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Mario Quintana
Cora Coralina
Manuel Bandeira
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-4 Cecília Meireles
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Um fio de prosa é uma antologia de contos gue ;; Carlos Drummoncl de Andrade
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apresenta algumas das mil formas de um conto. "'n Marina Colasanti
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Um conto é muito mais que uma hiStória curta: z Rachel de Queiroz
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alguns parecem verdade, outros mentira. ~uns Ili Luís da Câmara Cascudo
"'n Daniel Munduruku
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CADA HISTÓRIA É UM CONTO
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IOO\IO ACOltOO Oll1W1'»ICO DA UNÇUA POIITI.fGUUA

"Um conto é uma historia curta." Você Ja deve ter ouvido algo
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SINDICATO NACIO.,,U OltfS Df UVIIOS, ,u assim. nào é7 Mas um conto e mais que isso.
Um bom jeito de descobrir algumas das mil formas de um conto
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e ler esta antologia Umas histórias parecem verdade. outras parecem
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mentira! Tem h1stor1a curta e engraçada. algumas longas e engraçadas.
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,se..-.Çi111'.i 'lt,0-<1")16 ~ outras senas. Elas fazem a gente dizer: "Eu não tinha ~nsado nisso!''.
1 e.,-..,. - '"""'". "''""'~"'""" Mas dai você ja pensou, você ia viu alguma coisa nova Aquela
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sua risad1nha de lado. aquela água meio chata nos olhos. a cara sena.
ou a risada gostosa já marcaram voe~. Enão tem volta.
Pena que tudo que e bom tambem acaba. mas. neste caso. você
sempre pode voltar ao livro, que é seu. e encontrar mais razoes para rir
e, talvez. chorar um pouquinho.
Esperamos que voce goste

global editor• • distribuidora lida.



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7
Danie l Munduruku

PoR ouE o soL


ANDA DEVAGAR?

Ilust raçõ es
Rogério Borges

C onta m os velhos sábios Kara já. que


no inicio dos tem pos a
terra era um lugar mui to escu ro. mui
to fr io. Isso acon tecia porq ue
não havia sol. lua ou estr elas para traz
er clar idad e. Por causa disso,
os Karajâ prec isav am man ter um peq
uen o braseiro aces o den tro
de casa . Mas isso era mui to trab alho so.
pois exigia que os hom ens
saissem para a mat a atrá s de lenh a. Com
o tudo era escu ro e frio ,
ninguém que ria ir ate lá. Aliado à
preg uiça que sent iam, havia
tam bém o fato de sent irem mui to med
o de perm ane cere m fora
de sua hetó , pois os peri gos eram mui
tos e gran des.
Nesta época. dizem os velhos, a preguiça tomava conta de
todo mundo, mesmo de um grande herói do povo Karajâ. Este
herói, de nome Cananxiué, morava na casa do pai de sua esposi,
como é o costume desse povo. Por isso, sempre ouvia o velho

homem lhe dizer.


- Oh, meu genro! Você precisa arranjar luz para todos nós.
Você é um herói e como herói você tem que resolver este pro-
blema que farà muito bem para os Karaja.
- Tá bom, meu sogro, um dia eu vou!
Mas o herói não querra nem saber de levantar de sua rede.
Como todos os homens do lugar, preferia ficar ali a enfrentar a
noite escura e fria da mata. Nem lenha ele queria ir buscar, dei·
xando a tarefa para sua esposa.
Um dia, o velho sogro. jã enfezado com Cananxiué, foi ele
mesmo buscar lenha na mata. Como já estava com idade avan-
çada e não podendo mais enxergar direito, acabou caindo e se
machuca ndo todo. Lá do mato, socorrido por outras pessoas, o
-
homem velho berrou com o genro:
- Ô, Cananxiué, já não aguento mais esta vida. Você tem
que dar um jeito nisso! Ao menos venha buscar lenha para manter
o fogo aceso.
Não adiantou nada. O herói preguiçoso continuo u deitado I

1 / 1
cheio de indisposiç ão para sair e resolver o problema .
Foi, então, que os animais se uniram ao sogro e passaram a
dizer ao jovem herói:
- Cananxiué parece mulher. Fica o dia todo deitado na rede
sem nada fazer. Vai buscar a luz para nós, homem. Cumpra sua
obrigação de herói.

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, que sabia
dia encontrou a1guem
Ate que um
d1Íerentes. .
~o - ~M
Sua mulher entrou no coro dos descontentes e começou i 1es v1v1am. tão lá em cima. Eles estao
a , de e I e as estrelas es
cobrar-lhe tambem:
.. - O sol. a ua nresá o urubu-rei.
- Cananxiuê, você é meu mando. Você tem que cuidar uardados pelo ranra . ,que é dono do sol, da lua e das
de ~cll1 g
mim. Vá cumprir a promessa que fez a meu pai de trazer . urubu-rei
luz e [ntãO, se e 0 1
calor para os Kara1á. - e tenho que vencer.
e ele qu .,
ire1a~ os velhos Kara1a.
Irritado com tanta gente pegando no seu pê, Cananxiuê
Eassim foi , d11em l para vencer ranranresá. Ao che·
decidiu sair pelo mundo à procura da luz do sol. Como . bolou um p ano
estava cananiuue h . uma praia de rio, lugar largo e
irritado. dec1d 1u que iria sozinho e nada levaria consigo. b to onde avia
~Jr a urn lugar on1 . lveu que a\1 seria o espaço ideal para
Vendo que o herói nada levava, todo mundo na aldeia ficou rn1t1a uma fuga. reso
desconfiado. Todos achavam que, andando desse jeito, sem ◄Je per m o urubu-rei.
levar i i,ar sua batalha co
arma alguma, aquele moço não conseguiria trazer o sol consig h. e avisou a todos os animais que o
o. E.le deitou-se no c ao
Atê os animais da floresta começaram a dizer a Cananx1ué:
- Como um home m sozinho pode querer vencer Theuu scgu1arn
e ·1
trazê-lo para nós? O sol é grande e forte e mãos vazias nào - Morri. orto as moscas vieram e
irão ele estava mesmo rn ,
aguentá-lo. Para testar se d·d no chão. Fizeram barulho
.ma do corpo esten i o
- Randó é esperta e cheia de fases. Como poderá vencê-la? .indara rn por c1 . . rt e não conseguiram que ele mo·
ouvido do hero1 mo o
- Tahiná ê valente e ligeira. Ela pisca e se esconde. Como çerto dO -
.
irá encontrá-la? sse urn unice musculo. Disseram entao:
,e - Ele está morto. Ele morreu mesmo.
- Sem arco e flecha , sem lança ou tacape, sem corda ou .
.d veio um grupo de urubus e voaram em circulo
\aço ele não vencerà nem um punhado de moscas. Como Em segui a
poderà . fiados não quiseram arriscar descer on de
vencer o sol. a lua e as estrelas? bre o cadaver. Descon ' .
so d pois alguns vieram e bicaram a barriga de
Cananxiuê nada respondia. Continuava quieto, apenas fa- le estava. Tempos e ' ·.
e . mas ele não se mexeu . Então , disseram entre s1.
zendo planos em seu pensamento: cananx1ue. .
USe não posso flechar o sol, laçar a lua, amarrar as - Esta. morto mesmo· Podem avisar o rei.
estrelas. . sobrevoou o herói. Estava desconfiado, mas,
para que usar armas? A minha arma tem que ser a esperteza': Ranranresa
- d
Eassim continuou sua jornada por um longo tempo, pergun· acred1tan o nas palavras de seus conselheiros, pousou bem no
tando para todos que encontrava qual seria o paradeiro peito do cadav . er que rápido como um raio, agarrou as pernas
do sol, •
da lua e das estrelas. Ninguém sabia direito e davam inform do urubu-rei e tornou-o seu prisioneiro.
ações

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Ao notar que o hero1 havia conseguido aprisionar o dono
do sol. os animais começaram a caçoar do passara:
- Este urubu não ê de nada. Deixou-se aprisionar de forma
tão infantil.
- Náo pode ser rei alguem que se deixa prender por um
Karaja!
- Como pode ser dono do sol. da lua e das estrelas. algué m
tão fac1I de agarrar.
Os animais sabiam que agindo daquela forma iriam provo-
car a ira do urubu-rei e que acabariam conseguindo dele o que
queriam.
Passado algum tempo. e ja não mais aguentando tamanha
gozação. ranranresa chamou Cananx1uê e lhe propôs satisfazer
qualquer vontade do moço por sua liberdade.
- Liberte-me e eu lhe darei o que pedir.
- Darã-me qualquer coisa?
- Tudo o que quiser. desde que me liberte.
- Você me dã sua palavra de urubu-rei?
- Dou minha palavra.
O herói libertou o urubu-rei que imediatamen te tomou o
rumo do céu. Aliviado por estar livre das correntes. a ave voltou
ao Jovem:
- O que você quer em troca de manha liberdade?
- Quero a luz das estrelas!
Urubu sumiu. Voltou em seguida trazendo apenas a luz das
estrelas consigo. Isto. no entanto, não agradou a todos. Diziam
que era uma luz muito fraca e de nada servia.
- Quero que nos traga a luz da lua!

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A firmeza com que segu rou o sol era tanta .
Urubu-rei partiu e regressou trazendo apenas a luz da lua. .
· que isso obrigou
Theuu a diminuir a velocidad d
E.ra uma luz fria, sem vida e todos reclamaram novamen te e e sua passage b
m1tindo que os KaraJá real· m so reaterra per-
- Quero Theuu. 0 sol Somente ele tem a luz e o calor de izem todos seus afaz
coletar frutos. trançar suas d eres: caçar, pescar,
re es. comer S
que os Kara1a precisam. correr com medo de O dia b ··· em necessidade de
Urubu-rei foi e voltou com o sol. O sol chegou forte, brilhan- aca ar logo.
E quando o sol vai embora e a humanidad fi
te e quase queimou tudo onde passava. Mas como o urubu-rei
noite. os Karajá têm a alegria d e ca entregue à
estava muito chateado com os KaraJa. pediu ao sol que andasse e contar com a luz d -
alimenta com seu brilho Em e Rando, que os
rápido. tão rap1do que nem desse tempo das pessoas aproveita- . esmo nas noites mais escu
podem contar com as piscadelas d . ras. todos
rem dele. E. assim aconteceu. O sol passou tão rãpido que o dia e Tah1nà para le b . 1
o d,a nascerá de novo, graças h _ m ra- os que
fo1muito curto. E. mais uma vez todos se chatearam indo reclamar ao ero1 Cananxiu · .
agarrado na batata da perna do sol. e que continua
com Cananxiuê
Este ê um mito do povo Kara1a. . que habita
O herói falou ao ranranresa para que pedisse ao sol que an- O t d
cantins e pertence à familia lin . eS a o do To-
dasse mais lentamente para que os Karaja pudessem aproveitá -lo . gu1stica do grande tronco Ma .
e incorpora outros grupos ind· cro-Je
melhor. Acontece que a ave já estava tão chateada que disse que igenas como os Javaé e os Xamb· .
Sua população atual ê de aprox1mad ioa.
iria embora e que o proprio herói fa lasse com o sol. amente 3 mil pessoas.
Mas como isso era poss1vel. se o sol sempre passava em
grande velocidade?
A aldeia foi para cima do herói reclamando da velocidade
do sol. Para que servma um sol que caminha tão rápido? Glossário
Cananxiue foi. então, para o topo de uma grande palmeira.
Cananx1uê - Hero1da cultura Kilra1a Nest h
Ficou ali aguardand o Quando o sol foi-se aproximando da ár- da escur,dâo dd no,te ' ª morta. 0 hero, toril seu povo
vore, o hero1 saltou sobre ele e agarrou em sua cabeleira . Como Theuu - É o sol.
estivesse muito quente. escorregou e foi parar em seu pescoço; Randó - Éa lua
como ainda estivesse muito quente escorregou e foi parar em
Tahona - Estrf'la vespemna Sua •drhlcào • Ta1N• nome proproo femonono
mu,to usado
sua barriga; ali tambem estava quente e acabou escorregando
para sua cintura; tambêm ali o calor era insuportável, até que Ranranres. ou Urubu Re _ Ave O•rande f0 ~ e rara E um urubu de
penas d a cor do cafe com le,te. ilrm,nho no pescnro e pup,Ia branca como
se agarrou na barriga da batata da perna do sol. Ali ficou firme, f - y

se osse de porcelilna Seu no'Tle fo, dado por ~ " Ui' _._
• "" coroa a~rela e
Ih
não largou verme " que traz na cabeça como uma cr~ta.

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