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IDENTIDADE E GÊNERO

Brasil: da identidade à marca


om o título “Brasil: da identidade à marca”,

C
RESUMO
Com o título “Brasil: da identidade à marca”, bus- busca-se evidenciar, na trajetória brasileira, o
ca-se evidenciar, na trajetória brasileira, o pensa- pensamento da nação como um “construto”
mento da nação como um “construto” que, após que, após estar longamente vinculado a um discurso
estar longamente vinculado a um discurso do Esta- do Estado e ao projeto nacional, hoje, liga-se pro-
do e ao projeto nacional, hoje, liga-se progressiva- gressivamente ao mercado. É esta passagem que
mente ao mercado. É esta passagem que buscare- buscaremos enfocar por meio das conexões entre
mos enfocar por meio das conexões entre corpo, corpo, moda, cultura e Brasil, tendo como pano de
moda, cultura e Brasil, tendo como pano de fundo a fundo a questão identitária, o desenvolvimento das
questão identitária, o desenvolvimento das novas novas tecnologias da comunicação e do marketing,
tecnologias da comunicação e do marketing, da pro- da produção têxtil, do design e a progressiva globali-
dução têxtil, do design e a progressiva globalização zação da economia.
da economia. O corpo funcionará como uma espécie de opera-
dor simbólico no quadro de uma antropologia do
PALAVRAS-CHAVE consumo. Seguindo pistas sobre o assunto, dadas
• identidade por Mary Douglas e Baron Isherwood,1 a leitura do
• nacionalidade consumo, de alguma forma, reconstrói dados sobre
• consumo a cultura de uma época e de um país. O consumo de
bens materiais e simbólicos é ativo e constante no
nosso cotidiano como estruturador de valores que
ABSTRACT constróem identidade, regulam relações sociais e de-
Under the title of “Brazil: from Identity to Brand”, at- finem mapas culturais. A elaboração de um pensa-
tempts are made to highlight the mindset of the nation as mento capaz de ler os significados culturais do con-
a construct in the history of Brazil that is today linked sumo, possui, assim, grande importância
progressively to the market, having long been bound to antropológica e comunicacional já que os bens são
State discourse and nationalistic projects. This transi- investidos de valores para expressar idéias, princí-
tion is analyzed through connections between the body, pios, provocar transformações e criar permanências.
fashion, culture and Brazil, set against a backdrop of Algumas categorias foram por nós estabelecidas
issues related to identity and the development of new entre os anos 50 e 2000 relacionando o corpo e o
communication and marketing technologies, fabric pro- universo da moda: moda/proposta (anos 50), moda/
duction, design and steadily-expanding economic global- prótese (anos 60 e 70), moda/fetiche (anos 80), moda/
ization. álibi (anos 90) e moda/instalação (anos 2000). Tais eti-
quetas marcam tendências preponderantes relativa-
KEY WORDS mente a questão em pauta. O que nos sugere o corpo
• identity da moda dos anos 50 aos anos 2000? Metáfora ou
• nacionality metonímia do Brasil?
• market A preocupação em definir o Brasil como nação e o
brasileiro como povo, como bem sublinha Lívia Bar-
bosa,2 foi um tema central de nosso pensamento
intelectual. Os movimentos de busca de identidade
nacional sempre se caracterizaram pelo desejo de
unificação, de banimento do outro, seja através de
um exotismo paradisíaco, encenado por exemplo no
romantismo, seja por um exotismo mestiço que, no
limite, perdia a abertura das diferenças para encar-
nar um mito.
Tradicionalmente, ao se falar de identidade na-
cional, o que se tinha em mente era uma comuni-
dade imaginada, unificadora do povo a ser admi-
nistrada por um Estado em busca do progresso.
Dentro de uma perspectiva evolucionista Silvio
Romero, bem como Euclides da Cunha ou Nina
Rodrigues, no século XIX, viram no elemento mes-
Nízia Vilaça tiço uma maneira de considerar a impossibilida-
ECA/UFRJ de de transplantar integralmente o desenvolvi-

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mento europeu. Era necessário esperar o proces- ou Bill Haley, não se submetiam a indumentária da
so de branqueamento social. época e Elvis Presley dava a nota. Tal clima de algu-
Definir o nacional foi uma luta ideológica que ma forma nos chega através do filme “Sementes de
atravessou diversos momentos históricos, notada- Violência”, 1955. Anunciava-se a revolução compor-
mente, os anos 20 com o Movimento Modernista, tamental dos anos 60.
com a antropofagia e também a década de 30 com a Já nos anos 60 e 70, que vamos denominar de
obra representativa de Gilberto Freyre que inverte o moda prótese, a moda constitui-se como uma exten-
sentido de mestiçagem atribuindo-lhe positividade. são do corpo para expressar linhas de liberdade,
Mantém, entretanto, o modelo que encobre conflitos contestação e novos imaginários como o espacial,
raciais, trocando raça por cultura. Para seguir o tra- revelando crescente integração com o mundo devi-
jeto aludido no título “Brasil: da identidade à mar- do ao desenvolvimento da comunicação em geral. O
ca”, faremos breve retrospecto da expansão do mer- início da década é marcado pela arte revolucionária
cado da moda nas décadas aludidas, da importância do CPC que leva aos extremos o pensamento sobre
crescente do mundo “fashion” em tempos globais, conscientização política, iniciado pelo ISEB.5 A dis-
assinalando as transformações das relações nos e cussão sobre o que seja o povo brasileiro toma conta
dos espaços, geográficos e simbólicos, por meio da do Movimento Teatral, Movimentos Estudantis e
comunicação mediada pela moda e suas estratégias Políticos.
de subjetivação cuja tônica apela para o corpo. Em 64, o Golpe e a Ditadura. É como se houvesse
O cenário sócio-histórico sempre articulou com- dois países: o Pop e o da Contracultura.6O novo
portamentos em que a estética corporal era recriada ídolo da classe média das sociedades de massas é
e transformada no jogo social e algumas vezes no Roberto Carlos. O programa Jovem Guarda é acom-
jugo social. A primeira de nossas categorias, a moda panhado de poderoso marketing. A marca Calham-
proposta, refere-se aos anos 50, momento em que a beque dissemina-se em toda uma gama de produ-
sociedade de consumo começa entre nós a delinear tos. O disco é vendido no exterior e, na América
seu perfil e em que o corpo brasileiro está atrelado a Latina, conseguia tanta fama quanto o “Tico-Tico no
todo um imaginário fashion que era importado. Fubá” ou “Aquarela do Brasil”. É a época dos tubi-
O cinema e a televisão disseminavam as imagens nhos que substituem as saias rodadas do new look.
do American Way of Life. A produção era massiva e o Era o duas peças e a calça saint tropez na corrida pela
consumo também. O período Kubitscheck se carac- liberdade de movimentos. A indústria nacional de-
teriza pela internacionalização da economia brasi- sencadeia uma ofensiva das fibras sintéticas: ban-
leira no momento que, paradoxalmente, procurava- lon, tergal, nylon, acrílico, rayon e poliester. Em 65,
se um ideário nacionalista. Desenvolve-se a indústria as saias tornam-se mais curtas, os temas gráficos
automobilística e têxtil. Cinqüenta anos em cinco substituem as estampas, os Beatles influenciam a
era a meta e a inauguração de Brasília, um marco. A moda jovem. Mary Quant lança a minissaia. Lon-
revista “Jóia”, junto com a “Manequim” e sua subs- dres é a grande influência. A moda unissex insinua-
tituta “Desfile”, foram pioneiras no sentido de acom- se. A novela Beto Rockfeller revoluciona a área na
panhar o crescimento da indústria nacional e apre- TV Tupi.
sentar a moda dentro do estilo fabricado no Brasil A discussão sobre países desenvolvidos e periféri-
baseado em modelos europeus. Pela primeira vez as cos desenvolve-se através de ensaios políticos que
pessoas comuns podem ter acesso às criações da se sucederão até 68, quando o AI-5 marcará um
moda sintonizadas com as tendências do momento. endurecimento do Regime. Em Paris, o Movimento
Em 55, as revistas “Elle” e “Vogue”, dedicam várias 68; as manifestações estudantis, no Brasil: desbunde
páginas às coleções prêt-à-porter. O modelo feminino e luta armada. Apesar da ditadura, há um estímulo
é branco, jovem e esguio. A saia lápis impede os controlado da cultura e a criação de instituições es-
movimentos. Nas fotos, a postura é rígida e freqüen- tatais que a organizam, como por exemplo o Conse-
temente, não há relação entre a roupa e o cenário. lho Federal de Cultura, a EMBRATUR ou o Instituto
Nara Leão com seu cabelinho de franja, sua pequena Nacional do Cinema. A década é marcada tanto por
voz, vestido até o joelho, era a grande sensação das um movimento de superfície, quanto por uma real
camadas média e alta das classes média. Pura Bossa revolução em termos de comportamento. A censura
Nova. Havia regras de decoro de acordo com a marca a distância entre os dois. A classe média pros-
hora, cuidados com os acessórios para a classe mé- segue com a tipologia das boutiques, enquanto mui-
dia de um modo geral. tos são presos e exilados.
Enquanto isso, sobretudo, na segunda metade da A escolha de estilo amplia-se. O corpo através das
década, em pontos dos Estados Unidos, discutiam- roupas, se solidariza com os movimentos mundiais,
se os beatnicks 3 e o existencialismo (vestuário seme- mas lança sua especificidade brasileira como bem
lhante ao dos punks 4 dos anos 70), escutava-se músi- demonstra o fenômeno Tropicalismo que lança duas
ca afro-americana, entregavam-se ao rock and roll, marcas brasileiras que até hoje contam um pouco de
quando o programa não era lançar-se on the road. nossa história: Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Jovens rebeldes como Marlon Brando, James Dean Os anos 70 dão continuidade aos anos 60. A revis-

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ta “Nova”, lançada em outubro de 1973, pela edito- trado nos tailleurs com ombreiras. No campo do la-
ra Abril, veio para informar a mulher dos anos 70 zer, elas constróem seus corpos, e as grifes ligadas
que, aos poucos, ia libertando-se do lar e conquis- ao esporte ganham importância. Como outras ten-
tando seu espaço na sociedade. Era indicada às sol- dências da época cabe assinalar a explosão das tri-
teiras ou casadas, mas com um perfil profissional e bos: punks, góticos, skinheads, new wavers, rappers. As
com uma certa liberdade sexual. Figura emblemáti- grifes japonesas entram em cena com a desestrutu-
ca desta década foi a mineira Zuzu Angel com loja ração da silhueta, apoiada em pesquisa têxtil. Sur-
em Ipanema, levando a moda brasileira para o então gem as top models.
desacreditado mercado americano. Explorou mate- Nos anos 90, a moda que chamamos de moda/álibi,
riais nacionais, valorizou seu nome ao colocar a eti- vai utilizar no mercado da moda os recursos prove-
queta do lado de fora e, em famosa coleção, fez nientes da política multicultural e do politicamente
alusões gráficas a morte de seu filho Stuart, morto correto. A etiqueta álibi vem aludir ao deslocamento
pelo regime militar em 70. Criava não só para a elite, das questões ligadas à ética e à política para o fórum
mas para a mulher comum. Apesar de ainda haver global das passarelas e veículos do mundo fashion. O
muita cópia, os costureiros brasileiros já davam seus Brasil se beneficia desta abertura à diferença. O cor-
passos em busca de uma moda nacional, mostrando po vestido torna-se outdoor ético, político, tribal. Ini-
seus trabalhos nas páginas das revistas femininas. ciam-se os megadesfiles, iniciando-se com o Phytoer-
Dener foi o primeiro ainda nos anos 50 e sua vida, vas Fashion, de Paulo Borges. Surgem desfiles
descrita por Carlos Dória,7 nos dá um retrato da autorais de Fause Haten e Marcelo Sommer. Deba-
dinâmica nacional/estrangeiro entre os anos 50 e 78, te-se a identidade nacional com estilistas, fotógra-
quando falece. Qual a fábrica estrangeira que tem fos, produtores etc. O Brasil tem sucesso no prêt-à-
etiqueta brasileira? – perguntava o costureiro notan- porter de Paris com Ocimar Versolato. O corpo da
do a decadência do setor no Brasil. Queixava-se da brasileira é objeto de desejo. O Brasil começa a tor-
moda estrangeira trazida pelos “compristas brasilei- nar-se objeto de exportação e, progressivamente, ins-
ros” (eufemismo para muambeiros). O governo pas- tala-se o ir e vir do nacional e do estrangeiro no
sou, depois, a taxar com importação, as compras campo da moda, por ocasião dos desfiles. Cabe lem-
feitas acima de 200 dólares. brar o surgimento da figura do stylist que, como
acentua Erika Palomino,8 não é o estilista, mas um
super produtor de moda que define o look e faz
Dando continuidade ao aspecto ponte com todos os envolvidos. Ele deve conhecer
história da arte, história da moda, acompanhar o
espetacular já presente nos mundo da música e do cinema. Acrescentaria cultu-
ra e política. Os anos 90 ampliam definitivamente o
anos 90, acentua-se a horizonte do planeta fashion, generalizando apropri-
ações no espaço e no tempo. A moda discute ciência,
importância de inventar e estética e ética.
Os anos 2000, no contexto da globalização da socie-
manter a marca com estratégias dade de consumo, cresce a preocupação com a Marca
Brasil, explorado como um grande celeiro de criativi-
que suscitam interatividade. dade e talentos nos mais diversos campos. Uma ten-
dência predominante, entre as estratégias adotadas, é
Passando pela moda hippie, pelas discotecas (no- o recurso ao imaginário da arte na sua versão instala-
vela “Dancing Days” e seu figurino psicodélico), ção: moda/instalação. Enfatiza-se a imagem do país no
pelo “No Future” dos punks (Sex Pistols), pelo clí- cenário global, oferecendo criatividade e desenvolvi-
max do jeans, os anos 70 entre nós se fecham com a mento tecnológico. O empréstimo, tomado ao campo
anistia e a tanga do Gabeira nas Dunas de Ipanema, artístico, aponta para o processo de construção da
significando a maior liberação política refletida nos identidade como esforço histórico e não essência ou
corpos. substância. Na trilha dos tropicalistas, a apropriação e
No plano mundial temos Tatcher e Bush, e a cres- a hibridação dão o tom. Dando continuidade ao as-
cente importância do neoliberalismo. Com a moda/ pecto espetacular já presente nos anos 90, acentua-se a
fetiche ainda mais que o corpo importa a grife. É a importância de inventar e manter a marca com estra-
época do desenvolvimento das multinacionais, dos tégias que suscitam interatividade, imersão ambien-
shopping centers e a importância das marcas assume tal, intertextualidade e outros recursos constitutivos
o relevo de fetiches que parecem anular o próprio da produção e percepção contemporâneas no campo
corpo. A construção das marcas e desenvolvimento das artes. Na São Paulo Fashion Week de 2005, o
da comunicação caminham paralelamente e as es- prédio da Bienal se transforma numa grande instala-
tratégias para criar e manter a importância da marca ção em que as 10 mil pessoas, que freqüentam o even-
não parará mais. É nesta época que cresce o movi- to diariamente, entram como participantes. Giselle
mento profissional das mulheres cujo poder é regis- Nasser, talento da nova geração, garante, por ocasião

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de sua seleção para o SPFW 2004, que não vai perder a importância atribuída à marca provém de um pro-
sua identidade. “Vou ficar mais comercial, não no cesso de compensação pela implosão constante de
sentido de estilo, mas no sentido de produção, de todas as formas resultantes de uma cultura descar-
viabilizar a roupa”, comenta.9 tável. A marca parece com a ilusão da forma que dá
A moda, cujas relações com o campo artístico sem- ao sujeito o sentido de permanência já que as ima-
pre foram presentes, sofistica seus processos de apro- gens se deslocam o tempo todo em torno do nome
priação estética. Os produtores e estilistas preocu- que é fixo.
pam-se com a elaboração de climas que sugerem a Na esteira deste sucesso o governo lançou a Mar-
complexidade da subjetivação contemporânea e bus- ca Brasil para promover os produtos e serviços bra-
cam a interação maior com o público. A possibilida- sileiros no exterior, um esforço da FIESP, do Minis-
de oferecida a todos parece ser a da escolha do tério do Desenvolvimento e do Turismo, Ministério
diálogo, da interferência, da reorganização ambien- do Turismo e do presidente da EMBRATUR, após
tal. Daí a variada dispersão da moda pela cidade pesquisa feita com empresas e estrangeiros que visi-
como um teatro de rua. Além da questão de propici- taram o Brasil.
ar uma provocação para a percepção do contempo- O presidente da FIESP disse que a marca vai agre-
râneo, a moda, no seu viés instalação,10 cria eventos gar valor aos produtos brasileiros. Segundo o minis-
que, por sua espetacularidade, reforçam a marca tro do turismo a marca é fundamental porque dá
como mais importante do que qualquer outra carac- forma, cor e visibilidade a um conjunto de senti-
terística do produto. A gestão da marca é o grande mentos que nós sempre tivemos no país. Cabe lem-
desafio no capitalismo de imagens que não pára de brar a importância que assume o design como bem
criar pseudo-sujeitos e pseudo-acontecimentos. A mostra a criação do prêmio “Brasil Faz Design”,
marca fabrica verdadeiros romances e narrativas pro- com o apoio de várias instituições públicas e empre-
venientes de diversos campos. sas particulares. A identidade agora é vendida na
diversidade.14
Cabe assinalar como reflexão final que a questão
Segundo Martín-Barbero, é o das marcas tanto aparece como estratégia do merca-
do contemporâneo em detrimento do Estado que
mercado capitalista que buscava o bem-estar social, como tem sido usada
por grupos de excluídos e periféricos que negociam
pressiona o sentido da suas identidades. Um exemplo dessa dinâmica pode
ser visto no caso Daspu/Daslu. Segundo Paolo Vir-
formação de identidades locais. no,15 em movimentos deste tipo, o povo não é visto
como um abstração paralela a idéia de Estado e de
No lançamento outono-inverno 2006 no MAM, a democracia representativa, mas como multidão cuja
palavra clima dominou, apontando o tema “Horti- singularidade vai se revelando processualmente. Tal
cultural” e a necessidade de conexão com o ecossis- fato não exclui a possibilidade de apropriações pro-
tema. Segundo Eloysa Simão, organizadora do even- venientes de um Estado que utiliza práticas de work-
to, “essa mistura remete à herança carioca onde fare, “palavra de ordem para uma mobilização total
favela e asfalto se encontram”. Segundo a holandesa da população para o trabalho na era financeirizada
Li Edelkoort, uma das maiores trendsetters, muita da produção de imagens e de signos”.16nFAMECOS
inspiração para o verão 2007, será compilada no
tema “Museu de história natural”.11 Na mesma via- NOTAS
gem climática, Maria Fernanda Lucena espalhou tinta
pela passarela para nos passar a percepção de aula 1. DOUGLAS, Mary e ISHERWOOD, Baron. O
de pintura do Parque Lage. É interessante notar que mundo dos bens: para uma antropologia do con-
dentro desta proposta da moda como instalação, sumo; tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro:
tanto se criam ambientes, quanto se reestruturam Ed. UFRJ, 2004.
outros com intervenções e propostas fashion, ou seja,
trabalhos preparados para ambientes previamente 2. BARBOSA, Lívia. “O Brasil pelo avesso: Carna-
escolhidos. vais, malandros e heróis e as interpretações da
Na cultura de mercado é a diversidade que cria a sociedade brasileira”. In: GOMES, Laura Grazi-
unidade. Segundo Martín-Barbero, é o mercado ca- ela; BARBOSA, Lívia e DRUMMOND, José Au-
pitalista que pressiona o sentido da formação de gusto. (orgs.). In: O Brasil não é pra principian-
identidades locais. “A identidade local é assim leva- tes: Carnavais, malandros e heróis, 20 anos
da a se transformar em uma representação da diferença depois. Rio de Janeiro: FGV, 2000. pp. 43-59.
que possa fazê-la comercializável, ou seja, submeti-
da ao turbilhão das colagens e hibridações que im- 3. BUENO, André e GÓES, Fred. O que é Geração
põe o mercado”.12 Da diferença cultural ao diferen- Beat. Col. Primeiros Passos, n. 130. São Paulo:
cial da marca. Segundo Isleide Arruda Fontenelle,13 Brasiliense, 1984.

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4. BIVAR, Antônio. O que é Punk. Col. Primeiros REFERÊNCIAS


Passos, n. 76. São Paulo: Brasiliense, 1982.
BIVAR, Antônio. O que é Punk. São Paulo:
5. Segundo Renato Ortiz, a função dos intelectuais Brasiliense, 1982. Coleção Primeiros Passos,
seria diagnosticar os problemas da nação e apre- n. 76.
sentar um programa a ser desenvolvido. Caberia
a burguesia progressista esta tarefa. In: A mo- BUENO, André e GÓES, Fred. O que é Geração Beat.
derna tradição brasileira. 5 ed. São Paulo: Brasili- São Paulo: Brasiliense, 1984. Coleção
ense, 1994. pp. 63-65. Primeiros Passos, n. 130.
COSTA, Cacilda Teixeira da. Arte no Brasil 1950-
6. PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que é con- 2000: movimentos e meios. São Paulo:
tracultura. Col. Primeiros Passos, n. 100. São Pau- Alameda, 2004.
lo: Brasiliense, 1983.
DÓRIA, Carlos. Bordado da fama: uma biografia de
7. DÓRIA, Carlos. Bordado da fama: uma biografia Dener. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo,
de Dener. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo, 1998. 1998.

8. PALOMINO, Erika. A moda, 2 ed. São Paulo: DOUGLAS, Mary e ISHERWOOD, Baron. O mundo
Publifolha, 2003 – (Folha explica). dos bens: para uma antropologia do consumo;
tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Ed.
9. PALOMINO, Erika. “Neon e Giselle Nasser vão UFRJ, 2004.
bombar”. In: Folha de S. Paulo. Caderno Ilustra-
da, 3 de dezembro de 2004, p. E-6. Folha de S. Paulo. Caderno Ilustrada, 3 de dezembro
de 2004.
10. Ver sobre o assunto: COSTA, Cacilda Teixeira
da. Arte no Brasil 1950-2000: movimentos e mei- FONTENELLE, Isleide Arruda. O nome da marca:
os. São Paulo: Alameda, 2004. McDonald’s, fetichismo e cultura descartável.
São Paulo: Boitempo Editorial, 2002.
11. Ver site: http://www.idaproject.com (Dumas
Amenidades, 11 de janeiro de 2006 – especial GOMES, Laura Graziela; BARBOSA, Lívia e
Fashion Rio). DRUMMOND, José Augusto. (Orgs.). O
Brasil não é pra principiantes: Carnavais,
12. MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às medi- malandros e heróis, 20 anos depois. Rio de
ações: comunicação, cultura e hegemonia; prefá- Janeiro: Editora FGV, 2000.
cio Néstor García Canclini; tradução Ronald Poli-
to e Sérgio Alcides. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1997. MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações:
p. 28. comunicação, cultura e hegemonia; prefácio
Néstor García Canclini; tradução Ronald
13. FONTENELLE, Isleide Arruda. O nome da mar- Polito e Sérgio Alcides. Rio de Janeiro: Ed.
ca: McDonald’s, fetichismo e cultura descartá- UFRJ, 1997.
vel. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. 5 ed.
14. PORTES, Ivone. Folha Online. “Governo cria São Paulo: Brasiliense, 1994.
marca para promover produtos e serviços do
Brasil no exterior”. Ver site: http:// PALOMINO, Erika. A moda, 2 ed. São Paulo:
www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ Publifolha, 2003 – (Folha explica).
ult9lu93571.shtml
PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que é
15. VIRNO, Paolo. “Política e felicidade”. In: Revis- contracultura. São Paulo: Brasiliense, 1983.
ta Global Brasil, n. 5, maio/junho/julho, 2005. Coleção Primeiros Passos, n. 100.
pp. 30-33.
Revista Global Brasil, n. 5, maio/junho/julho, 2005.
16. HOLMES, Brian. “Os museus na era do workfa-
re generalizado”. In: Revista Global Brasil, n. 5, Site: http://www.idaproject.com
maio/junho/julho, 2005. pp. 38-40.
Site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/
dinheiro/ult9lu93571.shtml

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