A N N O 17 CAPITAL FEDERAL, 1892.

N ° 651

CAPITAL- ESTADOS
A Anno âOSOOO
Semestre 4
9*000 | corresponde no ia e r t c I t l R f t f d f t t d(fvem s e r dirigidas Semestre 1 1tf0 0 0
Trimestre 5S000 J^ D E G O N Ç A L V E S D I A S . N 0 50,SOBRA£>O. i
^Ap, Avxjlso 15000

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cJfotnlilissimo uctor feitltcido i-ec eu. temente..

Capital Federaly
Outubro de 1802.
ESCRIPTORIO E REDACÇÃO
Rua de Gonçalves Dias n. 50, sobrado
TELEGRAMMAS
Serviço especial da "Revista 111ustrada"
Berlim, 7.
O successo da Revista foi completo.
S S . M M . Imperiaes enviam compri-
mentos á redacção e a seu fiel súbdito
Fritz Harling. P a r a b é n s . — Tangáu-
seritz von Dirt.
Paris, 7.
O ultimo numero da Revista Illus-
trada está admiravel E m nome de
S . Carnot muito s a u d a r . — Batestin.
Rússia, 8.
Palmas, palmas. S e m exemplo o ul-
timo numero da Revista IIlustrada.
A u g m e n t e m o preço avulso. O Czar
está delirante de contentamento. —
Cagnitzen loúrgh Torsteiu.
China, 8.
Comprimento á Revista e ao Con-
gresso. Chin chan fou enviará breve-
mente uma mensagem aos dignos
o O
representantes da nação explicando,
além de outros pontos, o gosto que a
China s e n t e . — Tzin zen-tong.
Tinguá, 8.
A p r a g a de gafanhotos que des-
truirá a lavoura de J a c a r é p a g u á , apa-
receu hontem aqui. T o d a a família do
inspector de quarteirão toi devorada
pelos terríveis insectos. A população
está temerosa. — João de Deus.
Maxambomba, 8.
E m virtude da desordem e dos
rolos, que se tê n dado na estrada de
ferro Central, a directoria resolveu
declaral-a em estado de sitio. T u d o de
suspensão. O commercio do interior
protesta — Com merciantes.
Alagoas, 9.
A população prepara uma grande
festa á chegada cio Oiticica, deputado
ao congresso. Entre outros presentes
ser-lhe-ha offerecido um(rnice nez de
ouro, gráo 0 0 0 0 7 . Contentamento
indescriptivel — Dr. Moreau.
A policia deu caça aos moedeiros
falsos, a g a r r a n d o - o s a todos... Minto.
A policia prendeu apenas os que fa-
bricavam, sem licença da lei, moedas
de ouro, prata e nickel. E para isso
fez um barulho de mil diabos, pare-
cendo que nunca houve cousa mais
notável no mundo... E n g r a ç a d o .
§
A p p r o x i m a m - s e as eleições muni-
c i p a e s ; e não será por falta de can-
didatos ás tetas da municipalidade que
as eleições deixarão de correr com
todo o brilhantismo quente.
Hoje cada individuo é um candidato.
Com ou sem direitos recommendaveis
ao eleitorado, cada um vem pela im-
prensa discutir programmas, pedir
votos aos amigos, amollando a pa-
ciência publica.
Por nossa parte só desejamos que
os senhores eleitores procedam com
máximo critério na escolha de seus
representantes, e que as bênçãos di-
vinas recaiam sobre aquelles que têm
de decidir da sorte dos depauperados
municipios.
Amem.
§ feeiro, ex-monarchista, e,actualmente,
A convite do Sr. ministro da fa-
zenda reuniram-se na secretaria do
interior diversos deputados e sena-
dores para emittirem opinião sobre a
reforma bancaria. A p ó s longa discur-
sei ra ficou unanimemente resolvido
que o congresso désse auctorisação ao
poder executivo para resolver sobre o
assumpto.
Q u e perspicacia, D e u s da Antigui-
dade!
§ lina...
O emerito litterato V. de A l g e r a n a ,
muito conspícuo jornalista do Tempo
e ex-supplente de subdelegado, re-
cebeu uma cartinha que começa assim :
— Um punhado de damas, muito ca-
titas e de muito luxo, constituiu se em
commissão para, na exposição de
Chicago, exhibir o progresso da mulher
no Brazil
U m addendo, minhas senhoras.
Proponho que para relator d'essa
commissão seja nomeado o Dr. R e g o
Macedo.
§ N ã o é rebate é rebote,
Estiveram extraordinarias as festas
realisadas n'esta capital por occasião
da data memorável da descoberta da
America. E n t r e os carros que figu-
ravam no préstito um houve de origi-
nalidade flagrante. R e p r e s e n t a v a elle
uma enorme canna cayenna, esguia e
gomosa, com duas caixas de pinho na
ponta.
Quanto aos demais carros de idéa
dispensamo-nos de descrevei-os. A s
bellezas da íórma, as pedrarias elé-
ctricas e o desfilar sumptuoso do prés-
tito e x i g e m talentos litterarios que não
possuímos.
N a modéstia da nossa mediocridade
limitamo-nos a e x c l a m a r a p e n a s : o
préstito! só o préstito !... a procissão
civica !...
Indescriptivel!
§
E n t r e os seis mil candidatos á nossa
municipalidade destacamos os seguin-
tes, que, realmente são merecedores
do apoio publico:
— A d e r b a l de K a r v a l h o , poeta sen-
timentalista e romancista naturalista ;
Orlando T e i x e i r a (não confundir com
o medonho Orlando Furioso), poeta
conhecidíssimo das meninas da Ci-
dade N o v a ; Dias Jacaré, fiscal zeloso
e amphibio bipede ; Z é Moll, criticista,
campista e noticiarista ; A r t h u r Gui-
marães, conteur necrologista. A sua
divisa é : ríinsultez jamais une lemme
que tombe; Candido de Carvalho, ora-
dor profundo e pachyderme faceiro;
M a g a l h ã e s de Azevedo, nephelibata
impellicado ; L e i t e Borges, ex orador,
ex-subdelegado, ex-chapelleiro, ex-ca-
ex capitão matta cachorro da guarda
nacional; F r a n ç a e Silva, Cicero da
Praia Grande, Demosthenes de Jaca-
répaguá, Mirabeau da Bocca do Matto,
Danton do Pau Ferro, Demoulins do
L a r g o da S é , R o b e s p i e r r e do L a r g o
do Deposito e K e a r n e y da ilha dos
C a b r i t o s ; Bento de Mello, Mello Mo-
raes, Moraes e Silva, S i l v a Nunes,
Nunes Barbeiro ; Cunha Salles, S a l l e s
T o r r e s Homem, H o m e m da virgo-
Fechou.
A g o r a uma ligeira resposta ao
nosso querido Rebate.
§
N ã o se rebate o Rebate,
N ã o se zangue o sertanejo.
Se na floria dá combate
N ã o se rebate o lie bate,
K' de força, sem empate.
Pica em tudo com manejo;
N ã o se rebate o Rebate,
N ã o se zangue o sertanejo.
Quem tanta gloria conquista,
Toque lá, seu rabequista,
Quem tanta gloria conquista,
Deve ser um bom fadista
De solidéo 11a calotte,
Quem tanta gloria conquista
Não é rebate é rebote.
§
— S a b e que vai ser executado ?
— Sim, meu padre.
— E que a sua ultima vontade será
rigorosamente respeitada ?
— Sim, meu padre.
— D i g a - m e , pois, qual é e l l a ?
— Q u e seja posto em liberdade.
S . THOMÉ.

£TC £e((T*MiH© c cjuapc lapacjao 0
ccmptimenta, peio aniureidcuto nataficic, a
Mjmpalfcica e eaputiucda
Revista.
O " C O L O R I B O "
• D E CARLOS GOMES
Bem mal p a g o dos seus esforços,
para trazer um contingente á g r a n d e
data da descoberta do continente
americano, o nosso patricio, o insigne
compositor Carlos G o m e s !
T e n d o concebido e escripto uma
bella composição musical, cheia de
actualidade e de vibração, aconteceu
que por falta de tempo, ou por outros
motivos, foi ella executada, em meio
de circumstancias tão desfavoráveis,
tão horrorosas que nenhum dos seus
mais inspirados trechos pôde resistir
ao conjuncto, que tudo sacrificava.
E tanto o theatro lyrico se compõe,
além da musica, dos accessorios que
lhe dão relêvo, que hoje as principaes
scenas do mundo primam pelo esplen-
dor das decorações, pelos j o g o s de
luz e pelos effeitos scenicos que des-
lumbram o espectador. Lembram-se
todos das descripções das operas de
W a g n e r em Beyrouth, com orches-
tras invisíveis e scenarios maravilho-
sos, deslumbramentos de luz e de
arte decorativa, servindo tudo a real-
çar as gemmas da composição...
N ã o ha absolutamente musica que
possa resistir a um scenario de Circo
de Cavallinhos e a umas figuras ere-
ctas, de casaca e cartapacio em punho,
como estudando a lição.
Ora. foi o que se deu com o nosso
Carlos Gomes, que só pôde ser accusa-
do de ter consentido em que a sua
producção fosse apresentada a um
publico illustrado e exigente, em cir-
cumstancias tão terríveis, que nem
Meyerbeer, nem Rossini lhe resisti-
riam.
L o g o a apresentação da primeira
scena, em que Colombo se expande
com um frade no convento da A r r a -
bida, produziu immensa desillusão,
sendo impossível ao espirito compe-
netrar-se da situação, por ver aquellas
figuras encasacadas, lendo os seus
papeis — ellas próprias compenetra-
das da impossibilidade do êxito.
Realisada essa má impressão, todo
o êxito dos esforços do illustre maes-
tro, cujo talento está consagrado na
nossa platéa e nas mais illustres do
estrangeiro, eram improfícuos. E só
PAIZ. o respeito e a consideração que Car-
los G o m e s nos merece, forçou o pu-
blico a ouvir, embora em silencio,
esse artístico trecho até ao fim.
N ã o somos muito versados, no as-
sumpto de que tratamos, nem temos
conhecimentos especiaes a respeito.
Todavia, confiamos bastante em nosso
critério como frequentadores assí-
duos e enthusiastas do theatro lyrico.
A impressão que nos causam os tre-
chos geralmente tidos como clássicos
e a indifferença em que nos dei-
xam outros, que a critica condemna,
nos anima a confiar em nosso modo
de ver. E é tal a convicção em que
estamos, de que Carlos G o m e s foi
victima de uma injustiça, que se-
guros de estarmos com a verdade,
convictos de que a producção do
nosso patricio é inspirada e foi victima
apenas do conjuncto, do oratorio
por assim dizer, aqui exaramos a
nossa opinião, com desassombro, visto
ella provir da mais intima convicção.
L e n d o o libretto do Colombo, onde
ha as mais bellas concepções, e se-
guindo a musica, verso por verso,
sentimo nos, por mais de uma vez
arrebatados com as bellezas da mu-
sica. E , sempre que nos concentráva-
mos, tirando a vista do palco, e ima-
ginando a scena em que deviam
echoar aquellas bellas notas, que re-
produzem as grandes paixões da alma
humana, o nosso coração vibrava de
enthusiasmo, acompanhando os voos
da arte e sentindo os arroubos e as
tristezas que perpassavam pelo espi-
rito do Genovez.
E m b o r a indignados com a apre-
sentação miseranda doesse trecho ao
publico,todavia ouvimol-o com prazer,
sentindo sempre que o conjuncto sa-
crificava a musica, que os accessorios
e s m a g a v a m o principal, e que era
impossivel resistir á deplorável im-
pressão d'aquellas scenas de theatro
de feira.
S e tivesse havido uma conspiração
para sacrificar as bellezas musicaes
de Carlos Gomes, o êxito não seria
mais completo !
Quem é que, esperando ouvir um
eloquente discurso e vendo o orador
puxar de um calhamaço aterrador,
pôde attender a qualquer belleza lit-
teraria ? Ninguém. E ' sobrehumatio.
E foi o que aconteceu com o nosso
patricio, que se tivesse visto a sua
composição em scena, com bellas
vistas, roupas a caracter e as deco-
rações próprias dos theatros lyricos,
em vez de uma a m a r g a decepção,
muito provavelmente teria tido n'essa
noite as honras de um triumphador.
O
O
Os nossos collegas da imprensa,
obedecendo á má impressão que
tudo isso causava, lançaram a culpa
ao maestro, parecendo-nos bas-
tante injustos em suas apreciações.
Como quer que seja, porém, para nós
Carlos G o m e s em nada desmereceu
com esse insuccesso, e basta a historia
do Mephistopheles de Boito, assobiado
ao principio, e triumphante logo de-
pois em todo mundo, para nos mostrar
que, n'estes assumptos, as opiniões
podem variar, exalçando-se hoje o que
se deprimiu hontem, reparando-se
amanhã com ovações o d e s a g r a d o
que a má comprehensão ou outras
circumstancias nos forçaram a mani-
festar.
O insuccesso de Carlos Gomes, na
audição de Colombo, não lhe pôde
ser attribuido. C o m o sempre, a sua
musica é bella e inspirada e a outras
circumstancias se deve a frieza glacial
do publico. .
Que o auctor do Guarany não se
impressione com esse incidente, que
siga o seu caminho de glorias e
amanhã nós todos desfaremos esse
equivoco, rodeando-ode acclamações.
Tal é o nosso modo de ver.
7-
COLORIDOS
VIII
Chove... M a t a - m e o tédio e o desconforto
C a e dos beiraes uma goteira, A m a d a !
E emquanto a c h u v a estala na calçada,
F u m o um charuto e saboreio um Porto.
Procuro ler; mas da leitura, absorto,
U m a só linha náo entendo, nada,
Torço o bigode, e sem pensar... Dam nada
A chuva que me põe o plano torto.
Se não chovesse, bem por certo agora,
A o lado quente da feliz Dinorá,
Beijos de amor eu gozaria avaro.
M a s a chuva não passa, augmenta em summa,
E quando chove assim, uma por uma,
Renascem maguas... Oh que tédio ignaro!
L o RD L E E P .
T i v e m o s o prazer de abraçar, a 18
do corrente, o nosso bom amigo J o ã o
R a m o s , glorioso chefe do Partido
Abolicionista do E s t a d o de Pernam-
buco.

cpLatf fl* J í o i r
O Sr. chefe da revisão é um bom
moço, sympathico, de costumes irre-
prehensiveis.
Como empregado de uma secreta-
ria qualquer angariou fóros de enten-
dido, a rendilhar officios, na perfeição
algébrica de sua larga lettra talhada.
A ' noite, pelas seis e meia, lá vem
elle, alto, esguio, moreno, com pas-
sos firmes e rythmicos, a caminho do
jornal favorito. C h e g a sempre á hora
certa, sem discrepância, por isso que
um chefe deve ser camelorio exemplar.
Por cortezia, pingando convencio-
nalismo, quando passa pelos empre-
gados do balcão tira o chapéo de
pello a dar-lhe as " b o a s noites", ci-
ciosamente, n u m a envergadura of-
fial de espinha. Depois sobe pausado
ás curvas escadarias da casa; vai, de
passagem, imprimir uma sacudidella
de mão ao Sr. secretario, e, muito
teso e auctoritario, aponta á sala da
revisão, onde é recebido com um sor-
risosinho affavel.
— Meus senhores, comprimento-os
a todos.
A p ó s a distribuição das mesas, o
Sr. chefe da revisão muda o paletot
de casemira preta por um de palhi-
nha amarella; tira os punhos, res-
guarda o alvo collarinho de linho com
o lenço de seda perfumado, e senta-
se, arregaçando as lindas calças finas,
para evitar as joelheiras. E m seguida
accende um turco na piteira de arri-
bar, traga uma fumaça saborosa, e,
enganchando o pince-nez de ouro ao
nariz aquilino, começa o trabalho.
A s primeiras provas são revisadas
religiosamente, na dolência enfastiosa
de collegiaes cantando. J á nas segun-
das, porém, o Sr. chefe da revisão faz
uma pausa para o café, conta uma
anecdota, uma pilhéria velada, e saty-
risa o estylo pesado do artigo de
fundo, com velacluras na phrase e ta-
lentos no olhar.
N o s dias de folga o Sr. chefe da
revisão também comparece a uma pa-
lestrasinha sobre vários assumptos
importantes, de interesse pátrio. A h !
mas n e s s e s dias o Sr. chefe é mais
gentil, mais communicativo A t é pa-
rece de assucar, tal a doçura dos seus
períodos, as ingenuidades femininas
dos seus conceitos. Aprecia muito as
energias financeiras do Sr. ministro
da fazenda. A c h a mesmo que o paiz
vai n'um firmamento de bugaris e ca-
mélias. E ' republicano, e como bom
E m matéria litteraria sempre foi L i m a (com sympathia)
pela litteratura amena de Machado de — B r a v a mulher!
Assis, Alexandre Gasparoni e Alvares Benevenuto ( e s t u p i d i f i c a d o )
de A z e v e d o Sobrinho. Q u e lyrismo, —Dizes ?
que delicadeza de processos, que L i m a (no mes?no tom)
sonhos azues de borboletas voando — D i g o : brava mulher!
por um céo de primavera anilada!.. Benevenuto (convencido)
Detesta Z o l a . Maupassant, Gon- Debochas! Sim; se tivesses de atu-
court, Flaubert, etc., são, apenas, ral-a, afifirmo-teque não te rias ..
supportaveis. S o b r e as bellas artes Lima (serio)
pensa que o panorama de Victor Não rio... deploro.
Meirelles é a obra prima. Alli, sim Benevenuto (indeciso)
senhor; ha toque de mestre, as per- Deploras, o que?
spectivas são ideaes, o colorido e o Lima (tristemente)
effeito, divinos. E... consultando o Não estar em teu logar... In vejo-te
relogio pede desculpas pela caceteação a sorte.
imprevista. Despede-se com humil- Benevenuto (suffocado)
dade de alumno, e lá vai elle, immor- Como ! tu...
talmente, assistir pela millesima v e z o
L i m a (com (lagrimas)
e x t ra o rd i n a r i o Beden °ó — S i m , meu amigo, tu bem que m e
JORGE MOREAL. entendes. Invejo a tua sorte. A s irrita -
bilidadesdas sogras são a causa da feli-
THEATRO LIVRE cidade conjugal.Os carinhos, os beijos,,
as doçuras de nossas esposas decor-
Benevenuto (furioso)
— E dizer-se que Dante era casado! rem do mau humor, d a b i l i s d a mulher
Dizer-se que elle era g e n r o ! que lhes deu o ser. E ' pelo parallelo,
pelo confronto, que j u l g a m o s melhor,
Lima ( s u r p r e s o )
queapreciamos mais o caracterd'aquel-
— C o m effeito! Mas, porque seme-
las comparado com as loucuras, com
lhante exclamação dupla tão singu-
as doidices d'estas. (Com sentimento)
larmente inesperada?...
Ah! quão infeliz é aquelle que possue
Benevenuto (com violência) uma boa sogra, uma sogra gentil como
—Porque? porque não coinprehendo
a que o destino me pregou ás costas !
haver elle esquecido de citar esse
"monstro 4 1 no seu Inferno. Garanto- Benevenuto (espantado)
te que fazia um circulo a mais, eu !... — T u a sogra? Conheço a muito.
Lima {admirado) Única na e s p e c i e L . Ella pareceu me
—Para a tua s o g r a ? sempre cheia de olhares bons para ti,
Benevenuto {gingando) meu amigo.
—Para todas as sogras ! Eu as teria Lima (triste)
vestido de diabo, de harpias, de jara- — J ustamente.
racas, de sucuris. e outras fúrias, para Benevenuto (mais espantado)
variar o supplicio dos genros mortos. S e m p r e a notei com carinhos, dese-
Lima {sorrindo) josa pela tua felicidade, cordata, tendo
Oh! creio que fizeste um estudo es- em mira, constantemente, a tua indi-
pecial sobre a aptidão das sogras. vidualidade...
Benevenuto ( f o g o s o ) Lima (choroso)
— U m estudo? diga uma experiencia, —J ustamente.
meu caro, a mais cruel de todas as Benevenuto (insistente)
experiencias. —Ella é mais doce que o mel. N ã o
Lima (interessado) falia senão em ti, eleva-te ás nuvens,
—Oh! a t u a s o g r a presta-sea tanto... inquieta-se por tua causa unicamente.
Benevenuto ( f u r i b u n d o ) Lima (soluçando)
—Ella é medonha, meu a m i g o ; cem —Justamente.
vezes medonha. Mais terrivel que a Benevenuto (irritadiço)
sogra de Aristides F r o i s s a r t L . D e s - —Então, de que te queixas?
graçadamente eu não tenho a paciên- Lima (chorando alto)
cia d'elle, desgraçadamente !... N ã o te — D e que me queixo?
direi os v e x a m e s por que m e t e m ella Benevenuto (louco)
feito passar. Por minha fé te juro, —Sim, de que ?
acredito que ella não dorme, só a Lima ( n u m acabrunhamento)
pensar em martyrios o r i g i n a e s L . E —Ella ama-me!...
cada dia, cada instante, cada minuto,
ouves?ellafere-me com maneiras novas, ••
BREJEIRO.

republicano que se preza, não deixará
de felicitar a boa orientação de S. E x .
e do não menos excellentissimo chefe
do governo.
ella me exaspera, ella me trucida, por
meio de gestos, de palavras, de acções,
de emissões... O seu proprio silencio
martyrisa-me... emnm, ella odeia-me.
Recebemos a visita do nosso bom amigo Sr. Anar-
dino Borges de Almeida, distincto commerciante
d'esta praça e que ha tempos d'aqui se achava afas-
tado por motivos de saúde.
Felicitamol-o pelo seu completo restabelecimento-

\m
LYRICO
Como arte, a musica não pôde fugir
ás tendencias modernas. A p e z a r de
ser a mais atrasada, por isso mesmo
a que maior emoção produz sobre os
organismos, em geral, ella vai dia a
dia se accentuando, fugindo aos mol-
des communs, tendendo ao symbo-
lismo r a f f i n é da poesia. N'esse cres-
cendo, evoluindo de maneira difficul-
tosa, porém distincta, a musica de
hoje, a que ficará para o futuro, j á tem
em si paginas immortaes de estylo,
digna da decadencia artística. Para
uns esse phenomeno que se opera na
poesia, por exemplo, de differenciar-se,
no máximo, da prosa, é motivo do seu
desapparecimento; para outros, com os
quaes pensamos, isto demonstra, ape-
nas, uma separação lógica dos pro-
cessos artísticos, como elemento indis-
cutível de adiantamento. Ora, a musica
está em caso idêntico. W a g n e r , ver-
dadeiramente genial, um dos maiores
ou senão o maior compositor moderno,
acaba de trazer á musica novas per-
spectivas, abrindo-lhe um horizonte
mais vasto ainda. O Tanluiuser, a sua
composição de mérito indiscutível,
que vai de platéa em platéa prepa
rando o espirito para ouvir e pe7isar
com a musica, é um dos mais comple-
tos, dos mais extraordinários traba-
lhos musicaes do século moderno.
Ouve-se-o de principio a fim sacudido
por vibrações terríveis de religiosi-
dade, de symbolismo. Seguindo-se a
partitura com critério a gente tem
idéas de monges que cantam em mos-
teiros a n t i g o s ; de cousas sobrenatu-
raes; de amor, de mysterios e de
sonhos. A t é parece que todo aquelle
rythmo, que toda aquella sonoridade,
são estrophes repetidas por mulheres
louras, envolvidas em gazes, lá das
bandas brumosas da Allemanha, onde
o espirito metaphysico repercute das
solidões monasticas ás grutas encan-
tadas da Vénus pagã.
N ó s não o pudemos ouvir sem uma
emoção brutal. A pregliieray a aria de
barytono belíastro, o septuor e o ad-
miravel coro dos peregrinos são de
uma belleza extranha, de um cunho
originalíssimo e de uma potencia
wagneriana.
A interpretação por parte de Gabbi,
Gabrielesco, Camera, Tansini, Su-
agnes e C e r n e foi magnifica.
Os coros andaram perfeitamente e
a orchestra irreprehensivel.
§ educador apresenta o resultado das
Com a grande partitura de M e y e r
beer, Os Huguenottes, beneficiou-se o
illustre maestro rebente da orchestra
Marino Mancinelli.
A escolha da opera foi bastante
feliz; e o nosso emerito hospede e o
profundo talento do admiravel maes-
tro tiveram da platéa fluminense
todas as homenagens devidas e justas.
VARIEDADES
A magica Maçãs de Ouro, que está
ahi, está fazendo centenário.
RECREIO DRAMATICO
O Recreio tornou-se hoje um thea-
tro da moda. Lyrico-dramatico, dis-
pondo de boa orchestra e artistas
apreciaveis, é de bom gosto, do chic,
frequentalo.
POLYTHEAMA
Os espectáculos da companhia
equestre e acrobatica dirigidos pelo
distincto artista Mariani, têm levado
ao Polytheama uma concurrencia
enorme. Ainda hoje ha por lá uma
funcção variadíssima, o que equivale
a dizer-se: bilheteiro em apuros.
S. P E D R O D E A L C A N T A R A
Beneficiou-se no S. Pedro, Mine.
Moya, gentilissima esposa do celebre
magico H. Moya. A concurrencia es-
teve regular apezar da variedade do
programma.
C o m o magico, o Moya é um dos
mais distinctos que conhecemos. O s
seus trabalhos são feitos com presteza,
muita pericia e cheios de attractivos.
D'ahi as sympathias de que é
merecedor, e esperando sempre do
publico continuar a merecel-as nos
diversos espectáculos annunciados.
§
Succumbiu, ha dias passados, o
estimado actor Guilherme de A g u i a r .
E m toda a sua carreira artística
Guilherme de A g u i r distinguiu-se pelo
talento e a feição original que dava
aos papeis, que lhe eram confiados.
Nunca o triumpho deixou de coroar-
lhe os esforços, por isso que o critério
não o abandonou jamais. E r a calmo,
methodico, escrupuloso e attento ás
platéas.
A Revista deposita hoje sobre o
seu tumulo uma coroa de saudades.
ARCADIANO.
RELATORIO
Recebemos do director da Escola
de A r t e s e Industrias do Paraná o
relatorio apresentado ao digno go-
vernador d'aquelle Estado, além das
cópias photographicas dos diversos
compartimentos do edificio em que
funcciona a dita escola.
E m linguagem lacónica, o illustre
matriculas de 1 8 9 1 , assim como re-
fere se ás necessidades indispensáveis
ao bom funccionamento de tão util
quanto necessário estabelecimento de
educação primaria e secundaria, que
relevantes serviços está prestando á
população paranaense.
Actualmente, a Escola de A r t e s e
Industrias do Paraná está luctando
com sérias difficuldades e, apezar de
sermos contrários ao officialismo, en-
tendemos, todavia, que o governo
deve auxiliai a quanto possível
O desenvolvimento intellectual e
moral de um povo decorre do cri-
tério de seus preceptores. E é natu-
ralmente protegendo-se escolas nas
condições da do Paraná, que chega-
remos, um dia. a ser um povo livre
n'um regimen livre. Assim, se o go-
verno tem de facto em mira confortar
o espirito dos nossos concidadãos
menos abastados, não se deve negar
ás justas pretenções d'essa casa de
ensino, mantida até agora ás expensas
do seu digno e illustrado director.
Agradecemos-lhe a offerta.
LÍYFO da Porta
Recebemos e a g r a d e c e m o s :
§
— D a editora Isidoro Bevilaqua a
valsa Brilhantina, original de F r a n -
cisco O. de Almeida.
B e m graciosa.
§
— C o n v i t e do Instituto G e o g r a p h i c o
Brazileiro para a sessão solemne, em
commemoração do 4 0 centenário da
descoberta da America.
*
— D a Societá Italiana di B e n e f i -
cenza para a magnifica festa comme-
morativa da descoberta da America,
que esteve digna da g r a n d e data
gloriosa.
— U m a communicação da Socie-
dade Tenentes do Diabo sobre a actual
directoria, que ficou assim composta ;
presidente, Antonio F e r r e i r a ; vice-
presidente, Francisco M a i a : ^ s e c r e -
tario, M. A . Ferreira J ú n i o r ; 2? Julio
M a c h a d o ; i ° e 20 thesoureiros, A . F .
Pimenta (reeleito) e Francisco B r a g a ;
1? e 2? procuradores, S e b a s t i ã o A r a u j o
e J o s é T e i x e i r a da Silva.
§
— O 1? numero da " N o v a I ribuna"
publicação semanal, que está redigida
com muito espirito. E ' seu redactor e
proprietário o Sr. L u i z Mello Mattos.
A o collega muitos annos de vida.
PACIFICO.
Comp. I m p r e s s o r a — 7 - R u a N o v a do Ouvidor-9
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