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Lista de questões sobre a prosa regionalista de 30

Questão 1)

Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e
apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia da feira, desfazia-se dos animais,
não chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito. [...]
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano. E quando não tinha mais nada para
vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma
ninharia.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2005.

Analisando o excerto, com base na relação entre Fabiano e o patrão, percebe-se uma organização funcional da
sociedade em que há
a) condição de exploração econômica justificável com base na limitação das condições miseráveis do migrante
explorado.
b) reflexos de denúncia de uma opressão social com base no poder econômico do explorador sobre o explorado.
c) um processo de desumanização decorrente das condições do meio, atuando sobre explorador e explorado.
d) possibilidades, ainda que remotas, de melhoria nas relações de sobrevivência entre explorador e explorado.
e) superação, pelo explorado, da situação opressiva de exploração do ser humano em função do capital.

Questão 2)

Texto 1
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a
lama seca e rachada que escaldava os pés. [...] [Sinhá Vitória] distraiu-se olhando os xiquexiques e os
mandacarus que avultavam na campina. Um mormaço levanta-se da terra queimada. Estremeceu, lembrando-se
da seca, o rosto moreno desbotou, os olhos pretos arregalaram-se...
Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Texto 2
[...] E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na
incerteza de que aquilo fosse realmente mudança. Retardara-se e repreendera os meninos, que se adiantavam,
aconselhara-os a poupar forças. A verdade é que não queria afastar-se da fazenda. A viagem parecia-lhe sem
jeito, nem acreditava nela. Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se resolvera a partir de
quando estava definitivamente perdido. Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra
dura, acharia um lugar menos seco para enterrar-se. Era o que Fabiano dizia, pensando em coisas alheias: o
chiqueiro e o curral, que precisavam conserto, o cavalo de fábrica, bom companheiro, a égua alazã, as
catingueiras, as panelas de losna, as pedras da cozinha, a cama de varas. E os pés dele esmoreciam, as alpercatas
calavam-se na escuridão. Seria necessário largar tudo? As alpercatas chiavam de novo no caminho coberto de
seixos.
Vidas secas, de Graciliano Ramos.
Os textos 1 e 2 são de autoria do escritor nordestino Graciliano Ramos, que, em sua obra, retrata de forma
bastante peculiar os problemas de sua região. Esses textos têm em comum o fato de abordarem
a) o êxodo do homem nordestino em busca de melhores condições de vida.
b) o descaso do homem nordestino com a paisagem que o circunda.
c) a decadência física, moral e psíquica das pessoas que são vítimas da seca na Região Norte do Brasil.
d) a falta de sensibilidade dos moradores do Nordeste para lidarem com os problemas trazidos pela seca.
e) a preocupação em discutir sobre o assistencialismo governamental às misérias existências que afetam o
nordestino.

Questão 3)

O cunho social da narrativa de Capitães da areia, de Jorge Amado, é reconhecido contemporaneamente no


cenário literário nacional. Na época de sua publicação, sob o regime do Estado Novo, no entanto, essa obra
a) passou por sanções parciais no enredo, e manteve o aspecto temático do livro com alusões ao ideário
comunista.
b) revelou-se, à época, como um importante instrumento histórico para a difusão do discurso socialista por meio
de suas personagens.
c) difundiu um caráter contestador que fomentou movimentos locais de revolta contra o regime de governo
proposto pela Ditadura Militar.
d) circulou com ressalvas e forte objeção do governo, pois apresentava discurso ideológico consonante ao dos
estratos sociais mais elevados.
e) sofreu movimento contrário de caráter repressor, sob a denúncia governamental de que o enredo
apresentava elementos do pensamento comunista e socialista.

Questão 4)

Texto 1
Uma história dos meninos-de-rua da Bahia, na década de 30. [...] Peripécias do bando de menores que
perambula perigosamente pelas ruas e pelo cais de Salvador, cidade \"negra e religiosa\", onde se projeta a
personalidade da ialorixá Aninha, mãe-de-santo do Ilê Axé Opô Afonjá. [...] O problema é que o livro é publicado
em 1937, logo em seguida à implantação do Estado Novo, regime violentamente anticomunista. Assim, a edição é
apreendida – e exemplares do livro são queimados em praça pública, na cidade da Bahia, por representantes da
ditadura. Mas de nada adiantou. Quando pôde voltar à cena, Capitães da areia conquistou o grande público e é
ainda hoje um dos maiores sucessos de Jorge Amado.
Disponível em: <http://www.jorgeamado.org.br>. Acesso em: 10 fev. 2015. (adaptado)

Texto 2
[...] uma grande parte dos Capitães da areia dormia no velho trapiche abandonado, em companhia dos ratos,
sob a lua amarela. [...] moleques de todas as cores e de idades as mais variadas, desde os 9 aos 16 anos, que à
noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte e dormiam [...] Vestidos de farrapos, sujos,
semiesfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da
cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas. [...] Não durou muito na
chefia o caboclo Raimundo. Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os
outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe [...] É aqui que mora o chefe dos Capitães da areia: Pedro
Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde os seus cinco anos. Hoje tem 15 anos. Há dez que vagabundeia nas
ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em
conhecer a cidade [...]
AMADO, Jorge. Capitães da areia. 117. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. p. 19-21.

Tomando como base a leitura dos textos em destaque, é possível afirmar que o tema tratado no romance
Capitães da areia continua bastante atual. Analise as assertivas a seguir e assinale a que estabelece coerência
com a afirmação anterior.
a) Pedro Bala e seu bando, segundo Jorge Amado, são reflexos da busca de visibilidade e aceitação social que a
mídia promove em relação aos garotos de rua.
b) Contextualizando os trechos em destaque nos dias atuais, é possível inferir que as causas do aumento do
número de criminosos nas ruas de Salvador estão desconectadas das questões sociais.
c) Escrita em 1937, a obra apresenta a dura situação dos menores abandonados, uma espécie de mazela, de
câncer social, do cotidiano das cidades brasileiras.
d) Capitães da areia retrata as peripécias de jovens que só estão em busca de aventuras, em uma atitude típica
de adolescentes. Jorge Amado, nessa obra, não revela nenhuma ideologia político-social.
e) O contexto da obra demonstra uma fantasia que se opõe à dura realidade dos verdadeiros garotos
marginalizados pela sociedade brasileira. Fugir da realidade é uma característica marcante das obras urbanas de
Jorge Amado na Geração de 30.

Questão 5)

O romance Vidas secas, de Graciliano Ramos,


a) tem como principal personagem a seca, que não abandona as personagens ao longo da narrativa.
b) tem como desfecho, por seu caráter social, no capítulo "Mudança", a partida de Fabiano e de sua família para
o Sudeste do país.
c) apresenta uma estrutura cíclica, indicando que a situação de miséria da família permanecerá indefinidamente.
d) não representa o Estado de forma alguma na narrativa, reafirmando o completo abandono social em que se
encontram as personagens.
e) traz Seu Tomás como um exemplo de personagem que venceu a seca e que motiva Fabiano a ter acesso à
educação e superar a pobreza.

Questão 6)

TEXTO I
Foi numa tarde infinitamente calma que o capitão Bernardino de Mendonça chegou a Fortaleza, pela estrada
nova de Mecejana, depois de penosíssima viagem.
A seca dizimava populações inteiras no sertão. Famílias sucumbiam de fome e de peste, castigadas por um sol de
brasa. Centenas de foragidos, arrastando os esqueletos seminus, cruzavam-se dia e noite no areal incandescente
dos caminhos – abantesmas da desgraça gemendo preces ao Deus dos cristãos, numa voz rouquenha, quase
soluçada. Era um horror de misérias e aflições.
CAMINHA, Adolfo. A normalista. São Paulo: Ática, 1978. (adaptado)

TEXTO II
No mesmo atordoamento chegaram à Estação do Matadouro. E, sem saber como, acharam-se empolgados pela
onda que descia, e se viram levados através da praça de areia, e andaram por um calçamento pedregoso, e foram
jogados a um curral de arame onde uma infinidade de gente se mexia, falando, gritando, acendendo fogo. [...] Da
banda de lá, um velho deitado no chão roncava, e uma mulher de saia e camisa remexia as brasas debaixo de
uma panela de barro. Cordulina foi à sua trouxa, e tirou de dentro um resto de farinha e um quarto de rapadura,
última lembrança da comadre Doninha.
QUEIROZ, Rachel de. O quinze. 77. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2004. p. 92-93.

Os textos anteriores foram extraídos dos romances A normalista e O quinze, respectivamente, e apresentam
como temática comum
a) o mandonismo patriarcal exercido pelas pessoas que ostentavam títulos.
b) as dificuldades enfrentadas pelos retirantes da seca no Nordeste.
c) a interferência da religiosidade na cosmovisão do nordestino.
d) a vida aristocrática dos primeiros centros urbanos brasileiros.
e) os conflitos violentos entre policiais e cangaceiros no Nordeste.

Questão 7)

Texto I

Texto II
O que desejava... An! Esquecia-se. Agora se recordava da viagem que tinha feito pelo sertão, a cair de fome. As
pernas dos meninos eram finas como bilros, sinhá Vitória tropicava debaixo do baú de trens.
Na beira do rio haviam comido o papagaio, que não sabia falar. Necessidade.
Fabiano também não sabia falar. Às vezes largava nomes arrevesados, por embromação. Via perfeitamente que
tudo era besteira. Não podia arrumar o que tinha no interior. Se pudesse...
[...] Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O que segurava era a família. Vivia preso como novilho amarrado
ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. O que lhe
amolecia o corpo era a lembrança da mulher e dos filhos. Sem aqueles cambões pesados, não vergaria o
espinhaço não, sairia dali como onça faria uma asneira.
[...] Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-los? Sinhá Vitória dormia mal na
cama de varas. Os meninos eram brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão
invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo.
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 119. ed. Rio de Janeiro: Record, 20112. p. 36)

Cândido Portinari e Graciliano Ramos, recorrendo a distintas manifestações artísticas, respectivamente, pintura e
literatura, retrataram a realidade dos retirantes em época de seca. Com base na leitura da imagem e do texto, é
correto afirmar que
a) pintor e escritor, independentemente de uma posição temporal e de um lugar social, oferecem uma
interpretação da sociedade brasileira que acentua as mudanças no mundo do trabalho no campo.
b) os dois artistas representam com imparcialidade o trabalhador rural brasileiro de suas épocas, sem intenção
de problematizar a relação capital-trabalho.
c) as duas obras oferecem uma compreensão plena sobre o mundo do trabalhador rural, sendo excludentes em
suas narrativas, uma vez que a pintura representa uma situação fictícia que rompe com o passado.
d) o texto supera a interpretação anterior do pintor, eliminando o valor e a necessidade dela para se
compreender o mundo do trabalho no campo.
e) em ambos os textos, está presente a ideia de degenerescência, ou seja, os personagens vão perdendo, em
meio ao sofrimento, aquilo que os identifica como humanos. No quadro, os aspectos físicos. No texto, a
capacidade de falar.

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