeza

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BR ISTO $7
do ã?Áor,fc foubcflfc entéder aquella perfeição de Ca-
milia,3qucllc fífo,âquellc repoufo,aquella grauidade,
aquclla graça, & viucza dos feus olhos, hum dcfpejota
honcftojhüm rir tão fefudo } hum náo fei que,qeu quà
entendo, certo hc que teria cm pouco perder mc por
clla.Masfe eu nam mouro antes de muitos dias farta-
rei efta vontade. Quem me ifto tiucr a mal, naô qtjc
ro que lhe pareça bem nenhúa coufa minha.Meupay,
pois cambem com meu erro. Aqucllc
errou, difsimulc
cxemplojcom que fc clle cfcufaua,q com a virtude fc a
uia dc cafar & nam com dote, com efle mefmo me
,

efeufe. Voume cm bufea dc Brifto darlhe conta defía


tenção, que não fofrem o amor,& os dezejos tamanha
tardança. Mas hc clle aquelle que làvcmíAquellc he,^
grande acerco foy eftc.gueroo efpcrar aqui.
.» •

JCT 0. II. SCENA. VII.

TtUrte moc a. Licnárdc,

Q
íngreme
V E dizes.*’ P \l Q^uc te não arrependeras dc Ccii
m trabalho. 2?ri/?f.Eu tc dircy. Nao hâ rocha U
$ & tão afpera por onde não trepe hum afno
1

Carregado dc ouro. ?//. Q^uatido Alexandr.c onamfi


Zcrbem contigo não ofaç.s tu bem com cWc.Licn.A~
moço dc Calidonio.guc negocios te
quelle he Pilartc
com r&^rifle.n principal que cu querh^q nam fof-
M5 fejn

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*
. :
- COMEDIA DE H «

fcm iíTo palauras.P/7.Como palaurasíBr/.EÍla moÇa


hç muyto Fermofa,& muyto honrada, & por fua pef-
foa merece muyto.P//,Tu tc vcràscóm elle, & conhe-
ceras mclSior fua tenção. Br//Nam cuides tu, que fou
cutam paruo, que me ande metendo em per igos. P/7.
Pois he neceflario,quco não íaiba Lionardo. Br//.Dc
mi podes tu eftar feguro que me rcleua. Lnn Os . tra-

tos dcfte não podem crer. Pi/.Ora ficate embora q cu


' tne vou com eflasnouas. Be//. Forte Camilia hc cfta
q
tantos embicam nelL.Húa moça Fef mofa he hum vif?
co de ociõfos.Mas cayão embora, que eu osdepcnarci*
com quéfecllcstoroáo. Agora noua mente embicou
nelh Alexandre, que he vnha,& carne comLionardo.
Por iflopintão ao’amor criança, que naó tem mais ref-
peito que ao que pcde.Liow.^ue milagre he efte, nun-

ca o eu vi tam repoufado.Br//.Scgundo me Pilartedif


fe,F)om ganho tenho nelle.eu o faberei grangear.Sabe
is vos como mc eu hcy com clIesBcomo eíTes procura-
dores,qne por menos joíiiça que tenhais, íempredize,
que vosfobcja.Ao dar da fentençafoftes mofino, tu
çafarei Lionardo, depois não fakarà hutn achaque, &
quando nam os pes me poram cm faluo. Nam hajacs
medo que me comem à coíío. Irey oje ter com Annn
bal dirlhehcihum par de mentiras, & pagarmasha,de,
huns,& doutros Farey meu alForge.Mas primeiro mc
rcleua Falbr com Lionardo,& por mc Ftgurar,confc«;.
Jlurlhehcique fc guarde de Alexaadie. L/w. Brifto,

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BR IS TO. 8S
Brifto.Br //.2u c
,
doudo hecflc que afsibâr rega? 'Lxtihl

BriiIo.Br//.Vcjoquebufcaua. Ay meu Lionardoaqui


cftauascu.Lw». Aqui eflou a mil orascfpcrádo por cy.^
Bri/IMais à que cu ando em tua bufea. Lj ». £>uem te
c refle iíTo.Br/.Por vida daqlle Anjinho, da minha,&
& mais da cuaq eu maiseftimo. Li*».Vificâ
E quando a deixo cu dc vcr.^/ow.Quc tal eflsuarBr//
Hda roflnha de Mayo,nao parecião osfeus olhos, fena

duas eftrcllas do Noite. Liort.Quc praticai? e com cila?


^r/.pera iflb tcbufcaua. Lun. Aqui mc tens q me qres.
Br/.Ouueme,c fabcloas.£ia.Dize o qquiferes.Br/.Eu
roeu Lionardo,fépre cfpcrei de ti oq mc prometia tua
bòdadc,& o cj conheci fempre na boa tençào, có q mc
metefle cm teus amores.^**. A q prepofito.Br/.Nã cç
aprefles
q eu to direi.Efta confiãça q
cu dc ti tenho mc
deu oufadia pera dar palaura a Camilia do teu cõfenci
mento q náo hc bcm,q voflas vontades tão çon for rr es
efté cfperando algú defaflre q as desfaça. Parcceomc,cj
pois eu ja tenho feito quanto tu qrias,eftaua cm razaó

fazeres tu tábem o q comigo ficafte. Ia dcues ter beni


conhecido, quão boa filha he.quao vittuofa,qu3 hone-
fla,oamor q te té afora aquella fermofura
lhe Dcos
cj

deutã difForencede todas, ^io.Nãoqroq digas mais.


Mas átes q te rcfponda qro íaber q he o q dc mi fétes.
B' /.Que cidc íentir dc ti,fcnão q fairàs ao bom fanguc
dc teus auos,cm q nunca fc achou mentira, ré falfidade
& quecjpparar ashüa orfáa engeitada da fortuna, &
r M4 não

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COMEDIA DE
não dos dotes do corpo , Sc da alma, queã todos os ou*
tros faz ventagem.Lio*. E não attentas tu, que dcuo ete
iíTo a mi mefmo?aos meus olhos, & a minha alma. Ah
quantas lagrimas chorei?Ah quantos paííeos dei? Ah
quantos trabalhosmetem euftado? Como poffo co-
meter contra mi mcfmo hua ingratidam tamanha?Di
zerae por tua vida não era pera reprehender mais efta
crueldade que comigo vfaílc.que cometer iílo fera li-

cença de meu piy. Brijla. Afsi como o entendes, aísi ho


faze, porque ainda que teu pay fejamuyto rico, as ri-
quezas nãa enriquecem, fenam o contentamento. Tu-
do o mais he grão miferia,& pobreza. Antes quero fer:
pobre contente, que Rey defcontcntc. paixaó durar
lhe ha dous dias, por derradeiro tu cs feu filho, clle teu
pay,& velho, & naõ tem outro fenam a ty.Não hc tão
fraco o amor da natureza que de todo em todo fe que
bre.ZJoa.Pois que farà o meu que he cam rijo. 'Briftc,
Alem diflo tomas molher conforme a tua vontade , cj
afsiquerDeos,& afsiomanda.Por tanrofe te determi
naSjdame palaura certa, concerta odia pera que fe ellas
aperccbão,quceucm pago do trabalho que niíTo tiuc
naò quero mai$,quc o contentamento , que daqui mc
cabe.^;o0.Prouuera aDcos meu amigo Brido, q pude
ra eu fazer o q dçzejo,q teus palTos não foram mal ga-
lardoados. Mas fe algüa ora lançafte mão de alguack
pcrança.B r/^Calate portua vida com te eu ver com
clia cm braços muito manos, & muito ajjii^sun^ccon

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9

BR IS TO. S

tentarta,qu2ntafeíktchey dc fazer aquellu primeira


noite. Lion.\gon acubo dc crer , que fe ha Deos por
íeruido difto, porq cu pera nenhúa outra couía tc büfi.
caua. E porque quanto mais te detenho, mpr mal me
faço.Podclhes dizer, que pera Domingo à noite me té
là.E cm final difto leua efte Rcliquario, onde andam,
huns poucos de feus cabellos. ‘Brijl. Dcos me faça tami;

bemauenturado,como mc fizefte,com eftas nouas,dei


xame,rogote,leuar antes que moura. Lion. E mais lhe
daras por amor de mi efte abraço.Br/tf.He hum beijii
nhonafaccem final depoífe. Masquerotedizeroq:
me cíquecia ja com o aluoroço,pclo que tc rclcua t cõ-

felhote Lionardo que não fies ifto,fenam dc ti íô. An-


tes dà a entender que cs jade todo mudado,que eu te-
nho vifto muitos enganos neftes ncgocios de quem te
. menostemeSjCÍTete engana, de quê mais cófias tetriti
caafcdella. Nã digo ifio, por qfaibaalgúacoufa, mas
té c n finado. Efta mos em cepo
pelo q a cx per tecia roc
cm q fc nam ba dc crer mais que cm fò Dcos, bem mc
cntcndcs.Liíw.Muyto bem. Eu tc agradeço o côcclho
afsi o farei, fico tão aluoraçado de prazer, que me pare
ce que não hei dc chegar atamanho contentamento.
£ualhadc fcraqiicllcdra, quetcbeycude ter minha
Camilia nos meus braços. Oh Senhor Dcos deíxayme
cKegar a ifto,& depois matame. Çuc doudo hc cllc,q
quà vcm.Ia ocoahcço,bcm tem a quem fair.

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COMEDIA DE
jicro . S C E N A.
ir. -
VIII.
Montiluao. B rifla.

A Gora vi hum arroidona


acharmc nclle,q faluci
mes, ainda q eu zombo com AnnibaJ/ou pera mais do
praça, foi
as vidas a
grande acerto
mais de 25. ho-

que nringuemcuida.Náoà homem que menos cííime


a vida, fiz marauilhas ,
Sc íi nczas de
q a gente fica pafi.

niada.B^Clefu me guarde das orasmingoadas, «Sc dos


defaftres do Diabo. Mo». Hecfie BuíWA bom tépo:
vcmíBr^.Comoos defaftreseftam aparelhados acoda
Ias oras, por iflo dizem que andam os efpritos maos
,

derramados pelos arcs.M 0 tf.De que fc benze o diabo.'


Bn/.Indo por cafa de Cornelia pedir Ihc as aluiçaras vi

atraueíTar aqucllc folJado de Anibal cão enfiado, que


me fc z medo,aíTombrame como o diabo cada vez q o
vejo.>íí».Eu farei
q o digascom verdade* B^j/IDouc.
volta, atras, vinha hum doudo correndo num caualta
a redea folt3,cnconcroucomigo.lançamcnocha,fnais
dc húa ora grande efiiue fem folego, Mott.Quç perde
ras hum.ainda te ficauão leis. Br tf. Se me não acudirao
logo,parcceorae q morrera. Valcomc húa oração, que
ferrpre trago comigo que me minhamãy deixou de
muita virtudc.Miw.DclFa que ella tinha. Bn/.guãtos
cftoruos fe armão contia húa vircude,antcsq la chegue
hei de ver minha mortc.Msp.queromc chegar antes q-
fe mc acolha. Br if Hui
, por mi,& pola minha vida, vc*
defme outra vez na boca do n *°

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BR I S T o: •
90
Vff,cyo defpántar,porq me tema. B>í]*.Moí medo hcy
q de hum
dcftc algoz.M*0.Scgundo eu agora ando da
nado, pouca cpufa baflaua pera deftruir omundo Brif.

Hai rainha mãy q afsi mcaíTorribrafte.^ífl».S 6 eudia


r

bo,ou como! B.‘'i/ .Tomafleme tão de fupito,quí hum


,

Anjo mc fizera mcdo.J&í*».(?ue prcftcza.Ora bem co


nhcces tu Annibalcaualleiro deRhodcs B^/jCPorquc
me perguntas iíío. «ftícH.Conheccs Montaluão feu foi
dado.Bf z/.Não te cDtendo.Mofl.Rcfpondemc tu ao q
tc eu digo.B; tf.Hkl mãi amiga, & tu não fabcs/c te co
nheço eu.Mfw.Pois porq zombas dc}le, & me não tc-
mcs.Br//.Eu não zombo delle, nem cenho q temer dc
ty.Fizte per ventura algum mal? Xton Bem cerco he
q .

não, pois cftàs viuo. B nf. De q te queixas logo/ M00.


Que quer dizer mandar oje em tua bufea, & não teres
dc ver com iíTo.BN/.Eu nunca coílumo ir fenão com
nouaccrta.E maiscíTc voflb rapaz hehú grande n éci

rofo.MÜ.Roim efeufa hc clTa. Parcccrr.c


q auemos dc
êtrar por outra via.Tu tèqui fofte béauéturado,guartc
de mccairesnas ynhas.Br/.Euq tc fiz?q mc às de fazer,
MÃ.Nunca prometo nada, ao dar fó mais largo,
q Alc
xãdrc. Bri.EíTas larguezas guarda tu pera que quiferes
Múrt.Perqualqrcopfaarrãco logo as vnhas,&csfoloa
cara.Bri.Icfu dcNazarè Iffo fazé os ladróisfaltcadores
Jrttn. guando me niofiro piedoío, fãgro todalas veas
docorpo.Br/.Encoraendomc a Dcí>s,& aos fcnsSãcos
Jrtõ.himjf-^cmc .petacfle baftáo palauras,mas cu jaeo
cll^iípaccToutros. Brf.
-9

\ ,
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COMEDIA DE
^ri/.ÇuántoâAnnibal^ãopudc la i
r,
porque an do ent
feu fcruiço. Mcn. E quem tens tu pera cfta parte que
lhe releue. Br//. Ando logo era feruiço de Camilia,dc
que lhe a elle náo pçza.Eftou tremendo como a verga
De medo nao fei o que <\\go.Mon<YL quando determi
nas de dar fim acftaobra. #r//.E tu cuidas,queheifto *

obradempreitada? Bom eras para andar de amores.


M«».Encukarmchias algus fc os quiícflc. Bn/.Trinra
iml.Mow.Olha quenam zorobo.2?r//.E queres quezõ
be contigo.Míw.Pois que dizes. 3rif. Zomba tu em-
bora, mas ja pode fer que te naopefaflc SepodeíTc ora
armar efle. jkow.Equcm ha qui que me mereça. Brif.
Tu querias cafamento. Mcn.Com húamoça donzelía
fermofa, honrada, &rica mecontcntarii.Bri/.Nom to
crerei, femo náo jurares.M*«.Pois ainda eu cuido que
meabaixey muyto.Srz/.Bofe Monfaluãofc fetu qut-
feffcs dar comigo, bem nos entenderiamos ambos.

M«».Dcque maneira. By;/./íTo te direi eu entre mi,&


ty,fc quiferes. toion. Eftou cm memeter com cfte,hey
medo que me engane. Náooufaràquc me conhece,
guc farias por tua vida.#r;/.Qi_ucrcs cu que fallemos
mfto.Men quero. $r//,Ora vemtc a minha cafa', q h<*
lugar feguro. Mw.V ou. Br/.Vcm embora que cu te
amanfarci.^íow.Tu vè o que fazes, que mas fadas cens
comigo*
+ACTO. III. SOE NA. I.

i/iltxándrejot.

.
. j
i
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-

BR isto; £)I

Q^
cho he
V E nouidadcs Iam cilas tam cftranhas para miV
gue nouos aluoroços finco comigo? gue bi-
cfie que comc?guc imigo tão forte que meper.

EgucfQuem trago quà dentro cm roi que me a lan


,

cca? gue guerra hc cita tam crua? Q^jjc a vcnturaíOu


que cncantamcntOíSintome ferir, nam vejo quem me
fere.De todas asparccsmc cercão,& ninguém acho co
armas, &o pior q nã as tenho pera me defender , neni
mãos pera as comar,ncmdefejos, oujembrança de fo-
o amoríguc cíles laó os feusfinaes,como
gir.Se hc eíta
pode fer.^Naó fam eu Alcxãdrc?naó fam eu liure?Não
me conhecem çodos? Nam me ouuiam zombar fem-
pre de homés perdidos? Hay coycndodc mim queja
pam fam eíTe,ja fou outro todo differente do que dan
tesera, jaho amor tem cm mi maispaite, que eiicrat

, mim rmfmoTrtcheoimigonouo que me mata, eftc


mc perfegue eftc me roc o coração & as entranhas
, , ,

com íeus dentes, Agora fe vinga de minhas íoberbas,


de m inhas patauras ociofas, Sc de todo a quclle tempo
actaz que mc deixou viucr como queria. Des que iro-
Urou aos meus olhos aqucllcs olhos dc C 40iilia,aqucl««
]e feu parecer cftranho, & defacofiumado ,
pouco,
& pouco mc trocou a vontade dc todo, Sc ma foju*
goude maneira, que nam tenho ja nella parte al-
gua. Quem fc poderá liurar dos acontecimentos
do mundo f Beip deziam os Antigos , que nin-
gucip antes da morcc era bemauentuiauo, Q^uatn -

pou-

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COMEDIA DE
pouco V>â que viuia contente, & liure. Vedcfme àgorà
mais catiuo,quc nenhum catiuo, mais triftc
q todos os
triftes, mais perdido que nenhum homem perdido.
Coroo?& pode o amor?Afsi troca as vótades dos
canto
homens. Per certo nao creoeu,qcom os outros pode
tanto como comigo, pois me trocou a minha que tão
diífcrencc era de todas, de tal maneira me mudou
q cu
mcfmome defeonheço. Não me lembra ja Lionar-
do, ftnáoparalbe auer ínueja ,
todo o tempo straz
hcy por perdido ,
todo o que viui por morte , ja

me dcfdigo de quanto difle, ja meu erro, ja


conheço
conftíTo,que não he homem o que o amor nãoconhe
ce.Mas que farei coitado de mi, que re medio bufcarci
irmchci por ventura confdhar com LioDardo,aqi>c
faço hüu traição tamanha, a quem dantes rcprchcndia
tão afperamcnteíEu tomarei pera mi algum de quatos
concelhos lhe daua. Irei cometer Cam ilia que cíH per
dida porelleí’Ou cfpcrarciem Brifto,quc heofccrcta
rio deambos. Ohfortuna, cm que te mereci tamanhos
ma!es?mas ja pode ícr que me tinha Deos guardado cf
te acerto, tudo vem defuamão Muirascoufas.quc pa
rccem dcfaflrcs,fc mudam em boas vepturas. Afsi co-
mo me eu ;ííèiçoci a Camilia viuendo dantes tã liure

aísi cila fe me podia afFdçoar. Afsi como eu efqueci


Lionardo,& fua amifade afsi cila o efqueceria, 6c
amor fe lho tinha. £uem confiou nuca cm vontade de -

molher.Saya como fáir,quc ja hei de pr^^rjoiinha ve-

)
Digitizee
q

B R I S TG 92
cura.Briflonam tem lealdade com ninguém, ho amor
tmiyto menos, com rogos,com promefTas, & com da-
diuaso porei da minha parte. Por derradeiro cu deuo
mais a mi meíraoque aningucro.Vou faber de Pilar-
te o que paíTou com clle. Mas eilo que fahc com meu
pai de caía. E m grandes praticas vem, elle mas cotará.
Querome ir entretanto ver com Brifto.

^C T0 - IIL SCENA. II.

C alidoniâ, TiUrvi

D Izemc
nam
a verdade poisque
fabes que nunca
me fio

me achaftc em
Cd/*Vejoo dontem peraqua tam demudado, que mc
de ti. Til.

mentira.
E cii

daem que cuidar, dantes fempre o via ledo, prazentei-


ro, rir, & folgar.P//.Semprc queres, que os homens tra
gam hum roftocomo diziam osPhiiofophosinfenít-
ueis.Cd/.Mas de que vem a hum moço triftezas,&pcn
famencosíDa caía que cem que manter, ou das filhas,

cafar,ou de quc.P;/.Cofiumafc agora amalcnconia na


mocidade.Deque ves tu tantas moças doentes de cora
çam.C»/.Nunca tu iíTo verasa BrioLnp. Til- Porque
feràfua cópreiçaõ outra. Cd/. Mas porque he a minha
oucra.Bom eftao pay que deixa criar a filha agaftame
tos.Pi7.Ora queres que te diga eu a verdade, QsL An-
tes me farás prazer,?’;/. Com condiçam que o nam fai-
ba clIe,P2tQitfL|Xio defendeo, C*l. Eu te fcgtiro diflfo,

p,/.

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CO MEDIA DE
íi/.Mas que me dà a mi que lho digas. Iíío he pòr ve«
tura coufa de que cllc aja vcrgonha?ou tu defeontenta
mento. Antes me parece, que te obriga a mais amor,
porque quem he tam bom amigo dos amigos, melhor
o ferà dc leu pay. Cai.Nam te entendo. Pd. jTeu filho
como fabe$,foy letrprc tão encolhido, que nunqua ce
pediohum ceitil. £a/.Hc verdade. P/7. Antes pera as
coufas ncccíTarias tomaua fempre fua may por tercei-
ra. fa/.Não por cllc conhecer nunca em midefarror,
ou cfquaceza.Pi/.Por iíío lhe dcucs tu mais, porque ho
filho, que com branduras fe não dana menos o faria,

com durezas. fW.Efiàs enganado, que tudo vem da na


tureza,hahi hus Santos, que fe querem porbem, outros
por mal. Eíh experiência vemos na cera que cõ agoa ,

endurece, & com o fogo a molece. ftl. Não me nega-


ras logo, que mais firmo he a obediência, do amor, que
do temor. CW.Dizes bem. Epor itfbospaysauiam dc
trabalhar fe podcífe fcr,de tratar antes os filhos com a
* mor,& bom rofto que com carrancas, &c sfpercfas, rc-
faluando fempre ocâfHgoncceíTario.P//.EfTe bom ro
fio que tu fempre nvoftraftc a Alexandre,o fez uõ ver
gonhofo,que nem agora outa de cc leuantar os olhos.
( /tl.liTo mc àliuia mais que tudo. Mas porqueme não
dizes, de que vem cfteícu kntiraente? P/7. Norn mais
q.ucdc não poder focorrer a hum feu amigo cm hua
nccefsidade.C^/.Comof P*7.Mandoulhe pedir empre
fiados quatro cruzados, aclufe clíe po rafronu do em

'

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,

BR IS TO 92
Htiàffl poJerfafcer cfta obra dc aíhifade,<rqiiemdhc fez
<ji outras muitas. £*/. Jflo he verdade- F/AEu nam fcy,
mais que quanto me elle diíTc.£a/.N5o me parece iíío
caufa pera tanto fcncimento.Pi/.Encrcfpoufc.C*/.qite
pois elle eftà cm poder dc feu pay & não tem mais q
quanto lhe elle quer dar, tê jufta caufa para fe efcufafli
cíTe homé.P</. Eíícs próprias palautas lhe diíTc tu. Ref
pondcome,quc como fe auia de prefumir dellc q nam
tendo tu outro filho tiueííc tão pouço poder fobre teu
dinbciro.E q pera iflb erão os amigos pera fc ajudaré
Jhús dos outros. £ál. Tem razão. Mas no cj hcjufio,&
pofsiucl.P//.Ncm iíTo mc ficou no tintciro.Dificmc.q

fentia muito tendo outros dinheiros pera beber, & ta-


fular,não o ter elle pera hüaobra tão honefta.E ainda
-fokomoutra palaura,qte eu nãò quero dizer* £í«/.£ue?
por tua vida? P;7.Sã coufas de moços.Ca/.Ora dÍ2emo
pj/.guc juraira , & prometia dc fc meter hum dia em
Jiúa armada, & dar configo onde outros tão bos como
elle vão tcr,& tornão ricos, & honrados, & não viuer
em tuacafacom tanta miferia. Cal, Que lhe diffefiea-
Íffo?P//. Qiic lhe auia dc oizer conu ccimc rir delíe, &
chamarlhe moço, que nam fisbu conhecer quanto tc

deuia.f//. Quanta dicflfrençiv-i do amor dopai aofí


lho.P;/.Atarraqucyo. Cal. Por quJquct palaurinhaq
lhe dizeis por feu enfino, pc lo mais pequeno appetite,
que lhe nam cumpris, logo vos querem mal, logo vos
«pgeicajfalpg ofe dezejam onde os nam vejacs.

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COMEDIA DE
dPi/.Metiocm,confufani ,
qucroo deixàfcufdar ver(>
.jnosem que fica. Ct/.Por iífofe diflequeoamor natti
íalmcnte mais dcce doque fobc.Poisque determinaf
Em que afientou^Pi/.Paílaria cfla vergonha , porque
não he nelle quererco auer por engano, como outros
fazem, ou pedilo empre fiado, porque o ha por baixeza
Cá/.Ora poisafsi he Pilarte como me tu dizcs.P//.An*
ídar.Cj/.Eufom contente de lhe dar cíTe dinheiro.P//.

Zombas. C/t/, Nam zombo. Antes entendo o q faço.


^am quero dar azo a meu filho que fe meta cm duui
idas, com que me dezeje a morte.P//. Certo Calidonio
que te louuo eííc confelho. Cj/.Mas naõ queria que o
foubeíTe clle.Pi/. Porque razam. Cj/.Porque lhe nam
ídc ocafiam pera fe defcDUolucr comigo. P//. Grande fi

fo hecíTe.Crf/.A principal coufa, que o bõ filho ha de


ter,he a reuerencia,& o acatamento, Ê o pay nam ha
Ide dar azo pera que lhaperca.Ifio te lembre a ty pera
quando te Deos der filhos.P/V.E como me lembrara, cj
hum bõ confelho he melhor que toda a riqueza.. Mas
•qticdircia Al.xandrc.Ca/.£?uc osouucfiedalgum teu
utnigo. Pí/.Equem tenho cu aqu^que me pofla fazer
cfta boa obra. Cj/. Metelhe logo em cabeça que pafi»
fou por aqui hum parente teu, & que tos vícu,ou ou-
tra qualquer mentira, que te bem pareça. P */ Achak
te tu o Mcftrc dclhs. Mas eu o farcy aísi. Cj/. Ora
v^ite a Cíifa.dizc a minha molhcr que tosdc,& por fi-
nal que lhe diiíc que hia a caía de Robe rto. JTp dauia

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)
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*

iB ri st o:
tu ficaras obrigado a mos tornares a ftaift.P/7.Eííao-
brigaçam nam quero eu accytar. Porque ha hi hüf
amigos que pedem enipreftado pera fcnipfc. C 4 /.O
ra cu confio de ty , que os arrecadaras. P/7. Folgo de
pje teres neíía conta,& nam erras. Gd. Rogote Pilar»
te, que me olhespor cíTemoço, reprchendeo , con-

felhaodefcubremc femprefeus fegredos. P/7. Diat


hà,quc cu cenho efife cuydado. Cal. Vaycc que eu vou
fc hy não ha mais nam tenho de que te-
onde cc diíTc ,
mer. Ant*s folgo dc ver tam boa inclinaçam ncftc ma
ço. Amifacellc naquillo que fempre coftumey fa-
zer mais por hum amigo que por mi mcfmo.
,
Fol-
guei dc Pilarte mo defcubr ir. Mais vai auenturar ha
dinheiro, que o filho^ ncccfsidadc he mcftrc da malí-
cia, nam quero que lhe enfinc algua.Nam hc taõ poii«

co furtar o corpo aos azos.


* *
* • .

JtCT°. III. S CE NA. III.

- WLrte fui

GO M O os cega
enganam os pays com os filhos, hus
fe

ho amor , outros ha defeon fiança,


Masiftonam nace , fe nam dc osciles julga-
rem por fy raefmos. O pay que cm fua mocida-
de foy traueflTo , jugador , rcuoltofo , afsi cny-
da que hc ho filho. Nam hajats vos medo que
~
cíles

c Digitized by Google
*
? COMEDIA IDE »

<6cs!tÃJ%í!ríriaTcnKCfCfini- a minha mentira. Ca lis-


tam, io ciao iVmfve íoy manço pacifico, de pouco tra
julga agora o filho.E na verdade cem razam,
Sjue Alexandre nunca dcfcobrio o fio, fe nam agora.
NuncaquifcíTeis ver bons princípios a vofíbs filhos*
porque vem a mudar codas as peidas, & fazer leaues dd
rapina. O que dc moço começa fer traucço, quando
vem a fer homem eft a ja enfadado. que o nam foy O
te começao. fer no tempo de mais perigo. Todolos
li

que vfrdes cm pequenos Santos, ou hc final de viuerd


pouco, ou dc virem fer diabos Eu o vejo por muytos,
& agora por Alexandre, q fendo dances hum frade, SC
mais, que frade dedous dias pera quafe começou dc*
fsnuoluer,dc maneira que me cfpanta que clle fempre
fe fiou dc mi,não me fabe ter nada encuberco. Affci*
çoarãono feus peccados a efia Camilia , rindofe antes
ma s do feus apaixonadas,
q do mefmoBrifioapos que
andao.Encão q cuidais?Dcfquc eíles húa vezc2é,/rico
he,toda aquclla liberdade primeira fc conucrce cm ou

tro tanto caciuciro.Andao coitado cam morto, q nam


dura,ncm foccga,achaavidaefiranha,vcífefem dinhei
ro,q jc hc a mor ajuda nefies cafos,tcmc feu pay ,
que
ainda hoje começou a tentar nçlle. Mas a mi focedeo*
me bem a mintira,porqlho dcfculpei,& cacei aquelles
cr uzadinhospera começo depaga.Mas clles hão de fer
tambem cmpregadoscomòfeclle foube empregar,
que efic Aicouicciro afsi çoguo mç diíTc que enga^

Digitiz • ,k
B R I S TO . 95
enganar. ProuueíTe a Dcos
ÍSiua L»onãrdo,afsi o hà de
peitaria, porq
que foíTc afsi, que dc melhor vontade o
he grande mal perderíc aísi hum
mãeibo, em q o puy
quer edificar toda fua obra. Coitados dos pais>q iuã,&

trabalhão , & por derradeiro enthcfouram pera fua


morte. Eu com o amor que lhe tenho, nam lei íe nam
fcg ui í lhe a vontadc,prometdhc dc o ajudar cm tudo*
Aoora que terroso mais neccfíario tornaiey aaper^
tarcom Brifto. Là vejo vir Montaluam Toldado de
Annibal em cuja cafa tem muita cntrada,querolhc per
guntarpor elle.

JL^TO* III. SCENA. IÍII.


;

MwtAltta*. fiUrtrl
* * • .

V Enho efpantado dos tratos dcfte diabo dc Brido


nam cuidei que foíTe pera tanto. P/Z.Quc par*
,^fo”.Tinha pera mi, que ninguém cra mais roim que
eu. Efíe me fez parecer hum capucho. Pi/.
Nem mais
nem mcnos.Mtf»«Ecuoumc afuacafa,que he hua boca
do inferno, negra>efcura, mal aflbmbrada metida de-
baixo do cham»que ao mcyodianam oufareis dc en-
ria euhi
trar ncllafcm candca.P/Z.Por mais feguroauc
o finaldaCruz.Mtffl.AU Te recolhem todas as aues trif
tc$,& omizüdas,todolos cães, & gatos, he hua arca de
pombinha, Mu». Defq
Kofc.íW^rCU 0 cottío,& clle
A " ~ " a

Nj ÍS

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*
COMEDIA DE
'

fc fiou dcmi,coufas mc contou, fegredos me defcubrro


que finda agora me tem confufo. P/7.Aífaz he o mal
quando fe o diabo cfpant.i. Ma;>.Finalmente ficamos
concertados fobre a pelle de Annibal.Pi/.Efperai aísf.

Mtf.^ucocomcíícnaos,qorocflenios.P//.Çuc taes ca
Ihccbegao.Mow.quc otrouxefTemos enganado, por
fcs

que por derradeiro fe repartiria o ganhe.Pi/.De tal co


fillorio cal confelbo,mas nam fois vosoutros fos, ainda

achareis com panhciros.M<w.Tacs razoes mc deu, taes


jpromeflasmcfcz,quc mc vcncco.Pi/.Sefora pcrahíh
virtude, não bailara Sam Paulo. M*». E pera firmeza
diflo proractcomc hüa tno^a donzella,P//.Donzcla,Sc
lhe ninguem chegou afora elle. M*».Euafsi,comoDl
tenho lei com niogué(hc aparuoicc,ja fc naócoíluma)
afsi naõ efpero,quc a tenha cílc comigo.Tmc caõ boa
tnanhaq lhe furtei cílc rcliquario fem mo fentir.PiÁO

idiabo cno-anarâ cílcs.


O Ma». Se o achar cm mentira tc-
ftho bom penhor prelo roeu. Afora a pendença
q ellc
nam ha de ir bufear a Roma. P//.Bcm fc pode aqui di-
zer* A hum roim vroim,& meyo. Mo». A malicia he a»
gorao mais ccrco mantimento, que neíla vida ternos*
J?iL Aqirelle dito na boca doutrem mal hum Reyno,
Mo#.£íles frades com andar dcfcalços, vcílidosem fc

us facos, atados com cordas com todos feus jejuns, &


dirciplinas,nfi atinas, 5c orações, fempre os vereis mor»

tos de fome com feus alforges às coílaa, pi/. Antes pera


encher eílas queixadas folgara cu foodc íetifadcv
"** "** y
'

\i
• ’
W*
s

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B R I S T o:
Mffl.Por por mais fcgurocftoutfâ vida. Por
iflo hei

derradeiro a ora da morte, qualquer Sacerdote hc Pa


pa. Pd. Coitado de ti,& dos que fazem cilas contas?
Mitf.qucm heaquellc.^íV/.Ia me vio. Mc». Som perdi
do,he certo,quc me ouuio cíTc velhaco.P H. Deos te fal
uc, Mon. Venhas embora ,
a muito que eftas aqui*.
P;/*Riofe,ainda agora chego, masporq o perguntas.
]Mí».Por nada.Ditofofui.P;/.Scmpre te fei cerrado a
banda.Poismonarn queres dizer, naó to quero pergú
tar.Sabermehas dizer de Brifto.Mí». Aque propoíito.
P;/.Como te cnganas.Digo fc o vifte. Porque o vejo
ir as vez?s a cafa de teu Amo. Mow.Pois eu tragoo co-
migo na bolça. P//.Orafazciuos paruo. Ná o podias to
par porefta rua. M*w.qrcs,q ande os meus olhos ta raf
teiros.íft/.Eftoupcra arrebentar. >£íw.qucrescu mais
de mi.P//.Nen) tanto ainda.^w.Pois vaite embora,,
que eu nam ando ociofo. P;/.Tcmcofc de rr.i,hcya de
mexericar com Brifto, mas quero ir primeiro arrcca*
dar o dinheiro, antes, que fe o velho arrependa.

^cto. nr . SCENA. V.

B rifli. Jrtontdluam.

N Am pode
dia
ier

de, que tantos dcíaftres


,
fc não que snorreo hoje neflè
algum excomungado, ou cafou algum
me aconteceram ntllç. M*#.
fra-

Aposmivem.Nam fey onde me efeonda.


N4 B ,if.

4 Digítized by Google
COMEDIA DE
Brif. Aqucllc Reliquario de Lionardo nao fei fe o pêr*
di^ou fe rao tomaráo.Parcccuos que fam cftas boas da
ças,em que mc o diabo mete? Mo#. Ia heyde verem q
a(Tenta.2?n/.Defque feaquelle diabo foy de minha ca
Auante.Brj/.Vcyo dar comigoAlcxandre que
mc deteue ategoraj & me fez perder o tento do q me
maisrcleuaua.Não feiondt o perdi, nem onde opuz*
Venho outra vez correr quãtos caminhos andei. Mon.
Aquelle me parece bom concelho. Brif, Ora que mtí
matem, fe mo nam leuouaqlle ladrauazde Montaluã*
Jíton Ia m e eu efpantaua,querome ora acolher com o
.

meu ganho. B-u/.Pela benção de Dcos que não foi ou-


tra coufa.E votime eu fiar daquelle que toda fua vidá
andou a roubar, & esfolar. Se afsi he,tenho mao reme*
diojdirà que faço dclle ladram. Todauia por me íegu*
rar,nam heide deixar dc dar húa volta por aqui. giia
do o não achar, o melhor concelho hc fallar com Bru*
fiaaquclb velha benzedeira minha amiga, quefabe
)uu boa deuaçam para as coufas perdidas. Ainda bem
a nam faz quando lhas trazem a caíu.ti Jc apertar com
çlia,quemacnfine.

JC70 . III. SCENA. VI.

Pinerfâ, Montâlnao . B >ijh,


Rifto, Briíio.Afl.Negociado vai. Br f.Nam me
B deixaram eíks ociofos./i».Marinello.B^Man-'

=.

m
Digilized by

BR ISTO. 97
ti do as vcíTascuflâsi' An ». Afsi lhcvay.P/».Çue tc
digo
cu náofaças conta dcfteq hccviuo diabo. A«».Nani
cuido que me conhccco.Pi0.Mas por iflbnam acudió.
nem olhou.^»».Dcixame com 0 cargo, não Tc pode
ter tanto íifo.Pjfi.lc fu que he aquillo, vejo vir Mon*
taluam,eom a cfpada nua todo enfiado.M;». A verda*
de henam ter homem comprimentos com ninguém.
Arrancar da cfpada, meterlha pola barriga. A*>».Cha*
mao.Pifl.Montaluam. Mon. Mas eu vos prometo que
0 ferre da minha marca. nn Montaluão. Tu vayte
.

para cafa.y&íe.VulerãoIhe a cllc os padrinhos, fc fora


cj

em outra parte eu o desfizera aos dêtcs.^»».^ue mc


nencoria he cíTa? flto», Saó rapazes, yinn. Çuc foi, que

te acontecco.’ 1
Mí». Nam conheces hum filho dc Ro-
berto nofio cidadam. A»w.£?ue fczi^íw.Encontra
te

monos â porta de Cornclia ,


enfingiode mc pergun-
tar, porque andaua por alli. A »»ik Qjae dizes.
Mon. Jfto queouucs. A nn. Aquelle rapaz. Mon.
1 ííe rapaz. ^*»».£?uefabcquecstu meu. Mn. £>ue
iv.be que fom cutcu. Aw.Òufoudctc Icuátar os olhos,

ou hà aqui homem que a tal fe atrcua? ^to».El!e leua-


ra o pago. Mas parece q máy algna deuação
fez ojea
por elle. a «w.Que lhe fizefie?M
w.Enuiauame j a a cí-
lr,fe me nam bradarão dcdma.Aww.^urm tc bradou.

M o#.Cornc lia que pelo amor de Deos não fizefie c f-


trondos à lua porta, j>i nn. E pareceo hi Camilta.Mw.
querias <juç a vifíeífiquci com a grande fúria com os
olhos

V
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COMEDIA DE
Brif. Aqucllc Rcliquario de
Lionardo não fei feo per-
doou raotomarão.parcceuosquc fam cilas boas da
fe

ças,em que mc o diabo mete? Mo». Ia hcy de ver em


q
aííenta.^r/Defque feaquelle diabo foy de minha ca
{a.M? 0 Auantc.Bfif.Vcyo dar comigoAlcxandrc que
.

mc deteue ategora, & me fez perder o temo do q me


mais rcleuaua.Nao fei onde o perdi, nem onde o puz«

Veaho outra vez correr quãtos caminhos andci.JKe».


Aquclle me parece bom concelho. B ti/. Ora que mtí
matem, íc mo nam leuou aqllc hdraaaz de Montaluã.
Jtfon.U mc eu efpantaua,querome ora acolher com o
meu ganho B-i/.Pela benção de Dcos que não foi ou-
.

tra coufa.E voume eu fiar daquellc que todaíua vida


andou mao reme*
a roubar, 5c esfolar. Se afsi he, tenho

diojdirà que faço dclle ladram. Todauia por me fcgu*


rar,nam hei de deixar dc dar húa volta por aqui. Ç[uã
doo não achar, o melhor concelho hc fallar com Bru*
fiaaquclla velha benzedeira minha amiga, quefabe
húi boa dcuaçam para as coufas perdidas. Ainda bem
a nam faz quando lhas trazem a cafa.E ide apertar com
clh^quemacnfine.

JC70. III. SCENA. Ví,

P inerftr. j/Ín»ibÀ* Montálnao. B >i]h.

deixaram
" ~
JgRiílo, Briílo.Au.Negociado vai. Br;/
eítes ociofos.'/fa,Marinello.Br/Maa*
" '
Nam mc

s
*
BRISTOé
lhevay.P/a.Çue te digo
tivlo as voíTascuílâsí' A»».Afsi

cu não faças conta dcftc q hecviuodiúbo. A«».Nam


cuido que mc conhecco.Piw.Maspor iíTonam acudió.
nem olhou.^Jíw.Dcixamecom o cargo, não fepode
ter tanto íiío.P/w.Icfu que he aquillo, vejo vir Mon*
taluam,eom a cfpada nua todo enfiado.M^w. A verda*
dehenam ter homem comprimentos com ninguém.
Arrancar da cfpada,meterlha pola barriga. A»».Cha«
inao.P/».Montaluam. ^íow.Mas eu vos prometo quç
0 ferre da minha marca. ^ínn. Montaluáo. Tu vayte
para Cãh.Mo . Valeraolhe a cllc os padrinhos,q fe fora
em outra parte eu o desfizera aos détcs.^»».Çue mc
ncncoria he eífa? Tfttn, Saó rapazes, ylrtri, Çiie foi, que

te aconteceo:* M *». Nam conheces hum filho de Ro-


berto noflocidadam.Anw.^ue te ÇcztMcn. Encontra
monosà porta de Cornclia ,
mc pergun-
enfingio dc
tar, porque andaua por alli.Q^ue dizes.
Knnib,
Jfrton. Jfto queouucs. A m. Aquellc rapaz. Mon,
1 f?e rapaz. yinn.Quz fabc que es tu meu. M»t.Quc
í«bc quefom cuteu. Arj.Òuíoudctc Icuatar os olhos,
ou hà aqui homem que a tal fe atrcua? MonMWc leua*
ra o pago. Mas parece q fez oje a máy algíu deuaçao
por cllc. a tíw.Quc lhe fize fie?M w.Enuiauann c ja a ef~
lr,fe me nam bradarão decima, A»».£urm tc bradou.
JWofl.Gorneliaque pelo amor de Deosnão fizcíTe cf-
trondos à fua porta, yí m. E parteeo hi Camilia.Mc».
querias quç a viHç?fiquci com a grande fun com os
olhos

QígiiLzed by Google
COMEDIA DE %

olhos no ccOjCÍcumando mais de hua horá. hnn-Orí


viuci neíhc mundo, onde os rapazes fc leuancapj cótra

N vos.M0o.Iffo fo me fez arrenegar defta terra maisde


dez vczc§. Awo.Hecoufa pera íe os hon és fazerem Ei-
cheSiEm quantas cerras andei não me lembra,q outra
tal me acontece. Jtáow.O rapaz toda via rapoume ore
Jiquairo. A«».Não fei fc ordenou Deos,ou o diabo na
me achar cu ahi.M*».E pera querfaluo pera cfcolhercs
a morte que lhe daria. Ann.. AhDeosquc me das pa-
ciência pera nsó deftruir o mundo.Mf<».EíTas tuas pa
cienciascc danão muito, fc te a ti temerão nefta terra,

mais bonracataraõ aos teus. Ann. Sabes, porque me re


tenhor Porque deíque começar, heyde por o fogo aos
ca mpos.Mí». Eu naofeiquc afsi o ciiíhimas?A»».Nõ
fom dcílcSjüdqucmecomeçoatcar, fem hum fogo
de alcatrão, não me apagarão cõ coda a agoa do mar.
M tfw.Por iíTo melhor he naõ começares, hnn. Cõ ido
cípantei húu vez huns poucos de mouros,
q não oufará
denoscorrer por hús dias. Me». Bem me IcmbTô.A».
Ido era em Arzilla antes que' cu fofle aRhodcs../ft«».
Acolheome.E e Rhodes não qiicimaílc tu duas galltz
ao lortgo da coda? Ao.Hi lmstu,ou como. Mo». Antes
te digo q por minha caufa macade o capitão dcJUs,qfe
tepcfauaao ouro.Av.Ora muitas coufas te lcmbrão,q
meamiefquecé.^í» Eda he hua dasminlns.Ná era
ido couf* pera te afsi cfqucccr.Não fei, porq deixafte

cfte reino, & te dcderrafle tão longe. A»».Porq câ não


P

'
B R I S T O. 98
cflimao os homés/cnão fabem ler porBartoío.M<w.E
mais não acharias coufas cóforme a teus cfpiritos. A».
Tanabé efla foi algua coufa.Mán.£) ue grão feita te fa-
riáo cflcscaualeirosdrRhodcsquádocníradc.^jKA
incU mc não conhccião,mascu como cheguei, por mc
dara conhecer, arrepelei nãofeiquácos,depQÍsquiferã
fe vingar em defufio,& euacabei de mc vingar dellcsv
Mtf».Ovifúíle fazer tão grã feito é cerra alkca. Aw.Ido
foioqefpancou coda a gcncc.E o grã medre me kuoií
entã a fua cafa acõpanhado dc todolos outros, Mí.Aísi
alcançadc cm pouco tépo htiadashòradas comédasda
ordé, A». Grandes partidos me faziã.tras por fcréfora
do reino, não quis aceitar ncnhÍT.Bé íabes quanro dcue
mos a noífa natureza. Mon.Ella be a q te dcue,q tu hõ
rala,<3e cila dcshonratc. Aa.Naó mc tornes lébrar iíTo,
q me farás fazer oq naõ queria. Mun.Deixame
tu a mi
qeu me faberei vingár.Em quanto ede braco forviiio
Baó ajas medo, qvà pedir outro empredado.A««Omat
hc q he com rapazes, M- j». ois cdescacsGadigalos,co
iBorapnzc^porq mataloshe honra, qnaò mcrccé.A»,
E qrcsq andccupor Ayo dos Villaõs ruins.M<>n,Meu:
cõfelhohcnao te ds>rcs por achado nidb, porque fe os
erros Ce feaodc cadigar conforme apeíIoa,q fcoflFen-
debem vezo alooroço.em que porascodaa ccrra.A^
Parccemc ido bcm.Porque eu,como cc digo, ma? mm
feinunca temperar, quando cftiuer birréíOjlcbretc dc
mc fjugires diante>porq nerncupai eataó conbccerei.

I
'
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COMEDIA DE
3tf.o n.Dias ha que te cu fcy a condição. ^Ann, Orá de
hua coufa me gabauam muico em Rhodes. Min-Dc
bua dizes. A»«.De húa cipccialmétc entre todas. Mo».
De feres incanfaucl. A»#.Alcm dcífa de ter hÚ3 feroei
<Jade braua no rofio,& nas paljuras,com que fazia ta-
to medOjComo com as armas.^£f ».Entam dizem là q
rum cuidam doushutn cuido. Iífo mctiraflc da boca,
pois ainda te efquccc outra cxcdlenda grande.^»»,
guai? Men.Os teus cartéis de defafio. yínn.Bcm apon
tas.J?rf tf».Kãoha homem que afsi os note. A»». Nunca
ah ife fazia deEfio, que fenam vieíTcmami. Míw.Hc
muyta verdade. Nam fei onde achas ranta diucrfídade
de palauras furiofas. A nn. Nunca dtfaíici homem ne-
nhum, que vendo o meu cartel, fc nãro rendeíTe. Mo».
Qjae fizera fc te vira as obras. A»». Quando melem
me enforcar. Mo».Talinfpiraçam
bra iftojcílou pera
tc vieííc, & fize ^»». Qjic me
flefrne teu herdeiro.

vejo aqui, como me vejo,& cm poder de Brifto,q teitt


poder pera zombar de mi. Mtn Có a mencncoria me
nam lembraua Eucftiucojecom clle,& me deu mui
grandes nouas.A»#.Porqucme nam vayacafa.^íí»,
traz hüas occupaçôcs juíLs,que o cfcuíaó. A»». £ue

fe naó pode dizer na rua.


tcdiflc?^<j».Sáocoufasque
A»».Rccolhamonos logo que vem la gentc,& dezejo
dc asouuir.
AC7 0 . III. SCENA. VII.
Cfliâm». Briftt. Lttnirài*
/ B RIS TO. »

99
tCTEnhodcfconrenie de Roberto cftando
de caía
; V ambos ordenando noííos concertos, nos vicrão
dizer a gram preífa que andaua Lionardo ascuciladas
com hum rafianaz,quc aqui anda, fomos là achamos a
rua reuolta, & ningué que nos foubefle dizer o fobre
que fora Se nam quanto diziáo todos que oviram por
alli pa íTcar codolos dias,& algú.s noices.Logo me do

co o cabdo. Ali morahüa moçi fcrmofa,fegundo rr.e


parece, de longe vem o negocio. Roberto he apaixo -

nado fentio táto cfta traudfura que citie trabalho em


oamanfar,mascom quanto cu diísimulci,canibcni lia
to meu quinhão. Ncccflariohc que vigie,
q deite mi-
nhas enculcas,pera que depois mc não arrependa fem
cempo.Vou a cafa pode fer que Alcxadre mc informa
ramais do cafo. Mas he eilcLionardoícftc bc^tnal me
parece a companhia, & o fegredo em que vem. Hcios
deeíp reitar daqui. ^r/^Q^uanto folgo dc me vinga-
res dtíTc ladrauaz,quc afsi mc queimou oje o fangue;
£io». Ainda nje eu hei dc acabar de vingar dclle.Sn/.
Foy grande acerto acharrlo afsi com o furto nas mãos
/.i**.De húa legoa lho conheci.B^.He certo que hão
de eftar mortaSjCuidando que ficaflc morto. Lton.Oje
me veram viuo & fam.Ca/.Nam os entendo bem, al-
go he. Líofl.Nam hadeauer tanto poder na fortuna
q
me defuie efte contentamento. Bàf Em fim o que ha
de fer, ha dc fer , & dc meuconfelbo melhor hcccdo
que ^arde r quanto te mais adiantares ,
mais te k>-

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r - COMEDIA DE
grãràs Jo tempo.£,n». gue ncgocios tens tu com AIc-í
xandre,quc tc vi hoje com ellc. Enf. Faloutc ellc mais
cm teus amores? C*/.Em Alexandre falam.Tambcm
ellc anda na volta? Licn. Falou. Br/f. guclhe diíTeííei*

Lion. Tomei teu concclho,Rzmc mais frio que nunca.


Bn/.Sc tc tornar a falar ntfTo, moftratc defcontctc dc
mi.Dalhc acntendcr,que ategora tc trouxe enganado
pera que te melhor crea.ZJ«».Naó faberei cu, porque
me dizes i (To? Bn/.Eu to direi cm feu temponam te
fies dc ninguém. Lion. Efte dia me ha dc parecer huen
anno. Br/YÍParcccrtchà logo a noite hum momento.
Lion. Ora cu voume a caía dcfculparmc a meu pay có

algiía mentira, que certo hc que o aja de íaber,t»i entre


Dcos me
tanto vai as ver, que cu terei cuidado. Ci/>
trouxe agora aqui. Eftc moço anda perdido, & cuydo
que o remedio cfta nas maos de Deos. Medo hei que
fc lheapegaíTc a Alexandre feu quinhão. Ncccflario
hc que fallccó Roberto, & lhe de conta do cafo, pera

q por falta dc diligencia fenam acabe dc perder de tc-*


do 4 cllcsfoiãofcf#m mc íintirem. Voume a caía tirar,
deualía.

JC70. IIII. SCENA. I.

Ctrntliá May. Camilufilh.

G Vardeo ora Dcos dc algum deíaílre,que ainda o


coração me efíà faltando dc med0.C4m.Dc que
fc af ny?ii 0 arroido?Cír».NIo 0 vifte cuT Cím.í^anT.

iVrif.
.1
BR I S T o: íoo
Car.Vinha dcqua decima hum foldado doudo muy-
.to recachado, toparam 1c ambos, nam fei que ouucrão,

que lhe lançou Lionarde hüi mam ao pcfcoço, & ou-


tra a cfpadá. Ci^.Feriofe algu dcllcsr* C*r.QuisDeos
que acodio gente, mas o foldado ficou arrepelado, &
injuriado. õw.Hcy medo q nação dahi alguns reuof-
tas.Car.Liurco Deos delias- Caw.Brifto nos dirà fe-
bre que foy,& como paliaram ambos.Cor. Folgo eu
muito de tu nam pareceres ent^E fc mecrcseumea
|nas,rogotc filha que fempre te prezes de muito reco
lhida,& de mnyto afiTcntada.Bemvcs quão mal parece
nas moças o aluo roço, & defaíTofego. Teus olhos miía
rados,& recolhidos, teu rir temperado, tuas falas pou-
cas,& certas, & onde forem ncccííarias. E por ei ma de
tudo as deter tanto poder fobre ti mcfma, que nc por

mais folias que oufas, ou brados, ou arroidos te bulas,


cu te mouas donde eftas.Or». Eu afsio faço, & o farei
fempre, porq també minha condição me diziíTo,C5»\
Dà graças a noífo fenhorque ta deutaõ boa. Porque
veras muitas que ainda que fcjão ricas. & fermofas,íaõ
tão bo!tçofas,& aíuoroçadas,qtudo querem vcr,& de
tudo dar fè. A boa filha, que eftima a honra, & a virtu-
de à de quebrar os pes,& os olhos, hàfe deprcfarmais
de fua honcftidade,quc de p:fas, nem thcfouros,&ma
isquemos nãotémalpecado.Caw.Em verdade máy
q me auorrccé unto hõs dcfpe jos,q vejo em molhert s
qfòpor aquiÜQ fc fora homem naõcafara com clías.
-v~
s
.
^ Cl r.

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O .

COMEDIA " DE
Cor. defpcjo filha, não he m2o,fc hchcnefio,& tem
.perado.Porque nem a moça ha cie fer cftatua,nem dia
brete.Todalas coufas té feu mcyo Naó mc contcntão
nadahüasfcrmofuras morras q vcjo,ncro outras catn
viuas,quc parccc que efião acenando aos homens. Tu
filha antre cftcs dous cftrcmos (como tc fempre digo)
toma hum meyo para que naócrres.Cítw.Afsicom hi
ha c{Ta$,afsi também auerà alguns doudos a que bem
pareçam O
r. Bem di^efie doudos, & mais no tempo

de agora. Perdoe Deos a teu pay,quc mc dizia muitas


vezes q o principal dote, que o vencera acaíàr comigo
fora meu íifo,& recolhimcnto.Ow.Segundo nos Bri
fio diz.deíTa mcfma opiniam hc Lionardo.Or.Se qui
feíTe ora Deos chegalo a ifio antes que cu morreílc.
,

Ow.Euefperoqueíeja mui cedo, porque afsiofinto


nelle,& Brifio mo affirma.Cír.Faça Deos ho que for
feu íeruiço,cllc cc honre, & te ampare pois
,
a fortuna
te defemparou.E tu filha iíTolhe pi de cm tuas orações
a cllc fo toma por teu cafamcntciro, & ao Bemauentu
rado Sam Nicolao pay das orfãs defemparadas. Cam
muyto folguey com aquella deuaçam que nos enfina-
ram.C 0 r.Diz que por ella fez ja muitosmilagres rezia
tu com muytadeuação.Crfw.Afsi o faço. £V.Por der
radeiro filha de cima vem tudo.Qjjcro per fi tc Deos
tem todo bem,& toda a riqueza. Parcccmc que vejo
vir Briftojlà no fundo da rua pera ca vcm.Grifca vay-
Ihc abrir aquella porta.
'
Y
: .
. ^ èro
Dk oole
BRISTO.

JlCTO. IIH. • SCENA. II.

'Brijlúfoh

TA Cíofãménao queixo de minhas riiofinas^pòis lc

'E^mudão todas cm boas venturas.Bcm fc diíie,que


•inguero julgue a tarde pela tiwnhaa.Oje tnr vi cm ca

inawfeas tremuras que me dei por morto, agora cftou


taõ íeguro,q uc oão bc i medo a fortuna. Fuy a tafa dè
Annibal mecilhe em cabeça, que tinba cõcertado com
Cam-dia,qne efta noite o iria ver, fica tam doudo qutí
ey medo que perca o fifo, ainda que ellc pouco tem q
perder, mal pecado. A Cati)ilia,qoc lhe èu ei dc lcuar,á
dc fer hua n?o<ja dc minha confraria, que lhe hàdcfa-
zererer que heell*.0 coitado nunca a vio bem, mais
pcrdidòanda pelafanra,qut pelos frus olhos. E cticfta
mcfmanoicea hei de deitar na cama com Lionardo,
que afsi o concertam os. Montaluam com lhe perdoar
o furto, fica cam contente que mc promcwo de me a-
judaf cm tudo. Mas eu nam me hcy deter asfuascofi-
tas.fa tenho m mhss contas fcitas,porque nam fei tam*

bena que fimteram rftas danças. Alexandre per hua


parte, Roberto per outra nam me haò dc poupar a vi-

da^ verdade he roubar, & fogir. Voume a cafa deCor


nelia,que tardo muito. Oulàaberúcfiàfcmprc cíía
porça, parece que mc coçhecc.
') *
N CTÔ

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;

COMEDIA DE
.jtCTO. UI!, . SC E NA. III.

ViUrtt. Alexandre»

KJ A M pede fer mor defaftre no mundo. A/íX.Satü


^ coufas que as vezes acontecem, P//.Tcu pay veria
enfiado. AiíX.Tomoume,fechourne núa camara fen*
qucrcr,que, minha mãy ia entrafle, Ôc defeobriomedao
negocio de como o achara com Brido, & o que lhe ou,
nira.Pd.Hum perdido, que pelas ruas vai fameando fc**
us fcgredos fem fc precatar, de que o pode ouuir. hUx+
Rogoume,amcaçoume,& conjuroume,& que ihc difc
íeíTe a verdade fopena de fua benç^m.Não pude alía^

Zcr,difTclhc o que íabia. Pr/. Hey medo que lhe fiçaílc


de ti algüafofpeica.A/rx.Dff queellenáoouuioa Bri**
ík>coufa,queroc perjudicaífe. Eu também difiTc lhe
quato fempre trabalhara có Lionardo de o defuiar de«
leu crro.P;/.Agorahc cm cafa de Roberto. A lex. Pera.
Jàcreoeu que cllehia. P/7.Poisquc determinas.'’ A/fX.>
Mas tu que meaconcclhas. P //. Bofe Alexandre fari^
as bem de tomar meu concelho. Briflo enganounos»
Camilia nam te conhccc,Lionardo dao por cafado, tu
nam tens remedio. Meu parecer era que pois fc Deos
quis lembrar de ty fejasem conhecimento defta mer* >

cc tamanha, & ponífas diante dos olhos a vergonha de ,

Lionardo,& a ira de feu pay. A/fX.Bem vejo tudo if« |


#
'•BR IS to: 7oí
fo,más qüc faréy que o amor me nam de ixã. Til, Sc té
Dam deixa que o deixes tu. Em quanto te-tu vi reme-
dio ajudeite, fabe Dcos com que vontade, agora que!
onam ha que queres que faça? A/ex. OhPiiartemcu
amigo , nam fabes onde chega entregar a affeiçam,
quem aferrpre tcue liure. Til. Também cuja quis
bcm,& fay namorado. E porventura perdi mais ent
meusamores do que tu ganhauas nos teus. Deume
Dcos éflaraago,& íífo pera cfqucccr tudo. Ora nam o
çfqueccras tupoistanco te releua. A Icx. Oh Cami-
iia, oh minha Camiliaí* Pi/. Alexandre peçoce por a-
n)ordeDcos,& ptloqucdcuesatuahonr3,&aoamor
que te teu pay ccm.quc te nam pcrcas,que nam defeu-
bras de ti ao Mundo o que tc agora eflà cncuberto,
pois niíTonam ganhas mais, que infamiacom os ho*
mens, perda tua, & aborrecimentocom teu pay. A/rx.
Prouucra a Dcos que me fauorecera a fortuna que cu
poferaorofto a todos c(Tcscncontros.Pi/.K%otc leni
bra quam fco te parecia o erro de Lionardo, quantas
"
vezes lho reprehendias? ^iíX.Entam trazia eu ainda
os olhos ccgos.Pi/.E agora os trazes claros.^yí/tfX.En-
tam nam tinha eu ainda vifloaquelles olhos dc Cami-
lia,quc me abriram os meus, P ;/. Ohcoycadodc mi,
qucfarfyacflemoço?hcydoodclle, hcydoo de mi,
hcydoo dc feu pay , & dc íua honra. lex .. Oh

Lionardo bemauenturado, pois pera ty foo fc guar-


dou_ hum bem tamanho.
--
O-a

m
% '

\
s
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-•'1 COMEDIA DE
PiJ.Oh Lionardo maiauéct*rs<í©,poIsna€cfBr pirã dcf*
honrai a cy,^ teus parentes.Dizeine por ct>* vida,qu«
ganfiauascom hõj rapar iga, pobre, orfam, feguida de
quantos perdidos hàna terra > que hõa hora per outra
atiu de lançar mão de htu efmolía pera firu mantiir ert
to vas euftas do qDeosfabc? Atex Nam me digas iff(\
.

que todo o mundo diz bem della/Todosaccm porfef


mofa, por viru»fa,&: por boa filha. P</. Digo que feja
afsi.Todascflfascalidadcs cem Efc lhe teu
tua irroáa.
pay riam dera bom dotc,naó concertara Roberto o ca
famentode feu filho. Altx. Arrenego defies dotes q as
vezes fam dorcs.Pd.Arrencgodeílcsamorcsqucfcm**
pre fam dolores. ^
Itx.QüC melhor dote quero cu,
q
amor & contentamento? P iL Como iíTo he ainda de
hioçqíE nãofabes tu, que os malcafadosfàm osnamo
radosíquem fe vence por appctitejaosdousdiasfce»-
fada, quem caía por razao, cfte he o que ganha. Mas
vos outros manos m c us nam tendes conta com roais,
q
com clhinhos;&. com geitinhos, que a primeira noy te
aborrece ro .Enci pre fta m uitoarr c pêd erde fuos. Alt xv
Oh que roeu pay nam me quer tam pouco bc«B»quc fc
»am aminfara logo. P;/. Antes te digo que mm dura-
ra ma is que em quanta o nam foubera. Bera fabc$,que
hum nop mata maisque h«a peçonha. ^
Lx* Coroo
fc iílo foífe couía yquc fe nunca vio no numdo.P;/.Ná»

te va2.perbi.Nio tapsccadataônouoquefè nam fi*

zeífc ja^iaas por iíTo nam- deixa dc ícr maisgraue.



Jltx.
BR I S TO j|
IO?

faz cílcs erros menores. TV/. Engn


A/. Antes o coflumc
dcftruir o mundo. jdU x. Do
siaftc que perhi fc veyo
tirar, doqueeutanto
maneira que por for<;aracqrcs
contas, verás oque achas,
gofto? fí/.Deica tutodalas
veto fora de
Roberto tiam ha de querer ve r feu filho,
carpida,* ccuoUatt*
caía pcrdido,dcfcmparado,am2y
poiio, que o hão de praguejar
de madraço, páruo, q fc
pay. Ia rac enten-
foy emburilhar com hüa moçs fem
perda hade ferccti
des/ Entam que cuidas. Todafua
bate de que-
proueito,que o payporomais fcnagoar,
rer dar quanto tem coro fua filha.
A teu pay o2o falece
rdgcnro.Sc quiferes ter fíío, aproucitartchas, fc »*m
te mais diga. yilcx.Por taó certo tens
tu ícr
não fei
q
Lionardo ja cafadr.PíAEtu na mo vez? Apôfiotc que
ouohc ja,ou que naocícapedoje. hx Poâhcidc
.

fofrer cu,que hum fanchono fc va afsi, rindo


de ml?th

Rindo, ou co moí Eíperoeu de lhe fazer amargar


3 os
per
bocados, que com coa nofla cuíta,& quatos paílos
didos dei apos cllc,aindaquc dos quatro cruzados hu
quiícres.
fo lhe dei. Os mais tenho aqui pera o que tu
^/fX.gucm me dcíTe tomalo em parte onde mevin-
gaíTc-dacfpcrança fálfa,emquctèquime trouue.
P;/.

Deixa me tu ijii i,que cu lhe correrei a çapateta, nam


hacouil,quc nam faib>,poisa?rcncgariadc feu pay,ds

dafcnhorafuamãy, fccom eíla mcelcapafle. yih**


Por tua vida armemoslhe hín filada.P*i‘ Velhaco mari
nçllo^ngana roininoSà >íte E homens podes dizer.
V *
0| T*U

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>
rs

i COMEDIA DE '

Pi/.,guéá£nil diasqúc metrazaposfy quebrâhdo cal-


jÇadas.EiLpromcco que o pagues a onzena* A lex. Quê
fee efíeque quà vem correndo: Sanea Maria, Lionardo
Jie.PrdTavailà.vamonos,nam nos tope aqui. P;/.Bom
final be eíle do que te diíTc.Em fim confclho dc ami-
go vai humRcyno.
r« •_
t
j
t

;UCTO. IIH. S C E N A. IIH.


•. j. í J
' - •
Uonàrdofcty

C Omo t rapaZjComo a mbço,ja eraml fom grandd


peraarrcpelócs.Enuiauafe a
arrenegaria eu doparuo velho, fe
mi aoscabcllos,pois
me oje não fizefle a
vontade.* Mandoo curaiuaf ,
que Camiliahà defer
minha molher • 6c outra nam. Camilia lhe hà dc er-
dar fua fazenda , & por derradeiro heilhe de dar dez
coufes fobre-a coua. Ah pefar dc mi co velho repetena
dojOuucrame dc matar fe me nam acolhcra.Se ettacho
Alexandre em deicubcrto tcu lhe perguntarei, onde fe
. cofturoa fazer tamanha trciçãoaosamigos.Bem me di
ziaarniBrifioqueme naó fiaffedeilc rapaz,tredor,ôc

,
falfo,en vi uirei comigo daqui por diante , &c alguc m§
aucràmcdo* .
-

jiC7Q, 1III* - SCENA. V.

Xehrt*
Ah

) i
BR I S T o; *>
104
<.
A Hcàfti 3c tni,que fe mc foi,queavida Ihc ocuerà
<*"^dccirar.C*/. Roberto cem íifo,olha o que fazes;
Reb.Uim filho do diabo, que nunca o eu fiz ncmDeos
imo deu. C.#/.Socega ora não te entregues tanto a yra.
Xok Oh Calidonio, porque mc não deíxauas, viras ho
exemplo que daua aos pays,& aos filhos. Cá/.Naõ cuy
'
dciquccrastãarrcbatado.Deixaafuriapera ceusimi
gos. Sfl^.Não tenho eu agora outro roayor ncílc mun /.

do, magoado c fiou, porque roc fogio. £ii.£?uam peri- 4


goíà coufa he amor,®: colcra. R»b. pois nam mc ha dc
efeapar onde quer que cftiuer.Tudo hei dc correr, edo
buícar s Ôc cíTas mas que mo enganaram , cu as porey
por terra. C tl. Antcs.de mea ora] te as de arrepender
do que tens feito Rib, Fizeraocu,& arrependerame.
Cal. Fizeíle mal de nam cornares meu concelho. Sc-
tomaras efie moço por bem, & com húareprchcnfatn •

dc pay maníamcnte,& por bonsmeyos nam pode fer


que fua vergonha, &
teus bonsconcelhos nam pode-
ramcomellc mais, que fcuappeticc, &afsipervcn^
turafe remedeara o negocio. Rob. Q^uc remedio
pode haucr cm coufa cam perdida, [al. Quanta ja
agora pouca lhe vejo eu. Do que ate qui fez lhe dou
culpa, doquemaisfizcr,cuatcns. Rtb, Como euvi-
uiaenganado cuidando que tinha filho, &quc tinha
herdeiro , & ellc tornoufeme imigo , &íolapada-
mencc mc roubaua quaaw tinha pera putas, & Àlco-
Bicciros.
*• «v »-•#
« ,

* .. <

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‘ <• COMEDIA DE
Pi/.Naô deixarei dc ir cfprcitarot|uefétíüâ pâífa cfS
cafa dc Roberto por quanto ha no mundo. Alexandre
f» zlhe Ocos bcm y quc tomou mcuconfelho.Tcmosor
denado dc tomarmos efic fauchono as mãos, heyo dé
íeguir todalasaoitcs por cftas ruas ate que algm acer*
te. £«£.MaLiuentiiradabc o homem, que defe ja filho#
quantoderaeu agora pc los na m ter, pois em minha vi
. fcicc auia de aucr tanto nojo de hum fo,que mc deram
meus pcccado$.C*/.Roberto nao te agafies. A paixanr
uünca remedeou nada.Por derradeiro a ty fazes maí»;
acllç nenhum bcm.P/7.Grão rcuolta vai quâ.
toe faria ora Deos tamanha merce, que là por onde vai
topaffc a morte com elle.CU/.Guarcko Deos, ifib has
dc àhcr.XikSyy o filho que nega o fanguc do feupay
& odeshonra pera que hc viuo. P //. Se Alexandre ifio
©uuira* 7ítb . Nam feengane efle com ig©yque cu nanr
fiam comooutrosparuos, que cfmorcccm logo dc no*
jo. Agora me hei de ccirar,ede poupar, &ga fiar quan*'
to tenho cm leuar muico boa vida. K/.Em feu filo efià

oveltaynastudo aquíllo faro feros* Cri. Farastu pt*


tnuy bcm,3éefie hc meu confeího, quanto mais quea*
inda o mal pode ter reme d to y fe lhe logo acudirmos* *

ÍÍ^.Oque cu daqui mais finto hea vergonha dom um J


d©,& a coo ta em cjmetu podes ter,vendeme criar em *

caía h tw befii fcra ym as c m c m m enda d iffo, chama qua


Alexandre teu filho com que te Deos fez tam bcmatié
tyia4^><Sc ^rfcchej minha filha,, 2c poda minha fia zeu-

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m .

BR IS TO, '
7bf
da. P/I.VcJc ora fc meenganàuâ eu muyto. Tudo a-
qüillohcnoffa perda. C*f.Mam cuides tu Roberto, cj

for meu intereííe queira cu prejudicar ateu filho.


Kam lhe chames meufiíhó,qtfc nam ohe, nem nunca
O foy.Cai.O concerto que temos feito(lc tu quiíercsj
por diante com tanto que feellccnmcndc, que cti
ira

nam creo que efiè ja caiado. E quado nãm reparte tua


fazenda com tua filha, &dcixafhe fcuquinham,porque
depois te nam arrcpcndas.P//.Nam ouuis nôfloamo?
como he amigo de feuprouertoíEm fir» faz bem^qf
L he averdade.Xo^.FoIgaTa agora de ter hum Rcyntr
para to dar todo.C4i.EfUs apaixonado^eípera q. fe zs
abaxe a coIcra,& conformarteascom a raZam.Xí^Di
go que des daqui pera todo fempre o engeito dc filho
â: o hcy por desher da do dc toda minha fazenda ate»
Valia do mais pequeno ceitil. E k fua mãy naõ fizer ou
cm meu poder dous dias,
tfo tanto, tram ha dç viucr
quem a agafalhc y danado efta ovelho,
P/7. Ainda achara
Xí^.Ecntre tanto porque me nam cíqueça, querem e
ir ao corregedor dar hua q tierelU defUs boas ft nho-
ras,qiie mocrTganarao,<Sc fazcrcsesfolur cfle AIcouu ro-
teiro viuo,quc fc anda aqui criando hàcuíla de minh#
fazenda.O/.Nãohade amaníár Oje.Vonmenposelle,
na tn faça algua dou d ic e P< /,N u n ca vi v<. lho tam qué-
.

tedo ioloqrare cerne íc topara o fiUio rque o comer*


aosdcntcs.Sc Ca K don 00 r a fou be (Te o perigoemque*
i

oíeuandqu*- Por derradeiro avCtdadc dc viuer !iure r


'

COMEDIA ÜE
& riam cRar fogeito a cílas miferias. Eu nao fci fe ráé
engano, mas para mi cenho q jaque homem nafee para
caminhar por efta cftradi trabalhofa,hc bem mal acò-
felhadoem tomar as coRas outra carga alem da fua.
Sam cam comprados, & tamamargadoshúsmeyosgo
ftos de hum bem cafado,que quando ja chegam naõ fc
goftam.Q^uc farà os dos mal caiados? Tornome ji A-
lcxandre,que ficou efperando por mi.
* * r , .

I
jtCTO.
'
IIII.
'
SCENA. .
VI.
s
ê

P inevfa. ,
P ildrte. .

NM A crerei iftoatcqonao veja,& quando o vir,


hei de crer qiichc pela arte do diabo. Híu moça,
muito virtuofa, muito fermofa, filha de hum hornem
muito honrado(fegundo dizé)à de ter hú mar indo po
der de a enfeitiçar aísi. Pd. VíeRc Pinerfo feprepor cf-
ta rua direita? Pin.Sy. porque o perguntas.Pi/.Não fey
fc conheces o filho de meu Senhor. ~Fm. ^uc,Alcx*drc?
Pr/.EíTe mefmo.ViReo por ventura ficar paReando là

encima na primeira traucíTa a num direita. ?r».Nam


atentei por i(To,que leuo ocuidado em outra parte.P//.
!Náo íeram amorcs.Pr^.Mas amores de Cea.Sabermc
dizer onde acharei mea Juzia de perdizes. Pi/.pera
lias

oje,P/».pera cRa noite. Pi /.Coroo, ha là oje íefia écafa,


Pw.Mal o fabes ainda. Ves aqui hum cruzado q fe me
deu fojnécc pera caça.Pr/.Scrão algús ofpcdes.P/»,Ou
" " *

V . T-

,
DigitizetKby Google
B R I S T O Yo6
ofpcdes,ou ofpadas,aucmos nosojc de tcr(como dize)
bonaxica.P//.Tcufcnhor foi fcmpre grande homcdç
feros, & de banquetes. Se tecnculcar oq bjfcas,nam
Pw.Emais dartchci bom ganho, qã
partirascomigo?
mi não mecomáo conta. Pd. Ora vaite por aqui abai-
xo, no fundo da rua cm virando pera arrão cfqrda eflã
húa traucíla eílrcita.Tema per cila acima, viras dar nú
beco ondefe faz hú ccrrcirinho.Pi/».Bé te cntcndo.Pd.
Na derradeira cafa do canto, q tem húa grande pedra
a porca, poufa húa molher gorda, q chamã a Braua dal
cunha. Efta te dara coda a caça
q quifercs.Píw.Deos te
auie fempre afsi me auiaílc agora.Poisfsbes quanto
q
vai nifto.Quc mc prometerão hú vcftido fe as troaxef
fc.Pd.Nao me dirasq gente hc cfla?P/». pera q te hcy
de negara verdadc?Içaacfía noite, Btiílo, ameuamo
húa moça porque anda perdido a mil annos.P;/ Çue
portua vida. Pin. Quem cu não creo , nem tu creras
Pd. Por vida de quem mo dize. P w. Não to cy de di-
zer ate que anam veja cm cafa.Pd.Etodocftc gafto hc
peraclIa.Pifl.Iftohc o menos tem banquete pera hum
Principe.Pi/.E a que oras te parece, que vira. Pm. Bem
tarde, quando p todos jouuerem.P//. Ora não cc
que-
ro deter que fefaz noycc, P/w.Ficate embora. Pd.Co-
mo o diabo fabe bem ordenar as coufas de proucito.'
Pareccuosq poderá cu topar cóeftc em outro mclbor
tempo,ncceítario he,que vig emos,cfta noite, porque
posnam efeape Bíiífo.

V To
1 r

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,
COMEDIA DE
/ ' •

JC7 0. IIU. SCENA. VBi

Licifca* fihxénirt&Uree^imláL fttmiltãu

N A M dc balde di2 em,cnfcitai o cepo.


viíTcs,cfpantartchias.6icr/Sc eu também
como me osve(iidosarmaó,por tua vida quefujatnos
Sc tc agora
pareço

$rif Eu que te conheço. tc eíiou cílranhando.ZJfif.Ef


tes fazem as ricas fermofas, que narc fçus olhos bellos.

Br/JIOizcs verdade mana,mocinhas conheço eu ,


que
com o terço diflo as teriam por Anjos. Licif, Não cui-
dauacu^que Camilia era taõ galantc.Bri/IPois não hc
iflomda.Se a viras agora da maneira que a cu deixe y
r
com Lionardo^areccratchua Princefa.£K// .Efpanto
me eu, que o dinheiro nam he tam bafio. Bf i/.Eftes ve
ftidos foram da mãy quando era moça. guando mor-
rco o piy polos nella.Lid/1 Quanto eu nunca avi fenão
muyco honcíla.B^/.Afsi o foy ella,& afsifetratouíe-.
pre dcfque o pa^ he nalndia,& depois com odò ficou
neíTc coftume* Mus digoce eu,qucO'que cila tem em
Vcft ido^quifera eu pera hum par de annos. Licif, Foy
muyco èm todas fuasneccfsidadcsnam os venderem.
Br tf. Nunca falta a merce de Deos, agora fica cm po-
der dc quem a manterá com muyca honra. Licif. Sy,
mas o pay?Br;/. Nunca eflas pelejas durão ate amortr.
A moça hc tal,hc tão bem eftrcada quefarà delles ho
quq

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m
BR lST Q . • 107
quequtfeí. Air. Eem cafadamãy íc fcZõtaíámento?
Br^Agora embora.Não fc lhe entende a-ellataò pou
coXorco lhe cu leucias nonas foyfe logo com a filha
,

a cafa dc húaíua parenta,&;ali a veflto,& enfeitou, 6c


perante tresteflcimrohas muito honradas fe recebe-
ram. ^kDebfcõsOfcos lograr por muitos anno s.ftrif.
Kão lhe ajasurinue ja porefh rtoite. A.nr.Bofè.fe cftcs

fcftidosforaòm-eus.que me naõ trotara por clIa.Br//l


Apcrtate ra u tto eíFe colete ?LtcM ui to bom vem.Fjz
me os pe it os aís pe qire tios.# nf Gra rtd c acerto foi te
fcsoscabcllo&lôuros. Air. Ainda cu nam trocárcyoç
meuscabello^nero os meus olhos pdfosdc Cnmilia,nc
doutra mais pintada que cIljiB^.Nam digas iíTo Li-
cifca^cm aquclkmoçahús olhos dc ^njo* Pois felhe
viffcs a garganta > &os peitosrafsimoIher cofm>es nSo' >i

te poderias ter ,que lhos nam comeffcs^ArV.O que me


a mi mais contenta della^he aomtura, que Bit vai efra
fuacota quebr andoós quadr is. Bri/lScte làagaftafcs
tnuytOjtudobe largar kam cokhctc.^íf-AtUíkmc na
conheces, j;a eu fuy maisgordadoqueagora fjô,&pc^
ia contrafazer húü mmimdeottze annos, fuy Veflidà
nos fcus.vefiido&B* >/.Btspor iffo tc bcdqtíci^masag^
n vcreypcra qiM n to e S. Are. N atti Ht c íla « pf im ema.
Sw/. Éy medo que tc p^srauytodc cc coftbocererrú

l^r.Antcsçílahâ grande ajtidaXuKkr&qac © faço de


lucdrofajQUideptjudaJBv/.Pbisno que re eu has dc !i3
akbe ih vergonha* Teus olhos ao tham „ & dc
•.
' qpa n~

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.

COMEDIA DE
quán Jo em quando polos ncllc com gcitinho riamorà
iio,& em c 11c vínuo cos icustornalos a abaixar mOyto
vcrgonhofa. Lir.lfio fçi fc te diíTeja
húa manha que
tenho, que tu verias cm poucas.B^/.Q^uc janda/ L ic.
í^° bulir de húa pcítana me torno tam corada como
hum lacre. B-*i/.Como fazes Lfi.Com
iíTo. rcccr hum
pouco o foi ego, 5c embridar afsi a barba fobre o peito
"Brif. Ainda cu cífa mcftria nam fabia* lic. Pois pera
chorar não tenho necefsidadc que mc efpanqué. Brif.
£uem medeííe cftar efpreitando como te negauaw
Lic.Porque. Brz/lPorque ao longe pareceras
melhor.
Lie. Antes me a mi dizem, que ao perto
fam mais fer- *
mofa. Enganaílc.LíV.Por vida minha Briflo,
que : -

ainda oje mo jurou hum homem. Br;/. Se


tc diííera ha*?
Verdade nam o creras, cíTc feria de húscm cujoreyno
correm íempre palauras por mocda.Nunca te
fiesdef -

fes enganos, mas fabesfu o que tcnsíhum


aífento nefle
rofio, que quando cftas fezuda pareces
húa condcflj.
,

Líc.Muitos medilícram jaiífo.Ora vamos que hetar


de.3rif.Quc prcíía tens da cea, boa noite faz.Deos
íej a
com nofeo, concerta bem efie rebuíTo, nam tc caya.
Lic. Vam os pdo mais efciifo. Jlcx.Sc nosfentiram cai
cafa.P//.Não,fcgundo mc parece. A/ex. Daremos por
aqui húa rcuolca que a noite he efeura, & azada
, pera
dclaflres.Lír.Vanaos per quà.quc finto o C ntc>
laa vir
Br;/. Pegace a mi que eu tc lcuarei por lugar figuro!-
P;/. Efcutaafsi.
^ /f x.Q^uc hç ifio. Bn/.EÍhs fim as
"
.
P™.:

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'
B R I S T O ’
: io$
propr ias borás, corno ha dccfíarquão coitado aluofà
çado. Pi/.guc me matéfeaquellenaõhcBriílo. jUx*
Tardamos muito.Nãofaó efiasas fuasoras. 7'iJ Antes .

ncnhíus outras. Vcmte por aqui conhcceloe mos. Lic.


Apos nos vem não fei quem. Bnif.gucnvhe, pafle em-
bora. Nao.vai aqui quem deua nada a juftiça. A/rx.Ah
dum fanchono, putOjfciticcirOjque a m í dcues tu a vi*
da.#ri/.Icfu fcjacomigo.Homem q mal te fiz. P//.T 11
não fallc$,ncm boquejes/c queres poupar a vida .‘Brifi
Ah quc.dcl Rey.A/íX. Azado tc parecia cu pera zomba
res dc rní.Lie. íuíliçaquftiç^ah que da jníliça. ^Altx.
Não tenhas dc ver com brados, dalhe,namho poupes.
c
Bn/.Ay,Ay. A/íX.Tapalhe cíía boca afogao. Bnf.(h\z
me matam.A/fX.Pagaraspor mi,& por outros,?//. Va
monos que acode gente. hkx.Quzm me dera fomara-
quell-i puta que vay gritando.P//.Cafoume ovelhaco,
mas mais caiado fica cllc.Effas lhe lembraram porhtis
dias.B^fWifinhos delta rua, que me ouUÍs:fcdcme tef-
temunhas, como indo por aqui a cilas oras, fem pao,&
fem pcdra,cm paz x& em faluo, faltarão comigo aqucl
les dous homés,quc aly vam, que c u b. m conheço, &
me efpânçarão,& ferirão,fem lheseufazer mal nenhu.
A»».N£me enganaua eu,aquclle heBrifto. Mcn.Çl uc
auia decuidar,cjtã perto da tua porta fe atreuelTc nin-
gue a tato-B'//. Velhacos, ladrões vadios,q não
,
té ou-
tro oficio fenão andar cuidando dc dia o
q ba dc fazer
denoite«A5»,Abaixaçffachuça.Cercaos per la,nã n 0
fyjãp.;
.
'• •
COMEDIA DE >•_,

JVi/.Todo tYicromperão, todo mç pifaiao, frcmlraS


JTo ofío mc deixarão fam no corpo. M*». Ah pefar de
Jtteu pay
,
que tua mafdidam hc caufa dcfla d cs honra.
Brj/XicilcaíHuy por mi íefe mc foi Ucifca. Açolheo
ic, ja cíloutra hc peor, coitado que farei agora. jinn.
Brifto que couía he eíla?quac$/*ò os rapazes qtie indo
tu pera minha cafaoufaram de te afrontar. Bnf.AySc
©hcir,nao fey como mc achas viuo.^í »n.Dizerno,na6
chores, antes qtie os inaocétes paguem pelos culpados.
Br//Nam fei quem fam, nem por onde foram. Vindo
por aqui tam feguro, como quem mm tem feicocou-
(a per que fe cerna, faltaram comigo, fizcramujctal
qual mc achas. Mtn. Agora os nam culpo poisíefou*
beram guardar dety. Parece qae de li lhes mcccftc
medo, Jl »».Vioha mais alguemeoncigo. B?// Vinha
quem tufabrs^ío.MaluadoJSdasqtifmcu fey.Br//.
E com a re uolta perdi o te'nto delia. Nào fei pera on-
de foyquc ido lloto ja mais q ac minha mofim. M*tim
Delicado: fcyto. ^ Oh m oodo^oh fortuna.^T ama -

aha injuria fc fez nunca a nenhum henre m, Pa re-


• •
éeme a.my,quea fenri ir gritando Iipera baixo. la po
dc fcr,qur iria ter a tua cafa.j&íít*. Nunca oDiabo a là
Icue,fic«r4 a cea por ooíTa. ^n.Purqoe nam foy ifto
de diaquemor díluuioouaera dc fazer ,qae ode Rh®
dçs.Montaluam,onde te folie? Mtn. Vice ta» brauo,
que tc ouue medo. A». Agora te dou licewija pera toda
lascrucsas. Q^ucprcftapoisnam hacm quefe

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BRISTO. ‘it$
façlo. A»».Dáqui façovoto folennc dc ficnhühoiretj
cfta noite achar, deixar com vida. Mo». Mas de mea
concelho ja que íe nos foram ^encubramos o negocio
por honra delia moça.E a manhaa deixam c que eu tos
tdeícubrirei.A»».Nunquao diabo armou tamanho de
faílre . vamonos a caía fe a lanam acho nam me ha de
ücar cafa cm toda a cidade.
jiClO* V. SCENA. L
P mââro pdy, jitnolfefilho*
f^VVem aucra agora aqui q nos conheça,ou qucrti fe
cfpãtar j^dc nos ver,pois paíTa de dous annos

q nos tem por mortos. Ar». Conheço cu logo muy bc


eíta terra em
q nafci,& cm q mc criei, Iouuores a nof-
fo Senhor q nos tornou atila. Pm. Coitadinhasdc tua
mãy,& irmãa,quc afsieftarãooraaqiiitriftcsdcíepara
'

'daSjCubcrtas de dò dc mifcria,& de pobreza Ar ».!a os


trabalhos faõ paflados,*fsinoíTos como feus, agora vi*
rào deícanço,&ocontetamcnto. P/».Afsi faóascoufas
defte mundo Arnolfo, filhofe hi não ouucfle mal, não
aucria bem,fe não paííaíTc mos per trabalhos nom co-
nhece ria mos o defeanío bemauenturado aqucllcque
foubc pafTâr por tudo. Ar». EíTcs íèrcmos nos logo pò
is des que daqui faimos,toda noffa vida foi morte.p/».
Ves aqui fiihoqcoufahe fer pai,& ter filhos. Eu com
qtialqfcoufa mccontcntarajvofoutros medefterraftes
tão lopgc^ tantos anos q indo mancebo torno velho,
verdade hc qasfoidades deminha molher,dc minha fi
'*
P lha

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V
J

COMEDIA DE
Bri/.Todo mc romperão, todomçpifarao, aeinlraS
JTooíIomc deixarão faro nocorpo. pefarde
jnc-upay que tua matdidam he caufa defta deshonra.
'*

B^LiciícaíHuy pormifefe me foi Ucifca.AcoIheo


fç t ja tíloucra hc peor, coitado que farei agora. jínn.
Brifto quecouía heedaíquacstó os rapazes que indo
tu pera minha cafaoufar am de teafrontar. Brtf.Ay Se
®hQr,oaofcy como me achas viuo.^í»».Dizcmo,iiaõ
çhorcs,antes que os moocctcs paguem pelos culpados.
Br/^Namfei quem faro,ncm por onde foram. Vindo
por aqui tam (eguro, como quem nam tem feicooou*
fa per que fe tema* faltaram comigo , fizcrarnínetal
qual me achas. Man. Agora os nam culpo poisièíba-
beram guaidjr dety. Parece qae de Ú lhes wcccftc
medo. jí nn taha mais alguemconcigo, Bnf. Vinha
.

quem tu fabes J^#».Maluado.Masqurm cu fcy.Bri/*


>

E com a retmlta perdi o tinto delia. Nào fei pera on-


de foy que ido lio to ja m ais q ue «n inha mofina. M**m
Delicado: feyto. ^ Oh muadcsohfortima^T ama-
nha nunca a nenhum hernem. Sr^ Pare-
injuria fefez
cerne a my,quea fenti ir gritando làperaiwixo. la po
de ferque iria ter a tua cnfa^Ma*. Nunca oDiabo a là
por noííaw ^«.Porque nam foy ido
leue, ficará a cea

d,c mor diluuio ouacra dcfazcr»qae ode Rh©


dia que
des- Montaluam, onde te fode? Mon. Vite tam btauo,
que te ouue medo. A». Agora te dou licença pera toda
las cruezas. Mw* Q^ueprcftapoisflamluem quefe
%

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BRISTO.
fação. Afltf.Daqui façovotofolennc dc ftcnhu hoirécj
cíia noite achar, deixar com vida. Mon. Masdemeu
concelho jaque íe nos foram
encubramos o negocio
,

por honra delia moça.E a manhaã deixame que eu tos


deícubrirei.A»»-Nunqua o diabo armou tamanho de
faíirc ,
vamonos a caía fe a lanam achonam me hade
ficar cafa cm coda a cidade.
jiCTO . V. SCENA. I.

P mâiro ])dy . yitnolfojHhom-


Vem aucra agora aqui q nos conheça,ou queito fé
cfpãcar^de nos ver,pois paíTa de dous annos

q nos tem por mortos. Are.Conhcçoeu Iogorruybe


tíia terra em q nafci,& cm q me criei, louuorcsa nof-
fo Senhor P;». Coitadinhas de tua
q nos tornou a ella.
tnãy,& irmãa,quc afsi eftarão ora aqui triftcsdcíepara
'
<Ias,cubcrtas dcdòdc miferia,& de pobreza Ar».Ia os
trabalhos faó paflados,ifsi-noííos como feus, agora vi*
rà o deícanço,&o con teta m ento. P/». Afsi faó as coufas
deíic mundo Arnolfo, filhofe hi não ouucfle mal, não
aucria bem,fe não paíTaíTemospcr trabalhos nom co-
nheceriamos o dclcanío bemauenturado aqucllcque
foubc paíTa r por tudo. Ar». EíTcs feremos nos logo pò
is des que daqui faimos,toda noíTa vida foi morte.P;».
Ves aqui ülhaqcoufa hc fer pai 1 & ter filhos. Eucont
qnalcpcoufa meconccntara,vofoucros mcdcíicrraftes
tão longc^ tantos anos q indo mancebo torno velho,
verdade hc q^sfoida&s dc minha molhe r,dç, minha íi
~ “
P lha

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COMEDIA DE
J&if.T od© mc toro perão, todo me pifarae, aèjh fctriS
JTo oflome deixarão fam ao corpo. Ma*.hh pefarde

aneupay que tua manfídam he caufa defta deshonra.


,

Bri/XiciícaíHuy pormi fefe me foi Ucifca. Açolheo


íè, ja eítautra he peor, coitado que farei agora. jinn.
Brifto que couía he efta?qt«c$f*õ os rapazes que indo
ti» pera minha cafaoufaram de te afrontar. Brtf, Ay Sc
©hQr,nãofcy como mc achas viuo.^»».Dizerno,üa5
çhorc$*antes que os inaocétes paguem pelos culpados,
Brif Namfei quem fam ncm por onde foram. Vindo
t

por aqui tam feguro, -como quem nam tem feitocou-


(ã per que fe cem a, faltaram comigo , fiícrafmue cal
qual me achas. Man. Agora os narn cufpo pois Ir foa-
beram guafdif dety. Parece qae de fé lhes weccfte
medo. Jí »». V ioha mais alguemeontigo. Brtf. Vinha
quero tuf»bfS ^í#».MaloadoMasqu«n cu fcy.Bn/*
>

E cora a re tmlta perdi o tento delia. Nào fei pera on-


de foy que iílo llnto ja mais que inha rrcdvna. M+t?»
Delicado: feyto. Oh nnuodo^ohfortunaíTama-
nha injuria fc fez nunca a nenhum honrem. Sn^.Parc-
ccroe a my,quea fenti ir gritando lipera baixo, Iapo
dc fer^que iriateratuacafa..^fl*.NuncaoDraboatè
por noíTa. jtn Porqocnam foy ifto
lcue,íicaT4 a cea .

mor djluuioouaeradc fazer^oe ode Rh»


de dia que
des.Mantaluam,ondc te fofte? Man. Vicc ram btauo,
que te outte medo. A». Agora te dou liceruja pera toda
iascruczAS. Man* Q^ueprcftapoisnamlucm quefe

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BRJSTO. ',*!
façaov Aa».Dàqui façovoto foknne «3c ficnhiíhoiréiq
cfta noite achar, deixar com vida. Jfríc». Mas de meu
concelho jaque fe nos Foram encubramos o negocio
por honra ddhmoça.E amanhaãdcixamcquc eu tos
>defcubrirei.A»».Nunquao diabo armou tamanho dc
faftrc ,
vamonos a caía fc a là nam acho nam me ha de
ficar cafa cm toda a cidade.
jíClO. V. SCENA* I.

P inâtro pdy. yirndfc filho.

Q
cj
Vem aucra agora aqui q nos conheça, ou quefa fe
«*na efpãtar^de nos ver,pois pafla de dous annos
nos tem por mortos. Ar». Conheço eu logomuybc
cfla terra em q nafci,& em q mc criei, Iouuorcs a nof**
fo Senhor Pi». Coitadiohasde tut
q nos tornou atila.
niãy ,& ir mãa,quc afsi eíla rão ora aqui tr iftes dcfêpará
'das,cubcrtas dedo de mifcria,& de pobreza. Arw.Ia os
trabalhos faõ paíTados,afsinoííos como feus, agora vi*
ià o defcanço,&ocontétamcnto. P/».Afsi faóascoufas
defte mundo Arnolfo, filhofehinâoouucfíe mal, na®
aucria bem,fe não paffaíTemospcr trabalhos norti co-
nheceriamos o defeanío bemauenturado aqucllequc
foubc paíTar por tudo. Ar». EíTcs Teremos nos logo pb
is des que daqui faimos, toda noíTa vida foi mortc.p/».
Ves aqui filhoej coufa he fcrpai & ter filhos. Eu com
)

qualqpcoufa me con tema ra*vofoutros medefterraftes


tãolonge,a tantos anos q indo mancebo torno velho.
YtídaUe hc q-as-foidaclcs dc minha molhcr,dç. minha fi
~
P lha

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COMEDIA DE
J^i/.Todo foc romperão, todo i»« pifarao, Crcns litriS
.fooíTooic deixarão fam no corpo. Mt*. Ah pefar de
jneu pay que tua manfidam hc caufa defta deshonri.
,

B^Liciíca*íHuy por m fefe me foi Licifca. Açolheo


i

ie, ja cíloutra hc peor, coitado que farei agora, jinn*


$rido quecouía he eda?qifae$í*ó os rapazes qne indo
tu pera minha cafaouíar am de te afrontar. Bnf.Ay Sc
nhQr,nãofcy como me achas viuo. </i*»«Dizcmo,na5
çhore$*amcs que os haocctcs paguem pelos culpados.
JJr^Namfei quem faro t ncm por oade foram. Vindo
por aqui tam fcguro,eomoqucm mm
tem feito eou*
(a perque fc cem a, faltaram comigo , fizcratmuetal
qual me achas. Man. Agora os nam cufpo pois fc foo*
beram gua»d*rdety. Parece que dc fè ihcs mecefte
medo. Jí «w.Vtoha mais alguemeontigo. Bnf,\ inh*
quem tu tabcs^io.Maluado Masquem cu fcy.Br//*

E com a reuoka perdi o te‘nto delia. Nào fei pera on-


de foy que ido finto ja mais que minha rrofina.
Delicado feyto.^n». Oh mtiado,ohfortima^Tama-
aha injuria fc fez nunca a nenhum homem. re-
tem e a my,qiiea fenti ir gritando làpera baixo. Ia po
de fc^quc iria ter a tua cafi>..!&ffl*. Nunca oDiabo a là
lcue, ficará a cea por nofla. ^«.Parqaenam foy ido

de dia que mor d/lmiio ouaera de fazer,qoe ode Rho


des.MQQtaluam,onde te fode? M*>n- Vite tam btauo,
que te ouue medo. A». Agora te dou licença peca coda
las cruezas. Mtn, Q^ueprcftapois nafnlucm quefe

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ir**

BRISTO. 'jí|
faça o. A»».Daqui faço voto fole nne dc ncnhiíhoireq
cila noite achar T dcixar com vida. Mon. Mas dc meu
concelho jaque íe nos foram ^encubramos o negocio
por honra ddlamoça.Eamanhaãdeixamcquceu tos
de fc u b ri rei. A »«- N
un q ua o dia bo armou tamanho dc
faílre , vamonos acafa te a lanam achonam me ha de
ficar cafa cm toda a cidade.
jiCTO .V. SCENA. L
P màiro pdy. ^irnolfefilho»-
Vem aucra agora aqui q nos conheça,ou qucib fé
^4^na efpãtar^ie nos vcr,pois paíTa de dous annos
<\ nos tem por mortos. Ara.Conheçoeu logo muy bc
CÍla terra em q nafci,& cmqmccrieijouuorcsanof-
foSenhorq nos tornou a cila. Pi». Coitadinhasdetua
inãy,& irmãa,quc afsieftarãooraaquitriftcsdcíeparâ
'claSjCubcrtas dc dò dcmifcria,&: de pobreza Ara.ia os

trabalhos faõ pafTadoSjifsinoflos como feus, agora vi*


fà*o defcanço,&ocontêtamcnto. P;».AÍsi faó ascoufas
defte mundo Arnolfo, filhofehinãoouucfíc mal,nao
aucr ia bcm,fe não paílafícmos per trabalhos nom co-
nheccriamoso defeanío bemauenturado aquelieque
foubc paíTãr por tudo. Ar». EíTcs feremos nos logo pò
is des que daqui faimos,toda noíTa vida foi morte.p/».
Ves aqui filhoq coufa hc fer pai>& ter filhos. Eu com
qnalqr»coufa mecontcmara^vofoutros medefterraftes
tãodopge^ tantos anos q indo mancebo torno velho,
verdade hc qasfoidades deminha molher,dc minha fi
-
^ -
p iha

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COMEDIA DE
Bri/.Todofàe romperão, todo me pilarão, nemlraS
JTo oí?omc deixarão fam no corpo. M**.hh pelar dç

«leu pay que tua maftfidam hc caufa defta deshonra.


,

Brj/XiciícaíHuy por m
fcíc me foi Licifca.Acolhco
i

/ç, ja eíloutra hc peor, coitado que farei agora, jinn.


Br do que couía he efta?qitte$í*õ os rapazes que indo
i

cu pera minha cafaouíaram de te afrontar. Brif. Ay Sc


s»hqr,u5ofey como me achas viuo.^i»».Dizemo > iia5
paguem pelos culpados,
chores, antes qtie os inaocctes
Br/yiNam fei quem faro t ncm por onde foram. Vindo
por aqui tam feguro, tomo quem nam tem feitocou-
(a per que fc cem a» faltaram comigo , fizcramnjctal
qual rne achas. Mún. Agora os nam culpo poisíefou-
beram guafdir dety. Pareceqae de Jàlhcs metcftc
medo. Jí »».Viaha mais alguém contigo. Br?/ Vinha
quem tufabcs J^#».Malttado.Masqu«n eu fcy.Br //-
>

E com a rcuolta perdi o te'nto delia. Nào fei pera on-


de foy que i ílo finto ja mais que m inha mofina. Xt+rim
Delicado feyto.^n». Oh mwadcsohfortunaíTama-
nha nunca a nenhum bemem. 'Brif. Pa rc-
injuria fc fez
ccme a-my,que a fenti ir gricaodo li pera baixo. Ia po
de fcr,quc in'atçratEracafâ,^í«* KiincaoDfaboa )à
lcue,ficari a cea por noíTa. ^«.Parque nam foy ido

de diaquemordiluuioouacraéefazcr,q8eode Rho
des.Montaluam^onde te f ode? ;&£*». Vitc ram btauo,
que tc ouue medo. A». Agora te dou licença pera toda
las cruezas. Qjicprcftapoisnam lu em quefe

,
s ,

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BRISTO. ii|
façao. A»».Dáqui façovotofolenne dc ficnhuhoireq
cila noite achar, deixar com vida. Mon. Mas dc meu
concelho jaque nos foram > cncubramos o negocio
íe

por honra delia moça.E a manhaS deixam c que cu tos


<defcubrirei.A»».Nunquao diabo armou tamanho dc
faílrc ,
vamonos a caía fc a lanam acho nam me ha de
iicar cafa cm toda a cidade.
jiQlO. V. SCENA. I.

Pinàiro páy, ^/írnolfcfilho»


Vem aucra agora aqui q nosconhcçi,ou qucito fé
^-C^nã efpãtar^de nos vcr,pois paífa de dous annos
qnostem por mortos. Ar» Conheço eu logomuybc
cíla terra em q nafci,& em q me criei, louuorcsanof-
fo Senhor q nos tornou atila. Pm. Coitadinhas de tua
tnãy,& irmãa,quc afsi eflarãoora aqui triflesdcíepará
'

dò dc diferia, & de pobreza Ar». Ia os


*das,cubcrtas de
trabalhos faó p3fíados,*fsi.nofTos como feus, agora vi*
fào deícanço,&ocontetamcnto. P/».Afsifaóascotifas
dcíle mundo Arnolfo, filbofchináoouucííe mal, não
aucria bem,fe não paíTaíTcmosper trabalhos nom co-
nheceriamos o defeanío bemauenturado aqucllcquc
foube paíTar por tudo. Ar». EíTes feremos nos logo pd
is des que daqoi faimos,toda noíía vida foi morte.p/».
Ves aqui filho qcoufa ht fer pai,& ter filhos. Eucont
qnalqfcoufa metontcmara*vofoutros medeílerraftes
tão lopge^ tantos anos q indo mancebo torno velho,
ver dado hc q asfoidades dc minha molher,de minha fi
'

v'. P lha

Diqiti íoogle
• *

- ,
1
COMEDIA' W"
DE
quãndoem quando polos ncllc com gcitinho riàmoríl
do,& em clle vindo cosfcustornalosaabaixarmtiyto
vcrgonbofa. Z./7.Nao fci fc te difte ja húa manha que
cm poucas.B^Q^uc janda/ L ic«
tenho, que tu verias .

No bulir de húa pcftana me corno tam corada como


hum lacre. B*i/.Como fazes iífo. Lir.Com reter hum
pouco o folcgo,& ctnbridar afsi a barba fobre o peito '

B rif. Ainda eu cila mcftria nam fabia* Lie. Pois pera


chorar não tenho nccefsidadc que mc efpanque. 'Brif.
guem mc deffccftar cfpreitando como te negauas.?
Zie.Porque. Bri/lPorquc ao longe pareceras melhor.
Lie. Antes me a mi dizem, que ao perto fam mais fer- >.

moía. 'íri/.Enganaúe.Lic.Por vida minha Brifto, que :

ainda ojè mo jurou hum homem. Br;/. Se tc difiera ha 1

verdade nam o creras , efíe feria de hús em cujo reyno


correm íempre palauras por moeda. Nunca te fiesdef
fes enganos, mas fabes çu o que tcnsíhum aflento nefle
rofío, que quando eftas fezuda pareces húa condefla. ,

Lie. Muitos me diííeram ja iíío.Ora vamos que he tar


de.2fr//.guc preíTa tens da cea, boa noite faz.Deos feja;
com nofcoj concerta bem cíTc rebuíTo, nam te caya.

Lie.Vamos pelo mais efeufo. ^/rx.Sç nosfentiram etn.


cafa.P;/.Náo,fcgundo me parece. A/r*. Daremos por
aqui húa rcuolta, que a noite hccfcura, & azada pera
defaftres. Lie.Vamos per quà,que finto laa vir gente*
Brij. Pegatc a mi que eute lcuarcipor lugar figuro.
P ;/. Efcuta afsi.yí hxiQjxç hç
~~
iíío. 2? n/. Eftas fam as
^ *
prp- '

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'

BRISTO W
íoS
J

próprias horás, como ha dccftarquão coitado


aluo?|
^ado. Pi/.guc me mate fe aquelle naõ hc
Brifto. jUx*
Tardamos muico.Não faó eftas as fuas oras.
ífri. Antes
ncnhúis outras. Vemte por aqui conhccclocmos.
L ic.
Apos nos vem não fci quem. Bnrf.gucnvhc,
paflc em-
bora.Não vai aqui quem dcua oada a jufliça.
A/rx. Ah
dum fanchono, puto/cíticeiro^ue a mi dcues
tu a vi*
da.£rí/.Iefu fcja comigo. Homem
q mal te fiz. Pi/.Tu
nao fallcs,ncm boquejes/c queres
,

poupar a vida.Er//.
Ah que dei Rey. A/ex. Azado tc parecia cu pera
zombi
res dc mi.Lic. Iufhça,juíb'ç.,,ah que
da jnflka. ^4{(X ,
Nao tenhasde ver com brados, dalhe,nam
fao poupes.
Brz/.Ay, Ay. A/fx.Tapalhc cíTa
boca afogao, Brif.Qn c
me matam. A/f\*.Pagaras por mi,&poroutros,Pí/
Va
monos quç acode gente. A/r*.£ucm me
dera lo mar a^
quclJj putaque vaygritando.MCafoumeovdhaco <

mas maiscafadoficacIlc.Eflas lhe lembraram


porhíis
aias.Br^.Viíinhos defta rua, que
me ouUÍs:fcdc me tef-
tcmunhas,como indo por aqui a cilas oras,
cm pedra, cm paz.&c cm faluo, faltarão
fem pao &
comigo aqucl
ks doushómes, que aly vam,que cu b-m
me efpâncarão,& ferirão,fem lheseufazer &
conheço,
mal nenhu
A»».Name enganaua cu.aqudle heBriflo.
Mcn.QoV
ama decuid 3 r,cj tã perto da tua porta
fe atr euefTc nin-
gue a tato.B^/. Vdhacos, ladrões
vadio Sj
tro oficio fenao andar cuidando
,
q não té ou-
dc dia o ha dc faz , 1

q P
ç' A " IW - * per la,nã n :

ftí^r 0$

$tif

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BRISTO. ‘ií|
façao. A»».Dáqui façovotofolennc de ficnhúhoireq
cfla noite achar,dcixar com vida. Mon, Mas dc meu
concelho jaque íe nos foram ^.encubramos o negocio
por honra dcílamoça.Eamanhaãdcixamcqueeu tos
(defcubrirelA »».N un qua o diabo armou tamanho de
faflrc .
9
vamonos a caía fc a lanam acho nam me ha de4
•• \

ücar cafa cm toda a cidade.

jíQTO. V. SCENA. I.

P inàiro pày, ^irnolfefilho»


Q Vem aucra agora aqui q nosconhcç.i,ou queih fé
^nã efpãtar^de nos ver ypois paíTa de dous annos
q nos tem por mortos. Ar». Conheço eu logomuybc
cila terra em q nafci,& cmq mc criei, louuorcs a nof-
fo Senhor q nos tornou a cila. Pi». Coitadinhos de tua
mãy,& irmãa,quc afsi eíla rão ora aqui triílcsdcíepara
claSjCubcrtas dcdòdc mifcria,& de pobreza Ar ».ia os
trabalhos faó paflados,afsi.noíTos como feus, agora vi*
rã o deícanço,&ocontêtamcnto. P;».Afsifaóascoafas
deílé mundo Arnolfo, filhofe hi não ouueííe ma^não
aucria bem,fe não padaíTcmospcr trabalhos nom co-
nheceriamos o defeanío bemauenturado aqucllcque
foube pafíar por tudo. A»*». EíTes feremos nos logo pb
is des que daqui faimos,toda noíTa vida foi morte.p/».

Ves aqui filho qcouía hc fer paih& ter filhos. Eu com


qnalcpcoufa me contenta ra^vofoutros medeílerraftes
tão lopge^ tantos anos q indo mancebo torno velho,
verdade hc q-ag>foidádcs derainha molhcr,dç minha fi

~ P lha

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I

COMEDIA DE '

Iha,&dc minha cafamc fizera braço ante cepo, q ostra


balhos todos os íâ tc,& os pafTá. Ar».Seria bó ftnhor q
tiueíTcmos algú meo cõ q cilas foubcfíc nofíavinda an
tesq nos viíTcm,porqhü prazer tão fupito,& tá pouco
efperado,as vczcsíecóuertc cm no jo.^». Dizei muito
bé,& cu *ísi o trazia cuidado, mas onde iremos bufear
qué nos co*hf ça. A r». Aqui perco me lebra a mi>q foia
morar hüa minha tia q me conuiJauafépre quãdo y*
a fua cafa. Pm. Ar tufa prima de tua may muy virtuof*
pefToa/eeilahc viua,náõfcràfeucofttcnttmci]to pea
co.Masmuycocftimaraeufabcrqjjde minha molhcr;
poufa,& irmola cfprciear pera veraqucllc defemparõ
virtuofocom q viue. yírw.Náo queiras ver tamanhi
piedade, bc íabes ja oq de cà ce efercuiã os amigos.P/ar^
Oh minha molbcr, minha amiga, q agora finto cu vofc-
fasfaudades mais que nunca, quão cerce hc q dc todos
cfTesninguem a conhece ja. Ar». Acho muicas nouida»
des nefla cerra, cujas ferão cftac caías grandes q tam bc
parecé.íFia.Nao te cípantes,cm pouco tépo fàzotcpo
muitas rmadáças. Os q aqui deixoftc minicos^vcloshas
bom és, os mancebos velhos, os velhos íoterrados, qcíta
bc a nofla roda por ode andamos.Conhcces por vécu~
, ,

1a eíic velho,qcavem?lèbratcdcIlc! t^r».Ká.‘? í». Se-


gundo me dào tr^efte hc Calidonio,q eti deixei mãcc-*-

q te nom conheça
bo,cafadodc pouco. ^/írn,Poéc fer
cllc logo. Pi Não fei aamiíade nõcratãopono para
lhe cunão lcbrar^ mas cô tudo efie he qcu o conheço.
7,*“ '

'
yíCTp

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BÍUSTO ‘
IIO
^ . ,,, .

.• A CTO. V, SCEHÀ ;
H.
C ililonio. ‘Pinddre. ^Arnolfs. ,*T. ;

Amanhos dcfarra/os caufa a íra,& a pcrtinaciá.Vé


des Roberto agora cõ o filho perdido, q acra ba
çha nem nouas dclIc.Foifclhc a tnanécoria entrou a fa«
dade nclle de maneira q fe não leuantou ojc,a raolhcc *
• morta, medo ey, que lhe eufié caro fcusfcros.P;»;
jtnca

Gomo pada per nos o tépo. Efparicado eflou de ver ef


te homem cão branco* CW.Eu, porque quuc do delles#
manhãa corá Alexandre cm lho bufear
gafici coda cila
moscada hum por fua parce.Tcnho pera mi,quefe a-
colheo com a moça, porque as poufadas efiao fechadas
& nao ha na viíinhança que nos faiba dar nouas dclles,
Aro.FaIemoslhc,queelle nos guiarã.Pjw.Dcix-yo che
"

gar que pera cá vé. Cá/. A moça ainda oje foubc, q crí
Pindaro nodo cidadão, que morreo na Jndia
íilha de

muito bom homé,&mcu aroigo.Mas q preíh,pois no


te nada, de te criou fempre cm poder da mãi,nãp íçi de
qual dei es he pera auer mor dor. P;o.Dc quanta géte
por aqui pada » ainda ninguém conheci fenão cites.
Ci/. Todo o homem prudente hà de por diante dos
olhos o que pode acontecer. Que remédio tiuera ca
agora pera recobrar a filha/ & ha fazenda ,
íeaijibas
juntamente tiuera entregues? Qjaantas fcautelas íe
requerem para, a vida dcílc mundo. Q^ue homens
fum eíles que qua rç fij parecem cfirangeÜroSí
P 2- P/V,
'


. . C S • -

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ri COMEDIA BE
Pia.Eidevcr femcconhcce.Deostc falbefenhor hora
«Jo.£*/.Afsi o faça ati també. Eu vi ja cfiehorrté fc me
não cnganoPiff.NãestuGalÈdooio filho de Aícxadre
qfoi muito tcpoguarda-mor dcft a cidade.G*/.Si,q he
o cg roandas>Pi».Be me parecia ami,qte conhecia. Foi
go dc te ver louuores a Dcos viuo,c faõ,pofto q muito
mudado» do qte deixei. £*/.Dôdemc conheces. Pw. da.
qui.CWLEftou enleado cócigo f parcccmc cambem qte
vi p>t5ao me lembra aonde. ÍWNãohc muito, que o f

tempo, & a idade, te ía çao d cícon h ccc r m e, m asjaa qa i


viui algas dias^O/.Por certo q me tcscõfufd> & muita
mais em tc ouuír iíFo.P/ ® «Sabe r mc às d i ze r onde poufit
aqui hüa molher viuuachamadaCornelia.. O /.San cá
Maria q afsi me aluoratjaífe. Sc fciimandoforaviuo^
eu jurara c| eras clle. 3V*.A(sio podes jurar fe pecado*
CW.Como.Tu cs Pindaro.Pi». Eu,nãotc belas* q: viuo
venho louiioresa Deos,0/.TucsPindáronoflbcida-
dao,9 dous:annosa^ temos por morto JPí».EuCalido>
nioíaõ teu amigo Pindafa,cjnoflo Senhor crouueaeC
m iPagroíaro ece.CW.Nã o poflbí crer.Pw Efic
ta tc rra
hcArnoífomcu filho, q* daqui leuci e idade de ícte an»
bos^Cj /.Ora verdad c iraméce tu cs.Amda agora tc co»-
«shec LNã dc ixa rei de te a br a ça r a inda
q ri âo qíras. Pà
*

t eceroe q lonho ií!o. Piw.Sabe Dcos camanhos deze jos.


trazia dc vcrati,&a todosmeusamigos^ 0/-Tãb£ejf
«deabra^rr reu filho.BezateDtosfílhoi, qafsi vês feito-
|ome.Àr»*NcíFa cota raepodcscer pera tudo o q ma-
dàsçs*ÇifjL

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BR I S T O, i iT
'(a\. Oh fenhor Dcos quamanhos fam teus myftcriosj

SefoubcíTes ora meu amigo Pindaroquanto folgo co


a tua vinda cfpantartehias .P/».Eu to crco certamencc
& to mereço pela boa võtade que te fempre ciue.C*/.
Ora bem, que milagre foy cfte tamanho , que afsi me
tem pafmado.P;».Sam coufas dc noíío Senhor. PaíTa
dc dous annos , & vay em tres que partimos da índia;'

Deu a tormenta com nofeo por noíTos pecados , lan-


^ounos em ferras eftranhas,ondc ouuerattias deperder
as vidas,& as faZcndas. CW. Afsi vos tiucmos nos quà a
todos por perdidos. P/p.Feznos Deos depois tamanha
• üncrce,que nos trouuc a cfte Rcyno, faõs, & faluos, ÔC

nam com muyta perda ,


fegundo foram os defaftres.’

Ca/.Ellefejalouuadopcra fempre. Eu não te quero


perguntar como vens, pois te vejo viuo. P/»,Bem fcy
eu que te nam pefara nada dc meu bcm,que he louuo*
res aDcos mais do que mereci. Ca/.Tu tens muyta rc
?am dc vires dezejofodc verruamolber,& filha, &el-
muyto mais dc te verem. Mas porque as nam cf-
]as

pantes vente a minha cafa defcanfaràs, & farlhohaó fa*


Ber.TVa.Dcos te aguardeça cíFe amcr,&gafalhado.Eu
trabalharei, que o naò percas. Efpancamctcu filho
que o meu Alexandre nam hc mais moço que elle, &
vem(bcnzao Deos)quc parece feu pay.Árw.Sam traba
lhos fenhor do mar,&: dc terras eftranhas.CW.Por cer
to, que quifcracu antes ver criado meu filho,
neíTes
q
nosmimosdcfua mãy» Pcfamc naocflar ogoraaqui
P$ para

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:,m COMEDIA DE
pen ir Ipga vifitarCornclia» Mas tis aqui vê Pilaf tój
irmoha chamar. & .
1 '

‘ ' ! :
t • . i i .
i . i.

A CTC. V. . SCENA. III.

pí/. A Gora me vê a mi cor dc rir do defaftrc dc Brí


\ ílo.Çkicm mc dera faber o que mais paflou*
G4/.Pilarte.Pí/.^ucmccbama.Crf/.Vcm cà, Pr/.Nof»'
fo amo be, quem faò os outros. CW. Vaite a cafa de Ror
berto muito. correndojchamamc Alexandre, que laba.
dé cftar.Pitt.He eíTe Roberto noífo amigo antigo, ca
que noscriamos todos. Ca/.EíTe que não folgaràora
pouco có tua vinda. Tm. Agora deuo mais a Dcos pois,*?
^inda acho viuosos meusamigos. C*/.Ora vamonos
daqui, que não queria que te ninguém conhcccífe pri*-
ineiro,q tua molbcr. ftMzo me Iembraq viífe nuca
aqucllcshomcs y ncm crco que Alexãdrc os conhecera. <

!?;».quc prcffa he efla.$l.o PincrFo.P;».Ondcvaz.P;7.


Ahü negocio, mas primeiro eidefaber de
ti, quê era a •

qlladamadõtê-P/»rOao diabo/Todo ogafto foi per»


dido.P/7.como alsi.Pi#.Trazédoa Briftocòfigo(o q cus

nã poflo acabar dc crer) faltarão cõeUchus bargãtes,cj


lha tomará, c o cípãcarã.Pi/.por tqa vidaJPi». Quiznos
Dcos bem codaacea fuy noíía. Annibal andou toda a
ftoytc correndo acidade feito mouro,arrenegado do
mar,& da terra. O
fanebono foife por hyaíê,nãofabç
mos parte deile por óde eufofpcito,q tudofoi mêtira.
íí/.Muyto nve coutas, Mas toda via quem era a fcnbo»
'
i !*i

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'
B R I S T Oy ) ÍT 2
ra?'P/».’Huá moça muyto fetmofa filha dc húa viiiuá
muyto’ honrada que acjui mora, P/7. Como fe chama?
Pz». Camilia. P d. Qjae mc dizes.'’ P/«. Mas cu nam o
crerei cm que mo pregue dom Paulo.P/7. Ay,Ay.P/*.
£>uehàs? P//.Que graça tamanha. P/».De que tc ris?
P//.Deixame rir por tua vida. Pin.Quc he ííFo? ÍV/.Ajr
queme afogo. P/ff.Zoni bas, ou qW fazes. P/7. Agora
me nam quero cfpancar dc nada pois eífe fanebono tc
tie poder pera tanto. ?/».Em quc?P//.Em que?em rou
bar teu amo ccgora , & per derradeiro zombar dellc

tam publicamcntc. P in. Sempre cu iflb pera mi tiue.


P/i. Pois nam fabescoraopaíTa? EíTamoçadefdontcQt

efla caiadacom Lionardo filho dc Roberto. P/ff. lfío i

be cerco.p// Darcehia o p.iy boa alu içara, & nao foíTc «

afsi.P/tf.Cómoo fabcs.Pi/.Baítaaffirmarco cu,o coyta


do do velho jazem cama pera morrer dc nojo.P/o.Co .

mo pode fcr.guc nosfomoscfta noitCj&oje pclama-


nhãa a cafa delia, & acha mola fechada. P//.Como fcfu*
das,qucriasquc cftiucííemhi aguardando o ímpeto dc
Roberto, 6c os terremotos, & brauurasdc teuamo. Fo
raofc a cafa de hfia parentâ fua, que ainda agora o fou-
bc de húa pefloa dc cafa, q mo diffc cm fegredo. P/ff.
j^uéme dizia a mi,q tudo odcíleMarinello era o buí- -

ras.o ladroiccs.Digote eu, fe o meu amofabe, q à mif


ter cachorrinhos. Mas cu na hc-idc deixar dclbo dizer,
& hade fer logo,porq te nã dctenha.Prt Jvzes be, q cu
vou deprcíía.Màs eis caveAkxádre q tnc tirará dclhí
P
— 4
-
*
A CTO
^
***•» *
*

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COMEDIA DE
•**'••*, l . 4 c

A.JtCTO. V. SCENA. IIII. .

. c
jíUxánàre* PtUrtú '•

PE R derradeiro o fror bem defte


homenmus defejós. fti Iunto daquülo eftà
prir
mundo hecum-

que mor bem hc não dezejar fe não o que hc licito.Oh


Alexandre tiraftem* de hum trabalho, agora yaeu em
tuabufea. yfhx.Paraquc:’ Pd.Vcma cafa fabelohas.
hltx. Que negocios feram eíícs? Pj/.Chegaram ago*
>
ra á teu pay hus hoípedcs,quç eu não conheço, qucr(pá
rece)quc te vejâo.^ /tX.Sabesnouasdc Lionardo.P/4
Pd.Qjuc cfta com fua molher;
Sey. A/fX.Çuctaes?
A/rx.ComCamiliaíTd.Com Camilia. ^thx.Q^ç que
ícs que lhe nam aja iniicja. Pi/. Ainda lhe a cíle ficaram
fezes Si,fe o cafa mento fora fo por cílcs tres dias.^..
fcx.Ooque vai maishúá ora dc contentamento
q mil

annosdedefgofto. Pj/. Hy veras cu quanta mcrcctc


Deos fez que queres que faça o coitado com a molher
& fogra as cofias tícornado do pay ,& dos parentes de
que as ba dc mantcr?ondc o ha dc ir bufear? que vida
ha dc teríTu nam deitas cílas concas? yí4x.Dcosqué
©s ajuntou lhes darà com que viuam.Pi/.Efpera tu por
eíbstril.igrcs.^/íX.Ocafohc, eu maisquiferaagorí
íer Lionardo com todabs paixóesde feu pay,que Ale
xupdre com os mimos do m cu. Ptl. Olha oqucfalLs

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BRISTO.
nim te colha Dcosem fobcrbaiDà aoíteffier eflc irntfr
ccgoque ic cega,abre osolhoSjCOflhctfcuabetínNaô
tc lembre LionardOjncm^Gamilia, fcnsfti paraaútres
doo del!cs,que tu veras c ftc goftoíinho de apetite có-
ucrtido cm lagrimas de arrependímchto.Deixaoscn.
tar emborque do fuor de feus roftos viüi&õ. Vamos
que tardamos muito. .yf/.x.Tu ves aquellé doudo,cc*
mo vem enfiado.Pd.Por vida tua que lhe fujamôs,qu^
Vem danado, contartecy de que,& confolartchas.
* •
. » .
#
. , *

ACTO.V SCEN A . V. -V

„Annihál. Mentalüdt.

T
do. Se
Amanha injurie como efta hei dc fofrer
taluão?Antes morte.Scria iflbpaciencia de cornil
nam faço coufas que focm em todo o mundo.
cuMon

JWc».Pafmado eílou dc hum Fanchono fe atrcucr con**

tigo tanto, nam opoírocrcr.Aflw.Vemcc por aqui, que


me naóha de efeapar noceo,n*m na terra. Jfríw.Ncin
no inferno. A»#.Ondc o achar, hi-o hcy de deixar pofc
to num pao a vifta dc todos. ;w«i>.Oucrcm te tem a ty
morculpa. Awn.Qjieffl? Jrton,Qucrn fc cafou com ci-
la. A nn. E quando cuidas tu, que hâ de durar eftc cafa*
mentof Mtn Ia cllc pera minha condição dura muy-
to.An^.Damc tu que o pofTa cu logo acharJ&fow.Def
cubnloha o diabo.Se elle fabc eque te tem fcito,como
que.

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.

COMEDIA :~DE
queres que pareça? A/?», Todolos diabos
!
ttic enganai
ran*,& me crouucráo a cila terra, que fendo cm coda*
honrado, amado, & tem ido de grandes,
Jss outras

pequenos aqui me vejode todos dePprczado,& abati-


do. Mon.B - m te diria eu, que tudo vai no foro, em q
1

í’c oshoméspocm.Atf».Alafr,fy. Mon Se tu aqui en-


.

traras com foga,& cucclo,comofaziasem outras par-


tes, ninguém ce Icumtara os olhos. Ava.Dizcs verdade
eu tenho a culpa. Mon. As vezes he neceflaria acolerái
& necefiario fcguila.A«».Não, cu virarei a folha, & c
mendarei o paílado. %ton. No prefente temos nos bé ;

que fazer, & ey medo que não façamos nada. A#».Co


•mo, nada, quando os não achaíTc qúcimarlhehia as ca-
ías, &.a fazenda. Mtn que lhe fizeras por tua vida,fe
.
o
aqui tiucras. Ao».Aqucm?oBriílo. Men. Nam falo r*
nefTe. Vergonha tua feria çujares as m ãos ncUc,dcixao ,

pera as minhas. Mas a Lionardo digo. Aww.EíTc rapaz .

& a rapariga, porque nam foubc conhecer o bem quR


lhexDeos fazia humaooucro,osouucra defazer comer
íiosdentes.^íflp.E fccllesnàoquiferam. A»n.Come*
faos cucos meus.^*w. Ambos. A»#.Eficaraainda fa*
minto.JKfl».Boafepulturalhes dauas. Mashcy medp
arrebenta(Tes.A«*ü<iílc,&gracejas. Bom tempo he v
çfie pera graças. Dcixaas para quando eu eíliucr gra-
ciofo.^úw.íítonam fam graças, mas raiuas, que cu t<r
nho de tua deshonra que mais a finto do qqc cuydas*
E per a faberes fe he afsi,fazc o que ce diílcr, A/w.jguc,
Jrtw t

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: B RIST O '
í»4
>ífi».Pircccn\e que tc dou bom concelho. A»».Efpri

tafle ora Dcos cm ty.>íí».Sc tc parecer bem.Ggueo.

Sc nam rcccbc a vontade. nn.Dizc. Jrton» Eílc mo-


ço cra quanto fouber que cs viuocícufudo he bufear-
wolo.^ww.Alsí mc parcce.Jfío.Scnam Tc tc cllc não •

tcme. Awfl.Auante.J5Ío».Dif?ímutcmos com o nego-


cio. A»».De q manei ra.Mtn Eu . to direi, fazctc mor-
to, & quando virmos, bom tem tempo refurgiras pera
lhe dares a morte. A»».Ecoinofefaràiífo.^ttf».Muy
to bem.Vaicc à tua comenda. Jnn.Ouy>. ^íí».Vifle-
jncdcdò A»/í.Entcndo Mí».E eu virei qua pregoar
e

asnouas.A»».Dcixaroc euydar Kum pouco: M*». Ef~


te he o melhor remedio que vejo. O tempo, & o ne-

gocio nam fofrem outro. v4»n.Sy.Mas m inha tenção*


cra nam prolongar a vingaitça , que mo nam fofre o
eílamago.Míw.E eu por encurtar to digo. Çuc tepa-
ycce.^Alfcntasnifto. hn ». Qjk hcy de fazer, pois nam
tenho outro remedio? M<w. guefarey.^ £?uanco Bri-
Bo da manham por diante, onde quer que o vires, bea
zete de 11c. A/»». Mas rogo te que mo tragas peran-
temy, porque goftárey muyto de o ver morrer.Mo/».
Ora vayte pera cafa diísimula for cem ente, dcyxa- &
ime com o cargo: A»o. Se me iílo fazes* heyte dc fa*
3Krmçuherdeyror
COMEDIA DE
Jrttntáludô.

V Ede fc heiftocoufa para fazer arrebentar de rifo


& as pedras. Não fei como pude difsi-
qshomés,
mular tanto. Nunca tal graça acontecco no mundo.
Eu por húa parte hcy do deftc coytado, que nam feja
mais que pelo pam que lhe como.Doutra parte quan*
do o vejo tam doudo.quc quereis que f aça?Fo!go de o
àtíç w pera o ver birrento, ainda que as vezes hc muy-
to perigofo, mas nunca o cu vi tam accfo como hoje.
Desque lhe Pinerfofoy com aquellasnouas, coufas
em
diflíc caía naõ pode crer. Senam pegaramos
que fc

delle/ahia ja como hum doudo com a efpada nua perá


nntar quantos achaíTc poreíTas ruas fem lhe lembrar
vidanem honra, quis Deos que o defnicy diflo, agora
}

com efte meuconfelhoamançou maiç.Naõ vedes que


graça? guc o que lhe eu dizia zombando, metcofelhe
na cabeça,que me dà a mi?Per derradeiro tudo me cae
em cafa,cfcufarei brigas, & perigos, darey coro cllc
ncHafua comenda entregarmehcy doque puder, ÔC
yrci ganhar rçinha vida.Qucm terra muda, muda ven
tura*CaIejado vou que farte, nam ha mal que poífa co
mige,& quando a fortuna tanto maJ me fizcífc, ainda
prcftarci pera chocarreiro dchum Príncipe, que hc o
melhor officio que fc agoravfa.Masà miEcr mais fifo
que todos. E clles cuidam que anda cm doudos. Vede
vos

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•BK IS TO/' Ji 115

XOS qual hc mais doudiccíQuc fefta hc eftt que cu ou-


ço? gue noui dadc he cfta ? fc cndoudecco cftc com as
pancadas* Ia hey dc íàbcr o que hc..

jLCT O. V. SC E N A vitimai

,
‘Brijlrl M »nt*ltt4nt-

NM A fc efpantc ningucm dc rác ver

hede
que o dia hc ccaerciia.
dc prazer, 8
v< tam doudo£,
c dc fcfta. Mtn Eftc vos;

digo cu que viue,todo o mais hc vento. $rif. Quama-


*

lühos fam os; milagres dc Dcos.quc em hum momento*


a triftczademukostempos mudacm alegria,, a pobre
xa em riqueza,aiòrtuna cm profperidade. v&ío».Etuas.
Higrímasem rifo;#n/.Náo aja ninguém que íenam *
kgre com igo.Alegraiuos todos, folgay, fcficjay,nanr

feveja o je (cnáoaleg r ia,j8i fc fta. JPit on . Bir ifto que cou—


fahe cftaídonde veoagoraoadufe.* B rif,. O Montal-
uao quanto folgo- dc te achar, ftitn. Mais folgara
Annibat dc achar a ty.. Mas a que Sanfto vay ifto*
B rif. A huuii San<5fc> que me liurara das mãos def-
tc diabo#. paífouo tempo quecu> morria defeus;
Ia.

medos; MonJz porque nam agora? B* ifPOrque jate—


nho portni nacctradicnhor, pay,5tdefcnfor. De que
me vestu tam aibgre^Mfl». Hum>anno ha que to per- (

gunto; Srr/.Poisfabc, que Piudarop.y- dc Cámilia, q


todos-tinfaunvos por morto ^chegou agora viue>,5ífjõ*
Mb»..

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> : ; COMEDIA DE
E fe u ho con íígo m uí to r ícò a m bo rj
Kl o n. A mj B
9
/'

if, fi J

& muytoprofpcros. M<r».Zomba$. Brif.EutosmoAi


irarei logo. Mflw.Marauilhasme concas. ‘Btif, A noíTa
Camilia que eílaua cafada com Lionardo , eíla agora
tnuyto contencc^Sc niuyto rica. M«». Pafmado eftou
doq me dizes.2?nr/iArniq o fci,& qos vi me parece fo
nho eílãdo. nos oje nuiito cícondidos,é caía de Arcuri,
foy ter com nofeo Alexandre com cilas boas nouas.
morns. 3rt[ A (si ho
j*ía».rcfu,eíTasmolhercsficaria5
mõ poderaõ crer logo, tn as dcfquc o crerão, cairão no
chão taes,quc as dauamos por defuntas. KL». Nunca
tamanho prazer aconteceo no mumio.B"*/.Forãofc Io
go là meas doudas.M<j».Onde.Bn/. A caía dc Cálido*
nio,queosagafalhou. Antes que fc dahi parciíTcro , fe
fizerão amifades com Roberto que eílaua pera
morrer dc nojo. E pera que o prazer coubcíTc a to-
dos , ordenarãofe caíamcmos dc Alex mdrfc com a ir-
tr.ãa de Lionardo , &ha irroãa dc Alexandre , com

Arnolfo filha dc Pindaro. JVÍíff.NSo feique diga a iíTo


faócoufasdc Deos B t/*.Hc agora la o prazer, &oal-
uoroço afsi nos velhos, como nos tnoçps v que não ha
quem náo folgue de os ver a todos. M^n.Cokddo dc
Ánnibal,clle hc o que lcua o nul codo.2?r;/".Se tu ago-
ra quiíeres minha amifade fabcràsquam boa te fera fc
prt*. Men. Quem queres cu que a nao tenha contigo
mo dicofo,quc tudo tc fahc bem.Bn/. Ajudan
pois hes
donos hum do outro eu te feguro que antes de hum ,

anno
B R I S T o: í \6

ãnnofcj amos Reysncfta terra, Mtn* Digo quefatri


niuy contente. Mas he ncccffario que cumpra com An
nibal,quc cftà de caminho pera a Tua comenda, coiro
o là pufcr,logo fam contigo BW/Sabc clle ja parte do
cafamentoí M*r>. Eflàhum herejefem Icy, & fem al*
fí]z3rifMcÚAfc\hc em cabeça que auia cu de deshoa*
rar tão boa a que Deos tinha tanto bem guar*
dado.Enfinarfeha pera outras, Jiton. Doute quanto té
nho que os diabos do inferno fenao atreuerao atanto.'
Br //.Sc quiferester quinham nasvodas dctemtehurai
par de dias.^ríe».g.uando fc fazem.$ri/Lcgo cfte Do
mingoJWíW.Pcra la me guardo. Bri/.Oia vay confo*
lar teu amo, que cu ando fcftc jaado eílc bogj di^.

Valete, & çléuditfl


Fm da Comedia de *Bri8o.

COME-

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nr
ijj t)£ <&> C^» C^J v|» «^5 I
cj^
^ t^; C^ú

COMEDIA
CIOSO.
DO
' . ? ' * / ^ 1
* * * ' '

!Fyu peüh ‘Douãor Antonio Ferrtira. ..

PESSOAS DA comedia; i 1

i # V . >

Bremid, Ytlbá, ; wh' í.

:1 vlii* Mande de L wié2


Lima. Sud mtlhcr*
'

2
-
lArâtlís : Vagem. \ .1

Unete. Pagem.
CUrtti. MeU de cdfd,
Litiil
'

Cefar. Velbepay de
^Bernardo. Mancebo Tertuguez.
Vãdui #. Mancebo Venezstenff,
Faufind» Certtfam*
%rcid+ Mdtrena mai de liuià
Valtrit» Vtlbt Vtmztdnt.
Inecie. Velho ‘Pirtugttez,*

Entra lege B remia \>elbd fe» t O- diz,>

A Y, ay, homem que caes juftiçasfaz,lc fu

cnccade a juftiça nos ciofos ,


como naò
çomo nos doudos,
tj "
que

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r: COMEDIA D O
que dou dos ha, q não fazem tanto mal. Coicadinha dg
ti Liuia minha filha, 5c minha Senhora
,
que eu cricy a
cíks peitos, pois^que pera tão masfadas te criaua nãp
,
buuera d* aucr amor no miido,fc do amor, com o elles
dizem, vem a tanto mal, roas quanteu não íci como po
de fer,nafcer de amor obras de odio,& de crueza., t fi-
tes Negros caramentos quem osacertara bo
pay,mao
,

pay,o mao pay,malauenturado cafar, eftím afie mais


q
o dinheko^que ’tuafUb3,quc podiastu efpcrar de hum
doudo criado fem pay, cm taucrnas
,
& em frafearias,
pnalajãoasfuasriquczas.áfcosícustratospotsquc tam
toai nos tia taram, goe prefiam 2S riquezas fcrohome,.

«F não feja melhor o homem fem cilas. Efie ter, efíe


nam ter faz desfazer os ca£amentos,queas virtudes , St
os vícios auiam de fazer,& desfazer. Çuantas vezes ou
' Ui dizer a miqfia mãy,que Deos perdoc.Fitiw no tem-
po que oouro valer maisqueaspeffoasjmctecí num*
coua , fie
cu afsi ho fizera fe poderá acabar com igo de
deixar fcq Liu», mas nam poífo,cricya. Determino
tarorrcrcom c Rasque fegundo a coufa vai^não tardara
RUiko^fenãopaÉTa dn,n€m noite, qo dcfafiradonãu
efUrc a coutadinhaijo chão íem folego c^l que parece

«F ™m fica ja pera outras. Encam nam lhe


ha de cf»
capar ningoem cm caiaque rum fia» a £ua ira. *

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c cios o: it

r '*
- . J*tifctr folio cíofi0. ‘Brmiél .<

T rEremosquem pode mais,íc hey cu dcviucr cofi


, V vofeo/e voscomigo. Brow.Heilo vem coutada*
' Canfou na molher, &
vira dcícanfar cm ruim, Ia/. Q\i c

hc deita boa velha. B rom. £>ue me queres. I»/. £uc


boa guarda? que boa ama-*’ Braw.. Ay lulio. I uh iDc
quem roe eu conlío ro brequem cu deixa minha honr
ra muyco íegura. Brat», 2.uc tç fiz,jCoytadadcmi*
I»/. Nada, zombo. Br*w. guc te fiz que te fiz. Uh
Faço ifto por meu paflatempo. Brom.- Tacs pafTa-
tempos te de Deos ncíta idáde » fea cila chegares*
mas que nunqua o clle queira, I»/. Ah pefar de. miro,
uam hey eu de viuer. Brtm. Viues mais do que merc*
~çe$. I»/. Nnm hey eu de ter caía como os outros.

Brom. Sctucomociics, cuja culpa. Uh Nam terey


«su hua molher como as outras. Brem. Nam erra cila

como os outros. hl Çuem tem vergonha, medo &


de feus maridos. B^w. Çueastratáo com amor , ôc
'honra. W. (?ue rcímugastu citando. B rtm. que cal
marido lhe fofles tu, como te cila hc molher* hl. Tal
molher mefoíTeclla , qual lheeufòu mandor-B™*»;
A fsi a mereces tu. lul. que hc iflb ? Br*». que lhe
achas , de que ta queixas porque a matas, & a mi
,

com cila. hl Parece que fam pao ou pedra. B rom*


Mas cs peorque pao , & pedra.
ui.
-

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I COMfcDÍÀ 6o
M.Afsizombaõdoquc cu faço,afsi fazem o q eü mán
do.Brrw. Ay IulioquamodeBes aLhiia , & quam mal
lho agradeces, /«/. Voume de cafa,deixoas jancllasfba
chadas as freftas tapadas, ás por rasquefe nam abrãb,fc
qucfro,roga,mando, & ameaço, que fc não bula com
cilas atè que eu corne que aproueica. Bw». Vedes ah*
todos feus males. /«/.Torno acho logo íinais>as janelas
tfcal jtirítasqud parece que então as scab^raõ de cerrar
asfreftás quceutrao foi porellasa võcade.Brcw.Aus
CTOtde vitíef fempre-em trenas? kl. Sy, Porque
IttAPorquc euqocro.Brm. baila- lul. Náofam euho
Rcyncílacaía não guardarão as leis que eu ponho*
,

E as oucrás afsi viuem. l#/.As boas viuem úfsh :

tBrm . Como te enganas. íuL Os fefudos afsi ofãzem*


tBrtm.E pera que fez Dcos odia.W. Pera oshomensi
B^w.E não pcraas ffiolhercs.I»/.Não,em (uacafa ba
Helhe hGacaBdea que não nactóparà negociar for*
Br cr». -Eflfas leis lh e p ufe í! es vosOucròs^quc molhcrcs
ha no mundo que gouernam feus maridotW. DcíTcs
ttain quero eu fer,3< iflb he o que trabalho. B**m».EÍc

fceu deixas fechada num* antnefblhoicfcuro, & km fre'


fta,& An® jandh queiie temes dasjãnclUá W.Ohvo»
lha parada,que nàm bafl. para o m undo a virtude fc*
ereta, mas não aucr fofpc ica de nsaldadc.Brw.De qua
tas janélU&tuvcsabcrtasporcií.sruaSjdetodastu foí*
peitas mahltf/.De todaS.B^EdasTntilhcres Hóradasq
vão, ou ye das Igrejas, & de\iE_ucocsdc fuasamigas^

9
CIOSO. ii£
Ia/.Dcftas mais àduuida? Bnm.Qut Iuizde virtudes.
I ui A quem dáo mais licença do que coniie,mais quer

do que he bcm,5cfcus maridos que IHctfla trelaelam


bem lho merecem. Brow.IíTo fazia teu pay.Iai.Não ti

nha cllc molher a que fofle neceííario mais guarda, q


fua vontade.Bríw.Nao tens tu molherjdc que cila, Sc
todas as outras não poflão aprender muita honra, Sc
muyta virtude, 5c honeftidadc.íw/.Bé o meftra. Brom.
Ainda mais difsimuUr tuas corolas, fofrer tão duro ca
tiueiro fem fc aquentar a D cos nem ao mundo.I«/.Ná
faça porque;’ B rom. Que hum coração de pedra. luL
Nam fc aqueixara. B tim. Não poderá com tanto. lai.
Molher q a cinte quer infamar feu marido. Brem. Tu
infamas a ti, 5c a clla,I«/.Não hei cu de ouuir falar cm
cornudos, fem me vireor ao roílo.^w.Maos dias, 5c
negros, 5c poucos fejam os teus, 5c que culpa te tem ei-
la niíTo.1»/. Quero andar com meu roftomuytofegu-
ro,5c m uyto confiado, 5c nam me deixam. Brom. Que
te nana dcixa.W»Meuspcccados que me foraõ catiuar
tão miferamente. Brm.Dellcste vinga, ou de ti pois
tccafafic. M.Oranom mais,nam fei fc cípcras que fa-
ça meus efeonjuros, como faço cada vez que fayo dei-
tas cafas.B^w.Dos quat s tens bem poucancccfsidade
I «/. Mas pera que?eu tornarei então. Brm.Tornaf
queiras, 5c não Lembroume agora que fc
poflPaS. I»/.

me efeufou aqtu lli fenhora com a vificaçã de fua may


digo que naqvqtfCfo quc pay nem may nem irmam, ,

0^,5 nem

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?
. •
. COMEDIA' DO
fiem pdrcnts,nfcrn vifínho,nem amigo, nem ãmrga, tíe
•compadre, nem comadrc y ncnvRcy,ncrnRaynha, nem

q venhao do paraiío entrem ncfía cafa. B^»?. Ma ora


venhãoacafadodiabo. /«/. A boa vcntura^q te venha
batera porta não quero q lhe abras. Br^w.DeíTacftas
tu/cguro,eu to prometo que primeiro botaras a ma*
ventura fora..W*Não digão depois veio foao,mâdovt
- foão,forão a cafa dc foão.Brojw Agora quero cu eflar
â razão contigo, não qucfes ter prcílanç3,ncm vifinbj
ca, como fe coftuma antre gente. Ia/.Nam.Betfw.Não

vfarasdo empreftimo pera que o aches? /n/.Naõ, não*


Bwfl.Sc ficfta cafa for neceífariofogo,ou 3goa,Qií©ti

tra coufa,ou a vierem pedir dcforj >nãoquere$.IW.Ná
digo que nam quero eííe fogo,& fe cm çafa o houuetV
oam aja razam de ovirem bufearv
jnatao logo, porque
A agoa digam que fugio,pÍBeira,)oeira,gral,.caldcirad
& tudo mais qasimportunasveíinbasfocm pedfr >
.<li*r

zeíhc que o não ha hi,& que vierão os ladr ócs,&que o>

leuaram.Bruzy.E quem mc crcrà ifTo.I«/.Se to não crc


rc que fe enforquem ,q não rqucroq em minha cafacn
rre ninguém fendo cu fora.Ah pefar de meu pay,nanr
nie valcrà ami iíta. Bvr 0 w*Ma$direh& apregoarcy q
he cita cafa cfcomungada,& que nam: com m uniqucin
conrdla* /W-Dizc que he efeomungada > & que morre
dc ptfte nella.. Di 2c rquc andam neiia todolos diabos>
eu que crtà encantada, de maneira que quem nclla cn-

ttafem miiü^Iicen^a logo mO£tc : Èrm* Mas depois

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r cioso:* :j txS
3c tuã morte eu prometo,que elles o aguardem. I»/.
tc

Que dizcsíBrflw.Çue tc não aqueixes do comer que a


chares,poisfcm agoa,& fem fogo o queres, hl. Con-
tentam ento que ria cu.Br*m.Bcm crcoeuque vens tu
de là bern farto dc bjnqueces,& a coytadinba de Liuia
oão íe farta de lagrimas. Ia/.Defque cila for dc tua ida
dc pode fcr que então faira qua pera fora.B rem. Borri
geito leuade chegar là,& mais com tal cfpe rança./»/.
Mor bem Ihc quero cu de q tu cuydas. Brom.As obras
o dizqm./»/.Oracu vou.Bm».Emora,q nuca tornes.
. - /

Recalbefe.Ficd luliofit.
,
1
/
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• *'*•-’
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O
« • •+

H com que trabalhos fay o defía cafa, o corpo ân-


da pelas ruas, a alma quà fica cfprcitando as jancl
«las, o porque mor
RcySj&Principcs^or
hei inueja aos
quefam tam bcmaucnturados,quc vem oshomés aos
negocios, & pafTatempos bufcalos a fuas cafas. Se me
nam fora por fazer coftumcs nouos fechara cftas por-
tas, aqucllas janellas mandaralhe deitar hüas traueflas.
Masantrc tantos paruos dc força hc q o fc ja.Náoguar
darei eu meu thcfouro,& minha hora,& minha fama, K

rimfe, & naõ vem os cegos quanta differença vsy da


molher a bolf^morrcm fobre hü pouco dc ouro q fc
acha por cham,cauaiima,& efeondemno^ vigia
eflc

no,& tempo em rcliquias,& ne elles mefraos o tocaõ.


E a molher.q
7- hc o feu verdadeiro thefouro deixãono,
•— Ç>4 def;

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'
COMEDIA- DO
f
' t ,

ilcfprezáono, & offerecemno aos ladrões, chama a híi


deftes confiado,& hum homem que hc de cfpiiito,quc
cftima fua raolhcr, que hc perdido por ella, & cottio
de pouco experimentados no mundo vos vem ha vos
cutros paruos eftes enganos, quem anda, quem oiiue,»
quem vèportcfrascftranhasjfarào que eu faço.Oh
q
boa mcftrahe acxpericncia,por iíTo dizia o outro bé
que roais proueuo rccebiáo os fefudos dos paruos
, q

os paruosdos Íct udos,os paruos me enfuiaram, 5c não


acho hum ío,que queira aprender de mi. Deixai viuci*
cftcs confiados, cu querome confiar de mi, 5c dos
meus
olhos,quc naohc ainda fegura confiança mas não ha ,

outra. Minha molherdesquefoy comigo a porta d*


lgreja,não fairà,fcnam pera a coua, quando cu primtt
ro morrer, & cila for tãm ditofa,entam leuarà boa vi-
da ,
os riicus filhos crerei que faõ meus, os alheos fuas
majsodaibam.E não parece fenam quequatome ma**
is guardo, enta ma cinte ve jornais continuar por eíU

fua galantes, namorados, ociofos,mas caras,inuenções,


arroydosde ooyte,afouios,brados, muficas, 5c per ef-
toucras todasnão.Qudecílarâo fumofera fogo,onde
citarão os oHios que fe encubram, mas a mi m c parece
certo melhor os dcFauftina, fcfoíFecucm tamhoa
ora, que os vifle, masque prçfta,que des que cafey, to-
das m e fogem, todas me querem mal. Oh cm que tra-
balho fe mcccm os homes^mbrarmeade que manei-
ra ficam cftas portas.
'
YvP
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ciosa 1 2 I

Vajifc lulif. Entra Liuit.

A la vay o ca feiro, bem podeisfair.Liw.Ayminhaâ-


I ma,minha amiga que vida heeílarque catiuciro he
cftc/qucm me matou?qucro mecatiuou?quem me Ic-

uoua cerra dc roouros?B/'#y».Scnhora nãochoreis que


vosouuiram. Lra.Qae nam chore,& iíTo me mandas
tu.Brtfw.Queprcfta coitada de mi,pcra que he chorar
o que com íagrimasfc nam pode remediar. Li«.Defa
bafo com elLs,abremceíTâs portas, que me quero yc
gritando por toda a vifinhança como hua douda.Br*.
PaíTopor amor dc Deos, paíTo que teouuíraro. L ivm
Ouç3,vejame,acudamc todo o aiundo.Brí>OT.Liuia,G-
fo.Lw.gucroir as ruas, & as praças, clamar, & bradar
mi,& demcupay,& dequem mema*
pedir juíliça dc
ta.^ríw.E dc ty,dc quc?L/*.Porqucfuy tam mà,& ta
paruoa,quc por obedecer ameu pay, deixey de me ca-
farcom Bernardo,que me Icuaua pera Portugal, fetn
querer dc mi roaisque minha pcflfoa.B^w.Náo te ac
rependas que melhor he a mà vida na natureza,que ha
boa na alhea.Liu E a ifto chamas cu vida? Brom. Nun-
ca ouuiftc filha, que melhor he a maa mocidade que a
boa velhice. Ihicc, mateme Dcos antes que da-*
qui me bula.Bi^ro.Guardccc Deosdc minha filha.Lw.
Oh minha mocidade tam mal empregada. Oh meus
cab. lios douro um malcraudos. Brí/w. Liuia.//i«.Ob
minha

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,

COMEDIA DO- *

Smnha Brorôia, minha velha que me criafte quao beiÜ


to pago.B« <j«j,Liuia filha, Lw.Oh
meu pay que me ve
dcík,& nam me cafafle cruel, que em tal caciueiro me
tncteftc.Scnhora nam ce mates , nam te aqueixes do
q
Deos faz, que quando te n3m precatares fera contigo.
Xíw. Bernardo, Bernardo, como ce mereço ifto.Br*sw.
Enganaflc com cflcs Portugucícs. Li». Éfte ao menos
nam me engana. 2?r*w.Ia ouui dizer, que fabiam me-
lhor fingir hüas lagrimas, que nosmefmas. Liu. Nos
feus olhos via cu como as lançaua,& ellcs me fallaua m
ia verdade, & ellcs me prometeram o pera que cu nam

fuy. Brom.TL quem colhia, quenaó tiuerasíaamcfma


vida fem máy quc te dera outras chaues falfas pera feir
}

folcgo. Liu.Dc quem me tamanho bem queria naó fe


podia cfperar ífiTo. Brom Quanto clle mayor he , dize
.

ellcs^ue mores cílremos faz que efies. Liu. guem diz


ifíbíBrtfw.Teu marido que do muito amor que tetenj
diz que vem guardarte tanto. Li&.Tal o cenhão,& mo
fíré por onde quer que for, praza o Deos.2?r®w.Tu cf-
tas aqui,& nam fabes o que vay pelo mundo, não deue ;

dc fer clle fo,ja ouui cócar doutros, & doutras.Lw.Boa


confolaçãomc das.Broiw.Aqoécem os males lécura fi
lha naó Ic da outra, Liu. Por iíío cu não pofib ter pacié
cia coitadadc mi,moç3paruoa enganada, onde poderá
cu que não viuera,ou nã morrera. Brem. Coitada de
ir

tua máyqtic tantas lagrimas lhe cem as tuas cuftadasq .

fempre refufoucftc negro cafamcnto. Liu* Conhecia


* cíle
u .. -

, » Digítized tíy Googlc


BR isto: I22 -

Jefiediabo, conhcciao.Brow.Parecc q finto bater a por


ta. Li». Ay vc Íc he ellc que ja tarda11a.Br0OT.Fugc que
,

cllc he.L;*.Vcmme fechar Bromia antes que lhe abras


oh morte que vida he efta.

Sj tfe L entra Juüc.

I «/. ORomia.B. w .euc mandas.I»/.Seaqui vier ha


Tj mancebo efqucrdo Efpanhol, ou recado fen,
digãolhe que não poíTo aqui. Bram, Afadigado vem.
UL Ouues.Braw. Como poflTo cuocgar o que fc pode
faber da vifinhança.W.Tens razaó, dizelhe cj faó fora.
Brow.Da cidade. Iw/.Masquc me mandouchamar ho
Duque,ifto he mais veriíia)il,ouucs,cm chegando me
mandou chamar. Bram. Q^uc medos feram efies. Wj
r
Eu irmec i a cala de Alberto, irei jugar efie anel que Ic

uaua para Fauftina. 2?n>w.Ircca la bufcar.I«/.Va fc qui~


fer,ou íbc dizc,qcoftumola tardar muyto.#r0w.£jue
torne a tarde. iw/.NÍOjmaa pafeoa tenhas, naò quero,
que mcachc aqur,nem em outra parte. Br#OT.Terncíe.
E fc aqui quifer efperar.U/.Comoefperar,Oíidc ha dc
cfperar.B^ íw.Por eíía rua publica qué lho tolhe. /»/.
Mà veiha,tu cflàs bcbuda,dizc q não cfpcre qnão que
ro. Brom Hçilhe de
* dizer que çe náo erpcrc,quc narn
queres. U/.Náo d igoafsi.hame de deter ate qtac o ou-
tro vcnha.Brora». Pois que dizes.U/. A ti digo cu qnão
qticro queme efpcrcjucm qucquacntrc , nem que
fogente fuile coRtigo.

é
B tcw,

\

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COMEDIA DO
Br*m.Como lho tolherei eu. lul.l olhelhe logo ã ptsK
tica,& dize nara hc aqui,&fccha logo a janella.Brm.
E fe tu nara queres que fallc com igo, como hey eu dc
fallarcom cllc.IW.Nunca vi velha tam pcrnoftica,ciH
do que o faz a cinte, fc lhe poderes deixar de falar^aó
lhe falles. Br#w.Iefus,quc efeonder dc ladroes hc cftc,
íc dizes mais.Iwi.Nam ha nem fei fe perguntara mais.
Bnm, Sc algo deucs a juQiça cila te dcfcubra.MParc
ccuos que me vco bom aluitre mancebo dcfpofto, Iuf-'
trofo,gencil homem,Efpanhcl,& creo ainda que Por-
tügueZjleuayoa voflTacafa,mofiírayo a voíía molher,
agafaihayo dc noy ce,& de dia. O bom de Benedito o
q coíluroo em Genoa, cuida que fam eu obr igado a fa-
zerqua; feeilche liberal dclua molher eu faó muito
efcaíTb da minha, encoracadcme cllc outras coufas de
bdaaraiíade,acharmea.

Sátfe hlio. Bntri Jeito , <St Unm

NM A ha tal
molher he pera
homem no mundo, hum Alexandre,*
fer fenhora de Genoa, fermofa,
rcuerenda,libcral,prazenteira.Iá».Agora te crco,pOT
que nefias coufas a molher he o principal. ArJ.Q^uó
mais nos agaíalhaua com feurofto, que com iguarias,
& mimos.Lffl.O homem queria eu na praça, & a mo-
lher em cafa.^/r</.Ecambem hc ja coftumada a ban-
quctcSjBcpedico copio digOyhcgroíToj&hrgo.nanT

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L

C CIOS O. OD ,25
pWTa dlaéctt trcsquatço homons.Lr».Qjje tacs qucí
judas trazes. ^r^.Pois digote qbfc com agreci na nao;
I*».Dequc mal Tc ceenxcrga.Ar*/.Áfsi dc enfoado,co
fwodc hâisfcrtasfaodadcsqla ficãd- Ia». De quêeftá
bem fora de as ter de ty. ^Arã Masas alHcas finto ca
.

mais que as núüha$;U». Auiadc aucr hum ífpelhopu-»


blico.onde fe os homens vifiem. Ar d. E a que prepofi-
to l4«.Por cfcufarçnganoSjq eíláocm o mundo, A* d* j

E per*quejfecada hum ostem cm fuacaíà,I*».E fccf


fesnam falam verdade, jrf rd. Da ao diabo eflesarao*
res velhos, que fcmprereucrdeccm. Ia». Comoafsif
Ard. Via làfcrmofas,falaua cófermofas, nenhua acha-
ua q mercccfie o nome dc ferrrofàjfcnão Liuia.guan-
dolhc Iembrafcu pay^queacincoannosque dcyxou
de 0 ver. Lm». Efqueçdhc. ^4 rd.E na verdade, pofto q
aquclla terra feja bem abafíada de bons olhos, & dc ba
asgraçisqa voreisque coufa hc Genoa,euosnam vi ca
•squaes oscll4‘tcmJ<».Tmhj,ouuerasdcdizer.^írd*
PorqucH*». porque ja osnamtcm, iW.Comonam
tem. 10 . Agora fabes que nam vè. jird Nao ve. /a».
.

Kam vèíoJ,ncn> lua, nem tcrra,nem gente, chamastit


a illo ver. yírd.Icfuque foyiíío. cegou. I 4 ». Arrancou
Ihc os olhos feorrmijíx ji rd.Arrancoulhos. hn Di2
qu: lhedain comellcsma vida. Talanofmin-
dó.L*».> fpantame,comoes boçah jttJUU teentenio
#
mctcfmeem couíufam.- i*^t|Dcfquc aceytada cafeu,
andaero rifam por toda a vifinhança. Ard-Mofinamo
V'

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r-. COMEDIA! DO
çaAdtt. Marido ta deíagartado,q anda cego,cfeÍfitàIbs
outros cegos. Kr d* Dc maneira qífc a matarão em vez
dc a caiarem. I<*#. Mas não lhe fizeraó ainda tão boa o?
bra.A^.guéhcellCjComofechama? Up.Micer Iulio.
* Ard* Miccr Iulio. WSy, Ar^.Mercador /fcir, Merca-
\

4orA^.Oadc mora.Io» Aqui jumodeS.Marcospc^


ra onde imos. ArJ.Ora nom roais entendido hc?/4».E
porque dizes iflo. y/»*</.Sabc$ tu onde nosbiamos. Wa
A cafado teu ofpcdc,me diflerte. ri. Sabes «juébe.
l4».Comoohei eudefaberfr mo n áo d izes A t*íi. O of
pede que nos vínhamos bufear aque te diíTc
q demos
acarta de Benedito pera nos agafalbar.Lfl.Sy.Ari.Hc
cíTc Micer lulio.Lw.Ccrto. Ar</.Scnão fe me tu metes.
I(i». A q hofpedc negro vínhamos, & q negro hpfpcdc
lhe vinha, bom acerto foi o do noíTo encontro, pa«ce
mc que fôreis a crtalagcm. Ar^/.Nos nos cfpãtamos da
maneira que fe cornou em lendo acarta. Iaw.Conhccia
uoscllr. ^rJ.Nosao mcnosnlooconhcccmos. li»*
Como fe efeufou. Ar</.Não fe cfcufou,ncm nos fallou,
fezq hiafdlarahum homem, & nosquãdonosprcca-
tamos,nápo vimosJa» Nem ohasdc achar. Ard.Cui
damos q chegaua a cafadar recado. Arn.Dirh q onc-
gafTc rr,& fechar fcya a mil chaues. ArV.Como faz aíuá
moí her? toda via cheguemos là./4».Aq me pareceque
hc A^.SãcaMaria.iílohc morteiro, & gétc viueaqui.
Jan.Wm gente eftranha,qriãocem nunca dia, não ouui
rtc ja dizcr,q a auia no £uúdo.Ar</.Eu bato. Brpt».£uc
'
çfU
»

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cciõs o;o r24
èíhahi, B mm]
recado no fcnhor Miccr Iulio.
Kão he ca. ktL 1S5 aòfàe à janella, hn 'iNunca fc nam
.

quando cllc Ü cftà,& ainda por regra. Ard.Chega a ja


ncllaquem qucrqes?Brfl»>.£?iic mandas?jne digo,
q
naòcfta ca mãodouo chamar o duque. Ari#Bromia nã
mc conhcccs.Bfflw^Ay Ardelio donde vés, Ár J. j j fty
tüdò,Dcos fabe o q perdeo.Bríw.Tcu fenhor he vin-
do. Ard' Vindo, mas fe tal foubera. 'Brom.Vófãô peca*

dos noíTos.Vaite q te naopoffo mais falar. Ard.Tal fc


fofre cntreChriftãos,& naò comão hfxdondo^ o de*
grádâõ do inundo fora. I*».Nuoca por aqui paíTa nin
guem,qnáochoreohu & pragueje o outro. Ar d. Ah
l

Bioçisparuaos apctitofascabcctnhasdevêto.frfw.Quc
culpa tcm.Ard.Naòcra meu fcnhor homé pera fc cila

aurnturar c6cíic,màisqPegurArfccóeffoutro. kw.P*


rcdafhe,q efeolhia o ma» feguro.Ard.Mas faõmolhc
resos qas pedé,dcfprc 2 áonos,& os q a nioeíUmão,pc
de.larf.Crco eu,q forçado foi o negoeio.Ard.E *y éj
p
tal faz.hw.Bó homem he o pây, mas enganouíc còfnot

outros muitos.Arí/,Bó homéparúo façafe frade r &não


cafcfilhas,fe fcu irmão fora. W.Mofina foi nifTo.Ar/.
E não tendo outro. filho, nem filha. Un. Cegueiras de*
fic mundo, Ar/.Vaytc pera cafa ydà là citas tiouas , que
eomer rnem beber, hei de correr toda a cidade
afsi fera

ate que oachc , &


veja com que fe defculpa ao menos
mctclocy cm afronta. Lw.Faras bem doudloluCtare-
-
o f
Ufipc prçffaquc ira 2. j, . _>. ;

Saefg

Digilized by Google
COMEDIA DO
1
, > tr, , X.
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Sd(fe j4rJeIio> EntràCUrttd'. ,

Ckr.TAncto minha rofa. \<m, Clarctá nièü crãüõj


* C lar. Ay que venho fcm folego Ln.Vifte al-
gum Lobo. C/ar.E pcor que lobo. Ia». Como vés tão
apreíTa.Clar.Deixame defcanfar oh diabo, oh malaué
turado.L». guem.C/ar. gucra meaísi cançotr,
gucm heJ . CUr. Hia la pera caía com hum reca*
, do de Fauftina, veyo dar comigo aquclledcfcftrado
que dcfque cafou, parece chupado das carouchas. Ia» k
Mão mediras quem hc? £/ar.Ay fenhorquâodcfma-
zelado fe torna hum homem cafado. Lw.Parcccmc q
zombas? C Ur, Efpcra que eu to direi. Irfifc Porque ho
nam dizes/C/*r.4ucm vioaquellcdc antes, mancebo
galante, gentil homem, polido, penteado, maisenfey-
tado que húa dam a, com o o conheceram agora, çujo,
magro, a çapacaida, por iflTo nam caiaria ícnain com ,

hum Príncipe. l 4 #.Vo,umc. C/«r<Vem quãcftc demo*


digo de Iulioimpottunadordc Fauffina. Un, Q^uetc
fez.Ç/^.guefiamc deter cm tanta parola, que lhe fo-
gia,tc que fe enfadou de me feguir. Lw.^uecc dizia?
C/ar. Mil juramentos ,
com hum
quç faira ojede cafa
anel dehum rubi m iiíto fino, que trazia no dedo pole-
gar pera lho dar.La.Como tc entendo, quem lho to
lheo.C/^r.Dizque cllaq fe efeondeo dclle. Ln.Rcquc
*
rimentos trazes.Ç/ar.Qiic i equc.rimctos.Aw. Douuos
ao

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k v
CJOSO* I iç

5o diabo todas } qüe tantos ardis fabc!S.C/^t.Bcm lano*


tp,& iíTo foípcitas tu dc Fauíliaa pera Q&auio.
naõ fofpcico fcnão quanto vcjo,pcrdocroc Ocos, CU.
fcíam fabes tu, que ofeu amor pera com elle heodid*
cris peratodolos outros. Um Ao fim o verernosiantey
quifera que lhe quifera mal. C/ar. Poiscre, que ajv-
da aqueile coitado perdido. Um Deos o encaminhe.
Ç/ar.PorFauflina digp.E»»F.oi la;G/if*^uc peig^nta 1
tjemme defeío, que fcJhenaó virara roffo-, ficcufpir,
onde quer que.o achar que me não b* maisde cercm :

caía. I * n. Que r c s i u yqnc G/*n Com d es


cccreaeu iffo. ^

mao» Um Sou tantoteu amigo quaofarey poraitíor


de cy CAír. Vo&outr os Ibysos que dcfconcertais osef-^
tamagos. J *m Vos outrasibifras q os tornais a côcertar
muito bé.C lá* .Pois outro:anda>aqui bebédo os vento* •

I^-Sonão achares ai nda,oucro,quc*mc mates.^ír. Cd;


nbeces Raphacl patrício mance bo galante, liberal, que
[ç defjueyo agoradc Laura.Iaw.O mãquáõ.C/^.Mor
to ehornndo denoitc,&dcdia,convon:inino. Um. E
Fauftina taõ dura
q «não amolentanr.cíTas lagrimas.
,

C/ar.Maischorouy&chora oje cm dia aqucllc filho do


mercador biícaioho. Un. Finalmente q negociaçaó he
a cua^C/ir.Masja te digo qiw nc omcfmoduque po~<
dera ter rcmedio.Ijj». Acaba, tudo crcyo.C/rfr.Não he
por fer, parece que aencantouteuamoquc nunca tal
vi,híí.i meya ora que o nam ve, nam dura , & a vificar
orhya agora. I«j».E mais.C/4r.g,uc mais. L<»,Tem ra-
R lio

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comedia ido*
ikrn dtzerá,que de rofto a roíio. CUr.Sabcis mais do
Hcçcífario. Iifl. Tu ves diante fazer o campo franco,
C/ar.Mas pera que vejas quão mao es, não quero là ir,
dizelhe que me achafte no caminho. hn. TudoiíTô,
CÍ4K.^uedizFauílina,quca veja ainda ojc.Lw.Tcm
kofpcdcs,nam fey fe podera. C Ur. Não zombes, quc !

cm verdade mo diíTc quafí chorando. Un Eu tambenr


lho dircy quafí chorando. Nam fey em que iflo ha de
ír parar jclUfc entrega & irfea coroar ha
ao inferno,
Roma,ícclbheaque cucuydo.C/dr.Nunca vi moço*
inais trincado,quceftc Ianoto,outrasofarião a elle tao*
rcf(3Íhado,que fora fe lhe diíTcra, que prometera a íu~
lio hfia noite a furto de Odfouio.Nam hc aquelle anel
peraengertar Fauftina, ná5n Fera tam partioa, mas cila
hc perdida por efl:outro,cm tal) hora o vio, com tacs o-i
lbosoolhou l & cal graça lhe achou, q todos ©s outros
tocha fcyosdefayrolos.defcngraçados, nam fcyquaro
hem o cm pregou. Eu por m inha partegrangeo o que*
poíío, não pode fer tão cru,q húas oras pohs outras,nã
deixe hua pcífa em cafa.Qj.ie coufas fomos tao paruo
ás, ora roubamos todo mundo, ora nos deixamos rou-
bar. Ouc velho hc cftco fogrodo outro triílc,bofc aísí
!

V lho, .como elic hc^antcs o cu comara quc o genro,


(

Xticcr Cífirjoi*

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cioso: *
izs
ve cílc mundo, que fc nao efpàhta,& vcida*
^ V< dciramcncc olhando bem codas as çouías por
Dcos criadasfazcm dircitamcntc feu oficio natural, fc
- nam o homem nos fos andamos fora dcllc, ainda a ra*

zam entre nos cam cega, ou cam trocada,quc a nao ver-


mos, ou quando nos parece, que a melhor fcguimos,cá
tam delia mais nos defuiamos,não fohia de ícr afsi Ícní
pre o dia derradeiro hc pior/Naqucllcs tempos bem a
uencurados quando cu naci (q bem fe podiam chamar
douro)andaua a coufa cm lua ordem natural, os moços
eram moços, os mancebos mancebos, os velhos, velhos
agora tudo ao rcucs.os moços homens, os mancebosvé
jhosjos velhos fam moços.E quando cu com fefenta a»
nos as cofias cam branco, taó calejado nas voltas dcfte
mundo, & com tanta expcriéda de fortuna me ccguey
meengancy,medifirahi,quc fc pode dizer, lenam q an
damos defacinados fem olhos, fem juyzo,ódc cuidei de;
.cafar húa fò filha q tinha, ali a fiz viuua,ôde cuidei de i
honrar a deshonrci,onde cuidei de a enr iqcer,& defea
çar a empobreci, & catiuei.O pcnfamécos vãos ceguei
ras defie mundo, que cuida q melhor ve, efie vai cego.

Avida que mais certas contas lança, efie cega,cííc fc cii


gaoa,efFc fe perde.Q^uc te farei minha filha, filha mi- t

nha, que te farcy, filha em que os meus olhos fc rcuiao


cm que as minhas cas defeançauão, como te tirareydç
-tamanho catiueiro, pragueja de mi,pidc de mi juftiça a
pcos,que eu te macei Yelho paruo , r ão fora melhor q
: ' nao

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COMEDIA DO
1 . _
4Í«m tkcras tu mais doí^ac^ prra ti buftjucí,^ rauflã

& fi juoíeifCfltr cgar junxamente «om a fazenda -aqacm


deftn*eaclla,& mata a ty.Nao dera eu agora quanta
4enho*& quato tinha jaorcc ver liurc por não ver os
•and aíos da vifinhanç3,d3s juftiças q cm ti fazem ,5c cç
brados dc tuamãy,& faas lagrimasA feus arrependi*.
irctosmagoados.Oh cobiça quanto podes, ne nos da*
defeanço ncftc mundo nem a gloria no outro, nem fei
3

que remediotenhu.Palauras boas,confolhos, amoefta-


çòcscocruaóao mais por onde oiruarci.Perdoc Dros
a Micer Iu lio. que fe ellc viuera,ou tu outro foras, os
nam viueras^Sc per doem c Deos,queme enganei com
lua amifade,& cõo nome de feu filho , quiferão meus
pecados que afã íofT^mas porque foírcfci o que fofr o
orquc não vingarei minha honra* & minha filha,nafli
Sa qtfi juftiça,não ha qui homês, tal feha àc conícntrt*,
vou me em loa bnfea , hcy de morrer cu tão magoado
»am queira Ocos,fegundo o que achar nclle afst o fa-
rcy. ú/.Peraque te virtude cíh pcdTadc errar amor,
onde onam ha. Ahmolhcrcs , que nunca vos acenam
que nam tomeis 8c que me fie eu da minha. f. Mis
, O
beylo ac o la vem, f»LSc me a que lia verdade falia, ntuv*
ca anel vi melhor empregado. f.
O
Q\jq pcnfàmco-
tos feram aquelfcs De os os melhore. JuLQom ai-
,

uoroço nam quis ir a cafa de Fabricio , nem o coração


me dauu cffc vaga r,qu is antes vir ver, como reecbv>
ri«qhoípí;de?nam íeyfc chegaria j<u
»

CIOS Or Yljr

fe/.Voü a que outro caminho toma. M.Daquicf-


cllc

tou feguro,5c depois me vircy fegurar dc toda a cafa,


mas heis outro demo,CV/.Iulio,Deos tc falue. W.Nant
pode homem fogir a forcunas.Deos ce falue.C/.Cofll
que rofto,ah meus peccados.U/.Virmeha quebrar a ci
beçi.como coftuma.CV/.Rogotc Iulio,que me queiras
ouuir hum pouco rçpoufadamente.W.Hum pouco te
ouuirci,ma$cftou deprefla. Ce/.Scmprc te acho conf|
cíTasprcíTas. W.Parccctc qhc de efpirico ociofo. (e(*

FoÍTc dc tua honra. I«/.Bem entras pera te ouuir muy?.


to.O/.Que hc iffo' UI. Nada. Fiquei affigurado,cuy-
dei que era o meu hofpcde. C tf Soccga,femprc andas
como aflbmbrado.IiJ.Macarmehiafe viefle aqui dar
comigo. Ce/. Eu luliojCpmo ja muytas vezes tc diíTe.
I«/.Baíhuaõ a$ ditas. Cf/.PorChriíHo, ainda que mais
obrigações oao ouuera,erá obrigado, como tu a mi, &
moftrarte nos teus erros fccrctos,quanto mais nos pú-
blicos, que efeandalizam ao mundo fopena de os fazer
meus na culpa, & pena. luL Auantc.Cf/X)ra tendote cu
por filho como aquclle,a quem eu por dar minha filha
aneguci a todos, como tu fabes.& tendote o amor que
tctenho que te parece que deuo fazer. I»/. O
que fazes
auendo porque. O/. Ainda mal, porque canto porque
bâ, porque os teus olhos andam cam fcguros,porque o
nam vem.W.guchamde ver os meus olhos. Cef. Oq
vem os dc todo o mundo. W.Scmprc mc ves com hus
caíos de mor te dçbo m eus. C'/ Mais gra uc s fo rap teus
.

R5 erros.

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COMtfDIA DO
crios.Iai.Muito grade bem mcqaercs,cuido que mè
poras na forca. C//*Ná he mais graue matares tua mo-
lhcr.I«/.Si.Cf/'.Pois, porque a matas tão fem caufa. W„
Masporqmc dizcsiflbtãfécaufaO/.Digaoa vifinba
ça,digaono os que o ouucm,& o que cu vejo.I«/.E o
q
cu faço das minhas portas a dentro ninguém o ouuc,
nem o íabc,lc otua filha nam palra.Cf/.Folego lhe das
tu pc^a ifíojfc o penfamenco lhe poderás tirar, també
o fizeras.IW.O que tu ves hc.Ce/.Qjjantas vezes to di
xe/IvhQuantas vezes tc rcfpondi.C/.Oh IuBo.IW.Oh
Ccfar.O/'. Quero difsimular. M.Sarn mais moço que;
ty.entcndo muito bem o que cumpre a minha honra,
& tua. Cr/] Como o cncendcSjOu ern que? Vw/.Tunam
tens,fenaò pelo que prcfuroes.Cf/.Eu prcíTumò o que
vejo.1v/.E naó pelo que veras adiantc.Cr/. Que hey dc
ver.l»/.OÍifo,& o rcpoufo,& a honefíidadc com qtua
filha fairà da forja quando for tempo.Cf/.E quando fç

ra efTe tcmpo,fc o ja nam for. W. Quando eu tiuer ra-


iam de m e fiar della.O<f,Sc a tu nam tens,ou tiucfie a*
tcquhnaómc parece que atcrasnunca.W.Sc a eti não
bei dc ter melhor do que ate qui teue, nam me parece
que a teras nunca.Cí/.Pacic ncia
de caía foi ella, cuja
q
filha hcjOndcfe criou pé rate tu não honrares muyca
delia cm todo o mudo. Ia/. Eu na medcshõro ategora,
masfegurome.Cr/.Como tefeguras hL Tues ainda
daqlle bom tempo,quandojugauã as molhereso Alco
jjapraça.C^.Por ifTq choro cu. UU Agora faõ oytros tc
”*'*"*'
'

ttgJtizettb^Google
'
cioso. ; lis
posCr/Tü os fazes, que fem pre os hofties honrados ho
r|o muito fuasmolhcrcs,& as tratam igualmcnce.M.

E eu que deshonro a minha. Cr/. No que cuidas que â
roais honras. /«/.Deque mancira.Cc/. Em dares falar
q
delia aos ociofos» /W.Como íe todos meus trabalhos fa
fcgurarlhe a fama cõtra a infamia.Cr/.Tu veras como
té cngaaas,nE queres tu, q dos tacs diremos prcííuma
grandes coufas.U/. Antes as prefumão, que as afirmar.
Eu não quçro que as prefumão, nem menos que as aja
não fabes quanto mais pode a opinião, que a verdade
& de que ves valerem tanto os roílos magros, & defu-
mados, & tampouco as faces lanadas, como Deos mao
da.U/.E nos andamos ao cuflume.Cr/ Sc tccífcYalcf
" fe no outro mundo, bem dizcs.I»/.Ora dizeme aquém
doe mais minha hóra a mi,ou a ti. Ce/, Pode fer q a mi.
iW.Mais me es tu logo do.q me eu fou.O/.E como f|
& por ifTo me cu mato,& por iflb fofro. W.Eu louuo-
res aDeos nã faõ doudo, nê paruo,& cõtétomc muyco
dc nieu íifo.O/.EíTa mercenosfez Dcos, repart ode
maneira q cada hüfecõtcnta. IW.Sã pera éíiuar todos
os velhos, e moços, & viucr cô fuasmolhcres./r/.Espc
ra tceíinarétodososmoçosa viuercó tuamolher,be
nã daras tu mais credito a cilas cãs tato tuasamigas,na
te parece
q fuy eu mãcebo,& q vi,& andei,& fiz,ná ía
bts tuqaaroifadede teu pay me obriga ami a eftcscó
fedcramétos.Ia/.Obrigoutc ati teu proueito.£V/.bé fç
"
'

u t;

K
; , -v

' R4
.. .

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COMEDIA DO
I ttl. mc enganáfífe, eu infpòrtutícite íificíÊ
Pois pofquc
Cí/.Tu me cnganaflc,tü me dcftrüifte, tu mc foubafte
Im/.E tu agaílafte.Cf/.Não mc agafto,qfc mc agaflara
jacílíucradefagaftadojmaslembrame qtcnhoa culpa
& com iíTomc componho, lul. Çuertstu Ccfar, què
deixe cu andar tua filha pelas praças,& pelos banquei-
ros, &quc me encerre eu emcafa.C ef.Que eftrcmos de
bom fiío.Iwi.Pois minha molher a pefar de todo oitu
do hade viucr a roeu modo.Cí/lPois cu fou Micer Ce
far,que ainda tenho nome, Sc vida,& em quãto a tiuer
fmnha filha ha de fer outra. I«/.Ora nom mais ifio v®
delli,a caía iremos. Ctf, Se hc Iiure,que viua liurc/e he
companheira que nao feja eferaua ,
Sc peor q cícraua,
pera que fez Deos ajuftiça no m undo fc nao pera bem
dos bons,& mal dos maos, W.Es velho nam te refpon-
do. Cf/.Áfsi velho fe outras forças mc nam atalhara aís
minhas,masefiamosnarua. Ul. Eu tenho mais poder;
fobre tua filha que ty,& heide fazer delia o que quifer
prefajCatíua^ etida em ferroS.Cf/. Quebrado he ó
folgo muito, porque me corria do que paífaua, minha
filha vira para minha cafa,antcsdc oito diasfc cu viuo
JuLifío ganharas tucom todos eíTcs teus fcros,nãoey
*u de tapara boca a e(lc velho, que nunca me deixa,an
do por mc honrar, & tirar fua filha de infamia ( como
‘todo bom,& prudente deuc fazer) nam qncrfcnSoar
rancarme os olhos nam he ja dcjlcs, ainda agora 0 aca-
bcy dc conhecer, femprç ate qui me fallou poi outro
'
.modo
'
C J O s o. n§
ffcodo tant braodo.A fenhoxa fua filha lhe dcü aquclfe

esforço, nao me tentem ambos com algõa doudíce, afí


tiha cu quebrarei o banco, & darei, comigo em chiprc
Velhos babofos,que tornao a cngatinhar,náo faó ja pc
ra fazerem diflferença entre bcre,& mal, & querem ha
pcíar detodolos diabos que tomeis feus cõfclhos, ifio
me fazainda defeonfiar mais da filha de hum homem,
que canta liberdade deu a fua molhe r. Efe os cornos
faiíTem pera fora quantos fariam o que cu faço.

Saefe Ctfar. Entra *Arhlio.

Vado,& trcíTuado,ando,& oao no poflo defcubrif,’

S nam me ha de cfcapar./#/.Qjje aprcíTadohe


pois
cfteí^rí/.O melhor que tenho he que clle nao me eo
flhccencm me vio,& não me ha de fugir.Iw/.Voumca
Cafa, antes que dem comigo. jird.Hc clleaquellc que

vay pera cafa, aquelle he,ditofo fuy, aferro oclle antes


quefe niccntrc.W.Çucm correaposmi._/r^.Ohfc*
nhor.l»/.^ue mandas. A^- A ti bufcaua.W. A mi, aqui
mctCDS. vírí/.NãoestuofeahorMicer Iulio I»/.Afsi
•me chamão,& cujo es tu. Aná.Daqucllc mancebo Ef-
•panhol.quc lhcojefallou. Ul. que fifo o meu, zombo
contigo, não fou quem cuidas, Como nam. \»L
Em afrontame vejo. ^rd.Nao te vi eu agora no por
tól hl. A mi. A>J.E te deu meu fenhor htia carta* i*L
que carta.^/ífí/.Ohque gMça*/»/.De que tcfis
, — >íáo

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;

COMEDIA DO r

•Hão te deu húa carta de Genoua.


nardo Portuguez. Jul.Quç Bernardo que Portuguez?
A rd. De teu am igo Benedito, hl. Não fabes com que
falas, em toda minha vida fuy a Gmoua» fam perdido,
fc me não nego. Ar^.Zombas. hl. De qoemeide zom
bar.A^d.Sc foftc a Genoua, não o fcy, mas Benedito nú
caoviílc? hl. Que Benedito. yf»-d.Ohdcfaucrgonha-
mento de homem. I«/.Mancebo ve fc bufeas alguém q
cu faiba cncaminlurtecj? Ard. A quem me has de enca
minharje me negas quem bufco.lí#/.0ué bufeas. Ar d,
A ti bufco?IW.gúem fam cu.^A^.Eu ccqueimarci ho
fanguc,não es tu o fenhor Micer Iulio Vcnezcano.IW„-
Paffb náo brades. Ard.Quç, poufi àqui neíhs cafa S/bfl.
Que ha%digo qne não. Ar^.Naô ppufas aquiAt»/.Co~
mo o fabes. Ar- i. Porque ja aqui andei, bé de diaSj& tc
conhtço.Iw/.Como me conheces, fe te cu núca vi. A rd.
Auiatc eu de ver com cs meus olhos, ou c5 os teus luL
Nunca me vifte.Ar^. Não me hasafsi de eícapar gero
de Micer Cciar.W.Nâo grites. Ar J.E caiado com fua
filha.lí#/,£ue farei. Ar d. Am igo de Benedito. W.7 u es
doudo. Ar</.Aondc tcvaz.b/.^ue me queres.Ar</.Por
jque te negas. Se o has por Bernardo, ja tem poufada*
).<*}* V;.y ora bjfcar quem bufeas, & deixa me. A rd.
Acíumtc a ty cm dous lugarcs.Jw/.^uc defaflre tama-
rsho.eftou corrido, nam fcy que faça. Ar d. De manei-
ra que tu dizes, ôc affirmas, & confeíías publicamente
neíh rua,ncfta rua publica, que nam cs Micer Iulio.

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^
Google
cioso: v» f
ijó
*
t
MDlgoqüc tc nam conhcço & quenunqua tc ví, v
8c

que nam fei quem es?ArJ.Verdadeiramcnte eu jurará


que eras elle,mas querote antes crer , que aos meus o-
lhos,I»/.Nam tc cfpantes,muytas vezes fe enganam os
olhos. ArJ. Nurçca vi leite mais fcmclhado aleite do
que tu es cem elle. IW.-Se eu fora porque me negara,
Arí/.Tu o faberas.pois conhecclo?I»l.Ia o ouui nome-
ar. A rd, Não mc parece que pode auer mais ruim ho-

mem no mundo.k/.Náo praguejes dos aufentes ArJ.


Hcymc de vingar, por juftiça o auiao de lançar de Vc»
nczi, porque a infama. I»/. E porque, Art/.Miccr Cc-
far velho taóparuo ,
qucfuafilha lhe deu com cllc.

mal dos homens de bem.


1

1*1. Fazes mal dc filiar

ts4rJ. Chamas a Iulio homem debem. Iul Pera i f-


fo ho bufcauas. Nam fcyhaquem chamaras
homem dc mal tam coytado,& tam mifero. Iul. que
tc fez? A rd. Que foge aos homens ,
porque o vè ne-
nhum homem. /«/.Coytado dc mi, como me ircy def-
tc. A rd. Efpantome , como efta nobre cidade tal

confente ,
mandemlhe tomar a molher, & demnai
ha quem ha merece. \ul Mancebo meu cofíuire hcí
^vam ouuir praguejar dc quem o merece quanto ,

nuisde quem onam Ard.Nam dizes tu, que


rrsercee.

onam conheces. Iw/.Conhcçoopor bom homem , (k


fefudo. A rd. Não o conheces. Iul. Como nam. A rd.
Ahumciofomabucnturado, defeonfudoque ma.ny
yiza a molher de dia,& dc noyte chamas bò? & lèfudo-,
‘ ~
-rr '"'"hi, •

* -
v'

.
- \

- Digitized by Google
COMEDIA DO
I*/.Ia pode fcr,c]uc o
fcrà mais que todos. Jtr j.Ia po

dc fcr,quc fua molhcr,tal não fora.I#/. £?uc fora. rd. A


Deos o fabc,naõ vè o paruo,quc oque fc mais guarda
maisfedefcja. I»/,Vay bufcar quem te ouça, ondas fe
. me vam,ondasfe mevcm, mas melhor be ja diísimular
ate o cabo.^r/Pois fe o cu conheces, & o vires, dize-
Ihc que Bendito lhe manda por aquclle feu amigo dc ,

quem ellçfogio certas peíTas. UI. Pefifas, quc pefLsf


^Ard. Que o bufquc quanto clie bufeou, & lhas darà.
LJ.Como as aucrci.Ard. Aindâ q merecera negarlhas,
como fc lhe ellc negou. lul. Dizeme oqucheperalho
faber dizer. Ani.Là vira na carta. /«/.Fui tam paruo,
q
a nam acabei de ler. Ard.Mãs cila foy cicripta deprcA
fa,ju pode fer,quc as confiaria Benedito de meu ,an?o.
I«/.E ellc nam lhas dara. Arí/.Qnde,oq como, fc o clle
nam vc,ncm o acha.I«/.De homem de bem hedarboa
çontadas encomendas. Ar d. Por amor dc Benedito o
farà clle,qut aquclloutro outra coufa lhe merece. luL
Desbocado cs. An/.E$lhe cu algin coufa. I»/. Amigo
Ar d Como cs amigo dc tal homem. I«/.Ia me arrepen
do da difsimulução. Ar^.MatoOjferuelhe ofangue, W.
Kaõ folgara ellc de íaber ifto. Ar d, Afsi to digo peraq
lho nam digas, nem he bem, pois me confio dc ry,nain
me dirás ondepoufa.Ia/.gucresqueodefcubraa feus
imigos.A/J.que imigos. I«/.Tu,&tcuamo.ArJ.Mal
o fabes ainda. W.Qjjem o também praguejarão fey
que bem lhe quererá .jt r^Qüe m quer que o cambem
pra«

• Digitized by Google
a

i*f
^ 1
* n r

fci qiic bemtoerece. f»7.Efíe teoatRb


tmdepoufã. A«j*N^t*>qt!cro dizer, büFqt^b.W.0.

Ta í&&$fliôyA?rá.€/ftã mortonsofabeque diga.Ia/.ifio


çie parece melhor ,cltc mm
hc agopa aqui, pode man-
dar o que quer, que he a cafa de Fabiicio Coíonia, ta5
fegupòcomo a fua. Árd-Ba m recado he «flfeqaem fe
ncgaaíymefmomelhorBcgaraomais. Se o cllccrn
pcHoa naó receber pcr^tcteficm unhas, & com cfiro
mento publico, nam faça tonta dc aada.fw/.Efe Fabri
cio fizer tudo iíTo. Ard.Nâofci que meu fenhor qucrO
ra fazer/alemlhe,®: rcfponde ra^/.Tens ra 2 am. A>/.
E porque te fui algum tanto importuno aconfelhotè
que lhe ruo falem fem tabalião,# tcfiemunb£sprcfe
ccs.W.Euto agradeço, &po!aamifadeqite com efie tb
nho,o negociarei. A ri.Não fe de tenha nfmtto,que noi
«fiamos decaminho.Iw/.Logofera feito, que defafire
tamanhojmascrcoque Ibefizcrerquc naoera cu.Voit
tne a cafa dc Fabricio daríbe conta,porque fc não per*
caomeu.Afsi,afsicançarav°mocutanecf,accngafíat
tcbão,como nosenganaficCom que parüo fe tomaua,
mais rapofas cenho mortasnefie mondo do que cuidai
hc coufa ifio para fc por cm comedia. Quem me dera,
que vosouuira Bernardo, porque tnettSo ha dccrer.
Mas pois fe el!cfoy,nam heyde deixar dé apalpar b*
poi ta a entrada, eu enxergtiey lagrimas na velha, podè
ícr que a nu ví fia obrigue a algum defmanCho. Lmfo
iWpcaquis mJ a Bernardo , mas Ccmcofe de feu p y, 3

vazam

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,
COMEDIA DO *
^ãzãih tem agora perafe vingir. Toda ?ia tiiclhor fç»
tàfcguil ohum poucoaverfe torna do caminhOipor-
cjiíe faça meu ídto mais feguro, & tomarcy cffc gofio

por mantimento, . -

... ,
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* r, *i » . r ''
Y •
t , %

i

Entra OBáuU wdnctbts imbos.

f I ^A M chcos de Veneza andauao os meus olhos que


-*•
aeadapaíTadaa vião,5e com ifto defcançauáo,&
'
!

jBgora de a verem, çhora'tp,& cançam,0#.Nam te en-


tregues a cííes pcnfamentos.quc ellcs fc cfèsfarão per
fí.2?er».Nam fc y,tam viua trago eu a alma cm Liuia q
cm quanto viucr a heldc achar fempre nclía,O^.Leni
prete que a tem morta, & moTrera tair.bé em t.i*B?f«r«
Mas iíTo hc o q a faz cm íi mais viua ; com cíTa magoa
nlo podem os meus olhos. 08 . Efta ja tal
q tc aborre-
cera r#.Nam pode fcr,que com afua alma,
fe a vires.B.

andauacudc amores. ütf.Com a fua alma. Brrw.Eípá-


tafte.9tf.Nam queres que me eípancedamorcstaõ no
uos.Brr«.Pois crc,que obom amor & efte he fo dos f

homens.Otf. Quanto eu não me namoro, fenam dc bu


corpo bem fcito,& de hús olhos gracioíos. B rw. IfTo
nam fam amores, mas de leite dc amor. 08 E tu que .

querias dc íua alma. B;r» Honra, riquefa, contcntamé


to.Otf.Tudo iíTo vias nella.Btr». Tudo. 08 Ecomo .

Bírfl.Com os meus olhos nos fcus,sg£)rafabesqiiç a-


li fe vem as almas, ôc fè falkm. 08. Pouco tc ^ara lo-
go

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cioso: 0 - *

gb da prifam do corpo. Bern. Mas damè pòr fcr cor-


po daquella alma.Off.Eu cc dou dc boamente codas as
almas dc quantas molhcresa no mirado, & damc tuos
feuscorp&ç.B;’r 0 .Os teus penfamenros fam diífcrétcs
dos meus. 0#.Nam fcyfcrtam efpiritual.Srr «.Claro»
cfta,quc quem quer bem, nam quer mal aos olhos que
o affciçoam,.roas quem bem o fabe querer T o delevTC
poem a hüi parte & o verdadeiro contentamento i
,

outra que fe ifto nam ouuefie, pouca firmeza medarias


ros matrimônios. 08. Ainda cu queres maís poucas. „

Bo-«.E de que vcm.Qií.l uo dize. Bfra.Dc lhe enfada?


rem os corpos, & aborrecerem asaJmas.E eu a Liuiat

bufcaua mais honra que appetite. 08. guanco darias


pola ver. Brrw.E pcra qüe. Otf.Todauta. Bírn.Frrat
quc.Otf. Par riras com eíTc gofto.#<?r».Maspartirà'ca<
pnodcígoflo. 08. E ! Ia fe algum bem te quis ficari#

pnagoada dc feu erro. B rw.Por ambas cfiasrazóes *


pam veria. 08. Bem lhe queres. Rr* Voumcpcr»
que lhe hey de lcmbrar,nem ella a mi,fiquc viua, def>‘
eancc.Dcoslhc mude afu-a ma ventura cm oucra boa*.
08. Paííaspor efia rua,como quefe a nam conheces.
Bf rn. Nam me lcmbrara^fe mo nao diíTeras, ,0#X»
ÍRihcccsefrasjancHáS. cafas,oh janillas , ran»
continuadas nos meus olhos- tam imaginada»
,

iminhaainu. 08. Finge que aves r como fo^j


a?
'Btm. Oucra gr aça lhe achaua citccrco* comoutr
0
poroso as via*
' ‘
J

o&.

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»

, ,
COMEDIA DO
0#.Tq çaiJasqucf o^fa ahi*Bír».Poisondc? Ctf.Vs-
ironos auaiwe,vc*aqui o caflello^ro qatuaLiuia t fta.

Bem. Aqui. QB. Aqui, 2*r#.Aqui cftaLiuia.Otf.Aqui


çí&2?èr».Tero cftas cafas pera traz alguns jardins, ou
quintacs?0#iTinba>& dcsfizcraofe* Tem. E porque?
OB. E huasircftas> & japcUãs,qutncIlas cahiatn capara
fc.B.rw.Q^ucroinalatodacíía vifinhança, OB. Que
queres que fai(jatn?B#r»*Coroo que façaó.c»! coufa cof
*umai$vosoucros,antesas molhcrcs fam aqui roais li-
uresque os homens. QB. Na verdade ifto ic eftranha
rouyco.B ír;*Como fç eftranha poisfcfofre.O minha,
Liuianeflçcatiueirocflastu, quaro mal refpondeoa;
fortunaao$ceusmcrecimcotos.C#.Tambeaia hi mo
lheres queíabes tuoquc feu marido achou nclU,C^.lhc"
enxergou ajgüas l3griroas > algú$fo(piros,& al&üs fioa;
cs de de fgofto,5c arrependi mento* qurjlhe deflVcau-
fa a iftoB^H.Nam a hi cauíã pera, iílarU&Dcfapaxof
nado cs.Brr*.Qu a mate, ou a,)$fr-a* QB. Tam bee/Tesi
fam bons cftrcrooSyBfrfl.Naro he,inejhtor que dírlhet
peor viJa que a mcfnia mprcc.C&Tcmerfcade aJgut
as íofpcicas.B narn queres qiur-todo ahome pr/o 1

çipalnvcptc os quecafaó coro fermoías dezejadas der


ip uitos faç* m conta con figo, que podia ella«m algnj»;
tempo dt fejar ourro, Otf.Quc qucrcscjfaçodeíTacoiii
ta,B rn-Qsdçtarojípucoraberjàctaobíiixos eípiritost
o fárapjOUf o homem prudente ha de fercamcofifi*.-
do quando cafa , que querendo dante maóaoqucfe
pode

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'

. CIOS O. .

podtf prçfumir pera que depoislhe nàm fc ja nouo,cõ


fie que fua pcííoa pode fazer cfqucccr tudo. P#. Quan-
muyro cuidar, que aos olhos dti
to a mi cnfadarmehia
minha molher podiam ja outros parecer melhor que ,

os meus.Bír».Nam tcDsrazam.Otf.Naõ.#fr»;Asma
lheres faó de pao,ou de pedra namfentero,nam goftíy.
nam tem òlbos.nam fc aflfeiçoam. 0$. Antes por mais
fraC35,&mais affeiçoadasnã fofreria eu fofpeka.Bír»*
Eor tOoíc tu táodifereto ,;qoc fcneJlaconhccesxflTá
affeiçam cam viua,ouc$'tão desconfiado, que tc pode
dar ma yida a deixes, & bufqucs outra. Otf.Ero amo-
res medas tu efle vagar. B«'».E qres fe tcclles cegam
Cc formão hua vontade liurc,yingarte cm quem te não
tem;C«lp3.0#.£ucrrmcdio.2Lír». Q^uc com mimos
Scbranduras a aíFeiçecs,& nam com ufperezas, & deí
confianças. Otf. Oh que a molher, ou ama, ou auorre*
çe. Ber».
Sy,mas ante$,quecaya ncífcscftremos; paíía
&
pormuytas obrigações, a húa affeiçam deolhos fo-
mente nam os gcra,dc maneira que com feumaridoá
nam pcrca.6#. Mofina Liuia quem te prcndeo.Br».
Ella cítara mais rica, mas certo que cfíiuera mais con-
tente. Otf.Todauia ve jamola.B-rw.Nam pode fer, que
por feu perigo o nam tentaria, üftr Pera tudo ha hi rc
mcdio.Bfra.Como lc pode entrar forta Lczatão guar
dada. ütf.Coma vonrade.Br»».Edequcm. Otf.Dc
Liuia. Be/-». (?uam mal IuÜo crera iíTo, que cuyda
qqc os olhos fara os que pcccam • E como a verem osj*
' -

•< S Oft.

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'

COMEDIA DO
Ofl.Com tc ver, ou fabcr dctua vihda. Bem. EfpérS'
àfsi.O#*£Hichc iflb? Bern. He aquellc Ardelio que de

la fue.O#.Ardelio he. Btrn. Aqucllc? lefusquecoufa


he efta. ^rJ.Oh fortuna cruel, Si ma que fem razoes
fam as tuas.OíhCbam emolo. Ber». Arde lio. yírJ. Ah
<

fenhor.O#.Qucm tc mctconcflacafa. Arí/.Mercceo*


triumphar oje.Ber».De qiu?Ar</.Se foubefles minhas
auenturas. B^n.Dizc por tua vida. A rd. Melhor ferà
cm cafa,q cu na comi oje,& a hiftoria qucrvagar.O#«;
Tem razão. 2fr?».VarnosIogo;
'

jlC T0 ' 1IL


!

SCENA, li ' - <

Fúuíluu (ntefá. (larttamtç*.


TA Diasqtantoa minha vontade me não lau ely&ca
dCV feitei como agora.Ciar.Sc te o amor laua,& cü- 1

feita,nã queres íer diferentedo q dantes eras. Ei »/í Dl


zes verdadc,aos olhos fos de meu Odtauio me efeito.
C/<í. Ditofosolhos,qpodcrã ler teus cfpelh 0s.F4 ii.Ora

olhaClarcta por tua vida,fc vesémi algu dcfcócerto, ;

na lhe qria parecer mal é nada.C/^.Pois por nã fer tão


pcchofa,ná feria namorada. F*«. Namorada nã, não fi»
brsoq perdes Béaucnturadasas cafadas,q vfão defica
ÍBior lia. paméce.C/u.Deixao logo pcraclbs.qtêfuAvi
da fegura, mas tu q viucsdocomú, porq te fazes parti
cular a hú fo.Fa».Porq,parccete mal.C/a. Antes me cf
pato de ti cairesetjmanhoenro,qira Dcosq na venhas
cair na cõta,a tepo
q te nã prcíle.Éi».Comodizes iíío.

C/-5.Eng.inifte Fiuítina cuidado,


q o as de ter fépre íç-<

guco,& ccrco,dcix40 éfadar,& vçras.F*» JíTo qres cu,


i o s o:
!

, qeucfpéfédequeme tato amor moflrã.C/d.AyjComp


rs paruoa,nã cc lébra quãdo tu roubafte o outro c5 a-
jnorcsfalfos,&lagrimasfingídas.F<< 0 .Eaqpropofitp
CAí. Como nãoçuidaras agora, q as finge cãbé por tu
Vau. A verdade hc tá fçnhora q logcfo dcfcobrc.C/ar*
Mais fenhora he a métira,q a láç3 fora cada vez
q qcj
Eu nã fei q tu achas a cftc Odhuio.F*». Sc o tu féci/Tes
me culparias, C/a.q te ná deua parecer melhoro ru
jtiã

bi dc IuIio,& a cadea dcPatricio.Fj«.0 Clarcta,q iffo


he ouro,q ná farta a alma, o outro hc feu mãtimento*,.
Ck.Pois cu prometilhe a noitc,& eyo dc cííprir.Eta2
Nã qria.C/j.q cotas fã as tuas Fauíhna dcfprczares toW
<Jos por eftc,quãdo te cllc deixar, como teras os outros
Ew.ElIes mc bufcara.Çia.NcfTacofiança viues, como
fe outra nã outiefle dç tacs olhos,c taes cabelos, F^.Ea

carcccrmceu tato, me fara mais dezejada.C/rf.Mas ea


careccfte táco,q ey medo q tc nã vedas. Fda.Naca falcf
.ce hú mais apetitofo q pague pelos outros. CA*.E cjres
perder tá b5 bocado. Fjw.Mas qres q faça efia creiçã a
0<5tauio.C/<. Ay mài,& Oóhuio hc teu marido, deixa
fneqeu darei maneira cò qo nã fofpcitc.Faft.La tc auc
olha o pcgo,ondc,& e q mc mctcs.C/*. Mais perigofo
ferà 0 da velhice pobre, coitadas dc nòs,fena fomos co
mo as formigas, q encouã no vera para comer o inuer
tio.Fai» Eftamc be cíta faia.C/*. A graça he o q luftra,q
o pano nã.Fá«.HübocõccrtQ muito offciçoa.C/*. As
ferjnofasquãcptais chãs mais fcnnofas,Fa#.Cheirotc
• *
COMEDIA DO
\uU Pois porque mc enganáffe, eu ím portuTicitenêcaC
Cí/.Tu me cnganaftc,tü me dcílrüifíe, tu mc roubafte
Itt/.E tu agaftafte.Cr/.Não mc agafto,qfe mc agaftara
ja cftiuera dcfagaftado,raas Icmbrarnc qtenho a culpa
& com iífo mc còmponho. I ul. Çucres tu Ccfar, què
deixe cu andar tua filha pelas praças,
& pelos banquey-
ros,5cque mc encerre cu emcafa.O/^ue efiremos de .

bom fifo.UI.Pois minha molher a pefar de todo o mu


do hade viucr a roeu modo.O/iPois cu fou Micer Ce
far,que ainda tenho nome, 5c vida, 5c em quãto a tiuer
minha filha ha de íer outra. I»/.Oranom mais iflo ve

delia, a cafa ircmos.C tf.St hc íiure,que viua liure/e he


companheira que nao feja eferaua ,
5c peor q eferaua,
pera que fez Dcos ajuftiça nomundo fc não pera bem
dos bons,5c mal dos maos, W.Es velho nam te refpon-
do. O/.Àfsi velho fe outras forças mc nam atalhara as
minhas^aseítamosnarua. I»/. Eu tenho mais poder
fobre tua filha que ty,ôchcide fazer delia o que quifer
prcfa,catíua, metida em ferros.O/. Çucbrado he ó fiq,

folgo muitOjporqtic mecorria do qtic paífaua, minha


filha vira para minha cafa,antcsdcoitodiasfccuviuO
Jul.ifío ganharas tu com todos eíícs teus fcros,nãoey
iéu de tapar a boca a eflc velho, que nunca me deixa, an
do por mc honrar, 5c tirar íua filha de infamia ( como
todo bom, ôc prudente deue fazer) nam querfenãoar
rancarme os olhos nam he ja deífes, ainda agora o aca-
|?ey dc conhecer, fempre atequi me foliou poi outro
.modo
' CÍOSO. n§
fhoáo brando. A fen hora fua filha Ihcdeu aquclfc
tanl

esforço, naó me tentem amboscom algõa doudicc, afi


nha cu quebrarei o banco, & darei, comigo em chiprc
Velhos babofos,que tornao a engatinhar, nã o faó ja pc
ra fazerem differença entre bern,& mal, querem ha &
pcíar detodolos diabos que tomeis fens còfclhos, ifto
me faz ainda deíconfiar mais da filha de hum homem,
que tanta liberdade deu a fua molher. E fc os cornos
faiíícm pera fora quantos fariam o que cu faço.

Saefe Qtfár, Entrt *Ardtlio,

Vado,& trcífuado,ando,& não no poflo defcubríf,’


S pois nam me ha de cfcapar.V»/.Q_ue aprcíTadohe
cfte?^r</.0 melhor que tenho hc que clle não me co
flhccencm me vio,& nãomehadefugirlw/.Voumca
Cafa,antcsque dem comigo.^r/Hecllcaqucllequc
vay pera cafa,aquelle he,ditofo fuy, aferro nelle antes
que fe me entre. W.£)ucm correapos m.yírd.Oh fc*
nhor.I»/.gue mandas. A'</. A ti bufcaua.I»/. A mi, aqui
me tCDS. yi rd Não es tu o feahor Mícct Iulio
, W.Afsi
-me chamão,& cujo es tu. Ar^.Daquclle mancebo Ef-
•panhol,quc lhe oje fallou. Ul. que íifo o meu, zombo
contigo, não fou quem cuidas, ^rd Como nam,
, I«/.

Em affontame vcjo.^/írd.Não te vi cu agora no por


to?MAmi.A*J.Ete deu meu fenhor húa carta. I#/.

que carta. ^rí/.OI>que gMça./»/.De que


* ' .
Não *•

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,
COMEDIA DO
•Kaorc deu hüa carta de Gcnoua. W.£uéim,^r./.Bér
nardo Portuguez. /vl.Quç Bernardo que Portuguesa? i

SrL Dc teu amigo Benedito, hl. NHufabes com que


falas, cri) toda minha vida Fuy a Gmoua» fam perdido,

fc me não nego. Arí/.Zombas. hl. De quem cide zom

bar. A^d.Sc foftc a Genoua,não o fcy,mas Benedito nú


caoviftc? hl. Que Benedito. ^'íi.Ohdcfaucrgonha-
mento dc homem. IW.Mancebo ve fc buícas algucm q
eu faiba cncaminhartcci? Ard. A quem roc has de enca
minhar,Te me negas quem bulco.Iy/.Québufcas.Ard.
A ti bufcorl/i/.Qüctn fam eu^Ard.Eu cc queimarei ho
fangdc,iuo es tu o fenhor Miccr Iulio Vcnezcano.I»/.-
PaíFb náo brades. hrd.Què poufi áqui neftss cafa$,V#/.
£ueha',digoquenão.Ard.Naó poufa$aqui?U/.Co~
moofabcs.Arj.Porqucjaaquiandci, bédcdiaSj& tc
conheço.Iw/.Como nic conheces, Fe te cu núca vi. Ard-
Auiatc eu dc ver com cs meus olhos, ou cò os teus hl.
Kunca me vide. ArJ. Não mc has afsi dc eícapar gero
de Miccr Cci ar. W.Nào grites. ArJ.E caiado com fua
filha.Ia/.£ue farei. Àr*/. Amigo dc Benedito. l«J. 7 u cs
doudo. Ard. Aonde tcvaz.lW.^uc me queres.A^.Por
jque te negas. Se o has por Bernardo, ja tem poufada*
hl V;.y ora bufear quem bufeas, & deixame. ArJ.
Achajr.tc a ty cm dous lugarcs.Iw/.Qjc dcfaflre tama-
nho, eftou corrido, nam fey que faça. A rd. De manci-
raque tu dizes, &affirma$,& confefías publicamente
gcfta t;ua,nçfta rua publica , que nam cs Micer Iulio.

• '
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cios o: i jó
Irf/.Digoqüé tc nara conheço, & quenunqua te ví, êi
que nam fei quem cs?Ari.Verdadeiramcnteeu jurará
que eras clle,mas querote antes crer que aos meus o-
,

lhos,l»/.Nam tc cfpances,muytas vezes fc enganam os


olhos. Ari. Nutjca vi leite mais femelhado aleite do
que tu es com eile. I»/.Sc eu fora porque me negara.
Ári.T u o íaberas.pois conhecelo? W.Ia o omii nome*
A rd. Não mc parece que pode aucr mais ruim ho*
ar.

mem no tmmdo.M.Nâo praguejes dosaufentes A rL


Heymc de vingar,por juftiça o auião dc lançar de Vo
nczi, porque a infama. W. E porque, Ari.Miccr Ce-
far velho taóparuo ,
quefua filha lhe deu com cllc.’

I»I. Fazes mal demal dos homens dc bem.'


foliar

«yíri. Chamasa lulio homem debem. /«/. Pera if-

fo ho buícauas. ^
ri. Nam fcy ha quem chamaras

homem dc mal tam coytado,& tam mifero. \ul. que


tc fez?Ar i. Que foge aos homens , porque ove m>
nhum homem. /ff/.Coytadodc mi, como me irey def-
tc. Ari. Efpantomc , como eíla nobre cidade tal

confente mandemlhe tomar a molher, & demna


,

ha quem hafnerccc. W. Mancebo meu coflume hd


$iam ouuir praguejar dc quem 0 merece quanto ,

fnaisde quem onam merece. Ari.Nam dizestu,que


onam conheces. W.Conhcçoo por bom homem, &
fefudo. Ari. Não o conheces. I#/. Como nam. hrd.
Ahum ciofomabucnturado, dcfconfiadoqne marty
dc noytc dumas bõ & fefudo-,
% iza a moihcr de dia,&~~
" ?

H
'

- Digitized by Google
i

COMEDIA OO
Jjij.Ia pode fer, que o ferà mais que todos. JfL Iapo-?
de fcr,que fua molhcr,tal não fora.IW. £?uc fora. Ar li
Deos o fabc,naò vè o paruo,quc oque fc m ais guarda
maisfedefeja. I«/.Vay bufear quem te ouça, ondas fe
; mc vam, ondas fc m evcm,mas melhor be ja diísimular
ate o cabo. yird Pois fe o cu conheces, & o vires, dize-
.

lhe que Bendito lhe manda por aquelle feu amigo de ,

quem ellçfogio certas peíías. I»/. Peflas, quc peflasf


[yírd. Que o bufquc quanto ellc bufeou, & lhas darà.
W.Como as aucrci.Ard. Ainda cj merecera negarlhas,
como fc lhe ellc negou. I ui. Dizemeoquche pera lho
faber dizcr.A^.Là vira na carta. /«/.Fui tam paruo, q
a nam acabei dc ler. Ar^/.Mas cila foy cicripta depreA
fa,ja as confiaria Benedito dc meu .amo*
pode fer,quc
lul.E nam lhas dara. Ar d. Onde, ou como, fc o clie
ellc

nam ve, nem o acha.W.De homem de bem he darboa


contadas encomendas. A rd. Por amor dc Benedito o
farà clle,que aquelloutro outra coufa lhe merece. h*L
Desbocado cs. Ar<i.Eslhe tu algfn coufa. W. Amigo
Ard Como cs amigo de tal homem. I»/.Ia mearrepen
do da difsimiilução. Ar^.Matoo,feruelhe ofangue, W.
Naõ folgara eile dc faber ifto. Ar</. Afsi to digo peraq
lho nam digas,nem he bem, pois me confio
dc ty,nam
me onde poufa.l«/.£ucrcsque odefeubra a feus
dirás
imigos.ArJ.que imigos. I«/.Tu,& teu amo. Ari. Mal
ofabesainda.W.QjJcm o tambem pragueja,não fey
que bem lhe qucrefa.^r^.Quc© quer que oumbem
pra«

^ ’ • Digitized by.Google J
J O $ Òr J?I
* 1

que bemtaéréê*. IW. IBfFe tcuaroo


Cri

tmdepoufã. AriéNaôt&qacro ífiièr, buPqUcb.IW.O-


<4 to&Sflãb.iW.Efta OTOrconsofabequC diga.IW.iftè
çic parece melhor % ellc nam he agopo aqui, pode man-
dar o que quer, que he a cafa de Fabiicio Colonia, Caô
m
fegurbeotnt) a fua. Ari Bô recado he eflfe quem fc
negaa mefrno melhor negara ornais. Se o cllecru
(y
pcíToa naõ receber pcratitcteficm unhas, com efiro &
mento publico, nam faça conta de aada.lW.E fe Fabrí
cio fizer tudo iíto. Ar4.Naofci que meu fenhor queré
ra fazer,falcmlhe > &
rcfpondera^W.Tens razatn.
E porque te fui algum tanto importuno aconfeíhotè
que lhe nãofalem fem tabalião,Í: tcfiemonh^sprefiríi

<es.lW.Euto agradeço, &polaamifadeque com efte tè


nho,o negociarei. A ri.Não fe detenha muito, que nofc
«fiamos de caminho.ltf/.Logo fera feito, que defafirè
tamatahojmascreoquc lbcfizcrer que não era cu.Voií
Hie a cafa de Fabricio daríhe conta,porque fc não per-
ca o meu. AÍsi,afsI cançaras^orcocu Canccf,&enganat
tehao,comonosenganaficcom queparuofe toroaua,
m a is r apofas tc nho m or tas ué fic m tm do do que cuidai

he coufa ifio para fc por ctncomedk. Quero taedera*


que vos ouuir a Bernardo, porque mçttão ha decrer.
Mas pois íe elícfoyyiam Heyde deixar dt apafpar ha
poi ta a entrada, eu enxergucy lagrimas na velha, podt
fer que a mâ vífia obrigue a algum dcffnancho. Lnnâ
tiupca quis mal a Befnardò ,
mas fcmcòfe de feu pay,
«azam
COMEDIA DO
fíãzafatem agora pera fc vingâr. Toda víatfcelhor fe-
ràfcguil ohum poucoavcríe torna do ca.minhOipor-
qüe faça meu ídto roais fcguró, & coraafey cftcgoflo
por mantimento. - • •

... .

.

M .
-
. . . .» .
v •;••••
••
...

Entra 'BcrnArcíot & OBâuU ntúnctbts imbtsl

*
8
(
A M chcos de Veneza andauão os meus olhos qué
I aeadapaíladaa vião,& com ifto defcançauão,&
pgora de a v'erem,çhoram,& cançam,0#.Nam te en-
tregues a efies penfamcntos.que elles fe desfarão per
íi.2?m>.Namfcy*tarn viua trago cu aalmacro Liuiaq
cm quanto viuer a beide achar fempre nclía,9<?.Leni
brete que a tem morta, & morrera cambe emti.B^w*
Mas iíTo hc oq a fazem li mais viua ,* com eíla magoa
nao podem os meus olhos. OB . Efta ja tal
q tc aborre*
cera vires.Bcr#.Nam pode fer,que com afua alma,
fe a

andauaeu dc amores. ü#.Com a fua alma. Brrw.Efpá-


taflc.Otf.Nam queres que me cípantedamorestaó no
uos.Brr«.Pois crc,que o bom amor & efte he fo dos ,

homens. 0 tf. guanto eu nao me namoro, fenam dc hu


corpo bem feito, & de hús olhos graciofos. Bt».IÍfo
nam fam amores, nus de leite dc amor. Cã. E cu que
querias dc íua alma.Bír» Honra, riquefa, contentame
to.OB. Tudo iflb viasnella.Brr». Tudo. Otf.Ecomo
Bfrfl.Com os meus cibos nos ícus,sgorafabcs que a*
li fe vero as alma$.& íe faliam. Otf.Poucotcdara 1«-

Digitized by Google I
cioso: r '
Í53
godaprifam do corpo. Btrn. Masdanié jàórfcr cor-
po daquella alma.0#.Eu tc dou dc boamente codas as
almas dc quantas molhcresa no mundo, & damc cu os
fcuscorp®ç.B;r/».Os teus penramenros fam dífferétcs
dos meus. 0#.Nam fcy fer tam cfpirituaí.Brr* «.Claro*
cfta,qac quem quer bem, nam quer mal aos olhos quer
o afFciçoam,.mas quem bem o fabe querer T o dcleytc
poem a hm parte & o verdadeiro contentamento ai
,

outra que nam ouuefie, pouca firmeza medarias


fe ifto

nds matrimônios. Oã. Ainda cu queres maíspouc3S. „

B^rw.E de que vcm.(7#.l iío dize. B>,rn Dei he enfad» .

rem os corpos, & aborrecerem as almas.E


enaLiui*
bufcaua marshonra que appccite. OB. ^nanco darias
pola ver. Brrw.E pera qúe. 0#.Todaura. B<r».Pcra*
cjuc.O#,Partirascom eífe go(ío.#<?r».Masr parciràco»

mo defgofto. OB. Ei la fe algum bem cc quis ficar fo

pn^goada dc fèu erro. B r».Por ambas *


c (Tas raíóes

nam veria. OB. Bem lhe queres. B^»- Voumcpcra


que lhe hey de lembra^nem cila a mi, fique viua, def*‘
cancc,Dxoslhc mude a-fua ma ventura cm outra boa»
OB. Paffaspor efia rua, como quefe a nam conheces»
Brr». Nam mc lembratajfe mo nao diíTcTas„O^Xo
jnhe cc se (Fasjan citas. 'Btrn.Oh caías, oh jant lias , rant
continuadas nos meus olhos- cam imaginadas
,

irainhaainaa* Oí?. Finge que a ves r como; fobias


Bun. Oucra graça lheachaua citccrco* com outr 0 ^
pqroçp «via»


Digitized by Google
.

e ,
t
COMEDIA DO
jP#.Tq cuidasquepotffa ahi*B> r».Poisbndc?
3

monos auaflte,vciaquÍQ caftcHp,cnj qa tuuLiuia cila.


Brr». Aqui. QB. Aquj. Tltrn* Aqui eíla Liuia.Otf. Aqui

eftà.Sír».Tctn cíUscafaspera traz alguns jardins, ou


quintaçs? OÃTinha^ dcsfizcrãoffí %€rn, E porque?
Oã.E huasfrcftas,& japcllàs,qutMicIlas cahiam capará;
fc.Bírfl.Q^ucronial a todacíh vifínhança, OãiQgc
quçrcsquc façam ?Bírw«Comoque façaó,tal couf* cbf
VJmaisyosou.cros,antesas molheres fam aqui maisii-
uresque osiioípcns. Qtt. Na verdade ifto.ic cftranha
muyco.B<r».Como fc eíiranha poisfcfofrc.O minha,
Liukneftçcatiueirocfiastu, quam mal refpondcoa;
fortunados ceus picrceim entos. C tf. Ta m bc cu a hi moí
lheres qpe fabes.tu oque fcii marido, achou nclfa,Cc.Ihcí
1
enxergou a gúasJagrimas,algüsfofpiros,& algús
es dc dcfgojlo^.ai-rcpcndimento, qurjlhe deflV; cau*;
fp a iíio BiTn.Nama hi ca ufa pera, iflcvG./hD.efapaxOi
na.tip es.Br^.Ou a mace, ou aj^ff-a. Oih Tam bc.cííesí
f?m bons eftrcmo^BfiTi.Naní hc,flvcJhíor quç darlhef ;

pcorviJa.que a.mcfma morce.C tf,Tcmcrfcade algut


asfofpcit;as.B.r&.£ nam queres que-todo p;home pr itj »

cjpalp*<eptcjqs qufccafaó com ftr mofas dezejftdasder.


fjpuitos faça ni epqtaconíigo, que ppdw ellajcm algjíi&;
;

tem pq difcjar outro, Oâ.Quc qucKS.qfaçqdçfía.coni


ta,B rn.Qs-dç ta m[)Puco fabcr,Ãí taóbúixps eíptritos t

o fárap.mas o homem prudente ha de fer- ca Q* confia-


doquandocafa , que querendo dance maõao<qticíe;
podç

• i

*
, Digitized by Google i
í CIOSO. ijj"

podí píefumir pera que depois ihc nãm fcp nouofco


fie que fua pcflfoa pode fa?er cfqueccr tudo.O<!2.£uato
to ami cnfadarmchia muyto cuidar, que aos olhos dtí
minha molher podiam ja outros parecer melhor
,
qac
çs mcus.B;r».r4am tcDsrazam.0tf.Naó.#fr».Asmc*
lhcrcsfaó de pao,ou de pedra namfcotero,nim goftí*
nam Cem olhos, nam fc aíFeiçoam. 08 . Antes por mai»
fracas, &mais affeiçoadasná fofreria eu fofpdca.Bfr»*
Eor HTo fc tu táo diferetp , que fc nrJla conhecesxíTá
aflPciçamcam viua,ou es tão desconfiado, quetc pod*
dar ma yida a deixes,& bufques outra. 08 Em amo- .

res mc das tu cííc vagar. Bí'».EqresfetcelL*s cegáttj


Cç formão hüa vontade liurc»ying»rte era quem te não

tcm;cnlp3,Q#.Çuc rcmedio.Scr». Q^juc com mimos


& branduras a afFeiçees,& nam com ufperezas, & dc£
Confianças. 08 Oh que a molher, ou ama, ou auorre*
.

cc. Ber».
Sy,mas antes^uecayancflescftreuios, paíTa
&
por muytas obrigações, a h fia afife içam deolhos fo-
mente nam os gcra,dc maneira que com feu marido a
nam perca. 6/?. Mofina Liuia quem te prendeo. B r».
Ella cftara mais rica, mas certo que cftiucra mais con-
tente.Otf.T odauia ve jamola.B^rw.Nam pode fer, que
por feu perigo o nam tentaria. 08r Pera tudo ha hi rc
mcdio.B?r».Como íc pode entrar forta Lczatão guar
dada. Otf.Coma vonrade. Brr».Edc quem. Otf.Dc
Liuia. B ern. Çuam mal Iu lio crera iíTo, que cuyda
quf os olhos faro os que pcccair. • E como a veremosi*
~
'

S 08 .

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*
COMEDIA DO
0#*Com tc B em, E/pcrS
Vcr,ouíabcf de tua vihda. -

àfsi.O#.£uehc Berw.Hc aqucllc Ardelio quede


iífo?

la fae.O#. Ardelio he. Bfy». Aquclle? Icfusquecoufo


bc efh. ^Ar J.Oh fortuna cruel, & ma que fem razoes
fam as tuas. 0/?.Cbamemolo. ‘Betn. Arde lio. Jrà. Ah
fenhor.O#.(?ucmtc meteoncflacafa. KrL Mereceo*
iriumphar ojc.Berw.De que?Ar^.Sç foubefles iridhas
auenturas. B?r».Dizc por tua vida. A rd. Melhor ferà
«m cafa,q cu nã com i o je,& a hiítor ia qucrvagar.O#. t
Tem razão. 2??*i».Vamos logo. ;

^C T0 - UI* '
- SCENA. I;

fduíHnâ tèrtefta. fclareta meça .
TA Oiosq minha vontade me não lauei,&ea
tanto a
.
«4-Afeiteicomoagora.Ciar.Se te o amor laua,& cu-’
Feita, nã queres fer diferente do
q dantes eras.F4»/ÍDÍ
zes verdade, aos olhos fos de meu Oftauio me efeito.-

C/rf.Dicofos olhos, qpoderã Ter teus cfpelhos. Fdu. Ora


olha Clarcta por tua vida.fc Ves é mi algu dcícócerto,'
na lhe qria parecer mal é nada.C^.Pois por nã fer tão
pcchofa,ná feria namorada. F<<«.Namorada nã, não fa*
brsocj perdes Béaucn curadas as cafadas,q vfão defica
jmor liir.pjméce.C/^.Deixaologo peraclhs.qtéfuavi
dafegura,mastuq viues docomii, porq te fazes parti;
cular a hú fo.Fa».Porq,parccete mal.C/a. Antes me cf
pato dc ti cairesétuiiunho erro,qira Dcos q nãvenhas
cair na cõca,a tepo q cc nã preÜe.Fjtf.Comodizes ifío.
C/j.Enganifte Faultina cuidãdo, q oas dc ter fépre íç-»
guto,& ccrtOjdcixao éfadar,& vçras./4 ».Iffo qres cu> >

< •*,

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cioso: »

eü efpérc de que me cato amor róo(lrã.£/4.Ay,cotn0


q
rs paruoa,nã te lébra quãdo tu roubaíta o outro có a^
jnorcsfalfos,&lagrimasfÍHgidas.F4».E a q propoíito
CU Como nãocuidaras agora, q as finge cãbé por ti*
.

Vau. A verdade hc tá fçnhora q logdo dcfcobrc.C/*»**


h4aisfcnhoraheamétira,qalãçafora cada vez q qrj
Eu nã fei qtu achas a eíta Odtauio.F*». Se o tu fetiííes
me culparias, C/a.q te nã deua parecer melhor o rit
jnã
bi dc IuIio,& a cadca dcPatricio.F*í#.0 Clarcta,q iflo
hc ouro,q nã farca a alma, o outro hc feu mãtimencou
Çk.Pois eu prometilhe a noite,& eyo de ciíprír.F*#j
Nã qria.Ck.q cotas fã as tuas Fauítana dcfprczares to-*
cjos por como ceras os outros
eftc vquãdo te ellc deixar,

Frffl.EUes me burcarS.Çii.Ncflacofiança viues, como


fe outra nã ouueíle dc taes olhos, e taes cabelos, F^.Ert

carccermccu tãto,mc fara mais dezejada.C/<r.Mas ea


careccíle tãco,q cy medo q tc nã vedas. Fáa.Nuca Falcf
hú mais apetitofo q pague pelos outros. C/<*.E qres
,ce
b5 bocado. Fjw.Mos qres q faça cita treiça ai
.per der tá
O&auio.Cfc. Ay mãi,& Odtauio he teu marido, deixa
me qeu darei maneira cò qo na fofpcitc.Faw.La tc auc
olha o pego,ondc,& q me mctcs.C/ . Mais perigofo
é 4

fcrào da velhice pobre, coitadas de nòs,fcnã fomos co


moasformigas.qcncouã no verãpara comer o inuer
qo.Frf» Eítamc bé cita faia»C/rf. A graça he o
q Iuftra,q
o pano nã.Fáw.Húbocõcertp muito afFciçoa.C/*. As
fer^ofasquãt^taaischãs mais fer mofas, F^w.Chcirotc
' S2 • bc.C/rf.
f
COMEDIA ©O
Clrfr.Nam queria qucefeeirafles. Frfia/.Porqiíe. CUà
D dxa iíTo acíTas velhas dcfdentadâs, que querem en-
cobrir a velhice com affeites eatam fazem la huas m o-
•genifadas de miífuradas de agoas de oleos, & de cher-
tos que com ofuor,cm vez de cheirar fèdem. Fa*/.Se
as velhas o faze, que faraó aunoçaS, £/*r. Amoçachcy
ra muico bem quando naó cheira. Ew/.gue dizes logo
;
acítcs mancebos vncados,& perfumcdos.CAir.Mcre*
'ciam fer molheres,homés,qúc taescoufasfazemjComo
os confentcm os outros homes.F^w/.^uera teenfinou
tanta coufa.C/ar.Qué tinha mais experiência do muti
do que ti,aquellate digoeu,quc viuia,& roubaua, Sc
engana ua. Fauf. Afsi o foh ia cu de fazer. CUr. Afsi o fa
>zc,& O<5huio enforquefe cafara hum dia deftes, & cu
'ficaras viuua. Fauj' Naó mo praguejes por tua vidà.
Ciar. Bem efeufada fora agora la cila ida. Fiw/.Eu vou
la por meu gofto,& nam pelo feu.C/dr.Por iflb ce eftt

ma clle tão pouco.Sc queres bé,não o encubriras.F* 0 .

Não poíTo. CUr. Não podes. Fauf.UÇu como es crua.


Clar.Crc tu, que fe eu fora ati,outrafora.Fd»^.Vamos
por tua vida, q me canças com tua parola. C/rfr.Nam
Ce venha mais cançar a fome, &a neccfsidade. Fauf.
Bom marinheiro temos,& Deoso acrcíccncarà. CUr,
D eos queres que o acrcce nte. Fauf. Çuc queres que di
ga. CUr. Efpcra não fay as, parece que enxergo la vir
O&auio.Fátf/.Vc pois fe he clle. ÇUr. Aquellc he pera

qua deuc de vir. • * •


• -

*

SÇENA

Digítized by Google J
ciosa ijj

i SCENA. fc
•*, , ’i * i
-

• .
... •..*
Ccláuia foâ, -

f\V A M pouco fabtf hum botíwffi cm quánto bé


• mancebo, quantos íegredos tem o mundo qut
qua nam orem. P^rcciaroc a-mi, que todo o fifo cftau#
cm não crer nada, agora me parece que eftá cm crcr
ja tudo. A quem crera cu, ou quando, que hua molhcr

tal vida paíTafle qual pafla Liuia,& tanto fc enganafíe


hum homem como fc engaua Iulio.Coufas nos contou
Arde lio, cruczes,niiferiaSi-& vergonhas, que íb de lhas
ouuirmoschoramos.E no mcyodcftasmifcrias, taleis
forço cm hua molhcr, que nam abafa, ou aam fcmati.
E tem taes ardis Ôc artes, que a furto do
, marido, anda,
come, pratica com qucr,cuidandoellcquc a deixa co-
tr.pe.in coua.Paruo, porque naó ves nem entcndcs,q a

•malícia da molher, quando quer, nam abaftam porcas.


Se cu caio, eu nam amoftrarei nunca a minha molher,
defeonfiançaque eu por baixeza, & paruoice nãoeuf-
poa coitada no que comete Manda pedir a Bernardo
eom grandes rogos, & lagrimas que a veja pois feus pe
«adoslhe efloruaram tanto bem,mason!cyommíly
comohe.Dizque hcy cu de pedir a outra , q rrequer
tnayor bem , que a íí que de húa noitç a Iulio pera elle

qua ter entrada mais fegura. Pareccuos que cabe em


a
raza$ cometer eu iílo a Fauftinaíou que fera fem razâ
S$ cm

Digitized by Google
V » .
COMEDIA íDO
eiH mc
não querer ver nunca, mas qucheyja cfófa-
zer, rogounae, abraçourtic, choroume.vcnccomc. Eu
auentuio honra, ou perda dalgua coufa.^perda he toda
via agrauar hfu vontade tanto minha, vergonha mc hà
de fer,mas a amifade então feve quádo fe cm mpr pref
fa proua.La mc vounam fcicom que palauras Iho pc-%

ja^rçuolca finco quaçm caía de Cefar.


' ' *•
*
*
m ;

-
. _ . SCENA. III.
.

,
» ,
.

.*'*••« -
\
-l . V » ,
. , í

r < %rcU Métroná* Mictr [ef*r fev mdrido*


c ... '
f
• í
«

Era que era iíTo coitada de mi, Folie Ianqar o azeité


P no fogo, com os concelhos, & rogos> fe efeandaliza»
que faria có injurias, & ameaços. Cí/.Lcuancoufeme a
Corola.AírvMa&leuantafíelhaaelle parafe ir fartarenr
que he certo que a te ja morta. ^e/lQuc n*
kn inha filha,
queres que tenha canta paciência. P«r.^uenj tem ne*-
çcfsidadc dtlü t agora cc dcixouclla mais que nunca.
O/.Agora porque cambem me falou mais defeortesq;
. aunca.P<jr»Soí?eralo comofizcíte íempre..O/.Nao pu*
dc,& efpcroqtie feja por melhorar.Melhor fora, ôc
mais-feguro difsimularcs,&.fcm o cllc íaber,ircíleaa
íenado chamar & pedir, que cedcílcm cua filha.C/.Af
írofarcy.Pír.Ay Ccfar r Cefar, que nunqua me creíie
^naíledc minhas lagrimas,, & zombaijas.de meus. n> c-
)áos,ps .nicusolho^O' pc ttcoraqagj viam j^o que a-
gprà

/ Digitized by Google
CIOSO.'- * *
3
r

gõfâ choram,& vcm.O/.Hc verdade quecu me cngl


ncíjCnas quem fc nam cnganara.Por.Se n$e tu Creras, P<i
me tu ouuiras, nam te enganaras, fempre zòbaftc dos
meus confelhos,fem pre fi zefte t ua vótade. Ce/. O fc ico
hc feytíyio mais atalharcmos-Pír. AtalbclhoDeos, q
file fo pode ,
filha que cu fempre te prophctizey eftc
jual tamanho, &afsi te entreguei a eíTe cotroahum
enem igo.O/. Ah fortuna.Ptfr.Nam te aqucixçs da for
tuna fenam de ty fo, que culpa tem ella a quem fe en«
trega ao mal. O/. Ora tudo tera remédio, eu venho
fem foIcgo,& tu quercfmo acabar de tirar. Pír.Nan|
queres que grite, &endoudeça,& que me mate lem-’
brandome o que te fempre diíTe. Cefar cftc mancebo
criado fem pay,viue a íua vontade ,
fem dcyxar cotn
ucr fações doutros taescomocllc, porque queres borá
áuenturar tua fazenda, & tua honra, porque queres
ora por cobiça de maisdous reis, perderes o qtens,
Sc veres nojos cm tua velhice, nam
te cngánc o feu

trato, hofeu dinheiro, qucafomenospartcnoho*


inem he ho dinheiro ,
& a riqueza, pautas vezes
clamey ifto
,
quantas lagrimas chorcy ,
quam mal
ínccrcílc fempre. o fiz f porven-
Cef» E cu porque
que minha , prefu'*
tura era Liuia, mais tua filha
mia eu, ouerabcmquç prcfumiíTe , que de Micer,

oaceííe
r - •

Iulio meu amigo tam bom homem , & tam fcfudq

hum cai como cfíc.

•; *.S4 trl

Digitized by Google
COMEDíAí DO
Pír.Porque fiam prcfumiajoque vi*,
& poíqfií gjM
preguotaras por íuatida,*
(«ifcmcjhamestóftetu
fctrpre ospws com osfilbos.O/CPowqBemwmrrwa
™cs que me m«çP„.M. squs
*ô dd« ma r*
tua filha. £</.Force raolher he
eft>,& e» que faço as cá
Jol.çoes que me cila da, os confclhos,
& os remediò»
?.r.E tu queres meus coofc lhos, nem
quifefteos nuocâ
Cf E teus confclhos cem razam em nada, íenam acera
los,def*ltres,& appetices. 2W. Bem
o tens viflo,deífa
confiança tc vera a ti terefmcem tam
pouco.Gr/.Partf
cc que oquiferam meus peccadoSjque^rtâíTcs
tu nif
to para mor trabalho meu,
&
pera cada dia me tirarei
cs olhos, & a alma. P cr. A mia tirara; eu dc boam<mr&
fcpoderá '.O/ Fi zeras qua pouca. falta.Prr.Bem
creyd
eu,que ati a faria cu menos pelomayto
amor que me
moftrafte fcmpre,quc nunca ja húa ora
me fiztfte a vô
tadeem nada.Cf/.ProuueraaDeosqneforaáfsijâôtr-í
iravidatiucra cn,& outra tenho.Paftfcetjosque
fepo-
de ido fofrer ,fc a filha tal he nam
culpooqdie faz o-od
6*0. P^r.Coj? tada
dc mr,a mi fc tornam tentas
as culpai
mas-os homens que dcfprczãoosconfelhos
de fiíasmO
Kwres,cacra ncíks erros, como fc cilas
nam dtkfléw
razam como cllcs ,.cntam aos erros das
coyfadas nam
ha defcufpas osfeus-tenr trinta mil; Minhas
coitas enà
boashziao por taes refpcitos, quem hauia
dc ciiyda*
fe me ifTo a mi parecera. Com ifTo pafLm,& quere w
^ ^ -• m *• '^1 cnham juizo,nt m eutvndimcn-

!°>

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o o

'
CIOSO. I
?
7
toç Sc que harárvejam oqua vbm > 6c qué fíátti enten^
dam e que entendem-

SCENA. Itíl

malaucnturadcis os qütí ò déztjírni, que tiam fabem o


bem que tem, & o mal que buícam. Em quanto hum
homem viue duas obrigações tem, htía do mundo, 8c
outra de Deos ,
deftasambas pode melhor vfar fendo
folteyro,que cafado, pode conucríar ’ós homens mais
foItamente,dcfcnfadarfe com maisgoffo, lograr fe da
vida, de maneira que ganhe tarabemaoutracom me-
nos trabalho. Naó fei quem nos ccga,qucm nos enga-
na^parece que ordenou Deos cfte appetite nos hòmés,
porque fem clle,mal fe entregara ninguém a tamanho
cátiueiro,malfe conferuarà
a
geraçaõ humana, que nâ
fem caufa chamou o outro a molher , ma! ncccíTario.
Guidais,que vos hão dedeuar nada em conta Sc algfu
ora acertam a ter razam aucis lhe de conft (far^íic fa-
bem mais que vos. Se quereis ter vida,óu lha aucis de
tirar porque vos natn mate n>. De dia, 8i de noycc na
ir.ef.i,& nacama em cafa,& fora de caía nunca me dei-
X uTu-ofuefte,tn qurfe íic,tal térâ.£ nam cuidaqa
quillo hc o que maU doí, que o ittefmo engano meu.
• > Nam

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* COMEDIA. DO
ÍJaç fci que dou Jo,cu vou fazer õ qüel
fare iaquellc
ir»i conucm.gue mancebo he eíle,ja o co aquivi outro
ra, homem de bem parece. Nam ícy que hc ifto,qoc a

todoohomem dç bem cyagorainucja , a todo ho-


;

pjcm quifcra antes ter entregue minha filha com mais


ainda do que tcnho,& do que lhe dei, que quem a tem
coitados dc tios, que a mais certa coufa que temor, he
o arrependimento, mas de que venv? de íc errarem os
princípios, donde fc feguem os maos fins*

:
:

.
SCENA. -
V*.
mi

'Btrnirio.

OR tua vida Ardelio que fhc digas, queroflro tS


P mofirou Liuia quando cntrafte.A^.O que tinha,
Bíro.Nani fc lhe rmadouja.Ar-^.Náoauiaahi mudar,,
nem contrafazer,&fcalguã mudança fez, foydc mais
trifteza,&de mais lagrimas. Brr. Que te diífe. Ard.
Nam todiíTc ja.^r».DiriáS,mascu nam fcy fete ouiii
nam me lembra, Afrf.Para que perguntas logo, fenam
cuucs,nem cc lembra. B rn. t ftc gofto foo me ficou,
rego cc que mo moftres. Arr/.Eu naõ fabia que to auia
dc dizer tantas vezes como to diíTc,nam oqueiras mais
fabir.Brrft.Quc lhe diíFcfte vendoa afsi.^A/^.O que fc
ire cífcrccco. Bcrn.Quc. A rd. Çu^bqfe que mc nam
lembra. B w . Oh lembrete por tua vida, A rd. Çue
te parece a ty
,
que lhe cu diria. B trn* Muyto hauia

‘qu«

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cios o: ^
qõc dize?; yjrj. Deííe rauyco lhe diíTé cu hum pou-
co. Hern. guc pouco. Âr</.Oh que enfadamento efte?
tres vezes lhocontcy ja , & nam o acabou dc ouuirv
Bí»'», Nam mo queres dizer? ArJ. Ouuilohas tw.B^r»,
Eeuporqueo pergunto. AW- Para mo tornares ba
c
perguntar logo. Bern. Dtzcmoque cú to ouurrey»
. jJrd. Ora lembrete que to digo. DiíTclhe que agora-
veria, onde chegaua hum eogario, & hum arrependi-
mento* Bírw.E mais. «^r-J.^uemais. Brrn^Vaypor

diante; ^ArL E outras palauras conforme aos mef-
mos propoíltos, Hern. Q^uaes? ArJ» £uae$ tumefma
AW.Nifto leuanta os olhos a.*'
íhc diíTercs.Bír».E-eHa.
osccoSjOU aos tclhados(nam queria nunca mentir cc*
nada); chorando,, & çaluçandor & torcendo as mâosv
Bi r». Dizendo. Nada r mas tornouos abaixar fcnn
A.rd.

poder dizer palaura com o grande iropeto das lagrfv


nias.Bfrw.Namçhorauas por tua vida, Ar^.Efta he oi»
tra demanda, nnnr.2ír»,Nam. >4r^. Bofe não;,‘Btrn*
Forquei Ar^.Na pudc,fao muito fcco dos olhos, & to-
dos por onde vimos-, afsi o fomos. B -rn. De q chorara*
k)go.Ar</. Dc nada.Verdade he,q dezejei eu dc chorar
hum pouco por amor delia, &dc ti.Brr.O quãto folgai
racõ iíTo,poiqéti conhecera ella o meu amor,&a mi«’
nha magoa. Ar^.^uanto-fc fe lagrimasfaò os amorc*
fccos nao me fez. Dl- os parcles.Morreo meu pai,& mii
pha mãi,3c meus auo$,&meus irmãos,& nuca chore jr
nãme parece qjchorajr ia , ainda queme. viflfcmorrcp;.
;

k

• BI/?*.*'

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COMEDIA DO
Bírm Chorarias fctu bem tjuifcífcs. Jírd. Antes pqf
jiam chorar hei de trabalhàr por querçr fempre maL
B^íj.Graciofo e(Ms que cm tamanha magoa me fazes
rir por força. Ard.Nam he melhor qüe chorar por vo
tade.Bíro.FmalmcBtecm qucficaíle. Ard. Noquê ja
fabes.2kr«.Eu que fey? A rd. Cuido que me queres fa?
zer chorar de rayua com canta pergunta. Birii.Com
que palauras to diíTci com que geico, com que olhos/
Ja rd. As palauras crcyo eu, que crão Venezeanos^o gei
-tome nam lembrarem os olhos. B trn. Parccemc que
queres chocarrear afsintc; Ar<J.Muytos outros chocar
rciros veras afsintc , & que por ventura ganham mais
coro luas graças contra feitas, que eu cõ asminhas natH
raes.Ser»' Afsiquc te difle que me queria vcr,& falar

ArJ.E mais anoite, que hegram pelfa. Btrn. Coro o fe


nam teme do marido. A>*</. Porque lhe nam quer bera-.
$ern. Tens razam. ^rd. Cuidas tu que pode com ha
molher mais o medo, que o. amor. B trn. Nem com
homens tam pouco. &rd. Efta a coytada,que nam pede
fenam morte, nem defeja outra confa, & arreceara coe
mecer nada. Bír».Sc Odhmio fazoque me prorocreo
quem he mais ditofo que cu. brd. Agora o f..bcras,q^c
cylo fac.Bí/a.Q^ue voltas me dao eoraçam, mando
me Deos ora algüas boas noiaas ,>mas a que fe coroa
dentro.
SCENA. Ví. . - . . .

0 flaute* Btrnarde.

Ardtlie, '
' •

'
GB.

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CIOSO, J
5 p
'tf&^VVcrãrvez tc prómcto,efTc amor, & cflfas Ugri
V-' mas minhas. Pauftina naõ me roerecccnga-
rart e pefamc fomente de teu defgofto,nem deíconfics

,q cu fou ;eu’,.& o ferei fépre. Bír».Muicoíc deté. KrL


E ifac afrontado. OB. Sc tal foubera,rirame dc Bcrnar
do, corrido venho do que paíTei com efta,tato que Ihc
toquei no cafo,dcufc por auorrecida de mi, & a mim
por enfadado, B ern. Parcccme que o enxergo trifie.

mãos aos cabelos, & aos toucados chamã-


Otf. Lançou
dofe enganada, & fazendo cftrcmosde hfu douda, nao
íCuidciqucncílas molhcrêsfcachaíTc amortam intei-
ro, Bern. Nam poíTomaisefpcrar. Em fim nam
OB.
fiz m ais que anojar a ella,& cila enuergonar a m que i,

nem rac deixou dizer pera que lho pcdia.Bfrw.Çuc no


uas trazes, m e das meu Oíiauio.O#.Não quis
q nouas
t
Fauftina. “Bern. Nam quis. Ctf.Digotc.quc mais me
*quiferamorto,quevcíme na afronta, cm que vi com
ella.Bípw.Quc farei logo. OB . Nam tc agaftes Iulio ,

he bargante, nam pode ferqueem quanto aqui cfiiue


rcs,nam acertemos húj noitc.2?ír».Õhquc naó naceo
pera m i nenhum bom acerto. ^ri.Ningucm enten-
de efifa fenam cu. OB Que entendes. Ella o mof-
trara cedo, tu vigia,
& guarte. Bem. Pois a fortuna le

vingou em mi,no maiseu não o hey dc cftrauhar , ao


menos lograrfe Iulio do que Ihcclla dru,&aminrgou
OB. Eftc parece clle, que qua vem.A^.CJucm.Oft.íu-*
lio.B.Tff.Efte he.Ari.Não hc.2?<ra. Não hc cftc Iulio.

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COMEDIA DO
r
.Como nam. Ar Quem o fabéráfiè » </.

lhor elle,ou cu,be hum feu amigo que lhe anda arreca-
dando as pefTa$.B«\0&auio ha, ha,ha. A^.De ma gra
ça vem,deixaimc com cllc & efcoodciuos pera aqui,
,

& rireis hum pouco.


SCENA.VL
*
.
* • i •

lulit, ^râcltj, Ottáula. Titrnárdtí

N
mal, &
Am íey quem dfzque hum mal he começo de hu
bem, eu digo que hum bem hc começo de hum
hum mal começo de muytos males. A rd. Ber-
nardo, macemos eílc, que maca Liuu,foseftamos nant
ha ccíícmunha.Oíf?. Talcolcricoouuera ahi, que to-
mara teu confelho. lul. Dou aho diabo Benedito,
dou aho diabo meu fogro dou aho diabo aquel-,

lerapagaõ , que zombou de mi , que afsi todos me


enfadaram &cançnrara. A rd. Dou aho diabo cite
,

Iulio amigo dc Benedito que o naõ poíTo deícobrir o


je. O^.Hàdiadiajhc, ArtJ . Dou ao diabo aquclloutro
feu amigo com que ojefalley que o nam vejo, nem pa
rece.Oí.Vales quanto ano mundo.I*/.Quem ouçoeu
A^í/.ViomejChcgome. lul.Quc farei, hei de fofrcr,quc
fc vingue cfteafsidemi. A rd> Oh amigo dc Iulio tens
ja prefícs.l*/.£uc hei dc ter prcíícs. Ar^.Teu eftormc
to, 5c tuas ceftemunhas.
-- h/.Taõ
---
pogea
- vergonha ccnsí*
-
Çijie

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cioso: 140
fiticforaícmándara vir Iulio donde cila pera arreca-
dar o vento. Ar i,Quc vento? lul. Q^ue pcíías ou que
mentiras farn qscuas.Ard.Iulio,oudigoamigode Jú-
mal falares, mal ouuiras. IaJ.Fui faber do Piloto
lio, íc

da naodeGenoua, difíeme q oaõ trazia eífe teu amo


mais fato, que ode fuapeftoa,& queoíabiacro cerco,
Ard.IíTo te diíTc.I«/.Perantc trinta homens, que dirão
o mefmo. yird.Voftc ditofo cm o creres \ogo.Ul. Erj
quc.ArJ.Sc apertaras com elle, cairas na verdade que
ineu fenhor polas faluar do frete, &dos direitos as efeo
dco,quc as nam viííc elle. Bír»*^uc dirasacfte. Oft.‘
Hc diabo, atarracouo,Iw/.Onde as tem? Ard.Nao tens
oecefsidade diflb, vira Iulio , 8c achalasha fe as quifec
pois te tu enfadas dc as negociar por elle. I»/. Pcrdoa-
pic que cuidei que mç enganaras. Ar J.Nam me cfpan
to, porque, que am igos pode ter eííe. lul. Mas por ttuj-
vidaja que mc meti niífo,& cenho faüado a Fabricio,

8ccom tudo preftes quando íuy a nao,cuydey,quc eral


engano, que ordenes de maneira com que lhe cu façi
cfta boa obra râ. Com o te chamam, I«/.Pera que o

perguntas ArJ Nam queres que diga ameu amo coin


.

quem fallei. lul. Nam he ncceííirio, bafta , que fam


hum amigo dc Iulio, dc que elle confiara tudo. ArJ,
Tirando ha noolher. lul. Ora tedigo[quc a molher
tambem yinl. Nam es-tulogofcu amigo, mas es
fèu corpo, & fuaalma. !«/. Afsífam fua alma , 8c
ellç hc ha minha. jítíU Muyco ruy m alma tens.

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COMEDIA DO
W.Dfgo porque antre 05 bons amigos a huafo áltfif.
Ar</.EíTa fera boa, mas do amigo mao como cflc, feri
tam ma que danara as outras. W.Tu nam o conheces,
6c quereslhe mal. Ar</.Peor hc conhecerdo tu, 6c que*
rercslhc bcm.Btrn.Eu fenaõ vira iflo naó O crcra.Ó#.
Nem o crera ninguém a quem 0 contar. I »/. Ora eu
metornoa negociar, pode fer, que ainda ojefe arreca
dcm.Ar</.Vc)otc doutro cabo tam follicico.quc pare-
ce, que tens nifto algum quinhaõ. UI.Quc melhor qui«
nham queres tu.quc a boa amifade.O homem de bera
ha tanto de folgar com o bem de íeu amigo, como co
o feu proprio,que outro dia fara cllc por mi omefmo
Ard.Mascuidoquefazfempre.Em fim làca vcw,6cfe
tardares, tu perderas eíTegofto, & elle letJproueito.
Meu fenhor cfta de cam inho, corno te diííc,rornalasha
a mandar a Gcnoua.la/.Purcceme que hei de vir ainda
a dar ao diabo as peííascom tantos encarregos, ja cfte
dia afsi ha de paíTar.o outro que vier Deos o melhore
A^. Apeçonhentado vai, que vos par cee. Ofl.Ccy cada
da molher,& do fogro,quc tam boa honra tem nefte.
B r». Mas coitada de mi, quem eflimaram menos
a q
a cllc. A rj. Souberas tu tarr.b'. m caçar dvfquc tcuc a
prea nas mãos tornou ao feu. Nam hc a condiçam coui
tempo encubra. 08. Andatia aquellc
faqiic fc tanto
vdhotamcego,qucomaldefte lhe parecia bim,ago:
ra algum bem íe o tiuer lhe parecera outro tanto mal
B*ri>» Oranos vamosjvigiemosçfianoyte. Ard, As

vezes

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CIOSO V45 /

vezes eftaft os acertos guardados ha quem os bufea.'


<
' r »

"
SCENA. VIII.
'
1

CUret4, Fáuílinâ•
f A Y Clarcta tal ha no mundo, & tacs fam os homeni
x \ £
Ur. Ay Fauftina , que te dizia cu? aprenderas as
tuas euftas, pois náoquifeftc asalhcas. Fa»/. Somos tant
coitadas, & taó paruoas,que os queremos, &dezcjamoÍ
C(át % Agora faberas que o amor canto fe cílima, quant
caro fe vende. F40/.O que nao hc jflb amor, mas roubd
que creras j-i,ou a quem creram. Oh meu Odtauio, oh
meu amor, ou meu man o. C Ur. Oh teu ladráo,oh teu
rafíáo^h teu cnganador.FáWjf.A quero me cu dei toda
que tantas vezes juraua, que outra coufa nam queria,
Ckr.Se naó lograrfc de ti quantas vezes quis,& depois
pdTarte aoutro.Fjwf.Não pode fcrfcnáoquc me quis
tentar. C/ár. Ay como te vejo tornar a meter no fogo.
Fauílina olha o que te cumpre, eftes paruos dormem cá
íeguiosfobrcfcus enganos, que nam acordam fenan*
depois, que fe acha nelles, ja que taro bem contrafizcíh;
teu nojojdciximc que cu o trarei às redes. Vou onde te
diííe. Féuf Cuytada de mi que farcy, que me nam ío-
fre o coração lançar foraa quem ramanho lugar dey
Dcjlf,quem me mudou tanto daque dantes era, quantos
fe mataram por mi, quantos fe dedruiram,quantos chef

raram de dia, ôc de noite, huns enganados, outros rou-


bados fem minha vontade fe dar ha algum . Efíe
T Odt**

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X
COMEDIA DO
I#/.D*go porque antre 05 bons amigos a huafo álmí.
Ar</.Efla fera boa, mas do amigo mao como eflc, feri
tam ma que danara as outras.M.Tu naro o conheces,
Ôc quereslhe mal.Are/.Pcor hc conhece relo cu, Ôc qüc*
rereslhc bcm.B<r».Eu fenaõ vira iflo naõ o crcra.Ó#.
Kcm o crera ninguém a quem oconcar. l«l. Ora eu
me torno a negociar, pode fcr.que ainda ojefe arreca
dcm.Arí/.VcjoCc doutro cabo tam follicito.quc pare-
ce, que cens niflo
algum quinhaó. Ul.Quc melhor qui»
nham qpcrestu.quea boa amifade.O homem de bem
ha canto de folgar com o bem de íeu amigo, como c6
o feu proprio,que outro dia fara cllc por nu omcfmo
Ard.Mas cuido que faz fcmprc.Em fím vem,&fc
là ca

tar dares, tu perderas eíTe goílo , ôc elle feu prooeito.


Meu fenhor cila de caminho, como te diíTc,rornalasha
a mandar a Gcnoua.Ia/.Pureccme que hei de vir ainda
adaraodiaboaspeíTascom Cantos e ncarregos, ja c(le
cJÍ3 ofsi ha de paíTar.o outro que vier Deos o melhore

Ard. Apeçonhentado vai, que vos par ecc.Ofl.Coy cada


da molhcr,& dofogro,quctam boa honra tem nefíe.
B r». Mas coitada de mi,
a
quem eflimaram menos cj
a cllc. A rd. Souberas tu tarr.b' m caçar dvfquc tcue a
prea nas maos tornou ao ícu.Nam hc a condiçam cou'
faq jc tempo encubra. Ott. Andaua aqucllc
fc tanto
VelbotaiT)cego,queo maldeíle lhe parecia bmqago!
ra algum bem íe o tiuer lhe parecera outro tanto mal
B.t». Oranosvamosjvigicmosçílanoyce. Ar d. As
vezes

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cioso, t+Si
^czcseftafaos acertos guardados há quem os bufa.’
* * *
/

SCENA. VIII. - .
'

CUretd, FauÍIím.
< A
Y Clarcta tal ha no mundo, & tacs fam os homeni
•L\. ^Ur, Ay Fauílina > que te dizia eu? aprenderas as
tuas cuílas, pois não quifeftc as alheas. F*»/. Somos tant
coitadas, & tao paruoas,que os queremos, &dezcjamos
C Ar. Agora faberas que o amor canto fe cftima,
!
quarri
caro fe vende. ¥auf.O que não he iflb amor, mas roubò
que creras ji,ou a quem creram. Oh meu Odhuio, oh
meuamor,oumcumano. C/ar. Oh teu ladrão, oh teu
rafíáOjOhteucnganador.Fjw/lAquero mc cu dei coda
que tantas vezes juraua, que outra coufa nam queria,
QUr.Sc naõ lograrfe de ti quantas vezes qui$,& depois
paíTarte mc quis
aoutro.Fá»/.Náo pode ferfenãoque
tentar. C/i»-. Aycomo te vejo tornar a meter no fogo.
Fauílina olha o que te cumpre, eíles paruos dormem ca
íègurosfobrcfcus enganos, que nam acordam fenan*
depois, que feacha nel!es,ja que também contrafizcftc
teu nojojdcixime que eu o trarei às redes. Vou onde te
diíTe. Féuf. Coycada de mi que farcy, que me nam ío-

fre o coração lançar fora a quem tamanho lugar dey

ficjlf,qucm mc mudou canto daque dantes era, quantos


fe mataram por mi, quantos fe derruíram, quantos cho
raram de dia, & dc noite, huns enganados, outros rou«
bados fem minha vontade fc dar ha algum . Eíle
T OdU*

Digitized by Goosle
l
COMEDIA DO
W.Dígo porque antre os bons amigos a hua fo álífif.
Ar J.Efla fera boa, mas do amigo ttao como efle, ferà
tam ma que danara as outras.W.Tu naro o conheces,
5c quereslhe mal. /W.Pcor hc conhccerelo cu, 5c que*
rereslhc bcm.Bwí.Eu fenaó ví/a iflo naõ o crera. Òã,
Kcm o crera ninguém a quem o contar. !«/. Ora cu
me torno anegociar,pode fcr.quc ainda ojefe arreca
dem.Ard.Vejotc doutro cabo tam follicito.quc pare-
ce,quetcnsniílo algum guinhaõ. I«/.£ue melhor qui*
nham q uercstu,qiica boa amifade.O homem de bera
i

ha tanto de folgar com o bem de íeu amigo, comoco


o feu proprio, que outro dia fara ellc por mt omcfmo
Ard.Mas cuido que faz fcmpre.Em fim là ca vem,&fc
tardares, tu pcrderaseííegofto, & elleleuproueito.
Meu fenhor cíh de caminho, como tc diíTc,rornalasha
a mandar a Gcnoua.Ia/.Par eceme que hei de vir ainda
a dar ao diabo as peflascom Cantos encarregos, ja efle
dia afsi ha de pa(Tar,o outro que vier Deos o melhoro
A^.Apeçonhentado vai,quc vos pairce.Ptf.Coycada
da molher,& do fogro,quc tam boa honra tem nefíe.
B r». Mas coitada dc mi, a quem cfíimaram menos
q
a cllc. A rL Souberas tu tam.b'. m caçar dvfquc teuc a
prea nas mãos tornou ao fcu.Nam hc a condiçam cou
fa que fc tanto tempo encubra. Ott. Andatia aquellc

Velhotamcego,qucomaldefte lhe parecia bcm,ago:


raalgum bem íe o ciucr lhe parecera outro canto mal
B/r». Ora nos vamos^igiemosçíla noytc. Ard. As
vezes $

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CIOSO ttfi
czcs eíhfo os acertos guardados há quem os bufea.'

SCENA. VIII.
'

QUrttd. F*ttftind.
f A Y Clarcta tal ha no mundo, & tacs fam os homeni
fjdr. Ay Fauftina ,
que te dizia cu? aprenderas aS
tuas euftas, pois não quifeftc asalheas. Fa»/. Somos tant
coitadas, & cao paruoas,que os queremos, &dezcjamos
QUu Agora faberas que o amor tanto fe cftima, quaní
caro fe vende. F40/.O que não hc iffo amor, mas roubo
que creras j
i,ou a quem creram. Oh meu Odhuio, oh
meu amor, ou meu man 0. C Ur. Oh teu ladrão, oh teu
rafíãojoh teu cnganador.Fáw/.A quem me cu dei coda
que tantas vezes juraua, que outra coufa nam queria,
ÒUr.Sc naõ lograrfe de ti quantas vezes quis,& depois
paíTarte aoutro.F 4 «/.Náo pode ferfenãoque me quis
tentar. C/^r. Ay como te vejo tornar a meter no fogo.
Faudina olha o que te cumpre, eftes paruos dormem tã

feg m os febre fe us enganos, que nam acordam fenan*


depois, que fe acha ntllcs,ja que também contrafizeftc
teu nojojdeiximc que eu o trarei às redes. Vou onde te
diíTc. F*uf. Coycada de mi que fany, que me nam ío-

fre o coração lançar fora a quem tamanho lugar dey

ficjle,quem me mudou canto daque dantes era, quantos


fe mataram por mi, quantos fedcftruirarn, quantos chof

raram de dia, Sc de noite, huns enganados, outros rou-


bados fem minha vontade fe dar ha algum . Eíle
T Oãx*

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l
COMEDIA DO
W.Digo porque ahtrc 05 bons amigos a hua fo âlmf.
Ar^.Eíía fera boa, mas do amigo mao como cfíc, ferà
tam ma que danara as outras.W.Tu nam o conheces,
6c quereslhe mal. Ar</.Pcor hc conhecendo tu, 6c quc«
rereslhc bem.Bírw.Eu fenaõ vira iftona5 ó crera .Oft.
Nem o crera ninguém a quem o contar. Uh Ora eu
metornoa negociar, pode fcr.que ainda ojefe arreca
dem.An/.Vcjotc doutro cabo tam follicico.quc pare-
ce, que tens nifto algum quinhaõ. UI.Quc melhor qui»

nham qucrestu.quea boa amifadc.O homem dc bera


com o bem dc íeu amigo, como c6
ha tanto de folgar
o feu proprio,que outro dia fara cllc por mi omcfmo
Ard.Mas cuido que faz fcmprc.Em fim lá ta vem,&fc
tardares, tu perderas efle gofto , & elle leu proueito.
Meu fenhor cfta de carrinho, como te tíiíTc,tornalasha
a mandar aGcnoua.W.Pareccmequc hei devir ainda
a dar ao diabo as peííascom tantos e ncarregos, ja c íle
ha de paíTar.o outro que vier Deos 0 melhore
di‘i afsi

A^.Apeçonhentado vai, que vos par ccc.Otf.Coy cada


da molhcr,& do fogro,quc tam boa honra tem nefte.
B rn. Mas coitada de mi, a quem eflimaram menos
q
a cllc. A rd. Souberas tu tambí m caçar dvfquc teuc a
prea nas maos tornou ao fcü.Nam he a condiçam cou'
faque íc tanto tempo encubra. Oã. Andatia aqucllc
Vt lho tam cego,quco maldefie lhe parecia bem,agí*
ra algum bem fe o ciuer lhe parecera outro tanto mal
B.t». Ofanosvamosjvigicmosçflanoyte. An/. As

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CIOSO. V4J /

czcscíâfeos acertos guardados há quem os bufa.’



" t

SCENA. VHÍ. '


1

CUretd. Fauílind.
< A Y Clareta tal ha no mundo, & tacs fam os homeni
f^Ur, Ay Fauftina ,
que te dizia cu? aprenderas a$
tuas euftas, pois náo quifeftc asalheas. Fa«/. Somos cant
coitadas, & taó paruoas,que os queremos, Sedezejamós
C-*r. Agora faberasque o amor canto fc eflima, quatri
caro fe vende. F40/.O que nao hc iflb amor, mas roubd
que creras ji,ou a quem creram. Oh meu Odlauio, oh
meu amor, ou meu man 0. C Ur, Oh teu ladrão, oh teu
rafiáo^htcucnganador.FaWjf.Aquem me cu dei coda
que tantas vezes juraua, que outra couía nam queria,
ÒUr.Sc naô lograrfe de ti quantas vezes quis,& depois
paííarte a outro.F 4 »/.Não pode fer fenáo que me quis
tencar.C/if. Ay como te vejo cornar a meter no fogo.
Fiuílína olha te cumpre, eíles paruos dormem ca
o que
íegurosfobrefeus enganos, que nam acordam fenaro
depois, que feacha nelUs,ja que tambem concrafizcíh;
teu nojojdcixime que cu o trarei às redes. Vou onde te
diíTe. Féuf. Coycada de mi que farcy, que me nam ío-

fre o coração lançar fora a quem tamanho lugar dey

Ccjlf,qucm me mudou canto daque dantes era, quantos


fc mataram por mi, quantos fc dedruiram, quantos chof

raram de dia, & de noite, huns enganados, outros rou*


bados fem minha vontade fc dar ha algum . Efte
T OdÀ * 1

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COMEDIA t>0
r
Jír^Nao.O<Í.ConiQnani.A»'c/.Quem o fabcráiSié »
lhor elle,ou tu,hc hum fcu amigo que lhe anda arreca-
dando as peíTaSiBirO&auio ha,ha,ha. A^.De ma gra
ça vem,deixaimc com clle , Sc efeondeiuos pera aqui,
Sc rireis hum pouco.

1
SCENA.VI. ) ’
.
* »*
.
*

. i

*
folio, ^drdeli), OBíuio. 'Btrturdtl
Cá * »

* '
. . . )

N
mal, &
Am feyqucm diz que hum mal he começo de hu
bem, eu digo que hum bem hc começo dc hum
hum mal começo de muytos males. A rd. Ber-
nardo, macemos efte, que maca Liuu,foseftamos nani
ha ccflcmunha.O#. Talcoícricoouuera abi , que to-
mara teu confelho. lul. Dou aho diabo Benedito,
dou aho diabo meu fogro dou aho diabo aquel- ,

lerapagaõ , que zombou de mi , que afsi todos me


enfadaram &cançaram. A* d. Dou aho diabo cfte
,

Iuiio amigo dc Benedito que o naõ poíTo deícobrir o


je. O^.HaJiadiajhc, An/.Dou ao diabo aquelloutro

leu amigo com que ojefalley que o nam vejo, nem pa


rece>07.Vale$ quanto ano mundo. I*/. Quem ouço eu
A^í/.ViouiCíChcgomc. Ia/.^ucfarcijhci dcfofrcr,quc
fe vingue cfte afsidc mi. Ard» Oh amigo dc Iuiio tens
ja preftcs.I*/.£uchei de terpreftes. Ar</.Tcucftormc
I«/.Taõ pouca vergonha
to, Sc tuas ceftemunhas,
"
- tensí*

£jie'' i

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cioso: í 46
fiuc Fora fe mandara vir Iulio donde cfta*pèra arreca-
dar o vento. Ari.Quc vento? hl. Q^ue pcfíasou que
uientirasfam as tuas. Ar</. Iulio, ou digo amigo de lu-
*
lio,(e mal falares, mal ouuiras. I#J.Fui faber do Piloto
da naodeGenoua, diflemeq naõ trazia eífc teu amo
inais fato, que o de fua peftoa,& que o fabia cm cerco,
Ard.lílo tc diíTc.Iíí/.Pcrantc trinta homens, que dirão
o mefmo. /rd Foftc ditofo cm o creres logo.hl. Enj
.

quc.Ar<í.$e apertaras conulle, cairas na verdade que


ineu fenhor polas faluar do frete, &dos direitos as efeo
deo,quc as nam viflTc elle. Bír».|£uc diras a cfte. Ott.
Hc diabo,atarracouo.I»/.Onde as tem? ArJ.Nao teo$
oecefsidade difíb, vira Ialio , & achahsha fc as quifer
pois te tu enfadas de as negociar por elle. hl. Perdoa-
me que cuidei que mç enganaras. Ar J.Naro me cfpan
to, porque, que amigos pode ter cíTc. hl. Mas por tuaj
vida ja que mc meti niflb,& tenho fallado a Fubricio,
Ac cotn tudo preftes quando fuy a n30,cuydcy,que erai

engano,quc ordenes de maneira com que lhe cu faci


efh boa obra .^/rd Como tc chamam, I?/ /.Pera que o
.

perguntas. A rd Nam queres que diga ameu amo com


quem fallci. hl. Nam he neceíT^rio, bafta que fam
,

hum amigo de Iulio, de que elle confiara tudo, A?J.


Tirando ha noolher. hl. Ora tcdigo[quc a molher
também yirJ. Nam estulogofcu amigo, mas es
feu corpo, &fiualrna. hl. Afsi fam fua alma , ÕC
ellç ,hc ha minha, jhd, Muycq rnym alma tens.
i"‘. *’
hl. ..

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*
CIOSO *4* /

vezes eftafíi os acertos guardados há quem os bufai


* •
f
,

SCENA. VIII.

CUretJ. Fauftiná.
f A Y Clarcta tal ha no mundo, & tacs fam os homeni
XX £ Ur . Ay Fauftina que te dizia eu? aprenderas as
,

tuas euftas, pois não quifeftc asalheas. Fa»/. Somos caní


coitadas, & caó paruoas,quc os queremos, &dezcjamOS
G-*r. Agora faberas que o amor tanto fe cííima, quaná
caro fe vende. F40/.O que não hc iffo amor, mas roubò
que creras ji,ou a quem creram. Oh meu Odhuio, ok
meu amor, ou meu man o. C Ur. Oh teu ladrão, oh teu
rafiaOjOh teu enganador^#/! A quero me eu dei toda
que tantas vezes juraua, que outra coufa nam queria,
C/dr.Se naõ lograrfe de ti quantas vezes qui$,& depois
paíTarte aoutro.F^w/.Não pode ferfenãóquc me quis
tentar. CUr, Ay como te vejo tornar a meter no fogo.
Fauílina olha o que te cumpre, eftes paruos dormem tã
feguros fobre feus enganos, que nam acordam fenan»
depois, que fcacha nellcs,)a que também contrafizcflc
teu BojOjdciximc que cu o traf ci às redes. Vou onde te
diíTc. Fàuf. Coytada de mi que farcy, que me nam ío-
fre o coração lançar fora a quem tamanho lugar dcy

Dcjlr,quem me mudou tanto daque dantes era, quantos


fc mataram por mi, quantos fe dcflruiram, quantos chof

raram de dia, Sc de noite, htins enganados, outros rou-


bados fem minha Yontade fc dar ha algum . Efte
T Oã
. COMEDIA DO
« - >

Oíláüio fiic aflfeiçoou,afsi que nam fel viuer feit» clle>


amoo,dezcjoo ; nel!c cuido, nclle fonho,oihae qunrn bc
o embrego.Natn mc pode lébrar fera lagrimas o rofto
& adcfemiokura cora q mc vcyocom aquelle requeri-*
uiétOjentão guardai verdade,tcnde amor anrngué.Coi
tadasde nos fe amamos fomos aborrecidas, fenáo ama-
imos roubamos ,
& em fim melhor hc o roubo poisnes.
enriqce,& os roubados vã mais c6ccntcs,mas rainha cõ
ídiçao não cra c(Ta,fcrapre dcícjei hõ bo amor, agora q
feuidaua,queotinha nãoovcjo.Enganaftemc Oítaoio,
não to merecia,trabalho me fera eíqucccrce. 1 rabalho
Terão aos meus olhos não tc veré,mas perq outra vez na
íc enganem, fique com efta magoa. Clareta por derra-
deiro he minha amiga,porque terei eu amor a quem©
não tem.
AC70.IHI. SCEKA. L
I B romuf»
télie,

N Am cuidei, que também acabaíTco dia/ortccobiV


o nam guardou Faufiina pe
ça de anel foi cila, que
ti mais tardc,logo cu hoje enxerguei na moça bons de
sejos , &com tanto aluoroço me veyo chamar agora,
que parecia que lhe fogia.Mascom que mentira enco-
brirei eucíla minha ida a caesjioras que me nam cnccn-
damJDou ao diabo efia velha que p efliue por vezes pc
raahnçar fora dc cafa , Õc hcyo de vir a fazer, nam fey
quem afez tão endiabrada, parçce^quc tem algum efpi

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cios o: .
142
Hto fam ilíar,quclhc diz, quanto eu faço J qüc 'ja agora
Bofcu rofto,& nosíeus olhos entendo eu, que me entetí
de,tnas como a enganarei, ora andar, boa difsimulaçaní
tenho.Bromia.Brflw.Ia me chama, começara com féus
cfconjuros.Itf/.Bromia.Brflw.Que mandas hs//.0ianta
jme deues pela confiança, que cm ti tenho.l^m.Deos o
fabe Jtt/.Eu fam conuidado pera hua certa fefía dc hun|
Wcu amigo, por iífo vou afsi dc fefta,nam me parece, q
tornarei efta noite, BraOT.Pcra que me das eífas costas,
auefado esircs,& vires quando, & cada vez que queres
achaftc por ventura algíía ora asportas abertas a outré^
& fechadas a ty./i«/. Nam papees por iflb to digo ,
por-
que durmas defeançada de mc vires abrir.Bríw.Çucni
ciueífc o teu defeançoí’ W.A porta da maneira que a cu

deixar afsi fique ate que cu torne. B rom. Que nam fcjí
mais que pelo coítumc cila o fara ja dc fy.M.E porqutí
muyta^vezcs acontecem enganos falo ifto pelo que já

vi,ainda que outrem venha com recado meu, ou digaq


íam cu nam lho creas.Brawi.De que feruem cantos me-
dos por tua vid a quem ves, ou quem ouucs pera os teresí

deningucm.I«/.Ifto nam fam medos, m as fifos, as vezes


acontece o que homem nam cuida, & por nam cuydar
no que pode acontecer vem acair no perigo fem reme
dio.Bríw.Bom hc atalhar cm tempo. M
a s. W. Equc

melhor tempo qeftc/febcs tu feeftaali por ventura al- ;

guem efpreitando quando eu fayo,& mc pode contra-


fazer tambçra a fala, que te engane, & lhe vas abrir.
{ !
Ti B rwê

d; itized by Google
C.O MEDIA DO
B /m> Ay que mao homem. Ora doiilbe qut a cohteçi
ifto,em entrando nam auera ahi olhos que o conheção*
J*i.Em entrando. E queriasque encraflfe, Br«»».Qjjb
peccado era entrar,coydandoqye eras tu. J#/. Ma*
qucpccçadohe auifartccu , pera que nam entre nam ,

poderá clle mais que ty , nam te macarajOu nam te ta-


paraeflfaboca para fazer tudo ha feu faluo.. B rm.
Como te pode cair iíTo no penfamenco, que nunqua fc
Vio,nem feouuio. Ial.Porqueotu nam viííe,nem ou«
nifte crcslogo,quc ninguém ho veria nem faria por i£

íb,eu digo, quequem nam vee nam fabe ho cafo , & eu


nam quero quç ainda que eu mcfmo torne. Olha ho.
que tc digo,ainda que eu mcfmo torne , nam quero,
que mc abras. Br*w. Que dizes? la/. Iftoquc ouues.
Br*»». Ainda que tornes. I«/. Ainda que çu torne.
Sfríw.Q^ue nam abra.W.Que me nam abras.Br*»»^
te

Iflbmcmandas, nam cuidaras, que te pode aconte-


cer coufa por ventura que te obrigue a vir a cala , ou
fc tc arrependeras da yJa , 5c do caminho. W. Eu que
todigo,bem fcyquenam hcy.de cornar. Br?w?.Sc tor-

nares. /«/.Matame, 5c nam me abras, ainda, que brade,


& qucjgrice,5c tu me vejas ,5c conheças,cre que hc o dra
bo, 5c nam fam eu, porque cu vou pera mm cornar, ne
nrãndar recado algum,ouuefo?c tu.Br*. Ouço,mas nao
fei como iífo feja,não queria rer »ais guerra cótigo da
que tenho.Eyte de ver eu eítar batendo a porta>& nao
te hei dc abrir.W.Se te digo.Effo he a mais perra velha
do

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cioso':
i 4?

«Iomundo, cj nem cyde tornar^nem m e as de vcr ySe áíh


da que me vejas, me não abraa-Br^. Digo que afsr.ola
reivpois mo mandas, quem crera taÜW.Dcitafuos logo
apagai candca,& dormi defeançadamente. Brom.Ao
a

fâdâs.U Elcmbrcuosoq vos fempre digo,q viuamos


cm paz. B^w.Dc quantos defadresos bõs achaõpello
mundo, não aucra hum fo peraede mao que o mate,ho
mem hc iílo, alma tem cdc^Rczão tem ede fazme crer
que cheirou ja Bernardo os recados de
que nosvay , &
efpreitar atodos. Coitada dcmi,quc nunca pude ti rir
Liuia dc. tamanho cometimento,'offerccida eflàa fcU
perigo.oodio queccm acdè, & o amor de Bernardo
lhe da ede animo, & afouteza. Oje lhe mandou dizer, cj
a dezejaua ver,djc fc foy ordenando, com o fc viflem.O
ciofos enganados, cegos, quero ver antes que o oucro§
ccrcc de vir,fc a poflfo tirar de fua teyma.
%

- ... SCENA. 1L
‘ ' 1
*• . -i i t
/ * « - . . • • *< • I

£
Ittliofoo.

B Em cuidada; d eixo a minha mctir3,mãs quealudfoi


çohe cdc.que cu Icuo no meu cípirico, voume afsi
deixo minhamelher moça,toda hua noite íò ofFercci*
da a íe vingar dem»jâc fazer o qquifer. Masque pode
acótcoc/^cllii fica fechada, & fera ja dc-inda^aõ mofino
ícrei cujquc Jogo operigOKdè mais predes agora, que
oucrorc^nuL fiz d^ dizer qoam aulade tornar', melhor
- T3 fora

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COMEDIA D O
com meu modo, o aluoroço me eügl
forà telas feguras
nou torno là: mas pera que, táo pouco mc temem que ,

oufem tftda. Hüa noite afinha fc paffa com o prazer de


Fuuíliiumecfqueccràcftcmedo. ;

• ’
,
- • i

. . : .

i

> S CE NA. HL »

‘Berndrd*» Qãâuis- ^Arddic» hrmsl *

B Romia to diíle Ardelio,como pode. Àr^.Nao (tf


como pode masdiíIemo.Bír».Náo rcceyo> fe*ão
íer tão mofino, que era tamanho prazeriam©
J

eíle me
queira empecer aTortuna aciate.05.Dc que te vé cíTa
«deíconfian^a,nfiatésque arrecear- Ard. Bom coraçam>
campo, de que hasmedo'
i&coílas que cc feguraraó o
Birn.Malmc entendeis ambos, fc com minha morte fie
jeneobriffe a infam ia dc Liuia,feguro, & perfeito ícr ia
©meu gofto. 05.Ora te digo quí hc eíTehum bõ eferm
pulo fc cila iíTo não eeme, porque o temes tu. Bfrw.Pot
«juc o amor que mc tem, me faz nam temer, & cu nan*
lho queria pagar mal. Ari.Nam ha dc que temer, Túlio*
Jrcforànofrvigiarcmosjograrc da noite, de oa m cfpe-
amanham, fitrn. NMn creoquc mcheydc ver ern?
fcés

tamanho bera, ate que mc nam vcja n3elIc.-o5. Pòrquíf


fcracslog,o braíar, fcm tc veres ncllc. Bem»; Ho mor
IfcmTc ha de arrecear maiso ma]..Ard..0racfpcra;;ha*
fcii roc pareçe,;qpc adio hum bom figuro* Bífu-Dize

portuavida r 1/lrL ^uQ&auiojplga fe Éajo' bem*.


z i' Hor-

Digiti^ed by.
' c i o s o: > Y44
Tornatc pèirâ cafa ircy que nam quç4,
a Liuía,dirlhchei

rcs ir, Bern. Çuc dizes, bom. Ar4.Efte hc o melhor re*


medio pera teu medo. 08 « Hà,ha,ha,hc.Brr 0 .Vclhac©
que fazes , otide vaz?j yird. £uc mc queres , fegurocc.
Ç8. Nunqua melhor fallou. Bern. Chegatc a porta, ve
fchetempo. yírd. Olha oquefazcs,osdcfaftrcs an-*
dam may correccs,& mais de noite, pode fer que aches
hu i bombarda nos peicos em entrando. Bír».Nam cu*
í emos dc mais graças. 08. Aconfelhate bem,à fala cíla
A rd. Aqui efta cc,cc. 0 #.Acolhetc,& entregate. B trni
Oh fortuna, a cabj bem tam bons começos. 08. Boa
foy a entrada. JrJ.Td fera a fayda.-Otf. Q^ue farc*
mosagora. A rd. Eu to direi, quem vem la cantando» .

08. Aquelle parece Ianoto. Ard.Ianoto. Un. Q^uetni


hc.^irJ.A bom tempo vens, o negocio cfta pacifico Cii
tedcuhs ir que nos abaftamos.O#. Aísi me parece. Eu
pnde poíTo ja melhor paflar efia noite quecom Faufti-
pa* Sc algúacoufa acontecer, voe Iaaoto. 5
s.

SCENA. HIl
\

08âhhfioi i

Vaiíi goftofas fao as obras da amifade, que


V^^trabalho tomas por grande gofto,& ogofiodo
teu amigo por teu propio.Parcce q fc mc carrega a cõf
çiccia e me ir agora daqui. Hc efte Bernardo dc tá boa
; . T4 arte.

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* *1
COMEDIA DO :

0*

inasporaffligQt ) & por irmão, quantas vontades prende


í boa condiçã,& fi&^pefame na alma de íe ir dcfla ter-
ra, Dera muito do meu pelo ver cafado com Liuia 5t; ,

mclhorcs-forapicufadosido que faó,ao menos crzo cu,


que outro nerdutm taobçHo lhe pudera fazer oquó agd
ta fez por eflc.Vedcora £e a puderaòtcr todasas prifó-*
eSj& chauesfEIulio tao ccgo,que nem lhe veto pelo pé
fameõto,aq vicrao parar todos os ardis dos feuscuimc*
oula,q defcuydo £oy eíle?porcaabeitaa caesoras.
'
/
7,' í
-
• * '
.
'. , O
1
'
SCENA. V.

rr: .
^rieUâ. í lrtmtfm- ’ Pi-. . \0
Vata agora vingar,bofe lanotonos vamohosbufi.
car noflfavida.l40.Betc parece iffo,A: 8 ernardòi.
Àrd.Naohe cíla a primeira auentura>homem beq da^
ia bom recado de fiem todaapartc.iv/.Af&ifp fazHfo
ah rafiãopxaidorpnfameJaw.gue brados faò os q ouço
JuL Ah treiçaó, ahputa > ciuil encubridora dc ladrões*
Ard.Eu nam conheço aquella falia. /«/. Tinhãofe con-
ccrtado > eute conhecerei quem quer qes.Iiw.Pcraqua
vem. I»/. Antes damenháa a eftas oras hum» & outro ía-
iberãocom quómoouiKram^Poisdepeoaria eiíquan-
tasbarbas tenho, fc com cfta me cfittpaflfcm.Pareceuos
íefoygrandcvalentb faicarcom quem cftaua a mefa
pera cear cam feguio como quem cíbuta com hwa mo-
*
í li .\T lher
1
" C I O S O. "
144
Hrcaf scs pofrta* fçcha^^fcfciUiiolsíasábertaS áorafiâ<»,
ah bclcguinaZQ/ügtdi^íjiasgaleSyCttQ.aQolhcfci. I*»*
Èftc parocc lulto» ü/.Nãodc baldémc detinha cila em
jogos>& cm trapaça# codaafeffa cradoirvcuanel, q
me l0go ^rçbaiou em entrando* Ar<J. IatK>tó»bofl,cft«

hc Iulio*/a».£ vaife direito 3 caía, luL Ta,c^taJW.fc*


noto boajpt^eíèfcmormoÍHW. li».Efcondamonos hfi
pouco pera aqui veremosetn q para,I«I.Nãoouue,tras
çr as, tras.hw Quegr aça ícnaoo 13 uiiTcm ^ncabriíTero.

.í.SCENA* VL

Bremi/. Jttfíe. lArJelie* hnetffl ,

Oicada demi fe he Iulio^que farei? W - ras, rrasr,

craSjtras.Brew.^uem eftaabi?qucm bate*l#/,Abr(r


la.Brtf»»^uem hc,W.gocra hade fcrjOutrcm coftuma
por ventura bater Somos
a cita porta, fenam cu.
pcrdidos,cllc he.t fcondciuos bem cm quâtoíodctcnho
< ^ quem cs tu.W. Abre que c u fa w,Nao ce coohe
ço,nomcate. W.$am Iuho,£onbccefmc3*»»;Saõ fufio
Conhceefree.Bríí». lutiomãopode fer, o diabo feras tu
maisazinha JM/.Nammc conheces? Deos?Amda
fc us e ícoo juros mie valem não entra rasca oje U/*Porq*. .

B^w.Porqucaqui nam entra fen«5Iulio,cu|a a pouía-


dahe.íd/Eeuqucm taò. £Wot.Tu o fa beras, lul, Nam
faro cu lulro que fut daqurefUtarddEWw.Não tc pa*
•Tece que o coohc çcram aqir. \vL Pois como m e narn

Z_ I; coohc-

Digitized by Google
q

COMEDIA DO
conheccs.B^w.^orque nam fci quem ef Ari. OH bdãí
vclha,Deos te faça moça fc lhe nam abres. luL I», já,
Iembramc o que deixei dito,aeontcceo cornar, que te*
mçdio,nam mc vestu. 2?nj ».Vcjoque tiam cseile,!!cni
7

que ofofteste abriria.I#/.guc farei. Bnm Vai embora >

fees cfpiaq qua manda, dUelhe que bein pouca ncccísí


dade tem dellas. 4^rd.Unoto viuo, tfta velha me fegu**
rou não lhe quer abrir.Ia».Como nam. Ari.Negao,cq
ino fc elleoje ncgaua.IíW.Bromia nam gracejos^ue ná
fam horas, abre, & fenam.
B™ ».Mãy,qucm cs tu, com
7

quem fuhs.ou n qwrm -hei de ábrít. Ul. A mi. B^w.E


porque cs cu Iulio.Ial.pois qucm.Brm.Ou fejas, ou na
ícjas,podcftc tornar por onde vtcftc.Anf Nam mc pa-
o diabo oufara tanto.I*#. Scram ferosde Ber*
rece, que
nardo,queonam deixem entrar. \ul. Velha qbe gradas
que ves, como podes tu fer lulio, fc
cíIas tuas. "Brom. As

clledeixou dito que nam auia de vir. L/.He verdade,


diííe cu iíTo, porque cuidei, que não tornafle,ma*fc mc .

vcs,& ouues.B^w.Ou^o, 3c vejo nus tu nam escffe, &


fc clTe es, tu mc diíleftc quc.tc nam crcíTe. A ri Podcfc
crer ifto.J47j.Nam te rias tam alto, que te ouuiraõ.
/*/,
Nam me qucrcsabrir.SríWj.Nam te queres ir, não hc
cfta a cafa cm que de dia, nem de noytc ,
quanto o mais
a c-ftas oras coftuma entrar ninguem, fcnam feu dono^
luL Ah cã de mi,& quem hc icu dono. TSrêtn, Ao menos
naója cu. Se erras a porta, acertaa, que nam poufa
aqui '

quem cuidas. IW. Velha nulauenturada, cogida dos bi-


J
chos *
1

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cios o: •
46
tfiosjalmâ do diabo,porque me não abres. Bmw. Agon-
ia fy, com eíFes rogos, bem podcacntrar, Ari. Fechou»
lhe a jancllaJw/.Tamanha ma ventura foya minha, que
me trouuc a itlo.Sou eu Iulio,ou nam. Conheçome cif
©u perdime. I ati. Viítc tal acontecer. 1*1. Fazem mais » •

bum cornudo. Ar/l. juítamentefallouaope da letra*..

Jan. Aindao elle na m crc JW.Quc farei, onde me ircy x


eítas oras,medo hei que me ouuiíTc a vifínhança, parecer
uos que tenho raolhcr,ou cafa,oa honra. Ari. F
m pon-
to eítoudç o fazermos ir mais depreíTa. hn . Demoslhc
hüa coçadura. yird. Nam hc bcw, djue perigara Liuia^
&l 2?cr nardo. IW. Nam foraeu antes morto, que paíFar
cftas vergonhas, que pafley dcfqueojc fahi deíla cafa x
Cegora.Ari.Se cu algna tiueíTes,nam paífarias por cllag;
Que dia malaucncurado foi cite, k».Pois[anoite po>
1*7.

des tu gabar.Ia/.Que noite de diabesfoycita.- Ah mo»

Ihcrcsquem vos vc, quem vosquer quem vosdezejai ,

Ari, Donde veria agora cfle.Iiwl. Quero tornara bater..

TraSjtraSitras.l^n.Refpondclhc Ardclio, I*/.He por da


mais ja nam dczejo,íc nam odia v fc cu nam ir.ouro rcui
Barcy juftiças. Nam fey quem ia vcm,voumeacafa der

meufogrojfe me quiícr. abrir conrarihecy ahonra qp«r


me d$iua filha,, v

* s cefa vir..

.U\V .
.b

, (Sfl4uiü. I kflttti-
'
v
'
'a • Nàmi

Digitized by Google
COMEDIA >DO
N Am fêi quem ca vem
Liuiaik vcrgoaha,
era lulio,
,
guarde Deos Bernardo,
& de perigo. Se fouberaque
fie me aquclla puta deixara, viera maisccdoc
fifc

Meteome emcahcça,quc ellc fc me viera meter em ca


fa por força,com rogos,
& piedades qae lhafizeraô ter
deílc,& coqi outras mayores fie mais lagrimas me pe-
,

di o perdam. Enganafe,fey to he, nam fou dos queefpc-


rara pela feguada, o perigo de Bernardo ccmo que oao
fe^comofaira, que gente enxergo culaí’ Ardelio. Ari/.

Efcuta.O/Z.hnoto, fdn. (>ucm chama, quem hrjOtf.chc


gaqaa.Ar<fO 0&auio.v#.Manço, nam nos ouça nih
gucm,comopaíTaftcsca? An/.Se foubcfics,pafmarias.
v ,0#.E BcrnardoJ.ro. Ainda la jaZ.Ap^Vaiteacaf^fielü
fabciastudo,quccu hei jadccfpcraramanháa pcrcífas
ruas. Otf.Nàò farcy, vigiemos forttmente, cada húpor
fua parte, tu por la, fie cu por qua,nam he ifto coufa pe*
ra fcafsi deixar a ventura. Ar J.Efta he anoitcdasaucn*
turas,podera mais acontecer, por iíTodizrm, que andao
os diabas denoite, fie as almas pcccadoras,náome poflb
terão rifo com as
mofinas deftc coitado, tanto fc matou
oje pornãofer lulioateqonãofoino tempo,q o mais
ouuera de fcr.Cin quanto Bernardo naó fac,vou ver a»
ondefe mete. <
tu.
.

SCENA. VIII.

BíMárJt ft*»

Efpe-

Digilized by
C|O S O. 147
SPERA vèrcy fe pafla alguém. Bem he,ningucm
E parece. Dcos fique contigo. £ue dcfaftresvani
pello rmmdo J & que acontecimento? fe fe podeimagi*
rçar coufa que nam aja, Bem me prophítizaua amfho
meu efpiritu tudo o que paífey que eu naifc finto por
,

minha a caufa,mas por Liuia, que por mi fe auenturou


a tamanho perigo, em que fica. Oh Liuia,Liuia quanto
tcdcuo,& quam pouco deuesa quem tam traí te trata,
nam o poíTodizcr fem lagrimas. Coytadinha dc ti Li-
uia moça fermofajtam fefuda,& tam boa filha, hua foo
& hum pay tam rico, & tam honrado, criada em
filha,

tanto mimo, & cm tamanhas cfpcranas, empregada


çm que em vez dc revencrar,tc deshonra afsi, & te ma
ta. Melhor mc fora nam cc ver qual te deixo
, mas
,

pois niíTo te fiz avontade, queix irmchei foo da fortu-


na que tc leuou de mi, & me deixou coro eíla magoa,
pera que cuidareis hora que me mandou el!a chamar,
pera defabafar foo comigo, & me pedir perdam de feu
erro coro os olhos, & rofto banhados em lagrimas mc
fahio a receber cora hum abraço roais dc aroifade que
deamor,caro difFercntc do que dantes a conhecia, que

no primeiro irôpeto a defconhcci.Todostres nos arfen


tamo$chorando,& chorando começa clla.Bornardo a-
uenturarmeeua iftonãohc bem que o atribuas fchaó
a parte porque o faço, quifeftcme bem,& cu to quis, ha
fortuna foo me quis tanto mal que em pago do que tc
cUuia^e obrigou pedirte perdam da ma vida que por
1UI

Digitized by Google
COMEDIA D O
nu pafTafte, porque a qué cu agora paíío,fei que rhê det
xara cedo. E porque aquelle amor paflado nam hc jai
cm mi poderto pagar com outro que cllc mcrccia^on
tcntatccom eftas lagrimas de meu arrependimento. E
niftocorrião cilas de maneira que por hum cfpaço lhe
impediam a pratica, & as minhas lhe começarão afazer;
boa companhia.Eotam me deu conta de toda fua vida,
a que cila charaaua morte, fem eu poder acabar comi-
gode adeixarde ouuir,ou lançar mão domaisdoq me
íua virtude, de honcftidade conccdia Finalmcnte,q gai-
:

tada a mor parte da noite ncftascoufis , concruyopor


derradeiro. Rogote Bernardo, q ifto que contigo poíTo
ninguém o íaiba fenão tu.ou fc quiferes
q o faibão, ma-
terna, porq o eu não ouça, fei q me podes ter cm ma coa
ta, Sc cu quero
q faibas pera q te nã enganes, q o cfprito
de hua molher magoada hc tão grande q nã rccca cftes
perigos. Aquellacj merecer a Dccsoqeucm ti perdi,
trataa melhor do q rnc tratãOjporq a não obrigue a aj

gum defpejo como eftc.Que diria cu aqui.ou que faria


fiquei confuíb, Sc pafmado dofaber, & virtude de húa
tnoça. Aquelle amor q lhe femprç tiue,fc me acrccécoif
*
então, de maneira que acabando ella, comecei cu a cho-
rar m inha defauencura em a perder, fenara quando ho
marido bate a porca, coro que ella ficou morta, &cu ma
ismorto por ella. Medo hey fegundo ellc hc que nao
baftem eícuíasda velha pera o tirar da fofpcita fahi-
giç logo confolandoa afsi, Sc offçreccndome a aueneu-
rar


• /

'
.
. Djgitizedby 4
,

cioso: '

~i
48
fcm entre nosbaucr mais qué
rar ã vida por fua honra’,
lagrimas magoadas de amor, & dc íaudade. Alguns íe
riram dc mi ,
principalmcnte ertes endiabrados perdi-
dos por homés,que fe agora coftumão,roas cu certo mc
não arrependo do que fiz folgo de lhe dcucr aquclle a~
~
mor tão cafto,& tão honeílo,cy ja dc cfperar o q fobre
• ifto paíTa,Deos o remedee, que íe Liuia mal pafla, nara
me fofreraotíhmago deixalafcm vingança.

J CTO.V , SCENA.I.
i

Mictr Cifarfoe.
/^XVcfarcbqucm mcaconfclharaem tamanha afroâ
ta tenho minha honra, & minha filha ofFereci-
Idaa fortuna» Ah, velho paruode mira, quem me ce-
gou quem me matou. Oh ouro tam perigofo nefie
mundo pera canto mal achado, naro fcy que diga, nam
fey que faça? Entrou aquelle doudo cm minha cafa
cftanoyte,tal que houue medo dclle, jurando, brasfe-
mando que hauia de matar minha filha. Ah filha

mal fadada, por meu mal nacida. Minha molhee


efta morta , õc eu pera mc matar, tfirondos fez,
diabruras , & terremotos , qúe acordou ha vifi-
nhança , acodiram meus amigos , poferamfc ha a-
mançrdo , entamfe indignauamais , os feus juram cn-
tosfam peracrer^o çafo oam hc pera crcr comohauU
dc

. Digitized by Googk
COMEDIA DO
de áuer no mundo bater cllc a íua porta , 5c nàrh lhê £
brirem fonhouo,inucntouo o diabo pera me acabar de
matar. Vou faber dc Liuia como paflou o negocio, que
ainda me Dcos fez grande merce em mo crazer a cafa,
J
que ja gora nam tiuera filha.

‘ *
SCENA.
” *
II.
• -
. . %
- ' ' • * -
i

Valer /V. Jgnacio*

EGVN DOosfinaesquc medas, nam pode fer


S outro. Oítmiocom quem conucrfa, he muyto
bom filho, 6c bemquiíloncfta terra, & eu oconhcço de

minino de quando o derao ao Duque. Ig».ProuucíTc o


M a Ocos, que hey medo de nam achar ja o pay viuo,
que ío na vida deftc filho tinha fui honra , & íua vida.
Va/.Nam lhe ficou onero. I m. Nam. De dous que lhe
Deos deu, hum lhe dcfaparccco em Lisboa em idade de
cinco annos, 8c nunca mais foubemosdelle, cremos que
mouros, ou Franccfes lho furtaram. Efte Bernardo íbo
que lhe ficaua,dczcjofo dc ver terras, o importunou t3n
to,quclhc deu licença temendo irfefcm cila. Va/.EfTe
heo primeiro ímpeto da mocidade. I^w.Com o fe os ho
mcnscodos nam foílcrn homens, 5c todo o ceo hum.
L^Bom hehua pouca de experiencia.I^w.Qhque fe
danam qua muito com a foltura, 5c liberdade, fe foíTe
pera ir bufear virtudes, 5c exemplos dc bem viuer bem
me

1

•t

Digitized by Coogle
CIOSO. 149
iné cífâjcnas fiam Kc fcnam peca vícios ,& pera ter que
contar depois, ou mentiras, ou peccados , que cu dcíTes
diasque ja por aqui gaílcy,nam tirey mais que aconfe*
lhar a todos que viuam cm fuas terras. Vai. EíTe hc h(J
maisfcgurOjUias a mocidade fcruc.Ôc em quanto feruô
não lhe lançar agoa,quc fera peor,os roais dcllcs tornao
taro cfcaldados dos dcfaftres.fc dos perigos
que fe Con-
tentam quando vem dc fc verem fora de lies. Deu-
*
lhe o pay licençaa cftc por dous antros, 5c paíTa jt
de cin

quo,quc qua anda. Entam que quereis que cuyde hotil


velho triftc, ou he morto ou hc cariuo, que do d&, que
ouuc dellcjine oíFereci a cftc trabalho. Vai Forte ditofo
em vires aqui ter, porque fero duuida aquellc he. \g»i.

Com iffo dcfcanço,& viuo,& cíTc feu amigo quem hc.


'

VaL Dircohci, porque por ventura ninguém maisdclk


fabe queeu.Haja bem deannos que Miccr O&auio
fby daqui por embaxadoraogram Turco, acompanhe
yo cmdcpois de acabarmos cíie negocio da embaxada
vindonos a embarcar cmConftantinopla,vimo<vendep
os quacs Ian
ao pregam certos mininos Chr iílãos cntr<?
çando O&auio os olhos, afsi os affeiçoou a hum que o
comprou cm idade, quc.nam podia dar mais razam dc
íique moftrar que cra Portugucz na língua, &
trazen-

doo aqui o deu O<5huio ao duque em cuja caía fc criou


*tegora,& he cftc O&auio que te digo a que ficou ono
'

‘me dc leu fcnhor,fc fc afsi pode chamar.I^.Dittifo aco


tccirocnto qus dirás aos malvs que vam pello-mundo.


Digitized by Google
Cp ME DIA DO
V<d.Elogo hi foubcm os, que Francefcsovc'hdcrao.Tg«;
Ay ja pode fcr que entre cfTesiriaomeuArobrofioquc
cu criei ir «iam de Bernardo. Vai. Bem apofio cu que
naolembre iíloa O&auioque feha por mais natural
da terra que eu.^fl.Naoi fei que aluor oço finto ao cfpi
rito,mas que pode fcr a tanto tem po.Vá/.(9uc falas com
tigo, Nada, afigurauafcme fe por defaftre poderia
fer efTe.VW.Grandcs iam os milagres de Deos. Ign. Sy.
Mas quem lhos mercce.LW.As vezes os faz ellc aquém
lhe apraz, & tu coabecclohias. I^».Syrque o criey r qus
iftofam fachos com Bernardo mc contentaria, rogote
que cornemos la, pode fer que fera vindo. VaL Vamos
luas deuias ver primeiro efla eidadc,que tanto ha que a
deixaftc ainda que aquem'vem dc Lisboa nenbua ou-
tra coufa parccc grande. I^.Senam Veneza, que certo
jhecoufa grande, & dc cada vez mayor,iHàs hi fica tem
po depois, vamos que me nam repoufà o coraram. VW*
QjLiiícra dar hua jkduaraa cfle horocm»qi4c qua-vem,
depois o farcy.

SCENA.IIL
t . . *

hélio foâ.

N
N VC A ninguém tambem ordenou fuà vida,.
que o ccmpí>,& os mudanças delk,]hc nam troo
xcíTcm algúa nouidade^< çnílnafTcm, queaquilloque
> linha •

* -
• '

v • Digitizod b v Gqo yl
q

C. I O S O. 1^0
tinha põr melhor /experimentado o otiuefle ^or peor
como a mi agora acócecco.Defquc cafci ategora feguí
Juu maneira de viucr v q ao meu juizoera melhor, & ma
fsfegura pera minha honra, & defeanço, agora vejo
q
nao tão fomente não era vida, mas hua vergonha, & bai
'*cza.Olhac asccgueiras,& defenganos, ainda hoje qujz
/ , mal, &deshonrcyaquem me dizia que meenganaua.
Agora que acabei de me ver,&*que me lembra o paíTa
do afsi me aborreçoa mi mcfmo , como a hum im igo^
•gora conheço que todos aquelles meus fundamentos/
& boas razoes eram ccgueiras,& doudiccs, & todas a-
qucllas minhas contas, cm.que cu cuidauaq mais que to
dos acertaua,erão erradas,& befiiacs.Tal força tiuerão
as razões, & osconcelhos^uccm q me pez me der ao,
de cego que era, me abrirão os olhos, de danado, & de-
terminado de matar minha molher, depor fogo as cafas
me tornarão cão manfo, que não fcyja fenam chorar
as triftezas, & magoas, com que ate qui a tratey. £ue
coufa he o peccado cam pefado,& defgoftofo. Em to-
do eíle tempo que viuia,cu tinhagofto de nada, no mor,
contentamento entriltrcia, no mais pefado fono acor-
dariaem cafa,& fora de cafa,quc vida era a m iaha tc- ,

miame dos homens, das molheres, dos xcics.tk dasfoní


bras,dc não me temia de mi mcímo,& do meu pecado
de qt5 e mais deuera.Louuores a noíío Senhor que tanti
me he fer caiado, & çftc nome
rnerce q coufa
fe 7 ,ja fcy

de nutr imonio quão honrado he,& quã gõftofo a que ^

\
/>” V 2 fubc

Digitized by Google
;

COMEDIA -DO
fabe vfar Jclle.ía Íei,quí me dcjí Deoi mblfecí' jté iri flftl

ftha igual companheira cfà rtttúsprazerè$,& ÉtarbalhOS


Çc mais que rtiôlher? Oh Lítfiatotòi que òlfiostè íòlli**
(
rcy agora. Uuiiqtfampòuéò âtòôlrfné ácü?s, itiàfi etl
fa
ocDmendareyfusyfuSjíiaqãtpòrdíítite^âà tida ,
fc
àtc qui foftcminha câtiua/cíasdàqui pòt diàntd ffiinhl P
ai
fcnhorá da ca fa,& da Fazcnda*farai o qúé quiferèf,& de
umbem.E, nao viurrcicutoinò osoticros htfmihst o,
ini 1

De cref hc,eõmp mc a mi di2iatí,què tu fôfofo ó que a* ]


fi

Os qüe mcdántcS Ju
certe,& todos c rrcm,riàni pode íèr.
conheciãOjVe ja0me,3c cbnhcçSòme hoíwmcritei qüai** A.

tosfabiãoos fncus erros venhao ver a minha cmcmllr* o(


di;
Sc poderá cornar ontrd nòtíáfCjdeixara ó que tcnhò>pcrá ?

que cm tudo parecera rioüò homem. ta nam farri aquel po


lè mao lulio que fohia,aj vergonhas que paflTci comBér ch
|
liardo,he neccflario
,
que lhas emende (Jorti Outra Aio# Pc
honra, guiftra buícalo,£c defcülparrihe j cómo melhof qt

jjòdcr,nam faiba Benedito, ou não fofpciee,que cftrmo cr

pouco Tua anufade ) conuidalohci ) & ficarmcha p»r hof- 1 at

pede, mais vergonhofacoufahe o pecado, que ã emen- I ct


Cd
tíà delia, poispclo pcòr piffei,oam hc razãò cju*

Ihòrrçccc.gua vem òíeucriadOjdirmchadcBe* nç


\
ÍP

SCENA.HII. /*

hi
" CIOSO, içf

C Oufa ha ahi,que parece, que acinte


bo,& as deíb
que mais me ria,fe
noite tacs foram.
as ordena o
Eu nam
da paruoice de Bernardo, ou dos de
(cy
dia*
do

faftrcsdc Iulio ou da lealdade dc Faufbna comO&auio


Purcceucsqhú frade capucho ciuera a tõfciccia dc meu
.amo, chamado dehúa molhera que queria bcm,& que
o^Viaaelle,^ q fc aucnturaua atamanho rifeo/airfe af
íi fem hum íb abraço delia viofe nunca taL p&cienwV
,

y^/.Qicgráorraucifo.rrpctcnadOjdc que fe vé rindo.*'


Ar*j.Sc o Liuia ja quifer ver, que me matem,ora dentai'
oOdfauio^ão me pofío ter,defculpar a puca.Ha ,ha,5é" i

dizqucfi i que lhe quer grartdtfbenv, que entrou Iuli<y


por fo/ça,& jura que hc verdade, que cila lho jutou, 5c
chorou. UI Em quantas vergonhas me ri cteram meus
.

doque pnííoupor mi. AkJ.AV


peccados, corri do eftou
quelia velha c«m endiabrada, quenegou o outro, pare-*
ceme que o fohhfijtakaconteoeo todavia, he vefdadeq 1

a mime lembra que não dormi cfta noite. Andei dèfdé*


etit|oategora vigiando, & não vífínal dc nada. As por*'
tas,& aSjanella5 tftam,comoíc-vcrii,náocréo que tor-
nou lainda*/W. Denegar vem. yírJ. Mashciloacola Vc-
jpo tam paciente que hei do dellc.Nam fei fe o cometa 1

/#/.Voumc a e lc. Por tua vida-mancebo que me faças


hum prazer. A»*d. As pcflbs?Perdoame, que tccngancy,/
jurara que as trazia Bernardo, folgo dc o nam termos 4

dito a Iulio. /«/.Nam digo Hlo, mas que me moftrcSMT


asno,qàc me rclcua m.uytoVàry.Pera que. /ul. Lu
Vj .

..
' Digitized by Google
I

COMEDIA DO ; .

•s
* -

Iulio.^^J.IuJioJcomo podeícr^U/.Encobfimcatcgo
ra,ou neguéime ,
porque me temi de hum certo nego»
ck)deGeooa.Ari.ComofcouueíTc muyco, quecufal-
ley contigo U/.Nam zombo. y/r^.Eeomo crerei, que
I
es tu agora mais que dantes. I»/. O que tc cu digo ,
hc
afsi. A^iMuy to fe parece contigo aquellc teu amigo.
Ia/.Q-ue amigo. Ard.Hum que la andaua muyto nego-
ciador por tua parte. Ul. Tens razam, porque cu era ho
inefmo. A rd.Perdoa mc logo, porque tu metirafte de
meu fifo/ecreras que era Iulio,como eu cria, namean -
çaramos tato. W.Perdoamc tu o que eu paíTci contigo
que cu te perdoo codas tuasgraças, mas Bernardo de- .

fcjomuytodc vcr.Ar^.que lhequcrcsrda/.Pcdirlbc per


dam de m inhas culpas, que ou creyo que me clle dara íà
bendo acaufa.Rogocc que me lcues, ou lhe dize de mia
nha parte, que mc faça merce de-me dar licéça para mc
vercom clle.Ard. Fatohci iílo, que fera., lul. Efcja oje
portua vid^. ^ArL queres que vâ clle ladar.contigo,
iW.Sconam tomar pôr trabalho, jirji. A tuacafa.I»/.
Sy. rd. Icfu,quc ouço/e endoudccco cíle,ira ter coa
tigo a tuacafa./a/. Sy. E quanto mais cedo mais folga-
rei.^rd. ora nom mais,-ifto he trato nam nos paparas,
como eu eftaua paruo. lu /.Faloas afsi. A rd. Eu te direy
(pois ja queres, que tc conhcçatnos,cllc hc ido defdomé
nam fciíc cornara hoje,
pola nianham fora da cidadr ,

W.Hcfora Ari.Sy.IW.Oh doumea Dcos, 3c anda clle


já dc caminho. ^rd.TomaiUnáoíe deterá nada, nam
1

... . digo

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; cio so. 152
digo béifJ, cu riam y todauia, crco que ainda cíta de

uagar. W.Por tua vida que me nam enganes , porque


me vay muito nifto. An/.Anosvay mais que a ty, he
como te digo, & bem o podes faber. lul. Ora cu tercy
cuydado depbufcar,fic8te embora fentirey muito ir-
feme afsi fem algua defçujpa ou comprimento por a-
,

mor dc Benedito efcreuerlhe ba quarft mal ò fiz com


clle,cifmc fem amigo. Ard.Quc me matem fc ifto nam
he manha, voume com tempo dar auifo as partes. i

S CENA. V.

C Uretdfce.
»
i * /

Q V E direis a tamanho defaftre, a tariianho defeuy-


^do,a tartianhá paruoiceminha,ficarmeafsi
tempo cílou pera arrebentar. Fauftina fi-
ta aberta a tal
apor

ca comendo os pes,& as máos dcfefpera ja de fc vingar


de Odhuio.Em fim Iulio pjgou por elle, coitado efia»
uacom a mefa pofía, & a cama feita, & nem dc meia, *
nem dc cama leuou bocado. Nos ja eftamos de lcuan-
tè,quccilcoufehade vingar, ou ha dc querer tornar
# hauer
o fcu'ancl, a iflo vieram paíTar todos os amores,
& lagrimas de Fauftina. Folguey tm parte, porque
bera viuer daqui auan te.
COMEDIA D O
VaI. Eu o creyo,pus fc o queres entender, vay onde te
diíTe,que cu vou dcpreíTa.

SCENA. VIII. •

ESV, quc'prazer,& boa dica. láw.Nãofcyquediz á


I quclle velho, ca vem Ardelio. A/ SQuz dia íáo beni
auentnrado,Í4».Qiic preíía hc cila, parece doudo. Ari/*
Ainda que cm noíía num fora dar bom fim a teesperi
go$,nam poderá ter, como acontcceo. /4».Ardelio,quc
heiíío. yírd.Oh Imoto hcyte de abraçar. Ijw.Quc ou-
ucfic.deque venscam aluoraçado.A^.Ha Portugal, ha
Portugal lao.^uc dizesf A>V, gue auemosjlc ir todos
a Portugal.Irftf.Quacs todos, yi rd. Bernardo, & O&a
üio,& Ardelio.iSe íunoeo.l i».Tu es dou Jo, A rd, Nam
lc pode crer lulio.ja nam hc lulio. b». Morreo? yird.
Mas mudoufe de mancira que o nam}
conheceras, digo
te que aquclle dontem foy bemauenturado pc
defuftrc
ra Liuia,jahe molhcr,ja hc caiada, ja viuc. hn. Muito
aííombrado vens, começas níiacoufa, & faltas noutra.
i 1
Arí/.CuiJasque cftou em miro.Iaw.Toma folrgo,nam
tc afogues, yaff ^.Em fim pera que me hey de deter em

paluuras,vcyo aqui em noíía bufea Ignacioamo de Bea


nardo, foy dar com cüe a cafa de Ceíar onde o leuotl ,

lulio coouidado pera hum banquete ,


que faz por fefla
de


\

Digíli.ed by Goògle
*> - -
cios
o: 154
mc contas, ^rJ.Efpera,to-
üe fuá noui vida.I<i».0uc
pao neflaruacom O<5bauio,icuouos ambos com gran-
des defculpas,& perdam do paííado , infpiroulhe Deos
graça pera fe conhccer,& arrependerfe da vida paliada
defoje por diante coma outra, & ôjc faz conta que recc
be fua molhcr.I^a.E por iíío aucraos de ir a Portugal.
t
ArJ.Nam oque conto, iflo cc ouuera dizer primei-
fei

ro, ^mbrofio he irmam de Bernardo.^», gual Am-


brofio?ArJ.Octauio teu fenhor.Lí».Hum t tu tens ííío.
Ari.Nam duuidas tconhccerãono agora miLigrofame-
tcj4».Comp eftoucncantado. ^4rd.E cu cambem hu
yelho natural daqui contou a fuabiílork ,
& ígnacio o
nofioamo oconhccco por ílnaescomo quem o criou*
láw.ííío hc afsi.Ar</.Afsi.Í4».^yc hc Oétauio it nuó do
teu fenhor. AfJ.Pcra que he cftar contigo em praticas*
vem,& velehascom oolho.Lí».Iefu,Iciu Ardelio.Arí/.
Hcylo velho fac chorando de prazer-

, SC E N A. vitima-

Cefdrfctr.

Q Vanto dcuo
«je liurar
go catn
a Dcospeflo prazer q me moflrotic-
minha filha de infamia, & de hum peri-
cerco ratnanho,eamanhe era ha (ofpeita que ha
marido comoudelh, E tu verdade pofto q^ciuclTcin
algüa defeulpa dc ícu--medo, que eUc auefado craadizer
& faze r-Poç«m pão fc íbfria eodauia velo bater a poft*
& tí£a>

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a

COMEDIA D O
Va/. Eu o creyo,pnas fc o queres entender', vay onde te
difle,quc eu vou dtprefla.

T
SCENA. VIII. •

\
'
*
. 0*

. I inotol k

ESV, que prazer,& boa dica. Iaw.Nãofcy que diz a


I qucllc velho, ca vem Ardelio. ArJIQuç dia 8Ío bem

auenturado.íaw.Que preíTa hc cita, parece doudo. Afâm


Ainda que cm noíía num fora dar bom fim a tees peri
go$,nam podera ícr,conioaconteceo. /4».Ardelio,que
hc iííb. yx rd.Oh imoto hcycc de abraçar. En-Quc ou-
ueftc.dequc vens ca® aluoraçado.A^.Ha Portugal, ha
Portugal. dizesí
?
Ard guc auemosile
y
ir todos
a Portugal. Lfff.Quacs todos, yl rd. Bernardo, &0<5t
uio,& Ardelio & íunoco.l jh.Tu cs doudo, Ar d. Nam
J

fcpode crcr lulio.ja nam hc iulio. I xn. Morrco? yírj.


Mas mudoufe de mancira-que o nam conheceras, digo
tc que aquclle dontem foy bemauenturado pc
dcfiiítrc

xa Liuia,jahe molhcr,ja he cafada, ja viuc, Iav. Muito


aílbmbrado vens, começas mu coufj, & faltas noutra.
em mim.I 40 .Toma folrgo,nam
Arí/.Cui das que citou
te afogues, yird. Em fim pera que me hey de deterem
paluuras,vcyo aqui cm nolTa bufea Ignacio amo de Be©
nardo, foy dar com cüe a cafa de Ceíar onde o leuon ,

Iulio conuidado pera hum banquete ,


que faz por feita
* ‘ - *
de
~
CIOS Ól 15 4
mc contâ?, ^rí/.Efpera^to*
de Tua noin vida.í<*#.£?uc
pao ncffa rua com O<5tauio,lcuouos am bos com gran -
des defcu!pas,& perdam dopaíTado, infpiroulhe Dcos
graça pera fe & arrependerfe da vida paííada
conhecer,
defoje por diante toma outra, & õje faz conta que recc
be fua molhcr.Utt.E por iíío auemos de ir a PortugsL

Ard.Nam o que conto, iíío te ouuera dizer primei-


fei

ro, ^ mbroíio he irmatn de Bernardo. Mn* £Jual Am *


brofio?ArJ.Oclauio teu fenbor.Lt».Hum*cu tens Í1 Í 0.
Ari.Nam duuidas,conhccerãono agora milagroíamc*
tc.l4».Comp eítou encantado. ^irJ.E cu também hu
velho- natural daqui contou a fua hiiloria & fgnaçio o
,

nofToamooconhccco por finaescomo quem o criou*


Id».!íTo heafsÍjW.Afsi.f4».j£yc hc Oétauio itnúó «ie
teu fenhor./W.Pera que he cftar contigo em praticas*
vem,& velehas com o olHo.Ltf».Icfu,Iefu Ardelio. Ar^.
Hcylo velho fae chorando de prazer.
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'


w" ..'
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. SC E NA. vitima.

Qefdr fc9.

Q Vanto dcuo a Deos peílo prazer q me moííroiio*


..je liurar minha filha de infamia, & de hum peri-

go tam certo Camanho,camanho era ha íòfpeita que


marido comoitdeila. E na verdade poífco qciudTcni
algüa defeulpade ieu medo,quç ellc ano fado eraadizcr
&Xizcr»Poççnx pão

fc íoEria
’ ‘
ukUuU velo bater a por
;

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COMEDIA D O
Va/. Eu o creyo,pnas fc o queres entender, Vay ohdcte
dííTc, que eu vou dcpreíTa.
s. . .

SCENÃ. VIII.;

*
, ,Crf

rielio • lámtdl , v

ES V, que‘prazer,& boa dita. ta».Não fcy que diz 3


I quclle velho, ca vem Ardei jo. ArJQuc dia íáo bem
aueatiirado.taa.Quc preíía hc cita, parece doudo. Krâ'
Ainda que cm nofia num fora dar bom fim a tees peri

gos.narc podera fcr,comoacontcceo. /4».Ardclio,quc


hciííb, yird.Oh imoto hcyte de abraçu.ta»,Queou-
ucfic.dc que venscam aluoraçado.A>V.Ha Portugal, ha
Portugal. ta».<9uc dizesf A r</, £?ue auemos.de ir todos
a Portugal. tao.Qiwcs todos, yiri. Bernardo, & O&a
uio,& Ardeiío ) & tanoío.ta».Tu es doudo, A yd. Nam
fc pode crer lulio.ja nam hc lulio. ta». Morrco? yírj,
M*s mudoufe de mancira^que o nam conheceras, digo
rc que aqucllc defaftre dontem foy bemauenturado pc
ra Liuia,jahe molhcr,ja hecafada, ja viuc. /a». Muito
afiombrado vens, começas nua couta, & faltas noutra,
Arí/.CuiJasque efiouem miro. ta».Toma folcgo, nam
tc afogues, /ir Em fim pera que me hey de deter cm
.

palauraSjVcyo aqui cm nofla bulca Ignacioamo dc Be»


nardo, foy dar com clle a cafa de Ceíar , onde
o leuotl
Iuiio conuidado pera hum banquete
” ,
que faz por fcfta
"
*. :
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CIOS
O] 154
mc contas, ^rJ.Efpera,to*
de fua noui vida.Liw.£>uc
pao ncflaruacom O<5tauio,lcuouos ambos com gran-
des deículpas^&i perdam do paíTado , infpiroulhe Deos
graça pera fe & arrcpenderíc da vida paííada
conhecer,
defoje por diante coma outra, & ôje faz conta que recc
be fua molhcr.Ia/j.E por iífo aueraos de ir a Portugal.
t
Ari.Nam fei oque conto, iflb cc ouuera dizer primei-
ro, ^mbrofio he irmam de Bernardo, >4». £ual Am- v

broíio?Atí/,Ocl:auio teu fenh0r.I4w.Hum, tu tens fifb.


Ari.Nam duuidas,conhecerãono agora milagrofamé-
tc.Iáw.Comp eftou encantado. ^ir^.E cu tarnbeqi hui
velho natural daqui contou a fuahiíloria , & Fgnaçio o
noffoamooconhccco por Enaescomo quem o criou*
láw.íífo hcafsi. Ar d. Afsi.Í4w.(?yc hc
Odhiuio itnúõ do .

teu fenhor, A*-i»pera que he cftar contigo cm praticas,


vem,& velehascom oolho.L*a.Iefu,Iefu Arde lio. Ar L
Heylo velho fae chorando de prazer-
:
y*' \ •

, SC EN A. vitima*

Cefdr fos.

Q Vanto dcuo a Deos peílo prazer q me moífroiio»


..je liurar minha filha de irjfamia,& dc hutn peri-

go tatu certo ratnanho,eamafiho cn ha íofpeita que hos


marido tornoudella. E na vcr.dnde poEo qciudTem
algúa defeulpa dc ieu me<lo,quç elle aucficlo era-adizer
&.f.iZer,Poçenanâo íc íofria lodauia velo bater a por t®

n
COMEDIA D O *. • f

VaI Eu o creyo,pias fc o queres entender, Vay onde te


dífie,que eu vou deprefla.

SCENÃ. vm
wJflc!h\ Umtf. A. i

ES V, que'prâzer,& boa dica. I^w.Nao fcy que diz á


I quclle velho, ca vem Ardelio. Kr JQuc dia ?ío bem
auentnrado.i40.Q11e prefia hc eíh, parece doudo. Kfâ'

Ainda que cm noíía num fora dar bom fim a tees peri
gos.nam poderá ícr,comoacontcceo. Un. Ardelio, que
hcilío.yír^.Oh Imo to hcyce de abraçar. E0. Que ou-
ucfic.de que venstam aluoraçado.A^.Ha Portugal, ha
Portugal. li0.Çuc dizesí
5
Kr^ guc auemos^e ir todos
a Portugal. Liff.Quacs todos, / rd. Bernardo, & O&a
uiOyâc Ardclio.ôe Iunoto.l<0.Tu cs doudo, KrJ. Natit
fc pode crer lulio.ja nam hc Iulio. hn. Morreo? yirJ.
Mas mudoufe de mancira-que o nam conhcccras,dig&
te que aquelle dontem íoy bemauenturado pe
defiifirc

raLiuia,jahe molhcr,ja hecafàda, ja viur* /a». Muito


alíbmbrado vens, começas níiacoufa, & faltas noutra*
Arí/.CuiJasquecfiou em mim.I40.Toma folcgo.nam
te afogues, fim pera que me hey de deter em
palauras,vcyo aqui cm nolTa bulca Ignacioamo de Be»
nardo, foy dar com clle a cafa de Ceíar onde o leuott ,

Iulio conuidado pera hum banquete ,


que faz por fefia
de
1 .. ^

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.

CIOS
O" 154
de fua noui vida.L*».£?ucmc contis, j&rL Efpera vto*
pao ncflfa rua com Oítauio,icuouos ambos com gran -
des defculpas,& perdam do paíTado , infpiroulhe Deos
graça pera conhcccr,& arrependerfe da vida paííada
fc

defoje por diante coma outra, & õje íaz conta que recc
bc fua rnolhcr.Ua.E por iíío aucraos de ir a Portugal.
Ari.Nam fei oque conto,iíTo cc ouucradizcr primei-
ro,^mbrpfiohe irmam de Bernardo* ,^». £JuaI Am*
brofio?Ar d.OcUuio ecu fenhor Jííw.Humytü cens fifb.
Ard.Nam duuidas tconhccerãono agora m ilag roíam <>
tc.Iáw.Comp eftou encantado. ^rd.E cu cambem hu
yelho natural daqui contou a fua hiíloria & ígnaçio o
,

nofToamooconhcceo por Enaescomo quem o criou*


Iá».IíTo hcafsi. Ard.Afsi.l4fl.i9uc hc Oílauio irmão dc
teu fenhor.Ar^pera que he cEar contigo cm praticas*
vem,& velehascom oolho.l4».Iefu,Icíu ArdclioJW.
Hcylo velho íae chorando de praze r*

, SC E N A* vitima*

<Zefdrfco

Q Vanto dcuo a Deos peílo prazer q me moíírouo*


«je liurar minha filha de infamia, de de hum peri-
go cam certo ca manho veam anho era ha fofpeita que ha
marido comondella. E na verdade poEo qciudTcni
algúa defeulpade íeu medo t quç elle aucfiulo craadizer
&f,iZer.Po{«a5 não (
fc íu£rü epdauia velo bater a por t®.

& Ci'

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COMEDIA .DO
fabc vfar delleJa fci,quê tne dçjí Deoi mbífeciP plti ffc!
hha igual companheira cfo meus praZerc$,& tfòbafhtâ
& mais que molhei? Oh Líúiaêòní que òihos cc ©ih**
rcy agora. Liuii quito pòuéò amor tfic ácU?s, fhàs ctí

o enmendarey fus, fu$,<teqrit pofdíante riòüà tida, fe


átc qui foftc minha catiua,rciásdàquipòi diãnte riiinh*
fcnhúra da cafa,& da fazenda, fará* o que qmíèrêí,& d«
tni Utobero.E nao viuire i éu totíiO os outro* homens*
De creir he,eòmo mc a ri» dí2iãd,què èu fofori ó qiíc a-»
certc,& todos crrctn,riarri pode íèr. Osqôe «nc dántè*
conhcdãOjVc jaome,& eorihcçSòriie hoíSamcritc^ quart-
tosfubiáoos meuserrosvenhao vèr a minha cmcmlar*
Se poderá tomar oritro nome, deixara o que tcnho>pcrà
que cm tudo parecera rioüo homem Ja riam fairi aqucl
le mao lulioque fohia,ai Vergonhas que paflTcí cotoBef
hardojhe DeccíTario ,
que lhas emende doto ÒUtia too#
honra. guifera bufcalo,dc defcülpartoe j cóino toèlhoí
jpódcr,riam faiba Bencdito,ou n5o íofpcite,quecftfihO
pouco fua amifade,conuidalohci > & ficariricha p®r hof-
pede, roais vcrgonhofaCoufa he o pecado, que à cmcn~
tfà delia, poispelo pcòr paíFei,oam hc razáò cjut o mo*

lhorrecec.gua vera òfeucriado,clirmchadeHe.


* v
« V

SCENA.IIU.

Coufa

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CIOSO, Tfr

C
ejue
Oufa ha ahi,que parece, que acinte
bo,& as defta noite taes foram.
mais tnc ria/e da paruoice de Bernardo, ou ríosue
ãs ordena
Eunam
o
fcy
dia*
do

faftrcsdclulioouda lealdade dc FauftinacomOdtauio


Purcceucs qhíí frade capucho tiuera a tôfciecia de meu
amo, chamado dchüa molhcra que queria bem, & que
oqriaaellr,# q fe aucnturaua aearoanho rifco,faii fe af
fí fem hum íb abraço delia viofe nunca taf p&cienoia*
,

Jul.Qjic grão tráuelTo.repctcnado, de qUcfe .vé rindoí


Ar-^.Sc o Liuiaja quifer ver,quc me macero, ora deatáp
oOdbauiOjnão me poíTo ter, defeulpar a puta. Ha, ha,^
diz que fi que lhe quer grandebenv, que entrou Iulio*
,

por foiça, & jura que he verdadc,quc ella lho jutou, &
chorou. UI. Em quantas vergonhas meus me ri cteratn
pcccados, corrido eftou doque paíTou por mi.Ard.A-
quclla velha Càtn endiabrada, que negou o oiicro, pare
cerne que o fohheijtalaconteceo codaviadi.e veV3adeq‘
amime lembra que hão dormi eftà noite. Andei deílífi’

tütãoategora vigiando , ôc não vi final dcnada.Aspor-’


tas,& asjanellas cftam,comofc-vcri\náocreo que tor-
nou ainda» /«/.Denegar vem. JrL Mashciloacola Vc-
jpo cam paciente que hei do dellc.Nam fei fe o cometa

/#/.Voumc a e le. Por tua vida manct bo que me faças


hum prazcf.Ard.AspcííaS?Perdoame,quc ceengancy,’
jurara que ascrazia Bernardo, folgo dc o naro termos^
dito a lulio. lai Nam digoiflb,masquc mc moftresMi^
asno, que mc relcua muytoVAr^.Pera que. Jul.

Vj ...
julio.

jitized by Google
COMEDIA DO •*s
0 -

Iulio.^^JuJiaScomo podeíer^Itf/.Encobrimeatcgo
ra,ou neguóimc , porque me temi de hum certo nego-
cio de Genoa. Ari.Como fc ouueíTc muyto, que êu Fal—
ley contigo h/.Nam zombo. ^drJ.Ecomo crerei, que
es tu agora mais que dantes. !«/. O que tc eu digo hc ,

afsi. A^iMuyto fc parece contigo aquellc teu amigo.

Ia/.g-ue amigo. Ard.Hum que la andaua muyto nego-


ciador por tua parte. IW.Tcnsrazam, porque cueraho
Biefmo. Ard. Perdoa mc logo,porqtic tu mc tiraftc dc
meu filo/e creras que cra IuTio,como cu cria , natn can -
çaramos tãto. W.Perdoame tu o que cu paflei contigo
que cu tc perdoo todas tuas graças, mas Bernardo de-
fejo muyto dc ver. Ari.quc lhe quercsíia/.Pcdirlbc per
dam de m inhas culpas, que ou creyo que mc cllc dara fa
bendo acaufa.Rogotc que me leues, ou lhe dize dc mi«
nha parte, que mc faça mercê de mc dar licéçaparamc
Vcrcom cllc.A^d.Fatohci ifto, que fera., lul. E feja oje
por tua vida. ^Ard. queres que và cllc la dar contigo.
Itf/.Sc o nam tomar pôr trabalho. ^4 r</. A tuacafa. Jul.
Sy. ./í»*/IcFu,quc ouço/e cndoudcceo cíle,ira ter con
tigo a tuacafa./#/. Sy. E quanto mais cedo mais folga-
rei. A rd» ora nom mais ,-if/o be trato nam nos paparas,
como eu cflaua paruo. IW. Fu loas afsi. Ur d. Eu te dj/ey
(pois ja qucresique tc conheçamos, cllc hc ido dcfdoBté
pola manham fora da cidade , nam
fei fc cornara hoje,

Ia/.Hc fora Arí/.Sy.lW.Oh doume a Dcos,& anda cllc


ja dc caminho. ^ rd. Tomai Ja nãoíc deteranada, nam
CIOSO. 15 2
digo ed riãm fey todauia, creo que ainda cíh de
béifi,

uagar.U/.Por tua vida que me nam enganes, porque


me vay muito niíla. Ar</.A nos vay mais que a ty, he
como te digo, & bem o podes faber. V. Ora cu tercy
cuydado dc p bufcar,ficate embora fentirey muito ir-
feme afsi fem algua dcfçu jpa , ou comprimento por a-
mor dc Benedito efcreuerlhe ha quam mai ò fiz com
elle.cifmc fem amigo. Ard.Quc mc m a tcm fc
iftonam
hç manha, voume com tempo dar auifo arparte».
t

- '
S CENA. V. /

Qlárttáfo«,

Q V E direis a tamanho defaftre, a tamanho defeuy-


^do,a taihanhá paruoice minha^carme afsi apor
ta aberta a taltempo cílou pera arrebentar. Fauftina fi-
ca comendo os pes,& as máosdefefpera jade fc vingar
deOóhuio.Em fim lulio pigou porellr, coitado efia*
uacom a mefa pofia, & a cama feita, & nem dc mefa, «
nem decama lcuou bocado. Nos ja eftamosdc leuan-;
tc,quc cllc ou fe ha de vingar, ou ha dc querer tornar
,haucr o feu'ancl, a ifto vieram paflTar todos osaanorcs
& lagrimas de Fauílina. Folguey cm parte, porque fa«-
bera viuer daqui auante.

>CEN,4 .

(
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, .

CO ME EMA DO *

V
s •
; i { . v. .*
i

SCENAi VI.

zemtn^quc andam aqui doushòmens rouiro mortosai


poscllcs nàm fci quefeja. CAh\ Sc pudcfíeora ehorar
,<

hnm pdtfco.Ia/jiMcdô hcy que pairam aquellas bacori


nhasalgüm Ay, áy-Faufiina<jttam pouco doa*
ucrci dc mata.I^.Q^ucm chora aqui.C/rff*.
ti quem tc

Coitadinha.quc te não merecem eflTc amo«\L*».0 Cla-


ma que hc ilToídc que choras. C Ur. Ay lanoto onde
cíii O&Jiiic^Am.^tK has.quc lhe queres. CknMorrc
Fauílina,dcixcye tallaw.FalIa.Ciar.^ucnáoparccc vi-
ifcuU». £?ac fez,qücm lhe fez mabG/^.Eftirada no mcr=

yoda caía como hum corpo rtlòrtõ l*v\ De qUe»Gkr. .

Eu toda eílã noite andei com eíla com agóas & cOtfT ,

chciros,parece;que arrebet)ta v 5dqúc lhe


:

falta oeotação’
fora.Iáw.Ia chtendd. Gkr.Dizque fc lhe Õ&iuiionarn*
f>il3,& a u.uw otiue,que robreclíc càrrcguè ar
fiía moí-te^
Ia».Hà,ha,he .Girff .E riíle.Irftf.Endíubrada espias cu te’

direi hãàmofinânãowronírn outi*a.CAir .BttTi parte# !

em ti fe lhe mereCcO&auioo que por clle paíTa. Iimi**

Glarcta nao mc cngancs^cífas lagrimas fant de moftar**


da^andaílesmuyco mal cm voííosrapofios; C Ur: Afsi,
as pagamos ainda que todo o mal hc da coicadinha Jaw.
Pois fç foubcíTts pera qué Oftauio negociaua aqudlo*
C Ur. • .

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CIOSO, 15$
fiirJPcri qücm,que ainda Fauftinã crê que era zembá
ria.Aw.Porque hei do delia, &
dc ty.to quero dizer. Pc

ra IulioC/ar.Pcra Iulio? I40.E foy taro recatado que o


entendeo. C/4r.Zõi*bas,tna$por tüa vida que digas a
teuamo q aja do de quem porcllc tílfica. Ia».Zombo,
mas tu com aluoroÇo dcixaíle a po» cá aberta aOdhuio
vjy,vay,bcm paruo hc querti efeapa de hua,& fc torna
a meter em óutfa.Fatfftinàtoroê outros amores de me-
lhor rendirocntoiCiar. Foyfc fc tal he q paciência terâ
Fáuftin» pera Iulio, agora cremos que nos outras fomos
às pmioa 9 ,& as coutadas, algum peccador virà,cm que
fc tudo emende, 0 traydor,comome entendeo.

SCENA. VII. •

«
Vâltrii. Unttt.
f 1

{
/V Dias,que tanto prazer na m tiuc,coiriooje.Oh$c-
L jL nhor Deosque grandezas fam as voíTas. Q^uem
; cuidara depois de vinte annos,quctan to aucra,que vie*
mos dó TuTCo/evicíea defeobriroque agora por mi
nhacaufa fc deftobrio. Pera algum bem grande guar-
dou Deos .'q idlerooço.Uw.Valerio, vifteme por aqui
Odhuio.V*/. Q^ualOítauioínam he fe nam Ambro-
fio. 1 4». Gomo Ambrofio?cu digo meu amo.LM.Eo
digo teu a mo, ja nam hcO<5huio. Uw.Conionam.Vrf/.
Vavcc a cafa de Gelar, la o veras. Ii/í.Nam te entendo.
-v. -
/. •.
- W.
*
. _

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COMEDIA D O
VaL Eu o creyojjflas fc o queres entender, vay onde te
diiTc,que eu vou depreíía.
- V .

• '
. 1
SCENÃ. *
VIII. •

. - *
_
Unctà ,
^

ES V, qucprazer,& boa dita. I^w.Não fey que diz à


I qucllc velho, ca vem Ardelio. A/JPQuc dia íÉo bern
auentnrado,Í4>j.Que preíía hc cita, parece doudo. A râ m


Ainda que cm noíla mam fora dar bom fim a tees peri
gos.nam poderá icr,corr;oacontcceo. Un. Ardelio, qus
hc iííb. ytri.O\\ imoto hcyce de abraçar. Un . Que ou-
ueflc.dequc venscam aiuoraçado. A»- */.Ha Portugal, ha
Portugal. litj.Quc dizes*
5
A ri gucaucmos^lc
y
ir todos
& Otta
a Portugal. Ltff.Quacs todos, yi rd. Bernardo,
üio,& Ardelio, & Ianoco.ljw.Tu cs doudo, A rd. Nam
ic pode crer Iulio, ja nam hc iulio. Ij». Morrco? yird,
M*s mudoufe de mancira-que o nam conhcccras,digo
te que aquellc defufirc dontem foy bemauenturado pa
ra Liuia,jabe molhcr,ja he caiada, ja viuc. Un. Muito
allbmbrado vens, começas nua coufa, «5c faltas noutra.
Arí/.Cuidasque cílou em miro.I 40 .Toma folcgo, nam
te afogues, yitd . Em fim pera que me hey de deterem
palauraSjVcyo aqui cm noíla bufea Ignacio amo de Beo
nardo, foy dar com cl!e a caía de Ceíar ,
onde o leuoti
Iulio conuidado pera hum banquete ,
que faz porfefla
'de
.. *

•'
'
- ^ #

. ^

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CIOS o: *54
3c fua noui vida.I<*».£Hic rac contâs, ^rí/.Efpera,to*
pao nefla rua com Q<5lauio,lcuouos ambos com gran -
des defculpas,& perdam dopaííado, infpiroulhe Deos
graça pera fe conhcccr,& arrcpcndcrfc da vida paílada
dcíoje por diante coma outra,& òje faz conta que recc
bc fua moihcr.l4».E por iíío auemos de ir a Portugal.
Ard.Nam fei oque conto,ifTo cc ouuera dizer primei-
ro, ^m br o fiohc irmam de Bernardo. Jan* gual Am-
brofíoíArJ.Ochauio ceu fenhor.f<<».Hum r ta tens ílíb.

Ari.Nam duuidas tconheceraono agora milag roíam e-


cc.Iáw.Comp eftou encantado. cambem hu
velho natural daqui contou a fuahiiloria ,
& Fgnacio o
noíToamooconhccco por ÍInaescomo quem o criou*
Idw.íííb heafsi.Ar^.Afsi he Ofbauio irmão dc
teu fenhor. A»-í/.Pera que he citar contigo cm praticas,,

vem,& velôhas com o olho.Lr».Iefu,Icfu Ardelio . ArL


Hcylo velho fac chorando de prazer.

'* • '
c. ,

, SC E N A. vitima.

Ge[arfes.

Q Vanto dcuo a Deos peflo prazer cj me moíírotro-


»je liurar minha filha de infamia, & de hum peri-
go cam certo ramanho^amanho cn ha íofpeita que hoj
marido tomou delia. E na verdade pofto c^ciudTcni
algüa defeulpa dc íeu medo^quç ellc audado eraadizcr
& fuzer.Poççm não fc íoEria ipdauia velo bater a por ta
& D lO»
COMEDIA DO
&áam lhe abrir, noíTo Senhor cfpirou noua almã,&nò
ua vida quando mais parecia, que cíhua fora delia. Vay
ter a cafa,& lançafc aos pes de Liuia, &,qirifmc beijar
osmcusycom lagrimas o leuancei, & com lagrimas con
to ifto. Ajuotoufe outro prazer daqucllcs mancebos
que fc chamam irmãos, que velos a elles,& a hum velho «

feu amo hc pera louuar a Dcos, Liuia eftaua morta ja« ,

gora viue,ja terâ vida que lhe fempre dcfcjci,quc fcgú


do o que enxergo ncllc ,
vayja caindo em outro cftre-
mo deraafiado.Vou conuidar meus parentes, & amigos
que mc ajudem a rir, & a folgar como dantes mc aju-
dauam a chorar, & vos cambem feftejay efte meu coa*
lentamento.

Fio d* Comtdiá do C itfc.

là( ROWA

EM LIS B O A. Com licença da Sin&a Inquiíiçao,.

-
t
fl^do Ordinário, dedcfuaMagcftade.
Por AntonioAluarcz ImprcíTbr,&mercador de liuros.
E feitas a íuacufta. Annoi622.

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