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Osintelectuais e a política cultural do

Estado Novo*
Monica Pimenta Velloso
Pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa.

*Originalmente publicado em Revista de Sociologia. Curitiba, nº 9, 1997,


CONSTRUÇÃO DA NACIONALIDADE: OS INTELECTUAIS E O PODER

relação dosintelectuais com o sistema de poder tem sido extremamente


mbricadae complexa, uma vez que, ao longo da história, eles freqien-
mente se atribuíram a função de agentes da consciência e do discurso
cault e Deleuze, 1979, p. 71). No Brasil,anossaestrutura patriarcal e
ritária e a própria condição de país periférico — de grande contingen-
“de analfabetos — acabaram por reforçar aoextremoessetipodepráti-
« Assim, o ideal da representação, o falar em nome dos destituídos de
pacidade de discernimento e expressão, foi facilmente absorvido pelo
telectual brasileiro. Sentindo-se consciência privilegiada do *“nacional”,
éconstantementereivindicou para si o papel de guia, condutore arauto.
Sta conferir a nossa literatura social, cujos exemplos são pródigos nesse
tido.
Nos momentosdecrise e mudanças históricas profundas — instaura-
O Império,
do Proclamação da República, Revolução de 30 e Estado
v0 —, as elites intelectuaiss marcaram presença no cenário político, de-
idendo odireito de interferirem no processo de organização nacional.
30 após aIndependência,q quando estava em curso o processo de cons-
da jovem nação, os intelectuais portaram-se como verdadeiros
, Sentindo-se particularmente inspiradospela idéia nacional. Assim,
escritores românticos acreditavam ter uma missão sagrada: a de criar
temário nacionalista, destinado a autovalorização do país (Cândido,
5 Pp. 7).
agem do regime imperial para
República, os intelectuais voltam
i esso. de modernização da
O BRASIL REPUBLICANO OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL
DO ESTADO Novo

sociedade brasileira. Eles aparecem como verdadeiros “mosqueteiros inte- Se, historicamente, a construção do nacionalismo vinhase consti
tuindo
lectuais”, que, munidos do instrumental cientificista, buscam remodelar q em umadas preocupações fundamentais dos intelectuais, agora eles passar
iam
Estado, lutando contra a incapacidade técnica e administrativa dos políticos situar a sua tarefa nos domínios do Estado. Verifica-se, então, a
união das
(Sevcenko, 1983). elites intelectuais e políticas que se pretendem as verdadeiras expres
sões de
Na década de 1920, quando se fazem sentir os efeitos críticos do pós- uma política superior.
guerra, comaderrocada do mito cientificista, o ideal cosmopolita de dese na O período do Estado Novo é particularmenterico para a análise da
“volvimento cedelugar ao credonacionalista. A busca de nossas raízes, o ideal relação entre os intelectuais e o Estado, já que nesse mesmo período
se
de brasilidade passam, então, a construir o foco das preocupações intelees revela a profunda inserção desse gruposocial na organização político-ide
o-
“tuais. Agrupados no movimento modernista, osintelectuaissejulgam indi lógica do regime. Nesse sentido, ao longo do texto, temos a preoc
upação
“duosmais capacitados para conhecer o Brasil. E é através da arte que eles le enfocar os intelectuais naqualidade de participantes deumproje
to

//R
pretendem atingir a realidadebrasileira, apresentando alternativas para o des jo ffico-pedagógico, destinado a popularizar e difundiraideologi
ad
senvolvimento da nação (Velloso, 1983). goi me. a ==
TERA

Fica clara, portanto, a constituição da identidade desse grupo, que,his: ] Destacar o vínculo dos intelectuais com esse projeto signif
toricamente, sempre buscou distinguir-se do conjunto da sociedade. Seja atra ica
fidenciar a relação entre propagandapolítica e educação no Estado Novo.
vés dos ideais da ciência ou da racionalidade (geração de 1870) da arte o resentando-se como o grupo mais esclarecido da sociedade, os intelec
intuição (geração de 1920), imbuídos de vocação messiânica, senso de mis -
buscam “educar” a coletividade de acordo com osideais doutrinários
são ou dever social, os intelectuais se auto-elegeramsucessivamente con
Oregime.
“ciência iluminadado nacional.
Dentro do projeto educativo há que se distinguir dois níveis de atuaçã
É a partir da década de 1930 que eles passam sistematicamente o
Et atégia: O doMinistério da Educação(dirigido por Gustavo Capan
direcionar sua atuaçãoparao âmbito do Estado, tendendoa identificárl ema)
do Departamentode Imprensae Propaganda (DIP) (encabeçado
como a representação superiordaidéiadenação. Percebendo a sociedac por
ival Fontes). Entre essas entidades ocorreria uma espécie de divisão do
civil como corpo conflituoso, indefeso e fragmentado, os intelectua
O, visando a atingir distintas clientelas: o Ministério Capanemavol-
corporificam no Estado a idéia de ordem, organização, unidade. Assim,elé
ara a formação de umacultura erudita, preocupando-se com
o cérebro capaz de coordenare fazer funcionar harmonicamente todo aedu
É rmal; enquanto o DIP buscava,através do controle das comunicações
ganismo social.! Apesar dasdiferentes propostas de organização apresem ,
das pelos intelectuais ao longo das décadas de 1920e 1930 — juríd nta) as manifestaçõesdaculturapopular. Essa diversidade de orientação
(Francisco Campos), econômica (AzeredoAmaral) e espiritual acson blítica cultural transparece na própria composição dosintelectuais
nos
, Figueiredo)—, todas convergem para um mesmoponto:a solução autor dos organismos. O Ministério Capanema reunia um grupo ligado
à
ria e a desmobilização social (Sadek, 1978, p. 90). da do movimentomodernista: Carlos DrummonddeAndrade(che-
No Estado Novo (1937-1945), essa matrizautoritária de pensam n e Lúcio Costa, OscarNiemeyer, Cândido Portinari,Mário de
que confereaoEstado o podermáximo da organizaçãosocial, vai ad
contornos mais definidos. Aselites intelectuais, das mais diversas correm n diferente era a composição emtorno de Lourival Fontes, quein-
de pensamento, passam a identificar o Estado comocerne da nacionalid Rômes como o de Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia e Cândido
brasileira. a Filho. Intelectuais esses conhecidos pelo pensamentocentralista
Fi ssh e

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“autoritário, queviria a imprimir um rígido controle nos meios de comuni, “A primeira fase de vossa ilustre instituição [ABL] decorreu à margem das
ção. É esse grupo quevai dar as linhas mestras da política cultural direcionad atividades gerais [...). Só no terceiro declínio deste século operou-se a simbiose
às camadas populares. Neste trabalho, porém,interessa-nos, sobretudo,d entre homens de pensamento e ação.”
tacar a ação do DIP na montagem dessa política, demonstrar a atuação dess
Getúlio Vargas, 1943 (apud Vargas, 1944, p. 221-237).
entidade no seio da sociedade sem privilegiar o pensamento de intelectua
específicos. Assim, não nos importa que muitos deles tenham pouca proj
través dos textos acima é possível começar a estabelecer um confronto en-
ção ou sejam anônimos. Importa-nos, antes, assinalar a sua doutrina, traze;
3o papel dosintelectuais no fim do século passado e no regime do Estado
do-a para o cotidiano popular.
o. Emboraas perspectivas dos autores sejam opostas, a problemática que
O texto se articula em torno detrês idéias. primeira procura most;
aa,
ordam é comum. Ambos falam da relação entre a literatura e a política e
como se constrói a argumentação dos intelectuais em rela ão ao papel « : 4 ds s
a S S pap papel da Academia na construção da nacionalidade. Machado de Assis se
vanguarda«social que eles mesmosse propõem a exercer.Em nome de q o ; SE
re à Academia como uma “torre de marfim”, onde osintelectuais sere-
idéias e princípioselesse autoconfiguramos paladinosda nacionalidaç , Sn e
am no mundo das idéias, tendo como único objetivo a preocupação
brasileira?Num segundo momento,a idéia é evidenciaraatuação práti
Comme mma rime ia. Do alto de sua torre, eles contemplariam o mundo,refletiriam so-
desse grupo: sua inserção na vida política através da elaboração de um pr
ele, sem, no entanto, terem um envolvimento direto com as lutas sociais.
jeto cultural. De nossa parte,a análise desse projeto merece atenção esp
el do intelectual está claramente fixado: eles “podem escreverpáginas
cial, principalmente quando deixa transparecer os efeitos concretos «
stória mas a história faz-se lá fora (Campos, 1935, p. 5). A idéia é a de
absorção da ideologia política pelas camadas populares. Finalizando, é m Os
preciso se retirar, se distanciar, para melhor refletir sobre a realidade:
propósito apresentaras idéias que vão fundamentar o projeto cultural,d
aro e quieto”.
“Estado Novo,analisando a vinculação dos intelectuais modernistas com
Jo cio.do século pasado. SELddo lembra Nicolau Sevcenko (1983),
regime. Essa vinculação é de extrema importância, uma vez que dá a€
nhecer um dos núcleos organizatórios mais sólidos do regime: a cultu
cipalmente o grupo que se colocava numa perspectiva mais crítica
Esse núcleo permite explicar a integração dos vários grupos de intelectu
ão à sociedade, comoé o caso de Euclides da Cunha e Lima Barreto.
ao regime, assim também como a própria organização social gerada a pê
es intelectuais, que se recusavam a vera literatura simplesmente como
tir dele.
to de transformação social, os caminhos não seriam fáceis. Os obstá-
é uma sociedade tradicional vetariam prontamente os seus projetos
DA “TORRE DE MARFIM” À ARENA POLÍTICA
uação pública, restringindo e demarcando o lugar do intelectual para
sa a arena política. Ao intelectual caberia, portanto,a reflexão,a quietu-
“[...] a Academia Brasileira de Letras tem que ser o que são as insti ICC
O saber puramente erudito. Distante das misérias do mundo,ele deveria
análogas: uma torre de marfim [...).”
iador das ilusões” capaz de revelar o encanto,o lado feliz e leve da
Machado de Assis, 1897 (apud Campos, 1935; entro desse quadro, política e literatura apareciam comocoisas total-
Stintas: a primeira dizia respeito aos aspectos materiais da vida,en-
a segunda falava do espírito, enfim, dos valores tidos como superiores.

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Proferido na ocasião da fundação da Academia Brasileira de Letras, q “ilusões” necessárias ao bom andamento da ordem social (tempo de Ma-
discurso de Machado oferece um interessante confronto com a ideologia do do de Assis), seja envolvido nas lutas nacionais (período do Estado
Estado Novo, no que se refere ao papel do intelectual na sociedade. Ne Novo), o intelectual é caracterizado pelo estigma da diferença. Fabrican-
sentido, é interessante perceber comoa doutrina do regimevai incorporalã je de ilusões ou consciência da nacionalidade,ele foge ao padrão do ho-
repensar essas idéias, na perspectiva de criticar a atitude isolacionista dg mem comum. Assim, o intelectual é sempre designado para o exercício
intelectuais. A metáfora da “torre demarfim”é incessantemente reproduzid a de alguma função e/ou missão especial que varia de acordo com a con-
como símboloda alienação política em que viviam as nossas elites culturais untura histórica.
O ideal esteticista da literatura, o intelectual erudito e o academicismo No Estado Novo,o intelectual responde à chamada do regime, que o
objetos de crítica violenta por parte do regime, que passa a defender a umbe de uma missão: a de ser o representante da con
>
nsciência nacio-
ção social do intelectual, chamando-o a participar dos destinos da naciona Reedita-se, portanto, uma idéia já enraizada historicamente no cam-
lidade. ] intelectual. O que varia é a delimitação do espaço de atuação desse
É curioso como um dos ideólogos do Estado Novo — Cassiano Rica rupo — marimpera:arena política —, permanecendo o
— efetua o confronto entre Machado de Assis e Euclides da Cunha. A obr apel de vanguarda social. O trabalho do intelectual — agora engajado
de é Machado criticada pelosé seu “cosmopolitismo dissolvente”. Isto pol domínios do Estado — deve traduzir as mudanças ocorridas no pla-
| |
que tomaria comoinspiraçãoapenas O litoral, visto como o lado falso«á O político.
Brasil, onde predominaria a influência de valores alienígenas. Suaarte, p | o melhor exemplo que temospara ilustrar essa nova concepção de inte-
Cassiano Ricardo, seria, portanto, baseada no mimetismo. Já Euclides « etual é a entradadeGetúlioVargas para a Academia Brasileira de etri
Cunhaaparece como aquele gue“pensa brasileiramente” e sua obra rena n dezembro de 1943. Nodiscurso de posse, Vargas criticaria o antigo pa-
orça
senta a “força original da terra”, porque falaria a “linguagem brasileir; La Academia, condenando a “torre de marfim” que isolava o intelectual
dos sertões. Naarteeuclidiana, iesuádo Cassiano Ricardo,estaria retrat conjunto da sociedade. Argumentava que, por ocasião de sua fundação,a
da todaa violência e força de um mundo novo (Ricardo, 1940, P: 546, ademia se constituiria num remanso, alheio às transformações sociais.
“e pi
No Estado Novo, a obra de Euclides é recuperada pela sua dimê cos e administradores caminhavam de um lado, e intelectuais de
regionalista, que traduziria a preocupação do autor com os destinos » “ocupando margens opostas na torrente da vida social”. Segundo
; » O poeta seria o “lunático, pessoa ausente, habitando um mundo de
nacionalidade.
A doutrina do regime constrói todo um sistema de valores em função: asias e imagens”, enquanto o literato era o “teórico, pés fora do solo,
qual resgata ou nega o valor do intelectual na sociedade. Assim, na obra nas nuvens,alheio às realidades cotidianas[...]”. Predominava, por-
Euclides, a questão da brasilidade é a instância máxima de sua consagr O “desdém do espírito da matéria, gerando a dispersão das energias
A idéia do intelectual como membro do grupo em comunhão com o n lis?. Vargas argumentava que somente a partir da década de 1930 é que
nal está, então, firmada. q sido operada a “simbiose necessária entre homens de pensamento e de
Antes de aprofundar a análise sobre a concepção de intel A À partir daí, a Academia assumiria um novo papel: o de coordenar
construída pelo regime, consideramos importante reter algumas idéias é valores, imprimindo direção construtiva à vida intelectual (Vargas,
teriores. Retomando o discurso de Machado de Assis e o de Getúlio Va p. 221-237).
vemos que ambos tratam de uma questão comum: o lugar de des À À entrada de Getúlio Vargas para a Academia vem, portanto, reforçar
conferido ao intelectual. Seja isolado na sua torre de marfim, criando dos postulados doutrinários mais enfatizados pelos regimes represen-

U5:2 13
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O BRASIL REPUBLICANO ESTADO Novo

e o homem É preci Ars ia


tantes do regime: o da união entre o homem de pensamento Epel Eana aEu antiliberal queiria fundamentar
o novo
ctuais e o
de ação, entre a política e a literatura, enfim, entre os intele inimi ctual. Assim, no liberalismoera aceitável qu
ndo em si intelectual fosse
Estado. Vargas personifica magistralmente essa simbiose, reuni porque este nãorepresentava :o
éo | MiscoBrasil.Àpoli do Estado, e nm Ve
os atributosdo verbo e daação, de idealismo e pragmatismo. Ele p= tás). políticaera, então, ea “mad
n a madrasta dainteligência”,
mé “medida que
o ace) Rs decisórios. No Estado
políticocompetente, capaz de comandar ojogo político, mas també Novo ai =
quali-.
intelectual capaz derefletirsobre os destinos danacionalidade, na lectualidade, ao se dna transformava notutor, no pai da inte-
ue, o
dade de autor da “Nova política do Brasil”. Seguindo esse enfoq ci e dear com as forças sociais. Aargumentação
discurso estado-novista constrói uma nova concepção de intelectual,
deletras? marca presença a centido: a partir do momento em que o Estado
Concepção esta que busca diluir as fronteiras entre O “homem Oectual matos ds os domínios da vida social, não há Por que
o
a re-.
e o “homem político” (Velloso, 1982, p. 72-108). Realiza-se então finalidade. De inimigo dEno de oposicionista ou insistir na mar-
to cede lugar à
ferida simbiose entre os intelectuais e a política. O confli fiel colaborador, ou seja. el stado,o intelectual deve se converter em seu
harmonia.
nome de Olavo Bilac ue “5 PASSA à ter um dever para com a pátria, O
Euido pela Mn mencionado como um exemplo a
a à serviço da nacãE E & uma vez queteria colocadoa arte e à
GETÚLIO VARGAS: O “PAI DOS INTELECTUAIS” mental das massas”,º a dee ae a “educação cívica e senti-
parte
Êo ideólogos do regime. DelendentsOHe tores elogios por
“Hoje podemos afirmar que existe uma política brasileira que é uma au
f iplinadora e elegendo o senso de dever b Em E força educativa
têntica expressão do verdadeiro espírito social. Nesse espírito social ajus valores
premos da nacionalidade, a fieurade Bilac ; obediência como
taram-se as necessidades do nosso presente às conquistas do nosso passa
Dintelectual brasileiro. recuperada como modelo
do, para formarem permissão tríplice da política que nos concede agir
X * Fica cla :
pensar e criar (...)” E. eo-easEfipocomportamento social que se espera ou,
Cultura Política, Rio de Janeiro, 1, março 194 Dista da nr a suasaídadatorre demarfim ê
o. Se o Estado qe tra 5 E y Ear em estrita consonância com o
A doutrina do regime procura realizar um corte histórico no tempo, everá necessariamente E às diretrizes da política nacional, o intelec-
q cunscrever sua esfera de ação aos domínios
trando que o presente veio expurgar Os erros do passado. Às expre
tentat
“Estado Novo”, “Brasil Novo”, “nova ordem” etc. denotaram essa Oint : :
€«
de marcar o regime como umafase de redenção, de “encontro do Brasil r as aidono dutérpretepia porque
é capaz de trans-
sigo mesmo” (Velloso, 1982,p. 83). Essaredenção só podeadquirir sent á discipliná-las e da :Sai Nessadias parao seio do Estado,
unem o governo e o ilpsd ia São vistos comoosintermediários
quando contraposta a um período de caos,desordem, desajuste. O liberz
mo aparece, então, comoa corporificação desse mal, como um vera Porqueestão
o bedéir
encarreae e é que pensam, eles é que criam”,
i
Brasi(valioso e indicar os rumosestabelecidos pela nova
desastre para a nacionalidade brasileira, porque seria uma ideologia
tada. É, portanto, a partir da prática liberal que os doutrinadores do reg igura de Vargas: Hoi de 23). E essa nova política é personificada
digma por excelênci é Pensamento e de ação. Assim, ele é o
explicam todos os males que se abateram sobre o país. cla a ser seguido por todaa intelectualidade brasileira,

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Novo

Azevedo Amaral distingue os intelectuais do conjunto da sociedade,| deiras reservas da brasilidade que o Estado Novo viria recuperar, asseguran-
mostrando que são estes os mais especialmente indicados para colaborar do a continuidade da consciência nacional. O que nas massas ainda é uma
com o governo graças ao seu senso de ordem e organização. Isto porque, idéia indecisa ou aspiração mal definida deixa de sê-lo por intermédio dos
argumenta o autor, os intelectuais trabalhariam com as idéias, retirando “intelectuais que se transformam em seusintérpretes. Apontados como ex-
argumentos da história e da filosofia. Já os voltados para as outras ativida-. pressões mais lúcidas da sociedade, os intelectuais são vistos como os
des recorreriam às emoções, transmitindo-as através de uma “linguagem. prenunciadores das grandes mudanças históricas e arautos da renovação
panfletária” (Amaral, 1938, p. 268-269). Nas propostas de organização. “nacional, conforme veremos mais adiante. O que nos importa reter agora é
apresentadas pelosintelectuais o autor percebe um estímulo à reflexão, à: a idéia do intelectual na condição de representante ou de intermediário ca-
ordem e inteligência; ao passo que nas dos demais a incitação à violência Ê * paz decaptar e exprimir a vontade popular, queserá realizada pelo Estado.
desperta nas massas “paixões sociais perigosas” à boa condução do proces-. * Na base desta argumentação transparece a vinculação entre aselites intelec-
so político. Assim raciocinando, Amaral defende a liberdade de expressão tuais e políticas: as primeiras pensam; as segundas realizam.º Este pensar
de acordo com a capacidade mental e cultural de cada um (Amaral, 1938, vinculado à ação política implica construir os mecanismosde persuasão ideo-
p. 268-269). lógica, necessários à consolidação do regime. Entramos, então, no terreno
É clara a hierarquização dos direitoscivis quese evidencia em função d “da propaganda política, onde os intelectuais têm papel de importância fun-
diferenças de capacidade. Desse modo,a liberdade de expressão fica restrita, “damental.
aos que seriam pretensamente os mais bem-dotados: as elites políticas e os
intelectuais.
Vejamos como o autor configura o intelectual na perspectiva de elegê- “DIP: A ENTIDADE ONIPRESENTE
lo o colaborador do governo: “Emergidos da coletividade como expres=
sões mais lúcidas do que ainda não se tornou perfeitamente consciente » : : ;
Nesses jornais, nessas vozes que dominam os espaços radiofônicos, nessas
no espírito do povo,os intelectuais são investidos da função de retrans criações cinematográficas[...] é que estão localizados os elementos que pro-
mitir às massas sob forma clara e compreensiva o que nelas é apenas umi porcionam o contato direto do governo com o povo.”
idéia indecisa e uma aspiração mal definida. Assim,a elite cultural do país
tornou-se no Estado Novo um órgão necessariamente associado ao po: Anuário da Imprensa Brasileira, Rio de Janeiro, DIR
der público como centro de elaboração ideológica e núcleo de irradiação
do pensamento nacional que ela sublima e coordena” (Amaral, 1938, ps EE Nesse período quese elabora efetivamente a montagem de uma propagan-
272-273). à sistemática do governo, destinada a difundire popularizar a ideologia do
Aqui encontramos um dos postulados centrais dopensamento político Tegime junto às diferentes camadassociais. Para dar conta de tal empreendi-
autoritário, que é o de entendera sociedade como ser imaturo, indeciso: mento é criado um eficiente aparato cultural: o Departamento de Imprensa
portanto, carente de umguiacapaz de lhe apresentar normasde açãoe di EN Propaganda, diretamente subordinado ao Executivo.
conduta. Mais do queisso: capaz de lhe adivinharos anseios, de precisá-los Narealidade, as origens dessainstituição remontam a um período ante-
enfim, de lhe indicar as soluções. Os intelectuais a Fior ao Estado Novo. Em 1934, Vargas defendera a necessidade de o gover-
o

zes dos anseios populares porque seriam capazes de captar o “subconscien ho associar o rádio, cinema e esportes em um sistema articulado de “educação
4]

coletivo”danacionalidade. Nesse subconsciente estariam contidas as verda: Rental, moral e higiênica”. Essa idéia começou a se concretizar no ano se-

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guinte, quando o primeiro escalão do governo se reuniria para fazer uma Nesses inquéritos busca-se sondar a opinião pública a propósito das rea-
avaliação da repressão à Intentona comunista. Nessa reunião seriam lançad as lizações governamentais. O programa radiofônico A hora do Brasil, a legisla-
duas sementes de rápida frutificação: o Departamento de Imprensa e Propa- ção trabalhista e a figura de Vargas são alguns dos assuntos abordados por
gandae o Tribunal de Segurança Nacional (Tota, 2/1/1980, p. 46-47 e Anuá- essas enquetes.
rio da Imprensa Brasileira, s.d., p. 122). Criado pelo decreto presidencial de
1939, sob a direção de Lourival Fontes, viria materia:
lizar toda a prática propagandista do governo. A entidade abarcavaos $ aspirações.” Assim, entre O governo e.oconjunto da sociedadenão há .
guintes setores: divulgação,radiodifusão,
teatro,cinema,turismo e imprensa, essidade de intermediários quando o chefe sintetiza a “alma nacional”.
Estava incumbida decoordenar, orientare centralizarapropaganda ii nterna De modo geral, os canais de expressão da sociedade civil são transfor-
“e externa; fazer censura a!teatro, cinema, funções«esportivaserecreativa mados em espaço de veiculação da ideologia do Estado. Muitas das organi-
“organizar manifestações cívicas, festas patrióticas, exposições, concertos ações culturais do período vão ser incorporadas pelo governo, como é o
conferências; e dirigir e organizar o programa de radiodifusão oficial da Rádio Nacional (1940) e dos jornais A Manhã (Rio de Janeiro) e A
governo (“O conceito brasileiro da imprensa e a propaganda no Estado te (São Paulo).
Novo”. Anuário da Imprensa Brasileira, s.d., p. 29-32). Em 19 de abril de 1942, dia do aniversário de Vargas, são inaugurados
Em vários estados, o DIP possuía órgãos filiados (os DEIPs) que estavam Ds novos estúdios daRádio Nacional. Na cerimônia, em que Gilberto de
subordinados ao Rio de Janeiro. Essa estrutura altamente centralizada i Andrade é empossado como diretor da rádio, participam e discursam Lourival
permitir ao governo exercereficiente controle da informação, assegurando: ntes e o ministro Gustavo Capanema. Gilberto de Andrade anuncia que
lhe considerável domínio em relação à vida cultural do país. A centralização im dos seus objetivos é transformar a rádio em veículo de difusão cultural-
administrativa era apresentada comofator de modernidade, apelando-se para irtística e de brasilidade.!º
os princípios de sua eficácia e racionalidade. | Através dessa emissora o regime buscava monopolizara audiência po-
Por um dos dispositivos da Constituição de 1937, a imprensa passa a se ular, contratando uma equipe exclusivada rádio, onde figuravam no-
aopúblico. Francisco Campos, um dos ideólogos da maior comoosde LamartineBabo, Almirante, Ary Barroso, EmilinhaBorba,
projeção no regime e autor da Constituição, defende a função pública dê o Caldas, Vicente Celestino. Paradar maioratrativo aos programas,
imprensa, argumentandoque o controle do Estado é queirá garantir a co “governo instituiu concursosmusicais, através dos quais a opinião pú-
municação direta entre o governo e o conjunto da sociedade. Alega que elegia os compositoresfavoritos. Desses concursos participavam os
é a única maneira de eliminaros “intermediários nocivos ao progresso”. des astros da época: Francisco Alves, CarmemMiranda, Heitordos
aspecto que chama particularmente a atenção no interior da doutrina é: Azeres e Donga. O curioso é que as apurações dos concursos eramrea-
“vocação legislativa” atribuída à imprensa, uma vez que consultaria cotidi as na sede do DIP e os resultados transmitidos durante o noticiário
namente os interesses do povo. A centralização da informação é apresenta d ora do Brasil (Tota, 2/1/1980, p. 46). Uma maneira eficiente, por-
como uma formade agilizar o processo de consulta popular, descartando-s » de garantir a audiência popular, obrigando o público a manter o
o Parlamento como umainstituição anacrônicae deficiente. O jornal A Ma ídio ligado.
nhã, porta-voz oficial do regime, efetua uma série de inquéritos popula Para ampliar a audiência do programae tornar mais agradável a sua
sobre a política do governo, que são publicados sob o sugestivo título: | cepção junto ao público, os representantes do regime lançam mão de
rua com a palavra”. ma série de inovações. Assim, em 1942, é criada uma sessão de música

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folclórica; outra de crônicas; “Talvez nem todas sabiam que...”, destina A homogeneidade no campo cultural é vista como forma de assegurar a
da a dar informações sobre a vida econômica, política e militar, e a “Not rganização no regime, que busca invalidar as demais manifestações de cul-
Histórica”, onde eram rememoradasas grandes datas e heróis expressi ura como prejudiciais ao interesse nacional. Assim, o rádio deveria aper-
vos da nacionalidade. Defendendo o ponto devista de que A hora do Bras eiçoar as relações entre as camadas cultas e populares, sendo o portador do
não seria apenas apalavradogoverno,“vozsinceradopovo? m exemplo,do certo e do direito”. Quandoutilizado contra esses princí-
» passavaa afetar a própria segurança nacional. Para evitar essa situação,
regime faz realizar umasérie de entrevistas radiofônicas sobre a polític
o Barata, diretor da divisão radiofônica do DIB, defendeu a necessidade
do governo. O objetivo dessas entrevistas, conforme esclareceria o Di
je se empreender ampla obra de saneamentosocial nosetor(cf. Rocha, 1940,
era o de substituir os longos e monótonosdiscursos pelo depoimento vive
D. 84-88).
dos populares."! Para evitar o desgaste da doutrina, muda-se o “locutor
| A doutrina do regime procura diferenciar o que considera o mau rádio,
governo” para o “locutor-povo”. O governo deixa de emitir sozinho
joltado paraa diversão, esporte e humor, do rádio enquanto veículo de cul-
seu discurso quando passa a interrogar o povo sobre as suas ações, esfor
ura. No entanto, esse dualismo de rádio-diversão versus rádio-cultura não
çando-se para envolvê-lo na política oficial. Estratégia eficiente, sem dú
revaleceu, pois ocasionaria fatalmente a impopularidade da mensagem go-
vida, se lembrarmos que o programa A hora do Brasil era ironicament
ernamental. À estratégia utilizada foi bem mais hábil: a de agradar o gosto
chamado de “o fala-sozinho”.
opular, depurando-o dos seus “costumes dissolventes e imorais”. Assim, no
Destacando o rádio pelo notável poder de persuasão e como o “maio
alambique da civilização e progresso” se efetuaria a destilação necessária,
potencial socializador do mundocivilizado”, o regime defende a necessida: E ndo a homogeneidade cultural almejada pelo regime (Salgado, 1941,
de de exercervigilante assistência e severa fiscalização no setor (Salgado, 19:
» 79-93).
p. 79-93). A radiodifusão livre é vista como temerária, uma vez que de
tuaria a obra educativa visada pelo governo. ) É a educação popular queirá garantir essa homogeneidade de cultura e
Ocorre que a opinião pública precisava ser conquistada quando aindl nes. Nesse período se desenvolve intensa polêmica em torno da parti-

não estava totalmente isolada da influência de outras fontes de informa E. ão do Futaca, nos programas radiofônicos. Até que ponto o rádio
ção. “Coagir a sociedade por dentro”, esvaziar a legitimidade dos outrê Rapaz no ERIARNE O alto nível da produçãointelectual? Enquantofos-
ção o es
dsdestinad às massas, não teria ele propensõ a
é veículo de comunica
Nariza
canais culturais foram estratégias amplamente utilizadas pelos que busci
/ ! r essa produção? i
pergunta , evantadas pelos ideólogo
Essas+ PesBiaS
É : E. A RES s do
vam levar avante o projeto educativo do “novo” Estado.!? Este é apresel Êgime, se inscrevem no próprio debate em torno da função da obra de
tado como única entidade capaz de transmitir uma adequada educa O modernidades-cbicto; de fascínio destinado
estar desvinculado dos interessk Á , sá eapoa
política ao conjunto da sociedade, porNONO ento a ser divulgado para um público cada vez mais ,amplo? Para os ideó-
porque! d k eai
a perspectiva,: a ideologia oficialEsdeve prevalecer .
privados. Nessa os do regime, conformejá foi visto, a arte deveria estarES voltada para
às diferentes visões do mundo social, qu ilitári E : :
capaz
) de unificar :e dar coesão
dd . : Is utilitários, e não ornamentais. Ampliar o acesso à arte significa, nessa
é por pe =Agmentarias, saco FpAtEt ESRAO; GOMID/A 4 ncepção, ampliar a própria esfera de abrangência da doutrina estado-
interlocutor legítimo para falar com e pela sociedade. Essa concepçã vista
transparece no próprio projeto radiofônico então instituído, que desta: À figura de Paul Valéry é o grandealvo dessa discussão por defendero

homogeneidade cultural e a uniformização da língua e da dicção coms Ponto de vista de que o rádio desfiguraria a produção intelectual. Para os
objetivos fundamentais. deólogos essa idéia era inteiramente falsa: enquantoos intelectuais não ocu-

160 161
O BRASIL REPUBLICANO OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO

passem esse espaço, os programas literários continuariam sendo feitos por história exemplar da Inconfidência Mineira penetra no universo cotidiano
escritores improvisadose “beletristas de terceira ordem”. A colaboração dos do ouvinte porque é contada
de deidentidade
forma criar Vários
intelectuais no setor só poderia elevar o nível dos programas e garantir o sey teatrólogose historiadores são convidados para atuar no radioteatro. É o
respeito junto ao público ouvinte. Na perspectiva de refutara tese de Valér e: so de Joraci Camargo, que escreve umasérie de dramas históricos (Retira-
são realizadas várias entrevistas no meio da intelectualidade. Os nomes dk da da Laguna, Abolição da Escravatura, Proclamação da República) para se-
Roquette-Pinto, Bastos Tigre, Menotti Del Picchia, Brito Broca e outros são rem transmitidos pela Hora do Brasil (Castelo, 1941, p. 304). O programa
citados como exemplosde intelectuais engajados no setor radiofônico. Pre dioteatro policial segue essa mesmalinha doutrinária, só que em termos de
domina o ponto de vista de que o rádio não implica a desqualificação do nduta moral. Nele, o locutor narra as aventuras de um detetive que, ape-
pensamento, mas a democratização social. Argumenta-se que a palavra fa a- ar de suas trapalhadas, tem um grande mérito: o de colaborar sempre com
da vai ao encontro até do ouvinte indiferente, identificando-se, por isso, com s autoridades. O objetivo do programa é o de transmitir ao público uma
a “divina arte”, capaz de atingir a todos. O rádio aparece, então, como c pncepção da vida justa e “confiançasalutar na organização policial” do re-
culo de democracia porque é capaz de “fazer a produção intelectual reto gime (Castelo, 1941, p. 304).
ao povo através da linguagem oral” (Castelo, 1942a, p. 203-205). Esse re: Personificar padrões éticos de comportamento, apelar para a empatia e
torno se dá à medida que osintelectuais decodifiquem e socializem a sua lin semoções foram recursos amplamenteutilizados pelo governo. Este tinha
guagem,revivendo o “encanto místico” das comunidades primitivas (Castelo, nu Hto claro que um artigo político de doutrina, porsi só, era incapaz de sen-
1942b,p. 14). | izar um público mais amplo. Paraatrair os “olhos femininose infantis”
A integração política através do mito foi um dos recursos mais utili Resta categoria estão também os operários), nada melhordo que oscontos,
zados pelo regime. Francisco Campos defendea técnica intelectualista de pbicasee:asestampas
Cama
(Anuário de Imprensa e Propaganda, s.d., p. 90).
utilização do inconsciente coletivo para o controle político da nação (Cam
pos, 1941, p. 12). Nessa perspectiva, caberia ao intelectual falar a lingua: émaneira a não provocarne nenhum esforço intelectual por parte do recep-
gem desse inconsciente, composto de forças telúricas e emoções primiti F.Por outro lado, busca-seiimpor símbolos e mitos de fácil universalidade
A idéia é a de que o irracional tem muito mais força persuasiva do que, le reduzem a individualidade e o caráter concreto das experiências.!* Nos
razão porque é capaz de tocar o universo íntimo das camadas populare: ontos e crônicas predomina sempre o aspecto do exemplar. Os vultos his-
Nele, o mito da nação e do herói encontrariam plena receptividade, Diá cos estabelecem trajetória do já vivido, experimentado e consagrado.
o fato de o regime incansavelmente recorrer aos dramas épicos, narra Et sta segui-los.
vas heróicas, lendase crônicas. O civismo e a exaltação aos valores pát | De modo geral, os programas radiofônicos, se não endossam plenamen-
compõem inevitavelmente o pano de fundo sobre o qual se desenrolar 'aorientação do governo, seguem-na muito de perto. Censuras e recom-
essas narrativas. fazem parte de um mesmosistema,através do qual o regime controla
Dentro dessa visão doutrinária é que se procura dar uma nova oriei a eios de comunicação. Em fevereiro de 1942 a Secretaria da Educação e
ção aoradioteatro, no sentido de explorar os fatos históricos para mel a institui o Prêmio Henrique Dodsworth para a rádio que melhorse-
atingir o gosto popular. Recomenda-se evitar o estilo dogmático dos hi Isse a orientação do DIP!S
riadores e o tom doutrinário dos sociólogos em prol da narrativa romancé: A Rádio Difusora da Prefeitura é apontada como modelo, no qual deve-
“da. Assim, odramaamorosodeMarília e Dirceu torna-se mais convinceni minspirar-se as demais emissoras. Toda a sua programação é marcada por
queo puro relato dos fatos.
para transmitir o sensode amor cívicodo é tom doutrinário: saúde e música, cujo objetivo era o de popularizar

162 163
O BRASIL REPUBLICANO OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO

princípios de educação sanitária; curso de estudos sobre a Amazônia, mini esqualificação contra o negro estimulava-se a pesquisasobre a sua contri-
trado pelo coronel Pio Borges; e antologia do pensamento brasileiro, des UiçãO na formação de nossacultura.!” Acreditamos que essa atitude ambí-
nada a divulgarlições de civismo. Dentre as iniciativas culturais da em ua por parte do regimereflita a própria diversidade de orientação cultural
são destacadas: a organização de uma discoteca infantil e uma coletânea « ntre o Ministério da Educação e o DIR Os intelectuais eram incentivados a
música popular brasileira. Na discoteca busca-se educar a sensibilidadei esquisar sobre o assunto, podendoaté mesmoenaltecer os aspectos positi-
fantil para as músicas de caráter cívico, canto orfeônico e folclórico. Já os da cultura africana. O que não poderia ocorrerera o sambacontinuar
objetivo da coletânea é o de divulgar junto aos turistas o chamado “sam ifundindo valores quefu docontialedoErasO público quelê pes-
de verdade”.!é 4 yisas é bem diferente daquele que escuta no rádio as composições dos sam-
Nointerior do projeto cultural estado-novista a música ocupa lugar: . público estratégia.
grande importância. Apontada como meio maiseficiente de educação,é “se era de certa formainevitável conviver com o ritmo bárbaro dosamba,
seria capaz deatrair para as esferas da civilização os “indivíduos analfab elo menosas suas letras poderiam ser “civilizadas”. Passa-se, então, à de-
tos, broncos e rudes” (Salgado, 1941, p. 79-93). Não é à toa, portanto, ender o samba enquantoinstrumento pedagógico: eledevesereducado para
preocupaçãodo regime em interferir na produção da música popular. Es iducar. Essa idéia é claramente expressa por um doslocutores da rádio do
é vista como oretratofielcdopovonapoesia e mo. espontânec rerno: “[...] osamba,quetraz na sua etimologia a marcadosensualismo,
Estas expressões de cultura, porém, devem ser policiadas na sua esponta feio, indecente, desarmônico e arrítmico, mas paciência: não repudiemos
neidade, po se que as músicas abordem“temasimorais” ou« se nosso irmão pelos defeitos que contém. Sejamos benévolos; lancemos
“cafajestagem”.! não da inteligência e da civilização. Tentemos devagarinho torná-lo mais
" SÃ linguagem dos sambistase as gírias populares sãovistas com desco! ducado e social. Pouco ii mportadequemelesejafilho” (Salgado, 1941, p.
fiançaseuinstinto satírico, capaz de depreciar os fatos e critic 3). cu
os acontecimentos. Para osdoutrinadoresdoregime,a língua se cons À idéia é a de queesse filho de pais espúrios, se educado corretamente,
empatrimônionacional, no sentido de que preserva a segurançae unida: Oderia redimir-se e produzir frutos sociais. Assim, o samba passa a ser de-
do país. As suas “práticasabusivas” devemser, portanto, cuidadosamen endido como elemento desocialização, quando forma bons hábitos, cultiva
localizadas para serem combatidas. Procede-se, então, a um levantameni entimentos de cordialidade, cooperação e simpatia, permitindo a troca de
minucioso dos espaços onde-se-manifesta«essalinguagem não permi xperiência.?? Temas como boêmia e malandragem, quejá se constituíam numa
nos noticiários
policiais, nosteatros de revista, no cinema, que divul adição do samba, não poderiam mais conviver com a ideologia do
linguajar de artistas estrangeiros, e notadamente no rádio,através doske fabalhismo. A figura do malandro é vista como herança de um passado in-
cutoresesportivos.e.sambistas.'” As composições carnavalescas são par fato, que marginalizara os ex-escravos do mercado de trabalho. No Estado
cularmente visadas, por recorrerem à paródiae à caricatura. É nesse terr A Novo, com o surgimentodas leis trabalhistas que protegem o trabalhador,
que o DIP entrava emação, censurandoasletras que iam contra a ética€ figura “folclórica” perde a razão de ser. Logoa ideologia da malandra-
regime. ú . m deve ser eliminada do imaginário popular porque pertence a uma outra
“Ritmos como o sambasfrevo-e maxixe.er iderados selvagens: sui « O regime busca, então, construir uma nova imagem do sambista:ele
origens os tornavam pouco recomendáveis. A Frente Negra Brasileira (193! ÉQ trabalhador dedicado, que só faz samba depois quesai da fábrica. Nos
como entidade independente, não conseguira sobreviver no Estado Novi ábados, de “palheta e terno branco muito bem engomado”, vai até a socie-
sendo fechada por ordem de Vargas. Paralelamente a essa repressão! ade recreativa, onde se exercita no convívio social (Castelo, 1942c, p. 174-

164 ses
O BRASIL REPUBLICANO OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO

176). O universo cotidiano do compositor se desloca da Lapa, centro da “didático às escolas de samba e aos ranchos, que deveriam abordar temas
boêmia carioca, para a fábrica e o trabalho. Essa mudança de temática é vistz nacionais e patrióticos. Em 1939, a escola de samba carioca Vizinha Fala-
como uma evolução na história do samba, à medida que os compositores deira foi desclassificada porter escolhido como tema de enredo a Branca
deixam de se preocupar com o amorà vida fácil, conciliados no conformis- J e Neve. A censura alegou que a temática havia sido vetada porser interna-
mo das Amélias. Em vez das tragédias domésticas, as vantagens do trabalh cionalista.??
(Castelo, 1942d, p. 292). Dentro dessa linha estão as composições: “Eu Na conjuntura de guerra, o governo promove o “Carnaval da vitória”,
balhei” (Jorge Faray), “Zé Marmita” (Luís Antônio e Brasinha) e “Bonde d “cujo slogan é “Colaboro mesmo quando medivirto”. O programaconstava
São Januário” (Ataulfo Alves e Wilson Batista). Todas elas naturalmente de um desfile de carros alegóricos, que representavam temas de cunho pa-
enaltecendo trabalho em detrimento da boêmia, que “não dá camisa a nin: triota como “Apoio à política de guerra do governo”, “União nacional”, “Crí-
guém”. Temos, então, o “samba da legitimidade” (ver Tota, 1981), através tica às doutrinas totalitárias”, encerrando-se com o carro da “Apoteose à
do qual o regime busca exercer uma prática disciplinadora sobre as ma vitória”.? A guerra é apresentada comoresultado do choque de duas menta-
tações populares. lidades que se digladiam maniqueisticamente: as forças do bem são repre-
Nada melhor, portanto, para retratar a história desse período do que o sentadas pela democracia e pelo cristianismo; enquantoas forças do malsão
repertório da nossa música popular. Nele, a política governamental encon: corporificadas pelo totalitarismo e pelo ateísmo. Nesse contexto ganha for-
tra apologia e glória. Na “Marcha para o Oeste” (João de Barro e Alberto a idéia de americanismo, de mundo novo em contraposição à decadência
Ribeiro, 1938), temos o projetocolonização do interior; em da civilização européia.
doBrasil” (Zé Pretinho e Antônio Gilberto dos Santos, 1938),0 o Em agosto de 1942 é lançado o filme norte-americano Alô amigos. O
endosso à repressão aos levantes de 35 e 38; em “É negócio casar” (Ataulfo filme, cuja sessão inaugural é patrocinada por Darci Vargas,vistocomo
Alves e Felisberto Martins, 1941), propagandeia-se a lei que incentiva o cres verdadeira apoteose do nosso país e do nosso povo. Nele o eloqiienteZé
cimento da população. A figura de Vargas naturalmente também seria moi Carioca mostra as coisas belasdo Brasil ao Pato Donald. A figura do Zé Ca-
vo de inspiração em “Odopresidente” (Alberto Ribeiro e Alcir Pires foca, criada especialmente|porWalt Disney para o Brasil, é a que talvez re-
Vermelho, 1935) e “Salve 19 de abril” (Benedito Lacerda e Darci de Oliv ei presente melhora tentativa de popularização da ideologia do americanismo.?
ra, 1943) (Severiano, 1983). egundo o jornal A Manhã, o personagem exprimia com perfeição o jeito
Ficam claros, portanto, os esforços do governo no sentido deutiliza arioca: malandro, chapéu embicado, guarda-chuva, charuto e humor com
as manifestações da cultura popular como canal de difusão da ideolog tendência a resolver tudo na piada.% Esse protótipo do brasileiro sugere a
oficial. Exemplo notório é a oficialização do carnaval. Se antes o evente própria figura de Vargas: amistoso, sorridente e até malandro quando se tra-
vinha sendo de iniciativa particular,financiado comerciantes mai a de resolver as difíceis jogadas políticas. Nenhuma imagem poderia surtir
abastados da cidade, no Estado Novo o quadro era bem diferente, quan7 mais efeitos populares do que essa, garantindo a profundaidentificação do
do, através dosetorde turismo do DIP, a Prefeiturapassaria a organizai residente com o ethos e as coisas nacionais.
o carnavalde rua. À partir daí a políticatc
tornava-se figurante obrigatóri No cinematorna-se obrigatória a projeção do Cinejornal brasileiro, onde
na folia. s documentários exibem desfiles cívicos, viagens presidenciais, comemo-
Os sambas e as marchas carnavalescas sofrem modificação radical,&
= Espa Dre E

des como as dos aniversários de Vargas e do regime, Dia do Trabalho,


ponto de serem apontados como dignos de compor uma antologia cívi: da Bandeira, Semanada Pátria etc.2º Nessa crônica de palanquesestá o
ca.Por um dos decretos constitucionais de 1937 ficava imposto carátel stro de uma época personificada na figura de Vargas: ele visita, recebe,

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O BRASIL REPUBLICANO OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO

Ministério do Trabalho agiriam em íntima conexão, pois ambostinham como


inaugura, preside, assiste, discursa, excursiona, veraneia, embarca, retorna,
ponto comum a elaboração de uma política cultural destinada às camadas
parte, passeia, inicia, encerra, exorta, soluciona, joga muito golfe (seu es-
“populares.
porte predileto) e naturalmente aniversaria a 19 de abril.” O calendário. a ;
! teriaposiça 7 ;
ção ambígua quanto ao teatro de revista:
oficial marca as grandes datas, transmitindo a imagem de umafesta cívica, se o
constante. Através dos rituais patrióticos se fortalecem os sentimentos de.
criticava pelas esporádicas demonstrações de civismo eo agudosenso de
“Sátira social, procurava, ao mesmo tempo, penetrar nesse espaço.
unidadee de exaltação popular, indispensáveis a um regime que buscava! Rever-
ter, na medida do possível, a linguagem satírica e humorística aos objetivos
apresentar-se comoo salvador da nacionalidade. Essa imagem de grandeza
do regime foi então a tática mais acertada. Nas peçasde crítica polític
e glória faz-se sentir também na arquitetura da época, cujas construçõ a era
sugerem a força e pujança do regime. Data desse período a criação dos Comum Vargas encenar a figura do “bom malandro”, capaz de qualquer
prédios do Ministério da Educação e Saúde, Ministério do Trabalho, Mi- jogada para defender as suas idéias. O DIP ficava satisfeito com essa ima-
nistério da Guerra, Central do Brasil etc. O Estado Novo aparece comoO m e o povo também, porque “tinha um malandro que tomava conta de-
tempo das grandes realizações que viria pôr fim ao marasmo em que se es” (Mário Lago apud Garcia, 1982). Assim, o próprio Vargasiria estimular
encontrava o país. iadas a seu respeito, argumentando que eram “uma espécie de termôme-
Esse marasmo no meio cultural é explicado em função do descuido da: o do sentimento popular” (Alzira Vargas do Amaral Peixoto apud Garcia
elites intelectuais quanto à educação popular. O teatro, notadamente o 1982, Pp. 101). Apropriando-se de expressões, idéias e valores populares o
revista, voltava-se apenas para a diversão, divulgando valores prejudicia Fegime buscava sintonizar-se ideologicamente com o conjunto da odiei
ordem social. Assim como a imprensa, o rádio e o cinema, também o teatrc Ee. Para obter essasintonia, de um lado a censura, de outro certa flexibili-
no Estado Novo deveria tornar-seinstrumentoporexcelência, e de ou tolerância com os valores que se mostrassem capazes de serem
problema da educaçãooperária é destacado comouma dasprincipais meta Ategrados à ideologia oficial.
do Estado, merecendo porisso estratégias e atenção especiais. Dentro d ess Pelo exposto até agora,fica clara a eficiência do DIP na montagem da
á 10”, cujo objet doutrina estado-novista. Funcionando como organismo onipresente, que
pro Ósito é que se criava em São Paulo o “teatro.
seria o de fazerpropaganda pró-sindicalização através do lazer dos opeR a etra todos os poros da sociedade, essa entidade constrói uma ideologia
dose de suas famílias, Pesc teatrodidático-cívico apresentaria exemplos é ie abarca desde as cartilhas infantis aos jornais nacionais, passando pelo
comportamento, modelos de cumprimento do dever, construindo assim E O, música, cinema e marcando presença inclusive no carnaval. Pode-se
figura do operário-padrão. Para dinamizar esse empreendimento cultural, es ão afirmar que nenhumgoverno anterior teve tanto empenho em se
Ministério doTrabalho patrocina um concurso literário destinado à prod 2 "mar nem recorreu a aparatos desofisticadosconfor-
ção de romances e peças teatrais dirigidos ao público operário. Era uma e tez o Estado Novo. É evidente que na construção dessa imensa e com-
tratégia defensiva contra o que o regimejulgava ser umaliteratura destiné teta rede ideológica os intelectuais serão personagens de importância
à subversão moral e à agitação popular. Os intelectuais são conclamado cial. Através das publicações oficiais do regime, como revista Cultu-
participar nessa “reforma espiritual” das massas, trazendo a sua men Política (sob a direção de Almir de Andrade) e jornal A Manhã (sob a
em

ão de Cassiano Ricardo), é possível ter-se uma dimensão da eficiência


s >) A
-

de otimismo, esperança e ordem. No edital do concurso, Marcondes Fil


esclareceria que as obras preliminares seriam publicadas em edições popt Stado na montagem doseu projeto cultural.As publicações surpreen-
res a serem distribuídas aos trabalhadores através dos sindicatos; e à P M pela capacidade organizativa em termoseditoriais e intelectuais. Reu
vencedora seria encenada nos sindicatos à véspera do Natal.? O DIF! as correntes mais heterogêneas da intelectualidade brasileira, como

168 169
O BRASIL REPUBLICANO OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO

Carlos Drummond de Andrade, Oliveira Viana, Cecília Meireles, Gilbert instantes e obtidas as primeiras conquistas mais amplo, mais geral, mais com-
plexo, simultaneamente reformadore conservador(...)”.
Freyre, Vinicius de Moraes, Gustavo Barroso, José Lins do Rego, Man
Bandeira e outros, o jornal procuraatrair para o seio do Estado todaa eli Discurso pronunciado por Vargas na Universidade do Brasil em 28/7/1951.
intelectual do período, integrando-a ao regime. O mesmo ocorre comé
revista Cultura Política, que conta entre os seus colaboradores intele Uma daspreocupações marcantes dos ideólogos do Estado é mostrar que o
com Nelson Werneck Sodré, Gilberto Freyre e até o próprio Graci regime não é mero produto político, mas possui sólida base cultural, A argu-
Ramos. mentação se desenvolve no sentido de mostrar que a instauração do regime
A questão do nacionalismo, acirrada na conjuntura de guerra, funcior excede o âmbito político, uma vez queviria concretizar os anseios de reno-
como poderoso elemento aglutinador, capaz de integrar quase toda, vação nacional. Desse ponto de vista, Getúlio Vargas não seria um caudilho
intelectualidade do período.A revista é enfática nesse sentido quandoafi que se apossaria arbitrariamente do poder, mas viria atender aos anseios do
maaceitar a colaboração de todos, independentemente do cunho ideol povo brasileiro, encarnando osideais da renovação nacional.?! Ainda nessa
co. Declara nãoter partidos políticos, pois a sua preocupação fundamental linha de raciocínio, o autoritarismo deixa de ser visto como um recurso es-
a de “espelhar tudo o que é genuinamente brasileiro”.? tratégico do poder para vir a concretizar um anseio latente na própria socie-
Cabeao intelectual descobrir esse veio de autenticidade, porqueeleé: dade. Este anseio estaria presente há algum tempo na coletividade,
personalidade mais próxima do nacional. Dotado de senso de mistério, ifestando-se em todos os domínios da vida social. Se ele não eclodia é
intelectual é identificado como o arauto capaz de prenunciar as grand porque havia uma dissociação entre cultura e política, intelectuais e gover-
mudanças históricas. Nessa perspectiva ele deve exercer o papel político pa io, enfim, entre o Estado e a sociedade.
o qual é predestinado. Política e profecia encontram-se, então, intimamen Conforme já vimos anteriormente pelo discurso de Vargas na Academia
vinculadas: “O político consciente do seu papel e de sua vocação é semp
h

brasileira de Letras, essa dissociação das energias sociais começaria a ser su-
“da . . “ . “- . . . .

um profeta da realidade.E, na verdade,o realnão ésomente o que conhe perada na década de 1930, como uma consegiiência da revoluçãoliterária
mos, mas o que existe mesmosemconhecido.”ºº los anos 20. À idéia é de que a revoluçãoliterária, pondo em xeque os mo-
Essa idéia do intelectual-profeta é amplamente difundida no interi los estéticos importados, estaria completa com a revolução política do
da doutrina estado-novista. É através dela que o regime procura estabel tado Novo,cujo objetivo seria o de combater os modelos políticos tidos
cer seus vínculos com o movimento modernista da década de 1920, m o alienígenas, como o liberalismo e comunismo. O ideal da brasilidade e
trando que ambos os movimentos se enquadram no ideal de renovaç arenovação nacional é, então, apresentado como o elo das duas revolu-
nacional. es: a artística e a política.
* Naturalmenteque essa ligação entre modernismo e Estado Novo é uma
Ivenção doregime,quese apropriadoevento modernista como um todo
AS RAÍZES DA BRASILIDADE: OS INTELECTUAIS MODERNISTAS E O ESTADO N V liforme, não distinguindo as várias correntesde pensamento
CULsçes
queain-
graram. Na realidade,a herança modernista nointerior da ideologia
“As forças coletivas que provocaram o movimento revolucionário do ma do-novista é bastante delimitada, à medida que recupera apenas a
nismonaliteraturabrasileira [...] foram as mesmas que precipitaram, no Car dutrina de um grupo: a dos verde-amarelos, composto por Cassiano
social e político, a revolução vitoriosa de 1930 [...] passados os primél icardo, Menotti Del Picchia e Plínio Salgado. A presença de Cassiano Ri-

170 ZA
O BRASIL REPUBLICANO
OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO
NOVO

cardo em postos-chaveno aparelho de Estado — diretor do Departamento ca cultural do regime, que agrega intelectuais das mais diferentes correntes
Estadual de Imprensa e Propaganda (em São Paulo), diretor do Departa- 'de pensamento, como os modernistas, positivistas, integralistas, católicos
e
mento Cultural da Rádio Nacional e do jornal A Manhã — esclarece à & até socialistas.
especificidade de vínculos entre a ideologia modernista e a do Estado:
Novo. ,R

No Estado Novo a questão da cultura popular, a busca das raízes da OBSERVAÇÕESFINAIS


brasilidade ganham uma outra dimensão. O Estado mostra-se mais preo 1

pado em converter a cultura em instrumento de doutrinação doque pal Um dosaspectos que chamam particularmentea atenção nointerior do pro-
priamente de pesquisa e de reflexão. Assim, a buscabrasilidade vai jeto cultural estado-novista é o esforço ideológico nosentido de reconceituar
desembocar consagraçãotradição, dossímbolose heróisnacionais o popular. Este passaa ser definido comoa expressão mais autêntica da
nacional. Ocorre, porém, que esse povo — depositário da brasilidade — é
alma
Temos, então, a históriagrandesvultos, das grandesefemérides, do
Brasil “impávido«colosso”. As personalidades de Caxias e Tiradentia ; 7 nfigurado simultaneamentecomoinconsciente, analfabeto e deseducado.
apontadascomo exemplos luminosos, nos quais o país deve buscar inspiga ambigiiidade em relação ao popular — misto de positividade e nega-
ção e força para superara crise da modernidade.? Assim sendo,a “ ão idade — vai ser equacionadaatravés de um projeto político-pedagógico
crítica da cultura, apontada por algumas correntes modernistas, vai ser implementado pelas nossas elites.
substituída pelo ufanismo. Dentro desse quadro grandioso não há mais lugar É, portanto, através da “educação popular” que se busca assegurar a
para o anti-herói e a sua preguiça. Naturalmente que a dessacralização dE positividade dessa categoria social, impedindo que se descambe para o caos,
herói mostrar-se-ia incompatível para um regime que se preocupava em fixar adesordem, a negação.
as bases míticas de um Estado forte. Assim, a versão macunaímica do e Nessa reconceituação do popular há umelementonovo:a positividade.
nacional lugarmítica e apoteótica da “raça de gigantes” cria: De modo geral, o nosso pensamento políticovinha|localizando no povo
as
da pelo grupo verde-amarelo. 1 aízes da problemáticanacionale do nosso descompasso. Assim,asorigens
ção o te faciais, O caráterinatoeram idéias recorrentes, através das quais
Essa vincula modernism EstadoNovo é extremamen im elites
procuravam justificaradefasagem do Brasil em relação aos centros hege-
portante,uma vez que demonstra o esforço do regime paraser identifica q
lônicos europeus. Essavisão ideológica começaria a ser reformulada no fim
como defensor de idéias arrojadas no campoda cultura. Osfatos demais
a década de 1910, mais precisamente em 1918. saúdepúbl
tram que esse esforçonão.foi em vão. Poucosintelectuais conseguem resisti ica,
' pontandoadoença e o analfabetismo comofatores responsáveis pelo atra-
aos apelos de integração por parte do Estado.
O, viria então isentardo.jeca-tatudos males do Brasil. Nacélebre
Se a vertente modernista conservadora é a vitoriosa no interior da do E
fase de Monteiro Lobato, “Ele[oJeca]assimassim”, fica
trina estado-novista, oregimenãoexcluicolaboraçãode outros intelectual
lícita essa mudança de mentalidade. O povo deixa de ser equiparado à
que defendiam projetos culturais mais inovadores, como é o caso de Car q
egoria da negação e, se ele apresenta aspectos negativos, isso independe
Drummond de Andrade e Mário de Andrade. É necessário, portanto, anal
ele. Depende antes de uma boaadministração governamental, capaz desanar
sar as diferentes inserções desses intelectuais no aparelho de Estado. seé ———————————
JS errose corrigir as deficiências. sa
Estado absorve grande parte dos intelectuais modernistas, a absorção se
* Verifica-se, portanto, um deslocamento de perspectivas no debate políti-
. de formadiferenciada. Daí a complexidade e mesmo ambigiidade da polít
O. Começamosa não mais associar o povo à crise — lugar-comum até então

172
1713
O BRASIL REPUBLICANO OS INTELECTUAIS E A POLÍ
TICA CULTURAL DO EST
ADO Novo

des para passara relacionarelites à crise. Essa mudança de e vai abrir . to essa ida ao popular implica um
retorno, uma vez que este é con
novos espaços para se pensar o popular no Font j ional. aa
nacio como motivo deinspiração ou figurado
como matéria bruta a ser trabal
É no discurso modernista que esta concepção começaa en es rta saber superior. Não se trata hada por um
ortanto, de consagrar o popula
carga de positividade. Através das manifestações
i õ acultura popu E emosa a . morro”, mas sim de procurar r “errado do
resgatar o espírito de grandeza
i nhecer e revelar o Brasili a utêntico.
ênti É, porém,Ê no p eríodo do
E

suas manifestações.
pe
D
e
e em
subjacente às
ana

Estado Novo que vemos m anifestar,


tadoNovo i na sua fforma : mais bem und acabada, essa essa concepção do popular que
permeia todo o projeto cultur
construção Í i qu e instaura
â ideológica i iti
a positividade ua o popular. importan
o Estado Novo, confor al do
me tivemos a ocasião de mos
tra r. Apresentando-se
te assinalar
i um dado. Ago ra essa construção ã ideológi E ca apareceRear como a consegiiência e expres
são mais lúcida da sociedade, o
dentro de umaestratégiaÉ i po lítica
íti definida:
inida: a do Estado centralizado E eoauto- assume o papel de “educar” Sã as ; intelectual
manifestaçõesPopulares. Assim,à :
ritário.
itári Nele o povo é iseni to de responsabilidade ili pe o que vinha acon o| Ee deve se o ideal
sobrepora essas manifestaçõesa
=

do com o país. Num passe de mágica, tudose transfere para Eo tas as ou, melhor dizendo, de homoge fim de educá-
neizá-las. Esse enfoque homoge
sim,
i é que sãoã as verda deiras
i responsáveis i pelala cris cise
ri nacional.
E Reverte-se| naturalmente irá se mostrar imp neizador
ermeável às diferenças socioc
t falrieside o quadro. O povo é a “alma da nacionalidade”, aselites é a se as reconhecendo enquanto ele ulturais, só
a = —— re delafase | molal mentos capazes de serem integr
distanciaram
i i dessa almaja q
qu ando dosesedeixaramfz
deixaram fascin ar pelos exemplos nos tado nacional. ados no Es-
alienígenas. Dandoas costasparao“país real” elas se a se € mid Essa visão de um todo homogê
neo (Estado) capaz de impor
ramde
rar de suaater
responsabilida
ilidade
de diante
di da nação. ã Porisso,
iso, ao
cabe somente a elas “Social, seja ela basead a ordem
a nos princípios da razão ou
int
uição, vem até os nossos
redescobrir a nacionalidade que sempre esteve presente intuitivam o dias. Freqientemente ela compar
ece como fundamento às políti
povo. Tais que tomam comobase de cas cultu-
ação as controvertidas categoria
Esse tipo de raciocínio vem, portanto, fundamentar : eeq nação. s de povo e
Estado na organização social. E ar a aa Fi eee “ : Assim, a cultura popular é vist
+ mEStAC a com o exp
Ores
única entidade capaz de salvar a identidade nai E a E “Cional, cabendo ao Estado a função OM Expresão
ssão |do gena
uinamente na-
de resguardá-la das invasões “alien
issã ário, então, elaborar um projeto político-pedagógico dest “Sejam elas externas ou internas. ígenas”,
Dos auxílios discretos (subvençõ
nara ALREai populares. Predomina a idéia de E E apoios) à intervenção organizad es, doa ções,
a e centralizadora, o Estado sem
que necessita de condução firme e de vozes que possam Fala por oe4 Sua presença nos domíni pre imp ôs a
os da cultura. A políticacultural da
mindo seus impulsos e anseios. Grosso modo, GjFaciocinio a al — particularmente nogoverno Geisel década de 1970
— lem bra em mui tos aspectos a do
seguinte forma: o povo é potencialmente rico em virtudes — a a tado Novo,pelo car
forte tom centralista e pela quanti
.
Da
dad
e de recursos inves-
.
taneidade, autenticidade; mas, para manifestar esse aspecto Ca e A, a tidos no setor. A partir de 1975, sob
o patrocínio do Estado, observa-se uma
da intermediação das instâncias superiores. Estas Ea o dom a e Verdadeira proliferação de entidade
sculturais:Funarte(Fundação
(os intelectuais) e o da organização e ordem (ão políticos). A e de Arte), Concine (Co Nacional
nselho Nacional de Cinema), CND
tado “pai grande” e a do intelectual salvacionista se entrecruzam, , A(Conselho Nacio-
nal de Direitos Autorais). Reorga
niza-se a Embrafilmee incentiva
je Os específicos, como o Projet m-se pro-
o Pixinguinha, o Projeto Univer
qeoa auscultar as fontes vivas da pn sidade, o
emanaa autêntica cultura. Nessa perspectiva,a reflexão sobrea Apesar das diferenças de contex
nacio E to histórico que deram origem
insppir
de deve necessariamente ser ins i popular.. Entreta]
i ada no rico manancial fas culturais do Estado Novoe do às políti-
Pós -64, ainda prevalecea visão da cul
tura
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O BRASIL REPUBLICANO OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO

13. Reis, Nélio. “Rádio”. A Manhã. Rio de Janeiro, 22/4/1942,p. 5.


enquanto áreaestratégica do Estado. O que parece ocorrer é uma espécie de “14. Esses aspectos são apontados peloscríticos da cultura de massa e arrolados em Eco
reciclagem histórica de conceitos — nação, povo € cultura — paraajustá-los (1979, p. 39-43). Considerando que no Estado Novo os meios de comunicação es-
aos objetivos dos regimes. “Área de segurança nacional” ou “núcleo da iden- tão sob o maisrígido controle, esses aspectos se manifestam quase de forma osten-
tidadebrasileira”, a nossa produção cultural sempre esteve na mira do Estado, siva.
15. Vamos Ler, 19/2/1942,p. 47.
16. A propósito da programação e atividades da Rádio Difusora, consultar as crônicas
de Martins Castelo publicadas na revista Vamos Ler, julho de 1942.
17. Cf. “Poesia, música e rádio para crianças”. A Manhã. Rio de Janeiro, 27/6/1942,
p.14.
NOTAS
18. Cf. “A boalinguagem nas ruas”. Departamento de Imprensa e Propaganda (1940,p.
81-100).
1. Esta concepção da organização política, vigente entre os da década de 1930, é de- 19. Ver Andrade (1937, p. 37-116), citado em Skidmore (1976, p. 315). Ver também a
nominada de “ideologia de Estado”, segundo Bolívar Lamounier. Consultar, a pros seção da revista Cultura Política denominada “O povo brasileiro através do folclo-
pósito do assunto, Lamounier (1971, p. 343-373).
no":
2. Para uma análise da política cultural empreendida pelo Ministério da Educação ng 2 D. Meirelles, Cecília. “Samba e educação”. A Manhã. Rio de Janeiro, 18/1/1942,p. 9.
Estado Novo, consultar Schwartzman, Costa e Bomeny (1984). i
21. Idem.
3. Posteriormente a análise sobre o perfil de Machadode Assis e Euclides da Cunha foi 22. Nosso Século, nº 25, p. 197.
aprofundada por mim em Velloso (1988).
23. A Manhã, Rio de Janeiro, 28/2/1943,p. 5.
4. Correia, Nereu. “A inteligência no regime atual”. A Manhã. Rio de Janeiro, 13, 2/ A propósito da divulgação da ideologia da americanização, ver Moura (1984).
1943, p. 4.
Moraes, Vinicius. Cinema. A Manhã. Rio de Janeiro, 27/8/1942. p. 5.
5. Através do “decálogo do escritor”, esse senso de dever é minuciosamente estipula: A propósito da programação das festas cívicas, consultar o jornal A Manhã nosdias
do. Vale a transformação: “Amar o Brasil unido sobre todas as coisas; prezarQ 18 a 22/4/1943 e 6, 11 e 19/11/1942. Sobre o jornal cinematográfico, ver A Manhã.
americanismo a expansão fraternal de sua brasilidade, contribuir para formação
mes * Rio deJaneiro, 12/2/1943.
educativa do povo brasileiro estilizada em harmonia com tendências e cos 27. Tavares, Zulmira Ribeiro. “Getúlio Vargas no cinejornal — júbilos nacionais”. Fo-
nacionais; rever na família a síntese moral da pátria, na bandeira o símbolo de
Ê lha de S. Paulo, Suplemento Folhetim, 17/4/1983, p. 3.
glória; honrar a tradição cristã e cívica do Brasil eterno para o nosso culto; servir
28. Sobre a questão do proletário, consultar A Manhã. Rio de Janeiro, 16/1/1944. p. 5;
com o mesmo devotamento às armas e às letras; cumprir fielmente os deveres di Cena Muda, 27/7/1943, p. 6; “O Brasil de hoje, de ontem e de amanhã”, janeiro de
vida política; lidar pela causa do ensino primário; defesa inicial da língua e da raça
É 1940, p. 14-16 e Departamento de Imprensa e Propaganda (1943, p. 59).
seguir as grandeslições dos antepassados; santificar pela fé nacionalista os dias he
29. A propósito da revista Cultura Política, consultar o artigo de minha autoria: Velloso
róicos da pátria e osdias úteis do trabalho.” “O dever do escritor”. A Manhã. Riode — (1982, p. 72-108).
Janeiro, 4/4/1943.
30. Cf. “O pensamento político do presidente”. Separata de artigos e editoriais dos pri-
. CE “Advertência aos maus políticos”. A Manhã. Rio de Janeiro, 5/7/1942.
o

* meiros 25 números da revista Cultura Política, abril de 1943, p. 112-117.


7. Andrade, Almir de. “Intelectuais e políticos”. A Manhã. Rio de Janeiro, 23/1/1944, 1. Moniz, Heitor. “As origens culturais da revolução brasileira”. A Manhã. Rio de Ja-
p. 4.
neiro, 5/2/1944.
8. Esta idéia é defendida por Cassiano Ricardo. Ver Velloso (1983). 2. Ver “Glória a Tiradentes”. A Manhã. Rio de Janeiro, 21/4/1942, e “A significação do
9. Sobre o papel da imprensa no regime, ver Velloso (1983, p. 6-10). * culto de Caxias”. A Manhã. Rio de Janeiro, 16/8/1942.
10. Reis, Nélio. “O dia do presidente e os novos estúdios da Rádio Nacional”. A fa 3, Este conceito popular é expresso por um dos apologistas do trabalho musical de
nhã. Rio de Janeiro, 19/4/1942, p. 5.
Villa-Lobos no Estado Novo. Ver Squeff e Wisnik (1982).
11. Cf “A imprensa e a propaganda no quingiênio 1937-42; o DNP e o DIP”. Cultura
Política. Rio de Janeiro, 21, novembro de 1942, p. 168-187 e A hora do Brasil. “E
Brasil de hoje, ontem e de amanhã”. Fevereiro de 1940,p. 44-45.
12. A análise da propaganda totalitária é desenvolvida por Arendt (1979).

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O BRASIL REPUBLICANO OS INTELECTUAIS E A POLÍTICA CULTURAL DO ESTADO NOVO

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