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FI H T LOGRÁFI A

p 221 Pará de Minas, meu amor: 150 anos de história e estórias / .


organização de Ana Maria Oliveira Campos; Luiz Viana
David; revisão de Carmélia Cândida. Belo Horizonte: Rona,
2009.
457 p .; il.

ISBN

1. Pará de Minas (MG) - Memórias. 2 . Biografias - Pará de


Minas (MG). 3. Fatos históricos - Par á de Minas (MG).
1. Título.
coo 869.8
Bibliotecária responsável: Uli Rodrigues - CRB 6/2173

Ilustração da capa: Rua Benedito Valadares em 1938.

As opiniões de quaisquer espécies emitidas neste livro são de respon-


sabilidade exclusiva do autor de cada texto, não sendo necessari-
amente as mesmas opiniões do editor e/ ou da coordenadora da obra.

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MM COMUNICAÇÃO
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35660-015 - Pará de Minas - MG
Tel.: (37) 3232 2002
HE RIQ I HO

DéQ Ãk•
u, ,,.Qlld
. . ramal ferro iári d Pará d Minas, que liga Q
l)nm ,ro . ) . h va a .
.. cd d, d Pará (atual zurita , tin a uma extensão d Ctdade
a , 1 . a. ura"ão r a1·1zou no d'ta 8 d maio . de e 28 1,_
l\lfl
,ua mau , . .e • 1912 , com •
1 t romp ndo um norm arco en1eitado de Papéis Otretn
da aatu"
d ro.11·• pra"ª• Franc1. co rr.J.Orquat o e ,,,J.Orquato de .Alrne·dna reg·-
, ..- . _ 1 a, e 1ao
t l·a ·nlada man1fe taçoes popu1ares. Mas o prédio da lltre
,n u, esta . .
d hoi é O ine-Café, só ficou pronto no ano seguinte ern Çao,
n 0e :., d . ,, . , 1913
, li ro .. De Patafufo a Pará e Minas , do historiador e ·
J é Augu to Correa " de M'iranda, h'a uma pequena nota, dando Poeta
ci-
encia do fato:
..(...) Foram iniciados ontem (8 de m aio de 1909) pela ilustre co.
mi ão dos engenheiros: Srs. Drs. Guilherme Greenhlgh, José Erá-
cito e Cristovam Pereira, os serviços de construção do ramal desta
cidade.
Para a edificação da estação, ficou determinado o local nos terre.
no situados aos fundos do quintal de uma casa, na Praça Francisco
Torquato, propriedade do Sr. Joaquim Moreira dos Santos.
O Sr. Moreira, num assomo de patriotismo, cedeu, gratuitamente,
todo o terreno aludido, necessário à referida construção (...)"
O entusiasmo que envolveu os habitantes da cidade estava ancora-
do na visão das novas perspectivas que passariam a ter, pois a ferro-
via representava um marco no desenvolvimento de Pará de Minas.
Anos depois, na década de vinte, iniciaram-se os serviços da liga-
ção de Pará de Minas - Martinho Campos da Estrada de Ferro P:1"'·
catu. Nessa época, Fernando de Melo Viana era presidente de Mmas
Gerais, e o seu sobrinho Henrique Melo Viana, mais conhecidoP?'
Henriquinho, foi indicado por ele para supervisionar a conStruçao
da ferrovia.
N 1· " , · ,,, do historia
· · dor Rob-
80 o ivro Para de Minas, sua vida e sua gente
~ Correia de Almeida, há uma nota que diz: de!,leio
7
. A de outubro de 1925, o Presidente do Estado Fernando.
Viana faz . . • pec1onar
~
obras d E
' ª
st sua Primeira visita a esta cidade params dar·
M" as - in
ti. h ª rada de Ferro Paracatu, ligando Pará de 10
n o Campos ( )" .
···
Logo de i ' · · , · do na tran
-1 .
qui a cidade enicio, Ja seh podia ver a transformação, ens contrata·
ocorreu
dos Para o trab omIha e Eegada do grande número de hom b as trabalb3'
a º· ram engenheiros, mestres de O r '
70
dores; e parte da pequena cidade transformou-se em um canteiro
de obras.
Henriquinho tinha características bem diversas do que o dimi-
nutivo do nome sugere. Era um homem alto, de compleição robusta
e nenhum caráter. Parece qu a sua diversão era meter-se em en-
crencas de toda espécie, gostava de provocar as pessoas, irritá-las,
fazê-las sentirem-se humilhadas diante de alguma platéia. Não res-
peitava coi a alguma e tinha sempre com ele uma turma de rapazes
que o protegiam. Quando entravam na cidade, era como assistir a
uma cena de filmes de faroeste. Era a fantasia se tornando realidade
nas terras do Patofofo. Henriquinho tinha um andar arrastado, pelo
qual era fácil identificar a pessoa que ele se esforçava para imitar, ou
seja, Tom Mix, "o famoso vaqueiro que também era conhecido como
o mocinho imbatível na briga", ator de filmes de faroeste que faziam
sucesso naquela época. Mantinha o peito sempre aprumado, todo
cheio de si, respirando autoconfiança por todos os poros e, quando
montava, era a verdadeira cópia de Tom Mix. Os que o acompanha-
vam estavam sempre dispostos a fazer o que ele lhes determinasse.
Esse tipo de valentão que se coloca a serviço de quem lhes paga
tem diversas denominações que quase sempre indicam a região de
onde se originam. Podem ser chamados de jagunços, cabras, pisto-
leiros, guarda-costas, comparsas, capangas ... Há casos de "chefes"
que nem pagam, mas por influência de um tipo de personalidade
dominante ou por um idealismo cego e exacerbado, conseguem se-
guidores fiéis e devotados como nos mostra a História. Em se tra-
tando dos capangas de Henriquinho, dois motivos poderiam dar a
explicação desse fato: a influência de sua personalidade controversa
e certamente a garantia de emprego. Por onde Henriquinho ia, os
capangas o acompanhavam, sempre prontos a atendê-lo, fazendo-o
sentir-se o "manda-chuva" da cidade. Diziam que o seu parentesco
com o governador fazia-o gozar de certas regalias e, quando chegava
a algum lugar, os policiais se recolhiam à delegacia'. Era a forma que
tinham de conviver com a situação sem se tornarem desmoralizados
perante a população.
A Fazenda dos Guardas era o local em que Henriquinho se ins-
talara com alguns irmãos e a turma de trabalhadores da rede. Lá
eram realizadas festas regadas a bebidas e orgias. Em certas ocasi-
ões, cantoras ou artistas do rádio eram convidadas também. Outra
atração que ele gostava de exibir era a montagem de fotos de moças
da cidade. Quase sempre eram fotografias de algumas jovens recata-
das de famílias honradas que eram usadas para esse fim indecoroso.
elas em fotos de mulheres nuas. Nunc
rostos d , a se
colocavam-se 0 5 e afias chegavam ate e1e. Ta1vez tenham ·a0
essas 1otogr , s1
soube corno ,,.,,oça ingênua que caira em suas graças ou d
ofereci'das por alguma
S ..
·amente
Ã
aquele homem sem carater antecip e
,

algum dos seus, egur ' ou


• es de, internet.
os crirn . de sua personalidade era exatamente o desrespeit
A caracter,st1ca
. C ,,.,, seu jeito cafaJeste. d e ser, costumava entrao
0
e o atrev1rnento. ndoOiu dando tapas no rosto dos outros ou pisando r
nos bares arneaça, se 'encontrasse. Tudo isso . sem nenh um motivo A
nos pés de quem la da até não suportar mais . e, quando ia. reagir ele
.
pessoa era Provoca
, lver e encostava o cano no peito . dela. Enquanto ele ' se
O
sacava
divertiaocorn
revoessas gracinhas, os guarda-costas dava~ garg~lhadas.
Certa vez, ele foi passar a noite em uma hospedaria. Apos se dei-
tar, percebeu que teria que se levantar, para apagar a .luz. Ao_invés
de fazê-lo, esticou o braço, pegou o revolver sobre o criado, mirou a
lâmpada e deu um tiro certeiro, fazendo o quarto mergulhar-se na
escuridão.
José Augusto Corrêa de Miranda teve uma passagem curiosa de
sua vida ligada a Henriquinho. Durante sua vida, era sempre solici-
tado por alguma pessoa para contar essa história. E sempre a nar-
rava do mesmo jeito, com as mesmas palavras, a mesma entonação,
repetia as frases como se houvessem sido decoradas. Esse efeito era
conseguido em primeiro lugar pelo compromisso com a verdade que
sempre norteou a sua vida e, em segundo, pela incrível memória de
q~e ele era dotado. Anos depois, ele foi surpreendido com o rece-
!'mento de um~ carta, vinda do Urnguai, escrita por uma mulher,
ª qual ela_ di~ia que tomara conhecimento a respeito da questão
q?e ele havia tido com Henriquinho e pedia-lhe informações. O ma-
ndo . dessa rnulher h avia · s1'do assassinado por ele por motivo futi' ·1,
de1xando-a
. com filh os pequenos. Ela clamava por J·ustiça mas nadª
0 ªt e, aquela data. Segundo ela ele cometera
h avia conseguid ' O .
. cn-
rne em
Sacrarne t ERivera e at '
ravessara a fronteira para o Brasil, ficando ern
fronteiranent o. ssasd duas
. ci·d ªd es sao
~
separadas por uma rua que e' a
re os 01s país H . . d ' os
policiais de lá • d' es. ennquinho ficava do lado e ca, e
ta durante tod, irnpe idos . de prend e-lo.
" José Augusto guardou a ear-.
a a sua vida o f · u1-
nho ter alcançad · ato de a questão entre ele e Henriq
. sabia 0 terras tãO 1ong1nquas
, o intrigara bastante. Al'eJI1
dI isso,~ não
sso 1 01. sempre ucorno.a dona d a missiva. . conseguira o seu endereço·
A pessoa que e:-r::tério. ,
curou ser fiel à narrat· essas paginas é filha de José Augusto e pro·
iva dos fªt os, aos diálogos. Estes reproduzeJ11

72 Henriquinho
exatamente as mesmas palavras das frases que ela ouviu o pai falar.
Além disso, ela contou com a ajuda do irmão José Emílio na nar-
rativa desses fatos. Ela quis deixar claro que o pai sempre foi uma
pessoa pacífica, de grande convívio social, que cultivava amizades,
amigo das artes, da poesia que jamais portou qualquer tipo de
arma. Costumava dizer sempre: "Devemos construir pontes e não
muros". Ele tinha, sim, uma personalidade forte e falava com auto-
ridade. Talvez por isso fosse tão respeitado.
Um fato curioso é que o livro "De Patafufo a Pará de Minas", citado
acima, foi um trabalho de pesquisa sobre Pará de Minas que o pai da
autora deste texto ofereceu por ocasião do Centenário da cidade, em
1959. Agora, cinquenta anos depois, a sua filha colabora no livro do
Sesquicentenário, escrevendo uma história da vida dele.

TERRERADA

Terrerada pertencia à turma de Henriquinho e era o homem mais


respeitado depois dele, por sua coragem. Era forte, corpulento, de
grande estatura e, para completar esses atributos, tinha tempera-
mento agressivo e violento. Terrerada conhecia profundamente o
seu chefe e sabia que a valentia dele era mais uma farsa. Sabia tam-
bém que ele só ameaçava as pessoas quando estava protegido por
seus comparsas bem armados. Aliás, quando o pegavam desprote-
gido, era todo amabilidades. Consciente disso, Henriquinho evitava
causar-lhe qualquer aborrecimento.
Mas, certo dia, Henriquinho impacientou-se e gritou com ele.
Terrerada montou em seu cavalo e saiu a galope. Tarde da noite,
voltou bêbado para a Fazenda dos Guardas e acordou Henriquinho,
com batidas vigorosas na porta do seu quarto. Sobressaltado, Hen-
riquinho assentou-se na cama, perguntando quem era. Ouviu a voz
de Terrerada:
- Levante e vamos ao Pará!
Ao ouvir o tom autoritário e enérgico do seu subalterno, ficou trê-
mulo. O que ele poderia fazer naquela hora da noite? Com o coração
aos saltos, levantou-se e começou a se vestir com rapidez, enquan-
to Terrerada se mantinha de sentinela do lado de fora do quarto.
Quando se viu pronto, abriu a porta e viu Terrerada carrancudo,
apontando-lhe a saída. Ele se dirigiu cabisbaixo para lá, numa ati-
tude totalmente submissa. Ao chegar ao estábulo, Henriquinho viu
o seu cavalo arreado e, ao lado dele, o de Terrerrada. Este, disse:
-Monte!
estribo, ergueu a perna""
idainente O H . ""Ili
. ho alcançou rap ~ o mesmo. Logo que enr1quillho
e outras músicas populares da época.
Henriqu1n ntou. Terrerada ez valo para partir, Terrerada ""
·1idade e 1110 . 1ao seu ca ._ Tudo aconteceu no dia em que Terrerada t
agi édeas e deu ina .' do seu chefe. Pensamentos t""· • en rou na venda em que
soltou as r Jope at1as h El - ~- ele se encontrava. Ao ve-lo, Matozinho fez m - d .
dele e saiu a ga d Henriquin o. e nao conS(ao,,:_ • d d ençao e se retirar, mas
pareou o mente e . --olllll foi abor. a o por
. Terrerada, que lhe pergunto .
u por que estava sarndo
e mi tura\'alll na . fazer-lhe. OuV1a o constante rnc.:i_ Matozmho disse que realmente já estava de sa'd 'li d di ·
broSO balterno 1a . • -.o • , . 1 a. errera a sse:
. .nar 0 que o seu su d trotando firmes e ntmadas ah,,(_ - Voce esta samdo porque eu cheguei!
1magi 1o de Terrera a, fi ..118
da Patas do ca,.i t do o percurso que zeram. Tudo-. Terminou de falar e empurrou-o para o interior do recinto. Mato-
' . d·t durante o . h ~•Q
do eu. Nada 101 i o ·t ado de patas. Assim que e egaram a zinho cambaleou. T:,rrerada encheu um copo de cachaça, bateu com
ª'
ilêncio de pa1 ra
. se som n m l d'
Rua Direita, atua Bene 1to Valada 0 fundo dele no balcao e falou em tom enérgico:
• rcorrerat11 a •
Pará de Mmas, pe . . h estava tão tenso que qualquer gesto de - Beba!
, fi ai Hennqmn o . h Com um gesto negativo de cabeça, Matozinho recusou a oferta
res, ate o n · brusco estremecimento. Ao e egar nesse
Terrerada cau a\'a-lhe um rimeira vez: pronto para se dirigir para a porta. Terrerada, que não aceitava re~
nto Terrerrada falou pela p . , l cusas, gritou, exigindo que ele bebesse o que ele estava mandando.
po : . d t' orta não tem nmguem. Vamos votar Para a
- E a c1da e es a m ' ,d Matozinho novamente se recusou. Terrerada agarrou-o, colocando-
· . • ho não disse nada, puxou as re eas, fazendo 0
fazenda. Hennqum . • d º imediatamente em posição horizontal entre as suas pernas, com
• e para a direção de que tinham
seu ca\'a1onrar-s . • .vm o. O regresso à as costas voltadas para cima e o rosto para o chão. Com um gesto
fazenda dos Guardas foi também em total s1lenc10. Ao chegar, Hen- rápido, puxou a faca que trazia na própria cintura, com o propósi-
riquinho fez O gesto de apear do cavalo, e Terrerada falou: to de golpeá-lo, porém a faca saiu com a bainha. Impaciente com
_ \'amos \'Oltar para o Pará! o atraso da sua intenção, começou a bater com a ponta da bainha
Sem esboçar nenhuma manifestação, Henriquinho fez novamente nas costas de Matozinho para que a faca se soltasse... e ele pudes-
a ,iagem a Pará de Minas, acompanhado de Terrerada. A viagem foi se, finalmente, cravá-la em suas costas. Enquanto isso, Matozinho,
exatamente igual à primeira. Ao chegar ao final da Benedito Valada- miúdo e esperto, tremendo de medo, arrancou a faquinha de picar
res, Terrerada disse: fumo que ele trazia na própria cintura e cravou-a até o cabo no baixo
- É, a cidade está morta, não tem ninguém. Vamos voltar para a ventre de Terrerada que, surpreendido com a violenta dor, afrouxou
fazenda. a perna. Matozinho caiu no chão, saindo em disparada, enquanto o
?\o céu, já se percebia alguma claridade da aurora que insistia em sangue se esvaía da barriga de Terrerada. E, assim, aquele gigante
colorir as nuvens, mas os cavaleiros chegaram à fazenda antes dô temido por todos foi lentamente tombando ao chão, e sua vida foi-se
des~rta~ dos trabalhadores e foram se recolher. Depois de ter vivi- esvaindo aos poucos até romper o seu último fio.
do s1t~açoes de grande tensão, Henriquinho não conseguiu dormir. Matozinho desapareceu. Ninguém soube para onde havia ido, mas
Porem, quando o dia amanheceu, tudo voltou à normalidade. 'l\!r,'i todos estavam cientes de que ele jamais poderia ser visto, pois não
rerada voltou a ser o subalterno solícito sempre pronto a acatar ai escaparia das mãos dos amigos de Terrerada, principalmente de
ordens de Henriquinho· E, enquanto viveram •' nenhum dos dois to-: Henriquinho. Mas Henriquinho espalhou pela cidade ~ue a morte
cou no assunto. ' de Terrerada havia sido uma fatalidade e que essas c01sa~ aconte-
cem. Tempos depois, Matozinho surgiu passeando tranquilamente
pela cidade. Parece que ele tam bém ex1·gm · que O processo fosse ar-
quivado. . rande favor a
. ho era um cidadão de Pita . Todos sabiam que Matozinho havia prestado um g
•Era franzino e d b . ngui que fixara moradia em Palt Henriquinho, tirando Terrerada do s
eu caminho
, · .
Portanto, a sua
.
sombra em queeni~x~ée;tatura, uma figura inexpre- - , . as ninguem f01 louco em ma-
morte havia sido um grande a11v10, m
~ pessoa mais rafada /re_stªva ª:enção. Isso até q nifestar isso. Todos ficaram de boca fechad_a. t cido um fato em
história foram usad ª cidade, tao falada que o Esse crime teve grande repercussão. Havia acon e
osempa ro' d·ias de cantigas de

Henriquinho 75
. ditar. Talvez até alguém o ~
uase impossível de s: ~~~: na qual Davi mata Golias,~ meravam mais pessoas na praça, considerando que, em a gumas
. . _ 1
que era qdo com a passagem b1b edra. Esse acontecimento ~h-.;' tampi,as, a pe~m1ssao pa~a as fi~has saírem era exatamente naquele
compara om uma p , h --&Ull
-lhe calcanhar c nas certo e que ouve uma borano, 0~ S:Jª, logo apos a missa. Assim sendo, procuravam des-
tando O • abe como, 1 O ,.
, . e cola . Nao ses d da Maria Ame1ia, esposa de frutar o max1mo do momento de lazer. Tudo ali respirava h •
ate as tiaas e ro . AI . e tranqu1·1·di ad e. armoma
dança na letra das can º Grupo Torquato de meida, COlfltl.....
ndo estudava no -""I Segundos depois, aquela harmonia foi interrompida pelos longos
Augusto, qua
que O versos: 'to e pesados passos de Henriquinho. A cada um deles, ele tombava li-
Mamãe eu vou dar um gn . . /'to" geiramente o corpo de um lado para o outro, dando ao seu caminhar
-São dó não, que eu te dou um p1ru 1 ' um jeito desafiador.
José Augusto viu-o surgir no meio das pessoas e olhar para O ban-
tempo por brincadeira, passaram a ser
Durante um certo , co em que ele se encontrava. Ao perceber que estava acompanhado,
do assim: Henriquinho procurou aproximar-se mais, foi diminuindo os pas-
sos e encarou atrevidamente a moça. Ele chamava a atenção. Per-
•\famâe que barulhada... cebendo toda aquela provocação, José Augusto se manteve quieto
i Matozi'.nho que matou Terrerada..." sem manifestar nenhuma reação até que ele desaparecesse no meio
dos transeuntes, mas ficou aguardando a sua volta. Sabia que ele
Ela mesma brincara muitas vezes de roda, cantando os ver voltaria ... Pouco depois, eis que surge novamente a figura do "Tom
lembravam a história acontecida na cidade. Mix" de Pará de Minas. Dessa vez, José Augusto não olhou para o
lado dele, e sim para o da namorada. Queria observar-lhe a atitude.
NA PRAÇA DA MATRIZ Discretamente, pôde constatar que ela correspondia ao olhar do fo-
rasteiro. Sem nenhum ruído, ele se levantou e, num piscar de olhos,
~uma tarde fria de maio, José Augusto encontrava-se num desapareceu no meio das pessoas.
da praça da matriz de Nossa Senhora da Piedade com a nam Dizem que os olhos dela acompanharam Henriquinho até perdê-lo
da. A,p~aça estava repleta de pessoas recém-saídas da celeb de vista e que ela passou por um grande sobressalto ao perceber-se
eucarística das dezoito horas. Havia um grupinho aqui outro sozinha no banco. O que teria acontecido? Onde estaria o seu namo-
e todos conversa · d '
d . . vam anima amente. Os moços envergavam te rado?! Em poucos minutos, pôde compreender o que havia aconte-
~ casurura bem .talhados e sapatos impecavelmente engrax cido. Totalmente desapontada com o que acabara de causar, viu os
guns usavam bigode be d . olhares das pessoas da praça voltados para ela. Naquele momento,
lábio super1·0 • . m apara O que deixavam o contorno
r a VISta Os m · . o que mais desejou foi que o chão se abrisse para que ela desapare-
cinho de pura seda . boi ais requmtados não se esqueciam do
deforma que duas pono t'nhso externo, ao lado da lapela. Era dob cesse. Num impulso, pôs-se de pé e saiu quase correndo para casa.
de classe. As maças vest· n 1 as ficas Por onde passava, despertava a curiosidade das pessoas. Elas fica-
sem expostas. Aquilo era o t
tipo bo iam-se com vam intrigadas, pois nenhuma moça de família podia sair sozinha
. neca e vestidos de cintura b .esmero, meias de seda, sa
tecidos. Ainda que a situa - fi aixa, confeccionados com nob naquele tempo ... E, assim, sem nenhuma palavra, ela perdeu para
IDelbores
twnes . , peIo menos um vestid çao nance· d
ira e algumas não fosse sempre o namorado.
-' •-· dita~am elas Püssuíam o com as características que os
•Mfiulllas Jovens ca . . NA PORTA DO CINEMA
dos de do · minhavam ale
~ IJllngo. Outras, com o lghres. e falantes com os seus
que os fize s o os 1rre · A diversão da pequena "cidade altaneira das montanhas do _oeSt e"
lllesmadas Estas SSem repousar quietos, procuravam
nos primeiros anos do século vinte era a sétima arte. Por mem ~el_a
eDIJtriam a.lgu quase sempre t·1 ehm paz. Havia também as e
mam
or Platônico E
·a
n am
si O flechadas por Cup
,
era poss1vel viajar pelo mundo, entrar em contato com outras civi-.
· ra a hora d0 d ' lizações, outras culturas... Inicialmente, era o cinema mudo e, mais
1a em que se a
76 ffftlrtqu;n1io
Henriquinho 77
EOPHILO DE ALMEIDA E SUAS MEMÓRIAS
(J10R TII
~ Ana Maria Campos Ana Maria de
Oliveira Campos
é pesquisadora,
.
1O
de Almeida foi o primeiro filho da terra a se formar técnica em
Museologia,
l)r, 'fh~~ht ão exerceu essa profissão em Pará de Minas, sua con- diretora do Museu
efll ~~~1cina,i foi outra. Residindo e trabalhando no Rio de Janeiro, Histórico de Pará
tribU1çao ~q~ do Brasil, onde se formou, era o diretor da Divisão de de Minas.

entã0 ~p•~ª Hospitalar do Ministério da Educação e Saúde, orien-


~nizaçao
vl:,~ od
, p ara' d e M'inas .e101• b enefieia
· d o pais.
os hospitais . d a por
ta
nd0 t ,;rbas para o reaparelhamento do Hospital Nossa Senhora
ele coniceição
v ~ de um novo pav1'Ih~
e construçao ao, al em
' de ter contado
da Con . ~ , . d' A
ainda com sua contribmç~o ~ecn1ca nes~es empr~en ime~tos. tuo~
bém na direção das fabricas de tecidos da cidade, apos o faleci-
:to de seu irmão Torquato de Almeida.
Aformação familiar de Dr. Theophilo levou-o para o campo da pes-
quisa histórica. Caçula da família, certamente foi influenciado pelo
pai, Cel. Francisco Torquato de Almeida, o Chico Torquato, atuante
vereador, presidente da Câmara e agente executivo, e pelo irmão Tor-
quato de Almeida, poderoso propulsor do progresso de nossa terra
que, como o pai, havia sido vereador, presidente da Câmara e agente
executivo.
Dr. Theophilo de Almeida presenteou Pará de Minas em 1959, du-
rante as comemorações do Centenário do Município, com a publi-
cação de uma pesquisa sobre a origem de nossa terra, registrada na
obra "História Antiga de Pará de Minas, de 1700 a 1859". Trabalho da
maior relevância, indispensável leitura para pesquisadores, professo-
res e_ para quem se interessar pela nossa gênese.
~ois hem, doutor Theophilo, residindo e trabalhando no Rio de Ja-
neu-o nunc
Mári' ª se esqueceu da terra em que nasceu. Certa vez, o prof.
tada ~ Luiz Silva mostrou-me uma carta que havia recebido dele, da-
havia e 19 de maio de 1975, contendo a cópia de um discurso que ele
Club dePronunciad
p , 0 durante uma homenagem que receb era do 1·ions

ª:ª
da rnern, d~ ~inas, no mês anterior. Por transmitir uma boa parte
deste liv~ria his~orica, cultural e social de Pará de Minas - objetivo
0rtográfi; - 0 discurso está reproduzido abaixo com as atualizações
eontidos ernas e gramat1·ca1s
· necessárias. Os personagens d os "causos"
estarão relac:eu pronunciamento foram, na maioria, identificados e
. DiscursO onados nas notas.
Ja Profe 'd
ntar ern sua h rz O pelo doutor Theophilo de Almeida, durante o
omenagem, promoção do Lions Club de Pará de Mi-

327
. t s que em 1772, levantaram a primeira
s de abril de 1975,. sendo presidente O d :rrieiros ª b eta de sapé,
h b1tan ' no povoado nascente do Pa-
nas, e1n 2 l d outor ~ dos pJJ . ue e co er
• uoão ~ 1
11
. . Ribeiro e diretor soczal oR, autor
Cll ne d. Silvino "r.10J'ei11
,..
• taÇͺ de pau-a·P q a uso de pequena grei.
"Realizando uma palestra pe o a 10, em 1957, o Presi Cl dos 8Q c3pe\a patofofo, par dentes que mantiveram e serviram, du-
jio ou us descen , d.10, que lem-
ub do Rio de Janeiro, .General ~ dentedo~~
. . -Bernardino de u1atos
6
d..i:_., tafll eJes e se. , esse nome estranho, estur
1o,
rartlais de rrie10 ,secu . de nossa História; topommo motivo de mofa
CI
organização como uma msti~mçao social, composta <h! :"lllUII
b'
A • •

fo
boa vontade que, apesar da vida absorvente e trep'dan I l!sta .,te rtl
í3" a figura lendan . a do pelo conceito · h.1stonco ' · e pel o prest'igio ·
te dos~ a tl!Jl . e revigora . .
d '
ias ainda acham tempo suficiente para se dedica
d h · · d remano~--~ br . tarde, b 0 J . ção deste original e v1tonoso clube campes-
fas de solidarieda e u~~na, mspira os no bem coletivo UlllBlare. [lla1 s na denomina
campanhas e outras ativ1da?es com o fito exclusivo , ~
que ostenta
lle ora nos hospeda. , a grafia usada nos registros . e pubhcaçoes, . - e
treqatafu1 i; • era ate 1830 · · do pe1o c1en
· l v1s1ta · t'ist a
concluía: 'O NOSSO LEMA E: NÓS SERVIMOS'. de SER.VJa. g 1
º· ., no de 1800 f01· arraia
Ante uma tão benemérita .finalidade e merecimento dos P pata u '
fii{ou fo· e Jª no a
anotou nas suas 'Memórias sobre as mmas . da
f
desinteressadamente se d~d1cam a esse dignificante m . que ti) pr. v,e1ra· · couto ' que núcleo de população, d ed"1cad o a' at1v1 . ºdade ru-
. 'ser pequeno . . & • d
altruísmo, d~ alcance . um~ersal, mal poderei expriJnir~ O
de capitania _ d dão e teçumes, como se dizia, relerm o-se aos
apreço e a mmha admiraçao ao ser recebido, com gen 'VOS lll!ll ral, PJantaçao de a1go<leira que prenunciavam a prospera , . d'ustna
m .
e especial distinção, pelos meus conterrâneos e amigos~.acolhida 0 •
antigos teares e ma '
p tafufio que contou com a simpatia e outro VIa- · d ·
de Pará de Minas. Lionsaui, •
text1 ·1 do
. presente. , b' oaBarão de , Eschwege, de passagem por aqui,. para
Grata e nobre é verdadeiramente essa missão de SERVIR, jante i~~s;roe:g~:~d~ arraial do Patafufio', e em 1821 o coloca no 'Mapa
o beneficiado é esta comunidade - a que pertencemos .....10 e ~ quenl)ae .
•A• d !:"'li~ da Capitania' de sua autoria.
to ~u pel a viv:ncia e anos; ª. que nos_prendem laços de famllia,de o 'grande arraial' era então CURATO DE N. Sª DA PIEDA~E ?E
anuzades, de interesses - , maiores serao a razão e o fervor na prática PATAFUFO, que com admirável precedência consegue a sua primeira
do benefício. Escola Pública Primária, instalada em 1830, com o mestre nomeado
Muito merece esta terra, tradicionalmente conceituada e estimada Joaquim da Rocha Ribeiro e, convém assinalar, n? ~esmo ano em
pelos seus valores, pelo progresso conquistado pelos seus• gra- que Pitangui teve, também , a sua primeira escola pu~hca.
ças ao esforço próprio, acumulado pelas gerações que se sucederam. Honra a esses heróis patafufenses, a seus maiorais, que lut~ram,
. · l a paróqma em
O núcleo primitivo da população, passado o período áureo dos mi- porfiaram anos segmdos ' lograram e1evar o arraia · ·d dois anos de-
neradores ou mineiros, aqui vivia como que insulado, longe dos• 1846, . Vila do Pat afufo em 1848, infelizmente b suprimi "d em ª1858 e insta . 1a-
1
tros maiores, sem fácil acesso mesmo para as freguesiasevilasmais pois por deficiência de recursos, mas. resta e eci ª
d p , desaparecen o e d d sde
próximas, vivendo das atividades rurais e do artesanato. eonstituW8 dª em - d 1859, agora com o nome de Vila o ara, PATAFUfO. A •

os nossos avoengos uma meia dúzia de famílias, que se jnterligar8Dl enEtao ·a Corografia de Minas Gerais o topommo · aterraeaosparti"dos
pelos vínculos do sangue e dos costumes, formando pela fusãoUllll nse3ados no mesmo dever cívico de servirª su ] charoados
lít'icos, o Liberal • .
dommante • me
[cu1os · t grantes eram 1 e s~...,,,dor
certa unidade racial, gente ordeira, religiosa, unida, simPies,J118Sal- rdl, po
Ch' ' ' r rtidOJ on "'·- 1. Dr, G1J511VO
imangos, nome de um gavião gaúcho, e Lo pa ] concorriaIIl l(aYle,' da Sili8
tiva e resoluta na defesa do interesse pessoal ou coletivo e, po ou e
ascudos [com o eram conheci os seu
"d s integrantes'
. os Eleitores
.
::::
~
atuante com bravura nos movimentos cívicos. . , · às eleiçoes· - t que elegiam d
ú Povo bom, inteligente, amante das boas normas •, daS
[os pat afufenses) - os votan es,
e [eStes constituiam) o Colégio de Eleitores, que egta
el · os Deputa os ~
PIIJIIIUlll,av6d0
~:1s, foram os nossos antepassados guiados pelos P?°clpiOS~seD' l ·•orais, pacifica- - -GIJSIIVO
~
e Senadores. . ~ 8 pai
g_iao e da educação familiar, pelo compadrio generãur,ado, E pleitos e eI• tiVOS dOsogro dO prul•
sses antigos disputaram numerosos . .d a vila, par mo r,1êf10SIV&-
tn~e~tos gregários resulta ntes do isolamento e, assiJD,~ - tndente, até 1872 quando de novo foi supri~d1 apelo deputado(I) que
cnStao do mútuo auxílio, que outro não é senão esse ap ~~ ed '
esordens ocorridas e inéditas, ª
. tribui as
·eram pertur
baf a bar-
e dever de SERVIR, que, em 1917, em Chicago, foi institufdD, Propô d fora que VI
s a supressão a elementos e
apos~olado, com a fundação do Lions. ...1íel' Sf.lOS ,nernórill.5 329
P01s n - d · aquela Jlllll""-
ao era, e algum modo, o mister de servir, hilo de ,.4./,neida e
poutor '11teDP
. própria segurança p essoal, passando d -..Kunicipal, em 1859, quando um deles<sl num .
monia e a 1c a ºIniIlar 0 , ara i n l ' mau- 5,Antõnio José
dor que reparou o ma 1eito, e restabel . a carn . nto recusou tomar posse, a egando não estar 1 .
conservª , . d . eceu a v· Pal'ti.i ,,,e1r c,rne , d H . e eito, dematemo
Melo.avó

dois anos depois, reinstala_ a em 1876, vmdo mais tarde tia do p~ 1•· co!lte na som a os votos. onestidade que co do Padre
ditº a do erro ' mum nas Zeca.
Categoria de Cidade, pacificamente, normalmente. aConq .atã, tal1 a a pessoa, se revelava na confiança mútua d
e aP011 de pesso ,d. d" quan o
ª Quis, de propósito, relembrar-vos estes episódios, de l1ista; relações . Jes palavra ou cre ito, como se, . lZla, sem estampilhas, sem
. to para mostrar a fibra, o denodo, a pertiná . Vossocn,,l "'ª s1J11P
owrtorio,
·antiabast ante nos negocios e no comércio.
, . era ga1·s h á muitos
c1men , . eia eon,_ -""- . . . .
anos, visitava na capital mineira O d.ire
ram defender a sua comuna, A servmdo a comunidade CllleSouhe,. eafeJJlPos depoi d s grandes b ancos, que se tornou notável personagem- 6. Dr.Cristiano
'
cendentes , os antigos conterraneos, , . . . esse pe..t.'
durante OS llG.<1.A_
~,<>do -:-""8 ag. . . i·1ustre, amigo . desta terra, como 0' França Teixeira
lutas inflamadas, tanto da poh~i~a pr__?vmcial, como lOCal ª&ítado~ 10
r61 d~,ona ' s1o.ngular de romeiro
urn
. d, . . . . Guimarães,
eJ'cepc 1 trocinou a nossa m ustna prmcipiante, nascente, em diretor do Banco
Cumpre ainda realçar a participaçao que tiveram ·
' J que d.
pai7, pa •a entre re1erencias ~ ~ . e1ogiosas
. a, nossa gente e à nossa Comé!tio e

2. capttão
Teixeira (Gapitão
Manoel Teixeira
fufenses<•> na Revolução de 1842 contra os desmandos~Pata.
e mais tarde, os heróisC3l paraenses na Guerra do pa:
0

'Passada a fase heróica d as r efregas políticas emguai, até l8'o,


~~ 1906.'
tJlO c1
rne
dade,
iz1
e
'
ducada na influencia dos bons exemplos, que na quali- Minas Gerais,
_ de gerente, lhe vm
A •

· h am as' maos - as fichas para admissão filho


Indústria de

do Cel.
Américo Teixeira
Duarte), vereador .b . d que aqlli .i_ dade entao dos e ao ler o nome do candidato e procedência nascido Guimarães.
da primeira minavam os li erais - que per eram para os canse do ..,.
de emP~eg; spe~sava dem ais informes e mandava admitir. E nunca 7.Teixeira Gel.Américo
Câmara da consequência das turbulências r eferidas, como acaba rva res eai ern para, i
Vila do Pará. , . . 'd d mosde'Yer Guimarães,
sucederam-se as notaveis pnon a es que assinalavam - f Jhou a sua confiança.
3. GabO António , d' d o amor ao ª , a mais recente h á o caso daquele que fez promessa de le- organizador da
Germano progresso, ate aos nossos ias, a nossa gente, que, além da Em epoc ruzeiro no alto ' do bairro de N. Sª das Graças, com todos ParaenSe em
Cia. lndustrial
Marques.
primária obtida precocemente, teve o privilégio e a priorida~ vantar · do, rea11·zou 1906 eseu
00 · umdoc Calvário se t ivesse sorte na lotena • e, premia
primeiro gerente.
Serviço Público, de construir aquela engenhosa rede de água os signos , .
tável - desde a Tab atinga até a rua Direita e a de baixo - em i: • t ralmente O prometido. São esses alguns dos mmtos exemplos.
m.etas, não são só predicados nobres e dignificantes q~e, outrora e
de madeira, cobertas, com seu s óculos originais, que distnlmíam
hoje, embelezam a vid a deste recanto abençoado, també~ os Para-
para cada um a devida quantidade, antecipando as modernas re, enses sempre gozaram momentos felizes e alegres, a alegna nos e~~
des de abastecimento; que adotou o uso do querosene e de lampiões contras familiares e de amigos, e bom humor, humorismo q~e aqui_e
na iluminação pública, que segundo o contrato não funcionava nas . _ . . . · ·nam das coisas mais
uma trad1çao; nos ditos espirituosos, que se ongt
noites de luar, para gozo dos seresteiros, antecedendoaeletricidaci.
sérias e respeitáveis. Senão, vejamos: . , · csJ oque me baiz t· ou, s.V,gáriO Paulino
ensaiada desde 1904, até que instalada convenientemente em 1911, • Está no seu confessionário o velho Vigano ' -0 bíblica,
AJveS da Fé.

com a energia da Usina do Carioca . o nosso primeiro vigário colado, aquela figura ~e.expressa beiran-
E, assim, cedo tivemos o correio, o telefone provisório intenJ1baD1 que todos reverenciavam e lhe b eijavam a mão, seno, ª:t: ~niten-
8 _s;nt,ana, uma
e o telégrafo; a construção de duas b elas igrejas, a Matriz e do~ do os noventa anos m as lúcido, embora um pouco su o. reste mas 9daS tréS irmãS
' . b · M . ofoiparaeriglf te<9l . ' . d peramento ag '
sano, am as demolidas, sendo que a primeira atnz oi.a , mais ou menos da m esma idade, e ;e_m ·oelhOS, começou a ·eemardaSº-As
outraS são Ritinha
outra no n:iesmo lugar, em fins do século passado (1897-i9o~ sobretudo honesta agressiva se necessano, de_ J pe e lhe diz: eManinha
cont ' ~ lhe interrom
de ~l~enana reforçada para resistir séculos, levan!3da pela \ quaid' -'Ch
ar os seus pecados quando o comessor
'
· la' Ao que ela,
der ouvt- · l" ,
una~1~~• que nela exerceu ao m áximo o seu deseJ0 de~ do,- egue Vossemecê mais para perto, para po vossemecê é home.
em medita solidariedade > J. á de início1 atendeu à convocaça<>fo..,.~ 1e~antando a cabeça responde: - 'Seja como for, rd z não escutou
) rdO 111a l'r" Aind b ' à sua su e,
4. Padre Miguel Pª ºr< para carregar a pedra dos alicerces, de aco
st 4
co to(loS ,,- ª em que o venerando vigário, graças
Vital de Freitas a resposta. , . de minha infân-
Mourão, coadjutor c~~a um, da pedreira ao local. E sem distinção de ~ •E . . iniscencias od no A
do vigário Paulino vu am; e a seguir, formando uma fila desde a olaria, canteifOdJ e' ta na saudosa Igreja Matriz, das rem 'lhOSº templo m er ; -
Alves da Fé. 1~ e mocidade h oie substituída por mara~ tinha uma frequen
os tijolos, que passavam de mão em m ão e chegavaDl ao llltssa d . , J domingos, mesa eu-
obra, com a presteza de um m ovimento m ecânico- •(lade, qtieSII c,· e O dia, como se denominava aos •s alta desdeª
aenor me, os homens ocupavam a Parte 111a1 '
En~re as virtudes do nosso povo já primava a honesUdorddaf 1
mamfeSt ou nobremente no ato d a ~onvocação dos vete' ,nem6n·as 33
,meida e 51105
.,..e0nh ilo de .A
J)outor , ,. r
conseguir um defunto, era indispensável O e
. t' ao altar-mor, e as mulheres enchiam li'te ra se . d h _ d oncur-
ríst1caa e . C - • l'Dl- ve pa ~ do curandeiro, o c ar1atao, o farmacêutic ,
ca . da nave infen or. orno nao havia baneos'""llente, to q . açao d 'b d o e ate
1 0
pO ded1C . , recebia o oente mon un o e nada mais tinh
ma1sa01Pª - . Ih d
uando nao aJoe a as. omeçaran. ~C ,se~iu ..
"'q ,n e a . que Jª a que
assoa Ih 0, q d ... éd1C0,
n0 .
:>"
linofadas for mando a mo a, seguida por a tt... -
bomtas a ' . . ou -"'tt dº~- aquele dono de cinema<•ª>, a quem se perguntou po 18. Juca Ferreira
posse,
. que P
assaram a usar forro de Jornais ou pan&- tras de llk,,._ -
• o zelador responsave
na 1greJa.
, l pela ordem e lin.n-_ .-a.t, 4Ue
•••- QUei~,,_- -,,
s- ~~
~ie ,.,,ente,
fiJJª 1,..
• . oar a s1
fi d
.rene no começo e no m a sessao e ele respond
, b
efazias lberes ern casa, para sa erem e controlarem O marid
_
'
r
(José Antõolo
eu: Ferreira Júnior).
. , ·o<•o> que já era outro, moço, sacerdote exemp•-- .:.__.-"""""'8e qo srnu esponsabilidd º·
1O Padre Jose
V1gan , d M .
raça da Igreja da segun a atnz, que ele const....;...
léll",CUjo
lloineélo ,é para a a e. E tamb'em para que elas deixem os
f'elelll{',oello dap ,. l 'd 'b' ---......,a-....,i__ o " eroterr . '
d . inteligente, espmto esc areci o e sa 10, 8elllp -~o gil ntarern o cmema.
jPadreZei:al -ov,11_-iio,. l'º freque h ,. .
li a, , . d 'd d re no ~ - boll1ens patafufo de honrosos e er01cos feitos e tradições bis-
roblemas da sua paroqma e a sua ci a e, teve 1lina ideia--Y\!?oa . ·t·ivas fami'l'ias transmitiram às
~ até certo ponto, beneficente, também para corrigir , ~ gste o nosso nosso para, , cuJas . pnmi
. s· este o l . d . .
ção. a hora da prática, fez ver o inconveniente e m ~ ~ tónca_ • ucessivas a inocente a egna e viver, as Vlrtudes domésti-
geraçoes s ça-o de caráter e os sentimentos altruísticos originários
com bondosas ~alavr~s o no:o cos~u.me na falta de c a ~ , . Es
cos, por isso, disse, nao quen a pr01brr de todo e assim, ~- cas, a formaligioso nim ramente .
cato1ico. te o nosso Para de Minas,
,
do fervor re l . .
aquelas senhoras que sofriam qualquer doença que llllpe(lja ~ 4lle . , . de realce pelo seu progresso e pe o seu c1V1smo; esta a nos-
rnunic1p10a da nossa estima, ima , - do nosso apego, por que me ufano,
podiam continuar trazendo o forro e outro qualquer mei de~
o sen... sa terra,e ufano de meu pais, ' ufamsmo · embora sofrido da mais · ·mJus-
·
tegerem.' No dommgo . segmn . te, nem papeis, ,. nem almofadas ...... como• mpatriótica restn.çao - aque
, le 1·ivro pnmoroso
. <•9> do mais
. puro e 19.Não
. ~
rammaIS... ta e 1m . - identificado.
, Em certa época era louvável costume a reunião emcasadefium. sadio nacionalismo. Infehz do povo que nao tenha po~ qu~ se ufanar. ~ oJ. o,L.-tol~
lia, para fazer música, cantar e recitar. Depois das instâncias . Éo culto do presente, do pa~s~do, o ~rato dever do cidadao e dos go- ~~
11 Pedro de
Almelda.
para que o jovem elegante<11>dissesse uma poesia, ele acedeu,= vernos de reverenciar as tradiçoes maiores e conservar os monumen- ~~
tos etudo que evoca feitos e lugares históricos, bem como o incentivo~ ~ ~ 1
posição com a pose de declamador e, acompanhado pelo somdaclú,
sica Dalila, encetou o 'Livro e a América' e às tantas embatuooo 00 eapreservação da cultura. . . ~ .'...J.
'Vai Colombo ... Vai Colombo... Vai Colombo' e nada decontinuar.i- São, sem dúvida, um significante motivo para semr, 1gual~en!e ~ dt.,.,,,..-j
lêncio, suspense, e mais uma vez repete 'Vai Colombo...', quindo11D1 merecedores, os costumes, o folclore, que reflete e encarna a propna •
12 SdvlnoSIIYa voz salvadora<12>se ouviu: - 'Oh amigo, vai com lombo ousem babo, alma do povo. 'ti
coletll' fede!al.
mas continua, e tira a América de lá'. Hilaridade geral, e ~ odecla- Ao terminar, com as escusas por vos tomar tanto tempo, ~rmi
pai do prof Mário
lu~Silva mador ria e desistiu de continuar. que aproveite este momento propício para manifestar um d~JO, q~e
deh, · · rá de iana1s senti-
13 Não
• O morador/• 3>da Vargem convidou o Corone1Ca4> para batl7.ar 0 a mmto me reclama, e que por certo vos amma_ :'- . m
iden1Jficado mentos. Seja de iniciativa particular, seja com apoio particular, ~
14 Não recém-nascido, e o futuro compadre manifestou desejo de • 0 ~
iden1Jficado
lhado antes do batizado, e no domingo, depois da missa, o eaaal ~ ªcolaboração benemérita entre as benéficas campanh3;i qu: 0 Lilguons
Club realiza no seu nobre afã de servir eu ousaria sugenr, e eª m
apresentar O garotinho, quando o padrinho após elogios c:ostuJllllt modo : M da Cidade, a casa
,ros, em tom de graceJo . d'1sse: - ''A cor, cada vez ' lll81S. .w......-
e - . .__:..., _ d . cooperar, na fundação entre nos do useu b' tos foto-
estinada a recolher com o favor público, documentos:; ~e~
JJall'
Isso mesmo e , _ _L.....lnt,
. , orone1 - respondeuopai rodandonamBOOc:Plll"""--1
num meio sorr' . 'E •, . ' • • c)arO,"' grafias, publicações ' tudo que for relacionado com ª VI possaª p salvar'
ela c ~so. - u Ja falei para a mulher, se S8ll' JD8l8 , llessoaJ O d .' , . d0 e ainda se '
' om o menino tudo
• Tal a .'
.b . - . . ___1.....t11.
, para o n eirao, na pnmetra ew;,-· d8
se u o mumc1p1O com o passa , qu á diO do presente e
15. Dr. Cândido 0
criança h?nes~idade do lar! E aquele médico<15> do meu ~.w.
José l'.outinho da va}~~:sa colecionar, catalogar, esclarecer~~ g u para a criação
Í1111SetaJúnior. , CUJO pa1Ci6) ~ ada Amtl".l. ui>"'"' do ª_outorga para o futuro. E seria o pnmelJ'O passo
16- Dr. Cândido taque aq . ora também clínico de nome e ue-~ o 1
CnStttuto Histórico de Pará de Minas. . .1.Aulos de existên-
José l'.outinho da
Fonseca. humoris: ~~º-p~ssado, sendo que, à austeridade paterPJ, 118 {olb' oino 'lcab a tem dois sÇ\, d 20. SécUIO xvin
cia1, l ' ,' amos de ver, a nossa terr . 0 seu passa o.
17, Cidade do localh7l exaltironico do filho, o qual, numa crônica pub)icada~,osl• 0
'e ha muito ainda a desvendar, a pesquisar n
Pará. • ava o cl'1ma desta terra que era, dizlll . . e1e,
· 333
eido • suos memórlOS
332 Douro 77, Doutor 11ieophilo deAhn
r eophiln tln A,__ .•
. do se esta bela cidade lograr alcançar tão d d'
SeJa Deus 1ouva a lVo.
,.. ,,
sas merces. l
is vi esse discurso, com pequenas a terações qu
Tempos dep O . e e nã0
conteúdo, publicado em 1orma de um livreto
compromet em O . . . , con.
'm um significativo pronunciamento do doutor 8 . .
tendo tam be d 11vtn 0
. dos Santos sobre o homenagea o.
Moreira . .1 'd 'fi
O pesqu isador Mário Luiz Si va i enti cou,
. a nosso pedido, em
1
agos to de 1997, a maioria das pessoas e o Jorna . mencionados, que
encontramo numerados a caneta no ~orpo do discurso, porém sem
a identificação correspondente. Postenormente, o doutor Pedro Dru-
mond Salles e Silva (Dr. Pedrinho) reconheceu os personagens 11
12 . Não conseguimos ainda a identificação de todos, mas quem sab:
ocê, leitor, poderia nos ajudar? Todos os personagens reconhecidos
estão listados nas notas, na lateral deste texto.
Esse discurso do doutor Theophilo nos mostra como história e me-
mória se interligam, tornando-se primordiais para reconhecer um
grupo identitário. A nossa história é feita de fatos, lugares e pessoas,
constituindo também a nossa memória que, ao ser acionada - por
nós, por outra pessoa, pelo visual de algo ou alguém, pelo cheiro, por
uma leitura - nos desperta, ou não, a sensação de pertencimento a
um local, a uma terra, a um grupo. Se formos despertados, perten-
cemos ao mesmo grupo, falamos a mesma língua, temos afinidades
e, portanto, a mesma identidade. Entendemos-nos mais facilmente.
Um pouco das memórias do doutor Theophilo, materializadas por
ele no discurso reproduzido neste texto, refletem boa parte da me-
mória coletiva da sociedade de Pará de Minas dos primeiros anos
~o século XX. Além de fonte histórica, tornaram-se um importante
instrumento sociológico e antropológico para compreender o nosso
modo de ser.
Dr· Theophilo de Almeida faleceu no Rio de Janeiro em 6 de junho
de 1987, aos 97 anos, conforme anotação do prof. Mário Luiz silva
no texto de, sua
. autona · sob re o proeminente conterraneo, ,.. "Setenta
anos de medico" d d0 . ~ nte
' ºª
consu1tada por mim pa Ob
ao Museu Histórico
. .
de
~
Pará

de Minas,
, fi
10

N-ao t enh o conh · ra ter mais informaçoes b1ogra cas. · de


saber que ecimento se o doutor Theophilo teve a alegria d
1
um museu coque e e tanto almejava para Pará de Minas, a criação ~
O

, mo externo fi . concre
tizado para O ga' d. d u no nal de seu discurso, haVIa se ro
. U lO o pr . jutu ·
DeseJando que essa boa , _esente e valzosa outorga para_ 0 en-
te a resposta à pre noticia tenha lhe alcançado, aflora à minha Illseja
Deus louvado sim e~ que ele fez no encerramento do discurso: - ,.
tão dadivosa ~erdê. outor Theophilo, esta bela cidade logrou alcança

334 Doutor Theophilo de Almeid


a e suas mem onas
, .

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