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MODERNISMO 2º GERAÇÃO

PROSA /POESIA - AUTORES


Professora: Raíssa Vale Disciplina: Literatura
O romance de 1930
O ano de 1928 – a publicação de Macunaíma, de Mário de Andrade,
fechando a primeira fase do Modernismo e a publicação de A
bagaceira, de José Américo de Almeida, inaugurando a segunda fase
desse movimento
◦ Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho.
Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um
naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou
numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante.
Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a
água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava
pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de
olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo
retinta dos Tapanhumas.
Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém, a água já estava muito suja
da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu
ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:
— Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifava toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um
bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho
da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na
água santa. Macunaíma teve dó e consolou:
— Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!”
◦ Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos – esqueletos redivivos, com o aspecto terroso
e o fedor das covas podres. Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num
passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas. Andavam devagar, olhando para trás, como
quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos do seu paraíso por
espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fados. Fugiam do sol e o sol guiava-os
nesse forçado nomadismo. Adelgaçados na magreira cômica, cresciam, como se o vento os levantasse. E os braços
afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando. Vinham escoteiros. Menos os hidrópicos – doentes da
alimentação tóxica – com os fardos das barrigas alarmantes. Não tinham sexo, nem idade, nem condição humana.
Eram os retirantes. Nada mais. Meninotas, com as pregas da súbita velhice, careteavam , torcendo as carinhas
decrépitas de ex-voto. Os vaqueiros másculos, como titãs alquebrados, em petição de miséria. Pequenos
fazendeiros, no arremesso igualitário, baralhavam-se nesse anônimo aniquilamento. Mais mortos do que vivos.
Vivos, vivíssimos só no olhar. Pupilas do sol da seca. Uns olhos espasmódicos de pânico, assombrados de si
próprios. Agônica concentração de vitalidade faiscante. Fariscavam o cheiro enjoativo do melado que lhes
exacerbava os estômagos jejunos. E, em vez de comerem, eram comidos pela própria fome numa autofagia erosiva.
(…) A cabroeira escarninha metia-os à bulha: – Vem tirar a barriga da miséria… Párias da bagaceira, vítimas de
uma emperrada organização do trabalho e de uma dependência que os desumanizava, eram os mais insensíveis ao
martírio das retiradas. A colisão dos meios pronunciava-se no contato das migrações periódicas. Os sertanejos eram
malvistos nos brejos. E o nome de brejeiro cruelmente pejorativo. (…)
O Romance de 30
Caráter social
Influenciado sobretudo pelo movimento neorrealista. Traços
neonaturalistas
Romances regionais
Literatura engajada
Denúncia da opressão
Miséria/problemas sociais
Busca da verossimilhança
Questões ideológicas
O Romance de 30
Os escritores dessa geração estavam preocupados em denunciar as
desigualdades e injustiças sociais no país, sobretudo na região
nordeste, criando uma literatura ficcional e revolucionária cujo tema
era a vida rural, agrária
O projeto literário da geração de 30: revelar como uma determinada
realidade socioeconômica influenciava a vida dos seres humanos
Relação entre o contexto socioeconômico e o espaço
A maioria dos autores do período se baseou no conhecimento
pessoal da realidade nordestina para desenvolver esse projeto
O Romance de 30
A bagaceira, de José Américo de Almeida define uma nova
tendência na ficção nacional: a apresentação crítica da realidade
brasileira, que procura levar o leitor a tomar consciência da
condição de subdesenvolvimento do país, visível de modo mais
evidente em algumas regiões, como o Nordeste.
Para tratar das questões sociais regionais, os romances escritos
a partir de 1930 retomam dois momentos anteriores da prosa de
ficção: o regionalismo romântico e o realismo do século XIX.
O Romance de 30
Do regionalismo romântico, vem o interesse pela relação entre
os seres humanos e os espaços que eles habitam, apresentando
agora uma perspectiva mais determinista

Do Realismo, é recuperado o interesse em estudar as relações


sociais
O Romance de 30
O romance de 1930 inova ao abandonar a idealização romântica e
impessoalidade realista
Apresenta uma visão crítica das relações sociais e do impacto do
meio sobre o indivíduo
Particularidades geográficas, tipos humanos específicos que usam a
linguagem de um modo próprio e tem práticas sociais e culturais
semelhantes,
Essas raízes literárias que relacionam a ficção de 1930 às duas
estéticas do século XIX fizeram com que os romances escritos nesse
período fossem conhecidos como regionalistas ou neorrealistas
O Romance de 30
O eixo da ficção brasileira na década de 30 se deslocou do Rio
de Janeiro e de São Paulo para Maceió, capital de Alagoas. Lá
moravam os escritores José Lins do Rego, Raquel de Queiroz e
Graciliano Ramos.
“A cor local” Significa informações sobre espaços,
comportamentos e costumes que permitem ao leitor reconhecer
aspectos típicos característicos de uma região específica.
“O quinze” – Raquel de Queiroz
◦ Depois de se benzer e de beijar duas vezes a medalhinha de São José,
◦ Dona Inácia concluiu:
◦ “Dignai-vos ouvir nossas súplicas, ó castíssimo esposo da Virgem Maria, e alcançai o que rogamos. Amém.”
◦ Vendo a avó sair do quarto do santuário, Conceição, que fazia as tranças sentada numa rede ao canto da sala, interpelou-a:
◦ - E nem chove, hein, Mãe Nácia? Já chegou o fim do mês... Nem por você fazer tanta novena...
◦ Dona Inácia levantou para o telhado os olhos confiantes:
◦ - Tenho fé em São José que ainda chove! Tem-se visto inverno começar até em abril.
◦ Na grande mesa de jantar onde se esticava, engomada, uma toalha de
◦ xadrez vermelho, duas xícaras e um bule, sob o abafador bordado, anunciavam a ceia.
◦ - Você não vem tomar o seu café de leite, Conceição?
◦ A moça ultimou a trança, levantou-se e pôs-se a cear, calada, abstraída.
◦ A velha ainda falou em alguma coisa, bebeu um gole de café e foi fumar no quarto.
◦ - A bênção, Mãe Nácia! - E Conceição, com o farol de querosene pendendo do braço, passou diante do quarto da avó e entrou no seu, ao fim do
corredor.
◦ Colocou a luz sobre uma mesinha, bem junto da cama, - a velha cama de casal da fazenda - e pôs-se um tempo à janela, olhando o céu. E ao fechá-la,
porque soprava um vento frio que lhe arrepiava os braços, ia dizendo:
◦ - Eh! a lua limpa, sem lagoa! Chove não!...
“A cor local”
Apelo para São José trazer a chuva
A religiosidade, principalmente em época de grande
necessidade
Linguagem simples
Termos regionais
Contexto histórico
De 1919 a 1921, uma grande seca no Nordeste desencadeia o
crescimento do êxodo rural
Em 1920, foi criada a Caixa Especial de Obras de Irrigação de
Terras Cultiváveis do Nordeste Brasileiro, mantida com 2% da
receita tributária da União e outros recursos
Em 1945, foi criado o Departamento Nacional de Obras Contra
as Secas, que substitui a Inspetoria Federal de Obras Contra as
Secas
A prosa de Graciliano ramos
 Problemas humanos universais
 “realismo bruto”
Romance “São Bernardo”
 Protagonista: Paulo Honário. Orfão, criado por uma negra
analfabeta, luta para vencer na vida a qualquer preço. Conquista
fortuna e prestígio desejados, mas descobre-se solitário e infeliz.
Decide então fazer um balanço da sua própria vida na forma de
uma narrativa. Surgem, nessa reconstrução de sua trajetória, os
traços mais marcantes de uma personalidade “moldada” pelo
contexto socioeconômico do qual fazia parte. Fará um
contraponto com sua esposa Madalena que permitirá uma análise
psicológica detalhada dos personagens
“Vidas secas”
Único romance desse autor com foco narrativo em 3ª pessoa
Nasceu do conto “Baleia”
Não apresenta um aprofundamento de análise psicológica das personagens como
acontece em São Bernardo e Angústia
Faz um retrato da dura existência no sertão nordestino.
A aridez do cenário se expande e atinge também o comportamento das
personagens, caracterizado por falas monossilábicas e gestos voltados para a
sobrevivência imediata
A animalização das personagens se manifesta de diversas formas nesse romance:
as crianças não chegam a ser nomeadas, como acontece com os animais, seu
comportamento é determinado pela necessidade de sobreviver a um espaço
inóspito
“Vidas secas”
Ele Fabiano. Sempre queria ser. – ser o que neste agreste?
Ele sabe de onde veio, mas não sabe para aonde vai. Vai por aí!
Ele sabe quem ele é. Ele é Fabiano ao lado de Sinhá Sofia, sua “mulé” e seus dois filhos, sem
nome. – e quem precisa de nome, se não se é gente neste mundo?
Ele Fabiano. Sempre queria ser. – ser o que neste agreste?
Ser não. Ele é. É vaqueiro. Monta em animal xucro até amansá-lo. Socorre na caatinga vaca
brava de cria. Cura bicheira de animal. Atira bem com sua pederneira. Estas são as suas
qualidades no sertão. Quase não fala. – Pra que falar? O homem tem que ser ação. No lombo de
um animal ele é ação. Rasga a caatinga atrás do alongado e desafia qualquer um pra esse feito. E
não é precisa de prosa.
Cinco sombras caminhavam naquele leito seco. Percorriam um calvário como Jesus, açoitados
pela fome, pela miséria. Coisa séria.
Cansados arriaram-se, Nada para comer. Nada não. O papagaio que fazia parte da comitiva teve
o seu fim.
“Vidas secas”
Sinhá Vitória sem nada falar vai até o baú de zinco onde o papagaio se acomodava e…
Labutava assoprando os gravetos para elevar as chamas e diminuir a fumaça. Soprou sua alma,
ficando a carcaça naquele sertão árido e distante.
O homem tudo via calado. Todos viviam calados como a ceia que devia falar, mas não falava.
No espeto o papagaio fincado e no fogo tostado. Foi o tudo que comeram.
A seca assola o sertão. A fome aperta. Para combatê-la come-se o seu próprio. Vão até os ossos.
Ser. Ser forte. Ser no agreste os mestres em driblar a fome e enganar a morte
De onde eles vieram? Para onde eles irão? Eles irão sertão adentro até encontrar…
“Vidas secas”
Encontraram uma fazenda abandonada. Perfeito retrato da destruição. Uma fazenda sem vida.
Eles os únicos viventes. Ali se assentaram.
Dias atrás de dias. A estiagem castigava. A fome apertava. Fabiano não falava, pensava. Sabia
que teria que ser forte. A fome apertava.
Baleia a salvação. Trazia nos dentes um preá. Sinhá Vitória tratou de preparar o bicho.
Destrincho-o e a carne misturada com sangue que foi espetada numa haste seca de alecrim. Essa
caça é o tudo que teriam para comer.
Vida de graça. Vida sem graça, Vida desgraçada. Vida desigual.
E essa vida tem nome. Ela se chama: F O M E.
José Lins do Rego
Ciclo da cana-de-açúcar
Recria a realidade dos trabalhadores da
região canavieira pernambucana a partir
das suas recordações da infância na
fazenda do avô

Preocupação com a linguagem, veracidade às cenas e personagens


As lembranças pessoais estão na base do processo de criação de
José Lins do rego, o que define seus romances como narrativas
memorialistas
Raquel de Queiroz
 A família Queiroz mudou-se para o Rio de
janeiro fugindo dos horrores da seca de 1915
 Mesmo com 4 anos na época, esse espaço ficou
tão marcado na memória que usou suas
lembranças como inspiração para “O quinze”
 Foi escrito quando a autora tinha 18 e ajudou a
firmar a tradição dos romances do “ciclo
nordestino”
 Escreveu crônicas em diversos jornais
 Foi a primeira escritora a conquistar uma
cadeira na Academia Brasileira de Letras
Obras
João Miguel(1932)
Caminho das pedras(1937)
As três Marias (1939)
Dôra, Doralina (1975)
Memorial de Maria Moura (1992) –faz uma excelente
reconstituição da vida no interior nordestino no século XIX e
ilustra o questionamento do papel da mulher – virou minissérie
da rede Globo e está disponível no youtube
O quinze
A tragédia humana desencadeada pelo clima da região fica registrada em algumas
passagens como a do enterro do filho do vaqueiro:
O quinze
Realidade brutal: os filhos dos retirantes em época de seca vão
ficando nas covas abertas no solo duro do sertão
Preocupada em reproduzir o que ouvia nas ruas a escritora
inova em relação a outros romances nordestinos
Jorge Amado (1912-2001)
O estudo das relações humanas o levaram à
constituição do perfil multicultural e
multirracial que caracteriza o povo
brasileiro

Seus romances ultrapassaram a marca de


10 milhões de títulos vendidos no Brasil e
foram traduzidos para 49 línguas
estrangeiras
Retratos da Bahia
Terras-do-sem-fim (1943) considerada por muitos críticos obra-
prima faz parte da fase do autor que:

Retrata a vida da região cacaueira de Ilhéus, caracterizando a


opressão em que viviam os trabalhadores rurais em contraste
com a situação dos grandes coronéis da região, enriquecidos
pelo cacau
Retratos da Bahia
Terras-do-sem-fim (1943) considerada por muitos críticos obra-
prima faz parte da fase do autor que:

Retrata a vida da região cacaueira de Ilhéus, caracterizando a


opressão em que viviam os trabalhadores rurais em contraste
com a situação dos grandes coronéis da região, enriquecidos
pelo cacau
“capitães de Areia”
Pertence à fase dos romances urbanos de Salvador
Retrata a vida de um grupo de crianças que vivem na rua
Acompanhando o amor entre Dora e Pedro Bala, o líder do
grupo, o narrador leva o leitor pelos becos e vielas de Salvador,
pelos terreiros de candomblé, localizando no cenário urbano o
que já havia registrado na região cafeeira.
“Gabriela, cravo e canela” (1958)
Nova fase para os romances do escritor
A partir da publicação de Gabriela, a ficção de Jorge Amado
afasta-se das questões sociais para concentrar-se na construção
de tipos humanos, explorando cada vez mais o tema do amor
Essa nova tendência de suas obras garantiu ao autor a
continuidade de seu imenso sucesso popular.
Erico Veríssimo
Primeira fase: Painel da Burguesia do Rio
Grande do Sul. Destaque: Clarissa, Música ao
longe (1935) e Olhai os lírios do campo
(1938)
Preocupação do escritor com a crise moral e
espiritual do homem e da sociedade em que
vive. Saga de duas famílias: os Terra-
Segunda fase: Investigação da relação entre cambará e os Amaral, que dará origem
à trilogia de O tempo e o Vento,
o presente degradado por crises e o passado composta dos romances O continente
(1949), O retrato (1951) e O
histórico marcado por heroísmo do povo arquipélago (1961)
gaúcho na defesa de seu território.
Poesia
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Notoriedade em 1928 com a publicação do poema “No meio
do caminho” na revista Antropofagia:
Tinha uma pedra no meio do caminho..
O poema causou controvérsia

De um lado os modernistas o reconheciam como uma


manifestação significativa dos novos valores estéticos. Do
outro, a opinião pública via o poema como uma síntese do
desrespeito da nova geração de poetas em relação à “boa”
literatura
O poeta das sete fases
Funcionário público
Alguma poesia (1930) – obra que marca o ínicio da geração
Sentimentos do mundo (1940)
Prosa – Contos de aprendiz (1950)
Questionamento do sentido da vocação literária e da função social do poeta
Tentativa de compreender sentimentos
Desencontro entre o ser e o mundo
Gauche – ser poeta é ser desajeitado, diferente dos outros
 O desejo de responder às indagações sobre o mundo faz com que o poeta continue
buscando respostas e determina o caráter reflexivo da poesia de Drummond.

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