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Me! A LETRA E A VOZ
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Zumtl A "literatura" medieval
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JERUSA PIRES FERREIRA (Parte. ri}
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CopYrlih ,te "A lc-1111 e a ,o, de Paul Zum1hnr"
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Capa: ÍNDICE
Em,~
Hn111n1
sob1't' detalhe de
.4 lei}ados. loucn5 e mMdi;:t1< (e. 1560).
gra,·ura em metal de Pieter B::ucJhd
Preparação:
Mário Vilela
Rc,i,llo:
Toucnl'' Fdí1or,,:,/ Prefácio........................................... ......................... 7
A no Marra Borhosa
INTRODl/ÇÃO
Obra publica:h com o apoio do
Ministerio da Cultura do governo francês "7 1. Perspectivas
O mal-entendido. As múltip/u.'i oralidades. D eslocamentos ne-
D•li» l111c-ra.a:kuu1ts de C"..,u..a!n&J~O r:1 ruoncu,,n (Ot'J cessarios. 11,farcos espaciotempora1s. . . . . . . . . . . .. . . •. . . . . . . .. . . . . 15
(Clmara Bra<ilcil'I d, li-,n, "'· Bra1 1)
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7.um•ho•, Ponl. 191'
,. A ktrac1>uz /\ "l11cr.1111r.i' '11cd..--.l l':Jullum•
I O CU\TEXTO
::: <S"' 1 hor tradll(lo ~m4ho, •'• •1c1 1L, 1•,uw P C\ t trrdra -
<;ãn Paulo Co,np;uhi• t1n, Lct., . l'j<)1 2. O espaço oral
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,.,.. Ot-ra r111hllcacla cnm (, ~~1t,10 IJo \i1n ~ttr1~ ,t.1 (~hum
Os fndices de oraliclude. Dizer e escuur. Antes da escrila.
~ t.Jo 11:<WCino rranc~ l> A rede das tradições . .. . . . .•. ....... . . .. . . 35
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>;.A escritura
Todo, o, d1re110, d~•ta ed1,ã:, rc cn ado, à Formas e 1éc111cas. Os escnbas \/ane1ra~ de ler. A 1•oz na es-
F I Olt,\ 5< 1 11, ,\R / A
craa. ... • ..•.. ........................................................... 9o
Rua 1 1p1, ~21
f11::1 J.(K)(J - Sãô Paulu w
1clclonc· U 11 626-1622 ~ 6 Unidade e d1\ers1dadc
fax· (011) 826-Sm "Erudito" e ''popular" A msmção do vulgar. A escnwra e
cl 1111age111 A preoc1111,1ção da w;:. . .. . ... • .. .. . . .. . . .. .. . . . . . . • 1 17
11. 1 OBRA
~ 7. Memória e comurudade
...,,,... "-' -fat ldad, e ~nda. Osrdts cos-
tumeiros. O poder vocal ... .. .. . .. ... ... . .. .. . . . .. .. .. . . .. •. . .. . .. .. . 139
8. Dicção e harmonias
Formasenneisáeforrnul~u~üu. O.) rumo.). Prosa ou \ler.,o? .... 159
9. O texto vocalizado
Um jogo vocal. A palavra e o canto. Composição numérica.
Efeitos textuai.!>. O "formullsmo". ................................. 181
7
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1c,, n curios.Llade ~ a hnne:;tiJack intclectuai~ (tnha. incitada~ 'flCIO :.h· l1i~to=ia, a~ outra., c1!nci;3s hL1ma.J1a.s e, cm .sua trilha, rh esrncos dito"
,,1111hro), ou entilo ,, i;vsto saboroso do ri~;;o, )C",aram outro~ a lril:iar litcrárim. Foi ea:ão que, pela _iuel;;: c::ulit:abi:1 la. u Lermo vraiidade en-
o tcmrório dcscontccido. Tomava.,e j)OS:.é de se novo conlinente; ou trou como um ladrà-:> no vocab1láriD d..1, medieYaliscas.
melho,~ já qu~ lembmnçru ir.uito antiga~ d~pcrta,a.rn para cs~ avct.1- O rermo, mas em proveito 1e que idêia? Em ~cu uso mais :omwn.
tura, rccuperava-.i,c o direito liObrc um universo perdido. Es~a ~egião - exclusivamente, com função ncgati--amente classificatória. que re;netia
no:. a \-tlha pt1e$lo oral -, d,1 qual se desenhavam pouco a ;>0uco as à au~ência de escritura. O problema central, nessa õtica, se redJ.Zia a
paisasei:.s, h!i1.1ia sid:, dura."1te longo período renegada, ocultada, recal- uma exclusão ou a um.a dosagem: sim, :ião; Oll .;;im e nào. A di:usà:>
caca t!ll" 1:0550 iaco,~,-:ii:ult' cultural Era um ;,ouoo dessa histõria o que, tardia do belo livr-'.> de H J Chaytor, From scripr w pnm {ci;ja primei-
par 'volta de 1960, n1>, .;ontav:i. ~lanhalJ M;luhan. Doze ou quinze ge- ra edição data de 1945). em segu:cl2. aos t,abalhos (amerio:e.s a 1935!)
a~ut:~ ck irnelecruais formados a europêia. escra,d2ados pe:a., técnica~ de b-1ilmam Parry sore a epopéia iugoslava, deu. ,onsistência a essa~
es:rit ur.ris e pela ideologia que e as secretam, ha1t·iam percüdc a facul- questões: dispunha-se então, parecia, de ;>rocedimemos que p~rmitiam
dade :k dLSsoc,ar da idéia de pocs· a a de escritura. O "resto", margina- .semantizar, sobre o plan.o ia :orma poetica, cada um dos ter.ncs em
li,ado, ,;;aía l'-n desc~edito: carirrba:lo 'po;,ular" em oposição a "e~u- pauta. Pesquisas antropológicas como as d:= \Valter Ong, a,1ó, C\'kLu-
d:L::>", ''letrado"; tirado (fazem-no a.inda hoje em dia) de llm desse~ han, permanOCJam. em con~pc:lS-ação, igr.onidas pela grande ir.a.i:>ria dos
termos cornpos:m qu:: mal di5simularn um julgamento de valo·. 'in- medie·va.lista~ e, ;;.nte.~ dr, f m f'o~ 'tnn~ i'tl, n:ào tiveram efeito H>bTe os
f·a", ''paralitera:,11.:" ou sem equivalente, e:n outias lingull!, Mesmo seus trabalhos.
ern 1960-.5, ao rnenm na Françca. prejudicaNa gra-,rememe o presúgio de Tais são as b,ises sobre as q1ia1s trabalhamo~ e: dis:;ucilJlos (d1_;.:-ant.:-
um t.c-xlo do (sur:onhamosl século >:11:: possibilidade de provar-5e que os mesmos anos em que se desenvolvia :ni11ha carreir~ de iJrofessor).
seu modo de eYjstência ha·,,fa sido principalm,mte ora1. De ta 1 te:i:to ad- Pois eis que hoje uma ilusão rnmeç:a as~ ::l.issipur, no mc-smo tempo cm
mirado, tido par "obra-prima'', um preconceito muito forte impedia .i que uma dúvida .se insir ua: J '·orolllidade" é u.ma abstração; somente
maioria dn<; leircrt?-.s eruditos de admitir q·:.1e ti,1e.ss:e podido não haver a voz:: concreta, apena• sua C".!Cut.a uu::. faz tocar a!> c:ui!ias. Essa simples
sido nunca escrito e, r:a '.ntenção do autor, não ha,,er sido ofo:-ecdo so- verdade da experiêrlcia levou tempo .a pr:n~Lrar entre nós. De fato: teste-
mente à lc..-iti:ra.
munhas, livros e ensaios diversos, j.a bastante numermo.s, apareceram
O t.i;"rr:w !iI~raturu r.iarcava ;orno 1.ma fronteira o limite <lo ;;.dmis- desde o início dos anos 80. Médicos, p;içanalistas, etnologos, músicos
!iivel. Uma terr~ de 11:aguém isolava aquilo que, so:, o nome folclu1 i:, e poeta.s: remem~ bibliografia de rai[lha Jntroáuaiori iJ ta puisie ora/e
se deixa\'ª às outras disciplina.~, No início de :-iosso século, a "literatu- Os medievalistas, c.,;pero, não 1-arcar.ão a G:::Ornpanhar - ao preço, sem
r.;." adDt~"ª i~s;;irn, em c.sc;-il.il mWlc.ial, ui;: 1mmc:ird C'.Xc:!usiva, os fatos du"ida, de uma dupla conversão metodológic-a. E]e.'i só o consegt:irão,
e os '.Cxtos homol::>gos aos que prodi:ziaa :;rácica dominante da Eurvpa de fato, se admitirem conside~.ir, i:;elo 11enos num prill1eiro m,1mento,
~ióm·.al: ,;:,li;:~ u~ ún.it:os concer:ientes a :;on.sciência critica, tendo-se- a poesia medieval como objeto de amropo.ogia e como locus dtamati-
lhes Crt:<frado carli.ctcre~ que, seg•.mdo a opinião unã.nime, pro"'llltrun cus privilegiado nc ::iual "captar'', c.::n sua mais plena sign.:.ficânda, as
1.k sua comµetênc1a. Em alguma medida. o ~.onjun;o de pressupostcs tensõ~ que colocam em g1,.,estão nossa icéia do homem: romper Jadi-
qu~ admini..t:-a\'a.m essa at11udt: de espiJito orjginava-se do ce:itralisao calmente com .a termino;o~ia e o~ c.onceitos que no3 jn,pirou e qi;e t:lan-
poULico que. ::a~ia longo tempo, fora in.taurado pek maioria dos Em,- teve, como resultadc de nos..a. na;urnl ínêrcia, a experiênci~ da ef.crit.ura
dm. ew-opells. .Estava de aco:do .::or.i as tendências .:niscificadoras, até - com o risco de rerornar, sob oui;-~ luz, para além dessa pt1rificação.
alegonzalllc~. que ai pns:dia:-n à elabor-açác d:1s ·'histórias nac10.oais' ·:
exa tação do herói que personifLas~e o <.uperego co etivo; a contec;ã::>
de UTI L11ro ele lmagen, nt1 gllal fundar um \Cnudc que Justü1:assc o /1.lmha mcençi() não é chover no molhado pnwanc.fo n existéi.lda
fato presmte: éH ;:,a.lauas de Joa:ia ::l'An:. a c~i.ada de Barba-rw;a o.i de uma oralidade rnedie\.al, ma, valorizar o :·mo de que a 1•c);; foi então
a íor,ueira de Jan Huss.. A Segunda Guerra Mundial não deixou de um faror constitu:ivo de te>da o·:,ra que, po, força dt nm ,o use corren-
~m , 1 d estai~ nem abrigm;; PJi::an:i:t:t.. o de te, foi denominada "literária•• Pretendo menos oftmiar il im;,ortãncia
hc111 pouco:. ano~. um pooere>sv rctorn0 do repnm1do abala-.'S, com 11 da oralidade na tramrniss.b. na ;:m:,à:.i·; ão mesn1a, de.,~as t>bra.; do que
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tc.1tar JUl f:ar e rre,11r o que- e~ a oral :.Jnde 1mpllca: rncr,1 1, ,1\aha' o ..,o- de 19 ( :bvcmdade d presrnp0stos e dos m~•od05 rcpment11do
lume de urr. ••-;elC- orar· no conjun·o dos textos ~onscnado~ Jo que por e 1i ~tutlo cx1 e qut eJa daôo sumanammle l(tto um euo
n eles integra: 1), ·,atores r:roprios de minha percep,ão e :.lc: m1r~ .. leitu- de refe1ênt1a cronol611co. lbda v~ que f reftrfoc II essas pc Q~l-
ra. E.-sedesejo mele•,.;,, no :ra, eto, r1 ::ornara dlzer :ertas a 1i~a-Já dit.aS co, en ra o
(e lr:: 1..... 1 to bmi.); !h 1.m, a::ho util conur.uai e ligai em fe~ os anos 1 .5, anrerJormentl' par! o ano I i e onllgamenr~ para tu:io
fim da,; dive-sas reíl~ões. aná.:ogas ~~ não corven;c:ntt>,, cuja ~;:umu- o que os precedeu. De ou.ro lado, remeto con1untJ111cnte l minha fo.
lação manifesta a homogenetdade. Sem duv·da, nfo é ;:,remature. em , ...oducr:on à la poeSle oro/e, na qual tentd elaborar o, principio, de um:i.
]%5, .;•bo,,,.--ar ta !Úllc'-e e a,s1 n r aber•arnente o alegre r s:co JD elT' pocuca da vn. Ongmalmmte, era meu propoSlto que aquela obra to~-
pree11dimc:-ito. Catorzt anos dcpoi~ d1:, termino de meu Es.sa1 de _ ooeti- se o capitule imrodut.vo desta. De-seja que meu leitor não as cismm.•
qt4e mífdiévale, ofereçc. .1rr.. qua d m q i.:.ê, pa:a meus pr.>pésito5, a abran-
ge e a situa. Urn leitor que r~:ome iloje o Essii <iÍ je)COD,t sem Mnntréa/, de::.embro de 1985
dificuldade m pt'ntos de amar-ação Jcssc livro: Yárias ,~, nele assi-
nalava o aspec10 "reatral'' de toda a i:oesia mec::ieval rnas não ia nada
alêm dessa de::laraçãio, cujos con.~equências fiC<lvarn im.plicitas. A :etra
e a .·oz tenta definir e.ssa teatralidade, n.oção a brangtnte e não con:radi-
tória com a.s q.1e usava o E.ssai. Es~ .1111.a.,·a de re.xtos ::\teu ponto de
vista aqui é o da obra inteira, concre1izada pelas circuru1àncias ;:!e sua
tr-anuni>&ãc pela pr~enta. ~ic1JltAnea, num tempo e nur )ugar dados,
dos partici;:iance~ dessa ação. A tJbra contém e realiza o t.e"<'.o; ~-l não
o .suprime em u,da porque. de5de que tenha poesia, tem, de urna :na-
nei:a qualquer, te:xmalidade.
Ademais, apesar da crono)ogia, a Dbra publicada em 19~7 des·ruta
de maior auronomia, cm co:nparaçâo àquela de 1972. EJa se jfrigt:. _por
essa :ncsma raz.ao, a um p-((blíco maior do que 2.ntes: além do ::rculo
dos medlevalistu espe~.;lizados no esmdo dos textos. a :odos os me-
dieval.Jstas; além da comunidade de me::liC"ial.is:a.5, aos a1;rec1adons de
tex-:.~. As mui:as re\•1sões que tive de operar (livres de t'1IDl iconoclas-
tia) poderiam referir-se .1 todos. Po~ i~so. desejo.so de facilitar a leiurra
aos. não-hlsm:-iadore, fo:-neci aqui e ::ir.olá informações (!Je os ma::lic-
Yafütas titulados acharão provavelmente supértbas; que eles as risquem
e passem. lracbz:. todos O!'> te-xtos mados em fran::ês antigo <lU an t.:n-
g\Ja emangei.ra: salvo ind;cação con~á~ia, essas tradtções sio minhas.
Os ~mplos que trago (vã.das vezes complexos), aqu:Ic,, c;'.lc. ma.is ra-
ramente, discuto, são quase sempre pom:uais e for.mam uma série des-
continua; esse pontiltlismo é o remirado de uma escolha-a única cue,
pareceu-me. poderia, com um pouql.lin..i.o de so::te. p«mitir-me jurtar
a r.;.pidez da esc:ir.111: aos cnaideamrntos da a..--go.mm:ação.
Es!.e livro foi escrito entre 1982 e l985 . Forneço, no fim do ~·olume,
rob o trrulo "Do-:umcntaçiic", uma lista de estudos nos quaü. no teclo (• ) Um priln.eiro esboço deste livro iorecau. tn'l f l'CMnll:ÇOde I l. • matai■
ou cm parte, por um ou outro motivo, me baseei. As notas de rodapé para quauo aulas -.o Collttt 4e Pnncr; o ta.UI r1,1 pub o cm 1\194 r;,e!a Prcucs UrJ-
s6 dâo u ref(rbicie.s part.culares. O cume des:-.e mateT'.al cessou no fim ven1airu d< Fraru:c, r.ob o u ulo u, Poislf' rt l11 J! dcru la drlltullun ml!IIW/lr.
10 li
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/I'lTRODUÇA O
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. q,eues JOr.'f{le1.,•r:,, de Rcch ~ E·. . .
• - do1~ ano, depois ao Ro-
. .iesre:.essa,,SJ,rl',Jr,
gesta'·. Sua cormmicação 101 esuida de um debate que, parece-me. d.cu
em coní a, ina~ que revelou mai.s mda a que ronto. de um lado e
••
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~pre,enta1das~m , d , ne . ~ e )e m•p1·ava
. - · . . do outro, a argumentação, fundaóa bre a an
\ _. 19. 6 • ep:n, em 1951, "Or A R L·na, d
comurucações
eludia., verdad~.ro problema.~ De fato. es~e (por t'Ssa nu.ão mesma,
rne. ica.r1a dt Pi:olcigm· ..vnl d ., . -.>r na A:.sos;1açàu ,em duvida) s.:1 1?aixonava oo-. anos 60 e 70 u:na minoria de medJe--•a•
'· ~-," oran t• a, pesquisas de ·
prt<--nat .ra ·nenre ta '"c'i ln L d .. . St<u mesae Parn. 1i~t.:1~, , • , · e LOm cada um t.>mando , ,a.'- pc:; ;;õe:s "amo conq c1isras.
h .. ._,, or exph~a,.i .i :-ta:t I J
' 01 nncc, ~~las t1oc.=cidad , . . ., • '- L cU ua ,, do tex o
.. __., es propn~ a tran ·m·~ .; - o mtc:rcs~e de;;ai.
LOíl tri dL:~';i.... d=ç<=re~•ndo a • . . ~ L&O oral :os aedos e dai-a A impre:i,.aL>i ~eot1da por muito~, de desembncar num .mpa~e pro-
·d • ::>rati..:,1do.,2.i1~/ur+sé ,' .
i·a o, por vol.c. de 1930 E . . r\ ios e: ommos obser- vém da própria natureza dos processos empre-6 ados, ao lo~o dos anos,
. . . · m torno de Lord R•;c'i
· d . • i · ner congregava outras
rto nfr.\ mais anti ~~a.., e Qrn a d:::.1:on· ~c1das d . para locahzar aproximaLiva:mentc, na. e:nensã~ e na duração - se::-à com
,ivro de 1.. fousseran:lor sobre Le.s b~ ~- os ~ed1eval1s tas, como o efeito outra coiia? -, os fatos da oralidade med:iei.al. Não ;:,redso refa-
impo:tanic.: a on,gn JJTc:u:o - d . •l'1es russes1.1928) ~ - mui to mais zer aqui um c.iitâ.logo dess~~ prooedim::::ims. Um mal-entendido enevoa
, 0 e \.larcel Jouss ·· iob L r
memotech,uq11e che~ fpc- , ·b '• rt e sty,e oral er o horizonte, e importa es.darecê-lo de 1mediato; muitos especiali.sc.as (es-
.,. «-• ~e. o-morr;u-s (19"5',
Rychner trabalhava com ,ov"' - - ,. quecidos de um importante artigo publicado ja em 1936 por Ruth Cr:~y)
gumas da.~ quai.s rep~esenta\'af11, :n~~~s dt" gc-~ta d~ s~lo x:r (al- admitem tacitamente que o termo oralidade. aquém da transmis~.ão da
rnal.s a.miga). Na orn"'.tn d . du 1da, uma t.rad1çao um pouco
~ a composição da tC:1:t· bal mensagem poética, implica impro\•tsação; a maioria d ~ seus lei•.ores
me11to geral, •ealça\la as .1emelhan ' , . na ver e do movi- na dú,ida, por r..ão ter colocado a questão. Donde tantas ,querelas sus-
trt esses poemas e os ~ant . ças. cm va.nos ronro~ marcantes en- citadas pela teoria de Parry-1..ord, efaborada para clar conta dos :;iroce-
~ ·• os iugoslavos Ded · d '
que 5e podia eJilender aos cond' . . llZla eks 1L-na homologia dirncntos de pseudo-improvisação êp:ca, ma!i ;.omada por defirudora de
recitador, dislribuiçãc das s ~1c1~am~~tos ellT~rnos da obra: ação do
xava numerosos ;:,ontos obs
·
:oes, mserçao na v-ida social. O livro dei-
euros, e CI autor talve,, , h , • •
toda a poesia oraL Da roes.ma maneira, quanto se tem sido o.po.sto a
divagações. po:r bita de d~tin.guir traârçào oral e trcmsmiss.ão oral: a prí-
ta.te f a :om a eswlha d º . .en a ,ac111tado )Ua mei:ra 1,e situa n.a duração; a segunda, no ~resente da performance.
d d os ex.mplos. Pouco im,c ta· .
a a. llm co11gT!'Sso reunid' e L.. .- r . uma gamada foi E:n verdwe. o fato da oralidack reduzido aos termos com que, bas-
' e :n IC€ " em J957 d'
d ura ... ao mesmo tl'.:mpo ":n ':ne rn-lhe a em·enrn- tante sumariamente, o tem definido caocas sábias contribuições, iruega-se
~
V ~
•
da de tudo! Esquece-se que ama anomalia é- Ili]) fato em busi..--a de
de 1967, Michael Cursdu:::ta1~ re:e) que ele lhes pem:itia atingir. Des- ínterp--etaçãc. Até hoje, r:unca se ,t.eÕtou mesmo in erpretar a orafaiade
um baJan\:u, ajnda sumano i ~:s a,~ nome dos medie11alistas, fazer da poesia medieval. Cunt.cntou-sc cm obser-,-ar sua eristêr:.tta. Po.15, exa-
Ct'Ssívamente na Alemanha ~ . . • ?º tun dos anc,s 70, apareciam su- tamente como um esqueleto fóssil. uma vez reconhecido, 'deve ser sepa-
e uma antologia de artigos su;~me1ra obra de síacese e de bibtiogr.afia rado dos sedun!ntos gue o aprisiollAm, ass.:im a poesia ::nedie,,.al de,.oe
da epopéia med.ic...il anglo-s~ ~s entre 19? e 1977 sobre a oralidade ser sei::arada âomeio tatdio no qual a cistmcia dos manuscrit:::li lhe
abordada por via da . . D ruca ~ alema: a canção Ili~ gesta era ai permitiu subsiscir: foi nesse meio que se i;;oc~tituiu o p ~ t o ciü:,
muSica. e resto a, . • .
tes. Ainda em J9i8 e· , .s resistenc1a:.s permaneciam ·or- fez da escrit1.tra a forma dominante - heg!:mônica - da ling_l!3gem._;
g . ' no ungresso da Sociedad• Jt
rupou a maiori:i. dos especiaHstas ~ encesvals, que tea- Os mttodos elaborados •oba mfluêlaa desse prteonccito (de :fato, to-
um delel! fulmina\·a e t europeus e americanos na maté~ia
on ra o . 'pretendido carárer ora! d as cançoc-,;
1" ) Cantadom; ::UJa d . _
~ ue•
da a filologia do século x1x, e em parte a do no o) não sorner..te le-
,,am pouco em conta ,eus limite, de ,-alidai.h!, mas ,em dificuldade para
determinar. na profundidade cronológica, a dist noa justa de onde con-
••
••
>or
l u ~uru povn tnkln.ko.senomlllaç.,.:i
{:-,; r.) trovén, 1
,. , ...u m<1rurn.ento mcncxórcüo, u;.sdo
siderar seu objL'tO. Até hoJe, pcs.quts.as e reflexões sobre a orafü.l.ade das
16 n
ca:i;ces de gest;;. (tome esse exerni:lo,1 têm udo por efe to abalar un pouco prevaleceu uma \iluucao <le omliJ ide mista ou 5e:1.unda conlormc as épo-
a.~ segurança5, arnemzar o alcance de vário, termos e difundir pequeno cas, as regiões, as classes soc1a1s, quando nllo os rnôtvíduo • Pllr outro
nú;ncro dt dú111Ja!i comuns. Elas não nos trouxeram nenhuma certe!a. uid es ubdivi o não egue nenhwn cronolo L • mesmo que, no ge-
M , Joswnentc, a QJ.estão não ê a ceneia. "É nosso modo de percep- ral, seja provável que o 1mport.linca runuva dn raltdade tenha umen-
µo e. ma.is ainda, nossa vontade de abert1ra, implicando a in:egraçãc t.a<lo a p.artir do século x111. O nai-. anti110 poema "franc! ", a CQuên-
de un: ti.P() de imaginação crítica na leitura ie nossos velhos to:tos. [)eSS( :ia de Eu/alie, um pouco anterior a 91X1, composta por um monge leu-ado
:>onto de vis+a, pouco impon:a a Prcã() d~ ~esta corno raJ É t:m fenô- para e fé _ d:>• 'la greja ~ e;; i t .\rmand, perto de Valenc.i~nne~.
meno geral que :o,ven considerar :,em aquém da materialidade de ta . croccdia de um regime de oralidade segunda; o; originais ''p-opulares"
gêm:ro Particular: o Íà'JÔmeno da ,;07 hua:ana, dimen;ão do texto poé-- disso que denominei as "canções de encontro'', nos séculos xn e xm,
ti ::o, determinada a.o mesmo tempo :no plano físico, psíquico e socio- transmniam-se pro,•avelmente em reg:me de oralidade mista.
cuJtur:i] Se as digrns:<.ões sobre " oraJidade das tradições poeticas per- Segunda ob~ervação: no interior de uma scxiedade que conhece a
deram bcj~ em mordacidade, nà:> foi - cu foi só se-cundariareente - escritura, todo texto poético, na medida em que vis.a !l ser transmitido
por causa da e<]trirne1clade dos fatos. Foi porque - sah.-o a!g\lmas fu- a um público, é forçosame:::11e submetido à condição Sf!uintc: cadü uma
gazes exceções - essa oralidade não é interrogada sobre sua □ature1.a das cinco operaç5es que constituem ma história {a produção, a comu-
oer:i sobre '-Uas funções próprias, e lambé-n não o é a Idade Média eu- nicação, a recepção, a conservação e i;. repeúção) reali za-s~ ::.i:ja por "'ia
::iuanto I ugar de ressonância de uma \'07.
.sensorial, oral-alldifr,<a, seja por uma inscrição oferecida à percepção
\'isual, seja - mais raramente - por esses do1~ procedimentos conju~-
tamente. O número das combinações possíveis se eleva, e a problemáti-
Trê~ obsc:rvac,;õc~ gerais, antes de prcsseguir. ca então se di,·enifica. ~ando a comunicaçãc e a recepção {assim co-
Comiérn - primeiTamente - disting,rr trêS!mQS :ie or-ª_li~ oor- mo, de maneira excepcional , a pro-:iuçào) coincidem no tempo, temos
!CSpo11dente~ a t:-ês siluações de c-Jltura. Uma, primária e imediata~ não uma situação de performance
comporta nenhum contato com a escritura. De fato, ela s~ encontra Terceira obseri.•açào: quando um poeta ::,u seu intérprete canta ou
!ipena~ ua.s sociedades desprovidas de todo sistema de simbo!'zação grá- 1ecita (sej.a o tex:o impm~isado, se: a memorizado}, sua \'OZ, J.)Or si N..
fica, ou nos ~rupos sociais isolados e analfa~etos. Não poderr~os d1:vi- lhe confere autoridade. O prestígic da tradição, cenamente, contribui
dar de que tal foi o caso de amplos setores do mundo i:amponês medie- para .·aloriz.á-lo; mas o que o integra riessa tradição é a ação da voz.
,-al, cuJa velha cultura (tradicional, oprimida, uma arQt:eocivilização que Se O poeta ou intérprete, ao contrMio, lê num livro o ciue os ouvintes
preench.a os vazios i.:ia. outra) deve ter comp,ortado uma poesia de oraJi- escutam, a autor:dade pra,.•ém do U.·ro como cal, objeto vi.malmente per-
dadc primária, e-: que subsistem alguns fragmentos. talvez recolhido_;. cebido no centro do es.pet.áculo performátic9 ; a escritura, com m valo-
por amantes do pitoresco: assim era no s.-êrolo xm, em muitos sermõe;. res que ela s.ignifica e mantera. perte;:ce explicitamente à performance.
nos quais e.<i~es fragmentos permitem ao pregador ilu<t:rar agradá,relou :,lo canto ou na recita.Çâo, mesmo se o texto declamado foi composto
alegoricamf.'f.te seu tCltla. Não há dúvida, entretanto, ce que a çuase to- por escrito, a escritura permariece escooclida. Por i.sso mesmo, a leitura
talidade da poesja medieval realça outros dois tipo, de oralidade cujo pública é menos teatral, guaJquer que seja a actio do leitor: a pr~sença
traço comum é coexistirem com a escritura_ no seio de um gr.1po social. do livro, elemento fuo, freia o movicer.to dramatico, introduzindo ne-
Deno.min.eí-m respeCTi\·a.mente oralidade mista, quando a inf;uência do le as conotaçõ-es originais. Ela não p-;:,dr, conti.:.do, eliminar a predomi-
escn:o permanece externa, parcial e atrasada.; e oralidaceseg!lnda, quan- nância do efeito vocal.
do xe ra_--or.,põe com bnse na escritura num meio onde esta tende a es- A coexistência, na prática cultural, desses coodicion.amentos poe-
gotar os v.:!lores da voz no uso e no imagir..á.rio. Invertendo o ponto de li:::os diversos é universalmence compro,ada no Ocidente, da Irlanda a
vkra. dir-~f-ia que a oralidade müta proce:k da ex.lscfncia ele uma cul- ~loscóvia e da Noruega à Espanha, do século x ou x aos ~&ulos x~·1,
tura "esc.rira" (llo sentido de "po!Sllidora de uma escritura"); e a orali- wu, às vezc X\'111. Em contrapartid , as combilla õt 1.le tanto~ fato-
dade i.egundu., de: uma ~-ultura "le1rada'" (ru qual toda expre~são é rrar- re.q ao ~aborda cin:uMtdncins provocam 1itu.iÇOO múlttpfas demais para
cada mais ou menos pela presença d.a es.crira). Entre os século~ -. 1e xv1. não ~e atenuar 1aos olhos do ob~ervador moderno) eu traço comum.
18 19
t
\hnto,;; dci, mdie1.;alis:,s são .:1.ss.m le=vados a c.escuidr deste, ou dá-lo
pol ,. ,taD<;;,,:;., do, quer ciiztr. nulo e sem _ ei o _ ss ~an o m s q anto
própcia org,1n1 id de sob p fie,. o da máscara, mb a mumca cio ator
a Quem por uma hora cmprestll a ,·ido À exp 1çllo pro 6d1c e tem-
••
poralidade da 1mgUlgem n ,oz 1mp !
::1ada permite, de maneira estâvel, ligar a tal ~ênen poé:ico tal modo
de tran,mi;são: nemurn indjc:=, nem na m.iciç.à.J doc~mental nem :1:,s
m:to-. mi,edt."-nos de pemar - mem:.o se isso é pouco prcvável - que
J:
ra e ve-rti::ali.J.adc ue ,eu espa,o.
:J;
E por .sso que à palavra oriliid~•rie prefiro wcaltdade Vo.:alidad;:
e a hi,tori.idade dt I ma voz: stu !l~O. Uma longa tradição c.le pema-
••
tal car.çdo '.cnha sido. algum d1a, l1dd em voz alto., diamt: de algum gru-
po de OU\'lrl tcs. Cenosjab!iau não :enam sido cantado~. talvez ..orno
imitação irõnfoa de uma canção de gesrn, como A1,1d1gier? Ou de u..ma
mem::>, é verdade. coru1dera e valor:zl a ".'0Z comu ;:ionadora da lingua-
gem, J a que na vo2 e pela voz se artic·J.lam as sono1;dades signdcan:e~.
-...:ão obstante. o que dei.·e no~ chamar mais a atcttção é a im;,onantc
••
cancáo llriça, cerno BaiJlet, cuja forma métrica repele, parece-me, a sim-
ples rncitaçã.o?... As po~si b11idades rehr:nbclm, os esquemas prcssupcir
cos. se e,hn~c,a.Tll no co:l-:reto. Fíca a ::m:presença da voz,.J:articipandc.
f·.m,;ão ::Ja voz, da qual a pala\Ta constitui a roari.ifestação mai, eviden-
te, m:1.s não a única nem a mais vital: em suma, o exercício de seu poder
f:isiok':,gi:o, sua capaddade de produzir a fonia e de orgaruza: a subs-
••
em sua plena :rr.ateridi.clade, d;1 significància do texto e a partir daí mo-
dificando. de a,guma mans!ira, as regras de noEsa leltura.
tãncia. Es.sa phonê não se prende a urr:. sentido de maneira imedh.ta:
só procuras.eu lugar. A~sl!!h Q. ~ se 2r0Qf>e i atenção é o as~o u,r• ••
••
O aro da aJdição, pe,o qual a obra (ao termo ta.:vez de um Jongo pora: dos textos medie1,ais, seus modos de existência como ol>Jetos da
prcx:~~c) ~~ <.o.oncretiza rndalmtflte, nàc pode! dcyx~ <l~ in:;crever..-;e co- :;,ercepçãu ~eru.urial: aspecto e modos de existência que, após tantos ~-
mo anlccipa.çào no texw, como um projeto, e a[ traçar os ~ignos de lllUa cülõs, reâ[çam paranó;' 'esse tipo de memória, sempre em recuo, mas
intcn~ã.o; ,e :5tadcfinc o lugar ele animlacão do discurso, no sujeito que
o pronuncia,
~stes ai imer.-ir para fazer res~oar .a língua, :;ri1ase à re.·elia do sujeito
que a te::fa como que aprendido de- cor", como escreveu soberbamente
Roger Dragoneru.'' o distanciamento dos tempo., es~ tão lon~a ausên- ••
Desse modo, náo "Ttenos que dominar as lêcrucas tia filoloiia e da
anáfüe texlnal, a tarefa ,deal do medievalista sena c:om·en;:::r-se dos va-
lores incomparáveis da voz; sensibiLizar sua atenção para isso; melho:-
cia, força-nos a perseguir o que sabemos não poder atingir; é ent~o que
em oos decide-se a som! do paradoxal conhecimem:o ao qual as.mn ~-
piramos. Ninguém duv.da de q\le a voz medieval (~:im como o canto,
cuja prática podemos enuever) n:ilitiu a deixar-se capturar ~ n0&8:5 •• •
metáforas, inspiradas por uma obsessão cio d~o.no pronu11ciado, 1~-
dizendo. vivê-los, pois só existem ao viYO, independentemente dos co7-
ce1tos nos quais amiúde somos levados a apri5ioná-los para descrevê-
los. fosso estll<lO deveria tirar sua in~p:r2.ção e seu dinamümo ela c-0n-
near e bomofônico: para este, ~nto o tempo c_uanlo o espaço corut1-
mem um recipiente neutro, ollde se depositam os sons como .ima m::r- ••
••
sideração dessa beleza bterior da \'OZ hu.-nana, "tomada o mais peno cadoria. Mas é outra voz - out1a csc'Uta, à quitl nos convida no~!,ª
de sua fonte''. como dizia Paul Valery. Essa bela.a pode, é verdade, músíca mais recente - que se recusa a pensar o uno, que se recusa a
oonceber·se corno particular, própria ao individuo emissor do som vo-
redurir o ato vocal ao produto de wna cadeia ~a1$al unívoca.
É na perspecti 11a de sua incapacidade última de experin:entar (se-
ca.J; a es5e título. 5ah-o acec;ã.o dificilmente imagj11avel. ela no~ ~ into-
cável, depois de tão longa doração. Mas é concebida, também, ,orno
hi~tóricae social naquilo que une os seres e. pelo uso que fazemo; dela,
não de provar!) que o oedieve.lista regi_strará esi.i;: futo maior - e se es-
forçErá para deduzir, no plano ca inrexp:-etaçã;,, a5 conseqüências: o D~O- ••
••
junto dos textos kgaclos a nós pelos séculos x, x , , .'Cll e, numa m«li.da
modula a cultura cooum. r-. o texto µronur.ciado. não só pelo fato de
tãlvez menor, Xlll e ;<IY passou j>ela VOZ não ce modJ aleatório, ~em
s~~lo, atuam pul.'>i'lfL<: da, íJll:lis prriv~11 ;,ani o ouvinte u rna me,!>ag..-rn
- ,,,. virtude de uma situa;ão histórica. q :.i.:: fma desse t:-ârui to ,oçal o úní::o
espccifi.ca, informando e formalizando à S\la ma..,eira aq1JCla do te:-.c:to
••
modo ~sívelde 1ealização (de socializaçãol des~cs textos 'Ia.l é minM
- o gue Fonagy, num lh.To re--ceme. chama, no i;er.tido mais forte do
tes-e - ou minha nipó:ese. ....Ela abrange n turalmcnte a~ can9:ões, ':1~
tenn(), "estilo vocaJ". 3 No momento cm que ela o enuncia, tram,forma
também as narrativas e declamações de todo o lípo, as próprias croni-
em "lcone" o signo simbólico libertado pela lingoli!em; tende a despo-
jar esse :.igno do que ele comporta de arbitráno; motíYa-o da prcsenç;;.
t.lc~!>e corpo do quil.l e~ cmc1n a, 011 c:ntiio. por um efeito contrário m'"
anulo 'D, L't rn J1.1plicklatle dt5'- ia do corpo real a a:enção; dissimula sua
-:as. [,ó o romanc;-poderia exigir 1m e0mc ~mnto: eu o fare1. Sem
-dúvida. exumaremo5 alguns ca!>os c:xcepclor.rus~ uma vez demarcados,
>Crào considerado~ um a um, comt, escapando à norma. •
••
21
'Thm.. se de dialogai i.:om rermos antigos, portador~ dt' um discuro
que. rcd.mdo a nossa s1mple~ mstrumentaçao intelectuw. não entmde- ,\ tais 11u mcl'l(lS conlrnu.m~nte. h je a tnakltia tlr,~ rneJ <"'llh5t 1s ate
1"10:, ma.is. Só subsiste a po~s ibilidade de c1rcumcrever ·• c~darecer al- dio; o. Dorrte um C\lrJ() o regre o, pc, vez.cs, romírnti mo original
l!L)
gnns seLores-encruzilhadas onde se concentram grand~ perspec1h'aS e de nm s estudo~ - e ullci~ntc que e desenhe no homome umapro-
· 1gura.àamente um espaç:>. A ora.idade o 16 nqua c,u puramente anal, 1 , de orn.liJ.t,le. para
da poesia mediC'lo·al é menos uma ques1ão de fato, suponBo rernnsútui- que i.ntcrvmha o pre. c;u;,osro: no iniclõ tra o Verbo. E~i.n~ la~ !idades
i,;ã□ e prm•a, do que de ~lka~ão, ,isando a superar 'IDa a!teridade não para."'ll de suscitar sadias rcaçõe.s negau,·as; ri:cememenrc, como a
redproca. A voz medieva. .não é a nossa, pelo menos nada no~ a.s;;eg-1 ra de um Rie@er. a propo1 to d0~ t ovadorcs mesmo; d,- "li,pa. i•tas aunt-
que em ~cu enraizamento psíquico ou ~m seu desdobran-ento corporal nca.,os corno M1chaeJ Walke-rs e outr::1s; mai, violenta..s e fortemente
seja idêmi::a; desintegrou-se o mundo onde ela ressoou~ onde r,rodu-- documen:adas, r:omo a do ger;nani.!,1a M . .l. q.holo.1, para quetn a evo-
:d u - este o único ponto cerl[.) - a dirr:ensão de uma pa•vra. Por .sso, lução do upo oral-auditivo de transmi~sào de textos para o tipo gràfi-
na cornide:-açào desse Outro. dess~ oito ou dez séculos rtC1rtados (tanto ::o-v:isual cr-.t. já muitn ai,iançaàa ~:n me.ad:::,s da século xrr e que f.u n:-
p,or obscuros motivos ideológi~os q1_anto pelo cornodisr o de pegago- montar a e;~a ép:xa noísas prriticas mo-lemas de kitura. Sclioloz afasta
go1 na continuidade das durações, u.ma dupla tentação nos espreita: como atí-i:i..-a e fortuita r~da ccmuni~ação ..,crbal, hesita mesmo eru a.à-
conceb~-los como uma origem, nos.s.a infância no fio rc::o e orgânico milir sua generalidade na poesia lírica.•De~figmada que seja pelo pre-
do que nos. tornam.os; e supor para eles. por isso mesmo (c:isidiosa.rnen- co:lccito, ~sa posição tem o grande :né,itv J.k: Llc:s)ocar a enfase do teit-
te), wna unidade que não liverarr,, gmr dizer, sob qua1que pretc;,c-co me-
to na direção do publioo que o receb1; e de ~Lbstituir a oposição abs1mt.a
todológico e em qualquer estilo que seja, foiclorizar a "II.ade Média".
oral/e;eri10 pela~ opc:ii~ çoncrct<l~ o uvidoiolho e ouvir/ ler. A re\'i-
~ão se dialoga com o folclore. Gravam-se discos para aradar aos tu-
ra,,oJLa daperspe:ti"va nos faz sair do que poderia ser um impas~e. Ape--
rise&. No esforço que te-mos o diieito ele experimentar par. perceber um
snr das arma.e.ilhas de qu~ é semeado o carr,inba de toda volta ao passa-
eco dessa ~-oz antiga e avaliar :se!..I alcance, a.ada nos extra-~..aria mais do
que a proc·Jra do pitoresco, de urna facilidade.
do, o ponto de vista de recepção ecos te:::1os aJ)roxima-nos (de uma
JlJarn:i:a q:ie não ê sim..Ql:smenle rnetafóric<f-) dos sujeito!'>qiie os escu-
Evitemos dar a esses textos mais do que nos dão, ou.anais do que
tarflm. É por isso q11e, aqu.i, eu gostaria de fa.2e: minhas aJgurnias regras
dissimulam. Sabemos qne a dv:íliza~o do Ocidente mod:'-'3.I foi aque-
simples que exLraí do discurso-programa de H. R. Jauss, Un défi à la
Ja das populações de um.a pegue!na quase-ilha e,itrema da3urásia que,
théorie littéraire, i e que atribuo mais a ce;--to comportamento intelec-
durante um milênio, de todas as maneiras, em todos os <l..-nfn.los e em
tuaJ do que a um mélodo:
todos os oi.eis, consagraram o es5encla.l de suas energias :i:;_ra mteriori-
zar suas contradições. É ne-stes limites e neste sentido qll( evocaremos - cor.cec.er a uma es~éhca do efeito produzido a proeminências o-
bre uma estética da p:-odução;
a oralidade natural de suas cultim.s: como um cooju:nto conplexo e be-
temsênm de condutas e de rnodalidadc-s discursivas comLUs, determi- - fundar a opcraç:ão crítica sobre a consi.de..--aç--ào do que foi o ' 'ho-
nando um sistema de representações e un;a faculdade de to1 os os mem.. rizonte de ei:pect.ativa" do púb.ico p:imeiro da obra;
bros do corpo social de produT..:i- certo.s signos, de. ide. tificá-los e - para def:iiu a obra como ohjem de arte, levar 1:m consideração,
interpretá-los da mesma maneira; corno - por is:so mesmo- um !'ator prinu~iramente, a naru~za e a fat~sidadc de seu e.feito sobre o publico;
entre omn:,s de unificação das a:ivi<lades individuais. Nad. mais; mas - pressupor semp-.:, o.a medida do pou,frel, as perguntas a 1.JUC:
o alcance desse traço e considerável, porque se refere à fo.lltc prinH::.ira .a obra rc5pond.ia mi seu lernpo, an:e.s daquela.5 que lhe fazemos hoje.
de autoridade que comanda a p1áLica (na ausência da ideoJi.gia) de um. Certammte. :i:i~ lacuna.~ de nos!.a inforrn.a.câ.o limitam a eficãcia des-
mur.do. Resta-nos, por nossa maneira de auscultar esses ~os fazer ~es prec~tos. ~rmanecc um fato; é no ato de percepção de um tcx10.
ressoo.r aí o não--<!ito e nunca esquecer que h:Jdo o que os ;a.n~ritos mah claramente d.-. que em seu modo de co;n1i6iiçJ.u, que se manife,;.
medievais no oferecem foi o produto de mia censura - ds.sa m~sma tam opo~ii& defmdor ~ da V(l(alidade. É cerro (à, \ezes romide-
(além da inrcrvenção dos c:ten:s) J que implicava o registro ecrihJ ravelml'r11e) que na eco-nomta in ema e na sn-:nárica de um lc:i::to não
:npL)rta que t>le tenha ou nil ido eompo to por cmo. No entanto,
o lato de ele ~er rccebi<J,, pel ci1ur i11dhmlual direta uu pda audição
e t-Spetáculo modif ~ 1 prol n<lcrncr:te ~u e feno sobre o re..'t:ptor e, pur-
22
••
canto, ~obre sua signifi.::ància. l sso snm:ntém Vt>::-dadetro na torrna ate-
~ •
nuaca de performance q e co'lstituíra 1rm leitura pú.bhc:a feita J:lO.- 1.111
intérprete sentad o. ou mesrr.o de pe. · a t"tme de seu facistol C om base
abano.
po m·n:gac~,.i i;.st1:mti d::-=cm1tmi1QJ;()!;:.;,-~1.:m
rno:nenlc ,;uce~:,J\OS Je sua existfocia se definirá em vlrtutle Lle dob cri-
•
"•
nessa c:>nsta taçãoinijaJ, ope.arem<J; as.dstino,; 3e;;queacom~ k.'GI rei•
Jidace hi~dr ca impõe. .-\ vo2 é sem~ e r . 1va, tnas seu pe..o ~nt re as. Je-
rcrm.nações jo texto ,.,ve 11,.~ 7 ..i .ia~ m -Ttudc das .::in:.u •~-iill\..d..\, ~ 0
reno~; a natu:-ez.i Jas :.-..:nica~ de qu:: fal uso para a tra11:,mis,il o da~
memagent ta na1ueza das fo·rna~ que a~~egur arn a diferenciação tles-
ta.1. E~,c~ p~rn.,p10, tlc: anall~1.apl1.:am :-. :.1m Jlt.arn:amem~ a
º:
·,dJ"1U1. m
••
conhec:mc.1Lo (n~sariamente mdiri-O) ::iue deJa podemcs ter passa por
urna imt:,t:~:1.ção des.sa.5 úl i'H<LS .
Talv:;z e~teJamos boJe nais aptü de .:iue an:igamente para essa ca-
vci~.(_frata!!;lc-se d_e p<l esia, :e:m;,>s em :.:~usa, q?anto as .ér.: ~1~as
serão a vo, ;! a e~cnta; quanto as formas d:: difere nciação, se-rão a.-; d1 ·
versas estruturas sociais e mentais OJ, mais n.-striLivamente, poln:cat
••
rera. L.bcrados do positivismo, vo1tn111 s a e~tar mais ateoto.s às lem-
brança~ próx.mas das oume:-csas traci.çõ::s medievais que se ma:itiru:.an:
no ir.terior da sociedade do M~culo x.x ' em nossas zon~ rurais, aqui
e i.steiTcas , N Luhmaon, que prn;,õe essas dístir:ções, funda .sobre ela~
um esqu~ma e~ol"Jti~·o: do " segmentário" ao "e,)i ratificadc" e ao " fun-
cional". D D secuo vn ac séçulo ;wn, nos territórios do Ül.'Ídente, a~
••
e acdá. até meados deste sb:ulo. É e;: f...to me.nos uma interrupção do
que uma serie de fragmento~ parciaista CU; P<lUoo a pou_co nos .separou
uo unh,erso mediei,"al. t-;o mesmo de.vi• :iue nos fez t:,mar para com
rna.<,~U!. c1n~1i 11atia$ oscilaram do primeirn ao segundo .ípo, para dcsE-
za.- cm seguida ao te1ceir(I, conser,ar:do em cada situação no"a os tra- ••
ele uma diHância definich·a, interíor.:.an os sua memória. Disso resuJta
uma situação desfavorável às ;:,osturl.!S h..s:óricas tradkionail. que ten-
di:m a reconstituir uma pretendida ~lig~de pa~sada; não menos des-
,; o, da arit.eri.m, de form;. que a tnd o o mom e:nto se :;;o bn.'J}u.~cram o~
:onju~cos ou c,s í:-agmen:o s di.: ~onjumos ccltuTú, de idades diferen-
:cs; qnand.o rnuito, soflre;sai un1a tendência dominante, ern Tela<;ào à ••
fa,orável â., interpretações modemizi EtCS, inspi-adas por uma co:nc-cp-
ção hiperbólica da a lteridade. Err. (On~;:iartida, somos irnpelido.s à
qual essa outra dá uma (falsa? ) impn.'S~ão de a:caí.smo, e aquela parece
:u1urisia. As pane~ Jesse rnai;ma escoLJ i;:gam ·Jma~ nas ou tras , lenta-
rr.er:te; cepois, uma repentina aceleração precipita-as, e ~ cisma em
••
••
pr:\ ti ca de 110" a modelização dos docllll'Ile:DLOS do passado, u t.ilizan<lo os
algum lugar abala a supc:rfícii:ua.s .:oisas e dos ws4,;u1~-,s ~' 1la oomiuu.i-
fragmentos :::la experiência contempc:-âr=a - nossa própria historici- dadc mil:m,.r "medieval'', desmham-,;e assim dois períodos criticos, pl-
dade - como r~•eladores: p:ojeçii.odo--'-,a$Sado no eSJ)OÇ<l moderno, co5 ,;;le uma dupla cur,,.a, em que o ritmo se acelera e a "isibilidade ten-
,,
comportando, a todo o instante. umrn=mo crítico ao passado como
tal. Mlnbu própria voz importa aqu,. eiosentim.cnto qae teuhu dela;
im;)O:ia ao que posso dizer dessa 01na ,oz, pc-dida.
de a ,e embaralhar: o século que se esrenê.e de 1150 aos aITedores di.:
a
1250.-âepois esse que, ;,artir de 1450, des~c até eor vol~ de J55Õ,
ou mais abaixo ainda, em algumas regiõcs.,Entre essas datas, situa-se
••
o ~ o : n umeiltc se c!i:s:~na com o nome ''literatUiai medieval" .1Kão
••
sidade d~car as nuances e de inrllO<i:N alguma periodização, A s uma matlll'a\:ào. aparenrcmen te rápida, de elementos a~ \•e:zes vin dos
fronttiras re=ortam o tempo tanto quic:1tc CJ espaço: tão froUJCas quanto de muito longe p ara cá e r eves11c.l~ de ~alorcs pn'.lpnus, irreduth•eis -
..
reais, aqui e ali.LPara meu prot2ósito.ate-i.10-rn!: ao que mi: parC(:e- es - o q ue não autonzu de modo alg um Ll 4 uul if1cá lob ..:omo rnbrevivên-
,enci.il: ac ma.Jl primciraemcrgênoada! • IIJ\iuas Vltlgares" di, tintas,
24
c.as, ma~ qut, 0 contra rio. ex:1ge Jc nô~ um es ur ,o de reconstrução. de
•
rak~co:>cr1a da rede de rela-:~ que os man!ei.-c. É oom e is reserva:. ~cm e; tpa1órlu, em branco rreto, 1n-nno. surgem termo tercei~ e
que. na cont inuação deste livro, situarei o cbjern :-ela•1ya:nente no~ rlois Mediadores: J. l~ GotT o dcmomtroL, descrevenuo c:rn eu V.rissam:f!
marcos cr:mt'lógicos de 1150-1250 e 14 50-1.55(1, cada 11r:1 deles <.lcm:.1r- d11 f'urgaro,~ a uncr.'cnç: 10,110 cerne Ju teologia, cJe um contador din-
c.irco a duraçà~ num antes, num durante e nu;n ;Jepo s Só o ph,•i,•o ro e, em e uida à 1tu ' o rnetl1 n:.i 1.0 IO<'us purgalorfus, uma teaira-
fica, saJvo e,ceçao. fora de meu p10posuo. 1 m mhcuo ar a ml!l e cn end~ e
11150-11.50-. tem início um proce~o que, a rt.-edio prazo. kvará a u;ria mais fechada de obnga,;õc. imped1me,to e desejo .p negorrum stdo-
c:ess'ãcrãijzacào da sociedade e da imagem qi:.e dela 5e forma; uma 20na t.ngue do labor, e esrão proximo, os tempo~ em que se a<lm1tira eu mE-
profana começa a <:e dPsenhar regida l;"N lei, ;:a- ,:ulare<: assim o con- riro, cuando não rua r.obrcza: r:- .as o ~piriro que ai p-reside rúi:i dispõe
junto dos costumes e d os discurso5 designado, p ela pa]av:-a coru,sic• ainda de uma Linguagem em que se e:'\pri.mir e de,-e infiltrar-se em ou-
~ seus eqi:._vtlemes em outl'a.! lingua, . ~ ~x scêr:::a .::1'efr,-a r..ão a parece tros discursos, s.eja o da Igreja, seja o dos poetas da corte.
mais tão unhiers.almente ritualizada, e, à me:l.i:ia q ue se ira reduzindo O universo de ser.tido que .,e constitwu no Ocidente a ?3:□r dos
a. parte do, rires; estes tenderão à e~:lerc:,.se_ Dc,nde m oonflitm familia- ~écU:c-s [V e- \• repoU5ava numn \·isão ümbólica que distingulil. o.a~ t:i:-
-es e pesscaü. legíveis entre as Linhas de De '-'í.!'11 s1..1 i-=- Guibert de ~o- trc a realidade das coisas e sua iconícidacle. O século x 11 experimentol.'l,
5ent as coi:dutas.cradicionai,, objeto desançêr.s ,:orr.un:itadas, a honra esporadicamente, as pri.tneinis dú\idas. Isso era gra,·e e foi sent~do pe-
ou a verg::inha que proclami=. a palavra coletiV';;., o-çõeo-5e aos \'&lores los reDovadores, tal como Abelardo. Propagou-se então, mim tem__po bas-
éticos imer::ortzados, cada va. rnab recoo.b(:l.;.Jdo~ oc rracio aristo ~·àti- Lamte cu.no, a vog.a uni'1crsal da al::goria, até aquela época UJt'.la simple5
co. .. Assim come, d..:.sso tes~i;aunJia.. aind.:1. a "o::ir:esia", ao menos na té;;nica de leitrua e de iaterpre1;;.ção exegética: desde 1230 se ela~ro11,
fig11rami1ificadãque transm'.tiu o d:iscurso poêaci: pt.'-::- ela cngeru.1 t a:d~ senão uma Ungua,gem, pelo menos .1rn tipo de diS-C1..1rs-o que oru_parâ até
primeiro -=-esu.tado de urna tusca d::iincfi~·fd".lo~ 5i:.jeico de QOdcre.s, d!_ o século x-v, atra"é:s de to-da a Europa, uma posição de ilornfo.'io ql.La5e
resporuabllid.f.des e de direito;, iniciada um sé:"Jlo n::.a:i~ cedo.1Dessa fo~- abso_Lto no uso prowcolar e no poético. Sem d1h'ida, tal discu!so res-
mã:' o ;;;úl:iplo se manifesta no seio da un.i.dad.e; emerge- um cipo :ie ho- pondi.a a uma necessidade, nwn tempo em que parecia cessar toda a oon-
... mem.]Jur·dimensional; aos olhos deite, de repen:e na.damaLi parece ba- gruênda entre a reaüdade cósmica e a linguagem hum ana. Abriam-se,
na]. A palavra mo'.lemitas exprime então o ~-..1.t:rr.eotc, gi;.e 5e etperimen 1a en1.retanto, no,'os espaços cull11Iah, novas necessidades, no~·os pubüo:is
ante esse espctácnlo e a inteligência que de-le, ~arnos te!- Se.r "mo- - cidades, a burguesja em formação, as cones régias -, moch-o de oo-
derno" é ;ulgar_homens e cci.ias em. virtude d.o ,pe cle.s têm ou do a:ue Vai t ê ~ . As formas de expressão c:x:istente.s permaneciam quase .iruú.-
lhc5 falta; é ronh~r seus ambutos a fim de d.oma.=-Uies o uso. Ser "an- terad,u; mas seu im·estimento pelo 5\ljeito que se exprime obodece a ou-
~ec" (o,; dôli; termos se opõf-Ill no jugão escol.ar da época) é conheter
tras regras; assim, o s.cntido da palavrinha eu, na poesia, não terà ma:!
e julgar em virtuêe do ser e co nada. Belo g_u:e co11oerne à poesia. a es- em 1250 o mesmo sentido que l:ntia em 1J50.
critura paI.ece mo.ierna; a vo1, antiga. ti.fasa. ,.uz ''rnod.emi.z.a-se" t)Ol.'.-
Thl é meu prillleiro eixo de 1eferênca~ A função poética da ,·oz ~e
co a pou.co: ela atestará um dia, ern plena "socird.d.e ifo ter", a perni=.-
mudi..:-1:a no curso desse período; seu uso perde um pouoo - mmto pou-
nêrda de uma "sociedade do ser". co ae sua absoluta r..ecessidade a.nrerior; mas suaã utoridad.e ~ão e
Or.de até então a gµalidade detcrmina,•a u eiiool1:Ja.s, a ua~de
air.da tocada. Quanto ao segundo cixo, 1450-1550, é cronolog:cameote
pas~ a ser considerada. De fato, fazer um objet.:: ai:Jdaa será, du:-ante
mais incerto do que o primeiro: [400-1500, 1400-50 ou 1470-L520 (,:::o-
stctJõ's,""fazer o.m :ielo objeto; mas já avança a iêéa d_e um trabalho prc...
rno su~eri em meu Jjvro sobn! os rM1oriqueurs)6• se justificariam tam-
dutivo - que sabemos a quais absurdos, sete o u ojt,;i :,éculos mais tar-
bém.. Pouco importa. No intervalo entre os arredores de 1250 e ess.as
de, sera l~'ada! O r6prio teQPO se quantifica.: fa.;a.-se de tn:mslatio pa-
ra indicar as mutações mensurá~-eis na tilitóna :l.m iIDpério!> do ~alJer; (") RM1onqwe,,,.r5 ou f tands r he11N1q;u1?w.JS- a denon:inaçio dada a jX)Ct.:is ela t i.'t•
no 5é:ul;;iv se conccoerão e construirão.. roma per Gicr..mni Dei Dm1- :e, no fin da. "Idade l'.1.roía" !'~ . M ududOi e .tin1ados aocoJ.o&icam,ei::: lJ0r ~
di em Pádu , máquinas de contar. Onde as o;:<1sí:;,.'ie3 se e!l.trecruzm-ar.1 Zti:Dthor em torno de l-460-1520 e seoanfiummu n-05 dom.lnios do rei F1 mça. e, ~ -
cia:rner tt, no-3 ducado~ Ja l:lorgonha, RrellíllU, Bo 1rb n, orm.and1ui Poi10u. ,..e:r Paul
('") Grl'ad o no o_•igrnal, ertnfo-,e ao uruYe:rSO can~ d.o :nu:d:l mc!:irval. (r-, • I) 2'.umtllor. A11rho/oglit u·a 1ra,n:n rhlro,-ft,•,,.r'!.rJ, J'arb, 1 ./Col 10/11 (N 1 >
, ..
.. i
data~, outras linha d(' força e des:,1lia111· 1 ~olhos(' sob a1 rn,JO\ de
a operam ou no publico a que , isam: dest:nha-,e um e1boco de llma
uma m noria cre cemc de clerrs, potentadc e burgueses, roma forma
dhisão do t'1lbalho e c!e uma e~peciah!ação das t:n:fa-,, fatores qm.· .!>á,
um 11ni\-erso onde se afirmará um :.lia a importância deterrmnanLe do
pmtm em ação contra a plenitude e oni;,r~ença da "º1. Encolhe-se o
olho, d;i luga do rcmro e da ab nua sobre m futuro imprevisív.:I..Q
::ampo. até enLào mu·lQ_filande, da mobilidade das fonm::. ~tic.J.S'
Ocidente entrapa o a pas o n idade da es~rit r · JlUaJ_.Qilff~
c.arohnvos nãõü'iiharr lo do ·mQor um mod 1 . Daí um lento desli- instãÜrâ-sea idéia de uma füàdez do !exto. A mutabllidade, a variação:
a fnce,.,ante retomad.3. dc.s. tema; obri~atórios, o remetimento {implici-
zar em :hreção ao que, desde l~SO. um ~omem de outro planeta re-
ria podido prever. uma predominãr.cia a lonio prazo do mo<lelo escri- l0 mesmo) à autoridade de uma tradiçãc não escrita, a predominância
lural.f~msagrarei um capítulo a essa his1ória. Entre o inicio do século nào di:;cutida das com:micaçõc..-.. ,.,c,cais figuram, de agora em diante, co-
XJI e meados do século :,,;v, por todo o Ocidente ~e produziu. eJJJ graus
mo meios pobres, algo de.. prezivn. Se11 us:> se marginaliza, logo isola-
de fato diversos, uma mutação profunda, ligada à generaJiz.ação da es- do Od zona de nossas "culruras ;>opula:~~".
crita nas adrrunistrações publi~ que le..,ou a mciona1 ·7ar e sisttmaó- Estas, pa.>sados ::>~ 1550-1600, co□quilnaram seu espaço e sca 1clen-
nu- o u.so da memória. Donde uma tA.tremarr.ente lenta e dissin;ulada tidade, ma.'> um e outro com contorne:; nindn frágcit.. b, um fat::> novo,
dmaJorização da pala\'Ja YÍ'\o~Re::uando e carri.::J.hando com passes coo- A "ldade Média"' não tinha conhecido na.da assim. A confrontação das
Lados, entramos num mundo, como disse O.::tavio Paz, em que o desti- línguas ,11!gares com o latim dos cferc.~. oo~ costumzs com a mite>logia
no tmaJ das literaturas é produzjr otra~ \ii,·c1s nas línguas morta!.. ~os professada pela Igreja e pela e~..:o.a, não caminhava sem 1,,-0hàitos; e não
arredom de 1500, é verdade, nenhuma das c;.ilturas européias, desde en- se pode negar que a p~·a dm t;-ova.ctore,; e ll.fmne.s/.lnger. assim cumo
tiio distintas, atingiu reaJmente esse fim. Se:n duvida, a França é a mais aquela dos rornancie~• da prin1eira hern.ção, revela um fo:-te impulso
p~óxima dele. para o fechamento, o isolan:e,to aJtho doscoscwnes mentais anstocrá-
Num pequeno livro publicado em 1980. ·cntei descrever c:m alguns ticos.. 1Tudo o que na cultura ~ornurn resiste a es,;e impu'.so (e reage ao
parágrafos os traços, a meu ver principais, da mutação que nos fins do :,mproendimento de a_çuhuraçâo inutilir.er..te condUZJão, há séculos, por
slculo x, e inicio do sé:::ulo X\'I afeta as menta:idades e os costumes eu- certos meios dirigente5) tende por sua "ez a isolar-se., a endurecer-se num
ropeus. Permito-me remeter àquelas página,, assim como a meu l'vro, esforço, talvez numa 1cmada confÜsã de consciência, de uma amplitu-
Já cicado, sobre os rhétonqueurs. ~ Acp1, reterei expressamente 1.1:n ele- de ate então desconhecj:la. Masames do século XV nada foj decid.ido: 1
r.iento que concerne d~ maneira es~cífica a meu propósito: a distância ;'popular" (ca.so se q'.le1ra usar esse 11.l_1etivo) não designa a:nd.t o que
çue o homem então parece tomar para consigo, seu afastamento :lo pró- .;e opõe às •'ciências". á ff!fJru.re; .. refere-St"" ao çue dePt,":lde de um ho-
l"rio coQO, ma desconfiança, até .rua vere:onha dos contatos diretcs, dos rizonte comum a todos - ~ob:c o qual se destacam algumas constru•
espetáculos não preparados, das manipuilaçõe~ a mão nua - tendl!noa çõcs abstrata!i, pr6priac ~ uma. fafina. lt'.inoria de inrdecniak
oontranada sem ce.<.sa~, mas dominante. O uso da voz sofreu nesEe- :ori- Assim, a grande maioria dos textos cuja vocalidade iJJterro~o (: an- ',..
Lex1o o mesmo tipo de atenuação e e.·q:;e Õmes~o ripo de práticas subs- Leri~emetgcncia dc~sa '':::1Jltu.:a po;,ular" dis!..inta. - alh:m.~"fame-n.
titutivas que os modos a mesa ou o dis:-:u-so s:lbre o sexo. t,;ma arte que te desdenhada em ourros ILtga.res ou baj Jlada por S!!u charme c:susado
se base,va nas técnicas do encaixe. da corr.binacão. da colagem. sem - consecutha à fn:.tu1 a social, polínca e idco;ógica dos ano~ 1500.1
o.udado de autentíficação das parte , recua e (.;ede terreno rapickmente '-:ão e '..m acaso se a ' descotcrta" dos :ex tos da Idade l\1éd.:a pelos eru-
a uma arte nova, que ar•r:'.la uma vontade de ~ir.gularizaç.ão. A tea1rali- ditos romântu;:os -.oincidiu :com .aquel.t q11e nzt:r~111 das" po~i.1., popu-
ú ~ gtneralizada da ,·ida públi-:;a :::omeç.a a c,maecer, e o espaço ,e,P-ri- la::es·• ie seu tempo! T).)1 eh medil!'afü,ta, do século \.1X 1ph;a:-em a esse
\•atiza. o~ regi~tros ,emonais, \buais e tareis ~q ue havia ,eculos mal era:n conjunto a:nigo uma -:la;stf:Ci:i•,ao e:-n dementas· populan=~". "~• ur.li-
disso.:;1a"H•1s na apenh:i ..1a , 1Hd d.a maJon:i) distinguem se. se;ia•am- 10,·· ou ''letrados". 1a nréade "ccn~t·!i"... É veidadt qut ainda 11 0
,,c: primeiro entre os lecrados, depo sem 1mta pane, na medida (causa tmc1~ jestt ~eculo \ar.os mi;c, d:.- r essas •·.:umJra.s populares" pro,
ou efeito!) da d1fusAo da e cn1 à poporção QJe e afastam urr.as das nham forrralmente ~bs ln.iicõe~ medit-V:l.lS: o fotc, é j)IO',•ado ror mu-
ootras a • 'anei .. e '4àCllCI " 11v1dadcs ouhurau se dhcrsifi-
c.am. ao me-;mo tempo nas fun~ÕC!. <;LC ela preenchem, nos uJ io5 J • Rcfc·~a a px nido~ de .1111 érero n.:iv o ·o!"'lana .0;1~, 1'); T
,••i O eq,1,alcnt.c ao 111,1lc,, lmrao, a ,,11•1.1dadc dr ~ e csc-~~ 11' T•
to•. do· ccr.tos e du: c.nru;.tks camponesa~ na huropa l' na Arntrica \f as !ando-me cm meu lugar, esforço-me por atn:r os ja~-ti:n para outras d:-
,~s t:T:t .t;,e:ia: uma aparência de ..:ontmm:lade: run::ionnlmcnlc, nai.111 reções. Até 1mdc estender o olhar sem nrrh::ar 1m:;ire\"1Sl\-e1t distorçõc~
vincula o, 1crmus des a\ tnlsas an11log1as. Os univer,o~ semâr.t1co~ em de perspectiva? G. Duby rcttntcmmte limi.1 ·1.a à Euro;.u oo:len1.al a apl -
que e[es respe<tivamenre ~e inscre,.;em são pou~o :=ompar.iveis, e, sobre cação t.lo lermo "Idade Mbli11'"; P Chaun:i esteMf llm aco rara o
o-plan-ucdaeutccnul, na.o poe!cmos<:0nclu.r granâe-:01sa das relaç6es g\ll e o noroe te, sobre m temtóno três ,.ue., mat d que Françn
entre UTD e outro. de hoje, povoado no se.:ulo xrn por uns .40 milhl\es a.le teres humano$,
Tal to resultado dos esforços p:ornetei:os realizados ;,e,os homem mas no 5éculo xv por não mal.5 que uns :!O rn:lhõe.<.9 Goc:re-.·itch faz m-
que M., !SOO. lrí0O tendo aprendido a maremaüzar cJ espaco e o tem• duir a Escandinávia com a L·dind:a deu:aruf.o fronteiras ndec:isas no
po, emende:ram qut inam dommru a natur=za a ~eu proveito~ instala• leste e no soJ. Donde a possibilidade de recorr-:r 4.:oru ;,rud2ncia, qt1an-
ramo~ p:n~i:.Illentm e as instituiçõe-s destinadas é. ~eprimir o~ ·•outros", do s.e imp& confirmar as informações mais dir.:tas> ao argurni.:nto com-
os ''pobres", esces oom modos de -.·ida arcaico:. e com rnentalidaces dc- parativo: por mais externo que ele :;,ermane:a, não nie ::.Jta, em sincro-
Lerminada5 i:or seus medos. Cm no,·o equil1hric ;;e ins:taurava :>or en:re nia, nenhuma verossimilhn.nça.. O qm: aprc11.Coe-mo~ nc-s aintigos bardos
os destroços de um conjunto complexo de pu1s:,e~ e cc cmm~es sem_- escandinavos. os escaldos, não pode ser totalmente ~tra:lho aos costi.:-
cos como a rnarufestação de uma impotência ou dç uma :ecusa. De a11ora m~ reinantes entre o E.lha e o R::r.o ou c111.re o Lo:.re e e Sena. Aquele
e..--n cliante. i:cr 1rês ou quatro sê::ulm. as oposiçôes até então pouco mar- unive~so ig:10ra1ta, ainda que esü~es.se num ,grande C5J:3Ç•:J. a.s diferer-
::adas e -:htuan1es endurereriam e (para rematar) se co:aii::k.riaJI:.. A 01a- ças absolutas: ~o testemunha!> o~ •,:iajam.e:s, ét' Rot-ert -je Oari a r-.tar-
lidade da poesia me:lieval não pode de modo algJm se; entendida corn co Polo. por todo o lado e semp:re ac:-á.s da ';::iaravfü:.a' •. Para eles, pri-
base em r:il situação. sioneiros da imensidão eura.siátíca, nada ba\'ia de co:nparável à
estranheza perfeita daquilo que descobrirarn nossos nBl~ores a par-
tir do seculo xv.
e
O ritmo do ~empo ainda oào uniforme em todo lugar. As datas, No bojo des!.CS Jarg~ limites, o ar oíe:-e:::i.do à r~~o.::i.áncia das vo-
proposrtalne::ite .aproximativas. que Lrago aquJ ~metem a etapas histó- zes mcdic,,ais é homogê11.eo, apesar das dife:em,;as, c:res::e:ites com a dis-
ricas que ult-apa.~saram, com maior ou menor rapidez, os terri:Orios co tância, que se constatam ao regime deles ou a seu ak:ar:ce. )foque eu
antigo Império d.o Ocidt:nle e quaisquer outros alem do Reno, do Da- chamaria ..médio espaço", as se.mel~ças pre1iotni.nam. Qc.mto a mim.
núbio ou do mar. t\.fais a leste, produziu-se um deslocamento c-ro::ioló- tomo aq11i por núcleo ter:itoriaI O que foi. o mipé::ic can-Jfugio, com
gico, entretanto, a natureza e a sucessão das fases do desenvolvimento ~ prolongamento!õ na pe~l.a Iberica1 na Itái:a cem~ e :::nendional, na
permanecem :nais OJ meoos as mesmas: a5sim, ros domínics russos lnglatem. central e su~ 1Alé:n, o, paíse§ celtas. ~:a•,'ll~, nórdicos:,
e5tende-se dos séculos vm e 1x aos arredores do an() 1000 urr.a época os Bálcãs e Bizâncio deser..bam zonas em deµdê :::i~ :iua:s dominam
1
arcaica de pcesias orais de cone; até meados do século xa. sc~ue-~ 1 •m outros fator!s de cultura, ::ada 1;-ei mais po:l~sam-cte 6 ::n,odida qui::
processo de cristiani2ação que acompa.,ha a introducã.o de prátcas es-
criturais; de ! 150 a 1350, compilam-se e elaboram-se os textos que po5-
suimos, alimentados pela lembrança cas antiga.-, .sagas. Mais lc=ige? A
delimitação geográfica do campo de estudo não indi,;;a aenh~ evi-
l
1
nos afastam:>s. É assim que ?e\'arei em coma. ·:orn o ~e :!e trabalhar
em segunda mão, as regiões ib&-11:a;, italianas e .ilernru lqJe chamo, pa-
ra sim;>lificar, de Ocidente), sem me .mpedir alguma.5 rm.::ito t'lreves ex-
cursões para além dellS. Essa postu.--a rcfett-!e mi.pliciu:ne:Jce à unida-
d~ncia. Considere, para começar e por pnndpio, os teritóriús france- de orgânica de uma ccltu."'3. assinalar.do sua :xt..--e.ma divc~idade: sugere
ses e occitâr.i:os. Sem dúvida, conheço-os m:!lhor do que conneçc ou- (sob be::efício de inventário) um dos al\'Cis :cc:. rela:;:ão ao~~ pode-
1
tros. Mas talvez pudéssemos também im·ocar para essa escolha razõe, mos tomar como válida, de um poaco a out::-o da El...~. a idéia de
menos ~~~i~. Há várias questões que coloco, an ~eriil, à poesia me- uma uni'lo-c:rsalidadc ":nedie-.al". Desta, o SltJ:C"'e e a liga.ção não se re-
dic\,a]; o COf'Pl'S francês, por sua antiguidade, ccmplCKidade e amplit:1- duzem (como sugere uma opinião er::-5nea 01.1; falsa) ao uso da língua
de. permite formular respos'.as mais rnatizadéll, pur isso mes;r.o de mais latina e das t:adições escolares q-ac ela ,'Ciculla. A$ oont buiçõcs gcrmã-
longa validade. Pmnanece o fato de que nenh.=.rna 'risâo da .. ldade Mé- nicas e nórdi::a.s (e. numa medida rner.-0r, cél:icas) contti~ um com-
dja" ~ justificivd se não engloba ·,a:.
to~ rincô..:s éo O::idente. Insta- ponente essencial e geral, ind s.:erni~·dmcnce rnistura,Jo 8.() elemento
30 J/
m~d1lcrr51m1 - t'Slc ~m i.:oM'filll~ 1Lmd1ção t'ntre l111i:irt'10 e o Oddl'.'n
te. Huccc--rnc que- a importância pnmord1al do r,apel atribuído à \iOl.
tem muito mais que com o primeiro do que com o último.
\;Cf
Por is o m:iim guci,tôe~ (nntes que as exigências filológicas a5 es-
pe:ifiquem) 111e1ec::m ser colocad!S num nível bastante geral. Assim, té!do
~tudo ~ canções de gesta francesa; ganha. ao situar-se na pen.ped.l- I
va da cpopêia.. O problema colccado para o~ especialbt.as do fra.nci:s
pela JlTCSSUJ)()ita o::alidade delSaS canções diz respeito, às vezes, há muito
O CO.tVTEXT0
tempo ainda, ao~ .germanjsta~. ,mg..lkisias e hispanistas, em seu ::lom1-
oic respectivo; as Questões rclauvas ãs contigüidades e adjacências da
lra1s:n1ssã.o '-''Ocal da epo;::iéia s:à.o, para esses pesquisadores, frequent.e-
meme ma-5 rgentes e co:no que mai, evrdentes, em co11Sequênc:a dos
:ermos partic·1la1e:s nos guai; se define a situação de diglossia nas zo-
:1as culL.1rnis consideradas. Copo a n.;.lureza dos fatos, ainda gue com- 1
parável, nAo é idêntica em todas as partes do Ocidente. puderam emer-
gir de tal busca setorial oertas idéias. que em outro lugar terão ta.Jve,
o oticio inesperado de conector.~ raízes profundas que, aquém de for-
mas manifes·.Gs bltitame diversas, unem aparentemente::> fato epico d~
1
uma a 01.:11::"a parte da Aquitâ:üa (na França do norte; em Castela e em
\
Aragão! não podem deixar de D1Jp;:1r, ao Cid e à Chanson de Guillau-
me, um llúrne:-o elevado e.e ca.~úS comuns, sujeitos aos mesmos prcce-
c.imentos. Além de.c;:sa relação, de:::e-to privilegiada, foi através de todo
e Ocidente gJ~ se conslituit. um discurso épico do qual regimes locai;
r.ermaneceram baseante próximos durante seculos; do Elba ao Guads.l-
qui~ir. .. 011 mais alem, se seguim:.os A. Galmés de Fueates. Os gern:1.-
cristas a.cu..mul;;;.ra·m assim uma i;,om.-a considerá.,.·el de ob,ervaçc-es e re
flexóe~. da, q Ja,is se-ria danoso isola.r 1;1tegralmente as nossas: cor_cernem
sobrcwdo ás modalidades de transmissão e alteração dos tcxto.s; ~s re·
l.:ções entre: a escri:ura e a tr1di,;àc oral, entre o mito.,. lenda. a epo-
l)éia; entre esta e o univen,J <lo c.:,mli..'1. Do Kudnm {a propós.iro de- qual
foi pela ;,rimeira vez, por volta de 193~, formada a hipótese de .1maes-
p-:1.:i 11.:it.l.-ur lmglitstica àa epo;:,éla oral) ao texrn-amálga:rna dcs ."l1óe-
f:.m1<en, pa~sando por uma gesta 1.>orgonhesa do seculo" sobre o medo
l
co rnmancf franc:ê.•- no ;;éculo xn a füta dos. problemas abordadcs se-
ria Jc,nga., Há l!]Ual abe·n.ra Jo lado ,mglo-,a,:õnico. onde os es:udo;
~obre o Hevwu.fj tem gradi.Jalmen•~ ,c1.. rido qua. e lvcto 1l honzo111e da
antiga epl1péia n:ird1ca e de sua tradição
1
,0UISIÇAG UE 1 ·
oJ
íl'_ _ _ Ô ~~ I '1.F.
r
2
O ESPAÇO ORAL
I 3J
l
\CS do tcx10 obre o miinu crII0. Em wdo• o~ oulrO!> ca~o!>, ele marca De fato, nâo s.aber:'.amc" afasrar .;omple1am~me a st.speita de çue uma
111111 probab1l1d de, que o ncdic,.·alista mensura. em aeral,_ pelt bitola mércia de vocabulário te-n.h~ mantido (pira alé111 de uma época primitJ-
de eus preconceito . Os lto:to-s mus1calmcrite notados, mm10 n1mero- va) canção oomo um simples tcnno técnico, o qual ::voca os gêneros que
,o e rep:midLU de manún b.astanLC irregular no curso do temw - do em seguida caíram no domínio d.a e~crítu.ra. Nada, todavia, autoriza a
,&.."'Ulo ao xv -, forrna.m juntos, em comparação a todos os outros,
'.JDJ contt'Xto ,;ignificativo que co11ota fortemente uma ~itoação global,
priori a esvaziar ce seus senlidos esses or commencecf.ans,on, º"d
chan- ,
son ("vocês "'ào escutar uma Cctnc~o'") e fórmula.., atms, freqüente.. em
porque nanifest.a a e:x:isténcia de uma ligação habitual entre a poesia nossas epopéjas e, aliás, não ignoradas ptlos ourro;j gê:ieros que e:-1:plo-
e a voz. '-as compila;ões :citas a partir do fim do ~ o.2:!,II, o ªP-er- ro:llll, por .müação ou ironia, o modelo "épico".
f~amemo das grafias aua:.enta bastante a f~uência desse índice._, Fiz um levantamento ~o.s prólogos e tpíbgos de 32 canções de ges-
Co11Lam~e aos rn·lha~ os textos assim marcado!,; sobretudo os poe-
ta. A pala,Ta can~·ão aparece 47 veles com função au10-referencial; per
mas IJt1Jrg1cos 4.em particular, o setor guare inteiro do drama edesiàsti- 25 vezes. epítetos faudativos qua_c,e publicitário:,; a acompanham: agrc-
,::o) e as canções de trmradores. troi.n•éres" O'J 1'>1irmesarrger. Do mesmo
dável, maravilhosa, gloriosa e, sobre-udo. boa Cünção. Essa última ex-
rnrxlo. u11~ cinqü.c111a d1anso.r;l'/1ers dm séc"Jlo, xni, xn· e x:v, graças aos
pressão poderia provir de uma L':'iDécie de jargão ca~:;iJl-e:resco: .:> com
quais no• chegou f'Ssa p-0~j3 de lmgua fnncesa ou owtãnica, não 0011-
batente tomado pela fadiga cm de..ànirno exo:ta-se a agir de modo que
'.ém menos {incluídas as variantes) que 4350 melodias relativas, cerca não seja cantada mhre elF 11ma canrJo ru:m ... A S5inl !-1: dá por (rê~ ve-
d: rroo c311ções, elas ;;:,róprias comporta:ndo i:11.i.meras variantes textuais.
zes no RoJand; ou na Cli.ronique cie Jordan fantosmc, compoHa por
Em ~1f:ral- arredondadas. eis os d!ados: volta de 1175, em forma, ,::: verdade, do: canção de gesta. i Jais expres-
- n•.imero de poera.s ern questão: trovado:es 450, trouveres duzentos;
sões - não menos que a canção a"e gt?'5ta que aparece aqui e acc!â em
- número de can;füs ro:iservada~: m:v,73dore.- 2:500, trouveres 2 mil:
fi~ do século xn - refe~em-se ao que, e\1dentemente, é ;,ercebidc co-
- c,Jnsen'3.das com melodia: trn,..adores 250, lrouvi!fes 1500.
mo um cor.junto de dísc11T,sos d:!finid~ pda sin,gula.--idade da arte vo-
o~ manus.critc,s alemães são menos generorn,:: parn 150 poetas. pm-
C<1l que o implica. Je~n BDd~I confir.JJa em outro~ terrncs esse ces:emu-
rnímos apenas duzi:nc.as rnelod.ia.s de Mi.rmesiiriger, das quais menos de
nho quando, no prólogo de sua Ciumsori des saisries, distingue na arte
me1ade p;!rtence ao grande ~anto cortê:-."'•
de um recitador o que diz respe1to ao ve...-so e ao dito e e que diz r~peitc
A ambigúidace cor.ieça quando a notação a,:ompanha não o pró-
ao camo - àesdo'..lrame11to fre<;uen:e nos textos alemàe<;. que se refe.
1111l1 Le:>:.tc, mc11, umi.1 L=ildi,.ilu 4ue e friL<1 t:rn .._,u.ru lugar. As,im, o poema rem a !>i pr)prios como ito.rt rmri WL,.- ("palavra e melodia'').;
heróico-cômico A11d1g1er nãc, compor:.a. n.o únko manuscrito que □os
ío1 .ran~roltido por int:!irn, oe:ihurna nota~ão. Em co::mapartida, J ver- Fica-nos uma dtivida - QUt a mn<;'colog:a nãc e~tá "m condição
,o 321, pror:rnnciaco :;,or llma personagem d::, Jeu de Robin et .'Warron Je esclarecer compleramerue, apesar .:ias hipótes~ gue adiantou de5de
o ü11c10 des·e século. Pelo 1111;':Ilos, o De musice; do mcst.:-e francê~ Jt:an
ele Adam de la Hale, ê enc:.mado, sobre dOis manus-:rims, por uma li-
nha c.le n11tas .. cu a ü:terpretac:ào, de re-.sto, l1:-vantou mais problemas de Grouchy escrito por vobi de 1290, parece trazer a prova de c_Je os
usuâi-ios po:liam kcmtificar o gê:iero ~ico çom su~ ,;::,pecificidade vo-
<lo q lle re5olveu. Alem ::.o A;,idigier. temou-~e obter informações a res-
cal: canrus 5estuat,'s.' Quaisou;:r q·1e feja.m os prnblcmas mus1cc-logi-
peito da núsica da~ ca:ições ::ie gesta, géne~o que esse texto p~rodia mas
::iueem nmhum documento e ,i:.1sicalmeme- notado. f\fas frequentemente cos. que crie a interpr:taç.ão rl:-s~t' LcxLo, ao meno5 parece assegurada a
exis1ênaa de um :I;>o de me,nJJa parti<:ular, semelJ:an:e às das cançõeo;
,e assinala a· outro tip'.'I de ~ndice. a usào explícita .ao exercício \OCal
[!Ul'. comt.1u1 a ··publ1cação" do loto no momento em que este •e de-
de ~dnto~. C te~ternunho d:: J:an cc: Groudy I:! co:-robor=.do na mesma
~11,.na a ~, mesmo rn:n-o cr;,riça,"> (: realmcn•e rouco prnvá'l/el qur esse epoca pelo do Pen:renflale Je Thomas ,::it Cabham;- no eniamo, s..:b-
1c1mo 1enha podido retem e a obras ofcrc id j pe-n:u a ktum ~i.,1em dU\·1cas que, P--•r um l,do, relc:rem,i,c a r.atu~za do documcr.~o,
pouco expl1mo. e oe um n u =,,.,.,....... ua e, por tro lado,
•1r,e:a~1J :;:~'11. J.,r.•-:::lafr.in, "'f .,, ~ua data, :Jorque o IC..\IC1 I: p(,stenor a grandL' época das cançocs de
~q,ec,;àc r;I ere •.: ac o.•:'l.11..nt,> dr e~t,11 ~ • 1 u,
( • • 1 /\ l:-51~,"\lh.1 <: o I rafo oo ~e~1a e cont:mporâ!lc-o d,1 :ou t1tu ._.iu Ja~ rmm~1r.::1~ cc:mpilações de
m, 'L!lcian:-t to, d.a. (J'/f ;.. lt'.jL l'- ~ 1 narrativa~ ~picas, ... om, o c.ck_1.k (,u lla1.trne jo mar.~.,crto BJI. fr. 1448...
36 37
Sena bom se o testemunho de tojos o~ no,.;os texto the<.se a cla- "ezes no J-'m ,end1en.u tJc Ulnch von 1 1chtcn tem, 79 vezes no Méhudo,
tcza do da ,,.elha Samre Foy p1:er:a1ca de: meados do ;;.éculo x1 Na cs- de Fro1ssart, tá cm torno de 13 0'
tãfjc1a~ 2 e 3 des~ poema, um elo..:utor, e:qmmindo-se na primeira pc · vcze , o !C'lto ]1ber.11 outro índices de oral dade, mas direto):
soo ("oc&1u10r••,. _...._.~... o de · · fi ......,,,~ q azem tcrt poemas akm e no
ddinir rua natureza: o assunto, tomado de empréstimo à tradição lati- éculo x 11 '1 um acomi,3nhamento in~trumental; mesmo o 111ulo me~.-
na, ma~ muito :onhecido desde A.gen ate _A.aga.o, pro,·em de um texto plicávcl. de •,árias peças Lia "Compilaçio de Cambridge" (por ~·oli.:1 :io
'-1 ue escutei ler po· ;>es. oas in$trmdas; ::, poema que eu ,.:ou lhes ;omud- ano 1000). qu~ podena ,ign r.car " obre a ána de" \foáus l r!Jinc,
car o será numa lmgua fac1lmer.ce mteltgJ\•Cl e num em.o u~ual .m 1erra _\,fodus Flurum e o re:ito.~
=rancesa. E5-e :;,oe:na. por duas \ezes :ha.m.adc• canc~on ("'canção"),
conpor..a um som, ··melodia'') regulado sotre o "primeiro tom'. isto
é, segundo ai i.nterp:-etaçào de Alfaric, em salmodta alternada - o que
-À luz desses te.tlOS se esclarecem aqueles mais munerosos ain.da,
i:arece confümar, pouco depors, o plural de C'~•• canram esta ::..ar.czon em t0do género, que para se designarem no movimento de sua · ·p~ ~Li-
r '...sobre quem cantamos essa canção"). Enfim, o canco é acompanha- ça;ão'' recorrem a algum 1,,erbo de palav;a (em é·rancês, dire. parler, t·o,i-
do de u:na dança, sem dúvida de tip::i processio:n.al. ter), frequentemente com;,letado, do ponto de vista da recepção, por um
- . a mesma época. o canto sobre o,; rniJagr~ de- Crís~o. enccmenda-. 01..ir ou écoure,.)>ierre Gallats, há vinte anos, 1 :al~cl!ldo rais rodeios no
do pelo ::iispo de Bamberg aos clérigos E.z:zo e Willie, expõe em sua pri- repertório de 370 textos franceses dos anos 1150-1250, achava-os nu.ma
meira es:rofe a manelra pela qual colaboraram (um deles compôs o tex- prcporçiic tal que ~ podia i.merprelá-los come um traço ;,erttnente do
:o, e o outro, a melodia) e descreve o p-:>deroso efe'.:ro que a obra exercia éücurso poético dessa época. Fórmulas :lo tipo eu quero drzer, eu a'i,f!o,
sobre quem a escuta,..·a. A clareza de tais tesu:murho~ ;:iermitiu a "'irias eu direi e:, contram-sc, segundo seus cáJcuJos, em 40 07, dos fois, 25 u:o das
pesquisadores extrapolar seus dados e aplica-los a todo o gênern das canções de gesta, 20"c, dos romances e éosfabi'iaux, 1501. das ,<idas dt
" :a1ç&~ de- santos" atestado de fins do século IX :a meados do skuJo santos. 6 o., kva.ntamemos ulteriores, como o de ~Iõlk, confirmam-no.
x • em virias regiões da França e da a:ta AlcmarJ:a - -:oncluslo con- Mc1.éndez Pid.J antigamente realçara uma quinzena de formulas desse
fi rn:ada pelo prólogo que, por volra de: 11:0, acre..so...'"D.COU o rubricador tipo só no Cantar de m10 Crd. No lado alemão, contei várias dezenas
do manuscrito de H:ildsheim à bela Vie de sail'lt AJ'exis normanda (con• n::, Tristan ce Gottfried e no de Eilhart. Em maís de roer.ade desses teJt-
temporãnca de Saime Foy). Redigido em prusa ric..-nada e rim..Ja. c:lc tos. due, sagen, àicere ou sew equi,,-alentcs, scg·indo as línguas., apare-
apresenta, elogiando-a, essa "canção :spirin:al"; pois suas primeiras cem em conelação com owr, Jiõren, audite (ou, como em Gottfricd. \•'ll.
palavras .-eprodLUem a fórmula de abenura mais freqüente das can:;ões 1854--8, com uma alusão aos ouvidos do público!): devia ba.·e-r for:es
é.e gesta: "aqm começa a agradável canção"... E.ist prólogo não fun- razões, tiradas do próprio tato, para atri :mír a esses '\lerbos outro va1o~
ciona, cm rclar-ao ao poema, muito cl.i:ernm:menc.e dos primeiros ver- que não o mais comum.~p~o da dupla dizer-01.r,,ir tem por fun-
s:>s do G:Yil/aume de Dote de Jean Renart pou:o depois de 1200, anun- ção manifesta 1=romovcr (mesmo ficticiamente) o texto ao estanno do
ciando de chofre que, para fixá-los na memória de seus ou,intes, rec1:eou fãlante e dê esJ.!!nar sua munic:ação cerno un:a situação de discurso
sua narrativa com diversas canções do:ada5 de sua rnelodia.L:!..._~ in praesenrtc. ,certos roman.cíer.r, como Chrétien de Troyes no inicio do
nart inau,ni.ra\-a uma técnica que te-.·e sucesso enue os romanciers f:-an- YYain, ou Eilhart von Oôerg por vánas vezes, não opõem em ,..·ão oufr',
ceses e alrun< emàes~ os .c~xt.t,.?w.um.a es~cie de fi u- hól'ffl (peJo 01wido) e el'l.tel'l.dre, vernehmen ou r.iuken (pelo opiri10).
ra em ca5~ta a narrari"a, antes de abrir um treeho lírico indica, a fim As vezes, o texto ate parece empi-egar dizer para significar, por metonj-
e :onfirmar a sutura e é cantada i;:or tª1_personagem; a ~e em- mia ou litotes, "cantar";' no., cinco dos 24 prólogo., de Mõll., r:Ju-r e
pre a termo referindo-se ao :Qróprio canto, ou à melodia somente. • • challler alternam-se ou se adicionam em figw-a de cumulação: .. E!ta
vaes é sublinhada a vocalidade do efeito: cal dama do Guilla:ume de histõria", seannd:> Adenet le Roi, nas E'lfances d•Ogter, ,-cr,o j:2, " ~
Do!e(vv. 309-11) tem a voz "alta, pura e clara'' Quando essas inter,cn• graciosa de dizer e de cantar''. Na~ oito outras canções, direcmp~ ~
çõc musicais se repetem 'llárias dezenas de ,'t'!es, é o caráter vocal da sozinho; o resto~ tem c:hanter. E a fato de estilo o autorizam a
obra intci:11 que~ assim exaltado: 47 vezes no Guniaume de Do/e, 58 concluir pela m1onfmia do, dois termos. Pelo mcr,o im~dern c.le inter~
J J9
pretar din> ~em refrrêricia a um ato vocal, provocando o ouvido. U Meh- d1s ... ( "pess:,as de bem que ,.-erão meu Ji .--o e escLtarão as bela~ pala-
l~r. r('cl'nlemenie, mali~ando a, rubricas dos dramas l11ürg1cos, mostra- vras"). Entremi::ntes, tornou-)e a formufa inicial das cartas fr.;.:icesa.,
• a o amb111uidadt: de d,urc e c-antare, mni~ ou menos intcrcambià,·c1~, o "Aqueles ➔ uc verão e ou~·irão .:•. Au,·1mJ ltro vil urre fm? r~e., l'ers
à fah:t dC' uma deliniçlo prei:is.a do "caruo''. Nenhuma dú,·ida de cue ("Qualquer um lerá ou escutará ~er e,tes ver)os "), ~::gundo Reclus .cJe
~e d;iva o nt::\mO nas llnguw. vulgare'>. J\.tollkns no me10 do século xrn, ~coando William of fllalmc bury. auf
Uma ti ura deJ::Yf1.2.lltio n:ais ou menos estereotipada, tão frequente ipsi legere aut legences po.s.silís aJ4dire (' •.•.que possam ler ,·ocês mesmm,
nô latim como nas lmguas vu1gares, atesta entre todo5 esses termos a ou escutar aque.es qu::- leem"). 11 Quaisguer que ~jam o conteüdo e a
atenuação do~ con'.orno~ ~emânticos. Ela r~este forma; diversas, recu- fun;ào do te.no, somos assim, ele todo o .ado e de toda a maneira, re-
uv~ a..u.ma. :>u Q.UTa das dua5 ~éries, sêjaãcumulati\1l, seja a alrerr.a- metidos à modalidade vocal-aud:Liva de sua comu:iicação. Crosby real-
üva. dizer e/ou escrever, ouvir e/ou ler A forma alternati'>'a. que parece ça as ocorrências desse topos na lnglate:-ra até o tempo de Lydgate;
predormmn nos textos eclesiãsticos da época mais dtstante refere->e, Scbolz o indicava na Aleman.f:a até o século xv. E'Iil todas as línguas,
distinguindo-os, aos dois modos possíveis de recepção; o autor preten- os termos que remetem à, noçõe.s, ;,ara nós distintas, de ' ler", "àiz.er"
J..: d:~i 5nar por esse meio a un:.versalidarle do público a que visa. As- e ''cauar" comfüuiram assim, por geracõc:s, um ::ampo lexical move-
sim. e:n Beda, Historia ecclesrastica, por várias vezes: reil.giosus a:: pi'.JS diço, cujo unice rraço comum pemianei::teera a deno1.a;àt1 de urna ora-
audiror s1ve lector... ("o ouvinte ou leitor piedoso e virtuoso":,. 8 lidade; A.sser o: Sherhorne, em suas Gesta Alfredi, por volta de 900,
To:nou-se, parece, um lugar-efll11urn do discuro poetice uJterior: subsumia toda!; as nuance.~ nc verbo reci:cre. 12
Exístem outros tantos apelos aos valores \rocais, que emao.am da
Pour /e:; amaurew esjair
própria textunl <lo disc~1rso poét.i=o. As vezes indfoe$ e;>1tcrnos 08 confír
qui les rorront !ire <Ju oj}r
mam, ,extratos de docu:nentos anedóticos, reJaciortando-se a um ou vá-
r ' Para a1egru os namorados -1ue o quererão ler ou ou-.·ir"), 9
escreve rios ~exios e evocando-os em tem:.oi tais q·.ie o cará1C3' ~◊cal de sua "pu-
o autor do romance do Chastelaín de Couci no fim do século :xm, en- blicação" se destaca. atarei como exemplo, ilustre pe]a diver5idade dos
qnan:o Hugo voo 1rm berg, s!U contemparâneo, dinge--se a quem que- juJgç.mentos que suscitou, a arot.:ca C/rrmson du rol Clv:haire (rnaê. fn::•
rerá iestn oder horm lesen ("ler ou escutar ler") seu Ren.ner. Por ~•olla qüenterneme dita de saini Faron), obtida e□ meados d.o 3eculo r.,: ;ior
de 1465 ain ;:ia, o au~trfoco Michel Bchcirn, cm outros termos, aprcienta Hildcgaln: de M,;.iLJ.)(, mi Vita .saACfi Farot1is, nós a WtlSÍde.raremm ai-
sua crónica ::.omc p~ópria a doi. usos: poée-se es iesen ais amem spruch temativament.e o registro de urna cant1k:ia popula!', uma notação ulte-
ocier- sl11gen e.Is ain líu ("lê-la como d iscuro ou cancá-!a como can- rior aproximaiiva, um pasrlche trn ialim macarrônic:> ou uma imitação
ção' ').'º R. Crosby cita vários exemplos ingJes;es dos seculos x:rv e X\. de Hildegairel Este, antes de citar os quatro primeiros -.crsos e os qua-
1:.m comptmaçâ.o, a f6nnma cumulativa parece pro~·ocar umpw- tro uhimos, designa-a co.n:o "um canto púbJico à moda camponesa''
blema, porque li~a ;,ercepções aparememente (para nós, diferentes. De (ou ''em linguagem camponesa"]) ,do :iua1 s::: cantavam as paiavras en-
fato, audire er legere pode ser c11tendido como referêocia redundante a quanto as mulheres dança~•am haie::idc as mãos (carmen pubf1cum JUX·
u:n a '.o de audição. A variante, largamente testemunhada., audire et vi- ta rusticitatem per ommum paene vo/itabat ora ita canentium, feminae-
dere. voir r:t écouter, horen unti sehen parece acusar a oposição dcs re- que choros inde plaudendo compomhanl). Dois dos cinco manuscritos
gistros sen.~or,ais; m. realidade, ela só fu remeterá dupla existência d::- dão ,,ersõe.s mais breves e ligeiranm::.:e difc.:rentes; em todo o lugar, :ido
toda escrita= \'emos os grafismos, mas escutamos sua mensagem, pro- rnencs, tralava-se de um carmerl 01.1 de urna cantilena.JJ A J:tis1ória d.a
m:.nciada por algum especiaJis:a ... daqueles que, segundo o Poememo- Idade- Média européia é semeada Je docun:entos dessa esi:écie. A crô-
raJ (em -orno de 1200). en lhre \.Oient et l'escruure entendent ("di~tin- 11ica do espanhol Lucas de Tuy, 110 século xm, reprodu~ crês versos de
guem o que ha no :iwo e entendem a escritura"). enqua"lto os leigo~ uma canção pcpular cascelhana crue ·eria cirwlado a respeito de A..man
pou severu et en l,vre ne vo1en1 t"são ignorantes e não sabem disungw- .rnr. o herói andaJuz, por volta do .;.no 1000; um manu~crito histórico
c que está escrito nim1 lwro'') lrês Quanoi de sé,,,."1.llo ma.is tarde. ;>ara inglês, descrito por Ker em !957, cita o~ •riatro pnmeiros ve.rs.:is ele ama
e alllor do r:)otar,ce de Pulamtde as du ptteeP\,,"Õe$ p,errnancocm a.m- canção 4 ue teria compoHo para ,eus e;ucrreiéos o rei dinl:lfllarquê:i Knut.
eia • ' • Jj bon (/UJ o em 1035 Uma crômnt lrim que conta a história de '1'tt!'l"iso. no
40 4J
'lm do sécub x1r, cc~ser1ou-no, quatro ,er~os em ilia1eto local de uma g1 , ou cm sua. zona de anflu!noa ue e
cao\ãc ~pica, iuipw~isada apos uma vító:1a ocorr·da em 11%. 11 B j
A ''anelota ". cem r.iais freqJêr,oa, re:11cte glcbalrneme a um con-
j tu óâlguns rão conlTcetdo . Donde a LnCrrteza, formado a modelos poét1oos mais anti o , ao guai oabe empre•tr
mas tarnbem a im?ortãncia (para a hb'.6:ia geral), da tPOfü.. Ass m se 5ua plena efaác1a Es;Sas ligações estreitas e com pi~. n!o sem equívo-
:lá com um :exco •amo~o da Trarislatzo de,. Wulfram, que foi e~crita cos, vinculam mat~ ou menos direcarnente à~ "canções de ;anto'' as car-
:,m um monge c!e Fontcnclle e írdkr:, emre os m1ls.~res de~• 'ler61, ~õe~ Jc ge:,1a ....1..i!~a~; ao canto ecles1a~uco a poesia dos cravadores e
a cura em 1053 de cerio Thibaut, .:úne~o de Vernon: Hic qu1ppe e5t i'le de seus. untadores: à horrulética o que se tonará .. tc~ro''; ao d:scurso
Tebaldus ..• f''Aque.e mesmo, be:n conhecido. que adartcu, con. ~loqüên- pastora., por 1mermedío dos exempla, varios gênero~ n::.rrativos...
da, do latim ,cm Engua \'Ulgar, r: hlstória de numeros:>s sa,tos, entre
os quais s. WandriHc, e lhes com;::iôs belas canções en, m:mo3 v·bra.1-
tes.'')1' Esse texto foi freqüentemente reexaminado, depoi5 qoe Gastcn Quando o i!!_dice de oralidade depende de_algum cuáter próprio
Pa..;s o .nterpretou como uma alu~ã" ao autor do Sa.inr Ale.xis, :se nao ée um texto, colo:am-se delicados problemas de imerp:-e1a_çâo. Qua.r.do
a e<ise poema 'Tlesmo. De fato, a Truns(auo é apenas um testemi.1nho pa:- s:: funda sobre documento~ exteriores ao texto, s .i~gem problemas de~
ticu!armen:e :,wlicito ~ os (}1.Lc a~esL::un a função ,.-ocal w "r.:anções constituição. O ir.tento difere: ~terpretaç.ão opera sobx o particu !ai;;
de sarno(''. De mane.ramais sucinta. ma.'! em ,ermos semelhances, o autcr a recon!ttituição, com mais freqüência _ sobre tendênC:o-, gerais ou cs·
da Vito co bup., Altmann, por volta d~ ll30, evoca o dc:rigo Ezzo con:- ~uemas abstratos Assim se dá nas pesquisas :ia tradição manuscrita de
pondo -err alemão sua Can1ilena de m1Tacu/is Chrísri. 11 .lJl1 texto. que concluem pela influência de urna trans:1w~àu oral, no mo-
Um documento de pe-5o (mas wn pouco equív.>co) que . lfaric ver- n:emo em que as variantes de uma cópia a outra atingem ~erta ampJtu-
tia no dcss é da Chanson de sainte Foy confuma a existência e as rno- d~. Para aqueles me~mos que refutam a idéia de uma exislência oral da
• dalidades desta poesia mwt() auliga: o Liber m1ract11onJm sanctae Fi- Chanson de Roland os manus.critos - uma dezena - c·.1e nos foram
dis, relatório final de urna pesq_ui.sa, realizada a partir de 1010 por conservadas atest3.JII a ex1stcncia de ao menc>1i duas tradições: pode-~e
Bernard d'Angcrs, ~obre- a 'laleraçlo popuJar de que e-a ObJe::> a santa admitir entre elas uma margem de manobra pro;:,:cia às iniciativas dos
cria."lça foy d'Agen - ol:ra crítica, desejosa de reabiliu.r as tradições re:itadores. isto é, ao desdo~ramcnto da sua arte ,oca . Aqui, mab que
do vulgar, 11~sanco-as .,J~lo cr:\'O de seus argi.menta. Pois Bernard in- de índice, falarei de presunção de oralidade.
d:ca q11e. ern v:rtude de um "antigo'· costume !evidentemente condená- - ~ princípio, essa presunção devena funcicnu em proveito da qua<e
vel a seus olbcc;), os pe·~cinos que ass:stiam aos o:foios da noite, por totalidade dos textos de língua românica cuja composição foi anterior
ocasião ca ,igHia dos santo!i r.a igreja de Conc;~cs, acompw A ~am :om a:l século xm. Mas sá possuunos um número lrruório de textos :><>éti-
suas "cantilenas nistias'· a salmódia dos monges. Certo ano, o a~l!.de, cos nas cóp.as executadas antes de 1200: cm occictnico, es:ribas do ~é-
exa5pera.do, fez. fechar a igre_ a a cbavc na noite da Sak:e Foy. Por mila- clllo xu nos consci;uíram a Sainte Foy, o poema sob~e Boecio e alg-.lOS
gre, as ponas abriram-se por !!Í mesmas à multidão - prova, conclu.iu versos de uso litürgico, do s~ulo xn, dois ou três te.~to-. escolares: de;-
Bemard, de que Deus, em. sua IllL'iericórdil.. ~ as c:a:i;-õe,, mesmo que po.s, mais cada at~ os arredores de 1250; em fra.ncê~ , a :ora a E1.1lt1lie
stjam em líng-Ja popu]ar; aceitemo-la então: Í'1'10Cf!l! ccntileno, licer do século rx, o mani;scrito de Hildesheim do A1'exis, n rie Oxfo·d do
'74Stica, u;/.erorj_potesr ("podemos coler.r uma canção inocente• .nr:-smo Ro!and, talvez o texto mais antigo do Saint Brandam, todos os três do
~e é nisrica")? O que en:endemos pela ·'rusticidade" desses camos? ~é:'JlO XII, permanecem quase os únicos; nem o it~iano nem as línguJ.i
A língua vu!gar? Ou algnma melodia de c::mita popclar? Ou. ainda, ib~ricas são mais bffil contemplados. Em com,cn~ar_ão, o es enclal da
algum modo partk..ilar de éeclamação? Tudo i5so, sem dúvida: as "can- pccsia anglo-saxônica arcai~, com trinta textos muito diversos, no foi
çiks de ~to" ""h~i,tentet ~rei;mw.riom a r-c:Q.pcraç&::, dCSSCli :.raços conservado em qua~ro manuscritos, todos do século x; mas, para l...'11
pela Igreja, dentro da YLSta ação dra.ffiát:ca qLC era sua ütwg,a. do estabelecimento do reaime nonna.ndo, abre-~ um vazio documcnt 1
A an1igúidade de ~eu! dO..."\L"Ilentos, unto ç1.anto rua hoTiogcnei- (ornplcto: nenhum manuscrit:, da poesia ingl~ antes <le 1300. Toi
cude. confere-lies pe--o his!órico considerável, pois era no •cio êa litur- vio5 cronoló&icm ~i'io um problema. Assim, a i:an o , de Jauírc Ru-
4)
dei (tom,J c•sc c:1;cmplo ,10 !IC'lbO) pmk rC"mon1:u. por razõ.ts ~\ternas. G. Killmlgl' da ,elita cornp1 façAo de C'hiJJ· uma de!ena (ou S(ja, 3.5%)
a meado, do •t4culo .XII, rnlvez .ao redor de 1145: ma, da quinzena dl" "C □ onta aL,:r. me,mo~ ~écuJ0,,. Quanta.s outrai, são :usi.r- tão ou rnat.s an-
manuscrilo, que n(ls con ervaram a~ \l!rsõe~. <1' ,..ezes l,astante dileren-
tigas sem que o ">aibamos? O que foi feitc, por longas ge·ações. :ah,c2.,
te!t umas da~ outras, nenhum~ !.eguramenle amerior .a 1250. e a maio- d~sas "rima.!- n.rais" de que fa.am com desprezo os rheto,.iqueurs do
i.
ria remonta ao fim do culo XIJI ou x,v. R. T. Pid:em, a quem de\e- l:-:u.lo X\. ou das canções de oficio alemã! que à rni;sma época nota
mos a melhor cd1çjo d e lrO\-ador, expõe com muiLos pormenores que o copista do Kónigsteiner L1edtrb1.tch? 18
o estudo de tal obra implica da parle do leitor uma ficção h1s1órica, re- A hipótese expJicafr,,a articula-se mais facilmente entre dois 1~os
conhecida ou não. Pela impotência, eu acre~centaria, de- :onreitualizar ::-1Jestados tCJ1tuais afastado:; na tluação, ma~ enue os c;uais se mani-
a história própria da ,1oz humana.L:!_compilaç.ão de rnáxima.i e venos ~~ festa uma semelhança que é pardaJ e, ao me;;mo tempo, ba.c:ta:ite forte .
.sapienciais compmtos na baixa Ané.igüidad,e que circuJou duraate 5écu- 1 lXft~ - É as.:.im que, com base nas epopéias franro-jtaJianas do fim do iéculo
[Ôssob o titulo Dislicha Coronis, cop,lada, traduzida. adaptada em to- ~ xm, muitos ir.aliarusc.as, seguindo E. Lé,~. ai±nitirarn uma tradição oral,
das as língua;, terminou por não ser mai& do que çoastelação rnoved.t- \'Ilida d.a Fran;:a na esteira dos; cru..-ados, an:es da im;:-,onação cos pri-
ça, à qual a :>ra.lidade da\ra o duianusmo. Sabemos que a anrendiarn :n. e:iros manuscritos; a essa tradição se ligariam os c,arwzr; h::::óicos dos
de cor nas escolas.,. -
ca::iradores tos:anos dos séculos xr..- e X"·-~s cio _9!1~tem._átii._-..is, .i.s se-
De todot o. modos, as tradições manuscritas são assim perturba- 01elh.anças mais convinocrues são ;perceptí•':!is graças a ;)CI'tli.S imposi.;ões
c.os, e quase scmpire as cert.cas que delas se espe:ra,ra. são apenas fracas formais ou a tiques de composição, até de vocabulark1; poii, a etnolo-
possibilidades. Donde, em casos extremos, o recurso a rup,óte:ies de ma- ~st.a,"""estao Justamente aí o~ elementos mais está,cis .nas tradí-
nus,..,Hos perdi dos - outro mito, taJvez? Certos fatos, ê ,rerdade, são ;ôe.1 ora.is - o que depende do funcionamento da memória vocal (cor-
per.:urbadore~. Todos os textos em 1,ersos que, em fran:ês e alemão, nos p;:oral e emotiw) we as mantém. Foi por ai que se pôde demarcar, na
transmitiram l "legenda" de Tristão são fragmentários, 01.1 muito cur- p,3es:ia lírica corrês na França e na AJemanha, a pre~ença latente de
tos e episódicos, ou então apresentam uma tradição manuscrita dema- uma poesia diÍl"r~nre, talvez de orjgi."m mu:to mais antiga, ma.; da qual
siado confusa para gue seja poss1vel ver claramente as reJ.ações que os al.e,"'101.5 exemplos só serão compilados por escrico na época modem.a, após
·.mem. É verdade, cerno escrevia G. F. Fo!ena, que o "acaso" g:i.e _pre~i- Clll.CO, seis ou oiro séculos de existência apenas ::irai. Mais diset:tiw;l:nente,
de à conservaçãc clm textos e geralmente só um aspe1:w de uma ·•neces- foraa:. a firmeu :: a perfeição formal das canções de Guilherme íX ou
sidade" maior... da qual o.ão podem sozinhas dar coma a prática da de Heinrich von Veldeke que levaram os medievalistas a supor pa.:s o
escritura, suas impl:cações e suas falhas. modelo poéticc- cortês antecedentes mantidos, talvez, por m·,1i.o '..crnpo
A situação crítica não é muito diferente quando, da e.mtênc:ia de sob um ,c-gime d: pura oralidade.
formas moderna; observadas em contexto de oralidade. infere-se a pos- Em todos ,,s raciocínios dess:1 oatweza, fundados na constatação
sibilidade, senio a probabilidade, de uma tradição longa, mai~ ou me- :k tu:.1.a rupcur, de continuidade 1e:xtual, o argumemo só pode re~ por
nos independe:1t.e dos textos escritos. Assim, as Cfntece bdtrinesti com- obje~o um conj·Jnto. Aliás, a idéia d.: pré-hL">iória que a hipót:!Se impli-
piladas na Romênia moderna atestariam a antJg~idaàe das ;anções ca te:n sentido ap:::na.s global. O que denorrunariamos a ··::,ré-lú.stó!la"
heróicas de,;;sa parte dos Bákãs e a longa duração de sua !X:istência pu- d-::- Roi't:md de Oxford abrange - em 1.rinude da própria oaturem dos
ramente oral. A.sr;im., ainda, o estudo de C. Lafone sobre as canções :aroi considerados - todos os elementos e.e ·.im vasto ciclo r_o q·1al se
de Quebec em :orrna de laisses" conclwu por notasel permanên:::a des- ::Lss::ih·e a 1dentdade dos textos sub53stemes ...\ hipótese é ini.·e:1ficável,
se tipo ríanico e narrativo, à margem das tradições escritas. Poi1 o e,;a- ja :::-t.:!e" as vozes passadas se calar.iro; o que ·unda sua validade é sua
r.,~ temático e ·exrnal permke fazer remontar aos sé::ulo5 x111. x,,,. e x\ fo.:uaclidade. sua -apacidade de capear o particular no meio dC1 §'l:ral
cato:-ze da~ 35~ nm;ões rcg1srradas, proporção traca, ma1 não ms1gm- ProbabiJJdades de ordem diversa a sustema,i,, com um.:1 lorç.:1. pesuast-
fican1e; compará",.el aquela que fornca-u o estudo ::rlttco e i:omparati- •,·a muito de5igual. Resultam as \·ezes da de-~coberta deu□ refugo cex-
vu diis trez.entas balada~ inglesas e escocesas tirada5 po1 H Sarnem e tual ..5-0lado, atra,es do qual se pensa decifrar os traço.< de .1na ,itLLa-
cm Que l doer;, confiado · e.=,uu:a.:uu.="' das uansm ;
' A ,e~ uen.la ;iartadli da (;JUlçàO dr iCSl• ( T'
Como no ''frag.rr:ento de HaJa". pc,r volta do ano lúOO, com n:J::i.ção
45
à tecta ti e C1•UJ·11aume: ~·ersao
-
em pro'ia ck Ul'i poema la.ttno, re,ultad,J ti çõ,) de cani;~ de gesta c,>nmvad.1, no 1.1>nJunto, cm regime \OCBI puro,
ta-,-ez de, im e:xerc1.;10
··
c~colar arc,1i rn. ~ras es~e poema latino, ele pro- é provnda _por algumas .i.Ju õcs que r11 o taz. uma Chro,uca ôorh,ir11m
pro, 0 que era? ~daptava uma epopéia de ling1.:.a vulgar muito an 1iga, do éculo xn e, sobretudo. pelo conjunto j,Je citações, rtSumo e rcíe-
pr.dece5 sora-do {'" .,... s:. _ _ , 'i)f mannscrilu) ôv ,e-..im Xlt Uu, rtn as que omecem i Cfõnfctl erlfl :m
iluda, como na "Nota emili.anense-", que mnont.a mais ou :nenos a 1060 d:: A onso x e, depoh, sua segunda r~a lo, 1 44. Rrcorutilwu- e hi-
<l~cob-cTta L ·
au cnormente numa mar!lem de um manuscrito de Saa l\fil-► p:)'.eticamente u:na deisas canções, os !rifantes dt Lcro. Duas oul!as,
laa de la Cogona, na Rioja espanhola., curto relato no qual s~ concorda cm1/Jagradas ao ·ei godo Rodrigo ~ a Rrrnardc dei Carpia, in5;,iraram
m •e:-- 0 tt:!iumo de uma Chamon de Rofand primuiva. O '>é;u]o x c1os. cm seguida todo um ciclo de romances. Por !'lua vez, esses poem~. que
le~11 U..'ll Pc•ec1a latino sobre o h;:roi Waltharius, composto na abadia. foram progressivamente compilado; no Roman.:ero pelo, amadores dos
de ~kt Gafü:n, acerca do qual se ;,ode adm.i:ir que imite 01J. pa,;Licbe semlos xv1 e xvn, mas c:.ija e,cütência é claramenre confirmaéa no sé-
ca•ç~e~ épica.~ ~ue não f~r-~m e.scr:t_as 11a Al~ma1L1.a ner!d•Qna.L. culo xv, constituíram co:no que u:na segunda anca épica, cujas tradi-
f----...!_ll1J. do ~~ulo XIX, a necesndade de mlt'TQ;!W- s1tua(,Ões tão ção oral e fertilidade se rnar:th-eram em todo o mundc hispânico até
eq-.i..,o~prõchwu ~a França a teoria <la.~ "cantile11as" , 9._u~Joi~- o !éculo xix, em algn:nas regicies ate nosso~ dias.
IP'? ?'aQJ pela das rllf'.SÓdias hornérkas e à qual Gaston Paris Jicrou seu no- Aqui, recor~eríamos tarnbé:n aos ramo~ franceses e germânicos do
me: 0 !e:cto tran3miLido pelo coni~r;l era consicleudo a resul;ntc de uma ~-rart, tal como aparecem ao redor de U70-L:200 em nosso hori.:onte,
ph.rahdade
• _
de "Oernas .,.
=-..:.:
_ transous:sao
-.urros, .,;om . • puramente- oral- ,,Essa p:);S não há dú,,ida de que formas orais os pre::ederam. O va.tlo do:u-
tt'OJ8!111fl · d - -- •
i\ ~ : uenélou uradoo~ente não s::ó muitru; p.e~uisn1i ,obre a. ldad.l: mcntal ::.e µrccnclle a:s~im, po~ro a pouco, coe um <.:0nc:erto de vozet
!Elia, mas também (por intermédio de C. M. Bowra7J ostrabaltos de perdidas. São às vezes as fürna5 de u:n folclore moderno que cumprem
cer;;:)s etnóJo~os até hnje. Em pan:icular, a idéia da anrcrioLitlHt.lc " na- o Fapcl revc:ladcr: entre o jogo das mari::metcs ,icilianas (pupp1) tal =o-
lura.''. da "balada" em relação a "epopéia" nào se fundament.a en na- n:.c• são conhecidas desde o século xm1, os Realis di F"íl.ncia de Andrea
da ::obdo. A 'listória do .Romancero ibéi ku forneceu suficientes argu- da Barberino no se-cu.lo xw e as canções de ijc~ta frao,:o-veneziana1, do
mer:t?.s para. arruiná-la. S. G. Anmstead colocotl recentemente as coisa~ sérulo XIII, quaü trad:iç~ vocús gacar.tira.--n .i. continuidade? E er1tre
em ' 1ª• Thnto 3 reflcxão ]1istúrica quanto as nossat.nmuisa,; mais ce.- canções de gesta ou romance~ franceses do século XIJ e os ciclos herói-
cenes nos co h - , ..
= ] ~ ..,... nvencem OJe de que, ate prova em contrario, o :omplcxo cos ,;eiculados no Brasil Dela literatura de conkl, durante o longo cami-
.: ~n.ssi_:mo.ma..is.proviÍ1rêl.do-que ú.5JJUplCS,,~no..émui.tissimo me- nho em que- a única ~ada foi alguma comp:lar;ão do século xv?
nos Jrovavel do.Jl!!.e o diverso.
ar isso, talvez, às ',ezes se d!sprende de suposjç-õt.s acumuladas
u1aua força pcrsu;,.siva capaz de assegurar a unanimidade da coinião. ~ um ponto de vista mtJ<Xlológico, e-ssa rocura das :irovas, a lmsca
Ex,n~fo:s P~'megiados: a pré-história das sagas islai.m::l~as e a pcies:a dm lndices, as suposições perman~ d~em instnmemaJ. ~o me-
escáíil:i:-a antiga (os eddas), assim como, na outra extremidade do Oci- lhor do~ casos, levam a construir - com mais f.--eqüênda, a esboçar em
:enl-. as ~ções de. gesta espanholas~s sagas, inspiradas por cliver- pontilhado - o simulacro C(' um objeco. Tal é sua utilidade· uma vez
os .-:omecJ.mentos ligados à colonização da [.dândia emre 930 e 1030 atingido esse fim. não importam m:i is. rnforrna.dos pelo ~imulacro. rtn-
forar:i 'lo-tidas · , ,:, •
por escrito no ~eclllo Xl!.!.:Jcm qualquer forma oral que tamos captar o objeto. Õ simujgçm,.é aqui 11roa ''tcadiçiio ocal' '; o. ab:.
fos:sc::(:ah·ez dos poemas genealógicos), tinhi:ttn então duzen.tos ou tre- jeto que s.e__çsqui1,:a, a ação da voz n;;i pal.avn e no tem:;ioJ.O que 11m
z~nto anos de idad~. Quanto aos eddos, chegaram-nos sob fo:-ma de su~rem os textos assim auscuJta.dos ~ãé"ãsdnneruõe;_de um uni•letso
~•CS (centenas}, na Arte poirira do letrado Snorri Srurluson ao re- vocal: o espaço p:óprio dessa poesia, em sua existência real, aqui~ a~o-
dor e 1220. O próprio uso qae ele ftz e o parentesco de sua ~e com ra. O que também nos sugerem vár:os dentre d :-s é a estz.bilidade des~e
a poeia ~terativa anglo-i;a.xõnica, a~sim ::omo (cm pam~) ~cu comeú.- U:Jtivcno, a estabilidade c;ue a voz assegurou. c.:n :ia longa. durnçlio6 à
!°é;•rrrutcm remon1ar ao século x a tradição oral. Da Espanha, afora oli:a,emsimesm~az. O1ecuo raz aparecer a no o olho uma
~ COnll')(l5to no ~éculo xu, e o Fe1nán Gonidlez, no século )(J 1, 11e- rede coesa de tradições pcéti;a~ otdis que ahran8cm todo o 0.:identc;
nhu1111rorm.a tr,ico antigo nos chegou. Todavia, a e.~~têncfa Jenma ira- e o estudo comparado de certos tcrnes narra1ivo e lormns (veja-, o
47
1
modelo 11tmico do zeJef) rl"'-·rla no•a~·cl conl 1111iLlaJc t rme css:'I rrde t r
a prc,umir uma ou vãri~ ·radi1·õ~, orais que, llav:.:t muito. e~t::i,·arn ex-
fH qu~ rccol>R'm o~· >mun10 da Eurásia :-J,, l'.:ir,itu lo pro:cedcnte, .tlui.1
·,nut1 ~ cujoç pré.rno-. t'feitm hisró:-icm torr..am•,t di fke,s dt> desemba-
.iu prmcuv que mtl.lícvafü11 pClde 1ir.ir de um CUJI:C' :ompara~,vo do
:.lçar. por causa da rela~iva raridade da.'> fontl!S latint1s disponiveis para
fato épico alrawês; de toda. a Europa na épo.:a mah distante - §imples
a a;ra lda:i~ Média e da i:lexisi~ncia de rlocumenll'~ em língua "uliar.
exemplo. 1 l nao e JIOde dis,oc1ar compleramente do canto 'leró1co
Esse s:lên:io se aplica, em :;>arú. por uma c:rnsur.a eclesiástica. Dai a
a "babda" que em terra anplo-suôaíca e germânica foi. ainda.~11-
im;:,,;;,rtlnci.t qu..: Lemoi:: o ::lirei:o de atiil:tuir ...os vazam entos dc.- i.:i for-
temente, obje10 de e~tudo!> imponante~. 19 VaJiedadc de epopéia curt.a,
m~~ que de tempos em temp0s se produziam, ern virtude da conde-
:oostituindo uma ane vo:;aJ .autó[loma. a t, adã,""ltsseminada por to- nação. Faz Lm1po, foi levantado scu rn,;cotário: do séeulo v ao x se de-
do o mundo g~rmâni..:o até os séculos X\'ID ou XJX. btrn coniõiiãmaior
5enh a uma oinga. séne dE declara~ões oficiais que reprovam ou :m~dem
pane- da Romãnia me.diel"al, :ião foi c~-temun!:!_::ida, parece, nos texto!. o uso de canzlca dtabofir:a, /uxuriQSa. amaJuna, olm.-rMnu, lurpia, de ca11-
ri!_ antiia Fran~. Mas talvez s.u.,pl~ mente não ter.ha sido identificada
1ationes sive sa1tano,r.es. de c.anu!enaerusticorum ou, segundo uma da5
De mí□ha [)arte. nãu he;,;ito em considerar baladas a]gm:nas de .no.sa;
capltul!lres caro1ngias, dessa~ misteriosas wirriltodo!' ('·canções de ::imi-
chansor.J de toile,'" como a B~re Aiglentine, cuja hls:ória tcxtua. tentei io" ou "de trabalho") caras às frcira.i. das cerras alemãs. Regulamenta-
no passado recor.slituir, através da.s mu~açôes de\".idas a intervenções dos ções regias, mterdições coo.ciliares come as d~ Chfilons em 569 e 664,
cantores; iC não certa "canção popular" como o Roi Renaud, cujo tex- de Roma em 853, con~dhos epi.s:olares como os de Alcuí110 ao bispo
[o franc& e.parece em terra ga:ulesa no ~~cuJu A v., mas cujas versões fo- de Lbdisfar:ie ou aos :nonges de, Ja.rrow testern.ua.ham seu vigor e sua
ram a.ssinaJadas na Escandiná...:ia, na Escócfa., na Armórica, donde se universalidade aa práti::a ?0pu'.ar. O que os Jllantenedores da ordem re-
pode supor que pe:net~ou em t.ecritório frances! 20 Obras como as de 3u- jeitam ::mti.:> e, a m1.s oilios, um.a reminisc~ncia pagã.; cabe a nó!> dedu-
chan oLJ Met1.ger em ]972, de And.ers e:n 1974, forn~cem material e pen- zir a existência de tadiçõ~s longas. Sem muitas ptO\'ãS, supõs-&e que
pec1r\la5 de rnterpretação, desigualmente assimí1ávels peio :ornanista, :nas certas peças de compilação latina dos Carmmc Cantabrigensia, elo sé-
ap[os a acarretar uma sadia rel1isâo d:; posições: aparentemente adqllir[- culo x. retletiriam algi.:.ma coisa dessa poesia arcaica.
,das. Um ,colóquio realizado em Odense, na Dinamarca, em J97i, lar.- Ji:J'ada e menos certo: algumil!.S frases de~dmhosas :said.a5 da boca
,çou sobre o caráter europeu da balada uma luz que. na realidade, era ,r:e -~dote; ou rfa reale7.a indica.,-n-nm lllll buraco negro do qual se
desigualmente ?odcro~a, mas ::-evelava cm sua sombra a 'TI.arca de múl- erguem 01:tras vozes ioaudvds, r.ias inumerá-reis, l.lill clarão súbito de
tiplas e muitas anligE.., tradições orais emrecm,.adas, Lma tentativa de t,::>da& as par:t.-s, que l ogo será reprim,jdo ou con-risca.do pela escrinu~J
definição desse tipo dç poema se apoiava em ,•árias cfücussôes refath·as làmbé;n se c~forçaram por reen.oo".'ltra~. entre os textos de uma épo-ca
a s:uas fo:mas e hktória es~ar-.dinavas, assim como a s·..ia:. manifes;a- uherior, o, frngmentm, e c:s. traco;;, suposto:;, de no:.sn \irico " original' '.
cões: no norte, centro e oeste da Europa: Finlãncia. Hi.::ngria, Eslovê- A pesquisa não tinha nenhuma chance de termina~. se rcp:imida no~
r.:a, Bucb:an de,CI(...'Ve;.t cs primeirDS pa~aos, cnt.re o:; ~c;:t.llos Xlll ,e: xv, l iuiu:~ ue L1Ln.i. lii1gu..- \.•.t de um urntério. Em -vário3 pontos, e.la alc~m-
do gênero inglês, definitivamente con~tituído ao r~'.Cl.or ce
l-'5O; D. Lau- çou re.su.ltados prováveis. De;se modo, quando o co:npilador de um r:han-
rmt rcmontaYa ao :iéculo xt1, se não ao 1x 1 a uad.ção :.k- várias "bala- sonn iu do século ,'l( LU ;,.;simsl.a ut~i~1mtemente que o trovador ga.scão
21
das" bretãs. como a gwerz de Skolan. Pei·e de Valeira. um dos mais an.tlgos de gue temos 1101ícia. (na primeira
Por :::iua~e um século, semelhante ampllaç.a~ da pe~speniva se im- metade do stculo xr1J, "não valia grande colsa" porque compunh<1 vt:c-
pLM:-r.:1 (n a~ regadas, é verdade, da busca rornãnuca das Origens) a::>s sos "de folhas, de ílo:-es. de- ca.nt::)S e de passa~os", u presume-se q ue
histo~iado:e-, da pocsi3 ''lírica'' românica. Desde os ano, 1880. cer·::>~ far e:itão ~derb(..ia a um gêner:::a. na époc.a, e.a.ido em dernso ou em de-
mc:d;~,aJist.a.,; tinham ~ido conduzidos. na fé de 1estemur hr-s indire10,. sapreço. P,H des,e gênero só su·,sistem - ral"ez - fragmmtos mal 'idcn-
t ficados, canto, de pnm.a,-~:a esgalhados entre a~ cançot~ dos Mmne
("-, 1Qi.';> illho, td1., pino. AI t./:.»QOII.Sde r~,/~ geralmen ras.i..x:1.idw à Frar,ç.a ~ 1-:iriger ou as rf!verdu?s e .-omonc:es francc.st.~, mtigame.nte put::lica.cio5 por
-,_-nmon3.I, eram ;.u:tadas po· rrulacres CllQ o cocur1varn, ledll:I e.e. P-'Cmu autor. K . Bartsh conforme manuscritos Te atirnmmtc tardios.
cm fom:a d~ :..trofe. mooorr:mu com ~frio. IW.&la\'&111 a ou QU6dio ll10-
;o, (N p
Outro ~ o · uma uadi - o de nt~ de h.mentação sobre os rnor-
l •J',. ~o::ire1udo no falecimento de urr c:h.ere, indire1a.men;e tótemunha-
da desde o século ,m, rtmo n ~a s.~ m <1uv1da a da ta mais d stante ainda como o carois dll [nglaterra. l:m nmplo movimento poéuco, ntm\es•
e se mamém por m111to lr.:Tq:o - Bonc:ompag,o da Stgna, em 1215, em snndo o éculos, desenha-~e a.mm nu:n cspc ho de ío·mas mais tar-
5ftl tntUtlo de estilo helonca antfq u:t, drto o ffomcompa~n , con tfi , e du>'tda nu:us daooro. m que o ur: r.am u '1·
sagra um capítulo ã maneira pela q ual se canta o lamento e m treze na- chum. Quando, no ftrn dos anos 40, comc-ça-.-a a me Interessar pelo
ções de seu tc11po!H Cfercr da. 4 oca carolí::lgia os compmeram em la- problema, pcr:suad-me ,de que o "grande canto conês" dos trO\'adorci
tim; restam-nos varios deles, às veze-s ba.stante ·usricos por sua linguagem ocdtániro~ çe tinha con<eit uido. em tor10 de 1100, como reação a e~"ª
e tematicamente sem pr e ·•engaja cos'': sobre a morte de Car io~ t,,.fagno; poesia sel,,..agem. A existência desta continuaria também h.ipocética até
sobre a de Éricc,, duque d::, Friul. ,ab:-e a ba1aJha fratricida de Fonteno, que, entre 1948 e 1952, S \{ Stern e d ei:ois F . G. Góme.7 tivessem deci -
err. 841; sobre o llo rnicícti o do ~cne-~cal AJard em 8"'8; pela rnort~ de Gui- frado e publicado uma série de bre,.,·es poemas andaluzes inseridos, em
1hc·me Longa-Espada, duque da ~ormandia, em 942 ... Essa tradição grafia semítie3, a titulo df jarchas (est-ofe terminal) em muwas.saha:;,
i mpregna as ca'lções de gesta, as próprias canções de sa11to, que têm hebra~cas e árabes dos sécuJos XI, XII e xm. 2~
como ur.i dos m()tivos o lamenm sobre amorudo herói, tão b~m ord~- Essa desooberta confirmou largamente, precisando-o, aquilo que
nado que pude em outra eroca fazer sua tipologia. Ko século x11, o se supunha do poder expres~i,·o e da COJjtinuidade de urna poesia eróti-
pfanc:11-'J se tornou um _gê:11co nobre, cultivado por poetas da corte o u ca muito 3.ntiga, com exr:ruão quase européia tde Granada às florcstai
da c,;coJa. conhece-se o planh dos Uo\'adores; ou os seis belos piancius saxônicas; de Roma ao mar do Norte) de tran5m.issão oral e seguramen-
musicais com que Abelarco. em ot1sêgulo às frel'as do Paracler, fez can:ar lt' cantada. De agora em clia:ne, é posslvel identificar alguns de seus te-
d rverso~ persona~ens bJbiicru confrontadas à morte t:'ágjca de um ente mas, até certos traço~ formais. O que dela guardo, sobretudo, é a ima-
q.ierido. O manuscn:o t"Jlutais 29.1 da Bibbo~heque La1.rcntitnne nos gem a5Sim suscitacla: na aurora do mundo saído da desagregação da~
co'lsen·ou, com sua~ melodu!s, un:a de2ena de lamentos compostos ro- ;:ulturas g.r·eco-romanas, e durante os !Próprios séculos em que se resta-
tre 1180 e 1285 a propósito do desaparecimento de grandes pers::magcns !:iel ecia .Qouco a pouco o equilíbrio das forças civilizadoras, manteve-se
feudais ou ecle.siá5ticas da Espanha, da lng:arerr.. e da FranÇE.z.< Essa e d~envoJveu-se una arte vocal original. lànto as reações indignadas
hlstória se prolongotJ até o fim da Idade Média. do alto clero quanto o use folclorista que dela fizeram os poetas da cor-
Terceiro exemplo, manifestando a quase unanmidade dos espe(ia- te, a partir do século xm, at:~stam sua inedutibilid.ade e sua longa fe-
lisias: dLrante os c:nco ou seis sérulos prece:dente5 a 1200, a existência nndidade As obras dessa arte estão para nós. irremediavelmente perdi-
de canções ditas ''derr.ulberes" lem Síei'liãa ac,s primeiros ,germanim.,; das. Percebemos apenas seuE reflexos. Mas existiram; no seio de uma
que 1aentificararriãrcaicas Frauerr.litde.r alemãs). No século v, Césai:e tradi~ào vfra, sucederam-;e durante toda a epoca merovíngia e carolin-
d'Arles, em suP indifTit11,"~t'1, p~n"-1.~JI fazer-lhes já alusão: ''Quantas cam- m.. a !poca feudal mais recuada. É historicamente bem improvh'el Que
ponesas cantam esw oanções di.a.bóiicas. eróticas, \'ergc-nhosas!" (Quam tal expcriêT,cia não ten.,1a marcado, muito tempo ainda depois desse pra-
rnultae rusticae nwiiues ctmfíca diQbolica, a:motoria et turpirz éecuntant!); zo, toda a poe.c.ia - não t.anto nas forma.; de linguagem r:em nos moti-
em 853. o.s padres do concilio de Roma mencionavam as canções femi- \·os ÍJ;lag:in.áríos, ma; r..umnh,el profunde, na e.icpel"iência de certo acor-
nir.a.• que tinba..'Il "i:alavras Ycrgonhosas", acompanhando ~ ciraD- d:l entre o verbo e a voz.
da.s 2.1 Muitos re:rã,;,:,s inseridos nas canções cortesãs francesas dos se-
culos xu e .lUll, estrofe5 reutilizadas pelos autor::s dos Camlna !Juranri
011 'JOr ce:-tos Mumesimger, constituem. provavelmente os destroços e; D~se modo, uma 1112 \'iva fere - ao~ olhos de quem tenta libertar-
ao mesmo tempo, as ieste:mmhos de u.ma tradição CUJ o v1gcr se mani- se do preconceito literário - as obras qu.e os manmc~tos confa:ciona-
festará ainda, a partir do &éculo ,,:1u, em certos -.·ülar:cicos espanhóis, dos a partir dos séculos Xll e l(HJ no preservaram. Ela no dá a qua,e
as cuntrgas de ,un,go portuguesas, 11as chanso,'I.S âe roile ou nas mau- etrteza de um uso (exclw1vammte na época mais .tfi tonte) YO Ida can-
mariits• francesas e, sem dúvida, cm mui tas das canções de danca, taií
,~iían e~ o ltmento Jt Ul'lla ímr, Qut c;iu11r rr 1frad , do CC>ll\'fflro por um am:int in
, ' ) Mlla11adu (do !:uncú 3nti.go] . ..-orma de:1111ção ou P«ffll em ~ue um, mulk r,cen !Ião frequentemente csa1 03 e:111 m~rta1 ik txilladt fcwoln de i>ito hnh 11, com
la1m:11ta se. cuamcn:o ~ dmr.a pelo tmirle. E.nalgum cuos, cs1e ~m rcsrll.ta-la, Um, 1na &bibtcb.:I ""º m11n~u 1bt.ri.o. Mal ,naridadJU, (N E J
.50
~õe• d~ ge-.:a a•e por \Ollll do fim do ,êi.'Ulo XIIJ, e do t.:oujumo da. ptte• chamada am ouvinte~. convidados a fazer um.a exegese desse discuriOJ
sia "línra' ' fll>11uforizonN. no ~l!nlldo que í'. 8rc atribui ao 11dietho, as declarações de\ lirtos poelas, moduladas {no começo ou no fim d t1
0 q'JJI n:;mte a ur.t :!>Ubs1rat.0 cultural dt oralic.lade pura: albas, paMorr - canção) sobre o terna : quállW mais se escutarem meus ,·ersos. mais e]es
las e ouU'as, espe-:ialmcnte u forma; com refrãi'I. -ió conhecemos por \'il.[i:ràu; quaulo tuat~ o tempo passar, mau significativos de~ se torna-
tes·emJnhos indiretos (como o de \\'acc, nos w. 9792 ss. do Romarr de rão... k;~im st dá com Ce1ca:nor., Jaufr~ Rude!. Bc:rnart de Venta·
Bro.1) a cusJ!ncia de: comos tmnsmiLJ dos apeu.11, pela tradtç.ão ora .. Mas dom, u; trt-s dos pais dessa poesia:. A canção. ao lo~go de .sua história,
esta reprtsent.:n.t um papel preponderante na difusão do género dosfti- en.riquece-se não somente: te tal.,,ez"'iiêm mesmo principalmenl[e) com a
bliaw: f·anceses e dos Schwri11kl! alemães, que apancc du.r.antc a segun- reuov-ação incessante çle .!.C!U tcx.lo e de sua meiodia, mas com a força
da metade do seculo xu: desde 1960, o ~ e por J. R}'Chner da tradi- - vital que emana da m.1ltipliddade e da diverridade de todas essas gar-
ção mam1scri1.a. cJos Jabliaux: é c:onvincen1c: a esse rc~~to; e: não selia gantas, essas bo::as que sucessivamente a ass11mem.
difícil cnconuar índices compa1áHLS de oraJidade em vári.3.5 formas. de ~ situação é anâloga em outras zonas da anciga Carol.fngfa: no sé-
"relatos curtos", contos piedosos, a:illag:-es de Nossa S.er:.ll.ora.. . a1é na culo xr,. Lransferência mediante o~alidade da. L?Qpcia francesa na pla•
no}'eliaitaliaoa, ~gundo R. J. Clemenrs e l GibaJdi. Provavelmente os nicie do Pó e no Vêneto; da canção crovadoresca na corre siciliana de
razoJ e aiidas inseridos nos cancioneiros dos trovadoreb foram na ori- Frederico 11. A poesia franciscana da.. primeiras gerações da ordem, ,10-
gem .submetidm a um mes:mo regime; a Vida de Guillem de la lbr for- sa de e,c2cpar a todo _presti~o ··erudito", te'\ie sem duvida uma fase ini-
neceu a prova direta: Qu:irit vo(ia dir.e sos tansos, eJja;:ia piúS fone fer- cial de oralidade pura.Todo mundo parece conhecer, desde 1228 9, o 9
mo~ de. {a raz.on que non era la cansas ("Quando e/e q11eria cxecmar Ct.mtico d{! Jmie solt> dc""'F-iuir.isco de A.~~i:;;; mas ma venãn rnr escri10
suas canções, si:u comentário [razol dt1raY.l. ma.is tempo que a própria não foi confirmada ante~ do fi:n do século.1>o lado germânico, desde
canção"j.Z' M. Egan mostrou que se tratava de minlCOnlos caJcados no os ano, 20 de nosS-o século vá.rio$ e:ud.itos do e.Um.Reno sus1entar-,1.m
plano éos acessw; ad poetas, o que nos remete ai práticas orais de ensina. a tese da oralidade genera1izada da J){Jesia alemã ainda nos séculos XII
A~sar do frâgil mímero de melodias subsistente.;, nmguém põe em e x11 ·. Enccndiam-na, é ,,crdadc, num sentido ma-is l~to, ,que nào se usa=-
duvida a oralidade da poesia dos trovadores, trouvim.>s e Mim1esã,iger Ya. em ourra parte, e a estendiam ao romance corlês. A partir de 1968,
ao me.:im no que se refere a sua comunicaçAo_ .\1:i.s vârjas razões pre- o lino de H. Linke sob1c Harlmann ,un Auc rdau.,.:uu a tfüt:us1,.âu, F.
dispõem a pensar que a tradição mfsma foi, em DlU:lus casos (t.á.lvtz. Knapp e r. Tschirch apoiaram com .~ua auLoridade uma posição que (eu
em ,-0oc-0rrência com as folhas volames), c:oníiada à memória do, in- jçiornw cntáoJ. à mesma êpoca. também definia meu Essai depoétique.
:é:p::-i:Les. Pouco importe. que Guilherme JX, na amo:a d:ssa tradição, A península fbénç.;; fornc:eu os mais ricos eRmpJos de tradições
a..scgm: teT ITTlpT{1'{15.ado algl.lm~ ~s:.s =,ç(iç; e q\le fa11rré Rudiel afir poéticas vigorosas qu: !>t mant-iveranra'te bã pouco tempo sem o socor-
me ter t.?..--pedido a sua a seu destinatário sem ajuda do pergaminho. Re- ro âa escrita. A do Romancero remonta, aqui e ali. ao século xrn, ou
corn::r=us Je µn:lerência à lo11ga duração que tran$corrcu entre a épo- mesmo antes,' e seu estudo não pára di:: dilatar-se e precisar-se. Uma equi-
ca na .c:ual vherac os poer.as e a dala dos mais antigos man.'.!Scrltm: pe dirigida por Diego Cm1lán recentemente seguiu a hislória exemplar
alêm d~ dois ~éculos, se não 1-e~, p,m1 o1. ui.uuria dui. l1uvc1~urc!> i:11tl~- do prime:ro romance a ser posto por csrrito, em corno de 1~20, úi da-
rions à Cruzaé.a dos Albigenses. Tudo 5e passa :omo .se os amadores ma y et p(ISlOr. Desde o sé:::ulo xvi, umas .,; nlc ,•crsões orais distintas
e os copis:a~ do ~é,~o Xf\', i:nersament~ Li1,1,C!,.i-~m comiderado que urra têrn sido, ror outm.s ,ia.s, re\'e~adas enlre os sefardítas; e de um villunci-
épo,; a da .slll:I hi;tória pofüca viva c:iegasse ao fim com o scculo xn:. co que fomoceu o equhaleme lírico de.<:$a nar:ali\11 não fo:-am encon-
Ora, cual teria sido nesse -.,·ano de escntur=. o modc:: :.ir o.1sti:nc1a dos Lrada~ menos que 180 versões.. na Espanha, na Améric.a Latina e, ain-
texto•? Os mo,:.mentos de ir.ter1cxtua.lJ.dade - deimervocaidade- de da no meio sefardr.a. !9 Esse; ~atos imJJlica.rn a cxist[-.i:ia de uma
urna a omra ds:s~as cente11a~ de can,'3t~1 Um '11·rn n:-:en-e í~ J_Grut:,e~ traõ1ção bem ante-rio· .:.O ...~~·Jlo x,•.
baseia imnlicitamente nesse fato urna icterpretação global e "dialética" Entr.e m imgln-saJiôei;; ames. da con;,iui'ita oo~manda, o impacln da
do trooor: Outrns Yêem seu d cito na mc;a , 1lC'la generalizada da canç.ão: cristianização .sobre as antiga~ tradiç~ geoâ.nicas prodUZ1u uma poc-
.W daquelas que v.ários manuscritos no çgrucrva1a,m ÇOI tla:n va 'Sla oral ~j-M tra.,os mant!m- e bem faeilmentt d~erminJ11t>i .. Depoís
rian:e~ ~gn:ficati"as. É assir.1 q_ue n' du:idarn (de prcíerên-:.a n .irra Jc 1066 e Jurante t,-.<lo o !-ihulo x11 , d[versos e-co~ abafados nos permi-
52
-· .. .--.u:uu a voz ac nma poesia Je língua Hermfinica populur rccalc(I-
<lq pelo francês!!! rr•lo laricn dos dominadort>-. e du. lc ' tn._10~ 1-
, sktilo
Xn .,.C'.i•erne-se talvez elos efeitos disso no mo"·imento que foi caracter í-
1ado como olJ11e,at1ve ""'-'' ~a!. AJém uu SC\·e·n e do mar, o m11 ndo tfl-
:k:o, d:pesar da . ntensa a1i,idade escrnural do\ rnonge1 irlandcsei, .11é
no5so séc1,Jo P ~ u ~ · ri e ~ orou, co-
mo na época a11tiga o, pai.s~s :'lórdicos, ap~ar de d,fercnça~ noth-ei.s 3
entre R Suécia, .:i Dinail1a·i.:Q r a Noruega, de um lado, e 1 [slfindJa, de
::unro. Reccrre:ía:nos também, :io outro e.w:tremo da cr;standade. à pot• OS L'VTÉRPRETES
1 ,. i .~3 J,._ Iluâ.udo e- aos caami no~ QUic.ts se rormou o cido herojco
de Digeni5 Akrili:ls; mais t.a:dc., às baladas strvfas que comernoram a
guerra d..: Kos~ovo; até 11a "Pagárnia", à t·ansmissào da.. qa.sidas árabe.,
do 0.:-iente Próx:im o... e, por lô~o o lado, pre>eme ní1<i inre~sd~os das
cul(uras dom.mantes, àqueia elas judiaria~ :fa bada cfo Mediterrfuleo, da
França, d.a Alemanha, da .IIJ,gJa~t'rra. Começa-ie roje a _per~ber melhor Jogroís, recitadore5, leitores. r..:m papel so-::ia!. A Jes/a, O desafio.
c1 ampl1rnde e a originalidade, em par1i;:1Jar, de uma poesia litúrgica
ou profana em hebraico vernáculo. freg1k1terr.ente bilíngüc; arte vo,,;<tl O texio é só uma Ç:Q_orturuc.ad.e do &es'.o vocal: e o auror cle:.se ges-
que entre o século x e o séc:110 xm desenvolveram com brrlbo (paraJe- l~ ~eniriama.is a meu propo~üo se n.so fosse quase irr:possivel captá-lo,
lam.ente à poesia cri5tã dos tm['los) as <::omunidaic~ 5d'a1di1.as da Pro- na som brados séculos... Os cor:U01en1os, peJÕ ml"no~, não faltam intci-
v-ença e da :E5panha.'t rameme e ;,ermirú-am a sábios como Fara: ou \{enéndez Pidal esbaçar
Até onde- percorrer e._~é circuito? Quan:o rna.h u :noJo:igamos, mais o retrato falado de •,·ária.li 1!$pécies de canro.r...s, recitadores, atore:;, leito-
nos espreitam a!macl:ilh.as; e Qll..'Ul'.o mais sedila1a o espaço considerado, res pú:ilicos aos quais 1:saho raras exceções) a sociedade medieval con-
mais fortemente decre.s..:-e o valor da, sern:1harn,."a:'> observad~. Fica-nos fiou a t.rammi.ssâo e a ":'4.Jb.Ucapio•· de sua poesfa. Após mciv .s~culo
qv.e um caráter comWTl, es~nciaI, embora profundamente eTJterrado de· de quase e~guecimento, k jong!eurs en Pra,u:e ou Moyen Âge, tanto
baixo das manifestações de 5Upcriicic, subsiste nas subestruturas de lo- quanto a Poesia ju.~lares~a y iurJa,.e.s, c(lm o :ríg:uíssirno material que
das as ci\rtlizações com dommarue oral Nesse sentido,, não é taivE'z abu. propõem. reencontram .sua arualidade e 1::dquirem, depois do que foi
sivo. como o fizeram recc:nl::meme vários cn;ditos japoneses., Jevarta.r produzido em nos.~os e..uudos ao Jongo dos iillOS 60 e 70, f:escor novo
~ analogjas e:1treo modo de decfamação do Heúci, em no5sos dfas aJ.ll• e valor probatório. A obra de faral foi reeditada em 1964, ma.i5 de meio
da, e o que scp-ode :.Hber da enunciação épi::a na !dadt Média ocidental. século após seu aparecirt::o,to. No ano prered~te, um a'1:igo de OgylV;,•
Eu mesmo tive a experiência da hlz que projetam sobre a na~ure1.11 r o chamara a atenção dos pesquiSl:idores pare o conjunto das questões.que
provcivcJ fundum1mento de nas,osfabliaux as performances do rakugo. levanta; err. 1977, em ViterL1.., um congres5o os retomavape1a ó!ice par.
J. Oplani extraia da prática dos re::i:adores bantos i:tformaçiies sobre tic:uJar da dramaturgia italiana. suas atus, surgidas em l 978, contribuí-
r:1 do~ skops a.!lglo--sa;cõnicos... As resen-ru ins:>iradã..s por um.t sa□ia [. ram para precisar e esciarecer vários c.speeos. O livro dt Scnreier-
lologia conservam nisso ma. \'alidadel Entre:ar to, mais lli.nda que a "pru- Hornung em 1981, o de SaJmen em 1953 (levando em comideracã.o. é
dên1:ia" habüualmenterecorrer.dada impce-.;e um justo esc1a.recimen- '1/erdade, mil.Is os músJco:;; do que os po::ras} retomaram, à lu das pes-
to desse método. Não se c.rati=. - salvo exceção - de tr:ucr uma proV'd. quisas recentes, os dado~ cte conjunto.
nem rue~m10 de f1rndar urna hipótese :-e1at:iva a tal tCltto ou região, mas Os litulos desses estt=do~ põtm er.i ~idêada. o Eermo jcngleur :,u
sim de provocar a imagina;;.ào critica:~sa aoertura à3 imc'l.8CII~ visuais seus equi~-a.lentes,Juglar, girJ/fc,e, em a!cmãoSpie/mann. Trata-.1e de uma
e..auruJivat, integradas por entre os demen105 de informação que recor- simplificaç1lc laical. EMa desi~atru indivfdu.QS.41.le asswwo~
rem ao filólogo e ao hi:storiadot;:-- i1t1auru sem ru qwri.s eu nfo saberia ção de di•,erti.mento, as sociedade$ m~íevais disp:t~ de um ~• •.
vivrr o que estou ap1endM1do, isto ~. escapar â i]usào do cíentificismo.\ bulano ao m~mo ternpõ ricOe'"Í!!!P recisa, 9:JJps tmnos. nàmlifürraa<le
geral, não param de deslizar n.u.obre os.o r " Setn dlhidn, o r ro
rn.:ial il 4ue se relerem 1em sua longi:iqua :-irigem na tmdi;ào J o c:an- neme para mim. a saber: gue sfo m pon.1<lores da \ •Ot ;>0etica.\Junto-os
tores de r aJJto~ gl!rmln icos, a :,iual -.e con fund ~ com a dos musicas e a4ud ~1 que. dérigos o u leig~. pratica\oam c1e maneira regular ou ç_ça-
ato:-es era Anttgíiidadr rcm na. Donde, na épnca mais distante, uma. du- ~ al.!_ k1t1JTa púb'.ica; nenhuma dúvida de qL1:, para seus audiLórios,
pJa camada tcr r:11nol6gi:1.: skr,ps d terras aJ1!l o-sa.xônic~. testemu- mlliro.s der:tre eJes mal se distinguiam. até o século xcv pelo menos, dos
nbado5 desde o s&-ulo 1,; escaldo isJandCS!S, t'lI1 ieguida noruegu~.ses, "jogra:rs" :>u mcne.strtis do mesmo calibre.(Q qu.e os. defiae jun~ r
do s.êculo . . no s~,;ulo XI 1, e, do lado latino, fllim14, .n:urra, h.strio, em
hcLirrogêneo que sej.. seu grupo, e serem (anlilogicarnente, como os fei-
pr<n·e:1Jb.d a direta da Roma do Baixo Império, recab:indo mais o u me- rice..ros africanos de outrora) os. det:mores dapaJa,,1ra publica; e, sobre-
nos inndequadamcnt~ a realidade mecliev-lll. Pur vol'ta de 12n. Conrad, cÜdo, a m1weza do prazer que eles tê:n a \'Oca.cão de proporcionar: o
ctrantre da í&reja de Zuriq11e. desejando entrar e-m mi&úcia, emprega em ~do ou,,iéo; pelo menos, de gae o ouvico é o orgão. O guc fazem
figura de acwnulacão, nada menos q·Je vinte t emi~ latrnm diferentes é o espf:táculü.
(reme1emfo aos imtrume:uos musica.is usado~por cada um, oas de sen- Esforçaram-se po.:- extrair do[> documentos, com freq iíénc:'a muito
tldo, dora isso, umJc,:.meJ). 1 Ncs seculos XJC XII, general~•,e nas lin- imprecJSos, in!orma;;ões de c.ar~ter ~o~al ~obre sua o:igcm, suas carrci-
iuas ,·tl!!ares o uso d:>s de:ivados do laumjocu/,aror (ckjoc.zis: jogo): r.i'>. sua in1egraçào e., :-irincip.1.lmCTlt~, sua possível e.speciclizaçào. Por
francê. ;o ng.'eor e jongleur, :)C(,1tânico Jeiglílr, espanillol juglar, galego-
ve2es, as responas dadas são contrad.ê1órias. Fa:.ralconduiu , em rua pes-
porrusuês jogral, iral.;.ano r;iu/lare e giocolare, ingl~Je,geler~ oujog~eL, ~,;.a, qu t: nn 2,_ntérpre1e ,;e ap~~óaiva .r nbmudo tJma ~-pécic de uni\lCT
alemão gertgler, neerlandes gokelaer... só ficar1do de fora a~ linguas cél- ~ilidade n2S artes do ctiverrimmto e, se ele dizi:1 ou cantava a p()CSia,
ticas e eslav-JS: o russo snwrckn permanwerá em ruo até o século xvm, uma i3Jal rr:esüia nos ii ver~os gênero.; Menénd!ez Pid.al 5u:st.:nta opi•
da mesma forma que o termo galês e irlandês de que fizemos bardo.
niãõccmtrã ria e Tttnda sua clacisifica;ào dos J1..gfares ao ir.strmnento ~
Ficam de lado, meio preseIVados dessa contaIJtinaçào. algun~ termoses-- l
pec.ais, como goiiardos, quaJificando os cléricos e:r:-antes on marginai.s4 (
rnusí'ca: de que se acOI:r, panliavalll - o q.i1: 1)1,)Jt::ría t:onfírmar um do- ieJ. ..,
cumemo londrino do sécuJc x..v, pi:blicado ém l978 por C. Bullock-1... .....)
entre os Quais mui'..Os, aliás, oaJ se dislinguern dos ''jograis"; ou troi:a-' Da11:~. Urna passagem do lter'OUm. alJTFviarom dt Pierre deleChantre ._
a'ores, trouvbes, fl..flnnesimger, referindo-se :nais aos C0IEpositores. Ao.,
descre,.•e pelo :nenos a extrema facilidade com çue um 1.ábiljoculator
mesmo tempo, o ~lemào Spiélmann, semanticarnCTite cilcodo sobrcjo- l!e.l fabij/aror (entenda--se: ur.1 ..cspcc1allsta da flarraçào"i movimtnta•
c!l/ator (Sp1el: jogo), ganha a,
t~rras flamengas, e-..l:alldinavas, báJticaJS,
se em s~u próprio repertório: qui ):iden.s can11lencm de Larzdeáco non
a próp·ia F.nropa central. Mas, desde ;> Eun do sécu lo xrr: - 11a medi-
placereaurJtzoribus, staiim ir.cipil 1.' arríare de A11úocho... (",e ele~·~ que
da em que readem taJ1.,ez a se fechar s:>br~ si mesmas a.s corte3 princi- a canção de La.ndri não agrada a seus ouvrntes, põe-se logo a cantar
pe;;.,;:as, 1amo quanto o meio burguês urbano-, c~sa teuuüiulu~a i,ai
a wmada de Antioquia", e, caso não se goste da t.is.õria de .o\.lexandre,
ele moda, e desigr.ações novas a;iarecem: ménestrei, ménétriet, minsfrel.
engrena a de A?Olônio ou a de Ca:-los Magno, c1; não imp0rta qual Ou•
.'/\..:leistersinger, canl~tc,rie.
tra!) i O trovador Gwrau: de Calamon. ,em sua ~ir\'ente Fadei joglar,
Os versos de 5!t2 a 709 e.o R.omar de Flamenca occitâiiíco, assim exigia d:, i:l:erprete a capacidade de tocar noveinstrumemos diierentes.
c.omo (numa úth.::it ll<:rn dJferemel) um.:t c~le)re passagem, já as,inaJa.
Algumas certezas parecem ru;~g.uradas. Por um lado, a. impossíbi-
da. do Per.i1en1ia!e do bispo in~lês Thomas of Cab.'1.am, por Yolta de lidac.e ce distinguir sisrematicamente entre as funcões do músico e a.~
L280, ~ugm:m a comp'.ex.iiiadi!, se não as contrad1çoes, de uma real.ida-
do can1or [)U recitador. Por ou: ro, ~ exü tênda (c,)nfirmada enu e o fim
de que, fazendo o~termos reperc·ltirem pu aprorunaçào. e:nbaraJha a
do ,ecuro XJl e meac::is do século X V na I:ãLa, na França na Alema-
nosso~ olhos :ai \''.>C'3 buláriD. Caso se a panem do quad~o os " jogra:s" nha, nos Pa1w~ 3aixos) de es~olas. permanente~ ,~u ~azonais, sl·hoiae
no sent.do rr:,::iderno. mais ~al·,mbanco~. a;;~obatas r apreser.tadorc~ dt' 1mm )"'.J'" n~<- 1ua1s ::ertos me,;:t,e- ti,C""""'rr- ..!~uma r r ~, - ~ ,-~ '1•
rera.~, :.obram mm1co~, ca111ure.s, contadores, mais OL menos confundi-
o Simon que. em 1313. da,-a aula no espaco da •eira dê. dcade d e
d0.S r.a op1:1ião de sua clientda O antigo espanhol, t rerto, d1srimue Yp:-e~.J :'\ia lrlanda e na~ regiões gaélicru, da focócia., as esco a ~ de b ar
dos toca.dor~ de instrumentos OSJugfarr.s d boca ("Jo nui; de bo ....." J
do funcmnararn até mtados do sé.:ulo xvu. Enfim, os gofardos gi.rô-
o curo da~ pág,t:as lif llÍnl '~o
, rompt-ndo com a esrola ou u 1.:bad a, e- à.~ 'leu, organLZados em
co:n l• nome J'l1erpre1es·, re.enhc as:;im seu t.niLn t.•a.,;o co·num. per..1- ,>andm lw:ra:n pro'i~sàc de 10-:0•0,, pce·a~ e, cspccia mer.te, :amo-
57
re~. a es~ t1t11ln mi-tu.meio:; na mulliJao dos "j(gmts" li!igo~, embora
, árias tias obras que se atribuem~ ~te.~. corno o, C.ar.,.lina B~rana, pro- Onipresente, 1ns1s1enre, ug11 ida, massa dos 1nt!rprc1c n!io tem
va1·clmenre só renharn a@radado a pú~l1cn~ muirn limitados. Nenhurnn uehmuações f1~5 nem prec,u . Sodalmentc h ~ e .@11_1i e ml
de~s.as informações ir, pl.ica que a c5ptcia.1laÇàQ 1e.1ha sido a regra làl- todo~ os clarcs não.campon,e~ da.popula lo e dâ rova de in m
\'"" '"~ •"!Ilha 'do rara a mterpre~ção de ce:i:os gêneros. Enquanto ...,"'.,.t_,,.cª e_. e .prua..o, o.utro,.pode_mod1f r d1, o J
na. Espan~a o Romancer-o era. ,egundo F. Lópe2 Esr:ada,' transmitido Índ1,itluo; fazer do ca'ialciro um errante 1IllSer1h,el do cl ri o um ai
po1 ·1ao-especiafa:tas, todos us ces1emunhcs com;iilados nos territórios timbanco, do recitador PÇJtpular um cantador introduz.ido nas u. tas ro-
frar.ceses a~cstar.i a ex;sténcia de um ~"llpo distJ-•) l' :.lt ..,,,e.,te respei- das. ~ interpretação pode ser ocasionaJ e n..! f• • I'!' 1 to d.e intér-
t.ido de • Jog:-.ils" d;.'dicados à :.?:e.:.1ção das can~ões de g~sta, entr= as prett:. Gaurier ;\fap evoca nobres da corte da Inglaterra que impro,..·isarn
Quais dc:::larnavam a rrelo;iéia, acomp.<:.'1hando-se da "iela ou ou da ~an- e cantam os versos satíricos; Jear: Renard, em seu Guiflaume- de DoJe,
fooa. São encontrados ainda no :im do ~éculo :ici\., embora desde an- most:-a um jm·em cavakro que, caminhando pela estrada principal, e:1.-
tes de 1300 renham caido ~m des,:,;reditc. Em 1288, a i.:;.dade de Bolonha toa a longa dJanson de tmleda &:.te Aiglentim, aoompanhado pdo vk-
os impediu de e::obi·em-se nas praças púbicas. Estão de fato ern toda leiro do imperador; monges recitavam para a edificação de seus confra-
a ri.irte. no no,.,e da. Itália, vinào~ da Franca ou surgidos. :i.o lugar, em des o ~rs de la mort de Heli.nant;8 em muit•JS castelos, o capelão cu
~1ilâo e em Flore'.".1:;a. A.nda por \-Oltt. de 1400, em lucca, Andrea cfi um cônego da colegiada vizinha precisou ser.ir de leitor. Por volta de
Goro rm1tka com succs3~ essa d.rte. 5 1275, o trovador Gu.irau.t Riquier, nu.ma súplica ao re_ Afonso x, pro-
, Virio.s dc-Sses "cantores de g_esta" pertencer&.TJ a cla~e~arente- testaV!I contra a assimilação abus'.va que de cambulhada, sob o nome
mence numerosa, de,~ "jog.rai~" ~e-gos, notáveis e.n [(Ida a Europa até ioglars, classificava muito baixo na escala so:.ial tod~ aqueles que se
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os secul~ xv, xv1 e xvu, da peniruula Ibérica à Skília, dos Báicãs à metfam na poesia. Gran :les perso:1agems não llesitavam, cantartdo seus
frlanda, ilii Hungria à Alemanha e à Rússia 1- detmtcres de um reper- próprioSlrersos, em colocar-se tJO rú·el da gentalha: Haroldo, orei da No-
r&io Mo forterneme tj_pjficado que, na Espanha e em Portugal, lhes de- ruega. em corno de 1050; Guilherme ex, o duque da Aquitânia, para es-
ram l.llTI nome, arte de ciego; romances de ciegos. Os documentos fr:m- cândalo de Ordene Vital, 'ultrapasm-a mesmo em. bu fonaria os hfatriõt>s
ceses são raros, ma5 não se poderia dm·:dar de que a~ terras do reroo mais bufões" (facetas etiam histrionesfacetiis s11perons);10cem a.101> mais
da França tivessem conhecido c.s..se re-nõmeno: em me2dos do século xm, tarde; conta Sali.mbene que o imperador Fredtrico 11, bom compositor,
~eios, pXJvaYelmente ,,.indcs do além-Alpes, diziam a Chanson de Ro- não se digna a cantar e deixa tal er.cargo a profissionais - cuida!lo do
qual não parecem compart.ilhar, em torno de 1300, nem o duque Hen-
land na grande praça de Bolonha. Fi.rerarn discípulos: ainda por ~·oJ:a
rique de Breslau, nem o príncipe Wiczlav de Rügen, nem o rei Vence-s-
de 143.5, o ceílo Niccolo d'.Arezzo canta~-a 1.1<1ra o povo em florença as !au da Boêmia.
guer::-as de Rolando e de ou:ros paladinos.. 6.§_ssa e~eci<dizacão dos c~-
As raras informações pessoa.is que possuímos sobre este ou aquele
gn~ .:-oru ti t uiu um fato~!oo ógioo marcant~ que SÊ.pôde observar,., ain-
intérprete de tal obra ou. grupo de obras conhecidas testemunham enor-
da
--em nossos dias, -
- -em rodo o 1hceiro M.mdo." Sem :hl1-rida.. ouma so-
ciooade cru que nenlruma i::tSt1tu1çllo as~eg1ra nem o cuidado nem a
me dhersidade de caráter e destino. A Historia ecclesias1ict2 de Beda
fornece, livro rv, 24, o exemplo mais antigo: o cantor Caedmon, sobre
reinserção do cego, a solu~o mais óbvia de seu prob1ema e a mendi-
quem o; estudos se multiplicaram, pois o relato de Beda parece esclare-
:ância, e o camo pode ser o meio. Mais fonemente do gue as motivai-
cer a tradição poética angJo-saxônica. u Camponês iletrado, recolhido
ções econômicas... po:ém, ar.iararn as pulsões p:ofunda.s que para nós
em fins do .século vn a llD1 mosteiro de- Yorkshúc, Coedmon reeebe "por
significam, miticamerite, figuras antigas como Homero ouTarésia.s: aque- milagre'' um dom C'ftraordinário de improvisação, que lhe permite com-
les cuja enfermidade significa o poder cios deuses e cuja "segunda vis- por a pedidos, em estilo poé-tico da língua vuJ~ar, toda~ as espécies de
::a'' entra em relação com o avesso das coisES, homens lfrres da \-isão poemas sacros... fais perto de nós no tempo e oo espaço, a cxi tmda
comum, reduridm a ser ~ nós só vo..: pura
do misteriosco Bréri (ou Blchc:ri, ou Bledherlcu }, Jamosu.r ille/abulator
segundo Girauldus Cambrcnsis, colocou mai de um pro lema os hi •
1oriadorc, d0i lenda de Trisrão. <1ue ele teria, morando na corre ..te Poi-
tiers, contribuído para dar e conhece· no continmte; ~e undo lnry Wit-
JB
59
l
J.ams., e5sr ilustre "conrador" n o ~rna ou1rc'l .sen o o gab Bledri a Oi: outro~, mais malLrn~ado~ pela '.1inór.a, sol-reviveu só o nome,
Cali:'or. da região de •arl't'arthe:i, =.l~'aldr,►p~ta como l!ntao muno, ã, •,,ezes um apdido ..:nBraçado (o italiano Mald1corpo ou o occatámco
~m terras cel 11ca,., alemã~ : occitãni ai 1. Cercamon), freqüentemente deformadc• peJa tradição oral ce seus ad.-
Poderíamos colt·tar gr n~ númcru de informações at.ra\~ d~ al- h. rnha1ores - como o menei;e~I borgor..hés, em torno de 1360, que as
g:.1.-nas Ct::ltenas de Vidas de trowadores encerradas nos cancioneiros: Elias fontes chamam Jas:guemir., Commin, Quem.Jl, até Conrut.n Algum,
de Bujols, füho u.e um mercador da região de Agen, dei~ou-o um d:a representados nas i.lu.M.inura,; de ma.nuscrit.o~. esclllpidos em :cle,,os de-
para se tomar jogral e pô!>-se a. pcrcrum os castelos com seu "camara- corativos (quando não ':,ordados em tapeçaria como o Tur-:Jldus de Ba-
da" Olivi~r; outro .Élia.!, filho de llJll burguês de Bergen:, seguiu a m~- yeux), tipificados, pad::CTUll toou o caTáter mclividual. Em c:ompensa-
ma via; a grnça poética tocou um 1er:eíro Élias, ourives de Sarla~. -,em cão, os textos poéticos às v-ezes colocam eo ceDa seu próprio intérprete
~rance talento, conf~i.a o biógrafo, mas cujas andanças o levaram até 11a.s •·rrapa;:as de jograis''; ou, ao menO!>, este declma seu ::iome ouso-
Salô:nica. Filho de mercador tambem, o ageniano Uc de Pena; filho de brenome - índice de altivez, rugerindo que goza"ª de aJguma re;puta-
um pvb.·c cavalei:-o pm.ençal, Raimbaut de Vaqueuas: filho de cm a·- ção: e Gautier de Douru da J.Jestruction de Rome, o Guillaume de Ba-
faiate e a.faiate ele Pl'óJ:rio, Guillem Figi:eira. Gausbert, filho do caste- paum~ daBotafüe Loqwfer. E71 outro~ lugares, e mais freqüentemente.
.lão de P'.Iicibot, era monge, rnas po:- amm de uma mulher deixou o clau.~- o r~lalo integra um episód.::, que descre11e uma per:"ormance ou .apre-
tro e ·reio buscar na casa do senh~r de Mauleon seu ''equipamento de senta ·Jm intérprete ~rn a;.ão: do skop de Hro·.gar, no Beow111J, ao escal-
Jogral" 1ornes de jogJarJ; o mo.:ige de Monraudon trazia de \'Olta ao coo- do da Saga de Egil e ao ca11tor sa~ão da traição de Krimhlld na Gesta
\·er,co os ganllos que cbtinha como cantor Gui d'L'.i.sel, cônego deBrim1- Danorum, ou .ao Tristan de Gottiried, os exemplos são numerosos no
de, :empunha as canÇÕes que ele mesmo interpretava para J\.'farguerile mundo germànico. mas não Jhe são exclusivos. Fatal, no apêndice de
e. '.Aubt1sson... até o d.ia em que am legado porui.ficio o proibiu. Peire ..cu.;; JonRleurs, publica perto de duzentos textos análogos só para a Fran-
Ro,ger, cõne~o de CJennont, p~feriu partir. E fetz se jogiars ("e se fez ça; Crosb}', <i"I, "'ranceses õl.l ingl~ses, nos séculos x::r1, xm e x:rv. Sem
jograf'} voha como um refrão. chamada recorrente nessa sociedac.e oc- dí:v;da. é preciso levar em conta o.s cliche!s e pmváwis trucagens narra-
dtãn.ica, nis3o exemp'.ar, mo1,imeato de convemão que :nteressa rr.difc- t:"as. ~ão se-pode, to::la\·ia, negar a esse a:iundante material um valor
remerner.te a todos o; "esta:Joo dri m1mdo' ', vnc:;:.ção da ~avra e _4n documental glDbal. Vários TeYTOs, particularmente explícitos, retratam
canto DriKnando uma dite ce porta-vozes. De outro trovador, o bió- as condjções de exe~i:::io dessa ar:e voc.il, a amplitude de seu registro.
~:afo limita-se a apoo12.r que "fo: jog"SI", come- Guifü:m Magret, :ie Assin:, em francês, ;:io fim do sernlo xn e no século xrn, o Roman de
Vienne, jogador e rato c:le 1.abe:-na. R.emm, Huon de Bcrdear.o:, B1,1e1,,e de Hansrorze, Doon de Nanteuif, o
1':a !ti.lia, uma e!-):6tola de ~'fo:llc.llc Venno di:scre'le a :écni.:o. e u Ror~1a11 de !a .io/et1e ~ ,d1vc1:;os outros.1~ Alsum; dcs~e:. tcncmun.hm,
ac-ão d:> céleb~e r:antarino Antonio de Gu1do, em rneadcs de- século >(,. referem-se não a ::an:ore-s ou reciradores, ma5 a ([;!iteres; portanto, um
Qu.i,to à F.spanha, com,eJ"Vou a kmbninça qua.-.c épica de vária~ figu- flULor, tendo El:.'.abado alg-.una obra, faz. a leitu1a ew voz alta, ;liam.e de
rd.S conpará·1eis, até o füniar da Rcnas.ceflça. Em 1453, suri;e na cone icu mandante 011 na presença de um auditório escolhido: Giraldus Cam-
de Joâ,) n um/ugh1r erra.me, J1Aau, jut.lcJ conveili::lo, filho de um pre- bremi!i, em 1187, nece~süm. tlt: Lrés dias para kr em público, em Ox-
goei10 pút'ic:o de Valladolid, apelidado EI Poeta; Menércdez Pida des- ford, sua Topographia Hiht!rnwe; pela m~sma época, Benoll ée Sainte-
creveu ,ua hio~rnfic1, desde er:ão p:caresca. su~ v:agem através de Na- \for~ ~ocavc:., er,i suas Cftromques des ducs de Normandie, o rn.omen-
\'ln~. Ar:t!;àD e, n4 Itália, de ~ililo a \,1ânrna e a Nápoles. Talvtz os :o em que a, recita.ria diante do rei Henrque r1; cm 1215, em 3olonha,
c,:,.;111mcs c::..~pan hói,; lncssem -nantido durante mais tempo a\ condições 1226, em Pádua. B,Jncompa~no c:la Si,gra fr2 a leitura pública de
1. L"lll
fa\·ora,ci~ a es.~e tipo de carreira O ulrim0 doe; pgra1s do o~·:dente nãr :;ua R11e10rrca. 1~ Ou en:ão un grupo de amadore~ so.·,:na um leicor pro-
foi o moun~,c Ror.ian R.am1re2. ctet1do em Süna em 1.595 péli:I lncJUb.· 'u.,wnal parn comer ou ."'f!tnm,! {t;lls parecem 1er sido os te7Ilm técní-
~ão e falecido na cadeia cuatro a11t,_. n·a11 tarde, acu>ado ôe feit çar,a ccs em uso na rran;a) o te;,,to des~jado - como os Lais de Marie de
pon:;.1e a .\eus Ju1ze, p.;.rec1a ter e~ 1ece s1dade da aJuda do d1abc para France, 5egu1do De~J:S Piramus, que em três versos esboÇ4 a cena. b O
recüar de mer:iória. como o confirma,-a -0 ro"'"""'"" inte !'O da ca- leitor enceta frcqucr.temente uma longa ruuração, da Qual se pode pre-
, ala na' · ~umir que tem uma c.(•p1a sob os obos: Flamenca, nos versos 599 a 100,
ó/
T'l DStra dcs<e mo<lo leitores capõ~ de: produtir, 1tl~m do tais e das h1s P.01100 importam a u1fcrc11ça~ de ori cm, ue e tniuto ~ocinl, de -
wrrer o,,rilenne:., o Roriarr de Thebes, o de Trou, o Eneas. o Alex.:utdrP, ru:lç.lio., econômica (alguns ficernrn nc-», rcc:c:bcrn~ feudo ), de: soo m~-
o Apoi;o'liu~ . Erec, Yva1.1, Luncefot, Perr:ncl , o H~/ Jnconnu e outro mo - aind uc JOgraleJO.S, mutto numero no~~Sc.'rl/J.l,1..,üllü...K"re-
ainda! Enfim num pequeno grupo aristocráti::a uml da~ pes~oas pre-
sentes. J: mcm leitura para os outros, mirudos em oi- , por YOIUl
ta. No Leche...a/ierau lror., de C1rét1en de Trcycs vv ; 355.64, uma mo- de 1300. fJ im portante e ~w: - au contrário u e e de r
11
~ .e
;a, L U j,mlim je um Cll!telo, ocupa-se lendo para !eus pais um romance os Jograis - os intérprete~da pc,es,a não foram. éla g_uele mundo me..rg1-
''qi.:e trata não sei de qua herói"; Konrad v(m Wu~;burp encampa, nr-1 nius. Não e: sabcna, é verca::le, falar de sua pos•çco: ele:. não e assen-
~~6.ogo de Der K-'élt Lohr., um l::nor em plena aç:fo; L'escouf1e de Jean tam, propnameme falando em :1enhum lugar; distinguem-se; situarr,-se
~n.ar:. n . 2058-9, faz o e.ogio de umanobr1: donzela, hábil em "cantar ::w comrru:te com os outros " estados do mundo". ~os se erJeitam.
canç~ e conur contos de aventuras" ; qu::.dros dc-sse ripo eocontram-s: com roupas chamattvas.__ou ~êntricas., tratam a si próprios ironi.camen-
frequentemente. Scholz le-,.antou uma lista de.es rcfe·ente a Alemanh~. :ede loucos. Por um lado manifestam o lado carna"alesco dessa cultura,
Essa5 diversas prát.cas foram favoreddru;. à própria época em qul! mas por um lado somente. A panir do fim do st..:u o xn , muitos textOi,
se cx;,andia em l:ngua 1/Ulgar o uso da escritura, pela repugnância (co- ,'lDdos dos meios clericais ou. aristocráticos, atestam em seus autores e
mo sugere Crosb,) que O> Grande5, ainda que let~ados, sentiam ao impor- difusores mna reação de de:"e:;a, protesto de honorabilidade e seriedade:
se o duro trabalho que era a leitura direta. Tonto q:i:, daí em dfante, dai o ctichê "não sou desse~ jog1ais que ..": ínrnce ce uma situaçiio, ain-
era fácil achar - entre os clérigos ou mesmo bur~~ - pessoas rom- da geral por volta de 1200-~0. A disseminação do uso da escritura e (àe
petentes nessa ,me. Uma class.e de btéYprctc~ a5~irn c::specializadQ5 :e!!,· maneira mais inaorá\•el) o le®desmoronamento das estruturss feu-
cisou formar-s! bem rapidamente. Muitos índices, aliás, predispõem a dais arrumaram, a longo prazc, o prestígio dos recitadores, canto!,es, con-
veosar q11t essas ·'leituru", confiacas aos nü"\.'!> p·ofissionai.s, não de- tadores profissionais de histórias; a imprensa os ftz cair numa espécie
moravam a tra'.1.S:ormar-s~ em espe·áculo: mui:as representações ~gu- deruõpro etariado cultural. Su.11 grand~ época e:;tcncleu-se do sécU:.o x
rativas qi;e temos de ''leitores'' sugerem qu.e o Uvr::,, na frente deles, so- ao XIJ .=--os próprios séculos da mais brilhante ' 'literatura medieval' !
bre o faci5tol, pode ser apenas um tipo de acessório que serve para A Alemanha e as regiões rorr:ânicas oferecem pcucos exemplos de car-
dramatizai o discurso - como acontecia não há muito com os bardos reira. comparáveis àquela de alguns grandes escaldm islandeses do sêCl.-
servo-croa.ta5, no modo de recitação chamado t knígc. Eu quase o.ão lo XI, cuja glória resplandcsccu cro toda a Europa sc::eotrional, aLt l.ram·
he~il..lrta em in~rpretar ~un um verso do prologo de.Doon de Mayen- formados cm personagens de epopeia, como Egil; mas o favor cie que
ce no manuscrito BN 7635: miritos intérpretes gozavam - assim como sua profissão enqua:..to tal
- é comprovado de maneira contimia durante mais de duzento• ano~-
[...] t2 tierce dtZ gestes., d'Jnl rro ,'i".~ co,mntnce 0 romnooc de Dourei et Beton, do início do .século XID, pôde ser inter-
t·'a tercci.Iadessas bistóri'5 heróicü, a partir da.'qual meu li•.ro empreen- pre::ado corno um elogio da atividade jogralesca; o prólogo de Doon de
de o relato''). O rranuscrito de Montpellier não dá o equivalente desse ,l\'anteuil, por volta de 1200, cita oito iJustrcs mestre~ da arte de interpre-
'<itrso, mas anuncia simplesmente: tação épica; o trovador Raimba11t d'Orange, trinta anos antes, da·,a a
sua dama osenha/{"apelido emblemátic:,") deBe!joglar. " Belo jogral''.
j!J cims camru:rr ches•e chancho,r t:(IMTe'lchtF
LN esse oonte:xto, os edidos de dinheiro e-outras formas de mendicância,
(' 'vocês ·,:ico escutar corno principia esta canção"). O livro que Ro:m.á.n tão fTeqtientes nos textos dos stculos xn e xm, não tê~a de vil: ma-
Ramirez "lia" era um pa:oce de folhas em branco. Acos~do pela In- ru estam uma relação social que era de!provida de ambi üidade e qcie
(;ui~içãn, o mourisco confessou ma ·écnica. tinhl antes aprendido de de certa maneira se estabeleceu entre iguais.1
cor o numero dos capítulo que compunham a obra, as grandes linhas Os cost umes a esse resp,:ito são os mesmos de wn extremo outro
da açao, os aomes dos lugares e das i::ersonc,gc:ns, de;,oi5, recitando-os, do continente, ate a Moscóvia e Bizâncio. .Red dore , j i , leitores
ncrcs::mt.nvn, con<.l~nsava. suprimia, 5em tocar no essencial da história invadem todo o espaç:o social À~ vezes, li a.m-sc de modo malS ou me-
e empregando "• lingua em dos livros"... no durá,el a uma corte ~cnhorial, até a um poeta mai bem colocado
63
e menos compete-rue, cujo1 tc.xro., elt, 1en1 ,1 vocação dt diur, comCJ n0 um mo~ im~to c.iuc tende á mrutitrnçito dt~ guildas de menestreii,: ore-
ca~o do canloI que o trovador Prirc CanlenaJ, filho de um nobre c~\'U- guJamenLo corporaúvo as,,egura~·a tanto uma estabilidade econõmic.i.
kiro da Au\ergnc, con1ra1a. Várias cortes ré_gi~ 11veram seus leitore~ quanfo ama. integniçiio mc.ontestá1,o•el nas e.:.truluras d a Cidade.
ejograis ::omratados: o de Castela, de Aragão, de Portugal, da F.nn- ' - -Até essa epoca relativamente tardia, a maioria dos "jograis' ' levou
ÇL da Inglaterra, do imperador reuniram mult1dões. em certos motnen- 11ma existência err~me: de mesue em m~;tre, ao c:apncho d1U cstaçõc~,
to~ dos século; xu ~ xu . A esse pro~)ito-' fal u-se ele :mea:natc;.Jr~- ou mais deft.niiivamente, como e crov11do::- Peirol, por não ter sabido en.•
se an es de uma ~cace sc;rriços. Gotúried i.on Stras,burg m.ç:i um contrar um patrã~; _por "gosto•• t11.lvc:z ... por medo ou recw.a de- uma
retrat,::, do cant01 da corte que e:u:lu1 toda idéia de r>Cbaitamf'Jrto. A co- ligação. Ainda recememcntt; considerou-.sc que certo nomadismo era
municaçàD ela poesia do,, trovadores e de seus imitadores, a.li fonm13 an- o tra~o comum desses poria vo2e;; do mundo mcd.ic:val :n - 5c-gundo W.
tiias do rorr.ance. uma e outras ex;:iressamente destinadas a um publico Salmen., tão Dumerosos nos s:cul.os xrv e xv quanto os eclesiást:cos. As
cone:;ão, exigi3.m run pessoal cuj<1 valor não se podia. de jeito ncnh1.1w informações C(l.le esse autor fornece cornpJetam, para os paises gi:rn1a-
a,aliar. Por um resvalo natural, acontecia que um príncipe confiasse a n.icos e eslavos, os dados antigamente compilados por Mcnéndez Pidal.
algum de seus 21enestréi5 uma missão delicada ou confidencial, de 1De!íl- Toda a Euro:,a foi afetada por es.?ta 11.)igrdt,:âo cíclica, permanente. Podem-
. ou mesmo de embaixa
sag.e1ro . d or. '9 .-.o • 1o xrv o·..: xv. qualqurr cor-
'-' .secu
se r.raça.r ma:,a..,. SaJmen fez sete, demarcando os itinerário~ de "jograis"
te d e ;;Jguma impartÃnciatcm .s.co& JJlWC-.SU~; _a1mJa por voita d.e I j(lO, prescmc.,, rnJ ~::l:u.lu x v, às t'es1a.i orgaojzadas em Hildeslleím, r,. 11rem-
a rainha Ana, o rei Carlos vm mantêm perto de si rhétoriqueurs céle~ berg, BasHéia e outras ,:idades; espalham-se aré a Dinamarca, Suécia,
brcs, Jc-an Lernairc. Andr~ de La Vigne. 6i.cs poe1as designam a si pr-o- Polônia., Hw1gria, Escócia, Borgonha, Lombard[a, Espanha. U~ ttine-
prios p,elo terrr.,) orodor. com o quaJ, apar,enteme::1te. c,,.•ocam a função rários mencionados por IV1enéndez Pidal abrangem as terra5 ibé-icas,
tradicional e.e porta-,,oz. framcs~. il4.Ürna~- Acrescememos a ~sse5 quadros os Estados "tran-
lOs di,!niJários eclesiásticos conserva.rarn-sú.r.eqú.entemen:e a1-essos cos' ' da Grecia e do Oriente Próximo dursnt,e o século x1u, Chipr~ ate
a favo.!'ecer uma art~ que e-scapai,..a a s_u.a açào, retido~ pelos preconcei- u, século x1.,. Se Beuve de ttanwne, h,crói de cançõe, de gesta france-
tos proprios :te seu meio. ~o encanto, não faliam e.xemplos de prelad<is sa~, passou para o íolclKe russo. isso sem dúvida se deve a algum jo 9
que ajriram a ··h1s•riõe~" os palácios epi)>cop~ _:orno. ainda D<!S g.rnl ele lonio curso. 1--
entretamo, a<; c.'id:ades burguesas reagem a ::ssa ia-
séculos xm e x·1, na lng.aterra e aa Espanha. Certas igr:Tas co:itrat;;;. cessante ínvas.ão de:: levia.,os de ofício suspeito. As municipalidades
ram p::ietas e cantores que se encar:cgavam de ~ua i:ublicidade junto ao~ ado~ã:n - c!OJ)1~o ~mi em que oficialiJ:arn a atividade de certos
pe~egrinos. Na re5iâo de Santiagci de ComiJ(lsteJa (e ~m maü de um.a. jograi!; - regulamento~ gue limi~am o número daquele.s admiti:fos co-
dúzia de pequenos santuários foca:s), devemos a l"Sie costt1me ~ can:rn mo re,;demes, mesmo se t.emporàrios:1Estra..burgo só quer, por volta
de ror::aria que nos: foram conser,ados por alguns cancioneiros ibéri- de 1200, quatro; Cracó"ia, em 1336, oito; Colônia, em 1440, qt:atrc.
cos. S;gundo Bêdie1, tal :eria sidc, a orige111 das canções de- gesta D 0 O!> oucrcs não são tolerados no pcrlmeuo urbano mais que dois ou três
sécu'.o x ac Xlll, a~ •·fes~ de jogra;s" efetuaram-se pedodicamen1c cm d.ias ;onsecutivr>)_ Ern Bol onha, cm 1288, em Paris e MontpelJier, em
algt:.mas grandes abadias, como a T:inité de Fécarnp - lu~ares de con- 1321, é-lhes proibido pas.'>ar a noite.~ uma cana a Boccacio, escrita em
tato e de comvetiç.ão entre clerCT e ntérpretcs e dos ir.térp,ctes enr1~ bi, Pavia por volta de 1365, Pdrarca cvCJcará com d~pr:!Z.o essa ge::'l.[e que
contri':mindo .sem dl.ivída para a formação de umaelile destes ul1imos. frequenta a:nda o norte da Itália.rir Aliás, conforme seu moda de ,·i.da
E m certas ciciad!s. a municipalidade Pª.Sª"ª aos contadores, caulorcs seja mais :;.edencário ou mais itinerante, os cantores, redtadores, leito-
musjcos, para melhor controlar-lhes a at:vidade. Desde o fim do sécuh:,
res. reprefemam do~ tipos de homem, com mentalidade cada vez ma.s
::tistw:a à med.;da que p~~wn a.~ gerações Sem dúvida, nos sect:.lcs xn
urr,a cont:rana de Arns reuniu (sob a 1n ,a~.,, éc: ,:,,oi.sa S.,nho-
XIII, os ca,;os rncerm::d1arios foram os ma.b numero.,os. f\·fas, no limiLe,
ra) burgue~es e jograt~ da cidade. T:s a in 1i1uiçào 01.: outras sãmilare~
a direrenca, ap:'ofundando-se, pr~para•va o ad\enLa do nosso "homem
não são alheias ã fonnaçio do P".rs, que do bfrulc XIII ao xv1, t>'n \'íl•
Jc letras cujo~ mais antigo~ espccime5 ~e encontravam na ltál:a do
na, :idade, da l·rança etentriona.l e do Pai cs Bau.o rcagrupatão '''lllQ XJ\I, R., rarinh· ''<I França do -de •.,_
penodicamente ~:fn&!o~ c1111an1e~ tia poc,rn, cantor e "ret6ncos".
",::,cora.ão deum rnundoc~tá\'d, o "Jogral"' ,1gmfiça umainsta-
Em torno de JJOO, rroJcta,se, especialmente na I rança e 1a E puru,
bi 1da,x radical; a fragilidade de ma insm;Jo na ordem feudal ou Lllba-
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m.1 sô Lhe dd.xa mu-J.ilidadc cc intcgraç..'fo ~ocial: a que se opera
Ulllii rcs e tazem '1.'.l:!llir em ~eus des Ol:tmernos <.hplomáticoo:i. por grnp.,<
pelo lúdico. Es,c t:. o estarum parado1<a a ma-rík\lar a libe~datle ée: ~ll5 dt' jng•aic; d<,s U4lis C'O •
deslocamentos n o espaço; e, de modo :undamencaJ, a implicar a pala• 1 F. nes e ,.;on1cxto soetolé,g1co e 1..'t•m bcst llt'l - e não em c:"clusi-
vra, de q ue é ao mesmo terr.pc o órgã:> e o mesue. Po, 1~0 Q "jogral' · vns con 1dc:ra õt-. filolôgi::as - que convi:m rntcrprcl r
1 • -,e aJe:sca, wi ,u..c1strtbund sodrdllde rn:nn.ocrI,!itlís, Till.m c.tto m frcrt ntemente 1 , o ULntoo
p~ ae~a6ãfóerii"ptura, prospecti\'a e redenção ntual, espaço pl~nário ~ucrreiros recuados, t'm pleno combate, ,eja por ~~!alistas, eJri pe-
da vo7 humana.,r ~:as i:;ública~. tais como o ~ornamento ou e ar:ie.sa- los préprim comhaten.es A de~;:,eiro do ~r11c1 mo an11gamcme apre-
;nento dos princiries: no de Educrd<.' de Carnavon. a 12 Je maio de 1306 1:madc, por Far<.1 , pare;:e crnc1 que ha..,ia ai uma tradi,{io b ·amt> a:l'1•
!omaram p~rte 150 mene5trc1s tdús qi.;ais ::ios soi}rou a tolha de paga• Jd, bi.:n e:uawida rnr~ os ge·ma:10), o~ an.-g.lu sa:ue) e os celtas. que
mtnto>; dezoito ano~ mais tarde, urra ct:"lrt~ n:un ida em Rimini pe.0! se rname1·c no Oc1de:ite au~ ()S seculos x11 e x1I1 - nJin ee Jm ,vaml'tite
Malate5ta reúne ] 500 deles !21 Mero oráveis enconcros balizam a$si-n a durante as batalhas carn,ais, '°mo rnoma o c:l(emplo de um bando de
história de quatro séculos. O amesamento dos 1:lhos de Frederico Barba- sagueadore~ horgonhe.<:!'!, que Raoul le Tourtüi:- e-,•oca por ,·olla de
ro:xa. em Main2., em 1184, a entrevista do mesmo imperador com o rei 1100.;.s O caso mais o:plfoto e (sem dú,-i.da por engano) mais con1es-
da França em Mouzon, cm 1187, :oram a ocasião -para contatos tes- 1ado e o da batalha de Ha.sdn,g1, que em 1066 rõs a Inglaterra nas mãos
soa.is entre cantores români~os e germâmcos, contatos que contribuí- de Guilherme, o Cooqu~stador. Sete das dez i:rõnicas queros relatam
ram para a rlifn,iio eurnptlia do gra:ide canto coriês. A crônica do sc:u- R~talha, respecti-.-:.unen1€ redigidas entre 1070 e o inicio do século Xlll ,
]o xv comerva a lembrança de Llilla 11,·asta sfric de ajuntameruos festivos, mencionam um jogral que, marchando à frente do Exército nor'Tlando,
,m!índo sobre o Ocidente ◄.até a Boêmfa. de Sigisroundo e a Hungria
bC dt\l com seu canto o sinal do entevero; três d~~e) lt.'1.lrn. lhe <lãu um
de Mi11tías Corvino) uma densa rede de relações princ:pescas e de dis- nome: Taillefer; <lois sugerem que ~amou uma venão da Chanson de
curs.m que r:xa.ltam, pela boca dos poerns, a Ordem a.sslm manife~tada. 26
Roland. Segu1Ltlu diversos documenLo:s, como a esrân:ia 97 da Cha,r-
As festas particulares - banquetes. batizados e sobretudo casamen- .son de Gt4il!aimu, os con1andantes gostavam de aco:npanhar-.c de ,;:2.n-
tos - u:t,1u1:riam também, mais modestamente, a .intervenção de in~cr- t ui~ épicos aplos ao oorr. bate. Numa sociedad~e2or na!ureza ai:1.da
preles de poesia. Sobre este últ:mo ponto, os testemunhos são inurnerá- e:a guerreira, esses homens ore.reiam uma fun~ãc cOH.s:ideravel; sua. voz
vei~ desde a época meravingia ah: o século xvr. Rennocia-se ante~ às propagava uma virtude1 ef-et uava a transferência de uma vaJentia anccs-
núpdas do que a gastar o ternj)O com Jo!!rais, conforme o Roman de [ra] aos combatentes ce enlâo: "para acender, com o exemplo marcial
Reriart (seção 1, w. 2763-4); em Jaén, ainda em 1461. para celet>rar seu cle mn nerói': como escreve-u William of Malmes"bury, ' '.aqueles que S!
casamento, o condestâvel J..figu.cl Lucas despenderá uma fortuna para preparam para combater".
garantir a presença de um numero suficiente de rnenes,1réis e vesti-los
com o esplendor n~essario,21 .'.'fuma :nodelar carta de recom endaç.ão
par.a um jogral, Bonrompagno da Signa, por volta de 12.00, jul,a-o ap- ~La~a.J....pela g_anra de todos tSS-e!; homens tmuito rr.ai~ rara-
to a apresentar-se tamo na ~om: q11ama numa cer imônia nupcial. 2• O mente, Eem dúvida, pelas dwas mulhere.s) pronu.ndava-se uma palavra
elo, aparentemente funcional. que vincula essa ültima audição de can- r
-
nf<:essána manule:nçã.o o laç:o social~ sustentando e nutrhdo o ima-
tores oi.; de recilaclores (o episódio das núpcias de f lamenca con~titui ~-nàrío, dh'Ulgando e confir.na:i:io os m 1tm, r{'l.'f'St1da nisso de um.a au-
a mais briJhante ilustração) rubs_isce a'.é hoje nos costur.ies camponeses - -
torid.ade panicular, embora não cla_ramente distinta daquela qLe assu-
de ,,.árias regiões européias e ac1er.icat1as - elemento .ritual cujo funda- ~ dfacmso do juiz, do p.rcga:for, do s.ábio. Dcmde o uso que o podM
1
mento liga-se aos ,ralares psicofüio16gkos, míticos e sociais im•escidos tenta periodicamente faze: d!la, engajando e.orno :p:-opagandistas os jo-
na voz humana. E le manifesta o poder da fu:içào v~al na cu ltura da grais ou deres leitores· o chanceler de Ricardo Coração de L.do recru-
qual se ergue esse rito. 'Por isso o intér;,rete de ROesia assume nesta um tara na Fran_ça cantores encarregados de louvar seu mestre nas cidades
e!Ptel de medidor do tempo social - joscunente o que ri~
mas t:unbém cs momentoç fortes cpJe, sem recorrência regular1 ma.-cam
f~ , inglesas, = dúvida coTJ.SÍderadas p,o1.i1~u 1....in fiáveis; 11.5 p odr::stà lcalia-
nas, no skulo XIJJ , paga,.am saJários a ew louvadores; a França do
11. suc-e'i~io dos dias~ viagem,, longos ca\'algadas. Reis e grandes senhc-- 1em;.,o de s. Luls e, <.fuis ~é..:ulos mais carde, a dt Carla v11 sao rjcas
" 66 67
1
em ra•ç exempJo, Toda.1 :is ~m11d:s r,ul~mit•a5 de emllo @antiaram p,,;-
•igrufiL·.i ob~ttkul.1 à perutên:ia. mstituidc~,;1 ~ 1ormas cn~üs, o:i, :>em
e-ça \ia os IU1!311.'~ púhJicos. envolvrndn ,t, n111!11dõ~s. e e.,a lradição
pior. \tgnllica 1riunro :Ja f\lentua I:' da Depr.Jva;ão. Es'-1:s :11Jgamtn ç,~
~ mante\e at! os 1cmri,, de LllÍb xr, e, em ouiros lu&are,. até muito
re,-ero~ i;iíluenciam a cpmiào geral, sem rch!ar os costume; lúdirnsao.s.
ma ~ tarde. A cada homem ua pala, r:i .:.le.,i3na no grupo um lugar, do
qual. n,1 cora~ o d ~ sociedade muito rigidamente formaJizad:u, ~ di- cua1s estfo associadas as d.~ersas formas da poesia. Dai as contradi-
.,.icil mucJar-se.[t:1a Europa do dculo i,;: ao .xv lugar do ~rtadt>· de ções quC' a esse respeito se revelam oo.s textos. Os :neio~ ca,alheiresco,.
pcte•fa é central. A ide11tídade de um imérpre·e manifesta-se com e'l'i- à med da que o progres~o geral da economia lh~s as~egura mais lazer
d!-iicia tão logo abreF'Ooca: ele ~e dcfiiie em OJJVl!ição às oatras idemi- e alarga seu espaço de jogo, são meno) sensíveis a esse ascetismn c-ultu-
nl. Nos sé:ulo X'\' e x:v, apesar das ruína~ acumuladas cm todo o Od-
:la.:fe• se>eta.~. que com refação à •Uél sã:, di~pcnas.. ncompletas, late-
r.u•, : as quah asrurne, 1otaliz.a, :nagnifi<:i!: den:c, um fr~ne,;i parec... lomar coua das cones principescas, onde ,e
Jfetricus er.im rnodus es, histrio.'1um qui i:ouintur camores nostro inta.uram •,eráadeiras liturgias do sou/as, das quais camores e- recitado-
r.wt,'70&? er armquirw d{cebantr.r poetui', q;;_i (_.) carrrus ad Of'Et.Jenrium re~. ~om o,. mi.sico~. ~ão DS oficiant.c-s princip.ii~. úurLfu nao <la mETit l~
~-e.' 1rutruendur1 more.'; ve! ad mo,endum animor er ajfec/us aâ delecto- ra, como o cizem os Outras, mas do disfa.roe, da ma.s,:a.."Ti e da f;;ção
alegre.
:,or.em ~•e/ tnstiliamfin,n,tnt el compon11'1l ("O :itrno penence aos bis-
triões, que denominamos hoj~ ca.'1lorcs e que se chama"am na Am:güi. A exist~cia de i.nté:rpre:es da poosia constitui um elemento ativo,
~ade poetas [ ... ) os cue moldam e harmonizam seus cantos tendo em wu I~u:nto. a essa soc:edade ao r.1esmo tempo aberra e mcessant"'eiiieiiie
Ie:üada íiclõJ~aDltlllO. Ela fascina e inqu:era. A Jgreja não parou de
·,ut.a h::ukar ou corrigir os cos~umes. ou inCitar os esp:rito~ e os cora-
;Dei 5eja à aleg:-ia, seja à tristeza' ·): tais são, por volta de 1280, os t.er-
mo5 •:rue empreya Engel:nrt d'Admonl L'l Que es~ lermos retomem um
clichê de origem anti5a não faz deles palavras vazias. Mais ou mer:::>5
--
fa•cjar ai ,1ma força ::ec.-etamence rival, talvez inspirada pefo -inferno:
conflito deCllli7Jra:., out:ma aberto por s. Agoiilmho. - -
c111as fórmulas
condenatóna5 serão incamfü•elm,:,nte retomada~ em declaruões, regu-
r.a me,ma époc'I, o alemão c,mhecido pelo nome Der Meissncr se cx- lamemo51 editos - ecltsi~7icos e às veze~ ri-gios - . até a época mo-
:iri::ne de modo parecido num.::. de sua; canções, culocando a fofase 11a de,ia, l'm (;Ue o teatro finalmente recebe concenuado, e~ses ataques.
,.Lnção de "conselho" [ro:gchc a/ler /t1gen(), isto ,:, de disc.erni111emo Pois õ teatro, a parrir rfo século X\i1l, foi a úlüma. :·o.ma poérica em que
~ 1:era:idade... EnLendamos o c.ont~tc; com base numa capacidade es- subsini11 .il;io do n..-gÜJle medieval, inteiramellte determind.tlo pela per-
pecifica da lin,gt.agem poélica. 1ttualiutl.1 por um an:is1a competente. "8 fonnance. A que:x:a, qu::mdc, se toma cspedfi ca, prende-se ao ternm :x."!.lr-
:\"o::iío ''utilitã.ria'', m;..-; indissoC.:ávd dague.a do <livertunenco! nos sé- 7iiilas. e.i.:ce.sso de palavra, u.~o desnaturado e.lo verbo. Pouco a pouco,
cnlm x,, i:: x•,1, enquanto os plle:as corne~·avam a afrouxar seus ,incu- no contalD dos irri1m:iru,:; burgueses, at se í:t.~rescema;à a m11.l lhr..as, ne-
Jc~ s::-ciaü e desviar-se ::iessa grar..dl· ·deia, os "bobos" e bufões da cor- gação do trabalho produtivo. Mas nada pôde impedir a mLltiphcação
e!'" c2derarn a retomá-la por sua co:ita .. Ft:ndamentalmente, durante tles,a "raÇa" -iue, nu s«ulo xm, constituirá em toda a Europa uma po-
sê::-Jlos a poesJa havia sido jogo, m acepçã,:, mais profunda, talvez: a tEn;ia, impercepth·el ma~ sempre pr~s.ente. De-sde enlil.o, o, moraliza-
rr.::.ü gra•.,e-; seu objeti1•0 ú)tim:>: proporcionar aos homens o sofatium dores (ader.ndo majori...ariamente a uma o;,inião que ~em dúvid..a esta-
fo fn.mê.5 antigo dizia ~·ou/(1s;• perdemos essa bela palavra!). Mas, pard. ,,.ª difundida entre eles !!.avia muito Lempo) deler□inam as coi~as. Da
a. naioria dos ede~iástic::,s, todo solor.ium cheira a enx,::ifre: o termo refere- lllmsa dos divertidcrcs, Thomas of Cabham d·sting11e o privilegiado gm.
se a Jrn ;,razer. a aJgurr. alivío da. alma e do cor,o. à esp,!ranca de urnd po dos '"""tuo~es de ge.,la e dos ;ancores c!e s.;.nto~. aos quais até ~,~ ahrem
J;ti~dade. à gra:.uidade Jc uma açã~, - it Fena. Dn7de a gen~rc~1dac~ as portas de mosLeiro, como em E-eauvais parn as grandi.:,; f::stas. ·'~ A'
de :pe ~• publico dá prrvas p;;ra 011 seu:,. -1-.er..do-es mas t::.""J:-.~..., mesm:i ep,)ca To1m~.... de -1.qumo s.obca-.a a 4uestii.r- em ~ ,.. ,. _ecr.
a. :ep:.rca;:ào de cur,:dez qui.: ganham. co:T1 ou ~em razão, e.ses d1vcrticu- co.s. A Summa theolugKa l!ta 11ae. que.suo 163, ar;. 3J <'-dtui.e que, sen-
res - ar_g-umen:c de p~so para n~ crn~ore~. no e,p•nto de que souic:s: do neces,Mio o <lPJerti.rr:ento do homem, a e.tindade do l11strio- nã.v e:
tão num em si t ?Ode es oasiderada um t~aoalho - pruneiro esforço
pan 'ttCOnh~r ao po udon1 poe,1 uma fun1,lo t:spt:,(,1aJ, num mun-
do onde tudo o nue exist~ tem um pa;iel.
&tav11 paru se rc,-olvcr o qi.:c:, lolO~ ull 11• e.los lcrrmJos claqt:ele lem- de"); opos1çh, qut!, uli ,s, ~e ntem1.1 nos uabalhol ma•~ rc:1.;cnte;. l\1,;111
po, comritufa um \'erd;:i, leiro 1m1 blem.a Em contrapartida, poui.:,1 lhe, a França nw1 u ltfili:i ofcreccrum a1111po p;: m dist nçõcs 10 nmcl:1~, mns
importava a questão trcqlienltmt:nll:: colocada pelos mechcvalistas do, o modelo ílurna entre 111 lirth.1s d mais dr uma obra eniu1ca. r--tonaci
ano:. 1900: que distinção fazer C.'Tltre amor e mLerpre1e? Onde situalí urn ant1iamentee-,oa.wa a existência de uma lt1terat1m.1 g,ullaresca, l11npi-
e u-" - tcrmOS'llllLS baD:lís, ~ mre1 rogação resumia-se en. ~.1t:w damente dh1crsa d.a. elenco e. L. teg no ai o u e t 1U:ià que
se, qua11do e como o "Jogral" foi, talilbem, poeca. Diversos tmhces le- as diferenças a.,,im de:notada~ perdem ioda a pemn!nc1a caso se le1-e
varam os cr1uco!l a responder afi-rm.tjvamence. t.ratando-se d1; cal indi- cm -~onta o cará:n mímico da comumcaçâo; de,~e ponto de YMJ., a tu•
viduo. de tat texlu. Sena o caso de vários fabliaux, je- romaTices mcs ~liJadt Ja ..,,~e~ia itah;.r..a mais ancie.a. do l?umu cassmese aos ,crnllra••
ID;), como o 11-istan de Bêw.11. Esse~ são eiternplos específicos, dos guru~ ti genm·es~, manifesta pe:-teil3 hcmogcncidade. \ão me e.,pressana i.le
não se pode mar nenht.:ma conclusão geral - 1anto mais que n a i ori- c1:.tra manein. a pro;ul:\ito da poesi2. franctsa. A <1ues~ão se coloca em
mato da maioria dos 1e,:tos in(fjc,a a ::iue pc:mto a sensibilidade medieval termos idêmicos em tecia a Europa.
aessa.s matérias, na au~ência de qualquer noç-J.o de pmr,riedade imde~- Pelo menos Dão ie p-0de negar a 1m;,ortáncia do papel dn~ redr;i-
lual, rufere::1ciava-se da nos~a. Deslo:arfamos hoje a ~llfa.-.e e pcrgunt.a- dc,res ~ carllores profissionais, através de reg1õe~ :ão va:iadas, na fo~-
rfam~ qual ação o intér;,rete pode é'Xerr.tr sobre a poesia; de que rna- mação de línguas poéticas rornâJ,.i.:as e ge~mânici, e, talvez, de sii;le-
:1cira inte:"Vém na economia própria e nc funcionam ente do dizer poético. rnas de vers.ifica~ão. Papel triplo ou c_uàdruplo. O _próp:~o nomadismo
·\las Vidas de uovadore~ e nni- razos e.e ~ançõe.~, o uso con_stame uu~ de r.:u.itos intêrp~Li::~., a dispersão d: sua dientcla :ornaram pos~í~·el e
termos Jaber (lrohar) e s'er.tmdrt! (no canto), ora conjugados ora em necessma a co[]Stituição de idiomas e.amuos a r,:_giões mais ou rncnos
O))0Siç·âo., parece-mf. 1r11ir J.u na percepçã.o da <:Jri~nru;dade du imé:pr~- ex:ensa§., m;.ns_ceuh:.n.c'.o ~ dialrtu) lvca:.. originai'!, Talvez i)OT isso 1.1:.c,-
te: ao contrário êe Boutiere e Schutz,. entendo esses verbos como mo os "jograis'' tenham transmitida ao m 1mdo me:lie-.'al os refugos de
reforindo-se a duas athridadt:. wferentes, a do compo~jtor (suber) e a arcaicas formas imaginã.ias, inte~radas tto funcio:urru.·mo c.Je Wll<I liu-
outra; ni$.So, é JlOt.l\•el que enterrdre(ouvr:), 1;Vocando um.a mteoç-âtl, con- gJagern; o fato não susdta nenhu.rua duvida no., paises nórdicos. ]I) A
:er:tração e pcnctra.çào intclcct1vai, seja muito mais rico de conotações pala\':a poêtica rncalmente transmitida desia lor~ reatualizada. rees-
que sr1ber. A Vida de Arnaw: Da.ruel iesigoa expressamente O trabalho cu·.ada, mais e melhor do que teria podido a escri.:.a, f.avoreoe a mi_gr,a-
ão iatc:IJ11~tc corno um duplo processo: escu.car mas também. aprender, çao de mitos, de temas narrativos_, de fQ,nas de.J.ing_uagem, de c:-stilos,
isto é, fateriori2..ar. de rr.odas, sob:re arcas às \'ezes imensas, .afetando Q!"Ofund.amente a sen-
Neste escudo, mais .,,.ale afastar de imediaro certas obsessões que slbil.cia:ie e a~ ca.11.acidades invoenti.vas. de por;,ulações que, de ouuo mo-
foram herdadas do romantismo e das quai s os medievalistas 1êm difi- do. nada tera aproximado. Sabe-se quantos contos circularam ass.im de
t:uldade de se libertar; aquela~ po1 exemplo, que leva à classificação{de un: C."(tremo a outro da Eurásia. O fenômeno se prcduziu aas próprias
autores, de lextos, de tradições) em p0pu,'ore.5 e eruditos, cleT'CS eJoz,ai.s. fontes de unu J)ala\Ta. Mas nada teria sido tra.ns:rnitido nem recebido,
ou o~-as similares. Th.h dislinr;iies não t~m ~emido. Arnaut Daniel, que nenhuma t.ra.nsferêm.;a se teria eficazmente operado sem a íntenençio
era t.Jdo como um dos poetas r::.ais dif1ceis de ~eu tempo e a quem roes- e a colabora~ll.,o. sem a contribuição sensorial própria da voz e do co~-
mo Dante dará a palavra na Comédia, tomou-.5e jogra] depois de ter po. a mtérpme tm.esll'.íUu.e .s.im~iwl: públi~ uma J?resen_ça. E,
aprendido Jas feiras. J\'ào foi o urnco. Nessa perspectiva. os medi~valli; e-r.i fãccde um o:uditório concr-eto, o• 'elocutor coacreto'' de qut" falf-lm
tas alemães operam com a ajuda de uma noção cujo fundamento não os prag;matista.s dl!' hoje; é- o "autor empírico" de um tetco cujo au~or
se pode contesrar: a de SpielmMndichtzmg ("poei:ia de joB!al"), uttli- im.ptcito, no ios.tante p';'(:5,ellte, pouco importa. visto que a letra de!tse
zada para caLegoriza.r, em pa.rticllla:, as ep<ipéias de origem germánica tex.lo rulo é mús letra apenas, é o jogo de um incliv:duo partkuJar, in-
antiga, como Konig Rolher ou HPTzog Ernst, ou v~rsejctduras didir.i- cucnp.uável.
c.as. como o Salman und Morolf. Na Espanha, dois versos do libro de
buett amar interpre1ados oomo LJil julgame.nro clas.sificatório, provo-
caram no vocabulário do~ medie\'alistas uma oposição entre m~ter de ~ mais por seu conj1..n10 e sua conlinujdadc que -..alem o te tcmu-
dertY:{a f'ane de ncadcmía") e me.rter de jugiaria ( ' 'ane de jograJida- nhos de todo <J tipo que C'l'oc.am para nós es e! porwdor da voz.. inda
7/
c~,m ér-1 [lerccbê-lu1 ,ob um fundo dt ru1do do qual m:11 ~é' .Jc 1acam
às vcus:é tormigamento onoro dessas cidades, desias corte~. dessa~ cons1sua -em "monum.:ntaltzar" todo d1scu.no. 1i Assim s.e desenha Wll
igrejas de pcregnnação,. murmurios, gnto~. chamado~, ,anto:., imcc,j. lra<;o fondarnc:ntal de •1 ma cultura. A ,;02 poécíca se inscreve na diver~i-
\'3S, no qual f; zem r!!o fr qilentemente alwão (com uma espéci~ de ale- :iade agradáu:l dos ruídos, por e]a dominados na gargar.ta e no OHido
gria) poeta , r.>msnc:su e cont..dore~A _. corte de Artur, vigorosamen- humanos. A pinturi do para.fw por vir, esboçada pelos pregadores (ou,
te e•,ocada per Wace, ressoando de ªcanções, rotroutnges,• árias no•;as" imitando-o. a do mundo das fadas por urn romance e-orno o ioglê-s Sir
da -..oz ::los jograis e jogra esas. do som das \'leias, rúlOJ, harpas, fn>tels, Orfi•,,, mai~ ou menos em 1300), dIIUncia alegriffiuditivãs: coros de
liras, ti-Ti.bale\, ~omr.as, tanto q1..anro das blasfemias e das di.s:putas dos a'ii°Jos, camíoos de santos, harmonia de instrumentos musicais, espe-
jogadores; as nupdas de Archam:>aut ern Flrrmmro: il'TI<lgens ideais con- 1.:'.ialmeme a harpa; e, por efeito comraditorio, o~ castigos i.nfernai5 se
cebidas por esc,.hores c:ir!es.ãos. ,r Mas o.; i,formes provenientes de to- acompanham de e:.lriclérrcias. mtoleTáveis e de palavras h.orriveís. :l.l Per-
das as outras for: tes nos mostrarr,, de indiYíduos ou ::irrurul.ãnc:as bem ;;:be-se aqui o eco de um Lema poético muito vi-.o desde a baixa Antí-
reais, quadrm simila1es. Tratar-se-ia de ur., terna literaio gene--aliza.do gcidade, calvez desde Vi:'gil.io: o Jocus umoenus - lugar ídilico do jo-
que também ,os remeteria, de maneira ind..rcta, a um .raço dos costu- go, da coní:.dência, do amor, 1.lID dos tipos mais recorre ntes da poesia
mes e da menta.lidad~ E ploc li dons e damneis e f{U~,a e ,nes.,;ifl., e med.!eval, em todas as língua~ - comporta um elemento sonoro. c:anrn í
cortz e mazans e bruda e ch.anz e solat;, e luich aqwil faich per qu'om de homens, pássaros ou li(,mtos, proporcionando um prazer ao om·ido,
bons a pretz et valor(' 'Pois o que lhe agradava eram ofem.,s de ;>resen- ioa!!cm. causa e cfeíto daquele do coração.
tes, galanteios. guerras, despesas pródigas, festas da corte. barulho, tu- Figu~ent.e, é a um lugar ídilico similar que aspira a "corte-
mu1to, canto, alegriá e tudo o que c-.onfn<' a um h.amem de qualidade ~•·, difundida desde() final do s,éculõKCpêlo meiocirvalC!.rC$CO;ena:c
mérito e vaJor' '), escreveu o biógrafo do lro·.ador Blacatz; e o moralista os primeüos trovadores:1ãITugar tem um nome: aiZi, ai:âmen, slgnifi-
P ierre de Bl ois:, i11vcrs11me.nte, e\'OCand o :1) m :rri ta çãi :> .a corte do rei da rr:1odo mais ou menos :. ''mor4di11 do Amor e: da Harmouia"; e: rulo é
Inglaterra, modeJc mesmo de toda corte, retrata o cm~ejo e~candaloso por acaw que e5se~esmo~ po~tas aqqwriram o Mbito de começar suas
que o acompanha e cm que se rr.iscuram: ni:s.triõc-s, ca,toras, Lurões, Ctmço~.s por u.m.s .:strofr que evocii .t 1enuvaçao prlmavertl e os carito5
mimos, charlatães, l:arbeiros, prostitutas, jogadores profüsionaís, ta- dosp~aroT. O termo cortesia~ guanao a?arece na Jlngua (no século
berneiros tagardas... A c.escrição das fe~l.t~ ji..:gralr:scas orgaruza:ias em xr;, refere-se idealmente à •tida das corces ,enhoriais; num mundo in-
Paris, em 1313, p~la visita de Eduardo u, encheu qua~rocentos versos coere.:lI.e atravessado por implll!)OS anárquicos., a cone idealizada, utó-
retumbames da ChroniqrJe de Oeoffroy. n Manifestações d.essa n.a.tare- ;>1ca., tem.atua as commdiçôes, harmorii;,;a-a_s .aa festa e no jogo. Oca-
za se tomam mais freqfüm~es e nos :ficam cada vez mai, conhecidas a va.lcir~. rão logo é acolhâdo, vê-se prisioneiro d.e um espaço enc.intado,
medida ,::iue nos aproximamos de 1500. onde toa_a a energia dos seres visa a um perfeito domínio da palavra,
Tais testeoun1103 balizam sécu1csde história. Incan1a,elmmte nos mais que dos comportamen~os; visa .a domesticar a multidão de VOLC::s
repetem a ub1qüidade ja voz poétca nesse u~verso. Di:-se-ia que não e-ipontàneas para com ela orgamrar o concerro. O a.mor à palavra é uma
fazem senão confirmar uma evidência .. De fato, ma.. fae dão :,e·.: peso virtude; seu uso, uma a]e)l;ría. Lol.'. Ya-s.e a p.rim eir,1 ~111 rC' os Grande~;
e - liter:1lmente - medem sua ressonânáa. De todas as partes, r.aqui.- ,w
5aho~eia-se lado de,c: a segund.i. A es.se respeito, Bezzol:i antigamenlt:
lo que para nó; se tomou p::numbra, agita ...e uma h1.Jmarlidade tagare-- reuaiu vãnos tc:l.tem11r1hos do seculo xn relativo~ à corte- da log)G.tcr-
la e barulhenta, pa~a quem o Jogo vocal ;o:-mitui o acompanhar.ie::to ra. i: Nns ro:nam.:e-~. nas Vidas de uovadure-, me-.,mo nos comentários
ob,iga to·io de toda a,.ão, d( toda i:alaHa, de tndo pcnsainentn. mesrnc d,a un coma...: r dt> .--~.: m" ..., ... utier \.tap, form.g..un uli;~r '"'rÜ<:~ Jt:,,
abmato. de~de que \C:Jam s:.'ntido-, e deseJado~ como o r~flcxo de uma se: tipo. A. ane de viv•~'.r o mats dcliciosamc;r.tc po.;,siH:I, produz,da por
imanência. imuni1ado~ co:itra a detenvra~o da.: circunstânciii\ e do tem ec;,,e meo, ,i tin,,amv.r lCJUC can!.i:lm o~ trovadt>J n c: seus im irndo1n atra-
po. Não há arte sem voz. o 6écu o ves do OcidemeJ, contmua., cm sua essencia, jogo 1,er',aJ Esse "amor",
IOr de gesta" porla4'0:!,:públiíco,
que- por essa ramo 111~.110 - Jamais prodL11 conh\'.'C1memo, escarda-
hru cerru, dêngo:., r,oi• rompe :om uma tradição de Dngcrr agostbia-
1'I j>(lcma, mc:d11:v;n a:impo;to~ de un~~ ~trolc,, e termmadoa ttn nfr6, ◄ Is T 1
na, incorporada pdo C'lst1am-mo, segundo d qual o a.mor une a in:cli-
73
e~ncia ao que ela sabe. El'lpcriêr.cia da r--'la~·:a, ma.is f cqur:11trn1c111t: díl
pala'Vra obmi-a. o.fine ~ r não tem jamais a garantia de de~al:ro~har
na experiência de um 11tmido.
Por mais Ilustres qu~ sejam a nvs.sos olhos, os trovadores não cons-
.tituc.m ("' ,.,.. T.' ~ !l'IOGJ.G:a, todo . .CU ~
1
-ecit.ador, leitor público carrega uma YOZ que o po~sui mais do que ~le 4
a doJHi.na: à sua própria maneira, ele interpreta o mesmo querer pri-
mordial do padre ou juiz. Seu discurso é mais gc-:-al do q11e o drne~ ul- A PALAVRA FU1VDADORA
1mos; seu S1,m1S, meno5 p,ec:.so. \las a vane<l.ade das palavra.,; que ele
tem por míssão ;:,ronvnciar diante de um gn.po, sua aptídão p.aticular
p3.Ta refletir {exaltando-a) a dive::sidac.e da expenência bunana, para
responder às dunandas soda.is - ;s.sa dutilid3.d~,;; es.sa orupresenca cor.-
ferem à ..·oz do intêrpretc, ern .rua plma ttalidade fisiológic:2., uma apa-
rência de universalidade, ao ponto de às vezes parece:-ern ressoar nela. A vo.; da lgreJQ. Os Dourores. Os Pri.,cipes. Cr>m:ergênriar Jun-
que os abrange e.significa, a ordem do chefe, o se-rnão do padre, o emi- cwncll. O nomadismo do voz.
nam~to do-s \lestres. No caleidoscóIJio do di~cune que ra2oitéq;,:,e-
1~ de poc:lia na praça do mercado, na co.:-re senhorial, no adro d.a. igreja, A idéia do poder rer:.l da palavra, idéia profundamente ancorada
o que se re\·eJa àqucle!i que oe~'l,tam é a unida.d!; d.o mundo.. 0& iluvin na5 mcntabdadi:s de então, gera um quadro moral do uruver-:JO, Todo
tcsprecisam dct_àl pe.r<:epçào para... sobreviver. Apenas ela, pela dádi- dis.urso é ação, física e psiquicamente efetiva. Donde a riqueza das ua-
va de uma paJavr,i estranha, faz seAtido, is-:o e, tornai iDte.rprrnivel o que r.liçõcs orais, contrárias ao que quebra o ritmo da voz yfra. O Verbo se
se vh'e. Ma~ o homem vive taml::ém a Ungnagcm ia qJal de provfan, exnande no mundo, que por seu meio foi criado e ao qual dá i,ida. Na
e é so no diz:er poético q1ae :i lingu,agem se torna verdo.deiramcnrc sigrio p.duTa se origina u podtr do chde e da pulílka, do camponê;!. e da se-
das coisas e, ao mesmo tempo, significa.me dl:!la mesma mente. O artesão que mooeJa um objeto prenuncia as palavras que fe-
É assim que, por sobre !odas as ,;;onrradicõcs e rnptll.rd5 r1a n.per:f- :undam seu ato, VerticaJidade lumrnosa que jorra das trevas interiore!:i,
cie, jamais a vo2 poética pode ser '.'eeebida de maneira n.dicalmen.te- di- fundadas sobre os paganismos arcaicos, ainda marcajas por esses t.ra-
\lCna daquela l.lu p.i.<.lrc, do prínc1'Je, cto mestre. Ela .,e ergue do mesmo ;05 prc-fllllcos, tt. palavra proferida pela Voz c1ia o que ela diz. No en-
iugar, anterior às _;>ala,.-ras pronunciadas, mas ressoando com todos es- tanto, roda. palavra não e só Pala\>·rn. Há a pala,,·ra ordinária, banal
s_es ecos, graças à$ sonoridades que emanam desta boca, deste :osto, es- superfi::alrnemc demons.radora, e a palavra-força; uma palavra fr1con-
candid.as com o ,gtsto desUJ .'.llãc. sístente, \.'er,ául, e uma palavra mais fixada, enriqucc:ida por seu pró-
pric fundo, arquivo sonoro de massas que, em sua imens.a maioria, ig-
noram a escrita e são ainda memalmente inaptas a participar de outros
modos de comunicação que não o verbal, inaptas - por issc me5:no
- 8 ra,::10naJi711r sua. modalídades ele ação.. A palavra-força tem seus
ponadores ;:,rivilegiados: velhos, pregadores, chefes. santos e, de ma-
neira pouco diferente, os poetas; ela tem seus lugares privilegiado;: a
corte, o quano das damas., a praça da cidade. a borda dos poços, a en-
cruruhada da ig-ri:js._
A igreja-edifício. onde se desenrolam a litvrgia e. em geral, a jlre-
gaçio. Mais ainda. porém, a Jgreja-instituiçlo. com .suas hienir ui3S e
s!!-u aparcJho de governo, depo.sitária ( o seio d roclcdade) de um ruri•
ção totaliLJdora. Na ordt'm d~ crença! e do, rito,, e dupla prol!i ~ão
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da memagt!m di,ina, Vtr/lum e Scriptura, impedia que fosse coloca::la de Claip,au" propunb1 a seu correspondente c-0mportar-se como um
e:n questão i1 autoridade do primeiro O catolicismo fazia da ''Erndi- joculal<Jr. ele ouvia, como um "louco de Drus", buo,;car1d<1 s~u proprio
ção" u.ma da~ du:n fonte~ d0 éogma, e e, a noç.ão abra ng1a, com m aviltam<."nto aos afros dos homcn~. 1 Era e pomo ::!e v:su do prelado
es::ri tos pai rísLiccs, uma v:i,to c1 rcu110 de dN:m:c,õe e declara(;'õc ora .s, conse::-,:ador. Quando Frandsc:> de Assis se diúa ••jogra1 de Dew",
• 1.!>tÍlUc1onalizada <rn prática5 pastc,,rai ou conciliare~ Até o .século xu, referia-se a sua tfüponihilicade e i.ua ale~:ia.
o bispo (mais ex :rime:itado, nota Dub)·, do que o rei no manejo da Por vocação erra:ite5 e pregadoras, é.S ordem mendic:aJltes enua-
re:.órica) tein de f11 u u 11011opoli<> da j:Ntla~n vcrid1ca, 1 Em segui.da. um vam no ~,paeo do_og:-al. o. primeiros franciscanos, cor:u. Salunbene,
i.r:i(cio da laicizaçlo i:.c produziu, para provrito, sempre con.testado, do foram tratados como "lustriões' '. De fato, com o Cwitico das crillh.tr{J$
d:sturso pofüko... e ua poesia. M~, na relação dramatizada que cof1- e os l.Ar..di anônimos até Jacopone, os prirneuos f-anciscanos ocupam
fronta com o sagrado o l!omo religicsus, a ,·oz inten.-ém sempre, ao mes- um lugar privilegiado r:a história da poesla italiana mais antiga. Mas,,
mo tempo :omo ;>oder e corno verdade. A ~eu sopro se realizam as for- na inten~ão, .ma palavra poetica não redistingue em n_a:la de sua pala-
rr.as sacrameata.ü e e:,,;orciz3.IJtes sem as quais não haveria salvação. Ea vra pastoral. Procuran o· .igar central em que, pelo verbo, sepossa operar
:1.ão e, então, o:1peoas meto de transmissão de uma doutrina; é, enquan- com o populus t·hrist,arzn um umLi:l.tu fru uo~u; .esLe1uu.u.lla-o a liugu<1
to perdura, fu11dadcra :1c uma fé. Por isso, até a Reforma, e depois de- que empregam, a da "sabia 1gnorânciE.", que modulam..:i.os regisrros do
fa, a maio:fa dosclérig06 nutriu 'l m preccnceito a favor das comunica• cotidiano e do ma'., con:.um. Si:uam-!le, dtrapassanco-a. numa tradi-
y:,es orais. A técnica da exposição das .sumas, como a de Tomás ée ção ede>iàstica q uc remont.ava ao secuJo rx e vüava a pôr ao alcance
Aquino, é a dísp'>l.tatio, a ·•diu:ussão". Por qoe, pergunta Tomás (ma. dos fié[s menos inscruJdos a foTm.a, o tom, o :ontc:L:.Cio das pregações.
quesJio 32, art. 4), Jesus ílào escreveu~ Porque a pata,,•ra permanece ma:s Essa prática rtlo Linha unanirn1da.de: em 1200 ainda. o prior eleito ~e
:;:erto do co:ra;ão e não exige transposição: é saber direto; Pitágoras e Bury Saint Edmunds, na Inglaterra, recusava o encargo, julgando-se in-
Socnite.s já tinham coru:dê:icia disso... A prática da confissão dita auri- capaz àe pregar em laum. 4 ~ verda:ie que se tratava de monges, mas
cu1ar expandiu-se p:-:::1grmivamente a partir do ano 1000, n.o próprio quantos ±stes entendiam o latJ.m? Ilustres p-~adorc:s do ,)éculo ~11. oo-
q1.1adro d.e uma ts!olc.\gia penit~neial cons1ito:da em escritura A insis- mo Jvfaurtce d.e S11llv. pregara.r.i em lingut vulgar para o ;;,ovo; mas a
tência dos tratados de disc:plina mo□ástica no valor do silêncio teste- :naio:-:a das homilia.\ que nos restam é em latim, vá.rias retraduzidas da
rr.onha a um só tempo ,;1, inva;;.ão :los clausros pela palaVTa e a vontade ·.íngua ~·ulgar... bna ::cata.--nente para o use oral! O histor;ador não po-
de purifica-la. Alber:ano da Brescia não escrevia em 1245 um De arti! de deL.~ de ~l'ant.ar-.;c antes a; analogias que es.sa situação oferece com
loquendi e! z"cendi ("Arte de falar e de c.akir")'I a da pnesia r.a lingua vulgar àurame os mesmo. 'iéculm.
Donde uma coIJstantetroca de funções entre clercs e J:)Ortadore.s de Sem dúvida, tal e a razão pe!.a qual só chegou a:ê nós um número
po~-ia. Uma concorrência inconfci.'.>ada parece mesmo ter-'.>e instaura- ínfimo de tennões cio~ fradc!i. rnettdiea.nte>:. Aliá., qualq1.ter que fo~s.t:
do desde o tempo da ev.tngeüza;Ao e :perd·.irara atê o século xrx. Daí a posi;:ào destes a m,IJcilo dos .aterpretes profissionais da poesia 111Jl-
a se,,reridade dos julgarr.mtos ciec::-etados pdo magisterio sobre os mim! gar, es.sc:s últimos lhes dariam o e11en-.plo de técnica-. havia longo lempo
,e sc:urrae de todo o gênero. Nlssa, a Idade Médja ocidental não difere i:xperimentad~, a~ jnicas óe que díspunha a socie-daé.e :;,ara a comuni-
r..ada de oi.:::-m: ctLtura~ •.!lll'asiiticas - o islami,rno e o budl.SIJlo - , com- i.:al;ãu de mas::,a - µrocejin~cntos qu~ supunham pc:-fcito domínio da
portando um corpo clerical, cioso detentor da Palavra da Verdade! Nos- voz, do ge5to, do cenário ,;igrif::anre. introduzem-se 05 sermõe:s por um
sos relatos ·-1agiog:raficos a:.s:r.alam. no emanto. conversões ocorrid~ "Ouçam!·', fórmula conheckla; cita-i.e 1canoool.mdo-a,stm Llú,·ida) \lma
du:ante a audição de um 9iedosu jogral: a de s. Ayben, no imcio de :ançoneta 'O superbr d05 f-adC!-, pregadores jos dom.inicano~J, Hubcr·
se:ulo xu. a co hedtico Pterre Valdo.. por ·,olta de 1~70. A amplifica- ::le Roma'1s, n~ secu.o xm. enumera as 44 siruacbes em c:;ue se pode pro-
cão teatral ca liturgia :aractc-istica do~ seculos \, XI e x11, e~igii.. fre- nunciar -::.rn sermão: 1á~ías delas con,ti-uern laJJ1bem opcrtunidadc~ pri-
q~ememente o re,;u;:io à>S espec.alls1as da poesia e do canto em língua v1Jegtaca,.,; de e,,,.ib1ção Jog,.<l.lesca: nupc121::., as~en:blt1ã1, dtconhu14,, f~1•
,·ulgar. O clérigo do castelo senional era. para 5-eu patrão, La.nto um :-a.s e mercados!" O\ Contes morafüe.i :io fran:::scano anglo-normando
:::apelão quanto um cootade>r.: Por volla de 1140, rcd indo a pedido de Nicole B,:>Zon, por voh1 de 1300, ~ão contos propriamenle dilos, ~cr-
,_..,...,-,;..,..,,. de Ar.ras uma car mões .?QJ>ulal:es ou· ~cs denes" A cultura "nesca e f',~o1ar de
76 ,,
"f7
pois dos d.1ícc1, começos das 0rden no,,as, mpre11t::irâ o d1scu·so pa - si na.m a si própn~ com o nome cssampl~ Para o ou,rmtc, dev1a er
LOral; ma5, lc-nge àe enclausurar-~e 3.1, o pregador contríb d para bem frou~o o hm11e entre CiSCS reimos que
difund;-la jtmto a uma ;iopulação que lhe é estranha e par.i kgra:
tores inteires desta nas trad .,êes orais; papel de mediação que prcen- bém pcrorando na cncrunlhnd:i!
c:iem tamhén. por seu la.do e ordem próprio., as poesia.~ de línl!ua vul- Os heréticos, como por exemplo os cataras, não agiam de m.llra ma-
gar ern todo o Ocidente. Uma convergência iria produzir-~e nc a;,arelho neira, e dispunham de um tesouro de exemplo... em parte o, :nesmos.
jL\ d 7.!·- em rrarcês, em ocatâni:o, cm alemã , çm italianv, rimam-~e A mterpretacão difna A prédica era o mc10 quase untco da dlfusao
~ermões em verso, com um ritmo que frequen tc:ner,te é muito elabora- das heresias. que. :10 ~:.mcial, perrr.aneciam de tracüç.ão oral: >ucediam-
elo e que. a ~o!sos olhes., mais nada ctistingue four.almeme :lo r.:sto da se de modo :ontínuo do ano 1000 à Reforma, cono o ]unge apelo de
poesia Onde t·açar a f.'"Omeira emre tais textos ~ os Laudi franciscanos uma ~·oz que nada ron.segue abafar. Se numerosos trovadores, apos 1220,
ou os ~r'.! de ia "tOrt :-ram:eses do século xm? Supós-se, não sem ve- foram suspeito~ de catarismo. os fatores sócio-históricos tal.et não ex-
rossirmlhança, que as Danças Macabras dos ~éculos x1v e xv :enham pliquem, sozinho~. ess.e fato. A meswa desses poetas-cantores e a apa-
tido o.rigem num sermào \·erSJficado: O pseudo-~ostiniaoo Sermo rente estranheza do que faziam escutar de-.·iant também che1.."ar a here-
contm Jua'ae<.s, !·do em "árias ig.reJas rro ofício das matinas de Natal, sia . .'.'{ão obstante. a ~tr~ia de suas fimbnas mal se disLin,iue do que
tlcsenvoh·eu--sc ate engendrar, r,,o 5écuJo xn, um género dramático par- se denomina,ra., desde Étier.ne Delaruelle, a "religião popular", esse outro
!icular. Jugamente dh-Tugado na França, na Espwha e na lláli2.• o Ordo cristianismo m1:.1umdn rl~sohrev1vê.,ciaç animi~ta~ pou= d i,1into. em
Propltetarom. l'ma ,·ersão cm língua vulgar foi in'.egrada ao Jeu d'Adam, suas fronteiras, da bruxaria, esta também de tradição oral, coexistindo
cido como a mais antiga peça francesa de teatro, mas que, no to<lo. po- não sem oonflita nem influências reciprocas com a,.; doutrinas e as prá-
deria igualmente ser inter-;,rctacl.o como lIIIl sermão dialogado em forma ticas sacerdotais. Ora, ~omente estas últimas - corutítrn.ndo a Igreja
d em imo. O único :nanuscri:o que nos foi conservado contem. 11 fora ,·á- institucionalizada - reivindicavam III autoridade de uma E3-<:tita depo-
rios relatos hagi ográü:os, uma serie de ratos qut mo5tram o mesn<> ca- sitária da palavra d; vin.a. Os ensinamentos e os ritt:ais da • 'religião po-
ráter ambíguo. O que nos surge como um jogo d!" interfe~ncias foi, sem pular" se transo.iriam da boca ao ou~·ido. A 1,-oz se idenúfica"a ao Es-
dúv-ida, percebido pela maioria dos concemporâru:os como a manif-esia- pirita \'lVO, seqüe~trado pe.a escrita. A -.udade se ligava ao poder vocal
ção de uma .in..idac!c profunda das energias humanas.. poJa.."'12.am pela dos que sabiam, IX'I pc. uilva-sc só por seus dbcursus, 11:tafüu do Eva 1-
voz. A v:iolen:a diatribe de Dante, no Canto XXlX do ''Paraíso", trai uma gelho aprend.ido.s de cor, lembranças de h.istórias santas, elementos di<s•
reacãodeintdectual. quenilo admite s.acrifü:·ar-se a "filosofia" ao "pen- ~ociados do Credo e do Decálogo, afogados num co:ijumo mô~il de le::i-
samemo das aparênc:as", o di.51..71.rso divino à exibição. das, de fábulas, de receitas, de relatos hagiográficos. Dai, pode~e pense.",
A ampliaç.so da .ute prediCE.tó:ia a reaprom1a, 11wu ponto p::-eci- a profundidade em que se inscreviam, no psiquismo md.:viduaJ e colet:-
so. da prádca dos oontadores profissionais; o sermão, a ~omilia se rt- vo, os 't'alores próprios e o signi5cado latente dessa Voz; mas ta.mbe:n
cheiam de apó ogo~. os exemplu - técnica não desprovida de antece-- os equí,.·ocos, na superfície e em profundidade, ent7e ela e a vez porta-
dentes, mas que ten:le a _gcno-alizar-se entre 1170 e 1250, mesma época dora de ~ocsia. O aist1anis;no popula: - o qual lsa."Ilt-ert no~a que pro-
em que, na:!> jov~as unhcn:dades. se constituem :JS artes praeéicanai, longava e e:n aJguma medidaperpetu.a,·a um ••pagam~rno popular" da
sisLemati2ando em termos de retórica a eloqüência pastoral. Depois ce Antiguidade - recusava todo unh·ersalismo e, em cor.trapartida. aspi-
1250, por um sécuJ(I, a moda dos exempla faz furor! Paca se::-v~:n de rava a permitir a ca.de. U7Tl, através de diversas meciações, um contato
sermonários, reinem-se compilações extraídas das r.iais diversas for.- particularizado com o divino: um djáJogo feito de pala.,Ta e de ouvjdo.
tes, sobreLudo das tradições narrativas orais, locais ou o:óticas: pos;ui- num lugar e num tempo concretos e familiares. Tudo o que diziam ou
mo~ nada mcno• que :6. do secu cs xrn, xrv e xv, as quais à, ,·eze.s cantavam os. poetas e çeos m·érpretes tend"a mesma a-hi torkidade,
clas~1ficam ua matéria em ordc:m a,fabetica, a fim de tacilitar a ucili- na e-xperiência unk,1 eia a ldi;ão.
zaçao De 'ato constato-se uma interessante corrente de 1mercãmb1m Esses fatores tiveram s:,bre a mentalid d co turnt uma ln-
entre o e:cemp!a e form.is de di,·ert1r.1ento narrat ,·o como os fa1Jl1aux, fluência rão grande que a JgreJa oficial, de d11a manctras, entreabrir
apo ado, talvez. r:,or umo pane, num anti izo folclo:-e. Vários fohLcm le- a inst tuiçào para a.~ manitcsta,;õe <la "rclt .ilo popul1 " pe s fcst 5,
1
78 79
nun ern!i-8~ -e periódicas, às qua.i~ dan, prcte.1<lu )Ua liturgia, e p~lo cuho Oua!> o.1tras esf.:ras da athidade ..ocal - mal di.),sociá.,eis, estas
dos ~anto~. O \inculo qu~ liga II um 11nti.!,!o fum.lu 1.k 1.ullu1 u campo11e'.'i1:t 1.arnbém, do :-eligiNo mantêm com a poesia as mesmas e.treita, rela-
~ tradí-;õts hagm;ra 1ca~. !>Ublmhadas anugamente por Delehayc. ;6 ções, numa corrente de t:-ocas hm.cionais recíprocas e ince~sa.i1~0: o ~n-
corne;a a se afrouxar no fim do século x1i, guando aparecem o.s pri- ~.ao, no semido maili la.'1.0 do termo, e o acrckio do poder segundo a.s
meiros pr(l os de canonização, ub~tituiJldo a " "oz do po,'O" pelo re~al> do direito.
inqi.;::nto e pelo julgamento. Ainda .1-e encormaráo até o séc\llo >.'V as ]dcntifii:ida~ ctlJ cxcdcio eclesial. tan to a Liturgia quanto a prega-
caaodza;;~ espontâneas, impondo às autoridades eclesiásticas cultos ção t,êm. por objeto a transmissão de um saber privileg,iado, inruspensá-
que, a seus olhos, eram suspeitos: como aquele do ''bom Wemer"', o vel ã conservação do pa.cro social e à ITmizaçio i..m.liviuua.l e c.okt.;,.a.
pseu.:lomártir renano do século xml' A mesma ambigüidade na trans- Mas outros saberes, meno.s dignificados, determinam. de fa(o o fnndo-
m.i.;são da lembrallça (história ou lrnda) da personagem s.anta.: se a es- name-nto do grupo humano: aqueles gue, informando os procedimen-
crin:ra é .seu veículo principal, wfreu forte influência das tradiçi'5es orab, tos e o uso das 1&:nfoas, ·egem a. existência coiidiana e a produção fos
pe.raJelas. ou concorremes. Podem-se rontra..<tar e comparar dois anda- bens. Sua tra,smir,;sào, dentro da familia ou da célula artes.anal. é con-
meatos a respeito de ~- Guilhe~rne de Gello:nc; pr,otótipo cio Guillaume fiada à ,roz e ao ~si.O. A mtroduçâo e a difusão d,e um imtrnrnento · ';;;en-
e;:,ico. h!'-J"ói central do ciclo de mesmo nome.9 À época em que, a par- ti fico" (não obstante rcs1.:rvado, por sua função mesma, a uma minoria
tir ée me::;.doc;. do século x;1, numeros,::is relatos ha.aio~ár1cos lati.nos são de clérigos) ,::orno o ábaco foram devidas às descrições que dele fize-
adapudm em líaguas vernáculas, essa ua.mff;!rência (implicando um~ ram, da boca.ao ouvido, aqueles que o tinham ~·isto nas mãos dos oa-
rr,u~□ça de clientela:; faz-se aoom~anha.r de uma transformação narra- temáücos ara·'.les.. no sé:ulo x. 10 leve de acon1ocer o mesma com todas
fo-a ii5 vezes profunda. A "tradução", destinada a ser recitada publica- a~ tecnologias. importadas. pela criscaa.dadc, até o século Xlll. De fato,
mcote, como um sermão, é - sah•o C'{Ceção e até o~ fins do século xiu diverso.s ';trat.adoi." nos for:un pr€':.{>.:11<=11fos, clesde a .~fappae c.lawcula
- c::,:rr:posta em versos, isto é, numa forma que privilegia os ti'.mos da carolíngia, destmado& a pintores e ourives; seu número aumenta depois
]jngu.agem. Todos os ~c:xtos poeticos de lingua romã.nica q ~~ 11os furam do ano de 1300, mas eles con,il:'luam incomuns. Só nos sêculos '0'J 1..·
conse1vados de uma época anterior a 1100 serviram seja à liturgia, stja x \'li virá o tempo em qne o 5entimento de uma oposição entre for:na
à tra.rr..mtissão hagiográfica, às vezes a uma e uuLr&, 1:oinu ai; ·•~.tn;õ~~ pU1'a (a •'.;\J1c", a ªCiêncio") e sujeito (o a.rfüta) e;iisirá. a medisção di-
de santos" arcaicas, !almodiad.as para ou pelos fiéis nos oêkios notur- dática de um livro. Os ,d.J'OS ~extos em língua vl.,l.}g:ar, como o Perir mmé
nos das grandes festas. A Igreja possufa o mo:iopólio da escritura; não de rdojoaria que publiquei antigamen:c ou os livros de cozinha do sé-
é :n.c.:ia espantoso que tenha consignado esses textos, e oão oueos, defi- culo xv, são apenas com_;;iilações de notas prematura,;, lembreces mais
rutivarnem: perdidos para nós. Que seja, mas isso não explica tudo. CuJto ou menos :nutil\1.A~·els sem giosa oral... du mi:::..inu 1Luúu, pu\!1:-~ !)LJ-
e p:ie5-ia permaneciam funcionalmente- unidos .:'.!O nível das pulsões. ;>::-o- por, que a maiorja dos relatos de ,.iagern ou prrcgri.m .cão que as biblio-
fundas. c-.iJmmando na obra dá \'OZ Kão é pela analogia.. e sim por ou- tecas □os con.;en•aram.
ua rna.n6:a., que a \'(.'IZ poética se relaciona com a voz religiosa. Ela o No meio artesa:u.l. o ~osto ou a neccs.sidade do segredo (que mui-
far c::n. v:.r:ude de alguma identidade, parciaJ de fato, mas que por sê-cu- las cuJturas ligam ao conhecimento) pôde tr,war, ,e nao im;,edir com-
loJ foi ser.~ivel e prodJtora de emoção. ~um mtilldo onde relações mu.- plelameme, outra:, mod.alidades de aprendiz.agem afora a pela voz do
to calo::-052.s e muito estreitas ligavam na uoicifude de :-icu destino cs Mestre-. Tal foj a política das gulldas. A alquimia nos oterece o 1110 exem-
borner.s er.t~e si e ::om a natureza. o :ampo de C!'.ien_c;.ãa do relw;il)SO, plo - ilus:nmdo por 01:tra via i.l not::_ de W. Ong segunda a qual. na'i
p:i·J::;) d.is-jmo do mlg1co, era tão amplo quanto a expenência "ivid.i cultura~ em qt1e predomina a oralidade., os conhecimcriLtls mais ab~Lra-
A •·r~lig;ão' · forneci3 à i...,. • rn .... ,; 1 d-.s hC'rn 'f' ~ e, 1h N' e:;, rma a,~ ·.os ou permane,ern a.pen~ poten-ciai5 no cspirit0 ou aprese,ta,1 um ca-
si,•e, :;,e e:,.;~hcação do mundo e de ação s1mbó!k.a sobn: o real. fü:m dt:- ráter im:>Li.CLtD, fech.adc,, simboh:::o, p:·óximo do que l:m:m o m:to e a
,,1:ta., n.a pratica ,.oc1al a p,oc- ia se di.itrnguia h~m puuco da ' ' relig.1ão" p0e~1a, e excluem a• catcgo:wacões racionais. 1 Qualquer q1e t-enha ~i-
ome papel. do sua amigi.udad.e (rda.:io:.iaram-na a magia prirru.liva das ane5 do me-
w) B a!qmn::ia oi :desigirmtla pDI' &cus rui I r Âi,...,.., ·~ ~o oomepiu
n
J
a ar~umentaçib, ::,1 ..cialmcnrt· n:1 5 3rtt"~ do trtvi1\ ·1ã::, cessou de \'iifl3r
,, s ton tes e cr11a.,;, atra,ch da.~ quaa lentamo~ dc-~1frar o q:.ie loi u teono, a !'\Se drn.:ur,o infinito, a idéia Ji: cafJalu (dt uma raiz heora1GJ .:;ue si~-
dissimulam um p1.'lui.:n df'm:Jis o que ela prova,,e mentt t~·e de arnbjguo, nifka "receber", isto ê, "escuta.r") cesllc o soculo xrr delimitou urn ce:n-
tro mcmr. um poder e urna regra; uma palavra, ocuJta som:nLe :io que
indissoci1hd de uma rni.t.ku, do:. problc-mas c:oncre1os proponos por C)•
tinha por primordial e res~rvada a J.m pequeno oúmero de disdpu.los
ta, das hngua fa •d.u às quws se superpunha o latin. 17 De que modo
interprel.8l, a nfo er cotuo Wll cu, da palavra vi\'ad: um bom pedagogo
qualificados: transoitida 5em escritura porçi..e im;rios.~ivel <le formular
de outro modo que não pela boca; jamais fi.uda; pessoalmen:e re:ebi-
em presença de seus es~udantes, o; refràos lirico~ que- se::nciam, em fran-
da, i,jvid.a. retransmitida, ahran,gmdo o conjunto dos 111odos de existir,
c~. por volta dt: 1250, o tratado latino do cis1er.:1ense Géra·d de L1ege,
de pensar e de diz.e:- do~ rn1sticoi; Judeus.
Quinque incitamer.ta ad omarr.di.m Deum ardenur [' 'D!i ;inco mod\'Os
de um amor arcente de Deus' ')?n Em geral, a escolástira apresenta mais O -neio em que se formaram e vivernrn estes últimos con~Liu.na, por-
rigor aparente, pclo menos nas disciplinas estranhe.s .iO trivio: sei.. de- tanto, uma rede estreü.a de relal;Ões q'.le al:mmgia a Euro~a,. do \.ledrce:-
rf-meo ao Danúbio e ao R.ià!no, as:;cpuando a cin;ula.ç.ã.o da ~ iw eu tn:
senvoMmento ,;ai de p:11 com a c:xlcm,ão do mercado do fürro e a co:mi-
comunidades aparer.lemente isolad:1.5. Do lado criHã0. os homens da
t'llçào de bibliotec::..~. E11tretanto, H) no século X'W e.a ;-e faz CH.H,ir, aqui
Igreja e da Escola não os ignoravam, t: d história é d.elll&C'.ad.3 ;,or con-
e ali, advogand:> em favor de uma ciêneta fundada mais na leitura do
ferências, colóquios, enco1t1os, cfis?utas ou iniercâmbios de informa-
que na audição. Alias, foi então ciue apareceram os primeiros indícios
;;õcs ~u~ila<lrn. - a jespelcl) de u;n ar1ti-sem1tismo Jatcn t:e nos simples
de um enfraquecimento vocaJ da poesia ...
Aré essa dara avar.cada, o ensino mediew..1 não paraw1 de re:orrer - pelos pre'ados ou mestres em busca da Hebraica veritas: Rabano l'\fau•
aos métodos que 1. Jousse designava ""erbomotores" e "riL.Dlopeda- ro, Já no século rx; Sigo, aba.de de Salnt•Florent-<le-Saumur, nos mea-
Jóg:icos' ': os mesmos que fundam rnda a »Jrátir.a poétic.a oral. Tai.~ .mé-
todos, nós sal>em05, triunfam. ainda em nossos d.ias, r.as e5rnla.s semí-
' doo do século x.r; Éticnne H.trding, abade de CTteaw:, no sécu.lo X.J•• O
:nm1ruento então se g:m::aliza, por urn si:eulo ao menos, fa.vorccído pelo
progresso urbano. Em Troye.s. as .;Jo~as do rabino Rashi tiveram aurori-
ticas de tipo tradicionaJ, e- pode-.se i)erguntar ,;e, no curso dos sé-cu los
cade; em Pa:is, um bairrn j:lieu formou-se na. CJté ao longo ela ma c;_ue
pós-carolíngios, uoa infh1éncia judaka não se exerceu nos meim cris-
tãos. Subestimou se dema.sü1do o reso que, nas éidadc-scoo comunida- li,g a o Pont-au-Change ao Petit.-Pont, fegmento da ~<Ie est.:-ada de
comércio e de ;:,eregrina;:ào que une ) no:-te ao sul cfo rc:no e da. Euro-
de : udaica, as tradições própnas a es;a pudessem re,.r s.obre cenas práti-
pa. A abadia dt Saint.Vi.:ror, na ourr.a marQem do Sena, nr•a mn- dm,s
cas, suscitando-a}, confir:nando-a.s, rnodeUzaod=>-a5 d~ alguma maneira.
ou três gerd;ôes hebraizantes, em relação :nais on rnen.os cstreiú. c{:im
Pui, o te:,no rabínico, base de ensino e de comr::wérsia., não eum Jjvro:
é ato de palaua rc::Jatadl:I.; tr;;ufo;.iiu f: Voz. Pan~ ir.teJTa-. da Bíblia. co-
os vilinho.s da fie. Hugue., d~ Sainit-Vicror u~ os c:omenuü:ios ,de ~hi.
rno os Salmos, conservaram as marcas formais e as particu.landades se- de Samuel ben Meir, de Joseph !Caro; se-us alunos Ríchard e And:-e frc-
,;rilemam os letrados da jud.:ma; An1he t,avará r:laçôla!S com o ilu.,tre
rnlnrkas de um di~cursD oral. Ora, os Salmos fo.a.rn, dunime s.écuJos
Joseph Be~or Shor, de Orleans, cuja obra marcará a sua. 1" Por tan-
em todo o Ocidente cristão, o livr() no qual os escofares exercit2.van:: a
10.s í.,mais. qualquer que fosse o projeto i11icia.l do.,, sábios crbt.ilo::;, pi:!..::i-
tieitura, a promin;:1a e a me;norização. Por várias ,eze-s r;o decorrer de
sa,.,a uma co.:-rente de :pensamento e- de ser..sibilid.ide que não pccia se-
sca. longa história, o ,im.ta1~mo segum o percursc própr,o .is -eligiões
não afinar rua percepç.fo pel.i ll...itcridade prô;:,riêl à palavr,. .1nuuwiciad.:1.
4uc se dizem "do Livro'': uma Revelacão prim·tiva, en:ana:ido de um
dotutor dm no, prccluz uma. tradiçãc oral no interbr dé: qual se crista-
fü.:im as crenças r!co ·hidas mais tarde numa Escr.rura cujas riGueza
Es,es são. t.ksde o iniciD do sécuJo x11, 0s dérigo5 formaQoi. em
e a.t:1b1güidades e.xi.gero que uma i ri;es~ante glosa corrcbore a mensa-
t... 1mb en • n ,titucional e mcut.i ~uc remaran ~üntar ri.ira ú .mpt:ra-
gem, expllc1tando-a. Os comrnc.anm orai> do mrdrosh, os relaros da aga-
dc,r germânico, fureis da lng)a1crra , os eia França. atém pnn.;;ip~~ rus-
dá formigam ao red.,r da Torá, da qual tornavam Poss1vel a leitura
s"s, a historia das nai;u,::~ tm formaci:í.c> 5ob seus n:inados. ~eu aho era
Codificados nos 1t,·ros lalmi.;i.hco\ 1roliferaram em novas onda de ora-
polnico: pa.rlicipavarn c.Ssím, em proYeito {e, se--m dú,·ida nenlium.i, ~ob
Hrlarl e ra,tsda! wdianas. dl!!Cmil!U:ldo
a 111~t1gaçãc Ide seu amo, da .. omCtúd.1,;-~o de Séll p(,:::cr e da legitima-
g r,es L·uja excensio ::>S eru<.l1'm dc,cobrem ho1e com espanto
ção de suas imc1:i11,as; l " ncrman::.ic:-. da IHtflaterra - não sem r.:1?ão
prco<'.up;,.dos, ap6·; 1066, cm garanti. ma reragtUJ·da e rcorur em torn(I
men·o priliilcgt11 lo da a.rlii.:ai;õo du <lireit,, e do C."<etck.10 da ri der. O
tk ~i populaçõi:~ heterog:ncas - tiveram msso um pap~I inioad,Jr. ºoi t
a.to jur[dii.:o rna1~ r.i::ssual. dc:volução te~arT1tntf1r1a Jcs bel' de um
o~ ELuton:s dessa~ primeiras "hbtó~as nacionais" extra1ram tanto fr po 1
~•czr:s mais) das fontes escrita.~ qua:110 da tradição oial, coligida em ~e11 moribundo - apesar de su w11s1gru o C5Cnla, rclaU\ mente frequente
. - ' . ~
mno. s YCzes por ·ur:iw:ã.-·--.. E '.i'v'-'·"' t..unertte, integravam essa
i undltlric'lUl.l !li o I J:..... 1..,.,...-:a
dcpoi.,; do i;éculr: XJU -
"história o:al" que redescobrimos por 'llólta de 1950' Já meio milênio por escrito pelo no· o, ma autenu da por u:n voz que m:.onhece
:;.s te~term.nh~: rc;~iclamen10 tão sem c4uhooos que suscita :n.i tic~o
111ai~ calo, Beda, em ma história cta Jgtrja an,glc-sa.-xô~ ·ca, :nvocava (des-
Q gênero poéti~o re.st1.m1enw. já con~tittJido dur.ento~ ano~ ar.te) de Vil•
viando o sentido de uma frase de ,. Jerô7imo) uma vera /14.r h,,;torrcp
i luL verdaoerra da h1 ~to:rn ), idem. ficada à fama vuJgi (' ·a voz públi-
k rnj .. lente. ~ouuc: ut\u e• hc,., ;~gor or:g :ial de pe·1ormar11.e ~o-
ca"). it Ê a e.la que recorrem, corn confiança, desde que a escrita não ca!. A vcrdzde do climto é concreta, é pem:b1da sensorialmente. A i::ro-
compareça (o que é freqüente), os cronistas do, duquec da Normandia mulgaçao ele un1ale_, de um edJ.to, é sua prodama;ão Os agentes rég10s,
- de Guillaume de Jumieg:es a \Vace -ou os hi,toriadorec das primei- os arllJ,jfOS, dedicam•se a esseofü:io. Na Is.ãndia, ondeª" le:is por longo
ras cruzadas - de Guibert de No,gent a Guillaurn e de Tyr - , extraindo tempo permaneceram purameate orais, o úniço fundo:iário da socie-
do fenilhante un1..-ers.o relatos suscitado~ aos participantes des~ gran dade, e peTSonaicm imJ)ortante, é o ''declarador de lei·• (liigsogu-
de avenu1ra pela força do choque que e[es sentiram: os tex~os de Ville- medhr).~4 Por toda a parte, a cJlpa ou ainocênc-,a comportam una ma-
hardouin. de Robert de Clari, de PhilJipr,e de Novare msoam oomo uma terialidade. A ~·ü1a. a mão agarram o C1bjeto litig10~0 ou seu sírnb()lo:
recorrente rcivind.icação de aut0ridade. Joim11Je é.inda por volta de 1300 a mz pronuncia-llie o sc.-ntido. Se (como os reis tentam in:por a pa:-tir
de
e Froissan, no limiar cio s~cwo xY, baseiam se ma.i.3 uma v:::z ull l ~
l
d::,s sécuJos xn e, .tohrt'rudo. xm) um proceilO oon:.p<!na e:rillição de
brança que conservam dos discursos outrora escutados. provas esr:riras, é pela leitura ;:,ública que es!as ~,que1ema condenação.
O objeto da crôttica recua a um período que, ao me:smo tempo, é O ritual, um comportamento cod:ficado e norma]i1..ado, atest:"" e obri•
muito a11tigo e desuro'l-ido de referência nos historiadores greco-latinos ga, mais do que c.s textos. Dai, juntos, a eficácia do sistema IlO ::otidia•
e nos livros bíblicas; a tradiçilo oral torna-se a fonte qu~e única a que no da oost::ncia, ~eo (;Máter juridicu cuaslran!!«.Or.. . e s11a falta de ri-
a escritura, com maior ou menor f-eliddade,. dará form.a - como a his- goI. J. Le Gcff cita nada menos do que 9S o::>jetos simbóliçcs que podem,
Iória antiga d.os franco5 ~m On:gúrio de Tours o.ia dos din:illlarques.es _:.>01 ul:a~ião do ~uramento 1,•assalático, significar a homenagem :" o vfn-
no Saxo G-ra.mmaLicus. As ve2:e--.s, e •,erdade, um J)rotesto isolado .!e er- cl.lo que ela cria. Uma reminiscência da jurisprudência romana levava,
gut: - oonfin:nando a co,immo a opinião comum; as~im, po1 volta ce uma vez o acordo concluido, à instituição de um documer.to. Desde a
1200, o autor de uma. tradução ca c..rônica do Jneudo-Turpin (a bem di- al:a Idade Média, os próprios povos. ger:nânicos adquiriram esse hábi-
zer, elogia:).do sua mercadoria aos patrões, o conde o a condesi;a de Saint- to. ~o c-ntanto, aru olhos da maior:a. a ''carta" assim lavrada ficou por
Pol) fu lmma numa fras:e- os que se conteJJtam com a tradição oral, r,uo.r mwto tempo CC'r:no o simpfo.s lcmbre:e alegóri::o de um a.to derivo. ele
ti non senient rien Jors par oir dire (''pois e-le;s não sabem nada senão me.smo criador do direito. Donde as r:anae sine li:red.s .às vc-zrs utiliza-
22
por ouvir dher"). Em con~rapartida. OT<leric Yidal. na Hisrorio ec- das, pedaço~ de persuninh□ não escrito, paros símbolos, tal como o
desiastica, VI, 8, eo.·oca (deplorando que, por força de ce:10~ a:onteci- selo régio q\Je, dispe11~ando outro instruncnto, acredita um embai}a•
mentos, seja essa a nossa úmca fonte de bform.açõe.o;) os ver.erâvei. re- dor e as pab\Tas que este ~ai di.2.er. Em ca~o de contcsta.~ão, o listena
latos dos ,,~lhos que narram aos j rn-e,s em volta os tvemos de sua lone-a exclui das motivações ~da per~pectiva unhersal e, em ,·ez de decidir,
vida, de n:odo a exortâ.-los à virtude!., Vírtude e verdade coincide;,. •tisa ao rrgatcio e au compromi!so. Bernard ct·Angers C\'OCJ. um p:-oces-
~ Anc.iâos, exemplos vivos, são os depositári~ da memória coletiva, so, em tomo do ano 1000, em gue na conf-t:são dos gritos rni.sturad.>:)
Sua palavra a mani~ts~ num estilo fonnular c:-.1jo eco se percebe cm
das partes toi:ia n~aio de ',erdade ~e apagava•.:~ No steulo XII, as coi-
várias crõ71icas.
s.as mudaram pouco2 pouco, scb a ação conjunt.1.dos rei:. e da burgue-
Al~ ~&n dn ~talo xv, e em certos lu!Ja.rcs altm de scculo xvi, a
sia v.rbana. Então se e,,apornrá ao.i poucos a ideia tradk:lonal !le uc
palavra pe:manccrrál se não a fonte úlcim.a, pelo inenos a manifesta-
ser um chefe é dtzer o dtre1to; de que, no pre en1e de umn cunfrontaçlo
r;ã.o mais com,ince:ire da autoridlldc. A esse duµlo drnJo. é o instru-
física, ,,is.ual e auditivameme :e-al. o manifc ·ar ~ a norm , lo (1 o i usro.
86
:-,.;l interior de um grupo '-OCial cbramente id~tificá,el por cadn mmar a íom a :odifi;:ada. ~a realidade, ape-,ar d.. fone 1mprc:.5sàu ~ue
um de eu rncmbros, cs e "dudtocostume:ro" un;,li:ava adc:,.§o comum e,se empreendirr.ento causou no• com!mporáneos, o Domcsday book
a uma rc ra oralmemc transmitida, que emanava da mem6na coletiva pemar:eet.'U qu;ist- letra morta durante dois século~; c:m 12"'9, &tuardo
interionmda e usciurva, com o passado socicl, uma relação ontológi- r recomeçaria o le\'antar.1ento. "7 Por essa data, na França e na Alem~-
ca: o ••oos•ume''. Este provém de dua fonte5 conflumtcs: a antigüida- nha as leis con~uctudiná.rias de vã1i.. ::. rcgjOes tintam sido n.-digida, 0.1
de e a repc-ii,.. o: man.if~- t! na palavra. gcra.lmcule formular, :suficiente iam logo sê--10: o movimento se tinha esl1mulado desde o fim do seculo
para dar fr:. Distinto do que chamaríamos uso. e c->ru:cbidc como ime- )UT e contir:um-ia até e> X'o'UI. Mi:1.5, do Trés anc1e"f1 c:vutumitr de .Vor-
aioTial: d, fa10, ~ão invocados à~ ,cze~ CO!>tun1e:.que s-abemos remontar mandre, ue ll99, e dosAssJSes deJt!rusalem ao Sachsen:;piegel, ao Müh-
tsobre1Udo em se tratando de proprieda:te territorial) apenas a uma ou iltauscr Recht.i_b1.1eli e à:. ..:ornp:Jações Cl>tabeJecidas a pedido de Carlos:
du3..i gerações. A idade a·r.mçada e uma lon;a nem6na habilitam ates- , 11, corno .criam esms redaçõe:, SJdo possíveis sem os dcpoiml.!ntos e.e
temunha ou o juiz a fornecer de viva vo: a proTa. Se ::ecessârio, reque- tc~temuttla.!i :Jepos!táiias d,.;.)ese S<.ber colemo, sem que se tivessem le1'B.·
rem-je n1 ~omunidade êb lembranças de- ca:ta um: é o inqLento ''por do cm conta as ;nodi:laçôes q1.1e sua voz., ~eu gesto conferiam ao discur-
turba". na p~csença de peritos desígnadcs pona-vozes da norma coleti- so? Hecto~ de Chartre~. encar--e6ado de coligir os costumes que regia..'Il
~a. Ao rei, ao :.e:ihor, re,t..lta um poder legal: ma.5 que faz uma .ei senão a i.:xploração Jas ílori:stas narmandas, ali trabalho.1 de 111R a 1405, vi-
"restaurar' ' um costurae em declír..:.o ou esqueci..me:nto? Ao meno, ,erá suou 3.50 paróq tlias, escutou mil testemunhos! A flukkz dos cosrumes
i.nvocaaa como pretexto. Nenhum outro ordenamento tem a autoridade ~ prestava mal à cocificação. A escri1ura petrifica\'a n c1ue- tinha sído
p!en_ária de um costume atestado. presence na pala..r.a que o dir pro- conservado:isrno móvel e vivo. Por isso, pouco a pouco, outro modelo
priedade inahenâvel do peqlleno número de hcm:cns e mulheres q.1e cons- se impôs, num espaço de u.,-ra])C (passados 1100, 1200, l300 mesmo} em
tituem. hic "' nunc, a entidade socia:, num espaço "1:10 alcance da voz '; que toda~ as dinastias principescas, da Inglaterra e de Castela à Polôrua
lemb:-anca (para 3.léro do esmigalha-.iento dos i:rimeiros feudos) de prá- - ou, na Itália, a\ municipaliciadf's u.:-banas -, toma·,am consciên1,;ia
tic-as genr.ãni:as <ia alta Idade Média. gue faz:am da as.;embléia (geral, de seu poder e. nessa mc_,;-na medida, desconfiavam dos costumes lo-
en princípio) do.; homens livres 11 origem de tcêo o dt:eito - o placi- i.:ais: era o modelo do d irt>ito car5ruco (escrito e, ainda e11t pane, de 1ra-
tum ou malii.s dos francos latinizados, o hol,mote wglo-sa,.ôniw, o díçàt> romana}, t~;r,.10.s bibiicos ou p:::.trÍ51icos, decre1os conciliares, bu-
Althing da Islánd1a.l-E las papars, ced'1 ('trganiatdo;; cm colcçôe5 c:omo u Corpus juris e o
Decorn:- disso uma exne:ma civc;rsidadc. de ;>rovm:.ia a província, Decretum de Gra:-iano, oor ,..olta de 114-0, cuja prática tinha estendido
de cidaài: 4 dd,j_dc; mas cambém .una grande íl~ibihdade: o costume a co:npe•hc~ em. ma\éria d vil e crin:inal, \lem a:ém dos llDlttes da Igre-
-naís a:omel:n do que crdena; múk.plo. i~ ,.ezc, ~e coutradi!; ~ maJS ja. De !at.o. a ,er.ra dcscoberw que a Europa, a partir do século xn, fez
ou rrenos notório, donde os aconodame:i·os, :no\,çôe:, camt:.fladas. dos Lzxtos. .:.e direito Tomano e, e1L pane sob es~a mrluência, o reapare-
Quarrlo, dL1ran11;; a alta Idade :-.1::dia, a influ~nda do rr,odelo remano cirnemo de u:na legislação régia escrita marcaram, no limite, a 11.ni,,·er~
levou os Il'.ÍS bárbaIOs a mandar tomar por escri·o os coHurnet de seus ~lidodt d.as rclaçõi;~ :;0;;1ais. E~cr:m, o direito se tornava projetivo, cn-
povos. o 8 ,'Y!.., i~--um de A arico, a) J...eges éos burgúncfios, o codigo de gaja,-a. o 1,•indourJ. O pr.:ço dessa tramformação era pesado, e a-. ·velhas
Eu-ico, a Lex G,mdobada, a Lei Sàlic1, as leis anQ!o-saxõnicas de Etel- -:omunidade., pn:sas aum fe11daltsrno desusado mas ameia "ívo. nàc enL71
!:oerto, em Kcnt, :odos esses ti:;\los dos ,éculos vt e n1 desti:iavarr:-se ape- tão smhora:. de si para a,sumir Lal carga . O movimento era irrcversi-
r:<1s a pre~n·:her uma tunçãc prob.1tór·a Continua~'a.m a tirar sua fo:-ça •,el No ~Lulo "('rr, cm t::>dCI a üddent4.:, nota-5e um recuo geral Jos co,-
da ·.-oz mui10 an111:,a 4ue i.:s rinha rronuncnd0- Os capitdares :-a~oti:1- lllmt·, D,.,,-,r:an1c ai~ e hu:-.fo da, .:wmeira~ mona·quia~ autoritária,
gio.1 rl'.sta11r:1.ram por algum tempo. d! mane ra n uito ,areia!, Lm regi. .o r ndl do ,c:uk. ,,, coi, ~s SH<:l 1u·1d1co, ::oel\.t~tem, n:al di~tmgm:-i-
air: Jt" dm: kl e~LT1[0,''ª , no ecLI.> X, 1) Üwldente mteirr \ ,,,a contor- J1:-!-c porq c1e a~ -nar::a~ orai, tformuh;}mo. lab1!idade-, i.Jc; ')r1meirn -~ib-
me ,eu~ costume,. "'\o firr do ecLII) xi, o Domesday /Jovk. compfü1do s, •em no ~el!urdo, ao passo que e te pouco a pouco impregna aquele.
p)r orc!m de Guilherme. t> Conqui rndor, p reoeu bnr na Inglaterra O segundo deoouc (Jlelo ald 'lev .., do pnncfpfo,
uma época nova: a colação do com, da •._n" ....."-"""' '••~>CA, cnunuac!O!> o.nro~a ;ior Ju)tin1ano: o 1mmc1ro, de uma longa opinião
~ •la!!!" de'\ .. a,~i:gurando :i ('ada 10ll1'lduo o o;cu d re110. fa1..cr predo Ul1ârn•11e- R~~Llta de ronth• >~. mm <_,s qua1, \e in411 e1:;,a já Jacqu-:::.
<lc Re, ign\', que, por \'Olta de 1260-70, er• si nava o direito romwI0 em O prôpr o \11urcc Polo ~·oltou n Veteza No -.~cuto XIII, à época cm que
Orléar.s '\las, apc,;ar d~:,a:, divcrgên;.a-., a aplicação final do direi- e preca am o troço _gora definitivos ela ordem nobth n , os clercs
to se opera mediante uma séne de alo~ vocais, petições, ~emen;fü cncam do de elaborar-í.hc uma definição in tstcrr n ~rra hob1u111a
H set::iclhal~ - np:nenttmmte estranha, m nao or- o lu a~ fixo. aque e e onde se f. lo o, um JO o de prepos1-
rnita - entre a história do direito e a da poesia,, ,amo cm latim quanto <:~es. o roriõnimo que o designa se tornará f')lltrõnimot Des,~ modo, o
nas ·1nguas vulgares. Opo!iições enae uma tradição pro.,.inda, mais ou nobre se distingui-a, per muito tempo ainda, de todos os cutros. No
menos direc amenlc, da estéuca da haixa A nliJZuidade e ruo "inoYa~õ..~" entanto, cada primavera o c.hama par.a rttOmeçar a guen-a, que é u:n:i
CtJJas tomes d1S;:>en.a5 são, as ve1es, muJLo mais pro:u.nda., ou longin- salda - ialve1 mortal - desse lugar; e sua gesta institwdora recita em
quas; tensõe5 er.tre ;,rácica oral e :orma.~ c,crica5, en~'"C hn_çua e:ud:t.;. termos mais de vagueação do que dr: estabilid~de assegurada ... Em tor-
e discurso coticL.ano, produzindo necessidades expreS5ivas novas. num ne de e. vra povo pouco numeroso sr: espalha em lugarejos isolados, que
contexto soda! modificado; deslocamento PTO.IO'C'isivo do centro de gra- s:parair. dc,crtos, florestas, charnecas, pãntanos, n:ontanha~. em bur-
\~dade de todo o sistema lingihstico... e, apro;omau.,.amente, até cro:10- gos mal ligados entre si por péssimas estradas, trilhas sazonais. As al-
lógico - época que osciJa entre 1100 e 12:50, cnm eue-rtores para além dcia.5 .s::: d~l..,.;am, como acamparuen tos, ou então são abar.donadas.
de 1350-1400, anunciando perturbaçõc~ por ,·ir Olllll i:nprC\isível futu- Na AJernanha, ao longo dos século; medievais, de WO:'o a 40"o das al-
ro. Em 1977. um Hvro de R , H. Bloch roh1inh.·wa com vigor esses pa~a.- cki.as, conforme~ rcgi(le.ç, teriar.:1 sido assim, um dia ou ou~ro, aban-
leJismos: conce.11".rando sua análise nos sécu..los x11 e XIII, conduzia-E-, donadas.30 Mas quantos castelos não foram CO'lStruídos, destruídos, re--
de maneira comdn~nt.c. sob;e n 1e1Rn.o do~ cos.tum~ e da id~o!o~. co:mrcidos em outra pane, como cm bmca de um verdadeiro lugar?
Mas uma rclaçã.o ainda muilo mais complexa, enraimda nos famasmas Na estreiteza, enclausuramento. impre,,,.'isão des~es fragm,entos hu-
atávicos que ftrndam a sociedade humana vincula um ao outro es1cs mmizados de espa;o, o amigo e o ininugo, o çodercso, o fraco, o trai-
dois gêneros de discurso, Jurídico e poético, e cada un deles ao dimrr- do~ sã~ seres conbe:idos. cujo ro.sto se oferece a todo o instante ao olhar,
so religioso e profético. Um querer fermenta:: J-:.·1:mw as obras: vontade cuia voz se escuta, ressoa aqui e agora na riquez.a. OJ na pobreza con-
de ultrapassar a contingfooa do viv1d~ de frear a é.ispersão .alcaló:ia. cretas de seus :un,:-es, de s:u alcanc~. Se de al~es 5urgisse, por mila-
das palavras, de transce-nde1 u ,u.'ldcntal libe:ando a histoncídade pro- gre, u:n rosto novo, jamais visto, f.alscariam o terror ou a esperança ir-
pria, sobre a qual se constrói e pela qual se sustentam a autoridade mo- racionais. Aém de• 'nosso ;.ar", no descontedco e estranho. e~tende-se
ral, a co~1~d€uua d.e uma cole~lv:dade e sua capacidade de ação. o círculo imenso de um 1111.i·,erso fragmentado, cujas células isoladas às
veies se reai;roximam. por um dia ou uma estação, guando passa o re-
cebedor de gabela5 ou uma tropa de soldados do rei; cepois elas recaem
Nesse querer da sociedade européia, até o século xvr ao menos, o «'T!l si memias, ao redor do cacctelo senhoria), da casa do intendente ou
que resiste aos costumes e mentalidade~ escriturais é uma espécie de no- da cruz de uma er..crurilhada. 1àl ê, ~ seu enraizamento sociológico,
madismo radical, 1- tórica e ontologicamente vinculaco à pTeeminên- o .i..'liverso d:i. voz, onde nada da a:sttncia coletiva, nem mesmo d.a rea-
cia da voz. A. escri1ura, com suas pompas e su.as obras, cada. vez mais lidade ambiente, pode ser percebido e entendido a menos que passe por
firmemente trata de ancorar-.~c na estabilidade de u.:n mundo que. ar- ela. Ta., é, an sua signific:â:r:cin intim.1, o nomadismo da voz. As cida-
rastado por uma incessante derh-a vocal, dela tanto le esqui"'ª ouanro d~ escapam melh-Jr, e cada vez mai5, a essa truularidade mó'l.'CI. ~las
foge. Gui11aume de Saint-Pathus, po:r volta de HOO, coma nlio a uma pc:rmanec~m rc ativamente raras a:é o século xn, e :):u C{e)cimemo é
das filhas de L.JÍ.5 ->- as santas ações de se~ pai, d.isungJe dois Le:np()~ mais tardio ain:ta; antes do século w, não codificam realmente a pai-
daexistência, qucprôd1Vem para ~ada um o rilnio: a àemeure (residên- :;agem .so:ial e mental, Cllce10 em algumas regiões como flandre ou a
cia, estada] e a ch~Jauchie [cavalgada, jornada]. A. egurlda le,,-a Yanta- rtál:a sententrional. As cicfadcs são filha~ da Escrita. Em torno delas
gem na formas do imaginário: .3 ,.;da é uma viagem, segue-se o it inerá- se recom1ruíram muralha5 antigas ou ergueram-se outra , vcze con-
rio da nima. A mgem, de fato, é lenta; e longo é todo o seu ilinerârfo. ccmricarr.ente. como em Pans, na proporção e.lo crc imcnto da popu-
Desloca se a ~. a passo de animal, ao rb do eh.ão; 11p6) trê5 anos, co- lação. E~s~ paredes, porém, recortam o mundo em " dentro'' e "fo.
mo Marco Polo, acaba-se por chegar 1108 mo:igóis. Mas não i;e pára. ra"; rc1e•tarn o marginai~, e:tcluldo1 por algum rm,po ou ror nnture1a,
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un ri1fo~ cnmo pcrigo~o-, mi crá•..ei, , lu ci10s, mulht-rc a v1éa ou k- viJa. ~ob~;l1stCi ou, por algum temp:,. , ub~:ir .ido ~ vurro. qualquer
prw os, e 011 tro.1 ~ub; ugados mas urcis, n 11n1ido, a uma dis1ánc1u ialu- que ,d.1 A ri~res rinaçfto é cammhada, mas ao m~smo Lt:mpo represen-
lJ1c, cu111u o~ juJcus C' o " lom baroos··. Donde as pcrturbaçõe:. ~ou:.ii- tação mcnti.l, desiocamemo meno~ no e,paço comum do qu: num
que, multiplicando- 1: no meio ur~a., o 3 partir de 1250. eh introJuz1- espaço-tempo t'speofico. simultaneatnc!Ote ptrigoso e sacro, metáfora
ram, pela , olencia, uma nova e lmprt\ 1s11'fJ mstabtlidade. Amda c1.srun, rirualiz.ada da condição de cnarura Si1u11.çAo conL'.'aditória? O comér-
para o pobre, Ih~ dei~ 3 vtda cle;,ois ele um motim ine-.i1avdmcnrc cio de longo curso. vinculado - cau~a : efeito - a o di:..envolvime:i.to
~mag.ado, o que sobra senão fugi,? Toda essa geme, vagabundea:1dc urbano e a sua. formas de sedeotaríedadr. b·a p<>r estradas e rios st:as
ai fora, i um p-oblema para o e tadino. !\'as própnas a!deia~. à medida carav-.mas, suas barcaças. ~ pelo mar sei.:.~ na1nm; e c011hece-se a elllm-
que eies se enrauam, desconfia-se d05 horsains fforasteiros] . Ma, oi;cons- ~Jo dc~~as andanças mercantis. ru, quais r::o século xn• irão al<:ançar,
~more~ dru cidades edificaram-:1as em \Olla :ic u71a praca públic.a, on- através das baldeações e dos intermediáriM árabes, o Extremo Oriente
de todos se reunem, onde ..e encontram como num lugar rmmo os hó,..- e os impérios da Africa. Hugues de Saint-Vktor, no Didascalic/J/1, II,
pcdc:~ de pas~agern, onde cada um se mostrn e discursa, onde circulam 24, fa:z o do,;io (k;scs mercat<Jres que ~ecetro.m nos lugo.res mrusse.:re
as pro~L3.iõ-c, e as; paradas e :.e e."ibem os saltimbancos - sub.ti tuto do tos do unh·erso. aportam cm ccsw d~scoahecidas e vão humanizar com
nomadismo JJTJbiente. seu negocio os povo, selvagens!
Por toda a pane, a mesma ambigüjdade. R. H. Blocb vê na prolife• A~ comoções quedes~ forrn.,.ahv:.m e movem o mundo são mais
r'açã.o d,b genealogia~ 11m rios :..racter~ d:fi;udores da .;;oc;iedade frllll• do qu: u,!l 11 .:i1 ull1a1 wuliIJuu, ~10 wna .n4uictL1dc para t.:om o wti•:'.'r-
cesa nos sécul~ xr-:xrn. O traço nã_, e tmica..11::nte francês, nem exclu- ,so, para con.iigo, para com De J) mesmo. Com o tempo, essa~ agiiações
sivo dessa épo::a: rende a for!.1lecer se a r11rtir do século xv. Nohr:i e: se organir.am em vez de se apazig..:a.~:11. crdçr.am-~e em tendências maio-
burgueses em~..11eram sem ancescrais; e ~eu; laços servem de amarrru ;tera rc,, às ve1es :ontrarias, que não i-ub;istir até nossos séculos "rroder-
&uas l:nh.1gens ameuç~das por qW:1i:, çorrrntes, qu1: u~ <tr:-<1.5taria.., 110;; ' •. Jal é, parece-me, a melhor perspectiva de onde considerar as ~n-
para onde: In,,:enamentc, os ciercs qt.~ conceberam, no século xu, crr ~õc~ que a penistêncla dai; rnmu □ icações ,•ocaís engendra, num meiu
homenagem a uma cavalaria em ,,.ia; úc: ~c:1.kntari1.ar-;e. os rdatos ma- que. a lon~o pia.Lo, Lcn::lc a insta:.:rar uma Jegemonia da escrita. Du;,!o
·av11fwso~ 4uc chamaram "romances" denm-lhes por mowr narrati1'0 nomadismo, simul1aneamer.'.'e ex:emo, voltado paro o.-; espaços a con-
a· ·c1vrnturd", p:tlavra emautJa, vinda ele i:r.1 rarfu;:;pm hi:uro lati:io e quis tar. e imer:10, imrclido p~·ss ameaç:1s d: um ::echamento ·errúdo ;
,.k..,;gnarco qua quer fuga ;,ara e ante, nú !cmpo. ce·ta:-ienre, n~as ar.- ;imulta:11:ame:i'e det:élllinado pela n3.lure:r.d de lnd4 .i história, cssaguer•
ti.:~ no :<i[la,;o tntretamo, por 1,:m conua,cf.:to notâvel, a ma i:ma de, ~a ince.,~ante que os homens ,ravam com e espaço quem cen.:,j, :111,te-
sei- "ro:Tiancts!as .. mostrava-se p~eocupJda em fornece.-· a genealogia r~o~o. impenetrável. hostil, ~ [)Cio ndn que rena.~ce de ,i mesmo, no
de ~eus •·cm,·alei.'"OS andante..s" Paradoxo dessas composi;;ões. exalta.,- imc.-ior dos grupos endausi..·ado~ nel horizop1e esueíto de um terr'.tÓ-
fo as~1r.1. na ant~éspera de nossa moderrudade. formas de: vagueaçào rio cotidiano: risco e ~alvagrn1rd?. , lue.i r crn qt1I" os con tlitos c,(pforlrm
arcaica. nL.m universo fama~magori co, de aparência5 méveio. de impre• e enfraquecem, ma~ em que. ao loq;:::, do .c:opo, matarifilTI - :;1luaçao
·.isfve1s ·,riolencia.• .. mas que consutuem Oi i:ri:neiro., produ!os de u:11a que dl'<:,'l"l:'•1:ra..., a propósit:> dos ter ror~s co ,eculo X'-', R. Much ern-
"escntun". num sentido próximo daque:e q·;e emprestamos a es.;a p:1- '!iled e J. Delumeau, 1 A c::omuniciade hurr.aha se sente frágil; don<le um
la~ra! Rctornarc· a lal equívo:o. e.;forço &e~•.il .. ~ de criar in.stit'llições que seji:.n próprias pn.r(l re'orçá.-la
Da Espanha às planíc;es da \1o,co, ia. os pontos n:.iis fixo., , d O: e cujos resu.cado~ l'.Orreçarr a aparecer, c:mfonne as regiões, nos sécu-
q"at~ r-are:c ancrrada a hur.1an:dade. s~ n . 1,-irrt.·ntE' o; 12:-andcs mo,- los x11, XII e ... : ,·; do;idc a : ur io sid.aJt: 1:, rn rt: w~u 1). it µaixãc pda
teirm de tri da, a, observãncia, Muito, d~il'S ,;fo l u!!a. e, tk ;,eregriaa• e,::riru~a Mas . ao a;:,ego que ~e méiilifesta para com a terra em que na~-
;à.o, de m · 1• 1 LI ma e, ~ 7 e~ ~ .uta e com ;1lex~o dt mo-. ·mento ._c1 1 11c:: a1Js Jc.-tcrr:: 1 s. f,memffie o de~eJ J de ou,ra~ rerr.u,
migratorios ~e.- o~ganiza a , eu 1edor, atraí ndv mult1d&>s dura:1tr sécu- 110, db, ricas, (l;ide a 1ica seria. rnaJ~ fl.11 e acn o~ 1:m :H. Ko lado opo~-
' 01: e, p.;; ra c.~,IR 1n1
11vid110 lanc,-ado a eu& 11.l i!JJ,t ura, o t,,manh o da ví a- to, alua a 1endéncia ao agrupamentc; marlitesta-se politi.:amente ja en-
f!~m, u$ ~IS, O~ do trnJelo, o o fi o a esp:e1tar m tre cs 1mperaiores caruling10~. cuia ideologia de-. ia marcar o~ imi·es
,,._ f. z~ m:i um mod de do f0<.kr ~cle,,ast.co q1.;e a rn•pirar.:. \I.::s tarde ela Wrlil reac1~u,mla
1.nmento~ niun i,11-ui, \:ont1a
p:..la~ dmarnas regias e, mai~ air.cla e c,r uni!lo c•trcir.i lom ,ma uhi- at lc O!, ";:,1ntni.lort•,. I: ttnl qual M %til." u· ai urn ::erce11rnen10
:ie urn nomadismo rn ic '
rn I rel,·hbu-gi.:.cs,asurhma•. ~ r.-ie..,;,açc tb.ocum 1t:m;>:>med1doexts- n vn nbundugeml a relu,fi . ·-·•.. ,o poétic i E co tua o
t ,r ando real e ,roagtil,AJ .
ter"l <l~e então. ctemplme), p·opo.,-01 i uma Europa em noVJmerito dn prépn• 1 n u11 cm, 0 n1 L lu ares p 6xm1cs e
1 se con mu1u no ~e 1105
perpén.o_ 1.Ju:,licação do cxi.s:ir, a qual apa·cce com:. U'll f to tla na- nLJmad mo SOCI q ,e eru ida. mais zbmawnen1e, co-
rnrez.a. . tt nuD-SC: p-rtnop do e rttn<l os.
extensões amdam grande parte florestais fapesar dm d~mata- mo em di"CÇ ao un.1versa1, coru ..J.uca rns nauas ma1er•
- lo -.11 a pa n1o ra 1-"-"'" • • -
ir.rntosl que formam~ Fra:i.ça. o~ r,a Í\fs alei:r.;les e e~ :,:,os, o 1ng)aterra, \la:., a.té meados d o ,c.\l • d "' ade• ~ e~a ~ituaçac,, no
1,o ·a os n-..:'X ,. "
os Bá.lcãs durarão ate os séculos x,·,. ,rn e ;,,\.J!I, -;ukadas por uma po- na~ 'orr.uva-se urucarncnte na 1.: ) cad vez 'J\eno:
• arcoa..-n lfa;samentc
pulaç!c- errante. :i.ào integ•áve néli co::nu.n dade:1 q.1c am1vcssa. 1:mbora mten0r da., ·" •umdadc que P ...a, • mente modalilaed - atê
alterada ~~-ersa '
integrada na ur.agL-m &loba! que fa.z~r.i ::!e si nesmas. Artitices cujos CG· pre~tc1~-se a ..iSO. pe,rdurou - .: J ·"' r·c-.."dores, red.ir)dm no.-.
antaS • 11.1.::.! uC • "
minhos e atalhos consti111em o e,pa:;o profis5:o!\al, cor:k.11:Íro:,, po,eJO~, bem dcpo,~ de Oucenberi- Qu . . ·agueaçoes ce seu herol,
. alan elogiosarner..te aS , "
cesteiros, fe:-reíro~. amoladom., :::uisi:::os ambc.la.,tes, rr. asca'.es, exibidores séculos XT{ ex,, ~sl.11 . .. ,._ Lil na poesia e :ia pai ave~ •
de ursos ou de -eliqui.as, pastores que migram <lu, territórios mediterrã- como Élias Cairei, do Périgord, letra~bº·t ~~ ,·• •,,...rccrreu a maior ~art,e
· par1e de terra ha r ªª" · r tes aoi lugares ~uces~t-
que serq'.l..tl Ia ma1<>r ·
n~; solditdos sem guerra, pobres cavaJei·os serr a_"!lo; e todos~ vaga-
bundos que a miséria, a doença. c:1 ruprura de um vinculo social, o temor da terra habitad.a"). n Eterno retomo do~ erra:omeça. na. perspectiva
. d onde tudo semp~ r.... ·
de illlla vingança e o gosto do àife.renre perseguem ao aca.so: goliardoi, vos de um mundo fm o. f ades tssas a.JldtwÇ~ pc10
clérigos er-rantçs, esc:olaii:-!s 5aooleJa11do dec1dade em cidade, monge5 fu. de mílenarismos jamais completamente su oc João do rei Congo, cw;
· 1do Graal do :;::::este •
gi•ivos, mendigos., bandidos. prosti1uta.s, vide'ltes, curaadciros e (a crer- universo. essa. busca espara . ~e a história de fedl.al"•'>t: c1 ' t::>0-
~ nas l~~s <hfund.idi:ls cm :oda a parte) almas penadas. Ql.ando, ao
1)has do Grande Cã - tudo que imp
longo do l"'é:ulo XII, m.anifes1am-se na Alemann.a, França e Ir.gls.terra tino. e a palavra, ero livro fechado.
os primeiros movimentos anti-semitas, periodicamente as judeu~ :am-
bém são jogados nas estradas do exílio inceno. En 1182, Filipe Augusto
expulsa-os de seu dontinio; em 1196, ele ::is ar.isria; em 1276, 1283, 1291,
1299, obriga-os a se concemrarem nas grandes ::idades; em 1306, Filipe,
o Helo, eq,ulrn-<Js de novo; em 131 S, Luís x os anistiae, a partir de 13 W,
inida uma série de pogroms. tsso só no reino da Fran.;a___ Em ;ne.:.dos
do século XJv, os pnmeiros ci~a11os aparecem nas ilhas ào Mediterrâ-
neo; por volta de 1400, alc8!Jlçam a Hungria; õerca de 14~0. s Ale.mnn.ha;
cerca de 1450, a Espanha No outro octremo da e.scaa social, os nobres
deslocam-se com grande aparell-Rgem, pa·a a sue:ra, o torneio, a festa
ou, universalme:itc, a caça. À medida que o mundo se v.ai aburgJesando
e es::abiliza:rdo. a classe c1obre .i)toduz mais heróis paru todo o seniço,
mata-mouro• o .. desportisras e:ra.::tes, ptrcorrendo de armadura a Eu-
ropa e:n hmca de oportunidadC3 de glória. um H ans ver T..raun ;io sécu-
lo J{[Y, om Jacques de Laiai:ng no século xv. O romanc~ se apocerot1 de
tai~ figuras e criou Jean de Sainté e tl. Quixo~e.
É de.sse rnund(J que a maioria dos int&prete. de J)OC'fila é pona-voz.
É nes~e mundo que vive, compa rtilha:ido a 50:-te e os conflitos. Contra
a onip™ença dna voz sem lugar, urna pane do corpo social se defen-
de. às çegac esc:m entender a joiada. A recusa desdenhosa que os ''ro-
mancistas'' da primeira geração, como Chrét1an de Troyes, opõem à
L
tualidade 1cr11 os seus, a.s;un corno as ruental idades e$critu~aís. 'l~hum
üncroninno ..,incula rigorosimcnlc es!iaS p~ogressões ,tmpn: se perce-
·,e uma di,;crepância temporal, mais ou mmo~ ~emh:::l çonforrn~ as zo-
n.as sociais observadas.
,confina.do até cerca do ano 1000 a aJsuns rnos:eirv~ :: cori.e-& ré-
g.ia.s,Õlisõ da es:ntm--:1 se c:'1.--pandiu cem extrema lrntid_ão nas classes
5 ãiiigentes ê.os jovensc~!ados europeus. O magistral livro de M. Clanchy
prcvoi;-u, no que diz respeito à Inglaterra dos i.éculos XII e xm. Duran-
A ESCRITURA t:: esse -período, a proliferação dos documentos administrat1...-os aÍllda
não muda natii:I de es;cncfal nos ~.:>1Drm1am.entm. B. Stock esboça a
mesma b.ístária e levanta as 1D1ph:a~. no conjunto do Ociden:e, muito
especialmen:e na Fran.;.:i., m~is\.e., como }vi. Scholz, ::i.o elo que liga a e~-
crirnra ao de,envohimentc do comercio, à intemificação das comuni-
cações e à personiíicaç.ão do direito, tr;;.yos maiore~ dos. s&ulos que se
Forrws e récnrc-Js. Os escribrrs. A.fa11.eira.; de lrtr. A voz na esr:rita.
=:~tendem enlre 1050 e 1350- ~o entanto (Clanchy -aíh•erteJ, o que deve
ter favorecido a difusão é;. ::scritura e a re!açau t~trcita que ela. manti-
_Tudo o q.!J.e tive em co:i.1Z D.06 capítd.os p:ecedentes 11ã.o im::>ooe que
nl-:a com a voz.: 1 1>aracima.Jle -'alo. ca medida cm qae a e5crita servia
e:.:_: f,uadc: Média" fosse -:- t.a~bém - .Jma idad~ da e.~crilu~., Donde
para fxar~ensagens inicialrnerte orais; :onmcfo, mais 1.i.di.:almcn-
um ':lrOb,ema que o med1evahsta não pode eludir. D-ranle: longo tem-
po, Cha:')101 foi o unice a tê-lo explidt.imeme rn,o:ado; a p<irtir de 1979,
tc. eara baixe,. ror,:iuc o modo de codlficaç-ào das grafia-; medievais fa-
z1:1. desta'- uma base :ie oraHzação.JPor ÍSS'O, a impre~na.Çao das sem,j1Ji-
en compemação. váric,;; autoTcS o recomaram e aprofundaram sem d.'1-
dos: a saber, M. Clén:hy, f Bãuml, B. Sto:::k. Aqw, só o tangencio;:.;ipe- lidad~s e dos costumes ?~Jo,; va:01es QUe a manuscritura engendra nào
a.a~ um de seus aspecta-. me :ar.cerne: h.averà cm _poesia. de a1guma ma-
começou m::srno a mostrar ~eu~ efdios antes do sêculo x,·, mais cedo
11cua, uma contrac1ção ent:-~ o uso ctã e:sui1ura t: a~ 1uáJit:a:. vocaís ! m.1.m luga:::, mah ,.,.rdc em outro; e a satu~ação esc:::i:u.ral, ~act::rístíca
Desde ;,.,.1cLuhan - e apesar de a$ incuiçôe; desse autor terem sidc da cultu::-a "moderna'', se pradmin1. bem mais La:.rde a:nda. Ali modifi-
r~n muitoi pontos ullrapa~ado.s ou comgjdas -, sabemos dd ~.JmJJle• cações pi8fcíais que assim pwsrcs~iva.-nente se opernm. no plano antro•
x1dade da relação qoe opõe a escritura â voz. A partir do filial dos aam pológ1co e ;oc1al, acarretaram :nenm uma mudança de estado do que
60, os u:abalhos de W. Ong e de etnólogos como J. Gooày madz.i.t.rdll~ a crescente de uma situação, em ~umill, idênüca a 6i mesma_ Os costu-
Jrogress1VlU!lcnte as les;:s e afinara:r1 o voc.obuláric préprio p:ua exprimi- mes que <Litavam os modos de "'ida davam ao corpo huma:10:; a suas
as. Subsim uma proposi~ão furdamental, diversamente moculad...: a e;xigênci~ um lugar J.ernasiado ew.lnenle pan1 que não fossem geradas
rustóna ::la~ mentalidades e dos :nodo~ il.ü raciodnio (de faw, qua~:: tu- rcsi,;tênci:H, dma.nte m11j·.o tempo imuperáveis. O Tristão do rorr_ance
do ô que designa nosso term::> cultura) é determinada pda ev,oluçio dos de Go1trried von Strassbwg emi., em seu :empo, · 'ua onda'' e faz O$
meios dt comunicação. J\'.~m disso, é necessário não defini~ de moe.o estudos que (-egm1do o autor) c:Dnvêin a rna condi;ão, mas o te;,,:to não
demasiado brutal e disthg1Jir da rccnica seu uso. ti. 1mprr:nsa, que a China dissimula (vv. 2062-95·1 (llle es;;a e 1111".a :".Xperiência demasiado rll(!.t ~,a-
passuia vá~iCJ, ,é~ulos ~nlC'i do Oc,dentc, nl.o rna~c:m de igua mooJ :a prod·Jz:.r o a.111.or aos livm, ou ,ara moldar um temperamento. 1nú-
a ,e lha ~cc1cdade n:pena e a nossa, e certa.mente~ deiro~ · ntele:ruais me1c& clcrigos. rn!!';en: Ga.rn.ier je Pon~-Saime-~a.icr::n.ce enl seu poema
quf alri"l'T' a e,,a invmi;ào no tê'll \ü.lO excli.;si"o~ - dcpendendn :,oo~ TI,om.u Becktt, não coni;egurra.,: nruo; habituar-~e a ler ou a cantar
i:-mem, menos da imprensa como tal do que d,, carát!r alfabétiw d~
no•~as Eraf10~. Na penpectiva ht t6nca. a relaçãc, enlre mroi:m, '.: atl•
1 bern. 2 ~ada nisso muda reamiente antes da \'oga do hurnarusmo, pl)r
vol•.a de J4!0; ta.uL·;J.!i :.é;lllos não 1e:nam ,;ido sufü:1en:.e5 para a socied.a-
tudc de e)pirito não é uni\·oca. Lnfim, a c-srnt n o ~ confunde , em .de eu.:c,péia interiorizar verdadeiramente: seu conhecimento e )ua práti-
l orn a í1L.:11ç~1,.1 nem me,-mc., r;,-,-,m rld.l ca da esc;::ura.
1ex10. Ela Lern sua 1.stJria, ;;eu ri"m::i p1 opnode i..le)cn,·olvunento. a to-
97
Uma série de nutaç,')e, lemas ~e produziu, de fato, il(l lon~~, do tem- a a•1V11fade t\C'nUJral corrente assegur v m 1unda ,a, oc,edades euro-
po. mmdl'.",• it.la~ .im de, lizamento'i <loque à, r 1p,mn~. Convém cons1- péias, o pnn ado da cscrnura Só no deco~rc, do sw.ilo XIII é que "e
d1!1 à-la~ menos como 1:m do Que relativamente a um lonilnquo :101110 m1" .B .
de fuga. pós-mcdie'\·al, que as põe em per<;pectiva. Recuo de um va .to
espaço memorial em provc:i~o d o !\:quivo; c.xterior·z.ação dac; relaçlit~ gem li.:.> que sai da:; ofJCma'lo do:. copistas. :.a ruamcnte uhrar-a.,,sa um
sociais; tmergcnc1a de uma noção e);plíd ta da his~oria; gr,,1maticaliza- número :nuitJ pequeno de exemplares Quand::> u.11 texto no... foi pre-
ção d~ inf 1,i 'ul!;1T e "m,:,. ,·nn, 1uêncü1. cfüso:::ia..;âo entre wn :ódi- ervado por numeroso, ma:u:.~ ..ruc :1 pen de t c.1.c.P , , pa1.1 '- Rc,mur1
go qral e_o coctigo e.s_cnto; dlsuncão, pouco a pú c...t) aumirida. emre um ãê la Rose), são ce data e origem dt\·er..,a~ e testemunham a i:eni~tencia
modeJo lingüistico interno e a capacidade de utiliza lo, entre l /angue mab ui;: t1m<1 1r11t.lii;ão tio qm: de uma dlfur;ão 1:-nc:diata e honzomal. Da
e a parole-. M~ as linhas de evolução assim desenl:ada5 só começam maioria do~ textos poéticos em Jingua vJ[gar um poucc antigo~, só pos-
a :om·ergi:- antes da época (na virada dos s6cobs xrv e xv) e111 qUt: apa- su1mo.s cópias muito postenores a data prová.,:;! - JU pro•·ada - de
receu na Europa a primeira pintura de cavaktc, anunciar1do a imioente sua co.mposi~o; da poesiaq::ica e "lírica'·. temo~ p;ir..cipalrnente as ar:•
;m:<lum.n9.m;:a, neste universo, do scmido da visia e da percepção do to logias ou compilações const11uidas para apreciadore~ no frn :lo séct.-
csp;aço! lo x II ou nos s,:culos XP.' e x•.-.
Essa~ I.Jnhas auaves.!>aru o ca.rnpo <la poc,ia: de maJ1e.ira comras- 1amoém o sentido do ,ermo escritura não é urJforme. podendü
tanre e complexa, aluam ~obre a intenção e a composição do discurse> referir-se a tc,nicas, atitudes e coadutas diversas, confome ou_em_p~
q ut· a _poma comanda e (em menor medida, la!vez) sobre"-' modalida- i:.,
us l1.1gares e os contextos f'-·e□!uais. J)aquilo qm: designamos e pratica-
des p.siquicas de sua recepção. Assim, o que ,;;e t'ncon-rn pro·undamen- mos como escritura (com a intenção ou a pres~uT)osic.1i.o de I.IlllJ passa-
tc posto em questão é a relação tripJke estabelecida a partir e a propó- gem para o imp:esso) à mfmus.criwra medieval, a distância - em ter-
sito do ~ex.to - entre este e seu a11tor, seu intérprete e aq"Ueies que o 'TlOS de aJltropologia cultural - é provavelmente târi grande quanto entre
recebem. Conformé" os lugares, as épocas, as _pe.ssoas implicadas, o te:x- TT: a.nus:;-crilo e oralidade primaria. Mcluhan já notava a d.ifere,ça ''abis-
10 d!l2_enck às vezes de uma oralidade que funciona em zona de eséritu- ~d" que: distingue o "homem escrevente'' .:f[) .. hnmerr ripográf co": a~
ra, à~ ~-czes {e foi esta sem duvida a regra nos sécuJos XJJ e xm) dt urna "cul!urasde rr.anuscrito", ensmava ele, pe:manecern globaJmeme táúJ-
c~critura @e funciona ent o.tfilldade. ora1~, e .a escrita f'Yerce aí muito menos efeitc do que ern nosso mundo.
Os dados quantitativo~ são e)oqüenres.. Até cerca de 1200, urr.a de- ldéia retomada por \V. Ong, que situa o manuscrito na continuidade
zena de volumes bastava a um erndito para fazer r:.arreira 1itil: coleção do oral, só imenifldo a ruptura - progressivamente - com :1 impren-
facilmente transportável, modmcada ou acrescida ao rongo dos anos ~ Entre a mensagem a transmitir e seu rec.eplor, a produção :io ma-
:por intercrunbio, cópia, rara.mente compra. A exCremacarestía da escri- c.uscnto introd-:tr(tanto na trar.scrição do Le,to 1:v,uo t.<l quau1õ:i'a ope-
ta restringia-Ih e-, de fato, a utilidade. O si ~tem a das peciae, caderno~ que ração psicofi.siolôgica d o escriba) filtros q-ue a irnprensa em principio
divlllga•1am um textO por pedaços, inventado nas CS<:ola.s do sécu.lo J<.J.U c:bmlnará, mas qoe, em contrapartida, são estreitaJlente aná..ogos aos
twt, jamais saiu de lá. As, b:bliotec.as co111inuavam numa pobrez.:i surpreen- G,I:dos que parasitam a comllilicação oral
dente. Pm voLta de IORO, o de Toul, r(nOmada, conta'l! com 270 .-olu• Apc::sar d,~ aperfeiçoamentos que lhe forarr. trazidos no nrso do
me,; a de Micbelsberg, em 1120, pmsuía 242, com um livro ára:oe e doo tempo, a técnica da escritura ê difícil de dominar e exige rara compe-
livros gregos de matemática; a de Corbie. po1 volta Lle 1:200, ~n:"la 342; tência. Sufs d·vers:as fases sã.o assumidas p~lo mesmo homem: compo-
a de Durham. uma das maiores da Europa, à mfsma êpoca. 546; a da sição ~ tinta, dimensão do cáJamo ou eh pena e, às ve2es, preparação
Sorbonne, por volta de 12~0. mil. Essas cifras cresceram. conti_nuan:en- do suporte antes de traçar os caracteres. O ma.teria! dá trabalho, :>u por
te até o século X\'1, mas permaneceram, relativamente, na mesma or- sua fragílidade (cc,mo a pen.a) ou porque exigt um lonao tratamento r..:.
dem: por ,·otta de 1300 1 em Lanterbury, a da C.:h nsr C hurch possula trc- vio (coe.o O..Jl:.Crpminho). ~ Dois sistemas gráfico~ e oom u:u1m, um
' zen1osmiü'rne"i""Em sua mui bela biblioteca, o rei Charles v chegou a herdado de Roma (o alfab.eto e certos procedimento abreviativo ), o
reunir mil; os duques da Borgonha, novecento8.' ;'{a momento em que outro devido a incv..1.ções frequentemente prclprias a esta ou àquela oíl-
comt:',"tl a tlilusdo tla imprensa, nem o número de livros di~poní~is nem cina; ab,eviaç~es por ele.,,ação ou rebahamenro rl, sllabH; inmxl.ução
911 99
de ~1g110, rneno •ráfI os ~ d::~, mbolo~ - s1stemn fadado a 't"' •ra11de te a -,;á11ca d- t "i"ura .o u:iua,a, ap.sar de ;ilgumas 1110•.ações Lco-
dL·~emnh imenio entre o,; ~éeulo x 11 e:,.;•,, em co1°st"QuénC1<i rn,,n J, , "e u u J) r-1 ' (' •· -~cra\.a de s!.la 1ec n~ioaJ. e d.e! -.,·u "li ti:.mr:; mi
cre,cunento dl' numrro de- e~crito~. 1 E,::r~\·er é um oficio .arJuo, ar- )
so debJmeme ~ap..t7 dt iníluenciar de manejra dire:a o -:o;uporran.emo
~all'-C\ CUJO e:xcrcicrn ,.omti1ui um .ar1e,:u1aro organi1ado do.!> mo~ce- 0.1 o p,:nsamento do, poetas, e nfluenciav-à menos amda a expectati,·a
l+
rõréarolmg10 ao:. "Ih rt1ros'' urliano~ di:, sernlo \:f\, o camrnho foi do m.:. piíblico.
longo, mas ._ m ,. irai.las bruscas. Qua.. m a lrngua ~ ulgar, h.:\iÍa pouco rtnha-.~~91/ílo de :iif1.::11J.ladt~
Inscrever um texto, qualquer que <.eja. comp:irta duas operações: de outra orde:-n: como anotar os sons proprio~ ás Unguas mcdJ:11ab com
reco lhê-lo sobre tabuinhas de cera (as i.e.zes resu1Tido, quando não er.i um ~lfabt'm r:riRdn, mai, dP. ·1m milênio anles, exdusi,rameate ;iara o
noras rrroniancs, taquigrafia de origem antiga); em segu:da, pas~á-lo lat;m arctico7 Coi ocou-se a quci tão - em vão - d:sde a época mero-
a Limpo ~obr: e, pergaminno. De ,,ar5os leuados do século x:i, corr:o os ,ingia. AE línguas românicas sus~~avam relati,'3mente poucos proble-
teólogos de Citeaux ou Ped:ro, o \'enerá\·el. sabemo.; que compLmham mas, porque a pronúncia do iatim erudi~ e escolar evoluira baseante:
de memóna ;;uas obras e as ditaH1.m a um ~ei.;re~áriu, o qual as ancta..,.·a ficaram Ih. res para a.~ bricolagens, como a combinação do e e do li a
com um esti/0 sobre as tabuinhas; em seguida, o autor retomava e cor- fim :Je obter em frances um fonema desconhecido do larb. 1'0 oul.:'o
rigia esse rasrnnho. Taml:lém ocorria fazer sozLnho o primtlio trabalho extremo i..:u doruin.io h ...uu,111.c, u :?Olonês deu provas de e.s:upenda in-
e inscrever diretamente, pronunciando-o em voz alta, o tex~o sob~c as ven:;,idade :i.ess.a matéria'. .'\s lfaguas gcrmánicd!! :ntroduzinun alguns
tabuinhas. Â mesma época, é pro,•aveJ gue os esc:itores de línpa vuJ- si11ajs no,,.os, o w ou o L/rom.",I:sse tndlspensável 1raballlo de adapra-
gar, como por e1;emplo nossos 1>rimeiros romancista~, tenhaa usado es~es çãc da grafia não acabou ar~es que foss~ fixados, se nãÕÕssi.stemas
procedimenrns. L"ma p~ntura do chansorinier N (da Pierpo:i.t L1b~an,. crtográ.ficos modernos, pelo me:ios um fei:xe de trad;çõe.s escnt11rai.s mm
em >l'ova York), executada em meadrn; do seculo x1v, repmenta um 1ro- ct: mer.os estáveis: entre o século Xlll e o xv. Até emào, a amplir_ude
~•ador anotando (com ev:i<leme dificuldadel sua canção sob~ urna bn- <las 'l'Uiaçõe:. guc ...e co:1,tata entre os costumes gráficos lo:a:s (e às ve-
ga folha solta.6 Tais proceclimentos, aliás. explicam a extrema raridac:.:,: ze~ individuas) atesta q1,;:: as Unguas ,;u]ga:'c:- não tinham aind2. assimi•
dos manuscritos autógrafos: nenhum err. latim antes do sé;i...Jo XI, nem J.ado r,lem1mente as práticas da escrita. ~o Ocideme mecüeva1, aré cerca
em francês antes de meados do século xn.''O vocabulário que desig- do século x1, uma sõ so:::ied,H.k c.,;capa a esse t:po ::le digloss1a: o mon-
na a operaçãs> do escrever pcové:m, em ,,ernácrrtb, c.iretamen;e do lal:m, do e~candiaavo, com suas mnas, bem adaptadas à :onctica germâni::a,
o que parece mesmo implicar a iMnüdade dos métodos: dirrare. ditti- ;;:·.ijo e,c~p]o mais antigc remonta ao 5éculo u de nossa era . .PosSU1ntos
tare (até mesmo legere) de um lado, smbere de outro lado. D1ctare ,efe- mais de 3 mil in.s.crições :1.llLCas. Destinadiis principalmente a gravura
re-se ao que se percebe como a o~igem do teirui; da' o subsuntivo dicta- sob:-e rocha. as rm:.as servem para traçar sejam tít;,ilos cornemc-rativos.
men, designando a arte da composição; dai a metáfora do Deus Dictii-lO', sejam flOemas, De fato, só dessa maneira nos chegou sob forma Jitt.-ral
enunciador de sua Criação; daí o francês dictier, remetendo à obra ;:ml'- i:i poe.c,i.q nnr(1i-:;i mai~ antiga. F.nrn1.11eceu-sc dt• COm.lUl~'Õcs dos ,..~lore,
tica acabada. e o alemão Dichtung, "poesia". Scrfbere exi~e um esfor- m:l.gi:;os que, alias, eram ligados às runas; conotacões que se referiam
ço muscular cc,nside1ávcl: dos. dedos. do punho, da vista da;; ,ostas; ao poder da vo2 que pronu:i.da a fórmula in:.;;rit.a. Por csS,a ra~o mes-
o corpo imeiro participa, ate a Lmgua. pois tudo i:arece pronLnciar-se. mo, a l.;re:a, UT1a vez impla..1Lada no norte da EltTopa, impõs o alfabe-
:-Jo im·erno, u frio imobiliza 05 dedos. ::: pode-se 1c:rncr o con~elam':.:to L:l ltuin::?. No :;mamo, a.,
~unas ique .t ~sse tempo tinham penetrado na
ela tinta. Oroeiic Vital prefere espera1 a pnma,.,era para re:opia, as La- Inglaterra diTiamarqu~!>a.) r.ào saíran rapidameme de uso: são empre-
omnhas ª"ressadameme rahi,:::ada~ em •Jr:o:::m':;,rn.~ F.'>c1evcr e>(.igc: infi- gad:1s r.:ie.;mo cm □anus::itos ou :.ibi:i.n 'tal- enceradas, ,cm conc0··ê11-
nita paciên::ia o trabalho de cópia ~e e,!e:ide por meses. por ur.i, de., cia COlT a e~c-itura la ina: crr. Bergen. air..da, em 1200: na DiKJ11arca.
anos. Depois dl' ter :raçado a ulama I nha, multas ..,eze~ o e~ .. nb1 da JQ.lí L dJ,, ,={t 11 .~1..\..clJC X1~.
larga~ a seu alívio e sua alecna compara-,e- ao rr:arinhe1ro que eDlirn _:'àü o: sufc:icnk p1:1.rn o escriba ~aber desenhar letras. e ab:-e,."a;ões,
volta ao porto; ou então exige \'1nho, urna Jovem \ irgem, até ume ''gor coir.petenta gráfica basi-:a. :le tàcil acesso: mai:. de uma famDsa pw.o-
da:Puta"' ,,aucnbach amigamente., col u I confidwci 5 ,cre\
rabi,cadas n;1s rnargens. 9 At:-ida pi..,r vo ta de 1400, m iodo o Oc1:kn-
n:igem, capaz de a,sinar ,eu nome, nao ter a poddo e~creve· o doeu 110, uma equtpe C" ri,-111 ~•I
memo. ,\li:b, para quê? O es··rlba pos... u, e ~ - proteger.do-a momeuo, como ecep1
l.0mo segredo de tabric. çào- uma compe~êo:ia tex111:il.u.:ai- •~ , l.CS·COl'.IS;f.lcr•Vd; do i.U
fundada no conhecimento das formulas eficazes, das ~gras discursiva , dmi e- e que apronu ClllflO da umma theo-
do ;nancjo das figuras, ife tudo o que com•itui, :10 sentido p:ime1ro1. lo,:it:a de Tomas t.le Aqumo tlu'Uu 1r~ anos. (Jue dizer do Ro•11,M ele
o estilo. Desde o fim da Antigüidade, esse pmiiegio:.~ man tC'\·e em meios la Ru,\e? Por es~e meio, o :opl',ta "domma" sua materia: e, de fato. ~cu
ii.=c~do~, abni;,,;ando O• recursos nece-::-Jirios e sarantmdo Q seguran.,a lllt:!>tre, e: talH•z. confo:mc a opm1ão rnai• :::omum, o ..eJa tlr 1..hn:1Lo, ca-
do trabalho: a chancela"ia pomiticia, que escava ecpoleirada ~<'bre as ,o se pense na fü: 1de7 da mai:1ria de nossas 1radiçe1e5 manus-.."Titas. i~
última!> Lradi..;ões romana,;, e cujr1 influêr1c.:ia tnar:;oJ mais ou :-nenos to- reprodução do,; cexlo.\. aucor-.m latinos tes~e:ntrnha, a~ui e ali, u:1:a p:eo-
das as prâticas locais.; as chan..:elarias dos :ei:-os babaros; e'D. sti uida, cupaçào de auten:icidade: a an:lta çào do~ Lc:,.tos de ,?Oes1a em .ingua
êl<Jllé"l:ic; q ut st! recons1i1uirarn após 1050 oc ~cdor do imperado· g,ermâ- vul_gar. qua;;e -unca. O copma •e outorga - e a i)rat:ca lhe cor.cede
:1.ko, dos !CÍS ingleses e fran~es, nos piincipaaos i taJ.anos. prmença.is, Jma Liberdade a.s vcn:. e,,1 ema~ a .rad1~ào '.Danm:rica du 11!exi.1 lr..rn-
borgonhe=,,es, herdeiros das pràlicas carolíngias; na Eipaaha; chancela- â~, aqLda cambe:n de um poema 1ão con!-.iderá·,el qLtnto o Lihru ª"'
rias de bispados, de prefelll1ras a partir dos sécuJ05 x .. x·r e xm; :r;cnp- huen amor, demole as formas e talvez o scnt1co ja obra. O t:opi.st.1 ma1~
toria dos grandes rnosteirm t t.ltpois, após 1100, das e~colas urb:nas; di~creto con:inua .. intérp·ere", ~.:n todos os aspectm dt:.;~c te'lllo, ir-
mais adiante, as oficinas de copí~ras do ~eculo xm, os ~tores aos sé- du.si,·t: glosado;. A propria icéi.. de côpia parece 0nuiro nrnd,..nw i-,-
~uh'r.,1 xw xv •., sen:;ialmtnte, o ma:iu~Lrito : recriaião. e º..!"tudo f]oJógu:u q.K'. Jdt
Por isso (e ape~J.~ do de-.prezo que -nuic:h nobres demcmtrarr pe- fatcmos nos lev a rnili dl.'. urna ·.e, r1 r.ond uir <JLE tal ..:69-1a" !! r.le 4uali-
lus t, ornem da eScrltura), escribas e copistas ex.il:arn sua obct, augwca dade superior ao arqueupo (n gu 5Ó a n6~ parece paradoxal l. "-<essa
e merecedora. Fornecem uma ime~pretação sumúlica: a pena fcncida pcrspec!i~·a. o ex:1rne tlo gênero francês do;fab!iawr. mor ifc.stou 1n c.nu-
rep:resenta os dois Tc:d$merno~. os doi.,; cedos que a segu:-am, é Trrnda- logia~. numero~.as e não fortu ras ene e sua r.i,tóna e uma cradidio oral
de... Ou emão o pergaminho é um campo que se semeia: o ma.s an:ign Certamente, todos -05 copistas deram rainbém provas do qu~ ij 11~~u,
texto iiaJíano conhecrdo, o "Enigma de Vero;a• •, po· volta do anc SOO, olhos. é desplantt Bernan Amoros, ele~ de Sairu-Flocr, cof"'lpila11co
é i1ma probario pennr:z.e que desenvolve e~se tc.-n a.:.s_cm_dJ.bdoa o mor,i- por -.alta de 1300 unia antolcigia. de cau(üe- ue llUVd.Jorc.-s, t-xplica lon-
men10 da próp~ia djgnidade k\'a os COIJistas a assir.ar os manuscLtos gamente Em <.e-;:i prólogo m "Jrir.cípios que o l::-1aram a emendar ~er:m
que terminam: como W 1llermus Pescator. do .5aiptorwm de- Ftc.,mp, rc;,.to~ para adcqua-lm au ··uom t..:!io... 1" 1hua-se menos <.k rc~ pd.o .10
no scculo XII, ou o Guiot que teve uma loja er, Prnvins, no ·meio do original ::io que de nomialzacã<~.. \e não mod~tn ,:açãc!
século x111, e copiava os IO"ílances de Ch rf'lit>n de Troy~. Ommi ad- Assim. a Unguagem que o .::nanuscrito ·ua cor.:ínua a se·. po!::rt-_
quiri-am celebndade, como, dois sécuJ01> ma..s cedo, Adhém~r de Cha- ::.ialmem!, a da comu:úcai;ãu d ;ea. f\ e~crita, sah-o a..:~-re,, -:orutill. -~e
bannes, também pregador e historiógrafo. No entanto, a atn1dade Jes,- por :ontagfo corporãfa pa'.'.1r d::. voz: a ação do copisr.:. e ''cádl", se-
ses homens da pena, OTgulhosos de sê-lo. dein. para O :>m.-idoea •07 i!undo a taminologia mduhaniar;a; e anebl!losl ide:>lógica que J!ra11.:a
um papel que pode ser determinante nQ coIJst u.ição Ud escrita. A~ re- ao redor é mais próxima do tipo .. ~ibal" que do nosso. Donde, i:;ara
presentações de copfatas nas miniaturas valoriz~m q ui:se sempre o ou- a maioriz. :los ho;-neru desse tempo. a pouca ?-'rtinência das distinçõo
vido. Em parce, ei;crevcr depende ainda. da ordc:ui da oralidade, e e.~sa (para nós imponantes) entre amor, es:.ce, t:nte e interprete N~se ponto,
dependência, longe de se atem:ar, toma-se manifesta depois de 1200: seria tema::!or interpretar como um reconhecimento tardio li confu~o
a cópia direta, sem a in1 crmcdiaç.ào uc: um lellor, às ve7es pra:icaa.a nu• constanu que, no fim da L<ladc J«lia, fazi am entre os termm ª"tor
ma época mxs antiga, pouco convém a uma produção desde então re- e ator. O • auto:-'' e o ava tar laicizado do eloc'lltor d1 \ i no, n itw·tn, da
la1 h·t11nenle a1.:dmtc.la.~O scrlpror recebe, cm ge:-al auditivarnent; o tex- E.5critura; avatar cujas primeiras manifes•ações, me.ta cspo d cas, apa-
➔ to a reproduzfr. 'tis grafias mesmo, e suas alterações, parecem implicar recem Jurante a ~egundn rntrad" do ~éculo -.: 11, tmhoni por k•n~ tem-
que ele !meriorlzava uma imaicm das palaHas mai!> sonora tio qut v1- l)(l ainda o "autor" cont nue a ~cr o intérprete na pe~form n e de um:i
~ual. '.'io, ~cnprorio onde '-e mant inha o sistema antigo da pronunri11- rne~m qut, pri·~rnça total , n.io pr~i dedar r ~Ili nriJ!!em , 1 J urna~
J(),2 IOJ
rx-c1t> de Jtcmroralidaded<' cxto; uma u pcmio d ,,., e1ci10 ie.,tr , tam• nhavn que , lC•n1cxto ociomertal no 4Jal ~l inseria o J.tQ de kr rnar;i-
1-..m. i_:\1dcn1e, a no,,os olhos) de ,füt n 1a ti,1(,rii.:a mire a gene e ~a nalirnva e te em mn o:r ou menor s·aJ Apesar da relati~êi multipli~a-
oora poe11 e cada uma Ju ...ua rc;ih1.11,:ôo. ~jo do~ e critos a partn de 1150-12()41, o olhar &âo escava a~ostumado,
como está o nosso, à oruprese:iça da escrita na c:xiitêllcia e entre as coi-
sas.. A memória do1, raros leitom annaz.e:iava devagar o que o olho pro-
~ modalidades de escritura coadicionam a lcitur,. êsta, ate bem gres5i va."J1cnte c.ecifnra. mll.) gue n.ão d~xa.-a mais para r~á~.
depois Ja 1mmção da iruprer.!.a, perm,rne:e cmcil e, .ser.:t dú\'lda. m~- A leilwa e:a a rumina'ªº d~urr.a sabedoria. Na decifração, fü corr-
mo para o !e rado , pouco l:0mum. Ela tem te superar ob~tácul,h Iua.- :iicões :nateriai~ da grafia col~m quase um problema distinto para
tenais comiderãveh: externos, como l pouca maneabiida::r de vários cada pal.avn, perccb,da ou peJo menos identi.icada (talvez não sem di-
,;iumes (freqüentemente, una c:scrivaniTiha foi mdispensávtl) ou a rr.á :"JCuldade) con:o urna entidE.de ;epa:ada. A;>enas a articulaçio ,.~, ;,cr-
iluminação; inrernos, come a diversidade dos estilos de escriu.ra e dos mitia reielv!-ID n.t prâtica.1A leitura envolvia as5im um movimento do
s~stemas abrev:ativos, a qualidade do supone, !l ilegibiidade de cer...as aparelh.o fonador, no m ~ batimentos d.a glote, um cochicho. rnai~
letras, o emprego de uma ling,.1a bastante à.ferente da fala coti,:liana - :omt:mr.:it.e il ,ocaJização, gera!mer.te em voz alta. Os tesu.-munhos dessa
todos fatores. ademais, :nuito diversficados: visual e lilg..t\ticameme. ?Jàtica ~ão .ninterruptos, desde o ~é,;;ulo v até o ~~cuJu x,1. Os craba-
um texro narrativo e um documerno ju~1di::o nàc 1ê:n gra.11dc :oisa em lbcs de pes<;uisadore.s como J. L. H<:ndrikson, Chaytor, I. Hajnal, d.
1
:omum! A leitura exige inic:é.tiva e ação füíc;i t:in10 quant:> auclicia in- :..Cdercq õl.éluel::ccram-no dos anos 30 a05 ~O, e essa op1ruão e hoJe gc-
e]eaual. 1 Antes do século >.m, foi, as ve1.es, necessário re1mír ,-erda- ralmen le admitida, embora se desdca he o tírar dela todas as conclusõe!>
dt:i:os_ corniikJeleitores para assegu,ar ~ ccrret3 decifração de u:n do- q1.;e, pare-ce, se llllpôem.
:umento difícil. Muita gente sabia escre1er - pelo Tenos asiinar o nmr.e Essa maneira de ler se integrava tão bem numa maneira ele ser que,
--:-;;s não ier Leitura e escrilwa constin.1em duc.., 11thidadcs di:cren- fil:nda por volta de 1570, ela aparece aos .n<Ugenas do .\/ovo ~undo co-
res, exigmdo .aprendizagen, Jistintas. qLc ,ão são percebidas corno ae- mo um dos traços curiosos dos co:iquistadores. O penúltimo jmpcr-d-
:,e.;sana.mente ligadas '~ No número, mwto minoritário, dos homens c-.,,- dor toca que re;istiu aos esµanhóis, T,Lu. CL1si Yup.anqui, no relato que
pezes de decifrar suas cartah apenas ·11Il p..1nbado perter.c:a ao grupo ao fim :ia "Ída d·~ou para o govt!rnad1.r Garcia de castro. descreve seu.;
fe,;;hado dos profissionais eh e5cirur.i. fala, até o século xm, figura ..-encedore-s corr.o '·homens barb·1dos ,:iuc falavam ~oLinhos ,eguraado
qi;.ase como privilégio de clru;se, e só pode entrar na red~ gernJ das co- nas mã,:.is foba; de- tecido b:-anco.." 1~ 1\ tradição monástica valoriza-
municações sociais ao manter vínculos com a .,.oz. Igualmente. o pró- ra havia m-.lito .l'":Ilpo t>Ssa prática., ::or.siáe-anão-a. uma aTuda à medi•
prio termo ler designa, para o homem medieval e para nos, operações tação: o :novimcnto dos múscuJo.s faciaio; as~eme- lhi,,.•s esta ao ato de
pouco oomparave1s. Mais amaa: os rrabal.!10s de F. Richa1d~all e de sua nuirição, a e.e·vaçào do esp:'rito proc:rlia do que .\li. Jousse chamou
e:;.mpe esr.abe.cceram dois fa:os de grance akancc. ?or um .ado, é pre- ''rr:and1:cacão da palavra·'
oso distinguir varias espec1ei de- leitu;a. as quais diferenciam ao me~- A.; exceções imrressiona\'am a imagina,;Ao d.is testem unha.;, a pon 1o
cr.:, tempo a natureza do texto-alvo, a fanção que lhe a!Iibui o le·tm ce es:a; atrihu1rer::. àquetas uma si,;_!\i-i~açào p:ofund:;.. Ciu se o espan:o
e a capacidade de memória deste. Por outro lado, em todos o,; caso~. co jovem Agost1r1ho quando. em !\-Ulào, vius Arnb:6~10 ler só com O!
a velocidade de leitura aqu~rr da qual o te.<to nãc ;>:-opor.iona ne:ibum chos relata o e :orncma-o nas O:,r.je5siones, v1, 3. Tais 1,..11a:l d~•1:11
prazer, nem m::smo interesse, si'.ua-se, con.:orm~ os indJ·,iãuo~. t.-ntre qaa- ter-se reprofoz.ido aqui e acolá. nc :nem erudír:,, d1..rame seculos. M~
1
"!rn e oito pal.n'ras. por segundo, 14 50-0 a 29 :nil por hora. Pa:-ece 1m- o q.1e, a ·oi:go prazo, irnpfü ,iuu1,;1.- .i r-:Ju-:u a khura silencio~a e pura-
p,.1sshel que um leitor medieval não profhsior.al tenha algl.lJ7la ,·ez ati!l- mente 1J~1:.ar foi a multiplic~ãc :lo numero de C!.Lr:tos e:r cuculação.
gido e se luniar. Ei-nos longe :te Roland Banhes' Entr~ n~ prépri_Qs So irucfo, só ccnU) ~c-tore5 foram at.ng:dos. De:.dt o ~écul\l .:CII, o ,; re,-
probs~Lona1.s ..-.em du,1da forart. raro:. aqucJe:, cl.ljo ritmo podia ~ren- C:filerHo ;;onsider.:.v~l do nu.mero de fo:itc:~ d1,poai've:.s modificara a
der por bascantr temDO a a1encão d! um J1uduono: & =o~pAr.!çõc~ fei- pnitica p,ivdda dos eruditos; no séculi> xiv. as Jm,·erstdades, u:nctu
tas QO.m..duiersas. pecfacmaac~ ue o leitor público irut.tmdo as bibliotecas abenasaos estidantes, são lee..ulas a emitir 'C·
:tr.tbaJ!ba'lm ~1nt1H":C,m a memcm or-f.. u l - g•1éUllCntc'S que c.--1gem a le11ura ,1l~~1o~a: no séu:lo \\, i:.so setor-
J04 /O:,
nou IL"Tl3 im:,oskão ab!O l,ita. AI, corte5 n\gias ~ão nt1ngidas p:Jr volt::i
de 13~0; o c~njunto da nobreza 'eiEia. a panir da séc11 o ;>:\ 11 O r~- se de 1in onJo l11urg1co c1s1erc1ensc que, dando , norn,as gerst que
suJtados je ~I muda]J(;a de cosrumes são mais determinante, na forma- presidem à rcci 1ação e.los ofício~. espcc1a mente à ac-cnru , CJ tio ter-
ção do espinto "moderno" do que a Jn\'!:7 cào da ll'D"rennl - a uaJ mos latinos, c,)nsa8ra um capítulo à pom.i ão cJ, texto {fó io 1 '-JJ
não fel 'ienào sancioná-los e tornâ-lor, 1 rre",er~/\ eis. Uma esfera de inti- ra, interpreu o rcpou._a men no o que IZllID este
m1cfacle c;e cria ent:e o leitor e o :exto, :i:a qual o 1r,tcrcâm bio se intensi- do que na naru reza do ritmo s ntám:o na prátien moná tia. O au tor,
fica enquanto o contexto o<Lcrior se distancia e se apag,1. Não é mesmo para esclarecer seu pr;,pó.mo, fo-necr como l'Onclusào um.i ~c:gra reca-
" r a~<> que, no "Ileia )e~do, o cerm - i ·e er ~omc-cc .. Lc u ,enudo pítulativa seguida de :.IIII c'<C:nplo ti.l.nado do Livro de lsfila!: regra::
de "compor (Jma obra, um texto)". P. Saenger observa qoe a nova lei- exernplo •ão dotados de uma melod1;;., em soberba notação musical e~
nira, como se priva.fr,ach pelo 1ilêncio, devia fa~·url:ccr (numa ~;>oca cm compa~.sos quaternários~
que se ag;ar.t\'am as censuras) a difusão dos e!>l:riros nào confor:nistas, Outro aspecto da quesião: o núrnero de indivíduos capaze!> de ler.
eróticos ou hcterodo-'!os. 'Tho111.i.s a K~mpb aconsel~~-a a Je1t.1ra s1kn- Ohrascono agu?tn m v-:!ha, de J. \V, Thompl>On, subn: todo o O:.::den-
ciosa ao :nesao tempo e com o mesmo propósito da medüação; esse te, e aquelas recentes, de CJanchy e de Colemrui, sobre a Jngla1era de~
traço logo canccerizou a aeliotio moderna. fica o taco de que, até essa ~écuJos x11 e Xl11, coostatam a rda1io1a rar.dade do~ leitores. A avallé.-
data a,·ar.ç:ada. e pela irande rnaiona dos consumic::ores da e.scricura, çào de C. Cipolla mt parece otimista: l % a 20'o da população, por vol-
a leJtura amculada peroaneceu a regra. Glohalmemt, con.dicicnou o ta do a.no 1000! Segt.ndo P. C1aunu. a po;:lUlação do Ocicenle con:im,
modo - físico e ,;,siquico - de transmissão ~ recepção dos textos. em !5()C com cinco vezes mais .ndivídt.10s capazes de ler do gue em 1400,
A debilidade ou a ap,a.rente frregula.rids<le do recorre do tex10 ma- llez 'Vezes :nais d,J que no séc;do XJ L Em todo o caso, tais Gif:-as ,ão
nifestain ele oatra mane:ira essa o:-aliclade natural do u~da escrita. r~ relatka.5,, u fPertencer à J.grcja não acarreta necessariamente o conh~i-
págína se apn:senta ele modo massivo, às veles sem s~quer iso.ar siste- :11em0 da ars leg~nái:õ an ai fabeL.srno do baí:,ro clero ê objeto d~ quei-
matica.:nente as palavras .. um pouc.:o à maneira de numerosas obras l i- xas p~riõôcas, e, na épo~ mais distante. .nll_is de um prelado nã~e
terárias de hoje que, justamente, tentam assim atender a uma nccess:- µ~eocupou em aprender a lu ou em dar-st a esse exercicio. Quanto à
dade vocal! A escri ture. medieval cfusirnnla ao olho a~ anicuJaçôes do classe cavalheiresca, urna :ese ma.1;imalista encara a tese opoS'!a - mas
11
di.scurso. ~é os fins do s~culo xrv, e ooscumeiro c.opiu,os w,IS.:15 sem trata-se apenas de apreciar a importância rela1iva de uma m:no,na! A
isolá-los, co:no ra pm..a. 10s tftnlos (Jlll", nos raros rnanincn:05, re<:or- maioria dos nobres, até o século );III, permE.neceria i etrada: as forna5
tam capftulos ou partes puderam ser .nterp:-etados como indicaç&s des- de inteligência e o tipo de saber exigidos por sua função ou irnpos1os
tinad.a-. a lln" declamadOT prolis~cmal; segundo linkc, ,é ocos·o dos ma- por sua simacão social não ti r tiam mula. qul' ~r corn a p.ráti~ de lei
nuscritos F e p do Jwei,. de Hartmann \'On Aue. A ponruaçào nunca t11ra. Balduíno II de Gumes, t.:m dos grão-senhores mais msmddm e
é ciistemática. Os: manu:sairo.s mai~ atento.;;. a ii;so. como a cópi.i Guioc cITTlosos do fim do século x11, n,fo sabia ler e mantinha em su:i corte
dos romances de O,rétien de Tro~s. marcam o texto com um po'.1:o nos deres des[gnados s:;ara es•e ofido. Não é um caso isolado. Grand;5 poe-
lugares em çue aparentemeote se requer uma H.spcn.são da e.ocução; t.a.~ alemães vinculados a esse m;io dizem-se ou ?retendem-ie ilem1clüs:
e com lllL, v:rgula ar6s uma cxcla.,ia~o. ;iona,to umd devaç.so da 1,:02. Wolfram von Esd!cnbach, Ltrich voo Lichtenstei:1 -ao passrq.1c Hart-
o ~ia.uusdL:> au.óg:ra fu J;a His1ori11 eccleruwica de Ordene Vita.l, es- rn~nn vor, Aue se vangloria ico;no de uma capaddat..lt< e.:nraordin:jria?)
crüo em prosa rit-m.tda e rimada. marca com pontuação fra::a as pau- de saber decifrar suas cartas; era (diz de si me5mo, em terceira 1;essoa)
sas rítmicas e com pontuaçáo fone as runa,. t• ·n.,n
uu:, m.an:açoes
• ~
.lllem do "instruido a ponte) dt: por.ler ler o que há nos lh·ros•· (só ge!êre1 daz
texto LI.Dla espécie de :;,anitnra musical, tanto mais que nào se ap1ox.i- e, anaen buochen las>. 1' As r.,~lhercs da clas,e senhorial. é ','tt"cade,
mam de nessas paginas 1mpressasi Nem aspas nem outra indicação a.llllll· po recern ter sida :nais numc;-IJi<IS quan.lQ,00 ~aber~er dG Que..c.i..~am~r
ciam as ci:a~ões; se ne::essfrio, só o tom do le1:or podia destacá-las. e-stcs, já na frança de 160-0, n.io eoruidera,am anormal ignorá-lc.
No momento trr. que a~ab-0 e5'.e livro, S. Lu.sígnan me indi~ um 1Não faltaram tentativa..~ de ·razer os memb diri en-
intere\ ante do ·siê que cmstituiu com bas~ num m.1n iscriro copiado te à prática pessoal da tscrica. As escol i on ticas e depois urt:ana5
no ,éculo ~Jv e 01igimirioda abadia de Clauvaux (TroJes 1!54) Trata- ãêéita•am :riança~ não âest,n.i<.las a.o clericaio; _enu pre~ o , , exerci-
tia pelos e:ementn• "esclarecidos'' da nobre1a ou pelc11 cletr.s li mio
.'06
107
11 era; o am or a •: name'1ra, tcmro 1rc1caao ( , 41HJ6J a Tellrure do bcrÕI arqui,'lmenro e de algum rnodo, por eçsc meic, o enobrecimento. Essas
Guillem , fa7. ,nn elo~io tlefül ci~ncia, recomendada tanro ao c:ivalhe1- fun~õe~ ~ao são sempre cumulath 1~ ea pr meiJa :?Ode ser extrc1da com
ro qun111 11 às damas. Tema h1 enno, sem Htlor rcpre cntati10'' Ante, a ex::lusà1> da se ur,dai p r cxe11pl(I. a1rn,és do que Léon lia..1tier anti-
a proJ o 1deahu n e de uma nece ntJa<le que se rr.anil t ui, em alguns gamente chéf7lOU de "manu ritos de Jogra l''. códi~s de ;,equeno ;·or-
lugu d odcdade cavalhc1rrs , a partir do sécu o >.I.. A me m a 11e- ma to (detes.,ei, cr.n tfmc.·tro~ por dez o i! clo:z.e), livros de bo:w d1:s tina.
oessidadc cxm~ponclc. sem du\ da, a criação do g:nero romanesco. \'al- dos à ba~agmi de an: intérprete errante ou - ru;>ôs-se - a mstru~ão
ta.rei i O ptculum regal , es::ri•o na ~lcmanh por volta de 120(), de um "'jogn·" .aprendi.z. r-oi a,, im que noi chegaram vdrios texcos im-
'liai maih !ou e eioda: o aber recc: sirio a um nobr:, de:lara, não será portantes. como a versão mai5 antiga da Charuon de R<>land, o Cantar
perfeito se não comparou a capacid.;de de ler ' 'toda.s as línguas'', a -:~ de mio Cid, o manuscrit0 Z do, Nibe/ungen e outros ainda, por \-:zc,
meçar pelo latim e pelo francéli ... A~ "outras" proravclmente são 03 testemunhos da arre mais refinada, como o Chansonn.ie, de Siiinr-Ge..r-
dialetos a.lemãe,!20 Entre os príncipes. tal dei.ejo testemunh~ um::i to- mam - presum· ndo-~c cu: antifamente H aldma.1ll! leilha iidu 1aúiu
mada de comc:ência dcs poderes d;; escritura. Ma.5 por longo tempo de classif.,: á-[o n~ta categorial Por nrn ídi;: a~<'-,)o, essas pobres copias,
ainda, fo~::i □11',~f': drcnTo muito re~trilc, tal desejo i.e:-a q1,;as,e ieru, mor- ,em dúvida apres,adamcnte estabelec.das. p1ecnchcram pr:._•a nõ) uma
ta. As e5cclas e:fas, da<- quais se dis,c, nãc .sem exa,gern. gue "pulJla- rf"-' .nestJmav::I função ::cr.ser,at6ri.:.. ~1as o obje1:Y0 de se·~ fabr:cantes fa.
ram' ' n o séccic, x1 1, oonstituem a:ites um do~ aspectos de outro fenô- ·omecer ao exc:i.:tan1e "Jm simples manual. Só cir~unstãncia!i impre'lli-
meno: a ele\·a;ão da burguesia mercaritil, que desde então na França 1. siveísãssalvara.n:: fa den·uiçãc, Su;:,õs.~e que o cesapaTecin:er.to, a nO'i-
(mais cede n.:. lccilio) tendia a ~e npcs,ar d:> poder cfeti-.o no iuLe1 iJr sos olhos quase compk o, da epopéia espa:1hola arcaica se deveu .à
de um Es'.ado ainda feudal. É inel;;ávcl que, do século x., ao x1v, o nu- fragilidad~ dos manuscritos de jogral aos ciuais foi. Lalvez, confiada; em
mero bruco de lc1:ores cresc~~armentc J)'.QC rnoL1va. prn_gmáricos, contrapartida, .:. ;naioria das cançõe., de ges:a fra11cesas foi escrita
noquadro rigido da e3critura admin~Lrativa e contábil. fon de gLal- em manuscritos ce biblio:eca, executados numa época em que essa poe-
quer pcnl)(cth~ aberta à poesia e ao :aráter próprio da CQlo~ação por sia ja não era rr a1s ~iva.
escrho. Novamente, não ba por que se :Judir: enquanto a :mensa maio- Uma for.na qu.clquer de oralidad::- precede a ~sc-itura ou então L':
ria da populaç-ão camponesa e operár:a continuará an.ilfabeta até o 1e- por ela in1cncio'lalrnente preparada, ~entro do objeti,.o perforrnátko.
::ulo ,;1x s:mão ate o xx, no sécu.o X' os burgueses qtJe gO\T"'.:n.am a Esses dois carn~ pn.c:eM ('mrbinar-se. Pelo menos, a csi.:ritura ~cmpre
adarle de Here•ord (Inglaterra] são abda iletrados; em 1433, l\11koklu~ interpõe se.1s Fihr-os. Essen<..ialrne:ite, ela oonstirni .1m -processo dc/Qr-
von Cusa, havendo proposto int·oduz.r o vc:,.o ~ecreto na eleição impe- mulam:aç,fo. A colocãçàõ ; l ~ C í ~ ~;;eltíoes 5Têtece m exe:np1o
rial, tem de re:n:tar secretários para esse fim, Ja que , ários do. grd<>- extremo. Contuéo, mau ou menos :odo, cs rextcs que nos fo:-am trn.n!-•
eleitores :gnorav:un as ietras. Quané'o começou a serie de reveses de C,r- rr.icidos pe.os ;.éculc &:m,~rio!:es :io xui 1>u me~rro X'>, algun.:o ruais taI-
los. o Temerá:io. r.ão atribuíram o~ cronistas a causa ao fato de ele ha- d'.amente ainda. estão assim mar:ad.os. Dond~ a Dússa qua,;c impos;i-
ver lido demasiado e.:n sua juventude'; !\"o curso dos sécLilos c::mtinmi bihdadc de perceber o verdad:::irn ros.::) t de foi:,,1r a ur,gíualit..lmlt' Ud
enorme a de~propoTção (embora po1cc a pou~o decresi:~nte) entre e n 1- epoca mecfü.·val, em pani::u..3.I d.i, ca.,ções de gesta fra:lcesa.s. Ou.tro fu.
mero l.mitado de sere, humanos aç•tos à Lei:ura f111er1~ e a imemic~;:, tr::>; a au.5ê11cié1. ante, do :.ccu'o ,iv, de tolia lct:a de coerên;ia textual
do público pQtenoaJmeni.e ",sado pela poesia. Donde para esta a irn- na composi;ào dos manusçritos. Um mes:no cód.ict enfileira textos d:
poss.:ibibdadé' de 1-0:i~ber a ,i me~ma (.ainda que deve~,~ t,:r passado vn.lt:m. de cspee1e.. de data. a., ve1.e~ de língua, :hferca.tc~; qi.:ando mw-
pela D;;:it:i.) ó : tutn foTIDa que não en relação a H:u f un narnrai: umd. to, um vago pri:1: 1;:,io o. t.m : (exto., litürg1cos ~u. mais gcr.,.unente, d t
comL nicaç..io ~·o t·al. interesse eclesiást.:o, ou hi stón cos; ou qt:e ap~e.enta.-n não importa qual
semelhan.:a fo:mal -.> J teiT'aàC3. às w:u."" mal fücem:i\·-el ;,ara nós. Eis
ai. prO\-a\elmen•e. u ck1t11 :.1 .. um:i procura dt> uuhd..J c 1medmla 1,at1.~•
t\e.<,~e uni'.~r;o, a escritura pr.enche duas lun~ões A :gura - cor:- fazer as ne-ces!> dad e,._ :1ar ·iculares do dicn te), ao 11~mo t empo q.:.e de
juman crtc ou 'lio con1 a tradição oral - a tram ni~IMIO de wn le-JCIO l.'C..,nom1a. A 1dtia que faze-n:o.- :.la ''obra" não coincide com !>ua mci-
Aderr.&1 , 11. ura para um íuturo mcletcrmm do con :T' , o- o dade no manu to. O man cnto BN ír (B l> 'i;i ue Nauonak. ma
J(M
nu>1.7ito em t-anc~s] 14~0. do ~êcuJo x11, intermla quntro romances de que pc11 ,m •,cz tcnJ1adquinr o 01dcnamento de um i tema pnm ·
Chr~ticn de Tro:,oc- no meio d o Hrw de \\'ace: para o c0pi~ 1a. con~1i1ul- no Entu o ecu o 1<11 e o xv, u e cntura começou a rcivind1. 1r cr•
ram t'\identenen!c n glosa do que Wace diz. <lo rei Artur!: O\ pr()pnos tamente es e nJcnamento depois de 14 0-' SOO, a rewmdtcoçlo surtiu
· u! o · , mu tos \'8.nilm ae uma versao a outru. Só quase no e cito: o ",rhJ/onqueurs" bor onh e (Jfl o u cn cm Le ma QL er
século x1v aparttem compilacõ~,, homogênea,. Cma da, rnm amisas 1a .'umi re) foram o~ prime rosa formulá-ln em termo claros e, em eu
sena o manusc:ito ,\cchinl<:ck, ~cpiadu por volta l:~ 1330 em 1ondres. melhor~:, tex:o-:, a faze 1a triunfar. J\ ~onunuidade de !13 hi,tona. e me-
A e..c~itura começa então a !,C organizar L-m fiwo - 1nc,,.,11ç~o que, tem de ;>e o favor de qne gmam, em l:'!lim e na.~ lmguas ~'Ulgares. dc~de_ o
.antei da lDlprcnsa. deflagra uma g.."ande ~iradd nel!ta r_stôria Em IN- :i~cu.CJ xm, as r,g14ras de /tiras, maniçulações gráficas, ut1lindD p1c-
:i~ do 1ome de um aUlo:-, ::,useram-,e a reu:1ir m textos que lhe ~ão a.tri- t6ri.;a do~ traç~co•, assmatu:as acrósticas. até p1ada,;. ortog-aficd~ co-
b.JJdos. Guillaurne de .\.lachaut, an~t.• de I.lü(], ,crá ::i pricr: eiro a Ler e5- mo no Tri~w1 e.e Got:fned (Yv, 10 1(19-21), cada vez mais m.:r.tero;~s :i
sa honra. A D1vifll1 comédUl terá cond·uí<lo. anti!'. dec;s.a Jata, o c:r.~mplo medida que dcs.;cmo!'.! ~:> tempo. Cma alegria textual suscita esses JO•
e.~cepcional de uma ob:-a que foi objcto de cópias nas quais não e<,1ava gm, um desejo m a:ravcssa, em J)OS,~ total da lmgua; estrépitos pouco
acompanhada de na,fa c:1~ outra~. ameriores ao advento da pesada hcgt:mo11ia cscritun!, a qual eles ;,;:m-
Parece faltar o semo daquilo que experimencamos como o acaba- Yocam mas tinda !lào garantem
mcnrn do textc. F ra:o q11e u:n :ítulo preceda :l tc:otto, e rr:..iito aai• tdro Os rflétoriqut!1'ts da seg.mda geração, Jcan Lema.ire de Beire.~ o·.1
que se faça ali menção de um amor. Se o .:nanuscrito fornece 1ais indi- André de La Vigne, foram m. F::-ança :,s primeiros poew a ser ímpres-
caçõe.-. ell" ô faz. no explicit. Até os a:-:cdcn·~ de- 1500, rn uilus livns Im- ~os em vida. A ctrodu;~o da no,·a cecnclogia, comrariamenLt: à upi-
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pressos conservarão ess,e costume e utiliza..'"âo ainda o colofão Eis ai niào tão dit\.ndida, ainda não tramtornara nada: consagm-.a de pre-
um traço tanto mais rcvdadu1 purgue se mameve por muito tempo, _1à fcrenda, e cons,o]idava de manerra defb.itiva, os resultados de uma
que (acredito tê-lo mos'.rado em o.::ro lugar)22 a au.s&lcia <!e acaban:en- evolução, d~ifi,ca,,a o ~cn:ido :,iue- pc1co a pouco a escrita adquirr~,
ro t::xrnal é un ij caracteríçtica es::ie~hca da poesia ora.. liberava de antigos impcdiment05 o o:.erdc10 das funções que ela aspi-
Globalmente. a escritura apare::e assiTU.-Jla civiliza~âo medíeva.l, co- rava a a,rnmrr na Cídade. Mas bcrn um século decorrerá anw, que as
mo uma 1.lt:ssa! imtituiç&s em que uma comunidade pode. d:: fato, 1:npr<.-n.-.as elrrunem o manuscrir.o; e, na Europa oriental, o movimento
reconhecer-se, '1lil5 em que não poc.e, no ple..--io .~cntido da Dalavra, ;x>- c.~slancha cera anos mais tarde que no Ocidente. Até por Yolta de 1550,
mun.icar-se.JO v.uor de uso da escrita se reduz na medida em que o ma- as duas Ucmcas mais colaboram do que se opõem. No início do séccilo
nrucrito não pode ser um meio de difusão ma.-;sivo. Pro,.a-o - levandwe ,.1,·1, nem o snrnrte impre,so do livro ainda se tinha verdade:ramente
em coma as provh"eis perdas ac;denta:s - o escasso oúmero ce cópia~ ,m.poslo na prática, nrm :> oor:teúdo da\ mensagens se tinha inteira-
rernanescentes de textos que, às ve2es, eran: o5 mais ilusues de ,;en P'm- meme liberado de uma heran;a cultural de ;éculos dedicado, às uans-
po, A escritura ccnstitui uma ordc:n pa."tic_lar da real:dade: exige a n- mi,,;ões vocfils, nem. enflm, a autoridade se tinha definitivamente des-
tcrven~Q de inté.f.preres (no duplo 5entido da palavra) auto:izado, • .t\n- locado da palavr~ para a escrita. Vista do século XX, a mucar;.io c:ulm-
trs da rr.ediação des~ birtualidade, apelo a::> investimento de outros ral que !iC produz:a emão pare<:e compará\•el àquela que de~mcadeou
\/atores. Sem essa mectia;ào. ela resiste. o~cif1 :i, obstrui, como uma entre nó, .a in-.ci:;ão do compuludur: em de fato uma muta.,ii..,, mas a
coisa. Enqua:ito LéçrJca. não deJX.--ride da ordt:n da poesia; a po~.ia não muito loneo prazo: seus efeitos só se tornariam completamente p<~.::ep-
te.:n o QUc fazer c:>m el.:1, 8 não <::er dei.xa-la simular utilidndcs. En1 rç- 1i.ch no ~iulu XDl, g,aça~ ao ensjno obrigatório, que fará do ~mpres
tanto, sua própria opacidade, a amonomia de seu modo de exis,énda, so uma escritura de ma-sa e acen!llara o enfraquecimento das úJtima~
criadora de obje:o.s de ane fo.z:ea: cic!a um liomôlo.go da poesia. Com tradições oral~.
o tempo, a distância encre as duas ~e atenuará, a homoJogi.i •enderá à i\t~ o sêculo X'- - e por muito mais te:npo na "cultura popular''
trlentid.r.de. 1bori::amentc, a e5critcra :.e conci:bia (conforme a tra.d:ç.'!o que então começa a dinin1ui:-sc da outra -, o prc tígío de que ~ ro-
gramatical de or:í~em antiga) como sistema sc~"l.lndário ce s gnos, o quaJ :leta a e. crita contribui para afast.i-la daqueles que contemplam e tal-
refletia ,1quelc. priin ric_,, que: a voi: manlpuJa; mas na práuca, pelo uso, l{t.,;. af 1cmarn, in• ocando-o. qualquer poder o ul10. O considcr vel ln-
repetição e reíle.,lb s;>bre si, 1inha-se elaborado um cédigo e· tural ,·~timen•o em tempo em dinheuo, c:m compet!ncia, que cxi 1u durante
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l / 11
•c.. ulos, a r~.Ja~J0 d:- um cocummto c-..cr to - amJJ ma1~ a de um có- em sua lmgungem . A pró pria \'c1dadt' é tão-,ome11te a Escrírnm natu-
dke de alguma 1111portanc1a - tra a inte:1,idade do dc~~io que o indi- ra), UJ1ivcrsal, eterna, àa qual consiitui L ,ig:nificado ult!Jmc. Dante ter-
-.·1duo. 'iCneo a .;oc1cdade inteira, sentiu dt" no~suJ-lo. A lenu. evolução mina a Comédia com a invocação desse Volume ' 'li,1;1ado num só ~orr.
das ltcr i::a , a panir d inicio do sêclllo xi. um pouco mais depressa 0
Amor" lotalidade do Sentido, ao mes:no tempo illfini,o e fechado.
no X'll, modifaca pouca coisa ni.&>. Dcselc o, arredor~ de 1200, 110 me10 Aparenre~em.e desafia a Voz não escrita que, no entanto, domina o _ mur:-
urba~o - escol~.- e ~ur~ês - a t~:"ita se kcu1ariza em sua utilização do... J\,1:a.s as aparências enganam, e uma. está prese1m: na o~trJ, a :na-
oocanaJ, comeroaleJund1ca. l'+fas. ~unuJtaneamenre. elaseduplica: ago- neira do Verbo encarnado 11a escrfü:.r-.t. Tub imagem, con.o,;utuem a ex-
~a ~e opõe::n ~i~ m_ode:os gráficos:, o cursi"o, usual, prático, adap:ado tensão poética de uma teologia da Palavra de Deus; e e reivl.ndi;;a~u
a crrc·.lJação mtem1flcada :las men.~agens utilitária,, e ;i escritura do; da a11toridad~ lhTe~ca, em .rua for:na eitereonpada. é e.ma >ua ,·i.:rsao
liV!'os. Mesmo lainzado, o livro, por esse 1/J.és, conserva durante muito Jaicizadii e enfraquecida: sena mais o .:..t$O dt> desviar sua sigmfic.a~o
·emi::," sen ele,•adn ~•ahr simbólico. É i:;ouco provável que os príncipe~ do que &11por a:í alguma ideologia fundada na prática haoitual do 1Ilr
~~culo ~-v timba.lD...k.O.:is:deradc SL."Ilples objetos de uso os m~fi- irume:nlo escrevente. Para a masrn do:s iletrados, a 1eu.a tr~çada é 1;L-na
cos hwos a.e llloras que rrandarn.m copiar: estes não eram também j)ri- coisa - signilicm:Jte da mesma cond çã-, que ioda coisa cnada - 1rre-
.
meuamente, signos de seu poder? I.u:xuoso:; mam1scritos musicais.' de- ru~ mas inacessível, quase imaterial. portadora de: esperanças ou pa·
pos!t~dos :orno jóias no tesouro da5 duquç:s de Bu1gouha c:lali nao vores rn<1gi,;;o~ . tUm rnslinto arcaico '-e: mo,tra1-·~ arra.vés ic~sas c1enç~:
'
1a1ra:11 maiç . '
a.te que os modernos arquivistas os redc.-. ,.~oobriram. na Traru;:a merovíngia, sobretudo r.o Midi (onde os mon~meutos ~~
Rua além de codo$ es5es csmorecimeDLo!> que pouco a pouco en- gos sub>isLiam cm maior número), as iruc:-ições q1re_tmzLaIJ1, os c?1ta-
fraqueceram o primitivo se::itimen:o sacraJ da escrimra. subsistiu até a fios, prestavam-~c às interpretações populares oarav~osas. _ o pe_::iodo
i1TVcnção da imprensa uma confusa ideia da cosm1cidade do tei1to escri- do seculo v ao XJ foi bc:m estudado dcss~ ponto de VJ.Sta. A e111~a de
to. Pa1a o~ monge~ a es:rit'J.ra é mais do que um meio de ação; é antes talisG, gravam-se inscrições, nomes e lel.ras nas :urnacurai., nas cs;,a-
de n.;d;> um dom de Deus. íiàJY!z t:ma influencia judaica .se raç-a sentir das.v Esses cos1t1mes tiveram vida longd. Até _pelo menos o sécuJo XJJJ,
a~. ? tt:xt,;i sagrado e graiia, oomo o munco; um e outro são o Dilado enco,l.ffim•se em latim ou língua vulgar fórmu)a, de jalgam:nto e d:.:
d1vmo, cuias palavra~ da lei formam o "es:ilo'', o stylet. Donde O rnJi- aJivinb.-..ção pelo liHo, ou alusões a sua :iráü:;;a; o J,.,ro é então fu.nc1~-
nito respeito: o letrado não toca na escrita a não ser pelo comentário nalizadc mai~ corno objeto ri mal do que como e~;::rit1ua- L m procedi·
d_a ~ará.fra~; uma análise desconstruti"·a pareceria profanadora. (Sub- mento 110rmando do início do sécuJo x:1 usa-o pendur~do numa cor-
sirna algum.a coisa de tal atitude, faz pouco~ anos, nos hâbitm de nos- da como un1 pêndulo de rabdomame, 2l!õ ainda em meados do ~éculo
so ensine'.} O rc.~peito se es:endc ao próprio Jugar em que se efetua a Xll;
0
romance anglo-normando de JY'iStasse le Morne lndlca e5st: ~o.
escrillra, em g:ue se conservam ,eu.s prodi.:tos: do !iiéculo rx ;io xv 0 ~ No;sa, Unzuas conservaram até hQje tai~ lembranças: a paJavra france-
r.~stem unJ- e>:i se succili,-rr.; o cuidado que se dedicai à conser'l'açào do~ li~ sa. grimoire. que designa. aJgurna rece'.ta de bruxaria, ,.-en do latun gram ·
vros chegará até a at.rai:;alhar as consu lta.,l 2.4 í~ mbérn ne-sse por,to, a lai- matir:a; e O lermo in~lês. :!e origem clialetal es.cocesa, glamo_ur (..e~can-
cização não mudou nada de essem;1al. Lo", p.imitivarnrnte no sentido mais for,e• tem a rn~n:a et:molo~a. O
O~ prt'>prio.5 aumre.s de tn1:oi cl'nn o Jnblia.11 , a can;-.ão d.e f:lcCSta próprio emprr.gn juridico da escr; tuTa foi con.taminado ~º~ esse !oldo-
ou certa seção do Remzrd, evidentemente: destinados a difusão 7 ocat em re. os reis bárbaro<; da alta Ldade Média fa.1endo red:.gir m costumt:!'>
lu~es puhli::"K 1m·~rn "uma escri1ura·•, a "Esi;ctura" como auto• de seus povos, os carollngim emitindo ma') capitulares régias r~alça'-'am
ricade ::i.ue apóia seu êisccrs::,; na rr:abr part: d;,s vezes, ~s,a ~eferência de fat<>a tradíçàa dos irnperadore, anti go,: mas não ~ podem,. presu~
é =jcrí::. ::i~ •ant ~ ·is re'lleladom da menta.liuaJc 6 eral 0.1 u:. d t.. m qu~ .,_ aLit ,d:. 1~ c;upr-mat r3 til" que estava reve:,tida dt.:sde ertão
1
.ore., dào um Pª"-~º a,hante: ,eu te"..º - romance, bestiár io, crónica n- a escrimrn acrescentava aos olhlls de.le5 !:icác;:a no go,i:ri~o dus _homen!:?
~ ;;id3 se .auh1<lc~1gna 11,·ro, compomrndo, pur t ~M': am h cío, na per- Q uat1dc, 1:i11 1268, Afomo de Poitier,; manda a r,reender O!- h_vro~ das
Jormance, a crechbi hchdr d.a palavra Pa a 1n :on ..tSCtltur:a.a.tcsta Judian as de Poioou, e.e não seq\it,.tra arcn~ um bem mob1ba.:-10, ele
'-llna "\~;,de op1niã:..., ..-m que ,e l><'~Dt' o eco de un111 po,dero,a 1c.l~1a ,;eque-;:ra uma v11 rude per,'t"r5a. "Pro l~O. M1 Paris. oTailmudc, conde-
recorrt:rn· ertre o~ 1ê..'J1os e susma,fara, as \C'l.CS, de vu q ru; m<'t a fo rn~ nado, r1avia sido publíc.amenlr q ue·mado •. como 1.:im herege de ca: ne
JJJ
e ,angue:" Provocatla~ entre o~ ile1rudm. 11ao me~os q,1e enlre: o• ~ó-
bim, pela p?esença da ~scnt11ra na 50cíedadt: medieval, e•sn:; lil1 ' udes consic.Jc-r,hel de mcmom:-1çiio. o, conhedmc:mos tlc: um chan,~,. de cote
~ práticas tão diver w rifo teriam um ,i..bstra10 mental c~murn. alguma ur.cm ubranger, Jé se avaliou, r:lfli de l mil peça!. No sfculo x, Ger-
-:oha como a percepção de uma espec-1e de sobr(' humamd11de- ou d~ bert d~-\llrillt1 {papa Sih ,~ire 11] imentará diversos prO('('(! m ._ ~
sumamdadc - da escrn:ira.~ O re\'erso de urna ..:onvicção radical, a sa- motcQnc;i,r_ 1!"1rtrr,,:.rn'no:o nstrumento cha?tU1do momx:dtdio a \Ida no es-
ber: é pela pa:a,Ta,: so.:n~nte-r10r ela, que se nanifesta plenament~ o 1udo das melodia) n<>Va5 ,.\tê o século x1 , çu:o:Je:n-E,e os achado:,
humano. descinadc·s a simplificar a tarefa :fos can1orc:,, PCílnitindo--!he• a tcecu-
;ão de melodias c.aca vez mais ,,1mnl~ ç De, e .:-ub OI, o.s moa-
gei da l rança e da Alem;,.n.ha 1rr.agi.oavam dotar de um :~to a --azso
F.m i.·ez de wna niptum., ::i. pe.ss.agcm do vocal ao bcrirn rnan.ifcsra de uma silaba por nota, os longos melismas d~ que é 01 mtda a s1Jab.a
uma convergência entre os a1-0dos de comunicação assim cor.frontados. fi,aJ da afeluia; tal é a origem d::> gênero poético da "seqüênda' ', da
o par voz/escritura é at!i:1.\c;;s~aclo por ten~oes, oposições conrlitiY~s e., qual a ldace Mécia nos lego'1 mil.bares de o:cr,plos. ~a pas5age10 do
wm O recuo do Lempo, mostra-se muito frequentemente aos med,eva- s~;:ufo X[I ao xur. forarn unidas pela rima as diversas peças ,~ntadas
lis1as 1.:umo contraditório. Não é rut·erente com outras confisurações ~- que consthuiam o offcio: Julfa.a von Speyer dw ao nevo género :fo ''ofi-
turais, tambêm surpreendente5, e enrre as guais c.on·,.ém s_ituá-1~: assnn cio rimadc'' sua forma canônica, dffundida sobretudo peíos francisca-
0 par concrêto/abs:trnto, do qual a !o11ga disputa. dos un,,1ersa1s. 1an~ nos. na Inglaterra e na França. 26
quanto as práticas popula"es de liruxaria, aresta o cadter rnoverite e flm- A criação da.5...!!_eumas .,e situa nessa série de inovações. As maü
ào; assim, nos proc.edimerno~ Judiciários, a testemunha e o tcsr~unho; aOlfaas se n-duzem a uma p0n:uaçiio que domina as paJavras cantadas;
indicam o movimenm geral da. voi. mas não a altura dos sons nem o
e assim tantas associações paradoxaís de noções apa:enternente mC"om-
rilrio. Menos do qLlc permillf a leitura de uma melodia desc-0.11.hedda,
paitíveis. Para o historiador, a que.'nâo não é tan:o reduzir o paradmco
el.15 pretendiam aj udar o :antor a rememorar uma anteriormente a;:m-n-
quanto dissolvê-lo, revelando no riar o elemento_ de ~ase, ,ob!'e ~ qual
dida, A evolução da d:-te musical M século XJJ, a mu1'.iJJ1icação dos re-
se constrói ou do qual se nutre o outro, que lhe fl::a russo subordIDado.
gistros vocais, a passagem dt uma música non precise mensura/a a u1na
A.s pesquisas frjta.;; de trinta anos parn cá não d~xan nenh1U.t1~ dúvida:
musica mt"uida, a polr'oma, enfim, por volta de r200: essas nov;dades
só muito lentamtnte a prática medieval da escritura se emancrpou das
leva:-am ao .iperfejÇo.unen:o de um sistema gráfico lJW:>, em retor.11.0, fa-
dependências vocais, Até- o sócufo xw, po1 todo o Ocidente. a escrilU·
vu.rcceu a generaliuiçdo dessas mesmas novidades. A tn.dição mar. us-
ra s6 reinou em ilhotas (.geográ 'icas e cul1urais) :soladas num ocea_no
q_ita. da música não se mantinha menos (em comp,2rnçã& co'D. aqueia
de oralidade ambiente. Desut: u século x,, relações, correspondêncas
dos wctos) aproximati\-a_; para cs decifradores modernos, coloca pro-
escabeleceram-se entre al~umas des~as ilhotas; uma rede co:neça•,•a a se
blemas paleográficos cem mais complexo~: testemunhe. ume r,wwnct"cr
consLil uir, mas rrês seculos :nais :arde sua demidade continuava peque-
meJodica de enorme amplitude, a ponto de a iuvcnçfio :ia impreru;a ter
na: por volta de 1400, rnru:i11:ia uma espécie de fio delgado que atava 5em dúvida prodUZido na música eu~opéia efeitos DI:lito mais po{iero-
toda a .huropa, mas não era ainda o 1Jéu espesso que se tornaria cm ~7~. sos do que ni poesfa. ~o eram signos acústicos (co.:no aJ palal-ra.sJ o
De ceno ângcio, urna apmxirnação com o modo de transm1ssao que o co~a oúsico tmla por tarefo tra.nsP:Qner ..is11aJrnen e, ~a-=-
das mdodfas musicais esclarece melhor esta situaçilo do que UJrul com-
tãi"(õ;sonsJ e sobreturio o_pen;ções, rocais ou imtrnnenta;s.~[Jm aJfa-
paração com o fato Literário modrn:io. Co~o a poe~~ (e ma;s evidente- bêto nfo podia ser s11fic-iane: e-.m ncce5sário, no rnemo fll\'-el l)erccpH-
mente que ela), a poesia vocaJ só se con.stnm ~m YIS:a de llllla J)e-rfor- ·lo e com meios compa.'"áveis, constituir um sis1err.a que per..-.nitisst a
mariel!. Quãrq uer qu.e lenha sido a nntaçflo antiga, nesse caso t.ota.h:ncntc .11otacão de uma sintaw::e como ral, ul]la retórica mesmo. A e.ss.a tarefa
esquecida, Isidoro de Sevilha, r.o livro m, 15, ~ F.t_.v::zologLae, d.ecla- ~e prestaram os séculos xm e x·i;. Sabemos qual Col o re5:Jltado, que.
rava que snmf"nl~ a me.:nória hur:iana 115,;egura a tradii;ao dos wns, pois em gr,irde rnedjda, determinou o desenvolvimemo da arte mus cal ah~
• 'eles mlo podt1I11 ser escritos". .<\.,S".im, a Idade ~!édia partia do zero. e fim do sécula XJX. t::_uma ~olu;ão ::on1r ria, a e ri1urn ela língua.
o ~pr,ndizado musical comporta, na époe:i n:ais d~siAnte, um e5forço 8Cm, parali$ada pela .inércia cfa era ÍÇ<Io alfab1.:t1ca, s Jelinafmen e
st impor às Unfuas moderr.a., s.11fo:anco nel
J/d
U5
!ornou ca51ame tempo. e o aruquilrune:ito nunca foi completo durante
oc; sé..:u e,~ medievais Mesmo qu,ir1d:,, ~mcontran .. md.:i, diturdiu stlar-
!!amcnt,e ou~;, do si.tema gráfico, a~rfeu;oado ao loniio do~ .çéculm,,
a música permaneceu - .s.1muhaneamente - de tradição oral. As va
riantes do,. cJiansonniers oompiladas apó~ 1250 1300 se explicam pelu
di,agações e pela perpérna re~riação que implicam.~ Mas, para além 6
do ••gra.nde ai.nto cortê.", esse rcMi.mc foi sem nenliwna dúvida u t.lr
toca a poesia mu.sical de ~.JJco ou seis ,-êculos de história. cu,op~fa: H. UNIDADE E DIVERSIDADE
R. Lug realçou seu:! t:friLos cm vari05 setores da. musica popu.l~, nos
dois lados do ALJântico, até o s~cnlo x1x, quando não ao >..x. 30
li~ j J7
temunhog ornís, nos quau nega a au1ori<l:ide: a re1e1çào das forma
de une tidm como J~asiado rústicas: clichê fr~qüen1e no meio cor- texto humuno do i.tu1lo x1, '\:li e \'.Ili, a sens1b1hw de e o prns..unc1110
tei.ão. do ,éculo XJI ao xv, pela pena de a utores Íigados à aristocracia d?s indn.fdtirh. ~ Irai n o St_Enrf ca pop!.1/ar, 1nn10 qu:mto cnro n 1 ig-
pQ]ir , w o um Chrtti n de lroYtS o u um marquês de Santillana. fi ~- -t'f~•'ff'• e ra erudlt ~ lCll·
A força dessas tensões 1.uiou ao longo do tempo. Desse ponto de vista, ffloa, no stto uma ,·ultuza oomurn, à ,a risfaç-ão de n.ccessid dei là.Q·
o~ séi..71.los XH e ·,::-•1 cor,stituem uma êpoca ~uenre. Pois é nela mesma lade..., da globalidade \·1VJda, a instauração d e condma.s am õnomas,
que se começam a escrever as poesia, ern hr~ua - ulgar e- que --.~ '.I',- exprimlveis rnuna lingi..agern consciente d.e ~ru5 ;ins ~ mcvd em ~Jar;ào
c1 .:Ta~, popi.iar, a lencêr.c::a a alro grall de fJ.:1;:-onalidade das form~,
delos. Iaunus começam a influenciar suas form as. Convergência apcís
a divrrgência? Su ptração de um antagornsm o? Emergência de uma sín- no imerior de comrmcs ancorados. ra experiénciacotid1ar.a, rnm desíg-
tese para a!ém das c□ntradtções? As p,esgui~as : e-centes sobre a halt.io- nio5 co le!i\'OS e em linguagem reJativamen.te~ ristalizada. Conhecem-se
grafia, a epopéia e o "ro1m1TJce" moaramni a imponânda e a riq-ue- os im~es a que aniigamc:nte condu ria a imrrudent e :itfoç tfo d e~S e'S
za da dupla corrente de intercâmbios entr::: o que nos aparece corno U.'ll renno:s nos estudos sobre a~ direua, formas de poesia medie1•al. 3 Até
folclore e a cu.Jm.-a. do.s deres desse tempo; o n:sultado de tats mterfe- há ])OUCO, o~ historiadores foram vitima~de preconceitos vindos da época
rências é qua.se sempre uma muação qualitativa; e se poderia ver na em Qlle, :pe]os meados do século xr.x, a Europa descobria (ou s.e deve-
multiplic~çào dess~. fatos um dos ek:nemos de certo estilo de ~poca, ria e5crever "im-em.a'II~' '?) seu fo lclore e, cm suas ilusões eienüficistus,
caracteriz3ndo os ano~ de JQ:!'O a J300. É desse · 'estilo" que emerge a
imaginaYa-se dúplice. O ensino obrigatório ia eliminando a metade ver-
coru.eivação de fonnas da arte vocal, ás •,ez.es muito elaboradas, sob gonhosa. À "Idacle Média" infe!izm.e:ite, faltaram profo,$0m...
0 Do s.écu.Io xt ao XN, essa opinião parecia confirmada pela perma-
pr óprio regime da escritura. Se, esquematizando muito, têm-se em vista
os dC"z séculos de 500 a 1500 como um campo de forças em movimento nência, entre os escritores eclesiásticos ou e~col~, de um clkh~ que
distinguem-se a1 dois graqdes impulsos: pagão-"popuJar >t-oral, de um1i, opunha aos Jittera!i osJ/Jittuaftc _no qual aparentemcnJe tudo os sepa-
rava. Várin,;; e-srudo; cons.ll!Ta.dos em nosso~ d.ias a e;se \'0Caoulár1o mos-
parte; c1 blâu-crud:irn-escrito, da outra. Logo, porém, o esquema se em-
traram quais nuances sua incerpretaçâo exige._. A oposição não r~~
baralha: cada um dos termos de cada série interfere no outro; a ordem
por in rt"fro a_g_uela quc_sc de.scnbar.ia entre o.Jiiêffi i'ihia que_sabe ler e
hierârquica dos elementos se transtorna; instauram.se oposições incon-
o güeTgiiõra a leitura: Gautier Map distingue litttralus de scriba; um
gruente5. Restam dois dinamismos conflirn:iis, de força quase igua]
até o fim. bom escriba pode s1;:-; illitre-ratus-, um flttefYltUS não ::-ecorre necessaria-
mente à escrila no cumprirnento de suai ta1efas cotidiana~: a proprie-
dade q rJi: e, çualifica, hltermura, em frances antigo lettrure (em inglês
lite.racy), é menos um atributo p~soal do que nm tipo de relação ex.is-
Faz aJ~uns an.os, em particular no r.i:.scro ,;le autures soviéticos co-
,.. tente c:r.tre ele e certa prática significante. A oposição se acha neutrali-
mo BaJch.tine e Gou.:evitch, muito~ medinralütas acentuam a orieinali-
zada no duno ordinârio da , 'ida; faloll-se ji!. da "'simbiose'' do letrado
<.
dade, e mesmo quase a auconomia, de uma "cultura poQ.ular'~ e as.J:.en...
e do iletrado. Somente os dist:.ngue um d o outro. e;n certo5 casos, a na-
sões assim produzidasJ •um cacdufo pre:edeme, indiquei a inutilidade,
tureza do sabt':r ao qual seu discurso faz ~ferência. Donde o cará[er \'3•
até a nocividade, de tal ::ioção quando se aplka a uma época~ r
go, quando não amb:íguo, da noção: ( if)/,õtteraw.s ,·eicula um conjunto
a ~ ~Talvez ae,,,ês.sernos generalizar essa restrição; a i~ de idéias Prontfil relatiras ao coahecimento prálko de uma linguagem
"cuJtura populur" é só uma comodidade que permite o enquadramen-
definida por regras. Na~ aplicações que se fazem delas, os termos reme-
to dos fatos; refere-se a llSCls, rufo a uma essência; a "p,opu]aridade" tem ao uso 1;eja do latim, ,~ja da esccrura, seja de um e outro; ou en-
de um traço de costumes ou de wn discurso é tão-son:ente sua rel.a;:ão
tão, mais especificamtnte. a um corpo de intérpretêS, hermeneutas, fi-
histór kJ hir et nunc com este ou aquele ourro tm;o, este ou aquele dis- lólogos, glo,adal'C$, en camegados da t rarum1s...-ão dos Mberr~ teôrico~ .
2
curso. ~ tando-st da VOl e das artes dz voz. a oposi~o do ' • ~ - Do lllterat!J.S ao illmeratus se ~..;tende uma longa~• de nuance:$. na
lar" ao " erudito" remete, quando muito, aos co~tu.me.s predominantes qual cada clocwor se de loca a seu mo-do. Ol!tro fa.:or de cquh 01..u . uc
neste 0,1:naquc-le momentoemeio. traYessa as daSS!S sociais e, no con- o ,&:ulo xrn, a oposição litterotus/,llmuoru.s coin...lde com quda que
o m o rrrn ntém entre• 'clerc'' e "laico"; herança vcrb:tl d ~ umn itu.ição
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antiga, ultrapassada de~dc o cculo xr. Aqui e acolá no é indkado um du forma e-:.crira aos iJiorra,;; g:--rmãr.ícos, romãni:os, esfavos. A partir
laicus lratratJJ.S. O que é 11.,0'? Sim pie:, elogio hiperbólico, na figun de de> sci.:uh :.. 11, a obra de rtCUl)C"Jçâo tnrna Lt si~re:-nática e.- J:<!rmite o
o:i.ímurn? lmer~amemc, John ur Sali~bJf) fala d-:: um ~\· 1U1trerarus:, e.,en:1cio triur.fan1e d.1, cen~L1ras: qL11SL rudo v qu~ sabe1110~ ,.lei ~~ia
pelo que comem entender que e.s~e rei (qualquer que seja, aliali-. ,cu ~a- medieval arravé~ de sell., textos é ~ osliomens de lem1~ jul~arc1~
ber) e! uiva-se de consultar o~ intelec1uius de srn tirculo.' Coe, o pre- que: ckvêsSC"rn,2s ).ilbe-, E~c11:n:r, qve na Amiguidacle ha,1ia siao traba-
texto de um vocabulário imutável, um desli.zarnento 1deológko - urna lho servil e depois, na alta Idade Med.a, apostolado, consi,ti: ago:a em
"laicl:zaçào" - princiµia nos ano 1140-5-0 e ~e acelera após 3100, para -7 decan.ta.r~vra colelfva
terminar só no ~Jo XJlr', O movimento decolou devagar, quase clandestinameote, para res-
O letrado sabe o latim e possui uma relação privilegiada oom a cul- pcTI der a exigências específicas., entre as quais a mais corurante dizia
lllfa gt:e essa lingua transmite. Ora, durante rnefo milênio a propria exi.s- re~peilo ãs ne::essidade~ pastorais. Já
-
no século H' o bispo Úlfila lon-
_..:.;,.i_~'----]
t f 11c1 a dessa cuJtura - dominando, de st:a.s fortalei.as eclesiásticas t cni- ginquo precursor, trac.nzíra;;. Blblia para o gót~co, a fim (segundo F.
versitá--ia:-. o território das nações europcias em formação - :::o□stit:.1iu Cardirj) de lê-la em publico a suas ovel:1as;~ ina.ogurc.va astlm uma das
Jrn obstáculo a que a..5 linguas vulgare.s emerg:i.5se.:n fora da ~a.tuUlJla tradições que se-rào mú, bem nu1rida-. taI1to eaae os ortodoxos quan-
pura o:-a.Jidad.e. Elas emergiram daí, d~ faw, mas bastante lentamente to :ios círculm heterodol(os, ~ gue chegara um dia a LJtero. Em seu ras-
e ao pre;:o de comprometimentos, dos qLLais nós, :\-1odemos, w-::nos as tro desabrochou muito cedo uma poe-$i.l, o Heliarul saxão, ;>Or volta de
,.-itimas, pni~ prm•ncaram a perda irreme:liái.·el das formas de vocatida- 830, aEu/t1liepicarda, meioiéculo rna·s ;arde...~ ~ i g ê n ~ p:>lili-
dc que tai·,ez th·es.sem alto valor poético e cuja preservação te:i:a de al- ca caralini1a le\laram os príncipes a fazer redigir em Jfogµa V!Llgar,...&g-
.11um m"~fo modificado nossa hidória. Globalmente. no curso desses sé- tos_grrupro:nis,os coletivos: fómnla de Sois.sons, por volta de 7R5; ver-
cu los, toda a poesia em língua vulgar ficara. também virtualrne::m "e.lo sões româ1icas e frâncicas dos Jw--amerrJos de Esmisóurgo, em 842. O
outro lado'' dEI escritura: percebida primeiramente como nma arte da rei d.e We.,iex, Alfre<lo, a rarti r de 5:70, tendo orcenad,::i tradtJúr Orósio
voz. Donde uma tensão no cada vez mi;-os moceme cara-a-cara do la- e Gregório, o Grande., faz red:gir por e~::rí:o suas.leis, preocupado ::om
dm e da~ ·:111.ua.-, ,. ulg.ires.~'os primeiros tc=npo< de.,;.;.a história.~= n'1arn a de-sag:-egar-ão da cultur;i lati.'la sol, o, golpc-s do~ ,·i~ings. A líogu vul-
sir.J.n grê.t1des-as chances ~ra que s.e produnsse uma especializacio fun- gar aprove.la-se de tal modo de~sa.s l'.~periências que, dois sen.los mais
cional: D la:lm, a escrita; às JiJJgui:1.5 vul~arcs, a o-=a]jdade. 'To] fm o C'.:l- t.ude, o anglo .SJ.'i:ãO será o pr.md:o idioma eu.ropeu ê:I pu~sui.r (p:k1 pr-
50, na época rr:ais discante., por razões históricas d.:mradas do :;:u.e. nos na de- Aelfri; e de Wul:s~an)_ um~ prosa artistíca.[Petrnanece sem,RK.c
reinos tãrbarns. subsj stiu da antiga traJição dos e.1cribas. Desde os ~é- fato de que o fator dec1s1\''.l ineiliato d~ .::0101,:ago po;:.,esc.r.im.I9j a ln-
culos tv e ~, xrém, a cultura let7ada da An;:igilidade, relativarr:.ente ho- tenção seja de r~gimar um ciimmo prcv1a.menre pr::>nunciaj::,, seja de
mogênea e f~chada, teve de ceder a uma multiplicià.itlt: de ~ubn:.l:ur.15 p~e,:aT-ªI,.l.Ull t~ue!l-Üll-i:llfil à ~lt:Jf-.l pública ou ao canto.ru:lliuuuia-
prm'inc:ais. na busca c.onfma de suas origlflali da.:fes. A lingua enJdita, yueJa circu,mância. A e~criui eJa só wna parada rrovisória da voz.
artiticiaJmeme mannda, dava a impres~ão ::k afrollxar, talvez de :!eter, • Dentre 1c: ,rns próprios jmile:s, as coJoç:açõe.s pc-r escriw cor.sti-
e:s.;a dispersão. E, quanto mais esta mtsnw assi:rn se acentua••._, mais :uem um fato hi~tórico de gran~c im~ncia. ao qt..al reIJ!Onta .s.em
se í ntensifü"'"'ª a necessidade de exaltar .a pureza e a peremdade da es- dúvida tudo o gue, ontem ainda, zazia nossa m.oder:Udade. .A voz,j Q.
cntllra latina; daí as periódicas "Renas:::en;as" :dencificadas pelos 11is- Out:3 da escritura.; para fulldar sua :egitimidadi; a.;seprar a longo prazo
toriadorcs, no, séculos rx, xr1 e X\ As línguas \'1llga;es I fruto jE, :01- sua hegemcnia, a escritura não deve reprimir de ca..'11 esse olll.ro, mas
fo.15iio de Babel. segunco Dante no De vf.llgan elorp,;enl/a, ,, v::), origem primeiro demonsuar curio;\,idade :;::~r ele, requerer seu desejo nani.:es-
t: .,1mbo o da dispersão dos discursos e da perda ::fa unica sabedor.a, a tando uma tnct..-neza a seu res:,e:lo: saber mais dele, aproximar-se ac.e
ca:ia urra :1~ ..~a-. cri-e,;; mals avancaram com ~.rande, saltos e:n ,t'll pn""- os limites marrnr.os por Jm cm50.- .Jl\ 1~1.-..:: \[a, 1 Outro '-"GÍ in~talar-
priri carn.nho, Tàrr.bern aumenta\a a 1en1acão. po• pane dos ci'e,·cs. de ;e no papel q Ll.L J~51m e traçado pan e:e; vai rei\·ind.icar sua prôpnd \'cr-
r;aptar e1~a~ litrp:u.a~. de recuperar -.ua erer5;pa ~ su.a ,e-racid:ide pJÓpJias dade.. m-ers.t Reação de dt'fe!">! da voz poêlica. ~llbr-i~ ,ão ao~ valan-,
t.entaçàc d:: fazer seleti\amente entrar cm Wl ordem vozes que delas que puecern próprio~ à emitu-a latina; absorção de elementos do sa-
em:inam. Donde. por todo o Ociden a - e<l traços men · que "l'Cicnla ~,oco:Jonizaçio fanei<).
}}(,
na] 5e e5'boça desde o• ;,rime1ro, 1ex10~; revelar-•e-á ao longo d~ ~ê-~u 1pollti,a, social, mmal l, tn1ra ru1<lo a mente em cena t força o Letra(io~
l J.lll""'-l~lll ~ o emven.çãõ par. racona - aum .,.,..-....~
Sempre. até o séc..tlo xi, a in:ciuiva el'>critural vem do mais alto, fos e e, Oh1m, arvorar-.:-e al ~um domínio sobre ela l I es~ e ffl1prccnd1men-
e a lntençào não ~e dis:si:n ola. E:n nossos arquivos, todos os rexcoc: que- to. ~eu mais poderesa im1rumento é a escritura: e e,ta, cedo ou tarde,
cmmituem a p:imeira onda c..e poe~ias européias provêm de ai[gum e·an- 1 berta-se da mais ~•ada .o~rcão vocaJ que ainda pesa ~obre ~i: o ~·eno.
db mosteiros ou do creu o reg10. Ou então se inscrevem nu.m mo·,1- Donde a difusão. nos séculfü xm e .x:1v, de uma prosa n1rrati~·a, e em
rnento de renovação lilÚI~iza e rrwical que atravessa os. 50:uJos, do fim ~çguida, no século x,, a ree~critura prosaica dos anti1,1;00 relatos em ver-
do sêcuJo vm ao :e:: a:, ~:rn o Georgslied de Reichenau (lingll.Lit1came-n- sos, o Érec de 1454, o Tfotan alemão de 1484, o Percevq/ de 1530 e os
L4 o máximo de ,cti•icio), o Sain: Léger franco-orcitâ.nico, o Alem □or numerosos "roman,;:e-~ •• feitos de compilação das cancães de gesta ..
rna11do 011 ainda, rr.ai~ carde. o Ritmo italiano sobre o mesmo iamo. A partir de entãc, enfraquece-se a função exdusiva reservada às tra-
Uma floração similar se procuzirá na Escandinávi:1, na própria Islân- d_ções orais de tran<:missâr1 do9 conl:ecimencos dentro de grupo social;
dia, a partir do século xu. ta.vez ja no XI, sobre os passos dos primei- enfraquece-se majs ainda,;- rapidamente se dissipa, a ilusão enciclopé-
ros m issionários crist2os. Ou então os poemas colocf.dos por escrito con- dica que sustentava essa função [já q .1e, por mais limitado. que fos~,
tnbu.íram para reunir em tornei do rei a comunidade de seus fiéis os conhecimentos: as.sim priesenado5 cobriam todo o campo da expe-
exJi irando n p:cis.•rnrln herói<"O, come o Hiidebrandslied, ,o Beov.•ulf, ta!- riência): o domínio dai tramçõet orais se apequena, fra~enta-se, com
vez as mai5 antigas canções de gesta francesas (ainca que nenhum ma- o tempo se m.argi1:afüru-á, :nas não em proveito ::!e outro enciclopedis-
nuscri to seja anterior ao século x:1); e de outra mane-ira, a 0·,5r..1ca m:>. A despeito de alguma, aparências e de um gJobalisn:o triunfante
anglo-rax6nica, que foi ini~ada pc:,r volta de 89(1 sob o rei Alfre=o (e entre os escolásticos ncs 1250-80, o espaço as~im liberado é progrf!jsi-
que se proJongará até 1154), ou a tradução, à mesma. época, da Hésro,ia vamentc ocupado pur "ci€m:ias" dc:~ccmínuas, ~m número crescente.
eccJesiast1ca de ~da; sem -mencionar o Ludwigslied. que celebra.,ra ai \oi- ;>ara as quais ou pelas gua.:s o 1Jomem cria uma linguagem, .abstrata,
tócia de Lu.is ur sobre oo \'ikii.1,gs em Saucourt em S81, e, na outra exue- empenhando cada vez menos a :-ealidade do corpo.
midade da. Europa.. os Anaü redigidos em Kiev no século x e :recoma- E o que é, em me:ío a eS!';as 'lltJ.taçõcs, llR1 '' ietrado" '? Para H uguc-
<lu~ oas Crónicas russas do século XIJI •.• cio da Pisa, em suas Magnae dtnvationes, rto fim do século Xll, ret~
Primeiro aparecimento. em nosso horizonte, de uma p~fa e de madas cem anos mais tarde no Carholicon de Giovanni Balbi, dicitur
relatos comemora1i1;os aproximativamente fonnulados na liogua 'fl'ta fitteratus qui ex arre de rude voce rcit fonnare li!teras•.. et omtiones scit
comum; te-stemllllla5 ímpe:rfeitas e indiretas da pre~ença de uma rnz. cor.grue pro/erre et acc01tucm ("chama:n lerrajo aquele que por ane
Cr<Jt1.ologicamente. LOS territó:ios ~ab-romãnicos e ge:mânkos (de- longe sabe tirar da grosseria da voz uma expressão regciada... e pronundar
os mais empe!lh.adornesse projete de aCJJlturação) segue-s:! lDD f'C.lii;se, seu.; discursos com pertinência e. usta modulaçjo''7 - pomo de 1-·is1a
aparente s[êncio de dois on três séculos. Deslancha então a se-gunda or~da retêirioo, colocando a definição na ún.ica perspecuva da pronunciatiol
de escritura poética em língua vu__.gar - sem rup:ura a!é :iossos d:as. Quanto aos illitterati, ningu!m lhes nega um.a autoridade parricrilar; é
Essa seg11nda onda i:az um sentid-J diferente da primeira, Nlais do gae nes.sa perspectiva que ,;:onvém fixar as freqüentes referências feitas por
aproximação e do::aesticação, ela é er:úrentamento e conqu:isca_ifaz se- nossos tc.ttos poéticos a alguma foate oral. Pbucn importa que esta seja
culos, as ciercr .sabem e repr::tern qce o se;mo vu!gari.s é simultaneamen- talvez fictícia. Um letrado como Wace no Brut, no Rou, em seu Saint
te raiz e fnuo de uma cultura sehagem, não oficial. embora onipreser..- N'icolas, M.arie de Franre em ç_en.ll !ALS, ma.s também dezena:: de bagió-
te, feita de sedimentações obSCUíi!- acumuladas desde o Neofaico, grafos e contadores remetem asm:l ao que funda, a seus olhos e aos ou-
podem~ IIllit11n "camponesa' (isto é, "pagã") de lemb:rmças i:!ioen- vidos do público, a auto:idade de seu dllcurs-0, uma tradiç.1o, um relato
ca~. ct!licas, germânicas, de crenças, de práticas; uma arte cnm a guaJ q1..e •eterna, um diz-que-diz. Segundo a tese ,,igorosamcme ,u tcnta<.la
a tradição latina.. edesiástica e escclar é obrigada a trens:igir, oa impoo- par B. Stock, o "iletrado" pcnence muit~ vezes a uJgum1 "comunida-
1,íbilidade dt ter podido extirpá-la com a acusação de paganimlo ou ele de textual", em viriucle w refo-íbcias que a C1tist~ncia o fo r,;a ra2~r
i,er~io..!oi~ tLP.ill'ti.r dos secu.csx;, x.n e~w,, conforme os lugares, c!- n tnl ou qual escrito (m~mo •e nJ.o há au:,~,o Jimo e tt') e da autori-
,.:1cuU ma popular, at~ c:1tão reprimi :l.a nos bastidores do re:uro da On:k:n. dade que lhe é reconhc:ci~a.
1ürrtr,,.rw e íllifleratus referem-se, portanto, menos a indMCJuos to- uma p:ods~Jo d!.' idéias hierarqu1camcntr aniculadas, rnja interpreta-
.. 1 mado,~ ma I otahda«Je do gue a nfvi:i~ <I, ~u11ura que RC>Óem c;1Ji:.us,,r ç:!o não dei:1i,,.1 lu~ar parn t) equ1vm:o, apesar Ja diversidade dos _dl)wr-
1cooh1cm lrequenternente) no imermr de um mesmo _grupo, 111é no co111- sm, ,=1uc> a !i,losam_
~ 1cnt11 e"ª
entaliundr do mesmo mdwíduo1 O ile1rado- a par- t\o francê& ar.tigo, o vl!rbo esc.rirc• significa tanto "desenhar'' ou
te "ilcmul11" de num, de ~·oc!, d~~ta i.octedade rnteara - domba mr- •• pmtar" quanto rraçar lclr~: • e crij .ra..é uma tiguraçfo._ E o que nos
noi. a~ palavra e menos da paJa~·ras, mas está m.ai.:, prói<imo destas e aparece ;;orno uma fluuiaçãosemántica é profundarncnle motivado nas
i.ofre tru11.- 5W poder; em dlh'lida, é por is;)o que (comú a própria "le- a.entalídadcs des&c tempo: o ft!C-SO bizantino grtJphein se refere. ele tam-
tra" jo E\'angelho aponta) ccnvém fazer triunfar em si a illettrure para bém, a inscrição e à imagem, ao relato e ao afresco, :'.'-lo limite de seu
3SSegurar a salvação: Fraa::is:o de A ssis entendei: "Literalmente" essa ~róprio 1.mpulso, a prática ca" c-scrituras confina com o rebm. Ci.ei an-
metáfora e rejeitou a curios1;as dos livros.E Leriormer.te alguns exemples do r;;éculo xv ou do mk1 o do xvr. ,; ~1ais
Pda ;,e:1a ou pelo cnsmamento dos sábios, uma 'l.COiia se csboÇOlil do ~ueurna iema.ção m:a~imral, pmêm, o 1'2\Ju} parece con.s:iroir então,
desde o sécrJlo rv e tomou fomia em Isidoro e Gregório, o Grande. pa- como ao ccrrno cas tradições medfr:vai.s, o modelo ideal e paradoxal do
ra auav:::::.~<1: a êpoca medtC'\'al ate os "·ersos bem conl1ecido~ tle Y.illon. acabamemo poeti.co. Majj_ comurneme. a Uu.mínura w;50cia mi página
aos letrado.s a escritura, aos iletrados as imagens, com igual veracida- a e~crimnte a pintura, numune.sma ilÕmêtna cuíos componentes ten•
de;9 inru,?r1 ('"decifrar com os :>lhos e penerrar" o tex:t..o) contra ccntem- dcm a trocar suas Tunçõe; ou a supei:.â..lasj_unlOs, com ,.fatas a lílm~-
plari, segundo JS termos de uma resolução do sínodo dt A:rras, em 1205, neameme ritmar .a pal.wra e produzir .uma ~igni fí.ca_@o m~~ rica e mais.
que pareçe excluir toda situação mediadora." O ::utLanismo ocidental segura. Alflures, o texto ~e ini;i mia no ,quadro, em legenda, em divisa,
rão compart.lha nem as rendê-reias iwílocláscicas de certos onentais nem pintado em bande1;ola 011 bordado sobre o ves~1do, afü,;ado por eTILre
.a ;,ru,J~"'l:::,a de islamismo, o qual. por horror à idolatria, faz da pró- os c:mários do teatro ou da festa principes.:-a. O 1e.-xto trai: os slnai~ li.n-
pria ei;crüu~a., em suas grafias, o fundamento de toda arte visual e pás- ~üísticos da mensa.~em, cvocc..ndo os fatm e a interprct.ação etimológi-
t1ca. G ·egoria, o Grande, jâ havia tomado posição; instruir-se por meio ;_a, ce sW1s designações; a i)u$1ração pictural modifica em: dado, estabe-
de uma rcp~csentação figuc-ada não significa adorar e&.a pimura. 11 ln- lece suas correlaçõe;, !!Spirituais e garante a inte~raçào de rodos esses
\'; 'liam e:1 te, elemeJJtos. unidos cm relaçlles alegóricas. N1Jmerosos manuscritos in-
~erem nas ilu.stracões tin~u GUe indicam. coro maio, ou menor su~lleza,
Omni:; m1.md1 crea1ura
a relação com o texto. freqüentemente, o lituius 5e exJJÕe perto da boca
qua.s1 li~er et p1ctura...
de ums per5onagem, da qmd anota as p:alav1as; <lá-~e a.~sim ,que eoue
("a criação inteira nos é como livro e pintura..."): esses :::elebres versos duas personagens se e'i-Labclece um breve diálogo, não c.-.t.raido do texto
ílr A.fair1 de J ille nm impedem de djssociar Jiôer de pictura, retomac:os ~onJ'JntO. A diferencn e.11~re e.~5e prQ~.çdimemo e nmsm, quadrinho~ clf'-
·untes, na linb.a seguinte, pela palavra speculum ("'espelho' •i. Des!.e ponto riva da ausêacia de narrativa explícita, O diáJogo ...irnaJm1cio, por opo•
de vista, a esrr:ta tende menoi, em sua função primària, 'ã""ai"otãi- as sição ao texto que constitui :r.iatcriulmente seu lugar, volta-se para a or-
paidvras pronunciadas do CtUe 3J fundar Ulllil ~'isualidade ernblemátic-a; dem sensorial. Re5titui ao olho as condições emp1ricas, concreta,;., das
êlã/é, sobre a pãgTna, o univeno. E;ae - mesmo que a que-da. de Adão pc1c.::pçõcs "naturais". O artista não dispõe de mt:io;; J)llra fazer escu-
The tenha ~:r~-batado essa virtm:e - ha-...~a sido o idoogramr.: traçado por Ear a voz; mas pelo meno!i- a cita intencionalmente naquele contexto, con-
Deus para o ho:ncm O afrescc, o ::-apitei narrafr,•o. o Yi traJ, a fachada fiando ao olho a :arcfa tlc- ~ug::ri.T <1u L>m-i<lo, a tec.i;lidade sonora. E:;sei
da igreja são, por isso mesmo, ele-.s também ideogramas p,otenciais, que trctn.~fcrê:ic.;. de Jm sentidc a ou·ro pcrce aqui a pura iib.s.tração que
uma \ :>n~ado: tle leil ura atua]i.u.. E,)truturada, mc1~ ctàu h:i.ear, projeta- tena :1a Jeimra muda e so 1taria.
da em setrn~ que barmomzam as proporções de suas massas, do cen- En.rclaulo, a arte plâstica :;o[Jscrva sua d.Uto:nomia ncl interior de
tro a:. :-x1rc:m1dcadc:~. de etma para baixo, de t>aI.Xo para cuna, na~ du:l!, tal !>lst::roa de tnte::-camb10:;, Se as vezes a.kgonz:a. de m,me1ra mani ,esta.
dir:çõe~ da b:>n1.0111.aJ, demarcada por figur& e~:ilpide:s que funcio- o r.exto que ilustra. ocorre-lhe: proctder pelas ~-ias mais indirei:as de uma
nam a mave:i•a ;te· 'cha\·es" de certas e:.crituras complexas: a fachada, "d•a'etalização'' narrati\~d (conforme termo de V. Branca). Assim os de-
qncéPa ·na como a Palavra de Deu , Pagmasacro, d~enha um Idéia, cenhos ma1gina.~ do~lebrc "Saltcrio de Utrecht"; ass:..m as mmiaturas
/14 125
nal ~e esboça de:.de os prnreiros t-extm; 1evel.u ~•á ao longo do<, séc • tpohtica, social, mor,1l l. emra ru1dosame'ltr! cmcen e forço o 1.etnu;lm
10-. :,,,:1 e ,rrr. a \!.!!l;iiratlii!CI o esíon;o de mvcncão para raaoru:1fizá-l um ncuco que
Sempre. ate o seculo xr. a iniciativa escritura.l nm do mais aho fosse~ n~ 1m rYODr•,s~ don
e a intendo não se tfus1mula . Em nossos a ~qui,'05, todo os textos que to, eu ma1 podeio o 1rutr.umm10 i e mura; e est • CfflO ou t rde,
l'.Om ti111em a pr mei:-a o!"lda de poesias eurc pe1as ;,ro,·êm d~ alguns gran- 11berra-s.e da mais pe'l,ad .i. coerçào ~oca! q1ic ainda pesa ~ubre si: o ~·er~o.
de~ mosteiros c u do circulo rê-gio. Ou e~tão se ins.c-evcm num movi- Donde a difusão, nos séculos xrn e xiv, de uma prosa r.a rrati va. e iem
rne-nt:::i de renovação li:úrgica e MUSKJ.I qt• +,-; ..e,~a os ~"li.los, do fim ~e-guida, no ,éc l a rees~riturn i: a.icados a.nugo~ ·elaro~ em,·,~-
do secwc vm ao xn: asun e Georgslieâ de Reic~enau (l[ngüirncamen- ~os, o Érec de 1454, o Tristmr alemão de 1484, o Perr:evcl de 1530 e ;1s
te, o rnáx;;no de arliflcic), (J Sa:nr Leger franco occitâmco, o A lexis nor- numerosos "romances'' feLtos de compib ç:ão da~ cançoes de gesta ...
mando ou ai,da. rnai5 tarde, ::> R itmo itaJfano sobre o mesmo santo. A panjr de então, enf:aquece-se a fun;ão exd wi va re,en·ada às~-
Uma :1oraçâo ~imila:- se produzira na Es.;a:1d"nàvia, na própria Islân- diçõ~ orais de tnm~mi:ssão dos conhecímmtos dentro do grupo soda.;
dia. a partir do sfrulo xn, talvez já no xi, 5otJre os passos dos primei- enfraquece-se mais alinda, e rapjdamente 3e dissipa, a iJwão encidopé-
:os Jlllisionártos cristãos. OU então os poemas coloca.dos por escrito con- clica que sustentava essa função (já que, por mais linitados qae fossem,
CTibuira:n parn reunir- cm tono do rei a comu.nic!ade cfe seus fiéis os conhecimentos assim preservados cobriam todo o campo da expe-
exa.Jtando o passado heróico. como o Hildeõrorutsfiecl, o Beowulf, t.a.1- riência): o domínio das tradições orais se apequena, fragmenta-se, com
~~z as mais an.l..igru; canções de gesta francesas (amd.a que nenhum ma- o tempo se marginalizará, mas não em pro1,:ito de outro enciclopecfü~
nusCil.to seJa anterior ao secu.o xnJ; e :te cutra maneira, a Crónica mo. A despeito de algumas a~a.""ências e de um gfobalismo ~riunfanre
a11glo-rcxônica, que foi iniciada por volta de: 890 sob o rei ..\lfredo (e entre os escoJásticos nos 1250-80, o espaço assim li!lerado é progressi-
que ~e p;-olongará até 1154), ou a tradução, à mesma época, da Historio ,ramenc.e ocupado por ' 'ciências'' descontinuas., em númtro crescente,.
ecdesia.stica :ie Beda; sem mencionar o Ludw1gshed. que celebrava a ,i - para as Quais ou pelas quais o J-omem cria uma ]jnguagem, abstraca,
tória de Lufa rrr sobre os ,ü:1r.g5 em Saucourt em 881 , e, na outra exrre- empenhando cada vez menos a realidade do corpo.
mídade da Europa, os Anais r,edigidos em K.iev no sérnlo x e retoma- E o que é, em meio a essas m1Jtações,, um " letrado"? Para Huguc-
dos nas Crônicas russas do século XJJL. cio da Pisa, em suas l'Jagnae derivationes, no fim ,o séçuJo XII, reto-
Pr:.meiro aparecime::ito, em nosso horizonte, de uma poesia e de madas cem anos mais tarde no Catholicor. de Giovanni Balbi, dicit.u 1
relatos comemo!ativos aprox:mativament.e fonnuJados na língua ,1va Jitteratus qui ex ane de rude vo.ce scit formcre fittera.s. •. et croJ.'ones sci1
comum; testemunhas imperfeitas e indiretas da presença de uma voz. congrue proferre et accentuart' (' 'chamam letrado aquele gue por arte
Cronologi.c.amentei nos teritórios galo-rornâ.nJcos e 8erm.ánico,s (de longe s.abe tirar da grosseria da voz un:a expressão regulada... e pronunciar
os mais empenhados nt!fie p:ojeto de acu.ltura;ào) segue-se um eclipse, ~eus discursos com pertinência e j,ma modulação"' - pomo de ~•isra
aparente silencic:i de dois ou três séculos. Deslancha então a ~egunda onda re1órico1 colocando a definição na única perspectiva da pronunciatio!
,.
1 de escrituro poética em língua ..-ulgar - se'l' rupcura até no.ssos dias. Quanto aos illitterati, ninguém lhe~ nega uma autoridade particular; é
Essa segunda onda traz um seaLdo diferente da primeira. :Mais do que nessa perspectiva que· com•ém fixar as freqüentes reforêncm feitas po:-
aproximaçfo e domc,ticaçâo, ela é enfrcnr.arnc:nm ::: con.qu.ista.• !Faz sé-- nossos tacos poéticos a alguma íon:~ oral. Pouco importa que esta seja
culos, os ciercs sabem e- repetem que o sermo vulgaris é simultaneamen - talvez fictícia. Um letrado como Wace no lirut, no Rnu, em seu Saurr
Lc rdit. e fruto de uma cultura ~eJ vagem, não ofü:ial, embora onipmen- ,Vicolas, Marie de France em seus Lats, mas também dezenas de hagjó-
te. feita de sedimentações ol>scura.ci acu:mulada.s desde o Neolitioo, grafos e contadores remetem .mim ao que funda, a seus olhos e aos ou-
pod~rosa mistu.."a. "camponesa" (isto é, ' 'pagã '.1 de lembranças 1beri- •;idos do público, a autondade de seu discurso, uma tradição, um relato
ca$, dl:icas, grrmllnicas, de crer.ças, de pralicas: uma arte com a qual que retorna, um diz-que-diz. Segundo a tese ~·igoro~amente s ustcmac!a
a tradição latina, eclesiástica e escolar é obriga_da .a uan.s.:igir, o.a impos- por R Stock, o "iletrado" l)fflence muitas wzc al.guma •tomunida-
si':,ilí dade de te!r podido atirpá-la com a acusacão de paganismo ou de de textual", em virtude das referências que u oi 1!ncia o força a raur
'"eresia. Pois a partiLdQU~culou:r._xne .xw, conforme o;s: lugares, es-- a caJ ou g uaJ escrito (mesmo se ndo hà acesso direto a este) e da aurori-
.rn culru; -popular. are então reprimida oos bastidores do reauo da Ordem d.a de que lhe é reconhe<:ida.
122 ,•
J- .1
que li!eraJizam as me1áforas da lirguagem. Da imagtm à escrna e 111 o manuscrito autografo <lo lJec-am~mn fornecem Limo um comen1dri11
Vf'rsarn ente, a referencia nào ! unlvoca. Uma só~ por e.,:ceção o par da 1u15nomo, em pane c;.iricato, o q 1al força a entrada do 10:10 e o bre
ouua. Opõem-se men:Js em virtude de sua >lgniftcância mpe..:t1va do para uma poderosa correnri: c,trna~u.lesca, cm que às 1•czcs o arotcsco
que do tipa de com::laçãu q une emnito . m la.âo, a a- m oo U a _,,.~....o p,e - o e mêi.1 em ;,1. a t,-
ção por contiguidade de percepçõe~ sensorias: e, de oJtro. ::o<iificação cmura medieval é 1mda ma dissociada do desenho e perrnencct para-
que 1mplko1 t..m.:1 hiera-qui2ac;ão d.e caráter, ao menos :endendalmente. doxalmente 1de manem1 latente. numa parte de~• me,.rnai ideogra..mà'..i-
ab~trato. :A escrica s1mboli2a: a imagem emblematiza; urna confirma a ,a fica tributaria da pala.ra q11e a de,,:lara e ,que ela !llo,a e ilustra ma.i~
vuua, p1cci sarnente p<Jrque permanece no plano que lhe ê ;:roprio., Ao do que transcre-i.·e. Mas a imagem :;x,r si própria requer a todo :, iru:an-
longo do sc:::-:ilo xrr1faglb., vemos assim se generalizar o uso dos sine- te e'<plicacào. e:-;p ttitaçào - glosa i.r1 praesentta que, no ccnte.l{:o geral
te5 f:no século x, somente o rei tinha um): ::,osto num.a car..a, o selo des~es séculos, s.era antes oraJ <lo qi.:: mediatizada pela escrltura.~s-
valoriza-a personalizanC:o-a ... como o fazia, um pouco ante~. a decla- sirn a imagem não apenas toma o lugar da leitura para pe..s.oa5 ;_muco
raçao \'erbal diante de tesremuahas. 13 O emblema frequen1emente se re- oun~ompetentes nesse a:erdci1;, também pode forne,;er ao leitor
sume no tracado de alguma ietra: o T e o I inscrito~ por Trutão na.s )púOlico matér:a para :o exib1-:;:ão ou para o comen:ário. A Jlntlica "tea-
len1las que a:,andona ao rio, ~.os w 14 425-~ de G-ottfried. Ou a lena c.ral" da éJ>Oca ma:s próxima (como o ritual das e:1tradas r~g1a,] sugerP.-
se ':"pande a~e formar o nome inteiro: de:sse modo, se,sundc a opinião a pcpularidade desse ultimo uso. A pi:ntura - exi:lica no século .xl.. Ri-
mais pm11ávd, ,obre a vaJa cfe aveJizeira do rne.srno Tristão em .\ ·f ane chart de fourm..-al para justLti::ar a ilt!stração de !<eu Bestiuire d'ar1-ro1,.r
u '
de France. Nos costumes: elo i;;éculo xv, uma relação :1.nálo!!a, embo-
ra inversa, a,socia ao 1,.•itral, á tapeçaria, quando não .ao.; brasões e mes-
n10 à~ roupa~ principe-;cas, a :livisa que freqüenccmemc ai ~e i.r..tegra;
l - tem por ,.,iftudc tomar prt:'ient~ ~ coi;sa.s coinemo·auas... con1c o
faz a pala,'ra pronunciada, ao momento em que 5e escuta;'1 o texto de
R1dart é claro e não faz rcfc:rênciai à cscrimra, mas somente à pem:p•
às vezes uma e5trofe inteira de um poema con·inuo, de figu::a en: figu- çâo auditiva.[Ko t:iàngulo da e..'tpres.;âot a imagen: tem sua pE...rte ligada
ra. até form:i r o conjun;:o de wna Vida de santo ou de l!IJla D.anç:1 Ma- com a 'lOZ. A imagem taml'-ém só se ::ornunica na performance.
cabra. Os alemães denominam .Bild~dichte ("poema-ímagerr.'') os li- Donde a fragilidade do el;luihbno entre os valores q11e t:az a ,..-02
vros em que o ~E::Xto acompanha_ UIDé. série organizada de deseo..\m.~ e aqueles que tende a impor a escritu:a; situação que depende das ;'lün-
geral, trata-se de obras com ca...----ater simbóJico, exigindo uma Jeftura du- gas durações" históricas e cujas uJtÍJhas seqüelas só serào lrqüidadas
~: a das pal~11r~açci<las e. ~m ou1ro plano, mas inclissociá~-d d:> prí- com a Rei.·oluçâo Indw.trial . .-\ quase totalidade do que nos foi ccnser-
rneiro, a êtas unage11s. No entanto, de sua parte a pinmra e a escultura vado da poesia modie,.•aJ testemu.oh.a ao mesmo tempo esse cqui'.ibrio
b=cem u.ma idcmjllitde que as aparenta às obras escritas. O escuJtor e sug fragilidade. Donde a própria aspereza das polêmicas modernas
e mais ainda o pintor (tra:,albando sobre o mesmo suporte material que entre medievalistas deíensore.iJ ou ad,•e.:rsários da oralidade! Mas, aqu.i,
o c--.5.;rfüa) 1:a1ni11h-am às apalpadelas, :.,or entre as técnicas de sua arte, trata-se menos d.e "poesia oral" que d..a poesia de um udve:s:::i da voz.
na dlrtção do qi.:e: as tornaria, coclifica.ndo-as de maneira bastante rigo- Ou :nelhor, distinguxnos asiruação ae .::omunicaçào (implicando em es-
rosa, escrituras plcname::te d~dobradas no espaço; daí os moom5, co- pecial o uso deste ou daquele medfr.mr) e o ambierrte de co::ntlll:cacâ.o
re~, formas convmcionai!, es:.c mais-além da representação. Pouro a pou- (dete:-minado por um feue de costu."Des de inegável p-odtr). Na ,ombra
co, a heráldka se comti:ui como Iinguagerr social, Muitos fatos da História, pettebemos o m:irmúrio das massas humanas, :1Jja p~-
assinalados e1nrc o século ,C'l•I e o XIX provam o poder que a imagem sença só podemos pressentir - ::om~ a de um animal notumo ~con-
teve na difusão, e mesmo na tr~sforrnaçâo, das lendas;Ll nu:rna n:edi- dido do qual .se percebe a respiração e a tepidez - , graças a uma "cuJ-
da t~vei menor (antes da invenção da gramra em madeira), a época tu.ra"' escrita planeada como uma vela nessas tre11as. De tempos em
antenor ll!o pôde deíxar de :er conbccido esse fenômeno. tempos, o círculo do clarão m-ela um rosto, uma boca, um 1~,:o esbo-
~ "J dllde MMia", corao outras culturas (tal qual a nossa d.e;de trin- çado em dfreçào a o6s... De Uí. Jc eln<1ram voz!.!'! boje extenuaruu, ai ·u•
ta ou cinquenta a.nosY, coiiliêceu umâ' espécie de triângulo da opres- mas das quais foram captadas pela escritura. Pouco importam os moti-
são: a m;: aJ nfio se distinguia aoena.! da escritura, mas c1mae outra, vo!> imediatos e 05 pro,;:eclimcmos de~a inf.Criçã[l, e menO.$ inda
e rttfJ,ro~amenre, da imagem. O~ desenhos com que Boccacdo ~meia ideologia de que, :as \'ezes, um reirado rez seu pr •texto
126 ,r
S,l\'ant di!i cfirt rapurorm:c
O Copi1l:u1i re-vc lav11 na, insti1uiçõe, polltica\ da Idade ~IMi:\ uMa ' ,. /•11•,i;r i~ re:mi. ,•t.
SI í/lll ''" • •
.. rnem lidade do múltirlo", mal ren:eb1da Jl(>r um m~1evalismo dema- \I ,._, /e i o1: po, 15~,r ,, ',;, ,, ,pi,e1
s11do 11clinado cja à rr>il.1.crwn ud wwm, ,rja a um plurallsnrn rnor2 ar t1e l'~c• l:'.~trumr /c.5 dar:•
ri.o O multi pio rcsulla a. ui da diversidade d.as coerências ,1mult.1rt:a- s'ar.c/osr i:1 parole dedaP1s•.
me111e rcivind1 -.c:is pelos atoi, pelos julsamc11toi e r,elo.\i d1scur~os /:J l.>oche cfot, les dim: ,.~rra'.nr
hur.1anoi. Donde uma aparência de heterogeneidade e, da parte do ki- i t;ue ra p.1 role hors 11 ''1'1 rui/e
10• d~ tr. tos, a orutame necessidade de dar lugar ao equivoco, quando s e:xe mas 2.
- ara falar, e sua língua se m ·. -
não à contradiçõc~. dia apos dia le't·amadas 1.no domínio que me :m- ("ni.r.lru \e;.es' ela se prepa: a p 'he :erra os dentes, d1,;; ronna
port.a aqui) graça.~ à on.q:resença da \.Oz. , rito pod:: sair, por causa do medo que: . Ela fecha a beca ~
\0.1. ; nada no m~nor... r .
que a palavra permanece apns o a] d sair"). No inicio do ham:
cerra o~ dcr.tes para ,mpe<l1r a D avra e aI atenção ao :reato
1 q u •• vai
/\ essas redes ele rela;ões, tramadas em ma prática oral, os homens _ ·cta
Calogreoant cor.vi . seus ou~·mtcs a prest.
da. Idadr,; ::-.Iédia nl!o foram desatentos. O cmpiri•mo ua com:bta int:.'- fazer:
lecrual ~tra,ia às vezes o historia:Jor das idéias, ..tcostumado a recpe-
As oroílles ·J1mt 1a pa.rale . . 1,1..S)_
rerracionalidades mais rigo1osél.'i. Os testem·. :.n hcssãc trazido; 1m, apo~ - lº di.,. dt: (V>- ..,
ausi comt? /! V7~5 qu1 vo ~. w ,.
o outr::i, :requenternente ca.:nuflaé.os por uma ürguai;;e::n de emprésti- . do vento q•.1e sopra ) ,
mo, fvrn1<H.la num longínqi;_o passado para designar rea.lJdades ~iferen- '
("a ?a,avra , ·em
· aos ou\'1dos à mam.'tra
tes Buscar-se-ia em vão descobrir ou recomtiru:r uJI.a teoria medieval les oroifles sa1., voi#! er doi:r. • .,,. 16;...6)
da vut. humana e de sua fu11ção na g:upo social. Permanecem as no·as 011 s'an lt'[e,it au çuer la 'l'OJ~ (' •
dispenas. mas numerosas e convergentes o "!last!lnte para, de ;n,aneira par d a ,,oz vem ao cora-
. h anal por on e b
latc-111.r;:, i.r:rvirem parcialmente. •A :livers1dade dos _rgislros nQ§ cn,;;ti5, ("os ouvidos silo o ,a.nun o e o e undo I(un.StroanD e Du e.
segundo os discursos e as circunstâncias, é então lemacizado o <ibjeto , d d n• Mort Arrhur. seg J' d ocorrências o,
. d . mes-
ça.- o") ·LE !E ver .a e que " uns l0 .o as
vuz turna difícil a síntese. En~retanto, 1>ermanece .una :;cmvergéncia, s:>b essa conotaÇão se enconcra a?Crias n ~ se romance seja em prosa os
a variedade da superfície. ~esse pomo, seria inest:mtve: dispo: de ca- oos termos~ ,em dúvida. o _fai~ di: que ;~te escriturai. Subsiste o fato
dcs iconcgráficos; mesmo :l'S estereótipos que presiderr: às "represen1a- d,e~in.. .... Para um se11t.ldo mais
.
ngmo5am '
ti das referem-!,e
- m-wto ~eq•jent.e-
ções" f'guradas de oradores, poeta~, pontífices, ~antores, até persona- de que vo, e pa/avrci, ass•~ çonçre ~ . • ue se retém ou que nos ~s-
gens ordinárias, poderiam, de moca cumulalim, fornecer muitas ,. a uma coisa, perccb1da e localizao.~, q c:·:.rculação ~emãnac.a
inent • E Latim uma
informações.. Por in felicidace.. a "arqueoiconografia" eitá só começando. nQ. a materialidade de um som. m • - bi.un sermo e mesmo
Quanto aos rex!os, o Yocabulário que adota!ll não facilita a inter- eª~--' • fa ·•me,ntc "'ntre V().}(., • er '
pa-:-ecida 1.e és-tabe.eL--e ci, "'
:;:>retação. A..s iingua, medievai.s disünguem ma.l "ªZ e palavra, e esses . _ · de caráter ane-
l o cu fio. .f o·.1e eu i.;haroana
i:errnos ou seus sinónimos apenas se esclare:::em - às vezes - graças Essas interferências maru esta.ro o : arma o vaso, a roupa
ao conl.(··co. Realizei di"ersos levantamentos, em fontes fiance~a; e la:i- - l D -rna maneira que a , cl' -· r
-saua·1 da aç~c, verba . il. me~ - ediaçãa da mâquina, :::, _1s....i .
na;. Assim, das 177 ocor-er:cias de parole que indica & cancc-r:i~nda
y~am de um trabalhe da m~o~ se_m_ rr: da voz.. ada se i.rni;cu1 en:re
analitica dos romances de Chrétien de Troye~ (rna:11..1.scrilo GuioC) ma-
se é produzi cio pelo tdoalho fLs1olog10~ elo e seu consumidor, nerr. t:n-
brlecida i::or Jl.'1.-L Ollier, 42 (ou se.ia, quase 24%) apre~cntarr. e tcrrno
C>bjeto e seu proc.utcr, n~ eütre o I contrano. e,tat:elec:c-se
como complemento de um verbo que denota u;na :na;1ipulacào m1 um o um e cu~ro dos mdi·,1d-uos ÜiY}'llicad~s, mas, ao 'ta e quase 11e1.-essari a
dc5locolmeoto espacial, terir-, prendte, perdre, rendre, fail"'!, mettre- trai, tre: L' . - dff:la., estre1 , ..
re •ru-e.n u.e,encer, esmo1,1~•otr (remuer), tolre tôreri, r or'lCJre e a]Ji!Un~ 0,1- entre esse5- três termos 1...ma igaça.o_ b.lid de de mentalmeme disso~iar
D I.CL :a •n1pn~.,, 1 a . mc1 ,...:);
tro-, ,im.,ares: das dezeno\t ocorrências de V'J1;;: ("voz") atestacas lnra rn:nte apa1xoncu.- _ uc O contem 10 som dt J
das locuções fixad~ (em ·-o~ alta), ~e,e (quase 37%) f guram no mes- d :, conL'"!.l.CC (a men~a~em:1 o obJeto q d bo"a de querr. a :;irofer: e
mo co111ex10 verbal. Os 1,erso~ 3716-23 do Érecet Émde descrevem a cme>- po
•
etização natural º" pala~ r;a,presente
. . .. ~1 -:.1 a na "
•'- ,._
0
tanto para
um quanto pira::> uu-
,ç.ão cia jo·Jem heroina incapaz de fa.w· ni> ou\·irio de quern a rectoe.,
129
IJ8
tro, com m.1 amplitude, sua alfllra e seu peso Tal me parece ser o senri-
. . b ·tharam for.ide um meio muito es-
clo <la:, declar.. ~o"s que são n·vel.ida~ aqui e acolJ, especialmente na ha- a solução d~st problem,1 1arna1s r1 Ih nem o senümento nem
~iogra fia, sobre a imporcància so::aJ da pafa::ra no~ meios dingentes; 1Q trcno e: não llurninam uHc:wmente, ri nossos o o;b,da,1 ela~ abrem urna
1 e/oqi.er.110 que se espera do bispo é objete de :iualificações, entre M o pensamento da ma1on.i tl s pessoa comuns. ' r - m~-
q a: \;orno m.msuetudo, marui.e1a ef0c~ur10, 5Ó podem dCSJg-
oar um tom de voz; da mesma mar.eira no~ t:-atados de arte predicante, mo às cegas- se moviam. Para Thierry de Ch ri •'1.. comentando
,.,.,...os<loBob-
uni-
d ! cau5 él!I davtnaJo ca tro 5r · ·
como o de Humbert de R,:1r.1ans, por volta ac 1270 quando se recomenda CLO, a Trmdade corrc:~pon e a u ~ f • ·01·•as cnac.la~ pcio Pa.1
a abtmd.:uiria ou :1 copifJ i·llfiomm \e-rs;o• enquamo Seme Ihanca, O 'l,erbo con erc, .a~ • ' Amor oEsp:n
•~ · ao •nqua.1110 •
Por is~o se impõe, desde a a!ta 1dade Média, no nefo monástico, enquanto Unidade, as torrnas que a~?:nar • : fania original. de uma
'6 • • ~ · to --eJa,-,:ao
to· .\..ssun a maçao e au ·,-., ,... ' numa L-!O · · três mudah-
mna moral do use, vocal que pode !'.e- condenável - como a tagareli-
, , . é lo XJV Meister Eckhart dJstmgu:rra •
ce, a lnlrulho mundano, (l-5 Jogos hist:iônicos, segu1:do John of Safü. Palavra da qi:.al no s cu _ f. . da; ou imoensada e sem .x-
bury, por vo.ta de 1150. i: , prirneiro li\lro do Policraii01S; e John e5pe• clades· pro fenda; pensada, mas nao pro enl a . :diz" Por isso, na
cifica, incrimina to.sciviet 'em ·,ocerr ( "u11: tom de voz que com•ida ao pressão, penm.necer.do eternamente _naqu~ : : a camei assim se ju.s-
prazer''), mi.liehre5 modr:. ; notu!arz.m ("ur.1a articulação efeminada"), marcha do mundo, é a palavra o q~e !ecund • ·u·dad• que a lgre:a te::-:i-
FI d - a eoeen"ia e ca.s •
,or-aemolfes modulationes-(''modt.la:;ões amolecida~") cão perigosos para tifica, segundo J.-L an rm, -_: . r N~sas especuJaçôes. a
.a al!:na qu,nto a voz das ~e,eta3-; numa dfatri:x vigorosa, Pierre de Blors 1
t.a impor a seus clérigos a partir do ~1.:u º1 x1. 'o ""''bo man:íhto ·e:s-
:nvccfr;a os professores inc.tpazcs, cuja V02 torutrnan:e e clamores dig- tradição :ri.s.tã encontra-se com a dos ..."aba..,se.as.. •"" . •....Cusa o ~·~rbo m-
'd 0 " fo~n:e l\1ko.au~ ~on , •
no!. ce marujos no mr.r ta2!'!m ressuar Jt toa o ar em volta deies!G En- ponde o .,.e,bo ~-scon~.t .º: ~, '-~~ • • _ 'J.ra da lingua hebraica, ~m
!rc..' o~ aurores eclesiástico~ ::amo Alain de Liü~, o termo scurriiitas, no cal ao do espinto; mmeno ins~n10 na estrut so' exjste pela vocaliza·
~en1ido próprio de "bJfouarfa'", vem cle.!n_gnar o YIÍcio de quem fala a ~ s "onsoanLes mas que ·
que são escr ms so_m.nte ª. " . , ssibihtadas por es.s.as coagu-
maneira cos jograis, com abur.dãnda ~cessi~-a i! efeitos de voz. A scum·- ção, fonte inesgotavel das interprec.açoes pofí • •1·ca atravessa as.sim os
to de filo.;.o ta mH t
lha.~. glosada por R:aoul Ardem co□o sermo risorius ("derrisão lingilis-
• i;s •· . .
lações de s1gr..os. O mmime~ . d À. pura intenondade
1
séculos, de Scotus Erigena a Pico deJ~ M.iran o a.d,~o edênico enquanto
tiça"), 'lalurae deponii' d.'g1ri1atem ("rouba à natureza a sua dignjda-
. \! 00 f' gu.ram Juncas o es r..a •
dc"J e 1:Slá l'Tilre as diversas forrn.as da mentira.'\~enhuma condenação e a pura orah.J:ade do er J • . medem o exílio da Palavra
da pa.avra - da obra vocal - :orno taI. John of SaJisbury a.inda, no ed . . 'dade da e·crita e sua extmondaàe .
:nos nossas palavras ,i.-
a·
Entfier1cus fVll. 1547 ss.\, dá os pre;ceitos de seu borr. uso: sir lingua mo-
a m 1auc1 J • l
t'-
por entre a nnitm?lkidade da!i ... 01sasÓJ"c o Rcdi.on~:r ao curso dessa
clesu;, compo.sÍ/1.i.! geslus ('·'que ma ·,oz seia .:-,e5ervada, e teu gesto,. do-- persas remetem ao reflexo cau:brado - aque ª: tólico colocar-s-e ::omo
2
minado"). ' .t\ leger.d.a de Francisco àe Assis, no tempo das primeiras rr ansiatio nomínum perrmtma ao dLs~urso SLID
. ling"J"f do uru,;e-Tho.
gemci5es dos franciscanos, acemuou a sabedoria pri'pria ao rudís, idio- perfeito equivalente Uo ico c:nlo- filosófico que
. 1 d a"ord.o com o pensam
ta, eJlllgl.i.is, rodos os termos significando apro.ti.TLadameru,e •'aquele que o sentIIDento -gera , e r" acão da palavra, mai~·~ ou meno.s. confo·
o susttema, te::ide a uma sacra ~ . .
21
dispõe apenas de ma voz". Nem. a mentalidade nem cs costumes, em Nada de espantoso no fato
tudo o qu~ concerne à fun~a. à d[gnicade e aos valores, parecem dis- sarnente percebi'da como enenna · .,. criadora.
. J . . • "go· tico' • for.nas _1m- ,
• "am?) no un.ag;mano .
tinguir o O :.dente europeu do r~o da I:urási:.t; os capítu..os consagra- de que sobw.i1,·am (ou ressurJ . i11·ca a \'Oz; órgão ambt·
• da boca que s1gnt,
dos :à palavra no Livro dos conselhos (Qábus nâmJ) do príncipe ricas ligadas à representaçao ' b .. o .nuanto à de,,.-ora-
iraniano Kay Kã'fü:, ao sé:ulo xi, ilustrariam adeq1Jadamente mwtos guo, boca comagrada, qu~do_se eala• tanto ao eJJ "1,
uando f~ origem simultânea
traços do meio cor.~ a palav,a é sempre percebida no vokme da voz. 21 ção; maléfica ou benéfica, Jamais n.eu01!Jj . de uma .,, z pura, despren-
da linguagem e dos gritos. Doncle a nos ~
0
L!:-Y.rrdade..Q..1!.e. DOS 1;>afs~ .::ris:ão~, subjaz a idéia- guandQJ1..!g b' .., __s no son!ios vi•
- - d ser· ~·oze- pcrce
dida dessas pesadas cond ,çoes o
LL.14
a lembrança fabulosa - do Verbo di•~ino. Foi pelo Verbo que Deus fez . . 2'l recorrê11cia do tema
õ mur.do.1o \erbo cria o que ele ::iome.i.t. Du.-ame seculos, todo o es- sionários de Guiben de Xogent. •~Z~ dos ~~~~ cerca dos pa aro '
n,rçc da"teologia trinitária má pensar "o paradoxo de,,;sa estação da de Eco na poe!ia letrada; transferenoa m~. ventura final dtJ mágico
paJaua divina. DO Começo"/J As doutrinas pelas quais alguns Lentaram modelo e fonte típica do grande canto cortes, auida m •nleve o império
Merlin, cuja palavra profética fundou e em eg .
/Jf)
JJ J
de Arlur: ,11 l•ru. enlr>mbé. i111·i f,.,c:f por rna!lilll, reduzido n sua ,oi ne r ou refe·tnc1a st, não ultrapassavam mmca ll plano d~ LmJ lo~ica ~a ~~g-
mra da nore.su de Hroctl1:m e, r:-,gunào o admirável. Lonn lot-Graut, . n ficação. Abelardo, como John of ::ialisl:iury. t..-t.lvri tCT1ha pre,s.,,entido
que. gra:~a:s 11 1,;ua adaptaçõe~ em\ árias Unguas, romantcm e germam-
rnrnou- e O grande cláss1co europeu do seculos xrn e xrv. A lm- a oposição. para nós ~au~suriana, de lanKue e parole."~ Assim visõe-5
~ g,ern jurídi: - tio próxima, por mas raf~s, d.a poetica -. e~~rl"-
0
in1uitivll>, às vezG profondas, abrem-~e periodlcament~(lOS ;;ex1os e:u-
diaos: de que dispomos) sobre o ,er con.:::-ero e o dinamismo pró;>:io da
8 tmno 11().t' ,em come:x1os divers.m, para de.qgnar a demanda JUdioaJ,
o ' 1 l l' . d vc?.. Ma:; nada os rcúnt: em do:Jtrina.
0 testemunho, -a pretensão a t:.m titulo, o fundamento ega ap 1c1to e
um dir!'ito. focem habere. vocem suscitare. i.l'l i.:oce aücujus, expre.,,ões Ena~ os gramáticos, a mesma d.i>persão. Para Q~11tiliano, vox é
apemfi um do.s a.specLos de ~·erbum: a palavra 1,;olada, por oposicão ao
que estão bem fix.adas nessa prática e cujo núcleo se.nânúc{) refere-se
a \'Er:.ladc própria que a ,•oz pró-dama... como traklho de lextuilizaçiio (locutio) e a:> disi:-1rso cons·ítwco (<Uct/oJ. Ao
ao pode-- da ::,ala,·ra,
. .. • d longo dos seculos, o u.so desses termo; vacila. 0$ glosa dores de Priscia-
no , 'cla-""Ilor de so::orro" [darneur de naro] do velho c.ireno norrnan o.
oo, c:.,mo o espaoltol Domingo Gund:salvo e" fran:::es Pierre Hélie, no
sécuJ:, Xit:, ~ó em parte fe emendem scibre a opos:ção que sei.. autor~-
tabele.ce entre l'OX e liuera: o segundo chega a a~~star a consideracão
Ta1'-ez romri.esse n:~ir1te1precar aS5im a tradição filrnófica (quase inin-
própria do !-tom e define por vo.x a prolar.'o anm,alú, a "arti~ção"
terrupta de A,elostinho a At>elcrdo) de refk!Cão sobre a linguagem: lugar
ou "enunciação" ,ital, i:;_ue constitui ;i ma,terfo da tecni:;a grama,i.::aJ.33
das rela,;:-,..~ do homem con~,go mesmo, com o~ outro:s, com o mundo
Em COJ.trapatida, os rec:'iricos não esqueceram por cornp;ero as parles
material, com Deus. É ,·erdade que os sábios de então tiveram dificul- anfü1as de sua arte, r~la1ivas à prática voc.:J, prc·nunc.ario e acrfo. O
dade pãra defüon:ar o alcance racional da palavra voz. Tulvez, como o
Handb"'c.'1 de- H. Lausberg fornece numerosas referÊ..llcias. APoetria nova
sugere Claodn• . ,:!O a querela. dos u11iversais, irltmnina,,~lmente
. . recome-
. . de Gaufridus Anglicus reton:o em termos parriclllcUme:ue claros o .uga.r-
.o11.:a acanetado a longo prazo uma 1mposs1bilufade de distm-
çad a, [e.,,.__ comurn cor:-ente a esse propósito:
guiT do çjgno oral o e;crito - donde a incapacidade de isolar o suprte
desse 53g:r,o. As ordens de percepção se ernbara[harn: a ·,·oz, a palavra, ln recitante som111 ires tinguce: primrI s.it or-is
Alten rhi!torici vultus. e1 rutr!:J ~!Mlr1r.
0 dm::ur.;;o organ.izado são rarnr1enre considerados em rua propriedade,
Sunt ·n vace su~e leg6S...
.... - outras · Agmtinbo, entendendo por ~oces as palavras
. · • r .:as d"a~
d mm.a·-
da hn,;; Ja. ~ 3 a;:; t;:irna,a por ::01sas corporais, c-rnbora o que signifiquem ~ ("Que três Jmguas se faÇJ.m cmenjer r.o retila:1Lc; que G primeirz seja
não O seia; com :sso.. as palavras são signos, mas as coi..5as, segundo ou- ,_.a da boca, :1: ~eguada, a do rosto de quem faia; e a terceira, seu gesto.
tra mod~l.lda:'.le, cambem osfi.:,:,. Donde um alegorismo, que permaneceu A vc,z: •:ompona suas pópri.u leis .."). 1~ Na E.a.lia d.as prine1ras r~;:>Ú·
até 0 séc·Jfo x.,,, uma das :endéncias mais estáveis: da rnceligéncia oci- blicas mcr;anris, Boncompat;no da Sjgna consagra um c:i.p:·tulo de sua
dental. A; palavras reprem1tam a realidade? Ou são apenas flarus .-o- Rhetnrica ,'l•-:wella, livro 1v, aos "Costume~ -;los oradofe)", e.,pecialmcn•
cis? Tambern es5.3. expressão designa, mais do que o soro em sua c:ristên- te ao tom, ao akan:e acústico e aos efeitos da vez; a obra do mesmo
da 00 fisi~, a voz enqlanto íntençào de sLgnifica:-. amenor ainda a to<la autor intitlllad.,,_ Palina .nsiste no qoe ele der1omlna disun,,:iu, corte rít-
-.ignifkaçà:. PoI •,nltci de 1100, Roscelin. a quem_se·.is ::ontempa:âneos mico, exigido pela nece5sidade de descansar 3 •1c-z. 35 J',.o Com·tvio, 11,
atrib,wa::r Oméfr.o de ter mn1gurado o nommal1s:no. iJ2.rece te~ perce- 13, Dame. cornpara:ido a Retórica .io plani:La Venus, discingue de sua
bido a ,.o, rnmc• uma auto-rcwlação da linguagem. consti1uindo o sen- aparição man1ina a~ue!.:t que se ob,;e;:-i,a à nc-i.c: a primena é a que Lraz
• • :tk- 1
tlOO • •- ... •· ·• lnear
•·r· i\•eTsa' ~ do;. ~cntido,;. particulares t> manifestos; para a ~·oz \'J"\·a dlr.cm:.1 a1 viso ue f'udnore (' 'na face lo ounme' ·); a segLn-
Ro~. , -, 1.uJa t ...,,a rãr ·nnhece~c-, J r 1.ame-ri--· a e-.:N"Tiêri.ia ,~a da se e\.prime rlo reflex:.., éa r~c~,tLra
,. ,~ na-n-,::!1·10
querer-Jl"er • , t~r
• é.. ~\lm rn111c1dido com uma aberi.Jra
. do E: r,1•uca LO!',a Ma, nao i:odena ~erque a re.<1rh-a randade <.:OS tes-
,er. ·1 o~ l'.:'llerp·-ete' d~ Aris o teles, P.-n hermen~1as, de B0ec10 a Abe- temunho, s1gn1ficasse ,.imple-,,;.11ente Que i~sr. d.~penav:.:. t>'>plicacõe>'? E
lardo, logo a pnmei ra \'bta j~:rontando. na d pta.çlo l,1u11a que utili- que, par-a a ,et1s1b1hcade d:>s sécuJos x1, \.J.J e x111, as iapl,cações o;ito--
7.a,-am. ,••.1 o:-. ermo, o,e.r ,p .i, ron ~ a oa r o~. 1 •tu da realça ai o evidente'> Para os ~as~ p:a..~ os ouvfn
1es, a •,oz tem que ver com a e5sência da poes.a; e as confis-.,ôes sobre
13]
133
e ,e ponlo se tor:1 111 mais numero,.as à medida que, na oc1c:Jade mo- dade ~ocal'' i'omnemqw• vocum fafrirarem}; em Elias alornon, □ pós
nárquica e ourg!lesa. u domfoio d.a eicriturn se expande paru outrn lu-
1250, o retrato de um coro de cônegos l1oneses, no q11al cada um se e •
gares. Konrac von Wur2burg, po~a as~alariado do patriciado de Bns1-
força para gritar na1. alto q•Je o outros, sem dúv1<la para melhor toca•
léia, na. ~tgu..-ida.metade do .sécuJ,o .,,-m.r.-comç:J:l'l:.suaai -,
o du mt:im, é oca, E m d 0t1 o ~ t
fim•• 1v.·ectiru) do rou."<inol; Jean de Condé, menesrrc1 do conde de Hai-
em língua vulgar que o jul!amento inc1<la sobre a fill lidllde t'OCal de
naut no con:~ço do 3cculo xcv, para elogiar sua oora no Dtt de Juco-
uma personagem cantora - às vezes •.do próprio autor. Para e:, e fim,
bins, embra que rodos os grande~ .ienhores da região escutam sua \.Or .a lin1mal!'em <loç poeta~ dispõe de dois clichês. incansa\·elmentl!: modu-
em toJos o, :ons. l6 Por ,alta üe l.::!00, Alam de LJ.lle, um d,-,s autore~
lado;~ •odas a.s línguas Um relativo à altura e à clareza do rom, com-
favo ri tos :ia .::ne:o lauúzame, Já dis.se-a em termos abstracos: · 'A poc-sia
porta em francês três elemen:os, em geral aüJmulados dois a dois: à vou
retra.a ;i:ara mc::u. ifltelecto a image:r::n :lo som vocal, fazendo, graças a
haure, ctaire, serie (essa ult:ma palavra, como o francês moderno se-
voz, i)a~saren a,J ato e que eram, por as.sim dizer, palavras arquetípicas rein, sugere calma e b.a.rmon a); é assim nos \'V. 531, 1158, 1202 do Guil-
pre;oncebida.s :io espfrito" (Poesis mentah mtellectui materfalis voeis
laume de Dofe de Jean Renart; em vários lugares do Roman de la Vio-
mihi depin.xit imaginem e1 quasi arcne!_vpa ~·erba ideatiter praeconcepta lette de Gerben de 11,,fontreuil; no alemão, em Gottfrie<f ,..on Strassburg,
vocaii:er prodtoit in acturn). ,, Tudc, se passa como se o discurso paé-
Thstan, v_ 4803 ... Os exemplos são inumeráveis. A outra fórmu ·a ~·oca
ticc medieval, aquérn ou alem de .5:ias formas líng_üísticas. aQuém da mais geralmente a doçura dos som, em latLrn suavis, du/cis, em fn:icêt
ideologia ma:~ ou .lllrnos difusa a qt:'.e ser.,·e, comportasse um elemento
suave, doux, e o equivalente! em outras 11.nguas, como o dulce co11Lar.
quase rn:tafisico, penetra..-ido toda palavra, mas expresso apena~ no tom, cspccia,mentc freqüente em espanhol. Desde o século X!, o manu~uito
no timbre, na EJ'Ilplitude, no jogo de som vocal. D onde a irn7onância BNlat. 13 736, dando da velha Chanso,PJ de Clothaire a ''versão b?eve"
do canto como fator poético. Há wna dezen.a de anos, A. RoncagUa apresenta e.ssa can(ítena con:o suavis na b-oca dos camores. Na primei-
]emjrava-o com ra2âo num estudo que situa\·a a fiJologia românica em ra das epístolas atribuídas a Heloisa, e-sta louva "pelé extrema doçura
relação à etnomu~icolog:ia.
das palavras e do canto" (prae nimia SUa'll/rare tam dictcminrs qlli1m can-
Urr gosto mui10 ...ivo parece então ge-ra!rneme difundidc, deixan-
tus) as canções de amor çue outrora Abelardo compõs e cantou para
do C· ~.rande público. tanto quanto o;; sáh~os, sensitd à riqueza apressi-
ela. Por várias vezes, Gonfried von StJa.1.Sburg evoca nos mesmm ter-
i,•a da '/O? e am valor-~s q·1e seu voJume, suas inflexões, seus percurscs mos a voz de Triscâo (vv. 75:9, 7608, li' 207 e outros); nos~"''· 362A-5,
atribuem à lingu.age:n que ela for:maliza. Durante toda a alta Idade Me-
especifica: é de sua boca que o jovem homem forma essa doçura (sane
dia, cuida-se da qua.idade e da graça da v·oz dos jm•en.s clérigos ordena- só su<ne mit dem munde) ... _'fos séculos xw e xv, em codo o Ocidente,
dos "leit01es' '. ;s H ugucs de Saint-Yictor, no livro "11 do Dida,.-y:aficon,
taJ vocabulário serve para manifestar a admiração pTO','O<:ad.a por una
fal.an.dc dos "cantos mímicos", escre,.•e que "satisfazem ao ouvido, não voz agradà,,el. O latim ut.il:za nessa função diJ!cisonus, referindo-~e ramo
ao espírito·•~ .i força ~i:. irr:agem sig::i.mca por si mesma.J51 Em toda a
aos sons dos inscrumentos q:iamo ao que produz a garganta humana.
parte, consolida-se um agudo senso das "conveniências" \'ocais: mui- o uso assim dpificado de dulcis, suai•is e seus sinônin:os não pode ser
tos tes1crnua.l1iY.> escritos :iue nos consecva.ram provêm de homens da Jgre. efeito do acaso. Esses adjcti.,,,os remetem, diretamente ou não, à n:J;ão
ja ciosos d;:s qualic.ades auditivas do cama sacro; todavia, o vocabulâ-
retórica de .r!h2~•aas, origem da delectatio proporcionada Delo discurso
rio que: t:rnpre~a..'11 ~e p:-estf:! a uma int!!l'precaçào mais geral. Trate-se de
no genus medium ou humife - termos que, aos olhos dos s.abios, abar-
conselho. s:>bre a sahnodia, de canto GJOlifônico ou de d.isdplir a coral, cam a conjunto d.as poesias rle língua \'U lgar. Tal é o sr:l soai•e e•'Ol'.1do
as qi,;.al.i.[,cações referem-se à materialidade de seu vocaJ, vox rotunda. por Dante na ::ançào que ele comenta no Con-rivio, 1v, I; tal é o dolce
►•irifü, ,•i1•c et succinc!a ("uma voz redooda, ~•iri], viYa e firme") em Ger- sril novo cncão em ,·o,ga em Florença: h.armonioso na boca de cuem o
bert, por volta do ano lCOO; decora 1,o,c,is siw soni... -vibratio (·'os orna- pronuncia, com \'ÍSta a transmitir adequadamente a men agem de in:or.
memo~ da mz, isto e... a vibração sonora'') em Jerônimo d.a Morávia, O canto "$ua~-e" que evoca e alegria do Paral o! c..ultaç!o voai, co-
no século )(III; ou, com humor, em C►-rbert ainda, a e-,,·ocação das vo- ros, salmos, cânticos dos eleicos e dos anJc1,; HX't jocundü ("<.te uma
zes ibílantcs ou toniLruantes de histnões, ,..ozes "alpestres'', compará- ~oz que espalha alegria"), para Jean <.lo ',,fur.1, por volta de 1 , na
veis ao rumor ele urr. asno ou ao mugkfo do gado, causa de toda "falsi- explicitação de sua Summa m:1sicae-, voix delit, .iemne ti c-/e,.. C'um tom
J34 JJj
••
•
ele,,ado. uma '1-0l pura e clara' /, rara Guill&ume de .\ Jachaut J :ida r.o
prol ~a1."' <lt· s:J.1, pcesius,
1,., ~ 9
41
Em diateto ~Cllano, o rade me-
nor G.a corntno da Verona. por volta de 1265, desem:c,lve lor:i,gameme
esse tema ein seu pocuia De Jerusalem ceiem, reforçando u e::1:0 pela
descri~.lo a.m,tetica do~ garudos du~ cordenados ao Infrmo ,.
O 1 1.i Lternr.ti, \~km2actt> pela doutnna erudita, ref1etca a se□si
••
bilida.de comum . A o lo ng o dos séculos, ;erto riúmero de doLUrne:it :1~
penmte- nos capu.r 11 m eco do!> julgamentos que <füerso!t públicm fize.
ram d os intérpretes da JJ<}e.!,ia. Mais de quarenra dos Quase tn.-zenrn~ ·ex-
li
A OBRA ••
to~ reuniJos aot1gamcnre po r Farar em apêndice a seus Jongleurs assi-
nalam, para disso fazer eJogio ou censura, a qualidade füica da "Oz.
Do mesrno :nodo. dezenm·e das 101 Vidas de crovadcres dis1ingue:n t:.l!:-
••
pressarn cnte entre a :me poélka produtora de texto ,:O trol:>4r} e ei opc-
·ação vocal que o manifesta lo cantar); é o caso das Vidas de Pei:e Vi-
dai , de Arnam de ~faroill. de Guillen, Figu~ira, ao rr.c:;mo t:mpo \J,Jm
poetas., bons mtísicos e bons ca.n1ores. De Peire d'Al"ernbc, o "biógra-
•
••
fo'' relata os krnios com que o poer.a louv;. suu propria vo,:; tal vo1:v
que chama óesobre e/ dezot{; t! Sle/ s on sondou::. 'e plaun c·l.J.llla voz
capaz de: can!ar tão bem os sons altos quarto os som baixos. em melo-
dias doces e agradáveis"), Em contrapartida, a Vicia de Almercc de Pe-
• ••
guilha"l ex'lrime Lm J)t's.ar: por mais que tivei-~e aprendido canções e s1r-
venres, canrava mal! Quamo ao pobre Élias Cairei, toca"ª med.ioCT1;TTJente
a \ iela, can1ava rn ..J e folaYa p 1u1 aindar Sua umca qualidade era sa,er
••
escrever .. ,\ voz como cal, em sua existência fisioJógica . está situada
no comçio de unia pvi:(ka.
••
••
••
•
•
••
IU
•
7
A1EkfÓRJA E COAILSVIDADE
f,1- 'A ,·oz pcetica assume a função coesiva e estabilizante- sem a qual
o grupo social não poderia sobreviver. Paradoxo: g;;aç.a.s ao ~·agar de seus
~nterpretes - no espaço, no tempo, na con.s.dên.::i:a de si -, ia voz poéti-
ca estâ presente em coda a parte__._ conhecida de :aca um, integrada nos
d.i5cu.rsos comuns, e é par.a eles referência permaneme e segura. 1 Ela lhes
confer= figwadamente alguma e;matemporalià.ade:- a!Ja\'és dela, perma-
necem e se jl!stificam.~erece-lhes o e.spetho magico do qual a imag_em
ml:o se apaga, mesmo que eles tenham passado. A.1 -,.•ozes cotidianas. dis-
persam a.s palavns no leito do tempo. ali esmigalham o real; a 1,•oz ])Oé-
tica os reúne num instante único - o da performanoe -, tão cedo des-
vanecido que se cala; ao menos, produz-se ess21 maravilha de uma
presença. fugidia mas total. Essa é a função primár..a da poe.sia; função
de que a escntt.t.ra, por seu exce-sso de fixidez, mal dá conta. Por is.so.
os modos de- difusão oral conseorarâo um status prh•Llegiado, para além
d.as grar.des ru;:turas dos séculos xvr e xvu.L:_. \ ,·az poética é,~ mes-
mo tempo, p~ofecia e memória - à maneira do duplo Livro que Merlin
ruta no ciclo do Lancelot-Gronl: um, na Corte, pr-ojeta a ave:ntura; o ou-
uo, em Biais.e, eterniza o acontC1:imento. t1 mernória.,_por sua vez~-
pl.a: coted1.rarnente, fonte de s.aber; para o indivíduo, a.p~idão de esgo-:.á-
[ã e e□riquecê-Ja. Dessas duas maneiras, a \ 'OZ "ºética é memdria,J
Gera.~õe:s de jperuadores, de- Agostinho a Tom/i:; de Aquino, inter-
rogaram-se a propósito dessa faculdade ambígua, naquilo que concer-
ne à tópica ou que s,e mantém por uma. vúsã.o e ca[l}lôgica ou moral -
tendendo sempr-e,. pela repetição dos disc:ursos, :à ua inserção numa i,-er-
dade tida por im·Jthel ou, ao c:omrárlo, 3 era.r ánfinno.s varia ões. Pa-
119
rn .i 1radtçào ago~rn11an.i ri memoria Lorna a alma prc3'.'ntc d1.1111e de
r '.J~ntt mt'd11_.,,a) (•S tenha ja1na1s formado, a não \er os skops, escaldos
! barfo~ dos temLório~ não romanizados na época mais .an iga, Em con-
,i meima l" ta1~ e rc:-ept,1culo do \'l!rdadc.-iro. Parle da pr"dePTr1a, a me. trapartida, proc galimu no_ l~eio escolar. pelo viés do emino reton~o,
rnóna humana e- di tingue, para o~ tradutcre5 latinos. de J\ristoteles ::liversos p•e.:eitos para corrigir a fraqueza das faculdades da memóna.
em memoria e rem11mcenrio, que re~pectivameote se põem no lubar d;::. fà tradição anlÍSll da.sortes memorin.e, transmitida no Ocidente )NlaRhe
alma scn fvel e da alma intelecth·a. 1 De fato, ela ::nvohc: toda. a exi·- roric:il. ad Herenniwm,-ICB.tiYf:J-se no ~ulo Xlll. em par.e soõ .a ínfluêii-
lência, penetra o VÍ\'ido e mantém o pres'!nte na continuidace éos dis- ~a :.los dominicanos. :-:os i.ttulos XI\ e xv, 1madirá o campo d.a esco-
C"Jrso! humanos. O Ncwo fest.amemo é a menorfri do Antigo, na medi- làstca. Teorizada, desúnada a abarcar a universalidad:: do ..abcr, a ''arte
da mesma em que este co'.lstitui sua figura. Donde a metáfora poetica :1a mc:mólia" s: orien1a para a utilidade c.J. palavra: sua fimilidadc- é
do "li'.To de :tr.tem6rü1"; as.,im eml. no frc,ntisp:cio da Vita nava de Danti:. um discurso vir.uoso. Ele se manifesta nuill aro de enunciação. Bon-
Foi no tino de minha me:,,ória. diz o poeta. qu-e encontrei escritas a5 :ornpagno, em sua Rhetvrica novel/a, cons~ri.t à memor,a t..m !ortgo
palanas com as quais ,,·ou compor esta obralPonamo, a m~ria não ;;apítulo que alcança a.é a psicologia, recorrenc:ando. para melhorar o
1: Ji,ro senão em figura: ei-la de=;i_gnadé. pafa••ra ·•i\·a, da qual ema.'la a rendirnen~o, a rr.od:::-ação m1s Hbações e na conjunçãi> camal' 3~~mo
cnerêrcia de uma es-Titura; a coerência de uma inscrição daJ10mem e que O_§ auLores dess:~ trata:io.s e-o pubfu:oao..qud se dirig:.:!m.pe~ten;am
de s ua. htstóri.a. pessoal e coletiva, na re~.lidade do ccstino. ,f.Sf;e ú1t~res-
ao meio rt.!&tnto dos míciados da escritura, a concepção da memória que
sc ""l~la memoria, contínuamente manifes1ado pelos dout~. deve--se .io
transmitem im,..Bli~Ce.J.UDa -i>Ii5ença real dos cor_QCs: um laço,
irr.~mo paiJC] dc:scmpe:ihado .ie~sa cultura pdas tr.msmissõc::.~ or11.s
~particular, mtre a me::iéría e a vhta, fundE.do ~obre a fLmç.ãc da
tr:uió,s pela voz, da :iu.d a poe_,;ía constitui o lugar eminent.t:. Uma m,;:n-
imagr,:m e de sllas nlaçê~ com a :palavra. 1
~a~crn escrita, oferecida à vist.a, uiunfa sobre a :.füpersã.i c:~m1liu l,;;:111- o que entra em jogo nr> .ntêrprete de po~tia, no mo:-ne:ito em que
pc-~al por extensão, por prolongamento, de ta· modo que cobre ei~a du-
& reriui,itada sua rr,emór.a. é ~lgo mais do que uma sim_plts mem.oriza-
pla ciuraçào e se dilata com ela, se for o caso. Lma 0QP voca. tende .;:ão 1\. B Lord, a pn>pósiLo de camadores iugcslavos, :'é.lava de remem-
ao me~mo fLm por meios contrários: reduz a duração à it~raçào indefi- l,e,-;r.g, "remerr.oração''. C>jforme o intérJ)rt..-te. na perfr>m1:rnc.l'!, can-
niria d,: um momentu ünico; o espaço, a Lnicidade figura.fa 1k Lm só te recite ou leia em vol alta, limitações de maior ou me.cor ~orça geram
l uJ!a.r afetho. ~a ação; ::te qualquer m,)do, "orém, esta empenha uma rocalidade p~s-
U:n clid1ê, abundantemente atestado através de toda a Ell'opa, do .soa.: sttnü1tane.:.mente um :odiecünento, a in:e-!igencfa. e.e gue ela se ia-
secvlo x:1 ao x:v (hoje ainda presente no discurso do velho borr: s.en- ~ , r e ~ e . nsrcnm, os mmculos, a c.espímção, um talento
sol), ji..stffica o uso da escritura pela fragilidade d.a memória humana. de rttlabcrar ern tempo Ltc l:.eve, O senrido pro.ém de !ai unanim.ida-
Esse ··also adá~io testemunha a pressão i,;ero:1da sobre o meio pelas men- :J.i::. Dund: a ne.:csdjade de 1n hâb1to q.1e oriente esta uit:rna, da po~se
talidades e..s:~iturarias em vias de difusão. >.!as a poesia, como tal, lra1 de uma u!:,:cnica elocuL'iria ~a.r.irn)ar, que é a ane ca voz. No correr dos
um sater. Ela o m:o:ihece e não cessa de recl)n~~ru í-lo. dando-o a co- séculos, muitos intérpres:H :h a,gum re,ome foram louYat.lu1:, pur :,;u!i
nhecer. Erg-i;e uma ordem totalmente outra, dife:-ente dos mement:Js c~- hati idade de '.larradores, dt: ca□1ores, 1)ela riquera d~ seu repe:-cório.
c•iti1, A e•nologia con:cmporânc-a põd~ e-stimar que fos;e de t.hlcl.\. ou ~n•es do século xv, par.-~t ~,..ç jamai.s alguém a:: ~abt.>u de .ma merr.6-
três ge~açõe~ a duraç-ào de validade da, l::mbranças pessoais, no seio na. Ela oorna nacuralmemi. Ma épo,::.a em que se- invema a imprensa,
dii :oll"unidade familiar. medida na1ural. ~rn d t.hida irreontr.el l\fas, t Jao muda. Uma caca lt · .Wí. publie.3da por J Werner, :anta a esru-
par.i além desse gru;:,o -ooal estreito, rr:e1:1órias longas ,(; CGr;;tituem
!J:efi;ão, até a incredulid:1de, :)s sab10s a!emã:s quancü d;: 1isita d:::
p.)r nrrnaze:r.amemo :ie ernbran:;.is nd,..idua1 ; á cont nu1dade é a•sc
um JO\en1 e,panh.:,l dt.: . J r,_,. ;Ur '.al:N11.:mcu 11. .,.ua~ (aLlra u ··, ui-
g,mada ao preço de urna muttiplic1dade de afa5tamentm rarciai1. Aí, gar,·, "') e era capar de ·e-.:m1 de cor a Eiblia 1:-.te ra. Nicolas ae Lyre,
ain;la alcancamos um lim11c que n Gucn~. fundiimcntando-,e cm te,- cs escnw. de ,_ Tema~, ,',,l.érnde1 of Hales, Boa\. ·mura, Du:1, 5Lol L!
lemur hos medievais, füa cm um lo no m 1mo. 2 Certas ,o ietla- • 'n::uilO cutro " sem CJDL1ra1 decret.als .. suas glo as. Lodo o Avicena,
di:~ ::.1Canw 1-:ria.i paliativo p.u-a s Diu I rn;i , rn mum o pro--
Htpocratcs. Galeno... n:a:;,> v.ria:e, aprnas ur.:a 1 arte 1(' Ar stótele-.s'.
íiss:on.us que eram herdeiro!> da memór,n. p1eso5 à ltternhdade de um
Os dout(t~ perguntarn a~ ru1:,s: esse jogral e:> w la a ciência é mspt-
dísc:.uso e ::ajlazes de ír :nuito longe nu p,t!>,adu. Nau patf'I.-C que l• Dct
/4U
rod!o por Deu~ ou pefo diabo? Não an1mciarl:1 ele o anl tUt Ho'!' Cc:m "llJb i,.1 i11c.Jica nos co.,tumc:, c•,n ew,1, ifo. ti llCno:i fica1 Qunlqu ·r ~ tLt.:
a.nos '.TI .US tarde o con~ado de h1sroria.s Romáa Ram1re,, cor:io ~·mm,, ,e-J .1 , u ,cn ha a ~.IL.ffi ,d d Lrn.11 r-...wh\. é guc essa tIDC ia, até. .o
paga ria com sua vida aquilo que. para o) inqu1s1dores. não tunciona:ia sécuki xv e cm todas as suas formas, ..:oorol>ora IL'"TUl \'Crd 1de ~Qnhe-
~em as ar'.es do diabo cida e Ilustra p 1rad1grna1icamente a rt0rrr.11 socm1 1 Foi :só p1>uco pou-
Na medida rntsrr.a em que o 1.Jltéri::r ete empenha ~.;sim a toUl.lidade co, hm1tando-~e t.le mfoo a certas clas5cs de t~l , que ela veio duso-
de $Ua presença com a mensagem poética , suai v,:>z trai o te,temur. ho oar o pnvad o do publico e, depoos.. o eu do dcctrto n ,
indubitavcl da tnidade :om um. SJ:c rremóna descinsa sobre uma e~ só a escritura distingue eficazmente e::iL~ o; te :.:> daqudo cuja an4Jl-
ped e de ··mt."IT Nia popular" que não se refere a un a coleçãJ de Iern- se ela perrrute. No calor das çresenças iimu.ltàn~ cm performance, a
braõJças folclcíric.a~ rla, que, sem. ~J.r aJusta. trar.sforma "':-e ..- a voz po,é ica não tem ourra fu.1.;ão :ier.: outro po:ier senão exalta• c,sa
cfücurso J)Oet:co se ime~ra por ai no d1.s:·1rso ~eletivo, o qual ele clar;i a ::o:n:.i.r.idade, no consenumemo ou oa , :.mée:::ici..a. Ou, emão, o tnunfo
:_ rn.agn ifi::a. carreada na íluid,e: c:as foi.ses pc-itica) prcm1Jnciadas r.ir;; ó esc~Lcura foi combat1do, cardLo, e a.s men'..a.b :.ac.cS escruura15 perma-
et mmc. nl.o deua iastaurar-se a diitànci3. que per:nitíria ao olhar cr'-i- neceram muito minoritárias ate o sê:::ulo x·,1 ou x,•n. Por isso, a dife-
'º sobrepor-~, a ele. t:ssa couJunturi:l, é verdade, modifica-se localmen- :-ença (aliás, mais mtuitiva do q,ie empirira) :r1e e~r.a.:.,eLeamos enr.re ''fk-
te, pouco G p<Juco, de~de o século 1(11, à medida que se constituíam os çãcr e "realidade histórica•· se aplica ::oal a esses cacos. Eles procedem,
grupos :;o::iais cirad:nu~. \Ias, por rr.Ltito tempo, nada atenuaria a efi- em seu conjunlo, de uma mesma ins.~à::,,:ia. .a tradição memorial tr.ans-
mit i::a, enriquecida e encarnada :pela ~,Jz..,D:mde o prestigio do já dito,
cácia gleba! da memória vocalizada: nã:J é eia e que reivindicam ainda
do antigo. Toe-:> temp-0 é tempo epicc, - me:Jiàc ai;,enas pelm movi-
os poetas t:o !!éêll.lo x v e do ;:irópno seculo xv1, quando celebram seus
me□cos coletivos das sensibilidades e dcf ::x>:-po.s, n.a harmonia da per-
prlncipes? A ind.sc·Jtíve1 (porém muito relativa) aceleração d()s ritmo~
forniance. Tal foi, durante séculos, o ,;._ra;:o ftm.iam.e:n.tal comum de uma
blsrórlcos a partir G.31 s:egund.E. metade do sécuio XH não impe<le que Sj;
cultura, e as manifestações .inces.san~ e muito di1o-wmas de sua criativi-
possam ligar as estrutaras :t1entais e as formas cultuajs do Ocidente,
dade só o modularam superfic:ialmeote e. po:r ,-ues, obscureceram-no
0
142 /;IJ
"h D.: J 1eo 111 dos ''estados late,te,;, · , tor:nulada hn 111eic ,em lo qua1,que1 que ,cJ:mi us modalidade,(' o c::-.1.lc, de performa:1~e - e,-
por tenenó , Pidal a r,ropó!.ll0 da epopeia es;ranhola anúg;i o "tex- c lu~ivarr,cnte tll:a \OZ. No u:,1ver;o d05 ccnta o; pesi.oais e d.i<. ,~nsi•
to" cx1 te de modo l tente: a voz do re:uanr~ o atualiza por cm mo- çõe!> essa> rebçóe!~ imervocaís têm que ver ::om as que1 em noss.a prá1i•
mento, depm de retoma a eu estado. ate que ouuo re:1tame dei~ ,e ca rrcdema, ·nnaunm-se (com menos culort} enrre o texto crigmaJ e
apropnc. knrndez l>idal encara,-a a.ss.m uma tra..'.11ção puramente cral. sl:'u comentário ou ;ua tradução.
ia> ua c:or.cepçã-o se aplica muito bem às tradições cornpl:xas, nas q:.iais [As8m, a intcrvocahdad: se de~dobra ~i.mu.ll.é1neamen~ t r ~
os textos ~ao 1ra.•u;:rmtido) pela voz. picos_;_aquele en que caCa ®curso ,e define como o lugar de Lransfor-
LAtradição, quando a voz é seu iru~• irr-=nh1 t:..ta.mbém. '10r nAtu- é maçl~::11cdlanu e numa palavra cor.ereta) de enunciado.; ·,-inàru c!e oucra
reza. o dorrJnio da variante; daquilo que, cm m•.litas. obras, denominei parte; o de uma audi@o, h,c et nunc, regida por um código mais ou
mc1\.'encfâã::>s tcxro-s"J:f.iencio:oo-a aqui ma.is u:na 'l'C2, "ouvmde>-a" co- menos rigorosamente formalizado, mas semp~ ele algum modo, ir"com-
mõüma reaêffi"'cãl1mensameme extensa e cocu1; como, i distânci3, li- pleto e entreaberto ao imprevisível. enfim, o espaçc~_Jm~mo a.o :exto,
teralmen:e o murmóno desses seculos - quar. de, n.ão, por vezes, is,:>la- gerado pelas relações que aí se amarram. Muitas car.ções ae :ror. vem
dameme, oono a própria ,..oz de um i.ntêrp:rete.. J1,luJté:S \·ariar.tes, franceses do século xm, esrreitame::i.te tributárias da L--adição de regis•
abusi,-amenre redllZi::ias por uma filologia d:::, e!êC:nto, permitem-nos re- tro do ''grande c:anto conês'' (primeiro espaço), apre1-ent.a.m•se ::orno
ter (o:ir.fr) uma intervenção circunstancial: aSSJrc., na peça 14Sa dos Ca•- ~ançãom:wa (se211ndo espap). mas se recheiam de refràos empr.stad:>;
rnina B.Jra:1a,6 as hesitações da tradt;ào cn.....m:;;::ríta entre chi-i11irh e JU k pro,•erbfo, (1erceiro espaço).
chúnegm ("rei" e .. rainha"), no "'erso e;n q".le se deseja que ele ou ela ?\a falta de ptla'-"3s mrlhores, emprego aqui os Lermos arqi:.étipQ
/egP an mil!em arme-n ("repouse em meus. bra;xH"), reflete:-n, seiundo e voriacões para subsumir todos esses fatos e retenho a variaç:ãc• pelo
o que eu di;se. uma diferença das situa.çõ:s de performance. Os escritos índce da indív:du.alic:ude ir:educívl!l :ia voz.:...fll'JlMtlff!S! refere-se ao ti-
que perrluram ~ão, é \•erdade, demasiado escass.03 ou demasiado aobí- xo vertical, à hiera-quia dos textos; deiigna o conjunto de vÍrtu.ali:Ja.des
íi
guos para J05 dar uma imagem global da fleril::Jiéade e da llberdao~ p r ~teutes a 1 ~a producão tenual. Entb, mesmo gne um i .e::1üên~
das tra.,s:nis~ões \'Otais; pelo menm, :Dmo neHe caso, rugerem-na ao eia lingü:stica (1eno) stja escrita, memorizada previamente à performan-
Jeitor alento. A obra.1. ao mesmo tempo gue •JID. Jato pw:ehlda como ' ce, ela :nostra tinda o arqut1 1po, permanece v rt'.lal, our.;a :ebção com
ainda .r :caliz.àdo. a.cualiz.a o dado tra:!.ic.onal O dado tradicior.::il e-.ll.i.;- ~ o que será perf;mnali:ado. Tal é a co::clusào impl.Jci1a. d::>s tral>aJ1os :I;
te, vir~alida:le ta:1to poética quanto :::is::un:va.. :ia memó:-ia d:> inté~- ~ Jill J. R,·chner, recentemente de Ch. Lee, subrt'. as variant~ dos./aMaw.:.
prete e, ge'J'at uente. na do gru))o a qv.e: e':e per~..ce. ~a i,-edida em qi.:~ Do ponto de v:sta do historiador, o a.~qi.eiipo apare~e oomo o ~e1e ~
esse daoo ::oncer:ne à composição e às esU1Jturas, e- 1e>.10 o reproduz mais lmJas de Jemdhanças que .,garn um texto a EH.ttffl-e-tf\l~~ eut1e ú
ou rnen~ fie menL,;:; enquanto dlscurso, ~~ocr:.r-se i:r.tegrado r.uma ra- ásJiversas performances de um te>.tc que se presume (por h:ipó:ei;e uJ-
lavra personalizada, no fio de uma in:e::i.çã.o c:::ginal, não reiteirável. ve2 anacrôn:ca) é nico. A existência d::sse relé impede-ncs de :i:ensar cu-
Certa.11ente, esses fatos podem sc:r jul!ade<;. :1penas de modo indi- mo direta a ·efaçà:> de texto a textc, e me-s:no de per·orr.:ance a perfor-
reto e som~nte gua"1.do um mesmo cc;ro :to! :enh.a sJdo transmitido por mance. Ela coJoca a rtalidaJ.e da tr.ac.ição e mdTitfo,ta J fun:;onamert:>
,•ános rna:iu~crros ou (mais md1recarnent: aiD:Ja1 quar.do dele te:nos criador da memória.
uma v:~à:> em lmgua estrangeira. A arn;,1!.tu:ie ja mo,.,·ência no) apar:• - -..\·· "traJ1ci.inalidade-", l!Screvia \lenende7 Pidal, "assim, lação fa
ce emão muilo diferente, de género poeu:o a .;-:n.ero poéticu, ~Le 1.k Lt:.~- mesrn,_1", procede da "ação com,.nua e i~n~errup'..é. e.as lariantes ·'
10 a certo. e 1ambêm de século a ,écu.10. TQdc !!:•:lo ~gi.scrado pela e:;cn• Combina (conl:'ariarreme t transmis:-ão purau:en:e ~~crita.) reprodução
tura, co,.-no o lemo . cupou, pefo menos um .i • p;coso nwn conjun:;;:i e mudar,ça· a '11'nvê,ic1a é criação oor 1mua. Menêndez Pidal n:mtrava-a
d~çôe-s ·n6\'eis e num ~tt~ He produç:~ m11ltipla,. no cor~o de opera,do na tradíção do Romancero, exc:mplo de excep:10nal ::1que7a,
um oon:erto de ec~ :ro::1pfo urra munr!J..."11,.dade,\como a "1nter- scgu.r.do se a m~:-abundârda do, do:umen:os c;ue l};e concernem. Cita-
e 1ero w e tam;:iém aquela do cantari 11al1a::os, acerra dos quais os trabaUios
em seu aspecto de troca de pala\ ra) ,e de 0001\ bcu. o:1ora; pohforua dr 13anm B.d<ftnno, ½ramni e ouros, n~~\ ·
perceb da ~los de,1 ina1anos de urna ri-:>!:~1a que he l ~omun1 1da nossc conhec m~nto. Mas e no :onjumo d::i ~ampo medievalista que s<:
tolo~ 1;i,1s 11-;1,1riaLfo~s um c,rnblerru, J e vur a1 •eii c1ue ultrap:1s~n :.l! ptr •
pectn , ~ J« f 1fol "~ 1 trn.'.lic1 on,11. Ap:5ar d~ nem \empre c;c abordar r,
& c~crHuru e :suas e.•.igenctas ré1.nims tla•cm mbre n c-omp1Js1ção, o mo•
do de uansm11ir, a. corL•e•vaçâo da, obra\ p".lft ;,....,\ :àl.,,-ez ess;:i~ c.hte•en
enufüJOd(, cm termo, ~ue se referem ;'1 ~ne;1lidade dQ<; 1exto,, esta per
~.ai po am mect,r margem de 1berdllde de:xad·, pe o~ tt:Ato à · oz de
nancce na ;nm1, arnd1 que lâcita ou mmlun:.ariammte. Ma. ., ~ale con-
.der:i{ iJ• r • . do gue c.m ~Ja.si.ce:;,._,
~"'- !4"mP9>w. r' - ,ada UI'1 Je ,eul mttrprats. \ <l1,1fincia, o conJunto de nossa velha poesia
1 J-ato~ em ~w~oma .-1 ~ u .
J.SO 151
cernente~ a va.sta~ zcnas da cul u ra 1radic1onal e ·, cicu!Jdas pllr gera- x111, na reg.ão de \'eneza, o liltir-'D ~~nJe fluxo éptco que 0ciden:e ,.0-
ções de narradorc~. Era assim qur tlt"\'Íll funcionar ludo aquilo qu~ a nheceu. As momw. .:an~ôt'.1. de ~esta penetraram nos remo;; es:,anh.óis,
linguagem corrente cles1i:,no sob o nome "tegenda"; aquela, por (Xem- e sua marca é perceptível nos poemas que ficaram, não meno& do que
plo, que deve l('I' caminhado por tod.1 a Europa ~ctentrional e oonstitu1 ne. cultura local dos territórios p1remucos. 1' Diversos fatores tavorere-
Tam essas trocas: a macaç1 .implantação de mosteiros cluníacenses em Cas-
o núcleo propriam.en•r dito do Bron'lli{anglo-sax6nico, :a~sim como da
saga norueguesa de G:-eni: aqi:.ela, irlandesa, de s. Brandan, o navega- tela e Aragã::i; o deseTivolvirnemo da per:gri.naçào a CompC·itela e a Ro-
dor do Outro Mundo. cuja! \"ersões correram o Ocidrnte, ern m'llitas tiTI· ma; ~ papel descmptnhado p,or Veneza durante as Cruzadas_:)
guas; talvez a de Tristão; a ::lo fe1reiro rnági:.:o \V1cland, a ~LlB.1 veio da tpoesia nais rigorosamente forn:!.alizada re ugna em maior grau
alta Alemallha e se encontra na Bscandir.ávia, depoi, na G1ã-Bretanha. o franqueamento das fronte:irns lingü.d:ticas; sem dúvida, ela r.ào pode-
onde dela se apropriou ;;, dinastia ange,dna, prcteodeado, por volta de ri~ migrar de Sl'.:U estrciLo Lerreno originaJ se (na própria c:edida dessa
1140, possuir uma espar.L.. ruaravilhosa fabncada por ele: o au"tor do Rü-- fo-malização) 5ua recepção não pudess: operar e gerar pr..z:er na :a.ia
mande Thebe.s, sem duvida a par dcs~a pretensão, aaíbw a sei:. herói ::le um perfeito enlcndimer.to llngwsti:o, A glosa elimina-E. como l)OC-
;;ia; a traduç.Jo ma malit.-la, se não a recriasse em bases cotalmeme dife-
Tideu uma arma da mesma oriA,:cm ...
Tratando-se depsía lingisticame:ite ;ealizada~ o nomaclimio dos t .k.ci~ rentes; uma :ornada incom;;Jeta de frases ditas pode, ao contrário, alte-
rar o.penas os .!ft.itos. 1A pc>esia rom:&nics do "E;rande canto cor:ês''
textos - para além dos terrenos WJ ,w,ie..ftça. posslvel algWllit imcrcom- J ,.-.g..r
preensão - e,ci~o re:-urso à tradução, ora o '!!so de urna Jmgu.a + \,.._
:=>enerrou em zona germâ.n.ca pelo LimbUigo, Renânia, Smça, regiões
fra~análoga à que utiliza o comercio internacional ... e de que .as pri- üngüi~ticarncntc frontdriças, onde os individuas bilingües não dc:viaa
meiras canções épicas ·•:ranco-venezíanas•· dão, sern dú,ida, um ex.em· t :"altar. À m~ma época, r..i Baviera ou na Áustria, os primeiros Min.ne-
pio. E.rn tais condições, cenos textos "pa!;sam" e ou1ros não. Os mais Siinger só foram indlretameme 1ocado; por esse modelo.H
móveis são os meno~ formalizados, quase necei,sariamentc narraiivos .... As vezes, o espaço e o tempo comportam zonas extensas de silê.1-
Por is.so, um folck1rismo triun:antê:pelos icfos de 1900, levava a i•er em ,/J
i
,,, j cio em que o pesquisado1, alerta, ou·vc ressoar como eco as voze5 o,.i.vi-
1odo conjunto narra:ivo suJJo;tameo~ "popular", como osfablia!lJC,
uma massa qua.._~e inéifercnciada e comfaua, de um ~xtrcmo a outro da
"- "\
i
../!
.- (
...
das em outra parte; assim, o teatro de marionetes napolitano e ~icilia-
no, comprovado desde o século xvrn, ou, em parte, o repertório dos
poetas populares do l\"ordes:c hra'iileiro cariam pro\ras da cünLind:iade
Eurásia, Voltou-s.e a is~fl, se assim posso dizer. Restam certo~ casos pro• o - l,,._
váveis, corno o l.oi de l'umcome ou o de l'oise/et, dos quais e;,;istem oral da epopéia carolfogia, ;)Osterio:-, senão anterior, a seu xríod:::i es-
equivalentes japone~; _; ?Or quantas bnca~ eles transitaram? Às veze."i, críro e talvez paraJe1amer.te a ele. •9 Q. ú ltirnos elementos vi\'05 do Ro-
pôde-se re...'ilper:u a série d.e int.ermec:liá.ios, oome> o.s que de. unia vída mancero espanto!, regisrrados ai:ê po... volta de 1960, esclarecem sufi-
de Buda terminnro..m por ;,r-oduzir r;m francês uma ni~tória de&. Josafá, cientemente o mocio de exi nên~;a tl~sa rica poesia para autorizar ci,·ersa~
muito em voga n:>s sécu1os x.1 e xm! Esses imermediários., apesar de extrapolações relativas ao ;,críodo anterior (e, em certa medida, poste•
existirem, são O\CCÇÕ~s. ~ten,ão espacial ::la~ redes da p~lavra nar,a- l-f J rio:-) as primeiras oolocacões por e~crilo dos. s6::ulos xv e xv1 .•s3o é
tiva em tor:io de antigQ1; terri16rios caralingio5, românicos e germáni- J,t ,~ f parricuJarmente verdadeiro gua.1do ~e -rata do vasto conjunto j L1deu-
cos parece ter rarameulc: ultrapassado~ hcr.í1cs que formavam o mur\. e,~n hol, do qLal 1'.·leriendez Pidai cmsúmiu entre 1896 e 1957 i.:.ma
do eslavo a les1e e o andalm a::abizado ao -ui. As ;o:r unicaçôe~ só se cob;ção, que Arm:.stead, :\>fargaretten e Momero publicaram t1un cati-
estabeleceram com a., regiêes célti,:as 70 rnumc:nto c-m =1t1e esta., cu.lu- logo-indl'x de mais de rril p~g,ns-. ~a R~ssia, a tradição dai. balad.a;
ra! e polnicamentc, e:sbor:>a\'l.m-~e; r w st estabelec.:rau: por interme- ~.amponesas chamadas bylines, cuJ as mani'estações ::omeçar,::1 a ser ob-
~ uJ... ~--~J. •-...;:1 lo. II q 1rd• ~ l"I,'' lt erJ- ..J'T~.,... ·a:::c:os, :i.r,
d10 do laum ou du anglo--norrnando. Ern lOntrnp:1n1Ja, 110 11.tenc d~
areas românica. ou germãntca\, dr Castela ,am, pa1-.cs vikrng~ ou da Sa- da re;.;ememente subm1ía em alguma;, rc-giões. seremrionais afastada,.
xônia a lslãnd a, e!iboçain-se mc,,,·1mcn1os inacmos e inca,au e., 1-k- .Nã.1 ha nenhuma dúvida sobre n antigfudade e a oralidade dJ t.r~cliçii.o,
néndei Pidal traçou antcriorrnenLc muito de que o Romancero f01 o Em 1963, B. A. Rybako\ :l.:.emuava a esu~ita ligação históricc. que ha-
pomo de partida ou de che~,H!a: 1 a J11 u~iu du cançõe~ de gesrn tr:m ,1a entre d1ver,;as C)'filil, tieró1.a~ • a pe:,)oa do prfndpe Vfod1,m de
ce~as na Italia secen1rior,al, ·.ih·rz de.ide l) ,éculo :x1 , gerou n-, sê ulo K1e,, no século ,;_11 Pouco importa a a:queologia do gêner::>. como se
1.52 153
w11Hh1íu. ou q11an<l,".lll Só i mportu que uma l1ng11a pci~rica orgnni,w-
1
da \,!J uJ,;u, -.err outra mediação que não .:i. voz, sem outro pubJi .. o ~ue cnwçõc 1r.timmas das "h crau..ras · ultcnore.s .. mcsm,o e, em algu.
nilo tT pcrrnrm:mcc. <iem outra e:,:istêncra que não a presenie, durante n- as ,J.e s11,1:!I rca 1111ções, pare:,: i:i~r.I.C!llcnu: ~rnr com elas. \ si-
setecenro!, ou oitoccnto, anos, as figuras estilizadas de Ilia de J\furorn ' wiçi!n e-tubiu, e, 1gu1 comll e:rn •oJ.a a !:'.lrte, nada ! monolítico - b1s-
de AJe,_.h,-) ,Po_povitch .-: üe cam outros, entiquecendo po:.ico a pouco dã dê,.1 a esrntwa m rnilndo q e cst.11
no cuno do tempo, sem mudar de natu,e-za, novas lembranças coleti- oonquisca como 3e a contragos,o. :t'a i:.<lr voJta LI"' século xu._ a e cri-
;,-a~; d~ um Ivã, o 1hrí'+'!l, a Pedro, o Grande. ea lênin. oquaJ Ma:fa tura é o úr~i~--o ~·eJcuJo do sater maLS ~ado: o :"\,der ~ssa pela VOl.
Kryukova cantava por ,·oJta d::' 1930! A partfr do~ séculos xir e 'OU, a r:la,;;i,:, ~e in\'CJ"lt': ao es.:rito, o pod«,
\. füa~ão pda t na escmu-a de uma t..-adição que foi ara! 11..ic põe a ~oz, a tr.ardrw.ssãa .rn·a do s.ã.!:Jer.11.as.n.uirada dos sà."'Uiru.x~ e xu..
rteces~trfamenre fun a esta, nem a margLnaltza de üma vez. Uma .sim- OJ até n: e XVTI, ne:tbum jes.5e5 dois çet...Y.f'.> de fo:ç.as e ::e •,alores. con
bfosc l?Odt: instaurar-se, a::, me:r:os certa barmonia: o oral se, escre.·e, o se,gwu eHrnrnar inteLramente o c•ur:o. 'Sb: pode d ei:u.r de ~tar aí a poe-
esc~ito se Quer uma imag<."f'Il do oral; de todo o modo, faz-se nfr,ência .sia comum a codã.s as redes de cc-mu:i::::aç:ão ::o:::miimivas dr: um estad<.1
a ;;i.11,,ridaoede uma voz. É uma coexiscéncia ativa dessa :spécie que de cuJtura.
O
re5temunha, ã.s margens da poesia, a tradição pan-européia de text()S eo- Entretamo. ao abrigo da m~~=tu~;;:ão ·•escri1•.:...-ã:-la" c:m formação,
mu os Diálogos de Salomão ede- l1.farco6..o. lnve;rsamente, o faro de que ~ubsme profundamente .!IO esauor alg1C..a. :ois.a ::lc delicio da voz, do-
uma tradição escrb. passe ao registo oraJ rrão traz sua di:g.--adação nem :a\•ante em 1,fas de in.te:'iorizar-se em fantasmas cr..ados pda fascinação
a esteriliza. De modo geral, é certo que a partir daí eJa visa a um públi- ::fa pala\·ra pronunciada e ounda.. .-\ ~rDJ>fu.i!o das ca.nç-ões de gesta (g~-
co mais amplo, o Qu~ pode cauEar sua de-p~eciaçào na opinião de al- nem exem;;1[ar), S. Nicbols am.criorn:e□re :=ios!rOu x,mo, no enunciado
guns. Emre!arno, renovada., essa. tradição permaneoe muit;;.s yezes p:o- pot!(ico, cria-re um.a ten..~o ~O! o "mome:nto liri:o" e o "momento
dutiva; é -0 ca~o. em todo o Ocidente acé o século xnu, da poesia 1ca.r.rativo"; entre o que é trazido ii- aquilo ::iue formalmente o dinamua.
natalina, na qual mllilo se reproduziam as fo,mas poéticas !etradas, re- As recorr~cias desse discurso. .a estabil:d.ade dê' 5-etlS nucJeos formais,
Jigiosas ou Profana~, dos ,êcuJas xm, Xl\' e xv. reconhecivciJ facilmente peJa :::r...e:n..O.riai cc~eti'ia, oo:m.J)ortarn efeitos de
poder espe::::J:icos. Disso .resul".a 11ma efü:~:::a panicular, oa ordem da.
persLLasão e co despertar ao desejo. Não 5e podena i:.:z:er rne1hor - com
No seio da tradição qu~ desempenha assim o jogo da memória. a uma precisãi, apenas: o "rnm:r..e:n~o lirko" que- Ni.chols de;;jgna (meta-
vo2 poética se ergue - mul10 manifesta, de maneira mais diretiva do forka.mente?) pela pal.a.vra ~ .>rJo :!!em ser.:ip:re tem ~""téDc:ia textual; em
Que aquela Qlle se esboça na escritura - no próprio lugar em que se con.trapanida, pôde sem;;,re, .na obra reafü&:la, :resulta:r do estilo da PCT·
recofia e mwor paire dos códigos culturais ern vigor à mesma época: formance e,. em ultima análise, de jogos ~-e-cais. .A...mm corrigida, a tese
lingüísticos, rituais, morru:;, políticos. É por isso gue - com bastante seuniversaliz.a.LO texto recebido nela ouv'.da..~.a :omciência com~
~i5 ÍOIÇll do 9.!:Jt;: O faria llma J)Oe-sia de leitura - os textos dã poesia do mesmo modo como a Jingµig~ cria a !iccierla.ó:: que a fala- efet-
de audição st rea_g___rupam na c:>nsciência da comunidade, em seu imagi- tÕtãoco m""ãisfõrte na medida em q:i.e es.!;e texto for menos apropriável,
nário, e:m sua _palavra, em co11juntos discu.rs:fros às vezes muito exten- meoo3 ma..""Cado por om inru,ddoo coac:re!c que de.½ rei-,,indicaria, co-
sos, e em que cada elemento semamiza (segundo a cronologia ua.s per- r§ i:fu:êmos, m,,.dl'l'atos ; Põr •~ e,,.--erda.i:e,. algo~ em algum mean-
formances> todos os outros. Alfred A.:iler o demonstrou, com pert:Í;]ência, dro desse disi:urso âedio.a seu aorn~ e iesc-= .:ião ~ lfulJS do que um no-
no caso das canções de gesta; juntas, estas fazem ouvir um discurso \laSto me, iosufk:if'llte para susp,en{!er a regra d.o anonimato. Tu.l estado de:
e di...,ersificado que rem sobrr si própria a sociedade feudaJ, colocando coisas não é ~'C:'dadcirameo.te pos-!o em questão, aa [::ália. antes do sé-
questões. sugerindo resposw. ofere.."'endo-sc a todo:. como uma pala- cuJo xm e. em outro!! Jugal"CS, oa metade ckJ sét-u.lo x1v: globalmente,
vra cornuro, de!!:c:ontínua, ~m contraponto aos barulhos da rua, aos ba- rnbsi~!e a.tê o 3U.r50 do ~écuk, x•r.i.
rulhos da \Ída. \luito bem. 1\fas não é de oucro modo que funcionam E1erce-"le :;:,J: ai a fun,.:ão soi.:ial da obiv poétiC1J: lig.ad.i à aç!o tla
todas as espécies de ti:;(10s que nos foram COIL:ienados, até o começo ;,oz., que conm ui ua razão e seu Ju~a= - em pura \'Cn o criadom.
do l.écuJo wr ou do :li'.\'!!; a massa de uma poesia ainda intocada pelas Uma parte da i::ole-ràne.i <.le cns;.a os publiauta mi 1977 por H. choller
toc-.i ne1sa~ Qlli!:>l(les, reluuvamerue 3 'Um.a,, m1ena clc te-:to.s alcrn 1cs tle
!54
JJ!
1
- que, em con,equênc:a, o cento de g~s1,a é um tàtor de estabilida-
mdo o C"nero. lna con utu.iMe facilmi:nlC" uma bibhogmlia sobre tsst
de- do fatado.
assunto, i:-mb· ra ~us autores, por Yezr~, não c:on.)Cguísscm dlf.Cern:r ~n
Dttt"rminam-se faciJmeme dua~ camadas de discurso. Uma se re1-e-
o ai 1 ~ de 6cu cli cul'l'>o. P e alcance ê a -eficácia social do dizer poêti•
re aos valores uni,·ersais da ePOpéia, de tal :modo que hoje podemos tê
co, enquanto e ti\·er preseJ11e no eio ela colecivit.lade reunida. Os teste•
los. co:no certos: a pafaHa
. épica fu:1da
• e cimenta
_ a comuru·dad,...., no pro-
•
rnuoh m~lC'\71Í5 não e tão de todo au}(flt~. TI1omn of Cahhmn. na
pno mo:n.ento eJ'l': que e pronunciada~ ouvida, engajando a totalidade
passagem de ~eu Perutenriale em que disserta >Obre méritos e: demérito~
dos corpos presentes nessa performance e resultando, pelo meno· ,•ir-
do~ '·jograis ", incrimina o poder de que dispõem cm decorrência ;;l.e ,uz
i-ualmeme, em açãocoletiv:i.. Mas o.itra cam<t-da discursh'a no LC.\.t
ane: aqui, suas rnzes, seU5 gestos, .;eus ouropéis incen·em ·anto quantu nifesta uma opmião historicamente comlicior: ada a qual' ~ A • º• ma-
o cometido de se11s discursos. A maior parte deles é cor.denávcl pelo . . . • • J-"A'ena ser a
do mtdoctual citadino que e:a Jean de Grouc:hy; opinião {que di f
próprio excesso de ,::razer que assim pro,·ocam e pelas açõe~ pecamino- . . .)f d . r amos:
reaci_o:iar1a ~ amenta~a na reji:iç.lo de toda contestação. Ora, essa
sas :i.s q"J.ais indurem. À mero1a épo::a., o mestre- francês Jean de Grnuchy,
uuplic:dade Lrdl wna convicção emJirica,- qu: aqu.i nada colo.::...,- em qe~
em seu De m!lsica, des:::re.-e os efuos prodwdos sobre a multidão peta
t.lo: a do poder. enguacto tal, do ca:i.~o públi:o - isto é, o rrresiStJveJ
audição das ;:;ançõe5 de gesta. O público dessas canções, declara ele, e
poder de sua ~•o:altdade, fora até das ~oilfilderaçõe.s sobre seu conteúd
apenas um magote de misenh-·eis e de 1,elhos. Um 'traço de humor7 Ou
por volta ue 1290, t:ahez o. epopéia oral se dirigisse unica."lu.:nte à.~ pes-
Dor.de outra série cl e afirmacões, md o subentendidas: º·
- e cantus gestuaiis 1em seu lu_gar marcado no tempo social· eJe
soas oomuns, tendo perdido sua primeira clientela? Certamente... em- 1
/J9
158
Ê impo-sivd. ra rraioria
pre(cn,a a pala,·ra de Adão, nomcar1do as criatura'í; mos não parou 11 - uma ou por outra deve ter Jiferid,J ba~tanrc. •-1~ -o "romancr", r
• Nunl :i,~rn:ro comu . _
o, e, o n1,mes que .se 1mf)Õe. falta sempr, uma letr::i, um :..om, uma do~ caso:., :uli,!a~ Jc, mo~o -~º· ai .fo!i.SC atenuada; a sinaliraçao
pr0\'8 da 1den11dade a squrod.i. A,S~im, não esgota nenhum emido, Provivd qce a smahzaçao SOCtocorpor
· conto,, era ;,ro' ave
. 1 e nada roais De
oposto Qut é ao "real'º, com o o tle~eJo o é à lei. F...5.\a muLaç ~e dâ lt:.(tual, por ~ua v~. em mww~ .. .; '-ra Dance, para o medie-
modo. am b as irn pmtam• l"nl to-a.. OJ • r-•iio de :.mperso-
-'
em doi nfvm, undo modalídades \'afiá11,•eis, próprias a cada socie- q u~•-..,•er
<U\("' wms ri equcnte 1mp '"ª"'
dade e a cada momento da história: no nível do discurso e no da enun- ,al:~a. leilot de,s~ ~e:xto•, vc:o . m~mo pode-se e-:~. d:i.
aaç.ão. Donde n ne::.l!'SSidade de dhtinguir dois tipos de sinm; a uma nalicade. e Dão ~ ab~tnção - o con•.rário ~11 Ê :i caso da
impressão se."idda pclos ounntes dos sécllll.,s )úL e .
.smali2.ação Que&! drra, de modo restriti,·o, te!IÇtual, referente à lingua,
.• , car.ções de., trouvtre.s .. -
combimHe uma s::m.lizaç.ão modai', operanco sobre os meios co~porais rn:11or parte d =
e fü.1coc; da comunicação: nado o que ~e refere às grafias, quando (e tra-
UI da escritura; à •,oz, quando se 'rata da orahdade. u~ sejam ~cu modo Je prc-
A conjunção das dui::s sérles g::ra a obro Pelo menos, a part;: res- O texto çodco medieval, qu.aisquer q ~ .d:n,Lca. as me,ma!'>
. uti.liz.a urna hngua 1 e -
pectiva dos .sinais textuais e modaiscm sua constmúção difere bastante, clçãn e .-t:a dest·na~o u1t:ma. - t •;cas o m.:!ilnO \'o:;abula-
. . - mesmas regras ~m a.. , f
segund~ seja domi□ame em poesia o registro escrito ou o "·ocal. O tex- es'-1l.lturas gramatiara, ~, . u1 . "' e:":'l ,odas a> época!>, se a-
rua! do:nina o escrito; o modal, as anes da vo7.. No extremo, a obra oral rio de b:-,e.. As tcndênoas parnc ares QJ.., fracas ".iriaç.ães: uma,
d atico uazem apena~
seria conocbível üu::ir..mem.e modaJizpda, mas não textu11/rzada A ação zem marca, ,o .scurso po... '\ . o ob. e[O de u-::la rcpresent.a-
vocal implica uma li:,ena;:ão das imposições linguísticas; ela deixa e:ner- geranco obn:.~ q11e fazem
,
forte refen.:nc1a a J
. , . o ao qual o Lex.~o se a
li.oba A q·..;~stao
• • .
·o· a ouua. a um sLS:ena e,tet,c . ·, • entenco
girem ~ mar:::as de um saber selvagem, provenieme da própria faculda- ça • . . nrta~to mais a de um. es,r. 0 •
de da linguagem, r.a com.plex1dade concreta e nJ calor de uma relação que se ccloca ao med1e..,.~lti.ta e, p . . , . LO de sbais poéticos, r.o
por rtse termo, mmco . Pre·isamemc
1.: •
o conJun
. d rn texrn se m-creve
imerpessoal. Ao te:-:to oralizado - na medida em que. pela voz que o . ·e Qu.icu:Jo a vocal1dr111e e u f
traz, ele engaja um corpo - repugna mais (JUe ao 1ex10 escrito te.o;. i)er- scn1idu ~e.ma Jef un ° · ~
, . . .. l m Lraço geral .ara.t.ro
~ a sel estilo. De aw,
.
cepção que o diferer.:.:1e de sua função social e de lugar que ela he con- e:n sei.: des1gruo 1rucia, lll .. d d "os texto~ an.eno~s
· quasç totall' a if!'" •
fere na c0rnuoidade reaJ; da tradição que tahe7 rle alegue, e;,,:plícita ou e,se traço peri11i1Ju.l.:c C()murn ª ._
)J.01) Ele se manifesta.
1mplicítamente; das ::irrunscàn:::1as, enfim, nas quats se faz escul.éir. O a::, ~éculo )."I e a :nu.itos ouuos ainda depois e.e .t- do .ir.anio (conse·
• - 0u mais densa, a.tra'- '="' • • •
texto escrito comporta um duplo efe to de comunicação diferidôt; um, de maneira dlversa e m.m.1:!> •· d . poderíamos def1J11-
. - ) das es-ruturas do em.u:..1a o,
imrínseco, devido ~ polivalênc1as geradas pell íOrmalização p1>éri:;a; cução e :omb maçao . . . ·ct . fra-cnU1üedatic:.
outro, extrínseco. cau'-ll do pelo afastimento de t.mpm, e de contccos lo ccrr: termos comO -"•-coruom
u,,. auc ~ ~" de po ST"iSe. corno
. . - l t"' o texto i r:nesrno quan ' .
entre o momento em que é p:oduzida 3 memagcrr. e aquele em que ~sta ·nansrrnudo "·o.a men.., ,. há pcuco;.anos.
d ) . f~ gmcnia. E ce'"to 4uc. •
é recebida. O ;i,oema perfo:.natizado oralmente: ,_·ompona o pruneiro ti:I. cürema compac1 da e )e "' . f "mentario, em rauo.)
. =•o cm s1 ir.esmo, e ra.,
corria per aí que todn Lc... , , • . . se~ ... ci-~c: ce uma
efeito, mas. tm p:-inci;:::io. não compoaa o segu:ido: enquanto onl. re- • 1:, t ra que o atra,essa ,., 11•• .
pousa sobre uma ficção :om o mintm::> <lr imeciaLicjdade. na verasde, d:, indi:.-abamcnto de uma scr1 u . . fi ·11 em, limites J.o discur-
- ,. movimc1uc .n líl 0 •
mesmo se a audicão oco,:e muito :e:nj)O depois d) compos,ção, da só tersão mstat1rada :oi e ess~ - bZadO ,;;uc. 1.:iJmo ~:qucn-
pode ,er imediata. Dond:: a autorida,.k especifica de que ,;e ~en-st~ o
•o. Esse, l:aracten:!> se enc::,:nrarn no t;>:to o a • d• am•·· te do "scrito.
·• ... , ·. de di ..::rir pro:,m •-' , •
cexto perjormaflzado· o escrit=-' nomeia: o dito mostra e. por isso, pr:>,.1. eia hni;:msuca organiLada, :;i~o po l . d rºalizaçãu, e e \l.; coro-
. ' . um de seu, ,., ano, e ... f.
As o;us1ç6-cs assim tlc..;adas não têm pemnênda absoh.ta. Elas _ga- ?\las ci lingJtst '" e apena, . r 1-.... º.men·.ar-edade c~')ec: 1"
. -
h na,•;-. de 'í'Ut·o~ ;:i1a.n0 ~" -
"J,. çrcne::1 urna "-,-.
·do e: desenha er.
nham sua maio~ for;2 .,e comparamo· uma obra c,crira, para leni:·a • •1 "ffi3 0-11 e -on~um, )
0C1..lar a pc:rfo. mance Je .ima obra dt tr:id.çao puramente oral. lra1andc•- ca. A r::n,ão :l p.iru1 da quJ D po.. - . W""fl ent:e sua~
=~::me
de dr umi Q'Ja,r conr:-.i ....- ·
,e de obras qt.c Linha:rn desun.ação \.'Ocal, mas que nos c.hegaram em "'or- tre a paJa-.,ra t a vo, e T'm::e . ~ tlo di~C1Jl'>O e a infl-
ma e~crna, )0mos for:;ados o supor que as duas ordens de \'alares 8J finatoades xs;,ectl\"2>; en:re a tm1tude a ~pa~ialidaàe
estão 1mestidas em coniunto. De far o --•de
" ,u da memória, '!ntR • ahSlr.a;ll~
a[ - ~e "'íCl:l
•eh·· , .... a 1s- nao satura
'- 1-•~• •
do cor71O. Isso peque e, tc:-to or nao ,. . -
ru'.lca t:>do o •ct.. :,paçc )emintico. E por icco também que o d,.-,.~ ·so \'CZ, cn:~erguu i um carâter umve11al da "epopéia' z 11.la) trata-~e -
a( •e constituiu 1radicic...,almente. até o -.éculo xv, ~egundo o, r ·m11
mas r::ulica mcnle - de umJ .,.ão tc,ctual", como diz B
em que res~oam os e:itrect:oque~ de um plurilóg10 ,•ocal rupturas de d......,uu1.,... J!,...............,.., b que
esulo e :te tom. heterogeneidade-. mtáu:a U1ce sante expenmentaçiio não ê tntegr: \.'ti
1.ertial; Rn mesmo tempo, afirma-~e a vontJde de ensinar e .:o m·ence~,
Essa ingerência ::k, corporal no gramatical indica outra carnctens-
at n vessar o \•ivid,:i e em segu da, ·,oltar a e e, :::m:ularmente, enriqueci-
11..:a notável. comum a g•.ande numero de obra el' :a1( ma aminda
do das: iit1mficaç ,es co' ~idas - poe,ia profu"ldarnente oratória, des-
de unidade. no sentido que uma trad .ção clássica no~ faria dar a e~sa
dobrada 11a praçc. p·í::,lica co:no se num teatro.
pala\Ta, Qua.r:.1as hi!X):es~ reiat ,..,,, a perdas, 1oter,,olaçõe~, remane:a-
.\. f-r.gmen:ariedade rec12.2 idealnente o .discurso a uma su~são
men•os supos=o~ provie.-am simpleimeme da repugnânch experimenta-
de aforismos (.:Jcno, :::om ba•tante frequência, no "grande can:o cor-
da por filólogo, etrados diante do qi.:.e nosso~ textos têm de múltip' o,
tes" 1 .:"I U a uma rup<;t1d1:, às vezes de:::laraéa (como no Trista.rr d<: 13<:-
mulcicor, às, ezes cfüerso a ponto do contraditorio~ Tudo isso su:do ao
rouJ). as vezes reto:icamente caml.flada. Pan alêm dessas rupturas, des-
interior, ao apelo inicial de uma voz, c:m detrimento de uma coer~ncia
~as disj J nçõt:i, apa1ente< 01J reais, o texto se prcpa.ia para eutrd.r em
pcrforn:arcc, para u:regrar-se no mov:ment,J de um corpo, em sua ver- externa, defiru,·el na proporção da~ parces - e interna ... na medida em
dade vivrda, ao a':,rlgo de todo seqüestro racional. Essa fragmentarie- que a sentimos como uma irrcsisúv~l con·vergência funcionai. Raros .,ão
dade c,~â'Jcitl do texto nedic,·al impli::a menos o de:..?(!daçamento 1co- os textos um pouco longos, antes do século X\.t, que não se ressentem
noda~ti:c de una imagem e a recusa programática de uma totaiidade âe uma ou de ou·:a., freq:ientemcnte das duas. Certa .ndefin..1,.ão esmaece
(corno se viu nli.ma época proxima de nós) do que uma muitjplicida- as fronteiras texmais; o exame das tradições manuscritas ,~-mitirü. or-
dc djnãmica, a HmuJtam:·dade de movimen~os diversos e não necessa- denar os tatos em du.as classes, conforme pelo me.ros certa ordem das
nan,C'l tt com·ergentcs Além disse, no seio da tradição à qual ela já não :pan~, percebida como itil, talvez ate aecessária, permanecesse relati-
pode ,er refoida, a performance ressalta como urna descontinuidade vamente estável ou., ao contrário, conf:>rme a autoncrnia das partes ;,e:--
no continuo - fragIJ1enta.ção ''histórica", cujo efeito aparece com can- mitissc pro))Or, sem prejuízo, llJT1a ordem nova, acrescC'Dtando-a,;,
to maior evidência quan:o a tradição é ma,s longa e mais explícita e transferindo-as. suprimindo-as, sem prejudicar a fcrça de i-:npacto do
abrange elementos mais bem diversificados~ é assim na economia dos troo. Essas duas clas5'!5, muitas V"'...ztS, interferem. O que i:npona, aqu ,
ciclos de lendas, de epopéjas, de conto!, de canções, superunidades vir- é que os traços assim em destaq\Je provêm de uma exigência estranha
tua.:s cQa propriedade é jamais atUalizarem-se em seu conjunto. Um àguilo que nós, Modernos, costum!ll1tos perce-bc-r ou pew,. É na per-
ciclo, por sua vei, totalidade mtuaJ e provisória, não é senão um frag- formance que se Exa, pelo tempo d.e uma audição, o ponlo de inte-
rn ento de 0 111ra totalidade - a constituir-se onde, Quando, come,? b- gração de todos 03 c:lemeatu:. que consLituem a "obra"; q1e se ena e
tando--.e de romances como Ericfe tneas oi: aqueles do rei Artur, fru- recria sua única unidade '>1\'ida: a Lilidade desta presença, manifesta pelo
tos ~e umrc. \i:3.Sta operação coletiva de redescoberta e d~ recupera-ção da som desra ,•oz. Donde aquilo que. à leilura dos textos, parece-nos coisa
história, a relação en:re a obra e seu pré-te:xlo é a me~ma. Dessa pers- equh·ocada, voltdo inúti.1., anúncio sen: objetfro. "Onde ~s1ou com a
pcc:iva, penso que s:: po~sa cswdru com ;:,roveito a formação e a difu- cabeça?!", pergunta-se Go..<-tfried von Srrassburg, nos vv. 5227-32 de seu
são nos sé;uJos :<Ili,lCIV, xv. st.ravés do Ocidente, e depois o declin:io Tnstan: ele se esq:.i.ecera de apresentar uma pcrsona,em! E tantos ou-
tlu~ grandes ciclos romancsc::n cenL~dos no Graal e na Tá'>·ola Redon- tros autor:cs: "Por que demorar mais~", " Para que me e-s:ender?" e
da. T:i5tão oc Diecri.:h von Bem, até as sínteses univenalizantes de um outros cfü:hês que, por certo, entram na retórica narnth'a desde o sécu-
Da'-id Aubenna Burgunltii, i.lt um .Kasvar ,,oo der RhOn na Alemanha, lo xu, mas que .só podem ter cfic eia e cumprir ua funçã.o na ortlem
a "e~ões ibéricas das Grandes conquites de Char/err:agne. logo pro- d.a com;,osição quando trazido ~la vo:z e sublinhado ou co~entndos
movidas a reterfnc1a últ~a e 1usoficadora de dezenas de "livros popu- pelo g-c5to. É assim que, no É.roe/e, Osutier d' rras lpica seu textl) com
lare'" do dois lados do Atlântico..\ienéndez Pidal já definia assim o &0úncios., à manctra de um cont do· de hi tória hido por manter
que e e dcnominavajr.zgmentar.smo do Romancero, au:cultando o apa- atenção, fazendo ,,aler a contmu1daôt de sua 111atfri n. rrativc. Tre in-
rc:ntc- inacnbamcnto de cada texto co:isicerado em s1: C. Bowra, por sua tenençoo des~c e:ic:~o, <kcxtcruao re ularmente dccrc cente (27, um
162 163
ie, dé'po15 no~e \t'í os), i:'ntrecL1rt1.m a n.irrativa tom intervalos de di desp~rcebidas na p~formance ou me~mo, de.,;t,1cado5 pelo jogo d0 in
mc-n 1'\c.'i compar•vc1s (entre 2800 e 22(10 \Tr~mt· 1éq,re1e, sus-:1tam ai al,!!llm sentido aúidon..il
- no~ LV, 87-J U, lo i, u •po1.:, da dcd1Uitóriu, (i(l,1ticr for:nect um Outro farnr atua err, ta,·or dc~sa fragmentação: 11 ;,róprrn for,,:u d11,.,
rc.· umo J,1~ i1ar1es do rorn ■ ncc concernentt'~ a Éraclc, ma~ não dfa uma tradições tematicas e forrnaic;, !lO ni'tel dai, quail, tmais do que no da
ralavra t1!)re a per onngrm Atana1s. g uc: t i;:nponantc; ek pretc:□dc en- obrn ponicu.lar) se constitw .i única \çrdadeJra unidade ~upra-scgmcntal,
tão prtci ar - e fixar no e~pfrito dos ouvmtc!i - a natureza de seu te- percebida con:o tal e à qual toda palaHa volta, Eis por que a forma
, a gerill, :m relação ao qual ludo o que 1·itt de dilerente será amplifi- oralmc:nt.e rea.lizável yeriuam:ce i!penas dQiuc:rd.ll'>'lll, u 4u1:: Ma.-.. Lü hi,
cação, orn1memo, desvio; .i j}ropósito dos emito'>, denomina Zieljorm, forma finalizante e ideal,
- nos w. 2856-2914, após o casam::nto imperia;, Gautier :resume -eaU7.aca aqui e ali, ma~ nao na obra inteira - que, enquanto tal, n;Io
0;.~ episódio.'> precedentes ccsde o começo do romance. Segue-se o a:nún- pcd::- constituir uma totalidade. Essa noção se apl.ic-a, de modo eviden-
::· o do que vai acontecer: o adulrerio e 9. ~.:paraçào, cerJC1is a ascensão te, à poesia cantada dos se:::ulos '.<l, XI! e xm; mas, de maneira mais
social rlc Érade e a conqui~La da Cruz. Toda a passagem constitui uma complexa, também à o:ira comi:osta por escrito, como um romance, no
estase na narração, a J}Ouc.a distância (cer::a de trezen-os \:ersoi, ou se- rnomer.Lo em que uma :ec:itEl.ção em voz alta, d1ame tle llID auditório,
Ja, doz~ ou treze minutos ele fala} do meio: confere-lhe, se não a ún~ca existência, pelo m~nos uma outra, definiti\•a
- enfim, nos '1,'V. 5ll0-S é anunc'ada pela terce.ra vez, imediara.- e1qua1tto sociaJu.ada, conforme um.a in1ençào origi111al. Somente o som
mente antes do começo do relato. a oonqui~ta da C"'llz:. e a ;:m.:sença, e jogo voe.ai e a mimica reaJizam aquilo que foi escrito.
A maior parte do5 relatos, em rodas as linguas, compurra Lraços Qualquer que seja a pe~formanci=, esla pr<>)Õe assim ao ouvinte 1m tex-
de~sa natureza. A Cha,'isor, de Roland. "lrn textm rll' O,:ford e cfe Châi- to que, cnquamo ela o faz existir, 11..ã.o pode permitir tilubcios; lllll lon-
L:::tUrom. é re:ortada em lres pela rererição, em dua~ rcLornadas, de um !!º t.rabalho escr.to :;,oderiõ. ter sido pieparado, cnquanLo o texto oral
TI ão tem rascunho. Para o intérprcLc, a arte poética coru;iste em assumir
\'e'l'SO inicial c,:'.im valor de refr.i'io: ::i, rlinemões de~s:es trecho.-, bastante
di fcrcnt~s do resto nos do:s manu~critos, i: oderiarn mrr~spor.der, como
C!!sa ~mtantaneidade, em ímegrá-la na forma dei.eu discurso. Donde a
s~ supôs, à :iuração das três se.ssôe-S nece.ss.frias à perío.'.lllan~e d-0 poe-
necessidade de ll.Ma eloqüência particular, de uma fluência de- dicção
e de frase, de lll.m poder de sugestão, de uma predominância geral dos
ma.3 Ainda no Éracte. em que a narração se dispcna sem cessa:, d.is-
riun~. O OU\Íntt! segi;e o f:o, e nenhuma volta é po.ssivel: a mensagem
;emina-5e em detalhes, crn jogos ,e depois c::rn rcpc:ntlnas ;:Jrcum·oluçõt'~
deve chegar (qualquer (JJc"sej<1 o deito buscado) imetliatameni.c. No qua-
sabiame:ue rei.das, Gautie· não deL~a de valoiz:ar essa iragmeo!.a:;ão
dro traçado :ço, tais imposições. a llngua LCnde a uma trans;iarência,
d:) relato, por meio de lUlJa formula. <;uauo veze.1 re;,etid.a:
menos de sen·ido do que de seu c;sLado próprio de li nguagem, rora ele
-- ,._ 114: Hui rna~ mel m'oevíc' commellchU?r., toda ordem escriiurar. É a voz e o Jle51.o ciue (,'.lropiciam uma verdade:
- ,.._ 2746: Hu1mai.s ,:ommencera it contes; são eles que penuadem. As f:-ases suc::.ssivas que são lançadas pt:la voz,
- "· 5(19:;._ S1 vos ifrrons J'Erocl#! huimais, e que ;Jarccem unidas somen.e Pof' sua conCÃ.àO, entram progressivarnent::
- vv. 511~-l: Bon mt' sereait liu.imais u rli,e no fiD da escuLi:., cm relações :nútuas de coesão. A coerência última con-
com,..,errl fu p;iis. et ro~ <!l sin:' seg11jda pela ol:ra eum dom do corpo. Na hora em que, na pe:-forman-
:e, o texto composto po~ escrito se wrna voz, uma mutação g1obal o
("Agora vou começar minha obra/ Agora vai comL-ç.;1r o conto, Fa- afeta. e. enquanto .~e pro.siÍlila nessa audição e dure essa pre5ença,
la~emos de Eracle agora/ 5e~a bom agora que eu ,·os. é.i~ar como ele modifica-se sua natureza Além dos objeros e dos sen□dos aos q"Jaís
veio a sei rei e ~enhor.") A última é sirnplc, rei~:ração ds terceira. ou ele se refere, o d.:scurso vocal remele à.quj]o que há de inome.avd. fa~d
es·a eum anúncio daquela ..'\parentemente a i11lerpretação não traz di- pala,ra não é .i simrles e:,;e:;utora da kagL1.a, a Qual ela jamais co:tlpkta
ficuldade O~·. 2746 tmplicaria qu( aquilo que o precede ;;onstnui ma plenam::nre, a Qual e - • iola. em lod:. .,. ~Wi ..:orporeidade. para '1osso
imrodução, u:na vasta d1gn:,;sio preliminar que ocupa 41o/, da duraç.ão L.'llprevisível prazer.
t
teta. do r~lato; a partir daí, re-stam J~4.2 versos para che~u ao fim do É assim que a -.02 mt.ervém no te'<to e ~ohre ele, como de;itro e so-
ro:nance; e. ainda, os 'v'V. 5(192 e depois !I la os ~ortam cm dois. 1as bre matéria se:uifom1aliuda, da gual se possa modelar um objeto -no-
· e . ~ pen JWlTI'I I lt-ít !ui ~ mte. -1>1i.sa:m vel, mas r,ronto ... .,....,,,,... di$Cl o !I palavra poética MSJ.u /.__,_ oda
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pode ser .:apturada e, •e fo• e, caso. anahs1<la. Ainda nos "l'lt>.11ln~ .1 • pl05. a 'ru.st. a p.1la'l'r.t!I ~
esrnu~.cm em mJ!e-stôts sonora~, des 02CJ'1
1éculo x\, 05 verso~ de V1llon e:-:altarão c:ssc r.1odek1 p,1uro .1nte, que
e m1 puras figuras de som cum ulall\ ,s. \ lu~ :1 rendência e m 11t'."I rn:11,
0 ~ufoq11e,m -e nãíl Gutenbcre., □ elo mtnr\ o, epfaoncs de T'et!aica; H':J
upnos.a Litania de o ta"as de o::os~í'2bos de 1i:mo rápido, mantido cin ••
de uma agradável desamculaç!o da lin111a. ao lomzo do desenvc,lv1men10
amplas imp.raçôes suct.;sivas, ,.lt-,p:-c2ando tradi.;ões --i:tóricas que a e, i-
cexcual. s:1•g1u uma ,equc:1c1a absurda ce sinragrras Jmtapostc• ~em re-
tica só decorr;:iõc en1 uad..ade5 de re~pirar,:ãc e em q Je oeq ueno nú mero
lação gnrr,atical nem semântica; 011 emio, urr.aacumulacão li•ãnica de
u(: .crm,s ec, 1e~te5 e dn'.11~:il'lam oom seus mou ~J ""::.pl.ficatór1~.
.....
palavras .solada-, sem ...:orrexto, uma .'1', ult1dào d:: nome, pró;>no! apo~-
hgadn1, uns aos o urros por associado de ideia ou de ra lavra de s.:>r.l,
:rofados, fora da :rase ou encade:'.dos em -::onc:c.cma;ões \erigínosas
tlt rima, aplo1ando, atf m ::x:ri.:n~:>~ ca ~atun,çào e tlu 1·ukdo grores.-
de fonemas; palavras gregas ou hetraic-as, co:-nc cal ·.ncomweensíveis
C<J. temas. rramformado, em clichê-- 1a·,1a sécuJos. !vto::iólCJgo LOS limi-
e reduziria~ ap,ena.,; a ma ~onoridade (assim o k;·rie eleison rcrnrrcnu:
tes da dc:mência, do qual pou.c::, impor:a conhecer o npro1•avel autor,
tão pre~cntes que estão o timbre e a ser.sm.Jidade dess.a Y07. Pouco im- nesta oJ :iaquela canção satírica alemã);; moriossfiabos ambíguos, in-
porta que o modo de enunciação, as regras pcrformanciais sejam pro- terpretávds tanto como palavras. sisn.fkantes quanto como int..:rjc:i,;õc:,,
1:avelmente c:odificadas, em certos setores '. po<le-se suporJ, com algum onom.atupéias, ,g-itos. :\lo limile, uma serie so:iora sen nenhuma refa-
'"igor. Ci.!rtammte, essas cod~ncações, não :nenos que as da Ji-1guagern, cão mm o código lingüistico ,·em o:prcss1,am~.1 t pa1asitar o 1:11um;i._,-
imerpôem-•e como uma tela en:re a:JI.IÍ]o que me dz o '.ate-rprete e o co. Esse ti1:imo procedimento foi ~·alor .Lado pdos numero~os .i:oetas
fundo afetjvo e imaginário mais imicionaJ de seu ego. Ma~ essa tela, c;ue, ao s.~u.lo xrn, especi..iJmente na Frc..nça e r.a A.lemanha, unh.zar.,rn-
a dcspeico de todas asidcotogias, permanece de extrema fragilidade, qual- no ,em ~frãos de suas can;ões, latinas (:::orno as dos go!iardos) 0.1 do:
quer c-oisa a perfura: o tom de -.illlla ,·oz basta, tmanação daquele fum- língua vulgar:
do. A ,•oz me t:ru: à luz, "representando-o" ('lo sentido cê-nico da pala- .\.~t:ndaliet, Afurda/iet
~·ra), o discurso que gara.'11.~ essa poesia. Donde .1m desdobramento: tal i'>-li,, gesel/e d1omti rriet
discurso se faz simLltan~amem~ narrativa e, pelo próprio som da voz
que o enuncia, c.orner.tário de5se relato; nar:açâo e gjosf., conjuntos in- ("i\;fandalret, ,\1a11da/iet, meu amigo não vem");
;eriores â ohrn, ernhma ,~j;:1m amônnmo~ f. cr.idf um faça ,;eu jogo. Da ,'íf! me mori _ftrdw,
relação que o ou.-irl.te percebe entre elas prcvé.m uma ,eracidade pa.ni- 1r).•r1t1 hyrie
culnr, requerimenlo de confiança e de participação. Na bocn do intér- m;~t'Q'.a triltiri~·w,.
prete, o que a linguagem corrente denomina. dicção consü:u.i urna re1ó-
rica da voe:, rmineita. de o fo.lClnte • 'coJoe.ar'' a pc-esia, ao mesmo ta, po
(''1\'ão me faça morrer, Jwria hyrie, '1azaza rrithrivos'~t. 5
em que e1e se coloca no bojo ela coml.nidade daqueles ,:_;ue o escutam. Canções e rondós desse tipo se contam às de.-:enas ou até centenas:
e ne i11clino a interpretar com esse se:Hido os efritos de ••t>füngü:s.mo",
jogos ele deslgam.ento ou atê de derrapagem d~ 'JID a outro de dois re-
Enquar..ro vocal, a p~-fo'Illd'lce põe em destaque IUdo o qLie, da gistros lingüJsticos, tão treq1entes desde a. época carolíngia até a dos
linguagem., não ser.e dire:a.rneate à mfarmacão - esses soo:~, segundo grcnds .rhétoriqueurs. O efei:o assim produzido era tão mais fon~ que
alguns, cios elementos da mensagem, destin,dos a dcfmir e a redefinir fazia soar .m :'!ilior a voz: no intervalo das lfn_gua.. não sem figura de iro-
a situação de comU11icaçfo. Decorre dai uma tendência de a 1.-0.z trans- nia co.llÍrontadas, imiscui-se o desejo d~ .;e afa-tar dos lacas da llmtua
por os limites da Jíngu11gem, para .e espalhar no inarticulado; gcraJmeruc oarural, evadir-se diante de uma plenfü1de que não seria mais do que
reprimida pelo costmr.c, !!!~a tendêocia tri1mfa :ias formas mais livrts pura prese-aç.a. ThJvez os élmu desse dcstj o. próprio ao te:cto de ,·oca;.ão
do canto. ·" té-;;nica que ccmsiste em integrar no !~to poi!tíco puros ~o- oral, sejam amplificados pela situação ((llC. at~ o século 1v1 de ocupa
cal 1e}, se ma.ntf!l,e durante sécn.los. até o começo do século x~·•• e se pro- na memória L:oleti'la: nem isolado nem ~epn rado da ação, ma ~1ind.-n1u-
lon ou na cançilo dita ;iopu.Jar. As coletâneas manuscritas q11c nos con- lizado como i i,go, do me~mo modo que o~jogos doco:po do qua ele
m~ararn n JlOC~-ia cantada elos séculos XL, XIJJ e xrv form1Jlam Je exe,m- realmente participa, Não t j us:amente a c-s-:cftul,> QLlt, co rno rndo jo o.
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ele procura um prazer prnvcnicmc:- Ja rcpcciçJo t das ~em~lhança1? Ce- dí\linção 11u-:: rem(m'.i <1 Bm',10) fo w,itu~ rmrr ameme dno. mas na
mo rcw1l1 iogc,, eis, IC?ol(' l'<lt.-.ali:,ml,J se lorna arre no seio de um locm da m1Jnca O 4L1c, em sua funçàci p,oét1ca. lht imporia e a hannonia.
tn.o.rnnal m,rnílest.i.ao na perfo•mance, do qual prnn· li- e pira o ~u.1I um ocordo ertre a 1:ire;1;ão form11.liz1111re ~uc: da manife:.ta. e oul!'a m
ca~
rende ::t 101al.d. de t-ncrg,aç que conrntucm II obra 11Í\a É, em parle, tenção, menos muda, difusa na c.xrMiênda soe"1AI do grupo OU\'inte; essa
um ioctü qualit:iti\'O, Mna operaróna da "função fama.smática", segundo 1Hurnv,úct ~-= 11:1,t:Ja nu movim:-nt{I m~ido 1mpre~,o a mai éna sonora
a expressão de Gtlbcn [)urand. Ma é também m lugar concreto, 10- e, po;:- j~so, ã., cmoçoo; ,rnscitada~ l'la(JueJes que a percebem. A trad.i;:ào
pogr:ificame:ite defin{11 1, em que n pala'>ra, dc:~dobrando-se, capta uw proveruente de Boécio dc!.t'.rm mou toda a r::tle.'\âo sobre a poesia. Nes,e
ti::;npo tão fugaz que ela confia a ~e próprio espaço a tarefa de ortle- sentido, E. de Bruyne põde !alar de uma "esrética musical''. Princípio
r.ar o discurso. ""!'ão 1enho dúvida de que e5sa seja a causa v1i1 ~ipa! de 1mtafo,1co em ação, Juntando e r:!>:ruturando os elementos do real e da
um ,;:aráler 1mp-e5sionante, e mu:iras vezes assinalado, de no.s.s~ r:ex,os: linguagem, a musica çe i11Screve na relação mútua das esferas celestes,
s.1;1 frqiicntc inaptidão i:ara Yc:rlal11.ar as descri~ de seres ou obje- d.a~ coortes angéticas e das cria~u.ras sublunar<:s. Cal:Je à voz poética ex-
tos a não ser pela acur.11.1laçào q:.iaUficativa, sem senso de perspectiva. plicitar por sua práLica. es.;a relação profunda. A propósjto disso, pode-
);ão é ca.-.o de representação o □ de recusa de ~epresemar, mas de ~e nólern.!tíca:mente refern a \'c!'l-ão latina eia Sequr;nce d'E[4./a/ie, ve-
préJ,Cnça. E toda presença pro,·oca., com a ausência qu~ a procedeu, u:na neráwJ anceiitral, cuja.l primeiras clausulae comtimem um elogio da~
rup1ura que ger:i um ritmo. NàD é fortuiLo que tunas i:llervcnções de cadêndas bem donu::iadas do camo e uma exorra,;:ão a rep::-oduzi-las;
amor, aJonaçiíe~ imrod'Jtórias, dedicatórias, lou"ando dea.lg-wr mcxlo UJTI Yocatm1áLc, em q11e as aliterações sublinham a redundância \'0h1n-
o i-e;i;:to oferecido à auàição, empreguem termos que reme1em (não sern tá1ia, ()1..--:lpa densa.mente c,,s.a, oito linhas, evocando o objeto sonoro do
ambi~uídade, aJguma, ~ezes) a um modo de dicção, a medida que sus- ca11to (canti.wn. carmen, mefodiam, me/OS'), a ação do cantor (c.nnri-
têm e comêm a 11oz: compassada, meJ1.SUrada, revestida e oucros termos ne~, cümgere, canere), sua VOL (l>'OX, voces), o instrumento que o acom-
que ~ualificam aquilo que é proposrn ao omido. Por suas modulações pa n h;i (d1h.nm,fidesj, a impressão ;mxluziàa s.obre o 0L1vido (suo'Visso-
ta:1'.o quanto por si:a recorrência, a V(JZ poética gera um ritmo par'icular na)... O mo.nge do séeulo 1x se e~prime aqui, num regisrrn alusivo, em
na duração coletiva e na história co, indivíduos Ela forne~e ao rempo, ,ermos próximos daquele,, mnis cescritivoE, que empregará 110 sl"CUlo
pelo~ efeitos de reton:o e de suspensão que produz ai, uma medida con> xi o autor o:t..;tânico caChanson de Smme I'oy. A.ntes de toda edllra-
;:,ará,,..d ao "tempo da Ig::-eja" (seg1 ndo a fórmuJa de Jacqi.es le Goff), ç.ão e de !odo artifício, a voz~\"., é- r,ier1.,l,/.11ui'.l t:ll~• I;'. 1.11> ~vu~ tJ.- uatun:za:
donde rni.~ conotaç&:5 .sacrais: diretamente arlicu;ac:ld, numa perspet:- pdo corpo do qu~I emana, pela lin6 wtgem que ela pronuncia, pelo e.amo
liva 1.miversal, na musica dos ciclos c-ó~micos. A trad.i;:ào boc;ciana, re- ~m q-ie elot ~ t:ll.pamk, Constitui. assi,n, o locu:; ceneal das relações
vigcmda no começo do féculo x:r, concebe a "mi.:sica"' como catego- hannô:ncru, harmoniosas. No flm do sê-cu.lo Xl'r', Eustacl1e D~tha.-nps,
ria lram.::ende11~:. qu~ ma:dfesta a ha.nnoni.a dos ritmo5 criad;>:; e as t:ru ,cu Ar1 de d1r:tier, ai ricl!a disrmguiria da ·'múslca amflcla.l" dos ins-
proporçôes dos números., assim tornadas percepúveJs. Ora, a "harmo- uur.itntos a "mú$i ca nanuaJ" da fala poécica.
rua•· ~ cor:creta: ela provem do mc•vi.'Ticnto das cois.is risív::-is, do pró- :-l' o u.so correme cios poetas e de seus mterpreres, ~ a esse comple110
;iio corpo do homer.:1 [cuj.as puJsaç5e,; marcam o ccmpa.~so funcamen- conjLmto di.: sen:imentos e de idéias que remete a palava rima, fn:qü.cn-
6
1al de tudo), e da "cons.:-nância" do:; ~ons, morus e mvdular!ones. Ai te eu; suas bocas ou càla.mos, desde que se .rate de louvar sua abra: a
reside.: a beleza do mu:r:do,. cuja propriedade é comover por rneio de p,er- '"rim.; verdadeira'' ena:intra-se ai (r)cstabeltdda, ,é "-imada com g:ran-
c,p;Bcs s::n.)oria.is, ,;01110 1::n~ina Hujjuc:5 de Saint-Vi.:Lor, evocando com tk me;,,'1ria'' e ou :ros clichês. Ora, nma conservava d~ sua origem (o grego
o pra2.e-r c:o olho os de OtH'ido, do olfa:o, do paladar, cia ternura d.o to- lat.irn,.ado rh_whmus} a idéia dominame de c:adéncia I Entr.:: os sécuJos
..;iue;:, ma~ ~ubreLu<lo a Jocundiras. a ''alegria" das sonondack, melo- '< e xv, as fontes latina, -~~lc:munham o me5mo mteres~e conunuo pot
dímas. A ludição parece pri\1legiada no pensamente dc:~-.e.~ doutos. Ro- qurstJe~ de,.,a nrtlem: teóricos da nrjsic.1. mas também et6:'icm.
dolp,1 t de Sam Irond, por voaa de 1 ()1, definiu globalmrnrr iuumoma incerroEam-se ,obre a pm,•wn,·:at10; grarnáttcos para os quai~ a passa-
:orno um acordo da.; vozes; para Guie.lo d'Arezzo, um cantor '':i12" o gem CJ metrica antiaa a um sim:ma acemmJ cau!i.ava p~obkr;-i.K 1:ma
que a mus:ca ' cumpõe' ', is1u é, nari1íeJ..ta o mmo do ui ,erso.7 tradição que remonui ao ,ecu o , definia rhy1'1mu.s corno numerosa
Toca \OZ ass:un ''modulada" entra na ordem,.-•.,-1]--.- adjudir.wm m~1mno(•~moc:antada ~ o j 1 1 -
1611 169
nmcnto do ouvido''),• e m.rrier•,s iornou-se o equi\•alen•e lat no m.Ji e 11s, o <ledimo do poder vr>cnl e a sttosã,J ~ uma escnta hegemõt 1ca.
ge:-al, co111 mythmus tendend:.:, a ce~1gnar rn,lls e-;~1.almente o que de- Entretanto, em pocYa. '!luluphc m e s formas Conemente cadercia
nominam!)_., Lm i·erso, harm .m a J:ercepuve re~uhante de certo arranJv da , o i!neros com rdr o cnqu nto se oen ua e aperte o. C' a ·
daliagiJ;liCm N. nrerus, por roa vez. gnifiea men n mero do qiu pccto ora•hno da prosa de rtc, mp o o JO o ..
''orcem, seqüência ordenada" ~To século xrn. o Ttiso-r de Brunetto la-
uni, li"..-ro lI, cap11ulo .x. ~pfü.a-o cla:a.mente em fra.,.;:ê:,. Ceno5 letra-
dcs parecem ter estaco conscie.ltes de tocar as.sirr. .a ec:sência da r,oe--:ia; O; efeitos ~itm1~0" abarcam todas a.s ~:uturas do d.iscu"-> unto
e as conf1 sõe; que (a, ~ez~ po: p:ete:içàoJ ele'!> nos o.rereceffi a [::'Opó- a ,-ersificação qua:1to a d:stribuição das unic.ade~ na~:a \·as. tar.D 2 de-
,it~• dis:;o !'!fletem. 5Cill dm,da, J intuição dos ;ira(~os. Eberha:cus A e- =lama~ão mu~ical qi.anto seu acl1:Jtpd.Illlifmemo gçstual R~to,1am.lo li-
man11us, no úcufo xm, enumtra nos.,..,, 68'1-734 de seu Laoorir1,'1AS os vremente a terminologia de M. Jousse, dis:iogc, ::es planos de r!aliza-
ci,·;-rsos. arranjos de r,nas (dissilábicas: ele não parece de.,ejar 011:ras) ç.clo: o da consticuiçào dos conJuntos (glotJafr:.:ição), o da figur::ção
q ie ele reç:>menda em latim. Ordena seus exemp10.s e-;t1 ci::1co sé:ies de (imensidade) e aquele em que se cefinem a altura e- o timbre {vocalida-
dimensões iguais, à.s ::iuais introduz cinco vez~ um ver<.o-refrão refe- de). De modo geral. cada um des~es planos cooce·:-ne ao corpo: a globa-
rer.:e à arte m.1Sical: Ccrminu qual! ta:i sunt modulanda modo ("Poe- liza.cão, na medida. desigual, em que ela in:e-,;ra figuração e vocé.lida-
mas que con,,·ém mod'..llar as~im' ): a me,;ma msistência nos._.._._ -:'3:-44,
de; a imensidade necessa.riameme, pelo jogo de ~-e:itos, ,·erbal e g:stual;
propondo :ornbin11;ôes lexicais (denominadas cosamer1t0s) de l'.tUe a
quanto à vocalidade. ela resulta das sonoridade.s 1in.ka~ que a !lari:rnt.i
maio- parte compor.a f.guras d~ reoetição: sic mod1âa.re • .. :noouk as-
p:-oduz.
sin: ..."; e de novo, ~-v. 775-816, encabecando ouua seq-:iência de exem-
A globa!J:.açào re..-ela uma cu:iosa djstribuicio de duraçõe, formais
p.-::>5 que rdncm rir.ia~ :lissiláb.cas, aliterações, paraidLSntU) pamati-
no conjunto da poesia medieval. Eu obser,a·•·.a i.3so desde 197 2, 1 pro-
cais, redup ica;ões lexicais: (ar-mina sunr ~·ariis sic modu,'ana'a (''os
pósito dos gêneros na.rrom·os,t= mos a obscr,.;1ciio e mais glocaL-ntntc
pcemJ.S de..-em ser modulados de~tas di·,er:.a~ manetru' ·,. ConcJuindo,
nos vv. 991- 005, Ebef'hardu.s düs.eru. sobre a natureza ao ;',.'ume,o. :uja. válida, de modo cada ~·ez mais claro, à medida q·J.e nos aproximhlllOS
de J:500. Chamo, as.sim, a atenção para o contra.m: que aistc: c:rH · e as
prc,:nç.a cm poesia~ manife:.'.a de modo trfplice: peJo recorte das u:u-
formas bm·es (às vezes muito breves) e as formas ongas (às "ez~ :11ui-
dades s~âracas (membrum), pela natu-ez.a da sílaba e ;:,ela "s-e:a:eU-.an-
ça fiual', u lromoio1eleu.:011 dos gregos, nossa rima, 1:nt'.=•itca□do assj:n, 10 longas), coutrnstc- que nada atenua, pois a.s @randezas media11as não
no tér:nino deBa grada;ão, aJguma idéia de :ealizaçfo plena. A rima, se encontram quase nuaca. Daí re~ulta um :urioso efeito geral de rit-
acr~centa a~ui o texto, é melica ~·ox. cz.jus me1 pluit arm ( ..rnz melo- mo, sem dúvida sentido pe1os comcmpo:râneo.s. de ;-,erformance em per-
dio~ cuja do,;u.ra satisfaz ao ouvido").1u Dante, 110 li..-ro Jl, L--: do De formance., como próprio à palavra poética enquanto tal. Pode-se supor
vulguri efoq.1e,,zria, lou·,.mdo o efeito d3 rima, afasta-a secamente de que as formas bre-.·es tra,;:a,am coletivamente o :oo.:raponco das fcnnas
sua reflexão: co:icen'.ra-'ic na arte da cantio, obra corr.um do i.r.telecro longas. Será que elas er.gaja,-am na performance os efeitos corporais
e do desejo, enquanto a rima con!->ti:ui a arte.. dífe.re:rte, dos sor.s. rnais visí\·eis? Parece-me pouco comestável que as ma.is fechadas ues;as
Um trat3do do s~uTo x fala•.'a de c:ilnend1 aequi!as (''o eq_ciJ1brio formas reakem. em certa medida. o "fo:mul"<rno" de tal arte. \hlrnrei
do ::an:o"J11 : conotação ;:,ermanc'lte cesse vocabulário. referindo-se. e:n a este aspecto. Mas é 110.s planos da mlensidade e da ~-oca/idade que os
ultima anáfüe, à a1ão vocal. Por :;eno. ~ imprcci<:ão dos documentos, ritmos aparecem com a maior e11idência sensoti.aJ.
maJ retirados de uma terrninolog:a anacrônica, a flutU2ção das :PC'OãX'· O termo huensidade refere-se aqui à formalização - "figuração"
s:içõcs que eles no~ rmnsrnitem de;um lular a muitas' d:ividas. Mas es- - textual. Ens1oba nossas idéias cumWL> d~ prosa e: lerso, mas o cun-
;es -:=s-act:rC! li_gnn-~e à noção qualitativa do tempo q11e pfC'\·alece ate ceito que ele implica lhe neutraliza a aparente oposiç o. Nos~o verso
o ~nln ,c1 1: tm-:po múltiplo, vivklo, interiorizado, o <;ual só por 1,·olta e n<:JiMa prosa nao são. na melhor d hipót cs, m do que o tel"l1'lOS
de I será mbrtituido por um tempo quanótath·o, regulado pe o re- extremo numa escala ideal. enquanto todo discurso ~tico e itu.a no
lóata., o "tenpo dos mercadores" de Jacques le Ooff. Ora. por 1o-c,lta espaço mediano, num vau qualquer. untl conform1d de 1-
de IJOO já e e boça claramente, no horizonte das s.ociedadcs odden- gum modelo rítmico c:.itplkito prto:i tente. Ou técnica de ccpr sto,
110 171
frcq1:ente em 1 :Jo o ( ddr-nit du,a:i 'l' mui lo ,.!~ulo,. manifrscar.i ln,-
anglo-<J\âo. \ de~pei10 da, re~·1sôesdc S. Kuhn. parecr qu,. o ·nduLor
1orican1e111e eic:i cqu1vocidade: o c..1rs1J, e a ' \eq uên:1a".
da H1.;wr111 de B~da ([ah el o rd All:edoJ, po- \'Dita de 900, estor,;ou-.~e
() n u Jus 11!0 e outra coi~ll ~en.ão um 11,0 qua~e mu 1cal da. l:.ngua-
por seguir a norma, as,im come> Ae l:ric. um ~êculo mais tarde, eni suas
&Cm não r11c1nl 1ccada - aQuil,J que chunamo, prosa. Nisso prc:5ide ~
Vidas de santos. Autores de li:1iua românica se o utilizararr. tard:a e
id ia - !iCgundo /i.lbtrfco da Morue Ca,si:lo no seculo xi, Ugo da B1>-
isolada.,iente; ~ ocaso de Boccaccio, aqui e al, no Decameron. Em fl3ll-
logna 110 é::,,ifo XII, l..udolf \OI\ Hí,de:1.hcim no !iéculo '-lil, e outros ili-
cês, é precuo esperar p,::Ja :netad!! e.a século X\' para encontrar uma :éc-
da - de qu: o mo\limento da ·,·oz, rta expressão justa e bela, é rnal cado
nica rítmica alcamente ela·::,orada em prosa. O rl;étoriq:Jeur borgonhÍ!"s
sobre o do peru::i~oto e o molda por sua vez: dit:r.alor con:Je el <éli"t:' di-
Jean Molir.et, levou, sem dúv:da, a seu pon::i e'::mno: reinventando,
cenda l'oJvit et revolvit ("o produtor do !e,:to toma e reLoma do cora-
com perreiu m~stria, o~ procedi:ner:tos cadenciais do cursus, então ca.do
ção e da boca sua mensagem"), segundo a fvrlllt aforülica de C c-::irad
em desuso, impôs à língua uma dupia medida vocal, baseada no núme-
Uma doutnna se elaboro11 sobre ~~a ba-
13
de Mur.:, ;;)Or volta de 1275
ro de ~ílaba!> e no jogc ·de acento,;. Ele combinou essa té...'ilica ao i:so
se; regras se con5t1tuíram, 1clativas à harmonia :lo período, e. sobretu-
da figura do homoiotelevton, identidade fóni.,a d~ fins de gn:pos si □-
do, às cfausulae gae asse~uram a est.e um fecho ag~dàvel; elas ~e .:-efe-
tàticos.
re:T.J ao arranjo dos t.c::rrnos da frase, éO número de sílabas t: à distri.bci;ão
dos a~ntos - isto é, no es,enciaJ, aos mesmos elementos ling:ü~dcos
occnjunto:> dessa evolução d~rncn.:: a. ideia dísse::iinada entre os
medievafü:r:i.~, especialmenrt> germani.,;.ta~, h:i trinta ou quarenta ano;,:
-iut- a \,:.r~i ficaça:J roml:-rica, c:epois a gennãruca, formal12ava mwto IDílis
rigidamente. o surgi:nento de uma prosa "lite:-ária" ce lingua vtl]gar, no COD.:Ç-o do
século .~11, marcuia a passagem r;;a audiçã.o .a le.rura, esta ú1tlma en
ru Jngens cio cur5us remolitam ao primeiro século de nossa ::ra; tendida no sentido que definiu ,os~a prática mode:-na. i 4 Tese difi:il-
emre eS-critores pagãos e cri5tãos, sua '~oga foi grande en!re os ,;eculos
mente smte:itáYCI; por volta de 1200, a ;1ro~a não substitui o ver~u 1iu
me v1. Inicialmente funda.do sobre a oposição de !>flaba, Jongas e :ire-
uso; ela faz as yezes dele - e sem dúvida concorre com ele - duraIJLC
ves, transformou-se pouco a pouco, en::iuanto triunfava na pronúr.;.--ia
vários ~éculos ainda. Quando um gramático laiiniz.ame como Ale::an-
]atina e acemo éc: :ntensidade, muna arte de cadtn:ias. No séC'u.Jo XJ,
dre de Villedieu, em 1199, escreve ern versos c.á~sicos seu Doctnna!e,
o secretariado pcr.tifJcio lhe redescobriu o seir-edo, e desde então i,!err,
ou Jea::1-J::isse de MarvilJe, em 13Z2., seu Dt! modfs .;ignijicandr, esse exer-
dLivida favorecid() pela ext~mão do i;oder papal) o mrsus permamceu
cício só faz sentido na glosa oral q(;e é sua função pro1,ocac. Uma opi-
por lreze[ltos anos a lei da "prosa" de ane, t>sped<l lmente a epistolar.
nião si;nplista, é.inda corrente hi y,)u;o, pretendia que o "verso·•. favo-
A maio, pane do, au10:--es de artes dictummis ou de t:-aradc-s de re~ór:.ca
recendo a memorização, fos~e iudispensável a g,3.lleros p~ticos anteriores
dis5ertam sob:-c e[e depni~ que, no irucic do sécufo :\u, rec~b-cu deT..ni-
à vulgarização das técnicas de es;;:itura. Isso é 1edl1Zi:" de mo.:fo derris:o-
ção canônica e se ~ad,onizou cm rrês e,;gu:ma.'- mmicos, denomiaad::,~
plrmus (' ' "J.onnal"), tard!!S i'''lento") e ve!ox("rápido"). No século XII.,
rio a enve:-gadura do prcblema. Embora a proposição nào seja radical-
e
a corte imr-erial r1vtliz;.a com a de Rom1: sob o ornamento de toe.ai mente fa.lsa, f preciso mudar o à:lg11l0 de visão: n~ p:-o!'undezas ant~o-
pológicas. ex:ste un laço vivo entre as fonn.u. ri;micaf e as mnemônicas.
ai sutile?.a.~ do cursi.s qlJc se trocwn os i1J.sulto!i e111rc Frederico ,l e St!u
O cará~cr fundamental do "\'erso" e d ,àlorização ç_ue ele implica de
aa•,cnário :::;ontifício, espedalr:iente no tempo do ,;ecr,etariado de ?ier
di!lla Vip:i:-.. As clié:lltclarias tJibaria:, ;u.lutam esse estilo, que se e.t_p:.:n-
cenas medidas da Linguagem em detr imenlo de todas as outras não ~s-
tão - em st:a ordem própria, e d() dizer - desprovid:)s de a1;,1logia
de na, composições liUrgicas, homileticas - eté', esporadicamente, m.
com a~ "arre; da memória" [sso nãc, :mpedL: i:;·1e o J1Togressivo refura-
Tomás dt •\quiuu :'.'a.11 Boa,,enmra .. Por volta de 1300, o 1r.:ipeto re::aI.
mento d:> estilo " prosaico' ' - quer ele sirva à história, quer à ficção
Mostraram-se maL-a.s ::lo cursus a.inda na pro1.a latina de Dante, de Boc-
- pan -1 :i~te-IDJl'ado ;:ela busc~ tlt' i::ma ::.::1p J:le t! de um:: v,r.. -
'-•"·"'10. '\e u,o da p1 :>pr.a e ina, o cursus de~aparee prog·essL"vameru:::-
dade qur perm,ram o maior desdcbramcmo cos efe11to5 de voz.
no século ,;:r,·, t:'<p u1so da prática dos rrime1-os h umanistas pela rrnas-
cenre eloctLienc1a aceroniana De~5e ponto de visto, nada d e :w1damental dfatingu:, na long.i du-
ração, ''pro!.a' • e .. ,.·erso". :\ !> palavrd.J, latmas ~t>rslLS e p ."'Osa, das quais
Entre o; idiomas ''Ulj!ar-.,i;, o único do q11&.1~_::r;:,::,:.:;:.
• i~~
foram r.o5 ,é(u10~ ,11 e XJTI tomados ér cmprest1mo os ternio5 frami:-
tarn. a- regras e.o cursus é a mais anu~a lrn~ua e -~nta do uc1dentc :1
se corr~,pondenre_;, penennam 20 v,)Ca:)uláriJ Plu,·ca e des.&aa.vam
!i3
· t o nublico ~ob cstnJlllrfl
de outros cantores ou c111cons1deraç.111 a ou r ., · d.
ód t _ úe oulro :n<"1 t ·
(sem Q1,rnde pre~isão, aliás) d·verso:i; fcn,'k1mo, de ritino. Foi neces,a- •-1ucncial
.,._, º'
' p,are:e aiud1vcl o eco - J U ;:,r.,, rumec,.i lo e meio maa~
• t r
a-
rio longo tempo para o francês estab1 li1.::r vers na acepção que conJ,e- 1 ,. unice como nouc1e que no; arrutccr• um s i
~en:o~: ate o secul, X'I, ele se a.llema com nme. pr6pna ~oca em de. nos primeiro decas bo das ernl e pn:cn-
que (se~ndo toda a probabilidade) se comlilUÍl, nos costumts de ob~- Entremen1es ' orno se re)p,)nd~ e a uma cxpcctntl'lii .
· dd ceqütnrn1 se
curos camores anônimos. durante m seculos 1x e:,:, um !õistcm.a rnm.í- d1e,se uma :-iece5sidade formal amplamente d1tun I a,ª. ·~
11ico dt> vrr~i"'i·açãr, a , eJC i;e1i,-1as do canto litú·gic,::i conduziam à ::-fa- •. od Octdenrc. Lugo ,e evadiu da e~tera llturg1ca.
jJ,~cmrnou por t O O . • d vema, a~mo~
cão, no meio monástico,. ao ,g~iltro denom-r ado presa ad seqi,entias Libertand,-►-se de toda temáuca reLJg10,a o\ coletanea e P . s
no~!':a "~eqüência"' Es!ie gênero poético. um rb~ m.<1i1 feCU"l.:iOS tntre - . . c.eúdo de-.'t: remontar ao
denomina ela Carmi•ra Ca,,rabrigerisw, cu10 con -•
os século~ rx e xrv, :oi formalizado, em seu estado inicial, :;:ior N',,tker . ~ , o i~ulo '< contêm cre!c sequencias,
ar:edores de, uo .000, t aJ ,e.. ate a • ' • •a.m
Lat,eo, o pocu-músico de S1nkl Ga.lleo, III.a.! pode h,111er siéo inve-,ra- . cli . os Carmina B1.1rana .on .•
sendo apenas i:lfüO de cc:má:1ca r ~1osa;
do, por volta de 850, pelos monges de Jumieges1 ou até mesmo ter mdi- , .. ~ penas duas tocando em mo-
uma .,,Dlena, ª maior pa1te crot1Cas, c:>m a - . coletã-
retamente que ver com vática~ irlandesas ou moçan;l:es. Thcn.ieameTI- •.iyos moralizantes. Um sllbgênero aparece cm formaç~o ness:::tS f, rma
te, a seqüência constitui um tropa da aleiuia da mis.sa: seu te-xto serve rimeira e uma éa segunda regi.stram, em o
nea,: duas pass.agen.s da i: · n~ "-In
para crazer as notas dos Jo:igos melismas fo JuWw.: "grito cc akgr:a'')
prolongando o -a :mal daquela exclamação. A forma primitiv.i era. as-
seqllenciaJ, ·.un pianctus, Larneotaç:io :,;obre a morte de
~õ.\.l ou fictícia. Temos mu.itos outros exemplos, dos .q~
U:ª
::::tri:~de
..,~ º , d: . _
sim, urucamence determiDaêa pela m1hica: seqüend~ ::k oitu, t.le.:, att
dez ~ão dev,dos a Abelardo: ir.sp1_rados p,or cena~ b1b~1(;a~ ~--~ :~~o:.
v:inte frases melódicas, as daJJSu.{ae, idêmkas duas a duas (talvez em ~vds poemas um cm pontos mais altos da ;,oes1a laun.a os .
,,~ta de um canto ant1fonal ► e gerai[mmte enquadrada$ por UJI:a inrni- r" . . áf
tal' ez dissimulem diversas alu.5ões au1ob1ogr icas.
Pode-se p:nsar que
-
dução e uma conclusão. O 1exto, que iegu'a a melodia à ra11io de uma ' . ' , - melodias) se dcstina•,am a
es.sr~ cc:icos (cujo roar.uscrito ::onst:~ou as . . ,
sílaba ;,or nota, não era submttido a :ier:.huma outra kmita;ão, C"l'.ccto fornecer ~o~ monges do moscei:'o Ruadem canções tão ed1f1cante~ qua"l·
a de que os fins das dau.su!ae rimavam rr.ui1as ve;:es em -a. Tão logo • ll
foi criado, o gênero proliferou de todas as maneiras (mantido e dil'lami- to rccreauvas. . u1 . a.l~umas :rio se-
Temos muito pou::as seqüênc.a~ en: hngua \' gar, d• d
iado t)(:fas pes(Ju.isas musicais da baixa época c:irollngia) dCJ:Ois do co- n.a Akm.Mlha oc,Lstitue.m conuafaçõe~ e mo e-
meço do século xrr, quando floresceu na abadia parisiense de Sainr- culo xu, na Frnnça e , lzbur o adapto\c :erlo nu-
Viccor. Uli-:O s.e introduziu ai o uso do c1mrus e, mais tarde, de versos los li!itinas; no século xw • um monge ce Sa . g tida mui.los
reg111ares e mesmo e.grupamentos estrófioo1._ De,de o flm de /iiCCUJo 1x. mero delas - iniciati•ta provavelrmntc isolada. Em contra.par , m;do, da
tinham aparecido <luas variedades no\"aS. çesterr.unhan:fo essa extrema
aêneros :>em representados era língua "ulgar foram ~eaprox:i
"' tano rítmico - U111a ana1(\•
vitalidade: uma cujas dausulae nã.o se regulam por pa:es; a outra, de- seqüência, co--r. a qual apresentaI!l - no !l • o lai frwcés que
nominada da capo, que comporta uma d·Jplícacão do conjt:nto. Essas 11.ia sem que seja pmshel provar que dela provem: - do.. '1 . ao·
· ' di - & t' • 0 Le1ch alemao. qua n
dt!a~ \'afiedades aprc1ent.am um inLeresse partirula·, ;,:>r cama de sua poderia de..er algo a uma tra çao e... ica. . - e a a.n :i-
m dela pode talvez est.>.r relacionado. e:n pan '
scmclhanç.a com ru; ~ormas poéticas da língu.i vulgar. É uma seqüência 5C- s1:.be em que e .~ Ja,- 'lo il, caftlú
-- crmânicas• o descori francês occ1taruco, em re ,.... .-
da capo que ornai~ antigo poen:a francês comervo1.:, aSéquence d•.t:u- g"c..S tradi,oes E; 1
bé frands e occ1ta·
luli1t, ,;.;upiatla pu1 ,·olla i.;e 882 numa página :m branco de l:1II. 1Jl8;'1fil- t.r:wa.d.oresca· o esicmpie, can:o de dan;a., ele tam m é ,
'-- · ' , - vârios traços: uma s n,:,
crito das obras de Gregórío de ::--fazianzo, na abadia de Santi-Amand- ·,.,.,. ló 1i"das essas rnrmas tem cro comum d -
m...... ., • · ralmcnte e ur1·
Le5-Eaax. Acompanhada de uma seqfü:m.ia La.ti1a tlo 111esmo tipo, so- taS vez.es lunga, de ~trof\..~ de.i11L1ais consutu1-se ge: - .
mm . • . . se redobnirr em eco,
bre a mesma santa, ela prova,-elmente foi composta no circule de mes- dades rítmicas bre-.e:;. ou ffillllO breves, i.;UJaS nmas
. . to alL~rnam na combinação desse, elemmto~. o
tre HuctJald, um dos pnnc1pais rnlis.icos de enLão, às vez:es considerado preap1tados, enquan '. _ . "d de 8 cteromctria e
o iniciador do canto polifõnirn. Os dois texto,, respectivamente copia- simttrico e o assimétrico, a repeU.çao e a umc1 a ' cm ru2!1c
dos na frtnte e ao ~erso àa. mesma folha. tém caráter bastante d1fcren• a isometria - arte qlle era de enrcma sutileza e qu\ n J !smo ,im;
te: ao lirismo abi;conso do lalim se opõe o tom narrath·o e pat~tico, do pas~ava por diílcil. Suas reatiiaçõcs comportam, por i o rn '
fnml~~ ·~tt, com cerlc:za, dcsrrna-:.e a cumpi r outra função, na bvca
115
174
l reme acortlo entre º' doa~ sistrma,: uma sil:iba acentuada tomava oh:-
c.liver~it.l lck n:uito grande la~. c10nolog1caincn1c, a tpoca triunfal de
gar de uma longa; a ã1ona, de . ma r,íC\t. E.,se- deslocamento se JperoLJ
todos e cs gêiero~ 'ui a me.o.ma: o s;éculo x111 e o co11eçfl d11 -;éculo xr, . pouco a rouco, cm uesC'l1de 11, mcno. ou ma1s leo1amence, segundo are-
gião. Pelo menru;, pôde-5C' lazer remontar a upo, acenmais latinos a maior
pane dos .~~os franceses, iu.!Lanos, espanhóis e portugueses atestados
A<sim, o esquema rítmico M:queodal abrange - hi1tórica e, em par-
ate a época modem ; 1tmesmo s~ a demono;tração é urr.. pouco forçada,
te,~stnltl.raJrrcnte - nos a prosa e nolso ierso. Ofereceu a muitas ge- resLa o not1hel fato da perrnamnd::i da tradiçõ~ rítmicas. No entanto,
ra~oes :I~ poetas e ce intérpretes um dos mais elab-orados modelos de a evolução da língua nllgar altera,'a progressivamente os modelos ini-
açao v~aI. _?~tros modelos, ,,;nd05 de outros luga~. a:mcorreram com ciais: com o acento da frase apagando em Fr..ncés, em grande medida.
elr _011 i;n:r:enram em seu uso; é o :aso daquele enl!mdrado pela hino-
b g:ia arn b rcs1ana
· - fr.mco-occitânicos
da pa]ai,-ra, o nú.mero de ~1abas tendia a tornar-se o principal :ritério
e adotado peJos auc.ores dos cantos 0
riunioo, ao qual se subordinavam as ouuas modulações. Por sua ,-c2, nos
do sé~_ulo_ x, a Passion dita d~ Clemiorit e o Saint Léger. A.fora essas textos ang.lo-normand~, os bastante numerosos "falsos versos" que por
expe~enc1a.s ~aicas, prm·ém ·al,..-ez da mesma fo::ne tudo e.quilo de q.ie
muito tempo desesperaram os medievalist.~ rião fazeo outra coiEa St-
0 Ocidente chspôs, nos séculet) xn, xm, x1v, como fórmulas rttm.Jc:as
não manifestar as particularidades do francês da Inglaterra, mais fortt-
fn•sem
· · · 'b'1ca.;, {ossem (segundo as lmguE..S e:n questão) defmi-'
3C.ossu
mente tônico do que os diale:os continentais O anglo-saxão de:Sempe-
d_as po_r um quadruplo icrus. Um te-souro de formas, constantemente en-
~•gueCJdo .oor derivação, comb·1n,açao,
- 1:uc1all
· · • •"a.5 mciv.du.io
• .. . uu culc:Li-
nha\.-a aqui um papel provavelmente determinante, impondo à língt:a
i.roporcada alguns aspectos de seu próprio sistema cradicional.
va.s de t~da a natureza, ofe.recia-5e a uma escolha que era determinada A manipulaç:ãn desse,; dados. oompor.a"a, quando de sua coloca-
pelas c:;\'J_gê,1 ,.:i<i!i do oi.:.'r'ido e peios hábito; aniculatórios, maii do que pe-
ção em obra (em alemão tanto quamo em francês; em galês tanto quan-
las co:mder.•- ções teo' n·cas. o s primeiros · - tratados que, no curso do sécu- to cm occiLânioo), a produção de efeitos puramente fônicos, com ecos
lu }(. v, abordam essa matéria, é.S ..artes ele segunda rtftónca" f'rancesas.,
sonoros à1versos indicando a escansào - ~ especialmente a rima. Es·.a
borgo:i.h.es.a., e flamengas, fazem-r10 unicamente em termos de fonia não
úlüma, ela tambem legada ao Ocidente me-die:.al pela baixa An:igüida.-
~~ escrit~a. Menos do que reiras, o que guia o poeta e organiz~ seu de, originalmente relacionava-se. .sem dúvida, à ampli.:ição do i:apcl da
~•sc~mo e a ~~ck, ao :nes~o tempo tênue e complexa, de combinações voz (num pt:riodo de ~eruo escritura]) na ::omunicação poética. Antes
utmi~s expenmentadas, h,rrememe utiliz.aveis em virias ruveis de c-x- de 1200, ela passara das regiões românicas aos territórios germânicos
pre~sao: ~ paJa,,ra, o ;rupo e a fras.e, o conjunto iquad-a, estrofe1 li."'!1-
e anglo-saxónicos, orrde s..ibstituia a figura si.stematiz:ada de aheração
de) e, mais raramente, a unidace superior aos gên~ros dmominados fi-
própria a prática aut&::tolle; desde os séculos x e XI, o~ poec.a~ judeus
xos, corno o ~oneto, ir.venção do sécuJo xm, por certo italiana, a balada da Espanba e da Provença a Linham {sobre o modelo àrahe ou ~:>mâri-
cu O rondó francês do século xrv. Cada um desse~ elrmcntm se realiza co) adotado em heb,aico, assim como, aqui e ah, eles adotaram o pri~-
~:mm_ OU'~ros nu.ma l:armonia ,gJoba] que sô é perceptível pelo ouvido, cipio do isossifabismo.' 9 Ela evoluiu - até o sé,,,..'"tllo ~,· n_a Franca. m~s
. per:or:nance É ne.sses termos gue se concebeu, :i:or •Olt.a de 1500 tarde ainda ,em outros Lugares - rumo a urna formalizaçao sempre mc.1s
0 que os ~odemos designam pela p.alaílta abstrata versificação. '
dgorosa, a uma codificação mais exigente; sua histór~a desmente os ~i-
• Sé O mt.ema latmo antigo, que era baseado nas oposições de durn-
r;: ~ e que_a~m letrados conservadores mantiveram em uso, tem O as-
nais que., d11Iame-os mesmos .5ê:::ulos, pare::em anunciar para b~e urna
reabsorção da poesia no exer:i:io da escrrtura. Foi a~!>im que na ~po:a
~~1:ro arbitrano de uma técnie2. imposta. :--.a realidade outro sisterr..2. anriiza. em ~ex1os cu•a tr..nsm~ssão não p3.Ssou inicialmente pela leitu-
_ arnent :::ic-..:l no _a~ento, sobrepôs-se a de desde o fim 'da Aítigüidarle'
tund
ra, ; as~onâ::icia predominou sobre a ,.1ma prnpnameme dita: 1.10 rwdo
e, a longe :;,razo. to1 su.bstitumdo-o segu:ido as ne<:essidãdes do :;a.mo. da detlamacâo pública. e eco sonoro basta\'a para en,:-adear os elemen-
~., séculc
. _ ,...-n quando a p,ocs1a
· Jatma a,x-nmc1J!a,J u- re 1~:,.dmcnlc•
_ tor. do dJ:::.:urso e para ntmar ~ua progre!>~O. O suLema sobrC'l-iH ~ µ,
m_agrut co.. ~~ d0t_~ sistem_as passarem a cvcx1s1ir rum Alain de Lille. por muito tempo. misturando por \'ezer. a assonância à rima tde u:n modo
e:,, .:rnplo, dhtmguia-se c:.S!.1111 du~ 1u10:rt's dos CarmlllQ Buru,'1aJ e por vezes
desconcertam.e para os edito;es modernos), s.obretudc nos gêneros ma.is
se sobrrpôeir., mas o ritmo conserva 8 predomin nà 11 o,'!l.,,-e1me'J1te de!;;tinad4os Jei1ura ao ar livre. Msim, o autor do pri-
'u 1m~ 0 , um qstema de equwalen..:1a,. permmrn m3n1er um apa-
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neiro rnmo Jo Rnwrt conjuga emp1rr e discipline (v,. 44"'-8). Renart muuos poetas, permite introdullr mtrc as un•tlade do d1 UI'! um la·
e barat '''\ IJ85-fi) í'h Lec.. e.rr.,:.~u ~odaAMba-ée.là:.lilWaw.~ ,.-1.11: (O e CD , i1 ,
manuscntos dessefabliau mrre lºr> e soro de "rimas incorretns·•. Ceno origem comum: Jai" rima com po.rfalrt, e. se introduz plaue nn sfrtc,
"se-mào ai egrr'' puc!.i:ajo por K1,"prnans faz rimar femme e ar.crenne, o poeta e~c.abelecc emrc m 1rê uma frculação de ~e-nt1do: pardo~ner
propm· e corps, genr~ e ense,'t'.ble. e assim por diante. Até o ,éculo x1,, e donru>r.. A.;s m ~e con•·tt11 uma unidade esre::1fie11. sem ou·rc tun-
:10•1::-os gêneros t~.:J.jl3"Tl ll. ::ssa tcndb ... a, da qual e abust'O respon.:.at:ii- damemo além de uma pcrlCJJ1,.ão da c;uprema liberdade do som .\ Ctlll·
lizar apenai os copisczs. Ã~ vezes, c~sas aproximações asiociam-se a pes- se trovadoresca e as d·venas formas que ela ~erD·J no Octc!en1c só esta-
qui!oas fôrucas refinada~. E.mele co::11em mu1:os \·ersos bpomêtricos ou belecem, sall'O exc:eç.lo, um umco 1aço ex;:ilíc:t<J en:re as (cinco :l oito)
hipermetrico~ e.."11 contrapar:ida. traz 27% de rimas dis-, lábkas, ':rissi- emofes qnt> .~ compõem: a di-.posicão das rimas - que é~ me~r..a _ce
!àbic.. s ou. t?.cc::pdonalmeme, quadrisi;iJáb1cas, a que se reúnem, como ponta a ponta - e, no mais das vezes, seu timbre, rr.a:mc!o 1c,nl1co
um efe~co m:.timalista da ar:e, 21C':', d~ rima., unissilábiC3S nca.s. de estrofe em estrofe ('-Uni$sonâ."lc:ta" ), ou pelo rr.~no~ de du:;, e'.11 duas.
Apare111emeTJte, muita ~utHeza preside em certos textos à escolha ah! de trê! em uês (coblas doblcs, ternas). Aqui, a urric!ade Jirocece do
dos timbres, que ,ão objet~ de5ses jogos e, como tal, contribue:n para som puro. De rr,aneir:1. ~~ com;,lexa, porque ela concentra. - t~•n
a fornação da o~ra. E assim que a d.imibuição de lirnbres vo:álicos em fonia quanto em •ecorrência - o efeito preéominante de senlldo,
nas t mas da d1anson de trov-ad ores e de trou v~res não parece aleJ.tória; a rima col'J!tiiui a maior ;anc dos poemas e:ittt os rt!éror:queu,-s do
opos1cões como graveiagodo. feckdola~erto combinani-.e oom wna in- século xv, atê do século X'VI
tenção conotativa geral e C0!15lituem 'l'crdade1ro "nívd de sentid,J", in- Nas lin.l!uas r;ermânicas, a n~tória dos 1itmos poéticos segue um
Ll'grado na mtnsa~em. JJ AJgurcas tcrtaü,as fo.:-am fotas :,ara exa:runar, encaminhamento ~emelhante e passa por etapas comp!3Iá,ceis . .\ .nfluên-
desse pon1 0 de: vista. cer:os .,t>tores da ;')re~ia; ::le,de os ~cs 50, Menén- cm dos usos e dos modelos launos e românicos implicou •,árias •cmIU.i.-
d.cz Pidal assinala'va, nos tres '•generos" diferencados por ele no Ro- das. Desde os meados do 1êculo D<, o monge e poeta alemão Otfrid von
mancero, ur:ca :ti visão s1gnJ.icafü;a dsis assonâi:d.as aguda.! e graves, com v.e1ssenbmg, em seu grande rela:o evanselico, adapta a sua hng.1a a e~-
a propo·ção cestas tilt~ cre5:e1do segundo a impon.ância e a atuali- quema ambrosiano, que ele repete e orna de rimas - i:úciativa à qual
dade do rema auerreirn; mais recentemente, R. H \Vcbbcr :kscobri:t no se deve sem dúvida, a~uiliJ que se·á ma:.s tarde o ",,eno narrau,;o lon-
Cíd regras de e~wvalência entre três timbres de assonância (a, o, ores- go", d;sete ou oito acentos na poesia c::irtês. Ao fazê-lo, Ott!id aban-
to) é., de nrn lado. o te-na do pasJa&t:lJ e, do u!J.tro, a extensão d.;. /ais- donou o anmo vuso e;ermânico, que era fonecicame.a~ defirndo por
Sé,2l Certos pares rímicos (o occitânico amo,ljfor, o f~cês c., uro- sua estrutura ~iterat1v; e que seria emp:egado ainda, trinta anos mais
kPldommage; o ale1l1iio not/tot, e L~thJ5 outros) constituem, por sua tarde, pelo autor do Heliand. Entre os primeiros llricos austrc-bávaro~,
freqúência. v,erciadeiras fórmulas. sen:ânt cas tanto quan10 fónicas. Gê- por volta de 1200, subsistem apenru; traços da~ tradições rítmica, anu-
neros como o dec<>rl occitân:co. o lai lírico francês, o Leich alemão :om- ga~. Elas recuaram diante da invasão d::is modelos crovadoresco~, em
portam, por vezes, estrofes fonnadas de uma longa série de \'ersos de fayor dos QUais. sem c.-.1\-1da. atuaram os hábüos nuskiais criados pela
duas ou t:-õi sílabas; a ri:na rende eo~ão a mvadir o verso do qual ela liturgia. O rerso, unidade rítmica mí.'lima, não é ou.nico atin~i~o; t~-
forma necessariamente a mct2de CJ um terço; doade uma diluição do bém o são as modalidades do reavupamento do~ versos e a distnõu1-
scnlidu discur ·Jro, em proveito d.a sugestão sor.ora. Mi;.., essas são to- ~ão respectiva dos di,·ersos tàlore') const:tutivos de uns e outro: ~Jta-
das as panes da língua que a rima jpor interméd:o da voz que a pro- se menos de c:npréstimo puro e simples :3o que de uma conflueOCta rle
nuncia) pode a~~un tra7.er à baila. Ela se torna, pc,r e;i;ceJência, o locus 1 ndições. como a que deriva do latim recebendo a contribuição - _a.
da JinE _.a.gem. o ::>lano em 4ue, vim1almeue, a expressão toma forma. prindpio enfraquecida, depot5 mas bem definido: ma arcadn e e11-
Assim, e aJgo .ma1s coque uma ~implei comodidade que aqui e ali com- z parur do mtados do ~. ulo xm - dos co tume a tó o e ue
bma em fim de verso, por contraste co:n o resco do cext0 11m0 palavra r..ta am provi•or i mc11tc e,..a \: dcs, ma., que, ,em du
dialetal, 'Jma termina;ão ancrm . Camproux já rr.ost:-ou b,O em Gui- am r,o um oral a~• im c;L.e v \erso cu·to de quatro
lherme ...x . cm que a "l'a~u.a de aLto: •· de,empenha hah fmente •a J.:, ocw, "::> ~rar,ês, é •• uado c,1m aparente n~nvohur
nunnce,. Lo:::alizada i1a rima a l•F;U'd. d2. mterpre:J110, sten auzada t..C ~.. -nar. ri; v ... U 5 e .~... 1rr:p lf"1 1
Na !nglatcrr.1, 1>• IC.\1os poétí1:o~ mais :intigos, uo Beoy,.•11/f à lla_rrle
of \lclrJm1 e à JuJith - un.<, 30 rruJ i:r.sos c:onsen11dos em mam.1.,tnto
dt cer do ,no J()OO, - , constJtu ci• ,e. linha por Linha, de duas r~te
que e:i~:i.deiam a aliteraç-ão e qm detínem, ao me.!>mO tempo, a ex1gen-
'J
cia de urna e,1ensãorninima e de o:rt.a curva ac~ntual, levando em con-
ta a dllraçõc.s ,il b1cas,n Nada -:rc comum com o sistema gue. na 9
França, decerto ja estava ~olidamrn::e constituído no final do s~ulo :xi.
Dcnck u Liiullfo deste, nos ambic:nto dominados pelos co1uiu1slJldores O TEXTO VOCALIZADO
no::-mand:Js, e as alte-ações que ali sofreu. O ,·erso inglês foi, por P~a
•vez, refeico à imagt:m ,Jo francê&, :orn rima e silabismo em priodpm
regular Gower, ChaLcer, L)rdgate empregarão ainda um octossilabo apa•
rentaco ao de Cbrtuen de lroyes; C::.Z.ucer riLma cm dccassilabos os Can-
rerbury tales. Ma, m séculos xn• e X', \'âo conhecer, nas p::-ovmcias do
o~te e <i.o noroesre, um repentin-::i re:iascimento da tradição anglo-5a• Um Jogo vocat. A pata~•ra e o canto. Compo.1 •ção num&ita, J:;fe-i-
:icônica (raantída oralmente duranu c!.uzento& anos); mo,imento conhe- tos t.utuais. O "formulismo''.
:::icio pelo nome aliterotive reviva1',.A a que devemos muitos dos melho-
res poemas desta êpoca, o Piers: Pi'Grffllan de La..,gland ou o Sir Ga·.vmn · Por ,•:::-lta de )200 - quando a mu:tiplicaç:ão dos escntos podia tal-
Do impulso ,globalmeme unitivo que assim generalizara 110 O:i.derue certa vez pôr mais intensamente à prova a especificidade do discuno poê1ico,
percepção de ritrr:os, ficou separada apenas a longínqua Islândia Ali, ritm.icame:ite marcado-, disseminam-s.e simultane.amentc.. em c.er.os
:>s EdrJrzç e a poe5ia escãldica co ru.ervaram, complicando-as ao exue- meios letra:ios da França e da Afomm.ba, a propósito desse discurso poé-
:no, ai e,trut·Jras rítmicas comuc.,;,i a,::,s :i,o...,·os germânicos antig·o~; ba- tico. duas ::omricções, das quais 1:.:na tonstilrui wna esi:é,::ie e.e avesso
seada~ na alileração, iistribuída de rr.odo a cor.sútuir uma t[ama foné- ético da outra; o cLiscurso formalmente mais coe~o (o •·v~rso") é perce-
:ic:;. scbre a qual a ~01. do recitante oo do cantor Leça va~ções de acen.t? bido em ,.___~ difeTE'JIÇ".1. em relaç.ão ;; tocos os: ouL-o.s, logo confundido~
e borce outras figuras ~onoras, de Jr.:ia vi.rtuosi.dade munas vezes ·,•eru- sob o termo ·:,anaJ:zado prosa; desde então, rextm encontram luga1, r.as
.;inosa.... declaraçõe.. de autor, prólogos ou digre,sõe,, para as.s.erç5es do tipc 'o
E.sa história com tantos deslc-camentos e retornos, manifesta a ooi- verso m~e. só a prosa é verídica". Entendamos: o "verso" mascara
:nc::ier.ça de uma ~oz viva, aspiramk ades-abrochar em formas univ~~- e <ies\oi.a, el.e g-era ~u:;. própria aparéncia, gre.ças a aml)litude (q,J.alqucr
~aís, pará Já das fron'..e:ras lingilist>:3.), a impor _gestos •me.ais reconhed- que seja a me-nsagem transmitida) do jogo \'Ocal e gestual peJo quaJ el,e
·1ei-s em h..'tla a pattc, como uma linguagem internacional dos oor::m~ e transita a:e □ ós. Pm um lado, trata-se de um clióê antigl): m;ls que de
dos sons. O verso (designemos assi.:n. de maneira neutra, wn ritmo fun- retome ,,.ida no momento em que ,e vai constituiI, em língua vtlgar, uma
cic-naJtzado), mais ainda do que or.s:zrut.ador da frase, é organizador des- prosa de ane não :;,ode ser fruto do acasn. O ir:iperactor Henrique:, ü
.;a linguagem, em toda a sua riquei!3. e :omplex:idade. Donde alguns ma- Leão, inier:.11 isso p,,a:a proibir que SIC fizc~:,;e ~m veri;o a tradução do Lw-
:og-os e resmências. É assim que a i:oesia éJ>íca não comporta um m~~l? cidoriu.s que en::omendara; quan:o a Nicolas de Scnli,, e□ 1202, t"DCat -
~1c::1ico comum a todos os territó:,c,s do Ocide::ue: à tirode monorruru regado pel!':l oonáes.;;a de Saint-Pol de traduzir o pseudo-Turpin, .1ão deí,ca
i:a, ge·al nas area5 romàmcas, op:1e □-,e nas regiõe~ germânicas a qun- por menos: Sus come nmes n'esr •·era~ ( ·'Nc:ntam:. :elalo em ,ersc- ~
dra ou e d1~tico. \ias tais diieren~s não afetun a unidade profunda. verdadem:" 1 1 Os parcidârios do \·e~so repJ1ca:ão, na dmla Hnha retó-
nca de urr J::an de uar ande. pel~i e1og10 dJ medida e da .1:t"TT.Oílld li llt
ela 10:-oa p::rnve-1 - argtJmemo do qual se perceten:: cs eco~ are cep~>i.l)
do século x·,1. O marqu•b de Samil:.i.na, em seu Proemro, coloc.i corno
"manifemi" o _primado "10 verso sobre a pIQi.él, d;mde decorre unia au•
raridade p,m1cular e rr:a1.> alia
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De$dC entüo, a "ersificai;fto européi~ cntr,1 wt .,ua em de ri1o?idel. (h.t l1Ul I;}' UVJ ... -··~ J -
cz epoca moderna: seus fatores cor.stitui:1.tes, silab1,mo e figura~ de n- \'.}e, sintáticas pr0\'Cnicnte5 do te.'CtO, submetendo-~ a sua 1~rd1.:m pr:>pna,
na. ,:_ombmam-se de rnodo passivei de ser --e,,isto a cada instante. o poeta 0 riuno vocal comporta uma curva melódica que ,..aloriz.a r que corr,u-
co <-id conta ~s. sllabas não de maneira ui:metica. :nas ritmica, como r.ica, segundo as circull.SWlcia5. uma qualidade paruculc..r - _única. Nesie
b~ocos de mate~1a fônica de duraçàc aproximada., ;.io,ém recorta.dos por se:itido, o texto só e:x:~ct na razão das harmonias da voz. E, sem dú"i
p.:.usas acem_ua.ts recorreme-s. O que muitos texto1 franceses, considera- da, e que quer dizer Brunetto l.atini, no livro m, capitulo x, do Tré-
dos :orromp1dos, fazem c.alV"ez seJa i ustra1 a própria criath,idadc do uso: sar. quando invoca a n::cessidade de contrabalançar o acento e a \.li_z
e, Roland do manuscrito de Oxford cont.: com 420 \'ersos ••faJsos •• em (o r;-ia.nusc::-ito T cornge ou precisa: os sons e a \'OZ). O te.~tc, enquan:o
4 mil; Guil/aume do manuscrito de Londres, 1500 em 3500 ou seJ·a palavra medjda, .úgnifica a voz ,ri.va. O fato é que, até o coneço do ,c-
.p~• . d '
- ·~., am a que o mesmocopis-ta t·ansc~.a Sffll al~erações prosód.icas
• culo xm no Ocidente inteiro, todo discurso poético que ~e tenha revl'.\•
o roman~e de Gui de Wal't'w1c. Poderiamas estender essa obsen1açâo a ti do da forma do ·•1-eno" (mais c-,·1dente e rigorosamente medido que
l!1·a11àe numero de: nossos textos a,:igos: do 'Jiútan de Béroul a ..,·áJ'ios a , 'prosa'') não pode ter tido outra ongem. Já no período entre- as duas
labliaux e a gêneros inteiros, com-::> o ''ser-mão alegre" e outros a.inda. guerra!> mundiais, um George!> Lote, embora de uma geraciio de 11níver-
A e,,·oluç.lio da Ungua e das técnica~ de dicção pódc: desempenhar aqui si:á.rios atrelado~ a pressupostos escriturais, referia-se. cm ~·árias. cap1-
1ffi1 papel No século xv, o dístico de dezesJei~ silabas, llnidade básica tt;Jos de sua vasta Jiis101re du ',er.ifrançais, e.,:J>ressamc:nte às prática!'.
do Romancero, é lratado (por raz,~s musicais) como um ~·en,o úruco Je canti/Jat1on litúrgias e>u laicas como sendo a fonte- de mJitos rra','Os
ae modo que o dístico à mooa nova é, de fato, um quarteto: a quadr:i apa-entemente a.berrantes do sLS.tema \•ersificatório romiir1ko. s Muitos
ou .,erso dos cantadores do sertão brasileuo de nossos dias ainda! A muu,;cri:os. como viillos, anotam os versos em texto .;o.rrido, sem que-
úmca regra uni.·ersal é a predominância da interpretação YOCal sobre a bra de linhas, ta! como na prosa. Entre as di\·ersas c.:.au:..is desse i=osLu-
manutenção estrita do modelo, e jsso em todos os níveis de formaUza- me, não seria precüo levar em conta a idéia de que a identificação do
ção: anisossilabism.o do "'erso, mas tambtm a irregularidade das estro- verso ~ um caso de voz e de dicção?
fe: neste ou na~cie texto em q~e :u cspe1arían:.os iguais; antigamente, Nes~a prática, ultrapassa-se a fronteira entre canto e não-canto?
~ Bulst orgaruzou, para o latun. o alemão, o ing]ês e o francês, um Fronteira movente, que pouco importa delimtc.ar. O que disl.ngue os ge-
catá.ogo de poemas que comporta.nessa "anomal•a". z ~a Espanha, neros e costumes poéücos até o século xv é o grau de- tensio introduz.i-
um dos_ esq~emas rí~cos mais Y,\OS, a cuarderna via, repousa sobre do na aç.io vocal pelo anifkio que rege o ritmo, a alntr3, a. intensidade
a comb1naçao de mwtos principias, coa.seguindo 'iariar com grande ele- do som. A poesia d.ls trovadores. rrou.·e.res e i\finnesánger amge o ponto
gância, entre limites fi:to~. o númem de sílabas segundo a colocação dos extremo dessa tensão. Para esses poew e para o públi:::~ o canto se iden-
acentos. O octosstlabo dos laudi ümbricos e de Iacopone compona os tifica a •nn '"gesto fonnali". como diz G. 1~ Vol. Aquém ou alem dos
mesmos equilíbrios - a mesma abertura. e'ffll<=ntos que a anáisc distingue aí, a canso é um ato fuiológ:co, mo-
• Or_11 'J ames sarron, ronia o poeta [o~ o interprete) de Doon de mento concreto c:m que II voz "dei,,perta a fonna". 6 Gc:r.:ihnen'.e tram-
N11ntn11I, 110 começo do skulo xm, s'il set ung vers ríml/ quant O cle- mitica (assim o estado da, tranSCriçôe! le-.'D a crer) pela via oral, por-
re(e ~oix_/ "Jla Dltxl" ct dit chasruns, "com ci.ít esr es.colé!'" ("Não t nto ligada ao cosrume da improvi a~o. a melodia faz da c~n.so. da
182 183
,h:msrm. tio betuma Gestulr, e~perada como tal, rteeb1d de.:Sc- n11.""d;i da~ guab uma garantiria. m:men doC'trinam (''a teoria do 1ittno") e a
rx>r urn ~LI biiro dotado tanto de exlrc:na ~eruibilidade': d-:- cs:::ut qi.anic, outra crmnaria k'ocum m:",·us er \'il'lda sonorum {"as combma,;õc d:i
de uma c.ip.ic:áade de experimentar formas sonolll5 que o.e i! in6- voz e as relai;;õe~ dos i>on:," ). ir O ~-elho harpüta que a parece a JJohurt.
vel porncls. Donde 11. surpretndmtc ,rariedadeda• c o ~ fonnllis no fim do lAnctloJ em prosa, ~cnw-~ ~bre um troo.o de ouro parn exe•
n~f.Sa i:oes1a e. ao mesmo tempo, a liberdade que p~t' 11 (.Unjun. cucar O Lai des p{e:urs: im.für., oomo comcntill A. Leupiil, ela soba'a.nla
to: anugamentc, J. Frank assinalou Sti:.5 formu]IJ) m~riciu difc::":IlU:i entre do canto.l1 Mostras de~se gênero não faltam na tradição fos ~éculos Xlt
os trm-acorcs prm-ençais; U Mól.k:, ma;s ft'OCnumenLC; Uól ~ os rro;.·- e xm. Assim, Geoffrey of l\tonroor.nh, recriand;::, uma lendi..-ia histórfo
Wri'S! ~,la!>. n~ tradjçào de 1ma rne-.illla canção, muitas 'ru.e5 ::i cuc.e;o antiga do5 bretões, dá (no capitulo 51 da Historia regum Brilannia.e)
e: a :>ruem de sucessão das estrofes permanecem fluruame.,, '!ra-;::, plfti.. por aocescral de Anur um rei Bled.gabrea:d, de tal excelência: na ane do
~~larmente detectável entre os MinrresiiF1ger. mas qut aio J.!:.es e, 1e:::i canto q':le passou por :ieus dos cantores; \Yace, adaptando ~.sa pas.,a-
d~ bng::, próprio! Só o aten·1a:á a evolução cus técrucas c:.~i:ais. que, gem no Brui. amplia-a em verso.i lriperbólicos.. Goufricd -...un StrJSsba:-g,
a Panír dos meados do século xm, "ão alongar basran_:e a; ·mi::!a:b nos v••. ~723-91 de seu Tristan, ded.i::a aos Mín.nesãnger l.llll longo elo-
rílrr.icas cio canto. gio metafó::i:::o, em que a poesia deles ê representada pcks camos de
O ''grand~ canto oortês" foi, assim, a realização final =ü q:mu pássa:ro,s nobres oo céu ~ mi lu1..
de uma arte. mas também de uma ter.déncia ,isceral □essa. :-JJLurE.. ele o ensino práàco do car.to reflete a mesma cor1cepçâo da operação
reprc,senta~a o objeto de um :ios seus desejos mais con.sta::ile.: e, ;;em du- ,,oca_l. ' No sêculo xm, a ordem franciscana, V('>"flda à :rirtd;ca popular.
vida, mais a.rc.aicos: já a retórica antiga, pelo uso que fe.z :le- ('?;11!11..e, !.ll- abriu ,..-âJias escolas de car.to Utú.rg:co (cuja in fh:ênda, aJiá.s, comribuiu
gerfa. que este de-signruse a realização plena da li:lguage:m.. Err. G"cerc para a cl.ifusào da polifüni~) as finalidades cstdo, aqui. ligadas. NasAd-
(Di! :>ra1on>), em Quintiliano, ele se alterna com voe.is f~exa,;;,, nxd!.!.i.;--
morrWones aos estudantes novatos, ca;;,ítulo '' Oe cilntoribus ', Boncom-
tlo, var,11;to. mutoti<1, todos es..es: termos r-efeindo-se .ao jc!O =a iru; pagno insiste nas qualida~cs vocais que pera.item u·rtifidose '1C duk:iJi!,-
c·a,•:tare é amne.s sonorum gradus per.~equi ("percorre: tod.cs ,:-s naus
modula ri ("modular com arte e doçura"). Ele ilt:mra engraçad.arneme
do~ sons")· l'!Çiio própria - no limite - aos histriões e awr~;; =-e :~troa.
seu assu:nto, oomparar.do as diversas maneiras pelíl., quais os povos da
m2.:, :ambém - con:rolada e moderada - a 1odos os bc,::J.i; ,:l"ú-Jccs; '
EuroDa e da Asia têm o hábito de conduzir suas vozes: ".. .os cristãos,
Um e.o~ rlichêi ::iue, na poesia medieval servem para remei:e:-;:. ~ fo.n.:.::
por sua. ~•ez:, dizem que os sarracenos engofrm as p;,Janas e que,
ora real cu finícia repousa talvez ~obre a longínqua le:n:iral:3 ~ -.a_
can~ndo-a~- gargarejam :;om a •,·oz ...''; ele fala de toc:i() o mundo, lati-
co~p,çào; "cu ouvi ltT e cantar" t_de:sú o prólcgo Ól• A1~1.r:·, ·-d~
nos e gregN, francese5, it.al:anos. al::mães. 33Desde o 1,éct..10 Xl!, cantar
contaDJ e cantam" (ainda ro século XJJ, no DJrmiirJ ,'e C'll.'1:.1.,~, -..
e rncar aJg-LI.ID instrumento fa7ia Çlarte da educação de j ovem nobres,
l5 94S), e cmtra.s variames; fi~uras cumu;ativas que e-.·o:::.arc. cmjc.&a-n-
do os dois registros ca palavra., uma totalidade vocal: o ::nã.-c:o:i :t in- ou, ao :ne::i.os, do ideal que se forma,ra para el~: Albéri::: de Pis.ancon,
formação .: o máximo de prazer. Pouco importa que o l:m.Jte :-sc._l~ no c:nurnerando. ;;:,or ,,clt;;. de UOO. os surpreené.entes s•1c:essos do Akxan•
ct:rso do tempc, entre o que o ouvido percebe como µala,,r.:i ,ii:3 1; :i dre ad o]e;;::e-r,c.e junto de .,cus mestres, menciona a excelbcia de seu to-
que ele percebr como canto. .f r,essa perspectiva que se de.-e unr;:r.:1::.::- que ::Je J:ra e ~1.1a habilidade no ::mto; o alemã,:> l.a:nprrd1t, imitando-a
o rato de que, no séc·JJo xiv em Floren..;a. caoL..wam-se U!.rz,.~,;.r. d:1 i.Ç t1- ~,inta anos ::□ ais tarde. :ião deixa de retoma~ t'SSt lraçc o~ t:-a t.ados
m, rnmedra t fvran de Conti, em 1382, atestando que er.:k :1 i,e-;1ura de ::-c-rtes:a do ~éculo xi.., .nmc e Chasto1emcl1t dcs cianus ou a C.'e
pjbJica d:)s romance\ \:.. tazia em car111/l;wo11, ~ompara i:;!::.. ~:, a.rr::t d'amo.r5 • re::omendam espejalrr.enle para a.s jovens a arrmdiz.agem de
cmtllfa ,eJ.1 dimnta dele I Somo rnma: que a )posição r1.i.:.::.11.Y.:. ru- ,._antu ~ ,àJ prod1go~ r:m ..:onsr:Jh.)~ ~.,_,t,re o nodc t.lr 111 1K"St.'.lr ., oz
m O ouvi lle, iaça sentido. Os auwre:-. de romances nlo Jeixam dr: explorar esse tra ço doi rnstLme1,
O car.to ê o;igno: ele dtz a verdadeira natureza da ~oz, ;r--....:11.e:m pr-0\•av-elmente sentido como f'\ .,...-ador de cer:a per 1c1çáo fisi:a e mo:-al:
todos :>s •eus efeitos; · · 1tl acot com iharmo êa · eassim com F1esnc. no Galeran atcibulào a Jean Renan. V\' 1166-73; é
,eles e,. ,\laind e l1lk, noAn'tcloudiar,u.s, por vota de .llill, ::infüul:- as.sim ,:om Tristão e me~mo com l!.okla, em Go1 tfned NoconJuntodo~
gliri .:i;nentc íl 'iorte da poesia A Co11rord1a e a si,as duas ,eq-m.i:1~. tex1m ,1'.'h:-e Tn~tão, o 1ur,<1 da \'01., o ::a1110 1e a harpa que o acomjlanhal
JP.4
5,) mais <.lo que n10ti'Hl! ílm1r1111·,;.;.111: ,:li:_~ \e p~endem de algum rno~ o Entretanto. pelos fim do ~,&1110 x11. pro~h.2 se un, ro,npimc11u, ~o
ao próprio fundo da ··1ege!"J!a ·. lurtàrio, cujo sagaz respo:-.sável foi decerto Ch·ctien d~ 1ro~es e no q11:1
J. Frapp:er via, com razàv, um "°'º efeito voca.: a ~s::i1ução J:, •1õ•
trofr", que até emão asse~t:rara a ooinc1dência da íra.e e do ,·c:10. Cn-
Por a,resoenta: o ,:oq:c II apf'W!~,;ão, o ritmo ~tico nece~,aria
men·e pressiona e. nnguages::L O .feno ôewl b>e1' o se mamfesta no
' d lírlnlJl t.r.abalhava ~ .wa j)Iopriunatbia. O
desfoca, graças a um sutil jogo de acentos, os temp~ fortes do som e
prõi:rio ponto er.i que o art•fírio r.c lrttcula sobre as estruturas dn lín- os do scnti<lo, de ,orte que um enJambemem :.lo perua.nento cncadcu
izua natural: na relação do "•,"l:nD'' :cm a sintaxe. Em tempo~ bem re- os versos sucessivo~. Em parte, o estilo dos trcvadorei, tro;J1,·~r1•s, Mrn•
~uado~. quando as l:ngu:i~ mm1rr:cu o::insti1u1arr. ;,rogre.~~rvamente para ,us4~ger oonnstc numa perpétua marupi.:Iação sm1.au:a, cm Stf2l a';)re•
si un sis:ema poeuoo :;::rói:ric, :, -..~ri;:. se caJcava sobre formas .,,mti.1- l'iattva, atê elusiva, talvez propositalmente amb18Ua. A,\im, toda ~inta-
cas. assumindo-a~ err ,Ll p-'.lp::i;.:; uniéade s·s;:-erior. Dai :-esultava um :i:c é, cm todo~ u:. g~neros éessa ;io~ia, mais ou :rcnos e~.cenada; é 1J1Jis
efeim ,;.ecund.âno de dicção. t i::a.-ur ::b ra.w de que o.s ritmos <lo idi,)ma :iu meno) uma encenaçàc: e a "cena", aqui, nf.o é outra senão aquela
cotidiano para..--i.arr. coincié::' ·ir.:: ~::p•d~ ::iue _p::..')'l.·inha:n de -0utras fcntes .m que se desempenha a performan..e. Por ml!1c da ua.Jo.e, e as ver~~
de harmonia. Herda:ido é.e :;.::e.: inre:~~ore~ a est::ofe de versos unidos alé:n ou aquém dela, o r:tmo suscita na língua rdaçõ~ unpre-.ist.as, p:-o-
pda ri.roa (em sene aabbc~. .1, G:~::::ier d'.Arras impõe a si mesmo uma rnca aproximações insólitas, abre-se em plena 'rnetáf,ya vh•a''. As ri-
dupla regra. una pro;;:osiçici cs: e:::ren:ie t:.1L'T. ve:so. ou em doIS •,ersos "llaS, desde que surgiram em série, submetem a totalidade do discurso
inteiros; a frase, num ol!.nte::-c in~ri:c de ~J-:!fes, qualquer que seja soa " un:a figura de interpreta/lo recorrente, por ~res chegando a obses-
extensão. Os desvios pe:rmanCCf1Tl numerosos; mas a •·ariedade rítnica ~: junção de homônimos cujo entrechoque niio ces!a ce faze; jorrar
provém mais óa:; d:fr:-cnç:!5 de. :::-;ã;:-ns.àc c::itr:: 213 f:-a5es, muit~ -vez~ for- ccmorações inauditas, scbredeterm.mando o se:it1do daquilo q~e e dito.
te:nente conaasL'Yru e cc,::li!it.:inó: :, ec:.n•,•alenk: (ou o fundamento) te.X• Q.1anto mais se avança no curso do tempo para o~ 5éculos x1:1, XI\' e
mal de um desem;,enbo ó: ator:nuit.0 ar..i□ado. O enjambement pro• XY, mais se refinam, com e~sa intenção, as técnicH acrob,ticas da ~ii-
pria-:nente elita é muita :ar::t. r~a:-:in:fo e::r.. do:s ~·ersos sucessivo;; os ta.1Ce : do som, ate o pontl'.'1 de perfeJção que .r5o ntin!!ir entre al~1ms
elerrentos do me.?mo 3i:11:aimE- ocnram-~e. oo ma.1:m10, uns quarc-:ita, deis t .rands rhétoriqueurs.
sem grande clareza, nos 650) ~ru; :to Ér.:de, e a e.,.idência e de q.:e No ent.anlo, um cosh.:Tle de origem antiga (e que; ,ilfüurava 1:ena
somente uma dezer..a pr,:x::rl.e d: ~ a lnte:ição dramatizante. This rup- prática da lectio divina, quando não da exe6ese ruínica) levava ruis
turas rítmicas se prodlllJl:C., ra. :1d:-i;:. ::.a.rr a.eh-a. apenas nos momentos de. um poeta a sobrepor i siataxc p:ropnamewe cfüa ouro plano de cr·
mais intensos, como um ge:.<:tc an.:.:;li:icador. ~esse sistema, em qi;e o ganização, baseado nos números, em suas relações e nos ritmos que eles
rie:o· relati.·o reforça a efi:::izia d:e:- !fe::c-s de de~,io, os limites do verso engen :iram. Dh•isào cm crês, quat.rn ou cinco putes de :mco, sele oi.:.
são bem marcados. lexica2:men1~ ::10 i:.:'.dc•, f.:::::iicamente no fim. De mo- del m~mbros, combinações i.s vezes muito com pbas. regendo a d:~ei-
do nuito predorr..ina.ntt:-, é umJ. ·;,a.las:-a-ir...mumento acentuada o que buicão e a rcconêuci.t de palavras, de formulas. de seq·ii:ncias na.nati-
começa o ,;erso: crr. dete~P::. q:alq11c, ua:a preposição, conjun- ,,.~. d:: blocos temáticos, ::iu a quantidade de cada um dos elementos
ção ou locução ad,'ttbial. O:ajurt;3,e;; di•;er~ac ·~ os advérbios ne, or, ~m jogo. Do Heliand suônico ao Alem normanc'.o, do hino Quan.d ie
si figuram no ::ome,;:o de 30C•7 ~ ( i , on s,eja, 46r., c!o total.. Esses ad- soltil à Chonson de Rofand e ao Irisra.nt de Eilhart, :, poucos de nos-
vÉrbios, sobretudo or, oe:re:~ um;;i.::, (:'1:".kclar, por causa de sua fun- sos antigos teu.os não foram objeto de investigacões sobre es:se pon~o,
ção no enunciado e dt sua re:a:ic :::r...a a lfucursii,idade oral. Or, espc- no mais das ,,czes com a ir.:cnção subjacente de ceies <!.cra::>nst,dr oca-
ci:almentc, para aJém de ~e.i 'i'UOr Lffllporal, po6sui a função de deto:iar ra ter erudito... Trata-se, porém, ma.is. de um L"aco geral da poética me-
a pmença do lo::utor oo .:iu~ :r. diz: ;c-o,oi:a u:na pausa breve, suspen- d:ewl, obscrvá-.·el na grande maioria dos textos êUJante séculus e cm
dendo a tc:mporalidad.c: do retaro. 'Tunb-!:ro ftra.n1 percd,idas como pon- todas as línguas, da alta éroca carolíngia ao século x,1, de Rabano
tuação lexical as fo urr.crivm r;t.::r,'!'3.j quase varias si, que, cor que es- Mauro aos rhétoriqu~. passando por T)ante mas umhé.m por algu-
allldcm incarua''Clrt'..cnte a s ~ . as {rases, os grupos de palavras ma canção de troVador ou Schwank alemão. 15 Não se JlOOCfia auibuí•
nos romances cm .,·c:no. lo a;, •'gênio" de alguma fpnca, ~gjlo ou homem 01ais do que à pro-
187
• i;ir.1c.:111a de: -.imbofü,açào. Aind~ ma_is do_que ri. conquista da Cruz 13,J VCf50i
j1:çio Ja ai um ngoro çõ~ de numero& tunc1on2nam, t fim de É.racle 71 vtl.Oi
• ""nho que l!> propor mat.eri.a não n.a.rrati\'8. ,S) •TI"lOi
como rttón ' ;ut'., fi ras de ars memoriae, articulando desse ~o-
na pcrtormanc.e, oomo igu . . do por ess.e meio, diver,os efeitoi.
arração e perm1tm , A relação narrativa entre b e a é !>ime-trica àquela que une d e t . Se
do as parte d a n . u mesmo - .,~e for o caso - de corrcspon- se ju ntam ~es pares de elementos. constata-se que •=> relato s: dernm-
de dr.unatizaç.à:> dnn~c~ o mecuti\'aS de recitação. A ars cria um espa-
dência :::11tre duas sessoes co d- um discurso: em cada um põe em rrês unidades de respectivamente !811, .2170 e 1422 verso~, oJ. 5C-
00 locarem os marcos .. ja 43r.'o, B~o e22f.'o ela duração total éot.e::uo-nu.rnero~ que se relacio-
co onentado para &e . abriga-se um elemento ao qual a pa-
do~ lu~ares que aí se ;l.eterm.1ndam, papel O poeta transpõe para a du- nam aprorimadamente entre eie.s como 4 se relaciona com 3 e co:IJ 2.
. . d pc:udendo e seu
la••ra se ·eferna, e .
. . b
1u ares e proporções s.unples a5· O fator de.terminante e a d1u-ação do relat.o duração dJ. palavni
. , . momentos subsutuem g , e da audição, uma e outra nos titruc.es fixados menos ou na.ir, nitida-
ração o nsteroa-
tam ?<l-1ª defüu-tos. e;çuninei atentamente desse ponto mente pelas condições fisicas, p,ela energ.ia dos corpos e pdo~ hábitos
É. assim que, nc- Éracle•d- que n~º "OS v,•. 3283-5' coincide com coletivos. E..1:amina:ndo dois fragmento~ de qwnhentos versos, fiz uma
tade -.,.ata o roma ....~. •~ experiência de leitura em voz. aJia do Érac/'e, colocando ai o mmimc ce
de "ista - , a me
n centro do pran~o de ~:ii . ais a risionada, no qual, por força de uma
.-e! acusar os pérfidos cortesãos, os men·
gradação dramáu~a, a m_ . Ora esse instame mar:a, em duração,_o
ex.pressividade,. com apenas as pa~sas rnd1spensávei.s e o acompanha-
mento de a!guns gestos; ::onclui, por extrapolação, que uma leituü ~ú-
ürm,:)c e o p6pno demon10. ód" 'dos amores de Atana'is; logo ckpo1s, blica do romance inteiro exig1:na um poüco mais de quatro horas - e
fim do primeiro terÇO do ep1s 10 direção ao inC\1ta.vel aduhé- muito mais, caso o leitor teatralizasse certas passagens, como aqui e aJi
. . eça a derrapagem em . , d" (em ;:,articular nos diálogos) o tex-:.o o convida com ·nsistêr.cia a fa.zer.
~uT·•e a duvida e com M . 'ndm• 0 -onJ·unto do ep1so 10
" •::, . do de clímax. ais a1 ... •
no: efeito. ,-ustenta · d E.rade prece,deram-no, cortadas '.'lào me parece:, enc.ão, im:;,ossivel que a composição do texto Jevass,: cm
10 . -·os ~senfances e . conta. de algum modo, este fato: uma ::ierformance de quatro ou cinco
çonca com 2\ ve s. • . - t· damente distintas: os pnrne1ro-s anos,
·' ar duas sessoes ru l E. horas e impe::isà,·el sem entreatos. As.~in:., coustato que as crb ;'partes."
de modo a .:irm . ' bl' orno acontece com Jesus nos ~ange-
ou1ltos; depois. a 'lida pu tca, e do rnman·: e .;.ep.aradas pelo s huimais dos\...,. 27 46 e 5092 du:am respoc-
lhes de Mateus e de Ll~cas..r ece co~truido em massas l:>em sim- tivamer.c.e, segu~do meu cál:::u!o, uma hora e trê-s quanos, ·J.ma hora e
As:sim dedfrmü, Eroc.e apar meia e uma !iota.
p~esmence propmcionadas. As mesmas :-elaç.ões simples .,e e:noontram na distribuição dos sub-
ekrm:mos. ,Ai.s5im, as duraç&es da:; provas relath·as 2.os doos d(: Éra.:le
114 -~rsos
matéria não narrauva est ão aç,mx:imadamente na relação de 4 com Se com 7, grade.ção que
258 versos
a .!1.~ãnda ocul~a _ 2:553 versos põ-e em rel-e~·o a de:si::obe,.a fina\ de Atamus; e cada uma das pro,'a5 apx c-
/J. ,'ida -publica tmanifesr.açaol sen-.a a mesma est::-utura: exp-0s1cão, acontet:irnento triplice, conclt..sà<J,
2]i 0 versos
e. amo;cs de Atana·i~ pe 7lla □ecendo 1dê:n:Lcas a~ p ro;-,orções dessas cinco su buni:.lades, ape-
sar do along:amen-.o das durações. A h.istóna dos arr.ores de ALanais 5e
de:::e>mpõe e:::i duas s.equénc,as. c01r. cada uma se diridmdc e:-i q1..i:ro
-:e:-,a- de e, ten~ão ,errsi·,•elmentc· 1gua:, duunLos a c;ezentc• ·,erscs -
ou ,eJa. seg.und-c minha cori.ta, dei a doze mmuto~ por c-en,, uma hord
e me,a parn o epí~6d10 mtei::-o A pane :entra] da conqu1~ca da Cr Jl
e pre1.e·chàa de um prnlo o de igual duração, conta.ido a ~censàu de
ÉJacle a unpcrador- srgue::~ a entrada cm Jullial · e a Ewtação.
A L"Xl ens:ío -:les~as t rê, sc:i_:ôl"j e, grosso modo. prop1Jr-: ional a ~. 4 e 3
1 1,~21, d!\'1~ôe, numenca~ nã,~ ,nrre,(ll"'ndem exaram~nte a,;; pau~a~ qu~
188
mm º ~hu.,r ais éo a u1,>r· elns n t
se ap icam urna à ;:,urra ' . ' o s,10, cntreu11110, i ncomp.:irh d mas
como, a um de enh . • , c,Jns1,lemd •~,,, ór na~ ct::h cuII u, ...~ .... , .•__ _
d1 'lnta. 1 J me parece s1gni'1~JU\ J o. uma cópia I ge1r.1::i.e-ritc
JOgl ~,c com a inprovi ação O êe 1..omo se• a uma C'lcer.ação que
do que subo-dim.n tes: m.11,; agre.?a•ivus Ju q u,: lógica~: cn11,~r ~uJ~1ra ;
th-o esses cortes e proporç~~ d que t m de arnmc11cnrncntc apro.~ll!la
vcs emo1mra a me j aionlst ca, r.1a1 cotal!zante5 do que an I• ·..:as: mais pa u,ipat"' Llo
que optra!K.\o por c.!ist;inc,amento; mrus Sllu.aconats do q ·e :ibmnuu
mn,.. ;nátrca o que simbólica. Pouco un , u \er, que sua funçã,, t
Dai provtm a ma or parte da~ caracte:rnica3, que. em todo~ os pl3nm
rorrespo:1dêocias numem1s Que ele ó po OUVJdo exatidão da.
t o •·mec1e.,al" ao t~to "clássico", a poesta do
1\'urr. r:i unJo en que •J rempo. ~- s bpode re 1s1rar bem toscamente.
d e manei-a . •~ conce ta prime, tmtura do *ulo: x: ca~em .:as, por
eç:r;i •uil "s mo ra e e pontar.eamente
· mcntos su~ 1v0 d 1 ião, d~loradas. mcompreendiJa._ ou cx~Jtrnda.s por um numero d~-
come ~e sot rc os própnos lu11a d o ~rato e desdot:ra... arn
durações. no ~ io do c:liscu • res_ a performance; e o cômputo da; •tado grande de med1C'\-alistas. A conseqúfo:,a de tal erm de apm:ta•
~ . r-m poet1co não fa _ . • cão fo. o e1tabeC"CJmemo deu~ cânone d.e 1 ·obras-pri11n " med1eva1s
par aç dimen~Eoes je5se espa:;o vocal.· n a ciutra ...otsa ~enao era-
- as mesmas em que es,es caractere5 :são o- ~ais atenuado~ -. esira-
1h o (eu presumo) a pe:ce~ão q"J:: tiverao âe , <a. poesia ~eus dern:iata-
rios e, se;n dúvida, a função q;1e ela 9re=iclüa em sua sc,dedade! Don-
. . _Por !~SO. r-2re:e-me falsa a questão u -
nlimca ccmeccional <>me . q . e, na tY-r<;pecuva de uma es- de prcvêm ainda. de outro modo. o eqw,oo:i e a futilidade da> pesquislS
• ' '"O' ou os med1eval1stas d d
Meter, a i:rotósito do r:r d .
r,u run, a cena resp did
CS e que. em :9]6, J
fi . 1 baseadas m~ rastreamento de ind:cios k ócais ou grama!Jcais de \'OCalt·
dade. Co:uudo. enue 1950 e 197~, foi es~e e gênero de fatos que invoca-
vcca;ão oral d! um text:, dete . . on :> a ITTilatt\'amen:e: a
"d O nnmara seu modo de fi ,; __ - ram cmr, o má.mno de confiança os medi.e-.-ans-.as ávidos .Je chamar aten-
vi g:i~ .~ P"d-s•c
~ ~ '
dar ª tal ~rgunta um ormaJU<tcao'l· Du- I
des.tjja;ão vocal é, por :iature-za men a r-es~~sta global. O tato de 1 ção para os efeitos da tradição oral. Desde ~96, :.\.1i::!u.el Curschmann
e; uc ,e propõe ã leitura M . d , os apropna veJ do que o é o texto assin1lavao que podem cer de enga."l.adores esses mrc:>dos de detecção.
a palavra de seu autcr: tend
• 3.1.5 o que este ele res ·
.• .
D ·d . .
ist- a i enaf1car-..e com
1 A vocalidade de\'e ser consid:~ada g)ol:alrm::ntc, e tc<i~ argumenta;ão
, e a se mslltUJr com b
SrJPo, no corpo do qual func10 D d o um em comtun do fund.ida sobre um único gên~ro de obsena•;ào ou limitada a um só ni-
estrei:amente :::or~lar:a.s. Por umn~do ai .~orrern .~uas car.icretisti.:as , e: de anáhse não leva muito lor.ge. Um :>Jt:eito como o de estilo "era•
nais fort~ue.Ht" concre·o do d , o modelo dos rex:os orais e liz.antc" é circular· a argumemação o;::::T~ e, risco de ·.-oltar, em conck-
,i;__ • • que o os textos es-:ritos· ~
=ur~11,m j)re-fal)ricados que ele veiculas- .- . os uag:oentos são. a seu pressuposto. Todc texto me:!:Je--al ê ..or4-.izante". Ademais,
garuzados e s~:na.nti,........,ente . . . . ao mais numerosos, rnajs or- a inrençãu expressa de um autor, mou·,a.àa pelas necc)sídades de uma
......., ma1!> ~Laveis Po . .
de u:n ir.esmo tCJCtO ao longo de sua . . _: o:itro 1ado, no mte::ior difusão num meio de oralic.ade dorní112Jlte. ;Jôde, a todo o rnommco,
SI:1~ronia e diacrorla) O:>.sen·am . transm,ssao. e de texto a teno (em em cenas obrdl) compostas por es-cnt~. 1c.d:car fonemente tendências
• -se mterfi - ·
;>rCva,-eI.oe:ne a'u<iiva•. trocas disc . erc::oc1as, retomadas, repcti,ções que, alhures, eram mais difusas. É o qu~ por exemplo, seguni.l.o A lbert
·· tmrvas que traze ·
l'1r::ulaçao de elememos textuais . - ma unpressão de urna Baugh, testemunha o texto de romances em inglê~ medieval, lalS ;;:orno
bina::i a ou:-os ern co,..., ""'s1·,.- rrugr-~tc::,: que a todo o irutantc ;e corn- Gu,1• of lfár.,.·1ck ou Beves of Hampton. Certamente, rasuear, t:.omo fez
= .,.oes proHsônas As . .
JV
dos tex~ 81!.tigamente 1:::-"ublicados or Stm e no c~rpus imefro Beer, r:a orosa de Villchardouin a;; :r.ac.Jfesi::ações de um "estilo oral·•
:.er.1 imd Pr.i.sro11rdler.. P Karl Bartsc:1 sob o ll!uJo Romari- é cois::. que não carece de írte~sse, :m;,a., exige uma mterpretat;ao que
EscoJl:i, de ;ropó~ito, e:sse exem lo ex:t . nàt' SCJa si:nplesmeme texLual.
de füncio.J.r.nentc que e . P remo; ele ilustra um modo
Donde a insuficiênoa. por estrcte.r.a ~siva, da "teoria orar· (co-
o século xv oa "VI n- , mais ou menos, o de todo teno poético até
esses tra-os se l · -
• -u, a, mo a chama\'3.IIJ, nos anos 70, em J:3.!3es anglo-saxônicos e genuàm-
retórica dD teci.:, do Que a seu din.,. • re a~o~am menos ã suj)e:Tfi cie cos), da qual A . B. Lord foi ;x,r mcito tempo o rue,trc inconte5te.. Ba-
aré a sua p:orc-hbtória. no nível d~mo onguw: a sua pré-hlstória.,
seacia ~ trabalhos de Tat.lock (a ;,a:rtic' de 1923) e ele Pam· (I 928 e de;x>is
ltÇão. o llS;J«to perfi . ergias mvest1das em sua formu-
põe Dectmrlair.crnc (ormanciaJ segundo o qual se cor..stitu.i o tato im- 1910) consagrados a epop,é,2 antiga, e e.os de ~lurto (em 1929) sobre
n10 com a o:· e:i mesmo d
que de modo P""~ ~, •
• ... ......_.~ao preço de um con-
os guslari iugo !avos, a teoria definiu 1.:.rn modo de expres~ão que foi
denominado •·estilo formular" e Ql!e,. em _eu estado primeiro, ela con-
t'l s a esmrura) estratégias expressivas geralmeme
1dera\a próprio da epopeia, q u.a.ido esta era o bjeto de tran~m1 fio
190
J9','
orol. Dl·)dt 0~ ancs 50, d1\tr.sm, meJie-."atistas, quarie s1111ultaneamen1e, de \i.>U, r,ar-::x:-n:.~ repr~-;.er.la.r, em no.sso~ eilUdl)i, se a rcduzimo5 a seu
th-crnn1 a i::léia de aplicar a poc~ narrativo dn ah ld de Média a pn11cir-1c, rune hipó(~c inícuil, útil c;;n função lieuri>tica, m d~ro-
noçjll de c~ti'o to:-n1ular-0ral, que a partir de en o parecia assegurado vida :lr a::tc-n,:lade unh':rsa.l. Ela não le-.·a suficientemente eDl cou1a a
na prática de cert~ helenistas t e !avistas. Em 1!i51, pare~ o estudo nccC' · · :1e::!: iic:mza do to.w pudico. Do ponto 1e vista lingüístico, oral
de R. H. Weber sobre o Romancew; 1ois anos mai tnrde, F. Magoun ou esc::.~o. ':JlJ1 to:ro perma::icce um to:Io, da competência de métod::>.!>
se dedicava a-:> Beowu(f e à m1dição BI1gl,1-~.uõnica. Seu estudo se ba- critico;:. J:.h gt:2is e, enq·~o t.or.o, por defmíçao o ooJeto. Compona
seava r,urna coa;e;>Çào rigorosa: a fôrmuJ3 é uma ;,rO\-a necessária e ab- nec!'Sv-~n.:e as marc~ dcm: status. hfas 'J:Tia poética desejosa de
soluta de oralidade; sua presença e:w1clui11 :1; intervençã.o do escrito, se- fazer ju.,.;;i;..i oió '>Ucalida~ de·,-erà, ;)ara m.anter rna c~pecificidade,
não a t:!ulo de simples relatório da perfo:mance. Contendo o BeowulJ dcmora:--s~ mer.:,s r.aquela.i man:as do que nai relações instáve.s -ias
i40i'G je versos formulares, só se Linha que 1irar conclusões desse faLo. qua.i~ re~uh.a., p:ir o:i::i:::ate.:iaçâo de elementos e d~ seus ete1tos de s~nu-
Quando foi reeditado em 1963, o a,rrjgo d~ I\1.ago·.:n ja havia gerado to- do, li :::conc,::aia ;:a:rticular do :mo d.t0 ou :amado - aquilo qu~, :n-
da uma dc~:e:11ênda: esudos de R. Waldon, R. D. Sh..•Y1ck e outros se>- ma J:nguage,:: Jm p:-uco dernrada, .\fene::idez P:da des•,•enda,,a no' 'es-
bre a poesia co inglês antigo ou sebe o \c:r.m allte~ati\o do inglês me- . 610 ::ac. :ic,:i:J'' e5:;ianhol: 15 .ma ir..1e::i.;5dade, si..a :endência de reéuir
dieval. En:. 1955, o li'-TO de Jean Rychmr 'i<:>brc as ::ar.çõcs de gesta t
1 a e.1;:pressãJ ac t)seadal 1.0 que □ão quer dizer que e. reduzisse nen ao
[Yetendia ~rovar a destinação voc2l des~as obras, o impacto foi tama- i mais 1:r~.,: ~rc a,J mai~ úaplesJ. a predominânda da palavra em J.,O
i
nno que ;u~tificou, dois ano~ ma.1s taJ'd::, o n.."1.niâo d:- um congresso de:,- ! ...obre a j~ri:ão; os jogos :lie o:::, e :ie repe~ção; a uncdiatez das nma-
t:1ado calvt"z, na irt~nção de algun! crganizadores, a frear a tempo uma ções, ::,.:.jas :"crr.:ias complexa.. )e consmuem p,or acl':nulação; a impcs-
p;rigc~ "tc·çs;,i! O rc:sultado fo: difcn:nte: até mcad:'>, dl>S anos iO, \ iu-~:: r soal1::E.j:, a in1.er.ipora~1 da~~- .. Ess..es traços. mais ou menos claros, ma-
~,ms1i1 ,1i· .ima c'1nsiderá,,cl b,bllogr~fia de trabalho~ do gênero. acerca nifestan:.:.:, in-el ix,""eti.:o a ::-:;io~i:;ão funcional que distingue da esduua
cfo maior pirt,· da~ waas cu1turais dt.. Eu-opa prc-U1u1.k.:na, França, te~- a voz O te:w:r:i e5::n10, ur:,a ,~z qi;e mbs:s1e. pode assum;r plenan~:i:e
ri:ório5 1er:nánicos e escar.dinavo5, E.,panh.t .. sua ::a:;:ia::dail! de f:n:ro. Jà o texco oral r.ã.o pode. pois está mui~o e:;-
o i:~1..idu Jc estilo fur rn1lar terminara, durar.u.:c~ses ,mos de voga. ~rita:nente ;ubj ""gado pela e:cgê:icia pres:.:1~e c!a -,:· formance; em C;)rD•
per de<;t..-:ivolvcr-.s.t: ~iJmo di•cipUna quase autõ7o:na, em de1rimento dos. ,>ensa:;?.::>, el:- ~oia. da liberdade de 1:10•,er-se .sem cessar, de inimerrup-
outros ck:Ticntos ,JOéticosdo:, texccs considerada,.' \.lu1tas vezes, ele se iamenle ~►ã.rja: e, :11.rr.r".ro, a aatLf"'...za. e a fotenStdace de seus efeitos. ~e~se
reduzi\.l, ~ra 1cven.• pesquisadores de~prcvidos de ex:>eriência, a uma sentido, i;cd::-,~. nos texto.s fos Sl!\..--i.los x.r e XlJI cue usam o estilo for-
i.:.i~a ã~ ru1111 ul~~ IJ<111tamc: 1.k11 i!>úr:.i. V~rias dessa<; monografias, pela mular, c::i n~i c.e.rar e5ce u:na ~rta de arcaismo - IIli:I.S um a:'Caísmo man•
pr.)pr a especif.ddade de seu objen não deixaram de contr' buir para udo, r.a p:.ic.ica de ::iurnermo~ poe:as, pelo ~mimem:> que eles tmham
1cJefi m u )i~tc:md furmulcu , <l.i 1J1rlhe uma imaier.i tâ.o complexa que das própria5 e-:,:i@bcias da 'L'OZ pe~forma□cia.J.
toda apli:acãc p'J ra e simples do moce.o se :ornQu irnp:m1vel. O gêne-
ro tpiO:l) se espalnav:1. por todos os lados: :anções de santos francesas,
romances em r~ês medie•val. Minnesa"~ alemães, qastda arabes, nà{l É :nai5 na ;;;:i~n;;Jectl',a de uma art! do:m:::1.ada peloc; ritmo~ e prl.~
ha\·1a ge;:ero poen::o que nao se descobrisse ma1~ :JU mer.or. formular. ir.vesr:ga;;.i(, j~ i:.?r.:m:mfas s:::-mmLI q•Je ~e de'<'e :onsidcrar o• 'formulis-
E~Le crikrill rcrmiua definir e ::le imitar !Jtla a "literalu:-a oral", por ;no". ·forno ~sse c~:r:10 e:npre,:a:5o a M. Jousse. ruma b 1,.:-.1 de geneTT'.-
o:;x>s1cao a '1llt se pa~sa per escn o. ~- ntese:. ~= esboça:-am sobre e~sa !ização r!, ac, me;rno ~mpo. por aJ:i,ão a m~m.as das -conotaçoc~ dor::.-
base; maE, s1rnultar.carne11te, obje~oc~ cada vez ma.is o umerosas 1e le- ~·anre li~~, ,a. exi:-essão ··es,1ilo ro~mular" Fnrmuii.m,c faz referfoda
,arnaiam e que1uoraram Clssc: u!> p~e,~supc"1os dadou•r na, tos~e a na li tud,::, qu::'. ni::,:: :L,cur,os e mudo., de ::-nun:iação própriüS a tal ,:>:; e-
ture1.a un documemaçilo unpl1:ada, ro~se o Jlcan:e dt ,ua 1merpreta- c.ade. 1er.::. J ~nriênc1.a dt> tne5sanremr::!te rt"dizer-o;e em te:rmo. bem pou-
-;âo. De de 1956. Brnson e interroga-.a assím a ;:iropómo dos textos co dn-emf :ado.;, de reprodllZlr-se COll', infimas e infinitas \ariaçõe.\ -
anglo, xômCI> i tm 1 7, E.. de C a prollQ 1to do C,ct 4 ~ c=.re'.Jte '.\.ffiB " ~ Wll, cterí Uea t!e n :.~a rul1
o~ cnucoqn\ad '11m as rC'\a.tasrspcciah1..ada.!.. A paTllr Je então. a op1- dade :01 diana ··sel~em", ....a:we:-~ções, rumores, lrOca\ fa11cu • l.I:1
111ào \:Om 1m tende n rccus11 •f.( a ver no cs11lc l()fllllilar a marc.a ~cgura ,en1hl11 r.::..._p; e~truo, o •·torrr ulLl:nl>"' ~ 3 fonc1onahn1ç.'lo de~sa tcndé!r-
d,.1 ord1dad: A •'doutrina" l'arr:,;-l nrd, dcruis de um uano de seculo º"'• ~m t1naliwd:s l•ratóm1&, jmdkas. ()O!LJcas. O lormuli-mo mut fn
JQ
cm regime ue orali:lade tlominante. ToWez constitua umu das rr..an.:a~ de uma \'OZ. na p~rn~cl ~omurn Jo cmi~sor e dos rc.:c:;:tore~ da mens.1-
o.tema~ dnquela ar1.Jt1el>CScr1tura, anterior a todo o escrno real, Ja q uai gcm _ ~ .Jm 1cgo ~1Hrn.,r::ilmente autorélw,. uma •;mr1 f1:a,;;i.o f'::-1Lc1a
já se fa1ou bastante nos anos 70. Em contraparuda, o aparec1men10 e ou uma 1u~a;ão da h1,;16na, as,umid a, as~1m1lo.da, u~ag,.ida ~los vo·
a difu~ão da c~cruLra real ~e acom panham de um efeito de desformr,, 11- ,e1os de sonondudes, de gestos, de ~•~mf"icnções o•erecidas.
.:aç::o, tOm a linguagem da poesia tomando desde então uma onenta- 4 f 1.1n.damenmlmtnte. o formul.tsmo faz. parte d& or:.Jcm da \ n;i De
; ão auto-reflexiva; observa-~ esse fenômeno oos te.:<tos rned1eva1s, -de caio., cm ccnseqli-!nc:ia tla eterog.eneidade das t rad ições ociden-.ais d'O-
rrodo primeiramer:.te esporádico. d esde o fim do século XII. Urna ,·ez de I alUI Idade Média, seus efeitos se revc:~trn1 de a~pn:1os divcnos, pcr-
011e a t-:adii,:ào ora se ahmtnca de tipos, a escnrura tende à "d:ale:a- cep!,veis ern diferente~ nJ\·~is da ob ra: as~im, ao mesnu tem;,? e:n q:ie
çãc--". 3 2pr0:\lmacão com o obJeto, à apreensã,) do incompara\·eL, mas füa."11 0 que an1. g.a."!lente denomrnet '"registro~ de ~pressão··, :le:. mo-
c>\~,1 tendência triu:ifa apena~ entre a.imns 1tal:ano;;. d.o século :-..T,; e::- da!iiam, n,::. essencial, o uso da retórica. en laum não menos dQ que em
ue o~ franceses, não antes do século\.'/. O que o fonnulismo tem de li::i.gua -.·u]ga:. Durame séculos, a prática dos letrados pi:r~an~c!rá mai:-
~dundaate c:>rnpensa, na ~~ó pri.a mM'-.3.gem. <1 ruido ocasionado pelas :::ada ~los métodos formulares de aprendizagem do latim, introdUL-
ó-c:..n5.ãncias que. na perfor:nance, in:erfere-m no texto; em situação dos oa época carolíngia memorização e repet .ção cm \':lZ alta de peque-
.Jc oralidade primaria, es&a ê uma f\Jtlção poe(:icamenre ,..;tal; quando :ios texo:.o~ sapLencia!s, Dislicos de Cacão, fábulas esópica.~, vers1culo.s de
a bege:nonia da vez começa .a ceder, sob o assaJto dos habi•os esc,1tu- saJrnos: _ a frcunda ratis. de Egbert, por volta do a10 1000, fo::i.ece
rah, ta. Í1.lllÇÕ.o progressivamente se êsmaece, mli sem que, por muiro aos cstud:mtes de liêge. para esse fim, uma seleção de ditos. d::>is ..se::i-
tempo ainda, seu exercício desapareça, Do sé:ulo xn ao xv, estamos 1~ mais tarde, as Paroholae de Alain de Lille cumprem fur.çào sendha.."1te.
n~a. :.it _açio. ~l.'S gbieros de tradição mais anüga, como a epopéia o fonnu~ism-o poéü:::o fu nciona com a ajuda de modelos de d:•,er-
O'J, mais suti.mentt, o "grande canto cortês", perpetua-se um !ipo reJati- sas ordens. si.otáticos :itmicos, semânticos, operanGo de mamira gera-
vameme arcaico de formulismo, definí·tel pela desproporção que oompor- lJ\'ª :na oonstiLuição do tato, produzindo superfi..:ialmente se:i_uéndas
t;,_, e:i..tre um número elevado de sign·ficantes e um número restrito de ao mesmo tempo esperadas e mwtas vezes imprevis1vcis. O proced.i.memo
signili çado~; este~ úlllmos se identificam mais ou meno:. a caLegorias às ,,-ez.e.s c:á~ha sutil.mente no ruvel do enunciado· íl ~..im, um advêr-
cuhlrais, fundadoras de sentido. Nos Jêneros de criação recente, como o ":;,io. oomo or, inuoôLU. periodicamente no discurso (corno já assm.aJei)
romance ou o dit,* permanecem ma.s ::lo que marcas dessa situação. '.lIDª referê-ncta à oralidade deste, real ou fictícia; a própria prec;e-nça de
Assim se constitui um interd,scurso poético - no sentido em que um dêitico como ci a mdica que se tra:a de palavras ::iue p•eser.ti:'i-
se fala de m Urtexto: uma rede mnemônica e .,-erbal, que é- urdida de forma cam. ui o fo;mul.Jsmo, po~em. envohe mais o disc:m10 como tal do r:iue
muito de5i6ual, mas que \'isa a em·oh,·cr com seus fios toda a palav~a sua organiza;ão de lingua_gem; e, na pratica, conce-nc mais a perfor-
de ums. comunidade. Em maior ou m::nor grau, determina a mensagem mance do que à composição: tal é a função dos luga,7~ ou topoi, origi-
Q □ e os :rioe:as enunciam e se preode em sua orizem a alguma ideologfa, nalmente partes da memoruz e da actio retórica e ligadm ac, u;o orató-
por vezes cristalizada e tornada ímprocuth'a. O fonnufismo tende, as- rio da pa.l.a-,ra, e depois, por um deslizamento que prosseguiu él.Lí: u~
sim, a fe:hat-se cm sua própria clausura Uma forte conota;.ão autoní-
r:, íc;a afeta a linguagem que ele produ. Suas partes, mesmo as mais rí-
gidas a; " fórmulas" proç,riamente ditas. a todo o instante .se prestam
'
t
s~ulos dã..s.5icos. caídos no nivel da arre literária e - inversamen:e -
içados ao da dialética. mais e ma.is abstratos a cada etapa. O lugar co-
mum rem por fun;ào aproximar do ou,int~ a materia re,r,ota do dis-
ã ressemantizaçào, segunco o contexto, a circunstância, a natur~ do curso, conc:rizar um conteúdo, mas ~irando toda partículai.:ação; ele
público. No limite, a única realidade à qual ~e refere essa linguagem é funda a té::n:ica das "artes da memória" e jusàfica praticament:- a maior
o próprio acontecimento que a realiza, a perjo.-ma.n.ce. Seu semi.do glo- pane das estratégias poéticas adotadas ao longo dos sé::ulos. Segundo
bal proçcdc menos dos elementos iterativos ac-.imulados que ele coloca a perspectiva em que :,.e coloca seu uso, ele rege ::> dcse:wo:vblento de
do que de saa propria iteração. O que se ma.:iifest.a então - ao rom uma linha de pensamento., determina-lhe as articulaeõcs ou, ainda, inau-
gura um : c;xrtórlo ~ argumitntos eficazes. .
,•> 1um<i usado para alJu,ns tipos de poeia didá:ica medieval; apamuaifo Jo ~ No entanto, adQuíriu-se, com ou sem nzão, o hábito de ~ ns1derar
0 formu!ismo quando, d~ preferê ncia, ele abara o vocabulérlo e influi
but, / obt~, ttlllt e lirl. ( N. E.)
/95
n:t scl:dl,, J,I', form_., lini;ui•11ra~. De conlltrnL•" maB c,u rn(·rws r~tá- dsdc. I( verdad~· que urr. efciro ck awmula;ã,1 ~ o cará1er mr1is cxrlri:1!0
\'cis. iras 'l'rprr (:11nd.1 q11~' crn1tt',l11nlmenrr) idc1111fi1 án"t, .1 t md:ul~ d.! ,l,lcurnr-111açiio tmern <:orn q1.u· 'W!> ~~Jª raai~ 1âcil 1den1it1car o~ pr-•
fo1 mullr funciona ~orno um3 citação de auw1i.:ladc. l.:la rcn:ere a ,Pn ,trb:o~ llt.>.!> texto~ dcs Quanto mah e recua n~•
H•<.:n!o\ XJ\', :-..,· :.- X\·t.
ICXlo "1c1al, , irtu.il rna1, i nconte!;rá •~I. ral3vra tr.ufü;1on I e públic.í, COll'> remi::o, m:iis di ficil a iarel'n; naJa, J:K•i cn1. P•°"ª que: o fervilhar p111•
li'.uirtdo urn plano d~ referer.cia que t substitmv~l c qut", de fato, no mai5 v:•bial lenha !lda mmor, e que o u5o de uma rne.;gotá,..el materia p,are-
da-!> ''C'l.e.,, nb~tJtu.i urr 'n:aJ" mal pcroepuvcl que, cmpcrformllllt:e, não miológ1ca tenha &ido mc11ot rc\elador da natu1 e.lia profunda de ·ima cs•
nos m1en•,,a, a mero~ ::i:ue o ac-ei:emos. Tal e, em seu ftJndamento, a têtic~. z. Todos O.li gênero~ foram to.:ados pelo p;overbio, até o grande
operação .,ut: \\: de5igna er.t!o, di~simulando seus efeitos, pelo te:-mo canto cortas; e. mail, d.o que o::. outros, foram afc;.zdos aqueles cuja ftm-
culto ri'p,'7!1•se,r1atio. Dor.de, para além de sua ligação com a tópica, têc- ção í:nplica um enga:an;:Jto persJas:vo, urn~ t:m1ada de posição pu-
nicas de e ornçiio como a que, ames de Jear: de Garlande, fora rtco- blica, par.. morahz.ar ou pro·,·ocar o r.5(): do Ysemgrimus latino ao Chas-
mendada p,:x Gcof•rey cf Virsauf: 1q que uma semença abra o exórdio tiemr..sart franc~s e a seu homólogo vencr.iano Supf!r naturajemi"lwum,
e c.:epni, fcclie a rnndu.~ào clodi ;curso, dupla concentração de ...ent·do, ao teatro da ba1:ca Jdade l\1édia, farsas e so:ie,, ã própria poesia de cor-
p·emon:1ó"10, depois m-ospectívo, condensardo aquilo que a mensa- te no Franldm's 1ale, enlrc os grands rhétcriquew:s, até sob a i:ena do
~~m IL'rn de rnai, vcrdadciro, rnaf1A~,;;ditJu11dens Jwnen ("espalhando uma sábio PhiJtppede Mêiiê:~es, di:sser.ar\do alegoric-amente sobre a gra:1dl'
1uz aino~ l"Jior' 'J. i;eaundo o verso 126 da Puerr-ia nova. Ma~ o que c política no Songe du vieii pelerin, desinaco ao reí Carlos vi. Txnica..
.i scnren/io ,mào aquilo q.1e prof!1'e uma ,,oz ôCLerna, fora do tempo, de .itilizaç.J.o dos pro·1·eo1os se: criaram pouc" a pouco, corno e epifo-
sem e~r~oo, pre,i;enç:i pt:.ra, dito ov fras,e memor~vel, sobre a q uaJ ccns nema (coaciusão de uma ur:idade de dhClll'so), Que, ainda em nossos
t ruir a argumentação e fundar uma vmdicidade?20 Quase sempre, o uso dias, mbrevive :ia giosa dos poetai, populares braúleiros. 23 Certos te.-.:-
da ,entcncit, noçu11e1 ,.!,: um t.t:~LJ, t: n::pt:liti,u; <1.,:.üu ~e 1t:ilera pma tos ta~dios :1ão são outra cois.a sensio lecido de provérbios., em que o
11os,o aprer.dizaclo e p:-azer a e-mcação de uma experiência tramspcssoal, efei:o de sentido provêm dm.a acumulação e da n.:.ptura de todo elo con-
1- ::s;:ui.. u:.-s:se barulho te multidão ·eurrida, né. ,oca dos ,ábim, em bre-
textual, como se r>mdni:riria na gr.n-açiio :i.e um murrnurio da multidão...
·,•es sequências allamente .~ignificantes, núcleo de todo o pensamento - e oomo ocorre ainda hojr □os poemas africa..-io5 formados de um en:;a-
deamento de d:rm e má.umru;. A bafada de Villon Tant grote duévrc
rh:-<t, de f~n:H'.10 a ponto de exigi:- uma decodific::.ção com múltiplas d··
que mau gist não é um ;;a.&o isoladc.
::1cns5cs, .::ma .s c.:vmpletaca. Pouo imporcam os aspectos ocasionais
O provérbl() ameaça ir.v-idir o discurse a toe.o o momento, tal X>-
ât.ição lit,:ral ou imitada, até i:arooiada, de um auto:-; locução metafó-
mc, às vezes.. ameaça ir1vdir D campo d;:1 teb nu::i1 Hyeronimus Bos.ch
rtc.i crisu!izada; e\!)re55ào a~bada, vinculada a ~sta ou aquela situa-
~u .:.u1n B-rueghc.L De renc,, esti; uu. i:l~Le}e provérbio comum aos ho-
:Jn, a este ou aquele t·po de d scu•;o; max1ma: pro\·érbio. Eu 05 reuni
mem do5 $e;;ulos xirr ou XI' poctia te.-- ,ido, r:a origem, uma senrença
·e>b a det'lotnino1cào fón,,ulils, r.o ~~ntido em que Zawuin e Come. de
~atr·~-i,r.;a, ll□ afo.í1o111a fi'.o~ófico. Os peixi'JeJ crJmem pe1xmho!, bem
m1 ro:ito Je vLHa etnológico. envolvendo fenômeno5 de fraseologia, de
atestado [l·m particular enue os p:e:g.;.dores) a1é por volta de 1500, ·,em
lttremiologia i: dE' folc:o-:::e, :alavam de formuü1ic fi!xt. Não exi-.te urn
da Bíb:ia, pc•::- ir.~,;1 rué-óo de s. Agostinho e s. Jerõnimo. Uma rede cer-
i:Jv:'.nrário das "fôrmuli:l'i" que !!.~tiveram em uso entre as sécu]os IX DU
rada envoh·e o tesouro irdiferencia.do d.as palavra. que funclam~ntam
::\ e "I século :x,·. \-fos não é meios cena que foram inúmeras. 'lo fnm-
o jusrn e o verda.clf'iro. Cs s6..:u1o; a partir de 12011 são marcados por
c;:fs d,J., .\cculos x1v e xv, o Jicioriário de Jocuçàcs projetado po" G. Di antologias de pn,vérb:üs, c:n todos o~ d.fama.~. constituidas com:> for1•
S.e~no con ar~ com mais de 9 rr.il entradas; a obra de Jean Le I'évre, tes je sater e de OíptessãêJ adequa-Ja, aplas .a :>perar a cnstalização de
pr vc11la d:: J3,0. rL·Lom: a mais <lr duien!as lo;;:.içôes r:1e1aforica.s fi- tliscrso. Tt:1nos Hírfai, dezena.,, r.a rnaiüna pJO\e:11ente5 do!, me1,,~ 1~-
-~, u[,., qua1., uma~ 1r.:i:a n!lo po,suem equ1~dlênc1a lnr.- ai.- trad:i,: ti ua~. por vul,a de .450. figur.1,·,ua r:a ).blioteca dos duque~ da
O 4ue, numa acepção ~~lre1ta. chamamos provfrbio. embo::E rral Borgonh.;. Didâ:ico ~e:, ~er dogmaticu, t::>mlar.antlo mais do Que orde-
dfcre·1.:.:rndo de outra í6rmu.liU variadas, presta-se ta:.,.ez melhor do QLlr 1.ando; meulórico, mas bre\>e e ~intalH.:amente reduzido ao essencial;
e:a1 ao exame d.e ~ ~ romwu e c:x._phci1.a melhor as 1a.ues .cm ~isando ao ..i.n.i,w·asal atrav~ do concre10· Clll.23.fflento e de;COD.
<1.c rne-~gulh,1 'oda J:cçâo fwnn.la• rn1s tradiç&> :k um w1iver50 de urah- ·.~rgéucia o rrO'lerbia i:0n,d111i a n:anifr'!>taçâo primána, 1a1110 an ro-
polôl!ka 11tmnto lmg,1i,~1ca, do formuli.;mc. Próximo, n!l p1átic11 medir. to interno, proJetado mai5 em tspaço do que cm ,Jura : alirm mio-se
\1tl. do i p, -;g\.. te.t't mp/.,•'1), ele~ disu gue des•e por sua forr'l:t 1mr!i- como reunião e semelhan.;.i, nadi ,1 ~ ab5ulut:ur,en1c ith.t11ko nem at--
ci1a - mns a tcnninclogia não ::c:!lsa de confundi: um com r, outro. Pou- '>alutamcme diferente: o texto opera assim uma mcdia;Ao entre Criador
co importa: a ;;aracte-rl ,tic:í do prové·bT, como :k toda fórmula,~ que e crL1turn - folante ,e ou,mte -, referindo-se nao cade11 Lia história,
íl cada o;:orrência se re-conr.eça nele forma e idéia. ~las seu .se:uid é mas E do 'Vltlores do ser
no cont~to que e'.e u.:!quirc, em virtude mesmo dessa rc;1eratiV1dadc in- Empenhei-me em as~tnalar essas mar...as no .Éroc!e. nciui esoolludo
definida. a fon1t. de ma ; igni:'icânda. G:-aça) a eh, o mundo ~e C(>l~a P<)r causa de •eu carâter letrado, dcncaJ, e de ,eu prnp:'.ls110 11lt mo: di-
em ordem quando urna boca o pmnurcia: o juí;:o analítico supende :-;eu~ versão e edificacão de uma corre de conde, D amar L"3 um procellô
-• ••·n~. r:. po• ..un instante, rcsu1~lecc-sea densa conu:-iu1dade 1.1~ "•da. forrr.clar que ê notavel por pcrmit.r con~cituir - s:irr,Lltaneamcnt~ no
]'.c!-.~C' ., cntidc. o efeito tl.i "comunica,;ào diferí::la" que em nos~c- tempo nível ritrniw, ktical e sinrãr•.:o - urr ;ic;tema móvt;I dr ec:,, t: :1e ('lllr~-
foi considerada céini 1ória de i::odc. obra i:onica se prodUL gr.:u.;as ao for- lelismos qu~~e metade dos versos éo roman:e começa. por :;ma con-
mulismu, com~ recurse~ um ritual de 1-rguagem. A voz que o rrarnir.- junçfo CL bcução adverbial; ora, um ~úmero :ião d~rre21vd tle;tes ter-
cia cm pcrforrna:1ce é, ass.=n. íii.:liciamcme abstrc:.ida das Cffcur1stâncias mos fgua ro começo de muilo5 .:etso5 sucessivo~, comiitu~ndo sér;es
concreta~ ern que~ percebida, de algum modo mitificada. iterativas :i'ongadas ou entrecruzadas ao longo do t:J1to; a~s...-n:
- e.t figura 63 vezes no começ'1 e.e doh ·1e1s0~ corue:~tivos <:u méili;
- q 11e, q•,i, ou, dont, llf! i:: as ::onjunçiic, símpks quun,', .>e, uim.
o fo:mdismc em ;,oesü:. e, portanto, redundância fortemente fun- car, mau, 99 vezes;
cionalizada-~ formalmente estilizada. O. Sa,ce ra.,;treia suas marcas nm - o,, d\J.'C ','CLC::~.
:Wmnesar.,:er. nos JO@OS de 3.S.'::onâncu, de contras:e lexi:al, de C!etro:a- O conjunro dessas recorrência~. ;n·Jir::> regul.arrr..erte d1stribwd.a~.
ção, de duplica;àc,. Em cada um do~ níveis de língua assim referidos afc::La ::"'6 ve.:-sm. Ou seja, pcrt:> de ()Wl :lc:: :otal. Ourm proc::d1r.1enrn.
(fônioo, lcxii.:o, sintagmatico, ,emânt1co_1, o formulismo pode moriular- da me,ma ::,reem: 86 versos cc-me;am pelo nome Éracfe. no :naís da~
-.c de diversas ma..1eira.-.: pa-a:eli.srr.o ou aternância. antitese ou rcrr.m.-;<la veze\ con fun~zo de suJetto do verte. Frequernemen1e, e. 11..lcr po,:tua
da var;aote, cccs i:;eriódicos o·J dispe-s05, litania, desregramento con- a unícude narraúva (cena, episódio. ação) co:n vmos ou ex;:iressêies i.:Om
:ro1ado. NovQs . ogos. variações sobre tema obrigatório, ::líve-rsidade na valor de refrão, introduzindo no er,unciadc, gra~~ a pequena! varia-
,.mifonmdade. fundamento de um.a técnica que é sempre s:mehante a ções, um rit:-no mterno que o dram~tiza e que aí figu.""ll como o e5boço
s.i própria e cujos meios a:,<.-nas diferem em msiicr ou menor gr2u, se- de um gesto. De>taquei, por an:ostragem, mais de cinqüenra e.11ernplo~:
gundo as circunstâncias. Toda recorrência. fixa e mantém: tendendo à o númerc tot.al deve ser bastante rraior. G::nlmente, a repetição indck
hipérbok, ela tes:e:nunJia a a::ei-ação, pelo poeta, da sociedade III qual sobre doi~ ou :nesmo trê-s verso5 conseculims, mspmdendo a narrativa
ele fala ou canta Mas essa soc1edade. de a aceita menos por escolha de urr modo que acentua a dramatizaç-Jo e •eforça a sugestão gesmaJ.
ao que por causa co pape) que lhe é confiado pela coktivida.:i::, Jt: prc- t\qui e ali, um verso reaparece, idênj:o. depois de lo:i.go ime....,,ã.lo. trar.s-
~·ado~ t de arauto. O sistema às vezes .se concreti..a em figl!Ia de es:i- :ormando-se as..,1m em refrão propria.."llmte dit:>, enquacrantlo uma ce-
1.:>, coincide oca~ionalmentc com a prá-:ica retórica: como a reperitio de 1a qu-: se :orna virtualmente tcatn graças ac nulilero d e d ".! '
li:tiOgos, a
Peire Vidal na canção Be m•ri~r-odt!, em que cada estrofe se consrróí e seu rilmo. à br.:!'lfidade das rtplicas e à ;,resença, nestas, de ...oca!ivm
3c condensa nur.la palaYrA ou nurn siru.agma retornado em cada V!rso; reccrr~ntes. criando uma gradação r personalizando fortcmcnti: º" in-
a imistência das crts sílabas inicia.:.s, incessantemente repetidGS, co Wus 1erlocutorc;; É assim nas passage:·h t':lC.C. drimát'ca., cL mai$ irôrucas
Tulfet âne simie K!.irtSt ~ Rcinnar "ºn zw,·eter ou do elogio das jamas do t:x10: a ve:icta de Éracle no mercado; o concJrso de beleza; as 2pari-
de Konrad von Wurzburg. 21 Os exemplos são inumeráveis, em to~ os ções do anjo. \.fesmo se, co(llO é i:ro~·ável, forem apcmu ornar,,~tos
tempos e em mda; a.s línguas. Ce:1cs generos poéticos se fur:camentam retó.:icos, Gautie- os maneja do rne;mo modo que os cantores épicos
t.ecn!camente em tais efeito,.: a seqüência arcaica; o l.eich alrmão; o vi- :nantjavam sua:. fórmulll.), e ~era dú'llda com a mesma intenção de e:"I•
rt!lai, a balfttte, o rondó fmnds occitãnko, em ruas diver<.ti varieda- teriorizar a narrativa, tendendo a nuuiJesw saisorialmente ~eu ..:rffí-
des. 'De rccorrê::l~a cm morr~ncía, o rato st anima por um movimen- cio - iHo é, sua poe-sia. J\fuitas ve1es, no curso dos versos, basta uma
198 fí)9
pil l\ rn. r,,.._ ·, • 1 .::n •
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• "• o ,e..:u o ~! I!.>n Ra· 10
:·. _... " J:..i,a ~ ' i ,e r .peti~sr;:, e. J uuaparec:e:ia'' a Essd palav·a
no,- Sllua nn :oraçao . de um unh,er&-0 d e voze) ,1,·a~. • Ela li.do wsie se- A AA-1B!GOIDADE RETÓRICA
nao rcpet:da. commuame:ite disper.sa e reto d
gota l. mor~e ~stécil D ma a, sem o gue ela se es-
' • . e guaIquer :ir.odo que .se reali .
dis:ursiva conslirui O me·, fi
h. mais e icaz de verba]zar
. · ze, a recorrencla
.•
cspacio:emporal e de ali fazer paru·-,...,.r ••,..._ o ou ,1.n1e.
. uma expenenc1a
O te.mpo - d
volve :mm.; intemporalidade fictícia ~ d .:,e esen-
r"f D- ·- . , i::I parur e um momento maugu-
"' · ~..,::ir., no c.:.paço que gera O so · Ritmo e com1 ençr.~o. A giosa !megrada. Um.a smtaxe oral? Discurso
da ~e ob1· et .· . d . m. a imagem ~en~orialrnente prova-
,\a, o mmo nasce, e se legitima - b F direto.
11a IIilllld do discurso e., multi lI d . ' um 5.a er. ias se tecem
. . ,. P ~ o~ e entrecruzados, ai pr:,duzem ou-
tro Ji.si.urso, trabaJbando os elementos do . . . Criado:-a de ri:mos. a re:o:rec.:::ia- controlda para aLinpr-se um
dualJT,eme; gJosando-o a po d pnmeiro, _mterpretando-o gra.-
. . ' nto e que a palavra mstau.re um diálo o fim expressi..-o - inaugura o tli~,m.o '.;)oético. Todos os elementos cons-
com seu propno tema. Enguanto as pala d g 111 urivn~ de..te, q·ialqUer que seja sua narureza, devem ser con~idcrados
eqUJ\'alémcias t contrastes qu \Tas csfi1am, estabelecem-M;
fí . . e comportam (porque o concex.to .se modi- de tal perspectiva. Em si própria, a recorrência é meno~ pro~dimento
1~, mesmo q ·1e rrnperceptivelmem.eJ □uances su,.; •· ·- da ,....., "' d las dis.ctL"Si\o'o do que ll" ::xio de -e~ d.a ]i.nguagem. Mas, n() correr co tempo,
C"b1~--
~ ~ •"' ~.,m e uma I·n.formaç-ão no,,•a f =· """ · ~- e · rt-
ao qual essa ,oz nos convida, ' az-se acrescer do oonhecimento algumas de s·.1as manifestações se im;::.tucionafuam., tendem a reprodu±r·
se por inércia, comam-se protedÍ.r.:le-ntos e termir:a:n D()r COlStituir ji:n-
t.as uma trama estrutural com;er.:::iom.l - por ,:erro. e felizmente!, per-
furada de \·azios - ~obre a g·Ja] parecem bordar-se os outr\JS efelt05
rítmicos Vá;ios des~es prore&me:iws ~e fazem, éesde longa data. ob-
jcLo tlr ~!ul.lob, ,l o pum.o óe vi5ta restritivo e tec.nico da retórica ou da
versi:icação: fÔi as5iri: com práti::as de organização te,;rnal como a in-
rerprerUl/o, a expmitw e a J'n:qwet'ltat1Q, a maior pane dai fíg1:r~ de
palanas, de grarnáuca e de som, assim como con as combinações es-
trói:cas. O :nver.rár10 que da( se pode lt:vam.a1 5ugere que 1 insc:i1.u:io-
nalizacão opera em dois níveis e ::ice os procedimentos em questão fm:i-
cionam de ::iodl) ou macro ou m.1cro1extuaJ. Dois exemplo~, enrrc os
n:corr~ncias soncmu, ilustra:n benessa opos:ção. assim i:orno êi! ti;::ei-
ta"l rcla.çiks que ígarr seus te:-mo~ no plano ,iacrore.11.tual , o refr ã:i; no
:mcrote.'li:rual, a rima.
üa~e1 da n;na no capitulo p-:ec.edente. Quanto ao refrto, poJ(:'m
disting·Jir-sc uês espécí~. A primeira comprrendc os ·efrãos que rntcr·
"'êm dl! forma recorrente e, em pnncipi::i. a interva.lm, 1guw.s num ennn-
oado estrófico - • em fim (ou cm cam~) de c.. iro:e. O ire•
fràC' nãt.1 I? sempre 1<.lent1ct1111t111e 1eí1erado; o to.to, a rnc1od1a tX'Klern
200 2úJ
variar; mas, reln mcno~, ficn Jl\~riurad a a period icidade da rur111ra
f do em vista uma leitura pública. Gautier d'Arras mmrra conHan:ernen-
5sim JIIO",OCaJ a. E~~c u~o e an11go nas tradicl'lt', ,,,.,~ ttn1hxio1 româ- 1e o cuidadc em .assc~1.rar a :o:1:prec1 .ão autliLiva. em diStimz.uir dll du-
nkos e germânico,. o~ planctus carolfng10s, es1ilizt1nd<.1 cm meío letra- ração pcrfo,nanctal o tempo do relato. Com Cil~ objetivo, ele uuli:ui
do o lamentn 1radkional. tiram dis~o dr.i11v,; podero,;o~· o h~u mi!u mi- :CS]lé=:ICl·f fl:OO~:>cs RCOnentcS, - ,.... ,.._..,
uro! ("pobre de m1m!"J que pontua a bela lamentação 5obre a morte nifestar, cm rerformance, por uma pausa ou um moviner,t:> vocal. a
de Carlos Matnô C~ l4) dividr o lt"<IO rm vmte fratrmcntos pequeno,, a1ticulações narrati~:
como poderia lúer o grito que acompanha um ge~10 irreprimível de dc- - notações de natureza e-stilist1ca: do tipc, l:,iaus esr li ter.s ("t, tempo
1e~pe.•o· n 1cx10 ~ toma cênico, exige o Jeseripenho <le um ~o~po, patc- :stá bom 'J 1w. 16.?9, J9i3, 206~·. 379~); frase 1rnlada em d1~~ur;o dire-
ti..:amer.te exibido. ;\les:no do1, -.eculos ma.s tarde, a can·,lena !amenra- !o, funcio:iando à mar.ei~a ce a:renate em /J1sses éi:1..:a.s, ou elldama-
tionum ,.;omposta por W ipo depois da morte do imperador Conr.1do é i,:ào que u:te~\·ém ao fi:n de ·im discurso (w. 2563, 2567); mudança de
ent.ree0rtada de soluços por seu refrão Rex deus, vn-os tLJere et defunc- tempo verbal (vv. 373, 652);
tis rm.serere ("D~us rei, protegei os vivo:;, tende piedade dos ruor- - notações qLe Sllblinham a sintaxe narrat1\oa: ,rnêar.ça de J~ar
tos'')... 1 ~o século xm, esse tipo de refrão invadiu as canções do~ tmu- (W. 2542, 2 1 99, 2969 etc.), mudan;a de personaietn ('-'v, 2815, 5211,
,eres fr:ameses dos Miru,esanger; tais poeUls, aparentemente, des-cobriram .5320), introdução de uma p,mcnagem (...-v. 2787, 4961 etc);
sua riq'Jez.a funcional e manejaram com,. irtuosidade esses deslizamen- - nota~ temporais, as mais numerosas ou medem r;xpressamente
to~ conrralados ent·e o mundo verbal e mclódic;o do c.nundadu prim:i- a duração dcs eventos, per frases como au cief de ser ons ("w cabo de
pal e aquele q uc. real ou fictioamentc:-, o refrão substitui a rodo o fos- sete anos"), r1:1 tierr jor (" nc t~rceiro dia") ou o.mas semelhante~ <""·
:a.ntc. A partir c!.e .'\lfrcd Jeanmy, di,er)u~ ~ t uclicJ~m supuseram que
141,229,252,279,345, 7 16e:c.1; ou então mcdalizarno Lerr.po uarrati-
muitos desses refolos foram tomados de ernprestimo a uma poesia mais va com a ajuds de diverso, "adverbios de discurso·• (io,~s, pYiS, }a erc.),
ampla.mente dffund..da, que seria Je lnuliçiio qua~e ex:cimlvamtme oral
sobretudo orna formula or+ ·1e1to + sujeito {é a5sim nos vv. 10.59, 1499,
e da qual subsistem apenas alguns trechos escritos. O que quer que oos 1'766. 1919. 49'9). cu ja realiUJçâo mais notavel, 'J"esr Lro.clt!:., rctlpur~-
l..:"-c a n.ão ptnsa.r ne55a h.ipótcse fd.t péllt:da fundamentada), o tcfrão
..:e .wve vezes Ocorre que juas ou tr~s dessas marcas .mrgerr. ,UlC'is1va-
enquanm cal, cspa;hando-se de gênero em gênero no cur.~o de séculos,
mcnte a poucos \•er:;;os de disrfü1cia, parecendo ncurrali,;u-sc:; é e .:aso
mu1cas vezes Ct!l.tualrnt:nlt: retomado de um te.i,:w a outro. aclquiri:: um;,i
no~ vv. 1245 e 1256, 1513 e 1517, 2065 e 2068, 3799 e 3805, 5192 e ~204
esrécie de auconom._.;.; ele oomtitui desde encão (e talvez cons1n1issc desde
etc. Pode-se q.1estionar .se 1:ão é t:.~e um mc:-fo dt: deixar ao red1am.c uma
muito ce:npo numa tradição oral) uma des1,a,s "formru; muito breves",
margem de liberdade na interpr.:taçii.o "ritmka" do texto - análogo
que foram submetidas a regras codificadas de abreYiatio e cuja existên-
s."ia é atestada de um exr:remo a outro da Eurá~ia.: .w que seria para um canior uma notação mus1cal u;ompjeta (como
Outra espécie: a que designa o próprio tcrmo rejrão em certa~ gê- o eram as n~umas), simples apoio de ::xccução q ur ;,enm:ía 1eahzações
neros ·'fL~os", elemento ao mesmo tempo estável e recorrente de um variadas. Os gnndes romances e:n prosa do sécu.o xm nfo são cle;pro-
t::cido tt:J:tual cujos outros elementos, c.ambi antes e não repelltiYos. cons- vidos de marcas des5a esl)(C1e e não é ouLra coisa a fórmuJa ittrati1,-a
tituem a acplificaçào. Ê assim no rondó e em ou1ras formas de cstru- · 'o conto diz'': o texto dá a paJaua a si mesmc, t e:;~t retrb .não cessa
turaABaá4 AbAB, em ~·ariações inumerá\'e-is - cstn.mra pro\'avdrncnte de reivindicar para a na~rativa a \lerdade do que se fez r>uvir e prova
L~ada, em ma origem, a um mm imento coreográfico. Ê, enfim - rer- a scnoridade de uma voz; fra~e :nuti. nos romances em ~•er5c, pc:;:que
cet.ra espéne -. num sentido muito diftrente daquele que ~e fala do re- o v:rso, por s. só, siinitica eS5a IOZ.
frão de emas canções de gesta arcaicas como a Chan.wn de Guillaume, Os fenõme:ios de recorrência são facilmente localizáveb, e sua in-
da qual s: pode razoavel:nente afirmar que preenchia. em ~forman- t07retação não coloca protlemas insolúveis. Entrean.10, na medida em
ce, u:na função de transição entre o relato falado e o canto. Por mu.ito que o objetivo geral da obra permanece uma açlo vocal mcn<J.s ou mlÚs
trn1po, a p:ática dos romancisw coruervou marca!J alteradt1s de tal uso: teatraJiz.ada, depreendemo.s um tiaco notá,,et. c:ue foí corrente em nn •
numero os venos-rcfrãos (ou reoc:~ições diversas que funcionam para ~os textos atê o século XIV e q~. mais tarde, ro muito lentamente se opa-
esse fim) dem.ircam os romance~ mais antigos. Ora. o c,emplo do ia: a existência de um come:iuirio que e~tá integrado no tato e do 1u1l
!Erode p:1r(1-'C indicar i\~o: o~ autores, folendo-o, dispõem ~eu texto tt'n• ~e pode .admitir que oi preencha (memo se por ,·e.uso upôcrn ficfü 10')
102 l'JJ
f
i:nira"el r~rl0rrnan~iaf. /\o ;:api•ulo precedente, l,dci d1s,() como '111 i.l ut· Gau11er ft'II ro , dr um h ·ro os r l('U)t'nlO~ tlt' 1,11a na111B.lna: ele o .Jj7
tcrvcnçâu de autor'', a propoii:o das canções d~ g<"~·a. \ta s o c;eu u50 explirnamente, em stte ;.,assagens. Mas as referências que faz a.i 5\l&e-
nm ~éculo~ xr1 e XIII é univer;aJ. Ainda sobre esse ponto. com a m- rem que ele 1orr.a c:r. r:lação a is.'>D alguma distãncia esse h11r·o, e~cr1to
pliação que comportarr. os efeito.; e5tilisticos de Gaurier d·Arras. É,rr,,~/e em latin~ (•.. 5JJ9), co:itirn uma ltistóriil (vv. 51~6. 6'181)} que diz algo
~ 1eprc-~ema1h·o. Gautier está p(lr toda a pane- em seu relato e. manif~~-
(\', 5126) ac;uele~. qize a J'éem (\'V. 5119, 6089), havendo espec;alista,; quC'
tamente, tende a fazer-se sentir. Dcstacam-ie. muito regularmente re-
formam um grupo socai determinadc (vv. (,()89, 61 T71 e cuJo tnmnu-
partidai., 99 intuvenç~s: uma em média para cada 65 •-ersos, a cada
nho nos garant,e a verdade (•"·· 6178, 6180). Mas Gaut:er não pa.ro.-:e
dois ou três minutos de audição! Sua função as diversifica: ob~ervação,
alinhar-s! êe .,.ez com esses pri,iJegiados do saber Certameme, ele ~em
d~ passagem, l respeito de uma personagem ou do episódio em curso;
acesso a es~e hro, e:e o /ez. (v. 6435); mas o q1e nos conta já residia
a:irmação de 5aber; citação ou referência; anúncio de acontecimentos
pM vir. Apenas dnco àc-ssas iin:rvc:nções têm a forr..a de uma frase ::-11 em sua memória: e-le nos pas% sua lembrança (v. 6435). Isso não é rei-
Lcceira pessoa e constituem breves apartes, dos quais o ruais comun- vindicar. na própria ·•·eracidade, uma ;ia~e para si mt.~rno, uma especi-
dente, vv. 3255'-61, inter ornpe um monólogo da heroína. Lm compen-
0 ficidade ligada a ess! d ~zer? Tal é a intenção pnmeiT3 do t.exto - s.ua
sacão, B5 intervenções se fazem na primeira pessoa do singular; nove, origem É alra,·és dessas. afirmações ambíguas, dessa~ denegações err:
rta rmmma p~soa áo plural, o que se pode interprdar tanio como um meias palavr~, <l~as ah.:soes Ja:emesque o t.eXW fhl.- ck ~i mesmo, cont.i.
su!:mhu :o de je quanto engJobando a comunidade do autor e dos dest:- sua própria poética, em operaçào no corpo de outra aanativa. Não é
naláriof do romance. Em dua, passagens, a imervençào se reduz a um agindo sobre as for.tes que e.te :1ltraria dessa o·J oaqt1ela man~ira seus
possessi"o: notre errrpereur. Em outras partes, 49 intervenções implicam múltiplos arquéti?,:15,, mas em meio a um fervilham.ento de discwsos.
cx:prcssameme o ;,úblico, recor~endo ao pronome vuu.;, aquí e ali, se- fora daquies arqueti;;:-os, É.-acfe é, cmr.o obra. lilera:menlc impensá-
gundo o costume dos joçais, apoiado num dos seigneurs ou, às vezes, vel: lugar ca con•,ergê□cia e da 1ra.nsformação dek~. atravês do, signos
substitui do por ek. :\{ai~ de um~ em cada três vezes, e autor usa uma que a mão traça, :ruma !embranÇit o;;icecada do miiagrc d.a \OZ •·iva.
fómulla que iustaoõ-e ao vous umje explicito (multo insistente, no uso Sub~iste uma eq :uvocidade. Ea provém da ~e•ór:,"R, qu~ impreg:r.a
do séc:ulo X!!): Je •Jos di. Esse enunciado recorre:nte sen·e para introdu· as formas ~e pensa:ne::it,:::, e dt sensibiLdade enee o~ lrLra dos, mas cuja
zir 011 reintrodLzi!' um episódio; e. no plano .:la glma, ele trn ri t.em.ii mt1uência difusa ma:::.a todo~ 05 a.rtcsã:i~ da lingu!lgem. Quanto a en.a,
da veracidade. O \Ígor d .. afirmação é tão mai:- significath•o queje vos a retórica joga com eia. faz dela uma aposra vilal, já que, de modo 1me-
di podefr1 hem tet pertencido ao d1,curso esten~otipado dos chs.rlatâes: d~ato, dela de-peuót" u Jestino social. Ora, rnesrn,J 1~Jtl.úda, em ~r;u nn-
e cJrandeiros de praça póbiica (ou a sua paródia tradicional): aparere prego correme, ao status de arte da escritura, ela cm:sen-.iria Tilai: ú •
não menos que JL vezes, em 165 jnhas, no t·onimem• pt.blicado e□
um traço d~ sua p::.m.eira \'Ocaç5o oratória. De Pier:-e Hélie a Pier:-e de
apêndice das Oeuvres de Rutebeuf.' e"TI que eJe próprio, no Di1 de l'her-
Blois, Alexandre de 1/iUe,:fa-u, C::mrad de Mure em ui tos outros. :ião fal-
bcrie, pasjchando css.e iexto ou outr::> semelhante, emprega (como um
tam autores que !em:·rem a im::iorW..ncia do cone do pc~rodo em áú-
traço dpico?i quatro ,.,ezes a fór:J1ula. Esta, no Eracle destaca comex-
tinctiones e suspenswnes, cujas- ~ariedad~s ele.s da~si ficai11. i A Poet,ia
tuabicntc o faw tk 4ue mais de ..un len;u de 1oda~ a .. intenençôes do
nova de Ge~f:rey of Yiruauf, por voha de 1210, teTmi:ia ::om 35 versos
au·.o· conrêm o verbo dir.e, ouuo ,·~rbo facticivo (taJ como vanter ou
fuin: cle-trije) ou, imersamente, oufr sobre a actio lque fr-rar.i preced:dos per 62 sobf'l" ;1 memona ►; t pc,uco.
F .t aatondade do relato o qu Gautíer pmende Íllndar soke essa mas essa brew pél.);).:lg::m não é aq.1i :re:ios carregada Jc: sentido Ela
ass1mrla po::ta ; • :;-.r, coloca no rr ;;-~mo plar, r l • a er,r- ;1_
pJlJ "'• L' uJa ')!c.'>t'lÇa !>t' reafirma ;,t'lll ..."'eM,ar. Demonatr:l-o um volteic
que. aqui ~ ali, rer.iete não d1retarntnte uo discu~o do amor. mas ac do ros10. ge~to e linguagem. fou·,ando a adequa~ão das ;onaltda:les vo•
conhecimento que de detém: je cu.',•, ai mien cuidl'er, re m 'ot vu ("eu ,ah e gt~tuiti~ il cojsa designada.:
creio··, "a meu ver"; '"parece-me"} e outro semelhantes. : verdade __m ~ fo,vtt..7 ad av11n.
1,.-1 c::;x,r audm,m, vo.i.· cast,goto modtsre,
~·ulr1...r ri g,sru-5 gem,110 ,·ondila s,1,~tJ'I'!
104 .ws
("que urnn WJ7. r: • ••
. . per1mamc11re Jng1da, r.m.:1ç:11ln "''I . .
10, ti JJ!a o< ouvido• 8 ir:i r a n mica e pelo ~es- do nssim, dcdar.uituar-sc no plano tio intcmp1m,1'1'11,llo l:!C possa como
praricantes da r.oc,ia ,es~s~~:~, cc lmotlo a ni.: tr, r a escut a"): , para
0.! o;eo toro fn•'ie I m Jos penhore~da ação que nele se estabelece e ~e anula.
"' • ... wl ,,, rt acionava se 21
no componam•nto J• um 1..1. • • to mais do gue
• " m i:-Qrttc· eln deti · O -
uma ane. para além .,,A p·
amm1:1.va. o discurso tod •
•
= .L-~ •
irua riropós1to ultimo de
,Jcm..-1.Jud1 ~ • . .
lmcnonzaCI , ela energias q11e transbordam do tcXto, etc Till'a.mc:ttu:
"'• U0Ue sua prunelm nn l ...:~
fixação no r>e11111rrunho aré ,,.. ,._ b erg n,.w. dtpo1s em sua ,1gna de modo C'\pilcito. Elas o trabalham com vistas a fazer dele urrm
. · · -u ~,11 rochu no
a mult1p,ic.açAo, no ltxlo de ~ d" 1e.sr.o e na voz. Donde epifania da '\'()2 •rh•a, a~ar dele e em aparente cor,trdJição com .eu
• pro.e m:enro.s llt rcp ·•· ,;tatus de e<,.;;ri111ra. Esta e seguramente a causa principal .la per,; stênda
mente cúmhinado, a múltiplos r.·
J[ •
rc:;cruaçilo espe-aal-
:fo que de ;eitura moduJaI!doe citos QJe crarr. mai~ de 11.•c:nação pública da tradição do, relatos em •,erso: oão apenas o veno :nstaura uma rel.t·
• · a ~oz e o ~eito - bl" h
tese a irnnia iogando c~rn . - ~ ' ,u m a.rido os contras- ção priviJegiarla ~om a voz: mas a estrofe Ligada pela rirr:a co1stituía
,· .... os uunos ver,ai, v· · d . .
mente a recitação, Assim tem fi ~ •· c.nan o s1gmficaci,·.a- uma uruda,::.e rir:ruca mais facilmente percepth·el pelo 0 1v do co que
1
......,
l1r~~1 mas eiic.azt:3 .,~~, d
os igu.rassuperlaL=• d ;d d
. ...,, esp. as esenucfo
. uma frase fmarno 1..t fortemente escan.dida) de prosa. A maim parte
· • 4 ~~ ~v po en: ser com nre d 'd
tle mímica ou de um st
ge o.
• .,. en I as se acompanhadas dos p.roced;ment.os estilístkos da poes.ia de língua v.ilgar :;,oderia !er tes-
A rctórma t fenôou:no .,_ ,,. o'-~,J EIa com•nda r1!l ·,. d tada dess.e ponto de \<ista. Os resultados parciais d~ tais análises. é ver-
, vct • • dade, ra.rarnente conven.:em. Fica uma propensão ge1al :;. explorar mah
ace as artes plás ticas: a dernons . :; . - , : o vt,s o discurso,
i5.ndo. ~ O cn.s.inamento mais ~~ç~o ~1.Sso fo1 feita a propósito de Bi- esses re::u.rsos de linguagem do .que outros: Il Schlieben-1.angc Sllbli-
. . reuuClOTLSta não pode re .... . 1
treJtos lurutcs da elr~"tt·o Su ,ngr- a aos es- nhou o papel desempenhado nisso pelo caráter duplo, oral ao r:,em,o
........... - apena~ !.illla da . " . .
~uc a ko:ia reladonada av,.... s cm~o Dêrteo; que aí d1stm- ·,emt)O qv.~ es.ctir...o, do texto m-eilie-.•aL, simultaneamente en ~ua cnmr,o•
. ......,.., e5sameme ao que de ·
!lteraturo. No ~écuro x,11 . . , . .. s1gnamos pefo termo ;ição (em gera! ditada) e em sua trammiss.ão vocal. Resultaria, inscrita
. , propago:i-se a 1d""ª d.. q ,, ••
lunção •vestir a linoua , h . - - u.e"' retonca !em por "1.0 próprio texto, "uma consciência muito elevada do que era a •··:>7. de-
-~ • Ornd a orn11el nud d
dessa época iardía, a retor~ca se in•e ra M ~ _esse corpo. .\ofa.s, antes
6
uma língua", corno diz R. D:ragonettí.
laHa, a po:ito de ofe:ecer á05 do~t:ogs t" fbuncwn~cnto de toda pa- As energi.a.5 em questão operam no cexLo - uperam o texto - se-
cam ·nh 1 o para uma refJe..-~o ·ob
- • re a 1. · a " em ::> ·,ecu lo IQIJ , o umco
I n.... •ao--= T. ,
• • gundo ,•ar;os eixos. O maLS tri,,.·iaJ (e menos decisivo) :oncerne às mani-
· e~a fu nção "ªIO • . .,. ~
ta ""' ac" su·s,,.,..,U y ... , • • • ,a,\'Cz e a se rnostre a,..l'L.
1 pu1açõf!'5. lexicais e sintáticas. No curso de séculos - e: :.c:m aterma;;:âo
. • i' • propno fato de que ·. if notá1;e] antes do fim do século x,, -, perpetua-se o uso e.e cécm::as ou
agorust,cos e conservadores dn verbo }: J .lSI ca os valores
logar, de a:gumcntar ... d .umar.o, 5ua ~--apaddade de dfa- proced:imentos dos qlla:is a etnologia nos mostra a uni'.re·swdade, au:
" e manter - os valores · · ·
dos a seu uso oral • A re•ón"....., . . . mais murnamenre Jjga. na poesia de ;-o·,os des:Pro,~do5 de escrita. Consüui.-se assim u-na alu-
., i.:.. vrsa • o:pi ~ d
eia do discu d " .rci rai,..;io os dados, à atnmdãn- são g]obaJ - taJ11ez até uma prova. Recentemente, F. Bar oferecia aJ-
rso, o qual ela p:etenâe as~c - ..
recorrendo assim prclim' . " gurar a gestao eficaz - guru exem:;,los &aquilo que e-le denominou ' 'o esüJo falado'' no La.rrce-
· ' ma.rm::-me, avs tlebates d ,~ · -
ru gue efa pro-..•oca esse efeito d . . a praça Pil\Jlica. E por 1 lot em prosa; mu1tos e5tudof>, desde Auerbach, evocam a propósito di.s.~o
mos hoje ã e.\crirura .mas. úe e co~urucação ..difenda" que atribui- a parataxe, associada a di,·ersas braquilogias que, wutas veies. ~ào in-
de toda L~at.raliza.ção ,_ d ~~,. provem de toda farrnaljzaç.ão - aliás, terpretá,..eis ::omo maICas de enunciação.~A narrati'11a (seja na can:;.:lo
o b serv11do em nosso:. tcx•os P ._.
ª ya.i<l~ra. Donde esse caráter f:::-cquemernente · de gesta. .s.e1a no fabliau. sei a em ::erto número de lais, ~l!j a em Ir uita~
' ut:.icos antigo~ · tanto til
trnção quamo a hf"Cqu·153 ~ - a su era cfe cons- narrações bLStoriográfü:as) tende assim a justap,or os clememos n.1m es-
y~ ornamenta! sao ,Ji qu , .
começo do que na scquêncfa d,. obra . ~e se~pre m.atore.~ no paço de duas d:imea.sõe'S, sem subordiná-los. O enu.1ciado r,.:corta o di(.
dos ce retórica fazem d' . A_s artes d1c1and1 e onros trata- curso em afirmações bmes, u~nde a eotrecruzã-lo de exclanaç5es, e"<·
isso uma regra d1ssen d d - pressões imperad~·ru, em serie:S rumulativas descontínuas; no limite, o,
ststtrtt~ e Lfnaillad.a ~ob~ d. ' an o e m.u:cua mais in-
"· 0 exor, mm do que sob
e .sua conclusão Não é 'fi . re o corpo do ro:to verbos se eclipia..lll, não rui mais frases, mas um de~file ele elementos
r.m icar lllma slloacão de ·~ ~ ...
de L :na ""'rforir. . r,.to, '"ª perspecti•.-a nl)minius hbcrad0-5. O vocabulário 1por vezes, as próprias mob 9r4Jm-
..,. .aru:e, o que ma:s rnport11 ã .
inicial, isolando do fhu:o aa.s men,;• °
. _ n e JU5t_.ameme esse sim1l
agen.s ~omun~ aqu,Jc que, :omc:çan-
maricau.x) p.arcx:e crac.aclo. rrelativamenle ao que pôde ser o uso corrente
(c u o que tc:m::munha a pr~a documental do século :-<Ili), de nmneiru
106
zrr
i<)JnJ),ira,d por re~t nc-ão ~ conden,ação. a r,onro Jc= 1111.. ita~ \C-lC'.\ c,b•- f
1 rocieru;l, .JLJ,Hldti o rc aio e- ::ompus1c• tm v~r~os, pois e,1e~, ror sJ1a re•
curcccr CI scn11do. 1[) As~1:11. há - sah·o cm cenos trcu,•~rrs e Af,mrl!St:n , ct1tn 1Ja,k. tentem a e:i.barcr a pro1und1jade rcmpoml.
ge, _ certa vulgaridad~ de tom; atribuo muito precisamente o isso 1 Outro índice., em 4uc concoTrcm ,ini:1,:c e ruôrica. o numero de
im:xiuénc1a, em ,1crnáculo, de um "estilo no!:m~" 1al oorno o que O li• 11111:r miaç;>e.s, ex:lam2ções, apóstrofes. muito elt'\-ado, em toda lfngllil,
tini clnssiciz:antc de algum poetas ~ucfüos.conhecia então... e que o fran- ros gc,eros "líricos", mas quase tão importante nos outros. Ora. no
ds iria fatrkar para ;i a partir do século :11."VJ! Dond~ uma e~«ie de: lrancb, an:1i!O e.,~as fe1;ões eram marcadaíi mcno1 pda torma da rrase
saborosa tamiüaridac~ - na escolha de palavras e no arranjo de Frase o:> que pela en,onacão... a ponto de, ãs ,ezcs, serem para nó~ dificil·
_ q1..e, certa.merre, é d.:.fícil de apreciar e que não se poderfa e;-J~i;- ce- rr.cntc recupcrán:is. Uma leitura em \'OZ alta, mesm.o pouco expressiva,
rno critérir., contrihwndo, no entanto, para a irnpre.isào 6eraJ de :on- sem dti\ida faria aparec~r mu.tomais do que o tndíca a por.cu.ação dos
vena;ão ou de conf :lência. A natureza profunda 1es.ia Jíniua ,·ai ediroro modernos. Os ...,oe:as de então ex biam um cuidado c:>m a p!i•
rnani:esta:·:.t' genialmente, ao fun de uma longa histórn,., nos primerro5 lavra. elemc.-nto alógem> na nam1.:;ào. Que é po~sivel ir.co,porar ao cs·
1h ru-'> u.c: Rabcla:5. n~sa :lcx.ibil:dadc, essa maleabilidade fcbegando mui- .:nto por figura mi.met ..:a. -epres::::tando-:> aí, mas que não se podt' aí
tas ,,ezes at ,jesarn• nã.c ;xxiern ser dissociad~ da surpreendemt capa- integrar ven:il:ldeiramen·e, cm com~:iüêm:ía ce .,.ma irredutib:lidade fua-
cidade de absorção lk : qt,e cada um de nossos textos 110, dá i:rova, em dunental: a da própria materialidade da voz. Donde um e::eito pluriló·
rclaçjo a tccos o; outr::is - incertextualidade c;ue merg:ilha sua~ rme.s i;i.:o, especialmente per c•p•·~·e nc. prosa. em <:n~ o c;:çtema M ligad!I:'as
110 rn:Tipor'.amento ..e:niolico de uma mciedade ainda ~ e :nteirameme entre relato e di.~. u:rso aparece. no conjunto. rnai s ret·n.ado e complexo
votada. às rmcas voca:· ,, nutrida pelas redes emaranhacas de ~eus pró- de que e:n ,·,.no. As form3s poética; tradicio:1~lmenre danor.nn.a · d a.< "lí-
pnm Jis.cur;os. O que se costuma abusi,amente descre\er co-no influên- ncas'' fancbnaltz.arn. de :naneira radical, o :ii,sçur!;O di:eto: a ma.Dr JXrr',C
cia. i.ité im~t.ir;ãoou cópia.. remete ao uso \1''º que, no romance de ca\·a- das pe::as qt~e J:>. Bec reagrupa sob a denominação "pop:i.lariumtes''
ari;;., mi~Lra cenas defab!,aw; com a ~aJ~ção lírica da morafüação. coTlpo:ta. depois de uma breve ntrodução narrativa, rr.onólogo (assim
1111 m (arro5sel de iro:àa, de par::>dia, de sugestões míst.cas cu Jicencó- e, m ui10 fregucm~rnentc, na d1anso11 de ro1!e, ou diálogo (a maioria da~
;a\, de redurllcaçõe~ com dupl:> sentido. frnprovrsadai no fio da \'::>l. pa., ww-riles); o mesmo 1w.1tece. llêi Alema:-iha, com os Frauerzlieder.
Ê as,im :::o·r essa'i numerosa~ pé:ssagens, por vez;s muito bn•·,es. e:n to- No "gn.111.k ,am, cortês", a canso in ..ira. :le signo .1e, é rnor.vlugu e
dos ns conLc>.'tos, na~ qeai, se re:::onhece esre ou aquele segmento esi ru- Dbtérn de~sa :icção o seu <:.entido. A.=i canções. de gesta r-Ja:s antig:.is. cmer-
iu ·ai cu Ji~üiscitamcn -~ ltpico, provenien•~ menos de um conto idcmi- tindo a;ada, wlYe2, :mm unive-so quase ccl.ilmente e:u-egce aos ;,ode-
fi..:ável do que do v:ist::> discurw narrafr>'o. reg.ilado por uma Ion 2a .e, ca palavra vha. fazem s·Jrg1r da na:'.Tação o discurso b,·Jta; e qua.~c
:rad•,,.ão de oralidade da '.:!,lm ! os cnnto-s com:•.i~u.em a5 maniú:~taçCK:~ -:::m- nu; ele :etur.i':,a. ,Hi:ie:e curro discurso. e es.se~ :hoques re~oam verso
creta,. ~uce,n:as ou .~ir.dtãne~.• mas semp:-e instáveis: zrm"dilhas de cont:-a verso. fr~ro de-uma ,,;oJen:1a, a pahv;-a, como a Espada, corta,
çnndu·a ou J:! linguagem, tro.;as divertidas ou ternas, trn~o~ Loçanres, lança sua clarniade sobr: o mundo e depoi, recai. O mais tnlevado tre-
exprt,:;õe~ edificante:-;, co:r icidade temperada por uma p eguit·e c;ue J re cho do R,1JaNI. e l ' mai; s1~mfic.auo. é, sem dúvida. a passag~m das
ocJl'.a O ,::d;>r.. He::ma do trasico, q·.1e é próprio a c:.crimra. la1sse.s 170 a 172 :lo manu~;r to de Ox·ord ifi,gêlrando :arnbétr no., de
o segurco e1:,,.o con:crne especialmente ao mo dos te:npcs ,":roai., Veneza -+, Pam, Ca:nbridge e L~•or., bem rnmo n.;o,; .id.3.ptações alemã
e aos )gos 1..L rrl:s.•m,mento ou ::!e pc~spe1...í•,a qu~ ele prrmitc. Graças " r.cr1Jegu~sa'. i: o monóbgo que Roland. a:> moirer, dir ge a Duranc.lal,
a es•c5 desJ::x:3mentos, a c:..,_,es de,compa.ssos. por \·ezes a es.,as conira- espada L' paln ra .:onfundida, ne,sa última ,,erdade de, he~ói.
éi çõ-es aparcílle~. teC-C•St indis~olu\'elmente à na:r-JWã ,eu comenrárfo B. \1 )d rc,~alra a 1ntlu~ncia cue essa ct:unomía mtual pó<le exer-
temporal. em;uanta a rec_-,rrênc:a do presente inscre\e oo :Je~envoJv1• cer sobre a comc1é-cia qut- t'I holl";m ondenrnl •nma\'a do cr~ccimcnlO
mento textual a pcrmanc-n,1a de- uma paJa~·ra-tem.·munh1 .:. Rychné'r das rro~a• ,o:iai\ e do mm imento, então nc_wo. do!! bens. Cercnrncnle,
demonstrou :~se tuucionimemo no Rer.art; :.1 L. OJ!Jer, nas narraçõc-s mas ideias~ n~i::e~sidnde; no~m e o:pnmem pela refrrenCLa ao \'tvida
de Chrétíen de Troyes. 1 P>:,o uso - aparentemente pouco coerente _ t - a:,zut, pela cx:pcriêncu1 úa voz. com,-a e desalienadora. 1
a época cm
do 1r~cme nc relato rlt-1- mantida~ a in~lncia da rnu ... 9 que- R-"' stifm o g!n 1 • romu,1e .:;o, rar võlt.1 da flui 3 ~ulõ • ,
..:nça ,..irra, e a ,ontm .. c: ..dc da ,01; e esse eteno parece d Inda m..,~ a pala,ra ccu;,a a, dé' 1med1ato, um lugor .;entrai saoNe do 1rnportfln-
108
I
y
ela que. i.lt:sdc u t!nt,,•~·, I 01 11wn o, mon61ogos, "interiores'' ou nl'io, o.s •111mcnte, cm diLllogo, J\cumulondo ~~~~ pr<ictdimentos, G."lutler tem-
,im como, na maioria do• a.11ore,. üS d álmios. Ora, a finalidade ~ser- pera o que o puro monólogo pode 1er de estático: intr0d u ,o <liscur o
etal está rao prnfundam:ntr entranha<la 110 t~to que. numa leitura. urn elemento q11use p,olifôntco e virtu..ilnente ge;rnal; à, ,01: do mono-
ilcnciosa, n.umerosas passalilcns des~e dhcurso só são facilmente rom- lo-gante responde uma conrra,..oz, re',elardo a presença de outro corpo.
~ s gnç 11d d ~- É com D.a mc!!Dl8;4'mma ~ é -dois rnce::loc::uwrc:1:1;:w
nólogm que um falante reporta no cur~o de seu próprio monólogo co- 1e- trocam a5 palavras, mas entre orn individuo e uma multidão, Cllja
mo palavras de urr :ertt:ro: somente urn jogo- de aspis permtte ao leitor í:1:er-.·enção nos é relatada como unânune e, :,or as.s.m1 d1ur, coral:
reencontrar-~c>- "los <liálo~c,;, a passae:em de 1Jm interlocutor a outro, Antiga:nente, O Jodogne sugeria, a propnsrn de Ênea,, que a tec-
às vezes marcada por umJ. apóstrofe, a:niudc so é ir,d1cada visualmen- mca do monólogo. especialmente o tntenor, com,agra -;o ~nt.do \li a
te, ;--m um tra,,.essào, na ~d.ção: o Tnsran; de Eilhan -:onca com u:r~ ;as.sagem de uma estética do contacor d~ historü!> tratlic:o:1al à do rc-
dezena dele!>, :otal.2ando ce·ct de- trezentos ·;ersos. Os d,álogos inte::-io- ::r..ar,dsta. Porconca disso, o u5o - aua.s, :refin:ido - feirn de•se proce-
n~ do Erode i::narn incoerentes ;em esses t:-uques t:pog:-á.ficos. O que dimento novo em lingua vulgar implicaria, em muitos auw~es .una ','OD-
significa i~~o senão que. na pr6p:ia intencâo dos autores, o texto e.nge tad.e d-e integrá-lo no procedimento mai, antigo, de suborc:iná-lo a und
=a gloo:a voca.J-tonal, mh1ic-a c-u gestual? Mesmo quando o d.iálo--;;c :oacei;içào de arte que foi a dos canto::-e> de g~la e que permanecia a
é: .raiado de a?óstrofes, o que c:as ::azem é ::m1fümar esse caráter teatra- ::los re::itadores defabhaux. Este OL aquele autor tira efeitos mais forte-
lizando o dr.-: manei-a exi;lici't.a. mer.te contrastantes dos mesmos instrumento~ lingüísticos e retóricos.
No Éracle, o número. a divisão, a própria estrutura dos discur:;os nu.ma instância mrus urgence. Globalmente, a siti.:aç.ão ea "llesma . .?ro-
cii1c~o9 concom~m para urna .fatorização nfü:i apenas da voz, ma~ prin- cerli no Ctigér; (e~colliido entre m mmanc-es de Chrétien ;ior sua seme-
Ctpalmente e.los procedirnmtos que a oraldade do discurso p,ode ootl- a-.an,;a aproximativa com o Émcle) a um .ei.'a.m.amento dos discursos di-
ta1• .;. narrativa COl'ltém 41 diáJogos e .:l rnonó.ogos, de todas as e:xtec,- recos, segundo os critérios usados en: meu estudo de Gautier. O número
,õe:5. Eles recobrem ba.sta,.·ue regul~mente o meto: a mais longa passagem total desses dfacmsos é, notavelmente, o mesmo: 98. \1as o número dt
que não tem r.enhurn comporta m:m.J.S tle l1=ntos versos. No tota:i. os verso.; que ocupam d.i.fere em cerca :::k um terço: para 2995 verso, de
monólogos preenchem IJ~c do tm:>; CIS di.ilogos, 32% - cifras el,o- discu:so (sobre 6570) no tracle, o Ciigés apresenta ape:ias 2028 (sobre
qüentes. Não apenas quase metade do t.e.'(to (4H'e) é ··falada", maS1a.rn-
oérn ele é s.obrerudo iialo~ado e, portanto, teairalizado: 32% de sua~-
j 66641, ou seja: em monólogos, :6% d[> romance; mi diálu~l's, 14%. Ade-
m.ais, o C/igés conta oom 72 monólogos. para 26 diálogos, ou, em mé-
rensâo textual repttseotam b~tante mais em duração, e isso acome:::e dia. 2, 75 monólogos por dialogo; no Éracle, essa proporçao não passa
por causa da mu1tiplicaçâo de paus~. roem.o breve~, que resultam da cte 1,25. E, ainda, os diálogos. do C'igés comportam mertot 'eplkas, 85
troca de falantes. Oi diákgos contêm 2-40 rér,l1cas: c,s mais compJexos m.0 totaJ, pouoo mais de um telço do gue se observa no Érade Quamo
con.tam respectiva.mente com 31, dezoito, doze. onze e dez; os omrm, as du:a;õe.s respectivas desses clois tipos de discurso, elas leftt::nunham
com dois a nove. Donde cm. mO\'it:'Jento constante, que por vezes se pre- no É.fUcie um.ai tendência tritida - ausente no Cligés - para a e.-.:pan-
<.-ipiia, à mecfjd13 q_ue as réplicas se contrae:n r~spond~ndo-se taco a ta- são de diálogos e a concentração de monólogos. Interpreto cerno uma
co. a intervalo.1 de um, deis, t.rês veTsos. O conjumo dialogado se e.rL- nuance $ffl'lelh.ante a ausência :iuase completa, no Érade, de discursos
contra assun :i marrado ao ritmo acelerado d.o relato. O efe'ito é re-.·etado 1 ind:i:-etos , que, ao contrário, são freq'.ren tes em Cluéticn. Gautier apa-
:-e □tememe se recusa, em narração, a es~e tipo de di5curso, como .ie ele
pelo modo de prendtr-sc à :1arraÔ'-a: com algumas e;,;ceções, um dit-i,1, 1
fair-r!. introduz as p.alavr1H do primei:o in:erlocutor: as cios outros se- abafas.;e a voz.
·guem sem omras m..rca<, ienE-o os travessiié~ postos pelo editor. Gao-
tier, aliás, esforçs-se para atcra:ar a oposição oratória e dramática que
existe ent:re disClffim dialoiadm e monologado). Chega a LLnir, por me<:• lSlmno eL,:o em que se opera o im~ntlso das energias secreta, do 1e.xto:
de uma br~c trarisição narrativll, doi., monólogo, num dialogo de fato; o ei'o;O que -eu uiria "temât1co'', no senlido em que .e fala do ftma de
ou um monólogo com o diáJ03:o que o segue; OLI, ainda, dar a um l(}n- uma çropo~icão. Um rnot[vo refere:ite à palavra, ao som ou ao efeito
go monóloso uma cuna rtplica tcimi11al que o transforma, rctrospect.i- da ,·02, ao poder do ..-c:rbo pronunciado, intro:luz ~te: man1lm-se no
.211
lcL·1d,1 ll."':tu;:d. DlmJe, no p!a110 lc-x1 ·ai ' .
1 1 " • a ,requen1..·1a r ,
,n rJ ' '-l ut: ~e: rc:krL·m (nor ~la
' l. J.J . m mul10s IC\IL'S
I ' " ~ IIIC:)11111!, l' quaJ-
lt':XIDI a ·,oz qva; sobretudo •érbo Quer que sc1a o ~'On- !sado~, 1.JnWJJs1 :ia I turgta Ja~ ;,rinL.pa1, ÍCSl.l!> de cJlemlârio l!clesid,-
~. os qu:us por I ez ~ a.
cum tal Jensidade que m1ç.am aí uma d • es re1.ourem o 1~10 11co. A meJ10 pra lo, !11T~1u dai um te-atrn prormamcnte t1110. 1'..n 1:1..t.· l c-r-
__, • re e semrrn que dá 10 qu.: a ,ituaçã~ mt.'cicval não 5-f prende, ou não se prende din:tamemc,
rvuo os m.tros ere,10~ de ~ignificaç.ão. O relato se . nuances em
Je paJavras., em mero apalavrai a~•um1·da d. consr11u1 sobre o fundo ã~ ·radiçõe~ a:irigas: passado~ o~ -fr.llo.s v e v1, apenas wbn:\ivem <lo
'd . ~~ ~ no l5C:Urs
ri rco, da narrador: dire ou seus .sub~, t o, proclamado ve- reatrc, romano cenas degradadas. .!im;,Jificadas em ritos populares, e a
~- _ r - · . . • 1 UI0S COnS1it • d prática de rnirnc... lor.ginqi:o~ precurwres dos jograis. Fot :i. jogos de~sc
,.oe-, ,a~dl ,:as (forre come, foi"' dev,se)· ,-,. ' . . º.1!1 o talvez IOl':IJ.
n;1m •
.:<•
"' • I .
.:.o r ~-a. o a gum drs.:ur,o direto mu
• ""º5 os d1t-11 ou r·1 dli que li- t1pt, 1.ue )C ,.kmno.ram, sem dcv;d:::., muitos textos iote;pre1à,•eis apena~
. . . naç \-cze, sub·( .d enquanto réplicas alternadas: oRl;mocassinese, da Itábao.·mraJ, no sê-
ou rt?f)(J1;are. A!é ai. nad;; de ;urpreendence \f- ·' 111:1 o~ 'f)O-: )air?
mt·n1,l u·,. ( E'
• •.i . 10 racle, parc1 v-,lcar a ele) -
·' as a narra·ão Ir P-• Opria-
• culll :.:1 (L,u xtl''I:►, até m~~m-::, e ilusrre Rosa frf!sca aule.111isrima :uríbuí-
own:ncia, de verba dicerld1, das Quai~ ~~~ daprde~e!lla ,menoç que US do a Cie[o c:::-'\1:a.mo; ou. íla F;ança. poemas üolentamen1e polêmico.,
.
d0 rei;1c1, a;inge-1e o número 1o!al de cer;~ d ..
·" e J,'"(!· 'o- 6,,o
' ' • · •,•ersos como o Pri1•:i'f:gr- uu_~ Drào.-.s, por 1.-olca de 12"4. e a Paix aux .4 m!fo,s,
• • ca e1rezenios•·erb d de 12J4, em cuJa téc1ica na:fa os distingue de te:xcos em que, à m~~ma
iema1111;:a, ans quais ;;e acres::~m ai - . . . os ess.a classt
d. gum -,ub~tamr•·o- ~ époL:t, o manu.;;rno faz o ,mm~ do lc,,uto:- precede: caéa g-upo deve:--
rn . • _.._,,rm ... ~ ic;,o resrirndcrn de7eoa~ ci • ~ -Orno cha.ri.sor..
1rn 1e,.• ",c-,\.a . o bra a de·TV>it • d - - ~ º"'"
. ou "':-.pr . - C(.Jun·--
•· c.,~oes ~os: e a~,im cm Le ea"ÇOl'l e,·,' 'a,·e-ug/e, considerado o ances.traJ das ··fa:-
. . . ' . ,.,,~. ,, t :!>Ua aparenc1a soberb - o;
d,1. q11. ,•111mno aqu, por e,c·::,,nlar r - d arnenre 1;0.ntrofa- sas'' :fo século xv. Ho_1e. nao h~ilJ t:111 Litar aqui a maioria do, te\tn~
- • ,. . ai\ osagens n;:; 0 d . que, nurn livro escrito em 1952, ~-1 definia como "mo::iólogm' •. u
senao uma nostalgia um apelo um ,, d "" po cm srgnffi:::a·
. . - .' . e1an o ser rumo . A pan:r c:o século Xi,, e5-Sa :raé.ição ~eio ao encontro Je 01111a, qur
z1.:c, 1:man.;ç;io de ,..,da, pro•.i ca verdad d , a todas essas \O-
c.J \1'l e e nosso5 -01 ,,, • • tmha origeTl dt·erente, mas C'Jjo.; pode; e efe.1tos cr~::eram continua-
o. i agre. aval do prazer; ur:1a vontade d ,. • ,...e.,, tme::-;,:-e.:e
d0 e ,azer-se dizer mente ate cerca de 15()(): a da d:spuuwo escolar, pelt:ja oratório impro-..•i-
~.:- c :::-c~-::, uma inrimaçàc. Por isso
5 r'fi ., . mesmo quan-
O .t.,;, ,n,e t:.\Jge ser n,,b•d
• . , · ..•
corro ul.s<.:ur,o do que com J tc~to _ ... ~rce I o ma.is ,ada sob,e 1m tema faoo. É ao modelo da dispuratio que n.··ne'.em não
e • " • l COmO mensagm-e . • apenz.s todos l•~ poemas !auoos. corno a cmcês Alte.rcat/opllyflit..'IS t:rflo-
s. ~ ert:nc:e :.aptar sua exis1êllcia textual, não se • m-sn uaçaa. Se
,;e a PL'rCl"J'IC.ào e à análise de rua exis•.:.n,..1·a d~ode ~aze-k> sem prende~- rae, o '·Condlí,1 de Rcmiremo::11·• ou a moralíssima Disputa do coração
. •~ ~ 2scur~, •·a D · e do olho, de- óancder Phi.Ep;>e de Gre,e, mas t.ambem o superabt:.n•
pn:ne1ra ldll.ra. a impressão ce ouvir - ' · ai, em nossa
- :· um narrador. De - ..
se .(ln inna; ela requer mterpreracào. pors .:t impre:s.sào dante gê11em francês do · ':iebate", ainda e~ pleno v1gor por ~·.::,lta de 1;so.
[~sas re11dénc1as se mscr:1,'efll profu d e se U5 equivale:1tes em out::-os lugares - gênero de que a Ale-manha pro-
- . n ame:ite nas 5-.. d dut.1ra. desde \400, e fruto mais ;;..abo~oso, Der Ackerm.an,r undder l'bd
ç:o~~ (JUI.'. Jc1:.:rminarn uma e•t't1···a e o· - ~:-un as imen-
. . · - " ~ gosto~ aos · (''O l:lv;ador e a mo-te") e.e Johanr.es ,·on Tepl. TaJyez ess: me,mo mo-
Prc•.a drssüsao o mi:nero - =nti"L11d d quais ela responde
. . , " -· "' a e e a popula:-i d d"' d • . dd:>, confirn,n:ido uma ;:i:-atica transm.it:da pelos tradutores de coletii-
p~x:L11:c~ d1a.Jogado5. que contribuem para dar ao e . a ~ os _senero~
d1e,,al o seu caráter "teatral" Ta on.1:.intc·d;'.>d1zerme- neas de com,::.s ::-rien.ais i;;coo o Rort,ance dos sete sábios), renha 10$p:•
- • na aurora de ::iosça_s , d' _
cas, a ,c:qu-:n:ia lati:ia de S:i,..,te Eu/afie no .• J " • ,ra içoes poêr1- rado ;:1 Ch,rn~c: e: a Bocca.:::~o. an:e;, de\ 1argarida de Nava:- :o. o quad:-0
t "rp•c•
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. •· . - uJ
.
. .nmo
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. um canto altcmad o.• ao 1mperauvo
· J'
secu. o · ' pod•·r·
e-o
- 'ª se-r rn-
..
ficcional de suas no"elas: re:1:a~ alternadamente e con::emadas por t:.ir:
d a pn:-:wm, ctilusula responde r;: lercei r nc111e ( emoe"} grupo dt interlocuLOrc:s. No :n:anto. pelos fins do sê:ulo , rt. a poesia
. · ' ra, uam sequar l a· car,tada adaplara a rna~ prop~ia..,, ne:e-,sidades a forma do c:cbar~: tenso
.,t"gurre. 1:1:1 melodia"): a c,m.=-1' ...anp'") . . me r·. iam i'··eu
• • ~ t • • mm1s,·robo su•'·
gara,,t1rêl ü a.:ompanhamento"J 5..~ es,a llnua . ..._ ~,d,:, . · vJrag1u,n t''eu e pJmmen ap.irecern c:m ,:icci!ini::o :oro a terceira r.e:raçào de trovadores
wr. a ~~que11da fran.:esa "êmea copiada a mten,:ão do al.,- e pas;arr lego ao fr1nd, ~.rens,:m, Jt'U pi.-r.r), ao alemão ( ltéchsel) e ..iO
., • no "'erso do t 1 1taJia lll 1C1m1rosro). O poem11 al~roa .i.~ estroies ou gnipOS de emofo
wd,i Jt' e,t·ur ira ntmh:a qua~e iiênt ex10 atino e do-
~ - - rc-a çena ela ramh. d .
1 ,ua :>. D. A~-allc, o poema, monoJogad J em wlogada. idêm cus enm: duas per~ona,gens, com caJa uma defendend,) sua causa
o pe o mesmo canto1 r1;..:~ ou ~ontestando alguma oprn1ão. Aparentemente, c gênero exige 1ou, pe-
fl r.!IQC P•~sagt"ns • rurrumeittir.a
• """""õ.
=--..a ~de- e, ~tX
• --~e-se
a rnrr,,oi.cm. ern mu11u regiõe5 do lmpt :u1c >.:, tcmo~ lo mm~. ,mi.cre .a tn·mr o de doLS cantores ou dlSpUtantcs.
no caroling,o, de 1Iop0s d1alo- ~enhurn11 d~sas cti:.mcas laz k':lllldu entre tantw; '\O- füdJ , 11111
l/] b1en1:i. &e não r.o aspeçto pcrf..irma.IY.u11 - quando integrn 110 1e.xro pt
113
,., mc.-no~ 111~11ma~ um; cua11aaoes e~pecmca5 e:<1@1cla~ na realidade cur- 110ml, apnrem~mente o nu1~ cs1r:.mh,:1 a toJJ narração, não escapam ao
()0ml de urna perfonnance. A estrut urai;-.lo p0t¼ic:l re~111.a meno;; d-e que pareci: uma coac;ào p!rmanente tles~ cultura: o que constitui o crrnn-
pwcedimentos d! gramaticalização <li.) que de uma <.lramatizaçã<' do :lis- c1ado é a exposição indefinitlamenie re11erada tanto d: um dcseJo entre•
cwso. ,\. norma se uefir.e em termo~ mai., de drnma1urgia do que de lh- g.ue 1 ,cus fantasmas quanto de i.:m intelecto que oeQa a realídade des-
guistic.1. Sda desejá,·e: ree.ummar sob e..sa luz a totalidade dr n~so~ tes. A superfície t~tual, por vezes caotica, é sumariamente organizada
textt'-, sobretudo ag.ieles que iomamos, ..1elll prçgwÇQSlllllent~, ~ cm ,intldc de 1lffl esquema namm,'O latente. 'fisão, enconrro, procura
rcdu.úve:.s a sua escritura, porque não cantados. Engajei-.-ne nes~c n:- e expectar.ira, abandono ou rejeição, com cada um desses termos ser-
e.,.ame .=om o Ér.icle-, e :lesde então entabulei uma aprmtllléll.'.âo e.um o vmdo de referência mnen:ônio ex1ra1~ual a uma das propos1cões enun-
Triita,i de Hér,::>ul e com o de Gcmfried \'Or. Strassburg: em :oda a pane, dadas Esse es,:iue:na tanbem ~ustenr.i ex;:,liciuimente a l'ita no.a Je
r<:COlhan-~c: ~.o d1s.. ur~o o5 mc::smos 1m.h.. ~~ redundan:es de ma fun;.é.o Dame. A lmg.iagem ;,oe:ica compromet:da ::om ess:l.'l operaçõe, tende
••fati~a• - di11ressões prospectivas, retro~pemvas, JUStlfü:anva!>, e5ta- (com rariamente ao que muitas veles se Dens.a1 a tornar complt·,:as. ao
sc~ vmamemah. apóstrofes, questões retorica.s, passagem do ,/ ao je, e..'lttremo, em minúcia, as es:rnturas de djscun-0. Scholz, que a;ire!ndeu
de euxao 11:>us, uso de fôrmul:ls de apresentação como vqe.., icourez, 'oem esse traço, o atribui à nlluênça de :.ima e~critura letrada; mas to-
esquernaizaçJ.o ::ie~cnti,•a, enumeraçoes ... Dai uma tensãc a:cificial g::- do o mO\i mem:> que se esboça n;:. p0es1a earopéia depois do sêolo 1.,
aeral1?ada, permitindo i linguagem desviar-se urr pouco das ex:gências não lhe dá razão. Entre os anglo..caxões dos ~ttlos vm, tx, x, a poe-
da linea:-idade dos e-.entos. Ta:s cnuamentos de -egistros most:am, na sia (destinada à declamacão) .á se distingue da "prosa" por suas expe-
perspectiva da performance, um esforço pua produzir um C.'<~edente se- riência~ formaiJ e semântic:c, sintc.xcs com parâmc~ros múltiplos ou
mântico. para instaurar no sen!ido poético uma dh-ersmcacão supreen- construções aposifr.·as, compi>sições inesperadas, jogos de sinorJnúa.
:lcme. Esse jo;p verbal incessante C'C\'ela, no coração do t~ro. uma es- À mesma época, a poesir. árabe u,;a :orm~ também dabordâas e con-
pêcie de lui;ar vazio e neutro: aquele que o ator encarregado de fazer \'encionais. ,.e. No Ocidente. a poesia tscáldica da Islândia, a dos bardos
exfsfir e~sa obra vai animar e preencher. C~name,te, nem to:im os ta- do Pais de Gales, o rrobor clus occil.âmco repn:5entam notáveis casos
!05, depois do~ transfornadore5 anos de 1150-1200, prestam-se ~ão dire~- parckulares dessa tendênda. Um ou:rJ caso é a espécie de tecnicidade
rneme a essa anüise. :\'luitos resistem. Essa di1;ersidade se deve à forca peculia: ao estilo épico das cançc,e: de ges:a ou do Roma,rcero. Mas
fo maior ou menor inqacto, sobre os poetas letrados, das rnentalida- a tendência se manifesta t:Ullbém no; pretensos "desa.:os' nos buracos
1
1
de5 escriturai! então em expansão. Mas tal cliversidade nem sempre con- ou :,altos do enunciado: a complaid:c.de buscada co:1Siste emão, sem
segue esconder a identidade profunda de uma poética. defi.nida pelo du- dúvida, em conjugar enfaticamente o linguístico, o ~ocal e o gestual.
:>lo t:"aço que ~ta possLi (serüun necessários séculos para perdê-lo) ~m Donde, por cert:>, a "dificuldade'' das cru:ções de A."Daut Daniel, se-
conum com a poesia de transnissão oral, como ~e :;:,ode obsenar, ;.in- gundo sua Vida, as quais, por excesso de artificio, no .son leus ad enten-
da hoje,. em alguns lugares de nosso mund.:i: uma nünucio,;a complica- dre ni ad aprendi-e ("não são f.iceis nem de compreender nem de apren-
ção do t!cico tatual e. ao mesmo tempo, urr.a !\Oberana, qua,e licen- der,.)15 - pobre do jograJ que fosse encarregado de levar a l>om termo
cio.sa, l.badadc: uc confüiuaçâu r.Ju~ i.:unjunw:,_ ).1as também, como 100.as essa performance] Em outro regiscm, o perfeito domínio da ane narra-
as poesias de ::radição oral que nos e dado observar ao vivo. a po:sia tiva testemunhado pela mcLor parte é.os.fabfú:na implica uma proficiência
do~ sêculos medievais é fundamentalmente narrauva em todos os seus igual e um in1,estimento r.ada mer.or em todos os recursos do dizer. 16
ramos_ Os dois fatos me parecem ligados: a poesiG dessa época tem por Os ifüersos modelos poéticos em uso apresentam tal teçnicidade que pou-
:uni,:ão - ínsc1evendo-se, por seu próprio .artifício, contra a nature1a cos autore;,, (pelo que podemos julgar) seriam capazes :ie dominar mais
- unifaar a multiplicidade das aparências, que ma.nifesta a jnfinitu.d(: de um: Chrérien de Troyes ou Wol~ "'ºn E~henbach são acc;õcs.
de Deus. Some-nte a narrativa, ?Or sua corr.ple.tidé.de, por sua te:npo.ra- Toda poesia realça então, e ainda por muito tempo, aquilo que K. Er-
lidade, pelos e._gentes que implica e pela gJo;a que autoriza, otere:e crna üch chama "açio linguagistica" (spnzcJ,Ucher Handeln) ou ..ato lo'-il-
chance à linguagem: Da:1te, também nisso, ;nar-....a na Comédia una con- tório" (Sprechhandlung), ta.aro mais artiftci.almente formali2ado,, na
sumação, assim como, num gra•J menor, a s::ima ro:nan~ca do L&ncelot- prática de um grupo humano, quanto mais importam à sobmhfncia
Graal. A-:, próprias can;ões de fine amor, de discurso cirr:uJar, atem- da ooleti\;dade.n E o que ~ o comemnrio ao qual cu fazia alusão -
214 115
-.
1glosa que acompar.h:i a ·:oz 1:>0ét1:a e gera cor.tela nos~o tc.\LO - se--
~- n~,a relação, de prazer: o encontro esperado, ma~ impm·isi\·el, de
uma identidade! Mesmo que a idem.idade nc.nca e,éeja total.n:ente asse-
não a pur3 ~periên:.:1a -qLc se nmra a ri mesma - do ato cm questão'?
guiada; o uni,·erso ameaça a cada instart1e o prazer. O formafürro me-
d;eval tende -espontaneamente para alguma cbscuridade. Pelo meno,
\ a~sim pare~. a nossos olhos de leitores. Já mostrei, em outro ua:>alho,
Na ::,vi liz<1ç.io qm denominamo, n,editval, a pcesia (qual{luer q:ie
a frequ!n;;ia des!>e e.spessamcnto do tecido Eniuístico, des5a opa::ifica-
seja seu status tc'<!ual) amure as fu:1;ões que a voz preenche nas cul!u-
ç.ã.o da mensagem. nos !extos de tradição ora . 18 Toda ;:>oe.;ia m.balha
ras de ora1idade primária. Ic!~nt1dadc ricrável, mais do qu.e coinci.dên-
no he!erogénoo: visando à clareza, dc:1 po-de produz.ir o obscuo, e vict-
cia. Seria só um p:mco ro·,~do s1:m:ntar qJe, 110 Ocide;ue do~ !>éc'.llt1s
ver~a. O:a. parece (a despeito de O?iaiões ::orrentes) que o pr.mei:o dems
:,.;·1, ;i..111 e x1v, a poesia constitui um arcaísmo... pdo fato d-: emergi~,
itinerários é mais próprio da voz; e que o iegundo é mais próprio d<.1
na linguagem. no sentimer.m. na práll:.: ,ocal, de um ;,~~ado muno
e:-:ri1Ura. Tal foi o caso de nossa época antga; e-nos impos.jivel saber
a:--riga, com o qual os laços 11ào ~ãD mais ccncebn,eis em ~ennos de uso.
se i;;s.o era fruto de uma 1men;ão; pelo mencs, deu-se em ,,·irtu,:ie je um
Sem d1í-.ida. é por tiso que tal pc,esfa, :ias forrra~ QJe ela assim exibia,
sistema exp,essi·•o do qual se pode admitir que era uma re.0;1::a da voz.
cle-ttna\.i-,<.: a des.i71&recer wn dia, em benefício de uma llteratura mai~ realizada na :performance pelo emprego de 1.ma linguagem ,·1rmalmen-
ae acord" :-mr. o ::1,mdc ;,rcscn~e. "'OSSé!. 'iC)ha poesia - em maior ot. te m1ciática. reconhec1vel de 1medato ;;orno oriunda de u:::na uadição
mmor gra·.J seguido sua., pru-tc;, ma, sempre fandamenta.lmenc.e - é conhecida, e con.stantemente glosada pelo corpo. A forma '.em por fur-
ri,o: ,u.a função pri1r.ordia1 ~ oper, r un feitiço. capaz de :ornar p:-esen- ç-ão pii mei,a visar a esse efeito. Tecem-se fio; r.a trama do di.iClllS) qut,
Ie iiquilo que não o{.:, inseri1 essa auséri;,;ia num simbolismo não apena5 multiplicados. e:itrecruzado~, de.ser.ham ai u..11 hie:óglifo sernp:e incorr,-
evcc.ic.or ma• JiIUlll!m cr>ador d.:ourra coisa. Pma afac;rar-se desse r:- plero... e cu_io traçado só e, tom da voz, o ge~co. o cenário rematam na
tual, s6am ne~es~ários seculos: pelo-. ido, de 140(1, a poesia européia pe:formance.
ainda lhe -.era meio cativa. .'\o longo oesta história, não l~e~ça de exercer-se desse modo. por
O :-igor dessa concentração s:.ibre a~ ;·armas não c~sa de aurr.e,- inbativa de uma classe de escriba; as;,íra::ncs à hegemoma, !.lllla pm-
tà.r, na ,aior par~e dos gcnero~. em rrnh1 í.'. Europa. no curso do;, sécl.t- são que a obrigou a compatibiliz.ar-s.e com o ::,oder da \'07. Percebem-
los ., rr e :xn - a p;ópr é. éptXa ~m que a progressiva, mas irres1stivel, se, espe..."ialmente, os efeitos sob:-e as fo:mas da poesia de língua \1llgar,
difusão do escril:> anuncia e prepa.:-a para logo a ín,.·eaçãu, Oi:l unprema. em qut: o escrilo manteve durante ;éculo., e~tn1turas oi.:. p:ocedin.cntO!i
Compensação o:·e:-ecidl a -udc de 1oelho Ocider.te que ameaça ma:a:- tahez o::iginalmeme próprios de tradições J)Urlmente ora:s - causa de
a rova tecnohigia? Essa tecnolo~ia que, cum e ·.empo, cheg.ara ao p,:in- erro~ de imerprctação (e 1.k: polfauica,, sem fi:n) entre e:i:.d:i:os~ Aqui,
ro depô~ t·"ll que,táo e dcpulS ".)rivar d~ ;ua ekvada d,gnidade os or:ia- porém, t:ata-se menos de pura inércia do que de um fenômeno obser-
111ent0s com que se dcki~,'3 a poetica nldicionaJ, as fiormuas, as '►'O vado em outra parte pelos emológos: em ;;u'.Lura de oralidade rnüta, cs
ci1li..•cs... Jogo~ de voi ~-)r ce:"to ~1..,eitos a uma estratégja re:téual de indivíduos lêem - e concebem - os !excos a traves de llrna fonna ofe-
conj·Jnto {muitas \c:t.es artificioi-..:.), m21S com proliferaçõe) tão agraca- -e:ída pela tradiçao oral: m:erp:eum a es:ria.:-a 1enJ.u 0::::1. r.;:;iu: '1-alo-
•tis que ro1ra~cr.11; es.;;J (;;.tratégia ~ :::c,rdmida a:e o fim. Tod.a a ob:a res lgados à vez. Uma corrente d.; troca~ recíprocas circula do texto .:1.
de Bahrusanis ri::.~ nlOitra ate que pon:c o ornamental consmuia. na, sua glosa :nóvel e '1-ice-ve:sa: mas nenhum desses termos se rei"e:e sem-
::1.nc, f'>.,. , ~... da pcúI<J. t> t,m1am:ntc de t;xla "represe~·ação" O .ire ou e.xc]u5ivameme 1eja a voz, seja ao e!C:Íto. Isso é um fa:o, e dai
m::,mo :,e ud.'•'.:. nos gcnero::. :.ia po~1.... \la~ o orna'l1cn10 prooeáe de t.ma pro..,ern e, eqJ1'"0C0 que Ja ha um ,e.:i.lo pem.rba a reflexão a.e- mu.tu-;
conm11çâo retl: i::ia, rnnt·olacla, a'::>an:.an.lo oi ;uno\ e a s1maxc. O<!i mo- med1e·vah,1a~. Ü\ produ10~ do ,,erbo ~eti1.o mal ~e d1strnguem ,e QS 1ul-
d e o s1mbot:,._, <l manejo de imbolos icõmcos. Tui é a fonte dtua gamo:s estm•.amente, a partir de sua maniíestação "ora:·· ou ''bcr1ta";
c.omrl:x1da<lr 1•,mqui1a, cessa te:nic1dade eg ç, ln ~a d um.i UJJ~~par outro lado, eles COJlSutucm conf~ções bem dts.tín~s (por-
111.11to corporal ~a lmguag:m Pode-se fo ar C:c e,sr,/o a propruito d100? que 1mp11cam um verso! de -.atores 110brt eixo d1\'érgente., ;e r~la:iona-
~ir. dú, .da, •1111, c1Jm a condição Je ligar a esse lermo. para alem J11 mo~ t:,,el; •e1mm a uma finalidade, real11:hel só a prazo, mal fun:iado-
rJ do stau.~ deles. Nada I ustra r.1elhor e~e mt,do de fu:i..:1or.amemL,
1di:1a tle um;.1 regtilação q:.ialquu de palavras, a de relação com "real
217
do Qllt o duplo regimo d,)~ ~c:rnõe:; dr: iflernardo <.le Cl.tif"'kJll':, r,ro-
11u:iciec!o! e dcpoi, c.1crltos por um autor muito zelo~o cm aday r SC'U:s.
• a 1-tm d"'
moos 1,erentes 19 C::imo c.eclara, no (()meço do ~C1U o xm, Jac
1. que, d: \'.t:-y, no prólogo da .:olctânea de scui sermõe$, parte 1l ua-
tiva, comparaçÕi:s e exemp.'a, <lc- es textos s6 pooe ser verdadc1rnmmcr
11
despenam a atenção dos ouvintrs se vierem pela boca de tal pre ad,n•
e não de outro, p·onunciaco, ~'T. tal Ungua e não cm outra·•. :ia Nào ;e A PERFORAfA ,V CE
;icceria referir melhor a u:na performance.
A :.-.critura n:io tasca i::ara fixar o te.icto, e, a todo o 1n~cante., a c,o,...--a
do leitor se prepara para re:nanejá•lo ou ace refazê-lo. Donde :~to ..:rue.
d~sde muitos ano~. diversos emidos pretendem ter revelado: a i:i.r.u-êrr
c;a q.1e a1 formas de e.icpressâo o·aJ teriam tido sobre a escritu;a. \1a~
s~ria ;mferúeJ dizer que esses es:udos mostraram, em cransparencia., am.- O texto em s1u:r;ão· os "papeJS"'. O ou•;inre ciJmpiice. Pro-.·as Gr-
vé~ da superfície t'Scrita, a pemanência de lll1l modelo textual \'OCal - ~urisranciofr. O "teairo''.
o ~u~ H. R. Jauss já demon.<,trou a propósito do Roman de Re~a.rr ~
Para ouvir a ,02 que pronu.-,:.ou nossas textos, basta que nos si-
tuemos no lugar em que seu eco possa talve;: aioda v1:,rar: captar uma
performance, no insLame e na perspecth'a em que ela irr.pona, mai.; co-
mo é.çàO do que pele que ela pombilita comunicar. Trata-se de tenta:
perceber o texto concretamente reali1ado par ela, numa produção so-
nora: expressão e fala juntas, no bojo de uma situação ir-.msitória e !lillca.
A informação transmite-se assim num campo dêi:tic3 particular, jamais
exatamente reprodu1ivel,; segundo condições va.-üh--eis. dependendo do
número e da quaJ1d,dc d06 elernentos não lingüí,ticos em Jogo. De vin-
te anos para cá, os lingüistas repetem-nos que a munciação tende natu-
ral.mente a uJtrapas~r o fflunciadvr e o enunciado, a colocar-se. ela mes-
ma, em ~·idência. Poderíamos apro:timar performance de performorn,o,
no scnúdo que se dá a esse termo depois de Austin. Coloca-se, em p•in-
cip10, que a lingt1agerr. pcét1ca medie..,al comporta sempre um aspecto
perforrm1th u.
~ modalidades segundo as quais se manifesta esse aspecto não são
menos detenninada! hi.storicameme, portanto mó~eis no curso do tem-
po. ~l. Sbisà e P. Fabbri .embrav::m recentemente qi.:e d:ias series de re-
gras regem codo aro de- co:nuruca.ção: umas ~res5upostas (portamo, em
principio, universal!); oe~ras reguladas no quadro d~:.e ato. A mesma
linha de reflexão leva-me: a d.istingi..ir sobretudo trcs ~eries: regras pró-
prias a toda emergência. da linguagem em discurso; regras típicas de tal
procedimento discursivo. :nfim, rtgras particulare~ para cada ~itu.ação
~-i1,·ida. Donde a opo~iç:1o que muitas ~·ezes suge:i entre a superficie do
"tc:uo., poético medieval~ sua "·orma": es10 última ultrapa a a outra
2.i8 1.'9
por cafo ":.iuilo que ~obrc~ a1 d o op ro, do ~om, do gõ'O, da irut~u- l:ctuai:, que a e1tura J e obr;i, :-ontempurãneas: a visia e t.1mb<m 111úl)
mentação, :.lo dé<'or. Ê aisim que convêm c111e:ider, rcsr,ect ivnmenrc, O$ o qu e i~:> impl:ca - atit11des corporais tanto quanto proccJimen10~d~
termo~ obra e texto, que at! aqui distingu: com ctâ::lado. RClumo-lhe$ r::1Xpção e de combir.açio mnc:mônicM - . nos,;os- bábitu5 próprio:. à e
bmemcnLc a defi r.ição, em esúlo de dicionário: leitura.. até a forma e, talvez, o macio de nosso., assentoll! O que 1enho
- obra: o que t poctJ~mente comunicado, aqui e agora - texto. djantc du, olhos, impresso cu manuscrito,~ apenaJó um peda-;o do tem-
son::>r.-dades. ritr-.ios, clemen:os vüuai~: o te!'Tl1,-, compreer.dc a totalida- po, coagulado no espaça da pá.gina ou do livro. E::ifrer:to ai uma éificuJ-
de do1 fatom da performance; dade dupla. De um lailu, o afastamento proveniente da hisrorfri d.irle de
- 1e."tto: sequência ÜJ.il_lüístiCJ. ::iue tenJe a,J f!chamff,to. e tal que meus co;1ceitos crític~ e de seus pressupostos, pr:iJet.anco sobre um ob·
o sentido g)cbal não é redutível à soma dC1, ekitos de ,em·dos particu- jcro difennte minha propria idenfü.hiJe cultural. !)e ouc-o, mmha is.no-
.art'S produzidos por seus ~ucessivu~ 1:vmpoocotcs. rànc~ 1tn1ando-se de Wll t~t,> sobre o qual pcc;a o i:re;umir-se uma ora-
E, para precisar melbo;-, eu acrescemo: lidac.e) do r.1ock> de articU.:ação do auditt\•o sobrr o ·,i~·.ic.11.una civiF:raçã~
- poema: :J texto (e, se for o caso, a mdcciia) da obra, ,cm ::o::isi- de fo:te corni>:ância o~a1 ~omcme a pràn;,;a permite, se :110 reso:vcr, ao
deracãc aos ou·J(•S fator::s da performan::e. menos escla,ccer emplrkan:ente essas contradiçôes. Por cri:.z;ioie11 Lu de
O reno é legi\'el (felizmente pa:a nó~, medic,c.listas'); a olra foi f'eixes de iaformaçõ6, por deslocamen Lo de per-pectiv.i e de visada, a
ao mes:no tempo audive'. e visível. Ora, essa~ dhcrsa.s qualdades não partir de um ponto deY1~la intuitivamente ~h.id_,J, esforçar:n~nos para
são nem ~irnétr;ca~ nem mesmo, md~ somado, ccmpartveis. Do feno. sue~rir um acontecimento: o acon.tecimcmo-teJ; to; repP..5enlar o texto-
a ••oz em perfo--mance e>..1r~ a obra. Ela ~ subordina a ess! fim, fun- em-alo, in:egrar essa representação no prazer qi.:e se senter:a '.dtura. l\os-
cionaEi.a!ldo tcdos os elementos a;:iros a carrc$ar. arn::,liar, ;ndicar sua sos l.:!Xtos \CÓ nos oferecem uma fonna ,,azia, e s~ dGvijaprofüadamente
autoridade, sua ação, sua ..menção ;,e~~casr,a. l rn o p·op~io s :ê1cic al~erada, de que. em cutro célncexto sensório-moto;, foi pala\'ra '-iva. Das
que ela :,oliva e toma !iignificante. próp·fasmccãn1cas q1u bcjr no,; permitem omir certos textos mcdievaí~
O rucdlev::;füta fica rreso nuin cir;u]o ·.icioso. Ele registra com os (como o; disco5 com :anc?,es ele lro\'adores), pode-..e falar - qua]c_ue;
olhos aquilo que foi destinado a uma per:epçãc .;onjun'.a de, ou,id:.l que: ,•e: a sua qualidade p ró,:ia - q ua!>e n os me;mos tennos ce ao5sa.•
da vi~LJ::L, de próp~io toque - a uma ce1estes;a. A perfor:nance passada leitl.r!is. O ~orn trarurr.ilioo pelo disco aLenua bJStar:re o efeito da di,-
e~çap,a, nnmediavetmen1e, à ncs,a obscrvaçl.:>. Os ensinamentos que canda lt:iJlpo:;aJ e do abafon.~nto sensorial Enr~erant:1, ~le não passa :ie
se poden am e,,Juir, por '!l-nalogia, d~ t>.1:...,,fllm arua:&tenden a provr tlllsi.ode pn:sença; e, se pr:.li..edemos a uma exec:i;ào em salão, com can-
que a:,; modalidades da per::mna,:e reu;am prmcipalmcnte o c,tilo pt>s- tor e mtsicos, e sob:~ os :lcrnento., não t~.uai, da performar..ce q l i'~,,
soa.1 do mtcrprce ou Lrc:.dições ce esccb menos 011 ma· , dherge:::tes na con::ent·ani as equivocidaces: ~enr.ado~ em no~as cadeira., aquílo qu:
pránca de um mesmo gênero. E difícil afirmar mas Deveríamos, :ia esc•J,amos, mesmo com um "i"u pran:r, refere-se Qpena5 de modo an1fi-
in,erpretação deum texto ,.,anicular, levar cm conta um el~mtntc de sua cioso ao pas,alo rr.edieva 1. E:.se .:onceno .:oastin:i un.=. performan<.,,
MCJliêrtc,a, aind, que seja quase impos~·\·cl presumir a amplitude das at11~] Do ponto de \i!>la àe nu~c1 própria cu.lt\.:J'a, é urna vantagem; e
variai;:ões ~. rrai.5 amda, medi-laõ. Da pala..,ra ac esc:itc. ou vice-\ena, tal\ez scJa o meio rr:=-i, eficaz de m~uflar um pouco de ·ü :fa nesse, vtne-
hã •.i::aa descontinwdace. Com a voz que ~e e:gueu no pas,ado. passa- rávei~ monumento5 de lu, tó:-1a. O ~onhcd.1tQ.lt~ qu~ tcn:cb dc.cs se aprc,-
~e o que ocorre corn a p·opn a história: nau ~ po~~í,,,·cl ntgr.r he a e:x1,- fun~a .. mas, s~m dm·'da, de~gar=a·!>C no me:i:n::, momenL::t. Trata-~ ver-
êne1a. mas e.a não te:n modelo. Ela foi, ac ;-1e,n1c, •crnpc, t 1 .orre'lt' é', dc.deT,rnente de inverter (de ruancua não muito dis;u!fveJ) a w UL,::11,:ãu
~ \ alor. Como c-corren,;1a, ela nào ~e\e la usa un .i rcn e citphca~I e-r, qu~ita•ü•a :inte, operada pe'a oolo,a;;ão por c,u::o; cc la:1çar a;) m~
cronoloi?ia b~C\e. Como valor, ident·fira-,e lOnI a e.xrcne11c.a que te nos, ..arna prnvável pa~sarclJ .,obr~ astiescuntmu dadr~, éh ;iua1s atr1brn-
moii. ~ão podemos falar dela sem renunc1a as ,1mt-ohzaçik:1. itb:natas
0
mos m[),)nãnría err poder medires a impn:tânc,a; de terit.ar recon,truir
e s=umr:cmcltt!>.:'1t0't11U tod palavra pror-u i da con tita1. cnq:i nlo a ci:am t nna - não por simples a~urn ulai;ào erudita, ma.. colocando,
proc ulo vocal, um signo gloha e \JnlCO, 1!0 bol1do quanoo pa~ 1 a. una ituação panicular a qual não a;x-
A lei1ura j l'S es -velhos tcx tus a qual nos entregamos coloca cm nns t deiinl\ie] cm termos soc10-lu tori..:os serai!'., mas tamberr:. o m d1·,·1-
.ogu, bastante aproxm1adamenLe, as mcSilltn faculdades 1 f,icas e in1c- duah,.a, tan•o na ordemd:u r,crcep.;õe, corp;>rai~ quando na :la 1melecciio.
12()
. Remeto~ esses po, to~ nr,s ca;,itu ,,, t 11: e IJ tk meu burofiu,·-
t mn a a iJ,n·sre orei T.• •n O tc.,10 muitas \'e1e, mte11·a ti~ marcas lingüi,tic::is d,-~ <lia.logo
,-,; raJ ct· .
a .,...o ..~ car.1ente, n p:rforciar.c-e aparece como uma criador e tcs1emunha indL ·1,i n, ·n!e a intenção que ai p:-~ide. Já mos-
o -au 11.wa cornploa I J
. .. , i;e a Qua uma memagem poétu:a é sim 11l- trei rm duas retomadas as mtervcnçõe:s do autor e assinalei bre-.-cmente.
tanea1!1ette transrruc1c:: e percebida .
ri ( ·• . • aqw e agora. Locutor, dcstmata- a propósito do Éradt, o i11tercsse daqueles ,que comportam ou um vós,
: s), ~--unstãncas acham-se fisicarn~re,confn1~1"J11fos Jlldis':'.:Uú'l--c-i
ou um eu equivalente !'como uma .apóstrofe), ou uma seqüência eu vos...
per ~rmance. recona.'Tl-se os dois ei'tos de roda oornunkação social:
o Que reune o locmor 1 ,3 auror. e aque'e 5 .. •
Vou então falar da lntervenr/Jo d.· Jôg1ca. A fórmula tem mm energia
A trad•çàc- :-,.· . · · Owreo qua1 ~e unem situação ff1ticn quando apresenta um pedido. uma ordem ou um apelo à ação:
- . . • esse n;vcJ, c.lesem.:,enha-se ;,lenamer.te a função t.l.a limrua- por \'CZC5, ela se cristal,u na forma de um clichê: é o ca.5O d.e \'OS agro-
igerr que \,faJm~\\ski dcoomioou .. faL .. d ~
apm O d,. _ •...a ~ogo e aproxnna;-ão e de da",fa~i s1/incio 1, com 'l.W "-ariantes., como, po: C.'<empto, um pedido
~. • ,_ provocaçao do Outro. de .. .
.~ d . · pergunta, em s, mci:e:e:r.ce à produ- de dinheiro, Desde 1936, RJtb Crosby :hamava a atencào j)ara o mte-
ç.ao e w1 senudo Per isso qualq .
. · ' uer que SeJa o processo que a preceda, ress-c d~umental desses clichês, e, a d~peito das rescnções ainda recen-
ac~~panhe ou siga, e ern sua qualidade de ação •..-ocal que a per'°o'.!lllance temente expressas, não ~ pode deLur de lhe dar razão. Os exemplos
po.:nca reclama Iog3 a atenção d0 . . ··
- J-
m· .. .
1ssoc1aveis que · · cnuco. Se,Js oucros com-.nne:nres
r-
,..,.,r
, ,_,,_,
~ão numc:-oso:s em todas a5 lingu:u e nos gêneros poético~ roais diver-
. 5eJam, ttram dela seu \·aJar. A trans:ni.s.são de beca sos. P. Gallais e,,·idenciou-cs de modo sis:em.ático em mai.5 de trezentas
a ouvido opero O lo:to mas , O odO .
. • e t da pertonnance que conscitu.. 0 obr~ narrativas e didática~ fra.n~es.as dos; séculos x11 e xm. é ~sim que
locus emocional err que o tale vocali.z.ado "' . • a interpelação Sergneur:s! seguida de J.Dl \·erbo na segunda pessoa do
d s_ .orna arte e c:onde proce-
e e ~e mamem a tota idade das energias g:ie co□.sjtuem a obra viva plural figura, segundo c:c, em 40«"o das canções de gesta., :rn•r.n dos ro-
E~e e em Parte um /r- ,
'asmauca"
, •_ , d ,.,._w <;ua1·ttativo.· 7ona e-pec-atória da ' 'f, '"MO ~- ·
........,.. l ...r.-
mances. 25o/e das narrativas hagiográficas, zoo:r,, dos renos c!ldaticos e
', • segun o E. expressã:, de Gi1berr Du::-aoc::. :\fas ~ caml>ém um 140::-o dosfabhaux, entre 1120 e l'.!50; o apelo OJez} e ~u.as ·,ariasites, ,em
.h~gar concreto, topograficamente definrvel, -:::rn que a paJa,·ra desabrc,- 83f1o dos tei:tos examinados.: A aru.ologia de ~'lõlk. assinala 52 ocorrên-
c arte capta seu tempo fugaz ,& d 1 . cias de intenenções dia.logicas em 24 prólogos de canções de gcs:a; uma
. e iaz e e O ob:e-:o de um :onhecimewo
Esse obJeto confWlde- ~- . · · vintena em cerca de trinta exórdios romanescos. Examinei o Tristatt de
•. , . -, "' cem aqlll1o gue ela diz - .,;orn O qur.: ficri-
c1ameme ~e idenufica o intfrprete Uma ""'• ·oa - al Béroul, que me ofereceu 63, ou seJa, em média uma a catla setenta ver-
f. •d • ...--~ ex;,oe-se □as ;, avras
pro en as. nos ,·ersos (lllC l'lillta uma ''OL E sos! A proporção é ligeiramente menor em Eilh.an; um pouco maior nos
discurso ao u a .rece:>o, eu ad:t.ro a e~se
assún di~I mesmo tempo prC3ença e sabe:-. A obra perfcrmat:zada é Lais de ~fane de France: uma ia1er,eaçào a cada oitenta ,,ersos. Con-
ogo, mesno se no :nais das ,,ezes um . . art· . tos de origem oriental con:to os dos Se!e Sábios, declamações edifican-
" aJ . .. uruco p LCJJ)ante tem
d. P avra: diálogo s:m dominante nem dommado livre troca Allt' tes, todos os gêneros não cantados têm igualmente que ,,·er com isso.
j}Cn!e, Cha}1or viu na teoria medieval dos •·es:til~" (generr:r. dice~~:) Fiz uma série de pesquisas, em seções '5colhidas de mo~o aleatóno, nu-
~ c~~dlo d_e estabelecer e m6llter (em regime de oralidade segunda) as ma dezena de tex.tos franceses, occitãmcos., espanhóis e alemães: cio Saim
• ~:ru re açoes entre poeta t-t0 "bli , Lése, do s:éculn x ao Fauvef do século xrv, passando :por alguns fa-
· ' - e pu co. Desde que exceda alguns
mstarites, a comunicação O 1 - d bliaux, pelos ramos r, II e I \ ' do Renart, pela Chanson de la Croisade
. . . ra nao po e ser moc1.ólogo pu:o: ela requer
~peno~ente urn interlocuto~. mesmo se redu~do a um pape] silen- des A/bigeois, pelo Cid e pelo Herzog Ernst - acrescentando, a título
cioso. _Ei~ ~or que o verbo poético exige o •::alor do com.ato· e os dor1, de comparação, um levantam~nto de todas as lt1tervenções que balizam
de sxiab1hdade, a afetivifade cue ....~,l-a, o 1~•-r
.se es-fJ"'.lU d í, . o Tiisran de Thomas e o Poema de Ferri.ân Gonzâlez. Reoolhi 152 inter•
d • · .u..,, o e azer nr ou
e_ emoc10.car ~ até um certo pitoresco pe:$.S-0aJ foram parre de uma arre venções dialógicas, [gualmeme distribuídas ,mre os LeXtos-:estemunhas;
e 1Lrrr.aram maJ.S de uma repu:ação - não • . - 41 nós (com ou sem eu), referindo-se conju::.uroente ao intér-
homens d . . . :saoe:ssasas ,,utudes que tan~ prete e a !leu auditório;
a Ig_reJa dt:nunc1a.ra..,1 como vicio de hist:iôcs't :\las cambtm
porque o ouvinte-espectador , de aJgum rnod da • - _9 interpelações du tipo Senho~.' ou gente bo,1;
~ntememe R. W. Hannin "'• . - . o, co-autor obra: re- - 28 direcionamentos a ~ós;
; afirma"ª •s~o. com ruão,, a propósito tan:o - 2 fórmulas do tipo s1lblc:io!;
dos .romances franccses do s'" ,
~-u,o XIJ quanto doe: poemas de Chauc-~r. - 16 fórmulas do úpo ouvt'
1 223
!
Em Thomas, algumas des as in ICl"''C'J19Õ~ consti1urni um comentá- Na mamna das vez.~. a. inren·cr.ção i:1.:-tlrn a-~c ~ulnc i;m v:rbo que
rio do própno texlo pelo autor: u maii lllnga.s atingem cinquenta e 72 denota a audição, uwire, ouir, escc,u1er, hõren. de pl"l'fo!nc:a no imptra-
versos; destacam-se passagens semel:iar.1es cm Vvolftam von Eschen- tivo, às YeZes no condicional. Conhece-~e o suce,w em fnmcb da ?rimci-
bach.3 Tal conslância na prática de ·a..s intm·en~ões não pode ser d~s- ra dessas :ormulas, o Oya..' dos arautos e anuncia.dore;, já bem in:egrada
provida de signi ficac;ão. M. Scliolz -::o:iferiu um lugar central ao proble- aos cos:umes quando, no iCCUlo x11, o~ romancistas apropriam-se de-
ma que elas lhe trazem. Procurando, po:- principio, provar seu caráter la, (Xlfll a.lBwna r,rcferênc1a, é verdade. por escr:JrJler e ente:1dre (cm ak-
fictício, eles.e cei~a levar pelas á ~ de •m.a interpretação rn odernizan- mão, r,;ememen o~r.ie,,ke/11, mtnos u.ruvocame:i:e corporais coque 01úr
te que não faz: us~ça ao contexto hlstôn:::o. É verdade, como ele sugere, ou .'tóre11 . Por vezes, e, futuro substitu.i o mi;,erativo: Encere orres car.-
que eu design, um narrador intrate:x.w e constitui um dos "papéis" chor~.. ("Ireis ouvir ainda uma can;ão..."), assegura o cantor da Che-
do relato; tamoém é verê.ade que a llll.Íca qus:stão pertinente,. ness.e niveJ, m
vale.rie Ogiu, entoanc:.o no ·,. ll 158 do poema sug estrofe contra cs
é: "Quem narra?". Mas a questão da \iOcalidade coloca-se em outro ni- jograis inco::npetentes Menos for.eme:::ue demllt'ado, esse fl..lll..;ro na se-
vel, eXJgindo que se quebre o círculo :a im:ateirtualidade. 4 O relaciona- gunda p!:SSOa serve- eo alternância :!~m je d1rai OL conler.ii, refe:en-
mento simátic:> de um eu e de um i·ó.r t_cc;:no se este por ,..ezes não se res ao locutor - pua const= :uir as fórmula: ammciatórias que su.r,gem
manifesta le.1cicalmente) tra.nsiere o co:tJumo do discurso para o registro no fio da narra:ha; JiJu.>· emendr..":: bie." llét pnrle,..dP_ ("Lo1,1:o ouv·reis.
das trocas interpessoais. Além disso.. o que se sa.oe dm modos de comu- falar de. ."'). Os e.<en:;,los desse proçcc:imer.to são ãundanles, em to-
nicação predominantes ::,a .sociedade o::eé.ie-.·al não permite tomar como das as línguas e nos genaos narrativos mais compl:icos, a e o c;écuJo
puramente retórico esse efeito. Certam.-:nte., uma frase como a que sur- XIV: ainda em Go,,ver ou Boccaccio. Um i;,ous ave.. c,ui JX)de fazer-lhe
giu nos vv. 14-5 de Guigemar ("eu :r!io gue eles ficaram ai um mês intei- par, condui ndo nm e:ç:lsóc!io Um vocativo, inri.mando um aLCtitó:-io, re-
ro", nota o autor com a maior natura.Jidade'.), ou outra semelhante - for~ em geral a interpelação - mot:,c oonven-ente à intenção do te:<1o
citaríamos centenas debs -, integra-.;e oo sistema do tex~o e pode ser e às circunstãnc:as: Herkr1erll 1U me, gode merr,/ wiucs, moJlinrzs ar.d
analis.ada como tal; não deixa de re:e:,r-!-e a uma situação que permane- afie men t•· facutai•me, genk de ben, mu.lhercs, mo.,,as e vós to-:los"),
ce irrec!utfrel apenas ac, texto que ela abarca. apóia e ull:aipas.sa. Para
e.xcla.rna, cm compos1ção cu.muJa.liYa, o re;;:,.ante do liavtloc-k.' Scholz
conclui seu estudo das lntenenções d'alogk~ afbnando que o "cu-
além ou aquem de um' papel", o refere:m ;,róprio des5e eu é aguj uma
vir.tc fictício'' IHôrerfi,'-:t,on) consti1ü um fatcr esset1C1al do funcio:u-
voz. Ta\.cz crr. ce:nos cas.os essa voz. seja ficticia , e a referência seja con-
me,to da ar~e li terár:a medieval! Nãc 'i ejo como lC\oar mais l::>ogc o ar-
"encional; ma, não se podena, sem ac&,--;.:,üismo, fazer re~cede; a pro-
gumento. Eis aq'JÍ o ponto em que um piparme o faz trem:::~ nas bu::i,.
posi!y,iio e adrnitu com &cr.olz que, se boi.:.,.-e por vezes coincidência entre
não t para re:onheoer, na própna negação, a onipresença da vo:.:'? A
o texlo e a sit.la~ão, foi por causa de um acaso que não nos :oncerne.
intervenção do autor não apenas s1ud-a no d1sc..,mo dms papeis disnrr•
A propósito disso, não pJ~~o de:xa: ó: rc-:n~tcr as ob~n·ações que J.
tos mas tambem :raz um ~ up lemento de 11 for:nação ;:xtratexrnal que )ó
Rychner publ cou anteriormente sobre e Renan. ImerpeJar o auditório faz sentido ern relação a uma práti:a. Quaisquer que sejam .li moda-
e uma das reg~as do jog:> da perto:mance.. 1'· . Van den BoogaarJ i11Le-rro- !i;;iadcs desta, qualquer que seja a d.istãnda (no es;iaço, no ten:po, na
gava-se, em 1982, sobre os moei vos qce in:peliram os .:opistas a re;:,rodu- memoria) da qual cons.de~cm~ cSSl prática. não .>f pode recus~-la pu-
z.ir essas rnter.·ençõe, ílLJStextos. que ;-:-~..;t:.:wa."'Jl, ele 1a~e1a a1uma inten- ra ; siraplcsme:1:e. De resto. -:1 rllpecD :ormular das intervc:ições :-.ãc
cão pedaEogi::.:a. uma vez que o manu"-Cri1::i de'-tinava-se a um ap-rendiz imi)-Orla ,oria:10: sua disc.;':Juíçào fornece er:sir.amentos não negl1g'!C.-
rec1tan:c. ac- qúal ,:.- emtna\am a,~ mo r.i..:imentJ, o luga: e d maraem1 oav'!'.'1~ rorquC' dizem respeito à f-Jn;,;ão d-aniátii:a CrosbJ ot scna,·a.
de ad\errir. em per formance, o puN·,.:.c,' P◊r •,ezes, tentr,u-i;e relacionar r,Jml ·,'ir.L(na dr ob~ fn ncesa, e in~lesas de>~ seculos :xi, x.1, e:, "\',
as diversas formulas de ime~enção díak>gica a um t6pLoo 1rad1c1ona: que a coloca;ão de faile$ 1n!.)/ ou fórmulas ~crnell'.ante~ ~an:ce m .t tcar
u :erra ,poesia lat' l-'Oliterior-...""~...... MJ u ul;>dt\'ISÔC) cortcspondmte~ a sucessivas performances ne::~~ária.~ à
Carmen audire t' 'Prestar a ter.ção. p:r,o. .'' " (" cu:ai meu canto. ·• •~ou• tra.nsrrussho de pOt'nMs lor1gos ' .. ~szdade fflili , de
tra~ do mc~mo _,ac:z '>;a melhor das h:pt,teses, essa sim1h1ude apr()xima com11'.t't">cs de r,c.-rfar.mm.c. como parece atestar o·,• li do G,r.:r de RtJJ!•
ll\'a tcstemuohima wodiçõe!'> comult<i de ;,crformance. r1/Jon, pt>i:ma de 1(1 mil deca ~,ila':>o;: S, l11 HlS (''IC 12 dire non f raunrr.
225
• Pt 9 • , -- ---- 1,--- --"'""l' ....._.Jt iu"" L',,,Jll■ UaJ a. I IIJ•
de mencionâ-ln em nota. 11 lndkios de tod:a es~ie multiplicam-~ à me-
JC ), ~ Em contr1part1da, no Couronnement u.,~;•, ·p t. c.omporta Jpe-
nas 2 , Y) "'-rso~. o cantor promete a sC'u~ OU\'inte5. nc, r..o do primeJro 1.lit..L.1 que se uar.çil na lc.:itura du~ l<"-AIO~
epi~ódio, v. 313, não retl-los até a noite - afurnaa;ão repettda em duas N o é de on•rm que os medie•,alistas scm.ram a necessidade <le um
m udo, prd1mInar ou 11mullânto, do público recc-pcor: entre o:. germa-
P3:5~~• nc,_rreio do relato (vv. 1377 e IJS3). r.aj Jr.ção de duas a ~
pnnCJpais, a 1oerração de Roma e a revol ta de Asce:i::i. Huo11 d~ B1:u- , L. Schróder e W. Fechter, Já nos ano~ 20 e 30; K. Hanck, por
dtaux ilustra de outra maneira amd a d1\'Cl'ruf.a.::le de sua! situações: , l par ,epoca. do n dosnmwlfl~•Am:::--
a m~io carnir:ho desse relato, nos vv. 4976--ÇJ, e carttor i:aterrompe-9e' b eh. E.ne nos mo-tracomo. a~~ cerca de 1100, o Ociden:e não conhe•
e dinge-se a seu público: Senhores, diz ele ba.;icarr..ec:l.e, escai.'5 ve-r.do cue eia nem cam.ad.a sociaJ nem me,o corusponcente a nossa idéia de "pu-
a 1 oite cai e quf' eu m~ can~o Vil · "'a: f.ã rr:ai.s ::::edo, e agora -.--a~os blico cu 1ivado" hfefümente. paqsada essa data, Auerbach prende-;e
beber. porque tenho sede e estou feliz de ~·er apro:c:rr:.ar-se a noice. Te- e-:clusivamentc à história da formação de tal publico. Em 1961, R. Le-
nho presia de voltar para casa; '.nas que ncr.h11m c!.c vós se e'5(flleca de jeune n1errogaw-~~ so,re os d~tmatários da farsa de Pathelin. Em 1965,
me trazer amanhã uma moedinha amarrada na par.o da camisa... A es- W. l. H Jackson lentou uma. primeira sintese.12 Os problemas relati-
trofe que segue :eata. o fio da história. Mas a úJLima iojllll.Çâ<J da □mtf! ''ºs .à rec~pçã:o dos: textos situam-se l"l'!plicitameme ou não. na visada
terá trazido fruros'? Nos -w. 5512-19, há uma m:errJp;.ão :irritada imi- de -;studos como. ern 1970, o de A. Balduinc sobre os ca,uan do século
mandc os ou..int.es a meter a mão na bolsa ''J,"0ra dar á cn.i.Tuba mullier'' xtv e o de P. Gal!ais sobre os romanc:stas franc:eses; em 1972, o de D.
~~ ~u:u, ":'~ginHe, faz a coleta). J. 1. Duggan :-efut J1J as jnte:r_preca;õe~ Foirion sobre as ,:ançôes de gesta. Dei:ois de aJgur.s anos sob a influên-
f1ccwnaJ.S • :le;ssa dupla passagem.9 c:a., sem dfrl'ick, da .Raeptionsiisthetik [estética da recepção] alemã, mul-
Acontece de o auditório, tonado à part:: em t~e.ira J)e5:.'ioa, 5er ci- tiplicaram-se as monografias: de A. Tuisier em 19n sobre o público das
tado como uma -..e.sremunha d.a situação de d:iàJer6c. A.,üm é 11os ..,..._ 30-J farsas francesu por volta de 1~00; de N. Yao d□ Boogai:IId em 1979
do 11-istaru de Eilhart: Syd mfr ze sagen gescliicf1il !.üíte~ die man hie e 1982 sobre o dos fabliaw:;n de H. Kraus, ern :980 sobre o da epo-
s~cht !:_'Pois ?ºe eu tenho a contar uma história. à5 :;:ie.ssoa.s que aqui ie- péia "'ranc:o-veneziana.; de B. Sctúrock -em 1982 sobre a recepção do Par-
veen: _1. Assun ~. engraça.damente, em cerco '"se.roão aJegre": ~·Hi.l deWolfram von Eschenbfch. Cito apenas alguns exemplos. O ter-
reno está só parcialmente desbra~•ado, e certo~ setores prometem resi$lir
Un wrriet avoit, fln galio.r.r
muito tempo aos desbravadores. Podemos lamentar que, no setor de do-
Comme seroit <.'\' borr propl:ere
cumentação mais abundante, a poesia da co:-te. oão tenhamos ainda para
que je lt'Oy si bien escoutarrL.
a Franca ou a Itáha o equh·alente do livro de J. Bumke sobre o •·mece-
(«Er~ uma vez ~ jovem, galante e cortês cor.:io em: bom profeta grJe ru.to" na Alemanha dos séculos Xli e xm. Uma obra imensa mas in-
eu veio escuta:- uo atentamente").10 Mesmos:: o profm em questão é forme, a de R. Be:u.ola (publicada., \IOlJmt- 11 \/olume, entre 1944 e 1963).
urra estátua de capitel da igreja, ele não deb:a de fazer ~arte do grupo carrega os elementos cisjontos de tal estudo: ~ lugar de constituí-lo
ao quaJ o texto ~e dirige. Fora desse ,rupo, o ~erf=Ao ew:tl-.ie: teno e num ;odo, ~-ak1riz.a implicitamente o laço indis~ociável q11e une, duran-
texto para agu::les que o esperam e, de certo modo, dele têm necessida- te o período eco cama (500-1200), a função 5ocial do poema â. de seus
de. ~ desig:ia.- a diferença que separa UDJ faf;i!rM".J de 1llJI, roma.u:e, destinatários.
e preciso recorrer a um vocabulário descrith,•o, uqesS1..."'Glizado. P.-ara O.!
ouvinte; dos séculos XIl e XIIt, es.s.a diferença rea:.ça:,a. 3 cm düvr-da, p.dn-
cipaJm~nte as modalidades da pe~formance,, e :;:ionan.tJJ o m,·estimer.to A ta:-efa que se impõe consistiria meiios em descrev~r, desde o ex-
afetivo operado na recepção. Por volta de 12.'l..O, o ,:x:u:i~íl.ador da ffü- cerior e de mar.ei'11 classificatória, o público de tal obra ou de tal gêne-
toire ancitnne irrita-se com uma cena. dific:ilc1er..tc to !fá'õd para ele, ro do que tentar aµreendê-lo em ação. no 5eio do fenômeno global que
do Rorr.an de Theoes, na qual se ve uma personagem.., d.espn::zando 0 C()nSt:tui a recepção_ Uma arte. tomando forma e vida social por meio
deooro, apresentar-se a cavalo diante da mesa do ;e~ es.5a im;,rc:ssão :im- da ,.-oz humana. ó tem eficácia caso se estabele;a uma rdacão bastante
pona d: algum modo à nossa leitura; o edito:- lfo Roman ce:m razão est.mta entre intérprete e auditório: ai está um dado fundamen:al. que
227
l
~ prende à.s ei.rrutura~ da linguagem humana. como Ui descreve a lag• O cu,inte-es~tadltr esprra, e.xigr que o que ele v! lhe ensine al~u mais
mêmica de l\-1. Pikc; G. 1-:aiser asst\ttaH1 isso rm outros termos. unin- e.o gue ,;imple!>mente o que ele "ê, l'C\·de-lhe uma parte escond1cl.a ées~
do a idéia de poesio. l'I c,l1,tênci1 de uma "cornunidede de comunica• t.ornem, dali pala,·ras, do mundo. Essa voz rião é mai~ a mera ,·oz qcc
çã,,". 1 ◄ Antigamente, Auerbacl1 comentava um curioso texto de PierTe pronunC'la· ela conígwa o inacessível; e cadi uma de suas infle;i[Õt'~ ce
de Blui11, no Libtr âec:onJes~1one, descrevendo em turnos de compcsr;:io sua,; va.-i.açõcs de 1onalidaae. de timbre, de a.tur.:. - seria precho forJar
("simpatia") o efeito :motivo produzido no auditório pelo discurso do a pa:a,.ra !)Cdante ~·ocema? - combina•se e encadeia-se como ema pro-
irlltrpret.c e: ,m iscandc uma compara~o entre a audição de narri:ivas sopc-pth do vivido. Atravts dessa presença, o ouvinte descobre-se: age
evangélicas e a de av:::i.ruras arturianas: 15 uma e outra implicam ccm&- e reage ilO âmago de um mundo de imagem, rubitamente autônoma;;,
nhão no sentimento e, de certa 1ruuieira. na fê. 1rê5 quartos de ~ o q'1e çe d.iri3 e:n todas a ele. Roncompagno da Sígna, na Rhetorica nond-
majs carde, no fim ao '1-'aSto e sombrio conJum.o romanesco do Jünguer /2, mostra com adniração que para e jocu/,ator tudo é linguagem, da
T1turel (.J)or volta de 1Z7U), o auto:, Albrechl von Scllarfenberg, :iirigc f mdodia do canto a seu modo de falar, a seus gcslM ~ at~ a sua vcstin1en-
ao ceu uma prece que o une a sec 11:L~rprete e a seu publico na bus::a ca e aos objetos de que se faz cercar. Tudo te:n s::-:itido. Donde a impor•
de uma bênção comum. 16 Vince:nt de Beauva.is, :umero dominicano tãncia, pa-a os escr,ba.s, da5, notações ;ontresta.ntes qual eles antepõern,
conserrc1.dor. deixa escapar no Specu/um hLStonaJe, XXIX, 108. uon sur- por w:ze,, aos textos copiados, designando e~ ou aquele como chanson
preendeme confidência. C\Ocando o prazer que um dia ele sentiu com e outro ('O:no d/r, em e5panhul cunción e decir_ Donde, do mesmo modo
a leitura pública dos J'ers de la mort de Hélinant de Froimont. A rela- talvez, v.àr:os dos apelidos ligados aos "iograis., celebres: o francês Simple
ção que liga lOdos os part.1apantes da obra não é n..:r:1 metafónci r.em d'olnO'.l'", o austríaco Vreudenrich ("Rico de alegria"); o Schanden')ende
virrnal. Ela é, em Looas as ocas:ões, real e lileral; pode conduzir a.té- a L ("lrimigo do medo'') em Hamburgo, 1378; o r.vge!sang ("Canto de pás-
uma transferência de papéis· Scholi le-nb:-ava a existência, na ,t\lema- saro'') cm ~éirdJingen. 14í2 ... 11 O apelido torna púulko o papel, e :ste
nh.i dos 3/'('11lm xin e Xl\, de :.1m l·J~ar-co:num introdutório qu! l·~ti- desdobra o espaço de que vai apossar-se, renovado a cada vez, \Jll cor-
mu)a,•a a "ler ou cantar" o re.,;to propo-lo: IJill Daniel iídiche do século po ln felizmente, temos poucas descrições que c"'oquern alguma per :01-
,v contém, esLrofe 8 11ma alu~o ainda mais clar2.: Aquele que sak marcc cm pamcular; o bastante, porém, para dri.ur e:itrever, em pe:-s-
c.inta1 que came. Fntcnda-se bem que os outro, o leiam em voz alra, pectiv.i geral, o que de\·e ter sido a ex:.stência corrc:eta dessa pvc!sia. O
,, que é confirmado ;>::.ir uma pa~S,igem ult!"Ticr. 7 Aqui, o auditóric nã,J mat.:rial, muito disperso, exige mais um agruprr.ento do que una sJnte-
apena~ é prorr.ov1do a inth,rete mas, rela escolha c;ue lhe é de:.xada, se; menos uma teorização do que um acúmdo ce obse::-vações prec:- ,as,
:Jd 1tidpa p,lcnami:nle d.:i. cnaç-ãc eh obra. O inlérpretc - enquantn pre- reh.:ivas a uma infinidade de situações pan:culam. E assim que, entre
~nche •eu papel e enq:ia-.lo sua presença ~ faicamente percebida - sfg- os 289 documentos (do século rx ao fim do sé:·JI,;, xm) reumdm por fa-
'1/flcü. ral n,) apendice de ,eu Jorrgleurs, eu destacc-
Sigmfica da mesna n:aneira e n1 mcsn:a medida radical que ates- - 4.!. que fornecem alguma info,nação sobre o tempo, e lugar e
tcrmrnha ocular, porcr,:e :ambt:111 L'<.ul.t, narrar.do una h1stona: o cn. :i oc;;.s1]0 da performance;
z.ado que retorna falantlo dos sarra.ccno:s e d1; seu~ deuses; mas tatnbén - 43 (jà men:ionados) sobre a qualidade da 'li02 do 1merpretc;
de autondades, a ""(lSSD> olhos fie ic1~, lt:~1;1 1u11h.:1c!as pelos cona:du- qua,enta sobre o acompanhamento i11suu.mental:
res - o p,euc:0-"fürp,:1 qi,;e estev:.- pr~eme em Ronc~s,ales ou o p5t:'J• - 21 sobre o auditó,10:
d:::--Dares qm ·,iu a tom.;da de Troia e em cu}a ,·e:-ac1clade ~e fumlamcr:ta - 2Z ,obre a gestualidade ou o acompanhamento coreopáfüo:
fü::ioir de Sair,1e-More~ .o\ ara:icão corporal Jo imérp:-ete, do narr:dor, - e de1e,sete :.obre a vestimenta e os a-.essonos do m1eq::rete.
c0r1st1tu1 um gc•ro mau~Liral que t:.>a a~ .:ourdenail;1S 1.H' seu J1s~-u•50, ::-.e total, 114 .. c;s.)c:> :atos oJJ seja, .!()ti;r,, lançam alguma luz (g~a·-
se!lund~ 3.!I guah ~·10 ar.icular-,e paru..:ipar.tL-S, tempos e lugares t.artt• m~n:e r·ugaz) sobre um dos aspectos d" ação que nos unporta aqui . .:--:um
de ~u relato,~ há u::n, quanto Je .-;ua per íonnancc. Outro espa o se abre, seloJ mmto mais limitado, o eswt.lo de; P. Gallai~ destaca que :.!25 das
despcrJi uma~ dewnscimcia· (_1 •1'1Q1 ;ut immos em ~ia ou 370 obras C'XaDlrnadas (60~) contêm as pro,-as internas e explícíta.S do
ern verda:le. Foi ncs;c ~enti:lo que e "grande canto cone " pôde se·&· falo de que eles toram truismltidos por 1enurca, cm ,c,z: afta, a:1nff' de
~in11lado a um rit·Ja.l de corte, corno llntrnormcn,e o 1ez E. Kleinschm1d1. a1.d.itórios de densidade muito di\/ersa. Numa pen?~iva diferente (e n.11-
219
to c:,treica, porque se f:.:l,ci.a ::,n c.~am~ J 1 •,..:r-.ificaçâo cm ft .mcês e cm
occit!nico), W. P'allcn pro:µur.lrn ~- ••.• i:..1 e JOUl ti;xilogi dos "mo• Ja d1an da<lt da funçlt, que de pm:nchc e dü \'a.lor daquilo que ek conta;
dos de pe·formance" 1ç .Jmtn@ ~i,1 três que coru1<ler11va ,15 forma~ Jnil· entre os o.i~ ntcs, ~entado~ ou não, con1,·ersadores, fadlm"nte impaden-
1 • aqueles que à pnme r::i unpres~ão de aborrecimento saem da ,ala
mfestas tomadas pela Uogua "1J ar no mommco em que, na grande on- \ com b r\llho; o mesmo quadro. munido de julgamento; vigoro,os, e'1á
da cultural posterior a IJOO elu gerou um d:scurso poético. Concepç:io
gerativa segu.1UI1en1.e ju roa um nh de tra o ,e-levado demru • m d \..lantkme de Ph1lirpe de Be.a1.1mano.r, por ~olta :!e
1 0.23 Em duas ~,_4~..n , o longo i;rólogo de Doon dt an1eu1f, ,-v.
por{lue termina por 1den:tficnr ru · 'modos de performance'' com o~• 'gê-
1-18, depois 3-lli, C'\OCa por ~uenos toques suce~!\'OS. de modo M-
neros'' tradicionalm~·c ra:or.heridos: cpo~a, poesia línc.1 e roman•
d'ente, ~ua p·ópna accução. Um cantor de gesta, basté.nre esfa·rai:aco,
ce.. o que não no.e;; faz a,,.an~r
trattndo sua vicia, atravessa uma mwtidAo em que ~e dis•inguem bur-
!Remontam a mcad~ ioJ se:-Jlo IX rnuius das raru descrições. i;.-om-
gJ::se•, clêrigos, cavaleiros - ao ar J;vre aparentemente, uma ve1 que
pletas ou virtualmente -:otaEzanres, que nos cheg,a·.am de performances
ele conserv<1 seu mantel. Ei-lo que se detém e começa. Es,uta.-se sua. pri-
poéticas. Sua da::a não nos permi(e qualificá-las de arcaísmo: mais de
meira estrofe: se a impres5ão é boa, pede-se a seqüência; .~eoão, ao pot:re-
um traço. pode-se supor, oa..,c-:-,ê-se po~ imrito tempo nos costume;;.
d1abo só resta tomar a estrada. Seu i:oco capital é o repertório agraéá-
Trata-se, em geral, de cor:deoaç::es c:e:icais, CUJOS aucores, fJ.Lminando vel (que ta!,e-z ele 1enha rnrrupiado, em parte, de um :c.tga mau; bem
estas mLmélanalidades, .saco a :a..;a tle :.eu~ menores ~:ig:nos cxterio,res. pro'iido) e \lIDa voz c'.ara para di.·ulgá-lo. Aficionac.o~, 5e de agxadcu,
Tais coleras sagradas ~al.:m-oru :irna 5éne de pe:ttJ.-enas pinturas que e-.o- louvam-lhe il sabedoria eo taJemo, comparam-no a out::-J~ cancores, vi-
.;;am cançóes de amor, êe elogio ou. de deploraç~,o ecr.. lJ.n...irua vu .gar, a\;u:1 -
vos ou mor:os, e, para concluir, fazem o ?O(litório em suz in:ençãc.2•
pan.ha<las de danças ou de :-oàl.s executadas por ooros de muJheres, com Um e-snxlo :ecente de Anne Triaud esbo;a,·a, a propósito do Girarl de
ou sem respo;ca do audi:óna, no comingo ou ::ios tenados, nas praças, R.ouss,Jlon, uma tipologiil do prólog◊ de canções de gesta. Vocabulário
nas enc.rn:zll hadas dos -~rr::intw s, às ,<e2es oas :estdê::1.cias... lt' Thegan, e temitica desse- trecho enJtado só comam senti.do na pe:sp~ctiva de U..'03
padre de 1'rier, autor, ma:J a.:J mci~ em 840, ,:Le uma Vida de Luís, o performance, no espaço reaJ do jogo em que se- desenrola o dis:u-so:
Piedoso. descreveu a iné::i:er!'.llça d: gue dava prova esse des,•oto impera- um aptlo ao público introduz o elogio da canção e do intérprete e o
dor ("ele não descerra:,a :,s lábios ..) quando, n~ ba11.quetes je grandes descrédito dos co::ico:rertes, enquanto são proclamadas a autenticida-
solenidades, um.a trupe dem.i-no,, jog,-ai~. cont!.~ores de histórias e mú- de e ve:-acidade do relato. No Girart, as três estrofes co.osayadas a es-
sicos apro:ximava-se de sua rnesapa.--a tentar fazê-lo ru. em meio às gar- ~ desenvolvimentos são representativas: os elementos encontram-se :ia
galhadas da e1ultidão.. ii Por reais embaralhãd.:a que seja, e embora,~ rna:ior psirte das canç5es do século xn e do começo do século xm. De-
trate mais de catálogo d.o que d:- lf.eicrição, a cena das núpc.as de Fla- pois de 1250 ainda, e;sa~ "enrolações" não desapareceram totalmente
menca, co romance d! n:-:sn::c r..omc. cm rnc-ados do ..~ o KIII, C\'OC!l dos textos recolhidos nos manuscritos cíclicos da Oe.s1a de Guil!aume
um aJrnroço semelhante o:- a. r.Jflr.:ia explosão de-verbos e de gestos: um - as razões "estiltsticas" não bastariam pa.."3 Justificar tal permanê::i~a.
diz., o outro canta, um ooota, (1 outro modula.. se um se aco01panba Je Dir-1c-ia que se trata de uma s-bie de clich.ê.s: nm tema literário,
um instrumento, o ouc:o cio - cedos pelo prc,.2e:r auditirn da nobre reu- sem valor descritivo. Quem sabe? Pode-se admitir Q\:e, na5 civilizações
nião, empurrando-se em i:ire::ào a quem se fizer melhor ouvir. Um sécu- de duradouras e fortes tradições~ a <fu:ãncia enue tema literário e e'j(r-e-
lo e meio mais tarde, Froissart, r..o Dit dou jlorin, C'\'ocará a atmosfera ci~ncia "ivica é (a não se; que o primriro não remar.e::: a uma alta anti-
agradá'r-e-l e quente das oonz.:f.a3 êo castelo de Or...ex, o:i.de. à ;:,roporçAo güidad:) rnmos considenb·c! que nossas culturas da moda O t~xto dos
de sett folhas por sessão, li.a ao COllde de Foix sru Méliador e iruerrompia- séculos xu t XIII pro-põe (na falta de un:.a vis.ão fotog:áfica dos fa·os)
se para beber numa taça ,:!e oi.:ro o resto de 'rinbo de s.eu anfitrião. no aquilo que ~u denamlnaria uma ordem de imagem, tal como se diz \lma
momento em que este ia d...'13.J'-se: agr&{lável tral:-af.ho. imalmente re1,1u- •·()rei.em de p-andeza". Certamente. o JlOUCO que assiro) apree:idemos nos
nerado com oitenta flor..ns!:u remete a t11 gênero, enquanto o obJet:> final de nossc esruco é um tat-
Os trinta prio:1ci:os •,-er.soe da Tris-umt dl!' Eill:.art evocam com vi,ia- to. Ptlo menos a interpretai,"ão da obra de que ~te fez parte encontra-se
cidaJe o auditório diante do ,q~ ~ apresenta o inté:-prece e suas reações crient.ada pua certo setor do imaginuio. anedoUI. releri:ia (e taJvez
230
L
narrativamente fantashta) nlo pode olutamente componar os efei- magnificas pintmas de pagina inteira que ilustram o :ancioneiro de Hei-
tos do real capaies de lançar a ope1.açlt1 de im:rgi11c'40 crft1ca - ope- delberc, ou Codtx .\famn:.e, um.a da$ principais a::itolo;ili de M,nne-
ração (lU«; por ~ua vez., vai «ind.icion.ar o rrabllho filológico. Este vai sirnger, '.llIIB comparação com os :!5 recratos do cancioneiro de '\\'tin-
mteg;ar o resultado, ainda que seja apenas como fatcr de indecisão, is- gan::n pcrnllte-lhe conm-uír ~uii íUlálisc. rr Dai rc~ult.a a probabilidade
to é (do ponto de vhta de uma obra sui>mcrsa n~se pa!-sarlo profur,do), de que .. árias d.-ssas i-nagem estilizem urna ::ena de pe-rformance, mas
co:no fator de liberdade, É assm q:i,e se podem jt:stifüar 1se as cerca- red!JZl.:-ido-a a seus elementos esscn:üis: 1-c:a1p1e o inttrprctc; geralmen-
mm d~ ha\ta.nte prudência) comparações comeª> ciue nos propuseram te o destinatári::, da ca:içào, senho;- :·euda1, dama, por vezes um casal;
d \'erso~ mcdievalis1as Japoneses, corno H. Tuo:ashita, entre o moeo de em muitas p~~agens a proximidade e ocalO! da presenças.ão figurm.Jus
declamação do haicai ainda cm 11.-::,...,0, dias e o do Rolarut, ou Opbnd, por uma ~na de conver;;ação en:re as personagens, s.entadas lado a la-
cr.m: a a:tc do!> skops az:glo-s.a.'tôn!:os e a do. cu:tore~ bantes, ou a do oi;. em pé cara a ~"1l; o iif;>:cta dramatico. por uma alegona - a
que eu próp•io gostann de e.;tabelooer entre o que de-;e ~er ,ido a inter- pequena deu5a, archote e dardo ,a mãe, sobre o brdSàO de Llrich voo
pretação dosfabliaux e o qm é o rakugo do JaJ:àC. As mesmas conside-- Licht::n.1cin - ; a co·oa de flores de que vai ser ornado Kraft von Tog•
raçÕá kgairnam c:rtas conjetura.;, r.::oastitum-:to, .1 lH d~ diversas pro genbur1:. f .xcepcmnàmeme - por exemplo, a pro7ó~lo de Frauenlob
babihdacJc~. a.~ :::ondições vhidas da comunicaçào de un t.e.icto: quando -, a ação é representada em se"J de,enro:ar o cantor, sobre um Nra-
u.uc:1 míu1 ma<,.1u 11.uitu ampla e um j,dga."llcnto muito r.◊tivado as man- do, d3m1na sete inc•rumentislas, que de parece dirig;ir com sua batuta,
tém e las nos aproxímam mais da realidade de ur.i objeto de que não enquanto a mão dire:ta aponta um retrato d~ mulher para o qual se vol-
Se poder a Jantais fazer uma anal:se !Xclusivameme "ll1erária". C: tarei tam os cha~es de tre~ ei;pec:adorc>s rica.mente vcs-Jdos. Gottfried vo:i
como exemplo a evocacão feita por A. Pulega ja performance da can- Strassb'J.rg, ele próprio, apan:ce senlado em meio a cinco ouvinte) que
ção EI so que pus m 'agensa do cro"a:o~ Ra1mba r de Vaqueyras: 2~ o mé..,if~ta111 oom o braço &eu :ntéf~S$e t_::iu e-s•ào m.irca~do a cadência?),
1ex-o, acompanhado de :-abc;:a, ca"ltado por um ou m1,:icos jograis, te- encu:1.mo o poeta segura com a mão direita tab·Jinh:ts (que ele não olha)
ria sido dancado ;>elm próprios ser.l'.o,e~ que a· são su:essi·,ament~ no- e com a esquc:n.lct marca o compasso. Reinmar. o Velho. lê um Vfllumen
meados e por mimos que o~ imita.,,.a:n. Outro e,:enplo e a descrição por de.enrolado por una dama q:ie está sentada ao lado dek e que parece
N. Van t.lcn Boogaard das performan:es de Renart lt N()uve/ entre 1288 marcar o com:;:iass-::> com uma da:, não,. Apesar do pouco de precisão
e 1292: um declamador pronunciava e t~to. imerrompendo-se de tem- mformafü·a, essas pinmras, aliás dmiráv:is, te;temunham a diver,idade
po; em tempos par.i deixar a paJa'rTa a. :amores dos ;fois sews ou e. ato- de situações J:-ossh•eis nu pe:fcrmance <lc lilll•~ mesma a1tc.
res disfarç.idos de anirrum, de moá.o que o roma:nce de Jacquemart Gieloe
tmha a funçiio de um libreto, nessa :-::presenta;;ão prolongada por vá-
rias sessô~!f ..\ po;:iósito Jisso. a~ mformaçõe~ nais pr:cios.as que poderlamos
Se por vcz.cs da~ parecem co□firmar o testemu.::iho dos textos., as cc lh=r nos le~os são aci uela.~ po:- onde se •evela um cletalhc, por ve.-.es
re;,re;;entações. rig'Jradas são. no e,ranro, dt' pnu~a 1. rilidade, e a parte mfir::o. mas que ate,ta o engajarr cr.to. na obra, :a:-.to tio coTpo àos par-
das co11ver1ções estilímcas fica ái fi::il de delim.car. C:. le Vot ass1r.ala a ticipantes qua.mo da ccnvcn,;:ã.o s::,...1al q·Jc os une 11c,sa ocasião: o ,or-
ar..bigliitlade d~ uma mniarura b:e-rpw..a:Ja pcr ccr~o~ :nusicólogos. co- riso de uma cama a quem agracia um vclte1e> de es1ilo de uma :::ançào
rr.o a figuração de uma perfcrmance de ama Espi'nolafarsesca, err con- de Ulr:ch ,;on Lichtermein Do mcs:no moac, em muita.- cançix, de ges-
~equ~n~ , de uma ajlrox ma;ão t-emenina com dei, texios do seculo x ta, ,'ldas de ,;antes. ,'al)Jurn.r. LtlUC'- e~ apelos ao p1·1~lico, pedindo-lhe
qJe pr~;crt>viam em Paris e So1sson~ r, n :imero .:k·cum:ires dessas iarsas que avance um pas,o, pa~c um 1::1s1a11c::: nada de5if;na a mu1t1dao, ma~
h~u1gí:as ~ a natun.·l.il de: ~ua .. c:~airnm~. D1vc:-~s xilogrnuras d::is ê- perc.ebcmos sua presi>nça, ímó·,'CI, he~iurnt~· ou. ain<la, caminhando p~-
culos X\, :01 e xvu, ma: raramente obras pi u postcnom 14:SO, lm rua •11 Certas tétnkai me.oo:rel e truqi.1cs de oficio uão ~ão menos
foram ~proradas por hu;toru11dom do teatro t'Omo ff. Rq,- 011 bu J rr . o de1~rmt.lla3,õesttl'iadau. ·mw a.duração
da cultura popular como P. Burke e d o ai uma dtt de performances de long.'15 recitações· cn francês. as conitirllld.ts :om a aJuda do verbo
1ard1a~. 1oneme11te diamatizadas.. Me.5.., para 2. época antiga, os uo,cu- commencer ("eu co111e--;are1' 1, "a::iui corr,~c,.>a" e oulrJ~ )Clllelhaat~). :.tue
memos são aind mai~ raros O. SB!(C dedicou-se a um c,;ame oe 137 si:n·er:i para fechar o prólogo ou para 11:troduur um no•,o ep1:,óc.Jio e
·1:1
1JJ
çõc:s dt gesta, e~<,3,; fórmula~ en:<'\ntram-se em um terço do; romance, cantor? Por veze-.. qualquer nurr;:,. ~ : te.ração que c:;ca;,:i de1 texto csi.: J·
csnuuçaco~ por ,~. ua. .i , O Cra' ullh1a J., mesma rorma tome:.a, e re~-e as c1:-cuns1fmc\ ~ . .l.incin que'. poa1.u O v\ 31·2 dil ve'hn CJwnso,..
acabar. Em ~árJO!> 1:-cchos, o padre Konrac r«ona seu Rolams.'•et i:do de Samre f"cw coiwidaram ltaric a su;,or q 11e e-, a obra c.x &1a l' 5almo-
vcrso-ref·ão .1111 ~ortn •,.;,r dtu b••oc,Ji sagen ("ouvimos a ora o Ih ro <li-
... d1ar de mu11os cantwes. A co,aboraçãf:\ 0(: J c. ~ ou vári~ pam:1105 pa·
ier. ") ou , u3, -.a:-iante.. Varios estudiosos tnter:prctaram como um W..:1Çt1 recc cgurai.ia em <c-rtcl casos, ccmo aquele a.o c;ual faz 1alveL alu~ão
de pcriormaIKe o mistmoso AOf que pomua certas cs of~ do Rolrnd ocq111 ow,. t"' 1 : it ~ '?:ti ""e/. n ('
no manu,cnto de O:icford - tendo visto 11/ 011 11r11a indicação rnel6dica, dtt pal:t'lra e o outro n música", ou: "e o 01icro b acompanha rio
como G. Recse, J. Chailley e outros, ou, cu'."io nmcnte, como E P ace instrumento") Emrr os gcrmamstu que ~e qLl::,tionaram ,obre as nar-
ou D. Bnn~. um sinal qu,e indica a.s panes a SJprimu darante urra :"1er- rativas ri'mane..,;cas em ~trofrs de vers;>,; curt:i~ (o equivalente do oc-
formaJ1cc tr~e. ~1 iguaJrr ~n:t, as fórmulas e.e~ prece, i nvocaçilo da. de- tossilabo narrativo lranc:,), S. G,uenbrunn,r, mi h56, descobria no
rnêru.ia di v JI.d, .uu fün de tc::x:·ol nacrativos, aliás sem carâter deo.·oto: é Par..ival de \.\'olfram von E•chc:nl:ach e no !wén de Hanman:1 von A1.1e
assim no C1t1, 110 l\,fQniage Gulili!Ume ou n:i Doon de ,A,.faience, na.5 ob-a• os indicio~ de u:na pcrformaoce com papéis diver~ificados, hr;,l:icaodo
de tema ·eJigimo, a fórmula co:nida a recitar um Pater ou uma. ,1~c uma plur?.hlul<" de leito""t:s-recitanw três. no J~•eu,. :i!!,urando um i:i!au-
a diier Ame11, todos juntos, ou a cantar e Te Deum. Por vezes, trata-se to, o poeta e un animadx. fJ-al, poc ma "ez, a pa~:ir de 192.2, a pco-
de uma bufoneria, pertencer.te ao arsenal ·:irtncathão dos jograis: u '"•a- pósito do Couuois a:..tr-ra.!. ad.m.i:ia in"'er~rimeme que um .ogral, por
mos beber!" pelo qt.al :erminam muitos te-:tos O\i partes de catos. Hz.io>t seus jogos vocais, pod.a encar.ia.r ,árias personagens e. assim, d.ialo~ar
de Bordeaux cona o relato pelo meio: con$Ígopr~prio. G. Cohen retomava ~ssa idé-.a, ~ propósitn ru1;; "come-
dias latinas" do século '<fl: só o e:itismo t'streilO e a aoto-suficiência
Vous ~t1t11is d~mai11 apr~ dtS'I.B
da5 dramatu:gias clá:1~,ciu apagaram, com deipr~ da mem6ri~ le1-a-
et s 'a•on.: f:>otre. car je I a1 aes1Té
da e. até reccntemer.:e., de nossa cons;;iência cultural, a própria idêia d~
("Voltem a::i.anhã à noite !.para ou-.ir a sequâlaa) e vamos beber, por- urna ar1e ~~iw.
que !U estou com bastante vontade"). 30 Tombem há buíor.eria, mu; po::- Outra questão: qua.. foi o modo de perfonnance dos nJ.:Derosí<.si-
vezes de dar dó, no pec;;do de dinheiro: do autor do ChPvalie.r ® cygne, mos texios narrativos ou di<iá1lcos, em vc:r1!ll uu ew prosa, nos quais
de Rut~beuf implorando ao "fran;;o rei ca Frar.ça", e de tanto ou:ros., se inscrtm peças Hrcas, segllndo a moda que du:-ou dois séculos a par-
tema explci:o ou dissimulado que vai subsistir oa tradição poética at~ tir de 1200? O exemplo do Auca.ssr,11 le\-ariaa pensar que a peça inter;;a-
o ~lo "<Vm ... ~odo de falar? D11Zent~ v::sos antes do fim da can- lada, canção, rondó, lai, inteira ou fragnentada, constituiria um ~m.reato
ção de Gui rie Boiirgogne, o cantor interrompe-se pa.'"a declarai: cantado (tah•ez aoom?a.::ma.do de um instrumento) da recitação ou da
leitura. Certas ob~ francesas do período l 2~0..1350, tais como 1hs!an
Qul or ·,o/dra r,}ignçon oir et escov.cer
cm pro~ (guuneàdo de 26 fragmentos que totaJiz.am perto de 1200ver-
si ,oist '6'flelement .sa bourse defferme,
qu 'i/ tjl huimts bie11 ll!mps qu ·i,r mt doíe dorrer.
sos) e sobretudo a Fauve!, joge.m s1stemat:camenre com esse duplc re-
gistro. Farwel, romance a.legórfoo e violenrB!Ilente satlrico terminado em
("Que aquele que quer ::>uvir bem minha canção apresse-se em a3rir sta 1314 por Ge.'"Vais àr Bus, foi reedi:c.do dois anos mah tarde pelo mú,ico
bo~ :;,orque é hora de me pagar"') - passagm:i qu:, nesse por.to do Chaillou de ~taing, que o inte:-calou com cerca de 150 trechos liricos,
poema seria absurda foro da ;ie:formance:.ll ~ francl.;. nu em lati:n. alguns c.:>ntmdo com \ÍO~c, tr.nra , até cin-
Certos escribas, per meio de rubricas, sugerem de que modo o tex- qüe'Jlta versos, que: constituem u.:na espécie de antologia ~ca anti-
Lo que elC3 copiam dC"te ou pode ser ~ d o . As.,im, o maDuscrirn confoncista Um dos doze manuscri:os que pm!>uírnos fornece 130 no-
único (e mcd.iocre, do Auca.,;sin e1 Nicoietre divide rcgula,ner.te. per tações mu.s.icai.s, cuja ;,~csenca .evanu toda e:s~e de dúV1da sobre o
um antrer.r ("'agora~ tliz") e um or se cante ( ..agora se cu.tn"), as panes modo de performancc. 12 Froiss:a..'1 aíndci, no fim do século ;qv, guar-
de prosa e de "\"eno, estas ultimas, de resto, sob:-epos.tas por uma nota- nectu sec ltféiiador com i9 rond5s, 11ire/als e b11adas outrora compos-
ção musical. A situação de ptrfon:iancc ~ ai r.ie110s clara e.lo ~ue par:cc. tas pelo duque Vcr,ocs1au de La.xembur10, eu amigo e protetor; isso~
234 ]JJ
pede repre~::ntar a Jlllençào de faze:- o 111erp•c1c canta-los ou, pelo me• a~entua o l!SO do, meios trracional, de pcr~:.111s:io, t uJo o qui: :nqweta,
nr.1,, des1a::i-los em tom e,roe,ial. p,erturba. e::t1onona, mdt1'ive o acompanhamrnto mus1cal.n A ptriir
l\a fr.;mça, na Inglaterra, pr~dorc, in::.ercm 1ambém - como mo,. de Im::i-so, pululam a\ artes praedica.ridi. que tsob pre1e:xtos retóricos)
tm acima - em :.t'm scrmôe:i. ~chos, ~uadro), estrofe~ de 1.:ançõc, i.:o- ·,i~am e prcmo,..er uma língua ritmicamente organiza.d.a, com o fim dt:
nhecidas, cuja interpretaçflo alegórica ilustra-lhes o tema; não os canta- produzir um efeito ~rsuasivo - isto e, no es,encial e na perspectiva
ro.a,am pelo menos no pulp5to? Par:!doxalmenic, e~tamos quase mais. dos )CCUlm x11 e: ;;.71r. uma lingua pcét1ca... 1'.a base d11 pro,iuncwtfo
bem informa.cios 5obre a performance predicai do que scbre qualquer pndical, Robert de Basevorn, em sua Forma praedica'Uii, no séoJJo XI\',
outra. :Na alta ldlde Média, a harn•lét1ca toi, para a Jgn:ja e para os oào hesi-:a em co•ocar um cofor ry1hm1cuo, q11e 11e juntará ao color r~
poderes aos quais ela se associa\a, o prmCJpal meio de manipulação ideo- 10,icus num ··esplendor úníco".3' Humbert de Romans, em sua Ars,
Jõgica - donde a msi.stência dos condlios, do século v1 ao cx, na obrí- pm •,•olca de 1250, consciente da eficâcia do ~esta, aprova e rocornenda
ga;ão de os padres e os diáconos aão apenas pregarem, mas fazerem. essa dran:ati.zacão; a impress.ão que o sermão deve cau.sar passa pelo
no de tal maneira que se pudesse atin!!ir o conjunto do pm10 cris:ào. oo:;io do pregado:, :::ija arte taz-se asSim à base de musica ,;; de arte
Pouco a pouco - justamente desde o século 1x -, a poesia tomou-~e jograles:::a:"' Até o s~ulo xvn na Ing'laterra, em certas regiões de Her.-
apta a forn e::er à predica, em sua .:.ILa fundio social, uma contribuição; fordshm: amda :r.o sêculo x;x, segundo P. 3urke, cantarolavam-se os
10110 esta,..a em condições de subst:tui-la. No essencial. as técnicas pro- sermões. N,:::is seculos x:v e xv, o sermão integra à!. vezes uma ação
pr:as para as5egurar es;se domínio já estavam constiruida.s. Desde sua dr.arnájc.a tornp:ex.a: o pregador interro:npc-se, atores inter.·Em, uma
aparicão, raa Espanha, na França. na Itália meridional, entre o ~érulo màq uja.,a faz su;gir um anjo ou um demônio. I.ecoy de la Marche, anti-
x e o xu, as formas dramatizadas da litmgia (q-.:.e se supôs, sem ra.zâo, gamente.. cornpa,011, para o século xm, test~rn unhos referentes ao de-
ÍO"-~em de origem liizan tina) mal ~e di!.ri11g11i9m, no espúito público, dos senrolar dos s:::mões: ele evocava as reaçõ~ t,arulhe:itas do público, as
sermões propriamente ditos. 33 A his~or:a dd Coena Cypriam, lembra- interru:;::,ções, os aplausos, a5. coqueterias de gente mundana acompa-
da por .Ba!chcine, ilustra em outro regü,..ro es,;as interferências: o te.'l.to, nhada. de pajem portadores de almofadas, não m~os que as fh;tu a-
a.7Jerior ao s.éculo vrn, homilia paródica (ela ent.mera as bebedeiras ci- ç~s do fa·•·o: popuJar vão distrair-se ouílindo um, enquanto :ogem de
tadas na Bfbha!), fo: 111.scrido por um fal~ár10 7a:, obras de s. Cipriano; mn .enfado□bo. "'
esquecido, depois ~edescoberto por volta de 850 por Rabar.o Mauro, es- S,e jn,mt:mos, por causa àe um habLo crítico contestavel, em :aJar
tE' v adapLou num opu~culo para o l.livrrtimcnto ::lo rei Lotário, a quem de •·1eatro" med1C\·al, é preciso incluir :cl pregação oaguilo que assim
ele o dedfoou; reci'.ado quando de urn banquete na cone de Carlos, o se des:ig:n.a. Mas a noção que se usa implirn uma delimitação que. at:
Calvo, foi um 5ucc~su. pro,,ocancla muita nso. Um dia.cone, romano, 25 µ<::lo rm;.m:n, o meio do :s.eculo X'\'l, todo,- os fatos ~on!.iecidos de,;inen-
a:rns mais tarde, tirou daí um diálo_!!o cõ:nico, de;tinado a ser represen- tern. E mais: do ponto de vise.a pragmático. poder-se-ia consttuir uma
tado por ocasião íla festa escolar d.a Pascoa. i.. :la..,~ à parle uo~ LeMo& pwvído~, no.s m:muscritos, de didascàlias con-
Mes.mo a pre1,,açào "sé:'i.a" rec.c,rre ao cómico, ao grotesco; certa c.er:1.entes ora a um a'écor ou à modalidade :Ie .;pre.sentaçào, ora aos no-
bufoneria mistura-se ai à expressão da ff. O sermão é- a exibição de um mes e a alternã:i.c:a das personagens, ora, uma coisa e o'Utra. O tcXto
a:or que executa u:n drama popular: P Burke n:.ostrou a viralidade de ma~s aougc- dessa espécie que temos, o tropo de Pá~coa Que/"1 qu.ie~-
taJ concepção até l)leno século XVI.~' As pes~o;:,., austeras, no século XIL, tis, provavelme□:e de Fleury, nos meados :;1o século x, foi-ncs co:1sa-
inquietaram-se; Adhdred of Rieva·.:ilx. Huglles de Samt-Victor, AJain "-ado na forma de uma serle de frases inpcrativas, .ndicando o tem;io
de Lille .adver{em ,:onlra uma pregação theulr..zhs et mimico, que visa e a oca.!:jào dessa pe=fo::-mance, o numero e o traje dos intérpretes, o lu-
à diversão mais que à ~alvaçã.n:lt Depoi~ de 1200 os monges mendican- gar err, ~ue de-•iam manter-se e a d1reção de seus monmentos; as :,ala-
t~ sistemat~-na e habitualme:ue a n7r~enuvam em seus sermões, .,.ras do ::halogo inserem-~e emre essa~ pl~.nçõe~. como se, -do por. ..:i
recorrendo as mesmas fórmuJas dr imerpelação do público usadas pe- de ·,•i.ta de um mestre-de-cerimônias, ficassem subordinadas a ação. No
lo5 cantores de gesta e narradore~ de _fabliaux. A pregação conheceu ui seculo segwmc, varios. iextos sucessivos ~tabelecido> 1.na ltàl1a, na Ale-
um · Jlll!3 aépoc::a, · · em tndo o Ol:Wntf', Uma doo .,_ _...__, na E da v.· · tio · &ão i,rovidos-de indi.:aÇQes do
trina franc,scana dessa ar1e (que logt"r Baccn expõe no Opus maJus) mesmo gênern, mais e mais explii.:itas.~ fü~a tradi;ào CJeric::i.l pros.;r-
236
guc no século xa: as rubricas da Su.scitano La::.ari de H ílário t dos diá- vidas, ntm por SC"JS nutore5 nem ::,o~ seus wphta5, de indicações per
logo~ latin<is :::on,;ervados no manuscrito dito de fleur~ (Orléans 201), formar.ciais: !!o us:.m farw da, quais tudo o que sabemo-., no melhor
as :io Ordo pascalis de Klostcrneuburg ou do. bilíngüc, dt Origny-Samte- dos casos, é a que repcrtôrio de oonlra:1a ela~ penenciam. A~ tecnica s
3cnoiic. a,;~im como .a do Jl'U ti'Adam írancês, fornece:n di.rct1vas gue de pcrforman:c não oferc:cm p:rob:ema, sendo fundamentalmente tdên-
implicam u.--na '' mist~n-rct11e" que faz do texto o suporte da ação pro- b na prtu.ca l t () CIOS <Se poesia. Ftai un:a cl::'kui!dac;lcdc
dutora de senndo. \tas isso ts:á longe de ,era :-egra geral. O m.anu,cri- ouU'll ordem: muitos dos cc:uos, prinopalmmte dialogados fe preguiço-
tO de Garçon et /'aveugle, diá:ogo do qual se qu~ fazer o ance-stral das samente cata dos ,:orno• cea'l.ro"), contêm passagens nar:-at;,·as. É
farsns do secdo x,., por fal:a de outra rub.rica, põe artes de e.ada ré- açs.im com a rna:01 par.e das "~omedias latinas" do sê(:ulo XJI. do
?lica o nome ;io locutor; o mesmo se da :orr. c.ês dos cinco manus::::i- Courtoo a':4 r,"11!, que. 11'2.mp:mdo para dialogo a Parábola do F1I~o Pró-
:~ do Babio latino. O belo .ler. de saim Nicolas de Jean Dcdcl não tem digo, 1:i.troàuri1J ern t:-:s i:a»ulO!S, ~·,· 91-~, l 02 e ;47-9, eJO! narrafrrns
:1e:ihuma outra indicação; mas é precedido de um prclógo, colocado que formam a transição é.e u:rr.a "cena" a outra. Thrnbem acontece a
:la boca de um ''pregador'' e que começa e tcnnina por !.lua~ fórmulas mesma coisa no fragcner..10 da Ressr.irrerção anglo-normar.d.a do século
de cantor de gesta: Oyez. oye,z se1gneu.rs et d ames e f a1tes paix! Nada, xm e cm det~i:lados m~érios do stcuJo x,. Chamber:s, Roy e ou-
em c::mtraprutida (apenas semelhanças texniats emregues a nossa apre- tros, por ·-oito.. l!.-e L'XO, rela:::1or a~am essas DaSs.aJiens a um ammador,
:11ê~O), esclarece-nos sobre as modalidades pe:formanciaü de- dezenas que in:ervia:ia C!Jtre m a:or,:.~ l\ ada o prn"ª· Do mesmo modo, a llistó-
:ie tettos remiados de "rrumos", "monólogos ou "diálogos dramáti- :ia e.lo~ pocma..3 da Paiw:õo, :iepcis. a \'e!ha · 'Paixão dos ; ograb •·. inteira-
co.;'' Soment: uma 1,'i.são anacronicamente modernista justifica tais dis- mente na:rafr,a, a1é ::s Ji'::1r~os d~ g,-andes espetáculos do começo do
tinçêes - ;,efo menos para a época antiga, pois, no s~culo xv, J.-Cl. século ,,•:, 1120 para de er::rer..n:.zar e mesmo misturar os doi~ registros
A..bailly o cemonstrou,-0 a situação muda, e urna especialização já tea- de d.&UJSO. AJ escã.. :;:,a.-eoe-11Je, a pl"O\'a de que a linguagem na.rrath-a
traJ, no sentido que damos a essa palavra, afeta \'astas zonas do discur- não ,era i:ntão me'llos "~earra1·· do que outras nem requeria tecnicas vo-
so poético. Ames dessa época tardia, nenhuma fronteira e segura nem. cais e gcrnuis &.fe:J'Cf)tes: >--m dü•,;da, a distinção era quase impen:ep-
,em :lúvida, legítima: opor, CJmo se faz multas vezes, ai:1da seguindo tivel para c,.s a".ltor~. a::ore!, e ;iilblicos desse lempo. Somente para as
Fara:, Jabhr:'4 a mimo só faz sentido nl.lirul ótLc.a "literária", em que o vastas represe:nrações doo s.é::lLI05 xv e X'•t e que dispomos de uma do-
faoii'Iu aparece como simples obra de escritura - redtção hoje insus- cumen'lação mais .;;bi;rtda:::rt.e no Que se refere as performances; por ai
·entihrel. Nada é menos seguro do que dizer Que certas fonnas cômicas mesmo nos e a:es:a.da a exi!têocia de- uma ane, doravante, pamculan-
do discursü, fanfarronadas ou ditos licenciosos. prestem-s~ melhor do i.ada: didascâl:ias.. a.cas, :freqü.er.terneme contabilidade. Ai, afinal, em todo
que outras aos efeitos mímic~ por que, então, isolar c:>mo um gênero o Ocidente. c.a5CC' '.lltl Ce:a.Jro e.o seio da teatralidade circundanle.
à parte os '·monólogos cômicos". os sermões alegres e outras paródias?
D~ois do :téculo 1x, a hist~ria poético do Oci.dentie adorna-se de ta:-
'.os latinos : vulgares (desta oi: daquela éc:loaa de Walifrid Strabo aos
faud: italianos .>u ao Herbst uJUi ..Mai aJcrcão) a propósi:o dos quais um
ou outro de nossos medievalistas colocou a questão: não seria um mi-
mo? Pcrguoto isso de todo te.'t':o· poético entre os séculos ,x e .x,,•; mas,
de saída, admito que a resposta será sim. 't',;a oora cão rica e :liversa de
um .Rutcbeuf, eu me recusaria a imaginar que o modo de performance
dos poema, sobre a universidade fosse radicalmente d:ferente daquele
do Dit de l'.huber~... do qual há meio sêcu:o meu camarada Moussah
A.badie, aluno de Copeau, encenava um patetico espetáculo solo.
À medida que se avança no tempo e se penetra. a ?W.ir do s~lo
x1v, na pré-história difusa do teatro moderno, os tcxtcs que nos~
::em mais representativos dcs,e ponto de ,.;s-ca não são mais bem pro-
238
l
mn ,e nus escapam {IS contornos des~e aco:itecimentc... comer .J foge
a natureza exata dai. instrumento; de müsica (de q;ie madeira ~..:tm il-
bricados e a que tratamento e::-am prevíamcnte subrnet:dos?) ... do mcS-
mo modo gue ignc,ramos o ·.erdadciro psto da cozinha medici.:al, à fal-
ta de informações precisas ,atire a maneira pela qual os a.nimats eram
12 nutrid~ e as planw alimentarei culti,·aéas!
Toda voz. emana de um co~. e eSLe. numa civilização que ignora
A OBRA PLE1'lA nossos procedimentos de registre e de rep:odução permanece vhhcl e
palphel enquanto ela é audível. É por iiso que. talve!, um \-cUOr centra)
permaneça li,gado a ela, durante esses sécwos, no lmaginá...io, na_p~âti-
ca e na éti::a comum. As atit•Jde, riegativ--~. a~ cnndenações pretendas
no meio esclesíá.stico o testemunham, 3. sai modo. lograis e :;,rostitutas
s.ão en~obados na mesma repro,ração :le-icaJ àqt.ele c:ie fn comércio
A voz e o corp'J. Do gesto poético à dança. O espaço e o rempa de seu-corpo. A tradição a.scetica, exalta,do o jej"lm, a c~tidade e o
Uma teatralidade generalivida. silêncio, concernia as trés manür:i. ..::.çõ:5 :naiores da eorpo:-eid~ ri!:".: nos
costumes, tamo quanto se pode julga,, reinavam, cont·nuamente, uma
A performance é jogo, no sent1do mais gra1,e, senão no ma.is sa- grande liberdade sexual, uma paixão Ja pa)a,·n e (em desejo pelo m('-
cra]. desse termo: seaundo as definições que dele deram antropólogos, nos!) a voracidade. O espetáculo e ·::> meco da coe:1;a !stão heluta\.eJ-
r,siquiatras ou filósofos, de Buytendjjk e Hmzinga a Kujav,.-a, Scheuerl, mente tecidos na trama dos dias; a pr~sença ami!,<t ou a:nea.:adom ds
Schechner-Schuman e Fink. Espelho; desdobrame:1to do ato e dos Rro- morte afeta toda experiên:ia ,,,ida, e os sem sinais concretos, regulam
~s: além de uma di~tância gerada por sua :;>cópria intenção (muitas ve- 0
carrunhar humano: cadáveres ~postos, túmu.m e até cs harulhu~ que
zes marcada por sillllis codificados), os po.rcidp,antes vêem-se agir e g0- denunciam a presenca do; espíritos noturn~. A teoiogia dos fins der•
2.ao desse espetáculo livre de sanções naturai!.. Para o breve tempo é.o .adeiros e os mitos sobre os ::i_uais ~la 5e apoiou contribuem par4L a exal·
jogo, afasta-se assi.o a ameaça la.tente do real~ o cbdo compacto da ex- tação desse horror ou dess.a bênçã.::>. Na imagem do santo mártir, cul-
periência estratifica-~ os. elementos dobram-se à minha própria fanla- mina uma tinha de pens:amen:o: :::orpo so:re:nt::, ecn cujo~ membros
)Jél, este b\cfc. perpetua-se um mistério salvador. A dm:trina dos ~acramentos implica
Do jogo poético. o i:mrumen:o (em aruência de escritu:a) e a ,·->z. a mesma valo:izaçâo simbóLca da• 'carne·•; e::quanto isso. no plano ma-is
Mas esta, de outro modo, é também o objew de !i rne~ma - do Do: o realmente fisioló~íco, está :i culto das r~hquias, d,) gua. se sabe aré a
•:so geral, por parte dos intêrpre~es. a·.e o s.éculo xi-.. pelo menos, de que cuidado do d~talhe concreto elc Levou: uma gota do !de êa Virgem
lormas diversas de ;;anto. de cantliaçao, de declarr.ação escandida; nt.- ou o prepucío de Jesus Cristo! p_ Boglioni destaca, :om :-ai.ão, a. 0,1-
sica vocal mdissociã,.·el, no esp~rito do publLco, da própria idéia de presença do :::orpo nas p:-áucas da peregrinação em q1.:.e ele se torna o
poesia: J. \faillart, a propósito de Adam de la l-.alle, mostrou-o com lugar da per1,;t:pção e uunbém d:,. expres~ào do sagrado.
ênfase. As Vidas dos rrmadores o testem.lllham; mas essas observações l\o curso do sêculo x .• , deçcis :10 século xu, e, corpo. ::or.io tal.
concernem necessariamente. ~m nuances. a todos. os tipos de pe;for- faz.-se objeto de rei1eAào por par.e- dos doutos E a epoca de ce:1a ~a.:.~-
::n,mce. A au~ênoa de signos rür.:iic.()s nos sistemas de notação mus;ca1 zaçào do s.aber e tambem :la conslit'Jiçào das f::mra.~ :na.is e!aboraô.LS
jf~sa epoca podena ser mtenc1onal e re-.-elar a liberdade, deixada ao in• da poesia em lmgua \Ul!!ar -cf:.-.to compkxc dt :-ausalida:ie r;,-;,-,._
têrprete, de variar :>s efeito~ \'oca1s; cada pcrfonnance torna-~c, por ii- e~. mais do que coinddência. " arte rep:e5cnta:iva. espcc.al;t1~nce_ a
so, uma obra de arte única. r:a operação da voz.. Não há dúvida de que: escultura, oomC"'yS por si.a vez 11 magnifi.:ar a fig\.l ~a huma...a. P-.ard Alam
a :dec:lalm.awd :teria · UUe.Depla1;.m111aturae, a harmonia do "ediii:to de corpo" ~r..s-
]l.fum:al, a \'OZ poéuca emergia da onda mdifcrenc1ada dos rmdos e das u61 a figura do "paláoo do ur.nrersc": traduçlio~'Ulta daqillo qJe, ê!es:1e
p~lana~ Fia c:ria\a o acomecrmenrn. Di~so podemos estar cc11oi.. me.s- ll50, repetem inCJima,•dmcnte 1·ovti:lo1es e:- trüt,\Ef"eS ao lou•,ar a oeleza
vidos, nem por seu~ wtom nem po· seus copistas, de indicaç,õ:s per-
l
g11c no sêc11lo x11: as "1Jhricas da Suscitatio Lazari de Hilário e i.io~ c.liá-
logo~ latinos conse!'\'3dos no mznu~crito dito de fleury (ürlénM ZOI). fo1manmu-. ~ã" ass\m far)a.S das quais tudo o que ~J.bemo~, no mcll•or
as do Ordo pascalis de Klosterncuburg ou do, bilfn8úe, de Origny-Saint~ dos casos,~ ,11 que repertório de confraria ela~ pertem.iam. A~ técnicas
Benoítc. aisim como a do leu d'Adam france,, fornecem diret1vns que de pcrformaria i:!l.o oferecem rrobltma, sendc fundamentalmtnte id!n-
implicam uma "mise-en-scene'' que faz di> tci:to o su{Xlrle e.la ação pro- 1
ticos na prdtka a todos o, gêneros de poe"Sia. Fica uma dificuldade de
d.1tora de sentido. Mas is~ está lon e de r etal. O manu cri- orâ.rn. mo ,w tato, prmcipalme11tediatogados'(e~
co do Garçnn er l 'aveugle. diáloio do qual iC quis 'nzcr o ancestral das c;a~cntC' cat l01pdo oomo "teatro"), contêm passagens narrativas É
farsas do ,éculo xv, po~ falta de outra r Jbrica, põe a n1es de cada ré- as,im com a maior parte da "comédias la:inas" do século xn do
')!Lca · --,:-re co locutor: o m~smo ~e dá ::om três dos cinco manu,::ri- C<>Urtois d:4 rros. que. transpondo para dialogo a Parábola do Filhc Pró-
~os do Bai110 latino. O belo leu de saint 8icolas dt Jean Bode! não tem digo, introduztu ~m rês pa;sasens, ""· 91-5, 102 e l4i'-9', elos nar.auvos
uenhu.ma outra indicação; mas e preced do de um prológo. :olocado que formam a transição d! uma ''cena" a outra. Também acontece a
na boca de: um ''pregador'' e que começa e termina por duas fórmulas mesma coisa no fragmento da Ressurreição anglo-normanda de sé:::.1l0
de canto, de gesta: Oye.;, oyez. seigneurs er dam~.s l' Jaiceç pmx.1 Kada, XJLI e em determinados mJStérios do século xv. Cbambers, Ro~· ~ ou-
em contrapartida (apenas semelhanças textuais en~regues a nos..sa apre- tros, ;,or volta de l 900, relacionavam essas p:1.ssagens a um animador,
ciação), esclarece-nos so',:-e as modalidades performanciafs de dezenas que intervinha entrt os ato·es. Nada o prova. :>o mesmo modo. a :ustó-
de textos rotulados de "mimos", "monólogos" cu ''diálogos d;amâti- ria dos poerr.3.) da Paixão, depois a ~·elha ''Paixão dos j ograis ", íme1ra-
cos". Somente uma. visão anac,onicamen:e modernista justifica tais. dis.- mente no.~a:iva, até os lil:retos de grandes e;petáculos do com~o do
tin;ões - pelo menos para a época a.nt.ga, poi.s, no século ,._...,,, J.-Cl. 5~ulo xvt, 11ão pár11 de entrecruzar e mesmo misturar os dois registros
Aubailly o demonstrou,..1 a siruac;ao muda, e uma especialização ~á tea-
:ral, no sentido que damos a es5a palavra, afeta "'a..stas zonas do discl.lJ'-
50 poétlc:>. Antes dessa época tardia, nenhuma fronteira e segura n~m,
l d~ disctm.a. Ai está, parc~c-rr.e, a prcvG de qmi a linguagem narrativa
não era emtão meJ:ICS "teatral" do que outras nem requeria té-cní::a.s vo-
cais e geslu!iÜ diferentes: sem dúvida, a distin.ção era quase impcrcep-
sem duvida, legítima: opor, co::no se faz muitas .ezes, ainda seguindo tí·1el para os autores. ator!S e públicos desse tempo. Somente para as
Faral, .fai,!iau a muno só faz s~ntido nnma ótica "literária", em que o vascas repre~em:ar,;ões. dos séci.los XY e xvc é que dispomos de uma do-
fabliav a:çarece como simples obra de e~critura - redução boje insus- cumen:~ão mais abundante :io que se refere às performanc~; por aí
tentável. Nada é menm segu:o do que dizer que certas formas :ômicas mesmo nos ~ attstacla a o.istência de uma arte. dora,·ante, p,IIli~ularí-
do discu~so. fanfarronadas ou ditos lice::i.ciosos, prestem-se melhor do z.ada:: dicwcálias, atas, freqüentemente contabilidade. Aí, afinal, e:n todo
que outras aos ,efeitos mí:nicos; por que., então, isolar como um gênero o Ocidenlc, nast:e um tefJ:ro no seio da teatralidade mcunda.n te.
à "Jarte os "monólogos cômicos". os sermões alegres e outras pmóctias'?
D;poi,- do sécu!o rx, a história poética do Ocidente adorna-se de tex-
tos latine>s e vu1gares (~~ta ou daquela écloga de Walafrid Strabo .aos
Jaudi jta'.ianos ou ao HerfJst .!llldMaiale.:não) a propósito dos quais um
ou outro de nosso~ medievalistas coloccu a qu~tão: não stria U."tl. mi-
mo? Pergunto isso de todo tex:o poético entre os séculos [X e xi,; rnas,
de saida, admito que a resposta será sixr.. t\a obra: tão rica e diYer~ de
urn R11tebeuf, eu me recusaria a imaginar que o modo de performance
dos poemas sobre a uní~cr5:dade fosse raclicalmmte diferente daquele
do D1t de l'herberiL . . do qual há meio século meu camarada Mou.ssah
Abadie, aluno de CQ?ec.u, en.xnava uro. patético espetáculo solo.
A. l[]edida qu~ se avanca no tempo e se penetra, a partir do século
xiv, na prê-históría difusa do te:auro moderno, os textos que nos pare-
cem maís rcprcscntati'\/0' desse ponto de ,ista não são maii bem i;,ro-
238 2J9
l
r.10 ,e 110!! escapam o~ rnntornos desse acontecimento... como nos ÍD~C
a n!ltu:-eza exata dos imtrumentos de mú.si::a (de que madeíra eram ta-
bncad:is e a que tratamento eram previamente subinet:dos7) ... domes-
mo modo que ignoramos o verd2.deiro gosto da connba med:evª!• à faJ.
ta d~ informações precis~ sobre a maneira pela q·.!31 os anun:us erarn
12 nu·r:dos e as plantas ali.;nental'!S cultivarlasl .
Toda voz emana e.e um corpo, e este. nu.ma civilização que ig.nMa
A OBRA PLENA nassos -procedimentos de registro e de reprodução, ;,enranecc 1,ish-el e
palpã•,el enquanto ela t audivel. É por isso que, tal_,c.c., ~~ --:alor cent~
permaneça ligado a ela, :lurante esses secuJos, no UilBgmano, na P:áu•
ca e na éti::a comuns. As atitudi!i> negati,,.as. as condenações profendas
r::i meio esclesiástico o testemunham, a ~e·J modo. Jograis e p:-ostit,u~s
sã.o englobados na mesma reprovação dericaJ àquele Ç\lC faz ~mci"' 10
h \.OZ e o corpo LJo gesto pourco a dança. O espaço e o ,empu. de :;c'.l corpo. A tradiçã:i ascética, exaltando o jeju.:n, a casndade e D
Uma uatrali'!iade generalizada. sJêncio, concernia às três manifestações maiores :ia corporeidade nc.:,
co:1tumcs, tanto quanto ~e pode ju1gar, reinavam, continuamente, uma
A çerformar.ce é /ago, no sentido mais g;a1,e, senão no nais sa- gra.'1de liberdade sexual. uma paixão da palavra e (em de~ej~ pelo IDC-
cra!, des.5e termo: ~cgunoo as definições que dele deram antropóJogos, nos!) a voracidade. O espetâculo e o medo da do=nça estao melutavel-
psiquiar:-as :>u f1osofos, de Buytendijk e Humnga a Kujawa, Scheu.erJ, mc:ite tecidos na trar.:a dos dias; a presença ami~a ::>u am~çadora da
Scheci.ner-Schuman e Fink. Espelho; desdobramento do ato e dos ato- morte afeta toda experi2nc1a v.vida, e os seus sina:s co:icretos regulam
res: além de llDla dlst!inc:a gerada por sua própria intenção f}DUÍ'..a.S ,-e- o c-arrunllar humano: cada,·ere~ exposlos, nimulos e até os barnlhos cpe
zes marcada poc sinais codificados), os participantes vêem-se agir e go- denunciam a presenca àos e!>pilitol) noturnos. A teo,o&ia do, fins der-
i.a.m desse espe:ácl.io li,rc ::le sanções naturais, Para o breve c.e:npo do race:.:-os e os mitos sobrem quais ela se apoiou contribllem para~~-
jogo, afasta-se assim a ameaça latente do real; o dado compacto da a- e.ação desse horror ou dessa b:nção. ~a imagem do sant~ martU, cul-
Deriência es·.rat.fica-se, os eJementos dobram-se à minha pró:iria i'anta- -n.ina uma linha de pensamento: corpo sofrente, em CUJOS m~mb-:°s
sia, em blefe. pe-i:etua-se um mistério salvador. A douuina doe; sacnmEntn~ impli.-:~
Do jogo poético, 1> i:mrumentc, (em ausência de escrimraJ ea \'OZ, a mesma valorização simbólica da "carne"; enquanto is..-o, no ;,!ano rn:115
'.\tas esu., de outrn modo, é també:n o objeto de s1 mesma - donde o realmente fisiológico, está o culto das relíquia~, do qual _"e 5ª~..1te ª
uso geral, por par.Á do,, interpretes, até o seculo xr,.- pe]o menos, de que cuidado do deta.:i.e concreto ele le-.•ou: urna gota do leite da \.rrge~
0 1
formas djversas d::: canto, de cami!açào, de de~lamação es:::and.Jda; mú- ou o prepti.cio de Jesu. Cristo! P. Boglioni destaca, .:\Jm razão a ""- -
0
sica -..-ocal indisso-ciiv,:·, n::> espírito do público, da própna idêla de ;:ire~ença do :::orp<> nas praticas da peregrmação, ern que ele se toma
poesié.: J. Mailla.rt, a prop:>s:to de Adam de la Halle, mos:.;:,t,;-o com lugar da percepção e rarnbém da expressão do sagracto.
ênfas(, 1 As Vid..s dcs tro"ã.dores :> testemunha.-n: mas essas observações ~o rurso do sééulo x11, depois no se::ul.o xi:. o cor:;,o. ~orn~ ~~·
con::e,nem neces~.ariam~t::, com nuances, a todos os tipm de perfor- fa.z-~e objeto de refl::xâo por ?afie dos doutos. E a epoca ~e 1.:i::~il ,a:ri
man ...e. A aJ ~n-.'ia de Signos litmi,~ nus s.is1cmas de no:a,-lo musKal znçào do sal:>er e tambern da conqi u1ção das f,J-rr.as m..is ela1 )r~c.a5
10
dessa cpoca po.::da ~cr inlencional e revelar a liberdade, dei~da ao in- da poesia em língua" Jlgar - ete1to complexo e~ cau,ahda•1~ reop •
têrpre:.e. de vanar J~ efeitos voca1s; ;:ada pe-rformance 1or1U1--sc, ror Is- ca~, mais do que coincidêncrn A arte rei)resentauva, espe;;ialmt:n'.~ a
so, uma obra de ane úni~ na OJmll o d voz.. d,h ~ que escultura, oomcça por sua VCI a mapufü:ar a figura humana Para Alam
_.a:r;_,.. d ,. CC'n~
a declamação fa!.:uh teria sido, ela r•rópna, concebida dcs~ mane.tra de l 11lc, pran , ,• • d o • · ~ o corpo -·
l'-1u,ical. a ,oz poe.tica emergia da or.d::i 10d1terene1ada dos rutdos; e das trô1 a fi ura do "palácio do un1,-crs-0" tradução culta daq!.lll::> que,_ ::k:idi:
pala, --as. Ela cr.a~·a o aro,uer,m.·n:o. Disso podemos estE.r certos, mes• Jl5ü, repetem incansavelmente trovado~cs "trm,·,eres ao lou"ar a t>::.eza
1.J.()
l 24,1
de \um c.lonas. 2 Beleza a,imada, cujo mrwimenw. ~cg~1do lf ugues de n texlo1 narrativos, até o ~«uto ;.vrn, não param de ::olocar em c!-
Saint-Victo;, t urn dos componente~. "não rnnente npte~são <le l'i\l<l, nal)~ comport: me-nto qut>. 11 1dü lr'll:1 a crer, cC1nst1tuia de um fa•or .1e-
mas de alguma maneir:i sua aparição" (norr •o/um imr1go .rtat expn- cc ~rio da performance poética. É v~rdadc que~ informa~õe• ")rtci-
tpsa quodammodo vrra rnc tur). i
l rax · f,guraçõe. escuhó:ica~ ou picturú
em sequências, encadeia-se, de enha visual e fatilmcnte, diante tlo cu- m ico tili%ad . para p:i.rtlcularb.ar uma ação: o s 1e:x10:,., pouco varia•
d , is. Co1m1éo, à uz das pcsquis.1u recentes de semialogía ge,1ud', ü poJ :c,
tm, uma escritur::. do corp<l, linguagem analógica, em continuidad~ ao
que sabemos tama um valor eminn te, organiza-s>! em fato inconiorná•
seu ambieme mcunstanc:al e ,oci::.I. Por isso nesmo, a anált~e filo-ôfi -
,ç , ,tJetO je i,acep,;ão scnscnal i:itcrpcs!toa., o !;:5t0 coloca em obra,
ca e monl percebe-o cm sua ma1~ ::onsistence •midade dinâmica. o ges-
em seu autor, elcmeruos crnélico:s (comportando ::iuase ~empre um rm•
to. A~~1rr é com Hugues de Saint-Victor, ainda em sm tratado sobre
do, :nesmo f-aco, na au.sêm.:ia dt:: acompanha.mento vocal), pr::,;:csso:.
a ro~m,1~-ão de "Jovicos: ''um gescc, e ao mesmo tempo movimente- e fi-
te-rr i:::os e químcos, traços formai~ como ::iimensão e deser ho, caracte--
guraçãl• da total1d.ade do corpo" (gestus e.,t 71nIU., ;,1 figuraria mem-
res dinâmicos, detinlve1s em imageru de consistência e :lc (}eso, um am-
bromm corporis 11d omnem agendi et habend; mod1.un), implica :mili-
biente, enfim, c::msticuído pela realidade ps.cofisiológica dD corpo de
da e modalidade e tende a um fim defmi-.·d em termos d<: ação ou aritude.
que provém ... e do entorno desse corpo. Naquele que observa e gtsro.
J.-Cl. Schmitt momou a riqueza d~ tal noção, que faz do gesto humano
a decodificação implica fundar.~1er.talmente a \'i.~ào. mas também, ~r.i
uma r<.!:llizaÇ;ão do ,categc,ria uni~·crsal do movimento, central do pen.<:.a-
medida variá~1el, o ouvido, o olfato, o taLD eu.ma :,ercepoio cenesteS"•
mento do século 1rn:~ esta conceb~ o movimento não mais como atri-
ea c~namen1e, sera abusivo ass·-;nilar toda seqüência gestiu a tma fra-
buto do coTpo, mas corno re-sultado da :nter.,ção dol) ekmentos natu-
se, toda gestualidade a um sis:ema de signos, e uni·versalizar a neo tou
rais, tanto no nivef cósmico como no das sociedade:; e dos indi~·iduos
pseudo) ciência :iue os semióticos anglo-sax6nico.s :hanam K.inestcs. Fi-
vh•os. As5irn se justifica a metá.fora pela qual o corpo e jim respuhilca, ca, m menos, que a gesto pod. ser signo, na mediidct mu.i:o gera em 1
Estado, •:idade. Ademais, figuratw só faz se□ Lido re.a:ivameme a uma que ele' é c:1lturalmente condicionado, e na medida ~specffca em que
dupla face do rea.: escor.dido/ visível; imerioriextenor, referindo-se de ele traz., em mei::l determinado, l!ma significação c::,nvenc1onal. A et:::i~
todo modo a uma evidência repr~entath'a. Jcgia ensin11. a que p,:into esse genero de cor.,-enção pode tu ~_-se e~-
Os estudos de Schmirt, de uma dezena de mos para cá, pernritiram caz no uso arti,;:ico do gesto em rerforrnance: dcs griots da AI, tca oc1-
situar em seu contato intelectual e mental o De. instituitione rrovit1on.im, den:al aos corit.adores j aponeses ti~ rokUffJ, os exemplos se enCJntram
que foi no Ocider.te o primeiro tratado de moral a dar grande espaço i:or toda a Terra, e ê ao menos verossimil que es;e recurso da g~st.iali-
à geH1Jalidade. O antigo De musico de A.gostirho associava gestus e so- dad:::- r.âo tenha sido ignorado pelos intérpretes med!ievais. No sé::ulo XIX
nus na ideia da harmonia musical; o vigor desse pensamento perdeu-se ainda, 1•ários manuais de eloC1Jção destinadm a amrc~ ou oradores de-
durante. a alr;:i Idade :\'lédia. Sobrtssai um último e.::o em Regino \•On ram gr.im.k 1:~pa\O a codificação do gcJtO: só :ios EstE.dos VnidQ('.; apon-
Phim, por volta de 900, e em seus imitadores: o trabalho do mliÍS:ico abriga, taram-me três, :, de M. Caldwell (Filadélfia, 18~9:1. o de A. 'YI. Bacon
com a aplicação d~ regra~ apropriadas., a ação da voz e das mãos. i Mas (reeditado 5eis,ez.es.até 1872, em Chicago), udt E. So~thwick (cm No-
o próprio termo, não mer:os que a noção, tende a esfumar-se ou a esde- . a York, IS90). Poderiam.os, com prudência.. de modo \'Olu nlariamente
ro~ar no 11.110, para ÍJn"adir progr~~·ameute o ca..11po iJ11,;:kcti\'o só a partir a".)fOl(lt1at.ivo. evoca· um.agramá1i::a ou, mais j u~tameme, Lma ::c::Lú:ka
do corne,,.--o do secu1o x11. Mede-se a distâocia percorrida: para Remi d-::> gc:no, mamendo ou superando a da ;,a.li:.vra. En:re a., figuras_que
d'ALL"tcnt; em meados do século 1x, gesrus d~signa o mo,·Lmemo das d a en:;J.deia e combina, a suspensão prov1soria cfo mliv ,niento, a 11no-
mãos: moru.s, o do corpo :odo; Roier Bacon, por volta de 1260, en:ende bilidade re;,enrina, não é a mmos eficaz... tanto q11an10 os rilêncios en-
por essas palavra$ todo movímento do cor))O, percebido respectivamen- tre os ~ignos da voz.
te seja pela vista, reja pelo tato: s6 o primeiro, gestus, pode entrar em
harmonia com os sons, i:ondo em relevo por isso a mu.sica.6
Desde então é a urn comportamento corporaJ num todo que se re- Um laço funcicnal liga de i ato à voz o gesto: como a voz, ele pro-
fere a ~~im gestus - com:;,reendendo riso, lág;imas, ''espasmos" (que jeta O corpo no esp..ço da performance e \'isa a con qui~ta- lo, ~aturá-lo
241 UJ
~r ,eu rr(I, 1mento. .4. palal'ra pronunm:id.i não ni~te (como o faz a pa- o testemunho, i::tSLTito em. sua lite~ahdade. O belo Potme moral de Líc-
la\rd e5crit.a) num conleJllC\ puramente ~·erb.al: ela participa necessaria- ge, de cerca de :200, tru nos vv. Jl4~7 a r,otaÇ!io do gr,111, do de.j0
01en1e de um procCloc..o mai~ amplo, OflCJllindo ,obrt uma situação ais• pelo quaJ o inte:-prete marca o ritmo de seu relato. Gémrd Brault, em
tencia.J gue altera de algum modo e cuja totalidade engaja o, corpos dos seu livro sobre a Chonso'I de Rolond, :ira do 1~10 váriru indii:açõe.) ;pro-
participantes. Marcel .fousse, ao cabo de vime anos de pesquisas e de ~·á\·ei.s - relatiws acenos gestos de que o animava.o cantor, algum dos
tentativas de descer- às prói,rias raízes da ~pontanei:iadc OCJ)ressiva, co- quais constituíam talvez receitas de ofício, ao modo dru "fórmulas épi-
loca\a cc1:no in.düsodáveis o gesto e a palavra, num dinamismo com- cas", ou então provinham de um codigo cultural de mo comum: mu'ti-
plfJlíl qne ele chama..11 1•,Jhamntor A partir de outras premissas, e na plicaçio dos dêicticos, dos dis,;urscs diretos ptnorutl:2.ados. das descri-
"ª
ympca da performance, Brecht criou para si a noção de gestus, cn-
1
ções que jmplicavam, pel::i menos, o esboço de uoo jogo mí:nico. • Ph.
vol"endo, com o :ogo físico do ator, certa man"ira de dizer o texto e Vlénard, quand:> põe em rele1o'D numerosas "exprcl>SÕes coq:orais'' c;ue
uma atitude crítica do locutor quanto às frases que e.e enuncia. Na fron- figuram no teXto de Rol!md, traz argument05 para essa tese: como, em
teira entre ;lois domínios semi»1ioos, o gestus dt conta do fato de que perforcmmce, usar tais expressões s'=ID imitar de lli.lguma maneira o con-
urna atitude corporal enconrr.a seu equüraleme nu..11a inflexão de voz, teúdo? ~!as as canções d~ gesta nio são as mais priv"ilegiadas n:.~s:>. Os
e vke-\'er,a. conlinuamente.1 romances também não ~ão menos riem de marcas scme~antes. Apon-
:Jonde a ca-pacidade que tem o gesto de simboLza.r. As instituições tei, err. outra pane. o caso do5 diálogos desprovidos de menção text.11al
ff"udais fizeram desse r::aço a uso constante que se conhece, em vírtude exphcita das tro~s de imerJocutor. Ciram-se muito íacilm:im: outro&
ta.lve_z das formas degradadas daquilo que Jousse di:signou um " ritmo- fatos, absurdos, caso não s:: 5uponha a interve:1~0 de um geHo: esta
lDlmismo" primordia l, fundado em correspondências cósmicas. Gesto-- ou aqt.ela série enumerafr1,•a, na dependência de um \ocrbo de percepçao
hieróglifo. ligadc a essa ''\iirtude expansiva das p,davras'' de que falava como ver, alinhand:> os subscantivos precedidos do art',go definido, muito
Antrn1in Anaud, a JlTOpósirn do teatro oriental. A língua do gesto é tam- fortemente "demonstraú1t·o" em antigo francês:. é assim n[)S yv, 3ll02
bém a do sopro; ela ''po,,oa uma espécie de reseri1a pré-lingüística", e ss. do Cliges ,:;e Chrétieo de Troye$. Tu.is fato, encontram-se muitas
escreveu )'. Fonagy,6 e, cm alguns casos de artifício extremo, ocupa to- vezes ainda nos romance.s em prorn do século xw; é a.~.;irr no Lar.ce-
1
talrr.entc o campo eia expressão: linguagem gesru.al dos monges conde- lot, xxxv1, 33, em que a indicação d:: lugar exige um gesto do leitor. s
nados ao sfün:ío, mas 1ambém a pantomima antiga, cujas tecnicas s.ub- O Tris:an de Gcttfried von Strassburs não oomem rnenc,s c;ue 67 pala-
i,istiam ainda na boca carolíngia. 9 Boncompagnc, tratando em sua vras 011 expressões em franc~s. ou stja, em media uma. a :ada 2~0 a tre-
RheroriC:J noviss;ma das tran~posições, evoca o discurso sem palavras zentos versos. Al está, seg;und-> tuc.o indica, um proredime:ito es.dlisti-
dos ''ama:ites tímidos ern demllSia para falar'', que '' faz.em passar seus co, colocado em forte ~levo ~elo próprio mo que dele se faz: apw:ece
sentimento;; em ~cstos, sinaü, ou mímica". 10 De 11m ponto de vista lin- principalmente (34 vezes) em discurso direto, na boca de uma persona-
güMico 'Tl.êis. geral, Fonagy fala de "mímica audilie!", 1l tanto interfe- gem d:1 c;,ual ele caracteriza a cortesia ou trai 11m r.entimento v;olento;
rem r.es.se ruvel os regísLros sensoriais. A prática dos intérpretes de poe- em conrroo nanatlvo (23 vezes), ~erve para qualificar o herói, designar
sia in;cre,.,e-se entrt esses oom-portrunentos, que constítuem para eles wna uma virtude ou um discmso e:avaleire,co; en:un (;fez. vezes), permite um
es,1:&:ie de rneb natural. Boncompagno assinala arada a importância do jogo de palavras ou uma figura etimológica, Um em;;,rego valorizado
gc.31:o come revelador da figura da iroma; 11 pôde-se afirmar (a propó- a e:.~i;: (Xllllo illlvlh.:a, 4uase n=t:cssariamentc, pelo men:>s. uma mímica
si:o de reJatos ha5:og:-áficos) qLJe, na performance dos jograis, a mimi- bucal na enunciação da pala,-ra escolltida. ;-Jl pot!:::os t;>;t:>s, antes do
1,;;,, pm.lomiJJaYd em signiüra~u sobre o e.amo, poque mais precisamente século X\, que, l!l(a:ninados de pen::>, não rei,dcm .1~im, mesmo incom-
evocativa e, sem d·.ívida, mais ::ontrohh-el. 13 As artes pro.edicandi tcste- cientemente, o qu~ me r>:ilC-Ce se" um traço profundo ~ u1.1versa!.
mun.ham ~ scdu.,;:t... qJe, jepo1• :le l.?00, essa ane exerceu sobre as no- Cvmpreend.-;:,e entao que, muno ...c:00, :-s.sa CJÜllLlydi. 1,.n •- ,;;n
"ªS orde:H ~eligiosas votada5 à ,;>rédica. tado con:rolar a energia do gesto, fai.ê-la senir a 5e\Ui fi:-is ?articulares.
Essa ,ituaçã::> não tiod1a cieaar de afetar profundamente a própria De5de a tpoca carcllngia, a pedagogia explora., para favore;er "'nu:u10-
16
natureu êo, textos. O gesto conLibuía com a voz para fixar ep ra com- rização, a gestualidade do COípO ou da~ mãos e dos. dedos.. A maior
per ~ sent.c.o. \1UIIO'i da;,iueles to.tos que ficaram trazem-no~ fugazmente parte dos manuais de retórica menciona pdc menoio a awo; alguns,
244
cerno a Rhetorica 11ovella de Bor.corr.pagno, süc mais aplícuos: um c.1. mundana. Os jogmis e, sobretudo, as jo~alcsm , que por vn es rcp rc-
pftulo, "De ~esubus ">rolowto::-urn ", :.-al2i d:i .ideql!.açao do movimen- scnUMUn, quando das danças comuns, o papel de mestre do :ogo, pra-
to ao discur~o. E, alia:-, condena selJ obuJO. ~·u •~o de Boncompag- licam uma <lança profü1ional que, aos ot:1os do público, -:onslituln e
no, esun·a efetivamente m~taura t. ,i ~ u ~lo JJm étiCá ~ ercial de sua arte: as representações li~uradas que dela nos 1esram
ges1uaJ, fu ndada sobre- a analogia. d os rno , ; ~ do corpo com os da "-alomam o peao q ~ cr uco. 1ncessanl~ oonderi..aç0(5 ccics
alma: Hugues de Saint-\',ccor, no~ ,ttstr.Jctw-ne no11;t,orum, não us:i ~, riens sugerem sua lasc1vin. Os textos c::mservararn-nos divc~~as de-
meno~ que <lezesset~ ::iualifica:1,os diferentes para desi~nar os valor~, s1gnaçõc-s dessas ºe-,oluçoo", conotando 1como uma lingua_11em pubh-
monu.s do sesta. \ethelred o: Ric,,~Ji.X. Gi::bc:rt de ro~rruu, Alam de ._,u.na) nu estranh~ e seu aparente e.'totismo: a "evolução :rarcesa"
li.le. ate Giraldus Cambremi.s, inü::r.ero! do:Lmectos ocles1àstico~ no a• 't.ll C;1a:npanhe" , a •·da fapanha", a ''da Breranha' ', a "da I crena •.
; u: so dos séculos .\11 e .xm , •i5am a rno~.lt-:ar ~ a u •r!L: :. c::m nome:: da. a " romana", ··welsciur rrir,'' !'"passo romano' ') e todo o res{t). O su-
vi:1~de, a atividade ge-srual. Quanto a r.m. :;ioo::::nm concluir que essa cesso dessa arte nunca 5e desmentiu. Ainda por m ica de 1400, cena Gra-
atividade passou, C.:~Je t:nlào, ao pdrne-.ro _p la:ic, êc- jogo cultural, n.a. cio~a. originária de Valência, fe7 gloriosa carreira de dançarina, a1ravê-,)
atenção e seruibilidad-! comuns? Que se instaure ::im traço no.·o de me:i- da Es:phllh.a e da França. 13
tal.dac.Je: um sentido agudo da s:i,grufkãn:ia :ie '!ei"t•JL Donde as conde- Supô~-sc haYer nessas práticas alguma sobrevivência mítica muito
nações fu1'11inantes contra a ge.sticu.açào dm ,-Lscr:ões"'. Donde, ain- amiga. a necessidade an.i:mi.na de uma reprodução de movimenos do
da no começo do sé-:ulo xn·, o d.ocreto ri.o ça:;:ia João x.x:r, Docta ceu. Th]ve?. Pelo mt:00:i. das implicam dara.mence um sentiment::i difu-
sar.crorum patrum, que é mwras vezes evo;;,aà:J pelos mmjcólogos e que, so da ritual.idade do universo. O homem dança, mas ainda mais a mu-
para condenar a ars nova, prende-se, em par:icli.lar, ao excesso desses lher. exaltando em gesrlculaçoo ~ua feminil.idade:; os anjos dar.çam; os
gestos que dublam com imitações as ~ ' " 3 c.uitada.s;. 1~ Indignação do demônios oc século x1v, a própria ~lorte se porá a dançar... Faral ji
prelado conservador, mas reveladora da 5mi:ort1m:i.a que tomou o ges- enumerava as testemunhas dessa pai.1(âo generalizada, que as ·tprova-
to, desde então, no funcionamento soca.:?. 0':l~~-J é.-!' urna disciplino (que çõc, do alto clero só fizeram atiçar, como parece: do século IX ao xv,
cedo ou !arde engendraria uma euqueb), tlc- pro!"er~óeu, no come.,to de a docl:mc1taçào de que d.1.Spomos atesta uma difusàu .:umin ua das prá-
uma reabilitação ccntrolada do con.-::,. •.cr. o.,fc~,;. tica; coreograficas, sua diversificação, a invas.ão de toda existên:1a pú-
Os cantores e declamadore-s de poesia n:.al se pl!de:ram sujeitar a blic-.a e pr.vaca pela dança. 1~ r-;ão ha fest.a sem dança; e esta, em cada
esse Quadro. Suas "gMtic11lações'' des;abro.::1:.arn em outro ,contexto: o loc.i.lidadc. tem s,eu lugar próprio: a praça pública, na AJema.11ha um
d.a unh-ersalidade da éança, no bojo ia sociedad:::.. A ra:ldade dos d::>- prado sot: as tílias; nas cidades, por vezel> (corno em Colônia de:>01s de
cu.mento~ textnajs ou i :onográficos e. cr.ais; abu:.a, a de pesquisas sérias 1149), uma sala resemlda para esse fim; no ma.is das vezes, a igre_ a, único
sobre esse ponto deixa.:n que suosir'.am muitas t;_Je~rões insolúveis. Es- edi ficic bastante ,;asto e seguro.
ram:-i~. contudo, a poi:;t:o de dep::-eer.:er :rnui:c,s fat-os, esboçando uma. i'<. ntes do século xv, conhecem-se apenas danças de grupo, com fi-
perspectiva geral. Pare:e que é preci.sc di.56:.,5.cr dois tipos coreográfi- guras, em roda. ern cadeia, das carolas às procissões dançadas; unidade
C(1S, segundo o foto :lc terem .sido cn: não praricacc,;5 ;,;,r profissionais. no jogo, reveladora de um des1gruo comum. O efeito coesivo do ritmo
Entre as danças às quais podiam em:egar-,e aa ~a:or das circunstân- pode acrescer-se das batidas de mãos ou de outros processos de marca-
cias, todos ou 1:atla orr., o historiador (rr.as ta.:,'1!'2 :nâc• o dançarino dos ção foite: maierolle.s, descritas por Jean Renart no Guil/miff,e d? Dote,
se-~ulos x. XlI, XIV!) é !~-ado a disringuir a.i:ida: .algL'11.a.!, de longínqua dacças sc,b as án,orcs, danças da corte e 3.S da Páscoa, do Pientecoste!,
ongcm pagã, inicialmente ligadas a ::ultos agárros, permaneceram ate de Sã.u Juão, cor:.ejo;; da Candelária ou das Rogaçoo , danças de con-
a ép0ca moderna tradicionais no campo; ou.:r:as, s;;Jdas dessas talvez, frarias danças de cleriBO!> no São Nicolau e.·ocam juntas o laçc muito
mas repensadas segundo um modelo inspirado nos salmos, desde a alta for.e que liga, ne:ssa civilização, o canto e o gesto a todo, o, rr1c"1\1imen-
ld.ade Média foram inregradas pela litu;-gia e2tóLi::a. !nquanto manire~- lOS deti-.o~. no scnLido tle uma vigoro~a afirmação do ser. A maioria
ração da alegria espfriwal; outras c·.n.!im, a p.arti::- do século x11 , elabo- da. da:i.ças é cantaúa: g~o e \·oz, regulaJos um pelo outro, as eguram
ração cortês das primeiras ou das St!'!u.nda.:i i_a u rne~mo llTlponadns do uma hannor.in que os transcende. A pan~ cantada, com ou .)em ncom-
mundo islâmico), es;>alharam- e no me:o :iot::'I!, a título de recreaç o panh mcnto instrumental, é, em geral, ma111id.i por um solista ou um
141
co-o. respom.teodo ai os úançuin1.1, ror um rilomc!o O texto, de1crm1- Na indigência de nossa inforrração, reduzida prinopa.lmenl~ :10 ~ue
n.ado _por sue. funçfo, aparcnia-s;e .ao 111:~l<l qut r-lt ve,bahra. B::e"\'I!. Tl!- nossL1 nlhll ,.~ ~obrt a pá&ina. no instante de nossa leitura. eitcu ceno
dUZ1do à exclamaçJo, à i.entença; ou, mnfa llmplammtc, a ,·oltas estró- :ic que um pon'.o de ,ista paradoxal nos esclara:ena: corui:r,liria em re-
ficas que ~e prestam à~ mod1daçõcs cmotho1s. conhecer .a. ,uprcm.1.ci.1 absoluta da dança t>ntre a5 formas de arte que
Emret.anro, os textos que os Moderno~ deilgnun "canções de dan- colocaram em obra ou ero ca us.a, durante os séculos medie-,,ais. ck algum
ça•· ou ''de dançar". e nao apenas ek~, ca~m aqw: rondei,, ba/terre, modo o corpo vi,.c-. A "canção ele dança" ou n S11rnte F,oy .represrnta-
1•irela1 francé,;, estampice, sa/!an!ilo. roua, o l.e1d1 alemão em 5".JJ! o.ri• .iam o modelo realizado, do qul os out:os tatos se distinguem como
qu.e se ap.ruximando d.e :seu fim. A.lsim como ela req1.1er nece~u.ri.amco-
{!em. Cenamente, er.tre esses ~emros poéticos e musicais. ooru.i:ituidos
e a dança da qual foram inicillmente inseparáveis ânha-se ifu-taurado te. s.ah·o exceções ra.lssimas, a voz humaDa. a tnm,missã.o da poesia,
um elo genético, de que provieram as determinações :oroans, melutà- entre os séculos x e XIV, exigiu. o gi:ilu iiumarw;.::. al6.u <lü,..su, t:0qua11-
to essa voz poética tendia a:> ca,tc, o 8esto poético tendia à dança, sua
v:!is: assim a emutu:a do refrão de rondó até- em pleno sé...'1110 x•,1[, épo-
últin:a realização. Ln~1sto ne..se pon:o, a meu ve, cru::ial
ca em que a c.issocia;:ão da dacça já se tinha, depois de muito tern;:,o,
enfim operado. Ji.fas a ,fao;:-a acompanhou e sustentou muitas o·.1-tra.5 for-
mas de poesia: condutos e canç&:s pias, impostas ~ procmôes dança-
Entretanto, mu]tiplosel.ementos que corutlruan o meio performan-
das durante- a.s festas litúrsica5, litanias daJi Roga.çõ-:s, pre~ e fórmu-
cial cnce se ;,õe e imp5e a voz nào 1êm com cla u.ma relação tão essencial
laB mágicas~ dança dos "brandons·• ou da de São João; as natalinas
e constante quanto o gesto. Ptxleríamos classificá-lm; segundo eJa seja
mais. anµgas poderiam remontar a Clill~ de dança hibernal.:llJ A ,·e--
mais frou..xa :>u ma;s estreita. A>sim, a indumentária (reé que ela e,ós-
lha Saínte Foy dos Pireneus, g·i~ ~ um dos mais ve11erá\•eis mon.umen- te), o instrumeIJlo de música Dl... o ace:s só rio têm em taJ gêoero uma im-
ros da poesia oc:citãnica arcai~ e que a si mesma se declara · 'boa p.ara. po:-tãnda funcional que não adquirem era outra pa:-te. Os instru:nentos
da:1çar'' (befla'n. tr&a, v. 14), foi s.eguramente camada e represe::1.tada
de acompanhamento foram o objelo de diversos es.tudm. Reme10 al ca-
sob forma proct-ssior.aL O elo que liga então a vo2 e o gesto é de ordem táiogo comentado que dele, Jforece W. Sal.men.""' Quanr.o à rou;>a, as
funcional, resultando de uma fin.alidade comum. Não é menos forte nem ir1fornaç5~s são ra=a~ ou equi•-'•)cada-1,. F:mtl. que junlou cer1o :-nimero
sem dúvida me-nos eflcaz. Um;: looga traclição ilustra-lhe a fo.·1.mdi-da-
.. delas, co11cluía q,ue o~ "Jog,--ais" d,:sc.ing~iam-se por alguma exc-entric:i-
de: da Chanso,"I de Clotfruire recolhida por Hildegário de Meaux. por dade eia ves~imenta, sobretudo a p.artir do século XII, pelo brilho das
'l>Ol'.a de: 850, crntada poroorosde mulheres. acompanhando-se de mo- cores, vermeJho, amarelo; depois disso, muitas vezes com roupdS lu:mi-
virner l~ rítmicos de mim (.plaWÍf:'flfÍ.(J), fl "C!lmlR de Rovon e \t.ep;ent" J,Jéll"tida~ no s~ntido vertical, à man!i,a dos ''bobo;;". em "Ycrdt e amare-
(se!l;llndo denominação proposta. por Verrier) a que se !'efeire Orde:ic Vi- lo; tambem pelo coite dos cabelos, pela ausência de barba. Em~ retrato
tal. consideran:io-a cant:ada por um dánçarino maldito? ã.s canções não se aplica, :ot'm du·l'iua, l. toJm os bt~rpretc5 profhsionais: rnuito5
que o arcipreste de Hita., vv. 6174-7, gaba-:re de ter composro para a; e:1tre e:es nN são apresen~dos corno pobres esfarrapados (o que não
dauçarnaas, acomparJ.iç,m:lu ao 1,aru1.Jo1i.i11 o se-u ,;:anto. Ainda no ~culo e.'<clu:u o ?Dite de algum sinal.1; 011cros, l'm poslção mafa ,~tável e vl-
XVl, entre a arraia-mi-.ída espanhola, homens e mufüeres (por causa d:e ver,do ei.11 m:io letrad:>, não tiveram talvez necessidade de distinguir-r.e
um anug,:, costume) cianç.avam io :anto do Romancero.~ A. Puk_ga su- a5sim. Ocorre que, para o conjunio do :púbhco, o cantor, o m..rrador,
geriu. cD:n razão, que as Danças l.Vlacabras cios sé'culos m e X• puile- o leite,· de poesia deviam ser jmediatame.:ne identi.:1caveis por seu are-
rarn formar-se pela estili7.açâo d,:),; 5ermões dançados..:; Aumentanamos rior..6-s rudascálias que acon:p;i.nham, em mwto.s r.:ianuscritos, os tex-
facilmente essa lista E, sem dúvida. poucos rextos. se o:aminados à luz tos dramallcos dialogados nãD ·.nsistern em vão sobre a fo:-ma ou a cor
de~.;es falos. não re-veLnam em .=i.lgum de .)eus as~ctos a empresa de da \e,urnenta eazija pt:lo ator: assim ~e manifestJ, de algum modo,
uma gcS'l:ialidade Alfaric já mi.J;l.mu a inílu~n;:·a da intenção -::ore'O- um v1.lor s1mbólicc ou embleir.ati:o. ligado seja â personagem repre-
gralica sobre a i.:ompo~i;ão e o e),t.J lo da Sainte FoJ·. Nã::> conheço mcs- senta'.ia, seja. á açãc d~sempc:nhada. l!eJa ao disci.;rso pronunaado; de:;-
o. JV de o :0 x. a dtstriçào. aP.eg11-Jaris ,concordu,, do QL r- "ltJletilis
que não lraga em si o de~eJo d() gesto ou que alio o o;i ba. pa~cal matnz .:ie todo o "c:arro l 1ur,g.ico'' vindouro, cfuitribu1 com
248
cuíd lo alva, aipas, \no:nsónos e palma ~n•rc qu:mo wccnlc:tc:i dos qt:al ~:..,..., sll u 1çuo, relo jo o ele prnibiçi',cs e de corretivos que ela im-
ela regula e mede os passos: 85 rubrica~ da Ordo prophetaru111 de Lo.on, plica no pla110 moni I e no <los cornp::mnmen10,. parece-me aunentar
no ,éculo XIII, f1xan . com m nl,Cl,l ,·e-.1 -nema, penteado e uocs órios o vnlor sem ntico das c1rruns:6r,cws pcrformanctais na formacão da
que a\sinalam e difrrenciam l)S tre.:e prntctas; é prec15ado eté o porte obra. ntendo por "c1rcunst nc1n " quilo que, do ponto de vista se-
oorporál. Alíacuqueê"OOrc:un , 1 , m16uco ou lingül tico. eh m ~e l'erahnentc t".Onlexto, ma.s cuja noção
port~ "soberbo.. ; a Sii>ila tco o ar de uma louca..." eu r tr nJ o que eompoe o ta1 uc:o. a hhebcn-1..anie, num li-
fran:ês, segundo o raanuscritl) <le lour~. ·\ d:to está lic \'ermelho e Eva, vro r«ente. d tlr. uc no ato locutório (tu traduzo: na perfonnance) três
de b:anco: e!e. de "tunica": ela, de "esttdo de ~·01/e; Deus, de dalmátic::. elementos que comr1b11em para faz!r da mensagem enunciada uma co-
munu:açil"
O cosrume des~as prescnções manteve-~e ate o~ dramru;, em grande es-
- a "situaçàc'' imec1ala, ;,rendendo-se a•:> tato de que ~e fala; e
pe1áculo. do ~êculo xv. Th.1 atenção votaca à ::oignificância da \'estimen-
:nediaca, tendo cm conta o env:,b·inh.· n·o :1is:::ursivo. a.s out-.cS p1lc.vra5
ta e do arranjo pesscal não pode deixar de e:stende,r-se para além das e.xi-
"Jreccd~r,te), seguir.do ou acompanhando aquilo que se enuncia;
fênc,a~ cênica~; e a hi;tória dos gêneros poéücos sugeriria :linda na1s
::. "reg.iãP", pela qual é pn::.: ,o entender o~ uês ecpa~os - geo-
que: essas exigências, universais e al::an:;:ando em principio roda espéc·.e
~ráfi:o, cultwal ou social~ em :iue os ~gnos ;eitos obra~ con,eci-
de performance, encontravam ra representação dialoga<fu de persona-
::los e em?::ei;ados:
gens múltiplas um lugar de é.plicação -prh·ileg,ado, mas não única.
- o "ccntexto' ·, que abar::a toda a rt:aLdade ambiente, cor,sidera-
A propósito disso, pôe-§e a questi'io do uso de máscaras. Esse u.so
da con-o o fisicam-mte presmIB na enunciação: a p'"ópria lngua, :.,ano
e-stâ seg:ura:mente at.eStado: d~sde o século r.· uma tradição eclesiástica de fuido ca palavra; o campo discursíva, próidmo, longínquo, temáti-
con:ínu.a o denuncia como acão do demônio, menttra i.nfer,al, arejei-
co, cm que e'a se enraiza; o cooju~,to ri.~ ~ingiiístico, na:ural e en-.píri-
ção da obra divina. 16 A presença de máscaras nas festas carna,..aJe~cas, co, his:órico e mental, er.tre ruj~ elementos ela se situa. 2•
no~ ritos funerários.. nal; alguarra: confi.rma,.·a essa opinião. l.\fatericl- R.c:tcruu por ''cucunstàn~". e,trc os diversos aspectos de-<-se; três
rnente, a máscara era Jm rosto anif:cial monstruoso, mm tas vezes ani- elemento~ aque .es. que situarr, o texto no espaço e no temr<'. conferin-
mal, recobnndo a face e associada ()U não a wn travcscimcnt0; às vezes, do assim a uóru sua "situacão" :-ca.l. A$ "circunstã.ncias." determ inam
:,em du-.,ida, era pintada: cléngos do• século:. xr1 e xm, como Jacques a obra em sua totalidade. O t~:o moderno, escrito e dest nado - fora
de Vit1y ou Étienne de Bourbon, e·1ocam isso em termo~ re'erentc~ a-:,s de toda mcd1ai;ão oral - a leitun, pc:•ssJ. Jtlla altcnd.adc cs,encial, de-
cosmé1icos: jacies âepictae. homo pictus. Mas quem as usava? Thomas vido a sua natureza de comL -u,ação d..fe:ida; essa alteridacic só serli. ven-
of Catham trata disso em sua diatribe contra os jograis: transformanl cida po: um tnoalho, documen1açàc>, inteq..m:taçào, contrde. O tato
et transfiguront corpora. suo per turpe.s s.altJJ.S et per turpe!. gestus, vel trarumi:ido oralmente possui uma evid~:icia, uma identidade na presen-
denudilndo se turpiter vei indumd'J horribHes larvas... (''eles transfor- ça, que exclui. de uned.iato, a imp:es.sáo de aJteridade: elr: ~e: dá. por is-
mam e tornam irreco:ihecivel seu corpo por suas horrendas cabri:lla~. so mesmo, cJmo ...eridico e só pode ser recebiéo como 1al. Ora, as cir-
seus horrendos gestos, desnuiando-se "ci-go:ihosamente ou afivelando- cunstã.ncias mocallzam, localiü.m, diio colorido a ~a veriJ..1.ii.l:ld:: até
se [J)áscaras horríveis..."). É essa uma alusão às pantomimas que pare- certo ponto, elas a engendram. D:md.e sua extrema importância na re-
cem esboçar-se em to-fa a parte, e-m latim e nas !linguas \'Ulgares, pa.~- cepção da obra e nos julgamentos susc:tados por esta: é em razão delas,
\'ra~ de raiz mom-: momus. mome e momerie, mumm e mummery, rr.,.i- às vezes apenas por elas. que as cu:rurai d! tipo oral primário dizem
mario7 Enfim, faz falta a i:rm·a do uso de máscara nz performar.ce que um :poe:na é ·,om ou ruim; ~~ em regnte oral misto, es.5a maneira
poética. Entretanto, a'.guma tra1içfo, de origem pro,..aveloe-:ite pagã an- de ver subsi.~te necessariamente em parre; pelo menos à obra nio cabe-
tiga, cb·e ter subsistido, íe'Ssurginda p!~narnente na Itália, no come~ ria <er 2p:ec.adé'. sem que as circnnstâr.cias da performance não fossem
do séC'J.lo ·" "''•soba forma da commedia de{{'arte. Essa :rn~ência cua~e levadas em conta. É nessa direçà:> que :onv&n entender o ser:tido da
tol.al de máscaras na constituição da obra e, a meu ver, uma das caractc- e.xpres5ão "poesia de circunstância", d2. qual selem afirmado, com ra-
, isu::ru mau notáveu da po6ica medie\-al, implicando. em dúvid2, ll m zão, que da designa,-a os tipos mais am.gos de poesia:29 ligada ao acon-
!>Cntimento - confuso, mas muito forte, mod.alizado pelo contexto in,- tcc1mer.10, é certo, mas porque drpcndr:1te de uma forma qualqi.:er ue
tirucional cristão - da verdade pró?ne da linguagem da poesia. mecena·o e, por isso, das circ1111Jtlmcil!J de sua cnuncia;ão.
150 !51
r
1'-' ào çúnfondamos, mtretan:o, nu:11 meio social dado, a mib1êac1u :.cm dú,i:Ja, a .::a.da pe~fonnanre e ::nn for me o estilo pl~ .;11:JJ de c11da
do texto perlr,rmatizado (sernp~ rela.ivo apo-ição, nc,se meio, do cor- a:inta:ior ou cantor, lrnpossivcl tambtm, ou pelo menos mu1tc1 d 1f k1l,
po performan:e) com a consciência c;·Je dele têm o imerprctr- em, au- pcn;eber de que mantir::.. e em que medida, o "tempo mtegrado" co,.
ditório. Ocorre (feliz cn'liio o médievafüla!) que essa con ci~ncia tenha re.-,::,ndia ou não ao momemo da cronologia em que se deu a pe.-fu1-
força suficiente para que a circun!>tâncij inscm':1.-se no tmo, como o ma'ncc. E;sc tempo (o ,.tenirio de integração") é freqüentc:mente nosso
faria uma citação. No mais du vezes, e o p i'1hlico que é designado: qaan- conhecido. On, organizado sobre a duracão sócio-h~tórica, não nos
do eJe eriuito numeroso e; sem dü,i:ia, n:unió aa ar livre, apóstrofos po.::le ser indiferente porque a l"elação Que ele implica com a duração
integradas na r.arrafu.-a o interpelam; guando t! c<'..,aleircsco, o c~o com~ é, no seic da performanc:. criadora dt valorei..
,:orta algJ.tna alusão s crna al:a pe.-soúagem ou a. cena co:te. Por '"e"Z~. As ','CUS, o cerupo de integração sima-se num ponto determinado:
a ah:sto passa por dcm::t;1ii Q$ coacorrcntcs, incapazes de ful-li, tãn - de algum ciclo cósmico, como as canções de entrada do verão,
tem, Essas evocações, geralmente fuglle5, sàc as mai> nllIDerosu. por que deix.a,"'alll ~ mat'Ca> qt:c: ~bcmos na cancão trovadoresca ed~ Qna.JS,
motivo~ e,,•identes: elas podem comportar uma ~ar.ç.io econômica; para anu~amentc, Bêdier cor.struia o protótipo do Ensmo ''pol)ular", e Sc-he-
assegura: o óbuJo ou o presente final. impor:a ao intérprete "perso:1a- l udko. um gencro amplamente difundido;
l:zar" o oferecimento do wcto. Outras alusões con,1:1m.:m ili.O tempo da _ :io cido da e:ostência humana, tal q 'Jal cantos ou narrativas Jj-
obra: as::im, na laisse 3 do Oirart de .Rou.ssillcm, o téXlo ti.tu.a-se mim gados à mcrtt de um membro do grupo, c:Olllo ospianems.. planh e ou-
momento do ano, em plena prima-..era:, abril Longa5 nanath·as, como tras Jamen1ações;
as cançõe:s de gesta e cenos romances, componam articulaçõe:$ teuuais - de '. llll ciclo !itua'.. como a maior parte da poesia litúrgic.R, em
que marcam, segundo tudo indica, a passagem entre duas ou mai.s per• ~;;.tim ou nas línguas vulgares, compreendendo ai as formas antig~ do
:ormances succsshas. exigidas pela realização da obra. A re~"er~a pode "teatro"; ~omo també;n os cânticos natalinos que rnmcçam u apa.rece.r
ser ~ndinta e tomar a forma de uma clescri,;ào: mas Si> tem sem:do e cm ncsrns t~.\1os, atraves de toda a Eu:oi:a, entre os séclllos xv e xv11,
' iinçiin t1n texto quaDéo é en1endida cor..o aplicando-se a s1 pr6p...'ia, cuja t::adiçào. no entanco, de,.·e remonr.ar a tempos bem recu~dos; como
por efeito de e"ipse, litote o;i i.ronia. A5Sllll é com a lai.sse miciai do Doon tah cz a s cm~ões de Pascoa, das quais ::ons:go disccrn.í: 1:aços entre os
dt! Nant,u;/, por volta de 120,::>, cuj() intt:prete disse cham~-se Huon Romar1.en de Ba:tsch.
de VilJeneuve. - da d11raçào socia.. enfim, medindo aconteetmentos, públicos ou
EE,es dado& textuais, TIO entmLO. para nãio ~m excepcionais, per- prhado;, rccor:entes -nas de freqiiênci.as impre--is:•,'cis: enconrro amo--
:nanecern em geraJ eçuivocos. Rmcs de centar uma abClrdagem exter- rnso, cc.:rnoat.c. ,1tória; ou. ma is expecifkameJ1te tal festa, tal acomeci-
,a, ,cmp:-c m"ito incompleta, :!asci.r:unstfuicia,; Pelo mei:os alguns tra- rnent::> po:íti.::o. O.s ::xemplos são certamcme numerosos, embora bem
ços gerais depreendem-~e, permitindo :nedir aprox-imac..unente aquilo menos ir.oivi::luaJ,:závcis. porque es~ das5ede wcto, sem dú~•ida pouco
~ur: a simpit::) leilura do t~co (110.ss.:r leitura) perde da obra tal corno rit'lalilÃ:ia, ma.] se di~tin~uc da pe•fom:ance "livre". a{luela que sô é
d a foi. L1mico-me a propor, quar.to a i:so. algumas observaçõc, c on- ,ituávi::: e"n :elaçào ~ duraç.ã.o petsoal e '. nti.ma do intérprete ou de seu
;;crnence~ ao :empo, l u~il.f e ot-asião so.:-:111 da perfonnll nce_ ouvhle O elo pelo qual ai se prende o poema esrnpa de novo á noS-.'oa
i:x:rcepcào. Nem po- h.~o ele d,m,ou de e:iri-.rir. e d1.-.so nôs sabemos. Que
ta. Vida de •anto ten..1a sido lida para a fe~ta de um o u.,,fa·c de mesmo
A obra ~xi~te no tempo de duas mam-iras: pela duração da perfor- nome; ta!Jàbiiuu. :o:nadu µor ahüõ.o a uma ocorrí:ncia receme; í.al ro-
mance.-, o qae Ja cham~. em nuL'll pane Jt »cu tempo inreg,..11do· ~ pdo mance, corno lembrança rle um ca~ar.ien:c de pnn::1pcs, tal ca:ição de
momento ..:m que ela pr6pria se imegra na duração i,;ocml O ICIDJX1 m• cm2ada :antada n3 partida de i.m uval=rro: a <X , ã' ,.,,e..,'.llo fu~a.:
tegrJdo d iferia muito, pode-, l'. '.).Upor. da :lura o textual. rcsu ll nte da e discreta, intei;rava-se na p<:rfomiance e crnitribuia par.i dar-lhe um ~cn-
i.i[Ill)lc adição de ccno número ae fonemas: ele romponava ncccs- tido. A.[ es\4 um ~ra ab~alutamemc gt:ial t que tern que VH m m a
~â rw, ::frito, ntm1co~. retarefo ou al'd er:u·ão do tempo. 1101 nc do UID; o O':DI: o tempo de mtcgnção oonotd. toda pcr-
interprete no " de~empcnho" do texto; a1 cabt.4m o~ não menos necc a. formar. i:c. u Ru:and canmdo (ndm1tam:>sl 11a pn'11.:rrn n~m dos.rorr.
nus llilencios. dos e ~a.~ nos é impo, shel ap11:.:1ar a cxtensao, vanh"C:l, l'ate"'es ela batalha ~e fl a tm" r;;rrsa d~:\Jldo em cor.ta outro!> tatores
dn _,:,ov!nc u> o rnt-srr-n que o R-,/and cant.tdn dtílntc, qurm sahe, de J'f çôc tle gesta. Entrcmnto, outro lug1re pcrfornandai conferem à obra
4rrr odcca5telo •enho a,, 11c a l,lll, c111~caVltk1rosdt.-sarre .Jc,,; sua ~t.:1• que ah se mamf~ta. um caráter oficial, contriouhdo 1.imbolicarnente
talha, se~, cães"" Evidente:nerm não. O ranto a e •a diferença, nada nos à exaltação do poder publico: skop anglo-sa,ênicos oos fe~tins re.nis,
11 nu nd (e n:unia a 3.~;em:,léia do pmo. Lem-
As rr.odalidades espaciais da performance rn:erfcrem ria~ do •em• parte o ume do can10 ~Jco antes ou durante o, com-
po. O lugar, como a morrento. pode ser em aparê"cia ale.itório. mpc•• bato. John Bnrbour, em 13-;'6, etl! seu poen:a c;ohre o rei da Escócia
to por cir:c1nst~ncias a lhe .. · à intenção poetica. \las uma tcn,;fo po~ Robert Bruce, conta que este. estar.do em retirada <ilante do cnhor de
,ezes s: marufe>.. então entr~ a~ conotacÕ<', e,rr.-ad2., e aquela, que Lorn, qu1~ atravc~sar o lngo Lon:ond mas, nio dJ;;;mndo ~não de um
prm·o:am essa sllua;:ão: lL-nsões ex..,lorá.,eis IIl!flleLcamenlc.-. ;,.--,_as a pro- minusculo barco, viu-se forçado 1 dividir em pequeno~ ~rupo" ,eu exer-
duz:r, per su~ vc;r, efeitos poéu::>s positiYo-.. Ta' é, se"Tl dúv;áa. um dos c:i10: a operd.;âo le-.ou 24 horas, ;:, dma:ue todc ecse 1empo, pa«1 ma ri-
: lano~ je -.ignifi:.1çâo de ::mmerosos p:êlogos ep.cos. O lu~ar da ;,er- ·~r a moral da tro~a. o rei lia em ,·oz alta o Romance de Ferrobrás! A
torr:1a~:::e é e <-"'>pa;o abe:to ao desenrolar da obra: um espaço, enquar.- :ircunstãnc1a, o :u~ar l~a\·arn a sm uiais alco ~r11u o pode: do efeito
ll, rcahdade topogr&.fica. e serrpre uma c:>ns:rnção sccioculturd. Q1e performancial...
na F:aJJça ou na Espanha co s~:ulo xn poemas ,atír:os ten'lam ,ic:o Certas formas parecem :er 1ido s:::>bretudo (mdS não c:w;clusi1,amcn-
lidos :tos lugares puhlicos. e~"e fato o, connt:, fortemente e cc.-tTib11 i, 1e) desnnadas ao uso de pequenos audi16rios, réun.ido~ em lugar fecha-
em :nedida não d~.•pre,i,,eJ, pua sua sig::1ifi~m;ia: lllsim é cm Paris do e privzdo. As.sim, os fab,'iaux que e contador reciu wmo presente
no t~m,o da ''(111erel.A ri;, !Jnivf'T';idade" ou~ h1tas ~ectári:u. e, Ca~ a um hós?ede, e, mais. geralmente romanc.es.32 Citei o fi•ain de Chré-
tela de Afons,:, x. l<l A localizaçfo do cant,:, na igreja e sua inserção num J :ien de Troyes, v,•. 5350•68, froissart e .'Wélrador. Gowe:- exprime c1.o rei
ou nC1u:ro momento da liturgia ::::,nstituern Ullla ::i-:1:i:e e:ssE:ic:al e~ ":>e>e- Henrique 1v o desejo de ler suas baladas dian:e da corte reunida. Tes-
~ia hinica•· das seqüencias e uo:>os de tcda a ~écie Assim é co; ::.s 1
temunhos desse gênero balizam seis ~éados de llistória, em lodo o Oci-
"cpbtolas farsc~cas'', rccente:ncncc estudadas por O. 1.c: Vot - tmo dente. Vários ge---manistas, no amo dos ancs 50 e 60, supuse:-am, se-
latino can:ado na rni~a, interp<>"ado de versos franceses, occ:.tà.'l!cos ou 1 guindo E. Jammers, que uis leitu..u eram feitas e:n voz cantante,
ni_t.alã::s qi.:e o :orneruam e do q uaJ é possív;! reconstituir. com ,·erossf. riunicarn~nte bem diferente da fala comum; se essa te:se ê ~·emadeira,
m1lhar.ça, o modo de declamação: por dois 3\1 t·ê5 ~utxtácono~ reves1l- pode-se éedwir que, pelo menos em terras alemãs, uma aproximação
1
dos de :,rnamentm solenes. Sua tradJção fica aBeg1..rada do século XJI se instaurava entre a performance narticular e a ;niblica, transforman-
ao xv; :lo :nem:o rr.odo, de •éculo x ao ~II, :ia era frar.cesa e na occi- 1 do idealmente, i:elo tempo ce leirnra, a natureza ! a significação do lu-
tanc4 a das "cançõc, de santo", cantaca, \'1sando a fiéi~ iletn:.clos, ou gar pcrformancial. Pode-se umt,érr. decu7i• qu~ a leitura so]itária (é ,·er-
e;-1 coro por estes, se:n dú~•ida durante ou i:nedJ.atamm:e a:>Ói os ofi- dade que atestada com menos freqüência) era por vezes praticada do
cias noturno.;, e da:,çadas, em certos casot como a Sainte Fov. mesmo mudo; ~im, a jovem damn, na est:ofe I lOO do Frmumdienst
Cada poema parece ter seu lugar marcado. menos por call~ de im- de Ulricb ,,on Uch.tenstein, i'as (' 'lia''} a canção e;niada pelo poeta: das
po:-içõc, externas do 011e ;>:>ruma percepção gl~bal da eciscén:::a - po::- interpretações diversas dessa passagem resulta a probabilidade de que
que er, ne:e~ário que todo o e-.:;:>aço da vida social fosse PO~camente lesen ["Ler"] aquí quisesse dizer "car.tar pan si rne9110".33
ocupado. A sombra da ign:ja. por assim dize1, atrás dos muros do con• Lugar e temi;o da performl.IlCe :;:,odem ~cr detcrn-.inados pela oca-
vento. ~ran~mite-se uma poesfa monástica à c;ual devemm vários belos sião social em que ela se produz. CerUmente. no seio da comunidade,
te.xtcs. eia At1be de Flmry, do ~écuJo x. ao.s Vers de la Mort do a~ad.e poetas, cantares, contado:es de lli.s!ôii~ se mim.!ravan a todos o~ acon•
ckt~~en.st- ~~lina.:11 de Froiir,ont, compostos por- ..,oll.t de H95, que se- tecimentos que lhe riuna..am o futuro. fas alguns dc~es aoo:i1ecimen-
nam amda hdos pelos monges durante o seculo X\1. o adro e em ~liS tos. eminentes no :urso dos dias, pareciam ter provocado mais particu-
arredores im~atcs, o ~ia floresceu cm volta de rcllquia.« sairadas larmente, e de modo costumeiro, o divenirnenco poético. Os dados
o~ err. centros de peregrinação: os Miradesa'e Notre-Dame. os contos fornecidos.por Fa:al, :\1enéndez Pidal e SaJrnen em seus livros re o
picdo,;os t: uinca os Jtrs de la Hort, nu ~écuJe :u11. !'e crrm05 c;n \o' in- "jograi<." confirmam-se reciprocamer.te: festas religic ru ou princlpe •
cent de Beuuva:s.]' Bêdier s tus"a ai, um pouco abusivamente, a, can- ca,, banquetes, núpcias, eJtpediçÕ\!~ militare,, "ia en ; c:s1 co tumes
254 }jj
erarn com.1~ dl'} 110.·us uu Ü\.,dcnt .
l
ha Uma crença generalizada atribu: dc.scie a Lscnnd~\,a ate a S10- 0) carolíngio, dão rtl~o à Lradii;ão; o~ Capetoi. a encontram por ~ua
~ em ·,ozalu uma inOuõ,1.ia bcnéfi ao cantode umJosral ou à ieltu- con:a, do momo modo Que os granje~ ..enhores feudais. o ~"t.Ilo :-..111,
ha. mas também tobre d ª•.nlo 5W!entc &obre • mel:1.nco- os rei da Fr&nç-3 atribuem a esse 1eatro um lugar dora,-untt fuo· ,cu
Castela e 1~ Aragão aclJa\
e_ ce music.t era indi.spen.sá-a:J r~
r>enç.u oorpora1s e a1é feri d~. Di\"mos n:ís de
esse motivo, que~ au~;to de pocda
c1pes Partilhavam ao ceno dessa o : ~~em de rua \1da. Outros iPrin-
palácio; os de Nâpoles e o~ duques :la Borsonha ~ imitario, depoi,
os outros, até Carlos v e os senhores do E5COrial. Abrindo caminho.
o espetáculo tonc=nua-se sobre aJeuns a'.0S privilegiados do príncipe,
tivou a o:ganizaçãJ nos écuJo P ruao, e P<>ó:-~e adnútu que e.a mo-
de::,a~es de poe~ ~ja t
b s ~ e xm, de alguns grandes e:iront"OS·
ca1aU:, de Pi.:ü-crt d'A em ra.nçci se conservou; aquele - no castelo
cujos cronistas do século xv vão rivalizar entre si esboçando d~crições
esplêndidas: festas d.iná:.:ieb, torneio~ (em que, a partir do s.écuJo xm,
inspira-se uma dança noore de damas, ocasião para um gêne~o poético
;e de Ah·;;nhc, Canru:.aq~;~
1 1
1~
- que ilu~"ã. a canção de Pei-
• •Vt.AJdorz, ou a fümburg/rrieg alemã.
novo!), "felizes entraw"; mais do =toe tmio, porém. desde uma êpoca
bem recua.da (séculos \'IIl•IX), a refeição: instante :iotôrio cm que o ~~
258 159
1
tadas pe!os diver~ gênero~ poéLiCo:, em lm4ua vulgar dctinh ...rn (a1.!- l·. Lop~z E Lrada o .fü1a recentemente, em outro$ termos, a p:-0116-
;n~smo em razão de sua visualidade) a "língua du jma,er.~" p1cturais ,,to de 1ex10, e.panhói, antiics: a obra só se completa quando une lr:-
11
~ esculturai5, recentemente deci!rada por 1~ Gamiez-. ~a época carolín- tra. melodia e situação. De 1,.m pOllto de vista sem.iológico, díría.mos
1.P"• os homens da li:1reja condena\'am globalmente o U>O dess~ códi- que ua comuni:açio opera-,e segunde dois cir-:uitcs encaixados e rnu-
gos. declarando-o '•~ão" ou ••d.ia~lico". Sem duvida, já farejarill..111 tu:unente d~pendcntc;: o intérprete qu~ enuncia o :exto a um ouvmte
aí n ::na:üfonaçào de urna profunda necessidade de sacratiz.açào do \·i- fu11ciona, ao mesmo 1em.po, como 'na.:'Tad.>r'' (5egU11co a literalidade
..,ido - essa neces.s:cade de OJ1de tinham saldo juntas, num passa.do mui- desse texto) e co:no i.r.Jom:antc, pelo ,,és das c:imu:stàr.cias, corutiuindo
to distW11C. as forma, religiosa5 e as formas poéticas. concorrência in- elas cm ··ccm:::1:ario" à letra, mas um comectário mtegrado iod.isso-
tolerável para a ort.od~a do catol:cisrno medieval. A ritcafülade - a ciavclmeotc nela pró;nia. Nes.,e sentido. a obn:m:ed.Jeval está mai~ para
utcatralid:ide"' - poética termina. ç.ertamente, em Ionga duração, por nosso fl!ne cioemarog1á.fico do que para :i.ossa literarura. 42 Donde a
atenuar-se, mas não em suas r.ianifestaç.ões con;;~etru, porque. ate os~- ação exercida ;,-elas cond.i;õ:s performanciais liobre a textualidade, qLc
culc xv :, parcial:nente, ate o x··vu, o corpc fico·J ai to1almente com- c;~as pesquis.u rec':nles parecem re\e!ar (é a5sim rc-m o uso d~ ttm-
prometido. Foi se-.i ob:cto que~ desloc~u pouco a pouco (oa mtdida pos \Crba;s na ca,r.ção de gc,1a) ou obse-:--a;õe~ e.e ::,rd~m muiu ge,al.
da d1tus:10 da e,criLUra), ao ponto que, pas~ado 1500, cm todo o Oci- i:or e;,.em:>lo, wbre a e.x:e;;sãc média respec1iv.1 dos .ext:>s, sejam narr.t-
dcrue, a poesia aparec-e como um errpreen-dimento, a parrir de então u•,os. se)am "lirJcos", e::~ .. .,_, variações no curso cio tempo parectm con-
laidzacto e metJ.ior:ntuo, de tcalral:zação do colii'iian::, firmar: a;sim. ,) fat.:: de g1..e, do séi::ulo x ao xu. dá~se um alongamen-
Nada i~ola a.i (antes desta época tardia) aquílo :me :harnl:.lllos abu- t~ regular dos r!!a:os camados; a curva média, entre o ano 900 e o 1100,
sh·amcnrc o teatro e que dc:~igna en:ão um vocaou.lario flutua!lte. refe- inscreve-se no comi de duzentos a seiscentos versos; cnue 1100 e 1150-&1,
rente à icéia de jogo regulado ordo, l'Jdus, jeu, piay spel Raramente de 1500 a 250); e::n segu.:ia, de ma..s d: 5 mil; essa ;>rogressão, por sal
--e;ôric:>s, como Geoffrey of Vinsauf t: Jol- n of Carland;:, ir.te~rogando- tos, não ocorre, pelo menos em pa1e, ligaca à mcdifkação da.i conci-
se a p;opésito das comédias de Teréncto. tomaram emp,est.afo de Pla- ções da r,erformance? Já ·,á muito tem;)o J!an Rych:ier afírma·1a, ...:ori•
tàc a expressão genu.s dramafi<on i"t"po de disc·.1rsu i.Jra.rr.,Hiio'' 1. defi- t:i muitos outro!' . a in·luência desias última~ ,úbre a .::omposiç.lo do.;
nico ;-,elo fato de que ú autor ai se exprime pela to;.a da, perso:1c.- poe~.4 ' O que ele c~c:-evia então da epopeia mer~cc ser prude1:emen-
gens, 4i Distinção maplic;á\'el a língua ,ulgar, as;im come, ,:111 ~randc 1:• i:nerauzado. ao ::iue me parece
:nedirla.. à poesia latina desi,e tempo: o interprete. ainda que fo;se um É por ÍS.'iD q1,.:~ podemos questionar as di.tinções que, pns:oneao,
lei:or p.fül1co, é aqui pe~onagern, e não t"alta.-n cs e.tempto~ tm que d.e uma estética clas5ici:zante. somos Je\o'ados a :'a.7..er c:n:re os géneros poé-
um pa:rct" ro lhe dá uma -~p]jca e :Jm mú~:co os .acompanha... donde d;o, da epoca anterio~ ao século xn. A verdadeira distinção, para aque-
a plur;1li:hde d.: :>~rformancc. A dificuldade que experuneotaram. o~ nu:- ,as pe~~oa.s nã:-l prO\-mha de ::u-cunstâncias perfo:ma'làais mais do c;u~
dkvalis\ru; dassil·caàore~ do seculc :x1x e;n situar r.um paradig:na as :le qLalque~ outro fatcr'! F. Bauml, no volteio de uma frase, perguntava-o
fonr.~ :l1tas. ,cm desespero de causa, monólogo ou diâlogo "d~amàt:- c:n 1980..i.c Um gênero ~om efeito. resulta do agenc1amenlo - na h.s-
1.l•S" t•!.1tcmun:n e...~a aprente am::i~ ..udade. t6ria - das proi::iedadCE Stmânt.Jcas e pragrr.ática.s co dis:urso, analc-
O ~ignif:canHe do significado 1ex11.:a: &um ser ~ivo. : argào à parte. ~u ao qi..: e, no ins.;mte,-> ;.to da p.-lavra Ele .;e def-ne segund.> :>s :rês
eu trndu:fria que e ~entido dn -ex1c se lé e:n pres:n;a e no JOi-!O de um l·i.,.os =1ue determ.ilam seu51:-aç:os :~trururais. mas r~lações com o,; ot:-
cor;,J humano. O t!xto torna-se -1!-4e'l.te. segu.r.do a lerm:nologia ae t-u~ i~uc:ros e: •La rcla,;iio ;;;.l:n o cont.ex:::> h1si ó•ic::-i Ora, em performanc:c,
:<,lcluhan. a pe·for :-_-, ~ r..' 1: d , f'rimento senão ,ectm:larian:erm: P) elementos dt~e :nntex1c são asmmidos real ou simbolicame:-iLe, pe-
ela não é em at>s:oluto urr.; "lc;a,íão c~necialmente agrada"el e comurn- 1.> corpo em ;,· ~cn;a. ,. c:nlizaçã.> :io jogo vocsl dos movtmfl1t:)~ do
caç.ào de vida, sem rcscr, t1 Preen;:he para o gru?() a Iun:;.ào q uc ~em 1:rnbíeute, ;ua cod, fii.:açâo. me,,mo e- fr;,u,2, ccmtr:buem podercsamentc
o sonho para o md.iv1du•:>: liberação unaginária, rcaliução lúdica dt um para v estnbtle.::.imtaco da 't>,aç-Ao c:m quc~tão, .ro:conh:civel, de chlifr~,
oe!-.cJo. Dvnde scL ex1r-aord111áno poJt>rn.i • .,L.L,O_.,,
...... e objctQ de jul amento qunlitam"O>. Não é hso o que emend:a P. Bec
qua fo ~crevia que a "chanson de Jemmt'•• .o/lS'.llU. mmo) um "ge
nero' Jo 4ur 11111 "tipo lírico"? Não é às ne:es.\Ícbd~ gm.da.s peb modo
'.!OI
tranc:~cano Je 1eutrali,.açilo pre:.iic::il que se deve o forrnm;fü, do gênero
dos lt1udi1 A opcs1ção entre f;1r,;::i e mri,,. no ,~~ulc) ,, lf)•oblema d S·
cu1ido e cono'.) nã:::, rcsulta•ia s1mplc~n~:1te da dife-rn~a de ,cs•e tios
1 res·• Dai, adema.i$. o yue coru-emun ;I• 01.lldo e infor.mal todtll as
di.,ÚJlções genericas at~ meados do século . Nad do que !.C ;,cm C!·
crc\icnc.o sobre os fabliaux há 150 ano, põ<le t'onu~cer Llffill. rlríl nição
estável do gênero. O p-óprio roMan, chc1?:ido tarde, e limtt.ado po1 fron- CO/\lCLUSÃO
1e11a~ unp~c:cisas; e. entre os ~rands rhétorqueurs de: por .,-olta de 1500,
o~ .ínicos ''gêneros" identiftc,heis (tal como :i rond.6) o ~o em vi"tuce
de sua ~elaç1o com a musica ou l:Um a Lan.;a ...
E:-: performance, o '.e~lO pror.uncia:loco~1s:itui, primeiran:entt:,. llIT.
sim;_l sonoro. ativo como tal, e só secu:1jariamen-c é mensagem a.:ti<.;u-
lada. Donde, para o medievalista, uma aporia cr:tica. já que não ;:iode
apreender in situ a perlo:ma:-ce. ContLdo, es~a Lrnpos,ibiliôadc ~J.cto jus•
ti fica cm na:ia a n:glgênóa rnm q·Je se renJe a pôr enm:- ta.rêntescs,
ou a ignorar, com sol:erba, o pro!llem.a. :-.fão é inc.oncebi•,el, diarúe do
que fa.:a, reconsiituir (em n::.Iitos cases particul~rts que se tenham por
exem;:,la.res, e ajudando-se com p'.1ldê:i,::ia de trabalhos e:.nológ.:os) ::>S
fatores da operação J;erfema11ciaJ (tenp:>, lugar, circuns1ãncias. con-
tex~o histérico. atores) e perceber, ao menos glob<a.lmente, a natureza dos
valore~ inv~tidos - entre 05 quais aqueles que o texto veicula ou pro-
duz. Em condições ótimas de infonnaç.ã.o, somos conduzidos até o ponto
~treme e-n que a ímaginaçã.o crítica aspira a alternar com a pesqui.la:
onde o:1ço, de reµe:ite, abafado oru audível, este texto; oncle pe"Cebo, t
num ~elaace. esta obra - et:., st1jcito ~ngu_lar que uma erndição p;êvia '
renha (esperemos!) despojado dos p::-essupostos mais opacos que se p:tn-
dcm a minha historicidade, E- me:.- enriliamenta em ou·.ra cu.lmrn, a
nossa... Cer..amente, em 5Í, c:a.!:O se chegue a ela, a reconstituição pe--
manec~ria folclóú1;a, t: não :s-c sabeàa., tudo <:ontribuindo pa.r.. isso, "~:--
<ladeiramente fundar un cmuecimento. Parece-me, c::on.tudo, necessa•
rio QllC a idéia de sua pos5ibilklade e, se posso dizer, a esperança de ~1,;a
real..iza.;ão sejam interiorizam, semanL2~ 1mcgradas em nossos jl.Jl•
gamentoi; e em nossas es::olhas m::todC'lógka~.
262
13
E A HLITERATURA'?
265
uinw nM: 11nm 40, 50, O(I de no~so ,é:;ulo, tratou da "p:usagem'' da seu "romance" ao e5cfrn; i1•1nos (à nltura d05 qUim de e a ça) e à
ep péia ,1c ~omancc. O Que se qllcria dizer com passagem p!:Tma11ec11 narrntivas disseminadas pelo con dores de h1stóna~. que e cs nfn l m
obscuro, !l mer.o-. q1.1c:, à :nanetrn de F. 1 M rin, se t clarecesse a das com desprezo em d1 v1 por v U
cus·jo, cc u:ri ponto de rm qLasc mctafütco, de vanço daJi!li ~ (o h m norar) o :r.lido pnmri·o de p6r em ,omtJll(t". abu iva•
a par.ir -de !IH ~= :
e aq11: e aut:>t c•panhol, e ''roman- mente transformada per mutos ;ncdiev,lilstas em "tradu2i·", a cxpre~-
~c" cor.stia1i. com a epopéia, uma dns <ll.ns rnmificaç6es de wn di~cu,- são :ne parece referir-se.. ma:s do qut apenas à transferên: n irtguí uca
so na;:ra1ivo primordia . Uma conccpç-li::, análosa, de c:igem român- ao coment.á.r•o que urn ~ l ~ pronuncta sobre um hvro ie autor d ade
cica, está im;,lfrada no uso do mcdieva•i~•u aJcmlic,, 4uc ~e: sc:n,em Pôr em romance e proprinmeme "1;:losar" em lmgua \•Ulgr. "pôr. da-
da5 pa.la..,:-a~ t:.pos. F.p,k ;:>a:-a d~.gnar canto e, Eneu dE \cldd.e, e, Tris- nfican:io o conteúdo,"º alcance Jos om·ime.s". ··~azer compreender.
rur.j t.le F-ilhar-. o Jwe;r. ce Han:nann quanto -:, ,V1~/14;;J5,<1n:ieá ou o adapando às cir;:unstâ'.lcrns''. C::J.:..'lo emender de outro meco cs pri-
D1.-1rl(:h. t.:ma ;,enpecr.,a atrc-se a~~in:., ;nuice geral pua ,er e:ficaz. meiros ,ersm do Gui/la1.1me ae Vofe )U o prólogo do C:igis, "'· 1-25,
na in:e:pm~ç{io dos !ext.os: m.i.; permit~ parccc:-me. úuá- O! mclh.or. testem-i;nho explicito? btz t-,istéria é é.Ltên'.i:a, diz Chrêtien, pc:rque esta
O ·•:omance'' surgiu, com ere1to. ;ior volta de 1150-70, :ia ~1.nç~o da contida num li..-ro da bib:.01e:a :.lc Saint-Pierre em Beau,·ais; desse fi.
oralid2.de- e da t\~ritua. Jngc de saída i;;o C1-:a.:o por e,crito. t~ansmis- \ ro foi :irado o conto (ber.; co:1heddo) do qual eu vos êou aqui a adap-
s:ve.l aper.iis pe.:. leitura (com a ., tenção, é verd.:de, de atingir ouvin- tação ~plicada, por isso significmdo mab - como ou:rora YOS ofereci
tes) o "ron:ance · rrC'U.S~ a orolidade iliu 1rad1cõe~ a1.tigm, que termi- a da .4rs amandt de Ov;dio. O "rorrance" de-;marca tudo{\ q ·.'.e. por
narão, a partJr de .,ec:.ú, x••. rr.ar~udfaando-sc em' •cu,turd popular". notonedade pub.1ca, rur.da-se :so:nen~c na tradjção oral. Jx rato. ele se
formalizado em ·,gu.a ••ulgar. -;;ia~ ;:::-1r c.?u:sa de altas exigências narra- liga estr~itamente a esta, que per;nanele uma de suas fontes cc inspira-
ttva~ ou retór'cas, o roman;:e rào recusa meros, :k fato, a :;ão. Rei~· nd.ica mai5 fo~temcnte ímes:ro que ro:-se., corr.o aqui por um
5UJ>!'eW.a.::ia co latim, Wil<>rte e ineumcr.to do ;ioder d;, clero. Contra- jogo de passa-passa) ,eu pa,entc,c,) com algum te.xro lati no. Rn::·He-
riame:.te aos contos de c:;ue i:: nuue e ~O":J em geral, ele rcQu::r vast;:., memc, fundou-se sobre essa tarac·eristica a distinção t-nrt ~ gêneros
dimcr.siif"-i: longas duracJc~ de 1eit 1~a e de audK-ão. em qur: os encadeó:.- do ··rorr.ance" e do /a,. cr:açõcs corit~mporânea~ da:. 4uai5 a segunda
2
mentos da na,ré.tÍVé., po~ mais er.:bntl1ados que per vere5 ;,;,~çam, são se dá expressamente, ao cont,àiio, como derí~-ada da tradi;ão oral Os
proJetados para cm adm:te nunca fechado, ~xdusrvo de ioda circulari- primeiro,; ·'rom.ancista.s ' pcrtan:o, nã:> 5C podia:n mostrar u.nân.me!>
dade. O diScuno acha assirr., en: sei! nível ;>Toprio. ganmir.,fa concta- na definição de seu ;,.:opósirn, e obser,am-se. durante meio século ou
çõ1.-s m::.i• :icas, o uaço de in:.oop'.et~de e de incefi.niçãc :tas palavras mais. muitas flutuações que rraem as uc~ignações hesnante) de c..-n gê-
OOlDU."lS, as que n.:, fio dos dfas dizem a vida NiMo ele se opõe ao cis- nero novo: ronum.ce, conotado pela :idéia de glosa, conscn:ará muitc tem-
CUNo rod.undante e fectlado da poe1ia mais antiga. :DO por concorrentes conro, 4lll.São d .J.Ir.a oralidade dai por diante do-
A CXJ)l"'...55ào mettre en roman, fregüenre no francês ao sécu:o xn, rnmada; aventura, e-.'OCando u.-,,, projeção num tempo abert::>; e lli.!:éria,
dçsigna o proce.sso que permite a::;tgir es.~e fm: o;:,e-ada po: um indivi- que é a v:rdade realizada. 3
duo aperas arranhado pela cultura "ivres:a, a co:occçêo f:'m rcmance Qual:iuer que tenha sido a tom.adi: :le posição pessoal de cac!.l au-
tt:.rn por dl!'jtinatário quaJqur ptssca do meb cavaleiresco e nctre. O to:-, o valor eminente que ele at:-ibuia à escritura, de fato. mcdifaava
primeiro promove. ?0r meio d.a pen&. e ela tint~, com 2 bten~o. em prb- suas relações, não somente com ~ teJ<ti> mas tami:>ém com o nu. i'.lte.
etpio, e."C:cksi.,·a do segundo. u.m enunciado de~ línpa natural :oro.um É isso o que entende::n os mediC\'tlistas amencanos, para os cuais a · 'iro-
ao estatuto aurorial do livro. foi por di33odaçio da expre~ão que na.,;- nia" é consntutiYa do gênero. O ''roma:ice" procede a umi1 iruoa~ão
ceu nosso r, ome ro,rwnce: iniciativa. segundo tudo inaica. de Chrétien crltka de seu ouvinte, ele o ern'Olve (de maneira menos ou rna.s há;,il)
de froy~, em que se marca a força de '.n1pactc das p:ática.. escolares numa bu ca de sentido, uma imestignçlio. ccrtamenre limita::b. pelas in-
~obre a prârka desse escritor. Romance, originariamente advérbic, pro- junçõcs imbólicas que pesavam brc a cultura de então, irrealizável,
.,indo do latim romanice, refere-se .w vernáculo - ponanto, de .r.odo no entanto. sem a interven do ocrito Tudo se p 001110 -te a ge-
primário. ao oral. Donde crné. ambigilidade. Por isso os ";omancis:as" nealogia da narrativa escrita <le l.il•gua ~ulgai, até por volta de 1200 -
.se ddcndcm, protegem-je de um lado e de oueo, opondo. a cada vez.. quai quer que fo~ em o ar1wnrn10, :i oten~llo e a compkAiJ:ide - •
266 26i
rcn1o nta.ssr a uma das "'formas 1mrles" an11samc1 te ,atal('lgada.s pN t..1de de a lin ua \"Ulgsr falada é verdadcira.mcnle língua
:,('CUl(l !(li, !Ó
JoJles, o Casus, narração consi1,tmdo ern intenogar: onJe está a ,erda- m.:itern a: ~cnta, ela se desvia para o lado d o latjm, do Pai, do Pode-
dc? Onde a j ustiça1 É. muito hleralmc-nic. o tema central do Tii..1an de n:~. do üu1ro. O romance, porque a e.c·í1ura inscreve-se no próµ1io p r,1
Bé:olll ou, com humor, do Éracle. Smto-ise a p:cssão da cone:nte dialé- jcto, toma-~e então o lugar de uma experiência mal exprimível e po•1: o
u~a que atra,e:,:;a o s~--ulo. Uma reflexão so re a es ritura (indq,er.den :! oon,enicnte: a língua que foi aquela da infância, que pennanecc a dos
ca a~dição mórica) esbo;a-se assim, em hngua, ulgar, a prop6sito d~ uaball:o~ e do~ dia5, altera-se. de re;;>ente "língua estranteira'', esc: hei
r:L.7,;ilivas d.e ficção, ~lu.iodo todo! os outros textos. Ora, os ":-oman- Mentir que C\0<:3 Ogr:in no v. 2327 do T,Is1an de Beroul, a propóiito
ce'- ' ' dessa época constituem no Oc:dente as rnai, anti~ fJOÇõe) co11- da epist.Jla q ue ele ·,ai compor: então, ressoan:io sob a máscara Coib:-
fessadas como tal, sob o \êu transparente áe uma pretensa. his:oricida- dos e dissimulados em conjunto) os ecos das profundezas pertu.--baco-
de. Esse laço que liga a ficção à consciêm:ia da esdtura prende-se t.ih,ez ras, em vão (pa.aece) reprimidos, esse " mL:mú:io da língua" de qui: fa-
a:, fato de que uma performance reJuLida à leitura elimina o, el:mer.- la Rolnd Bartbes, esse excesso de sentido...
10s mais fortes da teuralidade poéti::a. Alem düso. a fkç.io e.; ociiên- "Ja granii: rnhtura de novidades que agita a segunda met.1d.e do
cia "irônica" de uma desco:,ena de .s:mijos crabaluam cm favor da lenta seculo Xll, a palavra ,i va permanece, de iato. uma fonte insi;bs tituívtJ
emergência, entre 1150 ,e 11:50, dos vtlor!S indi"iduais, da n:::,ção de pe~- :le iaformaçces. Chrétien de lroyes, ele próprio, intervindo como amor
i::inaJidade; m1 favor da im;ilicaçào de um suierto em m1 l inguiigcm. - em '>eU\ romances ou recorrendo à ,ntermediação de narradores (como
])()e.de a utopia inerente a esse discurso5 e (por cama e.os ve!ttígios Calogrenam no Che11aller au LIOn), i:1tegra ''cn abyme'' em ,tia litera-
10:alitários que daí emanam?) a má consciência, a nea:m::tade de jw- lid2de uma 'vOcalidade fictícia. E ~a mesm& epoca, Marie de Fra.1ce, no
ufia.ção, as remissões estereotipadas l história, a pretensão de \.<!11l- prólogo em que elabora seus Llrts, insiste llit auclição que pre.;;edtu a
cidadc. Para os homens da Igreja, os "romanc~" são apena. /ábi.iJUS escrit·J:-a e da qual ela tira sua justi:'icação fir:al, de sorte que a vo, não
rãs-, nugas, mentiras ou romgnces de vo,dades. Essas tensôei; vão a ce- ces,a de estar presente.~ O autor do Jyoier, louvando, em seu exorclio.
:mar-se pouco a pouco, do séi..illo Jlll! ao x:r,,, na medida e na propor- a virtude dos te:npos antigos, lembra que entãi> as belas narrativas de
~ão da difusão da e~cntura na classe dominante e da dirrinuicâo do aventlra. imaginadas pelos cavaleiros, eram comadas de v va voz na corte
pre~1.1g10 da voz. ou que os clérigos as colocavam em '.atiro, por escrito: cabe-nos e--itâo
A equivocidade de base do gêmro 'romanesco" trai essa s1rua;ão. lraduzi-las .. , Numerosos " romances" do sêcul::> xn invocam e~~ o-ii.n-
L ma poesia cujo funcionamento impli:a a predominância oa voz: ma- sito cc, relati> oral ao escrito, mwtas ,•ezo pela mediaç.ão de um primei•
oi.fena uma verdade q\lc não se discute, pi:n.sui por is,;:, uma ;,lenitude ro texto lati:l;l (se:n dúvida fictioo): do Erec de Chretien ac .Merougis
que torna possível seu perpétuo recomeç,o. O discurso de urna poe-1a de Ravu1 de HC>\lden.c, ao Bel lnconn u, ao Guil!aume de Do/e, à Violet•
cuja pane vocal é reduzida, divide se, joga contra si mesmo. ~ra em te, ao CJzatelmn de Couc1, ao Tri.sra,'1 de Thomas, ac de Gottfrie:t, ao
s: próprio a contradi;:.ão. O homem que o cilz e aqLele que ;, l'SCl.lta co- de EJnan ! Os romances em pmsa do século- l(U, tanto e Lance!ot fran-
meçam a saber que não~ entenderão jamais. O pod.er de abstração au- cê; qLanto o Ths:ano italiano ou a Demanda portuguesa, mo:ilram-se
menta, entretamo, com o pa;,el da esc:.rirura na gêneSt e na economia como projecíw de um conto, ao mesmo t.ern;>o narrado~ impessoal e •ontl:
do~ textos, mas ele nega toda a equ:i,-alén.ii::I catr: bngua~em e ve·riade, do re:ato: ·•o conto ctiz então..." , ''Eotã,,:, se cala e oonto .. : ·, f-ase~-
:qi.:.:valênc1a que, ao contrário. exalu a performance teatralizad;;.. A ' ma- refrãos que não :::icom:m menos de cem ve.u-, ~ó nos tomos J e 11 do
g;r,: sensivel do corpo em performance foi em grande ra1l~ füad~ :i:~- únteloT-Graa,' (ed. Oscar Sommer.1. Eles ;:.1 escandem e orga:;iza.il a
se branco se e,bo;am os primeiros raço,. ainda desajcitad\); e pálic:!,,:,s, nurati\'a, dc:-senhando o es.paço enu;,ci,,ivo cm que se arual za , à '.eitu-
que projetam o perttl di:- um autor ausente. prove-do, de ugni~..-ação ra p.'.tolica, urna relação perfonnancial carat;e:izada v-lc apaiar-,e gual-
É a;sun que o "roman~" dos sécu os xn e xm, e aindi do x1v, ::ifcrt"~e- q.ie· traço de um narrador enerno. 1 Estranha culm ~çào :ie um lon-
se oomo uma resposta poéttca adequad à demanda do mLmlo ca~a ei- gJ esforço fil::,~ófico. jurídico, moral e atê lingüístico do ~éc·.tlo x:i,. cu::
a ra. .......~...,.,"' tuna entre e desígnio soci 1 tendeu a uma desalicnaçâo da palavra, .1p c,5ou, à for;.ã, a subs:i11l'(ãc
e o de ejo de um autor. Sua hngua perdeu a perfe;ta :ra1spare"'!Oa, quan- ~ o e da comesta~o oratória - e foi de~embocar,
do ele prÓíJrio aspira ~nlusamenten uruver húnde. essa scgJnd-1 me- f.nailnentc. num reforço do poderes da cs:7:lti.ra' A hlstona ~a ~
269
i~s em lir,gi..a vulgar~ tommla ne5se movimento, segue o mcamlros tantasia-5c t'le na,ru.tivu hist6ricns, mistura ..-ua~ invençõec:: rnara"ilho-
e mtc1ra sua, concradicõe<..
sas i.l lcmb:-.:mç:a de uma familia principesca bem ,·erídica (Mi!UJme e
Em rr.eados do séculJ x:n, as coisas amda nio tinham acon·cci- os Lus1gn3n), -de unu pcrsona cm "veri<licn", Fouke Fir~ Wcm: ou M ori::.
dn. Ct-:t mcr.tt. o ff!Xto do ' 'roman~" tin!m ~de entAo adqumdo. tra- vem G.raOn olemã,>., ou Jacques Lalaing sob a :náscara do ~ueno Je.an
ças tr!I putc ao uso da prosa.. uma capacidade d: ab traJr e de rclleur de :E DfJ;m1Qufm:z:,;11i '1l[Dec:cvic:r~;c, um bdo, nessa ne.r·,~tiva.
sobres: m~mo. :iutotelio qu,eele rul:> possuía em regime mais livrenen- Entretanto, esses deslizamento sucessivo , a longo prazo essas re-
te vocal. O escr.to retira .si.:as amarras, se assim posso d12er, a5p1ra a ir â vira\'oltas, nlio bastam para reduz.ir n nada 11 operação vocal ,a difusfo
der"\li, ~ o presente da ,oz, .:omphca-$e, prodamn suo ~stêro ..i.i d.! oh-a nem para al)agar do texto todas a~ marcas de sua profunJ.a ora-
fo~a de 'IÓ~. fora deste lugar. Ora, para tais efeito, a prosa presta-se mab lidade. Qua1sauer que tenham sido os cu1d:1dos d~ doutos. os efeitos
~u~ fJ vt~o: c:-.1c:, por seu ritmo, pelo jugu do~ sons, pela mímica da obra, ~ara o pratica:1ce. continuam até o século xv, e mais tarce ain-
mais nar::ada que erige ma reca.ação, mantém com mais tenacidade e da em ,·á::fos meios, a depender de sua recei:ção por um auditó1 ic. Tun-
f"f;dência :odos os elementos de mr.a presença física e: l.!t: ~eu ambiente ;.o poe-:.as :orno intérpretes ·1.:am aí ::.en!>ib·hzados; :ai é, sem dúvida,
sen$ivel. Po:-v::>lca de 1200, ern vàric,s meios letrados, toma-se consdên- a principal razão da manutenção tardia do ,·erso, ao lado da pn:~ aos
c-a: o "etso, err: virtude dessa presença mesmo. indisCUt1\'el, escapa ao gênero~ narrativo~: Frois.:.art, já em 1358-88, escolheu essa forma para
cont:olc "acioual; o que e.e ~nuncfa é recebido pelo ouvin..e como ver- s.eu Méiic.dor..-\3 frequentes intervenções d,) "romancista" en: 5CU tex-
dadeiro. ~em r.er:hum ourro citério: seu discurso é, portanto, em reali- to - se•.c apelo;. ao ded.icatario. por 'teres aos ouvintes - pr;.1longam
jarfc e de I:1E11eira rundarrentaJ, "mentira". É esse o termo que empre- ..ambém uma tradição formada sob um r~ime de li,;re oralid::d::, mas
g~, nos a105 190-1220, t.a1to o tradutor do pseudo-Turpin quanto ~ua inter?rctaçãc <é mais ambígua. A lomto prazo, elas anu.1ci;,m uma
Pierre :Je Bc.:.uvais em seL Besllaire, o anônjmo autor da Histotn an- interiorização da relação entre o escritor e o escrito; formalmente, nun-
c,enr.e, u:n ada;,rador das Vies des p~re.s. o Lronista do reino de Filipe ca ~e afa5tar.1 d.as exdamações do,-, :::ant:m~s de ge~ca nem fa ~educão
0 1
.º
A~gus(o; r 1érigo alemão que colocou em prosa .::, EtJJcfriarwm para do iog:aJ: elas implicam u:n jogo perfo;n:ancial. O emprego. r.ouh·el
m~craaor Henrique, o ledo, em~ora mais discreto, não pensava me- na narra,;.J.u. do p:escme do indi:::ati1,,o - ,raça muitas vezL·s subli:iha-
nos russo: o~ vcr50~. diz ele, niht scnriben 1-·an die warheit (·'não 1-ans- do - ex;,lica-se menos :::orno figura de ••presente histórico" d:> que co•
mitem a "'C"dade'').ç :,..ias também uma muda.1ça mais profunda se pro- mo presença \'Ocal - ~onforme se demo:is:rou para o romance em ver-
duz, no ::rivel do sentido narrativo, nesse rep.'.iclio ao verso tradicional. s.o;1~ o p:oced.imenco não e desconhecido na prosa, como nac;l<ela da
Mujtas vezes já foi comentado: o "romance" em verso é feli.z aberto Esw,rt cfo Graal. A abundância de dhcusos diretos, monólogos e diá-
otcn~to; O ''rcmance'' em p::-osa tende a acabar em tragédia. pr.me1~ O logos, mesmo que em si própria inócua., favorece na leitura o, efeicos
rc fo: apro;,cimaco, por este traço, aos ,·elhas contos folclóricos. Não de voz e de mímica - ou seria o inverw? Da mesma forma, s impor-
6 ~..~e cm dos efeitos da prc.scnca comum dos corpos n.'.l performance 1
1
tância tema:ica Jjgada à pala.-ra e à \'0Z em romances como o /11,,-ein de
- efoir.os muito aL~nuadU'l, se não suspenses, na leitura em \'OZ alta, Ha:tman.:t ou o 1'1-rsíon de liottfried: lrbtão é bem falante, c:>nh~
apresS: va m~:uo, de lonps Lextos de prosa'? Na epoca em que se c:ons- lfoguas es:rangeiru, cama maravilhosamente; Isolda pamlba de)ses ta·
r'
titt:em o., primeiro~. aparocern tambern as primeiras memóriru ditadas_ lento.! ..• De ql!e modo o leitor da\'3 \iéa a tais pa:ssagm~·? A questão
e anotadas em JJI'Osa, as de \o tllehardoum e d~ Robert de Clari; err, bre-
•:~e.. G eu, quando SUige no texto poético, pede sua universalidade, vai
' merece -er. ;>elo menos, posta. Fatos dess3 espécie são numeroso;:;. As
miniaturas do raanuscrito B\l fr. 378 do Raman de la Rose, acompanha-
tmurar-se em ::ontaco com um sujeito individual. \'ai deixar tiltrar aJ. 1 das de rub:iCE as.çinalando mudanças de interlocutor no di.i.(lgo dos
@t:ma confissão. Como nó, talvez, em nosso fim de sêculo, nosso~ pre- w. J881-l952, visam a uma explicação dramática dos papéis. Elas opõem-
deccisores do sé,..'"'.llo xn, atemos aos sinais de decrepitude que seu .nun- se a 01.tras miaia.turas rubricadas, marcando articulações da nar;-ati\·a. u
do mo~t.rava. ocpcrimentaram a n~ssidade de um discurso ..verda.driro.,
1
De todo o modo. o texto brilha assim cerucamenle, referindo-se a algu-
(clcs r.ão podia.rr pensar, ccmo nó.s, "cientifico") sobre sua história, para ma rcaliz3ção ~formancial real ou fictícia. Que esta tenha sido r.ão ape-
a~,ea:umr-lhe, ao menos e:n esperança, os fundamemos. De fato, du- nas real, mas também mais. fortemente teatralizada por also mais do que
rnntr os ~kulos x,v e w. mais e mais o "romance", escrito em prosa, por uma simpl~ leitura bastante neut:a, a tradição manuscrita mui-
2,0
l
to di,ers1ficacla de "'arios roman.,;e~ o fari11. ~upvr; H5im é com cu~u~ O quf t1os tazem ou\ ir es1,1:~ tcxlu ~. coleuvamenle, é u ma ~lu ral1-
extremos, o 1ristarrl 1e Eilhart ou o Lanctlur do bolandes medieval. dade não apenas t.le temas e de 1ons (pcuco importa), ma:. de tipo~ ~e
Muitos ''romances'' ofercci:m traços estruturais que C"YOca:m as tec- d.il.curso. E o que oi distingue fundamentalmente, pe11S,O e11. é a pos1ç.¼O
nicas de teaLralizaçã-0 do lC)(lO. O Tristan de Réroul, euja composição que ~u?am na en:ruzilhada que e-,·oqt.ei; a dupla relação que o~ une
colocou tantos falsos problemas, :onstitui em francês um dos exemplos ou opõe à escritura e aos hábitos vocai~ e inscreve-se na genealogia de
mais notáveis. O aspe:to arcaico que se presume de ofr:rcce não é senio sua forma. Certas obras d~se grande e arrazoado &écuJo :xn mostram
a face textual ée um caráter geraJ fortemente: mimico. Não duvido nada seu lado caótico, arcaico talvez, ou barroco. Mas ponho e:m causa me-
de que estejamos aí em presença de um ''romance'' interpretado, no sen- nos esse carãter como ta1 do que o traço inicial de onde provêm, e que
udo quase céruco da pala,.ra ... como o foi, segundo meu modo de ver, indiretamente ele manifesta: a preponde1 ãncia. entre os valores. pcs:os
o Éracle de Gautier d'Arr.as e como o forarn a.inda, sem cltívida, segun- em jogo pela escrirura, daqueles que se prendem ao modelo performan-
do A. C. Baugh, na Inglaterra dos séculos x,11 e XIV, King Horn., Guy cial isto é dramático - no sentido mais completo do termo. P. Dron-
o/ Warwick e alguns outros. jã
ke pun<a em relevo o asi::ecto programackamente "agramatic~'.' de
uma :onga série de textos d!sde o fim do secu.lo XI, como (ele dizia} o
R!ioalieb - por uma recusa daquilo que, s.em düvida, piuecia a certo;
A inven;ã::i do romance no século xu marca, no itinerário poético a.itores uma servidão à.s exigências de uma escritura alienante. Tunto
do Ocidente, um começo quase absoJuto. HoJe em dia, pode-se ter o que, quando Wo]fram no Pcn.ivaf gaba-se de ser ile.!_Icl'do, eu entenderia
fato por estabeJecido, a despeito das ince:1.ezas que obscurecem ainda que ele finge banir uma concepção tota.izante da letra - o que esse au-
OS- detalhes des,a história... Sobretudo a ::lespeito da a.,,•alanche de est·J- tor logo comenta UlS.21 a ll6.4), denegando ao seu p,oerna o estatut;>
dos sobre o romance à qual assístimos no curso dos anos 70 e 80, na de livro.
França mais que alhures. O resulta.do foi uma deslocação de perspecti- o ~1.cr:itor de 1íngu.a vl lgar, nesse fim do século XII, transita entre
va, cenarneme justifüá,.,-el, mas sobretudo uma grave distorsão mo- a voz e a escritura entre um fora e um dentro: ele entra, imtala-se, mas
àerna-centrisla da idé.a que fa:zt:mo~ de "Idade Média'' Globa!mence, w nscna a .cmbrança mitificada de uma palavra original. saída de UlJ'I
o fenômeno rornanesro aparesenta um aspecto homogêneo: o mes.mo p;:ito vi"º• do sopro de uma garganta .ingular. Ainda cio seculo X'•' , 0
feixe de causas produz:u localmente eíeitm de :.ai modo çemelha11tes que nam,dor (usando ja primei-a pessoa), na Demanda do Santo Graal por• -
o crítico vê-se bastante: tentado a reduzir-lhe,, a identidade. Talvez con- tuguecsa, invoca ao mesmo 1em])O com e fonte e garantia wn livro latino
viesse insistir na diversidade. Assim, nãos.e pode-la negar que o romana, e um como, evidentemente oraL Nes:.a tensão que o produz e sustenta,
na encruzilhada entre a oralidade poética uadiciomal e a pratica escri- o sigrrifica::te tende a transbordar o que está escrito na pagina, a expan·
turária latina. tenha surgido como o resultado de uma reflexão .ati\.a dír-se na matéria teatral não como tal rcgisrrada., mas pre:;.o,..nte no boio
sobre essa dualidade do dizer - um.a reaçlo ao conflito de autoridacie do to.10, sob o aspecto de uma •'Ontade de "dicção", no sentido em que
que ela gera. Embocados em matéria até e:nLl.o enuegue apenas às tram.-
esse terno se referiria a uma retórica da 1,•oz. e a uma gramática dos mo-
missões orais, os rom3.nces elitas "bretões:" (cor.lo os de Chrerien de
Troyes) operam uma transmutaç.ão em ewritma, tão radi.cal quanto a
\1imento& do corpo. .
Num ensaio ja citado muitas vez.es, estudei desse pontu ôe vuta 0
que podiam sonhar os alquimi.s.as em seu atanor. Mas e a operação in-
Érade de Gautier d'Arras, opondo-o a05 tex1.0s contemporãneos. de Chr~-
\·ersa. que se :;:,e:-petua nos romance, dito& "antigos": uma tradição es
õen de Tro~•es: ro:nance mal alin havado desprovido de unidade, pai as:-
crita e latina aí se vê adaptada, graças a uma i.ére de c:racuformaçõei,
'".dd<' per J.i~ressõcs advenucias, mas de um ardor em que se fur.dem
pelo menos a certa5 1 v-" " .Jt c-·al I de c ..c podenam ser a~nu
numa liga brilhante mil elemen101 heterogêneo!>, de um ,erdor <1.I ermi-
o uso da :íngua vulgar e do que elli implica em todos 05 planos. Don de
- para tomar exemplos eminen te;-, no Éu as não menos do que n ::>
darrer u.' ciusucc-. galante, heróico, enernecido: em que o . erbo 1anto
adere à n•Jdez do vMdo quanto tremula ao ~ento dai- palavra!, come
Érec, os elemento~ de um dialogismo fundamental, o le\-ar cm conu.,
simultaneamente, êhsecnos que tendem~ ~utnliUr• e'Um :, outro $c:ll1
a rui~ l~mdlo ritmo muito cuidado de horá·
con:;eguir. Ma~ a 1endênc1a, aqui ou ali, t diférenttmaue polanzada, rios - ao contrário da ciência :sintc:ti1ante da medida interiorizada, do
e não ,e ~abcna , ~em abuso, de~crc:vê-la nu:. 111e,mo~ termo), trabalho em plena e~pc~,ura \Ctnâmica. de um Chrétien de Troyes, que
2 71 271
lol, mi -.M,..tll1 1111 Corte iJaCh.ampanhe, cm olgurr .1 ocasi~k> entre 1170 Gauticr me apare..:e, m::its no ttJ-:to <l(', IIra.:le, como nifo est:rndn ain,:JR
e 11 roo, ..cc,mpa."lheiro" de Guuuer d'Arrns. Um e oi:.tro der gos •,i:-rda- prew, nesse terceiro quanel do <:êculo xn, às mcnuilidades e~cnturah.
dei111111mtt:: r:cle.-.iáitico~ - e riv.iis, ,e admitimo, que o prologo ,.o Che- cnt, o cm ré.pid.t c:~ramão entre os clérig:is de meio cortês. Seria úli.
wilier à !a Charec.e se reiere à dedtcatóna do Eroc!t. Enqu.anco Chrê- umaurar neste ponto umn comparação com file ef Gaiemn, o outro ro-
.....,.. º"'"'''" e COIICClltt3 Émck.. .Pe><:1......~ sem
à maneira do~ fotitro cont2dom picare co~. Én:rck estica, como oossa mo 1 , perguntnr se Gsut er - durante os dez ou quinze anos (entre
pró;ma eustenc1a. como a de ~eu heroi, do na~c~rnen·o à mor'.e, uma 1170 e li !I cm que se tem pro,a de que: de: atuo 1, - não e5ta\a dil,1ce•
nfi::ita seci\.êrc1a \"a.negada de acontecimento,, per sua .,ez r:,atores ou radn enlre dua~ concepçõe:i esctticas difbl:nente compatmis: a que pri-
menores; .:ondensa, num te:npo de le1tura - de eiCU.ta - re1au,<1rr,entc \11legta a ,oz ,·11 a e i que se apv1a nas propnedades e ,rnp 11..a.,.ões da
curto. um tempo na~rativo muito longo. Donde um e:eit,:i s111p-eer.den- escr.tura Gau:ier não foi o ünico. s.em dúvida, nes!">a situação.
te. tanto de rctCTJçào corr.o de e.xpansào, de movimento ~c:i:;:eto e de Desde meados do século x.11, com efeiro, os clêrigos c:omeçam a
exp osão centrL-'uga. A extrema diversidade da n..arra;;âo rei.me-se. sem percebe:- uma d.ferença de estatutO quase ontol6gica e□tre a escritura
nada per:!er em fresoor, não propriamente no sentLüO de Jota im.encào e a voz; os prólogos de nossos "romance~" a formulam em termo~ ele
evic1eute. mas rw da uniddi.de de uma ação; a de Gau:jer, ;:,ela qual ele auctorltas, o que eu 1raduziria por legitimidade, ciante de uma verdacle
se erige a nós. A forte m;;;s confusa unidade da ol:ra e a 'UJl.id;;,de de transcendente. Donde, por parte do escr.t()(", uma rei.vi:rtd:icaçào auto_ us-
uma performrncr. ti"icadora :ie c/.::.rezia, ciên.:Ja assegurada, e, para o te:x:o que ele escre-
Gaude-r d'Arras aparece assim como um admi.Jã,·el cor,mdor- da- ve, da quai.daie de Jívro. De umas trima ocorrências desse último Ler-
queles. ü!.lvt7 q1 ,e Chréti~11 r.e lm;res acusa, no pró.ogo d,:i Ér'fc. d.e- '"de- mo. regism.da.~ por .\.folk. em diversos t:rólogos, ent:e l !50 e 1250, dois
preci:ir e corromper" sua matéria. Gautier cem apenas de fa:?.eT oonces- terços, ~ verdade, designam :;.mr i.;so alguma obra .acin.a c□lra, fome pre-
sões e">:étí:~s :>eks q ~ certa escritUia culta sem.a.,c:za um d:is.:::urso, tendida E ~arantia de um relato; mas os outros, depms de 1170 aproxi-
füand 0--0. Sua operação zi~ez.agueante o faz p,as.rnr, ::e u..., -..•ecso a ou• madarr.em~, designam sua própria obra. As5im é com Ch,étien de Tro-
tro, da abstração refinada do universo cortês il apa.rer:.te ba.naüdade e ycs, Lance1.ot, ...-v. 24-5. O contraste e sisni ficativo; mas :.raz problemas,
trucul ênc a do comum. Mfil esse concraste, em si rr.esmo, □ão faz senti- e est.es, intr::foriiado~, rnan.ifestam-~e por ,·ezes no nh·::l dos morivos OL
do - üu.pnu.er. É essa a sua finalidade. Dai o aspe.:to &.,.o::ntrado que da ~:n!a111:c :iai-ra:iva. Assim é :-.o longo episódio ca can~ de Ogrin, no~
as '\leres :orna o texto; se·l lado menos incoerente do que :rremedJ21•,el- v,._ 23 30-2652 do Tristan de IM:rou.l. Três quartos de se::ulo mais tarde,
mente fragmentário. Tudo se passa como se, pardi.luxaJ□e1::.te.. o texto os a1:>res (tah·cz um;;_ i::,qu.ipe de dtrigos da Charapanh-:) do Lance!ot-
não fos..e mau de, que um dos jogos da ação que nele 1e ata e d.esaca. G.-aal, ,-asm cic1o romaneSt:o em prosa c::mstitwdo no de::orrer dos an~s
>lo relato que :nscre,,re sua pena, o autor proclama a ima:nêi:::ia de ,..-alo- 1223-35 (depois refe11O na maior parte das lingu~ eilmpétas), retomarr.
res qu~ ~Jo os éa 11oz amada - Lnominada. Ele n:EõO procede grnuJ.ta- cem um to□ sér;o e an cerco peso escolástico o5 1ennos do que perma-
nea:'lentc em ~•ários níveis ou segundo várfos eL"tos: nece- patE eles uma dificuldade conootual: como, po~ quê, a que !im
- no nível estilístico (trivial e o menos dedsl,;o:i, adc-~and.o proce- uma escritura - e de ling·.1a oomum - neste universo onde a maior
dimento~ ou técnicas mcirn freqüentes na poesia ord :i:ara coruticuir, parte dos pode:-es passa pela \ 02? !Eles responde□ a essa; questões co-
0
por c11mulação, uma alusão global, uma irnita;ão eficaz; lo:a:1do em cena o, próprio texto que elaboram - e o fazem pela trar.s-
- no nh·el temático, tecendo na rede narrafr,.'21 ua ootivo re.:or- criçào é.e um relato ditado por .\Jdin a ~eu secretá:i.o Blaíse ~a Dr
rente que se refere a palavra, ao som ou ao efeito da •.-m:, ao poder do manda por~uguesa, li~·re adaptação do e:clo francés. o próprio rei Ar• ur
verbo pronu.ncia.do; exige a coloca~:> po· escrito do relato :ie aventuras, comticuindo e.ssi.:
- oo eixo das finalid~des, ~ituando o cex!o im.eÜ'o na. per5:;:,e-:ci,·a mmanct: o auto·, no secuJo 'º', requer a garantia do '!)Oder politico st.:-
concreta de uma performance: integrando aí as quaEdade1 especifüas premo. O de Merlin tinha em seu tempo um sentido ma:s defüo de co-
exisi.eis; n.i realidade corporal dbta. notaçõe.. l\.lerlin (de cuja hi;.toriddade ,;-6 tardiamente se começou a :hJ.
Loo@e de mim a ideia de apresentar Gaut,er :orno uo arau:o da viJr) é urr: profeta ilustre. anunciador e garantia dll reino glorioso Je
P<"C~i11 ora': ntm ~eu romance como uma e-sp-é,c1e de can,;::io .::e ,3e:sta. Artur; e, alem d·sso, na~ceu de ruma ..,ir~em com n derr:rinio, redimido
274
L
pela ~anlidaée d! sua mãe, antieriito 1111.'C!tulo! A ~eiunda parte do Ci-
discur~o sob•e "Idade Média", escapar ao preconceito ou à inércia pe-
clo conta. de forma cirtumtanciada, essa históna, a tlm de assentar "
las qu1i.i~ (depois do romamim:o) se tem a lt'!ndêm:ia de falu de Jiteru-
autoridade do conj-.rnto. O profCUI in1ennediário de uma meruagem pro.
vide:1ciaJ funda a realidade daquilo que assenta o csc:itor. O autor des- tura {mzu, também hoje, d: e.scritura ou de texroj corno dt uma e::>s~n-
~unhecido do romance livra-se, ;por íntermédlo de Blaisc, da rt5poru.a- cia ou de um funciouamcnto a parte dos conêbio.nam:mtos temporais.
bilidade que lhe.impõe a e,tigência de veracidade ligada à história que Não que símp)esmcme as mocialida.des da ..liter-d.u...'"B.'' se transformem,
ele wma e da q.1al pr.>clama a mL1ito alla e obs.:ura ,erdad:. Um ator no curso de ,eculo~ mm q.1Jc os Ul;'í,vios de plano banem para dar con-
é assim, ao mesmo tempo, n4IT3.dor das ações que produz e faz pro:iu- ta de.iSes estados sucessivos. não existe a categoria "literatuw." em si.
:1Jr a outros; um ll~gundo na-rador. rubordinad:, a este, registra o que Os comentários. iniciais de T Iodoro11 a respciro c.:s.m, em se11 Gênerru
sob sua pena está rre~tes. a transformar-se em INro. O disc·.mo de um do dil'Oir.so, é.plicam-~ não somente. ie modo ·eóri.::o, ao conjunto do!)
terceiro (que chamaremos "autor"), engloba, re-prodl:7 e atualiza o to- textm modera.os mas, historicamente. a toda suce•são dos d.iscursos.1l
do. O que lem~ 5itua-se, assim, no final de uma genealogia das p1la- A "litera:wa•' r.ào e.\istiu (como nâC' o:iste amda) s:não como parte
Has, asswn:ndo, sob tormas hierarqu.icamentc enCaJ>.$.da~, os ::ivatares de um todo cronologicamente sin,.:tllar, recoc.hedvel per dhc,sas marcas
de uma original yoz ,dva. (tais como a c.'l.istên::ia dt- r1i,c:ir.hu,s parasitárias, denominada.; "crítica"
ou ":ústória" lteránas}, ent:-eramo difícil de especificar em teoria. A
literalura e pa.'tc de 1lJJl ambieme C'Ultu_-al em que podemos nomeá-la;
Único - entrem gêneros poétioos cuja cratliçãc ~e atesta antes dos e no:s interrogarmos sobre sua ,'alidade é, pa;a nó~. mah ou menos,
meados do século XIJI -, o ..romance" tende, em ~ua especulandade, ,.1 distanc1am:o-no. de uú~ mesrr-os. Posic1oruoo entre nos, depois de trê.s
a dar-se por atividade. tendo e-n s1 ,eu próprio f'uo. Explícita ou imi:li- ou q1..:a.:ro secclos de dis;urso domioame, ela certamente r.io parou de
cits, sua reivmdicaçà:,:, de tal esta:utc éistingue-sede todas as outras ar- ser contestada cc-J su::.s. var1açoes a :;>an.r do mtcrior, t:Ja nJu o foi, a::
tes desse .empc, cu·o proJeto fica i:1separável das :en5õef. e movimcn10~ nosrn5 dia~. e.:n suas ::or.!>!ar.tes.
religioso~, polj'.1c01,, familiare~. interpessoais, e-m suma, de um projeto Não se p::>d:: du,'iddr de que a linguilgem é 11rr. tato uni,crsal, defi-
~obal ce sociedade, em que SI.' integram funcic-.nalmeJJte Essa origina- nitóro ca humi'lmdade. É p:ova,·eJ que todo dado primáno da expe-
lidade c!C', romance parece, à primeira vista, menos clara em relação aos riência cons1h11a o :11r.dan:erto possh'ei de uma. arte (assim como a lin-
trovadore.s, na medida em que o · 'grande canto cortês'' s:.ipõe jogo, des- guagem, de :.ima ~ia). Ma; a lite-ratu.ra não J}"...rtence, como ta.J, a c;s~
.,.io, arunanha di:mmiva, i:Iccssar:te malabari;mo v~rbaJ e conceitt..al. ordem de valori!s. Ma;s ainda que a ideia de mmueza, ela pertence ao
Mas o malabarismo ê uma das wnstantes de toda :>oesh, do século vr ili se:- a,_; dos mil os que cor..stih iu para si, pouco a pouco. na aurora dos
ao xv e tal·,,ez ao xv·.; e a intenção r:;,manesca é me:ios gozar o mundo, tempos nodemo~, a :;ocidad<: bJrgue1a em expamào; esla a conser-
a \ida, a Ji:iguagc.::1 do que não os gozar para, por último, substitui-los vou, COI'tnt L.ido e çontra 10dos, por t.!r.to tempo qi:.e a animou um wr-
par urr. unne1s0 .!! merix do :1omtm Por issc• q\ o "r()mance", entre dac.ciro projeto, manifes1ação de sei.: dinamismo r reumo i11esgotável
a~ práticas do; sé:uJOS x11, XIII, xw ainda e, em medida menor, do)(,, de J~~1ficaç3.c. 1\ fi-if!rur:n, se L.::á rr.a;,:ido ao longo desEc projeto· e,
entra (fc.rçando um :>ouco, m~ ,an muito prejuízo) no quadro. ao mes- se s:.iã legitô:rudade, sua cx.istência mes:no são hoje pc•scas em causa, é
,r.o tenpo ideal e pragmâtico. que jesigna nos;o te:mo literatura. porque •J projet~; íoj con~e:-vaju em lu~c kolc enqunto nenhum outro
ln~1srn, c:lrn mco de chover nl• molhado. e :ie reste serr emprestar
as.scrnrnu a St:'.:l~titui~ão. litera:ura COfiltirni asLT um fa'.o rusrór'cn
a:> "literá~10·· uma definição pre:isa que ele não t:m. lm dos impera-
tivos metc,dológicos ao qual nenhum med1c:.·alr~1a •e: ft.ruma, se:n fal
'ª
comple.10, ma,. na pcr~;:ien da~ h.>nf~.Jura;õe-, r.Cl.~ara..T.eme 1.:m-
sttó•io. G,obalrnrnlr e a p·a20 fongi:iquo, tahc.z pudl!'~semos ;on.,illc:-
.. :de mooo incmcdi vd a pcrfpccti\-a, consis-.e em aínstar, como to-
rá-la sem dcm1:uagern critic;a co:no fenômeno pontual, d! dura:;ào h-
talmente: macc:quada a seu obJelO, a noção oc ••ti;chiruru ... d
estiret:am«:me coru:licio.nado l uma situação cu w.ral. Dessa
mom:u e:11 stguida, com a mais o.trema cauttla, u consequ!ncias de5-
última, o~ 5é:uloi medievais, at~ por 1•0,1.a de ll50-,2f(1. aprow;inwam-;e
s.a exi.:1usão. Hugo r uhn o d:ua já mi 1967, a propv:.ito do século xm
parn.1 a r,a,w1, com lentiJão e sem ccns;:ic11c1a ~empre clan do que 5e
alrmão.. L lm;>orta, com efe1t0, n::m mais nem menos que a vaháadc d:,
tramava nel~.
A hin.::ma da fml :t\.Tll litrmt11rn la-ç:i alguma luz sohre esc;a t-vol11 - e t,1rJiJme111e a~,ociadJ s - •n consciência eumpéi.i desde Quatro cfo-
ção. O la:im /11terarura. calcado .,cbre o grego gromm:lflcé, denotavn co ou rei< .teu los: pré-'i isrór-n confusa, que lemamente tinha ('l'Oe~gido
na érc,ca :.le c:~ero, e abua na ce Táctto, o fato de traçar letras ou por tlas wnas do nlfo-dito. Lma noção nova se con HÍl'!Íl, no rio tia, tra-
cxten ão. r. próprio alfabeto, enquanto Qumtihano o empregav.i cono dições existentes, peln imposição de várics e)quemas de pensamento
substitcto:dos ter.mos grcsos que àcsJ&uaram a ~tica ~ a fj olo fun ion.n11r.lo de mancim ocul:a como par~ rrt'tros rriuco.,: jdéiJ de~
~o uso dos Padres da •~reja, o termo refere-se à erudição -geral conferi- " ujClto" enunciador utõ nomo, da possibil.:dade de •ma apreensão do
d.1 pelo e:isi:-iamento pagão, dond e: uma frequente nua nce po.:j orat1,·a: ou tro. a con~pção de u:n ''ob jeto" reificado, o pnnaJo e!ribuido a
Qumuam ncn tognow 'meraruram, diz o Salmo na Vulgata, rnrroit>o refrrc11cia.lidade da l•nguagem e sirrultaneam::nte à fação; pre~:;uposi-
,~potenrizs 1..Jo•l!lm ("Porque eu 1,moro a 'literatura', entrarei na glória ,A.> de algum.a :Wbmemporu:dade de certo Upo de disruNO, s.>d,,.tmcme
co S~nhor"). Pa~... Te:tuLano, ii;rer11ru~a 5ignffica mais ou menos ''idc•- t ~amc~nde:ite, st:s;:,e:iso num e~paço vazio e constiruintlo por ele mes-
latr:a' ', A :radiçlo latrna mesfü:val elumna a conotação d~fa,oràv.:,, ffi l) uma O r:iem Do nde a c ri .:1çã o de uma categoria imµ..:ra ci,·::., promo-
IT é..' recorre -aran:eme ê. essa palav1a erudita. pxfen ndo i'itteroe Es1z.- -.ida a : onadora de valeres Q.le a Idade I\Jéd.ia rinha a'. ri buídc como-
r.:os ainda aí :J.:>5 seculos X\' e xvr; er.:rei:anto, os humarustas tendem u_u..•to·e.~ a11Li!;v~, e !>Ubu1mndo, em ,eu OÍ\'e l, todos O ~
Ciili1~11Lt: c;.t:•s
a restringir =- si.gni:i.caçào, c,>ns1dcram o único conhecimento o dos ra~ores do saber, fixação, :ias lín11ua.s vulga:e.s, dt um cânone de textos-
"bor.s' ' escritores da l\.:i.tigüi:lade, aqueles mesmos que fundam então modelos.. propos:os à a.:lrrúraçilo e ao estudo: fec,1amen1c do hcrizonre
o cânone :ioetico e fornecem modd~ para a a:-te de escre,,er. As lm- ,'l1aginário, oposto à ir.cessante .Jbenura dos formuh-mos p:ir:::itivos.
guas vdgares que, em várias nações ocidenUllS, tomaram emprestada \las a rcrr.:aç~o de u.-n cáncre, na cultura de u"l1 &:upo s0<iaJ, lalvez
a pa_a.,..:a latina para ve>ti-la a seu lllodo afastaram-se deia sernantica- cnt.remostre o ;,avor que seatem os indfríéuos desse grupo, do fundo
r.:;en"e apenas. 1\ ss1::1, C! francês do sé-:ul:> xn usa simultaneamente as ce s_ua necessidade de so~reviver. Que medo, ~e :sso é "erdaceiro, que
farrrrt~ IP'trP:l,-,. e Mtérature ::,ara designar o conhecimento do escmo du1,1d.u, qi.;e d~ptrari~ :nanteve emre nó~, dando-..,es fi.gul'é, durante
e dos livros que são autoridade, às \ezes a própna materialidade da e~- uês ou quatro scculos. no~~a "literatura"? Talvez a A.rn:~ilidade- tenha
cn:urn. úttre:i.r t, tornado lelt,...Jre, desaparece no ~ki;lo x1v. Quant:l ccnceb:do alguma noção :,ro,:ima ~ essa. A:> mencs. fica assegurado
a s~L par, clc sof·e a concorrência de feJt.res, depois, por referência aos que ela não fo: transnitida e qu~ não terá havido aí ccrcinuidéde. A
auto.:es an1iê-iJli tidos por "dás.sicos", bonnes lettres 110 século xvr e, me cont!ária de Cunius. num livr.J célebre mas hoje u rr!lpassado, sim-
desd~ 165J, bel'es-lettr-es. clig:io paJ de b~aux-arts. Por volta de 1730, pl1firaya abusn,a.ner.te esra ::ilitória. A tradição ant ga, presa à aJta época
mutlo. .J .,,ente, t i'i:-tru.5 1c-cua diaocc de frr~tura - mo\imenco com ur:t medic\'a.l p or letra.dos como Fortunato, re1,·ivificada, por mas virtudes
a rodas as r:ossas J:nguas. O inglês S1muel Johnson, !)elos idos de 1780, políticas, nos tehlpos caroli.ngios, ficou sufocada 005 pró;,rio:\. s.eculo!)
por hterature e_ uer dizer tanto urna rnltur.i pes5oa1 fundada sobre leitu- em QUt! os letrados to-ninam coru-ci.~ncia da existên:i.t :i.utôr,oma da.s
ras refinadas quanto a produção de ce,.tos próprios a rais leituras. r,;'a hnguas vulgares.
mesm~ época, t1a rrança, a htcérature é rambem o conjunto 1.k~~e:s t1:..,- Foi em torno J.:. ideia e, em fr:m.;:ês, do te;-mo clergi:e, pro,cii..emc::.
tos. fasa exten~ii:> de se:itido é um fato internacional, ligado à consti- dos mdos escolares do sét1.1lo :,rn, que se operou a pri:ncira cr:s:aliza-
tuição de um::. ::iêoda estética ::ia Europa do séctLo das Luzes. Essa ciên- ç.lo de elementos que, rnuiro mais tarde, coo:rfüúirilllJI para ;;. forma-
c:3., quando 5e aplica à obra ée Iing ~aEem , kva em conta um tipo ção d.a idéia de "literuwa' •. Uma. ti:ndência, herdada de retóricos da
particular de di.curso, excluir.do todos os outros. É a ele que se refere l)aixa Amig:iidad:- ou haurida r.a kitura du~ ii-UClOres, de::naca~a mtão
/izero:ura. não rnencs qLe ao grupo de homens que são seus p:odutores no espírito dos clérigos, a ;;on:epção do discurso tscrito como relativa~
e cor.,11mi:iores prv.Jegiados. 1*Criam-se expressões, precisando essa úl- mente au!linomlJ, li.1g.1dgc:n libcrnda de seu cont~o imediato. l:nquanto
timé:. perspect1Y2.: /iueraieUr tenra em vão, no tempo da Regência, desti- esia reficxlo co11cc:r;1::! apena, ao latim, ela permane,;:cu e!pecitica de-
tuir o hilmcm de letras; no meio do sé=ulo e\'oca-se a gent littiraire, o mais para afetar de rnooo :!.ur2douro as mrntaJ:dades e a5 condu~~= seu
mnr.t!P litrirr,irP ... istn t, já enciuanco membros de uma instituição c:unpo de aplicação era, no final de contas, condenado ã rtcraç.Io; de
Literatura e illa família kti:a! da\'3m assim, pouco antes de 1800, fato, J)IWado o ano de 1250 e por dais ou três sécul~. o lati m vai de-
forma e ro$tO a um c:onjanto de repre-sentaçõe~ e tendências errantes - sempenhar sobretudo a função de língua ctcnica. Mas, a pan1r de uma
279
-épo::a que, ccnformc D ugar, estende~ e d~ J 150, aproA1madamen1e, ao
fim do século xm, são colocado$ por e e rito m IC!ltos cJe r~latos. de can•
" ..
fodo~ es"" traço~. e,.pa;.hado5 a perdn de vi,ta, começaram u rc1.,.1ur-
;õe5. de peças litúrt,1ca cm lín ua vul r. Tàh-ez. mesmo alguns de e. com efeilo, eu rn~mo 1cmpt:> cm que elei; .e manifesta\-am. no curso
to:t.os 1e:tha.m sido composto por csulcte ou cá!amD, manualmente. Pelo d~ 6éculoi xi·,-icv. Os 5inai~ desde c-nlào !ít m·Jl'ipücan1. É a.~~im que,
, 1res :!!-sa tecnologia, inu-oduzi1-se, cbcrctrunente, o que Luh Costa lima a partir da ~cgunda m~Jc: do ~éculo :\lll, comt.Jtae:tM: :u anrologias
chama um "rontrole do imaginário'', Ct.Jja eficácia s,ó aparece plmameme à, quis a poe•ia do "1;ande canto .::ort~s" ellíopeu dC'l--e o fato rle ter
depois de 1500, apô~ uma era de ten,ões crescente~, comum (sob diver- e-scapado ao esquec1men!o. Cancioneinr.. occitânico~. compilad~ na
so; ;iSJ)ectos) a todas as nações ocidf'ntai~: tensões entre as energias poé- Fruça rnentnonal ou r:a Itália depois da ruína do rnu.1::lo meridional;
ticas tradicionais e a~ forças que procuram impor ao verbo uma racio- cancioneiros franceses, canzõniln, ciúli:icr.eros. ao lo.1go do~ ano~ BOiJ,
ruilicla:le propria, cn ::letrimento da palavra v iv.:i; uma capacidade 1400, por vezes recopiados, refeitm, e recombin.a.dcs por aficionados r.o
:eflo:ha em falta da presença A cultuta ocidental, à medida que, eles- )écub ,,.-.- e no icv~ aioda, res1cmunh0s de uma vonw~~ de colocar õ
de o século x:1, já se la.i:::izava, trar-sferia ~sim aos detentores da escri- pa."'le e e:n desique, de formar um cânone que cons:itui$e autoridade
:ura a velha concepção :eológfoa do Locutor divino. A linguagem já não em Jíngu:1 \1llga.r; e.e des1gruu novos clá!sicos. H por vult.a de J 300 i:s,as
sen·iá mais à simple~ apo1:1ição de u.m mi!ílério do mundo, não era mais ir.ten;ões exprimiam-se enue as linhas do De 1,uJiaFi e/oqi.lo m, :i, S,
o insrrumentc, de un discurso fora de que.;tão em si mesmo; daí cm dian- gJando :Jante invocav.1 o exemplo de)sc~ "uoutores Llustre)" 4~c ~ão
te.. a lfa_guagem se faz: os disc-.u-sos desagn:gados :ião têm mais autori- Be·tran de Bom, Arnaut Daniel, O:.raut. de Bornelh, C..no ca Pi~tcia.
dade que o in:lividi:o que os eicr:,;e. A idéia mod~:na de autor e as prá- O primeiro te,cto de Jíngu.a românica tradu.ic:!o (no sentido em qm en·
acas que ela comar.ca, a relação q·~e dai decorre emre o homcru ~ oli:-u tendemo.; e;;sa ;>a.lavra, e não adap!ado refeito) en outras línguas ·omâ-
c.ex::o: rude começa a tomar forma, esporadicamente, no sb...'illo xir. n.icas foi;:, Deccmeron de Boccaccio: no'ro indício de ''camm:2.ação", ao
Apontou-se, em latim. Orderic Vital; em francês., Chretien de noves e mesmo tempç q1..e de fechamen·o dessas J:::i,guas.. a:é então mutuaroen.le
G.aoe Brulé, longínquvS ancestrais.. l.! • abcrta5 umas h our:-as. Outro sir.al ainc.a. a dlssodaçâo p:ogmsl\.-a, desde
Essas mutações empreendem-~c num mundo onde Já se ten:a ins- o século xm na Itália, depois geral no século x1v, do texto poético e da
raurar uma ordem socia1em que ::lamina-ão os fato~s econômicos; uma música, 1.sto e. o abandono do canto (de:>.a par" que uo es:;:,ec:al.lsta, D1ffi}
zona de "cultura" "ª' i-oJar-5(:, cercar-se de barre:ras presenadoras; um tarde, "coloque em música" es5es versoi); a :edução da Oj)eraçâo vocal
"de fo:-a' • vai opor-se a um "ce deni:o'' · trxto versus fora-do-texto; de- ao ·cgimo ~alado. Guitaum,: de Machaut, morto em J37i, foi na Fra.1-
_po~, □".llII dia a.inda long:inqLO, li-eratura versm o resto. Desde o fim ,;a o último pcc1~ músicn: ca Alernanlta, Oswa)::1 \'On l'Mlllcens~ein. mor·
!o em · 445, o ulúmo poi:ta-cantor.. e dt: g·Je:n se gabava a •,oz. Out-o
do sé::ulo .xu, uma ;>~rcepçào difus.::. dessas implicações desponta em al-
~ina.1: a persomil' ,ação do discur1-o :;:,oeico. aqui e aJi, que sei:isinua :ie-
gu."Da.s :on:1s5õe~, em cenas fanfarrona.da., de ''autores'' de lingua vul-
;,oi, de 120:> ª"ancando após 1300 e triunfando poi.;co ::lepois em fie.
ga.r: assim ,e dá com C).', prote~tos de tantos romar.dstas contra os con-
1rarca. mais rnde em di"e:;os as_pectct, em Charle~ de Or:éans, em Vil•
tadores (seus rí,ai.s, apoiados na tradi;:Jo oral), O!- JOgrais, rebeldes à
:on, em vários autores do úmcior.em de Baena. lima fi:ç~o de vero:-.-
di;;c~pl na e.a escritura - simples c1ichê1 Thh·ez. po·:.iue também Q:) can-
similliança :elat.;ona ao autm o "eu" co enunciado, e as circunstàrdas
"..adores de ge,ta a ís,11 recorram, e que não e meo, rt'\'elador ;x>r sua
em qt:c o textc ci dú su1eíto, ;i uma ~,periência concreta e partcular E;-
prnpri;;i universal da::. O au:or rc~rn do Dito ao campanha dl' fgnr.
sa fic,~o representativa (irj:.iaginâw no s~culo xr:I impl::::a uma éu;,li-
na .r.e~ma época. clistir:guesua arte daq•~ela mai~ rrecária de 'Jm bardo cidade de línguz.gem,jeéje:..- cngana:lor, e a re1;;:r:ca do:ninartc ex;:dsa
.,.m: ,do Bo: an ~ a Fspanh~ do ~tc1..l-0 , , ué< de San•1llana
de d s-.i~ poé'.ico ·oda reivindir.ação de verdade .~ obra dr \ 'illon ílusrra
em ~eu Prc-e,~110, p-.>~,:1ona- e com desp·e:o conua os fabncantes des- melhor d() que qu3Jguer outra., pelo tJJOgra11smo ingêm:., e vão que ela
~5 romance~ e desia:. l 1i!>LÓnas de =iUC tmun cu p:-01.er pe ~o.u; de· con- ~uscil:>u entre os intfrprere., a argúcia de uma linguagem 3bsolutista,
dição a1xa e ervil! 1'!S.Sa época, a maior parte d cones do O mie vo1 mesma. Pouco f }13 desde então para que se atinja, !,e-
trni ,eus menesuet efemos, a.si;ala 1.iido , 1 p tu ·=il'n:;:,:.,110 lf '\:i,..,,.r- ~t,.,..,m'I,_ a fro111fira íi!) ão, a
sos homem, clr letras A con:,,...ifoc1a de 1..ma diferrnçn es1a,t1 tomada, J)artir da qual a pa aHa é sub u1ufJa pela literatura. e o hom~m. ~cio
ma;iaghel. autor-pcna".lt I\ dcspcllo d amb1"'uidade, 1: ·nce·tcz.::s que ,l:bsb-
JH(j
t:2.lll rmfe1 q ue corneça,sern a rimar os gnmds rJ1{wriq11t•ws hc,r~•onhe- ~oi'.:1et1at..1eturQpc1a, n pi..., c•sc uc:: 1ni111,:;11a \.{Uª~""' "'''" ou''"' ,oa.,> p•~"'"U·"'
ses, o• dados já e~m1,,·am lançados. 1\ Arr rie d1c:ier de Eu ti Des- p~ticas tm,füionai • E,;.,a~, última~ já 5ào velha,, nas. lfniua~ vulgares,
cha;r,p~. em 1392, e e.~ ''.Arrs de s~onde rhlrori,1ue" que lhe sucedem de trls ou quatro slculos quando apnrecem os prfrr,eiro, pródromo~ de
na Fr2n;a durante mab <le CCIT' ano , o Const var, Rhetonken do fla- um11 cm htcrnria; cl.M \·lio resas.tJT doi~ a uês ,éculos ainda a C'.'>Sa pres-
n~nio Mathy: Castekin esboçam uma rcílexão sobre o tSCritura, hLS- sffo. ó ,to ceder completamente no dia ern que tremerem so·J elas seus
tóricn e té.:rrca ao rr-~mo tempo. mulupl ndo rc ll"..016-- 1óaico,;. ócio-polítkos - o uni·verso ao
me><lel~. forte'Tlente mlividual 2.8dos, aue se comideravam garantia da
"fomia no"a" e que lhe conferrm, no temp<\ ~uas car.as de nobreza Então. nas distAnc1a~ d~ seculo3 xvu e X\'111, a literatura 1eró im-
- I)()rqu.. :: ... forma. é, t,ambém e sob~1udn. ~ber-fazer dísunro. 1 s.er- pregnado o discu:-so poétrco de uma neces~idade de rcgula,;~o, terá
•"ÇO de u:na fançãD de entesou.rc.memo cultural. despertado nele o deseJO de 'lima sistemauzacao de 1:,;10:-., .:on.:ebida mi-
A jifosão da imprcr.sa. fe2 ;;a.ir m últimos cb~táculos a constitui- 11carnente como ganho ~i:alitati\'O, como univer:saUdade ou como hu-
;ão do qu~ se tomaria, depoi.; da "Idade Média", uma literawra. Por ma.'1ismo. Antes disso, apesar de mwtas to rmas ou sctorc. da poesia
fim, ela "irarfa de: vom;1.-a.~ça 1s relações entre o au1or e seu texto. seguiren essa tendência., 3 dh•ersidade dos discursos não 1em limites:
tnae este e o público. A obr.a dm mais am1gos rhitor;qu.eu:s. um Chas- a própr.a retérica não ·::>~ traça verdadeiramente; 'warios ilustres medie-
te la·n, um Robertct, o grande Molinet, nos ficc-u a parti7 de seu ma.- valistas dos anos J910 a 1950, de Wilmone a Faral e a Curti ~s, sobre-.-a-
nuscrito 'wWO, :1. segunda geração, a de Gringore, Andncu je la Vi_gne,
lonzaram essas limitações e consmúram um mcxko abst-alo, numa re-
Iean llmalre, beneficiou-se ela tecnologia nova. ~se fatc, marcou a poe-
lação apenas :>casiooa! com a,; práticas. premidos ~ue es1av-a1m, mesmo
•ia, ass1:n difündidd, menos em sua forma apare,te do que em suas in.-
sem cor.sciência, ;,elo c•.JJda<lo de provar que- a palavra poéüca medieval
:ençõc.s mo:oras, aherrura para 'J:n púNico mais irnpe~~od, ao mcs.m-0
pt:nenoa à mesma mde.m de realidade que nossa liri>rarnra. Certamen-
:e.t:1po que ·•mise l"l abym~•' do cu escritor. Ne.se mesmo tempo. atra-
te, uma regulação qu.a!que.r do discurso é sempre nece~'i.ária. para marcar-
•·és :.a Eu:-opa apenJis C(lnvale~certe de .lITla das piores ci~:s de sua '1.is-
lbe o caráter monume.otai: a única regulação sempre assegurac.a nas poe-
:ória uma classe dominante am~açada exerce .sua.s repress5es em :iorne
si as tradicionais :r:ão ê, ou não é apenas, te.1Ctual, ela é ,·ocr:l, e assim
de uma ordem na qual r.ingutn mais acredita. O <1:s..mso poenw
é recebida. Donde u;na diferença de estatuto na me1Uó. :a .;olcri-.a. Ai
desdobra-se em si mes:no, isola-se em seu próprio praze· e, de q ...ruque;
prete:<to terr.c.tico c;.ue ele se orne, procura em si próprio .;ua just:.fica- o texto uadicaonal a.ão pe:-manece jamais isolado, colocado à parte de
ção e libe1dac:e; esia intmo.;7..ação, devido às circ.mstâncias de um mun-
uma ação; ele é funcionalizado como jogo, do mento modo que os jo-
do transformado, foi, ser.i dú'lka, o fa'.or constitutivo determinante de go.s do corpo, de q~e ele participa realmente. em perforrna::ce. Como
ncss::.s "literaturas". jogo, c'.e pro'lê um p~a.zer ,que vem das repetiçõei e das 3Clllelhanças.
As po~ias emopéias, antes do fim do século XII, aqui e ali até do O texto "literário... ;x:,u:o depois de sua primeira dif1não, inscreve-se
xrr, não tinhcun conhec-do nad~ ,emelhame. Mesmo qi:ando aparecem no arquivo j11Stamentt denominado "cultura literária'•, a e5se título pri-
r,o horizonte da França e da Alemanha de ll50-80 os primeiros tmos Yilegiado, confirmar.do, rl-e~e sua iênese.. aquilo que basicamente é um
anUJi:,:.lom. de uma .. lLterature", eles se integram ainda, com todas academic1sn:o. O coto tracfü:ional, entre os discursos do grupo social
. '
as suas raízes e por sua co:afigu~çio imediata, na cuJtura globalmente não doempenha r,e5.>a :onclição e fora da performance nenhum prh i-
oral do çécuJ.o XII. De certa muaeira, é verdade, a literarização de uma !égio. É por isso que, .5e:t: dúvida, a noção de plágio não emerge antes
obra c.:>meça ~m ~11a colocação ;,or escrito. :-01as isso é apenas apa.rên- do seculo X',1, denega~ão ua fecunda intc:rtextualidadc oral. 1;
êa. No "ro:nmce", e ainda mais forttmentc em outros 6êneros poéti- O texto "literário'' é fechado: simultaneamen:c por causa do ato
cos, o que subsiste, no coração d.o tex:o, de uma presença vocal '::la.sta que, miterial ou adealment,e, o circu~rn:-.·e e na in.a "en.,:ãu de um su~
para frear, ou blOQtlear. a mmacão. É apenas bem lentamente. e o.ão jeito que efetua esse fechan:.~to. Mas essa intenenção P!O\'oca o co-
sem atalhos e voltas, aue se c!esprende das vocalidades originais ~sa memârio. su.;cita a glo:sa, dt- modo que, nesse nível, o tc,."tc abre-,e, e
htcramra cm gestação. Esta, por suas estruturas, por seu modo de fuodo-- um dos craçcs pró:;:nos à •'literatura'' é sua interpretabilidade. O ce,,.10
nair.cnto e ~lo valorts que ela promove e impõe pou:o a pouco à trad.oonal, mi ooocrapan:i:la, pelo simples fato de que transita pela voz
282 283
e pelo gei.to, so pode sei aber.o, numa ,1ber1urapnman..1, radical, a ro n- se co11cernem. aqui, ,c:11.io mdtc pan:-ia'menre; e de modo alJ;um na,
ro de escarar, por lampejo~. à lingua "Cm aniculada: por i!iso de se cs- épocas anti"3.S, apenas mais tarde, um p:>uco duran·c aquilo que Hu1-
qui.,.-a à inter;,reução, pelo menos a toda interp:ttJlç. o globalúante. Quan- zinga cllamou 1ie ~eu outono.
do n:>~5a "Jirera111rn" se instaura enfim. n.a ~poca que chantamoi de
clássica, a~ dhersas pane, do discm~o 1ocíal serão dissociadas por cau-
sa de competência~ a partir daí desconlinuas, po:íuca, moral, rcli~o;a, O termo "literalura" coloca assim uma tela er.tre o medie\lilLista
ameacando deixar t.ma lacuna que para a socieda:ie é vilal preencher: e o uujeto de ~cu estudo, exclusi,·o de toda iru.tituição de.s sa espécie E
a,de um discurso Lotal e ht>mog.ên.:o, a,to a assumir o destino coletho. certamente vi.hei analisar em sl!a significação m traços de e:utnsão muito
A literatura vai desempenhar esse papel. 18 Ela. çc tomará mstituiçào. Yai geral ..u115tituiç.io êc um "rnonume;no" d.e linguagem, reflcxjvidade
e,i.e:c.c~ urr.a hc:gc:nonia, de fato, sobre as reprtsenr.ações socio-culmrais e o resto. fa'..l.s marcas trar.sbordam e referem-se m.e.n.os à especi ficida-
que- a Europa e de>:>ois a América formam C1t s.i proprias. Absorverá, subs- de .. litcrá!'la" do que a4uilo que posmi de radie.o o foto poético. Uma
tituindo-se ai a rc16iica e sua função norn-.::.tiva, as ' bclas-leL""1:1s" e a parte das proposiçôe) enuncia.veis a propósito de i:ossa • 'literatura'· r:
idéia de cultura "liberal'' que a ela se pr::-nde; ,·ai desloc.ar para o ;:,rati- aplicável aos te.xros rnedie-.<ais. Mas não se ~.:.btrfa L,111.â-los como pon-
cante literàrio a noção de auctor 4ut: 4 u a.d....ção :ncdic.,.al referia .à.& for_- to de ;>a..-iuia. Não me ,-e;o, exprhm.do-me assim, formulando um juí-
tes re:mancntes do saber. Resulta dis!!O uma tendência moralmente to- zo de "alor, ,1ru, !en:ando discernir um :'ao. A tuer.uwu é o que velo
talitária, que se e>Lcrule aos próplios disl;unu~ mantidos sobre II lirerm1L-n depok =iUTIJ período da história ocidental cm que 1;e transformavam
- a da Idade Média, em particular, na ;,ráti:a dos med1eva.lisw. Tal é enr.a.q11ecíam, por veze.i. se "vlciavam", o, ~os costumes a panir do~
o circulo que importa quebrar. O textO poélico mc:Jie-~al não foi cm ,cu quais se geraram as formas poéticas da "Idade :\lédia". A literafuro r
tempo he~er:iônico; simr.'.esmentc foi útil. A literaturasene qu.ase ÍnC\'Í• o que se produziu nwn esforço admiráv~. :ios homens para u.trapass31
ta,-elment! ao Esndo. Desde o fim do sôel.LJ xv, reis e príncipes ~on- sua crise de ~()n5Ciên;ia, esse "desencantamento" dom-ando de que fa-
fiam aos rhéroriqueurs o n:idado de SWI. p::-opaganda; a memória de Cba- lava !\fax \\'cber. Seria me:hor ti:a.r pro,eito, ern :iossa reflexão sob.e
pe:ain a Co:bcrt ;:>0:r vol:a de 1660, comp,omete a literatura trancesa a., cultur.l, medie-,'2.ls, de <.li:.vidas di•'und.das hoJe sobe o scnLi::lo, a fun-
e, depois, a européia nu:n caminho do qual ela não se afastará mais ate ção, o fi.:tur~ do ';•à.o I.Jterá.rio"? Sarre já ::oloca\'a a questão de .su.:i
os nossos dia,-~ revoltas ideológicas ou aquilo que assim se p:oc!a_ma, pererúdadc. Pais.ado, alguns anos, tende a cim~r-se como objeto de
a tra·nlho do texto. a,; oolocaçõe~ em q ;iestão da linguagem, o, ms.aios conhecimento ou, simpleis□ente, de percepção. Simultaneamente, 0 es-
de docorstração, naca impedirá o discur;;o li.erário, ainda que contra tatut;, da "bütóri..a da hll':ratma" ~ recolocado em questão.
os su3e1tos qu•: ') pmfe~em. de visar a uma :otalidade, e esta, o mai s das Tdllrt mcemzas não ,ào própria:, de .ussa epoca; elas se assLx::am
veles, de ser recuperada e idemi ·"icada a uma Ordem. ao~ q·1cix~rne, qu;;inspua :;icr:odicamcrte, ;,~ ·rê, ,éculo.,. IL"lla preten-
!\ soc1e<l.a:le ..:in qu: ~r fmmararn e 1r.:.nsmicirnm as poe~ias tradi- sa éw,dénc1a a.a cuJtun. livreJc-a: corutante panc.doxal, em Q'l~ se pode-
cionais 1Éro·a11a tooo mo:1i.opólio de podcT. O dis;;urso poético aí di7ia ria:u J1~cerur o~ a.;ess0s rcco·rent~ dç U'.l'la o.ostalgia Ja , ·o;z. ~·("ª· Mas
u unhcr50 e .:i 1berdad t; se não a incoe~[·n :1::i co que e,ç,tt·, e naca J o a lógic-a di~cuni,.,.a que ;:onstituiu nossa .. li cr,uura" funciona ho1e ca-
que ele proru:iha era vr:-1ficável, para alérr. de uma e~fe:-a estrei;a, era ca ,•e.: pto, uma i:l 1~-1ça ce c;1J1-.naç.ão ccrota 011u cu menos todos os
vo,l.i uc: :,'\d;i um de ~e~; ou,·iates - ;'t\ ak."3.r.cc de uma voz. O, rei, wn udos proctuztdo~ ?º: ela. Pr.>1'a-o o destino que jogou durame uma
do seculo -..::i. na lngl:nrna. na França. na bpanha, na Alemanha, ler,- vmtt":1a cear.os corr. a ''Lru1 i~ lircrá:ia"'; ccnr cma.ção - 1ahcz tn'-cr-
tarJm apropr 1<11 ,e desse poder Fo1 o tempc das primeiras cmereênda., gonh1fa - de: urra perda de fé r:a ·,•ali::lade das literat'.l:-as. O aJ.emão
"lirerárm ". O 110\imento e,ta~.:i ddm111,-ament~ assegurado quand0. deSJ&na com U'l1a ~a,ra pe.ada, ma) srm arnb1gu Ud,.fr '1.-:~d.ifere.i-
tr:s ,eculci~ mais tarde, 1mpunl1a11H,e ns monarquws ab,oluta,, •ua nil- ciaçJio • (Entdifjere•rz1enmg), ~r.a morre r:wal"úru:a da !iterar ura. 1mena
minação co:n cidiu com a forma lo do na.ao:aabsmos. Esses uncroms- na cultura de ma ~a. Ora a litt'ratura de m,1.s~a. para!ueraruro, Trn-iill-
mnlo nã~ :é-m r.aJa de anedouco. Ele.s d1mcnsm1mm. na 111 r nu, 1 tn- lil r2ru1 \lílU ucr nome com que se a designe.produto de sub)titu1-
cubação e oepou o crc~.imento de uma realidade no,-a, de componen- ;;ão (para além d~ fnuurn, cullurn1.\ ~u,es,i\'a~ do5 \é:ulos .-..:v, x,~.
tes mal disw:::'á'\.cis A "Idade Media"' e sLas 1mu1çõe~ dir.m, ~h,ns nio X\'11,I de uma '-'Clha porsia ,,)ca, r«olheu e pres:::rmu muitos 1ra.;:os
de,1a; fu ncion:.ilmf.'r.te, e!.i a su~ri:ui prcl(,ngando-a O! rorrances de
Eugl-ne Sue reu tt...zavam c.r .1ques dos cantore, de ge:,1a, a.nda sob o se-
gunclo I_rn ~ri?, no~ môn:1~ pamien~t-:s àe ba.irro~ operáno.\, ocorria que
0 r onei'o t:121 a en1 voz alta a leitu ra de u:n folhe:im a.-~ locatários reu-
nidos; nli<1 há mutto tempo, ha-se assim em familia. 'Em nos~s dta5,
deslocam-se O!i lugares dessa voz: ,=nes rad•()fô.t.cas, televisivas :, mais Po ~ 'cio
~tlttlmente, a onipresente rl'vista em quacnn.hos, qu:.- sub1tituiria no se- fl LETRA E A VOZ
rulo m os almanaqu;>s em nas de de<;apa-eccr A pllavra r:iunfa aí.
~nscriia em balões pintadcs que sae:'Tl das boca~. t m cc-:uraponco a um~ DE PAUL ZU/t4TJ-!OR
imagem oferecida à percep; ã o direu e l:r..ua, reduzindo a q1,a..e: nada
a opcr,u;:ão de de:odifi:a,;ão.
Dessa ellperiéncia, cue faça o medievalista !eu -nel. É de uma cul-
tura d~ massas que se ergue globalmenie ;;. poesia m;:díeval, e não de
urna "literaturu". Os ckri!!:OS, es:rito;CS, i;entc J~ e-;-: ritu a nc ex(rcicio
0
Um Jh•ro como A leira e a vo.;: é, para os esrucLiosos d~ literatu:a,
de sua função, precur~ores cen~ do rr. u.1do moderno, formam !la so- de cultu:·a medieval e de literatura~ orais tcomo ê o çaso ;ia tradic;,or..cl
ciedade curopé-:a dos sfrdos mdi:'\·ais uma :ninoria ín'i.ma - de in- nordestrna), um divirnr de águas. Tanbém para os que se ocupam de
fluência, é ,erdadc. :ons derável, mas nilo ~ :s!;o que esta aqui em cau- teoria da literarn.ra ou de quest5es de ;>oética. i--esre mo.:nento, em que
sa. Os jograis, os reclt.rnre,, os menesrré1s, ge:i:e do \'e·bo formam a se bu.scllm tan~ rew,Bes nenhum te:«o pode se, mais suge:.;ivo do que
Unl'n~a maioria daqueles para quem a poesia ~e irsc-re na existênda so- este, instigante e mov-ador. em pnnC1p1os , ;,ropós.tos - cal e , <J.ensi-
ei.a 1: eJa ai se imere ?0r obra da voz. Wlico mass rnea1ur1 e.~sterte en- dade e o alcance com que Paul Zumthor elabora oo:1exõe~ eo.:re os ::am-
tão: ::. quan10 'lleJ\1or o leuo se presta ao efe to vocal, maü intensa- pos de i:iterfcrêTicia da v:n e da c•critu:--a; o papel da vez em certas se-
menl.i? preenche sua função; quano mais a vocalidade que ele maJ11festa ries insbtuciomüs comí! a Iareja e a Escola e em sér,es m2i5 difusas: 05
parece ime11cional, melhor ele age. Pemar " l:teratura" a propósi:o dis- costumes, o cotidiano, a ,ida cultural.
so, com u conotações q1Je fue para~i:am a id~ é, é correr o risco de um O mcdievalista / poe:a i::~·ende arquivar de •;e;: i;roce:limen:os Je
fectamento eliri2at1Le. Também de um ~echamento emocêntrico numa uma certa "arquoolo gia :extual' ', rotuladora e antiqu,da, e tenta avan-
~éncia hmoric.amente limitada, própr.a das Ilações européia./ e ame- çar no sentitlu de destruir 05 limites crist~b.adn~. colocando por ter:-a
·icanas dos séculos pre:eêentes. Desde então se fa.sciam as perspecri- muitos dos prec-onceitos que sempre estiveram presentes oa historioir.i-
v~s, :ão logo o olhar se desloca no ~paço ou no temp::>. A ún:ca opera- fia da !Jtera.ruraocidem.a.1. É uma questão de posrura. Ampliando a n o-
ç;io fl 11 1': ti1lvr7 r,:n, pa n C'ir::ulo, vr.1rfo li l'g:lh<"~er uma vi~ada mais ção de te.11.to literario, procedendo a uma grande sfnte~e de alguma.s das
justa, in~pira-sc numa an:rcpologilc CIJltu:al, e nfo se i:roporia a respei- mais unpcrtantes teorias come-:npurâ.ne~.s. corno o. estê1ica da rec-:-pçAf). e
to do obJeto outra coisa ,ellào situá-Jo entre a.• ~~ências concretas e passar,do pdos apon,s de McLuha:i. o texto Q\;ff dizer :nuito a:.ai5
as ci""Cl.lnstância~ em que foi percóido. e compreende desde a pme fuicade ~ua e.mi~aoa:c o ~paç:> material e
corpóreo de sua realincão íntegra e de S\.la acolhida· uo rexto ,e te;: 1
na trama das relacões humanas mu!tiplas, que, 5c:ru dúYica, nc. espe-
riência vivida foram tão discordantes q1,;anto contraditórias"
A oralidade se faz um principio :b texto poético, pennirimlo-lhe
de~locar a rliootoroia pepular/erudito, e-.'itando discri:ninações, O r(!cc,-
nhecimento profundo da macerialidade produtiva da voz, com <e:tS atn-
butos intereorrentC:S Que abalroam o signo - nor:ia:lism.o radical. 1.1•
tervocalidadei eroticidzde, mmbld a, di•sipaçlo c!e autoria - prop~t
de foto no\'º' caminhos.
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:\I 1b, desde trabalho.:, de muitos anos .itrá~. rlc nos d1z QUt a JXl<'- n o:.penênc1a hum1n3. a :limcns.ão C'r'!'l(lli\'J tln cornunica l\ ú akan::e
sia medieval, cm cerro sentido, se 1pro~ima do man med,a; qu~ o to- dos princípios que garantem - a pleno~ !>Cntldo, - um3 prc~en~a cor-
to trariJo por ela~ dirige a um público formado pelo, ncs d~ repre- pórea, memóriJ imperecfvel, toda vez que se prcscnt1fica.
sentar e pelos rito · olhar e a. A voz eraria a tcrcdra di!:ll~O deste &te lino e um daqueles fundantes, obra a pardrda qual 5-: econ
espaço para uma sociedaue praticiuneme analfal:>cta, no m:dicvo. \idada a revCf' ludo aquilo que pareia esta: à espera de revisão. · •
Mesmo hoje, muitas das ob-ru poeticas escritas com q11e lidamos panta.mo-nos às vezes com alg11mas formul~ões que consideramo~ exa-
tal\'CZ de\·esser., ser tidas le,.'llndo-se mais C'm 1,;on a as vátia; pos11 ívcis geradas. r:us, c;n seguida, reJamizando, alguns d~ achados de Paul
gradaçces da inscrição vo...ã.l na escicura, a par cLt importância conce- Zu:::tl:Jcr nos parecem tão ::!aros que nos surprt;endernos, pensandu em
dida às relações semioticas dos :th't'ls sonoro, gr.dco e viS'JaJ. "por qu.. niici Lính.ur.os atinado ant~s. É este exercido que se faz à
O que se está pmcurando ,,e: não é se- o texto e ,:roduzido ou re- medida que se avança por seus estudos.
produzi::lo por dominantes ou dom10ados, ou sabe:-. no ca,o, que:n con- Traduzi e remeú-lhe. em forma de poema. há muitos anos, llilla se-
trola os meios de comunicação, !a:bo:a üso ;,ossa s;;r trazido para es- qüência de se..1 livro le m(1$(f..e er la li.mi.ere Em catta., respondeu-me
clar~cer, ~ outras instàncias, fa.1.oJ ~ue .se liguem àquilo que se pretende que lhe fica"ª cada "~z rr.ais claro que s .ia obr&. :eórica era mesmo poé-
explicar. E de ·ato a sua "5emiose" qu~ esta em causa. O que conta é tica. Por üso, sta pomrra é a menos afinada com u:n cicntlficismo te.'-•
a obsen•açào do te>.10 poet:oo ,·;;,,-o, em suas diversa5 :armas de oralida- tuaJ 411\: c•:>mprovc ou demoastre; pelo oon&ráno, é a partir de uma cer-
de. em suas gradações. na reta:;ào \"á:,a co:n o escriL•:> e com os meios ta ''hcurn,Li::a ~ensitiva" apoiada em sólida erudição. o que pode parecer
mediari!.ames. um paradoxo, q·.1e co:r.põc: $ua gcomema; "Entre o real vivido e o con-
A li!tro ~ a t·oz é uma ecpécie de :ompro,açào de tópico~. de .emas. ceito, esteadre-se um temtório incerto, semeado de coisas re:us.adas. de
questões que o autor foi desemolvendo nas centenas de arLigos que es- impotências, de nem verdadeiro 111:111 falro, um óric-à-brac i11te1cctua1
creveu, ao longo de pro,o:::ulle ~rcurrn crwco. como por c.xern;,lo oo que escapa a roda ten:ati"a de totalíul;;:ão. oferecida apenas aos bri-
antológico · 'La CLrculame a.u ct:ianc' ·, que publicou, ja há ~antes anos, coieurs. bversamen:e, o conceito, para se i.:ooscituir, e;rjge a abol1('il11
no núm.:ro 2 da revista Pr>cúq"'e É corno se o autor vies!.e semeando de pre,enca~ devoradora., esses mons:ros que: já o mataram. t,;o meio
e \'OitJSH' recolhendo os resuJ:ados, pa:a cominuar 51,..a obra ~m curso. dessas apor:.a5. cab:-v05 brincar e ap·o•'Cirar (jotJ~r e jcuir): ,alem a ;,ena
Muito importaate, em se crara:tdo de oralid~de, a refação ,ontínua. e o í ogo e o praze~• '. E adiante acrescenta: ''&ta é a nossa chance - subs-
em vário~ grau~. com a esc:mra, que se des:aca err c.:ipftulo deste livro tituir a5 f1coões aJttigas de unidade pela idéia de po~heis conccrdân-
e no coi:jumo de sua obra. Poóc:-~ pen;t::'o~. aí o co:npkxo dc~linde de cia.s' •. "Hoje", diz ele, · 'já ultrapassei a semiól:ca dos anos 70," "Sinto-
formaç e técmcas. aquilo que se a•,aJ:a. a partir do qut ocorre com a me :nuito atraido por .::~"tas idéias de Lyo~ard e do pró:prlo Dc:kuzc.''
formu ação dos 11e:1s ''As man.e1ra de ter·· ou ..A voz éo e~cn10··. Deixa- Dru q1.e :.ambérn cs 1:rufos q11e dá a obras e :a;>t.1.Jlos, a mobilidade co-
nos abena uma v1a. em que ~e re-:upera um mundo de corúecimemos. mo p:mdp:o (a mozwance'I, o amplo alcance de sua visão ei;barram na
para o~ situar, o passado relacionado sempre ao fut1m1, uma aproxima- rc;e:ção, pN· parte d:H rned1evdlir.tas tradicionais, de pesquisadores que
ção que ,e dirige ã pluralidade das n:.aneiraç de expr~sar rnai tambem )C apegam a esquemas prhios, daquele:; resi,;tentes. a novas postura>.
a uma especie de conrinuidac.e una •::O p-oélico As l:nguagens \ão vmas Encomramos ~emr,re nde llm indicie de algo que está para acontecer.
como :> centro da sociedade e da histór:a. Seu clho :-wte:nrorànec ,;,apta o que de mais significativo pode emer-
Pas,am a valei muito alguns p:oolema, ca comuni:açàc. cerno o gir, aqt:i10 que ofere:e con±;õt<. pan. um mergullio não dogmánco em
das mediacêle~ na erni,~ão do texto.. que tem sJa condição sem ótica de- seu ocje·i\lO: o poema, seu espaço, sua voz, o modulado e a permanên-
finida. Portanto, não ,e sttua aqLi o que t "melho1•• ou ' p10r'. ma cia, rui ~ommu dadc de trnnsmisü.o que faz p ~mte a pala, r<t ,ão a
rrn;,ic1am-~e as condições para entender o fenômeno da letra e da ''OZ denundo rc:rc(Cr.
enquanto pnncip1os em rela o. O cato se aprcsc:ita como produ o \ lc pommto a pena nlo perder de ~1~ta a demarcação do pró;:,rio
do da . -:atea:.r.al:idade:1d:.-1 n:tiw cultu Zum1hor: "Permanece o fa10 de que I civil1u o do Ocidente medieval
ra, e a~ de n,,,so trmp<-. f"ica ~cndri 1,do ur'l gr,mde ,;o- Junto, em que fota e! popa aç ~ ele u 11 pequm tJUa.s ílh dom odal?.urásia
a rrrmanênc1a se laz marcada pel~ g 1e de mais ncc ·raz, ~gundo ele. que, durante um m l!nio. e de tc,das as mane1rcw, em todos oi. domi-
nim, em todn, n'i nhd~. ·011~:11•rnram o t,;.\•cf1d 1, da:i .,·JaS cne•tius o :.liçfo de ;,cn,;,1r e JI.' !>e c.,primir, as in•o..:•,ões repeminns, ,) d1ff..::il que
1111crioriza.t ~ua., Cll'1trae! " ,1 t, portanto. por a:aso <;ue a J ala• n~1ren1emente compti..:a o fêkil, a ~m:a.•c que: ,·iolcnta a ordem 1:-ano,;;e
vra refouler [r~--alcar, rep-i•mr) ripa"ecc tanto, sob ,·árias formas, em Sl.!a <,a mnis hab11ual, a c.~plicnçâo cncadeaaa a hngu11gem cue ~e faz 1..ar•e•
obra. Constante e J S\JJ preocupação com inC11rsoo ariuopológica , com gar de emctividade, perplex!llade, praier. Pomuada, d ~c:u modo, n;im~
fnf)dararn• ç.ão ~~ outru~r.n lo11ia que 11P~ nte ~ cntc.1dimcmo suce ão que parece obcdec,cr a cio-; ~em lim. A~ metáfor3.) de ãngulo
da literauua proces~m e alicerces para o ritual do cntenduncn:o. , 'lll!la no se faum iJr, prca o tOfittltual -se reune à de
car:a de :9:19 • .lei ..., quanto acha importante que se atue terdo c:,mo pintor "impre •onista", aos tom que ;ií (e esmaecem ou ~urece:m, a
supone a antropolDgi,1. fontlamento de a:-i;~füc 4uc no~ perm:1: 'COO· d~pender. Encontramos multas \UCS o apelo a metodo, de a\·ahaçao
,•ar per,pec11,..:1.~. elcmo:ntc. de rela~1~m1çlc e Jc c.>nf!OntO, des.b fan. rruito tradicionais, como a presença de ;:rocedimentos da esnlímca quan-
1
do: " PJ.~cle-c1e que. dep(}tS de uma c.laena de ar.os. oi .=st 1Jdo• liLerá- titativa .iue. •egundo ele, são resto~ de ~lhos habnos filolog1ro~, I.' de
rios não avançam (plérme111 ), 11:JJCtcm-:;c, cngrndr~m um:3 recórita que ret:ente iaompem 1ns;Rl:ts muito ~--ec1a ~. ás \'CZe\ ful" inantes. que se
aào tcn a ,er com a ';realidade". Col<'cando cm 1<equc u:na etno'.ogia inje·.am num OL noutro tipo de formulacão. Ê quando a linguagem do
mfope, conforml! <1enc>:nma, :-egu:ria as cri.h~ 1.k R;:1rnan :ak,)bi~n e ~~crilcr m::ik ~e recria e re-invenc.a. "-eolC$!1Smc-s são usados e de :-e;,en-
Bogatirev (Questions de poetfque. Pari,, Se-uil. '973. pi:;. 59-72) ao va- :e~ o _i)r6pri.(I 70Yador ·eflete sobre ele~. ··uenêo-os acom,:anhar de pa-
lorizar uma es:;:iocie de :neta•conbecimen1o poetico que as :omur:u2adcs rêt1t~es e e.'{clam:u;~es. Lê-lo, e ainda 'Tla.s traduzi-lo, t part1opar inti-
detêm, e ao analisar a produção roetka crn relaç.!o a ele. o:·~rece-r.os mamente dcsts. rota de CT'açào, e ainda do uru,~rso luminmo da es.:olha
para traba!har corccüos como réco"lr.ai'i:.a11ce, o rt:onhecir::~ro çu~ de 1cme.s inquie1ant.e; e percuciente~ ..
se fa.7. do que se ouve. ;mplicando te1<tos nu:ltip.as e públicos Yár.ios, i
em que têm peso as noções de performance, reabacl.o concret3 ca ora-
lidade cm seu meio. dt intervocalidade '.lara co:itrapontear com a no- Seria di ~fc1l aftr.Ilar que se seguiu toda a cbra de Paul Zumthor.
ção de lmertexto. Chega me<,mo a criar " Jnidade ní nima e ;>ertine,Le pensa.dor universal, tal o "·olume de :ciru.ras, a extensão e a div::sidade-
de.sra atuação, qte de,,nmina vo"ema Cronizando em seguida a :ieno- QU(; obr1gariaca a um im·estimemo quase exclusl\'O. En.wo, ficção. poe-
minac.ão. mas não o q1.1e ela significa). Pasrn-nos, enfim, a idéia de que ma. contorme li~ err. anao, ou até dtc~naudo poema, ttatro. ficção.
o tc:.-<to, cm mas grada~õcs, é h!Horicar.:e.:ire :,rovisóno rr.as poetican.ente .A. atividade do criador vai acompan ·c1,mdo a i:;rodução da obra ceórica.
definitivo. Seria, po: exem;:ilo, rnwto esclarece:ior um emido qur procurasse se-
A formação do autor pro\·ém -·f a fi.oloaia tradicion.cL e <;e abre pa- guir os trânsitos de Uilla à outra para alcl.Ilçar de que modo elas se en-
ra o efeito e o alcance re:iova dor c:5, a partir do conhecimento dos m,ba- trelaçam, completam, como se confirmam as dominâncias Persunagens
lltv:. Jt HjelnisJ~• (cm 1960) e Romm Jakobson Cem 19641. cor1:onne e j)roctd.i.mentos se repetem: da magia dos magos, profetas, pregadores
ele mesmo declara em sua entrevista co:ictd.i:ia à Fo!r.c de .S. P(IU/o aos elementos de ~a hlstória cotidiana, do preciommo qu~ se reo;-ela aos
tH/12/81!), com o dtufo " Poesia. t:-adiçdo e esquecimentc,'', quanitn rfe misteno( que se escondem.
sua pa.<,~agem pelo Brasil. Vamos encontrando tambéT. e\•ídênclll5 de N~te-se que a atitude de selecionar de antologiar Victor Hugo em
obras. com que dialoga, corno é o c.150 do teórico russo Mihail Bakbt10 se,, lado maJdito, potla de Satã, textas ele Bernardo de Clara~·al, funda-
(a que t~·e acesso somente em 19"0-71): o diafogí1mo, o grande texto mento da poe:ica uo-ndoresca, do camlem ao santo, dos rhétotiqueurs
corporal~ sensitivo, e, cm certa medida, o moe.lo de re5gatar ê.acios dns ao mundo e;,igolar de Abelardo e Helof.sa, é uma deliberação em con-
fontes tradicionais àe informação. A sólidd erudição que, ern ~ de se ju.nao. Dif;a-se ele passagem que sua ir.tradução a estas canas é também
fazer esmagadora '°ai, :r., voluta..,, bus~ndo a pcr.ra de mulúpl~ indícios. um e-..cmplo de como inrerprew dm:u:rnento e vida. ficção e escritura,
Sua escrita, torrcnciaJ e profu5a, cor.d:iz e transnte, bem djante de como relacionar a personagem e a imaginação que as cria e conduz:
de nos~os olho~. fundamemos de alsum~ da; pr;nci?.aJ.5 disc-J.5s5cs dfile "Pouco imp<irta.. na:-ração fictícia ou co:ifüsão autobiográfica. o texto
século, tr:ucndo•as a seu ritmo mais interuo. traz se'l próp:io sentido, engendrando neste lugar utópico, ern queres-
Ttaduzi r Paul Zumthor não é simples. e aqui não se trata de sa~r soa'.D os e:<h do 111wido (o dos ,éculos xn e xm) contra o qual ele se
mais Qu men-0s: frnncês, ma, de ace1tar o dc~aflo, de respeitar um.a coo- constrói, a'irunilandCH>. Abelardo e H~/o(sa, designo ass:m, de ora em
190
L
l
dian1e, ;,,, "personagens" rf"est d.;, deü~ nomes 1Cor•Psporrdh:ria cff H1sto1rc lirrén11re de la f-rarire r>1édit!1•ale (PLJF, 1954 e rcp\ll"thclda
Abelardo e Heloisa. São .Paul:>, Ed, Murtini. 1on1es, 19ij9),
em ll,i/l) t. um monJmentLJ Je informai;ã.o, traLendo aquek \1ê~ crm;o
que se iria de~envolver dtpois, r, cor.ta semJ)rC, l~"dll1a:-ido ponta!> tlc
. Seu estudo s,:>bre a cultnra holand~a de que me fa.la.ra Antonio Can•
dido, ha m~tos anos, e com grande entusi1sm:>, antedp,Me a muito! questões vital. .à d1scl.1!,são dos "gêm:ros", por ex:emp;o, ou doo modo~
de uansm:ssio de textos.. Em verdade, ao fazer híst6:1a. o discurso do
dos at~a!S e unportantes trabalhos isobn: a ~ida cotidiana, que surgiram
aumr vai do eru,aí.tic:o ao potticri, enpenhando-se por Y1víficar os re-
~ " ~ ~~ da Europa. Encon1ramos ai a repercussa.o .lo clima plá.5,-
pertórios. Nele, o c·Jmulativo não o;::orrc· nunca sem que se dê urna rr-
uco e m:rna:u~~•a do mundo flamengo, em que os tons dos muros, os
rni:,~'llo de: çriatividadc:. O tnibaJho nos le"•a a pensar na u~ência da 3is-
marron5 dos tlJolo.) e das peca, de caça nos levam à alvura das toucas
tematização hi:;16rica da nossa litern.tura popular, na necessidade d:::- se
e _dos aYen:ais ~ngomados, aos ofícios, um com:,romísso :le interpretar
escrl:'o·er uma 0U1ra hiHó:na da li:el"atura oral, apro-.reüando o kl!ac.o de
VJ~a e arte n~m continuo. Publicado em 1960 pela Hachetle e logo de•
Câmara Cascudo, ca,do po~én1 alguns Jlassos alem. rumo a uma
pois no Brastl :,elo Circu]c. do Liwo, tendo em 1989 uma edição de su-
.. i¾Jét.ica".
cesso. A Ho,01:dc no rempo de Rembrunrll (Companhia dru; Letras/Cír- Ê com Es~·a, de poetiqu.r médiévale (Paris, Seuil, 1972; traduzido
culo do Livm, 1989) é de fato am~ obra-p::-ima. !\ão se sabe mesmo cízer em varias lbguas) que Pau1 ZumtlloT ,ó:upem a experiência anterior
com~ é possível que tantos dafoi tenham sido retirados de do,cumentos e dá um grande avanço em sua construção teórica. O Es.1oi teve um pri-
~ ~e :um~ssem para formar o ruim:[ que nos lembra o vi-tuosismc e a meiro esboço em [Ang ue e1 technuj:as poêtiques à i "r!pr14ui: rorflart~ tP.a.
ilu:nma~ao de llm filme como Barry Undon, de- Kubrick, e em que ca• ris. Klincksi:ck. J%31, que ::cnsUuiu a. primeira ruptura com a fi.lolo•
da detal.lC a•·ulta para llt::çui~ ~ 1.:ornpadbilizar no coniumo: "Um.t li- g,ia tradic:ion.al e a a.;,~oxilnação ao est:-uturallsmo. OrgMliza aí ~u lastro,
nha castanha-avermelhada, cu negra, ou rosa sobre o ·verde unifonne coo;iliando a lr:tuição às contribuições c,eóricas pelas quais vai passan-
d_as pas:.igens. l"'G.Jvez no extremo horizonte um perfil de dunas. Eis a do. E.cléüco, rr>as sempre fiel a Jma direção 411e assumiu e que iria wn-
cidade !>?usada horizontair.iente no solo... Algumas torres, um cam:ia- tinuar em sua obra -,~ente. Foi então criado, de fato e pcla primeira
náno, te haco, der.enbando-se logo ab,ajxo do imenso céu neerlandê,, vez, um espaço para <i..:>rigar o con'.lecimento da füera.tura med.iC\ral sob
brumoso d:,garoa ~u de luz suave. Um longo muro de Lijolos, um mo- oovo prisma. arnlhendo lingüística e semióóca, a inquietação que afas-
lhe de terra. . Este lwro se :onmuiu, de fato, a :;,artir da leirura de nu• ta do~ teóricos que se apoiaram na ret~nca, na nerme:1éutica filosófica.
~erosos tt·xtos holandeses do século XY!l e do eicame a:enLo e sí~temá- tradi::-ional ou .apenas na. filolog:a. Ter.arnC>s nat1.1ralrnmte de aproximar
'.ico dos quadros do muset:. Maurits-huis de Haia. Foi oor.cebido como esta démarch.e da que fez o historiador Aroo Gouré\'itch (v. Les l·att!go-
LUDa homenagem à Holanda.. onde vh·eu de 1950 a 1970. rie..l du temps. l?arui, Gallim.a.rd, lQ'7&), que também ela um ;>as&.1 à frente
~ua tese de doutorament:l, publica.da e republicada em 1943 !: 1973 guar.to aos estudos de hí:,tória medieval.
(Geneve. Sla· kíne reprims), MerJin /e prophête, e que tem como subtí- Criou-se, de fato, uma ou,:n medida p.ar.i rn, esturios medievaü, ou-
tulo "um tema da literatura polêmica dai lustoriografia e dos roman- t70 parâmetro, e~pécie de jase para todos os que sentem a propul~ão íno-
c-es". procura. seguir o texto d.a c~perança bretã do ciclo arturiano ;iuc 1.iadc,ra, quere:110 !)ensar cm novo5 moldes. que~tões de te'l:l:l'I e de cultu-
se 1ornou profeda política, e ar.de já nos dil que Merlin po<le ser' ape- ra. Poesia é, come 3..Í designa PaJI Zu.ml.hor (e hoje já nm parece tão
na~ uma vez a qu~m se empresta uma nuance es?1rituaJ. D1scuce a :,ro- claro), taato um conjunw de 1t:1.tvi>cito5 p<>éticos como a at1"idade rtuc
feCI.a e a voz, e tema da esperança salvadora, e termina por recu~r os p:-odur:iu: o :orpo o gesto. •::15 □ ~:os Diz-nos então que uma cultura
0 mago como personagem de um mundo histórico nebuloso mas fabu- de carater arcaico, com;:, e a da Idade Mi:d.Ja, cr.gc:idru ~ texto qu.e as•
losamen lc vivo. Merlin, o rnagCI, o profeta, feiticeiro, personagem, ensi- •:.:.mr:. re-i.cshnco nek em gc:-al duas fmções que não c~tão bem separa•
n~ magia e usa-a para agir, no ,,,ent.do tradicional da p;ofeeta, 1\ote-se dai: urna n:la na à prrcepçau ::tl, ,~~rado, eu ~tr.. dc~p~<:>vidn. destacar-
at a conte~poraneidade da atuação de Paul Zumthor, que nos dec'.ara ga rn1sterio;a, que poder 1amu.s dizer prática. }.frn,trilndo a que ponto se
ter cons:ru1do este trabalhe sob a ir.!lu!ncia dos randcs mc,dievaliS.tas, fiua hgaçãopocsíal psicodrama, n:is rl:'•dacoroo o poc\i;I 1eforça a çoe-
:mestres. F. l..ot e E..F.aral, ap:itreeculnoEios=Jpmiém'.mtii:bl:!lCl.e.dielh-
odeumSIUJ)O · CÇI e ~uaurda.con,ht.e cm aplicar as regras fs:cl
n-eado o carater de transformação que iria dar a sua obra. d!! wna artt veoerá~I comprometida com os :itos énsma:los e apremfü..lvs.
293
192
l.!m Langue, ,e.xre, r.rir~me iseutl, 191:s,, reLnc ~áro~ C'.'i1udo~ que lrnça PÍ llm smr1de JXU10T1Ut,11. qut abri gu c·ença~, pr•tn.:a~, ritos e ::o~
comprttl'!dem e livro enquanto ot>jeto aos poema., <.hama:.los C11.rm1ria conduz pc:la tmma da.\ idtias, r~o traçado <la\ questões do 1empo, ,c-
flgurnt.z, observando ai a se-mbtic:idade que se concenrr nesra relm;!o ~andci-110~ a vc:1 co,nn nesta unii.li:lde u, informaçllo e pro::edimenrm
paJavrJ.•imagerr.. H~. ccrr.o sempre, uma unidade previa aglutinando cs1a~ patente a• d&-oberta" da AT.érka. fda-nos de uma Europa cheia
tu o aqu1fo QUt poderia pareeci di!pcrso; razão qu~io kvlla nos<tzcr uS. r; -.tas e de-tx:ases, CIL?endo-,nõ que
que esces ensaws desenham cm grances craços. em diacronia, da a:ta nesse poet115 se cnrllfum as faturas utopils.
ldack Média até ~ ~eculo ,:\, a :una de preo.cupado prop 1a desce 0
Si tu.anuo o universo em que se orgar illm literariedad,e e co~movi-
tempo iâo daqueles que e'itJda. ajs1m e e nm c·ansmire
O refendo te.,tc so::ire os Carmu;a Frgurala dá urra atenção pro-
O pa.rn1,k· dtn•3 1>=L>gre~.sivarnrnte. afa~u'"'e do pre~r.te-rnm C! qu<1 I itc
f1JJlda às dimensõe~ ,~p~:iaês daJ]Ots.ia. :\o capitulo ·•Jonglerieet Lan- eotdo ~,e rel~,onr,v-,1 ~ mane iru <lc fundo de 1>uro, pintadc por trá, do~ l)('I•
g::.gr'' passa-nos o seJ prcfu.ndc ccnhecimenco de 2..r1e poéLca, mostran- ~onager_, oo 1etàbulo! Eis ciue se d:scobre o pasudo !ert. deurar de insiau-
do-nu., a ocorrência dQs .i\. B. C medie,.•ais (gêneo que pe,manece na rar em fig1..1.n1 mitiCE., um lutum; gener:diz.açào da !;)<e':'s:;:ecc ,.,.a ví.s.ua.l =
lücraturs. oral b~sileiraJ ,:: seus jo_gcs, a -01dem e e própr;o desenho do pmtura; i.e·idência il e,rabili1,11çlo das rel.1t(Ões t.em:pora:! em sintax,e· in-
di~cw~o. :,.)ão ,eria po~tamo por ataso que, quando nos conhecemcs, venção (no pri.meho ter<o do ~cule> u~) ~ ciepoi,;; dt:'ruã.c do~ relógio•. me
na dr:caéa de 70, tenha me f.alado :;o:n tanto en.usiasmo de Haroldo dr.iro:,, con:::e-bid-::>s prir11eirami:nte corr.o autômatos para r,eprodu.tir 0~ nio-
de Campos e da poesia concreta brnsil~1:a. YÍCll.~r.to~.;mrais, Uma distância,( cava entre o homf'm ico Joiver<...-0, ,en.,[vd
Quando chegoJ ;;,o Brasil, e:n 1977, ::orno profcs;1o.or convidado pe- cotidiamr.;ente aos própric>~ cos:u11es r: ~ 'ct ~ifidacte•· ~Le, a pamr daí,
la Unic.'\Dlp, tra.rie. c:Jl s·i,1a baga~m 1.1:n corsio de poeta;; c,1..e então es- dis:ing'l.le as "c!a...!es domir.,anm'.
n:daYa. Os rhétoriqueurs. aúlico; f::-anceses que nê.:I apen.1~ desérlvolve-
rnru um coeso e:-.crcfcio poctiço, ccmocr.iaram u :;:ios5'bilidade de .1ma
:'eci.i"lda discussão sobre e sistema e a margem, o mundc oficial da cul- Ap.reddo em 1983 fogo depois de sua vinda ao B::ruj], e sem dei-
'ffl r e.~ m0<;1 rara,; marca• desta eiq1er ênci~ r-,11rodt1crJon .:i lo. poesie oraie
mra e o subrnum.lc q LI:: irrornp~ nGs in:ersticios. Di ,cute, a partir deles,
a/esta, atencando pua os ritos ;ocosc,s e obscenos no espaço da cria- ê ur:-i trabalho que p-ens.a a literalitn, orai ;;:m tipos e gradações :;iue for-
ção ;,oéti:::a. Cocfümando .illla ju..tifiCílda aproxhiaçã.o ,i. Ra.hhin. teó- mam um rnntir.uo, um grande te,nc, apro.ümando--se nam.rralrnentc da
rico de quem se penmte freqiiea.temente tanto se aprorunu quamo se no;.ão de lexco údco formulada pelo semio1icisla soviético hiri Lotman
afastar, procura ver como se ~ão neste uruverso os me-camsmos da mas dele diferindo quanto a circwi.;crcvê-lc a cJassc:s :iociais. Procur~
criação. ai processar os nJveis de formalização, discutindo "gêneros", afi.rman-
Atra~•és do estuco da ex-pressão, da finguagect de um con;unto ce do a força da oralidade: e confirm.lllldo-o.os a noçao básica de pertor,
textos, vai estabelcce:1do so1.;5iicada~ distinções, como a que organi2a mru:ce: "il a ação complexa p,ela qual uma mensagem pohica é simul-
e desenvolve entre aJegoria e ol~gorese, entre a simbolização e a realiza- ta.Ileammt.e transmitida e JXR.-cbida ,o momento". Sua etpenência é mai:<;
ção do ciscurso alegórico nos seus pro~essos de linguagem. Na se]eção do que 11m pe::i:urso numa d.irtt;ào teoric-a. He próprio tem corrido mun~
que µrepara destes poet~, a partir de tão profundo convívio com suas do, re1..nindo matedai, para pensar este í:onjunto, que à5 vezes pode pa-
obras ~4nthologi~desgr:z'fds Thércrique:rrs. Paris, Uni.or Genér.iled'Édi- ra.""er tornar-se a'bstratc>, quando sujeito a amplitude da ptrspecúva, ma.e;
tioru. 1978), re,,•ela o conhecimento objetivo do n:odo de ie,r deste ..ar- que se faz viável. na medida em que sobre e:e incidem o búmu~ de ~i;a
tefato" medieval - o ve:so. experiência e~ força de iruighJJ fulminantes , Poderíamos e-ntào g]O,>llf',
O tema encontrana wn ma:s amplo espaço err le masqueet la J-,.- dizendo-nos dian:e de uma "semiose pa.""tid.:ante·•, pois ao exercício in-
m1~1T' (Faris, Seuil, Hmn. em qu, ~e Lg;a a análise dn~ fimm•s ele UM terpretativo se vem unir toda uma i:ioética da obser'liai;âo ~·ii,-a. Nada Jht-
grnpo de poetas am princípios e razões de um s~lllo. Discerne, num esca,pa: das antigas Unsuas em cxlincão cuja voz ressoa. em eco distan-
todo, urna espécie d~ oper:;u:ão geral e :i idéia de um saber ·n:,vo que im- te e plan.ieme., às canções contemporâneas, dos roquei.m- e met.aleirO'l
plica imensa formaU.zi~o de lingt!agen. Consegue ni:slt líno, que se e s~s. aparato. à industria do disco.
fu um n•odclo de tra';:ialho. oferecer uma amostro de po~sibilidad:es. S.eria rireci~o ei:penr por 1992 pam rcctbcr do inqulet-0 e criativo
194 b>J
P-dul Z 1m:I or um romar.ce que 1raz o uni,trlo 111ul11plu, psicolojlCO
t relaae>nal da a~enlura da "descob.::rt.1' . E em Lo frrm:,;ée (MorilrfaJ,
L'Hexagont, que eslá sendo traduzido .·rn p~,nugal) que o fin:ioni~La
exercita os conh~ciruent05 que vem do ~eu acrclcio de en rend1mmto do
mundo de expr~são t" do uni-.er o- :s-uporteda criação do.1, poetas gue
t:50Cllhera para estudar: os rhiton·qu~rs. Pro"\tm dai a captação das me-
t.àfora.s poéticas dos nav~adores, a síntese de todo o ambiente, em Que
ele corueg1.Jiu distinguir dois dis.Cll!'Sosque st opõ..'1ll. O primeiro se adai,-
NOTAS
ta ao sistt.na, o segundo s.e sobrecarrega. de contradições referenciai!.,
e vai em busca. eia festa. Diz-nos então que a festa substitui as umab
~ sombra p:;>]a lu2 de uma ficção de M icidade.
Tanto no estudo quamo no romance h.á pistas c.a:n llnicantes que
lt!'mm .:i um sutil conhecimento vertical, que paradoxalmente: se espraia
e estende. Conseguimos alcançar o quanto Paul Z-umthor é um h1sto- 1. PERSPECn~~li fpp. 15 - 34)
:-iador, m(smQ QL14.ndo opera com i>iuuu11i,1..-. uu ~pli1.<:1 muu.v~ Ili:: ~e•,
um mtérpme, quando reúne dadoo de. mate".rialidade mai! imediar.a, aque- OI Curschlllalm 1967; Ha,mei; Voorwindi:11.-Hu.n.
les de um mundo distitulr., c.iuc pn:cisa .n:i:ompor ~ que 1,,e mm5formam '2) Giilill•D~tw-
em seu fio de prumo, sua poéLica, quando associa aos órgãos dos .senti- CJ} Rlnas-1, ,i;i.. Si-l 76.
c-1} Drar,on~·~i 199-4, p l@
dos toda nm.a sutileza de conhecimentos.
1.5) fal!.5S 1918, pp. 46-63
Encontram-se, em s1.1a obra, a força do polírico pelo poético, os pas- <61 ZumlhN J9'iS, ; . ll,
sos dados rumo a urna outra. sodologia da cnaç.ão, o as.sentameilt0 de 2i.n, e 19807. pp. ir-~; cf. G.11..1.n, pp. :.1-35 e i4-8S; Gurr•
(7) Zumrhor J91ll. ;,p.
uma e-Specie d~ história nudear que si; oonstró1 a p.:irtir de momentos, bledt 19HS.
de situações mais semanti2adas da cultura ocidental: um rnegatexto cul- (HJ Mu1;:he1T1blN, i;,p. m-21 e 382...:; ~ltch, .,._ --1:..
tural que a desborda. (9J Du".,--y em Ülll.lm'itct., ·•Pn!f~'; Ol~·mu, p,p. 15-6 e 21.
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