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Gayeté
(Montaigne, D es livres)
Ex Libris
José M i n d l i n
Cinemafographo
OBRAS DO A U T O R
TRADUCÇÕES :
THEATRO:
Cinemafographo
(Chronicas cariocas)
* * * PORTO - 1909 * * *
€ 3 i f o r e s : liIVRFlRIfl C f i f I R D R O n , 9e lici-
to & Irmão — Rua 9as Carmelifas, 144
O accordo assignado n o R i o de J a n e i r o , em 9 de Se-
t e m b r o de 1889, e n t r e o B r a z i l e P o r t u g a l , assegurou o d i -
r e i t o de p r o p r i e d a d e literária e a r t i s t i c a em ambos os
paizes.
O CASINO p a l p i t a v a . T a n l a n B a l t y , n o seu
u l t i m o n u m e r o , dissera, c o m québros de
olhos e p e r v e r s i d a d e s n a vóz, u m a cançoneta ex-
t r a o r d i n a r i a m e n t e velhaca. A sala, sob a c l a r a
luz das lâmpadas electricas, acendia-se, g a n i a
luxurias. Senhores t o r c i a m o bigode com o olhar
v i t r e o , as d a m a s e n v o l v i a m os braços nas p l u -
mas das boas c o m u m a r m a i s a c a r i c i a d q r . N ó s
estávamos todos. N a o r l a dos camarotes, p i n t a -
dos de v e r m e l h o , p o u s a v a m e m a t i t u d e s de aca-
demia, e x p o n d o v e s t i d o s de t o n a l i d a d e s v a g a s
e anneis e m t o d o s os dedos as m a i s encanta-
d o r a s c r e a t u r a s da estação. P o r t r a z dos cama-
rotes s u r g i a m p a n a m ás, m o n o c u l o s , faces esca-
nhoadas, b i g o d e s á kaiser, e os garçons passa-
v a m de c o r r i d a l e v a n d o g a r r a f a s e bandejas. Em
b a i x o , na platéa, velhos freqüentadores t o m a n -
do boc.ks. r e p o r t e r s , c a i x e i r o s , m o ç o s do com-
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saióte, e a s s i m g y r a n d o v e r t i g i n o s a m e n t e , c o m
os seus d o i s pés finos e estranhos, p a r e c i a u m a
flôr de p r a t a , u m a e s t r a n h a p a r a s i t a caída d o s
espaços n a q u e l l e a m b i e n t e de nevoas. A s p a l m a s
r e b e n t a r a m n u m c h u v e i r o . E l l a p a r o u , a b r i u os
braços, d e i x o u e s c o r r e g a r v a g a r o s a m e n t e os pés,
tão de v a g a i ' q u e p a r e c i a ir-se a f u n d a n d o , até
que c a i u n o g r a n d e éçart, a m ã o n a testa sor-
r i n d o . O p u b l i c o , porém, c n e r v a d o q u e r i a m a i s ,
b a t i a c o m as m ã o s , c o m o s pés; as m u l h e r e s
nos c a m a r o t e s e r g u i a m - s e e Verônica t o r n o u a
apparecer, f a z e n d o gestos de a g r a d e c i m e n t o q u e
e r a m c o m o s u p p l i c a s de a m o r .
— Danses américuines ! disse.
E irnmediatamente, n o miúdo compasso da
o r c h e s t r a , o seu c o r p o , da c i n t a p a r a b a i x o , co-
m e ç o u a d e s a r t i c u l a r - s e , a m e x e r . O s pés esta-
l a v a m no chão, rápidos, h a v i a s a p a t e a d o s e cor-
r i d a s ; as ancas m a g r a s c r e s c i a m , a u g m e n t a r a m
rebolando; o ventre ondulava; aquelle corpo que
f u g i a e avançava c o m m e n e i o s negaceados, con-
f u n d i u - s e n a h a r m o n i a dos c o m p a s s o s e m ade-
jos. A m u l h e r d e s a p p a r e c i a n u m a e x a s p e r a n t e
combinação d e sons g e s t i c u l a d o s , d e vibrações
de c a n t h a r i d a , de crises d a m n a d a s de e s p a s m o .
Era perturbadora, infernal, incomparavel !
Q u a n d o ella acabou, o barão e r g u e u - s e rá-
pido.
— V a m o s vêl-a...
O conde Sabiani, que olhava para baixo,
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esgalgada e elegante.
— Que é isso, menino ? fez, maternal, a velha
dama. Assim doente ? Qual, a mocidade, a extra-
vagância... Se você tivesse u m regimen...
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— Oh ! mestre.
— E u falo sempre sem lisonja. E m primeiro
logar o grupo de protegidos da minha geração
era de t a l ordem, que u m notável lente, após
a aprovação de u m delles, na Escola Central,
levantou-se, f o i á janella e g r i t o u para a rua:
«Afastem-se ! V a i sahir u m B u r r o !» Oh ! não
ria. Assisti na Escola de Medicina á defeza de
these de u m estudante, hoje notável cidadão, de
que ainda guardo uma resposta. Onde fica a
célula biliar ? indagava o examinador. — No cé-
rebro ! respondeu elle. Esses factos eram com-
muns. N ã o me esqueço de u m exame oral, cujo
ponto tinha sido dado vinte quarto horas antes.
Era de astronomia e o professor protegia o exa-
minando. — Qual é o seu ponto ? — A resolução
do triângulo espherico A. B. C. — E se fosse o
triângulo D. E. F. ? O examinando respondeu:
Não era o meu ponto ! E f o i aprovado, e hoje
dá cartas em engenharia e com certeza acha que
o ensino d'agora é o cumulo da immoralidade.
São sempre , esses os que mais g r i t a m contra o
mau preparo da atual geração...
Pelo Parlamento, meu amável discipulo, sem-
pre se aferiu a mentalidade de uma raça. Se
hoje o Parlamento tem Heredias. e meia dúzia
de chefes eleitoraes representantes da força da
cabala, percorra os annaes antigos. E m 1867 um
deputado justificava u n i projecto no qual entrava
o peso da atmosphera. Quando o deputado falou
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r a l , r a r o s automóveis c o r u s c a v a m c o m i n t e r m i -
t e n c i a e, s o b r e o s i l e n c i o , o céo d e i n v e r n o es-
t e n d i a o v e l l u d o s o n e g r o r d a n o i t e p a l p i t a n t e de
estrellas. O v e l h o m e s t r e estava c o m m o v i d o .
L i m p o u as lentes, p a r o u u m i n s t a n t e , s o r r i u .
— Ne nous emhallons pas... R e s u m a m o s . E'
m e l h o r . A r e f o r m a é u m r e s u l t a d o d a evolução.
A r e f o r m a , , m e s m o m á , é u m a tendência para
m e l h o r . C o i m b r a e S a l a m a n c a m o r r e m p o r não
se r e f o r m a r e m . A r e f o r m a , além disso, empre-
gará a l g u n s c a v a l h e i r o s necessitados. M a s para
r e f o r m a r n ã o é p r e c i s o v i r d i z e r q u e o ensino
c a h i u e que, agora, a desmoralização c h e g o u ao
auge.
E' m e n t i r a , é t o l i c e , é c a l u m n i a . E m p e n h o s
s e m p r e os h o u v e e haverá; gente' i d i o t a que-
r e n d o s e r b a c h a r e l e passando, n o s cursos, sem-
• p r e h o u v e e haverá; mas, c o m p a r a n d o a m i n h a
geração c o m esta d e q u e f a z e m p a r t e você e
m e u s filhos, e u não tenho, c o m o esses patetas,
a estultice, o a t r a z o , o lamentável e d e s h u m a n o
e s q u e c i m e n t o dos velhos. Antes, p e l o c o n t r a r i o .
Enche-me o coração um. g r a n d e o r g u l h o , por-
q u e v e r i f i c o t e r c o o p e r a d o p a r a a formação de
u m a geração dez vezes m a i s f o r t e , m a i s sabida, .
m a i s capaz d o q u e a m i n h a — geração q u e fará
dos m e u s netos aos q u i n z e a n n o s a m a r a v i l h a dos
sábios avós. E isso é u m consolo, m e n i n o ! Re-
f o r m e m o s , r e f o r m e m o s , r e f o r m e m o s q u a n t o fôr
possível a o s l e g i s l a d o r e s . Mas, d a n d o a César
CINEMATOGRAPHO 49
« i
0 20:025 !
parte.
— Muito obrigado.
— V. Ex. deve lembrar-se, apezar de serem
a
p o l g a n t e de variação de p e r s o n a l i d a d e , u m caso
de doença. N a s g r a n d e s mascaradas, o d e l i r i o
é idêntico ás crises desvairantes d a E d a d e M é -
dia e da E d a d e q u e c h a m a m o s A n t i g a , p o r m a i s
que ella n o s pareça s e m p r e m a i s m o ç a . N o
mascara i s o l a d o h a t o d o u m t r a t a d o de patho-
psychologia. U m h o m e m que trabalha o anno
. inteiro p a r a se vestir de «princez» o u de «rei de
diabos», e q u e sahe p o r a h i convencido n a f a -
tiota m u l t i c o r , não pôde ser m u i t o certo, e u m
pobre rapaz, capaz de se f a n t a s i a r de «Pae João»
e de t e n t a r fazer e s p i r i t o não é u m p r o d i g i o de
sensatez. A l g u é m m e s m o já d e s c o b r i u q u e a
fantasia c o r r e s p o n d e q u a s i s e m p r e á p e q u e n a
racha q u e o t i p o t e m n a m i o l e i r a , o u a q u a l i -
dade p r e d o m i n a n t e d a s u a alma, c o n t a n d o o s
dominós p e l a . h y p o c r i s i a ; os princezes pelo efe-
m i n a m e n t o , os reis dos diabos pelo desvaira-
mento delirante, os palhaços pela gente s e m
personalidade o u de p e r s o n a l i d a d e complacente.
E esse alguém não d e i x a v a de m e d i z e r :
— N ã o h a u m r e i d o s diabos q u e não seja
u m capoeira v a l e n t i s s i m o , u m p r i n c e z s e m l a n -
guores f e m i n i n o s , e r e p a r a n o g r a n d e n u m e r o
de m u l h e r e s alegres u s a n d o as r o u p a s de pa-
lhaço q u e ellas d e n o m i n a m de clovis.
T u d o n o m u n d o se e x p l i c a . A m a s c a r a u m
. desvio transitório d a p e r s o n a l i d a d e , u m accesso
que passa e m tres dias de papelão, bisnagas e
côres v i o l e n t a s . A moléstia g e r a l vae-se, m a s
62 CINEMATOGRAPHO
tão d i r e c t a . P e n s a m d o m e s m o m o d o , a g e m
do m e s m o m o d o , t ê m a m e s m a r o u p a e a s
mesmas frases. V e s t i r e g u a l é p a r a elles o
s u p r e m o grão, a u n i f o r m i d a d e i n t e g r a l . H a
annos conheci u m sujeito que i m i t a v a o falle-
cido O r l a n d o Teixeira, e andava d e h o m b r o
derreado, tossindo, escarrando, falando rouco
c o m a r e s d e t i s i c o só p a r a s e p a r e c e r c o m o
m a l o g r a d o p o e t a . E n a s r o d a s literárias, d e q u e
é s e m p r e p r u d e n t e f u g i r , já v a r i a s vezes t e n h o
e n c o n t r a d o t r e s o u q u a t r o Piaues c o n v e r s a n d o
c o m c i n c o o u seis G r a ç a A r a n h a s d e p a n c a d a .
O s d e s c o n h e c i d o s , o s a n ô n i m o s são o s q u e
r o u b a m c o m medo. N ã o pedem emprestado,
s u b t r a e m , e vão p e l a s r u a s f i n g i n d o d o t i p o
q u e c o p i a m , satisfeitíssimos m a s p r o m p t o s a
d o b r a r a p r i m e i r a e s q u i n a se são d e s c o b e r t o s .
O u t r o dia,, e u v i p e l a m a n h ã d e c h a p é o d e
• castor cinza, sapato b r a n c o e r o u p a d e b r i m ,
o c a r i c a t u r i s t a C a l i x t o . E r a elle, n ã o h a v i a d u -
vida. Calixto i a devagar.
Chamei-o, m a s a o p r i m e i r o apello C a l i x t o
apressou o passo. A p r e s s e i o m e u t a m b é m , cha-
mei de novo e c o m grande pasmo v i Calixto
correr, enfiar n u m tilbury. Que tal, hein ? Que
desaforo ! D u a s horas depois encontro Calixto
de p r e t o c o m chapelão p r e t o .
— M e n i n o , você h o j e está extraordinário.
A i n d a h a p o u c o cie b r i m , n ã o q u e r e n d o c u m p r i -
mentar-me; a g o r a de preto...
— H a e n g a n o , h o m e m . S a i o a g o r a d e casa...
66 CINEMATOGRAPHO
h e r e d i t a r i e d a d e , u m a v e n t u r o s o . D e p o i s de Pe-
dro A l v a r e s C a b r a l , não i m a g i n a q u a n t a gente
tem descoberto o B r a s i l . . .
O S r . J u s t i n o M o r e i r a e r a evidentemente
u m o r i g i n a l e u m h o m e m de r e l a t i v o espirito.
Convidei-o a t o m a r café. A c e i t o u simplesmente
e, s o r v e n d o a v a l o r i s a d a r u b i a c e a , c o n t i n u o u :
— E u conheço u m c r e o u l o d a B a h i a que teve
u m d i a a f a n t a s i a de v i r a pé do caes Dourado
ao l a r g o d a C a r i o c a . C o m p r o u e m S. Salvador
cerca de c e m m i l réis de a r t i g o s de biscuit e se-
g u i u para V i l l a N o v a da Rainha e desta para
Joazeiro. Depois ganhou a margem do São
F r a n c i s c o até P i r a p o r a . Levòu c i n c o e n t a e cinco
dias a p a s s a r pelas povoações q u e m a r g e i a m o
f a m o s o r i o , s e m t e r u m d i a de c h u v a ; passou
p o r todas as estações d a C e n t r a l c, ao cabo de
sete mezes, alcançou a s u a méta, t e n d o n a algi-
b e i r a o i t o contos de réis !
— O i t o contos ? (recuei a cadeira, l a r g u e i a
c h i c a r a ) . O u nós e n t r a m o s n o d o m i n i o das his-
t o r i a s árabes o u diverte-se c o m n o s c o !
— Os o i t o c o n t o s não e r a m p r o d u c t o da mer-
c a d o r i a ; e r a m o r e s u l t a d o d o j o g o d o caipira, o
t a l de — quem mais bota mais tira, e d o Sete da
Bahia, q u e o n e g r o e x p l o r a v a simultaneamente.
— Então... o j o g o ?
— Grassa v i o l e n t a m e n t e e n t r e as gentes dos
povoados. E u conheço m e s m o a l g u n s jogadores
que a d o p t a r a m o sistema das v i a g e n s : L u i z Ita-
CINEMATOGRAPHO 71
antigo cônsul da D i n a m a r c a ) t i v e o d e s p r a z e r
de encontral-o f u r i o s o . A s s i m que, c o m p r u -
dência e c o n f o r t o , e u me afundei num vasto
d i v a n da sua sala de f u m a r , Azevedo, antigo
cônsul da D i n a m a r c a , d e s a b a f o u :
- Oh ! os filhos ! os filhos ! Meu amigo,
mate-se, mas não tenha filhos. E' preferível
morrer !
Deus misericordioso ! Seria possível que
Azevedo, c o n s e l h e i r o , r i c o , feliz, a n t i g o cônsul,
com dois filhos desempenados e cinco rapari-
gas tão l i n d a s q u e e r a p a r a j u l g a r cinco as g r a -
ças r e d i v i v a s , seria p o s s i v e l m e s m o q u e a s s i m
fosse a m a r g u r a d o pela próle ?
- N ã o é pela próle, é só pelos m e n i n o s !
b e r r o u elle, A s m e n i n a s são u n s anjos, os r a -
88 CINEMATOGRAPHO
sem t o r c e r o n a r i z e a sua m a n i a é t o m a r o
p u l s o á ama.
A s próprias m e n i n a s e n t r a v a m nessa propen-
são n a c i o n a l . U m a vez q u e e u t e n t a v a a voca-
ção de contínuo do G y m n a s i o , c o n t e i fazendo
exames de preparatórios, sessenta m e n i n a s que
se d e s t i n a v a m ao d o u t o r a m e n t o , abandonando
a c o s t u r a pelos autos e os d i r e i t o s do l a r pela
arte de f o r m u l a r e pela álgebra.
U m compensação, a c o r r e n t e poética era tão
intensa q u a n t o a d o u t o r a i . D u r a n t e dois mezes
em que me exercitava c o m o r/arçon de café,.
no B r i t o , c o n t e i de p a s s a g e m pelas mesas re-
c i t a n d o poesias, p e l o m e n o s dez m i l poetas, que
o s c i l l a v a m entre os dez e os q u a r e n t a annos de
edade.
Que f a z e r ? S e r poeta o u d o u t o r ? N ã o seria
eu o p r i m e i r o garçon q u e resolvesse alçar-se a
esses títulos de c o l l e g a de Virgílio, de M i g u e l
do Couto, do F r o n t i n o u do c o n s e l h e i r o Ruy
Barbosa. Mas e u t e n h o escrúpulos e a con-
fusão e r a g r a n d e : Q u a n d o eu c h a m a v a u m ca-
v a l h e i r o de poeta, elle d i z i a :
- Poeta, eu ? E u s o u d o u t o r ! Poesia é d i -
• versão...
E se atacava o u t r o :
— O s e n h o r é u m b a c h a r e l de m ã o cheia !
- Qual ! respondia o homem, bacharel é
a f a t a l i d a d e . D e vocação s o u poeta.
O m e u caso é idêntico ao do G u e r r a J u n -
CINEMATOGRAPHO 99
s
O barracão das r i n h a s
— A balança é p a r a p e s a r o s g a l l o s . E s t e
gênero de diversão t e m o s seus habitués d i s t i n -
ctos. Olhe, p o r e x e m p l o , o e x . sr. g e n e r a l P i -
mo
— Acha ?
— Acho, sim.
- Pois os circos gallisticos estão muito em
moda na Hespanha.
— Que tenho eu com isso ?
— E o general Machado gosta.
Não discuti. O sujeito desaparecera. No
circo ires, ia começar outra lucta. Mas muita
gente sahia — os proprietários dos ex-valiosos
gallos, o poeta das Ondas, o general Pinheiro.
Rompi a multidão a custo, e, já na rua, encon-
trei de novo o cidadão informante que cami-
nhava gravemente atraz da poesia e do senado,
carregando o gallo sem bicos.
— Era seu o animal !
— Não senhor. Eu venho ás rinhas para
comprar os ((bacamartes». Este seu bico valia
duzentos mil réis ha duas horas. Comprei-o
por mil e quinhentos réis e cômo-o ámanhã ao
almoço. O sr. não gosta de gallos?
- Muito, principalmente dos gallos que se
limitam a anunciar a madrugada e a fazer
ovos,
E com o s u j e i t o do gallo, logo atraz do
poeta- d a s Ondas e do vencedor dos pampas,
deixei para todo o sempre a sensação feroz d o
barracão das rinhas. Tinha ganho o meu dia.
Entrevira o sport de manhã em toda a cidade
— se o Bloco foi até a o s sp.orls, ou não acabar
grandes intuitos políticos antes da victo-
os s e u s
ria definitiva de qualquer sport.
A valorisação d a s p a l a v r a s
— Tenho razão ?
— O senhor ou é doido ou é um admirável
observador.
— Sou doido. Admirável, observador é toda
a gente. Posso então tratal-o com sinceridade?
— Pôde.
Saltámos. A estação estava cheia. O cava-
lheiro agarrou-me da m ã o .
— Adeus, patife !
— Adeus, infame !
E cada um de nós, depois desse desabafo
intimo e valorisador, mergulhou na. sociedade
— onde as palavras de elogio começam a per-
der a sua antiga significação
O d i t o d a crua»
9
CINEMATOGRAPHO 125
Havia indiscretos:
Oh! quanto prazer te deu
Meu coração inflammadol...
r e c i a v i v e r n a e s t r i d u l a illuminação do
music-hall, u m a illuminação v i o l e n t a de lâmpa-
das electricas e m candelária pelas duas faces e de
holophotes escandalosos q u e i n v e s t i g a v a m e a l a -
n h a v a m a s o m b r a do square de s e g u n d o em
segundo. A' p o r t a , e n t r e a e n t r a d a p a r a o j a r -
d i m e u m b r i c o e t e e s t r e i t o onde se installára o
bilheteiro, a multidão acotovellava-se n e r v o s a
e f e b r i l : rapazes de sport, de c a r n e e s p l e n d e n t e
e grandes gestos, s u j e i t o s c o m c a r a de azaris-
tas, b u r g u e z e s pacatos, cocottes do a l t o t r a f i c o ,
fufias com os boas magros a escorrer pelo
pescoço, s u j e i t i n h o s c u j o m o r a l o s c i l l a e n t r e o
miché e o a m a n t e grátis. D e n t r o , a b a n d a m i -
l i t a r s a c o l e j a v a a s a r a b a n d a do cake-walk e t o -
dos os sons m e t a l l i c o s da banda pareciam em
i n t i m a correspondência c o m as c r u a s n o t a s d a
146 CINEMATOGRAPHO
t i , o q u e será d e m i m ? L e m b r a - t e d o s d i a s q u e
passaste a o l a d o d a t u a escrava...»
E r a lamentável e i d i o t a . O l u t a d o r e s t a v a
emocionado.
Mas ouvia-se o r e t i n i r das c a m p a i n h a s cha-
m a n d o o p u b l i c o a o r e c i n t o , e elle, c o m o r e s -
p o n d e n d o ao n o s s o o l h a r c r a p u l o s o , d i s s e ape-
nas, m e r g u l h a n d o a c a r t a e n t r e as o u t r a s , q u e
n a t u r a l m e n t e l h e t r a z i a m paixões e s c a l d a n t e s :
— Tão boa ! Tão boa !
E foi-se. N ó s , g u i a d o s p e l o s e c r e t a r i o d a em-
presa, s u b i m o s ao c a m a r o t e .
O hall r e v e r b e r a v a n u m incêndio b r a n c o .
V i n t e l â m p a d a s elétricas d e r r a m a v a m d o a l t o
uma l u z egual e cegadora. N a galeria, a m u l t i -
dão a n c i o s a , — h o m e n s , m u l h e r e s , h o m e n s co-
l a d o s aos b a l a u s t r e s — p a l p i t a v a . N o s c a m a r o -
tes, n a platéa, u m a agitação d e v e s t o n s , d e
chapéus de p a l h a , d e gazes, de t u l e s , d e c o r e s
claras, de c o r p o s o n d u l a n t e s d e m u l h e r e s , e p o r
todas as dependências d o c i r c o , a palpitação
dos g r a n d e s a c o n t e c i m e n t o s , e m q u a n t o n o t a -
blado, o g y m n a s i a r c h a , o juiz, g o r d o , c o m u m a
barbinha em bico, apresentava os lutadores e
os g o l p e s p r o h i b i d o s .
A musica tocava. O s tremendos homens
apresentavam-se nus, apenas c o m u m leve cal-
ção n e g r o a l h e s r e s g u a r d a r o b a i x o v e n t r e . O
•publico b a t i a p a l m a s . O barão, c a l m o , l i m p a n -
do o m o n o c u l o , d a v a - m e informações:
11
150 CINEMATOGRAPHO
p r a z e r a q u e o p u b l i c o , c o m d e l i r i o , se e n t r e g a :
o theatro !
S i m ! o t h e a t r o . P a r e c e incrível, m a s é ver-
d a d e . M e s m o n o m o m e n t o e m q u e o s actores
n a c i o n a e s se q u e i x a m d a ingratidão d o p u b l i c o ,
m e s m o neste m o m e n t o , o s theatros rebentam
de g e n t e , c o m a s s a l a s a b a r r o t a d a s . A scena é
l u g u b r e m e n t e cômica. A o p r i m e i r o a n u n c i o
das a n d o r i n h a s estrangeiras, os m a m b e m b e
que f u n c i o n a v a m hesitantemenle, tiveram u m
d e s m a i o ; á c h e g a d a d o b a n d o , r e c u a r a m espa-
v o r i d o s e a g o r a a b a n d o n a r a m t o d o s o s postos,
n u m a confessada derrota, cheia d e resentimen-
tos m c o m p r e h e n s i v e i s . E, e m q u a n t o a m a i o r
p a r t e a b a l a p a r a a peregrinação e s t a d u a l , —
c a d a c a s a d e espetáculos o f e r e c e p e r m a n e n t e -
m e n t e o espetáculo d e u m a e n c h e n t e e g a n h a
dinheiro a zarzuela, g a n h a m dinheiro o drama
e a o p e r e t a i t a l i a n a , g a n h a m d i n h e i r o a s por-
luguezas.
P o r q u e ? O s a r t i s t a s n a c i o n a e s queixam-se;
os a r t i s t a s n a c i o n a e s t ê m o a r d e q u e o p u b l i c o
e l e v a o s e u f r i v o l i s m o a s e r i m p a t r i o t a , e é caso
p a r a p e r g u n t a r se h a razão p a r a t a l p r o c e d i -
m e n t o p o r p a r t e d o s freqüentadores d o s thea-
t r o s . E, q u a n t o m a i s o b s e r v o , m a i s m e certifico
de q u e é o p u b l i c o o único a t e r razão.
Q u e d e s e j a q u a l q u e r p e s s o a q u a n d o v a i ao
t h e a t r o ?" O m e s m o q u e q u a n d o v a i a o restau-
rante a o a l f a i a t e o u a o b a r b e i r o , c o m o q u a l i d a -
CINEMATOGRAPHO 157
p u b l i c o v i u u m a c o u s i n h a m o d e s t a m a s nova e
c o m p e n s o u l o g o . Q u e se íaz n a e m p r e s a e m que,
se h a v i a a C i n i r a c o m v o n t a d e d a novidade,
h a v i a n o a r c h i v o o l i b r e t o d o Rio Nú ? P a r a cor-
r e s p o n d e r á b o a v o n t a d e d o s freqüentadores,
t o m e Gran-Via, c o m s c e n a r i o s velhos e sem
ensaios, t o m e Joven Telemaco, t o m e Tim-Tim,
t o m e Capital Federal c o m tres coristas apenas!
H a q u a r e n t a a n n o s o nosso repertório dra-
mático é o m e s m o . H a q u i n z e é o mesmo o
nosso repertório leve. O s artistas a n t i g o s e fei-
tos n ã o se q u e r e m d a r ao t r a b a l h o de estudar
peças novas, e os a r t i s t a s novos, s e m escola,
s e m e n s a i a d o r , s e m d i s c i p l i n a , têm p o r ideal
f a z e r os p a p e i s d a s peças velhas c o m o con-
f r o n t o . D e m o d o q u e a h i temos, c o m excepção
da s r . L u c i l i a Peres, q u e r e s o l v e u confrontar-
a
© CAVALHEIRO (|ue a t e n t a m e n t e l i a o j o r n a l ,
e r g u e u os olhos, s u s p i r o u e disse:
— Você, é u m c r u e l !
— P o r que, c a v a l h e i r o ?
— P o r q u e é. V o c ê l e v a a f a l a r m a l d o s
grandes trabalhos nacionaes, escolheu a posi-
ção c ô m o d a d e n ã o sêr c r i t i c a d o . A h ! você v a e
p a g a r c a r o . D i z e m q u e você está a r r a n j a n d o
c o m o u t r o c o l e g a u m a pilhéria e m 1 a c t o p a r a
u m t h e a t r o de trololó. P o i s b e m . O u você es-
creve u m a tragédia s h a k s p e a r e a n a , o u t e m
ahi t o d a a c r i t i c a a a t a c a l - o .
— Mas porque, cavalheiro ?
— P o r q u e você é i n c l e m e n t e .
0 cavalheiro dizia a q u i l o depois de t e r l i d o
a l e n t a m e n t e o j o r n a l . Mas, s o r r i a . E e u p e r c e -
bendo que o amável h o m e m e r a i n c o n t c s t a v e l -
a i e n t e u m a p a r t e d a opinião p u b l i c a , t o m e i - l h e
o braço e f u i a n d a n d o c o m e l l e . .
170 CINEMATOGRAPHO
— Acompanho-o, excelentíssimo.
- Sc quizeres, deixo-lc á poria do general
Pinheiro.
.Gnatho esticou-se no carro.
i— Não, não precisa. Eu não sei mesmo se
lenho relações com esse general. Depende, de-
pende muito. Não ria. Eu explico. Esse general
é antes de tudo um produto meu. Póde-se dizer
que eu lancei o blufl do Bloco. Diga-me o exce-
lentíssimo que seria o general Pinheiro Machado
sem presentes cie gaios, mandados por uma
porção de pessoas, aliás fiadas umas nas outras,
desde o filosofo mais elegante ao poeta mais
ardente ? O general Pinheiro seria exatamente
o general Pinheiro sem presentes de gaios?
Diga !
— Com franqueza, os presentes de gaios
eram realmente...
— Ora bem. Quem mandava os presentes?
A lisonja virilisada neste paiz com o nome de
engrossamento, eu, afinal, eu, Gnatho da Con-
ceição, para o servir ! Ha mais, porém. Que
seria o general Pinheiro sem manifestações,
bandas de musica e cliscürseira e landau e pres-
i d o e illuminação a giorno sempre que voltava,
mesmo que fosse de Nictheroy ? O excelentís-
simo deve ter a mesma opinião. O general assim
era um pinheiro sem ramos, um pinheiro hi-
bernai.
— Devo dizer-te, caro Gnatho, que começas
a ser má língua.
CINEMATOGRAPHO 181
— E' verdade.
— Nós precisamos explicar as coisas. Para
que brigas? Para que tantas complicações?
Não ha duvida que o nosso carissimo amigo
i larlos Peixoto...
— Você já é amigo ?
— Ainda não, mas serei... O nosso eminen-
tissimo Carlos m u r c h o u a crista do velho.
— Que expressões, Gnatho !
— Aprendi-as com o Pinheiro, excellentissi-
mo. Para que insistir, porém ? O Pinheiro ain-
da serve. Que bellos jantares ! Que discursos
sobre os destinos da pátria ! Que fumo goyano !
0 general tem de todas as cores, u m arco-iris
de tabaco. Ora, podiamos entrar numa com-
binação, e os partidos não balançariam a esta-
bilidade da nação com oposições nefastas. O ge-
neral recuou, p o r isso. E u não v o u lá com
medo. Não ha mais ninguém. Queria então
definir a minha posição.
— Que desejas t u , Gnatho ?
— 0 Pinheiro, coitado! é u m bom velho.
Mas precisamos ter o coração desanuviado.
— Desanuvia-o !
- O excellentissimo era capaz de fazer o que
eu peço ?
— Fala sempre.
Gnatho curvou-se para m i m cheio de ter-
nura :
— 0 excellentissimo é uma flôr ! Então man-
184 CINEMATOGRAPHO
Deante de u m A i u o e d o é fatal e x c l a m a r :
— Que pena não t r a b a l h a r m a i s !
Deanie de u m P a r r e i r a s não passa da frase:
— A f i g u r a é fraca, m a s que p a i z a g e m !
Deante dos q u a d r o s d e L a t o u r , a i n d a n ã o
havia a frase feita: E e r a isso que i m p r e s s i o -
aava como a p r i m e i r a n o v i d a d e — a p r o c u r a d a
classificação fácil e c ô m o d a p a r a u m t a l e n t o que
chega. E u m t a l e n t o que chega, não a r r a n j a d o
pela proteção amiga, m a s v i g o r o s o , i n d i v i d u a l
e ,iaposto pelo seu próprio v a l o r .
Que artista c o m p l e x o esse ! N o seu salon
ha mais de setenta t r a b a l h o s , g r a n d e s télas,
pequenas télas, paizagens, composições filosófi-
cas, alegorias, retratos, fantasias, c a r i c a t u r a s .
E e m cada pedaço d e p a n n o e n q u a d r a d o sen-
te-se a marca, a empreinte d o artista, esse quid
especial que faz p a r a r , faz e x c l a m a r : — h e i n !
ha a q u i q u a l q u e r coisa ! e que é no f u n d o a cor-
respondência eletiva do B e l l o , a c o r r e n t e miste-
riosa que fixa p a r a u m sentimento p e r s i s t e n t e
da alma, o gesto fugace da v i d a e a ondulação
brevissima da natureza. C o m e ç o pela c a r i c a t u r a
meio ingleza dos Touristes em Roma, s e m o
cuidado d e s e g u i r o c a t a l o g o : e dessa v e r g a s t a
bufa os meus olhos p a s s a m p a r a a simbolisação
da Inveja, u m h o r r o r d e h a r p i a pávida e m de-
sesperado a m b i e n t e a m a r e l l o , contrahindo-se
c o m o m e d o o d i e n t o de vêr a v i c t o r i a dos o u -
tros, d i l a t a d o o olhar, s a n g r e n t a a face. D e a n t e
188 CINEMATOGRAPHO
d a figura u m f r i o v o s c o r r e a e s p i n h a , c o m o
d e a n t e d o Veneno o u d a q u e l l a ensangüentada
Cabeça de S. João Baptista q u e H e l i o s S e l i n g i r
faz a p r e s e n t a r p o r u m braço f a t a l d a o b s c u r i -
d a d e d o N a d a . S ã o d u a s impressões i n t e g r a l -
m e n t e d i v e r s a s . L o g o d e p o i s h a o u t r a , a das
g r a n d e s composições, c o m o a Soror Materna, e m
q u e d o m i n a a n o t a u m p o u c o b a n a l d o senti-
, mentalismo socialista.
M a s essa p a s s a g e m , q u e m e r e p o u s a d a f u n -
d a b e l l e z a trágica d a Inveja, l e v a - m e ás paiza-
gens e aos retratos de mulher, e L a t o u r é prin-
c i p a l m e n t e o p a i z a g i s t a d e l i c a d o e o s u b t i l re-
t r a t i s t a f e m i n i n o , c a s a n d o c o m o m e s m o refi-
n a m e n t o o e n c a n t o d a n a t u r e z a e o encanto
perturbador da mulher.
C o m o p a i z a g i s t a , L a t o u r , q u e n o s surge
a b s o l u t a m e n t e s e n h o r d a t e c h n i c a , t e m u m a con-
cepção d e a r t e m u i t o e s p e c i a l , sente a n a t u r e z a
i n t e n s a m e n t e , c o m u m a visão própria, m a s atra-
vés d e u m t e m p e r a m e n t o f r a n c e x . E f r a n c e z mo-
d e r n o . A s u a p a s s a g e m p e l a Itália f o i a d e u m
prix de Rome d a E s c o l a d e B e l l a s A r t e s de
Paris, bastante forte para apreciar, admirar,
aprender, s e m a m o l d a r o seu temperamento á
i n f l u e n c i a i t a l i a n a — i n f l u e n c i a contemporânea,
está b e m d e vêr. A p a i z a g e m t e m u m a a n i m a -
ção p a r t i c u l a r , é u m m o m e n t o d a n a t u r e z a , u m a
expressão fixada c o m u m e l e m e n t o tão j u s t o e tão
i n t i m o q u e t e m q u a l q u e r c o i s a d e psicológico.
CINEMATOGRAPHO 189
d e i x a de p e n s a r n u m a r r a n j o d o p i n t o r c o m o
m o d e l o f i r m e , a l i , h o r a s e h o r a s , p a r a crêr que
e l l e viu a s c e n a e a s e n t i u c o m o n o b o m t e m p o
d o i m p r e s s i o n i s m o f a r i a m p o r s e n t i l - a Manet,
Degas ou Prssarro.
E q u a n d o a p a i z a g e m desaparece e ficam
a p e n a s o s m o d e l o s , a h i t e n d e s o m a i s encan-
t a d o r r e t r a t i s t a f e m i n i n o d à geração m o d e r n a .
E' t u d o q u a n t o h a d e m a i s aristocrático e de
mais delicado.
Sente-se a i n f l u e n c i a d o v e l h o C a b a n e l atra-
vés d a i n f l u e n c i a d o n o s s o g r a n d e A m o e d o ?
Sente-se t o d a a a c u m u l a ç ã o d e observações de
r e t r a t o s de m u l h e r d o s a r t i s t a s de n o m e a d a da
F r a n ç a — H e n n e r , B o u n a t , W e n c k e r até os
m a i s m o d e r n o s , esse admirável d a G a n d a r a , o
c u r i o s o Zo, o psicológico W a t e l e t ? Sente-se
q u e L a t o u r , o p o r t a d o r d e u m n o m e varias
vezes notável n a a r t e , é u m d o s élos d o s en-
feitiçados d a g r a n d e m a r a v i l h a t e r r e n a q u e é a
Vlulher ?
S i m ? Póde-se d i z e r q u e e l l e e s t u d o u o s ar-
t i s t a s , póde-se d i z e r q u e e l l e é u m d o s envoulés
n ã o s e i se d e E v a , p e r s o n a g e m d e c a d e n t e e pot-
au-feu, m a s d e L i l i t h , d e S a t a n i a q u e n o s d e u
a r o n d a s e d u t o r a das m u l h e r e s d'agora. Enfei-
tiçado, p o r é m , enfeitiçado d o s g e s t o s , d o s ador-
nos, d e t o d a s as b e l l e z a s i n ú m e r a s e e n v o l v e n -
tes d e c a d a m u l h e r , e l l e p o z s e u s g r a n d e s r e -
c u r s o s t e c h n i c o s e a s u a a l m a a o serviço d e
CINEMATOGRAPHO 191
— T e m família ?
— A i ! a mãe... m i n h a mãe.
I n t e r r o m p i a autoridade com uma .curiosi-
dade imprevista.
— Ha quanto tempo é voce carroceiro ?
— Ha muito... desde criança... ha dez annos,
paia a m ã e que é viuva.
E de repente em pranto:
— A i ! a minha vida, que v o u perder o em-
prego, a i ! que não trabalho mais...
Essa criança moída de trabalho para uma
criatura miserável que era a sua mãe, empas-
'tada de sangue, nunca mais me saiu da retina.
A outra foi n u m bonde da Saúde, á noite.
No bonde deserto vinham tres trabalhadores das
Obras do Porto, a conversar.
— 0 João m o r r e u hoje.
— 0 caixão caiu e elle afundou.
— Conte-me lá isso, i n t e r v i m eu. *
— Sei lá ! Mais o u menos todo o dia m o r r e
um. Que quer? E' preciso.
E era verdade. Nem os jornaes davam noti-
cia, nem é possivel dar. Morrem nas pedreiras,
morrem na estiva, m o r r e m no minéreo, m o r r e m
sob as carroças, u m hoje, ámanhã outro. E'
fatal. Só quando m o r r e m muitos é que se fala.
Quando morrem o u quando fazem gréve —- por-
que o trabalho interrompe, o patrão dá o su-
premo desespero e a sociedade sente falta.
14
198 CINEMATOGRAPHO
*
204 CINEMATOGRAPHO
E il piciolflore,confuso e vergognoso,
Ove nessun la vide, si nascose
E guarda il cielo ove dimora fddio '
E dice a tutte Vore:
— Non té scordar di me, povera flore!
E em italiano:
A lista d o H o s p i c i o não é, e n t r e t a n t o , só de
poetas q u e ficaram m a l u c o s d e t a n t o amar. Ha
CINEMATOGRAPHO 209
As navalhas do barbeiro
Estão mui cégas e embotadas.
E as epidermes dos malucos
Quasificamesfoladas.
etc.
10
a
mil exemplares serão pagos pelo autor si por ven-
tura a dita obra não for a escolhida pelo publico res-
peitável das 5 partes do mundo.
"0 autor precisa não receber quantia alguma„.
c o m a q u e l l a q u e i x a d a de l o b o e s f o m e a d o , cher
con$rère, e d a n d o - s e a r e s d e t e r d e s c o b e r t o o
B r a z i l ! E' h u m i l h a n t e ! A f i n a l d e c o n l a s , é h u -
m i l h a n t e ! A p r o p a g a n d a d e v i a s e r feita e m e n -
Lrelinhâdos n o s j o r n a e s d a s províncias d o s p a i -
zes q u e e m i g r a m .
— M a s o P a u l a Ramos...
— La propagainde de For ? c o m u m p r e s i -
dente q u e não sabe b e m trance/. ? O h ! cher con-
frerc'.E u p o d e r i a a j u d a r o g o v e r n o deste j o v e n
pai/, c o m u m a s idéas q u e b r e v e e x p o r e i a o
liarão...
Outro, encontra a gente, e l o g o :
-O D o u m e r , você v i u ? A q u e l l e cacete —
(elles d i z e m / ove///- e eu I r a d u z o cacete c o m u m a
i m e n s a v o n t a d e de e m p r e g a r o s u p e r l a t i v o q u a n -
do me l e m b r o d a s c o n f r e n c i a s cio g e n i a l A c c a -
cio do I n d o - C h i i i a ) — não v i u n a d a e v a e escre-
ver d o i s v o l u m e s a r e s p e i t o d o v o s s o p a i z ! Q u e
desastre ! Será v e r d a d e q u e D o u m e r v a e f u n d a r
um j o r n a l c o m f u n d o s b r a s i l e i r o s ? Q u e e r r o !
que imenso e r r o ! A h ! cher con\rere ! E u , e n -
t r e t a n t o , l i n h a u m a idéa. Q u e p r e c i s a m vocês?
De c a p i t a l ! O r a , e u c o m a s relações d e q u e
disponho na Bolsa, poderia...
Mas l o g o o u t r o a g a r r a - n o s n a p r i m e i r a es-
quina.
— T e m o s então a h i o Destez!... A h ! cher
, on$rère !
— 0 Deslez, p o r é m , s a b e coisas, t e m o s e u
nome todo o d i a nos j o r n a e s de Paris..,
228 ClNliMATOORAPHO
é uma v e l h a casa em r u i n a . E u , q u e ha
minto l e m p o não v i a f r e i L u i z Piazza, me per-
m i t i r a incomodal-o á h o r a da sua m o d e s t a r e -
feição, e, pela p r i m e i r a vez a c o l h i d o c o m o só
os bòns sabem acolher, passeava pelos c o r r e -
dores e salas do vetusto casarão. O a r l a v a d o e
puro e n t r a v a pelas janellas, e t u d o e r a tão p o b r e
que c o n f r a n g i a a alma. N e m o o u r o de u m a
m o l d u r a , n è m a belleza histórica de u m movei
antigo, nada que denotasse sequer a simples
satisfação b u r g u e z a . A p e n a s catres, d u r o s ban-
cos de páo, mesas de p i n h o , g r a v u r a s e p i n -
turas edificantes p e n d u r a d a s das paredes, em
caixilhos d e s c o n j u n t a d o s . N a cella do s u p e r i o r ,
unia e s c r i v a n i n h a modesta, o grábato e u m cru-
c i f i x o ; na b i b l i o t e c a , l i v r o s santos, m a l encader-
nados; no j a r d i m , rosas q u e f l o r e s c e m e n t r e
çouves e alfaces, ao l a d o de u m tanque onde
232 CINEMATOGRAPHO
me cheio de enthusiasmo:
anuncia-
O a u x i l i a r l i m p o u o bigode.
— Está direito.
Desceu o estrado, meteu-se na gaveta dos
cartões, remexeu.
— Não temos.
— Não é possivel. N ã o ter os Chatiments do
grande Hugo, de V i c t o r Hugo...
— Só ha Os Miseráveis e em italiano.
— Hein ? E u já l i aqui os Miseráveis em por-
tuguez.
— Está enganado.
— Não estou.
— Hom'essa ! o senhor começa a ser imper-
tinente. Duvida? pois venha vêr...
O mocinho precipitou-se, meteu o nariz na
gaveta e a sala v i b r o u logo com a sua voz vio-
lenta:
— Ora ! tenho o u não tenho razão ! O senhor
eslava procurando V i c t o r Hugo na letra U...
E tudo isso continúa ! Continua o F. I . C,
continua o Ganot, continuam os estudantes, os
íntimos, continúa a Rainha Margot.
Émquanto o funcionário falava, * eu medi de
alto a baixo as paredes forradas de volumes,
olhei fixamente a capa velha dos Tres Mosque-
teiros e deplorei do fundo da alma o futuro re-
moto em que tudo aquillo dali tiver de sahir.
Santo Deus ! Que farão os leitores da Biblio-
teca em quanto estiveram a a r r u m a r a outra na
Avenida ?
O c h a r u t o das Filipinas
respostas:
— Que me diz do tratado de Utrecht, que
poz íim em 1713 á g u e r r a de sucessão da Hes-
panha ?
— A h ! esse tratado f o i uma batalha entre
os zulús e os inglezes.
— Por quem f o i descoberta a America ?
— Por Shakspeare, que vivia no reino de
Jorge I I I e f o i assassinado p o r u m 'sujeito cha-
mado Caliban.
E como na America ha religião, u m garoto
indagado a respeito destas tres personagens bí-
blicas: Esaú, Aarão e Isaias, respondeu grave:
— Esaú era u m homem que escrevia fábu-
las. Aarão vendia lentes e acabou d i r e t o r da
Central do R i o de Janeiro City, Isaias era u m
grande profeta que atualmente toca violino...
Disparates? N ã o ! Interpretação. U m me-
nino prodigio começa logo p o r alterar os factos
históricos. A historia é uma fantasia invero-
simil.
Esses meninos, além de historiadores,
odeiam a poesia. N u m inquérito que a respeito
de versos se organisou em certo collegio, ao
contrario do que ainda fazem os anciãos de
quarenta annos no nosso paiz, t e m estas m á -
ximas profundas:
272 CINEMATOGRAPHO
c o l a M i l i t a r e d o z e prédios p a r t i c u l a r e s ; c o n s -
trução d e u m cães q u e c o m p l e t a a A v e n i d a
B e i r a - M a r até fóra d a b a r r a , c o m u m a p o n t e
de c i m e n t o c o m v i n t e m e t r o s d e v ã o ; o u t r a
v
p o n t e d e a l v e n a r i a p a r a atracação d e b a r c a s ,
o a s s o m b r o s o château dCeau, a q u e l l e pórtico d a
m a r a v i l h a q u e é o portão m o n u m e n t a l , o p a -
lácio m a n u e l i n o d e P o r t u g a l , c e r c a d e t r i n t a
pavilhões, o t e a t r o , o s r e s t a u r a n t e s , a s r e d e s
de c x g o t o s e á g u a s f l u v i a c s , a distribuição d a
a g u a e d a illuminação, q u e só p o r s i é u m a
p r o v a d e t a l e n t o e d e a r t e , o calçamento, a a r -
b o r i z a ç ã o — q u e s e i eu, deuses fortes d a H e l -
lada m o r t a ? o a s s o m b r o d a energia, d a ativi-
dade, cia c a p a c i d a d e , o prodígio d e u m a c i d a d e
c r i a d a e m 130 d i a s , o m i l a g r e d a força i n t e l -
ligente !
C o m o n ã o se s e n t i r a g e n t e p a r t i c i p a n d o
u m p o u c o dessa g l o r i a i m e n s a ?
O u t r o r a e r a c h i e e p o d i a t e r a s u a razão
de ser, p o s a r d e p o u c o b r a s i l e i r o , t e n d o o p a -
t r i o t i s m o c o m o u m a espécie d e a t a q u e i n t e r m i -
t e n t e d e j a c o b i n i s m o . H o j e , só q u e m n ã o t e m
a f a c u l d a d e s i m p l e s d e p e n s a r o q u e sente, só
q u e m , e m v e z de s a n g u e , t e m n a s v e i a s o r c h a t a
o u a g u a d e L u b i n , é q u e se pôde c o n s e r v a r
impassível n a q u e l l e r e c i n t o .
P a t r i o t i s m o n ã o é manifestação d e b a n d e i r a ,
nem g r i t o s c o n t r a estrangeiros, q u a n d o elles
afirmam, a sua s u p e r i o r i d a d e ; p a t r i o t i s m o não
290 CINEMATOGRAPHO
é a f a n f a r r o n i c e de ficar e t e r n a m e n t e n a sujeira,
d i z e n d o q u e nós s o m o s u n s h e r o e s , p o r q u e os
voluntários d a Pátria f i z e r a m prodígios na
g u e r r a do P a r a g u a y . P a t r i o t i s m o é demonstrar,
n o c o n c e r t o d a s nações, o s e u v a l o r e g u a l o u
m a i o r d o q u e os o u t r o s , n a i n d u s t r i a , n a arte,
n o p r o g r e s s o . F o i a s s i m q u e se fez a R e p u b l i c a
d o s E s t a d o s U n i d o s : é a s s i m q u e n o s fazemos
nós t e r r a d a A m e r i c a , t e r r a n o v a , terra de
energias novas, terra d e deslumbramento. Na
c i d a d e l u m i n o s a , d e a n t e d e u m a população de
8:500 e x p o s i t o r e s , v e n d o r i q u e z a s q u e n e n h u m
p a i z t e m e I o d a s as ind-uslrias imagináveis, repre-
sentação de d e z o i t o regiões nossas, t e n d o S. Pau-
l o á f r e n t e , c o m o m a i o r e x p o s i t o r , o estran-
g e i r o tourisie v e r i f i c a q u e i s t o é u m p a i z o n d e lia
a l i b r a d o p r ó x i m o domínio de g r a n d e potência,
o e s t r a n g e i r o d o m i c i l i a d o sente-se c o n t e n t e , p o r
t e r e m p r e g a d o a s u a a t i v i d a d e n u m a terra
assim, e o b r a s i l e i r o diz, emfim, c o m orgulho:
— E u sou brasileiro !
O h ! vocês n ã o i m a g i n a m a e m b r i a g u e z d i -
vina de poder dizer civilizadamente, sem o
a v a t a r d a naturaleza e d a g u e r r a d o P a r a g u a y ,
sem a v e r g o n h a da s e l v a g e r i a — a sua naciona-
lidade ! Vocês não p o d e m conceber o prazer
d e l i c i o s o , n a G r a n d e Mágica, de c o m p r e h e n d e r
q u e R i d o a q u i l l o s o m o s nós, q u e t u d o a q u i l l o
é o B r a s i l , q u e a q u e l l a illuminação n u n c a teve
r i v a l e m lodo o mundo, que aquellas industrias
CINEMATOGRAPHO 291
m
i
li
le
pi
hi
t|
II
A c a r t a de um delegado
á Exposição
— Que se ha de fazer?
Muito aborrecido, pensando em t i , abando-
nei um pouco o senador e travei relações com
um viuvo distinto, pae de cinco filhos, que tive
o prazer de conhecer no M o u l i n Rouge, teatro
de variedades, uma espécie de circo, onde le-
vara os filhos para vêr os cachorros sábios. E'
o meu único camarada. Chama-se Júlio Gui-
marães.
Ao demais, o trabalho da Exposição aper-
tava. F o i uma inferneira. A comissão executiva
parece que tem m á vontade com o estado. Os
volumes são os últimos a serem descarregados
e ainda não inauguramos o nosso pavilhão. Que
trabalho o de delegado, minha boa amiga !
Acordo cedo, deixo o Júlio ainda a tomar
café e parto para a praia Vermelha. Júlio, mais
298 CINEMATOGRAPHO
bjeliva e v a g a m e n t e a s t r a l , p a r a dizer c o m o o s
oculistas. O h o m e m da c i d a d e o l h a o b i c h o c o m
uni o d i o secreto, q u a n d o elle é selvagem, e
quando o a m a n s a p a r a fazel-o elemento deco-
rativo e p a r a espancal-o. N a d a m a i s i n s t i n t i v o
do que d a r 'pancada n u m b i c h o feroz, quando
elle está preso. A o v e r u m s u j e i t o m e t e r a ben-
gala pelas g r a d e s de u m a j a u l a p a r a enfuriar
um Leão, l o n g e de j u l g a l - o c o m m a u caráter,
eu a d m i r o o h o m e m q u e a i n d a t e m n o s a n g u e a
fúria do p i t e c a n t r o , c o n t r a os c o m p a n h e i r o s de
floresta q u e e r a p r e c i s o vencer.
De resto é essa u m a das c a r a t e r i s t i c a s da
espécie egoistica. A caça é u m a das faces acen-
tuadas, as o u t r a s vê a gente o u n o s j a r d i n s
zoológicos o u nas exposições de pecuária. N o s
jardins olha-se c o m u m o r g u l h o i n s t i n t i v o :
— [Jm jacaré ! E nós p r e n d e m o s esse b i c h o
perigoso !
U m p o u c o m a i s e lá v a i pedrada, porque
eada u m de nós t e m b e m n i l i d a a certeza de
<pie o jacaré, estando do l a d o de fóra, não se
l i m i t a r i a á pedrada, m a s s a l t a r i a a devorar-nos.
Nas exposições é o p r a z e r de t e r feito o b r a
nossa:
— Que lindo c a v a l l o ! E' c r u z a m e n t o do
inglez com o árabe ? E aquelle zebú ! Q u e
bielião !
N ó s m o n t a m o s o cavallo, sabemos-lhe a fa-
mília, c o n h e c e m o s o p a e d o b o i , d i s c u t i m o s a
304 CINEMATOGRAPHO
a pujança d a q u e l l e s e x e m p l a r e s , t u d o se l i g a v a
p a r a i n f i l t r a r n a s a n e m i a s u r b a n a s e n a s neu-
r a s t e n i a s p r e s e n t e s a «griserie» d e u m a o u t r a
v i d a , o d e s e j o d e t e r m u i t a saúde, d e n ã o co-
n h e c e r p e r f u m e s e f a t u i d a d e s , d e v i v e r c o m o os
I r a t a d o r e s d o r m i n d o no feno, a m a n d o l i v r e -
mente, refocilando c o m o s bichos. A s damas
a i n d a r e s i s t i a m em p a s s a r a m ã o p e l o d o r s o
d o s t o u r o s . O s h o m e n s i a m f a t a l m e n t e d o de-
s e j o a o g e s t o . A s crianças, q u e estão m a i s p e r t o
da n a t u r e z a , p e d i a m . . .
E n t ã o eu, disfarçadamente, d e s c a l c e i as l u -
vas, e e x p e r i m e n t e i . 0 p e l l o e r a m a c i o , d e u m a
s u a v e e inédita m a c i e z . N e m as p e l l e s q u e as
d a m a s a c o n c h e g a m , n e m as g a z e s q u e as ves-
t e m são tão m a c i a s — p o r q u e l h e s f a l t a a v i d a .
F i q u e i p e r t o d e u m zebú c i n z e n t o e gostosa-
m e n t e a c a r i c i e i - l h e a a n c a . O t o u r o voltou-se,
olhou-me pachorrentamente, a d m i r a d o daquelle
ser a r t i f i c i a l , tão c h e i o d e r o u p a s e tão f r a c o .
P a s s e i a o u t r o , q u e n e m se v o l t o u , e c o m o u m
c r i a d o r m e assegurava q u e u m n o v i l h o de dois
mezes e d o m e u t a m a n h o e r a manso, pedi-Uio
que o tirasse d a b a i a — a passeial-o.
A g r a d e c i d o , o n o v i l h o , a o vêr-se l i v r e , es-
t e n d e u a cabeça. A c a r i c i e i - o e e l l e b e a t a m e n t e
e s t e n d e u - a mais, d e m o d o q u e o s e u f o c i n h o
r o s a roçou a m i n h a f a c e p a l l i d a . E e u senti-me
p r o f u n d a m e n t e b o m , tão b o m , tão c o n t e n t e d e
m i m m e s m o q u e p o r lá fiquei até q u e o s o l t r a n s -
CINEMATOGRAPHO 309
m o n l o u , e n a a t m o s f e r a d e a g a p a n t o a s lâm-
p a d a - e l e l r i c a s f u l g u r a r a m . E r a c o m o se t i v e s s e
de n o v o e n c o n t r a d o a v i d a . A h i s t o r i a h u m a n a ,
a h i s t o r i a d a evolução d o s h o m e n s s e m o s a n i -
maes n ã o p o d e r i a s e r c o n t a d a . O s p o m b o s são
o a m o r , o s g a l l o s são o s n a t a e s d a v i d a , a s
aves d o s a r e s a m u s i c a d o v i v e r , o s cães a
defeza, o s b o i s o c o n f o r t o e o b e m p e r p e t u o
da existência. P o r isso J e s u s n a s c e u n u m a es-
t r e b a r i a sob o hálito d e u m b o i , p o r i s s o c o m
a pellè d e u m b o i se fez C a r t h a g o , p o r isso o s
m e r o v i n g i o s s e g u i a m v i t o r i o s a m e n t e e m car-
ros de b o i s .
E n o reslaurant, m a l s e r v i d o , e n t r e a n i m a e s
de calças, c o m i o d o s o s h o r r o r e s q u e n ã o t ê m
os a n i m a e s , q u a n d o o garçon i n f a m e i n d a g o u
se e u q u e r i a u m òeef — o q u e r e s t a v a d o c a r -
dápio — o garçon ficou atônito c o m o m e u o l h a r .
P o r q u e eu, até áquelle m o m e n t o i g n o r a n t e d e
q u e o beef e r a d e u m a n i m a l tão b o m , ficava
a g o r a , só c o m a lembrança d a ignorância, apa-
v o r a d o de tão t a r d e t e r c o n h e c i d o a p o e s i a d e s s a
criação de v i g o r r e s i g n a d o , de b e m e d e pujança
tranquilla...
21
Os snobs e a Exposição
V
314 CINEMATOGRAPHO
e e u ía p o r a l i p e n s a n d o n a m o r a l i d a d e d a s
coisas e assobiando u m t r e c h i n h o d a linda
o p e r e t a Tosca. Tosca o u Bohemia? N ã o s e i
b e m . P u c c i n i é u m gênio tão g r a n d e ( p i e as
s u a s o b r a s se c o n f u n d e m . P u c c i n i o u L e o n c a -
v a l l o ? T a m b e i n ã o sei. D e r e s t o , o f a c t o essen-
c i a l é (pie e u i a a s s o b i a n d o e p e n s a n d o , q u a n d o ,
b e m e m f r e n t e á d e l e g a c i a , u m a vez autoritá-
ria chamou:
— Olá, cidadão !
Cidadão é u m a p a l a v r a i m p l i c a r t t e , cidadão
só p o r d e s a f o r o o u e m p l e n o d e l i r i o r e v o l u c i o
n a r i o , d e p o i s d e l e r e s t r a n g u l a d o q u a r e n t a ho-
mens, E u serei incapaz de m e t e r a chave numa
das c a i x a s d e s o c o r r o m a n d a d a s v i r p e l o ge
n e r a l Antônio G e r a l d o , m e s m o c m caso de
m a i o r perigo, apenas p o r q u e n a l i n h a d o ori-
fício h a eslas p a l a v r a s : — c h a v e , cidadão. V o l -
lei-mc, e n l r e l a n t o , e v i q u e e r a u m c a b o .
— Que temos ?
— O cidadão eslá a r m a d o ?
— Armadissimo.
— Então d e i x e vêr o revólver.
— Q u e m l h e d i s s e q u e e r a u m revólver?
— D e i x e vêr a f a c a .
— A faca !
() h o m e m a p r o x i m o u - s e .
- N a d a d e d e b o c h e s c o m i g o . E' c o n t r a a
lei e s l a r a r m a d o . E se você põe-'-*' c o m pilhé-
rias vae direitinho para o xadrez,
CINEMATOGRAPHO 323
g o t a v e l p a n o r a m a d a indiferença h u m a -
na ! A c o r d o cedo, t o m o u m p o u c o de café c o m
leite l e n d o o s j o r n a e s , q u e t o d o s f a l a m d a t r i s -
teza g e r a l , d a s a u d a d e , d e l a g r i m a s e d e t o c h a s .
A t o c h a d o dessa l i t e r a t u r a inconsciente e banal,
feita de f o c i n h a d a s a o s v e l h o s n ú m e r o s d e a n n o s
anteriores, visto u m f r a c k preto, t o m o u m a r
a l e g r e e v o u p e r c o r r e r o s cemitérios. H a v e r á
passeio m a i s filosófico d o q u e essa p e r e g r i n a -
ção e n t r e as t u m b a s d e p a r e n t e s a l h e i o s ?
(>s t e m p e r a m e n t o s g r a n d e m e n t e s e n s i v e i s são
na v i d a as v i t i m a s d e s s a h i p e r a c u i d a d e d e e m o -
ção. A' s e n s i b i l i d a d e r e f i n a d a c o r r e s p o n d e q u a s i
sempre u m a semi-revolta contra a banalidade
a p a g a d a d a s sensações d o v u l g a r . E u e s t o u c o n -
v e n c i d o d e q u e s o u i m e n s a m e n t e sensível. N a d a
m a i s t r i s t e p a r a m i m q u e u m pic-nic d o high-üle
330 CINEMATOGRAPHO
tniterio c o r e s p o n d e a u m a c e r t a classe. O j o v i a l
cemitério d e C a t u m b y é b e m d o s r i c o s m o r a d o -
res d o H a d d o c k - L o b o e T i j u c a ; o Cajú é v u l g a r ,
é t n i x t o c o m o a C i d a d e Y o v a e as r u a s c e n t r a e s :
tem i m e n s a m e n t e d e t u d o ; o s d o i s o u t r o s d a s
o r d e n s c h e i r a m a S. C h r i s t o v a m ; e h a u m up-to-
date, p o s i t i v i s t a , n e f e l i b a t a e e l e g a n t e : o d e S.
flores n a t u r a e s e t e m c a n d e l a b r o s d e b r o n z e
verde c o m a c e t i l e n e .
— Que acetilene ?
As velas c o m o vento fazem m a u efeito.
E s p e r o q u e v. s. n ã o se esqueça d e m i m .
a
332 CINEMATOGRAPHO
Aqui jaz
Conhecido negociante parisiense,
A sua inconsolavel v i u v a
c o n t i n u a c o m o mesmo
ramo de negocio
Aqui jaz
José Antônio Pereira
Amor conjugai.
A q u i j a z Marocas
A n j o feliz no céo
g r a n d e f r i o e u m g r a n d e m e d o q u a n d o passo
p o r e n t r e as t u m b a s , s e m nome, esquecidas,
anônimas, e s t i c a n d o apenas p a r a a gente u m
n u m e r o que é como u m apello de grilbeta d o
e s q u e c i m e n t o a o p r a z e r de c o n t i n u a r a afirmar
pelo m e n o s n u m e p i t a f i o a p a s s a g e m p o r c i m a
da ferra...
© pavilhão d e P o r t u g a l n a
Exposição
decoradas c a r r a n j a d a s c o m u m s e n t i m e n t o de
gosto, de l u x o e de arle, p o r J o r g e Collaço,
v e r d a d e i r a m e n t e admiráveis. S ó esse h o m e m é
um atestado da vibração s u p e r i o r de u m mo-
mento, pelo s e u talento e pela e n e r g i a do seu
trabalho — porque nesse pavilhão é forçoso
a d m i r a r tanto as o b r a s c o m o a decoração e a
die posições d o s o b j e t o s .
\o p r i m e i r o hall, entraes sobre tapetes
confortáveis. H a télas, ha g u e r i d o n s c o m obje-
los. ha p r e c i o s i d a d e s . L o g o ao f u n d o se v o s
depara o retrato de D. M a n u e l , p i n t a d o p o r
Columbanq, e dos d o i s o u t r o s l a d o s os r e t r a t o s
de D. C a r l o s e de D. Amélia. Mas se o l h a r d e s
os tectos haveis de v o s m a r a v i l h a r c o m q u a t r o
painéis de Collaço e, se o vosso o l h a r descer
um pouco, t o d a u m a sugestão d a g l o r i a de Por-
tugal se v o s deparará n u m f r i s o e n c a n t a d o r de
J o r g e Collaço — u m a fita interminável de cara-
vellas e b a r c o s sobre a o n d a encapellada, p i n -
tada a duas côres. E assim n o segundo, e a s s i m
no t e r c e i r o . A' sáída h a v e i s de t e r a sensação
nitida do r e n a s c i m e n t o d a arte p o r t u g u e z a , de
uma arte que, após u m período de estagnação,
soube a p r e n d e r fóra p a r a se r e v e l a r a g o r a a d m i -
rável e p r o f u n d a m e n t e nacional.
Q u a n t a s télas h a e x p o s t a s ? C e r c a de du-
zentas. O nosso salão g e r a l ás vezes não t e m
344 CINEMATOGRAPHO
tócia de o u t r a m o r t e . E eu eslava v e n d o q u e o
v c n e r a v e l c i v i l i z a d o r c h e g a v a só á Exposição
e, p a r a não p e r d e r o beneficio, d i z i a :
- E u s o u a q u e l l e q u e de u m b a n d o de bo-
rorós fez u m a b a n d a de m u s i c a .
Mas i n f e l i z m e n t e não f o i assim. U m bello
dia e u t i v e a sensação de q u e o p a d r e e os
bororós restantes estavam na cidade.
— V i s t e os bororós ?
— N ã o . índios c i v i l i z a d o s só conheço os d a
professora D a l t r o . S ã o nevrálgicos.
— P o i s os bororós, c o i t a d i t o s ! a n d a m p o r
a h i c o m u m a porção de gente atraz.
S ó então comecei a c o m p r e h e n d e r como
esta cidade é g r a n d e . I n v a d i d a p e l a aldêa bororó,
ainda assim e u c o n s e g u i a t e r a sorte de passear,
de andar, cie m o v i m e n t a r - m e sem vêr u m bo-
roró sequer c o m o a m o s t r a . Mas e m compensa-
ção l i a os a r t i g o s dos j o r n a e s f a l a n d o d a o b r a
de civilização dos salezianos missionários, do
beneficio de estréa q u e a b a n d a f e n o m e n a l ía
dar, e l i a m e s m o n a i n t e g r a , u m a h i s t o r i a l a -
mentável q u e o m e n o r dos g u r y s domesticados
dissera n o p a l c o o n d e a L u c i l i a Péres s a p a t e i a
o seu gênio dramático ao l a d a d o s embezerra-
mentos «smarts» do g o r d a l h u d o Marzullo. O
p a d r e virará os bororós e m c a b o t i n o s e fazia
l o g o o m e n o r p r e c i p i t a r - s e n o vórtice d a o r a -
tória p o p u l a r d i z e n d o cousas m e l l o s a s e néscias
a propósito d a civilização.
352 CINEMATOCiRAPHO
As i n f e l i z e s m e n i n a s d a
Exposição
MA exposição é c o m o u m a e n o r m e p e d r a
atirada n u m grande lago!
Esta frase, d i t a pelo jornalista, depois de
u m l o n g o silencio, fez-nos s o r r i r . Estávamos n u m
canto sórdido da área das diversões, n u m bar
bem de u l t i m a ordem. E não havia motivo
algum para sentença tão concludente e tão
misteriosa.
— E u e x p l i c o . A p e d r a a t i r a d a ao l a g o c r i a
u m a série de c i r c u l o s c o h c e n t r i c o s , q u e se vão
a l a r g a n d o , a l a r g a n d o , até se p e r d e r e m n o acha-
m a l o t e a r das águas. A. exposição é o grande
c a l h a u q u e r e s u m e o i n c e n t i v o da vida, e q u e
ás vezes se c h a m a v a i d a d e e ás vezes.se c h a m a
o r g u l h o . A t i r a - s e a p e d r a . O turbilhão de pe-
q u e n o s c i r c u l o s é o dos e x p o s i t o r e s , q u e se de-
g l a d i a m a vér q u a l b r i l h a mais. Os o u t r o s c i r -
c u l o s m a i s l a r g o s , o das cidades, q u e d e s e j a m
366 CINEMATOGRAPHO
S. P a u l o , Minas, o D i s t r i t o F e d e r a l c o r r e m n a
l o u c a d i s p u t a . E cada u m e x p r i m e bem, n a fe-
deração, u m t i p o de h o m e m e q u a s i u m a raça.
0 D i s t r i t o , n o seu d e l i r i o de vencer, a r r a n j o u ' sa-
lões c o m os m o v e i s e os tapetes do M u n i c i p a l , to-
dos de procedência e s t r a n g e i r a , M i n a s j o g a c o m
S. P a u l o até ao d i a da inauguração. E a B a h i a ,
b e m a B a h i a , c o m p o m p a e d i s c u r s o , começou
l o g o p o r se j u l g a r intangível.
— E S . Paulo?
— Vocês v i r a m as salas de S. P a u l o . S ã o
tantas q u e só p e l o n u m e r o S. P a u l o v e n c e r i a .
Mas ha a afirmação d o h o m e m q u e a i n d u s t r i a
e n e n h u m paiz desta aglomeração de paizes t e m
a i n d u s t r i a de S. P a u l o . Q u a n t o ao pavilhão,
R a m o s de Azevedo, o g r a n d e R a m o s de Aze-
vedo, fez j o i a da Exposição. Mas não d i g a m o s
isto a q u i . O nosso dever p a t r i o t a é acrisolar
bairrismo. O b a i r r i s m o é o desenvolvimento dos
Estados e c o n s e q u e n t e m e n t e d o paiz. Desta de-
sesperada c o r r i d a á e v i d e n c i a h u m a n a e sagra-
da, nasce a e v i d e n c i a da pátria n o e s t r a n g e i r o .
E p a r a este u l t i m o c i r c u l o de expansão é q u e
todos nós estendemos os braços, m o s t r a n d o a
nova.
— L i n d a frase !
— A h ! vocês v ê m á Exposição porque é
um ponto da moda, vêr as crianças a t e n t a r
rir com os t r i s t e s divertimentos do Paschoal
Segreto, jantar o u fivc-ó-clodiar n o P ã o de
370 CINEMATOGRAPHO
— STOU cançado !
N ó s tínhamos c h e g a d o cedo á E x p o -
sição. A v i s i t a fôra d e m o r a d a a m e i a dúzia de
salas. H a v i a m u i t a coisa q u e vêr de u t i l q u e não
se v i a b e m e m u i t a coisa f r i v o l a q u e os exposi-
tores m o s t r a v a m a b u n d a n t e s de detalhes demo-
rados. Depois, fóra h a v i a p o e i r a . N ó s sentíamos
- p o e i r a n a s r o u p a s e nas m ã o s . Sentámos a custo
no bar. E a c o n v e r s a v a r i a d a d a q u e l l a gente
enervava.
— E u cá, d i z i a u m s u j e i t o pançudo, não acre-
dito na i n d u s t r i a n a c i o n a l !
— Mas, Praxedes...
— I n d u s t r i a nossa c o m t u d o de lá ! E' c o m o
. os fósforos. A i n d u s t r i a cifra-se e m m o l h a r o
palito feito lá n a massa f o s f o r i c a t a m b é m fã
feita.
—-E os fósforos de duas cabeças?
as
374 CINEMATOGRAPHO
ONEMATCGRAPHO 375
n u m e r o de h o r a s r e i a l i a d a s em m i n u t o s e se-
g u n d o s q u e u m a população de relógios m a r c a ,
r e g i s t r a e desíia — o p o b r e d i a b o sua, labüta,
desespera c o m os o l h o s fitos nesse hipotético
poste de c h e g a d a q u e é a m i r a g e m da illüsão.
Os q u e assistem, c o m a pressa de acabar, g r i t a m
i n c l e m e n t e s a frase m a i s r e p r e s e n t a t i v a do mo-
mento :
— Está n a h o r a !
()s q u e r e p r e s e n t a m (e são os mesmos) tem
no cérebro a idéa f i x a :
— E' a h o r a ! V a e c h e g a r a hora...
fins acabam pensando que encheram o
tempo, q u e o m a t a r a m de vez. O u t r o s desespe-
r a d o s vão p a r a o h o s p i c i o o u p a r a os cemité-
r i o s . A c o r r i d a continúa. E o T e m p o também,
o tempo insensivel e incomensuravel, o T e m p o
i n f i n i t o p a r a o q u a l t o d o o esforço é inútil, o
T e m p o q u e não acaba n u n c a ! E' s a t a n i c a m e n t e
d o l o r o s o . M a s q u e f a z e r ? A c e n t u a r a moléstia,
passar a d i a n t e l o g o e r e c o r d a r , nestas noites
l o n g a s - l o n g a s ? N ã o ! Brevíssimas ! — de mais
o b o m t e m p o de a n t a n h o e m q u e os nossos avós,
sem relógios assegurados, s e m a pressa de aca-
bar, n o s p r e p a r a v a m este presente v e r t i g i n o s o
c o n i t e m p o a i n d a p a r a v e r i f i c a r c o m o os dias
a u g m e n t a v a m o p u l o de u m gato, o passo de
s a r g e n t o o u o f a r t o j a n t a r de u m frade...
FIM
26
no LeiTOR
Vale.
INDICE
PAG.
Introdução v
Gento de Music-Hall 1
No paiz dos Gênios 11
A Cura N o v a " . . . 21
A s crianças que m a t a m 31
H o n t e m e hoje 41
0 20:0251 51
Mascaras de todo anno 59
Chuva de l a n d - t r o t t e r s 67
A f u t i l i d a d e de informação e os seis m i n i s t r o s . . 75
U m problema 87
N o v a vocação . . • 95
O barracão das rinhas 103
A valorisação das palavras -. . 1 1 3
"Dito„ da Rua 121
A decadência dos chopps „
a
129
J u n h o de outr'ora 137
Ludus Divinus 145
A solução dos transatlânticos . 155
A r e f o r m a das coristas 161
A c r i t i c a nos bastidores 169
Gnatho 177
0 PAG.
U m a exposição 185
Os humildes 193
A l g u n s poetas do hospicio "203
O velho Mercado 213
Chers confrères . 223
A Casa dos Milagres 231
O melhor pistolão 241
Horas da bibliotheea . . . . 1 21 l
(
O c h a r u t o das F i l i p i n a s . 25ÍJ
O ciou da Exposição 267
Quando o brasileiro descobrirá o Brasil ? . . . . 275
O M i l a g r e da Mocidade 285
A carta de u m delegado á Exposição . „ . . 2!'3
Os animaes n a Exposição 301
Os snobs e a Exposição 311
A policia de costumes 321
Epitafios 329
O pavilhão de P o r t u g a l na Exposição 341
Impressões bororós ' • 349
As infelizes meninas da Exposição. . . . . 357
O Bairrismo . 365
N o t u r n o Policromo 373
A pressa de acabar 383
Ao Leitor ,390
ü:iarciFÍa Qhavô ro n
De IÍZIÍTÍQ & IRffiS[0
* * Rim DOS c f l R i n e i s i T r i s , 144-PORTO* 4=