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Monica Pimenta Velloso – Em busca - “O fim da guerra com o Paraguai

da brasilidade modernista (Cap. 1 de (1865-1870) funcionou como


História & Modernismo). verdadeiro divisor entre o denominado
tempo antigo e o moderno. [...] A
- “A temática da brasilidade modernista
abolição da escravidão e a implantação
marcou uma longa trajetória,
do regime republicano impuseram-se
mobilizando os mais distintos grupos
como face identificadora do Brasil
intelectuais, desde aqueles que
moderno” – pág. 40;
compuseram a geração de 1870 aos
caricaturistas, pintores e literatos de - “Sob a liderança de Tobias Barreto,
1800/1920, inspirando também a análise iniciou-se na Faculdade de Direito de
de alguns intérpretes na década de Recife um movimento intelectual de
1930” – pág. 39; projeção nacional. Um dos grandes
desafios enfrentados por essa geração de
- “É na conjuntura de 1870 que se inicia
bacharéis era a integração do Brasil no
o debate das ideias que conformarão a
panorama da moderna cultura ocidental.
cultura histórica moderna. O
[...] Pela primeira vez, constatava-se o
positivismo de Comte, o evolucionismo
caráter mestiço da cultura. Mas ainda
de Darwin e Herbert Spencer e o
predominava a visão pessimista da
intelectualismo de Hippolyte Taine e
nacionalidade, vista como resultado do
Renan terão influência marcante na
atraso cultural. Lia-se a brasilidade
conformação do pensamento social
através da cartilha do darwinismo
brasileiro, até a década de 1930” – pág.
social, distinguindo-se civilizações
39;
superiores e inferiores em função das
- “A visão estetizante do movimento etnias” – pág. 41-42;
acabou obscurecendo as suas dimensões
- “O período entre 1870-1914 foi
filosóficas, políticas e culturais. Ao
considerado preparação do terreno pra a
longo da década de 1870, apesar do
modernização conservadora dos anos
predomínio dos valores ruralistas,
1930. [...] Se essa geração intelectual
patriarcais e hierárquicos, a ideia do
marcava-se pela tônica autoritária, é
novo começou a irradiar-se por toda a
inegável a presença de uma
sociedade” – pág. 40;
sensibilidade modernista em relação ao
~> A “Escola de Recife”: “um bando de entendimento de um éthos. O povo
ideias novas” brasileiro deixava de ser visto de modo
abstrato e romantizado, apresentando-se função do indivíduo no campo literário.
como tema de ordem reflexiva. [...] Agregando os bacharéis da Escola de
Mesmo de forma precária e Recife, Romero defendia
contraditória [iniciava-se um processo apaixonadamente a função redentora e
que buscava reconhecer] a perspectiva engajada da intelectualidade” – pág. 45;
da multiplicidade” – pág. 42;
- “De maneiras distintas, as obras de
- “A geração de 1870 mostrou-se atenta Euclides da Cunha e Sílvio Romero
ao processo da modernização, haviam alertado para um ponto
interpretando-o a partir de distintos nevrálgico da nacionalidade: a
instrumentos. Nessas narrativas da dificuldade de inserção do regional (no
brasilidade pode-se perceber, no caso, o Nordeste) na nacionalidade” –
entanto, dois pontos em comum: a pág. 46;
questão da temporalidade histórica e o
~> “Eu vi o mundo... ele começava no
entendimento do campo literário” – pág.
Recife”: o regional, o universal e o
44;
moderno
- “[Machado de Assis e José Veríssimo]
- “O título do gigantesco painel criado
conseguiram agregar um grupo de
pelo pintor Cícero Dias propunha o
intelectuais em torno da Revista
regional como chave interpretativa da
Brasileira. A publicação originou a
brasilidade, rearticulando-o com
criação da Academia Brasileira de
universal e moderno [1928]” – pág. 46;
Letras (1897). Defendendo a
profissionalização do letrado e um - “O regionalismo destaca-se como uma

campo de competência própria para a das categorias reflexivas da brasilidade

literatura, esses intelectuais modernista. A ideia da geografia como

envolveram-se na constituição de uma agente modulador de valores e

sociedade em moldes modernos” – pág. características psicológicas comparece

45; como denominador comum. Assim, o


imaginário do paulista empreendedor,
- “Sílvio Romero liderou outro grupo
do carioca contemplativo e do mineiro
que defendia parâmetros bem distintos
prudente é uma construção social que se
do moderno. Respaldando-se nos
fez ao longo do tempo” – pág. 47;
fundamentos teóricos anglo-
germânicos, adotara o critério - “Um dos problemas do paradigma de

evolucionista etnográfico para pensar a 1922 foi reduzir a compreensão do


moderno, considerando os contatos dinâmicas regendo a cultura brasileira”
internacionais das vanguardas brasileira – pág. 55;
e europeias a partir da ambiência
~> Diálogos com a história
paulista e carioca” – pág. 48;
- “Afirmando ter passada a hora das
~> Além da casa grande: Gilberto
coisas bonitas (alusão ao Modernismo),
Freyre revisitado
o crítico literário Alceu Amoroso Lima
- “Na releitura da obra de Gilberto argumentava ser necessário que a
Freyre deve-se tomar o cânone como literatura deixasse de ser um mero jogo
construção do próprio autor, de acordo de palavras ou de imaginação” – pág.
com Araújo (2005). Freyre fizera de 55;
Casa grande & senzala fonte
- “O fato de o autor [Freyre] valer-se de
inspiradora e versão inaugural do
um raciocínio despido de
conjunto da sua obra” – pág. 52;
intelectualismo e artífices era outro
- “Vários estudos mostram que, antes de fator que cativara os historiadores
escrever Casa grande, Gilberto Freyre já franceses. Na ocasião, Lucien Febvre,
vinha forjando as categorias chamara atenção para algo inédito no
interpretativas da nacionalidade panorama historiográfico: o fato de
brasileira. Temas como patriarcalismo, Gilberto Freyre ter aberto uma
escravidão, intimismo, civilização possibilidade renovadora para os
doméstica e miscigenação entre pesquisadores da região transatlântica”
senhores e escravos, foram abordados – pág. 57;
em Vida social no Brasil, em meados do
- “Gilberto Freyre sublinhou a diferença
século XIX” – pág. 53;
essencial entre o padrão civilizatório
- “Ao integrar novas fontes brasileiro e o anglo-saxão, dada a
metodológicas como jornais, civilização dos excessos. No Brasil, país
fotografias, diários, livros de etiqueta, marcado pelo duplo pertencimento
registros de batizados e de óbitos, cultural, as tradições populares
cadernos de receita, o autor [Freyre] neutralizaram a face europeizada,
mapeia cuidadosamente os domínios da contaminando os valores cotidianos e
vida privada cotidiana, extraindo ideias forjando novas lógicas de identificação,
decisivas para o entendimento de novas comportamento e participação. Esses
valores interferiram na dinâmica de
funcionamento de algumas instituições- mineira. A ideia da integração do
chave na vida social” – pág. 59; regional era consenso, mas havia
divergências quanto às formas de
~> O mineirismo e o “sentimento do
implementá-la” – pág. 63;
mundo”
~> Polêmicas entre Manu e Alphonsus
- “Redimensionando questões como
agrarismo, ruralismo, provincianismo, -
patriarcalismo, tradição e folclorismo, o
~> Olhares distintos sobre o horizonte
imaginário regional mostrou-se
extremamente rico e flexível. É no bojo - “Em Minas, o moderno trilhou

dessa historicidade que ele deve ser caminhos próprios reconfigurando-se de

pensado, destacando-se as suas forma bastante original a antinomia

múltiplas configurações e entre tradição e renovação. Entre 1920-

temporalidades. Essa possibilidade 1925, no Diário de Minas, jornal ligado

articuladora do regional/nacional foi ao tradicional Partido Republicano

uma das estratégias mais bem-sucedidas Mineiro, pode-se perceber a atuação de

do regime autoritário do Estado Novo um Modernismo nascente agregando os

(1937-1945)” – pág. 61; novos e tendo à frente Carlos


Drummond de Andrade. Espaço de
- “O modernismo mineiro é um
articulação dos interesses oligárquicos
exemplo dessa dinâmica articuladora.
estaduais, a publicação também abrigara
Funcionando como sólido núcleo
anseios renovadores” – pág. 67;
agregador, o regionalismo imprimiu em
Minas traços bem particulares. - “O relativo isolamento cultural de

Estreitaram-se os vínculos entre os Minas, o silêncio da imprensa sobre o

intelectuais e o universo da política” – evento paulista de 1922 e o fato de os

pág. 61; modernistas mineiros terem


praticamente se mantido alheios ao fato
- “No processo de formulação da
foram fatores que reforçaram a tese de
identidade nacional os mineiros
um Modernismo tardio em Minas” –
travaram surda batalha em relação ao
pág. 67;
regionalismo. Ao mesmo tempo que o
identificavam como obstáculo ao - “No Brasil, a própria forma de

moderno, elegiam-no como um dos organização e concepção das casas

núcleos condensadores da singularidade traduziria a prioridade da atenção aos


visitantes. Móveis encapados e objetos
guardados só para as grandes ocasiões
revelavam o descuido com a rotina.
Salas que só eram abertas para as visitas
deviam ser evitadas. O mesmo se pode
dizer em relação aos bibelôs, as
prateleirinhas, bichinhos, figurinhas que
revelavam um passado complicado” –
pág. 70;

- “O movimento modernista brasileiro


marcou-se pela intensificação na troca
de ideias entre os intelectuais nos
âmbitos interno e externo. Apesar de
sua tradicional reserva ao
cosmopolitismo, os mineiros souberam
equilibrar as forças da renovação com
as tradições locais” – pág. 72;

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