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Criatividade na BNCC e em

pesquisas atinentes à educação


literária: indagações e desvelamentos1
Maria Amélia Dalvi*

Resumo Contextualização2
Problematiza-se o tratamento dispen- Desde meados dos anos de 1980, e
sado à criatividade no processo de mais particularmente da década de 1990
educação escolar, focalizando-se, em
seguida, as especificidades da educa- em diante, havia um sensível refluxo das
ção literária. As fontes para a pesqui- correntes pedagógicas críticas, coerente-
sa foram a recém oficializada Base mente com o momento político-econômico
Nacional Comum Curricular e pes-
quisas contemporâneas desenvolvidas mundial: a ascensão de Thatcher, na In-
em programas de pós-graduação bra- glaterra, em 1979; de Reagan, nos EUA,
sileiros. O que se constata, na análise em 1981; de Kohl, na Alemanha, em
do documento oficial, é a redução da
criatividade a uma dimensão instru-
1982; de Collor, no Brasil, em 1989 – que
mental. Por outro lado, a análise de representavam a posição conservadora
pesquisas contemporâneas evidencia a nos respectivos países, sob o signo do
coexistência de distintas perspectivas
neoliberalismo/ultraliberalismo. Isso se
no tocante ao papel da criatividade
na educação literária, bem como da deu, entre outros fatores, em função da
educação literária no desenvolvimen- ampla e sistemática disseminação, no
to da criatividade. Na discussão, é
plano ideológico, de princípios econômicos
retomada a proposta de superação
da crença na criatividade como algo como o equilíbrio fiscal, a desregulação
inato ou espontâneo e, na parte final, de mercados, a abertura das economias
discute-se como as atuais perspectivas nacionais e a privatização dos serviços
oficiais para o ensino de literatura na
escola podem esvaziar tanto o corpo públicos. O vetor político necessário a
de conteúdos historicamente produzi-
dos sobre a literatura, quanto, tam-
bém, a especificidade do trabalho do *
Departamento de Linguagens, Cultura e Educação;
professor de literatura. Programa de Pós-Graduação em Letras; Programa de
Pós-Graduação em Educação.
Palavras-chave: Criatividade; Base
Nacional Comum Curricular; Educa- Data de submissão: abr. 2019 – Data de aceite: jul. 2019
ção Literária; Ensino de Literatura. http://dx.doi.org/10.5335/rdes.v15i2.9900

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uma tal reorganização do poder foi a des- para a necessidade de identidades flexíveis,
e Lévy trouxe a ideia de um novo tipo de
confiança em relação às democracias de
organização cognitiva trazido pela dissemi-
massa, à regulação estatal e à viabilidade nação da vida digital. Depois da morte do
de direitos amplos da cidadania assegu- autor, delineada por Barthes nos anos 60,
tínhamos nos anos 80 a morte do sujeito,
rados ao conjunto da população em cada como crítica das filosofias da consciência,
país (ao trabalho, à educação, à saúde, à da soberania ou da representação, que nos
segurança pública e à previdência social). apresentavam, em nome deste falso univer-
sal, variações particulares de subjetividades
Os efeitos desse processo (ainda) se fazem específicas: branca, ocidental, masculina,
sentir no presente, em especial nos países acadêmica, economicamente privilegiada.
latino-americanos (IBARRA, 2011).
Neste contexto, a operacionalização
O clima cultural de época ficou con-
e compreensão dos comportamentos, re-
signado como “pós-moderno”, pois, di-
funcionalizada, se faria não pela objetivi-
ferentemente da condição tipicamente
dade material e pela integração dialética
moderna (como conquista do mundo
entre os planos teórico e prático, mas
material), o novo momento teria seu eixo
pela produção de efeitos demonstráveis
na produção de símbolos, na simulação
e mensuráveis, que se apresentariam, de
de modelos, nos jogos de linguagem.
um lado, por critérios de “performance”,
Dunker (2018, [s. p.]) assim sintetiza o
e, por outro, de “desempenho” e “eficá-
“clima” intelectual de época:
cia”; assim, a legitimidade da pesquisa
Naquela ocasião, tratava-se de entender e do ensino se daria pelos seus “efeitos”,
principalmente um fenômeno estético, pro-
eminente da arquitetura; ele se afigurava pela “produtividade” e, enfim, pelas
como uma desestabilização da noção de “competências”3 que fossem capazes de
gênero e das prerrogativas canônicas do
desenvolver e comprovar (GIROTTO,
modernismo da Bauhaus e Van der Rohe.
Na literatura, ele se exprimiu basicamente 2014; THIENGO, BIANCHETTI, DE
pela combinação de certo niilismo com a MARI, 2018). Conforme Saviani (2007,
valorização de narrativas que exprimiam
posições de minorias como em Paul Auster
p. 426-427):
ou David Foster Wallace. Interpretado por Nesse novo contexto, as ideias pedagógicas
teóricos da literatura, o fenômeno parecia sofrem grande inflexão: passa-se a assumir
ser uma nova maneira de criticar a forma [...] o fracasso da escola pública, justificando
romance. Lido por filósofos como Lyotard, sua decadência como algo inerente à inca-
ele descrevia um novo estilo argumentati- pacidade do Estado de gerir o bem comum.
vo, marcado por narrativas comprimidas e Com isso se advoga, também no âmbito da
por jogos de linguagem. Harvey e Anderson educação, a primazia da iniciativa privada
quiseram ver que tal acontecimento indica- regida pelas leis do mercado.
va uma nova organização do capitalismo,
que precisava justificar em termos sociais a
O descentramento e a desconstru-
flexibilização de relações laborais, a redução
dos vínculos formais e a deslocalização da ção das ideias pedagógicas críticas de
produção. Guidens desdobrou o problema

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décadas anteriores assumem algumas Para atender a esse projeto, a educa-
estratégias4: o uso de expressões ou ter- ção escolar proporciona um preparo bá-
mos teóricos intercambiáveis e voláteis; sico, por meio de um currículo “enxuto”,
o agenciamento pontual de autores e com foco no contemporâneo e no cotidia-
tradições de pensamento com ampla no (e, frequentemente, com valorização
aceitação científica, visando a legitimar de práticas “espontâneas” – em geral
propostas com finalidades sociais bas- afins à lógica da massificação cultural;
tante diferentes; as conciliações teóri- e com ataques de diferentes naturezas
cas que redundam na dificuldade de se contra o conhecimento artístico, cientí-
reconhecerem as bases filosóficas das fico e filosófico elaborado, sistematizado
propostas educacionais; a anteposição e formalizado).
de prefixos como “pós” ou “neo” como No plano da educação literária – que
marcação de uma suposta superação ou é o terreno em que iremos nos situar,
uma sucessão previsível. mais adiante –, isso é visível: nas críticas
Toda essa “flexibilização” axiológica, ao “excesso” de conceitos especializados,
epistemológica e terminológica é coe- de conteúdos formalizados e de leituras
rente com a reorganização das bases de demandadas pela escola; na atenção dis-
produção da riqueza neste momento: pensada às práticas leitoras que correm
substituindo o Fordismo, o Toyotismo à margem da educação formal, entendi-
opera com trabalhadores polivalentes das como mais “genuínas” (embora quase
visando à produção diversificada para completamente reguladas pelas modas
nichos de mercado específicos. Ou seja, induzidas pela indústria da cultura)
não se tem mais um trabalhador espe- que as práticas “autoritárias” orientadas
cializado e uma linha de produção rígida; pela escola; na defesa da subjetividade
a nova demanda é por trabalhadores po- e produção de leituras singulares como
livalentes, produtivos e autorregulados: critério principal de validação das ex-
As mudanças tecnológicas e de organização periências literárias, em detrimento da
do trabalho por que passam os países de importância de se conhecerem leituras
capitalismo avançado a partir dos meados críticas especializadas; na redução da
da década de [19]80 configuram o mundo
produtivo com algumas características importância do profissional especializa-
tendenciais: flexibilização da produção e do em favor de vivências mediadas por
reestruturação das ocupações; integração de
sujeitos em relações horizontalizadas,
setores da produção; multifuncionalidade e
polivalência dos trabalhadores; valorização que terminam por esvaziar a função
dos trabalhadores não ligados ao trabalho específica do professor; e, enfim, no
prescrito ou ao conhecimento formalizado.
mal-estar que causa a própria ideia de
(RAMOS, 2011, p. 37-38).
“ensino de literatura”5.

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A dimensão obrigatória dos currículos sedutor discurso em defesa da liberdade
para a educação básica e superior con- e da autonomia, e minimiza a impor-
templa apenas conhecimentos gerais a tância da educação escolar e do diálogo
respeito das diferentes áreas do conhe- entre posições antagônicas claramente
cimento – eventualmente aprofundadas posicionadas no seio do tecido social no
com base nos interesses e possibilidades pleno desenvolvimento do psiquismo dos
individuais. O objetivo é oferecer funda- sujeitos7. Assim, ignora-se que, para a
mentos mínimos para que o sujeito se maioria das crianças, é na escola que
torne capaz de “aprender a aprender”6 se tem acesso ao conhecimento humano
por conta própria, vida afora, indepen- mais elaborado, e que é a apropriação-
dentemente de se assegurarem políti- -objetivação desse conhecimento o que
cas de educação escolar e de formação permitirá saltos qualitativos necessários
profissional continuada – de modo que ao desenvolvimento da consciência críti-
a não-empregabilidade seja uma respon- ca emancipada:
sabilidade individual. Conforme Saviani [...] a consciência não pode ser identificada
(2007, p. 429): exclusivamente com o mundo das vivências
internas, mas apreendida como ato psíquico
[...] Trata-se de preparar os indivíduos para experienciado pelo indivíduo e, ao mesmo
[...] se tornarem cada vez mais empregáveis, tempo, expressão de suas relações com os
visando a escapar da condição de excluí- outros homens e com o mundo (MARTINS,
dos. [...] A pedagogia da exclusão lhes terá 2013, p. 29).
ensinado a introjetar a responsabilidade
por essa condição. [...] Além do emprego
Na lógica da educação neoliberal, em
formal, acena-se com a possibilidade de sua
transformação em microempresário, com a vez de desenvolver a consciência crítica
informalidade, o trabalho por conta própria, que supera as hegemonias momentâ-
isto é, sua conversão em empresário de si
neas, competiria à educação escolar a
mesmo, o trabalho voluntário, terceirizado,
subsumido em organizações não-governa- responsabilidade de preparar os indiví-
mentais etc. duos para as exigências mercadológicas
do momento contemporâneo, autorre-
Nesse contexto, termos como “criativi-
gulando o próprio processo (ou seja,
dade”, “empreendedorismo”, “flexibilida-
internalizando a lógica do “aprender a
de” e “inovação” recebem forte impulso,
aprender”). Assim, esse percurso forma-
passando a ser vistos como atributos
ria sujeitos aptos a lidar com incertezas
individuais desejáveis, necessários aos
e volatilidades no plano profissional, ao
tempos de esfacelamento do mercado de
mesmo tempo em que são intensamen-
trabalho com empregos estáveis e com
te exigidos resultados demonstráveis e
direitos assegurados. A oposição a uma
mensuráveis.
educação universal se apresenta com um

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Face à impossibilidade de abordar sociais), e como um processo intencio-
todos os termos-chave dessa nova lógica nalmente desenvolvido, que inclui a
produtiva e educativa, abordarei, neste brincadeira, a imaginação e a fantasia,
trabalho, diferentes modos como a criati- em correlação com a apropriação-ob-
vidade comparece em documentos públi- jetivação dialética dos conhecimentos
cos contemporâneos (particularmente, a historicamente produzidos, organizados
Base Nacional Comum Curricular) e em e socializados pela humanidade; e d) a
pesquisas dedicadas à educação literária “sociocultural”, que tem suas bases
e/ou ao ensino de literatura. em autores díspares como Bakhtin,
Dewey, Vygotsky e Valsiner; demonstra
Noções acerca de interesse especial pela criatividade coti-
criatividade diana, que se constitui no dia a dia, nos
pequenos atos praticados por pessoas
Em estudo dedicado a mapear dife- e por grupos sociais, e entende a cria-
rentes concepções teóricas acerca da tividade cotidiana como participante
criatividade nos últimos 70 anos, Ne- do mesmo continuum da criatividade
ves-Pereira (2018, p. 2) sistematiza as “genial”.
seguintes concepções: a) a “conceitual Nosso estudo se ancora em uma pers-
padrão”, que congrega as noções de pectiva materialista histórica – incompa-
“novo, original e útil”, em consonância tível, portanto, com: a) o funcionalismo
com valores funcionais e pragmáticos e pragmatismo da abordagem conceitual
da psicologia norte-americana, e que padrão; b) a redução da noção de con-
compreende a criatividade como um texto à lógica de um sistema fechado e
traço pessoal de personalidade e ação; unitário; c) o suposto “pluralismo” epis-
b) a “conceitual-sistêmica”, que não temológico da perspectiva identificada
se limita à “utilidade-novidade”, com- como “sociocultural” e com a ideia de
preendida como algo individualmente “genialidade” individual, que se assenta,
produzido, mas que entende a criati- claramente, em uma base liberal. Por
vidade como operando em um contexto isso, faz-se necessário avançar um pouco
social, na interação entre sujeito, cul- mais, neste momento, na perspectiva
tura e campo; c) a “socio-histórica”, socio-histórica da criatividade.
que deriva particularmente da obra de Como é sabido, Vygotsky e seus
Vygotsky8 e colaboradores, e entende a colaboradores (VYGOTSKY, LURIA,
criatividade como uma função psicoló- LEONTIEV, 2000) realizaram uma mu-
gica superior (que resulta da interna- dança significativa na compreensão do
lização de processos intersubjetivos/ desenvolvimento humano (entendido

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agora não mais como processo evolutivo fantasia e pensamento conceitual. E
interno, mas como processo dialético somente no adulto a criatividade se
sócio-histórico; não mais como pré-re- torna madura, como função mental
quisito, mas como resultado da atividade superior que pode ser conscientemente
mediadora dos signos/da linguagem e regulada, entre outros fatores, pela
das práticas sociais). Dessa feita, o su- incorporação e superação dos conheci-
jeito criativo passou a ter uma história mentos historicamente produzidos pela
situada temporal, espacial e ideologi- humanidade, devidamente apropriados
camente, que articula dialeticamente a e objetivados no curso da educação
dimensão macro à dimensão existencial formalizada, pois
particular. A vida reproduz sempre o velho, produz in-
Vygotsky (2014, 2018) propôs uma cessantemente o novo, a luta entre o velho
teoria da criatividade segundo a qual a e o novo penetra em todas as manifestações
da vida (LUKÁCS, 1970, p. 203).
imaginação criativa se desenvolve par-
tindo da brincadeira da criança (onde Ou seja: para a abordagem vygot-
a simbolização do que não existe na skyana, no adulto, emoções, sentidos e
imediaticidade tangível da experiência cognição, devidamente situados socio-
sensória adquire importância funda- -historicamente em face da apropriação
mental para a gênese do pensamento e objetivação dos conhecimentos produzi-
abstrato, que será fundamental para dos pela humanidade, são sintetizados e
a futura capacidade ideativa, aqui dão origem a uma criatividade intencio-
entendida como necessária à atividade nal (e, portanto, não acidental):
criativa intencional). A brincadeira da
[...] a imaginação, base de toda atividade
criança, nessa perspectiva, é um ponto criadora, manifesta-se, sem dúvida em to-
de partida para o processo que culmi- dos os campos da vida cultural, tornando-se
também possível a criação artística, a cien-
nará na formação do sujeito criativo, e tífica e a técnica. Nesse sentido, necessaria-
não a máxima realização da atividade mente, tudo o que nos cerca e foi feito pelas
criativa – como eventualmente o senso- mãos do homem, todo o mundo da cultura,
diferentemente do mundo da natureza, tudo
-comum apregoa: a criança como o ser isso é produto da imaginação e da criação
cujo pensamento e produção seria livre humana que nela se baseia (VYGOTSKY,
2009, p. 14).
das amarras sociais, e, portanto, seria
plenamente criativo. Mas, como veremos a seguir, não
Ainda conforme o autor, um novo parece ser a compreensão majoritária.
nível de criatividade é atingido pelo Em alentado estudo dedicado ao assunto,
adolescente, graças à progressiva in- Saccomani (2014, p. 10-11) afirma:
teração regulada entre imaginação/

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[...] tornou-se senso comum a concepção de No documento dedicado à “Etapa da
criatividade como um potencial individual
Educação Infantil”, a palavra “criativida-
que se manifesta de modo natural ou que se
desenvolve a partir de relações espontâne- de” aparece unicamente no item “Direi-
as com o mundo da cultura, dispensando a tos de Aprendizagem e Desenvolvimento
transmissão sistemática de conhecimento
ou até mesmo a ela se contrapondo. Ademais
na Educação Infantil”:
[...] a transmissão do conhecimento é com- Brincar cotidianamente de diversas for-
preendida como autoritária, impositiva e mas, em diferentes espaços e tempos, com
repressiva, como algo que tolheria a liberda- diferentes parceiros (crianças e adultos),
de e cercearia a criatividade dos indivíduos. ampliando e diversificando seu acesso a
produções culturais, seus conhecimentos,
Por meio de uma alentada revisão sua imaginação, sua criatividade, suas ex-
bibliográfica sobre propostas pedagógi- periências emocionais, corporais, sensoriais,
expressivas, cognitivas, sociais e relacionais
cas para o trabalho com contos de fadas, (BRASIL, 2018, [s. p.], grifos nossos).
Ferreira (2018) pontuou que a maior
parte dos argumentos gravita o tema Já no documento dedicado à “Etapa
da criatividade (seu estímulo/cultivo ou do Ensino Fundamental”, não comparece
seu embotamento) e, a esse respeito, nenhuma ocorrência da palavra “criati-
chega a uma conclusão semelhante à vidade”, nem de cognatos. Por fim, no
de Saccomani (2014) – o que nos leva à documento dedicado à “Etapa do Ensino
constatação de pesquisadores distintos, Médio”, há algumas ocorrências.
filiados a instituições distintas, traba- Duas no item dedicado às “Finalida-
lhando com assuntos e recortes distintos, des do Ensino Médio no mundo contem-
a partir de referenciais teóricos distintos, porâneo”:
identificam uma hegemonia no campo [...] proporcionar uma cultura favorável ao
especializado no tocante à criatividade. desenvolvimento de atitudes, capacidades e
valores que promovam o empreendedorismo
(criatividade, inovação, organização, plane-
Criatividade nos jamento, responsabilidade, liderança, cola-
documentos oficiais boração, visão de futuro, assunção de riscos,
resiliência e curiosidade científica, entre
outros), entendido como competência essen-
Dada a impossibilidade de abordar, cial ao desenvolvimento pessoal, à cidadania
neste curto estudo, todos os documen- ativa, à inclusão social e à empregabilidade
(BRASIL, 2018, [s. p.], grifos nossos).
tos oficiais da educação nacional que
atualmente orientam o processo de esco- [A preparação básica para o trabalho e a
cidadania] supõe o desenvolvimento de com-
larização obrigatória entre os 4 e os 17 petências que possibilitem aos estudantes
anos, optamos por nos restringir ao mais inserir-se de forma ativa, crítica, criativa e
recente deles: a Base Nacional Comum responsável em um mundo do trabalho cada
vez mais complexo e imprevisível, criando
Curricular (BNCC). possibilidades para viabilizar seu projeto

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de vida e continuar aprendendo, de modo a No Ensino Médio, o foco da área de Lingua-
ser capazes de se adaptar com flexibilidade gens e suas Tecnologias está na ampliação
a novas condições de ocupação ou aperfeiço- da autonomia, do protagonismo e da autoria
amento posteriores (BRASIL, 2018, [s. p.], nas práticas de diferentes linguagens; na
grifos nossos). identificação e na crítica aos diferentes usos
das linguagens, explicitando seu poder no
Outra ocorrência no item “As tecno- estabelecimento de relações; na apreciação
e na participação em diversas manifesta-
logias digitais e a computação”:
ções artísticas e culturais; e no uso criativo
São definidas competências e habilidades, das diversas mídias (BRASIL, 2018, [s. p.],
nas diferentes áreas, que permitem aos grifos nossos).
estudantes: [...] utilizar, propor e/ou im-
plementar soluções (processos e produtos) E uma última no item “BNCC e iti-
envolvendo diferentes tecnologias, para nerários”:
identificar, analisar, modelar e solucionar
problemas complexos em diversas áreas da Assim, a oferta de diferentes itinerários
vida cotidiana, explorando de forma efetiva formativos pelas escolas deve considerar a
o raciocínio lógico, o pensamento computa- realidade local, os anseios da comunidade
cional, o espírito de investigação e a criati- escolar [...] de forma a propiciar aos estu-
vidade (BRASIL, 2018, [s. p.], grifos nossos). dantes possibilidades efetivas para cons-
truir e desenvolver seus projetos de vida e
Outra no item “As juventudes e o se integrar de forma consciente e autônoma
na vida cidadã e no mundo do trabalho. Para
ensino médio”:
tanto, os itinerários devem [...] organizar-se
Para formar esses jovens como sujeitos crí- em torno de um ou mais dos seguintes eixos
ticos, criativos, autônomos e responsáveis, estruturantes: [...] II – processos criativos:
cabe às escolas de Ensino Médio propor- supõem o uso e o aprofundamento do conhe-
cionar experiências e processos que lhes cimento científico na construção e criação
garantam as aprendizagens necessárias de experimentos, modelos, protótipos para
para a leitura da realidade, o enfrentamento a criação de processos ou produtos que aten-
dos novos desafios da contemporaneidade dam a demandas para a resolução de pro-
(sociais, econômicos e ambientais) e a to- blemas identificados na sociedade (BRASIL,
mada de decisões éticas e fundamentadas. 2018, [s. p.], grifos nossos).
O mundo deve lhes ser apresentado como
campo aberto para investigação e interven- Nota-se uma diferença na compreen-
ção quanto a seus aspectos políticos, sociais, são da criatividade no documento de-
produtivos, ambientais e culturais, de modo
que se sintam estimulados a equacionar e dicado à educação infantil e ao ensino
resolver questões legadas pelas gerações médio. No primeiro, a criatividade apa-
anteriores – e que se refletem nos contextos rece citada no item dedicado aos direitos
atuais –, abrindo-se criativamente para o
novo (BRASIL, 2018, [s. p.], grifos nossos). de aprendizagem e desenvolvimento,
especificamente no item que trata da
Outra no item “A progressão das importância do “brincar cotidianamente
aprendizagens essenciais do ensino fun- de diversas formas, em diferentes espa-
damental para o ensino médio”: ços e tempos, com diferentes parceiros
(crianças e adultos)”. O que nos chama

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a atenção é a afirmação de que o brincar habilidades” que promovam o “empreen-
cotidianamente permitiria a ampliação dedorismo”, entendido como “essencial
e diversificação do acesso da criança às ao desenvolvimento pessoal, à cidadania
produções culturais, aos conhecimen- ativa, à inclusão social e à empregabi-
tos, à imaginação, à criatividade, às lidade”. A criatividade não é abordada
experiências. Tem-se aqui uma visão como capacidade imaginativa necessária
aparentemente mais próxima daquela ao questionamento e à transformação da
que sistematizamos a partir de Vygotsky sociedade, mas à sua confirmação – e,
e colaboradores. Porém, destacamos que portanto, à sua reprodução.
a criatividade (bem como a imaginação, Na segunda ocorrência, novamente,
que lhe é inerente) é listada como algo a criatividade é apresentada como uma
dado de antemão, algo a que as crianças das “competências” que possibilitam
teriam acesso – e não como uma função aos estudantes inserir-se no “mundo do
psicológica superior que deveria ser pro- trabalho cada vez mais complexo e im-
gressivamente desenvolvida. previsível”, “criando possibilidades para
Já no documento dedicado ao ensino viabilizar seu projeto de vida e continuar
médio (EM), fica bastante evidente todo aprendendo”. Tudo isso na lógica de que
o jargão neoliberal e salta aos olhos o os sujeitos sejam “capazes de se adaptar
objetivo de formar subjetividades afins com flexibilidade a novas condições de
à lógica produtiva em voga a partir das ocupação ou aperfeiçoamento posterio-
transformações no mundo do trabalho res” – dimensões da nova ordem produ-
contemporâneo – reafirmando aquilo que tiva que já analisamos anteriormente.
discutimos na contextualização inicial Vê-se, nessas duas ocorrências, a
deste trabalho. hegemonia, no documento oficial, das
Na primeira ocorrência, a criativi- pedagogias do “aprender a aprender”
dade aparece em parêntese explicativo, em seu atendimento à lógica econômica
consoante às finalidades do EM, que vigente, e em sua opção por confirmar o
seriam, entre outras, o “desenvolvimento atual sistema produtivo.
de atitudes, capacidades e valores que Na terceira ocorrência, reitera-se a
promovam o empreendedorismo (cria- opção pela “pedagogia das competên-
tividade, inovação, organização, plane- cias”, quando se afirma que é um dos
jamento, responsabilidade, liderança, objetivos do EM o desenvolvimento de
colaboração, visão de futuro, assunção “competências e habilidades que permi-
de riscos, resiliência e curiosidade cien- tem aos estudantes: [...] utilizar, propor
tífica, entre outros)”. Ou seja, o foco está e/ou implementar soluções [...] para iden-
no desenvolvimento de “competências e tificar, analisar, modelar e solucionar

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problemas complexos em diversas áreas adaptem e que sejam flexíveis, pois prevê
da vida cotidiana, explorando de forma que os jovens sejam “estimulados a equa-
efetiva o raciocínio lógico, o pensamento cionar e resolver questões [...], abrindo-se
computacional, o espírito de investigação criativamente para o novo” (grifos meus).
e a criatividade”. Ou seja: a criatividade Ou seja, não pensando criativamente o
(ao lado do raciocínio lógico, do pensa- novo, não questionando criativamente o
mento computacional e do espírito inves- novo, não transformando criativamente
tigativo) estaria dedicada a identificar, o novo, mas “abrindo-se criativamente”
analisar, modelar e solucionar problemas para ele. É a mesma lógica que preside a
da vida cotidiana. Como se pensar em ideia de que a criatividade deva compare-
uma educação literária plena, quando os cer “no uso criativo das diversas mídias”.
usos previstos para a criatividade estão As últimas ocorrências acontecem na
restritos aos problemas da vida cotidia- explicitação das bases da proposta de “iti-
na? Como a potência questionadora e nerários formativos”, presente na BNCC.
revolucionária da imaginação poderia ter A lógica dos itinerários formativos é
lugar nessa compreensão reducionista da afim à proposta de redução do currículo
criatividade humana? a um mínimo comum e à diversificação
A quarta ocorrência é a única, no de percursos, baseados nos interesses e
documento, que evidencia uma com- possibilidades individuais (aspecto que
preensão da criatividade como desdo- já discutimos no início deste trabalho).
bramento do processo de aprendizagem, Essa lógica fica evidente na afirmação
pois explica que de que “a oferta de diferentes itinerários
[...] cabe às escolas de Ensino Médio pro- formativos pelas escolas deve considerar
porcionar experiências e processos que lhes a realidade local, os anseios da comunida-
[aos jovens] garantam as aprendizagens de escolar” e de que a escolarização deve
necessárias para a leitura da realidade,
o enfrentamento dos novos desafios [...] a “propiciar aos estudantes possibilidades
tomada de decisões éticas e fundamentadas efetivas para construir e desenvolver
de problemas identificados na sociedade
seus projetos de vida e se integrar de for-
(BRASIL, 2018, [s. p.]).
ma consciente e autônoma na vida cidadã
Neste trecho, o documento afirma, e no mundo do trabalho”. Mais uma vez,
ainda, que “O mundo deve lhes ser apre- a perspectiva é de responsabilização do
sentado como campo aberto para inves- sujeito e de integração.
tigação e intervenção”. Porém, no final Ao apresentar os eixos estruturantes
do trecho, o entendimento a respeito da dos “itinerários”, o documento oficial
criatividade afina-se novamente à lógica defende que entre eles devem constar
de formação de subjetividades que se os “processos criativos”. Tais processos,

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segundo ainda o documento, “supõem vidade” em resumos de dissertações e te-
o uso e o aprofundamento do conheci- ses defendidas no Brasil (nos programas
mento científico na construção e criação de pós-graduação em Educação, Ensino,
de experimentos, modelos, protótipos” Letras e Linguística), no ano de 2018
– o que parece afim à compreensão de (mesmo ano de promulgação da BNCC),
criatividade que vínhamos defenden- a partir do Banco de Teses e Dissertações
do, em consonância com a perspectiva da Coordenação de Aperfeiçoamento de
histórico-cultural. Porém, o documento Pessoal de Nível Superior (Capes).
prossegue, esclarecendo que esse uso e Ao proceder um levantamento com-
aprofundamento do conhecimento serão binado utilizando os termos-chave
“para a criação de processos ou produ- “criatividade” e “literatura” e os crité-
tos que atendam a demandas para a rios explicitados no parágrafo anterior,
resolução de problemas identificados na encontramos 115 trabalhos, que foram
sociedade”. Ou seja: a criatividade, mais filtrados a partir da leitura de títulos e
uma vez, direcionada a finalidades prag- resumos. Dados os limites deste traba-
máticas, imediatistas; noutras palavras, lho, optamos por demonstrar, a partir
entendida como presente apenas quando de poucos exemplos, que o entendimento
se demonstra por meio de resultados de parte da comunidade científica em
mensuráveis, controláveis, a saber, na relação à criatividade não opera uma
“criação de processos e produtos que crítica consistente daquele ideário que
atendam a demandas”. encontramos no documento oficial ana-
Face à análise crítica das ocorrências lisado acima, havendo modalidades de
do termo “criatividade” e seus cognatos afinamento que vão da adesão plena,
na BNCC, parece bastante pertinente passando pela conciliação e pelo alhea-
concluir que as propostas oficiais hege- mento. Optamos por trazer trabalhos de
mônicas atuais no campo educacional distintas regiões do país (respectivamen-
brasileiro visam à confirmação dos ele- te, Norte, Sul e Nordeste).
mentos que discutimos na parte inicial No resumo do trabalho de Ferreira
deste trabalho. (2018), intitulado “O conto de fadas
na literatura: articulando práticas
Criatividade em pesquisas de leitura no 7º ano do ensino fun-
contemporâneas damental”, defendido na Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNI-
Para não ficarmos restritos aos docu- FESSPA), lemos que:
mentos oficiais, lançamo-nos à investiga-
ção sobre as ocorrências do termo “criati-

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Em um mundo que se mostra em constante Este trabalho traz por meio de uma pesqui-
evolução tecnológica, os meios de ensino sa de natureza qualitativa, do tipo pesqui-
se tornaram obsoletos, o que aumentou o saação, a análise do processo de letramento
desinteresse dos alunos. Assim, o uso das literário em três turmas de 6º ano de uma
novas tecnologias se tornou um aliado para escola pública de Curitiba. [...] Foram
a modernização do meio escolar, entretanto, analisados textos de natureza literária pro-
alguns profissionais ainda não utilizam estes duzidos por alunos-autores, na perspectiva
recursos, muitas vezes por falta de material de Ferreiro e Siro, Calkins e Reuter. Para o
ou mesmo por falta de interesse do próprio estudo desses textos, escritos com intenção
professor que ainda está preso às formas tra- literária pelos alunos-autores, foram consi-
dicionais de ensino. O presente trabalho visa deradas a escolha de fatores estruturantes:
pensar o valor dos contos de fadas [...]. Além a verossimilhança, a mimese, a expressi-
disso, busca envolver os discentes, utilizando vidade, a lógica e a progressão textual. Os
não só a releitura dos contos clássicos Disney resultados apontam para a eficácia da sequ-
bem como dos contos originais e as suas ver- ência didática expandida como metodologia
sões cinematográficas modernas [...] contri- para construção e consolidação do letramen-
buindo com o estímulo à leitura por fruição, to literário na escola, para a importância da
até a pretensão de promover os cânones e a partilha de leituras entre estudantes como
produção de textos do aluno, dispondo de sua forma de incentivo à formação do leitor.
criatividade (grifos nossos). Apontam também que, além do incentivo à
criatividade, é necessário ensinar ao aluno-
Como se vê, nesse resumo: a) os meios -autor modos para explorar a construção do
ethos discursivo (grifos nossos).
de ensino são vistos como obsoletos e res-
ponsáveis pelo desinteresse dos estudan- Neste trabalho, não se nota, como no
tes – sem qualquer problematização sobre anterior, uma desqualificação do ensino
a vida social externa à escola: o desinteres- sistematizado e intencional e nem uma
se é restrito a um problema metodológico; crítica direta aos docentes em atividade.
b) muitos profissionais não usam as novas No entanto, chama a atenção: a) que os
tecnologias por desinteresse e por uma resultados da pesquisa sejam apresen-
condição de prisioneiros das formas tradi- tados em face à lógica de “eficácia” – em
cionais – ou seja, por sua indisposição em consonância, mais uma vez, com o que foi
se “adaptarem” ou “ajustarem” aos novos discutido ao longo deste nosso trabalho;
tempos; e c) a criatividade é algo de que e b) que a autora polarize criatividade
se “dispõe” – e não algo que, intencional- (como algo a ser incentivado) versus
mente, se aprende, se desenvolve. ensino.
Um segundo estudo, de Valcanover Por fim, para demonstrar que as
(2018), intitulado “Trabalha e teima, e pesquisas contemporâneas nem sempre
lima, e sofre, e sua: letramento lite- endossam a perspectiva oficial em rela-
rário no ensino fundamental”, defen- ção à criatividade, trazemos o resumo
dido na Universidade Federal do Paraná do trabalho de Rangel (2018), intitulado
(UFPR), em seu resumo, pontua que: “Entre cigarras e formigas: leituras

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e recepção de Esopo, La Fontaine, nejamento e do compartilhamento de
Lobato e Manoel Monteiro no ensino leituras, bem como o reconhecimento
fundamental I”, defendido na Uni- da atividade dos mediadores de leitura
versidade Federal de Campina Grande como um trabalho com objetivos clara-
(UFCG): mente definidos. Além disso, cumpre
Este trabalho apresenta uma proposta de destacar que o estudo de Rangel (2018),
vivência com a leitura literária no âmbito mesmo partindo de uma fundamentação
da sala de aula, tendo como sujeitos alunos teórico-metodológica completamente
do 5º ano do Ensino Fundamental I, através
da leitura da clássica fábula A cigarra e a distinta daquela que expusemos neste
formiga, cuja “origem” é atribuída ao fabu- ensaio, coloca a criatividade como algo a
lista Esopo, e de versões adaptadas pelos
ser desenvolvido, ao lado de outras fun-
seguintes escritores: La Fontaine (Século
XVII), Monteiro Lobato (2010) e Manoel ções psicológicas superiores, tais como a
Monteiro (2012). A pesquisa teve como ob- autonomia, a imaginação, a reflexão, em
jetivo investigar, por meio da experiência
suma, a humanização – bem entendida
de leitura, a recepção estética das quatro
versões, observando aspectos como horizon- como processo de produção, direta e in-
te de expectativas e repertório de leitura tencional, em cada ser humano singular
apresentados pelos alunos [...] Os resultados
da pesquisa revelaram que, através da expe- da humanidade produzida historica-
riência de leitura literária desenvolvida, não mente e coletivamente pelo conjunto
apenas na sala de aula, mas em outros es- dos homens, como bem nos ensinam,
paços da escola [...], conseguimos favorecer
um envolvimento lúdico quanto à recepção por exemplo, Antonio Candido (1995) e
das quatro versões da fábula objeto desse Dermeval Saviani (2003).
estudo [...]. Verificamos que as estratégias
adotadas, por serem sistematizadas, pla-
nejadas, prazerosas e pautadas no diálogo Considerações finais
e na leitura compartilhada, permitiram
o encontro dos leitores com os textos, fato Em acordo com Saccomani (2014) e
que nos faz acreditar na possibilidade dos
mediadores de leitura, que podem realizar
Galvão e Saccomani (2019), este traba-
um trabalho efetivo e afetivo com a leitura lho também entende “criatividade” como
literária na escola, levando as crianças a transformação da realidade por meio da
desenvolverem autonomia, criatividade,
imaginação, reflexão e sobretudo, humani- atividade humana, ou seja, considera
zação (grifos nossos). que a criatividade tem sua gênese no
trabalho, e que, nesse sentido, ultrapas-
Chama a atenção que os resulta-
sa dicotomias presentes em discursos
dos sejam apresentados em relação ao
contemporâneos no campo do ensino de
favorecimento do envolvimento lúdico
literatura e/ou da educação literária (e,
(portanto, do aspecto de brincadeira,
assim, da formação de leitores literá-
fantasia, imaginação) e que haja uma
rios). Como exemplos, podemos citar a
valorização da sistematização, do pla-

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naturalização da oposição entre criação da à resolução pragmática de problemas
e reprodução, entre construção e trans- da vida contemporânea e imediata.
missão do conhecimento, entre inovação Reiteramos, assim, o que dissemos no
e conservação – e, mais especificamente último encontro da Associação Brasileira
no que diz respeito às relações entre li- de Literatura Comparada, realizado em
teratura e educação, podemos recuperar 2018 na Universidade de Uberlândia,
como exemplos a defesa de que a escola quando pontuamos:
deveria abdicar da indicação de obras e É preciso que nos perguntemos: A quem
textos a serem lidos, do ensino planeja- ou a que interessa que não haja um corpo
do de conhecimentos sistematizados no de conhecimentos passível de organização,
sistematização, transmissão/instrução,
campo dos Estudos Literários e, enfim, apropriação e objetivação no campo do
deveria abdicar da avaliação sistemática conhecimento da Literatura? (E que, por-
tanto, seja possível reduzir a formação do
de leituras e escritas literárias.
professor de literatura a um caldo de in-
Vincados, como as autoras, pela dialé- formações mal-ajambradas, insistindo em
tica materialista e histórica, entendemos uma suposta formação pela e para a prática
esvaziada de adensamento teórico, crítico e
o trabalho como atividade que diferencia
historiográfico?) A quem ou que interessa
humanos e animais e como atividade que, que a Literatura na escola seja reduzida
ao mesmo tempo, conserva e transforma apenas a um momento de deleite, de lazer,
de fruição gratuita – ou, noutra feita, ao rei-
a realidade – de modo que a reprodução no dos equívocos e delírios individuais não
não seja apenas repetição e conservação, como ponto de partida, mas como ponto de
mas igualmente transformação. Assim, chegada? A quem ou a que interessa que os
pobres deste país não tenham acesso ao que
defendemos o ensino-aprendizagem de mais elaborado a humanidade produziu
de conhecimentos historicamente pro- em termos de conhecimento, procedimento e
atitude literárias – debatendo, questionan-
duzidos e sistematizados pela cultura
do e transformando esses conhecimentos,
humana, bem como o estudo orientado procedimentos e atitudes como forma de
dos clássicos literários (na sua dialética preparação para uma transformação social
mais ampla e de mais radicais proporções?
com os novos valores postos pelas obras
contemporâneas), como modos privile- [...] A redução do ensino de literatura à mera
relação sujeito-texto sem qualquer forma de
giados de cultivo e desenvolvimento da
mediação consciente, deliberada, planejada
criatividade literária dos estudantes e sistemática prestam um enorme serviço
em processo de escolarização. Noutras à mutilação da humanidade em cada um
de nós e, assim, à reinvenção contínua da
palavras, contrapusemo-nos à defesa da roda (ou seja, à negação de que avançamos
criatividade como um valor inato à crian- por superação dialética). Prestam, mesmo,
ça, que seria “sufocado” pelo processo de de minha perspectiva, um enorme serviço
à perpetuação de uma situação em que os
educação formal, ou ao entendimento da seres humanos não se entendem como par-
criatividade como “competência” devota- ticipantes de um rico caudal de relações [...].

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Ou seja, penso que a discussão sobre as vidade (e, assim, ao projeto de formação
práticas de ensino de literatura, no âmbito
humana ensejado a partir da educação
da comunidade acadêmica (e incluo aqui
todos os professores de literatura deste país, literária), parece-me que a citação
sejam os que atuam na educação básica, se- acima nos convoca como professores e
jam os que atuam no ensino superior) passa
pela desfetichização do ensino de literatura.
pesquisadores do campo, no momento
[...] Questiono o fetiche que se imiscui em contemporâneo. Tais me parecem ser os
posições hoje hegemônicas em nosso campo, grandes desafios e as grandes questões
que obliteram, desde minha perspectiva, a
natureza daquilo que deveria ser a educação a serem respondidos pela área, neste
literária escolar e, assim, fragilizam a Lite- momento, no tocante à criatividade no
ratura como campo do conhecimento e como processo escolar e, assim, no processo
disciplina escolar, esvaziando o trabalho do
professor, com consequências nefastas para de humanização dos sujeitos sob nossa
sua formação, sua carreira e sua prática. responsabilidade profissional – particu-
Se não há o que ser ensinado (ou seja, não larmente pela via do trabalho docente
é necessário transmitir conhecimentos), com a literatura em contexto escolar.
porque haveria aulas de Literatura? Se
qualquer texto vale e se o estudante só pre-
cisa conhecer o seu mundo imediato, porque Creativity in BNCC and in
seria necessário haver bibliotecas e centros Literary Education researches:
culturais de qualidade, diversificados, atua-
lizados e com boa curadoria e mediação? Se inquiries and disclosures
o trabalho do professor não tem necessi-
dade de selecionar e organizar conteúdos Abstract
e procedimentos didáticos, de avaliar a
aprendizagem, por que ainda se gastaria The treatment of creativity in the
dinheiro público formando e remunerando school education process is proble-
pessoas para esse trabalho? Se aquilo que matized, focusing on the specificities
espontaneamente ou no senso-comum sabe- of literary education. The sources for
mos sobre a literatura é tão ou mais legítimo the research were Brazilian official
que o saber científico, filosófico e artístico documents, as well as contemporary
acumulado pelas pesquisas e estudos mais developed in Brazilian postgradua-
avançados, por que se concederiam licenças te programs. What can be seen from
e bolsas para a formação continuada dos the analysis of the official document
profissionais da Educação? (DALVI, 2018, is the reduction of creativity to an
[s. p.]).
instrumental dimension. On the other
hand, the analysis of contemporary
Finalizando, então, à luz das cons- research shows the coexistence of dif-
tatações sobre a reprodução, na BNCC, ferent perspectives about creativity in
do ideário afim à atual lógica socioeco- literary education, as well as concer-
ning to importance of literary educa-
nômica e produtiva de cariz neoliberal/ tion in the development of creativity.
ultraliberal e sobre a adesão total ou Thus, the proposal to overcome the
parcial das pesquisas de pós-graduação belief in creativity as something in-
nate or spontaneous is reposted and,
à perspectiva oficial em relação à criati-

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in the final part, it is also discussed
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CANDIDO, Antonio. “O direito à literatura”.
Notas In: _______. Vários Escritos. São Paulo: Duas
Cidades, 1995. p. 235-263.
1
Uma primeira versão resumida deste trabalho, CHAUÍ, Marilena. A ideologia da competên-
na forma de recorte parcial e provisório de cia. São Paulo: Fundação Perseu Abramo;
resultados, foi apresentada como comunicação Belo Horizonte: Autêntica, 2014.
sob outro título no XVI Congresso Internacio-
nal da Abralic, realizado na Universidade de DALVI, Maria Amélia. Literatura Infantil e
Brasília, em julho de 2019. Democracia (parte 1). Disponível em: https://
2
Esta contextualização está baseada em Saviani diplomatique.org.br/literatura-infantil-e-de-
(2007) e Frigotto (2010). mocracia-parte-1/. Acesso em: 15 jul. 2019a.
3
Nossa crítica à lógica das competências está
fundada em Chauí, 2014; Frigotto, 2008; Gen- DALVI, Maria Amélia Dalvi. Literatura
tili e Silva, 1995; Mészáros, 2008; Ramos, 2011. Infantil e Democracia (parte 2). Disponível
4
Um dos exemplos do tipo de imprecisão teórica/ em: https://diplomatique.org.br/literatura-
terminológica em documentos oficiais pode ser -infantil-e-democracia-parte-2/. Acesso em:
visto em Libâneo, 2006. Uma outra análise 15 jul. 2019b.
de apropriação impertinente, que esvazia o
contexto e o sentido social da teoria de base, é DALVI, Maria Amélia. Literatura Infantil e
feita em relação ao pensamento materialista Democracia (parte 3). Disponível em: https://
histórico-dialético de Vygotsky, em Duarte diplomatique.org.br/literatura-infantil-e-de-
(2000). mocracia-parte-3/. Acesso em: 15 jul. 2019c.
5
Este assunto é mais extensamente desenvolvi-
do em Dalvi (2019a, 2019b e 2019c). DALVI, Maria Amélia. Práticas de ensino de
6
Nossa crítica ao “aprender a aprender” se ba- literatura. Palestra proferida no XX Encon-
seia em Duarte (2000). tro da Associação Brasileira de Literatura
7
A articulação que fazemos entre educação Comparada. Universidade de Uberlândia
escolar universalizada e o desenvolvimento do (Uberlândia), 2018 [s. p.], mimeo.
psiquismo se baseia em Martins (2013).
8
Optamos, neste trabalho, por uniformizar todas DUARTE, Newton. Vygotsky e o “aprender a
as ocorrências do nome Vygotsky e do adjetivo aprender”: críticas às apropriações neolibe-
vygotskyana. No entanto, é importante deixar rais e pós-modernas da teoria vygotskyana.
registrado que os diferentes estudiosos de sua Campinas: Autores Associados, 2000.
obra, bem como as diferentes edições optam por
grafias muito distintas entre si. DUNKER, Christian. A pós-verdade e
seu tempo político. Revista do Instituto
Humanitas da Unisinos (online). Dispo-
nível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-
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