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~-- 931 ·~
O Jornal do N .º 1 O amante dos manequins de cera
ORREU no sábado em Lisboa o meu
M
1leP'!!l~r:~
antigo condiscípulo Rogerio de Castro. E
nào morreu porque o mercurio da vida ti·
ve!ISe subido até à velhice no thermometro
do., an<i~. \forr~. pelo contrário, muito no-
vo: pouc<1 mai::. de trinta. Morre quando
o f:.t\crifk10 1ht 11ua abdicaçao de <1rtista <:o-
meçava a ~ur pago em conrndidacles. Havia
dois anoi< con>1truim uma "chalet. i-xcentrico,
com telhados de biqueira,.. recur\'as :i laia
P R E Ç O &QITOFt zf"" 1 SABADO do pantufa,.. persas ou de pagode hindu;
so CTS. Ilí d io 1 ci~ so~ -; 12 ·OUTUBRO · 1929 havia dois 111e1.<es que comprara um auto·
movt-1 "\Vmtlsor. fronteira solar de suas
;un!J1t,'<k~ e: 11<1" "u'1" inofcm"".ª" ntid<1<les hu·
lllllKCÇÃo (provli<Orial R.<CllJ'TOlllO (prOVlijOrlO) m.rnllll. \fa" n;)o é a i;ua morte que ofere-
R . da Palma, /.Ih-:!. •-lfS80A
i;c; l!arrei 11a1 a uma históna; é a ,..ua exis-
At>. dos Aliados, 71- PORTO
L1·11c1a 1· o >-t'U c:1,,o. Gontar-vo~-hei, µois.
a 111Rlona da vida de Rogério de• G<!Stro.
~'ilho d1· 11111 modesto empregado nos
() H ollywood do Angola & M etropole -Recordando Arm:tl\t·ll~ Uran<l<'ht, lialntuara·iw, cle.,úe g;1
Belo Infante - O monstro genial- Onde está H ennies
E' o que vale o seu silencio - O Calvario de artista -
O caso de Rogerio de Castro - A s bonecas de cera
- Os gemem; do acaso - O Presidente Machado, o pre-
sidente TIowcr. o coronel Brick e o Ford. : :
•ico - e daí a nossa .ninterruptd. an11z;1de " fr A
An tonio Bandeira quente corrospondencia 1a já quatro nnos.
Ma. não quizera eu. apesar d• tudo, quo Belo
CORR1'10 atir.i'11os A. vezes tl Rima certa• Infante me tives~e e:st-rito a cart:\ t.lo.s!'.la manh(\.
O cartas quo p..... un e ferem i:o1no "" pedms E' q uo meia hora ani ., d~ a lõr - fora informa 1o
da garotada ~m bri11;1. MAA vá li\ n gent'l ndivi · que Antonio Bandeira entrava rlu novo nn Pent·
nbar... Cart.'11> e mulbere• - •Ó <lupol· ti~ pnd& tenciaria.
cido o m~I é que ariuramo• do mal que eln• D todo o elenco d&~e va.to Hollyw•>od que
vinham trazer·nos. A que recebi hoje . .,,.tampi· é o Angola & .lletropole onde abundam os oedet·
Jbada com a esfinge bochocbuua ''ª
R.1inha 1tu1- tes dP todo• os géneros; O• • azes • de todo• o.'
lhermína. da Holanda. era das que mMeci:1m ser cart.ue•; por onde pa•sam Charlot. e Lon Gha
lançadas. com o envelope virgem, na vala comum neys; Harold• e Geníogs; uma ftg11ra exi•te qJA
do cesto dos P•l"'is. me comove profundamente: Anto.1io Blndeira l
Roteio-vos o •eu remato: "Tanto eu como Que mau feitiço - o da 'ida des•e homem! Es·
t.odos os camaradas acolborno• com alivio e como· critor que foi, e brilhante; legitimamente "rubi·
r,ào a noticia de que Unham sirlo finalmente kber· cioso ; pobre de fortuna mas mihonario de inro·
ta. a_, portas do carcer'\ pnrA que o vo••o antigo ligencia e de enorgia, ei·lo. ~..,..,~ mJrtn novo, "
ministro aqui, em Haya Sr Uandolra, eaisse para luctar para conseguir inllltrar-11e numa M·reira
a liberd«de. de - seocardido em absoluto das atti então quasi monopolisada por uma casta; a .. kOflrill "• C'lutro ......... .,.,,,... -.....u a..... ~"'
crueis acusações de que foi vitima. Recorda·•o, diplomacia. Sem recursos, sem padrinhos, sem ....Nf . , . , , . ••••
de certo, dos meus desabafos a este respeito por inttuenciaa, teimou, trabalhou. numa canooir& he·
ocal!iAo da •ua visita ao noa80 pais. Nenhum roica ...
diplomata ostrangoiro conquistar"' tã!l dignamento Venceu em parte. Lutou na carreira - mt\ll rolo, •i profc·cia paterna do seu decidido
a admiração e a simpatia, a alm& e o esprrito de duranto 10, lõ anos, que rija batalha, de que talento aitistico - demonstrado uas sera-
todos os holandozoa, desde a Rnính11 Mú nós, torturas, que prodigiosa acrobacia par·a se manter, pioturas de; cromo1:1 infantis, com lapis de
como o Sr. Bandeirll. Seu amigo, otc. Belo ln· para brilhar, para prosseguir até ao triunfo abao·
/ante.• luto! Os nossos diolomatas eram mal pagos. O• todas as cores. Aos quinze anos recusou·
Anteli do mais nada aprosonto·lhes o signa· governos, ao enxaare1.arem os seus orcamentoe, ·ée a obedecc;r ao Destino que o mandava
t&rio desta carta om tão má bora redigida e post.a contavam com a fortuna pessoal do• quo esmo· como recta clinasticil, para. o balcão de
a voar nas asas lnvisJvels do cor r~Jo. Em 1926 lavam, por snobismo mundano e não por amor qualquer lojtl de modas - e entrou, a grau·
- rncordam·se? - parti para Hayn, como mlssio· ã CArreira, um posto de secretario.
nario de parto da Imprensa portuguozr• no julga- E Antonio Bandeira - só dispunha dos seu~ de cusw. pant as 'Belas Artes. E fosse
mento cio ldarang. Esse julgamonto roi o ultimo anemicos ordenados. Ma~ o que lho faltava om ouro por milagre !le sugestão ou porque, real-
fosforo da caiu da vordado - quo brilhou, numa sobrava·lho &m ospirito. Oseupro\!'resso continuo, a mente, as aguias cio genio tivessem feito
efemera o escandalosa claridade, Iluminando pepi· conquista de simpatia e previlégto que assinalav!I ninho na sua alma, 1.1 certo é que trez
tas insuspeitada& - ml\ll quo logo se oxtingulu, 11 sua pasagem por qualquer capital, quando alndi\
restituindo·a& do novo ás trevas e ao dogma. o~ secretario - era tudo obra da sua inteligencla e anos depois falava·se dele c:omo o •nenino
jornalistas holande>.es, nAS vo-~peras do meu 1·e· da correção do seu porte-associada a um doloroso pro<ligio do ~ou curso. A sua retina ganha·
grosso, oferecoram-mQ uma taça de champagt1e e secreto sacrificio de todas as horas.
no seu •cercle •· Ia um redactor do Telegraaf Parecia ter chegado, ftnalmento. a sua vindima
papagaiar o terceiro brindo quando a po1'ta envi· ao rendimento da capitalização do seu esforço.
dr..çada do ftmdo ao abro o ou me senti num Ministro em Haya, melhoradas as receitas -com
carroussel de espírito como 80 o vinho aoirado mais lar~ueza e bem·estar-a sua inegavel vocaçao
tivesae produzido uma verUgin08a embria11uez. diplomat1ca espandia·se com retumbancia. Antonio
O aspecto do recom·chegado explloova bem a Bandeira era o estrangeiro mAis querido e inlluent~
tontura sofrida. Monstro •s•lm, nom Goyil nom aa Holanda. A propria familia real o distínguia
Gustavo Doré tinham ongondrado nunca no ma· Os proprios ministros das grnndes potencitl8, Iam,
qulaYelismo dos seus pesadelos artlaticos A di•· em segredo, pedir a Antonio Bandeira, plenipo·
rormidade duma cabeça enorme, entroncada sem tenciario dum minusculo e desíntore...ado pata; o
pesçoço era agravada pelo corpinho de petiz en· reflexo da sua lnlluencia para determinadas "
fezado. As perna& do palmo e meio e 11escarna· ditlceis dêmarches. E foi logo ne&!a hora de
daa, bambuleavam-oe dentro das caltas Um •ó apote03e e de repouso que a Fatalidade velo cei·
braço ~inha - o ditoito - e e;,se só diopunha de 1ar-lho a ventura, atira·lo do apogeu tão ambic10
dois dedos - o unico polo do seu extraordmario nado para a enxovia: da gloria para a deshonra;
e privilegiado dlnamitismo mental rois aqueles ds intimidade do. reis para a do~ facinoras duma
dois unicos dedos - soube deporM - gu1.wam a penitenciaria !?: Como se fo•se pouco veio a
mai& brilbaot<> e gloriosa pen11 dP todo " impren. crueldade do Destino a conceder·lhe. por um"'
sa holandoza. Chama•a •0 Bolo Inram.t· aquelt· .emana,,, a ilUllo O de que o pe•adelo terminava. va enjoo l'"hl" tiuta~. ~orno um c-stomago
genial alcljào ~ d••cendia de •1ma dR' hmilil1• o~ todos os .jornalista• l\Ue radiografaram o no dm ,..,•1rnrnt1: i1 emhriaguez com vinhos
luso·hebrsic&l> quo '""'mb•lharam pora a Jiolilnda "rcaboiço deste misterio sou aquele que mai-< variado-. 1>,-,1Jca1 ,1·s1· :l c,.,cultura. e era na
no remo de D. Manol'I J ~ttlf o quu m~ µ-:th•a ·onH~nciào t!-:>tá que o seu misterio -.e) ...orá 11umi·
nisou ma1• doloro&dmunt.o O• narvo• foi a mut1· nado por dentro quando for p1ezo u celübümmo p;.cultllla •!U" , .. n•velav;1 numa vertigino·
clllosidade da 8Ua toilette - todo 11prnocado, ao Hennis. Em 19-25 propuz a um jornal de Llsbo3 sa vocaçàO. Sensi \'el aos élogios alheios
colo do moço que o transportav& de rodacção em descobrir o seu refugio - que era então em Cons· usava.os no culto aos fleus sonhos e.uto-
redacção, como as amAS levam as creançM e quü tantinopla e entrevista-lo pi~. . • 1toco11lo·mt; de llle ter escutado, nas
o Tiera trazer ao cerclc para me conhecer. ~~ia Nilo 41uizeram. Nmguem quer quo Honnios
hora dep<>1s a oua palestra sclntllnnto rcndin·mo falu. Talve?. um dia tento, per minha eonta. essa vesperas da minha primeira partida para
e fazia osquocor·mo ~ monstruosldad~ do scn li· empreza ••. o esLrangoiro, os projectos dum futuro tão
2 O jornal do REPORIER X
infalivel, como para o entardecer é a noi· As semelhanças nho·a 11voc.ido ..,111 silencio, dezenns de ve-
te; ou como para. a aurora é o dia. Monu- oomprometedoras .te8. E' qu" no fundo de todos os odios do-
mentos públicos de gr:rn·eloquencia mar- gmatlcoM, existe, como derradeiro recur-
mores, "grands-prix. nns exposições inter· so .•. o argumento do "pé mais pequeno".
R AQUEL àleller e Pastora Imperio, ri-
nacionais; a funtlnçM do muqeu ªRogerio de vaes na eoberania dos palcos de •mU· Quando o 1.• numero de os "Homens &
Castro.; a univenialistlÇilO do seu nome e sic-halh detestam-se e hos1ilis11.m-se como Factos do Dia" pulou por essas ruas, -ba·
da sua fama. Ao dar·me o abraço de des- ae rivaes fossem oo amor do mesmo galn. via muita gente que o aguarda.-a com an-
pedida, gritou, muito alto, para que toda Atribuem-se mutuamente as mais enlamea- tecipada simpatlli; outra que o esperava
a gente ouvisse: "Até breve, rapaz. Den· das baixezas e nas horas em que esgrimem com curiosidade sim -mas resolvida a ser
tro de poucas semanas estou contigo em os seus odios, esquecem-se das suas prosa- severot u justa na sua critica, e outra ainda,
Paris •. pias de grandes damas para regatearem, dh.poslll, oa melhor das hipoteses, acbar-
• • . Só em 1923 o tornei a ver. E~tava de braços anforados, como duas •cigarrei· lbe "um pé mais pequeno do que o outro" .
mudado, sobrio de ge:;tos e de palavras; ras•. Pastora. nllo perdoa a Raquel a de- Este ultimo b.italhllo de caceteiros lin·
rapára :i americana us trunfas guedelhu· claraçno feita a um jornalista de que a guaes eram Cllpitaniados pelas "Emminen-
da~; substituira o laçuote â Lavahêre por sua cosinheira. cantava muito melhor de• ces Grises" .tles ante-gozavam uma esca·
uma 11ravata vulgar. Que o ncomp~nhaS!'e que a divorciada de <El Gallo•. padela d<• pro1<11 onde pudessem zurzir o
ao seu ªatelier., para as bandati da E.~tefa· Indiscutivelmente Raquel, graças ao seu ben.,"lllno de jnnizaros passivos. Fiz.
nia - um barmcào de sonlho Pncardido e contacto das grandes cidades e á lnUuen- lhes uma má •urpreza; desnbeilhei-Jhes as
parPdes esburncadas. E em vt·z de "muquet· cia que Gomez Carrillo, a quem tudo deve acusações já ncol-
tes. de estaLUa~. de bustos e frir.0>1 onde e para quem foi criminosamente ingrata, meadas; tornei-
br:rnqueja8se, 1111acul11damonto, o >ieu ge- aristocratizou a sua arte, lhes impossivel os
nio - vi-me cerc11do de pornas de canào lntelectualisou-a, tornaudo- palavrões de
~
com tíbias ele madt-iru; c<1beças de abone- se a cvedette• maxima do "chantage" e de
cadas fem!'as aincla por soldar e dando a ccouplet•. E quando, apoz "vingança réles",
irnpre~sào de crnneo8 trep:inados; seios de enssimobriguei-os
alguns anos de •tournées•
Sherar.ade com pu rafueos ; ga vetões com de· a espr emer os se-
triunfaes, regressou a Es·
E
zena~ de dantadmas; punhados de gl<•bos p~nba e disseram a Pastora
quíssimos miolos
visuais, em vidro e com íris aiuis e c<1sta· á busca dum ar-
o que ela se estilizara no
nhos e negros; ramndus de tranças loirnA, gumento, no es-
estrangeiro-Pastora riu-se
ruivns, n~ :Jladaa ou lis11s •.. Havia em todo e jurou, ti. laia de cigana, tilo do da Pastora
aquc!~ "bric·â brac •. rntre sinistro e afünto· (que é), que Raquel era uma ttoour Jmperio . .. O que
clia•lo, algo 1l0 cemitério, de morgue e hos· artista galada de defeitos farejaram en t!i.o?
pi tal, com lixo 1!0 cndn vere!l P rt-sto!l de Que o retrato do
irremedia.-eis, de defeitos de que uno podh1
optffaç:lo. Que vmh1\ t\ ser aquela Feira de amputar-se nunca. coronel america·
Ladra? E Hogerio de Custro, sem os anligos Insistiram com ela-e ela teimou no !Srlk~r uo, que foi um
alarrlcs, numa modestia despreocupada de seu pessimismo malicioso. Que Raquel era dos chefes da Po-
operario, contou-me como tinha sido aquilo. uma carga d'ossos; que não tinha voz; que licia tlu Contra Espionagem em Portugal
A realidade 1>Sfrang11lhara, uma por uma, não tinha sentimento a cantar; que na sua e q ut- ílus1T1n-a o artigo sobre o "Homem
todas as sua.'I ambi~es, esfumara todos n;; baaofia de •tina, se ridicularlsava em das Libra• de Llluça" era... era o do
seus sonhos. Passara111-so os mer.es e os anos ccursi>; que vestia como uma comparsa presidente Iloower! E julgavam eles qae,
sem uma encomenda. Tentara um vôo, ven· de zarzuela... A unica forma de abater com a indlcaçllo de;se "pé aleijado", des-
cer a Yida pela nobre?.a da Pua arte ... aquela rerrea parcialidade era defrontá-la caatelavam a reportagem diagnosticando-lhe,
nada conseguira - nem &equer uma viagem com a evidencia-e por Isso levaram Pas- atravcz de.te simptoma, uma falta de es-
subvencionada. O pai moirera. Dtira ent!lo tora Jmperio a n~sistir á reapariçllo da crupulos joruallaticos -que se alastrava
o primeiro mergulho na m1seria e saira as- rival... Não podia Pastora negar agora por toda a obra •..
fixiado e jurando a si proprio nunca mais que o corpo de Raquel ligeiramente rechia· Rnblou o boato um pouco fpor toda a
ensaiar natnçllo naqut'las Aguas. do, gauhava uma plastica de formas deli· parte. .. .i-:· pena que ele tivesse met ido
Os antigos patrões do pae propuzeram· cadas, como uma puberdade radiante de o 1·etrato d11 lJoower pelo do coronel
·lhe experimentar o talento de esculLOr esperanças; que a sua voz se disciplinara, "Yankee" murmuravam. E como os con-dit•
destinado a obras imort3is de marmorc na se enriquecera de eleitos e se aproximara vem sumpre varar aos meus ouvidos-vou
cera dos mnnequins. Adaptou·se. Chorou da alma, colhendo-lhe directamentc o orva- desmanchar-lhes mais esta lgreijiuha- em·
muita lag1 ima ao ver reduzidas ás montras lho doa grandes sentimentos; que as suas bora pouco me Importe que possam medir
dos grande!! anna~ent1 ali suHS produções - atitudes tinham uma elegancia since1·a, su- por uma troca de fotos n .seriedade de
destinadas ás salat1 dos grendt>s museus e perioridade e sobriedade de grande escola; uma ob1·n jornallsticn.
aos pede!<taes das grandes 11veni1laA euro· que o seu guarda-roupa parecia feito com l'odla, de facto, o coronel ameriêá"MSe'i-
peias. A sua tragedia sobrepo:r.·se â de um as telas de quadros de maravilha .•. wulto parecido com o presidente Roower, e
outro artista de genio que conheci em Bru· "-Pois sim-disse Pastora no sair do eu con beço cnsos do tllo !lagrante seme-
xelus. Ern um russo, um clar!\o do e~pe· teatro •.• A Raquel s11rá tudo q uanto vocOs lhança que provocnm até risonhos epi-
rança na sua gcraçM. Violini~t.a em ae· qulzerem-mas basta um defeito p11ra a sodíos. O P residente da Republica Cuba-
gredo com Ot< D!'usos. CompuzeH~ duas opc· descer á ultima categoria da arte. Qual? na Machado y Morales, por exe1uplo, tem
ras sem conseguir que os emprezarios as Tem um pé mais pequeno do <tne outro ... dois eoslu impressionantes. Um deles é
fizessem cantar. Para nào morrer de fome Nllo repararam? Ora essa . . . Pois vê-se o sr. Oscar do Carvalho Azevedo que uma
- que é piua um artii:1ta dupla morte: a logo ..• Toda a gente o notou ••• E' um vez foi abordado em
fisica e a rio espirito - fizera-se chefe de defeito ritliculo, iosuportavel-e com ele Paris por uma familia
"jazz-band,, dum " cabaret,, reles, onde os Raquel ha-de ser sempre uma copletleta aparentada com aquele
frequentadores se aborrecium com a musica aleijada ... p-0litlco e que o abraçou
honrada e lhe oxigiam "f'ox~ e charlest.ons". Esta atitude de Pastora fixei-a e te- com tanto eutuslasmo
Chamava-se Hipolit.o Tret•f - e vi·o cho· que nilo lhe deu tempo
rar castigando o violino com um ·'sliimmy" a explicar-se.
agatado da "Revue·Negre". se sentir sultão naquele harem de odalis- O outro eoaia do sr.
Rogerio de Castro já nl!O chorava. Pelo cas de cera. E ganhava! E progredia! Au· llachado y llorales é o
contrario; substituira a sua paixão lu oati· ment.ou a brigada de operários. E' que isto negociante lisboeta Raul
ca pela arte, pela paixllo pratica, pelo di· de manequins é uma grande intlustria. Oouveln, estabelecido oa
abeiro. Ganhava tanto por dia ... E nllo Sabem os senhores quantos se fabricam por Rua do Arsenal. Quando FoNI
era tão vil, como a apnrencia, aquilo de ano, em Portugal? Quatrocentos. E segundo era ministro de Cuba em
moldar manequins para 11urgirem em atitu- um artigo pablic<•do, ha pouco, em "Lt>s Lisboa o sr Luiz Gonm·
des classicamente idiotas nl!.8 montrl\8 dos Rares", a FrJ nça gasta no mesmo pra.'lO lez e quando o nctual presidente era ape-
erandes arma ians. Tinham menos beleza 150.000 - Só 8Q 000 Sllo para Paris; e a na~ deputado - aquele diplomam encoo·
e m enos alma - aquelas dama.e. llas ele Alemanha 210.000! Rogerio de Castro era traodo-se com Raul Gouveia no "restaurant"
,.ariava·as; crean.-as; desenhna·lhe& as o rei dos manequins de Portugal. Come- Ta...ares abeirou-ae respeitosamente da m~
linhas das pernas e doe seios, o triangulo çava a ser rico! llas perdera o seu grande u. do comerciante, estranhou que nilo ti·
do rosto; coloria-lhes os cabelos e os olhos amor á Arte. E aturdia-se com os mane- ,.esse aldo avisado da. presença de S. Ex.ª
- conforme o capricho toorico - eeneual, quios - como um pobre amante atraiçoado em Portugal • pedi u-lhe licença para or-
!lo •lia. Havia algo de ln~est<> na 1<na 1<Pn· ']Ue l'C ilude com um serralho de prostitu· ~anlzar uma testa na legação, em aua
<'Ualitl:11Jc 1' havi:1 sobretudo a pro~a;1i:i. de tas. 1' p.. r isso morreu aos 39 :iM~. bonrl\.
O Joraal do REPORTER X 3
o novo jornal
O tilintar das libras de lo uça Este primeiro numero do Reporter X sai de-
no silencio jornalís tico ficient iss imo- s e o compararmos ao nosso projecto.
nas fossem tomar cbll. e satisfazer á gulo- •U liciente para se delroutHr com a artista esfal fo num tr&balho honesto ou desbonesto
seima dos ccbantllla.; onde se encontras- e contra-scenar com ela directamente. para a manter nesta 9stentaçllo vocelencia
sem com os Chiquinhos, os Manéca;i, i.odo !-'oi a um telefone visinho e pedindo se destrae e ajuda a viver lndividuos que
o •paposequismo• lisboeta que respeitosa- comunicação com & sua proprla casa soli- odeiam o trabalho nas que sabem fazer-se
mente, como nas • &ol rée&• do club Brazi- citou a actriz ao aparelho. Que perdoasse amar! Diga-lhe que Ester Leito se ri a bom
leiro ou dos sallles das Avenidas novas, - mas ela que se via obrigad&, na sua rir da mascara do pundonor de certas
se desengonçassem ao ruido-bundo da or- qualidade de gerente a suplicar-lhe que d11maa =porque antes de me fazer artista
qnesu·a negra. saísse porque as damas presentes assim lh'o pertenci, frequentei, convivi durante mui-
Para acreditar a casa e para que boa rinham indicado Uncand<ra no dilema do tos anos com a sociedade que elas julgam
sociedade viesse :;em temor-á entrado se- • ... ou essa actriz ou nós !• •E porque he representar e que, portant.0 conheço mara·
veríssima -sendo imposslvel a qualquer afligem essas damas com a minha presen- vilhosamente a 'l'orr!' do •rombo onde se
reputação que nllo desse quimicamente po- ça?• -quiz saber a actriz, sem a menor orqulvam as suas cronica•, que eu, Ester
sitiva lnfiltrar-~e pelas fil<'ims cerradas e perturbação: E a gerente titubiou: •Como Lello sei que a senhora D. Tal (e apontou
atentas dos porteiros. V. Excelencia é do teatro •.. • •Ah! E' por pua que nllo houvesse duvidas) faz da sua
Durante uns mezes- tudo decorreu em eu ser do Teatro ?! 1 Muito bem . .. En propria filha, com 16 anos incompletos,
boa paz e alegria e o negocio foi dando saio jt •.. cumplice das sua• diversões ilegitimas ! ;
rendimentos apeteclvels. !llos els que uma Acabou de satisfazer, ~em preHlll u sua que a flnr.• D. Fulona (e tornou a apontar)
tarde entrou na sala do •dancing• pudl- guloseima, esvaziou a ohicara, pagou, cal· que tno plllido se encontra se embriagou
bnndo uma dama alta, mag1·a duma ma- çou as luvas brancas, ergueu-se ruagestosa, com • champogne• quando o cadaver do ma-
gresa oriental e sugestivo, de linhas suaves teatral , colocou-se no centro da sala para rido, suici da por sun causa, estava quente
de Sherazade, multo branca e loura, so- que todas a vissem e melhor a escusaijsem ainda e na camar a ardente recebeu um dos
brancelhas recuadas de princeza persa que e dirigindo-se a uma das damas que mois trcz motivos human os desse suicidio; que ..
tivesse nascido de mne escandinava; e uns se i nervara com a sua ent1·ada no cdaneing senhor a D. Bcltrona =aquela que ali está
olhos extranhos, ono rm os, esquivos, miste- de gente honesta•-esposa d\\m financeiro = nl\o pode explicar n proveni enois de um
riosos •.• A dama entrou com a solenidade multo conhecido -declamou: anel de saflrns que traz na mno direita e
de Deusa que desce do Olimpo; escolheu - Como V. Excelencia já foi e111 tem- que retira e esconde nu mala quando entra
uma mesa ·distante e abancou, so~inh a e pos visi ta de minha cMa, e me conhece em casn.
1
indirereute ·ao laço de curiosidades que a
estreitava. !l!nrmurios, perguntas em sur-
dina de grupo pam grupo-e por fim ri s-
e eu a conheço com mais iutimidltde de
que ás outras senhoras presentes rogo-lhe
a gen til csa de que, quando eu sair, dizer
• Cerc les pour dames •
51ni UL'l'ANJo:A:.tENTE no funcionamento da seita
cou-se um nome, como um fosforo de cera ás suas amigas a quem tanto agoniei os orglncn; no oolnr dn onda que lnundn imune·
na lixa da caixa; e a seguir, como se esse sensibilissimos estomagos • que eu, actriz ro~ fare• !porque mesmo entre 11 t.11 sociedade há
fosforo tivesse incendiado uma bicha de Ester Lello•, muJher de teatro e cujo lar umn selecção vi1tuo~n que 80 dofendel; ao espla-
uno está chancelado pela igr eja nem pelo nar da re'"ª'"'' q1w atira para o lõdo, mulheres e
rabiar-o mesmo nome rol repetido, em homens. •cfhos e novo•. irradiam da massa glo·
todos o• cantos da sala, em estalidos cada Registo Civil se ri das, suas sensibilidades bal·•aletas que sllo tomo que celuhui independen·
vez mais ruidosos •.. •E' ela?• cE'I• •111as e da sua hipocrisia. Que eu, Ester Lello, tes dentro da grnndo con,jura •ociaf da imorali·
parece impossivel I• •Jt é descaramento!• actr iz, mulher d e teatro, estrela d o Teatro dado 1> do Impudor.
Creio qu& esta rajndn do prosa, sintetis.•ndo
•Sentar-se ao nosso lado!• • E nllo se lem- Nacional, vivendo á margem das conven- com exattldAo o meu penMmento sniu um pouco
brar ao menos que nós trouxemos as nos- çlles sociais e velhacas; ganhando o meu fõsca. Lavemo·la... Oa alucinados que maca·
filhas l• - •Vem para aqui Loló!•- •Nlio pão e o meu luxo, com o meu trabalho e quelam caríe11tural e debocl1adamente as f~es da
te aproximes daquela mesa, Zl%1 I• - •Eu com a minha inteligencia, sou absoluta· clrculaçilo co,mopolih1 - tienttrnm-se legalisados
mente Jlvre-Jivre!l!-e sendo livre pr<>- no &cu deboche. Façam o que fizerem, conjunta·
cá ,·ou-me embora I• - •E eu nl\o wrno a mente, nAo temem castigos, n;1o sofrem censuras,
por cá os pés I• - •Mas como foi que a cedo como entendo, bem ou mal, leviana nr10 os 11poquenta o desprezo e o index dos seus
deixaram entrar?• - •Talvez nlo a conhe- ou ajuisadamente porque sei nlio prejudi- semolhantos. Os elementos da sua cl88Sll sào tào
cessem .•. •-•Vamos pr evenir a Gerente!• car ninguem, nem ferir honras sagr adas bons como eles - uma rasonvel maioria; muitos
de um esposo e de filhos, porque sou livre, comparticipam do rold do rrn2eres lnunterruptos
- • Isso 1 Exigir-lhe que expulse!• - •Jt e vertiginosos. Exlst~ apenR~ a necessidade de
se vê . . . Ou ela ou nós!• que nlio tenho marido a quem deva leal- defender o segredo contra as outras classes (mais
A actriz em questllo, que nno possue os dad e e respeit.0 nem filhos que possam por medu a nma ofenslvn de indignação popular
seus extranh os olhos apenas como suple- envergonhar-se ámanhn do que eu fizer do que po1· vergonha). Ora no progresso da in·
$Stlsf'a~l\o que ncompnnhn as facilidades da liber-
mento decorativo - assistia calma e alhela- bojei tinagem - vem seml>ro á ansia de mais prazer.
da ao dilatar da onda, saboreand o os seus Diga-lh e ainda que eu, actriz Ester E visto que nqullo quo ontem é despresado e sõ
crémes e bebericando o seu cbá. Leno conheço a história de wdas e•sas posslvel no mi•torlo dti Intimidade se tornou hoje
A gerente, solicitada pelo Improvisado damas - a começar por V. Excelencia q ue otlclnl, mundano, el~ganto como o baile - os li·
se arrepia toda com a miuba vizinhança bertlno• de bom tom procuram estllisar, aperfei·
comité de gendarmaria remenlna, defensor çonr, intenslflcn1· n sua per,·ursllo de modo a
da selecçno na frequencia daquele casto 110 seu ambi ente por ser uma mulher de inventarem caprichos quo não sejam ainda admi·
Tea-Room - previu o perigo de perdei· a teatro cesq ueceudo-se que eu n11o me es- tidos 1111 solta o necessitem n emoção do segredo
clientela mns n!lo se sentiu com u coragem queço• de que, enquanto sou marido se do esconderijo, do proibido. do poMleguldo... E'
um sadismo que lhes fa1t11vn ...
Hn cousa dum ano o meio 08 jornais gon·
guernm 11 noticia, no principio, com grnnde baru-
lho!rn - 10ns logo se ~ilenclamm - a policia deu
ria e na memoria de quantos, juntamente destinado. Caluniavam, mentiam, inventa- um assalto em rormn n um te1·ceiro andar do
comigo, o ouvl re.m ler do seu •dossier• - vam , diziam que eu me calava por dinhei- Chiado (47, 8.• nndar) a um cerclt! pour damf!s,
como, por exemplo: o j á citado e grande ro - afirmavam que eu recebera 400 con- onde a pretexto ae nsccnsões aos pnraizos qui·
tos (quatrocentos contos, nem menos um micos se onxad1cznvam damM de boa sociedade
amigo, e ilustre publicista Jol\o de Sousa com nctrl1.vs e mundanas num convlvlo alegre
Fonseca, Ferreira Gomes -Chefe da Reda· real, hein), pelo meu silencio; os meus cujo muco prnzer real ora o seu nspecto secreto.
cçno do •Notici&s Ilust rado•; David d e amigos, coitados sua..-am, cançados já de Ora os cercli's pour domes super·abundam na
Carvalho, redactor-Admiulstrador de •O remar contra a maré- e eu tranquilo es- cnpltal. Nns AvenldA• :-;º'""~ existem trez. Na
perand o ser-me possi..-el retomar o uso da E.•ternnla dois; um "" Run D Pedro V; na Es·
Povo•; snr. AI pedrinha - ex-oficial do exer· lrela bastante•; no Gome• Freire innmeros . ..
cito e do jornalista snr. C. Pereira. Longe laia. A unica resposta com que podia que- Como se organlsAm ? Els o que me confessa,
de mim a ideia q ue o snr. A. que, poucos brar os dentes á calunia - era reaparecer, no beu CAmnrlm de.\ V11rledadPs. nmll nrtista ainda
dias antes, me escrevera com entusiasmo era fa lar, era cumprir o que me promete- n:lo celebro. mns bo" rap11ri11a, sempre pronta a
ra •.• Sim muito bem. C't estou de volta, r1:gnlar bons fatans de e'cnndnlo á má lingua par·
de patriota e homem de bem sobre o meu t1cufnr ou jornnli&tka - com a condição de lbe
artjgo do cPo..-o• e do meu jornal de que pronto a recomeçar. Calaram-se pois os pouparmo> a revanche das JX"'Oas que ela dts-
!6ra, em parte, inspirador - podesse come- Emenencias Pardas porque ralando eu já mase11rn:
ter uma traiçno Longe de mim ... Mas eles não podem dizer que ... que e~tou - A primeirn V!'Z que frequentei um desses
convinha-me distrair os •Eminencias Par- caindo! dubs (?) femlnlst11s foi em 111'27 e dou·te a mi·
nhn r•fnv1~ do homn (??) que nAo percebi. ao
das• e enquanto eles se con,'enclnm que o Só lamento uma pessoa: o ml·u tre· pn11•·1rfo do que bO 1nttnv<1
peixe graudo esta''ª no rio - pestnvn-o dor ... Pa ra esse coi tado é que foi dura Pertencln enti\o n Companhia ... e uma noite
eu, tranquilamente nu mnr altv para o dt•,iJu•úo a continuidade da minha honra· n 1·&11 eln d11 Cumpnnhin. t•ropoz·me para socia...
•Pogns umn int;lg11Jfkauc1a por mez - vinte esco~
publicar no próximo numero, •O segundo dez 1 Se me tivesse vendido - os 400 cou-
dos - pnssas lá as tardes, apresentam-te a damas
e ultimo &rtigo sôbre as libras de louça»- tos chegavam para liquidar a minha dlvi· multo slmpatle11s, toma-se chá, bebe-se, uma vez
da de uma vez ••• Assim tem de ser como por oulrn, champngne do bom, comem-se bolos
• • • até nqui. • • Qne me perdoe o meu credor ••• e sa11d11Jlcltcs, onvo·so musica, dança.se, em suma:
Umn• horas agrndnl>ili~lmas.
E' p1 olbldo levar homens mesmo que sejam
- Fundadas razões tenho eu para me tran· REPORTER X. maridos ou anrnnt• "· .. Gu1•rra aos homens das
quillsar e nno ferver no caldelrlto a mim ~ :i« 7 d11 lnrôo ! 1! Ah! Nt\o convóm prupag"r
6 O Jornal do REPORTER X
a exi•tencia do club. . . • q E porquê? perguntei » os ss em l.':X tMnbem tinha visto do bom e Alucinação trágica
-•Porquo é secreto!• - «E'•eéreto -porqué? » do bonito: u ma das convidadas chama ra à
Porque não conven. ! E alem disso parecia mal?
Um club só de senhoras! Seria um escandalo ! casa de jantar um rapaz •mui to catita• se-
tarça do deboche em que se chapinha em
Nós somos ainda um pooo muito atrazado !•
Mas Oij clubs feministas, onde •e misturam
gu ndo a expressão da pequena e fizera-lhe
umascena de ciumes •levada de mil diabos.•
A Portugal não para nos " wandewilles"
actrizes, Damas das Camelin~ e damas ... de ou- Chegou mesmo a dizer-lhe : S.e te tor no a de Feyclea,u , Courteline e Pierre Weber. A
t rllS flores, com senhoras de boa sociedade - par da hipocrisia, do ridiculo, do escabroso,
não so limitam só a instalações proprias. Exi$· ver aos segredinhos com a tua cun hada faço
tem tambem modistas onde, a pretexto de provM u ma das minhas.• Ele indignou-se, cha- do esgosto social com monoculo e "lor!gnon ;"
de uma nova toilette se entra e sal sem dai· 11>U1 mou-lhe de estllplda para baixo; ameaçou com cabelos à garçone ou poumadé; com
vistlls; manucures; c;lbeleireiros - etc. que esco- bater-lhe-e a pobre da. creadita que, no cor· ondulaçlto mareei e "smocking; com arco·
lheram os seus ateliers e salas proidmas de iris da maquilhagem e com casaca; com
patamaros com outros and.lres. . . Uma verda- redor, estava d'ouvido à escuta chegou a
deira maçonaria... E &ão estas damas as que convencer-se que eram marido e mulher ••. saias por cima dos joelhos e com "maillot"
expulMm do dariciri,;·eleganto da Avenida da Mas não era. O ma.rido chegou depois. Era fol ha de parra-desbobina-se como uma
Lihe1·d><de a actriz Ester Leão... porque não um sujeito já entradote. Ao ve-los naquela serpentina vermelha-um já longo fio de
admitelll o contacto com gente de teatro (d••nte sangue, sem p1·e renovado pelo cadaver de
do publico, já so vé!). E' a ansia de buscar, para zanga perguntou o que se passava. E ela-a
além de todas as sa.tisfaçõe•. o impossivel, o que desavergonhada-disse-lhe t udo. E ele cen· uma t ragédia identica;
não se inventou. o que produza um" nova men- surou o rapaz.. . Que parecia ilupossivel 1 _ ,\ noite é o palco grand-guignolesco
Ç>lo! Que aq uilo não se fazia! de centenas de personagens shakesperia-
O Baile dos Bébés -Que cxente!• Que cxente!• exclama· nos, o aut<> de fó da sua heresia carnal; a
va. a pequena.. fogueira diabolica dos seus sentidos... O
1
R EPIT0. }:'.0 mal desta epedemia está. no
aspecto de seita da sua organisaçlto.
-~[as que casa é esta? indaguei dos
meus camaradas. E eles elucidaram-me.
clia a inda os protege. A luz, o sol; a vid!l.
crepimndo, sadia e desvendada anestezia-os ;
As leviandades mais graves deixaram de fá·los esquecer a noute qne passou tl. a noute
. Pertencia a um na.balo do Ulitchepel da
ser o seg1·cdo de dois-para ser um especta· que ha de vir. Mas chega a noute e inicia.·
finan9a da Rua dos Capelis tas- casado com
cu lo livre para todos os d!l. sei ta. se a tragédia; as vacilações; o mêdo de si
unH\ pseudo poetisa. muito conhecida. por
Um exemplo. Pouco aniles do in icio da.s próprios; o nervosismo; o suor ; a transição
tomar sempre a iniciativa de fedtt\s de
férias, na minha penultima estadia em Lis· dolorosa da lucidez e da consciêncii\ para. a
caridade-de caridade ma.is ou menos bem
boa fui convida.do por dois camaradas, que alucinação I?! pttra a crise que piedosamente
comprehendida... No seu novo-riquis1uo
tinham sidos avisados do que se i!l. passar, a os isola e os insensibiliza piira tudo quanto
pretendiam marcar na sociedade lisboeta
acompanha-los de madrugada, numa passia· não seja a escrav111ura deles próprios •.•
com festas extravagantes- de oncle i nf.lli·
ta de tnxi à Avenida da Republica.. Depois julgam que desapar eceram; que não
velmente, levantavam voo clepois bandos de
A Avenida da Republica é, de todas as os veem; que não os espreitam e veem os
escAndalos alados... Calaram-se os meus
arté1·ias da nova Lisboa., aquela que evoca, "trottoirs; as ciladas; as rondageus; as vai·
ca.roara.das porque começava a. deba.nda.dn.
com mais semelh!l.nça, certas zonas a.i·isto· vem ; as esquinas; as abjecç~es; o galva·
dos con vivas... Eles vinham v:estidos de
cm ticas das grandes cidades. N<ts proximi· nismo da sua loucura;Oca.I variosatanlcodu1·a
d1Hles da Etoile, em Paris; no termo de até de madrugada e quasi ao nascei· do
Kofuisd1\m em Berlim, no final de Alcalã, dia... E quando as negrur11s começam a
em Mad1·id existem avenidas gemeas aquela, 0 JORNAL DO REPORTER X esbate1·-se, diatanizando-se em tinta.gens az u·
com o mesmo recorte de casario que deixa \adas, lilazes, roxas, rubras e por fim
FOI COMPOSTO E IMPRESSO
adivinhar, atravez dos stores opacos, con· doira.dás, eles desper tam, pálidos, amarfa.·
torto fofidão de cmapples., uma estante NA T IPOGRA FIA ÊLITE nbados, entontecidos, com 11 alma a salivar
pejadtl. de bons linos; e um11. cave melhor RUA FERNANo;;s TOMAZ, 958 a própria alma enojada, angustiada, mal·
fornecida ainda; i•ven idas onde o clarão dos PORTO -'~~~~~ dizendo·se, chorando muitas vezes, ou t ras
arcos voltaicos, atapetando o asfalto parece jurando nunca mais entrar nos mistérios
transforma· lo num canal veneziano de aguas da noite-para logo, na. noite seguinte
rôxas ou a.zuladas; avenidas onde o siléucio serem enganchados de novo n o vertice das
tem mais solenidade e o ruído mais bar· cbébés», calção curto, blusa., colarinhos á suas taras e regressarem á ignom i n ia .•.
monia ••• mamá, laçarotes e bonés de marinheiro; elas Mas a sua tragedia não é assim psicologica
Próximo-do Campo Pequeno, frente a um de petizas; azas de fim de seda a bertas na e moral apenas. . . Disse-o já. . . Laiva-se de
prédio apalaçado enfileiravam-se alg11mas cabeça e pelos casacos entre abertos viam-se saniue com uma frequen ia grave . . . Junto a
dezenas de automoveis ••• Os •chautfours• as pernas nó.as muito acima dos joelhos, as cada desiraçado ergue-se sempre Mefistofies, pelo
agrupavam-se junto ao portão gradeado do saias de meninas pequenas; e pl ugas que alçapão da opera a explorar a sua desgraça . . .
jardim. Da banda de dentro, uma. ra.nchada mal chegavam ao tornozelo. A m:i.'1raçaria, plebeia ou "smart" andrajosa ou
de creaditas, vestidas de negro com avental, - Este baile fora orga ni sado muito em eleJante não tem escrupulos ...
colarinho e to11cas brancas passavam, entre segredo para evitar ·~s ·bisbilhotices da E' um instinto de defesa da vagabundice, tão
gargalhadas e esquivas f ugidas aos abraços, cr alé•-informa.ram os meus companheiros. torto nos relapsos -como nos restantes animais o
copos de vinbo~ e calices de licõr. . • Com A uota original, a nota •smart>, a nota é º o instinto de conservação. Portanto, paralela-
disfarce, afectando surpresas, os meus cama· chie e extravagente desm noite consistia mente á fihira dos chumbados pela tára desen-
radas pararam e meteram conversa. A creada- na. obrigatoriedade dos convivas de ambos roscam-se os roptis que os exploram sabia e
gem não fez cerimónia para prosseguir, na os sexos se mascararem de • bébés•. friamente, bolçando mais vinagre e polvora para
nossa. presença, a. narraç.llo que estava fa- Embora os organisadores, os donos da á chaia viva e rasgada da sua fatalidade. Mas há
zendo aos cchauffeurs• a.o que tinha assis· casa, o financeiro e a poetisa garantissem a mais ainda ... Ha a estilização até ao crime, ao homi·
tido lá dentro : paternidade da ideia-plagiara m-na a uma cidio, para a exploração total, para o aproveita-
-Está tudo bêbedo • • • -dizia 11ma.. resta identica realisada há poucos meses em mento completo da cegueira das vitimas voluntarias.
-Calculem vocês que o D. Antonio para Londres, com es~ndalo da populaç.llo hon· Limpar a sociedade? Como? Pela violencia?
roubar o biberon á D. Elisa abraçou-a e bei· rada e com i n tervenção da policia •• • Não é á cacetada que se curam Os loucos ! Co-
jou-a... O patrão disse ao cunhado: - 011tro detalhe inédito do bacanal é o m,çando pelos de baixo? Os de baixo são os
•Oh! João... Olha o D. Antonio está a do cchampagne e os licores serem servidos herdeiros dos que ainda vivem infectando a so-
beijar a tua mulher• E sabem vocês o que em cbiberous•. Só em •b iberons• - consta· ciedade, do alto do seu pod,.io. • . De uma
ele respodeu : •Estou vendo e estou con· va ontem na Baixa-gastaram-se 1>erto de brma geral - todos estes males - os de eles e
ta.ndo os beijos que l he dá para me vi uga r dois contos . •• E qua ntas crianças sem elas; os delas e elas; e os deles e eles - nas-
e r estitui-los a dobrar á mulher d'ele. E •biberon• para. o seu leii e •.. ceu da sede progressiva e ardente dos prazeres,
dos dois quem fica a ga.n har sou eu. . • A. Repara em que esta.do vêm eles •.. esflisada pelo snobismo, dilatada pela mau·
minha m ulher está. uma •canastra• e a Bel· Realmente não era preciso um longo driice, protegida peb riqueza . . . Depois trans-
mira está ainda muito fresca... cEu só exame para diagnosticar a embriaguez ge· borda, e escorre para o povo . . . Depois enrai-
queria que vocês vissem como a D. Elisa. se ral daquela geute. za-se e tor11a-se cr6n ·ca . . .
poz. . . Parecia uma fera. .. Atirou com Homens e mulheres; velhos e novos; Como evitar o avanço destas ignomínias ?
um livro ao marido e por pouco qull nlto l he menores e caducos-tudo zig·zagueava com Como? E o que será o dia de amanhã? Pensa
acerta.. •Canastra. . .. eu ? Olha. o gi nja •.• • o alcoo l a relampaguear tempest<\des no em em. tudo quanto escr.;:vi, "cliché" da verda~
E desatou a contar a toda a gente ••. Jesus! cerebro. •Elas• -peo1· do que eles - ber· de; e pensai nos vossos filhos e nas vossas fi.
Eu até tinha vergonha ... E depois disse: ravam numt\ vozearii\ oscandalosa, canca· lh'ls . •. Sabai a aurora do amanhã-que o
Se tu me a chas canastra há muita gente neavam, esperneada.mente, no passeio; tro- crepnsculo de hoje. o crepusculo iniciador da
que pensa ao contrário.• peçavam á entrada dos automoveis-como a.oit~ d1s ignomínias, começa ao meio dia, como
-E ele o que lhe respondeu? nunca se vi u as cpa.pillons• fazerem á UUl eclipse-num eclipse de vergonha!
-Que nao gabava o gosto dessa •gente:• saída dos cclubs•, apoz uma. madruga.da.
nutra creadim, muito fininhtl., mudando d'orgia profissional. REPORT;ER X
O jornal do REPORTER X 7
7 2 · .pQ RTO
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reêJ'S~fír'fí'~º~~O:oN~~s ::;~g~~~~;
2.• mao, r,•parnçfJes, acessorios.
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fitas, popet qutmico, et c. , etc.
_ T t lef. 2926, 2926-C j __
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POVOA DO VARZIM
J rtrA, ~1 m_ trr A1TP~~,: O~ PORTUGAL
Armazem ~e Ferro, Ferragens, vrnros e Tintas, Cimento "Liz", oe~osito ~e Polvora ~o Esta~o, Mtigos ~e ~a~a
- - DE R1\Uh FERREIR1\ VEh060
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