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Resumo: O presente artigo relata as ações de intervenção pedagógica realizadas no trabalho com
literatura, no ano de 2013, no Colégio Estadual Wilson Joffre, município de Cascavel, com alunos da
2ª série do Ensino Médio. A proposta teve a finalidade de fazer um apanhado das influências das
correntes filosóficas e cientificistas, do século XIX, na literatura brasileira, sobretudo nos estilos
Realista e Naturalista, visando a aprimorar o ensino da literatura. Para tanto, tendo em vista a prática
pedagógica, buscaram-se estratégias didático-metodológicas para o desenvolvimento do trabalho a
fim de que os alunos conhecessem melhor tais produções literárias, bem como as características
desses movimentos e os referenciais filosóficos e teóricos deixados nas obras Quincas Borba de
Machado de Assis e em O Cortiço de Aluísio de Azevedo.
1. Introdução
1
Professora de Língua Portuguesa da Rede Estadual de Educação. Participante do Programa de
Desenvolvimento Educacional. PDE-2012. Col. Est. Wilson Joffre – Cascavel, Paraná.
2
Professor Doutor, Universidade do Oeste do Paraná – UNIOESTE. Área de Letras.
buscarmos marcas mais acentuadas de elementos ideológicos e filosóficos que
influenciaram e constituíram a literatura do fim do século XIX.
Este projeto, “Nas entrelinhas do romance Realista e Naturalista: as
influências ideológicas e filosóficas na produção literária brasileira do fim do século
XIX”, ajudou a ampliar os horizontes literários e a analisar desdobramentos da
produção brasileira. O estudo partiu da exploração de algumas correntes filosóficas,
cujas doutrinas interferiram na maneira de pensar dos intelectuais e literatos e
tiveram significativa influência na composição das obras literárias, bem como
averiguação de indícios cientificistas e positivistas no Realismo e Naturalismo,
sobretudo nas obras Quincas Borba, de Machado de Assis (1839 – 1908) e O
Cortiço, de Aluísio Azevedo (1857 - 1913).
O trabalho desenvolveu-se no Colégio Estadual Wilson Joffre, Cascavel –
Paraná, com estudantes da 2ª série do Ensino Médio. O intuito foi auxiliar os alunos
para que tivessem mais clareza e consiguissem descobrir os caminhos
contraditórios que os autores apresentam. Para que os objetivos do projeto fossem
alcançados e para que se obtivesse um bom desempenho, foram previstos os
seguintes encaminhamentos metodológicos: uma abordagem teórica das correntes
ideológicas da segunda metade do século XIX; estudo sobre o Realismo e o
Naturalismo e suas características, bem como estudo das obras Quincas Borba e O
Cortiço.
O século XIX foi marcante para o mundo das ideias, aflorando, nessa época,
muitas teorias e correntes filosóficas. Devido à abertura no plano ideológico, muitas
correntes de pensamento também repercutiram no Brasil, no séc. XIX. Os autores
desse período, por conseguinte, foram influenciados pelas tendências filosóficas e
cientificistas, cujo objetivo era analisar e observar a realidade para reproduzi-la.
É pertinente que se abra ao ensino literário a observação para o âmbito social
e político a fim de que haja o entendimento do contexto da obra. A literatura como,
segundo Antônio Cândido (1978, p. 96), “um produto humano, histórico, social,
evolutivo das nossas faculdades estéticas”, também esteve inserida nas agitações
sociais da segunda metade do século XIX, refletindo a tendência ideológica da
época, influenciada pelas correntes filosóficas e científicas e marcada,
principalmente, pela influência do Positivismo, uma filosofia fundada sobre a
experiência e os métodos da ciência. A preocupação com a verdade dos fatos; a
realidade concreta e objetiva; preocupação com a representação do mundo exterior;
o homem caracterizado de acordo com o meio em que vivia e com o momento, são
algumas características decorrentes desse período literário, influenciado pelo
momento histórico e político.
Para os realistas, o mundo é acessível, é descritível, é experienciado e passa
pela observação – princípios do Positivismo. O Naturalismo, por sua vez, vem
marcar, através das suas características, a influência do meio e do momento no
comportamento das pessoas, justificado pela presença de teorias científicas como o
darwinismo e, especialmente, o determinismo. Para melhor explicitar, destacamos o
seguinte comentário de Afrânio Coutinho:
Naturalismo:
1. É o Realismo fortalecido por uma teoria peculiar, de cunho científico,
uma visão materialista do homem, da vida e da sociedade;
2. A arte deve conformar-se com a natureza, utilizando-se dos métodos
científicos de observação e experimentação no tratamento dos fatos e das
personagens;
3. Visão materialista, científica, social, do homem em relação com o meio e
com a herança;
4. Visão mais determinista, mais mecanicista: o homem é um animal, presa
de forças fatais e superiores sem efeito e impulsionado pela fisiologia;
5. Inclinação reformadora: a sua preocupação com os aspectos da
inferioridade visam à melhoria das condições sociais que a geraram;
6. Espírito de objetividade e imparcialidade científicas. (COUTINHO, 2004.
p. 10-13).
Segundo Roland Barthes (1984, p. 70), “num romance realista, o conflito mais
freqüente é um conflito que opõe uma sociedade e um herói que recusa os limites
que essa sociedade pretenderia impor aos seus deveres e satisfações”. O Realismo,
por conseguinte, contrapôs-se ao Romantismo que trazia nos seus heróis, através
das ações, aquilo que se queria ver na sociedade e, além disso, veio apresentar e
refletir as transformações culturais, políticas, sociais e culturais da época,
especificamente da segunda metade do séc. XIX. Essas marcas sociais foram
bastante significativas na formação dos personagens e do enredo nos romances da
época e serviram de base para as obras Quincas Borba e O cortiço.
Levando-se em conta o que foi estudado e observado e, ainda mais, para que
se consiguisse atingir os objetivos em sala de aula, foi necessário detalhar mais os
movimentos Realista e Naturalista, buscando analisar as suas semelhanças e
contradições, relacionando-os com o contexto histórico da época. Para dar
condições de desenvolvimento ao trabalho e preparar os alunos para o estudo das
obras clássicas que seriam trabalhadas, discutiu-se, inicialmente, sobre a leitura na
vida estudantil e pessoal e a sua importância; a sua utilidade, hoje; para que estudar
literatura; o que deve ser valorizado numa produção literária; como é o contato do
aluno com essa leitura. Posteriormente, com o propósito de destacar influências das
correntes positivistas na produção literária, explicitando a ligação entre as ideias
filosóficas e a arte literária, foram analisadas e estudadas algumas teorias
cientificistas e filosóficas que estavam rondando o meio intelectual da época, cujas
ideologias estavam contextualizadas nas escolas literárias: realista e naturalista.
Tentar analisar as entrelinhas destes dois importantes romances da literatura
brasileira sob as nuances das ideologias da época foi um dos objetivos do projeto e
da produção didática.
Prendendo os alunos no espírito literário e instigando-os a um maior
envolvimento na análise de uma obra, conseguir-se-ão mais adeptos a esse tipo de
leitura e o trabalho deixará, talvez, de ser enfadonho tanto para os estudantes
quanto para os professores.
3. A Implementação Pedagógica
O gosto pela leitura não é algo intrínseco ao ser humano, mas cultiva-se com
o tempo – uns gostam mais, outros menos e alguns se pudessem se livrar dela
assim o fariam. Através da arte literária é possível perceber as ânsias de um povo
colocadas de forma metafórica por alguns literatos e às claras por outros.
O ensino de Literatura vem-se modificando em vários aspectos no decorrer
dos tempos: aprimoramento profissional por meio de formação continuada; melhor
estruturação didática; hábito de pesquisa; vontade de estudar métodos que facilitem
o aprendizado dos conteúdos da disciplina; dentre outros. Apesar das “mazelas”
educacionais, ainda precisamos acreditar que o processo ensino-aprendizagem dos
alunos se dê com excelência na escola e com crescimento intelectual.
Por conseguinte, a escolha dessas obras deu-se objetivando maior
aprofundamento nos movimentos literários Realismo e Naturalismo, bem como
perceber quais influências filosóficas e também políticas estavam implícitas nas
obras da época. Para tanto, foi disponibilizado para os alunos, inicialmente, o estudo
de algumas correntes filosóficas, tendo em vista que o período literário, final do séc.
XIX, incorporou algumas delas em suas características e/ou em seus romances.
Esperava-se melhor compreensão e assimilação dos temas nas obras, contudo,
percebeu-se que houve dificuldades em aprofundar o assunto, acarretando prejuízos
ao processo de análise do contexto: desde as correntes filóficas à análise das obras,
principalmente de Quincas Borba que exigia do aluno maior aprofundamento
filosófico e por ser um romance que tem certo tom meditativo sobre as atitudes
humanas.
Aprofundar o estudo de obras literárias consagradas seria o ideal; os alunos
conheceriam outras categorias (culturais, filosóficas, sociais etc.) abordadas num
romance que os levariam para compreensão de pormenores, relacionando a
literatura com o contexto político e as ideias filosóficas daquele momento. Tudo isso
é de suma importância, todavia é complexo trabalhar a literatura no formato que
existe hoje na rede de ensino; considerando algumas dificuldades, tem-se: poucas
aulas semanais; falta de tempo suficiente para se dedicar a um estudo mais
abrangente de algumas obras.
Diante da diversidade do público leitor nas escolas atualmente, constatou-se,
porém, que o desestímulo à leitura e a desatenção causou dificuldades para o leitor
acompanhar o enredo das obras. A falta de embasamento filosófico foi outro
obstáculo enfrentado, uma vez que as produções trabalhadas necessitavam de
noções básicas das correntes filosóficas que circulavam no fim do séc. XIX no meio
intelectual.
Ademais, é importante ressaltar que sempre se encontrarão maneiras
adequadas para uma boa aula de literatura em que os alunos possam absorver
melhor as informações. O trabalho, de uma forma geral, contribuiu para o nosso
estudo e aprimoramento literário, fazendo-nos enxergar outros horizontes na
literatura: seja como professora pesquisadora do assunto, ou seja na aplicação
prática – no ensino – dessa atividade. Apesar das dificuldades encontradas, o
trabalho foi satisfatório e rendeu uma boa análise dos romances estudados.
Referências
ASSIS, Machado. Quincas Borba. 1ª ed. São Paulo: Editora Egrégia Ltda, 1978.
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 36ª ed. rev. e aumentada.
São Paulo: Cultrix, 1999.