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Paul Zurr

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Zumtl A "literatura" medieval
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Capa: ÍNDICE
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Hn111n1
sob1't' detalhe de
.4 lei}ados. loucn5 e mMdi;:t1< (e. 1560).
gra,·ura em metal de Pieter B::ucJhd
Preparação:
Mário Vilela
Rc,i,llo:
Toucnl'' Fdí1or,,:,/ Prefácio........................................... ......................... 7
A no Marra Borhosa

INTRODl/ÇÃO
Obra publica:h com o apoio do
Ministerio da Cultura do governo francês "7 1. Perspectivas
O mal-entendido. As múltip/u.'i oralidades. D eslocamentos ne-
D•li» l111c-ra.a:kuu1ts de C"..,u..a!n&J~O r:1 ruoncu,,n (Ot'J cessarios. 11,farcos espaciotempora1s. . . . . . . . . . . .. . . •. . . . . . . .. . . . . 15
(Clmara Bra<ilcil'I d, li-,n, "'· Bra1 1)
,~ l.t") i
7.um•ho•, Ponl. 191'
,. A ktrac1>uz /\ "l11cr.1111r.i' '11cd..--.l l':Jullum•
I O CU\TEXTO
::: <S"' 1 hor tradll(lo ~m4ho, •'• •1c1 1L, 1•,uw P C\ t trrdra -
<;ãn Paulo Co,np;uhi• t1n, Lct., . l'j<)1 2. O espaço oral
Uj
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,.,.. Ot-ra r111hllcacla cnm (, ~~1t,10 IJo \i1n ~ttr1~ ,t.1 (~hum
Os fndices de oraliclude. Dizer e escuur. Antes da escrila.
~ t.Jo 11:<WCino rranc~ l> A rede das tradições . .. . . . .•. ....... . . .. . . 35

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1 L11cr,1tora med1~-)I. tf1"'rC"11:, e cr111ea 2 l'nd1Cj,i,


ora • curoPO I loluln r tulo \ btcrarura ,ncd cYII
-;, 3. Ü) intérprete~
.lograi.<:. rPriradores, leitores. Um papel social. A festa. O de
saf10. .................................................................... 55
:' ., '11 2121
z 4 A palavra fundadora
,., tndl~.\ pua CJlalo,:o ~1,1r11~lh.O
Lueu:u I mcd1C"'11 Hli l'wu11 e cn1 a ~ ,Q.!fW02
.4 voz da /~reia Os DolllnrP<: (}, PnÍIL'IJ1P.\. CnnvPrgi>nria<:f1111-

li~ ciona1s. O nomadismo da vo;:. ...................................... 75

>;.A escritura
Todo, o, d1re110, d~•ta ed1,ã:, rc cn ado, à Formas e 1éc111cas. Os escnbas \/ane1ra~ de ler. A 1•oz na es-
F I Olt,\ 5< 1 11, ,\R / A
craa. ... • ..•.. ........................................................... 9o
Rua 1 1p1, ~21
f11::1 J.(K)(J - Sãô Paulu w
1clclonc· U 11 626-1622 ~ 6 Unidade e d1\ers1dadc
fax· (011) 826-Sm "Erudito" e ''popular" A msmção do vulgar. A escnwra e
cl 1111age111 A preoc1111,1ção da w;:. . .. . ... • .. .. . . .. . . .. .. . . . . . . • 1 17
11. 1 OBRA

~ 7. Memória e comurudade
...,,,... "-' -fat ldad, e ~nda. Osrdts cos-
tumeiros. O poder vocal ... .. .. . .. ... ... . .. .. . . . .. .. .. . . .. •. . .. . .. .. . 139

8. Dicção e harmonias
Formasenneisáeforrnul~u~üu. O.) rumo.). Prosa ou \ler.,o? .... 159

9. O texto vocalizado
Um jogo vocal. A palavra e o canto. Composição numérica.
Efeitos textuai.!>. O "formullsmo". ................................. 181

10. A ambigiliuadt: rerórica


No curso dos anos 50 de nosso século, vários medievalistas desco-
Ritmo e convenção. A glosrr integrada. Uma sintaxe oral? Dis-
briram a existência da poesia oral. Isso deu um pouco de que falar, pro-
curso direto. .............................................................. 20J
vocando até tempestades no copo de água dos professores. Ninguém,
-;> l 1. A performance certamente. jamais pusera em dúvirla o i,apel dos trovadores, menes-
O texto em situaçúo: os "papéis". O ouvinte cúmplice. Provl/s tréis, Mi11nesiinger e outros artistas do verbo na difusão da "literatura"
circunstam:iais. O "teatro". .......................................... 219 medieval. Esta, aos olhos da maioria dos germanistas, desúnara-~e, em
seu conjunto, à transmissão da boca ao ouvido; aos romanistas, espe-
12. A obra plena cialmente os franceses, repugnava tal generalização; mas, de qualquer
A voz e o corpo. Do gesto poético à dança. O espaço e o tem- modo, ninguém tirava desse fato conclusões a respeito dos textos que
po. Uma leatra/i<iade genero.lizada. .. .............................. 240 nos foram preservados. Assim, toda uma ordem de traços relativos à
poeticidade da linguagem medieval era menos negada, era simplesmen•
te desconhecida. É a existência dc:;sa ordem o que, no rastro dos etnó-
CONCLUSÃO grafos, atravessada por um feliz acaso, constataram, com entusiasmo
ou timidez, alguns de nossos pioneiros. Na mesma época (em 1933), o
-, 13. E a "literatura"? grande Menéndez Pidal, tão poeta quanto erudito, publicava os dois gros-
O c:usu do romance. A ilusao literária. . .......................... 265 sos volumes de seu Romancero hispánico, traçando a história oral de
um gênero poético testemunhado desde o século XIV. As estratégias
Posfácio: A letra e a voz de Paul Zumthor - Jerusa Pires constitutivas da poesia apareciam assim irredutíveis aos modelos que
Ferreira ................................................................... 287 eram considerados até então os únicos válidos e, como por natureza,
Nulas ....................................................................... 297 intemporais; pensava-se que as condições de seu exercício aão tinham
Documentação ........................................................... 307 medida comum com as retóricas da escritura. Um dos primeiros, Wer-
ner Krauss, reconheceu isso... justamente a propósito do Romancero da
guerra civil espanhola.
Num recuo de mais de trinta anos, podemos espantar-nos com o
escândalo que provocou, entre alguns, a emerg~ncia dessa~ novas pla-
gas no horizonte de seus estudos. M.us valia neaar a ~idência, e essa
ameaça que só a curto prazo se tinho roziio de temer não arruína a esta-
bilidade de uma filologia assentada sobre s~ulos de certezas. Entretan-

7
J_ _j_
1c,, n curios.Llade ~ a hnne:;tiJack intclectuai~ (tnha. incitada~ 'flCIO :.h· l1i~to=ia, a~ outra., c1!nci;3s hL1ma.J1a.s e, cm .sua trilha, rh esrncos dito"
,,1111hro), ou entilo ,, i;vsto saboroso do ri~;;o, )C",aram outro~ a lril:iar litcrárim. Foi ea:ão que, pela _iuel;;: c::ulit:abi:1 la. u Lermo vraiidade en-
o tcmrório dcscontccido. Tomava.,e j)OS:.é de se novo conlinente; ou trou como um ladrà-:> no vocab1láriD d..1, medieYaliscas.
melho,~ já qu~ lembmnçru ir.uito antiga~ d~pcrta,a.rn para cs~ avct.1- O rermo, mas em proveito 1e que idêia? Em ~cu uso mais :omwn.
tura, rccuperava-.i,c o direito liObrc um universo perdido. Es~a ~egião - exclusivamente, com função ncgati--amente classificatória. que re;netia
no:. a \-tlha pt1e$lo oral -, d,1 qual se desenhavam pouco a ;>0uco as à au~ência de escritura. O problema central, nessa õtica, se redJ.Zia a
paisasei:.s, h!i1.1ia sid:, dura."1te longo período renegada, ocultada, recal- uma exclusão ou a um.a dosagem: sim, :ião; Oll .;;im e nào. A di:usà:>
caca t!ll" 1:0550 iaco,~,-:ii:ult' cultural Era um ;,ouoo dessa histõria o que, tardia do belo livr-'.> de H J Chaytor, From scripr w pnm {ci;ja primei-
par 'volta de 1960, n1>, .;ontav:i. ~lanhalJ M;luhan. Doze ou quinze ge- ra edição data de 1945). em segu:cl2. aos t,abalhos (amerio:e.s a 1935!)
a~ut:~ ck irnelecruais formados a europêia. escra,d2ados pe:a., técnica~ de b-1ilmam Parry sore a epopéia iugoslava, deu. ,onsistência a essa~
es:rit ur.ris e pela ideologia que e as secretam, ha1t·iam percüdc a facul- questões: dispunha-se então, parecia, de ;>rocedimemos que p~rmitiam
dade :k dLSsoc,ar da idéia de pocs· a a de escritura. O "resto", margina- .semantizar, sobre o plan.o ia :orma poetica, cada um dos ter.ncs em
li,ado, ,;;aía l'-n desc~edito: carirrba:lo 'po;,ular" em oposição a "e~u- pauta. Pesquisas antropológicas como as d:= \Valter Ong, a,1ó, C\'kLu-
d:L::>", ''letrado"; tirado (fazem-no a.inda hoje em dia) de llm desse~ han, permanOCJam. em con~pc:lS-ação, igr.onidas pela grande ir.a.i:>ria dos
termos cornpos:m qu:: mal di5simularn um julgamento de valo·. 'in- medie·va.lista~ e, ;;.nte.~ dr, f m f'o~ 'tnn~ i'tl, n:ào tiveram efeito H>bTe os
f·a", ''paralitera:,11.:" ou sem equivalente, e:n outias lingull!, Mesmo seus trabalhos.
ern 1960-.5, ao rnenm na Françca. prejudicaNa gra-,rememe o presúgio de Tais são as b,ises sobre as q1ia1s trabalhamo~ e: dis:;ucilJlos (d1_;.:-ant.:-
um t.c-xlo do (sur:onhamosl século >:11:: possibilidade de provar-5e que os mesmos anos em que se desenvolvia :ni11ha carreir~ de iJrofessor).
seu modo de eYjstência ha·,,fa sido principalm,mte ora1. De ta 1 te:i:to ad- Pois eis que hoje uma ilusão rnmeç:a as~ ::l.issipur, no mc-smo tempo cm
mirado, tido par "obra-prima'', um preconceito muito forte impedia .i que uma dúvida .se insir ua: J '·orolllidade" é u.ma abstração; somente
maioria dn<; leircrt?-.s eruditos de admitir q·:.1e ti,1e.ss:e podido não haver a voz:: concreta, apena• sua C".!Cut.a uu::. faz tocar a!> c:ui!ias. Essa simples
sido nunca escrito e, r:a '.ntenção do autor, não ha,,er sido ofo:-ecdo so- verdade da experiêrlcia levou tempo .a pr:n~Lrar entre nós. De fato: teste-
mente à lc..-iti:ra.
munhas, livros e ensaios diversos, j.a bastante numermo.s, apareceram
O t.i;"rr:w !iI~raturu r.iarcava ;orno 1.ma fronteira o limite <lo ;;.dmis- desde o início dos anos 80. Médicos, p;içanalistas, etnologos, músicos
!iivel. Uma terr~ de 11:aguém isolava aquilo que, so:, o nome folclu1 i:, e poeta.s: remem~ bibliografia de rai[lha Jntroáuaiori iJ ta puisie ora/e
se deixa\'ª às outras disciplina.~, No início de :-iosso século, a "literatu- Os medievalistas, c.,;pero, não 1-arcar.ão a G:::Ornpanhar - ao preço, sem
r.;." adDt~"ª i~s;;irn, em c.sc;-il.il mWlc.ial, ui;: 1mmc:ird C'.Xc:!usiva, os fatos du"ida, de uma dupla conversão metodológic-a. E]e.'i só o consegt:irão,
e os '.Cxtos homol::>gos aos que prodi:ziaa :;rácica dominante da Eurvpa de fato, se admitirem conside~.ir, i:;elo 11enos num prill1eiro m,1mento,
~ióm·.al: ,;:,li;:~ u~ ún.it:os concer:ientes a :;on.sciência critica, tendo-se- a poesia medieval como objeto de amropo.ogia e como locus dtamati-
lhes Crt:<frado carli.ctcre~ que, seg•.mdo a opinião unã.nime, pro"'llltrun cus privilegiado nc ::iual "captar'', c.::n sua mais plena sign.:.ficânda, as
1.k sua comµetênc1a. Em alguma medida. o ~.onjun;o de pressupostcs tensõ~ que colocam em g1,.,estão nossa icéia do homem: romper Jadi-
qu~ admini..t:-a\'a.m essa at11udt: de espiJito orjginava-se do ce:itralisao calmente com .a termino;o~ia e o~ c.onceitos que no3 jn,pirou e qi;e t:lan-
poULico que. ::a~ia longo tempo, fora in.taurado pek maioria dos Em,- teve, como resultadc de nos..a. na;urnl ínêrcia, a experiênci~ da ef.crit.ura
dm. ew-opells. .Estava de aco:do .::or.i as tendências .:niscificadoras, até - com o risco de rerornar, sob oui;-~ luz, para além dessa pt1rificação.
alegonzalllc~. que ai pns:dia:-n à elabor-açác d:1s ·'histórias nac10.oais' ·:
exa tação do herói que personifLas~e o <.uperego co etivo; a contec;ã::>
de UTI L11ro ele lmagen, nt1 gllal fundar um \Cnudc que Justü1:assc o /1.lmha mcençi() não é chover no molhado pnwanc.fo n existéi.lda
fato presmte: éH ;:,a.lauas de Joa:ia ::l'An:. a c~i.ada de Barba-rw;a o.i de uma oralidade rnedie\.al, ma, valorizar o :·mo de que a 1•c);; foi então
a íor,ueira de Jan Huss.. A Segunda Guerra Mundial não deixou de um faror constitu:ivo de te>da o·:,ra que, po, força dt nm ,o use corren-
~m , 1 d estai~ nem abrigm;; PJi::an:i:t:t.. o de te, foi denominada "literária•• Pretendo menos oftmiar il im;,ortãncia
hc111 pouco:. ano~. um pooere>sv rctorn0 do repnm1do abala-.'S, com 11 da oralidade na tramrniss.b. na ;:m:,à:.i·; ão mesn1a, de.,~as t>bra.; do que

8 Çi
tc.1tar JUl f:ar e rre,11r o que- e~ a oral :.Jnde 1mpllca: rncr,1 1, ,1\aha' o ..,o- de 19 ( :bvcmdade d presrnp0stos e dos m~•od05 rcpment11do
lume de urr. ••-;elC- orar· no conjun·o dos textos ~onscnado~ Jo que por e 1i ~tutlo cx1 e qut eJa daôo sumanammle l(tto um euo
n eles integra: 1), ·,atores r:roprios de minha percep,ão e :.lc: m1r~ .. leitu- de refe1ênt1a cronol611co. lbda v~ que f reftrfoc II essas pc Q~l-
ra. E.-sedesejo mele•,.;,, no :ra, eto, r1 ::ornara dlzer :ertas a 1i~a-Já dit.aS co, en ra o
(e lr:: 1..... 1 to bmi.); !h 1.m, a::ho util conur.uai e ligai em fe~ os anos 1 .5, anrerJormentl' par! o ano I i e onllgamenr~ para tu:io
fim da,; dive-sas reíl~ões. aná.:ogas ~~ não corven;c:ntt>,, cuja ~;:umu- o que os precedeu. De ou.ro lado, remeto con1untJ111cnte l minha fo.
lação manifesta a homogenetdade. Sem duv·da, nfo é ;:,remature. em , ...oducr:on à la poeSle oro/e, na qual tentd elaborar o, principio, de um:i.
]%5, .;•bo,,,.--ar ta !Úllc'-e e a,s1 n r aber•arnente o alegre r s:co JD elT' pocuca da vn. Ongmalmmte, era meu propoSlto que aquela obra to~-
pree11dimc:-ito. Catorzt anos dcpoi~ d1:, termino de meu Es.sa1 de _ ooeti- se o capitule imrodut.vo desta. De-seja que meu leitor não as cismm.•
qt4e mífdiévale, ofereçc. .1rr.. qua d m q i.:.ê, pa:a meus pr.>pésito5, a abran-
ge e a situa. Urn leitor que r~:ome iloje o Essii <iÍ je)COD,t sem Mnntréa/, de::.embro de 1985
dificuldade m pt'ntos de amar-ação Jcssc livro: Yárias ,~, nele assi-
nalava o aspec10 "reatral'' de toda a i:oesia mec::ieval rnas não ia nada
alêm dessa de::laraçãio, cujos con.~equências fiC<lvarn im.plicitas. A :etra
e a .·oz tenta definir e.ssa teatralidade, n.oção a brangtnte e não con:radi-
tória com a.s q.1e usava o E.ssai. Es~ .1111.a.,·a de re.xtos ::\teu ponto de
vista aqui é o da obra inteira, concre1izada pelas circuru1àncias ;:!e sua
tr-anuni>&ãc pela pr~enta. ~ic1JltAnea, num tempo e nur )ugar dados,
dos partici;:iance~ dessa ação. A tJbra contém e realiza o t.e"<'.o; ~-l não
o .suprime em u,da porque. de5de que tenha poesia, tem, de urna :na-
nei:a qualquer, te:xmalidade.
Ademais, apesar da crono)ogia, a Dbra publicada em 19~7 des·ruta
de maior auronomia, cm co:nparaçâo àquela de 1972. EJa se jfrigt:. _por
essa :ncsma raz.ao, a um p-((blíco maior do que 2.ntes: além do ::rculo
dos medlevalistu espe~.;lizados no esmdo dos textos. a :odos os me-
dieval.Jstas; além da comunidade de me::liC"ial.is:a.5, aos a1;rec1adons de
tex-:.~. As mui:as re\•1sões que tive de operar (livres de t'1IDl iconoclas-
tia) poderiam referir-se .1 todos. Po~ i~so. desejo.so de facilitar a leiurra
aos. não-hlsm:-iadore, fo:-neci aqui e ::ir.olá informações (!Je os ma::lic-
Yafütas titulados acharão provavelmente supértbas; que eles as risquem
e passem. lracbz:. todos O!'> te-xtos mados em fran::ês antigo <lU an t.:n-
g\Ja emangei.ra: salvo ind;cação con~á~ia, essas tradtções sio minhas.
Os ~mplos que trago (vã.das vezes complexos), aqu:Ic,, c;'.lc. ma.is ra-
ramente, discuto, são quase sempre pom:uais e for.mam uma série des-
continua; esse pontiltlismo é o remirado de uma escolha-a única cue,
pareceu-me. poderia, com um pouql.lin..i.o de so::te. p«mitir-me jurtar
a r.;.pidez da esc:ir.111: aos cnaideamrntos da a..--go.mm:ação.
Es!.e livro foi escrito entre 1982 e l985 . Forneço, no fim do ~·olume,
rob o trrulo "Do-:umcntaçiic", uma lista de estudos nos quaü. no teclo (• ) Um priln.eiro esboço deste livro iorecau. tn'l f l'CMnll:ÇOde I l. • matai■
ou cm parte, por um ou outro motivo, me baseei. As notas de rodapé para quauo aulas -.o Collttt 4e Pnncr; o ta.UI r1,1 pub o cm 1\194 r;,e!a Prcucs UrJ-
s6 dâo u ref(rbicie.s part.culares. O cume des:-.e mateT'.al cessou no fim ven1airu d< Fraru:c, r.ob o u ulo u, Poislf' rt l11 J! dcru la drlltullun ml!IIW/lr.

10 li
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/I'lTRODUÇA O

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PFRSPECTIV.4S

O mal-enter.dido. As m'liinpias o•a/ía'ades. Deslocamentos neces-


sanos. Mar(os espac10temporais.

Foi a propó!,íto da canção de gesta que se colocou inicialmente. na


França, o problema; em ou:rm lugares, a propósito das formas diversas
de poesia heróica,. d,:, Beowu{f aos ,",,•'j~funger. e ao Cantar de mio Cid.
Dessa à.-ea prhilegiada, as indagações se este.1deiam pouco a pou-:o a
outros s:!tores de nossa "literatura mecievaJ", seguindo o capnc:10 das
dr::unstàn:ias concernente~ a natureza dos textos. das línguas em ques-
tão, das tradições cientificas locais e da; dificuldades uni~•ersitári!u: as-
sim, na obra de Jean Rychner, um dos i:rinc;:;:i..is í:.idadores, o enfoque
se desJocou. no espaço de cin-:o al!los, ia cancão de gesta ao fab/iau.•
::-.lada de s11rpreendente em que urna ruptura se tenha ;,roduzido nos ixes-
sup,ostos dos pesq11i~adores,justamence-qua:nto ao p:imciro ponco. Há-
bitos herdados do rooantismo incitavam a ordena: globalmenteª" ot-ras
sob a etiquera "ei:.opéia"; e esta remetia a IloJIIc:HJ, r~er-..·a dos i:oetas
:3e formação clássica. A descoberta, já antiga, da multiplicidade da~ ca-
:nadas te."'.:uais na !ll~da e na Odisséia r.ão tinta err. nada tirado de~tes
;:,oemas seu caráte:- e~:emplar; havia apenas distendido a iigação, tnti::na
e irracior.al. que O) p:c11dia a uma concepção de poesia, geral na Euro-
pa desde o sêcuJo KV1. Donrie uma valorização das '"epopéias" medie-
•·ais, no c:,otroo d=.S re-.·oJuçõe5 românticas. O c,cemp]o francês é o mais
claro: de Fm.ncisque .M.ichel (passando por Vk:or Hugo) a Joseph Bé-
dier, ~siste-se a uma recuperação das canções de ges:a, recebidas e de-
dfradas como os documentos originais da üteratu.-a nacional.

(') Faolltn;: Ptqut'.IO oonco uradbel ou «Jiflcall!e., pnl,prlo da Utc:at11ta franccaa


.t:,s $éculos :uu e ,1v. Va- Ln f~t,/fai.x por Jooeph Bédiet: Paris, Champk,cl, 1969 r-.:. T.)

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em
1>a. a !orça elo d1uqul' quar:do
m,mcerr_. d::~ fenéndez P·d· 1
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a, surz u l.u chanson ée
. q,eues JOr.'f{le1.,•r:,, de Rcch ~ E·. . .
• - do1~ ano, depois ao Ro-
. .iesre:.essa,,SJ,rl',Jr,
gesta'·. Sua cormmicação 101 esuida de um debate que, parece-me. d.cu
em coní a, ina~ que revelou mai.s mda a que ronto. de um lado e
••
, .
~pre,enta1das~m , d , ne . ~ e )e m•p1·ava
. - · . . do outro, a argumentação, fundaóa bre a an
\ _. 19. 6 • ep:n, em 1951, "Or A R L·na, d
comurucações
eludia., verdad~.ro problema.~ De fato. es~e (por t'Ssa nu.ão mesma,
rne. ica.r1a dt Pi:olcigm· ..vnl d ., . -.>r na A:.sos;1açàu ,em duvida) s.:1 1?aixonava oo-. anos 60 e 70 u:na minoria de medJe--•a•
'· ~-," oran t• a, pesquisas de ·
prt<--nat .ra ·nenre ta '"c'i ln L d .. . St<u mesae Parn. 1i~t.:1~, , • , · e LOm cada um t.>mando , ,a.'- pc:; ;;õe:s "amo conq c1isras.
h .. ._,, or exph~a,.i .i :-ta:t I J
' 01 nncc, ~~las t1oc.=cidad , . . ., • '- L cU ua ,, do tex o
.. __., es propn~ a tran ·m·~ .; - o mtc:rcs~e de;;ai.
LOíl tri dL:~';i.... d=ç<=re~•ndo a • . . ~ L&O oral :os aedos e dai-a A impre:i,.aL>i ~eot1da por muito~, de desembncar num .mpa~e pro-
·d • ::>rati..:,1do.,2.i1~/ur+sé ,' .
i·a o, por vol.c. de 1930 E . . r\ ios e: ommos obser- vém da própria natureza dos processos empre-6 ados, ao lo~o dos anos,
. . . · m torno de Lord R•;c'i
· d . • i · ner congregava outras
rto nfr.\ mais anti ~~a.., e Qrn a d:::.1:on· ~c1das d . para locahzar aproximaLiva:mentc, na. e:nensã~ e na duração - se::-à com
,ivro de 1.. fousseran:lor sobre Le.s b~ ~- os ~ed1eval1s tas, como o efeito outra coiia? -, os fatos da oralidade med:iei.al. Não ;:,redso refa-
impo:tanic.: a on,gn JJTc:u:o - d . •l'1es russes1.1928) ~ - mui to mais zer aqui um c.iitâ.logo dess~~ prooedim::::ims. Um mal-entendido enevoa
, 0 e \.larcel Jouss ·· iob L r
memotech,uq11e che~ fpc- , ·b '• rt e sty,e oral er o horizonte, e importa es.darecê-lo de 1mediato; muitos especiali.sc.as (es-
.,. «-• ~e. o-morr;u-s (19"5',
Rychner trabalhava com ,ov"' - - ,. quecidos de um importante artigo publicado ja em 1936 por Ruth Cr:~y)
gumas da.~ quai.s rep~esenta\'af11, :n~~~s dt" gc-~ta d~ s~lo x:r (al- admitem tacitamente que o termo oralidade. aquém da transmis~.ão da
rnal.s a.miga). Na orn"'.tn d . du 1da, uma t.rad1çao um pouco
~ a composição da tC:1:t· bal mensagem poética, implica impro\•tsação; a maioria d ~ seus lei•.ores
me11to geral, •ealça\la as .1emelhan ' , . na ver e do movi- na dú,ida, por r..ão ter colocado a questão. Donde tantas ,querelas sus-
trt esses poemas e os ~ant . ças. cm va.nos ronro~ marcantes en- citadas pela teoria de Parry-1..ord, efaborada para clar conta dos :;iroce-
~ ·• os iugoslavos Ded · d '
que 5e podia eJilender aos cond' . . llZla eks 1L-na homologia dirncntos de pseudo-improvisação êp:ca, ma!i ;.omada por defirudora de
recitador, dislribuiçãc das s ~1c1~am~~tos ellT~rnos da obra: ação do
xava numerosos ;:,ontos obs
·
:oes, mserçao na v-ida social. O livro dei-
euros, e CI autor talve,, , h , • •
toda a poesia oraL Da roes.ma maneira, quanto se tem sido o.po.sto a
divagações. po:r bita de d~tin.guir traârçào oral e trcmsmiss.ão oral: a prí-
ta.te f a :om a eswlha d º . .en a ,ac111tado )Ua mei:ra 1,e situa n.a duração; a segunda, no ~resente da performance.
d d os ex.mplos. Pouco im,c ta· .
a a. llm co11gT!'Sso reunid' e L.. .- r . uma gamada foi E:n verdwe. o fato da oralidack reduzido aos termos com que, bas-
' e :n IC€ " em J957 d'
d ura ... ao mesmo tl'.:mpo ":n ':ne rn-lhe a em·enrn- tante sumariamente, o tem definido caocas sábias contribuições, iruega-se
~
V ~

.... que med" a en · d


vam o freio no5 dente-' N d . G er;:ia aqueles que toma- mal na perspectiva geral dos estudo~ medieva:s. Aparece aí agon: é o
• -· cs ez anu, [IUe
potese, se multi_pJic..,...,.,,,.. U ' - se seguuam, pesquisas e hi- único ponto assegurado~ mas de maneira margjnal, como uma ::11Iiosi-
................... m mctodo d d· ·
comti1uíra, i.ão mais: _ d . e ismruJar a oralidad'e se dadc: v-.J uma anomalia. No pior caso. há o oanformismo: toda illature-
e scgtuo e si m"smo quanr
iora. Seus adeptos não h ·ta ~ . o mais atacado pelos de za produr seus monstros, não é razão para fazer da teratologia a medi-
-. eu ''am em reurar u d ·
soes empíri:!a~ (e do maior in e ma outona das coaclu-


da de tudo! Esquece-se que ama anomalia é- Ili]) fato em busi..--a de
de 1967, Michael Cursdu:::ta1~ re:e) que ele lhes pem:itia atingir. Des- ínterp--etaçãc. Até hoje, r:unca se ,t.eÕtou mesmo in erpretar a orafaiade
um baJan\:u, ajnda sumano i ~:s a,~ nome dos medie11alistas, fazer da poesia medieval. Cunt.cntou-sc cm obser-,-ar sua eristêr:.tta. Po.15, exa-
Ct'Ssívamente na Alemanha ~ . . • ?º tun dos anc,s 70, apareciam su- tamente como um esqueleto fóssil. uma vez reconhecido, 'deve ser sepa-
e uma antologia de artigos su;~me1ra obra de síacese e de bibtiogr.afia rado dos sedun!ntos gue o aprisiollAm, ass.:im a poesia ::nedie,,.al de,.oe
da epopéia med.ic...il anglo-s~ ~s entre 19? e 1977 sobre a oralidade ser sei::arada âomeio tatdio no qual a cistmcia dos manuscrit:::li lhe
abordada por via da . . D ruca ~ alema: a canção Ili~ gesta era ai permitiu subsiscir: foi nesse meio que se i;;oc~tituiu o p ~ t o ciü:,
muSica. e resto a, . • .
tes. Ainda em J9i8 e· , .s resistenc1a:.s permaneciam ·or- fez da escrit1.tra a forma dominante - heg!:mônica - da ling_l!3gem._;
g . ' no ungresso da Sociedad• Jt
rupou a maiori:i. dos especiaHstas ~ encesvals, que tea- Os mttodos elaborados •oba mfluêlaa desse prteonccito (de :fato, to-
um delel! fulmina\·a e t europeus e americanos na maté~ia
on ra o . 'pretendido carárer ora! d as cançoc-,;
1" ) Cantadom; ::UJa d . _
~ ue•
da a filologia do século x1x, e em parte a do no o) não sorner..te le-
,,am pouco em conta ,eus limite, de ,-alidai.h!, mas ,em dificuldade para
determinar. na profundidade cronológica, a dist noa justa de onde con-
••
••
>or
l u ~uru povn tnkln.ko.senomlllaç.,.:i
{:-,; r.) trovén, 1
,. , ...u m<1rurn.ento mcncxórcüo, u;.sdo
siderar seu objL'tO. Até hoJe, pcs.quts.as e reflexões sobre a orafü.l.ade das

16 n
ca:i;ces de gest;;. (tome esse exerni:lo,1 têm udo por efe to abalar un pouco prevaleceu uma \iluucao <le omliJ ide mista ou 5e:1.unda conlormc as épo-
a.~ segurança5, arnemzar o alcance de vário, termos e difundir pequeno cas, as regiões, as classes soc1a1s, quando nllo os rnôtvíduo • Pllr outro
nú;ncro dt dú111Ja!i comuns. Elas não nos trouxeram nenhuma certe!a. uid es ubdivi o não egue nenhwn cronolo L • mesmo que, no ge-
M , Joswnentc, a QJ.estão não ê a ceneia. "É nosso modo de percep- ral, seja provável que o 1mport.linca runuva dn raltdade tenha umen-
µo e. ma.is ainda, nossa vontade de abert1ra, implicando a in:egraçãc t.a<lo a p.artir do século x111. O nai-. anti110 poema "franc! ", a CQuên-
de un: ti.P() de imaginação crítica na leitura ie nossos velhos to:tos. [)eSS( :ia de Eu/alie, um pouco anterior a 91X1, composta por um monge leu-ado
:>onto de vis+a, pouco impon:a a Prcã() d~ ~esta corno raJ É t:m fenô- para e fé _ d:>• 'la greja ~ e;; i t .\rmand, perto de Valenc.i~nne~.
meno geral que :o,ven considerar :,em aquém da materialidade de ta . croccdia de um regime de oralidade segunda; o; originais ''p-opulares"
gêm:ro Particular: o Íà'JÔmeno da ,;07 hua:ana, dimen;ão do texto poé-- disso que denominei as "canções de encontro'', nos séculos xn e xm,
ti ::o, determinada a.o mesmo tempo :no plano físico, psíquico e socio- transmniam-se pro,•avelmente em reg:me de oralidade mista.
cuJtur:i] Se as digrns:<.ões sobre " oraJidade das tradições poeticas per- Segunda ob~ervação: no interior de uma scxiedade que conhece a
deram bcj~ em mordacidade, nà:> foi - cu foi só se-cundariareente - escritura, todo texto poético, na medida em que vis.a !l ser transmitido
por causa da e<]trirne1clade dos fatos. Foi porque - sah.-o a!g\lmas fu- a um público, é forçosame:::11e submetido à condição Sf!uintc: cadü uma
gazes exceções - essa oralidade não é interrogada sobre sua □ature1.a das cinco operaç5es que constituem ma história {a produção, a comu-
oer:i sobre '-Uas funções próprias, e lambé-n não o é a Idade Média eu- nicação, a recepção, a conservação e i;. repeúção) reali za-s~ ::.i:ja por "'ia
::iuanto I ugar de ressonância de uma \'07.
.sensorial, oral-alldifr,<a, seja por uma inscrição oferecida à percepção
\'isual, seja - mais raramente - por esses do1~ procedimentos conju~-
tamente. O número das combinações possíveis se eleva, e a problemáti-
Trê~ obsc:rvac,;õc~ gerais, antes de prcsseguir. ca então se di,·enifica. ~ando a comunicaçãc e a recepção {assim co-
Comiérn - primeiTamente - disting,rr trêS!mQS :ie or-ª_li~ oor- mo, de maneira excepcional , a pro-:iuçào) coincidem no tempo, temos
!CSpo11dente~ a t:-ês siluações de c-Jltura. Uma, primária e imediata~ não uma situação de performance
comporta nenhum contato com a escritura. De fato, ela s~ encontra Terceira obseri.•açào: quando um poeta ::,u seu intérprete canta ou
!ipena~ ua.s sociedades desprovidas de todo sistema de simbo!'zação grá- 1ecita (sej.a o tex:o impm~isado, se: a memorizado}, sua \'OZ, J.)Or si N..
fica, ou nos ~rupos sociais isolados e analfa~etos. Não poderr~os d1:vi- lhe confere autoridade. O prestígic da tradição, cenamente, contribui
dar de que tal foi o caso de amplos setores do mundo i:amponês medie- para .·aloriz.á-lo; mas o que o integra riessa tradição é a ação da voz.
,-al, cuJa velha cultura (tradicional, oprimida, uma arQt:eocivilização que Se O poeta ou intérprete, ao contrMio, lê num livro o ciue os ouvintes
preench.a os vazios i.:ia. outra) deve ter comp,ortado uma poesia de oraJi- escutam, a autor:dade pra,.•ém do U.·ro como cal, objeto vi.malmente per-
dadc primária, e-: que subsistem alguns fragmentos. talvez recolhido_;. cebido no centro do es.pet.áculo performátic9 ; a escritura, com m valo-
por amantes do pitoresco: assim era no s.-êrolo xm, em muitos sermõe;. res que ela s.ignifica e mantera. perte;:ce explicitamente à performance.
nos quais e.<i~es fragmentos permitem ao pregador ilu<t:rar agradá,relou :,lo canto ou na recita.Çâo, mesmo se o texto declamado foi composto
alegoricamf.'f.te seu tCltla. Não há dúvida, entretanto, ce que a çuase to- por escrito, a escritura permariece escooclida. Por i.sso mesmo, a leitura
talidade da poesja medieval realça outros dois tipo, de oralidade cujo pública é menos teatral, guaJquer que seja a actio do leitor: a pr~sença
traço comum é coexistirem com a escritura_ no seio de um gr.1po social. do livro, elemento fuo, freia o movicer.to dramatico, introduzindo ne-
Deno.min.eí-m respeCTi\·a.mente oralidade mista, quando a inf;uência do le as conotaçõ-es originais. Ela não p-;:,dr, conti.:.do, eliminar a predomi-
escn:o permanece externa, parcial e atrasada.; e oralidaceseg!lnda, quan- nância do efeito vocal.
do xe ra_--or.,põe com bnse na escritura num meio onde esta tende a es- A coexistência, na prática cultural, desses coodicion.amentos poe-
gotar os v.:!lores da voz no uso e no imagir..á.rio. Invertendo o ponto de li:::os diversos é universalmence compro,ada no Ocidente, da Irlanda a
vkra. dir-~f-ia que a oralidade müta proce:k da ex.lscfncia ele uma cul- ~loscóvia e da Noruega à Espanha, do século x ou x aos ~&ulos x~·1,
tura "esc.rira" (llo sentido de "po!Sllidora de uma escritura"); e a orali- wu, às vezc X\'111. Em contrapartid , as combilla õt 1.le tanto~ fato-
dade i.egundu., de: uma ~-ultura "le1rada'" (ru qual toda expre~são é rrar- re.q ao ~aborda cin:uMtdncins provocam 1itu.iÇOO múlttpfas demais para
cada mais ou menos pela presença d.a es.crira). Entre os século~ -. 1e xv1. não ~e atenuar 1aos olhos do ob~ervador moderno) eu traço comum.

18 19
t
\hnto,;; dci, mdie1.;alis:,s são .:1.ss.m le=vados a c.escuidr deste, ou dá-lo
pol ,. ,taD<;;,,:;., do, quer ciiztr. nulo e sem _ ei o _ ss ~an o m s q anto
própcia org,1n1 id de sob p fie,. o da máscara, mb a mumca cio ator
a Quem por uma hora cmprestll a ,·ido À exp 1çllo pro 6d1c e tem-
••
poralidade da 1mgUlgem n ,oz 1mp !
::1ada permite, de maneira estâvel, ligar a tal ~ênen poé:ico tal modo
de tran,mi;são: nemurn indjc:=, nem na m.iciç.à.J doc~mental nem :1:,s
m:to-. mi,edt."-nos de pemar - mem:.o se isso é pouco prcvável - que
J:
ra e ve-rti::ali.J.adc ue ,eu espa,o.
:J;
E por .sso que à palavra oriliid~•rie prefiro wcaltdade Vo.:alidad;:
e a hi,tori.idade dt I ma voz: stu !l~O. Uma longa tradição c.le pema-
••
tal car.çdo '.cnha sido. algum d1a, l1dd em voz alto., diamt: de algum gru-
po de OU\'lrl tcs. Cenosjab!iau não :enam sido cantado~. talvez ..orno
imitação irõnfoa de uma canção de gesrn, como A1,1d1gier? Ou de u..ma
mem::>, é verdade. coru1dera e valor:zl a ".'0Z comu ;:ionadora da lingua-
gem, J a que na vo2 e pela voz se artic·J.lam as sono1;dades signdcan:e~.
-...:ão obstante. o que dei.·e no~ chamar mais a atcttção é a im;,onantc
••
cancáo llriça, cerno BaiJlet, cuja forma métrica repele, parece-me, a sim-
ples rncitaçã.o?... As po~si b11idades rehr:nbclm, os esquemas prcssupcir
cos. se e,hn~c,a.Tll no co:l-:reto. Fíca a ::m:presença da voz,.J:articipandc.
f·.m,;ão ::Ja voz, da qual a pala\Ta constitui a roari.ifestação mai, eviden-
te, m:1.s não a única nem a mais vital: em suma, o exercício de seu poder
f:isiok':,gi:o, sua capaddade de produzir a fonia e de orgaruza: a subs-
••
em sua plena :rr.ateridi.clade, d;1 significància do texto e a partir daí mo-
dificando. de a,guma mans!ira, as regras de noEsa leltura.
tãncia. Es.sa phonê não se prende a urr:. sentido de maneira imedh.ta:
só procuras.eu lugar. A~sl!!h Q. ~ se 2r0Qf>e i atenção é o as~o u,r• ••
••
O aro da aJdição, pe,o qual a obra (ao termo ta.:vez de um Jongo pora: dos textos medie1,ais, seus modos de existência como ol>Jetos da
prcx:~~c) ~~ <.o.oncretiza rndalmtflte, nàc pode! dcyx~ <l~ in:;crever..-;e co- :;,ercepçãu ~eru.urial: aspecto e modos de existência que, após tantos ~-
mo anlccipa.çào no texw, como um projeto, e a[ traçar os ~ignos de lllUa cülõs, reâ[çam paranó;' 'esse tipo de memória, sempre em recuo, mas
intcn~ã.o; ,e :5tadcfinc o lugar ele animlacão do discurso, no sujeito que
o pronuncia,
~stes ai imer.-ir para fazer res~oar .a língua, :;ri1ase à re.·elia do sujeito
que a te::fa como que aprendido de- cor", como escreveu soberbamente
Roger Dragoneru.'' o distanciamento dos tempo., es~ tão lon~a ausên- ••
Desse modo, náo "Ttenos que dominar as lêcrucas tia filoloiia e da
anáfüe texlnal, a tarefa ,deal do medievalista sena c:om·en;:::r-se dos va-
lores incomparáveis da voz; sensibiLizar sua atenção para isso; melho:-
cia, força-nos a perseguir o que sabemos não poder atingir; é ent~o que
em oos decide-se a som! do paradoxal conhecimem:o ao qual as.mn ~-
piramos. Ninguém duv.da de q\le a voz medieval (~:im como o canto,
cuja prática podemos enuever) n:ilitiu a deixar-se capturar ~ n0&8:5 •• •
metáforas, inspiradas por uma obsessão cio d~o.no pronu11ciado, 1~-
dizendo. vivê-los, pois só existem ao viYO, independentemente dos co7-
ce1tos nos quais amiúde somos levados a apri5ioná-los para descrevê-
los. fosso estll<lO deveria tirar sua in~p:r2.ção e seu dinamümo ela c-0n-
near e bomofônico: para este, ~nto o tempo c_uanlo o espaço corut1-
mem um recipiente neutro, ollde se depositam os sons como .ima m::r- ••
••
sideração dessa beleza bterior da \'OZ hu.-nana, "tomada o mais peno cadoria. Mas é outra voz - out1a csc'Uta, à quitl nos convida no~!,ª
de sua fonte''. como dizia Paul Valery. Essa bela.a pode, é verdade, músíca mais recente - que se recusa a pensar o uno, que se recusa a
oonceber·se corno particular, própria ao individuo emissor do som vo-
redurir o ato vocal ao produto de wna cadeia ~a1$al unívoca.
É na perspecti 11a de sua incapacidade última de experin:entar (se-
ca.J; a es5e título. 5ah-o acec;ã.o dificilmente imagj11avel. ela no~ ~ into-
cável, depois de tão longa doração. Mas é concebida, também, ,orno
hi~tóricae social naquilo que une os seres e. pelo uso que fazemo; dela,
não de provar!) que o oedieve.lista regi_strará esi.i;: futo maior - e se es-
forçErá para deduzir, no plano ca inrexp:-etaçã;,, a5 conseqüências: o D~O- ••
••
junto dos textos kgaclos a nós pelos séculos x, x , , .'Cll e, numa m«li.da
modula a cultura cooum. r-. o texto µronur.ciado. não só pelo fato de
tãlvez menor, Xlll e ;<IY passou j>ela VOZ não ce modJ aleatório, ~em
s~~lo, atuam pul.'>i'lfL<: da, íJll:lis prriv~11 ;,ani o ouvinte u rna me,!>ag..-rn
- ,,,. virtude de uma situa;ão histórica. q :.i.:: fma desse t:-ârui to ,oçal o úní::o
espccifi.ca, informando e formalizando à S\la ma..,eira aq1JCla do te:-.c:to

••
modo ~sívelde 1ealização (de socializaçãol des~cs textos 'Ia.l é minM
- o gue Fonagy, num lh.To re--ceme. chama, no i;er.tido mais forte do
tes-e - ou minha nipó:ese. ....Ela abrange n turalmcnte a~ can9:ões, ':1~
tenn(), "estilo vocaJ". 3 No momento cm que ela o enuncia, tram,forma
também as narrativas e declamações de todo o lípo, as próprias croni-
em "lcone" o signo simbólico libertado pela lingoli!em; tende a despo-
jar esse :.igno do que ele comporta de arbitráno; motíYa-o da prcsenç;;.
t.lc~!>e corpo do quil.l e~ cmc1n a, 011 c:ntiio. por um efeito contrário m'"
anulo 'D, L't rn J1.1plicklatle dt5'- ia do corpo real a a:enção; dissimula sua
-:as. [,ó o romanc;-poderia exigir 1m e0mc ~mnto: eu o fare1. Sem
-dúvida. exumaremo5 alguns ca!>os c:xcepclor.rus~ uma vez demarcados,
>Crào considerado~ um a um, comt, escapando à norma. •
••
21
'Thm.. se de dialogai i.:om rermos antigos, portador~ dt' um discuro
que. rcd.mdo a nossa s1mple~ mstrumentaçao intelectuw. não entmde- ,\ tais 11u mcl'l(lS conlrnu.m~nte. h je a tnakltia tlr,~ rneJ <"'llh5t 1s ate
1"10:, ma.is. Só subsiste a po~s ibilidade de c1rcumcrever ·• c~darecer al- dio; o. Dorrte um C\lrJ() o regre o, pc, vez.cs, romírnti mo original
l!L)
gnns seLores-encruzilhadas onde se concentram grand~ perspec1h'aS e de nm s estudo~ - e ullci~ntc que e desenhe no homome umapro-
· 1gura.àamente um espaç:>. A ora.idade o 16 nqua c,u puramente anal, 1 , de orn.liJ.t,le. para
da poesia mediC'lo·al é menos uma ques1ão de fato, suponBo rernnsútui- que i.ntcrvmha o pre. c;u;,osro: no iniclõ tra o Verbo. E~i.n~ la~ !idades
i,;ã□ e prm•a, do que de ~lka~ão, ,isando a superar 'IDa a!teridade não para."'ll de suscitar sadias rcaçõe.s negau,·as; ri:cememenrc, como a
redproca. A voz medieva. .não é a nossa, pelo menos nada no~ a.s;;eg-1 ra de um Rie@er. a propo1 to d0~ t ovadorcs mesmo; d,- "li,pa. i•tas aunt-
que em ~cu enraizamento psíquico ou ~m seu desdobran-ento corporal nca.,os corno M1chaeJ Walke-rs e outr::1s; mai, violenta..s e fortemente
seja idêmi::a; desintegrou-se o mundo onde ela ressoou~ onde r,rodu-- documen:adas, r:omo a do ger;nani.!,1a M . .l. q.holo.1, para quetn a evo-
:d u - este o único ponto cerl[.) - a dirr:ensão de uma pa•vra. Por .sso, lução do upo oral-auditivo de transmi~sào de textos para o tipo gràfi-
na cornide:-açào desse Outro. dess~ oito ou dez séculos rtC1rtados (tanto ::o-v:isual cr-.t. já muitn ai,iançaàa ~:n me.ad:::,s da século xrr e que f.u n:-
p,or obscuros motivos ideológi~os q1_anto pelo cornodisr o de pegago- montar a e;~a ép:xa noísas prriticas mo-lemas de kitura. Sclioloz afasta
go1 na continuidade das durações, u.ma dupla tentação nos espreita: como atí-i:i..-a e fortuita r~da ccmuni~ação ..,crbal, hesita mesmo eru a.à-
conceb~-los como uma origem, nos.s.a infância no fio rc::o e orgânico milir sua generalidade na poesia lírica.•De~figmada que seja pelo pre-
do que nos. tornam.os; e supor para eles. por isso mesmo (c:isidiosa.rnen- co:lccito, ~sa posição tem o grande :né,itv J.k: Llc:s)ocar a enfase do teit-
te), wna unidade que não liverarr,, gmr dizer, sob qua1que pretc;,c-co me-
to na direção do publioo que o receb1; e de ~Lbstituir a oposição abs1mt.a
todológico e em qualquer estilo que seja, foiclorizar a "II.ade Média".
oral/e;eri10 pela~ opc:ii~ çoncrct<l~ o uvidoiolho e ouvir/ ler. A re\'i-
~ão se dialoga com o folclore. Gravam-se discos para aradar aos tu-
ra,,oJLa daperspe:ti"va nos faz sair do que poderia ser um impas~e. Ape--
rise&. No esforço que te-mos o diieito ele experimentar par. perceber um
snr das arma.e.ilhas de qu~ é semeado o carr,inba de toda volta ao passa-
eco dessa ~-oz antiga e avaliar :se!..I alcance, a.ada nos extra-~..aria mais do
que a proc·Jra do pitoresco, de urna facilidade.
do, o ponto de vista de recepção ecos te:::1os aJ)roxima-nos (de uma
JlJarn:i:a q:ie não ê sim..Ql:smenle rnetafóric<f-) dos sujeito!'>qiie os escu-
Evitemos dar a esses textos mais do que nos dão, ou.anais do que
tarflm. É por isso q11e, aqu.i, eu gostaria de fa.2e: minhas aJgurnias regras
dissimulam. Sabemos qne a dv:íliza~o do Ocidente mod:'-'3.I foi aque-
simples que exLraí do discurso-programa de H. R. Jauss, Un défi à la
Ja das populações de um.a pegue!na quase-ilha e,itrema da3urásia que,
théorie littéraire, i e que atribuo mais a ce;--to comportamento intelec-
durante um milênio, de todas as maneiras, em todos os <l..-nfn.los e em
tuaJ do que a um mélodo:
todos os oi.eis, consagraram o es5encla.l de suas energias :i:;_ra mteriori-
zar suas contradições. É ne-stes limites e neste sentido qll( evocaremos - cor.cec.er a uma es~éhca do efeito produzido a proeminências o-
bre uma estética da p:-odução;
a oralidade natural de suas cultim.s: como um cooju:nto conplexo e be-
temsênm de condutas e de rnodalidadc-s discursivas comLUs, determi- - fundar a opcraç:ão crítica sobre a consi.de..--aç--ào do que foi o ' 'ho-
nando um sistema de representações e un;a faculdade de to1 os os mem.. rizonte de ei:pect.ativa" do púb.ico p:imeiro da obra;
bros do corpo social de produT..:i- certo.s signos, de. ide. tificá-los e - para def:iiu a obra como ohjem de arte, levar 1:m consideração,
interpretá-los da mesma maneira; corno - por is:so mesmo- um !'ator prinu~iramente, a naru~za e a fat~sidadc de seu e.feito sobre o publico;
entre omn:,s de unificação das a:ivi<lades individuais. Nad. mais; mas - pressupor semp-.:, o.a medida do pou,frel, as perguntas a 1.JUC:

o alcance desse traço e considerável, porque se refere à fo.lltc prinH::.ira .a obra rc5pond.ia mi seu lernpo, an:e.s daquela.5 que lhe fazemos hoje.
de autoridade que comanda a p1áLica (na ausência da ideoJi.gia) de um. Certammte. :i:i~ lacuna.~ de nos!.a inforrn.a.câ.o limitam a eficãcia des-
mur.do. Resta-nos, por nossa maneira de auscultar esses ~os fazer ~es prec~tos. ~rmanecc um fato; é no ato de percepção de um tcx10.
ressoo.r aí o não--<!ito e nunca esquecer que h:Jdo o que os ;a.n~ritos mah claramente d.-. que em seu modo de co;n1i6iiçJ.u, que se manife,;.
medievais no oferecem foi o produto de mia censura - ds.sa m~sma tam opo~ii& defmdor ~ da V(l(alidade. É cerro (à, \ezes romide-
(além da inrcrvenção dos c:ten:s) J que implicava o registro ecrihJ ravelml'r11e) que na eco-nomta in ema e na sn-:nárica de um lc:i::to não
:npL)rta que t>le tenha ou nil ido eompo to por cmo. No entanto,
o lato de ele ~er rccebi<J,, pel ci1ur i11dhmlual direta uu pda audição
e t-Spetáculo modif ~ 1 prol n<lcrncr:te ~u e feno sobre o re..'t:ptor e, pur-
22
••
canto, ~obre sua signifi.::ància. l sso snm:ntém Vt>::-dadetro na torrna ate-
~ •
nuaca de performance q e co'lstituíra 1rm leitura pú.bhc:a feita J:lO.- 1.111
intérprete sentad o. ou mesrr.o de pe. · a t"tme de seu facistol C om base
abano.
po m·n:gac~,.i i;.st1:mti d::-=cm1tmi1QJ;()!;:.;,-~1.:m
rno:nenlc ,;uce~:,J\OS Je sua existfocia se definirá em vlrtutle Lle dob cri-

"•
nessa c:>nsta taçãoinijaJ, ope.arem<J; as.dstino,; 3e;;queacom~ k.'GI rei•
Jidace hi~dr ca impõe. .-\ vo2 é sem~ e r . 1va, tnas seu pe..o ~nt re as. Je-
rcrm.nações jo texto ,.,ve 11,.~ 7 ..i .ia~ m -Ttudc das .::in:.u •~-iill\..d..\, ~ 0
reno~; a natu:-ez.i Jas :.-..:nica~ de qu:: fal uso para a tra11:,mis,il o da~
memagent ta na1ueza das fo·rna~ que a~~egur arn a diferenciação tles-
ta.1. E~,c~ p~rn.,p10, tlc: anall~1.apl1.:am :-. :.1m Jlt.arn:amem~ a
º:
·,dJ"1U1. m
••
conhec:mc.1Lo (n~sariamente mdiri-O) ::iue deJa podemcs ter passa por
urna imt:,t:~:1.ção des.sa.5 úl i'H<LS .
Talv:;z e~teJamos boJe nais aptü de .:iue an:igamente para essa ca-
vci~.(_frata!!;lc-se d_e p<l esia, :e:m;,>s em :.:~usa, q?anto as .ér.: ~1~as
serão a vo, ;! a e~cnta; quanto as formas d:: difere nciação, se-rão a.-; d1 ·
versas estruturas sociais e mentais OJ, mais n.-striLivamente, poln:cat
••
rera. L.bcrados do positivismo, vo1tn111 s a e~tar mais ateoto.s às lem-
brança~ próx.mas das oume:-csas traci.çõ::s medievais que se ma:itiru:.an:
no ir.terior da sociedade do M~culo x.x ' em nossas zon~ rurais, aqui
e i.steiTcas , N Luhmaon, que prn;,õe essas dístir:ções, funda .sobre ela~
um esqu~ma e~ol"Jti~·o: do " segmentário" ao "e,)i ratificadc" e ao " fun-
cional". D D secuo vn ac séçulo ;wn, nos territórios do Ül.'Ídente, a~
••
e acdá. até meados deste sb:ulo. É e;: f...to me.nos uma interrupção do
que uma serie de fragmento~ parciaista CU; P<lUoo a pou_co nos .separou
uo unh,erso mediei,"al. t-;o mesmo de.vi• :iue nos fez t:,mar para com
rna.<,~U!. c1n~1i 11atia$ oscilaram do primeirn ao segundo .ípo, para dcsE-
za.- cm seguida ao te1ceir(I, conser,ar:do em cada situação no"a os tra- ••
ele uma diHância definich·a, interíor.:.an os sua memória. Disso resuJta
uma situação desfavorável às ;:,osturl.!S h..s:óricas tradkionail. que ten-
di:m a reconstituir uma pretendida ~lig~de pa~sada; não menos des-
,; o, da arit.eri.m, de form;. que a tnd o o mom e:nto se :;;o bn.'J}u.~cram o~
:onju~cos ou c,s í:-agmen:o s di.: ~onjumos ccltuTú, de idades diferen-
:cs; qnand.o rnuito, soflre;sai un1a tendência dominante, ern Tela<;ào à ••
fa,orável â., interpretações modemizi EtCS, inspi-adas por uma co:nc-cp-
ção hiperbólica da a lteridade. Err. (On~;:iartida, somos irnpelido.s à
qual essa outra dá uma (falsa? ) impn.'S~ão de a:caí.smo, e aquela parece
:u1urisia. As pane~ Jesse rnai;ma escoLJ i;:gam ·Jma~ nas ou tras , lenta-
rr.er:te; cepois, uma repentina aceleração precipita-as, e ~ cisma em
••
••
pr:\ ti ca de 110" a modelização dos docllll'Ile:DLOS do passado, u t.ilizan<lo os
algum lugar abala a supc:rfícii:ua.s .:oisas e dos ws4,;u1~-,s ~' 1la oomiuu.i-
fragmentos :::la experiência contempc:-âr=a - nossa própria historici- dadc mil:m,.r "medieval'', desmham-,;e assim dois períodos criticos, pl-
dade - como r~•eladores: p:ojeçii.odo--'-,a$Sado no eSJ)OÇ<l moderno, co5 ,;;le uma dupla cur,,.a, em que o ritmo se acelera e a "isibilidade ten-
,,
comportando, a todo o instante. umrn=mo crítico ao passado como
tal. Mlnbu própria voz importa aqu,. eiosentim.cnto qae teuhu dela;
im;)O:ia ao que posso dizer dessa 01na ,oz, pc-dida.
de a ,e embaralhar: o século que se esrenê.e de 1150 aos aITedores di.:
a
1250.-âepois esse que, ;,artir de 1450, des~c até eor vol~ de J55Õ,
ou mais abaixo ainda, em algumas regiõcs.,Entre essas datas, situa-se
••
o ~ o : n umeiltc se c!i:s:~na com o nome ''literatUiai medieval" .1Kão

Não f , ccntu.do, um dess~ probld)lla. ,c;ue não se enu!lca:m em pen-


pe..·th·a :ronológica nem ,oornporta.-n~rd!::icta mtre dois temi.os: .aci-
l uma s·mples coincidência, ma; sim a :nanife,tação de uma relação
prnfurda: a .. literatura medieval", é o conjunto de formas :;,oéticas que
não somente participaram dessas crise~ e e.criva da que levou de uma
••
ma, a época mais disumte em que nm:iei=~ bárba:-os tomavam co11SLS-
tência ~ fmuraslínguas. europeias; ab;txo. :imundo "moderno", bi:@lês
e me1canttl. Entre os dois (convencic, na. i;,e às vezt.-., para sim.;:>lificar,
à outra, oas de que foram o produto e- um dos teauos principais.
, !- ada, de fato, do que o 5é:cu1o x n e c.epois o séc:1!0 x:v ..trazem. é
absolutamente nov'); mas a consciêm:ia que então se tomou conferia
••
de-signá-la como tal) esca:fa '.lossa "Id.ad ~fédia" - ex~ressãn contes-
tá,-el. m~ cuja criüca não farei aqui. pe _[:J ponto de vis1a global, ~
úc1;,o da cpinião de J. Le Go-ff so]:>re;.. ~ .....§deliina ' 'longa Jclade
Mé:iia" eritre o século 11, e o irucio d1 em ndunrial, Ê maior a neces-
à "nõ'vioo rle" ~t i:i efkácia, atualizava suas latências. Seria falso füar
no século x .1 (como se tentou às \·ezes fazer a par tir de Haskins) ou,
s eg1.llld o a ,·elha dou tri.iia de J. Burkhard l, n o ~érulo ,cv o inicio l'f.8 t·ra
••
moderna . Numa e noutra dessa:. et apas de nossa hfatória, produziu-se

••
sidade d~car as nuances e de inrllO<i:N alguma periodização, A s uma matlll'a\:ào. aparenrcmen te rápida, de elementos a~ \•e:zes vin dos
fronttiras re=ortam o tempo tanto quic:1tc CJ espaço: tão froUJCas quanto de muito longe p ara cá e r eves11c.l~ de ~alorcs pn'.lpnus, irreduth•eis -

..
reais, aqui e ali.LPara meu prot2ósito.ate-i.10-rn!: ao que mi: parC(:e- es - o q ue não autonzu de modo alg um Ll 4 uul if1cá lob ..:omo rnbrevivên-
,enci.il: ac ma.Jl primciraemcrgênoada! • IIJ\iuas Vltlgares" di, tintas,

24
c.as, ma~ qut, 0 contra rio. ex:1ge Jc nô~ um es ur ,o de reconstrução. de

rak~co:>cr1a da rede de rela-:~ que os man!ei.-c. É oom e is reserva:. ~cm e; tpa1órlu, em branco rreto, 1n-nno. surgem termo tercei~ e
que. na cont inuação deste livro, situarei o cbjern :-ela•1ya:nente no~ rlois Mediadores: J. l~ GotT o dcmomtroL, descrevenuo c:rn eu V.rissam:f!
marcos cr:mt'lógicos de 1150-1250 e 14 50-1.55(1, cada 11r:1 deles <.lcm:.1r- d11 f'urgaro,~ a uncr.'cnç: 10,110 cerne Ju teologia, cJe um contador din-

c.irco a duraçà~ num antes, num durante e nu;n ;Jepo s Só o ph,•i,•o ro e, em e uida à 1tu ' o rnetl1 n:.i 1.0 IO<'us purgalorfus, uma teaira-
fica, saJvo e,ceçao. fora de meu p10posuo. 1 m mhcuo ar a ml!l e cn end~ e
11150-11.50-. tem início um proce~o que, a rt.-edio prazo. kvará a u;ria mais fechada de obnga,;õc. imped1me,to e desejo .p negorrum stdo-
c:ess'ãcrãijzacào da sociedade e da imagem qi:.e dela 5e forma; uma 20na t.ngue do labor, e esrão proximo, os tempo~ em que se a<lm1tira eu mE-
profana começa a <:e dPsenhar regida l;"N lei, ;:a- ,:ulare<: assim o con- riro, cuando não rua r.obrcza: r:- .as o ~piriro que ai p-reside rúi:i dispõe
junto dos costumes e d os discurso5 designado, p ela pa]av:-a coru,sic• ainda de uma Linguagem em que se e:'\pri.mir e de,-e infiltrar-se em ou-
~ seus eqi:._vtlemes em outl'a.! lingua, . ~ ~x scêr:::a .::1'efr,-a r..ão a parece tros discursos, s.eja o da Igreja, seja o dos poetas da corte.
mais tão unhiers.almente ritualizada, e, à me:l.i:ia q ue se ira reduzindo O universo de ser.tido que .,e constitwu no Ocidente a ?3:□r dos
a. parte do, rires; estes tenderão à e~:lerc:,.se_ Dc,nde m oonflitm familia- ~écU:c-s [V e- \• repoU5ava numn \·isão ümbólica que distingulil. o.a~ t:i:-
-es e pesscaü. legíveis entre as Linhas de De '-'í.!'11 s1..1 i-=- Guibert de ~o- trc a realidade das coisas e sua iconícidacle. O século x 11 experimentol.'l,
5ent as coi:dutas.cradicionai,, objeto desançêr.s ,:orr.un:itadas, a honra esporadicamente, as pri.tneinis dú\idas. Isso era gra,·e e foi sent~do pe-
ou a verg::inha que proclami=. a palavra coletiV';;., o-çõeo-5e aos \'&lores los reDovadores, tal como Abelardo. Propagou-se então, mim tem__po bas-
éticos imer::ortzados, cada va. rnab recoo.b(:l.;.Jdo~ oc rracio aristo ~·àti- Lamte cu.no, a vog.a uni'1crsal da al::goria, até aquela época UJt'.la simple5
co. .. Assim come, d..:.sso tes~i;aunJia.. aind.:1. a "o::ir:esia", ao menos na té;;nica de leitrua e de iaterpre1;;.ção exegética: desde 1230 se ela~ro11,
fig11rami1ificadãque transm'.tiu o d:iscurso poêaci: pt.'-::- ela cngeru.1 t a:d~ senão uma Ungua,gem, pelo menos .1rn tipo de diS-C1..1rs-o que oru_parâ até
primeiro -=-esu.tado de urna tusca d::iincfi~·fd".lo~ 5i:.jeico de QOdcre.s, d!_ o século x-v, atra"é:s de to-da a Europa, uma posição de ilornfo.'io ql.La5e
resporuabllid.f.des e de direito;, iniciada um sé:"Jlo n::.a:i~ cedo.1Dessa fo~- abso_Lto no uso prowcolar e no poético. Sem d1h'ida, tal discu!so res-
mã:' o ;;;úl:iplo se manifesta no seio da un.i.dad.e; emerge- um cipo :ie ho- pondi.a a uma necessidade, nwn tempo em que parecia cessar toda a oon-
... mem.]Jur·dimensional; aos olhos deite, de repen:e na.damaLi parece ba- gruênda entre a reaüdade cósmica e a linguagem hum ana. Abriam-se,
na]. A palavra mo'.lemitas exprime então o ~-..1.t:rr.eotc, gi;.e 5e etperimen 1a en1.retanto, no,'os espaços cull11Iah, novas necessidades, no~·os pubüo:is
ante esse espctácnlo e a inteligência que de-le, ~arnos te!- Se.r "mo- - cidades, a burguesja em formação, as cones régias -, moch-o de oo-
derno" é ;ulgar_homens e cci.ias em. virtude d.o ,pe cle.s têm ou do a:ue Vai t ê ~ . As formas de expressão c:x:istente.s permaneciam quase .iruú.-
lhc5 falta; é ronh~r seus ambutos a fim de d.oma.=-Uies o uso. Ser "an- terad,u; mas seu im·estimento pelo 5\ljeito que se exprime obodece a ou-
~ec" (o,; dôli; termos se opõf-Ill no jugão escol.ar da época) é conheter
tras regras; assim, o s.cntido da palavrinha eu, na poesia, não terà ma:!
e julgar em virtuêe do ser e co nada. Belo g_u:e co11oerne à poesia. a es- em 1250 o mesmo sentido que l:ntia em 1J50.
critura paI.ece mo.ierna; a vo1, antiga. ti.fasa. ,.uz ''rnod.emi.z.a-se" t)Ol.'.-
Thl é meu prillleiro eixo de 1eferênca~ A função poética da ,·oz ~e
co a pou.co: ela atestará um dia, ern plena "socird.d.e ifo ter", a perni=.-
mudi..:-1:a no curso desse período; seu uso perde um pouoo - mmto pou-
nêrda de uma "sociedade do ser". co ae sua absoluta r..ecessidade a.nrerior; mas suaã utoridad.e ~ão e
Or.de até então a gµalidade detcrmina,•a u eiiool1:Ja.s, a ua~de
air.da tocada. Quanto ao segundo cixo, 1450-1550, é cronolog:cameote
pas~ a ser considerada. De fato, fazer um objet.:: ai:Jdaa será, du:-ante
mais incerto do que o primeiro: [400-1500, 1400-50 ou 1470-L520 (,:::o-
stctJõ's,""fazer o.m :ielo objeto; mas já avança a iêéa d_e um trabalho prc...
rno su~eri em meu Jjvro sobn! os rM1oriqueurs)6• se justificariam tam-
dutivo - que sabemos a quais absurdos, sete o u ojt,;i :,éculos mais tar-
bém.. Pouco importa. No intervalo entre os arredores de 1250 e ess.as
de, sera l~'ada! O r6prio teQPO se quantifica.: fa.;a.-se de tn:mslatio pa-
ra indicar as mutações mensurá~-eis na tilitóna :l.m iIDpério!> do ~alJer; (") RM1onqwe,,,.r5 ou f tands r he11N1q;u1?w.JS- a denon:inaçio dada a jX)Ct.:is ela t i.'t•
no 5é:ul;;iv se conccoerão e construirão.. roma per Gicr..mni Dei Dm1- :e, no fin da. "Idade l'.1.roía" !'~ . M ududOi e .tin1ados aocoJ.o&icam,ei::: lJ0r ~
di em Pádu , máquinas de contar. Onde as o;:<1sí:;,.'ie3 se e!l.trecruzm-ar.1 Zti:Dthor em torno de l-460-1520 e seoanfiummu n-05 dom.lnios do rei F1 mça. e, ~ -
cia:rner tt, no-3 ducado~ Ja l:lorgonha, RrellíllU, Bo 1rb n, orm.and1ui Poi10u. ,..e:r Paul
('") Grl'ad o no o_•igrnal, ertnfo-,e ao uruYe:rSO can~ d.o :nu:d:l mc!:irval. (r-, • I) 2'.umtllor. A11rho/oglit u·a 1ra,n:n rhlro,-ft,•,,.r'!.rJ, J'arb, 1 ./Col 10/11 (N 1 >

, ..
.. i
data~, outras linha d(' força e des:,1lia111· 1 ~olhos(' sob a1 rn,JO\ de
a operam ou no publico a que , isam: dest:nha-,e um e1boco de llma
uma m noria cre cemc de clerrs, potentadc e burgueses, roma forma
dhisão do t'1lbalho e c!e uma e~peciah!ação das t:n:fa-,, fatores qm.· .!>á,
um 11ni\-erso onde se afirmará um :.lia a importância deterrmnanLe do
pmtm em ação contra a plenitude e oni;,r~ença da "º1. Encolhe-se o
olho, d;i luga do rcmro e da ab nua sobre m futuro imprevisív.:I..Q
::ampo. até enLào mu·lQ_filande, da mobilidade das fonm::. ~tic.J.S'
Ocidente entrapa o a pas o n idade da es~rit r · JlUaJ_.Qilff~
c.arohnvos nãõü'iiharr lo do ·mQor um mod 1 . Daí um lento desli- instãÜrâ-sea idéia de uma füàdez do !exto. A mutabllidade, a variação:
a fnce,.,ante retomad.3. dc.s. tema; obri~atórios, o remetimento {implici-
zar em :hreção ao que, desde l~SO. um ~omem de outro planeta re-
ria podido prever. uma predominãr.cia a lonio prazo do mo<lelo escri- l0 mesmo) à autoridade de uma tradiçãc não escrita, a predominância
lural.f~msagrarei um capítulo a essa his1ória. Entre o inicio do século nào di:;cutida das com:micaçõc..-.. ,.,c,cais figuram, de agora em diante, co-
XJI e meados do século :,,;v, por todo o Ocidente ~e produziu. eJJJ graus
mo meios pobres, algo de.. prezivn. Se11 us:> se marginaliza, logo isola-
de fato diversos, uma mutação profunda, ligada à generaJiz.ação da es- do Od zona de nossas "culruras ;>opula:~~".
crita nas adrrunistrações publi~ que le..,ou a mciona1 ·7ar e sisttmaó- Estas, pa.>sados ::>~ 1550-1600, co□quilnaram seu espaço e sca 1clen-
nu- o u.so da memória. Donde uma tA.tremarr.ente lenta e dissin;ulada tidade, ma.'> um e outro com contorne:; nindn frágcit.. b, um fat::> novo,
dmaJorização da pala\'Ja YÍ'\o~Re::uando e carri.::J.hando com passes coo- A "ldade Média"' não tinha conhecido na.da assim. A confrontação das
Lados, entramos num mundo, como disse O.::tavio Paz, em que o desti- línguas ,11!gares com o latim dos cferc.~. oo~ costumzs com a mite>logia
no tmaJ das literaturas é produzjr otra~ \ii,·c1s nas línguas morta!.. ~os professada pela Igreja e pela e~..:o.a, não caminhava sem 1,,-0hàitos; e não
arredom de 1500, é verdade, nenhuma das c;.ilturas européias, desde en- se pode negar que a p~·a dm t;-ova.ctore,; e ll.fmne.s/.lnger. assim cumo
tiio distintas, atingiu reaJmente esse fim. Se:n duvida, a França é a mais aquela dos rornancie~• da prin1eira hern.ção, revela um fo:-te impulso
p~óxima dele. para o fechamento, o isolan:e,to aJtho doscoscwnes mentais anstocrá-
Num pequeno livro publicado em 1980. ·cntei descrever c:m alguns ticos.. 1Tudo o que na cultura ~ornurn resiste a es,;e impu'.so (e reage ao
parágrafos os traços, a meu ver principais, da mutação que nos fins do :,mproendimento de a_çuhuraçâo inutilir.er..te condUZJão, há séculos, por
slculo x, e inicio do sé:::ulo X\'I afeta as menta:idades e os costumes eu- certos meios dirigente5) tende por sua "ez a isolar-se., a endurecer-se num
ropeus. Permito-me remeter àquelas página,, assim como a meu l'vro, esforço, talvez numa 1cmada confÜsã de consciência, de uma amplitu-
Já cicado, sobre os rhétonqueurs. ~ Acp1, reterei expressamente 1.1:n ele- de ate então desconhecj:la. Masames do século XV nada foj decid.ido: 1

r.iento que concerne d~ maneira es~cífica a meu propósito: a distância ;'popular" (ca.so se q'.le1ra usar esse 11.l_1etivo) não designa a:nd.t o que
çue o homem então parece tomar para consigo, seu afastamento :lo pró- .;e opõe às •'ciências". á ff!fJru.re; .. refere-St"" ao çue dePt,":lde de um ho-
l"rio coQO, ma desconfiança, até .rua vere:onha dos contatos diretcs, dos rizonte comum a todos - ~ob:c o qual se destacam algumas constru•
espetáculos não preparados, das manipuilaçõe~ a mão nua - tendl!noa çõcs abstrata!i, pr6priac ~ uma. fafina. lt'.inoria de inrdecniak
oontranada sem ce.<.sa~, mas dominante. O uso da voz sofreu nesEe- :ori- Assim, a grande maioria dos textos cuja vocalidade iJJterro~o (: an- ',..
Lex1o o mesmo tipo de atenuação e e.·q:;e Õmes~o ripo de práticas subs- Leri~emetgcncia dc~sa '':::1Jltu.:a po;,ular" dis!..inta. - alh:m.~"fame-n.
titutivas que os modos a mesa ou o dis:-:u-so s:lbre o sexo. t,;ma arte que te desdenhada em ourros ILtga.res ou baj Jlada por S!!u charme c:susado
se base,va nas técnicas do encaixe. da corr.binacão. da colagem. sem - consecutha à fn:.tu1 a social, polínca e idco;ógica dos ano~ 1500.1
o.udado de autentíficação das parte , recua e (.;ede terreno rapickmente '-:ão e '..m acaso se a ' descotcrta" dos :ex tos da Idade l\1éd.:a pelos eru-
a uma arte nova, que ar•r:'.la uma vontade de ~ir.gularizaç.ão. A tea1rali- ditos romântu;:os -.oincidiu :com .aquel.t q11e nzt:r~111 das" po~i.1., popu-
ú ~ gtneralizada da ,·ida públi-:;a :::omeç.a a c,maecer, e o espaço ,e,P-ri- la::es·• ie seu tempo! T).)1 eh medil!'afü,ta, do século \.1X 1ph;a:-em a esse
\•atiza. o~ regi~tros ,emonais, \buais e tareis ~q ue havia ,eculos mal era:n conjunto a:nigo uma -:la;stf:Ci:i•,ao e:-n dementas· populan=~". "~• ur.li-
disso.:;1a"H•1s na apenh:i ..1a , 1Hd d.a maJon:i) distinguem se. se;ia•am- 10,·· ou ''letrados". 1a nréade "ccn~t·!i"... É veidadt qut ainda 11 0
,,c: primeiro entre os lecrados, depo sem 1mta pane, na medida (causa tmc1~ jestt ~eculo \ar.os mi;c, d:.- r essas •·.:umJra.s populares" pro,
ou efeito!) da d1fusAo da e cn1 à poporção QJe e afastam urr.as das nham forrralmente ~bs ln.iicõe~ medit-V:l.lS: o fotc, é j)IO',•ado ror mu-
ootras a • 'anei .. e '4àCllCI " 11v1dadcs ouhurau se dhcrsifi-
c.am. ao me-;mo tempo nas fun~ÕC!. <;LC ela preenchem, nos uJ io5 J • Rcfc·~a a px nido~ de .1111 érero n.:iv o ·o!"'lana .0;1~, 1'); T
,••i O eq,1,alcnt.c ao 111,1lc,, lmrao, a ,,11•1.1dadc dr ~ e csc-~~ 11' T•
to•. do· ccr.tos e du: c.nru;.tks camponesa~ na huropa l' na Arntrica \f as !ando-me cm meu lugar, esforço-me por atn:r os ja~-ti:n para outras d:-
,~s t:T:t .t;,e:ia: uma aparência de ..:ontmm:lade: run::ionnlmcnlc, nai.111 reções. Até 1mdc estender o olhar sem nrrh::ar 1m:;ire\"1Sl\-e1t distorçõc~
vincula o, 1crmus des a\ tnlsas an11log1as. Os univer,o~ semâr.t1co~ em de perspectiva? G. Duby rcttntcmmte limi.1 ·1.a à Euro;.u oo:len1.al a apl -
que e[es respe<tivamenre ~e inscre,.;em são pou~o :=ompar.iveis, e, sobre cação t.lo lermo "Idade Mbli11'"; P Chaun:i esteMf llm aco rara o
o-plan-ucdaeutccnul, na.o poe!cmos<:0nclu.r granâe-:01sa das relaç6es g\ll e o noroe te, sobre m temtóno três ,.ue., mat d que Françn
entre UTD e outro. de hoje, povoado no se.:ulo xrn por uns .40 milhl\es a.le teres humano$,
Tal to resultado dos esforços p:ornetei:os realizados ;,e,os homem mas no 5éculo xv por não mal.5 que uns :!O rn:lhõe.<.9 Goc:re-.·itch faz m-
que M., !SOO. lrí0O tendo aprendido a maremaüzar cJ espaco e o tem• duir a Escandinávia com a L·dind:a deu:aruf.o fronteiras ndec:isas no
po, emende:ram qut inam dommru a natur=za a ~eu proveito~ instala• leste e no soJ. Donde a possibilidade de recorr-:r 4.:oru ;,rud2ncia, qt1an-
ramo~ p:n~i:.Illentm e as instituiçõe-s destinadas é. ~eprimir o~ ·•outros", do s.e imp& confirmar as informações mais dir.:tas> ao argurni.:nto com-
os ''pobres", esces oom modos de -.·ida arcaico:. e com rnentalidaces dc- parativo: por mais externo que ele :;,ermane:a, não nie ::.Jta, em sincro-
Lerminada5 i:or seus medos. Cm no,·o equil1hric ;;e ins:taurava :>or en:re nia, nenhuma verossimilhn.nça.. O qm: aprc11.Coe-mo~ nc-s aintigos bardos
os destroços de um conjunto complexo de pu1s:,e~ e cc cmm~es sem_- escandinavos. os escaldos, não pode ser totalmente ~tra:lho aos costi.:-
cos como a rnarufestação de uma impotência ou dç uma :ecusa. De a11ora m~ reinantes entre o E.lha e o R::r.o ou c111.re o Lo:.re e e Sena. Aquele
e..--n cliante. i:cr 1rês ou quatro sê::ulm. as oposiçôes até então pouco mar- unive~so ig:10ra1ta, ainda que esü~es.se num ,grande C5J:3Ç•:J. a.s diferer-
::adas e -:htuan1es endurereriam e (para rematar) se co:aii::k.riaJI:.. A 01a- ças absolutas: ~o testemunha!> o~ •,:iajam.e:s, ét' Rot-ert -je Oari a r-.tar-
lidade da poesia me:lieval não pode de modo algJm se; entendida corn co Polo. por todo o lado e semp:re ac:-á.s da ';::iaravfü:.a' •. Para eles, pri-
base em r:il situação. sioneiros da imensidão eura.siátíca, nada ba\'ia de co:nparável à
estranheza perfeita daquilo que descobrirarn nossos nBl~ores a par-
tir do seculo xv.
e
O ritmo do ~empo ainda oào uniforme em todo lugar. As datas, No bojo des!.CS Jarg~ limites, o ar oíe:-e:::i.do à r~~o.::i.áncia das vo-
proposrtalne::ite .aproximativas. que Lrago aquJ ~metem a etapas histó- zes mcdic,,ais é homogê11.eo, apesar das dife:em,;as, c:res::e:ites com a dis-
ricas que ult-apa.~saram, com maior ou menor rapidez, os terri:Orios co tância, que se constatam ao regime deles ou a seu ak:ar:ce. )foque eu
antigo Império d.o Ocidt:nle e quaisquer outros alem do Reno, do Da- chamaria ..médio espaço", as se.mel~ças pre1iotni.nam. Qc.mto a mim.
núbio ou do mar. t\.fais a leste, produziu-se um deslocamento c-ro::ioló- tomo aq11i por núcleo ter:itoriaI O que foi. o mipé::ic can-Jfugio, com
gico, entretanto, a natureza e a sucessão das fases do desenvolvimento ~ prolongamento!õ na pe~l.a Iberica1 na Itái:a cem~ e :::nendional, na
permanecem :nais OJ meoos as mesmas: a5sim, ros domínics russos lnglatem. central e su~ 1Alé:n, o, paíse§ celtas. ~:a•,'ll~, nórdicos:,
e5tende-se dos séculos vm e 1x aos arredores do an() 1000 urr.a época os Bálcãs e Bizâncio deser..bam zonas em deµdê :::i~ :iua:s dominam
1
arcaica de pcesias orais de cone; até meados do século xa. sc~ue-~ 1 •m outros fator!s de cultura, ::ada 1;-ei mais po:l~sam-cte 6 ::n,odida qui::
processo de cristiani2ação que acompa.,ha a introducã.o de prátcas es-
criturais; de ! 150 a 1350, compilam-se e elaboram-se os textos que po5-
suimos, alimentados pela lembrança cas antiga.-, .sagas. Mais lc=ige? A
delimitação geográfica do campo de estudo não indi,;;a aenh~ evi-
l
1
nos afastam:>s. É assim que ?e\'arei em coma. ·:orn o ~e :!e trabalhar
em segunda mão, as regiões ib&-11:a;, italianas e .ilernru lqJe chamo, pa-
ra sim;>lificar, de Ocidente), sem me .mpedir alguma.5 rm.::ito t'lreves ex-
cursões para além dellS. Essa postu.--a rcfett-!e mi.pliciu:ne:Jce à unida-
d~ncia. Considere, para começar e por pnndpio, os teritóriús france- de orgânica de uma ccltu."'3. assinalar.do sua :xt..--e.ma divc~idade: sugere
ses e occitâr.i:os. Sem dúvida, conheço-os m:!lhor do que conneçc ou- (sob be::efício de inventário) um dos al\'Cis :cc:. rela:;:ão ao~~ pode-
1
tros. Mas talvez pudéssemos também im·ocar para essa escolha razõe, mos tomar como válida, de um poaco a out::-o da El...~. a idéia de
menos ~~~i~. Há várias questões que coloco, an ~eriil, à poesia me- uma uni'lo-c:rsalidadc ":nedie-.al". Desta, o SltJ:C"'e e a liga.ção não se re-
dic\,a]; o COf'Pl'S francês, por sua antiguidade, ccmplCKidade e amplit:1- duzem (como sugere uma opinião er::-5nea 01.1; falsa) ao uso da língua
de. permite formular respos'.as mais rnatizadéll, pur isso mes;r.o de mais latina e das t:adições escolares q-ac ela ,'Ciculla. A$ oont buiçõcs gcrmã-
longa validade. Pmnanece o fato de que nenh.=.rna 'risâo da .. ldade Mé- nicas e nórdi::a.s (e. numa medida rner.-0r, cél:icas) contti~ um com-
dja" ~ justificivd se não engloba ·,a:.
to~ rincô..:s éo O::idente. Insta- ponente essencial e geral, ind s.:erni~·dmcnce rnistura,Jo 8.() elemento

30 J/
m~d1lcrr51m1 - t'Slc ~m i.:oM'filll~ 1Lmd1ção t'ntre l111i:irt'10 e o Oddl'.'n
te. Huccc--rnc que- a importância pnmord1al do r,apel atribuído à \iOl.
tem muito mais que com o primeiro do que com o último.
\;Cf
Por is o m:iim guci,tôe~ (nntes que as exigências filológicas a5 es-
pe:ifiquem) 111e1ec::m ser colocad!S num nível bastante geral. Assim, té!do
~tudo ~ canções de gesta francesa; ganha. ao situar-se na pen.ped.l- I
va da cpopêia.. O problema colccado para o~ especialbt.as do fra.nci:s
pela JlTCSSUJ)()ita o::alidade delSaS canções diz respeito, às vezes, há muito
O CO.tVTEXT0
tempo ainda, ao~ .germanjsta~. ,mg..lkisias e hispanistas, em seu ::lom1-
oic respectivo; as Questões rclauvas ãs contigüidades e adjacências da
lra1s:n1ssã.o '-''Ocal da epo;::iéia s:à.o, para esses pesquisadores, frequent.e-
meme ma-5 rgentes e co:no que mai, evrdentes, em co11Sequênc:a dos
:ermos partic·1la1e:s nos guai; se define a situação de diglossia nas zo-
:1as culL.1rnis consideradas. Copo a n.;.lureza dos fatos, ainda gue com- 1
parável, nAo é idêntica em todas as partes do Ocidente. puderam emer-
gir de tal busca setorial oertas idéias. que em outro lugar terão ta.Jve,
o oticio inesperado de conector.~ raízes profundas que, aquém de for-
mas manifes·.Gs bltitame diversas, unem aparentemente::> fato epico d~
1
uma a 01.:11::"a parte da Aquitâ:üa (na França do norte; em Castela e em
\
Aragão! não podem deixar de D1Jp;:1r, ao Cid e à Chanson de Guillau-
me, um llúrne:-o elevado e.e ca.~úS comuns, sujeitos aos mesmos prcce-
c.imentos. Além de.c;:sa relação, de:::e-to privilegiada, foi através de todo
e Ocidente gJ~ se conslituit. um discurso épico do qual regimes locai;
r.ermaneceram baseante próximos durante seculos; do Elba ao Guads.l-
qui~ir. .. 011 mais alem, se seguim:.os A. Galmés de Fueates. Os gern:1.-
cristas a.cu..mul;;;.ra·m assim uma i;,om.-a considerá.,.·el de ob,ervaçc-es e re
flexóe~. da, q Ja,is se-ria danoso isola.r 1;1tegralmente as nossas: cor_cernem
sobrcwdo ás modalidades de transmissão e alteração dos tcxto.s; ~s re·
l.:ções entre: a escri:ura e a tr1di,;àc oral, entre o mito.,. lenda. a epo-
l)éia; entre esta e o univen,J <lo c.:,mli..'1. Do Kudnm {a propós.iro de- qual
foi pela ;,rimeira vez, por volta de 193~, formada a hipótese de .1maes-
p-:1.:i 11.:it.l.-ur lmglitstica àa epo;:,éla oral) ao texrn-amálga:rna dcs ."l1óe-
f:.m1<en, pa~sando por uma gesta 1.>orgonhesa do seculo" sobre o medo
l
co rnmancf franc:ê.•- no ;;éculo xn a füta dos. problemas abordadcs se-
ria Jc,nga., Há l!]Ual abe·n.ra Jo lado ,mglo-,a,:õnico. onde os es:udo;
~obre o Hevwu.fj tem gradi.Jalmen•~ ,c1.. rido qua. e lvcto 1l honzo111e da
antiga epl1péia n:ird1ca e de sua tradição

1
,0UISIÇAG UE 1 ·

oJ
íl'_ _ _ Ô ~~ I '1.F.
r

2
O ESPAÇO ORAL

Os ÜJdu:es de oro/idade. Di.zeJ e e::;cuta:. Ames da '!Scrita. A rede


das tradifôes.

Admitir gae um tex:to, num cnomento qualquer de ;ua existência,


tenha sido oral ~ tomar consciên~a de um taro bistônco que não se con-
funde oom a sjcuação de- que subsiste .a marca escrita, e q·1e jamais apa-
recera (□o sentido próprio da !Xpres.são) '"a nossos olbos''. Então, trata-se
para nós de te11r.ar v,er a outra face desse te'(C.O-~pelho, de raspar, ao
menos1- um pol!CO o estanho. Là atrás, além das evidências de nossc, pre-
s.ente e da racionalidade de nllssos rnérodos, M este resíduo: o múltiplo
srm origem nnifi.i:adora nem fim totaJiz.ant~ a "discórdia" de que fala
fl:Iichel Serres e cujo C()nhecimento pe:rtenoe ao ouvido. É aí, e ai so-
menu~, que se sirua para nós a oralidade de r.ossa ••üteratura medie'\"a.l'':
voca!id.ade-restcoo de nossas filologias. ir.dócil a nossos si_o;;tem.as de con-
/ ce-.itu2liza;ão.
/' ,_ Só a evoca_~os como fie,.ira ... De resto, acontece-r..os freqüente-
tel t'
➔ mente :i:c:rceber r..o texto o rumor, ,..;brante 01J confuso, de um disc~m;o
o~ ,que fala da próp~a •·oz que o ca1rega_ Todo texto permanece nisso i"'-
v ~,.. com:;,a1à,·el e eúge uma escu:.a singular: ccr.::iportél seus próprios indi·
ces áJ! oralidade, de nitidez. \'2.r-ável e,. .às \·ezcs, é ,-erdade (mas raramente),
mtla. Lembro aqui, bm'C'DJent~ al__1111.i1S farc,s .ionhecid.os, para recolocar-
nos em pcrspectha.
, Por "ir.d.ice de oralidade" entendo tudo o gue, no interior de um
texto, infonna-11,:is .sobre a int!rver,~ da vez t'lumana em .sua p_ubJka-
ção ,- quer diz~. na mutação pda qual o ~to passou, uma ou ma.is
,-e.zes, ~ um ~:ado ,,irtual à atualidade e cwtiu na a1en;ão e na me-
mória de a:rto mímero de Lndivíduo.s, O fndía: adquire valor de prova
incfücucivet qUB.J1do con.siste numa notuçflo muskal, duplicando oç Iru-

I 3J

l
\CS do tcx10 obre o miinu crII0. Em wdo• o~ oulrO!> ca~o!>, ele marca De fato, nâo s.aber:'.amc" afasrar .;omple1am~me a st.speita de çue uma
111111 probab1l1d de, que o ncdic,.·alista mensura. em aeral,_ pelt bitola mércia de vocabulário te-n.h~ mantido (pira alé111 de uma época primitJ-
de eus preconceito . Os lto:to-s mus1calmcrite notados, mm10 n1mero- va) canção oomo um simples tcnno técnico, o qual ::voca os gêneros que
,o e rep:midLU de manún b.astanLC irregular no curso do temw - do em seguida caíram no domínio d.a e~crítu.ra. Nada, todavia, autoriza a
,&.."'Ulo ao xv -, forrna.m juntos, em comparação a todos os outros,
'.JDJ contt'Xto ,;ignificativo que co11ota fortemente uma ~itoação global,
priori a esvaziar ce seus senlidos esses or commencecf.ans,on, º"d
chan- ,
son ("vocês "'ào escutar uma Cctnc~o'") e fórmula.., atms, freqüente.. em
porque nanifest.a a e:x:isténcia de uma ligação habitual entre a poesia nossas epopéjas e, aliás, não ignoradas ptlos ourro;j gê:ieros que e:-1:plo-
e a voz. '-as compila;ões :citas a partir do fim do ~ o.2:!,II, o ªP-er- ro:llll, por .müação ou ironia, o modelo "épico".
f~amemo das grafias aua:.enta bastante a f~uência desse índice._, Fiz um levantamento ~o.s prólogos e tpíbgos de 32 canções de ges-
Co11Lam~e aos rn·lha~ os textos assim marcado!,; sobretudo os poe-
ta. A pala,Ta can~·ão aparece 47 veles com função au10-referencial; per
mas IJt1Jrg1cos 4.em particular, o setor guare inteiro do drama edesiàsti- 25 vezes. epítetos faudativos qua_c,e publicitário:,; a acompanham: agrc-
,::o) e as canções de trmradores. troi.n•éres" O'J 1'>1irmesarrger. Do mesmo
dável, maravilhosa, gloriosa e, sobre-udo. boa Cünção. Essa última ex-
rnrxlo. u11~ cinqü.c111a d1anso.r;l'/1ers dm séc"Jlo, xni, xn· e x:v, graças aos
pressão poderia provir de uma L':'iDécie de jargão ca~:;iJl-e:resco: .:> com
quais no• chegou f'Ssa p-0~j3 de lmgua fnncesa ou owtãnica, não 0011-
batente tomado pela fadiga cm de..ànirno exo:ta-se a agir de modo que
'.ém menos {incluídas as variantes) que 4350 melodias relativas, cerca não seja cantada mhre elF 11ma canrJo ru:m ... A S5inl !-1: dá por (rê~ ve-
d: rroo c311ções, elas ;;:,róprias comporta:ndo i:11.i.meras variantes textuais.
zes no RoJand; ou na Cli.ronique cie Jordan fantosmc, compoHa por
Em ~1f:ral- arredondadas. eis os d!ados: volta de 1175, em forma, ,::: verdade, do: canção de gesta. i Jais expres-
- n•.imero de poera.s ern questão: trovado:es 450, trouveres duzentos;
sões - não menos que a canção a"e gt?'5ta que aparece aqui e acc!â em
- número de can;füs ro:iservada~: m:v,73dore.- 2:500, trouveres 2 mil:
fi~ do século xn - refe~em-se ao que, e\1dentemente, é ;,ercebidc co-
- c,Jnsen'3.das com melodia: trn,..adores 250, lrouvi!fes 1500.
mo um cor.junto de dísc11T,sos d:!finid~ pda sin,gula.--idade da arte vo-
o~ manus.critc,s alemães são menos generorn,:: parn 150 poetas. pm-
C<1l que o implica. Je~n BDd~I confir.JJa em outro~ terrncs esse ces:emu-
rnímos apenas duzi:nc.as rnelod.ia.s de Mi.rmesiiriger, das quais menos de
nho quando, no prólogo de sua Ciumsori des saisries, distingue na arte
me1ade p;!rtence ao grande ~anto cortê:-."'•
de um recitador o que diz respe1to ao ve...-so e ao dito e e que diz r~peitc
A ambigúidace cor.ieça quando a notação a,:ompanha não o pró-
ao camo - àesdo'..lrame11to fre<;uen:e nos textos alemàe<;. que se refe.
1111l1 Le:>:.tc, mc11, umi.1 L=ildi,.ilu 4ue e friL<1 t:rn .._,u.ru lugar. As,im, o poema rem a !>i pr)prios como ito.rt rmri WL,.- ("palavra e melodia'').;
heróico-cômico A11d1g1er nãc, compor:.a. n.o únko manuscrito que □os
ío1 .ran~roltido por int:!irn, oe:ihurna nota~ão. Em co::mapartida, J ver- Fica-nos uma dtivida - QUt a mn<;'colog:a nãc e~tá "m condição
,o 321, pror:rnnciaco :;,or llma personagem d::, Jeu de Robin et .'Warron Je esclarecer compleramerue, apesar .:ias hipótes~ gue adiantou de5de
o ü11c10 des·e século. Pelo 1111;':Ilos, o De musice; do mcst.:-e francê~ Jt:an
ele Adam de la Hale, ê enc:.mado, sobre dOis manus-:rims, por uma li-
nha c.le n11tas .. cu a ü:terpretac:ào, de re-.sto, l1:-vantou mais problemas de Grouchy escrito por vobi de 1290, parece trazer a prova de c_Je os
usuâi-ios po:liam kcmtificar o gê:iero ~ico çom su~ ,;::,pecificidade vo-
<lo q lle re5olveu. Alem ::.o A;,idigier. temou-~e obter informações a res-
cal: canrus 5estuat,'s.' Quaisou;:r q·1e feja.m os prnblcmas mus1cc-logi-
peito da núsica da~ ca:ições ::ie gesta, géne~o que esse texto p~rodia mas
::iueem nmhum documento e ,i:.1sicalmeme- notado. f\fas frequentemente cos. que crie a interpr:taç.ão rl:-s~t' LcxLo, ao meno5 parece assegurada a
exis1ênaa de um :I;>o de me,nJJa parti<:ular, semelJ:an:e às das cançõeo;
,e assinala a· outro tip'.'I de ~ndice. a usào explícita .ao exercício \OCal
[!Ul'. comt.1u1 a ··publ1cação" do loto no momento em que este •e de-
de ~dnto~. C te~ternunho d:: J:an cc: Groudy I:! co:-robor=.do na mesma
~11,.na a ~, mesmo rn:n-o cr;,riça,"> (: realmcn•e rouco prnvá'l/el qur esse epoca pelo do Pen:renflale Je Thomas ,::it Cabham;- no eniamo, s..:b-
1c1mo 1enha podido retem e a obras ofcrc id j pe-n:u a ktum ~i.,1em dU\·1cas que, P--•r um l,do, relc:rem,i,c a r.atu~za do documcr.~o,
pouco expl1mo. e oe um n u =,,.,.,....... ua e, por tro lado,
•1r,e:a~1J :;:~'11. J.,r.•-:::lafr.in, "'f .,, ~ua data, :Jorque o IC..\IC1 I: p(,stenor a grandL' época das cançocs de
~q,ec,;àc r;I ere •.: ac o.•:'l.11..nt,> dr e~t,11 ~ • 1 u,
( • • 1 /\ l:-51~,"\lh.1 <: o I rafo oo ~e~1a e cont:mporâ!lc-o d,1 :ou t1tu ._.iu Ja~ rmm~1r.::1~ cc:mpilações de
m, 'L!lcian:-t to, d.a. (J'/f ;.. lt'.jL l'- ~ 1 narrativa~ ~picas, ... om, o c.ck_1.k (,u lla1.trne jo mar.~.,crto BJI. fr. 1448...

36 37
Sena bom se o testemunho de tojos o~ no,.;os texto the<.se a cla- "ezes no J-'m ,end1en.u tJc Ulnch von 1 1chtcn tem, 79 vezes no Méhudo,
tcza do da ,,.elha Samre Foy p1:er:a1ca de: meados do ;;.éculo x1 Na cs- de Fro1ssart, tá cm torno de 13 0'
tãfjc1a~ 2 e 3 des~ poema, um elo..:utor, e:qmmindo-se na primeira pc · vcze , o !C'lto ]1ber.11 outro índices de oral dade, mas direto):
soo ("oc&1u10r••,. _...._.~... o de · · fi ......,,,~ q azem tcrt poemas akm e no
ddinir rua natureza: o assunto, tomado de empréstimo à tradição lati- éculo x 11 '1 um acomi,3nhamento in~trumental; mesmo o 111ulo me~.-
na, ma~ muito :onhecido desde A.gen ate _A.aga.o, pro,·em de um texto plicávcl. de •,árias peças Lia "Compilaçio de Cambridge" (por ~·oli.:1 :io
'-1 ue escutei ler po· ;>es. oas in$trmdas; ::, poema que eu ,.:ou lhes ;omud- ano 1000). qu~ podena ,ign r.car " obre a ána de" \foáus l r!Jinc,
car o será numa lmgua fac1lmer.ce mteltgJ\•Cl e num em.o u~ual .m 1erra _\,fodus Flurum e o re:ito.~
=rancesa. E5-e :;,oe:na. por duas \ezes :ha.m.adc• canc~on ("'canção"),
conpor..a um som, ··melodia'') regulado sotre o "primeiro tom'. isto
é, segundo ai i.nterp:-etaçào de Alfaric, em salmodta alternada - o que
-À luz desses te.tlOS se esclarecem aqueles mais munerosos ain.da,
i:arece confümar, pouco depors, o plural de C'~•• canram esta ::..ar.czon em t0do género, que para se designarem no movimento de sua · ·p~ ~Li-
r '...sobre quem cantamos essa canção"). Enfim, o canco é acompanha- ça;ão'' recorrem a algum 1,,erbo de palav;a (em é·rancês, dire. parler, t·o,i-
do de u:na dança, sem dúvida de tip::i processio:n.al. ter), frequentemente com;,letado, do ponto de vista da recepção, por um
- . a mesma época. o canto sobre o,; rniJagr~ de- Crís~o. enccmenda-. 01..ir ou écoure,.)>ierre Gallats, há vinte anos, 1 :al~cl!ldo rais rodeios no
do pelo ::iispo de Bamberg aos clérigos E.z:zo e Willie, expõe em sua pri- repertório de 370 textos franceses dos anos 1150-1250, achava-os nu.ma
meira es:rofe a manelra pela qual colaboraram (um deles compôs o tex- prcporçiic tal que ~ podia i.merprelá-los come um traço ;,erttnente do
:o, e o outro, a melodia) e descreve o p-:>deroso efe'.:ro que a obra exercia éücurso poético dessa época. Fórmulas :lo tipo eu quero drzer, eu a'i,f!o,
sobre quem a escuta,..·a. A clareza de tais tesu:murho~ ;:iermitiu a "'irias eu direi e:, contram-sc, segundo seus cáJcuJos, em 40 07, dos fois, 25 u:o das
pesquisadores extrapolar seus dados e aplica-los a todo o gênern das canções de gesta, 20"c, dos romances e éosfabi'iaux, 1501. das ,<idas dt
" :a1ç&~ de- santos" atestado de fins do século IX :a meados do skuJo santos. 6 o., kva.ntamemos ulteriores, como o de ~Iõlk, confirmam-no.
x • em virias regiões da França e da a:ta AlcmarJ:a - -:oncluslo con- Mc1.éndez Pid.J antigamente realçara uma quinzena de formulas desse
fi rn:ada pelo prólogo que, por volra de: 11:0, acre..so...'"D.COU o rubricador tipo só no Cantar de m10 Crd. No lado alemão, contei várias dezenas
do manuscrito de H:ildsheim à bela Vie de sail'lt AJ'exis normanda (con• n::, Tristan ce Gottfried e no de Eilhart. Em maís de roer.ade desses teJt-
temporãnca de Saime Foy). Redigido em prusa ric..-nada e rim..Ja. c:lc tos. due, sagen, àicere ou sew equi,,-alentcs, scg·indo as línguas., apare-
apresenta, elogiando-a, essa "canção :spirin:al"; pois suas primeiras cem em conelação com owr, Jiõren, audite (ou, como em Gottfricd. \•'ll.
palavras .-eprodLUem a fórmula de abenura mais freqüente das can:;ões 1854--8, com uma alusão aos ouvidos do público!): devia ba.·e-r for:es
é.e gesta: "aqm começa a agradável canção"... E.ist prólogo não fun- razões, tiradas do próprio tato, para atri :mír a esses '\lerbos outro va1o~
ciona, cm rclar-ao ao poema, muito cl.i:ernm:menc.e dos primeiros ver- que não o mais comum.~p~o da dupla dizer-01.r,,ir tem por fun-
s:>s do G:Yil/aume de Dote de Jean Renart pou:o depois de 1200, anun- ção manifesta 1=romovcr (mesmo ficticiamente) o texto ao estanno do
ciando de chofre que, para fixá-los na memória de seus ou,intes, rec1:eou fãlante e dê esJ.!!nar sua munic:ação cerno un:a situação de discurso
sua narrativa com diversas canções do:ada5 de sua rnelodia.L:!..._~ in praesenrtc. ,certos roman.cíer.r, como Chrétien de Troyes no inicio do
nart inau,ni.ra\-a uma técnica que te-.·e sucesso enue os romanciers f:-an- YYain, ou Eilhart von Oôerg por vánas vezes, não opõem em ,..·ão oufr',
ceses e alrun< emàes~ os .c~xt.t,.?w.um.a es~cie de fi u- hól'ffl (peJo 01wido) e el'l.tel'l.dre, vernehmen ou r.iuken (pelo opiri10).
ra em ca5~ta a narrari"a, antes de abrir um treeho lírico indica, a fim As vezes, o texto ate parece empi-egar dizer para significar, por metonj-
e :onfirmar a sutura e é cantada i;:or tª1_personagem; a ~e em- mia ou litotes, "cantar";' no., cinco dos 24 prólogo., de Mõll., r:Ju-r e
pre a termo referindo-se ao :Qróprio canto, ou à melodia somente. • • challler alternam-se ou se adicionam em figw-a de cumulação: .. E!ta
vaes é sublinhada a vocalidade do efeito: cal dama do Guilla:ume de histõria", seannd:> Adenet le Roi, nas E'lfances d•Ogter, ,-cr,o j:2, " ~
Do!e(vv. 309-11) tem a voz "alta, pura e clara'' Quando essas inter,cn• graciosa de dizer e de cantar''. Na~ oito outras canções, direcmp~ ~
çõc musicais se repetem 'llárias dezenas de ,'t'!es, é o caráter vocal da sozinho; o resto~ tem c:hanter. E a fato de estilo o autorizam a
obra intci:11 que~ assim exaltado: 47 vezes no Guniaume de Do/e, 58 concluir pela m1onfmia do, dois termos. Pelo mcr,o im~dern c.le inter~

J J9
pretar din> ~em refrrêricia a um ato vocal, provocando o ouvido. U Meh- d1s ... ( "pess:,as de bem que ,.-erão meu Ji .--o e escLtarão as bela~ pala-
l~r. r('cl'nlemenie, mali~ando a, rubricas dos dramas l11ürg1cos, mostra- vras"). Entremi::ntes, tornou-)e a formufa inicial das cartas fr.;.:icesa.,
• a o amb111uidadt: de d,urc e c-antare, mni~ ou menos intcrcambià,·c1~, o "Aqueles ➔ uc verão e ou~·irão .:•. Au,·1mJ ltro vil urre fm? r~e., l'ers
à fah:t dC' uma deliniçlo prei:is.a do "caruo''. Nenhuma dú,·ida de cue ("Qualquer um lerá ou escutará ~er e,tes ver)os "), ~::gundo Reclus .cJe
~e d;iva o nt::\mO nas llnguw. vulgare'>. J\.tollkns no me10 do século xrn, ~coando William of fllalmc bury. auf
Uma ti ura deJ::Yf1.2.lltio n:ais ou menos estereotipada, tão frequente ipsi legere aut legences po.s.silís aJ4dire (' •.•.que possam ler ,·ocês mesmm,
nô latim como nas lmguas vu1gares, atesta entre todo5 esses termos a ou escutar aque.es qu::- leem"). 11 Quaisguer que ~jam o conteüdo e a
atenuação do~ con'.orno~ ~emânticos. Ela r~este forma; diversas, recu- fun;ào do te.no, somos assim, ele todo o .ado e de toda a maneira, re-
uv~ a..u.ma. :>u Q.UTa das dua5 ~éries, sêjaãcumulati\1l, seja a alrerr.a- metidos à modalidade vocal-aud:Liva de sua comu:iicação. Crosby real-
üva. dizer e/ou escrever, ouvir e/ou ler A forma alternati'>'a. que parece ça as ocorrências desse topos na lnglate:-ra até o tempo de Lydgate;
predormmn nos textos eclesiãsticos da época mais dtstante refere->e, Scbolz o indicava na Aleman.f:a até o século xv. E'Iil todas as línguas,
distinguindo-os, aos dois modos possíveis de recepção; o autor preten- os termos que remetem à, noçõe.s, ;,ara nós distintas, de ' ler", "àiz.er"
J..: d:~i 5nar por esse meio a un:.versalidarle do público a que visa. As- e ''cauar" comfüuiram assim, por geracõc:s, um ::ampo lexical move-
sim. e:n Beda, Historia ecclesrastica, por várias vezes: reil.giosus a:: pi'.JS diço, cujo unice rraço comum pemianei::teera a deno1.a;àt1 de urna ora-
audiror s1ve lector... ("o ouvinte ou leitor piedoso e virtuoso":,. 8 lidade; A.sser o: Sherhorne, em suas Gesta Alfredi, por volta de 900,
To:nou-se, parece, um lugar-efll11urn do discuro poetice uJterior: subsumia toda!; as nuance.~ nc verbo reci:cre. 12
Exístem outros tantos apelos aos valores \rocais, que emao.am da
Pour /e:; amaurew esjair
própria textunl <lo disc~1rso poét.i=o. As vezes indfoe$ e;>1tcrnos 08 confír
qui les rorront !ire <Ju oj}r
mam, ,extratos de docu:nentos anedóticos, reJaciortando-se a um ou vá-
r ' Para a1egru os namorados -1ue o quererão ler ou ou-.·ir"), 9
escreve rios ~exios e evocando-os em tem:.oi tais q·.ie o cará1C3' ~◊cal de sua "pu-
o autor do romance do Chastelaín de Couci no fim do século :xm, en- blicação" se destaca. atarei como exemplo, ilustre pe]a diver5idade dos
qnan:o Hugo voo 1rm berg, s!U contemparâneo, dinge--se a quem que- juJgç.mentos que suscitou, a arot.:ca C/rrmson du rol Clv:haire (rnaê. fn::•
rerá iestn oder horm lesen ("ler ou escutar ler") seu Ren.ner. Por ~•olla qüenterneme dita de saini Faron), obtida e□ meados d.o 3eculo r.,: ;ior
de 1465 ain ;:ia, o au~trfoco Michel Bchcirn, cm outros termos, aprcienta Hildcgaln: de M,;.iLJ.)(, mi Vita .saACfi Farot1is, nós a WtlSÍde.raremm ai-
sua crónica ::.omc p~ópria a doi. usos: poée-se es iesen ais amem spruch temativament.e o registro de urna cant1k:ia popula!', uma notação ulte-
ocier- sl11gen e.Is ain líu ("lê-la como d iscuro ou cancá-!a como can- rior aproximaiiva, um pasrlche trn ialim macarrônic:> ou uma imitação
ção' ').'º R. Crosby cita vários exemplos ingJes;es dos seculos x:rv e X\. de Hildegairel Este, antes de citar os quatro primeiros -.crsos e os qua-
1:.m comptmaçâ.o, a f6nnma cumulativa parece pro~·ocar umpw- tro uhimos, designa-a co.n:o "um canto púbJico à moda camponesa''
blema, porque li~a ;,ercepções aparememente (para nós, diferentes. De (ou ''em linguagem camponesa"]) ,do :iua1 s::: cantavam as paiavras en-
fato, audire er legere pode ser c11tendido como referêocia redundante a quanto as mulheres dança~•am haie::idc as mãos (carmen pubf1cum JUX·
u:n a '.o de audição. A variante, largamente testemunhada., audire et vi- ta rusticitatem per ommum paene vo/itabat ora ita canentium, feminae-
dere. voir r:t écouter, horen unti sehen parece acusar a oposição dcs re- que choros inde plaudendo compomhanl). Dois dos cinco manuscritos
gistros sen.~or,ais; m. realidade, ela só fu remeterá dupla existência d::- dão ,,ersõe.s mais breves e ligeiranm::.:e difc.:rentes; em todo o lugar, :ido
toda escrita= \'emos os grafismos, mas escutamos sua mensagem, pro- rnencs, tralava-se de um carmerl 01.1 de urna cantilena.JJ A J:tis1ória d.a
m:.nciada por algum especiaJis:a ... daqueles que, segundo o Poememo- Idade- Média européia é semeada Je docun:entos dessa esi:écie. A crô-
raJ (em -orno de 1200). en lhre \.Oient et l'escruure entendent ("di~tin- 11ica do espanhol Lucas de Tuy, 110 século xm, reprodu~ crês versos de
guem o que ha no :iwo e entendem a escritura"). enqua"lto os leigo~ uma canção pcpular cascelhana crue ·eria cirwlado a respeito de A..man
pou severu et en l,vre ne vo1en1 t"são ignorantes e não sabem disungw- .rnr. o herói andaJuz, por volta do .;.no 1000; um manu~crito histórico
c que está escrito nim1 lwro'') lrês Quanoi de sé,,,."1.llo ma.is tarde. ;>ara inglês, descrito por Ker em !957, cita o~ •riatro pnmeiros ve.rs.:is ele ama
e alllor do r:)otar,ce de Pulamtde as du ptteeP\,,"Õe$ p,errnancocm a.m- canção 4 ue teria compoHo para ,eus e;ucrreiéos o rei dinl:lfllarquê:i Knut.
eia • ' • Jj bon (/UJ o em 1035 Uma crômnt lrim que conta a história de '1'tt!'l"iso. no

40 4J
'lm do sécub x1r, cc~ser1ou-no, quatro ,er~os em ilia1eto local de uma g1 , ou cm sua. zona de anflu!noa ue e
cao\ãc ~pica, iuipw~isada apos uma vító:1a ocorr·da em 11%. 11 B j
A ''anelota ". cem r.iais freqJêr,oa, re:11cte glcbalrneme a um con-
j tu óâlguns rão conlTcetdo . Donde a LnCrrteza, formado a modelos poét1oos mais anti o , ao guai oabe empre•tr
mas tarnbem a im?ortãncia (para a hb'.6:ia geral), da tPOfü.. Ass m se 5ua plena efaác1a Es;Sas ligações estreitas e com pi~. n!o sem equívo-
:lá com um :exco •amo~o da Trarislatzo de,. Wulfram, que foi e~crita cos, vinculam mat~ ou menos direcarnente à~ "canções de ;anto'' as car-
:,m um monge c!e Fontcnclle e írdkr:, emre os m1ls.~res de~• 'ler61, ~õe~ Jc ge:,1a ....1..i!~a~; ao canto ecles1a~uco a poesia dos cravadores e
a cura em 1053 de cerio Thibaut, .:úne~o de Vernon: Hic qu1ppe e5t i'le de seus. untadores: à horrulética o que se tonará .. tc~ro''; ao d:scurso
Tebaldus ..• f''Aque.e mesmo, be:n conhecido. que adartcu, con. ~loqüên- pastora., por 1mermedío dos exempla, varios gênero~ n::.rrativos...
da, do latim ,cm Engua \'Ulgar, r: hlstória de numeros:>s sa,tos, entre
os quais s. WandriHc, e lhes com;::iôs belas canções en, m:mo3 v·bra.1-
tes.'')1' Esse texto foi freqüentemente reexaminado, depoi5 qoe Gastcn Quando o i!!_dice de oralidade depende de_algum cuáter próprio
Pa..;s o .nterpretou como uma alu~ã" ao autor do Sa.inr Ale.xis, :se nao ée um texto, colo:am-se delicados problemas de imerp:-e1a_çâo. Qua.r.do
a e<ise poema 'Tlesmo. De fato, a Truns(auo é apenas um testemi.1nho pa:- s:: funda sobre documento~ exteriores ao texto, s .i~gem problemas de~
ticu!armen:e :,wlicito ~ os (}1.Lc a~esL::un a função ,.-ocal w "r.:anções constituição. O ir.tento difere: ~terpretaç.ão opera sobx o particu !ai;;
de sarno(''. De mane.ramais sucinta. ma.'! em ,ermos semelhances, o autcr a recon!ttituição, com mais freqüência _ sobre tendênC:o-, gerais ou cs·
da Vito co bup., Altmann, por volta d~ ll30, evoca o dc:rigo Ezzo con:- ~uemas abstratos Assim se dá nas pesquisas :ia tradição manuscrita de
pondo -err alemão sua Can1ilena de m1Tacu/is Chrísri. 11 .lJl1 texto. que concluem pela influência de urna trans:1w~àu oral, no mo-
Um documento de pe-5o (mas wn pouco equív.>co) que . lfaric ver- n:emo em que as variantes de uma cópia a outra atingem ~erta ampJtu-
tia no dcss é da Chanson de sainte Foy confuma a existência e as rno- d~. Para aqueles me~mos que refutam a idéia de uma exislência oral da
• dalidades desta poesia mwt() auliga: o Liber m1ract11onJm sanctae Fi- Chanson de Roland os manus.critos - uma dezena - c·.1e nos foram
dis, relatório final de urna pesq_ui.sa, realizada a partir de 1010 por conservadas atest3.JII a ex1stcncia de ao menc>1i duas tradições: pode-~e
Bernard d'Angcrs, ~obre- a 'laleraçlo popuJar de que e-a ObJe::> a santa admitir entre elas uma margem de manobra pro;:,:cia às iniciativas dos
cria."lça foy d'Agen - ol:ra crítica, desejosa de reabiliu.r as tradições re:itadores. isto é, ao desdo~ramcnto da sua arte ,oca . Aqui, mab que
do vulgar, 11~sanco-as .,J~lo cr:\'O de seus argi.menta. Pois Bernard in- de índice, falarei de presunção de oralidade.
d:ca q11e. ern v:rtude de um "antigo'· costume !evidentemente condená- - ~ princípio, essa presunção devena funcicnu em proveito da qua<e
vel a seus olbcc;), os pe·~cinos que ass:stiam aos o:foios da noite, por totalidade dos textos de língua românica cuja composição foi anterior
ocasião ca ,igHia dos santo!i r.a igreja de Conc;~cs, acompw A ~am :om a:l século xm. Mas sá possuunos um número lrruório de textos :><>éti-
suas "cantilenas nistias'· a salmódia dos monges. Certo ano, o a~l!.de, cos nas cóp.as executadas antes de 1200: cm occictnico, es:ribas do ~é-
exa5pera.do, fez. fechar a igre_ a a cbavc na noite da Sak:e Foy. Por mila- clllo xu nos consci;uíram a Sainte Foy, o poema sob~e Boecio e alg-.lOS
gre, as ponas abriram-se por !!Í mesmas à multidão - prova, conclu.iu versos de uso litürgico, do s~ulo xn, dois ou três te.~to-. escolares: de;-
Bemard, de que Deus, em. sua IllL'iericórdil.. ~ as c:a:i;-õe,, mesmo que po.s, mais cada at~ os arredores de 1250; em fra.ncê~ , a :ora a E1.1lt1lie
stjam em líng-Ja popu]ar; aceitemo-la então: Í'1'10Cf!l! ccntileno, licer do século rx, o mani;scrito de Hildesheim do A1'exis, n rie Oxfo·d do
'74Stica, u;/.erorj_potesr ("podemos coler.r uma canção inocente• .nr:-smo Ro!and, talvez o texto mais antigo do Saint Brandam, todos os três do
~e é nisrica")? O que en:endemos pela ·'rusticidade" desses camos? ~é:'JlO XII, permanecem quase os únicos; nem o it~iano nem as línguJ.i
A língua vu!gar? Ou algnma melodia de c::mita popclar? Ou. ainda, ib~ricas são mais bffil contemplados. Em com,cn~ar_ão, o es enclal da
algum modo partk..ilar de éeclamação? Tudo i5so, sem dúvida: as "can- pccsia anglo-saxônica arcai~, com trinta textos muito diversos, no foi
çiks de ~to" ""h~i,tentet ~rei;mw.riom a r-c:Q.pcraç&::, dCSSCli :.raços conservado em qua~ro manuscritos, todos do século x; mas, para l...'11
pela Igreja, dentro da YLSta ação dra.ffiát:ca qLC era sua ütwg,a. do estabelecimento do reaime nonna.ndo, abre-~ um vazio documcnt 1
A an1igúidade de ~eu! dO..."\L"Ilentos, unto ç1.anto rua hoTiogcnei- (ornplcto: nenhum manuscrit:, da poesia ingl~ antes <le 1300. Toi
cude. confere-lies pe--o his!órico considerável, pois era no •cio êa litur- vio5 cronoló&icm ~i'io um problema. Assim, a i:an o , de Jauírc Ru-

4)
dei (tom,J c•sc c:1;cmplo ,10 !IC'lbO) pmk rC"mon1:u. por razõ.ts ~\ternas. G. Killmlgl' da ,elita cornp1 façAo de C'hiJJ· uma de!ena (ou S(ja, 3.5%)
a meado, do •t4culo .XII, rnlvez .ao redor de 1145: ma, da quinzena dl" "C □ onta aL,:r. me,mo~ ~écuJ0,,. Quanta.s outrai, são :usi.r- tão ou rnat.s an-
manuscrilo, que n(ls con ervaram a~ \l!rsõe~. <1' ,..ezes l,astante dileren-
tigas sem que o ">aibamos? O que foi feitc, por longas ge·ações. :ah,c2.,
te!t umas da~ outras, nenhum~ !.eguramenle amerior .a 1250. e a maio- d~sas "rima.!- n.rais" de que fa.am com desprezo os rheto,.iqueurs do
i.
ria remonta ao fim do culo XIJI ou x,v. R. T. Pid:em, a quem de\e- l:-:u.lo X\. ou das canções de oficio alemã! que à rni;sma época nota
mos a melhor cd1çjo d e lrO\-ador, expõe com muiLos pormenores que o copista do Kónigsteiner L1edtrb1.tch? 18
o estudo de tal obra implica da parle do leitor uma ficção h1s1órica, re- A hipótese expJicafr,,a articula-se mais facilmente entre dois 1~os
conhecida ou não. Pela impotência, eu acre~centaria, de- :onreitualizar ::-1Jestados tCJ1tuais afastado:; na tluação, ma~ enue os c;uais se mani-
a história própria da ,1oz humana.L:!_compilaç.ão de rnáxima.i e venos ~~ festa uma semelhança que é pardaJ e, ao me;;mo tempo, ba.c:ta:ite forte .
.sapienciais compmtos na baixa Ané.igüidad,e que circuJou duraate 5écu- 1 lXft~ - É as.:.im que, com base nas epopéias franro-jtaJianas do fim do iéculo
[Ôssob o titulo Dislicha Coronis, cop,lada, traduzida. adaptada em to- ~ xm, muitos ir.aliarusc.as, seguindo E. Lé,~. ai±nitirarn uma tradição oral,
das as língua;, terminou por não ser mai& do que çoastelação rnoved.t- \'Ilida d.a Fran;:a na esteira dos; cru..-ados, an:es da im;:-,onação cos pri-
ça, à qual a :>ra.lidade da\ra o duianusmo. Sabemos que a anrendiarn :n. e:iros manuscritos; a essa tradição se ligariam os c,arwzr; h::::óicos dos
de cor nas escolas.,. -
ca::iradores tos:anos dos séculos xr..- e X"·-~s cio _9!1~tem._átii._-..is, .i.s se-
De todot o. modos, as tradições manuscritas são assim perturba- 01elh.anças mais convinocrues são ;perceptí•':!is graças a ;)CI'tli.S imposi.;ões
c.os, e quase scmpire as cert.cas que delas se espe:ra,ra. são apenas fracas formais ou a tiques de composição, até de vocabulark1; poii, a etnolo-
possibilidades. Donde, em casos extremos, o recurso a rup,óte:ies de ma- ~st.a,"""estao Justamente aí o~ elementos mais está,cis .nas tradí-
nus,..,Hos perdi dos - outro mito, taJvez? Certos fatos, ê ,rerdade, são ;ôe.1 ora.is - o que depende do funcionamento da memória vocal (cor-
per.:urbadore~. Todos os textos em 1,ersos que, em fran:ês e alemão, nos p;:oral e emotiw) we as mantém. Foi por ai que se pôde demarcar, na
transmitiram l "legenda" de Tristão são fragmentários, 01.1 muito cur- p,3es:ia lírica corrês na França e na AJemanha, a pre~ença latente de
tos e episódicos, ou então apresentam uma tradição manuscrita dema- uma poesia diÍl"r~nre, talvez de orjgi."m mu:to mais antiga, ma.; da qual
siado confusa para gue seja poss1vel ver claramente as reJ.ações que os al.e,"'101.5 exemplos só serão compilados por escrico na época modem.a, após
·.mem. É verdade, cerno escrevia G. F. Fo!ena, que o "acaso" g:i.e _pre~i- Clll.CO, seis ou oiro séculos de existência apenas ::irai. Mais diset:tiw;l:nente,
de à conservaçãc clm textos e geralmente só um aspe1:w de uma ·•neces- foraa:. a firmeu :: a perfeição formal das canções de Guilherme íX ou
sidade" maior... da qual o.ão podem sozinhas dar coma a prática da de Heinrich von Veldeke que levaram os medievalistas a supor pa.:s o
escritura, suas impl:cações e suas falhas. modelo poéticc- cortês antecedentes mantidos, talvez, por m·,1i.o '..crnpo
A situação crítica não é muito diferente quando, da e.mtênc:ia de sob um ,c-gime d: pura oralidade.
formas moderna; observadas em contexto de oralidade. infere-se a pos- Em todos ,,s raciocínios dess:1 oatweza, fundados na constatação
sibilidade, senio a probabilidade, de uma tradição longa, mai~ ou me- :k tu:.1.a rupcur, de continuidade 1e:xtual, o argumemo só pode re~ por
nos independe:1t.e dos textos escritos. Assim, as Cfntece bdtrinesti com- obje~o um conj·Jnto. Aliás, a idéia d.: pré-hL">iória que a hipót:!Se impli-
piladas na Romênia moderna atestariam a antJg~idaàe das ;anções ca te:n sentido ap:::na.s global. O que denorrunariamos a ··::,ré-lú.stó!la"
heróicas de,;;sa parte dos Bákãs e a longa duração de sua !X:istência pu- d-::- Roi't:md de Oxford abrange - em 1.rinude da própria oaturem dos
ramente oral. A.sr;im., ainda, o estudo de C. Lafone sobre as canções :aroi considerados - todos os elementos e.e ·.im vasto ciclo r_o q·1al se
de Quebec em :orrna de laisses" conclwu por notasel permanên:::a des- ::Lss::ih·e a 1dentdade dos textos sub53stemes ...\ hipótese é ini.·e:1ficável,
se tipo ríanico e narrativo, à margem das tradições escritas. Poi1 o e,;a- ja :::-t.:!e" as vozes passadas se calar.iro; o que ·unda sua validade é sua
r.,~ temático e ·exrnal permke fazer remontar aos sé::ulo5 x111. x,,,. e x\ fo.:uaclidade. sua -apacidade de capear o particular no meio dC1 §'l:ral
cato:-ze da~ 35~ nm;ões rcg1srradas, proporção traca, ma1 não ms1gm- ProbabiJJdades de ordem diversa a sustema,i,, com um.:1 lorç.:1. pesuast-
fican1e; compará",.el aquela que fornca-u o estudo ::rlttco e i:omparati- •,·a muito de5igual. Resultam as \·ezes da de-~coberta deu□ refugo cex-
vu diis trez.entas balada~ inglesas e escocesas tirada5 po1 H Sarnem e tual ..5-0lado, atra,es do qual se pensa decifrar os traço.< de .1na ,itLLa-
cm Que l doer;, confiado · e.=,uu:a.:uu.="' das uansm ;
' A ,e~ uen.la ;iartadli da (;JUlçàO dr iCSl• ( T'
Como no ''frag.rr:ento de HaJa". pc,r volta do ano lúOO, com n:J::i.ção

45
à tecta ti e C1•UJ·11aume: ~·ersao
-
em pro'ia ck Ul'i poema la.ttno, re,ultad,J ti çõ,) de cani;~ de gesta c,>nmvad.1, no 1.1>nJunto, cm regime \OCBI puro,
ta-,-ez de, im e:xerc1.;10
··
c~colar arc,1i rn. ~ras es~e poema latino, ele pro- é provnda _por algumas .i.Ju õcs que r11 o taz. uma Chro,uca ôorh,ir11m
pro, 0 que era? ~daptava uma epopéia de ling1.:.a vulgar muito an 1iga, do éculo xn e, sobretudo. pelo conjunto j,Je citações, rtSumo e rcíe-
pr.dece5 sora-do {'" .,... s:. _ _ , 'i)f mannscrilu) ôv ,e-..im Xlt Uu, rtn as que omecem i Cfõnfctl erlfl :m
iluda, como na "Nota emili.anense-", que mnont.a mais ou :nenos a 1060 d:: A onso x e, depoh, sua segunda r~a lo, 1 44. Rrcorutilwu- e hi-
<l~cob-cTta L ·
au cnormente numa mar!lem de um manuscrito de Saa l\fil-► p:)'.eticamente u:na deisas canções, os !rifantes dt Lcro. Duas oul!as,
laa de la Cogona, na Rioja espanhola., curto relato no qual s~ concorda cm1/Jagradas ao ·ei godo Rodrigo ~ a Rrrnardc dei Carpia, in5;,iraram
m •e:-- 0 tt:!iumo de uma Chamon de Rofand primuiva. O '>é;u]o x c1os. cm seguida todo um ciclo de romances. Por !'lua vez, esses poem~. que
le~11 U..'ll Pc•ec1a latino sobre o h;:roi Waltharius, composto na abadia. foram progressivamente compilado; no Roman.:ero pelo, amadores dos
de ~kt Gafü:n, acerca do qual se ;,ode adm.i:ir que imite 01J. pa,;Licbe semlos xv1 e xvn, mas c:.ija e,cütência é claramenre confirmaéa no sé-
ca•ç~e~ épica.~ ~ue não f~r-~m e.scr:t_as 11a Al~ma1L1.a ner!d•Qna.L. culo xv, constituíram co:no que u:na segunda anca épica, cujas tradi-
f----...!_ll1J. do ~~ulo XIX, a necesndade de mlt'TQ;!W- s1tua(,Ões tão ção oral e fertilidade se rnar:th-eram em todo o mundc hispânico até
eq-.i..,o~prõchwu ~a França a teoria <la.~ "cantile11as" , 9._u~Joi~- o !éculo xix, em algn:nas regicies ate nosso~ dias.
IP'? ?'aQJ pela das rllf'.SÓdias hornérkas e à qual Gaston Paris Jicrou seu no- Aqui, recor~eríamos tarnbé:n aos ramo~ franceses e germânicos do
me: 0 !e:cto tran3miLido pelo coni~r;l era consicleudo a resul;ntc de uma ~-rart, tal como aparecem ao redor de U70-L:200 em nosso hori.:onte,
ph.rahdade
• _
de "Oernas .,.
=-..:.:
_ transous:sao
-.urros, .,;om . • puramente- oral- ,,Essa p:);S não há dú,,ida de que formas orais os pre::ederam. O va.tlo do:u-
tt'OJ8!111fl · d - -- •
i\ ~ : uenélou uradoo~ente não s::ó muitru; p.e~uisn1i ,obre a. ldad.l: mcntal ::.e µrccnclle a:s~im, po~ro a pouco, coe um <.:0nc:erto de vozet
!Elia, mas também (por intermédio de C. M. Bowra7J ostrabaltos de perdidas. São às vezes as fürna5 de u:n folclore moderno que cumprem
cer;;:)s etnóJo~os até hnje. Em pan:icular, a idéia da anrcrioLitlHt.lc " na- o Fapcl revc:ladcr: entre o jogo das mari::metcs ,icilianas (pupp1) tal =o-
lura.''. da "balada" em relação a "epopéia" nào se fundament.a en na- n:.c• são conhecidas desde o século xm1, os Realis di F"íl.ncia de Andrea
da ::obdo. A 'listória do .Romancero ibéi ku forneceu suficientes argu- da Barberino no se-cu.lo xw e as canções de ijc~ta frao,:o-veneziana1, do
mer:t?.s para. arruiná-la. S. G. Anmstead colocotl recentemente as coisa~ sérulo XIII, quaü trad:iç~ vocús gacar.tira.--n .i. continuidade? E er1tre
em ' 1ª• Thnto 3 reflcxão ]1istúrica quanto as nossat.nmuisa,; mais ce.- canções de gesta ou romance~ franceses do século XIJ e os ciclos herói-
cenes nos co h - , ..
= ] ~ ..,... nvencem OJe de que, ate prova em contrario, o :omplcxo cos ,;eiculados no Brasil Dela literatura de conkl, durante o longo cami-
.: ~n.ssi_:mo.ma..is.proviÍ1rêl.do-que ú.5JJUplCS,,~no..émui.tissimo me- nho em que- a única ~ada foi alguma comp:lar;ão do século xv?
nos Jrovavel do.Jl!!.e o diverso.
ar isso, talvez, às ',ezes se d!sprende de suposjç-õt.s acumuladas
u1aua força pcrsu;,.siva capaz de assegurar a unanimidade da coinião. ~ um ponto de vista mtJ<Xlológico, e-ssa rocura das :irovas, a lmsca
Ex,n~fo:s P~'megiados: a pré-história das sagas islai.m::l~as e a pcies:a dm lndices, as suposições perman~ d~em instnmemaJ. ~o me-
escáíil:i:-a antiga (os eddas), assim como, na outra extremidade do Oci- lhor do~ casos, levam a construir - com mais f.--eqüênda, a esboçar em
:enl-. as ~ções de. gesta espanholas~s sagas, inspiradas por cliver- pontilhado - o simulacro C(' um objeco. Tal é sua utilidade· uma vez
os .-:omecJ.mentos ligados à colonização da [.dândia emre 930 e 1030 atingido esse fim. não importam m:i is. rnforrna.dos pelo ~imulacro. rtn-
forar:i 'lo-tidas · , ,:, •
por escrito no ~eclllo Xl!.!.:Jcm qualquer forma oral que tamos captar o objeto. Õ simujgçm,.é aqui 11roa ''tcadiçiio ocal' '; o. ab:.
fos:sc::(:ah·ez dos poemas genealógicos), tinhi:ttn então duzen.tos ou tre- jeto que s.e__çsqui1,:a, a ação da voz n;;i pal.avn e no tem:;ioJ.O que 11m
z~nto anos de idad~. Quanto aos eddos, chegaram-nos sob fo:-ma de su~rem os textos assim auscuJta.dos ~ãé"ãsdnneruõe;_de um uni•letso
~•CS (centenas}, na Arte poirira do letrado Snorri Srurluson ao re- vocal: o espaço p:óprio dessa poesia, em sua existência real, aqui~ a~o-
dor e 1220. O próprio uso qae ele ftz e o parentesco de sua ~e com ra. O que também nos sugerem vár:os dentre d :-s é a estz.bilidade des~e
a poeia ~terativa anglo-i;a.xõnica, a~sim ::omo (cm pam~) ~cu comeú.- U:Jtivcno, a estabilidade c;ue a voz assegurou. c.:n :ia longa. durnçlio6 à
!°é;•rrrutcm remon1ar ao século x a tradição oral. Da Espanha, afora oli:a,emsimesm~az. O1ecuo raz aparecer a no o olho uma
~ COnll')(l5to no ~éculo xu, e o Fe1nán Gonidlez, no século )(J 1, 11e- rede coesa de tradições pcéti;a~ otdis que ahran8cm todo o 0.:identc;
nhu1111rorm.a tr,ico antigo nos chegou. Todavia, a e.~~têncfa Jenma ira- e o estudo comparado de certos tcrnes narra1ivo e lormns (veja-, o

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1
modelo 11tmico do zeJef) rl"'-·rla no•a~·cl conl 1111iLlaJc t rme css:'I rrde t r
a prc,umir uma ou vãri~ ·radi1·õ~, orais que, llav:.:t muito. e~t::i,·arn ex-
fH qu~ rccol>R'm o~· >mun10 da Eurásia :-J,, l'.:ir,itu lo pro:cedcnte, .tlui.1
·,nut1 ~ cujoç pré.rno-. t'feitm hisró:-icm torr..am•,t di fke,s dt> desemba-
.iu prmcuv que mtl.lícvafü11 pClde 1ir.ir de um CUJI:C' :ompara~,vo do
:.lçar. por causa da rela~iva raridade da.'> fontl!S latint1s disponiveis para
fato épico alrawês; de toda. a Europa na épo.:a mah distante - §imples
a a;ra lda:i~ Média e da i:lexisi~ncia de rlocumenll'~ em língua "uliar.
exemplo. 1 l nao e JIOde dis,oc1ar compleramente do canto 'leró1co
Esse s:lên:io se aplica, em :;>arú. por uma c:rnsur.a eclesiástica. Dai a
a "babda" que em terra anplo-suôaíca e germânica foi. ainda.~11-
im;:,,;;,rtlnci.t qu..: Lemoi:: o ::lirei:o de atiil:tuir ...os vazam entos dc.- i.:i for-
temente, obje10 de e~tudo!> imponante~. 19 VaJiedadc de epopéia curt.a,
m~~ que de tempos em temp0s se produziam, ern virtude da conde-
:oostituindo uma ane vo:;aJ .autó[loma. a t, adã,""ltsseminada por to- nação. Faz Lm1po, foi levantado scu rn,;cotário: do séeulo v ao x se de-
do o mundo g~rmâni..:o até os séculos X\'ID ou XJX. btrn coniõiiãmaior
5enh a uma oinga. séne dE declara~ões oficiais que reprovam ou :m~dem
pane- da Romãnia me.diel"al, :ião foi c~-temun!:!_::ida, parece, nos texto!. o uso de canzlca dtabofir:a, /uxuriQSa. amaJuna, olm.-rMnu, lurpia, de ca11-
ri!_ antiia Fran~. Mas talvez s.u.,pl~ mente não ter.ha sido identificada
1ationes sive sa1tano,r.es. de c.anu!enaerusticorum ou, segundo uma da5
De mí□ha [)arte. nãu he;,;ito em considerar baladas a]gm:nas de .no.sa;
capltul!lres caro1ngias, dessa~ misteriosas wirriltodo!' ('·canções de ::imi-
chansor.J de toile,'" como a B~re Aiglentine, cuja hls:ória tcxtua. tentei io" ou "de trabalho") caras às frcira.i. das cerras alemãs. Regulamenta-
no passado recor.slituir, através da.s mu~açôes de\".idas a intervenções dos ções regias, mterdições coo.ciliares come as d~ Chfilons em 569 e 664,
cantores; iC não certa "canção popular" como o Roi Renaud, cujo tex- de Roma em 853, con~dhos epi.s:olares como os de Alcuí110 ao bispo
[o franc& e.parece em terra ga:ulesa no ~~cuJu A v., mas cujas versões fo- de Lbdisfar:ie ou aos :nonges de, Ja.rrow testern.ua.ham seu vigor e sua
ram a.ssinaJadas na Escandiná...:ia, na Escócfa., na Armórica, donde se universalidade aa práti::a ?0pu'.ar. O que os Jllantenedores da ordem re-
pode supor que pe:net~ou em t.ecritório frances! 20 Obras como as de 3u- jeitam ::mti.:> e, a m1.s oilios, um.a reminisc~ncia pagã.; cabe a nó!> dedu-
chan oLJ Met1.ger em ]972, de And.ers e:n 1974, forn~cem material e pen- zir a existência de tadiçõ~s longas. Sem muitas ptO\'ãS, supõs-&e que
pec1r\la5 de rnterpretação, desigualmente assimí1ávels peio :ornanista, :nas certas peças de compilação latina dos Carmmc Cantabrigensia, elo sé-
ap[os a acarretar uma sadia rel1isâo d:; posições: aparentemente adqllir[- culo x. retletiriam algi.:.ma coisa dessa poesia arcaica.
,das. Um ,colóquio realizado em Odense, na Dinamarca, em J97i, lar.- Ji:J'ada e menos certo: algumil!.S frases de~dmhosas :said.a5 da boca
,çou sobre o caráter europeu da balada uma luz que. na realidade, era ,r:e -~dote; ou rfa reale7.a indica.,-n-nm lllll buraco negro do qual se
desigualmente ?odcro~a, mas ::-evelava cm sua sombra a 'TI.arca de múl- erguem 01:tras vozes ioaudvds, r.ias inumerá-reis, l.lill clarão súbito de
tiplas e muitas anligE.., tradições orais emrecm,.adas, Lma tentativa de t,::>da& as par:t.-s, que l ogo será reprim,jdo ou con-risca.do pela escrinu~J
definição desse tipo dç poema se apoiava em ,•árias cfücussôes refath·as làmbé;n se c~forçaram por reen.oo".'ltra~. entre os textos de uma épo-ca
a s:uas fo:mas e hktória es~ar-.dinavas, assim como a s·..ia:. manifes;a- uherior, o, frngmentm, e c:s. traco;;, suposto:;, de no:.sn \irico " original' '.
cões: no norte, centro e oeste da Europa: Finlãncia. Hi.::ngria, Eslovê- A pesquisa não tinha nenhuma chance de termina~. se rcp:imida no~
r.:a, Bucb:an de,CI(...'Ve;.t cs primeirDS pa~aos, cnt.re o:; ~c;:t.llos Xlll ,e: xv, l iuiu:~ ue L1Ln.i. lii1gu..- \.•.t de um urntério. Em -vário3 pontos, e.la alc~m-
do gênero inglês, definitivamente con~tituído ao r~'.Cl.or ce
l-'5O; D. Lau- çou re.su.ltados prováveis. De;se modo, quando o co:npilador de um r:han-
rmt rcmontaYa ao :iéculo xt1, se não ao 1x 1 a uad.ção :.k- várias "bala- sonn iu do século ,'l( LU ;,.;simsl.a ut~i~1mtemente que o trovador ga.scão
21
das" bretãs. como a gwerz de Skolan. Pei·e de Valeira. um dos mais an.tlgos de gue temos 1101ícia. (na primeira
Por :::iua~e um século, semelhante ampllaç.a~ da pe~speniva se im- metade do stculo xr1J, "não valia grande colsa" porque compunh<1 vt:c-
pLM:-r.:1 (n a~ regadas, é verdade, da busca rornãnuca das Origens) a::>s sos "de folhas, de ílo:-es. de- ca.nt::)S e de passa~os", u presume-se q ue
histo~iado:e-, da pocsi3 ''lírica'' românica. Desde os ano, 1880. cer·::>~ far e:itão ~derb(..ia a um gêner:::a. na époc.a, e.a.ido em dernso ou em de-
mc:d;~,aJist.a.,; tinham ~ido conduzidos. na fé de 1estemur hr-s indire10,. sapreço. P,H des,e gênero só su·,sistem - ral"ez - fragmmtos mal 'idcn-
t ficados, canto, de pnm.a,-~:a esgalhados entre a~ cançot~ dos Mmne
("-, 1Qi.';> illho, td1., pino. AI t./:.»QOII.Sde r~,/~ geralmen ras.i..x:1.idw à Frar,ç.a ~ 1-:iriger ou as rf!verdu?s e .-omonc:es francc.st.~, mtigame.nte put::lica.cio5 por
-,_-nmon3.I, eram ;.u:tadas po· rrulacres CllQ o cocur1varn, ledll:I e.e. P-'Cmu autor. K . Bartsh conforme manuscritos Te atirnmmtc tardios.
cm fom:a d~ :..trofe. mooorr:mu com ~frio. IW.&la\'&111 a ou QU6dio ll10-
;o, (N p
Outro ~ o · uma uadi - o de nt~ de h.mentação sobre os rnor-
l •J',. ~o::ire1udo no falecimento de urr c:h.ere, indire1a.men;e tótemunha-
da desde o século ,m, rtmo n ~a s.~ m <1uv1da a da ta mais d stante ainda como o carois dll [nglaterra. l:m nmplo movimento poéuco, ntm\es•
e se mamém por m111to lr.:Tq:o - Bonc:ompag,o da Stgna, em 1215, em snndo o éculos, desenha-~e a.mm nu:n cspc ho de ío·mas mais tar-
5ftl tntUtlo de estilo helonca antfq u:t, drto o ffomcompa~n , con tfi , e du>'tda nu:us daooro. m que o ur: r.am u '1·
sagra um capítulo ã maneira pela q ual se canta o lamento e m treze na- chum. Quando, no ftrn dos anos 40, comc-ça-.-a a me Interessar pelo
ções de seu tc11po!H Cfercr da. 4 oca carolí::lgia os compmeram em la- problema, pcr:suad-me ,de que o "grande canto conês" dos trO\'adorci
tim; restam-nos varios deles, às veze-s ba.stante ·usricos por sua linguagem ocdtániro~ çe tinha con<eit uido. em tor10 de 1100, como reação a e~"ª
e tematicamente sem pr e ·•engaja cos'': sobre a morte de Car io~ t,,.fagno; poesia sel,,..agem. A existência desta continuaria também h.ipocética até
sobre a de Éricc,, duque d::, Friul. ,ab:-e a ba1aJha fratricida de Fonteno, que, entre 1948 e 1952, S \{ Stern e d ei:ois F . G. Góme.7 tivessem deci -
err. 841; sobre o llo rnicícti o do ~cne-~cal AJard em 8"'8; pela rnort~ de Gui- frado e publicado uma série de bre,.,·es poemas andaluzes inseridos, em
1hc·me Longa-Espada, duque da ~ormandia, em 942 ... Essa tradição grafia semítie3, a titulo df jarchas (est-ofe terminal) em muwas.saha:;,
i mpregna as ca'lções de gesta, as próprias canções de sa11to, que têm hebra~cas e árabes dos sécuJos XI, XII e xm. 2~
como ur.i dos m()tivos o lamenm sobre amorudo herói, tão b~m ord~- Essa desooberta confirmou largamente, precisando-o, aquilo que
nado que pude em outra eroca fazer sua tipologia. Ko século x11, o se supunha do poder expres~i,·o e da COJjtinuidade de urna poesia eróti-
pfanc:11-'J se tornou um _gê:11co nobre, cultivado por poetas da corte o u ca muito 3.ntiga, com exr:ruão quase européia tde Granada às florcstai
da c,;coJa. conhece-se o planh dos Uo\'adores; ou os seis belos piancius saxônicas; de Roma ao mar do Norte) de tran5m.issão oral e seguramen-
musicais com que Abelarco. em ot1sêgulo às frel'as do Paracler, fez can:ar lt' cantada. De agora em clia:ne, é posslvel identificar alguns de seus te-
d rverso~ persona~ens bJbiicru confrontadas à morte t:'ágjca de um ente mas, até certos traço~ formais. O que dela guardo, sobretudo, é a ima-
q.ierido. O manuscn:o t"Jlutais 29.1 da Bibbo~heque La1.rcntitnne nos gem a5Sim suscitacla: na aurora do mundo saído da desagregação da~
co'lsen·ou, com sua~ melodu!s, un:a de2ena de lamentos compostos ro- ;:ulturas g.r·eco-romanas, e durante os !Próprios séculos em que se resta-
tre 1180 e 1285 a propósito do desaparecimento de grandes pers::magcns !:iel ecia .Qouco a pouco o equilíbrio das forças civilizadoras, manteve-se
feudais ou ecle.siá5ticas da Espanha, da lng:arerr.. e da FranÇE.z.< Essa e d~envoJveu-se una arte vocal original. lànto as reações indignadas
hlstória se prolongotJ até o fim da Idade Média. do alto clero quanto o use folclorista que dela fizeram os poetas da cor-
Terceiro exemplo, manifestando a quase unanmidade dos espe(ia- te, a partir do século xm, at:~stam sua inedutibilid.ade e sua longa fe-
lisias: dLrante os c:nco ou seis sérulos prece:dente5 a 1200, a existência nndidade As obras dessa arte estão para nós. irremediavelmente perdi-
de canções ditas ''derr.ulberes" lem Síei'liãa ac,s primeiros ,germanim.,; das. Percebemos apenas seuE reflexos. Mas existiram; no seio de uma
que 1aentificararriãrcaicas Frauerr.litde.r alemãs). No século v, Césai:e tradi~ào vfra, sucederam-;e durante toda a epoca merovíngia e carolin-
d'Arles, em suP indifTit11,"~t'1, p~n"-1.~JI fazer-lhes já alusão: ''Quantas cam- m.. a !poca feudal mais recuada. É historicamente bem improvh'el Que
ponesas cantam esw oanções di.a.bóiicas. eróticas, \'ergc-nhosas!" (Quam tal expcriêT,cia não ten.,1a marcado, muito tempo ainda depois desse pra-
rnultae rusticae nwiiues ctmfíca diQbolica, a:motoria et turpirz éecuntant!); zo, toda a poe.c.ia - não t.anto nas forma.; de linguagem r:em nos moti-
em 853. o.s padres do concilio de Roma mencionavam as canções femi- \·os ÍJ;lag:in.áríos, ma; r..umnh,el profunde, na e.icpel"iência de certo acor-
nir.a.• que tinba..'Il "i:alavras Ycrgonhosas", acompanhando ~ ciraD- d:l entre o verbo e a voz.
da.s 2.1 Muitos re:rã,;,:,s inseridos nas canções cortesãs francesas dos se-
culos xu e .lUll, estrofe5 reutilizadas pelos autor::s dos Camlna !Juranri
011 'JOr ce:-tos Mumesimger, constituem. provavelmente os destroços e; D~se modo, uma 1112 \'iva fere - ao~ olhos de quem tenta libertar-
ao mesmo tempo, as ieste:mmhos de u.ma tradição CUJ o v1gcr se mani- se do preconceito literário - as obras qu.e os manmc~tos confa:ciona-
festará ainda, a partir do &éculo ,,:1u, em certos -.·ülar:cicos espanhóis, dos a partir dos séculos Xll e l(HJ no preservaram. Ela no dá a qua,e
as cuntrgas de ,un,go portuguesas, 11as chanso,'I.S âe roile ou nas mau- etrteza de um uso (exclw1vammte na época mais .tfi tonte) YO Ida can-
mariits• francesas e, sem dúvida, cm mui tas das canções de danca, taií
,~iían e~ o ltmento Jt Ul'lla ímr, Qut c;iu11r rr 1frad , do CC>ll\'fflro por um am:int in
, ' ) Mlla11adu (do !:uncú 3nti.go] . ..-orma de:1111ção ou P«ffll em ~ue um, mulk r,cen !Ião frequentemente csa1 03 e:111 m~rta1 ik txilladt fcwoln de i>ito hnh 11, com
la1m:11ta se. cuamcn:o ~ dmr.a pelo tmirle. E.nalgum cuos, cs1e ~m rcsrll.ta-la, Um, 1na &bibtcb.:I ""º m11n~u 1bt.ri.o. Mal ,naridadJU, (N E J

.50
~õe• d~ ge-.:a a•e por \Ollll do fim do ,êi.'Ulo XIIJ, e do t.:oujumo da. ptte• chamada am ouvinte~. convidados a fazer um.a exegese desse discuriOJ
sia "línra' ' fll>11uforizonN. no ~l!nlldo que í'. 8rc atribui ao 11dietho, as declarações de\ lirtos poelas, moduladas {no começo ou no fim d t1
0 q'JJI n:;mte a ur.t :!>Ubs1rat.0 cultural dt oralic.lade pura: albas, paMorr - canção) sobre o terna : quállW mais se escutarem meus ,·ersos. mais e]es
las e ouU'as, espe-:ialmcnte u forma; com refrãi'I. -ió conhecemos por \'il.[i:ràu; quaulo tuat~ o tempo passar, mau significativos de~ se torna-
tes·emJnhos indiretos (como o de \\'acc, nos w. 9792 ss. do Romarr de rão... k;~im st dá com Ce1ca:nor., Jaufr~ Rude!. Bc:rnart de Venta·
Bro.1) a cusJ!ncia de: comos tmnsmiLJ dos apeu.11, pela tradtç.ão ora .. Mas dom, u; trt-s dos pais dessa poesia:. A canção. ao lo~go de .sua história,
esta reprtsent.:n.t um papel preponderante na difusão do género dosfti- en.riquece-se não somente: te tal.,,ez"'iiêm mesmo principalmenl[e) com a
bliaw: f·anceses e dos Schwri11kl! alemães, que apancc du.r.antc a segun- reuov-ação incessante çle .!.C!U tcx.lo e de sua meiodia, mas com a força
da metade do seculo xu: desde 1960, o ~ e por J. R}'Chner da tradi- - vital que emana da m.1ltipliddade e da diverridade de todas essas gar-
ção mam1scri1.a. cJos Jabliaux: é c:onvincen1c: a esse rc~~to; e: não selia gantas, essas bo::as que sucessivamente a ass11mem.
difícil cnconuar índices compa1áHLS de oraJidade em vári.3.5 formas. de ~ situação é anâloga em outras zonas da anciga Carol.fngfa: no sé-
"relatos curtos", contos piedosos, a:illag:-es de Nossa S.er:.ll.ora.. . a1é na culo xr,. Lransferência mediante o~alidade da. L?Qpcia francesa na pla•
no}'eliaitaliaoa, ~gundo R. J. Clemenrs e l GibaJdi. Provavelmente os nicie do Pó e no Vêneto; da canção crovadoresca na corre siciliana de
razoJ e aiidas inseridos nos cancioneiros dos trovadoreb foram na ori- Frederico 11. A poesia franciscana da.. primeiras gerações da ordem, ,10-
gem .submetidm a um mes:mo regime; a Vida de Guillem de la lbr for- sa de e,c2cpar a todo _presti~o ··erudito", te'\ie sem duvida uma fase ini-
neceu a prova direta: Qu:irit vo(ia dir.e sos tansos, eJja;:ia piúS fone fer- cial de oralidade pura.Todo mundo parece conhecer, desde 1228 9, o 9

mo~ de. {a raz.on que non era la cansas ("Quando e/e q11eria cxecmar Ct.mtico d{! Jmie solt> dc""'F-iuir.isco de A.~~i:;;; mas ma venãn rnr escri10
suas canções, si:u comentário [razol dt1raY.l. ma.is tempo que a própria não foi confirmada ante~ do fi:n do século.1>o lado germânico, desde
canção"j.Z' M. Egan mostrou que se tratava de minlCOnlos caJcados no os ano, 20 de nosS-o século vá.rio$ e:ud.itos do e.Um.Reno sus1entar-,1.m
plano éos acessw; ad poetas, o que nos remete ai práticas orais de ensina. a tese da oralidade genera1izada da J){Jesia alemã ainda nos séculos XII
A~sar do frâgil mímero de melodias subsistente.;, nmguém põe em e x11 ·. Enccndiam-na, é ,,crdadc, num sentido ma-is l~to, ,que nào se usa=-
duvida a oralidade da poesia dos trovadores, trouvim.>s e Mim1esã,iger Ya. em ourra parte, e a estendiam ao romance corlês. A partir de 1968,
ao me.:im no que se refere a sua comunicaçAo_ .\1:i.s vârjas razões pre- o lino de H. Linke sob1c Harlmann ,un Auc rdau.,.:uu a tfüt:us1,.âu, F.
dispõem a pensar que a tradição mfsma foi, em DlU:lus casos (t.á.lvtz. Knapp e r. Tschirch apoiaram com .~ua auLoridade uma posição que (eu
em ,-0oc-0rrência com as folhas volames), c:oníiada à memória do, in- jçiornw cntáoJ. à mesma êpoca. também definia meu Essai depoétique.
:é:p::-i:Les. Pouco importe. que Guilherme JX, na amo:a d:ssa tradição, A península fbénç.;; fornc:eu os mais ricos eRmpJos de tradições
a..scgm: teT ITTlpT{1'{15.ado algl.lm~ ~s:.s =,ç(iç; e q\le fa11rré Rudiel afir poéticas vigorosas qu: !>t mant-iveranra'te bã pouco tempo sem o socor-
me ter t.?..--pedido a sua a seu destinatário sem ajuda do pergaminho. Re- ro âa escrita. A do Romancero remonta, aqui e ali. ao século xrn, ou
corn::r=us Je µn:lerência à lo11ga duração que tran$corrcu entre a épo- mesmo antes,' e seu estudo não pára di:: dilatar-se e precisar-se. Uma equi-
ca na .c:ual vherac os poer.as e a dala dos mais antigos man.'.!Scrltm: pe dirigida por Diego Cm1lán recentemente seguiu a hislória exemplar
alêm d~ dois ~éculos, se não 1-e~, p,m1 o1. ui.uuria dui. l1uvc1~urc!> i:11tl~- do prime:ro romance a ser posto por csrrito, em corno de 1~20, úi da-
rions à Cruzaé.a dos Albigenses. Tudo 5e passa :omo .se os amadores ma y et p(ISlOr. Desde o sé:::ulo xvi, umas .,; nlc ,•crsões orais distintas
e os copis:a~ do ~é,~o Xf\', i:nersament~ Li1,1,C!,.i-~m comiderado que urra têrn sido, ror outm.s ,ia.s, re\'e~adas enlre os sefardítas; e de um villunci-
épo,; a da .slll:I hi;tória pofüca viva c:iegasse ao fim com o scculo xn:. co que fomoceu o equhaleme lírico de.<:$a nar:ali\11 não fo:-am encon-
Ora, cual teria sido nesse -.,·ano de escntur=. o modc:: :.ir o.1sti:nc1a dos Lrada~ menos que 180 versões.. na Espanha, na Améric.a Latina e, ain-
texto•? Os mo,:.mentos de ir.ter1cxtua.lJ.dade - deimervocaidade- de da no meio sefardr.a. !9 Esse; ~atos imJJlica.rn a cxist[-.i:ia de uma
urna a omra ds:s~as cente11a~ de can,'3t~1 Um '11·rn n:-:en-e í~ J_Grut:,e~ traõ1ção bem ante-rio· .:.O ...~~·Jlo x,•.
baseia imnlicitamente nesse fato urna icterpretação global e "dialética" Entr.e m imgln-saJiôei;; ames. da con;,iui'ita oo~manda, o impacln da
do trooor: Outrns Yêem seu d cito na mc;a , 1lC'la generalizada da canç.ão: cristianização .sobre as antiga~ tradiç~ geoâ.nicas prodUZ1u uma poc-
.W daquelas que v.ários manuscritos no çgrucrva1a,m ÇOI tla:n va 'Sla oral ~j-M tra.,os mant!m- e bem faeilmentt d~erminJ11t>i .. Depoís
rian:e~ ~gn:ficati"as. É assir.1 q_ue n' du:idarn (de prcíerên-:.a n .irra Jc 1066 e Jurante t,-.<lo o !-ihulo x11 , d[versos e-co~ abafados nos permi-
52
-· .. .--.u:uu a voz ac nma poesia Je língua Hermfinica populur rccalc(I-
<lq pelo francês!!! rr•lo laricn dos dominadort>-. e du. lc ' tn._10~ 1-
, sktilo
Xn .,.C'.i•erne-se talvez elos efeitos disso no mo"·imento que foi caracter í-
1ado como olJ11e,at1ve ""'-'' ~a!. AJém uu SC\·e·n e do mar, o m11 ndo tfl-
:k:o, d:pesar da . ntensa a1i,idade escrnural do\ rnonge1 irlandcsei, .11é
no5so séc1,Jo P ~ u ~ · ri e ~ orou, co-
mo na época a11tiga o, pai.s~s :'lórdicos, ap~ar de d,fercnça~ noth-ei.s 3
entre R Suécia, .:i Dinail1a·i.:Q r a Noruega, de um lado, e 1 [slfindJa, de
::unro. Reccrre:ía:nos também, :io outro e.w:tremo da cr;standade. à pot• OS L'VTÉRPRETES
1 ,. i .~3 J,._ Iluâ.udo e- aos caami no~ QUic.ts se rormou o cido herojco
de Digeni5 Akrili:ls; mais t.a:dc., às baladas strvfas que comernoram a
guerra d..: Kos~ovo; até 11a "Pagárnia", à t·ansmissào da.. qa.sidas árabe.,
do 0.:-iente Próx:im o... e, por lô~o o lado, pre>eme ní1<i inre~sd~os das
cul(uras dom.mantes, àqueia elas judiaria~ :fa bada cfo Mediterrfuleo, da
França, d.a Alemanha, da .IIJ,gJa~t'rra. Começa-ie roje a _per~ber melhor Jogroís, recitadore5, leitores. r..:m papel so-::ia!. A Jes/a, O desafio.
c1 ampl1rnde e a originalidade, em par1i;:1Jar, de uma poesia litúrgica

ou profana em hebraico vernáculo. freg1k1terr.ente bilíngüc; arte vo,,;<tl O texio é só uma Ç:Q_orturuc.ad.e do &es'.o vocal: e o auror cle:.se ges-
que entre o século x e o séc:110 xm desenvolveram com brrlbo (paraJe- l~ ~eniriama.is a meu propo~üo se n.so fosse quase irr:possivel captá-lo,
lam.ente à poesia cri5tã dos tm['los) as <::omunidaic~ 5d'a1di1.as da Pro- na som brados séculos... Os cor:U01en1os, peJÕ ml"no~, não faltam intci-
v-ença e da :E5panha.'t rameme e ;,ermirú-am a sábios como Fara: ou \{enéndez Pidal esbaçar
Até onde- percorrer e._~é circuito? Quan:o rna.h u :noJo:igamos, mais o retrato falado de •,·ária.li 1!$pécies de canro.r...s, recitadores, atore:;, leito-
nos espreitam a!macl:ilh.as; e Qll..'Ul'.o mais sedila1a o espaço considerado, res pú:ilicos aos quais 1:saho raras exceções) a sociedade medieval con-
mais fortemente decre.s..:-e o valor da, sern:1harn,."a:'> observad~. Fica-nos fiou a t.rammi.ssâo e a ":'4.Jb.Ucapio•· de sua poesfa. Após mciv .s~culo
qv.e um caráter comWTl, es~nciaI, embora profundamente eTJterrado de· de quase e~guecimento, k jong!eurs en Pra,u:e ou Moyen Âge, tanto
baixo das manifestações de 5Upcriicic, subsiste nas subestruturas de lo- quanto a Poesia ju.~lares~a y iurJa,.e.s, c(lm o :ríg:uíssirno material que
das as ci\rtlizações com dommarue oral Nesse sentido,, não é taivE'z abu. propõem. reencontram .sua arualidade e 1::dquirem, depois do que foi
sivo. como o fizeram recc:nl::meme vários cn;ditos japoneses., Jevarta.r produzido em nos.~os e..uudos ao Jongo dos iillOS 60 e 70, f:escor novo
~ analogjas e:1treo modo de decfamação do Heúci, em no5sos dfas aJ.ll• e valor probatório. A obra de faral foi reeditada em 1964, ma.i5 de meio
da, e o que scp-ode :.Hber da enunciação épi::a na !dadt Média ocidental. século após seu aparecirt::o,to. No ano prered~te, um a'1:igo de OgylV;,•
Eu mesmo tive a experiência da hlz que projetam sobre a na~ure1.11 r o chamara a atenção dos pesquiSl:idores pare o conjunto das questões.que
provcivcJ fundum1mento de nas,osfabliaux as performances do rakugo. levanta; err. 1977, em ViterL1.., um congres5o os retomavape1a ó!ice par.
J. Oplani extraia da prática dos re::i:adores bantos i:tformaçiies sobre tic:uJar da dramaturgia italiana. suas atus, surgidas em l 978, contribuí-
r:1 do~ skops a.!lglo--sa;cõnicos... As resen-ru ins:>iradã..s por um.t sa□ia [. ram para precisar e esciarecer vários c.speeos. O livro dt Scnreier-
lologia conservam nisso ma. \'alidadel Entre:ar to, mais lli.nda que a "pru- Hornung em 1981, o de SaJmen em 1953 (levando em comideracã.o. é
dên1:ia" habüualmenterecorrer.dada impce-.;e um justo esc1a.recimen- '1/erdade, mil.Is os músJco:;; do que os po::ras} retomaram, à lu das pes-
to desse método. Não se c.rati=. - salvo exceção - de tr:ucr uma proV'd. quisas recentes, os dado~ cte conjunto.
nem rue~m10 de f1rndar urna hipótese :-e1at:iva a tal tCltto ou região, mas Os litulos desses estt=do~ põtm er.i ~idêada. o Eermo jcngleur :,u
sim de provocar a imagina;;.ào critica:~sa aoertura à3 imc'l.8CII~ visuais seus equi~-a.lentes,Juglar, girJ/fc,e, em a!cmãoSpie/mann. Trata-.1e de uma
e..auruJivat, integradas por entre os demen105 de informação que recor- simplificaç1lc laical. EMa desi~atru indivfdu.QS.41.le asswwo~
rem ao filólogo e ao hi:storiadot;:-- i1t1auru sem ru qwri.s eu nfo saberia ção de di•,erti.mento, as sociedade$ m~íevais disp:t~ de um ~• •.
vivrr o que estou ap1endM1do, isto ~. escapar â i]usào do cíentificismo.\ bulano ao m~mo ternpõ ricOe'"Í!!!P recisa, 9:JJps tmnos. nàmlifürraa<le
geral, não param de deslizar n.u.obre os.o r " Setn dlhidn, o r ro
rn.:ial il 4ue se relerem 1em sua longi:iqua :-irigem na tmdi;ào J o c:an- neme para mim. a saber: gue sfo m pon.1<lores da \ •Ot ;>0etica.\Junto-os
tores de r aJJto~ gl!rmln icos, a :,iual -.e con fund ~ com a dos musicas e a4ud ~1 que. dérigos o u leig~. pratica\oam c1e maneira regular ou ç_ça-
ato:-es era Anttgíiidadr rcm na. Donde, na épnca mais distante, uma. du- ~ al.!_ k1t1JTa púb'.ica; nenhuma dúvida de qL1:, para seus audiLórios,
pJa camada tcr r:11nol6gi:1.: skr,ps d terras aJ1!l o-sa.xônic~. testemu- mlliro.s der:tre eJes mal se distinguiam. até o século xcv pelo menos, dos
nbado5 desde o s&-ulo 1,; escaldo isJandCS!S, t'lI1 ieguida noruegu~.ses, "jogra:rs" :>u mcne.strtis do mesmo calibre.(Q qu.e os. defiae jun~ r
do s.êculo . . no s~,;ulo XI 1, e, do lado latino, fllim14, .n:urra, h.strio, em
hcLirrogêneo que sej.. seu grupo, e serem (anlilogicarnente, como os fei-
pr<n·e:1Jb.d a direta da Roma do Baixo Império, recab:indo mais o u me- rice..ros africanos de outrora) os. det:mores dapaJa,,1ra publica; e, sobre-
nos inndequadamcnt~ a realidade mecliev-lll. Pur vol'ta de 12n. Conrad, cÜdo, a m1weza do prazer que eles tê:n a \'Oca.cão de proporcionar: o
ctrantre da í&reja de Zuriq11e. desejando entrar e-m mi&úcia, emprega em ~do ou,,iéo; pelo menos, de gae o ouvico é o orgão. O guc fazem
figura de acwnulacão, nada menos q·Je vinte t emi~ latrnm diferentes é o espf:táculü.
(reme1emfo aos imtrume:uos musica.is usado~por cada um, oas de sen- Esforçaram-se po.:- extrair do[> documentos, com freq iíénc:'a muito
tldo, dora isso, umJc,:.meJ). 1 Ncs seculos XJC XII, general~•,e nas lin- imprecJSos, in!orma;;ões de c.ar~ter ~o~al ~obre sua o:igcm, suas carrci-
iuas ,·tl!!ares o uso d:>s de:ivados do laumjocu/,aror (ckjoc.zis: jogo): r.i'>. sua in1egraçào e., :-irincip.1.lmCTlt~, sua possível e.speciclizaçào. Por
francê. ;o ng.'eor e jongleur, :)C(,1tânico Jeiglílr, espanillol juglar, galego-
ve2es, as responas dadas são contrad.ê1órias. Fa:.ralconduiu , em rua pes-
porrusuês jogral, iral.;.ano r;iu/lare e giocolare, ingl~Je,geler~ oujog~eL, ~,;.a, qu t: nn 2,_ntérpre1e ,;e ap~~óaiva .r nbmudo tJma ~-pécic de uni\lCT
alemão gertgler, neerlandes gokelaer... só ficar1do de fora a~ linguas cél- ~ilidade n2S artes do ctiverrimmto e, se ele dizi:1 ou cantava a p()CSia,
ticas e eslav-JS: o russo snwrckn permanwerá em ruo até o século xvm, uma i3Jal rr:esüia nos ii ver~os gênero.; Menénd!ez Pid.al 5u:st.:nta opi•
da mesma forma que o termo galês e irlandês de que fizemos bardo.
niãõccmtrã ria e Tttnda sua clacisifica;ào dos J1..gfares ao ir.strmnento ~
Ficam de lado, meio preseIVados dessa contaIJtinaçào. algun~ termoses-- l
pec.ais, como goiiardos, quaJificando os cléricos e:r:-antes on marginai.s4 (
rnusí'ca: de que se acOI:r, panliavalll - o q.i1: 1)1,)Jt::ría t:onfírmar um do- ieJ. ..,
cumemo londrino do sécuJc x..v, pi:blicado ém l978 por C. Bullock-1... .....)
entre os Quais mui'..Os, aliás, oaJ se dislinguern dos ''jograis"; ou troi:a-' Da11:~. Urna passagem do lter'OUm. alJTFviarom dt Pierre deleChantre ._
a'ores, trouvbes, fl..flnnesimger, referindo-se :nais aos C0IEpositores. Ao.,
descre,.•e pelo :nenos a extrema facilidade com çue um 1.ábiljoculator
mesmo tempo, o ~lemào Spiélmann, semanticarnCTite cilcodo sobrcjo- l!e.l fabij/aror (entenda--se: ur.1 ..cspcc1allsta da flarraçào"i movimtnta•
c!l/ator (Sp1el: jogo), ganha a,
t~rras flamengas, e-..l:alldinavas, báJticaJS,
se em s~u próprio repertório: qui ):iden.s can11lencm de Larzdeáco non
a próp·ia F.nropa central. Mas, desde ;> Eun do sécu lo xrr: - 11a medi-
placereaurJtzoribus, staiim ir.cipil 1.' arríare de A11úocho... (",e ele~·~ que
da em que readem taJ1.,ez a se fechar s:>br~ si mesmas a.s corte3 princi- a canção de La.ndri não agrada a seus ouvrntes, põe-se logo a cantar
pe;;.,;:as, 1amo quanto o meio burguês urbano-, c~sa teuuüiulu~a i,ai
a wmada de Antioquia", e, caso não se goste da t.is.õria de .o\.lexandre,
ele moda, e desigr.ações novas a;iarecem: ménestrei, ménétriet, minsfrel.
engrena a de A?Olônio ou a de Ca:-los Magno, c1; não imp0rta qual Ou•
.'/\..:leistersinger, canl~tc,rie.
tra!) i O trovador Gwrau: de Calamon. ,em sua ~ir\'ente Fadei joglar,
Os versos de 5!t2 a 709 e.o R.omar de Flamenca occitâiiíco, assim exigia d:, i:l:erprete a capacidade de tocar noveinstrumemos diierentes.
c.omo (numa úth.::it ll<:rn dJferemel) um.:t c~le)re passagem, já as,inaJa.
Algumas certezas parecem ru;~g.uradas. Por um lado, a. impossíbi-
da. do Per.i1en1ia!e do bispo in~lês Thomas of Cab.'1.am, por Yolta de lidac.e ce distinguir sisrematicamente entre as funcões do músico e a.~
L280, ~ugm:m a comp'.ex.iiiadi!, se não as contrad1çoes, de uma real.ida-
do can1or [)U recitador. Por ou: ro, ~ exü tênda (c,)nfirmada enu e o fim
de que, fazendo o~termos reperc·ltirem pu aprorunaçào. e:nbaraJha a
do ,ecuro XJl e meac::is do século X V na I:ãLa, na França na Alema-
nosso~ olhos :ai \''.>C'3 buláriD. Caso se a panem do quad~o os " jogra:s" nha, nos Pa1w~ 3aixos) de es~olas. permanente~ ,~u ~azonais, sl·hoiae
no sent.do rr:,::iderno. mais ~al·,mbanco~. a;;~obatas r apreser.tadorc~ dt' 1mm )"'.J'" n~<- 1ua1s ::ertos me,;:t,e- ti,C""""'rr- ..!~uma r r ~, - ~ ,-~ '1•
rera.~, :.obram mm1co~, ca111ure.s, contadores, mais OL menos confundi-
o Simon que. em 1313. da,-a aula no espaco da •eira dê. dcade d e
d0.S r.a op1:1ião de sua clientda O antigo espanhol, t rerto, d1srimue Yp:-e~.J :'\ia lrlanda e na~ regiões gaélicru, da focócia., as esco a ~ de b ar
dos toca.dor~ de instrumentos OSJugfarr.s d boca ("Jo nui; de bo ....." J
do funcmnararn até mtados do sé.:ulo xvu. Enfim, os gofardos gi.rô-
o curo da~ pág,t:as lif llÍnl '~o
, rompt-ndo com a esrola ou u 1.:bad a, e- à.~ 'leu, organLZados em
co:n l• nome J'l1erpre1es·, re.enhc as:;im seu t.niLn t.•a.,;o co·num. per..1- ,>andm lw:ra:n pro'i~sàc de 10-:0•0,, pce·a~ e, cspccia mer.te, :amo-

57
re~. a es~ t1t11ln mi-tu.meio:; na mulliJao dos "j(gmts" li!igo~, embora
, árias tias obras que se atribuem~ ~te.~. corno o, C.ar.,.lina B~rana, pro- Onipresente, 1ns1s1enre, ug11 ida, massa dos 1nt!rprc1c n!io tem
va1·clmenre só renharn a@radado a pú~l1cn~ muirn limitados. Nenhurnn uehmuações f1~5 nem prec,u . Sodalmentc h ~ e .@11_1i e ml
de~s.as informações ir, pl.ica que a c5ptcia.1laÇàQ 1e.1ha sido a regra làl- todo~ os clarcs não.campon,e~ da.popula lo e dâ rova de in m
\'"" '"~ •"!Ilha 'do rara a mterpre~ção de ce:i:os gêneros. Enquanto ...,"'.,.t_,,.cª e_. e .prua..o, o.utro,.pode_mod1f r d1, o J
na. Espan~a o Romancer-o era. ,egundo F. Lópe2 Esr:ada,' transmitido Índ1,itluo; fazer do ca'ialciro um errante 1IllSer1h,el do cl ri o um ai
po1 ·1ao-especiafa:tas, todos us ces1emunhcs com;iilados nos territórios timbanco, do recitador PÇJtpular um cantador introduz.ido nas u. tas ro-
frar.ceses a~cstar.i a ex;sténcia de um ~"llpo distJ-•) l' :.lt ..,,,e.,te respei- das. ~ interpretação pode ser ocasionaJ e n..! f• • I'!' 1 to d.e intér-
t.ido de • Jog:-.ils" d;.'dicados à :.?:e.:.1ção das can~ões de g~sta, entr= as prett:. Gaurier ;\fap evoca nobres da corte da Inglaterra que impro,..·isarn
Quais dc:::larnavam a rrelo;iéia, acomp.<:.'1hando-se da "iela ou ou da ~an- e cantam os versos satíricos; Jear: Renard, em seu Guiflaume- de DoJe,
fooa. São encontrados ainda no :im do ~éculo :ici\., embora desde an- most:-a um jm·em cavakro que, caminhando pela estrada principal, e:1.-
tes de 1300 renham caido ~m des,:,;reditc. Em 1288, a i.:;.dade de Bolonha toa a longa dJanson de tmleda &:.te Aiglentim, aoompanhado pdo vk-
os impediu de e::obi·em-se nas praças púbicas. Estão de fato ern toda leiro do imperador; monges recitavam para a edificação de seus confra-
a ri.irte. no no,.,e da. Itália, vinào~ da Franca ou surgidos. :i.o lugar, em des o ~rs de la mort de Heli.nant;8 em muit•JS castelos, o capelão cu
~1ilâo e em Flore'.".1:;a. A.nda por \-Oltt. de 1400, em lucca, Andrea cfi um cônego da colegiada vizinha precisou ser.ir de leitor. Por volta de
Goro rm1tka com succs3~ essa d.rte. 5 1275, o trovador Gu.irau.t Riquier, nu.ma súplica ao re_ Afonso x, pro-
, Virio.s dc-Sses "cantores de g_esta" pertencer&.TJ a cla~e~arente- testaV!I contra a assimilação abus'.va que de cambulhada, sob o nome
mence numerosa, de,~ "jog.rai~" ~e-gos, notáveis e.n [(Ida a Europa até ioglars, classificava muito baixo na escala so:.ial tod~ aqueles que se
9
os secul~ xv, xv1 e xvu, da peniruula Ibérica à Skília, dos Báicãs à metfam na poesia. Gran :les perso:1agems não llesitavam, cantartdo seus
frlanda, ilii Hungria à Alemanha e à Rússia 1- detmtcres de um reper- próprioSlrersos, em colocar-se tJO rú·el da gentalha: Haroldo, orei da No-
r&io Mo forterneme tj_pjficado que, na Espanha e em Portugal, lhes de- ruega. em corno de 1050; Guilherme ex, o duque da Aquitânia, para es-
ram l.llTI nome, arte de ciego; romances de ciegos. Os documentos fr:m- cândalo de Ordene Vital, 'ultrapasm-a mesmo em. bu fonaria os hfatriõt>s
ceses são raros, ma5 não se poderia dm·:dar de que a~ terras do reroo mais bufões" (facetas etiam histrionesfacetiis s11perons);10cem a.101> mais
da França tivessem conhecido c.s..se re-nõmeno: em me2dos do século xm, tarde; conta Sali.mbene que o imperador Fredtrico 11, bom compositor,
~eios, pXJvaYelmente ,,.indcs do além-Alpes, diziam a Chanson de Ro- não se digna a cantar e deixa tal er.cargo a profissionais - cuida!lo do
qual não parecem compart.ilhar, em torno de 1300, nem o duque Hen-
land na grande praça de Bolonha. Fi.rerarn discípulos: ainda por ~·oJ:a
rique de Breslau, nem o príncipe Wiczlav de Rügen, nem o rei Vence-s-
de 143.5, o ceílo Niccolo d'.Arezzo canta~-a 1.1<1ra o povo em florença as !au da Boêmia.
guer::-as de Rolando e de ou:ros paladinos.. 6.§_ssa e~eci<dizacão dos c~-
As raras informações pessoa.is que possuímos sobre este ou aquele
gn~ .:-oru ti t uiu um fato~!oo ógioo marcant~ que SÊ.pôde observar,., ain-
intérprete de tal obra ou. grupo de obras conhecidas testemunham enor-
da
--em nossos dias, -
- -em rodo o 1hceiro M.mdo." Sem :hl1-rida.. ouma so-
ciooade cru que nenlruma i::tSt1tu1çllo as~eg1ra nem o cuidado nem a
me dhersidade de caráter e destino. A Historia ecclesias1ict2 de Beda
fornece, livro rv, 24, o exemplo mais antigo: o cantor Caedmon, sobre
reinserção do cego, a solu~o mais óbvia de seu prob1ema e a mendi-
quem o; estudos se multiplicaram, pois o relato de Beda parece esclare-
:ância, e o camo pode ser o meio. Mais fonemente do gue as motivai-
cer a tradição poética angJo-saxônica. u Camponês iletrado, recolhido
ções econômicas... po:ém, ar.iararn as pulsões p:ofunda.s que para nós
em fins do .século vn a llD1 mosteiro de- Yorkshúc, Coedmon reeebe "por
significam, miticamerite, figuras antigas como Homero ouTarésia.s: aque- milagre'' um dom C'ftraordinário de improvisação, que lhe permite com-
les cuja enfermidade significa o poder cios deuses e cuja "segunda vis- por a pedidos, em estilo poé-tico da língua vuJ~ar, toda~ as espécies de
::a'' entra em relação com o avesso das coisES, homens lfrres da \-isão poemas sacros... fais perto de nós no tempo e oo espaço, a cxi tmda
comum, reduridm a ser ~ nós só vo..: pura
do misteriosco Bréri (ou Blchc:ri, ou Bledherlcu }, Jamosu.r ille/abulator
segundo Girauldus Cambrcnsis, colocou mai de um pro lema os hi •
1oriadorc, d0i lenda de Trisrão. <1ue ele teria, morando na corre ..te Poi-
tiers, contribuído para dar e conhece· no continmte; ~e undo lnry Wit-
JB
59
l
J.ams., e5sr ilustre "conrador" n o ~rna ou1rc'l .sen o o gab Bledri a Oi: outro~, mais malLrn~ado~ pela '.1inór.a, sol-reviveu só o nome,
Cali:'or. da região de •arl't'arthe:i, =.l~'aldr,►p~ta como l!ntao muno, ã, •,,ezes um apdido ..:nBraçado (o italiano Mald1corpo ou o occatámco
~m terras cel 11ca,., alemã~ : occitãni ai 1. Cercamon), freqüentemente deformadc• peJa tradição oral ce seus ad.-
Poderíamos colt·tar gr n~ númcru de informações at.ra\~ d~ al- h. rnha1ores - como o menei;e~I borgor..hés, em torno de 1360, que as
g:.1.-nas Ct::ltenas de Vidas de trowadores encerradas nos cancioneiros: Elias fontes chamam Jas:guemir., Commin, Quem.Jl, até Conrut.n Algum,
de Bujols, füho u.e um mercador da região de Agen, dei~ou-o um d:a representados nas i.lu.M.inura,; de ma.nuscrit.o~. esclllpidos em :cle,,os de-
para se tomar jogral e pô!>-se a. pcrcrum os castelos com seu "camara- corativos (quando não ':,ordados em tapeçaria como o Tur-:Jldus de Ba-
da" Olivi~r; outro .Élia.!, filho de llJll burguês de Bergen:, seguiu a m~- yeux), tipificados, pad::CTUll toou o caTáter mclividual. Em c:ompensa-
ma via; a grnça poética tocou um 1er:eíro Élias, ourives de Sarla~. -,em cão, os textos poéticos às v-ezes colocam eo ceDa seu próprio intérprete
~rance talento, conf~i.a o biógrafo, mas cujas andanças o levaram até 11a.s •·rrapa;:as de jograis''; ou, ao menO!>, este declma seu ::iome ouso-
Salô:nica. Filho de mercador tambem, o ageniano Uc de Pena; filho de brenome - índice de altivez, rugerindo que goza"ª de aJguma re;puta-
um pvb.·c cavalei:-o pm.ençal, Raimbaut de Vaqueuas: filho de cm a·- ção: e Gautier de Douru da J.Jestruction de Rome, o Guillaume de Ba-
faiate e a.faiate ele Pl'óJ:rio, Guillem Figi:eira. Gausbert, filho do caste- paum~ daBotafüe Loqwfer. E71 outro~ lugares, e mais freqüentemente.
.lão de P'.Iicibot, era monge, rnas po:- amm de uma mulher deixou o clau.~- o r~lalo integra um episód.::, que descre11e uma per:"ormance ou .apre-
tro e ·reio buscar na casa do senh~r de Mauleon seu ''equipamento de senta ·Jm intérprete ~rn a;.ão: do skop de Hro·.gar, no Beow111J, ao escal-
Jogral" 1ornes de jogJarJ; o mo.:ige de Monraudon trazia de \'Olta ao coo- do da Saga de Egil e ao ca11tor sa~ão da traição de Krimhlld na Gesta
\·er,co os ganllos que cbtinha como cantor Gui d'L'.i.sel, cônego deBrim1- Danorum, ou .ao Tristan de Gottiried, os exemplos são numerosos no
de, :empunha as canÇÕes que ele mesmo interpretava para J\.'farguerile mundo germànico. mas não Jhe são exclusivos. Fatal, no apêndice de
e. '.Aubt1sson... até o d.ia em que am legado porui.ficio o proibiu. Peire ..cu.;; JonRleurs, publica perto de duzentos textos análogos só para a Fran-
Ro,ger, cõne~o de CJennont, p~feriu partir. E fetz se jogiars ("e se fez ça; Crosb}', <i"I, "'ranceses õl.l ingl~ses, nos séculos x::r1, xm e x:rv. Sem
jograf'} voha como um refrão. chamada recorrente nessa sociedac.e oc- dí:v;da. é preciso levar em conta o.s cliche!s e pmváwis trucagens narra-
dtãn.ica, nis3o exemp'.ar, mo1,imeato de convemão que :nteressa rr.difc- t:"as. ~ão se-pode, to::la\·ia, negar a esse a:iundante material um valor
remerner.te a todos o; "esta:Joo dri m1mdo' ', vnc:;:.ção da ~avra e _4n documental glDbal. Vários TeYTOs, particularmente explícitos, retratam
canto DriKnando uma dite ce porta-vozes. De outro trovador, o bió- as condjções de exe~i:::io dessa ar:e voc.il, a amplitude de seu registro.
~:afo limita-se a apoo12.r que "fo: jog"SI", come- Guifü:m Magret, :ie Assin:, em francês, ;:io fim do sernlo xn e no século xrn, o Roman de
Vienne, jogador e rato c:le 1.abe:-na. R.emm, Huon de Bcrdear.o:, B1,1e1,,e de Hansrorze, Doon de Nanteuif, o
1':a !ti.lia, uma e!-):6tola de ~'fo:llc.llc Venno di:scre'le a :écni.:o. e u Ror~1a11 de !a .io/et1e ~ ,d1vc1:;os outros.1~ Alsum; dcs~e:. tcncmun.hm,
ac-ão d:> céleb~e r:antarino Antonio de Gu1do, em rneadcs de- século >(,. referem-se não a ::an:ore-s ou reciradores, ma5 a ([;!iteres; portanto, um
Qu.i,to à F.spanha, com,eJ"Vou a kmbninça qua.-.c épica de vária~ figu- flULor, tendo El:.'.abado alg-.una obra, faz. a leitu1a ew voz alta, ;liam.e de
rd.S conpará·1eis, até o füniar da Rcnas.ceflça. Em 1453, suri;e na cone icu mandante 011 na presença de um auditório escolhido: Giraldus Cam-
de Joâ,) n um/ugh1r erra.me, J1Aau, jut.lcJ conveili::lo, filho de um pre- bremi!i, em 1187, nece~süm. tlt: Lrés dias para kr em público, em Ox-
goei10 pút'ic:o de Valladolid, apelidado EI Poeta; Menércdez Pida des- ford, sua Topographia Hiht!rnwe; pela m~sma época, Benoll ée Sainte-
creveu ,ua hio~rnfic1, desde er:ão p:caresca. su~ v:agem através de Na- \for~ ~ocavc:., er,i suas Cftromques des ducs de Normandie, o rn.omen-
\'ln~. Ar:t!;àD e, n4 Itália, de ~ililo a \,1ânrna e a Nápoles. Talvtz os :o em que a, recita.ria diante do rei Henrque r1; cm 1215, em 3olonha,
c,:,.;111mcs c::..~pan hói,; lncssem -nantido durante mais tempo a\ condições 1226, em Pádua. B,Jncompa~no c:la Si,gra fr2 a leitura pública de
1. L"lll
fa\·ora,ci~ a es.~e tipo de carreira O ulrim0 doe; pgra1s do o~·:dente nãr :;ua R11e10rrca. 1~ Ou en:ão un grupo de amadore~ so.·,:na um leicor pro-
foi o moun~,c Ror.ian R.am1re2. ctet1do em Süna em 1.595 péli:I lncJUb.· 'u.,wnal parn comer ou ."'f!tnm,! {t;lls parecem 1er sido os te7Ilm técní-
~ão e falecido na cadeia cuatro a11t,_. n·a11 tarde, acu>ado ôe feit çar,a ccs em uso na rran;a) o te;,,to des~jado - como os Lais de Marie de
pon:;.1e a .\eus Ju1ze, p.;.rec1a ter e~ 1ece s1dade da aJuda do d1abc para France, 5egu1do De~J:S Piramus, que em três versos esboÇ4 a cena. b O
recüar de mer:iória. como o confirma,-a -0 ro"'"""'"" inte !'O da ca- leitor enceta frcqucr.temente uma longa ruuração, da Qual se pode pre-
, ala na' · ~umir que tem uma c.(•p1a sob os obos: Flamenca, nos versos 599 a 100,

ó/
T'l DStra dcs<e mo<lo leitores capõ~ de: produtir, 1tl~m do tais e das h1s P.01100 importam a u1fcrc11ça~ de ori cm, ue e tniuto ~ocinl, de -
wrrer o,,rilenne:., o Roriarr de Thebes, o de Trou, o Eneas. o Alex.:utdrP, ru:lç.lio., econômica (alguns ficernrn nc-», rcc:c:bcrn~ feudo ), de: soo m~-
o Apoi;o'liu~ . Erec, Yva1.1, Luncefot, Perr:ncl , o H~/ Jnconnu e outro mo - aind uc JOgraleJO.S, mutto numero no~~Sc.'rl/J.l,1..,üllü...K"re-
ainda! Enfim num pequeno grupo aristocráti::a uml da~ pes~oas pre-
sentes. J: mcm leitura para os outros, mirudos em oi- , por YOIUl
ta. No Leche...a/ierau lror., de C1rét1en de Trcycs vv ; 355.64, uma mo- de 1300. fJ im portante e ~w: - au contrário u e e de r
11
~ .e
;a, L U j,mlim je um Cll!telo, ocupa-se lendo para !eus pais um romance os Jograis - os intérprete~da pc,es,a não foram. éla g_uele mundo me..rg1-
''qi.:e trata não sei de qua herói"; Konrad v(m Wu~;burp encampa, nr-1 nius. Não e: sabcna, é verca::le, falar de sua pos•çco: ele:. não e assen-
~~6.ogo de Der K-'élt Lohr., um l::nor em plena aç:fo; L'escouf1e de Jean tam, propnameme falando em :1enhum lugar; distinguem-se; situarr,-se
~n.ar:. n . 2058-9, faz o e.ogio de umanobr1: donzela, hábil em "cantar ::w comrru:te com os outros " estados do mundo". ~os se erJeitam.
canç~ e conur contos de aventuras" ; qu::.dros dc-sse ripo eocontram-s: com roupas chamattvas.__ou ~êntricas., tratam a si próprios ironi.camen-
frequentemente. Scholz le-,.antou uma lista de.es rcfe·ente a Alemanh~. :ede loucos. Por um lado manifestam o lado carna"alesco dessa cultura,
Essa5 diversas prát.cas foram favoreddru;. à própria época em qul! mas por um lado somente. A panir do fim do st..:u o xn , muitos textOi,
se cx;,andia em l:ngua 1/Ulgar o uso da escritura, pela repugnância (co- ,'lDdos dos meios clericais ou. aristocráticos, atestam em seus autores e
mo sugere Crosb,) que O> Grande5, ainda que let~ados, sentiam ao impor- difusores mna reação de de:"e:;a, protesto de honorabilidade e seriedade:
se o duro trabalho que era a leitura direta. Tonto q:i:, daí em dfante, dai o ctichê "não sou desse~ jog1ais que ..": ínrnce ce uma situaçiio, ain-
era fácil achar - entre os clérigos ou mesmo bur~~ - pessoas rom- da geral por volta de 1200-~0. A disseminação do uso da escritura e (àe
petentes nessa ,me. Uma class.e de btéYprctc~ a5~irn c::specializadQ5 :e!!,· maneira mais inaorá\•el) o le®desmoronamento das estruturss feu-
cisou formar-s! bem rapidamente. Muitos índices, aliás, predispõem a dais arrumaram, a longo prazc, o prestígio dos recitadores, canto!,es, con-
veosar q11t essas ·'leituru", confiacas aos nü"\.'!> p·ofissionai.s, não de- tadores profissionais de histórias; a imprensa os ftz cair numa espécie
moravam a tra'.1.S:ormar-s~ em espe·áculo: mui:as representações ~gu- deruõpro etariado cultural. Su.11 grand~ época e:;tcncleu-se do sécU:.o x
rativas qi;e temos de ''leitores'' sugerem qu.e o Uvr::,, na frente deles, so- ao XIJ .=--os próprios séculos da mais brilhante ' 'literatura medieval' !
bre o faci5tol, pode ser apenas um tipo de acessório que serve para A Alemanha e as regiões rorr:ânicas oferecem pcucos exemplos de car-
dramatizai o discurso - como acontecia não há muito com os bardos reira. comparáveis àquela de alguns grandes escaldm islandeses do sêCl.-
servo-croa.ta5, no modo de recitação chamado t knígc. Eu quase o.ão lo XI, cuja glória resplandcsccu cro toda a Europa sc::eotrional, aLt l.ram·
he~il..lrta em in~rpretar ~un um verso do prologo de.Doon de Mayen- formados cm personagens de epopeia, como Egil; mas o favor cie que
ce no manuscrito BN 7635: miritos intérpretes gozavam - assim como sua profissão enqua:..to tal
- é comprovado de maneira contimia durante mais de duzento• ano~-
[...] t2 tierce dtZ gestes., d'Jnl rro ,'i".~ co,mntnce 0 romnooc de Dourei et Beton, do início do .século XID, pôde ser inter-
t·'a tercci.Iadessas bistóri'5 heróicü, a partir da.'qual meu li•.ro empreen- pre::ado corno um elogio da atividade jogralesca; o prólogo de Doon de
de o relato''). O rranuscrito de Montpellier não dá o equivalente desse ,l\'anteuil, por volta de 1200, cita oito iJustrcs mestre~ da arte de interpre-
'<itrso, mas anuncia simplesmente: tação épica; o trovador Raimba11t d'Orange, trinta anos antes, da·,a a
sua dama osenha/{"apelido emblemátic:,") deBe!joglar. " Belo jogral''.
j!J cims camru:rr ches•e chancho,r t:(IMTe'lchtF
LN esse oonte:xto, os edidos de dinheiro e-outras formas de mendicância,
(' 'vocês ·,:ico escutar corno principia esta canção"). O livro que Ro:m.á.n tão fTeqtientes nos textos dos stculos xn e xm, não tê~a de vil: ma-
Ramirez "lia" era um pa:oce de folhas em branco. Acos~do pela In- ru estam uma relação social que era de!provida de ambi üidade e qcie
(;ui~içãn, o mourisco confessou ma ·écnica. tinhl antes aprendido de de certa maneira se estabeleceu entre iguais.1
cor o numero dos capítulo que compunham a obra, as grandes linhas Os cost umes a esse resp,:ito são os mesmos de wn extremo outro
da açao, os aomes dos lugares e das i::ersonc,gc:ns, de;,oi5, recitando-os, do continente, ate a Moscóvia e Bizâncio. .Red dore , j i , leitores
ncrcs::mt.nvn, con<.l~nsava. suprimia, 5em tocar no essencial da história invadem todo o espaç:o social À~ vezes, li a.m-sc de modo malS ou me-
e empregando "• lingua em dos livros"... no durá,el a uma corte ~cnhorial, até a um poeta mai bem colocado

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e menos compete-rue, cujo1 tc.xro., elt, 1en1 ,1 vocação dt diur, comCJ n0 um mo~ im~to c.iuc tende á mrutitrnçito dt~ guildas de menestreii,: ore-
ca~o do canloI que o trovador Prirc CanlenaJ, filho de um nobre c~\'U- guJamenLo corporaúvo as,,egura~·a tanto uma estabilidade econõmic.i.
kiro da Au\ergnc, con1ra1a. Várias cortes ré_gi~ 11veram seus leitore~ quanfo ama. integniçiio mc.ontestá1,o•el nas e.:.truluras d a Cidade.
ejograis ::omratados: o de Castela, de Aragão, de Portugal, da F.nn- ' - -Até essa epoca relativamente tardia, a maioria dos "jograis' ' levou
ÇL da Inglaterra, do imperador reuniram mult1dões. em certos motnen- 11ma existência err~me: de mesue em m~;tre, ao c:apncho d1U cstaçõc~,
to~ dos século; xu ~ xu . A esse pro~)ito-' fal u-se ele :mea:natc;.Jr~- ou mais deft.niiivamente, como e crov11do::- Peirol, por não ter sabido en.•
se an es de uma ~cace sc;rriços. Gotúried i.on Stras,burg m.ç:i um contrar um patrã~; _por "gosto•• t11.lvc:z ... por medo ou recw.a de- uma
retrat,::, do cant01 da corte que e:u:lu1 toda idéia de r>Cbaitamf'Jrto. A co- ligação. Ainda recememcntt; considerou-.sc que certo nomadismo era
municaçàD ela poesia do,, trovadores e de seus imitadores, a.li fonm13 an- o tra~o comum desses poria vo2e;; do mundo mcd.ic:val :n - 5c-gundo W.
tiias do rorr.ance. uma e outras ex;:iressamente destinadas a um publico Salmen., tão Dumerosos nos s:cul.os xrv e xv quanto os eclesiást:cos. As
cone:;ão, exigi3.m run pessoal cuj<1 valor não se podia. de jeito ncnh1.1w informações C(l.le esse autor fornece cornpJetam, para os paises gi:rn1a-
a,aliar. Por um resvalo natural, acontecia que um príncipe confiasse a n.icos e eslavos, os dados antigamente compilados por Mcnéndez Pidal.
algum de seus 21enestréi5 uma missão delicada ou confidencial, de 1De!íl- Toda a Euro:,a foi afetada por es.?ta 11.)igrdt,:âo cíclica, permanente. Podem-
. ou mesmo de embaixa
sag.e1ro . d or. '9 .-.o • 1o xrv o·..: xv. qualqurr cor-
'-' .secu
se r.raça.r ma:,a..,. SaJmen fez sete, demarcando os itinerário~ de "jograis"
te d e ;;Jguma impartÃnciatcm .s.co& JJlWC-.SU~; _a1mJa por voita d.e I j(lO, prescmc.,, rnJ ~::l:u.lu x v, às t'es1a.i orgaojzadas em Hildeslleím, r,. 11rem-
a rainha Ana, o rei Carlos vm mantêm perto de si rhétoriqueurs céle~ berg, BasHéia e outras ,:idades; espalham-se aré a Dinamarca, Suécia,
brcs, Jc-an Lernairc. Andr~ de La Vigne. 6i.cs poe1as designam a si pr-o- Polônia., Hw1gria, Escócia, Borgonha, Lombard[a, Espanha. U~ ttine-
prios p,elo terrr.,) orodor. com o quaJ, apar,enteme::1te. c,,.•ocam a função rários mencionados por IV1enéndez Pidal abrangem as terra5 ibé-icas,
tradicional e.e porta-,,oz. framcs~. il4.Ürna~- Acrescememos a ~sse5 quadros os Estados "tran-
lOs di,!niJários eclesiásticos conserva.rarn-sú.r.eqú.entemen:e a1-essos cos' ' da Grecia e do Oriente Próximo dursnt,e o século x1u, Chipr~ ate
a favo.!'ecer uma art~ que e-scapai,..a a s_u.a açào, retido~ pelos preconcei- u, século x1.,. Se Beuve de ttanwne, h,crói de cançõe, de gesta france-
tos proprios :te seu meio. ~o encanto, não faliam e.xemplos de prelad<is sa~, passou para o íolclKe russo. isso sem dúvida se deve a algum jo 9

que ajriram a ··h1s•riõe~" os palácios epi)>cop~ _:orno. ainda D<!S g.rnl ele lonio curso. 1--
entretamo, a<; c.'id:ades burguesas reagem a ::ssa ia-
séculos xm e x·1, na lng.aterra e aa Espanha. Certas igr:Tas co:itrat;;;. cessante ínvas.ão de:: levia.,os de ofício suspeito. As municipalidades
ram p::ietas e cantores que se encar:cgavam de ~ua i:ublicidade junto ao~ ado~ã:n - c!OJ)1~o ~mi em que oficialiJ:arn a atividade de certos
pe~egrinos. Na re5iâo de Santiagci de ComiJ(lsteJa (e ~m maü de um.a. jograi!; - regulamento~ gue limi~am o número daquele.s admiti:fos co-
dúzia de pequenos santuários foca:s), devemos a l"Sie costt1me ~ can:rn mo re,;demes, mesmo se t.emporàrios:1Estra..burgo só quer, por volta
de ror::aria que nos: foram conser,ados por alguns cancioneiros ibéri- de 1200, quatro; Cracó"ia, em 1336, oito; Colônia, em 1440, qt:atrc.
cos. S;gundo Bêdie1, tal :eria sidc, a orige111 das canções de- gesta D 0 O!> oucrcs não são tolerados no pcrlmeuo urbano mais que dois ou três
sécu'.o x ac Xlll, a~ •·fes~ de jogra;s" efetuaram-se pedodicamen1c cm d.ias ;onsecutivr>)_ Ern Bol onha, cm 1288, em Paris e MontpelJier, em
algt:.mas grandes abadias, como a T:inité de Fécarnp - lu~ares de con- 1321, é-lhes proibido pas.'>ar a noite.~ uma cana a Boccacio, escrita em
tato e de comvetiç.ão entre clerCT e ntérpretcs e dos ir.térp,ctes enr1~ bi, Pavia por volta de 1365, Pdrarca cvCJcará com d~pr:!Z.o essa ge::'l.[e que
contri':mindo .sem dl.ivída para a formação de umaelile destes ul1imos. frequenta a:nda o norte da Itália.rir Aliás, conforme seu moda de ,·i.da
E m certas ciciad!s. a municipalidade Pª.Sª"ª aos contadores, caulorcs seja mais :;.edencário ou mais itinerante, os cantores, redtadores, leito-
musjcos, para melhor controlar-lhes a at:vidade. Desde o fim do sécuh:,
res. reprefemam do~ tipos de homem, com mentalidade cada vez ma.s
::tistw:a à med.;da que p~~wn a.~ gerações Sem dúvida, nos sect:.lcs xn
urr,a cont:rana de Arns reuniu (sob a 1n ,a~.,, éc: ,:,,oi.sa S.,nho-
XIII, os ca,;os rncerm::d1arios foram os ma.b numero.,os. f\·fas, no limiLe,
ra) burgue~es e jograt~ da cidade. T:s a in 1i1uiçào 01.: outras sãmilare~
a direrenca, ap:'ofundando-se, pr~para•va o ad\enLa do nosso "homem
não são alheias ã fonnaçio do P".rs, que do bfrulc XIII ao xv1, t>'n \'íl•
Jc letras cujo~ mais antigo~ espccime5 ~e encontravam na ltál:a do
na, :idade, da l·rança etentriona.l e do Pai cs Bau.o rcagrupatão '''lllQ XJ\I, R., rarinh· ''<I França do -de •.,_
penodicamente ~:fn&!o~ c1111an1e~ tia poc,rn, cantor e "ret6ncos".
",::,cora.ão deum rnundoc~tá\'d, o "Jogral"' ,1gmfiça umainsta-
Em torno de JJOO, rroJcta,se, especialmente na I rança e 1a E puru,
bi 1da,x radical; a fragilidade de ma insm;Jo na ordem feudal ou Lllba-

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m.1 sô Lhe dd.xa mu-J.ilidadc cc intcgraç..'fo ~ocial: a que se opera
Ulllii rcs e tazem '1.'.l:!llir em ~eus des Ol:tmernos <.hplomáticoo:i. por grnp.,<
pelo lúdico. Es,c t:. o estarum parado1<a a ma-rík\lar a libe~datle ée: ~ll5 dt' jng•aic; d<,s U4lis C'O •
deslocamentos n o espaço; e, de modo :undamencaJ, a implicar a pala• 1 F. nes e ,.;on1cxto soetolé,g1co e 1..'t•m bcst llt'l - e não em c:"clusi-
vra, de q ue é ao mesmo terr.pc o órgã:> e o mesue. Po, 1~0 Q "jogral' · vns con 1dc:ra õt-. filolôgi::as - que convi:m rntcrprcl r
1 • -,e aJe:sca, wi ,u..c1strtbund sodrdllde rn:nn.ocrI,!itlís, Till.m c.tto m frcrt ntemente 1 , o ULntoo
p~ ae~a6ãfóerii"ptura, prospecti\'a e redenção ntual, espaço pl~nário ~ucrreiros recuados, t'm pleno combate, ,eja por ~~!alistas, eJri pe-
da vo7 humana.,r ~:as i:;ública~. tais como o ~ornamento ou e ar:ie.sa- los préprim comhaten.es A de~;:,eiro do ~r11c1 mo an11gamcme apre-
;nento dos princiries: no de Educrd<.' de Carnavon. a 12 Je maio de 1306 1:madc, por Far<.1 , pare;:e crnc1 que ha..,ia ai uma tradi,{io b ·amt> a:l'1•
!omaram p~rte 150 mene5trc1s tdús qi.;ais ::ios soi}rou a tolha de paga• Jd, bi.:n e:uawida rnr~ os ge·ma:10), o~ an.-g.lu sa:ue) e os celtas. que
mtnto>; dezoito ano~ mais tarde, urra ct:"lrt~ n:un ida em Rimini pe.0! se rname1·c no Oc1de:ite au~ ()S seculos x11 e x1I1 - nJin ee Jm ,vaml'tite
Malate5ta reúne ] 500 deles !21 Mero oráveis enconcros balizam a$si-n a durante as batalhas carn,ais, '°mo rnoma o c:l(emplo de um bando de
história de quatro séculos. O amesamento dos 1:lhos de Frederico Barba- sagueadore~ horgonhe.<:!'!, que Raoul le Tourtüi:- e-,•oca por ,·olla de
ro:xa. em Main2., em 1184, a entrevista do mesmo imperador com o rei 1100.;.s O caso mais o:plfoto e (sem dú,-i.da por engano) mais con1es-
da França em Mouzon, cm 1187, :oram a ocasião -para contatos tes- 1ado e o da batalha de Ha.sdn,g1, que em 1066 rõs a Inglaterra nas mãos
soa.is entre cantores români~os e germâmcos, contatos que contribuí- de Guilherme, o Cooqu~stador. Sete das dez i:rõnicas queros relatam
ram para a rlifn,iio eurnptlia do gra:ide canto coriês. A crônica do sc:u- R~talha, respecti-.-:.unen1€ redigidas entre 1070 e o inicio do século Xlll ,
]o xv comerva a lembrança de Llilla 11,·asta sfric de ajuntameruos festivos, mencionam um jogral que, marchando à frente do Exército nor'Tlando,
,m!índo sobre o Ocidente ◄.até a Boêmfa. de Sigisroundo e a Hungria
bC dt\l com seu canto o sinal do entevero; três d~~e) lt.'1.lrn. lhe <lãu um
de Mi11tías Corvino) uma densa rede de relações princ:pescas e de dis- nome: Taillefer; <lois sugerem que ~amou uma venão da Chanson de
curs.m que r:xa.ltam, pela boca dos poerns, a Ordem a.sslm manife~tada. 26
Roland. Segu1Ltlu diversos documenLo:s, como a esrân:ia 97 da Cha,r-
As festas particulares - banquetes. batizados e sobretudo casamen- .son de Gt4il!aimu, os con1andantes gostavam de aco:npanhar-.c de ,;:2.n-
tos - u:t,1u1:riam também, mais modestamente, a .intervenção de in~cr- t ui~ épicos aplos ao oorr. bate. Numa sociedad~e2or na!ureza ai:1.da
preles de poesia. Sobre este últ:mo ponto, os testemunhos são inurnerá- e:a guerreira, esses homens ore.reiam uma fun~ãc cOH.s:ideravel; sua. voz
vei~ desde a época meravingia ah: o século xvr. Rennocia-se ante~ às propagava uma virtude1 ef-et uava a transferência de uma vaJentia anccs-
núpdas do que a gastar o ternj)O com Jo!!rais, conforme o Roman de [ra] aos combatentes ce enlâo: "para acender, com o exemplo marcial
Reriart (seção 1, w. 2763-4); em Jaén, ainda em 1461. para celet>rar seu cle mn nerói': como escreve-u William of Malmes"bury, ' '.aqueles que S!
casamento, o condestâvel J..figu.cl Lucas despenderá uma fortuna para preparam para combater".
garantir a presença de um numero suficiente de rnenes,1réis e vesti-los
com o esplendor n~essario,21 .'.'fuma :nodelar carta de recom endaç.ão
par.a um jogral, Bonrompagno da Signa, por volta de 12.00, jul,a-o ap- ~La~a.J....pela g_anra de todos tSS-e!; homens tmuito rr.ai~ rara-
to a apresentar-se tamo na ~om: q11ama numa cer imônia nupcial. 2• O mente, Eem dúvida, pelas dwas mulhere.s) pronu.ndava-se uma palavra
elo, aparentemente funcional. que vincula essa ültima audição de can- r
-
nf<:essána manule:nçã.o o laç:o social~ sustentando e nutrhdo o ima-
tores oi.; de recilaclores (o episódio das núpcias de f lamenca con~titui ~-nàrío, dh'Ulgando e confir.na:i:io os m 1tm, r{'l.'f'St1da nisso de um.a au-
a mais briJhante ilustração) rubs_isce a'.é hoje nos costur.ies camponeses - -
torid.ade panicular, embora não cla_ramente distinta daquela qLe assu-
de ,,.árias regiões européias e ac1er.icat1as - elemento .ritual cujo funda- ~ dfacmso do juiz, do p.rcga:for, do s.ábio. Dcmde o uso que o podM
1
mento liga-se aos ,ralares psicofüio16gkos, míticos e sociais im•escidos tenta periodicamente faze: d!la, engajando e.orno :p:-opagandistas os jo-
na voz humana. E le manifesta o poder da fu:içào v~al na cu ltura da grais ou deres leitores· o chanceler de Ricardo Coração de L.do recru-
qual se ergue esse rito. 'Por isso o intér;,rete de ROesia assume nesta um tara na Fran_ça cantores encarregados de louvar seu mestre nas cidades
e!Ptel de medidor do tempo social - joscunente o que ri~
mas t:unbém cs momentoç fortes cpJe, sem recorrência regular1 ma.-cam
f~ , inglesas, = dúvida coTJ.SÍderadas p,o1.i1~u 1....in fiáveis; 11.5 p odr::stà lcalia-
nas, no skulo XIJJ , paga,.am saJários a ew louvadores; a França do
11. suc-e'i~io dos dias~ viagem,, longos ca\'algadas. Reis e grandes senhc-- 1em;.,o de s. Luls e, <.fuis ~é..:ulos mais carde, a dt Carla v11 sao rjcas

" 66 67
1
em ra•ç exempJo, Toda.1 :is ~m11d:s r,ul~mit•a5 de emllo @antiaram p,,;-
•igrufiL·.i ob~ttkul.1 à perutên:ia. mstituidc~,;1 ~ 1ormas cn~üs, o:i, :>em
e-ça \ia os IU1!311.'~ púhJicos. envolvrndn ,t, n111!11dõ~s. e e.,a lradição
pior. \tgnllica 1riunro :Ja f\lentua I:' da Depr.Jva;ão. Es'-1:s :11Jgamtn ç,~
~ mante\e at! os 1cmri,, de LllÍb xr, e, em ouiros lu&are,. até muito
re,-ero~ i;iíluenciam a cpmiào geral, sem rch!ar os costume; lúdirnsao.s.
ma ~ tarde. A cada homem ua pala, r:i .:.le.,i3na no grupo um lugar, do
qual. n,1 cora~ o d ~ sociedade muito rigidamente formaJizad:u, ~ di- cua1s estfo associadas as d.~ersas formas da poesia. Dai as contradi-
.,.icil mucJar-se.[t:1a Europa do dculo i,;: ao .xv lugar do ~rtadt>· de ções quC' a esse respeito se revelam oo.s textos. Os :neio~ ca,alheiresco,.
pcte•fa é central. A ide11tídade de um imérpre·e manifesta-se com e'l'i- à med da que o progres~o geral da economia lh~s as~egura mais lazer
d!-iicia tão logo abreF'Ooca: ele ~e dcfiiie em OJJVl!ição às oatras idemi- e alarga seu espaço de jogo, são meno) sensíveis a esse ascetismn c-ultu-
nl. Nos sé:ulo X'\' e x:v, apesar das ruína~ acumuladas cm todo o Od-
:la.:fe• se>eta.~. que com refação à •Uél sã:, di~pcnas.. ncompletas, late-
r.u•, : as quah asrurne, 1otaliz.a, :nagnifi<:i!: den:c, um fr~ne,;i parec... lomar coua das cones principescas, onde ,e
Jfetricus er.im rnodus es, histrio.'1um qui i:ouintur camores nostro inta.uram •,eráadeiras liturgias do sou/as, das quais camores e- recitado-
r.wt,'70&? er armquirw d{cebantr.r poetui', q;;_i (_.) carrrus ad Of'Et.Jenrium re~. ~om o,. mi.sico~. ~ão DS oficiant.c-s princip.ii~. úurLfu nao <la mETit l~
~-e.' 1rutruendur1 more.'; ve! ad mo,endum animor er ajfec/us aâ delecto- ra, como o cizem os Outras, mas do disfa.roe, da ma.s,:a.."Ti e da f;;ção
alegre.
:,or.em ~•e/ tnstiliamfin,n,tnt el compon11'1l ("O :itrno penence aos bis-
triões, que denominamos hoj~ ca.'1lorcs e que se chama"am na Am:güi. A exist~cia de i.nté:rpre:es da poosia constitui um elemento ativo,
~ade poetas [ ... ) os cue moldam e harmonizam seus cantos tendo em wu I~u:nto. a essa soc:edade ao r.1esmo tempo aberra e mcessant"'eiiieiiie
Ie:üada íiclõJ~aDltlllO. Ela fascina e inqu:era. A Jgreja não parou de
·,ut.a h::ukar ou corrigir os cos~umes. ou inCitar os esp:rito~ e os cora-
;Dei 5eja à aleg:-ia, seja à tristeza' ·): tais são, por volta de 1280, os t.er-
mo5 •:rue empreya Engel:nrt d'Admonl L'l Que es~ lermos retomem um
clichê de origem anti5a não faz deles palavras vazias. Mais ou mer:::>5
--
fa•cjar ai ,1ma força ::ec.-etamence rival, talvez inspirada pefo -inferno:
conflito deCllli7Jra:., out:ma aberto por s. Agoiilmho. - -
c111as fórmulas
condenatóna5 serão incamfü•elm,:,nte retomada~ em declaruões, regu-
r.a me,ma époc'I, o alemão c,mhecido pelo nome Der Meissncr se cx- lamemo51 editos - ecltsi~7icos e às veze~ ri-gios - . até a época mo-
:iri::ne de modo parecido num.::. de sua; canções, culocando a fofase 11a de,ia, l'm (;Ue o teatro finalmente recebe concenuado, e~ses ataques.
,.Lnção de "conselho" [ro:gchc a/ler /t1gen(), isto ,:, de disc.erni111emo Pois õ teatro, a parrir rfo século X\i1l, foi a úlüma. :·o.ma poérica em que
~ 1:era:idade... EnLendamos o c.ont~tc; com base numa capacidade es- subsini11 .il;io do n..-gÜJle medieval, inteiramellte determind.tlo pela per-
pecifica da lin,gt.agem poélica. 1ttualiutl.1 por um an:is1a competente. "8 fonnance. A que:x:a, qu::mdc, se toma cspedfi ca, prende-se ao ternm :x."!.lr-
:\"o::iío ''utilitã.ria'', m;..-; indissoC.:ávd dague.a do <livertunenco! nos sé- 7iiilas. e.i.:ce.sso de palavra, u.~o desnaturado e.lo verbo. Pouco a pouco,
cnlm x,, i:: x•,1, enquanto os plle:as corne~·avam a afrouxar seus ,incu- no contalD dos irri1m:iru,:; burgueses, at se í:t.~rescema;à a m11.l lhr..as, ne-
Jc~ s::-ciaü e desviar-se ::iessa grar..dl· ·deia, os "bobos" e bufões da cor- gação do trabalho produtivo. Mas nada pôde impedir a mLltiphcação
e!'" c2derarn a retomá-la por sua co:ita .. Ft:ndamentalmente, durante tles,a "raÇa" -iue, nu s«ulo xm, constituirá em toda a Europa uma po-
sê::-Jlos a poesJa havia sido jogo, m acepçã,:, mais profunda, talvez: a tEn;ia, impercepth·el ma~ sempre pr~s.ente. De-sde enlil.o, o, moraliza-
rr.::.ü gra•.,e-; seu objeti1•0 ú)tim:>: proporcionar aos homens o sofatium dores (ader.ndo majori...ariamente a uma o;,inião que ~em dúvid..a esta-
fo fn.mê.5 antigo dizia ~·ou/(1s;• perdemos essa bela palavra!). Mas, pard. ,,.ª difundida entre eles !!.avia muito Lempo) deler□inam as coi~as. Da
a. naioria dos ede~iástic::,s, todo solor.ium cheira a enx,::ifre: o termo refere- lllmsa dos divertidcrcs, Thomas of Cabham d·sting11e o privilegiado gm.
se a Jrn ;,razer. a aJgurr. alivío da. alma e do cor,o. à esp,!ranca de urnd po dos '"""tuo~es de ge.,la e dos ;ancores c!e s.;.nto~. aos quais até ~,~ ahrem
J;ti~dade. à gra:.uidade Jc uma açã~, - it Fena. Dn7de a gen~rc~1dac~ as portas de mosLeiro, como em E-eauvais parn as grandi.:,; f::stas. ·'~ A'
de :pe ~• publico dá prrvas p;;ra 011 seu:,. -1-.er..do-es mas t::.""J:-.~..., mesm:i ep,)ca To1m~.... de -1.qumo s.obca-.a a 4uestii.r- em ~ ,.. ,. _ecr.
a. :ep:.rca;:ào de cur,:dez qui.: ganham. co:T1 ou ~em razão, e.ses d1vcrticu- co.s. A Summa theolugKa l!ta 11ae. que.suo 163, ar;. 3J <'-dtui.e que, sen-
res - ar_g-umen:c de p~so para n~ crn~ore~. no e,p•nto de que souic:s: do neces,Mio o <lPJerti.rr:ento do homem, a e.tindade do l11strio- nã.v e:
tão num em si t ?Ode es oasiderada um t~aoalho - pruneiro esforço
pan 'ttCOnh~r ao po udon1 poe,1 uma fun1,lo t:spt:,(,1aJ, num mun-
do onde tudo o nue exist~ tem um pa;iel.
&tav11 paru se rc,-olvcr o qi.:c:, lolO~ ull 11• e.los lcrrmJos claqt:ele lem- de"); opos1çh, qut!, uli ,s, ~e ntem1.1 nos uabalhol ma•~ rc:1.;cnte;. l\1,;111
po, comritufa um \'erd;:i, leiro 1m1 blem.a Em contrapartida, poui.:,1 lhe, a França nw1 u ltfili:i ofcreccrum a1111po p;: m dist nçõcs 10 nmcl:1~, mns
importava a questão trcqlienltmt:nll:: colocada pelos mechcvalistas do, o modelo ílurna entre 111 lirth.1s d mais dr uma obra eniu1ca. r--tonaci
ano:. 1900: que distinção fazer C.'Tltre amor e mLerpre1e? Onde situalí urn ant1iamentee-,oa.wa a existência de uma lt1terat1m.1 g,ullaresca, l11npi-
e u-" - tcrmOS'llllLS baD:lís, ~ mre1 rogação resumia-se en. ~.1t:w damente dh1crsa d.a. elenco e. L. teg no ai o u e t 1U:ià que
se, qua11do e como o "Jogral" foi, talilbem, poeca. Diversos tmhces le- as diferenças a.,,im de:notada~ perdem ioda a pemn!nc1a caso se le1-e
varam os cr1uco!l a responder afi-rm.tjvamence. t.ratando-se d1; cal indi- cm -~onta o cará:n mímico da comumcaçâo; de,~e ponto de YMJ., a tu•
viduo. de tat texlu. Sena o caso de vários fabliaux, je- romaTices mcs ~liJadt Ja ..,,~e~ia itah;.r..a mais ancie.a. do l?umu cassmese aos ,crnllra••
ID;), como o 11-istan de Bêw.11. Esse~ são eiternplos específicos, dos guru~ ti genm·es~, manifesta pe:-teil3 hcmogcncidade. \ão me e.,pressana i.le
não se pode mar nenht.:ma conclusão geral - 1anto mais que n a i ori- c1:.tra manein. a pro;ul:\ito da poesi2. franctsa. A <1ues~ão se coloca em
mato da maioria dos 1e,:tos in(fjc,a a ::iue pc:mto a sensibilidade medieval termos idêmicos em tecia a Europa.
aessa.s matérias, na au~ência de qualquer noç-J.o de pmr,riedade imde~- Pelo menos Dão ie p-0de negar a 1m;,ortáncia do papel dn~ redr;i-
lual, rufere::1ciava-se da nos~a. Deslo:arfamos hoje a ~llfa.-.e e pcrgunt.a- dc,res ~ carllores profissionais, através de reg1õe~ :ão va:iadas, na fo~-
rfam~ qual ação o intér;,rete pode é'Xerr.tr sobre a poesia; de que rna- mação de línguas poéticas rornâJ,.i.:as e ge~mânici, e, talvez, de sii;le-
:1cira inte:"Vém na economia própria e nc funcionam ente do dizer poético. rnas de vers.ifica~ão. Papel triplo ou c_uàdruplo. O _próp:~o nomadismo
·\las Vidas de uovadore~ e nni- razos e.e ~ançõe.~, o uso con_stame uu~ de r.:u.itos intêrp~Li::~., a dispersão d: sua dientcla :ornaram pos~í~·el e
termos Jaber (lrohar) e s'er.tmdrt! (no canto), ora conjugados ora em necessma a co[]Stituição de idiomas e.amuos a r,:_giões mais ou rncnos
O))0Siç·âo., parece-mf. 1r11ir J.u na percepçã.o da <:Jri~nru;dade du imé:pr~- ex:ensa§., m;.ns_ceuh:.n.c'.o ~ dialrtu) lvca:.. originai'!, Talvez i)OT isso 1.1:.c,-
te: ao contrário êe Boutiere e Schutz,. entendo esses verbos como mo os "jograis'' tenham transmitida ao m 1mdo me:lie-.'al os refugos de
reforindo-se a duas athridadt:. wferentes, a do compo~jtor (suber) e a arcaicas formas imaginã.ias, inte~radas tto funcio:urru.·mo c.Je Wll<I liu-
outra; ni$.So, é JlOt.l\•el que enterrdre(ouvr:), 1;Vocando um.a mteoç-âtl, con- gJagern; o fato não susdta nenhu.rua duvida no., paises nórdicos. ]I) A
:er:tração e pcnctra.çào intclcct1vai, seja muito mais rico de conotações pala\':a poêtica rncalmente transmitida desia lor~ reatualizada. rees-
que sr1ber. A Vida de Arnaw: Da.ruel iesigoa expressamente O trabalho cu·.ada, mais e melhor do que teria podido a escri.:.a, f.avoreoe a mi_gr,a-
ão iatc:IJ11~tc corno um duplo processo: escu.car mas também. aprender, çao de mitos, de temas narrativos_, de fQ,nas de.J.ing_uagem, de c:-stilos,
isto é, fateriori2..ar. de rr.odas, sob:re arcas às \'ezes imensas, .afetando Q!"Ofund.amente a sen-
Neste escudo, mais .,,.ale afastar de imediaro certas obsessões que slbil.cia:ie e a~ ca.11.acidades invoenti.vas. de por;,ulações que, de ouuo mo-
foram herdadas do romantismo e das quai s os medievalistas 1êm difi- do. nada tera aproximado. Sabe-se quantos contos circularam ass.im de
t:uldade de se libertar; aquela~ po1 exemplo, que leva à classificação{de un: C."(tremo a outro da Eurásia. O fenômeno se prcduziu aas próprias
autores, de lextos, de tradições) em p0pu,'ore.5 e eruditos, cleT'CS eJoz,ai.s. fontes de unu J)ala\Ta. Mas nada teria sido tra.ns:rnitido nem recebido,
ou o~-as similares. Th.h dislinr;iies não t~m ~emido. Arnaut Daniel, que nenhuma t.ra.nsferêm.;a se teria eficazmente operado sem a íntenençio
era t.Jdo como um dos poetas r::.ais dif1ceis de ~eu tempo e a quem roes- e a colabora~ll.,o. sem a contribuição sensorial própria da voz e do co~-
mo Dante dará a palavra na Comédia, tomou-.5e jogra] depois de ter po. a mtérpme tm.esll'.íUu.e .s.im~iwl: públi~ uma J?resen_ça. E,
aprendido Jas feiras. J\'ào foi o urnco. Nessa perspectiva. os medi~valli; e-r.i fãccde um o:uditório concr-eto, o• 'elocutor coacreto'' de qut" falf-lm
tas alemães operam com a ajuda de uma noção cujo fundamento não os prag;matista.s dl!' hoje; é- o "autor empírico" de um tetco cujo au~or
se pode contesrar: a de SpielmMndichtzmg ("poei:ia de joB!al"), uttli- im.ptcito, no ios.tante p';'(:5,ellte, pouco importa. visto que a letra de!tse
zada para caLegoriza.r, em pa.rticllla:, as ep<ipéias de origem germánica tex.lo rulo é mús letra apenas, é o jogo de um incliv:duo partkuJar, in-
antiga, como Konig Rolher ou HPTzog Ernst, ou v~rsejctduras didir.i- cucnp.uável.
c.as. como o Salman und Morolf. Na Espanha, dois versos do libro de
buett amar interpre1ados oomo LJil julgame.nro clas.sificatório, provo-
caram no vocabulário do~ medie\'alistas uma oposição entre m~ter de ~ mais por seu conj1..n10 e sua conlinujdadc que -..alem o te tcmu-
dertY:{a f'ane de ncadcmía") e me.rter de jugiaria ( ' 'ane de jograJida- nhos de todo <J tipo que C'l'oc.am para nós es e! porwdor da voz.. inda

7/
c~,m ér-1 [lerccbê-lu1 ,ob um fundo dt ru1do do qual m:11 ~é' .Jc 1acam
às vcus:é tormigamento onoro dessas cidades, desias corte~. dessa~ cons1sua -em "monum.:ntaltzar" todo d1scu.no. 1i Assim s.e desenha Wll
igrejas de pcregnnação,. murmurios, gnto~. chamado~, ,anto:., imcc,j. lra<;o fondarnc:ntal de •1 ma cultura. A ,;02 poécíca se inscreve na diver~i-
\'3S, no qual f; zem r!!o fr qilentemente alwão (com uma espéci~ de ale- :iade agradáu:l dos ruídos, por e]a dominados na gargar.ta e no OHido
gria) poeta , r.>msnc:su e cont..dore~A _. corte de Artur, vigorosamen- humanos. A pinturi do para.fw por vir, esboçada pelos pregadores (ou,
te e•,ocada per Wace, ressoando de ªcanções, rotroutnges,• árias no•;as" imitando-o. a do mundo das fadas por urn romance e-orno o ioglê-s Sir
da -..oz ::los jograis e jogra esas. do som das \'leias, rúlOJ, harpas, fn>tels, Orfi•,,, mai~ ou menos em 1300), dIIUncia alegriffiuditivãs: coros de
liras, ti-Ti.bale\, ~omr.as, tanto q1..anro das blasfemias e das di.s:putas dos a'ii°Jos, camíoos de santos, harmonia de instrumentos musicais, espe-
jogadores; as nupdas de Archam:>aut ern Flrrmmro: il'TI<lgens ideais con- 1.:'.ialmeme a harpa; e, por efeito comraditorio, o~ castigos i.nfernai5 se
cebidas por esc,.hores c:ir!es.ãos. ,r Mas o.; i,formes provenientes de to- acompanham de e:.lriclérrcias. mtoleTáveis e de palavras h.orriveís. :l.l Per-
das as outras for: tes nos mostrarr,, de indiYíduos ou ::irrurul.ãnc:as bem ;;:be-se aqui o eco de um Lema poético muito vi-.o desde a baixa Antí-
reais, quadrm simila1es. Tratar-se-ia de ur., terna literaio gene--aliza.do gcidade, calvez desde Vi:'gil.io: o Jocus umoenus - lugar ídilico do jo-
que também ,os remeteria, de maneira ind..rcta, a um .raço dos costu- go, da coní:.dência, do amor, 1.lID dos tipos mais recorre ntes da poesia
mes e da menta.lidad~ E ploc li dons e damneis e f{U~,a e ,nes.,;ifl., e med.!eval, em todas as língua~ - comporta um elemento sonoro. c:anrn í
cortz e mazans e bruda e ch.anz e solat;, e luich aqwil faich per qu'om de homens, pássaros ou li(,mtos, proporcionando um prazer ao om·ido,
bons a pretz et valor(' 'Pois o que lhe agradava eram ofem.,s de ;>resen- ioa!!cm. causa e cfeíto daquele do coração.
tes, galanteios. guerras, despesas pródigas, festas da corte. barulho, tu- Figu~ent.e, é a um lugar ídilico similar que aspira a "corte-
mu1to, canto, alegriá e tudo o que c-.onfn<' a um h.amem de qualidade ~•·, difundida desde() final do s,éculõKCpêlo meiocirvalC!.rC$CO;ena:c
mérito e vaJor' '), escreveu o biógrafo do lro·.ador Blacatz; e o moralista os primeüos trovadores:1ãITugar tem um nome: aiZi, ai:âmen, slgnifi-
P ierre de Bl ois:, i11vcrs11me.nte, e\'OCand o :1) m :rri ta çãi :> .a corte do rei da rr:1odo mais ou menos :. ''mor4di11 do Amor e: da Harmouia"; e: rulo é
Inglaterra, modeJc mesmo de toda corte, retrata o cm~ejo e~candaloso por acaw que e5se~esmo~ po~tas aqqwriram o Mbito de começar suas
que o acompanha e cm que se rr.iscuram: ni:s.triõc-s, ca,toras, Lurões, Ctmço~.s por u.m.s .:strofr que evocii .t 1enuvaçao prlmavertl e os carito5
mimos, charlatães, l:arbeiros, prostitutas, jogadores profüsionaís, ta- dosp~aroT. O termo cortesia~ guanao a?arece na Jlngua (no século
berneiros tagardas... A c.escrição das fe~l.t~ ji..:gralr:scas orgaruza:ias em xr;, refere-se idealmente à •tida das corces ,enhoriais; num mundo in-
Paris, em 1313, p~la visita de Eduardo u, encheu qua~rocentos versos coere.:lI.e atravessado por implll!)OS anárquicos., a cone idealizada, utó-
retumbames da ChroniqrJe de Oeoffroy. n Manifestações d.essa n.a.tare- ;>1ca., tem.atua as commdiçôes, harmorii;,;a-a_s .aa festa e no jogo. Oca-
za se tomam mais freqfüm~es e nos :ficam cada vez mai, conhecidas a va.lcir~. rão logo é acolhâdo, vê-se prisioneiro d.e um espaço enc.intado,
medida ,::iue nos aproximamos de 1500. onde toa_a a energia dos seres visa a um perfeito domínio da palavra,
Tais testeoun1103 balizam sécu1csde história. Incan1a,elmmte nos mais que dos comportamen~os; visa .a domesticar a multidão de VOLC::s
repetem a ub1qüidade ja voz poétca nesse u~verso. Di:-se-ia que não e-ipontàneas para com ela orgamrar o concerro. O a.mor à palavra é uma
fazem senão confirmar uma evidência .. De fato, ma.. fae dão :,e·.: peso virtude; seu uso, uma a]e)l;ría. Lol.'. Ya-s.e a p.rim eir,1 ~111 rC' os Grande~;
e - liter:1lmente - medem sua ressonânáa. De todas as partes, r.aqui.- ,w
5aho~eia-se lado de,c: a segund.i. A es.se respeito, Bezzol:i antigamenlt:
lo que para nó; se tomou p::numbra, agita ...e uma h1.Jmarlidade tagare-- reuaiu vãnos tc:l.tem11r1hos do seculo xn relativo~ à corte- da log)G.tcr-
la e barulhenta, pa~a quem o Jogo vocal ;o:-mitui o acompanhar.ie::to ra. i: Nns ro:nam.:e-~. nas Vidas de uovadure-, me-.,mo nos comentários
ob,iga to·io de toda a,.ão, d( toda i:alaHa, de tndo pcnsainentn. mesrnc d,a un coma...: r dt> .--~.: m" ..., ... utier \.tap, form.g..un uli;~r '"'rÜ<:~ Jt:,,
abmato. de~de que \C:Jam s:.'ntido-, e deseJado~ como o r~flcxo de uma se: tipo. A. ane de viv•~'.r o mats dcliciosamc;r.tc po.;,siH:I, produz,da por
imanência. imuni1ado~ co:itra a detenvra~o da.: circunstânciii\ e do tem ec;,,e meo, ,i tin,,amv.r lCJUC can!.i:lm o~ trovadt>J n c: seus im irndo1n atra-
po. Não há arte sem voz. o 6écu o ves do OcidemeJ, contmua., cm sua essencia, jogo 1,er',aJ Esse "amor",
IOr de gesta" porla4'0:!,:públiíco,
que- por essa ramo 111~.110 - Jamais prodL11 conh\'.'C1memo, escarda-
hru cerru, dêngo:., r,oi• rompe :om uma tradição de Dngcrr agostbia-
1'I j>(lcma, mc:d11:v;n a:impo;to~ de un~~ ~trolc,, e termmadoa ttn nfr6, ◄ Is T 1
na, incorporada pdo C'lst1am-mo, segundo d qual o a.mor une a in:cli-

73
e~ncia ao que ela sabe. El'lpcriêr.cia da r--'la~·:a, ma.is f cqur:11trn1c111t: díl
pala'Vra obmi-a. o.fine ~ r não tem jamais a garantia de de~al:ro~har
na experiência de um 11tmido.
Por mais Ilustres qu~ sejam a nvs.sos olhos, os trovadores não cons-
.tituc.m ("' ,.,.. T.' ~ !l'IOGJ.G:a, todo . .CU ~
1

-ecit.ador, leitor público carrega uma YOZ que o po~sui mais do que ~le 4
a doJHi.na: à sua própria maneira, ele interpreta o mesmo querer pri-
mordial do padre ou juiz. Seu discurso é mais gc-:-al do q11e o drne~ ul- A PALAVRA FU1VDADORA
1mos; seu S1,m1S, meno5 p,ec:.so. \las a vane<l.ade das palavra.,; que ele
tem por míssão ;:,ronvnciar diante de um gn.po, sua aptídão p.aticular
p3.Ta refletir {exaltando-a) a dive::sidac.e da expenência bunana, para
responder às dunandas soda.is - ;s.sa dutilid3.d~,;; es.sa orupresenca cor.-
ferem à ..·oz do intêrpretc, ern .rua plma ttalidade fisiológic:2., uma apa-
rência de universalidade, ao ponto de às vezes parece:-ern ressoar nela. A vo.; da lgreJQ. Os Dourores. Os Pri.,cipes. Cr>m:ergênriar Jun-
que os abrange e.significa, a ordem do chefe, o se-rnão do padre, o emi- cwncll. O nomadismo do voz.
nam~to do-s \lestres. No caleidoscóIJio do di~cune que ra2oitéq;,:,e-
1~ de poc:lia na praça do mercado, na co.:-re senhorial, no adro d.a. igreja, A idéia do poder rer:.l da palavra, idéia profundamente ancorada
o que se re\·eJa àqucle!i que oe~'l,tam é a unida.d!; d.o mundo.. 0& iluvin na5 mcntabdadi:s de então, gera um quadro moral do uruver-:JO, Todo
tcsprecisam dct_àl pe.r<:epçào para... sobreviver. Apenas ela, pela dádi- dis.urso é ação, física e psiquicamente efetiva. Donde a riqueza das ua-
va de uma paJavr,i estranha, faz seAtido, is-:o e, tornai iDte.rprrnivel o que r.liçõcs orais, contrárias ao que quebra o ritmo da voz yfra. O Verbo se
se vh'e. Ma~ o homem vive taml::ém a Ungnagcm ia qJal de provfan, exnande no mundo, que por seu meio foi criado e ao qual dá i,ida. Na
e é so no diz:er poético q1ae :i lingu,agem se torna verdo.deiramcnrc sigrio p.duTa se origina u podtr do chde e da pulílka, do camponê;!. e da se-
das coisas e, ao mesmo tempo, significa.me dl:!la mesma mente. O artesão que mooeJa um objeto prenuncia as palavras que fe-
É assim que, por sobre !odas as ,;;onrradicõcs e rnptll.rd5 r1a n.per:f- :undam seu ato, VerticaJidade lumrnosa que jorra das trevas interiore!:i,
cie, jamais a vo2 poética pode ser '.'eeebida de maneira n.dicalmen.te- di- fundadas sobre os paganismos arcaicos, ainda marcajas por esses t.ra-
\lCna daquela l.lu p.i.<.lrc, do prínc1'Je, cto mestre. Ela .,e ergue do mesmo ;05 prc-fllllcos, tt. palavra proferida pela Voz c1ia o que ela diz. No en-
iugar, anterior às _;>ala,.-ras pronunciadas, mas ressoando com todos es- tanto, roda. palavra não e só Pala\>·rn. Há a pala,,·ra ordinária, banal
s_es ecos, graças à$ sonoridades que emanam desta boca, deste :osto, es- superfi::alrnemc demons.radora, e a palavra-força; uma palavra fr1con-
candid.as com o ,gtsto desUJ .'.llãc. sístente, \.'er,ául, e uma palavra mais fixada, enriqucc:ida por seu pró-
pric fundo, arquivo sonoro de massas que, em sua imens.a maioria, ig-
noram a escrita e são ainda memalmente inaptas a participar de outros
modos de comunicação que não o verbal, inaptas - por issc me5:no
- 8 ra,::10naJi711r sua. modalídades ele ação.. A palavra-força tem seus
ponadores ;:,rivilegiados: velhos, pregadores, chefes. santos e, de ma-
neira pouco diferente, os poetas; ela tem seus lugares privilegiado;: a
corte, o quano das damas., a praça da cidade. a borda dos poços, a en-
cruruhada da ig-ri:js._
A igreja-edifício. onde se desenrolam a litvrgia e. em geral, a jlre-
gaçio. Mais ainda. porém, a Jgreja-instituiçlo. com .suas hienir ui3S e
s!!-u aparcJho de governo, depo.sitária ( o seio d roclcdade) de um ruri•
ção totaliLJdora. Na ordt'm d~ crença! e do, rito,, e dupla prol!i ~ão

74 7J
da memagt!m di,ina, Vtr/lum e Scriptura, impedia que fosse coloca::la de Claip,au" propunb1 a seu correspondente c-0mportar-se como um
e:n questão i1 autoridade do primeiro O catolicismo fazia da ''Erndi- joculal<Jr. ele ouvia, como um "louco de Drus", buo,;car1d<1 s~u proprio
ção" u.ma da~ du:n fonte~ d0 éogma, e e, a noç.ão abra ng1a, com m aviltam<."nto aos afros dos homcn~. 1 Era e pomo ::!e v:su do prelado
es::ri tos pai rísLiccs, uma v:i,to c1 rcu110 de dN:m:c,õe e declara(;'õc ora .s, conse::-,:ador. Quando Frandsc:> de Assis se diúa ••jogra1 de Dew",
• 1.!>tÍlUc1onalizada <rn prática5 pastc,,rai ou conciliare~ Até o .século xu, referia-se a sua tfüponihilicade e i.ua ale~:ia.
o bispo (mais ex :rime:itado, nota Dub)·, do que o rei no manejo da Por vocação erra:ite5 e pregadoras, é.S ordem mendic:aJltes enua-
re:.órica) tein de f11 u u 11011opoli<> da j:Ntla~n vcrid1ca, 1 Em segui.da. um vam no ~,paeo do_og:-al. o. primeiros franciscanos, cor:u. Salunbene,
i.r:i(cio da laicizaçlo i:.c produziu, para provrito, sempre con.testado, do foram tratados como "lustriões' '. De fato, com o Cwitico das crillh.tr{J$
d:sturso pofüko... e ua poesia. M~, na relação dramatizada que cof1- e os l.Ar..di anônimos até Jacopone, os prirneuos f-anciscanos ocupam
fronta com o sagrado o l!omo religicsus, a ,·oz inten.-ém sempre, ao mes- um lugar privilegiado r:a história da poesla italiana mais antiga. Mas,,
mo tempo :omo ;>oder e corno verdade. A ~eu sopro se realizam as for- na inten~ão, .ma palavra poetica não redistingue em n_a:la de sua pala-
rr.as sacrameata.ü e e:,,;orciz3.IJtes sem as quais não haveria salvação. Ea vra pastoral. Procuran o· .igar central em que, pelo verbo, sepossa operar
:1.ão e, então, o:1peoas meto de transmissão de uma doutrina; é, enquan- com o populus t·hrist,arzn um umLi:l.tu fru uo~u; .esLe1uu.u.lla-o a liugu<1
to perdura, fu11dadcra :1c uma fé. Por isso, até a Reforma, e depois de- que empregam, a da "sabia 1gnorânciE.", que modulam..:i.os regisrros do
fa, a maio:fa dosclérig06 nutriu 'l m preccnceito a favor das comunica• cotidiano e do ma'., con:.um. Si:uam-!le, dtrapassanco-a. numa tradi-
y:,es orais. A técnica da exposição das .sumas, como a de Tomás ée ção ede>iàstica q uc remont.ava ao secuJo rx e vüava a pôr ao alcance
Aquino, é a dísp'>l.tatio, a ·•diu:ussão". Por qoe, pergunta Tomás (ma. dos fié[s menos inscruJdos a foTm.a, o tom, o :ontc:L:.Cio das pregações.
quesJio 32, art. 4), Jesus ílào escreveu~ Porque a pata,,•ra permanece ma:s Essa prática rtlo Linha unanirn1da.de: em 1200 ainda. o prior eleito ~e
:;:erto do co:ra;ão e não exige transposição: é saber direto; Pitágoras e Bury Saint Edmunds, na Inglaterra, recusava o encargo, julgando-se in-
Socnite.s já tinham coru:dê:icia disso... A prática da confissão dita auri- capaz àe pregar em laum. 4 ~ verda:ie que se tratava de monges, mas
cu1ar expandiu-se p:-:::1grmivamente a partir do ano 1000, n.o próprio quantos ±stes entendiam o latJ.m? Ilustres p-~adorc:s do ,)éculo ~11. oo-
q1.1adro d.e uma ts!olc.\gia penit~neial cons1ito:da em escritura A insis- mo Jvfaurtce d.e S11llv. pregara.r.i em lingut vulgar para o ;;,ovo; mas a
tência dos tratados de disc:plina mo□ástica no valor do silêncio teste- :naio:-:a das homilia.\ que nos restam é em latim, vá.rias retraduzidas da
rr.onha a um só tempo ,;1, inva;;.ão :los clausros pela palaVTa e a vontade ·.íngua ~·ulgar... bna ::cata.--nente para o use oral! O histor;ador não po-
de purifica-la. Alber:ano da Brescia não escrevia em 1245 um De arti! de deL.~ de ~l'ant.ar-.;c antes a; analogias que es.sa situação oferece com
loquendi e! z"cendi ("Arte de falar e de c.akir")'I a da pnesia r.a lingua vulgar àurame os mesmo. 'iéculm.
Donde uma coIJstantetroca de funções entre clercs e J:)Ortadore.s de Sem dúvida, tal e a razão pe!.a qual só chegou a:ê nós um número
po~-ia. Uma concorrência inconfci.'.>ada parece mesmo ter-'.>e instaura- ínfimo de tennões cio~ fradc!i. rnettdiea.nte>:. Aliá., qualq1.ter que fo~s.t:
do desde o tempo da ev.tngeüza;Ao e :perd·.irara atê o século xrx. Daí a posi;:ào destes a m,IJcilo dos .aterpretes profissionais da poesia 111Jl-
a se,,reridade dos julgarr.mtos ciec::-etados pdo magisterio sobre os mim! gar, es.sc:s últimos lhes dariam o e11en-.plo de técnica-. havia longo lempo
,e sc:urrae de todo o gênero. Nlssa, a Idade Médja ocidental não difere i:xperimentad~, a~ jnicas óe que díspunha a socie-daé.e :;,ara a comuni-
r..ada de oi.:::-m: ctLtura~ •.!lll'asiiticas - o islami,rno e o budl.SIJlo - , com- i.:al;ãu de mas::,a - µrocejin~cntos qu~ supunham pc:-fcito domínio da
portando um corpo clerical, cioso detentor da Palavra da Verdade! Nos- voz, do ge5to, do cenário ,;igrif::anre. introduzem-se 05 sermõe:s por um
sos relatos ·-1agiog:raficos a:.s:r.alam. no emanto. conversões ocorrid~ "Ouçam!·', fórmula conheckla; cita-i.e 1canoool.mdo-a,stm Llú,·ida) \lma
du:ante a audição de um 9iedosu jogral: a de s. Ayben, no imcio de :ançoneta 'O superbr d05 f-adC!-, pregadores jos dom.inicano~J, Hubcr·
se:ulo xu. a co hedtico Pterre Valdo.. por ·,olta de 1~70. A amplifica- ::le Roma'1s, n~ secu.o xm. enumera as 44 siruacbes em c:;ue se pode pro-
cão teatral ca liturgia :aractc-istica do~ seculos \, XI e x11, e~igii.. fre- nunciar -::.rn sermão: 1á~ías delas con,ti-uern laJJ1bem opcrtunidadc~ pri-
q~ememente o re,;u;:io à>S espec.alls1as da poesia e do canto em língua v1Jegtaca,.,; de e,,,.ib1ção Jog,.<l.lesca: nupc121::., as~en:blt1ã1, dtconhu14,, f~1•
,·ulgar. O clérigo do castelo senional era. para 5-eu patrão, La.nto um :-a.s e mercados!" O\ Contes morafüe.i :io fran:::scano anglo-normando
:::apelão quanto um cootade>r.: Por volla de 1140, rcd indo a pedido de Nicole B,:>Zon, por voh1 de 1300, ~ão contos propriamenle dilos, ~cr-
,_..,...,-,;..,..,,. de Ar.ras uma car mões .?QJ>ulal:es ou· ~cs denes" A cultura "nesca e f',~o1ar de

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pois dos d.1ícc1, começos das 0rden no,,as, mpre11t::irâ o d1scu·so pa - si na.m a si própn~ com o nome cssampl~ Para o ou,rmtc, dev1a er
LOral; ma5, lc-nge àe enclausurar-~e 3.1, o pregador contríb d para bem frou~o o hm11e entre CiSCS reimos que
difund;-la jtmto a uma ;iopulação que lhe é estranha e par.i kgra:
tores inteires desta nas trad .,êes orais; papel de mediação que prcen- bém pcrorando na cncrunlhnd:i!
c:iem tamhén. por seu la.do e ordem próprio., as poesia.~ de línl!ua vul- Os heréticos, como por exemplo os cataras, não agiam de m.llra ma-
gar ern todo o Ocidente. Uma convergência iria produzir-~e nc a;,arelho neira, e dispunham de um tesouro de exemplo... em parte o, :nesmos.
jL\ d 7.!·- em rrarcês, em ocatâni:o, cm alemã , çm italianv, rimam-~e A mterpretacão difna A prédica era o mc10 quase untco da dlfusao
~ermões em verso, com um ritmo que frequen tc:ner,te é muito elabora- das heresias. que. :10 ~:.mcial, perrr.aneciam de tracüç.ão oral: >ucediam-
elo e que. a ~o!sos olhes., mais nada ctistingue four.almeme :lo r.:sto da se de modo :ontínuo do ano 1000 à Reforma, cono o ]unge apelo de
poesia Onde t·açar a f.'"Omeira emre tais textos ~ os Laudi franciscanos uma ~·oz que nada ron.segue abafar. Se numerosos trovadores, apos 1220,
ou os ~r'.! de ia "tOrt :-ram:eses do século xm? Supós-se, não sem ve- foram suspeito~ de catarismo. os fatores sócio-históricos tal.et não ex-
rossirmlhança, que as Danças Macabras dos ~éculos x1v e xv :enham pliquem, sozinho~. ess.e fato. A meswa desses poetas-cantores e a apa-
tido o.rigem num sermào \·erSJficado: O pseudo-~ostiniaoo Sermo rente estranheza do que faziam escutar de-.·iant também che1.."ar a here-
contm Jua'ae<.s, !·do em "árias ig.reJas rro ofício das matinas de Natal, sia . .'.'{ão obstante. a ~tr~ia de suas fimbnas mal se disLin,iue do que
tlcsenvoh·eu--sc ate engendrar, r,,o 5écuJo xn, um género dramático par- se denomina,ra., desde Étier.ne Delaruelle, a "religião popular", esse outro
!icular. Jugamente dh-Tugado na França, na Espwha e na lláli2.• o Ordo cristianismo m1:.1umdn rl~sohrev1vê.,ciaç animi~ta~ pou= d i,1into. em
Propltetarom. l'ma ,·ersão cm língua vulgar foi in'.egrada ao Jeu d'Adam, suas fronteiras, da bruxaria, esta também de tradição oral, coexistindo
cido como a mais antiga peça francesa de teatro, mas que, no to<lo. po- não sem oonflita nem influências reciprocas com a,.; doutrinas e as prá-
deria igualmente ser inter-;,rctacl.o como lIIIl sermão dialogado em forma ticas sacerdotais. Ora, ~omente estas últimas - corutítrn.ndo a Igreja
d em imo. O único :nanuscri:o que nos foi conservado contem. 11 fora ,·á- institucionalizada - reivindicavam III autoridade de uma E3-<:tita depo-
rios relatos hagi ográü:os, uma serie de ratos qut mo5tram o mesn<> ca- sitária da palavra d; vin.a. Os ensinamentos e os ritt:ais da • 'religião po-
ráter ambíguo. O que nos surge como um jogo d!" interfe~ncias foi, sem pular" se transo.iriam da boca ao ou~·ido. A 1,-oz se idenúfica"a ao Es-
dúv-ida, percebido pela maioria dos concemporâru:os como a manif-esia- pirita \'lVO, seqüe~trado pe.a escrita. A -.udade se ligava ao poder vocal
ção de uma .in..idac!c profunda das energias humanas.. poJa.."'12.am pela dos que sabiam, IX'I pc. uilva-sc só por seus dbcursus, 11:tafüu do Eva 1-
voz. A v:iolen:a diatribe de Dante, no Canto XXlX do ''Paraíso", trai uma gelho aprend.ido.s de cor, lembranças de h.istórias santas, elementos di<s•
reacãodeintdectual. quenilo admite s.acrifü:·ar-se a "filosofia" ao "pen- ~ociados do Credo e do Decálogo, afogados num co:ijumo mô~il de le::i-
samemo das aparênc:as", o di.51..71.rso divino à exibição. das, de fábulas, de receitas, de relatos hagiográficos. Dai, pode~e pense.",
A ampliaç.so da .ute prediCE.tó:ia a reaprom1a, 11wu ponto p::-eci- a profundidade em que se inscreviam, no psiquismo md.:viduaJ e colet:-
so. da prádca dos oontadores profissionais; o sermão, a ~omilia se rt- vo, os 't'alores próprios e o signi5cado latente dessa Voz; mas ta.mbe:n
cheiam de apó ogo~. os exemplu - técnica não desprovida de antece-- os equí,.·ocos, na superfície e em profundidade, ent7e ela e a vez porta-
dentes, mas que ten:le a _gcno-alizar-se entre 1170 e 1250, mesma época dora de ~ocsia. O aist1anis;no popula: - o qual lsa."Ilt-ert no~a que pro-
em que, na:!> jov~as unhcn:dades. se constituem :JS artes praeéicanai, longava e e:n aJguma medidaperpetu.a,·a um ••pagam~rno popular" da
sisLemati2ando em termos de retórica a eloqüência pastoral. Depois ce Antiguidade - recusava todo unh·ersalismo e, em cor.trapartida. aspi-
1250, por um sécuJ(I, a moda dos exempla faz furor! Paca se::-v~:n de rava a permitir a ca.de. U7Tl, através de diversas meciações, um contato
sermonários, reinem-se compilações extraídas das r.iais diversas for.- particularizado com o divino: um djáJogo feito de pala.,Ta e de ouvjdo.
tes, sobreLudo das tradições narrativas orais, locais ou o:óticas: pos;ui- num lugar e num tempo concretos e familiares. Tudo o que diziam ou
mo~ nada mcno• que :6. do secu cs xrn, xrv e xv, as quais à, ,·eze.s cantavam os. poetas e çeos m·érpretes tend"a mesma a-hi torkidade,
clas~1ficam ua matéria em ordc:m a,fabetica, a fim de tacilitar a ucili- na e-xperiência unk,1 eia a ldi;ão.
zaçao De 'ato constato-se uma interessante corrente de 1mercãmb1m Esses fatores tiveram s:,bre a mentalid d co turnt uma ln-
entre o e:cemp!a e form.is de di,·ert1r.1ento narrat ,·o como os fa1Jl1aux, fluência rão grande que a JgreJa oficial, de d11a manctras, entreabrir
apo ado, talvez. r:,or umo pane, num anti izo folclo:-e. Vários fohLcm le- a inst tuiçào para a.~ manitcsta,;õe <la "rclt .ilo popul1 " pe s fcst 5,
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nun ern!i-8~ -e periódicas, às qua.i~ dan, prcte.1<lu )Ua liturgia, e p~lo cuho Oua!> o.1tras esf.:ras da athidade ..ocal - mal di.),sociá.,eis, estas
dos ~anto~. O \inculo qu~ liga II um 11nti.!,!o fum.lu 1.k 1.ullu1 u campo11e'.'i1:t 1.arnbém, do :-eligiNo mantêm com a poesia as mesmas e.treita, rela-
~ tradí-;õts hagm;ra 1ca~. !>Ublmhadas anugamente por Delehayc. ;6 ções, numa corrente de t:-ocas hm.cionais recíprocas e ince~sa.i1~0: o ~n-
corne;a a se afrouxar no fim do século x1i, guando aparecem o.s pri- ~.ao, no semido maili la.'1.0 do termo, e o acrckio do poder segundo a.s
meiros pr(l os de canonização, ub~tituiJldo a " "oz do po,'O" pelo re~al> do direito.
inqi.;::nto e pelo julgamento. Ainda .1-e encormaráo até o séc\llo >.'V as ]dcntifii:ida~ ctlJ cxcdcio eclesial. tan to a Liturgia quanto a prega-
caaodza;;~ espontâneas, impondo às autoridades eclesiásticas cultos ção t,êm. por objeto a transmissão de um saber privileg,iado, inruspensá-
que, a seus olhos, eram suspeitos: como aquele do ''bom Wemer"', o vel ã conservação do pa.cro social e à ITmizaçio i..m.liviuua.l e c.okt.;,.a.
pseu.:lomártir renano do século xml' A mesma ambigüidade na trans- Mas outros saberes, meno.s dignificados, determinam. de fa(o o fnndo-
m.i.;são da lembrallça (história ou lrnda) da personagem s.anta.: se a es- name-nto do grupo humano: aqueles gue, informando os procedimen-
crin:ra é .seu veículo principal, wfreu forte influência das tradiçi'5es orab, tos e o uso das 1&:nfoas, ·egem a. existência coiidiana e a produção fos
pe.raJelas. ou concorremes. Podem-se rontra..<tar e comparar dois anda- bens. Sua tra,smir,;sào, dentro da familia ou da célula artes.anal. é con-
meatos a respeito de ~- Guilhe~rne de Gello:nc; pr,otótipo cio Guillaume fiada à ,roz e ao ~si.O. A mtroduçâo e a difusão d,e um imtrnrnento · ';;;en-
e;:,ico. h!'-J"ói central do ciclo de mesmo nome.9 À época em que, a par- ti fico" (não obstante rcs1.:rvado, por sua função mesma, a uma minoria
tir ée me::;.doc;. do século x;1, numeros,::is relatos ha.aio~ár1cos lati.nos são de clérigos) ,::orno o ábaco foram devidas às descrições que dele fize-
adapudm em líaguas vernáculas, essa ua.mff;!rência (implicando um~ ram, da boca.ao ouvido, aqueles que o tinham ~·isto nas mãos dos oa-
rr,u~□ça de clientela:; faz-se aoom~anha.r de uma transformação narra- temáücos ara·'.les.. no sé:ulo x. 10 leve de acon1ocer o mesma com todas
fo-a ii5 vezes profunda. A "tradução", destinada a ser recitada publica- a~ tecnologias. importadas. pela criscaa.dadc, até o século Xlll. De fato,
mcote, como um sermão, é - sah•o C'{Ceção e até o~ fins do século xiu diverso.s ';trat.adoi." nos for:un pr€':.{>.:11<=11fos, clesde a .~fappae c.lawcula
- c::,:rr:posta em versos, isto é, numa forma que privilegia os ti'.mos da carolíngia, destmado& a pintores e ourives; seu número aumenta depois
]jngu.agem. Todos os ~c:xtos poeticos de lingua romã.nica q ~~ 11os furam do ano de 1300, mas eles con,il:'luam incomuns. Só nos sêculos '0'J 1..·
conse1vados de uma época anterior a 1100 serviram seja à liturgia, stja x \'li virá o tempo em qne o 5entimento de uma oposição entre for:na
à tra.rr..mtissão hagiográfica, às vezes a uma e uuLr&, 1:oinu ai; ·•~.tn;õ~~ pU1'a (a •'.;\J1c", a ªCiêncio") e sujeito (o a.rfüta) e;iisirá. a medisção di-
de santos" arcaicas, !almodiad.as para ou pelos fiéis nos oêkios notur- dática de um livro. Os ,d.J'OS ~extos em língua vl.,l.}g:ar, como o Perir mmé
nos das grandes festas. A Igreja possufa o mo:iopólio da escritura; não de rdojoaria que publiquei antigamen:c ou os livros de cozinha do sé-
é :n.c.:ia espantoso que tenha consignado esses textos, e oão oueos, defi- culo xv, são apenas com_;;iilações de notas prematura,;, lembreces mais
rutivarnem: perdidos para nós. Que seja, mas isso não explica tudo. CuJto ou menos :nutil\1.A~·els sem giosa oral... du mi:::..inu 1Luúu, pu\!1:-~ !)LJ-
e p:ie5-ia permaneciam funcionalmente- unidos .:'.!O nível das pulsões. ;>::-o- por, que a maiorja dos relatos de ,.iagern ou prrcgri.m .cão que as biblio-
fundas. c-.iJmmando na obra dá \'OZ Kão é pela analogia.. e sim por ou- tecas □os con.;en•aram.
ua rna.n6:a., que a \'(.'IZ poética se relaciona com a voz religiosa. Ela o No meio artesa:u.l. o ~osto ou a neccs.sidade do segredo (que mui-
far c::n. v:.r:ude de alguma identidade, parciaJ de fato, mas que por sê-cu- las cuJturas ligam ao conhecimento) pôde tr,war, ,e nao im;,edir com-
loJ foi ser.~ivel e prodJtora de emoção. ~um mtilldo onde relações mu.- plelameme, outra:, mod.alidades de aprendiz.agem afora a pela voz do
to calo::-052.s e muito estreitas ligavam na uoicifude de :-icu destino cs Mestre-. Tal foj a política das gulldas. A alquimia nos oterece o 1110 exem-
borner.s er.t~e si e ::om a natureza. o :ampo de C!'.ien_c;.ãa do relw;il)SO, plo - ilus:nmdo por 01:tra via i.l not::_ de W. Ong segunda a qual. na'i
p:i·J::;) d.is-jmo do mlg1co, era tão amplo quanto a expenência "ivid.i cultura~ em qt1e predomina a oralidade., os conhecimcriLtls mais ab~Lra-
A •·r~lig;ão' · forneci3 à i...,. • rn .... ,; 1 d-.s hC'rn 'f' ~ e, 1h N' e:;, rma a,~ ·.os ou permane,ern a.pen~ poten-ciai5 no cspirit0 ou aprese,ta,1 um ca-
si,•e, :;,e e:,.;~hcação do mundo e de ação s1mbó!k.a sobn: o real. fü:m dt:- ráter im:>Li.CLtD, fech.adc,, simboh:::o, p:·óximo do que l:m:m o m:to e a
,,1:ta., n.a pratica ,.oc1al a p,oc- ia se di.itrnguia h~m puuco da ' ' relig.1ão" p0e~1a, e excluem a• catcgo:wacões racionais. 1 Qualquer q1e t-enha ~i-
ome papel. do sua amigi.udad.e (rda.:io:.iaram-na a magia prirru.liva das ane5 do me-
w) B a!qmn::ia oi :desigirmtla pDI' &cus rui I r Âi,...,.., ·~ ~o oomepiu
n

fo~ophia, as~im chama:ia p~· rcfcrir-~e 11.ão a uma especulação pura,


mas íl uma tradição do saber emblemaliza<la ror \.ler:úrio, deus 11en•a- gu I m:>rta, para to< cltrigom1hl) . rnns vi i -~e a< u lidade da
gciro e "a.~enic-vivo" inagaráv~' - análo~oao q~ e1trc ró•. p-Jr ·10 - pronunc111. lo mcn I rc-
ta de J930, se den,Jrnina,·a "cor,hec,memo poético"' Com efeito, a - cem
quimia, tant<J qu:1nto a poesia, não pos,w :,em a a mhi~o nem a fun"
de descobnr o nmo. Só preci5a. corno a poesia, transmitir ;egrcc ; en- ni pedagó ~ se corutttufrem sobrt uma estrei base de es nt , por
volve cnm um ritual o cumlHÍm ento de :.ua tarefa: o rito põe em a;:io memorizaçti:>: conforme um costume que remonta à An!iguidade.
o que falé.. Daí a µercnanência. nãc obsta.~te alg;uma5 ::eaooraodações e.amaro am-se a sós ou ,:m grupo a; fór:nulas que conden,am os rudi-
superfidai~. du 'magcns f ~~- .mo.is e dn estrutJnu metafón:as da mtmos :te uma t1ênc1a. esses versus memonales dos quais nos resta um
linguagem alqu1mi:a que renet:a no Ocidente criS1ão no s~cul::> x11. Al- 1,as!o corpus. ainda ma; ll'.venta-:iadc. !\tais ainda: possuúnos alguns ma-
guns des5e e-Iementos foram consignaco, :f'<'r eJ!Cnto, m~ é graças il llarur m.saitos que foram estabelecidos no meio escolar medie'llal e que for-
n:uesão oral çuc o con;unto co:nsen,a sua ~oerênda. Graças a ela, reta- necem e,ctratos de Horácio e ele Virgílic com uma nota~o mtJSical! 16
1hos do saber :ilornfal filtram-se io1a du .:in:ulu dos inicia:ios e, jt 5e Aprende-se de cor tal ou qual desse, florilégios, nurn~ro~os cesde o sé-
supôs por \.árias vezes. informam a sensibilidade, se não a ideclogia. de ::ulo x, destinados a con~rvar III are-a pe-:toris ("no tabernáC'l..::lo do co-
alguns poetas: 2. leda que Cbrêtien de noyes fa1 do Graal pcdcia te~ racão' ') os Ditos dos <\ntigos. O Memor,'ale de Alex.:n;:lre de Villedieu,
que ver com tais mtluêocias; ·2 no século XIV, e sobre:udo no~ séculos xv do fim do seculo Xl!, manual básico largamente usado, Lào-somente
e xvt, elas sensibilizam (de maneira difusa, mescladas àquelas que prn- l!ma gramática versificada, portamo :onsagrada ao mes"Tio modo de uti-
~·ê'll do herm::::isml') e da cabala) a maioria dos escritores letracos. lização. Memorizada, e ,~ ~und:l, da panedo professor, a glosa o,al, em
A voz é o intérpre[e da Filo.-ofia e da Grande Obra que a reaJiza. cqu1Jfbri:> instável nas fro11.1eiras da escriu, pois a citação, que corrobo-
Todo gesto ope~a1ório se acompanna de palavra.< que o semanti:zarr ra o di,er ref~rindo-o à Autoricade, lransita necessari&mentc pela voz
:n:erpretando-o. '\ ?artir do sécu.o xi:, segura de seus saberes, a alqui- - a voz: do Autor, re-apresentada per qu~m a pronuoc.a numa perfor-
mia ocidental entra - com passos silenciosos - na idade da escritura: mance quase :eatra.li.zr.da.. O mesmo efeito produzido pelo uso cunstan-
traduzem-se JJara o latim diversas obras árabes; Nicolas Flanel, no iní- te lgue a escolástica sís:ematizou) de formas pedagógicas dialogadas,
cio do seculo xv. faz um relato exemplar de su.a vida e de ,eus traba- disputaiiones, discussõe~ ficcionais, quando não ficticias, mas n.u quais
lhos no Liw-e tkJjigul'f!S hNroglyphiques: a obra orienta-se somente para a posição dos corpos pres:ntcs não pode deixar ninguém indiferente.
a prática e remete às tradiçôe; manida,ç, pl'las conf:rar.as. 13 A Filoso- O cnsiuu medieval recuperava assim, revivi.ficando-a, uma forma de ex-
fia é concebida per seus adeptos como ''prova reta de narureza firme pressão de tradição que era antig!l tanto no Oriente .qua11co na Grécia...
e \'érdadeira, dita da hnc:a cir filósofo expe-rimentad<l rui ve1~dt' ', !'lé- e q1&C, por out:o lado, produziu vários gêneros poéticos: diálogo s;mbó-
gundo os r.errnos do anônimo Puissance d'amour, por voha de 1260. ·" lteíJ de Cristo ou de um santo c:>m um dos seus fi~is, mas 1a."11bém a
A alquimia ~ V!empJar no que. ern outra parte, manifCSUl d: um rerud e o joc part1t dos trovadores ou o deoate alegóncc.
modo de ser meio oculto a nOS!'lOS ollios. Os cermos empregados pelo ~a prática das escolas, nada separa :l.5 doutrinas que concernem
autor do PuiS5ance d'amour s-e aplicariam igua.lme11.te ao en!>ino dispen- ao d:::senvolvinento do pensamento eaquclas que se relaciona._'n ao uso
sado nas escolas, monásticas ou urbanas., desde a alta Idade Média ar~ efkaz ca pala\ra. Gramática e re1órica funcionam no inter!o: d:> Trívio
pa a além tla primeira difusão das un:vers'.dade!\.c, nos iêculcs Xlll ~ XIV. como uma propedêutica geraJ, atestando a primazia co verbo humano
Na palavra vha, inidáitica, deposita-se o serme de todo o co:l.heooen- na constituição das "artes liberais". A pró;>ria uansmi!sào d.a~ artes ~e
10. As nolas, :se o p:ofe~or as redige, vêm depois rcsmmr seu diset.:rso. opera.-a principaln:ente pela voz. e alguns dos caractfieS próprios de
Prova-se e e,,:peri:nenta-se o sabe:- pelo ~reido vocal: a i:istauração do, qu.a]quer expressão oral (sua adaptabilidade às circuns•Ancias, contra-
exames escritos é muito pastenor a m.ençAo da imprer...sa' O tul'SU1 s1.J- partida ela imprecisão noe1onal; '-lia teatralidade, mas tamb~m sua ten-
diorum, programa de estudos, o:-ganiza-s.e tendo em vhta levar à per- dêr.cia a concisão wto (]Ua to à r~te~ção..) e int~n=m em U3 pró-
feição a pata,..-ra, êa qnal depende a ~uroridade e a utilidade da ciência. pria tecnicidaée Ainda re~entememc, S. Lusignan Ir ~ ue o
Quando ~e proçaga, após l250, e-:tre os cs:udant.es. o uso da reportazio "fürmafümo" dor g nercc losóficos medi~ emua~ aCJ 6 um
(o!> arontamentos), i.;enos mestres o ieploram. :Ensha-<e o lat m, lin- aparhr1a. O lugar dado aol diferenies Auctore5 dos QJI ,. obtinha

J
a ar~umentaçib, ::,1 ..cialmcnrt· n:1 5 3rtt"~ do trtvi1\ ·1ã::, cessou de \'iifl3r
,, s ton tes e cr11a.,;, atra,ch da.~ quaa lentamo~ dc-~1frar o q:.ie loi u teono, a !'\Se drn.:ur,o infinito, a idéia Ji: cafJalu (dt uma raiz heora1GJ .:;ue si~-
dissimulam um p1.'lui.:n df'm:Jis o que ela prova,,e mentt t~·e de arnbjguo, nifka "receber", isto ê, "escuta.r") cesllc o soculo xrr delimitou urn ce:n-
tro mcmr. um poder e urna regra; uma palavra, ocuJta som:nLe :io que
indissoci1hd de uma rni.t.ku, do:. problc-mas c:oncre1os proponos por C)•
tinha por primordial e res~rvada a J.m pequeno oúmero de disdpu.los
ta, das hngua fa •d.u às quws se superpunha o latin. 17 De que modo
interprel.8l, a nfo er cotuo Wll cu, da palavra vi\'ad: um bom pedagogo
qualificados: transoitida 5em escritura porçi..e im;rios.~ivel <le formular
de outro modo que não pela boca; jamais fi.uda; pessoalmen:e re:ebi-
em presença de seus es~udantes, o; refràos lirico~ que- se::nciam, em fran-
da, i,jvid.a. retransmitida, ahran,gmdo o conjunto dos 111odos de existir,
c~. por volta dt: 1250, o tratado latino do cis1er.:1ense Géra·d de L1ege,
de pensar e de diz.e:- do~ rn1sticoi; Judeus.
Quinque incitamer.ta ad omarr.di.m Deum ardenur [' 'D!i ;inco mod\'Os
de um amor arcente de Deus' ')?n Em geral, a escolástira apresenta mais O -neio em que se formaram e vivernrn estes últimos con~Liu.na, por-
rigor aparente, pclo menos nas disciplinas estranhe.s .iO trivio: sei.. de- tanto, uma rede estreü.a de relal;Ões q'.le al:mmgia a Euro~a,. do \.ledrce:-
rf-meo ao Danúbio e ao R.ià!no, as:;cpuando a cin;ula.ç.ã.o da ~ iw eu tn:
senvoMmento ,;ai de p:11 com a c:xlcm,ão do mercado do fürro e a co:mi-
comunidades aparer.lemente isolad:1.5. Do lado criHã0. os homens da
t'llçào de bibliotec::..~. E11tretanto, H) no século X'W e.a ;-e faz CH.H,ir, aqui
Igreja e da Escola não os ignoravam, t: d história é d.elll&C'.ad.3 ;,or con-
e ali, advogand:> em favor de uma ciêneta fundada mais na leitura do
ferências, colóquios, enco1t1os, cfis?utas ou iniercâmbios de informa-
que na audição. Alias, foi então ciue apareceram os primeiros indícios
;;õcs ~u~ila<lrn. - a jespelcl) de u;n ar1ti-sem1tismo Jatcn t:e nos simples
de um enfraquecimento vocaJ da poesia ...
Aré essa dara avar.cada, o ensino mediew..1 não paraw1 de re:orrer - pelos pre'ados ou mestres em busca da Hebraica veritas: Rabano l'\fau•
aos métodos que 1. Jousse designava ""erbomotores" e "riL.Dlopeda- ro, Já no século rx; Sigo, aba.de de Salnt•Florent-<le-Saumur, nos mea-
Jóg:icos' ': os mesmos que fundam rnda a »Jrátir.a poétic.a oral. Tai.~ .mé-
todos, nós sal>em05, triunfam. ainda em nossos d.ias, r.as e5rnla.s semí-
' doo do século x.r; Éticnne H.trding, abade de CTteaw:, no sécu.lo X.J•• O
:nm1ruento então se g:m::aliza, por urn si:eulo ao menos, fa.vorccído pelo
progresso urbano. Em Troye.s. as .;Jo~as do rabino Rashi tiveram aurori-
ticas de tipo tradicionaJ, e- pode-.se i)erguntar ,;e, no curso dos sé-cu los
cade; em Pa:is, um bairrn j:lieu formou-se na. CJté ao longo ela ma c;_ue
pós-carolíngios, uoa infh1éncia judaka não se exerceu nos meim cris-
tãos. Subestimou se dema.sü1do o reso que, nas éidadc-scoo comunida- li,g a o Pont-au-Change ao Petit.-Pont, fegmento da ~<Ie est.:-ada de
comércio e de ;:,eregrina;:ào que une ) no:-te ao sul cfo rc:no e da. Euro-
de : udaica, as tradições própnas a es;a pudessem re,.r s.obre cenas práti-
pa. A abadia dt Saint.Vi.:ror, na ourr.a marQem do Sena, nr•a mn- dm,s
cas, suscitando-a}, confir:nando-a.s, rnodeUzaod=>-a5 d~ alguma maneira.
ou três gerd;ôes hebraizantes, em relação :nais on rnen.os cstreiú. c{:im
Pui, o te:,no rabínico, base de ensino e de comr::wérsia., não eum Jjvro:
é ato de palaua rc::Jatadl:I.; tr;;ufo;.iiu f: Voz. Pan~ ir.teJTa-. da Bíblia. co-
os vilinho.s da fie. Hugue., d~ Sainit-Vicror u~ os c:omenuü:ios ,de ~hi.
rno os Salmos, conservaram as marcas formais e as particu.landades se- de Samuel ben Meir, de Joseph !Caro; se-us alunos Ríchard e And:-e frc-
,;rilemam os letrados da jud.:ma; An1he t,avará r:laçôla!S com o ilu.,tre
rnlnrkas de um di~cursD oral. Ora, os Salmos fo.a.rn, dunime s.écuJos
Joseph Be~or Shor, de Orleans, cuja obra marcará a sua. 1" Por tan-
em todo o Ocidente cristão, o livr() no qual os escofares exercit2.van:: a
10.s í.,mais. qualquer que fosse o projeto i11icia.l do.,, sábios crbt.ilo::;, pi:!..::i-
tieitura, a promin;:1a e a me;norização. Por várias ,eze-s r;o decorrer de
sa,.,a uma co.:-rente de :pensamento e- de ser..sibilid.ide que não pccia se-
sca. longa história, o ,im.ta1~mo segum o percursc própr,o .is -eligiões
não afinar rua percepç.fo pel.i ll...itcridade prô;:,riêl à palavr,. .1nuuwiciad.:1.
4uc se dizem "do Livro'': uma Revelacão prim·tiva, en:ana:ido de um
dotutor dm no, prccluz uma. tradiçãc oral no interbr dé: qual se crista-
fü.:im as crenças r!co ·hidas mais tarde numa Escr.rura cujas riGueza
Es,es são. t.ksde o iniciD do sécuJo x11, 0s dérigo5 formaQoi. em
e a.t:1b1güidades e.xi.gero que uma i ri;es~ante glosa corrcbore a mensa-
t... 1mb en • n ,titucional e mcut.i ~uc remaran ~üntar ri.ira ú .mpt:ra-
gem, expllc1tando-a. Os comrnc.anm orai> do mrdrosh, os relaros da aga-
dc,r germânico, fureis da lng)a1crra , os eia França. atém pnn.;;ip~~ rus-
dá formigam ao red.,r da Torá, da qual tornavam Poss1vel a leitura
s"s, a historia das nai;u,::~ tm formaci:í.c> 5ob seus n:inados. ~eu aho era
Codificados nos 1t,·ros lalmi.;i.hco\ 1roliferaram em novas onda de ora-
polnico: pa.rlicipavarn c.Ssím, em proYeito {e, se--m dú,·ida nenlium.i, ~ob
Hrlarl e ra,tsda! wdianas. dl!!Cmil!U:ldo
a 111~t1gaçãc Ide seu amo, da .. omCtúd.1,;-~o de Séll p(,:::cr e da legitima-
g r,es L·uja excensio ::>S eru<.l1'm dc,cobrem ho1e com espanto
ção de suas imc1:i11,as; l " ncrman::.ic:-. da IHtflaterra - não sem r.:1?ão
prco<'.up;,.dos, ap6·; 1066, cm garanti. ma reragtUJ·da e rcorur em torn(I
men·o priliilcgt11 lo da a.rlii.:ai;õo du <lireit,, e do C."<etck.10 da ri der. O
tk ~i populaçõi:~ heterog:ncas - tiveram msso um pap~I inioad,Jr. ºoi t
a.to jur[dii.:o rna1~ r.i::ssual. dc:volução te~arT1tntf1r1a Jcs bel' de um
o~ ELuton:s dessa~ primeiras "hbtó~as nacionais" extra1ram tanto fr po 1
~•czr:s mais) das fontes escrita.~ qua:110 da tradição oial, coligida em ~e11 moribundo - apesar de su w11s1gru o C5Cnla, rclaU\ mente frequente
. - ' . ~
mno. s YCzes por ·ur:iw:ã.-·--.. E '.i'v'-'·"' t..unertte, integravam essa
i undltlric'lUl.l !li o I J:..... 1..,.,...-:a
dcpoi.,; do i;éculr: XJU -
"história o:al" que redescobrimos por 'llólta de 1950' Já meio milênio por escrito pelo no· o, ma autenu da por u:n voz que m:.onhece
:;.s te~term.nh~: rc;~iclamen10 tão sem c4uhooos que suscita :n.i tic~o
111ai~ calo, Beda, em ma história cta Jgtrja an,glc-sa.-xô~ ·ca, :nvocava (des-
Q gênero poéti~o re.st1.m1enw. já con~tittJido dur.ento~ ano~ ar.te) de Vil•
viando o sentido de uma frase de ,. Jerô7imo) uma vera /14.r h,,;torrcp
i luL verdaoerra da h1 ~to:rn ), idem. ficada à fama vuJgi (' ·a voz públi-
k rnj .. lente. ~ouuc: ut\u e• hc,., ;~gor or:g :ial de pe·1ormar11.e ~o-
ca"). it Ê a e.la que recorrem, corn confiança, desde que a escrita não ca!. A vcrdzde do climto é concreta, é pem:b1da sensorialmente. A i::ro-
compareça (o que é freqüente), os cronistas do, duquec da Normandia mulgaçao ele un1ale_, de um edJ.to, é sua prodama;ão Os agentes rég10s,
- de Guillaume de Jumieg:es a \Vace -ou os hi,toriadorec das primei- os arllJ,jfOS, dedicam•se a esseofü:io. Na Is.ãndia, ondeª" le:is por longo
ras cruzadas - de Guibert de No,gent a Guillaurn e de Tyr - , extraindo tempo permaneceram purameate orais, o úniço fundo:iário da socie-
do fenilhante un1..-ers.o relatos suscitado~ aos participantes des~ gran dade, e peTSonaicm imJ)ortante, é o ''declarador de lei·• (liigsogu-
de avenu1ra pela força do choque que e[es sentiram: os tex~os de Ville- medhr).~4 Por toda a parte, a cJlpa ou ainocênc-,a comportam una ma-
hardouin. de Robert de Clari, de PhilJipr,e de Novare msoam oomo uma terialidade. A ~·ü1a. a mão agarram o C1bjeto litig10~0 ou seu sírnb()lo:
recorrente rcivind.icação de aut0ridade. Joim11Je é.inda por volta de 1300 a mz pronuncia-llie o sc.-ntido. Se (como os reis tentam in:por a pa:-tir
de
e Froissan, no limiar cio s~cwo xY, baseiam se ma.i.3 uma v:::z ull l ~
l
d::,s sécuJos xn e, .tohrt'rudo. xm) um proceilO oon:.p<!na e:rillição de
brança que conservam dos discursos outrora escutados. provas esr:riras, é pela leitura ;:,ública que es!as ~,que1ema condenação.
O objeto da crôttica recua a um período que, ao me:smo tempo, é O ritual, um comportamento cod:ficado e norma]i1..ado, atest:"" e obri•
muito a11tigo e desuro'l-ido de referência nos historiadores greco-latinos ga, mais do que c.s textos. Dai, juntos, a eficácia do sistema IlO ::otidia•
e nos livros bíblicas; a tradiçilo oral torna-se a fonte qu~e única a que no da oost::ncia, ~eo (;Máter juridicu cuaslran!!«.Or.. . e s11a falta de ri-
a escritura, com maior ou menor f-eliddade,. dará form.a - como a his- goI. J. Le Gcff cita nada menos do que 9S o::>jetos simbóliçcs que podem,
Iória antiga d.os franco5 ~m On:gúrio de Tours o.ia dos din:illlarques.es _:.>01 ul:a~ião do ~uramento 1,•assalático, significar a homenagem :" o vfn-

no Saxo G-ra.mmaLicus. As ve2:e--.s, e •,erdade, um J)rotesto isolado .!e er- cl.lo que ela cria. Uma reminiscência da jurisprudência romana levava,
gut: - oonfin:nando a co,immo a opinião comum; as~im, po1 volta ce uma vez o acordo concluido, à instituição de um documer.to. Desde a
1200, o autor de uma. tradução ca c..rônica do Jneudo-Turpin (a bem di- al:a Idade Média, os próprios povos. ger:nânicos adquiriram esse hábi-
zer, elogia:).do sua mercadoria aos patrões, o conde o a condesi;a de Saint- to. ~o c-ntanto, aru olhos da maior:a. a ''carta" assim lavrada ficou por
Pol) fu lmma numa fras:e- os que se conteJJtam com a tradição oral, r,uo.r mwto tempo CC'r:no o simpfo.s lcmbre:e alegóri::o de um a.to derivo. ele
ti non senient rien Jors par oir dire (''pois e-le;s não sabem nada senão me.smo criador do direito. Donde as r:anae sine li:red.s .às vc-zrs utiliza-
22
por ouvir dher"). Em con~rapartida. OT<leric Yidal. na Hisrorio ec- das, pedaço~ de persuninh□ não escrito, paros símbolos, tal como o
desiastica, VI, 8, eo.·oca (deplorando que, por força de ce:10~ a:onteci- selo régio q\Je, dispe11~ando outro instruncnto, acredita um embai}a•
mentos, seja essa a nossa úmca fonte de bform.açõe.o;) os ver.erâvei. re- dor e as pab\Tas que este ~ai di.2.er. Em ca~o de contcsta.~ão, o listena
latos dos ,,~lhos que narram aos j rn-e,s em volta os tvemos de sua lone-a exclui das motivações ~da per~pectiva unhersal e, em ,·ez de decidir,
vida, de n:odo a exortâ.-los à virtude!., Vírtude e verdade coincide;,. •tisa ao rrgatcio e au compromi!so. Bernard ct·Angers C\'OCJ. um p:-oces-
~ Anc.iâos, exemplos vivos, são os depositári~ da memória coletiva, so, em tomo do ano 1000, em gue na conf-t:são dos gritos rni.sturad.>:)
Sua palavra a mani~ts~ num estilo fonnular c:-.1jo eco se percebe cm
das partes toi:ia n~aio de ',erdade ~e apagava•.:~ No steulo XII, as coi-
várias crõ71icas.
s.as mudaram pouco2 pouco, scb a ação conjunt.1.dos rei:. e da burgue-
Al~ ~&n dn ~talo xv, e em certos lu!Ja.rcs altm de scculo xvi, a
sia v.rbana. Então se e,,apornrá ao.i poucos a ideia tradk:lonal !le uc
palavra pe:manccrrál se não a fonte úlcim.a, pelo inenos a manifesta-
ser um chefe é dtzer o dtre1to; de que, no pre en1e de umn cunfrontaçlo
r;ã.o mais com,ince:ire da autoridlldc. A esse duµlo drnJo. é o instru-
física, ,,is.ual e auditivameme :e-al. o manifc ·ar ~ a norm , lo (1 o i usro.
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:-,.;l interior de um grupo '-OCial cbramente id~tificá,el por cadn mmar a íom a :odifi;:ada. ~a realidade, ape-,ar d.. fone 1mprc:.5sàu ~ue
um de eu rncmbros, cs e "dudtocostume:ro" un;,li:ava adc:,.§o comum e,se empreendirr.ento causou no• com!mporáneos, o Domcsday book
a uma rc ra oralmemc transmitida, que emanava da mem6na coletiva pemar:eet.'U qu;ist- letra morta durante dois século~; c:m 12"'9, &tuardo
interionmda e usciurva, com o passado socicl, uma relação ontológi- r recomeçaria o le\'antar.1ento. "7 Por essa data, na França e na Alem~-
ca: o ••oos•ume''. Este provém de dua fonte5 conflumtcs: a antigüida- nha as leis con~uctudiná.rias de vã1i.. ::. rcgjOes tintam sido n.-digida, 0.1
de e a repc-ii,.. o: man.if~- t! na palavra. gcra.lmcule formular, :suficiente iam logo sê--10: o movimento se tinha esl1mulado desde o fim do seculo
para dar fr:. Distinto do que chamaríamos uso. e c->ru:cbidc como ime- )UT e contir:um-ia até e> X'o'UI. Mi:1.5, do Trés anc1e"f1 c:vutumitr de .Vor-
aioTial: d, fa10, ~ão invocados à~ ,cze~ CO!>tun1e:.que s-abemos remontar mandre, ue ll99, e dosAssJSes deJt!rusalem ao Sachsen:;piegel, ao Müh-
tsobre1Udo em se tratando de proprieda:te territorial) apenas a uma ou iltauscr Recht.i_b1.1eli e à:. ..:ornp:Jações Cl>tabeJecidas a pedido de Carlos:
du3..i gerações. A idade a·r.mçada e uma lon;a nem6na habilitam ates- , 11, corno .criam esms redaçõe:, SJdo possíveis sem os dcpoiml.!ntos e.e
temunha ou o juiz a fornecer de viva vo: a proTa. Se ::ecessârio, reque- tc~temuttla.!i :Jepos!táiias d,.;.)ese S<.ber colemo, sem que se tivessem le1'B.·
rem-je n1 ~omunidade êb lembranças de- ca:ta um: é o inqLento ''por do cm conta as ;nodi:laçôes q1.1e sua voz., ~eu gesto conferiam ao discur-
turba". na p~csença de peritos desígnadcs pona-vozes da norma coleti- so? Hecto~ de Chartre~. encar--e6ado de coligir os costumes que regia..'Il
~a. Ao rei, ao :.e:ihor, re,t..lta um poder legal: ma.5 que faz uma .ei senão a i.:xploração Jas ílori:stas narmandas, ali trabalho.1 de 111R a 1405, vi-
"restaurar' ' um costurae em declír..:.o ou esqueci..me:nto? Ao meno, ,erá suou 3.50 paróq tlias, escutou mil testemunhos! A flukkz dos cosrumes
i.nvocaaa como pretexto. Nenhum outro ordenamento tem a autoridade ~ prestava mal à cocificação. A escri1ura petrifica\'a n c1ue- tinha sído
p!en_ária de um costume atestado. presence na pala..r.a que o dir pro- conservado:isrno móvel e vivo. Por isso, pouco a pouco, outro modelo
priedade inahenâvel do peqlleno número de hcm:cns e mulheres q.1e cons- se impôs, num espaço de u.,-ra])C (passados 1100, 1200, l300 mesmo} em
tituem. hic "' nunc, a entidade socia:, num espaço "1:10 alcance da voz '; que toda~ as dinastias principescas, da Inglaterra e de Castela à Polôrua
lemb:-anca (para 3.léro do esmigalha-.iento dos i:rimeiros feudos) de prá- - ou, na Itália, a\ municipaliciadf's u.:-banas -, toma·,am consciên1,;ia
tic-as genr.ãni:as <ia alta Idade Média. gue faz:am da as.;embléia (geral, de seu poder e. nessa mc_,;-na medida, desconfiavam dos costumes lo-
en princípio) do.; homens livres 11 origem de tcêo o dt:eito - o placi- i.:ais: era o modelo do d irt>ito car5ruco (escrito e, ainda e11t pane, de 1ra-
tum ou malii.s dos francos latinizados, o hol,mote wglo-sa,.ôniw, o díçàt> romana}, t~;r,.10.s bibiicos ou p:::.trÍ51icos, decre1os conciliares, bu-
Althing da Islánd1a.l-E las papars, ced'1 ('trganiatdo;; cm colcçôe5 c:omo u Corpus juris e o
Decorn:- disso uma exne:ma civc;rsidadc. de ;>rovm:.ia a província, Decretum de Gra:-iano, oor ,..olta de 114-0, cuja prática tinha estendido
de cidaài: 4 dd,j_dc; mas cambém .una grande íl~ibihdade: o costume a co:npe•hc~ em. ma\éria d vil e crin:inal, \lem a:ém dos llDlttes da Igre-
-naís a:omel:n do que crdena; múk.plo. i~ ,.ezc, ~e coutradi!; ~ maJS ja. De !at.o. a ,er.ra dcscoberw que a Europa, a partir do século xn, fez
ou rrenos notório, donde os aconodame:i·os, :no\,çôe:, camt:.fladas. dos Lzxtos. .:.e direito Tomano e, e1L pane sob es~a mrluência, o reapare-
Quarrlo, dL1ran11;; a alta Idade :-.1::dia, a influ~nda do rr,odelo remano cirnemo de u:na legislação régia escrita marcaram, no limite, a 11.ni,,·er~
levou os Il'.ÍS bárbaIOs a mandar tomar por escri·o os coHurnet de seus ~lidodt d.as rclaçõi;~ :;0;;1ais. E~cr:m, o direito se tornava projetivo, cn-
povos. o 8 ,'Y!.., i~--um de A arico, a) J...eges éos burgúncfios, o codigo de gaja,-a. o 1,•indourJ. O pr.:ço dessa tramformação era pesado, e a-. ·velhas
Eu-ico, a Lex G,mdobada, a Lei Sàlic1, as leis anQ!o-saxõnicas de Etel- -:omunidade., pn:sas aum fe11daltsrno desusado mas ameia "ívo. nàc enL71
!:oerto, em Kcnt, :odos esses ti:;\los dos ,éculos vt e n1 desti:iavarr:-se ape- tão smhora:. de si para a,sumir Lal carga . O movimento era irrcversi-
r:<1s a pre~n·:her uma tunçãc prob.1tór·a Continua~'a.m a tirar sua fo:-ça •,el No ~Lulo "('rr, cm t::>dCI a üddent4.:, nota-5e um recuo geral Jos co,-
da ·.-oz mui10 an111:,a 4ue i.:s rinha rronuncnd0- Os capitdares :-a~oti:1- lllmt·, D,.,,-,r:an1c ai~ e hu:-.fo da, .:wmeira~ mona·quia~ autoritária,
gio.1 rl'.sta11r:1.ram por algum tempo. d! mane ra n uito ,areia!, Lm regi. .o r ndl do ,c:uk. ,,, coi, ~s SH<:l 1u·1d1co, ::oel\.t~tem, n:al di~tmgm:-i-
air: Jt" dm: kl e~LT1[0,''ª , no ecLI.> X, 1) Üwldente mteirr \ ,,,a contor- J1:-!-c porq c1e a~ -nar::a~ orai, tformuh;}mo. lab1!idade-, i.Jc; ')r1meirn -~ib-
me ,eu~ costume,. "'\o firr do ecLII) xi, o Domesday /Jovk. compfü1do s, •em no ~el!urdo, ao passo que e te pouco a pouco impregna aquele.
p)r orc!m de Guilherme. t> Conqui rndor, p reoeu bnr na Inglaterra O segundo deoouc (Jlelo ald 'lev .., do pnncfpfo,
uma época nova: a colação do com, da •._n" ....."-"""' '••~>CA, cnunuac!O!> o.nro~a ;ior Ju)tin1ano: o 1mmc1ro, de uma longa opinião
~ •la!!!" de'\ .. a,~i:gurando :i ('ada 10ll1'lduo o o;cu d re110. fa1..cr predo Ul1ârn•11e- R~~Llta de ronth• >~. mm <_,s qua1, \e in411 e1:;,a já Jacqu-:::.
<lc Re, ign\', que, por \'Olta de 1260-70, er• si nava o direito romwI0 em O prôpr o \11urcc Polo ~·oltou n Veteza No -.~cuto XIII, à época cm que
Orléar.s '\las, apc,;ar d~:,a:, divcrgên;.a-., a aplicação final do direi- e preca am o troço _gora definitivos ela ordem nobth n , os clercs
to se opera mediante uma séne de alo~ vocais, petições, ~emen;fü cncam do de elaborar-í.hc uma definição in tstcrr n ~rra hob1u111a
H set::iclhal~ - np:nenttmmte estranha, m nao or- o lu a~ fixo. aque e e onde se f. lo o, um JO o de prepos1-
rnita - entre a história do direito e a da poesia,, ,amo cm latim quanto <:~es. o roriõnimo que o designa se tornará f')lltrõnimot Des,~ modo, o
nas ·1nguas vulgares. Opo!iições enae uma tradição pro.,.inda, mais ou nobre se distingui-a, per muito tempo ainda, de todos os cutros. No
menos direc amenlc, da estéuca da haixa A nliJZuidade e ruo "inoYa~õ..~" entanto, cada primavera o c.hama par.a rttOmeçar a guen-a, que é u:n:i
CtJJas tomes d1S;:>en.a5 são, as ve1es, muJLo mais pro:u.nda., ou longin- salda - ialve1 mortal - desse lugar; e sua gesta institwdora recita em
quas; tensõe5 er.tre ;,rácica oral e :orma.~ c,crica5, en~'"C hn_çua e:ud:t.;. termos mais de vagueação do que dr: estabilid~de assegurada ... Em tor-
e discurso coticL.ano, produzindo necessidades expreS5ivas novas. num ne de e. vra povo pouco numeroso sr: espalha em lugarejos isolados, que
contexto soda! modificado; deslocamento PTO.IO'C'isivo do centro de gra- s:parair. dc,crtos, florestas, charnecas, pãntanos, n:ontanha~. em bur-
\~dade de todo o sistema lingihstico... e, apro;omau.,.amente, até cro:10- gos mal ligados entre si por péssimas estradas, trilhas sazonais. As al-
lógico - época que osciJa entre 1100 e 12:50, cnm eue-rtores para além dcia.5 .s::: d~l..,.;am, como acamparuen tos, ou então são abar.donadas.
de 1350-1400, anunciando perturbaçõc~ por ,·ir Olllll i:nprC\isível futu- Na AJernanha, ao longo dos século; medievais, de WO:'o a 40"o das al-
ro. Em 1977. um Hvro de R , H. Bloch roh1inh.·wa com vigor esses pa~a.- cki.as, conforme~ rcgi(le.ç, teriar.:1 sido assim, um dia ou ou~ro, aban-
leJismos: conce.11".rando sua análise nos sécu..los x11 e XIII, conduzia-E-, donadas.30 Mas quantos castelos não foram CO'lStruídos, destruídos, re--
de maneira comdn~nt.c. sob;e n 1e1Rn.o do~ cos.tum~ e da id~o!o~. co:mrcidos em outra pane, como cm bmca de um verdadeiro lugar?
Mas uma rclaçã.o ainda muilo mais complexa, enraimda nos famasmas Na estreiteza, enclausuramento. impre,,,.'isão des~es fragm,entos hu-
atávicos que ftrndam a sociedade humana vincula um ao outro es1cs mmizados de espa;o, o amigo e o ininugo, o çodercso, o fraco, o trai-
dois gêneros de discurso, Jurídico e poético, e cada un deles ao dimrr- do~ sã~ seres conbe:idos. cujo ro.sto se oferece a todo o instante ao olhar,
so religioso e profético. Um querer fermenta:: J-:.·1:mw as obras: vontade cuia voz se escuta, ressoa aqui e agora na riquez.a. OJ na pobreza con-
de ultrapassar a contingfooa do viv1d~ de frear a é.ispersão .alcaló:ia. cretas de seus :un,:-es, de s:u alcanc~. Se de al~es 5urgisse, por mila-
das palavras, de transce-nde1 u ,u.'ldcntal libe:ando a histoncídade pro- gre, u:n rosto novo, jamais visto, f.alscariam o terror ou a esperança ir-
pria, sobre a qual se constrói e pela qual se sustentam a autoridade mo- racionais. Aém de• 'nosso ;.ar", no descontedco e estranho. e~tende-se
ral, a co~1~d€uua d.e uma cole~lv:dade e sua capacidade de ação. o círculo imenso de um 1111.i·,erso fragmentado, cujas células isoladas às
veies se reai;roximam. por um dia ou uma estação, guando passa o re-
cebedor de gabela5 ou uma tropa de soldados do rei; cepois elas recaem
Nesse querer da sociedade européia, até o século xvr ao menos, o «'T!l si memias, ao redor do cacctelo senhoria), da casa do intendente ou
que resiste aos costumes e mentalidade~ escriturais é uma espécie de no- da cruz de uma er..crurilhada. 1àl ê, ~ seu enraizamento sociológico,
madismo radical, 1- tórica e ontologicamente vinculaco à pTeeminên- o .i..'liverso d:i. voz, onde nada da a:sttncia coletiva, nem mesmo d.a rea-
cia da voz. A. escri1ura, com suas pompas e su.as obras, cada. vez mais lidade ambiente, pode ser percebido e entendido a menos que passe por
firmemente trata de ancorar-.~c na estabilidade de u.:n mundo que. ar- ela. Ta., é, an sua signific:â:r:cin intim.1, o nomadismo da voz. As cida-
rastado por uma incessante derh-a vocal, dela tanto le esqui"'ª ouanro d~ escapam melh-Jr, e cada vez mai5, a essa truularidade mó'l.'CI. ~las
foge. Gui11aume de Saint-Pathus, po:r volta de HOO, coma nlio a uma pc:rmanec~m rc ativamente raras a:é o século xn, e :):u C{e)cimemo é
das filhas de L.JÍ.5 ->- as santas ações de se~ pai, d.isungJe dois Le:np()~ mais tardio ain:ta; antes do século w, não codificam realmente a pai-
daexistência, qucprôd1Vem para ~ada um o rilnio: a àemeure (residên- :;agem .so:ial e mental, Cllce10 em algumas regiões como flandre ou a
cia, estada] e a ch~Jauchie [cavalgada, jornada]. A. egurlda le,,-a Yanta- rtál:a sententrional. As cicfadcs são filha~ da Escrita. Em torno delas
gem na formas do imaginário: .3 ,.;da é uma viagem, segue-se o it inerá- se recom1ruíram muralha5 antigas ou ergueram-se outra , vcze con-
rio da nima. A mgem, de fato, é lenta; e longo é todo o seu ilinerârfo. ccmricarr.ente. como em Pans, na proporção e.lo crc imcnto da popu-
Desloca se a ~. a passo de animal, ao rb do eh.ão; 11p6) trê5 anos, co- lação. E~s~ paredes, porém, recortam o mundo em " dentro'' e "fo.
mo Marco Polo, acaba-se por chegar 1108 mo:igóis. Mas não i;e pára. ra"; rc1e•tarn o marginai~, e:tcluldo1 por algum rm,po ou ror nnture1a,

9(J 91
un ri1fo~ cnmo pcrigo~o-, mi crá•..ei, , lu ci10s, mulht-rc a v1éa ou k- viJa. ~ob~;l1stCi ou, por algum temp:,. , ub~:ir .ido ~ vurro. qualquer
prw os, e 011 tro.1 ~ub; ugados mas urcis, n 11n1ido, a uma dis1ánc1u ialu- que ,d.1 A ri~res rinaçfto é cammhada, mas ao m~smo Lt:mpo represen-
lJ1c, cu111u o~ juJcus C' o " lom baroos··. Donde as pcrturbaçõe:. ~ou:.ii- tação mcnti.l, desiocamemo meno~ no e,paço comum do qu: num
que, multiplicando- 1: no meio ur~a., o 3 partir de 1250. eh introJuz1- espaço-tempo t'speofico. simultaneatnc!Ote ptrigoso e sacro, metáfora
ram, pela , olencia, uma nova e lmprt\ 1s11'fJ mstabtlidade. Amda c1.srun, rirualiz.ada da condição de cnarura Si1u11.çAo conL'.'aditória? O comér-
para o pobre, Ih~ dei~ 3 vtda cle;,ois ele um motim ine-.i1avdmcnrc cio de longo curso. vinculado - cau~a : efeito - a o di:..envolvime:i.to
~mag.ado, o que sobra senão fugi,? Toda essa geme, vagabundea:1dc urbano e a sua. formas de sedeotaríedadr. b·a p<>r estradas e rios st:as
ai fora, i um p-oblema para o e tadino. !\'as própnas a!deia~. à medida carav-.mas, suas barcaças. ~ pelo mar sei.:.~ na1nm; e c011hece-se a elllm-
que eies se enrauam, desconfia-se d05 horsains fforasteiros] . Ma, oi;cons- ~Jo dc~~as andanças mercantis. ru, quais r::o século xn• irão al<:ançar,
~more~ dru cidades edificaram-:1as em \Olla :ic u71a praca públic.a, on- através das baldeações e dos intermediáriM árabes, o Extremo Oriente
de todos se reunem, onde ..e encontram como num lugar rmmo os hó,..- e os impérios da Africa. Hugues de Saint-Vktor, no Didascalic/J/1, II,
pcdc:~ de pas~agern, onde cada um se mostrn e discursa, onde circulam 24, fa:z o do,;io (k;scs mercat<Jres que ~ecetro.m nos lugo.res mrusse.:re
as pro~L3.iõ-c, e as; paradas e :.e e."ibem os saltimbancos - sub.ti tuto do tos do unh·erso. aportam cm ccsw d~scoahecidas e vão humanizar com
nomadismo JJTJbiente. seu negocio os povo, selvagens!
Por toda a pane, a mesma ambigüjdade. R. H. Blocb vê na prolife• A~ comoções quedes~ forrn.,.ahv:.m e movem o mundo são mais
r'açã.o d,b genealogia~ 11m rios :..racter~ d:fi;udores da .;;oc;iedade frllll• do qu: u,!l 11 .:i1 ull1a1 wuliIJuu, ~10 wna .n4uictL1dc para t.:om o wti•:'.'r-
cesa nos sécul~ xr-:xrn. O traço nã_, e tmica..11::nte francês, nem exclu- ,so, para con.iigo, para com De J) mesmo. Com o tempo, essa~ agiiações
sivo dessa épo::a: rende a for!.1lecer se a r11rtir do século xv. Nohr:i e: se organir.am em vez de se apazig..:a.~:11. crdçr.am-~e em tendências maio-
burgueses em~..11eram sem ancescrais; e ~eu; laços servem de amarrru ;tera rc,, às ve1es :ontrarias, que não i-ub;istir até nossos séculos "rroder-
&uas l:nh.1gens ameuç~das por qW:1i:, çorrrntes, qu1: u~ <tr:-<1.5taria.., 110;; ' •. Jal é, parece-me, a melhor perspectiva de onde considerar as ~n-
para onde: In,,:enamentc, os ciercs qt.~ conceberam, no século xu, crr ~õc~ que a penistêncla dai; rnmu □ icações ,•ocaís engendra, num meiu
homenagem a uma cavalaria em ,,.ia; úc: ~c:1.kntari1.ar-;e. os rdatos ma- que. a lon~o pia.Lo, Lcn::lc a insta:.:rar uma Jegemonia da escrita. Du;,!o
·av11fwso~ 4uc chamaram "romances" denm-lhes por mowr narrati1'0 nomadismo, simul1aneamer.'.'e ex:emo, voltado paro o.-; espaços a con-
a· ·c1vrnturd", p:tlavra emautJa, vinda ele i:r.1 rarfu;:;pm hi:uro lati:io e quis tar. e imer:10, imrclido p~·ss ameaç:1s d: um ::echamento ·errúdo ;
,.k..,;gnarco qua quer fuga ;,ara e ante, nú !cmpo. ce·ta:-ienre, n~as ar.- ;imulta:11:ame:i'e det:élllinado pela n3.lure:r.d de lnd4 .i história, cssaguer•
ti.:~ no :<i[la,;o tntretamo, por 1,:m conua,cf.:to notâvel, a ma i:ma de, ~a ince.,~ante que os homens ,ravam com e espaço quem cen.:,j, :111,te-
sei- "ro:Tiancts!as .. mostrava-se p~eocupJda em fornece.-· a genealogia r~o~o. impenetrável. hostil, ~ [)Cio ndn que rena.~ce de ,i mesmo, no
de ~eus •·cm,·alei.'"OS andante..s" Paradoxo dessas composi;;ões. exalta.,- imc.-ior dos grupos endausi..·ado~ nel horizop1e esueíto de um terr'.tÓ-
fo as~1r.1. na ant~éspera de nossa moderrudade. formas de: vagueaçào rio cotidiano: risco e ~alvagrn1rd?. , lue.i r crn qt1I" os con tlitos c,(pforlrm
arcaica. nL.m universo fama~magori co, de aparência5 méveio. de impre• e enfraquecem, ma~ em que. ao loq;:::, do .c:opo, matarifilTI - :;1luaçao
·.isfve1s ·,riolencia.• .. mas que consutuem Oi i:ri:neiro., produ!os de u:11a que dl'<:,'l"l:'•1:ra..., a propósit:> dos ter ror~s co ,eculo X'-', R. Much ern-
"escntun". num sentido próximo daque:e q·;e emprestamos a es.;a p:1- '!iled e J. Delumeau, 1 A c::omuniciade hurr.aha se sente frágil; don<le um
la~ra! Rctornarc· a lal equívo:o. e.;forço &e~•.il .. ~ de criar in.stit'llições que seji:.n próprias pn.r(l re'orçá.-la
Da Espanha às planíc;es da \1o,co, ia. os pontos n:.iis fixo., , d O: e cujos resu.cado~ l'.Orreçarr a aparecer, c:mfonne as regiões, nos sécu-
q"at~ r-are:c ancrrada a hur.1an:dade. s~ n . 1,-irrt.·ntE' o; 12:-andcs mo,- los x11, XII e ... : ,·; do;idc a : ur io sid.aJt: 1:, rn rt: w~u 1). it µaixãc pda
teirm de tri da, a, observãncia, Muito, d~il'S ,;fo l u!!a. e, tk ;,eregriaa• e,::riru~a Mas . ao a;:,ego que ~e méiilifesta para com a terra em que na~-
;à.o, de m · 1• 1 LI ma e, ~ 7 e~ ~ .uta e com ;1lex~o dt mo-. ·mento ._c1 1 11c:: a1Js Jc.-tcrr:: 1 s. f,memffie o de~eJ J de ou,ra~ rerr.u,
migratorios ~e.- o~ganiza a , eu 1edor, atraí ndv mult1d&>s dura:1tr sécu- 110, db, ricas, (l;ide a 1ica seria. rnaJ~ fl.11 e acn o~ 1:m :H. Ko lado opo~-
' 01: e, p.;; ra c.~,IR 1n1
11vid110 lanc,-ado a eu& 11.l i!JJ,t ura, o t,,manh o da ví a- to, alua a 1endéncia ao agrupamentc; marlitesta-se politi.:amente ja en-
f!~m, u$ ~IS, O~ do trnJelo, o o fi o a esp:e1tar m tre cs 1mperaiores caruling10~. cuia ideologia de-. ia marcar o~ imi·es
,,._ f. z~ m:i um mod de do f0<.kr ~cle,,ast.co q1.;e a rn•pirar.:. \I.::s tarde ela Wrlil reac1~u,mla
1.nmento~ niun i,11-ui, \:ont1a
p:..la~ dmarnas regias e, mai~ air.cla e c,r uni!lo c•trcir.i lom ,ma uhi- at lc O!, ";:,1ntni.lort•,. I: ttnl qual M %til." u· ai urn ::erce11rnen10
:ie urn nomadismo rn ic '
rn I rel,·hbu-gi.:.cs,asurhma•. ~ r.-ie..,;,açc tb.ocum 1t:m;>:>med1doexts- n vn nbundugeml a relu,fi . ·-·•.. ,o poétic i E co tua o
t ,r ando real e ,roagtil,AJ .
ter"l <l~e então. ctemplme), p·opo.,-01 i uma Europa em noVJmerito dn prépn• 1 n u11 cm, 0 n1 L lu ares p 6xm1cs e
1 se con mu1u no ~e 1105
perpén.o_ 1.Ju:,licação do cxi.s:ir, a qual apa·cce com:. U'll f to tla na- nLJmad mo SOCI q ,e eru ida. mais zbmawnen1e, co-
rnrez.a. . tt nuD-SC: p-rtnop do e rttn<l os.
extensões amdam grande parte florestais fapesar dm d~mata- mo em di"CÇ ao un.1versa1, coru ..J.uca rns nauas ma1er•
- lo -.11 a pa n1o ra 1-"-"'" • • -
ir.rntosl que formam~ Fra:i.ça. o~ r,a Í\fs alei:r.;les e e~ :,:,os, o 1ng)aterra, \la:., a.té meados d o ,c.\l • d "' ade• ~ e~a ~ituaçac,, no
1,o ·a os n-..:'X ,. "
os Bá.lcãs durarão ate os séculos x,·,. ,rn e ;,,\.J!I, -;ukadas por uma po- na~ 'orr.uva-se urucarncnte na 1.: ) cad vez 'J\eno:
• arcoa..-n lfa;samentc
pulaç!c- errante. :i.ào integ•áve néli co::nu.n dade:1 q.1c am1vcssa. 1:mbora mten0r da., ·" •umdadc que P ...a, • mente modalilaed - atê
alterada ~~-ersa '
integrada na ur.agL-m &loba! que fa.z~r.i ::!e si nesmas. Artitices cujos CG· pre~tc1~-se a ..iSO. pe,rdurou - .: J ·"' r·c-.."dores, red.ir)dm no.-.
antaS • 11.1.::.! uC • "
minhos e atalhos consti111em o e,pa:;o profis5:o!\al, cor:k.11:Íro:,, po,eJO~, bem dcpo,~ de Oucenberi- Qu . . ·agueaçoes ce seu herol,
. alan elogiosarner..te aS , "
cesteiros, fe:-reíro~. amoladom., :::uisi:::os ambc.la.,tes, rr. asca'.es, exibidores séculos XT{ ex,, ~sl.11 . .. ,._ Lil na poesia e :ia pai ave~ •
de ursos ou de -eliqui.as, pastores que migram <lu, territórios mediterrã- como Élias Cairei, do Périgord, letra~bº·t ~~ ,·• •,,...rccrreu a maior ~art,e
· par1e de terra ha r ªª" · r tes aoi lugares ~uces~t-
que serq'.l..tl Ia ma1<>r ·
n~; solditdos sem guerra, pobres cavaJei·os serr a_"!lo; e todos~ vaga-
bundos que a miséria, a doença. c:1 ruprura de um vinculo social, o temor da terra habitad.a"). n Eterno retomo do~ erra:omeça. na. perspectiva
. d onde tudo semp~ r.... ·
de illlla vingança e o gosto do àife.renre perseguem ao aca.so: goliardoi, vos de um mundo fm o. f ades tssas a.JldtwÇ~ pc10
clérigos er-rantçs, esc:olaii:-!s 5aooleJa11do dec1dade em cidade, monge5 fu. de mílenarismos jamais completamente su oc João do rei Congo, cw;
· 1do Graal do :;::::este •
gi•ivos, mendigos., bandidos. prosti1uta.s, vide'ltes, curaadciros e (a crer- universo. essa. busca espara . ~e a história de fedl.al"•'>t: c1 ' t::>0-
~ nas l~~s <hfund.idi:ls cm :oda a parte) almas penadas. Ql.ando, ao
1)has do Grande Cã - tudo que imp
longo do l"'é:ulo XII, m.anifes1am-se na Alemann.a, França e Ir.gls.terra tino. e a palavra, ero livro fechado.
os primeiros movimentos anti-semitas, periodicamente as judeu~ :am-
bém são jogados nas estradas do exílio inceno. En 1182, Filipe Augusto
expulsa-os de seu dontinio; em 1196, ele ::is ar.isria; em 1276, 1283, 1291,
1299, obriga-os a se concemrarem nas grandes ::idades; em 1306, Filipe,
o Helo, eq,ulrn-<Js de novo; em 131 S, Luís x os anistiae, a partir de 13 W,
inida uma série de pogroms. tsso só no reino da Fran.;a___ Em ;ne.:.dos
do século XJv, os pnmeiros ci~a11os aparecem nas ilhas ào Mediterrâ-
neo; por volta de 1400, alc8!Jlçam a Hungria; õerca de 14~0. s Ale.mnn.ha;
cerca de 1450, a Espanha No outro octremo da e.scaa social, os nobres
deslocam-se com grande aparell-Rgem, pa·a a sue:ra, o torneio, a festa
ou, universalme:itc, a caça. À medida que o mundo se v.ai aburgJesando
e es::abiliza:rdo. a classe c1obre .i)toduz mais heróis paru todo o seniço,
mata-mouro• o .. desportisras e:ra.::tes, ptrcorrendo de armadura a Eu-
ropa e:n hmca de oportunidadC3 de glória. um H ans ver T..raun ;io sécu-
lo J{[Y, om Jacques de Laiai:ng no século xv. O romanc~ se apocerot1 de
tai~ figuras e criou Jean de Sainté e tl. Quixo~e.
É de.sse rnund(J que a maioria dos int&prete. de J)OC'fila é pona-voz.
É nes~e mundo que vive, compa rtilha:ido a 50:-te e os conflitos. Contra
a onip™ença dna voz sem lugar, urna pane do corpo social se defen-
de. às çegac esc:m entender a joiada. A recusa desdenhosa que os ''ro-
mancistas'' da primeira geração, como Chrét1an de Troyes, opõem à

L
tualidade 1cr11 os seus, a.s;un corno as ruental idades e$critu~aís. 'l~hum
üncroninno ..,incula rigorosimcnlc es!iaS p~ogressões ,tmpn: se perce-
·,e uma di,;crepância temporal, mais ou mmo~ ~emh:::l çonforrn~ as zo-
n.as sociais observadas.
,confina.do até cerca do ano 1000 a aJsuns rnos:eirv~ :: cori.e-& ré-
g.ia.s,Õlisõ da es:ntm--:1 se c:'1.--pandiu cem extrema lrntid_ão nas classes
5 ãiiigentes ê.os jovensc~!ados europeus. O magistral livro de M. Clanchy
prcvoi;-u, no que diz respeito à Inglaterra dos i.éculos XII e xm. Duran-
A ESCRITURA t:: esse -período, a proliferação dos documentos administrat1...-os aÍllda
não muda natii:I de es;cncfal nos ~.:>1Drm1am.entm. B. Stock esboça a
mesma b.ístária e levanta as 1D1ph:a~. no conjunto do Ociden:e, muito
especialmen:e na Fran.;.:i., m~is\.e., como }vi. Scholz, ::i.o elo que liga a e~-
crirnra ao de,envohimentc do comercio, à intemificação das comuni-
cações e à personiíicaç.ão do direito, tr;;.yos maiore~ dos. s&ulos que se
Forrws e récnrc-Js. Os escribrrs. A.fa11.eira.; de lrtr. A voz na esr:rita.
=:~tendem enlre 1050 e 1350- ~o entanto (Clanchy -aíh•erteJ, o que deve
ter favorecido a difusão é;. ::scritura e a re!açau t~trcita que ela. manti-
_Tudo o q.!J.e tive em co:i.1Z D.06 capítd.os p:ecedentes 11ã.o im::>ooe que
nl-:a com a voz.: 1 1>aracima.Jle -'alo. ca medida cm qae a e5crita servia
e:.:_: f,uadc: Média" fosse -:- t.a~bém - .Jma idad~ da e.~crilu~., Donde
para fxar~ensagens inicialrnerte orais; :onmcfo, mais 1.i.di.:almcn-
um ':lrOb,ema que o med1evahsta não pode eludir. D-ranle: longo tem-
po, Cha:')101 foi o unice a tê-lo explidt.imeme rn,o:ado; a p<irtir de 1979,
tc. eara baixe,. ror,:iuc o modo de codlficaç-ào das grafia-; medievais fa-
z1:1. desta'- uma base :ie oraHzação.JPor ÍSS'O, a impre~na.Çao das sem,j1Ji-
en compemação. váric,;; autoTcS o recomaram e aprofundaram sem d.'1-
dos: a saber, M. Clén:hy, f Bãuml, B. Sto:::k. Aqw, só o tangencio;:.;ipe- lidad~s e dos costumes ?~Jo,; va:01es QUe a manuscritura engendra nào
a.a~ um de seus aspecta-. me :ar.cerne: h.averà cm _poesia. de a1guma ma-
começou m::srno a mostrar ~eu~ efdios antes do sêculo x,·, mais cedo
11cua, uma contrac1ção ent:-~ o uso ctã e:sui1ura t: a~ 1uáJit:a:. vocaís ! m.1.m luga:::, mah ,.,.rdc em outro; e a satu~ação esc:::i:u.ral, ~act::rístíca
Desde ;,.,.1cLuhan - e apesar de a$ incuiçôe; desse autor terem sidc da cultu::-a "moderna'', se pradmin1. bem mais La:.rde a:nda. Ali modifi-
r~n muitoi pontos ullrapa~ado.s ou comgjdas -, sabemos dd ~.JmJJle• cações pi8fcíais que assim pwsrcs~iva.-nente se opernm. no plano antro•
x1dade da relação qoe opõe a escritura â voz. A partir do filial dos aam pológ1co e ;oc1al, acarretaram :nenm uma mudança de estado do que
60, os u:abalhos de W. Ong e de etnólogos como J. Gooày madz.i.t.rdll~ a crescente de uma situação, em ~umill, idênüca a 6i mesma_ Os costu-
Jrogress1VlU!lcnte as les;:s e afinara:r1 o voc.obuláric préprio p:ua exprimi- mes que <Litavam os modos de "'ida davam ao corpo huma:10:; a suas
as. Subsim uma proposi~ão furdamental, diversamente moculad...: a e;xigênci~ um lugar J.ernasiado ew.lnenle pan1 que não fossem geradas
rustóna ::la~ mentalidades e dos :nodo~ il.ü raciodnio (de faw, qua~:: tu- rcsi,;tênci:H, dma.nte m11j·.o tempo imuperáveis. O Tristão do rorr_ance
do ô que designa nosso term::> cultura) é determinada pda ev,oluçio dos de Go1trried von Strassbwg emi., em seu :empo, · 'ua onda'' e faz O$
meios dt comunicação. J\'.~m disso, é necessário não defini~ de moe.o estudos que (-egm1do o autor) c:Dnvêin a rna condi;ão, mas o te;,,:to não
demasiado brutal e disthg1Jir da rccnica seu uso. ti. 1mprr:nsa, que a China dissimula (vv. 2062-95·1 (llle es;;a e 1111".a :".Xperiência demasiado rll(!.t ~,a-
passuia vá~iCJ, ,é~ulos ~nlC'i do Oc,dentc, nl.o rna~c:m de igua mooJ :a prod·Jz:.r o a.111.or aos livm, ou ,ara moldar um temperamento. 1nú-
a ,e lha ~cc1cdade n:pena e a nossa, e certa.mente~ deiro~ · ntele:ruais me1c& clcrigos. rn!!';en: Ga.rn.ier je Pon~-Saime-~a.icr::n.ce enl seu poema
quf alri"l'T' a e,,a invmi;ào no tê'll \ü.lO excli.;si"o~ - dcpendendn :,oo~ TI,om.u Becktt, não coni;egurra.,: nruo; habituar-~e a ler ou a cantar
i:-mem, menos da imprensa como tal do que d,, carát!r alfabétiw d~
no•~as Eraf10~. Na penpectiva ht t6nca. a relaçãc, enlre mroi:m, '.: atl•
1 bern. 2 ~ada nisso muda reamiente antes da \'oga do hurnarusmo, pl)r
vol•.a de J4!0; ta.uL·;J.!i :.é;lllos não 1e:nam ,;ido sufü:1en:.e5 para a socied.a-
tudc de e)pirito não é uni\·oca. Lnfim, a c-srnt n o ~ confunde , em .de eu.:c,péia interiorizar verdadeiramente: seu conhecimento e )ua práti-
l orn a í1L.:11ç~1,.1 nem me,-mc., r;,-,-,m rld.l ca da esc;::ura.
1ex10. Ela Lern sua 1.stJria, ;;eu ri"m::i p1 opnode i..le)cn,·olvunento. a to-
97
Uma série de nutaç,')e, lemas ~e produziu, de fato, il(l lon~~, do tem- a a•1V11fade t\C'nUJral corrente assegur v m 1unda ,a, oc,edades euro-
po. mmdl'.",• it.la~ .im de, lizamento'i <loque à, r 1p,mn~. Convém cons1- péias, o pnn ado da cscrnura Só no deco~rc, do sw.ilo XIII é que "e
d1!1 à-la~ menos como 1:m do Que relativamente a um lonilnquo :101110 m1" .B .
de fuga. pós-mcdie'\·al, que as põe em per<;pectiva. Recuo de um va .to
espaço memorial em provc:i~o d o !\:quivo; c.xterior·z.ação dac; relaçlit~ gem li.:.> que sai da:; ofJCma'lo do:. copistas. :.a ruamcnte uhrar-a.,,sa um
sociais; tmergcnc1a de uma noção e);plíd ta da his~oria; gr,,1maticaliza- número :nuitJ pequeno de exemplares Quand::> u.11 texto no... foi pre-
ção d~ inf 1,i 'ul!;1T e "m,:,. ,·nn, 1uêncü1. cfüso:::ia..;âo entre wn :ódi- ervado por numeroso, ma:u:.~ ..ruc :1 pen de t c.1.c.P , , pa1.1 '- Rc,mur1
go qral e_o coctigo e.s_cnto; dlsuncão, pouco a pú c...t) aumirida. emre um ãê la Rose), são ce data e origem dt\·er..,a~ e testemunham a i:eni~tencia
modeJo lingüistico interno e a capacidade de utiliza lo, entre l /angue mab ui;: t1m<1 1r11t.lii;ão tio qm: de uma dlfur;ão 1:-nc:diata e honzomal. Da
e a parole-. M~ as linhas de evolução assim desenl:ada5 só começam maioria do~ textos poéticos em Jingua vJ[gar um poucc antigo~, só pos-
a :om·ergi:- antes da época (na virada dos s6cobs xrv e xv) e111 qUt: apa- su1mo.s cópias muito postenores a data prová.,:;! - JU pro•·ada - de
receu na Europa a primeira pintura de cavaktc, anunciar1do a imioente sua co.mposi~o; da poesiaq::ica e "lírica'·. temo~ p;ir..cipalrnente as ar:•
;m:<lum.n9.m;:a, neste universo, do scmido da visia e da percepção do to logias ou compilações const11uidas para apreciadore~ no frn :lo séct.-
csp;aço! lo x II ou nos s,:culos XP.' e x•.-.
Essa~ I.Jnhas auaves.!>aru o ca.rnpo <la poc,ia: de maJ1e.ira comras- 1amoém o sentido do ,ermo escritura não é urJforme. podendü
tanre e complexa, aluam ~obre a intenção e a composição do discurse> referir-se a tc,nicas, atitudes e coadutas diversas, confome ou_em_p~
q ut· a _poma comanda e (em menor medida, la!vez) sobre"-' modalida- i:.,
us l1.1gares e os contextos f'-·e□!uais. J)aquilo qm: designamos e pratica-
des p.siquicas de sua recepção. Assim, o que ,;;e t'ncon-rn pro·undamen- mos como escritura (com a intenção ou a pres~uT)osic.1i.o de I.IlllJ passa-
tc posto em questão é a relação tripJke estabelecida a partir e a propó- gem para o imp:esso) à mfmus.criwra medieval, a distância - em ter-
sito do ~ex.to - entre este e seu a11tor, seu intérprete e aq"Ueies que o 'TlOS de aJltropologia cultural - é provavelmente târi grande quanto entre
recebem. Conformé" os lugares, as épocas, as _pe.ssoas implicadas, o te:x- TT: a.nus:;-crilo e oralidade primaria. Mcluhan já notava a d.ifere,ça ''abis-
10 d!l2_enck às vezes de uma oralidade que funciona em zona de eséritu- ~d" que: distingue o "homem escrevente'' .:f[) .. hnmerr ripográf co": a~
ra, à~ ~-czes {e foi esta sem duvida a regra nos sécuJos XJJ e xm) dt urna "cul!urasde rr.anuscrito", ensmava ele, pe:manecern globaJmeme táúJ-
c~critura @e funciona ent o.tfilldade. ora1~, e .a escrita f'Yerce aí muito menos efeitc do que ern nosso mundo.
Os dados quantitativo~ são e)oqüenres.. Até cerca de 1200, urr.a de- ldéia retomada por \V. Ong, que situa o manuscrito na continuidade
zena de volumes bastava a um erndito para fazer r:.arreira 1itil: coleção do oral, só imenifldo a ruptura - progressivamente - com :1 impren-
facilmente transportável, modmcada ou acrescida ao rongo dos anos ~ Entre a mensagem a transmitir e seu rec.eplor, a produção :io ma-
:por intercrunbio, cópia, rara.mente compra. A exCremacarestía da escri- c.uscnto introd-:tr(tanto na trar.scrição do Le,to 1:v,uo t.<l quau1õ:i'a ope-
ta restringia-Ih e-, de fato, a utilidade. O si ~tem a das peciae, caderno~ que ração psicofi.siolôgica d o escriba) filtros q-ue a irnprensa em principio
divlllga•1am um textO por pedaços, inventado nas CS<:ola.s do sécu.lo J<.J.U c:bmlnará, mas qoe, em contrapartida, são estreitaJlente aná..ogos aos
twt, jamais saiu de lá. As, b:bliotec.as co111inuavam numa pobrez.:i surpreen- G,I:dos que parasitam a comllilicação oral
dente. Pm voLta de IORO, o de Toul, r(nOmada, conta'l! com 270 .-olu• Apc::sar d,~ aperfeiçoamentos que lhe forarr. trazidos no nrso do
me,; a de Micbelsberg, em 1120, pmsuía 242, com um livro ára:oe e doo tempo, a técnica da escritura ê difícil de dominar e exige rara compe-
livros gregos de matemática; a de Corbie. po1 volta Lle 1:200, ~n:"la 342; tência. Sufs d·vers:as fases sã.o assumidas p~lo mesmo homem: compo-
a de Durham. uma das maiores da Europa, à mfsma êpoca. 546; a da sição ~ tinta, dimensão do cáJamo ou eh pena e, às ve2es, preparação
Sorbonne, por volta de 12~0. mil. Essas cifras cresceram. conti_nuan:en- do suporte antes de traçar os caracteres. O ma.teria! dá trabalho, :>u por
te até o século X\'1, mas permaneceram, relativamente, na mesma or- sua fragílidade (cc,mo a pen.a) ou porque exigt um lonao tratamento r..:.
dem: por ,·otta de 1300 1 em Lanterbury, a da C.:h nsr C hurch possula trc- vio (coe.o O..Jl:.Crpminho). ~ Dois sistemas gráfico~ e oom u:u1m, um
' zen1osmiü'rne"i""Em sua mui bela biblioteca, o rei Charles v chegou a herdado de Roma (o alfab.eto e certos procedimento abreviativo ), o
reunir mil; os duques da Borgonha, novecento8.' ;'{a momento em que outro devido a incv..1.ções frequentemente prclprias a esta ou àquela oíl-
comt:',"tl a tlilusdo tla imprensa, nem o número de livros di~poní~is nem cina; ab,eviaç~es por ele.,,ação ou rebahamenro rl, sllabH; inmxl.ução

911 99
de ~1g110, rneno •ráfI os ~ d::~, mbolo~ - s1stemn fadado a 't"' •ra11de te a -,;á11ca d- t "i"ura .o u:iua,a, ap.sar de ;ilgumas 1110•.ações Lco-
dL·~emnh imenio entre o,; ~éeulo x 11 e:,.;•,, em co1°st"QuénC1<i rn,,n J, , "e u u J) r-1 ' (' •· -~cra\.a de s!.la 1ec n~ioaJ. e d.e! -.,·u "li ti:.mr:; mi
cre,cunento dl' numrro de- e~crito~. 1 E,::r~\·er é um oficio .arJuo, ar- )
so debJmeme ~ap..t7 dt iníluenciar de manejra dire:a o -:o;uporran.emo
~all'-C\ CUJO e:xcrcicrn ,.omti1ui um .ar1e,:u1aro organi1ado do.!> mo~ce- 0.1 o p,:nsamento do, poetas, e nfluenciav-à menos amda a expectati,·a
l+
rõréarolmg10 ao:. "Ih rt1ros'' urliano~ di:, sernlo \:f\, o camrnho foi do m.:. piíblico.
longo, mas ._ m ,. irai.las bruscas. Qua.. m a lrngua ~ ulgar, h.:\iÍa pouco rtnha-.~~91/ílo de :iif1.::11J.ladt~
Inscrever um texto, qualquer que <.eja. comp:irta duas operações: de outra orde:-n: como anotar os sons proprio~ ás Unguas mcdJ:11ab com
reco lhê-lo sobre tabuinhas de cera (as i.e.zes resu1Tido, quando não er.i um ~lfabt'm r:riRdn, mai, dP. ·1m milênio anles, exdusi,rameate ;iara o
noras rrroniancs, taquigrafia de origem antiga); em segu:da, pas~á-lo lat;m arctico7 Coi ocou-se a quci tão - em vão - d:sde a época mero-
a Limpo ~obr: e, pergaminno. De ,,ar5os leuados do século x:i, corr:o os ,ingia. AE línguas românicas sus~~avam relati,'3mente poucos proble-
teólogos de Citeaux ou Ped:ro, o \'enerá\·el. sabemo.; que compLmham mas, porque a pronúncia do iatim erudi~ e escolar evoluira baseante:
de memóna ;;uas obras e as ditaH1.m a um ~ei.;re~áriu, o qual as ancta..,.·a ficaram Ih. res para a.~ bricolagens, como a combinação do e e do li a
com um esti/0 sobre as tabuinhas; em seguida, o autor retomava e cor- fim :Je obter em frances um fonema desconhecido do larb. 1'0 oul.:'o
rigia esse rasrnnho. Taml:lém ocorria fazer sozLnho o primtlio trabalho extremo i..:u doruin.io h ...uu,111.c, u :?Olonês deu provas de e.s:upenda in-
e inscrever diretamente, pronunciando-o em voz alta, o tex~o sob~c as ven:;,idade :i.ess.a matéria'. .'\s lfaguas gcrmánicd!! :ntroduzinun alguns
tabuinhas. Â mesma época, é pro,•aveJ gue os esc:itores de línpa vuJ- si11ajs no,,.os, o w ou o L/rom.",I:sse tndlspensável 1raballlo de adapra-
gar, como por e1;emplo nossos 1>rimeiros romancista~, tenhaa usado es~es çãc da grafia não acabou ar~es que foss~ fixados, se nãÕÕssi.stemas
procedimenrns. L"ma p~ntura do chansorinier N (da Pierpo:i.t L1b~an,. crtográ.ficos modernos, pelo me:ios um fei:xe de trad;çõe.s escnt11rai.s mm
em >l'ova York), executada em meadrn; do seculo x1v, repmenta um 1ro- ct: mer.os estáveis: entre o século Xlll e o xv. Até emào, a amplir_ude
~•ador anotando (com ev:i<leme dificuldadel sua canção sob~ urna bn- <las 'l'Uiaçõe:. guc ...e co:1,tata entre os costumes gráficos lo:a:s (e às ve-
ga folha solta.6 Tais proceclimentos, aliás. explicam a extrema raridac:.:,: ze~ individuas) atesta q1,;:: as Unguas ,;u]ga:'c:- não tinham aind2. assimi•
dos manuscritos autógrafos: nenhum err. latim antes do sé;i...Jo XI, nem J.ado r,lem1mente as práticas da escrita. ~o Ocideme mecüeva1, aré cerca
em francês antes de meados do século xn.''O vocabulário que desig- do século x1, uma sõ so:::ied,H.k c.,;capa a esse t:po ::le digloss1a: o mon-
na a operaçãs> do escrever pcové:m, em ,,ernácrrtb, c.iretamen;e do lal:m, do e~candiaavo, com suas mnas, bem adaptadas à :onctica germâni::a,
o que parece mesmo implicar a iMnüdade dos métodos: dirrare. ditti- ;;:·.ijo e,c~p]o mais antigc remonta ao 5éculo u de nossa era . .PosSU1ntos
tare (até mesmo legere) de um lado, smbere de outro lado. D1ctare ,efe- mais de 3 mil in.s.crições :1.llLCas. Destinadiis principalmente a gravura
re-se ao que se percebe como a o~igem do teirui; da' o subsuntivo dicta- sob:-e rocha. as rm:.as servem para traçar sejam tít;,ilos cornemc-rativos.
men, designando a arte da composição; dai a metáfora do Deus Dictii-lO', sejam flOemas, De fato, só dessa maneira nos chegou sob forma Jitt.-ral
enunciador de sua Criação; daí o francês dictier, remetendo à obra ;:ml'- i:i poe.c,i.q nnr(1i-:;i mai~ antiga. F.nrn1.11eceu-sc dt• COm.lUl~'Õcs dos ,..~lore,
tica acabada. e o alemão Dichtung, "poesia". Scrfbere exi~e um esfor- m:l.gi:;os que, alias, eram ligados às runas; conotacões que se referiam
ço muscular cc,nside1ávcl: dos. dedos. do punho, da vista da;; ,ostas; ao poder da vo2 que pronu:i.da a fórmula in:.;;rit.a. Por csS,a ra~o mes-
o corpo imeiro participa, ate a Lmgua. pois tudo i:arece pronLnciar-se. mo, a l.;re:a, UT1a vez impla..1Lada no norte da EltTopa, impõs o alfabe-
:-Jo im·erno, u frio imobiliza 05 dedos. ::: pode-se 1c:rncr o con~elam':.:to L:l ltuin::?. No :;mamo, a.,
~unas ique .t ~sse tempo tinham penetrado na
ela tinta. Oroeiic Vital prefere espera1 a pnma,.,era para re:opia, as La- Inglaterra diTiamarqu~!>a.) r.ào saíran rapidameme de uso: são empre-
omnhas ª"ressadameme rahi,:::ada~ em •Jr:o:::m':;,rn.~ F.'>c1evcr e>(.igc: infi- gad:1s r.:ie.;mo cm □anus::itos ou :.ibi:i.n 'tal- enceradas, ,cm conc0··ê11-
nita paciên::ia o trabalho de cópia ~e e,!e:ide por meses. por ur.i, de., cia COlT a e~c-itura la ina: crr. Bergen. air..da, em 1200: na DiKJ11arca.
anos. Depois dl' ter :raçado a ulama I nha, multas ..,eze~ o e~ .. nb1 da JQ.lí L dJ,, ,={t 11 .~1..\..clJC X1~.

larga~ a seu alívio e sua alecna compara-,e- ao rr:arinhe1ro que eDlirn _:'àü o: sufc:icnk p1:1.rn o escriba ~aber desenhar letras. e ab:-e,."a;ões,
volta ao porto; ou então exige \'1nho, urna Jovem \ irgem, até ume ''gor coir.petenta gráfica basi-:a. :le tàcil acesso: mai:. de uma famDsa pw.o-
da:Puta"' ,,aucnbach amigamente., col u I confidwci 5 ,cre\
rabi,cadas n;1s rnargens. 9 At:-ida pi..,r vo ta de 1400, m iodo o Oc1:kn-
n:igem, capaz de a,sinar ,eu nome, nao ter a poddo e~creve· o doeu 110, uma equtpe C" ri,-111 ~•I
memo. ,\li:b, para quê? O es··rlba pos... u, e ~ - proteger.do-a momeuo, como ecep1
l.0mo segredo de tabric. çào- uma compe~êo:ia tex111:il.u.:ai- •~ , l.CS·COl'.IS;f.lcr•Vd; do i.U
fundada no conhecimento das formulas eficazes, das ~gras discursiva , dmi e- e que apronu ClllflO da umma theo-
do ;nancjo das figuras, ife tudo o que com•itui, :10 sentido p:ime1ro1. lo,:it:a de Tomas t.le Aqumo tlu'Uu 1r~ anos. (Jue dizer do Ro•11,M ele
o estilo. Desde o fim da Antigüidade, esse pmiiegio:.~ man tC'\·e em meios la Ru,\e? Por es~e meio, o :opl',ta "domma" sua materia: e, de fato. ~cu
ii.=c~do~, abni;,,;ando O• recursos nece-::-Jirios e sarantmdo Q seguran.,a lllt:!>tre, e: talH•z. confo:mc a opm1ão rnai• :::omum, o ..eJa tlr 1..hn:1Lo, ca-
do trabalho: a chancela"ia pomiticia, que escava ecpoleirada ~<'bre as ,o se pense na fü: 1de7 da mai:1ria de nossas 1radiçe1e5 manus-.."Titas. i~
última!> Lradi..;ões romana,;, e cujr1 influêr1c.:ia tnar:;oJ mais ou :-nenos to- reprodução do,; cexlo.\. aucor-.m latinos tes~e:ntrnha, a~ui e ali, u:1:a p:eo-
das as prâticas locais.; as chan..:elarias dos :ei:-os babaros; e'D. sti uida, cupaçào de auten:icidade: a an:lta çào do~ Lc:,.tos de ,?Oes1a em .ingua
êl<Jllé"l:ic; q ut st! recons1i1uirarn após 1050 oc ~cdor do imperado· g,ermâ- vul_gar. qua;;e -unca. O copma •e outorga - e a i)rat:ca lhe cor.cede
:1.ko, dos !CÍS ingleses e fran~es, nos piincipaaos i taJ.anos. prmença.is, Jma Liberdade a.s vcn:. e,,1 ema~ a .rad1~ào '.Danm:rica du 11!exi.1 lr..rn-
borgonhe=,,es, herdeiros das pràlicas carolíngias; na Eipaaha; chancela- â~, aqLda cambe:n de um poema 1ão con!-.iderá·,el qLtnto o Lihru ª"'
rias de bispados, de prefelll1ras a partir dos sécuJ05 x .. x·r e xm; :r;cnp- huen amor, demole as formas e talvez o scnt1co ja obra. O t:opi.st.1 ma1~
toria dos grandes rnosteirm t t.ltpois, após 1100, das e~colas urb:nas; di~creto con:inua .. intérp·ere", ~.:n todos os aspectm dt:.;~c te'lllo, ir-
mais adiante, as oficinas de copí~ras do ~eculo xm, os ~tores aos sé- du.si,·t: glosado;. A propria icéi.. de côpia parece 0nuiro nrnd,..nw i-,-
~uh'r.,1 xw xv •., sen:;ialmtnte, o ma:iu~Lrito : recriaião. e º..!"tudo f]oJógu:u q.K'. Jdt
Por isso (e ape~J.~ do de-.prezo que -nuic:h nobres demcmtrarr pe- fatcmos nos lev a rnili dl.'. urna ·.e, r1 r.ond uir <JLE tal ..:69-1a" !! r.le 4uali-
lus t, ornem da eScrltura), escribas e copistas ex.il:arn sua obct, augwca dade superior ao arqueupo (n gu 5Ó a n6~ parece paradoxal l. "-<essa
e merecedora. Fornecem uma ime~pretação sumúlica: a pena fcncida pcrspec!i~·a. o ex:1rne tlo gênero francês do;fab!iawr. mor ifc.stou 1n c.nu-
rep:resenta os dois Tc:d$merno~. os doi.,; cedos que a segu:-am, é Trrnda- logia~. numero~.as e não fortu ras ene e sua r.i,tóna e uma cradidio oral
de... Ou emão o pergaminho é um campo que se semeia: o ma.s an:ign Certamente, todos -05 copistas deram rainbém provas do qu~ ij 11~~u,
texto iiaJíano conhecrdo, o "Enigma de Vero;a• •, po· volta do anc SOO, olhos. é desplantt Bernan Amoros, ele~ de Sairu-Flocr, cof"'lpila11co
é i1ma probario pennr:z.e que desenvolve e~se tc.-n a.:.s_cm_dJ.bdoa o mor,i- por -.alta de 1300 unia antolcigia. de cau(üe- ue llUVd.Jorc.-s, t-xplica lon-
men10 da próp~ia djgnidade k\'a os COIJistas a assir.ar os manuscLtos gamente Em <.e-;:i prólogo m "Jrir.cípios que o l::-1aram a emendar ~er:m
que terminam: como W 1llermus Pescator. do .5aiptorwm de- Ftc.,mp, rc;,.to~ para adcqua-lm au ··uom t..:!io... 1" 1hua-se menos <.k rc~ pd.o .10
no scculo XII, ou o Guiot que teve uma loja er, Prnvins, no ·meio do original ::io que de nomialzacã<~.. \e não mod~tn ,:açãc!
século x111, e copiava os IO"ílances de Ch rf'lit>n de Troy~. Ommi ad- Assim. a Unguagem que o .::nanuscrito ·ua cor.:ínua a se·. po!::rt-_
quiri-am celebndade, como, dois sécuJ01> ma..s cedo, Adhém~r de Cha- ::.ialmem!, a da comu:úcai;ãu d ;ea. f\ e~crita, sah-o a..:~-re,, -:orutill. -~e
bannes, também pregador e historiógrafo. No entanto, a atn1dade Jes,- por :ontagfo corporãfa pa'.'.1r d::. voz: a ação do copisr.:. e ''cádl", se-
ses homens da pena, OTgulhosos de sê-lo. dein. para O :>m.-idoea •07 i!undo a taminologia mduhaniar;a; e anebl!losl ide:>lógica que J!ra11.:a
um papel que pode ser determinante nQ coIJst u.ição Ud escrita. A~ re- ao redor é mais próxima do tipo .. ~ibal" que do nosso. Donde, i:;ara
presentações de copfatas nas miniaturas valoriz~m q ui:se sempre o ou- a maioriz. :los ho;-neru desse tempo. a pouca ?-'rtinência das distinçõo
vido. Em parce, ei;crevcr depende ainda. da ordc:ui da oralidade, e e.~sa (para nós imponantes) entre amor, es:.ce, t:nte e interprete N~se ponto,
dependência, longe de se atem:ar, toma-se manifesta depois de 1200: seria tema::!or interpretar como um reconhecimento tardio li confu~o
a cópia direta, sem a in1 crmcdiaç.ào uc: um lellor, às ve7es pra:icaa.a nu• constanu que, no fim da L<ladc J«lia, fazi am entre os termm ª"tor
ma época mxs antiga, pouco convém a uma produção desde então re- e ator. O • auto:-'' e o ava tar laicizado do eloc'lltor d1 \ i no, n itw·tn, da
la1 h·t11nenle a1.:dmtc.la.~O scrlpror recebe, cm ge:-al auditivarnent; o tex- E.5critura; avatar cujas primeiras manifes•ações, me.ta cspo d cas, apa-
➔ to a reproduzfr. 'tis grafias mesmo, e suas alterações, parecem implicar recem Jurante a ~egundn rntrad" do ~éculo -.: 11, tmhoni por k•n~ tem-
que ele !meriorlzava uma imaicm das palaHas mai!> sonora tio qut v1- l)(l ainda o "autor" cont nue a ~cr o intérprete na pe~form n e de um:i
~ual. '.'io, ~cnprorio onde '-e mant inha o sistema antigo da pronunri11- rne~m qut, pri·~rnça total , n.io pr~i dedar r ~Ili nriJ!!em , 1 J urna~

J(),2 IOJ
rx-c1t> de Jtcmroralidaded<' cxto; uma u pcmio d ,,., e1ci10 ie.,tr , tam• nhavn que , lC•n1cxto ociomertal no 4Jal ~l inseria o J.tQ de kr rnar;i-
1-..m. i_:\1dcn1e, a no,,os olhos) de ,füt n 1a ti,1(,rii.:a mire a gene e ~a nalirnva e te em mn o:r ou menor s·aJ Apesar da relati~êi multipli~a-
oora poe11 e cada uma Ju ...ua rc;ih1.11,:ôo. ~jo do~ e critos a partn de 1150-12()41, o olhar &âo escava a~ostumado,
como está o nosso, à oruprese:iça da escrita na c:xiitêllcia e entre as coi-
sas.. A memória do1, raros leitom annaz.e:iava devagar o que o olho pro-
~ modalidades de escritura coadicionam a lcitur,. êsta, ate bem gres5i va."J1cnte c.ecifnra. mll.) gue n.ão d~xa.-a mais para r~á~.
depois Ja 1mmção da iruprer.!.a, perm,rne:e cmcil e, .ser.:t dú\'lda. m~- A leilwa e:a a rumina'ªº d~urr.a sabedoria. Na decifração, fü corr-
mo para o !e rado , pouco l:0mum. Ela tem te superar ob~tácul,h Iua.- :iicões :nateriai~ da grafia col~m quase um problema distinto para
tenais comiderãveh: externos, como l pouca maneabiida::r de vários cada pal.avn, perccb,da ou peJo menos identi.icada (talvez não sem di-
,;iumes (freqüentemente, una c:scrivaniTiha foi mdispensávtl) ou a rr.á :"JCuldade) con:o urna entidE.de ;epa:ada. A;>enas a articulaçio ,.~, ;,cr-
iluminação; inrernos, come a diversidade dos estilos de escriu.ra e dos mitia reielv!-ID n.t prâtica.1A leitura envolvia as5im um movimento do
s~stemas abrev:ativos, a qualidade do supone, !l ilegibiidade de cer...as aparelh.o fonador, no m ~ batimentos d.a glote, um cochicho. rnai~
letras, o emprego de uma ling,.1a bastante à.ferente da fala coti,:liana - :omt:mr.:it.e il ,ocaJização, gera!mer.te em voz alta. Os tesu.-munhos dessa
todos fatores. ademais, :nuito diversficados: visual e lilg..t\ticameme. ?Jàtica ~ão .ninterruptos, desde o ~é,;;ulo v até o ~~cuJu x,1. Os craba-
um texro narrativo e um documerno ju~1di::o nàc 1ê:n gra.11dc :oisa em lbcs de pes<;uisadore.s como J. L. H<:ndrikson, Chaytor, I. Hajnal, d.
1

:omum! A leitura exige inic:é.tiva e ação füíc;i t:in10 quant:> auclicia in- :..Cdercq õl.éluel::ccram-no dos anos 30 a05 ~O, e essa op1ruão e hoJe gc-
e]eaual. 1 Antes do século >.m, foi, as ve1.es, necessário re1mír ,-erda- ralmen le admitida, embora se desdca he o tírar dela todas as conclusõe!>
dt:i:os_ corniikJeleitores para assegu,ar ~ ccrret3 decifração de u:n do- q1.;e, pare-ce, se llllpôem.
:umento difícil. Muita gente sabia escre1er - pelo Tenos asiinar o nmr.e Essa maneira de ler se integrava tão bem numa maneira ele ser que,
--:-;;s não ier Leitura e escrilwa constin.1em duc.., 11thidadcs di:cren- fil:nda por volta de 1570, ela aparece aos .n<Ugenas do .\/ovo ~undo co-
res, exigmdo .aprendizagen, Jistintas. qLc ,ão são percebidas corno ae- mo um dos traços curiosos dos co:iquistadores. O penúltimo jmpcr-d-
:,e.;sana.mente ligadas '~ No número, mwto minoritário, dos homens c-.,,- dor toca que re;istiu aos esµanhóis, T,Lu. CL1si Yup.anqui, no relato que
pezes de decifrar suas cartah apenas ·11Il p..1nbado perter.c:a ao grupo ao fim :ia "Ída d·~ou para o govt!rnad1.r Garcia de castro. descreve seu.;
fe,;;hado dos profissionais eh e5cirur.i. fala, até o século xm, figura ..-encedore-s corr.o '·homens barb·1dos ,:iuc falavam ~oLinhos ,eguraado
qi;.ase como privilégio de clru;se, e só pode entrar na red~ gernJ das co- nas mã,:.is foba; de- tecido b:-anco.." 1~ 1\ tradição monástica valoriza-
municações sociais ao manter vínculos com a .,.oz. Igualmente. o pró- ra havia m-.lito .l'":Ilpo t>Ssa prática., ::or.siáe-anão-a. uma aTuda à medi•
prio termo ler designa, para o homem medieval e para nos, operações tação: o :novimcnto dos múscuJo.s faciaio; as~eme- lhi,,.•s esta ao ato de
pouco oomparave1s. Mais amaa: os rrabal.!10s de F. Richa1d~all e de sua nuirição, a e.e·vaçào do esp:'rito proc:rlia do que .\li. Jousse chamou
e:;.mpe esr.abe.cceram dois fa:os de grance akancc. ?or um .ado, é pre- ''rr:and1:cacão da palavra·'
oso distinguir varias espec1ei de- leitu;a. as quais diferenciam ao me~- A.; exceções imrressiona\'am a imagina,;Ao d.is testem unha.;, a pon 1o
cr.:, tempo a natureza do texto-alvo, a fanção que lhe a!Iibui o le·tm ce es:a; atrihu1rer::. àquetas uma si,;_!\i-i~açào p:ofund:;.. Ciu se o espan:o
e a capacidade de memória deste. Por outro lado, em todos o,; caso~. co jovem Agost1r1ho quando. em !\-Ulào, vius Arnb:6~10 ler só com O!
a velocidade de leitura aqu~rr da qual o te.<to nãc ;>:-opor.iona ne:ibum chos relata o e :orncma-o nas O:,r.je5siones, v1, 3. Tais 1,..11a:l d~•1:11
prazer, nem m::smo interesse, si'.ua-se, con.:orm~ os indJ·,iãuo~. t.-ntre qaa- ter-se reprofoz.ido aqui e acolá. nc :nem erudír:,, d1..rame seculos. M~
1
"!rn e oito pal.n'ras. por segundo, 14 50-0 a 29 :nil por hora. Pa:-ece 1m- o q.1e, a ·oi:go prazo, irnpfü ,iuu1,;1.- .i r-:Ju-:u a khura silencio~a e pura-
p,.1sshel que um leitor medieval não profhsior.al tenha algl.lJ7la ,·ez ati!l- mente 1J~1:.ar foi a multiplic~ãc :lo numero de C!.Lr:tos e:r cuculação.
gido e se luniar. Ei-nos longe :te Roland Banhes' Entr~ n~ prépri_Qs So irucfo, só ccnU) ~c-tore5 foram at.ng:dos. De:.dt o ~écul\l .:CII, o ,; re,-
probs~Lona1.s ..-.em du,1da forart. raro:. aqucJe:, cl.ljo ritmo podia ~ren- C:filerHo ;;onsider.:.v~l do nu.mero de fo:itc:~ d1,poai've:.s modificara a
der por bascantr temDO a a1encão d! um J1uduono: & =o~pAr.!çõc~ fei- pnitica p,ivdda dos eruditos; no séculi> xiv. as Jm,·erstdades, u:nctu
tas QO.m..duiersas. pecfacmaac~ ue o leitor público irut.tmdo as bibliotecas abenasaos estidantes, são lee..ulas a emitir 'C·
:tr.tbaJ!ba'lm ~1nt1H":C,m a memcm or-f.. u l - g•1éUllCntc'S que c.--1gem a le11ura ,1l~~1o~a: no séu:lo \\, i:.so setor-

J04 /O:,
nou IL"Tl3 im:,oskão ab!O l,ita. AI, corte5 n\gias ~ão nt1ngidas p:Jr volt::i
de 13~0; o c~njunto da nobreza 'eiEia. a panir da séc11 o ;>:\ 11 O r~- se de 1in onJo l11urg1co c1s1erc1ensc que, dando , norn,as gerst que
suJtados je ~I muda]J(;a de cosrumes são mais determinante, na forma- presidem à rcci 1ação e.los ofício~. espcc1a mente à ac-cnru , CJ tio ter-
ção do espinto "moderno" do que a Jn\'!:7 cào da ll'D"rennl - a uaJ mos latinos, c,)nsa8ra um capítulo à pom.i ão cJ, texto {fó io 1 '-JJ
não fel 'ienào sancioná-los e tornâ-lor, 1 rre",er~/\ eis. Uma esfera de inti- ra, interpreu o rcpou._a men no o que IZllID este
m1cfacle c;e cria ent:e o leitor e o :exto, :i:a qual o 1r,tcrcâm bio se intensi- do que na naru reza do ritmo s ntám:o na prátien moná tia. O au tor,
fica enquanto o contexto o<Lcrior se distancia e se apag,1. Não é mesmo para esclarecer seu pr;,pó.mo, fo-necr como l'Onclusào um.i ~c:gra reca-
" r a~<> que, no "Ileia )e~do, o cerm - i ·e er ~omc-cc .. Lc u ,enudo pítulativa seguida de :.IIII c'<C:nplo ti.l.nado do Livro de lsfila!: regra::
de "compor (Jma obra, um texto)". P. Saenger observa qoe a nova lei- exernplo •ão dotados de uma melod1;;., em soberba notação musical e~
nira, como se priva.fr,ach pelo 1ilêncio, devia fa~·url:ccr (numa ~;>oca cm compa~.sos quaternários~
que se ag;ar.t\'am as censuras) a difusão dos e!>l:riros nào confor:nistas, Outro aspecto da quesião: o núrnero de indivíduos capaze!> de ler.
eróticos ou hcterodo-'!os. 'Tho111.i.s a K~mpb aconsel~~-a a Je1t.1ra s1kn- Ohrascono agu?tn m v-:!ha, de J. \V, Thompl>On, subn: todo o O:.::den-
ciosa ao :nesao tempo e com o mesmo propósito da medüação; esse te, e aquelas recentes, de CJanchy e de Colemrui, sobre a Jngla1era de~
traço logo canccerizou a aeliotio moderna. fica o taco de que, até essa ~écuJos x11 e Xl11, coostatam a rda1io1a rar.dade do~ leitores. A avallé.-
data a,·ar.ç:ada. e pela irande rnaiona dos consumic::ores da e.scricura, çào de C. Cipolla mt parece otimista: l % a 20'o da população, por vol-
a leJtura amculada peroaneceu a regra. Glohalmemt, con.dicicnou o ta do a.no 1000! Segt.ndo P. C1aunu. a po;:lUlação do Ocicenle con:im,
modo - físico e ,;,siquico - de transmissão ~ recepção dos textos. em !5()C com cinco vezes mais .ndivídt.10s capazes de ler do gue em 1400,
A debilidade ou a ap,a.rente frregula.rids<le do recorre do tex10 ma- llez 'Vezes :nais d,J que no séc;do XJ L Em todo o caso, tais Gif:-as ,ão
nifestain ele oatra mane:ira essa o:-aliclade natural do u~da escrita. r~ relatka.5,, u fPertencer à J.grcja não acarreta necessariamente o conh~i-
págína se apn:senta ele modo massivo, às veles sem s~quer iso.ar siste- :11em0 da ars leg~nái:õ an ai fabeL.srno do baí:,ro clero ê objeto d~ quei-
matica.:nente as palavras .. um pouc.:o à maneira de numerosas obras l i- xas p~riõôcas, e, na épo~ mais distante. .nll_is de um prelado nã~e
terárias de hoje que, justamente, tentam assim atender a uma nccess:- µ~eocupou em aprender a lu ou em dar-st a esse exercicio. Quanto à
dade vocal! A escri ture. medieval cfusirnnla ao olho a~ anicuJaçôes do classe cavalheiresca, urna :ese ma.1;imalista encara a tese opoS'!a - mas
11
di.scurso. ~é os fins do s~culo xrv, e ooscumeiro c.opiu,os w,IS.:15 sem trata-se apenas de apreciar a importância rela1iva de uma m:no,na! A
isolá-los, co:no ra pm..a. 10s tftnlos (Jlll", nos raros rnanincn:05, re<:or- maioria dos nobres, até o século );III, permE.neceria i etrada: as forna5
tam capftulos ou partes puderam ser .nterp:-etados como indicaç&s des- de inteligência e o tipo de saber exigidos por sua função ou irnpos1os
tinad.a-. a lln" declamadOT prolis~cmal; segundo linkc, ,é ocos·o dos ma- por sua simacão social não ti r tiam mula. qul' ~r corn a p.ráti~ de lei
nuscritos F e p do Jwei,. de Hartmann \'On Aue. A ponruaçào nunca t11ra. Balduíno II de Gumes, t.:m dos grão-senhores mais msmddm e
é ciistemática. Os: manu:sairo.s mai~ atento.;;. a ii;so. como a cópi.i Guioc cITTlosos do fim do século x11, n,fo sabia ler e mantinha em su:i corte
dos romances de O,rétien de Tro~s. marcam o texto com um po'.1:o nos deres des[gnados s:;ara es•e ofido. Não é um caso isolado. Grand;5 poe-
lugares em çue aparentemeote se requer uma H.spcn.são da e.ocução; t.a.~ alemães vinculados a esse m;io dizem-se ou ?retendem-ie ilem1clüs:
e com lllL, v:rgula ar6s uma cxcla.,ia~o. ;iona,to umd devaç.so da 1,:02. Wolfram von Esd!cnbach, Ltrich voo Lichtenstei:1 -ao passrq.1c Hart-
o ~ia.uusdL:> au.óg:ra fu J;a His1ori11 eccleruwica de Ordene Vita.l, es- rn~nn vor, Aue se vangloria ico;no de uma capaddat..lt< e.:nraordin:jria?)
crüo em prosa rit-m.tda e rimada. marca com pontuação fra::a as pau- de saber decifrar suas cartas; era (diz de si me5mo, em terceira 1;essoa)
sas rítmicas e com pontuaçáo fone as runa,. t• ·n.,n
uu:, m.an:açoes
• ~
.lllem do "instruido a ponte) dt: por.ler ler o que há nos lh·ros•· (só ge!êre1 daz
texto LI.Dla espécie de :;,anitnra musical, tanto mais que nào se ap1ox.i- e, anaen buochen las>. 1' As r.,~lhercs da clas,e senhorial. é ','tt"cade,
mam de nessas paginas 1mpressasi Nem aspas nem outra indicação a.llllll· po recern ter sida :nais numc;-IJi<IS quan.lQ,00 ~aber~er dG Que..c.i..~am~r
ciam as ci:a~ões; se ne::essfrio, só o tom do le1:or podia destacá-las. e-stcs, já na frança de 160-0, n.io eoruidera,am anormal ignorá-lc.
No momento trr. que a~ab-0 e5'.e livro, S. Lu.sígnan me indi~ um 1Não faltaram tentativa..~ de ·razer os memb diri en-
intere\ ante do ·siê que cmstituiu com bas~ num m.1n iscriro copiado te à prática pessoal da tscrica. As escol i on ticas e depois urt:ana5
no ,éculo ~Jv e 01igimirioda abadia de Clauvaux (TroJes 1!54) Trata- ãêéita•am :riança~ não âest,n.i<.las a.o clericaio; _enu pre~ o , , exerci-
tia pelos e:ementn• "esclarecidos'' da nobre1a ou pelc11 cletr.s li mio
.'06
107
11 era; o am or a •: name'1ra, tcmro 1rc1caao ( , 41HJ6J a Tellrure do bcrÕI arqui,'lmenro e de algum rnodo, por eçsc meic, o enobrecimento. Essas
Guillem , fa7. ,nn elo~io tlefül ci~ncia, recomendada tanro ao c:ivalhe1- fun~õe~ ~ao são sempre cumulath 1~ ea pr meiJa :?Ode ser extrc1da com
ro qun111 11 às damas. Tema h1 enno, sem Htlor rcpre cntati10'' Ante, a ex::lusà1> da se ur,dai p r cxe11pl(I. a1rn,és do que Léon lia..1tier anti-
a proJ o 1deahu n e de uma nece ntJa<le que se rr.anil t ui, em alguns gamente chéf7lOU de "manu ritos de Jogra l''. códi~s de ;,equeno ;·or-
lugu d odcdade cavalhc1rrs , a partir do sécu o >.I.. A me m a 11e- ma to (detes.,ei, cr.n tfmc.·tro~ por dez o i! clo:z.e), livros de bo:w d1:s tina.
oessidadc cxm~ponclc. sem du\ da, a criação do g:nero romanesco. \'al- dos à ba~agmi de an: intérprete errante ou - ru;>ôs-se - a mstru~ão
ta.rei i O ptculum regal , es::ri•o na ~lcmanh por volta de 120(), de um "'jogn·" .aprendi.z. r-oi a,, im que noi chegaram vdrios texcos im-
'liai maih !ou e eioda: o aber recc: sirio a um nobr:, de:lara, não será portantes. como a versão mai5 antiga da Charuon de R<>land, o Cantar
perfeito se não comparou a capacid.;de de ler ' 'toda.s as línguas'', a -:~ de mio Cid, o manuscrit0 Z do, Nibe/ungen e outros ainda, por \-:zc,
meçar pelo latim e pelo francéli ... A~ "outras" proravclmente são 03 testemunhos da arre mais refinada, como o Chansonn.ie, de Siiinr-Ge..r-
dialetos a.lemãe,!20 Entre os príncipes. tal dei.ejo testemunh~ um::i to- mam - presum· ndo-~c cu: antifamente H aldma.1ll! leilha iidu 1aúiu
mada de comc:ência dcs poderes d;; escritura. Ma.5 por longo tempo de classif.,: á-[o n~ta categorial Por nrn ídi;: a~<'-,)o, essas pobres copias,
ainda, fo~::i □11',~f': drcnTo muito re~trilc, tal desejo i.e:-a q1,;as,e ieru, mor- ,em dúvida apres,adamcnte estabelec.das. p1ecnchcram pr:._•a nõ) uma
ta. As e5cclas e:fas, da<- quais se dis,c, nãc .sem exa,gern. gue "pulJla- rf"-' .nestJmav::I função ::cr.ser,at6ri.:.. ~1as o obje1:Y0 de se·~ fabr:cantes fa.
ram' ' n o séccic, x1 1, oonstituem a:ites um do~ aspectos de outro fenô- ·omecer ao exc:i.:tan1e "Jm simples manual. Só cir~unstãncia!i impre'lli-
meno: a ele\·a;ão da burguesia mercaritil, que desde então na França 1. siveísãssalvara.n:: fa den·uiçãc, Su;:,õs.~e que o cesapaTecin:er.to, a nO'i-

(mais cede n.:. lccilio) tendia a ~e npcs,ar d:> poder cfeti-.o no iuLe1 iJr sos olhos quase compk o, da epopéia espa:1hola arcaica se deveu .à
de um Es'.ado ainda feudal. É inel;;ávcl que, do século x., ao x1v, o nu- fragilidad~ dos manuscritos de jogral aos ciuais foi. Lalvez, confiada; em
mero bruco de lc1:ores cresc~~armentc J)'.QC rnoL1va. prn_gmáricos, contrapartida, .:. ;naioria das cançõe., de ges:a fra11cesas foi escrita
noquadro rigido da e3critura admin~Lrativa e contábil. fon de gLal- em manuscritos ce biblio:eca, executados numa época em que essa poe-
quer pcnl)(cth~ aberta à poesia e ao :aráter próprio da CQlo~ação por sia ja não era rr a1s ~iva.
escrho. Novamente, não ba por que se :Judir: enquanto a :mensa maio- Uma for.na qu.clquer de oralidad::- precede a ~sc-itura ou então L':
ria da populaç-ão camponesa e operár:a continuará an.ilfabeta até o 1e- por ela in1cncio'lalrnente preparada, ~entro do objeti,.o perforrnátko.
::ulo ,;1x s:mão ate o xx, no sécu.o X' os burgueses qtJe gO\T"'.:n.am a Esses dois carn~ pn.c:eM ('mrbinar-se. Pelo menos, a csi.:ritura ~cmpre
adarle de Here•ord (Inglaterra] são abda iletrados; em 1433, l\11koklu~ interpõe se.1s Fihr-os. Essen<..ialrne:ite, ela oonstirni .1m -processo dc/Qr-
von Cusa, havendo proposto int·oduz.r o vc:,.o ~ecreto na eleição impe- mulam:aç,fo. A colocãçàõ ; l ~ C í ~ ~;;eltíoes 5Têtece m exe:np1o
rial, tem de re:n:tar secretários para esse fim, Ja que , ários do. grd<>- extremo. Contuéo, mau ou menos :odo, cs rextcs que nos fo:-am trn.n!-•
eleitores :gnorav:un as ietras. Quané'o começou a serie de reveses de C,r- rr.icidos pe.os ;.éculc &:m,~rio!:es :io xui 1>u me~rro X'>, algun.:o ruais taI-
los. o Temerá:io. r.ão atribuíram o~ cronistas a causa ao fato de ele ha- d'.amente ainda. estão assim mar:ad.os. Dond~ a Dússa qua,;c impos;i-
ver lido demasiado e.:n sua juventude'; !\"o curso dos sécLilos c::mtinmi bihdadc de perceber o verdad:::irn ros.::) t de foi:,,1r a ur,gíualit..lmlt' Ud
enorme a de~propoTção (embora po1cc a pou~o decresi:~nte) entre e n 1- epoca mecfü.·val, em pani::u..3.I d.i, ca.,ções de gesta fra:lcesa.s. Ou.tro fu.
mero l.mitado de sere, humanos aç•tos à Lei:ura f111er1~ e a imemic~;:, tr::>; a au.5ê11cié1. ante, do :.ccu'o ,iv, de tolia lct:a de coerên;ia textual
do público pQtenoaJmeni.e ",sado pela poesia. Donde para esta a irn- na composi;ào dos manusçritos. Um mes:no cód.ict enfileira textos d:
poss.:ibibdadé' de 1-0:i~ber a ,i me~ma (.ainda que deve~,~ t,:r passado vn.lt:m. de cspee1e.. de data. a., ve1.e~ de língua, :hferca.tc~; qi.:ando mw-
pela D;;:it:i.) ó : tutn foTIDa que não en relação a H:u f un narnrai: umd. to, um vago pri:1: 1;:,io o. t.m : (exto., litürg1cos ~u. mais gcr.,.unente, d t
comL nicaç..io ~·o t·al. interesse eclesiást.:o, ou hi stón cos; ou qt:e ap~e.enta.-n não importa qual
semelhan.:a fo:mal -.> J teiT'aàC3. às w:u."" mal fücem:i\·-el ;,ara nós. Eis
ai. prO\-a\elmen•e. u ck1t11 :.1 .. um:i procura dt> uuhd..J c 1medmla 1,at1.~•
t\e.<,~e uni'.~r;o, a escritura pr.enche duas lun~ões A :gura - cor:- fazer as ne-ces!> dad e,._ :1ar ·iculares do dicn te), ao 11~mo t empo q.:.e de
juman crtc ou 'lio con1 a tradição oral - a tram ni~IMIO de wn le-JCIO l.'C..,nom1a. A 1dtia que faze-n:o.- :.la ''obra" não coincide com !>ua mci-
Aderr.&1 , 11. ura para um íuturo mcletcrmm do con :T' , o- o dade no manu to. O man cnto BN ír (B l> 'i;i ue Nauonak. ma

J(M
nu>1.7ito em t-anc~s] 14~0. do ~êcuJo x11, intermla quntro romances de que pc11 ,m •,cz tcnJ1adquinr o 01dcnamento de um i tema pnm ·
Chr~ticn de Tro:,oc- no meio d o Hrw de \\'ace: para o c0pi~ 1a. con~1i1ul- no Entu o ecu o 1<11 e o xv, u e cntura começou a rcivind1. 1r cr•
ram t'\identenen!c n glosa do que Wace diz. <lo rei Artur!: O\ pr()pnos tamente es e nJcnamento depois de 14 0-' SOO, a rewmdtcoçlo surtiu
· u! o · , mu tos \'8.nilm ae uma versao a outru. Só quase no e cito: o ",rhJ/onqueurs" bor onh e (Jfl o u cn cm Le ma QL er
século x1v aparttem compilacõ~,, homogênea,. Cma da, rnm amisas 1a .'umi re) foram o~ prime rosa formulá-ln em termo claros e, em eu
sena o manusc:ito ,\cchinl<:ck, ~cpiadu por volta l:~ 1330 em 1ondres. melhor~:, tex:o-:, a faze 1a triunfar. J\ ~onunuidade de !13 hi,tona. e me-
A e..c~itura começa então a !,C organizar L-m fiwo - 1nc,,.,11ç~o que, tem de ;>e o favor de qne gmam, em l:'!lim e na.~ lmguas ~'Ulgares. dc~de_ o
.antei da lDlprcnsa. deflagra uma g.."ande ~iradd nel!ta r_stôria Em IN- :i~cu.CJ xm, as r,g14ras de /tiras, maniçulações gráficas, ut1lindD p1c-
:i~ do 1ome de um aUlo:-, ::,useram-,e a reu:1ir m textos que lhe ~ão a.tri- t6ri.;a do~ traç~co•, assmatu:as acrósticas. até p1ada,;. ortog-aficd~ co-
b.JJdos. Guillaurne de .\.lachaut, an~t.• de I.lü(], ,crá ::i pricr: eiro a Ler e5- mo no Tri~w1 e.e Got:fned (Yv, 10 1(19-21), cada vez mais m.:r.tero;~s :i
sa honra. A D1vifll1 comédUl terá cond·uí<lo. anti!'. dec;s.a Jata, o c:r.~mplo medida que dcs.;cmo!'.! ~:> tempo. Cma alegria textual suscita esses JO•
e.~cepcional de uma ob:-a que foi objcto de cópias nas quais não e<,1ava gm, um desejo m a:ravcssa, em J)OS,~ total da lmgua; estrépitos pouco
acompanhada de na,fa c:1~ outra~. ameriores ao advento da pesada hcgt:mo11ia cscritun!, a qual eles ;,;:m-
Parece faltar o semo daquilo que experimencamos como o acaba- Yocam mas tinda !lào garantem
mcnrn do textc. F ra:o q11e u:n :ítulo preceda :l tc:otto, e rr:..iito aai• tdro Os rflétoriqut!1'ts da seg.mda geração, Jcan Lema.ire de Beire.~ o·.1
que se faça ali menção de um amor. Se o .:nanuscrito fornece 1ais indi- André de La Vigne, foram m. F::-ança :,s primeiros poew a ser ímpres-
caçõe.-. ell" ô faz. no explicit. Até os a:-:cdcn·~ de- 1500, rn uilus livns Im- ~os em vida. A ctrodu;~o da no,·a cecnclogia, comrariamenLt: à upi-
13
pressos conservarão ess,e costume e utiliza..'"âo ainda o colofão Eis ai niào tão dit\.ndida, ainda não tramtornara nada: consagm-.a de pre-
um traço tanto mais rcvdadu1 purgue se mameve por muito tempo, _1à fcrenda, e cons,o]idava de manerra defb.itiva, os resultados de uma
que (acredito tê-lo mos'.rado em o.::ro lugar)22 a au.s&lcia <!e acaban:en- evolução, d~ifi,ca,,a o ~cn:ido :,iue- pc1co a pouco a escrita adquirr~,
ro t::xrnal é un ij caracteríçtica es::ie~hca da poesia ora.. liberava de antigos impcdiment05 o o:.erdc10 das funções que ela aspi-
Globalmente. a escritura apare::e assiTU.-Jla civiliza~âo medíeva.l, co- rava a a,rnmrr na Cídade. Mas bcrn um século decorrerá anw, que as
mo uma 1.lt:ssa! imtituiç&s em que uma comunidade pode. d:: fato, 1:npr<.-n.-.as elrrunem o manuscrir.o; e, na Europa oriental, o movimento
reconhecer-se, '1lil5 em que não poc.e, no ple..--io .~cntido da Dalavra, ;x>- c.~slancha cera anos mais tarde que no Ocidente. Até por Yolta de 1550,
mun.icar-se.JO v.uor de uso da escrita se reduz na medida em que o ma- as duas Ucmcas mais colaboram do que se opõem. No início do séccilo
nrucrito não pode ser um meio de difusão ma.-;sivo. Pro,.a-o - levandwe ,.1,·1, nem o snrnrte impre,so do livro ainda se tinha verdade:ramente

em coma as provh"eis perdas ac;denta:s - o escasso oúmero ce cópia~ ,m.poslo na prática, nrm :> oor:teúdo da\ mensagens se tinha inteira-
rernanescentes de textos que, às ve2es, eran: o5 mais ilusues de ,;en P'm- meme liberado de uma heran;a cultural de ;éculos dedicado, às uans-
po, A escritura ccnstitui uma ordc:n pa."tic_lar da real:dade: exige a n- mi,,;ões vocfils, nem. enflm, a autoridade se tinha definitivamente des-
tcrven~Q de inté.f.preres (no duplo 5entido da palavra) auto:izado, • .t\n- locado da palavr~ para a escrita. Vista do século XX, a mucar;.io c:ulm-
trs da rr.ediação des~ birtualidade, apelo a::> investimento de outros ral que !iC produz:a emão pare<:e compará\•el àquela que de~mcadeou
\/atores. Sem essa mectia;ào. ela resiste. o~cif1 :i, obstrui, como uma entre nó, .a in-.ci:;ão do compuludur: em de fato uma muta.,ii..,, mas a
coisa. Enqua:ito LéçrJca. não deJX.--ride da ordt:n da poesia; a po~.ia não muito loneo prazo: seus efeitos só se tornariam completamente p<~.::ep-
te.:n o QUc fazer c:>m el.:1, 8 não <::er dei.xa-la simular utilidndcs. En1 rç- 1i.ch no ~iulu XDl, g,aça~ ao ensjno obrigatório, que fará do ~mpres
tanto, sua própria opacidade, a amonomia de seu modo de exis,énda, so uma escritura de ma-sa e acen!llara o enfraquecimento das úJtima~
criadora de obje:o.s de ane fo.z:ea: cic!a um liomôlo.go da poesia. Com tradições oral~.
o tempo, a distância encre as duas ~e atenuará, a homoJogi.i •enderá à i\t~ o sêculo X'- - e por muito mais te:npo na "cultura popular''
trlentid.r.de. 1bori::amentc, a e5critcra :.e conci:bia (conforme a tra.d:ç.'!o que então começa a dinin1ui:-sc da outra -, o prc tígío de que ~ ro-
gramatical de or:í~em antiga) como sistema sc~"l.lndário ce s gnos, o quaJ :leta a e. crita contribui para afast.i-la daqueles que contemplam e tal-
refletia ,1quelc. priin ric_,, que: a voi: manlpuJa; mas na práuca, pelo uso, l{t.,;. af 1cmarn, in• ocando-o. qualquer poder o ul10. O considcr vel ln-

repetição e reíle.,lb s;>bre si, 1inha-se elaborado um cédigo e· tural ,·~timen•o em tempo em dinheuo, c:m compet!ncia, que cxi 1u durante

110
l / 11
•c.. ulos, a r~.Ja~J0 d:- um cocummto c-..cr to - amJJ ma1~ a de um có- em sua lmgungem . A pró pria \'c1dadt' é tão-,ome11te a Escrírnm natu-
dke de alguma 1111portanc1a - tra a inte:1,idade do dc~~io que o indi- ra), UJ1ivcrsal, eterna, àa qual consiitui L ,ig:nificado ult!Jmc. Dante ter-
-.·1duo. 'iCneo a .;oc1cdade inteira, sentiu dt" no~suJ-lo. A lenu. evolução mina a Comédia com a invocação desse Volume ' 'li,1;1ado num só ~orr.
das ltcr i::a , a panir d inicio do sêclllo xi. um pouco mais depressa 0
Amor" lotalidade do Sentido, ao mes:no tempo illfini,o e fechado.
no X'll, modifaca pouca coisa ni.&>. Dcselc o, arredor~ de 1200, 110 me10 Aparenre~em.e desafia a Voz não escrita que, no entanto, domina o _ mur:-
urba~o - escol~.- e ~ur~ês - a t~:"ita se kcu1ariza em sua utilização do... J\,1:a.s as aparências enganam, e uma. está prese1m: na o~trJ, a :na-
oocanaJ, comeroaleJund1ca. l'+fas. ~unuJtaneamenre. elaseduplica: ago- neira do Verbo encarnado 11a escrfü:.r-.t. Tub imagem, con.o,;utuem a ex-
~a ~e opõe::n ~i~ m_ode:os gráficos:, o cursi"o, usual, prático, adap:ado tensão poética de uma teologia da Palavra de Deus; e e reivl.ndi;;a~u
a crrc·.lJação mtem1flcada :las men.~agens utilitária,, e ;i escritura do; da a11toridad~ lhTe~ca, em .rua for:na eitereonpada. é e.ma >ua ,·i.:rsao
liV!'os. Mesmo lainzado, o livro, por esse 1/J.és, conserva durante muito Jaicizadii e enfraquecida: sena mais o .:..t$O dt> desviar sua sigmfic.a~o
·emi::," sen ele,•adn ~•ahr simbólico. É i:;ouco provável que os príncipe~ do que &11por a:í alguma ideologia fundada na prática haoitual do 1Ilr
~~culo ~-v timba.lD...k.O.:is:deradc SL."Ilples objetos de uso os m~fi- irume:nlo escrevente. Para a masrn do:s iletrados, a 1eu.a tr~çada é 1;L-na
cos hwos a.e llloras que rrandarn.m copiar: estes não eram também j)ri- coisa - signilicm:Jte da mesma cond çã-, que ioda coisa cnada - 1rre-
.
meuamente, signos de seu poder? I.u:xuoso:; mam1scritos musicais.' de- ru~ mas inacessível, quase imaterial. portadora de: esperanças ou pa·
pos!t~dos :orno jóias no tesouro da5 duquç:s de Bu1gouha c:lali nao vores rn<1gi,;;o~ . tUm rnslinto arcaico '-e: mo,tra1-·~ arra.vés ic~sas c1enç~:
'
1a1ra:11 maiç . '
a.te que os modernos arquivistas os redc.-. ,.~oobriram. na Traru;:a merovíngia, sobretudo r.o Midi (onde os mon~meutos ~~­
Rua além de codo$ es5es csmorecimeDLo!> que pouco a pouco en- gos sub>isLiam cm maior número), as iruc:-ições q1re_tmzLaIJ1, os c?1ta-
fraqueceram o primitivo se::itimen:o sacraJ da escrimra. subsistiu até a fios, prestavam-~c às interpretações populares oarav~osas. _ o pe_::iodo
i1TVcnção da imprensa uma confusa ideia da cosm1cidade do tei1to escri- do seculo v ao XJ foi bc:m estudado dcss~ ponto de VJ.Sta. A e111~a de
to. Pa1a o~ monge~ a es:rit'J.ra é mais do que um meio de ação; é antes talisG, gravam-se inscrições, nomes e lel.ras nas :urnacurai., nas cs;,a-
de n.;d;> um dom de Deus. íiàJY!z t:ma influencia judaica .se raç-a sentir das.v Esses cos1t1mes tiveram vida longd. Até _pelo menos o sécuJo XJJJ,
a~. ? tt:xt,;i sagrado e graiia, oomo o munco; um e outro são o Dilado enco,l.ffim•se em latim ou língua vulgar fórmu)a, de jalgam:nto e d:.:
d1vmo, cuias palavra~ da lei formam o "es:ilo'', o stylet. Donde O rnJi- aJivinb.-..ção pelo liHo, ou alusões a sua :iráü:;;a; o J,.,ro é então fu.nc1~-
nito respeito: o letrado não toca na escrita a não ser pelo comentário nalizadc mai~ corno objeto ri mal do que como e~;::rit1ua- L m procedi·
d_a ~ará.fra~; uma análise desconstruti"·a pareceria profanadora. (Sub- mento 110rmando do início do sécuJo x:1 usa-o pendur~do numa cor-
sirna algum.a coisa de tal atitude, faz pouco~ anos, nos hâbitm de nos- da como un1 pêndulo de rabdomame, 2l!õ ainda em meados do ~éculo
so ensine'.} O rc.~peito se es:endc ao próprio Jugar em que se efetua a Xll;
0
romance anglo-normando de JY'iStasse le Morne lndlca e5st: ~o.
escrillra, em g:ue se conservam ,eu.s prodi.:tos: do !iiéculo rx ;io xv 0 ~ No;sa, Unzuas conservaram até hQje tai~ lembranças: a paJavra france-
r.~stem unJ- e>:i se succili,-rr.; o cuidado que se dedicai à conser'l'açào do~ li~ sa. grimoire. que designa. aJgurna rece'.ta de bruxaria, ,.-en do latun gram ·
vros chegará até a at.rai:;alhar as consu lta.,l 2.4 í~ mbérn ne-sse por,to, a lai- matir:a; e O lermo in~lês. :!e origem clialetal es.cocesa, glamo_ur (..e~can-
cização não mudou nada de essem;1al. Lo", p.imitivarnrnte no sentido mais for,e• tem a rn~n:a et:molo~a. O
O~ prt'>prio.5 aumre.s de tn1:oi cl'nn o Jnblia.11 , a can;-.ão d.e f:lcCSta próprio emprr.gn juridico da escr; tuTa foi con.taminado ~º~ esse !oldo-
ou certa seção do Remzrd, evidentemente: destinados a difusão 7 ocat em re. os reis bárbaro<; da alta Ldade Média fa.1endo red:.gir m costumt:!'>
lu~es puhli::"K 1m·~rn "uma escri1ura·•, a "Esi;ctura" como auto• de seus povos, os carollngim emitindo ma') capitulares régias r~alça'-'am
ricade ::i.ue apóia seu êisccrs::,; na rr:abr part: d;,s vezes, ~s,a ~eferência de fat<>a tradíçàa dos irnperadore, anti go,: mas não ~ podem,. presu~
é =jcrí::. ::i~ •ant ~ ·is re'lleladom da menta.liuaJc 6 eral 0.1 u:. d t.. m qu~ .,_ aLit ,d:. 1~ c;upr-mat r3 til" que estava reve:,tida dt.:sde ertão
1

.ore., dào um Pª"-~º a,hante: ,eu te"..º - romance, bestiár io, crónica n- a escrimrn acrescentava aos olhlls de.le5 !:icác;:a no go,i:ri~o dus _homen!:?
~ ;;id3 se .auh1<lc~1gna 11,·ro, compomrndo, pur t ~M': am h cío, na per- Q uat1dc, 1:i11 1268, Afomo de Poitier,; manda a r,reender O!- h_vro~ das
Jormance, a crechbi hchdr d.a palavra Pa a 1n :on ..tSCtltur:a.a.tcsta Judian as de Poioou, e.e não seq\it,.tra arcn~ um bem mob1ba.:-10, ele
'-llna "\~;,de op1niã:..., ..-m que ,e l><'~Dt' o eco de un111 po,dero,a 1c.l~1a ,;eque-;:ra uma v11 rude per,'t"r5a. "Pro l~O. M1 Paris. oTailmudc, conde-
recorrt:rn· ertre o~ 1ê..'J1os e susma,fara, as \C'l.CS, de vu q ru; m<'t a fo rn~ nado, r1avia sido publíc.amenlr q ue·mado •. como 1.:im herege de ca: ne

JJJ
e ,angue:" Provocatla~ entre o~ ile1rudm. 11ao me~os q,1e enlre: o• ~ó-
bim, pela p?esença da ~scnt11ra na 50cíedadt: medieval, e•sn:; lil1 ' udes consic.Jc-r,hel de mcmom:-1çiio. o, conhedmc:mos tlc: um chan,~,. de cote
~ práticas tão diver w rifo teriam um ,i..bstra10 mental c~murn. alguma ur.cm ubranger, Jé se avaliou, r:lfli de l mil peça!. No sfculo x, Ger-
-:oha como a percepção de uma espec-1e de sobr(' humamd11de- ou d~ bert d~-\llrillt1 {papa Sih ,~ire 11] imentará diversos prO('('(! m ._ ~
sumamdadc - da escrn:ira.~ O re\'erso de urna ..:onvicção radical, a sa- motcQnc;i,r_ 1!"1rtrr,,:.rn'no:o nstrumento cha?tU1do momx:dtdio a \Ida no es-
ber: é pela pa:a,Ta,: so.:n~nte-r10r ela, que se nanifesta plenament~ o 1udo das melodia) n<>Va5 ,.\tê o século x1 , çu:o:Je:n-E,e os achado:,
humano. descinadc·s a simplificar a tarefa :fos can1orc:,, PCílnitindo--!he• a tcecu-
;ão de melodias c.aca vez mais ,,1mnl~ ç De, e .:-ub OI, o.s moa-
gei da l rança e da Alem;,.n.ha 1rr.agi.oavam dotar de um :~to a --azso
F.m i.·ez de wna niptum., ::i. pe.ss.agcm do vocal ao bcrirn rnan.ifcsra de uma silaba por nota, os longos melismas d~ que é 01 mtda a s1Jab.a
uma convergência entre os a1-0dos de comunicação assim cor.frontados. fi,aJ da afeluia; tal é a origem d::> gênero poético da "seqüênda' ', da
o par voz/escritura é at!i:1.\c;;s~aclo por ten~oes, oposições conrlitiY~s e., qual a ldace Mécia nos lego'1 mil.bares de o:cr,plos. ~a pas5age10 do
wm O recuo do Lempo, mostra-se muito frequentemente aos med,eva- s~;:ufo X[I ao xur. forarn unidas pela rima as diversas peças ,~ntadas
lis1as 1.:umo contraditório. Não é rut·erente com outras confisurações ~- que consthuiam o offcio: Julfa.a von Speyer dw ao nevo género :fo ''ofi-
turais, tambêm surpreendente5, e enrre as guais c.on·,.ém s_ituá-1~: assnn cio rimadc'' sua forma canônica, dffundida sobretudo peíos francisca-
0 par concrêto/abs:trnto, do qual a !o11ga disputa. dos un,,1ersa1s. 1an~ nos. na Inglaterra e na França. 26

quanto as práticas popula"es de liruxaria, aresta o cadter rnoverite e flm- A criação da.5...!!_eumas .,e situa nessa série de inovações. As maü
ào; assim, nos proc.edimerno~ Judiciários, a testemunha e o tcsr~unho; aOlfaas se n-duzem a uma p0n:uaçiio que domina as paJavras cantadas;
indicam o movimenm geral da. voi. mas não a altura dos sons nem o
e assim tantas associações paradoxaís de noções apa:enternente mC"om-
rilrio. Menos do qLlc permillf a leitura de uma melodia desc-0.11.hedda,
paitíveis. Para o historiador, a que.'nâo não é tan:o reduzir o paradmco
el.15 pretendiam aj udar o :antor a rememorar uma anteriormente a;:m-n-
quanto dissolvê-lo, revelando no riar o elemento_ de ~ase, ,ob!'e ~ qual
dida, A evolução da d:-te musical M século XJJ, a mu1'.iJJ1icação dos re-
se constrói ou do qual se nutre o outro, que lhe fl::a russo subordIDado.
gistros vocais, a passagem dt uma música non precise mensura/a a u1na
A.s pesquisas frjta.;; de trinta anos parn cá não d~xan nenh1U.t1~ dúvida:
musica mt"uida, a polr'oma, enfim, por volta de r200: essas nov;dades
só muito lentamtnte a prática medieval da escritura se emancrpou das
leva:-am ao .iperfejÇo.unen:o de um sistema gráfico lJW:>, em retor.11.0, fa-
dependências vocais, Até- o sócufo xw, po1 todo o Ocidente. a escrilU·
vu.rcceu a generaliuiçdo dessas mesmas novidades. A tn.dição mar. us-
ra s6 reinou em ilhotas (.geográ 'icas e cul1urais) :soladas num ocea_no
q_ita. da música não se mantinha menos (em comp,2rnçã& co'D. aqueia
de oralidade ambiente. Desut: u século x,, relações, correspondêncas
dos wctos) aproximati\-a_; para cs decifradores modernos, coloca pro-
escabeleceram-se entre al~umas des~as ilhotas; uma rede co:neça•,•a a se
blemas paleográficos cem mais complexo~: testemunhe. ume r,wwnct"cr
consLil uir, mas rrês seculos :nais :arde sua demidade continuava peque-
meJodica de enorme amplitude, a ponto de a iuvcnçfio :ia impreru;a ter
na: por volta de 1400, rnru:i11:ia uma espécie de fio delgado que atava 5em dúvida prodUZido na música eu~opéia efeitos DI:lito mais po{iero-
toda a .huropa, mas não era ainda o 1Jéu espesso que se tornaria cm ~7~. sos do que ni poesfa. ~o eram signos acústicos (co.:no aJ palal-ra.sJ o
De ceno ângcio, urna apmxirnação com o modo de transm1ssao que o co~a oúsico tmla por tarefo tra.nsP:Qner ..is11aJrnen e, ~a-=-
das mdodfas musicais esclarece melhor esta situaçilo do que UJrul com-
tãi"(õ;sonsJ e sobreturio o_pen;ções, rocais ou imtrnnenta;s.~[Jm aJfa-
paração com o fato Literário modrn:io. Co~o a poe~~ (e ma;s evidente- bêto nfo podia ser s11fic-iane: e-.m ncce5sário, no rnemo fll\'-el l)erccpH-
mente que ela), a poesia vocaJ só se con.stnm ~m YIS:a de llllla J)e-rfor- ·lo e com meios compa.'"áveis, constituir um sis1err.a que per..-.nitisst a
mariel!. Quãrq uer qu.e lenha sido a nntaçflo antiga, nesse caso t.ota.h:ncntc .11otacão de uma sintaw::e como ral, ul]la retórica mesmo. A e.ss.a tarefa
esquecida, Isidoro de Sevilha, r.o livro m, 15, ~ F.t_.v::zologLae, d.ecla- ~e prestaram os séculos xm e x·i;. Sabemos qual Col o re5:Jltado, que.
rava que snmf"nl~ a me.:nória hur:iana 115,;egura a tradii;ao dos wns, pois em gr,irde rnedjda, determinou o desenvolvimemo da arte mus cal ah~
• 'eles mlo podt1I11 ser escritos". .<\.,S".im, a Idade ~!édia partia do zero. e fim do sécula XJX. t::_uma ~olu;ão ::on1r ria, a e ri1urn ela língua.
o ~pr,ndizado musical comporta, na époe:i n:ais d~siAnte, um e5forço 8Cm, parali$ada pela .inércia cfa era ÍÇ<Io alfab1.:t1ca, s Jelinafmen e
st impor às Unfuas moderr.a., s.11fo:anco nel
J/d
U5
!ornou ca51ame tempo. e o aruquilrune:ito nunca foi completo durante
oc; sé..:u e,~ medievais Mesmo qu,ir1d:,, ~mcontran .. md.:i, diturdiu stlar-
!!amcnt,e ou~;, do si.tema gráfico, a~rfeu;oado ao loniio do~ .çéculm,,
a música permaneceu - .s.1muhaneamente - de tradição oral. As va
riantes do,. cJiansonniers oompiladas apó~ 1250 1300 se explicam pelu
di,agações e pela perpérna re~riação que implicam.~ Mas, para além 6
do ••gra.nde ai.nto cortê.", esse rcMi.mc foi sem nenliwna dúvida u t.lr
toca a poesia mu.sical de ~.JJco ou seis ,-êculos de história. cu,op~fa: H. UNIDADE E DIVERSIDADE
R. Lug realçou seu:! t:friLos cm vari05 setores da. musica popu.l~, nos
dois lados do ALJântico, até o s~cnlo x1x, quando não ao >..x. 30

"Erudito" e "popular''. A itucriciio do vulgar. A escritura e a imo-


gem. A preocupação da 111oz.

A natureza da escritura meé.imJ, E.S modalidades de seu emprego


não 11:e permitiram su:istiruir, em .,ua fanç.fo mediadora. a VOL . Ela tende
a ii,sa. nada mais. Dcnde a fluid:::z e e, cará:er provisório, quando não
pontual, das distinções que somos às vezes lec.ados a OJ"'fL-;ir para dar
oonla de cenas aparências. N~rna cultura se dáem bloco.l Toda cul-
tura com.porra uma.l!..,eterogeneidadeorÍ,gman.a. Esse cãrâter não impe-
de (embora a freie) uma tendênc:aao ..fechameo:o, .a.o doh:a.r-sesobre
si. à redundância; pelo menos, jamais es~a cultura ;;e;á vcrdadcir~en-
t.e fechada Falou-se do hibridismo cultural da Idade MMia. A palavra
éfraca, s11gerirido deis fatores. É enuc quatro, ::::ínco vu se.is termos que
teoos de distinguir se, de um a oubo d:::.e-.,, as qualidad:::~ das categorias
eid:rerr.AI". inicialmente r.upos.tas se dcg;radam, ci 1lm.ruzarn-se pardalmcnite
o u ~e combinam de maneira imprevisível iU!!!_movimemo complexo se
desen:::ta, a partir de llOO, 1150, 12CO c.(mÍQrwe a.11 regiões, resultante de
fo;ças antagônicas maf desiguais; ma üna.ização longínqua, mas de fato \ f
irreali2ável, seria uma m ut.ação totalizante~ das solidões c:a.mp011esas _!
prosmi~cuidade urbar1:1.; do cultivador ac comercianre; de wna riqur.za
ba\cijda. na terra a mobilidade da ffil)~de1; da divcrsida1e das vozes a
unicidade da es,critura.. \'essa evoluç.ào, as lr!l.:nfor:naçucs fo:1Jlajs e
r11 r.c:ionais dos me1os je comurucaç.ão i:>ilr~::i. tant.o corao um dos seu~
motore5 quanto como um dos seus ir.d.ic~. \la~ da pem1am:ccrá has-
ánlt: 1::ma enquamo o~ elementoi que põe e:n Jogo niD Lenham sido
t-untldot. no cadmho que. bem mais [a-de, ~crJ a ' déta de :ia;:âo.
ü:nde as ~onfro1~açõe~: a de~con~ia.uça de um Guibert de Nogent
1ero sua 1mesU&aÇio .m breopretensodmte de Cnsw-) para mm m te,i

li~ j J7
temunhog ornís, nos quau nega a au1ori<l:ide: a re1e1çào das forma
de une tidm como J~asiado rústicas: clichê fr~qüen1e no meio cor- texto humuno do i.tu1lo x1, '\:li e \'.Ili, a sens1b1hw de e o prns..unc1110
tei.ão. do ,éculo XJI ao xv, pela pena de a utores Íigados à aristocracia d?s indn.fdtirh. ~ Irai n o St_Enrf ca pop!.1/ar, 1nn10 qu:mto cnro n 1 ig-
pQ]ir , w o um Chrtti n de lroYtS o u um marquês de Santillana. fi ~- -t'f~•'ff'• e ra erudlt ~ lCll·
A força dessas tensões 1.uiou ao longo do tempo. Desse ponto de vista, ffloa, no stto uma ,·ultuza oomurn, à ,a risfaç-ão de n.ccessid dei là.Q·
o~ séi..71.los XH e ·,::-•1 cor,stituem uma êpoca ~uenre. Pois é nela mesma lade..., da globalidade \·1VJda, a instauração d e condma.s am õnomas,
que se começam a escrever as poesia, ern hr~ua - ulgar e- que --.~ '.I',- exprimlveis rnuna lingi..agern consciente d.e ~ru5 ;ins ~ mcvd em ~Jar;ào
c1 .:Ta~, popi.iar, a lencêr.c::a a alro grall de fJ.:1;:-onalidade das form~,
delos. Iaunus começam a influenciar suas form as. Convergência apcís
a divrrgência? Su ptração de um antagornsm o? Emergência de uma sín- no imerior de comrmcs ancorados. ra experiénciacotid1ar.a, rnm desíg-
tese para a!ém das c□ntradtções? As p,esgui~as : e-centes sobre a halt.io- nio5 co le!i\'OS e em linguagem reJativamen.te~ ristalizada. Conhecem-se
grafia, a epopéia e o "ro1m1TJce" moaramni a imponânda e a riq-ue- os im~es a que aniigamc:nte condu ria a imrrudent e :itfoç tfo d e~S e'S
za da dupla corrente de intercâmbios entr::: o que nos aparece corno U.'ll renno:s nos estudos sobre a~ direua, formas de poesia medie1•al. 3 Até
folclore e a cu.Jm.-a. do.s deres desse tempo; o n:sultado de tats mterfe- há ])OUCO, o~ historiadores foram vitima~de preconceitos vindos da época
rências é qua.se sempre uma muação qualitativa; e se poderia ver na em Qlle, :pe]os meados do século xr.x, a Europa descobria (ou s.e deve-
multiplic~çào dess~. fatos um dos ek:nemos de certo estilo de ~poca, ria e5crever "im-em.a'II~' '?) seu fo lclore e, cm suas ilusões eienüficistus,
caracteriz3ndo os ano~ de JQ:!'O a J300. É desse · 'estilo" que emerge a
imaginaYa-se dúplice. O ensino obrigatório ia eliminando a metade ver-
coru.eivação de fonnas da arte vocal, ás •,ez.es muito elaboradas, sob gonhosa. À "Idacle Média" infe!izm.e:ite, faltaram profo,$0m...
0 Do s.écu.Io xt ao XN, essa opinião parecia confirmada pela perma-
pr óprio regime da escritura. Se, esquematizando muito, têm-se em vista
os dC"z séculos de 500 a 1500 como um campo de forças em movimento nência, entre os escritores eclesiásticos ou e~col~, de um clkh~ que
distinguem-se a1 dois graqdes impulsos: pagão-"popuJar >t-oral, de um1i, opunha aos Jittera!i osJ/Jittuaftc _no qual aparentemcnJe tudo os sepa-
rava. Várin,;; e-srudo; cons.ll!Ta.dos em nosso~ d.ias a e;se \'0Caoulár1o mos-
parte; c1 blâu-crud:irn-escrito, da outra. Logo, porém, o esquema se em-
traram quais nuances sua incerpretaçâo exige._. A oposição não r~~
baralha: cada um dos termos de cada série interfere no outro; a ordem
por in rt"fro a_g_uela quc_sc de.scnbar.ia entre o.Jiiêffi i'ihia que_sabe ler e
hierârquica dos elementos se transtorna; instauram.se oposições incon-
o güeTgiiõra a leitura: Gautier Map distingue litttralus de scriba; um
gruente5. Restam dois dinamismos conflirn:iis, de força quase igua]
até o fim. bom escriba pode s1;:-; illitre-ratus-, um flttefYltUS não ::-ecorre necessaria-
mente à escrila no cumprirnento de suai ta1efas cotidiana~: a proprie-
dade q rJi: e, çualifica, hltermura, em frances antigo lettrure (em inglês
lite.racy), é menos um atributo p~soal do que nm tipo de relação ex.is-
Faz aJ~uns an.os, em particular no r.i:.scro ,;le autures soviéticos co-
,.. tente c:r.tre ele e certa prática significante. A oposição se acha neutrali-
mo BaJch.tine e Gou.:evitch, muito~ medinralütas acentuam a orieinali-
zada no duno ordinârio da , 'ida; faloll-se ji!. da "'simbiose'' do letrado
<.
dade, e mesmo quase a auconomia, de uma "cultura poQ.ular'~ e as.J:.en...
e do iletrado. Somente os dist:.ngue um d o outro. e;n certo5 casos, a na-
sões assim produzidasJ •um cacdufo pre:edeme, indiquei a inutilidade,
tureza do sabt':r ao qual seu discurso faz ~ferência. Donde o cará[er \'3•
até a nocividade, de tal ::ioção quando se aplka a uma época~ r
go, quando não amb:íguo, da noção: ( if)/,õtteraw.s ,·eicula um conjunto
a ~ ~Talvez ae,,,ês.sernos generalizar essa restrição; a i~ de idéias Prontfil relatiras ao coahecimento prálko de uma linguagem
"cuJtura populur" é só uma comodidade que permite o enquadramen-
definida por regras. Na~ aplicações que se fazem delas, os termos reme-
to dos fatos; refere-se a llSCls, rufo a uma essência; a "p,opu]aridade" tem ao uso 1;eja do latim, ,~ja da esccrura, seja de um e outro; ou en-
de um traço de costumes ou de wn discurso é tão-son:ente sua rel.a;:ão
tão, mais especificamtnte. a um corpo de intérpretêS, hermeneutas, fi-
histór kJ hir et nunc com este ou aquele ourro tm;o, este ou aquele dis- lólogos, glo,adal'C$, en camegados da t rarum1s...-ão dos Mberr~ teôrico~ .
2
curso. ~ tando-st da VOl e das artes dz voz. a oposi~o do ' • ~ - Do lllterat!J.S ao illmeratus se ~..;tende uma longa~• de nuance:$. na
lar" ao " erudito" remete, quando muito, aos co~tu.me.s predominantes qual cada clocwor se de loca a seu mo-do. Ol!tro fa.:or de cquh 01..u . uc
neste 0,1:naquc-le momentoemeio. traYessa as daSS!S sociais e, no con- o ,&:ulo xrn, a oposição litterotus/,llmuoru.s coin...lde com quda que
o m o rrrn ntém entre• 'clerc'' e "laico"; herança vcrb:tl d ~ umn itu.ição
1/9
/19
antiga, ultrapassada de~dc o cculo xr. Aqui e acolá no é indkado um du forma e-:.crira aos iJiorra,;; g:--rmãr.ícos, romãni:os, esfavos. A partir
laicus lratratJJ.S. O que é 11.,0'? Sim pie:, elogio hiperbólico, na figun de de> sci.:uh :.. 11, a obra de rtCUl)C"Jçâo tnrna Lt si~re:-nática e.- J:<!rmite o
o:i.ímurn? lmer~amemc, John ur Sali~bJf) fala d-:: um ~\· 1U1trerarus:, e.,en:1cio triur.fan1e d.1, cen~L1ras: qL11SL rudo v qu~ sabe1110~ ,.lei ~~ia
pelo que comem entender que e.s~e rei (qualquer que seja, aliali-. ,cu ~a- medieval arravé~ de sell., textos é ~ osliomens de lem1~ jul~arc1~
ber) e! uiva-se de consultar o~ intelec1uius de srn tirculo.' Coe, o pre- que: ckvêsSC"rn,2s ).ilbe-, E~c11:n:r, qve na Amiguidacle ha,1ia siao traba-
texto de um vocabulário imutável, um desli.zarnento 1deológko - urna lho servil e depois, na alta Idade Med.a, apostolado, consi,ti: ago:a em
"laicl:zaçào" - princiµia nos ano 1140-5-0 e ~e acelera após 3100, para -7 decan.ta.r~vra colelfva
terminar só no ~Jo XJlr', O movimento decolou devagar, quase clandestinameote, para res-
O letrado sabe o latim e possui uma relação privilegiada oom a cul- pcTI der a exigências específicas., entre as quais a mais corurante dizia
lllfa gt:e essa lingua transmite. Ora, durante rnefo milênio a propria exi.s- re~peilo ãs ne::essidade~ pastorais. Já
-
no século H' o bispo Úlfila lon-
_..:.;,.i_~'----]
t f 11c1 a dessa cuJtura - dominando, de st:a.s fortalei.as eclesiásticas t cni- ginquo precursor, trac.nzíra;;. Blblia para o gót~co, a fim (segundo F.
versitá--ia:-. o território das nações europcias em formação - :::o□stit:.1iu Cardirj) de lê-la em publico a suas ovel:1as;~ ina.ogurc.va astlm uma das
Jrn obstáculo a que a..5 linguas vulgare.s emerg:i.5se.:n fora da ~a.tuUlJla tradições que se-rào mú, bem nu1rida-. taI1to eaae os ortodoxos quan-
pura o:-a.Jidad.e. Elas emergiram daí, d~ faw, mas bastante lentamente to :ios círculm heterodol(os, ~ gue chegara um dia a LJtero. Em seu ras-
e ao pre;:o de comprometimentos, dos qLLais nós, :\-1odemos, w-::nos as tro desabrochou muito cedo uma poe-$i.l, o Heliarul saxão, ;>Or volta de
,.-itimas, pni~ prm•ncaram a perda irreme:liái.·el das formas de vocatida- 830, aEu/t1liepicarda, meioiéculo rna·s ;arde...~ ~ i g ê n ~ p:>lili-
dc que tai·,ez th·es.sem alto valor poético e cuja preservação te:i:a de al- ca caralini1a le\laram os príncipes a fazer redigir em Jfogµa V!Llgar,...&g-
.11um m"~fo modificado nossa hidória. Globalmente. no curso desses sé- tos_grrupro:nis,os coletivos: fómnla de Sois.sons, por volta de 7R5; ver-
cu los, toda a poesia em língua vulgar ficara. também virtualrne::m "e.lo sões româ1icas e frâncicas dos Jw--amerrJos de Esmisóurgo, em 842. O
outro lado'' dEI escritura: percebida primeiramente como nma arte da rei d.e We.,iex, Alfre<lo, a rarti r de 5:70, tendo orcenad,::i tradtJúr Orósio
voz. Donde uma tensão no cada vez mi;-os moceme cara-a-cara do la- e Gregório, o Grande., faz red:gir por e~::rí:o suas.leis, preocupado ::om
dm e da~ ·:111.ua.-, ,. ulg.ires.~'os primeiros tc=npo< de.,;.;.a história.~= n'1arn a de-sag:-egar-ão da cultur;i lati.'la sol, o, golpc-s do~ ,·i~ings. A líogu vul-
sir.J.n grê.t1des-as chances ~ra que s.e produnsse uma especializacio fun- gar aprove.la-se de tal modo de~sa.s l'.~periências que, dois sen.los mais
cional: D la:lm, a escrita; às JiJJgui:1.5 vul~arcs, a o-=a]jdade. 'To] fm o C'.:l- t.ude, o anglo .SJ.'i:ãO será o pr.md:o idioma eu.ropeu ê:I pu~sui.r (p:k1 pr-
50, na época rr:ais discante., por razões históricas d.:mradas do :;:u.e. nos na de- Aelfri; e de Wul:s~an)_ um~ prosa artistíca.[Petrnanece sem,RK.c
reinos tãrbarns. subsj stiu da antiga traJição dos e.1cribas. Desde os ~é- fato de que o fator dec1s1\''.l ineiliato d~ .::0101,:ago po;:.,esc.r.im.I9j a ln-
culos tv e ~, xrém, a cultura let7ada da An;:igilidade, relativarr:.ente ho- tenção seja de r~gimar um ciimmo prcv1a.menre pr::>nunciaj::,, seja de
mogênea e f~chada, teve de ceder a uma multiplicià.itlt: de ~ubn:.l:ur.15 p~e,:aT-ªI,.l.Ull t~ue!l-Üll-i:llfil à ~lt:Jf-.l pública ou ao canto.ru:lliuuuia-
prm'inc:ais. na busca c.onfma de suas origlflali da.:fes. A lingua enJdita, yueJa circu,mância. A e~criui eJa só wna parada rrovisória da voz.
artiticiaJmeme mannda, dava a impres~ão ::k afrollxar, talvez de :!eter, • Dentre 1c: ,rns próprios jmile:s, as coJoç:açõe.s pc-r escriw cor.sti-
e:s.;a dispersão. E, quanto mais esta mtsnw assi:rn se acentua••._, mais :uem um fato hi~tórico de gran~c im~ncia. ao qt..al reIJ!Onta .s.em
se í ntensifü"'"'ª a necessidade de exaltar .a pureza e a peremdade da es- dúvida tudo o gue, ontem ainda, zazia nossa m.oder:Udade. .A voz,j Q.
cntllra latina; daí as periódicas "Renas:::en;as" :dencificadas pelos 11is- Out:3 da escritura.; para fulldar sua :egitimidadi; a.;seprar a longo prazo
toriadorcs, no, séculos rx, xr1 e X\ As línguas \'1llga;es I fruto jE, :01- sua hegemcnia, a escritura não deve reprimir de ca..'11 esse olll.ro, mas
fo.15iio de Babel. segunco Dante no De vf.llgan elorp,;enl/a, ,, v::), origem primeiro demonsuar curio;\,idade :;::~r ele, requerer seu desejo nani.:es-
t: .,1mbo o da dispersão dos discursos e da perda ::fa unica sabedor.a, a tando uma tnct..-neza a seu res:,e:lo: saber mais dele, aproximar-se ac.e
ca:ia urra :1~ ..~a-. cri-e,;; mals avancaram com ~.rande, saltos e:n ,t'll pn""- os limites marrnr.os por Jm cm50.- .Jl\ 1~1.-..:: \[a, 1 Outro '-"GÍ in~talar-
priri carn.nho, Tàrr.bern aumenta\a a 1en1acão. po• pane dos ci'e,·cs. de ;e no papel q Ll.L J~51m e traçado pan e:e; vai rei\·ind.icar sua prôpnd \'cr-
r;aptar e1~a~ litrp:u.a~. de recuperar -.ua erer5;pa ~ su.a ,e-racid:ide pJÓpJias dade.. m-ers.t Reação de dt'fe!">! da voz poêlica. ~llbr-i~ ,ão ao~ valan-,
t.entaçàc d:: fazer seleti\amente entrar cm Wl ordem vozes que delas que puecern próprio~ à emitu-a latina; absorção de elementos do sa-
em:inam. Donde. por todo o Ociden a - e<l traços men · que "l'Cicnla ~,oco:Jonizaçio fanei<).

}}(,
na] 5e e5'boça desde o• ;,rime1ro, 1ex10~; revelar-•e-á ao longo d~ ~ê-~u 1pollti,a, social, mmal l, tn1ra ru1<lo a mente em cena t força o Letra(io~
l J.lll""'-l~lll ~ o emven.çãõ par. racona - aum .,.,..-....~
Sempre. até o séc..tlo xi, a in:ciuiva el'>critural vem do mais alto, fos e e, Oh1m, arvorar-.:-e al ~um domínio sobre ela l I es~ e ffl1prccnd1men-
e a lntençào não ~e dis:si:n ola. E:n nossos arquivos, todos os rexcoc: que- to. ~eu mais poderesa im1rumento é a escritura: e e,ta, cedo ou tarde,
cmmituem a p:imeira onda c..e poe~ias européias provêm de ai[gum e·an- 1 berta-se da mais ~•ada .o~rcão vocaJ que ainda pesa ~obre ~i: o ~·eno.
db mosteiros ou do creu o reg10. Ou então se inscrevem nu.m mo·,1- Donde a difusão. nos séculfü xm e .x:1v, de uma prosa n1rrati~·a, e em
rnento de renovação lilÚI~iza e rrwical que atravessa os. 50:uJos, do fim ~çguida, no século x,, a ree~critura prosaica dos anti1,1;00 relatos em ver-
do sêcuJo vm ao :e:: a:, ~:rn o Georgslied de Reichenau (lingll.Lit1came-n- sos, o Érec de 1454, o Tfotan alemão de 1484, o Percevq/ de 1530 e os
L4 o máximo de ,cti•icio), o Sain: Léger franco-orcitâ.nico, o Alem □or­ numerosos "roman,;:e-~ •• feitos de compilação das cancães de gesta ..
rna11do 011 ainda, rr.ai~ carde. o Ritmo italiano sobre o mesmo iamo. A partir de entãc, enfraquece-se a função exdusiva reservada às tra-
Uma floração similar se procuzirá na Escandinávi:1, na própria Islân- d_ções orais de tran<:missâr1 do9 conl:ecimencos dentro de grupo social;
dia, a partir do século xu. ta.vez ja no XI, sobre os passos dos primei- enfraquece-se majs ainda,;- rapidamente se dissipa, a ilusão enciclopé-
ros m issionários crist2os. Ou então os poemas colocf.dos por escrito con- dica que sustentava essa função [já q .1e, por mais limitado. que fos~,
tnbu.íram para reunir em tornei do rei a comunidade de seus fiéis os conhecimentos: as.sim priesenado5 cobriam todo o campo da expe-
exJi irando n p:cis.•rnrln herói<"O, come o Hiidebrandslied, ,o Beov.•ulf, ta!- riência): o domínio dai tramçõet orais se apequena, fra~enta-se, com
vez as mai5 antigas canções de gesta francesas (ainca que nenhum ma- o tempo se m.argi1:afüru-á, :nas não em proveito ::!e outro enciclopedis-
nuscri to seja anterior ao século x:1); e de outra mane-ira, a 0·,5r..1ca m:>. A despeito de alguma, aparências e de um gJobalisn:o triunfante
anglo-rax6nica, que foi ini~ada pc:,r volta de 89(1 sob o rei Alfre=o (e entre os escolásticos ncs 1250-80, o espaço as~im liberado é progrf!jsi-
que se proJongará até 1154), ou a tradução, à mesma. época, da Hésro,ia vamentc ocupado pur "ci€m:ias" dc:~ccmínuas, ~m número crescente.
eccJesiast1ca de ~da; sem -mencionar o Ludwigslied. que celebra.,ra ai \oi- ;>ara as quais ou pelas gua.:s o 1Jomem cria uma linguagem, .abstrata,
tócia de Lu.is ur sobre oo \'ikii.1,gs em Saucourt em S81, e, na outra exue- empenhando cada vez menos a :-ealidade do corpo.
midade da. Europa.. os Anaü redigidos em Kiev no século x e :recoma- E o que é, em me:ío a eS!';as 'lltJ.taçõcs, llR1 '' ietrado" '? Para H uguc-
<lu~ oas Crónicas russas do século XIJI •.• cio da Pisa, em suas Magnae dtnvationes, rto fim do século Xll, ret~
Primeiro aparecimento. em nosso horizonte, de uma p~fa e de madas cem anos mais tarde no Carholicon de Giovanni Balbi, dicitur
relatos comemora1i1;os aproximativamente fonnulados na liogua 'fl'ta fitteratus qui ex arre de rude voce rcit fonnare li!teras•.. et omtiones scit
comum; te-stemllllla5 ímpe:rfeitas e indiretas da pre~ença de uma rnz. cor.grue pro/erre et acc01tucm ("chama:n lerrajo aquele que por ane
Cr<Jt1.ologicamente. LOS territó:ios ~ab-romãnicos e ge:mânkos (de- longe sabe tirar da grosseria da voz uma expressão regciada... e pronundar
os mais empe!lh.adornesse projete de aCJJlturação) segue-s:! lDD f'C.lii;se, seu.; discursos com pertinência e. usta modulaçjo''7 - pomo de 1-·is1a
aparente s[êncio de dois on três séculos. Deslancha então a se-gunda or~da retêirioo, colocando a definição na ún.ica perspecuva da pronunciatiol
de escritura poética em língua vu__.gar - sem rup:ura a!é :iossos d:as. Quanto aos illitterati, ningu!m lhes nega um.a autoridade parricrilar; é
Essa seg11nda onda i:az um sentid-J diferente da primeira, Nlais do gae nes.sa perspectiva que ,;:onvém fixar as freqüentes referências feitas por
aproximação e do::aesticação, ela é er:úrentamento e conqu:isca_ifaz se- nossos tc.ttos poéticos a alguma foate oral. Pbucn importa que esta seja
culos, as ciercr .sabem e repr::tern qce o se;mo vu!gari.s é simultaneamen- talvez fictícia. Um letrado como Wace no Brut, no Rou, em seu Saint
te raiz e fnuo de uma cultura sehagem, não oficial. embora onipreser..- N'icolas, M.arie de Franre em ç_en.ll !ALS, ma.s também dezena:: de bagió-
te, feita de sedimentações obSCUíi!- acumuladas desde o Neofaico, grafos e contadores remetem asm:l ao que funda, a seus olhos e aos ou-
podem~ IIllit11n "camponesa' (isto é, "pagã") de lemb:rmças i:!ioen- vidos do público, a auto:idade de seu dllcurs-0, uma tradiç.1o, um relato
ca~. ct!licas, germânicas, de crenças, de práticas; uma arte cnm a guaJ q1..e •eterna, um diz-que-diz. Segundo a tese ,,igorosamcme ,u tcnta<.la
a tradição latina.. edesiástica e escclar é obrigada a trens:igir, oa impoo- par B. Stock, o "iletrado" pcnence muit~ vezes a uJgum1 "comunida-
1,íbilidade dt ter podido extirpá-la com a acusação de paganimlo ou ele de textual", em viriucle w refo-íbcias que a C1tist~ncia o fo r,;a ra2~r
i,er~io..!oi~ tLP.ill'ti.r dos secu.csx;, x.n e~w,, conforme os lugares, c!- n tnl ou qual escrito (m~mo •e nJ.o há au:,~,o Jimo e tt') e da autori-
,.:1cuU ma popular, at~ c:1tão reprimi :l.a nos bastidores do re:uro da On:k:n. dade que lhe é reconhc:ci~a.
1ürrtr,,.rw e íllifleratus referem-se, portanto, menos a indMCJuos to- uma p:ods~Jo d!.' idéias hierarqu1camcntr aniculadas, rnja interpreta-
.. 1 mado,~ ma I otahda«Je do gue a nfvi:i~ <I, ~u11ura que RC>Óem c;1Ji:.us,,r ç:!o não dei:1i,,.1 lu~ar parn t) equ1vm:o, apesar Ja diversidade dos _dl)wr-
1cooh1cm lrequenternente) no imermr de um mesmo _grupo, 111é no co111- sm, ,=1uc> a !i,losam_
~ 1cnt11 e"ª
entaliundr do mesmo mdwíduo1 O ile1rado- a par- t\o francê& ar.tigo, o vl!rbo esc.rirc• significa tanto "desenhar'' ou
te "ilcmul11" de num, de ~·oc!, d~~ta i.octedade rnteara - domba mr- •• pmtar" quanto rraçar lclr~: • e crij .ra..é uma tiguraçfo._ E o que nos
noi. a~ palavra e menos da paJa~·ras, mas está m.ai.:, prói<imo destas e aparece ;;orno uma fluuiaçãosemántica é profundarncnle motivado nas
i.ofre tru11.- 5W poder; em dlh'lida, é por is;)o que (comú a própria "le- a.entalídadcs des&c tempo: o ft!C-SO bizantino grtJphein se refere. ele tam-
tra" jo E\'angelho aponta) ccnvém fazer triunfar em si a illettrure para bém, a inscrição e à imagem, ao relato e ao afresco, :'.'-lo limite de seu
3SSegurar a salvação: Fraa::is:o de A ssis entendei: "Literalmente" essa ~róprio 1.mpulso, a prática ca" c-scrituras confina com o rebm. Ci.ei an-
metáfora e rejeitou a curios1;as dos livros.E Leriormer.te alguns exemples do r;;éculo xv ou do mk1 o do xvr. ,; ~1ais
Pda ;,e:1a ou pelo cnsmamento dos sábios, uma 'l.COiia se csboÇOlil do ~ueurna iema.ção m:a~imral, pmêm, o 1'2\Ju} parece con.s:iroir então,
desde o sécrJlo rv e tomou fomia em Isidoro e Gregório, o Grande. pa- como ao ccrrno cas tradições medfr:vai.s, o modelo ideal e paradoxal do
ra auav:::::.~<1: a êpoca medtC'\'al ate os "·ersos bem conl1ecido~ tle Y.illon. acabamemo poeti.co. Majj_ comurneme. a Uu.mínura w;50cia mi página
aos letrado.s a escritura, aos iletrados as imagens, com igual veracida- a e~crimnte a pintura, numune.sma ilÕmêtna cuíos componentes ten•
de;9 inru,?r1 ('"decifrar com os :>lhos e penerrar" o tex:t..o) contra ccntem- dcm a trocar suas Tunçõe; ou a supei:.â..lasj_unlOs, com ,.fatas a lílm~-
plari, segundo JS termos de uma resolução do sínodo dt A:rras, em 1205, neameme ritmar .a pal.wra e produzir .uma ~igni fí.ca_@o m~~ rica e mais.
que pareçe excluir toda situação mediadora." O ::utLanismo ocidental segura. Alflures, o texto ~e ini;i mia no ,quadro, em legenda, em divisa,
rão compart.lha nem as rendê-reias iwílocláscicas de certos onentais nem pintado em bande1;ola 011 bordado sobre o ves~1do, afü,;ado por eTILre
.a ;,ru,J~"'l:::,a de islamismo, o qual. por horror à idolatria, faz da pró- os c:mários do teatro ou da festa principes.:-a. O 1e.-xto trai: os slnai~ li.n-
pria ei;crüu~a., em suas grafias, o fundamento de toda arte visual e pás- ~üísticos da mensa.~em, cvocc..ndo os fatm e a interprct.ação etimológi-
t1ca. G ·egoria, o Grande, jâ havia tomado posição; instruir-se por meio ;_a, ce sW1s designações; a i)u$1ração pictural modifica em: dado, estabe-
de uma rcp~csentação figuc-ada não significa adorar e&.a pimura. 11 ln- lece suas correlaçõe;, !!Spirituais e garante a inte~raçào de rodos esses
\'; 'liam e:1 te, elemeJJtos. unidos cm relaçlles alegóricas. N1Jmerosos manuscritos in-
~erem nas ilu.stracões tin~u GUe indicam. coro maio, ou menor su~lleza,
Omni:; m1.md1 crea1ura
a relação com o texto. freqüentemente, o lituius 5e exJJÕe perto da boca
qua.s1 li~er et p1ctura...
de ums per5onagem, da qmd anota as p:alav1as; <lá-~e a.~sim ,que eoue
("a criação inteira nos é como livro e pintura..."): esses :::elebres versos duas personagens se e'i-Labclece um breve diálogo, não c.-.t.raido do texto
ílr A.fair1 de J ille nm impedem de djssociar Jiôer de pictura, retomac:os ~onJ'JntO. A diferencn e.11~re e.~5e prQ~.çdimemo e nmsm, quadrinho~ clf'-
·untes, na linb.a seguinte, pela palavra speculum ("'espelho' •i. Des!.e ponto riva da ausêacia de narrativa explícita, O diáJogo ...irnaJm1cio, por opo•
de vista, a esrr:ta tende menoi, em sua função primària, 'ã""ai"otãi- as sição ao texto que constitui :r.iatcriulmente seu lugar, volta-se para a or-
paidvras pronunciadas do CtUe 3J fundar Ulllil ~'isualidade ernblemátic-a; dem sensorial. Re5titui ao olho as condições emp1ricas, concreta,;., das
êlã/é, sobre a pãgTna, o univeno. E;ae - mesmo que a que-da. de Adão pc1c.::pçõcs "naturais". O artista não dispõe de mt:io;; J)llra fazer escu-
The tenha ~:r~-batado essa virtm:e - ha-...~a sido o idoogramr.: traçado por Ear a voz; mas pelo meno!i- a cita intencionalmente naquele contexto, con-
Deus para o ho:ncm O afrescc, o ::-apitei narrafr,•o. o Yi traJ, a fachada fiando ao olho a :arcfa tlc- ~ug::ri.T <1u L>m-i<lo, a tec.i;lidade sonora. E:;sei
da igreja são, por isso mesmo, ele-.s também ideogramas p,otenciais, que trctn.~fcrê:ic.;. de Jm sentidc a ou·ro pcrce aqui a pura iib.s.tração que
uma \ :>n~ado: tle leil ura atua]i.u.. E,)truturada, mc1~ ctàu h:i.ear, projeta- tena :1a Jeimra muda e so 1taria.
da em setrn~ que barmomzam as proporções de suas massas, do cen- En.rclaulo, a arte plâstica :;o[Jscrva sua d.Uto:nomia ncl interior de
tro a:. :-x1rc:m1dcadc:~. de etma para baixo, de t>aI.Xo para cuna, na~ du:l!, tal !>lst::roa de tnte::-camb10:;, Se as vezes a.kgonz:a. de m,me1ra mani ,esta.
dir:çõe~ da b:>n1.0111.aJ, demarcada por figur& e~:ilpide:s que funcio- o r.exto que ilustra. ocorre-lhe: proctder pelas ~-ias mais indirei:as de uma
nam a mave:i•a ;te· 'cha\·es" de certas e:.crituras complexas: a fachada, "d•a'etalização'' narrati\~d (conforme termo de V. Branca). Assim os de-
qncéPa ·na como a Palavra de Deu , Pagmasacro, d~enha um Idéia, cenhos ma1gina.~ do~lebrc "Saltcrio de Utrecht"; ass:..m as mmiaturas

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nal ~e esboça de:.de os prnreiros t-extm; 1evel.u ~•á ao longo do<, séc • tpohtica, social, mor,1l l. emra ru1dosame'ltr! cmcen e forço o 1.etnu;lm
10-. :,,,:1 e ,rrr. a \!.!!l;iiratlii!CI o esíon;o de mvcncão para raaoru:1fizá-l um ncuco que
Sempre. ate o seculo xr. a iniciativa escritura.l nm do mais aho fosse~ n~ 1m rYODr•,s~ don
e a intendo não se tfus1mula . Em nossos a ~qui,'05, todo os textos que to, eu ma1 podeio o 1rutr.umm10 i e mura; e est • CfflO ou t rde,
l'.Om ti111em a pr mei:-a o!"lda de poesias eurc pe1as ;,ro,·êm d~ alguns gran- 11berra-s.e da mais pe'l,ad .i. coerçào ~oca! q1ic ainda pesa ~ubre si: o ~·er~o.
de~ mosteiros c u do circulo rê-gio. Ou e~tão se ins.c-evcm num movi- Donde a difusão, nos séculos xrn e xiv, de uma prosa r.a rrati va. e iem
rne-nt:::i de renovação li:úrgica e MUSKJ.I qt• +,-; ..e,~a os ~"li.los, do fim ~e-guida, no ,éc l a rees~riturn i: a.icados a.nugo~ ·elaro~ em,·,~-
do secwc vm ao xn: asun e Georgslieâ de Reic~enau (l[ngüirncamen- ~os, o Érec de 1454, o Tristmr alemão de 1484, o Perr:evcl de 1530 e ;1s
te, o rnáx;;no de arliflcic), (J Sa:nr Leger franco occitâmco, o A lexis nor- numerosos "romances'' feLtos de compib ç:ão da~ cançoes de gesta ...
mando ou ai,da. rnai5 tarde, ::> R itmo itaJfano sobre o mesmo santo. A panjr de então, enf:aquece-se a fun;ão exd wi va re,en·ada às~-
Uma :1oraçâo ~imila:- se produzira na Es.;a:1d"nàvia, na própria Islân- diçõ~ orais de tnm~mi:ssão dos conhecímmtos dentro do grupo soda.;
dia. a partir do sfrulo xn, talvez já no xi, 5otJre os passos dos primei- enfraquece-se mais alinda, e rapjdamente 3e dissipa, a iJwão encidopé-
:os Jlllisionártos cristãos. OU então os poemas coloca.dos por escrito con- clica que sustentava essa função (já que, por mais linitados qae fossem,
CTibuira:n parn reunir- cm tono do rei a comu.nic!ade cfe seus fiéis os conhecimentos assim preservados cobriam todo o campo da expe-
exa.Jtando o passado heróico. como o Hildeõrorutsfiecl, o Beowulf, t.a.1- riência): o domínio das tradições orais se apequena, fragmenta-se, com
~~z as mais an.l..igru; canções de gesta francesas (amd.a que nenhum ma- o tempo se marginalizará, mas não em pro1,:ito de outro enciclopecfü~
nusCil.to seJa anterior ao secu.o xnJ; e :te cutra maneira, a Crónica mo. A despeito de algumas a~a.""ências e de um gfobalismo ~riunfanre
a11glo-rcxônica, que foi iniciada por volta de: 890 sob o rei ..\lfredo (e entre os escoJásticos nos 1250-80, o espaço assim li!lerado é progressi-
que ~e p;-olongará até 1154), ou a tradução, à mesma época, da Historio ,ramenc.e ocupado por ' 'ciências'' descontinuas., em númtro crescente,.
ecdesia.stica :ie Beda; sem mencionar o Ludw1gshed. que celebrava a ,i - para as Quais ou pelas quais o J-omem cria uma ]jnguagem, abstraca,
tória de Lufa rrr sobre os ,ü:1r.g5 em Saucourt em 881 , e, na outra exrre- empenhando cada vez menos a realidade do corpo.
mídade da Europa, os Anais r,edigidos em K.iev no sérnlo x e retoma- E o que é, em meio a essas m1Jtações,, um " letrado"? Para Huguc-
dos nas Crônicas russas do século XJJL. cio da Pisa, em suas l'Jagnae derivationes, no fim ,o séçuJo XII, reto-
Pr:.meiro aparecime::ito, em nosso horizonte, de uma poesia e de madas cem anos mais tarde no Catholicor. de Giovanni Balbi, dicit.u 1
relatos comemo!ativos aprox:mativament.e fonnuJados na língua ,1va Jitteratus qui ex ane de rude vo.ce scit formcre fittera.s. •. et croJ.'ones sci1
comum; testemunhas imperfeitas e indiretas da presença de uma voz. congrue proferre et accentuart' (' 'chamam letrado aquele gue por arte
Cronologi.c.amentei nos teritórios galo-rornâ.nJcos e 8erm.ánico,s (de longe s.abe tirar da grosseria da voz un:a expressão regulada... e pronunciar
os mais empenhados nt!fie p:ojeto de acu.ltura;ào) segue-se um eclipse, ~eus discursos com pertinência e j,ma modulação"' - pomo de ~•isra
aparente silencic:i de dois ou três séculos. Deslancha então a ~egunda onda re1órico1 colocando a definição na única perspectiva da pronunciatio!
,.
1 de escrituro poética em língua ..-ulgar - se'l' rupcura até no.ssos dias. Quanto aos illitterati, ninguém lhe~ nega uma autoridade particular; é
Essa segunda onda traz um seaLdo diferente da primeira. :Mais do que nessa perspectiva que· com•ém fixar as freqüentes reforêncm feitas po:-
aproximaçfo e domc,ticaçâo, ela é enfrcnr.arnc:nm ::: con.qu.ista.• !Faz sé-- nossos tacos poéticos a alguma íon:~ oral. Pouco importa que esta seja
culos, os ciercs sabem e- repetem que o sermo vulgaris é simultaneamen - talvez fictícia. Um letrado como Wace no lirut, no Rnu, em seu Saurr
Lc rdit. e fruto de uma cultura ~eJ vagem, não ofü:ial, embora onipmen- ,Vicolas, Marie de France em seus Lats, mas também dezenas de hagjó-
te. feita de sedimentações ol>scura.ci acu:mulada.s desde o Neolitioo, grafos e contadores remetem .mim ao que funda, a seus olhos e aos ou-
pod~rosa mistu.."a. "camponesa" (isto é, ' 'pagã '.1 de lembranças 1beri- •;idos do público, a autondade de seu discurso, uma tradição, um relato
ca$, dl:icas, grrmllnicas, de crer.ças, de pralicas: uma arte com a qual que retorna, um diz-que-diz. Segundo a tese ~·igoro~amente s ustcmac!a
a tradição latina, eclesiástica e escolar é obriga_da .a uan.s.:igir, o.a impos- por R Stock, o "iletrado" l)fflence muitas wzc al.guma •tomunida-
si':,ilí dade de te!r podido atirpá-la com a acusacão de paganismo ou de de textual", em virtude das referências que u oi 1!ncia o força a raur
'"eresia. Pois a partiLdQU~culou:r._xne .xw, conforme o;s: lugares, es-- a caJ ou g uaJ escrito (mesmo se ndo hà acesso direto a este) e da aurori-
.rn culru; -popular. are então reprimida oos bastidores do reauo da Ordem d.a de que lhe é reconhe<:ida.

122 ,•
J- .1
que li!eraJizam as me1áforas da lirguagem. Da imagtm à escrna e 111 o manuscrito autografo <lo lJec-am~mn fornecem Limo um comen1dri11
Vf'rsarn ente, a referencia nào ! unlvoca. Uma só~ por e.,:ceção o par da 1u15nomo, em pane c;.iricato, o q 1al força a entrada do 10:10 e o bre
ouua. Opõem-se men:Js em virtude de sua >lgniftcância mpe..:t1va do para uma poderosa correnri: c,trna~u.lesca, cm que às 1•czcs o arotcsco
que do tipa de com::laçãu q une emnito . m la.âo, a a- m oo U a _,,.~....o p,e - o e mêi.1 em ;,1. a t,-
ção por contiguidade de percepçõe~ sensorias: e, de oJtro. ::o<iificação cmura medieval é 1mda ma dissociada do desenho e perrnencct para-
que 1mplko1 t..m.:1 hiera-qui2ac;ão d.e caráter, ao menos :endendalmente. doxalmente 1de manem1 latente. numa parte de~• me,.rnai ideogra..mà'..i-
ab~trato. :A escrica s1mboli2a: a imagem emblematiza; urna confirma a ,a fica tributaria da pala.ra q11e a de,,:lara e ,que ela !llo,a e ilustra ma.i~
vuua, p1cci sarnente p<Jrque permanece no plano que lhe ê ;:roprio., Ao do que transcre-i.·e. Mas a imagem :;x,r si própria requer a todo :, iru:an-
longo do sc:::-:ilo xrr1faglb., vemos assim se generalizar o uso dos sine- te e'<plicacào. e:-;p ttitaçào - glosa i.r1 praesentta que, no ccnte.l{:o geral
te5 f:no século x, somente o rei tinha um): ::,osto num.a car..a, o selo des~es séculos, s.era antes oraJ <lo qi.:: mediatizada pela escrltura.~s-
valoriza-a personalizanC:o-a ... como o fazia, um pouco ante~. a decla- sirn a imagem não apenas toma o lugar da leitura para pe..s.oa5 ;_muco
raçao \'erbal diante de tesremuahas. 13 O emblema frequen1emente se re- oun~ompetentes nesse a:erdci1;, também pode forne,;er ao leitor
sume no tracado de alguma ietra: o T e o I inscrito~ por Trutão na.s )púOlico matér:a para :o exib1-:;:ão ou para o comen:ário. A Jlntlica "tea-
len1las que a:,andona ao rio, ~.os w 14 425-~ de G-ottfried. Ou a lena c.ral" da éJ>Oca ma:s próxima (como o ritual das e:1tradas r~g1a,] sugerP.-
se ':"pande a~e formar o nome inteiro: de:sse modo, se,sundc a opinião a pcpularidade desse ultimo uso. A pi:ntura - exi:lica no século .xl.. Ri-
mais pm11ávd, ,obre a vaJa cfe aveJizeira do rne.srno Tristão em .\ ·f ane chart de fourm..-al para justLti::ar a ilt!stração de !<eu Bestiuire d'ar1-ro1,.r
u '
de France. Nos costumes: elo i;;éculo xv, uma relação :1.nálo!!a, embo-
ra inversa, a,socia ao 1,.•itral, á tapeçaria, quando não .ao.; brasões e mes-
n10 à~ roupa~ principe-;cas, a :livisa que freqüenccmemc ai ~e i.r..tegra;
l - tem por ,.,iftudc tomar prt:'ient~ ~ coi;sa.s coinemo·auas... con1c o
faz a pala,'ra pronunciada, ao momento em que 5e escuta;'1 o texto de
R1dart é claro e não faz rcfc:rênciai à cscrimra, mas somente à pem:p•
às vezes uma e5trofe inteira de um poema con·inuo, de figu::a en: figu- çâo auditiva.[Ko t:iàngulo da e..'tpres.;âot a imagen: tem sua pE...rte ligada
ra. até form:i r o conjun;:o de wna Vida de santo ou de l!IJla D.anç:1 Ma- com a 'lOZ. A imagem taml'-ém só se ::ornunica na performance.
cabra. Os alemães denominam .Bild~dichte ("poema-ímagerr.'') os li- Donde a fragilidade do el;luihbno entre os valores q11e t:az a ,..-02
vros em que o ~E::Xto acompanha_ UIDé. série organizada de deseo..\m.~ e aqueles que tende a impor a escritu:a; situação que depende das ;'lün-
geral, trata-se de obras com ca...----ater simbóJico, exigindo uma Jeftura du- gas durações" históricas e cujas uJtÍJhas seqüelas só serào lrqüidadas
~: a das pal~11r~açci<las e. ~m ou1ro plano, mas inclissociá~-d d:> prí- com a Rei.·oluçâo Indw.trial . .-\ quase totalidade do que nos foi ccnser-
rneiro, a êtas unage11s. No entanto, de sua parte a pinmra e a escultura vado da poesia modie,.•aJ testemu.oh.a ao mesmo tempo esse cqui'.ibrio
b=cem u.ma idcmjllitde que as aparenta às obras escritas. O escuJtor e sug fragilidade. Donde a própria aspereza das polêmicas modernas
e mais ainda o pintor (tra:,albando sobre o mesmo suporte material que entre medievalistas deíensore.iJ ou ad,•e.:rsários da oralidade! Mas, aqu.i,
o c--.5.;rfüa) 1:a1ni11h-am às apalpadelas, :.,or entre as técnicas de sua arte, trata-se menos d.e "poesia oral" que d..a poesia de um udve:s:::i da voz.
na dlrtção do qi.:e: as tornaria, coclifica.ndo-as de maneira bastante rigo- Ou :nelhor, distinguxnos asiruação ae .::omunicaçào (implicando em es-
rosa, escrituras plcname::te d~dobradas no espaço; daí os moom5, co- pecial o uso deste ou daquele medfr.mr) e o ambierrte de co::ntlll:cacâ.o
re~, formas convmcionai!, es:.c mais-além da representação. Pouro a pou- (dete:-minado por um feue de costu."Des de inegável p-odtr). Na ,ombra
co, a heráldka se comti:ui como Iinguagerr social, Muitos fatos da História, pettebemos o m:irmúrio das massas humanas, :1Jja p~-
assinalados e1nrc o século ,C'l•I e o XIX provam o poder que a imagem sença só podemos pressentir - ::om~ a de um animal notumo ~con-
teve na difusão, e mesmo na tr~sforrnaçâo, das lendas;Ll nu:rna n:edi- dido do qual .se percebe a respiração e a tepidez - , graças a uma "cuJ-
da t~vei menor (antes da invenção da gramra em madeira), a época tu.ra"' escrita planeada como uma vela nessas tre11as. De tempos em
antenor ll!o pôde deíxar de :er conbccido esse fenômeno. tempos, o círculo do clarão m-ela um rosto, uma boca, um 1~,:o esbo-
~ "J dllde MMia", corao outras culturas (tal qual a nossa d.e;de trin- çado em dfreçào a o6s... De Uí. Jc eln<1ram voz!.!'! boje extenuaruu, ai ·u•
ta ou cinquenta a.nosY, coiiliêceu umâ' espécie de triângulo da opres- mas das quais foram captadas pela escritura. Pouco importam os moti-
são: a m;: aJ nfio se distinguia aoena.! da escritura, mas c1mae outra, vo!> imediatos e 05 pro,;:eclimcmos de~a inf.Criçã[l, e menO.$ inda
e rttfJ,ro~amenre, da imagem. O~ desenhos com que Boccacdo ~meia ideologia de que, :as \'ezes, um reirado rez seu pr •texto

126 ,r
S,l\'ant di!i cfirt rapurorm:c
O Copi1l:u1i re-vc lav11 na, insti1uiçõe, polltica\ da Idade ~IMi:\ uMa ' ,. /•11•,i;r i~ re:mi. ,•t.
SI í/lll ''" • •
.. rnem lidade do múltirlo", mal ren:eb1da Jl(>r um m~1evalismo dema- \I ,._, /e i o1: po, 15~,r ,, ',;, ,, ,pi,e1
s11do 11clinado cja à rr>il.1.crwn ud wwm, ,rja a um plurallsnrn rnor2 ar t1e l'~c• l:'.~trumr /c.5 dar:•
ri.o O multi pio rcsulla a. ui da diversidade d.as coerências ,1mult.1rt:a- s'ar.c/osr i:1 parole dedaP1s•.
me111e rcivind1 -.c:is pelos atoi, pelos julsamc11toi e r,elo.\i d1scur~os /:J l.>oche cfot, les dim: ,.~rra'.nr
hur.1anoi. Donde uma aparência de heterogeneidade e, da parte do ki- i t;ue ra p.1 role hors 11 ''1'1 rui/e
10• d~ tr. tos, a orutame necessidade de dar lugar ao equivoco, quando s e:xe mas 2.
- ara falar, e sua língua se m ·. -
não à contradiçõc~. dia apos dia le't·amadas 1.no domínio que me :m- ("ni.r.lru \e;.es' ela se prepa: a p 'he :erra os dentes, d1,;; ronna
port.a aqui) graça.~ à on.q:resença da \.Oz. , rito pod:: sair, por causa do medo que: . Ela fecha a beca ~
\0.1. ; nada no m~nor... r .
que a palavra permanece apns o a] d sair"). No inicio do ham:
cerra o~ dcr.tes para ,mpe<l1r a D avra e aI atenção ao :reato
1 q u •• vai
/\ essas redes ele rela;ões, tramadas em ma prática oral, os homens _ ·cta
Calogreoant cor.vi . seus ou~·mtcs a prest.
da. Idadr,; ::-.Iédia nl!o foram desatentos. O cmpiri•mo ua com:bta int:.'- fazer:
lecrual ~tra,ia às vezes o historia:Jor das idéias, ..tcostumado a recpe-
As oroílles ·J1mt 1a pa.rale . . 1,1..S)_
rerracionalidades mais rigo1osél.'i. Os testem·. :.n hcssãc trazido; 1m, apo~ - lº di.,. dt: (V>- ..,
ausi comt? /! V7~5 qu1 vo ~. w ,.

o outr::i, :requenternente ca.:nuflaé.os por uma ürguai;;e::n de emprésti- . do vento q•.1e sopra ) ,
mo, fvrn1<H.la num longínqi;_o passado para designar rea.lJdades ~iferen- '
("a ?a,avra , ·em
· aos ou\'1dos à mam.'tra
tes Buscar-se-ia em vão descobrir ou recomtiru:r uJI.a teoria medieval les oroifles sa1., voi#! er doi:r. • .,,. 16;...6)
da vut. humana e de sua fu11ção na g:upo social. Permanecem as no·as 011 s'an lt'[e,it au çuer la 'l'OJ~ (' •
dispenas. mas numerosas e convergentes o "!last!lnte para, de ;n,aneira par d a ,,oz vem ao cora-
. h anal por on e b
latc-111.r;:, i.r:rvirem parcialmente. •A :livers1dade dos _rgislros nQ§ cn,;;ti5, ("os ouvidos silo o ,a.nun o e o e undo I(un.StroanD e Du e.
segundo os discursos e as circunstâncias, é então lemacizado o <ibjeto , d d n• Mort Arrhur. seg J' d ocorrências o,
. d . mes-
ça.- o") ·LE !E ver .a e que " uns l0 .o as
vuz turna difícil a síntese. En~retanto, 1>ermanece .una :;cmvergéncia, s:>b essa conotaÇão se enconcra a?Crias n ~ se romance seja em prosa os
a variedade da superfície. ~esse pomo, seria inest:mtve: dispo: de ca- oos termos~ ,em dúvida. o _fai~ di: que ;~te escriturai. Subsiste o fato
dcs iconcgráficos; mesmo :l'S estereótipos que presiderr: às "represen1a- d,e~in.. .... Para um se11t.ldo mais
.
ngmo5am '
ti das referem-!,e
- m-wto ~eq•jent.e-
ções" f'guradas de oradores, poeta~, pontífices, ~antores, até persona- de que vo, e pa/avrci, ass•~ çonçre ~ . • ue se retém ou que nos ~s-
gens ordinárias, poderiam, de moca cumulalim, fornecer muitas ,. a uma coisa, perccb1da e localizao.~, q c:·:.rculação ~emãnac.a
inent • E Latim uma
informações.. Por in felicidace.. a "arqueoiconografia" eitá só começando. nQ. a materialidade de um som. m • - bi.un sermo e mesmo
Quanto aos rex!os, o Yocabulário que adota!ll não facilita a inter- eª~--' • fa ·•me,ntc "'ntre V().}(., • er '
pa-:-ecida 1.e és-tabe.eL--e ci, "'
:;:>retação. A..s iingua, medievai.s disünguem ma.l "ªZ e palavra, e esses . _ · de caráter ane-
l o cu fio. .f o·.1e eu i.;haroana
i:errnos ou seus sinónimos apenas se esclare:::em - às vezes - graças Essas interferências maru esta.ro o : arma o vaso, a roupa
ao conl.(··co. Realizei di"ersos levantamentos, em fontes fiance~a; e la:i- - l D -rna maneira que a , cl' -· r
-saua·1 da aç~c, verba . il. me~ - ediaçãa da mâquina, :::, _1s....i .
na;. Assim, das 177 ocor-er:cias de parole que indica & cancc-r:i~nda
y~am de um trabalhe da m~o~ se_m_ rr: da voz.. ada se i.rni;cu1 en:re
analitica dos romances de Chrétien de Troye~ (rna:11..1.scrilo GuioC) ma-
se é produzi cio pelo tdoalho fLs1olog10~ elo e seu consumidor, nerr. t:n-
brlecida i::or Jl.'1.-L Ollier, 42 (ou se.ia, quase 24%) apre~cntarr. e tcrrno
C>bjeto e seu proc.utcr, n~ eütre o I contrano. e,tat:elec:c-se
como complemento de um verbo que denota u;na :na;1ipulacào m1 um o um e cu~ro dos mdi·,1d-uos ÜiY}'llicad~s, mas, ao 'ta e quase 11e1.-essari a
dc5locolmeoto espacial, terir-, prendte, perdre, rendre, fail"'!, mettre- trai, tre: L' . - dff:la., estre1 , ..
re •ru-e.n u.e,encer, esmo1,1~•otr (remuer), tolre tôreri, r or'lCJre e a]Ji!Un~ 0,1- entre esse5- três termos 1...ma igaça.o_ b.lid de de mentalmeme disso~iar
D I.CL :a •n1pn~.,, 1 a . mc1 ,...:);
tro-, ,im.,ares: das dezeno\t ocorrências de V'J1;;: ("voz") atestacas lnra rn:nte apa1xoncu.- _ uc O contem 10 som dt J
das locuções fixad~ (em ·-o~ alta), ~e,e (quase 37%) f guram no mes- d :, conL'"!.l.CC (a men~a~em:1 o obJeto q d bo"a de querr. a :;irofer: e
mo co111ex10 verbal. Os 1,erso~ 3716-23 do Érecet Émde descrevem a cme>- po

etização natural º" pala~ r;a,presente
. . .. ~1 -:.1 a na "
•'- ,._
0
tanto para
um quanto pira::> uu-
,ç.ão cia jo·Jem heroina incapaz de fa.w· ni> ou\·irio de quern a rectoe.,
129
IJ8
tro, com m.1 amplitude, sua alfllra e seu peso Tal me parece ser o senri-
. . b ·tharam for.ide um meio muito es-
clo <la:, declar.. ~o"s que são n·vel.ida~ aqui e acolJ, especialmente na ha- a solução d~st problem,1 1arna1s r1 Ih nem o senümento nem
~iogra fia, sobre a imporcància so::aJ da pafa::ra no~ meios dingentes; 1Q trcno e: não llurninam uHc:wmente, ri nossos o o;b,da,1 ela~ abrem urna
1 e/oqi.er.110 que se espera do bispo é objete de :iualificações, entre M o pensamento da ma1on.i tl s pessoa comuns. ' r - m~-
q a: \;orno m.msuetudo, marui.e1a ef0c~ur10, 5Ó podem dCSJg-
oar um tom de voz; da mesma mar.eira no~ t:-atados de arte predicante, mo às cegas- se moviam. Para Thierry de Ch ri •'1.. comentando
,.,.,...os<loBob-
uni-
d ! cau5 él!I davtnaJo ca tro 5r · ·
como o de Humbert de R,:1r.1ans, por volta ac 1270 quando se recomenda CLO, a Trmdade corrc:~pon e a u ~ f • ·01·•as cnac.la~ pcio Pa.1
a abtmd.:uiria ou :1 copifJ i·llfiomm \e-rs;o• enquamo Seme Ihanca, O 'l,erbo con erc, .a~ • ' Amor oEsp:n
•~ · ao •nqua.1110 •
Por is~o se impõe, desde a a!ta 1dade Média, no nefo monástico, enquanto Unidade, as torrnas que a~?:nar • : fania original. de uma
'6 • • ~ · to --eJa,-,:ao
to· .\..ssun a maçao e au ·,-., ,... ' numa L-!O · · três mudah-
mna moral do use, vocal que pode !'.e- condenável - como a tagareli-
, , . é lo XJV Meister Eckhart dJstmgu:rra •
ce, a lnlrulho mundano, (l-5 Jogos hist:iônicos, segu1:do John of Safü. Palavra da qi:.al no s cu _ f. . da; ou imoensada e sem .x-
bury, por vo.ta de 1150. i: , prirneiro li\lro do Policraii01S; e John e5pe• clades· pro fenda; pensada, mas nao pro enl a . :diz" Por isso, na
cifica, incrimina to.sciviet 'em ·,ocerr ( "u11: tom de voz que com•ida ao pressão, penm.necer.do eternamente _naqu~ : : a camei assim se ju.s-
prazer''), mi.liehre5 modr:. ; notu!arz.m ("ur.1a articulação efeminada"), marcha do mundo, é a palavra o q~e !ecund • ·u·dad• que a lgre:a te::-:i-
FI d - a eoeen"ia e ca.s •
,or-aemolfes modulationes-(''modt.la:;ões amolecida~") cão perigosos para tifica, segundo J.-L an rm, -_: . r N~sas especuJaçôes. a
.a al!:na qu,nto a voz das ~e,eta3-; numa dfatri:x vigorosa, Pierre de Blors 1
t.a impor a seus clérigos a partir do ~1.:u º1 x1. 'o ""''bo man:íhto ·e:s-
:nvccfr;a os professores inc.tpazcs, cuja V02 torutrnan:e e clamores dig- tradição :ri.s.tã encontra-se com a dos ..."aba..,se.as.. •"" . •....Cusa o ~·~rbo m-
'd 0 " fo~n:e l\1ko.au~ ~on , •
no!. ce marujos no mr.r ta2!'!m ressuar Jt toa o ar em volta deies!G En- ponde o .,.e,bo ~-scon~.t .º: ~, '-~~ • • _ 'J.ra da lingua hebraica, ~m
!rc..' o~ aurores eclesiástico~ ::amo Alain de Liü~, o termo scurriiitas, no cal ao do espinto; mmeno ins~n10 na estrut so' exjste pela vocaliza·
~en1ido próprio de "bJfouarfa'", vem cle.!n_gnar o YIÍcio de quem fala a ~ s "onsoanLes mas que ·
que são escr ms so_m.nte ª. " . , ssibihtadas por es.s.as coagu-
maneira cos jograis, com abur.dãnda ~cessi~-a i! efeitos de voz. A scum·- ção, fonte inesgotavel das interprec.açoes pofí • •1·ca atravessa as.sim os
to de filo.;.o ta mH t
lha.~. glosada por R:aoul Ardem co□o sermo risorius ("derrisão lingilis-
• i;s •· . .
lações de s1gr..os. O mmime~ . d À. pura intenondade
1
séculos, de Scotus Erigena a Pico deJ~ M.iran o a.d,~o edênico enquanto
tiça"), 'lalurae deponii' d.'g1ri1atem ("rouba à natureza a sua dignjda-
. \! 00 f' gu.ram Juncas o es r..a •
dc"J e 1:Slá l'Tilre as diversas forrn.as da mentira.'\~enhuma condenação e a pura orah.J:ade do er J • . medem o exílio da Palavra
da pa.avra - da obra vocal - :orno taI. John of SaJisbury a.inda, no ed . . 'dade da e·crita e sua extmondaàe .
:nos nossas palavras ,i.-

Entfier1cus fVll. 1547 ss.\, dá os pre;ceitos de seu borr. uso: sir lingua mo-
a m 1auc1 J • l
t'-
por entre a nnitm?lkidade da!i ... 01sasÓJ"c o Rcdi.on~:r ao curso dessa
clesu;, compo.sÍ/1.i.! geslus ('·'que ma ·,oz seia .:-,e5ervada, e teu gesto,. do-- persas remetem ao reflexo cau:brado - aque ª: tólico colocar-s-e ::omo
2
minado"). ' .t\ leger.d.a de Francisco àe Assis, no tempo das primeiras rr ansiatio nomínum perrmtma ao dLs~urso SLID
. ling"J"f do uru,;e-Tho.
gemci5es dos franciscanos, acemuou a sabedoria pri'pria ao rudís, idio- perfeito equivalente Uo ico c:nlo- filosófico que
. 1 d a"ord.o com o pensam
ta, eJlllgl.i.is, rodos os termos significando apro.ti.TLadameru,e •'aquele que o sentIIDento -gera , e r" acão da palavra, mai~·~ ou meno.s. confo·
o susttema, te::ide a uma sacra ~ . .
21
dispõe apenas de ma voz". Nem. a mentalidade nem cs costumes, em Nada de espantoso no fato
tudo o qu~ concerne à fun~a. à d[gnicade e aos valores, parecem dis- sarnente percebi'da como enenna · .,. criadora.
. J . . • "go· tico' • for.nas _1m- ,
• "am?) no un.ag;mano .
tinguir o O :.dente europeu do r~o da I:urási:.t; os capítu..os consagra- de que sobw.i1,·am (ou ressurJ . i11·ca a \'Oz; órgão ambt·
• da boca que s1gnt,
dos :à palavra no Livro dos conselhos (Qábus nâmJ) do príncipe ricas ligadas à representaçao ' b .. o .nuanto à de,,.-ora-
iraniano Kay Kã'fü:, ao sé:ulo xi, ilustrariam adeq1Jadamente mwtos guo, boca comagrada, qu~do_se eala• tanto ao eJJ "1,
uando f~ origem simultânea
traços do meio cor.~ a palav,a é sempre percebida no vokme da voz. 21 ção; maléfica ou benéfica, Jamais n.eu01!Jj . de uma .,, z pura, despren-
da linguagem e dos gritos. Doncle a nos ~
0
L!:-Y.rrdade..Q..1!.e. DOS 1;>afs~ .::ris:ão~, subjaz a idéia- guandQJ1..!g b' .., __s no son!ios vi•
- - d ser· ~·oze- pcrce
dida dessas pesadas cond ,çoes o
LL.14
a lembrança fabulosa - do Verbo di•~ino. Foi pelo Verbo que Deus fez . . 2'l recorrê11cia do tema
õ mur.do.1o \erbo cria o que ele ::iome.i.t. Du.-ame seculos, todo o es- sionários de Guiben de Xogent. •~Z~ dos ~~~~ cerca dos pa aro '
n,rçc da"teologia trinitária má pensar "o paradoxo de,,;sa estação da de Eco na poe!ia letrada; transferenoa m~. ventura final dtJ mágico
paJaua divina. DO Começo"/J As doutrinas pelas quais alguns Lentaram modelo e fonte típica do grande canto cortes, auida m •nleve o império
Merlin, cuja palavra profética fundou e em eg .
/Jf)
JJ J
de Arlur: ,11 l•ru. enlr>mbé. i111·i f,.,c:f por rna!lilll, reduzido n sua ,oi ne r ou refe·tnc1a st, não ultrapassavam mmca ll plano d~ LmJ lo~ica ~a ~~g-
mra da nore.su de Hroctl1:m e, r:-,gunào o admirável. Lonn lot-Graut, . n ficação. Abelardo, como John of ::ialisl:iury. t..-t.lvri tCT1ha pre,s.,,entido
que. gra:~a:s 11 1,;ua adaptaçõe~ em\ árias Unguas, romantcm e germam-
rnrnou- e O grande cláss1co europeu do seculos xrn e xrv. A lm- a oposição. para nós ~au~suriana, de lanKue e parole."~ Assim visõe-5
~ g,ern jurídi: - tio próxima, por mas raf~s, d.a poetica -. e~~rl"-
0
in1uitivll>, às vezG profondas, abrem-~e periodlcament~(lOS ;;ex1os e:u-
diaos: de que dispomos) sobre o ,er con.:::-ero e o dinamismo pró;>:io da
8 tmno 11().t' ,em come:x1os divers.m, para de.qgnar a demanda JUdioaJ,
o ' 1 l l' . d vc?.. Ma:; nada os rcúnt: em do:Jtrina.
0 testemunho, -a pretensão a t:.m titulo, o fundamento ega ap 1c1to e
um dir!'ito. focem habere. vocem suscitare. i.l'l i.:oce aücujus, expre.,,ões Ena~ os gramáticos, a mesma d.i>persão. Para Q~11tiliano, vox é
apemfi um do.s a.specLos de ~·erbum: a palavra 1,;olada, por oposicão ao
que estão bem fix.adas nessa prática e cujo núcleo se.nânúc{) refere-se
a \'Er:.ladc própria que a ,•oz pró-dama... como traklho de lextuilizaçiio (locutio) e a:> disi:-1rso cons·ítwco (<Uct/oJ. Ao
ao pode-- da ::,ala,·ra,
. .. • d longo dos seculos, o u.so desses termo; vacila. 0$ glosa dores de Priscia-
no , 'cla-""Ilor de so::orro" [darneur de naro] do velho c.ireno norrnan o.
oo, c:.,mo o espaoltol Domingo Gund:salvo e" fran:::es Pierre Hélie, no
sécuJ:, Xit:, ~ó em parte fe emendem scibre a opos:ção que sei.. autor~-
tabele.ce entre l'OX e liuera: o segundo chega a a~~star a consideracão
Ta1'-ez romri.esse n:~ir1te1precar aS5im a tradição filrnófica (quase inin-
própria do !-tom e define por vo.x a prolar.'o anm,alú, a "arti~ção"
terrupta de A,elostinho a At>elcrdo) de refk!Cão sobre a linguagem: lugar
ou "enunciação" ,ital, i:;_ue constitui ;i ma,terfo da tecni:;a grama,i.::aJ.33
das rela,;:-,..~ do homem con~,go mesmo, com o~ outro:s, com o mundo
Em COJ.trapatida, os rec:'iricos não esqueceram por cornp;ero as parles
material, com Deus. É ,·erdade que os sábios de então tiveram dificul- anfü1as de sua arte, r~la1ivas à prática voc.:J, prc·nunc.ario e acrfo. O
dade pãra defüon:ar o alcance racional da palavra voz. Tulvez, como o
Handb"'c.'1 de- H. Lausberg fornece numerosas referÊ..llcias. APoetria nova
sugere Claodn• . ,:!O a querela. dos u11iversais, irltmnina,,~lmente
. . recome-
. . de Gaufridus Anglicus reton:o em termos parriclllcUme:ue claros o .uga.r-
.o11.:a acanetado a longo prazo uma 1mposs1bilufade de distm-
çad a, [e.,,.__ comurn cor:-ente a esse propósito:
guiT do çjgno oral o e;crito - donde a incapacidade de isolar o suprte
desse 53g:r,o. As ordens de percepção se ernbara[harn: a ·,·oz, a palavra, ln recitante som111 ires tinguce: primrI s.it or-is
Alten rhi!torici vultus. e1 rutr!:J ~!Mlr1r.
0 dm::ur.;;o organ.izado são rarnr1enre considerados em rua propriedade,
Sunt ·n vace su~e leg6S...
.... - outras · Agmtinbo, entendendo por ~oces as palavras
. · • r .:as d"a~
d mm.a·-
da hn,;; Ja. ~ 3 a;:; t;:irna,a por ::01sas corporais, c-rnbora o que signifiquem ~ ("Que três Jmguas se faÇJ.m cmenjer r.o retila:1Lc; que G primeirz seja
não O seia; com :sso.. as palavras são signos, mas as coi..5as, segundo ou- ,_.a da boca, :1: ~eguada, a do rosto de quem faia; e a terceira, seu gesto.
tra mod~l.lda:'.le, cambem osfi.:,:,. Donde um alegorismo, que permaneceu A vc,z: •:ompona suas pópri.u leis .."). 1~ Na E.a.lia d.as prine1ras r~;:>Ú·
até 0 séc·Jfo x.,,, uma das :endéncias mais estáveis: da rnceligéncia oci- blicas mcr;anris, Boncompat;no da Sjgna consagra um c:i.p:·tulo de sua
dental. A; palavras reprem1tam a realidade? Ou são apenas flarus .-o- Rhetnrica ,'l•-:wella, livro 1v, aos "Costume~ -;los oradofe)", e.,pecialmcn•
cis? Tambern es5.3. expressão designa, mais do que o soro em sua c:ristên- te ao tom, ao akan:e acústico e aos efeitos da vez; a obra do mesmo
da 00 fisi~, a voz enqlanto íntençào de sLgnifica:-. amenor ainda a to<la autor intitlllad.,,_ Palina .nsiste no qoe ele der1omlna disun,,:iu, corte rít-
-.ignifkaçà:. PoI •,nltci de 1100, Roscelin. a quem_se·.is ::ontempa:âneos mico, exigido pela nece5sidade de descansar 3 •1c-z. 35 J',.o Com·tvio, 11,
atrib,wa::r Oméfr.o de ter mn1gurado o nommal1s:no. iJ2.rece te~ perce- 13, Dame. cornpara:ido a Retórica .io plani:La Venus, discingue de sua
bido a ,.o, rnmc• uma auto-rcwlação da linguagem. consti1uindo o sen- aparição man1ina a~ue!.:t que se ob,;e;:-i,a à nc-i.c: a primena é a que Lraz
• • :tk- 1
tlOO • •- ... •· ·• lnear
•·r· i\•eTsa' ~ do;. ~cntido,;. particulares t> manifestos; para a ~·oz \'J"\·a dlr.cm:.1 a1 viso ue f'udnore (' 'na face lo ounme' ·); a segLn-
Ro~. , -, 1.uJa t ...,,a rãr ·nnhece~c-, J r 1.ame-ri--· a e-.:N"Tiêri.ia ,~a da se e\.prime rlo reflex:.., éa r~c~,tLra
,. ,~ na-n-,::!1·10
querer-Jl"er • , t~r
• é.. ~\lm rn111c1dido com uma aberi.Jra
. do E: r,1•uca LO!',a Ma, nao i:odena ~erque a re.<1rh-a randade <.:OS tes-
,er. ·1 o~ l'.:'llerp·-ete' d~ Aris o teles, P.-n hermen~1as, de B0ec10 a Abe- temunho, s1gn1ficasse ,.imple-,,;.11ente Que i~sr. d.~penav:.:. t>'>plicacõe>'? E
lardo, logo a pnmei ra \'bta j~:rontando. na d pta.çlo l,1u11a que utili- que, par-a a ,et1s1b1hcade d:>s sécuJos x1, \.J.J e x111, as iapl,cações o;ito--
7.a,-am. ,••.1 o:-. ermo, o,e.r ,p .i, ron ~ a oa r o~. 1 •tu da realça ai o evidente'> Para os ~as~ p:a..~ os ouvfn
1es, a •,oz tem que ver com a e5sência da poes.a; e as confis-.,ôes sobre
13]
133
e ,e ponlo se tor:1 111 mais numero,.as à medida que, na oc1c:Jade mo- dade ~ocal'' i'omnemqw• vocum fafrirarem}; em Elias alornon, □ pós
nárquica e ourg!lesa. u domfoio d.a eicriturn se expande paru outrn lu-
1250, o retrato de um coro de cônegos l1oneses, no q11al cada um se e •
gares. Konrac von Wur2burg, po~a as~alariado do patriciado de Bns1-
força para gritar na1. alto q•Je o outros, sem dúv1<la para melhor toca•
léia, na. ~tgu..-ida.metade do .sécuJ,o .,,-m.r.-comç:J:l'l:.suaai -,
o du mt:im, é oca, E m d 0t1 o ~ t
fim•• 1v.·ectiru) do rou."<inol; Jean de Condé, menesrrc1 do conde de Hai-
em língua vulgar que o jul!amento inc1<la sobre a fill lidllde t'OCal de
naut no con:~ço do 3cculo xcv, para elogiar sua oora no Dtt de Juco-
uma personagem cantora - às vezes •.do próprio autor. Para e:, e fim,
bins, embra que rodos os grande~ .ienhores da região escutam sua \.Or .a lin1mal!'em <loç poeta~ dispõe de dois clichês. incansa\·elmentl!: modu-
em toJos o, :ons. l6 Por ,alta üe l.::!00, Alam de LJ.lle, um d,-,s autore~
lado;~ •odas a.s línguas Um relativo à altura e à clareza do rom, com-
favo ri tos :ia .::ne:o lauúzame, Já dis.se-a em termos abstracos: · 'A poc-sia
porta em francês três elemen:os, em geral aüJmulados dois a dois: à vou
retra.a ;i:ara mc::u. ifltelecto a image:r::n :lo som vocal, fazendo, graças a
haure, ctaire, serie (essa ult:ma palavra, como o francês moderno se-
voz, i)a~saren a,J ato e que eram, por as.sim dizer, palavras arquetípicas rein, sugere calma e b.a.rmon a); é assim nos \'V. 531, 1158, 1202 do Guil-
pre;oncebida.s :io espfrito" (Poesis mentah mtellectui materfalis voeis
laume de Dofe de Jean Renart; em vários lugares do Roman de la Vio-
mihi depin.xit imaginem e1 quasi arcne!_vpa ~·erba ideatiter praeconcepta lette de Gerben de 11,,fontreuil; no alemão, em Gottfrie<f ,..on Strassburg,
vocaii:er prodtoit in acturn). ,, Tudc, se passa como se o discurso paé-
Thstan, v_ 4803 ... Os exemplos são inumeráveis. A outra fórmu ·a ~·oca
ticc medieval, aquérn ou alem de .5:ias formas líng_üísticas. aQuém da mais geralmente a doçura dos som, em latLrn suavis, du/cis, em fn:icêt
ideologia ma:~ ou .lllrnos difusa a qt:'.e ser.,·e, comportasse um elemento
suave, doux, e o equivalente! em outras 11.nguas, como o dulce co11Lar.
quase rn:tafisico, penetra..-ido toda palavra, mas expresso apena~ no tom, cspccia,mentc freqüente em espanhol. Desde o século X!, o manu~uito
no timbre, na EJ'Ilplitude, no jogo de som vocal. D onde a irn7onância BNlat. 13 736, dando da velha Chanso,PJ de Clothaire a ''versão b?eve"
do canto como fator poético. Há wna dezen.a de anos, A. RoncagUa apresenta e.ssa can(ítena con:o suavis na b-oca dos camores. Na primei-
]emjrava-o com ra2âo num estudo que situa\·a a fiJologia românica em ra das epístolas atribuídas a Heloisa, e-sta louva "pelé extrema doçura
relação à etnomu~icolog:ia.
das palavras e do canto" (prae nimia SUa'll/rare tam dictcminrs qlli1m can-
Urr gosto mui10 ...ivo parece então ge-ra!rneme difundidc, deixan-
tus) as canções de amor çue outrora Abelardo compõs e cantou para
do C· ~.rande público. tanto quanto o;; sáh~os, sensitd à riqueza apressi-
ela. Por várias vezes, Gonfried von StJa.1.Sburg evoca nos mesmm ter-
i,•a da '/O? e am valor-~s q·1e seu voJume, suas inflexões, seus percurscs mos a voz de Triscâo (vv. 75:9, 7608, li' 207 e outros); nos~"''· 362A-5,
atribuem à lingu.age:n que ela for:maliza. Durante toda a alta Idade Me-
especifica: é de sua boca que o jovem homem forma essa doçura (sane
dia, cuida-se da qua.idade e da graça da v·oz dos jm•en.s clérigos ordena- só su<ne mit dem munde) ... _'fos séculos xw e xv, em codo o Ocidente,
dos "leit01es' '. ;s H ugucs de Saint-Yictor, no livro "11 do Dida,.-y:aficon,
taJ vocabulário serve para manifestar a admiração pTO','O<:ad.a por una
fal.an.dc dos "cantos mímicos", escre,.•e que "satisfazem ao ouvido, não voz agradà,,el. O latim ut.il:za nessa função diJ!cisonus, referindo-~e ramo
ao espírito·•~ .i força ~i:. irr:agem sig::i.mca por si mesma.J51 Em toda a
aos sons dos inscrumentos q:iamo ao que produz a garganta humana.
parte, consolida-se um agudo senso das "conveniências" \'ocais: mui- o uso assim dpificado de dulcis, suai•is e seus sinônin:os não pode ser
tos tes1crnua.l1iY.> escritos :iue nos consecva.ram provêm de homens da Jgre. efeito do acaso. Esses adjcti.,,,os remetem, diretamente ou não, à n:J;ão
ja ciosos d;:s qualic.ades auditivas do cama sacro; todavia, o vocabulâ-
retórica de .r!h2~•aas, origem da delectatio proporcionada Delo discurso
rio que: t:rnpre~a..'11 ~e p:-estf:! a uma int!!l'precaçào mais geral. Trate-se de
no genus medium ou humife - termos que, aos olhos dos s.abios, abar-
conselho. s:>bre a sahnodia, de canto GJOlifônico ou de d.isdplir a coral, cam a conjunto d.as poesias rle língua \'U lgar. Tal é o sr:l soai•e e•'Ol'.1do
as qi,;.al.i.[,cações referem-se à materialidade de seu vocaJ, vox rotunda. por Dante na ::ançào que ele comenta no Con-rivio, 1v, I; tal é o dolce
►•irifü, ,•i1•c et succinc!a ("uma voz redooda, ~•iri], viYa e firme") em Ger- sril novo cncão em ,·o,ga em Florença: h.armonioso na boca de cuem o
bert, por volta do ano lCOO; decora 1,o,c,is siw soni... -vibratio (·'os orna- pronuncia, com \'ÍSta a transmitir adequadamente a men agem de in:or.
memo~ da mz, isto e... a vibração sonora'') em Jerônimo d.a Morávia, O canto "$ua~-e" que evoca e alegria do Paral o! c..ultaç!o voai, co-
no século )(III; ou, com humor, em C►-rbert ainda, a e-,,·ocação das vo- ros, salmos, cânticos dos eleicos e dos anJc1,; HX't jocundü ("<.te uma
zes ibílantcs ou toniLruantes de histnões, ,..ozes "alpestres'', compará- ~oz que espalha alegria"), para Jean <.lo ',,fur.1, por volta de 1 , na
veis ao rumor ele urr. asno ou ao mugkfo do gado, causa de toda "falsi- explicitação de sua Summa m:1sicae-, voix delit, .iemne ti c-/e,.. C'um tom
J34 JJj
••

ele,,ado. uma '1-0l pura e clara' /, rara Guill&ume de .\ Jachaut J :ida r.o
prol ~a1."' <lt· s:J.1, pcesius,
1,., ~ 9
41
Em diateto ~Cllano, o rade me-
nor G.a corntno da Verona. por volta de 1265, desem:c,lve lor:i,gameme
esse tema ein seu pocuia De Jerusalem ceiem, reforçando u e::1:0 pela
descri~.lo a.m,tetica do~ garudos du~ cordenados ao Infrmo ,.
O 1 1.i Lternr.ti, \~km2actt> pela doutnna erudita, ref1etca a se□si­
••
bilida.de comum . A o lo ng o dos séculos, ;erto riúmero de doLUrne:it :1~
penmte- nos capu.r 11 m eco do!> julgamentos que <füerso!t públicm fize.
ram d os intérpretes da JJ<}e.!,ia. Mais de quarenra dos Quase tn.-zenrn~ ·ex-
li
A OBRA ••
to~ reuniJos aot1gamcnre po r Farar em apêndice a seus Jongleurs assi-
nalam, para disso fazer eJogio ou censura, a qualidade füica da "Oz.
Do mesrno :nodo. dezenm·e das 101 Vidas de crovadcres dis1ingue:n t:.l!:-
••
pressarn cnte entre a :me poélka produtora de texto ,:O trol:>4r} e ei opc-
·ação vocal que o manifesta lo cantar); é o caso das Vidas de Pei:e Vi-
dai , de Arnam de ~faroill. de Guillen, Figu~ira, ao rr.c:;mo t:mpo \J,Jm
poetas., bons mtísicos e bons ca.n1ores. De Peire d'Al"ernbc, o "biógra-

••
fo'' relata os krnios com que o poer.a louv;. suu propria vo,:; tal vo1:v
que chama óesobre e/ dezot{; t! Sle/ s on sondou::. 'e plaun c·l.J.llla voz
capaz de: can!ar tão bem os sons altos quarto os som baixos. em melo-
dias doces e agradáveis"), Em contrapartida, a Vicia de Almercc de Pe-
• ••
guilha"l ex'lrime Lm J)t's.ar: por mais que tivei-~e aprendido canções e s1r-
venres, canrava mal! Quamo ao pobre Élias Cairei, toca"ª med.ioCT1;TTJente
a \ iela, can1ava rn ..J e folaYa p 1u1 aindar Sua umca qualidade era sa,er
••
escrever .. ,\ voz como cal, em sua existência fisioJógica . está situada
no comçio de unia pvi:(ka.
••
••
••


••
IU


7
A1EkfÓRJA E COAILSVIDADE

1\-femdrú1 e laço .social. lnJervocalidade e mm-incia. Os relés cosw-


me1ros. O poder vocal

f,1- 'A ,·oz pcetica assume a função coesiva e estabilizante- sem a qual
o grupo social não poderia sobreviver. Paradoxo: g;;aç.a.s ao ~·agar de seus
~nterpretes - no espaço, no tempo, na con.s.dên.::i:a de si -, ia voz poéti-
ca estâ presente em coda a parte__._ conhecida de :aca um, integrada nos
d.i5cu.rsos comuns, e é par.a eles referência permaneme e segura. 1 Ela lhes
confer= figwadamente alguma e;matemporalià.ade:- a!Ja\'és dela, perma-
necem e se jl!stificam.~erece-lhes o e.spetho magico do qual a imag_em
ml:o se apaga, mesmo que eles tenham passado. A.1 -,.•ozes cotidianas. dis-
persam a.s palavns no leito do tempo. ali esmigalham o real; a 1,•oz ])Oé-
tica os reúne num instante único - o da performanoe -, tão cedo des-
vanecido que se cala; ao menos, produz-se ess21 maravilha de uma
presença. fugidia mas total. Essa é a função primár..a da poe.sia; função
de que a escntt.t.ra, por seu exce-sso de fixidez, mal dá conta. Por is.so.
os modos de- difusão oral conseorarâo um status prh•Llegiado, para além
d.as grar.des ru;:turas dos séculos xvr e xvu.L:_. \ ,·az poética é,~ mes-
mo tempo, p~ofecia e memória - à maneira do duplo Livro que Merlin
ruta no ciclo do Lancelot-Gronl: um, na Corte, pr-ojeta a ave:ntura; o ou-
uo, em Biais.e, eterniza o acontC1:imento. t1 mernória.,_por sua vez~-
pl.a: coted1.rarnente, fonte de s.aber; para o indivíduo, a.p~idão de esgo-:.á-
[ã e e□riquecê-Ja. Dessas duas maneiras, a \ 'OZ "ºética é memdria,J
Gera.~õe:s de jperuadores, de- Agostinho a Tom/i:; de Aquino, inter-
rogaram-se a propósito dessa faculdade ambígua, naquilo que concer-
ne à tópica ou que s,e mantém por uma. vúsã.o e ca[l}lôgica ou moral -
tendendo sempr-e,. pela repetição dos disc:ursos, :à ua inserção numa i,-er-
dade tida por im·Jthel ou, ao c:omrárlo, 3 era.r ánfinno.s varia ões. Pa-

119
rn .i 1radtçào ago~rn11an.i ri memoria Lorna a alma prc3'.'ntc d1.1111e de
r '.J~ntt mt'd11_.,,a) (•S tenha ja1na1s formado, a não \er os skops, escaldos
! barfo~ dos temLório~ não romanizados na época mais .an iga, Em con-
,i meima l" ta1~ e rc:-ept,1culo do \'l!rdadc.-iro. Parle da pr"dePTr1a, a me. trapartida, proc galimu no_ l~eio escolar. pelo viés do emino reton~o,
rnóna humana e- di tingue, para o~ tradutcre5 latinos. de J\ristoteles ::liversos p•e.:eitos para corrigir a fraqueza das faculdades da memóna.
em memoria e rem11mcenrio, que re~pectivameote se põem no lubar d;::. fà tradição anlÍSll da.sortes memorin.e, transmitida no Ocidente )NlaRhe
alma scn fvel e da alma intelecth·a. 1 De fato, ela ::nvohc: toda. a exi·- roric:il. ad Herenniwm,-ICB.tiYf:J-se no ~ulo Xlll. em par.e soõ .a ínfluêii-
lência, penetra o VÍ\'ido e mantém o pres'!nte na continuidace éos dis- ~a :.los dominicanos. :-:os i.ttulos XI\ e xv, 1madirá o campo d.a esco-
C"Jrso! humanos. O Ncwo fest.amemo é a menorfri do Antigo, na medi- làstca. Teorizada, desúnada a abarcar a universalidad:: do ..abcr, a ''arte
da mesma em que este co'.lstitui sua figura. Donde a metáfora poetica :1a mc:mólia" s: orien1a para a utilidade c.J. palavra: sua fimilidadc- é
do "li'.To de :tr.tem6rü1"; as.,im eml. no frc,ntisp:cio da Vita nava de Danti:. um discurso vir.uoso. Ele se manifesta nuill aro de enunciação. Bon-
Foi no tino de minha me:,,ória. diz o poeta. qu-e encontrei escritas a5 :ornpagno, em sua Rhetvrica novel/a, cons~ri.t à memor,a t..m !ortgo
palanas com as quais ,,·ou compor esta obralPonamo, a m~ria não ;;apítulo que alcança a.é a psicologia, recorrenc:ando. para melhorar o
1: Ji,ro senão em figura: ei-la de=;i_gnadé. pafa••ra ·•i\·a, da qual ema.'la a rendirnen~o, a rr.od:::-ação m1s Hbações e na conjunçãi> camal' 3~~mo
cnerêrcia de uma es-Titura; a coerência de uma inscrição daJ10mem e que O_§ auLores dess:~ trata:io.s e-o pubfu:oao..qud se dirig:.:!m.pe~ten;am
de s ua. htstóri.a. pessoal e coletiva, na re~.lidade do ccstino. ,f.Sf;e ú1t~res-
ao meio rt.!&tnto dos míciados da escritura, a concepção da memória que
sc ""l~la memoria, contínuamente manifes1ado pelos dout~. deve--se .io
transmitem im,..Bli~Ce.J.UDa -i>Ii5ença real dos cor_QCs: um laço,
irr.~mo paiJC] dc:scmpe:ihado .ie~sa cultura pdas tr.msmissõc::.~ or11.s
~particular, mtre a me::iéría e a vhta, fundE.do ~obre a fLmç.ãc da
tr:uió,s pela voz, da :iu.d a poe_,;ía constitui o lugar eminent.t:. Uma m,;:n-
imagr,:m e de sllas nlaçê~ com a :palavra. 1
~a~crn escrita, oferecida à vist.a, uiunfa sobre a :.füpersã.i c:~m1liu l,;;:111- o que entra em jogo nr> .ntêrprete de po~tia, no mo:-ne:ito em que
pc-~al por extensão, por prolongamento, de ta· modo que cobre ei~a du-
& reriui,itada sua rr,emór.a. é ~lgo mais do que uma sim_plts mem.oriza-
pla ciuraçào e se dilata com ela, se for o caso. Lma 0QP voca. tende .;:ão 1\. B Lord, a pn>pósiLo de camadores iugcslavos, :'é.lava de remem-
ao me~mo fLm por meios contrários: reduz a duração à it~raçào indefi- l,e,-;r.g, "remerr.oração''. C>jforme o intérJ)rt..-te. na perfr>m1:rnc.l'!, can-
niria d,: um momentu ünico; o espaço, a Lnicidade figura.fa 1k Lm só te recite ou leia em vol alta, limitações de maior ou me.cor ~orça geram
l uJ!a.r afetho. ~a ação; ::te qualquer m,)do, "orém, esta empenha uma rocalidade p~s-
U:n clid1ê, abundantemente atestado através de toda a Ell'opa, do .soa.: sttnü1tane.:.mente um :odiecünento, a in:e-!igencfa. e.e gue ela se ia-
secvlo x:1 ao x:v (hoje ainda presente no discurso do velho borr: s.en- ~ , r e ~ e . nsrcnm, os mmculos, a c.espímção, um talento
sol), ji..stffica o uso da escritura pela fragilidade d.a memória humana. de rttlabcrar ern tempo Ltc l:.eve, O senrido pro.ém de !ai unanim.ida-
Esse ··also adá~io testemunha a pressão i,;ero:1da sobre o meio pelas men- :J.i::. Dund: a ne.:csdjade de 1n hâb1to q.1e oriente esta uit:rna, da po~se
talidades e..s:~iturarias em vias de difusão. >.!as a poesia, como tal, lra1 de uma u!:,:cnica elocuL'iria ~a.r.irn)ar, que é a ane ca voz. No correr dos
um sater. Ela o m:o:ihece e não cessa de recl)n~~ru í-lo. dando-o a co- séculos, muitos intérpres:H :h a,gum re,ome foram louYat.lu1:, pur :,;u!i
nhecer. Erg-i;e uma ordem totalmente outra, dife:-ente dos mement:Js c~- hati idade de '.larradores, dt: ca□1ores, 1)ela riquera d~ seu repe:-cório.
c•iti1, A e•nologia con:cmporânc-a põd~ e-stimar que fos;e de t.hlcl.\. ou ~n•es do século xv, par.-~t ~,..ç jamai.s alguém a:: ~abt.>u de .ma merr.6-
três ge~açõe~ a duraç-ào de validade da, l::mbranças pessoais, no seio na. Ela oorna nacuralmemi. Ma épo,::.a em que se- invema a imprensa,
dii :oll"unidade familiar. medida na1ural. ~rn d t.hida irreontr.el l\fas, t Jao muda. Uma caca lt · .Wí. publie.3da por J Werner, :anta a esru-
par.i além desse gru;:,o -ooal estreito, rr:e1:1órias longas ,(; CGr;;tituem
!J:efi;ão, até a incredulid:1de, :)s sab10s a!emã:s quancü d;: 1isita d:::
p.)r nrrnaze:r.amemo :ie ernbran:;.is nd,..idua1 ; á cont nu1dade é a•sc
um JO\en1 e,panh.:,l dt.: . J r,_,. ;Ur '.al:N11.:mcu 11. .,.ua~ (aLlra u ··, ui-
g,mada ao preço de urna muttiplic1dade de afa5tamentm rarciai1. Aí, gar,·, "') e era capar de ·e-.:m1 de cor a Eiblia 1:-.te ra. Nicolas ae Lyre,
ain;la alcancamos um lim11c que n Gucn~. fundiimcntando-,e cm te,- cs escnw. de ,_ Tema~, ,',,l.érnde1 of Hales, Boa\. ·mura, Du:1, 5Lol L!
lemur hos medievais, füa cm um lo no m 1mo. 2 Certas ,o ietla- • 'n::uilO cutro " sem CJDL1ra1 decret.als .. suas glo as. Lodo o Avicena,
di:~ ::.1Canw 1-:ria.i paliativo p.u-a s Diu I rn;i , rn mum o pro--
Htpocratcs. Galeno... n:a:;,> v.ria:e, aprnas ur.:a 1 arte 1(' Ar stótele-.s'.
íiss:on.us que eram herdeiro!> da memór,n. p1eso5 à ltternhdade de um
Os dout(t~ perguntarn a~ ru1:,s: esse jogral e:> w la a ciência é mspt-
dísc:.uso e ::ajlazes de ír :nuito longe nu p,t!>,adu. Nau patf'I.-C que l• Dct

/4U
rod!o por Deu~ ou pefo diabo? Não an1mciarl:1 ele o anl tUt Ho'!' Cc:m "llJb i,.1 i11c.Jica nos co.,tumc:, c•,n ew,1, ifo. ti llCno:i fica1 Qunlqu ·r ~ tLt.:
a.nos '.TI .US tarde o con~ado de h1sroria.s Romáa Ram1re,, cor:io ~·mm,, ,e-J .1 , u ,cn ha a ~.IL.ffi ,d d Lrn.11 r-...wh\. é guc essa tIDC ia, até. .o
paga ria com sua vida aquilo que. para o) inqu1s1dores. não tunciona:ia sécuki xv e cm todas as suas formas, ..:oorol>ora IL'"TUl \'Crd 1de ~Qnhe-
~em as ar'.es do diabo cida e Ilustra p 1rad1grna1icamente a rt0rrr.11 socm1 1 Foi :só p1>uco pou-
Na medida rntsrr.a em que o 1.Jltéri::r ete empenha ~.;sim a toUl.lidade co, hm1tando-~e t.le mfoo a certas clas5cs de t~l , que ela veio duso-
de $Ua presença com a mensagem poética , suai v,:>z trai o te,temur. ho oar o pnvad o do publico e, depoos.. o eu do dcctrto n ,
indubitavcl da tnidade :om um. SJ:c rremóna descinsa sobre uma e~ só a escritura distingue eficazmente e::iL~ o; te :.:> daqudo cuja an4Jl-
ped e de ··mt."IT Nia popular" que não se refere a un a coleçãJ de Iern- se ela perrrute. No calor das çresenças iimu.ltàn~ cm performance, a
braõJças folclcíric.a~ rla, que, sem. ~J.r aJusta. trar.sforma "':-e ..- a voz po,é ica não tem ourra fu.1.;ão :ier.: outro po:ier senão exalta• c,sa
cfücurso J)Oet:co se ime~ra por ai no d1.s:·1rso ~eletivo, o qual ele clar;i a ::o:n:.i.r.idade, no consenumemo ou oa , :.mée:::ici..a. Ou, emão, o tnunfo
:_ rn.agn ifi::a. carreada na íluid,e: c:as foi.ses pc-itica) prcm1Jnciadas r.ir;; ó esc~Lcura foi combat1do, cardLo, e a.s men'..a.b :.ac.cS escruura15 perma-
et mmc. nl.o deua iastaurar-se a diitànci3. que per:nitíria ao olhar cr'-i- neceram muito minoritárias ate o sê:::ulo x·,1 ou x,•n. Por isso, a dife-
'º sobrepor-~, a ele. t:ssa couJunturi:l, é verdade, modifica-se localmen- :-ença (aliás, mais mtuitiva do q,ie empirira) :r1e e~r.a.:.,eLeamos enr.re ''fk-
te, pouco G p<Juco, de~de o século 1(11, à medida que se constituíam os çãcr e "realidade histórica•· se aplica ::oal a esses cacos. Eles procedem,
grupos :;o::iais cirad:nu~. \Ias, por rr.Ltito tempo, nada atenuaria a efi- em seu conjunlo, de uma mesma ins.~à::,,:ia. .a tradição memorial tr.ans-
mit i::a, enriquecida e encarnada :pela ~,Jz..,D:mde o prestigio do já dito,
cácia gleba! da memória vocalizada: nã:J é eia e que reivindicam ainda
do antigo. Toe-:> temp-0 é tempo epicc, - me:Jiàc ai;,enas pelm movi-
os poetas t:o !!éêll.lo x v e do ;:irópno seculo xv1, quando celebram seus
me□cos coletivos das sensibilidades e dcf ::x>:-po.s, n.a harmonia da per-
prlncipes? A ind.sc·Jtíve1 (porém muito relativa) aceleração d()s ritmo~
forniance. Tal foi, durante séculos, o ,;._ra;:o ftm.iam.e:n.tal comum de uma
blsrórlcos a partir G.31 s:egund.E. metade do sécuio XH não impe<le que Sj;
cultura, e as manifestações .inces.san~ e muito di1o-wmas de sua criativi-
possam ligar as estrutaras :t1entais e as formas cultuajs do Ocidente,
dade só o modularam superfic:ialmeote e. po:r ,-ues, obscureceram-no
0

até os a.,..redo.,..es de 1500, ao modelo ao que Graus~. snter::ormente, de-


morr.entaneamente.
signava cultura. d::> ''pas~ado vivo". Mas :aJvez (pcrque eJa é i:oesia) o
que di1 ts~a voz, o que ~la sugere - por sua in,emi:oralidade, pela pré-
pria peifeiçtio que, em sua ordem, a dísilitguc dos outros di~cusos -.
• (:'las longas durações, a obra de me:nória oom ;:rtui a trad ~
,;ã?"·I~ e-
seja menos o que: temos tm comum. nós, seus ouvintes, do que isto gu~ nb~.a frase é a primeira. Tooa frase, cah-ez toêa palavra, é ai nrrnal- .,
nos é comu_m a todos e, do m~mo modo, impn~~fvel: para alem de oos- mente, ,e muita5 vezes efcth-amente, cita.çãc· - deUCJ mO<l,o pouco dife- ·,
sas fromeiras, o rosto daquilo que a nós, indivíduos, seria a morte. A r' rente do que acontecia na escritura dos ktrados) em relação aos clássicos
~.feita \IOZ da memória - forme-se na gargsn;a, m boca. no so_pro e aos Padres da Igreja, do século L~ a:o x:i. O. Scllwe.iklc pôde preca- ')
de um poe1a ou de um padre - tem como fim últin:o, .se-m duvida, evi- cller urna coletânea de citações feitas, 10.5 dos outr$.. por quarenta poetas
Lar ruptura~ i-rf!missfv~$. o desr~rfa,.am.ato de lillU'LJJ.nÍcfadc ii'io frá- ' ala:rnles do sérulo xm. Nao volto a:qcri ao yue j ~ :::scrc","i sobre a tradi-
git ,Nessa tarefa, ela só tem à disposiç.ão duas ~tratégias: i.nt~tiva, ção, r.:um lhm já antigo;' o.s termos ab:la me pa_-et:em válidos e foram
amr.nir1do até os Jim.ites do po~sível o e5.scncial d~s paJarras jí pronu.n- ron:fi-macfos por pesquisas mais reo:::nc:1.1..:>\ t.radi;;:ão é a série alJ.erta,
clada.s er.rre nós; ou propriamente e,.asiva. recalcando, censura:1do es- ir.rle-furidamente estendida, no temQO :: :10 ~a;o,. ::las ma.nifestaçoes 'l'a-
sa~ palavras (ou alguma.5 celas) cu:n WII ~iruples ::inglmenw, o infanti- rirh-ei5' de um arquét~. uma arte tradiclcoal, a criação ocorre cm pt:T-
fürno cie quem recorne;a do zero. l\'o tempo da reclusão feudal, nas fo:rr..ance; é fruto d.a enunciação - e e.a, r~çà~ ,que ela se assegu.,a,
pcquen~ comwü<lade:s de base em que o Ocidente iarefazeodo ..s ener- 1\-eiculada.s. ox:alrq,eate, u. midições pow1m1y ?01' isso :::r:esroQ, ~ energia
gias, essas funções da voz poética tive.mm, pr0la-1-·e1nlt!nte, um aspecto .2articui.ar_.- origcm de suas 1--a.riações.1,Pnas lei1:Uras públicas não po-
vita: ::O.'lliibuiram. para a protoeão de grupos isola dcs, frágeis, que elru. dem se:r ~•ocaJmente id!nticas nem, .an.: ser rtad.2rai,õm~o
cncaru:aram em tomo dt seus ritos e eh :embrança dos ancestrais. Quan- ~'&.ti-do, mesmo que partam ~j&yal twliç!OJ S ua, variantes slo às ,-c-
to n ah ~e retoma TIO prus.a:lo, mais se obserr.t essas funções, muito pro- zes pooco pcroepti\'C1.:, e ct.tS efeitos sob.."C a cmL ·c1adc do rquétlpo,
grts~vamcnte, dilu!rem-se e decrescerem; a ;,asszgem do car.to à leitu.--a mal ob,cc.·áveis nas d u.rações curtas; e.las li:eralmc-.nte não tem testemu-

142 /;IJ
"h D.: J 1eo 111 dos ''estados late,te,;, · , tor:nulada hn 111eic ,em lo qua1,que1 que ,cJ:mi us modalidade,(' o c::-.1.lc, de performa:1~e - e,-
por tenenó , Pidal a r,ropó!.ll0 da epopeia es;ranhola anúg;i o "tex- c lu~ivarr,cnte tll:a \OZ. No u:,1ver;o d05 ccnta o; pesi.oais e d.i<. ,~nsi•
to" cx1 te de modo l tente: a voz do re:uanr~ o atualiza por cm mo- çõe!> essa> rebçóe!~ imervocaís têm que ver ::om as que1 em noss.a prá1i•
mento, depm de retoma a eu estado. ate que ouuo re:1tame dei~ ,e ca rrcdema, ·nnaunm-se (com menos culort} enrre o texto crigmaJ e
apropnc. knrndez l>idal encara,-a a.ss.m uma tra..'.11ção puramente cral. sl:'u comentário ou ;ua tradução.
ia> ua c:or.cepçã-o se aplica muito bem às tradições cornpl:xas, nas q:.iais [As8m, a intcrvocahdad: se de~dobra ~i.mu.ll.é1neamen~ t r ~
os textos ~ao 1ra.•u;:rmtido) pela voz. picos_;_aquele en que caCa ®curso ,e define como o lugar de Lransfor-
LAtradição, quando a voz é seu iru~• irr-=nh1 t:..ta.mbém. '10r nAtu- é maçl~::11cdlanu e numa palavra cor.ereta) de enunciado.; ·,-inàru c!e oucra
reza. o dorrJnio da variante; daquilo que, cm m•.litas. obras, denominei parte; o de uma audi@o, h,c et nunc, regida por um código mais ou
mc1\.'encfâã::>s tcxro-s"J:f.iencio:oo-a aqui ma.is u:na 'l'C2, "ouvmde>-a" co- menos rigorosamente formalizado, mas semp~ ele algum modo, ir"com-
mõüma reaêffi"'cãl1mensameme extensa e cocu1; como, i distânci3, li- pleto e entreaberto ao imprevisível. enfim, o espaçc~_Jm~mo a.o :exto,
teralmen:e o murmóno desses seculos - quar. de, n.ão, por vezes, is,:>la- gerado pelas relações que aí se amarram. Muitas car.ções ae :ror. vem
dameme, oono a própria ,..oz de um i.ntêrp:rete.. J1,luJté:S \·ariar.tes, franceses do século xm, esrreitame::i.te tributárias da L--adição de regis•
abusi,-amenre redllZi::ias por uma filologia d:::, e!êC:nto, permitem-nos re- tro do ''grande c:anto conês'' (primeiro espaço), apre1-ent.a.m•se ::orno
ter (o:ir.fr) uma intervenção circunstancial: aSSJrc., na peça 14Sa dos Ca•- ~ançãom:wa (se211ndo espap). mas se recheiam de refràos empr.stad:>;
rnina B.Jra:1a,6 as hesitações da tradt;ào cn.....m:;;::ríta entre chi-i11irh e JU k pro,•erbfo, (1erceiro espaço).
chúnegm ("rei" e .. rainha"), no "'erso e;n q".le se deseja que ele ou ela ?\a falta de ptla'-"3s mrlhores, emprego aqui os Lermos arqi:.étipQ
/egP an mil!em arme-n ("repouse em meus. bra;xH"), reflete:-n, seiundo e voriacões para subsumir todos esses fatos e retenho a variaç:ãc• pelo
o que eu di;se. uma diferença das situa.çõ:s de performance. Os escritos índce da indív:du.alic:ude ir:educívl!l :ia voz.:...fll'JlMtlff!S! refere-se ao ti-
que perrluram ~ão, é \•erdade, demasiado escass.03 ou demasiado aobí- xo vertical, à hiera-quia dos textos; deiigna o conjunto de vÍrtu.ali:Ja.des
íi
guos para J05 dar uma imagem global da fleril::Jiéade e da llberdao~ p r ~teutes a 1 ~a producão tenual. Entb, mesmo gne um i .e::1üên~
das tra.,s:nis~ões \'Otais; pelo menm, :Dmo neHe caso, rugerem-na ao eia lingü:stica (1eno) stja escrita, memorizada previamente à performan-
Jeitor alento. A obra.1. ao mesmo tempo gue •JID. Jato pw:ehlda como ' ce, ela :nostra tinda o arqut1 1po, permanece v rt'.lal, our.;a :ebção com
ainda .r :caliz.àdo. a.cualiz.a o dado tra:!.ic.onal O dado tradicior.::il e-.ll.i.;- ~ o que será perf;mnali:ado. Tal é a co::clusào impl.Jci1a. d::>s tral>aJ1os :I;
te, vir~alida:le ta:1to poética quanto :::is::un:va.. :ia memó:-ia d:> inté~- ~ Jill J. R,·chner, recentemente de Ch. Lee, subrt'. as variant~ dos./aMaw.:.
prete e, ge'J'at uente. na do gru))o a qv.e: e':e per~..ce. ~a i,-edida em qi.:~ Do ponto de v:sta do historiador, o a.~qi.eiipo apare~e oomo o ~e1e ~
esse daoo ::oncer:ne à composição e às esU1Jturas, e- 1e>.10 o reproduz mais lmJas de Jemdhanças que .,garn um texto a EH.ttffl-e-tf\l~~ eut1e ú
ou rnen~ fie menL,;:; enquanto dlscurso, ~~ocr:.r-se i:r.tegrado r.uma ra- ásJiversas performances de um te>.tc que se presume (por h:ipó:ei;e uJ-
lavra personalizada, no fio de uma in:e::i.çã.o c:::ginal, não reiteirável. ve2 anacrôn:ca) é nico. A existência d::sse relé impede-ncs de :i:ensar cu-
Certa.11ente, esses fatos podem sc:r jul!ade<;. :1penas de modo indi- mo direta a ·efaçà:> de texto a textc, e me-s:no de per·orr.:ance a perfor-
reto e som~nte gua"1.do um mesmo cc;ro :to! :enh.a sJdo transmitido por mance. Ela coJoca a rtalidaJ.e da tr.ac.ição e mdTitfo,ta J fun:;onamert:>
,•ános rna:iu~crros ou (mais md1recarnent: aiD:Ja1 quar.do dele te:nos criador da memória.
uma v:~à:> em lmgua estrangeira. A arn;,1!.tu:ie ja mo,.,·ência no) apar:• - -..\·· "traJ1ci.inalidade-", l!Screvia \lenende7 Pidal, "assim, lação fa
ce emão muilo diferente, de género poeu:o a .;-:n.ero poéticu, ~Le 1.k Lt:.~- mesrn,_1", procede da "ação com,.nua e i~n~errup'..é. e.as lariantes ·'
10 a certo. e 1ambêm de século a ,écu.10. TQdc !!:•:lo ~gi.scrado pela e:;cn• Combina (conl:'ariarreme t transmis:-ão purau:en:e ~~crita.) reprodução
tura, co,.-no o lemo . cupou, pefo menos um .i • p;coso nwn conjun:;;:i e mudar,ça· a '11'nvê,ic1a é criação oor 1mua. Menêndez Pidal n:mtrava-a
d~çôe-s ·n6\'eis e num ~tt~ He produç:~ m11ltipla,. no cor~o de opera,do na tradíção do Romancero, exc:mplo de excep:10nal ::1que7a,
um oon:erto de ec~ :ro::1pfo urra munr!J..."11,.dade,\como a "1nter- scgu.r.do se a m~:-abundârda do, do:umen:os c;ue l};e concernem. Cita-
e 1ero w e tam;:iém aquela do cantari 11al1a::os, acerra dos quais os trabaUios
em seu aspecto de troca de pala\ ra) ,e de 0001\ bcu. o:1ora; pohforua dr 13anm B.d<ftnno, ½ramni e ouros, n~~\ ·
perceb da ~los de,1 ina1anos de urna ri-:>!:~1a que he l ~omun1 1da nossc conhec m~nto. Mas e no :onjumo d::i ~ampo medievalista que s<:
tolo~ 1;i,1s 11-;1,1riaLfo~s um c,rnblerru, J e vur a1 •eii c1ue ultrap:1s~n :.l! ptr •
pectn , ~ J« f 1fol "~ 1 trn.'.lic1 on,11. Ap:5ar d~ nem \empre c;c abordar r,
& c~crHuru e :suas e.•.igenctas ré1.nims tla•cm mbre n c-omp1Js1ção, o mo•
do de uansm11ir, a. corL•e•vaçâo da, obra\ p".lft ;,....,\ :àl.,,-ez ess;:i~ c.hte•en
enufüJOd(, cm termo, ~ue se referem ;'1 ~ne;1lidade dQ<; 1exto,, esta per
~.ai po am mect,r margem de 1berdllde de:xad·, pe o~ tt:Ato à · oz de
nancce na ;nm1, arnd1 que lâcita ou mmlun:.ariammte. Ma. ., ~ale con-
.der:i{ iJ• r • . do gue c.m ~Ja.si.ce:;,._,
~"'- !4"mP9>w. r' - ,ada UI'1 Je ,eul mttrprats. \ <l1,1fincia, o conJunto de nossa velha poesia
1 J-ato~ em ~w~oma .-1 ~ u .

e.parece, n per ;peruva, como u:.n en~ ento ~ quais


'::!,_do dos homens dcs ,éculos xc:, xm,. XJ'1, que foram a origem, o mei
:ad-:1 um mal reivintfü:a •ua au-onom a. Contornos fromo o 1m1t11rr
e o fim de nossos le,jto; - .,1..1torcs., iriie-prc:es, ccnsumidoi t~ - , e~s,c1
:le modo 1mpcrit w: frcriteiras mal traçada~. muna~ ,e1cs in omph:ta'>
poesia a;iarece:ia comC1 .1m vasro co:1certo de sono~idaties agradá1·eis,
t,ar,1"c ~ s cu dís...-crila:if~, um jc,~u , ~~ ,JUt' n:- Jbrc o ruído Ct -
mc:rn-11os a ourrri~ le•co• mas do que o, $epuarr De um lado a ourrc
,j ~, ..a rede, al rnmurnc.ições nãn 'iào _1amais :ort:11.la~: a co:rente inre:--
m11m da ·,ida e que se deva, ?eflui. retorna, am;>"ii"·ca-se ou s::: pulveriza
,0cal passa po- ·oca E. parte. Em todo ·e.:1to repér.:Jte (literal e ~enso-
cm apeTo:s ou r:n giiLu~. uos 4uai~ ncnhun é per~dtamcme 1der1lifica-
rialmente) o e~o dos ~·ários ,)utro, texto, :lo mesmo género... quando
-.~Corn::m~cncltda-as..'i.m, a mO\•ença .nslaura m éup.o dialogismoJ22_-
r,~., por fig11r.a crm.raqi"a ou parodica (f', à, ve;ol"', ,em ob_ietivr., Jeter-
Lcrior a cada texto e excet.:>r a ele. gerado por ~u1~ relaçces co:11. os oL-
minavel), o eco de todm os te-xto~ possívejs. Discurso soc-iaJ diver1.ifica-
tros. Eta se ·e~ere a dL.15 orC:ens de real idac; sem dú~·ida distinguidas
dü, homogêneo e coe:ente e1T. suas profunde::as, a poesia en.globa e rc-
de modo dc.".'liguaJ pelos oi...vintes de poesia (~uaodo não pelos incérpre-
i::~a todas aI prã.íca) si□bólicas c:o grupo hJmano: nessa medida
tes e pelos próprios autores) ~egundo a r:qucz::. '= a suf:eza da memória
de cada um. O rnnju.mo de textos franceses e akmãe!i que contam, no
me~ mi, sõpela ficção ela p,:,cle ser relacionada a algum assumo. 1
;\o longo das redes mnemônicas a.sS'im trançadas, uma circulação
todo ou em pa:!c. a história de Tristão e Isolda ilustJa a universaHdade
inte-ma difui,dc t\loo aquilo que traz a ,-oz. li\ntigam(:r..te. um~ .:ritka
dessa mo,..cnc,.a.: de fragmento a te.xto co,n pleto r a outros fragmentos,
pos'.tillista fala~a de imitação e de i,f]L(:ncias. .\fas ~sa fa.tenocalída<li:
de romance- a :;onto, alai, ou vice-versa, r.essr va:,:io e:1tre Thomas d'An-
t:.ra n<ib prúx.imH do~ 11Lmcfo,rnm du Jíálogo falado que ::las trnnsfe-
g1eterre, o jcgral Béroul e ~·farie de Fra11ce, cn ;rc Gottfried e E ilhar:,
reiíc1as da escri:ura. ó raro apan:cr com toda a clareza quando a-tro..:a
depoib lJlrich von Túnhe1m, desces ao!I anfnimm ~~ roda procedência,
;,e e pera entre o~ '.e:.xtos cestinadm ao cano, dos qu~ nada :i.os permi-
como a balada TristT:ams tam.1, ainda cantada nas ilh.:.S Faeroe. t.__ Süm
te su,or, sem abuso, que seus autore~ fossern homeru. de e.-critura. F.
caos de af)arenre~ incoE"rênciasde que nc:n.:i.uma ~radiç.ào escrita dá con-
o ca~o das rda;ões •~tuais, m1..i:as vezes d.iscLtidas e contestadas,
!il,. ,,ozes faJrun, cantam, os ratos rc-tem eco~ fr_a_gme01aaos. semí"i.d.
entre trovadores, trouvtrés e Minnesilnger, tod05 praticantes de uma mes-
to., jsin,ais. impeli.do,, ,:;o:no se ao acabo i::elos turbilbõ~ daintcn·o~
lidadcJ - - --- - ma arte, freqüen1ando o mesmo ambiente cavalhei.tes.co e iguaJmemc \'Ía-
jantes: Folquete ele Mar~eille, Gace Brulé, Conon de Bethunt "in-
Esse regime, c:Ertamen:e. não é idêntico ::-m !oda i:. parte: a~ 1•aiia-
fluencia:am" Friednch von Hausen ot1 RLdolf ,·on Fenis? .\tarcabru
ÇÕeii lc;it:tuais da canção de gesta sãci mais com1deráveis :lo que as de
".nílLenciou' · Heinr:ch von VeldeJ.:e? Be:11an de Ventador□ "inlluen-
romance~ as da.l epopéia.~ tal Jia:s, 1ucLu.s ck.1 que as ma:s antigas. t;ma
;:,ou" Heinrich ·,on Morungen? Os trm<1doreti que a cada estação atra-
di.;crença mais de grau do que de natureza. Acontece de duas vernões
vessavam os Pireoeus "influenciaran" cs poetas catalães, castelhanos,
de 11ma canção de ,ges:a ciiferir(m, em volu:ne, do si:nples ao duplo; ra•
ga.le80S~ A qi:es:ãc, r.ão faz rruíto sen:ido. NJ qu~ concerne à Itália,
~ são as ::anções de troYa:iores em que os mlln ~sci:os apresentam i;,.s
o escrito foi mediador ,\. Ron,;aglia demonstrcu-a, 'dtntificaodo o mo.
estrofes na me5ma ordem. íÉ preciso füringuir muitas espécies de va- ~
nuscrito provençal que. por volta de 1230, o pr-.meim ;meta ''5iciliano''
riantes, seg'.1ntlo elas manifestem o "nomacismo'' da tradição oralJl J. ll. ""'--
recel,eu de seu patrão, Frederi~o 11. 0 É ~·•mhdc que, dos territórios cu-
gafes da escritura a mão ou até uiiiã ree~cr[tl!ra .ll!PPriarnente dit.a..Jla
ropc:.%$, a Itália era en:ào a mais comprometida cc:,m ru caminhos da
aJ~uns anos, a ;:,ropós.to do A rthour and Merfir.. (esi:rito em inglês me-
e a poesia dos "sic.li.mos", ou mais ai.ida o dofa stiJ nuo-
e5,:rit1JIE;, ..
dieval), W, Ho 1laad mostrou o quanto essas di\o'ersas espec1es interfe-
Vll, constituiu-se como uma glosa do trobar cccitâni:o.
rem e mal são dissoc1áYris. Em vez d~ o-pô-las. melhcr seria coloca-la, 1 1A ii1tervo~a1idade atu1 ainJa com 1~!i c-.idêr.crn quando os poe-
em persp~ctiva. Trata-se de comportamentos lex~uais, i::or certo desse-
ras m1 causa 'Viveram no mesmo território., Em diacronia, ororrc 1cm
melhantes, mas determinados em comum 11elo maior 011 menor pes-0 que
:tlivida o mesmo. porque o pomo cm qut' se: ama'1'1 a cln çllo IJ tm ooru-
146
t.:11ada é a performance, e pode-se admitir que o rtpenórrn do, intfr- r
p:e1e., td ren1nat1do-~c lenrarnenre. ~1 p(lema se desdribra, e•mte de m • ':[on1c,'' Qllanto uma ~erie de noçõc.;; po,ii1du1:1 de nossa l)r.11 ca cJá.5~1-
dt~indmico,. trn forma.,c, aha-~~. engendra se no boJO d~ urn l"spa- ~a es;;rit.ua; estabilidadC" t.lo cr.no. aure:,tictdad~ ident:da.dr - e to-
ço-JeOl.D.Q..C.Ui•!i Jimenslk-s nlo s-.io mai~ mtnsurá"'ei~ hoje em dia, mas das as ~:áfora.s estere1s de nosSl5 "ru,lórias Lice:árias~ como origem,
foram, por ,-cie&, con idcrávcis. No meio dc.s~c espaço-tempo, atua a c~o, d:súno ~ obra; evolução, apogeu, decadêacia de um gc-
par"õ"óiã,"qUe" -01 uma da~ pr1nc:ipais energias da tradição poética; atuam ~o... e, sein dúvida, a imege-m aterna.J do autor. Jmp~mh um iexto
as alusoes, a:; ponta. que eo.•ocnm num tato outro tC}tlO, ince-ss.arite rno- mcdie-vaJ (.,;omo somos forç.,do~ - fel im:enu~ - a fazer) cornpona um
.iaico de referências. séria." oulmmo:-ísticas, uma das características uni- contra-seJJsc histórico que as prudências editoriais não podemsimplt!>•
\"Crsa.ís dessa poesia; asrim r entre ln;vadores ainda ou .\-finnesimge,; mas meme rorrigk Na noção de "texto au:ênú:o" (a mais l)ervma e amda
tamb::m num Chréticn de Troves e num Gautier d~i\.rras, em .uirom de ,'igorosa, llJY,Sar dos pedódicos qu~tionamen1os), per<illl'a um pe:isa-
f,abliaux ou narraàom do Rcman de Renart...:,___o poera joga, como re- rnenro teológíco, relativo (;parade>xaln:enle) à tradição d1 Pafawa de
g;is:ros c::e um 1 ,utrumenro, co:r:1 o mater:ial tradicionaJ, bem iemarc-.ado Deus. ':bda ,ez que uma pluraJidadt de r:1anJsCT't~ nos permite con-
~ lu_gares-comuns retóricos, mo1ji.os imaginários, cendências I:.ticais--:.._ trolar sua narureza, a reprodução do lc::ic:o nos apa:ece Icmdam::nlal-
Jeg!,gldO os nfrcis õê"es:lil0, ô.s gCTJ eros ou a fmãlidade propcm ao di;_ mente corno re-escrimra, re-orgar:ízação, compíla;.ão. Dumnr~ m mes-
cun;o_ Assim, m mesmo.'i poe1as portugueses dos s6cuJos xm 4! xiv be- mos séculos. os teóricos árabes fizeram expr~s.ametite des-ses :aJacteres
bem, com arte e cocrfocia, no repertório de uma outra das Lrês lndi. O próprio &e· da poesia que de;ignara rn rom '.) norn= :;aripaJ (liternlmr.'l'lh',
ções então firm;:menre embelecidas em s-eu terreno: as can.!igas de ''p!ágio"). :i 'A era ontológica do poema é a tradi;:ào gµc o su])orta.
escárnio. de amigo e de amor. Uma \'OZ o atuali7.aL mas. não tem orisem :i~m deÇiirrn, não ~vohii nem
:."-l'ão possuímos nenhum rnanmcrito poético autógrafo an,es do fim 1 decai, não reivindica nenhuma filiação; é ..orrnalizc1da pelounovimm,-
do século xrv; isro significa que, de todos os nossos tex!os, sem ex,l'- tos físicos do corpo, aü1da mais do que Feias .,:iifl.tY Jêt1> pro,nmciada~,.,
ção até aquela data, a que percebemos pela leitura é a reprodução, nfo Tudo o que ler.de a esse ato da performance e conio se es.i vesse previa-
a p:-od111:iio. Os r,uvin-es dos sé.'-ulos .•:n e xm não estav.sm em situação mente .demm-c.edo; orienta-se i:m todas as sLJas partes e de tQdo o modo
diferente. De falo, desde qlie um le>:fo lenha sido recolhido duas ou mais pa.ra este fim; a quem ouve, ele faz referência a um campo poetice con-
~·ezes por ~~cri to, sua~ ,-;iriaçõei resr.emunhrun a existência de f11diçõtli :::~o. e.1'trirucco, que se idendfica ~om quem o percebe aqui e agora. 1
q1Je são mais O?J menos dü!inlai [à~ vezes orais e escritas, para.elamen- Pode-se com;,rcender o pavor que ~perimen1aram. a partir cio fim do
te., como se mosrr:,u n.is muitas VidaHJe santos) e que, por acumulação século xrr, alguns autores de espinlo "moderno", corno Chrétien de
de dtferenças, biforcam-se trn cieterminado momento. Os stemmas da IloJes, dia:ne da idéia de que seu talo inevi1avelmenLc lhes escapava,
tr.idicão lilr,lógic.a .i!J':11~ lt:,"d.Ill (:m c:mca esse fenômeno. Os crit;::0 , fugi.a a seu controle de qualquer maneira; donde as precauções dcrdsó-
mais prudentes fir-.tm de acordo em distmguir duas tradiçõe.s da Ciurn- rias, as defer s1vas, as .condenações indignadas aos. n.1rradon:s que "cor•
sor.i de Ro!and, ci:n::o elo ciclo de Guúlaume; e o próprb romance, e iam em pedaços'' e ''cormmpem' • o que declamam. Mas un: vcrdadei-
meao~ eslranho a nosso:. hábítos •·J1tc:rários", não escapa a essa le:i; con- ~ cuidado de autenticidade autoral .<1Ó vai apa.ecer m aiis r..a.rd..; num
siàerâ'lleh d:verBê:ici.as existem en1re 05 rnanus-crüos do Roman de T!te- Boocaccio, através das correçõ-es que traz ao Decameron, e, um pouco
bes, entre os do Romar; de Troie; um c-.pítulo prelimir.ar de oirocm~os depois, nu::n Guitiaume de :'1-fachai.;t.
versos. o' ·Bliocadra11'", e~ta insddo no começo do Ccntedu Grool cm M. Jousse faJma da uadiçto como de .. uma coisa viva" Hisrorn1-
do1.5, mamm:ritos do sêcdo xm e ~ retomado pelo aut,Jr da vmib em dores, proj1;1amos restrospeccframen1e sot>re a "Tclride1 fll.·1P::lia" a ideia
prosa de 1~30. J\~ o li.m1re, exp.odc a identidade do texto; ~ o casa, se- de uma trac:ção que confirma, em 1ooso mo. uma terminologia cnti-
J?und::i D Mc\IiJfall da Ckeraü?,:e Vl\iit>n Ao :.-on·~ario. o.:cme que no c~ ela nos ç:i:rmitt> reter e ~ter·,_,r·7 , 1..m ºat" ,.,lol: ! i;.-,ul anta'.' :.fo üm
um:o •exco mbststente a enu.:icào podl' lC'CUperar a .:onvergência de :n1.1.- modo de i,er. totalmente interionzado na com.i.::iên eia daqueles que a vi-
tas t:3di;;iic,, assumidas em conjunto pelo J)Oet.a: tal to ca~n do Ferruin veram. Se e.e impona à J)oesia dessa ép0<:a, e: por causa da intnnidade
GorJ::ale;. t:~'J)antul ou dm N.·~l:mgt11. profunda, indlscutida, que o francês ami@o chamou coustume. O "cos-
· · ua que perdem toda D ......,. .~ , . . :ume" é o eioll!lamedfd.a do homem. ma.. 1amb,.,mo meio e '1ntcdtdu
da poesia. Avo;: do\ ponadore~ de po~i:,, não cessa (t.orno voz me~mo
lh1
e o que quer que ela diga) de proclamar essa tdent1dade. A existér.dJJ efeitos a long, praz.o' ~o tempo, como a 1ninsforrnoç ,l cl,h velhas tro-
do J•'lizrai• o tc~temunha umvers:almen·e. \o nomear ;.i trad1,;ão 0-.1I, d1çl'Jcs épica nas séculc<; x,,. e "'"; n,l ~p.:1ço, como
\ . B Lord ~ugc· a que o prirr. eira termo :fessa expressão co oca 5e a certas canções e gc ta fmnces por mouvos Hndo
questàc d, na:ureza e do conceúdo (-0 4ué'), e o se~ur:do termo, a do Vá.ti p rr r.r: .r.
meio {como'); M. Zwettler notava que e:sse como? po<ler'a o;er trocado redes de palavras QUC con t t em, n
por um por (]Ué.":~ aqui o porqué da ob=a é. para num. sua \.Jealrdade- a história dessas vozes poet1cas. É prcciio inda d t n u r cm~ o ob-
Dor.ce a autoridade particular de que. no !>eio da tradição, é dOla- jecos da tradt1;ào ,-\ mo,.·~np de certa~ tormru i:ia au:..~ur.atira... <k al-
d.1 a voz inspirada pela memóna. a qual sozinha lhe ronfere ma pe- guns traçai do; ,oostwni:s_ abarca a Euras1a 1mc1rd :ra1 és do un ,eno
cepribil1d,de. Q discurso g!Je ela pronuncia, ligado mais do que outros das estepes ou do Irã aChina e à Índia; pelo mentJ, rs Est3do! .::r15:â::>s
~ r.na, experimentadas, mai;; sujeito às pegadas de um in:on·rolà•,:eJ =o hlã. D~de ::,_u~ a. Lingu;:.gem, enquanto tal, é L'nanente a esse va-
passado, é :ambém mais eficaz do que qualquer ouLro: o que diz ~~a ~ diferen~ das lír,guas naturais coloca ai un h-eio, ba~can te fro:.1xo
bom ;,.irccc- :nai~ opaco, requer atenção de maneira mai~ insiscent:, pe- .mma direçao, mas que se bloqueia em outra. Tcca,ia, o canto. .mais
netra 111ai~ fun<lo na lembrança e_a1 fermenta, confirma ou re-.·ohre os do que o dizer, a:n"Ua a zona de recepção da~ frases que ele t:a.z - até
:,i;:u..iJm:uLu! ~ivic.lu:., alarga misLeriosamt:nl.c: a ie.-.;periêm:ia que eu, 01:.1- J.lém das fronteiras d.a incompreensão. Os moaelos musica.ir; são mais
vime, creio ter de mim mesmo. de ti e desta vida. O un.ico fa!o é :;'.:U: largamente mó,·e:is: c.raz:dos, é ceno, pela voz (e, po~tamo, irrplicar:do
esse 1omern es:á em vias de no~ dizer neste dia, nesta hora, nesce lug-.:..r, E.S palavras de uma lfngua), mas confirmados pelos instrumentos, fora
entre as h...ze, ou as sombras, um cexto que cah-ez eu já saiba de cor (pouco aesmo de todo conte.,:to ;p.ro_priamente musical, os ritmos poéti.;os, pu-
importai; o fato de que ele se d:rige a mim, ent=-e aqueks que me :er- ..' r:>s efeuos 1,ocai~. c:-ansrn~tem-se e viajam sem cue inten-en~a necess.a-
cam, como a cada um deles, e de que preenche (em maior ou me::io~ r:"ãmenre a natureza d.a lingur:gem formaizada: fo'. assim q11 e '-t" dih.n-
grau, pooco importa) nossas exp,ecrativa.s; aquilo que ele enuncia edo- dtu na cristandade o i:eiel árabe, forma estrófica e.e orifcm persa, ~ue
:ado de uma pertinência mcomparáYel; é imediatamente mobilizável e:r. ◄ calvez pela 1me~med.iaçã.o do pizmon judeu) passou à poc!,Í3 Ltúr,s.ca
disetmos r.o\os; ir.regra-se s.aborosamen!e no saber comum, do qual, da Igreja latina. Ao nor.e do; Pireneus, o mai~ antigo c:.'l:emplo não é
i.em perturbar-.se a certeza, suscita um cr~cimento imprevishrel. As tra- outro senão a bela. alba bilingüe chamada de F,'ei.ry, do :;écu.!o x. 05
dições escritas, que .:.êm origem antiga ou que pouco a pouco se consti- primeiros trovadores adotarão essa forma, assim ooo:> os autores iu-
tuem a panir do sé::ulo XJ, não se estendem necessariamente Dor di:ra- lianos de laudi, i • e os res.quicios que deles subsistem i:.o folclore euro-
ções menos longas do que as tradições orais. Estas, porém, mais livre; peu testemunham a ampl.icude de taJ difusão. Apareoterncrite, a diíc- ,
do aue a~ Jue ;:,assaTam pelas tecnicas dos escribas, aderem mui!o mais re:1ç:1 de línguas nii.o q a obst.iculos: é da boca ao oinidu, na missão
à exi~ência ::o eti,•a que elas não cessam de glosar, revelando-a a si rr.e-sma e percepção dos ritmos e (visto que o zeje! comporta obrigatonan~nte
rina) das homofooias, guc furam uperddos a rrans'.·erência ou o em-
pristimo. Algum bili.ngüismo, mesmo aprorunati1,o, pos~h-elmeme in-
Pa.".1 :,.Mm ão esraço-tempo de cada texto, desenvoh·e-se outro, q~ ten eio, em contrapartida, a.as migrações e na pnpemação, na,; lcr.gas
o engJobé. e no bojo do qual ele grava.a com outros le,tjOs e outrn.; es- du:ações, de tem.3.3 ou "motivos" narratil-OS, concr:ções d( dementes
~-tcrn:pos;,.m.aY.imcntQ.~l.lo feito de coli:>ôcs, de interfcrêm:1a.s. imaginános que, a um so tempo, eram muito es1á.,ci~ e mal de filme.is,
- 1
de rram,J!l~es,.deuci::.as.c de.ru curas. Enc.retamo. na a aess.a exc- em termos formais. A esse propósito, a questão e seu modo d~ incegra-
1ê11 ci a móvd ~ então percebido como história, ,1em o será anm do sécu- çãc no discurso comum: a partir de que grau e por que gcnero de fo•.
lo xv11; nada isola ainda, na palana escutada, aquilo que condiciona o malização, lingü.ísuca, i,•ocal, gestual, o ·•rema' ' entn1 em poes;:i, i,to
tempo eaquílo que o prende ao Jug.ar. O dizer ticosedesenrola e gira é, t->rna-se capaz de se identificar - na recepção - ao vi.,ido pelo ou•
sobre si mesmo, como se na ausência de graviéade.. Quamas ,e.ze! ai 1n- ~·inte? São inumera,-ets os C'l'.emplos de fragmentos di cursivos que vi:i,
cens1ânde, i nimagir\ávcl por nós, de uma presença, a plerutude de um Lirn- jam no espaço e no tempo e e imiscuem em confi ur oo p ren•
brc: sonoro inaudível para nó e tiveram na origem da difusão de um te.~- merte as mais dessemelhan!cs: de um a oi.tro. deslr.ha cm pontilhado
to, compromr1crnrn• e numn troca cultural de que ~ó percebemos ,:i.s não uma genealogi:1 linear, 111.1 um confunto de relações cornplcu , ton•

J.SO 151
cernente~ a va.sta~ zcnas da cul u ra 1radic1onal e ·, cicu!Jdas pllr gera- x111, na reg.ão de \'eneza, o liltir-'D ~~nJe fluxo éptco que 0ciden:e ,.0-
ções de narradorc~. Era assim qur tlt"\'Íll funcionar ludo aquilo qu~ a nheceu. As momw. .:an~ôt'.1. de ~esta penetraram nos remo;; es:,anh.óis,
linguagem corrente cles1i:,no sob o nome "tegenda"; aquela, por (Xem- e sua marca é perceptível nos poemas que ficaram, não meno& do que
plo, que deve l('I' caminhado por tod.1 a Europa ~ctentrional e oonstitu1 ne. cultura local dos territórios p1remucos. 1' Diversos fatores tavorere-
Tam essas trocas: a macaç1 .implantação de mosteiros cluníacenses em Cas-
o núcleo propriam.en•r dito do Bron'lli{anglo-sax6nico, :a~sim como da
saga norueguesa de G:-eni: aqi:.ela, irlandesa, de s. Brandan, o navega- tela e Aragã::i; o deseTivolvirnemo da per:gri.naçào a CompC·itela e a Ro-
dor do Outro Mundo. cuja! \"ersões correram o Ocidrnte, ern m'llitas tiTI· ma; ~ papel descmptnhado p,or Veneza durante as Cruzadas_:)
guas; talvez a de Tristão; a ::lo fe1reiro rnági:.:o \V1cland, a ~LlB.1 veio da tpoesia nais rigorosamente forn:!.alizada re ugna em maior grau
alta Alemallha e se encontra na Bscandir.ávia, depoi, na G1ã-Bretanha. o franqueamento das fronte:irns lingü.d:ticas; sem dúvida, ela r.ào pode-
onde dela se apropriou ;;, dinastia ange,dna, prcteodeado, por volta de ri~ migrar de Sl'.:U estrciLo Lerreno originaJ se (na própria c:edida dessa
1140, possuir uma espar.L.. ruaravilhosa fabncada por ele: o au"tor do Rü-- fo-malização) 5ua recepção não pudess: operar e gerar pr..z:er na :a.ia
mande Thebe.s, sem duvida a par dcs~a pretensão, aaíbw a sei:. herói ::le um perfeito enlcndimer.to llngwsti:o, A glosa elimina-E. como l)OC-
;;ia; a traduç.Jo ma malit.-la, se não a recriasse em bases cotalmeme dife-
Tideu uma arma da mesma oriA,:cm ...
Tratando-se depsía lingisticame:ite ;ealizada~ o nomaclimio dos t .k.ci~ rentes; uma :ornada incom;;Jeta de frases ditas pode, ao contrário, alte-
rar o.penas os .!ft.itos. 1A pc>esia rom:&nics do "E;rande canto cor:ês''
textos - para além dos terrenos WJ ,w,ie..ftça. posslvel algWllit imcrcom- J ,.-.g..r
preensão - e,ci~o re:-urso à tradução, ora o '!!so de urna Jmgu.a + \,.._
:=>enerrou em zona germâ.n.ca pelo LimbUigo, Renânia, Smça, regiões
fra~análoga à que utiliza o comercio internacional ... e de que .as pri- üngüi~ticarncntc frontdriças, onde os individuas bilingües não dc:viaa
meiras canções épicas ·•:ranco-venezíanas•· dão, sern dú,ida, um ex.em· t :"altar. À m~ma época, r..i Baviera ou na Áustria, os primeiros Min.ne-
pio. E.rn tais condições, cenos textos "pa!;sam" e ou1ros não. Os mais Siinger só foram indlretameme 1ocado; por esse modelo.H
móveis são os meno~ formalizados, quase necei,sariamentc narraiivos .... As vezes, o espaço e o tempo comportam zonas extensas de silê.1-
Por is.so, um folck1rismo triun:antê:pelos icfos de 1900, levava a i•er em ,/J
i
,,, j cio em que o pesquisado1, alerta, ou·vc ressoar como eco as voze5 o,.i.vi-
1odo conjunto narra:ivo suJJo;tameo~ "popular", como osfablia!lJC,
uma massa qua.._~e inéifercnciada e comfaua, de um ~xtrcmo a outro da
"- "\
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../!
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...
das em outra parte; assim, o teatro de marionetes napolitano e ~icilia-
no, comprovado desde o século xvrn, ou, em parte, o repertório dos
poetas populares do l\"ordes:c hra'iileiro cariam pro\ras da cünLind:iade
Eurásia, Voltou-s.e a is~fl, se assim posso dizer. Restam certo~ casos pro• o - l,,._
váveis, corno o l.oi de l'umcome ou o de l'oise/et, dos quais e;,;istem oral da epopéia carolfogia, ;)Osterio:-, senão anterior, a seu xríod:::i es-
equivalentes japone~; _; ?Or quantas bnca~ eles transitaram? Às veze."i, críro e talvez paraJe1amer.te a ele. •9 Q. ú ltirnos elementos vi\'05 do Ro-
pôde-se re...'ilper:u a série d.e int.ermec:liá.ios, oome> o.s que de. unia vída mancero espanto!, regisrrados ai:ê po... volta de 1960, esclarecem sufi-
de Buda terminnro..m por ;,r-oduzir r;m francês uma ni~tória de&. Josafá, cientemente o mocio de exi nên~;a tl~sa rica poesia para autorizar ci,·ersa~
muito em voga n:>s sécu1os x.1 e xm! Esses imermediários., apesar de extrapolações relativas ao ;,críodo anterior (e, em certa medida, poste•
existirem, são O\CCÇÕ~s. ~ten,ão espacial ::la~ redes da p~lavra nar,a- l-f J rio:-) as primeiras oolocacões por e~crilo dos. s6::ulos xv e xv1 .•s3o é
tiva em tor:io de antigQ1; terri16rios caralingio5, românicos e germáni- J,t ,~ f parricuJarmente verdadeiro gua.1do ~e -rata do vasto conjunto j L1deu-
cos parece ter rarameulc: ultrapassado~ hcr.í1cs que formavam o mur\. e,~n hol, do qLal 1'.·leriendez Pidai cmsúmiu entre 1896 e 1957 i.:.ma
do eslavo a les1e e o andalm a::abizado ao -ui. As ;o:r unicaçôe~ só se cob;ção, que Arm:.stead, :\>fargaretten e Momero publicaram t1un cati-
estabeleceram com a., regiêes célti,:as 70 rnumc:nto c-m =1t1e esta., cu.lu- logo-indl'x de mais de rril p~g,ns-. ~a R~ssia, a tradição dai. balad.a;
ra! e polnicamentc, e:sbor:>a\'l.m-~e; r w st estabelec.:rau: por interme- ~.amponesas chamadas bylines, cuJ as mani'estações ::omeçar,::1 a ser ob-
~ uJ... ~--~J. •-...;:1 lo. II q 1rd• ~ l"I,'' lt erJ- ..J'T~.,... ·a:::c:os, :i.r,
d10 do laum ou du anglo--norrnando. Ern lOntrnp:1n1Ja, 110 11.tenc d~
areas românica. ou germãntca\, dr Castela ,am, pa1-.cs vikrng~ ou da Sa- da re;.;ememente subm1ía em alguma;, rc-giões. seremrionais afastada,.
xônia a lslãnd a, e!iboçain-se mc,,,·1mcn1os inacmos e inca,au e., 1-k- .Nã.1 ha nenhuma dúvida sobre n antigfudade e a oralidade dJ t.r~cliçii.o,
néndei Pidal traçou antcriorrnenLc muito de que o Romancero f01 o Em 1963, B. A. Rybako\ :l.:.emuava a esu~ita ligação históricc. que ha-
pomo de partida ou de che~,H!a: 1 a J11 u~iu du cançõe~ de gesrn tr:m ,1a entre d1ver,;as C)'filil, tieró1.a~ • a pe:,)oa do prfndpe Vfod1,m de
ce~as na Italia secen1rior,al, ·.ih·rz de.ide l) ,éculo :x1 , gerou n-, sê ulo K1e,, no século ,;_11 Pouco importa a a:queologia do gêner::>. como se

1.52 153
w11Hh1íu. ou q11an<l,".lll Só i mportu que uma l1ng11a pci~rica orgnni,w-
1
da \,!J uJ,;u, -.err outra mediação que não .:i. voz, sem outro pubJi .. o ~ue cnwçõc 1r.timmas das "h crau..ras · ultcnore.s .. mcsm,o e, em algu.
nilo tT pcrrnrm:mcc. <iem outra e:,:istêncra que não a presenie, durante n- as ,J.e s11,1:!I rca 1111ções, pare:,: i:i~r.I.C!llcnu: ~rnr com elas. \ si-
setecenro!, ou oitoccnto, anos, as figuras estilizadas de Ilia de J\furorn ' wiçi!n e-tubiu, e, 1gu1 comll e:rn •oJ.a a !:'.lrte, nada ! monolítico - b1s-
de AJe,_.h,-) ,Po_povitch .-: üe cam outros, entiquecendo po:.ico a pouco dã dê,.1 a esrntwa m rnilndo q e cst.11
no cuno do tempo, sem mudar de natu,e-za, novas lembranças coleti- oonquisca como 3e a contragos,o. :t'a i:.<lr voJta LI"' século xu._ a e cri-
;,-a~; d~ um Ivã, o 1hrí'+'!l, a Pedro, o Grande. ea lênin. oquaJ Ma:fa tura é o úr~i~--o ~·eJcuJo do sater maLS ~ado: o :"\,der ~ssa pela VOl.
Kryukova cantava por ,·oJta d::' 1930! A partfr do~ séculos xir e 'OU, a r:la,;;i,:, ~e in\'CJ"lt': ao es.:rito, o pod«,
\. füa~ão pda t na escmu-a de uma t..-adição que foi ara! 11..ic põe a ~oz, a tr.ardrw.ssãa .rn·a do s.ã.!:Jer.11.as.n.uirada dos sà."'Uiru.x~ e xu..
rteces~trfamenre fun a esta, nem a margLnaltza de üma vez. Uma .sim- OJ até n: e XVTI, ne:tbum jes.5e5 dois çet...Y.f'.> de fo:ç.as e ::e •,alores. con
bfosc l?Odt: instaurar-se, a::, me:r:os certa barmonia: o oral se, escre.·e, o se,gwu eHrnrnar inteLramente o c•ur:o. 'Sb: pode d ei:u.r de ~tar aí a poe-
esc~ito se Quer uma imag<."f'Il do oral; de todo o modo, faz-se nfr,ência .sia comum a codã.s as redes de cc-mu:i::::aç:ão ::o:::miimivas dr: um estad<.1
a ;;i.11,,ridaoede uma voz. É uma coexiscéncia ativa dessa :spécie que de cuJtura.
O
re5temunha, ã.s margens da poesia, a tradição pan-européia de text()S eo- Entretamo. ao abrigo da m~~=tu~;;:ão ·•escri1•.:...-ã:-la" c:m formação,
mu os Diálogos de Salomão ede- l1.farco6..o. lnve;rsamente, o faro de que ~ubsme profundamente .!IO esauor alg1C..a. :ois.a ::lc delicio da voz, do-
uma tradição escrb. passe ao registo oraJ rrão traz sua di:g.--adação nem :a\•ante em 1,fas de in.te:'iorizar-se em fantasmas cr..ados pda fascinação
a esteriliza. De modo geral, é certo que a partir daí eJa visa a um públi- ::fa pala\·ra pronunciada e ounda.. .-\ ~rDJ>fu.i!o das ca.nç-ões de gesta (g~-
co mais amplo, o Qu~ pode cauEar sua de-p~eciaçào na opinião de al- nem exem;;1[ar), S. Nicbols am.criorn:e□re :=ios!rOu x,mo, no enunciado
guns. Emre!arno, renovada., essa. tradição permaneoe muit;;.s yezes p:o- pot!(ico, cria-re um.a ten..~o ~O! o "mome:nto liri:o" e o "momento
dutiva; é -0 ca~o. em todo o Ocidente acé o século xnu, da poesia 1ca.r.rativo"; entre o que é trazido ii- aquilo ::iue formalmente o dinamua.
natalina, na qual mllilo se reproduziam as fo,mas poéticas !etradas, re- As recorr~cias desse discurso. .a estabil:d.ade dê' 5-etlS nucJeos formais,
Jigiosas ou Profana~, dos ,êcuJas xm, Xl\' e xv. reconhecivciJ facilmente peJa :::r...e:n..O.riai cc~eti'ia, oo:m.J)ortarn efeitos de
poder espe::::J:icos. Disso .resul".a 11ma efü:~:::a panicular, oa ordem da.
persLLasão e co despertar ao desejo. Não 5e podena i:.:z:er rne1hor - com
No seio da tradição qu~ desempenha assim o jogo da memória. a uma precisãi, apenas: o "rnm:r..e:n~o lirko" que- Ni.chols de;;jgna (meta-
vo2 poética se ergue - mul10 manifesta, de maneira mais diretiva do forka.mente?) pela pal.a.vra ~ .>rJo :!!em ser.:ip:re tem ~""téDc:ia textual; em
Que aquela Qlle se esboça na escritura - no próprio lugar em que se con.trapanida, pôde sem;;,re, .na obra reafü&:la, :resulta:r do estilo da PCT·
recofia e mwor paire dos códigos culturais ern vigor à mesma época: formance e,. em ultima análise, de jogos ~-e-cais. .A...mm corrigida, a tese
lingüísticos, rituais, morru:;, políticos. É por isso gue - com bastante seuniversaliz.a.LO texto recebido nela ouv'.da..~.a :omciência com~
~i5 ÍOIÇll do 9.!:Jt;: O faria llma J)Oe-sia de leitura - os textos dã poesia do mesmo modo como a Jingµig~ cria a !iccierla.ó:: que a fala- efet-
de audição st rea_g___rupam na c:>nsciência da comunidade, em seu imagi- tÕtãoco m""ãisfõrte na medida em q:i.e es.!;e texto for menos apropriável,
nário, e:m sua _palavra, em co11juntos discu.rs:fros às vezes muito exten- meoo3 ma..""Cado por om inru,ddoo coac:re!c que de.½ rei-,,indicaria, co-
sos, e em que cada elemento semamiza (segundo a cronologia ua.s per- r§ i:fu:êmos, m,,.dl'l'atos ; Põr •~ e,,.--erda.i:e,. algo~ em algum mean-
formances> todos os outros. Alfred A.:iler o demonstrou, com pert:Í;]ência, dro desse disi:urso âedio.a seu aorn~ e iesc-= .:ião ~ lfulJS do que um no-
no caso das canções de gesta; juntas, estas fazem ouvir um discurso \laSto me, iosufk:if'llte para susp,en{!er a regra d.o anonimato. Tu.l estado de:
e di...,ersificado que rem sobrr si própria a sociedade feudaJ, colocando coisas não é ~'C:'dadcirameo.te pos-!o em questão, aa [::ália. antes do sé-
questões. sugerindo resposw. ofere.."'endo-sc a todo:. como uma pala- cuJo xm e. em outro!! Jugal"CS, oa metade ckJ sét-u.lo x1v: globalmente,
vra cornuro, de!!:c:ontínua, ~m contraponto aos barulhos da rua, aos ba- rnbsi~!e a.tê o 3U.r50 do ~écuk, x•r.i.
rulhos da \Ída. \luito bem. 1\fas não é de oucro modo que funcionam E1erce-"le :;:,J: ai a fun,.:ão soi.:ial da obiv poétiC1J: lig.ad.i à aç!o tla
todas as espécies de ti:;(10s que nos foram COIL:ienados, até o começo ;,oz., que conm ui ua razão e seu Ju~a= - em pura \'Cn o criadom.
do l.écuJo wr ou do :li'.\'!!; a massa de uma poesia ainda intocada pelas Uma parte da i::ole-ràne.i <.le cns;.a os publiauta mi 1977 por H. choller
toc-.i ne1sa~ Qlli!:>l(les, reluuvamerue 3 'Um.a,, m1ena clc te-:to.s alcrn 1cs tle
!54
JJ!
1
- que, em con,equênc:a, o cento de g~s1,a é um tàtor de estabilida-
mdo o C"nero. lna con utu.iMe facilmi:nlC" uma bibhogmlia sobre tsst
de- do fatado.
assunto, i:-mb· ra ~us autores, por Yezr~, não c:on.)Cguísscm dlf.Cern:r ~n
Dttt"rminam-se faciJmeme dua~ camadas de discurso. Uma se re1-e-
o ai 1 ~ de 6cu cli cul'l'>o. P e alcance ê a -eficácia social do dizer poêti•
re aos valores uni,·ersais da ePOpéia, de tal :modo que hoje podemos tê
co, enquanto e ti\·er preseJ11e no eio ela colecivit.lade reunida. Os teste•
los. co:no certos: a pafaHa
. épica fu:1da
• e cimenta
_ a comuru·dad,...., no pro-

rnuoh m~lC'\71Í5 não e tão de todo au}(flt~. TI1omn of Cahhmn. na
pno mo:n.ento eJ'l': que e pronunciada~ ouvida, engajando a totalidade
passagem de ~eu Perutenriale em que disserta >Obre méritos e: demérito~
dos corpos presentes nessa performance e resultando, pelo meno· ,•ir-
do~ '·jograis ", incrimina o poder de que dispõem cm decorrência ;;l.e ,uz
i-ualmeme, em açãocoletiv:i.. Mas o.itra cam<t-da discursh'a no LC.\.t
ane: aqui, suas rnzes, seU5 gestos, .;eus ouropéis incen·em ·anto quantu nifesta uma opmião historicamente comlicior: ada a qual' ~ A • º• ma-
o cometido de se11s discursos. A maior parte deles é cor.denávcl pelo . . . • • J-"A'ena ser a
do mtdoctual citadino que e:a Jean de Grouc:hy; opinião {que di f
próprio excesso de ,::razer que assim pro,·ocam e pelas açõe~ pecamino- . . .)f d . r amos:
reaci_o:iar1a ~ amenta~a na reji:iç.lo de toda contestação. Ora, essa
sas :i.s q"J.ais indurem. À mero1a épo::a., o mestre- francês Jean de Grnuchy,
uuplic:dade Lrdl wna convicção emJirica,- qu: aqu.i nada colo.::...,- em qe~
em seu De m!lsica, des:::re.-e os efuos prodwdos sobre a multidão peta
t.lo: a do poder. enguacto tal, do ca:i.~o públi:o - isto é, o rrresiStJveJ
audição das ;:;ançõe5 de gesta. O público dessas canções, declara ele, e
poder de sua ~•o:altdade, fora até das ~oilfilderaçõe.s sobre seu conteúd
apenas um magote de misenh-·eis e de 1,elhos. Um 'traço de humor7 Ou
por volta ue 1290, t:ahez o. epopéia oral se dirigisse unica."lu.:nte à.~ pes-
Dor.de outra série cl e afirmacões, md o subentendidas: º·
- e cantus gestuaiis 1em seu lu_gar marcado no tempo social· eJe
soas oomuns, tendo perdido sua primeira clientela? Certamente... em- 1

,e ergi;.~ durante a3 horas de folga e cc:: repo11so que interrompem 0 t _


bora as obr~ de Aden.::t k Roi, nos mesmos ano~. deneguem essa hipó•
balho, lSLO é, nas concJlções mais próprias a uma audição clara e U:a
tese. Pouco importa Canrus autem iste, es.ere1re Jean de Grouchy, debe;
escuta
. atenta;
_ preenche
. então o campo do imaainário .,... e ai pol ariza
· as
antiquis e1 civit;u:,· laborunJious et mediocrilms ministrarL donec requies-
1mpressoes, os 5er.~imentos, os pensamento.-;
cunr ao opere consu;:to, ur auditis miseriis er cafamitaiibus aiiorv.m suas
faclli1.1s sustineant el quiliPei opus suum alacrius aggredwur. Ft ideo . - ~ v~l~e e a ~uraçãc do canto dependem, a cada audição, das
cr~curu_tanc~as as quais e cantor ada pi.a seu discurso; este, em oenos li-
me caru.us valer ad consen·otwnem rotius cil•ilaris (' 'Este rnnta se des-
~mtes, unphca o mesmo tipo de co::ipor:amenm de toda comunica - 0
tina a 5e:r exet!utado c:m presença de ,•elbo~, Je obreiros e do vulgo, quan-
mt.erpessoaJ; ça
do el-es repousam de seu trabalho cotidiano, a fim de q •Je a aud.,;ão
. .- o lugar e o meic. dess:: ação comp!CA!:l é a vo7 d o cantor n
, ama-
das infelicidades experimentadas pelos outros os ajude a :suportar ai
~enahdade de sua implitude e de s~u registro. :--ião me parece abusivo
suas e de que cada wr. deles retome em seguida. mais alerta, s:Ja tare•
1tttcrprctar globalmente :l'sSltll a jill1arn!iiçàr - em si est~ha _ no
fa ,rofissional. Por is.io, esse gênero d~ canto é útil à comi:rvaç.ão do
De musica, dessas :-etle,;ões sociológic.t~ so:;re E. epopéia e da descrição
Estado''). ~1 cas mefodias.
Em certos aspectc,s, um texto de s11::preendente modernidac.k! J :ar.
Quanto a ouras formas poética; .il:::m da canção de gesta, teria um
nos diz:
- que 2. matéria narrativa de..;.;e ::ante-, edificante, com fortes Cú·
L!Hemunbo
_ do . x111 falado dclas cn: outros termo,
. sêculo • 'l· Se""
"• d· ll'\-··d
l a,

noiações relie1mas. prc,põe ao ouvin'1e os modelos. de todo herolSllJQ na


r;ao. 0·.1 . · entao a'i dtfereriças aí refleti:,àrn simplesmeme a dive=·d , .,1 ad e
, . f ti.:Ji:I 1 úe um. nrnJu (,k ~e., Curnh.1 11;:11talmente 1d<!mi.co, da pal avra
~u.,er
adver,· dade; poet1~a. ~ornarei o_exemplo ma:~ afastad::i da epopéia. a canso de fine
- que ess.es modelos são os mesmo~ ::le urna fidehdao~, alé de U::IL
i"J,~10:;r, ;a. qual a cm.raro os trovadores occitân:i cos e que, de;iots de 1150
de,-ocarnento total, a uma ordem aue se idemifica ..:om a ve~dade;
- que o~ d1 t 1'lt • rio.~ desse canto. no corpo ,oc1al. são c.:s traba
nugrm.1 para as regiões francesas e aler::às Ql e a canso Lenha sufo de~'.
1 m1da d pertorrr ance oral e e\ cten.~ ~e,J .ume, ..:oll' que L•S ::neta
lha::lorei e 05 pobres; .1 · d • ,L sa
- que: e• pnme1rc efeito ;,rod uzido s.obre ele!- pela audi;;ão o~ inci- ,.J:;1gnam epois dc•s m~ados do ~é~ul., x , rar:ro quanto a rnnserva-
;ao de muita, m~lodias ue:x.1 es~e pomc forn de contestação. :"-IC> en-
ta a s1Jponar pacienteme:ue ,ua sorte m1saável;
- que o ~c::gundo efeito f:, ::rr~ :t.n1r:n~1=1,,.i:
~· e 1r.cer~ cue a trJ..."15fil.Í)Sào de_ textos, ames da comtitwção dos
.. rn.;I,:,ntvm co ~eculo x1 r, tosse rei:a urJramente da boca ai) OU\ 1•
em -eu nabaiho;
do e que sua conservação tenha sido confiada ,o,1~n·c ,, mernorta
83Seando-~ em e-studo das variantes. mu~i:xilogos ..:orna Van der \\crf
e Rãkel sus.emaram :-ecencc-:nente que decerro a tradição Lias melt1dias.
fm oral êurante muitas gerações - mesmo se. como pa ~e. os texto
(desde a origem) tenham sid:> pon·eze-s escri-n, ·~l·•r, em t,,,ma e~ io-
l~as S-Oltas. Er.tretanto, o movimento :ia car.so procede de una percep- 8
çao ao ffii!~mo •empo aguda e º~" e mi de uma e~pede de de~con he-:ido.
promessa Oll ameaça ~::-ondida, msc,ui no d~t:::.o comum do poe~a
DICÇÃO E EIARAf01VIAS
e de seus 01:viJ1tf,): um "algo" intervffr entre a. ,•07 e- a I nguagem , u:n
ol:s.cáculo impe<l,; sua identi 'icaç.ão e faz com que a asscciaçào n[o ,,á_
mwco longe. É e'.I~ '.3 perce1=~ão que o discurso da -::anção narr:aciviza ,
pelo menos de modo \irtual e latente; dai esse motivo do • 'obstàculo"
erótic?' d e-.<.ignado centenas de ve:zes, sob nomes diversos, como .a cha._.e
:emátlca dessa poesia. Mas a verdadeira causa motriz da canso cesde Formas e n{~eis de format,:.ação. Os ritmo5. Prosa l'tl 1,erso~
sua gêneSé, é ao mesmo tempo a atração e o medo dessa dciscê-nci~, dessa
nossa heterogeneidade que nos mostra o som da voz. Donde a busca Recorro aqui a uma distinção qlle pro;)l.1.s recentemente, em outro
- inscrita na origem da própria linguagem e do can10 que a faz oesa• lugar, 1 entre a~ formas textua,s d.e urr.a ol;ra e suas formas rncioror-
brochar - daqufo que, a p10pósito ce "\\'olfram i'On Es:henbach, de- par-ais - i~1o é, entre as que mamfestan as seqüências Ungii.ís1icas cons-
signou-se rec(u ratio; eu a entC;ndo em termos de reoonc:iliacão (para além tituti,•* do texto e as que aparecem .na performance.
de coda negafr.idade) da palavra com o objeto do desejo: essa boa-:10,ra É "J)cesia" aquilo que o público, leitc,res ou ouvmtei. ~ecebe co-
yu~ o ime{ecto iniciado decifra quando escma. mo w, ~rccbcrido e atribuindo a ela uma intenção não exclu~ivamente
. _ A canso é mz pura, gesto sonoro que emana das pL.:Jsões primor- referencial: o poema é se:.itido como a manifestação particular. em cer-
10 tempo e: lugar, de um va,to dhclll'so que, globalmente, ~ UJ'tla mecá
dia1s; prolonga, semantizando a cada dia, o grito do na~cimemo. É a
linguagem que gera o relato; e sua narrath,idade exige .; constituição foia dos discu:sos comuns mantidos no bojo do gru;,o social. Sinais
d~ actantes, ru, o objeto, o Outro que fala de nos. Sob as 'l'ariaçõe..~ des- menos ou mafa codi.ficadm, o aliuharn ou acompanham, rc:1-·c: a.ndo ma
se esquema nuclear, a tradição do ca:ns,, por cerca de dois sécu]os, não natureza figura'!; por exempJo, o canto em relação ao texto da canc2.o,
cessa de fazer ouvir uma voz que ora se mara1ilh.a de .si própria, ora ou as circunstãri.c1as de sua produção em relação ao grito de guerra. Es-
se ól$Susta - "no lugar geométrico". oomo escre'l'e Gérard ie Vot "da ses sinais, geralrner,te cumulatii,•os e de diversas espécies, declaram em
música, da língua, e da narrativa, unidos na e pela ação fisiológj~ de ~onjunto que o enunciado pertence a outra ordem de paJal'ra - pala-
um ilomem c;iue canta".n O "grande canto cortês" ocupa assim entre l'Ta intensa, que aspira a ll!'f}resentar a totalidade do re-al; os s:nais (e-
as tradi:;ões poéticas dessa época, uma situação não excepcion~, mas metem, d~ maneira menos ou mais claramente indicativa, a ceta arue-
cent."al. no que e possi,,eJ definir em ~lação a ele e a quase todo s os rioridade da lngnagem, a um texto do qual as palavras cotiàiacas
OLtros gêneros comprm·ados: a voz 11âtl ces.s.a de cobrir e de descobrir perma.ne::em separadas; a distância, n(I correr do temp--::> e segundo os
um sentido que ela ultrapassa, submerge., afoga, projeta, e que parasita costumes e os lu,eares, varia; mru ela é irredutível; a prese11ça de uma
seu maior poder. fronteira, mesmo se incessaotemen.te n-di.da à baila, é sentida espor.ta-
netrm"nt~. por c;iui;:a de t1m acordo sMial implícito, en: termos, alias.
móveis e passíveis de revi:são. A "meru,gem poética'· e. asJm, semp:e
uma linguagem em ~ascara: o sinal marca um de.stoc.1mrn10, atrn1 o olhu
sobe um deslizar que se desenha entre ~ pdhos, que o prdon am 110
infinito, na penumbra. Esse desliza r é a.fícç-60; ou, ainda rnai!t, a fkçlo
é um estado de lin11uagem, esse modo ílu1uante de e~I tendn P n re•

/J9
158
Ê impo-sivd. ra rraioria
pre(cn,a a pala,·ra de Adão, nomcar1do as criatura'í; mos não parou 11 - uma ou por outra deve ter Jiferid,J ba~tanrc. •-1~ -o "romancr", r
• Nunl :i,~rn:ro comu . _
o, e, o n1,mes que .se 1mf)Õe. falta sempr, uma letr::i, um :..om, uma do~ caso:., :uli,!a~ Jc, mo~o -~º· ai .fo!i.SC atenuada; a sinaliraçao
pr0\'8 da 1den11dade a squrod.i. A,S~im, não esgota nenhum emido, Provivd qce a smahzaçao SOCtocorpor
· conto,, era ;,ro' ave
. 1 e nada roais De
oposto Qut é ao "real'º, com o o tle~eJo o é à lei. F...5.\a muLaç ~e dâ lt:.(tual, por ~ua v~. em mww~ .. .; '-ra Dance, para o medie-
modo. am b as irn pmtam• l"nl to-a.. OJ • r-•iio de :.mperso-
-'
em doi nfvm, undo modalídades \'afiá11,•eis, próprias a cada socie- q u~•-..,•er
<U\("' wms ri equcnte 1mp '"ª"'
dade e a cada momento da história: no nível do discurso e no da enun- ,al:~a. leilot de,s~ ~e:xto•, vc:o . m~mo pode-se e-:~. d:i.
aaç.ão. Donde n ne::.l!'SSidade de dhtinguir dois tipos de sinm; a uma nalicade. e Dão ~ ab~tnção - o con•.rário ~11 Ê :i caso da
impressão se."idda pclos ounntes dos sécllll.,s )úL e .
.smali2.ação Que&! drra, de modo restriti,·o, te!IÇtual, referente à lingua,
.• , car.ções de., trouvtre.s .. -
combimHe uma s::m.lizaç.ão modai', operanco sobre os meios co~porais rn:11or parte d =
e fü.1coc; da comunicação: nado o que ~e refere às grafias, quando (e tra-
UI da escritura; à •,oz, quando se 'rata da orahdade. u~ sejam ~cu modo Je prc-
A conjunção das dui::s sérles g::ra a obro Pelo menos, a part;: res- O texto çodco medieval, qu.aisquer q ~ .d:n,Lca. as me,ma!'>
. uti.liz.a urna hngua 1 e -
pectiva dos .sinais textuais e modaiscm sua constmúção difere bastante, clçãn e .-t:a dest·na~o u1t:ma. - t •;cas o m.:!ilnO \'o:;abula-
. . - mesmas regras ~m a.. , f
segund~ seja domi□ame em poesia o registro escrito ou o "·ocal. O tex- es'-1l.lturas gramatiara, ~, . u1 . "' e:":'l ,odas a> época!>, se a-
rua! do:nina o escrito; o modal, as anes da vo7.. No extremo, a obra oral rio de b:-,e.. As tcndênoas parnc ares QJ.., fracas ".iriaç.ães: uma,
d atico uazem apena~
seria conocbível üu::ir..mem.e modaJizpda, mas não textu11/rzada A ação zem marca, ,o .scurso po... '\ . o ob. e[O de u-::la rcpresent.a-
vocal implica uma li:,ena;:ão das imposições linguísticas; ela deixa e:ner- geranco obn:.~ q11e fazem
,
forte refen.:nc1a a J
. , . o ao qual o Lex.~o se a
li.oba A q·..;~stao
• • .
·o· a ouua. a um sLS:ena e,tet,c . ·, • entenco
girem ~ mar:::as de um saber selvagem, provenieme da própria faculda- ça • . . nrta~to mais a de um. es,r. 0 •
de da linguagem, r.a com.plex1dade concreta e nJ calor de uma relação que se ccloca ao med1e..,.~lti.ta e, p . . , . LO de sbais poéticos, r.o
por rtse termo, mmco . Pre·isamemc
1.: •
o conJun
. d rn texrn se m-creve
imerpessoal. Ao te:-:to oralizado - na medida em que. pela voz que o . ·e Qu.icu:Jo a vocal1dr111e e u f
traz, ele engaja um corpo - repugna mais (JUe ao 1ex10 escrito te.o;. i)er- scn1idu ~e.ma Jef un ° · ~
, . . .. l m Lraço geral .ara.t.ro
~ a sel estilo. De aw,
.
cepção que o diferer.:.:1e de sua função social e de lugar que ela he con- e:n sei.: des1gruo 1rucia, lll .. d d "os texto~ an.eno~s
· quasç totall' a if!'" •
fere na c0rnuoidade reaJ; da tradição que tahe7 rle alegue, e;,,:plícita ou e,se traço peri11i1Ju.l.:c C()murn ª ._
)J.01) Ele se manifesta.

1mplicítamente; das ::irrunscàn:::1as, enfim, nas quats se faz escul.éir. O a::, ~éculo )."I e a :nu.itos ouuos ainda depois e.e .t- do .ir.anio (conse·
• - 0u mais densa, a.tra'- '="' • • •
texto escrito comporta um duplo efe to de comunicação diferidôt; um, de maneira dlversa e m.m.1:!> •· d . poderíamos def1J11-
. - ) das es-ruturas do em.u:..1a o,
imrínseco, devido ~ polivalênc1as geradas pell íOrmalização p1>éri:;a; cução e :omb maçao . . . ·ct . fra-cnU1üedatic:.
outro, extrínseco. cau'-ll do pelo afastimento de t.mpm, e de contccos lo ccrr: termos comO -"•-coruom
u,,. auc ~ ~" de po ST"iSe. corno
. . - l t"' o texto i r:nesrno quan ' .
entre o momento em que é p:oduzida 3 memagcrr. e aquele em que ~sta ·nansrrnudo "·o.a men.., ,. há pcuco;.anos.
d ) . f~ gmcnia. E ce'"to 4uc. •
é recebida. O ;i,oema perfo:.natizado oralmente: ,_·ompona o pruneiro ti:I. cürema compac1 da e )e "' . f "mentario, em rauo.)
. =•o cm s1 ir.esmo, e ra.,
corria per aí que todn Lc... , , • . . se~ ... ci-~c: ce uma
efeito, mas. tm p:-inci;:::io. não compoaa o segu:ido: enquanto onl. re- • 1:, t ra que o atra,essa ,., 11•• .
pousa sobre uma ficção :om o mintm::> <lr imeciaLicjdade. na verasde, d:, indi:.-abamcnto de uma scr1 u . . fi ·11 em, limites J.o discur-
- ,. movimc1uc .n líl 0 •
mesmo se a audicão oco,:e muito :e:nj)O depois d) compos,ção, da só tersão mstat1rada :oi e ess~ - bZadO ,;;uc. 1.:iJmo ~:qucn-
pode ,er imediata. Dond:: a autorida,.k especifica de que ,;e ~en-st~ o
•o. Esse, l:aracten:!> se enc::,:nrarn no t;>:to o a • d• am•·· te do "scrito.
·• ... , ·. de di ..::rir pro:,m •-' , •
cexto perjormaflzado· o escrit=-' nomeia: o dito mostra e. por isso, pr:>,.1. eia hni;:msuca organiLada, :;i~o po l . d rºalizaçãu, e e \l.; coro-
. ' . um de seu, ,., ano, e ... f.
As o;us1ç6-cs assim tlc..;adas não têm pemnênda absoh.ta. Elas _ga- ?\las ci lingJtst '" e apena, . r 1-.... º.men·.ar-edade c~')ec: 1"
. -
h na,•;-. de 'í'Ut·o~ ;:i1a.n0 ~" -
"J,. çrcne::1 urna "-,-.
·do e: desenha er.
nham sua maio~ for;2 .,e comparamo· uma obra c,crira, para leni:·a • •1 "ffi3 0-11 e -on~um, )
0C1..lar a pc:rfo. mance Je .ima obra dt tr:id.çao puramente oral. lra1andc•- ca. A r::n,ão :l p.iru1 da quJ D po.. - . W""fl ent:e sua~

=~::me
de dr umi Q'Ja,r conr:-.i ....- ·
,e de obras qt.c Linha:rn desun.ação \.'Ocal, mas que nos c.hegaram em "'or- tre a paJa-.,ra t a vo, e T'm::e . ~ tlo di~C1Jl'>O e a infl-
ma e~crna, )0mos for:;ados o supor que as duas ordens de \'alares 8J finatoades xs;,ectl\"2>; en:re a tm1tude a ~pa~ialidaàe
estão 1mestidas em coniunto. De far o --•de
" ,u da memória, '!ntR • ahSlr.a;ll~
a[ - ~e "'íCl:l
•eh·· , .... a 1s- nao satura
'- 1-•~• •
do cor71O. Isso peque e, tc:-to or nao ,. . -
ru'.lca t:>do o •ct.. :,paçc )emintico. E por icco também que o d,.-,.~ ·so \'CZ, cn:~erguu i um carâter umve11al da "epopéia' z 11.la) trata-~e -
a( •e constituiu 1radicic...,almente. até o -.éculo xv, ~egundo o, r ·m11
mas r::ulica mcnle - de umJ .,.ão tc,ctual", como diz B
em que res~oam os e:itrect:oque~ de um plurilóg10 ,•ocal rupturas de d......,uu1.,... J!,...............,.., b que
esulo e :te tom. heterogeneidade-. mtáu:a U1ce sante expenmentaçiio não ê tntegr: \.'ti
1.ertial; Rn mesmo tempo, afirma-~e a vontJde de ensinar e .:o m·ence~,
Essa ingerência ::k, corporal no gramatical indica outra carnctens-
at n vessar o \•ivid,:i e em segu da, ·,oltar a e e, :::m:ularmente, enriqueci-
11..:a notável. comum a g•.ande numero de obra el' :a1( ma aminda
do das: iit1mficaç ,es co' ~idas - poe,ia profu"ldarnente oratória, des-
de unidade. no sentido que uma trad .ção clássica no~ faria dar a e~sa
dobrada 11a praçc. p·í::,lica co:no se num teatro.
pala\Ta, Qua.r:.1as hi!X):es~ reiat ,..,,, a perdas, 1oter,,olaçõe~, remane:a-
.\. f-r.gmen:ariedade rec12.2 idealnente o .discurso a uma su~são
men•os supos=o~ provie.-am simpleimeme da repugnânch experimenta-
de aforismos (.:Jcno, :::om ba•tante frequência, no "grande can:o cor-
da por filólogo, etrados diante do qi.:.e nosso~ textos têm de múltip' o,
tes" 1 .:"I U a uma rup<;t1d1:, às vezes de:::laraéa (como no Trista.rr d<: 13<:-
mulcicor, às, ezes cfüerso a ponto do contraditorio~ Tudo isso su:do ao
rouJ). as vezes reto:icamente caml.flada. Pan alêm dessas rupturas, des-
interior, ao apelo inicial de uma voz, c:m detrimento de uma coer~ncia
~as disj J nçõt:i, apa1ente< 01J reais, o texto se prcpa.ia para eutrd.r em
pcrforn:arcc, para u:regrar-se no mov:ment,J de um corpo, em sua ver- externa, defiru,·el na proporção da~ parces - e interna ... na medida em
dade vivrda, ao a':,rlgo de todo seqüestro racional. Essa fragmentarie- que a sentimos como uma irrcsisúv~l con·vergência funcionai. Raros .,ão
dade c,~â'Jcitl do texto nedic,·al impli::a menos o de:..?(!daçamento 1co- os textos um pouco longos, antes do século X\.t, que não se ressentem
noda~ti:c de una imagem e a recusa programática de uma totaiidade âe uma ou de ou·:a., freq:ientemcnte das duas. Certa .ndefin..1,.ão esmaece
(corno se viu nli.ma época proxima de nós) do que uma muitjplicida- as fronteiras texmais; o exame das tradições manuscritas ,~-mitirü. or-
dc djnãmica, a HmuJtam:·dade de movimen~os diversos e não necessa- denar os tatos em du.as classes, conforme pelo me.ros certa ordem das
nan,C'l tt com·ergentcs Além disse, no seio da tradição à qual ela já não :pan~, percebida como itil, talvez ate aecessária, permanecesse relati-
pode ,er refoida, a performance ressalta como urna descontinuidade vamente estável ou., ao contrário, conf:>rme a autoncrnia das partes ;,e:--
no continuo - fragIJ1enta.ção ''histórica", cujo efeito aparece com can- mitissc pro))Or, sem prejuízo, llJT1a ordem nova, acrescC'Dtando-a,;,
to maior evidência quan:o a tradição é ma,s longa e mais explícita e transferindo-as. suprimindo-as, sem prejudicar a fcrça de i-:npacto do
abrange elementos mais bem diversificados~ é assim na economia dos troo. Essas duas clas5'!5, muitas V"'...ztS, interferem. O que i:npona, aqu ,
ciclos de lendas, de epopéjas, de conto!, de canções, superunidades vir- é que os traços assim em destaq\Je provêm de uma exigência estranha
tua.:s cQa propriedade é jamais atUalizarem-se em seu conjunto. Um àguilo que nós, Modernos, costum!ll1tos perce-bc-r ou pew,. É na per-
ciclo, por sua vei, totalidade mtuaJ e provisória, não é senão um frag- formance que se Exa, pelo tempo d.e uma audição, o ponlo de inte-
rn ento de 0 111ra totalidade - a constituir-se onde, Quando, come,? b- gração de todos 03 c:lemeatu:. que consLituem a "obra"; q1e se ena e
tando--.e de romances como Ericfe tneas oi: aqueles do rei Artur, fru- recria sua única unidade '>1\'ida: a Lilidade desta presença, manifesta pelo
tos ~e umrc. \i:3.Sta operação coletiva de redescoberta e d~ recupera-ção da som desra ,•oz. Donde aquilo que. à leilura dos textos, parece-nos coisa
história, a relação en:re a obra e seu pré-te:xlo é a me~ma. Dessa pers- equh·ocada, voltdo inúti.1., anúncio sen: objetfro. "Onde ~s1ou com a
pcc:iva, penso que s:: po~sa cswdru com ;:,roveito a formação e a difu- cabeça?!", pergunta-se Go..<-tfried von Srrassburg, nos vv. 5227-32 de seu
são nos sé;uJos :<Ili,lCIV, xv. st.ravés do Ocidente, e depois o declin:io Tnstan: ele se esq:.i.ecera de apresentar uma pcrsona,em! E tantos ou-
tlu~ grandes ciclos romancsc::n cenL~dos no Graal e na Tá'>·ola Redon- tros autor:cs: "Por que demorar mais~", " Para que me e-s:ender?" e
da. T:i5tão oc Diecri.:h von Bem, até as sínteses univenalizantes de um outros cfü:hês que, por certo, entram na retórica narnth'a desde o sécu-
Da'-id Aubenna Burgunltii, i.lt um .Kasvar ,,oo der RhOn na Alemanha, lo xu, mas que .só podem ter cfic eia e cumprir ua funçã.o na ortlem
a "e~ões ibéricas das Grandes conquites de Char/err:agne. logo pro- d.a com;,osição quando trazido ~la vo:z e sublinhado ou co~entndos
movidas a reterfnc1a últ~a e 1usoficadora de dezenas de "livros popu- pelo g-c5to. É assim que, no É.roe/e, Osutier d' rras lpica seu textl) com
lare'" do dois lados do Atlântico..\ienéndez Pidal já definia assim o &0úncios., à manctra de um cont do· de hi tória hido por manter
que e e dcnominavajr.zgmentar.smo do Romancero, au:cultando o apa- atenção, fazendo ,,aler a contmu1daôt de sua 111atfri n. rrativc. Tre in-
rc:ntc- inacnbamcnto de cada texto co:isicerado em s1: C. Bowra, por sua tenençoo des~c e:ic:~o, <kcxtcruao re ularmente dccrc cente (27, um

162 163
ie, dé'po15 no~e \t'í os), i:'ntrecL1rt1.m a n.irrativa tom intervalos de di desp~rcebidas na p~formance ou me~mo, de.,;t,1cado5 pelo jogo d0 in
mc-n 1'\c.'i compar•vc1s (entre 2800 e 22(10 \Tr~mt· 1éq,re1e, sus-:1tam ai al,!!llm sentido aúidon..il
- no~ LV, 87-J U, lo i, u •po1.:, da dcd1Uitóriu, (i(l,1ticr for:nect um Outro farnr atua err, ta,·or dc~sa fragmentação: 11 ;,róprrn for,,:u d11,.,
rc.· umo J,1~ i1ar1es do rorn ■ ncc concernentt'~ a Éraclc, ma~ não dfa uma tradições tematicas e forrnaic;, !lO ni'tel dai, quail, tmais do que no da
ralavra t1!)re a per onngrm Atana1s. g uc: t i;:nponantc; ek pretc:□dc en- obrn ponicu.lar) se constitw .i única \çrdadeJra unidade ~upra-scgmcntal,
tão prtci ar - e fixar no e~pfrito dos ouvmtc!i - a natureza de seu te- percebida con:o tal e à qual toda palaHa volta, Eis por que a forma
, a gerill, :m relação ao qual ludo o que 1·itt de dilerente será amplifi- oralmc:nt.e rea.lizável yeriuam:ce i!penas dQiuc:rd.ll'>'lll, u 4u1:: Ma.-.. Lü hi,
cação, orn1memo, desvio; .i j}ropósito dos emito'>, denomina Zieljorm, forma finalizante e ideal,
- nos w. 2856-2914, após o casam::nto imperia;, Gautier :resume -eaU7.aca aqui e ali, ma~ nao na obra inteira - que, enquanto tal, n;Io
0;.~ episódio.'> precedentes ccsde o começo do romance. Segue-se o a:nún- pcd::- constituir uma totalidade. Essa noção se apl.ic-a, de modo eviden-
::· o do que vai acontecer: o adulrerio e 9. ~.:paraçào, cerJC1is a ascensão te, à poesia cantada dos se:::ulos '.<l, XI! e xm; mas, de maneira mais
social rlc Érade e a conqui~La da Cruz. Toda a passagem constitui uma complexa, também à o:ira comi:osta por escrito, como um romance, no
estase na narração, a J}Ouc.a distância (cer::a de trezen-os \:ersoi, ou se- rnomer.Lo em que uma :ec:itEl.ção em voz alta, d1ame tle llID auditório,
Ja, doz~ ou treze minutos ele fala} do meio: confere-lhe, se não a ún~ca existência, pelo m~nos uma outra, definiti\•a
- enfim, nos '1,'V. 5ll0-S é anunc'ada pela terce.ra vez, imediara.- e1qua1tto sociaJu.ada, conforme um.a in1ençào origi111al. Somente o som
mente antes do começo do relato. a oonqui~ta da C"'llz:. e a ;:m.:sença, e jogo voe.ai e a mimica reaJizam aquilo que foi escrito.
A maior parte do5 relatos, em rodas as linguas, compurra Lraços Qualquer que seja a pe~formanci=, esla pr<>)Õe assim ao ouvinte 1m tex-
de~sa natureza. A Cha,'isor, de Roland. "lrn textm rll' O,:ford e cfe Châi- to que, cnquamo ela o faz existir, 11..ã.o pode permitir tilubcios; lllll lon-
L:::tUrom. é re:ortada em lres pela rererição, em dua~ rcLornadas, de um !!º t.rabalho escr.to :;,oderiõ. ter sido pieparado, cnquanLo o texto oral
TI ão tem rascunho. Para o intérprcLc, a arte poética coru;iste em assumir
\'e'l'SO inicial c,:'.im valor de refr.i'io: ::i, rlinemões de~s:es trecho.-, bastante
di fcrcnt~s do resto nos do:s manu~critos, i: oderiarn mrr~spor.der, como
C!!sa ~mtantaneidade, em ímegrá-la na forma dei.eu discurso. Donde a
s~ supôs, à :iuração das três se.ssôe-S nece.ss.frias à perío.'.lllan~e d-0 poe-
necessidade de ll.Ma eloqüência particular, de uma fluência de- dicção
e de frase, de lll.m poder de sugestão, de uma predominância geral dos
ma.3 Ainda no Éracte. em que a narração se dispcna sem cessa:, d.is-
riun~. O OU\Íntt! segi;e o f:o, e nenhuma volta é po.ssivel: a mensagem
;emina-5e em detalhes, crn jogos ,e depois c::rn rcpc:ntlnas ;:Jrcum·oluçõt'~
deve chegar (qualquer (JJc"sej<1 o deito buscado) imetliatameni.c. No qua-
sabiame:ue rei.das, Gautie· não deL~a de valoiz:ar essa iragmeo!.a:;ão
dro traçado :ço, tais imposições. a llngua LCnde a uma trans;iarência,
d:) relato, por meio de lUlJa formula. <;uauo veze.1 re;,etid.a:
menos de sen·ido do que de seu c;sLado próprio de li nguagem, rora ele
-- ,._ 114: Hui rna~ mel m'oevíc' commellchU?r., toda ordem escriiurar. É a voz e o Jle51.o ciue (,'.lropiciam uma verdade:
- ,.._ 2746: Hu1mai.s ,:ommencera it contes; são eles que penuadem. As f:-ases suc::.ssivas que são lançadas pt:la voz,
- "· 5(19:;._ S1 vos ifrrons J'Erocl#! huimais, e que ;Jarccem unidas somen.e Pof' sua conCÃ.àO, entram progressivarnent::
- vv. 511~-l: Bon mt' sereait liu.imais u rli,e no fiD da escuLi:., cm relações :nútuas de coesão. A coerência última con-
com,..,errl fu p;iis. et ro~ <!l sin:' seg11jda pela ol:ra eum dom do corpo. Na hora em que, na pe:-forman-
:e, o texto composto po~ escrito se wrna voz, uma mutação g1obal o
("Agora vou começar minha obra/ Agora vai comL-ç.;1r o conto, Fa- afeta. e. enquanto .~e pro.siÍlila nessa audição e dure essa pre5ença,
la~emos de Eracle agora/ 5e~a bom agora que eu ,·os. é.i~ar como ele modifica-se sua natureza Além dos objeros e dos sen□dos aos q"Jaís
veio a sei rei e ~enhor.") A última é sirnplc, rei~:ração ds terceira. ou ele se refere, o d.:scurso vocal remele à.quj]o que há de inome.avd. fa~d
es·a eum anúncio daquela ..'\parentemente a i11lerpretação não traz di- pala,ra não é .i simrles e:,;e:;utora da kagL1.a, a Qual ela jamais co:tlpkta
ficuldade O~·. 2746 tmplicaria qu( aquilo que o precede ;;onstnui ma plenam::nre, a Qual e - • iola. em lod:. .,. ~Wi ..:orporeidade. para '1osso
imrodução, u:na vasta d1gn:,;sio preliminar que ocupa 41o/, da duraç.ão L.'llprevisível prazer.
t
teta. do r~lato; a partir daí, re-stam J~4.2 versos para che~u ao fim do É assim que a -.02 mt.ervém no te'<to e ~ohre ele, como de;itro e so-
ro:nance; e. ainda, os 'v'V. 5(192 e depois !I la os ~ortam cm dois. 1as bre matéria se:uifom1aliuda, da gual se possa modelar um objeto -no-
· e . ~ pen JWlTI'I I lt-ít !ui ~ mte. -1>1i.sa:m vel, mas r,ronto ... .,....,,,,... di$Cl o !I palavra poética MSJ.u /.__,_ oda

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pode ser .:apturada e, •e fo• e, caso. anahs1<la. Ainda nos "l'lt>.11ln~ .1 • pl05. a 'ru.st. a p.1la'l'r.t!I ~
esrnu~.cm em mJ!e-stôts sonora~, des 02CJ'1
1éculo x\, 05 verso~ de V1llon e:-:altarão c:ssc r.1odek1 p,1uro .1nte, que
e m1 puras figuras de som cum ulall\ ,s. \ lu~ :1 rendência e m 11t'."I rn:11,
0 ~ufoq11e,m -e nãíl Gutenbcre., □ elo mtnr\ o, epfaoncs de T'et!aica; H':J
upnos.a Litania de o ta"as de o::os~í'2bos de 1i:mo rápido, mantido cin ••
de uma agradável desamculaç!o da lin111a. ao lomzo do desenvc,lv1men10
amplas imp.raçôes suct.;sivas, ,.lt-,p:-c2ando tradi.;ões --i:tóricas que a e, i-
cexcual. s:1•g1u uma ,equc:1c1a absurda ce sinragrras Jmtapostc• ~em re-
tica só decorr;:iõc en1 uad..ade5 de re~pirar,:ãc e em q Je oeq ueno nú mero
lação gnrr,atical nem semântica; 011 emio, urr.aacumulacão li•ãnica de
u(: .crm,s ec, 1e~te5 e dn'.11~:il'lam oom seus mou ~J ""::.pl.ficatór1~.
.....

palavras .solada-, sem ...:orrexto, uma .'1', ult1dào d:: nome, pró;>no! apo~-
hgadn1, uns aos o urros por associado de ideia ou de ra lavra de s.:>r.l,
:rofados, fora da :rase ou encade:'.dos em -::onc:c.cma;ões \erigínosas
tlt rima, aplo1ando, atf m ::x:ri.:n~:>~ ca ~atun,çào e tlu 1·ukdo grores.-
de fonemas; palavras gregas ou hetraic-as, co:-nc cal ·.ncomweensíveis
C<J. temas. rramformado, em clichê-- 1a·,1a sécuJos. !vto::iólCJgo LOS limi-
e reduziria~ ap,ena.,; a ma ~onoridade (assim o k;·rie eleison rcrnrrcnu:
tes da dc:mência, do qual pou.c::, impor:a conhecer o npro1•avel autor,
tão pre~cntes que estão o timbre e a ser.sm.Jidade dess.a Y07. Pouco im- nesta oJ :iaquela canção satírica alemã);; moriossfiabos ambíguos, in-
porta que o modo de enunciação, as regras pcrformanciais sejam pro- terpretávds tanto como palavras. sisn.fkantes quanto como int..:rjc:i,;õc:,,
1:avelmente c:odificadas, em certos setores '. po<le-se suporJ, com algum onom.atupéias, ,g-itos. :\lo limile, uma serie so:iora sen nenhuma refa-
'"igor. Ci.!rtammte, essas cod~ncações, não :nenos que as da Ji-1guagern, cão mm o código lingüistico ,·em o:prcss1,am~.1 t pa1asitar o 1:11um;i._,-
imerpôem-•e como uma tela en:re a:JI.IÍ]o que me dz o '.ate-rprete e o co. Esse ti1:imo procedimento foi ~·alor .Lado pdos numero~os .i:oetas
fundo afetjvo e imaginário mais imicionaJ de seu ego. Ma~ essa tela, c;ue, ao s.~u.lo xrn, especi..iJmente na Frc..nça e r.a A.lemanha, unh.zar.,rn-
a dcspeico de todas asidcotogias, permanece de extrema fragilidade, qual- no ,em ~frãos de suas can;ões, latinas (:::orno as dos go!iardos) 0.1 do:
quer c-oisa a perfura: o tom de -.illlla ,·oz basta, tmanação daquele fum- língua vulgar:
do. A ,•oz me t:ru: à luz, "representando-o" ('lo sentido cê-nico da pala- .\.~t:ndaliet, Afurda/iet
~·ra), o discurso que gara.'11.~ essa poesia. Donde .1m desdobramento: tal i'>-li,, gesel/e d1omti rriet
discurso se faz simLltan~amem~ narrativa e, pelo próprio som da voz
que o enuncia, c.orner.tário de5se relato; nar:açâo e gjosf., conjuntos in- ("i\;fandalret, ,\1a11da/iet, meu amigo não vem");
;eriores â ohrn, ernhma ,~j;:1m amônnmo~ f. cr.idf um faça ,;eu jogo. Da ,'íf! me mori _ftrdw,
relação que o ou.-irl.te percebe entre elas prcvé.m uma ,eracidade pa.ni- 1r).•r1t1 hyrie
culnr, requerimenlo de confiança e de participação. Na bocn do intér- m;~t'Q'.a triltiri~·w,.
prete, o que a linguagem corrente denomina. dicção consü:u.i urna re1ó-
rica da voe:, rmineita. de o fo.lClnte • 'coJoe.ar'' a pc-esia, ao mesmo ta, po
(''1\'ão me faça morrer, Jwria hyrie, '1azaza rrithrivos'~t. 5
em que e1e se coloca no bojo ela coml.nidade daqueles ,:_;ue o escutam. Canções e rondós desse tipo se contam às de.-:enas ou até centenas:
e ne i11clino a interpretar com esse se:Hido os efritos de ••t>füngü:s.mo",
jogos ele deslgam.ento ou atê de derrapagem d~ 'JID a outro de dois re-
Enquar..ro vocal, a p~-fo'Illd'lce põe em destaque IUdo o qLie, da gistros lingüJsticos, tão treq1entes desde a. época carolíngia até a dos
linguagem., não ser.e dire:a.rneate à mfarmacão - esses soo:~, segundo grcnds .rhétoriqueurs. O efei:o assim produzido era tão mais fon~ que
alguns, cios elementos da mensagem, destin,dos a dcfmir e a redefinir fazia soar .m :'!ilior a voz: no intervalo das lfn_gua.. não sem figura de iro-
a situação de comU11icaçfo. Decorre dai uma tendência de a 1.-0.z trans- nia co.llÍrontadas, imiscui-se o desejo d~ .;e afa-tar dos lacas da llmtua
por os limites da Jíngu11gem, para .e espalhar no inarticulado; gcraJmeruc oarural, evadir-se diante de uma plenfü1de que não seria mais do que
reprimida pelo costmr.c, !!!~a tendêocia tri1mfa :ias formas mais livrts pura prese-aç.a. ThJvez os élmu desse dcstj o. próprio ao te:cto de ,·oca;.ão
do canto. ·" té-;;nica que ccmsiste em integrar no !~to poi!tíco puros ~o- oral, sejam amplificados pela situação ((llC. at~ o século 1v1 de ocupa
cal 1e}, se ma.ntf!l,e durante sécn.los. até o começo do século x~·•• e se pro- na memória L:oleti'la: nem isolado nem ~epn rado da ação, ma ~1ind.-n1u-
lon ou na cançilo dita ;iopu.Jar. As coletâneas manuscritas q11c nos con- lizado como i i,go, do me~mo modo que o~jogos doco:po do qua ele
m~ararn n JlOC~-ia cantada elos séculos XL, XIJJ e xrv form1Jlam Je exe,m- realmente participa, Não t j us:amente a c-s-:cftul,> QLlt, co rno rndo jo o.

166 167
ele procura um prazer prnvcnicmc:- Ja rcpcciçJo t das ~em~lhança1? Ce- dí\linção 11u-:: rem(m'.i <1 Bm',10) fo w,itu~ rmrr ameme dno. mas na
mo rcw1l1 iogc,, eis, IC?ol(' l'<lt.-.ali:,ml,J se lorna arre no seio de um locm da m1Jnca O 4L1c, em sua funçàci p,oét1ca. lht imporia e a hannonia.
tn.o.rnnal m,rnílest.i.ao na perfo•mance, do qual prnn· li- e pira o ~u.1I um ocordo ertre a 1:ire;1;ão form11.liz1111re ~uc: da manife:.ta. e oul!'a m
ca~
rende ::t 101al.d. de t-ncrg,aç que conrntucm II obra 11Í\a É, em parle, tenção, menos muda, difusa na c.xrMiênda soe"1AI do grupo OU\'inte; essa
um ioctü qualit:iti\'O, Mna operaróna da "função fama.smática", segundo 1Hurnv,úct ~-= 11:1,t:Ja nu movim:-nt{I m~ido 1mpre~,o a mai éna sonora
a expressão de Gtlbcn [)urand. Ma é também m lugar concreto, 10- e, po;:- j~so, ã., cmoçoo; ,rnscitada~ l'la(JueJes que a percebem. A trad.i;:ào
pogr:ificame:ite defin{11 1, em que n pala'>ra, dc:~dobrando-se, capta uw proveruente de Boécio dc!.t'.rm mou toda a r::tle.'\âo sobre a poesia. Nes,e
ti::;npo tão fugaz que ela confia a ~e próprio espaço a tarefa de ortle- sentido, E. de Bruyne põde !alar de uma "esrética musical''. Princípio
r.ar o discurso. ""!'ão 1enho dúvida de que e5sa seja a causa v1i1 ~ipa! de 1mtafo,1co em ação, Juntando e r:!>:ruturando os elementos do real e da
um ,;:aráler 1mp-e5sionante, e mu:iras vezes assinalado, de no.s.s~ r:ex,os: linguagem, a musica çe i11Screve na relação mútua das esferas celestes,
s.1;1 frqiicntc inaptidão i:ara Yc:rlal11.ar as descri~ de seres ou obje- d.a~ coortes angéticas e das cria~u.ras sublunar<:s. Cal:Je à voz poética ex-
tos a não ser pela acur.11.1laçào q:.iaUficativa, sem senso de perspectiva. plicitar por sua práLica. es.;a relação profunda. A propósjto disso, pode-
);ão é ca.-.o de representação o □ de recusa de ~epresemar, mas de ~e nólern.!tíca:mente refern a \'c!'l-ão latina eia Sequr;nce d'E[4./a/ie, ve-
préJ,Cnça. E toda presença pro,·oca., com a ausência qu~ a procedeu, u:na neráwJ anceiitral, cuja.l primeiras clausulae comtimem um elogio da~
rup1ura que ger:i um ritmo. NàD é fortuiLo que tunas i:llervcnções de cadêndas bem donu::iadas do camo e uma exorra,;:ão a rep::-oduzi-las;
amor, aJonaçiíe~ imrod'Jtórias, dedicatórias, lou"ando dea.lg-wr mcxlo UJTI Yocatm1áLc, em q11e as aliterações sublinham a redundância \'0h1n-
o i-e;i;:to oferecido à auàição, empreguem termos que reme1em (não sern tá1ia, ()1..--:lpa densa.mente c,,s.a, oito linhas, evocando o objeto sonoro do
ambi~uídade, aJguma, ~ezes) a um modo de dicção, a medida que sus- ca11to (canti.wn. carmen, mefodiam, me/OS'), a ação do cantor (c.nnri-
têm e comêm a 11oz: compassada, meJ1.SUrada, revestida e oucros termos ne~, cümgere, canere), sua VOL (l>'OX, voces), o instrumento que o acom-
que ~ualificam aquilo que é proposrn ao omido. Por suas modulações pa n h;i (d1h.nm,fidesj, a impressão ;mxluziàa s.obre o 0L1vido (suo'Visso-
ta:1'.o quanto por si:a recorrência, a V(JZ poética gera um ritmo par'icular na)... O mo.nge do séeulo 1x se e~prime aqui, num regisrrn alusivo, em
na duração coletiva e na história co, indivíduos Ela forne~e ao rempo, ,ermos próximos daquele,, mnis cescritivoE, que empregará 110 sl"CUlo
pelo~ efeitos de reton:o e de suspensão que produz ai, uma medida con> xi o autor o:t..;tânico caChanson de Smme I'oy. A.ntes de toda edllra-
;:,ará,,..d ao "tempo da Ig::-eja" (seg1 ndo a fórmuJa de Jacqi.es le Goff), ç.ão e de !odo artifício, a voz~\"., é- r,ier1.,l,/.11ui'.l t:ll~• I;'. 1.11> ~vu~ tJ.- uatun:za:
donde rni.~ conotaç&:5 .sacrais: diretamente arlicu;ac:ld, numa perspet:- pdo corpo do qu~I emana, pela lin6 wtgem que ela pronuncia, pelo e.amo
liva 1.miversal, na musica dos ciclos c-ó~micos. A trad.i;:ào boc;ciana, re- ~m q-ie elot ~ t:ll.pamk, Constitui. assi,n, o locu:; ceneal das relações
vigcmda no começo do féculo x:r, concebe a "mi.:sica"' como catego- hannô:ncru, harmoniosas. No flm do sê-cu.lo Xl'r', Eustacl1e D~tha.-nps,
ria lram.::ende11~:. qu~ ma:dfesta a ha.nnoni.a dos ritmo5 criad;>:; e as t:ru ,cu Ar1 de d1r:tier, ai ricl!a disrmguiria da ·'múslca amflcla.l" dos ins-
proporçôes dos números., assim tornadas percepúveJs. Ora, a "harmo- uur.itntos a "mú$i ca nanuaJ" da fala poécica.
rua•· ~ cor:creta: ela provem do mc•vi.'Ticnto das cois.is risív::-is, do pró- :-l' o u.so correme cios poetas e de seus mterpreres, ~ a esse comple110
;iio corpo do homer.:1 [cuj.as puJsaç5e,; marcam o ccmpa.~so funcamen- conjLmto di.: sen:imentos e de idéias que remete a palava rima, fn:qü.cn-
6
1al de tudo), e da "cons.:-nância" do:; ~ons, morus e mvdular!ones. Ai te eu; suas bocas ou càla.mos, desde que se .rate de louvar sua abra: a
reside.: a beleza do mu:r:do,. cuja propriedade é comover por rneio de p,er- '"rim.; verdadeira'' ena:intra-se ai (r)cstabeltdda, ,é "-imada com g:ran-
c,p;Bcs s::n.)oria.is, ,;01110 1::n~ina Hujjuc:5 de Saint-Vi.:Lor, evocando com tk me;,,'1ria'' e ou :ros clichês. Ora, nma conservava d~ sua origem (o grego
o pra2.e-r c:o olho os de OtH'ido, do olfa:o, do paladar, cia ternura d.o to- lat.irn,.ado rh_whmus} a idéia dominame de c:adéncia I Entr.:: os sécuJos
..;iue;:, ma~ ~ubreLu<lo a Jocundiras. a ''alegria" das sonondack, melo- '< e xv, as fontes latina, -~~lc:munham o me5mo mteres~e conunuo pot
dímas. A ludição parece pri\1legiada no pensamente dc:~-.e.~ doutos. Ro- qurstJe~ de,.,a nrtlem: teóricos da nrjsic.1. mas também et6:'icm.
dolp,1 t de Sam Irond, por voaa de 1 ()1, definiu globalmrnrr iuumoma incerroEam-se ,obre a pm,•wn,·:at10; grarnáttcos para os quai~ a passa-
:orno um acordo da.; vozes; para Guie.lo d'Arezzo, um cantor '':i12" o gem CJ metrica antiaa a um sim:ma acemmJ cau!i.ava p~obkr;-i.K 1:ma
que a mus:ca ' cumpõe' ', is1u é, nari1íeJ..ta o mmo do ui ,erso.7 tradição que remonui ao ,ecu o , definia rhy1'1mu.s corno numerosa
Toca \OZ ass:un ''modulada" entra na ordem,.-•.,-1]--.- adjudir.wm m~1mno(•~moc:antada ~ o j 1 1 -

1611 169
nmcnto do ouvido''),• e m.rrier•,s iornou-se o equi\•alen•e lat no m.Ji e 11s, o <ledimo do poder vr>cnl e a sttosã,J ~ uma escnta hegemõt 1ca.
ge:-al, co111 mythmus tendend:.:, a ce~1gnar rn,lls e-;~1.almente o que de- Entretanto, em pocYa. '!luluphc m e s formas Conemente cadercia
nominam!)_., Lm i·erso, harm .m a J:ercepuve re~uhante de certo arranJv da , o i!neros com rdr o cnqu nto se oen ua e aperte o. C' a ·
daliagiJ;liCm N. nrerus, por roa vez. gnifiea men n mero do qiu pccto ora•hno da prosa de rtc, mp o o JO o ..
''orcem, seqüência ordenada" ~To século xrn. o Ttiso-r de Brunetto la-
uni, li"..-ro lI, cap11ulo .x. ~pfü.a-o cla:a.mente em fra.,.;:ê:,. Ceno5 letra-
dcs parecem ter estaco conscie.ltes de tocar as.sirr. .a ec:sência da r,oe--:ia; O; efeitos ~itm1~0" abarcam todas a.s ~:uturas do d.iscu"-> unto
e as conf1 sõe; que (a, ~ez~ po: p:ete:içàoJ ele'!> nos o.rereceffi a [::'Opó- a ,-ersificação qua:1to a d:stribuição das unic.ade~ na~:a \·as. tar.D 2 de-
,it~• dis:;o !'!fletem. 5Cill dm,da, J intuição dos ;ira(~os. Eberha:cus A e- =lama~ão mu~ical qi.anto seu acl1:Jtpd.Illlifmemo gçstual R~to,1am.lo li-
man11us, no úcufo xm, enumtra nos.,..,, 68'1-734 de seu Laoorir1,'1AS os vremente a terminologia de M. Jousse, dis:iogc, ::es planos de r!aliza-
ci,·;-rsos. arranjos de r,nas (dissilábicas: ele não parece de.,ejar 011:ras) ç.clo: o da consticuiçào dos conJuntos (glotJafr:.:ição), o da figur::ção
q ie ele reç:>menda em latim. Ordena seus exemp10.s e-;t1 ci::1co sé:ies de (imensidade) e aquele em que se cefinem a altura e- o timbre {vocalida-
dimensões iguais, à.s ::iuais introduz cinco vez~ um ver<.o-refrão refe- de). De modo geral. cada um des~es planos cooce·:-ne ao corpo: a globa-
rer.:e à arte m.1Sical: Ccrminu qual! ta:i sunt modulanda modo ("Poe- liza.cão, na medida. desigual, em que ela in:e-,;ra figuração e vocé.lida-
mas que con,,·ém mod'..llar as~im' ): a me,;ma msistência nos._.._._ -:'3:-44,
de; a imensidade necessa.riameme, pelo jogo de ~-e:itos, ,·erbal e g:stual;
propondo :ornbin11;ôes lexicais (denominadas cosamer1t0s) de l'.tUe a
quanto à vocalidade. ela resulta das sonoridade.s 1in.ka~ que a !lari:rnt.i
maio- parte compor.a f.guras d~ reoetição: sic mod1âa.re • .. :noouk as-
p:-oduz.
sin: ..."; e de novo, ~-v. 775-816, encabecando ouua seq-:iência de exem-
A globa!J:.açào re..-ela uma cu:iosa djstribuicio de duraçõe, formais
p.-::>5 que rdncm rir.ia~ :lissiláb.cas, aliterações, paraidLSntU) pamati-
no conjunto da poesia medieval. Eu obser,a·•·.a i.3so desde 197 2, 1 pro-
cais, redup ica;ões lexicais: (ar-mina sunr ~·ariis sic modu,'ana'a (''os
pósito dos gêneros na.rrom·os,t= mos a obscr,.;1ciio e mais glocaL-ntntc
pcemJ.S de..-em ser modulados de~tas di·,er:.a~ manetru' ·,. ConcJuindo,
nos vv. 991- 005, Ebef'hardu.s düs.eru. sobre a natureza ao ;',.'ume,o. :uja. válida, de modo cada ~·ez mais claro, à medida q·J.e nos aproximhlllOS
de J:500. Chamo, as.sim, a atenção para o contra.m: que aistc: c:rH · e as
prc,:nç.a cm poesia~ manife:.'.a de modo trfplice: peJo recorte das u:u-
formas bm·es (às vezes muito breves) e as formas ongas (às "ez~ :11ui-
dades s~âracas (membrum), pela natu-ez.a da sílaba e ;:,ela "s-e:a:eU-.an-
ça fiual', u lromoio1eleu.:011 dos gregos, nossa rima, 1:nt'.=•itca□do assj:n, 10 longas), coutrnstc- que nada atenua, pois a.s @randezas media11as não
no tér:nino deBa grada;ão, aJguma idéia de :ealizaçfo plena. A rima, se encontram quase nuaca. Daí re~ulta um :urioso efeito geral de rit-
acr~centa a~ui o texto, é melica ~·ox. cz.jus me1 pluit arm ( ..rnz melo- mo, sem dúvida sentido pe1os comcmpo:râneo.s. de ;-,erformance em per-
dio~ cuja do,;u.ra satisfaz ao ouvido").1u Dante, 110 li..-ro Jl, L--: do De formance., como próprio à palavra poética enquanto tal. Pode-se supor
vulguri efoq.1e,,zria, lou·,.mdo o efeito d3 rima, afasta-a secamente de que as formas bre-.·es tra,;:a,am coletivamente o :oo.:raponco das fcnnas
sua reflexão: co:icen'.ra-'ic na arte da cantio, obra corr.um do i.r.telecro longas. Será que elas er.gaja,-am na performance os efeitos corporais
e do desejo, enquanto a rima con!->ti:ui a arte.. dífe.re:rte, dos sor.s. rnais visí\·eis? Parece-me pouco comestável que as ma.is fechadas ues;as
Um trat3do do s~uTo x fala•.'a de c:ilnend1 aequi!as (''o eq_ciJ1brio formas reakem. em certa medida. o "fo:mul"<rno" de tal arte. \hlrnrei
do ::an:o"J11 : conotação ;:,ermanc'lte cesse vocabulário. referindo-se. e:n a este aspecto. Mas é 110.s planos da mlensidade e da ~-oca/idade que os
ultima anáfüe, à a1ão vocal. Por :;eno. ~ imprcci<:ão dos documentos, ritmos aparecem com a maior e11idência sensoti.aJ.
maJ retirados de uma terrninolog:a anacrônica, a flutU2ção das :PC'OãX'· O termo huensidade refere-se aqui à formalização - "figuração"
s:içõcs que eles no~ rmnsrnitem de;um lular a muitas' d:ividas. Mas es- - textual. Ens1oba nossas idéias cumWL> d~ prosa e: lerso, mas o cun-
;es -:=s-act:rC! li_gnn-~e à noção qualitativa do tempo q11e pfC'\·alece ate ceito que ele implica lhe neutraliza a aparente oposiç o. Nos~o verso
o ~nln ,c1 1: tm-:po múltiplo, vivklo, interiorizado, o <;ual só por 1,·olta e n<:JiMa prosa nao são. na melhor d hipót cs, m do que o tel"l1'lOS
de I será mbrtituido por um tempo quanótath·o, regulado pe o re- extremo numa escala ideal. enquanto todo discurso ~tico e itu.a no
lóata., o "tenpo dos mercadores" de Jacques le Ooff. Ora. por 1o-c,lta espaço mediano, num vau qualquer. untl conform1d de 1-
de IJOO já e e boça claramente, no horizonte das s.ociedadcs odden- gum modelo rítmico c:.itplkito prto:i tente. Ou técnica de ccpr sto,

110 171
frcq1:ente em 1 :Jo o ( ddr-nit du,a:i 'l' mui lo ,.!~ulo,. manifrscar.i ln,-
anglo-<J\âo. \ de~pei10 da, re~·1sôesdc S. Kuhn. parecr qu,. o ·nduLor
1orican1e111e eic:i cqu1vocidade: o c..1rs1J, e a ' \eq uên:1a".
da H1.;wr111 de B~da ([ah el o rd All:edoJ, po- \'Dita de 900, estor,;ou-.~e
() n u Jus 11!0 e outra coi~ll ~en.ão um 11,0 qua~e mu 1cal da. l:.ngua-
por seguir a norma, as,im come> Ae l:ric. um ~êculo mais tarde, eni suas
&Cm não r11c1nl 1ccada - aQuil,J que chunamo, prosa. Nisso prc:5ide ~
Vidas de santos. Autores de li:1iua românica se o utilizararr. tard:a e
id ia - !iCgundo /i.lbtrfco da Morue Ca,si:lo no seculo xi, Ugo da B1>-
isolada.,iente; ~ ocaso de Boccaccio, aqui e al, no Decameron. Em fl3ll-
logna 110 é::,,ifo XII, l..udolf \OI\ Hí,de:1.hcim no !iéculo '-lil, e outros ili-
cês, é precuo esperar p,::Ja :netad!! e.a século X\' para encontrar uma :éc-
da - de qu: o mo\limento da ·,·oz, rta expressão justa e bela, é rnal cado
nica rítmica alcamente ela·::,orada em prosa. O rl;étoriq:Jeur borgonhÍ!"s
sobre o do peru::i~oto e o molda por sua vez: dit:r.alor con:Je el <éli"t:' di-
Jean Molir.et, levou, sem dúv:da, a seu pon::i e'::mno: reinventando,
cenda l'oJvit et revolvit ("o produtor do !e,:to toma e reLoma do cora-
com perreiu m~stria, o~ procedi:ner:tos cadenciais do cursus, então ca.do
ção e da boca sua mensagem"), segundo a fvrlllt aforülica de C c-::irad
em desuso, impôs à língua uma dupia medida vocal, baseada no núme-
Uma doutnna se elaboro11 sobre ~~a ba-
13
de Mur.:, ;;)Or volta de 1275
ro de ~ílaba!> e no jogc ·de acento,;. Ele combinou essa té...'ilica ao i:so
se; regras se con5t1tuíram, 1clativas à harmonia :lo período, e. sobretu-
da figura do homoiotelevton, identidade fóni.,a d~ fins de gn:pos si □-
do, às cfausulae gae asse~uram a est.e um fecho ag~dàvel; elas ~e .:-efe-
tàticos.
re:T.J ao arranjo dos t.c::rrnos da frase, éO número de sílabas t: à distri.bci;ão
dos a~ntos - isto é, no es,enciaJ, aos mesmos elementos ling:ü~dcos
occnjunto:> dessa evolução d~rncn.:: a. ideia dísse::iinada entre os
medievafü:r:i.~, especialmenrt> germani.,;.ta~, h:i trinta ou quarenta ano;,:
-iut- a \,:.r~i ficaça:J roml:-rica, c:epois a gennãruca, formal12ava mwto IDílis
rigidamente. o surgi:nento de uma prosa "lite:-ária" ce lingua vtl]gar, no COD.:Ç-o do
século .~11, marcuia a passagem r;;a audiçã.o .a le.rura, esta ú1tlma en
ru Jngens cio cur5us remolitam ao primeiro século de nossa ::ra; tendida no sentido que definiu ,os~a prática mode:-na. i 4 Tese difi:il-
emre eS-critores pagãos e cri5tãos, sua '~oga foi grande en!re os ,;eculos
mente smte:itáYCI; por volta de 1200, a ;1ro~a não substitui o ver~u 1iu
me v1. Inicialmente funda.do sobre a oposição de !>flaba, Jongas e :ire-
uso; ela faz as yezes dele - e sem dúvida concorre com ele - duraIJLC
ves, transformou-se pouco a pouco, en::iuanto triunfava na pronúr.;.--ia
vários ~éculos ainda. Quando um gramático laiiniz.ame como Ale::an-
]atina e acemo éc: :ntensidade, muna arte de cadtn:ias. No séC'u.Jo XJ,
dre de Villedieu, em 1199, escreve ern versos c.á~sicos seu Doctnna!e,
o secretariado pcr.tifJcio lhe redescobriu o seir-edo, e desde então i,!err,
ou Jea::1-J::isse de MarvilJe, em 13Z2., seu Dt! modfs .;ignijicandr, esse exer-
dLivida favorecid() pela ext~mão do i;oder papal) o mrsus permamceu
cício só faz sentido na glosa oral q(;e é sua função pro1,ocac. Uma opi-
por lreze[ltos anos a lei da "prosa" de ane, t>sped<l lmente a epistolar.
nião si;nplista, é.inda corrente hi y,)u;o, pretendia que o "verso·•. favo-
A maio, pane do, au10:--es de artes dictummis ou de t:-aradc-s de re~ór:.ca
recendo a memorização, fos~e iudispensável a g,3.lleros p~ticos anteriores
dis5ertam sob:-c e[e depni~ que, no irucic do sécufo :\u, rec~b-cu deT..ni-
à vulgarização das técnicas de es;;:itura. Isso é 1edl1Zi:" de mo.:fo derris:o-
ção canônica e se ~ad,onizou cm rrês e,;gu:ma.'- mmicos, denomiaad::,~
plrmus (' ' "J.onnal"), tard!!S i'''lento") e ve!ox("rápido"). No século XII.,
rio a enve:-gadura do prcblema. Embora a proposição nào seja radical-
e
a corte imr-erial r1vtliz;.a com a de Rom1: sob o ornamento de toe.ai mente fa.lsa, f preciso mudar o à:lg11l0 de visão: n~ p:-o!'undezas ant~o-
pológicas. ex:ste un laço vivo entre as fonn.u. ri;micaf e as mnemônicas.
ai sutile?.a.~ do cursi.s qlJc se trocwn os i1J.sulto!i e111rc Frederico ,l e St!u
O cará~cr fundamental do "\'erso" e d ,àlorização ç_ue ele implica de
aa•,cnário :::;ontifício, espedalr:iente no tempo do ,;ecr,etariado de ?ier
di!lla Vip:i:-.. As clié:lltclarias tJibaria:, ;u.lutam esse estilo, que se e.t_p:.:n-
cenas medidas da Linguagem em detr imenlo de todas as outras não ~s-
tão - em st:a ordem própria, e d() dizer - desprovid:)s de a1;,1logia
de na, composições liUrgicas, homileticas - eté', esporadicamente, m.
com a~ "arre; da memória" [sso nãc, :mpedL: i:;·1e o J1Togressivo refura-
Tomás dt •\quiuu :'.'a.11 Boa,,enmra .. Por volta de 1300, o 1r.:ipeto re::aI.
mento d:> estilo " prosaico' ' - quer ele sirva à história, quer à ficção
Mostraram-se maL-a.s ::lo cursus a.inda na pro1.a latina de Dante, de Boc-
- pan -1 :i~te-IDJl'ado ;:ela busc~ tlt' i::ma ::.::1p J:le t! de um:: v,r.. -
'-•"·"'10. '\e u,o da p1 :>pr.a e ina, o cursus de~aparee prog·essL"vameru:::-
dade qur perm,ram o maior desdcbramcmo cos efe11to5 de voz.
no século ,;:r,·, t:'<p u1so da prática dos rrime1-os h umanistas pela rrnas-
cenre eloctLienc1a aceroniana De~5e ponto de visto, nada d e :w1damental dfatingu:, na long.i du-
ração, ''pro!.a' • e .. ,.·erso". :\ !> palavrd.J, latmas ~t>rslLS e p ."'Osa, das quais
Entre o; idiomas ''Ulj!ar-.,i;, o único do q11&.1~_::r;:,::,:.:;:.
• i~~
foram r.o5 ,é(u10~ ,11 e XJTI tomados ér cmprest1mo os ternio5 frami:-
tarn. a- regras e.o cursus é a mais anu~a lrn~ua e -~nta do uc1dentc :1
se corr~,pondenre_;, penennam 20 v,)Ca:)uláriJ Plu,·ca e des.&aa.vam

!i3
· t o nublico ~ob cstnJlllrfl
de outros cantores ou c111cons1deraç.111 a ou r ., · d.
ód t _ úe oulro :n<"1 t ·
(sem Q1,rnde pre~isão, aliás) d·verso:i; fcn,'k1mo, de ritino. Foi neces,a- •-1ucncial
.,._, º'
' p,are:e aiud1vcl o eco - J U ;:,r.,, rumec,.i lo e meio maa~
• t r
a-
rio longo tempo para o francês estab1 li1.::r vers na acepção que conJ,e- 1 ,. unice como nouc1e que no; arrutccr• um s i
~en:o~: ate o secul, X'I, ele se a.llema com nme. pr6pna ~oca em de. nos primeiro decas bo das ernl e pn:cn-
que (se~ndo toda a probabilidade) se comlilUÍl, nos costumts de ob~- Entremen1es ' orno se re)p,)nd~ e a uma cxpcctntl'lii .
· dd ceqütnrn1 se
curos camores anônimos. durante m seculos 1x e:,:, um !õistcm.a rnm.í- d1e,se uma :-iece5sidade formal amplamente d1tun I a,ª. ·~
11ico dt> vrr~i"'i·açãr, a , eJC i;e1i,-1as do canto litú·gic,::i conduziam à ::-fa- •. od Octdenrc. Lugo ,e evadiu da e~tera llturg1ca.
jJ,~cmrnou por t O O . • d vema, a~mo~
cão, no meio monástico,. ao ,g~iltro denom-r ado presa ad seqi,entias Libertand,-►-se de toda temáuca reLJg10,a o\ coletanea e P . s
no~!':a "~eqüência"' Es!ie gênero poético. um rb~ m.<1i1 feCU"l.:iOS tntre - . . c.eúdo de-.'t: remontar ao
denomina ela Carmi•ra Ca,,rabrigerisw, cu10 con -•
os século~ rx e xrv, :oi formalizado, em seu estado inicial, :;:ior N',,tker . ~ , o i~ulo '< contêm cre!c sequencias,
ar:edores de, uo .000, t aJ ,e.. ate a • ' • •a.m
Lat,eo, o pocu-músico de S1nkl Ga.lleo, III.a.! pode h,111er siéo inve-,ra- . cli . os Carmina B1.1rana .on .•
sendo apenas i:lfüO de cc:má:1ca r ~1osa;
do, por volta de 850, pelos monges de Jumieges1 ou até mesmo ter mdi- , .. ~ penas duas tocando em mo-
uma .,,Dlena, ª maior pa1te crot1Cas, c:>m a - . coletã-
retamente que ver com vática~ irlandesas ou moçan;l:es. Thcn.ieameTI- •.iyos moralizantes. Um sllbgênero aparece cm formaç~o ness:::tS f, rma
te, a seqüência constitui um tropa da aleiuia da mis.sa: seu te-xto serve rimeira e uma éa segunda regi.stram, em o
nea,: duas pass.agen.s da i: · n~ "-In
para crazer as notas dos Jo:igos melismas fo JuWw.: "grito cc akgr:a'')
prolongando o -a :mal daquela exclamação. A forma primitiv.i era. as-
seqllenciaJ, ·.un pianctus, Larneotaç:io :,;obre a morte de
~õ.\.l ou fictícia. Temos mu.itos outros exemplos, dos .q~
U:ª
::::tri:~de
..,~ º , d: . _
sim, urucamence determiDaêa pela m1hica: seqüend~ ::k oitu, t.le.:, att
dez ~ão dev,dos a Abelardo: ir.sp1_rados p,or cena~ b1b~1(;a~ ~--~ :~~o:.
v:inte frases melódicas, as daJJSu.{ae, idêmkas duas a duas (talvez em ~vds poemas um cm pontos mais altos da ;,oes1a laun.a os .
,,~ta de um canto ant1fonal ► e gerai[mmte enquadrada$ por UJI:a inrni- r" . . áf
tal' ez dissimulem diversas alu.5ões au1ob1ogr icas.
Pode-se p:nsar que
-
dução e uma conclusão. O 1exto, que iegu'a a melodia à ra11io de uma ' . ' , - melodias) se dcstina•,am a
es.sr~ cc:icos (cujo roar.uscrito ::onst:~ou as . . ,
sílaba ;,or nota, não era submttido a :ier:.huma outra kmita;ão, C"l'.ccto fornecer ~o~ monges do moscei:'o Ruadem canções tão ed1f1cante~ qua"l·
a de que os fins das dau.su!ae rimavam rr.ui1as ve;:es em -a. Tão logo • ll
foi criado, o gênero proliferou de todas as maneiras (mantido e dil'lami- to rccreauvas. . u1 . a.l~umas :rio se-
Temos muito pou::as seqüênc.a~ en: hngua \' gar, d• d
iado t)(:fas pes(Ju.isas musicais da baixa época c:irollngia) dCJ:Ois do co- n.a Akm.Mlha oc,Lstitue.m conuafaçõe~ e mo e-
meço do século xrr, quando floresceu na abadia parisiense de Sainr- culo xu, na Frnnça e , lzbur o adapto\c :erlo nu-
Viccor. Uli-:O s.e introduziu ai o uso do c1mrus e, mais tarde, de versos los li!itinas; no século xw • um monge ce Sa . g tida mui.los
reg111ares e mesmo e.grupamentos estrófioo1._ De,de o flm de /iiCCUJo 1x. mero delas - iniciati•ta provavelrmntc isolada. Em contra.par , m;do, da
tinham aparecido <luas variedades no\"aS. çesterr.unhan:fo essa extrema
aêneros :>em representados era língua "ulgar foram ~eaprox:i
"' tano rítmico - U111a ana1(\•
vitalidade: uma cujas dausulae nã.o se regulam por pa:es; a outra, de- seqüência, co--r. a qual apresentaI!l - no !l • o lai frwcés que
nominada da capo, que comporta uma d·Jplícacão do conjt:nto. Essas 11.ia sem que seja pmshel provar que dela provem: - do.. '1 . ao·
· ' di - & t' • 0 Le1ch alemao. qua n
dt!a~ \'afiedades aprc1ent.am um inLeresse partirula·, ;,:>r cama de sua poderia de..er algo a uma tra çao e... ica. . - e a a.n :i-
m dela pode talvez est.>.r relacionado. e:n pan '
scmclhanç.a com ru; ~ormas poéticas da língu.i vulgar. É uma seqüência 5C- s1:.be em que e .~ Ja,- 'lo il, caftlú
-- crmânicas• o descori francês occ1taruco, em re ,.... .-
da capo que ornai~ antigo poen:a francês comervo1.:, aSéquence d•.t:u- g"c..S tradi,oes E; 1
bé frands e occ1ta·
luli1t, ,;.;upiatla pu1 ,·olla i.;e 882 numa página :m branco de l:1II. 1Jl8;'1fil- t.r:wa.d.oresca· o esicmpie, can:o de dan;a., ele tam m é ,
'-- · ' , - vârios traços: uma s n,:,
crito das obras de Gregórío de ::--fazianzo, na abadia de Santi-Amand- ·,.,.,. ló 1i"das essas rnrmas tem cro comum d -
m...... ., • · ralmcnte e ur1·
Le5-Eaax. Acompanhada de uma seqfü:m.ia La.ti1a tlo 111esmo tipo, so- taS vez.es lunga, de ~trof\..~ de.i11L1ais consutu1-se ge: - .
mm . • . . se redobnirr em eco,
bre a mesma santa, ela prova,-elmente foi composta no circule de mes- dades rítmicas bre-.e:;. ou ffillllO breves, i.;UJaS nmas
. . to alL~rnam na combinação desse, elemmto~. o
tre HuctJald, um dos pnnc1pais rnlis.icos de enLão, às vez:es considerado preap1tados, enquan '. _ . "d de 8 cteromctria e
o iniciador do canto polifõnirn. Os dois texto,, respectivamente copia- simttrico e o assimétrico, a repeU.çao e a umc1 a ' cm ru2!1c
dos na frtnte e ao ~erso àa. mesma folha. tém caráter bastante d1fcren• a isometria - arte qlle era de enrcma sutileza e qu\ n J !smo ,im;
te: ao lirismo abi;conso do lalim se opõe o tom narrath·o e pat~tico, do pas~ava por diílcil. Suas reatiiaçõcs comportam, por i o rn '
fnml~~ ·~tt, com cerlc:za, dcsrrna-:.e a cumpi r outra função, na bvca
115
174
l reme acortlo entre º' doa~ sistrma,: uma sil:iba acentuada tomava oh:-
c.liver~it.l lck n:uito grande la~. c10nolog1caincn1c, a tpoca triunfal de
gar de uma longa; a ã1ona, de . ma r,íC\t. E.,se- deslocamento se JperoLJ
todos e cs gêiero~ 'ui a me.o.ma: o s;éculo x111 e o co11eçfl d11 -;éculo xr, . pouco a rouco, cm uesC'l1de 11, mcno. ou ma1s leo1amence, segundo are-
gião. Pelo menru;, pôde-5C' lazer remontar a upo, acenmais latinos a maior
pane dos .~~os franceses, iu.!Lanos, espanhóis e portugueses atestados
A<sim, o esquema rítmico M:queodal abrange - hi1tórica e, em par-
ate a época modem ; 1tmesmo s~ a demono;tração é urr.. pouco forçada,
te,~stnltl.raJrrcnte - nos a prosa e nolso ierso. Ofereceu a muitas ge- resLa o not1hel fato da perrnamnd::i da tradiçõ~ rítmicas. No entanto,
ra~oes :I~ poetas e ce intérpretes um dos mais elab-orados modelos de a evolução da língua nllgar altera,'a progressivamente os modelos ini-
açao v~aI. _?~tros modelos, ,,;nd05 de outros luga~. a:mcorreram com ciais: com o acento da frase apagando em Fr..ncés, em grande medida.
elr _011 i;n:r:enram em seu uso; é o :aso daquele enl!mdrado pela hino-
b g:ia arn b rcs1ana
· - fr.mco-occitânicos
da pa]ai,-ra, o nú.mero de ~1abas tendia a tornar-se o principal :ritério
e adotado peJos auc.ores dos cantos 0
riunioo, ao qual se subordinavam as ouuas modulações. Por sua ,-c2, nos
do sé~_ulo_ x, a Passion dita d~ Clemiorit e o Saint Léger. A.fora essas textos ang.lo-normand~, os bastante numerosos "falsos versos" que por
expe~enc1a.s ~aicas, prm·ém ·al,..-ez da mesma fo::ne tudo e.quilo de q.ie
muito tempo desesperaram os medievalist.~ rião fazeo outra coiEa St-
0 Ocidente chspôs, nos séculet) xn, xm, x1v, como fórmulas rttm.Jc:as
não manifestar as particularidades do francês da Inglaterra, mais fortt-
fn•sem
· · · 'b'1ca.;, {ossem (segundo as lmguE..S e:n questão) defmi-'
3C.ossu
mente tônico do que os diale:os continentais O anglo-saxão de:Sempe-
d_as po_r um quadruplo icrus. Um te-souro de formas, constantemente en-
~•gueCJdo .oor derivação, comb·1n,açao,
- 1:uc1all
· · • •"a.5 mciv.du.io
• .. . uu culc:Li-
nha\.-a aqui um papel provavelmente determinante, impondo à língt:a
i.roporcada alguns aspectos de seu próprio sistema cradicional.
va.s de t~da a natureza, ofe.recia-5e a uma escolha que era determinada A manipulaç:ãn desse,; dados. oompor.a"a, quando de sua coloca-
pelas c:;\'J_gê,1 ,.:i<i!i do oi.:.'r'ido e peios hábito; aniculatórios, maii do que pe-
ção em obra (em alemão tanto quamo em francês; em galês tanto quan-
las co:mder.•- ções teo' n·cas. o s primeiros · - tratados que, no curso do sécu- to cm occiLânioo), a produção de efeitos puramente fônicos, com ecos
lu }(. v, abordam essa matéria, é.S ..artes ele segunda rtftónca" f'rancesas.,
sonoros à1versos indicando a escansào - ~ especialmente a rima. Es·.a
borgo:i.h.es.a., e flamengas, fazem-r10 unicamente em termos de fonia não
úlüma, ela tambem legada ao Ocidente me-die:.al pela baixa An:igüida.-
~~ escrit~a. Menos do que reiras, o que guia o poeta e organiz~ seu de, originalmente relacionava-se. .sem dúvida, à ampli.:ição do i:apcl da
~•sc~mo e a ~~ck, ao :nes~o tempo tênue e complexa, de combinações voz (num pt:riodo de ~eruo escritura]) na ::omunicação poética. Antes
utmi~s expenmentadas, h,rrememe utiliz.aveis em virias ruveis de c-x- de 1200, ela passara das regiões românicas aos territórios germânicos
pre~sao: ~ paJa,,ra, o ;rupo e a fras.e, o conjunto iquad-a, estrofe1 li."'!1-
e anglo-saxónicos, orrde s..ibstituia a figura si.stematiz:ada de aheração
de) e, mais raramente, a unidace superior aos gên~ros dmominados fi-
própria a prática aut&::tolle; desde os séculos x e XI, o~ poec.a~ judeus
xos, corno o ~oneto, ir.venção do sécuJo xm, por certo italiana, a balada da Espanba e da Provença a Linham {sobre o modelo àrahe ou ~:>mâri-
cu O rondó francês do século xrv. Cada um desse~ elrmcntm se realiza co) adotado em heb,aico, assim como, aqui e ah, eles adotaram o pri~-
~:mm_ OU'~ros nu.ma l:armonia ,gJoba] que sô é perceptível pelo ouvido, cipio do isossifabismo.' 9 Ela evoluiu - até o sé,,,..'"tllo ~,· n_a Franca. m~s
. per:or:nance É ne.sses termos gue se concebeu, :i:or •Olt.a de 1500 tarde ainda ,em outros Lugares - rumo a urna formalizaçao sempre mc.1s
0 que os ~odemos designam pela p.alaílta abstrata versificação. '
dgorosa, a uma codificação mais exigente; sua histór~a desmente os ~i-
• Sé O mt.ema latmo antigo, que era baseado nas oposições de durn-
r;: ~ e que_a~m letrados conservadores mantiveram em uso, tem O as-
nais que., d11Iame-os mesmos .5ê:::ulos, pare::em anunciar para b~e urna
reabsorção da poesia no exer:i:io da escrrtura. Foi a~!>im que na ~po:a
~~1:ro arbitrano de uma técnie2. imposta. :--.a realidade outro sisterr..2. anriiza. em ~ex1os cu•a tr..nsm~ssão não p3.Ssou inicialmente pela leitu-
_ arnent :::ic-..:l no _a~ento, sobrepôs-se a de desde o fim 'da Aítigüidarle'
tund
ra, ; as~onâ::icia predominou sobre a ,.1ma prnpnameme dita: 1.10 rwdo
e, a longe :;,razo. to1 su.bstitumdo-o segu:ido as ne<:essidãdes do :;a.mo. da detlamacâo pública. e eco sonoro basta\'a para en,:-adear os elemen-
~., séculc
. _ ,...-n quando a p,ocs1a
· Jatma a,x-nmc1J!a,J u- re 1~:,.dmcnlc•
_ tor. do dJ:::.:urso e para ntmar ~ua progre!>~O. O suLema sobrC'l-iH ~ µ,
m_agrut co.. ~~ d0t_~ sistem_as passarem a cvcx1s1ir rum Alain de Lille. por muito tempo. misturando por \'ezer. a assonância à rima tde u:n modo
e:,, .:rnplo, dhtmguia-se c:.S!.1111 du~ 1u10:rt's dos CarmlllQ Buru,'1aJ e por vezes
desconcertam.e para os edito;es modernos), s.obretudc nos gêneros ma.is
se sobrrpôeir., mas o ritmo conserva 8 predomin nà 11 o,'!l.,,-e1me'J1te de!;;tinad4os Jei1ura ao ar livre. Msim, o autor do pri-
'u 1m~ 0 , um qstema de equwalen..:1a,. permmrn m3n1er um apa-
177
176
neiro rnmo Jo Rnwrt conjuga emp1rr e discipline (v,. 44"'-8). Renart muuos poetas, permite introdullr mtrc as un•tlade do d1 UI'! um la·
e barat '''\ IJ85-fi) í'h Lec.. e.rr.,:.~u ~odaAMba-ée.là:.lilWaw.~ ,.-1.11: (O e CD , i1 ,
manuscntos dessefabliau mrre lºr> e soro de "rimas incorretns·•. Ceno origem comum: Jai" rima com po.rfalrt, e. se introduz plaue nn sfrtc,
"se-mào ai egrr'' puc!.i:ajo por K1,"prnans faz rimar femme e ar.crenne, o poeta e~c.abelecc emrc m 1rê uma frculação de ~e-nt1do: pardo~ner
propm· e corps, genr~ e ense,'t'.ble. e assim por diante. Até o ,éculo x1,, e donru>r.. A.;s m ~e con•·tt11 uma unidade esre::1fie11. sem ou·rc tun-
:10•1::-os gêneros t~.:J.jl3"Tl ll. ::ssa tcndb ... a, da qual e abust'O respon.:.at:ii- damemo além de uma pcrlCJJ1,.ão da c;uprema liberdade do som .\ Ctlll·
lizar apenai os copisczs. Ã~ vezes, c~sas aproximações asiociam-se a pes- se trovadoresca e as d·venas formas que ela ~erD·J no Octc!en1c só esta-
qui!oas fôrucas refinada~. E.mele co::11em mu1:os \·ersos bpomêtricos ou belecem, sall'O exc:eç.lo, um umco 1aço ex;:ilíc:t<J en:re as (cinco :l oito)
hipermetrico~ e.."11 contrapar:ida. traz 27% de rimas dis-, lábkas, ':rissi- emofes qnt> .~ compõem: a di-.posicão das rimas - que é~ me~r..a _ce
!àbic.. s ou. t?.cc::pdonalmeme, quadrisi;iJáb1cas, a que se reúnem, como ponta a ponta - e, no mais das vezes, seu timbre, rr.a:mc!o 1c,nl1co
um efe~co m:.timalista da ar:e, 21C':', d~ rima., unissilábiC3S nca.s. de estrofe em estrofe ('-Uni$sonâ."lc:ta" ), ou pelo rr.~no~ de du:;, e'.11 duas.
Apare111emeTJte, muita ~utHeza preside em certos textos à escolha ah! de trê! em uês (coblas doblcs, ternas). Aqui, a urric!ade Jirocece do
dos timbres, que ,ão objet~ de5ses jogos e, como tal, contribue:n para som puro. De rr,aneir:1. ~~ com;,lexa, porque ela concentra. - t~•n
a fornação da o~ra. E assim que a d.imibuição de lirnbres vo:álicos em fonia quanto em •ecorrência - o efeito preéominante de senlldo,
nas t mas da d1anson de trov-ad ores e de trou v~res não parece aleJ.tória; a rima col'J!tiiui a maior ;anc dos poemas e:ittt os rt!éror:queu,-s do
opos1cões como graveiagodo. feckdola~erto combinani-.e oom wna in- século xv, atê do século X'VI
tenção conotativa geral e C0!15lituem 'l'crdade1ro "nívd de sentid,J", in- Nas lin.l!uas r;ermânicas, a n~tória dos 1itmos poéticos segue um
Ll'grado na mtnsa~em. JJ AJgurcas tcrtaü,as fo.:-am fotas :,ara exa:runar, encaminhamento ~emelhante e passa por etapas comp!3Iá,ceis . .\ .nfluên-
desse pon1 0 de: vista. cer:os .,t>tores da ;')re~ia; ::le,de os ~cs 50, Menén- cm dos usos e dos modelos launos e românicos implicou •,árias •cmIU.i.-
d.cz Pidal assinala'va, nos tres '•generos" diferencados por ele no Ro- das. Desde os meados do 1êculo D<, o monge e poeta alemão Otfrid von
mancero, ur:ca :ti visão s1gnJ.icafü;a dsis assonâi:d.as aguda.! e graves, com v.e1ssenbmg, em seu grande rela:o evanselico, adapta a sua hng.1a a e~-
a propo·ção cestas tilt~ cre5:e1do segundo a impon.ância e a atuali- quema ambrosiano, que ele repete e orna de rimas - i:úciativa à qual
dade do rema auerreirn; mais recentemente, R. H \Vcbbcr :kscobri:t no se deve sem dúvida, a~uiliJ que se·á ma:.s tarde o ",,eno narrau,;o lon-
Cíd regras de e~wvalência entre três timbres de assonância (a, o, ores- go", d;sete ou oito acentos na poesia c::irtês. Ao fazê-lo, Ott!id aban-
to) é., de nrn lado. o te-na do pasJa&t:lJ e, do u!J.tro, a extensão d.;. /ais- donou o anmo vuso e;ermânico, que era fonecicame.a~ defirndo por
Sé,2l Certos pares rímicos (o occitânico amo,ljfor, o f~cês c., uro- sua estrutura ~iterat1v; e que seria emp:egado ainda, trinta anos mais
kPldommage; o ale1l1iio not/tot, e L~thJ5 outros) constituem, por sua tarde, pelo autor do Heliand. Entre os primeiros llricos austrc-bávaro~,
freqúência. v,erciadeiras fórmulas. sen:ânt cas tanto quan10 fónicas. Gê- por volta de 1200, subsistem apenru; traços da~ tradições rítmica, anu-
neros como o dec<>rl occitân:co. o lai lírico francês, o Leich alemão :om- ga~. Elas recuaram diante da invasão d::is modelos crovadoresco~, em
portam, por vezes, estrofes fonnadas de uma longa série de \'ersos de fayor dos QUais. sem c.-.1\-1da. atuaram os hábüos nuskiais criados pela
duas ou t:-õi sílabas; a ri:na rende eo~ão a mvadir o verso do qual ela liturgia. O rerso, unidade rítmica mí.'lima, não é ou.nico atin~i~o; t~-
forma necessariamente a mct2de CJ um terço; doade uma diluição do bém o são as modalidades do reavupamento do~ versos e a distnõu1-
scnlidu discur ·Jro, em proveito d.a sugestão sor.ora. Mi;.., essas são to- ~ão respectiva dos di,·ersos tàlore') const:tutivos de uns e outro: ~Jta-
das as panes da língua que a rima jpor interméd:o da voz que a pro- se menos de c:npréstimo puro e simples :3o que de uma conflueOCta rle
nuncia) pode a~~un tra7.er à baila. Ela se torna, pc,r e;i;ceJência, o locus 1 ndições. como a que deriva do latim recebendo a contribuição - _a.
da JinE _.a.gem. o ::>lano em 4ue, vim1almeue, a expressão toma forma. prindpio enfraquecida, depot5 mas bem definido: ma arcadn e e11-
Assim, e aJgo .ma1s coque uma ~implei comodidade que aqui e ali com- z parur do mtados do ~. ulo xm - dos co tume a tó o e ue
bma em fim de verso, por contraste co:n o resco do cext0 11m0 palavra r..ta am provi•or i mc11tc e,..a \: dcs, ma., que, ,em du
dialetal, 'Jma termina;ão ancrm . Camproux já rr.ost:-ou b,O em Gui- am r,o um oral a~• im c;L.e v \erso cu·to de quatro
lherme ...x . cm que a "l'a~u.a de aLto: •· de,empenha hah fmente •a J.:, ocw, "::> ~rar,ês, é •• uado c,1m aparente n~nvohur
nunnce,. Lo:::alizada i1a rima a l•F;U'd. d2. mterpre:J110, sten auzada t..C ~.. -nar. ri; v ... U 5 e .~... 1rr:p lf"1 1
Na !nglatcrr.1, 1>• IC.\1os poétí1:o~ mais :intigos, uo Beoy,.•11/f à lla_rrle
of \lclrJm1 e à JuJith - un.<, 30 rruJ i:r.sos c:onsen11dos em mam.1.,tnto
dt cer do ,no J()OO, - , constJtu ci• ,e. linha por Linha, de duas r~te
que e:i~:i.deiam a aliteraç-ão e qm detínem, ao me.!>mO tempo, a ex1gen-
'J
cia de urna e,1ensãorninima e de o:rt.a curva ac~ntual, levando em con-
ta a dllraçõc.s ,il b1cas,n Nada -:rc comum com o sistema gue. na 9
França, decerto ja estava ~olidamrn::e constituído no final do s~ulo :xi.
Dcnck u Liiullfo deste, nos ambic:nto dominados pelos co1uiu1slJldores O TEXTO VOCALIZADO
no::-mand:Js, e as alte-ações que ali sofreu. O ,·erso inglês foi, por P~a
•vez, refeico à imagt:m ,Jo francê&, :orn rima e silabismo em priodpm
regular Gower, ChaLcer, L)rdgate empregarão ainda um octossilabo apa•
rentaco ao de Cbrtuen de lroyes; C::.Z.ucer riLma cm dccassilabos os Can-
rerbury tales. Ma, m séculos xn• e X', \'âo conhecer, nas p::-ovmcias do
o~te e <i.o noroesre, um repentin-::i re:iascimento da tradição anglo-5a• Um Jogo vocat. A pata~•ra e o canto. Compo.1 •ção num&ita, J:;fe-i-
:icônica (raantída oralmente duranu c!.uzento& anos); mo,imento conhe- tos t.utuais. O "formulismo''.
:::icio pelo nome aliterotive reviva1',.A a que devemos muitos dos melho-
res poemas desta êpoca, o Piers: Pi'Grffllan de La..,gland ou o Sir Ga·.vmn · Por ,•:::-lta de )200 - quando a mu:tiplicaç:ão dos escntos podia tal-
Do impulso ,globalmeme unitivo que assim generalizara 110 O:i.derue certa vez pôr mais intensamente à prova a especificidade do discuno poê1ico,
percepção de ritrr:os, ficou separada apenas a longínqua Islândia Ali, ritm.icame:ite marcado-, disseminam-s.e simultane.amentc.. em c.er.os
:>s EdrJrzç e a poe5ia escãldica co ru.ervaram, complicando-as ao exue- meios letra:ios da França e da Afomm.ba, a propósito desse discurso poé-
:no, ai e,trut·Jras rítmicas comuc.,;,i a,::,s :i,o...,·os germânicos antig·o~; ba- tico. duas ::omricções, das quais 1:.:na tonstilrui wna esi:é,::ie e.e avesso
seada~ na alileração, iistribuída de rr.odo a cor.sútuir uma t[ama foné- ético da outra; o cLiscurso formalmente mais coe~o (o •·v~rso") é perce-
:ic:;. scbre a qual a ~01. do recitante oo do cantor Leça va~ções de acen.t? bido em ,.___~ difeTE'JIÇ".1. em relaç.ão ;; tocos os: ouL-o.s, logo confundido~
e borce outras figuras ~onoras, de Jr.:ia vi.rtuosi.dade munas vezes ·,•eru- sob o termo ·:,anaJ:zado prosa; desde então, rextm encontram luga1, r.as
.;inosa.... declaraçõe.. de autor, prólogos ou digre,sõe,, para as.s.erç5es do tipc 'o
E.sa história com tantos deslc-camentos e retornos, manifesta a ooi- verso m~e. só a prosa é verídica". Entendamos: o "verso" mascara
:nc::ier.ça de uma ~oz viva, aspiramk ades-abrochar em formas univ~~- e <ies\oi.a, el.e g-era ~u:;. própria aparéncia, gre.ças a aml)litude (q,J.alqucr
~aís, pará Já das fron'..e:ras lingilist>:3.), a impor _gestos •me.ais reconhed- que seja a me-nsagem transmitida) do jogo \'Ocal e gestual peJo quaJ el,e
·1ei-s em h..'tla a pattc, como uma linguagem internacional dos oor::m~ e transita a:e □ ós. Pm um lado, trata-se de um clióê antigl): m;ls que de
dos sons. O verso (designemos assi.:n. de maneira neutra, wn ritmo fun- retome ,,.ida no momento em que ,e vai constituiI, em língua vtlgar, uma
cic-naJtzado), mais ainda do que or.s:zrut.ador da frase, é organizador des- prosa de ane não :;,ode ser fruto do acasn. O ir:iperactor Henrique:, ü
.;a linguagem, em toda a sua riquei!3. e :omplex:idade. Donde alguns ma- Leão, inier:.11 isso p,,a:a proibir que SIC fizc~:,;e ~m veri;o a tradução do Lw-
:og-os e resmências. É assim que a i:oesia éJ>íca não comporta um m~~l? cidoriu.s que en::omendara; quan:o a Nicolas de Scnli,, e□ 1202, t"DCat -
~1c::1ico comum a todos os territó:,c,s do Ocide::ue: à tirode monorruru regado pel!':l oonáes.;;a de Saint-Pol de traduzir o pseudo-Turpin, .1ão deí,ca
i:a, ge·al nas area5 romàmcas, op:1e □-,e nas regiõe~ germânicas a qun- por menos: Sus come nmes n'esr •·era~ ( ·'Nc:ntam:. :elalo em ,ersc- ~
dra ou e d1~tico. \ias tais diieren~s não afetun a unidade profunda. verdadem:" 1 1 Os parcidârios do \·e~so repJ1ca:ão, na dmla Hnha retó-
nca de urr J::an de uar ande. pel~i e1og10 dJ medida e da .1:t"TT.Oílld li llt
ela 10:-oa p::rnve-1 - argtJmemo do qual se perceten:: cs eco~ are cep~>i.l)
do século x·,1. O marqu•b de Samil:.i.na, em seu Proemro, coloc.i corno
"manifemi" o _primado "10 verso sobre a pIQi.él, d;mde decorre unia au•
raridade p,m1cular e rr:a1.> alia

181
De$dC entüo, a "ersificai;fto européi~ cntr,1 wt .,ua em de ri1o?idel. (h.t l1Ul I;}' UVJ ... -··~ J -

J\laç,. até u :sc:1."Ulu lloibiliJ1d r a asiliú de com a qual 0 ; poc-


.\111, " e uma ~07 b!m timbr;ida- alvutm não LliFa: 'Ele l>Ó f)otk ter· estado
t~ e intérpretes souberam o:plicar e m~1terial ritrnko fornecido pela trn- em boa escola!'"). O tex:o ms1.,1c.. por4u1 d· pi >ra essa f.ituaçii.o, net'ns-
1
d1çao comam _fre~üemememe, pa:a o filólogo form do nessa rigidez, UI no pres-jgio dos con:c\'do!>l A qualidade da voz constitui para o pu•
ares de neghgencm. hso não será tnlve.z o indício de uma liberdade vo- bbco um <los critério,. talvez o principal, da "poes1~". Outros nu tores
cal que n o h 1 pc:1íüt1::m;i:c.; mo.:ktci!'·O =
tm1t:fto U'l'tUnl cm outros cermm o mesmo testemunho quando, ao apresentar
' 1 f. es- ou louvar sua obn, disttngUcm tmoccanro, l'er.Wc~o· YSO
pani10 01, nesse aspttto, o mais bem estudado. Em pankular as "ir-
regularidades'' do Cid suscitaram numerosas pesquisas, que ;arecem se ao te:no: ranro e ca11çio. ao poema enquanto concretizado e percebi-
t::· _Provado a natureza flutuante ti:> vcrro cnstel''ano. o,;c1lando entre do• Tal é a força do que chamei de tocalrdade, um dcs plaruJ!I <l..a rc-a-
l.m~'.es ;:ada -.ez mais re5tritos, ali~. à r.1êdida que nos aproximamos .1za O do •urr.o. \1odulado de m0do a levar em conta pe,.adas coer-

cz epoca moderna: seus fatores cor.stitui:1.tes, silab1,mo e figura~ de n- \'.}e, sintáticas pr0\'Cnicnte5 do te.'CtO, submetendo-~ a sua 1~rd1.:m pr:>pna,
na. ,:_ombmam-se de rnodo passivei de ser --e,,isto a cada instante. o poeta 0 riuno vocal comporta uma curva melódica que ,..aloriz.a r que corr,u-
co <-id conta ~s. sllabas não de maneira ui:metica. :nas ritmica, como r.ica, segundo as circull.SWlcia5. uma qualidade paruculc..r - _única. Nesie
b~ocos de mate~1a fônica de duraçàc aproximada., ;.io,ém recorta.dos por se:itido, o texto só e:x:~ct na razão das harmonias da voz. E, sem dú"i
p.:.usas acem_ua.ts recorreme-s. O que muitos texto1 franceses, considera- da, e que quer dizer Brunetto l.atini, no livro m, capitulo x, do Tré-
dos :orromp1dos, fazem c.alV"ez seJa i ustra1 a própria criath,idadc do uso: sar. quando invoca a n::cessidade de contrabalançar o acento e a \.li_z
e, Roland do manuscrito de Oxford cont.: com 420 \'ersos ••faJsos •• em (o r;-ia.nusc::-ito T cornge ou precisa: os sons e a \'OZ). O te.~tc, enquan:o
4 mil; Guil/aume do manuscrito de Londres, 1500 em 3500 ou seJ·a palavra medjda, .úgnifica a voz ,ri.va. O fato é que, até o coneço do ,c-
.p~• . d '
- ·~., am a que o mesmocopis-ta t·ansc~.a Sffll al~erações prosód.icas
• culo xm no Ocidente inteiro, todo discurso poético que ~e tenha revl'.\•
o roman~e de Gui de Wal't'w1c. Poderiamas estender essa obsen1açâo a ti do da forma do ·•1-eno" (mais c-,·1dente e rigorosamente medido que
l!1·a11àe numero de: nossos textos a,:igos: do 'Jiútan de Béroul a ..,·áJ'ios a , 'prosa'') não pode ter tido outra ongem. Já no período entre- as duas
labliaux e a gêneros inteiros, com-::> o ''ser-mão alegre" e outros a.inda. guerra!> mundiais, um George!> Lote, embora de uma geraciio de 11níver-
A e,,·oluç.lio da Ungua e das técnica~ de dicção pódc: desempenhar aqui si:á.rios atrelado~ a pressupostos escriturais, referia-se. cm ~·árias. cap1-
1ffi1 papel No século xv, o dístico de dezesJei~ silabas, llnidade básica tt;Jos de sua vasta Jiis101re du ',er.ifrançais, e.,:J>ressamc:nte às prática!'.
do Romancero, é lratado (por raz,~s musicais) como um ~·en,o úruco Je canti/Jat1on litúrgias e>u laicas como sendo a fonte- de mJitos rra','Os
ae modo que o dístico à mooa nova é, de fato, um quarteto: a quadr:i apa-entemente a.berrantes do sLS.tema \•ersificatório romiir1ko. s Muitos
ou .,erso dos cantadores do sertão brasileuo de nossos dias ainda! A muu,;cri:os. como viillos, anotam os versos em texto .;o.rrido, sem que-
úmca regra uni.·ersal é a predominância da interpretação YOCal sobre a bra de linhas, ta! como na prosa. Entre as di\·ersas c.:.au:..is desse i=osLu-
manutenção estrita do modelo, e jsso em todos os níveis de formaUza- me, não seria precüo levar em conta a idéia de que a identificação do
ção: anisossilabism.o do "'erso, mas tambtm a irregularidade das estro- verso ~ um caso de voz e de dicção?
fe: neste ou na~cie texto em q~e :u cspe1arían:.os iguais; antigamente, Nes~a prática, ultrapassa-se a fronteira entre canto e não-canto?
~ Bulst orgaruzou, para o latun. o alemão, o ing]ês e o francês, um Fronteira movente, que pouco importa delimtc.ar. O que disl.ngue os ge-
catá.ogo de poemas que comporta.nessa "anomal•a". z ~a Espanha, neros e costumes poéücos até o século xv é o grau de- tensio introduz.i-
um dos_ esq~emas rí~cos mais Y,\OS, a cuarderna via, repousa sobre do na aç.io vocal pelo anifkio que rege o ritmo, a alntr3, a. intensidade
a comb1naçao de mwtos principias, coa.seguindo 'iariar com grande ele- do som. A poesia d.ls trovadores. rrou.·e.res e i\finnesánger amge o ponto
gância, entre limites fi:to~. o númem de sílabas segundo a colocação dos extremo dessa tensão. Para esses poew e para o públi:::~ o canto se iden-
acentos. O octosstlabo dos laudi ümbricos e de Iacopone compona os tifica a •nn '"gesto fonnali". como diz G. 1~ Vol. Aquém ou alem dos
mesmos equilíbrios - a mesma abertura. e'ffll<=ntos que a anáisc distingue aí, a canso é um ato fuiológ:co, mo-
• Or_11 'J ames sarron, ronia o poeta [o~ o interprete) de Doon de mento concreto c:m que II voz "dei,,perta a fonna". 6 Gc:r.:ihnen'.e tram-
N11ntn11I, 110 começo do skulo xm, s'il set ung vers ríml/ quant O cle- mitica (assim o estado da, tranSCriçôe! le-.'D a crer) pela via oral, por-
re(e ~oix_/ "Jla Dltxl" ct dit chasruns, "com ci.ít esr es.colé!'" ("Não t nto ligada ao cosrume da improvi a~o. a melodia faz da c~n.so. da

182 183
,h:msrm. tio betuma Gestulr, e~perada como tal, rteeb1d de.:Sc- n11.""d;i da~ guab uma garantiria. m:men doC'trinam (''a teoria do 1ittno") e a
rx>r urn ~LI biiro dotado tanto de exlrc:na ~eruibilidade': d-:- cs:::ut qi.anic, outra crmnaria k'ocum m:",·us er \'il'lda sonorum {"as combma,;õc d:i
de uma c.ip.ic:áade de experimentar formas sonolll5 que o.e i! in6- voz e as relai;;õe~ dos i>on:," ). ir O ~-elho harpüta que a parece a JJohurt.
vel porncls. Donde 11. surpretndmtc ,rariedadeda• c o ~ fonnllis no fim do lAnctloJ em prosa, ~cnw-~ ~bre um troo.o de ouro parn exe•
n~f.Sa i:oes1a e. ao mesmo tempo, a liberdade que p~t' 11 (.Unjun. cucar O Lai des p{e:urs: im.für., oomo comcntill A. Leupiil, ela soba'a.nla
to: anugamentc, J. Frank assinalou Sti:.5 formu]IJ) m~riciu difc::":IlU:i entre do canto.l1 Mostras de~se gênero não faltam na tradição fos ~éculos Xlt
os trm-acorcs prm-ençais; U Mól.k:, ma;s ft'OCnumenLC; Uól ~ os rro;.·- e xm. Assim, Geoffrey of l\tonroor.nh, recriand;::, uma lendi..-ia histórfo
Wri'S! ~,la!>. n~ tradjçào de 1ma rne-.illla canção, muitas 'ru.e5 ::i cuc.e;o antiga do5 bretões, dá (no capitulo 51 da Historia regum Brilannia.e)
e: a :>ruem de sucessão das estrofes permanecem fluruame.,, '!ra-;::, plfti.. por aocescral de Anur um rei Bled.gabrea:d, de tal excelência: na ane do
~~larmente detectável entre os MinrresiiF1ger. mas qut aio J.!:.es e, 1e:::i canto q':le passou por :ieus dos cantores; \Yace, adaptando ~.sa pas.,a-
d~ bng::, próprio! Só o aten·1a:á a evolução cus técrucas c:.~i:ais. que, gem no Brui. amplia-a em verso.i lriperbólicos.. Goufricd -...un StrJSsba:-g,
a Panír dos meados do século xm, "ão alongar basran_:e a; ·mi::!a:b nos v••. ~723-91 de seu Tristan, ded.i::a aos Mín.nesãnger l.llll longo elo-
rílrr.icas cio canto. gio metafó::i:::o, em que a poesia deles ê representada pcks camos de
O ''grand~ canto oortês" foi, assim, a realização final =ü q:mu pássa:ro,s nobres oo céu ~ mi lu1..
de uma arte. mas também de uma ter.déncia ,isceral □essa. :-JJLurE.. ele o ensino práàco do car.to reflete a mesma cor1cepçâo da operação
reprc,senta~a o objeto de um :ios seus desejos mais con.sta::ile.: e, ;;em du- ,,oca_l. ' No sêculo xm, a ordem franciscana, V('>"flda à :rirtd;ca popular.
vida, mais a.rc.aicos: já a retórica antiga, pelo uso que fe.z :le- ('?;11!11..e, !.ll- abriu ,..-âJias escolas de car.to Utú.rg:co (cuja in fh:ênda, aJiá.s, comribuiu
gerfa. que este de-signruse a realização plena da li:lguage:m.. Err. G"cerc para a cl.ifusào da polifüni~) as finalidades cstdo, aqui. ligadas. NasAd-
(Di! :>ra1on>), em Quintiliano, ele se alterna com voe.is f~exa,;;,, nxd!.!.i.;--
morrWones aos estudantes novatos, ca;;,ítulo '' Oe cilntoribus ', Boncom-
tlo, var,11;to. mutoti<1, todos es..es: termos r-efeindo-se .ao jc!O =a iru; pagno insiste nas qualida~cs vocais que pera.item u·rtifidose '1C duk:iJi!,-
c·a,•:tare é amne.s sonorum gradus per.~equi ("percorre: tod.cs ,:-s naus
modula ri ("modular com arte e doçura"). Ele ilt:mra engraçad.arneme
do~ sons")· l'!Çiio própria - no limite - aos histriões e awr~;; =-e :~troa.
seu assu:nto, oomparar.do as diversas maneiras pelíl., quais os povos da
m2.:, :ambém - con:rolada e moderada - a 1odos os bc,::J.i; ,:l"ú-Jccs; '
EuroDa e da Asia têm o hábito de conduzir suas vozes: ".. .os cristãos,
Um e.o~ rlichêi ::iue, na poesia medieval servem para remei:e:-;:. ~ fo.n.:.::
por sua. ~•ez:, dizem que os sarracenos engofrm as p;,Janas e que,
ora real cu finícia repousa talvez ~obre a longínqua le:n:iral:3 ~ -.a_
can~ndo-a~- gargarejam :;om a •,·oz ...''; ele fala de toc:i() o mundo, lati-
co~p,çào; "cu ouvi ltT e cantar" t_de:sú o prólcgo Ól• A1~1.r:·, ·-d~
nos e gregN, francese5, it.al:anos. al::mães. 33Desde o 1,éct..10 Xl!, cantar
contaDJ e cantam" (ainda ro século XJJ, no DJrmiirJ ,'e C'll.'1:.1.,~, -..
e rncar aJg-LI.ID instrumento fa7ia Çlarte da educação de j ovem nobres,
l5 94S), e cmtra.s variames; fi~uras cumu;ativas que e-.·o:::.arc. cmjc.&a-n-
do os dois registros ca palavra., uma totalidade vocal: o ::nã.-c:o:i :t in- ou, ao :ne::i.os, do ideal que se forma,ra para el~: Albéri::: de Pis.ancon,
formação .: o máximo de prazer. Pouco importa que o l:m.Jte :-sc._l~ no c:nurnerando. ;;:,or ,,clt;;. de UOO. os surpreené.entes s•1c:essos do Akxan•
ct:rso do tempc, entre o que o ouvido percebe como µala,,r.:i ,ii:3 1; :i dre ad o]e;;::e-r,c.e junto de .,cus mestres, menciona a excelbcia de seu to-
que ele percebr como canto. .f r,essa perspectiva que se de.-e unr;:r.:1::.::- que ::Je J:ra e ~1.1a habilidade no ::mto; o alemã,:> l.a:nprrd1t, imitando-a
o rato de que, no séc·JJo xiv em Floren..;a. caoL..wam-se U!.rz,.~,;.r. d:1 i.Ç t1- ~,inta anos ::□ ais tarde. :ião deixa de retoma~ t'SSt lraçc o~ t:-a t.ados
m, rnmedra t fvran de Conti, em 1382, atestando que er.:k :1 i,e-;1ura de ::-c-rtes:a do ~éculo xi.., .nmc e Chasto1emcl1t dcs cianus ou a C.'e
pjbJica d:)s romance\ \:.. tazia em car111/l;wo11, ~ompara i:;!::.. ~:, a.rr::t d'amo.r5 • re::omendam espejalrr.enle para a.s jovens a arrmdiz.agem de
cmtllfa ,eJ.1 dimnta dele I Somo rnma: que a )posição r1.i.:.::.11.Y.:. ru- ,._antu ~ ,àJ prod1go~ r:m ..:onsr:Jh.)~ ~.,_,t,re o nodc t.lr 111 1K"St.'.lr ., oz
m O ouvi lle, iaça sentido. Os auwre:-. de romances nlo Jeixam dr: explorar esse tra ço doi rnstLme1,
O car.to ê o;igno: ele dtz a verdadeira natureza da ~oz, ;r--....:11.e:m pr-0\•av-elmente sentido como f'\ .,...-ador de cer:a per 1c1çáo fisi:a e mo:-al:
todos :>s •eus efeitos; · · 1tl acot com iharmo êa · eassim com F1esnc. no Galeran atcibulào a Jean Renan. V\' 1166-73; é
,eles e,. ,\laind e l1lk, noAn'tcloudiar,u.s, por vota de .llill, ::infüul:- as.sim ,:om Tristão e me~mo com l!.okla, em Go1 tfned NoconJuntodo~
gliri .:i;nentc íl 'iorte da poesia A Co11rord1a e a si,as duas ,eq-m.i:1~. tex1m ,1'.'h:-e Tn~tão, o 1ur,<1 da \'01., o ::a1110 1e a harpa que o acomjlanhal

JP.4
5,) mais <.lo que n10ti'Hl! ílm1r1111·,;.;.111: ,:li:_~ \e p~endem de algum rno~ o Entretanto. pelos fim do ~,&1110 x11. pro~h.2 se un, ro,npimc11u, ~o
ao próprio fundo da ··1ege!"J!a ·. lurtàrio, cujo sagaz respo:-.sável foi decerto Ch·ctien d~ 1ro~es e no q11:1
J. Frapp:er via, com razàv, um "°'º efeito voca.: a ~s::i1ução J:, •1õ•
trofr", que até emão asse~t:rara a ooinc1dência da íra.e e do ,·c:10. Cn-
Por a,resoenta: o ,:oq:c II apf'W!~,;ão, o ritmo ~tico nece~,aria
men·e pressiona e. nnguages::L O .feno ôewl b>e1' o se mamfesta no
' d lírlnlJl t.r.abalhava ~ .wa j)Iopriunatbia. O
desfoca, graças a um sutil jogo de acentos, os temp~ fortes do som e
prõi:rio ponto er.i que o art•fírio r.c lrttcula sobre as estruturas dn lín- os do scnti<lo, de ,orte que um enJambemem :.lo perua.nento cncadcu
izua natural: na relação do "•,"l:nD'' :cm a sintaxe. Em tempo~ bem re- os versos sucessivo~. Em parte, o estilo dos trcvadorei, tro;J1,·~r1•s, Mrn•
~uado~. quando as l:ngu:i~ mm1rr:cu o::insti1u1arr. ;,rogre.~~rvamente para ,us4~ger oonnstc numa perpétua marupi.:Iação sm1.au:a, cm Stf2l a';)re•
si un sis:ema poeuoo :;::rói:ric, :, -..~ri;:. se caJcava sobre formas .,,mti.1- l'iattva, atê elusiva, talvez propositalmente amb18Ua. A,\im, toda ~inta-
cas. assumindo-a~ err ,Ll p-'.lp::i;.:; uniéade s·s;:-erior. Dai :-esultava um :i:c é, cm todo~ u:. g~neros éessa ;io~ia, mais ou :rcnos e~.cenada; é 1J1Jis
efeim ,;.ecund.âno de dicção. t i::a.-ur ::b ra.w de que o.s ritmos <lo idi,)ma :iu meno) uma encenaçàc: e a "cena", aqui, nf.o é outra senão aquela
cotidiano para..--i.arr. coincié::' ·ir.:: ~::p•d~ ::iue _p::..')'l.·inha:n de -0utras fcntes .m que se desempenha a performan..e. Por ml!1c da ua.Jo.e, e as ver~~
de harmonia. Herda:ido é.e :;.::e.: inre:~~ore~ a est::ofe de versos unidos alé:n ou aquém dela, o r:tmo suscita na língua rdaçõ~ unpre-.ist.as, p:-o-
pda ri.roa (em sene aabbc~. .1, G:~::::ier d'.Arras impõe a si mesmo uma rnca aproximações insólitas, abre-se em plena 'rnetáf,ya vh•a''. As ri-
dupla regra. una pro;;:osiçici cs: e:::ren:ie t:.1L'T. ve:so. ou em doIS •,ersos "llaS, desde que surgiram em série, submetem a totalidade do discurso
inteiros; a frase, num ol!.nte::-c in~ri:c de ~J-:!fes, qualquer que seja soa " un:a figura de interpreta/lo recorrente, por ~res chegando a obses-
extensão. Os desvios pe:rmanCCf1Tl numerosos; mas a •·ariedade rítnica ~: junção de homônimos cujo entrechoque niio ces!a ce faze; jorrar
provém mais óa:; d:fr:-cnç:!5 de. :::-;ã;:-ns.àc c::itr:: 213 f:-a5es, muit~ -vez~ for- ccmorações inauditas, scbredeterm.mando o se:it1do daquilo q~e e dito.
te:nente conaasL'Yru e cc,::li!it.:inó: :, ec:.n•,•alenk: (ou o fundamento) te.X• Q.1anto mais se avança no curso do tempo para o~ 5éculos x1:1, XI\' e
mal de um desem;,enbo ó: ator:nuit.0 ar..i□ado. O enjambement pro• XY, mais se refinam, com e~sa intenção, as técnicH acrob,ticas da ~ii-
pria-:nente elita é muita :ar::t. r~a:-:in:fo e::r.. do:s ~·ersos sucessivo;; os ta.1Ce : do som, ate o pontl'.'1 de perfeJção que .r5o ntin!!ir entre al~1ms
elerrentos do me.?mo 3i:11:aimE- ocnram-~e. oo ma.1:m10, uns quarc-:ita, deis t .rands rhétoriqueurs.
sem grande clareza, nos 650) ~ru; :to Ér.:de, e a e.,.idência e de q.:e No ent.anlo, um cosh.:Tle de origem antiga (e que; ,ilfüurava 1:ena
somente uma dezer..a pr,:x::rl.e d: ~ a lnte:ição dramatizante. This rup- prática da lectio divina, quando não da exe6ese ruínica) levava ruis
turas rítmicas se prodlllJl:C., ra. :1d:-i;:. ::.a.rr a.eh-a. apenas nos momentos de. um poeta a sobrepor i siataxc p:ropnamewe cfüa ouro plano de cr·
mais intensos, como um ge:.<:tc an.:.:;li:icador. ~esse sistema, em qi;e o ganização, baseado nos números, em suas relações e nos ritmos que eles
rie:o· relati.·o reforça a efi:::izia d:e:- !fe::c-s de de~,io, os limites do verso engen :iram. Dh•isào cm crês, quat.rn ou cinco putes de :mco, sele oi.:.
são bem marcados. lexica2:men1~ ::10 i:.:'.dc•, f.:::::iicamente no fim. De mo- del m~mbros, combinações i.s vezes muito com pbas. regendo a d:~ei-
do nuito predorr..ina.ntt:-, é umJ. ·;,a.las:-a-ir...mumento acentuada o que buicão e a rcconêuci.t de palavras, de formulas. de seq·ii:ncias na.nati-
começa o ,;erso: crr. dete~P::. q:alq11c, ua:a preposição, conjun- ,,.~. d:: blocos temáticos, ::iu a quantidade de cada um dos elementos
ção ou locução ad,'ttbial. O:ajurt;3,e;; di•;er~ac ·~ os advérbios ne, or, ~m jogo. Do Heliand suônico ao Alem normanc'.o, do hino Quan.d ie
si figuram no ::ome,;:o de 30C•7 ~ ( i , on s,eja, 46r., c!o total.. Esses ad- soltil à Chonson de Rofand e ao Irisra.nt de Eilhart, :, poucos de nos-
vÉrbios, sobretudo or, oe:re:~ um;;i.::, (:'1:".kclar, por causa de sua fun- sos antigos teu.os não foram objeto de investigacões sobre es:se pon~o,
ção no enunciado e dt sua re:a:ic :::r...a a lfucursii,idade oral. Or, espc- no mais das ,,czes com a ir.:cnção subjacente de ceies <!.cra::>nst,dr oca-
ci:almentc, para aJém de ~e.i 'i'UOr Lffllporal, po6sui a função de deto:iar ra ter erudito... Trata-se, porém, ma.is. de um L"aco geral da poética me-
a pmença do lo::utor oo .:iu~ :r. diz: ;c-o,oi:a u:na pausa breve, suspen- d:ewl, obscrvá-.·el na grande maioria dos textos êUJante séculus e cm
dendo a tc:mporalidad.c: do retaro. 'Tunb-!:ro ftra.n1 percd,idas como pon- todas as línguas, da alta éroca carolíngia ao século x,1, de Rabano
tuação lexical as fo urr.crivm r;t.::r,'!'3.j quase varias si, que, cor que es- Mauro aos rhétoriqu~. passando por T)ante mas umhé.m por algu-
allldcm incarua''Clrt'..cnte a s ~ . as {rases, os grupos de palavras ma canção de troVador ou Schwank alemão. 15 Não se JlOOCfia auibuí•
nos romances cm .,·c:no. lo a;, •'gênio" de alguma fpnca, ~gjlo ou homem 01ais do que à pro-

187
• i;ir.1c.:111a de: -.imbofü,açào. Aind~ ma_is do_que ri. conquista da Cruz 13,J VCf50i
j1:çio Ja ai um ngoro çõ~ de numero& tunc1on2nam, t fim de É.racle 71 vtl.Oi
• ""nho que l!> propor mat.eri.a não n.a.rrati\'8. ,S) •TI"lOi
como rttón ' ;ut'., fi ras de ars memoriae, articulando desse ~o-
na pcrtormanc.e, oomo igu . . do por ess.e meio, diver,os efeitoi.
arração e perm1tm , A relação narrativa entre b e a é !>ime-trica àquela que une d e t . Se
do as parte d a n . u mesmo - .,~e for o caso - de corrcspon- se ju ntam ~es pares de elementos. constata-se que •=> relato s: dernm-
de dr.unatizaç.à:> dnn~c~ o mecuti\'aS de recitação. A ars cria um espa-
dência :::11tre duas sessoes co d- um discurso: em cada um põe em rrês unidades de respectivamente !811, .2170 e 1422 verso~, oJ. 5C-
00 locarem os marcos .. ja 43r.'o, B~o e22f.'o ela duração total éot.e::uo-nu.rnero~ que se relacio-
co onentado para &e . abriga-se um elemento ao qual a pa-
do~ lu~ares que aí se ;l.eterm.1ndam, papel O poeta transpõe para a du- nam aprorimadamente entre eie.s como 4 se relaciona com 3 e co:IJ 2.
. . d pc:udendo e seu
la••ra se ·eferna, e .
. . b
1u ares e proporções s.unples a5· O fator de.terminante e a d1u-ação do relat.o duração dJ. palavni
. , . momentos subsutuem g , e da audição, uma e outra nos titruc.es fixados menos ou na.ir, nitida-
ração o nsteroa-
tam ?<l-1ª defüu-tos. e;çuninei atentamente desse ponto mente pelas condições fisicas, p,ela energ.ia dos corpos e pdo~ hábitos
É. assim que, nc- Éracle•d- que n~º "OS v,•. 3283-5' coincide com coletivos. E..1:amina:ndo dois fragmento~ de qwnhentos versos, fiz uma
tade -.,.ata o roma ....~. •~ experiência de leitura em voz. aJia do Érac/'e, colocando ai o mmimc ce
de "ista - , a me
n centro do pran~o de ~:ii . ais a risionada, no qual, por força de uma
.-e! acusar os pérfidos cortesãos, os men·
gradação dramáu~a, a m_ . Ora esse instame mar:a, em duração,_o
ex.pressividade,. com apenas as pa~sas rnd1spensávei.s e o acompanha-
mento de a!guns gestos; ::onclui, por extrapolação, que uma leituü ~ú-
ürm,:)c e o p6pno demon10. ód" 'dos amores de Atana'is; logo ckpo1s, blica do romance inteiro exig1:na um poüco mais de quatro horas - e
fim do primeiro terÇO do ep1s 10 direção ao inC\1ta.vel aduhé- muito mais, caso o leitor teatralizasse certas passagens, como aqui e aJi
. . eça a derrapagem em . , d" (em ;:,articular nos diálogos) o tex-:.o o convida com ·nsistêr.cia a fa.zer.
~uT·•e a duvida e com M . 'ndm• 0 -onJ·unto do ep1so 10
" •::, . do de clímax. ais a1 ... •
no: efeito. ,-ustenta · d E.rade prece,deram-no, cortadas '.'lào me parece:, enc.ão, im:;,ossivel que a composição do texto Jevass,: cm
10 . -·os ~senfances e . conta. de algum modo, este fato: uma ::ierformance de quatro ou cinco
çonca com 2\ ve s. • . - t· damente distintas: os pnrne1ro-s anos,
·' ar duas sessoes ru l E. horas e impe::isà,·el sem entreatos. As.~in:., coustato que as crb ;'partes."
de modo a .:irm . ' bl' orno acontece com Jesus nos ~ange-
ou1ltos; depois. a 'lida pu tca, e do rnman·: e .;.ep.aradas pelo s huimais dos\...,. 27 46 e 5092 du:am respoc-
lhes de Mateus e de Ll~cas..r ece co~truido em massas l:>em sim- tivamer.c.e, segu~do meu cál:::u!o, uma hora e trê-s quanos, ·J.ma hora e
As:sim dedfrmü, Eroc.e apar meia e uma !iota.
p~esmence propmcionadas. As mesmas :-elaç.ões simples .,e e:noontram na distribuição dos sub-
ekrm:mos. ,Ai.s5im, as duraç&es da:; provas relath·as 2.os doos d(: Éra.:le
114 -~rsos
matéria não narrauva est ão aç,mx:imadamente na relação de 4 com Se com 7, grade.ção que
258 versos
a .!1.~ãnda ocul~a _ 2:553 versos põ-e em rel-e~·o a de:si::obe,.a fina\ de Atamus; e cada uma das pro,'a5 apx c-
/J. ,'ida -publica tmanifesr.açaol sen-.a a mesma est::-utura: exp-0s1cão, acontet:irnento triplice, conclt..sà<J,
2]i 0 versos
e. amo;cs de Atana·i~ pe 7lla □ecendo 1dê:n:Lcas a~ p ro;-,orções dessas cinco su buni:.lades, ape-
sar do along:amen-.o das durações. A h.istóna dos arr.ores de ALanais 5e
de:::e>mpõe e:::i duas s.equénc,as. c01r. cada uma se diridmdc e:-i q1..i:ro
-:e:-,a- de e, ten~ão ,errsi·,•elmentc· 1gua:, duunLos a c;ezentc• ·,erscs -
ou ,eJa. seg.und-c minha cori.ta, dei a doze mmuto~ por c-en,, uma hord
e me,a parn o epí~6d10 mtei::-o A pane :entra] da conqu1~ca da Cr Jl
e pre1.e·chàa de um prnlo o de igual duração, conta.ido a ~censàu de
ÉJacle a unpcrador- srgue::~ a entrada cm Jullial · e a Ewtação.
A L"Xl ens:ío -:les~as t rê, sc:i_:ôl"j e, grosso modo. prop1Jr-: ional a ~. 4 e 3
1 1,~21, d!\'1~ôe, numenca~ nã,~ ,nrre,(ll"'ndem exaram~nte a,;; pau~a~ qu~

188
mm º ~hu.,r ais éo a u1,>r· elns n t
se ap icam urna à ;:,urra ' . ' o s,10, cntreu11110, i ncomp.:irh d mas
como, a um de enh . • , c,Jns1,lemd •~,,, ór na~ ct::h cuII u, ...~ .... , .•__ _
d1 'lnta. 1 J me parece s1gni'1~JU\ J o. uma cópia I ge1r.1::i.e-ritc
JOgl ~,c com a inprovi ação O êe 1..omo se• a uma C'lcer.ação que
do que subo-dim.n tes: m.11,; agre.?a•ivus Ju q u,: lógica~: cn11,~r ~uJ~1ra ;
th-o esses cortes e proporç~~ d que t m de arnmc11cnrncntc apro.~ll!la
vcs emo1mra a me j aionlst ca, r.1a1 cotal!zante5 do que an I• ·..:as: mais pa u,ipat"' Llo
que optra!K.\o por c.!ist;inc,amento; mrus Sllu.aconats do q ·e :ibmnuu
mn,.. ;nátrca o que simbólica. Pouco un , u \er, que sua funçã,, t
Dai provtm a ma or parte da~ caracte:rnica3, que. em todo~ os pl3nm
rorrespo:1dêocias numem1s Que ele ó po OUVJdo exatidão da.
t o •·mec1e.,al" ao t~to "clássico", a poesta do
1\'urr. r:i unJo en que •J rempo. ~- s bpode re 1s1rar bem toscamente.
d e manei-a . •~ conce ta prime, tmtura do *ulo: x: ca~em .:as, por
eç:r;i •uil "s mo ra e e pontar.eamente
· mcntos su~ 1v0 d 1 ião, d~loradas. mcompreendiJa._ ou cx~Jtrnda.s por um numero d~-
come ~e sot rc os própnos lu11a d o ~rato e desdot:ra... arn
durações. no ~ io do c:liscu • res_ a performance; e o cômputo da; •tado grande de med1C'\-alistas. A conseqúfo:,a de tal erm de apm:ta•
~ . r-m poet1co não fa _ . • cão fo. o e1tabeC"CJmemo deu~ cânone d.e 1 ·obras-pri11n " med1eva1s
par aç dimen~Eoes je5se espa:;o vocal.· n a ciutra ...otsa ~enao era-
- as mesmas em que es,es caractere5 :são o- ~ais atenuado~ -. esira-
1h o (eu presumo) a pe:ce~ão q"J:: tiverao âe , <a. poesia ~eus dern:iata-
rios e, se;n dúvida, a função q;1e ela 9re=iclüa em sua sc,dedade! Don-
. . _Por !~SO. r-2re:e-me falsa a questão u -
nlimca ccmeccional <>me . q . e, na tY-r<;pecuva de uma es- de prcvêm ainda. de outro modo. o eqw,oo:i e a futilidade da> pesquislS
• ' '"O' ou os med1eval1stas d d
Meter, a i:rotósito do r:r d .
r,u run, a cena resp did
CS e que. em :9]6, J
fi . 1 baseadas m~ rastreamento de ind:cios k ócais ou grama!Jcais de \'OCalt·
dade. Co:uudo. enue 1950 e 197~, foi es~e e gênero de fatos que invoca-
vcca;ão oral d! um text:, dete . . on :> a ITTilatt\'amen:e: a
"d O nnmara seu modo de fi ,; __ - ram cmr, o má.mno de confiança os medi.e-.-ans-.as ávidos .Je chamar aten-
vi g:i~ .~ P"d-s•c
~ ~ '
dar ª tal ~rgunta um ormaJU<tcao'l· Du- I
des.tjja;ão vocal é, por :iature-za men a r-es~~sta global. O tato de 1 ção para os efeitos da tradição oral. Desde ~96, :.\.1i::!u.el Curschmann
e; uc ,e propõe ã leitura M . d , os apropna veJ do que o é o texto assin1lavao que podem cer de enga."l.adores esses mrc:>dos de detecção.
a palavra de seu autcr: tend
• 3.1.5 o que este ele res ·
.• .
D ·d . .
ist- a i enaf1car-..e com
1 A vocalidade de\'e ser consid:~ada g)ol:alrm::ntc, e tc<i~ argumenta;ão
, e a se mslltUJr com b
SrJPo, no corpo do qual func10 D d o um em comtun do fund.ida sobre um único gên~ro de obsena•;ào ou limitada a um só ni-
estrei:amente :::or~lar:a.s. Por umn~do ai .~orrern .~uas car.icretisti.:as , e: de anáhse não leva muito lor.ge. Um :>Jt:eito como o de estilo "era•
nais fort~ue.Ht" concre·o do d , o modelo dos rex:os orais e liz.antc" é circular· a argumemação o;::::T~ e, risco de ·.-oltar, em conck-
,i;__ • • que o os textos es-:ritos· ~
=ur~11,m j)re-fal)ricados que ele veiculas- .- . os uag:oentos são. a seu pressuposto. Todc texto me:!:Je--al ê ..or4-.izante". Ademais,
garuzados e s~:na.nti,........,ente . . . . ao mais numerosos, rnajs or- a inrençãu expressa de um autor, mou·,a.àa pelas necc)sídades de uma
......., ma1!> ~Laveis Po . .
de u:n ir.esmo tCJCtO ao longo de sua . . _: o:itro 1ado, no mte::ior difusão num meio de oralic.ade dorní112Jlte. ;Jôde, a todo o rnommco,
SI:1~ronia e diacrorla) O:>.sen·am . transm,ssao. e de texto a teno (em em cenas obrdl) compostas por es-cnt~. 1c.d:car fonemente tendências
• -se mterfi - ·
;>rCva,-eI.oe:ne a'u<iiva•. trocas disc . erc::oc1as, retomadas, repcti,ções que, alhures, eram mais difusas. É o qu~ por exemplo, seguni.l.o A lbert
·· tmrvas que traze ·
l'1r::ulaçao de elememos textuais . - ma unpressão de urna Baugh, testemunha o texto de romances em inglê~ medieval, lalS ;;:orno
bina::i a ou:-os ern co,..., ""'s1·,.- rrugr-~tc::,: que a todo o irutantc ;e corn- Gu,1• of lfár.,.·1ck ou Beves of Hampton. Certamente, rasuear, t:.omo fez
= .,.oes proHsônas As . .
JV

dos tex~ 81!.tigamente 1:::-"ublicados or Stm e no c~rpus imefro Beer, r:a orosa de Villchardouin a;; :r.ac.Jfesi::ações de um "estilo oral·•
:.er.1 imd Pr.i.sro11rdler.. P Karl Bartsc:1 sob o ll!uJo Romari- é cois::. que não carece de írte~sse, :m;,a., exige uma mterpretat;ao que
EscoJl:i, de ;ropó~ito, e:sse exem lo ex:t . nàt' SCJa si:nplesmeme texLual.
de füncio.J.r.nentc que e . P remo; ele ilustra um modo
Donde a insuficiênoa. por estrcte.r.a ~siva, da "teoria orar· (co-
o século xv oa "VI n- , mais ou menos, o de todo teno poético até
esses tra-os se l · -
• -u, a, mo a chama\'3.IIJ, nos anos 70, em J:3.!3es anglo-saxônicos e genuàm-
retórica dD teci.:, do Que a seu din.,. • re a~o~am menos ã suj)e:Tfi cie cos), da qual A . B. Lord foi ;x,r mcito tempo o rue,trc inconte5te.. Ba-
aré a sua p:orc-hbtória. no nível d~mo onguw: a sua pré-hlstória.,
seacia ~ trabalhos de Tat.lock (a ;,a:rtic' de 1923) e ele Pam· (I 928 e de;x>is
ltÇão. o llS;J«to perfi . ergias mvest1das em sua formu-
põe Dectmrlair.crnc (ormanciaJ segundo o qual se cor..stitu.i o tato im- 1910) consagrados a epop,é,2 antiga, e e.os de ~lurto (em 1929) sobre
n10 com a o:· e:i mesmo d
que de modo P""~ ~, •
• ... ......_.~ao preço de um con-
os guslari iugo !avos, a teoria definiu 1.:.rn modo de expres~ão que foi
denominado •·estilo formular" e Ql!e,. em _eu estado primeiro, ela con-
t'l s a esmrura) estratégias expressivas geralmeme
1dera\a próprio da epopeia, q u.a.ido esta era o bjeto de tran~m1 fio
190
J9','
orol. Dl·)dt 0~ ancs 50, d1\tr.sm, meJie-."atistas, quarie s1111ultaneamen1e, de \i.>U, r,ar-::x:-n:.~ repr~-;.er.la.r, em no.sso~ eilUdl)i, se a rcduzimo5 a seu
th-crnn1 a i::léia de aplicar a poc~ narrativo dn ah ld de Média a pn11cir-1c, rune hipó(~c inícuil, útil c;;n função lieuri>tica, m d~ro-
noçjll de c~ti'o to:-n1ular-0ral, que a partir de en o parecia assegurado vida :lr a::tc-n,:lade unh':rsa.l. Ela não le-.·a suficientemente eDl cou1a a
na prática de cert~ helenistas t e !avistas. Em 1!i51, pare~ o estudo nccC' · · :1e::!: iic:mza do to.w pudico. Do ponto 1e vista lingüístico, oral
de R. H. Weber sobre o Romancew; 1ois anos mai tnrde, F. Magoun ou esc::.~o. ':JlJ1 to:ro perma::icce um to:Io, da competência de métod::>.!>
se dedicava a-:> Beowu(f e à m1dição BI1gl,1-~.uõnica. Seu estudo se ba- critico;:. J:.h gt:2is e, enq·~o t.or.o, por defmíçao o ooJeto. Compona
seava r,urna coa;e;>Çào rigorosa: a fôrmuJ3 é uma ;,rO\-a necessária e ab- nec!'Sv-~n.:e as marc~ dcm: status. hfas 'J:Tia poética desejosa de
soluta de oralidade; sua presença e:w1clui11 :1; intervençã.o do escrito, se- fazer ju.,.;;i;..i oió '>Ucalida~ de·,-erà, ;)ara m.anter rna c~pecificidade,
não a t:!ulo de simples relatório da perfo:mance. Contendo o BeowulJ dcmora:--s~ mer.:,s r.aquela.i man:as do que nai relações instáve.s -ias
i40i'G je versos formulares, só se Linha que 1irar conclusões desse faLo. qua.i~ re~uh.a., p:ir o:i::i:::ate.:iaçâo de elementos e d~ seus ete1tos de s~nu-
Quando foi reeditado em 1963, o a,rrjgo d~ I\1.ago·.:n ja havia gerado to- do, li :::conc,::aia ;:a:rticular do :mo d.t0 ou :amado - aquilo qu~, :n-
da uma dc~:e:11ênda: esudos de R. Waldon, R. D. Sh..•Y1ck e outros se>- ma J:nguage,:: Jm p:-uco dernrada, .\fene::idez P:da des•,•enda,,a no' 'es-
bre a poesia co inglês antigo ou sebe o \c:r.m allte~ati\o do inglês me- . 610 ::ac. :ic,:i:J'' e5:;ianhol: 15 .ma ir..1e::i.;5dade, si..a :endência de reéuir
dieval. En:. 1955, o li'-TO de Jean Rychmr 'i<:>brc as ::ar.çõcs de gesta t
1 a e.1;:pressãJ ac t)seadal 1.0 que □ão quer dizer que e. reduzisse nen ao
[Yetendia ~rovar a destinação voc2l des~as obras, o impacto foi tama- i mais 1:r~.,: ~rc a,J mai~ úaplesJ. a predominânda da palavra em J.,O
i
nno que ;u~tificou, dois ano~ ma.1s taJ'd::, o n.."1.niâo d:- um congresso de:,- ! ...obre a j~ri:ão; os jogos :lie o:::, e :ie repe~ção; a uncdiatez das nma-
t:1ado calvt"z, na irt~nção de algun! crganizadores, a frear a tempo uma ções, ::,.:.jas :"crr.:ias complexa.. )e consmuem p,or acl':nulação; a impcs-
p;rigc~ "tc·çs;,i! O rc:sultado fo: difcn:nte: até mcad:'>, dl>S anos iO, \ iu-~:: r soal1::E.j:, a in1.er.ipora~1 da~~- .. Ess..es traços. mais ou menos claros, ma-
~,ms1i1 ,1i· .ima c'1nsiderá,,cl b,bllogr~fia de trabalho~ do gênero. acerca nifestan:.:.:, in-el ix,""eti.:o a ::-:;io~i:;ão funcional que distingue da esduua
cfo maior pirt,· da~ waas cu1turais dt.. Eu-opa prc-U1u1.k.:na, França, te~- a voz O te:w:r:i e5::n10, ur:,a ,~z qi;e mbs:s1e. pode assum;r plenan~:i:e
ri:ório5 1er:nánicos e escar.dinavo5, E.,panh.t .. sua ::a:;:ia::dail! de f:n:ro. Jà o texco oral r.ã.o pode. pois está mui~o e:;-
o i:~1..idu Jc estilo fur rn1lar terminara, durar.u.:c~ses ,mos de voga. ~rita:nente ;ubj ""gado pela e:cgê:icia pres:.:1~e c!a -,:· formance; em C;)rD•
per de<;t..-:ivolvcr-.s.t: ~iJmo di•cipUna quase autõ7o:na, em de1rimento dos. ,>ensa:;?.::>, el:- ~oia. da liberdade de 1:10•,er-se .sem cessar, de inimerrup-
outros ck:Ticntos ,JOéticosdo:, texccs considerada,.' \.lu1tas vezes, ele se iamenle ~►ã.rja: e, :11.rr.r".ro, a aatLf"'...za. e a fotenStdace de seus efeitos. ~e~se
reduzi\.l, ~ra 1cven.• pesquisadores de~prcvidos de ex:>eriência, a uma sentido, i;cd::-,~. nos texto.s fos Sl!\..--i.los x.r e XlJI cue usam o estilo for-
i.:.i~a ã~ ru1111 ul~~ IJ<111tamc: 1.k11 i!>úr:.i. V~rias dessa<; monografias, pela mular, c::i n~i c.e.rar e5ce u:na ~rta de arcaismo - IIli:I.S um a:'Caísmo man•
pr.)pr a especif.ddade de seu objen não deixaram de contr' buir para udo, r.a p:.ic.ica de ::iurnermo~ poe:as, pelo ~mimem:> que eles tmham
1cJefi m u )i~tc:md furmulcu , <l.i 1J1rlhe uma imaier.i tâ.o complexa que das própria5 e-:,:i@bcias da 'L'OZ pe~forma□cia.J.
toda apli:acãc p'J ra e simples do moce.o se :ornQu irnp:m1vel. O gêne-
ro tpiO:l) se espalnav:1. por todos os lados: :anções de santos francesas,
romances em r~ês medie•val. Minnesa"~ alemães, qastda arabes, nà{l É :nai5 na ;;;:i~n;;Jectl',a de uma art! do:m:::1.ada peloc; ritmo~ e prl.~
ha\·1a ge;:ero poen::o que nao se descobrisse ma1~ :JU mer.or. formular. ir.vesr:ga;;.i(, j~ i:.?r.:m:mfas s:::-mmLI q•Je ~e de'<'e :onsidcrar o• 'formulis-
E~Le crikrill rcrmiua definir e ::le imitar !Jtla a "literalu:-a oral", por ;no". ·forno ~sse c~:r:10 e:npre,:a:5o a M. Jousse. ruma b 1,.:-.1 de geneTT'.-
o:;x>s1cao a '1llt se pa~sa per escn o. ~- ntese:. ~= esboça:-am sobre e~sa !ização r!, ac, me;rno ~mpo. por aJ:i,ão a m~m.as das -conotaçoc~ dor::.-
base; maE, s1rnultar.carne11te, obje~oc~ cada vez ma.is o umerosas 1e le- ~·anre li~~, ,a. exi:-essão ··es,1ilo ro~mular" Fnrmuii.m,c faz referfoda
,arnaiam e que1uoraram Clssc: u!> p~e,~supc"1os dadou•r na, tos~e a na li tud,::, qu::'. ni::,:: :L,cur,os e mudo., de ::-nun:iação própriüS a tal ,:>:; e-
ture1.a un documemaçilo unpl1:ada, ro~se o Jlcan:e dt ,ua 1merpreta- c.ade. 1er.::. J ~nriênc1.a dt> tne5sanremr::!te rt"dizer-o;e em te:rmo. bem pou-
-;âo. De de 1956. Brnson e interroga-.a assím a ;:iropómo dos textos co dn-emf :ado.;, de reprodllZlr-se COll', infimas e infinitas \ariaçõe.\ -
anglo, xômCI> i tm 1 7, E.. de C a prollQ 1to do C,ct 4 ~ c=.re'.Jte '.\.ffiB " ~ Wll, cterí Uea t!e n :.~a rul1
o~ cnucoqn\ad '11m as rC'\a.tasrspcciah1..ada.!.. A paTllr Je então. a op1- dade :01 diana ··sel~em", ....a:we:-~ções, rumores, lrOca\ fa11cu • l.I:1
111ào \:Om 1m tende n rccus11 •f.( a ver no cs11lc l()fllllilar a marc.a ~cgura ,en1hl11 r.::..._p; e~truo, o •·torrr ulLl:nl>"' ~ 3 fonc1onahn1ç.'lo de~sa tcndé!r-
d,.1 ord1dad: A •'doutrina" l'arr:,;-l nrd, dcruis de um uano de seculo º"'• ~m t1naliwd:s l•ratóm1&, jmdkas. ()O!LJcas. O lormuli-mo mut fn
JQ
cm regime ue orali:lade tlominante. ToWez constitua umu das rr..an.:a~ de uma \'OZ. na p~rn~cl ~omurn Jo cmi~sor e dos rc.:c:;:tore~ da mens.1-
o.tema~ dnquela ar1.Jt1el>CScr1tura, anterior a todo o escrno real, Ja q uai gcm _ ~ .Jm 1cgo ~1Hrn.,r::ilmente autorélw,. uma •;mr1 f1:a,;;i.o f'::-1Lc1a
já se fa1ou bastante nos anos 70. Em contraparuda, o aparec1men10 e ou uma 1u~a;ão da h1,;16na, as,umid a, as~1m1lo.da, u~ag,.ida ~los vo·
a difu~ão da c~cruLra real ~e acom panham de um efeito de desformr,, 11- ,e1os de sonondudes, de gestos, de ~•~mf"icnções o•erecidas.
.:aç::o, tOm a linguagem da poesia tomando desde então uma onenta- 4 f 1.1n.damenmlmtnte. o formul.tsmo faz. parte d& or:.Jcm da \ n;i De
; ão auto-reflexiva; observa-~ esse fenômeno oos te.:<tos rned1eva1s, -de caio., cm ccnseqli-!nc:ia tla eterog.eneidade das t rad ições ociden-.ais d'O-
rrodo primeiramer:.te esporádico. d esde o fim do século XII. Urna ,·ez de I alUI Idade Média, seus efeitos se revc:~trn1 de a~pn:1os divcnos, pcr-
011e a t-:adii,:ào ora se ahmtnca de tipos, a escnrura tende à "d:ale:a- cep!,veis ern diferente~ nJ\·~is da ob ra: as~im, ao mesnu tem;,? e:n q:ie
çãc--". 3 2pr0:\lmacão com o obJeto, à apreensã,) do incompara\·eL, mas füa."11 0 que an1. g.a."!lente denomrnet '"registro~ de ~pressão··, :le:. mo-
c>\~,1 tendência triu:ifa apena~ entre a.imns 1tal:ano;;. d.o século :-..T,; e::- da!iiam, n,::. essencial, o uso da retórica. en laum não menos dQ que em
ue o~ franceses, não antes do século\.'/. O que o fonnulismo tem de li::i.gua -.·u]ga:. Durame séculos, a prática dos letrados pi:r~an~c!rá mai:-
~dundaate c:>rnpensa, na ~~ó pri.a mM'-.3.gem. <1 ruido ocasionado pelas :::ada ~los métodos formulares de aprendizagem do latim, introdUL-
ó-c:..n5.ãncias que. na perfor:nance, in:erfere-m no texto; em situação dos oa época carolíngia memorização e repet .ção cm \':lZ alta de peque-
.Jc oralidade primaria, es&a ê uma f\Jtlção poe(:icamenre ,..;tal; quando :ios texo:.o~ sapLencia!s, Dislicos de Cacão, fábulas esópica.~, vers1culo.s de
a bege:nonia da vez começa .a ceder, sob o assaJto dos habi•os esc,1tu- saJrnos: _ a frcunda ratis. de Egbert, por volta do a10 1000, fo::i.ece
rah, ta. Í1.lllÇÕ.o progressivamente se êsmaece, mli sem que, por muiro aos cstud:mtes de liêge. para esse fim, uma seleção de ditos. d::>is ..se::i-
tempo ainda, seu exercício desapareça, Do sé:ulo xn ao xv, estamos 1~ mais tarde, as Paroholae de Alain de Lille cumprem fur.çào sendha.."1te.
n~a. :.it _açio. ~l.'S gbieros de tradição mais anüga, como a epopéia o fonnu~ism-o poéü:::o fu nciona com a ajuda de modelos de d:•,er-
O'J, mais suti.mentt, o "grande canto cortês", perpetua-se um !ipo reJati- sas ordens. si.otáticos :itmicos, semânticos, operanGo de mamira gera-
vameme arcaico de formulismo, definí·tel pela desproporção que oompor- lJ\'ª :na oonstiLuição do tato, produzindo superfi..:ialmente se:i_uéndas
t;,_, e:i..tre um número elevado de sign·ficantes e um número restrito de ao mesmo tempo esperadas e mwtas vezes imprevis1vcis. O proced.i.memo
signili çado~; este~ úlllmos se identificam mais ou meno:. a caLegorias às ,,-ez.e.s c:á~ha sutil.mente no ruvel do enunciado· íl ~..im, um advêr-
cuhlrais, fundadoras de sentido. Nos Jêneros de criação recente, como o ":;,io. oomo or, inuoôLU. periodicamente no discurso (corno já assm.aJei)
romance ou o dit,* permanecem ma.s ::lo que marcas dessa situação. '.lIDª referê-ncta à oralidade deste, real ou fictícia; a própria prec;e-nça de
Assim se constitui um interd,scurso poético - no sentido em que um dêitico como ci a mdica que se tra:a de palavras ::iue p•eser.ti:'i-
se fala de m Urtexto: uma rede mnemônica e .,-erbal, que é- urdida de forma cam. ui o fo;mul.Jsmo, po~em. envohe mais o disc:m10 como tal do r:iue
muito de5i6ual, mas que \'isa a em·oh,·cr com seus fios toda a palav~a sua organiza;ão de lingua_gem; e, na pratica, conce-nc mais a perfor-
de ums. comunidade. Em maior ou m::nor grau, determina a mensagem mance do que à composição: tal é a função dos luga,7~ ou topoi, origi-
Q □ e os :rioe:as enunciam e se preode em sua orizem a alguma ideologfa, nalmente partes da memoruz e da actio retórica e ligadm ac, u;o orató-
por vezes cristalizada e tornada ímprocuth'a. O fonnufismo tende, as- rio da pa.l.a-,ra, e depois, por um deslizamento que prosseguiu él.Lí: u~
sim, a fe:hat-se cm sua própria clausura Uma forte conota;.ão autoní-
r:, íc;a afeta a linguagem que ele produ. Suas partes, mesmo as mais rí-
gidas a; " fórmulas" proç,riamente ditas. a todo o instante .se prestam
'
t
s~ulos dã..s.5icos. caídos no nivel da arre literária e - inversamen:e -
içados ao da dialética. mais e ma.is abstratos a cada etapa. O lugar co-
mum rem por fun;ào aproximar do ou,int~ a materia re,r,ota do dis-
ã ressemantizaçào, segunco o contexto, a circunstância, a natur~ do curso, conc:rizar um conteúdo, mas ~irando toda partículai.:ação; ele
público. No limite, a única realidade à qual ~e refere essa linguagem é funda a té::n:ica das "artes da memória" e jusàfica praticament:- a maior
o próprio acontecimento que a realiza, a perjo.-ma.n.ce. Seu semi.do glo- pane das estratégias poéticas adotadas ao longo dos sé::ulos. Segundo
bal proçcdc menos dos elementos iterativos ac-.imulados que ele coloca a perspectiva em que :,.e coloca seu uso, ele rege ::> dcse:wo:vblento de
do que de saa propria iteração. O que se ma.:iifest.a então - ao rom uma linha de pensamento., determina-lhe as articulaeõcs ou, ainda, inau-
gura um : c;xrtórlo ~ argumitntos eficazes. .
,•> 1um<i usado para alJu,ns tipos de poeia didá:ica medieval; apamuaifo Jo ~ No entanto, adQuíriu-se, com ou sem nzão, o hábito de ~ ns1derar
0 formu!ismo quando, d~ preferê ncia, ele abara o vocabulérlo e influi
but, / obt~, ttlllt e lirl. ( N. E.)

/95
n:t scl:dl,, J,I', form_., lini;ui•11ra~. De conlltrnL•" maB c,u rn(·rws r~tá- dsdc. I( verdad~· que urr. efciro ck awmula;ã,1 ~ o cará1er mr1is cxrlri:1!0
\'cis. iras 'l'rprr (:11nd.1 q11~' crn1tt',l11nlmenrr) idc1111fi1 án"t, .1 t md:ul~ d.! ,l,lcurnr-111açiio tmern <:orn q1.u· 'W!> ~~Jª raai~ 1âcil 1den1it1car o~ pr-•
fo1 mullr funciona ~orno um3 citação de auw1i.:ladc. l.:la rcn:ere a ,Pn ,trb:o~ llt.>.!> texto~ dcs Quanto mah e recua n~•
H•<.:n!o\ XJ\', :-..,· :.- X\·t.
ICXlo "1c1al, , irtu.il rna1, i nconte!;rá •~I. ral3vra tr.ufü;1on I e públic.í, COll'> remi::o, m:iis di ficil a iarel'n; naJa, J:K•i cn1. P•°"ª que: o fervilhar p111•
li'.uirtdo urn plano d~ referer.cia que t substitmv~l c qut", de fato, no mai5 v:•bial lenha !lda mmor, e que o u5o de uma rne.;gotá,..el materia p,are-
da-!> ''C'l.e.,, nb~tJtu.i urr 'n:aJ" mal pcroepuvcl que, cmpcrformllllt:e, não miológ1ca tenha &ido mc11ot rc\elador da natu1 e.lia profunda de ·ima cs•
nos m1en•,,a, a mero~ ::i:ue o ac-ei:emos. Tal e, em seu ftJndamento, a têtic~. z. Todos O.li gênero~ foram to.:ados pelo p;overbio, até o grande
operação .,ut: \\: de5igna er.t!o, di~simulando seus efeitos, pelo te:-mo canto cortas; e. mail, d.o que o::. outros, foram afc;.zdos aqueles cuja ftm-
culto ri'p,'7!1•se,r1atio. Dor.de, para além de sua ligação com a tópica, têc- ção í:nplica um enga:an;:Jto persJas:vo, urn~ t:m1ada de posição pu-
nicas de e ornçiio como a que, ames de Jear: de Garlande, fora rtco- blica, par.. morahz.ar ou pro·,·ocar o r.5(): do Ysemgrimus latino ao Chas-
mendada p,:x Gcof•rey cf Virsauf: 1q que uma semença abra o exórdio tiemr..sart franc~s e a seu homólogo vencr.iano Supf!r naturajemi"lwum,
e c.:epni, fcclie a rnndu.~ào clodi ;curso, dupla concentração de ...ent·do, ao teatro da ba1:ca Jdade l\1édia, farsas e so:ie,, ã própria poesia de cor-
p·emon:1ó"10, depois m-ospectívo, condensardo aquilo que a mensa- te no Franldm's 1ale, enlrc os grands rhétcriquew:s, até sob a i:ena do
~~m IL'rn de rnai, vcrdadciro, rnaf1A~,;;ditJu11dens Jwnen ("espalhando uma sábio PhiJtppede Mêiiê:~es, di:sser.ar\do alegoric-amente sobre a gra:1dl'
1uz aino~ l"Jior' 'J. i;eaundo o verso 126 da Puerr-ia nova. Ma~ o que c política no Songe du vieii pelerin, desinaco ao reí Carlos vi. Txnica..
.i scnren/io ,mào aquilo q.1e prof!1'e uma ,,oz ôCLerna, fora do tempo, de .itilizaç.J.o dos pro·1·eo1os se: criaram pouc" a pouco, corno e epifo-
sem e~r~oo, pre,i;enç:i pt:.ra, dito ov fras,e memor~vel, sobre a q uaJ ccns nema (coaciusão de uma ur:idade de dhClll'so), Que, ainda em nossos
t ruir a argumentação e fundar uma vmdicidade?20 Quase sempre, o uso dias, mbrevive :ia giosa dos poetai, populares braúleiros. 23 Certos te.-.:-
da ,entcncit, noçu11e1 ,.!,: um t.t:~LJ, t: n::pt:liti,u; <1.,:.üu ~e 1t:ilera pma tos ta~dios :1ão são outra cois.a sensio lecido de provérbios., em que o
11os,o aprer.dizaclo e p:-azer a e-mcação de uma experiência tramspcssoal, efei:o de sentido provêm dm.a acumulação e da n.:.ptura de todo elo con-
1- ::s;:ui.. u:.-s:se barulho te multidão ·eurrida, né. ,oca dos ,ábim, em bre-
textual, como se r>mdni:riria na gr.n-açiio :i.e um murrnurio da multidão...
·,•es sequências allamente .~ignificantes, núcleo de todo o pensamento - e oomo ocorre ainda hojr □os poemas africa..-io5 formados de um en:;a-
deamento de d:rm e má.umru;. A bafada de Villon Tant grote duévrc
rh:-<t, de f~n:H'.10 a ponto de exigi:- uma decodific::.ção com múltiplas d··
que mau gist não é um ;;a.&o isoladc.
::1cns5cs, .::ma .s c.:vmpletaca. Pouo imporcam os aspectos ocasionais
O provérbl() ameaça ir.v-idir o discurse a toe.o o momento, tal X>-
ât.ição lit,:ral ou imitada, até i:arooiada, de um auto:-; locução metafó-
mc, às vezes.. ameaça ir1vdir D campo d;:1 teb nu::i1 Hyeronimus Bos.ch
rtc.i crisu!izada; e\!)re55ào a~bada, vinculada a ~sta ou aquela situa-
~u .:.u1n B-rueghc.L De renc,, esti; uu. i:l~Le}e provérbio comum aos ho-
:Jn, a este ou aquele t·po de d scu•;o; max1ma: pro\·érbio. Eu 05 reuni
mem do5 $e;;ulos xirr ou XI' poctia te.-- ,ido, r:a origem, uma senrença
·e>b a det'lotnino1cào fón,,ulils, r.o ~~ntido em que Zawuin e Come. de
~atr·~-i,r.;a, ll□ afo.í1o111a fi'.o~ófico. Os peixi'JeJ crJmem pe1xmho!, bem
m1 ro:ito Je vLHa etnológico. envolvendo fenômeno5 de fraseologia, de
atestado [l·m particular enue os p:e:g.;.dores) a1é por volta de 1500, ·,em
lttremiologia i: dE' folc:o-:::e, :alavam de formuü1ic fi!xt. Não exi-.te urn
da Bíb:ia, pc•::- ir.~,;1 rué-óo de s. Agostinho e s. Jerõnimo. Uma rede cer-
i:Jv:'.nrário das "fôrmuli:l'i" que !!.~tiveram em uso entre as sécu]os IX DU
rada envoh·e o tesouro irdiferencia.do d.as palavra. que funclam~ntam
::\ e "I século :x,·. \-fos não é meios cena que foram inúmeras. 'lo fnm-
o jusrn e o verda.clf'iro. Cs s6..:u1o; a partir de 12011 são marcados por
c;:fs d,J., .\cculos x1v e xv, o Jicioriário de Jocuçàcs projetado po" G. Di antologias de pn,vérb:üs, c:n todos o~ d.fama.~. constituidas com:> for1•
S.e~no con ar~ com mais de 9 rr.il entradas; a obra de Jean Le I'évre, tes je sater e de OíptessãêJ adequa-Ja, aplas .a :>perar a cnstalização de
pr vc11la d:: J3,0. rL·Lom: a mais <lr duien!as lo;;:.içôes r:1e1aforica.s fi- tliscrso. Tt:1nos Hírfai, dezena.,, r.a rnaiüna pJO\e:11ente5 do!, me1,,~ 1~-
-~, u[,., qua1., uma~ 1r.:i:a n!lo po,suem equ1~dlênc1a lnr.- ai.- trad:i,: ti ua~. por vul,a de .450. figur.1,·,ua r:a ).blioteca dos duque~ da
O 4ue, numa acepção ~~lre1ta. chamamos provfrbio. embo::E rral Borgonh.;. Didâ:ico ~e:, ~er dogmaticu, t::>mlar.antlo mais do Que orde-
dfcre·1.:.:rndo de outra í6rmu.liU variadas, presta-se ta:.,.ez melhor do QLlr 1.ando; meulórico, mas bre\>e e ~intalH.:amente reduzido ao essencial;
e:a1 ao exame d.e ~ ~ romwu e c:x._phci1.a melhor as 1a.ues .cm ~isando ao ..i.n.i,w·asal atrav~ do concre10· Clll.23.fflento e de;COD.
<1.c rne-~gulh,1 'oda J:cçâo fwnn.la• rn1s tradiç&> :k um w1iver50 de urah- ·.~rgéucia o rrO'lerbia i:0n,d111i a n:anifr'!>taçâo primána, 1a1110 an ro-
polôl!ka 11tmnto lmg,1i,~1ca, do formuli.;mc. Próximo, n!l p1átic11 medir. to interno, proJetado mai5 em tspaço do que cm ,Jura : alirm mio-se
\1tl. do i p, -;g\.. te.t't mp/.,•'1), ele~ disu gue des•e por sua forr'l:t 1mr!i- como reunião e semelhan.;.i, nadi ,1 ~ ab5ulut:ur,en1c ith.t11ko nem at--
ci1a - mns a tcnninclogia não ::c:!lsa de confundi: um com r, outro. Pou- '>alutamcme diferente: o texto opera assim uma mcdia;Ao entre Criador
co importa: a ;;aracte-rl ,tic:í do prové·bT, como :k toda fórmula,~ que e crL1turn - folante ,e ou,mte -, referindo-se nao cade11 Lia história,
íl cada o;:orrência se re-conr.eça nele forma e idéia. ~las seu .se:uid é mas E do 'Vltlores do ser
no cont~to que e'.e u.:!quirc, em virtude mesmo dessa rc;1eratiV1dadc in- Empenhei-me em as~tnalar essas mar...as no .Éroc!e. nciui esoolludo
definida. a fon1t. de ma ; igni:'icânda. G:-aça) a eh, o mundo ~e C(>l~a P<)r causa de •eu carâter letrado, dcncaJ, e de ,eu prnp:'.ls110 11lt mo: di-
em ordem quando urna boca o pmnurcia: o juí;:o analítico supende :-;eu~ versão e edificacão de uma corre de conde, D amar L"3 um procellô
-• ••·n~. r:. po• ..un instante, rcsu1~lecc-sea densa conu:-iu1dade 1.1~ "•da. forrr.clar que ê notavel por pcrmit.r con~cituir - s:irr,Lltaneamcnt~ no
]'.c!-.~C' ., cntidc. o efeito tl.i "comunica,;ào diferí::la" que em nos~c- tempo nível ritrniw, ktical e sinrãr•.:o - urr ;ic;tema móvt;I dr ec:,, t: :1e ('lllr~-
foi considerada céini 1ória de i::odc. obra i:onica se prodUL gr.:u.;as ao for- lelismos qu~~e metade dos versos éo roman:e começa. por :;ma con-
mulismu, com~ recurse~ um ritual de 1-rguagem. A voz que o rrarnir.- junçfo CL bcução adverbial; ora, um ~úmero :ião d~rre21vd tle;tes ter-
cia cm pcrforrna:1ce é, ass.=n. íii.:liciamcme abstrc:.ida das Cffcur1stâncias mos fgua ro começo de muilo5 .:etso5 sucessivo~, comiitu~ndo sér;es
concreta~ ern que~ percebida, de algum modo mitificada. iterativas :i'ongadas ou entrecruzadas ao longo do t:J1to; a~s...-n:
- e.t figura 63 vezes no começ'1 e.e doh ·1e1s0~ corue:~tivos <:u méili;
- q 11e, q•,i, ou, dont, llf! i:: as ::onjunçiic, símpks quun,', .>e, uim.
o fo:mdismc em ;,oesü:. e, portanto, redundância fortemente fun- car, mau, 99 vezes;
cionalizada-~ formalmente estilizada. O. Sa,ce ra.,;treia suas marcas nm - o,, d\J.'C ','CLC::~.
:Wmnesar.,:er. nos JO@OS de 3.S.'::onâncu, de contras:e lexi:al, de C!etro:a- O conjunro dessas recorrência~. ;n·Jir::> regul.arrr..erte d1stribwd.a~.
ção, de duplica;àc,. Em cada um do~ níveis de língua assim referidos afc::La ::"'6 ve.:-sm. Ou seja, pcrt:> de ()Wl :lc:: :otal. Ourm proc::d1r.1enrn.
(fônioo, lcxii.:o, sintagmatico, ,emânt1co_1, o formulismo pode moriular- da me,ma ::,reem: 86 versos cc-me;am pelo nome Éracfe. no :naís da~
-.c de diversas ma..1eira.-.: pa-a:eli.srr.o ou aternância. antitese ou rcrr.m.-;<la veze\ con fun~zo de suJetto do verte. Frequernemen1e, e. 11..lcr po,:tua
da var;aote, cccs i:;eriódicos o·J dispe-s05, litania, desregramento con- a unícude narraúva (cena, episódio. ação) co:n vmos ou ex;:iressêies i.:Om
:ro1ado. NovQs . ogos. variações sobre tema obrigatório, ::líve-rsidade na valor de refrão, introduzindo no er,unciadc, gra~~ a pequena! varia-
,.mifonmdade. fundamento de um.a técnica que é sempre s:mehante a ções, um rit:-no mterno que o dram~tiza e que aí figu.""ll como o e5boço
s.i própria e cujos meios a:,<.-nas diferem em msiicr ou menor gr2u, se- de um gesto. De>taquei, por an:ostragem, mais de cinqüenra e.11ernplo~:
gundo as circunstâncias. Toda recorrência. fixa e mantém: tendendo à o númerc tot.al deve ser bastante rraior. G::nlmente, a repetição indck
hipérbok, ela tes:e:nunJia a a::ei-ação, pelo poeta, da sociedade III qual sobre doi~ ou :nesmo trê-s verso5 conseculims, mspmdendo a narrativa
ele fala ou canta Mas essa soc1edade. de a aceita menos por escolha de urr modo que acentua a dramatizaç-Jo e •eforça a sugestão gesmaJ.
ao que por causa co pape) que lhe é confiado pela coktivida.:i::, Jt: prc- t\qui e ali, um verso reaparece, idênj:o. depois de lo:i.go ime....,,ã.lo. trar.s-
~·ado~ t de arauto. O sistema às vezes .se concreti..a em figl!Ia de es:i- :ormando-se as..,1m em refrão propria.."llmte dit:>, enquacrantlo uma ce-
1.:>, coincide oca~ionalmentc com a prá-:ica retórica: como a reperitio de 1a qu-: se :orna virtualmente tcatn graças ac nulilero d e d ".! '
li:tiOgos, a
Peire Vidal na canção Be m•ri~r-odt!, em que cada estrofe se consrróí e seu rilmo. à br.:!'lfidade das rtplicas e à ;,resença, nestas, de ...oca!ivm
3c condensa nur.la palaYrA ou nurn siru.agma retornado em cada V!rso; reccrr~ntes. criando uma gradação r personalizando fortcmcnti: º" in-
a imistência das crts sílabas inicia.:.s, incessantemente repetidGS, co Wus 1erlocutorc;; É assim nas passage:·h t':lC.C. drimát'ca., cL mai$ irôrucas
Tulfet âne simie K!.irtSt ~ Rcinnar "ºn zw,·eter ou do elogio das jamas do t:x10: a ve:icta de Éracle no mercado; o concJrso de beleza; as 2pari-
de Konrad von Wurzburg. 21 Os exemplos são inumeráveis, em to~ os ções do anjo. \.fesmo se, co(llO é i:ro~·ável, forem apcmu ornar,,~tos
tempos e em mda; a.s línguas. Ce:1cs generos poéticos se fur:camentam retó.:icos, Gautie- os maneja do rne;mo modo que os cantores épicos
t.ecn!camente em tais efeito,.: a seqüência arcaica; o l.eich alrmão; o vi- :nantjavam sua:. fórmulll.), e ~era dú'llda com a mesma intenção de e:"I•
rt!lai, a balfttte, o rondó fmnds occitãnko, em ruas diver<.ti varieda- teriorizar a narrativa, tendendo a nuuiJesw saisorialmente ~eu ..:rffí-
des. 'De rccorrê::l~a cm morr~ncía, o rato st anima por um movimen- cio - iHo é, sua poe-sia. J\fuitas ve1es, no curso dos versos, basta uma

198 fí)9
pil l\ rn. r,,.._ ·, • 1 .::n •
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• "• o ,e..:u o ~! I!.>n Ra· 10
:·. _... " J:..i,a ~ ' i ,e r .peti~sr;:, e. J uuaparec:e:ia'' a Essd palav·a
no,- Sllua nn :oraçao . de um unh,er&-0 d e voze) ,1,·a~. • Ela li.do wsie se- A AA-1B!GOIDADE RETÓRICA
nao rcpet:da. commuame:ite disper.sa e reto d
gota l. mor~e ~stécil D ma a, sem o gue ela se es-
' • . e guaIquer :ir.odo que .se reali .
dis:ursiva conslirui O me·, fi
h. mais e icaz de verba]zar
. · ze, a recorrencla
.•
cspacio:emporal e de ali fazer paru·-,...,.r ••,..._ o ou ,1.n1e.
. uma expenenc1a
O te.mpo - d
volve :mm.; intemporalidade fictícia ~ d .:,e esen-
r"f D- ·- . , i::I parur e um momento maugu-
"' · ~..,::ir., no c.:.paço que gera O so · Ritmo e com1 ençr.~o. A giosa !megrada. Um.a smtaxe oral? Discurso
da ~e ob1· et .· . d . m. a imagem ~en~orialrnente prova-
,\a, o mmo nasce, e se legitima - b F direto.
11a IIilllld do discurso e., multi lI d . ' um 5.a er. ias se tecem
. . ,. P ~ o~ e entrecruzados, ai pr:,duzem ou-
tro Ji.si.urso, trabaJbando os elementos do . . . Criado:-a de ri:mos. a re:o:rec.:::ia- controlda para aLinpr-se um
dualJT,eme; gJosando-o a po d pnmeiro, _mterpretando-o gra.-
. . ' nto e que a palavra mstau.re um diálo o fim expressi..-o - inaugura o tli~,m.o '.;)oético. Todos os elementos cons-
com seu propno tema. Enguanto as pala d g 111 urivn~ de..te, q·ialqUer que seja sua narureza, devem ser con~idcrados
eqUJ\'alémcias t contrastes qu \Tas csfi1am, estabelecem-M;
fí . . e comportam (porque o concex.to .se modi- de tal perspectiva. Em si própria, a recorrência é meno~ pro~dimento
1~, mesmo q ·1e rrnperceptivelmem.eJ □uances su,.; •· ·- da ,....., "' d las dis.ctL"Si\o'o do que ll" ::xio de -e~ d.a ]i.nguagem. Mas, n() correr co tempo,
C"b1~--
~ ~ •"' ~.,m e uma I·n.formaç-ão no,,•a f =· """ · ~- e · rt-
ao qual essa ,oz nos convida, ' az-se acrescer do oonhecimento algumas de s·.1as manifestações se im;::.tucionafuam., tendem a reprodu±r·
se por inércia, comam-se protedÍ.r.:le-ntos e termir:a:n D()r COlStituir ji:n-
t.as uma trama estrutural com;er.:::iom.l - por ,:erro. e felizmente!, per-
furada de \·azios - ~obre a g·Ja] parecem bordar-se os outr\JS efelt05
rítmicos Vá;ios des~es prore&me:iws ~e fazem, éesde longa data. ob-
jcLo tlr ~!ul.lob, ,l o pum.o óe vi5ta restritivo e tec.nico da retórica ou da
versi:icação: fÔi as5iri: com práti::as de organização te,;rnal como a in-
rerprerUl/o, a expmitw e a J'n:qwet'ltat1Q, a maior pane dai fíg1:r~ de
palanas, de grarnáuca e de som, assim como con as combinações es-
trói:cas. O :nver.rár10 que da( se pode lt:vam.a1 5ugere que 1 insc:i1.u:io-
nalizacão opera em dois níveis e ::ice os procedimentos em questão fm:i-
cionam de ::iodl) ou macro ou m.1cro1extuaJ. Dois exemplo~, enrrc os
n:corr~ncias soncmu, ilustra:n benessa opos:ção. assim i:orno êi! ti;::ei-
ta"l rcla.çiks que ígarr seus te:-mo~ no plano ,iacrore.11.tual , o refr ã:i; no
:mcrote.'li:rual, a rima.
üa~e1 da n;na no capitulo p-:ec.edente. Quanto ao refrto, poJ(:'m
disting·Jir-sc uês espécí~. A primeira comprrendc os ·efrãos que rntcr·
"'êm dl! forma recorrente e, em pnncipi::i. a interva.lm, 1guw.s num ennn-
oado estrófico - • em fim (ou cm cam~) de c.. iro:e. O ire•
fràC' nãt.1 I? sempre 1<.lent1ct1111t111e 1eí1erado; o to.to, a rnc1od1a tX'Klern

200 2úJ
variar; mas, reln mcno~, ficn Jl\~riurad a a period icidade da rur111ra
f do em vista uma leitura pública. Gautier d'Arras mmrra conHan:ernen-
5sim JIIO",OCaJ a. E~~c u~o e an11go nas tradicl'lt', ,,,.,~ ttn1hxio1 româ- 1e o cuidadc em .assc~1.rar a :o:1:prec1 .ão autliLiva. em diStimz.uir dll du-
nkos e germânico,. o~ planctus carolfng10s, es1ilizt1nd<.1 cm meío letra- ração pcrfo,nanctal o tempo do relato. Com Cil~ objetivo, ele uuli:ui
do o lamentn 1radkional. tiram dis~o dr.i11v,; podero,;o~· o h~u mi!u mi- :CS]lé=:ICl·f fl:OO~:>cs RCOnentcS, - ,.... ,.._..,
uro! ("pobre de m1m!"J que pontua a bela lamentação 5obre a morte nifestar, cm rerformance, por uma pausa ou um moviner,t:> vocal. a
de Carlos Matnô C~ l4) dividr o lt"<IO rm vmte fratrmcntos pequeno,, a1ticulações narrati~:
como poderia lúer o grito que acompanha um ge~10 irreprimível de dc- - notações de natureza e-stilist1ca: do tipc, l:,iaus esr li ter.s ("t, tempo
1e~pe.•o· n 1cx10 ~ toma cênico, exige o Jeseripenho <le um ~o~po, patc- :stá bom 'J 1w. 16.?9, J9i3, 206~·. 379~); frase 1rnlada em d1~~ur;o dire-
ti..:amer.te exibido. ;\les:no do1, -.eculos ma.s tarde, a can·,lena !amenra- !o, funcio:iando à mar.ei~a ce a:renate em /J1sses éi:1..:a.s, ou elldama-
tionum ,.;omposta por W ipo depois da morte do imperador Conr.1do é i,:ào que u:te~\·ém ao fi:n de ·im discurso (w. 2563, 2567); mudança de
ent.ree0rtada de soluços por seu refrão Rex deus, vn-os tLJere et defunc- tempo verbal (vv. 373, 652);
tis rm.serere ("D~us rei, protegei os vivo:;, tende piedade dos ruor- - notações qLe Sllblinham a sintaxe narrat1\oa: ,rnêar.ça de J~ar
tos'')... 1 ~o século xm, esse tipo de refrão invadiu as canções do~ tmu- (W. 2542, 2 1 99, 2969 etc.), mudan;a de personaietn ('-'v, 2815, 5211,
,eres fr:ameses dos Miru,esanger; tais poeUls, aparentemente, des-cobriram .5320), introdução de uma p,mcnagem (...-v. 2787, 4961 etc);
sua riq'Jez.a funcional e manejaram com,. irtuosidade esses deslizamen- - nota~ temporais, as mais numerosas ou medem r;xpressamente
to~ conrralados ent·e o mundo verbal e mclódic;o do c.nundadu prim:i- a duração dcs eventos, per frases como au cief de ser ons ("w cabo de
pal e aquele q uc. real ou fictioamentc:-, o refrão substitui a rodo o fos- sete anos"), r1:1 tierr jor (" nc t~rceiro dia") ou o.mas semelhante~ <""·
:a.ntc. A partir c!.e .'\lfrcd Jeanmy, di,er)u~ ~ t uclicJ~m supuseram que
141,229,252,279,345, 7 16e:c.1; ou então mcdalizarno Lerr.po uarrati-
muitos desses refolos foram tomados de ernprestimo a uma poesia mais va com a ajuds de diverso, "adverbios de discurso·• (io,~s, pYiS, }a erc.),
ampla.mente dffund..da, que seria Je lnuliçiio qua~e ex:cimlvamtme oral
sobretudo orna formula or+ ·1e1to + sujeito {é a5sim nos vv. 10.59, 1499,
e da qual subsistem apenas alguns trechos escritos. O que quer que oos 1'766. 1919. 49'9). cu ja realiUJçâo mais notavel, 'J"esr Lro.clt!:., rctlpur~-
l..:"-c a n.ão ptnsa.r ne55a h.ipótcse fd.t péllt:da fundamentada), o tcfrão
..:e .wve vezes Ocorre que juas ou tr~s dessas marcas .mrgerr. ,UlC'is1va-
enquanm cal, cspa;hando-se de gênero em gênero no cur.~o de séculos,
mcnte a poucos \•er:;;os de disrfü1cia, parecendo ncurrali,;u-sc:; é e .:aso
mu1cas vezes Ct!l.tualrnt:nlt: retomado de um te.i,:w a outro. aclquiri:: um;,i
no~ vv. 1245 e 1256, 1513 e 1517, 2065 e 2068, 3799 e 3805, 5192 e ~204
esrécie de auconom._.;.; ele oomtitui desde encão (e talvez cons1n1issc desde
etc. Pode-se q.1estionar .se 1:ão é t:.~e um mc:-fo dt: deixar ao red1am.c uma
muito ce:npo numa tradição oral) uma des1,a,s "formru; muito breves",
margem de liberdade na interpr.:taçii.o "ritmka" do texto - análogo
que foram submetidas a regras codificadas de abreYiatio e cuja existên-
s."ia é atestada de um exr:remo a outro da Eurá~ia.: .w que seria para um canior uma notação mus1cal u;ompjeta (como
Outra espécie: a que designa o próprio tcrmo rejrão em certa~ gê- o eram as n~umas), simples apoio de ::xccução q ur ;,enm:ía 1eahzações
neros ·'fL~os", elemento ao mesmo tempo estável e recorrente de um variadas. Os gnndes romances e:n prosa do sécu.o xm nfo são cle;pro-
t::cido tt:J:tual cujos outros elementos, c.ambi antes e não repelltiYos. cons- vidos de marcas des5a esl)(C1e e não é ouLra coisa a fórmuJa ittrati1,-a
tituem a acplificaçào. Ê assim no rondó e em ou1ras formas de cstru- · 'o conto diz'': o texto dá a paJaua a si mesmc, t e:;~t retrb .não cessa
turaABaá4 AbAB, em ~·ariações inumerá\'e-is - cstn.mra pro\'avdrncnte de reivindicar para a na~rativa a \lerdade do que se fez r>uvir e prova
L~ada, em ma origem, a um mm imento coreográfico. Ê, enfim - rer- a scnoridade de uma voz; fra~e :nuti. nos romances em ~•er5c, pc:;:que
cet.ra espéne -. num sentido muito diftrente daquele que ~e fala do re- o v:rso, por s. só, siinitica eS5a IOZ.
frão de emas canções de gesta arcaicas como a Chan.wn de Guillaume, Os fenõme:ios de recorrência são facilmente localizáveb, e sua in-
da qual s: pode razoavel:nente afirmar que preenchia. em ~forman- t07retação não coloca protlemas insolúveis. Entrean.10, na medida em
ce, u:na função de transição entre o relato falado e o canto. Por mu.ito que o objetivo geral da obra permanece uma açlo vocal mcn<J.s ou mlÚs
trn1po, a p:ática dos romancisw coruervou marca!J alteradt1s de tal uso: teatraJiz.ada, depreendemo.s um tiaco notá,,et. c:ue foí corrente em nn •
numero os venos-rcfrãos (ou reoc:~ições diversas que funcionam para ~os textos atê o século XIV e q~. mais tarde, ro muito lentamente se opa-
esse fim) dem.ircam os romance~ mais antigos. Ora. o c,emplo do ia: a existência de um come:iuirio que e~tá integrado no tato e do 1u1l
!Erode p:1r(1-'C indicar i\~o: o~ autores, folendo-o, dispõem ~eu texto tt'n• ~e pode .admitir que oi preencha (memo se por ,·e.uso upôcrn ficfü 10')

102 l'JJ
f
i:nira"el r~rl0rrnan~iaf. /\o ;:api•ulo precedente, l,dci d1s,() como '111 i.l ut· Gau11er ft'II ro , dr um h ·ro os r l('U)t'nlO~ tlt' 1,11a na111B.lna: ele o .Jj7
tcrvcnçâu de autor'', a propoii:o das canções d~ g<"~·a. \ta s o c;eu u50 explirnamente, em stte ;.,assagens. Mas as referências que faz a.i 5\l&e-
nm ~éculo~ xr1 e XIII é univer;aJ. Ainda sobre esse ponto. com a m- rem que ele 1orr.a c:r. r:lação a is.'>D alguma distãncia esse h11r·o, e~cr1to
pliação que comportarr. os efeito.; e5tilisticos de Gaurier d·Arras. É,rr,,~/e em latin~ (•.. 5JJ9), co:itirn uma ltistóriil (vv. 51~6. 6'181)} que diz algo
~ 1eprc-~ema1h·o. Gautier está p(lr toda a pane- em seu relato e. manif~~-
(\', 5126) ac;uele~. qize a J'éem (\'V. 5119, 6089), havendo espec;alista,; quC'
tamente, tende a fazer-se sentir. Dcstacam-ie. muito regularmente re-
formam um grupo socai determinadc (vv. (,()89, 61 T71 e cuJo tnmnu-
partidai., 99 intuvenç~s: uma em média para cada 65 •-ersos, a cada
nho nos garant,e a verdade (•"·· 6178, 6180). Mas Gaut:er não pa.ro.-:e
dois ou três minutos de audição! Sua função as diversifica: ob~ervação,
alinhar-s! êe .,.ez com esses pri,iJegiados do saber Certameme, ele ~em
d~ passagem, l respeito de uma personagem ou do episódio em curso;
acesso a es~e hro, e:e o /ez. (v. 6435); mas o q1e nos conta já residia
a:irmação de 5aber; citação ou referência; anúncio de acontecimentos
pM vir. Apenas dnco àc-ssas iin:rvc:nções têm a forr..a de uma frase ::-11 em sua memória: e-le nos pas% sua lembrança (v. 6435). Isso não é rei-
Lcceira pessoa e constituem breves apartes, dos quais o ruais comun- vindicar. na própria ·•·eracidade, uma ;ia~e para si mt.~rno, uma especi-
dente, vv. 3255'-61, inter ornpe um monólogo da heroína. Lm compen-
0 ficidade ligada a ess! d ~zer? Tal é a intenção pnmeiT3 do t.exto - s.ua
sacão, B5 intervenções se fazem na primeira pessoa do singular; nove, origem É alra,·és dessas. afirmações ambíguas, dessa~ denegações err:
rta rmmma p~soa áo plural, o que se pode interprdar tanio como um meias palavr~, <l~as ah.:soes Ja:emesque o t.eXW fhl.- ck ~i mesmo, cont.i.
su!:mhu :o de je quanto engJobando a comunidade do autor e dos dest:- sua própria poética, em operaçào no corpo de outra aanativa. Não é
naláriof do romance. Em dua, passagens, a imervençào se reduz a um agindo sobre as for.tes que e.te :1ltraria dessa o·J oaqt1ela man~ira seus
possessi"o: notre errrpereur. Em outras partes, 49 intervenções implicam múltiplos arquéti?,:15,, mas em meio a um fervilham.ento de discwsos.
cx:prcssameme o ;,úblico, recor~endo ao pronome vuu.;, aquí e ali, se- fora daquies arqueti;;:-os, É.-acfe é, cmr.o obra. lilera:menlc impensá-
gundo o costume dos joçais, apoiado num dos seigneurs ou, às vezes, vel: lugar ca con•,ergê□cia e da 1ra.nsformação dek~. atravês do, signos
substitui do por ek. :\{ai~ de um~ em cada três vezes, e autor usa uma que a mão traça, :ruma !embranÇit o;;icecada do miiagrc d.a \OZ •·iva.
fómulla que iustaoõ-e ao vous umje explicito (multo insistente, no uso Sub~iste uma eq :uvocidade. Ea provém da ~e•ór:,"R, qu~ impreg:r.a
do séc:ulo X!!): Je •Jos di. Esse enunciado recorre:nte sen·e para introdu· as formas ~e pensa:ne::it,:::, e dt sensibiLdade enee o~ lrLra dos, mas cuja
zir 011 reintrodLzi!' um episódio; e. no plano .:la glma, ele trn ri t.em.ii mt1uência difusa ma:::.a todo~ 05 a.rtcsã:i~ da lingu!lgem. Quanto a en.a,
da veracidade. O \Ígor d .. afirmação é tão mai:- significath•o queje vos a retórica joga com eia. faz dela uma aposra vilal, já que, de modo 1me-
di podefr1 hem tet pertencido ao d1,curso esten~otipado dos chs.rlatâes: d~ato, dela de-peuót" u Jestino social. Ora, rnesrn,J 1~Jtl.úda, em ~r;u nn-
e cJrandeiros de praça póbiica (ou a sua paródia tradicional): aparere prego correme, ao status de arte da escritura, ela cm:sen-.iria Tilai: ú •
não menos que JL vezes, em 165 jnhas, no t·onimem• pt.blicado e□
um traço d~ sua p::.m.eira \'Ocaç5o oratória. De Pier:-e Hélie a Pier:-e de
apêndice das Oeuvres de Rutebeuf.' e"TI que eJe próprio, no Di1 de l'her-
Blois, Alexandre de 1/iUe,:fa-u, C::mrad de Mure em ui tos outros. :ião fal-
bcrie, pasjchando css.e iexto ou outr::> semelhante, emprega (como um
tam autores que !em:·rem a im::iorW..ncia do cone do pc~rodo em áú-
traço dpico?i quatro ,.,ezes a fór:J1ula. Esta, no Eracle destaca comex-
tinctiones e suspenswnes, cujas- ~ariedad~s ele.s da~si ficai11. i A Poet,ia
tuabicntc o faw tk 4ue mais de ..un len;u de 1oda~ a .. intenençôes do
nova de Ge~f:rey of Yiruauf, por voha de 1210, teTmi:ia ::om 35 versos
au·.o· conrêm o verbo dir.e, ouuo ,·~rbo facticivo (taJ como vanter ou
fuin: cle-trije) ou, imersamente, oufr sobre a actio lque fr-rar.i preced:dos per 62 sobf'l" ;1 memona ►; t pc,uco.
F .t aatondade do relato o qu Gautíer pmende Íllndar soke essa mas essa brew pél.);).:lg::m não é aq.1i :re:ios carregada Jc: sentido Ela
ass1mrla po::ta ; • :;-.r, coloca no rr ;;-~mo plar, r l • a er,r- ;1_
pJlJ "'• L' uJa ')!c.'>t'lÇa !>t' reafirma ;,t'lll ..."'eM,ar. Demonatr:l-o um volteic
que. aqui ~ ali, rer.iete não d1retarntnte uo discu~o do amor. mas ac do ros10. ge~to e linguagem. fou·,ando a adequa~ão das ;onaltda:les vo•
conhecimento que de detém: je cu.',•, ai mien cuidl'er, re m 'ot vu ("eu ,ah e gt~tuiti~ il cojsa designada.:
creio··, "a meu ver"; '"parece-me"} e outro semelhantes. : verdade __m ~ fo,vtt..7 ad av11n.
1,.-1 c::;x,r audm,m, vo.i.· cast,goto modtsre,
~·ulr1...r ri g,sru-5 gem,110 ,·ondila s,1,~tJ'I'!

104 .ws
("que urnn WJ7. r: • ••
. . per1mamc11re Jng1da, r.m.:1ç:11ln "''I . .
10, ti JJ!a o< ouvido• 8 ir:i r a n mica e pelo ~es- do nssim, dcdar.uituar-sc no plano tio intcmp1m,1'1'11,llo l:!C possa como
praricantes da r.oc,ia ,es~s~~:~, cc lmotlo a ni.: tr, r a escut a"): , para
0.! o;eo toro fn•'ie I m Jos penhore~da ação que nele se estabelece e ~e anula.
"' • ... wl ,,, rt acionava se 21
no componam•nto J• um 1..1. • • to mais do gue
• " m i:-Qrttc· eln deti · O -
uma ane. para além .,,A p·
amm1:1.va. o discurso tod •

= .L-~ •
irua riropós1to ultimo de
,Jcm..-1.Jud1 ~ • . .
lmcnonzaCI , ela energias q11e transbordam do tcXto, etc Till'a.mc:ttu:
"'• U0Ue sua prunelm nn l ...:~
fixação no r>e11111rrunho aré ,,.. ,._ b erg n,.w. dtpo1s em sua ,1gna de modo C'\pilcito. Elas o trabalham com vistas a fazer dele urrm
. · · -u ~,11 rochu no
a mult1p,ic.açAo, no ltxlo de ~ d" 1e.sr.o e na voz. Donde epifania da '\'()2 •rh•a, a~ar dele e em aparente cor,trdJição com .eu
• pro.e m:enro.s llt rcp ·•· ,;tatus de e<,.;;ri111ra. Esta e seguramente a causa principal .la per,; stênda
mente cúmhinado, a múltiplos r.·
J[ •
rc:;cruaçilo espe-aal-
:fo que de ;eitura moduJaI!doe citos QJe crarr. mai~ de 11.•c:nação pública da tradição do, relatos em •,erso: oão apenas o veno :nstaura uma rel.t·
• · a ~oz e o ~eito - bl" h
tese a irnnia iogando c~rn . - ~ ' ,u m a.rido os contras- ção priviJegiarla ~om a voz: mas a estrofe Ligada pela rirr:a co1stituía
,· .... os uunos ver,ai, v· · d . .
mente a recitação, Assim tem fi ~ •· c.nan o s1gmficaci,·.a- uma uruda,::.e rir:ruca mais facilmente percepth·el pelo 0 1v do co que
1

......,
l1r~~1 mas eiic.azt:3 .,~~, d
os igu.rassuperlaL=• d ;d d
. ...,, esp. as esenucfo
. uma frase fmarno 1..t fortemente escan.dida) de prosa. A maim parte
· • 4 ~~ ~v po en: ser com nre d 'd
tle mímica ou de um st
ge o.
• .,. en I as se acompanhadas dos p.roced;ment.os estilístkos da poes.ia de língua v.ilgar :;,oderia !er tes-
A rctórma t fenôou:no .,_ ,,. o'-~,J EIa com•nda r1!l ·,. d tada dess.e ponto de \<ista. Os resultados parciais d~ tais análises. é ver-
, vct • • dade, ra.rarnente conven.:em. Fica uma propensão ge1al :;. explorar mah
ace as artes plás ticas: a dernons . :; . - , : o vt,s o discurso,
i5.ndo. ~ O cn.s.inamento mais ~~ç~o ~1.Sso fo1 feita a propósito de Bi- esses re::u.rsos de linguagem do .que outros: Il Schlieben-1.angc Sllbli-
. . reuuClOTLSta não pode re .... . 1
treJtos lurutcs da elr~"tt·o Su ,ngr- a aos es- nhou o papel desempenhado nisso pelo caráter duplo, oral ao r:,em,o
........... - apena~ !.illla da . " . .
~uc a ko:ia reladonada av,.... s cm~o Dêrteo; que aí d1stm- ·,emt)O qv.~ es.ctir...o, do texto m-eilie-.•aL, simultaneamente en ~ua cnmr,o•
. ......,.., e5sameme ao que de ·
!lteraturo. No ~écuro x,11 . . , . .. s1gnamos pefo termo ;ição (em gera! ditada) e em sua trammiss.ão vocal. Resultaria, inscrita
. , propago:i-se a 1d""ª d.. q ,, ••
lunção •vestir a linoua , h . - - u.e"' retonca !em por "1.0 próprio texto, "uma consciência muito elevada do que era a •··:>7. de-
-~ • Ornd a orn11el nud d
dessa época iardía, a retor~ca se in•e ra M ~ _esse corpo. .\ofa.s, antes
6
uma língua", corno diz R. D:ragonettí.
laHa, a po:ito de ofe:ecer á05 do~t:ogs t" fbuncwn~cnto de toda pa- As energi.a.5 em questão operam no cexLo - uperam o texto - se-
cam ·nh 1 o para uma refJe..-~o ·ob
- • re a 1. · a " em ::> ·,ecu lo IQIJ , o umco
I n.... •ao--= T. ,
• • gundo ,•ar;os eixos. O maLS tri,,.·iaJ (e menos decisivo) :oncerne às mani-
· e~a fu nção "ªIO • . .,. ~
ta ""' ac" su·s,,.,..,U y ... , • • • ,a,\'Cz e a se rnostre a,..l'L.
1 pu1açõf!'5. lexicais e sintáticas. No curso de séculos - e: :.c:m aterma;;:âo
. • i' • propno fato de que ·. if notá1;e] antes do fim do século x,, -, perpetua-se o uso e.e cécm::as ou
agorust,cos e conservadores dn verbo }: J .lSI ca os valores
logar, de a:gumcntar ... d .umar.o, 5ua ~--apaddade de dfa- proced:imentos dos qlla:is a etnologia nos mostra a uni'.re·swdade, au:
" e manter - os valores · · ·
dos a seu uso oral • A re•ón"....., . . . mais murnamenre Jjga. na poesia de ;-o·,os des:Pro,~do5 de escrita. Consüui.-se assim u-na alu-
., i.:.. vrsa • o:pi ~ d
eia do discu d " .rci rai,..;io os dados, à atnmdãn- são g]obaJ - taJ11ez até uma prova. Recentemente, F. Bar oferecia aJ-
rso, o qual ela p:etenâe as~c - ..
recorrendo assim prclim' . " gurar a gestao eficaz - guru exem:;,los &aquilo que e-le denominou ' 'o esüJo falado'' no La.rrce-
· ' ma.rm::-me, avs tlebates d ,~ · -
ru gue efa pro-..•oca esse efeito d . . a praça Pil\Jlica. E por 1 lot em prosa; mu1tos e5tudof>, desde Auerbach, evocam a propósito di.s.~o
mos hoje ã e.\crirura .mas. úe e co~urucação ..difenda" que atribui- a parataxe, associada a di,·ersas braquilogias que, wutas veies. ~ào in-
de toda L~at.raliza.ção ,_ d ~~,. provem de toda farrnaljzaç.ão - aliás, terpretá,..eis ::omo maICas de enunciação.~A narrati'11a (seja na can:;.:lo
o b serv11do em nosso:. tcx•os P ._.
ª ya.i<l~ra. Donde esse caráter f:::-cquemernente · de gesta. .s.e1a no fabliau. sei a em ::erto número de lais, ~l!j a em Ir uita~
' ut:.icos antigo~ · tanto til
trnção quamo a hf"Cqu·153 ~ - a su era cfe cons- narrações bLStoriográfü:as) tende assim a justap,or os clememos n.1m es-
y~ ornamenta! sao ,Ji qu , .
começo do que na scquêncfa d,. obra . ~e se~pre m.atore.~ no paço de duas d:imea.sõe'S, sem subordiná-los. O enu.1ciado r,.:corta o di(.
dos ce retórica fazem d' . A_s artes d1c1and1 e onros trata- curso em afirmações bmes, u~nde a eotrecruzã-lo de exclanaç5es, e"<·
isso uma regra d1ssen d d - pressões imperad~·ru, em serie:S rumulativas descontínuas; no limite, o,
ststtrtt~ e Lfnaillad.a ~ob~ d. ' an o e m.u:cua mais in-
"· 0 exor, mm do que sob
e .sua conclusão Não é 'fi . re o corpo do ro:to verbos se eclipia..lll, não rui mais frases, mas um de~file ele elementos
r.m icar lllma slloacão de ·~ ~ ...
de L :na ""'rforir. . r,.to, '"ª perspecti•.-a nl)minius hbcrad0-5. O vocabulário 1por vezes, as próprias mob 9r4Jm-
..,. .aru:e, o que ma:s rnport11 ã .
inicial, isolando do fhu:o aa.s men,;• °
. _ n e JU5t_.ameme esse sim1l
agen.s ~omun~ aqu,Jc que, :omc:çan-
maricau.x) p.arcx:e crac.aclo. rrelativamenle ao que pôde ser o uso corrente
(c u o que tc:m::munha a pr~a documental do século :-<Ili), de nmneiru

106
zrr
i<)JnJ),ira,d por re~t nc-ão ~ conden,ação. a r,onro Jc= 1111.. ita~ \C-lC'.\ c,b•- f
1 rocieru;l, .JLJ,Hldti o rc aio e- ::ompus1c• tm v~r~os, pois e,1e~, ror sJ1a re•
curcccr CI scn11do. 1[) As~1:11. há - sah·o cm cenos trcu,•~rrs e Af,mrl!St:n , ct1tn 1Ja,k. tentem a e:i.barcr a pro1und1jade rcmpoml.
ge, _ certa vulgaridad~ de tom; atribuo muito precisamente o isso 1 Outro índice., em 4uc concoTrcm ,ini:1,:c e ruôrica. o numero de
im:xiuénc1a, em ,1crnáculo, de um "estilo no!:m~" 1al oorno o que O li• 11111:r miaç;>e.s, ex:lam2ções, apóstrofes. muito elt'\-ado, em toda lfngllil,
tini clnssiciz:antc de algum poetas ~ucfüos.conhecia então... e que o fran- ros gc,eros "líricos", mas quase tão importante nos outros. Ora. no
ds iria fatrkar para ;i a partir do século :11."VJ! Dond~ uma e~«ie de: lrancb, an:1i!O e.,~as fe1;ões eram marcadaíi mcno1 pda torma da rrase
saborosa tamiüaridac~ - na escolha de palavras e no arranjo de Frase o:> que pela en,onacão... a ponto de, ãs ,ezcs, serem para nó~ dificil·
_ q1..e, certa.merre, é d.:.fícil de apreciar e que não se poderfa e;-J~i;- ce- rr.cntc recupcrán:is. Uma leitura em \'OZ alta, mesm.o pouco expressiva,
rno critérir., contrihwndo, no entanto, para a irnpre.isào 6eraJ de :on- sem dti\ida faria aparec~r mu.tomais do que o tndíca a por.cu.ação dos
vena;ão ou de conf :lência. A natureza profunda 1es.ia Jíniua ,·ai ediroro modernos. Os ...,oe:as de então ex biam um cuidado c:>m a p!i•
rnani:esta:·:.t' genialmente, ao fun de uma longa histórn,., nos primerro5 lavra. elemc.-nto alógem> na nam1.:;ào. Que é po~sivel ir.co,porar ao cs·
1h ru-'> u.c: Rabcla:5. n~sa :lcx.ibil:dadc, essa maleabilidade fcbegando mui- .:nto por figura mi.met ..:a. -epres::::tando-:> aí, mas que não se podt' aí
tas ,,ezes at ,jesarn• nã.c ;xxiern ser dissociad~ da surpreendemt capa- integrar ven:il:ldeiramen·e, cm com~:iüêm:ía ce .,.ma irredutib:lidade fua-
cidade de absorção lk : qt,e cada um de nossos textos 110, dá i:rova, em dunental: a da própria materialidade da voz. Donde um e::eito pluriló·
rclaçjo a tccos o; outr::is - incertextualidade c;ue merg:ilha sua~ rme.s i;i.:o, especialmente per c•p•·~·e nc. prosa. em <:n~ o c;:çtema M ligad!I:'as
110 rn:Tipor'.amento ..e:niolico de uma mciedade ainda ~ e :nteirameme entre relato e di.~. u:rso aparece. no conjunto. rnai s ret·n.ado e complexo
votada. às rmcas voca:· ,, nutrida pelas redes emaranhacas de ~eus pró- de que e:n ,·,.no. As form3s poética; tradicio:1~lmenre danor.nn.a · d a.< "lí-
pnm Jis.cur;os. O que se costuma abusi,amente descre\er co-no influên- ncas'' fancbnaltz.arn. de :naneira radical, o :ii,sçur!;O di:eto: a ma.Dr JXrr',C
cia. i.ité im~t.ir;ãoou cópia.. remete ao uso \1''º que, no romance de ca\·a- das pe::as qt~e J:>. Bec reagrupa sob a denominação "pop:i.lariumtes''
ari;;., mi~Lra cenas defab!,aw; com a ~aJ~ção lírica da morafüação. coTlpo:ta. depois de uma breve ntrodução narrativa, rr.onólogo (assim
1111 m (arro5sel de iro:àa, de par::>dia, de sugestões míst.cas cu Jicencó- e, m ui10 fregucm~rnentc, na d1anso11 de ro1!e, ou diálogo (a maioria da~
;a\, de redurllcaçõe~ com dupl:> sentido. frnprovrsadai no fio da \'::>l. pa., ww-riles); o mesmo 1w.1tece. llêi Alema:-iha, com os Frauerzlieder.
Ê as,im :::o·r essa'i numerosa~ pé:ssagens, por vez;s muito bn•·,es. e:n to- No "gn.111.k ,am, cortês", a canso in ..ira. :le signo .1e, é rnor.vlugu e
dos ns conLc>.'tos, na~ qeai, se re:::onhece esre ou aquele segmento esi ru- Dbtérn de~sa :icção o seu <:.entido. A.=i canções. de gesta r-Ja:s antig:.is. cmer-
iu ·ai cu Ji~üiscitamcn -~ ltpico, provenien•~ menos de um conto idcmi- tindo a;ada, wlYe2, :mm unive-so quase ccl.ilmente e:u-egce aos ;,ode-
fi..:ável do que do v:ist::> discurw narrafr>'o. reg.ilado por uma Ion 2a .e, ca palavra vha. fazem s·Jrg1r da na:'.Tação o discurso b,·Jta; e qua.~c
:rad•,,.ão de oralidade da '.:!,lm ! os cnnto-s com:•.i~u.em a5 maniú:~taçCK:~ -:::m- nu; ele :etur.i':,a. ,Hi:ie:e curro discurso. e es.se~ :hoques re~oam verso
creta,. ~uce,n:as ou .~ir.dtãne~.• mas semp:-e instáveis: zrm"dilhas de cont:-a verso. fr~ro de-uma ,,;oJen:1a, a pahv;-a, como a Espada, corta,
çnndu·a ou J:! linguagem, tro.;as divertidas ou ternas, trn~o~ Loçanres, lança sua clarniade sobr: o mundo e depoi, recai. O mais tnlevado tre-
exprt,:;õe~ edificante:-;, co:r icidade temperada por uma p eguit·e c;ue J re cho do R,1JaNI. e l ' mai; s1~mfic.auo. é, sem dúvida. a passag~m das
ocJl'.a O ,::d;>r.. He::ma do trasico, q·.1e é próprio a c:.crimra. la1sse.s 170 a 172 :lo manu~;r to de Ox·ord ifi,gêlrando :arnbétr no., de
o segurco e1:,,.o con:crne especialmente ao mo dos te:npcs ,":roai., Veneza -+, Pam, Ca:nbridge e L~•or., bem rnmo n.;o,; .id.3.ptações alemã
e aos )gos 1..L rrl:s.•m,mento ou ::!e pc~spe1...í•,a qu~ ele prrmitc. Graças " r.cr1Jegu~sa'. i: o monóbgo que Roland. a:> moirer, dir ge a Duranc.lal,
a es•c5 desJ::x:3mentos, a c:..,_,es de,compa.ssos. por \·ezes a es.,as conira- espada L' paln ra .:onfundida, ne,sa última ,,erdade de, he~ói.
éi çõ-es aparcílle~. teC-C•St indis~olu\'elmente à na:r-JWã ,eu comenrárfo B. \1 )d rc,~alra a 1ntlu~ncia cue essa ct:unomía mtual pó<le exer-
temporal. em;uanta a rec_-,rrênc:a do presente inscre\e oo :Je~envoJv1• cer sobre a comc1é-cia qut- t'I holl";m ondenrnl •nma\'a do cr~ccimcnlO
mento textual a pcrmanc-n,1a de- uma paJa~·ra-tem.·munh1 .:. Rychné'r das rro~a• ,o:iai\ e do mm imento, então nc_wo. do!! bens. Cercnrncnle,
demonstrou :~se tuucionimemo no Rer.art; :.1 L. OJ!Jer, nas narraçõc-s mas ideias~ n~i::e~sidnde; no~m e o:pnmem pela refrrenCLa ao \'tvida
de Chrétíen de Troyes. 1 P>:,o uso - aparentemente pouco coerente _ t - a:,zut, pela cx:pcriêncu1 úa voz. com,-a e desalienadora. 1
a época cm
do 1r~cme nc relato rlt-1- mantida~ a in~lncia da rnu ... 9 que- R-"' stifm o g!n 1 • romu,1e .:;o, rar võlt.1 da flui 3 ~ulõ • ,
..:nça ,..irra, e a ,ontm .. c: ..dc da ,01; e esse eteno parece d Inda m..,~ a pala,ra ccu;,a a, dé' 1med1ato, um lugor .;entrai saoNe do 1rnportfln-

108
I
y
ela que. i.lt:sdc u t!nt,,•~·, I 01 11wn o, mon61ogos, "interiores'' ou nl'io, o.s •111mcnte, cm diLllogo, J\cumulondo ~~~~ pr<ictdimentos, G."lutler tem-
,im como, na maioria do• a.11ore,. üS d álmios. Ora, a finalidade ~ser- pera o que o puro monólogo pode 1er de estático: intr0d u ,o <liscur o
etal está rao prnfundam:ntr entranha<la 110 t~to que. numa leitura. urn elemento q11use p,olifôntco e virtu..ilnente ge;rnal; à, ,01: do mono-
ilcnciosa, n.umerosas passalilcns des~e dhcurso só são facilmente rom- lo-gante responde uma conrra,..oz, re',elardo a presença de outro corpo.
~ s gnç 11d d ~- É com D.a mc!!Dl8;4'mma ~ é -dois rnce::loc::uwrc:1:1;:w
nólogm que um falante reporta no cur~o de seu próprio monólogo co- 1e- trocam a5 palavras, mas entre orn individuo e uma multidão, Cllja
mo palavras de urr :ertt:ro: somente urn jogo- de aspis permtte ao leitor í:1:er-.·enção nos é relatada como unânune e, :,or as.s.m1 d1ur, coral:
reencontrar-~c>- "los <liálo~c,;, a passae:em de 1Jm interlocutor a outro, Antiga:nente, O Jodogne sugeria, a propnsrn de Ênea,, que a tec-
às vezes marcada por umJ. apóstrofe, a:niudc so é ir,d1cada visualmen- mca do monólogo. especialmente o tntenor, com,agra -;o ~nt.do \li a
te, ;--m um tra,,.essào, na ~d.ção: o Tnsran; de Eilhan -:onca com u:r~ ;as.sagem de uma estética do contacor d~ historü!> tratlic:o:1al à do rc-
dezena dele!>, :otal.2ando ce·ct de- trezentos ·;ersos. Os d,álogos inte::-io- ::r..ar,dsta. Porconca disso, o u5o - aua.s, :refin:ido - feirn de•se proce-
n~ do Erode i::narn incoerentes ;em esses t:-uques t:pog:-á.ficos. O que dimento novo em lingua vulgar implicaria, em muitos auw~es .una ','OD-
significa i~~o senão que. na pr6p:ia intencâo dos autores, o texto e.nge tad.e d-e integrá-lo no procedimento mai, antigo, de suborc:iná-lo a und
=a gloo:a voca.J-tonal, mh1ic-a c-u gestual? Mesmo quando o d.iálo--;;c :oacei;içào de arte que foi a dos canto::-e> de g~la e que permanecia a
é: .raiado de a?óstrofes, o que c:as ::azem é ::m1fümar esse caráter teatra- ::los re::itadores defabhaux. Este OL aquele autor tira efeitos mais forte-
lizando o dr.-: manei-a exi;lici't.a. mer.te contrastantes dos mesmos instrumento~ lingüísticos e retóricos.
No Éracle, o número. a divisão, a própria estrutura dos discur:;os nu.ma instância mrus urgence. Globalmente, a siti.:aç.ão ea "llesma . .?ro-
cii1c~o9 concom~m para urna .fatorização nfü:i apenas da voz, ma~ prin- cerli no Ctigér; (e~colliido entre m mmanc-es de Chrétien ;ior sua seme-
Ctpalmente e.los procedirnmtos que a oraldade do discurso p,ode ootl- a-.an,;a aproximativa com o Émcle) a um .ei.'a.m.amento dos discursos di-
ta1• .;. narrativa COl'ltém 41 diáJogos e .:l rnonó.ogos, de todas as e:xtec,- recos, segundo os critérios usados en: meu estudo de Gautier. O número
,õe:5. Eles recobrem ba.sta,.·ue regul~mente o meto: a mais longa passagem total desses dfacmsos é, notavelmente, o mesmo: 98. \1as o número dt
que não tem r.enhurn comporta m:m.J.S tle l1=ntos versos. No tota:i. os verso.; que ocupam d.i.fere em cerca :::k um terço: para 2995 verso, de
monólogos preenchem IJ~c do tm:>; CIS di.ilogos, 32% - cifras el,o- discu:so (sobre 6570) no tracle, o Ciigés apresenta ape:ias 2028 (sobre
qüentes. Não apenas quase metade do t.e.'(to (4H'e) é ··falada", maS1a.rn-
oérn ele é s.obrerudo iialo~ado e, portanto, teairalizado: 32% de sua~-
j 66641, ou seja: em monólogos, :6% d[> romance; mi diálu~l's, 14%. Ade-
m.ais, o C/igés conta oom 72 monólogos. para 26 diálogos, ou, em mé-
rensâo textual repttseotam b~tante mais em duração, e isso acome:::e dia. 2, 75 monólogos por dialogo; no Éracle, essa proporçao não passa
por causa da mu1tiplicaçâo de paus~. roem.o breve~, que resultam da cte 1,25. E, ainda, os diálogos. do C'igés comportam mertot 'eplkas, 85
troca de falantes. Oi diákgos contêm 2-40 rér,l1cas: c,s mais compJexos m.0 totaJ, pouoo mais de um telço do gue se observa no Érade Quamo
con.tam respectiva.mente com 31, dezoito, doze. onze e dez; os omrm, as du:a;õe.s respectivas desses clois tipos de discurso, elas leftt::nunham
com dois a nove. Donde cm. mO\'it:'Jento constante, que por vezes se pre- no É.fUcie um.ai tendência tritida - ausente no Cligés - para a e.-.:pan-
<.-ipiia, à mecfjd13 q_ue as réplicas se contrae:n r~spond~ndo-se taco a ta- são de diálogos e a concentração de monólogos. Interpreto cerno uma
co. a intervalo.1 de um, deis, t.rês veTsos. O conjumo dialogado se e.rL- nuance $ffl'lelh.ante a ausência :iuase completa, no Érade, de discursos
contra assun :i marrado ao ritmo acelerado d.o relato. O efe'ito é re-.·etado 1 ind:i:-etos , que, ao contrário, são freq'.ren tes em Cluéticn. Gautier apa-
:-e □tememe se recusa, em narração, a es~e tipo de di5curso, como .ie ele
pelo modo de prendtr-sc à :1arraÔ'-a: com algumas e;,;ceções, um dit-i,1, 1
fair-r!. introduz as p.alavr1H do primei:o in:erlocutor: as cios outros se- abafas.;e a voz.
·guem sem omras m..rca<, ienE-o os travessiié~ postos pelo editor. Gao-
tier, aliás, esforçs-se para atcra:ar a oposição oratória e dramática que
existe ent:re disClffim dialoiadm e monologado). Chega a LLnir, por me<:• lSlmno eL,:o em que se opera o im~ntlso das energias secreta, do 1e.xto:
de uma br~c trarisição narrativll, doi., monólogo, num dialogo de fato; o ei'o;O que -eu uiria "temât1co'', no senlido em que .e fala do ftma de
ou um monólogo com o diáJ03:o que o segue; OLI, ainda, dar a um l(}n- uma çropo~icão. Um rnot[vo refere:ite à palavra, ao som ou ao efeito
go monóloso uma cuna rtplica tcimi11al que o transforma, rctrospect.i- da ,·02, ao poder do ..-c:rbo pronunciado, intro:luz ~te: man1lm-se no

.211
lcL·1d,1 ll."':tu;:d. DlmJe, no p!a110 lc-x1 ·ai ' .
1 1 " • a ,requen1..·1a r ,
,n rJ ' '-l ut: ~e: rc:krL·m (nor ~la
' l. J.J . m mul10s IC\IL'S
I ' " ~ IIIC:)11111!, l' quaJ-
lt':XIDI a ·,oz qva; sobretudo •érbo Quer que sc1a o ~'On- !sado~, 1.JnWJJs1 :ia I turgta Ja~ ;,rinL.pa1, ÍCSl.l!> de cJlemlârio l!clesid,-
~. os qu:us por I ez ~ a.
cum tal Jensidade que m1ç.am aí uma d • es re1.ourem o 1~10 11co. A meJ10 pra lo, !11T~1u dai um te-atrn prormamcnte t1110. 1'..n 1:1..t.· l c-r-
__, • re e semrrn que dá 10 qu.: a ,ituaçã~ mt.'cicval não 5-f prende, ou não se prende din:tamemc,
rvuo os m.tros ere,10~ de ~ignificaç.ão. O relato se . nuances em
Je paJavras., em mero apalavrai a~•um1·da d. consr11u1 sobre o fundo ã~ ·radiçõe~ a:irigas: passado~ o~ -fr.llo.s v e v1, apenas wbn:\ivem <lo
'd . ~~ ~ no l5C:Urs
ri rco, da narrador: dire ou seus .sub~, t o, proclamado ve- reatrc, romano cenas degradadas. .!im;,Jificadas em ritos populares, e a
~- _ r - · . . • 1 UI0S COnS1it • d prática de rnirnc... lor.ginqi:o~ precurwres dos jograis. Fot :i. jogos de~sc
,.oe-, ,a~dl ,:as (forre come, foi"' dev,se)· ,-,. ' . . º.1!1 o talvez IOl':IJ.
n;1m •
.:<•
"' • I .
.:.o r ~-a. o a gum drs.:ur,o direto mu
• ""º5 os d1t-11 ou r·1 dli que li- t1pt, 1.ue )C ,.kmno.ram, sem dcv;d:::., muitos textos iote;pre1à,•eis apena~
. . . naç \-cze, sub·( .d enquanto réplicas alternadas: oRl;mocassinese, da Itábao.·mraJ, no sê-
ou rt?f)(J1;are. A!é ai. nad;; de ;urpreendence \f- ·' 111:1 o~ 'f)O-: )air?
mt·n1,l u·,. ( E'
• •.i . 10 racle, parc1 v-,lcar a ele) -
·' as a narra·ão Ir P-• Opria-
• culll :.:1 (L,u xtl''I:►, até m~~m-::, e ilusrre Rosa frf!sca aule.111isrima :uríbuí-
own:ncia, de verba dicerld1, das Quai~ ~~~ daprde~e!lla ,menoç que US do a Cie[o c:::-'\1:a.mo; ou. íla F;ança. poemas üolentamen1e polêmico.,
.
d0 rei;1c1, a;inge-1e o número 1o!al de cer;~ d ..
·" e J,'"(!· 'o- 6,,o
' ' • · •,•ersos como o Pri1•:i'f:gr- uu_~ Drào.-.s, por 1.-olca de 12"4. e a Paix aux .4 m!fo,s,
• • ca e1rezenios•·erb d de 12J4, em cuJa téc1ica na:fa os distingue de te:xcos em que, à m~~ma
iema1111;:a, ans quais ;;e acres::~m ai - . . . os ess.a classt
d. gum -,ub~tamr•·o- ~ époL:t, o manu.;;rno faz o ,mm~ do lc,,uto:- precede: caéa g-upo deve:--
rn . • _.._,,rm ... ~ ic;,o resrirndcrn de7eoa~ ci • ~ -Orno cha.ri.sor..
1rn 1e,.• ",c-,\.a . o bra a de·TV>it • d - - ~ º"'"
. ou "':-.pr . - C(.Jun·--
•· c.,~oes ~os: e a~,im cm Le ea"ÇOl'l e,·,' 'a,·e-ug/e, considerado o ances.traJ das ··fa:-
. . . ' . ,.,,~. ,, t :!>Ua aparenc1a soberb - o;
d,1. q11. ,•111mno aqu, por e,c·::,,nlar r - d arnenre 1;0.ntrofa- sas'' :fo século xv. Ho_1e. nao h~ilJ t:111 Litar aqui a maioria do, te\tn~
- • ,. . ai\ osagens n;:; 0 d . que, nurn livro escrito em 1952, ~-1 definia como "mo::iólogm' •. u
senao uma nostalgia um apelo um ,, d "" po cm srgnffi:::a·
. . - .' . e1an o ser rumo . A pan:r c:o século Xi,, e5-Sa :raé.ição ~eio ao encontro Je 01111a, qur
z1.:c, 1:man.;ç;io de ,..,da, pro•.i ca verdad d , a todas essas \O-
c.J \1'l e e nosso5 -01 ,,, • • tmha origeTl dt·erente, mas C'Jjo.; pode; e efe.1tos cr~::eram continua-
o. i agre. aval do prazer; ur:1a vontade d ,. • ,...e.,, tme::-;,:-e.:e
d0 e ,azer-se dizer mente ate cerca de 15()(): a da d:spuuwo escolar, pelt:ja oratório impro-..•i-
~.:- c :::-c~-::, uma inrimaçàc. Por isso
5 r'fi ., . mesmo quan-
O .t.,;, ,n,e t:.\Jge ser n,,b•d
• . , · ..•
corro ul.s<.:ur,o do que com J tc~to _ ... ~rce I o ma.is ,ada sob,e 1m tema faoo. É ao modelo da dispuratio que n.··ne'.em não
e • " • l COmO mensagm-e . • apenz.s todos l•~ poemas !auoos. corno a cmcês Alte.rcat/opllyflit..'IS t:rflo-
s. ~ ert:nc:e :.aptar sua exis1êllcia textual, não se • m-sn uaçaa. Se
,;e a PL'rCl"J'IC.ào e à análise de rua exis•.:.n,..1·a d~ode ~aze-k> sem prende~- rae, o '·Condlí,1 de Rcmiremo::11·• ou a moralíssima Disputa do coração
. •~ ~ 2scur~, •·a D · e do olho, de- óancder Phi.Ep;>e de Gre,e, mas t.ambem o superabt:.n•
pn:ne1ra ldll.ra. a impressão ce ouvir - ' · ai, em nossa
- :· um narrador. De - ..
se .(ln inna; ela requer mterpreracào. pors .:t impre:s.sào dante gê11em francês do · ':iebate", ainda e~ pleno v1gor por ~·.::,lta de 1;so.
[~sas re11dénc1as se mscr:1,'efll profu d e se U5 equivale:1tes em out::-os lugares - gênero de que a Ale-manha pro-
- . n ame:ite nas 5-.. d dut.1ra. desde \400, e fruto mais ;;..abo~oso, Der Ackerm.an,r undder l'bd
ç:o~~ (JUI.'. Jc1:.:rminarn uma e•t't1···a e o· - ~:-un as imen-
. . · - " ~ gosto~ aos · (''O l:lv;ador e a mo-te") e.e Johanr.es ,·on Tepl. TaJyez ess: me,mo mo-
Prc•.a drssüsao o mi:nero - =nti"L11d d quais ela responde
. . , " -· "' a e e a popula:-i d d"' d • . dd:>, confirn,n:ido uma ;:i:-atica transm.it:da pelos tradutores de coletii-
p~x:L11:c~ d1a.Jogado5. que contribuem para dar ao e . a ~ os _senero~
d1e,,al o seu caráter "teatral" Ta on.1:.intc·d;'.>d1zerme- neas de com,::.s ::-rien.ais i;;coo o Rort,ance dos sete sábios), renha 10$p:•
- • na aurora de ::iosça_s , d' _
cas, a ,c:qu-:n:ia lati:ia de S:i,..,te Eu/afie no .• J " • ,ra içoes poêr1- rado ;:1 Ch,rn~c: e: a Bocca.:::~o. an:e;, de\ 1argarida de Nava:- :o. o quad:-0
t "rp•c•
'
i·'
. •· . - uJ
.
. .nmo

. um canto altcmad o.• ao 1mperauvo
· J'
secu. o · ' pod•·r·
e-o
- 'ª se-r rn-
..
ficcional de suas no"elas: re:1:a~ alternadamente e con::emadas por t:.ir:
d a pn:-:wm, ctilusula responde r;: lercei r nc111e ( emoe"} grupo dt interlocuLOrc:s. No :n:anto. pelos fins do sê:ulo , rt. a poesia
. · ' ra, uam sequar l a· car,tada adaplara a rna~ prop~ia..,, ne:e-,sidades a forma do c:cbar~: tenso
.,t"gurre. 1:1:1 melodia"): a c,m.=-1' ...anp'") . . me r·. iam i'··eu
• • ~ t • • mm1s,·robo su•'·
gara,,t1rêl ü a.:ompanhamento"J 5..~ es,a llnua . ..._ ~,d,:, . · vJrag1u,n t''eu e pJmmen ap.irecern c:m ,:icci!ini::o :oro a terceira r.e:raçào de trovadores
wr. a ~~que11da fran.:esa "êmea copiada a mten,:ão do al.,- e pas;arr lego ao fr1nd, ~.rens,:m, Jt'U pi.-r.r), ao alemão ( ltéchsel) e ..iO
., • no "'erso do t 1 1taJia lll 1C1m1rosro). O poem11 al~roa .i.~ estroies ou gnipOS de emofo
wd,i Jt' e,t·ur ira ntmh:a qua~e iiênt ex10 atino e do-
~ - - rc-a çena ela ramh. d .
1 ,ua :>. D. A~-allc, o poema, monoJogad J em wlogada. idêm cus enm: duas per~ona,gens, com caJa uma defendend,) sua causa
o pe o mesmo canto1 r1;..:~ ou ~ontestando alguma oprn1ão. Aparentemente, c gênero exige 1ou, pe-
fl r.!IQC P•~sagt"ns • rurrumeittir.a
• """""õ.
=--..a ~de- e, ~tX
• --~e-se
a rnrr,,oi.cm. ern mu11u regiõe5 do lmpt :u1c >.:, tcmo~ lo mm~. ,mi.cre .a tn·mr o de doLS cantores ou dlSpUtantcs.
no caroling,o, de 1Iop0s d1alo- ~enhurn11 d~sas cti:.mcas laz k':lllldu entre tantw; '\O- füdJ , 11111
l/] b1en1:i. &e não r.o aspeçto pcrf..irma.IY.u11 - quando integrn 110 1e.xro pt

113
,., mc.-no~ 111~11ma~ um; cua11aaoes e~pecmca5 e:<1@1cla~ na realidade cur- 110ml, apnrem~mente o nu1~ cs1r:.mh,:1 a toJJ narração, não escapam ao
()0ml de urna perfonnance. A estrut urai;-.lo p0t¼ic:l re~111.a meno;; d-e que pareci: uma coac;ào p!rmanente tles~ cultura: o que constitui o crrnn-
pwcedimentos d! gramaticalização <li.) que de uma <.lramatizaçã<' do :lis- c1ado é a exposição indefinitlamenie re11erada tanto d: um dcseJo entre•
cwso. ,\. norma se uefir.e em termo~ mai., de drnma1urgia do que de lh- g.ue 1 ,cus fantasmas quanto de i.:m intelecto que oeQa a realídade des-
guistic.1. Sda desejá,·e: ree.ummar sob e..sa luz a totalidade dr n~so~ tes. A superfície t~tual, por vezes caotica, é sumariamente organizada
textt'-, sobretudo ag.ieles que iomamos, ..1elll prçgwÇQSlllllent~, ~ cm ,intldc de 1lffl esquema namm,'O latente. 'fisão, enconrro, procura
rcdu.úve:.s a sua escritura, porque não cantados. Engajei-.-ne nes~c n:- e expectar.ira, abandono ou rejeição, com cada um desses termos ser-
e.,.ame .=om o Ér.icle-, e :lesde então entabulei uma aprmtllléll.'.âo e.um o vmdo de referência mnen:ônio ex1ra1~ual a uma das propos1cões enun-
Triita,i de Hér,::>ul e com o de Gcmfried \'Or. Strassburg: em :oda a pane, dadas Esse es,:iue:na tanbem ~ustenr.i ex;:,liciuimente a l'ita no.a Je
r<:COlhan-~c: ~.o d1s.. ur~o o5 mc::smos 1m.h.. ~~ redundan:es de ma fun;.é.o Dame. A lmg.iagem ;,oe:ica compromet:da ::om ess:l.'l operaçõe, tende
••fati~a• - di11ressões prospectivas, retro~pemvas, JUStlfü:anva!>, e5ta- (com rariamente ao que muitas veles se Dens.a1 a tornar complt·,:as. ao
sc~ vmamemah. apóstrofes, questões retorica.s, passagem do ,/ ao je, e..'lttremo, em minúcia, as es:rnturas de djscun-0. Scholz, que a;ire!ndeu
de euxao 11:>us, uso de fôrmul:ls de apresentação como vqe.., icourez, 'oem esse traço, o atribui à nlluênça de :.ima e~critura letrada; mas to-
esquernaizaçJ.o ::ie~cnti,•a, enumeraçoes ... Dai uma tensãc a:cificial g::- do o mO\i mem:> que se esboça n;:. p0es1a earopéia depois do sêolo 1.,
aeral1?ada, permitindo i linguagem desviar-se urr pouco das ex:gências não lhe dá razão. Entre os anglo..caxões dos ~ttlos vm, tx, x, a poe-
da linea:-idade dos e-.entos. Ta:s cnuamentos de -egistros most:am, na sia (destinada à declamacão) .á se distingue da "prosa" por suas expe-
perspectiva da performance, um esforço pua produzir um C.'<~edente se- riência~ formaiJ e semântic:c, sintc.xcs com parâmc~ros múltiplos ou
mântico. para instaurar no sen!ido poético uma dh-ersmcacão supreen- construções aposifr.·as, compi>sições inesperadas, jogos de sinorJnúa.
:lcme. Esse jo;p verbal incessante C'C\'ela, no coração do t~ro. uma es- À mesma época, a poesir. árabe u,;a :orm~ também dabordâas e con-
pêcie de lui;ar vazio e neutro: aquele que o ator encarregado de fazer \'encionais. ,.e. No Ocidente. a poesia tscáldica da Islândia, a dos bardos
exfsfir e~sa obra vai animar e preencher. C~name,te, nem to:im os ta- do Pais de Gales, o rrobor clus occil.âmco repn:5entam notáveis casos
!05, depois do~ transfornadore5 anos de 1150-1200, prestam-se ~ão dire~- parckulares dessa tendênda. Um ou:rJ caso é a espécie de tecnicidade
rneme a essa anüise. :\'luitos resistem. Essa di1;ersidade se deve à forca peculia: ao estilo épico das cançc,e: de ges:a ou do Roma,rcero. Mas
fo maior ou menor inqacto, sobre os poetas letrados, das rnentalida- a tendência se manifesta t:Ullbém no; pretensos "desa.:os' nos buracos
1
1

de5 escriturai! então em expansão. Mas tal cliversidade nem sempre con- ou :,altos do enunciado: a complaid:c.de buscada co:1Siste emão, sem
segue esconder a identidade profunda de uma poética. defi.nida pelo du- dúvida, em conjugar enfaticamente o linguístico, o ~ocal e o gestual.
:>lo t:"aço que ~ta possLi (serüun necessários séculos para perdê-lo) ~m Donde, por cert:>, a "dificuldade'' das cru:ções de A."Daut Daniel, se-
conum com a poesia de transnissão oral, como ~e :;:,ode obsenar, ;.in- gundo sua Vida, as quais, por excesso de artificio, no .son leus ad enten-
da hoje,. em alguns lugares de nosso mund.:i: uma nünucio,;a complica- dre ni ad aprendi-e ("não são f.iceis nem de compreender nem de apren-
ção do t!cico tatual e. ao mesmo tempo, urr.a !\Oberana, qua,e licen- der,.)15 - pobre do jograJ que fosse encarregado de levar a l>om termo
cio.sa, l.badadc: uc confüiuaçâu r.Ju~ i.:unjunw:,_ ).1as também, como 100.as essa performance] Em outro regiscm, o perfeito domínio da ane narra-
as poesias de ::radição oral que nos e dado observar ao vivo. a po:sia tiva testemunhado pela mcLor parte é.os.fabfú:na implica uma proficiência
do~ sêculos medievais é fundamentalmente narrauva em todos os seus igual e um in1,estimento r.ada mer.or em todos os recursos do dizer. 16
ramos_ Os dois fatos me parecem ligados: a poesiG dessa época tem por Os ifüersos modelos poéticos em uso apresentam tal teçnicidade que pou-
:uni,:ão - ínsc1evendo-se, por seu próprio .artifício, contra a nature1a cos autore;,, (pelo que podemos julgar) seriam capazes :ie dominar mais
- unifaar a multiplicidade das aparências, que ma.nifesta a jnfinitu.d(: de um: Chrérien de Troyes ou Wol~ "'ºn E~henbach são acc;õcs.
de Deus. Some-nte a narrativa, ?Or sua corr.ple.tidé.de, por sua te:npo.ra- Toda poesia realça então, e ainda por muito tempo, aquilo que K. Er-
lidade, pelos e._gentes que implica e pela gJo;a que autoriza, otere:e crna üch chama "açio linguagistica" (spnzcJ,Ucher Handeln) ou ..ato lo'-il-
chance à linguagem: Da:1te, também nisso, ;nar-....a na Comédia una con- tório" (Sprechhandlung), ta.aro mais artiftci.almente formali2ado,, na
sumação, assim como, num gra•J menor, a s::ima ro:nan~ca do L&ncelot- prática de um grupo humano, quanto mais importam à sobmhfncia
Graal. A-:, próprias can;ões de fine amor, de discurso cirr:uJar, atem- da ooleti\;dade.n E o que ~ o comemnrio ao qual cu fazia alusão -

214 115
-.

1glosa que acompar.h:i a ·:oz 1:>0ét1:a e gera cor.tela nos~o tc.\LO - se--
~- n~,a relação, de prazer: o encontro esperado, ma~ impm·isi\·el, de
uma identidade! Mesmo que a idem.idade nc.nca e,éeja total.n:ente asse-
não a pur3 ~periên:.:1a -qLc se nmra a ri mesma - do ato cm questão'?
guiada; o uni,·erso ameaça a cada instart1e o prazer. O formafürro me-
d;eval tende -espontaneamente para alguma cbscuridade. Pelo meno,
\ a~sim pare~. a nossos olhos de leitores. Já mostrei, em outro ua:>alho,
Na ::,vi liz<1ç.io qm denominamo, n,editval, a pcesia (qual{luer q:ie
a frequ!n;;ia des!>e e.spessamcnto do tecido Eniuístico, des5a opa::ifica-
seja seu status tc'<!ual) amure as fu:1;ões que a voz preenche nas cul!u-
ç.ã.o da mensagem. nos !extos de tradição ora . 18 Toda ;:>oe.;ia m.balha
ras de ora1idade primária. Ic!~nt1dadc ricrável, mais do qu.e coinci.dên-
no he!erogénoo: visando à clareza, dc:1 po-de produz.ir o obscuo, e vict-
cia. Seria só um p:mco ro·,~do s1:m:ntar qJe, 110 Ocide;ue do~ !>éc'.llt1s
ver~a. O:a. parece (a despeito de O?iaiões ::orrentes) que o pr.mei:o dems
:,.;·1, ;i..111 e x1v, a poesia constitui um arcaísmo... pdo fato d-: emergi~,
itinerários é mais próprio da voz; e que o iegundo é mais próprio d<.1
na linguagem. no sentimer.m. na práll:.: ,ocal, de um ;,~~ado muno
e:-:ri1Ura. Tal foi o caso de nossa época antga; e-nos impos.jivel saber
a:--riga, com o qual os laços 11ào ~ãD mais ccncebn,eis em ~ennos de uso.
se i;;s.o era fruto de uma 1men;ão; pelo mencs, deu-se em ,,·irtu,:ie je um
Sem d1í-.ida. é por tiso que tal pc,esfa, :ias forrra~ QJe ela assim exibia,
sistema exp,essi·•o do qual se pode admitir que era uma re.0;1::a da voz.
cle-ttna\.i-,<.: a des.i71&recer wn dia, em benefício de uma llteratura mai~ realizada na :performance pelo emprego de 1.ma linguagem ,·1rmalmen-
ae acord" :-mr. o ::1,mdc ;,rcscn~e. "'OSSé!. 'iC)ha poesia - em maior ot. te m1ciática. reconhec1vel de 1medato ;;orno oriunda de u:::na uadição
mmor gra·.J seguido sua., pru-tc;, ma, sempre fandamenta.lmenc.e - é conhecida, e con.stantemente glosada pelo corpo. A forma '.em por fur-
ri,o: ,u.a função pri1r.ordia1 ~ oper, r un feitiço. capaz de :ornar p:-esen- ç-ão pii mei,a visar a esse efeito. Tecem-se fio; r.a trama do di.iClllS) qut,
Ie iiquilo que não o{.:, inseri1 essa auséri;,;ia num simbolismo não apena5 multiplicados. e:itrecruzado~, de.ser.ham ai u..11 hie:óglifo sernp:e incorr,-
evcc.ic.or ma• JiIUlll!m cr>ador d.:ourra coisa. Pma afac;rar-se desse r:- plero... e cu_io traçado só e, tom da voz, o ge~co. o cenário rematam na
tual, s6am ne~es~ários seculos: pelo-. ido, de 140(1, a poesia européia pe:formance.
ainda lhe -.era meio cativa. .'\o longo oesta história, não l~e~ça de exercer-se desse modo. por
O :-igor dessa concentração s:.ibre a~ ;·armas não c~sa de aurr.e,- inbativa de uma classe de escriba; as;,íra::ncs à hegemoma, !.lllla pm-
tà.r, na ,aior par~e dos gcnero~. em rrnh1 í.'. Europa. no curso do;, sécl.t- são que a obrigou a compatibiliz.ar-s.e com o ::,oder da \'07. Percebem-
los ., rr e :xn - a p;ópr é. éptXa ~m que a progressiva, mas irres1stivel, se, espe..."ialmente, os efeitos sob:-e as fo:mas da poesia de língua \1llgar,
difusão do escril:> anuncia e prepa.:-a para logo a ín,.·eaçãu, Oi:l unprema. em qut: o escrilo manteve durante ;éculo., e~tn1turas oi.:. p:ocedin.cntO!i
Compensação o:·e:-ecidl a -udc de 1oelho Ocider.te que ameaça ma:a:- tahez o::iginalmeme próprios de tradições J)Urlmente ora:s - causa de
a rova tecnohigia? Essa tecnolo~ia que, cum e ·.empo, cheg.ara ao p,:in- erro~ de imerprctação (e 1.k: polfauica,, sem fi:n) entre e:i:.d:i:os~ Aqui,
ro depô~ t·"ll que,táo e dcpulS ".)rivar d~ ;ua ekvada d,gnidade os or:ia- porém, t:ata-se menos de pura inércia do que de um fenômeno obser-
111ent0s com que se dcki~,'3 a poetica nldicionaJ, as fiormuas, as '►'O­ vado em outra parte pelos emológos: em ;;u'.Lura de oralidade rnüta, cs
ci1li..•cs... Jogo~ de voi ~-)r ce:"to ~1..,eitos a uma estratégja re:téual de indivíduos lêem - e concebem - os !excos a traves de llrna fonna ofe-
conj·Jnto {muitas \c:t.es artificioi-..:.), m21S com proliferaçõe) tão agraca- -e:ída pela tradiçao oral: m:erp:eum a es:ria.:-a 1enJ.u 0::::1. r.;:;iu: '1-alo-
•tis que ro1ra~cr.11; es.;;J (;;.tratégia ~ :::c,rdmida a:e o fim. Tod.a a ob:a res lgados à vez. Uma corrente d.; troca~ recíprocas circula do texto .:1.
de Bahrusanis ri::.~ nlOitra ate que pon:c o ornamental consmuia. na, sua glosa :nóvel e '1-ice-ve:sa: mas nenhum desses termos se rei"e:e sem-
::1.nc, f'>.,. , ~... da pcúI<J. t> t,m1am:ntc de t;xla "represe~·ação" O .ire ou e.xc]u5ivameme 1eja a voz, seja ao e!C:Íto. Isso é um fa:o, e dai
m::,mo :,e ud.'•'.:. nos gcnero::. :.ia po~1.... \la~ o orna'l1cn10 prooeáe de t.ma pro..,ern e, eqJ1'"0C0 que Ja ha um ,e.:i.lo pem.rba a reflexão a.e- mu.tu-;
conm11çâo retl: i::ia, rnnt·olacla, a'::>an:.an.lo oi ;uno\ e a s1maxc. O<!i mo- med1e·vah,1a~. Ü\ produ10~ do ,,erbo ~eti1.o mal ~e d1strnguem ,e QS 1ul-
d e o s1mbot:,._, <l manejo de imbolos icõmcos. Tui é a fonte dtua gamo:s estm•.amente, a partir de sua maniíestação "ora:·· ou ''bcr1ta";
c.omrl:x1da<lr 1•,mqui1a, cessa te:nic1dade eg ç, ln ~a d um.i UJJ~~par outro lado, eles COJlSutucm conf~ções bem dts.tín~s (por-

111.11to corporal ~a lmguag:m Pode-se fo ar C:c e,sr,/o a propruito d100? que 1mp11cam um verso! de -.atores 110brt eixo d1\'érgente., ;e r~la:iona-
~ir. dú, .da, •1111, c1Jm a condição Je ligar a esse lermo. para alem J11 mo~ t:,,el; •e1mm a uma finalidade, real11:hel só a prazo, mal fun:iado-
rJ do stau.~ deles. Nada I ustra r.1elhor e~e mt,do de fu:i..:1or.amemL,
1di:1a tle um;.1 regtilação q:.ialquu de palavras, a de relação com "real

217
do Qllt o duplo regimo d,)~ ~c:rnõe:; dr: iflernardo <.le Cl.tif"'kJll':, r,ro-
11u:iciec!o! e dcpoi, c.1crltos por um autor muito zelo~o cm aday r SC'U:s.
• a 1-tm d"'
moos 1,erentes 19 C::imo c.eclara, no (()meço do ~C1U o xm, Jac
1. que, d: \'.t:-y, no prólogo da .:olctânea de scui sermõe$, parte 1l ua-
tiva, comparaçÕi:s e exemp.'a, <lc- es textos s6 pooe ser verdadc1rnmmcr
11
despenam a atenção dos ouvintrs se vierem pela boca de tal pre ad,n•
e não de outro, p·onunciaco, ~'T. tal Ungua e não cm outra·•. :ia Nào ;e A PERFORAfA ,V CE
;icceria referir melhor a u:na performance.
A :.-.critura n:io tasca i::ara fixar o te.icto, e, a todo o 1n~cante., a c,o,...--a
do leitor se prepara para re:nanejá•lo ou ace refazê-lo. Donde :~to ..:rue.
d~sde muitos ano~. diversos emidos pretendem ter revelado: a i:i.r.u-êrr
c;a q.1e a1 formas de e.icpressâo o·aJ teriam tido sobre a escritu;a. \1a~
s~ria ;mferúeJ dizer que esses es:udos mostraram, em cransparencia., am.- O texto em s1u:r;ão· os "papeJS"'. O ou•;inre ciJmpiice. Pro-.·as Gr-
vé~ da superfície t'Scrita, a pemanência de lll1l modelo textual \'OCal - ~urisranciofr. O "teairo''.
o ~u~ H. R. Jauss já demon.<,trou a propósito do Roman de Re~a.rr ~
Para ouvir a ,02 que pronu.-,:.ou nossas textos, basta que nos si-
tuemos no lugar em que seu eco possa talve;: aioda v1:,rar: captar uma
performance, no insLame e na perspecth'a em que ela irr.pona, mai.; co-
mo é.çàO do que pele que ela pombilita comunicar. Trata-se de tenta:
perceber o texto concretamente reali1ado par ela, numa produção so-
nora: expressão e fala juntas, no bojo de uma situação ir-.msitória e !lillca.
A informação transmite-se assim num campo dêi:tic3 particular, jamais
exatamente reprodu1ivel,; segundo condições va.-üh--eis. dependendo do
número e da quaJ1d,dc d06 elernentos não lingüí,ticos em Jogo. De vin-
te anos para cá, os lingüistas repetem-nos que a munciação tende natu-
ral.mente a uJtrapas~r o fflunciadvr e o enunciado, a colocar-se. ela mes-
ma, em ~·idência. Poderíamos apro:timar performance de performorn,o,
no scnúdo que se dá a esse termo depois de Austin. Coloca-se, em p•in-
cip10, que a lingt1agerr. pcét1ca medie..,al comporta sempre um aspecto
perforrm1th u.
~ modalidades segundo as quais se manifesta esse aspecto não são
menos detenninada! hi.storicameme, portanto mó~eis no curso do tem-
po. ~l. Sbisà e P. Fabbri .embrav::m recentemente qi.:e d:ias series de re-
gras regem codo aro de- co:nuruca.ção: umas ~res5upostas (portamo, em
principio, universal!); oe~ras reguladas no quadro d~:.e ato. A mesma
linha de reflexão leva-me: a d.istingi..ir sobretudo trcs ~eries: regras pró-
prias a toda emergência. da linguagem em discurso; regras típicas de tal
procedimento discursivo. :nfim, rtgras particulare~ para cada ~itu.ação
~-i1,·ida. Donde a opo~iç:1o que muitas ~·ezes suge:i entre a superficie do
"tc:uo., poético medieval~ sua "·orma": es10 última ultrapa a a outra

2.i8 1.'9
por cafo ":.iuilo que ~obrc~ a1 d o op ro, do ~om, do gõ'O, da irut~u- l:ctuai:, que a e1tura J e obr;i, :-ontempurãneas: a visia e t.1mb<m 111úl)
mentação, :.lo dé<'or. Ê aisim que convêm c111e:ider, rcsr,ect ivnmenrc, O$ o qu e i~:> impl:ca - atit11des corporais tanto quanto proccJimen10~d~
termo~ obra e texto, que at! aqui distingu: com ctâ::lado. RClumo-lhe$ r::1Xpção e de combir.açio mnc:mônicM - . nos,;os- bábitu5 próprio:. à e
bmemcnLc a defi r.ição, em esúlo de dicionário: leitura.. até a forma e, talvez, o macio de nosso., assentoll! O que 1enho
- obra: o que t poctJ~mente comunicado, aqui e agora - texto. djantc du, olhos, impresso cu manuscrito,~ apenaJó um peda-;o do tem-
son::>r.-dades. ritr-.ios, clemen:os vüuai~: o te!'Tl1,-, compreer.dc a totalida- po, coagulado no espaça da pá.gina ou do livro. E::ifrer:to ai uma éificuJ-
de do1 fatom da performance; dade dupla. De um lailu, o afastamento proveniente da hisrorfri d.irle de
- 1e."tto: sequência ÜJ.il_lüístiCJ. ::iue tenJe a,J f!chamff,to. e tal que meus co;1ceitos crític~ e de seus pressupostos, pr:iJet.anco sobre um ob·
o sentido g)cbal não é redutível à soma dC1, ekitos de ,em·dos particu- jcro difennte minha propria idenfü.hiJe cultural. !)e ouc-o, mmha is.no-
.art'S produzidos por seus ~ucessivu~ 1:vmpoocotcs. rànc~ 1tn1ando-se de Wll t~t,> sobre o qual pcc;a o i:re;umir-se uma ora-
E, para precisar melbo;-, eu acrescemo: lidac.e) do r.1ock> de articU.:ação do auditt\•o sobrr o ·,i~·.ic.11.una civiF:raçã~
- poema: :J texto (e, se for o caso, a mdcciia) da obra, ,cm ::o::isi- de fo:te corni>:ância o~a1 ~omcme a pràn;,;a permite, se :110 reso:vcr, ao
deracãc aos ou·J(•S fator::s da performan::e. menos escla,ccer emplrkan:ente essas contradiçôes. Por cri:.z;ioie11 Lu de
O reno é legi\'el (felizmente pa:a nó~, medic,c.listas'); a olra foi f'eixes de iaformaçõ6, por deslocamen Lo de per-pectiv.i e de visada, a
ao mes:no tempo audive'. e visível. Ora, essa~ dhcrsa.s qualdades não partir de um ponto deY1~la intuitivamente ~h.id_,J, esforçar:n~nos para
são nem ~irnétr;ca~ nem mesmo, md~ somado, ccmpartveis. Do feno. sue~rir um acontecimento: o acon.tecimcmo-teJ; to; repP..5enlar o texto-
a ••oz em perfo--mance e>..1r~ a obra. Ela ~ subordina a ess! fim, fun- em-alo, in:egrar essa representação no prazer qi.:e se senter:a '.dtura. l\os-
cionaEi.a!ldo tcdos os elementos a;:iros a carrc$ar. arn::,liar, ;ndicar sua sos l.:!Xtos \CÓ nos oferecem uma fonna ,,azia, e s~ dGvijaprofüadamente
autoridade, sua ação, sua ..menção ;,e~~casr,a. l rn o p·op~io s :ê1cic al~erada, de que. em cutro célncexto sensório-moto;, foi pala\'ra '-iva. Das
que ela :,oliva e toma !iignificante. próp·fasmccãn1cas q1u bcjr no,; permitem omir certos textos mcdievaí~
O rucdlev::;füta fica rreso nuin cir;u]o ·.icioso. Ele registra com os (como o; disco5 com :anc?,es ele lro\'adores), pode-..e falar - qua]c_ue;
olhos aquilo que foi destinado a uma per:epçãc .;onjun'.a de, ou,id:.l que: ,•e: a sua qualidade p ró,:ia - q ua!>e n os me;mos tennos ce ao5sa.•
da vi~LJ::L, de próp~io toque - a uma ce1estes;a. A perfor:nance passada leitl.r!is. O ~orn trarurr.ilioo pelo disco aLenua bJStar:re o efeito da di,-
e~çap,a, nnmediavetmen1e, à ncs,a obscrvaçl.:>. Os ensinamentos que canda lt:iJlpo:;aJ e do abafon.~nto sensorial Enr~erant:1, ~le não passa :ie
se poden am e,,Juir, por '!l-nalogia, d~ t>.1:...,,fllm arua:&tenden a provr tlllsi.ode pn:sença; e, se pr:.li..edemos a uma exec:i;ào em salão, com can-
que a:,; modalidades da per::mna,:e reu;am prmcipalmcnte o c,tilo pt>s- tor e mtsicos, e sob:~ os :lcrnento., não t~.uai, da performar..ce q l i'~,,
soa.1 do mtcrprce ou Lrc:.dições ce esccb menos 011 ma· , dherge:::tes na con::ent·ani as equivocidaces: ~enr.ado~ em no~as cadeira., aquílo qu:
pránca de um mesmo gênero. E difícil afirmar mas Deveríamos, :ia esc•J,amos, mesmo com um "i"u pran:r, refere-se Qpena5 de modo an1fi-
in,erpretação deum texto ,.,anicular, levar cm conta um el~mtntc de sua cioso ao pas,alo rr.edieva 1. E:.se .:onceno .:oastin:i un.=. performan<.,,
MCJliêrtc,a, aind, que seja quase impos~·\·cl presumir a amplitude das at11~] Do ponto de \i!>la àe nu~c1 própria cu.lt\.:J'a, é urna vantagem; e
variai;:ões ~. rrai.5 amda, medi-laõ. Da pala..,ra ac esc:itc. ou vice-\ena, tal\ez scJa o meio rr:=-i, eficaz de m~uflar um pouco de ·ü :fa nesse, vtne-
hã •.i::aa descontinwdace. Com a voz que ~e e:gueu no pas,ado. passa- rávei~ monumento5 de lu, tó:-1a. O ~onhcd.1tQ.lt~ qu~ tcn:cb dc.cs se aprc,-
~e o que ocorre corn a p·opn a história: nau ~ po~~í,,,·cl ntgr.r he a e:x1,- fun~a .. mas, s~m dm·'da, de~gar=a·!>C no me:i:n::, momenL::t. Trata-~ ver-
êne1a. mas e.a não te:n modelo. Ela foi, ac ;-1e,n1c, •crnpc, t 1 .orre'lt' é', dc.deT,rnente de inverter (de ruancua não muito dis;u!fveJ) a w UL,::11,:ãu
~ \ alor. Como c-corren,;1a, ela nào ~e\e la usa un .i rcn e citphca~I e-r, qu~ita•ü•a :inte, operada pe'a oolo,a;;ão por c,u::o; cc la:1çar a;) m~
cronoloi?ia b~C\e. Como valor, ident·fira-,e lOnI a e.xrcne11c.a que te nos, ..arna prnvável pa~sarclJ .,obr~ astiescuntmu dadr~, éh ;iua1s atr1brn-
moii. ~ão podemos falar dela sem renunc1a as ,1mt-ohzaçik:1. itb:natas
0
mos m[),)nãnría err poder medires a impn:tânc,a; de terit.ar recon,truir
e s=umr:cmcltt!>.:'1t0't11U tod palavra pror-u i da con tita1. cnq:i nlo a ci:am t nna - não por simples a~urn ulai;ào erudita, ma.. colocando,
proc ulo vocal, um signo gloha e \JnlCO, 1!0 bol1do quanoo pa~ 1 a. una ituação panicular a qual não a;x-
A lei1ura j l'S es -velhos tcx tus a qual nos entregamos coloca cm nns t deiinl\ie] cm termos soc10-lu tori..:os serai!'., mas tamberr:. o m d1·,·1-
.ogu, bastante aproxm1adamenLe, as mcSilltn faculdades 1 f,icas e in1c- duah,.a, tan•o na ordemd:u r,crcep.;õe, corp;>rai~ quando na :la 1melecciio.

12()
. Remeto~ esses po, to~ nr,s ca;,itu ,,, t 11: e IJ tk meu burofiu,·-
t mn a a iJ,n·sre orei T.• •n O tc.,10 muitas \'e1e, mte11·a ti~ marcas lingüi,tic::is d,-~ <lia.logo
,-,; raJ ct· .
a .,...o ..~ car.1ente, n p:rforciar.c-e aparece como uma criador e tcs1emunha indL ·1,i n, ·n!e a intenção que ai p:-~ide. Já mos-
o -au 11.wa cornploa I J
. .. , i;e a Qua uma memagem poétu:a é sim 11l- trei rm duas retomadas as mtervcnçõe:s do autor e assinalei bre-.-cmente.
tanea1!1ette transrruc1c:: e percebida .
ri ( ·• . • aqw e agora. Locutor, dcstmata- a propósito do Éradt, o i11tercsse daqueles ,que comportam ou um vós,
: s), ~--unstãncas acham-se fisicarn~re,confn1~1"J11fos Jlldis':'.:Uú'l--c-i
ou um eu equivalente !'como uma .apóstrofe), ou uma seqüência eu vos...
per ~rmance. recona.'Tl-se os dois ei'tos de roda oornunkação social:
o Que reune o locmor 1 ,3 auror. e aque'e 5 .. •
Vou então falar da lntervenr/Jo d.· Jôg1ca. A fórmula tem mm energia
A trad•çàc- :-,.· . · · Owreo qua1 ~e unem situação ff1ticn quando apresenta um pedido. uma ordem ou um apelo à ação:
- . . • esse n;vcJ, c.lesem.:,enha-se ;,lenamer.te a função t.l.a limrua- por \'CZC5, ela se cristal,u na forma de um clichê: é o ca.5O d.e \'OS agro-
igerr que \,faJm~\\ski dcoomioou .. faL .. d ~
apm O d,. _ •...a ~ogo e aproxnna;-ão e de da",fa~i s1/incio 1, com 'l.W "-ariantes., como, po: C.'<empto, um pedido
~. • ,_ provocaçao do Outro. de .. .
.~ d . · pergunta, em s, mci:e:e:r.ce à produ- de dinheiro, Desde 1936, RJtb Crosby :hamava a atencào j)ara o mte-
ç.ao e w1 senudo Per isso qualq .
. · ' uer que SeJa o processo que a preceda, ress-c d~umental desses clichês, e, a d~peito das rescnções ainda recen-
ac~~panhe ou siga, e ern sua qualidade de ação •..-ocal que a per'°o'.!lllance temente expressas, não ~ pode deLur de lhe dar razão. Os exemplos
po.:nca reclama Iog3 a atenção d0 . . ··
- J-
m· .. .
1ssoc1aveis que · · cnuco. Se,Js oucros com-.nne:nres
r-
,..,.,r
, ,_,,_,
~ão numc:-oso:s em todas a5 lingu:u e nos gêneros poético~ roais diver-
. 5eJam, ttram dela seu \·aJar. A trans:ni.s.são de beca sos. P. Gallais e,,·idenciou-cs de modo sis:em.ático em mai.5 de trezentas
a ouvido opero O lo:to mas , O odO .
. • e t da pertonnance que conscitu.. 0 obr~ narrativas e didática~ fra.n~es.as dos; séculos x11 e xm. é ~sim que
locus emocional err que o tale vocali.z.ado "' . • a interpelação Sergneur:s! seguida de J.Dl \·erbo na segunda pessoa do
d s_ .orna arte e c:onde proce-
e e ~e mamem a tota idade das energias g:ie co□.sjtuem a obra viva plural figura, segundo c:c, em 40«"o das canções de gesta., :rn•r.n dos ro-
E~e e em Parte um /r- ,
'asmauca"
, •_ , d ,.,._w <;ua1·ttativo.· 7ona e-pec-atória da ' 'f, '"MO ~- ·
........,.. l ...r.-
mances. 25o/e das narrativas hagiográficas, zoo:r,, dos renos c!ldaticos e
', • segun o E. expressã:, de Gi1berr Du::-aoc::. :\fas ~ caml>ém um 140::-o dosfabhaux, entre 1120 e l'.!50; o apelo OJez} e ~u.as ·,ariasites, ,em
.h~gar concreto, topograficamente definrvel, -:::rn que a paJa,·ra desabrc,- 83f1o dos tei:tos examinados.: A aru.ologia de ~'lõlk. assinala 52 ocorrên-
c arte capta seu tempo fugaz ,& d 1 . cias de intenenções dia.logicas em 24 prólogos de canções de gcs:a; uma
. e iaz e e O ob:e-:o de um :onhecimewo
Esse obJeto confWlde- ~- . · · vintena em cerca de trinta exórdios romanescos. Examinei o Tristatt de
•. , . -, "' cem aqlll1o gue ela diz - .,;orn O qur.: ficri-
c1ameme ~e idenufica o intfrprete Uma ""'• ·oa - al Béroul, que me ofereceu 63, ou seJa, em média uma a catla setenta ver-
f. •d • ...--~ ex;,oe-se □as ;, avras
pro en as. nos ,·ersos (lllC l'lillta uma ''OL E sos! A proporção é ligeiramente menor em Eilh.an; um pouco maior nos
discurso ao u a .rece:>o, eu ad:t.ro a e~se
assún di~I mesmo tempo prC3ença e sabe:-. A obra perfcrmat:zada é Lais de ~fane de France: uma ia1er,eaçào a cada oitenta ,,ersos. Con-
ogo, mesno se no :nais das ,,ezes um . . art· . tos de origem oriental con:to os dos Se!e Sábios, declamações edifican-
" aJ . .. uruco p LCJJ)ante tem
d. P avra: diálogo s:m dominante nem dommado livre troca Allt' tes, todos os gêneros não cantados têm igualmente que ,,·er com isso.
j}Cn!e, Cha}1or viu na teoria medieval dos •·es:til~" (generr:r. dice~~:) Fiz uma série de pesquisas, em seções '5colhidas de mo~o aleatóno, nu-
~ c~~dlo d_e estabelecer e m6llter (em regime de oralidade segunda) as ma dezena de tex.tos franceses, occitãmcos., espanhóis e alemães: cio Saim
• ~:ru re açoes entre poeta t-t0 "bli , Lése, do s:éculn x ao Fauvef do século xrv, passando :por alguns fa-
· ' - e pu co. Desde que exceda alguns
mstarites, a comunicação O 1 - d bliaux, pelos ramos r, II e I \ ' do Renart, pela Chanson de la Croisade
. . . ra nao po e ser moc1.ólogo pu:o: ela requer
~peno~ente urn interlocuto~. mesmo se redu~do a um pape] silen- des A/bigeois, pelo Cid e pelo Herzog Ernst - acrescentando, a título
cioso. _Ei~ ~or que o verbo poético exige o •::alor do com.ato· e os dor1, de comparação, um levantam~nto de todas as lt1tervenções que balizam
de sxiab1hdade, a afetivifade cue ....~,l-a, o 1~•-r
.se es-fJ"'.lU d í, . o Tiisran de Thomas e o Poema de Ferri.ân Gonzâlez. Reoolhi 152 inter•
d • · .u..,, o e azer nr ou
e_ emoc10.car ~ até um certo pitoresco pe:$.S-0aJ foram parre de uma arre venções dialógicas, [gualmeme distribuídas ,mre os LeXtos-:estemunhas;
e 1Lrrr.aram maJ.S de uma repu:ação - não • . - 41 nós (com ou sem eu), referindo-se conju::.uroente ao intér-
homens d . . . :saoe:ssasas ,,utudes que tan~ prete e a !leu auditório;
a Ig_reJa dt:nunc1a.ra..,1 como vicio de hist:iôcs't :\las cambtm
porque o ouvinte-espectador , de aJgum rnod da • - _9 interpelações du tipo Senho~.' ou gente bo,1;
~ntememe R. W. Hannin "'• . - . o, co-autor obra: re- - 28 direcionamentos a ~ós;
; afirma"ª •s~o. com ruão,, a propósito tan:o - 2 fórmulas do tipo s1lblc:io!;
dos .romances franccses do s'" ,
~-u,o XIJ quanto doe: poemas de Chauc-~r. - 16 fórmulas do úpo ouvt'
1 223

!
Em Thomas, algumas des as in ICl"''C'J19Õ~ consti1urni um comentá- Na mamna das vez.~. a. inren·cr.ção i:1.:-tlrn a-~c ~ulnc i;m v:rbo que
rio do própno texlo pelo autor: u maii lllnga.s atingem cinquenta e 72 denota a audição, uwire, ouir, escc,u1er, hõren. de pl"l'fo!nc:a no imptra-
versos; destacam-se passagens semel:iar.1es cm Vvolftam von Eschen- tivo, às YeZes no condicional. Conhece-~e o suce,w em fnmcb da ?rimci-
bach.3 Tal conslância na prática de ·a..s intm·en~ões não pode ser d~s- ra dessas :ormulas, o Oya..' dos arautos e anuncia.dore;, já bem in:egrada
provida de signi ficac;ão. M. Scliolz -::o:iferiu um lugar central ao proble- aos cos:umes quando, no iCCUlo x11, o~ romancistas apropriam-se de-
ma que elas lhe trazem. Procurando, po:- principio, provar seu caráter la, (Xlfll a.lBwna r,rcferênc1a, é verdade. por escr:JrJler e ente:1dre (cm ak-
fictício, eles.e cei~a levar pelas á ~ de •m.a interpretação rn odernizan- mão, r,;ememen o~r.ie,,ke/11, mtnos u.ruvocame:i:e corporais coque 01úr
te que não faz: us~ça ao contexto hlstôn:::o. É verdade, como ele sugere, ou .'tóre11 . Por vezes, e, futuro substitu.i o mi;,erativo: Encere orres car.-
que eu design, um narrador intrate:x.w e constitui um dos "papéis" chor~.. ("Ireis ouvir ainda uma can;ão..."), assegura o cantor da Che-
do relato; tamoém é verê.ade que a llll.Íca qus:stão pertinente,. ness.e niveJ, m
vale.rie Ogiu, entoanc:.o no ·,. ll 158 do poema sug estrofe contra cs
é: "Quem narra?". Mas a questão da \iOcalidade coloca-se em outro ni- jograis inco::npetentes Menos for.eme:::ue demllt'ado, esse fl..lll..;ro na se-
vel, eXJgindo que se quebre o círculo :a im:ateirtualidade. 4 O relaciona- gunda p!:SSOa serve- eo alternância :!~m je d1rai OL conler.ii, refe:en-
mento simátic:> de um eu e de um i·ó.r t_cc;:no se este por ,..ezes não se res ao locutor - pua const= :uir as fórmula: ammciatórias que su.r,gem
manifesta le.1cicalmente) tra.nsiere o co:tJumo do discurso para o registro no fio da narra:ha; JiJu.>· emendr..":: bie." llét pnrle,..dP_ ("Lo1,1:o ouv·reis.
das trocas interpessoais. Além disso.. o que se sa.oe dm modos de comu- falar de. ."'). Os e.<en:;,los desse proçcc:imer.to são ãundanles, em to-
nicação predominantes ::,a .sociedade o::eé.ie-.·al não permite tomar como das as línguas e nos genaos narrativos mais compl:icos, a e o c;écuJo
puramente retórico esse efeito. Certam.-:nte., uma frase como a que sur- XIV: ainda em Go,,ver ou Boccaccio. Um i;,ous ave.. c,ui JX)de fazer-lhe

giu nos vv. 14-5 de Guigemar ("eu :r!io gue eles ficaram ai um mês intei- par, condui ndo nm e:ç:lsóc!io Um vocativo, inri.mando um aLCtitó:-io, re-
ro", nota o autor com a maior natura.Jidade'.), ou outra semelhante - for~ em geral a interpelação - mot:,c oonven-ente à intenção do te:<1o
citaríamos centenas debs -, integra-.;e oo sistema do tex~o e pode ser e às circunstãnc:as: Herkr1erll 1U me, gode merr,/ wiucs, moJlinrzs ar.d
analis.ada como tal; não deixa de re:e:,r-!-e a uma situação que permane- afie men t•· facutai•me, genk de ben, mu.lhercs, mo.,,as e vós to-:los"),
ce irrec!utfrel apenas ac, texto que ela abarca. apóia e ull:aipas.sa. Para
e.xcla.rna, cm compos1ção cu.muJa.liYa, o re;;:,.ante do liavtloc-k.' Scholz
conclui seu estudo das lntenenções d'alogk~ afbnando que o "cu-
além ou aquem de um' papel", o refere:m ;,róprio des5e eu é aguj uma
vir.tc fictício'' IHôrerfi,'-:t,on) consti1ü um fatcr esset1C1al do funcio:u-
voz. Ta\.cz crr. ce:nos cas.os essa voz. seja ficticia , e a referência seja con-
me,to da ar~e li terár:a medieval! Nãc 'i ejo como lC\oar mais l::>ogc o ar-
"encional; ma, não se podena, sem ac&,--;.:,üismo, fazer re~cede; a pro-
gumento. Eis aq'JÍ o ponto em que um piparme o faz trem:::~ nas bu::i,.
posi!y,iio e adrnitu com &cr.olz que, se boi.:.,.-e por vezes coincidência entre
não t para re:onheoer, na própna negação, a onipresença da vo:.:'? A
o texlo e a sit.la~ão, foi por causa de um acaso que não nos :oncerne.
intervenção do autor não apenas s1ud-a no d1sc..,mo dms papeis disnrr•
A propósito disso, não pJ~~o de:xa: ó: rc-:n~tcr as ob~n·ações que J.
tos mas tambem :raz um ~ up lemento de 11 for:nação ;:xtratexrnal que )ó
Rychner publ cou anteriormente sobre e Renan. ImerpeJar o auditório faz sentido ern relação a uma práti:a. Quaisquer que sejam .li moda-
e uma das reg~as do jog:> da perto:mance.. 1'· . Van den BoogaarJ i11Le-rro- !i;;iadcs desta, qualquer que seja a d.istãnda (no es;iaço, no ten:po, na
gava-se, em 1982, sobre os moei vos qce in:peliram os .:opistas a re;:,rodu- memoria) da qual cons.de~cm~ cSSl prática. não .>f pode recus~-la pu-
z.ir essas rnter.·ençõe, ílLJStextos. que ;-:-~..;t:.:wa."'Jl, ele 1a~e1a a1uma inten- ra ; siraplcsme:1:e. De resto. -:1 rllpecD :ormular das intervc:ições :-.ãc
cão pedaEogi::.:a. uma vez que o manu"-Cri1::i de'-tinava-se a um ap-rendiz imi)-Orla ,oria:10: sua disc.;':Juíçào fornece er:sir.amentos não negl1g'!C.-
rec1tan:c. ac- qúal ,:.- emtna\am a,~ mo r.i..:imentJ, o luga: e d maraem1 oav'!'.'1~ rorquC' dizem respeito à f-Jn;,;ão d-aniátii:a CrosbJ ot scna,·a.
de ad\errir. em per formance, o puN·,.:.c,' P◊r •,ezes, tentr,u-i;e relacionar r,Jml ·,'ir.L(na dr ob~ fn ncesa, e in~lesas de>~ seculos :xi, x.1, e:, "\',
as diversas formulas de ime~enção díak>gica a um t6pLoo 1rad1c1ona: que a coloca;ão de faile$ 1n!.)/ ou fórmulas ~crnell'.ante~ ~an:ce m .t tcar
u :erra ,poesia lat' l-'Oliterior-...""~...... MJ u ul;>dt\'ISÔC) cortcspondmte~ a sucessivas performances ne::~~ária.~ à
Carmen audire t' 'Prestar a ter.ção. p:r,o. .'' " (" cu:ai meu canto. ·• •~ou• tra.nsrrussho de pOt'nMs lor1gos ' .. ~szdade fflili , de
tra~ do mc~mo _,ac:z '>;a melhor das h:pt,teses, essa sim1h1ude apr()xima com11'.t't">cs de r,c.-rfar.mm.c. como parece atestar o·,• li do G,r.:r de RtJJ!•
ll\'a tcstemuohima wodiçõe!'> comult<i de ;,crformance. r1/Jon, pt>i:ma de 1(1 mil deca ~,ila':>o;: S, l11 HlS (''IC 12 dire non f raunrr.

225
• Pt 9 • , -- ---- 1,--- --"'""l' ....._.Jt iu"" L',,,Jll■ UaJ a. I IIJ•
de mencionâ-ln em nota. 11 lndkios de tod:a es~ie multiplicam-~ à me-
JC ), ~ Em contr1part1da, no Couronnement u.,~;•, ·p t. c.omporta Jpe-
nas 2 , Y) "'-rso~. o cantor promete a sC'u~ OU\'inte5. nc, r..o do primeJro 1.lit..L.1 que se uar.çil na lc.:itura du~ l<"-AIO~

epi~ódio, v. 313, não retl-los até a noite - afurnaa;ão repettda em duas N o é de on•rm que os medie•,alistas scm.ram a necessidade <le um
m udo, prd1mInar ou 11mullânto, do público recc-pcor: entre o:. germa-
P3:5~~• nc,_rreio do relato (vv. 1377 e IJS3). r.aj Jr.ção de duas a ~
pnnCJpais, a 1oerração de Roma e a revol ta de Asce:i::i. Huo11 d~ B1:u- , L. Schróder e W. Fechter, Já nos ano~ 20 e 30; K. Hanck, por
dtaux ilustra de outra maneira amd a d1\'Cl'ruf.a.::le de sua! situações: , l par ,epoca. do n dosnmwlfl~•Am:::--
a m~io carnir:ho desse relato, nos vv. 4976--ÇJ, e carttor i:aterrompe-9e' b eh. E.ne nos mo-tracomo. a~~ cerca de 1100, o Ociden:e não conhe•
e dinge-se a seu público: Senhores, diz ele ba.;icarr..ec:l.e, escai.'5 ve-r.do cue eia nem cam.ad.a sociaJ nem me,o corusponcente a nossa idéia de "pu-
a 1 oite cai e quf' eu m~ can~o Vil · "'a: f.ã rr:ai.s ::::edo, e agora -.--a~os blico cu 1ivado" hfefümente. paqsada essa data, Auerbach prende-;e
beber. porque tenho sede e estou feliz de ~·er apro:c:rr:.ar-se a noice. Te- e-:clusivamentc à história da formação de tal publico. Em 1961, R. Le-
nho presia de voltar para casa; '.nas que ncr.h11m c!.c vós se e'5(flleca de jeune n1errogaw-~~ so,re os d~tmatários da farsa de Pathelin. Em 1965,
me trazer amanhã uma moedinha amarrada na par.o da camisa... A es- W. l. H Jackson lentou uma. primeira sintese.12 Os problemas relati-
trofe que segue :eata. o fio da história. Mas a úJLima iojllll.Çâ<J da □mtf! ''ºs .à rec~pçã:o dos: textos situam-se l"l'!plicitameme ou não. na visada
terá trazido fruros'? Nos -w. 5512-19, há uma m:errJp;.ão :irritada imi- de -;studos como. ern 1970, o de A. Balduinc sobre os ca,uan do século
mandc os ou..int.es a meter a mão na bolsa ''J,"0ra dar á cn.i.Tuba mullier'' xtv e o de P. Gal!ais sobre os romanc:stas franc:eses; em 1972, o de D.
~~ ~u:u, ":'~ginHe, faz a coleta). J. 1. Duggan :-efut J1J as jnte:r_preca;õe~ Foirion sobre as ,:ançôes de gesta. Dei:ois de aJgur.s anos sob a influên-
f1ccwnaJ.S • :le;ssa dupla passagem.9 c:a., sem dfrl'ick, da .Raeptionsiisthetik [estética da recepção] alemã, mul-
Acontece de o auditório, tonado à part:: em t~e.ira J)e5:.'ioa, 5er ci- tiplicaram-se as monografias: de A. Tuisier em 19n sobre o público das
tado como uma -..e.sremunha d.a situação de d:iàJer6c. A.,üm é 11os ..,..._ 30-J farsas francesu por volta de 1~00; de N. Yao d□ Boogai:IId em 1979
do 11-istaru de Eilhart: Syd mfr ze sagen gescliicf1il !.üíte~ die man hie e 1982 sobre o dos fabliaw:;n de H. Kraus, ern :980 sobre o da epo-
s~cht !:_'Pois ?ºe eu tenho a contar uma história. à5 :;:ie.ssoa.s que aqui ie- péia "'ranc:o-veneziana.; de B. Sctúrock -em 1982 sobre a recepção do Par-
veen: _1. Assun ~. engraça.damente, em cerco '"se.roão aJegre": ~·Hi.l deWolfram von Eschenbfch. Cito apenas alguns exemplos. O ter-
reno está só parcialmente desbra~•ado, e certo~ setores prometem resi$lir
Un wrriet avoit, fln galio.r.r
muito tempo aos desbravadores. Podemos lamentar que, no setor de do-
Comme seroit <.'\' borr propl:ere
cumentação mais abundante, a poesia da co:-te. oão tenhamos ainda para
que je lt'Oy si bien escoutarrL.
a Franca ou a Itáha o equh·alente do livro de J. Bumke sobre o •·mece-
(«Er~ uma vez ~ jovem, galante e cortês cor.:io em: bom profeta grJe ru.to" na Alemanha dos séculos Xli e xm. Uma obra imensa mas in-
eu veio escuta:- uo atentamente").10 Mesmos:: o profm em questão é forme, a de R. Be:u.ola (publicada., \IOlJmt- 11 \/olume, entre 1944 e 1963).
urra estátua de capitel da igreja, ele não deb:a de fazer ~arte do grupo carrega os elementos cisjontos de tal estudo: ~ lugar de constituí-lo
ao quaJ o texto ~e dirige. Fora desse ,rupo, o ~erf=Ao ew:tl-.ie: teno e num ;odo, ~-ak1riz.a implicitamente o laço indis~ociável q11e une, duran-
texto para agu::les que o esperam e, de certo modo, dele têm necessida- te o período eco cama (500-1200), a função 5ocial do poema â. de seus
de. ~ desig:ia.- a diferença que separa UDJ faf;i!rM".J de 1llJI, roma.u:e, destinatários.
e preciso recorrer a um vocabulário descrith,•o, uqesS1..."'Glizado. P.-ara O.!
ouvinte; dos séculos XIl e XIIt, es.s.a diferença rea:.ça:,a. 3 cm düvr-da, p.dn-
cipaJm~nte as modalidades da pe~formance,, e :;:ionan.tJJ o m,·estimer.to A ta:-efa que se impõe consistiria meiios em descrev~r, desde o ex-
afetivo operado na recepção. Por volta de 12.'l..O, o ,:x:u:i~íl.ador da ffü- cerior e de mar.ei'11 classificatória, o público de tal obra ou de tal gêne-
toire ancitnne irrita-se com uma cena. dific:ilc1er..tc to !fá'õd para ele, ro do que tentar aµreendê-lo em ação. no 5eio do fenômeno global que
do Rorr.an de Theoes, na qual se ve uma personagem.., d.espn::zando 0 C()nSt:tui a recepção_ Uma arte. tomando forma e vida social por meio
deooro, apresentar-se a cavalo diante da mesa do ;e~ es.5a im;,rc:ssão :im- da ,.-oz humana. ó tem eficácia caso se estabele;a uma rdacão bastante
pona d: algum modo à nossa leitura; o edito:- lfo Roman ce:m razão est.mta entre intérprete e auditório: ai está um dado fundamen:al. que

227
l
~ prende à.s ei.rrutura~ da linguagem humana. como Ui descreve a lag• O cu,inte-es~tadltr esprra, e.xigr que o que ele v! lhe ensine al~u mais
mêmica de l\-1. Pikc; G. 1-:aiser asst\ttaH1 isso rm outros termos. unin- e.o gue ,;imple!>mente o que ele "ê, l'C\·de-lhe uma parte escond1cl.a ées~
do a idéia de poesio. l'I c,l1,tênci1 de uma "cornunidede de comunica• t.ornem, dali pala,·ras, do mundo. Essa voz rião é mai~ a mera ,·oz qcc
çã,,". 1 ◄ Antigamente, Auerbacl1 comentava um curioso texto de PierTe pronunC'la· ela conígwa o inacessível; e cadi uma de suas infle;i[Õt'~ ce
de Blui11, no Libtr âec:onJes~1one, descrevendo em turnos de compcsr;:io sua,; va.-i.açõcs de 1onalidaae. de timbre, de a.tur.:. - seria precho forJar
("simpatia") o efeito :motivo produzido no auditório pelo discurso do a pa:a,.ra !)Cdante ~·ocema? - combina•se e encadeia-se como ema pro-
irlltrpret.c e: ,m iscandc uma compara~o entre a audição de narri:ivas sopc-pth do vivido. Atravts dessa presença, o ouvinte descobre-se: age
evangélicas e a de av:::i.ruras arturianas: 15 uma e outra implicam ccm&- e reage ilO âmago de um mundo de imagem, rubitamente autônoma;;,
nhão no sentimento e, de certa 1ruuieira. na fê. 1rê5 quartos de ~ o q'1e çe d.iri3 e:n todas a ele. Roncompagno da Sígna, na Rhetorica nond-
majs carde, no fim ao '1-'aSto e sombrio conJum.o romanesco do Jünguer /2, mostra com adniração que para e jocu/,ator tudo é linguagem, da
T1turel (.J)or volta de 1Z7U), o auto:, Albrechl von Scllarfenberg, :iirigc f mdodia do canto a seu modo de falar, a seus gcslM ~ at~ a sua vcstin1en-
ao ceu uma prece que o une a sec 11:L~rprete e a seu publico na bus::a ca e aos objetos de que se faz cercar. Tudo te:n s::-:itido. Donde a impor•
de uma bênção comum. 16 Vince:nt de Beauva.is, :umero dominicano tãncia, pa-a os escr,ba.s, da5, notações ;ontresta.ntes qual eles antepõern,
conserrc1.dor. deixa escapar no Specu/um hLStonaJe, XXIX, 108. uon sur- por w:ze,, aos textos copiados, designando e~ ou aquele como chanson
preendeme confidência. C\Ocando o prazer que um dia ele sentiu com e outro ('O:no d/r, em e5panhul cunción e decir_ Donde, do mesmo modo
a leitura pública dos J'ers de la mort de Hélinant de Froimont. A rela- talvez, v.àr:os dos apelidos ligados aos "iograis., celebres: o francês Simple
ção que liga lOdos os part.1apantes da obra não é n..:r:1 metafónci r.em d'olnO'.l'", o austríaco Vreudenrich ("Rico de alegria"); o Schanden')ende
virrnal. Ela é, em Looas as ocas:ões, real e lileral; pode conduzir a.té- a L ("lrimigo do medo'') em Hamburgo, 1378; o r.vge!sang ("Canto de pás-
uma transferência de papéis· Scholi le-nb:-ava a existência, na ,t\lema- saro'') cm ~éirdJingen. 14í2 ... 11 O apelido torna púulko o papel, e :ste
nh.i dos 3/'('11lm xin e Xl\, de :.1m l·J~ar-co:num introdutório qu! l·~ti- desdobra o espaço de que vai apossar-se, renovado a cada vez, \Jll cor-
mu)a,•a a "ler ou cantar" o re.,;to propo-lo: IJill Daniel iídiche do século po ln felizmente, temos poucas descrições que c"'oquern alguma per :01-
,v contém, esLrofe 8 11ma alu~o ainda mais clar2.: Aquele que sak marcc cm pamcular; o bastante, porém, para dri.ur e:itrever, em pe:-s-
c.inta1 que came. Fntcnda-se bem que os outro, o leiam em voz alra, pectiv.i geral, o que de\·e ter sido a ex:.stência corrc:eta dessa pvc!sia. O
,, que é confirmado ;>::.ir uma pa~S,igem ult!"Ticr. 7 Aqui, o auditóric nã,J mat.:rial, muito disperso, exige mais um agruprr.ento do que una sJnte-
apena~ é prorr.ov1do a inth,rete mas, rela escolha c;ue lhe é de:.xada, se; menos uma teorização do que um acúmdo ce obse::-vações prec:- ,as,
:Jd 1tidpa p,lcnami:nle d.:i. cnaç-ãc eh obra. O inlérpretc - enquantn pre- reh.:ivas a uma infinidade de situações pan:culam. E assim que, entre
~nche •eu papel e enq:ia-.lo sua presença ~ faicamente percebida - sfg- os 289 documentos (do século rx ao fim do sé:·JI,;, xm) reumdm por fa-
'1/flcü. ral n,) apendice de ,eu Jorrgleurs, eu destacc-
Sigmfica da mesna n:aneira e n1 mcsn:a medida radical que ates- - 4.!. que fornecem alguma info,nação sobre o tempo, e lugar e
tcrmrnha ocular, porcr,:e :ambt:111 L'<.ul.t, narrar.do una h1stona: o cn. :i oc;;.s1]0 da performance;
z.ado que retorna falantlo dos sarra.ccno:s e d1; seu~ deuses; mas tatnbén - 43 (jà men:ionados) sobre a qualidade da 'li02 do 1merpretc;
de autondades, a ""(lSSD> olhos fie ic1~, lt:~1;1 1u11h.:1c!as pelos cona:du- qua,enta sobre o acompanhamento i11suu.mental:
res - o p,euc:0-"fürp,:1 qi,;e estev:.- pr~eme em Ronc~s,ales ou o p5t:'J• - 21 sobre o auditó,10:
d:::--Dares qm ·,iu a tom.;da de Troia e em cu}a ,·e:-ac1clade ~e fumlamcr:ta - 2Z ,obre a gestualidade ou o acompanhamento coreopáfüo:
fü::ioir de Sair,1e-More~ .o\ ara:icão corporal Jo imérp:-ete, do narr:dor, - e de1e,sete :.obre a vestimenta e os a-.essonos do m1eq::rete.
c0r1st1tu1 um gc•ro mau~Liral que t:.>a a~ .:ourdenail;1S 1.H' seu J1s~-u•50, ::-.e total, 114 .. c;s.)c:> :atos oJJ seja, .!()ti;r,, lançam alguma luz (g~a·-
se!lund~ 3.!I guah ~·10 ar.icular-,e paru..:ipar.tL-S, tempos e lugares t.artt• m~n:e r·ugaz) sobre um dos aspectos d" ação que nos unporta aqui . .:--:um
de ~u relato,~ há u::n, quanto Je .-;ua per íonnancc. Outro espa o se abre, seloJ mmto mais limitado, o eswt.lo de; P. Gallai~ destaca que :.!25 das
despcrJi uma~ dewnscimcia· (_1 •1'1Q1 ;ut immos em ~ia ou 370 obras C'XaDlrnadas (60~) contêm as pro,-as internas e explícíta.S do
ern verda:le. Foi ncs;c ~enti:lo que e "grande canto cone " pôde se·&· falo de que eles toram truismltidos por 1enurca, cm ,c,z: afta, a:1nff' de
~in11lado a um rit·Ja.l de corte, corno llntrnormcn,e o 1ez E. Kleinschm1d1. a1.d.itórios de densidade muito di\/ersa. Numa pen?~iva diferente (e n.11-

219
to c:,treica, porque se f:.:l,ci.a ::,n c.~am~ J 1 •,..:r-.ificaçâo cm ft .mcês e cm
occit!nico), W. P'allcn pro:µur.lrn ~- ••.• i:..1 e JOUl ti;xilogi dos "mo• Ja d1an da<lt da funçlt, que de pm:nchc e dü \'a.lor daquilo que ek conta;
dos de pe·formance" 1ç .Jmtn@ ~i,1 três que coru1<ler11va ,15 forma~ Jnil· entre os o.i~ ntcs, ~entado~ ou não, con1,·ersadores, fadlm"nte impaden-
1 • aqueles que à pnme r::i unpres~ão de aborrecimento saem da ,ala
mfestas tomadas pela Uogua "1J ar no mommco em que, na grande on- \ com b r\llho; o mesmo quadro. munido de julgamento; vigoro,os, e'1á
da cultural posterior a IJOO elu gerou um d:scurso poético. Concepç:io
gerativa segu.1UI1en1.e ju roa um nh de tra o ,e-levado demru • m d \..lantkme de Ph1lirpe de Be.a1.1mano.r, por ~olta :!e
1 0.23 Em duas ~,_4~..n , o longo i;rólogo de Doon dt an1eu1f, ,-v.
por{lue termina por 1den:tficnr ru · 'modos de performance'' com o~• 'gê-
1-18, depois 3-lli, C'\OCa por ~uenos toques suce~!\'OS. de modo M-
neros'' tradicionalm~·c ra:or.heridos: cpo~a, poesia línc.1 e roman•
d'ente, ~ua p·ópna accução. Um cantor de gesta, basté.nre esfa·rai:aco,
ce.. o que não no.e;; faz a,,.an~r
trattndo sua vicia, atravessa uma mwtidAo em que ~e dis•inguem bur-
!Remontam a mcad~ ioJ se:-Jlo IX rnuius das raru descrições. i;.-om-
gJ::se•, clêrigos, cavaleiros - ao ar J;vre aparentemente, uma ve1 que
pletas ou virtualmente -:otaEzanres, que nos cheg,a·.am de performances
ele conserv<1 seu mantel. Ei-lo que se detém e começa. Es,uta.-se sua. pri-
poéticas. Sua da::a não nos permi(e qualificá-las de arcaísmo: mais de
meira estrofe: se a impres5ão é boa, pede-se a seqüência; .~eoão, ao pot:re-
um traço. pode-se supor, oa..,c-:-,ê-se po~ imrito tempo nos costume;;.
d1abo só resta tomar a estrada. Seu i:oco capital é o repertório agraéá-
Trata-se, em geral, de cor:deoaç::es c:e:icais, CUJOS aucores, fJ.Lminando vel (que ta!,e-z ele 1enha rnrrupiado, em parte, de um :c.tga mau; bem
estas mLmélanalidades, .saco a :a..;a tle :.eu~ menores ~:ig:nos cxterio,res. pro'iido) e \lIDa voz c'.ara para di.·ulgá-lo. Aficionac.o~, 5e de agxadcu,
Tais coleras sagradas ~al.:m-oru :irna 5éne de pe:ttJ.-enas pinturas que e-.o- louvam-lhe il sabedoria eo taJemo, comparam-no a out::-J~ cancores, vi-
.;;am cançóes de amor, êe elogio ou. de deploraç~,o ecr.. lJ.n...irua vu .gar, a\;u:1 -
vos ou mor:os, e, para concluir, fazem o ?O(litório em suz in:ençãc.2•
pan.ha<las de danças ou de :-oàl.s executadas por ooros de muJheres, com Um e-snxlo :ecente de Anne Triaud esbo;a,·a, a propósito do Girarl de
ou sem respo;ca do audi:óna, no comingo ou ::ios tenados, nas praças, R.ouss,Jlon, uma tipologiil do prólog◊ de canções de gesta. Vocabulário
nas enc.rn:zll hadas dos -~rr::intw s, às ,<e2es oas :estdê::1.cias... lt' Thegan, e temitica desse- trecho enJtado só comam senti.do na pe:sp~ctiva de U..'03
padre de 1'rier, autor, ma:J a.:J mci~ em 840, ,:Le uma Vida de Luís, o performance, no espaço reaJ do jogo em que se- desenrola o dis:u-so:
Piedoso. descreveu a iné::i:er!'.llça d: gue dava prova esse des,•oto impera- um aptlo ao público introduz o elogio da canção e do intérprete e o
dor ("ele não descerra:,a :,s lábios ..) quando, n~ ba11.quetes je grandes descrédito dos co::ico:rertes, enquanto são proclamadas a autenticida-
solenidades, um.a trupe dem.i-no,, jog,-ai~. cont!.~ores de histórias e mú- de e ve:-acidade do relato. No Girart, as três estrofes co.osayadas a es-
sicos apro:ximava-se de sua rnesapa.--a tentar fazê-lo ru. em meio às gar- ~ desenvolvimentos são representativas: os elementos encontram-se :ia
galhadas da e1ultidão.. ii Por reais embaralhãd.:a que seja, e embora,~ rna:ior psirte das canç5es do século xn e do começo do século xm. De-
trate mais de catálogo d.o que d:- lf.eicrição, a cena das núpc.as de Fla- pois de 1250 ainda, e;sa~ "enrolações" não desapareceram totalmente
menca, co romance d! n:-:sn::c r..omc. cm rnc-ados do ..~ o KIII, C\'OC!l dos textos recolhidos nos manuscritos cíclicos da Oe.s1a de Guil!aume
um aJrnroço semelhante o:- a. r.Jflr.:ia explosão de-verbos e de gestos: um - as razões "estiltsticas" não bastariam pa.."3 Justificar tal permanê::i~a.
diz., o outro canta, um ooota, (1 outro modula.. se um se aco01panba Je Dir-1c-ia que se trata de uma s-bie de clich.ê.s: nm tema literário,
um instrumento, o ouc:o cio - cedos pelo prc,.2e:r auditirn da nobre reu- sem valor descritivo. Quem sabe? Pode-se admitir Q\:e, na5 civilizações
nião, empurrando-se em i:ire::ào a quem se fizer melhor ouvir. Um sécu- de duradouras e fortes tradições~ a <fu:ãncia enue tema literário e e'j(r-e-
lo e meio mais tarde, Froissart, r..o Dit dou jlorin, C'\'ocará a atmosfera ci~ncia "ivica é (a não se; que o primriro não remar.e::: a uma alta anti-
agradá'r-e-l e quente das oonz.:f.a3 êo castelo de Or...ex, o:i.de. à ;:,roporçAo güidad:) rnmos considenb·c! que nossas culturas da moda O t~xto dos
de sett folhas por sessão, li.a ao COllde de Foix sru Méliador e iruerrompia- séculos xu t XIII pro-põe (na falta de un:.a vis.ão fotog:áfica dos fa·os)
se para beber numa taça ,:!e oi.:ro o resto de 'rinbo de s.eu anfitrião. no aquilo que ~u denamlnaria uma ordem de imagem, tal como se diz \lma
momento em que este ia d...'13.J'-se: agr&{lável tral:-af.ho. imalmente re1,1u- •·()rei.em de p-andeza". Certamente. o JlOUCO que assiro) apree:idemos nos
nerado com oitenta flor..ns!:u remete a t11 gênero, enquanto o obJet:> final de nossc esruco é um tat-
Os trinta prio:1ci:os •,-er.soe da Tris-umt dl!' Eill:.art evocam com vi,ia- to. Ptlo menos a interpretai,"ão da obra de que ~te fez parte encontra-se
cidaJe o auditório diante do ,q~ ~ apresenta o inté:-prece e suas reações crient.ada pua certo setor do imaginuio. anedoUI. releri:ia (e taJvez

230

L
narrativamente fantashta) nlo pode olutamente componar os efei- magnificas pintmas de pagina inteira que ilustram o :ancioneiro de Hei-
tos do real capaies de lançar a ope1.açlt1 de im:rgi11c'40 crft1ca - ope- delberc, ou Codtx .\famn:.e, um.a da$ principais a::itolo;ili de M,nne-
ração (lU«; por ~ua vez., vai «ind.icion.ar o rrabllho filológico. Este vai sirnger, '.llIIB comparação com os :!5 recratos do cancioneiro de '\\'tin-
mteg;ar o resultado, ainda que seja apenas como fatcr de indecisão, is- gan::n pcrnllte-lhe conm-uír ~uii íUlálisc. rr Dai rc~ult.a a probabilidade
to é (do ponto de vhta de uma obra sui>mcrsa n~se pa!-sarlo profur,do), de que .. árias d.-ssas i-nagem estilizem urna ::ena de pe-rformance, mas
co:no fator de liberdade, É assm q:i,e se podem jt:stifüar 1se as cerca- red!JZl.:-ido-a a seus elementos esscn:üis: 1-c:a1p1e o inttrprctc; geralmen-
mm d~ ha\ta.nte prudência) comparações comeª> ciue nos propuseram te o destinatári::, da ca:içào, senho;- :·euda1, dama, por vezes um casal;
d \'erso~ mcdievalis1as Japoneses, corno H. Tuo:ashita, entre o moeo de em muitas p~~agens a proximidade e ocalO! da presenças.ão figurm.Jus
declamação do haicai ainda cm 11.-::,...,0, dias e o do Rolarut, ou Opbnd, por uma ~na de conver;;ação en:re as personagens, s.entadas lado a la-
cr.m: a a:tc do!> skops az:glo-s.a.'tôn!:os e a do. cu:tore~ bantes, ou a do oi;. em pé cara a ~"1l; o iif;>:cta dramatico. por uma alegona - a
que eu próp•io gostann de e.;tabelooer entre o que de-;e ~er ,ido a inter- pequena deu5a, archote e dardo ,a mãe, sobre o brdSàO de Llrich voo
pretação dosfabliaux e o qm é o rakugo do JaJ:àC. As mesmas conside-- Licht::n.1cin - ; a co·oa de flores de que vai ser ornado Kraft von Tog•
raçÕá kgairnam c:rtas conjetura.;, r.::oastitum-:to, .1 lH d~ diversas pro genbur1:. f .xcepcmnàmeme - por exemplo, a pro7ó~lo de Frauenlob
babihdacJc~. a.~ :::ondições vhidas da comunicaçào de un t.e.icto: quando -, a ação é representada em se"J de,enro:ar o cantor, sobre um Nra-
u.uc:1 míu1 ma<,.1u 11.uitu ampla e um j,dga."llcnto muito r.◊tivado as man- do, d3m1na sete inc•rumentislas, que de parece dirig;ir com sua batuta,
tém e las nos aproxímam mais da realidade de ur.i objeto de que não enquanto a mão dire:ta aponta um retrato d~ mulher para o qual se vol-
Se poder a Jantais fazer uma anal:se !Xclusivameme "ll1erária". C: tarei tam os cha~es de tre~ ei;pec:adorc>s rica.mente vcs-Jdos. Gottfried vo:i
como exemplo a evocacão feita por A. Pulega ja performance da can- Strassb'J.rg, ele próprio, apan:ce senlado em meio a cinco ouvinte) que
ção EI so que pus m 'agensa do cro"a:o~ Ra1mba r de Vaqueyras: 2~ o mé..,if~ta111 oom o braço &eu :ntéf~S$e t_::iu e-s•ào m.irca~do a cadência?),
1ex-o, acompanhado de :-abc;:a, ca"ltado por um ou m1,:icos jograis, te- encu:1.mo o poeta segura com a mão direita tab·Jinh:ts (que ele não olha)
ria sido dancado ;>elm próprios ser.l'.o,e~ que a· são su:essi·,ament~ no- e com a esquc:n.lct marca o compasso. Reinmar. o Velho. lê um Vfllumen
meados e por mimos que o~ imita.,,.a:n. Outro e,:enplo e a descrição por de.enrolado por una dama q:ie está sentada ao lado dek e que parece
N. Van t.lcn Boogaard das performan:es de Renart lt N()uve/ entre 1288 marcar o com:;:iass-::> com uma da:, não,. Apesar do pouco de precisão
e 1292: um declamador pronunciava e t~to. imerrompendo-se de tem- mformafü·a, essas pinmras, aliás dmiráv:is, te;temunham a diver,idade
po; em tempos par.i deixar a paJa'rTa a. :amores dos ;fois sews ou e. ato- de situações J:-ossh•eis nu pe:fcrmance <lc lilll•~ mesma a1tc.
res disfarç.idos de anirrum, de moá.o que o roma:nce de Jacquemart Gieloe
tmha a funçiio de um libreto, nessa :-::presenta;;ão prolongada por vá-
rias sessô~!f ..\ po;:iósito Jisso. a~ mformaçõe~ nais pr:cios.as que poderlamos
Se por vcz.cs da~ parecem co□firmar o testemu.::iho dos textos., as cc lh=r nos le~os são aci uela.~ po:- onde se •evela um cletalhc, por ve.-.es
re;,re;;entações. rig'Jradas são. no e,ranro, dt' pnu~a 1. rilidade, e a parte mfir::o. mas que ate,ta o engajarr cr.to. na obra, :a:-.to tio coTpo àos par-
das co11ver1ções estilímcas fica ái fi::il de delim.car. C:. le Vot ass1r.ala a ticipantes qua.mo da ccnvcn,;:ã.o s::,...1al q·Jc os une 11c,sa ocasião: o ,or-
ar..bigliitlade d~ uma mniarura b:e-rpw..a:Ja pcr ccr~o~ :nusicólogos. co- riso de uma cama a quem agracia um vclte1e> de es1ilo de uma :::ançào
rr.o a figuração de uma perfcrmance de ama Espi'nolafarsesca, err con- de Ulr:ch ,;on Lichtermein Do mcs:no moac, em muita.- cançix, de ges-
~equ~n~ , de uma ajlrox ma;ão t-emenina com dei, texios do seculo x ta, ,'ldas de ,;antes. ,'al)Jurn.r. LtlUC'- e~ apelos ao p1·1~lico, pedindo-lhe
qJe pr~;crt>viam em Paris e So1sson~ r, n :imero .:k·cum:ires dessas iarsas que avance um pas,o, pa~c um 1::1s1a11c::: nada de5if;na a mu1t1dao, ma~
h~u1gí:as ~ a natun.·l.il de: ~ua .. c:~airnm~. D1vc:-~s xilogrnuras d::is ê- perc.ebcmos sua presi>nça, ímó·,'CI, he~iurnt~· ou. ain<la, caminhando p~-
culos X\, :01 e xvu, ma: raramente obras pi u postcnom 14:SO, lm rua •11 Certas tétnkai me.oo:rel e truqi.1cs de oficio uão ~ão menos
foram ~proradas por hu;toru11dom do teatro t'Omo ff. Rq,- 011 bu J rr . o de1~rmt.lla3,õesttl'iadau. ·mw a.duração
da cultura popular como P. Burke e d o ai uma dtt de performances de long.'15 recitações· cn francês. as conitirllld.ts :om a aJuda do verbo
1ard1a~. 1oneme11te diamatizadas.. Me.5.., para 2. época antiga, os uo,cu- commencer ("eu co111e--;are1' 1, "a::iui corr,~c,.>a" e oulrJ~ )Clllelhaat~). :.tue
memos são aind mai~ raros O. SB!(C dedicou-se a um c,;ame oe 137 si:n·er:i para fechar o prólogo ou para 11:troduur um no•,o ep1:,óc.Jio e

·1:1
1JJ
çõc:s dt gesta, e~<,3,; fórmula~ en:<'\ntram-se em um terço do; romance, cantor? Por veze-.. qualquer nurr;:,. ~ : te.ração que c:;ca;,:i de1 texto csi.: J·
csnuuçaco~ por ,~. ua. .i , O Cra' ullh1a J., mesma rorma tome:.a, e re~-e as c1:-cuns1fmc\ ~ . .l.incin que'. poa1.u O v\ 31·2 dil ve'hn CJwnso,..
acabar. Em ~árJO!> 1:-cchos, o padre Konrac r«ona seu Rolams.'•et i:do de Samre f"cw coiwidaram ltaric a su;,or q 11e e-, a obra c.x &1a l' 5almo-
vcrso-ref·ão .1111 ~ortn •,.;,r dtu b••oc,Ji sagen ("ouvimos a ora o Ih ro <li-
... d1ar de mu11os cantwes. A co,aboraçãf:\ 0(: J c. ~ ou vári~ pam:1105 pa·
ier. ") ou , u3, -.a:-iante.. Varios estudiosos tnter:prctaram como um W..:1Çt1 recc cgurai.ia em <c-rtcl casos, ccmo aquele a.o c;ual faz 1alveL alu~ão
de pcriormaIKe o mistmoso AOf que pomua certas cs of~ do Rolrnd ocq111 ow,. t"' 1 : it ~ '?:ti ""e/. n ('
no manu,cnto de O:icford - tendo visto 11/ 011 11r11a indicação rnel6dica, dtt pal:t'lra e o outro n música", ou: "e o 01icro b acompanha rio
como G. Recse, J. Chailley e outros, ou, cu'."io nmcnte, como E P ace instrumento") Emrr os gcrmamstu que ~e qLl::,tionaram ,obre as nar-
ou D. Bnn~. um sinal qu,e indica a.s panes a SJprimu darante urra :"1er- rativas ri'mane..,;cas em ~trofrs de vers;>,; curt:i~ (o equivalente do oc-
formaJ1cc tr~e. ~1 iguaJrr ~n:t, as fórmulas e.e~ prece, i nvocaçilo da. de- tossilabo narrativo lranc:,), S. G,uenbrunn,r, mi h56, descobria no
rnêru.ia di v JI.d, .uu fün de tc::x:·ol nacrativos, aliás sem carâter deo.·oto: é Par..ival de \.\'olfram von E•chc:nl:ach e no !wén de Hanman:1 von A1.1e
assim no C1t1, 110 l\,fQniage Gulili!Ume ou n:i Doon de ,A,.faience, na.5 ob-a• os indicio~ de u:na pcrformaoce com papéis diver~ificados, hr;,l:icaodo
de tema ·eJigimo, a fórmula co:nida a recitar um Pater ou uma. ,1~c uma plur?.hlul<" de leito""t:s-recitanw três. no J~•eu,. :i!!,urando um i:i!au-
a diier Ame11, todos juntos, ou a cantar e Te Deum. Por vezes, trata-se to, o poeta e un animadx. fJ-al, poc ma "ez, a pa~:ir de 192.2, a pco-
de uma bufoneria, pertencer.te ao arsenal ·:irtncathão dos jograis: u '"•a- pósito do Couuois a:..tr-ra.!. ad.m.i:ia in"'er~rimeme que um .ogral, por
mos beber!" pelo qt.al :erminam muitos te-:tos O\i partes de catos. Hz.io>t seus jogos vocais, pod.a encar.ia.r ,árias personagens e. assim, d.ialo~ar
de Bordeaux cona o relato pelo meio: con$Ígopr~prio. G. Cohen retomava ~ssa idé-.a, ~ propósitn ru1;; "come-
dias latinas" do século '<fl: só o e:itismo t'streilO e a aoto-suficiência
Vous ~t1t11is d~mai11 apr~ dtS'I.B
da5 dramatu:gias clá:1~,ciu apagaram, com deipr~ da mem6ri~ le1-a-
et s 'a•on.: f:>otre. car je I a1 aes1Té
da e. até reccntemer.:e., de nossa cons;;iência cultural, a própria idêia d~
("Voltem a::i.anhã à noite !.para ou-.ir a sequâlaa) e vamos beber, por- urna ar1e ~~iw.
que !U estou com bastante vontade"). 30 Tombem há buíor.eria, mu; po::- Outra questão: qua.. foi o modo de perfonnance dos nJ.:Derosí<.si-
vezes de dar dó, no pec;;do de dinheiro: do autor do ChPvalie.r ® cygne, mos texios narrativos ou di<iá1lcos, em vc:r1!ll uu ew prosa, nos quais
de Rut~beuf implorando ao "fran;;o rei ca Frar.ça", e de tanto ou:ros., se inscrtm peças Hrcas, segllndo a moda que du:-ou dois séculos a par-
tema explci:o ou dissimulado que vai subsistir oa tradição poética at~ tir de 1200? O exemplo do Auca.ssr,11 le\-ariaa pensar que a peça inter;;a-
o ~lo "<Vm ... ~odo de falar? D11Zent~ v::sos antes do fim da can- lada, canção, rondó, lai, inteira ou fragnentada, constituiria um ~m.reato
ção de Gui rie Boiirgogne, o cantor interrompe-se pa.'"a declarai: cantado (tah•ez aoom?a.::ma.do de um instrumento) da recitação ou da
leitura. Certas ob~ francesas do período l 2~0..1350, tais como 1hs!an
Qul or ·,o/dra r,}ignçon oir et escov.cer
cm pro~ (guuneàdo de 26 fragmentos que totaJiz.am perto de 1200ver-
si ,oist '6'flelement .sa bourse defferme,
qu 'i/ tjl huimts bie11 ll!mps qu ·i,r mt doíe dorrer.
sos) e sobretudo a Fauve!, joge.m s1stemat:camenre com esse duplc re-
gistro. Farwel, romance a.legórfoo e violenrB!Ilente satlrico terminado em
("Que aquele que quer ::>uvir bem minha canção apresse-se em a3rir sta 1314 por Ge.'"Vais àr Bus, foi reedi:c.do dois anos mah tarde pelo mú,ico
bo~ :;,orque é hora de me pagar"') - passagm:i qu:, nesse por.to do Chaillou de ~taing, que o inte:-calou com cerca de 150 trechos liricos,
poema seria absurda foro da ;ie:formance:.ll ~ francl.;. nu em lati:n. alguns c.:>ntmdo com \ÍO~c, tr.nra , até cin-
Certos escribas, per meio de rubricas, sugerem de que modo o tex- qüe'Jlta versos, que: constituem u.:na espécie de antologia ~ca anti-
Lo que elC3 copiam dC"te ou pode ser ~ d o . As.,im, o maDuscrirn confoncista Um dos doze manuscri:os que pm!>uírnos fornece 130 no-
único (e mcd.iocre, do Auca.,;sin e1 Nicoietre divide rcgula,ner.te. per tações mu.s.icai.s, cuja ;,~csenca .evanu toda e:s~e de dúV1da sobre o
um antrer.r ("'agora~ tliz") e um or se cante ( ..agora se cu.tn"), as panes modo de performancc. 12 Froiss:a..'1 aíndci, no fim do século ;qv, guar-
de prosa e de "\"eno, estas ultimas, de resto, sob:-epos.tas por uma nota- nectu sec ltféiiador com i9 rond5s, 11ire/als e b11adas outrora compos-
ção musical. A situação de ptrfon:iancc ~ ai r.ie110s clara e.lo ~ue par:cc. tas pelo duque Vcr,ocs1au de La.xembur10, eu amigo e protetor; isso~

234 ]JJ
pede repre~::ntar a Jlllençào de faze:- o 111erp•c1c canta-los ou, pelo me• a~entua o l!SO do, meios trracional, de pcr~:.111s:io, t uJo o qui: :nqweta,
nr.1,, des1a::i-los em tom e,roe,ial. p,erturba. e::t1onona, mdt1'ive o acompanhamrnto mus1cal.n A ptriir
l\a fr.;mça, na Inglaterra, pr~dorc, in::.ercm 1ambém - como mo,. de Im::i-so, pululam a\ artes praedica.ridi. que tsob pre1e:xtos retóricos)
tm acima - em :.t'm scrmôe:i. ~chos, ~uadro), estrofe~ de 1.:ançõc, i.:o- ·,i~am e prcmo,..er uma língua ritmicamente organiza.d.a, com o fim dt:
nhecidas, cuja interpretaçflo alegórica ilustra-lhes o tema; não os canta- produzir um efeito ~rsuasivo - isto e, no es,encial e na perspectiva
ro.a,am pelo menos no pulp5to? Par:!doxalmenic, e~tamos quase mais. dos )CCUlm x11 e: ;;.71r. uma lingua pcét1ca... 1'.a base d11 pro,iuncwtfo
bem informa.cios 5obre a performance predicai do que scbre qualquer pndical, Robert de Basevorn, em sua Forma praedica'Uii, no séoJJo XI\',
outra. :Na alta ldlde Média, a harn•lét1ca toi, para a Jgn:ja e para os oào hesi-:a em co•ocar um cofor ry1hm1cuo, q11e 11e juntará ao color r~
poderes aos quais ela se associa\a, o prmCJpal meio de manipulação ideo- 10,icus num ··esplendor úníco".3' Humbert de Romans, em sua Ars,
Jõgica - donde a msi.stência dos condlios, do século v1 ao cx, na obrí- pm •,•olca de 1250, consciente da eficâcia do ~esta, aprova e rocornenda
ga;ão de os padres e os diáconos aão apenas pregarem, mas fazerem. essa dran:ati.zacão; a impress.ão que o sermão deve cau.sar passa pelo
no de tal maneira que se pudesse atin!!ir o conjunto do pm10 cris:ào. oo:;io do pregado:, :::ija arte taz-se asSim à base de musica ,;; de arte
Pouco a pouco - justamente desde o século 1x -, a poesia tomou-~e jograles:::a:"' Até o s~ulo xvn na Ing'laterra, em certas regiões de Her.-
apta a forn e::er à predica, em sua .:.ILa fundio social, uma contribuição; fordshm: amda :r.o sêculo x;x, segundo P. 3urke, cantarolavam-se os
10110 esta,..a em condições de subst:tui-la. No essencial. as técnicas pro- sermões. N,:::is seculos x:v e xv, o sermão integra à!. vezes uma ação
pr:as para as5egurar es;se domínio já estavam constiruida.s. Desde sua dr.arnájc.a tornp:ex.a: o pregador interro:npc-se, atores inter.·Em, uma
aparicão, raa Espanha, na França. na Itália meridional, entre o ~érulo màq uja.,a faz su;gir um anjo ou um demônio. I.ecoy de la Marche, anti-
x e o xu, as formas dramatizadas da litmgia (q-.:.e se supôs, sem ra.zâo, gamente.. cornpa,011, para o século xm, test~rn unhos referentes ao de-
ÍO"-~em de origem liizan tina) mal ~e di!.ri11g11i9m, no espúito público, dos senrolar dos s:::mões: ele evocava as reaçõ~ t,arulhe:itas do público, as
sermões propriamente ditos. 33 A his~or:a dd Coena Cypriam, lembra- interru:;::,ções, os aplausos, a5. coqueterias de gente mundana acompa-
da por .Ba!chcine, ilustra em outro regü,..ro es,;as interferências: o te.'l.to, nhada. de pajem portadores de almofadas, não m~os que as fh;tu a-
a.7Jerior ao s.éculo vrn, homilia paródica (ela ent.mera as bebedeiras ci- ç~s do fa·•·o: popuJar vão distrair-se ouílindo um, enquanto :ogem de
tadas na Bfbha!), fo: 111.scrido por um fal~ár10 7a:, obras de s. Cipriano; mn .enfado□bo. "'
esquecido, depois ~edescoberto por volta de 850 por Rabar.o Mauro, es- S,e jn,mt:mos, por causa àe um habLo crítico contestavel, em :aJar
tE' v adapLou num opu~culo para o l.livrrtimcnto ::lo rei Lotário, a quem de •·1eatro" med1C\·al, é preciso incluir :cl pregação oaguilo que assim
ele o dedfoou; reci'.ado quando de urn banquete na cone de Carlos, o se des:ig:n.a. Mas a noção que se usa implirn uma delimitação que. at:
Calvo, foi um 5ucc~su. pro,,ocancla muita nso. Um dia.cone, romano, 25 µ<::lo rm;.m:n, o meio do :s.eculo X'\'l, todo,- os fatos ~on!.iecidos de,;inen-
a:rns mais tarde, tirou daí um diálo_!!o cõ:nico, de;tinado a ser represen- tern. E mais: do ponto de vise.a pragmático. poder-se-ia consttuir uma
tado por ocasião íla festa escolar d.a Pascoa. i.. :la..,~ à parle uo~ LeMo& pwvído~, no.s m:muscritos, de didascàlias con-
Mes.mo a pre1,,açào "sé:'i.a" rec.c,rre ao cómico, ao grotesco; certa c.er:1.entes ora a um a'écor ou à modalidade :Ie .;pre.sentaçào, ora aos no-
bufoneria mistura-se ai à expressão da ff. O sermão é- a exibição de um mes e a alternã:i.c:a das personagens, ora, uma coisa e o'Utra. O tcXto
a:or que executa u:n drama popular: P Burke n:.ostrou a viralidade de ma~s aougc- dessa espécie que temos, o tropo de Pá~coa Que/"1 qu.ie~-
taJ concepção até l)leno século XVI.~' As pes~o;:,., austeras, no século XIL, tis, provavelme□:e de Fleury, nos meados :;1o século x, foi-ncs co:1sa-
inquietaram-se; Adhdred of Rieva·.:ilx. Huglles de Samt-Victor, AJain "-ado na forma de uma serle de frases inpcrativas, .ndicando o tem;io
de Lille .adver{em ,:onlra uma pregação theulr..zhs et mimico, que visa e a oca.!:jào dessa pe=fo::-mance, o numero e o traje dos intérpretes, o lu-
à diversão mais que à ~alvaçã.n:lt Depoi~ de 1200 os monges mendican- gar err, ~ue de-•iam manter-se e a d1reção de seus monmentos; as :,ala-
t~ sistemat~-na e habitualme:ue a n7r~enuvam em seus sermões, .,.ras do ::halogo inserem-~e emre essa~ pl~.nçõe~. como se, -do por. ..:i
recorrendo as mesmas fórmuJas dr imerpelação do público usadas pe- de ·,•i.ta de um mestre-de-cerimônias, ficassem subordinadas a ação. No
lo5 cantores de gesta e narradore~ de _fabliaux. A pregação conheceu ui seculo segwmc, varios. iextos sucessivos ~tabelecido> 1.na ltàl1a, na Ale-
um · Jlll!3 aépoc::a, · · em tndo o Ol:Wntf', Uma doo .,_ _...__, na E da v.· · tio · &ão i,rovidos-de indi.:aÇQes do
trina franc,scana dessa ar1e (que logt"r Baccn expõe no Opus maJus) mesmo gênern, mais e mais explii.:itas.~ fü~a tradi;ào CJeric::i.l pros.;r-

236
guc no século xa: as rubricas da Su.scitano La::.ari de H ílário t dos diá- vidas, ntm por SC"JS nutore5 nem ::,o~ seus wphta5, de indicações per
logo~ latin<is :::on,;ervados no manuscrito dito de fleur~ (Orléans 201), formar.ciais: !!o us:.m farw da, quais tudo o que sabemo-., no melhor
as :io Ordo pascalis de Klostcrneuburg ou do. bilíngüc, dt Origny-Samte- dos casos, é a que repcrtôrio de oonlra:1a ela~ penenciam. A~ tecnica s
3cnoiic. a,;~im como .a do Jl'U ti'Adam írancês, fornece:n di.rct1vas gue de pcrforman:c não oferc:cm p:rob:ema, sendo fundamentalmente tdên-
implicam u.--na '' mist~n-rct11e" que faz do texto o suporte da ação pro- b na prtu.ca l t () CIOS <Se poesia. Ftai un:a cl::'kui!dac;lcdc
dutora de senndo. \tas isso ts:á longe de ,era :-egra geral. O m.anu,cri- ouU'll ordem: muitos dos cc:uos, prinopalmmte dialogados fe preguiço-
tO de Garçon et /'aveugle, diá:ogo do qual se qu~ fazer o ance-stral das samente cata dos ,:orno• cea'l.ro"), contêm passagens nar:-at;,·as. É
farsns do secdo x,., por fal:a de outra rub.rica, põe artes de e.ada ré- açs.im com a rna:01 par.e das "~omedias latinas" do sê(:ulo XJI. do
?lica o nome ;io locutor; o mesmo se da :orr. c.ês dos cinco manus::::i- Courtoo a':4 r,"11!, que. 11'2.mp:mdo para dialogo a Parábola do F1I~o Pró-
:~ do Babio latino. O belo .ler. de saim Nicolas de Jean Dcdcl não tem digo, 1:i.troàuri1J ern t:-:s i:a»ulO!S, ~·,· 91-~, l 02 e ;47-9, eJO! narrafrrns
:1e:ihuma outra indicação; mas é precedido de um prclógo, colocado que formam a transição é.e u:rr.a "cena" a outra. Thrnbem acontece a
:la boca de um ''pregador'' e que começa e tcnnina por !.lua~ fórmulas mesma coisa no fragcner..10 da Ressr.irrerção anglo-normar.d.a do século
de cantor de gesta: Oyez. oye,z se1gneu.rs et d ames e f a1tes paix! Nada, xm e cm det~i:lados m~érios do stcuJo x,. Chamber:s, Roy e ou-
em c::mtraprutida (apenas semelhanças texniats emregues a nossa apre- tros, por ·-oito.. l!.-e L'XO, rela:::1or a~am essas DaSs.aJiens a um ammador,
:11ê~O), esclarece-nos sobre as modalidades pe:formanciaü de- dezenas que in:ervia:ia C!Jtre m a:or,:.~ l\ ada o prn"ª· Do mesmo modo, a llistó-
:ie tettos remiados de "rrumos", "monólogos ou "diálogos dramáti- :ia e.lo~ pocma..3 da Paiw:õo, :iepcis. a \'e!ha · 'Paixão dos ; ograb •·. inteira-
co.;'' Soment: uma 1,'i.são anacronicamente modernista justifica tais dis- mente na:rafr,a, a1é ::s Ji'::1r~os d~ g,-andes espetáculos do começo do
tinçêes - ;,efo menos para a época antiga, pois, no s~culo xv, J.-Cl. século ,,•:, 1120 para de er::rer..n:.zar e mesmo misturar os doi~ registros
A..bailly o cemonstrou,-0 a situação muda, e urna especialização já tea- de d.&UJSO. AJ escã.. :;:,a.-eoe-11Je, a pl"O\'a de que a linguagem na.rrath-a
traJ, no sentido que damos a essa palavra, afeta \'astas zonas do discur- não ,era i:ntão me'llos "~earra1·· do que outras nem requeria tecnicas vo-
so poético. Ames dessa época tardia, nenhuma fronteira e segura nem. cais e gcrnuis &.fe:J'Cf)tes: >--m dü•,;da, a distinção era quase impen:ep-
,em :lúvida, legítima: opor, CJmo se faz multas vezes, ai:1da seguindo tivel para c,.s a".ltor~. a::ore!, e ;iilblicos desse lempo. Somente para as
Fara:, Jabhr:'4 a mimo só faz sentido nl.lirul ótLc.a "literária", em que o vastas represe:nrações doo s.é::lLI05 xv e X'•t e que dispomos de uma do-
faoii'Iu aparece como simples obra de escritura - redtção hoje insus- cumen'lação mais .;;bi;rtda:::rt.e no Que se refere as performances; por ai
·entihrel. Nada é menos seguro do que dizer Que certas fonnas cômicas mesmo nos e a:es:a.da a exi!têocia de- uma ane, doravante, pamculan-
do discursü, fanfarronadas ou ditos licenciosos. prestem-s~ melhor do i.ada: didascâl:ias.. a.cas, :freqü.er.terneme contabilidade. Ai, afinal, em todo
que outras aos efeitos mímic~ por que, então, isolar c:>mo um gênero o Ocidente. c.a5CC' '.lltl Ce:a.Jro e.o seio da teatralidade circundanle.
à parte os '·monólogos cômicos". os sermões alegres e outras paródias?
D~ois do :téculo 1x, a hist~ria poético do Oci.dentie adorna-se de ta:-
'.os latinos : vulgares (desta oi: daquela éc:loaa de Walifrid Strabo aos
faud: italianos .>u ao Herbst uJUi ..Mai aJcrcão) a propósi:o dos quais um
ou outro de nossos medievalistas colocou a questão: não seria um mi-
mo? Pcrguoto isso de todo te.'t':o· poético entre os séculos ,x e .x,,•; mas,
de saída, admito que a resposta será sim. 't',;a oora cão rica e :liversa de
um .Rutcbeuf, eu me recusaria a imaginar que o modo de performance
dos poema, sobre a universidade fosse radicalmente d:ferente daquele
do Dit de l'.huber~... do qual há meio sêcu:o meu camarada Moussah
A.badie, aluno de Copeau, encenava um patetico espetáculo solo.
À medida que se avança no tempo e se penetra. a ?W.ir do s~lo
x1v, na pré-história difusa do teatro moderno, os tcxtcs que nos~
::em mais representativos dcs,e ponto de ,.;s-ca não são mais bem pro-

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l
mn ,e nus escapam {IS contornos des~e aco:itecimentc... comer .J foge
a natureza exata dai. instrumento; de müsica (de q;ie madeira ~..:tm il-
bricados e a que tratamento e::-am prevíamcnte subrnet:dos?) ... do mcS-
mo modo gue ignc,ramos o ·.erdadciro psto da cozinha medici.:al, à fal-
ta de informações precisas ,atire a maneira pela qual os a.nimats eram
12 nutrid~ e as planw alimentarei culti,·aéas!
Toda voz. emana de um co~. e eSLe. numa civilização que ignora
A OBRA PLE1'lA nossos procedimentos de registre e de rep:odução permanece vhhcl e
palphel enquanto ela é audível. É por iiso que. talve!, um \-cUOr centra)
permaneça li,gado a ela, durante esses sécwos, no lmaginá...io, na_p~âti-
ca e na éti::a comum. As atit•Jde, riegativ--~. a~ cnndenações pretendas
no meio esclesíá.stico o testemunham, 3. sai modo. lograis e :;,rostitutas
s.ão en~obados na mesma repro,ração :le-icaJ àqt.ele c:ie fn comércio
A voz e o corp'J. Do gesto poético à dança. O espaço e o rempa de seu-corpo. A tradição a.scetica, exalta,do o jej"lm, a c~tidade e o
Uma teatralidade generalivida. silêncio, concernia as trés manür:i. ..::.çõ:5 :naiores da eorpo:-eid~ ri!:".: nos
costumes, tamo quanto se pode julga,, reinavam, cont·nuamente, uma
A performance é jogo, no sent1do mais gra1,e, senão no ma.is sa- grande liberdade sexual, uma paixão Ja pa)a,·n e (em desejo pelo m('-
cra]. desse termo: seaundo as definições que dele deram antropólogos, nos!) a voracidade. O espetáculo e ·::> meco da coe:1;a !stão heluta\.eJ-
r,siquiatras ou filósofos, de Buytendjjk e Hmzinga a Kujav,.-a, Scheuerl, mente tecidos na trama dos dias; a pr~sença ami!,<t ou a:nea.:adom ds
Schechner-Schuman e Fink. Espelho; desdobrame:1to do ato e dos Rro- morte afeta toda experiên:ia ,,,ida, e os sem sinais concretos, regulam
~s: além de uma di~tância gerada por sua :;>cópria intenção (muitas ve- 0
carrunhar humano: cadáveres ~postos, túmu.m e até cs harulhu~ que
zes marcada por sillllis codificados), os po.rcidp,antes vêem-se agir e g0- denunciam a presenca do; espíritos noturn~. A teoiogia dos fins der•
2.ao desse espetáculo livre de sanções naturai!.. Para o breve tempo é.o .adeiros e os mitos sobre os ::i_uais ~la 5e apoiou contribuem par4L a exal·
jogo, afasta-se assi.o a ameaça la.tente do real~ o cbdo compacto da ex- tação desse horror ou dess.a bênçã.::>. Na imagem do santo mártir, cul-
periência estratifica-~ os. elementos dobram-se à minha própria fanla- mina uma tinha de pens:amen:o: :::orpo so:re:nt::, ecn cujo~ membros
)Jél, este b\cfc. perpetua-se um mistério salvador. A dm:trina dos ~acramentos implica
Do jogo poético. o i:mrumen:o (em aruência de escritu:a) e a ,·->z. a mesma valo:izaçâo simbóLca da• 'carne·•; e::quanto isso. no plano ma-is
Mas esta, de outro modo, é também o objew de !i rne~ma - do Do: o realmente fisioló~íco, está :i culto das r~hquias, d,) gua. se sabe aré a
•:so geral, por parte dos intêrpre~es. a·.e o s.éculo xi-.. pelo menos, de que cuidado do d~talhe concreto elc Levou: uma gota do !de êa Virgem
lormas diversas de ;;anto. de cantliaçao, de declarr.ação escandida; nt.- ou o prepucío de Jesus Cristo! p_ Boglioni destaca, :om :-ai.ão, a. 0,1-
sica vocal mdissociã,.·el, no esp~rito do publLco, da própria idéia de presença do :::orpo nas p:-áucas da peregrinação em q1.:.e ele se torna o
poesia: J. \faillart, a propósito de Adam de la l-.alle, mostrou-o com lugar da per1,;t:pção e uunbém d:,. expres~ào do sagrado.
ênfase. As Vidas dos rrmadores o testem.lllham; mas essas observações l\o curso do sêculo x .• , deçcis :10 século xu, e, corpo. ::or.io tal.
concernem necessariamente. ~m nuances. a todos. os tipos de pe;for- faz.-se objeto de rei1eAào por par.e- dos doutos E a epoca de ce:1a ~a.:.~-
::n,mce. A au~ênoa de signos rür.:iic.()s nos sistemas de notação mus;ca1 zaçào do s.aber e tambem :la conslit'Jiçào das f::mra.~ :na.is e!aboraô.LS
jf~sa epoca podena ser mtenc1onal e re-.-elar a liberdade, deixada ao in• da poesia em lmgua \Ul!!ar -cf:.-.to compkxc dt :-ausalida:ie r;,-;,-,._
têrprete, de variar :>s efeito~ \'oca1s; cada pcrfonnance torna-~c, por ii- e~. mais do que coinddência. " arte rep:e5cnta:iva. espcc.al;t1~nce_ a
so, uma obra de arte única. r:a operação da voz.. Não há dúvida de que: escultura, oomC"'yS por si.a vez 11 magnifi.:ar a fig\.l ~a huma...a. P-.ard Alam
a :dec:lalm.awd :teria · UUe.Depla1;.m111aturae, a harmonia do "ediii:to de corpo" ~r..s-
]l.fum:al, a \'OZ poéuca emergia da onda mdifcrenc1ada dos rmdos e das u61 a figura do "paláoo do ur.nrersc": traduçlio~'Ulta daqillo qJe, ê!es:1e
p~lana~ Fia c:ria\a o acomecrmenrn. Di~so podemos estar cc11oi.. me.s- ll50, repetem inCJima,•dmcnte 1·ovti:lo1es e:- trüt,\Ef"eS ao lou•,ar a oeleza
vidos, nem por seu~ wtom nem po· seus copistas, de indicaç,õ:s per-

l
g11c no sêc11lo x11: as "1Jhricas da Suscitatio Lazari de Hilário e i.io~ c.liá-
logo~ latinos conse!'\'3dos no mznu~crito dito de fleury (ürlénM ZOI). fo1manmu-. ~ã" ass\m far)a.S das quais tudo o que ~J.bemo~, no mcll•or
as do Ordo pascalis de Klosterncuburg ou do, bilfn8úe, de Origny-Saint~ dos casos,~ ,11 que repertório de confraria ela~ pertem.iam. A~ técnicas
Benoítc. aisim como a do leu d'Adam france,, fornecem diret1vns que de pcrformaria i:!l.o oferecem rrobltma, sendc fundamentalmtnte id!n-
implicam uma "mise-en-scene'' que faz di> tci:to o su{Xlrle e.la ação pro- 1
ticos na prdtka a todos o, gêneros de poe"Sia. Fica uma dificuldade de
d.1tora de sentido. Mas is~ está lon e de r etal. O manu cri- orâ.rn. mo ,w tato, prmcipalme11tediatogados'(e~
co do Garçnn er l 'aveugle. diáloio do qual iC quis 'nzcr o ancestral das c;a~cntC' cat l01pdo oomo "teatro"), contêm passagens narrativas É
farsas do ,éculo xv, po~ falta de outra r Jbrica, põe a n1es de cada ré- as,im com a maior parte da "comédias la:inas" do século xn do
')!Lca · --,:-re co locutor: o m~smo ~e dá ::om três dos cinco manu,::ri- C<>Urtois d:4 rros. que. transpondo para dialogo a Parábola do Filhc Pró-
~os do Bai110 latino. O belo leu de saint 8icolas dt Jean Bode! não tem digo, introduztu ~m rês pa;sasens, ""· 91-5, 102 e l4i'-9', elos nar.auvos
uenhu.ma outra indicação; mas e preced do de um prológo. :olocado que formam a transição d! uma ''cena" a outra. Também acontece a
na boca de: um ''pregador'' e que começa e termina por duas fórmulas mesma coisa no fragmento da Ressurreição anglo-normanda de sé:::.1l0
de canto, de gesta: Oye.;, oyez. seigneurs er dam~.s l' Jaiceç pmx.1 Kada, XJLI e em determinados mJStérios do século xv. Cbambers, Ro~· ~ ou-

em contrapartida (apenas semelhanças textuais en~regues a nos..sa apre- tros, ;,or volta de l 900, relacionavam essas p:1.ssagens a um animador,
ciação), esclarece-nos so',:-e as modalidades performanciafs de dezenas que intervinha entrt os ato·es. Nada o prova. :>o mesmo modo. a :ustó-
de textos rotulados de "mimos", "monólogos" cu ''diálogos d;amâti- ria dos poerr.3.) da Paixão, depois a ~·elha ''Paixão dos j ograis ", íme1ra-
cos". Somente uma. visão anac,onicamen:e modernista justifica tais. dis.- mente no.~a:iva, até os lil:retos de grandes e;petáculos do com~o do
tin;ões - pelo menos para a época a.nt.ga, poi.s, no século ,._...,,, J.-Cl. 5~ulo xvt, 11ão pár11 de entrecruzar e mesmo misturar os dois registros
Aubailly o demonstrou,..1 a siruac;ao muda, e uma especialização ~á tea-
:ral, no sentido que damos a es5a palavra, afeta "'a..stas zonas do discl.lJ'-
50 poétlc:>. Antes dessa época tardia, nenhuma fronteira e segura n~m,
l d~ disctm.a. Ai está, parc~c-rr.e, a prcvG de qmi a linguagem narrativa
não era emtão meJ:ICS "teatral" do que outras nem requeria té-cní::a.s vo-
cais e geslu!iÜ diferentes: sem dúvida, a distin.ção era quase impcrcep-
sem duvida, legítima: opor, co::no se faz muitas .ezes, ainda seguindo tí·1el para os autores. ator!S e públicos desse tempo. Somente para as
Faral, .fai,!iau a muno só faz s~ntido nnma ótica "literária", em que o vascas repre~em:ar,;ões. dos séci.los XY e xvc é que dispomos de uma do-
fabliav a:çarece como simples obra de e~critura - redução boje insus- cumen:~ão mais abundante :io que se refere às performanc~; por aí
tentável. Nada é menm segu:o do que dizer que certas formas :ômicas mesmo nos ~ attstacla a o.istência de uma arte. dora,·ante, p,IIli~ularí-
do discu~so. fanfarronadas ou ditos lice::i.ciosos, prestem-se melhor do z.ada:: dicwcálias, atas, freqüentemente contabilidade. Aí, afinal, e:n todo
que outras aos ,efeitos mí:nicos; por que., então, isolar como um gênero o Ocidenlc, nast:e um tefJ:ro no seio da teatralidade mcunda.n te.
à "Jarte os "monólogos cômicos". os sermões alegres e outras pmóctias'?
D;poi,- do sécu!o rx, a história poética do Ocidente adorna-se de tex-
tos latine>s e vu1gares (~~ta ou daquela écloga de Walafrid Strabo .aos
Jaudi jta'.ianos ou ao HerfJst .!llldMaiale.:não) a propósito dos quais um
ou outro de nosso~ medievalistas coloccu a qu~tão: não stria U."tl. mi-
mo? Pergunto isso de todo tex:o poético entre os séculos [X e xi,; rnas,
de saida, admito que a resposta será sixr.. t\a obra: tão rica e diYer~ de
urn R11tebeuf, eu me recusaria a imaginar que o modo de performance
dos poemas sobre a uní~cr5:dade fosse raclicalmmte diferente daquele
do D1t de l'herberiL . . do qual há meio século meu camarada Mou.ssah
Abadie, aluno de CQ?ec.u, en.xnava uro. patético espetáculo solo.
A. l[]edida qu~ se avanca no tempo e se penetra, a partir do século
xiv, na prê-históría difusa do te:auro moderno, os textos que nos pare-
cem maís rcprcscntati'\/0' desse ponto de ,ista não são maii bem i;,ro-

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l
r.10 ,e 110!! escapam o~ rnntornos desse acontecimento... como nos ÍD~C
a n!ltu:-eza exata dos imtrumentos de mú.si::a (de que madeíra eram ta-
bncad:is e a que tratamento eram previamente subinet:dos7) ... domes-
mo modo que ignoramos o verd2.deiro gosto da connba med:evª!• à faJ.
ta d~ informações precis~ sobre a maneira pela q·.!31 os anun:us erarn
12 nu·r:dos e as plantas ali.;nental'!S cultivarlasl .
Toda voz emana e.e um corpo, e este. nu.ma civilização que ig.nMa
A OBRA PLENA nassos -procedimentos de registro e de reprodução, ;,enranecc 1,ish-el e
palpã•,el enquanto ela t audivel. É por isso que, tal_,c.c., ~~ --:alor cent~
permaneça ligado a ela, :lurante esses secuJos, no UilBgmano, na P:áu•
ca e na éti::a comuns. As atitudi!i> negati,,.as. as condenações profendas
r::i meio esclesiástico o testemunham, a ~e·J modo. Jograis e p:-ostit,u~s
sã.o englobados na mesma reprovação dericaJ àquele Ç\lC faz ~mci"' 10
h \.OZ e o corpo LJo gesto pourco a dança. O espaço e o ,empu. de :;c'.l corpo. A tradiçã:i ascética, exaltando o jeju.:n, a casndade e D
Uma uatrali'!iade generalizada. sJêncio, concernia às três manifestações maiores :ia corporeidade nc.:,
co:1tumcs, tanto quanto ~e pode ju1gar, reinavam, continuamente, uma
A çerformar.ce é /ago, no sentido mais g;a1,e, senão no nais sa- gra.'1de liberdade sexual. uma paixão da palavra e (em de~ej~ pelo IDC-
cra!, des.5e termo: ~cgunoo as definições que dele deram antropóJogos, nos!) a voracidade. O espetâculo e o medo da do=nça estao melutavel-
psiquiar:-as :>u f1osofos, de Buytendijk e Humnga a Kujawa, Scheu.erJ, mc:ite tecidos na trar.:a dos dias; a presença ami~a ::>u am~çadora da
Scheci.ner-Schuman e Fink. Espelho; desdobramento do ato e dos ato- morte afeta toda experi2nc1a v.vida, e os seus sina:s co:icretos regulam
res: além de llDla dlst!inc:a gerada por sua própria intenção f}DUÍ'..a.S ,-e- o c-arrunllar humano: cada,·ere~ exposlos, nimulos e até os barnlhos cpe
zes marcada poc sinais codificados), os participantes vêem-se agir e go- denunciam a presenca àos e!>pilitol) noturnos. A teo,o&ia do, fins der-
i.a.m desse espe:ácl.io li,rc ::le sanções naturais, Para o breve c.e:npo do race:.:-os e os mitos sobrem quais ela se apoiou contribllem para~~-
jogo, afasta-se assim a ameaça latente do real; o dado compacto da a- e.ação desse horror ou dessa b:nção. ~a imagem do sant~ martU, cul-
Deriência es·.rat.fica-se, os eJementos dobram-se à minha pró:iria i'anta- -n.ina uma linha de pensamento: corpo sofrente, em CUJOS m~mb-:°s
sia, em blefe. pe-i:etua-se um mistério salvador. A douuina doe; sacnmEntn~ impli.-:~
Do jogo poético, 1> i:mrumentc, (em ausência de escrimraJ ea \'OZ, a mesma valorização simbólica da "carne"; enquanto is..-o, no ;,!ano rn:115
'.\tas esu., de outrn modo, é també:n o objeto de s1 mesma - donde o realmente fisiológico, está o culto das relíquia~, do qual _"e 5ª~..1te ª
uso geral, por par.Á do,, interpretes, até o seculo xr,.- pe]o menos, de que cuidado do deta.:i.e concreto ele le-.•ou: urna gota do leite da \.rrge~
0 1
formas djversas d::: canto, de cami!açào, de de~lamação es:::and.Jda; mú- ou o prepti.cio de Jesu. Cristo! P. Boglioni destaca, .:\Jm razão a ""- -
0
sica -..-ocal indisso-ciiv,:·, n::> espírito do público, da própna idêla de ;:ire~ença do :::orp<> nas praticas da peregrmação, ern que ele se toma
poesié.: J. Mailla.rt, a prop:>s:to de Adam de la Halle, mos:.;:,t,;-o com lugar da percepção e rarnbém da expressão do sagracto.
ênfas(, 1 As Vid..s dcs tro"ã.dores :> testemunha.-n: mas essas observações ~o rurso do sééulo x11, depois no se::ul.o xi:. o cor:;,o. ~orn~ ~~·
con::e,nem neces~.ariam~t::, com nuances, a todos os tipm de perfor- fa.z-~e objeto de refl::xâo por ?afie dos doutos. E a epoca ~e 1.:i::~il ,a:ri
man ...e. A aJ ~n-.'ia de Signos litmi,~ nus s.is1cmas de no:a,-lo musKal znçào do sal:>er e tambern da conqi u1ção das f,J-rr.as m..is ela1 )r~c.a5
10
dessa cpoca po.::da ~cr inlencional e revelar a liberdade, dei~da ao in- da poesia em língua" Jlgar - ete1to complexo e~ cau,ahda•1~ reop •
têrpre:.e. de vanar J~ efeitos voca1s; ;:ada pe-rformance 1or1U1--sc, ror Is- ca~, mais do que coincidêncrn A arte rei)resentauva, espe;;ialmt:n'.~ a
so, uma obra de ane úni~ na OJmll o d voz.. d,h ~ que escultura, oomcça por sua VCI a mapufü:ar a figura humana Para Alam
_.a:r;_,.. d ,. CC'n~
a declamação fa!.:uh teria sido, ela r•rópna, concebida dcs~ mane.tra de l 11lc, pran , ,• • d o • · ~ o corpo -·
l'-1u,ical. a ,oz poe.tica emergia da or.d::i 10d1terene1ada dos rutdos; e das trô1 a fi ura do "palácio do un1,-crs-0" tradução culta daq!.lll::> que,_ ::k:idi:
pala, --as. Ela cr.a~·a o aro,uer,m.·n:o. Disso podemos estE.r certos, mes• Jl5ü, repetem incansavelmente trovado~cs "trm,·,eres ao lou"ar a t>::.eza

1.J.()
l 24,1
de \um c.lonas. 2 Beleza a,imada, cujo mrwimenw. ~cg~1do lf ugues de n texlo1 narrativos, até o ~«uto ;.vrn, não param de ::olocar em c!-
Saint-Victo;, t urn dos componente~. "não rnnente npte~são <le l'i\l<l, nal)~ comport: me-nto qut>. 11 1dü lr'll:1 a crer, cC1nst1tuia de um fa•or .1e-
mas de alguma maneir:i sua aparição" (norr •o/um imr1go .rtat expn- cc ~rio da performance poética. É v~rdadc que~ informa~õe• ")rtci-
tpsa quodammodo vrra rnc tur). i
l rax · f,guraçõe. escuhó:ica~ ou picturú
em sequências, encadeia-se, de enha visual e fatilmcnte, diante tlo cu- m ico tili%ad . para p:i.rtlcularb.ar uma ação: o s 1e:x10:,., pouco varia•
d , is. Co1m1éo, à uz das pcsquis.1u recentes de semialogía ge,1ud', ü poJ :c,
tm, uma escritur::. do corp<l, linguagem analógica, em continuidad~ ao
que sabemos tama um valor eminn te, organiza-s>! em fato inconiorná•
seu ambieme mcunstanc:al e ,oci::.I. Por isso nesmo, a anált~e filo-ôfi -
,ç , ,tJetO je i,acep,;ão scnscnal i:itcrpcs!toa., o !;:5t0 coloca em obra,
ca e monl percebe-o cm sua ma1~ ::onsistence •midade dinâmica. o ges-
em seu autor, elcmeruos crnélico:s (comportando ::iuase ~empre um rm•
to. A~~1rr é com Hugues de Saint-Victor, ainda em sm tratado sobre
do, :nesmo f-aco, na au.sêm.:ia dt:: acompanha.mento vocal), pr::,;:csso:.
a ro~m,1~-ão de "Jovicos: ''um gescc, e ao mesmo tempo movimente- e fi-
te-rr i:::os e químcos, traços formai~ como ::iimensão e deser ho, caracte--
guraçãl• da total1d.ade do corpo" (gestus e.,t 71nIU., ;,1 figuraria mem-
res dinâmicos, detinlve1s em imageru de consistência e :lc (}eso, um am-
bromm corporis 11d omnem agendi et habend; mod1.un), implica :mili-
biente, enfim, c::msticuído pela realidade ps.cofisiológica dD corpo de
da e modalidade e tende a um fim defmi-.·d em termos d<: ação ou aritude.
que provém ... e do entorno desse corpo. Naquele que observa e gtsro.
J.-Cl. Schmitt momou a riqueza d~ tal noção, que faz do gesto humano
a decodificação implica fundar.~1er.talmente a \'i.~ào. mas também, ~r.i
uma r<.!:llizaÇ;ão do ,categc,ria uni~·crsal do movimento, central do pen.<:.a-
medida variá~1el, o ouvido, o olfato, o taLD eu.ma :,ercepoio cenesteS"•
mento do século 1rn:~ esta conceb~ o movimento não mais como atri-
ea c~namen1e, sera abusivo ass·-;nilar toda seqüência gestiu a tma fra-
buto do coTpo, mas corno re-sultado da :nter.,ção dol) ekmentos natu-
se, toda gestualidade a um sis:ema de signos, e uni·versalizar a neo tou
rais, tanto no nivef cósmico como no das sociedade:; e dos indi~·iduos
pseudo) ciência :iue os semióticos anglo-sax6nico.s :hanam K.inestcs. Fi-
vh•os. As5irn se justifica a metá.fora pela qual o corpo e jim respuhilca, ca, m menos, que a gesto pod. ser signo, na mediidct mu.i:o gera em 1

Estado, •:idade. Ademais, figuratw só faz se□ Lido re.a:ivameme a uma que ele' é c:1lturalmente condicionado, e na medida ~specffca em que
dupla face do rea.: escor.dido/ visível; imerioriextenor, referindo-se de ele traz., em mei::l determinado, l!ma significação c::,nvenc1onal. A et:::i~
todo modo a uma evidência repr~entath'a. Jcgia ensin11. a que p,:into esse genero de cor.,-enção pode tu ~_-se e~-
Os estudos de Schmirt, de uma dezena de mos para cá, pernritiram caz no uso arti,;:ico do gesto em rerforrnance: dcs griots da AI, tca oc1-
situar em seu contato intelectual e mental o De. instituitione rrovit1on.im, den:al aos corit.adores j aponeses ti~ rokUffJ, os exemplos se enCJntram
que foi no Ocider.te o primeiro tratado de moral a dar grande espaço i:or toda a Terra, e ê ao menos verossimil que es;e recurso da g~st.iali-
à geH1Jalidade. O antigo De musico de A.gostirho associava gestus e so- dad:::- r.âo tenha sido ignorado pelos intérpretes med!ievais. No sé::ulo XIX
nus na ideia da harmonia musical; o vigor desse pensamento perdeu-se ainda, 1•ários manuais de eloC1Jção destinadm a amrc~ ou oradores de-
durante. a alr;:i Idade :\'lédia. Sobrtssai um último e.::o em Regino \•On ram gr.im.k 1:~pa\O a codificação do gcJtO: só :ios EstE.dos VnidQ('.; apon-
Phim, por volta de 900, e em seus imitadores: o trabalho do mliÍS:ico abriga, taram-me três, :, de M. Caldwell (Filadélfia, 18~9:1. o de A. 'YI. Bacon
com a aplicação d~ regra~ apropriadas., a ação da voz e das mãos. i Mas (reeditado 5eis,ez.es.até 1872, em Chicago), udt E. So~thwick (cm No-
o próprio termo, não mer:os que a noção, tende a esfumar-se ou a esde- . a York, IS90). Poderiam.os, com prudência.. de modo \'Olu nlariamente
ro~ar no 11.110, para ÍJn"adir progr~~·ameute o ca..11po iJ11,;:kcti\'o só a partir a".)fOl(lt1at.ivo. evoca· um.agramá1i::a ou, mais j u~tameme, Lma ::c::Lú:ka
do corne,,.--o do secu1o x11. Mede-se a distâocia percorrida: para Remi d-::> gc:no, mamendo ou superando a da ;,a.li:.vra. En:re a., figuras_que
d'ALL"tcnt; em meados do século 1x, gesrus d~signa o mo,·Lmemo das d a en:;J.deia e combina, a suspensão prov1soria cfo mliv ,niento, a 11no-
mãos: moru.s, o do corpo :odo; Roier Bacon, por volta de 1260, en:ende bilidade re;,enrina, não é a mmos eficaz... tanto q11an10 os rilêncios en-
por essas palavra$ todo movímento do cor))O, percebido respectivamen- tre os ~ignos da voz.
te seja pela vista, reja pelo tato: s6 o primeiro, gestus, pode entrar em
harmonia com os sons, i:ondo em relevo por isso a mu.sica.6
Desde então é a urn comportamento corporaJ num todo que se re- Um laço funcicnal liga de i ato à voz o gesto: como a voz, ele pro-
fere a ~~im gestus - com:;,reendendo riso, lág;imas, ''espasmos" (que jeta O corpo no esp..ço da performance e \'isa a con qui~ta- lo, ~aturá-lo

241 UJ
~r ,eu rr(I, 1mento. .4. palal'ra pronunm:id.i não ni~te (como o faz a pa- o testemunho, i::tSLTito em. sua lite~ahdade. O belo Potme moral de Líc-
la\rd e5crit.a) num conleJllC\ puramente ~·erb.al: ela participa necessaria- ge, de cerca de :200, tru nos vv. Jl4~7 a r,otaÇ!io do gr,111, do de.j0
01en1e de um procCloc..o mai~ amplo, OflCJllindo ,obrt uma situação ais• pelo quaJ o inte:-prete marca o ritmo de seu relato. Gémrd Brault, em
tencia.J gue altera de algum modo e cuja totalidade engaja o, corpos dos seu livro sobre a Chonso'I de Rolond, :ira do 1~10 váriru indii:açõe.) ;pro-
participantes. Marcel .fousse, ao cabo de vime anos de pesquisas e de ~·á\·ei.s - relatiws acenos gestos de que o animava.o cantor, algum dos
tentativas de descer- às prói,rias raízes da ~pontanei:iadc OCJ)ressiva, co- quais constituíam talvez receitas de ofício, ao modo dru "fórmulas épi-
loca\a cc1:no in.düsodáveis o gesto e a palavra, num dinamismo com- cas", ou então provinham de um codigo cultural de mo comum: mu'ti-
plfJlíl qne ele chama..11 1•,Jhamntor A partir de outras premissas, e na plicaçio dos dêicticos, dos dis,;urscs diretos ptnorutl:2.ados. das descri-

ympca da performance, Brecht criou para si a noção de gestus, cn-
1
ções que jmplicavam, pel::i menos, o esboço de uoo jogo mí:nico. • Ph.
vol"endo, com o :ogo físico do ator, certa man"ira de dizer o texto e Vlénard, quand:> põe em rele1o'D numerosas "exprcl>SÕes coq:orais'' c;ue
uma atitude crítica do locutor quanto às frases que e.e enuncia. Na fron- figuram no teXto de Rol!md, traz argument05 para essa tese: como, em
teira entre ;lois domínios semi»1ioos, o gestus dt conta do fato de que perforcmmce, usar tais expressões s'=ID imitar de lli.lguma maneira o con-
urna atitude corporal enconrr.a seu equüraleme nu..11a inflexão de voz, teúdo? ~!as as canções d~ gesta nio são as mais priv"ilegiadas n:.~s:>. Os
e vke-\'er,a. conlinuamente.1 romances também não ~ão menos riem de marcas scme~antes. Apon-
:Jonde a ca-pacidade que tem o gesto de simboLza.r. As instituições tei, err. outra pane. o caso do5 diálogos desprovidos de menção text.11al
ff"udais fizeram desse r::aço a uso constante que se conhece, em vírtude exphcita das tro~s de imerJocutor. Ciram-se muito íacilm:im: outro&
ta.lve_z das formas degradadas daquilo que Jousse di:signou um " ritmo- fatos, absurdos, caso não s:: 5uponha a interve:1~0 de um geHo: esta
lDlmismo" primordia l, fundado em correspondências cósmicas. Gesto-- ou aqt.ela série enumerafr1,•a, na dependência de um \ocrbo de percepçao
hieróglifo. ligadc a essa ''\iirtude expansiva das p,davras'' de que falava como ver, alinhand:> os subscantivos precedidos do art',go definido, muito
Antrn1in Anaud, a JlTOpósirn do teatro oriental. A língua do gesto é tam- fortemente "demonstraú1t·o" em antigo francês:. é assim n[)S yv, 3ll02
bém a do sopro; ela ''po,,oa uma espécie de reseri1a pré-lingüística", e ss. do Cliges ,:;e Chrétieo de Troye$. Tu.is fato, encontram-se muitas
escreveu )'. Fonagy,6 e, cm alguns casos de artifício extremo, ocupa to- vezes ainda nos romance.s em prorn do século xw; é a.~.;irr no Lar.ce-
1
talrr.entc o campo eia expressão: linguagem gesru.al dos monges conde- lot, xxxv1, 33, em que a indicação d:: lugar exige um gesto do leitor. s
nados ao sfün:ío, mas 1ambém a pantomima antiga, cujas tecnicas s.ub- O Tris:an de Gcttfried von Strassburs não oomem rnenc,s c;ue 67 pala-
i,istiam ainda na boca carolíngia. 9 Boncompagnc, tratando em sua vras 011 expressões em franc~s. ou stja, em media uma. a :ada 2~0 a tre-
RheroriC:J noviss;ma das tran~posições, evoca o discurso sem palavras zentos versos. Al está, seg;und-> tuc.o indica, um proredime:ito es.dlisti-
dos ''ama:ites tímidos ern demllSia para falar'', que '' faz.em passar seus co, colocado em forte ~levo ~elo próprio mo que dele se faz: apw:ece
sentimento;; em ~cstos, sinaü, ou mímica". 10 De 11m ponto de vista lin- principalmente (34 vezes) em discurso direto, na boca de uma persona-
güMico 'Tl.êis. geral, Fonagy fala de "mímica audilie!", 1l tanto interfe- gem d:1 c;,ual ele caracteriza a cortesia ou trai 11m r.entimento v;olento;
rem r.es.se ruvel os regísLros sensoriais. A prática dos intérpretes de poe- em conrroo nanatlvo (23 vezes), ~erve para qualificar o herói, designar
sia in;cre,.,e-se entrt esses oom-portrunentos, que constítuem para eles wna uma virtude ou um discmso e:avaleire,co; en:un (;fez. vezes), permite um
es,1:&:ie de rneb natural. Boncompagno assinala arada a importância do jogo de palavras ou uma figura etimológica, Um em;;,rego valorizado
gc.31:o come revelador da figura da iroma; 11 pôde-se afirmar (a propó- a e:.~i;: (Xllllo illlvlh.:a, 4uase n=t:cssariamentc, pelo men:>s. uma mímica
si:o de reJatos ha5:og:-áficos) qLJe, na performance dos jograis, a mimi- bucal na enunciação da pala,-ra escolltida. ;-Jl pot!:::os t;>;t:>s, antes do
1,;;,, pm.lomiJJaYd em signiüra~u sobre o e.amo, poque mais precisamente século X\, que, l!l(a:ninados de pen::>, não rei,dcm .1~im, mesmo incom-
evocativa e, sem d·.ívida, mais ::ontrohh-el. 13 As artes pro.edicandi tcste- cientemente, o qu~ me r>:ilC-Ce se" um traço profundo ~ u1.1versa!.
mun.ham ~ scdu.,;:t... qJe, jepo1• :le l.?00, essa ane exerceu sobre as no- Cvmpreend.-;:,e entao que, muno ...c:00, :-s.sa CJÜllLlydi. 1,.n •- ,;;n
"ªS orde:H ~eligiosas votada5 à ,;>rédica. tado con:rolar a energia do gesto, fai.ê-la senir a 5e\Ui fi:-is ?articulares.
Essa ,ituaçã::> não tiod1a cieaar de afetar profundamente a própria De5de a tpoca carcllngia, a pedagogia explora., para favore;er "'nu:u10-
16
natureu êo, textos. O gesto conLibuía com a voz para fixar ep ra com- rização, a gestualidade do COípO ou da~ mãos e dos. dedos.. A maior
per ~ sent.c.o. \1UIIO'i da;,iueles to.tos que ficaram trazem-no~ fugazmente parte dos manuais de retórica menciona pdc menoio a awo; alguns,

244
cerno a Rhetorica 11ovella de Bor.corr.pagno, süc mais aplícuos: um c.1. mundana. Os jogmis e, sobretudo, as jo~alcsm , que por vn es rcp rc-
pftulo, "De ~esubus ">rolowto::-urn ", :.-al2i d:i .ideql!.açao do movimen- scnUMUn, quando das danças comuns, o papel de mestre do :ogo, pra-
to ao discur~o. E, alia:-, condena selJ obuJO. ~·u •~o de Boncompag- licam uma <lança profü1ional que, aos ot:1os do público, -:onslituln e
no, esun·a efetivamente m~taura t. ,i ~ u ~lo JJm étiCá ~ ercial de sua arte: as representações li~uradas que dela nos 1esram
ges1uaJ, fu ndada sobre- a analogia. d os rno , ; ~ do corpo com os da "-alomam o peao q ~ cr uco. 1ncessanl~ oonderi..aç0(5 ccics
alma: Hugues de Saint-\',ccor, no~ ,ttstr.Jctw-ne no11;t,orum, não us:i ~, riens sugerem sua lasc1vin. Os textos c::mservararn-nos divc~~as de-
meno~ que <lezesset~ ::iualifica:1,os diferentes para desi~nar os valor~, s1gnaçõc-s dessas ºe-,oluçoo", conotando 1como uma lingua_11em pubh-
monu.s do sesta. \ethelred o: Ric,,~Ji.X. Gi::bc:rt de ro~rruu, Alam de ._,u.na) nu estranh~ e seu aparente e.'totismo: a "evolução :rarcesa"
li.le. ate Giraldus Cambremi.s, inü::r.ero! do:Lmectos ocles1àstico~ no a• 't.ll C;1a:npanhe" , a •·da fapanha", a ''da Breranha' ', a "da I crena •.
; u: so dos séculos .\11 e .xm , •i5am a rno~.lt-:ar ~ a u •r!L: :. c::m nome:: da. a " romana", ··welsciur rrir,'' !'"passo romano' ') e todo o res{t). O su-
vi:1~de, a atividade ge-srual. Quanto a r.m. :;ioo::::nm concluir que essa cesso dessa arte nunca 5e desmentiu. Ainda por m ica de 1400, cena Gra-
atividade passou, C.:~Je t:nlào, ao pdrne-.ro _p la:ic, êc- jogo cultural, n.a. cio~a. originária de Valência, fe7 gloriosa carreira de dançarina, a1ravê-,)
atenção e seruibilidad-! comuns? Que se instaure ::im traço no.·o de me:i- da Es:phllh.a e da França. 13
tal.dac.Je: um sentido agudo da s:i,grufkãn:ia :ie '!ei"t•JL Donde as conde- Supô~-sc haYer nessas práticas alguma sobrevivência mítica muito
nações fu1'11inantes contra a ge.sticu.açào dm ,-Lscr:ões"'. Donde, ain- amiga. a necessidade an.i:mi.na de uma reprodução de movimenos do
da no começo do sé-:ulo xn·, o d.ocreto ri.o ça:;:ia João x.x:r, Docta ceu. Th]ve?. Pelo mt:00:i. das implicam dara.mence um sentiment::i difu-
sar.crorum patrum, que é mwras vezes evo;;,aà:J pelos mmjcólogos e que, so da ritual.idade do universo. O homem dança, mas ainda mais a mu-
para condenar a ars nova, prende-se, em par:icli.lar, ao excesso desses lher. exaltando em gesrlculaçoo ~ua feminil.idade:; os anjos dar.çam; os
gestos que dublam com imitações as ~ ' " 3 c.uitada.s;. 1~ Indignação do demônios oc século x1v, a própria ~lorte se porá a dançar... Faral ji
prelado conservador, mas reveladora da 5mi:ort1m:i.a que tomou o ges- enumerava as testemunhas dessa pai.1(âo generalizada, que as ·tprova-
to, desde então, no funcionamento soca.:?. 0':l~~-J é.-!' urna disciplino (que çõc, do alto clero só fizeram atiçar, como parece: do século IX ao xv,
cedo ou !arde engendraria uma euqueb), tlc- pro!"er~óeu, no come.,to de a docl:mc1taçào de que d.1.Spomos atesta uma difusàu .:umin ua das prá-
uma reabilitação ccntrolada do con.-::,. •.cr. o.,fc~,;. tica; coreograficas, sua diversificação, a invas.ão de toda existên:1a pú-
Os cantores e declamadore-s de poesia n:.al se pl!de:ram sujeitar a blic-.a e pr.vaca pela dança. 1~ r-;ão ha fest.a sem dança; e esta, em cada
esse Quadro. Suas "gMtic11lações'' des;abro.::1:.arn em outro ,contexto: o loc.i.lidadc. tem s,eu lugar próprio: a praça pública, na AJema.11ha um
d.a unh-ersalidade da éança, no bojo ia sociedad:::.. A ra:ldade dos d::>- prado sot: as tílias; nas cidades, por vezel> (corno em Colônia de:>01s de
cu.mento~ textnajs ou i :onográficos e. cr.ais; abu:.a, a de pesquisas sérias 1149), uma sala resemlda para esse fim; no ma.is das vezes, a igre_ a, único
sobre esse ponto deixa.:n que suosir'.am muitas t;_Je~rões insolúveis. Es- edi ficic bastante ,;asto e seguro.
ram:-i~. contudo, a poi:;t:o de dep::-eer.:er :rnui:c,s fat-os, esboçando uma. i'<. ntes do século xv, conhecem-se apenas danças de grupo, com fi-
perspectiva geral. Pare:e que é preci.sc di.56:.,5.cr dois tipos coreográfi- guras, em roda. ern cadeia, das carolas às procissões dançadas; unidade
C(1S, segundo o foto :lc terem .sido cn: não praricacc,;5 ;,;,r profissionais. no jogo, reveladora de um des1gruo comum. O efeito coesivo do ritmo
Entre as danças às quais podiam em:egar-,e aa ~a:or das circunstân- pode acrescer-se das batidas de mãos ou de outros processos de marca-
cias, todos ou 1:atla orr., o historiador (rr.as ta.:,'1!'2 :nâc• o dançarino dos ção foite: maierolle.s, descritas por Jean Renart no Guil/miff,e d? Dote,
se-~ulos x. XlI, XIV!) é !~-ado a disringuir a.i:ida: .algL'11.a.!, de longínqua dacças sc,b as án,orcs, danças da corte e 3.S da Páscoa, do Pientecoste!,
ongcm pagã, inicialmente ligadas a ::ultos agárros, permaneceram ate de Sã.u Juão, cor:.ejo;; da Candelária ou das Rogaçoo , danças de con-
a ép0ca moderna tradicionais no campo; ou.:r:as, s;;Jdas dessas talvez, frarias danças de cleriBO!> no São Nicolau e.·ocam juntas o laçc muito
mas repensadas segundo um modelo inspirado nos salmos, desde a alta for.e que liga, ne:ssa civilização, o canto e o gesto a todo, o, rr1c"1\1imen-
ld.ade Média foram inregradas pela litu;-gia e2tóLi::a. !nquanto manire~- lOS deti-.o~. no scnLido tle uma vigoro~a afirmação do ser. A maioria
ração da alegria espfriwal; outras c·.n.!im, a p.arti::- do século x11 , elabo- da. da:i.ças é cantaúa: g~o e \·oz, regulaJos um pelo outro, as eguram
ração cortês das primeiras ou das St!'!u.nda.:i i_a u rne~mo llTlponadns do uma hannor.in que os transcende. A pan~ cantada, com ou .)em ncom-
mundo islâmico), es;>alharam- e no me:o :iot::'I!, a título de recreaç o panh mcnto instrumental, é, em geral, ma111id.i por um solista ou um

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co-o. respom.teodo ai os úançuin1.1, ror um rilomc!o O texto, de1crm1- Na indigência de nossa inforrração, reduzida prinopa.lmenl~ :10 ~ue
n.ado _por sue. funçfo, aparcnia-s;e .ao 111:~l<l qut r-lt ve,bahra. B::e"\'I!. Tl!- nossL1 nlhll ,.~ ~obrt a pá&ina. no instante de nossa leitura. eitcu ceno
dUZ1do à exclamaçJo, à i.entença; ou, mnfa llmplammtc, a ,·oltas estró- :ic que um pon'.o de ,ista paradoxal nos esclara:ena: corui:r,liria em re-
ficas que ~e prestam à~ mod1daçõcs cmotho1s. conhecer .a. ,uprcm.1.ci.1 absoluta da dança t>ntre a5 formas de arte que
Emret.anro, os textos que os Moderno~ deilgnun "canções de dan- colocaram em obra ou ero ca us.a, durante os séculos medie-,,ais. ck algum
ça•· ou ''de dançar". e nao apenas ek~, ca~m aqw: rondei,, ba/terre, modo o corpo vi,.c-. A "canção ele dança" ou n S11rnte F,oy .represrnta-
1•irela1 francé,;, estampice, sa/!an!ilo. roua, o l.e1d1 alemão em 5".JJ! o.ri• .iam o modelo realizado, do qul os out:os tatos se distinguem como
qu.e se ap.ruximando d.e :seu fim. A.lsim como ela req1.1er nece~u.ri.amco-
{!em. Cenamente, er.tre esses ~emros poéticos e musicais. ooru.i:ituidos
e a dança da qual foram inicillmente inseparáveis ânha-se ifu-taurado te. s.ah·o exceções ra.lssimas, a voz humaDa. a tnm,missã.o da poesia,
um elo genético, de que provieram as determinações :oroans, melutà- entre os séculos x e XIV, exigiu. o gi:ilu iiumarw;.::. al6.u <lü,..su, t:0qua11-
to essa voz poética tendia a:> ca,tc, o 8esto poético tendia à dança, sua
v:!is: assim a emutu:a do refrão de rondó até- em pleno sé...'1110 x•,1[, épo-
últin:a realização. Ln~1sto ne..se pon:o, a meu ve, cru::ial
ca em que a c.issocia;:ão da dacça já se tinha, depois de muito tern;:,o,
enfim operado. Ji.fas a ,fao;:-a acompanhou e sustentou muitas o·.1-tra.5 for-
mas de poesia: condutos e canç&:s pias, impostas ~ procmôes dança-
Entretanto, mu]tiplosel.ementos que corutlruan o meio performan-
das durante- a.s festas litúrsica5, litanias daJi Roga.çõ-:s, pre~ e fórmu-
cial cnce se ;,õe e imp5e a voz nào 1êm com cla u.ma relação tão essencial
laB mágicas~ dança dos "brandons·• ou da de São João; as natalinas
e constante quanto o gesto. Ptxleríamos classificá-lm; segundo eJa seja
mais. anµgas poderiam remontar a Clill~ de dança hibernal.:llJ A ,·e--
mais frou..xa :>u ma;s estreita. A>sim, a indumentária (reé que ela e,ós-
lha Saínte Foy dos Pireneus, g·i~ ~ um dos mais ve11erá\•eis mon.umen- te), o instrumeIJlo de música Dl... o ace:s só rio têm em taJ gêoero uma im-
ros da poesia oc:citãnica arcai~ e que a si mesma se declara · 'boa p.ara. po:-tãnda funcional que não adquirem era outra pa:-te. Os instru:nentos
da:1çar'' (befla'n. tr&a, v. 14), foi s.eguramente camada e represe::1.tada
de acompanhamento foram o objelo de diversos es.tudm. Reme10 al ca-
sob forma proct-ssior.aL O elo que liga então a vo2 e o gesto é de ordem táiogo comentado que dele, Jforece W. Sal.men.""' Quanr.o à rou;>a, as
funcional, resultando de uma fin.alidade comum. Não é menos forte nem ir1fornaç5~s são ra=a~ ou equi•-'•)cada-1,. F:mtl. que junlou cer1o :-nimero
sem dúvida me-nos eflcaz. Um;: looga traclição ilustra-lhe a fo.·1.mdi-da-
.. delas, co11cluía q,ue o~ "Jog,--ais" d,:sc.ing~iam-se por alguma exc-entric:i-
de: da Chanso,"I de Clotfruire recolhida por Hildegário de Meaux. por dade eia ves~imenta, sobretudo a p.artir do século XII, pelo brilho das
'l>Ol'.a de: 850, crntada poroorosde mulheres. acompanhando-se de mo- cores, vermeJho, amarelo; depois disso, muitas vezes com roupdS lu:mi-
virner l~ rítmicos de mim (.plaWÍf:'flfÍ.(J), fl "C!lmlR de Rovon e \t.ep;ent" J,Jéll"tida~ no s~ntido vertical, à man!i,a dos ''bobo;;". em "Ycrdt e amare-
(se!l;llndo denominação proposta. por Verrier) a que se !'efeire Orde:ic Vi- lo; tambem pelo coite dos cabelos, pela ausência de barba. Em~ retrato
tal. consideran:io-a cant:ada por um dánçarino maldito? ã.s canções não se aplica, :ot'm du·l'iua, l. toJm os bt~rpretc5 profhsionais: rnuito5
que o arcipreste de Hita., vv. 6174-7, gaba-:re de ter composro para a; e:1tre e:es nN são apresen~dos corno pobres esfarrapados (o que não
dauçarnaas, acomparJ.iç,m:lu ao 1,aru1.Jo1i.i11 o se-u ,;:anto. Ainda no ~culo e.'<clu:u o ?Dite de algum sinal.1; 011cros, l'm poslção mafa ,~tável e vl-
XVl, entre a arraia-mi-.ída espanhola, homens e mufüeres (por causa d:e ver,do ei.11 m:io letrad:>, não tiveram talvez necessidade de distinguir-r.e
um anug,:, costume) cianç.avam io :anto do Romancero.~ A. Puk_ga su- a5sim. Ocorre que, para o conjunio do :púbhco, o cantor, o m..rrador,
geriu. cD:n razão, que as Danças l.Vlacabras cios sé'culos m e X• puile- o leite,· de poesia deviam ser jmediatame.:ne identi.:1caveis por seu are-
rarn formar-se pela estili7.açâo d,:),; 5ermões dançados..:; Aumentanamos rior..6-s rudascálias que acon:p;i.nham, em mwto.s r.:ianuscritos, os tex-
facilmente essa lista E, sem dúvida. poucos rextos. se o:aminados à luz tos dramallcos dialogados nãD ·.nsistern em vão sobre a fo:-ma ou a cor
de~.;es falos. não re-veLnam em .=i.lgum de .)eus as~ctos a empresa de da \e,urnenta eazija pt:lo ator: assim ~e manifestJ, de algum modo,
uma gcS'l:ialidade Alfaric já mi.J;l.mu a inílu~n;:·a da intenção -::ore'O- um v1.lor s1mbólicc ou embleir.ati:o. ligado seja â personagem repre-
gralica sobre a i.:ompo~i;ão e o e),t.J lo da Sainte FoJ·. Nã::> conheço mcs- senta'.ia, seja. á açãc d~sempc:nhada. l!eJa ao disci.;rso pronunaado; de:;-
o. JV de o :0 x. a dtstriçào. aP.eg11-Jaris ,concordu,, do QL r- "ltJletilis
que não lraga em si o de~eJo d() gesto ou que alio o o;i ba. pa~cal matnz .:ie todo o "c:arro l 1ur,g.ico'' vindouro, cfuitribu1 com

248
cuíd lo alva, aipas, \no:nsónos e palma ~n•rc qu:mo wccnlc:tc:i dos qt:al ~:..,..., sll u 1çuo, relo jo o ele prnibiçi',cs e de corretivos que ela im-
ela regula e mede os passos: 85 rubrica~ da Ordo prophetaru111 de Lo.on, plica no pla110 moni I e no <los cornp::mnmen10,. parece-me aunentar
no ,éculo XIII, f1xan . com m nl,Cl,l ,·e-.1 -nema, penteado e uocs órios o vnlor sem ntico das c1rruns:6r,cws pcrformanctais na formacão da
que a\sinalam e difrrenciam l)S tre.:e prntctas; é prec15ado eté o porte obra. ntendo por "c1rcunst nc1n " quilo que, do ponto de vista se-
oorporál. Alíacuqueê"OOrc:un , 1 , m16uco ou lingül tico. eh m ~e l'erahnentc t".Onlexto, ma.s cuja noção
port~ "soberbo.. ; a Sii>ila tco o ar de uma louca..." eu r tr nJ o que eompoe o ta1 uc:o. a hhebcn-1..anie, num li-
fran:ês, segundo o raanuscritl) <le lour~. ·\ d:to está lic \'ermelho e Eva, vro r«ente. d tlr. uc no ato locutório (tu traduzo: na perfonnance) três
de b:anco: e!e. de "tunica": ela, de "esttdo de ~·01/e; Deus, de dalmátic::. elementos que comr1b11em para faz!r da mensagem enunciada uma co-
munu:açil"
O cosrume des~as prescnções manteve-~e ate o~ dramru;, em grande es-
- a "situaçàc'' imec1ala, ;,rendendo-se a•:> tato de que ~e fala; e
pe1áculo. do ~êculo xv. Th.1 atenção votaca à ::oignificância da \'estimen-
:nediaca, tendo cm conta o env:,b·inh.· n·o :1is:::ursivo. a.s out-.cS p1lc.vra5
ta e do arranjo pesscal não pode deixar de e:stende,r-se para além das e.xi-
"Jreccd~r,te), seguir.do ou acompanhando aquilo que se enuncia;
fênc,a~ cênica~; e a hi;tória dos gêneros poéücos sugeriria :linda na1s
::. "reg.iãP", pela qual é pn::.: ,o entender o~ uês ecpa~os - geo-
que: essas exigências, universais e al::an:;:ando em principio roda espéc·.e
~ráfi:o, cultwal ou social~ em :iue os ~gnos ;eitos obra~ con,eci-
de performance, encontravam ra representação dialoga<fu de persona-
::los e em?::ei;ados:
gens múltiplas um lugar de é.plicação -prh·ileg,ado, mas não única.
- o "ccntexto' ·, que abar::a toda a rt:aLdade ambiente, cor,sidera-
A propósito disso, pôe-§e a questi'io do uso de máscaras. Esse u.so
da con-o o fisicam-mte presmIB na enunciação: a p'"ópria lngua, :.,ano
e-stâ seg:ura:mente at.eStado: d~sde o século r.· uma tradição eclesiástica de fuido ca palavra; o campo discursíva, próidmo, longínquo, temáti-
con:ínu.a o denuncia como acão do demônio, menttra i.nfer,al, arejei-
co, cm que e'a se enraiza; o cooju~,to ri.~ ~ingiiístico, na:ural e en-.píri-
ção da obra divina. 16 A presença de máscaras nas festas carna,..aJe~cas, co, his:órico e mental, er.tre ruj~ elementos ela se situa. 2•
no~ ritos funerários.. nal; alguarra: confi.rma,.·a essa opinião. l.\fatericl- R.c:tcruu por ''cucunstàn~". e,trc os diversos aspectos de-<-se; três
rnente, a máscara era Jm rosto anif:cial monstruoso, mm tas vezes ani- elemento~ aque .es. que situarr, o texto no espaço e no temr<'. conferin-
mal, recobnndo a face e associada ()U não a wn travcscimcnt0; às vezes, do assim a uóru sua "situacão" :-ca.l. A$ "circunstã.ncias." determ inam
:,em du-.,ida, era pintada: cléngos do• século:. xr1 e xm, como Jacques a obra em sua totalidade. O t~:o moderno, escrito e dest nado - fora
de Vit1y ou Étienne de Bourbon, e·1ocam isso em termo~ re'erentc~ a-:,s de toda mcd1ai;ão oral - a leitun, pc:•ssJ. Jtlla altcnd.adc cs,encial, de-
cosmé1icos: jacies âepictae. homo pictus. Mas quem as usava? Thomas vido a sua natureza de comL -u,ação d..fe:ida; essa alteridacic só serli. ven-
of Catham trata disso em sua diatribe contra os jograis: transformanl cida po: um tnoalho, documen1açàc>, inteq..m:taçào, contrde. O tato
et transfiguront corpora. suo per turpe.s s.altJJ.S et per turpe!. gestus, vel trarumi:ido oralmente possui uma evid~:icia, uma identidade na presen-
denudilndo se turpiter vei indumd'J horribHes larvas... (''eles transfor- ça, que exclui. de uned.iato, a imp:es.sáo de aJteridade: elr: ~e: dá. por is-
mam e tornam irreco:ihecivel seu corpo por suas horrendas cabri:lla~. so mesmo, cJmo ...eridico e só pode ser recebiéo como 1al. Ora, as cir-
seus horrendos gestos, desnuiando-se "ci-go:ihosamente ou afivelando- cunstã.ncias mocallzam, localiü.m, diio colorido a ~a veriJ..1.ii.l:ld:: até
se [J)áscaras horríveis..."). É essa uma alusão às pantomimas que pare- certo ponto, elas a engendram. D:md.e sua extrema importância na re-
cem esboçar-se em to-fa a parte, e-m latim e nas !linguas \'Ulgares, pa.~- cepção da obra e nos julgamentos susc:tados por esta: é em razão delas,
\'ra~ de raiz mom-: momus. mome e momerie, mumm e mummery, rr.,.i- às vezes apenas por elas. que as cu:rurai d! tipo oral primário dizem
mario7 Enfim, faz falta a i:rm·a do uso de máscara nz performar.ce que um :poe:na é ·,om ou ruim; ~~ em regnte oral misto, es.5a maneira
poética. Entretanto, a'.guma tra1içfo, de origem pro,..aveloe-:ite pagã an- de ver subsi.~te necessariamente em parre; pelo menos à obra nio cabe-
tiga, cb·e ter subsistido, íe'Ssurginda p!~narnente na Itália, no come~ ria <er 2p:ec.adé'. sem que as circnnstâr.cias da performance não fossem
do séC'J.lo ·" "''•soba forma da commedia de{{'arte. Essa :rn~ência cua~e levadas em conta. É nessa direçà:> que :onv&n entender o ser:tido da
tol.al de máscaras na constituição da obra e, a meu ver, uma das caractc- e.xpres5ão "poesia de circunstância", d2. qual selem afirmado, com ra-
, isu::ru mau notáveu da po6ica medie\-al, implicando. em dúvid2, ll m zão, que da designa,-a os tipos mais am.gos de poesia:29 ligada ao acon-
!>Cntimento - confuso, mas muito forte, mod.alizado pelo contexto in,- tcc1mer.10, é certo, mas porque drpcndr:1te de uma forma qualqi.:er ue
tirucional cristão - da verdade pró?ne da linguagem da poesia. mecena·o e, por isso, das circ1111Jtlmcil!J de sua cnuncia;ão.

150 !51
r

1'-' ào çúnfondamos, mtretan:o, nu:11 meio social dado, a mib1êac1u :.cm dú,i:Ja, a .::a.da pe~fonnanre e ::nn for me o estilo pl~ .;11:JJ de c11da
do texto perlr,rmatizado (sernp~ rela.ivo apo-ição, nc,se meio, do cor- a:inta:ior ou cantor, lrnpossivcl tambtm, ou pelo menos mu1tc1 d 1f k1l,
po performan:e) com a consciência c;·Je dele têm o imerprctr- em, au- pcn;eber de que mantir::.. e em que medida, o "tempo mtegrado" co,.
ditório. Ocorre (feliz cn'liio o médievafüla!) que essa con ci~ncia tenha re.-,::,ndia ou não ao momemo da cronologia em que se deu a pe.-fu1-
força suficiente para que a circun!>tâncij inscm':1.-se no tmo, como o ma'ncc. E;sc tempo (o ,.tenirio de integração") é freqüentc:mente nosso
faria uma citação. No mais du vezes, e o p i'1hlico que é designado: qaan- conhecido. On, organizado sobre a duracão sócio-h~tórica, não nos
do eJe eriuito numeroso e; sem dü,i:ia, n:unió aa ar livre, apóstrofos po.::le ser indiferente porque a l"elação Que ele implica com a duração
integradas na r.arrafu.-a o interpelam; guando t! c<'..,aleircsco, o c~o com~ é, no seic da performanc:. criadora dt valorei..
,:orta algJ.tna alusão s crna al:a pe.-soúagem ou a. cena co:te. Por '"e"Z~. As ','CUS, o cerupo de integração sima-se num ponto determinado:
a ah:sto passa por dcm::t;1ii Q$ coacorrcntcs, incapazes de ful-li, tãn - de algum ciclo cósmico, como as canções de entrada do verão,
tem, Essas evocações, geralmente fuglle5, sàc as mai> nllIDerosu. por que deix.a,"'alll ~ mat'Ca> qt:c: ~bcmos na cancão trovadoresca ed~ Qna.JS,
motivo~ e,,•identes: elas podem comportar uma ~ar.ç.io econômica; para anu~amentc, Bêdier cor.struia o protótipo do Ensmo ''pol)ular", e Sc-he-
assegura: o óbuJo ou o presente final. impor:a ao intérprete "perso:1a- l udko. um gencro amplamente difundido;
l:zar" o oferecimento do wcto. Outras alusões con,1:1m.:m ili.O tempo da _ :io cido da e:ostência humana, tal q 'Jal cantos ou narrativas Jj-
obra: as::im, na laisse 3 do Oirart de .Rou.ssillcm, o téXlo ti.tu.a-se mim gados à mcrtt de um membro do grupo, c:Olllo ospianems.. planh e ou-
momento do ano, em plena prima-..era:, abril Longa5 nanath·as, como tras Jamen1ações;
as cançõe:s de gesta e cenos romances, componam articulaçõe:$ teuuais - de '. llll ciclo !itua'.. como a maior parte da poesia litúrgic.R, em
que marcam, segundo tudo indica, a passagem entre duas ou mai.s per• ~;;.tim ou nas línguas vulgares, compreendendo ai as formas antig~ do
:ormances succsshas. exigidas pela realização da obra. A re~"er~a pode "teatro"; ~omo també;n os cânticos natalinos que rnmcçam u apa.rece.r
ser ~ndinta e tomar a forma de uma clescri,;ào: mas Si> tem sem:do e cm ncsrns t~.\1os, atraves de toda a Eu:oi:a, entre os séclllos xv e xv11,
' iinçiin t1n texto quaDéo é en1endida cor..o aplicando-se a s1 pr6p...'ia, cuja t::adiçào. no entanco, de,.·e remonr.ar a tempos bem recu~dos; como
por efeito de e"ipse, litote o;i i.ronia. A5Sllll é com a lai.sse miciai do Doon tah cz a s cm~ões de Pascoa, das quais ::ons:go disccrn.í: 1:aços entre os
dt! Nant,u;/, por volta de 120,::>, cuj() intt:prete disse cham~-se Huon Romar1.en de Ba:tsch.
de VilJeneuve. - da d11raçào socia.. enfim, medindo aconteetmentos, públicos ou
EE,es dado& textuais, TIO entmLO. para nãio ~m excepcionais, per- prhado;, rccor:entes -nas de freqiiênci.as impre--is:•,'cis: enconrro amo--
:nanecern em geraJ eçuivocos. Rmcs de centar uma abClrdagem exter- rnso, cc.:rnoat.c. ,1tória; ou. ma is expecifkameJ1te tal festa, tal acomeci-
,a, ,cmp:-c m"ito incompleta, :!asci.r:unstfuicia,; Pelo mei:os alguns tra- rnent::> po:íti.::o. O.s ::xemplos são certamcme numerosos, embora bem
ços gerais depreendem-~e, permitindo :nedir aprox-imac..unente aquilo menos ir.oivi::luaJ,:závcis. porque es~ das5ede wcto, sem dú~•ida pouco
~ur: a simpit::) leilura do t~co (110.ss.:r leitura) perde da obra tal corno rit'lalilÃ:ia, ma.] se di~tin~uc da pe•fom:ance "livre". a{luela que sô é
d a foi. L1mico-me a propor, quar.to a i:so. algumas observaçõc, c on- ,ituávi::: e"n :elaçào ~ duraç.ã.o petsoal e '. nti.ma do intérprete ou de seu
;;crnence~ ao :empo, l u~il.f e ot-asião so.:-:111 da perfonnll nce_ ouvhle O elo pelo qual ai se prende o poema esrnpa de novo á noS-.'oa
i:x:rcepcào. Nem po- h.~o ele d,m,ou de e:iri-.rir. e d1.-.so nôs sabemos. Que
ta. Vida de •anto ten..1a sido lida para a fe~ta de um o u.,,fa·c de mesmo
A obra ~xi~te no tempo de duas mam-iras: pela duração da perfor- nome; ta!Jàbiiuu. :o:nadu µor ahüõ.o a uma ocorrí:ncia receme; í.al ro-
mance.-, o qae Ja cham~. em nuL'll pane Jt »cu tempo inreg,..11do· ~ pdo mance, corno lembrança rle um ca~ar.ien:c de pnn::1pcs, tal ca:ição de
momento ..:m que ela pr6pria se imegra na duração i,;ocml O ICIDJX1 m• cm2ada :antada n3 partida de i.m uval=rro: a <X , ã' ,.,,e..,'.llo fu~a.:
tegrJdo d iferia muito, pode-, l'. '.).Upor. da :lura o textual. rcsu ll nte da e discreta, intei;rava-se na p<:rfomiance e crnitribuia par.i dar-lhe um ~cn-
i.i[Ill)lc adição de ccno número ae fonemas: ele romponava ncccs- tido. A.[ es\4 um ~ra ab~alutamemc gt:ial t que tern que VH m m a
~â rw, ::frito, ntm1co~. retarefo ou al'd er:u·ão do tempo. 1101 nc do UID; o O':DI: o tempo de mtcgnção oonotd. toda pcr-
interprete no " de~empcnho" do texto; a1 cabt.4m o~ não menos necc a. formar. i:c. u Ru:and canmdo (ndm1tam:>sl 11a pn'11.:rrn n~m dos.rorr.
nus llilencios. dos e ~a.~ nos é impo, shel ap11:.:1ar a cxtensao, vanh"C:l, l'ate"'es ela batalha ~e fl a tm" r;;rrsa d~:\Jldo em cor.ta outro!> tatores
dn _,:,ov!nc u> o rnt-srr-n que o R-,/and cant.tdn dtílntc, qurm sahe, de J'f çôc tle gesta. Entrcmnto, outro lug1re pcrfornandai conferem à obra
4rrr odcca5telo •enho a,, 11c a l,lll, c111~caVltk1rosdt.-sarre .Jc,,; sua ~t.:1• que ah se mamf~ta. um caráter oficial, contriouhdo 1.imbolicarnente
talha, se~, cães"" Evidente:nerm não. O ranto a e •a diferença, nada nos à exaltação do poder publico: skop anglo-sa,ênicos oos fe~tins re.nis,
11 nu nd (e n:unia a 3.~;em:,léia do pmo. Lem-
As rr.odalidades espaciais da performance rn:erfcrem ria~ do •em• parte o ume do can10 ~Jco antes ou durante o, com-
po. O lugar, como a morrento. pode ser em aparê"cia ale.itório. mpc•• bato. John Bnrbour, em 13-;'6, etl! seu poen:a c;ohre o rei da Escócia
to por cir:c1nst~ncias a lhe .. · à intenção poetica. \las uma tcn,;fo po~ Robert Bruce, conta que este. estar.do em retirada <ilante do cnhor de
,ezes s: marufe>.. então entr~ a~ conotacÕ<', e,rr.-ad2., e aquela, que Lorn, qu1~ atravc~sar o lngo Lon:ond mas, nio dJ;;;mndo ~não de um
prm·o:am essa sllua;:ão: lL-nsões ex..,lorá.,eis IIl!flleLcamenlc.-. ;,.--,_as a pro- minusculo barco, viu-se forçado 1 dividir em pequeno~ ~rupo" ,eu exer-
duz:r, per su~ vc;r, efeitos poéu::>s positiYo-.. Ta' é, se"Tl dúv;áa. um dos c:i10: a operd.;âo le-.ou 24 horas, ;:, dma:ue todc ecse 1empo, pa«1 ma ri-
: lano~ je -.ignifi:.1çâo de ::mmerosos p:êlogos ep.cos. O lu~ar da ;,er- ·~r a moral da tro~a. o rei lia em ,·oz alta o Romance de Ferrobrás! A
torr:1a~:::e é e <-"'>pa;o abe:to ao desenrolar da obra: um espaço, enquar.- :ircunstãnc1a, o :u~ar l~a\·arn a sm uiais alco ~r11u o pode: do efeito
ll, rcahdade topogr&.fica. e serrpre uma c:>ns:rnção sccioculturd. Q1e performancial...
na F:aJJça ou na Espanha co s~:ulo xn poemas ,atír:os ten'lam ,ic:o Certas formas parecem :er 1ido s:::>bretudo (mdS não c:w;clusi1,amcn-
lidos :tos lugares puhlicos. e~"e fato o, connt:, fortemente e cc.-tTib11 i, 1e) desnnadas ao uso de pequenos audi16rios, réun.ido~ em lugar fecha-
em :nedida não d~.•pre,i,,eJ, pua sua sig::1ifi~m;ia: lllsim é cm Paris do e privzdo. As.sim, os fab,'iaux que e contador reciu wmo presente
no t~m,o da ''(111erel.A ri;, !Jnivf'T';idade" ou~ h1tas ~ectári:u. e, Ca~ a um hós?ede, e, mais. geralmente romanc.es.32 Citei o fi•ain de Chré-
tela de Afons,:, x. l<l A localizaçfo do cant,:, na igreja e sua inserção num J :ien de Troyes, v,•. 5350•68, froissart e .'Wélrador. Gowe:- exprime c1.o rei
ou nC1u:ro momento da liturgia ::::,nstituern Ullla ::i-:1:i:e e:ssE:ic:al e~ ":>e>e- Henrique 1v o desejo de ler suas baladas dian:e da corte reunida. Tes-
~ia hinica•· das seqüencias e uo:>os de tcda a ~écie Assim é co; ::.s 1
temunhos desse gênero balizam seis ~éados de llistória, em lodo o Oci-
"cpbtolas farsc~cas'', rccente:ncncc estudadas por O. 1.c: Vot - tmo dente. Vários ge---manistas, no amo dos ancs 50 e 60, supuse:-am, se-
latino can:ado na rni~a, interp<>"ado de versos franceses, occ:.tà.'l!cos ou 1 guindo E. Jammers, que uis leitu..u eram feitas e:n voz cantante,
ni_t.alã::s qi.:e o :orneruam e do q uaJ é possív;! reconstituir. com ,·erossf. riunicarn~nte bem diferente da fala comum; se essa te:se ê ~·emadeira,
m1lhar.ça, o modo de declamação: por dois 3\1 t·ê5 ~utxtácono~ reves1l- pode-se éedwir que, pelo menos em terras alemãs, uma aproximação
1
dos de :,rnamentm solenes. Sua tradJção fica aBeg1..rada do século XJI se instaurava entre a performance narticular e a ;niblica, transforman-
ao xv; :lo :nem:o rr.odo, de •éculo x ao ~II, :ia era frar.cesa e na occi- 1 do idealmente, i:elo tempo ce leirnra, a natureza ! a significação do lu-
tanc4 a das "cançõc, de santo", cantaca, \'1sando a fiéi~ iletn:.clos, ou gar pcrformancial. Pode-se umt,érr. decu7i• qu~ a leitura so]itária (é ,·er-
e;-1 coro por estes, se:n dú~•ida durante ou i:nedJ.atamm:e a:>Ói os ofi- dade que atestada com menos freqüência) era por vezes praticada do
cias noturno.;, e da:,çadas, em certos casot como a Sainte Fov. mesmo mudo; ~im, a jovem damn, na est:ofe I lOO do Frmumdienst
Cada poema parece ter seu lugar marcado. menos por call~ de im- de Ulricb ,,on Uch.tenstein, i'as (' 'lia''} a canção e;niada pelo poeta: das
po:-içõc, externas do 011e ;>:>ruma percepção gl~bal da eciscén:::a - po::- interpretações diversas dessa passagem resulta a probabilidade de que
que er, ne:e~ário que todo o e-.:;:>aço da vida social fosse PO~camente lesen ["Ler"] aquí quisesse dizer "car.tar pan si rne9110".33
ocupado. A sombra da ign:ja. por assim dize1, atrás dos muros do con• Lugar e temi;o da performl.IlCe :;:,odem ~cr detcrn-.inados pela oca-
vento. ~ran~mite-se uma poesfa monástica à c;ual devemm vários belos sião social em que ela se produz. CerUmente. no seio da comunidade,
te.xtcs. eia At1be de Flmry, do ~écuJo x. ao.s Vers de la Mort do a~ad.e poetas, cantares, contado:es de lli.s!ôii~ se mim.!ravan a todos o~ acon•
ckt~~en.st- ~~lina.:11 de Froiir,ont, compostos por- ..,oll.t de H95, que se- tecimentos que lhe riuna..am o futuro. fas alguns dc~es aoo:i1ecimen-
nam amda hdos pelos monges durante o seculo X\1. o adro e em ~liS tos. eminentes no :urso dos dias, pareciam ter provocado mais particu-
arredores im~atcs, o ~ia floresceu cm volta de rcllquia.« sairadas larmente, e de modo costumeiro, o divenirnenco poético. Os dados
o~ err. centros de peregrinação: os Miradesa'e Notre-Dame. os contos fornecidos.por Fa:al, :\1enéndez Pidal e SaJrnen em seus livros re o
picdo,;os t: uinca os Jtrs de la Hort, nu ~écuJe :u11. !'e crrm05 c;n \o' in- "jograi<." confirmam-se reciprocamer.te: festas religic ru ou princlpe •
cent de Beuuva:s.]' Bêdier s tus"a ai, um pouco abusivamente, a, can- ca,, banquetes, núpcias, eJtpediçÕ\!~ militare,, "ia en ; c:s1 co tumes

254 }jj
erarn com.1~ dl'} 110.·us uu Ü\.,dcnt .
l
ha Uma crença generalizada atribu: dc.scie a Lscnnd~\,a ate a S10- 0) carolíngio, dão rtl~o à Lradii;ão; o~ Capetoi. a encontram por ~ua
~ em ·,ozalu uma inOuõ,1.ia bcnéfi ao cantode umJosral ou à ieltu- con:a, do momo modo Que os granje~ ..enhores feudais. o ~"t.Ilo :-..111,
ha. mas também tobre d ª•.nlo 5W!entc &obre • mel:1.nco- os rei da Fr&nç-3 atribuem a esse 1eatro um lugar dora,-untt fuo· ,cu
Castela e 1~ Aragão aclJa\
e_ ce music.t era indi.spen.sá-a:J r~
r>enç.u oorpora1s e a1é feri d~. Di\"mos n:ís de
esse motivo, que~ au~;to de pocda
c1pes Partilhavam ao ceno dessa o : ~~em de rua \1da. Outros iPrin-
palácio; os de Nâpoles e o~ duques :la Borsonha ~ imitario, depoi,
os outros, até Carlos v e os senhores do E5COrial. Abrindo caminho.
o espetáculo tonc=nua-se sobre aJeuns a'.0S privilegiados do príncipe,
tivou a o:ganizaçãJ nos écuJo P ruao, e P<>ó:-~e adnútu que e.a mo-
de::,a~es de poe~ ~ja t
b s ~ e xm, de alguns grandes e:iront"OS·
ca1aU:, de Pi.:ü-crt d'A em ra.nçci se conservou; aquele - no castelo
cujos cronistas do século xv vão rivalizar entre si esboçando d~crições
esplêndidas: festas d.iná:.:ieb, torneio~ (em que, a partir do s.écuJo xm,
inspira-se uma dança noore de damas, ocasião para um gêne~o poético
;e de Ah·;;nhc, Canru:.aq~;~
1 1
1~
- que ilu~"ã. a canção de Pei-
• •Vt.AJdorz, ou a fümburg/rrieg alemã.
novo!), "felizes entraw"; mais do =toe tmio, porém. desde uma êpoca
bem recua.da (séculos \'IIl•IX), a refeição: instante :iotôrio cm que o ~~­

Um dese_: 0 ªi~ sobre esse mund ' .


tre retoma força e vida, consome (nwn ~imbolis:no bomofig.co muito
antigo, de que nà.o se percebe mais a significação) a ofcrenca ia terr<4
esperaC'Jfo. Não oco . o Para faur de toda a realidade um segundo um protocolo cm que o luxo cstootatório aumenta no século
rre. certamer.t:., outra co·· , ..M
do conosco. já des:de uns ta • Lsa &a re~o de nosso mun- xu e que os torgonheses levarão a sua cxtr~ma complexidade. Por ai
tr.n on quarenta ano d
Pal rnorh-açà:, é public:•ári . s. Quan o nossa princi- se fuma, sobre :> público espectador. a autoridade daque!es gue o go-
m~rciaL Até bem depo•: da, oécsmeios sào de massa, e a finalidade, co-
1& o s uJo xv a moti - i . ~crnam. A P<-rtr do fim do século xm, o teatro da corte perie toda a
~onhece:; o meio, a Participaçã.:> •ensori . vaçao o1 uma sede de inocência; pxepara os espuitos pa.--a a rrresisfü-cl crença vindoura no poder
;ornurn. Opera rido (no . l· • . al, e a fmaJrdade_ uma alegria do Estado.
· mms a ,o mvel da~· · )
~cessant~ crans.:·erências entre o horn i stencia rom o. o elo e as Da Igreja e das cortes difunde-se assi:u o modelo e.a f-esta. vi.as
H\t:1 (: a r:tcrr:idade, a ti+ . ·1 em e Deus. entre o llJUve.rso sen-
•urgia 1 ust.ra\a css end. . a festa está e:n toda a !)anc, nessa sociedade, explosão perióõ1ca de pai-
plu: espetac11Jar em suas n:enores a t ~eia de modo aem. xão e de ruo, :ontra ou a favor, celebração ou carnaval (mas. com o
fé, po~ an: iooo 1. _Partes,elas1gnifica~·aasve:dadesda correr do tempo, o carnaval foi recu;,e:ado pelas forças da O'liérn!), in-
· .,, comp exo oferecido ás pe __ .
canro, lci'.ura1 e vis · (pel rcep,;;oes audiu,·as (música, tegrando, numa vast.a comedia colefr,a, as coac12.diçõcs e~e:us m.1 la-
, llals o esplendor das construçõe .
res, Hla :ou;,~. seus gestos sua dan . . s, por seus ato- lentes daquilo que representa\'2, daquilo com que brinca\.a e es~àcu-
<.e a parede san'" de· , . _ça, seus decors}, táreis mesmo: toca-
...,, ua-se um J'JJO ·d . lo. Ora. é Ju.stamente ai que sec insere na materia social u jogo Poético
anel episcopal; r::spira-se o perf - ao pe a csta!ua, no relí::ário, no que eu evoco sob a denominação :eztralidade, termo gUe se refere de
ba"ie d.; ~oc:edade e ,,• - . . u:1e do mcenso. a cera c!as l'elas. ?\a
modo preciso a nosso teatro e à ;,ráti;a .mplicada por em~. O ckmento
J ii. a c-nmoma de Pli - d
de uns ao, oc,rcs dom;nant j . es:raçao e \'3.Ssalagem. ligan- estrutural e semântico comuro mtre os termos assim dados por conti•
. , . es e ommados em proc· - h.
consr;1:1iurn~ perform ~ . . · :issao 1erárquka, nuos - performance medieval, tearo :noderno - reside na presença
. . . an ..e. que Jrna.nos 'eac~J- 0 d T
a :ust,ça d vina rnmo ,,ar,e n . . . · "' , o: a.:o, ql!e coloca física simultânea, articulada err. torno de um corpo humano pela ope-
o ,éculc \li menos ~ ,... a acmm1straç· .
d d' ·
ao o ire1to, mante,.•e-se ate ração de sua voz, de todos c•s fa1ore-s sensoriais, afetiv)5. imclectl',o~
.· ..orno .ProvJ do que ~om 0 • . . ,
:\' • il! r.1;niat1ras do Sa h ~ rho. e. amda no seculo de uma açàc:• total. l>onde o dcspre;o afeiado s=or muitos letrados, ar~
•e·rir<'no l!Cf'"lânioo d e rensp,Ege/ ,estemunha.-n a importância, em
· os gcs:o~ ~ Pc:wuras esn d • . o ,e-culo .-..m. pela poesia em língua vali;ar assim é com Gautier ".1ap
d ·
JU icráría; e :a lu e cão generaJr-~do r 1za os na rctvindrcação em muítas pas.,;agens. do De nugis. 3!, Err. seu latim, é a palavra mlm:.ô
l~.ran•:imo, mãr si "~ que persJSle: atnda cm nossos dias
· para prei.tar Jurame A ' que surge sob a pena: as formas 1eatrais anúgas (comoedfrr, 1ragoedia).
de coe~o .social oe onde cm . mo corte do príncipe, centro reoeb:das comumente como diálogos letrados, destinaéos a?enas à lei-
unta .rm ar,6 . ana o poder, é um palco DO qual se repre-
tura. nlio dentavam outro t!fmc cfüponível.
goe-e rer.ova pouco a pouco) d" ª . -·-·~_,,,.Yói~ o curso do écuJo xn, uma mu:iança esboça-se na atitude de aJ.
vfni;i::., a rotin;;J do:, reis d~s ~ c~mas e imagens Desde .a é;ioca mero-
~'lltl llatimot.O~~-"'-~Hu .ies de Saint-Victor, ar:tes de 1140. e;a-
. enrc;b se como urna parada emblemática:
borando u:na ela ificaçi.o das utes. no foro n do Did:r!:aliain_. mt.,-o-
256
duz1u (capítulo .281 entre as ~ele o, tes mecl,onir:ae os 1/Jectric11. /\ idéir. mian1íes1nm, te ir..~~ira:la i!clos interprete de pc)t::-.il que enco ntra em
e, e:n :>arte, o próprio texto são t"macos de empr!st1mo a Isidoro, l·tv torn1) de ,,. • 'cl~ rr,;:i ,1•.-a.-n mi. publico h1•tónas n,•e,-,ta:J ,s, obm 1l os
molof!tae, livro XVIII, que ll"J11alava o~ Jogo d a Roma 1mpcnal como gestos de seus corp,::r d.J b..ab1hdade de sua. r:alavr-1• e da modu.la.;õc,
uma arte maldita, instigadora de 1dol~tna: o texto de hlugue, apaga e.s- de sua voz'' í,gatJA rorponr ar1eque v~rborum et m0<1r.la,•i9ne voei.'> {a(tas
h .a. u pub/u:o re.J~r;•hanI),.,.,
\·erros nos Jutro capítulos i!Stão no i:resentc), refrre-se i:nplicitamente • ,do I! cnsse do doJt05: se Richaro de ~ aint-\'11. -r em
a cos:lUlle~ que Já mudaram. Por que es,n movaçào, ou essa redesco- seu L1ber exa-pi1011r,11n ~por ,..alta de li Sú-60], rct::-ma a p.b~-~p.em de
e,t.a. depoic; de seis ~'1.llos de esquecimento? ~ào ná dúY1da de que seu mestre Huguei, Gcoffro: de Saint-Victor, no Micmco!mPJs. cx::hii
-,e exercia sobre os douto~. na pnmeu~ metade do s~'Ulo .xn, uma prc5- as rheacnca da. ~enc d.a.3 me, ...... -:as; Raou dé t.o~i;-.hamp em ~i:
são ;:ulturaJ que não o, dei'<.a"ª ignorar a teatralidade da p~ia nen comentário a Alaio de Lillie, mi J21 ti não as ram.:iona 5enão .:cm~ l~t:1-
o conju:.:o de técm~ e de efeitos que ela mobilizava. Seguindo & ua- tiranca. Segl!ic.a!; de u...--n "'::; Jc- uJ.Lra~ coisa5 semelhar.te;:;" que .l!: ";;a,;a,i-
di ;ão agostiniana. ccrngida no sentido de urna confiança maior no rc•- za; as enCJclopédiru :lo ~e=u.lo xm 5eralrnente as rejeiéam .'' Vbcent ce
ne=n, Eugnes considera as artes rerrédios dados por Deus à raça de Beauvais. no hrc u de Speculum doctrir.ufr:', µo· volta de 1250, reto
Adão. dc:,ois do pe-cado, a fim de per:ni tir-lhe, se ela os utiliza correLE- ma, modi6caod::H:, a IE:a :ie Hugues; mas o p·:>prio c.:ráter de sua. obra
:r:-.e.:i:e.. restaurar sua inteligência do mundo (no caso, as anes "1eéri- limha nesse porcc o alcmce: eJe complla llir\ repe'"t.6rlo de a?u:turi•at<-><o,
ca.s"), s.a vinude (a.; anes 'prática~ ') e seu poder sobre as coisas ;~ antologia de tudo o :p!, éepois de Isidoro, foi e~crito i;ob:e o teatro;
art~ "mecânicas"). Estas últimas formam um setenáriJ, em que três o interesse pessoo.:: iescâ au~eote. Robert Kilwardí;ly, De ortu p/11/osophiae,
m~mbro~ i::-,rutituem os meios pelos. :tuais a nat11.-e73 humana prese-- x:, na mes:aa -épc-:a.. afasa das ar1es as thealTi(a, inconenienccs pa•a
va-se das agres.sôes exteriores, e quatro (agricultura, caça, medicina e os crentes. Oej)oi5 óeJes.. rez-se-5-ilêr.cio. Mas ja os f.·an::scano~ começa-
tliearrfral graças acs quais ela entretém seu corpo. A colocação da<; th.."il- vam a interess.ar-5e pela c-eatraJidacfe da palavra; e logo Tomás de Aqui-
rrtca n:.>s.sa hierarquia é tanto mais sig:iificativa porque a poesia (poeta- no esboçará., :'éa::hamenre á realidade de seu tempo, a çrimeira retle-
rum carmim1) figura em outra parte, entre ru artes da lógica, parte "cli;;- xão crítica sobr~ ~s.e '"'1.rabal.ho'' d!Stinado a fo--necer uma áelecta1fo.=~
serta:i\'a·' ~ A d.istin~'ào parece-me refletir aquilo que um ~,írito culriv~c.o Quando. por ·.-d:a dt 141)). Eustache Deschamps, no Miroir de Maria-
deva ;,en:eber cntic a escrita lacina t: a poesia em lin~ ",tlgar, U-r.a ge, vv. 9254-ó•, e:n ·:rrea ::om agrado as ''artes mecànicas • começa ç-0r
glosa inserida, sem dúvida tinda no século xn, na Phi/osophia mumii aquilo que cons.:.:."i:e ern ·• fazer os cantos e cantar por arte musica'': fi-
de Guillaurr.e de Con:hes faz referênda ao capítulo de Hugues e cJloca gma de repeu;:ãc, :il!;-e- jUS".:5::a. sem dúvic.a, nei;~e contexto, o de;;ejo de
a q 11estli.o: ror que as theatricc, e aqui mesmo? Resposta: porque duas ~·alorizar a pan:e é.e 111T1a afr.-i.dade corporal, a garga:ua, ma, também
necessidade~ vitais patenteiam-~e no homem: dotar-se de movimento (e:i- as mãos, rocan-do '1ICJ ir:st.-u.m.ento :le acompanharnen·o, e n~ mO\imcn-
rend~-R ::lc imaginação?), para combater a lassidão do espírito; e de cos assim geraé.as. Cl~o5, enfim, à alulidade "iva
pra7er, a :im de ccrnpensar a fadiga das tarefas corporais.36 As thel- ?ara um ir.:dcctua! nutrido de lembrruu;as antigas reinterpre1~das,
trica, con.1unto de proced.imen:os dos. quais resulta a teatralidade, não em contexto es,.:c,m, ,;:amo puros produto~ da escritura, o espetá.cole que
são, portanto, más eo:. si mesmas; são, no má."Óillo, perigosas, o que jus- oferecia efetl•ra::neoce a: [?e<:sia em língua ·rulgar sof:ia de umo. ambigüi-
tifica a severidade ecksiástica para com os mimos e histriões. A voz vi- d.adc co::igênita: lccafrzaéa nu.:na zona-limite ~ntre a a.'1e e a. vida, pa:-
va do jogral, a palavra gesticuJada dos poetas, a música, a dança, e§C ti.cipando de lJlC2. ou de CJUtra, por.ante suspelta de dois pv1 tos de vi,ta
io11:o ~co e \ubal que é linguagem do corpo e colocacão em obra das opostos. De f.at-::1, ~ verda.15: (mas até que :;,onto esses home1:S se davam
.1.CI1Sual.i::tadc:s carnais - tudo is;o, aqm e agora, é tambén:. remédio, equí- :onta disso7) qoe !Xist.e l:Cl3 contradição per.naneotc, pelo menu} vir-
voco mas efjcaz, das almas. A investida assim operada pelo filósofo s.ó tual, ent:~ a arte e certas regras socialmente :iceitas pelo irupo. U:na
tem um a ca~ce limitido: ao pensamento de então falta"a.m instrumen- e5tilizacão opõe-se à norma social como, a uma et1ca, uma cst~tl:a. Ou
tm epi.c;tcmclógico adequado~ 2 conceitualizar esses jogm do corro. então a estfüznç.ãil da poesia vulgar contempla, para além do :c:xto, a
Nada disso impede que, quar.do por volta de 1150, no Po,'icra/Ícus, Jo!m o.çâo de seu mlê::':Pre:e tu modalidades d.e 5ua ~cep;ão. Donde a m:.il-
of Salübury evcxn os atores do teatro antigo, a descrição que ele dá seja riplicacáo de mal-cc.~C'J'ldidos. As coditica\'ÕCS, de resto muito t<!nu~, ado-

258 159

1
tadas pe!os diver~ gênero~ poéLiCo:, em lm4ua vulgar dctinh ...rn (a1.!- l·. Lop~z E Lrada o .fü1a recentemente, em outro$ termos, a p:-0116-
;n~smo em razão de sua visualidade) a "língua du jma,er.~" p1cturais ,,to de 1ex10, e.panhói, antiics: a obra só se completa quando une lr:-
11
~ esculturai5, recentemente deci!rada por 1~ Gamiez-. ~a época carolín- tra. melodia e situação. De 1,.m pOllto de vista sem.iológico, díría.mos
1.P"• os homens da li:1reja condena\'am globalmente o U>O dess~ códi- que ua comuni:açio opera-,e segunde dois cir-:uitcs encaixados e rnu-
gos. declarando-o '•~ão" ou ••d.ia~lico". Sem duvida, já farejarill..111 tu:unente d~pendcntc;: o intérprete qu~ enuncia o :exto a um ouvmte
aí n ::na:üfonaçào de urna profunda necessidade de sacratiz.açào do \·i- fu11ciona, ao mesmo 1em.po, como 'na.:'Tad.>r'' (5egU11co a literalidade
..,ido - essa neces.s:cade de OJ1de tinham saldo juntas, num passa.do mui- desse texto) e co:no i.r.Jom:antc, pelo ,,és das c:imu:stàr.cias, corutiuindo
to distW11C. as forma, religiosa5 e as formas poéticas. concorrência in- elas cm ··ccm:::1:ario" à letra, mas um comectário mtegrado iod.isso-
tolerável para a ort.od~a do catol:cisrno medieval. A ritcafülade - a ciavclmeotc nela pró;nia. Nes.,e sentido. a obn:m:ed.Jeval está mai~ para
utcatralid:ide"' - poética termina. ç.ertamente, em Ionga duração, por nosso fl!ne cioemarog1á.fico do que para :i.ossa literarura. 42 Donde a
atenuar-se, mas não em suas r.ianifestaç.ões con;;~etru, porque. ate os~- ação exercida ;,-elas cond.i;õ:s performanciais liobre a textualidade, qLc
culc xv :, parcial:nente, ate o x··vu, o corpc fico·J ai to1almente com- c;~as pesquis.u rec':nles parecem re\e!ar (é a5sim rc-m o uso d~ ttm-
prometido. Foi se-.i ob:cto que~ desloc~u pouco a pouco (oa mtdida pos \Crba;s na ca,r.ção de gc,1a) ou obse-:--a;õe~ e.e ::,rd~m muiu ge,al.
da d1tus:10 da e,criLUra), ao ponto que, pas~ado 1500, cm todo o Oci- i:or e;,.em:>lo, wbre a e.x:e;;sãc média respec1iv.1 dos .ext:>s, sejam narr.t-
dcrue, a poesia aparec-e como um errpreen-dimento, a parrir de então u•,os. se)am "lirJcos", e::~ .. .,_, variações no curso cio tempo parectm con-
laidzacto e metJ.ior:ntuo, de tcalral:zação do colii'iian::, firmar: a;sim. ,) fat.:: de g1..e, do séi::ulo x ao xu. dá~se um alongamen-
Nada i~ola a.i (antes desta época tardia) aquílo :me :harnl:.lllos abu- t~ regular dos r!!a:os camados; a curva média, entre o ano 900 e o 1100,
sh·amcnrc o teatro e que dc:~igna en:ão um vocaou.lario flutua!lte. refe- inscreve-se no comi de duzentos a seiscentos versos; cnue 1100 e 1150-&1,
rente à icéia de jogo regulado ordo, l'Jdus, jeu, piay spel Raramente de 1500 a 250); e::n segu.:ia, de ma..s d: 5 mil; essa ;>rogressão, por sal
--e;ôric:>s, como Geoffrey of Vinsauf t: Jol- n of Carland;:, ir.te~rogando- tos, não ocorre, pelo menos em pa1e, ligaca à mcdifkação da.i conci-
se a p;opésito das comédias de Teréncto. tomaram emp,est.afo de Pla- ções da r,erformance? Já ·,á muito tem;)o J!an Rych:ier afírma·1a, ...:ori•
tàc a expressão genu.s dramafi<on i"t"po de disc·.1rsu i.Jra.rr.,Hiio'' 1. defi- t:i muitos outro!' . a in·luência desias última~ ,úbre a .::omposiç.lo do.;
nico ;-,elo fato de que ú autor ai se exprime pela to;.a da, perso:1c.- poe~.4 ' O que ele c~c:-evia então da epopeia mer~cc ser prude1:emen-
gens, 4i Distinção maplic;á\'el a língua ,ulgar, as;im come, ,:111 ~randc 1:• i:nerauzado. ao ::iue me parece
:nedirla.. à poesia latina desi,e tempo: o interprete. ainda que fo;se um É por ÍS.'iD q1,.:~ podemos questionar as di.tinções que, pns:oneao,
lei:or p.fül1co, é aqui pe~onagern, e não t"alta.-n cs e.tempto~ tm que d.e uma estética clas5ici:zante. somos Je\o'ados a :'a.7..er c:n:re os géneros poé-
um pa:rct" ro lhe dá uma -~p]jca e :Jm mú~:co os .acompanha... donde d;o, da epoca anterio~ ao século xn. A verdadeira distinção, para aque-
a plur;1li:hde d.: :>~rformancc. A dificuldade que experuneotaram. o~ nu:- ,as pe~~oa.s nã:-l prO\-mha de ::u-cunstâncias perfo:ma'làais mais do c;u~
dkvalis\ru; dassil·caàore~ do seculc :x1x e;n situar r.um paradig:na as :le qLalque~ outro fatcr'! F. Bauml, no volteio de uma frase, perguntava-o
fonr.~ :l1tas. ,cm desespero de causa, monólogo ou diâlogo "d~amàt:- c:n 1980..i.c Um gênero ~om efeito. resulta do agenc1amenlo - na h.s-
1.l•S" t•!.1tcmun:n e...~a aprente am::i~ ..udade. t6ria - das proi::iedadCE Stmânt.Jcas e pragrr.ática.s co dis:urso, analc-
O ~ignif:canHe do significado 1ex11.:a: &um ser ~ivo. : argào à parte. ~u ao qi..: e, no ins.;mte,-> ;.to da p.-lavra Ele .;e def-ne segund.> :>s :rês
eu trndu:fria que e ~entido dn -ex1c se lé e:n pres:n;a e no JOi-!O de um l·i.,.os =1ue determ.ilam seu51:-aç:os :~trururais. mas r~lações com o,; ot:-
cor;,J humano. O t!xto torna-se -1!-4e'l.te. segu.r.do a lerm:nologia ae t-u~ i~uc:ros e: •La rcla,;iio ;;;.l:n o cont.ex:::> h1si ó•ic::-i Ora, em performanc:c,
:<,lcluhan. a pe·for :-_-, ~ r..' 1: d , f'rimento senão ,ectm:larian:erm: P) elementos dt~e :nntex1c são asmmidos real ou simbolicame:-iLe, pe-
ela não é em at>s:oluto urr.; "lc;a,íão c~necialmente agrada"el e comurn- 1.> corpo em ;,· ~cn;a. ,. c:nlizaçã.> :io jogo vocsl dos movtmfl1t:)~ do
caç.ào de vida, sem rcscr, t1 Preen;:he para o gru?() a Iun:;.ào q uc ~em 1:rnbíeute, ;ua cod, fii.:açâo. me,,mo e- fr;,u,2, ccmtr:buem podercsamentc
o sonho para o md.iv1du•:>: liberação unaginária, rcaliução lúdica dt um para v estnbtle.::.imtaco da 't>,aç-Ao c:m quc~tão, .ro:conh:civel, de chlifr~,
oe!-.cJo. Dvnde scL ex1r-aord111áno poJt>rn.i • .,L.L,O_.,,
...... e objctQ de jul amento qunlitam"O>. Não é hso o que emend:a P. Bec
qua fo ~crevia que a "chanson de Jemmt'•• .o/lS'.llU. mmo) um "ge
nero' Jo 4ur 11111 "tipo lírico"? Não é às ne:es.\Ícbd~ gm.da.s peb modo

'.!OI
tranc:~cano Je 1eutrali,.açilo pre:.iic::il que se deve o forrnm;fü, do gênero
dos lt1udi1 A opcs1ção entre f;1r,;::i e mri,,. no ,~~ulc) ,, lf)•oblema d S·
cu1ido e cono'.) nã:::, rcsulta•ia s1mplc~n~:1te da dife-rn~a de ,cs•e tios
1 res·• Dai, adema.i$. o yue coru-emun ;I• 01.lldo e infor.mal todtll as
di.,ÚJlções genericas at~ meados do século . Nad do que !.C ;,cm C!·
crc\icnc.o sobre os fabliaux há 150 ano, põ<le t'onu~cer Llffill. rlríl nição
estável do gênero. O p-óprio roMan, chc1?:ido tarde, e limtt.ado po1 fron- CO/\lCLUSÃO
1e11a~ unp~c:cisas; e. entre os ~rands rhétorqueurs de: por .,-olta de 1500,
o~ .ínicos ''gêneros" identiftc,heis (tal como :i rond.6) o ~o em vi"tuce
de sua ~elaç1o com a musica ou l:Um a Lan.;a ...
E:-: performance, o '.e~lO pror.uncia:loco~1s:itui, primeiran:entt:,. llIT.
sim;_l sonoro. ativo como tal, e só secu:1jariamen-c é mensagem a.:ti<.;u-
lada. Donde, para o medievalista, uma aporia cr:tica. já que não ;:iode
apreender in situ a perlo:ma:-ce. ContLdo, es~a Lrnpos,ibiliôadc ~J.cto jus•
ti fica cm na:ia a n:glgênóa rnm q·Je se renJe a pôr enm:- ta.rêntescs,
ou a ignorar, com sol:erba, o pro!llem.a. :-.fão é inc.oncebi•,el, diarúe do
que fa.:a, reconsiituir (em n::.Iitos cases particul~rts que se tenham por
exem;:,la.res, e ajudando-se com p'.1ldê:i,::ia de trabalhos e:.nológ.:os) ::>S
fatores da operação J;erfema11ciaJ (tenp:>, lugar, circuns1ãncias. con-
tex~o histérico. atores) e perceber, ao menos glob<a.lmente, a natureza dos
valore~ inv~tidos - entre 05 quais aqueles que o texto veicula ou pro-
duz. Em condições ótimas de infonnaç.ã.o, somos conduzidos até o ponto
~treme e-n que a ímaginaçã.o crítica aspira a alternar com a pesqui.la:
onde o:1ço, de reµe:ite, abafado oru audível, este texto; oncle pe"Cebo, t
num ~elaace. esta obra - et:., st1jcito ~ngu_lar que uma erndição p;êvia '
renha (esperemos!) despojado dos p::-essupostos mais opacos que se p:tn-
dcm a minha historicidade, E- me:.- enriliamenta em ou·.ra cu.lmrn, a
nossa... Cer..amente, em 5Í, c:a.!:O se chegue a ela, a reconstituição pe--
manec~ria folclóú1;a, t: não :s-c sabeàa., tudo <:ontribuindo pa.r.. isso, "~:--
<ladeiramente fundar un cmuecimento. Parece-me, c::on.tudo, necessa•
rio QllC a idéia de sua pos5ibilklade e, se posso dizer, a esperança de ~1,;a
real..iza.;ão sejam interiorizam, semanL2~ 1mcgradas em nossos jl.Jl•
gamentoi; e em nossas es::olhas m::todC'lógka~.

262
13
E A HLITERATURA'?

O caso do romance. A ilusão literária.

Em várias passagens, nos capít-Jlos pre:edentes, fiz alusão a algu-


lll3e~peciãcidade do ''gênero" romaoce. Por ai, com efeito, passam di-
e
"ersa.; questões históricas (o que o "romance"? donde ele vem?), co-
loca-sç wn probkm.t t.k 1.úillz.ação: num mundo da voz~ o "roman~•·
par,ece pretender abafa-la. E será que a1:iafa realmen1e? Sem dúvida, não.
Cer1ameme, se reserv.:mD!i (como o fazem os medievalistas f.ran.ceses em
geraJJ o te:mo romanc.e paro designar as fc,mas poét:ica5 narrativa~ ma.is
a ovas que apareceram, no correr da segunda metaie do século xu, nil
França e depois na .l\lemanha (e o caso éas obras de Chretien de Tro-
yes), ~ torçoso cc·nHatar que seu func:,:mamemo só deixa a voz o esta-
tuto de imtrumer.to, s11bsenicnte ao lexto es:::-[to que ela tem por o:ficio
fazer cc-nhecer, mediante leimra em voz alta:. Há, em relação ao .::on-
jun to de tradições poéticas de cmão, urna ~nde di:'Pre:iça prát:ca, ;;ias
nào há uma situação fundamentalmente oo:uraditória. O historiador deve
simple,mente registrar o fato de que, ao ;aba de cois ou três si:culos.
essa diferença iria produzir conside:rá\·el mudan;.a qualitativa e afetar
ai consc:;ência que o hc;nem moderno tem de suas relações com a li□-
gua.gtm. F. BaumJ, em seu estudo sobre os Nibelungen, sustenta Qi..e,
Quando da performa.ncr oral ;irnprian-<:'nte- dila, 1e2tralmente desmrnl-
,...:cfu, o:s ouvintçs percebem imcdiatament~, e em bloco, o autor, o reci-
tant~ o narrador e o texto,. fomianc • ses quatro elememos um 1000
indmodâvel; na leitura cm voz alta, no entan10. o om'in:e so pen;ebe
de se modo o reci1ante e o texto. Donde um cfcLto de di.stànci.t que: um
a 11 r av:· do pode explorar de ~ árias maneira..i.
Ma ll prõxim o 11 ;JQTW:i[o qtk da r-.uilo, o problema, ao ,rr c~,.m-
crndo, o foi em rerrnos de gênc~: 11;na abundam! literatura crítica,

265
uinw nM: 11nm 40, 50, O(I de no~so ,é:;ulo, tratou da "p:usagem'' da seu "romance" ao e5cfrn; i1•1nos (à nltura d05 qUim de e a ça) e à
ep péia ,1c ~omancc. O Que se qllcria dizer com passagem p!:Tma11ec11 narrntivas disseminadas pelo con dores de h1stóna~. que e cs nfn l m
obscuro, !l mer.o-. q1.1c:, à :nanetrn de F. 1 M rin, se t clarecesse a das com desprezo em d1 v1 por v U
cus·jo, cc u:ri ponto de rm qLasc mctafütco, de vanço daJi!li ~ (o h m norar) o :r.lido pnmri·o de p6r em ,omtJll(t". abu iva•
a par.ir -de !IH ~= :
e aq11: e aut:>t c•panhol, e ''roman- mente transformada per mutos ;ncdiev,lilstas em "tradu2i·", a cxpre~-
~c" cor.stia1i. com a epopéia, uma dns <ll.ns rnmificaç6es de wn di~cu,- são :ne parece referir-se.. ma:s do qut apenas à transferên: n irtguí uca
so na;:ra1ivo primordia . Uma conccpç-li::, análosa, de c:igem român- ao coment.á.r•o que urn ~ l ~ pronuncta sobre um hvro ie autor d ade
cica, está im;,lfrada no uso do mcdieva•i~•u aJcmlic,, 4uc ~e: sc:n,em Pôr em romance e proprinmeme "1;:losar" em lmgua \•Ulgr. "pôr. da-
da5 pa.la..,:-a~ t:.pos. F.p,k ;:>a:-a d~.gnar canto e, Eneu dE \cldd.e, e, Tris- nfican:io o conteúdo,"º alcance Jos om·ime.s". ··~azer compreender.
rur.j t.le F-ilhar-. o Jwe;r. ce Han:nann quanto -:, ,V1~/14;;J5,<1n:ieá ou o adapando às cir;:unstâ'.lcrns''. C::J.:..'lo emender de outro meco cs pri-
D1.-1rl(:h. t.:ma ;,enpecr.,a atrc-se a~~in:., ;nuice geral pua ,er e:ficaz. meiros ,ersm do Gui/la1.1me ae Vofe )U o prólogo do C:igis, "'· 1-25,
na in:e:pm~ç{io dos !ext.os: m.i.; permit~ parccc:-me. úuá- O! mclh.or. testem-i;nho explicito? btz t-,istéria é é.Ltên'.i:a, diz Chrêtien, pc:rque esta
O ·•:omance'' surgiu, com ere1to. ;ior volta de 1150-70, :ia ~1.nç~o da contida num li..-ro da bib:.01e:a :.lc Saint-Pierre em Beau,·ais; desse fi.
oralid2.de- e da t\~ritua. Jngc de saída i;;o C1-:a.:o por e,crito. t~ansmis- \ ro foi :irado o conto (ber.; co:1heddo) do qual eu vos êou aqui a adap-
s:ve.l aper.iis pe.:. leitura (com a ., tenção, é verd.:de, de atingir ouvin- tação ~plicada, por isso significmdo mab - como ou:rora YOS ofereci
tes) o "ron:ance · rrC'U.S~ a orolidade iliu 1rad1cõe~ a1.tigm, que termi- a da .4rs amandt de Ov;dio. O "rorrance" de-;marca tudo{\ q ·.'.e. por
narão, a partJr de .,ec:.ú, x••. rr.ar~udfaando-sc em' •cu,turd popular". notonedade pub.1ca, rur.da-se :so:nen~c na tradjção oral. Jx rato. ele se
formalizado em ·,gu.a ••ulgar. -;;ia~ ;:::-1r c.?u:sa de altas exigências narra- liga estr~itamente a esta, que per;nanele uma de suas fontes cc inspira-
ttva~ ou retór'cas, o roman;:e rào recusa meros, :k fato, a :;ão. Rei~· nd.ica mai5 fo~temcnte ímes:ro que ro:-se., corr.o aqui por um
5UJ>!'eW.a.::ia co latim, Wil<>rte e ineumcr.to do ;ioder d;, clero. Contra- jogo de passa-passa) ,eu pa,entc,c,) com algum te.xro lati no. Rn::·He-
riame:.te aos contos de c:;ue i:: nuue e ~O":J em geral, ele rcQu::r vast;:., memc, fundou-se sobre essa tarac·eristica a distinção t-nrt ~ gêneros
dimcr.siif"-i: longas duracJc~ de 1eit 1~a e de audK-ão. em qur: os encadeó:.- do ··rorr.ance" e do /a,. cr:açõcs corit~mporânea~ da:. 4uai5 a segunda
2
mentos da na,ré.tÍVé., po~ mais er.:bntl1ados que per vere5 ;,;,~çam, são se dá expressamente, ao cont,àiio, como derí~-ada da tradi;ão oral Os
proJetados para cm adm:te nunca fechado, ~xdusrvo de ioda circulari- primeiro,; ·'rom.ancista.s ' pcrtan:o, nã:> 5C podia:n mostrar u.nân.me!>
dade. O diScuno acha assirr., en: sei! nível ;>Toprio. ganmir.,fa concta- na definição de seu ;,.:opósirn, e obser,am-se. durante meio século ou
çõ1.-s m::.i• :icas, o uaço de in:.oop'.et~de e de incefi.niçãc :tas palavras mais. muitas flutuações que rraem as uc~ignações hesnante) de c..-n gê-
OOlDU."lS, as que n.:, fio dos dfas dizem a vida NiMo ele se opõe ao cis- nero novo: ronum.ce, conotado pela :idéia de glosa, conscn:ará muitc tem-
CUNo rod.undante e fectlado da poe1ia mais antiga. :DO por concorrentes conro, 4lll.São d .J.Ir.a oralidade dai por diante do-
A CXJ)l"'...55ào mettre en roman, fregüenre no francês ao sécu:o xn, rnmada; aventura, e-.'OCando u.-,,, projeção num tempo abert::>; e lli.!:éria,
dçsigna o proce.sso que permite a::;tgir es.~e fm: o;:,e-ada po: um indivi- que é a v:rdade realizada. 3
duo aperas arranhado pela cultura "ivres:a, a co:occçêo f:'m rcmance Qual:iuer que tenha sido a tom.adi: :le posição pessoal de cac!.l au-
tt:.rn por dl!'jtinatário quaJqur ptssca do meb cavaleiresco e nctre. O to:-, o valor eminente que ele at:-ibuia à escritura, de fato. mcdifaava
primeiro promove. ?0r meio d.a pen&. e ela tint~, com 2 bten~o. em prb- suas relações, não somente com ~ teJ<ti> mas tami:>ém com o nu. i'.lte.
etpio, e."C:cksi.,·a do segundo. u.m enunciado de~ línpa natural :oro.um É isso o que entende::n os mediC\'tlistas amencanos, para os cuais a · 'iro-
ao estatuto aurorial do livro. foi por di33odaçio da expre~ão que na.,;- nia" é consntutiYa do gênero. O ''roma:ice" procede a umi1 iruoa~ão
ceu nosso r, ome ro,rwnce: iniciativa. segundo tudo inaica. de Chrétien crltka de seu ouvinte, ele o ern'Olve (de maneira menos ou rna.s há;,il)
de froy~, em que se marca a força de '.n1pactc das p:ática.. escolares numa bu ca de sentido, uma imestignçlio. ccrtamenre limita::b. pelas in-
~obre a prârka desse escritor. Romance, originariamente advérbic, pro- junçõcs imbólicas que pesavam brc a cultura de então, irrealizável,
.,indo do latim romanice, refere-se .w vernáculo - ponanto, de .r.odo no entanto. sem a interven do ocrito Tudo se p 001110 -te a ge-

primário. ao oral. Donde crné. ambigilidade. Por isso os ";omancis:as" nealogia da narrativa escrita <le l.il•gua ~ulgai, até por volta de 1200 -
.se ddcndcm, protegem-je de um lado e de oueo, opondo. a cada vez.. quai quer que fo~ em o ar1wnrn10, :i oten~llo e a compkAiJ:ide - •

266 26i
rcn1o nta.ssr a uma das "'formas 1mrles" an11samc1 te ,atal('lgada.s pN t..1de de a lin ua \"Ulgsr falada é verdadcira.mcnle língua
:,('CUl(l !(li, !Ó
JoJles, o Casus, narração consi1,tmdo ern intenogar: onJe está a ,erda- m.:itern a: ~cnta, ela se desvia para o lado d o latjm, do Pai, do Pode-
dc? Onde a j ustiça1 É. muito hleralmc-nic. o tema central do Tii..1an de n:~. do üu1ro. O romance, porque a e.c·í1ura inscreve-se no próµ1io p r,1
Bé:olll ou, com humor, do Éracle. Smto-ise a p:cssão da cone:nte dialé- jcto, toma-~e então o lugar de uma experiência mal exprimível e po•1: o
u~a que atra,e:,:;a o s~--ulo. Uma reflexão so re a es ritura (indq,er.den :! oon,enicnte: a língua que foi aquela da infância, que pennanecc a dos
ca a~dição mórica) esbo;a-se assim, em hngua, ulgar, a prop6sito d~ uaball:o~ e do~ dia5, altera-se. de re;;>ente "língua estranteira'', esc: hei
r:L.7,;ilivas d.e ficção, ~lu.iodo todo! os outros textos. Ora, os ":-oman- Mentir que C\0<:3 Ogr:in no v. 2327 do T,Is1an de Beroul, a propóiito
ce'- ' ' dessa época constituem no Oc:dente as rnai, anti~ fJOÇõe) co11- da epist.Jla q ue ele ·,ai compor: então, ressoan:io sob a máscara Coib:-
fessadas como tal, sob o \êu transparente áe uma pretensa. his:oricida- dos e dissimulados em conjunto) os ecos das profundezas pertu.--baco-
de. Esse laço que liga a ficção à consciêm:ia da esdtura prende-se t.ih,ez ras, em vão (pa.aece) reprimidos, esse " mL:mú:io da língua" de qui: fa-
a:, fato de que uma performance reJuLida à leitura elimina o, el:mer.- la Rolnd Bartbes, esse excesso de sentido...
10s mais fortes da teuralidade poéti::a. Alem düso. a fkç.io e.; ociiên- "Ja granii: rnhtura de novidades que agita a segunda met.1d.e do
cia "irônica" de uma desco:,ena de .s:mijos crabaluam cm favor da lenta seculo Xll, a palavra ,i va permanece, de iato. uma fonte insi;bs tituívtJ
emergência, entre 1150 ,e 11:50, dos vtlor!S indi"iduais, da n:::,ção de pe~- :le iaformaçces. Chrétien de lroyes, ele próprio, intervindo como amor
i::inaJidade; m1 favor da im;ilicaçào de um suierto em m1 l inguiigcm. - em '>eU\ romances ou recorrendo à ,ntermediação de narradores (como
])()e.de a utopia inerente a esse discurso5 e (por cama e.os ve!ttígios Calogrenam no Che11aller au LIOn), i:1tegra ''cn abyme'' em ,tia litera-
10:alitários que daí emanam?) a má consciência, a nea:m::tade de jw- lid2de uma 'vOcalidade fictícia. E ~a mesm& epoca, Marie de Fra.1ce, no
ufia.ção, as remissões estereotipadas l história, a pretensão de \.<!11l- prólogo em que elabora seus Llrts, insiste llit auclição que pre.;;edtu a
cidadc. Para os homens da Igreja, os "romanc~" são apena. /ábi.iJUS escrit·J:-a e da qual ela tira sua justi:'icação fir:al, de sorte que a vo, não
rãs-, nugas, mentiras ou romgnces de vo,dades. Essas tensôei; vão a ce- ces,a de estar presente.~ O autor do Jyoier, louvando, em seu exorclio.
:mar-se pouco a pouco, do séi..illo Jlll! ao x:r,,, na medida e na propor- a virtude dos te:npos antigos, lembra que entãi> as belas narrativas de
~ão da difusão da e~cntura na classe dominante e da dirrinuicâo do aventlra. imaginadas pelos cavaleiros, eram comadas de v va voz na corte
pre~1.1g10 da voz. ou que os clérigos as colocavam em '.atiro, por escrito: cabe-nos e--itâo
A equivocidade de base do gêmro 'romanesco" trai essa s1rua;ão. lraduzi-las .. , Numerosos " romances" do sêcul::> xn invocam e~~ o-ii.n-
L ma poesia cujo funcionamento impli:a a predominância oa voz: ma- sito cc, relati> oral ao escrito, mwtas ,•ezo pela mediaç.ão de um primei•
oi.fena uma verdade q\lc não se discute, pi:n.sui por is,;:, uma ;,lenitude ro texto lati:l;l (se:n dúvida fictioo): do Erec de Chretien ac .Merougis
que torna possível seu perpétuo recomeç,o. O discurso de urna poe-1a de Ravu1 de HC>\lden.c, ao Bel lnconn u, ao Guil!aume de Do/e, à Violet•
cuja pane vocal é reduzida, divide se, joga contra si mesmo. ~ra em te, ao CJzatelmn de Couc1, ao Tri.sra,'1 de Thomas, ac de Gottfrie:t, ao
s: próprio a contradi;:.ão. O homem que o cilz e aqLele que ;, l'SCl.lta co- de EJnan ! Os romances em pmsa do século- l(U, tanto e Lance!ot fran-
meçam a saber que não~ entenderão jamais. O pod.er de abstração au- cê; qLanto o Ths:ano italiano ou a Demanda portuguesa, mo:ilram-se
menta, entretamo, com o pa;,el da esc:.rirura na gêneSt e na economia como projecíw de um conto, ao mesmo t.ern;>o narrado~ impessoal e •ontl:
do~ textos, mas ele nega toda a equ:i,-alén.ii::I catr: bngua~em e ve·riade, do re:ato: ·•o conto ctiz então..." , ''Eotã,,:, se cala e oonto .. : ·, f-ase~-
:qi.:.:valênc1a que, ao contrário. exalu a performance teatralizad;;.. A ' ma- refrãos que não :::icom:m menos de cem ve.u-, ~ó nos tomos J e 11 do
g;r,: sensivel do corpo em performance foi em grande ra1l~ füad~ :i:~- únteloT-Graa,' (ed. Oscar Sommer.1. Eles ;:.1 escandem e orga:;iza.il a
se branco se e,bo;am os primeiros raço,. ainda desajcitad\); e pálic:!,,:,s, nurati\'a, dc:-senhando o es.paço enu;,ci,,ivo cm que se arual za , à '.eitu-
que projetam o perttl di:- um autor ausente. prove-do, de ugni~..-ação ra p.'.tolica, urna relação perfonnancial carat;e:izada v-lc apaiar-,e gual-
É a;sun que o "roman~" dos sécu os xn e xm, e aindi do x1v, ::ifcrt"~e- q.ie· traço de um narrador enerno. 1 Estranha culm ~çào :ie um lon-
se oomo uma resposta poéttca adequad à demanda do mLmlo ca~a ei- gJ esforço fil::,~ófico. jurídico, moral e atê lingüístico do ~éc·.tlo x:i,. cu::
a ra. .......~...,.,"' tuna entre e desígnio soci 1 tendeu a uma desalicnaçâo da palavra, .1p c,5ou, à for;.ã, a subs:i11l'(ãc
e o de ejo de um autor. Sua hngua perdeu a perfe;ta :ra1spare"'!Oa, quan- ~ o e da comesta~o oratória - e foi de~embocar,
do ele prÓíJrio aspira ~nlusamenten uruver húnde. essa scgJnd-1 me- f.nailnentc. num reforço do poderes da cs:7:lti.ra' A hlstona ~a ~

269
i~s em lir,gi..a vulgar~ tommla ne5se movimento, segue o mcamlros tantasia-5c t'le na,ru.tivu hist6ricns, mistura ..-ua~ invençõec:: rnara"ilho-
e mtc1ra sua, concradicõe<..
sas i.l lcmb:-.:mç:a de uma familia principesca bem ,·erídica (Mi!UJme e
Em rr.eados do séculJ x:n, as coisas amda nio tinham acon·cci- os Lus1gn3n), -de unu pcrsona cm "veri<licn", Fouke Fir~ Wcm: ou M ori::.
dn. Ct-:t mcr.tt. o ff!Xto do ' 'roman~" tin!m ~de entAo adqumdo. tra- vem G.raOn olemã,>., ou Jacques Lalaing sob a :náscara do ~ueno Je.an
ças tr!I putc ao uso da prosa.. uma capacidade d: ab traJr e de rclleur de :E DfJ;m1Qufm:z:,;11i '1l[Dec:cvic:r~;c, um bdo, nessa ne.r·,~tiva.
sobres: m~mo. :iutotelio qu,eele rul:> possuía em regime mais livrenen- Entretanto, esses deslizamento sucessivo , a longo prazo essas re-
te vocal. O escr.to retira .si.:as amarras, se assim posso d12er, a5p1ra a ir â vira\'oltas, nlio bastam para reduz.ir n nada 11 operação vocal ,a difusfo
der"\li, ~ o presente da ,oz, .:omphca-$e, prodamn suo ~stêro ..i.i d.! oh-a nem para al)agar do texto todas a~ marcas de sua profunJ.a ora-
fo~a de 'IÓ~. fora deste lugar. Ora, para tais efeito, a prosa presta-se mab lidade. Qua1sauer que tenham sido os cu1d:1dos d~ doutos. os efeitos
~u~ fJ vt~o: c:-.1c:, por seu ritmo, pelo jugu do~ sons, pela mímica da obra, ~ara o pratica:1ce. continuam até o século xv, e mais tarce ain-
mais nar::ada que erige ma reca.ação, mantém com mais tenacidade e da em ,·á::fos meios, a depender de sua recei:ção por um auditó1 ic. Tun-
f"f;dência :odos os elementos de mr.a presença física e: l.!t: ~eu ambiente ;.o poe-:.as :orno intérpretes ·1.:am aí ::.en!>ib·hzados; :ai é, sem dúvida,
sen$ivel. Po:-v::>lca de 1200, ern vàric,s meios letrados, toma-se consdên- a principal razão da manutenção tardia do ,·erso, ao lado da pn:~ aos
c-a: o "etso, err: virtude dessa presença mesmo. indisCUt1\'el, escapa ao gênero~ narrativo~: Frois.:.art, já em 1358-88, escolheu essa forma para
cont:olc "acioual; o que e.e ~nuncfa é recebido pelo ouvin..e como ver- s.eu Méiic.dor..-\3 frequentes intervenções d,) "romancista" en: 5CU tex-
dadeiro. ~em r.er:hum ourro citério: seu discurso é, portanto, em reali- to - se•.c apelo;. ao ded.icatario. por 'teres aos ouvintes - pr;.1longam
jarfc e de I:1E11eira rundarrentaJ, "mentira". É esse o termo que empre- ..ambém uma tradição formada sob um r~ime de li,;re oralid::d::, mas
g~, nos a105 190-1220, t.a1to o tradutor do pseudo-Turpin quanto ~ua inter?rctaçãc <é mais ambígua. A lomto prazo, elas anu.1ci;,m uma
Pierre :Je Bc.:.uvais em seL Besllaire, o anônjmo autor da Histotn an- interiorização da relação entre o escritor e o escrito; formalmente, nun-
c,enr.e, u:n ada;,rador das Vies des p~re.s. o Lronista do reino de Filipe ca ~e afa5tar.1 d.as exdamações do,-, :::ant:m~s de ge~ca nem fa ~educão
0 1

A~gus(o; r 1érigo alemão que colocou em prosa .::, EtJJcfriarwm para do iog:aJ: elas implicam u:n jogo perfo;n:ancial. O emprego. r.ouh·el
m~craaor Henrique, o ledo, em~ora mais discreto, não pensava me- na narra,;.J.u. do p:escme do indi:::ati1,,o - ,raça muitas vezL·s subli:iha-
nos russo: o~ vcr50~. diz ele, niht scnriben 1-·an die warheit (·'não 1-ans- do - ex;,lica-se menos :::orno figura de ••presente histórico" d:> que co•
mitem a "'C"dade'').ç :,..ias também uma muda.1ça mais profunda se pro- mo presença \'Ocal - ~onforme se demo:is:rou para o romance em ver-
duz, no ::rivel do sentido narrativo, nesse rep.'.iclio ao verso tradicional. s.o;1~ o p:oced.imenco não e desconhecido na prosa, como nac;l<ela da
Mujtas vezes já foi comentado: o "romance" em verso é feli.z aberto Esw,rt cfo Graal. A abundância de dhcusos diretos, monólogos e diá-
otcn~to; O ''rcmance'' em p::-osa tende a acabar em tragédia. pr.me1~ O logos, mesmo que em si própria inócua., favorece na leitura o, efeicos
rc fo: apro;,cimaco, por este traço, aos ,·elhas contos folclóricos. Não de voz e de mímica - ou seria o inverw? Da mesma forma, s impor-
6 ~..~e cm dos efeitos da prc.scnca comum dos corpos n.'.l performance 1
1
tância tema:ica Jjgada à pala.-ra e à \'0Z em romances como o /11,,-ein de
- efoir.os muito aL~nuadU'l, se não suspenses, na leitura em \'OZ alta, Ha:tman.:t ou o 1'1-rsíon de liottfried: lrbtão é bem falante, c:>nh~
apresS: va m~:uo, de lonps Lextos de prosa'? Na epoca em que se c:ons- lfoguas es:rangeiru, cama maravilhosamente; Isolda pamlba de)ses ta·

r'
titt:em o., primeiro~. aparocern tambern as primeiras memóriru ditadas_ lento.! ..• De ql!e modo o leitor da\'3 \iéa a tais pa:ssagm~·? A questão
e anotadas em JJI'Osa, as de \o tllehardoum e d~ Robert de Clari; err, bre-
•:~e.. G eu, quando SUige no texto poético, pede sua universalidade, vai
' merece -er. ;>elo menos, posta. Fatos dess3 espécie são numeroso;:;. As
miniaturas do raanuscrito B\l fr. 378 do Raman de la Rose, acompanha-
tmurar-se em ::ontaco com um sujeito individual. \'ai deixar tiltrar aJ. 1 das de rub:iCE as.çinalando mudanças de interlocutor no di.i.(lgo dos
@t:ma confissão. Como nó, talvez, em nosso fim de sêculo, nosso~ pre- w. J881-l952, visam a uma explicação dramática dos papéis. Elas opõem-
deccisores do sé,..'"'.llo xn, atemos aos sinais de decrepitude que seu .nun- se a 01.tras miaia.turas rubricadas, marcando articulações da nar;-ati\·a. u
do mo~t.rava. ocpcrimentaram a n~ssidade de um discurso ..verda.driro.,
1
De todo o modo. o texto brilha assim cerucamenle, referindo-se a algu-
(clcs r.ão podia.rr pensar, ccmo nó.s, "cientifico") sobre sua história, para ma rcaliz3ção ~formancial real ou fictícia. Que esta tenha sido r.ão ape-
a~,ea:umr-lhe, ao menos e:n esperança, os fundamemos. De fato, du- nas real, mas também mais. fortemente teatralizada por also mais do que
rnntr os ~kulos x,v e w. mais e mais o "romance", escrito em prosa, por uma simpl~ leitura bastante neut:a, a tradição manuscrita mui-

2,0

l
to di,ers1ficacla de "'arios roman.,;e~ o fari11. ~upvr; H5im é com cu~u~ O quf t1os tazem ou\ ir es1,1:~ tcxlu ~. coleuvamenle, é u ma ~lu ral1-
extremos, o 1ristarrl 1e Eilhart ou o Lanctlur do bolandes medieval. dade não apenas t.le temas e de 1ons (pcuco importa), ma:. de tipo~ ~e
Muitos ''romances'' ofercci:m traços estruturais que C"YOca:m as tec- d.il.curso. E o que oi distingue fundamentalmente, pe11S,O e11. é a pos1ç.¼O
nicas de teaLralizaçã-0 do lC)(lO. O Tristan de Réroul, euja composição que ~u?am na en:ruzilhada que e-,·oqt.ei; a dupla relação que o~ une
colocou tantos falsos problemas, :onstitui em francês um dos exemplos ou opõe à escritura e aos hábitos vocai~ e inscreve-se na genealogia de
mais notáveis. O aspe:to arcaico que se presume de ofr:rcce não é senio sua forma. Certas obras d~se grande e arrazoado &écuJo :xn mostram
a face textual ée um caráter geraJ fortemente: mimico. Não duvido nada seu lado caótico, arcaico talvez, ou barroco. Mas ponho e:m causa me-
de que estejamos aí em presença de um ''romance'' interpretado, no sen- nos esse carãter como ta1 do que o traço inicial de onde provêm, e que
udo quase céruco da pala,.ra ... como o foi, segundo meu modo de ver, indiretamente ele manifesta: a preponde1 ãncia. entre os valores. pcs:os
o Éracle de Gautier d'Arr.as e como o forarn a.inda, sem cltívida, segun- em jogo pela escrirura, daqueles que se prendem ao modelo performan-
do A. C. Baugh, na Inglaterra dos séculos x,11 e XIV, King Horn., Guy cial isto é dramático - no sentido mais completo do termo. P. Dron-
o/ Warwick e alguns outros. jã
ke pun<a em relevo o asi::ecto programackamente "agramatic~'.' de
uma :onga série de textos d!sde o fim do secu.lo XI, como (ele dizia} o
R!ioalieb - por uma recusa daquilo que, s.em düvida, piuecia a certo;
A inven;ã::i do romance no século xu marca, no itinerário poético a.itores uma servidão à.s exigências de uma escritura alienante. Tunto
do Ocidente, um começo quase absoJuto. HoJe em dia, pode-se ter o que, quando Wo]fram no Pcn.ivaf gaba-se de ser ile.!_Icl'do, eu entenderia
fato por estabeJecido, a despeito das ince:1.ezas que obscurecem ainda que ele finge banir uma concepção tota.izante da letra - o que esse au-
OS- detalhes des,a história... Sobretudo a ::lespeito da a.,,•alanche de est·J- tor logo comenta UlS.21 a ll6.4), denegando ao seu p,oerna o estatut;>
dos sobre o romance à qual assístimos no curso dos anos 70 e 80, na de livro.
França mais que alhures. O resulta.do foi uma deslocação de perspecti- o ~1.cr:itor de 1íngu.a vl lgar, nesse fim do século XII, transita entre
va, cenarneme justifüá,.,-el, mas sobretudo uma grave distorsão mo- a voz e a escritura entre um fora e um dentro: ele entra, imtala-se, mas
àerna-centrisla da idé.a que fa:zt:mo~ de "Idade Média'' Globa!mence, w nscna a .cmbrança mitificada de uma palavra original. saída de UlJ'I
o fenômeno rornanesro aparesenta um aspecto homogêneo: o mes.mo p;:ito vi"º• do sopro de uma garganta .ingular. Ainda cio seculo X'•' , 0
feixe de causas produz:u localmente eíeitm de :.ai modo çemelha11tes que nam,dor (usando ja primei-a pessoa), na Demanda do Santo Graal por• -
o crítico vê-se bastante: tentado a reduzir-lhe,, a identidade. Talvez con- tuguecsa, invoca ao mesmo 1em])O com e fonte e garantia wn livro latino
viesse insistir na diversidade. Assim, nãos.e pode-la negar que o romana, e um como, evidentemente oraL Nes:.a tensão que o produz e sustenta,
na encruzilhada entre a oralidade poética uadiciomal e a pratica escri- o sigrrifica::te tende a transbordar o que está escrito na pagina, a expan·
turária latina. tenha surgido como o resultado de uma reflexão .ati\.a dír-se na matéria teatral não como tal rcgisrrada., mas pre:;.o,..nte no boio
sobre essa dualidade do dizer - um.a reaçlo ao conflito de autoridacie do to.10, sob o aspecto de uma •'Ontade de "dicção", no sentido em que
que ela gera. Embocados em matéria até e:nLl.o enuegue apenas às tram.-
esse terno se referiria a uma retórica da 1,•oz. e a uma gramática dos mo-
missões orais, os rom3.nces elitas "bretões:" (cor.lo os de Chrerien de
Troyes) operam uma transmutaç.ão em ewritma, tão radi.cal quanto a
\1imento& do corpo. .
Num ensaio ja citado muitas vez.es, estudei desse pontu ôe vuta 0
que podiam sonhar os alquimi.s.as em seu atanor. Mas e a operação in-
Érade de Gautier d'Arras, opondo-o a05 tex1.0s contemporãneos. de Chr~-
\·ersa. que se :;:,e:-petua nos romance, dito& "antigos": uma tradição es
õen de Tro~•es: ro:nance mal alin havado desprovido de unidade, pai as:-
crita e latina aí se vê adaptada, graças a uma i.ére de c:racuformaçõei,
'".dd<' per J.i~ressõcs advenucias, mas de um ardor em que se fur.dem
pelo menos a certa5 1 v-" " .Jt c-·al I de c ..c podenam ser a~nu
numa liga brilhante mil elemen101 heterogêneo!>, de um ,erdor <1.I ermi-
o uso da :íngua vulgar e do que elli implica em todos 05 planos. Don de
- para tomar exemplos eminen te;-, no Éu as não menos do que n ::>
darrer u.' ciusucc-. galante, heróico, enernecido: em que o . erbo 1anto
adere à n•Jdez do vMdo quanto tremula ao ~ento dai- palavra!, come
Érec, os elemento~ de um dialogismo fundamental, o le\-ar cm conu.,
simultaneamente, êhsecnos que tendem~ ~utnliUr• e'Um :, outro $c:ll1
a rui~ l~mdlo ritmo muito cuidado de horá·
con:;eguir. Ma~ a 1endênc1a, aqui ou ali, t diférenttmaue polanzada, rios - ao contrário da ciência :sintc:ti1ante da medida interiorizada, do
e não ,e ~abcna , ~em abuso, de~crc:vê-la nu:. 111e,mo~ termo), trabalho em plena e~pc~,ura \Ctnâmica. de um Chrétien de Troyes, que

2 71 271
lol, mi -.M,..tll1 1111 Corte iJaCh.ampanhe, cm olgurr .1 ocasi~k> entre 1170 Gauticr me apare..:e, m::its no ttJ-:to <l(', IIra.:le, como nifo est:rndn ain,:JR
e 11 roo, ..cc,mpa."lheiro" de Guuuer d'Arrns. Um e oi:.tro der gos •,i:-rda- prew, nesse terceiro quanel do <:êculo xn, às mcnuilidades e~cnturah.
dei111111mtt:: r:cle.-.iáitico~ - e riv.iis, ,e admitimo, que o prologo ,.o Che- cnt, o cm ré.pid.t c:~ramão entre os clérig:is de meio cortês. Seria úli.
wilier à !a Charec.e se reiere à dedtcatóna do Eroc!t. Enqu.anco Chrê- umaurar neste ponto umn comparação com file ef Gaiemn, o outro ro-
.....,.. º"'"'''" e COIICClltt3 Émck.. .Pe><:1......~ sem
à maneira do~ fotitro cont2dom picare co~. Én:rck estica, como oossa mo 1 , perguntnr se Gsut er - durante os dez ou quinze anos (entre
pró;ma eustenc1a. como a de ~eu heroi, do na~c~rnen·o à mor'.e, uma 1170 e li !I cm que se tem pro,a de que: de: atuo 1, - não e5ta\a dil,1ce•
nfi::ita seci\.êrc1a \"a.negada de acontecimento,, per sua .,ez r:,atores ou radn enlre dua~ concepçõe:i esctticas difbl:nente compatmis: a que pri-
menores; .:ondensa, num te:npo de le1tura - de eiCU.ta - re1au,<1rr,entc \11legta a ,oz ,·11 a e i que se apv1a nas propnedades e ,rnp 11..a.,.ões da
curto. um tempo na~rativo muito longo. Donde um e:eit,:i s111p-eer.den- escr.tura Gau:ier não foi o ünico. s.em dúvida, nes!">a situação.
te. tanto de rctCTJçào corr.o de e.xpansào, de movimento ~c:i:;:eto e de Desde meados do século x.11, com efeiro, os clêrigos c:omeçam a
exp osão centrL-'uga. A extrema diversidade da n..arra;;âo rei.me-se. sem percebe:- uma d.ferença de estatutO quase ontol6gica e□tre a escritura
nada per:!er em fresoor, não propriamente no sentLüO de Jota im.encào e a voz; os prólogos de nossos "romance~" a formulam em termo~ ele
evic1eute. mas rw da uniddi.de de uma ação; a de Gau:jer, ;:,ela qual ele auctorltas, o que eu 1raduziria por legitimidade, ciante de uma verdacle
se erige a nós. A forte m;;;s confusa unidade da ol:ra e a 'UJl.id;;,de de transcendente. Donde, por parte do escr.t()(", uma rei.vi:rtd:icaçào auto_ us-
uma performrncr. ti"icadora :ie c/.::.rezia, ciên.:Ja assegurada, e, para o te:x:o que ele escre-
Gaude-r d'Arras aparece assim como um admi.Jã,·el cor,mdor- da- ve, da quai.daie de Jívro. De umas trima ocorrências desse último Ler-
queles. ü!.lvt7 q1 ,e Chréti~11 r.e lm;res acusa, no pró.ogo d,:i Ér'fc. d.e- '"de- mo. regism.da.~ por .\.folk. em diversos t:rólogos, ent:e l !50 e 1250, dois
preci:ir e corromper" sua matéria. Gautier cem apenas de fa:?.eT oonces- terços, ~ verdade, designam :;.mr i.;so alguma obra .acin.a c□lra, fome pre-
sões e">:étí:~s :>eks q ~ certa escritUia culta sem.a.,c:za um d:is.:::urso, tendida E ~arantia de um relato; mas os outros, depms de 1170 aproxi-
füand 0--0. Sua operação zi~ez.agueante o faz p,as.rnr, ::e u..., -..•ecso a ou• madarr.em~, designam sua própria obra. As5im é com Ch,étien de Tro-
tro, da abstração refinada do universo cortês il apa.rer:.te ba.naüdade e ycs, Lance1.ot, ...-v. 24-5. O contraste e sisni ficativo; mas :.raz problemas,
trucul ênc a do comum. Mfil esse concraste, em si rr.esmo, □ão faz senti- e est.es, intr::foriiado~, rnan.ifestam-~e por ,·ezes no nh·::l dos morivos OL
do - üu.pnu.er. É essa a sua finalidade. Dai o aspe.:to &.,.o::ntrado que da ~:n!a111:c :iai-ra:iva. Assim é :-.o longo episódio ca can~ de Ogrin, no~
as '\leres :orna o texto; se·l lado menos incoerente do que :rremedJ21•,el- v,._ 23 30-2652 do Tristan de IM:rou.l. Três quartos de se::ulo mais tarde,
mente fragmentário. Tudo se passa como se, pardi.luxaJ□e1::.te.. o texto os a1:>res (tah·cz um;;_ i::,qu.ipe de dtrigos da Charapanh-:) do Lance!ot-
não fos..e mau de, que um dos jogos da ação que nele 1e ata e d.esaca. G.-aal, ,-asm cic1o romaneSt:o em prosa c::mstitwdo no de::orrer dos an~s
>lo relato que :nscre,,re sua pena, o autor proclama a ima:nêi:::ia de ,..-alo- 1223-35 (depois refe11O na maior parte das lingu~ eilmpétas), retomarr.
res qu~ ~Jo os éa 11oz amada - Lnominada. Ele n:EõO procede grnuJ.ta- cem um to□ sér;o e an cerco peso escolástico o5 1ennos do que perma-
nea:'lentc em ~•ários níveis ou segundo várfos eL"tos: nece- patE eles uma dificuldade conootual: como, po~ quê, a que !im
- no nível estilístico (trivial e o menos dedsl,;o:i, adc-~and.o proce- uma escritura - e de ling·.1a oomum - neste universo onde a maior
dimento~ ou técnicas mcirn freqüentes na poesia ord :i:ara coruticuir, parte dos pode:-es passa pela \ 02? !Eles responde□ a essa; questões co-
0

por c11mulação, uma alusão global, uma irnita;ão eficaz; lo:a:1do em cena o, próprio texto que elaboram - e o fazem pela trar.s-
- no nh·el temático, tecendo na rede narrafr,.'21 ua ootivo re.:or- criçào é.e um relato ditado por .\Jdin a ~eu secretá:i.o Blaíse ~a Dr
rente que se refere a palavra, ao som ou ao efeito da •.-m:, ao poder do manda por~uguesa, li~·re adaptação do e:clo francés. o próprio rei Ar• ur
verbo pronu.ncia.do; exige a coloca~:> po· escrito do relato :ie aventuras, comticuindo e.ssi.:
- oo eixo das finalid~des, ~ituando o cex!o im.eÜ'o na. per5:;:,e-:ci,·a mmanct: o auto·, no secuJo 'º', requer a garantia do '!)Oder politico st.:-
concreta de uma performance: integrando aí as quaEdade1 especifüas premo. O de Merlin tinha em seu tempo um sentido ma:s defüo de co-
exisi.eis; n.i realidade corporal dbta. notaçõe.. l\.lerlin (de cuja hi;.toriddade ,;-6 tardiamente se começou a :hJ.
Loo@e de mim a ideia de apresentar Gaut,er :orno uo arau:o da viJr) é urr: profeta ilustre. anunciador e garantia dll reino glorioso Je
P<"C~i11 ora': ntm ~eu romance como uma e-sp-é,c1e de can,;::io .::e ,3e:sta. Artur; e, alem d·sso, na~ceu de ruma ..,ir~em com n derr:rinio, redimido

274

L
pela ~anlidaée d! sua mãe, antieriito 1111.'C!tulo! A ~eiunda parte do Ci-
discur~o sob•e "Idade Média", escapar ao preconceito ou à inércia pe-
clo conta. de forma cirtumtanciada, essa históna, a tlm de assentar "
las qu1i.i~ (depois do romamim:o) se tem a lt'!ndêm:ia de falu de Jiteru-
autoridade do conj-.rnto. O profCUI in1ennediário de uma meruagem pro.
vide:1ciaJ funda a realidade daquilo que assenta o csc:itor. O autor des- tura {mzu, também hoje, d: e.scritura ou de texroj corno dt uma e::>s~n-
~unhecido do romance livra-se, ;por íntermédlo de Blaisc, da rt5poru.a- cia ou de um funciouamcnto a parte dos conêbio.nam:mtos temporais.
bilidade que lhe.impõe a e,tigência de veracidade ligada à história que Não que símp)esmcme as mocialida.des da ..liter-d.u...'"B.'' se transformem,
ele wma e da q.1al pr.>clama a mL1ito alla e obs.:ura ,erdad:. Um ator no curso de ,eculo~ mm q.1Jc os Ul;'í,vios de plano banem para dar con-
é assim, ao mesmo tempo, n4IT3.dor das ações que produz e faz pro:iu- ta de.iSes estados sucessivos. não existe a categoria "literatuw." em si.
:1Jr a outros; um ll~gundo na-rador. rubordinad:, a este, registra o que Os comentários. iniciais de T Iodoro11 a respciro c.:s.m, em se11 Gênerru
sob sua pena está rre~tes. a transformar-se em INro. O disc·.mo de um do dil'Oir.so, é.plicam-~ não somente. ie modo ·eóri.::o, ao conjunto do!)
terceiro (que chamaremos "autor"), engloba, re-prodl:7 e atualiza o to- textm modera.os mas, historicamente. a toda suce•são dos d.iscursos.1l
do. O que lem~ 5itua-se, assim, no final de uma genealogia das p1la- A "litera:wa•' r.ào e.\istiu (como nâC' o:iste amda) s:não como parte
Has, asswn:ndo, sob tormas hierarqu.icamentc enCaJ>.$.da~, os ::ivatares de um todo cronologicamente sin,.:tllar, recoc.hedvel per dhc,sas marcas
de uma original yoz ,dva. (tais como a c.'l.istên::ia dt- r1i,c:ir.hu,s parasitárias, denominada.; "crítica"
ou ":ústória" lteránas}, ent:-eramo difícil de especificar em teoria. A
literalura e pa.'tc de 1lJJl ambieme C'Ultu_-al em que podemos nomeá-la;
Único - entrem gêneros poétioos cuja cratliçãc ~e atesta antes dos e no:s interrogarmos sobre sua ,'alidade é, pa;a nó~. mah ou menos,
meados do século XIJI -, o ..romance" tende, em ~ua especulandade, ,.1 distanc1am:o-no. de uú~ mesrr-os. Posic1oruoo entre nos, depois de trê.s
a dar-se por atividade. tendo e-n s1 ,eu próprio f'uo. Explícita ou imi:li- ou q1..:a.:ro secclos de dis;urso domioame, ela certamente r.io parou de
cits, sua reivmdicaçà:,:, de tal esta:utc éistingue-sede todas as outras ar- ser contestada cc-J su::.s. var1açoes a :;>an.r do mtcrior, t:Ja nJu o foi, a::
tes desse .empc, cu·o proJeto fica i:1separável das :en5õef. e movimcn10~ nosrn5 dia~. e.:n suas ::or.!>!ar.tes.
religioso~, polj'.1c01,, familiare~. interpessoais, e-m suma, de um projeto Não se p::>d:: du,'iddr de que a linguilgem é 11rr. tato uni,crsal, defi-
~obal ce sociedade, em que SI.' integram funcic-.nalmeJJte Essa origina- nitóro ca humi'lmdade. É p:ova,·eJ que todo dado primáno da expe-
lidade c!C', romance parece, à primeira vista, menos clara em relação aos riência cons1h11a o :11r.dan:erto possh'ei de uma. arte (assim como a lin-
trovadore.s, na medida em que o · 'grande canto cortês'' s:.ipõe jogo, des- guagem, de :.ima ~ia). Ma; a lite-ratu.ra não J}"...rtence, como ta.J, a c;s~
.,.io, arunanha di:mmiva, i:Iccssar:te malabari;mo v~rbaJ e conceitt..al. ordem de valori!s. Ma;s ainda que a ideia de mmueza, ela pertence ao
Mas o malabarismo ê uma das wnstantes de toda :>oesh, do século vr ili se:- a,_; dos mil os que cor..stih iu para si, pouco a pouco. na aurora dos
ao xv e tal·,,ez ao xv·.; e a intenção r:;,manesca é me:ios gozar o mundo, tempos nodemo~, a :;ocidad<: bJrgue1a em expamào; esla a conser-
a \ida, a Ji:iguagc.::1 do que não os gozar para, por último, substitui-los vou, COI'tnt L.ido e çontra 10dos, por t.!r.to tempo qi:.e a animou um wr-
par urr. unne1s0 .!! merix do :1omtm Por issc• q\ o "r()mance", entre dac.ciro projeto, manifes1ação de sei.: dinamismo r reumo i11esgotável
a~ práticas do; sé:uJOS x11, XIII, xw ainda e, em medida menor, do)(,, de J~~1ficaç3.c. 1\ fi-if!rur:n, se L.::á rr.a;,:ido ao longo desEc projeto· e,
entra (fc.rçando um :>ouco, m~ ,an muito prejuízo) no quadro. ao mes- se s:.iã legitô:rudade, sua cx.istência mes:no são hoje pc•scas em causa, é
,r.o tenpo ideal e pragmâtico. que jesigna nos;o te:mo literatura. porque •J projet~; íoj con~e:-vaju em lu~c kolc enqunto nenhum outro
ln~1srn, c:lrn mco de chover nl• molhado. e :ie reste serr emprestar
as.scrnrnu a St:'.:l~titui~ão. litera:ura COfiltirni asLT um fa'.o rusrór'cn
a:> "literá~10·· uma definição pre:isa que ele não t:m. lm dos impera-
tivos metc,dológicos ao qual nenhum med1c:.·alr~1a •e: ft.ruma, se:n fal

comple.10, ma,. na pcr~;:ien da~ h.>nf~.Jura;õe-, r.Cl.~ara..T.eme 1.:m-
sttó•io. G,obalrnrnlr e a p·a20 fongi:iquo, tahc.z pudl!'~semos ;on.,illc:-
.. :de mooo incmcdi vd a pcrfpccti\-a, consis-.e em aínstar, como to-
rá-la sem dcm1:uagern critic;a co:no fenômeno pontual, d! dura:;ào h-
talmente: macc:quada a seu obJelO, a noção oc ••ti;chiruru ... d
estiret:am«:me coru:licio.nado l uma situação cu w.ral. Dessa
mom:u e:11 stguida, com a mais o.trema cauttla, u consequ!ncias de5-
última, o~ 5é:uloi medievais, at~ por 1•0,1.a de ll50-,2f(1. aprow;inwam-;e
s.a exi.:1usão. Hugo r uhn o d:ua já mi 1967, a propv:.ito do século xm
parn.1 a r,a,w1, com lentiJão e sem ccns;:ic11c1a ~empre clan do que 5e
alrmão.. L lm;>orta, com efe1t0, n::m mais nem menos que a vaháadc d:,
tramava nel~.
A hin.::ma da fml :t\.Tll litrmt11rn la-ç:i alguma luz sohre esc;a t-vol11 - e t,1rJiJme111e a~,ociadJ s - •n consciência eumpéi.i desde Quatro cfo-
ção. O la:im /11terarura. calcado .,cbre o grego gromm:lflcé, denotavn co ou rei< .teu los: pré-'i isrór-n confusa, que lemamente tinha ('l'Oe~gido
na érc,ca :.le c:~ero, e abua na ce Táctto, o fato de traçar letras ou por tlas wnas do nlfo-dito. Lma noção nova se con HÍl'!Íl, no rio tia, tra-
cxten ão. r. próprio alfabeto, enquanto Qumtihano o empregav.i cono dições existentes, peln imposição de várics e)quemas de pensamento
substitcto:dos ter.mos grcsos que àcsJ&uaram a ~tica ~ a fj olo fun ion.n11r.lo de mancim ocul:a como par~ rrt'tros rriuco.,: jdéiJ de~
~o uso dos Padres da •~reja, o termo refere-se à erudição -geral conferi- " ujClto" enunciador utõ nomo, da possibil.:dade de •ma apreensão do
d.1 pelo e:isi:-iamento pagão, dond e: uma frequente nua nce po.:j orat1,·a: ou tro. a con~pção de u:n ''ob jeto" reificado, o pnnaJo e!ribuido a
Qumuam ncn tognow 'meraruram, diz o Salmo na Vulgata, rnrroit>o refrrc11cia.lidade da l•nguagem e sirrultaneam::nte à fação; pre~:;uposi-
,~potenrizs 1..Jo•l!lm ("Porque eu 1,moro a 'literatura', entrarei na glória ,A.> de algum.a :Wbmemporu:dade de certo Upo de disruNO, s.>d,,.tmcme
co S~nhor"). Pa~... Te:tuLano, ii;rer11ru~a 5ignffica mais ou menos ''idc•- t ~amc~nde:ite, st:s;:,e:iso num e~paço vazio e constiruintlo por ele mes-
latr:a' ', A :radiçlo latrna mesfü:val elumna a conotação d~fa,oràv.:,, ffi l) uma O r:iem Do nde a c ri .:1çã o de uma categoria imµ..:ra ci,·::., promo-
IT é..' recorre -aran:eme ê. essa palav1a erudita. pxfen ndo i'itteroe Es1z.- -.ida a : onadora de valeres Q.le a Idade I\Jéd.ia rinha a'. ri buídc como-
r.:os ainda aí :J.:>5 seculos X\' e xvr; er.:rei:anto, os humarustas tendem u_u..•to·e.~ a11Li!;v~, e !>Ubu1mndo, em ,eu OÍ\'e l, todos O ~
Ciili1~11Lt: c;.t:•s
a restringir =- si.gni:i.caçào, c,>ns1dcram o único conhecimento o dos ra~ores do saber, fixação, :ias lín11ua.s vulga:e.s, dt um cânone de textos-
"bor.s' ' escritores da l\.:i.tigüi:lade, aqueles mesmos que fundam então modelos.. propos:os à a.:lrrúraçilo e ao estudo: fec,1amen1c do hcrizonre
o cânone :ioetico e fornecem modd~ para a a:-te de escre,,er. As lm- ,'l1aginário, oposto à ir.cessante .Jbenura dos formuh-mos p:ir:::itivos.
guas vdgares que, em várias nações ocidenUllS, tomaram emprestada \las a rcrr.:aç~o de u.-n cáncre, na cultura de u"l1 &:upo s0<iaJ, lalvez
a pa_a.,..:a latina para ve>ti-la a seu lllodo afastaram-se deia sernantica- cnt.remostre o ;,avor que seatem os indfríéuos desse grupo, do fundo
r.:;en"e apenas. 1\ ss1::1, C! francês do sé-:ul:> xn usa simultaneamente as ce s_ua necessidade de so~reviver. Que medo, ~e :sso é "erdaceiro, que
farrrrt~ IP'trP:l,-,. e Mtérature ::,ara designar o conhecimento do escmo du1,1d.u, qi.;e d~ptrari~ :nanteve emre nó~, dando-..,es fi.gul'é, durante
e dos livros que são autoridade, às \ezes a própna materialidade da e~- uês ou quatro scculos. no~~a "literatura"? Talvez a A.rn:~ilidade- tenha
cn:urn. úttre:i.r t, tornado lelt,...Jre, desaparece no ~ki;lo x1v. Quant:l ccnceb:do alguma noção :,ro,:ima ~ essa. A:> mencs. fica assegurado
a s~L par, clc sof·e a concorrência de feJt.res, depois, por referência aos que ela não fo: transnitida e qu~ não terá havido aí ccrcinuidéde. A
auto.:es an1iê-iJli tidos por "dás.sicos", bonnes lettres 110 século xvr e, me cont!ária de Cunius. num livr.J célebre mas hoje u rr!lpassado, sim-
desd~ 165J, bel'es-lettr-es. clig:io paJ de b~aux-arts. Por volta de 1730, pl1firaya abusn,a.ner.te esra ::ilitória. A tradição ant ga, presa à aJta época
mutlo. .J .,,ente, t i'i:-tru.5 1c-cua diaocc de frr~tura - mo\imenco com ur:t medic\'a.l p or letra.dos como Fortunato, re1,·ivificada, por mas virtudes
a rodas as r:ossas J:nguas. O inglês S1muel Johnson, !)elos idos de 1780, políticas, nos tehlpos caroli.ngios, ficou sufocada 005 pró;,rio:\. s.eculo!)
por hterature e_ uer dizer tanto urna rnltur.i pes5oa1 fundada sobre leitu- em QUt! os letrados to-ninam coru-ci.~ncia da existên:i.t :i.utôr,oma da.s
ras refinadas quanto a produção de ce,.tos próprios a rais leituras. r,;'a hnguas vulgares.
mesm~ época, t1a rrança, a htcérature é rambem o conjunto 1.k~~e:s t1:..,- Foi em torno J.:. ideia e, em fr:m.;:ês, do te;-mo clergi:e, pro,cii..emc::.
tos. fasa exten~ii:> de se:itido é um fato internacional, ligado à consti- dos mdos escolares do sét1.1lo :,rn, que se operou a pri:ncira cr:s:aliza-
tuição de um::. ::iêoda estética ::ia Europa do séctLo das Luzes. Essa ciên- ç.lo de elementos que, rnuiro mais tarde, coo:rfüúirilllJI para ;;. forma-
c:3., quando 5e aplica à obra ée Iing ~aEem , kva em conta um tipo ção d.a idéia de "literuwa' •. Uma. ti:ndência, herdada de retóricos da
particular de di.curso, excluir.do todos os outros. É a ele que se refere l)aixa Amig:iidad:- ou haurida r.a kitura du~ ii-UClOres, de::naca~a mtão
/izero:ura. não rnencs qLe ao grupo de homens que são seus p:odutores no espírito dos clérigos, a ;;on:epção do discurso tscrito como relativa~
e cor.,11mi:iores prv.Jegiados. 1*Criam-se expressões, precisando essa úl- mente au!linomlJ, li.1g.1dgc:n libcrnda de seu cont~o imediato. l:nquanto
timé:. perspect1Y2.: /iueraieUr tenra em vão, no tempo da Regência, desti- esia reficxlo co11cc:r;1::! apena, ao latim, ela permane,;:cu e!pecitica de-
tuir o hilmcm de letras; no meio do sé=ulo e\'oca-se a gent littiraire, o mais para afetar de rnooo :!.ur2douro as mrntaJ:dades e a5 condu~~= seu
mnr.t!P litrirr,irP ... istn t, já enciuanco membros de uma instituição c:unpo de aplicação era, no final de contas, condenado ã rtcraç.Io; de
Literatura e illa família kti:a! da\'3m assim, pouco antes de 1800, fato, J)IWado o ano de 1250 e por dais ou três sécul~. o lati m vai de-
forma e ro$tO a um c:onjanto de repre-sentaçõe~ e tendências errantes - sempenhar sobretudo a função de língua ctcnica. Mas, a pan1r de uma

279
-épo::a que, ccnformc D ugar, estende~ e d~ J 150, aproA1madamen1e, ao
fim do século xm, são colocado$ por e e rito m IC!ltos cJe r~latos. de can•
" ..
fodo~ es"" traço~. e,.pa;.hado5 a perdn de vi,ta, começaram u rc1.,.1ur-
;õe5. de peças litúrt,1ca cm lín ua vul r. Tàh-ez. mesmo alguns de e. com efeilo, eu rn~mo 1cmpt:> cm que elei; .e manifesta\-am. no curso
to:t.os 1e:tha.m sido composto por csulcte ou cá!amD, manualmente. Pelo d~ 6éculoi xi·,-icv. Os 5inai~ desde c-nlào !ít m·Jl'ipücan1. É a.~~im que,
, 1res :!!-sa tecnologia, inu-oduzi1-se, cbcrctrunente, o que Luh Costa lima a partir da ~cgunda m~Jc: do ~éculo :\lll, comt.Jtae:tM: :u anrologias
chama um "rontrole do imaginário'', Ct.Jja eficácia s,ó aparece plmameme à, quis a poe•ia do "1;ande canto .::ort~s" ellíopeu dC'l--e o fato rle ter
depois de 1500, apô~ uma era de ten,ões crescente~, comum (sob diver- e-scapado ao esquec1men!o. Cancioneinr.. occitânico~. compilad~ na
so; ;iSJ)ectos) a todas as nações ocidf'ntai~: tensões entre as energias poé- Fruça rnentnonal ou r:a Itália depois da ruína do rnu.1::lo meridional;
ticas tradicionais e a~ forças que procuram impor ao verbo uma racio- cancioneiros franceses, canzõniln, ciúli:icr.eros. ao lo.1go do~ ano~ BOiJ,
ruilicla:le propria, cn ::letrimento da palavra v iv.:i; uma capacidade 1400, por vezes recopiados, refeitm, e recombin.a.dcs por aficionados r.o
:eflo:ha em falta da presença A cultuta ocidental, à medida que, eles- )écub ,,.-.- e no icv~ aioda, res1cmunh0s de uma vonw~~ de colocar õ
de o século x:1, já se la.i:::izava, trar-sferia ~sim aos detentores da escri- pa."'le e e:n desique, de formar um cânone que cons:itui$e autoridade
:ura a velha concepção :eológfoa do Locutor divino. A linguagem já não em Jíngu:1 \1llga.r; e.e des1gruu novos clá!sicos. H por vult.a de J 300 i:s,as
sen·iá mais à simple~ apo1:1ição de u.m mi!ílério do mundo, não era mais ir.ten;ões exprimiam-se enue as linhas do De 1,uJiaFi e/oqi.lo m, :i, S,
o insrrumentc, de un discurso fora de que.;tão em si mesmo; daí cm dian- gJando :Jante invocav.1 o exemplo de)sc~ "uoutores Llustre)" 4~c ~ão
te.. a lfa_guagem se faz: os disc-.u-sos desagn:gados :ião têm mais autori- Be·tran de Bom, Arnaut Daniel, O:.raut. de Bornelh, C..no ca Pi~tcia.
dade que o in:lividi:o que os eicr:,;e. A idéia mod~:na de autor e as prá- O primeiro te,cto de Jíngu.a românica tradu.ic:!o (no sentido em qm en·
acas que ela comar.ca, a relação q·~e dai decorre emre o homcru ~ oli:-u tendemo.; e;;sa ;>a.lavra, e não adap!ado refeito) en outras línguas ·omâ-
c.ex::o: rude começa a tomar forma, esporadicamente, no sb...'illo xir. n.icas foi;:, Deccmeron de Boccaccio: no'ro indício de ''camm:2.ação", ao
Apontou-se, em latim. Orderic Vital; em francês., Chretien de noves e mesmo tempç q1..e de fechamen·o dessas J:::i,guas.. a:é então mutuaroen.le
G.aoe Brulé, longínquvS ancestrais.. l.! • abcrta5 umas h our:-as. Outro sir.al ainc.a. a dlssodaçâo p:ogmsl\.-a, desde
Essas mutações empreendem-~c num mundo onde Já se ten:a ins- o século xm na Itália, depois geral no século x1v, do texto poético e da
raurar uma ordem socia1em que ::lamina-ão os fato~s econômicos; uma música, 1.sto e. o abandono do canto (de:>.a par" que uo es:;:,ec:al.lsta, D1ffi}
zona de "cultura" "ª' i-oJar-5(:, cercar-se de barre:ras presenadoras; um tarde, "coloque em música" es5es versoi); a :edução da Oj)eraçâo vocal
"de fo:-a' • vai opor-se a um "ce deni:o'' · trxto versus fora-do-texto; de- ao ·cgimo ~alado. Guitaum,: de Machaut, morto em J37i, foi na Fra.1-
_po~, □".llII dia a.inda long:inqLO, li-eratura versm o resto. Desde o fim ,;a o último pcc1~ músicn: ca Alernanlta, Oswa)::1 \'On l'Mlllcens~ein. mor·
!o em · 445, o ulúmo poi:ta-cantor.. e dt: g·Je:n se gabava a •,oz. Out-o
do sé::ulo .xu, uma ;>~rcepçào difus.::. dessas implicações desponta em al-
~ina.1: a persomil' ,ação do discur1-o :;:,oeico. aqui e aJi, que sei:isinua :ie-
gu."Da.s :on:1s5õe~, em cenas fanfarrona.da., de ''autores'' de lingua vul-
;,oi, de 120:> ª"ancando após 1300 e triunfando poi.;co ::lepois em fie.
ga.r: assim ,e dá com C).', prote~tos de tantos romar.dstas contra os con-
1rarca. mais rnde em di"e:;os as_pectct, em Charle~ de Or:éans, em Vil•
tadores (seus rí,ai.s, apoiados na tradi;:Jo oral), O!- JOgrais, rebeldes à
:on, em vários autores do úmcior.em de Baena. lima fi:ç~o de vero:-.-
di;;c~pl na e.a escritura - simples c1ichê1 Thh·ez. po·:.iue também Q:) can-
similliança :elat.;ona ao autm o "eu" co enunciado, e as circunstàrdas
"..adores de ge,ta a ís,11 recorram, e que não e meo, rt'\'elador ;x>r sua
em qt:c o textc ci dú su1eíto, ;i uma ~,periência concreta e partcular E;-
prnpri;;i universal da::. O au:or rc~rn do Dito ao campanha dl' fgnr.
sa fic,~o representativa (irj:.iaginâw no s~culo xr:I impl::::a uma éu;,li-
na .r.e~ma época. clistir:guesua arte daq•~ela mai~ rrecária de 'Jm bardo cidade de línguz.gem,jeéje:..- cngana:lor, e a re1;;:r:ca do:ninartc ex;:dsa
.,.m: ,do Bo: an ~ a Fspanh~ do ~tc1..l-0 , , ué< de San•1llana
de d s-.i~ poé'.ico ·oda reivindir.ação de verdade .~ obra dr \ 'illon ílusrra
em ~eu Prc-e,~110, p-.>~,:1ona- e com desp·e:o conua os fabncantes des- melhor d() que qu3Jguer outra., pelo tJJOgra11smo ingêm:., e vão que ela
~5 romance~ e desia:. l 1i!>LÓnas de =iUC tmun cu p:-01.er pe ~o.u; de· con- ~uscil:>u entre os intfrprere., a argúcia de uma linguagem 3bsolutista,
dição a1xa e ervil! 1'!S.Sa época, a maior parte d cones do O mie vo1 mesma. Pouco f }13 desde então para que se atinja, !,e-
trni ,eus menesuet efemos, a.si;ala 1.iido , 1 p tu ·=il'n:;:,:.,110 lf '\:i,..,,.r- ~t,.,..,m'I,_ a fro111fira íi!) ão, a
sos homem, clr letras A con:,,...ifoc1a de 1..ma diferrnçn es1a,t1 tomada, J)artir da qual a pa aHa é sub u1ufJa pela literatura. e o hom~m. ~cio
ma;iaghel. autor-pcna".lt I\ dcspcllo d amb1"'uidade, 1: ·nce·tcz.::s que ,l:bsb-

JH(j
t:2.lll rmfe1 q ue corneça,sern a rimar os gnmds rJ1{wriq11t•ws hc,r~•onhe- ~oi'.:1et1at..1eturQpc1a, n pi..., c•sc uc:: 1ni111,:;11a \.{Uª~""' "'''" ou''"' ,oa.,> p•~"'"U·"'
ses, o• dados já e~m1,,·am lançados. 1\ Arr rie d1c:ier de Eu ti Des- p~ticas tm,füionai • E,;.,a~, última~ já 5ào velha,, nas. lfniua~ vulgares,
cha;r,p~. em 1392, e e.~ ''.Arrs de s~onde rhlrori,1ue" que lhe sucedem de trls ou quatro slculos quando apnrecem os prfrr,eiro, pródromo~ de
na Fr2n;a durante mab <le CCIT' ano , o Const var, Rhetonken do fla- um11 cm htcrnria; cl.M \·lio resas.tJT doi~ a uês ,éculos ainda a C'.'>Sa pres-
n~nio Mathy: Castekin esboçam uma rcílexão sobre o tSCritura, hLS- sffo. ó ,to ceder completamente no dia ern que tremerem so·J elas seus
tóricn e té.:rrca ao rr-~mo tempo. mulupl ndo rc ll"..016-- 1óaico,;. ócio-polítkos - o uni·verso ao
me><lel~. forte'Tlente mlividual 2.8dos, aue se comideravam garantia da
"fomia no"a" e que lhe conferrm, no temp<\ ~uas car.as de nobreza Então. nas distAnc1a~ d~ seculo3 xvu e X\'111, a literatura 1eró im-
- I)()rqu.. :: ... forma. é, t,ambém e sob~1udn. ~ber-fazer dísunro. 1 s.er- pregnado o discu:-so poétrco de uma neces~idade de rcgula,;~o, terá
•"ÇO de u:na fançãD de entesou.rc.memo cultural. despertado nele o deseJO de 'lima sistemauzacao de 1:,;10:-., .:on.:ebida mi-
A jifosão da imprcr.sa. fe2 ;;a.ir m últimos cb~táculos a constitui- 11carnente como ganho ~i:alitati\'O, como univer:saUdade ou como hu-
;ão do qu~ se tomaria, depoi.; da "Idade Média", uma literawra. Por ma.'1ismo. Antes disso, apesar de mwtas to rmas ou sctorc. da poesia
fim, ela "irarfa de: vom;1.-a.~ça 1s relações entre o au1or e seu texto. seguiren essa tendência., 3 dh•ersidade dos discursos não 1em limites:
tnae este e o público. A obr.a dm mais am1gos rhitor;qu.eu:s. um Chas- a própr.a retérica não ·::>~ traça verdadeiramente; 'warios ilustres medie-
te la·n, um Robertct, o grande Molinet, nos ficc-u a parti7 de seu ma.- valistas dos anos J910 a 1950, de Wilmone a Faral e a Curti ~s, sobre-.-a-
nuscrito 'wWO, :1. segunda geração, a de Gringore, Andncu je la Vi_gne,
lonzaram essas limitações e consmúram um mcxko abst-alo, numa re-
Iean llmalre, beneficiou-se ela tecnologia nova. ~se fatc, marcou a poe-
lação apenas :>casiooa! com a,; práticas. premidos ~ue es1av-a1m, mesmo
•ia, ass1:n difündidd, menos em sua forma apare,te do que em suas in.-
sem cor.sciência, ;,elo c•.JJda<lo de provar que- a palavra poéüca medieval
:ençõc.s mo:oras, aherrura para 'J:n púNico mais irnpe~~od, ao mcs.m-0
pt:nenoa à mesma mde.m de realidade que nossa liri>rarnra. Certamen-
:e.t:1po que ·•mise l"l abym~•' do cu escritor. Ne.se mesmo tempo. atra-
te, uma regulação qu.a!que.r do discurso é sempre nece~'i.ária. para marcar-
•·és :.a Eu:-opa apenJis C(lnvale~certe de .lITla das piores ci~:s de sua '1.is-
lbe o caráter monume.otai: a única regulação sempre assegurac.a nas poe-
:ória uma classe dominante am~açada exerce .sua.s repress5es em :iorne
si as tradicionais :r:ão ê, ou não é apenas, te.1Ctual, ela é ,·ocr:l, e assim
de uma ordem na qual r.ingutn mais acredita. O <1:s..mso poenw
é recebida. Donde u;na diferença de estatuto na me1Uó. :a .;olcri-.a. Ai
desdobra-se em si mes:no, isola-se em seu próprio praze· e, de q ...ruque;
prete:<to terr.c.tico c;.ue ele se orne, procura em si próprio .;ua just:.fica- o texto uadicaonal a.ão pe:-manece jamais isolado, colocado à parte de
ção e libe1dac:e; esia intmo.;7..ação, devido às circ.mstâncias de um mun-
uma ação; ele é funcionalizado como jogo, do mento modo que os jo-
do transformado, foi, ser.i dú'lka, o fa'.or constitutivo determinante de go.s do corpo, de q~e ele participa realmente. em perforrna::ce. Como
ncss::.s "literaturas". jogo, c'.e pro'lê um p~a.zer ,que vem das repetiçõei e das 3Clllelhanças.
As po~ias emopéias, antes do fim do século XII, aqui e ali até do O texto "literário... ;x:,u:o depois de sua primeira dif1não, inscreve-se
xrr, não tinhcun conhec-do nad~ ,emelhame. Mesmo qi:ando aparecem no arquivo j11Stamentt denominado "cultura literária'•, a e5se título pri-
r,o horizonte da França e da Alemanha de ll50-80 os primeiros tmos Yilegiado, confirmar.do, rl-e~e sua iênese.. aquilo que basicamente é um
anUJi:,:.lom. de uma .. lLterature", eles se integram ainda, com todas academic1sn:o. O coto tracfü:ional, entre os discursos do grupo social
. '
as suas raízes e por sua co:afigu~çio imediata, na cuJtura globalmente não doempenha r,e5.>a :onclição e fora da performance nenhum prh i-
oral do çécuJ.o XII. De certa muaeira, é verdade, a literarização de uma !égio. É por isso que, .5e:t: dúvida, a noção de plágio não emerge antes
obra c.:>meça ~m ~11a colocação ;,or escrito. :-01as isso é apenas apa.rên- do seculo X',1, denega~ão ua fecunda intc:rtextualidadc oral. 1;
êa. No "ro:nmce", e ainda mais forttmentc em outros 6êneros poéti- O texto "literário'' é fechado: simultaneamen:c por causa do ato
cos, o que subsiste, no coração d.o tex:o, de uma presença vocal '::la.sta que, miterial ou adealment,e, o circu~rn:-.·e e na in.a "en.,:ãu de um su~
para frear, ou blOQtlear. a mmacão. É apenas bem lentamente. e o.ão jeito que efetua esse fechan:.~to. Mas essa intenenção P!O\'oca o co-
sem atalhos e voltas, aue se c!esprende das vocalidades originais ~sa memârio. su.;cita a glo:sa, dt- modo que, nesse nível, o tc,."tc abre-,e, e
htcramra cm gestação. Esta, por suas estruturas, por seu modo de fuodo-- um dos craçcs pró:;:nos à •'literatura'' é sua interpretabilidade. O ce,,.10
nair.cnto e ~lo valorts que ela promove e impõe pou:o a pouco à trad.oonal, mi ooocrapan:i:la, pelo simples fato de que transita pela voz

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e pelo gei.to, so pode sei aber.o, numa ,1ber1urapnman..1, radical, a ro n- se co11cernem. aqui, ,c:11.io mdtc pan:-ia'menre; e de modo alJ;um na,
ro de escarar, por lampejo~. à lingua "Cm aniculada: por i!iso de se cs- épocas anti"3.S, apenas mais tarde, um p:>uco duran·c aquilo que Hu1-
qui.,.-a à inter;,reução, pelo menos a toda interp:ttJlç. o globalúante. Quan- zinga cllamou 1ie ~eu outono.
do n:>~5a "Jirera111rn" se instaura enfim. n.a ~poca que chantamoi de
clássica, a~ dhersas pane, do discm~o 1ocíal serão dissociadas por cau-
sa de competência~ a partir daí desconlinuas, po:íuca, moral, rcli~o;a, O termo "literalura" coloca assim uma tela er.tre o medie\lilLista
ameacando deixar t.ma lacuna que para a socieda:ie é vilal preencher: e o uujeto de ~cu estudo, exclusi,·o de toda iru.tituição de.s sa espécie E
a,de um discurso Lotal e ht>mog.ên.:o, a,to a assumir o destino coletho. certamente vi.hei analisar em sl!a significação m traços de e:utnsão muito
A literatura vai desempenhar esse papel. 18 Ela. çc tomará mstituiçào. Yai geral ..u115tituiç.io êc um "rnonume;no" d.e linguagem, reflcxjvidade
e,i.e:c.c~ urr.a hc:gc:nonia, de fato, sobre as reprtsenr.ações socio-culmrais e o resto. fa'..l.s marcas trar.sbordam e referem-se m.e.n.os à especi ficida-
que- a Europa e de>:>ois a América formam C1t s.i proprias. Absorverá, subs- de .. litcrá!'la" do que a4uilo que posmi de radie.o o foto poético. Uma
tituindo-se ai a rc16iica e sua função norn-.::.tiva, as ' bclas-leL""1:1s" e a parte das proposiçôe) enuncia.veis a propósito de i:ossa • 'literatura'· r:
idéia de cultura "liberal'' que a ela se pr::-nde; ,·ai desloc.ar para o ;:,rati- aplicável aos te.xros rnedie-.<ais. Mas não se ~.:.btrfa L,111.â-los como pon-
cante literàrio a noção de auctor 4ut: 4 u a.d....ção :ncdic.,.al referia .à.& for_- to de ;>a..-iuia. Não me ,-e;o, exprhm.do-me assim, formulando um juí-
tes re:mancntes do saber. Resulta dis!!O uma tendência moralmente to- zo de "alor, ,1ru, !en:ando discernir um :'ao. A tuer.uwu é o que velo
talitária, que se e>Lcrule aos próplios disl;unu~ mantidos sobre II lirerm1L-n depok =iUTIJ período da história ocidental cm que 1;e transformavam
- a da Idade Média, em particular, na ;,ráti:a dos med1eva.lisw. Tal é enr.a.q11ecíam, por veze.i. se "vlciavam", o, ~os costumes a panir do~
o circulo que importa quebrar. O textO poélico mc:Jie-~al não foi cm ,cu quais se geraram as formas poéticas da "Idade :\lédia". A literafuro r
tempo he~er:iônico; simr.'.esmentc foi útil. A literaturasene qu.ase ÍnC\'Í• o que se produziu nwn esforço admiráv~. :ios homens para u.trapass31
ta,-elment! ao Esndo. Desde o fim do sôel.LJ xv, reis e príncipes ~on- sua crise de ~()n5Ciên;ia, esse "desencantamento" dom-ando de que fa-
fiam aos rhéroriqueurs o n:idado de SWI. p::-opaganda; a memória de Cba- lava !\fax \\'cber. Seria me:hor ti:a.r pro,eito, ern :iossa reflexão sob.e
pe:ain a Co:bcrt ;:>0:r vol:a de 1660, comp,omete a literatura trancesa a., cultur.l, medie-,'2.ls, de <.li:.vidas di•'und.das hoJe sobe o scnLi::lo, a fun-
e, depois, a européia nu:n caminho do qual ela não se afastará mais ate ção, o fi.:tur~ do ';•à.o I.Jterá.rio"? Sarre já ::oloca\'a a questão de .su.:i
os nossos dia,-~ revoltas ideológicas ou aquilo que assim se p:oc!a_ma, pererúdadc. Pais.ado, alguns anos, tende a cim~r-se como objeto de
a tra·nlho do texto. a,; oolocaçõe~ em q ;iestão da linguagem, o, ms.aios conhecimento ou, simpleis□ente, de percepção. Simultaneamente, 0 es-
de docorstração, naca impedirá o discur;;o li.erário, ainda que contra tatut;, da "bütóri..a da hll':ratma" ~ recolocado em questão.
os su3e1tos qu•: ') pmfe~em. de visar a uma :otalidade, e esta, o mai s das Tdllrt mcemzas não ,ào própria:, de .ussa epoca; elas se assLx::am
veles, de ser recuperada e idemi ·"icada a uma Ordem. ao~ q·1cix~rne, qu;;inspua :;icr:odicamcrte, ;,~ ·rê, ,éculo.,. IL"lla preten-
!\ soc1e<l.a:le ..:in qu: ~r fmmararn e 1r.:.nsmicirnm as poe~ias tradi- sa éw,dénc1a a.a cuJtun. livreJc-a: corutante panc.doxal, em Q'l~ se pode-
cionais 1Éro·a11a tooo mo:1i.opólio de podcT. O dis;;urso poético aí di7ia ria:u J1~cerur o~ a.;ess0s rcco·rent~ dç U'.l'la o.ostalgia Ja , ·o;z. ~·("ª· Mas
u unhcr50 e .:i 1berdad t; se não a incoe~[·n :1::i co que e,ç,tt·, e naca J o a lógic-a di~cuni,.,.a que ;:onstituiu nossa .. li cr,uura" funciona ho1e ca-
que ele proru:iha era vr:-1ficável, para alérr. de uma e~fe:-a estrei;a, era ca ,•e.: pto, uma i:l 1~-1ça ce c;1J1-.naç.ão ccrota 011u cu menos todos os
vo,l.i uc: :,'\d;i um de ~e~; ou,·iates - ;'t\ ak."3.r.cc de uma voz. O, rei, wn udos proctuztdo~ ?º: ela. Pr.>1'a-o o destino que jogou durame uma
do seculo -..::i. na lngl:nrna. na França. na bpanha, na Alemanha, ler,- vmtt":1a cear.os corr. a ''Lru1 i~ lircrá:ia"'; ccnr cma.ção - 1ahcz tn'-cr-
tarJm apropr 1<11 ,e desse poder Fo1 o tempc das primeiras cmereênda., gonh1fa - de: urra perda de fé r:a ·,•ali::lade das literat'.l:-as. O aJ.emão
"lirerárm ". O 110\imento e,ta~.:i ddm111,-ament~ assegurado quand0. deSJ&na com U'l1a ~a,ra pe.ada, ma) srm arnb1gu Ud,.fr '1.-:~d.ifere.i-
tr:s ,eculci~ mais tarde, 1mpunl1a11H,e ns monarquws ab,oluta,, •ua nil- ciaçJio • (Entdifjere•rz1enmg), ~r.a morre r:wal"úru:a da !iterar ura. 1mena
minação co:n cidiu com a forma lo do na.ao:aabsmos. Esses uncroms- na cultura de ma ~a. Ora a litt'ratura de m,1.s~a. para!ueraruro, Trn-iill-
mnlo nã~ :é-m r.aJa de anedouco. Ele.s d1mcnsm1mm. na 111 r nu, 1 tn- lil r2ru1 \lílU ucr nome com que se a designe.produto de sub)titu1-
cubação e oepou o crc~.imento de uma realidade no,-a, de componen- ;;ão (para além d~ fnuurn, cullurn1.\ ~u,es,i\'a~ do5 \é:ulos .-..:v, x,~.
tes mal disw:::'á'\.cis A "Idade Media"' e sLas 1mu1çõe~ dir.m, ~h,ns nio X\'11,I de uma '-'Clha porsia ,,)ca, r«olheu e pres:::rmu muitos 1ra.;:os
de,1a; fu ncion:.ilmf.'r.te, e!.i a su~ri:ui prcl(,ngando-a O! rorrances de
Eugl-ne Sue reu tt...zavam c.r .1ques dos cantore, de ge:,1a, a.nda sob o se-
gunclo I_rn ~ri?, no~ môn:1~ pamien~t-:s àe ba.irro~ operáno.\, ocorria que
0 r onei'o t:121 a en1 voz alta a leitu ra de u:n folhe:im a.-~ locatários reu-
nidos; nli<1 há mutto tempo, ha-se assim em familia. 'Em nos~s dta5,
deslocam-se O!i lugares dessa voz: ,=nes rad•()fô.t.cas, televisivas :, mais Po ~ 'cio
~tlttlmente, a onipresente rl'vista em quacnn.hos, qu:.- sub1tituiria no se- fl LETRA E A VOZ
rulo m os almanaqu;>s em nas de de<;apa-eccr A pllavra r:iunfa aí.
~nscriia em balões pintadcs que sae:'Tl das boca~. t m cc-:uraponco a um~ DE PAUL ZU/t4TJ-!OR
imagem oferecida à percep; ã o direu e l:r..ua, reduzindo a q1,a..e: nada
a opcr,u;:ão de de:odifi:a,;ão.
Dessa ellperiéncia, cue faça o medievalista !eu -nel. É de uma cul-
tura d~ massas que se ergue globalmenie ;;. poesia m;:díeval, e não de
urna "literaturu". Os ckri!!:OS, es:rito;CS, i;entc J~ e-;-: ritu a nc ex(rcicio
0
Um Jh•ro como A leira e a vo.;: é, para os esrucLiosos d~ literatu:a,
de sua função, precur~ores cen~ do rr. u.1do moderno, formam !la so- de cultu:·a medieval e de literatura~ orais tcomo ê o çaso ;ia tradic;,or..cl
ciedade curopé-:a dos sfrdos mdi:'\·ais uma :ninoria ín'i.ma - de in- nordestrna), um divirnr de águas. Tanbém para os que se ocupam de
fluência, é ,erdadc. :ons derável, mas nilo ~ :s!;o que esta aqui em cau- teoria da literarn.ra ou de quest5es de ;>oética. i--esre mo.:nento, em que
sa. Os jograis, os reclt.rnre,, os menesrré1s, ge:i:e do \'e·bo formam a se bu.scllm tan~ rew,Bes nenhum te:«o pode se, mais suge:.;ivo do que
Unl'n~a maioria daqueles para quem a poesia ~e irsc-re na existênda so- este, instigante e mov-ador. em pnnC1p1os , ;,ropós.tos - cal e , <J.ensi-
ei.a 1: eJa ai se imere ?0r obra da voz. Wlico mass rnea1ur1 e.~sterte en- dade e o alcance com que Paul Zumthor elabora oo:1exõe~ eo.:re os ::am-
tão: ::. quan10 'lleJ\1or o leuo se presta ao efe to vocal, maü intensa- pos de i:iterfcrêTicia da v:n e da c•critu:--a; o papel da vez em certas se-
menl.i? preenche sua função; quano mais a vocalidade que ele maJ11festa ries insbtuciomüs comí! a Iareja e a Escola e em sér,es m2i5 difusas: 05
parece ime11cional, melhor ele age. Pemar " l:teratura" a propósi:o dis- costumes, o cotidiano, a ,ida cultural.
so, com u conotações q1Je fue para~i:am a id~ é, é correr o risco de um O mcdievalista / poe:a i::~·ende arquivar de •;e;: i;roce:limen:os Je
fectamento eliri2at1Le. Também de um ~echamento emocêntrico numa uma certa "arquoolo gia :extual' ', rotuladora e antiqu,da, e tenta avan-
~éncia hmoric.amente limitada, própr.a das Ilações européia./ e ame- çar no sentitlu de destruir 05 limites crist~b.adn~. colocando por ter:-a
·icanas dos séculos pre:eêentes. Desde então se fa.sciam as perspecri- muitos dos prec-onceitos que sempre estiveram presentes oa historioir.i-
v~s, :ão logo o olhar se desloca no ~paço ou no temp::>. A ún:ca opera- fia da !Jtera.ruraocidem.a.1. É uma questão de posrura. Ampliando a n o-
ç;io fl 11 1': ti1lvr7 r,:n, pa n C'ir::ulo, vr.1rfo li l'g:lh<"~er uma vi~ada mais ção de te.11.to literario, procedendo a uma grande sfnte~e de alguma.s das
justa, in~pira-sc numa an:rcpologilc CIJltu:al, e nfo se i:roporia a respei- mais unpcrtantes teorias come-:npurâ.ne~.s. corno o. estê1ica da rec-:-pçAf). e
to do obJeto outra coisa ,ellào situá-Jo entre a.• ~~ências concretas e passar,do pdos apon,s de McLuha:i. o texto Q\;ff dizer :nuito a:.ai5
as ci""Cl.lnstância~ em que foi percóido. e compreende desde a pme fuicade ~ua e.mi~aoa:c o ~paç:> material e
corpóreo de sua realincão íntegra e de S\.la acolhida· uo rexto ,e te;: 1
na trama das relacões humanas mu!tiplas, que, 5c:ru dúYica, nc. espe-
riência vivida foram tão discordantes q1,;anto contraditórias"
A oralidade se faz um principio :b texto poético, pennirimlo-lhe
de~locar a rliootoroia pepular/erudito, e-.'itando discri:ninações, O r(!cc,-
nhecimento profundo da macerialidade produtiva da voz, com <e:tS atn-
butos intereorrentC:S Que abalroam o signo - nor:ia:lism.o radical. 1.1•
tervocalidadei eroticidzde, mmbld a, di•sipaçlo c!e autoria - prop~t
de foto no\'º' caminhos.

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J
:\I 1b, desde trabalho.:, de muitos anos .itrá~. rlc nos d1z QUt a JXl<'- n o:.penênc1a hum1n3. a :limcns.ão C'r'!'l(lli\'J tln cornunica l\ ú akan::e
sia medieval, cm cerro sentido, se 1pro~ima do man med,a; qu~ o to- dos princípios que garantem - a pleno~ !>Cntldo, - um3 prc~en~a cor-
to trariJo por ela~ dirige a um público formado pelo, ncs d~ repre- pórea, memóriJ imperecfvel, toda vez que se prcscnt1fica.
sentar e pelos rito · olhar e a. A voz eraria a tcrcdra di!:ll~O deste &te lino e um daqueles fundantes, obra a pardrda qual 5-: econ
espaço para uma sociedaue praticiuneme analfal:>cta, no m:dicvo. \idada a revCf' ludo aquilo que pareia esta: à espera de revisão. · •
Mesmo hoje, muitas das ob-ru poeticas escritas com q11e lidamos panta.mo-nos às vezes com alg11mas formul~ões que consideramo~ exa-
tal\'CZ de\·esser., ser tidas le,.'llndo-se mais C'm 1,;on a as vátia; pos11 ívcis geradas. r:us, c;n seguida, reJamizando, alguns d~ achados de Paul
gradaçces da inscrição vo...ã.l na escicura, a par cLt importância conce- Zu:::tl:Jcr nos parecem tão ::!aros que nos surprt;endernos, pensandu em
dida às relações semioticas dos :th't'ls sonoro, gr.dco e viS'JaJ. "por qu.. niici Lính.ur.os atinado ant~s. É este exercido que se faz à
O que se está pmcurando ,,e: não é se- o texto e ,:roduzido ou re- medida que se avança por seus estudos.
produzi::lo por dominantes ou dom10ados, ou sabe:-. no ca,o, que:n con- Traduzi e remeú-lhe. em forma de poema. há muitos anos, llilla se-
trola os meios de comunicação, !a:bo:a üso ;,ossa s;;r trazido para es- qüência de se..1 livro le m(1$(f..e er la li.mi.ere Em catta., respondeu-me
clar~cer, ~ outras instàncias, fa.1.oJ ~ue .se liguem àquilo que se pretende que lhe fica"ª cada "~z rr.ais claro que s .ia obr&. :eórica era mesmo poé-
explicar. E de ·ato a sua "5emiose" qu~ esta em causa. O que conta é tica. Por üso, sta pomrra é a menos afinada com u:n cicntlficismo te.'-•
a obsen•açào do te>.10 poet:oo ,·;;,,-o, em suas diversa5 :armas de oralida- tuaJ 411\: c•:>mprovc ou demoastre; pelo oon&ráno, é a partir de uma cer-
de. em suas gradações. na reta:;ào \"á:,a co:n o escriL•:> e com os meios ta ''hcurn,Li::a ~ensitiva" apoiada em sólida erudição. o que pode parecer
mediari!.ames. um paradoxo, q·.1e co:r.põc: $ua gcomema; "Entre o real vivido e o con-
A li!tro ~ a t·oz é uma ecpécie de :ompro,açào de tópico~. de .emas. ceito, esteadre-se um temtório incerto, semeado de coisas re:us.adas. de
questões que o autor foi desemolvendo nas centenas de arLigos que es- impotências, de nem verdadeiro 111:111 falro, um óric-à-brac i11te1cctua1
creveu, ao longo de pro,o:::ulle ~rcurrn crwco. como por c.xern;,lo oo que escapa a roda ten:ati"a de totalíul;;:ão. oferecida apenas aos bri-
antológico · 'La CLrculame a.u ct:ianc' ·, que publicou, ja há ~antes anos, coieurs. bversamen:e, o conceito, para se i.:ooscituir, e;rjge a abol1('il11
no núm.:ro 2 da revista Pr>cúq"'e É corno se o autor vies!.e semeando de pre,enca~ devoradora., esses mons:ros que: já o mataram. t,;o meio
e \'OitJSH' recolhendo os resuJ:ados, pa:a cominuar 51,..a obra ~m curso. dessas apor:.a5. cab:-v05 brincar e ap·o•'Cirar (jotJ~r e jcuir): ,alem a ;,ena
Muito importaate, em se crara:tdo de oralid~de, a refação ,ontínua. e o í ogo e o praze~• '. E adiante acrescenta: ''&ta é a nossa chance - subs-
em vário~ grau~. com a esc:mra, que se des:aca err c.:ipftulo deste livro tituir a5 f1coões aJttigas de unidade pela idéia de po~heis conccrdân-
e no coi:jumo de sua obra. Poóc:-~ pen;t::'o~. aí o co:npkxo dc~linde de cia.s' •. "Hoje", diz ele, · 'já ultrapassei a semiól:ca dos anos 70," "Sinto-
formaç e técmcas. aquilo que se a•,aJ:a. a partir do qut ocorre com a me :nuito atraido por .::~"tas idéias de Lyo~ard e do pró:prlo Dc:kuzc.''
formu ação dos 11e:1s ''As man.e1ra de ter·· ou ..A voz éo e~cn10··. Deixa- Dru q1.e :.ambérn cs 1:rufos q11e dá a obras e :a;>t.1.Jlos, a mobilidade co-
nos abena uma v1a. em que ~e re-:upera um mundo de corúecimemos. mo p:mdp:o (a mozwance'I, o amplo alcance de sua visão ei;barram na
para o~ situar, o passado relacionado sempre ao fut1m1, uma aproxima- rc;e:ção, pN· parte d:H rned1evdlir.tas tradicionais, de pesquisadores que
ção que ,e dirige ã pluralidade das n:.aneiraç de expr~sar rnai tambem )C apegam a esquemas prhios, daquele:; resi,;tentes. a novas postura>.

a uma especie de conrinuidac.e una •::O p-oélico As l:nguagens \ão vmas Encomramos ~emr,re nde llm indicie de algo que está para acontecer.
como :> centro da sociedade e da histór:a. Seu clho :-wte:nrorànec ,;,apta o que de mais significativo pode emer-
Pas,am a valei muito alguns p:oolema, ca comuni:açàc. cerno o gir, aqt:i10 que ofere:e con±;õt<. pan. um mergullio não dogmánco em
das mediacêle~ na erni,~ão do texto.. que tem sJa condição sem ótica de- seu ocje·i\lO: o poema, seu espaço, sua voz, o modulado e a permanên-
finida. Portanto, não ,e sttua aqLi o que t "melho1•• ou ' p10r'. ma cia, rui ~ommu dadc de trnnsmisü.o que faz p ~mte a pala, r<t ,ão a
rrn;,ic1am-~e as condições para entender o fenômeno da letra e da ''OZ denundo rc:rc(Cr.
enquanto pnncip1os em rela o. O cato se aprcsc:ita como produ o \ lc pommto a pena nlo perder de ~1~ta a demarcação do pró;:,rio
do da . -:atea:.r.al:idade:1d:.-1 n:tiw cultu Zum1hor: "Permanece o fa10 de que I civil1u o do Ocidente medieval
ra, e a~ de n,,,so trmp<-. f"ica ~cndri 1,do ur'l gr,mde ,;o- Junto, em que fota e! popa aç ~ ele u 11 pequm tJUa.s ílh dom odal?.urásia
a rrrmanênc1a se laz marcada pel~ g 1e de mais ncc ·raz, ~gundo ele. que, durante um m l!nio. e de tc,das as mane1rcw, em todos oi. domi-
nim, em todn, n'i nhd~. ·011~:11•rnram o t,;.\•cf1d 1, da:i .,·JaS cne•tius o :.liçfo de ;,cn,;,1r e JI.' !>e c.,primir, as in•o..:•,ões repeminns, ,) d1ff..::il que
1111crioriza.t ~ua., Cll'1trae! " ,1 t, portanto. por a:aso <;ue a J ala• n~1ren1emente compti..:a o fêkil, a ~m:a.•c que: ,·iolcnta a ordem 1:-ano,;;e
vra refouler [r~--alcar, rep-i•mr) ripa"ecc tanto, sob ,·árias formas, em Sl.!a <,a mnis hab11ual, a c.~plicnçâo cncadeaaa a hngu11gem cue ~e faz 1..ar•e•
obra. Constante e J S\JJ preocupação com inC11rsoo ariuopológica , com gar de emctividade, perplex!llade, praier. Pomuada, d ~c:u modo, n;im~
fnf)dararn• ç.ão ~~ outru~r.n lo11ia que 11P~ nte ~ cntc.1dimcmo suce ão que parece obcdec,cr a cio-; ~em lim. A~ metáfor3.) de ãngulo
da literauua proces~m e alicerces para o ritual do cntenduncn:o. , 'lll!la no se faum iJr, prca o tOfittltual -se reune à de
car:a de :9:19 • .lei ..., quanto acha importante que se atue terdo c:,mo pintor "impre •onista", aos tom que ;ií (e esmaecem ou ~urece:m, a
supone a antropolDgi,1. fontlamento de a:-i;~füc 4uc no~ perm:1: 'COO· d~pender. Encontramos multas \UCS o apelo a metodo, de a\·ahaçao
,•ar per,pec11,..:1.~. elcmo:ntc. de rela~1~m1çlc e Jc c.>nf!OntO, des.b fan. rruito tradicionais, como a presença de ;:rocedimentos da esnlímca quan-

1
do: " PJ.~cle-c1e que. dep(}tS de uma c.laena de ar.os. oi .=st 1Jdo• liLerá- titativa .iue. •egundo ele, são resto~ de ~lhos habnos filolog1ro~, I.' de
rios não avançam (plérme111 ), 11:JJCtcm-:;c, cngrndr~m um:3 recórita que ret:ente iaompem 1ns;Rl:ts muito ~--ec1a ~. ás \'CZe\ ful" inantes. que se
aào tcn a ,er com a ';realidade". Col<'cando cm 1<equc u:na etno'.ogia inje·.am num OL noutro tipo de formulacão. Ê quando a linguagem do
mfope, conforml! <1enc>:nma, :-egu:ria as cri.h~ 1.k R;:1rnan :ak,)bi~n e ~~crilcr m::ik ~e recria e re-invenc.a. "-eolC$!1Smc-s são usados e de :-e;,en-
Bogatirev (Questions de poetfque. Pari,, Se-uil. '973. pi:;. 59-72) ao va- :e~ o _i)r6pri.(I 70Yador ·eflete sobre ele~. ··uenêo-os acom,:anhar de pa-
lorizar uma es:;:iocie de :neta•conbecimen1o poetico que as :omur:u2adcs rêt1t~es e e.'{clam:u;~es. Lê-lo, e ainda 'Tla.s traduzi-lo, t part1opar inti-
detêm, e ao analisar a produção roetka crn relaç.!o a ele. o:·~rece-r.os mamente dcsts. rota de CT'açào, e ainda do uru,~rso luminmo da es.:olha
para traba!har corccüos como réco"lr.ai'i:.a11ce, o rt:onhecir::~ro çu~ de 1cme.s inquie1ant.e; e percuciente~ ..
se fa.7. do que se ouve. ;mplicando te1<tos nu:ltip.as e públicos Yár.ios, i
em que têm peso as noções de performance, reabacl.o concret3 ca ora-
lidade cm seu meio. dt intervocalidade '.lara co:itrapontear com a no- Seria di ~fc1l aftr.Ilar que se seguiu toda a cbra de Paul Zumthor.
ção de lmertexto. Chega me<,mo a criar " Jnidade ní nima e ;>ertine,Le pensa.dor universal, tal o "·olume de :ciru.ras, a extensão e a div::sidade-
de.sra atuação, qte de,,nmina vo"ema Cronizando em seguida a :ieno- QU(; obr1gariaca a um im·estimemo quase exclusl\'O. En.wo, ficção. poe-
minac.ão. mas não o q1.1e ela significa). Pasrn-nos, enfim, a idéia de que ma. contorme li~ err. anao, ou até dtc~naudo poema, ttatro. ficção.
o tc:.-<to, cm mas grada~õcs, é h!Horicar.:e.:ire :,rovisóno rr.as poetican.ente .A. atividade do criador vai acompan ·c1,mdo a i:;rodução da obra ceórica.
definitivo. Seria, po: exem;:ilo, rnwto esclarece:ior um emido qur procurasse se-
A formação do autor pro\·ém -·f a fi.oloaia tradicion.cL e <;e abre pa- guir os trânsitos de Uilla à outra para alcl.Ilçar de que modo elas se en-
ra o efeito e o alcance re:iova dor c:5, a partir do conhecimento dos m,ba- trelaçam, completam, como se confirmam as dominâncias Persunagens
lltv:. Jt HjelnisJ~• (cm 1960) e Romm Jakobson Cem 19641. cor1:onne e j)roctd.i.mentos se repetem: da magia dos magos, profetas, pregadores
ele mesmo declara em sua entrevista co:ictd.i:ia à Fo!r.c de .S. P(IU/o aos elementos de ~a hlstória cotidiana, do preciommo qu~ se reo;-ela aos
tH/12/81!), com o dtufo " Poesia. t:-adiçdo e esquecimentc,'', quanitn rfe misteno( que se escondem.
sua pa.<,~agem pelo Brasil. Vamos encontrando tambéT. e\•ídênclll5 de N~te-se que a atitude de selecionar de antologiar Victor Hugo em
obras. com que dialoga, corno é o c.150 do teórico russo Mihail Bakbt10 se,, lado maJdito, potla de Satã, textas ele Bernardo de Clara~·al, funda-
(a que t~·e acesso somente em 19"0-71): o diafogí1mo, o grande texto mento da poe:ica uo-ndoresca, do camlem ao santo, dos rhétotiqueurs
corporal~ sensitivo, e, cm certa medida, o moe.lo de re5gatar ê.acios dns ao mundo e;,igolar de Abelardo e Helof.sa, é uma deliberação em con-
fontes tradicionais àe informação. A sólidd erudição que, ern ~ de se ju.nao. Dif;a-se ele passagem que sua ir.tradução a estas canas é também
fazer esmagadora '°ai, :r., voluta..,, bus~ndo a pcr.ra de mulúpl~ indícios. um e-..cmplo de como inrerprew dm:u:rnento e vida. ficção e escritura,
Sua escrita, torrcnciaJ e profu5a, cor.d:iz e transnte, bem djante de como relacionar a personagem e a imaginação que as cria e conduz:
de nos~os olho~. fundamemos de alsum~ da; pr;nci?.aJ.5 disc-J.5s5cs dfile "Pouco imp<irta.. na:-ração fictícia ou co:ifüsão autobiográfica. o texto
século, tr:ucndo•as a seu ritmo mais interuo. traz se'l próp:io sentido, engendrando neste lugar utópico, ern queres-
Ttaduzi r Paul Zumthor não é simples. e aqui não se trata de sa~r soa'.D os e:<h do 111wido (o dos ,éculos xn e xm) contra o qual ele se
mais Qu men-0s: frnncês, ma, de ace1tar o dc~aflo, de respeitar um.a coo- constrói, a'irunilandCH>. Abelardo e H~/o(sa, designo ass:m, de ora em

190

L
l
dian1e, ;,,, "personagens" rf"est d.;, deü~ nomes 1Cor•Psporrdh:ria cff H1sto1rc lirrén11re de la f-rarire r>1édit!1•ale (PLJF, 1954 e rcp\ll"thclda
Abelardo e Heloisa. São .Paul:>, Ed, Murtini. 1on1es, 19ij9),
em ll,i/l) t. um monJmentLJ Je informai;ã.o, traLendo aquek \1ê~ crm;o
que se iria de~envolver dtpois, r, cor.ta semJ)rC, l~"dll1a:-ido ponta!> tlc
. Seu estudo s,:>bre a cultnra holand~a de que me fa.la.ra Antonio Can•
dido, ha m~tos anos, e com grande entusi1sm:>, antedp,Me a muito! questões vital. .à d1scl.1!,são dos "gêm:ros", por ex:emp;o, ou doo modo~
de uansm:ssio de textos.. Em verdade, ao fazer híst6:1a. o discurso do
dos at~a!S e unportantes trabalhos isobn: a ~ida cotidiana, que surgiram
aumr vai do eru,aí.tic:o ao potticri, enpenhando-se por Y1víficar os re-
~ " ~ ~~ da Europa. Encon1ramos ai a repercussa.o .lo clima plá.5,-
pertórios. Nele, o c·Jmulativo não o;::orrc· nunca sem que se dê urna rr-
uco e m:rna:u~~•a do mundo flamengo, em que os tons dos muros, os
rni:,~'llo de: çriatividadc:. O tnibaJho nos le"•a a pensar na u~ência da 3is-
marron5 dos tlJolo.) e das peca, de caça nos levam à alvura das toucas
tematização hi:;16rica da nossa litern.tura popular, na necessidade d:::- se
e _dos aYen:ais ~ngomados, aos ofícios, um com:,romísso :le interpretar
escrl:'o·er uma 0U1ra hiHó:na da li:el"atura oral, apro-.reüando o kl!ac.o de
VJ~a e arte n~m continuo. Publicado em 1960 pela Hachetle e logo de•
Câmara Cascudo, ca,do po~én1 alguns Jlassos alem. rumo a uma
pois no Brastl :,elo Circu]c. do Liwo, tendo em 1989 uma edição de su-
.. i¾Jét.ica".
cesso. A Ho,01:dc no rempo de Rembrunrll (Companhia dru; Letras/Cír- Ê com Es~·a, de poetiqu.r médiévale (Paris, Seuil, 1972; traduzido
culo do Livm, 1989) é de fato am~ obra-p::-ima. !\ão se sabe mesmo cízer em varias lbguas) que Pau1 ZumtlloT ,ó:upem a experiência anterior
com~ é possível que tantos dafoi tenham sido retirados de do,cumentos e dá um grande avanço em sua construção teórica. O Es.1oi teve um pri-
~ ~e :um~ssem para formar o ruim:[ que nos lembra o vi-tuosismc e a meiro esboço em [Ang ue e1 technuj:as poêtiques à i "r!pr14ui: rorflart~ tP.a.
ilu:nma~ao de llm filme como Barry Undon, de- Kubrick, e em que ca• ris. Klincksi:ck. J%31, que ::cnsUuiu a. primeira ruptura com a fi.lolo•
da detal.lC a•·ulta para llt::çui~ ~ 1.:ornpadbilizar no coniumo: "Um.t li- g,ia tradic:ion.al e a a.;,~oxilnação ao est:-uturallsmo. OrgMliza aí ~u lastro,
nha castanha-avermelhada, cu negra, ou rosa sobre o ·verde unifonne coo;iliando a lr:tuição às contribuições c,eóricas pelas quais vai passan-
d_as pas:.igens. l"'G.Jvez no extremo horizonte um perfil de dunas. Eis a do. E.cléüco, rr>as sempre fiel a Jma direção 411e assumiu e que iria wn-
cidade !>?usada horizontair.iente no solo... Algumas torres, um cam:ia- tinuar em sua obra -,~ente. Foi então criado, de fato e pcla primeira
náno, te haco, der.enbando-se logo ab,ajxo do imenso céu neerlandê,, vez, um espaço para <i..:>rigar o con'.lecimento da füera.tura med.iC\ral sob
brumoso d:,garoa ~u de luz suave. Um longo muro de Lijolos, um mo- oovo prisma. arnlhendo lingüística e semióóca, a inquietação que afas-
lhe de terra. . Este lwro se :onmuiu, de fato, a :;,artir da leirura de nu• ta do~ teóricos que se apoiaram na ret~nca, na nerme:1éutica filosófica.
~erosos tt·xtos holandeses do século XY!l e do eicame a:enLo e sí~temá- tradi::-ional ou .apenas na. filolog:a. Ter.arnC>s nat1.1ralrnmte de aproximar
'.ico dos quadros do muset:. Maurits-huis de Haia. Foi oor.cebido como esta démarch.e da que fez o historiador Aroo Gouré\'itch (v. Les l·att!go-
LUDa homenagem à Holanda.. onde vh·eu de 1950 a 1970. rie..l du temps. l?arui, Gallim.a.rd, lQ'7&), que também ela um ;>as&.1 à frente
~ua tese de doutorament:l, publica.da e republicada em 1943 !: 1973 guar.to aos estudos de hí:,tória medieval.
(Geneve. Sla· kíne reprims), MerJin /e prophête, e que tem como subtí- Criou-se, de fato, uma ou,:n medida p.ar.i rn, esturios medievaü, ou-
tulo "um tema da literatura polêmica dai lustoriografia e dos roman- t70 parâmetro, e~pécie de jase para todos os que sentem a propul~ão íno-
c-es". procura. seguir o texto d.a c~perança bretã do ciclo arturiano ;iuc 1.iadc,ra, quere:110 !)ensar cm novo5 moldes. que~tões de te'l:l:l'I e de cultu-
se 1ornou profeda política, e ar.de já nos dil que Merlin po<le ser' ape- ra. Poesia é, come 3..Í designa PaJI Zu.ml.hor (e hoje já nm parece tão
na~ uma vez a qu~m se empresta uma nuance es?1rituaJ. D1scuce a :,ro- claro), taato um conjunw de 1t:1.tvi>cito5 p<>éticos como a at1"idade rtuc
feCI.a e a voz, e tema da esperança salvadora, e termina por recu~r os p:-odur:iu: o :orpo o gesto. •::15 □ ~:os Diz-nos então que uma cultura
0 mago como personagem de um mundo histórico nebuloso mas fabu- de carater arcaico, com;:, e a da Idade Mi:d.Ja, cr.gc:idru ~ texto qu.e as•
losamen lc vivo. Merlin, o rnagCI, o profeta, feiticeiro, personagem, ensi- •:.:.mr:. re-i.cshnco nek em gc:-al duas fmções que não c~tão bem separa•
n~ magia e usa-a para agir, no ,,,ent.do tradicional da p;ofeeta, 1\ote-se dai: urna n:la na à prrcepçau ::tl, ,~~rado, eu ~tr.. dc~p~<:>vidn. destacar-
at a conte~poraneidade da atuação de Paul Zumthor, que nos dec'.ara ga rn1sterio;a, que poder 1amu.s dizer prática. }.frn,trilndo a que ponto se
ter cons:ru1do este trabalhe sob a ir.!lu!ncia dos randcs mc,dievaliS.tas, fiua hgaçãopocsíal psicodrama, n:is rl:'•dacoroo o poc\i;I 1eforça a çoe-
:mestres. F. l..ot e E..F.aral, ap:itreeculnoEios=Jpmiém'.mtii:bl:!lCl.e.dielh-
odeumSIUJ)O · CÇI e ~uaurda.con,ht.e cm aplicar as regras fs:cl
n-eado o carater de transformação que iria dar a sua obra. d!! wna artt veoerá~I comprometida com os :itos énsma:los e apremfü..lvs.

293
192
l.!m Langue, ,e.xre, r.rir~me iseutl, 191:s,, reLnc ~áro~ C'.'i1udo~ que lrnça PÍ llm smr1de JXU10T1Ut,11. qut abri gu c·ença~, pr•tn.:a~, ritos e ::o~
comprttl'!dem e livro enquanto ot>jeto aos poema., <.hama:.los C11.rm1ria conduz pc:la tmma da.\ idtias, r~o traçado <la\ questões do 1empo, ,c-
flgurnt.z, observando ai a se-mbtic:idade que se concenrr nesra relm;!o ~andci-110~ a vc:1 co,nn nesta unii.li:lde u, informaçllo e pro::edimenrm
paJavrJ.•imagerr.. H~. ccrr.o sempre, uma unidade previa aglutinando cs1a~ patente a• d&-oberta" da AT.érka. fda-nos de uma Europa cheia
tu o aqu1fo QUt poderia pareeci di!pcrso; razão qu~io kvlla nos<tzcr uS. r; -.tas e de-tx:ases, CIL?endo-,nõ que
que esces ensaws desenham cm grances craços. em diacronia, da a:ta nesse poet115 se cnrllfum as faturas utopils.
ldack Média até ~ ~eculo ,:\, a :una de preo.cupado prop 1a desce 0
Si tu.anuo o universo em que se orgar illm literariedad,e e co~movi-
tempo iâo daqueles que e'itJda. ajs1m e e nm c·ansmire
O refendo te.,tc so::ire os Carmu;a Frgurala dá urra atenção pro-
O pa.rn1,k· dtn•3 1>=L>gre~.sivarnrnte. afa~u'"'e do pre~r.te-rnm C! qu<1 I itc
f1JJlda às dimensõe~ ,~p~:iaês daJ]Ots.ia. :\o capitulo ·•Jonglerieet Lan- eotdo ~,e rel~,onr,v-,1 ~ mane iru <lc fundo de 1>uro, pintadc por trá, do~ l)('I•
g::.gr'' passa-nos o seJ prcfu.ndc ccnhecimenco de 2..r1e poéLca, mostran- ~onager_, oo 1etàbulo! Eis ciue se d:scobre o pasudo !ert. deurar de insiau-
do-nu., a ocorrência dQs .i\. B. C medie,.•ais (gêneo que pe,manece na rar em fig1..1.n1 mitiCE., um lutum; gener:diz.açào da !;)<e':'s:;:ecc ,.,.a ví.s.ua.l =
lücraturs. oral b~sileiraJ ,:: seus jo_gcs, a -01dem e e própr;o desenho do pmtura; i.e·idência il e,rabili1,11çlo das rel.1t(Ões t.em:pora:! em sintax,e· in-
di~cw~o. :,.)ão ,eria po~tamo por ataso que, quando nos conhecemcs, venção (no pri.meho ter<o do ~cule> u~) ~ ciepoi,;; dt:'ruã.c do~ relógio•. me
na dr:caéa de 70, tenha me f.alado :;o:n tanto en.usiasmo de Haroldo dr.iro:,, con:::e-bid-::>s prir11eirami:nte corr.o autômatos para r,eprodu.tir 0~ nio-
de Campos e da poesia concreta brnsil~1:a. YÍCll.~r.to~.;mrais, Uma distância,( cava entre o homf'm ico Joiver<...-0, ,en.,[vd
Quando chegoJ ;;,o Brasil, e:n 1977, ::orno profcs;1o.or convidado pe- cotidiamr.;ente aos própric>~ cos:u11es r: ~ 'ct ~ifidacte•· ~Le, a pamr daí,
la Unic.'\Dlp, tra.rie. c:Jl s·i,1a baga~m 1.1:n corsio de poeta;; c,1..e então es- dis:ing'l.le as "c!a...!es domir.,anm'.
n:daYa. Os rhétoriqueurs. aúlico; f::-anceses que nê.:I apen.1~ desérlvolve-
rnru um coeso e:-.crcfcio poctiço, ccmocr.iaram u :;:ios5'bilidade de .1ma
:'eci.i"lda discussão sobre e sistema e a margem, o mundc oficial da cul- Ap.reddo em 1983 fogo depois de sua vinda ao B::ruj], e sem dei-
'ffl r e.~ m0<;1 rara,; marca• desta eiq1er ênci~ r-,11rodt1crJon .:i lo. poesie oraie
mra e o subrnum.lc q LI:: irrornp~ nGs in:ersticios. Di ,cute, a partir deles,
a/esta, atencando pua os ritos ;ocosc,s e obscenos no espaço da cria- ê ur:-i trabalho que p-ens.a a literalitn, orai ;;:m tipos e gradações :;iue for-
ção ;,oéti:::a. Cocfümando .illla ju..tifiCílda aproxhiaçã.o ,i. Ra.hhin. teó- mam um rnntir.uo, um grande te,nc, apro.ümando--se nam.rralrnentc da
rico de quem se penmte freqiiea.temente tanto se aprorunu quamo se no;.ão de lexco údco formulada pelo semio1icisla soviético hiri Lotman
afastar, procura ver como se ~ão neste uruverso os me-camsmos da mas dele diferindo quanto a circwi.;crcvê-lc a cJassc:s :iociais. Procur~
criação. ai processar os nJveis de formalização, discutindo "gêneros", afi.rman-
Atra~•és do estuco da ex-pressão, da finguagect de um con;unto ce do a força da oralidade: e confirm.lllldo-o.os a noçao básica de pertor,
textos, vai estabelcce:1do so1.;5iicada~ distinções, como a que organi2a mru:ce: "il a ação complexa p,ela qual uma mensagem pohica é simul-
e desenvolve entre aJegoria e ol~gorese, entre a simbolização e a realiza- ta.Ileammt.e transmitida e JXR.-cbida ,o momento". Sua etpenência é mai:<;
ção do ciscurso alegórico nos seus pro~essos de linguagem. Na se]eção do que 11m pe::i:urso numa d.irtt;ào teoric-a. He próprio tem corrido mun~
que µrepara destes poet~, a partir de tão profundo convívio com suas do, re1..nindo matedai, para pensar este í:onjunto, que à5 vezes pode pa-
obras ~4nthologi~desgr:z'fds Thércrique:rrs. Paris, Uni.or Genér.iled'Édi- ra.""er tornar-se a'bstratc>, quando sujeito a amplitude da ptrspecúva, ma.e;
tioru. 1978), re,,•ela o conhecimento objetivo do n:odo de ie,r deste ..ar- que se faz viável. na medida em que sobre e:e incidem o búmu~ de ~i;a
tefato" medieval - o ve:so. experiência e~ força de iruighJJ fulminantes , Poderíamos e-ntào g]O,>llf',
O tema encontrana wn ma:s amplo espaço err le masqueet la J-,.- dizendo-nos dian:e de uma "semiose pa.""tid.:ante·•, pois ao exercício in-
m1~1T' (Faris, Seuil, Hmn. em qu, ~e Lg;a a análise dn~ fimm•s ele UM terpretativo se vem unir toda uma i:ioética da obser'liai;âo ~·ii,-a. Nada Jht-
grnpo de poetas am princípios e razões de um s~lllo. Discerne, num esca,pa: das antigas Unsuas em cxlincão cuja voz ressoa. em eco distan-
todo, urna espécie d~ oper:;u:ão geral e :i idéia de um saber ·n:,vo que im- te e plan.ieme., às canções contemporâneas, dos roquei.m- e met.aleirO'l
plica imensa formaU.zi~o de lingt!agen. Consegue ni:slt líno, que se e s~s. aparato. à industria do disco.
fu um n•odclo de tra';:ialho. oferecer uma amostro de po~sibilidad:es. S.eria rireci~o ei:penr por 1992 pam rcctbcr do inqulet-0 e criativo

194 b>J
P-dul Z 1m:I or um romar.ce que 1raz o uni,trlo 111ul11plu, psicolojlCO
t relaae>nal da a~enlura da "descob.::rt.1' . E em Lo frrm:,;ée (MorilrfaJ,
L'Hexagont, que eslá sendo traduzido .·rn p~,nugal) que o fin:ioni~La
exercita os conh~ciruent05 que vem do ~eu acrclcio de en rend1mmto do
mundo de expr~são t" do uni-.er o- :s-uporteda criação do.1, poetas gue
t:50Cllhera para estudar: os rhiton·qu~rs. Pro"\tm dai a captação das me-
t.àfora.s poéticas dos nav~adores, a síntese de todo o ambiente, em Que
ele corueg1.Jiu distinguir dois dis.Cll!'Sosque st opõ..'1ll. O primeiro se adai,-
NOTAS
ta ao sistt.na, o segundo s.e sobrecarrega. de contradições referenciai!.,
e vai em busca. eia festa. Diz-nos então que a festa substitui as umab
~ sombra p:;>]a lu2 de uma ficção de M icidade.
Tanto no estudo quamo no romance h.á pistas c.a:n llnicantes que
lt!'mm .:i um sutil conhecimento vertical, que paradoxalmente: se espraia
e estende. Conseguimos alcançar o quanto Paul Z-umthor é um h1sto- 1. PERSPECn~~li fpp. 15 - 34)
:-iador, m(smQ QL14.ndo opera com i>iuuu11i,1..-. uu ~pli1.<:1 muu.v~ Ili:: ~e•,
um mtérpme, quando reúne dadoo de. mate".rialidade mai! imediar.a, aque- OI Curschlllalm 1967; Ha,mei; Voorwindi:11.-Hu.n.
les de um mundo distitulr., c.iuc pn:cisa .n:i:ompor ~ que 1,,e mm5formam '2) Giilill•D~tw-
em seu fio de prumo, sua poéLica, quando associa aos órgãos dos .senti- CJ} Rlnas-1, ,i;i.. Si-l 76.
c-1} Drar,on~·~i 199-4, p l@
dos toda nm.a sutileza de conhecimentos.
1.5) fal!.5S 1918, pp. 46-63
Encontram-se, em s1.1a obra, a força do polírico pelo poético, os pas- <61 ZumlhN J9'iS, ; . ll,
sos dados rumo a urna outra. sodologia da cnaç.ão, o as.sentameilt0 de 2i.n, e 19807. pp. ir-~; cf. G.11..1.n, pp. :.1-35 e i4-8S; Gurr•
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uma e-Specie d~ história nudear que si; oonstró1 a p.:irtir de momentos, bledt 19HS.
de situações mais semanti2adas da cultura ocidental: um rnegatexto cul- (HJ Mu1;:he1T1blN, i;,p. m-21 e 382...:; ~ltch, .,._ --1:..
tural que a desborda. (9J Du".,--y em Ülll.lm'itct., ·•Pn!f~'; Ol~·mu, p,p. 15-6 e 21.

Jerusa Pires Ferreiru :. O ESP.4.ÇQ ORAL (PP- ;s · S~)


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.txsig,no pcla.l lll:R"Íações seguiates algumas mrista! I.! qui~ as :efc-fom1:! sio JlU-
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